REVISTA DO LÉO 22 - JULHO DE 2019

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 22 – JULHO – 2019


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Elir de Jesus Gomes, Zezé Cassas e Cláudio Alemão

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

2017 VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017

2018 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018

https://issuu.com/…/docs/3ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201


2019 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019


EDITORIAL A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. A REVISTA DO LÉO está prestes a completar dois anos de publicação. Até o momento, com este número, são 25 edições, pois tivemos três delas como suplemento de alguns números (três, claro!), que exigiram um cuidado maior, e devido a alguns acontecimentos que justificaram essas publicações... Conforme dito no numero um, seriam dedicados aos meus escritos e de alguns colaboradores – nos últimos anos, e que haviam aparecido sobretudo, no Blog do Leopoldo Vaz, na página da Mirante.com/Globo esporte – por quase dez anos! – até que foi retirado do ar pela emissora, e perdido todo o arquivo. Resolvi, então, republicar o material ali exposto, e mais algumas outras coisas mais... Considerei que tinha material para dois anos... Faltam poucas coisas a resgatar, mas começa a escassear. Penso em abrir a revista, buscando colaboradores – Além dos habituais José de Oliveira Ramos, Jorge Bento... -, mas mantendo o foco no resgate da memória/história dos esportes, lazer e educação física no/do Maranhão, e, como sabem, de outra área de interesse, que é a literatura ludovicense...

. LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO 2 5 6

EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO

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MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (Capítulo de livro: Cláudio Vaz, o Alemão – e o legado da geração de 53): A GERAÇÃO DE 53

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ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPEAMENTO DA CAPOEIRA – IPHAN 2019

29 45

ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ OS ANOS 1970 NO MARANHÃO: UM NOVO MOVIMENTO LITERÁRIO? JOAQUIM HAICKEL CRAQUE!… LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SERIA FRAN PAXECO CARBONÁRIO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE OS CANELAS E SEUS RITUAIS – O CASO DA CORRIDA DE TORAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SOBRE TUPIS E TAPUIAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ A CORRID\ ENTRE OS ÍNDIOS CANELAS

46 53 55 66 68 78


MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER


A GERAÇÃO DE 53

PALMÉRIO CAMPOS, JOSÉ REINALDO, CLÁUDIO ALEMÃO, AZIZ TAJRA E JOAQUIM YTAPARY REVISTA JOGOS DOS AMIGOS 2002 – XII JOGOS – ANO IV – 14/12/2002


MIGUEL, MALHEIROS, SOLOM, ZÉ ALBERTO, CANHOTO, JESUS, IWALBER, e MAURO TIME DO COLÉGIO MARISTAS – 1953

BINÉ, POÉ, ALEMÃO, CLEÓN, MUTILO GAGO, RAUL GUTERRES E OUTROS... REVISTA JOGOS DOS AMIGOS 2002 – XII JOGOS – ANO IV – 14/12/2002


MÁRIO BAZUCA, MIGUEL E CÉSAR BRAGANÇA


JOSÉ GONÇALVES, CARRINHO, VELOSINHO, BOLÓ PRAIA OLHO D´ÁGUA - 1953

Esclarecendo o uso do termo “geração”, sirvo-me de Durans (2012; 2014) - que se utiliza da definição de Moisés (2004) - quando estabelece um critério cronológico para distinguir os termos geração, era, época, período e fase: [...] Para o autor, era designa um lapso de tempo maior em que se fragmenta a história de um povo; época designa a subdivisão de uma era; período, por sua vez, é a subdivisão de uma época; e finalmente fase constitui uma subdivisão do período ou da biografia de autores. Geração poderia, então, ser identificada com período ou fase, enquanto era e época designariam sucessões de gerações irmanadas pelos mesmos ideais. O uso do termo geração pode se dar ainda no sentido biossociológico, ou seja, de faixa etária. Esse é, portanto, um conceito polissêmico, frequentemente empregado, ainda, em sentido político-ideológico (de engajamento político ou militância política), ou em alusão a uma determinada concepção estética, artística ou cultural (escolas). O termo geração no sentido de mesma faixa etária tem sido amplamente usado pela historiografia, frequentemente associado à intelectualidade, à noção de herança, de grupo de intelectuais que dão continuidade a certos referenciais de outros que viveram em épocas anteriores, figurando como patrimônio dos mais velhos.


Venho chamando de “Geração de 53” àquele grupo de jovens esportistas que começam a se destacar no meio esportivo maranhense no início da década de 1950. Herdeiros – melhor – alunos de esportes e de educação física da “Geração dos Erres”, da década de 1940 – Ruben Goulart, José Rosa, Ronald Carvalho, Raul Guterres, Rinaldi Maia...

1950 Brandão (2007) lembra que as pessoas se reuniam na Praça João Lisboa, ao final da tarde, quase sempre as mesmas, políticos e politiqueiros de várias tendências, velhos cidadãos, austeros e vividos homens públicos, aposentados. E uns grupos de jovens e barulhentos estudantes quebravam a conversação variada: política, futebol ou, preferentemente, a vida alheia... Vivia-se a São Luís dos anos 50, cidade pequena.


Aos pés da estátua de João Lisboa aquele grupo de jovens estudantes, todos mal saídos da adolescência, se encontrava... Cláudio Vaz, os irmãos Mauro1 e Miguel Fecury, José Reinaldo Tavares, João Carlos Martins, Aziz Tajra, Jaime Santana, Jesus Itapary, Celso Rocha, Mário Aguiar Salmem... Depois, se fizeram adultos, todos...

+ Fonte: BUZAR, 2015

FABIANO, JAIME SANTANA, CLEÓN FURTADO, MAURO FECURY, CLÁUDIO ALEMÃO, BENEDITO BUZAR, MIGUEL FECURY, FORTUNATO BANDEIRA (2001) REVISTA JOGOS DOS AMIGOS 2002 – XII JOGOS – ANO IV – 14/12/2002

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MAURO DE ALENCAR FECURY, (Rio Branco, Acre, 13 de janeiro de 1941) é empresário e político brasileiro, com base no Estado do Maranhão. É proprietário das instituições de ensino Uniceuma no Maranhão da Unieuro no Distrito Federal e Faculdade Metropolitana da Amazônia em Belém. Já pertenceu a ARENA, PDS, PTB, PFL e atualmente encontra-se no PMDB. É pai do deputado federal pelo Maranhão, Clóvis Fecury. Formado em Engenharia Civil pela UFRJ, foi presidente da Novacap, empresa pública do Distrito Federal. Foi prefeito indicado de São Luís em duas oportunidades, entre 1979 a 1980 e 1983 a 1985. Candidatou-se e foi eleito deputado estadual em 1982, mas depois ser indicado novamente prefeito de São Luís em 1983, renunciou ao mandato anterior, até 1985. Em 1986, candidata-se a deputado federal obtendo a suplência. Assume o mandato algumas vezes entre 1987 a 1991. Candidata-se novamente em 1990 e novamente alcança a suplência, sendo efetivado em janeiro de 1993. É eleito em 1994 e reeleito em 1998 a este cargo. Em 2002, Roseana Sarney é eleita senadora e Fecury é o 1º suplente. Ocupou o mandato temporariamente por 120 dias, de julho a dezembro de 2005.Assumiu o mandato em definitivo em 12 de maio de 2009, após a renuncia de Roseana Sarney, que assumiu o governo do Maranhão, em 17 de abril do mesmo ano. Em 2010, não se candidatou ao senado e terminou mandato em 1º de fevereiro de 2011. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mauro_Fecury


O COMBATE, SÃO LUÍS, 5 DE MAIO DE 1950


O COMBATE, São Luís, 06 de junho de 1950


O COMBATE, São Luís, 06 de junho de 1950 Benedito Buzar2, nascido em Itapecuru Mirim em 1938, em depoimento ao autor, rememora: No meu tempo de juventude não tive grande envolvimento com as atividades esportivas de São Luis. Jogava futebol, com atuação em Itapecuru, minha terra natal, onde jogava pelo Aimoré Futebol Clube. Em São Luis, era assíduo freqüentador do estádio Santa Isabel, onde assistia aos jogos entre os clubes da cidade, sobretudo quando o meu time, Sampaio Correa, jogava. Também gostava de assistir as partidas de vôlei, basquete e futebol de campo entre os times dos principais colégios da cidade: Escola Técnica, Liceu, Maristas, Colégio de São Luiz e Ateneu Teixeira Mendes. A minha geração teve intensa participação no esporte maranhense, especialmente no amador. Os colégios, naquela época, primavam em realizar torneios esportivos, fato que eletrizava a mocidade e movimentava a vida da cidade.

Fonte: DEAN, 2015 2

BUZAR, Benedito Bogéa. DEPOIMENTOS. In Mensagem eletrônica a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, dando seu depoimento sobre a Geração de 53 e Cláudio Vaz. 12/04/2015.


Os poucos, mas importantes professores de educação física atuavam sobremodo nos colégios de cidade e estimulavam os alunos para as práticas esportivas, muitas das quais realizadas em espaços dos próprios colégios, onde eram ministradas, também, as aulas de educação física. Os professores de educação física, salientando-se Mary Santos, Carlos Vasconcelos, Luiz Aranha, José Rosa, Eurípedes Bezerra e Dimas, devotavam-se com afinco à profissão e por conta disso revelaram valorosos atletas, que deixaram marcas indeléveis na cena esportiva maranhense. Como produto do trabalho e da dedicação desses professores de educação física e dos donos de colégios, o Maranhão teve participação bastante saliente em competições realizadas aqui e em outras cidades do país. Dessa geração, são destaques: Cláudio Vaz dos Santos (Alemão), Mauro e Miguel Fecury, José Reinaldo Tavares, Antônio Carlos Vaz dos Santos (Janjão), Palmério Campos, Nonato Cassas, Fabiano Vieira de Silva, Aziz Tajra, Biné, e outros tantos, mas que, infelizmente, não estão mais entre nós. (BUZAR, 2015, DEPOIMENTOS.).

JOSÉ JOAQUIM FILGUEIRAS, JOAQUIM ITAPARY, CLÁUDIO ALEMÃO, CLÓVIS FECURY, MIGUEL FECURY, MAURO E ANA LÚCIA, JOSÉ SARNEY, ELISABETH FECURY, CABRAL MARQUES, BENEDITO BUZAR, JAIME SANTANA, FABIANO V. DA SILVA, CLEÓN FURTADO, E LUIS ANÍSIO – EM VISITA AO CEUMA (2000). REVISTA JOGOS DOS AMIGOS 2002 – XII JOGOS – ANO IV – 14/12/2002

ZÉ REINALDO, AZIZ, MIGUEL E ALEMÃO JOGOS DOS AMIGOS 2006 – Revista Jogos dos Amigos, UNICEUMA ano IX 15/12/2007


MAURO E RAIMUNDINHO Cláudio diz que começaram, efetivamente, em 1952, tomando parte nela Mauro Fecury, seu irmão Miguel, Zé Reinaldo Tavares, Jaime Santana, Raimundinho Sá (falecido), esse é um grupo que praticava várias modalidades de esportes; pode-se dizer que – nas palavras de Cláudio – participavam ainda Rubem Goulart, Ronald, se bem que esses eram de uma geração anterior.

Rubem Goulart

Ronald da Silva Carvalho


JOGOS DOS AMIGOS 2006 – Revista Jogos dos Amigos, UNICEUMA ano IX 15/12/2007

Aqueles jovens estudantes secundaristas ansiavam por participar dos campeonatos que então se realizavam, e fundam uma equipe, para que pudessem participar: criam o famoso “Os Milionários”.

LUIS DE MORAES REGO


Em 1952 Cláudio Vaz dos Santos, ao ingressar no Colégio de São Luís, do Prof. Luis Rego, participa dos Jogos Olímpicos Secundaristas, organizado pelo jornalista Mario Frias, como atleta de Basquetebol, Voleibol, Futebol de Campo, Atletismo e Natação.


No ano seguinte (1953), junto com outros atletas da época, de várias escolas, funda a equipe dos “Milionários”, que faz história no esporte maranhense, especialmente no Basquetebol, por mais de 20 anos; a equipe era formada por Gedeão Matos, os irmãos Mauro e Miguel Fecury, Aziz Tajra, Raimundinho Sá, Poé, Denizar, Canhotinho, Fabiano Vieira da Silva, Cleon Furtado, Jaime Santana, os irmãos Zé Reinaldo e Silvinho Tavares, Wilson Bello, Sá Valle, Joaquim Itapary, Henrique Moreira Lima, Márcio Viana Pereira. Com a extinção d´“Os Milionários”, fundam o “Cometas”, que além de basquete e vôlei, participam dos jogos de Futebol de Salão: O “Milionários”... Nós fomos participar de vôlei e basquetebol sábado à tarde no Colégio São Luís e na quadra coberta que tinha no Liceu jogava o “Milionários”, o Colégio São Luiz, jogava “08 de Maio”; nós jogávamos na quadra do Colégio São Luiz, não sei se ainda existe a quadra lá. Assim que nós jogávamos à tarde e jogávamos o Campeonato Maranhense de Basquete já no Santa Isabel, que era a única quadra iluminada que tinha em São Luís; o Estádio de Santa Isabel, que hoje é a Igreja Universal, ficava ali no fundo , essa quadra - antigo campo do Fabril Atlético Clube, Santa Isabel Foi onde nós praticamos em grupo, nós nos unimos a ele, era “Os Milionários” e era um contracenso; não tínhamos um tostão, mas como tinha aquele time “Os Milionários”, e nós tivemos a ideia de fazer nossa equipagem; nós saímos da Praia Grande, pedindo dinheiro no comércio da Praia Grande. Na Rua Portugal, a gente chegava e vendia os nossos ingressos, mandava fazer ingresso de jogo, quando dinheiro arrecadava, mandava fazer nossa equipagem de jogo. Hoje a gente comemora todo ano no 2º sábado de dezembro, a gente se une, a gente joga.


É uma geração famosa, pode se dizer que tem a famosa geração de 50 que é da geração dos políticos e literatos: Sarney, Burnet, Tribuzi, aquele pessoal, e logo em seguida, vem a geração dos jovens ligados principalmente ao esporte e que hoje também... Hoje chega ao poder - Zé Reinaldo tá aí, vice-governador, o Mauro já foi prefeito, tá chegando ao poder agora, e continuam unidos através dos esportes. Todo domingo na reunião na casa do Mauro, até hoje o Mauro Fecury tem uma casa no Araçagi, a não ser quando ele viaja para Brasília; nos domingos a partir das 11:30 h. Nós estamos juntos na casa do Mauro até cinco horas, ele faz questão, ele que manteve essa chama acesa e que nós nos reuníamos. Tudo mas não tínhamos como hoje aquela precisão de nos reunirmos, até hoje nós estamos unidos novamente mesmoi. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

TIME DO COLÉGIO SÃO LUIS - PROFESSOR LUIS REGO E SUA EQUIPE

SÁ VALLE, POÉ, PROF. BRAGA, JAIME SANTANA, AZIZ TAJRA, JANJÃO


Cesar Aboud iniciava sua campanha, em 1953, tendo o desenvolvimento do esporte como mote principal:



Na entrevista que Cláudio me concedeu, sobre essa época de sua vida, mudou-se de assunto constantemente; ao referir-me ao esporte principal daquela geração – o Basquete, e como começou o interesse, referi-me a comentário de um dos jovens daquela geração - aluno do Liceu – em que se entusiasmou pelo basquete, pois passava no Cine Éden, antes da sessão de cinema muitos filmes, geralmente sobre basquete, com os Globen Trotters. Cláudio afirma que: Eu trouxe os Globe Trottersii, uma festa é o maior evento intencional que já houve no Maranhão de Esporte, eu trouxe justamente com o Zé Alberto Moraes Rego, presidente da Associação Maranhense de Basquete, nós conseguimos junto a Confederação Brasileira de Basquete, Almirante Mera, nós fizemos os Globe Trotters dentro do Nhozinho Santos, construímos uma quadra de 20x40m, iluminamos, subimos 1 metro do nível do campo o jogo. Foi no governo de Pedro Neiva, os Globe Trotters jogaram no Maranhão, foi o maior evento internacional de esporte que já teve no Maranhão. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA). O entusiasmo pelo basquete era muito grande, tanto que o Prof. Zé Rosa, no Liceu dava uma espécie de basquete, tipo futebol americano, onde o jogador saia correndo com uma bola e encestava. Ao que Cláudio lembra: Nós jogamos futebol americano, agarrava a bola e separava, jogamos tanto no Colégio como no quartel, tinha o capitão Nélio, tenente Nélio que era o nosso orientador, veio da Escola de Ed. Física do Exército; trouxe muitos conhecimentos. Muita prática dirigida, acadêmica, dentro da Educação Física. Nosso conhecimento foi através desse trabalho no N.P.O. R (Núcleo Preparatório dos Oficiais da Reserva) isso já em 56 na saída do Colégio, passando a servir o Exército. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA). Alemão lembra Jaime Santana, um dos praticantes de esporte, tanto vôlei como o basquete, futebol de campo, futebol de salão: Nós jogávamos tudo; é que toda essa geração jogava tudo, ninguém jogava futebol de praia, futebol de salão, futebol de campo, Jaguarema então era o nosso celeiro. Foi o grande Jaguarema na época, então o que a gente praticava de esporte era direto... (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA). Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo - o Prof. Dimas - jogava Basquetebol pelo Moto Clube de São Luís, na década de 50 e lembra de outros clubes famosos e seus atletas: Nessa mesma época eu jogava Basquetebol pelo Moto Clube; Quando eu retornei, passei a jogar Basquetebol, pelo Moto Clube, no [Campo do] Santa Isabel, tanto que ai nós fomos disputar um campeonato em 54... 55 e em 56 eu fui seleção maranhense para disputar o Brasileiro em Recife, eu, Rubem Goulart; Antônio Bento; Vieirão, Major Vieira; Bebeto [Carlos Alberto Barateiro da Costa], também da Policia; Willame Najas, filho Titico. Nessa época, Mauro Fecury era Juvenil, quando eu jogava basquetebol, depois ele já teve um destaque muito grande e ele, Miguel Fecury - o irmão dele -, eles, pode se dizer, que foram os meus juvenis, os aspirantes... Nós disputamos o campeonato - era Moto Clube, o time que eu jogava , era o Vera Cruz, o Oito de Maio - que era de Rubem Goulart -, o General Severiano [Sampaio], que era do Exército; Tiradentes, que era o time Militar [Polícia Militar], e os Milionários, dos jovens – Alemão [Cláudio Vaz] e Poé, esta turma nova, Jesus Itapary, esta turma.... do Liceu, do São Luís, basicamente, o Liceu, São Luís e Maristas.., foi essa turma que nos acompanhou, que acompanhou os adultos que já jogavam, que era Os Milionários.


O esporte entre as mulheres tambĂŠm estava se desenvolvendo, com o Moto Clube, em 1958, criando seu departamento feminino:


AQUELES DO VOLEIBOL - JAGUAREMA


ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO


CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPEAMENTO DA CAPOEIRA – IPHAN 2019 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Tomei conhecimento de projeto - SALVAGUARDA DA CAPOEIRA DO MARANHÃO – de TERMO DE REFERÊNCIA3 para “Pesquisa e Mapeamento da Capoeira no Maranhão”, tendo como objeto: Contratação de pessoa jurídica para prestação de serviços de Pesquisa e Mapeamento da Capoeira no Maranhão com levantamento de dados sobre o bem cultural, bem como a identificação dos variados aspectos da expressão cultural no estado e a identificação dos grupos de Capoeira a partir de levantamento de dados sobre essa expressão cultural situando-os espacialmente em mapas os grupos identificados: De acordo com esse documento, a “Roda de Capoeira” e o “Ofício dos Mestres de Capoeira” foram inscritos, em 2008, nos livros das Formas de Expressão e dos Saberes e Ofícios, como Patrimônio Cultural do Brasil. Em 2013, iniciaram-se, na Superintendência do Iphan no Maranhão, os primeiros contatos com os detentores para o início do processo de salvaguarda, efetivamente desencadeado em 2014, com a realização do I Fórum para a Salvaguarda da Capoeira no Maranhão. Naquele evento foram arroladas as propostas de medidas de salvaguarda que, aprovadas no II Fórum para a Salvaguarda da Capoeira, realizado em janeiro de 2017, originaram o Plano de Salvaguarda da Capoeira no Maranhão: [...] o presente Termo de Referência foi construído de forma participativa pelo Grupo de Trabalho da Salvaguarda da Capoeira que apoia o Iphan/MA no desenvolvimento das ações de salvaguarda. Considerando a interação do GT na elaboração do documento norteador do mapeamento, a estratégia de ação prevê a participação dos capoeiristas no processo de levantamento de dados e na avaliação dos serviços durante a execução, possibilitando a mobilização dos praticantes do bem cultural. Esse Grupo de Trabalho foi constituído durante a realização do II Fórum para Salvaguarda da Capoeira no MA4, realizado no período de 27 a 28 de janeiro de 2017: Do Fórum saiu a indicação de elaboração do Plano de Salvaguarda da Capoeira com base nas propostas elencadas durante o evento pelos capoeiristas. Ao final do encontro foi constituído um Grupo de Trabalho cujos integrantes foram eleitos pelos participantes do Fórum, que, ao longo do ano de 2015, em reuniões semanais realizadas sob a coordenação da técnica em Ciências Sociais do Iphan/MA, Izaurina Nunes, elaboraram a minuta do Plano de Salvaguarda da Capoeira do Maranhão, com base nas propostas levantadas durante o encontro. No documento, as ações estão sistematizadas em eixos, conforme Termo de Referência para Planos de Salvaguarda de Bens Registrados, elaborado pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan. O Governo do Maranhão, através do decreto 34.719 de 26 de março de 2018, reconhece a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira do Maranhão como Patrimônio Imaterial do Estado; anteriormente, este reconhecimento se dera em nível federal. O estado é pioneiro neste reconhecimento, que garante a perpetuação de saberes e tradições da Arte/Luta Capoeira. 3

IPHAN/MA. TERMO DE REFERÊNCIA SALVAGUARDA DA CAPOEIRA DO MARANHÃO Pesquisa e Mapeamento da Capoeira no Maranhão 4 IPHAN/MA. II Fórum para Salvaguarda da Capoeira no MA. http://portal.iphan.gov.br/agendaEventos/detalhes/298


A pesquisa e mapeamento da Capoeira no Maranhão, será realizada em cinco etapas de modo a contemplar todo o território maranhense em suas macrorregiões. Para 2019 está previsto o levantamento de informações sobre a Capoeira na mesorregião Norte, constituída por 60 municípios. O trabalho de pesquisa consistirá em procedimento de trabalho de campo nesses municípios, onde será feito o levantamento dos mestres, instrutores, entidades e grupos, dentre outros agentes da Capoeira. A pesquisa e mapeamento da Capoeira no Maranhão consistirá em procedimento de trabalho de campo na mesorregião norte, constituída por seis microrregiões, com um total de 60 municípios, onde será feito o levantamento dos grupos, mestres, instrutores e entidades da Capoeira no estado. As informações a serem levantadas serão discutidas com os coletivos da Capoeira que terão participação determinante no trabalho, apontando áreas de ocorrência, fontes e orientando a coleta de dados. O trabalho, que exigirá a produção de registros audiovisuais e documentação fotográfica sobre o bem pesquisado e mapeado, será realizado por empresa contratada, sob a coordenação geral, acompanhamento e fiscalização da Superintendência do IPHAN no Maranhão, com o apoio dos coletivos da Capoeira Grupo de Trabalho e Conselho de Mestres. Municípios a serem pesquisados Alcântara, Apicum Açu, Bacuri, Bacurituba, Bequimão, Cajapió, Cedral, Central do Maranhão, Cururupu, Guimarães, Mirinzal, Porto Rico do Maranhão, Serrano do Maranhão, Paço do Lumiar, Raposa, São José de Ribamar, São Luís, Axixá, Bacabeira, Cachoeira Grande, Icatu, Morros, Presidente Juscelino, Rosário, Santa Rita, Barreirinhas, Humberto de Campos, Paulino Neves, Primeira Cruz, Santo Amaro do Maranhão, Tutoia, Anajatuba, Arari, Bela Vista do Maranhão, Cajari, Conceição do Lago Açu, Igarapé do Meio, Matinha, Monção, Olinda Nova do Maranhão, Palmeirândia, Pedro do Rosário, Penalva, Peri Mirim, Pinheiro, Presidente Sarney, Santa Helena, São Bento, São João Batista, São Vicente Férrer, Viana, Vitória do Mearim, Cantanhede, Itapecuru-Mirim, Matões do Norte, Miranda do Norte, Nina Rodrigues, Pirapemas, Presidente Vargas e Vargem Grande. Da leitura do documento bem se vê que os levantamentos preliminares, em conjunto com o Fórum Permanente da Capoeira, estão eivados de alguns equívocos que não retratam, fielmente, o surgimento dessa expressão cultural no Maranhão, colocando-a a partir dos anos de 1870: [...] Sobre a chegada da Capoeira, sabe-se que a embarcação Lamego5 aportou, em meados 1879, em São Luís com marinheiros que se envolveram em brigas nas quais utilizavam a capoeiragem como forma de defesa. O pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em Capoeira/Capoeiragem no Maranhão6, compila informações sobre fatos da capoeira no Estado, onde informa que em 1877 a capoeira “é aceita como o primeiro esporte com cunho competitivo praticado no Maranhão”. A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular7, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Kafure (2012) 8 ao discutir o processo de “desconstrução da capoeira maranhense” apresenta a hipótese de que, no início, tudo era uma coisa só: capoeira, tambor de crioula, frevo, samba etc. Mundinha Araújo9 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada 5

PEREIRA, Roberto Augusto A MARINHEIROS, MOLEQUES E HERÓIS:ALGUNS PERSONAGENS DA CAPOEIRA DO MARANHÃODE FINS DO SÉCULO XIX (1880-1900). Afro-Ásia, 58 (2018), 51-76 51. Disponível em https://www.academia.edu/37634373/MARINHEIROS_MOLEQUES_E_HER%C3%93IS_ALGUNS_PERSONAGENS_DA_CAPOEIRA _DO_MARANH%C3%83O_DE_FINS_DO_S%C3%89CULO_XIX_1880-1900 6 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 7 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE – REV DO LEO, 14, NOVEMBRO 2018, p. 98 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb 8 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-asdesconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012


sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira: no Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava:

“Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124, grifos meus) 10. Encontrei, ainda que, em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus). Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel), desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas: Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).11 De acordo com Mestre Bamba do Maranhão, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-deCrioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga12: Para Ferreti (2006) 13, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula14. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga

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Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. NEGRO COSME – TUTOR E IMPERADOR DA LIBERDADE. Imperatriz: Ética, 2008 10 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 11 [Jornal do Capoeira] http://www.jornalexpress.com.br/ 12 http://www.jornalexpress.com.br/ 13 FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf


é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira15. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. “Batuque”, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira16. Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases17: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1980; (4) e daí, até os dias atuais. Mestre Euzamor (2006) 18 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Mário Martins Meireles (2012) por volta de 1702,

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traz – embora se questione o uso da palavra capoeira em seu texto – que,

[...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.[...] (p. 98),

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O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula". 15 PUNGA DOS HOMENS – ALGUMAS (NOVAS) CONSIDERAÇÕES -REV DO LÉO, 15, DEZEMBRO 2018, p. 78 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20 16 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 17 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE / LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DO MARANHÃO. São Luis, 2018 (Inédito). 17 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 18 MESTRE EUZAMOR in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC (anexo II) 19 MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99.


referindo-se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) - homem intolerante -, e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas. Estudos demonstram que a Capoeira – no Brasil - tenha surgido – como a entendemos -, e com esse nome, lá pelo final dos 1700, quando aparece o nome do Tenente Amotinado - João Moreira: [...] segundo os melhores cronistas, data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros, dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo, defendiam-se por meio da ‘Capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores. (LIMA, 1925) 20. – e de um negro chamado Adão, pardo, escravo, preso por ser “capoeira”, em 12 de abril de 1789 (CAVALCANTI, 1999) 21, embora desde o ano anterior - 1788 - as maltas dos capoeiras já inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro e se tornavam um problema para os vice-reis (CARNEIRO, 1977)22. Na biografia de Mestre Bimba 23 consta: Da fusão da capoeiragem de outrora (Primitiva) com o Batuque (Samba-Luta), nasce a Luta Regional Baiana ou Capoeira Regional Baiana, uma criação do Mestre Bimba, Manoel dos Reis Machado, que com sua criatividade desenvolveu uma “Metodologia de Ensino” [...] coisa que não existia, pois a capoeira outrora era aprendida de “oitiva” (olhando). Instituiu uma forma de charanga (orquestra) e cancioneiro especifico (quadras e corridos), desenvolveu e preservou “Tradições”, criou e formalizou rituais (Entrar no Aço (batizado), Nome de Guerra, Cerimônia de Formatura, etc.). Em 1918 iniciou o ensino e criação da capoeira Regional Baiana e em 1928 o Mestre Bimba deixa o depoimento: “Em 1928, eu criei, completa, a regional, que é o Batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”. Sua obra ganhou o mundo e graças a sua Capoeira Regional Baiana a capoeiragem chegou a lugares antes imagináveis: [...] “Eu não fiz capoeira para mim, eu fiz capoeira para o mundo”!!! Mestre André Lacé 24, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas europeias e asiáticas25. 20

Lima, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. DA CAPOEIRA: COMO PATRIMÔNIO CULTURAL. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. 21 In CAVALCANTI, Nireu. O Capoeira, JORNAL DO BRASIL, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira-palmares.fr/histor) 22 CARNEIRO, Edson. Capoeira. In CADERNOS DE FOLCLORE 1. Rio de Janeiro: MEC/FUNARTE, 1977 23 Disponível em CCCB, MESTRE BIMBA, disponível em http://capoeirabaiana.net/mestre-bimba/ 24 LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388


Neste primeiro momento da História da Capoeira do Maranhão, encontramos várias referencias em jornais publicados em São Luís, e em outras cidades do interior, que fazem referencia ‘aos capoeiras’, sempre relacionados com distúrbios em locais públicos, que exigiram a interferência da polícia; também em alguns contos e crônicas publicadas, nesses mesmos jornais, ao descreverem-se alguns tipos, são descritos aqueles que se identificam como ‘praticantes de capoeira’; outra forma que aparece, é a desqualificação de algum político, indicando-se ser ele individuo de má índole, portanto, ‘capoeira’: 1835 - na Rua dos Apicuns, local frequentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural:A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís.” (ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). Mestre Militar afirma que a capoeira no Maranhão tem seu inicio em 1835 (Costa, 2009) 26. 1843 - o Diretor da Casa dos Educandos Artífices do Maranhão em relato ao Presidente da Província informava que havia “um outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor: Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em consequência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 25 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 26 COSTA, C. A. A. História da Capoeira no Maranhão. In: < http://associaogrupokdecapoeira.blogspot.com/2009/07/capoeira-domaranhao.html>.


entregues à sua descrição, podem trazer consequências mais desagradáveis [...] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192)27. A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, e havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184)28. Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 184229, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada? 1846/47 - Jeronimo de Viveiros30 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847: A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... O cacetistas armava-se na casa do chefe...31.(Grifos meus). 1860 - A IMPRENSA - CH RIBEYROLLES. VARIEDADES. A Fazenda (continuação do numero anterior), São Luis, 29 de setembro de 1860, p. 2 publica um artigo, dividido em partes, que apareciam em várias edições, como era costume na época, sob o titulo A FAZENDA: Jogos e danças dos negros – No sábado à noite, depois do ultimo trabalho da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e repouso, concede-se aos negros uma ou duas horas para a dança. Reúnem-se então no terreiro, chamam-se, grupam-se incitam-se, e a festa começa. Aqui, é a capoeira, espécie de dança física, de evoluções atrevidas e guerreiras, cadenciada pelo tambor do Congo; ali o batuque, posições frias ou lascivas, que os sons da viola aceleram ou demoram: mais além tripudia-se uma dança louca, na qual olhos, seios, quadris, tudo fala, tudo provoca; espécie de frenesi convulsivo e inebriante a que chamam lundu. Alegrias grosseiras, volúpias asquerosas, febres libertinas, tudo isto é nojento, é triste, porém os negros apreciam estas bacanaes, e outros aí encontram proveito. Não constituirá isto um sistema de embrutecimento? 27

CASTRO, César Augusto. CASTRO, C. A.. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO NO MARANHÃO PROVINCIAL: UMA HISTÓRIA DA CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES. São Luís: EdFUNC, 2007 28 CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO NO MARANHÃO PROVINCIAL: UMA HISTÓRIA DA CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES. São Luís: EdFUNC, 2007 29 ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA BALAIADA. São Luís: FUNCMA, 2001 30 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847. 30 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205. 31 AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150.


.1861 - publicado em A IMPRENSA - OS ILUMORISTAS. PÁGINAS SOLTAS: o Sr. Primo, o Serafim e o Cavallo preto de Sua Excia., p. 4, de 11 de dezembro de 1861 o seguinte: [...] Serafim é um jovem de cara lavada, moreno, barba a lord Raglan, desempenado de capoeira, e andar de cahe a ré, como marinheiro tonto, ou redactor do Porto Livre, nas horas em que o sol procura as ondas do mar [...] 1863 - Josué Montello, em seu romance “Os degraus do Paraíso” 32, em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863, quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite: Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas. O que é confirmado por Vieira Filho (1971) 33 quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. Mario Meireles (2012) 34–, no capitulo referente ao Serviço de iluminação pública (1863-1918), p. 222-225, referindo-se a falta de iluminação nas ruas, em que era dado toque de recolher às 21 horas, com o repicar dos sinos: Os que não atendiam ao oportuno aviso dado pelos sinos, corriam o risco, aventurando-se mergulhados nas trevas das ruas estreitas, de ir ao desagradável encontro de animal vagabundo ou de defrontar um capoeira encachaçado, se não de emparelhar com um negro escravo que levasse à cabeça um daqueles fétidos tigres – que iam ser despejados na maré mais próxima. (p. 222). !864 - Identificado35 um Capoeira, maranhense de nascimento36, que acompanhou seu senhor à São Paulo, e se envolveu em um ‘distúrbio’ num local de ajuntamento de pretos – chafariz. Descreve-se a capoeira praticada na cidade de São Paulo, em que concorriam escravos e libertos, pretos, mestiços, brancos, no seu desenvolvimento naquele estado. “Eduardo, como já vimos, era um jovem escravo vindo do Maranhão” (p. 101) 37. O Autor, ao analisar as ocorrências policiais havidas naquele inicio da capoeiragem em São Paulo – Capital e algumas cidades do interior – inicia seu trabalho com a análise de duas dessas ocorrências, uma, no ano de 1831, ocorrida no distante subúrbio do Brás, envolvendo ‘africanos capoeiras paulistas’ e ‘africanos capoeiras cariocas’, com estes desafiando aqueles para um confronto. O segundo caso, ocorreu entre os ‘pequenos do chafariz’, já na 32

MONTELLO, José. OS DEGRAUS DO PARAÍSO. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 VIEIRA FILHO, Domingos. BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO LUIS. São Paulo: Olympia, 1971 34 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar). São Luis: Faculdade Santa Fé, 2012 35 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864. São Luis, REVISTA DO LÉO, 15, DEZEMBRO 2018, p. 123 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15__dezembro_de_20 36 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da Cunha. “CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo, Alhambra, 2013. 37 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo, Alhambra, 2013. 33


capital, no ano de 1864. Adão dos Santos Jorge – africano congo liberto - agride a Eduardo – preto escravo, quando se encontravam naquele local, caminho do centro para o subúrbio... Local de ajuntamento de pretos... Eduardo era escravo de Carlos Mariano Galvão Bueno – um advogado e professor na Escola de Direito, escritor e poeta conhecido, subdelegado de policia. No processo que se seguiu, Eduardo disse ser escravo “do pai de Paulino Coelho de Sousa, que se achava ausente desta cidade tendo ido para o Maranhão” 38. Então, deveria estar prestando serviços ao nominado Galvão Bueno. Com 24 anos de idade, disse ser filho de José e Sabina - escravos do mesmo senhor -, natural do Maranhão, sem ofício (p. 94). Em seu depoimento, disse que Adão “começou um jogo ou gritos de correr jogar capoeira com este declarante e soltou-lhe uma tapa nas costas...” (p. 94). Eduardo foi ferido com uma navalhada. Alegava o autor da agressão que o fizera por também ter sido ferido, em outro encontro – não com Eduardo – com duas anavalhadas no abdome. Eduardo avocou outros escravos, como sua testemunha da agressão que sofrera desafiado que fora por Adão. Todos frequentavam o chafariz de Miguel Carlos, e possivelmente fora para marcar território, demonstrando sua valentia, caso pretendesse dominar tal espaço; isso explicaria porque Adão “começou um jogo ou gritos de querer jogar capoeira” (p. 100). 1868/69 - O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 39, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado40 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 41: Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento. Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaramse por atos de inaudita violência. Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, 38

Paulino Coelho de Sousa consta como aluno na Faculdade de Direito, no ano de 1863, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_02&pesq=Paulino%20Coelho%20de%20Sousa&pasta=ano%20 186 39 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 40 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295, 41

http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA &sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false


pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos). Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX42. Mas, já por essa época, a Capoeira recebi um tratamento como “esporte”, como se vê de notícias de jornais, assim como consta de livro sobre a História do Esporte no Maranhão, do grande jornalista esportivo Dejarde Martins: 1877 MARTINS (1989). In ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO43. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. JOGO DA CAPOEIRA Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (179).

1883 - PACOTILHA – 24 fev. “Publicações a pedido: Negócios do Maranhão: [...] Outro facto do correspondente Eugenio Pavolide é de um preto capoeira, quem em junho passado, pôz em sobressalto a praça do Mercado e ruas adjacentes. Espancara um pobre homem e também as praças da policia [...]Até lá que viva que viva entregue à defesa dos Pavolides, os quais um deles talvez saldoso, o espera 42

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 43 MARTINS, Dejarde Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís, s/e, 1989(?)


no hotel onde neste momento começou a purgar as suas façanhas de capoeira...” “(...) Pelas linguagens e pelas expressões de que nos temos servido nas diversas vezes que temos vindo à imprensa discutir negócios daquella sociedade evidencia-se que não temos aprendizagem de capoeira e nunca descemos ao circo de operações physicas.”. 1883, - PACOTILHA - 17 mar. – 1883 - PACOTILHA - 25 junho – “(...) Os outros vaiaram no. Afinal accudiram em chusmas. Genibaldo fazia milagres de capoeira, sem conseguir approximar se delles, que o instigavão.” 1883, PACOTILHA 25 junho – 1883 - PACOTILHA – 20 ago. – “(...) No sábbado a noite um marinheiro da “Lamego” fez proezas no largo do Carmo (...) Armando de cacete, fazia trejeitos de capoeira e dizia a uns soldados de policia – que chegasse, que elle queria esbodegar um, dar muita pancada (...)”.1883, PACOTILHA – 20 ago. 1883 - PACOTILHA - 25 set - “(...) sem mais interrogações, pó-se na perna, à frente da tropa, a sacudir o corpo n’ uns movimentos de capoeira, gingando de alegria e enchendo o ar de assovios silvantes.”1883, PACOTILHA - 25 set Anúncio, de 1884, em que havia um desafio entre um “Sansão do século XX; cabe ressaltar que era comum, desde a fundação de nosso teatro, a apresentação de espetáculos de força nos palcos, com ‘artistas’ se apresentando, identificando-se como discípulos de Amoros “THEATRO SÃO LUIZ 22 DE JUNHO DE 1884 – Terceiro e ultimo espetáculo – função de D. Máxmo Rodriguez, o invencível Sansão do Seculo XX – primeiro Hercules do mundo... terminará o espetaculo com o”

1884, PACOTILHA – 21 jun 1884 PACOTILA – 31 mar – “ O magarefe Serafim, um crápula de força, cheio de insolência (...) Mas sendo o Serafim um capoeira traquejado, sahiu incólume da pendencia”. 1884 PACOTILA – 31 mar 1884 - PACOTILHA – 31 jul. - “N’uma estação de urbanos: - Sr. Tenente, tenho seguro um capoeira. – Traga-o a minha presença. – Bem o quero fazer, meu tenente, mas o maldito não me quer largar.” 1885 - PACOTILHA – 31 out. – em crônica acerca de estreia de uma peça de Artur Azevedo, no Rio de Janeiro – O mandarim – o comentarista refere-se aos tipos e a interpretação dos artistas: “(...) Barreto não foi infeliz em alguns tipos - o do capoeira e o do Jornal do Commercio optimos”.” 1885 - PACOTILHA – 30 nov. – sobre o lançamento da nova obra de Aluizio de Azevedo: O colono deixa a mulher por uma mulatinha, e d´este novo enlace surgem o Felizardo e a Loureira: participa d’ este grupo o


typo do capadocio, o pae avô do capoeira, que mais tarde é chefe de malta e força activa nas elições. Ligado a este chefe de malta está um typo que contratsa com ele; [...] 1886 – PACOTILHA – 22 mai. – [...] Grande, mas quando o Jojaca cresceu p´rá ell, mo cabra azulou bonito! E o mais neste theor. O pobre homem passou horas na estação policial e certamente lá teria dormido se um amigo que casualmente passára, o não reconhecesse. O sargento da guarda jurava ser o próprio Antonio Belmonte, e o Leitão laborou n´um trabalho insano para provar a identidade de pessoa. Resultado final: Leitão apanhou bordoeira velha, perdeu o trem, rasgou a roupa, e foi conduzidoà estação, ao lado do bodegueiro, no meio de uma chusma de garotos que comentavam alegremente o escândalo, salpicando-o de expressões de gyria capoeira. - Apanhou como boi ladrão, dizia um vendedor de balas. - Este Antonio bilontra parece armazém de pancadas. Siltrudia foi-se metter com o Jojaca da Praia. Passo por alto a cabeça e a rasteira que certo dia o Sr. Leitão recebera de um angó, achando-se casualmente envolvido poruma malta de capoeiras quando tranquilamente se dirigia ao seu domicilio. A agressão era destinada, como logo se adivinha, ao seu Sósias, o quela gosava da reputação de ser um dos chefes honorários do partido gayamum. Leitão teve apenas uma costella estragada. Ante a colocação de que a capoeira aparede por volta dos anos 1870 - [...] Sobre a chegada da Capoeira, sabe-se que a embarcação Lamego aportou, em meados 1879, em São Luís com marinheiros que se envolveram em brigas nas quais utilizavam a capoeiragem como forma de defesa – parece-nos que fica demosntrado que é bem mais antiga seu aparecimento em são Luís e no Maranhão... É necessária uma revisão dessas afirmações constantes nos documentos do IPHAN, referendadas pelo Fórum da Capoeira do Maranhão... 1924 - A PACOTILHA – 02 AGO – UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE – O ULTIMO CAPOEIRA...






aRTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES


OS ANOS 1970 NO MARANHÃO: UM NOVO MOVIMENTO LITERÁRIO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras / Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Licenciado em Educação Física Podemos considerar que o “Antroponáutica” foi um movimento literário? Ou deu inicio a um novo movimento, integrado pelo pessoal do Guarnicê? “Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê 44, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 45. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponáutica: Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponáutica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira.

Naquele final de 69, inicio dos anos 70, no Liceu Maranhense, cinco jovens poetas maranhenses resolveram propor uma ruptura com a tradição poético/literária do estado. Estava-se na segunda metade do século XX e ainda eram perceptíveis os traços do simbolismo e parnasianismo nas obras de poesias que eram lançadas: Os cinco propunham uma renovação urgente no fazer poético no Maranhão. Eram eles Viriato Gaspar46, Raimundo Fontenele47, Chagas Val48, Valdelino Cécio49 e Luis Augusto Cassas50, 44

O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero 44. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília. BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.; LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 45 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 46 VIRIATO GASPAR (São Luís/MA). Poeta e jornalista brasileiro, radicado em Brasília-DF desde agosto de 1978. Funcionário de carreira do Superior Tribunal de Justiça. Possui participações em relevantes antologias poéticas nacionais. Vencedor de muitos prêmios literários com uma bibliografia do mais alto nível. Ao lado de outros poetas como Luís Augusto Cassas, Chagas Val e Raimundo Fontenele, fundou e integrou o Antroponáutica, movimento literário do Maranhão de grande destaque na década de 70. É o autor de Manhã Portátil (1984), Onipresença (versão incompleta, 1986), A Lâmina do Grito (1988), e Sáfara Safra (1996) entre vários outros títulos inéditos. Os poemas desta seleção foram extraídos do caderno/antologia Quibano, organizado por Carvalho Junior e Antonio Aílton. https://quatete.wordpress.com/2018/05/17/4poemas-de-viriato-gaspar/ 47 R A I M U N D O F O N T E N E L E - Nasceu em Pedreiras, MA. Tem uma dúzia de livros de poesia publicados. Hippie nos anos 60, militante de esquerda nos anos 70, é um dos fundadores do Movimento Antroponáutica, renovador da poesia maranhense. Em Curitiba, foi também um dos fundadores e editores da revista de literatura e arte Outas Palavras. De 1980 a 1996 residiu em Porto Alegre , RS, onde exerceu intensa atividade literária, ganhando prêmios, publicando crítica e artigos em revistas e jornais. De volta ao Maranhão, reside em São Domingos , MA, onde exercia as funções de Diretor do Departamento do Cultura. A colheira do mundo e Venenos estão entre seus títulos de livros recentes. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/raimundo_fontelele.html 48 CHAGAS VAL - Nasceu no Estreito, Buriti dos Lopes - Piauí, a 23 de julho de 1943. Até os vinte anos residiu no Piauí onde fez o curso primário no estreito e em Buriti dos Lopes no grupo escolar Leônidas Melo, o ginasial em Parnaíba no ginásio São Luís Gonzaga e até o 2° ano científico também em Parnaíba, no colégio Lima Rebelo, quando, então, se transferiu para São Luís,


todos poetas genuínos que tinham como interesse maior renovar a poesia no Estado do Maranhão, rompendo com as antigas escolas literárias do Século XIX que tanto influenciaram as gerações passadas. Deles somente Raimundo Fontenele possuía um livro lançado. O nome do movimento é uma homenagem ao poeta Bandeira Tribuzzi, Antroponáutica é o nome de um poema de sua autoria. O poeta inclusive era junto do grande Nauro Machado e José Chagas, os únicos da geração anterior que os Antroponautas enalteciam e citavam como influência. (CASTRO, 2016) 51 Um ponto comum, os encontros começam num bar, no caso no Canto da Viração, com as reuniões regadas a cerveja e muita discussão em torno dos caminhos futuros da poesia maranhense: A principio, o primeiro passo era chamar a atenção da elite literária da capital, com a chegada dessa nova leva de jovens poetas, que buscavam mudanças no meio literário do Maranhão. Logo saiu a famosa Antologia Poética do Movimento Antroponáutica, e convidados a integrar um projeto da Fundação Cultural que publicou os cinco juntamente com outros novos poetas na Antologia Hora do Guarnicê. Lima (2003) 52 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros. Teixeira53 diz que a fundação do ‘Laborarte” - fundado oficialmente em 11 de outubro de 1972 –, teve sua criação de ideia l de formar um coletivo de arte integrada, reunindo teatro, música, dança, artes plásticas, fotografia etc, do Movimento Antroponáutica (1969-1972), até então estruturado em cima da poesia. Quase não havia espaço para publicação de seus artigos e poemas; e com muita luta começaram a publicar no Jornal do Dia (jornal comprado pelo Sarney que veio a se tornar o Estado do Maranhão), o Jornal do Maranhão (da Arquidiocese), que tinha um critico de cinema, José Frazão, que acolheu muito bem as novas ideias do pessoal. Silva (2013) 54 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001)55, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”. em 1963, terminando o científico no colégio de São Luís. Professor em vários colégios da Capital maranhense (Rosa Castro, Luís Viana, ginásio SENAC, escola Normal do Estado), somente em 1974 licenciou-se em Letras pela UFMA, quando já iniciara a sua carreira poética com a publicação, em 1973 de Chão e Pedra. E vieram depois, Chão Eterno e Mundo Menino (1979), Teoria do Naufrágio (1987), Floração das Águas (1992), Estado Provisório da Água (1993) e Anatomia do Escasso Cotidiano (1998). Fonte da biografia e da foto: www.redutoliterario.hpg.ig.com.br , disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/chagas_val.html 49 JOSÉ VALDELINO CÉCIO SOARES DIAS nasceu no estado do Pará, mas tornou-se o mais maranhense da sua geração. http://severino-neto.blogspot.com/2015/07/a-poesia-segundo-valdelino-cecio.html 50 LUÍS AUGUSTO CASSAS - Nasceu e mora em São Luis do Maranhão desde 2 de março de 1953. Publicou muitos livros de poesia, sempre bem recebidos pela crítica. Cheguei a ter um contato com o Luis Augusto por correio, mas aí ele sumiu de vez... Só o encontro nas livrarias, para matar a saudade de seus versos... Já tenho quase uma dúxia de livros dele na estante! Estou agaurdando os outros... A.M. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_augusto_cassas.html 51 CASTRO, Natan. Movimento Antroponáutica - Atitude e Ousadia Poética No Maranhão em Meio ao Regime Militar. In Literatura Limite, disponível em http://literaturalimite.blogspot.com/2016/02/movimento-antroponautica-atitude-e.html 52

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LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003

TEIXEIRA, Cesar. Laborarte: raízes de um ideal. In Blogue de Zema Ribeiro, disponível em https://zemaribeiro.com.br/tag/antroponautica/ CARLOS CESAR TEIXEIRA SOUSA - 15/04/53, São Luís-Maranhão. Ingressa no Liceu Maranhense (1966). Participa do Teatro de Férias do Maranhão-TEFEMA, cujos ensaios eram realizados no Teatro São Pantaleão (1968-1971). Vence o I e o II Salão Intercolegial de Pintura, promovidos pelo Governo do Estado (1969 e 1970). Integra o Coral Liceísta do Maranhão (19691971). Participa do Movimento Antroponáutica, do qual fez parte como compositor e artista plástico (1970-1972). Classificase em 3º lugar no III Festival da Música Popular Maranhense, com a música "Salmo 70", em parceria com o poeta Viriato Gaspar (1972). Participa da fundação do Laboratório de Expressões Artísticas - LABORARTE (1972). Lança o folhetim poético “Os Ossos do Hospício” no Laborarte (1972). Lança a antologia poética em folhetim “Sem Pé nem Cabeça”, junto com vários autores (1975) SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014


Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas: [...] Entre estas alianças, destacam-se as facções em torno de movimentos políticos e literários, que propiciavam também o controle de importantes espaços de publicação, ensejando inclusive o ingresso de diversos autores na carreira literária. O primeiro passo havia sido alcançado, os Antroponautas haviam sido reconhecidos também por João Mohana, Nascimento de Moraes, Arlete Nogueira, Jomar Moraes e Nauro Machado, que perceberam a chegada dessa nova leva de jovens poetas. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirma que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”... Já Mário Luna Filho diz que foi ativo no movimento, quando aluno do Liceu... Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 56, assim se coloca: [...] Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo. Continua: A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’. Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010) 57, os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 58. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968). A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz (2003)59, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração anterior 60·, aponta, em seu Nomes e Nuvens outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. 55

REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 56 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 57

CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembrodezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf

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ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994

59 60

CRUZ, Arlete Nogueira da. NOMES E NUVENS. São Luis, UNIGRAF, 2003 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o


Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica. (In GUERRA ERRANTE, 2012) 61.

Tanto Assis Brasil (1994) 62, quanto Dinacy Corrêa (2010) 63 afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 64, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrê – que se revela, com livro próprio, na década de 80. Buscamos com Corrêa (2014) 65, a explicação necessária sobre esse “movimento”: Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão. Em setembro de 1974, surge o jornal A Ilha, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 61 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 62

Mello

e

outros.]

IN

BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembrodezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 64 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 63

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CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.


Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas. Segundo Lima (2003) 66, os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo Neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo. Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado... Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013)67; e outros de maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro. Bioque Mesito68 respira fundo e desabafa: Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura. Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio das ALUMAR. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão. Não devemos esquecer a “Akademia dos Párias”. Lima e Outros (2003) 69 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 68 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 69 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003. 66 67


com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros. “Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. Os Párias? - Pergunta-se Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o antiacademiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem70. Para Mesito71: É bem verdade que desse grupo [Akademia dos Párias] apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas três poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de dois livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura. A revista Uns & Outros atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995. Ao mesmo tempo, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 72. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos: Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamonos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEME-SE. Pegou”… Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia. [...]

Agora, falemos do POEME-SE. Como tudo aconteceu? “Até 1980, eu costumava frequentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA 70

LIMA e Outros, 2003, obra citada.. MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm 71

72

LIMA e Outros, 2003, obra citada..


– que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela ideia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEMESE ”73 O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético! Zeca Baleiro, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 74. Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha. E esta outra geração (1990/2000...): que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)75

CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 74 LIMA e Outros, 2003, obra citada. 75 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 73


Joaquim Haickel

CRAQUE!… 18 de maio de 2019 Impressionante como os maranhenses gostam de dois assuntos muito polêmicos: política e futebol. Digo isso, pela quantidade de pessoas que me procuram para comentar sobre os textos que tenho escrito a respeito daquele que eu imagino será cenário político do Maranhão e pela repercussão que ouço nos programas de rádio e vejo nas redes sociais, sobre futebol. Imagino que possa juntar os dois assuntos e simultaneamente um tema comum a ambos. A ocorrência de craques nesses setores. Quando eu era criança, os craques do futebol brasileiro eram jogadores da estatura de Garrincha e Pelé, mas a quantidade de gigantes neste esporte era imensa: começando pelo maranhense Canhoteiro, passando por Ademir Queixada, Djalma Santos, Heleno, Didi Folha Seca, Nilton Santos, Zizinho, apenas para citar alguns. No mundo se destacavam Puskás, Di Stéfano, Schiaffino, Walter, Kopa e Meazza, apenas para citar um time de vôlei. Depois desta fase, o futebol que era arte, se transformou em força e foi a vez da Laranja Mecânica de Cruyff e van Basten e da implacável Alemanha de Beckenbauer e Müller… Não vou me estender neste assunto, pois teria que passar o resto de minha vida falando das glórias deste esporte e eu não o domino o suficiente nem para este texto… O fato é que o que veio depois todo mundo já sabe! Na política maranhense, os craques do tempo em que eu nasci eram Sarney, que até hoje é show de bola, Victorino que já estava na descendente, mas era duro, Millet que era um Lord, Neiva Moreira, que teve sua jornada interrompida pelos dois golpes de estado de 1964, o tentado e o consumado… No Brasil tivemos o insuperável Getúlio Vargas, tínhamos o eterno Juscelino Kubitschek, o onipresente Carlos Lacerda, o polêmico Jânio Quadros, e o bem intencionado, mas manipulável Jango. No mundo havia políticos da estatura de Adenauer, Meir, Kennedy e Brandt, além de lideres dos direitos civis como Martin Luther King Jr e religiosos como João XXIII. Da mesma forma que o que aconteceu com o futebol, sabemos no que deu a política atual. Hoje a incidência de craques, tanto no futebol quanto na política é coisa rara. Na política muito mais que no futebol, pois os salários milionários ainda dão vazão a talentos incríveis como os de Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar.


Na política, parece que mataram o confeiteiro e queimaram a receita do bolo, pois nunca mais apareceu um político saído pronto e acabado do nosso forno! Alguém realmente bom, aquilo que poderíamos chamar de um craque. Vejam só como são as coisas! Enquanto escrevia esse texto, parei um pouco, fui tomar água e quando voltei, fui passear pelas redes sociais e deparei-me com uma postagem no Blog de Jorge Aragão que de certa forma tem conexão com nosso assunto! O vice-governador Carlos Brandão, no exercício do cargo de governador, vai, elegantemente, possibilitar que o presidente da Assembleia Legislativa, Othelino Neto, assuma o cargo de governador do Maranhão! Este é um gesto de alguém que conhece profundamente os caminhos da diplomacia e da política em suas mais altas concepções. Agindo assim Brandão demonstra para todos a sua disposição de compartilhar o poder, faz um ato de carinho, de deferência e de respeito, não apenas para com Othelino, presidente da ALM, mas com todos os deputados e de certa forma, para com todos os políticos e até mesmo, por extensão, para com o povo maranhense. Um verdadeiro craque, como há muito tempo não vemos em nosso estado! Joaquim Haickel Membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM E-mail: jnhaickel@hotmail.com


SERIA FRAN PAXECO CARBONÁRIO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

De acordo com Aldemir Leonidio (2005, 2008) 76, a carbonária foi uma associação secreta de vocação conspirativa. Em Portugal77 ela enraizou-se nos setores de classe média mais politizados, bem como entre os militares de baixa patente, mas admitindo indivíduos de todas as classes sociais.

Nos anos noventa ela começou por ter grande força na cidade de Coimbra, sob a tutela da loja maçônica Perseverança. Em Lisboa tudo parece ter resultado da confluência de dois núcleos secretos: um de origem “anarco-republicano”, outro de base “maçônica acadêmica”. De acordo com o anarquista José Maria Nunes, ele próprio, juntamente com José do Vale e Heliodoro Salgado, fundaram a Liga do Progresso e Liberdade, agrupamento que esteve na base da constituição da Carbonária Portuguesa78

Os Carbonari (Carbonária) foi fundada em Portugal em 1822, mas foi logo desfeita. Uma nova organização de mesmo nome e reivindicando ser sua continuação foi fundada em 1896 por Artur Augusto Duarte da Luz de Almeida 79. Esta organização era ativa nos esforços para educar as pessoas e esteve envolvida em diversas conspirações antimonarquistas. Mais notavelmente, os membros da Carbonária foram ativos no assassinato do Rei Carlos I de Portugal e seu herdeiro, o Príncipe Luís Filipe, Duque de Bragança em 1908. Os membros Carbonários também desempenharam um papel na revolução republicana de 05 de outubro de 191080. Um ponto comum entre eles era a sua hostilidade contra a Igreja e eles contribuíram para o anticlericalismo da república.81

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LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf LEONIDIO, Aldemir. CARBONÁRIOS, MAÇONS, POSITIVISTAS E A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL NA VIRADA DO SÉCULO XIX. IN Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Julho/ Agosto/ Setembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 3 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf

http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf; http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf 77

Carbonária Portuguesa foi estabelecida por volta de 1822. Nas suas primeiras décadas, teve um âmbito restrito e, sobretudo, localizado: surgiram várias associações independentes, sem ligação orgânica entre si e com pouca capacidade de intervenção social, atraindo sempre os elementos mais violentos, radicais e marginalizados da sociedade. De uma maneira geral, estas associações não duraram muito tempo nem tiveram importância histórica. A Carbonária que teve alguma importância na vida política nacional portuguesa foi fundada em 1896 por Luz de Almeida. Desenvolveu alguma atividade no domínio da educação popular e esteve envolvida em diversas conspirações antimonárquicas. Merece destaque óbvio a sua participação no assassinato do rei D. Carlos I de Portugal e do príncipe herdeiro Luís Filipe, e no golpe de 5 de outubro de 1910, em que esteve associada ao Partido Republicano. Um longo recesso de trabalhos da carbonária se iniciaria a partir de 1926. Os anos que Salazar esteve no poder foram anos de complicações para todas as sociedades secretas em Portugal, e a carbonária, se viu obrigada a voltar para a clandestinidade. https://pt.wikipedia.org/wiki/Carbon%C3%A1ria 78 CATROGA, Fernando. O republicanismo em Portugal. Coimbra: FLUC, 1991. p. 107-154, citado por LEONIDIO, 2008, obra citadaDisponível em: www.revistafenix.pro.br. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 79 Artur Augusto Duarte da Luz de Almeida, conhecido na época e historicamente como Luz de Almeida (Alenquer, 25 de Março de 1867 - Lisboa, 4 de Março de 1939) foi um bibliotecário, arquivista, panfletista, francomação, carbonário e político português. Foi o fundador, principal dirigente e dinamizador das organizações secretas e clandestinas Maçonaria Académica e da Carbonária Portuguesa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Luz_de_Almeida 80 A Implantação da República Portuguesa foi o resultado de uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português, iniciada no dia 2 de outubro e vitoriosa na madrugada do dia 5 de outubro de 1910, que destituiu a monarquia constitucional e


Por volta de 1899 surgia o jornal O Libertarista82, do Rio de Janeiro, dirigido por Magnus Sondahl e Espiridião de Medicis Dilotti.

Em epígrafe vinha a famosa frase de Comte, ligeiramente modificada: “conhecer, para prever, a fim de melhorar”. Isto leva a crer que a intenção do inventor da “ortologia” era fazer dela uma espécie de substituto ou concorrente do positivismo, já que afirma ser aquela um “novo sistema lógico”. No lugar do Apostolado ele colocava a “União Sociocrática”, que, segundo informa, tinha núcleos em várias partes do mundo: Estados Unidos, GrãBretanha, Islândia, Dinamarca, Suécia, França, Grécia e “outras partes da Europa”; além de Brasil, Argentina e “outros centros populosos da América do Sul”. Magnús Sondahl83 foi um emigrante islandês de primeira geração que chegou ao Brasil aos sete anos de idade, estabelecendo-se no Paraná. Formou-se em Engenharia. Foi objeto de dois contos do escritor carioca João do Rio. Os contos fazem parte do livro As Religiões do Brasil84:

Os Fisiólatras

Quando resolvi interrogar o hierofante Magnus Sondhal, sabia da fisiolatria o que os prosélitos deixavam entrever em artigos de jornal c hei os de nomes arreves a dos e nos comunicados, nos copiosos comunicados trazidos aos diários por homens apressados e radiantes. Pelos artigos ficara imagiando a fisiolatria um conjunto de positivismo, ocultismo e socialismo; pelos comunicados vira que os fisiólatras, quase todos doutores, criavam cooperativas e academias. Entretanto o Sr Magnus Sondhal certa vez à porta de um café definira para meu espanto a sua religião. —A fisiolatria não é um culto no sentido vulgar da palavra, mas uma verdadeira cultura mental. É, antes, a sistematização raci onal do processo espontâneo da educação dos seres vivos, donde resultaram todas as aptidões, mesmo físicas e fisiológica s, respectivamente adquiridas. Pus as mãos na cabeça assombrado. Magnus tossiu, revirou os olhos azuis. — A fisiolatria baseia-se, como toda a reforma sociocrático-libertária, na sistematização da lógica universal ou natural que o hierofonte + SUN intitula ortologia — Ortologia? fiz sem compreender. — Do grego orthos, logos – reta razão.

Esteve ligado, também, à fundação da Sociedade Rosa Cruz: Antes de 1930, a Fraternidade Rosa-Cruz do Brasil, que segue o “Rito Templário”, funcionava secretamente sob a direção dos Veneráveis Grão-Mestres Múcio Teixeira (Barão Ergonte) e Magnus Söndahl (Hierofante Rosa-Cruz).85

implantou um regime republicano em Portugal. https://pt.wikipedia.org/wiki/Implanta%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_Portuguesa 81 BIRMINGHAM, David, História Concisa de Portugal, P. , Editora da Universidade de Cambridge. 2003. In Carbonária, a Maçonaria Guerreira. http://en.wikipedia.org/wiki/Carbonari Tradução José Antonio de Souza Filardo https://bibliot3ca.com/carbonaria-a-maconaria-levada-as-suas-ultimas-consequencias/ 82

O LIBERTARISTA, Rio de Janeiro, n. 3, 24 de dez. de 1899 (o jornal adota o calendário positivista, sendo a data constante no jornal a seguinte: 24 dias do 12° mês de 111). In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf http://www.revistaideias.com.br/2016/09/05/os-vikings-no-parana/ 84 JOÃO DO RIO. AS RELIGIÕES DO BRASIL. Disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/47390372/as-religioes-no-riojoao-do-rio 85 https://ocultismopel.wordpress.com/2014/10/07/a-fraternidade-rosa-cruz-do-brasil/ . Ver também https://www.google.com.br/search?biw=1920&bih=937&ei=aHvqXMb1AcSw5OUP0OGEqAk&q=sociedade+rosa+cruz+%2B+m agnus+sondahl&oq=sociedade+rosa+cruz+%2B+magnus+sondhal&gs_l=psy-


................. A Fraternidade Rosa-Cruz do Brasil, instituída oficialmente ao público em outubro de 1930 pelo Prof. Júlio Guajará Rodrigues Ferreira, é uma ramificação da Ordem dos Rosacruzes, de Mistérios Menores, com o objetivo de desenvolver a regeneração dos costumes a toda e qualquer pessoa livre, sem especificação de cor, raça, nacionalidade, posição social ou credo filosófico. Antes da sua instituição ela funcionava apenas secretamente, sob a orientação do 1º Grão-Mestre, Múcio Teixeira ou Barão Ergonte, agregada à Ordem Maçônica. Mais tarde, o Dr. Magnus Sondahl, 2º Grão-Mestre e Hierofante Rosa-Cruz, criava a Maçonaria Católica, e as bases da atual Fraternidade Rosa-Cruz, que somente veio a ser instituída, após a sua transubstanciação, pelo 3º Grão-Mestre, Prof. Júlio Guajará Rodrigues Ferreira. 86 As informações sobre a “ortologia”87, esta “nova religião de caráter sociocrático”, segundo seu inventor, são ainda muito escassas88. Para Leonidio (2005)89 a “maçonaria católica” seria uma tendência da maçonaria, que manteve certa relação com os princípios religiosos do positivismo de Augusto Comte, difundidos no Brasil durante a Primeira República pelos fiéis da Igreja Positivista, cujos mentores eram Miguel Lemos90 e Teixeira Mendes91. Informa Leonidio (2008) que em 15 de março de 1903, Lima Barreto, após ter lido o Catecismo ortológico, enviou a Magnus Sondahl uma carta, pedindo mais informações sobre o assunto. Pedia-lhe a remessa de “algumas mais publicações” que lhe esclarecessem o espírito e contribuíssem para a sua “completa iniciação”.92 Dois dias depois, Sondahl responde-lhe, desculpando-se por não poder enviar as publicações do Areópago93 referentes ao tema, por estarem elas esgotadas.

ab.1.0.33i160l2.4431.14163..18719...0.0..0.492.5731.2-5j9j3......0....1..gwswiz.......0j0i22i30j38j0i22i10i30j33i22i29i30j33i21.iyZju1GcFzs 86 https://www.localprayers.com/BR/Rio-de-Janeiro/227600963967705/Fraternidade-Rosa-Cruz-do-Brasil 87 http://memoria.bn.br/pdf/765996/per765996_1910_00002.pdf 88 Sociocracia é um método de governança de organizações que produz maior comprometimento, níveis mais altos de criatividade, liderança distribuída, harmonia mais profunda e uma aumento dramático da produtividade. Os princípios e práticas, baseados nos valores de equivalência, eficácia e transparência, são desenhados para fomentar tanto a união quanto o respeito pelo indivíduo https://sociocracia.vpeventos.com/materia/10-por-que-sociocracia#/ 89 LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf 90 Miguel Lemos - (Niterói, 1854 — Petrópolis, 10 de agosto de 1917) foi um filósofo brasileiro, de orientação positivista. https://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Lemos 91

Raimundo Teixeira Mendes (Caxias, 5 de janeiro de 1855 — Rio de Janeiro, 28 de junho de 1927) foi um filósofo e matemático brasileiro, autor da bandeira nacional republicana. A importância de Teixeira Mendes reside na sua vigorosa e contínua atuação política, filosófica, social e religiosa, baseada nos princípios propostos pelo filósofo francês Augusto Comte, isto é, no Positivismo, em sua versão religiosa (a Religião da Humanidade). Assim como o companheiro, amigo e, a partir de certa altura, cunhado Miguel Lemos, Teixeira Mendes inicialmente aderiu à obra estritamente filosófica de Comte, ou seja, ao "Sistema de Filosofia Positiva", recusando o "Sistema de Política Positiva". Todavia, a partir de uma viagem de estudos que Miguel Lemos empreendeu a Paris, em que se converteu à Religião da Humanidade, Teixeira Mendes foi convencido pelo amigo da correção da obra religiosa de Comte e a partir daí iniciou uma longa e importante carreira apostólica e política, influenciando os eventos sociais no Brasil, a partir de sua atuação na Igreja Positivista do Brasil, sediada no Rio de Janeiro (então capital do Império e, depois, da República). Enquanto Miguel Lemos era o Diretor da Igreja, Teixeira Mendes tornou-se seu vice-Diretor. Ao longo da década de 1880 Miguel Lemos e Teixeira Mendes empreenderam uma atividade de propaganda do Positivismo e de interpretação da realidade sócio-político-econômica brasileira à luz da doutrina comtiana, o que, em termos práticos, significou, naquele momento, na defesa da abolição da escravatura, da proclamação da república, na separação entre a Igreja e o Estado e na instituição geral de reformas que permitissem a "incorporação do proletariado à sociedade" (ou seja, a inclusão social, no jargão comtiano). https://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_Teixeira_Mendes 92 Documento da seção de manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 93 Conselho especial da maçonaria que reúne os maçons de grau 30. In LEONIDIO, 2008 , obra citada Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf


Além disso, informa que grande parte do conhecimento relativo à ortologia, sobretudo a sua parte “esotérica”, “a mais importante da propaganda”, só era comunicada “em lojas, aos iniciados, conforme o seu grau”.94. Aquilo que não era restrito aos iniciados podia ser estudado em seus livros ou através de lições oferecidas na Universidade Sociocrática, por ele fundada.(Grifos nossos).

Ainda seguindo Leonidio (2006), Magnus Sondahl tinha uma obra relativamente vasta, podendo-se destacar as seguintes: Descrição resumida de um núcleo sociocrático durante a fase transitória da plutometria. Rio de Janeiro: s.c.e., 1900; Preleções ortológicas realizadas na Biblioteca Pública de Curitiba. Curitiba: Correia, 1901; Ensino racional de leituras em quatro lições sistemáticas. Rio de Janeiro: J. S. Cunha, 1908; Relatório apresentado pelo inspetor agrícola do quinto distrito. Bahia: Offic. dos Dois Mundos, 1911; Da magia natural – revelação do grande arcano. 200° tratado da grande enciclopédia ortológica. Bahia: Offic. Xylo.-Typ., ano 15, 1912; Sociocráticos – a maior revolução do mundo. Apelo ao público pelo fundador da União Sociocrática. Rio de Janeiro: Typ. Guttemberg, s.d. A Universidade Sociocrática ou Universidade Popular de Ensino Livre foi criada, ao que tudo indica, no início do século XX, embora não se tenha informações detalhadas sobre seu funcionamento. Não se sabe ao certo também se se trata da mesma Universidade Popular fundada por Fábio Luz95 ou, se não, da sua relação com esta. As aulas tinham um duplo fim: “tornar o estudioso apto para providenciar sua subsistência material e capaz de embelezar seu interior espiritual”, pois que se partia da máxima comtiana segundo a qual, para haver “harmonia na vida”, era “indispensável conciliar as necessidades biológicas ou físicas com as necessidades subjetivas”, criando assim um homem perfeito, completo.

Os planos de Sondahl eram ambiciosos, como mostra a citação a seguir:

A Universidade Popular de Ensino Livre tomará a si a instrução pública, primeiro no Brasil, depois em todos os outros países do mundo. Ela representa um plano de transição entre a instrução geral de hoje e a instrução mais positiva do porvir. Faz parte da propaganda da União Universal Sociocrática e conduz o homúnculo de nossos dias, através dos altos mistérios da Maçonaria Católica, transformado em homem, até o pórtico majestoso do futuro Templo da razão, onde, por fim, imperará a ortologia, ou a lógica universal.96

Ressalte-se que o termo sociocracia é outro neologismo de Magnus Sondahl, designando um governo da sociedade por ela mesma, daí a simpatia pela ortologia por parte dos anarquistas. É importante destacar que na historiografia brasileira, o termo sempre foi referido como uma invenção de Comte, o que não é certo, pois que não se encontra em nenhum escrito do positivista francês. Além disso, é o próprio Sondahl quem reivindica para si o termo.

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Segundo Sondahl a parte da maçonaria responsável por este ensino era a “Maçonaria Católica” ou Sociedade Iniciática dos Construtores do Templo da Razão e dos Homens Universais, o que leva a crer que se tratava de um desdobramento da maçonaria, com forte influência do Apostolado Positivista. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf 95 [1] [2][3] A Universidade Popular de Ensino Livre , ou somente Universidade Popular de Ensino, ou UPEL , foi [4] [5] [6] [7][8] uma universidade nômade do Rio de Janeiro fundada em março de 1904 pelos médicos Fábio Luz e Martins Fontes, [9] juntamente com o historiador Rocha Pombo, se não com outros também. Supõe-se que Pedro Couto, Manuel Bonfim e Sílvio [10] Romero tenham participado. Foi a primeira do tipo na América Latina. Foi uma iniciativa das mais audaciosas [6] [6] dos anarquistas. Seu ideal seria se tornar um centro de lazer e cultura, além da ministragem de ensino superior. Não pôde [5] [6] continuar suas atividades por ação das autoridades do Estado, sendo fechada por estes em outubro do mesmo ano. Diferente dos Centros de Estudos, não foi criada exclusivamente pelos grupos operários: participaram militantes socialistas e literatos e intelectuais libertários. https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Popular_de_Ensino_(Livre) Ver também

https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1488563234_ARQUIVO_LamelaAnpuh2017.pdf 96

GAZETA OPERÁRIA, Rio de Janeiro, n. 7, 9 de nov. de 1902. Disponível em http://www.revistafenix.pro.br/PDF16/ARTIGO_04_ADALMIR_LEONIDIO_FENIX_JUL_AGO_SET_2008.pdf


Para Leonídio (2008), a “nova religião” intentada por Magnus Sondahl foi uma tentativa de dar nova feição à maçonaria tradicional, a partir da grande influência sofrida pela doutrina do Apostolado Positivista, mas também uma tentativa de substituir ou de concorrer com a doutrina de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. A adoção da chamada “via iniciática” e sua busca obsessiva pela verdade absoluta – daí, talvez, o uso do termo ortologia, como sinônimo de maçonaria católica – pode ter contribuído, neste caso, para uma maior aproximação com o ideário positivista.

Quando a “maçonaria católica” começa a aparecer, no início dos anos noventa, o positivismo também já não dispunha da mesma gravitação de antes, embora se mantivesse o mesmo estado de espírito e o clima de opinião que, a partir dele, passou a contaminar vastas camadas da sociedade brasileira. Neste sentido, pode-se concluir que a “nova religião” intentada por Magnus Sondahl foi uma tentativa de dar nova feição à maçonaria tradicional, a partir da grande influência sofrida pela doutrina do Apostolado Positivista, mas também uma tentativa de substituir ou de concorrer com a doutrina de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. A adoção da chamada “via iniciática” e sua busca obsessiva pela verdade absoluta – daí, talvez, o uso do termo “ortologia”, como sinônimo de maçonaria católica – pode ter contribuído, neste caso, para uma maior aproximação com ideário positivista. Por outro lado, o uso do termo “católica” demonstra por si o quanto a oposição Igreja/Ilustração26 está longe de ser o cerne das posições da maçonaria no Brasil. Esta utilização talvez denuncie já a importância da idéia de Religião da Humanidade, uma vez que o próprio Comte nunca escondeu a sua admiração pela instituição católica97 Segundo o Paiz (16/03/1904)98, jornal do Rio de Janeiro, havia sido fundada uma Universidade Sociocratica, sendo diretor Magnus Soldal, e Fran Paxeco membro da mesma:

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LEONIDIO, Aldemir. Religião e filantropia: a Maçonaria Católica do Brasil (1890-1910). Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 11, n. 1 e 2, p. 21-31, 2005. http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/Religi%C3%A3o-e-filantropia.pdf 98 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. FRAN PAXECO – VIDA E OBRA. Palestra proferida na ALL, dia 19/05/2018, disponível em REVISTA DO LÉO VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra


Já na sua juventude Fran Paxeco tivera contato com membros da Maçonaria. Quando passou à Reserva, em 1894, foi domiciliar-se na freguesia de S. José, de Lisboa, 2º Bairro. Desejava consagrar-se, de corpo e alma, livre das gargalheiras duma disciplina anacrônica, embora necessária, às ideias republicanas. Entrara no primeiro vinteno de existência.

FRAN PAXECO AOS VINTE ANOS

Nesse mesmo ano, em abril, assume um dos postos na redação política de "A Vanguarda” 99, o mais independente e inflamado jornal da época, dirigida por Narciso Rebelo Alves Correa. Teve como camaradas, aí, os drs. José Benevides e Fernando Martins de Carvalho, Faustino da Fonseca, Sousa Vieira, Carlos Calisto, França Borges, etc. ANTÓNIO NARCISO REBELO DA SILVA ALVES CORREIA - Nasceu em Vila Real em 25 de Maio de 1860. Inicialmente desempenhou a profissão de farmacêutico, mas porque mostrou aptidões para a escrita, começa a colaborar nos jornais. Adota então a profissão de jornalista e colaborou em inúmeras publicações periódicas, especialmente ligadas ao Partido Republicano. Destaca-se a sua colaboração na Folha do Povo, no Trinta, no Século, Os Debates, A Vanguarda e, finalmente, O País. Neste último jornal, foi o fundador em 1895 e dirigiu-o até à sua morte, provocada pela tuberculose, em 5 de Janeiro de 1900. Segundo o professor Oliveira Marques (1986) 100, foi iniciado na Maçonaria em 1882, na Loja Cavaleiros de Nemesis, em Lisboa, adotando o nome simbólico de João Huss. 99

A Vanguarda / dir. Alves Corrêa. - A. 1, nº 1 (9 mar. 1891) - a. 21, nº 7627 (22 out. 1911). - Lisboa :EllydioAnalide da Costa, 1891-1911. - 52 cm. Biblioteca Nacional Digital – Portugal, disponível em http://purl.pt/14330 100 . A. H. Oliveira Marques, Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol. I, Editorial Delta, Lisboa, 1986, col. 413. Citado em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. FRAN PAXECO – VIDA E OBRA. Palestra proferida na ALL, dia 19/05/2018, disponível em REVISTA DO


Ao indagar a alguns memorialistas sobre essa pertença de Fran Paxeco à ordem maçônica, recebi de Antônio Bento101, de Setúbal, via correio eletrônico, o seguinte recorte, publicado no Diário de São Luis, em 23 setembro de 1922, confirmando que pertencera à Loja do Pará, onde fora iniciado:

A nota, completa, identifica outros maçons maranhenses, e as diversas Lojas já existentes, certamente frequentadas por Fran Paxeco, haja vista muitos deles serem seus colegas dos diversos entes culturais e educacionais de seu círculo:: LÉO VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra 101

VIDA

E

OBRA

MAIO

2018

-

BENTO, Antônio. Mensagem ao Autor, via correio eletrônico, em 26 de maio de 2019 Meu Caro Leopoldo Gil Dulcio Vaz, A única informação que encontrei sobre a ligação de Fran Paxeco à maçonaria foi esta notícia cuja digitalização envio. Não sei se a Drª Rosa Machado terá mais alguma informação. Cumprimentos, António Cunha Bento





Antônio Guimarães de Oliveira102, pesquisador maranhense, membro da Maçonaria, escrevendo uma “história da Maçonaria no Maranhão”, informa, também, por mensagem eletrônica que:

Fran Paxeco foi iniciado no Pará. [...] No Maranhão, tivemos somente uma carbonária. Todos os fundadores da Academia Maranhense eram maçons e grande parte também dos do IHGM. Por isso, não encontrávamos sua iniciação no Maranhão, porém tem registro dele entrando na loja do sogro Fernandes, pai da esposa. Era loja Firmeza e União103.

102

GUIMARÃES DE OLIVEIRA, Antonio. Correspondência eletrônica, via Messenger, com o Autor, em resposta em 27 de maio de 2019. 103 A Loja Firmeza e União 2 foi instalada no Maranhão em 20 de julho de 1854. https://produto.mercadolivre.com.br/MLB938786931-annaes-1871-a-1873-loja-maconica-firmeza-e-unio-2-maconaria-_JM


ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE OS CANELAS E SEUS RITUAIS – O CASO DA CORRIDA DE TORAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras No momento (junho 2019), estou lendo “MESSIANISMO CANELA: entre o indigenismo de Estado e as estratégias do desenvolvimento”, de Adalbetto Luiz Rizzo de Oliveira (EDUFMA, 2011), adquirido na AMEI neste final de maio... Obra interessante, que traça a evolução e aculturação, localização e alguns ritos dos Ramkokamekra-Canela. Refere-se, em algumas passagens de seu livro – relatório de doutorado – à passagem de dois pesquisadores alemães Jurgen Dieckert (professor de Educação Física, que atuou como mvisitante na UFSM) e o etnólogo Jacob Mehringer. Fizeram três incursões aos Canelas, uma das quais o autor do “Messianismo”, prof. Rizzo, acompanhou – a segunda expedição. Acompanhei o trabalho do Prof. Dieckert, com quem tinha contato através do Prof. Laércio Pereira – professor da UFMA. Na segunda expedição, viabilizei dois encontros com professores de educação física e acadêmicos, junto com o pessoal da História, e a profa. Elizabeth Coelho. Uma, antes dos três meses que passariam na aldeia; a outra, quando retornaram... Isso, nos anos 1980... Eu já havia escrito um artigo – “A CULTURA DO LÚDICO E DO MOVIMENTO DOS RAMKOKAMEKRA DE ESCALVADO”, fazendo referencia ao trabalho dos dois pesquisadores, após um primeiro artigo sobre a Corrida de Toras dos Indios Canela”, quando comecei a escrever sobre a memória dos esportes no Maranhão, fruto de busca de material para ministrar a disciplina História da Educação Física, em curso da então Escola Técnica federal do Maranhão, ho0je IF-MA. Introduzi os termos ‘cultura do lúdico e do movimento’, utilizado pelos alemães, já que não se podia utilizar ‘educação física e esportiva’ ou mesmo ‘atletismo’ A CORRIDA ENTRE OS ÍNDIOS CANELAS: contribuições à história da educação física maranhense 104, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ. RESUMO: Em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida e esta sempre teve, primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representa os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levada para a esfera do lazer (lúdico). Os Canelas, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias - regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se é aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo, também deve ser aceita a corrida entre os Canelas como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses. Descreve-se a "corrida de toras", praticada pelos índios Canelas, classificada como pertencente ao grupo das provas de revezamento, procurando se estabelecer ser esta a primeira atividade "esportiva" praticada no Maranhão.105

1. Painel apresentado na III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, 1995 2. Artigo publicado na COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília: Ministério Extraordinário dos esportes/Instituto Nacional de Desenvolvimento dos desportos, 1996, p. 106-111 105

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CORRIDA ENTRE OS ÍNDIOS CANELAS: contribuições à história da educação física maranhense. São Luis: CEFET-MA, Revista “Nova Atenas” de Educação Tecnológica, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefetma.br/revista, utilizando-me da seguinte referencia bibliográfica: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do atletismo maranhense. "O Imparcial, 27 de maio de 1991, p. 9; AQUINO, Rubim S.L; LEMOS, Nivaldo J. F. de & LOPES, Oscar G.P. C. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro : Ao Livro Técnico, 1990.


Depois desse primeiro (e do segundo) artigo, o reescrevi várias vezes, sempre que alguma informação nova surgia. E agora, me deparo com este livro... O que me chamou a atenção é que desde 1984 venho me dedicando à este assunto. E publicando! Mas me chateia, sobremaneira, quando o Prof. Rizzo afirma: [...] Entre o final da década de 80 e o inicio da de 90 dois pesquisadores conduziram um projeto de pesquisa junto aos Ramkokamekra centrado na sua “cultura lúdico-corporal”, cujos resultados não foram divulgados no Brasil. (OLIVEIRA, 2011, p. 91)106 Pois bem, tenho, em português, o relatório preliminar apresentado logo após a segunda expedição! Além de que foram publicados, sim: DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório). Zeitgschift Muncher Beltrdzur Vulkerkunde, julho, 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. . A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte - v.15 - n.2 - 1994 Quando do retorno dos dois alemães de sua segunda incursão à aldeia Canela, apresentei ao Dickert um trabalho feito por outros dois pesquisadores alemães, na mesma aldeia, na década de 1950, abordando a Corrida de Toras! Dickert e Mehringer apresentavam seus estudos como trabalho inédito, entre os índios Canelas do Maranhão: JUNG, K. & BRUNS, U. Aspectos rituales de las carreras de larga distancia en diferentes culturas y epocas (conclusion). Stadium v.18, n. 105, p. 26-29, junho 1984. Após conhecimento desse artigo acima, e escrito sobre esse fato, em jornal local, ficaram de verificar sua veracidade, e não mais retornaram ao Maranhão... Mas publicaram o resultado provisório: DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. . A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte - v.15 - n.2 - 1994

BRASIL, CBAt. Atletismo - Regras Oficiais. Rio de Janeiro : Palestra, 1989. CORREIA LIMA, Olavo & AROSO, Olir Correia Lima. Pré-história maranhense. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. FEITOSA, Antonio Cordeiro. O Maranhão primitivo: uma tentativa de reconstituição. São Luís : Augusta, 1983. FRANÇA, Martha San Juan & GARCIA, Roberto. Os primeiros brasileiros. Superinteressante v. 3, n. 4, p. 30-36, abril de 1989. JUNG, K. & BRUNS, U. Aspectos rituales de las carreras de larga distancia en diferentes culturas y epocas (conclusion). Stadium v.18, n. 105, p. 26-29, junho 1984. MARINHO, Inezil Penna. História da educação física no Brasil. São Paulo : Cia. Brasil Ed.(s.d.). e claro: DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório). Zeitgschift Muncher Beltrdzur Vulkerkunde, julho, 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. 106 OLIVEIRA, Adalbetto Luiz Rizzo de. MESSIANISMO CANELA: entre o indigenismo de Estado e as estratégias do desenvolvimento. São Luis, EDUFMA, 2011,


SOBRE TUPIS E TAPUIAS107 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras A "ilha de Maranhão", como chamavam os franceses, e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 108.

Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 109 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi. Em A Pacotilha (30 de maio de 1925), de autoria de Ludovico Schwennhagen é publicado artigo com o seguinte título: MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada por navegadores fenícios: As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores eram gente que chegara ao Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes eram tupis: em Tutóia, tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (SCHWENNHAGEN, 1925).

Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da terra – tupis – fundando Tu-Troia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú: OS FENICIOS E OS TUPIS Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Ásia. Os fenícios, os carios e muito outros povo da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia, mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto campo troiano. Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia Nova ou Tróia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande guerra e fundaram TuTroia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu nome ao grande rio. Essas são as deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis).

(SCHWENNHAGEN, 1925).

107

Publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, em 12 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/12/sobre-tupis-etapuias/ 108 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 109 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004


Antes, em 1924, a 4 de setembro, também em A Pacotilha e sob o titulo “São Luis na Antiguidade” afirma que a Ilha do Maranhão tem um grande passado histórico. Que “Pinson, o companheiros de Colombo, tinha noticias duma grande ilha, que era o centro da nação dos Tupinambás, um trato de terra muito rico e populado”. Chegando às Antilhas, desligou-se de seu companheiro para procurar o continente, situado ao Sul, “onde a Ilha do Maranhão devia ser, conforme as antigas histórias que viviam ainda na memória dos índios, a cabeça de ponte para entrar no continente”. Não sabemos se Pinson realmente esteve nesta ilha, “mas fora de duvidas que a procurou”. Outros tentaram chegar a Ilha do Maranhão, informa, dentre eles Luis de Melo, Aires da Cunha e João de Barros; “a idéia sempre ficou”. Surgiu ainda em projetos a partir de Pernambuco, para descobrir a falada ilha do Maranhão: Pedro Coelho de Sousa e Martins Soares Moreno; as expedições terrestres de Francisco Pinto e Luis Figueira: [...] Entretanto, o instituto marítimo de Dieppe, o centro intelectual da Normandia, tinha por sua vez estudado a questão da ilha afamada do Maranhão, e os veleiros dos normandos franceses procuraram, já desde decênios, esse ponto milagroso da antiga civilização dos povos Tupis, dos filhos e Tupan, do grande Deus. Quando os normando entraram, em 1612, na ilha, estava ela já, desde muitos séculos, em decadência, mas sempre superava de muito todos os outros pontos marítimos dos Tupis, entre Pernambuco e a foz do Amazonas. Os primeiros viajantes europeus que andaram por terra, perto do litoral, de Recife à Ilha do Maranhão, encontraram nessa grande distancia somente 8 aldeias de índios, em quanto esta ilha tinha 27 aldeias bem organizadas, com seus chefes, com casas comuns para suas reuniões, com comerciantes e operários, e com cemitérios.[...]

O Padre Abbeville contou em algumas aldeias até mil habitantes, o que nos leva a pelo menos 27 a 30.000 habitantes; mantinha um grande comercio com o interior, de couros, mantimentos e pedras preciosas, etc. Não só Abbeville, mas ao padres português que sucederam aos capuchinhos franceses, contaram: [...] que os índios da ilha mostravam um alto grau de inteligência e usavam na sua língua as formas duma educação relativamente altiva. Não só com os estrangeiros, também entre eles mesmos usavam sempre palavras cerimoniosas e de respeito. Eles davam a impressão de fidalgos pobres, que tivessem conservado os costumes de sua antiga nobreza.

Para Schwennhagen (1924) todos os momentos geográficos e etnográficos indicam que a ilha do Maranhão: [...] constituía, na primeira época das grandes navegações, isto é, entre 3500 a 1000 anos antes da era christã, um empório marítimo e comercial. Essa época começou naquele momento em que se completou o desmoronamento do antigo continente Atlantis e que os povos que lá se refugiaram no ocidente, quer dizer na America Central, ou no oriente, nos países ao redor do mar Mediterrâneo. Sabemos que as frotas dos Fenícios navegavam desde 3500 a.C. entre a Europa, a África e a América, e sabemos que também os povos do México e do Norte do Brasil tinham uma extensa navegação. Os mapas marítimos, encravados em grandes placas de pedra calcareas, os quais existem hoje ainda em Paraíba e Amazonas, são documentos inegáveis.

Prossegue: A migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000 a.C. As ultimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cutivação da ilha do Maranhão na época de 2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus.

Para esse professor do Liceo de Parnaíba, onde está hoje São Luis, ‘devia estar 3000 anos antes a Acrópole da ilha do Maranhão’. Pode ser que navegadores estrangeiros, ‘talvez Fenícios, lhe dessem o impulso inicial para fazer daqui um empório comercial’


Por volta do ano 1.000, os territórios amazônicos haviam sido conquistados pelos movimentos de expansão dos povos tupi-guaranis, aruaques e caribes, principalmente. É por essa época que a Amazônia provavelmente atingiu uma das maiores densidades demográfica. (MIRANDA, 2007, p. 15) 110. O termo "tupis" possui dois sentidos: um genérico e outro específico. O sentido genérico do termo remete aos índios que habitavam a costa brasileira no século 16 e que falavam a língua tupi antiga111. Considera-se como Civilização Tupi-guarani todo elemento cultural que esteja de alguma forma relacionado com os idiomas do tronco linguístico tupi112. Tronco tupi é um tronco lingüístico que abrange diversas línguas das populações indígenas sul-americanas113. O tupi ou tupi antigo era a língua falada pelos povos tupis que habitavam o litoral do Brasil no século XVI (tupinambás, tupiniquins, caetés, tamoios, Tapuia é um termo que foi utilizado, ao longo dos séculos, no Brasil, para designar os índios que não falavam a língua tupi. Há diversos entendimentos das origens do termo, mas, em geral, observa-se que seria de procedência tupi e que teria significado semelhante a "forasteiro", "bárbaro", "aquele que não fala nossa língua", "inimigo"114: O termo "Tapuio" não é expressão designativa de uma etnia. É tão somente "Um vocábulo de origem tupi, corruptela de tapuy-ú – o gênio bárbaro come, onde vive o gentio. [...] É um dos termos de significação mais vária [diversificada] no Brasil. No Brasil pré-cabraliano, assim chamavam os tupis aos gentios inimigos, que, em geral, viviam no interior, na Tapuirama ou Tapuiretama – a região dos bárbaros ou dos tapuias". Tomislav R. Femenick, 2007115 [...] Tapuia significa "bárbaro, inimigo". De taba – aldeia e puir – fugir: os fugidos da aldeia. de Alencar, Iracema, 1865116

José

No período colonial, dividiam-se os índios brasileiros em dois grandes grupos: os tupis (tupinambás), que habitavam principalmente o litoral e os tapuias, que habitavam as regiões mais interiores e que falavam, principalmente, línguas do tronco macro-jê117. O tronco macro-jê é um tronco linguístico cuja constituição ainda permanece consideravelmente hipotética. Teoricamente, estendem-se por regiões não litorâneas e mais centrais do Brasil 118. Também conhecidos por "Bárbaros", habitavam, dentre outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande do Norte, divididos em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó), e eram chefiados por vários reis e falavam línguas diversas, e entre os mais destacados eram os reis Janduí e Caracar, cujo poder real não era hereditário. Os Tapuias eram fortes, possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eles eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal, eram endocanibalistas, isto é, devoravam até mesmo os de sua tribo quando da sua morte. Os Tapuias eram nômades. Eles paravam onde havia abundância de alimentos e gostavam de viver ao ar livre. Não construíam casa (por isso as suas habitações eram toscas e feias).119 Para Fernandes (2012)120, a origem dos índios brasileiros é controversa e o que é mais aceito, hoje em

dia, é o modelo de origem baseado nas quatro migrações: # a primeira foi uma migração africana/aborígine, como atesta o crânio da Luzia com seus traços negróides, de 11.000 anos atrás, # as três últimas migrações foram mongólicas vindas pelo estreito de Behring, também a partir de 11.000 anos, que dá o DNA dos nossos índios atuais,

110

MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO. 2 Ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

111 112 113

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupis https://pt.wikibooks.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_Tupi-Guarani/Introdu%C3%A7%C3%A3o

https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-tupi

114

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias http://www.tomislav.com.br/artigos_imp.php?detalhe=&id=280 116 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencar 117 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias 118 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-j%C3%AA 115

119

Os Tapuias - Dialetico.com WWW.DIALETICO.COM/HISTORIA_1/TAPUIAS.PDF FERNANDES, Anibal de Almeida. ESCRAVIDÃO de ÍNDIOS e NEGROS no SÉCULO XVI no BRASIL. www.genealogiahistoria.com.br, Disponível em http://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=50

120


# porém a maior das dúvidas/controvérsias retroage há 48.000 anos atrás com as fogueiras da Toca do Boqueirão no Piauí, até hoje não explicadas convincentemente. Pesquisa da revista científica Nature": cientistas analisaram quase 400 mil variantes de uma única "letra" química do DNA, a partir de amostras do genoma de 52 povos nativos, entre eles caingangues e suruís do Brasil, por exemplo. A comparação dessas variantes nos indígenas com as versões de outros povos do mundo permitiu mostrar que, conforme o esperado, a maior parte do genoma dos nativos das Américas foi legado por imigrantes vindos da Sibéria, há pelo menos 15 mil anos. No entanto, os esquimós e outros povos do Ártico parecem ter herdado cerca de 50% de seu DNA de outra onda, mais recente, vinda da Ásia. E um povo canadense, os chipewyan, derivam 10% de seu genoma de uma terceira onda, estimam os cientistas. (FSP: 12/7/12).

Existiam também povos Tapuias em alguns pontos da Região Nordeste do Brasil. Viviam na Amazônia, antes dos Tupis e dos Nuaruaques, provavelmente desalojados por esses grupos, passaram a ocupar o Xingu (região a partir da qual emigraram, atingindo vários Estados brasileiros, como Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e outros) 121. Os estudos indicam que as diversas migrações tenham ocorrido há pelo menos 40.000 anos. Ou mais... Nativos americanos pré-históricos tardios, como os índios, apresentam uma morfologia craniana semelhante à dos homens norte asiáticos modernos; já os crânios sul-americanos mais antigos tendem a ser mais semelhantes aos australianos, melanésios e africanos subsaarianos atuais (morfologia paleoamericana) (MIRANDA, 207, p. 39-40). Povos mongolóides vindos da America do Norte chegaram à America do Sul através do Istmo do Panamá, começando a colonização da Amazônia por norte-americanos de origem, encontrando-se sítios com cerca de 15 mil anos (Venezuela), 11.800 anos (Peru), 11.300 o sitio de Pedra Pintada no Pará. (MIRANDA, 207, p. 39-40). Teoria mais recente levante a hipótese de ter ocorrido também uma migração anterior de povos aparentados com os africanos e aborígenes australianos. De lá, eles provavelmente desceram ao longo do continente americano até atingir o extremo sul da América do Sul. Um desses povos diferenciou-se dos demais e desenvolveu uma língua proto-tupi, no sul da Amazônia, por volta do século V a.C. (provavelmente na região do atual estado brasileiro de Rondônia. Embora uma hipótese alternativa aponte a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão tupi-guarani122. Outros estudos demonstram que os tupis teriam habitado originalmente os vales dos rios Madeira e Xingu, que são afluentes da margem meridional do rio Amazonas. Estas tribos, que sempre foram nômades, teriam iniciado uma migração em direção à foz do rio Amazonas e, de lá, pelo litoral para o sul. Supõe-se que esta migração, que teria também ocorrido pelo continente adentro no sentido norte-sul, tenha principiado no início da era cristã. Numa hipótese alternativa, o folclorista Luís da Câmara Cascudo aponta a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão dos tupis-guaranis (incluindo os povos guaranis junto com os tupis123. Alguns autores suspeitam que, nesta trajetória, os tupis tenham enfrentado os tupinambás, que já habitariam o litoral; outros sustentam que apenas se tratava de levas sucessivas do mesmo povo, os posteriores encontrando os anteriores já estabelecidos. Certo é que, nesse processo, as tribos tupis derrotaram as tribos tapuias que já habitavam o litoral brasileiro, expulsando-as, então, para o interior do continente, por volta do ano 1000124. De lá, ele se expandiu no início da era cristã pelo leste da América do Sul, dividindo-se em várias tribos falantes de línguas derivadas desse idioma proto-tupi e que constituiriam o tronco linguístico tupi: tupinambás, potiguares, tabajaras, temiminós, tupiniquins, caetés, carijós, guaranis, chiriguanos etc.125. Outra proposta 126 considera que a migração no sentido sul dos povos que formariam os guaranis e os tupinambás teria ocorrido em duas levas em separado: 121 122

125

https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080910142552AAXkxKq

CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA 123

TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS

124

TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS

CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA


[...] a de povos protoguaranis e a de povos prototupinambás. A primeira, dos protoguaranis, teria se dividido algumas vezes. Um ramo entrou na Bolívia. Outro seguiu para o sul até a bacia dos rios Paraná e Uruguai. Deste segundo ramo, alguns grupos acompanharam os rios Paranapanema e Uruguai para o leste, chegando enfim ao litoral. Já os prototupinambás teriam descido o rio Paraguai, mas rumaram para o leste, um pouco mais ao norte do que os guaranis. Eles teriam seguido os rios Grande e Tietê, alcançando o litoral onde hoje é São Paulo, e depois ocupado a costa do sul para o norte. Por essa versão, os povos tupis-guaranis que não saíram da Amazônia migraram para o leste, mas não pelos grandes rios, e sim por seus afluentes (que muitas vezes quase se emendam), chegando ao Maranhão e ao Centro-Oeste (KNEIP, MELLO, 2013).

Ainda seguindo esses autores 127, estudos arqueológicos, por sua vez, apontam para outra direção: A partir da análise de cerâmicas, indicam como centro de origem da família tupi-guarani a região de confluência do rio Madeira com o Amazonas, ainda dentro dos limites daquele que hoje reconhecemos como o estado do Amazonas. A partir desse local, uma cisão teria resultado, grosso modo, em duas rotas de expansão. Um grupo origina os tupinambás. Eles migram em direção ao leste, pela boca do Amazonas, até encontrar o oceano. De lá, descem pela costa até o litoral de São Paulo, ou seja, do norte para o sul. Outro grupo, que daria origem aos guaranis, teria de início subido o rio Madeira para o interior da Amazônia e, então, descido pelo rio da Prata, até chegar ao litoral sul do Brasil. (KNEIP, MELLO, 2013).

Apresentam, então, uma terceira visão, lingüística: Apesar de Rondônia ter a maior diversidade linguística do tronco tupi, há apenas um subconjunto tupiguarani, e com línguas bastante semelhantes. A maior diversidade linguística da família tupi-guarani está mais para o leste amazônico, portanto, seguindo esse raciocínio, teria partido de lá a dispersão. A migração de tupinambás deve ter se dado no sentido norte-sul, novamente, por povoações não muito afastadas umas das outras, formando uma área contínua, em conjunto com outros grupos tupis-guaranis localizados no leste amazônico e no meio-norte. De fato, quando os europeus começaram a povoar a América do Sul, os tupinambás ocupavam cerca de três quartos do litoral que hoje corresponde ao Brasil: do Maranhão até São Paulo. As diferenças lingüísticas entre o norte e o sul eram mínimas, o que sugere uma rápida dispersão. (KNEIP, MELLO, 2013).

Estudo de 2008 aponta que a saída de índios tupis-guaranis da Amazônia remonta há 2.920 anos128: A saída de índios tupis-guaranis da Amazônia não é um evento tão recente como se imaginava. Um novo estudo encontrou evidências do povo na região onde hoje está o município de Araruama, no Rio de Janeiro, há 2.920 anos – mais de mil anos antes do que as evidências indicavam até então. Os resultados do trabalho foram publicados nos Anais da Academia Brasileira de Ciências. De acordo com a primeira autora, Rita Scheel-Ybert, [...] o aparecimento de datas cada vez mais antigas no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, nos últimos anos, tem mudado o paradigma a respeito da ocupação. Segundo ela, a hipótese mais aceita até o momento, baseada em dados lingüísticos, considerava que a saída dos tupis-guaranis da Amazônia não poderia ter ocorrido antes de cerca de 2.500 anos atrás. “A datação anterior existente para o sítio Aldeia Morro Grande, em Araruama, de 1.740 anos, já era considerada bastante recuada, sendo inclusive a mais antiga para o Estado do Rio de Janeiro. As novas datas, de cerca de 2.900 e 2.600 anos, seriam, por essa razão, completamente inesperadas”, disse à Agência FAPESP. 126

KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babelindigena, 1º DE ABRIL DE 2013 127

KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babelindigena, 1º DE ABRIL DE 2013 128

ALCANTARA, Alex Sander. MIGRAÇÃO (BEM) ANTERIOR. HTTP://WWW.GENTEDEOPINIAO.COM.BR/LERCONTEUDO.PHP?NEWS=39964

IN

GENTE

DE

OPINIÃO,

30/12/2008,

DISPONÍVEL

EM


[...] As novas datas, acredita ela, não questionam a origem amazônica dos tupis-guaranis, pois, para isso, seria necessário um número maior de evidências. Nossa hipótese é que a multiplicação dos estudos e um maior investimento em datações, tanto na Amazônia como no resto do Brasil, tenderão a revelar outras datações tão ou mais antigas como essas e permitirão uma melhor compreensão dos processos de ocupação do nosso território”, disse, salientando que outros autores já haviam sugerido que a expansão tupi-guarani a partir da Amazônia possa ter começado há bem mais de 2.000 anos.

Para Neves e Outros (2011) 129 pode-se dizer que a ideia de que esses povos, que ocuparam grande parte do território brasileiro e parte da Bolívia, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina, tiveram sua etnogênese na Amazônia e dali partiram para o leste e para o sul, por volta de 2.500 anos antes do presente, é bastante aceita entre os especialistas, embora uma dispersão no sentido oposto, isto é, do sul para o norte, com origem na bacia do Tietê-Paraná, não seja completamente descartada. Entre os arqueólogos que consideram a Amazônia como berço desses povos, alguns acreditam que esse surgimento se deu na Amazônia central. Outros acreditam que a etnogênese Tupiguarani ocorreu no sudoeste da Amazônia, onde hoje se concentra a maior diversidade linguística do tronco Tupi. (NEVES, e Outros, 2011). De acordo com Feitosa (1983)130, não é possível determinar a origem dos primeiros habitantes, havendo várias teorias que supõem o aparecimento do homem com duas hipóteses explicativas: a monogenica (o homem descendente de um único casal original) e a poligenica. Dentre as diversas teorias, temos: Africana, Monogenismo Americano, Australiana, Atlante, Cartaginesa, Chinesa, Egipcia, Grega, Ibera, Irlandesa, Malaio-Polinesia, e por fim a Mista. Ainda a Paleo-Asiática, Viking...131 Correia Lima e Aroso (1989) 132 apresenta as correntes migratórias das Américas, segundo CanalsPompeu Sobrinho, em número de cinco: Australóides, Protossiberianos, Paleo-siberianos, Protomalaios, e 129

NEVES, Walter Alves; Bernardo, Danilo Vicensotto; OKUMURAI, Mercedes; ALMEIDA, Tatiana Ferreira de; STRAUSS, André Menezes. Origem e dispersão dos Tupiguarani: o que diz a morfologia craniana? BOL. MUS. PARA. EMÍLIO GOELDI. Cienc. Hum., Belém, v. 6, n. 1, p. 95-122, jan.- abr. 2011 130 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luis: Augusta, 1983. 131 DOMINGUES, Virgilio. O TURIAÇU. São Luis: SIOGE, 1953 LOPES, Raimundo. A civilização lacustre do Brasil. In COSTA, Cássio Reis. A BAIXADA MARANHENSE, no plano do Governo João Castelo. São Luis: SIOGE, 1982. LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de janeiro: Cia Ed. Brasileira; Fon-Fon, 1970. LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. BANDEIRA, Arkley Marques. Os registros rupestres no Estado do Maranhão, Brasil, uma abordagem bibliográfica. In http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/arkley_marques_bandeira.htm ver também: http://www.naya.org.ar/ - NAYA.ORG.AR - Noticias de Antropología y Arqueología LIMA, Olavo Correia (1985). Província Espeleológica do Maranhão. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. Ano LIX n 10, São LuísMA, p. 62-70. LIMA, Olavo Correia (1986). Cultura Rupestre Maranhense. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. Ano LX, n. 11-São Luís –MA, p. 712. LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olair Correia Lima (1989). PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. SIOGE São Luís-MA. CARVALHO, J. B. de. Nota sobre a arqueologia da Ilha de São Luís. REVISTA DO IHGM, Ano VII, n. 6, dezembro de 1956 LOPES, Raimundo. O TORRÃO MARANHENSE. Rio de Janeiro: Typ. Do Jornal do Commercio, 1916 LOPES, Raimundo. ANTROPOGEOGRAFIA. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1956. (Edição fac-similar comemorativa ao centenário de fundação da Academia Maranhense de Letras, São Luis: AML, 2007). SAMPAIO, Alberto José de. Biogeografia Dinâmica - a natureza e o homem no Brasil. Coleção Brasiliana, vol. 53, 1935 SAMPAIO, Alberto José de. Fitogeografia do Brasil Coleção Brasiliana, vol. 35, 1935 AVELINO, Paulo. ”Resenha de livro raro: Uma Região Tropical, de Raimundo Lopes”, disponível em http://www.fla.matrix.com.br/pavelino/lopes.htmlfala LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-fon e Seleta, 1970. 197p. Coleção São Luís, volume 2. CORREA, Alexandre Fernandes. A ANTROPOGEOGRAFIA DE RAIMUNDO LOPES SOB INFLUÊNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA in http://teatrodasmemorias.blogspot.com/2009/12/antropogeografia-de-raimundo-lopes-sob.html CORREA, Alexandre Fernandes. AS RELAÇÕES ENTRE A ETNOLOGIA E A GEOGRAFIA HUMANA EM RAIMUNDO LOPES. CAD. PESQ .. São Luís. v. 14. n. 1. p.88-1 03. jan.!jun. 2003disponivel em http://www.pppg.ufma.br/cadernosdepesquisa/uploads/files/Artigo%206(16).pdf MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. IN REVISTA SEXTO SENTIDO, postado em 2010-06-11 13:25, no sitio http://www.revistasextosentido.net/, disponível em http://www.revistasextosentido.net/news/%20as%20cidades%20perdidas%20do%20maranh%C3%A3o/ EVREUX, Ives d´. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL FEITAS NOS ANOS DE 1613 A 1614. São Paulo: Siciliano, 2002. ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975 MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O BRASIL HOLANDÊS (1630-1654). São Paulo: Penguin Classics, 2010. PAULA RIBEIRO, Francisco de. MEMÓRIAS DOS SERTÕES MARANHENSES. São Paulo: Siciliano, 2002 PROJETO JOGOS INDÍGENAS DO BRASIL. in http://www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/campo.asp#canela PUXADA DO MASTRO AGITA OLIVENÇA. In CIA DA NOTÍCIA, disponível em http://www.ciadanoticia.com.br/v1/tag/derrubada-de-toras/, 08/01/2011, acessado em 23/01/2011 132 CORREIA LIMA, Olavo; AROSO, Olir Corria Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luis: Gráfica Escolar, 1989. CORREIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Ameríndios maranhenses. REVISTA IHGM, Ano LIX, n. 08, março de 1985 38-54 CORREIA LIMA, O. Homo Sapiens stearensis – Antropologia Maranhense REVISTA IHGM Ano LIX, n. 9, junho de 1985 33-43 CORREIA LIMA, O. Província espeleológica do Maranhão REVISTA IHGM Ano LIX, n. 10, outubro de 1985 62-70


Protopolinésios. Os australoides deram descendentes em ambas as Américas, sendo que na do Sul, aparecem os Lácidas, Huarpidas, Patagônicos. Os Lácidas, paleossiberianso, atingem o Brasil e o Maranhão; assim como os nordéstidas e os fueguinos, sendo que os primeiros atingem o Brasil e o Maranhão. Durante a expansão dos Tupis-Guaranis – descendentes dos protomalaios, e desembarcados nas costas ocidentais do istmo do Panamá, deslocaram-se para o suleste, atravessando os Andes, e atingindo o Amazonas, onde fizeram seu centro de dispersão. Migravam com muita freqüência, surpreendentemente rápidos. Desceram o Rio Amazonas e se embrenharam em seus afluentes: Madeira, Tapajós, Xingu, Tocantins, Araguaia e ainda Gurupi, Mearim, etc. Passaram ao rio Paraguai e seus afluentes do Paraná, chegando ao Atlântico. Marginaram-se em direção ao Norte, parando no Maranhão, para reencontrar seus irmãos amazonenses. Sua migração pela costa nacional é recente e se fazia sempre ás custas dos velhos ocupantes, notadamente os Lácidas. Os quais eram empurrados para o interior. Deixaram sempre ocupantes por onde passam, a exemplo dos Tupinambás, na Ilha de São Luis. Dos Tupis, hoje, restam os Guajajara – Tenetehára – com uma história longa e suingular de contato, a partir de 1615, nas margens do Rio Pindaré, com uma expedição exploradora francesa. Os Awá-guajá – se autodenominam Awá, também chamados Wazaizara (Tenetehara), Aiayé (Amanayé), Gwazá. O termo Awá significa ‘homem’, pessoa’, ou ‘gente’; sua origem é obscura, acreditando-se originários do baixo Tocantins. Acredita-se que a partir da Cabanagem (1835-1840) tenha inicado a migração rumo ao Maranhão. Já os Ka´apor (Urubu-Kaapor, Kaáporté) surge como povo distinto à cerca de 300 anos, provasvelmente na região entre os rios Tocantins e Xingu. Talvez os conflitos com colonizadpores luso-brasileiros e outros povos nativos, iniciaram longa e lenta migração, por volta de 1870, do Pará ao Maranhão, atraves do Gurupi. Foram pacificados em 1911. 133 Correia Lima e Aroso (1989) 134 traz que a ocupação do território maranhense se deu através de três correntes migratórias - Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas, nessa ordem. Embora os traços mais antigos da presença do homem no continente americano datem de 19 mil anos, as teorias mais recentes o dão como procedentes da Ásia a 20 ou 30 mil anos. Esses autores, ao adotarem a sistemática de Canals (1950) Pompeu Sobrinho (1955), afirmam que caçadores australóides do nordeste asiático - Sibéria, de acordo com Aquino, Lemos & Lopes (1990, p.19) 135 - ingressaram no Alasca há pelo menos 36 mil anos e durante os 20.000 anos seguintes consolidaram sua cultura e se expandiram pelo território, tendo seus descendentes atingido Lagoa Santa há 7.000 +/- 120 anos (VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 136. Sander-Marino (1970, citados por Correia Lima & Aroso, 1989, p. 19) registram entre 40 e 21 mil anos a presença dos superfilos MACRO-CARIB-JÊ, uma das correntes pré-históricas povoadoras das Américas. Para Feitosa (1983, p. 70) 137 há um consenso quando da "determinação temporal" da chegada dos australóides no Novo Mundo, com as estimativas variando de 20.000 a.C. (RIVET); 28.000 a.C. (CANALS); 40.000 a.C. (VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 138.

CORRIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Cultura rupestre maranhense – arqueologia, antropologia REVISTA IHGM Ano LX, n. 11, março de 1986 07-12 CORREIA LIMA, O. Parque Nacional de Guaxenduba REVISTA IHGM ano LX, n. 12, 1986 ? 21-36 CORRÊA LIMA, O. No país dos Timbiras REVISTA IHGM Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 82-91 CORREIA LIMA, O. Mário Simões e a arqueologia maranhense REVISTA IHGM Ano LXII, n. 14, março de 1991 23-31 133 Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 134 CORREIA LIMA, Olavo & AROSO, Olir Correia Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. 135 AQUINO, Rubim S.L; LEMOS, Nivaldo J. F. de & LOPES, Oscar G.P. C. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES AMERICANAS. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1990. 136 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios Canelas. In Painel apresentado na III JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In SOUSA E SILVA, José Eduardo Fernandes de (org.). ESPORTE COM IDENTIDADE CULTURAL: COLETÂNEAS. Brasília: INDESP, 1996, p. 106-111. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 128. Revisto e ampliado para apresentação no IHGM em 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. In XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and; XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport, Rio de Janeiro, 137 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luís: Augusta, 1983. 138 VAZ, obras citadas.


De acordo com pesquisas mais recentes, realizadas em São Raimundo Nonato - Piauí, foram encontrados fosseis com datação de 41.500 anos (FRANÇA & GARCIA, 1989)139. Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Canelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989, 1989b, 1994) 140. Para Miranda (2007)141: A partir da chegada dos humanos, cuja data os arqueólogos tendem a multiplicar em diversos eventos, origens e a recuar no tempo, progressivamente o espaço natural da Amazônia passa a ser objeto de uso, controle, acesso, exploração, mudanças, disputa, transferência e até transmissão entre grupos humanos cada vez mais numerosos e organizados, com diferentes histórias e patrimônios culturais.

Uma coisa é certa: a mais antiga e permanente presença humana no Brasil está na Amazônia: Há cerca de 400 gerações, e segundo autores controversos, há mais de 2.000 anos, diversos grupos humanos ocupam, disputam, exploram e transformam os territórios e seus recursos alimentares.(

MIRANDA, 2007, p. 41) Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos que viviam ao longo da costa eram os Tupi. Estes tinham escorraçado os povos de língua e cultura Jê para o interior, vivendo, em geral, na região dos cerrados. Teixeira e Papavero (2009) 142, ao narrarem a “Viagem do Capitão de Gonneville” – viagem de Binot de Paumier ao Brasil (1504) traz um passo curioso, de porque foram os brancos bem recebidos em certas tribos do litoral: [...] Durante os reparos da nau souberam os visitantes que se formara uma espécie de confederação das tribos daquele setor do litoral contra as tribos do sertão que as hostilizavam. Os amigos dos normandos pertenciam, assim como os vizinhos imediatos, ao ramo Tupi, que do Paraguai, segundo dizem especialistas, subiram a costa até além de Pernambuco, e, com interrupções, atingiram a região da marcha do silvícolas do sul para o norte, em que deslocavam outros indígenas e provocavam lutas contínuas [...]. (p. 152).

Correia Lima e Aroso (1989) trazem que os Lácidas foram os primeiros povoadores do Maranhão, como o foram do Brasil. Vieram através de correntes migratórias interioranas e se localizaram de preferencia na parte setentrional e maranhense do Planalto Central do Brasil. Eram representados por um povo, os Tremembé (Tatamembé, Trememmbé) que ocuapava inicialmente a costa maranhense, antes da chegada dos brasílidas. Na época do contato, viviam da fronteira do Pará (Rio Caeté) à do Piauí (Tutóia), sendo sua área preferida o Delta do Parnaíba e a Baia de Turiaçú. Os Nordéstidas chegaram ao Maranhão pela corrente litoranea local, ocupando todo o litoral, sendo os primeiros a usar essa corrente, vindo do Nordeste. Apenas os Muras seguiram para o Amazonas, tornando-se fluviais.

139

FRANÇA, Martha San Juan & GARCIA, Roberto. Os primeiros brasileiros. SUPERINTERESSANTE v. 3, n. 4, p. 30-36, abril de 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório). ZEITGSCHIFT MUNCHER BELTRDZUR VULKERKUNDE, julho, 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. . A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE v.15 - n.2 - 1994 141 MIRANDA, 2007, obra citada, p. 40-41. 142 TEIXEIRA, Dante M.; PAPAVERO, Nelson. A viagem do Capitão de Gonneville.In OS PRIMEIROS DOCUMENTOS SOBRE A HISTÓRIA NATURAL DO BRASIL (1500-1511) – viagens de Pinzón, Cabral, Vespucci, Albuquerque, do Capitão de Gonneville e da Nau Bretoa. 2 ed. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2009, p. 151-153. 140


Correia Lima e Aroso (1989) ao analisarem as estearias maranhenses, área ocupada pelos brasilidas, que atingiram também o Maranhão através de duas correntes migratórias, interiorana – Nu-Uraques (Uraques), depois os caraíbas, e finalmente os Tupi-Guaranis - e pela litoranea, e às vesperas e durante o contato, chegaram os ultimos Tupis, representados pelos Tupinambás. Com a invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores. Ainda dos Macro-jê temos os Canelas (Rankokamekrá; Apanyekrá); são remanescentes das cinco nações Timbira Oriental, sendo os Rankakomekrás descendentes dos Kapiekran, como eram conhecidos até 1820. Os primeiros contatos, indiretos, se dão por forças militares no fim do século XVII, ocorrendo incursões contra essas populações na ultima decada do seculo XVIII, dizimados por volta de 1814. Os Krikati se localizam ao sul do Maranhão, com os primeiros contatos por volta de 1814. O Gavião (Pukobyê) teve contato a partir do século XVIII, por volta de 1728. 143 Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de "TIMBIRAS", e dividem-se em dois ramos principais, segundo seu habitat - Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas "pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados", conforme afirma Teodoro Sampaio (1912, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando Spix e Martius (1817, citados por CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, "... gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.". Os Timbira são um povo física, lingüística e culturalmente caracterizado como da família Jê, que disperso, habitava o interior do Maranhão e partes limítrofes dos Estados do Pará, Goiás e Piauí. Esse povo existe ainda parcialmente, compondo-se hoje das seguintes tribos (NIMUENDAJÚ, 2001) 144: Timbira orientais: Timbira de Araparytiua Kukóekamekra e Kr˜eyé de Bacabal Kr˜eyé de Cajuapára Kre/púmkateye Pukópye e Kr˜ikateye Gaviões Apányekra (Canellas de Porquinhos) Ramkókamekra (Canellas do Ponto) Krahó Timbira ocidentais: Apinayé Seus parentes mais próximos são os Kayapó do norte, os Suyá e os hoje extintos Kayapó do sul. Hoje, os Tremembé são um grupo étnico indígena que habita os limites do município brasileiro de Itarema, no litoral do estado do Ceará, mais precisamente na Área Indígena Tremembé de Almofala (Itarema), Terras Indígenas São José e Buriti (Itapipoca), Córrego do João Pereira (Itarema e Acaraú) e Tremembé de Queimadas (Acaraú). Originalmente nômades que viviam num território que estendia-se nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Foram aldeados pelos Jesuítas no século XVII nas missões de Tutoya (Tutóia-Maranhão) 145, Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia). Foram declarados como não existentes pelo então governador da Província do Ceará (José Bento da Cunha Figueiredo Júnior), após decreto de 1863. Antes disto, em 1854, os índios perderam o direito da terra pela regulamentação da Lei da Terra. Estes ressurgem no cenário cearense nas décadas de 1980 e 1990, quando são reconhecidos pela FUNAI. 146 Retornamos com Schwennhagen147

143

Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. ESTA TERRA TINHA DONO. 6 ed. Revs. E atual. São Paulo: FTD, 2000 144 NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. MANA v.7 n.2 Rio de Janeiro oct. 2001 145

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, Pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. REVISTA DO IHGM, No. 37, junho de 2011 – Edição Eletrônica, p 176-186 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011 146 http://pt.wikipedia.org/wiki/Trememb%C3%A9s 147 SCHWENNHAGEN, Ludovico, MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. IN A PACOTILHA, São Luis, 30 de maio de 1925


O MARANHÃO. REPUBLICA DOS TUPINAMBAS Mas o Maranhão existia como a republica dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. O sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) era a capital federal, isto é, o lugar, onde se reuniam todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (SCHWENNHAGEN, 1925).

O CONGRESSO DO MULUNDÚS Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús. Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo ano os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do Maranhão se reúnem os delegados de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro d grande reunião do povo. Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde vêem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás. Ludovico Schwennhagen

Bandeira (2013) 148 traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76). [...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76). [...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76). A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).

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BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013.


A CORRIDA ENTRE OS ÍNDIOS CANELAS

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 40 RESUMO Descreve-se a "corrida de toras", praticada pelos índios Canelas, classificada como pertencente ao grupo das provas de revezamento, procurando se estabelecer ser esta a primeira atividade "esportiva" praticada no Maranhão. Os Canelas, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias - regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se for aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo, também deve ser aceita a corrida entre os Canelas como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses (brasileiras). Introdução Em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida e esta sempre teve primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura, onde representam os valores e as normas sociais o mesmo ocorrendo quando levada para a esfera do lazer (lúdico). Catharino (1995) ao fazer uma análise do “Trabalho índio em terras de Vera ou Santa Cruz e do Brasil” refere-se, dentre esses trabalhos a dois que nos interessam particularmente: “O trabalho desportivo” e “O trabalho locomotor”. Ao analisar o trabalho desportivo considera que nesse mundo, antes da chegada dos brancos, a sobrevivência exigia qualidades atléticas, exercícios constantes, com descanso e repouso intercalados, de duração sumamente variáveis. Por isso, os índios se tornavam atletas naturais, para sobreviver, pois tinham que, em terra, andar, correr, pular, trepar, arremessar, carregar, e, na água, nadar, mergulhar e remar. Realizar trabalho-meio, autolocomotor, com suas próprias forças, apenas e/ou, também, com auxílio de instrumentos primitivos, para obtenção de produtos necessários: “Entre prática guerreira e desportiva há um nexo de causalidade circulativo, proporcionalmente inverso. Mais prática desportiva, menos guerra. Mais guerra, menos aquela. Causas produzindo efeito repercutindo sobre a causa. Nexo fechado, de recíproca causalidade e efeito. O trabalho-meio, autolocomotor, servia de aprendizado e adestramento – atlético que era – ao competitivo”.

Entre a infância e a puberdade, e a adolescência e a virilidade ou maioridade, entre os 8 e 15 anos, a que chamamos mocidade, os kunnumay, nem miry nem uaçu, tomavam parte no trabalho dos seus pais imitando o que vêem fazer. Não se lhes manda fazer isto, porém eles o fazem por instinto próprio, como dever de sua idade, e já feito também por seus antepassados: “Trabalho e exercício, esses mais agradáveis do que penosos, proporcionais à sua idade, os quais os isentavam de muitos vícios, ao qual a natureza corrompida costuma a prestar atenção, e a ter predileção por eles. Eis a razão porque se facilita à mocidade diversos exercícios

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Painel apresentado na III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, 1995; Artigo publicado na COLETÂNEA INDESP DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília: Ministério Extraordinário dos esportes/Instituto Nacional de Desenvolvimento dos desportos, 1996, p. 106-111. Revisto e ampliado para esta apresentação.


liberais e mecânicos, para distraí-la da má inclinação de cada um, reforçada pelo ócio, mormente naquela idade”.

Após essas explicações, o Autor informa que essa seção – o trabalho desportivo – é dedicada ao trabalho competitivo entre índios, embora caçando e pescando, competissem amiúde com outros animais, considerados irracionais, o que faziam desde a infância. Sem falar nos jogos educativos: “... jogos e brinquedos (Métraux) dedicou um só parágrafo, quase todos graças a d’Evreux, acerca dos feitos pelos Tupinambás. “Tratava-se de ‘arcos e flexas proporcionais às suas forças’. O jogo, educativo para a caça, pesca e guerra, era possível porque reunidos plantavam, e juntavam cabaças, que serviam de alvo, ‘adextrando assim bem cedo seus braços’. Assim, brincavam os meninos de 7 a 8 anos. Kunumys-mirys. As meninas, na mesma faixa etária, Kugnantins-myris, além de ajudarem suas mães, faziam ‘uma espécie de redesinhas como costuma por brinquedo, e amassando o barro com que imitam as mais hábeis no fabrico de potes e panelas’.

Ao descrever as atividades da educação física no Brasil colonial, MARINHO (s.d.) afirma serem a "pesca, a natação, a canoagem e a corrida a pé processos indispensáveis para assegurar a sobrevivência de nossos índios". O Atletismo aparece em Maranhão anterior ao período colonial, através da Corrida de Toras – pertencente ao grupo de provas de revezamentos – dos Índios Kanelas Finas – pertencentes à etnia Jê, presentes por estas terras há pelo menos cinco mil anos. O “esporte nacional dos Tapuya”, que praticavam uma corrida a pé carregando peso, é registrado por dois historiadores franceses - Claude d´Abeville – “História da Missão dos padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”, de 1614; e Ives d´Evreux – “Viagem ao Norte do Brasil feitas nos anos de 1613 a 1614”, publicada em 1864.

http://www.funai.gov.br/indios/jogos/novas_modalidades.htm#005


No Brasil holandês, se distinguiam a população indígena entre os ‘brasilianos’ ou ‘brasilienses’ e os ‘tapuias’. As relações entre os holandeses e os tapuias são tratadas abundantemente nas fontes neerlandesas, como é o caso das narrativas de Gerrit Gerbranstsz Hulck, publicada em 1635: “Breve descrição dos tapuias no Brasil”; e a narrativa de viagem de Rouloux Baro em seu contato com Janduí, o chefe tapuia do Rio Grande do Norte, aliado dos holandeses: “[...] Ao nascer do sol, o ancião ordenou às mulheres que fizessem farinha e aos homens que fossem à caça de ratos e voltassem logo após o meio-dia, a fim de correr a árvore. Obedeceram e entrementes dois tapuias trouxeram sobre suas espáduas dois troncos de árvores, de mais de vinte pés de comprimento. Tiraram-lhes a casca na chama do fogo e poliram a madeira toda em volta, sem deixar nenhum nó. E quando todo o povo regressou cada qual pintou o corpo em diversas cores. Isto feito, aqueles que tinham apanhado ratos soltaram-nos na planície, depois parte deles carregou prontamente aqueles troncos, correndo com uma velocidade inigualável atrás dos ratos. Quando um deles parecia cansado, outro o substituía sem retardar a corrida, que durou mais de uma hora. Depois de terminada, cada um que voltava contava como e de que modo perseguira, ferira e matara os ratos. O ancião Janduí correra com eles e Ra coisa maravilhosa ver um homem de mais de cem anos (segundo a opinião dos seus, de mais de 160) correr com tanta destreza.” (in “Relação da viagem de Rouloux Baro”, anexa a Pierre Moreau, História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses, Belo Horizonte, 1979, p.99, citado por MELLO, 2010, p. 269; grifos nosso).

A “Corrida das Toras” é absorvida pela Igreja Católica, e incorporada aos ritos religiosos dos padres jesuítas que chegaram ao final do século XVI. A exemplo da tradicional festa da Puxada do Mastro, em Olivança, e os mastros levantados em inúmeras festas religiosas, de hoje em dia.

(http://www.ciadanoticia.com.br/v1/tag/derrubada-de-toras/)


Origem dos índios Canelas: A ocupação do território maranhense se deu através de três correntes migratórias - Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas, nessa ordem. Embora os traços mais antigos da presença do homem no continente americano datem de 19 mil anos, as teorias mais recentes o dão como procedentes da Ásia a 20 ou 30 mil anos (CORREIA LIMA & AROSO, 1989). Esses autores, ao adotarem a sistemática de Canals (1950) - Pompeu Sobrinho (1955), afirmam que caçadores australóides do nordeste asiático - Sibéria, de acordo com Aquino, Lemos & Lopes (1990, p.19) - ingressaram no Alasca há pelo menos 36 mil anos e durante os 20.000 anos seguintes consolidaram sua cultura e se expandiram pelo território, tendo seus descendentes atingido Lagoa Santa há 7.000 (mais ou menos) 120 anos. Sander-Marino (1970, citados por Correia Lima & Aroso, 1989, p. 19) registram entre 40 e 21 mil anos a presença dos superfilos MACRO-CARIB-JÊ, uma das correntes pré-históricas povoadoras das Américas. Para Feitosa (1983, p. 70) há um consenso quando da "determinação temporal" da chegada dos australóides no Novo Mundo, com as estimativas variando de 20.000 a.C. (RIVET); 28.000 a.C. (CANALS); 40.000 a.C. De acordo com pesquisas mais recentes, realizadas em São Raimundo Nonato - Piauí, foram encontrados fosseis com datação de 4l.500 anos (FRANÇA & GARCIA, 1989). Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Canelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989ª, 1994). Paula Ribeiro (1841, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989; PAULA RIBEIRO, 2002; FRANKLIN, CARVALHO, 2005) descreve uma das principais "manifestações do lúdico e do movimento" - para usar uma expressão de Dieckert & Mehringer (1989b, 1994) -, na cultura Jê, referindo-se à música e à dança: "... enquanto as muitas mulheres guizam as comidas, dançam eles e cantam ao som de buzinas, maracás e outros instrumentos... esta dança e música noturna, melhor repetida depois da ceia, dura quase sempre até as cinco da manhã..." (p. 39).

Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de "TIMBIRAS", e dividem-se em dois ramos principais, segundo seu habitat - Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas "pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados", conforme afirma Teodoro Sampaio (1912, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando Spix e Martius (1817, citados por CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, "... gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.". Os Timbira são um povo física, lingüística e culturalmente caracterizado como da família Jê, que disperso, habitava o interior do Maranhão e partes limítrofes dos Estados do Pará, Goiás e Piauí. Esse povo existe ainda parcialmente, compondo-se hoje das seguintes tribos (NIMUENDAJÚ, 2001): Timbira orientais: Timbira de Araparytiua Kukóekamekra e Kr˜eyé de Bacabal Kr˜eyé de Cajuapára Kre/púmkateye Pukópye e Kr˜ikateye


Gaviões Apányekra (Canellas de Porquinhos) Ramkókamekra (Canellas do Ponto) Krahó Timbira ocidentais: Apinayé Seus parentes mais próximos são os Kayapó do norte, os Suyá e os hoje extintos Kayapó do sul. Ao descrever as atividades da educação física no Brasil colonial, Marinho (s.d.) afirma serem a "pesca, a natação, a canoagem e a corrida a pé processos indispensáveis para assegurar a sobrevivência de nossos índios". Acreditam Dieckert & Mehringer (1989a, 1989b, 1994) ser "através da criação e da valorização cultural da corrida de toras... a base para a sua [dos Canelas] sobrevivência física e cultural" .

A corrida de toras Na etnologia sul-americana, as corridas de toras são geralmente apontadas como traço característico dos Jê ou, no máximo - levando-se em conta testemunhos acerca de povos extintos ou que as teriam realizado no passado -, estendidas ao tronco lingüístico Macro-Jê (Melatti, 1976). Nos tempos correntes, praticam-nas os jês centrais Xavante e Xerente, os Panará e os grupos timbiras.(VIANNA, 2001). Vianna (citando MARTÍNEZ-CROVETTO, 1968b), informa sobre práticas similares entre sub-grupos guaranis na Argentina e Paraguai.

http://torceporvoce.blogspot.com/2009/04/corrida-com-tora.html


Por outro lado, os eventos contemporâneos Jogos Indígenas têm propiciado que outros povos que vivem no Brasil passem a praticar as corridas de tora (BRITO VIANNA, 2001). Como curiosidades longínquas, é ainda interessante observar os registros sobre corridas em que se levam sobre os ombros pedras, no Assam (Índia), e mesmo outros homens, no Havaí (Damm, 1970 [1960], citado por VIANNA, 2001). Os povos indígenas que praticam essa atividade, hoje, são os: Krahô, Xerente, e Apinajé do Tocantins, que habitam a região central do Estado de Mato Grosso em várias terras indígenas e os Gavião Parakategê e Kyikatêjê do Pará, Terra Indígena Mãe Maria. Os Kayapó do Pará e do Mato Grosso realizavam semelhante esporte que consistia em carregar e não correr com as toras. Os Fulni-ô de Pernambuco teriam praticado esse esporte no passado, de acordo com estudo do antropólogo Curt Nimuendajú. Os Kanela e os Krikati são do estado do Maranhão (FUNAI). Entre os Krahô, Xerente, e Apinajé, a Corrida de Tora difere em diversos aspectos, obedecendo a seus ritos tradicionais de significados social, religioso e esportivo. Para o povo Khraô, habitante de extensa faixa contínua de Cerrado no estado de Tocantins, ela está associada a algum rito e, conforme esses ritos variam os grupos de corredores, assim como o percurso e o tamanho das toras.

Essas atividades são realizadas sempre com duas toras praticamente iguais. Os participantes se dividem em dois grupos de corredores “rivais”, cabendo apenas a um atleta de cada grupo carregar a tora, revezando-se em um mesmo percurso. As corridas se realizam no sentido de fora para dentro da aldeia, nunca de dentro para fora, ou mesmo dentro dela, quando estabelecem os pontos de largada e chegada no pátio de uma casa chamada woto, uma espécie de oca preparada para todas as atividades culturais, sociais e política. É sempre realizada ao amanhecer e ao entardecer. As corridas vindas de fora acontecem geralmente no final das tardes, quando os Krahô retornam de alguma atividade coletiva (caça ou roça). A corrida de tora é praticada nos rituais, festas e brincadeiras. Nesses casos, as toras podem representar símbolos mágicos-religiosos, como durante o ritual do Porkahok, que simboliza o fim do luto pela morte de algum membro da


comunidade. Pela manhã, a corrida ganha um sentido de ginásticas para a preparação do corpo. Corre-se apenas com as toras já usadas ao redor das casas, no sentido contrário do relógio. (FUNAI).

Os Xavante, do Mato Grosso, também realizam a Corrida de Tora, o Uiwed, entre duas equipes de 15 a 20 pessoas. Pintam os corpos e correm mais de cinco quilômetros, revezando-se até chegar ao Wa'rãm'ba, o centro da aldeia, e iniciam a Dança do Uwede'hõre. Na festa do U'pdöwarõ, a festa da comida, também existe a corrida com tora, mas nesse evento a tora usada é maior e mais pesada (média de 100 a 110 Km). Os Gavião Kyikatêjê/Parakateyê, do Pará, também grandes corredores de tora, obedecem aos mesmos rituais de outros povos, mas há uma peculiaridade que é o Jãmparti (pronuncia-se Iãmparti). Trata-se de uma corrida com uma tora com mais de 100 Kg, mais comprida e carregada por dois atletas. Realizada sempre no período final das corridas de toras comuns, ou seja, aquela que é carregada por um atleta, com o sentido de harmonia e força. Em todas essas manifestações há a participação das mulheres. Não há um prêmio para o vencedor, pois somente a força física e a resistência são demonstradas. (FUNAI).

Autor(a) Roberto Castro http://br.olhares.com/corrida_de_tora_foto261655.html


Jung & Bruns (1984) ao analisarem os aspectos rituais das corridas de longa duração em diferentes culturas e épocas afirmam ser “outra forma de corrida religiosa... a chamada corrida do tronco dos índios Jês no Brasil meridional... A corrida podia ser um rito ou também ter caráter profano. Os participantes podiam ser homens, mulheres ou inclusive crianças”. Para esses pesquisadores, baseados em Stahle (1969), a época das corridas corresponderia ao início das chuvas. Dieckert & Mehringer (1989a, 1989b, 1994) afirmam que as corridas de toras são realizadas durante os cinco diferentes ciclos festivos "que ocorrem na época das secas, de março a setembro".

NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. Mana v.7 n.2 Rio de Janeiro oct. 2001


http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1135/grito-do-cerrado-2004 Não descartam o contexto ritualista da corrida, que marcam os "ritos de iniciação, o regresso à aldeia após uma caçada ou também como prova de matrimônio", não havendo surpresa em que essas corridas fossem executadas às vezes diariamente. Segundo os regulamentos, duas equipes, - representação dual da sociedade Canela onde as duas metades da aldeia, a ocidental e a oriental se "opõe" (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1994) - teriam que carregar os troncos de madeira (palmeira buriti) - (DICKERT & MEHRINGER, 1989b, 1994) - em uma corrida por um caminho previamente traçado, até uma meta estabelecida, quase sempre fixada na praça da aldeia. Bruns & Jung (1984) trazem como distância de corrida 12 quilômetros e o peso do tronco até 100 quilos. Dieckert & Mehringer (1989a, 1989b, 1994) dividem as corridas em longas (20 a 40 km), médias (4/5 km) e "corridas na aldeia" (850 metros). As corridas longas, de acordo com depoimento dos índios, ocorriam antigamente com mais freqüência. Os pesquisadores presenciaram uma corrida longa, de 25 km, no período em que permaneceram entre os Canelas e aproximadamente 20 corridas médias, saindo do cerrado para a aldeia, numa distância de 4/5 km, distância também corrida pelas mulheres. As toras de palmeira buriti pesavam entre 20 e 110 quilos


Indígenas XAVANTE na apresentação de Corrida de Tora feminina Foto:Marília França - Fonte:Anna Virgínia Cunha / Tenõde Porá UCB News http://webradiobrasilindigena.wordpress.com/2007/12/02/corrida-de-tora/

As "corridas de aldeia" eram realizadas com mais freqüência, sempre por volta das 6 horas da manhã e/ou à tarde, pelas 4 horas, no caminho circular de 850 metros. Cada equipe carrega um tronco que é trocado com freqüência, já que é muito pesado para ser levado por um só corredor durante o longo trajeto percorrido. O tronco é passado do ombro de um corredor para o de outro, repetindo-se a cada 50 a 100 metros: “O objetivo da competição é transportar a tora, fazendo trocas entre os corredores carregadores - o mais rápido possível, entre a partida e a chegada, onde ela deve ser jogada primeiro. Isso só pode ser feito quando cada membro do grupo dispor tanto de uma boa condição para a corrida como também de uma boa força para o transporte. Além disso deve acontecer uma constante combinação entre os corredores (atitude tática), sobre quando deveria ser feita a troca da tora. Além disso não pode haver perda de tempo na troca da tora de um ombro para outro. Deve-se por esgotamento do carregador ou durante a troca. Assim sendo, sempre se combinam as coisas no grupo antes da corrida ...". (DIECKERT & MEHRINGER, 1989a, p.13).

Verifica-se, pelas regras principais, que se trata de uma corrida de revezamento aonde toda a equipe vai correndo atrás de quem leva o tronco, e têm um caráter competitivo entre os dois grupos adversários, onde o objetivo sério é: vencer (DICKERT & MERINGER, 1989a, 1989b, 1994). No entanto não há nem elogios para o ganhador, nem críticas para o perdedor (JUNG & BRUNS, 1984), pois conforme informou um dos corredores a DIECKERT E MEHRINGER (1989a, 1994) "(...) ele sempre procura não correr muito mais rápido do que o adversário. Isso poderia causar inveja e, também, haveria o perigo de um 'feiticeiro' (bruxo - curandeiro mau) castigá-lo..." (p. 14). Para Jung & Bruns (1984) o significado do tronco já não é mais conhecido pelos indígenas,


"... se supõe uma relação com o culto dos mortos, onde o tronco de madeira simbolizaria os mortos. Através de se carregar consigo os mortos, nessas festas, deveria produzir-se uma união das almas dos mortos com as dos jovens, para que a força dos maiores se transferia a eles e estimule seu crescimento".

Dieckert & Mehringer (1989a, 1994) ao procurarem o significado das corridas, encontram em Nimuendajú (1946, 2001) como sendo uma forma de honrar as almas mortas, o que é interpretado por Stahle (1969) como "culto da morte", pois “... todas as toras são consideradas 'representantes dos mortos' e a corrida de toras possibilita uma 'ressuscitação das toras como forma de garantia da vida para além da morte para os mortos". Já Schultz (1964) segue a interpretação de Nimuendajú (1946, 2001), em suas investigações sobre os Krass, mas enfatiza também o "caráter esportivo".

Os RANKAKOMEKRAS confirmam que a tora seria uma alma dos mortos. Mas "... a alma do morto (megaro) teria se transformada numa moça e agora se encontraria na palmeira Buriti...".

Conclusão: As formas de movimento dos índios Canelas se manifestam num contexto de ritual (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994; JUNG & BRUNS, 1984). Por ser uma sociedade dual - onde as duas metades da aldeia se opõem -, o que determina a conseqüente formação de grupos (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994), situações de conflito são resolvidas, por exemplo, com a realização da "corrida de toras" (FEITOSA, 1983). Nela se manifestam os valores e as normas sociais (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1994). São as festas que aproximam os jovens dos valores e normas culturais, que lhes permite "vivenciar" o mundo de acordo com suas leis (DICKERT & MEHRINGER, 1989b, 1994). Parece verdadeira a interpretação de ser a corrida de tronco um culto aos antepassados (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994; JUNG & BRUNS, 1984), pois as regras da corrida foram ensinadas 'pelos bisavós' e ainda são respeitadas (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994). Há um sentido mais profundo na realização da corrida, pois aquele que "quiser viver como caçador e coletor e também como guerreiro tem que apresentar uma excelente condição física". Por isso, essa "necessidade de sobrevivência" foi formulada (...) enquanto 'objetivo de ensino' para os jovens, num contexto cultural, a fim de garantir a continuação da tribo." (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1994). Observa-se que em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994; JUNG & BRUNS, 1984) e esta sempre teve, primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representam os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levadas para a esfera do lazer (lúdico). Os Canelas, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias - regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se é aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo (BRASIL, 1989; VAZ, 1991), também se deve aceitar a corrida entre os Canelas como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses, pois quando as diversas nações européias modernas aqui chegaram por volta dos anos 1.500 já encontram diversas outras nações, sendo a mais antiga delas os Canelas.


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Cláudio refere-se aos JOGOS DOS AMIGOS’ realizado todos os anos pelo por Mauro Fecury nas dependências do UniCEUMA, agora. ii Trata-se dos Harlen Globetrotters, equipe de basquetebol profissional americana. Ganhou a alcunha de time de basquete mais famoso do mundo, por fazer de suas partidas uma mistura de entretenimento e habilidades performáticas. A equipe viaja o mundo fazendo a alegria das pessoas por onde passam. Foi construído na época de 1927, por Abe Saperstein, tendo por base três jogadores da equipe semi-profissional Savoy Five, da cidade de Chicago, orientada por aquele treinador e que se tinha dissolvido nesse mesmo ano. A equipe encetou uma digressão pelos Estados Unidos da América, realizando jogos de exibição. Mais tarde, esta equipe tornou-se mundialmente famosa, tanto pela habilidade dos seus jogadores, como pelas suas brincadeiras. Adotou uma versão da música Sweet Georgia Brown para a sua apresentação, com enorme sucesso. Realizou dois filmes de grande-metragem. Os Globetrotters efetuaram a sua primeira volta ao mundo em 1952. Esta equipe teve nas suas fileiras numerosos jogadores negros, sendo os mais famosos: Wilt Chamberlain, Gosse Tatum, Marques Haynes, Harrison e Lemon. O seu uniforme consiste em camisas azuis com estrelas vermelhas e brancas e calções listrados, nas cores vermelho e branco. Os Globetrotters também tiveram seu próprio desenho. http://pt.wikipedia.org/wiki/Harlem_Globetrotters iii Cláudio refere-se aos JOGOS DOS AMIGOS’ realizado todos os anos pelo por Mauro Fecury nas dependências do UniCEUMA, agora. iii Trata-se dos Harlen Globetrotters, equipe de basquetebol profissional americana. Ganhou a alcunha de time de basquete mais famoso do mundo, por fazer de suas partidas uma mistura de entretenimento e habilidades performáticas. A equipe viaja o mundo fazendo a alegria das pessoas por onde passam. Foi construído na época de 1927, por Abe Saperstein, tendo por base três jogadores da equipe semi-profissional Savoy Five, da cidade de Chicago, orientada por aquele treinador e que se tinha dissolvido nesse mesmo ano. A equipe encetou uma digressão pelos Estados Unidos da América, realizando jogos de exibição. Mais tarde, esta equipe tornou-se mundialmente famosa, tanto pela habilidade dos seus jogadores, como pelas suas brincadeiras. Adotou uma versão da música Sweet Georgia Brown para a sua apresentação, com enorme sucesso. Realizou dois filmes de grande-metragem. Os Globetrotters efetuaram a sua primeira volta ao mundo em 1952. Esta equipe teve nas suas fileiras numerosos jogadores negros, sendo os mais famosos: Wilt Chamberlain, Gosse Tatum, Marques Haynes, Harrison e Lemon. O seu uniforme consiste em camisas azuis com estrelas vermelhas e brancas e calções listrados, nas cores vermelho e branco. Os Globetrotters também tiveram seu próprio desenho. http://pt.wikipedia.org/wiki/Harlem_Globetrotters


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