REVISTA DO LÉO 22.1 - JULHO 2019 - EDIÇÃO ESPECIAL - CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

"INSERIR O NOVO NO VELHO, SEM MOLESTAR RAÍZES"

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 22.1 – JULHO – 2019 EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

Capa Fotos de Sapo e Roberval Serejo, em demonstração de Capoeira Mestres-alunos do Curso de Capacitação de Mestres Capoeiras do Maranhão, no dia do início das aulas, na UFMA, com coordenadores, professores. 2017

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

2017 VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017

2018 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018

https://issuu.com/…/docs/3ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201


2019 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE


EDITORIAL A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Tenho me dedicado ao resgate da memória dos esportes, do lazer e da educação física no/do Maranhão, configurando uma área de estudo. No momento em que o IPHAN Superintendência do Maranhão começa a traçar os objetivos de resgate e registro das atividades da Capoeira no Maranhão, através da Salvaguarda da capoeira no Maranhão1, e vendo que se cometeram alguns equívocos nos registros que até então se utilizam, deixando de registrar o inicio – aparecimento – dessa manifestação do movimento e do lúdico por estas bandas, e a sua singularidade, já demonstrada, inclusive por inúmeras dissertações e teses universitárias 2, defendidas, aqui e em outros países, decidi-me de juntar, em um único documento –o presente dossiê – o que tinha. Minhas publicações sobre a Capoeiragem tiveram início ainda nos anos 1990... Aparecem no Atlas do Esporte no Brasil3, coordenador/editado por DaCosta (2006), e no Atlas do Esporte no Maranhão, editado/coordenado por mim (2014)4; por cerca de 10 anos mantive um Blog no sitio da Mirante/Rede Globo G1/Esporte, retirado recentemente do ar, e de então iniciei a publicação do arquivo – das publicações – daquele sitio em um veiculo de difusão próprio – a Revista do Léo, até o momento com 22 numeros publicados, além de três edições especiais – esta será a quarta, dedicadas... Aqui, colocarei parte de meu livro, disponibilizado na nuvem: CRONICA DA CAPOEIRAGEM, em sua 1ª edição - https://issuu.com/home/published/cronica_da_capoeiragem_-_issuu , e segunda edição revista e ampliada https://issuu.com/home/published/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g - já com mais 100.000 acessos!!!. Ainda não publiquei na ‘nuvem’ o novo livro: Capoeiragem Tradicional Maranhense 5, fruto da ultima grande pesquisa, em que ouvi os 29 mestres participantes do curso de capacitação, promovido pela UFMA... depois, ainda ‘cometi’ algumas outras publicações, sendo a ultima, no numero 22 da Revista do Léo, quando

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IPHAN/MA. II Fórum para Salvaguarda da Capoeira no MA. http://portal.iphan.gov.br/agendaEventos/detalhes/298 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-asdesconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015. BARROS. Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 2, n. 3, jan./jun. 2005 BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 3 http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-brasil/ http://cev.org.br/biblioteca/capoeira-2/ http://cev.org.br/biblioteca/cluster-esportivo-sao-luis-maranhao-1860-1910/ 4 http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ http://cev.org.br/biblioteca/cluster-esportivo-sao-luis/ http://cev.org.br/biblioteca/tambor-de-crioulo-a/ http://cev.org.br/biblioteca/tradicoes-capoeira-capoeiragem-maranhao/ http://cev.org.br/biblioteca/box-tributo-mestre-sapo/ http://cev.org.br/biblioteca/capoeria-outras-cidades/ 5 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. São luis, Revista do Léo 1, outubro de 2017, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE – REV DO LEO, 14, NOVEMBRO 2018, p. 98 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb 2


trato do mapeamento da capoeiragem no Maranhão6, objeto de licitação pública, para a sua construção, ora em desenvolvimento. Da leitura do documento bem se vê que os levantamentos preliminares, em conjunto com o Fórum Permanente da Capoeira, estão eivados de alguns equívocos que não retratam, fielmente, o surgimento dessa expressão cultural no Maranhão, colocando-a a partir dos anos de 1870: [...] Sobre a chegada da Capoeira, sabe-se que a embarcação Lamego7 aportou, em meados 1879, em São Luís com marinheiros que se envolveram em brigas nas quais utilizavam a capoeiragem como forma de defesa. O pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em Capoeira/Capoeiragem no Maranhão8, compila informações sobre fatos da capoeira no Estado, onde informa que em 1877 a capoeira “é aceita como o primeiro esporte com cunho competitivo praticado no Maranhão”.

A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular9, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Kafure (2012) 10 ao discutir o processo de “desconstrução da capoeira maranhense” apresenta a hipótese de que, no início, tudo era uma coisa só: capoeira, tambor de crioula, frevo, samba etc. Mundinha Araújo11 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira: no Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases12: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1980; (4) e daí, até os dias atuais. Abre-se a roda... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR 6

IPHAN/MA. TERMO DE REFERÊNCIA SALVAGUARDA DA CAPOEIRA DO MARANHÃO Pesquisa e Mapeamento da Capoeira no Maranhão 7 PEREIRA, Roberto Augusto A MARINHEIROS, MOLEQUES E HERÓIS: ALGUNS PERSONAGENS DA CAPOEIRA DO MARANHÃO DE FINS DO SÉCULO XIX (1880-1900). Afro-Ásia, 58 (2018), 51-76 51. Disponível em https://www.academia.edu/37634373/MARINHEIROS_MOLEQUES_E_HER%C3%93IS_ALGUNS_PERSONAGENS_DA_CAPOEIRA _DO_MARANH%C3%83O_DE_FINS_DO_S%C3%89CULO_XIX_1880-1900 8 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 9 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE – REV DO LEO, 14, NOVEMBRO 2018, p. 98 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb 10 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/textoas-desconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 11 Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. NEGRO COSME – TUTOR E IMPERADOR DA LIBERDADE. Imperatriz: Ética, 2008 12 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE / LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DO MARANHÃO. São Luis, 2018 (Inédito). 12 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu


SUMÁRIO 2 5 7

EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO

MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER: Capoeiragem no/do maranhão

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPEAMENTO DA CAPOEIRA – IPHAN 2019 CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS MESTRE SAPO TRIBUTO AO MESTRE SAPO - LAÉRCIO ELIAS PEREIRA SAPO x ZULU. DEU ZULU... - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ROBERVAL SEREJO MESTRE DINIZ MESTRE PATINHO MESTRE PATINHO - ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS - MANOEL MARIA PEREIRA ENTREVISTA O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA - MÁRCIO ARAGÃO BOÁS: CONVERSANDO COM ANTÔNIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LORETA BRITO VAZ: O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS - FÁBIO ALLEX: MESTRE PATURI MESTRE TIL MESTRE ALBERTO ALZAMOR MESTRE RUI PINTO MESTRE SOCÓ MESTRE ÍNDIO DO MARANHÃO Entrevista com Mestre Índio Maranhão - RODA DE CAPOEIRA MESTRE PIRRITA MESTRE JORGE NAVALHA MESTRE CURIÓ MESTRE BAÉ MESTRE GAVIÃO CONTRAMESTRE SÍLVIO FORMIGA ATÔMICA MESTRE ROBERTO MESTRE TUTUCA MESTRE LUIS SENZALA MESTRE MILITAR MESTRE MIZINHO MESTRE LUIS GENEROSO MESTRE PEDRO MESTRE NEGÃO MESTRE MARINHO MESTRE CACÁ MESTRE NELSON CANARINHO CONTRAMESTRE DIACO CONTRAMESTRE REGINALDO CONTRAMESTRE LEITÃO MESTRE MANOEL MESTRE NILTINHO CONTRAMESTRE BOCUDA CONTRAMESTRE MÁRCIO MULATO DO LIVRO-ÁLBUM MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS-MARANHÃO 2006

10 26 114 117 118 119 121 122 124 124 126 131 138 136 138 140 142 145 147 149 154 158 162 165 167 169 172 174 176 178 184 187 189 191 193 196 198 200 201 202 204 205 207 208 210


MESTRE PEZÃO MESTRE SENA MESTRE AÇOUGUEIRO MESTRE DE PAULA MESTRE RAIMUNDÃO MESTRE ZUMBI BAHIA MESTRE BAMBA DO MARANHÃO MESTRE ABELHA MESTRE FRED MESTRE MIRINHO MESTRE MARCO AURÉLIO MESTRE DOMINGOS DE DEUS MESTRE NELSINHO MESTRA PUDIAPEN EXPOSIÇÕES DAS BIOGRAFIAS DOS MESTRES DE CAPOEIRA DO ESTADO DO MARANHÃO Abertura da Semana da Capoeira realizada pela Federação Maranhense de Capoeira FMC MESTRE SR. MIYAGE ANTONIO BEZERRA DOS SANTOS MESTRE EVANDRO MESTRE CADICO MESTRE JUVENAL (JUVENCIO) MESTRE PALHANO MESTRE ARY MESTRE UBIRACI MESTRE JORDILAN MESTRE GUDA MESTRE MÃO-DE-ONÇA MESTRE BETINHO CAPOEIRAS CITADOS PELOS ALUNOS-MESTRES EM SEUS DEPOIMENTOS IDENTIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE PRÁTICA DE CAPOEIRA PELOS MESTRES: RODAS, GRUPOS/NÚCLEOS COM A PALAVRA, OS MESTRES OU A PALAVRA DOS MESTRES UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864 - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UM CAPOEIRA PIAUIENSE CHEFE DE POLICIA NA CÔRTE - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE? – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ “NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE” – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CAPOEIRA: DESENVOLVIMENTO E ASPECTOS HISTÓRICOS – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

211 212 213 214 216 217 223 225 226 227 229 230 231 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 251 257 265 267 271 296 299


MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER

CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE


CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAPEAMENTO DA CAPOEIRA – IPHAN 201913 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Tomei conhecimento de projeto - SALVAGUARDA DA CAPOEIRA DO MARANHÃO – de TERMO DE REFERÊNCIA14 para “Pesquisa e Mapeamento da Capoeira no Maranhão”, tendo como objeto: Contratação de pessoa jurídica para prestação de serviços de Pesquisa e Mapeamento da Capoeira no Maranhão com levantamento de dados sobre o bem cultural, bem como a identificação dos variados aspectos da expressão cultural no estado e a identificação dos grupos de Capoeira a partir de levantamento de dados sobre essa expressão cultural situando-os espacialmente em mapas os grupos identificados: De acordo com esse documento, a “Roda de Capoeira” e o “Ofício dos Mestres de Capoeira” foram inscritos, em 2008, nos livros das Formas de Expressão e dos Saberes e Ofícios, como Patrimônio Cultural do Brasil. Em 2013, iniciaram-se, na Superintendência do Iphan no Maranhão, os primeiros contatos com os detentores para o início do processo de salvaguarda, efetivamente desencadeado em 2014, com a realização do I Fórum para a Salvaguarda da Capoeira no Maranhão. Naquele evento foram arroladas as propostas de medidas de salvaguarda que, aprovadas no II Fórum para a Salvaguarda da Capoeira, realizado em janeiro de 2017, originaram o Plano de Salvaguarda da Capoeira no Maranhão: [...] o presente Termo de Referência foi construído de forma participativa pelo Grupo de Trabalho da Salvaguarda da Capoeira que apoia o Iphan/MA no desenvolvimento das ações de salvaguarda. Considerando a interação do GT na elaboração do documento norteador do mapeamento, a estratégia de ação prevê a participação dos capoeiristas no processo de levantamento de dados e na avaliação dos serviços durante a execução, possibilitando a mobilização dos praticantes do bem cultural. Esse Grupo de Trabalho foi constituído durante a realização do II Fórum para Salvaguarda da Capoeira no MA15, realizado no período de 27 a 28 de janeiro de 2017: Do Fórum saiu a indicação de elaboração do Plano de Salvaguarda da Capoeira com base nas propostas elencadas durante o evento pelos capoeiristas. Ao final do encontro foi constituído um Grupo de Trabalho cujos integrantes foram eleitos pelos participantes do Fórum, que, ao longo do ano de 2015, em reuniões semanais realizadas sob a coordenação da técnica em Ciências Sociais do Iphan/MA, Izaurina Nunes, elaboraram a minuta do Plano de Salvaguarda da Capoeira do Maranhão, com base nas propostas levantadas durante o encontro. No documento, as ações estão sistematizadas em eixos, conforme Termo de Referência para Planos de Salvaguarda de Bens Registrados, elaborado pelo Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan. O Governo do Maranhão, através do decreto 34.719 de 26 de março de 2018, reconhece a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira do Maranhão como Patrimônio Imaterial do Estado; anteriormente, este

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PUBLICADO na REVISTA DO LÉO 22 julho de 2019, disponível em

https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 14 IPHAN/MA. TERMO DE REFERÊNCIA SALVAGUARDA DA CAPOEIRA DO MARANHÃO Pesquisa e Mapeamento da Capoeira no Maranhão 15 IPHAN/MA. II Fórum para Salvaguarda da Capoeira no MA. http://portal.iphan.gov.br/agendaEventos/detalhes/298


reconhecimento se dera em nível federal. O estado é pioneiro neste reconhecimento, que garante a perpetuação de saberes e tradições da Arte/Luta Capoeira. A pesquisa e mapeamento da Capoeira no Maranhão, será realizada em cinco etapas de modo a contemplar todo o território maranhense em suas macrorregiões. Para 2019 está previsto o levantamento de informações sobre a Capoeira na mesorregião Norte, constituída por 60 municípios. O trabalho de pesquisa consistirá em procedimento de trabalho de campo nesses municípios, onde será feito o levantamento dos mestres, instrutores, entidades e grupos, dentre outros agentes da Capoeira. A pesquisa e mapeamento da Capoeira no Maranhão consistirá em procedimento de trabalho de campo na mesorregião norte, constituída por seis microrregiões, com um total de 60 municípios, onde será feito o levantamento dos grupos, mestres, instrutores e entidades da Capoeira no estado. As informações a serem levantadas serão discutidas com os coletivos da Capoeira que terão participação determinante no trabalho, apontando áreas de ocorrência, fontes e orientando a coleta de dados. O trabalho, que exigirá a produção de registros audiovisuais e documentação fotográfica sobre o bem pesquisado e mapeado, será realizado por empresa contratada, sob a coordenação geral, acompanhamento e fiscalização da Superintendência do IPHAN no Maranhão, com o apoio dos coletivos da Capoeira Grupo de Trabalho e Conselho de Mestres. Municípios a serem pesquisados Alcântara, Apicum Açu, Bacuri, Bacurituba, Bequimão, Cajapió, Cedral, Central do Maranhão, Cururupu, Guimarães, Mirinzal, Porto Rico do Maranhão, Serrano do Maranhão, Paço do Lumiar, Raposa, São José de Ribamar, São Luís, Axixá, Bacabeira, Cachoeira Grande, Icatu, Morros, Presidente Juscelino, Rosário, Santa Rita, Barreirinhas, Humberto de Campos, Paulino Neves, Primeira Cruz, Santo Amaro do Maranhão, Tutoia, Anajatuba, Arari, Bela Vista do Maranhão, Cajari, Conceição do Lago Açu, Igarapé do Meio, Matinha, Monção, Olinda Nova do Maranhão, Palmeirândia, Pedro do Rosário, Penalva, Peri Mirim, Pinheiro, Presidente Sarney, Santa Helena, São Bento, São João Batista, São Vicente Férrer, Viana, Vitória do Mearim, Cantanhede, Itapecuru-Mirim, Matões do Norte, Miranda do Norte, Nina Rodrigues, Pirapemas, Presidente Vargas e Vargem Grande. Da leitura do documento bem se vê que os levantamentos preliminares, em conjunto com o Fórum Permanente da Capoeira, estão eivados de alguns equívocos que não retratam, fielmente, o surgimento dessa expressão cultural no Maranhão, colocando-a a partir dos anos de 1870: [...] Sobre a chegada da Capoeira, sabe-se que a embarcação Lamego16 aportou, em meados 1879, em São Luís com marinheiros que se envolveram em brigas nas quais utilizavam a capoeiragem como forma de defesa. O pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em Capoeira/Capoeiragem no Maranhão17, compila informações sobre fatos da capoeira no Estado, onde informa que em 1877 a capoeira “é aceita como o primeiro esporte com cunho competitivo praticado no Maranhão”. A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular18, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Kafure (2012) 19 ao discutir o processo de “desconstrução da capoeira maranhense” apresenta a hipótese de que, no início, tudo era uma coisa só: capoeira, tambor de crioula, frevo, samba etc. 16

PEREIRA, Roberto Augusto A MARINHEIROS, MOLEQUES E HERÓIS:ALGUNS PERSONAGENS DA CAPOEIRA DO MARANHÃODE FINS DO SÉCULO XIX (1880-1900). Afro-Ásia, 58 (2018), 51-76 51. Disponível em https://www.academia.edu/37634373/MARINHEIROS_MOLEQUES_E_HER%C3%93IS_ALGUNS_PERSONAGENS_DA_CAPOEIRA _DO_MARANH%C3%83O_DE_FINS_DO_S%C3%89CULO_XIX_1880-1900 17 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 18 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE – REV DO LEO, 14, NOVEMBRO 2018, p. 98 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb


Mundinha Araújo20 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira: no Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava:

“Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124, grifos meus) 21. Encontrei, ainda que, em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus). Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel), desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas: Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).22 De acordo com Mestre Bamba do Maranhão, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-deCrioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga23:

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ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/textoas-desconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 20 Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. NEGRO COSME – TUTOR E IMPERADOR DA LIBERDADE. Imperatriz: Ética, 2008 21 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 22 [Jornal do Capoeira] http://www.jornalexpress.com.br/ 23 http://www.jornalexpress.com.br/


Para Ferreti (2006) 24, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula25. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira26. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. “Batuque”, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira27. Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases28: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1980; (4) e daí, até os dias atuais. Mestre Euzamor (2006) 29 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Mário Martins Meireles (2012) por volta de 1702, 24

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traz – embora se questione o uso da palavra capoeira em seu texto – que,

FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf 25 O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula". 26 PUNGA DOS HOMENS – ALGUMAS (NOVAS) CONSIDERAÇÕES -REV DO LÉO, 15, DEZEMBRO 2018, p. 78 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20 27 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 28 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE / LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DO MARANHÃO. São Luis, 2018 (Inédito). 28 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 29 MESTRE EUZAMOR in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC (anexo II) 30 MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99.


[...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.[...] (p. 98),

referindo-se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) - homem intolerante -, e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas. Estudos demonstram que a Capoeira – no Brasil - tenha surgido – como a entendemos -, e com esse nome, lá pelo final dos 1700, quando aparece o nome do Tenente Amotinado - João Moreira: [...] segundo os melhores cronistas, data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros, dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo, defendiam-se por meio da ‘Capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores. (LIMA, 1925) 31. – e de um negro chamado Adão, pardo, escravo, preso por ser “capoeira”, em 12 de abril de 1789 (CAVALCANTI, 1999) 32, embora desde o ano anterior - 1788 - as maltas dos capoeiras já inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro e se tornavam um problema para os vice-reis (CARNEIRO, 1977)33. Na biografia de Mestre Bimba 34 consta: Da fusão da capoeiragem de outrora (Primitiva) com o Batuque (Samba-Luta), nasce a Luta Regional Baiana ou Capoeira Regional Baiana, uma criação do Mestre Bimba, Manoel dos Reis Machado, que com sua criatividade desenvolveu uma “Metodologia de Ensino” [...] coisa que não existia, pois a capoeira outrora era aprendida de “oitiva” (olhando). Instituiu uma forma de charanga (orquestra) e cancioneiro especifico (quadras e corridos), desenvolveu e preservou “Tradições”, criou e formalizou rituais (Entrar no Aço (batizado), Nome de Guerra, Cerimônia de Formatura, etc.). Em 1918 iniciou o ensino e criação da capoeira Regional Baiana e em 1928 o Mestre Bimba deixa o depoimento: “Em 1928, eu criei, completa, a regional, que é o Batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”. Sua obra ganhou o mundo e graças a sua Capoeira Regional Baiana a capoeiragem chegou a lugares antes imagináveis: [...] “Eu não fiz capoeira para mim, eu fiz capoeira para o mundo”!!! Mestre André Lacé 35, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas europeias e asiáticas36.

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Lima, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. DA CAPOEIRA: COMO PATRIMÔNIO CULTURAL. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. 32 In CAVALCANTI, Nireu. O Capoeira, JORNAL DO BRASIL, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira-palmares.fr/histor) 33 CARNEIRO, Edson. Capoeira. In CADERNOS DE FOLCLORE 1. Rio de Janeiro: MEC/FUNARTE, 1977 34 Disponível em CCCB, MESTRE BIMBA, disponível em http://capoeirabaiana.net/mestre-bimba/


Neste primeiro momento da História da Capoeira do Maranhão, encontramos várias referencias em jornais publicados em São Luís, e em outras cidades do interior, que fazem referencia ‘aos capoeiras’, sempre relacionados com distúrbios em locais públicos, que exigiram a interferência da polícia; também em alguns contos e crônicas publicadas, nesses mesmos jornais, ao descreverem-se alguns tipos, são descritos aqueles que se identificam como ‘praticantes de capoeira’; outra forma que aparece, é a desqualificação de algum político, indicando-se ser ele individuo de má índole, portanto, ‘capoeira’: 1835 - na Rua dos Apicuns, local frequentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural:A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís.” (ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). Mestre Militar afirma que a capoeira no Maranhão tem seu inicio em 1835 (Costa, 2009) 37. 1843 - o Diretor da Casa dos Educandos Artífices do Maranhão em relato ao Presidente da Província informava que havia “um outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor: Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse 35

LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 36 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 37 COSTA, C. A. A. História da Capoeira no Maranhão. In: < http://associaogrupokdecapoeira.blogspot.com/2009/07/capoeira-domaranhao.html>.


conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em consequência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer consequências mais desagradáveis [...] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192)38. A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, e havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184)39. Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 184240, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada? 1846/47 - Jeronimo de Viveiros41 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847: A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... O cacetistas armava-se na casa do chefe...42.(Grifos meus). 1860 - A IMPRENSA - CH RIBEYROLLES. VARIEDADES. A Fazenda (continuação do numero anterior), São Luis, 29 de setembro de 1860, p. 2 publica um artigo, dividido em partes, que apareciam em várias edições, como era costume na época, sob o titulo A FAZENDA: Jogos e danças dos negros – No sábado à noite, depois do ultimo trabalho da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e repouso, concede-se aos negros uma ou duas horas para a 38

CASTRO, César Augusto. CASTRO, C. A.. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO NO MARANHÃO PROVINCIAL: UMA HISTÓRIA DA CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES. São Luís: EdFUNC, 2007 39 CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO NO MARANHÃO PROVINCIAL: UMA HISTÓRIA DA CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES. São Luís: EdFUNC, 2007 40 ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA BALAIADA. São Luís: FUNCMA, 2001 41 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847. 41 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205. 42 AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150.


dança. Reúnem-se então no terreiro, chamam-se, grupam-se incitam-se, e a festa começa. Aqui, é a capoeira, espécie de dança física, de evoluções atrevidas e guerreiras, cadenciada pelo tambor do Congo; ali o batuque, posições frias ou lascivas, que os sons da viola aceleram ou demoram: mais além tripudia-se uma dança louca, na qual olhos, seios, quadris, tudo fala, tudo provoca; espécie de frenesi convulsivo e inebriante a que chamam lundu. Alegrias grosseiras, volúpias asquerosas, febres libertinas, tudo isto é nojento, é triste, porém os negros apreciam estas bacanaes, e outros aí encontram proveito. Não constituirá isto um sistema de embrutecimento? .1861 - publicado em A IMPRENSA - OS ILUMORISTAS. PÁGINAS SOLTAS: o Sr. Primo, o Serafim e o Cavallo preto de Sua Excia., p. 4, de 11 de dezembro de 1861 o seguinte: [...] Serafim é um jovem de cara lavada, moreno, barba a lord Raglan, desempenado de capoeira, e andar de cahe a ré, como marinheiro tonto, ou redactor do Porto Livre, nas horas em que o sol procura as ondas do mar [...] 1863 - Josué Montello, em seu romance “Os degraus do Paraíso” 43, em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863, quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite: Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas. O que é confirmado por Vieira Filho (1971) 44 quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. Mario Meireles (2012) 45–, no capitulo referente ao Serviço de iluminação pública (1863-1918), p. 222-225, referindo-se a falta de iluminação nas ruas, em que era dado toque de recolher às 21 horas, com o repicar dos sinos: Os que não atendiam ao oportuno aviso dado pelos sinos, corriam o risco, aventurando-se mergulhados nas trevas das ruas estreitas, de ir ao desagradável encontro de animal vagabundo ou de defrontar um capoeira encachaçado, se não de emparelhar com um negro escravo que levasse à cabeça um daqueles fétidos tigres – que iam ser despejados na maré mais próxima. (p. 222). !864 - Identificado46 um Capoeira, maranhense de nascimento47, que acompanhou seu senhor à São Paulo, e se envolveu em um ‘distúrbio’ num local de ajuntamento de pretos – chafariz. Descreve-se a capoeira 43

MONTELLO, José. OS DEGRAUS DO PARAÍSO. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 VIEIRA FILHO, Domingos. BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO LUIS. São Paulo: Olympia, 1971 45 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar). São Luis: Faculdade Santa Fé, 2012 46 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864. São Luis, REVISTA DO LÉO, 15, DEZEMBRO 2018, p. 123 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15__dezembro_de_20 44


praticada na cidade de São Paulo, em que concorriam escravos e libertos, pretos, mestiços, brancos, no seu desenvolvimento naquele estado. “Eduardo, como já vimos, era um jovem escravo vindo do Maranhão” (p. 101) 48. O Autor, ao analisar as ocorrências policiais havidas naquele inicio da capoeiragem em São Paulo – Capital e algumas cidades do interior – inicia seu trabalho com a análise de duas dessas ocorrências, uma, no ano de 1831, ocorrida no distante subúrbio do Brás, envolvendo ‘africanos capoeiras paulistas’ e ‘africanos capoeiras cariocas’, com estes desafiando aqueles para um confronto. O segundo caso, ocorreu entre os ‘pequenos do chafariz’, já na capital, no ano de 1864. Adão dos Santos Jorge – africano congo liberto - agride a Eduardo – preto escravo, quando se encontravam naquele local, caminho do centro para o subúrbio... Local de ajuntamento de pretos... Eduardo era escravo de Carlos Mariano Galvão Bueno – um advogado e professor na Escola de Direito, escritor e poeta conhecido, subdelegado de policia. No processo que se seguiu, Eduardo disse ser escravo “do pai de Paulino Coelho de Sousa, que se achava ausente desta cidade tendo ido para o Maranhão” 49. Então, deveria estar prestando serviços ao nominado Galvão Bueno. Com 24 anos de idade, disse ser filho de José e Sabina - escravos do mesmo senhor -, natural do Maranhão, sem ofício (p. 94). Em seu depoimento, disse que Adão “começou um jogo ou gritos de correr jogar capoeira com este declarante e soltou-lhe uma tapa nas costas...” (p. 94). Eduardo foi ferido com uma navalhada. Alegava o autor da agressão que o fizera por também ter sido ferido, em outro encontro – não com Eduardo – com duas anavalhadas no abdome. Eduardo avocou outros escravos, como sua testemunha da agressão que sofrera desafiado que fora por Adão. Todos frequentavam o chafariz de Miguel Carlos, e possivelmente fora para marcar território, demonstrando sua valentia, caso pretendesse dominar tal espaço; isso explicaria porque Adão “começou um jogo ou gritos de querer jogar capoeira” (p. 100). 1868/69 - O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 50, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado51 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 52: Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento. Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de 47

CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da Cunha. “CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo, Alhambra, 2013. 48 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo, Alhambra, 2013. 49 Paulino Coelho de Sousa consta como aluno na Faculdade de Direito, no ano de 1863, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_02&pesq=Paulino%20Coelho%20de%20Sousa&pasta=ano%20 186 50 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 51 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295, 52

http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA &sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false


duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaramse por atos de inaudita violência. Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos). Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX53. Mas, já por essa época, a Capoeira recebi um tratamento como “esporte”, como se vê de notícias de jornais, assim como consta de livro sobre a História do Esporte no Maranhão, do grande jornalista esportivo Dejarde Martins: 1877 MARTINS (1989). In ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO54. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. JOGO DA CAPOEIRA Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 54 MARTINS, Dejarde Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís, s/e, 1989(?)


dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (179).

1883 - PACOTILHA – 24 fev. “Publicações a pedido: Negócios do Maranhão: [...] Outro facto do correspondente Eugenio Pavolide é de um preto capoeira, quem em junho passado, pôz em sobressalto a praça do Mercado e ruas adjacentes. Espancara um pobre homem e também as praças da policia [...]Até lá que viva que viva entregue à defesa dos Pavolides, os quais um deles talvez saldoso, o espera no hotel onde neste momento começou a purgar as suas façanhas de capoeira...” “(...) Pelas linguagens e pelas expressões de que nos temos servido nas diversas vezes que temos vindo à imprensa discutir negócios daquella sociedade evidencia-se que não temos aprendizagem de capoeira e nunca descemos ao circo de operações physicas.”. 1883, - PACOTILHA - 17 mar. – 1883 - PACOTILHA - 25 junho – “(...) Os outros vaiaram no. Afinal accudiram em chusmas. Genibaldo fazia milagres de capoeira, sem conseguir approximar se delles, que o instigavão.” 1883, PACOTILHA 25 junho – 1883 - PACOTILHA – 20 ago. – “(...) No sábbado a noite um marinheiro da “Lamego” fez proezas no largo do Carmo (...) Armando de cacete, fazia trejeitos de capoeira e dizia a uns soldados de policia – que chegasse, que elle queria esbodegar um, dar muita pancada (...)”.1883, PACOTILHA – 20 ago. 1883 - PACOTILHA - 25 set - “(...) sem mais interrogações, pó-se na perna, à frente da tropa, a sacudir o corpo n’ uns movimentos de capoeira, gingando de alegria e enchendo o ar de assovios silvantes.”1883, PACOTILHA - 25 set Anúncio, de 1884, em que havia um desafio entre um “Sansão do século XX; cabe ressaltar que era comum, desde a fundação de nosso teatro, a apresentação de espetáculos de força nos palcos, com ‘artistas’ se apresentando, identificando-se como discípulos de Amoros “THEATRO SÃO LUIZ 22 DE JUNHO DE 1884 – Terceiro e ultimo espetáculo – função de D. Máxmo Rodriguez, o invencível Sansão do Seculo XX – primeiro Hercules do mundo... terminará o espetaculo com o”

1884, PACOTILHA – 21 jun


1884 PACOTILA – 31 mar – “ O magarefe Serafim, um crápula de força, cheio de insolência (...) Mas sendo o Serafim um capoeira traquejado, sahiu incólume da pendencia”. 1884 PACOTILA – 31 mar 1884 - PACOTILHA – 31 jul. - “N’uma estação de urbanos: - Sr. Tenente, tenho seguro um capoeira. – Traga-o a minha presença. – Bem o quero fazer, meu tenente, mas o maldito não me quer largar.” 1885 - PACOTILHA – 31 out. – em crônica acerca de estreia de uma peça de Artur Azevedo, no Rio de Janeiro – O mandarim – o comentarista refere-se aos tipos e a interpretação dos artistas: “(...) Barreto não foi infeliz em alguns tipos - o do capoeira e o do Jornal do Commercio optimos”.” 1885 - PACOTILHA – 30 nov. – sobre o lançamento da nova obra de Aluizio de Azevedo: O colono deixa a mulher por uma mulatinha, e d´este novo enlace surgem o Felizardo e a Loureira: participa d’ este grupo o typo do capadocio, o pae avô do capoeira, que mais tarde é chefe de malta e força activa nas elições. Ligado a este chefe de malta está um typo que contratsa com ele; [...] 1886 – PACOTILHA – 22 mai. – [...] Grande, mas quando o Jojaca cresceu p´rá ell, mo cabra azulou bonito! E o mais neste theor. O pobre homem passou horas na estação policial e certamente lá teria dormido se um amigo que casualmente passára, o não reconhecesse. O sargento da guarda jurava ser o próprio Antonio Belmonte, e o Leitão laborou n´um trabalho insano para provar a identidade de pessoa. Resultado final: Leitão apanhou bordoeira velha, perdeu o trem, rasgou a roupa, e foi conduzidoà estação, ao lado do bodegueiro, no meio de uma chusma de garotos que comentavam alegremente o escândalo, salpicando-o de expressões de gyria capoeira. - Apanhou como boi ladrão, dizia um vendedor de balas. - Este Antonio bilontra parece armazém de pancadas. Siltrudia foi-se metter com o Jojaca da Praia. Passo por alto a cabeça e a rasteira que certo dia o Sr. Leitão recebera de um angó, achando-se casualmente envolvido poruma malta de capoeiras quando tranquilamente se dirigia ao seu domicilio. A agressão era destinada, como logo se adivinha, ao seu Sósias, o quela gosava da reputação de ser um dos chefes honorários do partido gayamum. Leitão teve apenas uma costella estragada. Ante a colocação de que a capoeira aparede por volta dos anos 1870 - [...] Sobre a chegada da Capoeira, sabe-se que a embarcação Lamego aportou, em meados 1879, em São Luís com marinheiros que se envolveram em brigas nas quais utilizavam a capoeiragem como forma de defesa – parece-nos que fica demosntrado que é bem mais antiga seu aparecimento em são Luís e no Maranhão... É necessária uma revisão dessas afirmações constantes nos documentos do IPHAN, referendadas pelo Fórum da Capoeira do Maranhão... 1924 - A PACOTILHA – 02 AGO – UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE – O ULTIMO CAPOEIRA...






CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHHENSE55 Existe uma Capoeiragem (Tradicional) do Maranhão!!! Kafure (2012) 56 ao discutir o processo de “desconstrução da capoeira maranhense” apresenta a hipótese de que, no início, tudo era uma coisa só: capoeira, tambor de crioula, frevo, samba etc.; entende por desconstrução, primeiramente: [...] o tipo de transformação que se inicia no discurso acerca do folguedo ou cultura popular. Logo, um discurso sobre a capoeira começou a se formar a partir da repercussão dessa arte supostamente vinda da Bahia, com os mestres Bimba e Pastinha. Então podemos dizer que essa palavra mestre é a primeira desconstrução fundamental de toda a capoeira, pois sendo ela uma luta afro-brasileira transmitida pelos escravos vindos de angola e congo, questionamos até que ponto ela era ensinada por supostos "mestres", já que diversas origens rituais foram atribuídas a esta cultura. É de fato impossível encontrar uma origem específica desta brincadeira popular ou arte marcial [...]

Esse autor se propõe: [...] a nível do Maranhão analisar(emos) a história da linhagem de mestres da capoeiragem de Patinho e suas metodologias, bem como as ligações com religiosidade, musicalidade e filosofia. (KAFURE, 2012) 57.

Como também reconhece a existência de uma “Capoeiragem Ludovicense”: [...] é o nome denominado pelos mestres da cidade de São Luís - MA para um jogo que mistura a Capoeira Angola com a Capoeira Regional, uma síntese das modalidades e estilos de capoeira. Essa miscigenação propiciou a caracterização do jogo maranhense de uma maneira singular, muito semelhante a uma capoeira antiga em que não havia uniformes ou obrigatoriedade do sapato.58

Já Greciano Merino (2015) 59 em sua tese de doutorado em Comunicação, utilizando as imagens da Capoeira, refere-se a uma característica, singular, de ‘maranhensidade60, que a mesma teria, em relação às capoeiras regional e angola. Em sua hipótese de pesquisa considera ser a capoeira um jogo popular de interação comunicativa e caráter cultural que veicula um modelo de cidadania e expressa esteticamente como as relações entre o indivíduo, seu grupo e a comunidade na que se inserem podem gestar conhecimento social e sabedoria individual. Ao apresentar suas hipóeteses, afirma que uma aproximação 55

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Ed. Do autor, eletrônica, disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 56 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-asdesconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 57 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-asdesconstrucoes-da-capoeira.html, publicado em segunda-feira, 5 de março de 2012 58 ROCHA, 2012, In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html 59 GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015. 60 BARROS. Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais - São Luís, v. 2, n. 3, jan./jun. 2005


antropológica da visualidade na capoeira ‘maranhense’ permite delimitar aquelas dinâmicas sensitivas e sensoriais que, gestadas no devir das ecologias tecno-culturais, configuram um complexo imaginário social cuja fenomenologia é uma das mais influentes de nossa cultura: a) Una aproximación antropológica de la visualidad en la capoeira ‘maranhense’ permite delimitar aquellas dinámicas sensitivas y sensoriales que, gestadas en el devenir de las ecologías tecnoculturales, configuran un complejo imaginario social cuya fenomenología es una de las más influyentes de nuestra cultura. b) Los microencuentros y microsituaciones que surgen durante los rituales de interacción en las rodas de capoeira de São Luís de Maranhão, nos ayudan a desvelar algunas de las dinámicas de cambio que los dispositivos de comunicación propician en la estructura de la realidad social. c) Durante la roda de capoeira (modo de exposición de la capoeira) se da una interacción recurrente entre sus participantes fundada a través de gestos ‘técnicos’ y ‘sociales’. Esta coyuntura también está presente en la relación que establecen los usuarios y las máquinas de los dispositivos tecnológicos de comunicación y desencadena una forma de pensamiento reflexivo que constituye un modo de conocimiento intersubjetivo. d) La roda de capoeira suscita en sus participantes un régimen de discursividad entre el cuerpo, la materialidad y lo imaginario que genera un nuevo modo de saber. Esta compleja articulación cognoscitiva también se da en los usuarios de los artefactos de comunicación contemporánea donde el orden representativo de la imagen da paso a lo visual despertando un crisol que funde percepción, pulsión y reflexión.

Greciano Merino (2015) 61 caracteriza a capoeira maranhense ao apresentar o corpo empírico em que baseia na construção de sua tese como sendo aquela capoeira que se realiza na cidade de São Luis, capital do estado do Maranhão, em torno da comunidade representativa que se forma ao redor de Mestre Patinho – herdeiro de Sapo – e a metodologia de estudo desenvolvida por ele: [...] Señalar la capoeira ‘maranhense’ como propuesta de corpus nos exige aclarar las sinécdoques que alberga este enunciado, pues cuando hablamos de capoeira estamos ante un termino amplio y generalista que incluye la capoeiragem (ética de los capoeiras y su aplicación moral), las rodas de capoeira (dispositivo ritual de interacción y representación), el jogo (fundamentos y saberes aplicados en la roda). Asimismo, cuando adjetivamos la capoeira como ‘maranhense’ estamos usando un gentilicio genérico para designar a una comunidad de sentido específica sobre la que vamos a centrar nuestro estudio. Es decir, creemos importante puntualizar que la identidad regional no es algo natural y, por eso, precisamos desnaturalizarla buscando momentos en que se define como tal, ocasiones en que pretende adquirir un “corpus” (aparentemente) homogéneo. Por eso, como entendemos la región como un espacio (re)cortado y (re)inventado a partir de intereses variados, vamos a pensar uno de esos momentos a través del proceso que la capoeira despliega por estas tierras. De tal manera que, si a lo largo del recorrido de este trabajo vamos a interpretar el proceso socio-histórico de formación y desarrollo de la capoeira en São Luís de Maranhão, el análisis de campo específico para ‘validar’ esa propuesta teórica lo vamos a situar entorno de la comunidad representativa que se forma alrededor de 4 escuelas vinculadas a la metodología de estudio desarrollada por Antonio José da Conceição Ramos (Maestro ‘Patinho’).

Os Mestres Capoeira participantes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, organizado pela UFMA/DEF 2017, concordam com a existência de uma Capoeira genuinamente maranhense/ludovicense. Ao serem perguntados: EXISTE UMA CAPOEIRA GENUINAMENTE MARANHENSE? O QUE A CARACTERIZA? EM QUE É DIFERENTE, POR EXEMPLO, DA ANGOLA, REGIONAL, E/OU CONTEMPORÂNEA?

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GRECIANO MERINO, 2015, obra citada.


Responderam: GRUPO 1. Todos concordam que ‘sim’; se caracteriza pela forma de jogar, de se adaptar e não se define por ‘estilo’; a maior diferença da Capoeira Maranhense para a Angola, Regional, ou Contemporânea é a metodologia de ensino tradicional praticada no Maranhão, com suas influencias da cultura do Maranhão; exemplos: Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Punga.62 GRUPO 2. A principal característica era o jogo solto, com floreios e movimentos oscilantes com jogo alto e rasteiro obedecendo ao toque do berimbau.63 GRUPO 3. Sim; seu jogo executado nos três tempos (embaixo, no meio, e em cima); musicalidade e o seu espírito de jogo.64 GRUPO 4. Existe a Capoeira Maranhense, e tem uma característica própria, pois a mesma é jogada de forma diferenciada, sempre seguindo os toques executados. A Capoeira Maranhense é diferente da Angola, Regional, e Contemporânea porque ela é jogada de forma diferente, não seguindo as tradições da Angola, Regional e Contemporânea.65 GRUPO 6. Existe; se diferencia porque é jogada em três tempos (ritmos): Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande; o que a diferencia são as influencias muito fortes da mossa cultura e da nossa região.66 Cinco, dos seis grupos formados, responderam que sim, que existe uma Capoeira Maranhense. O Grupo 5 concorda com a existência de uma Capoeira Ludovicense: GRUPO 5. Sim, Capoeira Ludovicense, praticada na Ilha de São Luís, caracterizada pela ginga e aplicação de golpes e movimentos diferenciados da Capoeira Angola tradicional, da Capoeira Regional, e da Capoeira Contemporânea, por exemplo: não se tinha ritual, nem formações de bateria eram usados toques da capoeira Angola, São Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola, e samba de roda.67 Mestre Baé (2017) 68, em correspondência pessoal, informou-me de que, em reunião, a maioria dos Mestres Capoeira, sobretudo os que se declaram, como estilo praticado, que de ora em diante passarão a adotar “Capoeiragem Tradicional Maranhense”... 62

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: ANTONIO ALBERTO CARVALHO (PATURI); JOÃO PALHANO JANSEN (CURIÓ); FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA (BAÉ); JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES (TUTUCA); e ROBERTO JAMES SILVA SOARES (ROBERTO). 63 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA (MILITAR); JOSÉ TUPINAMBÁ DAVID BORGES (NEGÃO); MÁRCIO COSTA CORTEZ (CM MÁRCIO); LUIS AUGUSTO LIMA (SENZALA); AMARO ANTONIO DOS SANTOS (MARINHO). 64 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO FILHO (MIZINHO); EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ (CM DIACO); ANTONIO CARLOS DA SILVA (CM BUCUDA); JOSÉ NILTON PESTANA CARNEIRO (NILTINHO). 65 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: VICENTE BRAGA BRASIL ( PIRRITA); RUI PINTO CHAGAS (RUI); GENTIL ALVES CARVALHO (TIL); EVANDO DE ARAUJO TEIXEIRA (SOCÓ); LUIS GENEROSO DE ABREU NETO (GENEROSO). 66 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: JOSÉ MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA (MANOEL); FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO (LEITÃO); HÉLIO DE SÁ ALMEIDA (GAVIÃO); SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE FERREIRA CRUZ (CM FORMIGA ATÔMICA). 67 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE LUIS LIMA DE SOUSA (JORGE NAVALHA); CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES (CACÁ); PEDRO MARCOS SOARES (PEDRO); NELSON DE SOUSA GERALDO (CANARINHO); REGINALDO PEREIRA DE SOUSA (REGINALDO). 68 BAÉ, Mestre – in Correspondencia eletrônica pessoal, para Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 26 de setembro de 2017


Estudos demonstram que a Capoeira – no Brasil - tenha surgido – como a entendemos -, e com esse nome, lá pelo final dos 1700, quando aparece o nome do Tenente Amotinado - João Moreira: [...] segundo os melhores cronistas, data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros, dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo, defendiam-se por meio da ‘Capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores. (LIMA, 1925) 69.

– e de um negro chamado Adão, pardo, escravo, preso por ser “capoeira”, em 12 de abril de 1789 (CAVALCANTI, 1999) 70, embora desde o ano anterior - 1788 - as maltas dos capoeiras já inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro e se tornavam um problema para os vice-reis (CARNEIRO, 1977)71. Cabe, neste momento, definir o que se entende por Capoeira: a) “Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada”. Federação Internacional de Capoeira – FICA72 b) ) “um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (VIEIRA, 2005)73.

A “regulamentação” da Capoeira como atividade física dá-se nas primeiras décadas do século passado – os 1900. Segundo Reis (2005) 74, e Vidor e Reis (2013) 75 foram nos anos 30 e 40, em Salvador, que se abriram as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva, destacando-se dois mestres baianos - negros e originários das camadas pobres da cidade -, Bimba - criador da Capoeira Regional Baiana, não verá nenhum inconveniente em "mestiçar" essa luta, incorporando à mesma movimentos de lutas ocidentais e orientais (tais como Box, catch, savate, jiu-jítsu e luta greco69

Lima, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. DA CAPOEIRA: COMO PATRIMÔNIO CULTURAL. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. 70 In CAVALCANTI, Nireu. O Capoeira, JORNAL DO BRASIL, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira-palmares.fr/histor) 71 CARNEIRO, Edson. Capoeira. In CADERNOS DE FOLCLORE 1. Rio de Janeiro: MEC/FUNARTE, 1977 72 Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 73 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 74 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 75 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa. CAPOEIRA – HERENÇA CULTRAL AFRO-BRASILEIRA. São Paulo: Selo Negro, 2013


romana -, e Pastinha - contemporâneo de Bimba e igualmente empenhado na legitimação dessa prática, reagindo àquela "mestiçagem" da capoeira, afirmando a "pureza africana" da luta, difundindo o estilo da Capoeira Angola e procurando distingui-lo da Regional. Para Reis (2005) 76, e Vidor e Reis (2013) 77, Bimba e Pastinha elaboraram, através da Capoeira, estratégias simbólicas e políticas diferenciadas que visavam em última instância, ampliar o espaço político dos negros na sociedade brasileira e propõem dois caminhos possíveis para a inserção social dos negros naquele momento histórico: A capoeira "mestiça" representada pela capoeira Regional. Embora incorpore elementos de lutas ocidentais, a capoeira Regional guarda elementos que reafirmam a identidade étnica negra nas músicas, nos toques do berimbau e nos próprios movimentos que, conforme depoimento de mestre Bimba são provenientes também do batuque e do maculelê (Rego, 1968:33). Assim, a capoeira Regional, ao colocar em contato sistemas de valores distintos e, portanto, construções corporais distintas (os movimentos corporais brancos e os negros), opera uma mediação, criando um campo simbólico ambíguo e ambivalente: (a) A capoeira Regional seria uma afirmação de identidade que é mais ampla que a da capoeira Angola, pois afirma não a existência do negro excluído da sociedade branca, mas sua presença enquanto parte da sociedade brasileira e, finalmente, enquanto símbolo da nação como um todo. (b) Tem no ecletismo de que faz prova (por exemplo, a incorporação de elementos de outras formas de luta e a nova racionalidade na maximização dos efeitos dos golpes) um elemento de dinamismo que permite a construção de uma nova presença negra no cenário nacional. (c) Têm um preço a pagar por tudo isso, no plano político, que significa renunciar à afirmação de uma diferença na "identidade negra".

A capoeira Angola, em contrapartida: (a) a capoeira “pura”, como forma inequívoca de afirmação da identidade étnica. A capoeira Angola, em sua própria designação, reafirma peremptoriamente sua origem étnica e, ao "conservar" a construção corporal negra, demarca uma forma culturalmente distinta de jogar capoeira. (b) Existindo como resistência no momento de inclusão do negro na sociedade brasileira, só é revalorizada como reafirmação dessa mesma resistência em função da recuperação de uma "identidade negra" específica no cenário nacional, no bojo da construção política (contemporânea) de uma "consciência negra". (c) Essa construção só se torna possível a partir de uma postura "conservadora", que reinventa a tradição e só se mantém com a recuperação simultânea dos outros elementos que, no plano simbólico, organizam essa "visão de mundo negra" (como por exemplo, a afirmação da origem africana da capoeira a partir do ritual de iniciação denominado dança da zebra ou "N'Golo").

Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro 78 foi considerada: Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta: Expressão brasileira surgida nos guetos negros há mais de um século como forma de protesto às injustiças sociais, arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta, a capoeira foi reconhecida como patrimônio imaterial da cultura brasileira. A decisão do Instituto do Patrimônio

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REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 77 VIDOR, Elisabeth; REIS, Letícia Vidor de Sousa, 2013, obra citada 78 CAPOEIRA É REGISTRADA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO - África 21 - Da Redação 16/07/2008 - http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/


Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi concretizada terça-feira (15) [de julho de 2008] no Palácio Rio Branco, em Salvador (BA).

Sendo definida como uma arte multidimensional, um fenômeno multifacetado - ao mesmo tempo dança, luta, jogo e música - que tem na roda o ritual criado pelos capoeiristas para desenvolver esses vários aspectos79. Parto do entendimento de que a Capoeira é uma prática cultural no sentido mais dinâmico possível do termo. Mas, o que é a Capoeira? 80 Como podemos defini-la? Tenho encontrado as mais variadas respostas: capoeira é luta; capoeira é um esporte; capoeira é folclore; outros dizem que é um lazer; é uma festa; é vadiação; é brincadeira; é uma atividade educativa de caráter informal. Não me conformo com essas classificações simplistas e reducionistas; compreendi que a Capoeira é tudo isso... Compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural representa um salto qualitativo para além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de certo antigamente da Capoeira. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança81. Para Viera (2017)82: Não podemos perder a perspectiva de que Arte se relaciona com técnica e que muitas modalidades esportivas de lutas são consideradas como "Artes" Marciais. Neste contexto a Federação Internacional de Capoeira é fundadora da União Mundial de "Artes" Marciais (WOMAU) e que a modalidade, enquanto atividade física e esporte é bicampeã mundial de Artes Marciais.

Para Mestre Tuti (2011) 83: A Capoeira é essencialmente dialética e dinâmica; e por ser uma manifestação que se espalhou pelo mundo muito recentemente, recebe milhares de análises em seus diversos aspectos – teórico, técnico, didático, tático, filosófico etc. - e cada uma delas baseada na realidade de cada norteador de um trabalho (entenda-se: Mestre, Professor, Instrutor etc.). Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira.

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CORTE REAL, Márcio Penna. A CAPOEIRA NA PERSPECTIVA INTERCULTURAL: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 80 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 81 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 82 VIERA, Sérgio. Correspondencia pessoal via correio eletrônico, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 07 de setembro de 2017 83 Mestre Tuti in CHAMADA NA ‘BENGUELA’ -17/11/2011) To: capoeiranaescola@googlegroups.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela’


Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc. 84. A arte apresenta registros documentais e iconográficos desde o século XVIII85. O que é ‘capoeira’? Verniculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 86. Por Capoeira deve-se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“?

conforme a conceitua Araújo (1997) como:

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ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por capoeiragem

[...] a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado? (p. 69); e capoeirista, como sendo: os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva? (p. 70).

Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79), em nota registrando a Decisão (205) de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores. (ARAÚJO, 1997). Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968) 88: [...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. (Antenor Nascimento, citado por REGO, 1968, citados por MANO LIMA – Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79) 89.

84

COELHO, T. DICIONÁRIO CRÍTICO DE POLÍTICA CULTURAL. São Paulo: Iluminuras, 1999 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. 86 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 87 ARAUJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPÓLIGAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA – de uma actividade guerreira para uma actividade lúdica. (S.L.): PUBLISMAI – Departamento de Publicações do Instituto Superior Maia (Porto), 1997. 88 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA. 2 ed. Brasília, Ed. Do Autor, 1982 89 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007. 85


ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008.

Ou devemos entendê-la como: [...] Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira) 90;

assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a [...] um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 3940) 91.

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Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. 91 PEREIRA DA COSTA, Lamartine. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Belo Horizonte: SHAPE, 2005, VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa - Capoeira - http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/escolher_linguagem.php;


“Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388)92. “Carioca” Uuma briga de rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu à capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX. 93

Para Câmara Cascudo (1972) 94, Capoeira: [...] jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos.

Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. (CÂMARA CASCUDO, Dicionário do Folclore) 95. Para a Capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte. CAPOEIRA ANGOLA - a proposta explícita da capoeira Angola é tradicionalista, no sentido de manter, o quanto possível, os “fundamentos” ensinados pelos antigos mestres. Está intimamente ligada a figura de Mestre Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha -; aprendeu a capoeira antes da virada do século XIX (nasceu em 1889) com um velho africano. CAPOEIRA REGIONAL - é a partir do final da década de 1920 que Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado – desenvolveu na Bahia a sua famosa capoeira Regional, que, apesar do nome, foi a primeira modalidade de capoeira a ser praticada em todo o Brasil e no exterior. Bimba partiu de uma crítica da capoeira baiana, cujo nível técnico considerava insuficiente, sobretudo se confrontado com outras lutas e artes marciais, que começavam a ser difundidas então no Brasil. CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA – o panorama da capoeira no Brasil e no exterior se tornou de tal maneira complexa que é impossível, atualmente, distinguir apenas a capoeira Angola e a Regional, pois surgiram estilos que se pretendem intermediários e que têm sido denominados de “Contemporânea” ou mesmo “Angonal”: 92

LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem -http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 93 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (préprint). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC 94 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. 95 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.


- CONTEMPORÂNEA – é a denominação dada por Mestre Camisa a capoeira praticada no Grupo Abadá, com sede no Rio de Janeiro; - ANGONAL – neologismo que representa uma tendência na capoeira atual que funde elementos da Capoeira Angola com a Capoeira regional, criando um estilo intermediário entre essas duas modalidades; é, também, o nome de um grupo, do Rio de Janeiro – Mestre Boca e outros; - ATUAL – denominação que seria usada por Mestre Nô de Salvador, para designar esta terceira via (Vieira e Assunção, 1998) 96.

Do Atlas do Esporte no Brasil: Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). “Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizandose, de modo geral, como uma atividade lúdica. (VIEIRA, 2006) 97.

Na pesquisa realizada pelo IPHAN, ela é definida como: [...] um fenômeno urbano surgido provavelmente nas grandes cidades escravistas litorâneas, que foi desenvolvido entre africanos escravizados ligados às atividades “de ganho” da zona portuária ou comercial. A maioria dos capoeiras dessa época trabalhava como carregador e estivador, atividades muito ligadas à região dos portos, e muitos realizavam trabalho braçal. 98

Seguindo a justificativa do IPHAN, a partir de 1890, quando a capoeira foi criminalizada, através do artigo 402 do Código Penal, como atividade proibida (com pena que poderia levar de dois a seis meses de reclusão), a repressão policial abateu-se duramente sobre seus praticantes. Os capoeiristas eram

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VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 97 VIEIRA, Sergio Luiz De Souza. Capoeira. In DaCosta, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2005, p. 1.44-1.45) DaCOSTA, 2006, , obra citada. p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br 98 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871


considerados por muitos como “mendigos ou vagabundos”. Outras práticas afro-brasileiras, como o samba e os candomblés, foram igualmente perseguidas. 99. Mais adiante, durante a República Velha, a capoeiragem era uma manifestação de rua, afro descendente, e muitos dos seus praticantes tinham ligações com o candomblé, o samba e os batuques. A iniciação dos capoeiras nessas atividades acontecia provavelmente na própria família, no ambiente de trabalho e também nas festas populares. Ainda sobre o universo das ruas, estudiosos revelam que o cancioneiro da capoeira se enriqueceu dos cantos de trabalho, e que o trabalhador de rua, em momentos lúdicos ou de conflitos, também se utilizava dos golpes e movimentos da capoeira. 100. Consideram que já na década de 1920, com o apoio fundamental de intelectuais modernistas que procuraram reconstituir as bases ideológicas da nacionalidade, as práticas afro-brasileiras começaram a ser discutidas, e passaram a constituir um referencial cultural do país. Ao final dos anos 30 a capoeira foi descriminalizada e passou de um extremo a outro, a ponto de ser defendida por historiadores e estudiosos como esporte nacional, considerada a verdadeira ginástica brasileira. A manifestação já foi apontada como esporte, luta e folguedo, e era praticada por diferentes grupos sociais, principalmente a partir do século XX. 101.. Assim, em 1937: [...] a capoeira começou ser treinada como uma prática esportiva, e não apenas como uma “vadiação” de rua. Neste mesmo ano Mestre Bimba criou o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia. “A capoeira regional nasceu como forma de transformar a imagem do capoeira vadio e desordeiro em um desportista saudável e disciplinado. Ele criou estatutos e manuais de técnicas de aprendizagem, descreveu os golpes, toques, cantos, indumentárias especiais, batizados e formaturas. “Em seguida, Mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola , em 1941, e assim este estilo passou a ser ensinado através de métodos próprios. “A ideia da capoeira como arte marcial brasileira criou polêmica, pois era defendida por uns e criticada por outros, principalmente pelos angolanos, que afirmavam a ancestralidade africana do jogo. 102.

Na linha do tempo estabelecida pelos estudos do IPHAN, uma grande leva de capoeiristas chegou ao Rio por volta de 1950 oriundos da Bahia [a diáspora da capoeira baiana, no entender de Lacé Lopes]. O mais importante deles foi Mestre Arthur Emídio, que trouxe um estilo de capoeira diferente, de movimentação veloz e marcialmente eficaz, mas que mantinha orquestração musical. Ainda na década de 50 a capoeira passou a ser retratada e divulgada por artistas como Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger, entre outros. Nos anos seguintes, entre 60 e 70, ganhou espaço também nas produções artísticas do Cinema Novo, Tropicália e Bossa Nova.103 . Para os estudos do IPHAN, foi a partir de 1970 que a capoeira se expandiu em larga escala pelo Brasil. A Angola deve sua recuperação, em grande parte, à atuação de Mestre Moraes, aluno de Pastinha, a partir de 1980, com a fundação do Grupo Capoeira Angola Pelourinho, que fortaleceu sua prática na Bahia e a disseminou pelo centro-sul do país e no exterior. 104 . 99

VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 100 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40. 101 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40. 102 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print). 103 VIEIRA, 2005, obra ciatada, p. 39-40. 104 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40.


Em 1975, o esporte chegou à Nova York, e em 1990, Mestre João Grande inaugurou a primeira escola de capoeira angola dos EUA: Capoeira Angola Center: Apesar do fluxo de capoeiristas para a Europa e EUA ter-se iniciado a partir de 1970, a princípio para a realização de shows, e em seguida para a formação de novos grupos nesses locais, foi a partir dos anos 1990 que o movimento da capoeira se intensificou, alcançando hoje o status de prática cultural realmente globalizada [...]”105.

A Capoeira(gem) praticada no Maranhão é singular, aparece no Estado desde o período colonial, recebendo a denominação ora de ‘batuque’, ‘punga’, ‘carioca’, ‘capoeiragem’, finalmente, ‘capoeira’, tão somente... Pode-se identificar que a Capoeira do Maranhão tem quatro fases: (1) de sua aparição, pelo início dos anos 1800 até meados da década de 1930; (2) desse período até a década de 1950; (3) da década de 1960 até por volta de meados de 1980; (4) e daí, até os dias atuais. Mestre Euzamor (2006) 106 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Mário Martins Meireles (2012) 107 traz – embora se questione o uso da palavra capoeira em seu texto – que, por volta de 1702, [...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.[...] (p. 98),

referindo-se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) - homem intolerante -, e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas. Segundo Coelho (1997, p. 5) 108 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem lingüística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 109. Encontrei na correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará e o Ministro de D. José I. Marcos Carneiro de Mendonça110 em “A Amazônia na era Pombalina”, traz-nos carta de Mendonça Furtado111 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem

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VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40. MESTRE EUZAMOR in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC (anexo II) 107 MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99. 108 ARAÚJO, 1997, obra citada. 109 ARAÚJO, 1997, obra citada, 110 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C. 111 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado 106


acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande: [...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente-Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo-se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...] (p. 300). (grifos do texto).

Mundinha Araújo112 fala de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira: no Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124, grifos meus) 113.

Encontrei, ainda que, em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus).

Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel), desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a

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Mundinha Araújo é fundadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão (1979) e, desde então, vem desenvolvendo pesquisas sobre a resistência do negro escravo no Maranhão (fugas, quilombos, revoltas e insurreições); Coordenou o Mapeamento dos povoados de Alcântara” (1985-1987) e foi diretora do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), de 1991 a 2002. In Nota de orelha de livro, ARAUJO, Mundinha. NEGRO COSME – TUTOR E IMPERADOR DA LIBERDADE. Imperatriz: Ética, 2008 113 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009


murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).114

De acordo com Mestre Bamba do Maranhão, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-deCrioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga115: Para Ferreti (2006) 116, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula117. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. “Batuque”, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira118. Na biografia de Mestre Bimba 119, consta: Da fusão da capoeiragem de outrora (Primitiva) com o Batuque (Samba-Luta), nasce a Luta Regional Baiana ou Capoeira Regional Baiana, uma criação do Mestre Bimba, Manoel dos Reis Machado, que com sua criatividade desenvolveu uma “Metodologia de Ensino” [...] coisa que não existia pois a capoeira outrora era aprendida de “oitiva” (olhando). Instituiu uma forma de charanga (orquestra) e cancioneiro especifico (quadras e corridos), desenvolveu e preservou “Tradições”, criou e formalizou rituais (Entrar no Aço (batizado), Nome de Guerra, Cerimônia de Formatura, etc.). Em 1918 iniciou o ensino e criação da capoeira Regional Baiana e em 1928 o Mestre Bimba deixa o depoimento: “Em 1928, eu criei, completa, a regional, que é o Batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”. Sua obra ganhou o mundo e graças a sua Capoeira

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[Jornal do Capoeira] http://www.jornalexpress.com.br/ http://www.jornalexpress.com.br/ 116 FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf 115

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O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula".

118

CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 119 Disponível em CCCB, MESTRE BIMBA, disponível em http://capoeirabaiana.net/mestre-bimba/


Regional Baiana a capoeiragem chegou a lugares antes imagináveis: [...] “Eu não fiz capoeira para mim, eu fiz capoeira para o mundo”!!!

Mestre André Lacé 120, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas121.

Fonte: http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/03/bimba-cual-es-la-verdadera-historia.html 122 LIBRO: Artes do corpo Escrito por Vagner Gonçalves da Silva

Fonte: LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: 2005, p. 18 120

LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 121 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 122 SILVA, Vagner Gonçalves da (org.), ARTES DO CORPO 0 MEMÓRIA AFRO BRASILEIRA. São Paulo, Selo Negro Edições, 2004.


Neste primeiro momento da História da Capoeira do Maranhão, encontramos várias referencias em jornais publicados em São Luís, e em outras cidades do interior, que fazem referencia ‘aos capoeiras’, sempre relacionados com distúrbios em locais públicos, que exigiram a interferência da polícia; também em alguns contos e crônicas publicadas, nesses mesmos jornais, ao descreverem-se alguns tipos, são descritos aqueles que se identificam como ‘praticantes de capoeira’; outra forma que aparece, é a desqualificação de algum político, indicando-se ser ele individuo de má índole, portanto, ‘capoeira’: 1835 - na Rua dos Apicuns, local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural:A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís.” (ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36).

Mestre Militar afirma que a capoeira no Maranhão tem seu inicio em 1835 (Costa, 2009) 123. 1843 - o Diretor da Casa dos Educandos Artífices do Maranhão em relato ao Presidente da Província informava que havia “um outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor: Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em consequência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer consequências mais desagradáveis [...] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me

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COSTA, C. A. A. História da Capoeira no Maranhão. In: < http://associaogrupokdecapoeira.blogspot.com/2009/07/capoeira-domaranhao.html>.


parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192)124.

A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, e havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184)125. Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 1842126, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada? 1860 - A IMPRENSA - CH RIBEYROLLES. VARIEDADES. A Fazenda (continuação do numero anterior), São Luis, 29 de setembro de 1860, p. 2 publica um artigo, dividido em partes, que apareciam em várias edições, como era costume na época, sob o titulo A FAZENDA: Jogos e danças dos negros – No sábado à noite, depois do ultimo trabalho da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e repouso, concede-se aos negros uma ou duas horas para a dança. Reúnem-se então no terreiro, chamam-se, grupam-se incitam-se, e a festa começa. Aqui, é a capoeira, espécie de dança física, de evoluções atrevidas e guerreiras, cadenciada pelo tambor do Congo; ali o batuque, posições frias ou lascivas, que os sons da viola aceleram ou demoram: mais além tripudia-se uma dança louca, na qual olhos, seios, quadris, tudo fala, tudo provoca; espécie de frenesi convulsivo e inebriante a que chamam lundu. Alegrias grosseiras, volúpias asquerosas, febres libertinas, tudo isto é nojento, é triste, porém os negros apreciam estas bacanaes, e outros aí encontram proveito. Não constituirá isto um sistema de embrutecimento?

. 1861 - publicado em A IMPRENSA - OS ILUMORISTAS. PÁGINAS SOLTAS: o Sr. Primo, o Serafim e o Cavallo preto de Sua Excia., p. 4, de 11 de dezembro de 1861 o seguinte: [...] Serafim é um jovem de cara lavada, moreno, barba a lord Raglan, desempenado de capoeira, e andar de cahe a ré, como marinheiro tonto, ou redactor do Porto Livre, nas horas em que o sol procura as ondas do mar [...]

1863 - Josué Montello, em seu romance “Os degraus do Paraíso” 127, em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863, quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite:

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CASTRO, César Augusto. CASTRO, C. A.. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO NO MARANHÃO PROVINCIAL: UMA HISTÓRIA DA CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES. São Luís: EdFUNC, 2007 125 CASTRO, 2007, obra ciatada. 126 ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA BALAIADA. São Luís: FUNCMA, 2001 127 MONTELLO, José. OS DEGRAUS DO PARAÍSO. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986


Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas. O que é confirmado por Vieira Filho (1971) 128 quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. Mario Meireles (2012) 129–, no capitulo referente ao Serviço de iluminação pública (1863-1918), p. 222-225, referindo-se a falta de iluminação nas ruas, em que era dado toque de recolher às 21 horas, com o repicar dos sinos: Os que não atendiam ao oportuno aviso dado pelos sinos, corriam o risco, aventurando-se mergulhados nas trevas das ruas estreitas, de ir ao desagradável encontro de animal vagabundo ou de defrontar um capoeira encachaçado, se não de emparelhar com um negro escravo que levasse à cabeça um daqueles fétidos tigres – que iam ser despejados na maré mais próxima. (p. 222).

1883 - PACOTILHA – 24 fev. “Publicações a pedido: Negócios do Maranhão: [...] Outro facto do correspondente Eugenio Pavolide é de um preto capoeira, quem em junho passado, pôz em sobressalto a praça do Mercado e ruas adjacentes. Espancara um pobre homem e também as praças da policia [...]Até lá que viva que viva entregue à defesa dos Pavolides, os quais um deles talvez saldoso, o espera no hotel onde neste momento começou a purgar as suas façanhas de capoeira...” “(...) Pelas linguagens e pelas expressões de que nos temos servido nas diversas vezes que temos vindo à imprensa discutir negócios daquella sociedade evidencia-se que não temos aprendizagem de capoeira e nunca descemos ao circo de operações physicas.”. 1883, - PACOTILHA - 17 mar. –

1883 - PACOTILHA - 25 junho – “(...) Os outros vaiaram no. Afinal accudiram em chusmas. Genibaldo fazia milagres de capoeira, sem conseguir approximar se delles, que o instigavão.” 1883, PACOTILHA - 25 junho –

1883 - PACOTILHA – 20 ago. – “(...) No sábbado a noite um marinheiro da “Lamego” fez proezas no largo do Carmo (...) Armando de cacete, fazia trejeitos de capoeira e dizia a uns soldados de policia – que chegasse, que elle queria esbodegar um, dar muita pancada (...)”.1883, PACOTILHA – 20 ago.

1883 - PACOTILHA - 25 set “(...) sem mais interrogações, pó-se na perna, à frente da tropa, a sacudir o corpo n’ uns movimentos de capoeira, gingando de alegria e enchendo o ar de assovios silvantes.”1883, PACOTILHA - 25 set 128 129

VIEIRA FILHO, Domingos. BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO LUIS. São Paulo: Olympia, 1971 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar). São Luis: Faculdade Santa Fé, 2012


1884 PACOTILA – 31 mar – “ O magarefe Serafim, um crápula de força, cheio de insolência (...) Mas sendo o Serafim um capoeira traquejado, sahiu incólume da pendencia”. 1884 PACOTILA – 31 mar

1884 - PACOTILHA – 31 jul. “N’uma estação de urbanos: - Sr. Tenente, tenho seguro um capoeira. – Traga-o a minha presença. – Bem o quero fazer, meu tenente, mas o maldito não me quer largar.”

1885 - PACOTILHA – 31 out. – em crônica acerca de estreia de uma peça de Artur Azevedo, no Rio de Janeiro – O mandarim – o comentarista refere-se aos tipos e a interpretação dos artistas: “(...) Barreto não foi infeliz em alguns tipos - o do capoeira e o do Jornal do Commercio optimos”.”

1885 - PACOTILHA – 30 nov. – sobre o lançamento da nova obra de Aluizio de Azevedo: O colono deixa a mulher por uma mulatinha, e d´este novo enlace surgem o Felizardo e a Loureira: participa d’ este grupo o typo do capadocio, o pae avô do capoeira, que mais tarde é chefe de malta e força activa nas elições. Ligado a este chefe de malta está um typo que contratsa com ele; [...]

1886 – PACOTILHA – 22 mai. – [...] Grande, mas quando o Jojaca cresceu p´rá ell, mo cabra azulou bonito! E o mais neste theor. O pobre homem passou horas na estação policial e certamente lá teria dormido se um amigo que casualmente passára, o não reconhecesse. O sargento da guarda jurava ser o próprio Antonio Belmonte, e o Leitão laborou n´um trabalho insano para provar a identidade de pessoa. Resultado final: Leitão apanhou bordoeira velha, perdeu o trem, rasgou a roupa, e foi conduzidoà estação, ao lado do bodegueiro, no meio de uma chusma de garotos que comentavam alegremente o escândalo, salpicando-o de expressões de gyria capoeira. - Apanhou como boi ladrão, dizia um vendedor de balas. - Este Antonio bilontra parece armazém de pancadas. Siltrudia foi-se metter com o Jojaca da Praia. Passo por alto a cabeça e a rasteira que certo dia o Sr. Leitão recebera de um angó, achando-se casualmente envolvido poruma malta de capoeiras quando tranquilamente se dirigia ao seu domicilio. A agressão era destinada, como logo se adivinha, ao seu Sósias, o quela gosava da reputação de ser um dos chefes honorários do partido gayamum. Leitão teve apenas uma costella estragada.

1887 - PACOTILHA – 17 set. – Na primeira parte da ordem do dia, discutiu-se o projeto acerca dos capoeiras. [...] Outra formula ainda. Os jurisconsultos da câmara andam á busca de uma definição da capoeiragem. As opiniões


divergem. A câmara ainda não sabe o que é capoeira. [...] o Sr. Ministro da justiça, por exemplo, quer que o capoeira que matar um homem ou uma mulher, ou uma criança, seja punido, na só pelo crime de homicídio, como pelo de capoeiragem. [...] outros, menos severos, contentam-se com o crime de homicídio. [...] e n´esta duas opiniões fatiga-se a sciencia criminal dos augustos representantes, sem chegar a nenhum resultado. [...] E todavia era fácil a câmara conhece e definir a capoeiragem. Com uma simples requisição á policia da corte, podiam ser presentes a câmara exemplares corretíssimos de capoeiras peritos, e pelos exercícios deles, sobre o augusto tapete das discussões, podia o ramo popular do poder legislativo ficar com uma idéia nítida do que é uma cabeçada ou uma rasteira.

1888 PACOTILHA - 6 fev. [...] No substutivo do ministro da justiça (perfilhado, escusava dizel-o, pela camara) sobre o uso de armas prhoibidas, um pensamento benefioco em sua origem foi desviado de sua oprientação primitiva pelos preconceitos da esvcola conservadora. Originariamente, o fim da providencia que se reclamava era a destruição de um gênero singular de perversidade, que infesta a capital do Império: o capoeira. [...] O que o ministério, porém, queria, não era extinguir os capoeiras, mas additar a lei de 3 de dezembro, generalizando um incremento novo de eleições e compressão policial. E tanto esta é a verdade que ninguém pensa em reformar a policia, a grande matriz, o alfobre e o asylo da capoeiragem[...].

1889 PACOTILHA 23 jul. – Pedem-nos que chamemos a atenção da policia para o procedimento pouco regular de um tal Miguel, que se diz invaliudo da pátria, parecendo antes ser muito bom do desertor da Armanda. Está ele constantemente á porta da quitanda da rua do Norte, canto da de Sant’ Íago, a provocar os transeuntes e os moradores do bairro quem se vêem forçados a fugir dali. O Miguel que anda sempre armado de navalha, a fazer piruetas de capoeira, prometeu por as tripas ao sol a mulher Maria, que recusa atender-lhe os protestos de amor e dedicação.

No mês de julho desse mesmo ano teriam ocorrido outras duas conferências em que os republicanos foram apedrejados pelos libertos de 13 do maio (denominados capoeiras) insuflados pelos monarquistas. (Fonte: Luiz Alberto Ferreira - Escola Caminho das Estrelas O MOVIMENTO REPUBLICANO NO MARANHÃO - 1888-1889). 1890 PACOTILHA – 27agosto


1899 PACOTILHA 14 jun, em Carolina



SÉCULO XX 1900 PACOTILHA 15 fev. em Cururupu

1901 PACOTILHA 24 jan – Um conto de Viriato Correa:



1901- PACOTILHA 20 mai, sobre a passagem de um cometa:

1902 PACOTILHA 21 abr


1902- JORNAL A CAMPANHA 20 set, p. 2 in “Sombrinhas – [...] Si tu fores homem, salta pr’á cá, torneou Eudamidas, tirando o palitot, e fazendo gestos de capoeira”.

1903 JORNAL A CAMPANHA 04 set, p. 2 in “Traças e Troças – de Geraldo Cunha: [...] Meus senhores, apesar de minha horripilante figura, do meu gingado de capoeira que faz lembrar o andarzinho do Godois, sempre me soube colocar na sociedade do homem [...]”.

1904 PACOTILHA 16 fev. uma crônica: O Travesseiro:

1909 – PACOTILHA 14 jun. JIU-JITZU: Noticia sobre a luta de Ciriaco com Maeda, ocorrida no Rio de Janeiro e adequação da Capoeira como luta nacional:





1911 DIÁRIO DO MARANHÃO 3 mar. PUF

Mas, já por essa época, a Capoeira recebi um tratamento como “esporte”, como se vê de notícias de jornais, assim como consta de livro sobre a História do Esporte no Maranhão, do grande jornalista esportivo Dejarde Martins: 1877 MARTINS (1989). In ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO130. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (179).

Ou este anúncio, de 1884, em que havia um desafio entre um “Sansão do século XX; cabe ressaltar que era comum, desde a fundação de nosso teatro, a apresentação de espetáculos de força nos palcos, com ‘artistas’ se apresentando, identificando-se como discípulos de Amoros “THEATRO SÃO LUIZ 22 DE JUNHO DE 1884 – Terceiro e ultimo espetáculo – função de D. Máxmo Rodriguez, o invencível Sansão do Seculo XX – primeiro Hercules do mundo... terminará o espetaculo com o”

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MARTINS, Dejarde Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís, s/e, 1989(?)


1884, PACOTILHA – 21 jun 1915 NASCIMENTO DE MORAES131, em uma crônica que retrata os costume e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utilizam o termo capoeiragem: A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (NASCIMENTO DE MORAES. Vencidos e Degenerados. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000, p. 95).

Em outro trecho é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”. (in MARTINS, 2005) 132

1918 O JORNAL – 27 abr. – A ESMO // “Não a duvida: o Maranhão conquistou agora um dos elementos civilizadores de que carecia para ser uma cidade genuinamente moderna. (...) Já tínhamos, é certo, muitos outros: a pedra da memória, os bondes, o cais, o sorvete em carrocinha, a guarda noturna, o refresco de maracujá chupado por canudo, etc, etc. (...) No gênero esporte tínhamos já o foot Ball, com jogos adjacentes e diversões anexas,e já tivemos até a luta romana. (...) Faltava o Box. (...) Pois vamos ter o Box! [...] Acho que a coisa ficaria melhor assim: o Smith de maiollot e luvas de coiro, boxando; o João Pedro, de calça arregaçada e chapéu a ré, espalhando-se na cabeçada e na rasteira... [...] Ai sim o meu entusiasmo vibraria, como vibrou quando eu li, nos telegramas da imprensa, aquela excelsa vitoria que, no Rio, sobre um mestre japonez de jiu jitsu, ganhou um capoeira do bairro da Saude, por meio de um genial e glorioso rabo de arraia! [...]” 131

NASCIMENTO DE MORAES. VENCIDOS E DEGENERADOS. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000. 132 MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís: UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005


1918- O JORNAL - 18 jul – Como se conta a História “Há muito o Martiniano Santos apregoava o seu incomensuaravel valor na capoeira, no rabo de arraia, etc. No bairro da Camboa ele era tido e havido como o campeão e, por isso, temido e respeitado em extremo. ([...]”

1920 O JORNAL – S. Paulo e os Jogos Olympicos da Antuerpia – [...] Em todas as (lutas) que conheço, que são, o jiu jitsi, a greco-romana, a livre, as cat-as-catche-can, a turca e até a ... capoeira se quizessem um numero genuinamente brasileiro.[...]”

1920 - DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 02 de dezembro – “Nos meandros da politicagem – O Urbano diz que tem medo do Machado e não confia no Domingues, o primeiro porque é um estratégico, o segundo porque é um capoeira...”

1921 O JORNAL – 1 fev Entreatos “[...] Dei-lhe esperanças, v. avançou, pulou daqui pra acolá, fez capoeira e veio afinal, envergonhado, cair debaixo da verdade. [...]

1921 - PACOTILHA 18 OUT – DESPORTOS


1922 O JORNAL – 3 jun – A INCONFIDFENCIA DO ICARAHY – Jil Veloso: “[...] Porque, Oldemar de Lacerda, cedo ou tarde, é fatal, fará de Sansão na tragicomédia reaccionaia. Não a (?) templos, compensal-o á, contudo que desbarate a barricada do messias de Pindotiba, a coices de capeira enfezado...”. 1922 - DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 26 de agosto – “Os industriaes de commissões – [...] Já o burocrata, entre apavorado e espavorido, enxugara, por tres vezes, o suor escachoante do rosto e mãos, quando o Chico Páo Pombo aproximando-se-lhe, em requebros de capoeira aposentado, propoz -: Prá que lado qué aderná, seo dotô!? (...) E, estendendo-lhe o braço esquerdo à altura do hombro direito, acurvou-se, rápido, para a direita – joelhos em flexão – e, retezando a perna d’esse flanco, impulsionou-a em sime-circulo para a frente! (...) E quando o pé de Páo de Pombo tocou o artelho esquerdo do misero Sancho, toda a assistência applaudiu, freneticamente, a queda desastrada de seu corpo cevado e flácido como uma bola de borracha... “.

1922 - DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 06 out – “Guarda Avançada – Hontem, às 21 horas, os senhores Carlos Burnett e Murilo Serra foram estupidamente agredidos por um guarda civil que terminou por convidar aqueles senhores para um ‘joguinho’ de capoeira ali mesmo na Praça Deodoro onde se deu o facto. (...)”.

1923 DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 23 ago – “Um sportmen excêntrico – O quitandeiro da rua dos Affogados, canto com a da Cruz, tem lá as suas excentricidades. A de nosso homem, porém, não é das mais plausíveis, dado o seu gênero: insuflar garotos de pouca idade para “treinarem” o “box” e a capoeira, etc.(...) Hontem, às 18:15 horas tivemos ocasião de assitir um desses desagradaveis “treinos”, em sua casa comercial, por dois pequenos que ali foram comprar kerozsene e outros gêneros. (...) A assistência era enorme e composta dos mais intrangisentes ‘habiutés’. O exercício era um mixto de capoeira e ‘box’ importando em sérias quedas no chão encimentado [...]”.

1923 - A PACOTILHA – 05 set – OS DESORDEIROS // O valentão Benedito Santos, pondo em prática as suas proesas de capoeira, quis quebrar a cabeça dum policial, com uma pedrada [...] Para o desordeiro o Sr. Delegado tomou as suas devidas providencias.

1924 – PACOTILHA – UMA REVELAÇÃO




1924 - A PACOTILHA – 02 AGO – UMA TRADIÇÃO QUE DESAPARECE – O ULTIMO CAPOEIRA...




1925 DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 31 jan – “LITERATURA – Serenata – [...] Assentados em bancos, numa bizarria interessante, estavam o Militão Gallinha, desdentado e morfanho, o Zezinho Côxo, o compadre Paulo – o Rei da Capoeira -, o Nenê de Adriana, o Paulinho das abacattelas e outros.”


1927 – 08 SET – NA POLICIA E NAS RUAS


1928 – PACOTILHA – 08 MAI

A segunda fase – que identificamos – é a dos anos 30/40, indo até meados dos anos 50. Não existem evidencias de que fosse ainda praticada, a não ser algumas que dizem ser os estivadores da Rampa Campos Melo praticantes da “carioca”, assim como lembranças de que em Codó – sem precisar-se o período, também era praticada com esse nome; Cururupu também é mencionada, como cidade onde se praticava “a carioca”, nas palavras de um senhor, negro, à época da declaração, com mais de 80 anos: praticava na juventude, mas não era conhecida, aquela manifestação do movimento, como capoeira... Mestre Diniz diz que via os carregadores, no porto, praticando ‘capoeira’, quando vinha à cidade, junto com seu pai para fazerem compras; ficava na canoa, o aguardando; tinha, conforme dizia, entre 7 e 9 anos; como nascido em 1929, deveria ser lá pelo final dos anos 30: 1936/1938. Mestre Firmino Diniz teve os primeiros contatos com a capoeiragem lá pelos seus 7-9 anos de idade, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista daquela época: Caranguejo; depois, Mestre Diniz vem a ter lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís, lá pelos anos 1950. 1933 NOTICIAS 14 jul – JANUARIO MIRANDA – Junius Viactor:


1935 A PACOTILHA 24 JAN – ‘BOM CRIOULO’ – nascimento Moraes – critica a livro de Adolpho Caminha:


1948 DIÁRIO DE SÃO LUIZ, 23 jul – “A OBRA SOCIAL DO P.S.T. – [...] Essa atitude desprimorosa, que caracterisa antes de tudo a mentalidade de capoeira dos seus autores, vem mostrar ao Maranhão e ao Brasil que aqui, na terra gonçalvina (...)”

Greciano Merino (2015)133, referindo-se às perseguições que a Capoeira recebera do período da Proclamação da República até mesmo o Estado Novo, não obstante a sua ‘legalização’ através das atitudes de Getúlio Vargas, afirma que no Maranhão esta hostilização foi além do período do Estado Novo (19371945), mantendo a Capoeira no ostracismo até entrando nos anos 60: Sin fuentes encontradas que señalen una purga específica contra la capoeira, podemos señalar como un indicio las campañas de persecución que sistemáticamente se ejercieron contra los terreiros. El profesor Barros (2007)134 explica que, durante la administración de Paulo Ramos como interventor federal en el Estado (1936-1945), son significativos “los excesos de autoridad cometidos, en algunos casos, por la Policía Civil, durante la gestión de su titular, el Licenciado Flávio Bezerra”135. Su fama de implacable ejecutor del orden y la ley quedó reflejada por diversos articulistas de la época: “siempre celoso y cumplidor de sus deberes, el dr. Flávio Bezerra, viene hace mucho tiempo combatiendo eficazmente a los macumbeiros, que infectan la ciudad”136; “el dr. Flávio Bezerra, ilustre jefe de policía, (...) viene combatiendo tenazmente la macumba”. En 1941, O Globo noticiaba que la policía dio “una batida en la Macumba de Cutim Grande”, interior de la Isla. La descripción del hecho se inicia con un elogio a la actuación del jefe de policía: “es, incontestablemente, digna de aplausos, la actitud del dr. Flávio Bezerra al frente da nuestra Polícia Civil”, hombre severo y promotor de la limpieza social. “Medidas acertadas, son, diariamente, tomadas por aquella autoridad, que no mide sacrificios en el sentido de velar bien por la sociedad maranhense”507. La fama de Flávio Bezerra como perseguidor de terreiros en Maranhão se debe, sobretodo, a su actuación en São Luís. Sin embargo, en ese período, otros jefes de policía también adquirieron notoriedad por sus prácticas represivas.

ANOS 50/60 Como podemos observar, há uma ‘primeira fase’ da Capoeiragem praticada no Maranhão, de seu aparecimento, no inicio dos anos 1800, e que vai até os anos 30/40, quando aparece no relato de alguns dos, hoje reconhecidos, Mestres mais antigo, em especial verificado pela ‘história de vida’ de Mestre Diniz, que se refere aos seus tios, e a outros capoeiras que vira ‘jogar’ em sua infância. Segundo Fábio Alexx (2012) 137, a capoeira tem indícios de ter aparecido no Maranhão na década de 1870, na região da Baixada. Todavia, há também registros que narram sua aparição entre 1830 e 1840, reaparecendo, já na capital maranhense, aproximadamente, 100 anos mais tarde: A partir daí esquiva-se para ressurgir no início da década de 1960, representada pela Academia Bantu, pioneira em capoeira no estado. À frente do projeto estava o aluno do Mestre Artur Emídio (1930-2011), o Mestre Roberval Serejo (1936-1971), um marinheiro que serviu a Marinha de Guerra do Rio de

133

GRECIANO MERINO, 2015, obra ciatada. BARROS, A. Evaldo A. Tambores e maracás no ambíguo Maranhão estado-novista. Comissão Maranhense de Folclore (CMF) , boletín on-line, junio de 2007, nº 37, São Luís. p. 10. 135 MEIRELES Meireles, Mário M. História do Maranhão. 2. ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980. p. 378. 136 Diario O Globo, São Luís, 30/7/1941, p. 6. Apud. BARROS, A. Evaldo A. Tambores e maracás no ambíguo Maranhão estadonovista. Comissão Maranhense de Folclore (CMF) , boletín on-line, junio de 2007, nº 37, São Luís. . 137 ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 134


Janeiro e foi morto quando trabalhava na construção do Porto do Itaqui. Há vários relatos, portanto, inclusive de Mestre Patinho, que afirmam que Mestre Roberval Serejo foi antecessor de Sapo.

Parte dos Mestres participes do Curso da UFMA/DEF 2017 desconhece, ou têm pouca informação, sobre a capoeiragem praticada antes de chegada de Serejo, do Grupo Aberrê, e logo em seguida, Sapo: GRUPO 4. Não era de nossa época, não tínhamos informações da mesma, nem da sua História e não das suas lideranças e grupos.138 GRUPO 5. Não, apenas tínhamos conhecimento através de pesquisas que existiam pequenos grupos de capoeiristas chamados ‘maltas’. 139

Mas a maioria tem algum conhecimento, embora restrito, e na maioria das vezes, se limita ao ‘ouvir dizer’, de antes das Rodas de Rua organizadas pelo Velho Diniz, ou mesmo Caranguejo: GRUPO 2. Existem relatos que existiam grupos de pessoas que se reuniam em vários pontos da cidade, tais como: Mercado Central, Praia Grande, nos Portos, Sítio do Apicum, e em frente ao Cemitério do Gavião. Nesta época não existia grupos de capoeira, mas existiam relatos que um cidadão cujo apelido Caranguejo se reunia nos fins de tarde com outras pessoas para realizar roda de capoeira nas imediações do Cemitério do Gavião.140 GRUPO 6. Temos conhecimento da existência da capoeira antes do Mestre Sapo e Roberval Serejo, liderada por sua vez por Mestre Diniz, que costumavam reunir-se na Barrigudeira e faziam suas apresentações na Praia do Olho D´Água.141 GRUPO 1. Todos concordaram conhecer parcialmente a sua História; todos concordaram que existiam grupos de pessoas, por exemplo, Betinho (hoje, Mestre Paturi). Elmo Cascavel, Babalú, Alderbam, Alô e Leocádio; (os líderes eram) Manoelito, Leocádio, Alô e Paturi; (quanto aos locais) Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas (antiga fábrica de arroz) 142 GRUPO 3. Entendemos que tem uma 1ª fase em 1835; os negros se encontravam no Canto da Viração, jogando ‘Carioca’; 2ª fase – final dos anos 50, com a chegada de Roberval Serejo, o qual formou o Grupo Bantu de capoeira; 3ª fase – em 1968, dá-se a chegada do Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo); promoveu várias atividades: criação das escolinhas de Capoeira; prática da capoeira nos CSU; representou o estado do Maranhão no Campeonato Brasileiro, em São Paulo; inseriu a Capoeira nos JEMs.143 Kafure (2017) 144 não sabe dizer quem eram os líderes daquelas rodas de rua, mas sabe “[...] que existiam as práticas do Tarracá145 e da Pernada ou Punga dos Homens146”.

138

O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 140 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 141 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 142 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 143 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 144 ROCHA, Gabriel Kafure da. DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz através de mensagem eletrônica, datada de 25 de agosto de 2017. 145 Ver: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “WRESTLING” TRADICIONAL MARANHENSE – O TARRACÁ: A LUTA DA BAIXADA. 139


Podemos estabelecer que, naquele final dos anos 50, quando da chegada de Roberval Serejo de volta à cidade, que o Velho Diniz já mantinha suas ‘rodas’ em alguns lugares da cidade. Para Boás (2011)147, a capoeira começou realmente a dar as caras na década de 1960, aparecendo vários praticantes que ficaram conhecidos: Nessa época começou a circular pela cidade o nome de Roberval Serejo, que estava de volta a São Luís, pois estava servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e lá aprendeu capoeira com o mestre baiano Arthur Emídio. Com o tempo, Serejo foi reunindo amigos e admiradores e formou um pequeno grupo de capoeira, que fazia seus treinamentos nos quintais de suas casas e na rua mesmo. O grupo foi crescendo e, em 1968, criou-se a primeira academia de capoeira de São Luís, chamada Bantu. Esse grupo contava com Roberval Serejo, o Capitão Gouveia (sargento da polícia militar), Babalu, Bezerra, Ubirajara, Jessé Lobão, Patinho, dentre outros. A primeira sede do grupo foi o Sítio Veneza, onde hoje funciona a Guarda Municipal, no bairro da Alemanha. Depois se mudou para a casa de Babalu, na Rua da Cotovia, próximo a Igreja de São Pantaleão. Roberval Serejo era escafandrista e morreu em 1971, quando trabalhava mergulhando, durante as obras do Porto do Itaqui. Com a sua morte, muitos de seus alunos deixaram de treinar, mas outros continuaram e o que mais se destacou e continuou a dar aulas foi o Sargento Gouveia.

Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 148. Greciano Merino (2015)149 ao discorrer da (re)introdução da capoeira no Maranhão faz referencia às mudanças conjunturais sócio-pol-iticas que acomretiam o Maranhão naquele períod0o, com a substituição das oligarquias dominantes – Vitorinismo150 e depois, pelo Sarneysmo151 – e a ‘formação de um Maranhão Novo”:

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. REI ZULU E SEU ESTILO DE MMA – O “TARRACÁ” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. . SAPO x ZULU. DEU ZULU... 146 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “PUNGA DOS HOMENS” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. SOBRE A “PUNGA” – VISITAÇÃO A CÂMARA CASCUDO VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO(A) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ – A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM) REVISITANDO A PUNGA: “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE": Notas sobre a Punga dos Homens Capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 Disponível também em http://www.capoeiravadiacao.org/index.php?option=com_content&view=article&catid=10%3Abiblioteca&id=46%3Apungados-homens-tambor-de-criouloa-qpunga-dos-homensq&Itemid=38 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 14/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+punga+dos+homens+-+capoeiragem+no+maranhao 147 BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 148 MARTINS, 2005, obra citada. 149 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada 150 VITORINISMO - Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1945 a 1965, que teve no senador Vitorino Freire a sua figura de realce. BUZAR, Benedito. EU E O VITORINISMO, domingo, 23 de novembro de 2014. In Blog do Buzar, https://www.blogsoestado.com/buzar/2014/11/23/eu-e-o-vitorinismo/ Para CALDEIRA (1978, p, 60) “o vitorinismo, com efeito, foi um coronelismo. Das suas formas de ação excluiu-se a propensão para a dominação econômica. Nesse caso (ao nível de Estado), essa dominação se processava de forma indireta, ou seja, por meio do apoio que dispensava às suas bases de sustentação, através da concessão de garantias específicas. No plano


[...] En esa coyuntura socio-política la capoeira, desde el campo de las representaciones y del imaginario, encuentra su espacio dentro de las dinámicas, conflictos e interacciones de los procesos que modelan, adaptan y transforman la identidad maranhense. Souza (2002)152, Martins (2005)153, Vaz (2005)154 y Pereira (2009)155, destacan la figura de tres capoeiras como los principales responsables por esa reconstitución: Roberval Serejo, Firmino Diniz (Mestre Diniz) y Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo).

Mais adiante, sobre os prioneiros dessa tradição da implantação da capoeira nos anos 60, coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio156 durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ 157. A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015)

Esse pesquisador caracteriza a capoeira praticada nessa época, que não possuía ‘organização’, apesar de ser definada a Bantu como ‘academia’, pois esta não tinha uma estrtura formal, como as atuais escolas/academias e/ou grupos/núcleos de Capoeira: La capoeira era practicada de una forma empírica sin metodologías definidas ni lugares preparados, surgía en los patios de las casas, en la sala de estar de algún iniciado o iniciante y en espacios de la calle apartados de lugares muy transitados. (GRECIANO MERINO, 2015).

A Capoeira, por essa época, era marginalizada, conforme já dito em diversos depoimentos. Afirma Greciano Merino (2015): No debemos olvidar que la capoeira estaba todavía bastante discriminada y existía un amplio prejuicio a su alrededor. En este sentido el Maestro Til (Gentil Alves) afirma que “(...) en aquella época entrenábamos casi escondidos, porque a la policía no le gustaba, decían que era cosa de

político propriamente dito – esfera exclusiva do interesse do vitorinismo – a sua ação se centrava em torno do controle dos partidos políticos e das sub-lideranças políticas com ele identificadas que, juntamente com os coronéis do estado davam a configuração real do vitorinismo”. CALDEIRA, José de Ribamar. Estabilidade social e crise política: o caso do Maranhão. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 46, p. 55-101, 1978. 151 SARNEISMO Sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1965 até os dias atuais, que teve no Presidente José Sarney Costa a sua figura de realce. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Sarney http://atlas.fgv.br/verbete/4909 A era Vitorinista perdurou até 1965, quando entra em voga o nosso próximo monarca: Sarney, que toma posse em 1966 no Governo do Estado. A era Sarney iniciou-se em 1965, no entanto, o crescimento do seu nome começou na eleição de 1960 com a ascensão de Newton de Barros Belo, eleito governador pelo PSD-PTB-UDN. Nesta época, Vitorino começa a perder prestígio junto ao governo de Jânio Quadros e cresce o de José Sarney. Assim, Sarney passa a ser o principal interlocutor entre Newton Belo e o Palácio do Planalto. http://blogdocontrolesocial.blogspot.com.br/2012/06/um-breve-relato-da-historiaoligarquica.html 152 SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. 153 MARTINS, 2005, obra citada. 154 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf 155 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009. 156 599 Capoeira de Itabuna, al sur del Estado de Bahía, que se trasladó a Rio de Janeiro a principio de los años cincuenta donde desarrollaría un importante liderazgo en el desarrollo de la capoeira de vertiente mas deportiva. (GRECIANO MERINO, 2015) 157

Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. Véase: Pereira, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5. (GRECIANO MERINO, 2015)


delincuentes”158; o como afirma el Maestro Indio: “Cuando comencé en 1972 y hasta 1984, la capoeira era marginalizada dentro de São Luís, todo capoeira era considerado vagabundo, marginal, ‘porrero’, alborotador”159. La capoeira, como se percibe a través de estos testimonios, no despertaba el interés de una población aprensiva y estaba lejos de cualquier reconocimiento por parte de los poderes estatales y de las autoridades. Por eso, la intención de Serejo al formar este grupo sería realizar exhibiciones públicas “con pantalón, camiseta y calzado (conga) de la misma forma que había aprendido con el maestro Artur Emídio en Rio de Janeiro”160. (GRECIANO MERINO, 2015).

O desconhecimento de uma história da capoeira no Maranhão, antes da chegada de Roberval Serejo – final dos anos 50 – vem de criar o ‘mito’ de que esse “Renascimento” da capoeira em São Luís se dá justamente com a sua chegada e, logo após, a criação do Grupo “Bantus“ (PEREIRA, 2010; KAFURE, 2012, GRECIANO MERINO, 2015) 161, do qual participava além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio, os Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].162 Por esa época, Roberval Serejo era o principal nome da Capoeira no Maranhão, conforme Greciano Merino (2015)163:

Roberval Serejo adquirió una significativa popularidad y se convirtió en el líder de ese movimiento en la ciudad, como confirma el testimonio del maestro Diniz: “Roberval llegó aquí primero (...) si hubo alguien que detonó ese asunto de la capoeira por aquí fue Roberval Serejo”. Pero un accidente de trabajo en la construcción del puerto de Itaquí ,donde trabajaba como escafandrista en el servicio de salvamento, acabó con su vida en junio de 1971. Con su muerte el grupo se desagregó y sus integrantes siguieron caminos dispares. El maestro Firminio Diniz (1929-2015) se sintió apasionado por la capoeira desde su infancia, recuerda que “cuando iba con su padre a la ciudad mientras éste iba a comprar él se quedaba en el barco desde donde veía a los estibadores jogar capoeira en la rampa Campos Melo”164.

Mestre PATURI, em depoimento relata que: Comecei no Judô e Luta Livre em 1962 e Logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi 158

Véase: Pereira, Roberto Augusto A. O mestre Sapo, a passagem do quarteto Aberrê por São luís e a (des)construção do “mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. Recorde: Revista de História do Esporte, Vol. 3, número 1, junio de 2010, p. 6. (GRECIANO MERINO, 2015)

159

Véase: Sousa, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. p. 50. 160 Pereira, Roberto Augusto A. Op. Cit., 2009, p. 6. 161

PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: RECORDE: REVISTA DE HISTÓRIA DO ESPORTE. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010.

ROCHA, 2012, obra citada GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 162

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: edição do autor, 2013; 2015 (2ª Ed. Revista e atualizada), disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao ; issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005. 163 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 164

Véase: Vaz, Leopoldo y Vaz, Delzuite. A Carioca. Op. Cit., 2013, p. 1.


chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. (ANTONIO ALBERTO CARVALHO , 2017, Depoimentos) 165.

Firmino Diniz, conhecido também como Mestre Diniz ou Velho Diniz também serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu Mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo e posteriormente com Gouveia passaram a freqüentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o Mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas: (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 166.

Augusto Pereira (2010) 167 destaca, ainda, como antecessor de Mestre Sapo, Firmino Diniz, aluno de Mestre Catumbi, no Rio de Janeiro. Posteriormente, tornar-se-ia um dos expoentes mais expressivos e fomentadores da capoeira em rodas de rua realizadas em praças da capital.168 Para Greciano Merino, Cuando abandonó la marina y regresó a São Luís, a finales de la década de 1960, quiso dar continuidad a aquello que había aprendido, pasando a promover periódicamente una roda durante los domingos por la mañana. Es decir, fue uno de los principales responsables por la estructuración y difusión de las rodas de capoeira en São Luís, puesto que, desde su punto de vista, la capoeira era un arte popular que precisaba ser mostrado en público. En ese sentido afirma: “comencé a desarrollar la capoeira, a divulgarla, mi intención era hacer con que todo el mundo supiese que existía esa cosa folclórica bonita que era la capoeira, quería demostrar que no se necesitaba ir al teatro y pagar caro para ver una cosa bonita, en la calle también acontecía, cuando hacíamos rodas se llenaba de personas que querían asistir”169. Hasta ese momento las rodas carecían de ritual, los capoeiras se reunían en la puerta de un bar, en la casa de algún capoeira, en la propia calle o en la playa y comenzaban a intercambiar “pernada”. El maestro Ribaldo “Branco” recuerda que “en esa época esas brincadeiras que hacíamos no tenían berimbau, el berimbau solo va aparecer después, con Diniz, antes de eso la roda era sólo batiendo palmas o tocando pandeiro, la mayoría de las veces era sólo con palmas”170. Diniz, siguiendo la corriente que había conocido en Rio de Janeiro, introdujo elementos rituales e instrumentos que no existían en las rodas de la calle, como él mismo recordaba: “yo construí los instrumentos. Yo hice el agogô, anduve por las cerrajerías, mi agogô pesaba casi cuatro kilos, compre dos atabaques, todo de cedro, yo mismo cubrí, compre el cuero, conseguí pandeiros, conseguí los berimbaus, fui a buscar alambre en las casas de neumáticos, sacaba el alambre, ese esfuerzo fue para atraer a las personas a las rodas. Ellos venían y cuando yo no podía ir, iban a buscar los instrumentos en casa” (GRECIANO MERINO, 2015)171

Grciano Merino identifica os frequentadores dessas rodas promovidas pelo Velho Diniz, segundo depoimentos que colheu: Sargento Gouveia, Babalu, Alô, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Ribinha, Sururu, Alan, Gordo, Theudas, Mimi, Raimundão, Sansão, Pavão, Naasson (‘cara de anjo’), Faquinha, Valdeci, Curador, Paturi, 165

MESTRE PATURI – ALNTONIO ALBERTO CARVALHO. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão, UFMA/DEF 2017. 166 PEREIRA, 2009, obra citada. 167 PEREIRA, 2010, obra citada 168 ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 169 PEREIRA, 2009, obra citada, p. 12. 170 PEREIRA, 2009, obra citada, p. 113 171 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada.


Rui Pinto, Alberto Euzamor, Elmo Cascavel, Patinho, Bambolê, Manoel Peitudinho, Cural, De Paula, Didi, Miguel, Joãozinho (Wolf), Cordão de Prata, Esticado, La Ravar... entre otros. (GRECIANO MERINO,

2015) Sem dúvidas, que Diniz foi figura fundamental porque conseguiu inserir a capoeira no sistema de pensamento da cidade. Isto é: [...] gracias a la acción de este emprendedor, las rodas emergen como un elemento hologramático en el mecanismo del sistema complejo-ciudad. La ciudad, en tanto que sistema orgánico, pasa a reconocer la existencia de la capoeira como uno de sus múltiples elementos interactuantes, dotada de una autonomía relativa y cohesionada de forma involuntaria con el conjunto urbano a través de sus múltiples interacciones con otros agentes, planos, niveles y temporalidades. (GRECIANO MERINO, 2015) 172 .

Em 1966, um quarteto baiano denominado Aberrê fez uma demonstração de Capoeira no Palácio dos Leões – sede do governo estadual. Desse grupo participavam Anselmo Barnabé Rodrigues – Mestre Sapo -, o lendário Mestre Canjiquinha, Vítor Careca, e Brasília. Após essa apresentação, receberam convite para permanecer no Estado, para ensinar essa arte marcial brasileira:173 Mestre Canjiquinha [Washington Bruno da Silva, 1925-1994], e seu Grupo Aberrê passam pelo Maranhão, apresentando-se em Bacabal, no teatro de Arena Municipal; e em São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (Acompanhavam Mestre Canjiquinha Sapo [Anselmo Barnabé Rodrigues]; Brasília [Antônio Cardoso Andrade]; e Vitor Careca, os três, ‘a época, menores de idade: - Locais das exibições de Canjiquinha fora da Bahia, dentre elas: “1966 – Maranhão – Bacabal, no teatro de Arena Municipal; São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da Capital; Ginásio Rodrigues Costa”. (Rego, 1968, p. 277 citado por MARTINS, 2005) 174. Capoeira no ginázio Será, finalmente, hoje, no Ginázio Costa Rodrigues, a exibição de Canjiquinha o rei da capoeira baiana que juntamente com Brasília, Careca e Sapinho formam um discutido quarteto... Entusiasmo do Governador Sexta-feira última Canjiquinha e seus colegas fizeram uma demonstração no Palácio dos Leões para o governador José Sarney e sua família...175.

FOI SUCESSO ABSOLUTO A APRESENTAÇÃO DOS CAPOEIRISTAS BAIANOS Na noite de ante ontem, foi realizada a primeira apresentação em público dos "capoeiristas da Bahia" que se encontram em São Luís, tendo a apresentação dos mesmos agradado a seleta platéia que compareceu ao ginásio coberto do Campo do Ourique. Aplaudido delirantemente Os "capoeiristas" foram aplaudidos delirantemente pelo público, durante a hora e meia de apresentação de um sem números da luta de "capoeira" e do folclore africano, o que veio demonstrar o alto grau 172

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes 174 REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968) 175 JORNAL PEQUENO, 16 de junho de 1966 173


cultural do nosso público, para apresentações dessa espécie, quando <<Canjiquinha>> mais uma vez com seus pupilos brilharam em seus esmerados trabalhos. Nova apresentação Dado o êxito alcançado artisticamente pelos representantes baianos no esporte-folclore da "capoeira", os patrocinadores da referida temporada resolveram fazer nova apresentação, desta vez na noite de domingo vindouro, proporcionando assim que maior número de ludovicenses possam presenciar a difícil arte de luta de <<capoeira>>, que cada dia vem tomando vulto em todo o território nacional, no emprego da defesa pessoal.176.

Em 1966, Mestre Sapo, incentivado por Alberto Tavares, aceita o convite e, em 1967 Mestre Sapo retorna a São Luis para trabalhar na construção civil, e posteriormente na Secretaria de Agricultura. Em 1972, começou a dar aulas de capoeira, no ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Sapo morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis, vítima de atropelamento.177 De acordo com Kafure, A história da capoeira no Maranhão está ligada principalmente a um mestre que foi discípulo de Pastinha, o conhecido Mestre Canjiquinha. Este foi responsável também por uma desconstrução da capoeira, a chamada capoeira contemporânea, que é uma mistura das modalidades regionais e angola. Canjiquinha ficou famoso por falar que dançava conforme o ritmo do berimbau, se ele tocava rápido era regional e se tocava devagar era angola. Essa era a sua ideologia que ao mesmo tempo reduzia a uma função rítmica as modalidades da capoeira, quando regional e angola eram distintas por muitos outros fatores tais como principalmente a nivelação social, já que os alunos de Bimba eram "brancos" enquanto os alunos de Pastinha era composta por proletários da região portuária, geralmente estivadores, pessoas que carregavam o peso das cargas que chegavam e embarcavam nos navios. Logo, Canjiquinha mesmo sendo considerado aluno do Mestre Pastinha, era tido como um bastardo. Já que as diferenças atuais entre a regional e a angola estão principalmente no discurso de que a angola é mais tradicional e que foi essencialmente seguida pelos principais alunos de Pastinha, os mestres João Grande e João Pequeno, este último veio a falecer agora no final de 2011. Considerando então uma capoeira desconstruída, a capoeira baiana no Maranhão é trazida pelos discípulos de Canjiquinha, sendo caracterizada pelo termo "capoeiragem". (KAFURE, 2012) 178

Mestre Patinho assim se expressa: [...] bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci. Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. Daí por volta de 62 e 63 (sic, a data correta é 1966) esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos.

176 177 178

O IMPARCIAL, 18 de junho de 1966 http://nzambiangola.blogspot.com.br/p/nossos-mestres.html ROCHA, 2012, obra citada


Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão.179

Fábio Allex (2012) 180 conta que: Em 1965 (sic), Mestre Patinho, já totalmente inserido e embriagado pela fonte da capoeira, conhece Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, discípulo do baiano Washington Bruno da Silva, o Mestre Canjiquinha (1925-1994), em oportunidade de demonstração realizada no Palácio dos Leões (essa demonstração foi em 1966). Por conseguinte, Sapo, de acordo com relatos populares, fixa residência em São Luís, possivelmente a convite de integrantes da gestão do então governador do Estado José Sarney (ano de 1968). O intuito seria promover a capoeira, o que o colocaria no posto de referência mais efusiva e responsável pela reaparição do jogo-arte durante a década de 1970, no Maranhão, além de ter sido também o mais proeminente incentivador e professor de Patinho.

Patinho afirma que conheceu Sapo em 1967 (?) numa roda na Ponta d´Areia: Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente, estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas181. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê.182

179

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO: MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira, aluno do Curso Seqüencial de Educação Física, da UEMA, em trabalho apresentado à Disciplina História da Educação Física e dos esportes, ministrada por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, 2006. 180 ALLEX, Fábio. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no JORNAL PEQUENO em 11 de fevereiro de 2012), disponível em http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html 181 PROFESSOR DIMAS, como é conhecido ANTONIO MARIA BEZERRA DE ARAÚJO, professor de educação física, só retorna do Pindaré para São Luís no ano de 1969: Quando voltou do Pindaré, em 69, no começo do ano, foi procurar emprego, indo trabalhar no Colégio Batista Daniel de La Touche e no Colégio Maranhense, dos Irmãos Marista, e fez um curso para ir para o CEMA. In VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz; ARAÚJO, Denise Martins de; VAZ, Delzuite Dantas Brito Vaz. Querido professor Dimas (Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) e a educação física maranhense: uma biografia. Buenos Aires, REVISTA EDUCACION FÍSICA Y DEPORTOS, ano 8, maio de 2001, disponível em http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 48 Mayo de 2002 Ver também: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins. QUERIDO PROFESSOR DIMAS – Antonio Maria Bezerra de Araujo e a educação física maranhense (uma biografia autorizada). São Luis: Viva Água, 2014; 182 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO: MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira, aluno do Curso Seqüencial de Educação Física, da UEMA, em trabalho apresentado à Disciplina História da Educação Física e dos esportes, ministrada por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, 2006.


Nas rememorações dos diversos praticantes de capoeira desse período, as datas são desencontradas – como natural, após tantos anos passados. Sapo – Anselmo Barnabé Rodrigues – só retorna à São Luis dois anos depois da passagem do grupo de Canjiquinha: [...] Foi então que Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues) voltou com o grupo para Salvador para pedir autorização para seu pai, pois ainda era menor de idade (tinha 17 anos), retornando em seguida a São Luís para ensinar capoeira. (MARTINS, 2005) 183.

Patinho, em depoimento a Martins (2005) 184, diz que conheceu Sapo através do Professor Dimas, quem o recrutou para a Ginástica Olímpica, procurando pessoas para essa modalidade entre alguns capoeira que a praticavam no Parque do Bom Menino – Raimundão estava entre eles... -; acontece que Dimas só vem a implantar a Ginástica Olímpica em 1972/73185... O Grupo de Mestres (seis, conforme divisão para os depoimentos, em comum), assim se manifesta sobre esse período de transição, dos anos 60 – chegada de Serejo e Sapo – até o meado dos anos 80, já com a morte de ambos: a. Quanto à definição: GRUPO 1. Era Capoeira de Rua (fundo de quintal) 186. GRUPO 2. Capoeira de Rua187 GRUPO 5. Nesse período definimos como ‘capoeiragem’, com as características de realizações de rodas de rua, praças e praias e logradouros188 b. Quanto às características: GRUPO 1. o jogo era feito ao som do disco vinil na porta de casa189; GRUPO 3. se caracterizava como capoeira objetiva (luta) 190; GRUPO 4. Como a capoeira maranhense ficou a característica de Angola e da Capoeiragem191 GRUPO 6. Como uma capoeira educativa, sua característica: a inclusão de floreios acrobáticos, uma formação de bateria e seus cânticos192 c. Quanto às principais lideranças: GRUPO 1. a partir da Escolinha do Mestre Sapo193 GRUPO 2. Praticada por Serejo e seu Grupo Bantu194;

183

MARTINS, 2005, obra citada. MARTINS, 2005, obra citada 185 VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 186 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 187 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 188 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 189 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 190 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 191 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 192 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 193 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 194 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 184


GRUPO 4. os principais líderes: sapo, Serejo, e Diniz195. GRUPO 6. tendo como principal liderança o Mestre Sapo196.

d. Podemos falar, a partir daí, de uma Capoeira do Maranhão – ou Maranhense e/ou Ludovicense -? GRUPO 1. Não197. GRUPO 3. sim, com certeza: a partir dessa época temos dados que comprovam a organização e formação da Capoeira do Maranhão198. GRUPO 5. Sim, podemos dizer que a partir daí surge uma capoeira ludovicense199 Kafure (2017) 200, em correspondência pessoal, confirma a existência de uma capoeiragem maranhense, mas que não se trata de uma modalidade (estilo?) mas sim, uma identidade; afirma:

Pelo o que eu entendo existe a capoeiragem maranhense, que não é uma modalidade da capoeira, mas sim uma identidade. Nesse sentido, a capoeiragem maranhense é como se fosse uma camada da realidade da capoeira no Maranhão, é como se ela sempre existiu e continua existindo, mas fica por trás das segmentações de angola, regional ou contemporânea. Ou seja, ela existe na maneira do capoeirista lidar com o outro e expressar o seu próprio amor pela cultura capoeirística.

Prossegue: Eu acredito que existam três ou quatro períodos, basicamente o antes de Sapo, o de Sapo, o de Patinho e o de depois de Patinho. Por essa via, não sei dizer como está atualmente, mas a atividade da capoeira, pelo menos no centro de São Luís, esteve muito ligada ao Tambor de Crioula e a boêmia que envolvia esse círculo de pessoas (KAFURE, 2017) 201

ANOS 70 ATÉ MEADOS DE 1980 As rodas de rua de São Luís continuaram acontecendo durante boa parte da década de 70, lideradas pelo Mestre Diniz e freqüentada pelos capoeiras remanescentes da Bantu e pelos alunos mais velhos e experientes do Mestre Sapo, como: Jessé, Alô, Loirinho e Manuel Peitudinho. Segundo Mestre Pato, “Mestre Sapo proibia seus alunos mais jovens de participarem das rodas de rua, pois os que a freqüentavam eram os que já tinham mais autonomia”.

195

O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 197 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 198 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 199 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 200 ROCHA, 2017, obra citada. 201 ROCHA, 2017, obra citada. 196


Para Greciano Merino (2017) 202: El maestro Sapo quiso tener el control absoluto de la capoeira en São Luís y vetaba cualquier tipo de práctica que escapase de su control, pues consideraba que podría perjudicar la imagen de la capoeira y, por consiguiente, el trabajo educativo-deportivo que estaba desarrollando como representante del organigrama gubernamental. No admitía la presencia de otros maestros en la ciudad, quería ser la única referencia aplicando el principio taxativo: “o estas conmigo o no estas con nadie”. Sapo era uno de los capoeiras mejor preparados del país, en 1978 fue subcampeón del peso pesado en el I trofeo Brasil de Capoeira disputado en São Paulo. Por eso, casi nadie tenía el coraje de enfrentarle dentro de la roda, su sola presencia intimidaba y su nombre era temido en el ámbito de la capoeira local. El maestro Açogueiro recuerda como le ayudó en innumerables ocasiones a detonar alguna roda que estuviese aconteciendo en la ciudad, planeaban como debían llegar y salir del lugar y, una vez allí, o las personas entendían que tenían que acabar o Sapo usaba al propio Açogueiro para jugar sucio y que se generase una confusión donde él intervenía. El único movimiento que respetó durante la década de 1970 fue la roda del maestro Diniz, aunque, como confirma el propio Diniz, también fue advertido por Sapo: “Me dijo que le gustaría que yo no hiciese estas fiestas de capoeira en la calle, para no crear problemas sociales (...) ‘tu puedes hacerlas, pero no cuentes conmigo’, de manera que nadie le vio nunca en las rodas que yo hacía”203. Él era muy celoso de lo que ocurriese con sus alumnos y les aconsejaba que no participasen de esas rodas en la calle, pues no se responsabilizaba de lo que les ocurriese en esos lugares. Si se enteraba que alguno de sus alumnos había sido golpeado o humillado en alguna roda, él personalmente se ocupaba de vengar la afrenta.

Mestre Rui lembra de que nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participavam de diversos campeonatos, tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, [...] onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na Casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda. Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos anos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornouse cabo do Exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do Exército, grande capoeirista da época204.

Índio do Maranhão205 vem conhecer capoeira através da televisão, conforme recorda: Mas foi em 1970, assistindo na televisão, na TV Difusora canal 4, vi uma apresentação do Mestre Sapo, Anselmo Barnabé Rodrigues, fazendo uma chamada para matriculas na escolinha de capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, no qual era o Mestre de Capoeira. Após assistir essa apresentação pela televisão, eu fiquei encantado, doido, queria muito aprender aquela capoeira que eu tinha visto na televisão.

202

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. Apud. PEREIRA, 2009, obra citada, p. 25 204 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 205 MESTRE ÍNDIO DO MARANHÃO – OSIEL MARTINS FREITAS. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 203


Continua: [...] foi após eu assistir uma roda de capoeira no Centro Comunitário do Bairro de Fátima, sob o comando do Mestre Manoel Peitudinho e os companheiros, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Batista, Bambolê e Sansão. Após essa apresentação, o Cabral, que estava no comando da Radiola, colocou o disco de Oswaldo Nunes, com a letrada cantiga “Você me chamou pra jogar capoeira na Beira do Mar”. Como eu já estava arrisco nos movimentos, convidei um amigo chamado Emidio, pra trocarmos movimentos de todo jeito e fomos cercados por um conjunto de pessoas que estavam no arraial esperando outras apresentações folclóricas, isto em 1972. [...] em frente a garagem da extinta Itapemirim, estavam lá um pequeno grupo de capoeira fazendo roda ao som de um toca disco da época, e lá Mestre Paturi estava nesta roda junto á Babalú, Gouveia, Ribaldo Preto, Leocádio, Samuel e deste dia em diante comecei a ir olhar essa roda até que um dia o famoso Babalú, de tanto me ver lá um dia, me chamou pra fazer um jogo. – Quer fazer um jogo? E eu um garoto meio envergonhado respondi: - Sim, eu quero, então entrei na roda e comecei a dá meus pulos com o Babalú. Então ele viu que eu levava jeito e me convidou para ir até a roda da Bom Milagre que era comandada pelo Velho Firmino Diniz. Quando Babalú chegou foi logo dizendo: - eu trouxe esse indiozinho pra jogar na roda com nós! Fiquei nervoso, mas quando berimbau tocou, o atabaque acompanhou, ai eu fiquei tonto, cai na roda com vontade, isso já em outubro de 1972. Daí em diante passeia a ser frequentador dessa roda e lá fui conhecendo muitos capoeiras, tais como o Velho Diniz, Babalú, Gouveia, Esticado, Raimundão, Alô, Elmo Cascavel, Murilo, Sansão, De Paula, Gordo, Teudas, Mimi, Volf, Alan, Rodolfinho, Ribaldo Branco, Til, Fatopode, Nelson Galinha, Geraldo Cabeça, Manoel Pretinho, Cesar Dentinho, Batista, Bambolê, Tião Carvalho, Jesse, Didi, Sócrates, Carlinhos, Louco, Patinho, Cordão de Prata, Sapo Cola, Faquinha, Valdecir, Cebola, Pelé, Sabujá Candinho, Boi, Mimoso, Carioca, Leocádio, Samuel, Paturi, Zeca Diabo, Cabeça, Miguel, todos esses companheiros citados são da minha época de 1972 a 1976, quando eu migrei para o Rio de Janeiro. De outubro de 1972 eu comecei a participar das rodas de rua, indo para a casa do Velho Diniz na Rua Paulo de Frontin, próximo a Casa Inglesa, entrada da Liberdade. Em sua casa, Velho Diniz me dava aula de toques de berimbau, pandeiro e atabaque, mas me recomendando a treinar com Mestre Gouveia e Raimundão no fundo da casa de Raimundão, numa casa de conjunto Elca acima da Bom Milagre, e foi neste treinamento que aprendi muito com Gouveia e Raimundão, uma vez ou outra o Babalú e o Velho Diniz apareciam lá para ver os treinos. Foi através do velho Diniz que eu pude treinar com o Mestre Sapo Cola em abril de 1973 até outubro do mesmo ano, não fui muito feliz por causa das pancadas que ele me dava, mas sempre acompanhando o velho Diniz nas rodas de rua, e sobre seu comando.

Mestre Curió206 era praticante de karatê, quando veio a conhecer a Capoeira, conforme lembra: Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertinho, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionou-a com a Punga dos Homens207, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes.

206

MESTRE CURIÓ – JOÃO PALHANO JANSEN. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, por ocasião do Curso de Capacitação dos Mestres capoeia do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 207 Sobre a Punga dos Homens, ver: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Pungada dos Homens & A Capoeiragem no Maranhão - MESTRE BAMBA, do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/20/cronica-da-capoeiragem-punga-dos-homens-algumas-novasconsideracoes/ HAIKEL, Marco Aurélio. A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA. Conferencia de abertura do evento A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA. São Luís, 18 de maio de 2012


Essas rodas aconteciam em vários pontos da cidade, como o Parque do Bom Menino, Madre Deus e Praça Gonçalves Dias, mas o local preferido era a Praça Deodoro. Segundo Mestre Patinho, essas rodas eram muito violentas e havia uma estreita relação de alguns participantes com a criminalidade. Daí a preocupação do Mestre Sapo em relação à participação de seus alunos nessas rodas.

A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo: [...] faziam parte do grupo os alunos Manuel da Graça de Jesus da Silva (Manuel Peitudinho), “Alô”, “Elmo” e Antônio José da Conceição Ramos (Patinho), de acordo com o testemunho de Mestre Patinho. Seu Gouveia contou que a academia Bantu funcionou até aproximadamente 1970, data suposta em que o Mestre Roberval Serejo faleceu, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui. (MARTINS, 2005) 208.

Kafure (2017) 209 acredita que Sapo – da linhagem de Canjiquinha – acabou desenvolvendo um trabalho de re-educação das lutas e ritos primitivos dos ‘valentões da ilha’: Eu já ouvi os mais velhos falarem, de como Sapo veio da linhagem de Canjiquinha e que conseqüentemente acabou escolhendo se estabelecer no Maranhão, onde desenvolveu um importante trabalho de uma re-educação das lutas e ritos primitivos dos valentões da ilha, por assim dizer.

Lembra Mestre Rui210: Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, nos reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO (A) -“PUNGA DOS HOMENS”. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA. Volume 09, Número 02, jun/dez 2006 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Punga dos Homens e Capoeira no Maranhão. In DaCOSTA, Lamartine PEREIRA. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006 disponível em WWW.atlasdoesportebrasil.org.br HAIKEL, Marco Aurélio. Tambor-de-Crioulo(a) no Maranhão. In DaCOSTA, Lamartine PEREIRA. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006 disponível em WWW.atlasdoesportebrasil.org.br REIS, José Ribamar Sousa dos. Tambor-de-Crioula. In FOLCLORE MARANHENSE, Informes. 3 ed. São Luís : (s.e.), 1999, p. 35 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL estendida CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/ainda+sobre+a+punga+dos+homens+-+maranhao VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... disponível em http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/29/3702/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ – Elástico aplicado pelo Mestre Marco Aurélio, disponível em http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/22/tarraca-elastico-aplicado-pelo-mestre-marco-aurelio/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO. Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. 208 MARTINS, 2005, obra citada. 209 ROCHA, 2017, obra citada. 210 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


Em 1971, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER/SÉC – coordenado por Cláudio Antônio Vaz dos Santos211, criou um projeto que consistia na implantação de várias escolinhas de esportes no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre as atividades esportivas, estava a capoeira212, e o Mestre Sapo fora convidado para ministrar as aulas. A partir desse momento, houve um crescimento muito grande do número de praticantes de capoeira em São Luís, com várias turmas funcionando com aproximadamente 30 alunos cada. Mestre Sapo deu aula nessas turmas até o seu falecimento em 1982, mesmo com as trocas de Governos e Coordenadores: Mestre Sapo passou a dar um caráter esportivizante à capoeira ensinada no supracitado ginásio, minimizando sua conotação enquanto manifestação da cultura popular. Atribuiu-se a esse processo de esportivização, dentre outros fatores, os objetivos do projeto e o contexto no qual estavam inseridos o mundo da educação física e o esporte, em que eram realizadas várias outras atividades como futsal, vôlei, handebol, basquete e caratê. Diante desse contexto, Mestre Sapo passou a sistematizar as aulas, adotando o uso de uniformes, e deu muita ênfase à preparação física dos alunos. Segundo Mestre Índio (Oziel Martins Freitas), ele utilizava exercícios como corrida, polichinelo e flexões para essa preparação. Mestre Sapo se ele se definia como angoleiro ou regional, encontramos o seguinte: 9 alunos responderam angoleiro e os outros 6 responderam que ele não se definia unicamente como angola ou regional, pois ensinava as duas vertentes. De acordo com Antônio Alberto de Carvalho (Mestre Paturi), ele falava em capoeira de angola, mas ensinava misto, ou seja, angola e regional. Segundo o Mestre Pato, ele se definia somente como capoeira e que ensinava “as três alturas, as três distâncias e os três ritmos”. Nestes aspectos, ele se referia ao jogo alto, baixo e médio; ao longe, perto e o médio; e aos toques de angola (lento), São Bento pequeno (médio) e São Bento grande (acelerado). Acreditamos que esses fundamentos em capoeira que Mestre Sapo praticava são heranças de seu Mestre (Canjiquinha) que também os usava, de acordo com a confirmação de Mestre Pato. Além dessas influências, Mestre Sapo utilizava alguns movimentos da Capoeira Regional que ganhou muito mais projeção na década de 70 do que a de angola. (MARTINS, 2005) 213

Mestre Rui lembra que se iniciou com Sapo, pois [...] nos matriculamos na escolinha de capoeira que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues com Mestre Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues). Algum tempo depois fomos para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem - (ITA), em um prédio ao lado do Ginásio Costa Rodrigues, e demos continuidade aos nossos treinos com Mestre Sapo. Com o tempo o mesmo prédio onde funcionava o ITA, tornou-se o colégio MENG, onde o Mestre Sapo continuou dando aula214. Mestre Patinho retrata bem essa busca de qualificação, através da prática de outras modalidades da lúdica e do movimento, para se situar como ‘Mestre Capoeira’: Eu sou formado em Educação Física licenciatura, tenho especialidade em ginástica olímpica masculina e feminina, né? Exerci minha vida quase inteira como arte-educador na área do corpo, né? E tenho, fiz quinze anos na ginástica olímpica como atleta, depois como técnico da seleção maranhense, fiz dez anos de judô, oito anos de balé clássico, oito anos estudando a educação física mesmo, né? E quatro anos de jiu jitsu, dois anos de boxe, nove anos de caratê, cinqüenta anos de capoeira que eu vou fazer ano que

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o legado da geração de 53. São Luís, 2017 (inédito) VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada. 213 MARTINS, 2005, obra citada. 214 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 212


vem, né? Dançarino popular também, danças populares, sonoplasta, sou ator, né? E vim de uma aborrecência muito difícil, então pra ti entender mais essa questão tem que ter o portifólio... 215 Mestre Rui Pinto lembra que a maioria dos praticantes de capoeira, freqüentadores das escolinhas, seja do Costa Rodrigues, seja nos diversos estabelecimentos de ensino, que participavam dos Festivais da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses, faziam, também outras modalidades; ele mesmo praticava Handebol: No mesmo período já com 15anos, perto dos 16, comecei a jogar Handball com o professor Dimas no SESC Deodoro, na época os jovens que jogavam capoeira faziam outros esportes, por que a capoeira não era um esporte “olímpico” da época, o maior objetivo dos jovens em praticar outros esportes era o simples fato de que viajavam para competir em outros estados216. Mestre Gavião217 lembra dos diversos lugares em que a ‘escola’ de Sapo passou, quando o acompanhou nas aulas de iniciação: [...] ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo Costa Rodrigues, e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara; sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade. Treinamos na Rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois, mudamos para Rua da Alegria, e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram três anos de treinos e depois a academia acabou. Segundo Laércio Elias Pereira (1982) área da Educação Física:

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, Mestre Sapo buscava, constantemente, uma qualificação profissional, na

[...] pois a convivência com políticos não tinha deixado nada que o ajudasse no leite das crianças, a não ser o estudo, com que ele deu um rabo-de-arraias nas poucas letras trazidas de Salvador. Estudou muito. Até o cursinho, e se foi sem ter conseguido superar o vestibular que a Universidade teima em manter na área médica, pra Educação Física. Mas era professor de Educação Física: Professor Anselmo. Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo.[...] Ia se aperfeiçoar e o sonho de fazer Educação Física ia ficando cada vez mais sonho. Mas tinha orgulho de sua forma física: ‘Fique calmo!’, ‘Olha o bíceps!’.

215

BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 216 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 217 MESTRE GAVIÃO – HÉLIO DE SÁ ALMEIDA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 218 PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao mestre Sapo. São Luís, SEDEL. Revista DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17


No ano de 1978, Mestre Sapo, juntamente com o seu discípulo Pato, participaram do primeiro Troféu Brasil, o que seria o primeiro campeonato brasileiro de capoeira, promovido pela Confederação Brasileira de Boxe (CBB). Ambos foram vice-campeões em suas respectivas categorias, sendo que o resultado do Mestre Sapo foi muito contestado pelo público e pelos Mestres presentes, fazendo com que a organização do evento lhe homenageasse com uma medalha de ouro. Segundo Mestre Pato219: Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. Ainda nesse ano de 1978 que Mestre Sapo criou a Associação Ludovicense de Capoeira Angola com o intuito de oferecer uma melhor estrutura física e organizacional à capoeira em São Luís. No depoimento de José Ribamar Gomes da Silva (Mestre Neguinho), nos anos seguintes a 1978, Mestre Sapo, através da referida Associação, na qual era presidente, passou a realizar uma série de competições em São Luís. Nesse período, já aconteciam várias competições de capoeira pelo Brasil, assim como encontros, simpósios e seminários, com o objetivo de organizar e regulamentar a capoeira e suas competições. O Mestre Sapo, por sua vez, sempre viajava para esses eventos e sua participação nesse movimento trouxe mudanças para a capoeira ao longo dos anos 70 e início dos anos 80. Ao final desses anos 70, Mestre Sapo, em uma de suas viagens, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília, que o graduou Mestre. Essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. A adoção do sistema de graduação para a capoeira foi um fenômeno comum nos anos 70, influenciado pelas artes marciais do oriente.

Com a morte de Anselmo Barnabé Rodrigues – Sapo – encerra-se um ciclo da Capoeira do Maranhão. Conforme os Mestres: GRUPO 2. Após a morte de Sapo o ciclo dele se encerra 220 GRUPO 1. Deu-se uma parada nas Rodas, nas Praças – Gonçalves Dias221 GRUPO 5. [...] a capoeira saiu das ruas 222 GRUPO 6. Deu-se o esfriamento do movimento da capoeira223 Com a (re) estruturação da Educação Física e Esportiva, iniciada por Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão 224 e a consequente implantação dos Festivais Esportivos da Juventude – FEJ – e, depois, Jogos Escolares Maranhenses – JEMs -, o Ginásio Costa Rodrigues recebeu várias ‘escolinhas de esportes’, dentre elas, a de Capoeira, sob a responsabilidade do Professor Anselmo:

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MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006. 220 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 221 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 222 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 223 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 224 VAZ, 2017 (inédito), obra citada VAZ, ARAÚJO, 2014, obra citada.


[...] Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo. Era a segunda investida da máquina: a administrativa. A modernização da pobreza também tenta tirar a originalidade das pessoas. Como Sapo não seria aceito; só como Anselmo. Essa parada contra a máquina ele ganhou: nunca deixou de ser Mestre Sapo (PEREIRA, 1982) 225.

Com a inclusão da Capoeira no sistema de educação física escolar – escola formal – foi preciso uma adaptação de seu ensino, criando-se uma ‘metodologia de ensino de capoeira’, adaptada às exigências de disciplina curricular, com seus sistemas de promoção (avaliação escolar). Começa a profissionalização do capoeira, com o surgimento de um mercado de trabalho, para atender aos estabelecimentos de ensino, como uma demanda que se apresenta nas então surgentes academias de ginástica e/ou de musculação. É dessa fase que se busca uma ‘identidade’, uma padronização: GRUPO 1. [...] padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação 226 . GRUPO 2. [...] contudo houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições227 .

GRUPO 3. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Retorna com uma padronização de uniformes, instrumentação e disciplina. Implantação do sistema de graduação pelo Mestre Pezão, na década de (19)90228. GRUPO 4. [...] os capoeiristas buscam uma nova organização, criando grupos, academia e começam a divulgar a capoeira mais freqüente229. GRUPO 5. Após a morte de Sapo, começou o movimento de surgimento de grupos de capoeira, sim, a capoeira saiu das ruas, começou a se organizar, passando a ser desenvolvida em espaços fechados, como escolas, academias e clubes. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão230. GRUPO 6. a partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão231.

De acordo com Greciano Merino (2015)232, Sapo vai se aplicar na ‘construção’ de um método educativo, desportivo, baseado em uma férrea disciplina de índole rústica e autoritária: [...] que sintonizaba con las formas que la dictadura militar proyectaba en el seno de la sociedad 233. La rigidez de ese método, según explican sus alumnos 234, se aplicaba a través de una fuerte preparación

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PEREIRA, 1982, obra citada, p. 17. O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 227 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 228 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 229 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 230 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 231 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 226

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física235622 y de la incesante repetición de secuencias de movimientos. El alumno para demostrar que había asimilado el fundamento de esos movimientos debía aplicarlos correctamente en la roda, y si no era capaz de cumplir con las exigencias de su grado la respuesta inmediata era un golpe correctivo que le alertase de que debía depurar aún más su jogo. Debido a la dureza de los entrenamientos mucha gente abandonaba las aulas, lo que propiciaba una amplia rotatividad de alumnos en la escuela y que ésta estuviese separada en dos grupos diferenciados: los iniciantes y los veteranos. Esa división propiciaba, a través de un estímulo competitivo, que los primeros se esforzasen por conquistar un lugar en el grupo de los avanzados y que éstos mantuviesen una gran tensión para mantenerse como los referentes del grupo. O “Método Desportivo Generalizado” aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR, 1969, CUNHA, 2014) 236. [...] ‘Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer’, de 1979, foi escrita originalmente em francês por Listello e traduzida pelo então professor da USP Antonio Boaventura da Silva e colaboradores. Esta obra parece ter sido uma adaptação do MDG para a realidade brasileira, pois foi publicada após quase duas décadas de contato com o Brasil e em parceria com uma universidade brasileira. (CUNHA, 2014?)237.

A esse respeito, cumpre informar que Sapo foi beber direto na fonte: com o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira238, que veio para o Maranhão em 1974 integrar a equipe de Cláudio Vaz dos Santos, quando da implantação das escolinhas esportivas, no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre elas, estava a de Capoeira, sob a responsabilidade do prof. Anselmo – Sapo. Na época, vários esportistas foram selecionados para ficar à frente dessas escolinhas de esportes, pois o Maranhão não dispunha de um numero suficiente de preofessores de Educação Física. Esse ‘monitores’ foram selecionados e receberam treinamento para – no dizer de Laércio – falarem muma ‘linguagem única’, base de estabelecimento de uma tecnologia, que se

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Debemos destacar que durante el período dictatorial brasileño se refuerza ese proceso que impulsó la capoeira en los años 30, o sea, el gobierno pasa a estrechar los lazos con los practicantes de la capoeira. Así, en 1972, la capoeira es reconocida oficialmente como deporte por el Ministerio de Educación y Cultura, incluyéndose en un proceso de institucionalización y burocratización que busca promover la homogeneización de esta práctica a nivel nacional. Dos años después se crea en São Paulo la primera federación de capoeira de Brasil, procurando difundir la capoeira como arte marcial brasileña. Este hecho es cuestionado por algunos segmentos que entendían que ese proceso de “marcialización” de la capoeira infringía principios básicos de esta práctica. En 1975, se realiza, en São Paulo, el primer torneo nacional de capoeira, para su realización se construye un reglamento técnico [...] (GRECIANO MERINO, 2015) 234 Informaciones extraídas deI “Encuentro de Mestres”, evento organizado por la Associação Centro Cultural de Capoeiragem Matroa, el día 1/04/2013. Con la participación de Antonio José da Conceição Ramos “mestre Patinho”, Jose Ribamar Gomes da Silva “mestre Neguinho”, João José Mendes da Silva “Mestre Açougueiro”, Nasson de Souza “Cara de Anjo”. (GRECIANO MERINO, 2015) 235 Que Sapo definía como Educación Física Generalizada, en la que integraba aparatos de gimnasia como el plinto y las colchonetas. (GRECIANO MERINO, 2015). 236 FARIA JR. Alfredo Gomes de. INTRODUÇÃO À DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf 237 CUNHA, 2014, obra citada 238 LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI. Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ Atuou no Maranhão por 30 anos, como professor de handebol, e da Universidade Federal do Maranhão.


estava implantando. Essa metodologia de ensino estava baseada no livro de Listello, do qual Laércio foi um dos tradutores e responsável pela sua implantação no Maranhão (VAZ e PERIERA, 2016) 239 Há o retorno dos - agora reconhecidos - Mestres mais antigos, em torno dos quais a Capoeiragem de São Luís orbitava; as rodas de rua são revitalizadas, assim como há um movimento surgindo com novos grupos, novos nomes, nos bairros periféricos, e a retomada dos antigos locais de suas apresentações: GRUPO 1. [...] (seu retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias [...]240 GRUPO 2. [...] Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições [...] 241.

Para Kafure (2017)242, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Patinho se apresenta como o herdeiro de Sapo, e o principal artífice da sistematização dessa ‘nova capoeira’, com característica genuinamente maranhense, fundando a sua própria escola de capoeira... Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, que a capoeira ‘tava’ na academia e eu sempre me senti, insaciei (sic) com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo; então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo. Que o primeiro é o GECAP, dirigido pelo mestre Moraes243, que é da Bahia; mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, onde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, e dos fundamentos da capoeiragem, e a Escola de Capoeira Angola que eu criei no LABORARTE244, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, dos mais antigos. E a 239

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, 03 de março de 2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016. 240 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 241 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 242 ROCHA, 2017, obra citada. 243 MESTRE MORAES - PEDRO MORAES TRINDADE é um notório mestre e difusor da Capoeira Angola pós-Pastinha. Seu pai também era capoeirista praticante de Capoeira Angola. Começou a treinar por volta dos oito anos na academia de Mestre Pastinha que já cego e sem dar aula, passou o controle da academia para seus alunos. Moraes foi aluno de Mestre João Grande, que junto de João Pequeno eram grandes discípulos de Pastinha. Por volta dos anos 80, na intenção de preservar e transmitir os ensinamentos de seus mestres, fundou o GCAP - Grupo de Capoeira Angola Pelourinho - na tentativa de resgatar a filosofia da capoeira em suas raízes africanas, que havia perdido seu valor para o lado comercial das artesmarciais. Atualmente vive em Salvador, Bahia e divide seu tempo entre lecionar Inglês e Português numa escola pública, e presidir os projetos culturais da GCAP. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Moraes 244 O LABORARTE é um grupo artístico independente, com 35 anos de trabalhos culturais desenvolvidos no Maranhão, produzindo nas áreas de teatro, dança, música, capoeira, artes plásticas, fotografia e literatura. O grupo está sediado num casarão colonial no centro de São Luís e desenvolve atividades culturais permanentes: oficina de cacuriá, oficina de teatro,


primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. (BOÁS, 2011) 245.

Kafure considera que o modelo de capoeira baiano foi talvez a condição de sobrevivência da prática da ética da malandragem:

[...] então assim, eu acho que foi um período de reunião de adeptos. Logo, na minha concepção, a capoeira sempre existiu e é possível falar de capoeira antes desse período tanto no maranhão quanto em tribos indígenas pelo Brasil e mesmo na África. O que ocorre, ao meu ver, é o processo de síntese de ritos primitivos pela capoeira baiana. Contudo, podemos dizer que o movimento inverso, de análise e desmembramento dessa própria capoeira sintética é super importante para ressaltar os valores de identidade da capoeira de acordo com sua regionalidade. Logo, acredito que a capoeira maranhense realiza um movimento de retorno a sua ancestralidade principalmente com o Mestre Patinho, ele foi o grande estudioso da relação entre corpo X musicalidade X cultura, em outras palavras, ele deu o ritmo da capoeiragem maranhense (KAFURE, 2017) 246.

Greciano Merino (2015) 247 assim se pronuncia: A saber, el paso desde la rivalidad provocada por la enemistad hacia la tolerancia fundada en la ética y el respeto sin perder la combatividad de la lucha, característica inherente y fundamental de este ‘arte de guerra’. Consecuentemente la ‘Escuela de Capoeira Angola del Laborarte’ viene propiciando el diálogo entre los Capoeiras de la ciudad a través de encuentros, festivales, ciclos de debate, fórums y rodas abiertas, como la que acontece todos los viernes y que está considerada como una roda de referencia de la ‘Capoeiragem Maranhense’. En la estela de esta tradición es común observar que los alumnos del Maestro Patinho siguen sus pasos desde una perspectiva propia de estudio que se extiende hacia el arte en la búsqueda de una vida plena de conocimiento y sabiduría. Desde esta perspectiva es como se fundan las otras escuelas objeto de estudio: el ‘Centro Cultural Educacional Mandingueiros do Amanhã’ que desarrolla un proyecto sociopedagógico donde se abriga a niños criados en condiciones críticas de vida fomentando su autoestima y su dignidad para ayudar a que su inserción en la sociedad sea con plena consciencia de los derechos y responsabilidades que tienen en tanto que ciudadanos. El Centro de Capoeiragem Matroá, que es un espacio donde, desde la perspectiva de las prácticas corporales, se despliega un amplio estudio de la influencia afro-indígena en la capoeira ‘maranhense’; además su sede sirve como punto de encuentro para fortalecer los vínculos entre las diversas escuelas y vertientes de la ciudad a través de una capoeira basada en el buen combate. El Centro Cultural Mestre Patinho trata de preparar individuos saludables para la vida a través del desarrollo de un juego equilibrado cuyo centro de conexión está basado en el dominio de los fundamentos básicos de la Capoeira a partir de la base de una capoeira integral que parte de la siguiente premisa: “O novo no velho sem molestar as raízes” .

A partir da inclusão da Capoeira entre as atividades do LABORARTE, que se dá a aproximação da capoeiragem do Maranhão com a Capoeira Angola, de Pastinha. Como ele mesmo afirma, “[...] eu criei no LABORARTE (...) o segundo Grupo de Capoeira Angola registrado no mundo”: [...] a escola funciona no Laborarte, nós temos nove pontos, pra você entender melhor nós temos aqui a nossa árvore genealógica (...) olha, aqui está a minha trajetória, a raiz vem ser onde eu comecei, quem foram meus netos e tal... e aqui nos temos aqui a Escola de Capoeira do Laborarte e hoje eu estou aqui oficina de ritmos populares do Maranhão, além de manter uma escola de capoeira angola. Anualmente realiza o "Iê! Camará- Encontro de Capoeira Angola". http://www.iteia.org.br/laborarte 245 BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 246 ROCHA, 2017, obra citada. 247 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada.


no Centro Cultural Mestre Patinho, então quem são as pessoas que estudam no centro cultural, quem está dando aula, quem são os alunos formados, que aqui é sobre a minha trajetória. É a árvore genealógica dos nossos trabalhos, hoje aqui nós somos sabe quantas escolas no Maranhão? somos nove escolas no Maranhão regidas pela escola do Laborarte... 248

Fonte: ALLEX, 2912

249

[...] Aí você vai ver aqui Mandingueiros do Amanhã; quem é, Escola do Laborarte quem é? Nelsinho, e todos eles vão passando, Escola Criação quem é o cara? Mestre Serginho; Aí aqui, Centro Matroá? Marco Aurélio e contra-mestre Júnior, então assim tu vai vendo aonde agente ‘tá’ aqui no Maranhão, e lá fora uma mestra Elma que trabalha em Brasília, Florianópolis e Rio Grande do Sul, e também a galera nossa que está dando aula lá fora como o Bruno Barata que está no Rio de Janeiro, que está trabalhando com a capoeira, aí tem uma galera da gente que ‘tá’ trabalhando aí, e a gente que mora em São Luís, que vai nos Estados Unidos e volta, em Portugal e volta, mas não fazemos questão de estarmos lá, porque o importante é que a gente estude a capoeira no Brasil ‘pra’ entender o que é jogar capoeira,’ pra’ depois ir lá fora fazer uma oficina porque vai ser difícil ‘pra’ ver o que vai ser mal empregado lá fora 250 .

248

In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 249 ALLEX, 2012, obra citada 250 In BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf


Mestre Alberto Euzamor251 fala que se desconhecia a existência de estilos de capoeira. Explica que: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; Memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogado hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda).

Mestre Patinho se definia, quando conheceu Sapo, [...] me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. [...] Eu quero deixar uma (...) A capoeira por ser um jogo de guerra, o golpe estratégico era o disfarce. O Capitão-Do-Mato, quando ia prender o negro que fugia das senzalas, e via o negro "gingar", dizia: "Preto ta disfarçando de angola", quando investia pegava um pontapé ou uma rasteira. O risco que tem pela perca (sic) dos fundamentos pelo grau de dificuldade de execução ou falta de conhecimento252.

Mestre Rui253 confirma que não se conhecia, por aqui, a divisão da Capoeira por estilos: Angola e Regional, pois Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima.

O mesmo diz Mestre Socó254, pois para ele Desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima –embaixo”, um jogo no qual não era nem Angola nem regional, era conhecido como “Capoeiragem.

Entre os praticantes mais novos, como Mestre Roberto255, não havia conhecimento de estilos na capoeira praticada no Maranhão, pois afirma: Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas.

Para Mestre Índio,

251

MESTRE ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, quando da construção do Livro-Álbum Mestres de Capoeira de São Luis, 2006 252 MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006. 253 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 254 MESTRE SOCÓ – EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 255 MESTRE ROBERTO – ROBERTO JAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


[...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruandê, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. (Mestre Índio do Maranhão, in Entrevista, 2015) 256

Por não ter um estilo definido, ou não se filiar aos estilos hoje reconhecidos: Angola, Regional e/ou Contemporânea, foi perguntado aos Mestres como eles chamariam, ou definiriam a capoeira praticada, hoje, no Maranhão e o que é “jogar nos três tempos”, e se essa era a principal característica da Capoeira do Maranhão: O GRUPO 1 - formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO - a denominaria “Capoeira Tradicional Maranhense”, com seu: “jogo baixo, intermediário e em cima”, as três alturas ou as três distancias, considerando ser essa a sua principal característica. Para o segundo grupo, formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; SENZALA; MARINHO, CM MÁRCIO, “É definida em grupos, associações, Federações, sendo que cada um tem seu estilo de jogo e sistema de graduação”. Já os Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BOCUDA; NILTINHO (GRUPO 3), a denominam como “capoeira mista”, ou seja, incutir o novo no velho sem molestar as raízes: “Jogar em um determinado toque as três alturas - Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande”. Como a Capoeira Maranhense – conforme o grupo 4 - se joga nos três tempos e joga no toque de Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande de Angola - jogo em baixo, no meio, e em cima -, essa é a característica maranhense. O GRUPO 5 a definiria como “’Capoeira mista’, jogada nos três tempos, que significa os três toques do berimbau, Angola, S.B. P. de Angola, e S.B.G de Angola” (JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO). Com o que concorda o GRUPO 6257, que a define como:

[...] uma capoeira mista, por assim ser jogada em três tempos: jogo de chão, malícia: 2º no São Bento pequeno, que um jogo de muita acrobacia e destreza e, 3º o São Bento Grande, que é um jogo em cima rápido e de combate.

Patinho258 sintetiza a Capoeira do Maranhão: [...] buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumentos participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e

256

ENTREVISTA COM MESTRE ÍNDIO MARANHÃO, disponível em http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-comMestre-Indio-Maranhao/1. Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau

257

O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. MESTRE PATO – ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUIS, 2006.

258


ordenando a entrada de cada instrumento - agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas. Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha com as palmas. Marvana - com três palmas Caudaria - com dois toques e três batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento. Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar.

Segundo Greciano Merino (2015) 259, o Maranhão se caracteriza por ser um território afetado por fortes insurreições de negros e por uma vasta diversidade de rituais ligados à cultura popular (Tambor de Mina, Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Festa do Divino Espírito Santo, Bambaê de Caixa, Festa de São Gonçalo, etc.) que foram fomentados principalmente durante a constante reorganização dos quilombos ou ‘Terras de Preto’. Antonio José da Conceição Ramos, mas conhecido como Mestre Patinho, se inicia na Capoeira em 1962 e vem desenvolvendo seu trabalho de una forma ininterrupta; por isso, na atualidade se o considera o praticante mais antigo desta atividade em São Luís de Maranhão: [...] Podemos resaltar que a través del intenso estudio dedicado a esta “lucha-juego-arte”, desarrolló un amplio conocimiento del movimiento humano cuya profundidad alcanza matrices culturales de diversas lenguajes.

É ainda Greciano Merino (2015) que nos dá maiores explicações sobre essa simbiose entre a capoeira maranhense e as demais manifestações folcóricas que ocorrem no Maranhão: Algunos maestros de la capoeira ‘maranhense’ como Patinho, Tião Carvalho, Alberto Euzamor o Marco Aurelio indican dos personajes del cortejo del bumba meu boi como paradigmas que celan la expresión corporal de la capoeira durante esos años de fuerte represión: el ‘caboclo de pena’ y el ‘miolo del boi’. Los ‘caboclos de pena’ son una figura emblemática, imponente e impresionante; que situados al frente del cortejo despliegan una danza circular vigorosa abriendo espacio y anunciando la llegada del grupo. Los capoeiras, por su conocimiento de técnicas de lucha y guerra, habrían sido destinado a ocupar esas posiciones para proteger al grupo de los embates de otros grupos rivales. El ‘miolo del boi’ es como se designa a la persona que manipula la figura del boi, y su papel sería entrenar y mantener alerta a los integrantes del grupo a través de su cabezadas y coces. El maestro Patinho, durante la conferencia de apertura del VIII Iê Camará524 (2014)260, expresaba que: “El caboclo de pena rescata la mandinga, la picardía y la malicia de la capoeira a través de la rasteira de mano. Y del miolo de boi destaca que tiene que tener una malicia y una ginga para inserir la cabezada y la coz, ésta última desde su opinión es la chapa de costas de la capoeira. Otro aspecto que en su opinión comparten estas manifestaciones serían las improvisaciones de los cánticos que relatan acciones del momento en que están ocurriendo los acontecimientos”261. En ese mismo acto, el maestro Marco Aurelio Haikel reforzaba que: “dentro del mosaico cultural brasileño los capoeiras eran guerreros temidos y admirados; necesarios como protectores lo que les permite participar y ser miembros de varias y diversas manifestaciones. Ese ‘lleva’ y ‘trae’ de informaciones quizá sea una de sus grandes contribuciones dentro de la cultura popular.Pues se convierte en el eslabón que conecta y 259

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada.

260

Evento nacional de capoeira organizado por el grupo de Capoeira Angola Laborarte Ramos, Antonio da Conceição. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014.

261


agrega esas informaciones y esa profusión de ritmos”262. El tambor de crioula es una danza genuinamente maranhense que, como señalábamos anteriormente, forma parte de las expresiones que surgen de la diáspora africana. La forma en que se despliega el ritual del tambor, la cadencia batuques”. Durante una semana se organizaron charlas, mesas redondas, presentaciones y diversas rodas de capoeira, tambor y samba donde se trató de profundizar sobre las vicisitudes de este mosaico cultural.

Prossegue: En este sentido, el profesor Leopoldo Vaz 263 se hace eco de las posibles relaciones que se establecen entre ambas manifestaciones a través de la punga dos homens, que es un juego de lucha practicado dentro de los rituales del tambor264. Para ello, indica que la punga dos homens en Maranhão vendría a ocupar la misma función que la pernada carioca en Rio de Janeiro, el batuque en Bahía o el passo en Pernambuco. Todas estas manifestaciones serían formas complementarias donde se diluiría la capoeira. Pues, las medidas restrictivas que imponía el nuevo código penal de la República habría obligado a sus practicantes a encontrar nuevas formas de camuflar su práctica para ocultarse de la atención de las autoridades. Asimismo, Vaz trata de este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito265. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás.

Em algumas notas de uma entrevista (VAZ, 2006) 266, Patinho colocava: - Capoeira é fundamento, três alturas, três distancias, três ritmos... -

Capoeiragem: jogo estratégico para a guerra - é um jogo de xadrez;

Bimba não criou um estilo, ele criou um método: para se afirmar na "chamada de Angola" para disfarçar o jogo estratégico - passa-dois, balão cinturado - malícia, jogo de malícia, jogo de transformação, jogo de cintura: oitiva, rústica... - A Angola... É autodefesa, busca do diálogo corporal, é transformação, jogo de dentro, você encontra a sua altura, o seu jogo, sua dimensão; é diferente da capoeira do pós-modernismo; capoeira é matemática; é história; é geografia... Tem que estar em contato, é comunhão, todo dia... - No jogo estratégico, não pode baixar a guarda; deve-se respeitar o oponente; mesmo que o adversário não saiba jogar, o bom Capoeirista joga mesmo com quem não sabe, e o faz jogar, gingar... -

262

Não existe uma capoeira, Angola, Regional, cada jogador tem a "sua Capoeira”...

Haikel, Marco Aurelio. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014.

263

VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf 264 En la década de 1950, el folclorista Camara Cascudo lo describirá de esta manera: "Las danzas denominadas ‘do Tambor’ se esparcen por Ibero-América. En Brasil, se agrupan y se mantienen por los negros y descendientes de esclavos africanos, mestizos y criollos, especialmente en Maranhão. Se conoce una Danza de Tambor, también denominada Ponga o Punga que es una especie de ‘samba de roda’, con solo coreográfico, (...) Punga es también una especie de pernada de Maranhão: batida de pierna contra pierna para hacer caer al compañero, a veces el Tambor de Crioula termina con la punga dos homens.". Camara Cascudo, Luis da. Diccionario do Folclore Brasileiro.Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1972, p. 851. 265

Este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. 266 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Conversando com Antônio José da Conceição Ramos, JORNAL DO CAPOEIRA http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006


- Não consigo sobreviver da Capoeira, sou um artista de rua, sou um mestre, hoje me aceito como mestre, pois estudo os ritmos maranhenses - são 37... - o boi, o teatro, a ginástica, a educação física, a lateralidade, a psicomotricidade, a música; para ser mestre da capoeira, tem que ser um Doutor... § § §

Diálogo da Trilogia: Angola - gunga São Bento Pequeno - viola São Bento Grande - violinha

São células na mesma cadência que preenchem o espaço melódico - pulsação; A roda tem regência... O Traíra (Mestre), no local de Angola, fazia Santa Maria; quando chega em São Bento grande, fazia cavalaria ...

Kafure (2017) considera que essa característica de jogar nos três tempos é gananciosa, mas não deixa de ser o ideal de um "super capoeirista":

[...] e isso para mim é impossível. Justamente porque a vida tem três tempos, a infância, a maturidade e a velhice e o ritmo de cada um desses tempos é diferente. Então assim, eu acho que o tempo da capoeiragem maranhense é o tempo médio, pois nem é devagar demais nem rápida demais, como se encontra em alguns grupos na Bahia (lá existem bem visível os extremos). Eu acho que uma das grandes belezas e riquezas da capoeiragem maranhense é a multiplicidade de grupos e rodas em um território pequeno. Pelo menos quando eu morava em São Luís, quase todo dia era dia de roda, pelo o que eu me lembro, de quarta à sábado (curioso que no domingo quase nunca tinha). Enfim, geralmente nas capitais do Brasil, roda de capoeira é de sexta à domingo. Então acho que essa pluralidade de rodas, mesmo com os zumzumzum entre grupos e mestres, ainda assim dava uma perspectiva muito boa de aprendizado para alguém que realmente queira aprender a ser um bom capoeira.

Sapo não definia sua metodología nem como Angola nem como Regional; de sua perspectiva de ensino, a capoeira estava formada por uma serie de fundamentos de jogo que se aplicavam em função das circunstancias que a roda requeria 267. Por isso, não se importava em graduar aos seus alunos268:

[...] sólo de entrenar con dureza los fundamentos para que éstos adquiriesen la excelencia en la calidad de su jogo, es decir, “su proyecto no consistía en formar sino en enseñar”. Sin embargo, a lo largo de este periodo, va modificar algunos aspectos de su metodología y de su didáctica, influenciado por varios profesores de educación física y por el contacto que tuvo con el grupo Beribazú de Brasilia, normas además de una nomenclatura unificada para los golpes. El Estado, a través de estas acciones, trataba de proyectar a nivel nacional una nueva dimensión pedagógica que serviría para aumentar la práctica de una capoeira aferrada a los valores de la nación269.(GRECIANO MERINO, 2015)

Prossegue: 267

El Maestro Sapo seguía una especie de mezcla de las dos vertientes, sus enseñanzas consistían en una práctica que estuviese de acuerdo con el ritmo que dictaba el toque de berimbau: Angola (jogo lento y rastrero), São Bento Pequeno (jogo que mezclaba movimientos altos con rastreros en una cadencia intermedia) y São Bento Grande (jogo practicado encima y en una cadencia acelerada). Los 3 berimbaus tocaban la misma célula. (GRECIANO MERINO, 2015). 268 El Maestro Sapo no dejó ningún alumno formado como maestro, sus alumnos más avanzados se graduaron a través de este grupo que fue donde él recibió oficialmente el título de maestro. (GRECIANO MERINO, 2015). 269 Véase: Reis, Letícia Vidor de Sousa. O mundo de pernas para o ar: a Capoeira no Brasil. Publisher Brasil, São Paulo, 1997. (GRECIANO MERINO, 2015).


Su capoeira se enfoca hacia un aspecto más deportivo, pasando a examinar a sus alumnos a través de series de movimientos secuenciados que se correspondían con una escala de cuerdas de colores, como ocurre en las artes marciales. Participó en eventos, simposios y torneos nacionales en diversos Estados e incentivó a sus alumnos para que completasen su formación participando de los cursos de arbitraje y viajasen a Rio de Janeiro para estudiar con Inezil Penna Marinho270. Asimismo, batalló mucho para conseguir que la capoeira formase parte de los Jogos Escolares Maranhenses (JEM’s) como un deporte de competición. Todo eso sin dejar de explorar ese lado folclórico de la capoeira que le había llevado hasta São Luís271. Por tanto, su profunda dedicación al estudio del arte de la capoeira272627 le llevan a convertirse en un profesional de reconocido prestigio por la sociedad. Ese reconocimiento unánime motivó que asumiese el papel de celador de la capoeira en São Luís, mostrando su intolerancia hacia las rodas de calle (que no fuesen las suyas o las del maestro Diniz) y hacia la abertura de grupos que no fuesen suyos. (GRECIANO MERINO, 2015)

Em meados dos anos 80, para frente, após a morte de Sapo, começa uma movimentação para ‘restituir’ a Capoeira ao seu lugar – a rua. Esse movimento começa a partir da formação de grupos, em lugares considerados periféricos, como o eixo Itaqui-Bacanga. Para os Mestres-alunos, em resposta à questão: QUAL, QUEM, COMO, E PORQUE HOUVE A NECESSIDADE DE UM MOVIMENTO ‘PRÓ-CAPOEIRA’ A PARTIR DE MEADOS DO 85?

GRUPO 4.

273

O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis.

GRUPO 5274. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990. GRUPO 6275 Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança.

270

Inezil Penna Marinho publica en 1945 el libro “Subsídios para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem”, esta obra fue explícitamente inspirada en la “Ginastica nacional (capoeiragem) metodizada e regrada” de Aníbal Burlamaqui. (GRECIANO MERINO, 2015). 271 Entre los años 1977-1979 Sapo formó un cuadro folclórico de exhibición con juego de luces que presentaba principalmente en el recinto ferial (EXPOEMA), durante los festejos juninos, y en algunos terreiros durante determinadas fiestas de santo. Entre las actividades que se presentaban destacan el samba de roda y el maculele que se entrenaba con palos de escobas y después se ejecutaba con machetes. . (GRECIANO MERINO, 2015). 272 Cabe destacar que en una época que las informaciones eran escasas debido a los limitados y precarios medios de comunicación, el maestro Sapo poseía un importante acervo de libros discos y recortes de prensa con informaciones de lo que acontecía en varios Estados. . (GRECIANO MERINO, 2015). 273

O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 275 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 274


GRUPO 1276. Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão; GRUPO 2. Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita277 GRUPO 3. Pelos Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira278.

ONDE ACONTECEU? QUAIS OS RESULTADOS?

GRUPO 1. Sá Viana, Bairro de Fátima, Anjo da Guarda, Coroadinho, Liberdade, etc.; foi positivo no sentido de fortalecer a interação entre os grupos279 GRUPO 2. [...] na área Itaqui-Bacanga, no Teatro Itaqui-Cucuiba, e teve como resultado o fortalecimento da Capoeira; a partir daí, outros grupos da cidade passaram a realizar outros eventos, em prol da Capoeira280 GRUPO 3281. Foi feito o Pré-capoeira no Bairro do Anjo da Guarda, no Teatro Itapicuraíba. GRUPO 4282. O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga [...] com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis. GRUPO 5283. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; [...] com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990. Mestre Índio do Maranhão, já retornado do Rio de Janeiro onde fora em busca das ‘raízes da capoeira’, fala sobre esse momento da revitalização da Capoeiragem Maranhense/ludovicense: [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. [...] Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruande, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento284. 276

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 278 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 279 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 280 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 281 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 282 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 283 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 277

284

In http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1, Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau


Firmino Diniz é o meu Mestre porque o acompanhei desde 1972 a 1982, após a morte de Mestre Sapo; foi quando ele se afastou das rodas até a sua morte em 22 de dezembro de 2014, mesmo longe da capoeira, no dia 07 de Setembro, ele foi me entregar a corda de Mestre no Clube Nova Geração II, no bairro do Sá Viana, mesmo assim ele ainda marcou presença em alguns eventos de nossa cidade e de alguns companheiros. Em 1987, eu Mestre Índio Maranhão fundei o Grupo de Capoeira Filhos de Ogum, na Casa da Finada Mãe Angela, uma Ialorixá, zeladora de Guias, caboclos e Orixás, na travessa da Fortuna no bairro Monte Castelo e esse meu trabalho iniciou-se no dia 07 de Julho de 1987, com a denominação Filhos de Ogum, em 1998 se chamou Centro Cultural Filhos de Ogum e por motivo religioso de alguns alunos cristãos, quando do seu registro oficial em 2002 se nominou Associação Cultural de Capoeira São Jorge e permanece até os dias atuais. Devoto de São Jorge desde março de 1973, após uma briga na Areinha, que começou com o Gilmar sendo agredido por um rapaz da Liberdade, então começamos uma grande confusão, onde todos entraram em confronto que demorou demais para parar. Foi quando ficamos sendo ameaçados e perseguidos pelos rapazes da Liberdade, foi quando então a mãe do companheiro Wilson Botão nos procurou e nos deu a oração de SÃO JORGE, na qual eu depositei a minha fé há 28 anos e mantenho até os dias de hoje, realizando todos os anos Uma grande Festa em Louvor a São Jorge onde a festa maior é a roda de capoeira285.

Greciano Merino (2015)286 considera que no começo da década de 1980, a capoeira no Maranhão estava marcada por uma forte influencia militar e pelo isolamento dos grupos e academias, onde: [...] era difícil que un Capoeira visitase otro establecimiento y en caso de que eso aconteciese era común que emanasen actos de violencia. En ese contexto Mestre Patinho tiene la clarividencia de proyectar un centro de enseñanza diferenciado a través de algo que hasta entonces era aceptado con reticencia: la concepción de “escuela”. Patinho funda la Escuela de Capoeira Angola del Laborarte (Laboratorio de expresiones artísticas do Maranhão) en 1985 haciendo converger en una única expresión varias influencias: la escuela, la tradición popular, el mundo del arte y la lucha. Desde este espacio se pasa a fomentar, a través del diálogo y del reconocimiento de la diversidad, aquello que seria un punto de inflexión fundamental en la capoeira ‘maranhense’

Mestre Pirrita (2017) 287 mudou para o bairro Anjo da Guarda no ano de 1979, e, junto com Jorge Navalha, seu cunhado, começou a treinar capoeira com mais dedicação; Nessa época já tinha entrosamento com outros capoeiristas de São Luís, passando a participar de rodas que aconteciam na Praça Deodoro e na Praia do Olho D’água, organizadas por Pezão, chegando a marcar presença em outras rodas de capoeira que aconteciam na ilha. Começou a ensinar o que já sabia a alguns jovens, que o procurava para aprender capoeira, foi aí que surgiu a idéia de formar um grupo, o Grupo de Capoeira Aruandê, formado por Pirrita dirigente, Jorge, Sabujá, Zezão, Cícero, Roquinho, João Bicudo, Bigu e mais alguns alunos, tendo durado pouco tempo. Volta a treinar outros alunos em 1980, tendo novamente problemas com os alunos, pelas normas que estabelecera. Procura alguns capoeiristas experientes para fazerem exibições de capoeira nos festejos juninos, permanecendo ainda o nome de grupo Aruandê; quando terminaram os festejos juninos, o grupo novamente se dispersou, por incompreensão dos participantes. Conforme seu depoimento288: Nessa mesma década de 80, a capoeira do nosso estado passou no anonimato, pois rodas de capoeira já não se olhava, as pessoas que praticavam tinham se acomodado, não se olhava mais as rodas na Deodoro, Casas das Minas e Praia do Olho D’água. Nesse período Mestre Pirrita e o Mestre Jorge tiveram a idéia mais uma vez de reunir os capoeiristas que freqüentavam seu centro de treinamento, 285

MESTRE ÍNDIO DO MARANHÃO – OSIEL MARTINS FREITAS. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 286 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada 287 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 288 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


entre eles estavam Sabujá, João Bicudo, Urucunga, Cícero, Ribaldo Preto e outros, e aproveitando a época do carnaval começaram a reativar as rodas de capoeira na Praça Deodoro, despertando nos capoeiristas a vontade de voltarem a jogar capoeira em nossa praça.

Mestre Pirrita deu um grande passo, pois os capoeiristas veteranos voltaram a se encontrar na Praça Deodoro para a prática da capoeira. Entre eles: Ruy Pinto, Euzamor, Candinho, Curador, Pelé, Patinho, Madeira, De Paula, Banana, Miguel, China e outros. Relata Greciano Merino (2015)289: La precipitada muerte del maestro Sapo va dejar una multitud de capoeiras dispersos por la ciudad sin que exista una organización ni una jerarquía entre ellos. Se inicia un proceso de formación estructural que coincide con un momento de grandes transformaciones en la sociedad brasileña, marcado por el cambio de paradigma político que se produce con el fin de la dictadura militar y la implantación de la democracia representativa. Esas transformaciones influyen en el proceso evolutivo de la capoeira, que hasta ese momento venía creciendo de un modo exponencial por todo el territorio brasileño fomentado desde las instituciones públicas como una práctica deportiva nacional. En esa nueva coyuntura sociopolítica se produce el resurgir de la capoeira Angola, se fundan grupos franquicia de carácter masivo y se desencadena el proceso de expansión global de la capoeira290. La Capoeira de São Luís se vio alcanzada por ese conjunto de transformaciones macro-estructurales canalizadas a través de una serie de capoeiras que, a titulo individual, se aventuran a emprender trabajos en diversas áreas de la ciudad. Entre otros podemos destacar a Patinho (Escuela de Capoeira Angola do Laborarte), Indio do Maranhão (Associação Cultural de Capoeira São Jorge), Neguinho (Pro-dança), Jorge Navalha (Filhos de Aruanda), Pirrita (Associação de Capoeira Aruandê), Ribaldo Branco (Grupo Cascavel), Evandro (Mará Brasil), Sena Palhano (Associação Cativos de Capoeira), Madeira (Sirí de Mangue), Jacaré (Cordel Branco), Euzamor, Rui Pinto...etc. La iniciativa de esos trabajos pioneros sirvió para formalizar diversos métodos de enseño y modos de ritualizar la roda, formando a toda una generación de capoeiras que son los maestros que conducen el movimiento en la actualidad: Marco Aurelio (Associação Centro Cultural de Capoeiragem Matroá), Senzala (Acapus) Gavião (Tombo da Ladeira), Abelha (Escola de Capoeira Angola Cortiço do Abelha), Fabio Arara (Pequeno sou Eu Maior é Deus ), Nelsinho (Laborarte), Jota Jota (Nação Palmares), Tutuca (Giramundo), Mizinho (Centro Cultural e Educacional Maranhão Arte Capoeira), Baé (Associação de Cultura Educacional Candiero de Capoeira), Generoso (Jogo de Dentro), Juvenal (Associação de Capoeira Jeje Nagô), Militar (Grupo K de Capoeira), Ary (Grupo Arte Vida), Bamba (Centro Cultural e Educacional Mandingueiros do Amanhã), Socó (Vale do Engenho), Negão (Sociedade Cultural de Capoeira Congo-Aruandê), entre otros. Para dinamizar el perfil de los estilos de capoeira en São Luís hemos de señalar que, además de la determinación de ese grupo de capoeiras locales, también fue fundamental el contacto con maestros de otros estados. Desde una perspectiva translocal, varios capoeiras y maestros de la ciudad como Marco Aurelio, Madeira, Gavião, Abelha, Indio, Ribaldo Branco, etc. realizan viajes a otros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia y Brasilia; buscando nuevas ideas, símbolos y valores que complementasen sus trabajos de Capoeira. Cuando retornan de esas estancias traen consigo innovaciones tanto a nivel de organización, como de práctica, unos con influencias de la Capoeira Regional y otros con influencias de la Capoeira Angola. En esa época no había distinción entre estilos, pero entre los grupos que existían ya se percibían ciertas tendências para la Regional o para la Angola. Como apunta el maestro Nelsinho: “Todos los grupos entrenaban aspectos de la Angola y la Regional, hacían un jogo mas lento o un jogo mas rápido, la capoeira local se caracterizaba de esa forma, pero al mismo tiempo, en esa época, había grupos que tenían una tendencia mas para Angola o mas para Regional, a pesar de que eso no era definitivo”291. Después de ese momento de transición pasaron a crecer exponencialmente el número de grupos ya definidos como Regional o como Angola.

289 290

291

GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. Véase: Assunção Röhrig, Matthias. Capoeira The History of an Afro-Brazilian Martial Art. Routledge, London and New York, 2005, pp. 167-204. DA SILVA, Alysson Cezar Pavão. Análise da Capoeira angola em São Luís do Maranhão: concepções, contexto histórico e evolutivo. Monografia presentada al curso de Licenciatura en Educación Física de la Universidad Federal de Maranhão (UFMA), São Luís, 2010, p. 47.


Segundo Pirrita292, neste período a área Itaqui-Bacanga passa a ser uma grande referência da capoeira do nosso estado, pois reunia capoeira de todos os bairros para o Anjo da Guarda, sob sua liderança e de Jorge Navalha, pois ambos começam a realizar grandes eventos, como: Torneio Classe Estreante, I, II, III e IV Movimento Pró-Capoeira, I Festival Capoeira nos Bairros Nessa época já existiam na área Itaqui-Bacanga, vários grupos organizados como: Aruandê (Mestre Pirrita), Filho de Aruanda (Mestre Jorge), Filhos de Ogum (Mestre Índio) e Marabaiano (Mestre Jair). Além dos eventos, realizavam batizados, e rodas em vários locais, como a Praça do Anjo, Teatro Itapicuraíba, Barrigudeira, Mercado do Anjo da Guarda e União de Moradores do Sá Viana, e aos sábados, Mestre Pirrita recebia grande número de capoeirista em sua academia. Em 1985, os grupos ‘Aruandê’ e ‘Filhos de Aruanda’ promoveram o Primeiro Movimento Pró- Capoeira do Maranhão, que tinha por objetivo reunir todos os capoeiristas; segundo Mestre Pirrita: Em agosto do ano em curso, o grupo Aruandê, participou do Primeiro Encontro de Capoeira do Maranhão, e de várias reuniões onde estavam presentes vários capoeiristas do Maranhão. Em 1986, o grupo Aruandê se destacou entres outros grupos de nosso estado, junto ao grupo Filhos de Aruanda com apoio do CCN-MA - Centro de Cultura Negra do Maranhão realizaram o Segundo Movimento PróCapoeira do Maranhão e o Primeiro Torneio de Classe Estreante, com objetivo de chamar atenção da classe capoeirística para a necessidade de melhor organização da capoeira em nosso estado, no torneio de classe estreante, o grupo Aruandê ficou em segundo lugar por equipe, receberam o troféu destaque os alunos Brasil, Zeca e Magno, recebendo medalhas de ouro, prata e bronze293.

Prossegue: [...] o grupo Aruandê marcou presença no Programa Nacional de Capoeira - PNC, onde as reuniões aconteceram no Centro de Cultura Popular, contando com a presença de vário capoeiristas de São Luís, o subsecretário de educação física da SEED, Professor Person Cândido Matias, explicou a importância do PNC em nosso estado. Na candidatura do deputado Luis Pedro, o grupo Aruandê foi convidado para marcar presença na câmara dos deputados, dando naquele local uma verdadeira exibição de capoeira, aproveitando a oportunidade, o Professor Pirrita, levou ao conhecimento de todos a falta de apoio a capoeira em nosso estado294.

Em agosto de 1986 alguns participantes dos grupos ‘Aruandê’, ‘Cascavel’ e ‘Raízes de Palmares’ fizeram várias apresentações de capoeira na EXPOABA em Bacabal-MA, com objetivo de difundir naquela comunidade a capoeira arte, cultura e esporte, praticado por todas as camadas sociais, tendo êxito no objetivo.

292

MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 293 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 294 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


Em 1986, aconteceu em Brasília-DF o Primeiro Festival Praia Verde SESC-DF de Capoeira; o Maranhão foi representado por uma delegação composta pelo professor Pirrita e o seu aluno Negão, do grupo ‘Aruandê’; pelos professores Neguinho, do grupo ‘Argolonã’; Evandro, do grupo ‘Raízes de Palmares’; Vânio do grupo ‘Cascavel’; professor Jorge do ‘Filhos de Aruanda’; e o professor Tita do grupo ‘Unidos de Angola’295. Com o objetivo de levar a capoeira aos colégios, não como jogo de competição, e sim como educação física, reunira-se no dia 13 de março de 1987, no ginásio do SESC, para criação desse projeto, o Professor de Educação Física da UFMA, Demosthenes Montavane, o Professor de Educação Física do SESC, Carlos Alberto, o professor do Grupo ‘Aruandê’, Pirrita e seus alunos Brasil e Ciane, o professor do grupo ‘Cascavel’, Vânio, o professor do grupo ‘Raízes de Palmares’, Evandro e o professor do ‘grupo de Apoio a Capoeira’, Betinho (Paturi). Em 24 de abril 1987, todos os grupos de capoeira de São Luís foram convocados para uma reunião na sede do Bumba Meu Boi da Floresta, tendo como objetivo a melhor organização da capoeira e que os capoeiristas veteranos dessem oportunidades para os novatos participarem de rodas abertas, que sempre aconteciam na cidade; Niltinho, representante do CCN, explica aos demais que a capoeira não deve ser mostrada com violência, e sim com toda a sua beleza; entre os participantes veteranos destacaram-se: Pirrita, Neguinho, Pelé, Ruy, Candinho, e outros. No dia 01 de maio de 1987 aconteceu uma grande manifestação da comunidade do Bairro Anjo da Guarda e adjacências na luta pela legalização dos terrenos da área Itaqui-Bacanga. Naquela oportunidade, houve exibição de capoeira pelo grupo Aruandê 296. Logo em seguida, a 30 de maio, o CCN promoveu no Ginásio Costa Rodrigues, a ‘I Mostra de Capoeira do Maranhão’, com o objetivo de mostrar para a sociedade a importância dessa cultura, e conscientizar os órgãos competentes em relação à capoeira; houve competições entre os grupos presentes, ficando o grupo Aruandê em 2º lugar no Estilo Regional e 2º lugar no Estilo Angola. Ainda em 1987, no dia 29 de agosto, os grupos Aruandê e Filhos de Aruanda promoveram o ‘III Movimento Pró-Capoeira do Maranhão’. Neste evento juntaram-se no Ginásio do SESC vários capoeiristas e simpatizantes tendo o apoio da Federação e do CCN-MA297. Com o intuito de melhorar a organização da capoeira do Estado do Maranhão, reuniram-se os representantes dos grupos de capoeira, Pirrita, Jorge, Roberval Sena, Vânio, Evandro e Índio, com o objetivo de se organizar em associações de capoeira, para a criação da ‘Federação de Capoeira do Estado do Maranhão’; na ocasião foram registradas as Associações de Capoeira Aruandê, Filhos de Aruanda e Cativos já existentes. Houve várias reuniões sempre presentes os representantes de associações e grupos, as quais foram registradas em atas. Houve eleição dos membros da Federação, tendo Mestre Sena eleito Presidente, Jorge, Vice, e Pirrita, Secretário. Logo após a eleição, Sena relatou que todas as associações teriam que seguir o sistema de graduação da Federação, contradizendo o que tinha falado antes da eleição, que as associações teriam apenas que se filiarem. Com a nova idéia, o mestre Pirrita deixou o cargo e se ausentou das reuniões, pois tinha se decepcionado e não concordava com as normas impostas pela Federação298. Já Mestre Curió (2017)299 vai desenvolver suas atividades no Anil, outro pólo da Capoeira, conforme seu depoimento: [...] e em 1980 já estava morando no Bairro do Rio Anil, no Conjunto Bequimão. No afã de sua própria aprendizagem começara a se reunir com amigos e vizinhos no seu quintal, para aprenderem um pouco 295

MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 296 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 297 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 298 MESTRE PIRRITA – VICENTE BRAGA BRASIL. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 299 MESTRE CURIÓ – JOÃO PALHANO JANSEN. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


do que ele já sabia, isso por volta dos anos 80 no bairro do Rio Anil. Numa época em que ainda era incerta a definição de “mestre” no universo capoeirando ludovicense, sua aprendizagem se confundia com o ensinamento propriamente dito, “amigo” e “discípulo” não eram categorias muito diferenciadas, o que de fato existia era uma relação de troca de conhecimentos e experiências em diversos espaços da cidade (ruas, praças e quintais). Entretanto, por meio de sua ética e humildade, conquistou o respeito e admiração das pessoas, de maneira que o título de “mestre”, dado a ele, foi obra da experiência do tempo. Foi aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, que o Mestre Curió desenvolveu no bairro uma trajetória de 40 anos de capoeira. Na década de 90 criou o Grupo de Capoeira Arte Negra.

Baé (2017) 300 em 1976 começa a freqüentar os treinos de Mestre Paturi, que na época não tinha academia para treinar, utilizando-se de locais combinados, ate porque tudo era bem escondido. Embora já houvesse criado o ‘GRUPO CANDIEIRO’ desde 17 de Fevereiro de 1999, no começo de 80 ainda treinou um período com o Mestre Jacaré e depois, por motivo de local de trabalho e estudo, passou um período com Mestre Pato. Começo de 88 passa a treinar com Edmundo da Conceição (Mestre Edybaiano), da ‘Associação de Capoeira regional do Mestre Edybaiano’; em 1993, por recomendação de seu Mestre Edy Baiano passou a treinar em Salvador. O Contramestre Formiga Atômica (2017) 301 nos traz outro local de prática da capoeira, desta vez, no Bairro do São Francisco, quando começou a treinar: [...] com dois irmãos: Michael Clean Cruz Alves seu apelido (Shell) e o Flávio de Arruda Cruz (seu apelido “Braço”, por ter o braço quebrado) que treinaram com Aldo (Lôlô) e Otacílio que também eram irmãos e que vieram treinar com Leles que mais tarde se tornaria o mestre Madeira, nesse período o nosso local de treino era uma casa de festa chamada Cajueiro, localizada no São Francisco, travessa da rua 02 que mais tarde se chamaria de Espaço Aberto um clube de reggae chamado também de “ casa da música”, tivemos que parar com os treinos porque o proprietário “ Sr Ferreirinha” na época não permitiu que continuássemos com os treinos no clube, assim ocasionou o término do grupo (1983). Por volta de 1985 começam a treinar no Centro Comunitário, localizado na rua 03 no Bairro do São Francisco e quem dava aula nesta época era o jovem Fabio Gonçalves Filho, que era chamado de Fabinho e mais tarde se tornaria mestre “ Fabio Arara”, que por sua vez treinava com o mestre “ Madeira” e ainda no Centro Comunitário, conheci um português de nome Lincon, professor Lincon que nos ensina ginástica olímpica , foi com quem aprendi executar meus primeiros saltos[...]

Informa, ainda, de outros dois locais – FEBEM, próximo ao Cemitério do Gavião, e a Academia de Mestre Madeira, da Rua Humberto de Campos: [...] após esse período eu fui matriculado em uma instituição para menores “FEBEM” – Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, localizada na Rua do Norte, próximo ao Cemitério do Gavião em São Luís –MA, nesta fundação passava o dia todo fazia oficina de mecânica e treinava capoeira com um professor que se chamava Herbeth na ocasião levava meu irmão caçula, o Marcilio José a quem o professor chamava de Lambisgoia por ele ser muito magrinho, depois o mestre Madeira trocou esse apelido para Pelezinho. Em 1987 [...] foi quando eu conheci o mestre Madeira e me matriculei em sua academia na Rua Humberto de Campos, era um sobrado de piso de taco, pois já tinha condições financeiras para pagar as mensalidades.

O Mestre Roberto (2017) anos 1980: 300

302

nos diz como eram, então, organizados alguns grupos de capoeira naqueles

MESTRE BAÉ – FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 301 CONTRAMESTRE FORMIGA ATÔMICA – SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 302 MESTRE ROBERTO – ROBERTO JSAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


Iniciei na capoeira na década de 80, primeiramente com o meu irmão Nato Filho, segunda geração de alunos do GRUPO AÚ CHIBATA; [...] continuei com mestre Guldemar (...) fundador da Associação Aú Chibata (...) destaco o braço direito do Mestre Guda, Sebastião de Sousa Sabino o C.Mestre Ciba, que á época já servia o Exército, de onde trazia as atividades físicas, ou seja, na década de 1980 o regimento interno do Grupo Aú Chibata era totalmente militarista e machista, onde não era permitido a presença de mulheres no grupo; regra que durou alguns anos, sendo quebrada por mim [...]

Mestre Militar (2017) 303 iniciou-se na Capoeira já em 1982 com o Mestre Neguinho no ‘Grupo de Capoeira Angolano’, na Escola de Dança Pró-Dança, que era localizada na Rua 13 de Maio no Centro. Treinava como bolsista, pois não tinha como pagar. Seus pais não gostavam da capoeira, e como minha mãe trabalhara para um dirigente da TV Difusora. Por seu depoimento, ficamos sabendo que vários capoeiras : O pessoal que faziam sua segurança todos eram Capoeiristas como: Mestre Rui Pinto, Batman, mestre Alberto (Euzamor) e outros.

Passou a ter contato com Mestre Coquinho, que hoje faz parte do quadro de Mestres da ‘Associação Grupo “K” de Capoeira’; na época, lecionava na extinta FEBEM, localizada na Fonte do Bispo, na Madre Deus no Centro. Embora a Capoeira estivesse voltando para as ruas, continuava existir nas escolas, pois já era praticada como competição, no programa dos Jogos Escolares: Em 1987 – Tive a Participação no XV Jem’s , no governo de Cafeteira, através do Profº Robson, Professor de Ed. Física e Capoeirista da Escola São Lazaro, na qual eu era estudante.

Mestre Militar participava das rodas de rua escondido tanto de seus pais, como de seu Mestre Coquinho. Foi quando conheceu Mestre Madeira (Siri de Mangue), com quem treinou por um tempo, e teve contatos com outros Capoeiristas, que já tinham nome no cenário da Capoeira do Maranhão: Candinho e Batman, seus vizinhos, e que o levavam para as rodas de Capoeira, que eram realizadas por eles aos Domingos pela manhã, na Coroa da Praça Gonçalves Dias, em frente à Igreja dos Remédios. Roda que só entrava para jogar, quem tinha muito axé ou era apadrinhado. Também através do Candinho que passou a participar das Rodas na Praça Deodoro: Logo após fui fazer parte do Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares, do Centro de Cultura Negra, que era composto por Evandro (hoje Mestre do Grupo Mara Brasil), Militar, Nijon, Manoel, Mizinho (hoje Mestre Mizinho do grupo Maranhão Arte), Tutuca (hoje Mestre Tutuca do Gira Mundo) Careca, Wilson, Assis e outros. Através deste Grupo, eu participei da: 1ª Mostra de Capoeira do Maranhão, organizada pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão - CCN. Em março de 1988, participei do 1º Campeonato Inter - Bairro realizado pela Associação de Capoeira Aruandê de Mestre Pirrita e Aruanda do Mestre Jorge Navalha; A 1ª Gincana Mirante – na Praia da Ponta D`Areia, como a Participação de Vários Grupos da Capital. No mesmo ano, fui treinar com o Mestre Roberto, conhecido como Mestre Jacaré, que lecionava em uma Academia de Karatê localizada na Rua 18 de Novembro, no Bairro da Camboa, até o ano de 1990.

É através de Mestre Militar que ficamos sabendo de outros locais em que a capoeira começava a se infiltrar, pois com a formação do Grupo Nagoas (1991), sediado provisoriamente na Associação de Moradores na Rua da Brasília - Bairro da Liberdade, este grupo tinha em sua formação muitos bons capoeiristas, oriundo 303

MESTRE MILITAR – CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


de outros grupos como: Careca, Juricabra, Abacate, Cudinho, Mata rato, Daniel, Wilson, Junior de Assis, Cabecinha (hoje Contra-Mestre do Grupo Liberdade Negra), e o Cacá (hoje Contra-Mestre do Grupo Ludovicense) entre outros: Através do Grupo Nagoas, realizávamos tradicionalmente Rodas todas as Sextas - Feiras na Praça do Bairro Camboa. Também revitalizamos uma Roda tradicional do Bairro do Monte Castelo (Largo da Conceição), que ocorria durante todos os dias nos Festejos de Nossa Senhora da Conceição, no mês de Dezembro. Lá participaram várias Gerações de Capoeiras, dentre eles : Miguel, Evandro, Bulão, Dunga, Ruso, Beleleco, Chicão, Curador e outros.

Militar afirma que - apesar de bons capoeiristas fazerem parte do grupo na época -, constantemente estavam envolvidos em confusões no centro da cidade: Criávamos badernas em festas e praças só para ter o prazer de testar a potência de nossos golpes. Não sabia que essa atitude que era comum em muitos dos Capoeira da minha época, iria render a muitos do grupo, inclusive a mim, a fama de desordeiro (Marginal).

Mestre Pedro (2017) 304, que se iniciou na Capoeira em 1983, no Anjo da Guarda, com Mestre Jair e Bira e também frequentava as aulas de Mestre Bigu, no São Raimundo, bem demonstra a mobilidade dos jovens iniciantes na Capoeira, em busca de ensinamentos. O que se nota que essa mobilidade era causada pelo afastamento do Mestre, que saíra de São Luis, para buscar as raízes da capoeira em outros estados, notadamente Bahia, Rio de Janeiro, e até mesmo São Paulo: [...] no mesmo ano comecei a treinar com o Mestre Jorge Navalha da Associação Filhos de Aruanda, devido à ida do Professor Bigú para a cidade de São Paulo – SP; permaneci treinando até o final da década de 80, quando comecei treinar com o Mestre Pirrita da Associação Aruandê, permanecendo até o ano de 1995, devido ao afastamento do mestre Pirrita. Nesse ano de 1995 a Associação Aruandê foi desativada, e a partir de outubro de 1996 juntamente com o Mestre Nelson fundamos o "Grupo de Capoeira Raízes", no bairro Vila Mauro Fecury II no eixo Itaqui-Bacanga, onde mais tarde em julho de 2002 se tornaria a Associação Cultural Afrobrasileira Raízes no bairro Anjo da Guarda, também no eixo Itaqui-Bacanga, onde permaneço até a presente data, coordenando as atividades da Associação Raízes, sem o mestre Nelson que se afastou para fundar uma outra associação.

Percebe-se ser comum a divisão – ou afastamento – intergrupos, seja por desavença com o Mestre, devido à seus métodos rigorosos, conservadores, seja por viagens de estudo e aperfeiçoamento, ou mesmo busca de melhores condições de vida, seja para fundar-se novas associações e/ou núcleos, sendo que a maioria permanecendo ligada ao grupo original, quando da maestria: Ao longo desse período realizei vários atividades voltadas para a capoeira, em parceria com o mestre Nelson e outros mestres de capoeira do eixo Itaqui-Bacanga, dentre elas podemos mencionar o 1º e 2º Venha Ver, mostras de capoeira que homenagearam os mestre Patinho (falecido) e Jorge nos anos de 2002 e 2003 respectivamente, em 2002 criação da Liga de Educadores de Capoeira da Área ItaquiBacanga - LECAIB, composta pelos mestres Pedro e Nelson (Raízes), Kaká e Cadico (Amarauê), Juvenal (Jêge-Nagô), Negão (Congo -Aruandê), Jorge (Filhos de Aruanda), pelos contramestres Presuntinho (Marabaiano), Neto e Reginaldo (Amarauê) e Cafezinho (Escorpiões). A LECAIB foi criada devidos os coordenadores de grupos de capoeira da Área Itaui-Bacanga não concordarem com a maneira que se conduziam as Federações de Capoeira de nosso estado, pois por muitas vezes as reuniões dessas entidades acabavam em discussões divergentes entres seus afiliados, e não se definia nada em prol da 304

MESTRE PEDRO – PEDRO MARCOS SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


capoeira, sendo quando uma das Federação fazia algum evento a outra não participava, e com isso quem perdia era a capoeira; daí resolveu-se criar a Liga de Educadores, onde nos dois primeiros eventos chegou a reunir mais de 600 participantes, mas caiu no mesmo erro das Federações: o ego individual de alguns falou mais alto do que o objetivo, que era de fazer uma capoeira forte e unida em nossa capital, principalmente na área aonde ela atuava, vindo a extinguir-se dois anos após a sua fundação. Continuando a nossa participação na realização podemos citar também o 1º e 2° Festival Balneário de Capoeira, realizado na cidade de São José de Ribamar nos anos de 2007 e 2008, o 1° e Festival de Cantigas Inéditas, que prestou homenagem aos mestres Ciba (falecido) e Pirrita, realizados no Parque Botânico da Vale e Teatro Itapicuraíba, ambos no bairro Anjo da Guarda. (MESTRE PEDRO, 2017) 305.

Estes rompimentos intergrupos, e a conseqüente formação de novas associações/núcleo – na maioria das vezes na mesma área de influencia de seu mestre formador -, assim como a aprendizagem por dois – ou mais – mestres simultaneamente, é confirmada por Mestre Cacá (2017) 306: Iniciei na capoeira em 1984, aos 12 anos de idade, no Colégio Silva Martins, com Valderez (atualmente, Sargento da Polícia Militar do Maranhão) e Robson (professor de educação física), treinei até o final de 1985, com participação nos JEM’S – 1984 e 1985; em 1986 treinei por algumas semanas com Mestre Patinho (no LABORARTE), depois com o Mestre Neguinho (no PRODANCE) e com o Mestre Jorge Navalha (no teatro Itapicuraiba). No ano de 1986 treinei, simultaneamente, com o Mestre Jorge Navalha e com Mestre Erasmo (na época, recruta do Exército). Os treinos com Erasmo duraram até o início de 1987, quando o Mestre Índio se mudou do Bairro de Fátima para o Sá Viana – como o Mestre Índio, que na época era considerado professor (considerado, porque naquele tempo não tinha professores, contramestres e mestres de capoeira no Maranhão – existiam os capoeiristas mais experientes), assumiu os treinamentos de capoeira no Sá Viana. Então treinei com o Mestre Índio de 1987 até 2001; fui batizado em 1987 (apelido de batismo – Marreta) e formado professor em 1994– pelo Mestre Índio. Em 2001, houve um desentendimento do Mestre Índio com Cadico (hoje, mestre Cadico); na oportunidade o Mestre Índio afastou Cadico da diretoria do grupo (na época – Associação de Capoeira Filhos de Ogum– hoje, Grupo São Jorge), então, como éramos muito unidos, resolvemos sair do grupo, Cadico, Neto e Eu. Nesse mesmo ano fundamos a Associação Maranhense de Apoio e União Esportiva da Capoeira – AMARAUÊ - CAPOEIRA. No ano de 2002 fui consagrado Contramestre e, em 2009 Mestre de Capoeira, pelo Mestre Jorge Navalha. De 1993 até 2001, dei aulas de capoeira na União de Moradores/Clube de Mães do Sá Viana, juntamente com Cadico (hoje, mestre Cadico), pois o Mestre Índio passava muito tempo no Rio de Janeiro. De 2001 a 2006 dei aulas de capoeira na União de Moradores do Angelim Velho/ Novo Angelim/ Novo Tempo III - Angelim, e em um casarão na Rua da Estrela – centro (onde atualmente funciona a Casa da França no Brasil); de 2007 até os dias atuais, dou aulas de capoeira na Madre Deus (Conselho Cultural/ Sede do Boi/ Choperia Madre Deus) e no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros – Vila Palmeira.

CAPOEIRAGEM NO/DO MARANHÃO – SÉCULO XXI Percebe-se que houve uma evolução no formato, quanto à organização formal dos grupos e núcleos de capoeira existentes, e os formados a partir de meados dos anos 80, no Novecento. Com a interiorização e internacionalização dos Grupos – no dizer de Lacé Lopes, ‘grifes de capoeira’ -, houve a necessidade de uma estrutura legalizada, com estatutos, registro junto aos fiscos federal, estadual, municipal, com obtenção de CNPJ, Alvará de Funcionamento e Inscrição Estadual. Passam a se constituir em empresas prestadoras de serviços, outras, associações esportivas, núcleos artesanais – confecção de uniformes, instrumentos – notadamente berimbaus, caxixis, atabaques, reco-reco... – e uma forte conotação social, de proteção à criança e ao adolescente. Continuam, apesar disso, com a ‘informalidade’ das Rodas de Rua, com a formalidade das ‘aulas em escolas da educação formal’, através de escolinhas de esportes... 305

MESTRE PEDRO – PEDRO MARCOS SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017. 306 MESTRE CACÁ – CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF, 2017.


QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DOS GRUPOS/NUCLEOS DE CAPOEIRA, HOJE EXISTENTES

GRUPO 1. Padronização, sistema de graduação, metodologia de ensino, sistema administrativo307 GRUPO 2. Nos dias atuais, a diferença é a organização, com o uso de uniformes, sistemas de graduação, criação de Federações e associações, com apresentações culturais e com o reconhecimento de Mestre. São liderados pelos Mestres, Contramestres e Professores308. GRUPO 3. Sua padronização de uniformes, musicalidade, instrumentação, didática, metodologia de ensino309. GRUPO 4. Hoje, a maioria dos grupos e associações são reconhecidos por poder jurídico, os grupos anteriores eram formados por pessoas anônimas, sem poder jurídico310. GRUPO 5. Os Grupos/Associações, hoje existentes, possuem um método de treinamento e suas características são: 1. Organização; 2. Uniforme de treinamento, com logo e identificação; 3. Sistema de graduação311; GRUPO 6. Hoje, os grupos são mais organizados, com registros jurídicos, federações e maior numero de participantes312.

O QUE OS DIFERENCIA DAQUELES PRIMEIROS GRUPOS, FORMADOS A PARTIR DA ‘BANTUS’, E QUEM ERAM/SÃO AS LIDERANÇAS?

GRUPO 1. diferencial, a gestão administrativa; Mestres e Contramestres, e Professores (Formados) 313

GRUPO 3. Eram liderados por Mestre Índio, Mestre Patinho, Pirrita, Jorge, Miguel, Ribaldo, De Paula, (Começo dos anos 80) 314. GRUPO 5. Lideranças – professores, contramestres e mestres315. Buscamos com Mestre Patinho o ‘trabalho’ do Mestre Capoeira, nesses tempos de correção política: Bem na minha versão, até porque eu tenho uma sacação de que a capoeira é uma arte cultural desportiva hoje que ‘tá’ (sic) no mundo aí, né? Então, em cento e cinqüenta países, então é muito né? e a capoeira era a única essência de corporal e educacional que a comunidade tinha acesso sem ônus e hoje é muito caro ‘pra’ se fazer capoeira, e meu trabalho é o trabalho com a questão da educação inclusiva, né? não só como a questão do mongolóide, especial, como nós temos lá o Bamba, você vê, tem os 307

O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 309 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 310 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 311 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 312 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 313 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 314 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO. 315 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 308


meninos, eu aqui infelizmente ainda não tenho condição de atender essa demanda, mas assim há muitos anos que a galera vai pra rua, aí fazer besteira, se distanciam da leitura escolar, então eu acho muito importante, meu trabalho é muito voltado pra isso, pela questão do social, agora eu tenho que me sustentar, eu tenho alguns ‘padrinhos’, esses padrinhos são meus companheiros de estudo, são aquelas pessoas que pagam cinqüenta reais que é barato, né? Meu trabalho é um dos trabalhos mais baratos que existem nesse país porque se você vai ao Rio, São Paulo é cento e cinqüenta é duzentos reais uma mensalidade de capoeira, e aqui quem pode pagar, paga cinqüenta reais, e quem já passou da aborrecência e não tem condições de pagar, eu faço a permuta, chega mais cedo e dá uma varrida na sala, tem uma hora que eu chamo a atenção dos alunos para afinar os instrumentos, porque as pessoas acham que os instrumentos da capoeira não tem afinação, está entendendo?, então essa coisa toda que a gente faz questão de ser diferente mesmo, de respeitar as diferenças, ‘pra’ poder entender melhor a diversidade. (BOÁS, ? )316.

Diniz organizava rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira, com a chegada de Roberval Serejo no início dos anos 60; a criação do Grupo “Bantus“ só se dá em 1968. Participava, além de Mestre Roberval Serejo, Mestre Diniz, Mestre Jessé Lobão, Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. De acordo com Gouveia [José Anunciação Gouveia] o pequeno grupo de capoeira, liderado por Roberval Serejo não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 317. Sapo, em 1972, começou a dar aulas de Capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Paturi cria a “Associação Comunitária Grupo de Apoio á Capoeira” em 1979 e o processo de registro só em 1983. Informa Mestre Til que o grupo liderado por Ribaldo Branco se reunia no quintal de sua casa, quinzenalmente, quando era realizada uma roda, ao som do LP de Mestre Pastinha. Dessa roda, de fundo de quintal, participavam: Ribaldo Branco – o seu idealizador – Luis Murilo, Alô, Ribaldo Preto, Leocádio, Garfo de Pau, Sansão, Zeca Diabo, Martins, além de outros alunos. Mestre Rui Pinto afirma que ‘começou como brincadeira’ no fundo quintal de parentes – no caso, de Mestre Jacaré, seu primo, treinando sem orientação, aprendendo apenas observando os mais experientes, e depois tentando repetir os movimentos. Passam a reunir-se no Bom Milagre e no Parque do Bom Menino, para treinar, e tocar instrumentos e cantar, aprendendo em pouco tempo a construir berimbau e outros apetrechos. Mestre Socó também freqüentava o Bom Milagre, e depois, as rodas de Mestre Diniz. Sua iniciação já de dá de forma mais organizada, com treinamentos aos sábados e domingos, ministradas por Raimundão, jogando o que chamavam de ‘capoeiragem’. As rodas já apareciam em datas festivas, como os feriados cívicos, festas de igreja, dia do trabalho, na Casa das Minas, no terreiro de Jorge Babalô, no dia 13 de maio, como aconteciam no bairro do João Paulo, aos sábados pela tarde, em casa de Beto, próxima à antiga estrada de ferro. Grupos de capoeiras também desfilavam no Carnaval... Nessa época, não era necessário o reconhecimento como Mestre Capoeira para dar aulas, bastava saber e conhecer na prática o ‘jogo da capoeira’. Ao se mudar para o Bequimão, Socó faz uma parceria com Curió, que já tinha formado seu “Grupo Arte Negra”; depois, passa a se denominar, esse grupo, de “Arte Fiel Capoeira”. É desse período, com a formação desses grupos iniciais, com seus líderes passando a ser tratados como ‘Mestre’, que começa a instituir um sistema de graduação, e consagrar outros mestres. 316

BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf 317 MARTINS, 2005, obra citada.


Índio do Maranhão também declara que começou na capoeira como uma brincadeira de criança; com algumas ‘manhas’, passa a observar e, depois, freqüentar as rodas do Velho Diniz. Já com um certo conhecimento, sente necessidade de um aprofundamento maior e ‘migra’ para o Rio de Janeiro: Em 1976, precisamente no dia 19 de Abril, eu migro ou seja, eu viajo para o Rio de Janeiro e no dia 22 eu desembarco na Rodoviária Novo Rio, cidade onde eu conheci vários mestres, aonde o primeiro mestre o qual eu tive o meu primeiro contato, foi o Mestre Dentinho no Sindicato dos Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro, daí pra frente muitos mestres passaram a fazer parte do meu convívio, tais como Mestre Dentinho, Canela, Touro, Levi, já falecido Medeiros, mestre Dé, Mosquito, já falecido, mestre Peixinho da Senzala, já falecido Mais Velho, já falecido boca, Mestre Capa, Canela, Preguiça do Iê Capoeira, Titio, Chita, Beira mar, Djalmir, Sorriso, Rege Angola, Sorriso Senzala, Russo, Ramos, Gigante, Edgar, Gege, Pitu, Thiara, Mancha e tantos outros no Rio de Janeiro.

Para Índio, o grande ensinamento de Mestre Diniz, quem lhe deu toda a orientação e a quem deve tudo – saúde, dinheiro e obrigação – foi: [...] me ensinou a tocar o berimbau, pandeiro, atabaque e agogô e me ensinou a cantar e compor as minha músicas e letras, ele dizia: “ Indio, aprenda a compor as suas cantigas de capoeira”, músicas da Bahia é da Bahia; tem que cantar músicas nossas feitas por você, Babalú, Miguel e Patinho.

Em 1987, Mestre Índio Maranhão funda o “Grupo de Capoeira Filhos de Ogum”, na Casa da Finada Mãe Angela, uma Ialorixá, zeladora de Guias, caboclos e Orixás, na travessa da Fortuna no bairro Monte Castelo; em 1998, passa a se denomiar “Centro Cultural Filhos de Ogum” e por motivo religioso de alguns alunos cristãos, quando do seu registro oficial em 2002 se nominou “Associação Cultural de Capoeira São Jorge”: Devoto de São Jorge desde março de 1973, após uma briga na Areinha, que começou com o Gilmar sendo agredido por um rapaz da Liberdade, então começamos uma grande confusão, onde todos entraram em confronto que demorou demais para parar. Foi quando ficamos sendo ameaçados e perseguidos pelos rapazes da Liberdade, foi quando então a mãe do companheiro Wilson Botão nos procurou e nos deu a oração de SÃO JORGE, na qual eu depositei a minha fé há 28 anos e mantenho até os dias de hoje, realizando todos os anos Uma grande Festa em Louvor a São Jorge onde a festa maior é a roda de capoeira.

Com suas andanças com a capoeira, passou, além do Rio de Janeiro, por Goiânia, São Paulo, Fortaleza, Belém e outros estados. Em julho de 1999 foi à Espanha pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua do Rio de Janeiro, por intermédio de um intercâmbio, onde passou 35 dias na Catalunha. Pirrita, em 1979 se muda para o bairro Anjo da Guarda. Lá retorna os treinos de capoeira, e incentiva seu cunhado, Jorge, a fazer o mesmo, iniciando, aí, um movimento de ‘restauração’ da capoeira, retirando-a do estado de letargia a que se lhe acometera, com a morte de Sapo. Passam a participar das rodas que ocorriam na Praça Deodoro e no Olho d´Água, organizadas, agora, por Pezão. Têm a idéia de formar um grupo, surgindo o “Grupo de Capoeira Aruandê”, formado por Pirrita dirigente, Jorge, Sabujá, Zezão, Cícero, Roquinho, João Bicudo, Bigu e mais alguns alunos, tendo durado pouco tempo, por razão de alguns participantes não quererem seguir as normas, colocadas por Pirrita. Durante as Festas Juninas, o grupo comandado por Pirrita se apresenta nas diversas festas que ocorriam, em especial na área Itaqui-Bacanga. Comenta: Nessa mesma década de 80, a capoeira do nosso estado passou no anonimato, pois rodas de capoeira já não se olhava, as pessoas que praticavam tinham se acomodado, não se olhava mais as rodas na Deodoro, Casas das Minas e Praia do Olho D’água. Nesse período Mestre Pirrita e o Mestre Jorge tiveram a ideia mais uma vez de reunir os capoeiristas que frequentavam seu centro de treinamento, entre eles estavam Sabujá, João Bicudo, Urucunga, Cícero, Ribaldo Preto e outros, e aproveitando a


época do carnaval começaram a reativar as rodas de capoeira na Praça Deodoro, despertando nos capoeiristas a vontade de voltarem a jogar capoeira em nossa praça.

Os capoeiristas veteranos voltam a se encontrar na Praça Deodoro, para a prática da capoeira. Entre eles: Ruy Pinto, Euzamor, Candinho, Curador, Pelé, Patinho, Madeira, De Paula, Banana, Miguel, China e outros. A área Itaqui-Bacanga passa a ser uma grande referência da capoeira no Estado, pois lá se reuniam capoeiras de todos os bairros. Sob a liderança de Mestre Pirrita e de Mestre Jorge, começam grandes eventos da época, como: ‘I - Torneio Classe Estreante, ‘II, III e IV Movimento Pró-Capoeira’, ’I Festival Capoeira nos Bairros’, nessa época já existiam na área Itaqui-Bacanga, vários grupos organizados. Além dos eventos, os mesmos realizavam batizados, e havia rodas em vários locais como: Praça do Anjo, Teatro Itapicuraíba, Barrigudeira, Mercado do Anjo da Guarda, e União de Moradores do Sá Viana, e aos sábados, Mestre Pirrita recebia grande número de capoeirista em sua academia. Mestre Curió dá uma idéia de como era o ambiente em que viviam os capoeiras: Boêmio, era frequentador das danceterias e dos clubes de reggae espalhados pela ilha, o Pop Som da Jordoa, o Espaço Aberto do São Francisco, na praia da Ponta da Areia, etc., entre o reggae e as rodas de rua, sua capoeira foi vivenciada num ambiente de periferia e de muita marginalização.

É interessante resgatar como se tornou Mestre Capoeira, naquela época em que a definição de “mestre” no universo capoeirando ludovicense, sua aprendizagem se confundia com o ensinamento propriamente dito, “amigo” e “discípulo” não eram categorias muito diferenciadas, o que de fato existia era uma relação de troca de conhecimentos e experiências em diversos espaços da cidade (ruas, praças e quintais): Curió era praticante de Karatê quando ouviu falar de outra modalidade de luta: Capoeira. Lembrou-se que já a havia visto, no arraial de Zé Copertino no João Paulo, no período das festas juninas. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionoua com a ‘Punga dos Homens’, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. [...] entrou pela primeira vez numa roda, na Praça Duque de Caxias (no João Paulo). Foi quando Curador, um capoeirista dessa época, comprou o jogo e desferiu sobre ele vários golpes violentos sem levar em consideração que se tratava de um iniciante (esse mesmo Curador, conhecido por seus poderosos movimentos, martelo, meia-lua e ponteira, era um capoeirista marginalizado). Nesse momento outro colega, conhecido como João Matavó, interviu e disse pra não fazer isso com ele, ao que respondeu Curador: “Só entra em roda quem se garante!”.

Este episódio ficou registrado na memória do Mestre Curió. Depois disso não entrou mais nas rodas, ia apenas para observar os capoeiristas jogando, analisando seus pontos fortes e fracos. A noite, ao chegar em casa do serviço, treinava sozinho no seu quintal os movimentos que aprendia olhando. Também treinava com alguns amigos em algumas ocasiões. Aproximadamente dez anos depois, quando já se sentia suficientemente preparado para entrar na roda, jogou novamente com Curador e retribuiu a “lição”, caiu dentro dele atropelando seus martelos e meia-luas, jogando-o no chão. Caído, Curador exclamou: “Mestre! Mestre!”, ao que respondeu Curió: “Tu que é meu mestre!”. Desde então, o Mestre Curió sempre diz de forma irônica que seu mestre foi Curador, pois despertou nele o que precisava em sua aprendizagem. Curió criou o ‘Grupo de Capoeira Arte Negra’. Em 25 de maio de 2000 o mestre Curió juntamente com o mestre Socó recebeu um certificado de contra-mestre dado pelo mestre Miguel pelo ‘Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo’. Mais tarde também foi reconhecido formalmente pela Federação Maranhense de Capoeira. Em 2014, de volta a São Luís, por incentivo dos amigos e discípulos, revitalizou o grupo de capoeira mudando o nome para ‘Arte Fiel’, em alusão ao seu ideal evangélico. Em 2015, em parceria com seu filho Roberto, fundou o ‘Instituto Funcional Viva Rio Anil’, uma entidade sem fins lucrativos que engloba várias atividades esportivas e culturais.


O reconhecimento do ‘Mestre Capoeira’, atualmente, ainda se dá da forma tradicional, isto é, pelo reconhecimento dos demais mestres, pela sua experiência e, sobretudo, antiguidade, e a partir da instituição dos sistemas de graduação (final dos ano 70 – Sapo, Pezão -, meados dos 80, com Pirrita e Jorge Navalha, e a fundação da Federação de Capoeira do Maranhão: GRUPO 3. Mestre Sapo usava uma graduação muito restrita, em meados da década de (19)70; em 89, chega a São Luis a graduação pelo Mestre Pezão; em 1990, foi fundada a FMC (Federação Maranhense de Capoeira); em 2001, foi fundada a FACAEMA (Federação de Capoeira do Estado do Maranhão) 318. GRUPO 5. Na década de 70, quando os capoeiristas do Maranhão começaram a adotar o sistema de graduação da C.B.P. (Confederação Brasileira de Pugilismo), nasce a hierarquia na Capoeira319. GRUPO 2. Reconhecimento popular, e também reconhecimento pelo segmento; usava-se o sistema da Federação Brasileira de Pugilismo na década de 70320 GRUPO 4. No Maranhão não existia uma unificação no sistema de graduação, cada mestre e graduado por sua instituição que o mesmo faz parte; exemplo: Federações, Associações que têm um sistema próprio321. GRUPO 1. Através da FMC – Federação Maranhense de Capoeira - e a FACAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – 1994 à 2003; as Federações, FMC e FACAEMA322 GRUPO 6. O reconhecimento do Mestre de Capoeira deu-se pela necessidade da formação e da titulação de um profissional mais presente e qualificado por meio de uma graduação e certificado323.

O Contramestre Formiga Atômica relata a trajetória de seu mestre, Madeira, quando da formação deste, e a intensa procura de vários dos capoeiras contemporâneos na busca de melhores conhecimentos: [...] mestre Madeira (...) Seu nome José Raimundo Leles da Silva, filho de Raimundo Ferreira da Silva e Teresinha de Jesus Leles da Silva. O nome da sua academia era ‘Clube Center’ onde ele ensina karatê e Capoeira; sem demora ele viaja para São Paulo se forma professor e recebe uma autorização para dar aula pela ‘Cordão de Ouro’ do mestre Suassuna; vindo de São Paulo, ele viaja para Bahia e conhece o mestre Canjiquinha, formado a mestre por esses dois mestres, conhece também o mestre Waldemar Rodrigues da Paixão, quem lhe ensinou muita coisas; segundo ele o mestre Waldemar teve quatro mestres que foram: Calabi, Piri Piri, Canário Pardo e Siri de Mangue e dos mestres que ele teve o que ele mais gostou foi Siri de Mangue e por isso em homenagem ao mestre Waldemar o mestre Madeira mudou o nome do seu grupo para (Siri de Mangue Capoeira).

Formiga Atômica, em 2011, se afasta do “Siri de Mangue” e fundei o “Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira” , grupo do qual é presidente-fundador, porém continua ligado ao “Siri de Mangue”, e também junto com o seu Mestre, Madeira. 318

MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO. JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 320 MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 321 PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 322 PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 323 MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 319


É Mestre Mizinho quem nos dá uma idéia da trajetória dos capoeiras ‘da nova geração’, aquela que se insere no mundo da capoeira após a morte de Sapo – a maioria nem havia nascido ainda – e começam a se destacar a partir do inicio do século XXI: No ano de 1999 fui graduado a Mestrando pelo Mestre Evandro. No entanto, no começo do ano 2000 saí do Grupo do Mestre Evandro, o ‘Mára-Brasil’, e decididamente com o Contramestre Jota-Jota e Contramestre Manoel, fundamos a ‘Associação Nação Palmares Capoeira’ [...] Neste período obtive minha primeira viagem internacional, com destino a duas cidades: Bordeaux e Lille, na França, na Europa. Nesta viagem foi uma equipe de quatro capoeiristas: Contramestre Mizinho, Contramestre Tutuca, Contramestre Manoel e o Monitor Betinho; através da ajuda do Contramestre Jota-Jota que já se encontrava na França, ficamos na cidade de Bordeaux por um mês, e depois CM Tutuca, CM Manoel e o Monitor Betinho voltaram para o Brasil enquanto continuei na cidade de Lille, com o CM Jota-Jota para realizar outro trabalho, onde me mantive por mais um mês. Em 11 de outubro de 2003, fui formado a Mestre pela “FECAEMA” (Federação de Capoeira do Estado do Maranhão) numa solenidade no “Convento das Mercês”.

Mizinho, ao sentir a necessidade de pôr em prática meus conhecimentos através de todo o aprendizado que adquiriu da Capoeira, e sentindo-se capaz de oferecer grande contribuição na arte, na cultura, no esporte, e até mesmo no meio educacional, para a formação do caráter de crianças, adolescentes e na profissionalização de adultos, decidiu fundar - em 15 de março de 2006 - o “Centro Cultural Educacional Maranhão Arte de Capoeira”. Hoje o “Maranhão Arte Capoeira” desenvolve um trabalho com uma equipe de 17 (dezessete) professores, 01 (um) Monitor, 06 (seis) alunos formados e 10 (dez) estagiários. De todos, 11 (onze) são da cidade de São Luís e 08 (oito) do município de Icatu - MA. Através da qualificação de Mestre desses profissionais, promove aulas 02 (duas) vezes na semana e capacitações práticas e teóricas uma vez ao ano: Atualmente nosso trabalho abrange 15 (quinze) bairros em São Luís: Maracanã, Nova República, Vila 2000, Quebra-Pote, Fé em Deus, Coroadinho, Alemanha, Cidade Operária, Santa Efigênia, Vila Operária, Vila Luizão, Matinha, Vila Flamengo, Vila Cafeteira e Filipinho; e em 03 (três) municípios maranhenses: Icatu, Santa Quitéria e Cururupu. Fora do Brasil, tenho trabalho com dois alunos na Europa, na cidade de Bordeaux com o Mestre Betinho do Grupo “ATUAL – Capoeira” (Aliança de Treinamento Unificado da Arte Luta Capoeira) e na cidade de Torcoing com o Mestre Mão de Onça do Grupo Nação Palmares de Capoeira, ambos na França.

No ano de 2005 recebeu da Câmara de Vereadores de São Luís uma comenda pelos bons serviços prestados pela valorização da Capoeira numa cerimônia no interior da Plenária da Câmara de Vereadores juntamente com outros Mestres de Capoeira. Outro que já tem carreira internacional consolidada é Luis Senzala: Atualmente, sou Mestre da ‘Escola de Capoeira Angola Acapus’ fundada em 1998, com sede própria na Travessa Marcelino Almeida 173 A. Centro Histórico – Praia Grande. Ministro aulas que abordam musicalidade, fabricação de instrumentos, história da Capoeira, aulas práticas (com a preocupação de preservar e difundir os rituais e fundamentos da Capoeira/ Tradição); Realiza atividades na Sede da Escola de Capoeira Angola ACAPUS: Palestras com Mestres convidados; rodas e aulas práticas abertas à comunidade. Realização de vivencias em bairros de São Luis e intercambio com praticantes de outras nacionalidades. Ministro oficinas de fabricação de berimbau, pandeiro, reco-reco, atabaque, agogô, caxixi, e repassamos como a matéria prima é adquirida e como preservá-la;


Realizamos palestras com mestres e pesquisadores convidados e aulas teóricas sobre a história da Capoeira, com temas diversificados, principalmente sobre os personagens que fizeram parte dos primeiros registros da Capoeira em São Luis e no Maranhão. Ministrei aulas em Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Trabalhos sociais no Movimento de Menino e Menina de Rua, Casa João e Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. Diploma de honra ao mérito recebido pela Câmara Municipal de São Luis, pelos trabalhos sócioeducativos desenvolvidos em prol da comunidade Ludovicense através da Capoeira.

Mestre Abelha, a partir de 2001, começa a viajar pelo mundo ministrando oficinas e dando palestras sobre a Capoeira Angola, incluindo Brasil, Itália, França, Bélgica, Suíça, Holanda, Áustria, Alemanha e Grécia. Em 2013, fixa moradia definitiva em Atenas-Grécia, onde organizou a “Escola de Capoeira Angola Cortiço do Abelha”, com suas sedes na Grécia, Itália, Austrália e França. Mantém a sede em São Luis, e em outros estados brasileiros... É ainda em 2001 que se dá a realização do 1º CONGRESSO TÉCNICO DA FACAEMA, na Academia de Mestre Edmundo. Neste congresso que se tomou a decisão de caracterizar, através da formação da orquestra, a Capoeira do Maranhão/Ludovicense: GRUPO 3. No ano de 2001, reuniu-se na Academia de Mestre Edmundo representantes da Capoeira de vários segmentos, para a padronização de uma bateria, que seria única, nos grupos filiados à FECAEMA. Estavam presentes, da Capoeira Angola: Marco Aurélio, Abelha, Piauí; de outros segmentos: Índio, Baé, Mizinho, Paturi, Ciba, Edmundo. Decidimos cantar no Gunga e no Médio324..

Fonte: Greciano Merino, 2015 324

MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO.


Ainda temos a registrar a atuação do “Forum Permanente da Capoeira do Maranhão”: GRUPO 1325. Um forma democrática de discussão para a organização, valorização, divulgação e políticas públicas para a Capoeira. GRUPO 2326. Vemos como um grande avanço da Capoeira do Maranhão onde as idéias podem ser debatidas por todos livremente. GRUPO 3327. Vemos como uma complementação dos grupos existentes em conjunto buscando políticas públicas e a afirmação da própria capoeira como segmento social. GRUPO 4328. Com a criação do Fórum Permanente, a capoeira ganha um grande aliado, conseguindo junto ao IPHAN a salvagem quando da Capoeira me junto à UFMA o Curso de Capacitação dos Mestres do Maranhão. GRUPO 5329. A atuação do Fórum ainda é muito tímida para as pretensões da Capoeira do Maranhão. GRUPO 6330. O grupo vê o Fórum como um grande aliado no desenvolvimento de políticas publicas para o movimento voltado a capoeira. Marco Aurélio Haikel, em postagem no facebook do dia 20 de agosto de 2017, fala sobre o Fórum de Salvaguarda da Capoeira do Maranhão: NESTE FINAL DE SEMANA OCORREU O FÓRUM QUE ESTABELECEU O PLANO DE SALVAGUARDA DA CAPOEIRA NO MARANHÃO. Há mais de dez anos capoeiras veem se reunindo para refletirem e debaterem questões ligadas à Capoeira. Mais tarde com a amplitude que foram tomando tais reuniões deram ensejo à criação do Fórum Permanente da Capoeira no Maranhão, um espaço político capaz de manter o foco nos debates sobre os rumos da Capoeira, com vistas a estreitar relacionamentos institucionais, ato contínuo acompanhar execução de políticas públicas de interesse da Capoeira, tendo por base seu viés pedagógico e sua natureza transversal. Muitas foram as experiências vividas, nem todas agradáveis é verdade, mas longe de se tornarem obstáculos à dinâmica dos encontros, primeiro, entre lideranças, depois, a partir de um natural amadurecimento foi tomando corpo e encampando capoeiras, de mestres/as a alunos/as, independente de estilos, todos/as irmanadas/os na construção de um espaço não formal, mas agregador das mais diversas entidades de Capoeira, inclusive, capoeiras enquanto indivíduos e não assiciados a qualquer grupo. Entre as diversas ações realizadas, destaque para essa que teve início há três anos, quando ocorreu o primeiro contato com a equipe da Superintendência do IPHAN, no Maranhão. A partir daí ocorreram uma série de ações e reuniões institucionais que culminou na formação de uma comissão mista, a qual, com base no que se discutiu, refletiu e decidiu ao longo de anos e experiências elaborou uma Minuta do Plano de Salvaguarda da Capoeira no Maranhão que, submetida ao crivo da 325

PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 327 MIZINHO; SOCÓ; CM DIACO; CM BUCUDA; NILTINHO. 328 PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 329 JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 330 MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 326


Plenária do Fórum - diga-se, não o que precedeu e deu origem a esse momento histórico - mas, do Fórum da Salvaguarda da Capoeira no Maranhão, que reunido durante dois dias, 27 e 28, deu origem ao documento que formalizará o Plano de Salvaguarda da Capoeira no Maranhão. Há que se ressaltar que no referido encontro as lideranças e demais capoeiras presentes primaram pelo diálogo e participação política de mais alto nível. Um verdadeiro exercício de cidadania, respeito, desejo e consciência de se está realizando um marco histórico e significativo para esta e futuras gerações de capoeiras, sob o prisma institucional e de reconhecimento enquanto bem patrimonial. Novas perspectivas se abrem, sobretudo, no desenvolvimento e execução de políticas públicas sob uma ótica transversal em que a Capoeira, na condição de patrimonio cultural imaterial brasileiro, juntamente com o potencial pedagógico que possui pode ser um instrumento a ser utilizado nas mais diversas áreas saúde, educação, cultura, segurança, ambiental... - a fim de atuar junto a um público diverso, como crianças, jovens, adultos e idosos. Parabéns à Capoeira, e, em particular, à Capoeira no Maranhão.

Concordamos com Almeida e Silva (2012) 331, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998) 332. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas333. Mestre Gavião já viajou por muitos estados brasileiros a procura de capoeira, e sempre buscou manter suas raízes, só absorvendo o que achava interessante para enriquecer sua capoeira. Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, o viu jogando e perguntou: “Oh Mestre, essa sua capoeira é africana?” Poderia – ou deveria! – ter respondido: “Não, é Capoeira do Maranhão, de São Luis, ludovicense!!!” É a “Capoeiragem Tradicional Maranhense”334

331

ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br 332 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 333 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 334 Assim a denominaram os Mestres Capoeiras partícipes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeiuras mdo Maranhão, adeptos da denominada ‘capoeira mista’, após os estudos realizados, passando de ora em diante a assim denominar seu estilo de luta, conforme correspondência pessoal, via Facebook, de Mestre Baé, em 28 de setembro de 2017.


LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS A ideia de se construir um Livro-Álbum dos Mestres Capoeiras é do Mestre Lacé – André Luiz Lacé Lopes – do Quilombo do Leblon – RJ. Em correspondência pessoal, via correio eletrônico, apresentou-me seu projeto, em dez tópicos, a ser desenvolvido naquele Estado: Rio de Janeiro. Por que não no Maranhão, também? Desafiou-me... No inicio dos anos 1980 – século passado! – a Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – mantinha um curso de formação de Técnico em Educação Física; e a disciplina História da Educação Física e dos Esportes. Em uma das turmas, fui responsável pela mesma. O ensino era aquele programa clássico: Antiguidade, Grécia, Roma, Idade Média, Renascimento, Idade Moderna, Idade Contemporânea; uma unidade sobre o Brasil; e só... E no Maranhão? Nada... Foi assim que comecei meus estudos sobre a História da Educação Física, dos Esportes, e do Lazer no Maranhão335. Em 1995, junto com a Profa. Delzuite Dantas Brito Vaz conseguimos um 2º lugar no Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís” - Prêmio “Antônio Lopes” de Pesquisa Histórica, com “PERNAS PARA O AR QUE NINGUÉM É DE FERRO”: AS RECREAÇÕES NA SÃO LUÍS DO SÉCULO XIX 336. Alguma referencia às atividades lúdicas e do movimento dos negros...; apareceu a Capoeira... Em 2004, encontrei o Prof. Dr. Lamartine Pereira da Costa em um dos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança337; tomei conhecimento do “Atlas do Esporte no Brasil” 338, que ele estava a organizar; comprometi-me a escrever um capítulo sobre o Maranhão – Cluster Esportivo de São Luis339... Foi assim que entrei em contato com o Prof. André Luiz Lacé Lopes, autor de capitulo sobre a Capoeiragem340. Desde então trocamos correspondência, e passei a colaborar, por insistência dele, com o “Jornal do Capoeira”341, editado pelo Miltinho Astronauta; passei a escrever sobre a Capoeira no/do Maranhão... 335

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O ESPORTE, O LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO OBJETO DE ESTUDO DA HISTÓRIA. In LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, Revista Digital, Año 4. Nº 14. Buenos Aires, Junio 1999, disponível em http://www.efdeportes.com/ 336 Artigo publicado nos Coletâneas do III Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e Educação Física, DEF/UFPR; DEF/UEPG; FEF/UNICAMP, Curitiba, 10 a 17 de novembro de 1995, p. 458; Publicado nos Anais da III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, São Luís, 05 a 08 de dezembro de 1995, p. 58; Publicado nos Anais do X Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Goiânia, 20 a 25 de outubro de 1997, p. 1005. 337 O 8º Congresso, realizado em Ponta Grossa, no Paraná. Ver mais em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Capoeira nos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança. JORNAL DO CAPOEIRA, Edição 73 - de 14 a 20 de Maio de 2006, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 338 DaCOSTA, Lamartine Pereira. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/capoeira O "Atlas do Esporte no Brasil" é uma publicação inicial do Sistema de Informações sobre Esporte e Atividade Física [...] com a finalidade de promover ou criar vias de promoção de levantamentos sobre atividades físicas em geral em perspectiva nacionais e visando à utilidade pública. Os dados desta publicação são referidos até ao final do ano de 2004. Trata-se de um livro que apresenta os resultados de uma das maiores pesquisas sobre esporte até hoje feitas no mundo: cerca de 410 colaboradores qualificados e 17 editores, trabalharam voluntariamente durante dois anos, levantando memória (passado) e inventário (presente) de diferentes facetas do esporte e de atividades físicas congêneres, cobrindo todo o Brasil. São 924 páginas tamanho duplo, com centenas de mapas, quadros e tabelas, completadas por uma seção especial com cerca 200 fotos e figuras que sintetizam a história do esporte brasileiro, do Descobrimento do Brasil em 1500 aos Jogos Olímpicos de Atenas-2004. O obra é multidisciplinar, com seus capítulos apresentados em língua portuguesa (textos completos) e inglesa (resumos e textos complementares) [...]. O formato livro foi adotado inicialmente mas outros suportes estão previstos para o desdobramento futuro da obra. http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf 339 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Cluster Esportivo de São Luis do Maranhão, 1860 – 1910. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, 2.7. http://cev.org.br/biblioteca/cluster-esportivo-sao-luis-maranhao-1860-1910/ 340 LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/capoeiragem/ 341 MILTINHO ASTRONAUTA (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA. Disponível em http://www.capoeira.jex.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Alunos do Curso Sequencial de Educação Física turma C, da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Capoeiragem No Maranhão. Parte I. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão - Parte II - Afinal, O Que É Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Maranhão - Parte IV - Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte V - Capoeira regional". IN In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte VI - A Capoeira "CARIOCA". In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br


Dessas trocas, Mestre André Luiz Lacé Lopes enviou-me documento em que propunha "Dez Projetos para o Rio de Janeiro" chamando-me atenção para o "Projeto Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira no Rio de Janeiro", em que propunha o cadastramento dos aproximadamente 150 mestres capoeiras do Rio de Janeiro; uma página para cada mestre, com foto. Haveria uma parte Introdutória com resumo da História da Capoeira no Rio de Janeiro e, também, resumo crítico dos principais livros sobre o assunto. Este projeto estava, na ocasião, com 12 biografias342. Em outra correspondência, ao indagar sobre um aspecto da Capoeira no Maranhão, sugeriu-me a elaboração do "LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO", assim como anteriormente já havia sugerido a criação de um "Centro de Capoeiragem do Maranhão". Os demais projetos eram: 1. Projeto SEIS RODAS ESPECIAIS de CAPOEIRA - Idealização (através de concurso para arquitetos urbanistas), construção e implantação de uma Programação Anual. Rodas especiais, concha acústica de cimento para a "orquestra", roda acimentada de apresentação e arquibancada tipo anfiteatro. 2. Projeto "CENTRO DE MEMÓRIA DA ARTE-AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO" - um espaço que poderá abrigar o "Centro de Memórias da Arte Afro-Brasileira da Capoeiragem". 3. Projeto CONCURSO LITERÁRIO ANUAL - Redação, para o Ensino Médio; Monografia, para o Ensino Superior - Tema Básico: Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo. 4. Projeto FUNDAÇÃO RIO CAPOEIRA - Criação de um Organismo que realmente contemple todos os múltiplos aspectos da Arte Afro-Brasileira da Capoeiragem. O Projeto incluirá a criação de um PONTO DE ENCONTRO DOS CAPOEIRAS que, em princípio, será calcado na experiência vitoriosa do Espaço nos Capoeiras, no Mercado Popular da Uruguaiana. 5. Projeto LABORATÓRIOS DE CAPOEIRA - Série de experiências práticas testando a real eficácia da Capoeira enquanto Luta Marcial. 6. Projeto FUNDAMENTOS DA CAPOEIRA - Criação de um grupo multidisciplinar para estudar, sem fantasias, os fundamentos da Capoeiragem em todos seus múltiplos aspectos: religioso, filosófico, ritmo e cantado, histórico, sociológico etc. 7. Projeto UNIVERSIDADE DA CAPOEIRA - Projeto, inicialmente, apresentado do Governo Federal e, depois, à Universidade Estácio de Sá. 8. Projeto HOMENAGENS ESPECIAIS - Exemplo: reforma completa do túmulo do Sr. Agenor Sampaio, Sinhozinho, com colocação solene de uma Placa de Agradecimento. 9. CAPOEIRA EDITORIAL - Republicação enriquecida por uma avaliação crítica dos principais livros escritos Capoeiragem - ODC, Plácido de Abreu, ZUMA, Inezil Penna Marinho etc.

Em 2006, já iniciada a elaboração do Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão), propus a André Lacé, ao Miltinho Astronauta, e ao Carlos Cavalheiro a elaboração do Atlas da Capoeira (gem) no Brasil (e no Mundo): A TÍTULO DE JUSTIFICATIVA Miltinho, At. de André, Lamartine, Laércio: Sinto-me provocado! Você tem colocado no nosso “Jornal do Capoeira” o pioneirismo do Maranhão na construção do Atlas da Capoeira e do Livro-Álbum dos Mestres (e Contramestres) Capoeira; eu, a frente desse projeto... O que, sabemos, não é verdade!

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Qual Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br 342 LOPES, André Luiz Lacé. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão).


A idéia de construção de um Atlas deve-se ao Professor-Doutor Lamartine Pereira da Costa (Mestre Capoeira) e ao Mestre André Luis Lacé Lopes (Mestre em Administração), a do LivroÁlbum. Como você disse, em correspondência pessoal, citando Mestre Caiçara, "Cada quá no seu cada quá"... Em “CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO” 343, publicado ano passado no Jornal, proponho-me a “resgatar os primórdios da capoeira praticada em São Luís do Maranhão (Brasil), assim como seu estágio atual, através do resgate da história de vida de seus principais atores – os Mestres de Capoeira... Ainda, procura-se cadastrar os Mestres atuantes em São Luís, através de projeto apresentado por Mestre André Lacé, do Rio de Janeiro (Brasil)...”. PROPOSTAS - "CADA QUÁ NO SEU CADA QUÁ"... ATLAS DA CAPOEIRA (GEM) no BRASIL (e no MUNDO...). Não devemos nos afastar do “ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL”; a construção – coletiva, como se propõem no Atlas – será parte integrante do mesmo, inserido no capítulo das “Tradições”. Assim, dentro da estrutura proposta por DaCosta (org.) (2005; Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro : Shape), devemos estabelecer as origens e a definição da Capoeira, para em seguida, traçar a sua memória (fatos e acontecimentos, quando, quem, onde, como, porque) em ordem cronológica... O objetivo, explicitado, é o de “elaborar mapeamento por meio de levantamento de fatos de memória e de inventário das condições presentes de ocorrências” - dessas atividades, no caso, da Capoeira (gem) -, “constituindo um conjunto de dados espaciais (mapas) e/ou dados quantitativos (tabelas e quadros) e qualitativos (textos descritivos e analíticos resumidos), com as respectivas interpretações que possam render significados setoriais, regionais e nacionais” - (agora, internacionais, também). No Atlas, fez-se a opção pela cronologia dos fatos de memória como sustentação de cada capítulo. O “Atlas da Capoeira” seguirá essa mesma construção; assim sendo, é um documento de memória e não de história, a qual poderá ser mobilizada para as devidas interpretações , se julgadas convenientes por outros estudos. LIVRO-ALBUM DOS MESTRES CAPOEIRA Naturalmente, seguirá a proposta de André Lace... E será parte integrante do Atlas da Capoeira (gem). Cada Estado – e País – elaborará o seu. Mas, quem é o Mestre Capoeira (e o Contramestre...); na falta de uma regulamentação – desculpe Mestre André – comum a todas as capoeiras, se ficará com a tradição: o reconhecimento, como Mestre, pelos seus pares; junto com o nome pelo qual é conhecido dentro da capoeira (batismo), o nome “civil”, e principalmente, quem o iniciou, quem o preparou, quem lhe outorgou o título. Como se observa esse(s) nome(s) não é necessariamente o mesmo, muito embora se encontrem mestres que tem toda a sua trajetória ligada a um mesmo Mestre...; quando se deu o reconhecimento pela Mestria; a qual capoeira pertence (estilo); e uma breve história de vida. OPERACIONALIZAÇÃO Além dos dados já constantes no Atlas do Esporte no Brasil – Capoeira, por Sérgio Luiz de Sousa Vieira (p. 116-117); e Capoeiragem, por André Lace Lopes (p. 386-387), devemos proceder à busca da memória da Capoeira – Brasil, Estados, Outros Países -; o que for comum, no capítulo geral – Brasil -; cada estado da Federação, com suas especificidades; e cada país onde hoje se pratica a Capoeira – fora o Brasil – o resgate de sua memória...

343

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Capoeira em São Luis do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005. http://www.jornalexpress.com.br


MESTRE SAPO

ANSELMO BARNABÉ RODRIGUES 1948-1982 MESTRE Estilo

SAPO Angola/Regional ANSELMO BARNABÉ RODRIGUES DADOS (Salvador?) 21 de Abril de 1948 PESSOAIS morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis Pelé, de Salvador (Natalício Neves da Silva, nascido em 1934) Canjiquinha (Washington Bruno da Silva) Zulú, de Brasília (Antonio Batista Pinto Zulu) Mestre

HISTÓRIA DE VIDA

No dia 21 de Abril de 1948, nasceu Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, que em 1966 passou por São Luis, junto ao quarteto Aberrê (M.Canjiquinha, Vitor Careca, Brasília, Sapo), em uma viagem que mudou a história da capoeira do Maranhão. Em 1967 mestre Sapo retorna a São Luis para trabalhar na construção civil, e posteriormente na secretaria de agricultura. Em 1972, começou a dar aulas de capoeira, no ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Sapo morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis, vítima de atropelamento. http://nzambiangola.blogspot.com.br/p/nossos-mestres.html

Em 1965, um quarteto baiano denominado Aberrê fez uma demonstração de Capoeira no Palácio dos Leões – sede do governo estadual. Desse grupo participavam Anselmo Barnabé Rodrigues – Mestre Sapo -, o lendário Mestre Canjiquinha, Vítor Careca, e Brasília. Após essa apresentação, receberam convite para permanecer no Estado, para ensinar essa arte marcial brasileira.


Em 1966, Mestre Sapo – incentivado por Alberto Tavares, aceita o convite e passa a fazer parte do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER -, onde trabalha até sua morte, em 1982. In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes

“Era um dos ‘capitães da areia’ das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali. Vicem é muito otimismo; sobrevivem à margem da sociedade dando e pedindo esmola, como cantou outro baiano, Moraes Moreira. “Daí até chegar à capoeira pra turista foi fácil, que a Capoeira era parte de seu dia-a-dia. Já tinha até arranjado um lugar de destaque junto a Mestre Canjiquinha, que fazia apresentações em bares e boates da Bahia de Todos os Santos. Com Canjiquinha apareceu na maioria dos filmes feitos sobre a Bahia pela Atlântica e se orgulhava de ter filmado com Anselmo Duarte. “Convidado, Canjiquinha fez uma excursão pelo Nordeste, e, no Maranhão, o garoto Sapo foi convidado para ficar. Era bom de luta e a política local precisava de guarda-costas. Foi a primeira investida da máquina, desta vez a política. Com a facilidade de manejar armas pela nova profissão Mestre Sapo teria aí uma de suas paixões: sempre tinha um trintaeoito ou uma bereta pra ‘botar no prego’ e recuperar quando aparecesse algum, pois a convivência com políticos não tinha deixado nada que o ajudasse no leite das crianças, a não ser o estudo, com que ele deu um rabo-de-arraias nas poucas letras trazidas de Salvador. Estudou muito. Até o cursinho, e se foi sem ter conseguido superar o vestibular que a Universidade teima em manter na área médica, pra Educação Física. Mas era professor de Educação Física: Professor Anselmo. Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo. Era a segunda investida da máquina: a administrativa. A modernização da pobreza também tenta tirar a originalidade das pessoas. Como Sapo não seria aceito; só como Anselmo. Essa parada contra a máquina ele ganhou: nunca deixou de ser Mestre Sapo. “Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em ‘Capoeira Angola’ é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova ‘Ginástica Brasileira’ a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica. “Ia se aperfeiçoar e o sonho de fazer Educação Física ia ficando cada vez mais sonho. Mas tinha orgulho de sua forma física: ‘Fique calmo!’, ‘Olha o bíceps!’. “Ele gostava de domingo. Um dia malemolente pra se tomar cana e brigar. Brigar com os companheiros de briga. E foi num domingo, domingo de cachaça e briga, que ele recebeu a terceira e definitiva investida da máquina: o automóvel, que mostrava a ‘mais vaia’ de sua capacidade de competição contra os músculos do Homem. Os músculos bem treinados de Mestre Sapo nada puderam contra a máquina forte e estúpida, medida em cavalos. Mais de cincoenta. Uma máquina movida por um companheiro de profissão, um amigo, pra combinar com o domingo, com a briga e a cachaça. Jamais seria um desconhecido dirigindo a máquina da norte. Sapo era amigo de todo mundo”. in PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17


SAPO x ZULU. DEU ZULU... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Tenho em mãos livro – inédito – do Bruno Tomé Fonseca. Um contador de histórias fantástico!!! Procuroume para saber sobre o tarracá e o Rei Zulu, pois pretendia escrever uma biografia desse fantástico lutador de vale tudo (luta livre)... Pois bem, passei-lhe as metodologias e as técnicas da ‘história oral’ e da ‘história de vida’... surpreendeu-me com uma história sobre a vida de Zulu... Ah, se eu conseguisse escrever dessa maneira... Mas vamos ao que interessa: vou transcrever o que consta de seu livro, breve nas livrarias... Comecemos pelo título: “A majestade bárbara do Rei Zulu”, o capítulo ‘Caserna’: começa com as lembranças de Zulu dos tempos de guarda-vidas na Praia do Olho D´água, também freqüentada por Sapo – Mestre Sapo – um dos pioneiros da capoeira em São Luis: Por ali, rodas de capoeira comandadas por ele levantavam a areia fina da praia. Sob o olhar pasmo de Zulu, Mestre Sapo fazia apresentações antológicas, efetuando golpes complexos, como o chamado de ‘boca de siri’, em pleno por do sol. É por essa época que Casimiro de Nascimento Martins ingressa no Exército – 24 BC, hoje BIL -; trabalhava, também, como segurança nos fins de semana em que não estava de serviço. Zulu já tinha certo nome nas pugnas de luta livre, forjados no vale-tudo. Certo oficial, acompanhado de um amigo, que se dizia dono de uma emissora, e amigo do Mestre Sapo, da capoeira, comentam sobre quem venceria uma luta entre ambos; o Oficial exaltava Zulu, o amigo, Sapo; começou uma discussão acalorada se capoeira era páreo para valetudo, e vice-versa. Lançada a semente de um desafio! Próximo da Semana da Pátria, precisava-se de um evento para animar a tropa e a comunidade. Algo além do tradicional desfile de 7 de setembro... Sem que Zulu soubesse, os comandantes articularem uma luta de portão aberto no quartel: - Zulu está servindo a Pátria, não pode cobrar ingresso – dizia o comandante. Já tinham até providenciado um ringue para sustentar a peleja. Zulu é chamado pelo Comandante, recebendo ordens expressas que não podia sair do quartel. Tinha que ficar arranchado: - Dorme no quartel. De manhã está liberado do serviço. Veste o uniforme de educação física e corre em volta para te preparares. Nada de farra e de bagunça. Tu vais lutar e quebrar um cara pra mim. Ao recruta só restava cumprir a ordem... Só mais tarde soube ser o adversário Mestre Sapo, lamentando a oportunidade de ganhar algum dinheiro escapando pelo ralo: se essa luta fosse fora do quartel, sabia que muita gente iria pagar para assistir. A fama de Zulu e Sapo corria pela cidade, era público garantido! Zulu fica matutando como ganhar algum. Faltando dois dias para a pendenga, ligou para seu irmão Jeco, para que fosse até a casa de Sapo para convencê-lo a não participar da quizila que se estava armando: seria fácil arrumar uma desculpa. Que esperasse Zulu dar baixa do Exército para os dois faturarem bem numa luta fora dos muros do 24 BC: Sapo não quis saber de acordo. Ainda mandou um recado: Zulu que esperasse que iria apanhar no quartel diante de todo o Batalhão. Zulu ficou furioso com a oportunidade perdida de faturar um bom capital. O apetite para a luta fermentou, quando foi chamado para ‘um particular’ por um dos comandantes: - quem está lutando aqui não é o Rei Zulu e nem o soldado Zulu. É o batalhão. Se tu perderes, quem perde é o batalhão inteiro. Pensou o soldado Zulu em voz alta: “eu vou matar esse Sapo’. Chegada a hora, ringue armado. Bufando, Zulu deu um ultimato ao adversário estipulando contagem regressiva: - Sapo, tu tens cinco minutos pra fazer alguma coisa comigo e tem dois minutos pra sair daqui pro hospital.


O capoeirista ignorou o disparar do cronometro fictício dado por Zulu. Apresentou como cartão de visitas uma meia lua espetacular em direção ao soldado. Zulu conseguiu pegar o contendedor no ar. Ao proteger o corpo da queda com o braço, Sapo acabou por deslocá-lo. Sucumbiu. Fim da luta...


Mestre ROBERVAL SEREJO

Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro – quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: “Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi”. (MARTINS, 2005, p. 31)344.

DJALMA BANDEIRA

Em São Luís, a capoeira começou realmente a dar as caras na década de 1960, aparecendo vários praticantes que ficaram conhecidos. Nessa época começou a circular pela cidade o nome de Roberval Serejo, que estava de volta a São Luís, pois estava servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e lá aprendeu capoeira com o mestre baiano Arthur Emídio. Com o tempo, Serejo foi reunindo amigos e admiradores e formou um pequeno grupo de capoeira, que fazia seus treinamentos nos quintais de suas casas e na rua mesmo. O grupo foi crescendo e, em 1968, criou-se a primeira academia de capoeira de São Luís, chamada Bantu. Esse grupo contava com Roberval Serejo, o Capitão Gouveia (sargento da polícia militar), Babalu, Bezerra, Ubirajara, Jessé Lobão, Patinho, dentre outros. A primeira sede do grupo foi o Sítio Veneza, onde hoje funciona a Guarda Municipal, no bairro da Alemanha. Depois se mudou para a casa de Babalu, na Rua da Cotovia, próximo a Igreja de São Pantaleão. Roberval Serejo era escafandrista e morreu em 1971, quando trabalhava mergulhando, durante as obras do Porto do Itaqui. Com a sua morte, muitos de seus alunos deixaram de treinar, mas outros continuaram e o que mais se destacou e continuou a dar aulas foi o Sargento Gouveia. BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011

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MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. Monografia apresentada ao Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física. São Luís, UFMA/DEF, 2005. Orientador: Prof. Drdo. Tarcísio José Melo Ferreira.


Mestre DINIZ

FIRMINO DINIZ 1929 – 2014 Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 –, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Mestre Diniz se referia, ainda a outros Capoeiras da época de sua infância, como “Caranguejo”, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 2002345, citado por MARTINS, 2005, p. 30)346. Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO no início dos anos 60 e a criação do Grupo “Bantus“, do qual participavam, além de Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. Uma análise das contribuições de Mestre Sapo para a capoeira em São Luís. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005.

Firmino Diniz, conhecido também como Mestre Diniz ou Velho Diniz. Também serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo e posteriormente com Gouveia passaram a freqüentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas. Sobre isso, Roberto Augusto A. Pereira diz que: No código de Posturas de Turiaçu foi proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio de 1884 – em que constava no artigo 42 a proibição da prática denominada jogo de capoeira ou carioca, com multa aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão. (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para

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SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002 346 BRITO, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS, monografia de graduação em Educação Física orientado pelo Prof° Drdo. Tarciso José Melo Ferreira, 2005


marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009. PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: Recorde: Revista de História do Esporte. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010.


Mestre PATINHO

ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS 1953-2017 Mestre DADOS PESSOAIS

PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS São Luis do Maranhão – 14 de setembro de 1953 FILIAÇÃO: Djalma Estafanio Ramos e Alaíde Mendonça Silva Ramos mestrepato@uol.com.br Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues)

Mestre

GRUPO/NUCLEO Escola Centro Cultural Mestre Patinho Do Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira de São Luís do Maranhão MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS "Antonio, de Santo Antonio, José, de São José, Conceição, de Nossa Senhora da Conceição, Ramos, de Domingo de Ramos..." RESUMO DE VIDA: Foram os movimentos da capoeira, a ginga que o encantou aos nove anos. Vendo como um rapaz jogava, passou a imitá-lo. O Mestre Sapo foi quem o ensinou e o graduou. Observando, que seu conhecimento muito restrito, foi estudar a capoeira na Bahia, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Trabalhou no Ginásio Costa Rodrigues, na Academia Senzala. A capoeira o influenciou a ser um ginasta (olímpica); e um dançarino pelas escolas Pró-dança, Lítero e Gladys Brenha. Hoje divulga capoeira no Laborarte e em sua escola Centro Cultural Mestre Patinho.

Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira Tinha medo dos meus amigos, pois apanhava cascudo, rasteira, todos da mesma idade simplesmente porque tinha o corpo raquítico, tudo isso os nove anos de idade. Por coincidência bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci. Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé,


Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão. Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. O termo capoeira vem do chapéu que os mercadores usavam para vender seus produtos, com abas longas, botavam sues produtos dentro do chapéu, e com berimbau na mão vinham a chamar a atenção. Eu quero deixar uma ressalva na entrevista. A capoeira por ser um jogo de guerra, o golpe estratégico era o disfarce. O Capitão-Do-Mato, quando ia prender o negro que fugia das senzalas, e via o negro "gingar", dizia: "Preto ta disfarçando de angola", quando investia pegava um pontapé ou uma rasteira. O risco que tem pela perca (sic) dos fundamentos pelo grau de dificuldade de execução ou falta de conhecimento. Temos que ter forma de viver e formas e meios de sobreviver. A capoeira saiu dos quilombos e hoje está nos shoppings. Digo, querem transformar a capoeira em jogo de competição que é um risco. A capoeira tem golpes perigosos que pode até matar. A facilidade que você aplica um golpe mortal é muito grande. No século XIX, em Tutóia, Caxias, Pindaré e Codó não se vê a capoeira com influência bahiana, só se vê na forma capoeiragem, no folclore, como o Boi da Ilha, por exemplo. O caboclo de pena, pela sua malicia, seu gingado e vadiagem em estilo defensivo da capoeira. O miolo do boi, que é a pessoa que fica debaixo do boi, pela forma de artimanha utilizando na coreografia de luta. No tambor de crioula, não só pelos componentes, mas pela primeira colocação antropóloga (sic) afinado a fogo, tocado a muque, e dançado a coice, que vem provar a chamada pernada. Casei-me, aumentando o meu ensino voltado para academias, me separei indo ministrar no Bom Menino, voltando para a dança, também para o Lítero e depois para o [Colégio] Gladys Brenha e percebi que não tinha nada a ver com academias e fundei a primeira escola de capoeira do Maranhão, que foi a escola de capoeira do Laborarte. O último trabalho que realizei aberto ao público foi "Quem nunca viu, venha ver" e outros que me deram prêmios, como a gravação de um CD. Hoje tenho minha forma de ensinar, buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumentos participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem


uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento - agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas. Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha com as palmas. Marvana - com três palmas Caudaria - com dois toques e três batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento. Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar. O mestre não participa da roda, ele coordena, ensina, dando ritmo e puxando as músicas. Mestre Pato ou Patinho ANTÔNIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS - MESTRE PATINHO347 Nasceu em 1953, tendo como seu grande Mestre o Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues. Patinho, além da capoeira, praticou ginástica olímpica, sendo aluno de Dimas, e judô. Aos nove anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre - um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões... No ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos... ENTREVISTA COM MESTRE PATINHO. BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf Nome completo: Eu nasci, mestre Patinho nasceu Antonio José da Conceição Ramos Profissão: Eu sou formado em Educação Física licenciatura, tenho especialidade em ginástica olímpica masculina e feminina, né? Exerci minha vida quase inteira como arte-educador na área do corpo, né? E tenho, fiz quinze anos na ginástica olímpica como atleta, depois como técnico da seleção maranhense, fiz dez anos de judô, oito anos de balé clássico, oito anos estudando a educação física mesmo, né? E quatro anos de jiu jitsu, dois anos de boxe, nove anos de caratê, cinqüenta anos de capoeira que eu vou fazer ano que vem, né? Dançarino popular também, danças populares, sonoplasta, sou ator, né? E vim de uma aborrecência muito difícil, então pra ti entender mais essa questão tem que ter o portifólio... Nome da escola de capoeira: 347

In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes.


Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, né? Que a capoeira tava na academia e eu sempre me senti, insaciei com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo, né? então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, né? Que o primeiro é o GECAP, é dirigido pelo mestre Moraes que é da Bahia, mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, aonde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, né? e dos fundamentos da capoeiragem, e a escola de capoeira angola que eu criei no LABORARTE, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque agente não só trabalha a questão do corpo, agente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, né? a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar E a escola funciona aqui? Não a escola funciona no Laborarte, nós temos nove pontos, pra você entender melhor nós temos aqui a nossa árvore genealógica, seria legal que eu te respondas as perguntas mas que você também tirasse fotos, olha aqui está a minha trajetória, a raiz vem ser onde eu comecei, quem foram meus netos e tal... e aqui nos temos aqui a Escola de Capoeira do Laborarte e hoje eu estou aqui no Centro Cultural Mestre Patinho, então quem são as pessoas que estudam no centro cultural, quem está dando aula, quem são os alunos formados, que aqui é sobre a minha trajetória, né? É a árvore genealógica dos nossos trabalhos, hoje aqui nós somos sabe quantas escolas no Maranhão? somos nove escolas no Maranhão regidas pela escola do Laborarte... Aqui é Bamba? Aqui é Bamba, é o Mandingueiros, né? Aí você vai ver aqui Mandingueiros do Amanhã quem é, Escola do Laborarte quem é? Nelsinho, e todos eles vão passando, Escola Criação quem é o cara? Mestre Serginho, né? Aí aqui, Centro Matroá? Marco Aurélio e contra-mestre Júnior, então assim tu vai vendo aonde agente tá aqui no Maranhão, e lá fora uma mestra Elma que trabalha em Brasília, Florianópolis e Rio Grande do Sul, né? e também a galera nossa que está dando aula lá fora como o Bruno Barata que está no Rio de Janeiro, que está trabalhando com a capoeira, aí tem uma galera da gente que tá trabalhando aí, e agente que mora em São Luís, que vai nos Estados Unidos e volta, em Portugal e volta, mas não fazemos questão de estarmos lá, porque o importante é que agente estude a capoeira no Brasil pra entender o que é jogar capoeira, pra depois ir lá fora fazer uma oficina porque vai ser difícil pra ver o que vai ser mal empregado lá fora. Qual é o público atendido? Bem na minha versão, até porque eu tenho uma sacação de que a capoeira é uma arte cultural desportiva hoje que tá no mundo aí, né? então em cento e cinqüenta países, então é muito né? e a capoeira era a única essência de corporal e educacional que a comunidade tinha acesso sem ônus e hoje é muito caro pra se fazer capoeira, e meu trabalho é o trabalho com a questão da educação inclusiva, né? não só como a questão do mongolóide, especial, como nós temos lá o Bamba você vê, tem os meninos, eu aqui infelizmente ainda não tenho condição de atender essa demanda, mas assim há muitos anos que a galera vai pra rua aí fazer besteira, se distanciam da leitura escolar, então eu acho muito importante meu trabalho é muito voltado pra isso, pela questão do social, agora eu tenho que me sustentar, eu tenho alguns padrinhos, esses padrinhos são meus companheiros de estudo, são aquelas pessoas que pagam cinqüenta reais que é barato, né? Meu trabalho é um dos trabalhos mais baratos que existem nesse país porque se você vai no Rio, São Paulo é cento e cinqüenta é duzentos reais uma mensalidade de capoeira, e aqui quem pode pagar paga cinqüenta reais, e quem já passou da aborrecência e não tem condições de pagar, eu faço a permuta, chega mais cedo e dá uma varrida na sala, tem uma hora que eu chamo a atenção dos alunos para afinar os instrumentos, porque as pessoas acham que os instrumentos da capoeira não tem afinação, está entendendo, então essa coisa toda que a gente faz questão de ser diferente mesmo, de respeitar as diferenças, pra poder entender melhor a diversidade. Como é que feita a divisão dos trabalhos no ensino da capoeira? É muito interessante a tua pergunta, até porque eu não vejo essa questão da musicalidade dentro da sala de aula na hora do ensinamento, eu vejo mais as pessoas fazendo seqüência e tal, eu não me importo muito com essa questão de seqüência, apesar de respeitar muito a luta regional baiana que Bimba criou, que não é a capoeira regional, a capoeira que se chama a capoeira regional é a capoeira pós-moderna, então eu respeito muito essa questão, mas aqui eu tenho uma forma metodológica que eu acho que é a única parte que eu tenho a contribuir pra a capoeira, até porque eu nunca ousei criar nenhum fundamento, inventar nada no mundo da capoeira, a não ser o que me da direito de fazer uma construção de uma ladainha que é minha, um corrido meu, uma chula, uma quadra, tá entendendo? minha, que eu faço questão de que as pessoas percebam que agente não tem que ficar no tin tin tin don don don da capoeiragem antiga, a musicalidade da capoeira é muito imensa como o jogar da capoeira é muito imenso, como diversos números, você a formata e consegue registrar infinitas numeralidades, em questão de quantidade, a capoeira através de seus fundamentos ela consegue fazer a leitura de inúmeras necessidades, que cabe entender pra que significa cada um dos fundamentos, a família que cada um tem, a forma como se relaciona, que quando isso bem inserido, que é aquela inteligência sacou, leu, inseriu, aí vira sabedoria, aí fica o jeito e a hora a seu mercê, de


acordo com a necessidade de cada um. Assim eu acho muito legal que agente tenha essa consciência do social com a capoeira que ela é muito importante. Em relação à musica, tens em média o tempo destinado à musicalidade durante a semana? Eu tenho, por exemplo, assim, dentro da minha aula eu tenho um processo, na segunda, terça e quinta que eu costumo dar aula, nos demais horários eu vou no Laborarte, eu vou no Maré de Chão, no Matroá, eu vou no Brinquedo de Angola, entendeu? então eu faço assim, na segunda-feira eu dou um exercício ligado aos fundamentos da capoeira, só fundamentos, até de certa forma vim descartando a educação física corporal, usando o próprio recurso da capoeira, chamado despertar o que tá dormindo, porque tem muita coisa dentro da gente que está adormecido, que agente não sabe que tem, nem sabe da função que precisa pra acordar e ser mais feliz, ser mais saudável, e no segundo dia na terça-feira treinar pra jogar, na quinta-feira jogar pra treinar. Então, sempre que eu estou no treinar pra jogar, sem instrumento nenhum, o corpo como instrumento e o cântico: “oh nêga! que vende aí? que vende aí?”, gingando, jogando de três, no médio plano, no rasteiro plano, no jogo de dentro, no jogo de fora, cantando inclusive pra facilitar o momento que ele for, porque é o seguinte, no meu ritual de jogo, saiu do jogo foi pro instrumento, não tá com o instrumento na orquestração, não tá tocando instrumento, tá ao redor da roda, tá fazendo o coro, porque isso te mantém aquecido, te mantém, facilita quando você for tocar cantando, porque é um terror quando a agente se desgarra, a pessoa que toca muito bem o instrumento, mas já viu aquela pessoa que não sabe tocar o instrumento sem estar com a partitura na frente? né? mas na capoeira não tem partitura, mas tem a simbologia que eu fiz que um tempo eu vou te mostrar como foi que eu fiz, que é pra exatamente contribuir nessa questão, eu posso te mostrar no toque que eu tenho aqui, que é uma coisa que ainda não está registrado mas agente já estuda isso aqui, já pratica isso aqui, né? Dentro do meu grupo, e eu vejo assim muito pouco novos tocadores, tem poucos instrumentos, as pessoas não lida mais com essa questão e o cd e a fita cassete evitou que muita gente desenvolvesse essa questão porque ficou bebendo do cassete e na aula só o instrumental, eu aqui por exemplo não joga ninguém, não joga capoeira aqui se não tiver tocando, se não estiver fazendo o canto, que é pra exatamente manter o equilíbrio do instrumental, o corpo e o canto. Em relação ao auxiliares nos seus trabalhos, você tem? Ah, eu tenho, tenho vários, todos são os auxiliares, só de citar uns auxiliares, porque há um revezamento do instrumental, por exemplo, assim tem alunos meus que estão restritos ao gunga, quando não sou eu é um aluno que tá bem desenvolvido, que está estudando pra se tornar professor, aí ele vem pra cá pra aprender regência, que hoje não é separado do mestre de capoeira, o mestre de capoeira ele também é um mestre de regência, ele tem que saber da musicalidade, ele tem que saber do ritual, ele tem que saber como se formata esse item de suma importância, pra que o jogo continue sendo o jogo. Como é que você vê essa relação entre a energia com a capoeira e com a música? Bem, é peculiar do jogo da capoeira essa unção divina, na verdade isso é uma unção é uma massagem através do solfejo, do seu próprio solfejo, suas nuances, por exemplo, você canta uma ladainha “Riachão tava cantando olha ai meu Deus”, você fala de Riachão você vê ele que é o guerreiro, né? “Riachão tava cantando olha ai meu Deus, na ilha de Upaon Açu, quando apareceu um negro, quando apareceu um negro olha ai meu Deus da espécie de urubu, vestia calça de couro, camisa couro cru, tinha um olho encarnado, ai ai ai outro bastante amarelo, tinha o beço virado, olha ai meu Deus, igual a sola de um chinelo, veio convidar Riachão olha ai meu Deus para vir cantar martelo, para vir cantar martelo com negro desconhecido, ele pode ser escravo olha ai meu Deus e tá por aqui fingido, ê viva meu Deus!”, aí isso é uma louvação, aí isso tem que ter unção, essa unção é uma energia dessa que você tá falando, essa energia ela tem que contagiar o círculo da roda, pra poder enaltecer os jogos e até proteger pra que agente, jogador, os jogadores não se machuquem, né? que tenham o instinto deles consciente, e eu vejo muito o capoeira hoje mais moderno aí, com o espírito incosciente fazendo coisas sem saber, que um calcanhar do malá, é afundamento do malá, uma rasteira sem ser ritmada, vai machucar um, vai bater num, vai fazer um acidente. A forma que você elabora a forma de passar os toques e as diferenças entre eles... Bem, isso é muito na prática, primeiro que eu não comercializo o berimbau, o berimbau é uma pesquisa do aluno, o berimbau pra mim não é um elemento de comercialização, e sim de estudo, então como você tem sue livro de inglês, você tem seu livro de português, seu livro pra ajudar na tua escola, na capoeira você tem que ter seu instrumental, então seu berimbau, eu digo olha o berimbau é feito do arco de biriba e tal, que nos vamos ao mato numa certa data buscar, inclusive fazer o remanejo dessa essência, pra poder agente uma horas dessas se surpreender, já tem um arco de berimbau feito de fibra de vidro e uma cabeça feita de recipiente de manteiga, tu tá entendendo? Então é fazer o próprio aluno fazer o instrumento dele, começa a tocar, e mostrar pra ele como é que corta a caixa acústica do jeito que é, o tamanho da abertura da boca que vai fazer a acústica sonora na barriga, enfim... tocar com a pedra que é uma pedra de seixo, então uma pesquisa pra ele não ter esse instrumento como um acessório de decoração, que eu acho horrível, um acessório de decoração que você coloca ele na parede, deixa cheio de traça, não é tocado, não é prestigiado, então ele fazendo esse instrumento, ele vai ter zelo com ele, ele vai andar com ele, vai tocar com ele, vai aprender com ele, eu tenho instrumento aqui cara que tem trinta anos comigo, que me acompanha, eu to com


cinqüenta anos que estudo capoeira, infelizmente alguns instrumentos eles caem e quebram, eu to com minha viola aqui a trinta anos toda arrebentadinha mas ela vai viajar comigo, sabe ela tem um som especial, eu queria ter assim um tempo contigo pra poder mostrar isso na prática, colocar a galera pra sentar, tocar, cantar, tá entendendo? e no dia da sua apresentação agente combinar, agente pode levar uma bateria só pra fazer o canto, não é pra ter jogo, um painel pra você mostrar a importância de se ter, ceder alguns instrumentos pra você possa expor, tá entendendo, eu acho interessante. Quanto ao aspecto simbólico, o que é ensinado acerca de cada instrumento e de movimentos essências na capoeira? Oh, a simbologia ela não existia, eu fiz a forma de como registrar não só o andamento como também o toque, né? através de símbolos como eu te falei, que é uma coisa inédita que faz parte do meu trabalho, que inclusive ainda não está registrado, que eu só utilizo com meus alunos, ou então quando eu tenho uma pessoa muito interessada em aprender, tá entendendo? pra que ele não esqueça eu ensino a registrar, mas é muito prático, é muito da leitura prática, eu digo assim olha esse instrumento é grave, esse aqui é médio, esse aqui é um agudo, o médio toca assim, o grave toca assim, é uma coisa muito prática, como nós falamos. Quando eu falei relacionado ao aspecto simbólico é assim mais ou menos sobre o significado de cada instrumento, relacionado a tradição, a história... Ah sim, sim... isso aí é o seguinte, primeiro na questão do berimbau eu costumo falar assim, o berimbau é um instrumento que descende dos arcos musicais, onde antigamente a caixa acústica não era uma cabaça, não era uma coitela, coitela que eu falo é uma cuia, que a ressonância de uma cuia não é um berimbau é uma marimba, a marimba aí está a grande diferença, mas todos dois descendem dos arcos musicais, como o violino, a rabeca, a viola, todos nasceram dali, então como era o arco musical primeiro? O arco musical primeiro era um buraco no chão, uma verga de fibras retilíneas de tronco, porque não pode ser de galho,você não pode fazer um arco de um berimbau de galho, porque um galho anelar não dá brando, esse brando é a envergadura que dá, então um arco anelar vai quebrar, então tem que ser com troco, que as linhas são retilíneas que assim ele retoma esse brando, então não tinha na época arame, esse arame que hoje é retirado dos pneus dos carros usados, esse pneu de automóvel, antigamente essa corda era feita da tripa de macaco, ou tripa de porco seca bem trabalhada pra fazer a ressonância... Eu já ouvi falar não sei onde que tem gente que já usa corda de piano... É, mas isso aí não tem sentido, porque a corda de piano ela emite um harmônico que não tem controle (ããããã), fica no harmônico que ninguém sabe porque, agora que ele não vai mais mudar essa corda por resto da vida, isso não vai porque a corda de piano não desgasta, mas no ato você vai ver que ele dá a nota, meus berimbau eles todo tem a afinação e a nota certinha, eu converso com meus instrumentos, né? eu sei onde ele tem um grave, onde ele tem um agudo, isso requer muita comunhão com instrumento, muita prática, muita prática. Agora indo pro canto, como é que é feito o trabalho com canto aqui nas tuas aulas e com as letras das músicas? Geralmente, eu sugiro que cada um faça o seu repertório, e nenhum tem o mesmo repertório, mas eu, por exemplo, eu canto em algumas línguas para despertar, ensinar a liturgia popular, por exemplo , eu vou no dito do Leo Bahia que era o principal musicista do meu tempo, que aborda um tema em ioruba que era cantando pelos escravos que remavam nas embarcações negreiras que é assim... (tema em iorubá) que eu canto isso pra poder ensinar eles a ter memorização, aprenderem nunca, e também você ter um momento de você ter uma atenção de unção divina, ele fala assim os negros que tavam no açoite, por conta do açoite e não tinham força pra remar, quando as embarcações não tinham motor, era à vela, né? e a vela, dava a calmaria, não tinha vento, na calmaria eles baixavam a vela e iam no remo, então eles cantavam assim (canção ioruba), então através do ritmo eles remavam ao mesmo tempo, e diminuíam a força de todos, somavam pra tirar o esforço daqueles que estavam sequelados, e eu botei assim na minha aula um repertório que é pra poder eles se desinibirem, perderem a vergonha de cantar, porque isso tudo acontece na roda, a roda tem esses fundamentos que tem suma importância pra vida, não é só pra jogar capoeira, capoeira não só é essa questão de jogo, os cânticos são também uma denuncia, você pode denunciar cantando na roda de capoeira, pode desafiar, pode falar de uma pessoa, como também pode fazer seu corpo fechar pra não apanhar. Como se dá a relação entre a música e o jogo na roda? Bem o jogador tem que ter seu corpo musical, porque ele tá jogando e tem que está ouvindo e muitas das vezes até respondendo o coro, também pra não perder a cadência do ritmo, e não ser um risco nem pra ele nem pra quem tá jogando com ele. Isso é uma questão do próprio fundamento que exige que o jogador tenha essa interatividade no campo, porque eu posso está no campo e incentivando o outro a fazer o mal pro outro, faz isso com ele, e o cara não estar ouvindo, então ele tem que estar ligado, tem que ter o instinto dele bem trabalhado, na verdade é a proteção bem trabalhada no deredor, entender o círculo da roda tem que está ligado em tudo o que acontece pra não vacilar, como é na vida né?


Pra você qual o significado da roda e qual é o significado das palmas? Bem as palmas ela é uma grande indutora de novos adeptos, não só na resposta do coro como também no ritmo da energia da roda, ela é um instrumento musical, inclusive eu falei antes, ela foi o primeiro depois do corpo na capoeira... Você até falou sobre a utilização de material escrito para aprendizado dos toques... Pois bem, existe vários, agora, eu tenho um dos, a maioria são ligados ao pentagrama, e nem todo mundo se interessa em fazer, então eu busquei uma outra forma que vai de encontro a essa questão do pentagrama, essa questão do academicismo, inclusive eu não uso esses termos acadêmicos dentro da capoeiragem que eu pratico, exatamente para facilitar o que agente acha que é impossível, sem perceber que é impossível porque agente nunca tentou, que é difícil, porque agente confunde com edifício que é bem alto, porque não existe padre nosso sem seu vigário, nem ave maria sem beata, nem capoeira sem mestre patinho Nas suas aulas há algum momento específico destinado ao ensino dos fundamentos da capoeira e como isso é realizado? Bem isso é através da prática dentro da sala de aula, o nome desse dia é jogar pra treinar, é o tempo, não é uma roda aberta, eu paro a roda, eu induzo as pessoas a revezarem o canto, o instrumental, o jogo, não é um ensaio, é uma vivência, que é uma aula. Você faz alguma divisão por faixa etária? Não, nem por nível. Você observa o comportamento dos alunos perante a música. Como é que eles se comportam perante a música? Alguns ficam dispersos, intimidados com o coro, né? aí eu vou e dou um incentivo, pra que ele cante e explico porque ele tem que tá interagindo no coro, eu digo: ó você vai jogar as pessoas cantaram e responderam o coro pra você, agora os outros vão jogar e você não vai tocar, cantar e responder o coro pros seus colegas? Eles cantaram pra você, então é uma recíproca, é uma permuta... então, incentivando e dando a importância, até porque o cara que não canta, ele vai entrar sem ritmo, ele vai ficar com dificuldade ele vai levar rasteira, que a tomada de centro é um dos principais objetivos do jogo. Quais os reais motivos que as pessoas procuram a capoeira? A maioria vem porque levou uma surra na rua, “eu quero dar porrada no sacana que me bateu”, aí eu mudo essa história né? porque eu não ensino ninguém a brigar, a capoeira no seu próprio fundamento faz com que você não apanhe mais, eu mesmo levei muita porrada sabe? mas com um detalhe eu nunca apanhei, levei porrada, mas não apanhei, apesar de ter o corpo franzino mas você com os fundamentos bem formatados você não apanha, mas também não bate, mas também não apanha. A última é uma coisa bem subjetiva assim... Pra você o que significa a figura do mestre na capoeira? O mestre é uma figura que tem que ter na sua consciência com a lida, com a arte que ele pratica no caso a capoeira, a capoeiragem, é estar pronto a aprender, aprender sempre, nada mais, porque não se sabe, né? então continuar a aprender é um dos principais objetivos do mestre de consciência. Conversando com Antônio José da Conceição Ramos, Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006348

No dia 26 de fevereiro de 2006 estivemos - Loreta e eu - na casa de Mestre Patinho, em plena Madre Deus. Entrevista marcada para as 09:00 horas de la mañana, de um domingo de carnaval! Chegamos e Patinho, também: estava chegando da folia. Para quem conhece São Luis do Maranhão, a Madre-Deus (Bairro) e Carnaval de São Luis, sabe o que isso significa. Realmente um grande "sacrifício" do Mestre. Loreta, minha filha, está se formando em Economia, pela UFMA; como já anunciado, sua monografia de graduação versará sobre Economia e Capoeira: a capoeira como formadora de renda; seu impacto na economia ludovicense (Anexo III). Seu orientador, Felipe de Holanda, ainda não se decidiu se é Capoeira ou se é Economista, ou viceversa... É aluno de Patinho... Da mui proveitosa entrevista com Mestre Patinho (foto 1), capturamos o seguinte:

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São corresponsáveis por este artigo: Loreta Brito Vaz - UFMA, Acadêmica de Economia, Capoeira Angola; Felipe de Holanda - UFMA, Professor de Economia, Capoeira Angola (Orientador)


- Capoeira é um jogo corporal, é um diálogo - a rasteira é um choque, é preciso um corpo rítmico para ser bem dada; -

Capoeira é fundamento, três alturas, três distancias, três ritmos...

- Capoeiragem: jogo estratégico para a guerra - é um jogo de xadrez; - Quando conheci a Capoeira (anos 60), não era profissão, não havia possibilidade de viver da capoeira; aprendi a capoeira do Rio de Janeiro, com Jessé Lobão, aluno de Djalma Bandeira (foto 2), e com Sapo, meu Mestre... - Bimba não criou um estilo, ele criou um método: para se afirmar na "chamada de Angola" para disfarçar o jogo estratégico - passa-dois, balão cinturado - malícia, jogo de malícia, jogo de transformação, jogo de cintura: oitiva, rústica... - Hoje, a Capoeira é uma mesmice, se transformou em uma ginástica coreografada - vi um aulão, com mais de 500 alunos, todos repetindo o movimento... Lembra àquelas aulas de calistenia, aquelas apresentações de ginástica, de antigamente? As aulas de educação física do Exército? Isso não é Capoeira ... - A Angola... É autodefesa, busca do diálogo corporal, é transformação, jogo de dentro, você encontra a sua altura, o seu jogo, sua dimensão; é diferente da capoeira do pós-modernismo; capoeira é matemática; é história; é geografia... Tem que estar em contato, é comunhão, todo dia... - No jogo estratégico, não pode baixar a guarda; deve-se respeitar o oponente; mesmo que o adversário não saiba jogar, o bom Capoeirista joga mesmo com quem não sabe, e o faz jogar, gingar... -

Maçonaria x Capoeira - 0 a 9, infinita forma.

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Não existe uma capoeira, Angola, Regional, cada jogador tem a "sua Capoeira”...

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A Capoeira é uma arte-cultura esportiva que mais representa este País...

- O Capoeira não procura emprego - procura trabalho, realiza um trabalho... - Não consigo sobreviver da Capoeira, sou um artista de rua, sou um mestre, hoje me aceito como mestre, pois estudo os ritmos maranhenses - são 37... - o boi, o teatro, a ginástica, a educação física, a lateralidade, a psicomotricidade, a música; para ser mestre da capoeira, tem que ser um Doutor... - Diálogo da Trilogia: § § §

Angola - gunga São Bento Pequeno - viola São Bento Grande - violinha

São células na mesma cadência que preenchem o espaço melódico - pulsação; A roda tem regência... O Traíra (Mestre), no local de Angola, fazia Santa Maria; quando chega em São Bento grande, fazia cavalaria ... -

A teoria não vale nada, se não inserida na prática...

- A grande dificuldade é a música, a musicalidade da capoeira; muitos me criticam por ensinar música, teoria musical, para se cantar as ladainhas, as chamadas... Mas é preciso, é necessário entender os toques, saber quando e como entrar, os tons, a harmonia; assim como o texto, saber o que esta cantando, não apenas repetir um som... É necessário entender a letra, o que canta, é preciso ter conhecimento... -

Capoeira, hoje, é arte de negro, esporte de branco...

Capoeiristicamente, Leopoldo Vaz, São Luis - Carnaval Maranhense de 2006 Professor de Educação Física Mestre em Ciência da Informação


O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS “A capoeira me trouxe o artista que sou. Eu vou além da capoeira, mas sem me descartar dela, ela é o carro-chefe. Assim que eu sou feliz". Mestre Patinho.

FÁBIO ALLEX (Publicada no Jornal Pequeno em 11 de fevereiro de 2012) http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html

“[...] Ê, volta do mundo, camará. Ê, o mundo dá volta, camará [...]”. Estes versos constantes em rodas de capoeira parafraseados pelo cantor e compositor Gilberto Gil para criar a música “Parabolicamará”, do disco homônimo, de 1991, nada mais é do que uma ilustração da certeza sobre o mundo possibilitar voltas, em idas e vindas, onde nessa perspectiva há também a possibilidade de conquistas para quem um dia precisou conviver com o acre gosto de desventuras. Para Gil, o neologismo, uma aglutinação das palavras parabólica – da antena onipresente até em redutos carentes do Brasil – e camará – maneira como os adeptos do jogo lúdico afro-brasileiro adotaram para chamar seus parceiros, contempla ainda o mundo globalizado que o tropicalista vislumbrara há mais de 20 anos. “Tudo muda o tempo todo. E só quem sabe entender a mudança pode conquistar a vitória, ou melhor, vitórias, sempre parciais”, disse o então ministro da cultura, em 2006, no Rio de Janeiro, durante o iSummit, evento voltado para tratar de direitos autorais sobre criações artísticas e intelectuais. E é nessa atmosfera, nessa filosofia de superação, de mudança que se encaixa e bebe um dos personagens vivos mais emblemáticos da cultura maranhense e brasileira, onde “o novo no velho sem molestar as raízes” se faz facilmente presente: Antônio José da Conceição Ramos, o Mestre Patinho. O ‘capoeira’, como gosta de ser chamado (por achar o termo capoeirista pejorativo), é um desses homens que escolhe (ou é escolhido por) uma causa para abraçar, defender e que se confunde com a própria história e com a própria causa. É daqueles homens que se perpetuam a partir do contexto ao qual se propôs a erigir e desbravar, perpassando por um passado que não poderá se calar diante de contribuições atemporais.

Patinho autografando 1º CD de Capoeira do Maranhão


Patinho na casa onde nasceu e vive até hoje

O pato rouco, outra alcunha do Mestre recebida após a retirada das amígdalas e ter feito quatro raspagens nas pregas vocais, nasceu em São Luís, na casa onde mora até hoje, na Rua São Pantaleão, casa 513, Centro, em 14 de setembro de 1953. É lá, próximo à igreja concluída em 1817, de mesmo nome da sua rua e de seu berço esplêndido, que surge para o mundo o 15º filho de Djalma Stefânio Ramos e Alaíde Mendonça Silva Ramos. É por lá, em 1962, os primeiros passos para a vida e para a capoeira, do menino que veio raquítico, com deficiência respiratória e febre reumática. Apenas nove anos de idade foram suficientes para conhecer e deslumbrar-se com a manifestação artística que se tornaria sua missão e sua trajetória. “Fugi de casa num sábado, de manhã. Vi dois galos brigando, próximo à Rua da Palha [divisa com a São Pantaleão]. Eu nunca tinha visto aquilo, cara”, conta entusiasmado. “Em seguida, do outro lado, olhei Jessé [Lobão, capoeirista maranhense que havia sido treinado por Djalma Bandeira, no Rio de Janeiro, e, ao retornar para o Maranhão, passou a promover brigas entre galos], fazendo meia lua (golpe tradicional da capoeira), batendo em uma lata pendurada em um arame preso [em duas extremidades]. De imediato tirei a atenção dos galos que estavam brigando e, numa atitude divina, imitei esse momento. E foi justamente por meio de Jessé Lobão, que Patinho descobriu, encantou-se e pôde agregar os primeiros valores oriundos da capoeira. MESTRE SAPO Em 1965, Mestre Patinho, já totalmente inserido e embriagado pela fonte da capoeira, conhece Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, discípulo do baiano Washington Bruno da Silva, o Mestre Canjiquinha (1925-1994), em oportunidade de demonstração realizada no Palácio dos Leões. Por conseguinte, Sapo, de acordo com relatos populares, fixa residência em São Luís, possivelmente a convite de integrantes da gestão do então governador do Estado José Sarney. O intuito seria promover a capoeira, o que o colocaria no posto de referência mais efusiva e responsável pela reaparição do jogo-arte durante a década de 1970, no Maranhão, além de ter sido também o mais proeminente incentivador e professor de Patinho. Sapo, que participava do Quarteto Aberrê (nome em homenagem ao mestre de Canjiquinha), juntamente com Vitor Careca e Brasília, além do próprio Mestre Canjiquinha, líder do grupo baiano, de fato, depois de estabelecido em São Luís, a partir de 1966, segundo o artigo O Mestre Sapo, a passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (des)construção do ‘mito’ da ‘reaparição’ da capoeira no Maranhão dos anos 60 (2010), do professor de História Roberto Augusto Pereira, passa a ministrar aulas de capoeira somente após cinco anos, no Ginásio Costa Rodrigues, já no governo Pedro Neiva de Santana.

ORIGEM DA CAPOEIRA NO MARANHÃO Considerada patrimônio imaterial da cultura brasileira desde 2008, por decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a manifestação artística, e luta de outrora, oriunda das senzalas, dos guetos, sob a tutela de escravos negros a fim de protestar contra mazelas sociais, tem indícios de ter aparecido no Maranhão na década de 1870, na região da Baixada. Todavia, há também registros que narram sua aparição entre 1830 e 1840, reaparecendo, já na capital maranhense, aproximadamente, 100 anos mais tarde. A partir daí esquiva-se para ressurgir no início da década de 1960, representada pela Academia Bantu, pioneira em capoeira no estado. À frente do projeto estava o aluno do Mestre Artur Emídio (1930-2011), o Mestre Roberval Serejo (1936-1971), um marinheiro que serviu a Marinha de Guerra do Rio de Janeiro e foi morto quando trabalhava na construção do Porto do Itaqui. Há vários relatos, portanto, inclusive de Mestre Patinho, que afirmam que Mestre Roberval Serejo foi antecessor de Sapo. Também de acordo com o artigo do professor Augusto Pereira (2010), é possível destacar, ainda, como antecessor de Mestre Sapo, Firmino Diniz, aluno de mestre Catumbi, no Rio de Janeiro. Posteriormente, tornar-se-ia um dos expoentes mais expressivos e fomentadores da capoeira em rodas de rua realizadas em praças da capital. Além do


Mestre Roberval Serejo, participavam da Bantu, Mestre Diniz, Mestre Jessé Lobão, Babalú, José Anunciação Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascável, Alô, Mestre Patinho. Com a missão de dar continuidade ao legado e ao conhecimento buscado e adquirido com esforço, sempre “na barganha do aprender”, por meio de vários mestres como João Pequeno (1917-2011), João Grande, Curió, Jaime de Margrante, Artur Emídio, sobretudo após a morte de Mestre Sapo (em decorrência de atropelamento no trânsito do Bairro da Cohab, em 1982), Mestre Patinho delineia sua sina na capoeiragem, desde que fora aluno e colaborador de Sapo, no Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação; da Secretaria de Educação do Estado. “Pra eu ter o armazenamento mais aproximado do que é o jogo [da capoeira] foi necessário ir buscar a brasilidade em muitos mestres”, garante.

O Mestre contemplando a árvore genealógica das escolas de capoeira

"A CAPOEIRA É UMA SÓ" Sobre essa brasilidade, dentre tantos mestres respaldados na arte, pesquisada a fundo e com exclusividade durante cerca de cinco décadas, Patinho torna-se credenciado, não apenas por especialistas célebres da manifestação afrodescendente que o antecederam, mas também pelo empirismo e pela incansável disciplina que lhe revigoram a cada dia, trafegando por infindáveis amálgamas imbuídas na capoeira e na coletividade a qual ela proporciona. “A minha preocupação não é em ser sistemático, mas exigente. A minha exigência é prática, lúdica e vem de uma perseverança muito grande. Eu lido com a capoeira em primeiro plano e a maioria das pessoas que lidam: mestres, contramestres, professores, trainees têm outra função, porque a capoeira para elas é para um espaço de tempo quando estão livres, e não vão à capoeira quando ela precisa. Somos diferentes, mas precisamos entender as diversidades”, enfatiza. Envolto em ‘jogadas’, como meia lua, chapéu de couro, chapa, meia lua de compasso, aú, benção, rabo de arraia e dois pandeiros, um agogô, um reco-reco, três berimbaus (de três tons) e um atabaque, as práticas e conceitos aprendidos e adotados por esse lendário gigante da arte e da vida, de 1,60 m, são vastos e estão disponíveis por considerar que “reter conhecimento é crime”. Patinho, portanto, ensina que a capoeira não é uma dança tampouco luta, e sim um jogo por que contém fundamentos, “como os números de zero a nove que formatam uma quantidade infinita de números”, todos com alguma função. “Não é dança, é estratégia de jogos para a guerra”. Fala ainda sobre a função dos fundamentos, caracterizados pela ‘família’ que possuem, resultando em “mistura por excelência”, “diálogo corporal”, “xadrez do corpo”, além de seus andamentos: lento, intermediário, acelerado. Das alturas: rasteira, intermediária e alta. Das distâncias: dentro, fora, à distância. “Para jogar capoeira é necessário ter uma gama enorme de saberes”, afirma.


1.

Aula realizada no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho 2. Aula no Laborarte

Para quem, de alguma forma, já teve contato sobre o jogo corporal, deve ter tido notícia quanto aos estilos da capoeira: regional e angola. Todavia, Patinho afirma com convicção que a capoeira, o seu ritual do dia a dia, é uma só. “No estilo regional, só há uma altura, em cima; na de angola, em baixo e lento. E não é isso. A capoeira que eu conheço tem fundamentos: tem três alturas, três andamentos e três distâncias, para que se venha a perceber a diversidade e a importância de se dominar de forma bem lenta, bem equilibrada, de forma ambidestra. A Psicomotricidade fica de cabeça pra baixo, onde tórax vira cervical, mão vira pé, pé vira mão, perna vira braço. E não é aleatório. O que aprendi em 50 anos, posso ensinar em cinco. Hoje eu consigo colocar leigo na leitura da capoeira e em três meses dentro da roda”.

POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS O multifacetado poeta das expressões corporais, sempre com uma visão além do seu tempo, não se contentou apenas em adquirir seus conhecimentos técnicos, práticos, artísticos e filosóficos por meio da capoeira, por mais rica que ela possa ser. Patinho mergulhou fundo em outras áreas afins com o objetivo de multiplicar possibilidades e agregar valores que possam se complementar. Concluiu curso de dança primitiva, moderna e contemporânea, balé clássico, dança folclórica, expressão corporal, fez cursos de atualização em educação física, além de ser percussionista e ter lançado, em 2008, o primeiro CD de capoeira do estado, intitulado de ‘Capoeira do Maranhão – Mestre Patinho’, com sete faixas de sua autoria e mais seis de grupos da Escola de Capoeira Angola do Laborarte. O reconhecimento que já ultrapassou fronteiras, como a participação com seu grupo no Festival Internacional de Expressões Ibéricas (FITEI), na cidade de Porto, em Portugal, em 1990, foi ainda mais ratificado com o ‘Prêmio Viva Meu Mestre’, em 2011, uma política de reconhecimento e valorização de mestres com o objetivo de reconhecer e fortalecer a tradição cultural da capoeira e homenagear mestres com igual idade ou superior a 55 anos. “A minha praia é preservá-la, torná-la mais fácil e que todos percebam a importância que ela tem nas nossas vidas. E perceber que não se muda ninguém. Cada um tem que perceber e se permitir a aceitar os discernimentos. Uma roda de fundamento em harmonia, não só encanta como eleva, como massageia, espiritualiza, autoafirma a personalidade. É muito triste as pessoas julgarem o que nunca tiveram ideia do que é”, filosofa o homenageado. Assim, a capoeira, a clássica expressão popular, o jogo, o balé rústico, que tanto Patinho cultiva e compartilha, faz da sua própria existência um acervo cultural percebido em cada palavra, gesto, na plasticidade e comunhão dos movimentos. Arte, artista, trajetória e presente se confundem. Eis que a força do berimbau faz ecoar de São Luís ao mundo afora, o canto, o equilíbrio e o mais singelo amor pelos dias, pelos camaradas, pela capoeira. Eis o Mestre que proclama: “Ser mestre é estar pronto para aprender, não esconder conhecimento e torná-lo em uma leitura ao alcance de todos”.


Mestre PATURI

ANTONIO ALBERTO CARVALHO 1946 MESTRE ESTILO

DADOS

PATURI CAPOEIRA MISTA Capoeiragem Tradicional Maranhense ANTONIO ALBERTO CARVALHO São Luis – MA, 09 de novembro de 1946 Rua 04 Quadra 08 Casa 08 Av.Contorno Vila Embratel Filho de Antonio Carvalho e Isabel Silva Formação escolar: primário Mestre em 06 de Setembro de 1996 Manuelito Sapo Alô

MESTRE(s)

GRUPO/NÚCLEO Associação Comunitária de Apoio a Capoeira (1979) HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Comecei no Judo e Luta Livre em 1962 e Logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. Passei um Período treinando com SAPO, no Ginásio Costa Rodrigues, e depois no Alberto Pinheiro . Depois passei a treinar direto com ALÔ na 28, mais precisamente na CASA E BAR DO DEZICO. Meus primeiros alunos foram CURADOR, ADALBERTO, ZÉ RAIMUNDO, Meu Irmão JOÃO BICUDO, BAÉ, RAMOS, CARRAL e ROLA. Dei Aulas na Encruzilhada da UFMA, Bairro de Fátima, Areinha, Centro de Esportes que depois passou a se chamar Vila Embratel, Igreja do Bairro de Fátima, São Bernardo e voltei novamente para Vila Embratel. CRIEI A ASSOCIAÇÃO COMUNITARIA GRUPO DE APOIO A CAPOEIRA Em 1979 Começando o processo de registro so em 1983.


Me formei Mestre em 06 de Setembro de 1996 pela FMC- FEDERAÇÃO MARANHENSE DE CAPOEIRA, Mas Tenho como MEUS MESTRES; MANOELITO , SAPO E ALÕ . CAPOEIRÁ É: Para mim CAPOEIRA É DANÇA, JOGO, LUTA E DIVERSÃO .


Mestre TIL

GENTIL ALVES CARVALHO 1955 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

TIL CAPOEIRA MARANHENSE ENSINADA PELO MESTRE RIBALDO BRANCO

Capoeiragem Tradicional Maranhense GENTIL ALVES CARVALHO Coroatá, 21 de outubro de 1955 Filiação: Jose Alves carvalho e Zilda Tiburcia Carvalho 2º Grau – UNIT – UFMA 2000 – Ribaldo Branco Ribaldo Branco

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Associação Maragnon de Capoeira QUAL O SEU ESTILO? CAPOEIRA MARANHENSE ENSINADA PELO MESTRE RIBALDO BRANCO ; NÃO SOU ANGOLA E NEM REGIONAL; SOU CAPOEIRA, JOGO EM CIMA E EM BAIXO AO MESMO TEMPO, QUANDO PRECISO, ACOMPANHO A GINGA DO JOGO, DEIXO ME LEVAR, ME TRANSFORMO CHEGANDO A ME EMOCIONAR COM O ESPÍRITO DA COPEIRA COISA MAIS LINDA NÃO HÁ. EU MESTRE TIL APRENDE A CAPOEIRA EM MEADO DOS ANOS DE (1968) C0M MEU IRMÃO RIBALDO BRANCO, HOJE MESTRE RIBALDO, QUE TREINAVA COM MESTRE SAPO. NESSE PERIODO, RIBALDO E HOSEMIR FORAM FAZER INSCRIÇÃO PARA ESCOLINHA DE FUTEBOL NO GINÁSIO COSTA RODRIGUES; ENCONTRARAM E CONHECERAM O MESTRE SAPO FAZENDO UMA DEMOSTRAÇÃO DE CAPOEIRA E TOQUE DE BIRIMBAL, RIBALDO E SEU AMIGO SE ENCANTARAM PELA CAPOEIRA. AO CHEGAR EM CASA, ME DISSE, COM MUITO ENTUSIASMO, QUE TINHA FEITO SUA INSCRIÇÃO NA CAPOEIRA; E IRIA ME ENSINAR TUDO QUE APRENDESSE LÁ; E ASSIM O FEZ, ME PASSANDO TODOS OS CONHECIMENTOS; ERA A FORMA DE TREINAR O QUE APRENDIA E DE ME ENSINAR, ONDE FICAVAMOS ATE A MADRUGADA TREINANDO NA LUZ DA LAMPIÃO E TOMAVAMOS AGUA DE ACÚÇAR PARA REPOR AS ENERGIAS. E ASSIM INICIOU-SE EM NOSSO QUINTAL, AOS DOMINGOS, QUIZENALMENTE, RODA DE CAPOEIRA AO SOM DE LP DO MESTRE PASTINHA. AS RODAS ERAM COMPOSTAS POR: MIM, RIBALDO BRANCO, LUIS, MURILO, ALÔ, RIBALDO PRETO, LEOCÁDIO, GARFO DE PAU, SANSÃO, ZECA DIABO, MARTINS E SEU ALUNO (NÃO LEMBRO O NOME) FOI ASSIM QUE TUDO COMECOU EM MINHA VIDA ATÉ A DATA DE HOJE ONDE CONHECE MUITOS CAPOEIRA .


PORÉM ALGUNS QUE FORAM DESTAQUE PRA MIM: MEU IDÓLO MESTRE RIBALDO BRANCO, DINIZ, GOLVEIA, BABALU, JESSER, RAIMUNDÃO, CARA DE ANJO.

O QUE É CAPOEIRA? É UMA LUTA, DANÇA, ESPORTE E LAZER, UM PRENDIZADO DE VIDA,NA QUAL DEVO MUITO ATÉ A PRÓPRIA VIDA. SOU FELIZ EM PRATICÁ-LA, POIS QUANDO ESTOU JOGANDO SINTO-ME REALIZADO E MUITO CHEIO DE EMOÇÕES.


Mestre ALBERTO EUZAMOR

MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

ALBERTO PEREIRA ABREU 1962-2017 ALBERTO EUZAMOR ANGOLA ALBERTO PEREIRA ABREU São Luis – Ma – 15 de janeiro de 1962 (faleceu em 11 julho de 2017 Filiação Euzébio Ramos de Abreu – Maria da Conceição Pereira Abreu 2º. Grau na Escola do Comércio Centro Caixeiral mestreuzamor@yahoo.com

Luciel Rio Branco (falecido em 1984) Mestre Sapo (falecido em 1972) Mestre Rui Pinto MESTRE(S)

NÚCLEO OU GRUPO

Centro de Artes Japiaçú – Associação Cultural de Capoeira Angola Ludovicence – ACCAL

HISTÓRIA DE VIDA Entrevista realizada por José Lindberg A. Melo Funcionário público estadual; Concluiu o 2º. Grau na Escola do Comércio Centro Caixeiral; Alberto – Mestre Euzamor recebeu esse título em função de sua irmã que era conhecida pelo seu segundo mestre Anselmo Barnabé Rodrigues – mestre Sapo (falecido em 1972 (SIC) em envolvimento de acidente automobilístico). Iniciou a capoeira aos 07 (sete) anos de idade na escolinha do Costa Rodrigues, antigo ITA (Instituto Tecnológico de Aprendizagem) depois passando a se chamar Meng, com seu primeiro mestre Luciel Rio Branco (falecido em 1984 vitima de homicídio), depois Mestre Sapo e por último o mestre e irmão Rui Pinto. Mestre Euzamor comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Distingue os tipos de capoeira como: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; Memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogado hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda).


Explica o motivo que levou a esta escolha que foi origem, habitat, vindo do sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência cotidiana “Madre Deus”. Com 35 anos dedicado a capoeira, agora e em primeiro momento foi formado o 1º. Mestrando que será chamado futuramente de mestre Cacá (Cláudio Lúcio), não costuma adotar a regra contra-mestre, e sim mestrando. Além desse, formou quatro discípulos. Fala que não vê a Capoeira como coisa aleatória, mas como um todo. Obtém como fonte inspiradora seus mestres: Luciel e Rui, este último como modelo de transparência, lealdade e responsabilidade e fora da Capoeira seu ídolo é o Steve Segal. É viajado pelo mundo afora, onde esteve duas vezes na Itália e duas na França, pretendendo voltar. Entrevista realizada por Fábio Luiz B. Silva O primeiro momento da existência na capoeira foi aos sete anos de idade com seu primeiro mestre: Luciel Rio Branco Rosa, depois com Mestre Anselmo Barnabé Rodrigues, vulgo Sapo. E, por último com Mestre Rui Pinto. Ensino médio completo, funcionário público estadual; motivo de escolha foi o sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência do dia-a-dia, ou seja “Madre-Deus”; até o momento formou um mestrando chamado Cláudio Lúcio, vulgo “Cacá” , além de quatro discípulos, não relacionados. Experiência de 35 anos dedicados a capoeira; distingue a capoeira em Regional (Mestre Bimba), mistura com outras técnicas de outras lutas; a Regional é mais competitiva, mais para lutar, disputar. Enquanto que a Capoeira Angola (Mestre Pastinha), o objetivo principal é formar cidadãos no todo, melhorar a auto-estima, além de proporcionar resistência muscular, mantendo o corpo com a mesma performance. Ritual da capoeira Angola ou ritmo: Angola (que é aquecer); São Bento Pequeno (que é a fase de intermédio); e São Bento Grande (que é o momento da roda). O objetivo do mestre em capoeira é deixar fluir o que tem dentro do ser, a fim de que possa identificar-se com o que realmente está querendo. A capoeira já lhe levou 2 vezes a Itália e duas a França, pretendendo voltar. Tem maior inspiração pelo seu irmão de afinidade, o mestre Rui Pinto, devido servir-lhe de modelo na transparência e responsabilidade.


Mestre RUI

RUI PINTO 1960 MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

RUI CAPOEIRA MARANHENSE Capoeiragem Tradicional Maranhense Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, nos reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão.Filho do mecânico de maquinas pesadas João Batista das Chagas, e a tecelã Maria de Jesus Vieira Pinto, Residente da Rua Santo Expedito nº 29, Coreia de Cima. Escolaridade: 2º Grau, Curso de Análises Químicas no Liceu Maranhense.

MESTRE

Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues).

GRUPO/NÚCLEO BIOGRAFIA DA MINHA VIDA NA CAPOEIRA Eu, Rui Pinto, nascido em 08 de Janeiro de 1960, São Luis – MA, filho do mecânico de maquinas pesadas João Batista das Chagas, e a tecelã Maria de Jesus Vieira Pinto, residente da Rua Santo Expedito nº 29, Coreia de Cima. Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, nos reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos.


Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão. Mas esse treinamento durou pouco, pois nos matriculamos na escolinha de capoeira que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues com Mestre Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues). Algum tempo depois fomos para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem - (ITA), em um prédio ao lado do ginásio Costa Rodrigues, e demos continuidade aos nossos treinos com Mestre Sapo. Com o tempo o mesmo prédio onde funcionava o ITA, tornou-se o colégio MENG, onde o Mestre Sapo continuou dando aula. No mesmo período já com 15anos, perto dos 16, comecei a jogar Handball com o professor Dimas no SESC Deodoro, na época os jovens que jogavam capoeira faziam outros esportes, por que a capoeira não era um esporte “olímpico” da época, o maior objetivo dos jovens em praticar outros esportes era o simples fato de que viajavam para competir em outros estados. As competições de capoeira chamadas de “A Grande Roda” só aconteciam em Salvador no mês de Dezembro de cada ano, e por falta de patrocínio poucos éramos os alunos que iam, pois os custos eram altos, a outra forma de ir era por conta própria, o que era muito difícil para alguns. Nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participamos de diversos campeonatos tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na igreja de nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas. E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda. Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos anos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornou-se cabo do exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do exército, grande capoeirista da época. Com a morte de Mestre Sapo em 1982, a capoeira sofreu uma grande perda, causando a dispersão de muitos capoeiristas que o tinham como mestre, enfraquecendo assim a capoeiragem (congregação dos capoeiras), por um curto período de tempo. Até que movimentos começaram a ser criados renovando e incentivando a manutenção da capoeiragem, que, com esse incentivo fui em busca de mais informações em outros estados, como São Paulo, no DEF (Departamento de Educação Física - em Água Branca), e em União dos Palmares – Serra da Barrica – Alagoas, e dessa forma adquiri mais conhecimento. Hoje componho o Fórum Permanente dos Mestres de Capoeira, e faço parte do Curso de Capacitação de Mestres do Maranhão. Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima. Mestre com formação além de Sapo eu não tive, treinávamos separado da academia com alunos normais, do mesmo nível de conhecimento, para quando chegarmos na academia estarmos mais aperfeiçoados. Com a morte de Mestre Sapo, demos continuidade ao trabalho dele; e fomos intitulado pela comunidade do movimento a Mestre. Fui reconhecido mestre por antiguidade, pelos trabalhos realizados como dos mais antigos. Não existiu uma data oficial de um lançamento para essa mestria, no meu caso como mais antigo. Pelos trabalhos realizados nas rodas, como comprometimento, altivez, compromisso, e liderança despertei destaque diante dos outros, que formalmente passaram a me intitular. O que é capoeira?


Para mim, a definição mais que pessoal é de um esporte, que pode ser visto como lazer, ou um entretenimento, mas que vai além disso: é uma luta uma alegria um prazer. Minha forma de resistência, e manifestação da minha cultura perante a sociedade. É a exposição da minha raça diante dos povos, é a preservação de ritos antigos e perpetuados, é a graça e beleza dos atletas comprometidos com a única instituição importante para o momento, a cultura do legado.


Mestre SOCÓ

EVANDRO DE ARAÚJO TEIXEIRA 1961 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

MESTRE(S) NÚCLEO OU GRUPO

SOCÓ Capoeiragem Capoeiragem Tradicional Maranhense EVANDRO DE ARAÚJO TEIXEIRA 03 de setembro de 1961 Filiação: Antônio Teixeirae Altamira Brito de Araújo Teixeira casado com Ruthlene Meireles Magalhaes Teixeira Escolaridade: 2º grau completo. Colégio Ateneu Teixeira Mendes Profissão: Mecânico 2000 - Reconhecido como contramestre pelo mestre Miguel Arcangelo em 25 de maio de 2000. 2002 certificado concedido pelo mesmo mestre Miguel Arcangelo Santos Loredo – título de Mestre Mestre Raimundão (Raimundo Aprígio) Mestre Miguel Arcangelo Santos Loredo Arte Fiel Capoeira

HISTÓRIA DE VIDA

Na capoeira sou conhecido como mestre “Socó”. Iniciei na pratica da capoeira em 1971, com mestre Raimundo Aprígio, no bairro Bom Milagre, no qual ele era aluno de mestre Gouvêia, que foi aluno de Roberval Cerejo. Treinávamos aos sábados e domingos. Desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima –embaixo”, um jogo no qual não era nem (Angola nem regional), era conhecido com “Capoeiragem” Eram alunos: Miguel, “China”, Zé Mario, “Socó”, Beto, “Cabeca”, “Boi”, “Raspota”, Danclei, Messias, Batata, Nei, Roberval, Riba e muitos outros. Eu participava muito das rodas de capoeiras do mestre Diniz, no qual estavam: “Curador”, “Pelé”, “Didí”, “Cordão de Prata”, “Pesão’’, Miguel, “China”, D´paula, “Mimoso’’, Alberto, Rui, “Jacaré’’, Mariano,”Boi’’, Nei,” Faquinha’’, Ze Melo, ‘’Pato’’, ‘’Aló’’, Sebastião e muitos outros. Fizemos muitas rodas no feriado de 7 de setembro, e nos festejos de Nossa Senhora da Conceição, também no dia do soldado no quartel do 24º BC, na Casas das Mina, Jorge Babalaô no dia 13 de maio, dia dos escravos no bairro da Fé em Deus, assim como nos sábados a tarde tínhamos no João Paulo, na casa do Beto na antiga Estrada de Ferro. No fim dos anos 70 foi feito um bloco carnavalesco por Afonso “Barba Azul”, que era aluno do finado mestre “Sapo”, era na Rua da Saúde, onde se reuniu a grande massa capoeirista, para desfilar no carnaval da João Lisboa. No ano de 1976, no bairro do Diamante centro, no estacionamento do “fomento”, (Ministério da Agricultura), treinávamos capoeira, com os alunos, “Biné”, Celso, Alex, Missinho, Déco, Mauro Jorge, Marcelo, “Uruca”, “Motor”, e muitos outros. Aprendiam a praticar a capoeira com Socó.


Nessa época, não era necessário o reconhecimento como mestre para dar aula, bastava saber e conhecer na pratica o “jogo” da capoeira. No ano de 1992, também tive um trabalho de capoeira na sede do PDT, no bairro do Monte Castelo, na rua 24 de outubro, eu Socó, dava aula para os seguintes alunos: João, Batata, “Travolta”, Wadson, “Batam”, Carlos Cesar, Irineu, “Mizinho”. Também frequentado pela grande massa de capoeiristas de São Luis como: Miguel, Ze Mario, “China”, Míro, “Chicao”, “Jacaré”, e outros. Mudei para o bairro do Bequimão no ano de 1999, fiz uma parceria com Curió, que era o fundador do grupo “Arte Negra”, no qual eu e Curió fomos reconhecidos como contramestre pelo mestre Miguel Arcangelo em 25 de maio de 2000. Já em 2002, foi reconhecido através de certificado concedido pelo mesmo mestre Miguel Arcangelo Santos Loredo, e a partir dessa data iniciei minhas atividades ja como mestre “Socó”, continuando o trabalho no grupo Arte Negra que logo depois veio a se tornar ( Arte Fiel Capoeira), com os seguintes mestres: Joao Palhano Janssen (Mestre Curió), Evandro de Araujo Teixeira (Mestre Socó) e Mestre Ball e contramestres:”Português”, Eduardo, “Caco” e Alcimar. E partir de então iniciei também a consagrar outros mestres, sendo o primeiro em 2003, mestre Luiz Generoso e Mestre Valderez, e outro mestres a partir dai, são eles: mestre Wadson, “Bodinho”, “Miro” e” Chicao” e os contras-mestres “Juruna” e” Cobra Negra”. Hoje desenvolvemos um grupo de capoeira no bairro do Rio Anil na escola Maria Helena Duarte, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos atletas que la estão e incentivando no estudo e crescimento como cidadão através da pratica desse esporte. Sobre a capoeira na minha vida. Foi um grande descobrimento para mim, no qual ajudou a melhorar em muitos aspectos, como por exemplo: família, trabalho, amigos e outras. Descobri na pratica da capoeira que poderia também ajudar outras pessoas que precisavam de um incentivo na vida como cidadão. E assim ajudar a tirar crianças e adolescentes da rua e trazer para o esporte, criando um meio de respeito e humildade perante a sociedade e principalmente nas suas casa com suas famílias.


Mestre INDIO DO MARANHÃO

OSIEL MARTINS FREITAS 1957 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

ÍNDIO DO MARANHÃO Mista Capoeiragem Tradicional Maranhense OSIEL MARTINS FREITAS São Luis, 18 de julho de 1957, no Bairro de Fátima Filiação: Aurino Marques Freitas e Zilda Maria Martins Freitas Fundamental – (4ª. Série) Mestre em 1996, Por Firmino Diniz Diniz (Firmino Diniz)

MESTRE(S)

Associação Cultural de Capoeira São Jorge

NÚCLEO OU GRUPO

Antologia do Mestre Índio Maranhão Eu como todo menino traquino, pulador e saltador, aos meus 9 para 10 anos já apresentava vocação para a luta. Gostava de brigar, “tarracar”, termo usado pelos mais velhos da época, por esta razão era chamado para “garrotiar” com os garotos do meu tope ou até maiores naquela época. Mas foi em 1970, assistindo na televisão, na TV Difusora canal 4, vi uma apresentação do Mestre Sapo, Anselmo Barnabé Rodrigues, fazendo uma chamada para matriculas na escolinha de capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, no qual era o Mestre de Capoeira. Após assistir essa apresentação pela televisão, eu fiquei encantado, doido, queria muito aprender aquela capoeira que eu tinha visto na televisão. Filho de policial e mãe crente da Assembleia de Deus, eles jamais deixariam eu fazer capoeira, quando falei que queria fazer foi um terror a palavra capoeira para meus pais. Como eu em minha inocência, queria era praticar capoeira, toda tarde subia para o Alto de Fátima e ia correr, pular, saltar, fazer movimentos de minha cabeça, e nisso eu passei um bom tempo, saltando e


pulando fazendo movimentos de capoeira, sem saber que todos os movimentos que executava eram de capoeira. Foi quando um companheiro me observando, um bom tempo, chegou pra mim e disse: - Tu quer fazer judô comigo? então lhe respondi: - Não, eu quero é capoeira. Ele então falou, eu faço judô lá no Ginásio Costa Rodrigues com Jorge Saito, um japonês, mas todo dia eu assisto o treino do Mestre Sapo, ai eu venho e te passo os nomes dos movimentos Na semana seguinte ele estava lá e já foi me falando, eu vou dá uma meia lua de frente e você se abaixa, o nome da defesa é cocorinha, eu vou dá um martelo e você faz assim....uma resistência. Essa atenção comigo durou de julho de 1971 a Abril de 1972, ele se chamava José de Ribamar, mas era conhecido como Hipopótamo, apelido que ele não gostava, foi esse rapaz que me iniciou na capoeira com os primeiros passos, porém ele não era capoeira. No dia 22 de junho, ano que eu me intitulo capoeira, foi após eu assistir uma roda de capoeira no Centro Comunitário do Bairro de Fátima, sob o comando do Mestre Manoel Peitudinho e os companheiros, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Batista, Bambolê e Sansão. Após essa apresentação, o Cabral, que estava no comando da Radiola, colocou o disco de Oswaldo Nunes, com a letrada cantiga “Você me chamou pra jogar capoeira na Beira do Mar”. Como eu já estava arrisco nos movimentos, convidei um amigo chamado Emidio, pra trocarmos movimentos de todo jeito e fomos cercados por um conjunto de pessoas que estavam no arraial esperando outras apresentações folclóricas, isto em 1972. Final de julho, começo de agosto, eu brincando de rouba bandeira na Rua Nossa Senhora de Fátima, bem em frente a garagem da extinta Itapemirim, estavam lá um pequeno grupo de capoeira fazendo roda ao som de um toca disco da época, e lá Mestre Paturi estava nesta roda junto á Babalú, Gouveia, Ribaldo Preto, Leocádio, Samuel e deste dia em diante comecei a ir olhar essa roda até que um dia o famoso Babalú, de tanto me ver lá um dia, me chamou pra fazer um jogo. – Quer fazer um jogo? E eu um garoto meio envergonhado respondi: - Sim, eu quero, então entrei na roda e comecei a dá meus pulos com o Babalú. Então ele viu que eu levava jeito e me convidou para ir até a roda da Bom Milagre que era comandada pelo Velho Firmino Diniz. Quando Babalú chegou foi logo dizendo: - eu trouxe esse indiozinho pra jogar na roda com nós! Fiquei nervoso, mas quando berimbau tocou, o atabaque acompanhou, ai eu fiquei tonto, cai na roda com vontade, isso já em outubro de 1972. Daí em diante passeia a ser frequentador dessa roda e lá fui conhecendo muitos capoeiras, tais como o Velho Diniz, Babalú, Gouveia, Esticado, Raimundão, Alô, Elmo Cascavel, Murilo, Sansão, De Paula, Gordo, Teudas, Mimi, Volf, Alan, Rodolfinho, Ribaldo Branco, Til, Fato pode, Nelson galinha, Geraldo cabeça, Manoel pretinho, Cesar dentinho, Batista, Bambolê, Tião Carvalho, Jesse, Didi, Sócrates, Carlinhos, Louco, Patinho, Cordão de Prata, Sapo Cola, Faquinha, Valdecir, Cebola, Pelé, Sabujá Candinho, Boi, Mimoso, Carioca, Leocádio, Samuel, Paturi, Zeca diabo, Cabeça, Miguel, todos esses companheiros citados são da minha época de 1972 a 1976, quando eu migrei para o Rio de Janeiro. De outubro de 1972 eu comecei a participar das rodas de rua, indo para a casa do Velho Diniz na Rua Paulo de Frontin, próximo a Casa Inglesa, entrada da Liberdade. Em sua casa, Velho Diniz me dava aula de toques de berimbau, pandeiro e atabaque, mas me recomendando a treinar com Mestre Gouveia e Raimundão no fundo da casa de Raimundão, numa casa de conjunto Elca acima da Bom Milagre, e foi neste treinamento que aprendi muito com Gouveia e Raimundão, uma vez ou outra o Babalú e o Velho Diniz apareciam lá para ver os treinos. Foi através do velho Diniz que eu pude treinar com o Mestre Sapo cola em abril de 1973 até outubro do mesmo ano, não fui muito feliz por causa das pancadas que ele me dava, mais sempre acompanhando o velho Diniz nas rodas de rua, e sobre seu comando. Em 1976, precisamente no dia 19 de Abril, eu migro ou seja, eu viajo para o Rio de Janeiro e no dia 22 eu desembarco na Rodoviária Novo Rio, cidade onde eu conheci vários mestres, aonde o primeiro mestre o qual eu tive o meu primeiro contato, foi o Mestre Dentinho no Sindicato dos Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro, daí pra frente muitos mestres passaram a fazer parte do meu convívio, tais como Mestre Dentinho, Canela, Touro, Levi, já falecido Medeiros, mestre Dé, Mosquito, já falecido, mestre Peixinho da Senzala, já falecido Mais Velho, já falecido boca, Mestre Capa, Canela, Preguiça do Iê Capoeira, Titio,


Chita, Beira mar, Djalmir, Sorriso, Rege Angola, Sorriso Senzala, Russo, Ramos, Gigante, Edgar, Gege, Pitu, Thiara, Mancha e tantos outros no Rio de Janeiro. Mas o mestre que me deu toda a orientação para eu me tornar um capoeira, foi o Velho Firmino Diniz a quem eu devo Saúde, dinheiro e obrigação, foi quem me ensinou a tocar o berimbau, pandeiro, atabaque e agogô e me ensinou a cantar e compor as minha músicas e letras, ele dizia: “ Indio aprenda a compor as suas cantigas de capoeira”, músicas da Bahia e da Bahia tem que cantar músicas nossas feitas por você, Babalú, Miguel e Patinho. Firmino Diniz é o meu Mestre porque o acompanhei desde 1972 a 1982, após a morte de Mestre Sapo, foi quando ele se afastou das rodas até a sua morte em 22 de dezembro de 2014, mesmo longe da capoeira, no dia 07 de Setembro, ele foi me entregar a corda de Mestre no Clube Nova Geração II, no bairro do Sá Viana, mesmo assim ele ainda marcou presença em alguns eventos de nossa cidade e de alguns companheiros. Em 1987, eu Mestre Índio Maranhão fundei o Grupo de Capoeira Filhos de Ogum, na Casa da Finada Mãe Angela, uma Ialorixá, zeladora de Guias, caboclos e Orixás, na travessa da Fortuna no bairro Monte Castelo e esse meu trabalho iniciou-se no dia 07 de Julho de 1987, com a denominação Filhos de Ogum, em 1998 se chamou Centro Cultural Filhos de Ogum e por motivo religioso de alguns alunos cristãos, quando do seu registro oficial em 2002 se nominou Associação Cultural de Capoeira São Jorge e permanece até os dias atuais. Devoto de São Jorge desde março de 1973, após uma briga na Areinha, que começou com o Gilmar sendo agredido por um rapaz da Liberdade, então começamos uma grande confusão, onde todos entraram em confronto que demorou demais para parar. Foi quando ficamos sendo ameaçados e perseguidos pelos rapazes da Liberdade, foi quando então a mãe do companheiro Wilson Botão nos procurou e nos deu a oração de SÃO JORGE, na qual eu depositei a minha fé há 28 anos e mantenho até os dias de hoje, realizando todos os anos Uma grande Festa em Louvor a São Jorge onde a festa maior é a roda de capoeira. Por Osiel Martins Freitas Mestre Índio Maranhão

Entrevista com Mestre Índio Maranhão Conheça um pouco da história dos 43 anos de capoeira do Mestre Índio Maranhão por suas palavras. Saiba como ele conheceu a capoeira, como a vive e como aprendeu a história da capoeira do Maranhão na qual ele ensina aos seus alunos com alegria e dedicação. http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1 Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau

UMA CONVERSA DESCONTRAÍDA E EMOCIONADA RODA DE CAPOEIRA: Como o senhor conheceu a capoeira? MESTRE ÍNDIO: Minha primeira lembrança com a capoeira vem de 1970, assistindo um programa de televisão da TV Difusora em São Luis do Maranhão, onde um grupo de capoeira de Anselmo Barnabé Rodrigues “Mestre Sapo”, que eu fui conhecer muito tempo depois, quase 2 anos. Vendo todos aqueles movimentos eu me apaixonei, gostei pra caramba e comecei a fazer aqueles movimentos aleatórios, sem nenhuma técnica e sem ninguém para me orientar. Já em meados de 1971, eu conheci um rapaz que me vendo pular, dando flip, mortal, chapéu de couro, fazendo esses movimentos de capoeira que até então eu não tinha certeza de que eram de capoeira. Aí ele começou a me iniciar, esse rapaz não era um capoeira, ele era boxer, ele ia para a academia fazer o treinamento dele de boxe e assistia o Mestre Sapo dando aula de capoeira e ouvia os nomes dos movimentos e golpes que o mestre falava e vinha pra mim e passada assim: Oh, eu vou dar meia lua de frente e você desce na cocorinha, eu vou dar meia lua de costa e você desce na negativa de frente ou negativa de dentro, eu vou dar o martelo e você faz a resistência. E assim eu fui pegando esses movimentos. Então ele me iniciou sem nenhum sentido exato de capoeira, ele falava aquelas coisas e eu acompanhava ele.


Até que em junho de 1972, eu assistindo uma roda de capoeira, o grupo estava com dois berimbaus e dois pandeiros, eles se apresentaram para a festa de São João, e após aquela apresentação, vendo os movimentos que os camaradas faziam eu me identifiquei. Aí terminou a roda de capoeira, e eu e um colega meu começamos a brincar e o rapaz que comandava o som, colocou o disco de Osvaldo Muniz, na época muito tocado... “Você me chamou pra jogar, capoeira na beira do mar Tenho fama de bom jogador, esse convite eu não vou rejeitar Não importa que chova ou que faça sol, o que eu faço é fazer tocar berimbau Toque o berimbau, que eu quero jogar...”

E eu brincando ali com aquele colega meu e de repente formou aquela multidão, aquele grupo de gente da festa de São João que esperava o Bumba Boi, Quadrilha e Cacuriá, formou aquela roda imensa em volta de mim e o outro companheiro e o rapaz do som voltou a repetir a música que é comprida mais ou menos umas 4 vezes, e daquela data em diante eu me tornei capoeira, 22 de junho de 1972. Passou julho, agosto e em setembro eu conheci outro grupo de capoeira que estavam brincando no meio da rua, e eu fiquei ali quietinho observando, até quando o Babalu, que só depois eu vim saber o nome dele, chegou e disse assim:

- Sabe jogar capoeira? Eu respondi: Não. E ele: Quer aprender? E eu: Vontade eu tenho. E ele: Então vem brincar!

E com essa brincadeira, com os movimentos que eu já fazia, o Babalu se surpreendeu e me chamou de malandro, “Tu é malandro heim, que me pegar!” aquela brincadeira de capoeira mesmo. E dali então, ele me colocou o apelido de Índio. “Tu parece um índio rapaz, vou te chamar de índio.” E esse índio está até os dias de hoje, conhecido agora como Mestre Índio Maranhão. Logo em seguida, eu conheci outra roda de capoeira, que tinha como comandante o Firmino Diniz ou “Velho Diniz”, que eram rodas de rua, e ele fazia essa roda em vários bairros e setores lá de São Luis, e eu comecei a acompanhar esse cidadão, que foi aluno de Mestre Catumbi no Rio de Janeiro na década de 50, quando ele serviu na Marinha. E eu o acompanhei, fazendo minha caminhada até 2012 quando ele veio a óbito aos 87 anos de idade, falecendo por doenças múltiplas, pois ele já vinha meio adoentado. Ele foi o homem que me formou a Mestre em 1996. Na minha caminhada muitos já me chamavam de mestre, mas ele foi o homem que deu a minha graduação de mestre. Pausa: “Neste momento Mestre Índio se emociona pela lembrança do velho amigo”. RODA DE CAPOEIRA: Mestre Índio, voltando lá atrás, nessa iniciação de sua caminhada a partir de quando o senhor conheceu o Babalu e o Velho Diniz, quais eram as referências de capoeira conhecidas em São Luis do Maranhão? Teve alguma roda ou um momento que te marcou e deixou saudade? MESTRE ÍNDIO: Neste tempo lá atrás eu não acompanhei muito, mas eu tenho conhecimento da história da capoeira de São Luis do Maranhão, pois o Velho Diniz passava isso para a gente. Ele dizia que a história da capoeira lá no Maranhão, precisamente em São Luis, ela começa em 1885. Ele dizia que os estados mais antigos da capoeira, eram Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Maranhão. A capoeira chega em 1885 no Maranhão, porque os escravos que eram enviados para lá, vinham do Rio de Janeiro, não vinham de outros estados, eram específicos do Rio de Janeiro, enviados para a cidade de Turiaçu, e de Turiaçu para São Luis.


Deste período de 1885 a 1959, quando surgiu o primeiro grupo de capoeira, um grupo chamado Grupo Bantu de Capoeira, comandado por Roberval Cereja, que era marinheiro, e foi do Rio de Janeiro para São Luis, e chegando lá montou esse trabalho de capoeira. Lembro muito bem do Velho Diniz contando isso para a gente, eram: Roberval Cereja, Babalu, Jese, Patinho, Bizerra, Manuel Peitudinho, Murilo, Lourinho, Elmo Cascavel e Alô, esse grupo de 10 pessoas. Era um grupo isolado, não saia muito até por causa do preconceito da época e da taxação que aquela rapaziada recebia de vagabundo, arruaceiro e etc, pois capoeira era tudo o que não prestava na boca da sociedade. Então nego se isolava muito, treinavam muito ali e às vezes saiam para as festas, onde aconteciam as brigas, ai eles quebravam a galera e os caras às vezes nem sabiam de quem estavam apanhando, anos depois vieram a saber, que eram da capoeira. Em 1966, um grupo chamado Aberrê, fez sua primeira viagem a São Luis, era comandado pelo Mestre Canjiquinha, acompanhado de Brasília, Vitor Careca e João Pequeno. Dois anos depois eles retornaram, isso em 1968, dessa vez com uma alteração no quarteto, tendo Canjiquinha como mentor, Sapo Cola, Brasília e João Pequeno, o Vitor Careca não foi. Assim eles ficaram como uma referência dos percussores da capoeira, sendo que o Sapo Cola, a convite do governador, permaneceu em São Luis. Dessa forma, até o José Sarney, querendo ou não, tem um dedo dele na capoeira do Maranhão, isso em 1968 quando ele foi governador do nosso estado.

A roda de capoeira mesmo que me marcou, foi quando eu comecei a frequentar as rodas do Velho Diniz, que era uma roda lá na Bom Milagre, com vários companheiros que eu lembro até hoje o nome deles, que era o Velho Diniz como chefe da roda, Sargento Gouveia, Babalu, Jese, Elmo Cascavel, Esticado, Raimundão, Alan, Gordo, Volf, Mimi, Ribaldo Branco, Ribaldo Preto, Zeca Diabo, Curador, Cordão de Prata, Sabujá, Patinho e Mareco, tinha mais ou menos uns 30 capoeiras que ele comandava essa galera todinha que comparecia lá nessa roda, e isso marcou a minha iniciação na capoeira, foi a roda da Bom Milagre, eu estava com uns 15 anos de idade na época, hoje estou com 58, daqui a 2 anos eu completo os 60 anos nesse mundo cão ai da capoeira. Em 1976 eu vim no Rio de Janeiro, e o primeiro capoeira que eu conheci nessa cidade foi o Dentinho, irmão do Mestre Touro, depois eu vim conhecer o Farpa, o Mosquito que dava aula lá na Pompeu Loreiro em Copacabana, e depois eu fui conhecendo mais a galera aí da capoeira. Em 1980 eu conheci o Mestre Zé, Mestre Medeiro, o Canelinha e mais um outro que eu não consigo lembrar o nome dele agora. E essa caminhada já tem aí 43 anos, que eu completei em junho passado. RODA DE CAPOEIRA: Com essa sua caminhada, que como o senhor disse já tem 43 anos iniciado no Maranhão, passando pelo Rio de Janeiro e com certeza muitos outros estados e até outros países, o senhor tem uma história muito grande, muitas vivências. Como o senhor vê a capoeira hoje em dia? Pois naquela época a capoeira era bem recriminada como o senhor já citou, quem praticava era considerado como vadio, arruaceiro, vagabundo e hoje em dia está em um patamar que talvez ainda não seja o ideal, mas teve uma melhora significativa! MESTRE ÍNDIO: Vou falar como vejo lá em São Luis, a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruande, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. Com essas minhas andanças com a capoeira, passei por Rio de Janeiro, Goiania, São Paulo, Fortaleza, Belém e outros estados. Em julho de 1999 tive a felicidade de ir à Espanha através da capoeira, pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua do Rio de Janeiro, por intermédio de um intercâmbio eu


passei 35 dias na Catalunha. E dessa época pra cá, eu vejo a capoeira só se fortalecendo, com viagens que outros mestres vem fazendo pelo outro lado do atlântico, como o Nestor Capoeira que é um dos percussores da capoeira para a Europa, e outros tantos mestres para Estados Unidos, Ásia e etc, tendo a capoeira em mais de 160 países. Veja só, não são 60, são 160 países, graças a Deus. E a UNESCO vendo a capoeira em todos esses territórios, veio a agraciar a Roda de Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. E temos visto vários projetos sendo feitos no Senado e Câmara dos Deputados beneficiando a capoeira, então isso para nós é de tamanha grandeza, porque lá nos anos 60 e 70 a capoeira era muito mau vista, hoje a capoeira deu um salto muito grande e isso satisfaz muito nós capoeiristas, apesar de ter um grupinho querendo a profissionalização da capoeira, mas a capoeira já é profissão a muito tempo, começando do Bimba que foi o camarada que levou a capoeira pra dentro de recinto fechado, pois a capoeira primitiva era praticada na rua e de repente o Mestre Bimba coloca dentro de recinto fechado, tendo a maioria dos alunos sendo de família nobre, abastada de Salvador que passam a pagar para assistir as aulas. E hoje, querendo ou não a capoeira passou a movimentar dinheiro, não enriqueceu os Mestres como eu e muitos outros que tem por aí, mas a capoeira move bilhões e bilhões no Brasil e no mundo, e isso está crescendo o olho dos camaradas, querendo fazer essa profissionalização. Veja bem, a capoeira já é profissão para muitos desde os anos 30, para outros que só querem vadiar e jogar é esporte. Mas a capoeira como sempre é uma luta de resistência, e vamos resistir a mais isso aí. RODA DE CAPOEIRA: Como o senhor lembrou a UNESCO declarou a Roda de Capoeira como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade. O senhor já viajou para fora do Brasil, indo à Espanha em 1999. Como se diz no futebol, o brasileiro já nasce com um gingado, e vemos hoje muitos estrangeiros se esforçando para aprender a capoeira e a nossa língua. Com essa percepção, como o senhor vê atualmente os estrangeiros na capoeira? MESTRE ÍNDIO: Estava a pouco conversando com outros mestres ali sobre essa situação dos estrangeiros na capoeira. Na década de 80 os Estados Unidos estavam investindo em pesquisas para provar que a capoeira não era genuinamente brasileira. O Mestre Dé que é mais velho do que eu, confirmou essa história. Vou citar a Europa que tem muito países, onde vemos que os estrangeiros são muito determinados, querendo ou não é a palavra perfeita para isso, e eles também são exigentes e cumpridores de horários, e eles são terríveis neste ponto, pois eles te sugam até a última gota querendo aprender e vemos que cada um é melhor do que o outro. Nos meus encontros, lá em São Luis do Maranhão, eu tenho recebido pessoal da França, da Itália, que vão a eventos de outros capoeiras e acabam indo visitar o nosso evento através de outros mestres, e você vê aqueles camaradas jogando capoeira, até muitas vezes melhor do que nós brasileiros. Eu acho incrível, como aqueles meninos se sobressaem dentro da roda de capoeira. E hoje, tem roda de capoeira em Portugal e na Espanha que brasileiro não joga, é proibido jogar. E o que vai acontecer é que esses caras vão olhar a gente de cima. Esse Campeonato Internacional que eles estão querendo fazer aqui no Brasil tem dinheiro deles aí. A nossa comunidade, os grandes estados da capoeira no Brasil, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Bahia não estão muito de acordo. Eu não sei qual é a linguagem deles, mas eles estão aí pra fazer, com financiamento alto. RODA DE CAPOEIRA: Fale um pouco sobre o seu grupo e o seu trabalho? MESTRE ÍNDIO: O meu grupo foi fundado no dia 07 de julho de 1987, inicialmente com o nome de Grupo de Capoeira Filhos de Ogum, no bairro Bom Milagre em São Luis – MA. Em 1992, alterei o nome do grupo para Centro Cultural de Capoeira São Jorge e em 2000, consolidamos o nome como Associação Cultural de Capoeira São Jorge. Atualmente a Associação Cultural de Capoeira São Jorge realiza trabalhos nas cidades do Rio de Janeiro – RJ, São Bento - MA, São Vicente – MA, Palmeirandia - MA e na capital maranhense onde fica a nossa sede. A 8 anos eu venho realizando um evento que eu chamo de encontro, este ano estaremos fazendo nosso 8ª Encontro Nacional de Capoeira no Maranhão, e a realização disso é um trabalho muito grande, eu levo mestres do Rio de janeiro, de São Paulo, de Brasília pra lá aos trancos e barrancos sem um puto de governo nenhum pra ajudar. A capoeira é essa luta o tempo todo. Sabemos que todos os Iphans do Brasil possuem uma verba para investir na cultura, mas quando você chega lá com seu ofício, com sua solicitação, é exigido um monte de documentos que você não tem, te pedem nada


costa de INSS, nada consta do Ministério do Trabalho, nada consta da Polícia, nada consta disso e daquilo. É tanta burocracia, e você precisando daquilo para ontem. E você acaba desistindo, e esse dinheiro acaba não sendo usado e volta para os cofres públicos. Em 2012, voltou 300 milhões para o caixa da receita federal do Iphan, porque esse dinheiro não foi usado. Eu tenho um trabalho na periferia, na zona rural, onde temos 60 crianças, e não temos ajuda do governo, seja federal, estadual, municipal, é bancado pelo organizador, que é o Sargento Edson, ele e a esposa, eles são policiais, e são eles que dão o lanche para essas crianças 3 vezes por semana. Eu dou aula nas terças e quintas, e no sábado é o Bombeiro Mirim, isso para ocupar aquela criançada lá, o que deveria ser um trabalho do governo. Sabemos que dinheiro tem, mas nego fica fazendo aquelas enroladas e dinheiro não aparece, mas a gente tá lá, aconselhando, educando e disciplinando essa criançada, ocupando o tempo deles para eles não ficarem lá a toa fazendo bobagens. Para esse evento, sortíamos 10 cordas e 10 camisas para essas crianças que não tem nada, com o dinheiro que conseguimos com as cordas e camisas nos outros núcleos, utilizamos para montar a estrutura do evento e para trazer outros mestres e convidados de fora, pagando passagem de avião, translado, estadia e alimentação. Eu já tive a oportunidade de trazer para evento meu o Mestre Toni Vargas, Mestre Bocka, Mestre Ramos, Mestre Onça, Mestre Deputado sem precisar da ajude de nenhum infeliz. Mas quando é época de eleição, aparece um monte de infeliz oferecendo ajuda, pois sabe que temos uma presença dentro das comunidades com a galera, mas fora disso quando precisamos, se a gente chega lá atrás deles, e eles nunca podem. RODA DE CAPOEIRA: Mestre Índio, para não continuar tomando muito seu tempo, pois estamos aqui num evento, eu gostaria que para encerrarmos esse papo, o senhor deixasse uma mensagem para os jovens que estão iniciando na capoeira? MESTRE ÍNDIO: Bons mestres nós temos em todo lugar, maus mestres também não faltam, isso é claro! Para o aluno, ele tem que procurar uma boa casa, uma boa escola de capoeira. Temos aí vários nomes na capoeira, seja ela capoeira angola, capoeira regional, capoeira contemporânea, capoeira moderna ou capoeira mista, lá em São Luis nomeamos como capoeira mista, que é a capoeira angola e regional tudo junto. Já diz o Mestre Deputado muito bem, para você dizer que é Angoleiro, você tem que ser de uma Escola de Capoeira Angola, para dizer que é regional, você tem que ser de uma Escola de Capoeira Regional. E nossa rapaziada hoje que tá iniciando, que quer aprender realmente a capoeira, tem que ter determinação, estudar muito, porque num futuro bem próximo, o que está acontecendo hoje, alunos querendo ser mestre a qualquer custo, comprando corda e outros se auto-graduando, acabam que não conhecem sua raiz, não conhecem sua vertente, não conhecem a sua linhagem. Não tem história para contar e assim, o que ele vai ensinar para seus alunos no futuro? Por isso, você tem que se dedicar muito há capoeira, não só na capoeira mais como nos estudos, completar o colégio e se possível chegar a faculdade, podendo fazer a área da Educação Física que vai te ajudar a conhecer toda a anatomia do corpo humano. Na minha época tivemos pouca oportunidade para isso, mas hoje em dia é preto no branco, você não é ninguém se não tiver um bom estudo. O que eu peço hoje para os alunos é que não parem de estudar para um dia chegar a ser um mestre de capoeira. O Mestre Deputado é um grande cirurgião, o Mestre Medicina é outro grande médico nesse Brasil e no mundo, e são meus camaradas, e de uma simplicidade sem igual. E temos outros mestres que são advogados, engenheiros e outras profissões que estão ai no mundo da capoeira, pois se apaixonaram pela arte, se dedicaram e hoje são mestres. A rapaziada de hoje pode ter o mesmo caminho, ter uma boa profissão, ser um doutor, advogado, promotor e até juiz, mas tem que se dedicar e estudar. Isso que eu falo para meus alunos, para que eles possam ter um futuro bem próspero. Eu não sobrevivo 100% da capoeira, pois eu sou funcionário público lá em São Luis do Maranhão, mas é ela que me leva e me trás, e eu só tenho que agradecer a ela por tudo que ela me deu. RODA DE CAPOEIRA: Mestre Índio Maranhão, queremos deixar registrados o nosso agradecimento por aceitar o convite para esse bate-papo, deixando as portas do site abertas, sendo mais uma ferramenta para o senhor e para o seu grupo continuar contribuindo com a capoeira.


Mestre PIRRITA

1955 Mestre ESTILO DADOS PESSOAIS

MESTRE

PIRRITA Capoeira Mista, Angola do Maranhão. Capoeiragem Tradicional Maranhense VICENTE BRAGA BRASIL São Luís - Maranhão, 11 de abril de 1955. Rua São Sebastião, nº 08 – Anjo da Guarda - Escolaridade: Ensino Médio Completo Mestre pela Associação de Capoeira Angola, Mestre Pezão ( José de Ribamar Teixeira Silva) Pezão

GRUPO/NUCLEO ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA ARUANDÊ Vida na Capoeira: Reconhecido mestre pela Associação de Capoeira Angola, a qual tem como mestre dirigente, José de Ribamar Teixeira Silva, o mestre Pezão, Campeão e Vice-Campeão Brasileiro de Capoeira. Começou a simpatizar pela capoeira em 1972, quando pela primeira vez teve a oportunidade de assistir uma exibição na Praça Deodoro, onde estavam presentes, Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, Velho Diniz, Babalu, Manoel Peitudinho, Cara de Anjo, Sargento Gouveia, Antonio José (Mestre Pato) e outros. Com a euforia daquele jogo de pernas, movimentos rápidos que se entrelaçavam e com o encanto produzido pelos sons dos berimbaus, começou a dizer para si, que um dia aprenderia aquela luta, que nem mesmo sabia o nome, desse dia em diante começou a se informar sobre a capoeira. Foi quando em 1973 ficou sabendo que Anselmo Barnabé (mestre Sapo), estava dando aula de capoeira no ginásio Costa Rodrigues, indo a procura do mestre Sapo para efetuar a sua inscrição e passou a treinar a capoeira pela primeira vez, mas na época trabalhava como ferreiro armador, tendo de viajar para o interior do estado do Maranhão pela empresa que era empregado, parando assim os treinamentos. Quando voltou a São Luís, sua irmã um ano mais nova do que ele, estava treinando um pessoal da MARATUR, a dança do Caboclo de Pena, para uma peça teatral baseada no Bumba Meu Boi do Maranhão, onde Babalu fazia parte desse elenco. Através de sua irmã foi apresentada a Babalu; sabendo que Pirrita gostava de capoeira e não tinha quem o ensinasse, convida-o para treinar com ele, nessa época o Babalu dava aula na Praça Gonçalves Dias, não chegando a treinar dois meses, pois Pirrita se sentiu rejeitado pelos outros alunos, por serem de classe econômica mais alta, e tinham mania de grandeza, quando terminavam as aulas, saiam de carros ou motos, e


o Pirrita voltava andando para sua residência no Bom Milagre, se sentindo mal, com complexo tolo de inferioridade, parou de treinar com Babalu, com isso passou a frequentar as rodas de capoeira, ficava a observar com cuidado os movimentos, chegava em casa treinava sozinho, sem ter ninguém para treinar ou orientá-lo. No final de1973, descobriu que próximo a sua residência, havia um pessoal treinando capoeira, um cidadão chamado Suruba, o mesmo treinava com Ribinha de Tapuia, juntou-se a eles e passou a desenvolver mais os treinamentos. Em 1974, quando se casou, foi morar na residência da sogra e começou a incentivar o seu Cunhado Jorge (Mestre Jorge) a praticar capoeira, juntos começaram a desenvolver os movimentos que já conhecia, mas com a vida de casado as coisas começaram a ficar difíceis, mesmo assim, continuou firme treinando a arte que escolhera para se dedicar. Em 1979 Pirrita se mudou para o bairro Anjo da Guarda, junto com Jorge começou a treinar capoeira com mais dedicação, nessa época já tinha mais entrosamento com outros capoeiristas de São Luís, passando a participar de rodas que a aconteciam na Praça Deodoro e na Praia do Olho D’água, organizadas por Pezão, chegando a marcar presença em outras rodas de capoeira que aconteciam na ilha. No mesmo ano de 1979, Pirrita começou a ensinar o que já sabia a alguns jovens, que o procurava para aprender capoeira, entre eles se destacou o Zezão, já falecido, foi aí que surgiu a ideia de formar um grupo. Com o fruto dessa ideia, surgiu o Grupo de Capoeira Aruandê, formado por Pirrita dirigente, Jorge, Sabujá, Zezão, Cícero, Roquinho, João Bicudo, Bigu e mais alguns alunos, tendo durado pouco tempo, por razão de alguns participantes não quererem seguir as normas, colocadas por Pirrita. Em 1980 Pirrita começou a treinar alguns alunos que mostraram interessados em manter o grupo com suas atividades, mas uma vez observou que os alunos não queriam saber de compromisso. O Pirrita procurou alguns capoeiristas experientes para fazerem exibições de capoeira nos festejos juninos, permanecendo ainda o nome de grupo Aruandê, dentre eles o Jorge, Índio, Zé da Madeira, Curió, China, Baiano, Zezão, Roquinho, Cícero e seu irmão Brasil, que na época já praticava capoeira, quando terminaram os festejos juninos, o grupo novamente se dispersou, por incompreensão dos participantes. Nessa mesma década de 80, a capoeira do nosso estado passou no anonimato, apóia rodas de capoeira já não se olhava, as pessoas que praticavam tinham se acomodado, não se olhava mais as rodas na Deodoro, Casas das Minas e Praia do Olho D’água. Nesse período Mestre Pirrita e o Mestre Jorge tiveram a ideia mais uma vez de reunir os capoeiristas que frequentavam seu centro de treinamento, entre eles estavam Sabujá, João Bicudo, Urucunga, Cícero, Ribaldo Preto e outros, e aproveitando a época do carnaval começaram a reativar as rodas de capoeira na praça Deodoro, despertando nos capoeiristas a vontade de voltarem a jogar capoeira em nossa praça. Mestre Pirrita deu um grande passo, pois os capoeiristas veteranos voltaram a se encontrar na praça Deodoro para a pratica da capoeira. Entre eles Ruy Pinto, Euzamor, Candinho, Curador, Pelé, Patinho, Madeira, De Paula, Banana, Miguel, China e Outros. Neste período a área Itaqui – Bacanga passa a ser uma grande referência da capoeira do nosso estado, pois reunia-se capoeira de todos os bairros para a pratica da capoeira no Anjo da Guarda, a mesma sob a liderança do mestre Pirrita e do mestre Jorge, pois os dois começaram a realizar grandes eventos da época, como: I - Torneio Classe Estreante, II, III e IV Movimento Pró-Capoeira, I Festival Capoeira nos Bairros, nessa época já existiam na área Itaqui-Bacanga, vários grupos organizados como: Aruandê (Mestre Pirrita), Filho de Aruanda ( Mestre Jorge), Filhos de Ogum (Mestre Índio) e Marabaiano (Mestre Jair). Apesar dos eventos realizados, os mesmos realizavam batizados, e haviam rodas em vários locais como a Praça do Anjo, Teatro Itapicuraíba, Barrigudeira, Mercado do Anjo da Guarda e União de Moradores do Sá Viana, e aos sábados o Mestre Pirrita recebia grande número de capoeirista em sua academia. Centro de Treinamento Aruandê, com a ideia de manter o grupo com alunos formados por ele, tendo como objetivo, divulgar e valorizar a nossa capoeira. Em janeiro de 1982, pais de alguns jovens, da rua em que mora, para participarem de uma reunião, onde procurou mostrar para eles o plano de trabalho, fazendo entender que ali a capoeira, iria ser ensinada de modo educativo, como esporte, cultura e defesa pessoal, de maneira que o trabalho seria em prol da capoeira, como alguns amigos já vinham desenvolvendo em outros bairros. Com essa reunião, surgiram os primeiros alunos do Centro de treinamento Aruandê, com ideias voltadas em benefícios dos alunos, desenvolveu um método de treinamento, muito simples, transmitindo o


que já sabia, dando os mais importantes exemplos da capoeira, o método baseado em sequências, combinações e transformações, que segundo o seu ver, é o meio mais simples de se aprender capoeira para as pessoas que se dedicarem as suas normas. Através do centro de treinamento, o Grupo de Capoeira Aruandê, vem fazendo história em nosso estado, com a missão de engrandecer cada vez mais essa arte genuinamente brasileira, participando de outros encontros, movimentos, e outros eventos relacionados a capoeira. Em 1985 o grupo Aruandê juntamente com o grupo Filhos de Aruanda, promoveram o Primeiro Movimento Pró- Capoeira do Maranhão, que tinha por objetivo, reunir todos os capoeiristas do nosso estado para o engrandecimento da capoeira. Em agosto do ano em curso, o grupo Aruandê, participou do Primeiro Encontro de Capoeira do Maranhão, e de várias reuniões onde estavam presentes vários capoeiristas do Maranhão. Em 1986, o grupo Aruandê se destacou entres outros grupos de nosso estado, junto ao grupo Filhos de Aruanda com apoio do CCN-MA - Centro de Cultura Negra do Maranhão, realizaram o Segundo Movimento Pró-Capoeira do Maranhão e o Primeiro Torneio de Classe Estreante, com objetivo de chamar atenção da classe capoeirística para a necessidade de melhor organização da capoeira em nosso estado, no torneio de classe estreante, o grupo Aruandê ficou em segundo lugar por equipe, receberam o troféu destaque os alunos Brasil, Zeca e Magno, recebendo medalhas de ouro, prata e bronze. No período de 31 de janeiro a dois de fevereiro de 1986 o professor Pirrita participou em Vitoria-ES, do segundo congresso nacional da UJS, representando seu grupo e estado, tendo como pauta do congresso, voto aos 16 anos, luta contra o racismo, defesa da liberdade, direito a prática esportiva e culturais. Aconteceram torneios esportivos, maratonas, apresentações folclóricas, culturais, debates e exibição de capoeira. Na delegação que estava representando o estado do Maranhão, teve como destaque o professor Pirrita recebendo medalha de honra ao mérito por se destacar individualmente na apresentação de capoeira. O Grupo de Capoeira Aruandê participou da festa em comemoração ao dia do trabalhador, primeiro de maio, promovida pela FETIEMA, tendo por objetivo, levar ao conhecimento da sociedade a importância de resgatar a capoeira do Maranhão, para engrandecer mais esse dia, teve a presença de capoeiristas veteranos, entre eles Baiano, Ruy e Euzamor. Ainda nesse mês, o grupo Aruandê marcou presença no Programa Nacional de Capoeira - PNC, onde as reuniões aconteceram no Centro de Cultura Popular, contando com a presença de vário capoeiristas de São Luís, o subsecretário de educação física da SEED, Professor Person Cândido Matias, explicou a importância do PNC em nosso estado. Na candidatura do deputado Luis Pedro, o grupo Aruandê foi convidado para marcar presença na câmara dos deputados, dando naquele local uma verdadeira exibição de capoeira, aproveitando a oportunidade, o Professor Pirrita, levou ao conhecimento de todos a falta de apoio a capoeira em nosso estado. Em agosto de 1986 alguns participantes do grupo Aruandê, Cascavel e Raízes de Palmares, fizeram juntos várias apresentações de capoeira na ESPOABA em Bacabal-MA, com objetivo de difundir naquela comunidade a capoeira arte, cultura e esporte, praticada por todas as camadas sociais, tendo êxito no objetivo. O CCN-MA, realizou nesse mês a segunda noite do som afro e o grupo Aruandê foi convidado para fazer uma exibição, nessa oportunidade o grupo fez uma grande apresentação de maculelê. No dia 20 de novembro de 1986, o CCN-MA comemorou o Dia Nacional da Consciência Negra, tendo como objetivo o resgate da memória nacional do grande herói, Zumbi, que morreu na luta pela liberdade de seu povo e o grupo Aruandê, marcou presença em mais um importante evento relacionado a nossa cultura. No dia 30 de novembro do ano em curso, aconteceu em Brasília-DF, o Primeiro Festival Praia Verde SESC-DF de Capoeira, o Maranhão foi representado por uma delegação composta pelo professor Pirrita e o seu aluno Negão do grupo Aruandê, pelos professores Neguinho do grupo Argolonã, Evandro do grupo Raízes de Palmares, Vânio do grupo Cascavel, professor Jorge do Filhos de Aruanda e o professor Tita do grupo Unidos de Angola, mais uma vez o Maranhão esteve presente evento, procurando engrandecer cada vez mais a capoeira arte marcial brasileira. No dia 03 de março de 1987, o CCN-MA promoveu uma festa em comemoração ao primeiro aniversário do grupo Raízes de Palmares, tendo a participação de vários grupos de capoeira, que organizaram uma grande roda, mais uma vez o grupo Aruandê se fez presente em um grande evento. Com o objetivo de levar a capoeira aos colégios, não como jogo de competição, e sim como educação física, reunira-se no dia 13 de março de 1987, no ginásio do SESC, para criação desse projeto, o professor de educação física da UFMA, Denosthenes Montanane, o professor de educação física do SESC, Carlos


Alberto, o professor do Grupo Aruandê, Pirrita e seus alunos Brasil e Ciane, o professor do grupo Cascavel, Vânio, o professor do grupo Raízes de Palmares, Evandro e o professor do grupo de Apoio a Capoeira, Betinho. Organizador da reunião o CCN-MA, no dia 24 de abril 1987, todos os grupos de capoeira de São Luís, foram convocados para uma reunião na sede do Bumba Meu Boi da Floresta, tendo como objetivo a melhor organização da capoeira e que os capoeiristas veteranos dessem oportunidades para os novatos participarem de rodas abertas, que sempre aconteciam em nossa cidade, Niltinho representante do CCN, explica aos demais que a capoeira não deve ser mostrada com violência, e sim com toda a sua beleza, entre os participantes veteranos destacaram-se Pirrita, Neguinho, Pelé, Ruy, Candinho e outros. No dia 01 de maio de 1987, aconteceu uma grande manifestação da comunidade do bairro Anjo da Guarda e comunidades adjacentes, na luta pela legalização dos terrenos da área Itaqui-Bacanga, fazendo-se presente nessa manifestação, líderes políticos e comunitários, nessa oportunidade muitos poderam acompanhar uma exibição de capoeira arte marcial brasileira do grupo Aruandê. no dia 30 de maio do decorrente ano, o CCN, promoveu NO GINÁSIO Costa Rodrigues, a primeira mostra de capoeira do Maranhão, tendo por objetivos, mostrar para a sociedade a importância dessa cultura que educa, mente, corpo e espírito, e conscientizar os órgãos competentes em relação a capoeira, houveram competições entre os grupos presentes, ficando o grupo Aruandê em segundo lugar no Estilo Regional e segundo lugar no Estilo Angola, e o professor Pirrita foi condecorado com duas medalhas de honra ao mérito. No dia 29 de agosto o grupo Aruandê, se juntou ao grupo Filhos de Aruanda, e promoveram o Terceiro Movimento Pró- Capoeira do Maranhão. Neste evento juntaram-se no ginásio do SESC, vários capoeiristas e simpatizantes da arte para prestigiarem as exibições dos grupos participantes, tendo o apoio da federação e do CCN-MA, sendo condecorado com medalha de honra Pirrita e outros professores. O grupo de capoeira Aruandê e o professor Pirrita parabeniza CCN-MA por estar sempre presente na luta pelo engrandecimento da capoeira do Maranhão, promovendo e apoiando todos os eventos de capoeira em nosso estado. Parabeniza todos os capoeiras que tem lutado lado a lado, pela melhor imagem da nossa capoeira, pois unidos mais nossa cultura genuinamente brasileira, a Capoeira. Parabeniza aqueles que já se foram, mas deixaram grande contribuição para a capoeira, queremos expressar os nossos mais elevados sentimentos, e dizer que enquanto existir a capoeira, suas memórias serão sempre lembradas. Mais uma vez, no intuito de melhorar a organização da capoeira do Estado do Maranhão, reuniram-se os representantes dos grupos de capoeira, Pirrita, Jorge, Roberval Sena, Vânio, Evandro e Índio. Objetivo desta reunião, formar associações de capoeira, para a criação da Federação de Capoeira do Estado do Maranhão, na ocasião foram registradas as Associações de Capoeira Aruandê, Filhos de Aruanda e Cativos já existentes. Houveram várias reuniões sempre presentes os representantes de associações e grupos, as quais foram registradas em atas. Houve eleição dos membros da federação, tendo Sena sido eleito presidente e Jorge vice, Pirrita secretário. Logo após a eleição Sena relatou que todas as associações teriam que seguir o sistema de graduação da federação, contradizendo o que o mesmo tinha falado antes da eleição, que as associações teriam apenas que se filiarem. Com a nova ideia, o mestre Pirrita deixou o cargo e se ausentou das reuniões, pois tinha se decepcionado e não concordava com as normas impostas pela federação. Na década de 90 Pirrita com o objetivo de melhorar seu conhecimento, começou uma jornada de várias viagens a outros estados, entre eles o Distrito Federal, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Ceará, Piauí e outros. Já com os conhecimentos mais apurados começou uma turnê pela por cidades do Maranhão, podendo citar Coelho Neto, São Vicente de Ferrer, colinas, Buriti Bravo e Presidente Dutra. Da década de 2000 a 2017, o mestre Pirrita formou vários mestres, contramestres, professores e instrutores, dando continuidade aos seus ensinamentos, podemos mencionar entre eles os Mestres Pinta (Bacabal), Negão, Pedro, e Nelson (São Luís) e Rico (Valparaiso – GO), os contramestres De Aço (São Luís) e Ruston (Bacabal), os professores Leonardo e Tucano (São Luís) e Barra (Bacabal) e o instrutor Borracha (São Luís). O mestre Pirrita continua firme com o seu objetivo, realizando eventos, cursos, palestras e oficinas, tanto no Maranhão, quanto em outros estados, levando ao pódio mais alto, esta arte genuinamente brasileira a Capoeira”.


Mestre JORGE NAVALHA

JORGE LUIS LIMA DE SOUSA 1963 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

JORGE NAVALHA Mista Capoeiragem Tradicional Maranhense JORGE LUIS LIMA DE SOUSA São Luis, 08 de abril de 1963 Filiação: Antonio Pereira de Sousa e Dulcelina Lima Sousa Escolaridade: 2º Grau incompleto 1995 – Curso de Árbitro, pela FMC 1994 – Mestre pela FMC Pato

MESTRE GRUPO/NÚCLEO Associação de Capoeira Filho de Aruanda





Mestre CURIÓ

JOÃO PALHANO JANSEN 1956 MESTRE

CURIÓ Capoeira mista. ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense JOÃO PALHANO JANSEN Comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, 15 de fevereiro de 1956 Filiação: Domingos Palhano Jansen e Antônia Palhano Jansen DADOS Não tendo formação escolar PESSOAIS 2000 – 25 de maio - Certificado de Contramestre dado pelo mestre Miguel pelo Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo 2003 – reconhecido Mestre, pela FECAEMA RAIMUNDÃO MESTRE GRUPO/NÚCLEO Associação de Capoeira Arte Fiel. BIOGRAFIA DO MESTRE CURIÓ João Palhano Jansen, o Mestre Curió, casado com dona Joana Santos Reis Jansen, da qual teve quatro filhos, nasceu em 15 de fevereiro de 1956 na comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, no interior do Estado do Maranhão. Seus pais se chamavam Domingos Palhano Jansen e Antônia Palhano Jansen. Aos oito anos de idade foi para Santana, uma cidadezinha da região. Aos 10 anos de idade, sem saber, foi vendido para trabalhar em regime de escravidão numa fazendo do interior do Estado, mas sendo observador das coisas ao seu redor, percebeu que havia algo de errado e fugiu. Com 12 anos se mudou para a cidade de Coroatá. Aos 16 anos veio para São Luís, capital do Estado. Recebeu o apelido de “Curió” ainda criança, pois gostava muito de criar esse pássaro. Vivendo em um contexto de trabalho rural, não pôde estudar quando criança, mas na cidade aprendeu a profissão de pedreiro. Já adulto e com família para sustentar, cada vez que se matriculava em uma escola sempre surgia algum serviço fora da cidade em que precisasse viajar e com isso nunca conseguia conciliar estudo e trabalho, não concluindo as séries iniciais. Não tendo formação escolar, entretanto formou-se na escola da vida. Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertinho, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionoua com a Punga dos Homens, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. No mesmo ano, em 1975, aos 19 anos de idade, já fazia alguns movimentos e golpes da capoeira, sem no entanto saber direito o que fazia. Passou a assistir as apresentações de capoeira na antiga Estrada de Ferro, na casa de um amigo conhecido como Beto do Cavaco. Começou a se motivar. Os dois ainda iniciantes, brincavam juntos tentando aprender alguma coisa. Por meio desse amigo entrou pela primeira vez numa roda, na Praça Duque de Caxias (no João Paulo). Foi quando Curador, um capoeirista dessa época, comprou


o jogo e desferiu sobre ele vários golpes violentos sem levar em consideração que se tratava de um iniciante (esse mesmo Curador, conhecido por seus poderosos movimentos, martelo, meia-lua e ponteira, era um capoeirista marginalizado). Nesse momento outro colega, conhecido como João Matavó, interviu e disse pra não fazer isso com ele, ao que respondeu Curador: “Só entra em roda quem se garante!”. Este episódio ficou registrado na memória do Mestre Curió. Depois disso não entrou mais nas rodas, ia apenas para observar os capoeiristas jogando, analisando seus pontos fortes e fracos. A noite, ao chegar em casa do serviço, treinava sozinho no seu quintal os movimentos que aprendia olhando. Também treinava com alguns amigos em algumas ocasiões. Beto do Cavaco o levou para treinar com Raimundão. Treinou apenas dois meses, pois Raimundão precisou viajar para o Rio de Janeiro. Ali conheceu alguns capoeiras que também estavam aprendendo, Miguel, Tancrei, Boi, Caninana, Socó, dentre outros. Sem seu mestre, passou a treinar sozinho novamente, fazendo o que já sabia e esporadicamente pegando dicas com um e com outro, aprendendo a capoeira “no tempo”. Autodidata também não teve mestre de berimbau, aprendeu olhando e imitando. Quando ele conheceu a capoeira ainda morava na Jordoa, no João Paulo, e já com família, mulher e filhos, prosseguiu treinando. Em 1979 mudou-se para o bairro do Coroado, alguns meses depois para o bairro do Sacavém, e em 1980 já estava morando no bairro do Rio Anil, no Conjunto Bequimão. Na época em que Mestre Sapo ensinava nas escolas da cidade, Curió aprendia a arte da capoeira nos quintais e nas rodas de rua. Não conheceu pessoalmente o Sapo, só ouvia falar. Entretanto, conheceu personalidades da capoeira que não foram alunos de Sapo, mas de capoeiristas anteriores a ele. Boêmio, era frequentador das danceterias e dos clubes de reggae espalhados pela ilha, o Pop Som da Jordoa, o Espaço Aberto do São Francisco, na praia da Ponta da Areia, etc., entre o reggae e as rodas de rua, sua capoeira foi vivenciada num ambiente de periferia e de muita marginalização. Aproximadamente, dez anos depois, quando já se sentia suficientemente preparado para entrar na roda, jogou novamente com Curador e retribuiu a “lição”, caiu dentro dele atropelando seus martelos e meia-luas, jogando-o no chão. Caído, Curador exclamou: “Mestre! Mestre!”, ao que respondeu Curió: “Tu que é meu mestre!”. Desde então, o Mestre Curió sempre diz de forma irônica que seu mestre foi Curador, pois despertou nele o que precisava em sua aprendizagem. No afã de sua própria aprendizagem começaram a se reunir a ele amigos e vizinhos no seu quintal para aprenderem um pouco do que ele já sabia, isso por volta dos anos 80 no bairro do Rio Anil. Numa época em que ainda era incerta a definição de “mestre” no universo capoeirando ludovicense, sua aprendizagem se confundia com o ensinamento propriamente dito, “amigo” e “discípulo” não eram categorias muito diferenciadas, o que de fato existia era uma relação de troca de conhecimentos e experiências em diversos espaços da cidade (ruas, praças e quintais). Entretanto, por meio de sua ética e humildade, conquistou o respeito e admiração das pessoas, de maneira que o título de “mestre”, dado a ele, foi obra da experiência do tempo. Foi aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, que o Mestre Curió desenvolveu no bairro uma trajetória de 40 anos de capoeira. Na década de 90 criou o Grupo de Capoeira Arte Negra. Em 25 de maio de 2000 o mestre Curió juntamente com o mestre Socó recebeu um certificado de contra-mestre dado pelo mestre Miguel pelo Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo. Mais tarde também foi reconhecido formalmente pela Federação Maranhense de Capoeira. Depois em 2004 o Mestre Curió viajou para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições financeiras. O grupo ficou sob a direção de Bal (na época ainda era Contra-mestre) e de Português (na época professor). Durante este tempo, longe de São Luís, se tornou evangélico, primeiramente frequentando a Igreja Assembleia de Deus, depois a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Nesse período se afastou completamente da capoeira, mas esta permaneceu no sangue. Ao som do berimbau seu corpo estremecia. Com o passar do tempo a saudade da arte superou o preconceito. Em 2014, de volta a São Luís, por incentivo dos amigos e discípulos, revitalizou o grupo de capoeira mudando o nome para Arte Fiel, em alusão ao seu ideal evangélico. Em 2015, em parceria com seu filho Roberto, fundou o Instituto Funcional Viva Rio Anil, uma entidade sem fins lucrativos que engloba várias atividades esportivas e culturais.


Hoje, aos 61 anos de idade, o Mestre Curió ainda desenvolve um excelente trabalho de capoeira com crianças, adolescentes, jovens e adultos no bairro. Dono de uma natural sensibilidade ética, gosta de sintetizar sua filosofia de vida na frase: “Respeito não se compra, se conquista!”. Falando sobre a capoeira ele diz: “Eu não vejo capoeira como agressão […] o capoeirista não é para agredir as pessoas, o capoeirista é pra educar, apenas descobrir o talento de cada aluno, aperfeiçoar o aluno, por que o aluno já tem o talento, vai só aperfeiçoar o aluno. Cada dia ele vai passando e vai mostrando o que ele é capaz de fazer assim como o mestre passou pra ele. Então ele não é pra atacar ninguém [...] o mestre [...] quanto mais tu ensina mais tu aprende, quanto mais tu ensina, mais tu recebe, por que tu tá dando não é de graça? Daí de graça e recebei de graça, por que tu faz aquilo por amor [...] minha experiência é de mim mesmo. Eu não tive mestre, meu mestre me ensinou dois meses, entendeu? E os alunos que eu tinha em qualquer lugar que ele chega ele joga capoeira. Cada um tem sua capoeira. Vanio tem a capoeira dele, eu tenho a minha, Alberto a dele, mas cada um tem sua capoeira. O teu estilo é tu que faz. Tu tem um aluno, mas ele joga num estilo diferente de tu. Tu vai só [...] não é obrigado tu ser mestre dele e ele jogar do teu jeito. Não. Tu vai descobrindo ele, ele pode criar o jeito dele diferente. Não é obrigado tu jogar a capoeira do meu jeito. Mas eu que te dei o incentivo pra tu treinar. O mestre é isso aí. Só que eu dó um soco e tu dá três ao mesmo tempo [...] ‘Ah o mestre é o melhor’, não. Ele treina o aluno pra ficar melhor. Ele é criativo, o mestre é mais criativo. Ele tem coisa pra criar mais passando mais, mais, mais, entendeu? O mestre nunca tá perfeito, sempre tá aprendendo mais... Nós como mestre de capoeira, por que o Mestre Verdadeiro [Jesus Cristo] é perfeito. Ele veio como filho [...] tudo que ele fazia ele dizia, não sou eu quem faço, mas o pai faz em mim [...]” O mestre Curió não vê a capoeira somente como uma luta corporal, mas como uma luta espiritual. Segundo ele a luta do capoeirista é consigo mesmo, a capoeira é uma luta para a educação do próprio capoeirista. O mestre descobre o aluno e busca encontrar nele suas maiores qualidades. O mestre nunca está perfeito, os alunos ensinam o mestre, eles estimulam o mestre a buscar conhecimentos para passar pra eles. O mestre não deve atacar o aluno, o mestre é pra ser atacado e mostrar equilíbrio e paciência. O herói não é aquele que briga com dez, mas é aquele que diante dos agressores sabe se comportar de maneira que não ataque ninguém. O mestre aprende com os alunos e para os alunos. Quanto mais tu ensinas mais tu recebe. O mestre é criativo e tem sempre coisa pra passar e pra aprender. O mestre é um educador, deve trabalhar com as pessoas mais difíceis, deve conquistar as pessoas com paciência e carinho.

O QUE É CAPOEIRA: O mestre Curió não vê a capoeira somente como uma luta corporal, mas como uma luta espiritual. Segundo ele a luta do capoeirista é consigo mesmo, a capoeira é uma luta para a educação do próprio capoeirista. O mestre descobre o aluno e busca encontrar nele suas maiores qualidades. O mestre nunca está perfeito, os alunos ensinam o mestre, eles estimulam o mestre a buscar conhecimentos para passar pra eles. O mestre não deve atacar o aluno, o mestre é pra ser atacado e mostrar equilíbrio e paciência. O herói não é aquele que briga com dez, mas é aquele que diante dos agressores sabe se comportar de maneira que não ataque ninguém. O mestre aprende com os alunos e para os alunos. Quanto mais tu ensinas mais tu recebe. O mestre é criativo e tem sempre coisa pra passar e pra aprender. O mestre é um educador, deve trabalhar com as pessoas mais difíceis, deve conquistar as pessoas com paciência e carinho. Mas resumindo, ele vê a capoeira não apenas como uma luta corporal, mas principalmente uma luta espiritual, onde em sua prática ele elabora um sentido ético-moral e trata ela (a capoeira) como um instrumento educacional. Entretanto ele fala essas coisas com palavras muito simples, mas poderosas. Ele sempre repete: "Essa luta é com nós mesmos."


Mestre BAÉ

MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA 1960 (1966?) BAÉ CAPOEIRA MISTA/REGIONAL Capoeiragem Tradicional Maranhense FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA Penalva – MA, 01 de novembro de 1960 (identidade de 1966) Rua de Santa Rosa n.82 Bairro Forquilha Filho de Florizaldo dos Reis Costa e Inez das Graças Mendonça Formação escolar: Ensino Médio formado a Mestre em 15 de Janeiro de 2008 pelo Mestre Edybaiano PATURI (ANTONIO ALBERTO CARVALHO / BETINHO) EDY BAIANO (EDMUNDO DA CONCEIÇÃO) BAMBA (Salvador) (RUBENS COSTA SILVA)

MESTRE(s)

Associação de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira (17 DE Fevereiro de 1999) HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Em 1974 conheci O SR. ANTONIO ALBERTO CARVALHO / BETINHO (MESTRE PATURI) na Avenida Kennedi em frente da Paulo Frontim pois foi o primeiro local onde fui morar e logo depois me mudei para o bairro de Fátima; morava ao lado do bar da ZILOCA, que era um local muito freqüentado pelos amigos capoeiristas do Mestre Paturi, mas foi só em 1976 através de ALÔ que comecei a freqüentar os treinos do Mestre Paturi, na época não tinha academia para a gente treinar pois a gente treinava era nos locais combinados, ate porque tudo era bem escondido. GRUPO/NÚCLEO

No começo de 80 ainda treinei um período com o Mestre Jacaré e Depois por motivo de local de trabalho e estudo, ainda passei um período com o Mestre Pato, na época meus parceiros de treinos com Pato eram; Marcos Aurélio, Fred, Telmo, Riba e Iram. Ainda na década de 80, comecinho de 88, passei a treinar com EDMUNDO DA CONCEIÇÃO (MESTRE EDYBAIANO) ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA REGIONAL DO MESTRE EDY BAIANO E SEUS ALUNOS, onde me encontro até os dias de hoje. Mas a partir de 1993, o Mestre Edy Baiano me passou para também treinar em Salvador na ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA MESTRE BIMBA Com o SR, RUBENS COSTA SILVA (MESTRE BAMBA), Onde todo ano tenho que visitar e participar das suas atividades. Fui formado a Mestre em 15 de Janeiro de 2008 pelo Mestre Edybaiano. Mas eu já havia criado o GRUPO CANDIEIRO DESDE 17 DE Fevereiro de 1999.


Trabalho este que hoje vem Supervisionando outros Grupos criados por alunos meus em outras Cidades com a minha Autorização dando liberdade para que cada um possa colocar em pratica seus desejos de como trabalhar a CAPOEIRA. CAPOEIRÁ É: Acima de qualquer conceito para mim a Capoeira é uma filosofia de vida.


Mestre GAVIÃO

HELIO DE SÁ ALMEIDA 1967 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

GAVIÃO capoeira angola e regional Capoeiragem Tradicional Maranhense HELIO DE SÁ ALMEIDA São Luis, 05 de novembro de 1967 Filho de Alcino Almeida e Francisca das Chagas Almeida 1992 - Formado Professor (Mestre Madeira) e Mestre reconhecido pela comunidade capoeirista e formalizado com o mestre Pirrita através de um certificado. Madeira Pirrita

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Grupo Tombo da Ladeira (Desterro, fundado em 1992) BIOGRAFIA Eu, Helio de Sa Almeida, filho de Alcino Almeida e Francisca das Chagas Almeida, nascido no dia 05 de novembro de 1967, em São Luís –MA, no bairro do Desterro, onde tive meu primeiro contato com a capoeira em 1977. Numa época, quando tudo se focava no Centro Histórico: comércio, malandragem, etc. entre o Desterro e a Praia Grande, veio para o bairro um trabalho social liderado por Tácito Borralho que oferecia: teatro, música e capoeira. Tentavam contar a história da igreja do Desterro aos turistas que vinham visitar a área. Nessa feita conheci Raimundinho, o responsável pelas aulas de capoeira através do projeto. Ele era conhecido na capoeira como: “Raio”. Foi ele quem me deu os primeiros passos na capoeira, considerando que eu já gostava de arte marcial, mesmo antes começar a capoeira. As aulas eram realizadas na Igreja do Desterro e como criança se desenvolve rápido, começamos a fazer as rodas de capoeira, onde recebíamos diversos visitantes, dentre eles o Mestre Sapo, Pato, Louro, Baiano, Sócrates (irmão de Didi), Curador e outros capoeiristas da época. Meu primeiro parceiro na capoeira foi Bigu. Passamos 3 anos treinando juntos no projeto, quando nosso professor Raimundinho teve que ir embora para São Paulo e o projeto social acabou. Nós continuamos treinando, sem professor e ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara, sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de


floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. Nesse dia voltamos pra casa muito tristes. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Meu pai não via com bons olhos a capoeira. Para ele era coisa de marginal, mas minha vó-mãe liberou pra que eu pudesse treinar. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade. Treinamos na rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois mudamos para Rua da Alegria e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram 3 anos de treinos e depois a academia acabou. Fiquei treinando sozinho numa fábrica; por volta dos meus 17 anos fui treinar Karatê na academia Real. Quando cheguei lá, eram aulas de capoeira com Mestre Madeira. Cheguei numa quinta-feira e passei pelo primeiro teste: uma “bênção” e um” galopante” no ouvido. No outro dia ele falou que era apenas um teste pra saber se queríamos mesmo treinar capoeira. E isso eu pagando a mensalidade que na época custava R$ 5 cruzeiros! Começou a me levar para as rodas. Fomos a roda da 13 de Maio, na casa de Jorge Babalao, e nas rodas da Deodoro, foi onde eu conheci meu segundo parceiro na capoeira: Fabio Arara. Pagamos um preço alto para treinarmos capoeira, até fome passamos. O mestre era muito rigoroso na sua aula. Treinamos durante 15 anos juntos, quando comecei a dar aulas no bairro do Desterro, na sede da Flor do Samba, em 1992. Infelizmente tive que romper com meu mestre devido a sua ignorância. Ele nos visitou na sede com alunos mais velhos e começou a machucar meus alunos que eram praticamente crianças. Eu nunca havia enfrentado meu mestre, sempre lhe fui muito obediente, mas precisei tomar uma postura frente a essa situação grotesca. Eu, sozinho, chamei para mim a responsabilidade, e joguei com todos. Foi um dia difícil, mas não poderia deixar meus alunos apanharem violentamente. A partir daí criei meu próprio grupo o Tombo da Ladeira, que já tem seus 26 anos de existência e resistência na capoeira. Já viajei por muitos estados brasileiros a procura de capoeira, e sempre busquei manter minhas raízes e só absorvendo o que achava interessante para enriquecer minha capoeira. Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, me viu jogando e me perguntou: “Oh Mestre essa sua capoeira é africana” Hoje já tenho meus 40 anos de capoeira, onde já tenho uma certa vivência e posso afirmar que, se não fosse a capoeira, provavelmente não estaria vivo agora. Para mim capoeira é: arte, esporte, lazer, luta e cultura. A capoeira maranhense é mista: joga em cima e joga em baixo.


Contramestre SÍLVIO FORMIGA ATÔMICA

SÍLVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ 1973 CONTRAMESTRE SÍLVIO FORMIGA ATÔMICA CAPOEIRA, sou obediente ao berimbau: o que ele tocar eu jogo, se Angola, ESTILO Regional, Contemporânea ou Benguela Capoeiragem Tradicional Maranhense DADOS SÍLVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ PESSOAIS São Luis, 08 de setembro de 1973 Filho de José Ribamar Sá Cruz e Otacília Domingues Pereira Casado com a Senhora Joedite de Fátima Sales Cruz, tem 03 filhas, Gabriela de Fátima Sales Cruz, Poliana Samara Sales Cruz e Rayanne Fonseca Cruz e uma Neta Julia De Fátima Pinheiro Cruz. Técnico em Eletromecânica Superior incompleto em Pedagogia MESTRE

GRUPO/NÚCLEO

MADEIRA Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira - 2011

NOME: Sílvio José da Natividade Pereira Cruz, nome dado por uma tia, chamada Tia Teté. Casado com a Senhora Joedite de Fátima Sales Cruz, tem 03 filhas, Gabriela de Fátima Sales Cruz, Poliana Samara Sales Cruz e Rayanne Fonseca Cruz e uma Neta Julia De Fátima Pinheiro Cruz. ORIGEM DO SEU NOME  SÍLVIO: Escolhido por sua tia avó, irmã da mãe do seu pai  JOSÉ: Nome do seu Pai  NATIVIDADE: Por sua tia ser muito católica e eu ter nascido no dia 08 de Setembro, no dia de Nossa Senhora da Natividade, ela colocou esse nome.  PEREIRA: Sobrenome da sua mãe  CRUZ: Sobrenome do seu pai. Filho de José Ribamar Sá Cruz e Otacília Domingues Pereira, nasceu no dia 08 de Setembro de 1973, na Avenida Cajazeiras, na maternidade Benedito Leite no Centro, São Luís – MA. O apelido “Formiga Atômica” foi um de vários que o seu mestre Madeira lhe deu. Por ser de estatura pequena, mas considerado muito forte para sua pequena estatura, e muito pulador, os outros apelidos foram:


Borracha e Tamanduá, ficando mesmo Formiga Atômica, mas é mais conhecido como (CM Sílvio ou Silvinho) Meus primeiros contatos coma a capoeira foi no final dos anos 70, através da novela Escrava Isaura, comecei a fazer meus primeiros movimentos por volta de 1979, com um amigo de nome Fernando que ensinava um grupo de crianças em um quarto de chão batido no fundo de sua casa, foi quando comprei um saco de açúcar na quitanda do Sr. Joãozinho e pedi para uma vizinha chamada Tereza fazer minha primeira calça meia canela de capoeira, depois de ficar quase uma semana de molho para poder largar o açúcar. Por volta de 1983, comecei a treinar com dois irmãos de nome: Michael Clean Cruz Alves seu apelido (Shell) e o Flávio de Arruda Cruz (seu apelido “Braço”, por ter o braço quebrado) que treinaram com Aldo (Lôlô) e Otacílio que também eram irmãos e que vieram treinar com Leles que mais tarde se tornaria o mestre Madeira, nesse período o nosso local de treino era uma casa de festa chamada Cajueiro, localizada no São Francisco, travessa da rua 02 que mais tarde se chamaria de Espaço Aberto um clube de reggae chamado também de “ casa da música”, tivemos que parar com os treinos porque o proprietário “ Sr Ferreirinha” na época não permitiu que continuássemos com os treinos no clube, assim ocasionou o término do grupo. Por volta de 1985 começo a treinar no Centro Comunitário, localizado na Rua 03 no Bairro do São Francisco e quem dava aula nesta época era o jovem Fabio Gonçalves Filho, que era chamado e Fabinho e mais tarde se tornaria mestre “Fabio Arara” com quem aprendi vários movimentos, que por sua vez já treinava com o mestre ”Madeira” e ainda no Centro Comunitário, conheci um português de nome Lincon, professor Lincon que nos ensina ginástica olímpica, foi com quem aprendi executar meus primeiros saltos, após esse período eu fui matriculado em uma instituição para menores “ FEBEM” – Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, localizada na Rua do Norte, próximo ao cemitério do Gavião em São Luís –MA, nesta fundação passava o dia todo fazia oficina de mecânica e treinava capoeira com um professor que se chamava Herbeth; na ocasião levava meu irmão caçula, o Marcilio José, a quem o professor chamava de lambisgoia por ele ser muito magrinho, depois o mestre Madeira trocou esse apelido para Pelezinho. Em 1987 com 14 anos de idade eu já estava registrado profissionalmente, consegui um emprego de zelador em uma conservadora (Conservadora Timbira Serv. Gerais) foi quando eu conheci o mestre Madeira e me matriculei em sua academia na Rua Humberto de Campos, era um sobrado de piso de taco, pois já tinha condições financeiras para pagar as mensalidades. Seu nome José Raimundo Leles da Silva, filho de Raimundo Ferreira da Silva e Teresinha de Jesus Leles da Silva. O nome da sua academia era Clube Center onde ele ensina karatê e Capoeira, sem demora ele viaja para São Paulo se forma professor e recebe uma autorização para dar aula pela ‘Cordão de Ouro’ do mestre Suassuna, vindo de São Paulo, ele viaja para Bahia e conhece o mestre Canjiquinha, formado a mestre por esses dois mestres, conhece também o mestre Waldemar Rodrigues da Paixão quem lhe ensinou muita coisas segundo ele o mestre Waldemar teve quatro mestres que foram: Calabi, Piri Piri, Canário Pardo e Siri de Mangue e dos mestres que ele teve o que ele mais gostou foi Siri de Mangue e por isso em homenagem ao mestre Waldemar o mestre Madeira mudou o nome do seu grupo para (Siri de Mangue Capoeira). Em 2011, me ausentei do Siri de Mangue e fundei o Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira, grupo do qual sou presidente-fundador até os dias atuais e continuo ligado ao Siri de Mangue também junto com o meu mestre Madeira. A minha escolaridade é superior incompleto em Pedagogia, sou Técnico em Eletromecânica, continuo trabalhando, estudando e dando aula. Tenho participado de vários eventos, viagens em prol da capoeira, em uma dessas conheci o mestre Suassuna, Jogo de Dentro, Cobra Mansa entre outros em Ilhéus - BA O meu principal desafio na capoeira foi viajar sozinho para Bahia sem conhecer nada e ninguém, aos 18 anos, e hoje faço parte da primeira turma do Curso de Capacitação para Mestres e Contramestres da Capoeira do Maranhão, na UFMA Universidade Federal do Maranhão,Organizado pelo Fórum da Capoeira do Estado. O meu estilo de CAPOEIRA, eu costumo dizer que sou obediente ao berimbau o que ele tocar eu jogo, se Angola, Regional, Contemporânea ou Benguela.


Sou CAPOEIRISTA, eu toco todos os instrumentos da Capoeira, eu canto, eu Jogo, eu fabrico Instrumentos ligados à Arte, ensino e ainda faço composições, pesquiso, tento ser completo. A capoeira pra mim é meu vício, meu esporte, lazer, minha arte, minha filosofia de vida, é o que eu vivo. Sílvio José da Natividade PereiraCruz (Formiga Atômica) Liberdade Capoeira Siri de Mangue – Mestre Madeira 08/2017


Mestre ROBERTO

ROBERTO JAMES SILVA SOARES 1969 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

ROBERTO Maranhense Capoeiragem Tradicional Maranhense ROBERTO JAMES SILVA SOARES São Luis – MA, 14 de agosto de 1969 (Bairro Santa Cruz) Filho de Raimundo Nonato Soares (militar) e Joana Dias da Silva Soares (dona de casa) Formação escolar: Nivel Médio - Técnico em Laboratórios <roberto.soares1408@gmail.com> Guda (Guldemar Almeida de Araújo) Ciba (Sebastião de Sousa Sabino) Baé (FLORIZALDO DOS S. MENDONÇA)

MESTRE

GRUPO/NÚCLEO Associação Cultural e Desportiva Capoeira AREIAS BRANCAS HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei na capoeira na década de 80, primeiramente com o meu irmão Nato Filho segunda geração de alunos do GRUPO AÚ CHIBATA, logo ele foi para servir na Marinha devido a sua ida para a Marinha continuei com mestre Guldemar Almeida de Araújo o Mestre Guda o qual era mestre e fundador do nome que logo se tornou Associação Aú Chibata tendo na época vários alunos que logo depois se tornaram c.mestres daquela associação, onde citarei alguns c.mestres Nato Filho, Riba ou Macaco, Ademir, dentre outros, todos eles sempre defenderam a capoeira como um grande veículo de inclusão social e dentre os c.mestres destaco o braço direito do Mestre Guda, Sebastião de Sousa Sabino o C.Mestre Ciba, que á época já servia o Exército de onde trazia as atividades físicas, ou seja, na década de 1980 o regimento interno do Grupo Aú Chibata era totalmente militarista e machista a onde não era permitido a presença de mulheres no grupo; regra que durou alguns anos, sendo quebrada por mim, pois comecei a namorar a mãe dos filhos hoje minha esposa Ana Luzia. Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas; Hoje, tenho plena convicção que a Associação Aú Chibata de Capoeira foi, e ainda é, a única a realizar seus batizados todos na mata e sempre dando inicio á meia noite, pois o Mestre Guda tem suas crenças, Minha vida na capoeira deu-se a partir do final de 1999, quando fui morar no município de Tutoia, levado por um futuro aluno; eu ainda era do Grupo Aú Chibata; realizei o primeiro batizado capoeira organizado no


município no ano de 1999 á 2000, onde levei vários mestres convidados dentre eles, mestres INDIO, VÃNIO, MIZINHO, e MESTRE BAÉ. Um ano depois, mais ou menos, com muito pesar e magoado, me desfiliei do Grupo Aú Chibata, a casa que me iniciou na capoeira, e devendo até hoje os dois mestres que me ajudaram: o Mestre CIBA, hoje falecido, e o Mestre GUDA, hoje em plena atividade. Filiei no Centro de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira, na época era projeto e logo depois se tornou associação, onde o sr. FLORIZALDO DOS S. MENDONÇA, o Mestre BAÉ, aceitando o meu pedido depois de ano e onde estou até hoje, e já iniciando um trabalho na cidade de Tutoia-Ma, com a autorização do meu atual mestre o Mestre Baé, como c.mestre da Associação Cultural e Desportiva Capoeira AREIAS BRANCAS uma homenagem ás dunas brancas da cidade. CAPOEIRÁ É:


Mestre TUTUCA

JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES 1967 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

TUTUCA Capoeira Capoeiragem Tradicional Maranhense JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES São Luís – MA, 25 de novembro de 1967 Filho de João Alves Fernandes e de Conceição de Maria Borges Escolaridade: 2º Grau – Escola Humberto Teixeira Formado a contra mestre de capoeira em 08 de Março de 1994 pela associação de capoeira Mara Brasil. Formado a contra mestre pela Federação Maranhense de Capoeira em 10 de abril 1994 Formado a Mestre em 23 de Março de 2002 pelo seu próprio Mestre Evandro

MESTRE

EVANDRO GRUPO/NUCLEO Grupo Gira Mundo Capoeira (fundado em 23/04/1998) HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei a Capoeira no ano de 1981com o Mestre Evandro aos 12 anos de Idade, no Laborarte Hoje Mestre e fundador do Grupo Gira mundo Capoeira fundado em 23 de abril de 1998; Atualmente sua sede funciona na Associação da Caixa Econômica Federal do Maranhão (APCEF/MA), desde 1998, tendo alguns núcleo nos bairros periféricos da cidade de São Luis, aulas ministrada por alunos graduado a Estagiários, Monitores, Formados, instrutores, Contra Mestres. Na comunidade da Vila Kiola, João Paulo, Sol e Mar, São José de Ribamar, Vicente Fialho. Graduados Envolvidos: Estagiário Marquinho, Monitor Deivid, Formado Malheiros, Instrutora Neta, Instrutor Ronald. Contra Mestre formados por mim: CABEÇA, MAGÃO. - Arbitro pela Federação de Capoeira do Estado do Maranhão( FECAEMA) e pela Federação Maranhense de Capoeira. (FMC). PARTICIPAÇÃO EM EVENTO: - Festival de HAUSTS DE GARONNE 15 de julho de 2000 na cidade de BORDEAUX (França) - 5º encontro mundial de capoeira FICAG realizado em comemoração aos 20 anos de que acontece no período do dia 09 a 14 de julho 2012 na cidade de Belo Horizonte/MG. - IIIº Movimento Pró – Capoeira do Maranhão


- IV Movimento Pró – Capoeira Filhos de Aruanda, Aruandê e Clube Center. - Projeto Cultura Capoeira nos Bairros, promovido pelas associações de capoeira Aruandê e Filhos de Aruanda. - Roda de Capoeira Vamos ver realizada pela associação de capoeira Angola. - 2º Encontro Estadual de Capoeira realizado pelo Grupo Candieiro. - 1º, 2º, 3ºEncontro nacional de capoeira realizado pela associação de capoeira São Jorge. - 1º Tem Sinhá na Roda, realizado pela Federação Maranhense de Capoeira. - Oficina de Movimentos e Instrumentação de Capoeira realizada pela associação de Capoeira São Jorge. - Oficina de percussão Ministrada pelo mestre Pezão. - Clinica FECAEMA de capoeira. - Copa ceut realizada pelo grupo Raizes do Brasil. - Copa cajuína realizada pelo grupo Raizes do Brasil Cursos: - Fundamento da Malicia (FECAEMA) - Capoterapia, (FMC) - Capoeira Inclusa (ASSOCIAÇÃO VOLTA AO MUNDO). - Capacitação de Mestres do Estado do Maranhão Pela (UFMA). - Capoeira inclusa para deficiente visual e auditivos. - 1º Festival de capoeira nos Bairros realizado pela associação FILHO DE OGUM. - Batizados e troca de cordas em outros estado como Rio de Janeiro, Belém, Teresina, Fortaleza, Belo Horizonte, Campinas – SP. - Batizados e troca de cordas no Estado do Maranhão. Eventos Organizados: - 1º Oficina de Capoeira Ginga da Solidariedade, 1º 2º, 3º, 4º - Festival Ludovicense de Capoeira com os mestres da cidade. - 1º Festival de Canto de Ladainha. - Batizados com Oficinas e cursos de Capoeira com Mestres de outros Estado e do Estado do Maranhão. HOMENAGEM: Pelo reconhecimento a importância do seu nome na capoeira maranhense. GRUPO CANDIEIRO. HONRA AO MÉRITO: ao apoio em reconhecimento a capoeira e a cultura brasileira através desta entidade. CAPOEIRÁ É: Capoeira: é a luta de um povo disfarçada em dança para confundir seu opressor no tempo da Escravidão. Mestre Tutuca!


Mestre LUIZ SENZALA

LUIS AUGUSTO LIMA 1971 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

LUIS SENZALA CAPOEIRA ANGOLA LUIS AUGUSTO LIMA São Luís, 8 de abril de 1971 FILHO DE AUGUSTO DOS ANJOS LIMA E MARIA MADALENA LIMA ESCOLARIDADE 2° GRAU COMPLETO ESCOLA RONALD DA SILVA CARVALHO Diploma de honra ao mérito recebido pela Câmara Municipal de São Luis MADEIRA FABIO ARARA

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Escola de Capoeira Angola Acapus, fundada em 1998 HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei a Capoeira no ano de 1981 com o Mestre Madeira na Academia Club Center, hoje Siri de Mangue, aos 11 anos de Idade. Também fiz parte do grupo Tombo da Ladeira do Mestre Gavião. Atualmente, sou Mestre da Escola de Capoeira Angola Acapus fundada em 1998, com sede própria na Travessa Marcelino Almeida 173 A. Centro Historico – Praia Grande. Ministro aulas que abordam musicalidade, fabricação de instrumentos, história da Capoeira, aulas práticas (com a preocupação de preservar e difundir os rituais e fundamentos da Capoeira/ Tradição); Realiza atividades na Sede da Escola de Capoeira Angola ACAPUS: Palestras com Mestres convidados; rodas e aulas praticas abertas a comunidade. Realização de vivencias em bairros de São Luis e intercambio com praticantes de outras nacionalidades. Ministro oficinas de fabricação de berimbau, pandeiro, reco-reco, atabaque, agogô, caxixi, e repassamos como a matéria prima é adquirida e como preserva-la;


Realizamos palestras com mestres e pesquisadores convidados e aulas teóricas sobre a história da Capoeira, com temas diversificados, principalmente sobre os personagens que fizeram parte dos primeiros registros da Capoeira em São Luis e no Maranhão. Ministrei aulas em Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Trabalhos sociais no Movimento de Menino e Menina de Rua, Casa João Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. Diploma de honra ao mérito recebido pela Câmara Municipal de São Luis pelos trabalhos sócio-educativos desenvolvidos em prol da comunidade Ludovicense atraves da Capoeira. CAPOEIRA É :A ARTE DE SABER VIVER AO REDOR DO MUNDO. EM OUTRAS PALAVRAS, CAPOEIRA É MINHA VIDA.

Na minha biografia eu acho que esqueci de colocar uns dos professores na epoca que eu treinava com mestre Madeira, o nome do mestre Fabio Araara, por favor coloque o nome dele na minha biografia, por gentileza, obrigado. O mestre era Madeira e na ausencia dele quem dava aula para nós eram o professores Gavião e Fabio Arara, hoje mestres de capoeira. O mestre Madeira chamava nós de o quarteto na época: Mestre Madeira Mestre Gaivão Mestre Fabio Arara Mestre Luis Senzala


Mestre MILITAR

CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA 1971 MESTRE ESTILO

MILITAR Regional CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA Cândido Mendes – MA, 19 de maio de 1971 Filiação: Sebastião de Jesus Costa e Marilourdes Almeida Nogueira Costa Escolaridade: 2º Grau 1994 9 de janeiro - Contra-Mestre pela Associação de Apoio à Capoeira. Associação - Antonio Alberto Carvalho (Mestre Paturi)

DADOS PESSOAIS

2001 - Formado e Reconhecido a Mestre - Sr. Reinaldo Santana (O Mestre Bigodinho) 2003- Reconhecido a Mestre pela Federação de Capoeira do Rio de Janeiro (FCERJ) e pela Federação Nacional de Capoeira do Brasil (FNC do BR). Profissional de Educação Física reconhecido pelo Conselho Regional de Educação Física Sistema CONFEF/CREF-05 RG:000479 - P/MA mestremilitar@hotmail.com / mestremilitarmaranhao@yahoo.com.br / https://www.facebook.com/mestremilitar BIGODILHO

MESTRE

GRUPO/NÚCLEO GRUPO K DE CAPOEIRA HISTORICO DO MESTRE MILITAR – SÃO LUIS – MARANHÃO – BRASIL. Carlos Adalberto Almeida Costa (MESTRE MILITAR) nascido em 19 de maio de 1971 em Cândido Mendes – MA, iniciou na Capoeira em 1982 com 11 anos de idade com o Mestre Neguinho no Grupo de Capoeira Angolano, na Escola de Dança Pró-Dança, que era localizada na Rua 13 de Maio no Centro. Onde treinei como bolsista por quatro anos, por intermédio de Marco Antônio Vieira da Silva (Dirigente da Rádio e TV Cidade). Eu não tinha como pagar, meus pais não gostarem da capoeira. E como minha mãe trabalhou para ele, e sempre falava que o pessoal que faziam sua segurança todos eram Capoeiristas como: Mestre Rui Pinto, Batman, mestre Alberto (Euzamor) e outros. Resolvi pedir seu apoio. Minhas aulas eram à noite, sempre que saia da escola já ia direto para academia, sem o consentimento dos meus pais. Até rodas para eu participar, muitas vezes tinha que fugir de casa para participar. Nestas pequenas fugas de casa conheci vários capoeiristas e passei a ter contato com o Mestre Coquinho que hoje faz parte do quadro de Mestres da Associação Grupo “K” de capoeira.


Na época o Mestre Coquinho lecionava na extinta FEBEM, localizada na Fonte do Bispo, na Madre Deus no Centro. O Mestre Neguinho nunca tomou conhecimento, que paralelamente, eu treinava Capoeira de Rua. Deixei de treinar com o mestre Neguinho porque o mesmo não quis mais saber de Capoeira e deixou de dar aulas. Em 1987 – Tive a Participação no XV Jem’s , no governo de Cafeteira, através do Profº Robson, Professor de Ed. Física e Capoeirista da Escola São Lazaro, na qual eu era estudante. Nesse meio Tempo, tive contato também com o Mestre Madeira (Siri de Mangue) onde treinei por um tempo. Resolvi sair e procurar o Professor Robson que já não tinha interesse pela capoeira, mas através dele, passei a ter contato com alguns Capoeiristas que já tinham nome no cenário da Capoeira do Maranhão; Como: Candinho e Batman – os mesmos eram vizinhos do Profº Robson e da Escola que eu estudava. Ambos sempre me levavam para as rodas de Capoeira, que era realizada por eles aos Domingos pela Manhã. Na Coroa da Praça Gonçalves Dias, em frente à Igreja dos Remédios. Roda que só entrava para jogar, quem tinha muito axé ou era apadrinhado. RsRs Rs. Também através do Candinho que passei a participar das Rodas na Praça Deodoro. Logo após fui fazer parte do Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares, do Centro de Cultura Negra, que era composto por Evandro (hoje Mestre do Grupo Mara Brasil), Militar, Nijon, Manoel, Mizinho (hoje Mestre Mizinho do grupo Maranhão Arte), Tutuca (hoje Mestre Tutuca do Gira Mundo) Careca, Wilson, Assis e outros. Através deste Grupo, eu participei da: 1ª Mostra de Capoeira do Maranhão. Organizada pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão - CCN. Após 1 Ano e Meio, resolvi sair.

Em março de 1988, participei do 1º Campeonato Inter - Bairro realizado pela Associação de Capoeira Aruandê de Mestre Pirrita e Aruanda do Mestre Jorge Navalha.

A 1ª Gincana Mirante – na Praia da Ponta D`Areia, como a Participação de Vários Grupos da Capital. No mesmo ano, fui treinar com o Mestre Roberto, Conhecido como Mestre Jacaré que lecionava em uma academia de karatê que era localizada na Rua 18 de novembro, no bairro da Camboa até o ano de 1990.


Em 1991, dei formação ao grupo Nagoas que era sediado provisoriamente na Associação de Moradores na rua da Brasília - Bairro da Liberdade, este grupo tinha em sua formação muitos bons capoeiristas, oriundo de outros grupos como: Careca, Juricabra, Abacate, Cudinho, Mata rato, Daniel, Wilson, Junior de Assis, Cabecinha (hoje Contra-Mestre do Grupo Liberdade Negra), e o Cacá (hoje Contra-Mestre do Grupo Ludovicense) entre outros. Apesar de bons capoeiristas fazerem parte do grupo na época, nós constantemente estávamos envolvidos em confusões no Centro da Cidade. Criávamos badernas em festas e praças só para ter o prazer de testar a potência de nossos golpes. Não sabia que essa atitude que era comum em muitos dos Capoeira da Minha época, iria render a muitos do grupo, inclusive a mim, a fama de desordeiro. (Marginal) Só depois de muitas Inimizades, que me conscientizei. E passei olhar a Capoeira de forma diferente. Vi também que a educação que meus Pais e Mestres me passaram, estava sendo manchada por atos involuntários, apenas pela empolgação da arte e copiando o que costumava ver outros capoeiristas fazendo. muitas foram as vezes que acabávamos com as rodas de outros grupos. Esse tipo de ato já não me trazia Satisfação. Analisei e vi que para eu ser um boa capoeira não precisaria de má fama e sim ser um bom educador. Em 1993 deixei de compor o grupo Nagôas e no mesmo ano dei formação ao Grupo “K” de Capoeira com o objetivo de Resgate e Profissionalização da Capoeira em nosso estado. Ainda no Ano de 1993, embora eu nunca tenha sido aluno do Mestre Antônio Alberto Carvalho (Mestre Paturi), mas sempre que ele precisava eu me coloquei a disposição para ajudá-lo na realização de Apresentações de seu Grupo, e pelo Respeito, o procurei para me formar. Eu já tinha trabalhos Reconhecidos e queria me profissionalizar ainda mais. No dia 09 de janeiro de 1994 me formei a ContraMestre pela Associação de Apoio à Capoeira. Associação dirigida por Antonio Alberto Carvalho (Mestre Paturi) .

Criei e Realizei vários Projetos em São Luís do Maranhão:


Projeto Curumim: Nos Bairros: Maiobão, Coroadinho, Parque dos Nobres, Ilhinha, Diamante, Liberdade e Camboa. Com objetivo de educar e socializar Crianças e Jovens em situação de risco. Projeto Capoeira na Praça: deu – se no intenção de resgate das rodas que ocorriam na Praça Deodoro e nos Carnavais de Rua na Madre deus. Esse projeto foi realizado de 1995 a 2013. Capoeira na Escola – que foi Executado em Várias Escolas Estaduais com o Apoio do Governo Estadual e o Projeto Alvorada do Governo Federal. Projeto Capoeira para Turista Ver: este era realizado com a finalidade de ultrapassar Barreiras Internacionais fazendo apresentações em Hotéis, em período de visitação Turísticas com objetivo da valorização da Arte Capoeira praticada no Maranhão. Com o objetivo de conhecer outros capoeiras e expandir meu trabalho em outras cidades do Estado e outros Estados, passei a fazer viagens. Nessas Viagens resolvi conhecer Salvador – BA. No ano 2000 sai Rumo a Salvador onde conheci bons Capoeiristas e Mestres como: Neco, Boa Gente, Boca Rica, Lua hasta, Cebolinha, Nenel (filho de Bimba), Cafuné e muitos outros alunos de Bimba que compõem a Fundação Mestre Bimba.

Também tive a oportunidade de conhecer o Sr. Reinaldo Santana (O Mestre Bigodinho). O único Aluno do Mestre Waldemar da Paixão vivo na Época.

Pelo qual em 2001 fui formado e Reconhecido a Mestre Sr. Reinaldo Santana (O Mestre Bigodinho) Sei que a Capoeira que tenho é uma Mescla de cada Mestre por quem passei, vi e tive a oportunidade de jogar. A cada um devo o que aprendi. Ao meu Mestre devo Dinheiro, Saúde e Obrigação!! Foi ele que me ensinou a caminha, a ser Racional e Construir o melhor pela minha Arte. Hoje em todos os lugares que passo, divulgo não só o meu trabalho mais também o nome de meu Mestre. Reinaldo Santana (Mestre Bigodinho). Através de Trabalhos realizados junto a Secretaria de Educação e outros Órgãos como a Promotoria de Infância e Juventude. Fiz o Diferencia em levar a Capoeira para os Desfiles Junto a Forças Armadas. Não pelo prazer de ser o único Mestre de Capoeira a repetir a mesma façanha de Mestre Bimba. Mas para contar mais um Ganho da nossa Capoeira.


Desfile : 07 de Setembro de 2006, junto as Forças Armadas e apresentação para o governador José Reinaldo e Milhares de Pessoas.

Esse feito já tinha sido realizado em outros anos por escolas que trabalhei e realizando projetos Sociais como: O Projeto Capoeira Na Escola e O Projeto Curumim.

Sou Reconhecido a Mestre desde 2003, também pela Federação de Capoeira do Rio de Janeiro (FCERJ); E a pela Federação Nacional de Capoeira do Brasil (FNC do BR).

. Sou Profissional de Educação Física reconhecido pelo Conselho Federal e Estadual de E.D. Fisica CONFEF e CREF-05 RG:000479 - P/MA PROJETOS QUE PARTICIPEI: PROJETO ORFÃO DE MIM - COM A 1ª PROMOTORIA DE INFANCIA. PROJETO CAPOEIRA EM SENA - COM O SESC - MARANHÃO. PROJETO ESCOLA DE VIDA - COM A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO. PROJETO 2º TEMPO - SECRETARIA DOS ESPORTES DO ESTADO DO MARANHÃO E O MINISTERIO DOS ESPORTES. PROJETO ESCOLA ABERTA - SECRETARIA DE ED. DO ESTADO E DO MUNICIPIO. PROJETO MAIS EDUCAÇÃO - SECRETARIA DE ED. DO MUNICIPIO.


LECIONEI NAS ESCOLAS: NO LICEU MARANHESE, CEGEL, FILIPE CONDURU, JOSUÉ MONTELO, RUBEM ALMEIDA, SOUSANDRADE, BACELAR PORTELA, DARCY RIBEIRO, CIDADE DE SÃO LUIS CONTATO : WhatsApp 098 - 98862 - 2162 OU PELO E-MAIL: mestremilitar@hotmail.com / mestremilitarmaranhao@yahoo.com.br / https://www.facebook.com/mestremilitar

O que é a capoeira: A CAPOEIRA É UMA EXPRESSÃO CULTURAL BRASILEIRA, QUE TRABALHADA MESMO O SEU POTENCIAL DE LUTA MARCIAL E ESPORTE. LIGANDO ELA A EDUCAÇÃO E AO SOCIAL, ELA PODE MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DE QUALQUER INDIVIDUO.

MESTRE MILITAR CAPOEIRA REGIONAL ;

CORREÇAO :

A 1ª Gincana Mirante – na Praia da Ponta D`Areia, como a Participação de Vários Grupos da Capital. No mesmo ano, fui treinar com o Mestre Roberto ( Grupo Cordel Branco ), Conhecido como Mestre Jacaré que lecionava em uma academia de karatê que era localizada na Rua 18 de novembro, no bairro da Camboa até o ano de 1990. Com o Mestre Jacaré, no Evento realizado no CSU do Bairro da Cohab, Recebi a 3ª Corda Amarela.( o meu Padrinho- Mestre Patinho ). Em 1991, dei formação ao Grupo Nagoas que era sediado provisoriamente na Associação de Moradores na rua da Brasília - Bairro da Liberdade, este grupo tinha em sua formação muitos bons capoeiristas, oriundo de outros grupos como: Careca, Juricabra, Abacate, Cudinho, Mata rato, Daniel, Wilson, Junior de Assis, Cabecinha (hoje Contra-Mestre do Grupo Liberdade Negra), e o Cacá (hoje Contra-Mestre do Grupo Ludovicense) entre outros. através do Grupo Nagoas, realizávamos tradicionalmente Rodas todas as Sextas Feiras na Praça do Bairro Camboa. também Revitalizamos uma Roda tradicional do Bairro do Monte Castelo ( Largo da Conceição ) roda que ocorria durante todos os dias nos Festejos de Nossa Senhora da Conceição. no Mês de Dezembro. lá participaram várias Gerações de Capoeiras, dentre eles : Miguel, Evandro, Bulão, Dunga, Ruso, Beleleco, Chicão, Curador e outros. Apesar de bons capoeiristas fazerem parte do grupo na época, nós constantemente estávamos envolvidos em confusões no Centro da Cidade. Criávamos badernas em festas e praças só para ter o prazer de testar a potência de nossos golpes. Não sabia que essa atitude que era comum em muitos dos Capoeira da Minha época, iria render a muitos do grupo, inclusive a mim, a fama de desordeiro. (Marginal)


Mestre MIZINHO

ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO FILHO 1968 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

GRUPO/NUCLEO

MIZINHO CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO FILHO São Luis – MA, 21 de setembro de 1968 Filiação ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO e AMÉLIA VITÓRIA MARQUES ESCOLARIDADE: ENSINO MÉDIO 1994 formado Contramestre pelo Mestre Evandro. 1999 graduado Mestrando pelo Mestre Evandro 11 de outubro de 2003 formado Mestre pela “FECAEMA” GRUPO: “MARANHÃO ARTE CAPOEIRA”, 15 de março de 2006

MESTRE

EVANDRO HISTÓRIA DE VIDA Meu primeiro contato com a Capoeira foi em 12 de outubro de 1978, quando fui levado pelo meu primo “Chico” ao Teatro Arthur Azevedo para assistir uma peça de bonecos sobre o dia das crianças. Ao final da peça, com um foco de luz, surge um homem de cabelos lisos e longos, de corpo esbelto e que ao som de um instrumento desconhecido (berimbau), começa a se movimentar seguindo o som do ritmo do tal instrumento tocado. Fiquei pasmo, sem acreditar que uma pessoa pudesse fazer tudo aquilo com o corpo e perguntei para meu primo o que era aquilo e ele me respondeu: - “Se chama Capoeira”. Esse homem se chamava Antônio José da Conceição Ramos, conhecido como “Mestre Patinho”. Quando cheguei em casa, disse à minha mãe que queria treinar, mas ela não concordou e disse para que eu não falasse mais nisso, que era coisa praticada por marginais, e assim fiquei calado e esqueci. Passaram três anos, na ocasião em que eu tinha um professor particular chamado “João Evangelista”, no qual minha mãe continha a maior confiança. E certo dia cheguei para estudar e ele falou para fazermos uma cópia e um ditado pois ele precisaria sair mais cedo. Eu comecei a fazer a cópia e ele pegou um arco, começou a armar esticando um arame, botando depois uma cabaça e no instante que começou a tocar aquele instrumento eu logo reconheci que era o som da apresentação que eu havia assistido no Teatro, e perguntei: “O que é isso? ” Ele respondeu: - “Um berimbau, serve para jogar Capoeira. ” Perguntei: - “ Você treina isso? ” Ele disse: - “Eu treino.”Daí pedi a ele que pedisse à minha mãe para treinar com ele pois ela tinha total confiança nele. E assim João foi e teve quase uma hora de conversa com minha mãe e ela acabou cedendo com uma condição, que ele me levasse e me trouxesse, e assim ele concordou.


Meu início na Capoeira foi em 1982, na academia do Mestre Socó, na rua 24 de outubro, no bairro do Monte Castelo, onde treinamos por (07) sete meses. Conheci vários capoeiristas que faziam parte da história da Capoeira Maranhense da época: Rui Pinto, Beleleco, Sabujá, Miguel, Brinco Dourado, Euzamor, Toba, Banana, Cláudio, Dan Clay e Chicão. Neste período conheci Mestre Evandro, o qual posteriormente se tornaria meu Mestre. Saímos do Monte Castelo, já como seu aluno, indo para o Parque do Bom Menino para treinar com ele. Passei (19) dezenove anos com ele, passando por vários lugares. Em 1982 treinamos na Associação de Moradores da Liberdade durante um ano mais ou menos, depois migramos para o Laborarte (Laboratório de Artes), em 1983, até meados do ano de 1986, e nesse mesmo ano fui convocado para disputar o JEB’s (Jogos Escolares Brasileiro). Viajamos para disputar, na cidade de Vitória – ES, tendo como meu técnico o “Luisinho” (aluno do Mestre Sapo). No final de 1986, fomos para o CCN (Centro de Cultura Negra), onde fui campeão de uma Mostra de Capoeira organizada e realizada por esta mesma instituição, enquanto o Mestre Evandro se formou a Mestre com o Mestre Canjiquinha indo à Salvador - BA. No ano de 1987 retomamos nossos treinamentos no CSU do Habitacional Turú, no qual treinamos até o final de 1994, ano em que fui formado a Contramestre pelo Mestre Evandro. Em 1995 passamos a treinar no Estádio Castelão, onde comecei a auxiliar na administração do Grupo Mára-Brasil, em que participava, criado pelo Mestre Evandro, e quando dei início às viagens para eventos no interior do Estado em cidades como: Bacabal, Imperatriz, Cururupu, Pinheiro, São João Batista, Viana, São Mateus, etc. Em seguida, profissionalmente, transpus os limites maranhenses viajando para outros Estados para ministrar cursos e arbitrar campeonatos em Piauí, Pará, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, etc. Em 31 de maio de 1997 participei do “Festival de Cantigas” realizado pelo Laborarte ganhando o 2º Lugar na categoria de chulas, recebendo um brinde de um LP de Capoeira pelo grande Mestre Brasília. No ano de 1999 fui graduado a Mestrando pelo Mestre Evandro. No entanto, no começo do ano 2000 saí do Grupo do Mestre Evandro, o Mára-Brasil, e decididamente com o Contramestre Jota-Jota e Contramestre Manoel, fundamos a ‘Associação Nação Palmares Capoeira, me tornando coordenador-geral, permanecendo neste cargo por 05 (cinco) anos. Neste período obtive minha primeira viagem internacional, com destino a duas cidades: Bordeaux e Lille, na França na Europa. Nesta viagem, foram uma equipe de 04 (quatro) capoeiristas: Contramestre Mizinho, Contramestre Tutuca, Contramestre Manoel e o Monitor Betinho, através da ajuda do Contramestre JotaJota que já se encontrava na França. Ficamos na cidade de Bordeaux por um mês, e depois CM Tutuca, CM Manoel e Monitor Betinho voltaram para o Brasil enquanto continuei na cidade de Lille, com o CM JotaJota para realizar outro trabalho, onde me mantive por mais um mês. Em 11 de outubro de 2003 fui formado a Mestre pela “FECAEMA” (Federação de Capoeira do Estado do Maranhão) numa solenidade no “Convento das Mercês”. No ano de 2005 recebi da Câmara de Vereadores de São Luís uma comenda pelos bons serviços prestados pela valorização da Capoeira numa cerimônia no interior da Plenária da Câmara de Vereadores juntamente com outros Mestres de Capoeira. Ao sentir a necessidade de pôr em prática meus conhecimentos através de todo o aprendizado que adquiri da Capoeira e sendo capaz de oferecer uma grande contribuição na arte, na cultura, no esporte até mesmo no meio educacional para a formação do caráter de crianças, adolescentes e na profissionalização de adultos, decidi fundar em 15 de março de 2006 o “Centro Cultural Educacional Maranhão Arte de Capoeira”. Hoje o “Maranhão Arte Capoeira” desenvolve um trabalho com uma equipe de 17 (dezessete) professores, 01 (um) Monitor, 06 (seis) alunos formados e 10 (dez) estagiários. De todos, 11 (onze) são da cidade de São Luís e 08 (oito) do município de Icatu - MA. Através da qualificação de Mestre desses profissionais promovo aulas 02 (duas) vezes na semana e capacitações práticas e teóricas uma vez ao ano. Atualmente nosso trabalho abrange 15 (quinze) bairros em São Luís: Maracanã, Nova República, Vila 2000, Quebra-Pote, Fé em Deus, Coroadinho, Alemanha, Cidade Operária, Santa Efigênia, Vila Operária, Vila Luizão, Matinha, Vila Flamengo, Vila Cafeteira e Filipinho; e em 03 (três) municípios maranhenses: Icatu, Santa Quitéria e Cururupu.


Fora do Brasil, tenho trabalho com dois alunos na Europa, na cidade de Bordeaux com o Mestre Betinho do Grupo “ATUAL – Capoeira” (Aliança de Treinamento Unificado da Arte Luta Capoeira) e na cidade de Torcoing com o Mestre Mão de Onça do Grupo Nação Palmares de Capoeira, ambos na França. E assim finalizo essa resumida escrita autobiográfica relatando e registrando minha humilde contribuição para o mundo desta maravilhosa arte capoeira durante estes 36 anos desde aluno a profissional renomado, reconhecendo e acreditando no poder que a Capoeira tem em sua essência, através das suas múltiplas qualidades e no serviço que pode oferecer a quem a usufrui e a vivencia. CAPOEIRA É: É o jogo atlético de ataque e defesa, baseado em movimentações de animais,de origem afrobrasileira com grande influência indígena, nascido em senzalas brasileiras por negros africanos como forma de defesa contra seus opressores. Tem início desde a descoberta do Brasil, perpassa o período escravocrata colonial e imperial e segue até os dias de hoje, sendo usada como ferramenta de inclusão social, terapia, lazer, arte e luta. É reconhecida atualmente uma atividade que se confunde até mesmo com o fato histórico do descobrimento do Brasil.


Mestre LUIS GENEROSO

LUIS GENEROSO ABREU NETO 1974 MESTRE ESTILO DADOS

MESTRE

LUIS GENEROSO CAPOEIRA ANGOLEIRO LUIS GENEROSO ABREU NETO São Luis, 10 de outubro de 1974 FILHO DE DARIO DA CRUZ MORAES E RAIMUDA GENEROSA DA SILVA ESCOLARIDADE MEDIO COMPLETO CURSO NÍVEL TECNICO DE CAPOEIRA - CAIXAS-MA, NO PERIODO DE 11 A 12 DDE FEVEREIRO DO ANO DE 1987 1996 CONCURSO DE CAPOEIRA ANGOLA, COM MESTRE JOÃO PEQUENO GRADUADO CONTRAMESTRE POR MESTRE MIGUEL RECONHECIDO A MESTRE POR MESTRE SOCÓ DUNGA (ALDAMIR MARQUES RIBEIRO) –Caxias-Ma Madeira

GRUPO/NÚCLEO Grupo de Capoeira Jogo de Dentro (1995) LUIS GENEROSO ABREU NETO, FILHO DE DARIO DA CRUZ MORAES E RAIMUDA GENEROSA DA SILVA NASCIDO EM 1974. AOS OITO ANOS DE IDADE CONHECI A CAPOEIRA QUANDO CONHECI O MESTRE DUNGA (ALDAMIR MARQUES RIBEIRO), E FUI PARTICIPAR DO CURSO NÍVEL TECNICO DE CAPOEIRA NO DEPARTAMENTO DE ESPORTE E RECREAÇÃO DE CAIXAS-MA NO PERIODO DE 11 A 12 DDE FEVEREIRO DO ANO DE 1987 NO TOTAL DE 10 HS DE AULA. ISSO TUDO ACONTECEU QUANDO EU E MINHA MÃE MUDAMOS DE SÃO LUIS PARA A CIDADE DE CAXIASMA, MAS PASSEI POUCO TEMPO EM CAXIAS, E VOLTEI PARA SÃO LUIS E VIM MORAR NO CONJUNTO DO RIO ANIL FOI AI QUE PROCUREI A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUIS E ENCONTREI O MESTRE MADEIRA LA NO REVIVER, PASSEANDO NA BEIRAMAR COM SEUS ALUNOS, COM UM BIRIMBAL NA MÃO, FUI ATÉ ELES E PERGUNTEI ONDE FICAVA A SUA ACADEMIA, E O MESTRE MADEIRA DAVA AULA LA NA RUA HUMBERTO DE CAMPO PROXIMO A PRAÇA JOÃO LISBOA. MAS NESSA ÉPOCA SURGIU UM PROJETO NA COMUNIDADE DE ENSINO DE CAPOEIRA, ME MATRICULEI NO CENTRO COMUNITARIO DO RIO ANIL E FUI APRENDER CAPOEIRA, COM O MESTRE MADEIRA, TREINEI MUITO TEMPO COM ELE E FUI CONHECENDO VARIOS MESTRES COM: CURADOR, MESTRE MIGUEL,


MESTRE BELELECO, MESTRE GAVIÃO, MESTRE SENZALA, MESTRE PATO, E OUTROS MESTRES, QUANDO PAREI DE TREINAR COM O MESTRE MADEIRA COLOQUEI O PROPRIO GRUPO DE CAPOEIRA QUE SE CHAMAVA JOGO DE DENTRO, FUI GRADUADO A CONTRAMESTRE POR MESTRE MIGUEL, E DEPOIS FUI RECONHECIDO A MESTRE POR MESTRE SOCÓ. ATE HOJE VIVO ENSINANDO A CAPOEIRA PARA MEUS ALUNOS, ME CONSIDERO EM CAPOEIRA ANGOLEIRO POR MEU MESTRE TER ME ENSINADO A CAPOEIRA QUE ELE APRENDEU COM O MESTRE JOAO PEQUENO, DE SAVALVADOR BAHIA . AGRADEÇO MUITO AO MESTRE QUE ME GRADOU O (MESTRE MADEIRA E MESTRE MIGUEL E MESTRE SOCÓ). GRAU DE ESCOLARIDADE MEDIO E FUNDAMENTAL COMPLETO. EM 1996 FIZ UM CONCURSO DE CAPOEIRA ANGOLA COM MESTRE JOÃO PEQUENO CAPOEIRA PARA MIM É: DEFESAE ATAQUE, GINGA NO CORPO E MALANDRAGEM. SÃO LUIS MARANHÃO 09 DE AGOSTO DE 2017


Mestre PEDRO

PEDRO MARCOS SOARES 1970 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

PEDRO Capoeirista maranhense, capoeira jogada nos três tempos (Angola, São Bento Pequeno de Angola e São Bento Grande Angola) seguindo os ensinamentos dos meus dois mestres, o Pirrita e o Jorge Navalha. Capoeiragem Tradicional Maranhense PEDRO MARCOS SOARES Povoado quilombola Santa Maria em Cedral - MA, (atualmente Porto Rico do Maranhão – MA), em 29 de Junho de 1970 Filiação: Maria Lilásia Soares e José Zacarias Sales. Colégio Marquês de Tamandaré ( Ensino Primário) Centro Educacional do Maranhão – CEMA (Ensino Fundamental II) Centro de Ensino Anjo da Guarda ( Ensino Médio) - Técnico em Contabilidade Consagrado Mestre no dia 18 de Julho de 2015, pelo Mestre Pirrita da Associação Aruandê. vivameudeus@bol.com.br

PIRRITA

MESTRE

ASSOCIAÇÃO CULTURAL AFRO-BRASILEIRA RAÍZES Grupo ou nucleo C.N.P.J.: 05.354.315/0001-50 - São Luís/MA Vida na Capoeira: Iniciei a capoeira no ano de 1983 com o Mestre Jair da Associação Marabaiano e o Mestre Bira irmão do Mestre Pezão, no Bairro Anjo da Guarda, treinei também com o falecido Professor Bigú no Bairro São Raimundo do segundo semestre do ano de 1984 ao primeiro trimestre do ano de 1985, no mesmo ano comecei a treinar com o Mestre Jorge Navalha da Associação Filhos de Aruanda, devido a ida do Professor Bigú para a cidade de São Paulo – SP; onde permaneci treinando até o final da década de 80, onde neste período comecei treinar com o Mestre Pirrita da Associação Aruandê, onde permaneci até o ano de 1995, devido ao afastamento do mestre Pirrita, nesse de 1995 a Associação Aruandê foi desativada, e a partir de outubro de 1996 juntamente com o Mestre Nelson fundamos o "Grupo de Capoeira Raízes", no bairro Vila Mauro Fecury II no eixo Itaqui-Bacanga, onde mais tarde em julho de 2002 se tornaria a Associação Cultural Afrobrasileira Raízes no bairro Anjo da Guarda, também no eixo Itaqui-Bacanga, onde permaneço até a presente data, coordenando as atividades da Associação Raízes, sem o mestre Nelson que se afastou para fundar uma outra associação. Na frente da coordenação da Associação Cultural Afro-brasileira Raízes, o Mestre Pedro fui levado à graduação de Aluno Formado (Professor) no ano de 1998 e no ano de 2002 à graduação de Contramestre,


pelo mestre Jorge Navalha, juntamente com o mestre Nelson, sendo consagrado a mestre de capoeira no ano de 2015, pelo mestre Pirrita. Ao longo desse período realizei vários atividades voltadas para a capoeira, em parceria com o mestre Nelson e outros mestres de capoeira do eixo Itaqui-Bacanga, dentre elas podemos mencionar o 1º e 2º Venha Ver, mostras de capoeira que homenagearam os mestre Patinho (falecido) e Jorge nos anos de 2002 e 2003 respectivamente, em 2002 criação da Liga de Educadores de Capoeira da Área Itaqui-Bacanga - LECAIB, composta pelos mestres Pedro e Nelson (Raízes), Kaká e Cadico (Amarauê), Juvenal (Jêge-Nagô), Negão (Congo -Aruandê), Jorge (Filhos de Aruanda), pelos contramestres Presuntinho (Marabaiano), Neto e Reginaldo (Amarauê) e Cafezinho( Escorpiões). A LECAIB foi criada devidos os coordenadores de grupos de capoeira da Área Itaui-Bacanga não concordarem com a maneira que se conduziam as Federações de capoeira de nosso estado, pois por muitas vezes as reuniões dessas entidades acabavam em discussões divergentes entres seus afiliados, e não se definia nada em prol da capoeira, sendo quando uma das federação fazia algum evento a outra não participava, e com isso quem perdia era a capoeira, daí resolveu-se criar a liga de educadores, onde nos dois primeiros eventos chegou a reunir mais de 600 participantes, mas caiu no mesmo erro das federações, o ego individual de alguns falou mais alto do que o objetivo que era de fazer uma capoeira forte e unida em nossa capital, principalmente na área aonde ela atuava, vindo a extintor dois anos após a sua fundação. Continuando a nossa participação na realização podemos citar também o 1º e 2° Festival Balneário de Capoeira, realizado na cidade de São José de Ribamar nos anos de 2007 e 2008, o 1° e Festival de Cantigas Inéditas, que prestou homenagem aos mestre Ciba (falecido) e Pirrita, realizados no Parque Botânico da Vale e Teatro Itapicuraíba, ambos no bairro Anjo da Guarda. Quanto ao Estilo de Capoeira que sigo prefiro dizer que não tenho estilo definido, sou capoeirista maranhense, onde adotamos a capoeira jogada nos três tempos (Angola, São Bento Pequeno de Angola e São Bento Grande Angola) seguindo os ensinamentos dos meus dois mestres, o Pirrita e o Jorge Navalha. Atualmente temos apenas um núcleo funcionado no bairro Anjo da Guarda, com ênfase voltada para a educação e inclusão social através principalmente da capoeira, bem como, de outras atividades afrobrasileiras, como a dança do facão, samba de roda, etc. Finalizando gostaria de dizer que a capoeira só me trouxe ganhos, tanto fisicamente, quanto mentalmente, pois fiz muitos amigos, e quem tem amigos, tem tudo nessa vida, por isso sou feliz por ser capoeirista e se a minha felicidade depender da capoeira, então a minha felicidade vai durar por muito tempo, pois enquanto o senhor Deus me der forças não largarei a capoeira. "Dê uma rasteira nas drogas, pratique capoeira" São Luís, 03 de agosto de 2017 Pedro Marcos Soares Mestre de Capoeira O QUE É CAPOEIRA:


Mestre NEGÃO

JOSÉ TUPINAMBA DAVID BORGES 1966 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

NEGÃO Capoeira angola maranhense jogada em três tempos Capoeiragem Tradicional Maranhense JOSÉ TUPINAMBA DAVID BORGES São Luis-MA, 15 de janeiro de 1966 Filiação: José de Ribamar Costa Borges e Maria do Carmo David Borges Escolaridade: Ensino Médio Completo 2009 - Árbitro de Capoeira - 28 a 30 de Agosto - FECAEMA. 2012 - Árbitro e mesário de Capoeira. 21 de maio de 2012 – 2012 - Reciclagem do curso de arbitro, mesário e instrumentista. 25 e 26 de 05 de 13 - FMC. 2005 - Mestre de Capoeira - Associação de Capoeira Aruandê e Sociedade Cultural de Capoeira Congo-Aruandê do Estado do MA;15 de Janeiro de 2005 - Vicente Braga Brasil (Mestre Pirrita) Diploma de Honra ao Mérito - Câmara Municipal de São Luís; Agosto de 2008. Endereço: Av. José Sarney N° 51 – Vila Nova. Email: mestrenegao2009@hotmi.com Fone: (98) 98780-8200 / Zap: 98285-3067 Pirrita (Vicente Braga Brasil)

MESTRE

Sociedade Cultural de Capoeira Congo Aruandê do Estado do Maranhão (Grupo de Capoeira Congo-Aruandê). 15 de maio de 1988 Inicio de treinamento: 17 de janeiro de 1983 na associação de capoeira Aruandê do mestre Pirrita. Inicio de ensinamento: 15 de maio do ano de 1988 na escola comunitária Mariana no bairro de Vila Nova São Luis MA. Fundador: Sociedade Cultural de Capoeira Congo Aruandê do Estado do Maranhão (Grupo de Capoeira Congo-Aruandê). 15 de maio de 1988 GRUPO/NUCLEO

Cursos: Árbitro de Capoeira. de 28 a 30 de Agosto de 2009.


Organização: Federação de Capoeira do Estado do MA. (FECAEMA). Árbitro e mesário de Capoeira. 21 de maio de 2012. Reciclagem do curso de arbitro, mesário e instrumentista. 25 e 26 de 05 de 13. Organização: Federação Maranhense de Capoeira (FMC). Formação Continuada: Organização: SEMED (Programa Mais Educação). Período: Junho a dezembro de 2015. Abril a novembro de 2016. -Seminário: Construindo Caminho Para a Educação Integral em São Luís. Período: 23 de maio de 2016. Experiências profissionais: - Promotor de eventos culturais e esportivos relacionados com a capoeira. - Mestre fundador e coordenador do grupo de capoeira Congo-Aruandê. Período: 1988 aos dias atuais, - Mestre de Capoeira na Associação de Mães de Vila Nova Programa Pete Período: 2001 a 2016. - Mestre de capoeira no Instituto São José do Bom Fim. Período: 2004 aos dias atuais. - Mestre na Escola Carlos SAADS. Programa Mais Educação Período: 2009 a fevereiro de 2017. - Mestre no Centro Educacional Portal do Saber: Julho de 2014 aos dias atuais. - Atuação em todos eventos de competição da FMC. - Atuação como Arbitro Nos JEMS Jogos Escolares Maranhense. Ano. 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016 Capoeira pra mim É uma luta de resistência, contra a opressão e discriminação de uma raça, sendo ensinada na roda a historia, instrumentação, cânticos e movimentos físicos que nos proporciona equilíbrio físico mental através do toque do berimbau. Pastinha já dizia capoeira é tudo que a boca come. Então capoeira é vida.


Mestre MARINHO AMARO ANTÔNIO DOS SANTOS 1968 MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

MARINHO REGIONAL AMARO ANTÔNIO DOS SANTOS São Miguel dos Milagres, Estado de Alagoas, 22 de Outubro de 1968 filho de Antônio Benedito dos Santos e Amara Flor dos Santos

MESTRE MEDICINA GRUPO/NÚCLEO Associação Cultural Capoeira Raça Amaro Antônio dos Santos, nascido no dia 22 de Outubro de 1968 em São Miguel dos Milagres, Estado de Alagoas, filho de Antônio Benedito dos Santos e Amara Flor dos Santos, e mais três irmãos, solteiro, pai de duas meninas, Marina 18 anos e Agatha de 08 anos, com Andréia onde tive uma relação de 18 anos. Eu Amaro Antônio dos Santos, conhecido no mundo da capoeira como “Mestre Marinho”, chegando a Maceió na capital de Alagoas, com 08 anos de idade no ano de 1976, fui morar no conjunto Santo Eduardo onde lá existe o C.S.U – Centro Social Urbano, com varias atividades esportivas, exemplo: futebol de salão, capoeira, taekwondo, e outros. Eu estudava no grupo Escolar Ladislau Neto, onde eu comecei a minha vida escolar. Na década de 80 meu pai se separou da minha mãe, nós fomos morar na Avenida Maceió, onde a partir daí fui estudar na Escola Benicio Dantas de Barros, ali eu cursei o ensino básico. Já tinha tido contato com outros esportes como ciclismo, futebol e natação. Em 1984 nós nos mudamos de novo de endereço, mais uma vez, desta vez fui morar na Rua Alzira Aguiar, próximo da feirinha de artesanato da Praia da Pajussara, onde futuramente iria acontecer umas das maiores e mais conhecidas rodas de capoeira de Maceió, coordenado pelo meu Mestre Fernando Ventania. Conheci um amigo por nome de Erico que me convidou para vê-lo treinando capoeira. Assim foi o meu primeiro contato com a capoeira. Com o professor Marculino, treinei por três meses aproximadamente na Escola Santa Rosa, treinava com os amigos Erico, Walter, Silvamir, Jarbinha, Marculino hoje chamado de “Mestre Urubu”. Logo depois conheci o Mestre Fernando Ventania, eu morava na Rua Alzira Aguiar e os avós de Fernando morava na mesma rua, e ele ia visitar os avós dele e eu acabei o conhecendo, e fui treinar com ele no Centro Social Urbano. Estão com 15 para 16 eu comecei de verdade praticar a capoeira. Nesta data eu comecei a treinar com os amigos Erico, Durão, Índio, Junior, Graça Barboza, Flávia Furacão e outros. Depois de quase dois anos treinando direto, meus pais já separados então fui morar com minha mãe em Ipioca, um bairro do litoral norte de Maceió. Neste período já com idade para se alistar no Exercito Brasileiro, onde fiquei no 59º Batalhão de Infantaria Motorizado onde servi por 01 ano e 02 meses. Mesmo assim neste período eu treinava capoeira e taekwondo, onde fui campeão local de taekwondo. E durante 04 anos eu fui destaque na capoeira de Alagoas. Neste período existiam grandes rodas de capoeira, na feirinha de artesanato de Pajussara era a melhor de todas, coordenada pelo “Mestre Ventania” e também no C.S.U e no SESC. Até que em 1989, conheci Eduardo Canuto, fisiculturista que migrou para FULL – CONTATO. Foi campeão Alagoano, Norte Nordeste, Brasileiro, lutou ate fora do Brasil em Las Vegas. Então ele teve a idéia de juntar as melhores de cada modalidade de lutas para treinar. E eu como destaque da capoeira fui convidado a participar. Também como aluno formado já estava dando aulas nos bairros de Maceió, ex: Ipioca, Riacho Doce, Garça Torta. Já pelos anos 90 e 92 aluno formado e com bom conceito e curioso no mundo dos esportes fui para a ginástica aeróbica, que não demorou muito e fui destaque na


ginástica em duplas, junto com Rita na qual formávamos uma dupla ginástica aeróbica,e a Rita que era namorada de Ceroca, e dono da academia de ginástica e musculação, por nome de Fishico e Cia. Onde comecei a pratica da musculação e ginástica, passei a me interessar por estas atividades e também. Além da capoeira, essa eu nunca parei de treinar. E nesse meio tempo eu fazia também segurança particular (ex: Mario Leão, dono da usina Utinga Leão e Juca Sampaio ex-prefeito de Palmeira dos Índios um interior de Alagoas No ano de 91, vindo do Rio de Janeiro indo para o Maranhão, sua terra natal. Parou em Maceió e ficou morando durante 1 ano Fernando Coelho de Almeida artista plástico e muito bem conceituado. Um amigo Professor de Educação Física me convidou para das aulas de capoeira para uma turma particular de oito pessoas entre elas o Fernando Almeida, logo depois ele voltou para sua terra, e me convidou para conhecer sua cidade São Luís – MA Finalmente chegando em São Luís/MA no final do ano de 1992. Bem, chegando na casa de Fernando, largamos as malas e fomos na casa de um amigo de infância de Fernando. Que era o saudoso “Mestre Patinho”, quem eu já tinha visto falar por outros amigos que já tinham vindo à São Luís, Ex: “Mestre Claudio” e Professor Queixinho ambos de Maceió. Para mim o “Mestre Patinho”, um grande conhecedor da capoeira do Maranhão, um conhecimento profundo principalmente sobre capoeira angola. E um grande amigo que eu ganhei em São Luís E também tive o prazer de conhecer outros mestres como Evandro, Índio Madeira, Paturi, Betinho Paturi, Gavião, Ribaldo, Tio, Mizinho, Tutuca, Açougueiro, Ciba e o grande Alberto Euzamor. Todos grandes mestres de capoeira, com seus trabalhos, entre eles “Mestre Edy Baiano” vindo da Bahia, neste tempo dava aulas no Club da Alumar no bairro do Olho D’Água. Já com experiência em lutas e academias parti para o trabalho nas academias. Então 1994 comecei a trabalhar na academia CIA DO CORPO na Avenida Grande Oriente Renascença onde trabalhei com ginástica e musculação. Uma empresa que me projetou para o mundo das academias em são Luis. Com muitas matérias no jornal e um bom trabalho realizado. Então em 1996 eu já estava trabalhando na academia Corpo Suor no bairro da Cohama, onde dei aulas de musculação, ginástica e capoeira. No ano de 99 eu chegava voltar para Maceió, quando fui convidado para retornar para São Luís, para trabalhar na GIM Esporte Center academia, onde cheguei a dar aulas de capoeira, musculação, localizada no bairro do Calhau, foi quando nasceu minha primeira filha Marina. Também trabalhei na academia MK3 com capoeira e ginástica, localizada no bairro do São Francisco. Então neste meio tempo também cheguei a fazer algumas lutas de vale tudo, no ano de 95 e 96, com Demônio Loiro, no Estádio Nhozinho Santos e com o lutador Wellington no Campeonato Difusora (Champions Chip). Dando continuidade aos trabalhos de capoeira em 1996, conseguimos realizar o nosso primeiro batizado de capoeira, que foi realizado na Associação da Caixa no bairro do Olho D’Água, com a presença do “Mestre Fernando Ventania”, “Mestre Índio Axé”, e na e poça aluno formado Junior Graça, todos de Maceió. Nessa época o nosso grupo era chamado Salve Axé, até que um dois anos depois o Mestre Medicina criou em Salvador o grupo Raça e todos os grupo que era filiado ao Mestre Medicina foram unificado. Associação Cultural Capoeira Raça Pois bem depois do nosso primeiro evento continuei o meu trabalho pelas as academias e passei assim ao longo deste tempo dando aulas fazendo oficinas e apresentações. Estamos durante este período dando aulas Formando Pessoas e Capoeiras, para a vida com alunos graduados, formados, professores e um contra mestre. Alunos formados, Terra Samba, Nissim, Simpsom, Sarara. Professores, Notre Dame e Dentinho, contra Mestre Fred, Cachorrão graduado em Historia da Ufma. Desenvolvendo um grande trabalho com a capoeira em Brasília. E 2011 fui agraciado com o reconhecimento do CREF 5 expedido 19-04-2011, pelo Conselho Regional de Educação física, como profissional na área de musculação. Poderia ter escolhido ginástica, também teria


como provar através da carteira CLT, cotas e notas de jornais que alias foram muitas. Com o longo tempo de trabalho nas academias com musculação, ginástica e capoeira. Em 2011 finalmente, foi uma honra, um prazer e uma satisfação, quando eu estava em um evento do grupo raça de Maceió e o mestre medicina me falou para que eu fosse naquele ano a um evento dele em Salvador, para que ele mim graduasse lá, e eu pedi para ele que fosse no ano seguinte, aqui em São Luís para que os mestres do Maranhão estivessem na minha formatura. Então em 2012 vieram um São Luís, Medicina. Mestre de China. China mestre de Ventania e Ventania o meu Mestre. Mestre Medicina e China de Salvador e Mestre Ventania de Maceió, vieram a São Luís juntos com os Mestres do Maranhão. Depois de 30 anos da pratica da capoeira e com muita honra o seguimento me consagrou mestre. No dia 8 de Setembro data em que a cidade de São Luís estava fazendo aniversario de 400 anos. Já em 2013 na necessidade de sobrevivência em busca de mais uma profissão fui fazer o curso de corretor de imóveis, curso concluído, trabalhando assim como corretor de imóveis CRECI Nº 4238 Desde de 2013 nós estamos desenvolvendo um trabalho no bairro do Vinhais mais especificamente na Associação do Recanto do Vinhais, com aulas de capoeira todas as noites com os nossos professores onde até esta data fazemos um trabalho direcionado e bem aceito pela comunidade.

Amaro Antonio Dos Santos


Mestre CACÁ

CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES 1972 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

CACÁ Capoeira Maranhense Capoeiragem Tradicional Maranhense CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES; São LuiS – Ma, 17 de fevereiro de 1972; Pai: Antônio José Nunes; - Mãe: Telma Gusmão Nunes; Cresceu no Bairro do Sá Viana; Curso Técnico – IFMA Superior- UFMA – Licenciatura em Física Especialização – UEMA – Ensino de Física Especialização9 – Faculdade Santa Fé – Gestão e supervisão escolar Mestrando – IFMA – Ciências dos Materiais Profissão: Professor de Física Militar do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (oficial – 1º tenente). 2002 consagrado Contramestre pelo mestre Jorge Navalha 2001, 2 de setembro de 2003 - Curso de Formação de Arbitro e Mesário, organizado pela Federação Maranhense de Capoeira, 2009 Mestre de capoeira, pelo mestre Jorge Navalha. Jorge Navalha (JORGE LUIS LIMA DE SOUSA)

MESTRE

Amarauê – Capoeira GRUPO/NUCLEO

HISTÓRIA DE VIDA Estudei o ensino primário na Unidade Escolar José Giorcele Costa (Madre Deus); ginásio na escola Silva Martins - 5ª e 6ª serie (Rua do Passeio - Centro), escola Benedito Leite - 7ª serie (Praça Santo Antônio Centro), Colégio Henrique de La Roque - 8ª serie (Rua do Passeio - Centro); segundo grau na Escola Técnica - atual IFMA (Av. Getúlio Vargas - Monte Castelo); curso superior na Universidade Federal do Maranhão – UFMA; pós – graduação na Universidade Estadual do Maranhão - UEMA (especialização em Ensino de Física), Faculdade Santa Fé – FSF (especialização em Gestão e Supervisão Escolar); mestrado no IFMA (Ciência dos Materiais – incompleto).


- Profissão: Professor de Física e militar do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (oficial – 1º tenente). *Iniciei na capoeira em 1984, aos 12 anos de idade, no Colégio Silva Martins, com Valderez (atualmente, sargento da Polícia Militar do Maranhão) e Robson (professor de educação física), treinei até o final de 1985, com participação nos JEM’S – 1984 e 1985; em 1986 treinei por algumas semanas com mestre Patinho (no Laborarte), depois com o mestre Neguinho (no Prodance) e com o mestre Jorge Navalha (no teatro Itapicuraiba). No ano de 1986 treinei, simultaneamente, com o mestre Jorge Navalha e com mestre Erasmo (na época, recruta do exército). Os treinos com Erasmo duraram até o início de 1987, quando o mestre Índio se mudou do Bairro de Fatima para o Sá Viana – como o mestre Índio, que na época era considerado professor (considerado, porque naquele tempo não tinha professores, contramestres e mestres de capoeira no Maranhão – existiam os capoeiristas mais experientes), assumiu os treinamentos de capoeira no Sá Viana. Então treinei com o mestre Índio de 1987 até 2001; fui batizado em 1987 (apelido de batismo – Marreta) e formado professor em 1994– pelo mestre Índio. Em 2001, houve um desentendimento do mestre Índio com Cadico (hoje, mestre Cadico), na oportunidade o mestre Índio afastou Cadico da diretoria do grupo (na época – Associação de Capoeira Filhos de Ogum– hoje, Grupo São Jorge), então, como éramos muito unidos, resolvemos sair do grupo, Cadico, Neto e Eu. Nesse mesmo ano fundamos a Associação Maranhense de Apoio e União Esportiva da Capoeira – AMARAUÊ - CAPOEIRA. No ano de 2002 fui consagrado contramestre e, em 2009 mestre de capoeira, pelo mestre Jorge Navalha. - De 1993 até 2001, dei aulas de capoeira na União de Moradores/Clube de Mães do Sa Viana, juntamente com Cadico (hoje, mestre Cadico), pois o mestre Índio passava muito tempo no Rio de Janeiro. De 2001 a 2006 dei aulas de capoeira na União de Moradores do Angelim Velho/Novo Angelim/novo tempo III Angelim, e em um casarão na Rua da Estrela – centro (onde atualmente funciona a Casa da França no Brasil); de 2007 até os dias atuais dou aulas de capoeira na Madre Deus (Conselho Cultural/Sede do Boi/Choperia Madre Deus) e no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros – Vila Palmeira. Cursos/Participações/Trabalhos em prol da capoeira - Em 26 de junho de 1994, sagrei-me campeão do I Torneio de Capoeiristas Imperatrizenses. - Em 7 de setembro de 2002, ajudei a organizar a primeira palestra sobre a Importância do Alongamento/Aquecimento para a Pratica da Capoeira, na programação do I ENCONTRO CULTURAL AMARAUÊ-CAPOEIRA. - Em 2 de setembro de 2003 conclui o Curso de Formação de Arbitro e Mesário, organizado pela Federação Maranhense de Capoeira. - Em 19 de setembro de 2003 participei do JEM’S como arbitro. - Todos os anos, em 8 de setembro, ajudo a organizar, através do Amarauê - Capoeira a “caminha da melhoridade”, na Avenida Principal do Bairro Sá Viana.A caminhada serve para incentivar as pessoas da terceira idade a praticar capoeira e sair da ociosidade. O evento faz parte da programação de aniversário do Amarauê-Capoeira. - Em 2002, juntamente com os capoeiristas Pedro, Nelson, Cadico, Negão, Presentinho, Juvenal, Jorge Navalha, Reginaldo e cafezinho fundamos a LECAIB – liga de educadores de capoeira da área Itaqui – Bacanga, cujo propósito era reativar, divulgar e aproximar a comunidade capoeirista da área Itaqui- Bacanga e de São Luiz. Em junho de 2002 promovemos a I CAPOEIRA VENHA VER – TAÇA MESTRE PATO. Em 2003 promovemos a II CAPOEIRA VENHA VER – TAÇA MESTRE JORGE e em 2004 promovemos III CAPOEIRA VENHA VER – TAÇA UNIÃO. O que é a capoeira: A capoeira é minha filosofia de vida! / É minha luta, é minha dança, é minha arte, depende do momento! / É meu recarregar de bateria! / É minha dívida eterna! / É o alicerce da minha fortaleza! São Luís – MA, 3 de agosto de 2017 Cláudio Marcos Gusmão Nunes - Mestre Cacá


Mestre NELSON (Canarinho)

NELSON DE SOUZA GERALDO 1966 MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

NELSON (CANARINHO) MISTA: TRÊS TEMPOS- ANGOLA, SÃO BENTO PEQUENO E SÃO BENTO GRANDE DE ANGOLA Capoeiragem Tradicional Maranhense NELSON DE SOUZA GERALDO SÃO LUIS, 12 D JANEIRO DE 1966 Filho de Raimundo Geraldo e Zulmira Souza Geraldo Fundamental incompleto (7ª série) Contra- Mestre, em 16 de setembro de 1999 - Mestre- Jorge. Mestre, em 09 de novembro de 2013, consagrado pelo Mestre Pirrita Jorge Navalha (JORGE LUIS LIMA DE SOUSA) Pirrita

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Por volta de 1985, aos 13 anos de idade, Nelson de Souza Geraldo, filho de Raimundo Geraldo e Zulmira Souza Geraldo, iniciou a pratica da capoeira com o professor Jorge (Mestre Jorge – Navalha atualmente) incentivado por amigos chamados: Manel e Roberto. Iniciou o esporte por admiração pelas rodas de rua, estilos de jogo, movimentos e instrumentos, os quais via em grupos : Marabaiano, Aruandê e Filhos de Aruanda... As dificuldades em sua locomoção para o seu aprendizado pela distancia da academia não foram obstáculos e o mesmo conquistou sua 1ª graduação. Por um desentendimento com o seu professor (Jorge) passou a treinar com o professor Pirrita (atualmente Mestre Pirrita), concretizando a sua 2ª e 3ª graduação. Nelson sempre teve apoio familiar em seus eventos e trabalhos com o esporte. Em 28 de outubro de 1996 iniciou um trabalho na Igreja Nossa Senhora Aparecida no Bairro Mauro Fecury II, juntamente com o amigo de esporte Pedro Marcos, formando assim o Grupo de Capoeira “Raízes”. Em 16 de agosto de 1998 foi aprovado nas provas práticas e teóricas com Cordel azul - fez um exame de capoeira pela associação filhos de Aruanda – filiada a Federação Maranhense de Capoeira promovido pelo Mestre- Jorge. Em 11 de setembro de 1999 iniciou um trabalho na Fundação Assistencial da Criança e do Adolescente (FASCA) localizado na rua Hungria nº 22 quadra 2 bairro Anjo da Guarda .


Em 16 de setembro de 1999 foi aprovado nas provas práticas e teóricas como Contra- Mestre (trançado azul e amarelo); fez um exame de capoeira pela associação filhos de Aruanda - filiada a Federação Maranhense de Capoeira, promovido pelo Mestre Jorge. Por volta de 2005 participou do: Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) localizado no CLUBE DE MÃES do bairro São Raimundo –Anjo da Guarda, PACRIAMA também do bairro São Raimundo e LIGA DE EDUCADORES DA ÁREA ITAQUI BACANGA (LECAIB) beneficiando varias comunidades com cestas básicas ... EVENTOS - Festival de ladainha do Laborarte (com registro no jornal O Estado do Maranhão por volta de 1900) como compositor e interprete da musica : “E Chorou o Negro” alcançando o mérito de 1º lugar. - 1ª Roda de Capoeira “Vamos Vê” promovido pela associação de Capoeira Angola-Mestre Pesão em 12 e 13 de dezembro de 1992 com medalha de ouro em exibição, saindo entre os dez capoeiristas completos de São Luis –Ma. - 3º festival de ladainha em 1994 ,realizado na sede do Laborarte como compositor e interprete da musica Alforria alcançando o mérito de 1º lugar. - 2º festival Regional de Capoeira de Bacabal promovido pela Associação de Capoeira Zambi - Mestre Pinta, com apoio da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Secretaria do Estado da Cultura (CECMA) e Casa do Artista de Bacabal (CAB) em 24 de setembro de 1995 como compositor e interprete com o mérito de 1º lugar. - Através da LECAIB foi um dos idealizadores da 1ª COPA DE CAPOEIRA VENHA VER TAÇA MESTRE PATO E da 2ª COPA DE CAPOEIRA VENHA VER TAÇA MESTRE JORGE. - Juntamente com Contra mestre – Pedro realizou através da Associação de Capoeira Raízes inúmeros eventos como: 1ª Festival de Cantigas Mestre Ciba no teatro itapicuraíba bairro Anjo da Guarda, 2ª Festival de Cantigas Mestre Pirita ” no Parque Bom Menino bairro Centro, Festival Balneário de Ribamar, 1º Festival de cânticos inéditos de capoeira no teatro Itapicuraíba entre outros. - Atualmente o Mestre Nelson tem um trabalho com o grupo ACIBR (ASSOCIAÇÃO CULTURAL ITAQUI BACANGA RAÍZES) E MINISTROU SEU PRIMEIRO EVENTO : 1º encontro de capoeira Camaradas Velha Guarda COM OS IDEALIZADORES MENSTRE NELSON E MESTRE JORGE. - Em 09 de novembro de 2013 consagrado pelo Mestre Pirrita como Mestre (corda vermelha) juntamente com o MESTRE PEDRO pelos relevantes trabalhos desenvolvidos em prol nosso estado. - Atualmente tem um trabalho como mestre da Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes e realizou um evento idealizado com Mestre Jorge Navalha dia 08 de julho de 2017 chamado: : I ENCONTRO DE CAPOEIRA“CAMARADAS VELHA GUARDA” - CAPOEIRA DO MARANHÃO ,CAPOEIRA NO MARANHÃO realizado no MARAVISTA (PRAIA DO BONFIM). DECLARAÇÃO PESSOAL: a capoeira me trouxe Benefício em minha saúde, o não envolvimento na marginalidade, onde perdi vários amigos no mundo das drogas, me dando outra visão de vida. Me entristece as dificuldades para realização de eventos sem a colaboração maior do ESTADO do MUNICIPO. OBJETIVO FUTURO: Desenvolvimentos de trabalho com: idosos e portadores deficiências físicas. CAPOEIRÁ É: MINHA FILOSOFIA, HOBE,UMA PAIXÃO E UM COMPLETO DO MEU DIA A DIA E FONTE DE ESPIRAÇÃO ALÉM DE UMA ARTE OU UMA LUTA QUE SE ESCONDE ATRÁS DE UMA GINGA.


Contramestre DIACO

JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ 1963 CONTRAMESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

DIACO Capoeira Angola do estado do Maranhão - capoeira mista. Capoeiragem Tradicional Maranhense JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ Bequimão-MA, 16 de agosto de 1963 Filho de Margarida Borges Nogueira e José Lorenço da Cruz. Residente: R.09, QD 26 ,CS 09 Alto Turu II - São José de Ribamar – MA Ensino Médio

MESTRE

GRUPO/NÚCLEO

PIRRITA Associação Atlética Barcelona, em Matões - Turú

A trajetória na capoeira comecei assim, devido alguns convites do Tupi ou melhor Davi, como era chamado no Grupo de Capoeira Aruandê (hoje, Associação de Capoeira Aruandê), com o mestre Pirrita, Capoeira Angola do estado do Maranhão a capoeira mista. Cursei o ensino médio, eu comecei a ir assistir algumas aulas e fui gostando, me escrevi e comecei a treinar nos dias de terças-feiras, quintas – feiras e sábados, isto em 8 de abril de mil novecentos e oitenta e seis. Então treinei 6 anos direto, até então, morava no bairro Vila Nova, rua São Mateus, onde já começou o meu primeiro trabalho em 11/06/2003 no grupo comunitário, Unidos Venceremos. Já nesse período o mestre não estava presente, pois tinha viajado à serviço. Eu estava indo nas rodas que Negão quem fazia era Negão aos domingos. Às vezes em um treino além do mais mudei da Vila Nova para Vila Palmeira, aí ficou difícil mais treinar, mas enquanto estava na Vila Nova. Comecei um novo trabalho com a capoeira na associação já a do bairro São Francisco, em 10/06/2004, esse trabalho durou 1 ano e 7 meses , mas tive que mudar de novo para mais distante, onde resido até hoje, no bairro Alto Turú II – São José de Ribamar, onde desenvolvo este trabalho ,comecei a dar aulas em baixo de um pé de manga depois fui para a Associação Atlética Barcelona em Matões Turú.


Contramestre REGINALDO

REGINALDO FERREIRA DE SOUSA 1975 CONTRAMESTRE REGINALDO Mista ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense REGINALDO FERREIRA DE SOUSA Piripiri-PI, 20 d novembro de 1975 Filiação – Luis Nunes de Sousa e Maria Dilosa lima de ousa DADOS Fundamental PESSOAIS 2001 -30 de novembro – formado professor de capoeira pelos Mestres Cadico e Kaká. 2009 - 06/09 - graduado à Contra-Mestre pelo Mestre Jorge. MESTRE Erasmo Associação Maranhão Capoeira (2013) GRUPO/NUCLEO Em 1986 comecei a praticar a capoeira na Associação da União da Consciência Negra, no bairro do Sá Viana com 11 anos de idade com o Mestre Erásmo. A associação realizava os treinamentos no clube de mães. De lá pra cá venho praticando capoeira, 30 de novembro de 2001 fui formado a professor de capoeira pelos Mestres Cadico e Kaká. No dia 06/09/2009 fui graduado à Contra-Mestre pelo Mestre Jorge. Em 2013 sair do grupo Amarauê Capoeira e fundei a minha própria Associação Maranhão Capoeira. Aonde já administro um trabalho na área Itaqui Bacanga à 17 anos, aonde tenho um trabalho em Rosário – MA . A capoeira para mim é uma filosofia de trabalho.


Contramestre LEITÃO

FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO CONTRAMESTRE LEITÃO Capoeiragem Tradicional Maranhense ESTILO DADOS FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO 19 09 1967 -Altos no Piauí, ? PESSOAIS filiaçao; Afonso Rodrigues da Silva e Ana Alves da Silva Escolaridade: 2º grau reside em São Luís/MA desde 1972 2003 - forma o Professor de Capoeira Leitão – pelo Mestre Índio do Maranhão - Curso de árbitro de capoeira, Federação Maranhense de Capoeira. 2011 - Graduação de Contramestre – pelo Mestre Jorge, do Grupo Filhos de Aruanda. MESTRE

GRUPO/NÚCLEO

INDIO DO MARANHÃO JORGE NAVALHADA

Grupo Amarauê 2001, no bairro do

Capoeira , 08 de setembro de Sá Viana

Sua história com a capoeira começou em 1986, no bairro do Sá Viana, na área Itaqui-Bacanga, quando fez parte do Grupo de Capoeira União e Consciência Negra, com Mestre Erasmo, quem o treinou por dois anos. Depois, passou há treinar no grupo Filhos de Aruanda de Mestre Jorge. Foi também com o Grupo de Capoeira filhos de Aruanda que conquistou sua primeira graduação (corda azul), em 31 de dezembro de 1988. Após seis anos junto ao Grupo de Capoeira Filhos de Aruanda, Neto participou do Laborarte, no Centro da cidade de São Luís, onde passou um ano praticando capoeira com o Mestre Patinho. Em seguida, Neto retoma os trabalhos na área Itaqui Bacanga junto aos membros do Grupo Filhos de Ogum a convite do Mestre Índio Maranhão. Esta participação lhe rendeu grandes aprendizados, pois na ausência do


Mestre Índio ajudava a coordenar o grupo. Também foi neste período que Neto ganhou seu apelido. Passou a ser conhecido nas rodas de capoeira como "Leitão" - segundo o Mestre Índio, durante as rodas de capoeira, por ser muito branco, a cor de sua pele ficava rosada, parecendo um leitão. Foram cinco anos de história e aprendizados e participação do Grupo Filhos de Ogum, mas suas contribuições junto aos grupos de capoeira em São Luís estavam só no início. Por indicação do Mestre Índio Maranhão começou a colaborar com trabalhos na área do Complexo Cultural GDAM. Desenvolveu trabalhos sociais junto aos Projetos Jatobá e Embratel e comandou por seis anos (1997 a 2003) o Grupo de Capoeira Malungos. Nesse período, Neto se forma e torna-se o Professor de capoeira Leitão. Além disso, em 2003, conclui o curso de árbitro de capoeira, título recebido pela Federação Maranhense de Capoeira. Na área Itaqui Bacanga, onde nunca deixou de desenvolver parcerias e trabalhos sociais envolvendo a capoeira, depois de um ciclo com o Grupo Filhos de Ogum, Professor Leitão inicia um dos passos mais importantes da sua trajetória, a criação do Grupo Amarauê Capoeira. Em 08 de setembro de 2001, no bairro do Sá Viana, nasce o Grupo Amarauê Capoeira, uma parceria entre os professores (1° estágio) Leitão, (2° estágio) Cadico e Cacá. As responsabilidades a frente do Grupo Amarauê fizeram com que o Professor Leitão buscasse cada vez mais seu aperfeiçoamento. Com isso, conquistou em 2011, com o Mestre Jorge, do Grupo Filhos de Aruanda, a graduação de Contramestre. Junto ao Grupo Amarauê Capoeira, Contra Mestre Leitão atua com mais de 100 membros – entre alunos, instrutores, professores, contramestres e mestres. E em 2017 já conta com 6 núcleos para prática de capoeira, sendo um deles fora da área Itaqui Bacanga – localizado no bairro da Vila Palmeira. O Grupo desenvolve projetos sociais junto a comunidade, como por exemplo, a “Caminhada com a Melhoridade” realizada anualmente, no aniversário do Grupo, no bairro do Sá Viana. Entre outros eventos e viagens. Outros trabalhos desenvolvidos: •

Atividades no Clube Recreativo Cassino Maranhense, no Centro.

Na Unidade Integrada Cruzeiro do Sul, no bairro do Anjo da Guarda.

E também, trabalhos no Colégio Universitário (Colun/UFMA), com o projeto Escola Aberta.

Participações em eventos: •

Medalha de Ouro no 1° Torneio Individual de Capoeira de Imperatriz/MA – Evento em homenagem ao Mestre Espiga, comandado pelo Professor Taboca e apoio do Mestre Babalu.

Evento Cultural de Capoeira como instrumento de socialização, realizado pela Associação Cultural de Capoeira Congo Aruandê, em 1997.

1° Festival Maranhense de Capoeira, em 2002 no Ginásio Costa Rodrigues. Entre outros.


Mestre MANOEL

MESTRE

JOSE MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA. 1975 MANOEL Capoeirara do Maranhão jogo Misto

ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense JOSE MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA Humberto de Campos – MA, 08 de março de 1975 DADOS PESSOAIS

Pai: Jose Manoel Teixeira; Mãe: Julia Rodrigues Teixeira. Escolaridade: superior Completo em Pedagogia. Profissão: Motorista.

MESTRE

Evandro Costa GRUPO/NÚCLEO Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. INICIO À CAPOEIRA: Iniciei a treinar à capoeira em 13/11/1988 no antigo Centro Social Urbano no Habitacional Turu. Hoje sou membro fundador da Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. Escolaridade: superior Completo em Pedagogia. Dou aulas na Academia Parati Fitness no Habitacional Turu, em São Benedito do Rio Preto no Club Cecresbe. Sou discípulo de: Mestre Evandro Costa. Fundador da Associação Mara-Brasil Capoeira de onde são minhas raizes. Sou Capoeira do Maranhão jogo Misto. Capoeira para mim é o meu jeito de ser de inspiração de Deus.


Mestre NILTINHO

MESTRE ESTILO

DADOS PESSOAIS

JOSE NILTON PESTANA CARNEIRO 1975 NILTINHO Capoeira Mista Capoeiragem Tradicional Maranhense JOSE NILTON PESTANA CARNEIRO São Luis (?), 02 de setembro de 1975 Filho: Zelino Carneiro e Terezinha de Jesus Pestana Carneiro Escolaridade: Pedagogo 2007 - Mestrando de capoeira em 29 de Julho - Mestre Índio Maranhão 2012 - MESTRE de capoeira em 11 de Novembro - Mestre Índio Maranhão 2010 - eleito Presidente da Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA INDIO

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Associação Cultural de Capoeira São Jorge HISTÓRIA DE VIDA - CAPOEIRA Iniciei a Capoeira em Janeiro de 1989 com o Índio Maranhão aos 13 anos de Idade, na Associação de Moradores do Bairro Sá Viana. Ao longo de 28 anos de Capoeira venho ativamente contribuindo a capoeira do Estado, bem como os trabalhos da Associação Cultural de Capoeira São Jorge, entidade fundada pelo Mestre Índio, e que hoje tem núcleos em várias bairro de São Luís e em outro estado, como por exemplo, no Rio de Janeiro onde o mestrando Messias toma de conta desse trabalho, Em 2010 fui eleito Presidente da Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA, em 2013 Coordenei os Jogos Escolares Maranhense na modalidade CAPOEIRA, em 2014 fui Diretor de Arbitragem dos Jogos Escolares Maranhense na modalidade CAPOEIRA em 2015 novamente Coordenei os Jogos Escolares Maranhense na modalidade CAPOEIRA. PARTICIPAÇÃO EM EVENTO: Em 27/08/1993 Participei do I FESTIVAL SESC DE CAPOEIRA realizado pelo SESC – Serviço Social do Comercio Em 26/07/1994 Participei do I ENCONTRO DE CAPOEIRA IMPERATRIZENSE realizado pelo Grupo de Capoeira União e Avelar apoiado pelo Mestre Babalu.


Em 27/08/1994 Participei do II FESTIVAL SESC DE CAPOEIRA “TROFEU MESTRE SAPO” realizado pelo SESC – Serviço Social do Comercio Em 31/05/1997 Participei do VI FESTIVAL DE CANTICO DE CAPOEIRA realizado pelo LABORARTE Em 29/09/2002 Participei do FESTIVAL MARANHENSE DE CAPOEIRA realizado pelo FECAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão. Em 22/11/2008 Participei do I FESTIVAL DE LADAINHA 10º SEMANA JEJE NAGO realizado pelo Associação de Capoeira JEJE NAGO Em 27/12/2008 Participei do I INTERCAMBIO CULTURAL DE CAPOEIRA –ALTO DO PARNAIBAMA realizado pela Associação Cultural de Capoeira Congo Aruande do Estado do Maranhão Em 01/04/2009 Participei do ENCONTRO DE CAPOEIRA DENDE DE OURO realizado pelo ASCCDOPI – Associação de Capoeira Cordão de Ouro do Piauí Em 30/07/2011 Participei do ENCERRAMENTO OFICIAL DAS ATIVIDADES CULTURAIS DO PONTO DE CULTURADO ANO LETIVO DE 2010 realizado pelo Associação de Capoeira ZAMBI CAPOEIRÁ É: A força de expressão de um povo oprimido em busca de sua liberdade, e que se tornou símbolo de resistência desse povo escravizado, ela é Arte, cultura, destreza corporal, esporte é lazer.


Contramestre BOCUDA

ANTONIO CARLOS DA SILVA 1973 CONTRAMESTRE BOCUDA) capoeira contemporânea ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense ANTONIO CARLOS DA SILVA São Luis, 16 de agosto de 1973 DADOS Filho de Terezinha Ribeiro Silva e Francisco José da Silva. PESSOAIS 2002 - formado a professor – Mestre Negão 2010 - contra-mestre – Mestre Indio Maranhão Negão (José Tupinambá) Índio do Maranhão

MESTRE

GRUPO/NUCLEO Nasceu em 16 de agosto de 1973 na cidade de São Luís – MA, Filho de Terezinha Ribeiro Silva e Francisco José da Silva. Iniciou na capoeira aos 16 anos de idade no ano de 1989 com o mestre Jorge Navalha, onde comecei a dar os primeiros passos, mais não dei continuidade com o mesmo. No mesmo ano passei a treinar com José Tupinambá (Mestre Negão), no grupo de capoeira congo aruande onde passei 18 anos no ano de 2002, fui formado a professor. Em 2007 não fazendo mais parte do congo-aruande, comecei a visitar outros grupos, iniciando uma nova caminhada com o mestre Indio Maranhão. Durante 03 anos acompanhando o mestre, o mesmo me deu o título de contra-mestre em 2010. Hoje sigo a minha própria jornada como (contra-mestre), dedicando-me a ensinar meus filhos, passando obediência e respeito da forma que aprendi durante 28 anos de capoeira. Meu Estilo é a capoeira contemporânea criada na década de 70, os fatores mais importantes da angola e regional com movimentos acrobáticos deu-se o estilo misto, então toda capoeira que não segue angola ou regional, é misto. Capoeira para mim é minha filosofia de vida, é meu aprendizado, é minha história onde expresso minha felicidade.


Contramestre MARCIO MULATO

CONTRAMESTRE MÁRCIO MULATO Capoeira mista ESTILO Capoeiragem Tradicional Maranhense MÁRCIO COSTA CORREA DADOS São Luis – Ma, 17 de abril de 1978, no Lira Filho de Maria Raimunda Costa Cutrim e Pedro de Jesus Correa Ensino Médio, Técnico em Laboratório curso de arbitragem pela FECAEMA 2001 - graduação de Aluno formado -Mestre Curió 2005 - Instrutor - Mestre Baé (Florisvaldo Santos) 2010 - professor - Mestre Baé 2013 - Contramestre (primeiro estágio) roxo e marron - Mestre Baé (Florisvaldo Santos). Alberto Euzamor MESTRE Curió (João Palhano) Militar (Carlos Adalberto) Baé (Florisvaldo Santos)

GRUPO/NÚCLEO

Projeto Quinto Batalhão de Arte / Turma do Quinto

Márcio Costa Correa (Contra Mestre Marcio- Mulato), nascido no dia 17 de abril de 1978, filho de Maria Raimunda Costa Cutrim e Pedro de Jesus Correa. nascido no bairro do Lira. Estudei nos colégios, Sadock, Instituto São Lazaro, Sousândrade e Gonçalves Dias onde conclui o ensino Médio como Técnico em laboratório. Fui criado no Bairro do Goiabal, meu pai, sargento da Polícia Militar, me pegou de minha mãe para ser criado por ele, mas como não tinha tempo, pagava uma senhora cujo nome era Maria da Conceição Gomes, conhecida como dona Cocota para cuidar de mim. Mas com a morte do meu pai, fui criado por dona Cocota no bairro do Goiabal. Cresci em meio da cultura popular, em especial no bairro da Madre de Deus no qual obtive meu primeiro contato com a capoeira na antiga FEBEM, onde eu almoçava frequentemente, com outras jovens da minha comunidade. Comecei a praticar capoeira em 1994, no Parque do Bom Menino, com algumas pessoas que ali sempre treinavam tais como Bico, Ney, Dedé, Didi, Fafá, Militar e dentre outros. Fui aluno do Mestre Alberto Euzamor com quem treinei no Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM - ali no parque do Bom Menino, juntamente com Serafim, mas conhecido atualmente como mestre Kaka, bem como outros, como Camelo, Quebra ossos, Camaleão, Teodorinho...


Deixei de treinar com o Mestre Euzamor em função da finalização dos trabalhos junto ao Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM. Em 1997, entrei para o grupo “K” de capoeira do Mestre Militar, onde permaneci até o final do ano de 2001, quando fui para o grupo Arte Negra do Mestre Curió (João Palhano), aonde conquiste a graduação de Aluno formado. Em 2002 com a mudança do mestre Curió para o Rio de Janeiro, fui convidado pelo Mestre Baé (Florisvaldo Santos) a fazer parte do grupo de capoeira Candieiro, onde conquistei as seguintes graduações de: Instrutor em 2005, professor em 2010 e de contra-mestre (primeiro estágio) roxo e marron em 2013 e pratico a Capoeira mista. Neste tempo participei de vários eventos no Estado do Maranhão tais como, Jem´s, como arbitro e técnico, Iê Camará, curso de arbitragem pela FECAEMA, batizados e trocas de cordas e festivais. Atualmente, faço parte da primeira turma do Curso de Capacitação de Mestre de Capoeira do Maranhão, realizado pela UFMA, bem como, estou integrado à S.R.C.E.S. Turma do Quinto, o qual inserido como instrutor no Projeto Quinto Batalhão de Arte, assim como dou continuidade ao trabalho do Mestre Baé em suas andanças no mundo da capoeira. A capoeira hoje em minha vida tem uma representação significativa ao longo da minha formação, além do encanto da ginga, da beleza bem como da musicalidade, da coragem do ataque e da astúcia na defesa. Assim, a capoeira me ensinou a agregar valores, a respeitar e a lutar com dignidade e responsabilidade em prol de um mundo melhor, de um Brasil mais digno onde se possa colocar a educação substituindo assim a violência que atualmente assola nossa cidade e que o respeito seja substituído pelo preconceito. A Capoeira é: acima de tudo, um instrumento de educação assim como também de inclusão social onde o rico e o pobre são tratados de maneira homogênea, ou seja, sem separação de classe social sem nenhum tipo de discriminação social. ( Capoeira, mais que Arte, Luta e Cultura é Filosofia de vida.)

Márcio Costa Correa


DO LIVRO-ÁLBUM MESTRES CAPOEIRAS DE SÃO LUISMARANHÃO 2006


Mestre PEZÃO

JOSÉ DE RIBAMAR TEIXEIRA SILVA

MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

MESTRE GRUPO/NÚCLEO

Mestre Mestre Bartô (José Paulo) PEZÃO Regional (Mista) Capoeiragem Tradicional Maranhense JOSÉ DE RIBAMAR TEIXEIRA SILVA São Luís – Ma – 26 de dezembro de 1956 Filiação: Humberto Silva e Maria de Nazaré Teixeira Silva Endereço Rua Paquyistão, c 01, q. 35B – Anjo da Guarda Fone 3242 - 2272 Bartô (José Paulo)

HISTÓRIA DE VIDA Desde rapazinho tive vocação por capoeira só que não tinha condição financeira e nem alimentação adequada , fazia o que podia. Para melhorar seu potencial viajou pra avaria cidades, morou em Brasília, onde passou 16 anos; participou de várias rodas de capoeira, voltou a São Luís contando história; já trabalhou com James Adler e Otávio Leão (academia). Se acha um vencedor por ter passado por vários obstáculos. Hoje só treina de vez em quando, faz uma roda de capoeira. Tem participação no CD “Capoeira 500 anos” com duas músicas de sua autoria – Sacode Negra e Tanta mentira; outro CD da Associação de capoeira Ave Branca “Dia de Roda”. Tem uma filha e, perguntado se a colocaria na capoeira, respondeu que não, porque hoje a capoeira é muita violenta, não é mais tranqüila, não tem mais aquele prazer de jogar aquela agilidade. A capoeira regional foi criada por Mestre Bimba (Manoel dos Reis Machado) na década de 30. Participou das seguintes rodas e campeonatos: - VI Grande Roda de Capoeira - Troféu Beribazu – 3º lugar - Brasília-DF, 1981 - Absoluto de 82 – 4º lugar – - Troféu GPT FN Brasília – julho de 83 - Grupamento Fuzileiro Naval - Brasília - DF - RBC Adulto - Vice-campeão - Brasília – 1983 - Exibição coletiva e 2º combate - Campeão Brasília 85 - IX ENCA/99 – Mestre Gilvan Brasília - DF - Circuito Maranhense de Lutas (Mira Sport) Campeão invicto – quatro lutas - I Festival de Canto de Capoeira (Ladainha) APCEF-MA 3º lugar


Mestre SENA ROBERVAL DE SENA PALHANO 1976 Estilo

Mestre Graduado Mestre pela CBP, RJ

Nome ROBERVAL DE SENA PALHANO Filiação Márcio Palhano – Cláudia de Sena Palhano Local e Data de nascimento São Luís – Ma – 27 de janeiro de 1976 Endereço Av. Kennedy – Vila Militar Endereço Eletrônico Academia Associação Cativeiros da Capoeira HISTÓRIA DE VIDA Formado em Educação Física; Curso de Organização e Métodos, pela UFMA; Curso de Musculação pela CBS – SP; Curso de Árbitro de Capoeira, tendo participado do I Campeonato Maranhense de Capoeira Juvenil, 1981; I Campeonato Maranhense de Capoeira Adulto, 1981; I Campeonato de Capoeira de Volta Redonda,1986; I Festival de Capoeira da AABB, Niterói, 1988; funddor da Liga Imperatrizense de Artes Marciais, 1992; Fundador da Federação Maranhense de Capoeira;

Entrevista realizada por Henrique de Jesus Sousa Diniz


Mestre AÇOUGUEIRO JOÃO JOSÉ MENDES SILVA Estilo Angola e Regional

Mestre Mestre Sapo

Nome João José Mendes Silva Filiação José Ribamar Silva e Joana Mendes Silva Local e Data de nascimento São Luis, 1º. De julho de 1950 Endereço Rua 8, casa 65 IV Conjunto da Cohab Anil Academia HISTÓRIA DE VIDA Iniciei o aprendizado com 17 anos de idade e comecei a dar aulas em 1977, na cidade de Bacabal-Ma; eu fui introdutor da capoeira em Bacabal; lá, eu tinha uma escolinha – Grupo de Capoeira Angola – no CSU e deixei um aluno capoeira chamado Pinta ministrando as aulas. O nome Açougueiro eu ganhei na escolinha do Mestre Sapo, que funcionava no Costa Rodrigues, num jogo com um capoeira chamado Boi, na roda de sexta-feira, que recebeu um martelo no braço aplicado por mim. Aí a turma gritou: quer matar o Boi, açougueiro? E o nome pegou Fui contra-mestre de Mestre Sapo e uso a graduação que Mestre Sapo seguia do Mestre Zulu, de Brasília, do Grupo Biribazu O Mestre Sapo foi aluno dos Mestre Pelé e Canjiquinha, da Bahia Orientava o grupo África, que funcionava na Escola Agrotécnica Federal, onde dava aulas de Capoeira, entre 1998 e 2003 No momento esta sem alunos, mas esta pensando em formar novo grupo


Mestre DE PAULA

FRANCISCO DE PAULA BEZERRA MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

DE PAULA Regional e Angola FRANCISCO DE PAULA BEZERRA São Luis, 02 de abril de 1956 Filiação: João Bezerra e Maria de Lourdes Bezerra Formado em administração de empresa MESTRE SAPO HISTÓRIA DE VIDA Foi aluno de Mestre Sapo, e treinou dois estilos, o Regional e Angola, se destacando melhor no estilo Angola; pertence a academia e possui dois alunos, inclusive é mestre de Mestre Gudemar e atualmente apenas pratica na academia, sempre conciliando com o serviço de Policia Civil. Me chamo: Francisco de Paula Bezerra, filho de João Bezerra e Maria de Lourdes Bezerra, natural de São Luis-Ma, nascido em 02 de Abril de 1956, formado em administração de empresa. A minha intimidade com a capoeira nasceu em 1973, quando conheci o mestre “Anselmo Barnabé Rodrigues, conhecido como Mestre Sapo", o mesmo ensinava capoeira pela SEDEL " Secretaria de Esporte e Lazer, que na época era uma secretaria que lidava com esporte do estado, e o mestre Sapo era funcionário do órgão, e usava o Ginásio para praticar e lecionar a capoeira , foi ai que comecei a fazer uso e treinar no ginásio, nos horários das 18: 00 horas , nos dias : SEGUNDA , QUARTA E SEXTA. Na época tinha uma amizade construtiva com mestre, existia um respeito grande, que já não vê ultimamente; existia as rodas como: Praça Gonçalves Dias, e outras, onde alguns capoeiristas sempre fazia presente como : Babalú, Gouveia (falecido) Cordão de Prata, Curador, Batista, Magrinho, e muitos outros, como também participei de campeonatos, eventos enfim, foi onde tive oportunidade de vivenciar o mundo da capoeira. Hoje participo de poucos encontros, isso porque existem tantas pessoas se titulando mestre, e a capoeira perdeu sua essências" A minha intimidade com a acapoeira foi com 16 anos, em 1974, quando passei a treinar com mestre Sapo, com o decorrer do tempo comecei a participar das rodas de capoeira, onde o mestre DINIZ fazia em determinados pontos da ilha, como: Parque do Bom menino, Praça Gonçalves Dias, Veneza (Alemanha) e outros..pois na época o único que tinha instrumento , como atabaque e berimbaus. O meu estilo era regional e angola "



Mestre RAIMUNDÃO RAIMUNDO APRÍGIO MENDES Entrevista com o prof. Raimundo Aprígio Mendes, realizada no dia 31/08/2001 com inicio às 15horas e 5 minutos no Ginásio de Esportes Rubem Goulart situado no bairro do João Paulo.

São Luis, 06 de setembro de 1956 R – Bem, eu vivo na área de educação física, mas na verdade, eu sou formado em Química Industrial, me formei em 1992 na Universidade Federal do Maranhão, mais tenho uma larga experiência não só como atleta, mas também como técnico; fiz vários cursos técnicos na área de Ginástica Olímpica, tanto a nível estadual como também fora de nosso Estado, tenho curso ate Internacional de Técnicas de Ginástica Olímpica, realizado no Flamengo em 1996. R – É, eu comecei a minha vida como atleta na década de 1978. Eu treinava Capoeira já uns dois anos antes, eu participava, eu fazia parte grupo do Mestre Sapo, do falecido Mestre Sapo, que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues; nos trinávamos sempre no período da tardezinha, tipo assim 17:30 e ... ia até 20:30 horas. em 76; Aí, o professor Dimas apareceu no final de 1977, à procura de pessoas que tivessem uma boa habilidade para a pratica da Ginástica Olímpica então... Nessa época, tinha 14 anos. Então, ele buscou muitos alunos, muitos alunos de Ginástica Olímpica dessa época vieram da Capoeira, e ele preferiu assim porque os alunos da Capoeira já sabiam fazer alguns saltos que a Ginástica exige, e já tinham uma assim, digamos assim, um bom trabalho de preparação física, principalmente na parte de resistência orgânica e flexibilidade. L – Você já fazia capoeira nessa época? R – Não! Não tinha noção nenhuma do esporte foi... Eu tinha mais ou menos 11 anos. Já conhecia o Dimas, era meu professor de educação física no CEMA Aí, ele viu eu jogando capoeira, me convidou para fazer ginástica olímpica, então eu fiquei nos dois, mas depois eu me interessei mais pela ginástica, até porque teve uma coisa assim, digamos assim, eu aprendi a gostar mais da ginástica olímpica.


Mestre ZUMBI BAHIA

MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

ZUMBI BAHIA ANGOLA ADALBERTO CONCEIÇÃO DA SILVA Salvador, 18 de agosto de 1953 Mãe: Maria Conceição da Silva – Pai: Humberto Alves da Silva Formação: Licenciatura em Pedagogia; Habilitação em Magistério Superior e Gestão Educacional; Especialização em Docência do Ensino Superior; ProfessorAcadêmico; Coordenador Pedagógico do Instituto Officina Affro/MA; Angoleiro, Coreógrafo, Vocalista, Compositor, Percussionista. Patrimônio Cultural Imaterial Vivo – Prêmio conferido pelo IPHAN (2010), pela implantação e atividades de preservação da Capoeira Angola, na Paraíba e Recife. 1977 - consagrado Mestre de Capoeira - Zumbi Bahia - pelo Mestre Boa Gente, embora, o meu Mestre por consideração seja o Mestre Bigode de Santo Amaro, já falecido. Mestre Bigode de Santo Amaro MESTRE Mestre Boa Gente GRUPO/NÚCLEO Instituto Officina Affro

MA

à S OL UÍ RAN H S ÃO

Nome completo: Adalberto Conceição da Silva – Mestre Zumbi Bahia Dia e Local de nascimento: 18/08/1953–Salvador – Bahia Mãe: Maria Conceição da Silva – Pai: Humberto Alves da Silva Formação: Licenciatura em Pedagogia; Habilitação em Magistério Superior Educacional; Especialização em Docência do Ensino Superior; ProfessorAcadêmico; Pedagógico do Instituto Officina Affro/MA; Angoleiro, Coreógrafo, Vocalista, Percussionista. Patrimônio Cultural Imaterial Vivo – Prêmio conferido pelo IPHAN implantação e atividades de preservação da Capoeira Angola, na Paraíba e Recife.

e Gestão Coordenador Compositor, (2010), pela

Capoeira: catimba (inteligência) de negro em ânsia de liberdade. As minhas experiências profissionais tiveram início em 1976 no Centro Educacional de Periperi em Salvador – Bahia, como professor de Folclore, que dentre outras manifestações, ensinava a arte da Capoeira Angola, momento pelo qual (1977) fui consagrado Mestre de Capoeira e obtive o apelido de Zumbi Bahia. A minha consagração foi pelo Mestre Boa Gente, embora, o meu Mestre por consideração seja o Mestre Bigode de Santo Amaro, já falecido. Cheguei à Paraíba entre (1977 até 1979)


A minha vida capoeirística na Paraíba, deu-se início em 1977, na cidade de João Pessoa, quando a convite do senhor Tenente Lucena, passei a ministrar a Capoeira no SESC/PB para 50 alunos. A arte ganhou repercussão quando levei a “brincadeira” para o Ponto de Cem Reis e para a praia de Tambaú, congregando assim mais adeptos. Em 1978 e 1979, ministrei capoeira para crianças de Colônia de Férias da UFPB. Houve o lançamento oficial da capoeira na Reitoria e lecionei também a capoeira, visando incluir como disciplina (1 e 2) no Curso de Educação Física daquela universidade. Aos 33 anos, depois, fui convidado para um Simpósio de Memórias da Capoeira e lá em Recife me encontrei com os remanescentes da arte de Zumbi dos Palmares (meus antigos alunos atuais Mestres), para celebrar a resistência de preservação tanto na Paraíba quanto na capital pernambucana. Quando chegou a Pernambuco: Cheguei a Recife entre (1979 até 1992) Ações com a capoeira em Recife: Estava na cidade de João Pessoa (PB.), no final de 1978, quando o professor de música da UFPB, naquela época, o Antônio Carlos Nóbrega me convidou para ministrar algumas aulas esporádicas de capoeira, na sede do Grupo Boi Castanho Reino do Meio Dia, localizada na Rua Real do Poço em Casa Forte. Nas turmas estavam incluído o próprio Antônio Carlos Nóbrega, batizado pelo apelido de “Avestruz”, também o “Meia Noite”, o “Branco Aluanda”, o “Silê” e outros que não recordo o nome. No primeiro semestre de 1979 eu me mudei definitivamente para a capital pernambucana e dava aula no bairro de Casa Forte e também no SESI. Comecei a pesquisar os pequenos núcleos de capoeira ainda existentes, de pouca visibilidade, e foi quando encontrei Mestre Pirajá, no Morro da Conceição, que já me conhecia de outra época no Rio de Janeiro. Mestre Pirajá comandava um pequeno grupo composto pelo capoeirista Teté, Espinhela, entre outros, que se apresentavam na festa de N. S. da Conceição. Depois conheci Paulo Guiné, que ensinava capoeira aos parentes e amigos próximos, no quintal de sua casa e aprimorava os conhecimentos nas areias da praia de Prazeres. E, bem mais tarde, fui apresentado ao Mestre Coca-Cola, Mestre Mulatinho, o Bigode e Mestre Lázaro. Foram com estes que a gente formou a primeira Associação Pernambucana de Capoeira, que funcionava, na Rua Gervásio Pires – Centro – Recife. Ainda no primeiro semestre de 1979, me dediquei à difusão da Capoeira. E junto a UFPE, foi organizado o lançamento da capoeira em Recife, após 90 anos de exílio, com um grupo constituído de meus alunos paraibanos e recifenses, com direito a divulgação na TV afiliada à Rede Globo e o jornal Diário de Pernambuco. No mês de março e abril de 1979 foi realizado a 1ª Roda de Capoeira, no Ginásio Poliesportivo do SESC, de Santo Amaro, reunindo alunos e seus respectivos Mestres, pelos quais já tínhamos contatos. No dia 26 de agosto do mesmo ano, foi realizado o 1º Batismo de Capoeira também realizado no Ginásio Poliesportivo do SESC de Santo Amaro, com 60 capoeiristas paraibanos e recifenses. Naquela época tínhamos um controle do que acontecia no mundo da capoeira, pois sabíamos quem era iniciante e quem era veterano, havia um acompanhamento na formação daqueles capoeiristas, de modo, que as graduações eram realizadas de seis em seis meses, outorgadas pela Associação Pernambucana de Capoeira. Já por volta de 1982 houve um desacordo na Associação Pernambucana de Capoeira em que me afastei. Nesta época eu já estava ministrando capoeira na Escola Antônio Heráclio do Rego, pela Fundação Guararapes, no bairro de Água Fria, bem como, no CSU de Campina do Barreto e também no SESC, SESI e a LBA. Foi no SESI de Casa Amarela onde a capoeira serviu de base para ser criado o Balé Primitivo de Arte Negra e em 1985 a capoeira sustentou as técnicas necessárias para a criação das coreografias do Balé de Arte Negra de Pernambuco. Saí de Recife em 1992 e fui para Bahia e em 1994 radicalizei-me em São Luís do Maranhão e criei com a professora Waldecy Vale o Instituto Officina Affro associado ao então Grupo de Dança Como Ver, fundado em 1982 na UFMA. Segue outras informações no meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/3058394618602038 ADALBERTO CONCEIÇÃO DA SILVA - -MEMORIAL - São Luís – Maranhão - 2017


O presente memorial refere-se a uma parte integrante da documentação necessária que estabelece as inscrições para a seleção ao Curso de Mestrado em Educação,conforme o Edital PPPGI Nº19, publicado pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da Universidade Federal do Maranhão. Pretendo contemplar análise das minhas experiências profissionais e acadêmicas, relacionadas às razões da escolha do objeto de estudo. Inclusive,às expectativas em relação ao Curso e às perspectivas profissionais após a minha conclusão. Sou Adalberto Conceição da Silva, RG nº 045286702012-6 SSP/MA e CPF nº 284265504-44, nascido no dia 18 de agosto de 1953, natural da cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, atualmente, resido na Travessa Padre Manoel da Nóbrega nº 07, bairro do Apeadouro (CEP: 65.036-500) em São Luis do Maranhão. Tenho graduação em Licenciatura em Pedagogia, Habilitação em Magistério Superior dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Gestão Educacional, concluído em 2007, no Instituto de Ensino Superior Franciscano e Pós-Graduação em Docência na Educação Superior, concluído em 2009, na Faculdade Santa Fé em São Luís – Maranhão. Possuo ainda Pós-Graduação com acesso ao Mestrado em Ciências da Educação (ISEC, 2012)eEspecialização Lato Sensu em Gestão Educacional pela Faculdade Mário Schenberg, Brasil(2013). As minhas experiências profissionais tiveram início em 1976 no Centro Educacional de Periperi em Salvador – Bahia, como professor de Folclore, que dentre outras manifestações, ensinava a arte da Capoeira, momento pelo qual (1977) fui consagrado Mestre de Capoeira e obtive o apelido de Zumbi Bahia. Atividade que em 1978 passei a ministrar no Serviço Social do Comércio – SESC em João Pessoa na Paraíba, até o mês de agosto de 1979. Acerca deste mesmo ano, em Recife – Pernambuco, assumir o cargo de professor de Capoeira no Serviço Social do Comércio – SESC, também como Auxiliar de Recreação e Mestre de Capoeira(1980 – 1985)no Serviço Social da Indústria – SESI/PE. Instrutor de Folclore na Fundação Legião de Assistência/PE e ainda como Instrutor de Artes e Mestre de Capoeira na Fundação Guararapes/PE.,entre 1982 e 1990. A Fundação Guararapes era uma subsidária da Secretaria Municipal de Educação do Recife, que se encarregava, dentre outras ações, com as atividades de ensino, inclusive a contratação e capacitação de pessoal docente e técnico-administrativo. Foi através dessa Instituição que trabalhei na Escola Paulo VI e na U.E. Antônio Heráclito do Rêgo, no Bairro de Água Fria, onde eu criei a proposta pedagógica da capoeira no cotidiano escolar,com vistas a privilegiar o ensino enquanto construção do conhecimento, o desenvolvimento pleno das potencialidades dos praticantese sua inserção no ambiente social. Foi utilizado para isso, o referencial dos conteúdos curriculares da base nacional comum e a diversificada e, ainda os temas transversais, trabalhados em sua contextualização, fazendo uma conversão dos recursos didáticos tradicionais da escola formal, com o conjunto de tópicos da arte e cultura afro-brasileira. A Capoeira associada às distintas áreas de conhecimentos: Estudos Sociais, História, Geografia, Ciências, Matemática, Português, Artes e a Educação Física, muito antes de ser sancionada a Lei nº10.639/2003 na Educação Básica. Ao longo desses doze anos, participei do Movimento Social Negro e já com o registro de coreógrafo outorgado pelo Departamento Regional do Trabalho em Pernambuco (DRT-PE) sob o nº. 24330-004733/87 tive a responsabilidade em fundar o Balé Primitivo de Arte Negra e o Balé Arte Negra de Pernambuco, que produziram belíssimos espetáculos exibidos em Recife, em outros estados e até no Paraguai (Festival Folclórico Recuerdo de Ypacaraí). Foram experiências por demais valiosas, que renderam suporte para a minha nova etapa profissional, por conseguinte no Estado do Maranhão. Foi 1994 em que passei a fazer parte do Instituto Como Ver Officina Affro do Maranhão.A função era realizar um trabalho pedagógico, onde as culturas negras seriam os próprios materiais didáticos, por meio de cursos: de capoeira, dança afro, percussão, confecção de instrumentos musicais da cultura maranhense, montagem de espetáculos e oficina de música percussiva. Também se utiliza do material cênico e instrumental para interagir com as disciplinas curriculares – frutos adquiridos na capital pernambucana – e ainda havia, como até hoje, um trabalho sócio educativo na prevenção do uso de drogas, gravidez prematura e doenças sexualmente transmissíveis. O Instituto promove o estímulo à leitura, que faculta aos integrantes do grupo e à comunidade em geral o estudo e a compreensão teórica da realidade social e da questão do negro na sua totalidade. Em 2006 houve um contrato para trabalhar na Universidade do Sul do Maranhão (UNISULMA) lecionando a disciplina Fundamentos de Lutas (Capoeira) para nível de graduação, no Curso de Licenciatura em Educação Física. Também em 2006 ocorreu a minha participação como Professor/Formador na capacitação


de docentes do Ensino Médio, acerca dos Referenciais Curriculares, realizada pela Secretaria de Estado da Educação do Maranhão, em diversos municípios do Estado. Por volta de 2011, obtive o convite para lecionar a disciplina “Práticas Corporais Afrodescendentes” no curso de Educação Física Licenciatura, na então Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas de São Luis (atual Faculdade Estácio de São Luís). Como iniciativa pioneira no Estado, na pretensa de ministrar valores relativos à pluralidade étnica e cultural da sociedade brasileira. No mesmo ano foi organizado, como projeto de extensão a Iª Feira Acadêmica da Consciência Negra. O evento versa sobre a disseminação de pesquisas e seus resultados na área de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, com a pretensa de ampliar o desenvolvimento intelectual e cultural dos acadêmicos da Faculdade Estácio São Luís e a população em geral, bem como o processo sistemático de construção do conhecimento. É uma proposta elaborada na intenção de atender os requisitos de contextualização de práticas corporais afrodescendentes aplicados em sala de aula orientada pela então disciplina do mesmo nome, em parceria com o Instituto Officina Affro do Maranhão. O projeto tem como um dos objetos de pesquisa o estudo do movimento, do ritmo e expressão e do ensino e aprendizagem das manifestações afrodescendentes. Com vistas à efetuação das Leis que preconizam o ensino de conteúdos étnico-raciais nos currículos oficiais dos estabelecimentos de ensino superior e de educação básica (públicos e particulares) de todo o Brasil. Em 2012, sob a minha orientação foi realizada uma pesquisa de campo, com a colaboração de 35 alunos visando revelar como a temática História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena estavam sendo ministradas nas escolas públicas e privadas na cidade de São Luís. Teve como amostra o total de 137 professores da Educação Básica, onde apesar de 70% já terem conhecimento sobre as leis de reparação, observou-se que 107 dos entrevistados, até aquele momento, não tinha conseguido inseri-la nos seus programas de curso. E, muito menos aplicados em suas aulas conteúdos étnico-raciais de conformidade com o conjunto de normas determinadas pela LDBEN–Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Participação em trabalhos de conclusão de curso de graduação na Faculdade Estácio São Luís: SILVA, A. C.; LIMA, B. S.; SILVA, M. R.. Participação em banca de Jossandro Santos Dutra.O Eixo Lutas na Educação Física das Escolas de São Luís: Perspectivas dos Professores e dos Alunos, 2013. SILVA, A. C.; SILVA, M. R.; SOARES, R. B.. Participação em banca de José Paulo Sampaio Santos.A dificuldade do Professor de Educação Física, em Trabalhar o Conteúdo Lutas nas Aulas Práticas e Teóricas, 2013. SILVA, A. C.; BATISTA, J.; PONTES, R.. Participação em banca de Diogo Paulo Paz Fernandes.A Importância do Conteúdo Lutas no Âmbito Escolar: visão dos futuros professores de Educação Física da Faculdade Estácio São Luis, 2013. SANTIAGO, M. R. G.; OLIVEIRA, M. I. P.; SILVA, A. C.. Participação em banca de Paulo Henrique de Oliveira Lima.O Conteúdo Lutas como Aprendizado da Educação Física nas Escolas, 2013. LAPIS, E. C.; SANTOS FILHO, J. A. A.; SILVA, A. C.. Participação em banca de Hianne Suelen Ferreira Pimenta.O Tambor de Crioula como Possibilidade pedagógica na Educação Física Escolar: estudo de caso em uma escola pública de São Luís, Maranhão, 2013. SILVA, A. C.; COSTA, A. V.; BATISTA, J.. Participação em banca de Itaceni de Araújo Sousa.A Caracterização do Ensino da Capoeira: um estudo realizado na Escola Maria Mônica Vale. 2012. SILVA, A. C.; COSTA, A. V.. Participação em banca de Reinaldo de Jesus Araújo Júnior.O Ensino do Karatê na Escola: um estudo sobre sua metodologia utilizada, 2012. SILVA, A. C.; LAPIS, E. C.; ROCHA, M. F, S.. Participação em banca de Josué Licar da Silva.A Educação das Relações Étnico-Raciais na Educação Física Através das Práticas Corporais em Escolas Públicas de São Luís do Maranhão, 2012. SILVA, A. C.; LAPIS, E. C.; FERREIRA, M. L. S.. Participação em banca de Claudionísio Amorim Carvalho.Desafios da Educação Física na Educação de Jovens e Adultos em São Luís do Maranhão, 2012. Destacam-se os artigos publicados em periódicos como: SILVA, A. C.; SANTOS FILHO, J. A. A. ; VALE, W. D. V. .A Religiosidade da Capoeira no Maranhão. Revista Sapientia, v. IV, p. Editorial, 2012. SILVA, A. C.; SANTOS FILHO, J. A. A. .Disciplina Afrodescendente no Maranhão. Revista Sapientia, v. III, p. Editorial, 2011.

Livros publicados BAHIA, Z. e AVESTRUZ. História da Capoeira no Recife. Recife – PE: MS/Xilogravura, 1979. SILVA, A. C.; VALE, W. D. V. Legados Africanos na Cultura Brasileira.1. ed. Recife: Universitária - UFPE, 2014. v. 1. 163p.

Quanto às atividades profissionais desenvolvidas na área de gestão de ensino podem-se citar as experiências em sala de aula, quando foram administradas as seguintes disciplinas: em 2013, Professor/Formador na capacitação de docentes de Pós-Graduação no curso de Docência do Ensino Superior, ministrando a disciplina Didática Do Ensino Superior, na cidade de Barra do Corda e na cidade de Buriti Bravo,


municípios do Estado do Maranhão, assim como Metodologia Da Investigação Em Educação, na cidade de Vigia de Nazaré, município do Estado do Pará. Na qualidade de professor acadêmico na Faculdade Estácio São Luis no Curso de Educação Física Licenciatura,eu ministrei a disciplina História da Educação no Brasil; História e Fundamentos da Educação Física; Teorias e Práticas dos Esportes de Luta,e, em 2017-1, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Educação Física I. Em outra instância, entre 2010 e 2011, foi ministrada a disciplina de História Geral, no nível de Ensino Médio, no Centro Educacional Professor Machadinho – Paço do Lumiar – Maranhão, bem como, no Ensino Fundamental II e Ensino Médio (2012), na Unidade Escolar General Artur Carvalho, também na função de professor de História. PRÊMIOS E TÍTULOS 2010–Prêmio Viva Meu Mestre – Patrimônio Imaterial Vivo – IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Referente ao trabalho de implementação da Capoeira em João Pessoa/PB e Recife/PE. 1982–Troféu Recuerdos de Ypacaraí, XII Festival Del Lago Ypacaraí. PRODUÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL Artes Cênicas SILVA, A. C.; VALE, W. D. V. Espetáculo: 170 Anos da Balaiada X 120 Anos da Abolição. 2009. Produção Coreográfica com mais de 300 participantes, na maioria com alunos de Escolas Públicas da Rede Estadual de Ensino. Outras produções artísticas/culturais SILVA, A. C.; VALE, W. D. V. Bloco de Carnaval Officina Affro. Desde 1999 (Cultura Popular). O Bloco Officina Affro no Carnaval maranhense de 2017 mostrou a força negra em defesa do meio ambiente, com o tema “Oxum das Águas Doces”. O Officina Affro, animado pela sua orquestra percussiva composta de instrumentos populares e étnicos, foi para a avenida, praças e bairros de São Luís a fim de chamar a atenção para o problema de escassez da água no Brasil e no Maranhão. A música oficial do tema/enredo de autoria do compositor Mestre Zumbi Bahia, tornou-se expressiva com a seguinte letra: “Oxum perdão, perdoa os seus filhos Oxum, sem consciência poluem os seus rios sem se preocupar. Eles não lembram que a água é a fonte da vida, pois daqui a poucos anos a água pode se acabar...”. O Bloco de natureza afro-maranhense, através da arte de suas indumentárias, músicas e danças pretendem de maneira gostosa e agradável promover a conscientização do valor da preservação dos mananciais hidrográficos brasileiros, em particular, os maranhenses, para que a população não venha sofrer com a falta de um bem tão precioso. Produção Fonográfica: CD Ritmos Nos Quilombos. Composto de 17 faixas, que contam em forma musicada a história do Quilombo de Frechal, localizado a 390 km da capital São Luís, após dois anos de pesquisa. Grande parte das músicas foi composta e, interpretadas por mim, além da participação percussiva tocando Timbau e outros instrumentos. Todas estas produções ganharam valores de identidade e de preservação cultural. EXPERIÊNCIAS COM PROJETOS SOCIAIS E DE EXTENSÃO PROJETO BATUCADA MARANHENSE– (2000) Objetivos: Confecção de Bandinhas Rítmicas Pedagógicas com Instrumentos étnicos e populares, para crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I. Local de Realização: Núcleo de Cultura Officina Affro. Bairro do Bequimão – São Luís/MA. PROJETO ATABAQUES E BATUQUES – (2002) Objetivos: Capacitar jovens em confecção e uso de instrumentos musicais percussivos da cultura popular. Faixa Etária: 16 a 21 anos. Local de Realização: Núcleo de Cultura Officina Affro. Bairro do Apeadouro – São Luís/MA. PROJETO TOQUE CIDADÃO – (2002) Objetivos: Capacitar jovens no uso prático da percussão com instrumentos artesanais étnicos e populares, como meio alternativo de Educação Complementar. Faixa Etária: 16 a 21 anos. Local de Realização: Núcleo de Cultura Officina Affro. Bairro do Apeadouro – São Luís/MA. PROJETO BATUCADA MIRIM– (2002-2003) Objetivos: Capacitar crianças através do artesanato e da percussão, como meio alternativo de Educação Complementar. Faixa Etária: a partir dos 7 anos.


Local de Realização: Núcleo de Cultura Officina Affro. Bairro do Apeadouro – São Luís/MA. PROJETO SAURÊ-NUPE: Núcleo de Práticas Esportivas na Estácio São Luís– (2016-17). Objetivos: Conhecer e intervir na realidade de aptidões e condicionamentos físicos dos acadêmicos e da população que habita nos arredores da Faculdade, por meio de práticas esportivas de diversas modalidades. Local de Realização: Faculdade Estácio São Luís, Escola Estado do Pará e Ministro Mário Andreazza(Bairro da Liberdade) – São Luís/MA. Considerações: O Saurê-Nupe visa fomentar as práticas esportivas comunitárias no Curso de Educação Física, tendo como desígnio contribuir para o fortalecimento da missão institucional da Faculdade, voltada para uma educação transformadora dimensionando assim seu compromisso com a sociedade e as comunidades em seu entorno. A sua preparação foi constituída de seleção de estagiários para trabalhar na comissão organizadora, assim como aqueles que iriam atuar como oficineiros. O Projeto Saurê-Nupe participou da Ação Social no dia 29/04/17 ocorrida na Escola Ministro Mário Andreazza e no Ginásio Poliesportivo do bairro da Liberdade. Além de vários atendimentos houve oficinas de Jogos e Brincadeiras africanas, Basquete, Vôlei, Futsal e Zumba.


Mestre BAMBA

KLEBER UMBELINO LOPES FILHO MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

BAMBA DO MARANHÃO Angola KLEBER UMBELINO LOPES FILHO São Luís – 12 de abril de 1966 Filiação - Kleber Umbelino Lopes - Marinildes Pinheiro Braga Endereço: Rua João Vital 0 Beco da pacotilha -129 – Centro Histórico quilombomusica@bol.com.br centromandiqueira@bol.com.br

MESTRE

Patinho

GRUPO/NÚCLEO Escola de Capoeira Mandigueiros do Amanhã HISTÓRIA DE VIDA Começou na capoeira aos 12 anos de idade. A partir de 1995 conheceu o Mestre Patinho com quem aprendeu as técnicas. Ele trabalha com a capoeira Angola. Na capoeira Angola seu título através dos graus e pela comunidade. Há um grande respeito pela comunidade. Jána capoeira Regional seu título vem através de cordéis que dependendo da graduação vai mudando de cor. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira Em 1978, eu tinha 12 anos via a capoeira como uma forma de brincadeira; como sou baixinho e magro, na época eu tinha 39 quilos mais ou menos, os meninos do bairro impunham a soberania, não podia jogar bola que apanhava, até para ir na quitanda, eu tinha que arrudiar (sic) uma pracinha que tinha em frente da minha casa, por que tinha um menino que se eu passasse por lá, apanhava. Eu via a capoeira na rua com o som dos birimbaus (sic), a música, a ginga, a movimentação, me fascinava. Como morei sempre na Madre-Deus, um bairro periférico, na época mais ainda, eu sentia a necessidade de me proteger mais ainda. Na época de 60 e 70 tinha a imagem de malandragem e vagabundagem que perdura até hoje, não com a mesma intensidade. Os pais não deixavam aos filhos entrarem, sempre morei com a minha mãe e dois irmãos; só fui ter o apoio de minha mãe depois de ser contra-mestre e fundar a academia e trabalhar com crianças do bairro; antes vinha a cobrança para estudo, mas o meu padrinho era aluno do Mestre Sapo, o Mestre Eusamô, hoje. Me levava para as rodas e me iniciou na capoeira. O Mestre Sapo, para mim, foi o Mestre que mais propagou a capoeira no Maranhão na década de 80. O que trouxe de benefício? As melhores coisas de minha vida. Um rico sem dinheiro no bolso. Antes de viver da capoeira não tinha nada. Com a capoeira tive a felicidade de conhecer a minha esposa que me deu dois filhos e me fez superar a morte de minha mãe. O espírito foi superado com a capoeira. A Valdira Barros me deu força para superar a


capoeira, não ficando só no jogar pernas para o alto. Jandira Barros é a minha esposa. Me incentivou a pesquisar, me integrar a modernidade e não esquecendo de onde a capoeira surgiu. Antigamente um mestre para chegar a mestre, treinava 4 a 5 anos, montava uma academia e se intitulava mestre, com a modernização isso mudou. Existe duas vertentes. A capoeira regional que tem algumas linhas intitulada de capoeira contemporânea, criada pelo Mestre Bimba na década de trinta. Como é o negro na capoeira? A capoeira de 1880 a elite era branca e sempre praticou, no Rio de janeiro na década de 30. O Mestre Bimba, por participar e ter uma influencia branca de amizade na sociedade, a capoeira Regional era praticada por influencia do mestre Bimba, que trouxe seus amigos para a prática, levando a capoeira para o lado do esporte. Enquanto a Angola, praticada por 80% dos negros se constituía cada vez mais como arte afrobrasileira, como forma de brincadeira lúdica,pois a Angola é mais próxima a religiosidade, e o negro, que se escondia para praticar suas religiões, mostrava também na capoeira suas crenças, em formas de suas músicas e ladainhas. Na década de 30 a 50, com a adoção do estilo de educação física francesa, a capoeira foi se levando mais para o gueto. Valorizando uma herança que é nossa, o capoeirista só, não pode esperar ela se valorizar, caindo do céu. Apesar de não ser universitário, mas com o trabalho social que faço, me adequando ao que tenho, me valorizo. Existe academia que vê mais o corpo, eu ao contrário trabalho mais a mente, no natural, não importando se você e alto, magro, baixo, gordo o importante é você aprender além dos meios de fazer é entender como fazer. Eu após conhecer o Mestre Pato é que fui seguir a linha da mentalidade correta da pratica da capoeira na roda, até mesmo na briga. Após conhecer o Mestre Pato é que me transformei em um devoto da capoeira Entrevista realizada por Ismênia de Abreu Mendes Mayara Mendes de Azevedo Sâmia Valéria Madeira Irineu José Maranhão Diniz Manoel Maria Pereira


Mestre ABELHA

JULIO SÉRVIO COELHO SERRA MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

MESTRE

ABELHA ANGOLA JULIO SÉRVIO COELHO SERRA Viana-Ma, 23 de setembro de 1967 Professor de Capoeira Angola 1999 – Mestre Capoeira Angola - João Pequeno de Pastinha Mestre João Pequeno de Pastinha (João Pereira Dos Santos)

GRUPO/NUCLEO Escola Cortiço do Abelha Me chamo Julio Sérvio Coelho Serra, nasci na cidade de Viana-Ma em 23 de setembro de 1967. Criei-me em São Luis do Maranhão, no mundo da capoeira sou conhecido como Mestre Abelha. Comecei a praticar a capoeira com os meus 12 anos em São Luis. Em 1998- fui pra Salvador a convite do senhor João Pereira Dos Santos, o ilustre Mestre João Pequeno de Pastinha, onde ele me acolheu em sua casa, conseqüentemente me formando professor de capoeira Angola, na sua (academia de João Pequeno de Pastinha Centro Esportivo de Capoeira Angola ) no Lago do Carmo no Forte Santo Antonio e dando o nome da minha escola ( Cortiço do Abelha ). Em 1999- o Cortiço do Abelha realiza a I Clinica de Capoeira Angola em São Luis do Maranhão trazendo o seu tutor o ilustre Mestre João Pequeno de Pastinha, onde eu tive o privilegio de ser reconhecido (mestre de capoeira Angola, por ele.) 2001- começo a viajar pelo mundo ministrando oficinas e dando palestras sobre a capoeira Angola, incluindo Brasil, Itália, França, Bélgica, Suíça, Holanda, Áustria, Alemanha e Grécia. 2013- eu faço moradia definitiva em Atenas-Grécia, onde organizo a Escola de Capoeira Angola Cortiço do Abelha na Grécia, Brasil, Itália, Austrália e França.


Mestre FRED FREDERICO PIRES Entrevista realizada por Fábio Luiz B. Silva, Enéas do Espírito Santos Estilo

Mestre

MARANHENSE PARA ANGOLA Patinho

Nome FREDERICO PIRES Filiação Flavio Pires – Delci Pires Local e Data de nascimento São Luis – 03 de fevereiro de 1963 Endereço Rua do Mocambo, 158 – Centro Fone 098 8115 3104 Endereço Eletrônico Academia Brinquedo de Angola – Fonte das Pedras Projeto Capoeira Arte & Ação – Rua do Giz, 158 – Centro HISTÓRIA DE VIDA Quando começou a jogar capoeira tinha apenas 17 anos de idade. Possuiu apenas um mestre conhecido pela alcunha de Patinho, José da Conceição Ramos. Motivo que o levou a jogar capoeira foi lúdico, o musical de apreciação a vida, natureza, espírito, alma, não viver isolado, mas sempre em contato com eterno. Principiou a capoeira no Parque Bom Menino; instituidor da capoeira Angola no Laborarte com Mestre Patinho e Mestre Telmo. Inspirado no seu único mestre devido a lucidez que tem em seu poder.


Mestre MIRINHO CASEMIRO JOSÉ SALGADO CORREA Estilo

Mestre

CAPOEIRA MISTA:

Ivandro Costa

ANGOLA E REGIONAL.

Mestre Baê

Nome CASEMIRO JOSÉ SALGADO CORREA Filiação Pai – Pedro Alcântara Correa. - Mãe – Rosires Salgado Correa. Local e Data de nascimento Cururupu – Ma – 08de outubro de 1966. Endereço Rua Porto Caratatiua, n° 23 – Ivar Saldanha. Telefone – 3249 – 4862 Endereço Eletrônico Academia Academia – Rua Santa Rosa, n° 82 – Forquilha. CEP: 65037-200 HISTÓRIA DE VIDA Iniciou a capoeira em 03 de março de 1982, com 15 anos, na Rua do Poço – Bairro da Liberdade, passando poucos dias. Depois mudou para o Laborarte. Na época, não podia colocar o nome identificando capoeira, pois era discriminada. Do Laborarte, passamos para o CCN (Centro de Cultura Negra) com o mesmo estilo (capoeira mista) que durou até 1986. Comecei a dar aulas em Cururupu, onde fui o pioneiro fundando o grupo de capoeira Águia Negra. Posteriormente viajei para Vargem Grande fundando o grupo “Grito de Liberdade”, depois vim para São Luís ficando parado, só estudando a origem da capoeira e da cultura negra para a comprovação dos fatos e a discriminação racial, mas sempre participando de rodas de capoeira.Em 2000, conheci o mestre Baé e até hoje ele é o meu instrutor. Escolhi a capoeira, porque sempre fui voltado para a origem negra, pois a mesma me fascina, está no meu sangue. Nunca lutei outro estilo, só a capoeira; não só pela luta, mas pelos rituais. Considero que o capoeirista é um artista e um artesão, pois o mesmo confecciona seus próprios instrumentos. A capoeira no Maranhão é muito boa, é a das melhores existentes no Brasil, precisando apenas ser lapidada. O meu objetivo em relação a capoeira é resgatar aquela que os negros praticavam na época, a essência da verdadeira capoeira que hoje ficou muito estilizada.

Entrevista realizada por Hermílio Armando Viana Nina O Mestre Mirinho nasceu no dia 8 de outubro de 1966 na cidade de Guimarães (MA). Quando se iniciou na capoeira já contava 16 anos, isto em 1982, pelas mãos de Mestre Evandro, daquela cidade. Em São Luís praticou inicialmente na Rua do Poço da Liberdade e também no Laborarte. Em 1986 montou seu primeiro grupo na cidade de Cururupu (MA), especificamente no Palácio das Festas. No ano seguinte, 1987, cria o denominado grupo Grito da Liberdade na cidade de Vargem Grande (MA). Atualmente Mestre Mirinho é membro do grupo Candieiro. Este grupo desenvolve a capoeira no interior do Estado, já estando nas cidades de Tutóia, Icatú, Paulino Neves, Cachoeira Grande e Morros. O próximo passo é a cidade de Presidente Juscelino. A função de Mestre Mirinho no grupo é transmitir sobre o desenvolvimento e a história da capoeira no Brasil, sua origem, etc. Compreende também o ensino dos rituais, músicas e ritmos, tirados dos diversos instrumentos utilizados. O Mestre Mirinho é casado e tem dois filhos, Ruan de 13 e Carla de 11 anos. Já estão sendo iniciados na capoeira pelo Mestre. Quando na está atuando na Capoeira, o Mestre Mirinho é um comerciante autônomo. Como pessoa é extremamente educada e gentil, conhecedor das origens e importância da Capoeira. Ele defende que a origem da capoeira no Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo “Bantos”, em época remota. Este grupo praticava a capoeira na antiga guarda municipal no Parque Veneza. Para o mestre Mirinho, aquele que transmite a capoeira tem que estar preparado para transmiti-la. É ter uma completa visão do que ser educador. É preciso ser um poeta, um compositor e um cantor também, além de instrumentista. Resume-se em se dar completo, em uma só palavra, amor pela capoeira.


Entrevista realizada por: Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra Iniciou-se na capoeira em 1982, com 15 anos de idade, na Rua do Poço, na Liberdade, depois mudou-se para o Laborarte. Do Laborarte passou para o Centro de Cultura Negra, permanecendo até 1986. Começou a dar aulas em Cururupu, fundando o grupo de capoeira Água Negra, depois foi para Vargem Grande, fundando então o Grupo grito de Liberdade. Voltando a São Luís, onde se prendeu aos estudos da Cultura Negra e origem da capoeira. Desde 2000 está com o Mestre Baê. Buscou a capoeira devido a origem negra, onde a mesma o extasiara. Se identificou muito com os rituais, a música. Compara o Capoeirista como um artesão, um artista onde consegue confeccionar sues próprios instrumentos. Acha a Capoeira do Maranhão de excelente qualidade necessitando somente ser lapidada, onde sua meta é regatar a real essência deste maravilhosa arte. Entrevista realizada por: Maria do Socorro Viana Rego Iniciou a capoeira em 03 de março de 1982, com 15 anos, na Rua do Poço – Bairro da Liberdade, passando poucos dias. Depois mudou-se para o Laborarte. Na época não podia colocar o nome identificando capoeira, pois era discriminada. Do Laborarte passamos para o CCN (Centro de Cultura Negra) com o mesmo estilo (capoeira mista) que durou até 1986. Comecei a dar aulas em Cururupu, onde fui o pioneiro fundando o grupo de capoeira Águia Negra. Posteriormente viajei para Vargem Grande fundando o grupo Grito da Liberdade, depois vim para São Luís ficando parado, só estudando a origem da capoeira e da cultura negra para a comprovação dos fatos e a discriminação racial, mas sempre participando de rodas de capoeira. Em 2000, conheci o mestre Baé e até hoje ele é meu instrutor. Escolhi a capoeira porque sempre fui voltado para a origem negra, pois a mesma me fascina, está no sangue. Nunca lutei outro estilo, só a capoeira; não só pela luta, mas pelos rituais. Considero que o capoeirista é um artista e um artesão, pois o mesmo confecciona seus próprios instrumentos. A capoeira no Maranhão é muito boa, é das melhores existentes no Brasil, precisando apenas ser lapidada. O meu objetivo em relação a capoeira é resgatar aquela que os negros praticavam na época, a essência da verdadeira capoeira que hoje ficou estilizada. Entrevista realizada por: Raimunda Lourença Correa Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra Maria do Socorro Viana Rego Hermílio Armando Viana Nina


Mestre MARCO AURÉLIO

MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

MARCO AURÉLIO ANGOLA MARCO AURÉLIO HAIKEL 11 de março de 1963 Filiação: José Antonio Haikel – Maria dos Ramos Jansen Haikel Advogado marcohaikel@bol.com.br

MESTRE

PATINHO

GRUPO/NÚCLEO Matro-á HISTÓRIA DE VIDA Começou na Faculdade; conheceu seu mestre lá, tem 21 anos de roda. Conhece a capoeira desde 0s 7 anos, mas não praticava porque sua mãe não deixava, daí quando entrou na Faculdade conheceu Mestre Patinho, e com os seus amigos influenciaram começou a praticar. Ele conta que, como sua mãe achava a capoeira coisa de marginal ele entrou na turma de basquete, pois ele achava legal as manhas dos dribles, as gingas e as formas que o basquete tem, então achava parecido com a capoeira. Hoje tem a sua própria academia Matroa, perto da Poemese e agora nesses últimos meses por motivo de saúde doença (problema no joelho) sua academia está sem o Mestre jogando,mas comanda a roda.


Mestre DOMINGOS DE DEUS Estilo Angola

Mestre Mestre Patinho

Nome José Domingos de Deus Santos Filiação Orivaldo Correa Furtado e Ana Julia de Deus Sousa Local e Data de nascimento Humberto de campos, 22 de setembro de 1968 Endereço Rua 02, casa 432 – São Francisco Endereço Eletrônico Academia Academia Renascença 8 a 10 alunos Academia Matruá com 20 alunos HISTÓRIA DE VIDA Começou em 1985, com o Mestre Lelis no Clube Center; parou durante um ano e em 1987 voltou e foi para o Laborate, com o Mestre Patinho.


Mestre NELSINHO

NELSON BRITO MARTINS MESTRE ESTILO DADOS PESSOAIS

MESTRE

NELSINHO Angola NELSON BRITO MARTINS Rio de Janeiro – 19 de abril de 1975 Filiação: José Carlos Castro Martins – Cíntia de brito Martins Rua Oscar Galvão, 35 – Centro Fone: 8126 99 04 Graduado em Educação Física Patinho

GRUPO/NUCLEO

LABORARTE

Entrevista realizada por Felipe Albuquerque Barboza Neto

HISTÓRIA DE VIDA “Nasci no Rio de Janeiro; vim de uma família pobre, mas os meus pais sempre tiveram cuidado com meu estilo de vida. Quando criança fiz tudo o que uma criança saudável faz. Eu estudava na escola Ronald Carvalho, uma das grandes escolas da época.” COMO COMECEI, QUEM ME INCENTIVOU “Como eu moro perto do Laborarte e o Mestre Patinho era amigo de meus pais e do meu tio, conheci o Mestre. Logo, meus familiares me levaram para assistir a capoeira; com isso, em 1986, pela primeira vez eu entrava em uma roda; e como eu tinha de dividir o tempo entre estudar e jogar capoeira, me afastei, em 87. Em 1990, tive uma passagem de dois meses e parei novamente. “Em 1992, voltei novamente, pois até hoje jogo capoeira; passei a estudar a fundo, inclusive a história da capoeira é controversa, mas o que eu sei através da pesquisa dos livros do professor Leopoldo, apesar de não conhecê-lo, mais digo que admiro muito; a capoeira nasceu no Rio de Janeiro no século ( ) que era chamada capoeiragem. Outro registro nos mostra que 1877 a capoeira tinha adeptos aqui em São Luis especialmente na rua das Hortas, também falava-se na mesma época em Turiaçú, inclusive era proibida.” CAPOEIRA – LUTA OU DANÇA “Eu definiria como luta, dança e jogo; ela é tudo isso e muito mais. Não dá para defini-la só em uma coisa”. “A capoeira é muito dinâmica, tanto é que ela mexe com toda parte do corpo, com todos os grupos musculares.” A CAPOEIRA AJUDA NO MEIO SOCIAL “Depende de quem trabalha a capoeira e como trabalha, não basta só ensinar a criança a movimentar-se, o professor tem que mostrar a história, a realidade dos fatos, o cotidiano.” OS INSTRUMENTOS “A capoeira como é dança também,precisa dos seus instrumentos, como: três berimbaus chamados de gunga (grande), viola de centro (médio), a violinha, e ainda tem a cabaça pequena. Os instrumentos dão um diferenciamento entre os dois estilos de capoeira, a de Angola e a Regional. Na Regional pode-se usar um berimbau e dois pandeiros.”


DIFERENÇAS ENTRE ANGOLA X REGIONAL “Há várias diferenças, hoje a Regional é apenas o conteúdo luta, é mais voltada para o esporte. O criador da Regional foi o Mestre Bimba, ele era baiano”. “A capoeira Angola é mais folclórica, voltada aos nossos costumes. Outra diferença básica é que a Regional é jogada alta e rápida e a Angola é um jogo mais lento, mas pode acelerar. A roda de Angola é sentada, a Regional, os integrantes ficam em pé.” O SOM ENCANTA E O GINGADO TAMBÉM “Quando eu escuto, e olho uma roda de capoeira eu me emociono, ainda mais quando o jogo tem um som melódico, uma roda harmônica com uma música bem tocada e um bom coro, é muito legal para a alma.” QUANTOS ALUNOS VOCE ENSINA “Atualmente 60 alunos: 15 no Laborarte, 30 no Projeto Criação no bairro do São Francisco e 15 na Universidade Federal do Maranhão onde eu faço o Curso de Educação Física e graças a Deus estou me formando”. “Agora fui convidado para o Projeto 2º. Tempo com mais de 100 alunos, vou pegar sete turmas de capoeira sempre pela manhã e tarde.” A CAPOEIRA COMO TERAPIA “A capoeira, assim como qualquer ocupação que leve o cidadão a ser reconhecido como cidadão também dá sua contribuição nas questões de ajuda aos problemas através do envolvimento com o grupo, trazendo o mesmo para atividade de conhecimento. Pode também ser usado nas atividades físicas, por exemplo, uma pessoa obesa pode praticar capoeira.” DISCRIMINAÇÃO “A falta de conhecimento sobre a capoeira faz que muitos tenham impressão inversa da modalidade. Às vezes, nós mesmos somos culpados por exemplos muitos professores não procuram estudar e visam à capoeira como arma, no entanto a capoeira é uma arte que envolve a música, dança, luta e o jogo, mais tudo nos conformes”. “Eu me sinto privilegiado, pois sou universitário, tenho um estudo avançado, isso me dá uma visão e um respaldo perante a sociedade.” OS MOVIMENTOS “A capoeira é complexa, o mesmo movimento tem três ou mais nomes, dependendo da vontade do Mestre, tem movimentos que ao ser executado se transforma em outra série, são exercícios que o aluno faz na roda sem que tenha exercitado.” A MUSICA “As músicas da capoeira são de conteúdo simples e são transmitidas de mestre para mestre. Tem música que são criadas na roda e a letra é cantada de acordo com o acontecimento do dia”. “A roda sempre começa com a ladainha, são usados cânticos corridos, como “ ia, ia, deu uma volta só ...” “As quadras são músicas usadas na roda, geralmente quando termina usa-se o corrido: “adeus, adeus seria, eu já vou embora, adeus, adeus sereia eu já vou embora !... A ROUPA “A calça chama-se abada, não é obrigatória o uso, se a pessoa quiser entrar na roda com outro tipo de calça, pode fazer a capoeira normal, só não é permitido a entrada de pessoas com bermuda.” CONSIDERAÇÕES FINAIS “Graças à capoeira eu me vi de uma forma diferente. Hoje, trabalho dentro dela, fiz amigos, tive conhecimento e exercito o meu corpo. “A capoeira também é uma ocupação e ajuda muito na formação das pessoas.”


Mestra PUDIAPEN Estilo Angola Tradicional Angolagem

Mestre Mestre Patinho Mestre Acinho de Jesus

Nome Izabel Cristina R. de Miranda Filiação Zacarias Barbosa de Miranda e Raimunda Rodrigues de Miranda Local e Data de nascimento Lagoa do Pascoal (antigo município de Pedreiras) hoje, Santo Antonio dos Lopes, 1º. De dezembro de 1956 Endereço Rua V-10, q. 18, c. 11 – Parque Shalon Endereço Eletrônico Academia HISTÓRIA DE VIDA Iniciei os conhecimentos elementares da capoeira num curso de extensão da Universidade Federal do Maranhão, em 1989, e num salão na Praia Grande, no mesmo período, com alguns alunos adiantados do Mestre Patinho. Em 1990, participei de oficinas da Universidade Federal do Maranhão com o Mestre Canjiquinha-Bahia A partir de 1990, ingressei no Laborarte, onde estudei com o Mestre Patinho de 1990 a 1994 Em 1993, comecei os estudos de capoeira com o Mestre Acinho (Assuero Costa Silva), que dava aulas no Laborarte substituindo o Mestre Patinho, quando estava ausente Participei na coordenação de vários everntos de capoeira em São Luís, promovido pelo Laborarte, como o Iê Câmara, Festival de Cânticos de Capoeira, Seminários, etc; Em 1994, estagiei acompanhando Mestre Patinho em oficinas no Colégio Pitágoras, Colégio Crescimento, e num salão da Praia Grande, localizado na escadaria da Rua do Giz, próximo ao Hotel Central - viajei para a cidade do Porto-Portugal para participar do Festival Internacional de Expressões Ibéricas, onde participei das apresentações do grupo de Tambor de Crioula do Mestre Felipe, Cacuriá de Dona Teté, e grupo de capoeira do Mestre Patinho. - A partir de 1994 a 2004, estagiei com o Mestre Acinho, acompanhando-o a diversas viagens para Portugal, Salvador, Rio de janeiro, São Paulo, Minas Gerais, e outros estados, para participar de encontros e seminários nacionais e internacionais, ocasião em que participei de oficinas com mestres de várias linhagens, como por exemplo: Mestre João Pequeno (BA), Mestre Pelé (Mestre de Mestre Sapo), Mestre Lepoldina (RJ), Mestre Curió (BA), Mestre Lua Rasta (BA), Mestre Cobrinha Mansa (BA), Mestre Lua de Bobó (BA), Mestre Arerê (RJ), Mestre Jurandi, e outros. - Aprendi e aprofundei os conhecimentos sobre os fundamentos, história, técnica e musicalidade, incluindo toques, cânticos e confecções de berimbaus e caxixis, com o Mestre Acinho e alguns mestres de outros estados. Em 1996, fui graduada aluna formada pelo Mestre Acinho De 1998 a 2000, auxiliei nas oficinas de capoeira ministradas no Tijupá Queimado – Maiobão, para crianças e adolescentes Em 1999, fui graduada contra-mestre pelo Mestre Acinho - visitei as tribos indígenas Canelas e Guajajaras, ocasião em que fizemos demonstrações de capoeira na tribo Canela, juntamente com Mestre Acinho e seu aluno formado Adriano Em 2000, ajudei o Mestre Patinho na formação da sua academia, em sua residência, que atualmente é o Centro Cultural Mestre Patinho, local onde dei aulas para iniciantes juntamente com o Mestre Acinho, quando o Mestre Patinho viajava Em 2004, auxiliei nas oficinas de capoeira ministradas na Associação de Tambor de Crioula Manto de São Benedito, no bairro da Cidade Olímpica. Atualmente, ministro aulas na comunidade periférica do Araçagi Em 2004, fui graduada aluna formada pelo Mestre Acinho Em 2005, fui graduada mestra (nível branco – 3º grau) pelo Mestre Acinho, fundador do Nucleo Internacional de Capoeira


EXPOSIÇÕES DAS BIOGRAFIAS DOS MESTRES DE CAPOEIRA DO ESTADO DO MARANHÃO

Abertura da Semana da Capoeira realizada pela Federação Maranhense de Capoeira FMC


MESTRE SR. MIYAGE

JOSÉ ANTONIO DE ARAUJO COELHO Colinas, 23 de setembro de 1975


ANTONIO BEZERRA DOS SANTOS


MESTRE EVANDRO


MESTRE CADICO


MESTRE JUVENAL (JUVENCIO)


MESTRE PALHANO


MESTRE ARY


MESTRE UBIRACI


MESTRE JORDILAN


MESTRE GUDA


MESTRE MÃO DE ONÇA


MESTRE BETINHO


CAPOEIRAS CITADOS PELOS ALUNOS-MESTRES EM SEUS DEPOIMENTOS RODAS DO VELHO DINIZ 1929-1914 / (40/50?) Catumbi Alô Babalú Boi Cordão de Prata Curador Didi Diniz Elmo Cascavel Esticado Faquinha Gouveia Índio do Maranhão Jacaré Jessé Lobão Luciel Rio Branco Miguel Mimoso Nei Patinho Paturi Pelé Pesão Raimundão Rui Sapo Sebastião Socó Tacinho Ubirajara Zé Melo Cara de Anjo PATINHO 1953-2017 / (1962) Sapo Babalu Bamba Bruno Barata Diniz Elma Jessé Lobão Júnior Marco Aurélio Nelsinho Roberval Serejo Sapo Serginho Tacinho

GRUPO BANTU ROBERVAL SEREJO Djalma Bandeira Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Jessé Lobão Patinho Raimundão Sapo Ubirajara

PATURI 1946 / (1962) Adalberto Alô Auberdan Babalu Baé Butão Carral Cordão de Prata Curador Fato Pode João Bicudo Leocádio Lourinho Manoelito

QUARTETO ABERRÊ Canjiquinha

Brasília Sapo Vitor Careca

RIBALDO BRANCO ? / (?) Sapo Alô Babalu Cara de Anjo Diniz Garfo de Pau Gouveia Jessé Leocádio Luis Murilo Martins Raimundão Ribaldo Preto Sansão Til

SAPO (Grupo Bantu) Associação Ludovicense de Capoeira Angola 1948-1982 / (50?) Pelé/Canjiquinha/Zulu Afonso Barba Azul Alberto Euzamor Alô Babalú Didi Diniz Elmo Cascavel Gouveia Índio do Maranhão Jessé Lobão Patinho Paturi Raimundão Ribaldo Branco Rui Ubirajara

TIL 1955 / (1968) Ribaldo Branco Ribaldo Branco


ALBERTO EUZAMOR 1962-2017 / (1969) Luciel/Sapo/Rui Luciel Rio Branco Sapo Rui Pinto Cacá

Ramos Ribaldo Branco Ribaldo Preto Rola Zé Raimundo Zeca Diabo

Zeca Diabo

RUI PINTO 1960 / (1970) Sapo Alberto Euzamor De Paula Didi Gouveia Jacaré Marquinhos Raimundão Roberval Sena

SOCÓ 1961 / (1971) Raimundão/Miguel Alberto Alcimar Alô Ball Batata Beto (Curió) Biné Bodinho Boi Cabeça Caco Carlos Cesar Celso Chicão China Cobra Negra Cordão de Prata Curador Curio Danclei De Paula Deco Didi Eduardo Faquinha Generoso Gouveia Irineu João Batata Juruna Marcelo Mauro Jorge Messias Miguel Arcangelo Mimoso Miro Mizinho Motor Nei Pato Pelé Pesão Português Raimundão Raspota Riba Roberval Roberval Serejo Rui Sebastião

ÍNDIO DO MARANHÃO 1957 / (1972) Diniz Alan Alô Babalú Bambolê Batista Boi Cabral Candinho Carioca Carlinhos Cebola Cesar Dentinho Cordão de Prata De Paula Didi Diniz Elmo Cascavel Emídio Esticado Faquinha Fato Pode Geraldo Cabeça Gordo Gouveia Jesse Leocádio Louro Manoel Peitudinho Manoel Pretinho Mimoso Murilo Nelson Galinha Patinho Paturi Pelé Raimundão Ribaldo Branco Ribaldo Preto Rodolfinho Sabuja Samuel Sansão Sapo Sócrates Teudas Tião Carvalho Til Valdecir Wolf Zeca Diabo


Travolta Uruca Valderez Wadson Zé Mário Zé Melo PIRRITA 1955 / (1971/72) Pezão Babalu Baiano Banana Bigu Borracha Brasil Candinho Cara de Anjo China Cícero Curador Curió De Aço De Paula Diniz Euzamor Evandro Gouveia Índio Jair João Bicudo Jorge Navalha Leonardo Madeira Magno Manoel Peitudinho Miguel Negão Neguinho Nelson Pato Pedro Pelé Pezão Ribaldo Preto Ribinha de Tapuia Rico Roquinho Ruston Ruy Pinto Sapo Suruba Tita Tucano Urucanga Vanio Zé da Madeira Zeca Zezão

JORGE NAVALHA 1963 / (1973) Pato Betinho Jacaré Pato Pirrita Roberval Sena

CURIÓ 1956 / (1975) Raimundão Beto do Cavaco Boi Caninana Curador João Matavó Manoel Peitudinho Miguel Raimundão Sapo Socó Tancrei Zé Copertino

BAÉ ? / (1976) Paturi/Edybaiano /Bamba Alô Edibaiano Fred Iran Jacaré Marco Aurélio Pato Paturi Riba Telmo


GAVIÃO 1967 / (1977) Madeira/Pirrita Baiano Bigu Curador Didi Fábio Arara Louro Madeira Pato Pirrita Raimundinho Sapo Sócrates

FORMIGA ATÔMICA 1973 / (1979) Madeira Madeira Shell Braço Lôlô Otacílio Fábio Arara Herberth Pelezinho

MILITAR 1971 / (1982) Bigodilho

LUIS SENZALA 1971 / (1981) Madeira Gavião Madeira

Abacate Alberto Euzamor Assis Batman Beleleco Bulão Cabecinha Cacá Candinho Careca Chicão Coquinho Cudinho Curador Daniel Dunga Evandro Jacaré Jorge Navalha Junior de Assis Juricabra Madeira Manoel Mata Rato Miguel Mizinho Neguinho Nijon Paturi Pirrita Robson Rui Pinto Ruso Tutuca Wilson

PEDRO 1970 / (1983) Pirrita Bigú Bira

NEGÃO 1966 / (1983) Pirrita Pirrita

ROBERTO 1969 / (198?) Guda/Ciba/Baé Ademir Baé Ciba Guda Macaco Nato Filho

MIZINHO 1968 / (1982) Evandro Banana Beleleco Betinho Brinco Dourado Chicão Cláudio Danclay Euzamor Evandro Jota Jota Luisinho Manoel Miguel Patinho Rui Pinto Sabujá Sapo Toba Tutuca

MARINHO 1968 / (1983) Medicina Açougeiro Alberto Euzamor

TUTUCA 1967 / (1981) Evandro Evandro Cabeça Magão

LUIS GENEROSO 1074 / (1982?) Dunga / Madeira Beleleco Curador Gavião Madeira Miguel Pato Senzala Socó

CACÁ 1972 / (1984) Jorge Navalha Cadico Erasmo


Cadico Cafezinho Ciba Jair Jorge Jorge Navalha Juvenal Kaká Negão Nelson Neto Patinho Pedro Pezão Pirrita Presuntinho Reginaldo

NELSON 1966 / (1985) Jorge Navalha/Pirrita Jorge Navalha Pedro Pedro Marcos Pesão Pinta Pirrita

Betinho Cachorrão Ciba Dentinho Edybaiano Evandro Fernando Fred Gavião Indio Madeira Mizinho Nissim Notre Dame Patinho Paturi Ribaldo Sarará Simpson Terra Samba Til Tutuca DIACO 1963 / (1986) Pirrita Negão Pirrita

MANOEL 1975 / (1988) Evandro Evandro

Bartô

Cadico Erasmo Jorge Kaká

NILTINHO 1975 / (1989) indio Indio

PEZÃO 1956 / (?) Bartô

REGINALDO 1975 / (1986) Erasmo

DE PAULA 1956 / (1973) Sapo Gudemar Sapo Babalú Gouveia Cordão de Prata Curador

Indio Jorge Navalha Neguinho Neto Patinho Robson Valderez

LEITÃO ? / (1986) Indio/Jorge Navalha Cacá Cadico Erasmo Indio Jorge Navalha Patinho

BOCUDA 1973 / (1989) Negão/Indio Negão Indio Jorge Navalha

MÁRCIO MULATO 1978 / (1994) Alberto/Curió/ Militar/Baé Alberto Euzamor Baé Bico Camaleão Camelo Curió Dedé Fafá Kaká Militar Ney Quebraossos Teodorinho

SENA 1976 / (?) Cbp-rj

AÇOUGUEIRO 1950 / (1967) Sapo Pinta Sapo


Batista Magrinho RAIMUNDÃO 1956 / (1976) Sapo

ZUMBI BAHIA 1953 / (1976) Bigode/Boa Gente

Sapo

FRED 1963 / (1980) Patinho Patinho Telmo

MIRINHO 1966 / (1982) Evandro/Baé Evandro Roberval Serejo

NELSINHO 1975 / (1986) Patinho Patinho

PUDIAPEN 1956 / (1989) Patinho/Acinho Patinho Assuero

BAMBA MARANHÃO 1966 / (1978) Patinho Euzamor Patinho Sapo MARCO AURÉLIO 1963 / (1984) Patinho Patinho

ABELHA 1967 / (1979) João Pequeno

DOMINGOS DE DEUS 1968 / (1985) Patinho Lelis Patinho


IDENTIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE PRÁTICA DE CAPOEIRA PELOS MESTRES: RODAS, GRUPOS/NÚCLEOS MESTRE SAPO SEREJO

RODAS

DINIZ PATINHO

Praça Deodoro Praça Deodoro Olho d´Água Bom Menino

PATURI

Rio das Bicas Fátima Parque Amazonas

TIL EUZAMOR

Quintal de Casa

RUI

Quintal de casa Casa das Minas Jorge Babalo Deodoro Madre Deus Praça da Saudade Largo do Caroçudo Bom Milagre Fé em Deus João Paulo/Beto Fomento/Diamante Centro Comunitário/ Bairro de Fátima Bom Milagre/Diniz Paulo Frontin/Diniz

SOCÓ

ÍNDIO

PIRRITA

Praça Deodoro Olho d’ Água Cada das Minas

JORGE CURIÓ

João Paulo Estrada de Ferro Praça Duque de Caxias

GRUPOS/NUCLEOS Ginásio Costa Rodrigues Bantu/Sítio Veneza Bantu/Rua Cotovia Ginásio Costa Rodrigues Academia Senzala Laborarte Lítero Gladys Brenha Centro Cultural Mestre Patinho Mandingueiros Escola Criação Centro Matro-á Maré do Chão Brinquedo de Angola Ginásio Costa Rodrigues Alberto Pinheiro Casa e Bar do Dezico (28) Encruzilhada da UFMA Associação Comunitária Grupo de apoio à Capoeira Ginásio Costa Rodrigues Ginásio Costa Rodrigues ITA/MENG C ITA/MENG

OUTROS DEFER

São Pantaleão

Bairro de Fátima, Areinha, Centro de Esportes (Vila Embratel) Igreja de Fátima São Bernardo Madre Deus

Sede do PDT Grupo Arte Negra Grupo Arte Fiel Capoeira Escola Maria Helena Duarte Ginásio Costa Rodrigues Grupo de Capoeira Filhos de Ogum Associação Cultural de Capoeira São Jorge Ginásio Costa Rodrigues Praça Gonçalves Dias Grupo de Capoeira Aruandê Grupo Filhos de Aruanda Centro de Cultura Negra do Maranhão Grupo Cascavel Grupo Raízes de Palmares Grupo Argolonã Grupo Unidos de Angola Associação de Capoeira Filho de Aruanda Grupo de Capoeira Arte Negra Grupo de Capoeira Angola São Miguel Arcanjo Instituto Funcional Viva Rio Anil

Anjo da Guarda Itaqui-Bacanga FETIEMA SESC Bumba Meu Boi da Floresta Federação de Capoeira do Estado do Maranhão

Jordoa Sacavém Anil Bequimão Federação Maranhense de Capoeira


BAÉ

Paulo Frontin/Paturi Bar da Ziloca

GAVIÃO

Desterro Praia Grande Rua da Alegria 13 de Maio/Jorge Babalaô

FORMIGA ATOMICA

Instituto de Arte e Cultura Liberdade Capoeira Casa de Festa Cajueiro FEBEM/Rua do Norte Academia Clube Center GRUPO AÚ CHIBATA Centro de Cultura Educacional Candieiro de Capoeira Associação Cultural e Desportiva Capoeira AREIAS BRANCAS Grupo Gira Mundo Capoeira

ROBERTO

TUTUCA

SENZALA

MILITAR

MIZINHO

Associuação de Capoeira Regional do Mestre Edy Baiano Grupo Candieiro Escola Alberto Pinheiro Academia Real de Karatê Grupo Tombo da Ladeira

Academia Club Center/ Siri de Mangue Grupo Tombo da Ladeira Escola de Capoeira Angola Acapus

Praça Gonçalves Dias Praça Deodoro Praia da Ponta D`Areia Madre Deus

Grupo de Capoeira Angolano, Escola de Dança Pró-Dança Grupo de Capoeira Quilombo dos Palmares Grupo Mara Brasil Grupo Maranhão Arte Grupo Gira Mundo Associação de Capoeira Aruandê Associação de Capoeira Aruanda Grupo Nagoas Grupo Liberdade Negra Grupo Ludovicense Associação de Apoio à Capoeira GRUPO K DE CAPOEIRA Academia do Mestre Socó Parque do Bom Menino/CCN Associação de Moradores da Liberdade Laborarte CSU do Habitacional Turú Grupo Mára-Brasil Grupo “ATUAL – Capoeira” (Aliança de Treinamento Unificado da Arte Luta Capoeira Grupo Nação Palmares de Capoeira GRUPO “MARANHÃO ARTE CAPOEIRA”,

São Francisco

Tutóia-MA

Associação da Caixa Econômica Federal do Maranhão (APCEF/MA), Luzern/ Suiça; Bordeaux, Lille, Paris, Marselle / França; Oviedo, Murcia/ Espanha; Colonia, Munique, Hamburgo/ Alemanha, Carinthian/Austria Movimento de Menino e Menina de Rua/ Casa João Maria, Funac, Cento de Cultura Negra, Cepromar. FEBEM/ Fonte do Bispo/ Madre Deus Escola São Lazaro Gincana Mirante Academia de karatê/Camboa Secretaria de Educação Promotoria de Infância e Juventude Projeto Capoeira Na Escola Projeto Curumim

Ginásio Castelão Maracanã Nova República Vila 2000 Quebra-Pote Fé em Deus Coroadinho Alemanha Cidade Operária, Santa Efigênia Vila Operária, Vila Luizão, Matinha, Vila Flamengo, Vila Cafeteira Filipinho; Bacabal, Imperatriz, Cururupu, Pinheiro,


São João Batista, Viana, São Mateus Icatu, Santa Quitéria Bordeaux e Lille/ França LUIS GENEROSO

Grupo de Capoeira Jogo de Dentro Academia de Madeira

Caxias /DEFER

PEDRO

Associação Marabaiano Associação Filhos de Aruanda Liga de Educadores de Capoeira da Área Itaqui-Bacanga - LECAIB Associação Aruandê Grupo Jêge-Nagô Grupo de Capoeira Congo-Aruandê ASSOCIAÇÃO CULTURAL AFROBRASILEIRA RAÍZES

Anjo da Guarda São Raimundo Parque Botânico da Vale Teatro Itapicuraíba

NEGÃO

Associação de Capoeira Aruandê Associação de Mães de Vila Nova Programa Grupo de Capoeira Congo-Aruandê Associação Cultural Capoeira Raça Grupo Salve Axé

MARINHO

Beira-Mar

CACÁ

Laborarte/Prodance Grupo São Jorge Associação Maranhense de Apoio e União Esportiva da Capoeira – AMARAUÊ - CAPOEIRA

CANARINHO

Associação de Capoeira Itaqui Bacanga Raízes Grupo Marabaiano, Grupo Aruandê Grupo Filhos de Aruanda

CM DIACO

Associação Atlética Barcelona, em Matões - Turú Grupo de Capoeira Aruandê Associação Maranhão Capoeira

CM REGINALDO CM LEITÃO

Grupo Amarauê Capoeira Grupo de Capoeira União e

Club da Alumar academia CIA DO CORPO academia Corpo Suor GIM Esporte Center academia MK3 Associação da Caixa JEM´s Teatro Itapicururiba União de Moradores/Clube de Mães do Sa Viana União de Moradores do Angelim Velho/Novo Angelim/novo tempo III – Angelim Conselho Cultural/Sede do Boi/Choperia Madre Deus Colégio Militar do Corpo de Bombeiros – Vila Palmeira. Igreja Nossa Senhora Aparecida no Bairro Mauro Fecury II Fundação Assistencial da Criança e do Adolescente (FASCA) Federação Maranhense de Capoeira Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) PACRIAMA LIGA DE EDUCADORES DA ÁREA ITAQUI BACANGA (LECAIB) grupo comunitário, Unidos Venceremos Associação da União da Consciência Negra Complexo Cultural GDAM Projetos Jatobá e Embratel


MANOEL

Consciência Negra grupo Filhos de Aruanda Laborarte Grupo Filhos de Ogum Grupo de Capoeira Malungos Associação Desportiva e Cultual Águas Puras dos Quilombos. Associação Mara-Brasil Capoeira

NILTINHO

Associação Cultural de Capoeira São Jorge Grupo de Capoeira União LABORARTE Associação de Capoeira JEJE NAGO

CM MARCIO

Grupo de Dança Afro Malungos – GDAM grupo Arte Negra do grupo de capoeira Candieiro

Centro Social Urbano no Habitacional Turu. Academia Parati Fitness no Habitacional Turu Associação de Moradores do Bairro Sá Viana Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – FECAEMA SESC – Serviço Social do Comercio Projeto Quinto Batalhão de Arte / Turma do Quinto FEBEM


COM A PALAVRA, OS MESTRES OU A PALAVRA DOS MESTRES O Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão teve a seguinte matrícula: Nome

Mestre

01. ALBERTO PEREIRA ABREU Euzamor 02. ALCEMIR FERREIRA DE ARAUJO FILHO Mizinho 03. AMARO ANTONIO DOS SANTOS Marinho 04. ANTONIO ALBERTO CARVALHO Paturi 05. ANTONIO CARLOS SILVA CM Bocuda 06. CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA Militar 07. CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES Cacá 08. EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA Socó 09. FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA Baé 10. FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO Leitão 11. GENTIL ALVES CARVALHO Til 12. HÉLIO DE SÁ ALMEIDA Gavião 13. JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES Tutuca 14. JOÃO PALHANO JANSEN Curió 15. JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ CM Diaco 16. JORGE LUIS LIMA DE SOUSA Jorge Navalha 17. JOSÉ MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA Manoel 18. JOSÉ NILTON PESTANA CARNEIRO Niltinho 19. JOSÉ TUPINAMBÁ DEVID BORGES Negão 20. LUIS AUGUISTO LIMA Senzala 21. LUIS GENEROSO DE ABREU NETO Generoso 22. MÁRCIO COSTA CORREA Mulato 23. NELSON DE SOUZA GERALDO Canarinho 24. OSIEL MARTINS FREITAS Indio 25. PEDRO MARCOS SOARES Pedro 26. REGINALDO FERREIRA DE SOUSA Reginaldo 27. ROBERTO JAMES SILVA SOARES Roberto 28. RUI PINTO CHAGAS Rui 29. SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE PEREIRA CRUZ Formiga Atômica 30. VICENTE BRAGA BRASIL Pirrita Mestre Patinho estava inscrito, mas veio a óbito antes de seu início; foi substituído; e já com o curso em andamento, Alberto Euzamor também veio a falecer; portanto, apenas 29 são os ouvintes. A disciplina “História e Desenvolvimento da Capoeira”, com carga horária de 30 (trinta) horas/aula, ministrada às terças e quintas-feiras, no horário das 18 às 22 horas, no Auditório do Núcleo de Esportes da UFMA/ Departamento de Educação Física. No seu encerramento, se tomaram os depoimentos dos Alunos-Mestres, divididos em grupos de cinco participantes, exceto um dos grupos, haja vista apenas 29 os matriculados; o objetivo foi o de registrar, por escrito e em consenso, algumas questões que precisavam ser esclarecidas, acerca do desenvolvimento da História/Memória da Capoeira no/do Maranhão, que ficaram patentes quando das discussões que surgiram durante as aulas. Na formação dos grupos, pediu-se que se reunissem por afinidades, não havendo intervenção na sua formação, exceto que, quando completados os cinco componentes, este estaria completo; apenas o ultimo grupo, com quatro componentes, não obedeceu essa orientação, pois foi constituído por aqueles que chegaram depois do horário de início das atividades, o que, de certa forma, se constituiu numa afinidade – o atraso ao chegar à aula... Pediu-se, também, aos Mestres um histórico de vida na Capoeira; se constituirá no “Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão”. Do cotejamento das biografias – História(s) de Vida -, e dos


depoimentos/respostas ao questionário apresentado ao final do curso, se procurará reescrever a Memória/história da Capoeira do Maranhão, em especial dos últimos 50/60 anos. Os grupos serão nominados – 1 a 6 -, identificados seus componentes – 1 a 5 -, e transcritas as respostas que deram. Ao se reescrever essa memória, no lugar adequado, se identificarão os grupos, e seus depoentes, quando da utilização do depoimento apresentado; quando se se utilizar da biografia de cada Mestre ou Contramestre, este será também identificado, como fonte. Sempre que possível, e como em algumas memórias se utilizou de entrevistas dadas a alguma mídia, esta será, também, identificada, como a fonte do falar/dizer. GRUPO 1 NOME

MESTRE

1.

ANTONIO ALBERTO CARVALHO

PATURI

2.

JOÃO PALHANO JANSEN

CURIÓ

3.

FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA

BAÉ

4.

JOÃO CARLOS BORGES FERNANDES

TUTUCA

5.

ROBERTO JAMES SILVA SOARES

ROBERTO

GRUPO 2 1. 2. 3. 4. 5.

NOME CARLOS ADALBERTO ALMEIDA COSTA JOSÉ TUPINAMBÁ DAVID BORGES MÁRCIO COSTA CORTEZ LUIS AUGUSTO LIMA AMARO ANTONIO DOS SANTOS

MESTRE MILITAR NEGÃO CM MÁRCIO SENZALA MARINHO

GRUPO 3 1. 2. 3. 4. 5.

NOME ALCEMIR FERREIRA ARAÚJO FILHO EVANDRO DE ARAUJO TEIXEIRA JOAQUIM ORLANDO DA CRUZ ANTONIO CARLOS DA SILVA JOSÉ NILTON PESTANA CARNEIRO

MESTRE MIZINHO SOCÓ CM DIACO CM BUCUDA NILTINHO

GRUPO 4 1. 2. 3. 4. 5.

NOME VICENTE BRAGA BRASIL RUI PINTO CHAGAS GENTIL ALVES CARVALHO EVANDO DE ARAUJO TEIXEIRA LUIS GENEROSO DE ABREU NETO

MESTRE PIRRITA RUI TIL SOCÓ GENEROSO

GRUPO 5 1. 2. 3. 4. 5.

NOME JORGE LUIS LIMA DE SOUSA CLÁUDIO MARCOS GUSMÃO NUNES PEDRO MARCOS SOARES NELSON DE SOUSA GERALDO REGINALDO PEREIRA DE SOUSA

MESTRE JORGE NAVALHA CACÁ PEDRO CANARINHO REGINALDO

GRUPO 6 1. 2. 3. 4.

NOME JOSÉ MANOEL RODRIGUES TEIXEIRA FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA NETO HÉLIO DE SÁ ALMEIDA SILVIO JOSÉ DA NATIVIDADE FERREIRA CRUZ

MESTRE MANOEL LEITÃO GAVIÃO CM FORMIGA ATÔMICA

Respondam ao que se pede; a resposta deve ser consensual dentro do grupo formado; em caso de divergência do consenso, registrar à parte


1.

EXISTE UMA CAPOEIRA GENUINAMENTE MARANHENSE? O QUE A CARACTERIZA? EM QUE É DIFERENTE, POR EXEMPLO, DA ANGOLA, REGIONAL, E/OU CONTEMPORÂNEA?

GRUPO 1. Todos concordam que ‘sim’; se caracteriza pela forma de jogar, de se adaptar e não se define por ‘estilo’; a maior diferença da Capoeira Maranhense para a Angola, Regional, ou Contemporânea é a metodologia de ensino tradicional praticada no Maranhão, com suas influencias da cultura do Maranhão; exemplos: Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Punga. GRUPO 2. A principal característica era o jogo solto, com floreios e movimentos oscilantes com jogo alto e rasteiro obedecendo ao toque do berimbau. GRUPO 3. Sim; seu jogo executado nos três tempos (embaixo, no meio, e em cima); musicalidade e o seu espírito de jogo GRUPO 4. Existe a Capoeira Maranhense, e tem uma característica própria, pois a mesma é jogada de forma diferenciada, sempre seguindo os toques executados. A Capoeira Maranhense é diferente da Angola, Regional, e Contemporânea porque ela é jogada de forma diferente, não seguindo as tradições da Angola, regional e Contemporânea. GRUPO 5. Sim, Capoeira Ludovicense, praticada na Ilha de São Luís, caracterizada pela ginga e aplicação de golpes e movimentos diferenciados da Capoeira Angola tradicional, da Capoeira Regional, e da Capoeira Contemporânea, por exemplo: não se tinha ritual, nem formação de bateria, eram usados toques da capoeira Angola, são Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola e samba de roda. GRUPO 6. Existe; se diferencia porque é jogada em três tempos (ritmos): Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande; o que a diferencia são as influencias muito fortes da mossa cultura e da nossa região. 2.

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SOBRE A CAPOEIRA ANTERIOR A SEREJO E SAPO, VOCE JÁ CONHECIA A SUA HISTÓRIA? QUAIS ‘GRUPOS’ EXISTIAM ANTES – CONSIDERANDO QUEM LIDERAVA E O SEU LOCAL DE REUNIÃO E APRESENTAÇÃO...

GRUPO 1. Todos concordaram conhecer parcialmente a sua História; todos concordaram que existiam grupos de pessoas, por exemplo, Betinho (hoje, Mestre Paturi). Elmo Cascavel, Babalú, Alderbam, Alô e Leocádio; (os líderes eram) Manoelito, Leocádio, Alô e Paturi; (quanto aos locais) Rio das Bicas, Bairro de Fátima, Parque Amazonas (antiga fábrica de arroz) GRUPO 2. Existem relatos que existiam grupos de pessoas que se reuniam em vários pontos da cidade, tais como: Mercado Central, Praia Grande, nos Portos, Sítio do Apicum, e em frente ao Cemitério do Gavião. Nesta época não existia grupos de capoeira, mas existiam relatos que um cidadão cujo apelido Caranguejo se reunia nos fins de tarde com outras pessoas para realizar roda de capoeira nas imediações do Cemitério do Gavião. GRUPO 3. Entendemos que tem uma 1ª fase em 1835; os negros se encontravam no Canto da Viração, jogando ‘Carioca’; 2ª fase – final dos anos 50, com a chegada de Roberval Serejo, o qual formou o Grupo Bantu de capoeira; 3ª fase – em 1968, dá-se a chegada do Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo); promoveu várias atividades: criação das escolinhas de Capoeira; prática da capoeira nos CSU; representou o estado do Maranhão no Campeonato Brasileiro, em São Paulo; inseriu a Capoeira nos JEMs. GRUPO 4. Não era de nossa época, não tínhamos informações da mesma, nem da sua História e não das suas lideranças e grupos. GRUPO 5. Não, apenas tínhamos conhecimento através de pesquisas que existiam pequenos grupos de capoeiristas chamados ‘maltas’ GRUPO 6. Temos conhecimento da existência da capoeira antes do Mestre Sapo e Roberval Serejo, liderada por sua vez por Mestre Diniz, que costumavam reunir-se na Barrigudeira e faziam suas apresentações na Praia do Olho D´Água


3.

NO ENTENDIMENTO DO GRUPO, QUAIS AS FASES QUE A CAPOEIRA DO MARANHÃO – OU A PRATICADA NO MARANHÃO, APRESENTA? PODEMOS CARACTERIZÁ-LA? QUAIS OS PERIODOS, PRECURSORES, PRINCIPAIS ATIVIDADES?

GRUPO 1. Fases da Capoeira são quatro: em São Luis, Salvador, Recife, e Rio de Janeiro. (característica) Punga, Capoeiragem, Carioca, Batuque; Mistura de Capoeira e Regional; (atividades) Betinho (hoje, Mestre Paturi), Sapo, Serejo GRUPO 2. A marginalização, depois da Abolição da Escravatura, por falta de moradia e trabalho, os negros praticavam furtos; A proibição de 1890 a 1937; A libertação da capoeira aconteceu na década de 30 com a prática da mesma em escolas e academias; Na década de 30/40, apareceu Firmino Diniz; Na década de 60, apareceu Roberval Serejo, Diniz, Jessé, Babalu, Gouveia, Ubirajara, alô, Patinho, Didi, Elmo Cascavel, dentre outros; no final dos anos 60 retorna à São Luis o Mestre Sapo (Anselmo barnabé Rodrigues); dosd anos 80 até os dias atuais, houve a organização de grupos e associações legalmente registradas. GRUPO 3. Entendemos que tem uma 1ª fase: em 1835, os negros se encontravam no Canto da Viração, jogando ‘carioca’; 2ª fase: final dos anos (19)50, com a chegada de Roberval Serejo, o qual formou o Grupo Bantu de Capoeira; 3ª fase: em 1968, da-se a chegada do Anselmo Barnabé Rodrigues (Mestre Sapo); promove várias atividades: criação das Escolinhas de Capoeira; prática da capoeira nos CSU; representou o estado do Maranhão no Campeonato Brasileiro, em SP; inseriu a Capoeira nos JEMs. GRUPO 4. Em nosso conhecimento, existia uma primeira fase em que se reuniam no sítio Veneza, Diniz, Roberval Serejo, Jessé, Manoel Peitudinho e outros; 2ª fase foi com as chegada do Mestre Sapo, que deu uma grande alavanca na Capoeira do nosso estado; 3ª fase: com AM morte de Mestre sapo, surgindo vários capoeiristas se organizando com grupos de trabalhos em vários bairros. GRUPO 5. No nosso entendimento, consideramos as décadas como fases da Capoeira do Maranhão, sendo do seguinte modo: Década de 60: precursores – Roberval Serejo e Anselmo Barnabé Rodrigues: surgimento do primeiro de Capoeira (Bantu) e da primeira escola de capoeira, no Ginásio Costa Rodrigues; nesse período foi criada a primeira associação de capoeira, ALCA –Associação de Capoeira Angola, de Mestre Sapo. Década de 70: precursores – Antonio José da Conceição (Mestre sapo) inicia trabalho de capoeira em acsdemiae e clubes sociais, roda de capoeira em praias (Ponta d´Areia, Olho d´Água, e Araçacy) e praças (Deodoro, e Gonçalves Dias). Década de 80: precursores: Mestre Pirrita e Jorge Navalha; Movimento de surgimento de grupos de capoeira – Grupo de Capoeira Aruandê (Pirrita); Grupo de Capoeira Marabaiano (Mestre Jair), Filhos de Aruanda (Mestre Jorge), Grupo Cascavel (Mestre Vanio) e outros; caracterizava-se pela metodologia, ou seja, métodos de treinamento (seqüências e combinações), realização de eventos, como: Capoeira nos Bairros, Encontro de Capoeiristas, Torneio de Capoeira (competição esportiva). Década de 1990: surgimento de associações de capoeira, ligas de capeoira e fundação da primeira Federação de Capoeira do Maranhão (FMC), fundada pelos Mestres Sena, Jorge e Paturi (Associações Cativos, filho de Aruanda e de Apoio da Capoeira). Década de 2000: surgimento da Liga de Educadores de Capoeira da Área Itaqui-Bancanga – LECHB ; destacou-se pela realização de festivais, competições desportivas, apresentações culturais e ações sociais. A LECAIB era formada pelos Mestres Jorge, Nelson, Kaká, Cadico, e Juvenal, e os Contramestres Reginaldo, Neto, Presuntinho e Cafezinho. GRUPO 6. Quais as suas fases: de 1929 a 1935, iniciou-se com o Mestre Firmino Diniz; 1950, com o Mestre Roberval Serejo, que comandava o Grupo Bantus; em 1968, inicia-se a trajetória do Mestre Sapo no Maranhão; finalizando 1982, após a sua morte, em 1985, começa o período da organização dos grupos. Principais atividades: torneios, grandes rodas, festivais de canto e toque, competições.


4.

DA CAPOEIRA ANTERIOR À CHEGADA DE SEREJO/SAPO, COMO VOCE A CARACTERIZARIA? QUAL A FORMA QUE SE APRESENTAVA? QUEM ERAM OS PRINCIPAIS LÍDERES DAQUELA ÉPOCA?

GRUPO 1. Uma Capoeira restrita, fechada; Firmino Diniz, Baianinho, Caranguejo, e Manoel Peitudinho. GRUPO 2. Era caracterizada como Capoeira Primitiva, e se apresentava informalmente; os principais eram Caranguejo e Firmino Diniz. GRUPO 3. Caracterizamos como uma capoeira isolada; não tinha caracterização pelo fato de ser restrita e discriminada; Líder dessa época só conhecemos o Mestre Firmino Diniz. GRUPO 4. Da capoeira anterior não temos conhecimento; com a chegada de Serejo e sapo deu-se um grau de crescimento na capoeira do Maranhão, com a capoeiragem de Serejo e a capoeira de Sapo com a característica da Angola, surgiu a Capoeira do Maranhão. GRUPO 5. Não tinha informações deste período, as poucas informações que tínhamos eram através de pessoas, com poucas informações ou quase nenhuma. GRUPO 6. Sua principal característica é uma capoeira primitiva e sem mestre. 5.

DO PERIODO DE SAPO/SEREJO – 1960-1980 – COMO VOCE A DEFINE? QUAIS AS CARACTERISTICAS? QUAIS AS MODIFICAÇÕES INTRODUZIDAS? SOMENTE A PARTIR DAÍ, PODE-SE FALAR DE UMA CAPOEIRA DO MARANHÃO?

GRUPO 1. Capoeira de Rua; o jogo era feito ao som do disco vinil na porta de casa; a partir da Escolinha do Mestre Sapo; Não. GRUPO 2. Era Capoeira de Rua (fundo de quintal). Praticada por Serejo e seu Grupo Bantu; e de academia e escolas da vertente do Mestre Sapo. GRUPO 3. A capoeira já começa a ser divulgada e conhecida pela sociedade; se caracterizava como capoeira objetiva (luta); sim, com certeza: a partir dessa época temos dados que comprovam a organização e formação da Capoeira do Maranhão. GRUPO 4. Como a capoeira maranhense ficou a característica de Angola e da Capoeiragem os principais líderes: sapo, Serejo, e Diniz. GRUPO 5. Nesse período definimos como ‘capoeiragem’, com as características de realizações de rodas de rua, praças e praias e logradouros; foi introduzida a metodologia de treinamento para escolas de capoeira, musicalidade e realização de competições desportivas de capoeira. Sim, podemos dizer que a partir daí surge uma capoeira ludovicense. GRUPO 6. Como uma capoeira educativa, sua característica: a inclusão de floreios acrobáticos, uma formação de bateria e seus cânticos, tendo como principal liderança o Mestre Sapo. 6.

COMO VOCE CHAMARIA, OU DEFINIRIA, A CAPOEIRA PRATICADA, HOJE, NO MARANHÃO? O QUE É O ‘JOGAR NOS TRES TEMPOS’? É ESSA A CARACTERISTICA?

GRUPO 1. Capoeira Tradicional Maranhense; jogo baixo, intermediário e em cima I as três alturas ou as três distancias; sim GRUPO 2. É definida em grupos, associações, Federações, sendo que cada um tem seu estilo de jogo e sistema de graduação GRUPO 3. Denominamos como “capoeira mista”, ou seja, incutir o novo no velho sem molestar as raízes. Jogar em um determinado toque as três alturas Angola, são bento Pequeno e são Bento Grande. GRUPO 4. Como a Capoeira Maranhense se joga nos três tempos e joga no toque de Angola, São Bento pequeno e Sã bento Grande de Angola (jogo em baixo, no meio, e em cima) essa é a característica maranhense. GRUPO 5. Definiríamos como ‘capoeira mista’, jogada nos três tempos, que significa os três toques do berimbau, Angola, S.B. P. de Angola, e S.B.G de Angola.


GRUPO 6. Se define como uma capoeira mista, por assim ser jogada em três tempos: jogo de chão, malícia: 2º no são Bento pequeno, que um jogo de muita acrobacia e destreza e, 3º o São Bento Grande, que é um jogo em cima rápido e de combate. 7.

O QUE ACONTECEU APÓS A MORTE DE SAPO? A CAPOEIRA SAIU DAS RUAS DO CENTRO? PORQUE? COMO SE DEU SEU RETORNO? CARACTERIZE O PERIODO DE 80/85 A 90/95

GRUPO 1. Deu-se uma parada nas Rodas, nas Praças – Gonçalves Dias; (seu retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias; padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação. GRUPO 2. Após a morte de Sapo o ciclo dele se encerra; contudo houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições GRUPO 3. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Retorna com uma padronização de uniformes, instrumentação e disciplina. Implantação do sistema de graduação pelo Mestre Pezão, na década de (19)90. GRUPO 4. Com a morte de Sapo, os capoeiristas buscam uma nova organização, criando grupos, academia e começam a divulgar a capoeira mais freqüente. GRUPO 5. Após a morte de Sapo, começou o movimento de surgimento de grupos de capoeira, sim, a capoeira saiu das ruas, começou a se organizar, passando a ser desenvolvida em espaços fechados, como escolas, academias e clubes. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão. GRUPO 6. Deu-se o esfriamento do movimento da capoeira, ressurgindo a partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão. 8.

QUAL, QUEM, COMO, E PORQUE HOUVE A NECESSIDADE DE UM MOVIMENTO ‘PRÓ-CAPOEIRA’ A PARTIR DE MEADOS DO 85? ONDE ACONTECEU? QUAIS OS RESULTADOS?

GRUPO 1. Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão; Sá Viana, Bairro de Fátima, anjo da Guarda, Coroadinho, Liberdade, etc.; foi positivo no sentido de fortalecer a interação entre os grupos GRUPO 2. Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita, na área Itaqui-Bacanga, no Teatro Itaqui-Cucuiba, e teve como resultado o fortalecimento da Capoeira; a partir daí, outros grupos da cidade passaram a realizar outros eventos, em prol da Capoeira GRUPO 3. Pelos Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira.Foi feito o Pré-capoeira no Bairro do Anjo da Guarda, no Teatro Itapicuraíba. GRUPO 4. O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis. GRUPO 5. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surginmdo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC , no ano de 1990.


GRUPO 6. Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança. 9.

QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DOS GRUPOS/NUCLEOS DE CAPOEIRA, HOJE EXISTENTES, E O QUE OS DIFERENCIA DAQUELES PRIMEIROS GRUPOS, FORMADOS A PARTIR DA ‘BANTUS’, E QUEM ERAM/SÃO AS LIDERANÇAS?

GRUPO 1. Padronização, sistema de graduação, metodologia de ensino, sistema administrativo; diferencial, a gestão administrativa; Mestres e Contramestres, e Professores (Formados) GRUPO 2. Nos dias atuais, a diferença é a organização, com o uso de uniformes, sistemas de graduação, criação de Federações e associações, com apresentações culturais e com o reconhecimento de Mestre. São liderados pelos Mestres, Contramestres e Professores. GRUPO 3. Sua padronização de uniformes, musicalidade, instrumentação, didática, metodologia de ensino. Eram liderados por Mestre Índio, Mestre Patinho, Pirrita, Jorge, Miguel, Ribaldo, De Paula, (Começo dos anos 80). GRUPO 4. Hoje, a maioria dos grupos e associações são reconhecidos por poder jurídico, os grupos anteriores eram formados por pessoas anônimas, sem poder jurídico. GRUPO 5. Os Grupos/Associações, hoje existentes, possuem um método de treinamento e suas características são: 1. Organização; 2. Uniforme de treinamento, com logo e identificação; 3. Sistema de graduação; 4. Lideranças – professores, contramestres e mestres. GRUPO 6. Hoje, os grupos são mais organizados, com registros jurídicos, federações e maior numero de participantes. 10. COMO SE DEU A INSTITUIÇÃO DO RECONHECIMENTO DO ‘MESTRE CAPOEIRA’ NO MARANHÃO? A PARTIR DE QUE DATA? E A INSTITUIÇÃO DOS SISTEMAS DE GRADUAÇÃO?

GRUPO 1. Através da FMC – Federação Maranhense de Capoeira - e a FACAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão – 1994 à 2003; as Federações, FMC e FACAEMA GRUPO 2. Reconhecimento popular, e também reconhecimento pelo segmento; usava-se o sistema da Federação Brasileira de Pugilismo na década de 70 GRUPO 3. Mestre Sapo usava uma graduação muito restrita, em meados da década de (19)70; em 89, chega a são Luis a graduação pelo Mestre Pezão; em 1990, fou fundada a FMC (Federação Maranhense de Capoeira); em 2001, foi fundada a FACAEMA (Federação de Capoeira do Estado do Maranhão). GRUPO 4. No Maranhão não existia uma unificação no sistema de graduação, cada mestre e graduado por sua instituição que o mesmo faz parte; exemplo: Federações, Associações que têm um sistema próprio. GRUPO 5. Na década de 70, quando os capoeiristas do Maranhão começaram a adotar o sistema de graduação da C.B.P. (Confederação Brasileira de Pugilismo), nasce a hierarquia na Capoeira. GRUPO 6. O reconhecimento do Mestre de Capoeira deu-se pela necessidade da formação e da titulação de um profissional mais presente e qualificado por meio de uma graduação e certificado. 11. COMO O GRUPO VÊ A ATUAÇÃO DO ‘FORUM PERMANENTE DA CAPOEIRA DO MARANHÃO’?

GRUPO 1. Um forma democrática de discussão para a organização, valorização, divulgação e políticas públicas para a Capoeira. GRUPO 2. Vemos como um grande avanço da Capoeira do Maranhão onde as idéias podem ser debatidas por todos livremente.


GRUPO 3. Vemos como uma complementação dos grupos existentes em conjunto buscando políticas públicas e a afirmação da própria capoeira como segmento social. GRUPO 4. Com a criação do Fórum Permanente, a capoeira ganha um grande aliado, conseguindo junto ao IPHAN a salvagem quando da Capoeira me junto à UFMA o Curso de Capacitação dos Mestres do Maranhão. GRUPO 5. A atuação do Fórum ainda é muito tímida para as pretensões da Capoeira do Maranhão. GRUPO 6. O grupo vê o Fórum como um grande aliado no desenvolvimento de políticas publicas para o movimento voltado a capoeira 12. O QUE SIGNIFICA, PARA A CAPOEIRA DO MARANHÃO, O CURSO DE CAPACITAÇÃO?

GRUPO 1. Uma qualificação para uma melhor formação dos Mestres de Capoeira, com conhecimento aprofundado historicamente da capoeira GRUPO 2. Significa um grande avanço da capoeira do Maranhão, com a capacitação dos Mestres, ajudando no desenvolvimento e fortalecimento da nossa Capoeira GRUPO 3. Uma complementação dos conhecimentos existentes dos Mestres com os conhecimentos científicos proporcionando um ensinamento técnico, científico e cultural. GRUPO 4. Através do Curso de Capacitação, os Mestres tiveram um maior conhecimento da área da Anatomia e um grande conhecimento da história da Capoeira do Maranhão. GRUPO 5. Reconhecimento por parte de um órgão de ensino e pesquisa federal dos trabalhos dos Mestres de Capoeira do Maranhão. GRUPO 6. Significa uma grande evolução e qualificação para os profissionais do segmento capoeira 13. COMO VOCE AVALIA A DISCIPLINA ‘HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DA CAPOEIRA’?

GRUPO 1. Aprimoramento e desenvolvimento de uma linguagem única da História da Capoeira no contexto geral. GRUPO 2 Como positiva, pois estamos ampliando os nossos horizontes de forma geral sobre a Capoeira. GRUPO 3. Avaliamos uma disciplina de extrema importância com embasamento dos nossos conhecimentos já existentes; GRUPO 4. Excelente e eficaz. GRUPO 5. Um resgate da História da Capoeira do Brasil e do Maranhão GRUPO 6. Excelente. 14. REALIZAÇÃO DO 1º CONGRESSO TÉCNICO DA FACAEMA NA ACADEMIA DE MESTRE EDMUNDO

GRUPO 3. No ano de 2001, reuniu-se na Academia de Mestre Edmundo representantes da Capoeira de vários segmentos, para a padronização de uma bateria, que seria única, nos grupos filiados à FECAEMA. Estavam presentes, da Capoeira Angola: Marco Aurélio, Abelha, Piauí; de outros segmentos: Índio, Baé, Mizinho, Paturi, Ciba, Edmundo. Decidimos cantar no Gunga e no Médio.


UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física

RESUMO Identifica-se um Capoeira, maranhense de nascimento, que acompanhou seu senhor à São Paulo, e se envolveu em um ‘distúrbio’ num local de ajuntamento de pretos – chafariz. Descreve-se a capoeira praticada na cidade de São Paulo, em que concorriam escravos e libertos, pretos, mestiços, brancos, no seu desenvolvimento naquele estado. Parte-se da obra de Pedro Figueiredo Alves da Cunha o “Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830-1930)

Tenho discutido a singularidade e a ancestralidade da “Capoeiragem Tradicional Maranhense” 349 desde 1982, assim como resgatando a Memória das demais atividades da lúdica e do movimento no/do Maranhão. Minhas inquietações deveram ao assumir a cadeira de História da Educação Física e dos Esportes de Curso de formação de técnicos em Educação Física, na antiga Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje, IF-MA. Para fugir do currículo clássico, Atenas, Roma, Idade Média, Moderna, Contemporânea, o que havia no Maranhão? Este ano, realizou-se a XV edição do Congresso Brasileiro de História dos Esportes, Lazer e Educação Física – XV CHELEF -, na cidade de Curitiba-PR. Lá, encontrei, de Pedro Figueiredo Alves da Cunha o “Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830-1930)350. “Eduardo, como já vimos, era um jovem escravo vindo do Maranhão” (p. 101). O Autor, ao analisar as ocorrências policiais havidas naquele inicio da capoeiragem em São Paulo – Capital e algumas cidades do interior – inicia seu trabalho com a análise de duas dessas ocorrências, uma, no ano de 1831, ocorrida no distante subúrbio do Brás, envolvendo ‘africanos capoeiras paulistas’ e ‘africanos capoeiras cariocas’, com estes desafiando aqueles para um confronto. O segundo caso, ocorreu entre os ‘pequenos do chafariz’, já na capital, no ano de 1864. Adão dos Santos Jorge – africano congo liberto agride a Eduardo – preto escravo, quando se encontravam naquele local, caminho do centro para o subúrbio... Local de ajuntamento de pretos... Eduardo era escravo de Carlos Mariano Galvão Bueno – um advogado e professor na Escola de Direito, escritor e poeta conhecido, subdelegado de policia. O Autor nos chama atenção do fato de o agressor, Adão, ser africano livre, registrado no Livro de Matricula de Africanos Livres, dado que a lei de abolição do tráfico de cativos da África de sete de novembro de 1831 dava emancipação àqueles entrados após esta data, por força de convenções internacionais, para acabar com o tráfico no Atlântico; mesmo assim, deveriam servir pelo prazo de quatorze anos a concessionários particulares ou a instituições públicas. No processo que se seguiu, Eduardo disse ser escravo “do pai de Paulino Coelho de Sousa, que se achava ausente desta cidade tendo ido para o Maranhão”351. Então, deveria estar prestando serviços ao nominado 349

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. Tema livre apresentado no XV CONGRESSO DE ESPORTES, EDUCAÇÃO FÍSICA, LAZER E DANÇA, II INTERNACIONAL CONGRESS OF SPORTS HISTORY, UFPR/Universidade Positivo, 06 a 09 de novembro, 2018, Curitiba-Pr. 350 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo, Alhambra, 2013. 351 Paulino Coelho de Sousa consta como aluno na Faculdade de Direito, no ano de 1863, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_02&pesq=Paulino%20Coelho%20de%20Sousa&pasta=ano%2 0186


Galvão Bueno. Com 24 anos de idade, disse ser filho de José e Sabina - escravos do mesmo senhor -, natural do Maranhão, sem ofício (p. 94). Em seu depoimento, disse que Adão “começou um jogo ou gritos de correr jogar capoeira com este declarante e soltou-lhe uma tapa nas costas...” (p. 94). Eduardo foi ferido com uma navalhada. Alegava o autor da agressão que o fizera por também ter sido ferido, em outro encontro – não com Eduardo – com duas anavalhadas no abdome. Eduardo avocou outros escravos, como sua testemunha da agressão que sofrera desafiado que fora por Adão. Todos frequentavam o chafariz de Miguel Carlos, e possivelmente fora para marcar território, demonstrando sua valentia, caso pretendesse dominar tal espaço; isso explicaria porque Adão “começou um jogo ou gritos de querer jogar capoeira” (p. 100).

https://www.google.com.br/search?biw=1920&bih=969&tbm=isch&sa=1&ei=PMztW5fFLITGwAS3krbwAw&q=rugendas+%2B+chafarizes&oq=rugendas+%2B+c hafarizes&gs_l=img.12...134530.140765.0.143128.37.18.0.0.0.0.0.0..0.0....0...1c.1.64.img..37.0.0....0.Hp1BshBj7Cw#imgrc=0WNpMwjol-YmXM: CUNHA, 2013, P. 97

Pedro Figueiredo Alves da Cunha pergunta-se: que capoeira era essa? Adão estava a conversar com outros negros, no chafariz, quando Eduardo chegou e passou a brincar com Adão jogando capoeira. Depois de ‘brincar”, pediu para parar; como não foi atendido, disse que ‘poria a navalha nele’. Adão achara uma navalha na rua – essa explicação que deu ao delegado – e Eduardo, com um pauzinho, passou a provoca-lo, dizendo que cortasse o mesmo com a navalha, para mostrar destreza. Acabou por ferir a Eduardo, só percebendo quando viu sangue em sua mão, cortando-lhe um dedo com a navalha... só depois viu que também o atingira no peito. Cunha chama atenção para o uso de pau, de navalha, e o uso de facas e navalhas, e de cacetes, pelos capoeiras; mais, que as autoridades deram pouca importância à prática da capoeira, em si, mas sim à desordem e agressão física, que ocorrera: se fosse na Corte, seria diferente, pois a capoeira era duramente reprimida. Diz ainda, o autor, que parecia haver um pacto de silencio quanto à prática da capoeira, por parte de todos os envolvidos: agressor, agredido e testemunhas, no sentido de não demonstrar a prática do jogo-luta. O uso de arma branca, o gestual, o uso de pau, faz lembrar, ao autor da tese, uma modalidade de luta que ocorria na África Central denominada ‘cafuinha’, caracterizada como um ritual, de demonstração de valentia, com o uso de armas brancas, que exigia habilidade corporal, com uso de saltos, acompanhado por pancadas (percussão), berrarias (canto) e assobios, muito próximo à capoeira que se descrevia, como praticada em São Paulo, àquela época. Eduardo, nascido no Brasil, também dominava o gestual de demonstração de valentia, naquilo que se denominava capoeira.


UM CAPOEIRA PIAUIENSE CHEFE DE POLICIA NA CÔRTE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ352 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS+ RESUMO A História da Capoeiragem está para ser (re)escrita, na medida em que vários estudos acadêmicos vêm à tona. Aqui, registra-se mais um capitulo, com a atuação de um Capoeira originário do Piauí, da cidade de Parnaíba, ex-aluno da faculdade de Direito de São Paulo, que vem a se tornar Chefe de Policia no município da Corte - Rio de Janeiro, ainda no período do Império: José

Basson de Miranda Osório.

Ao buscar as formas ancestrais da Capoeiragem, deparei-me com o livro de Pedro Figueiredo Alves da Cunha: “Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830-1930)” 353. Ao tratar da “a capoeira na Academia de Direito” [de São Paulo] (p. 87-153), trás quatro personagens, brancos, da elite, praticantes do jogo-luta-arte: um professor – de francês, baiano – e três de, à época, alunos: Luiz Joaquim Duque-Estrada Teixeira354, José Basson de Miranda Osório355, e Couto de Magalhães356. Para Costa (2007) 357, no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia – e agora, com a obra de Cunha, inserimos São Paulo -, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias 352

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRAGEM. 2 ed. São Luís: Edição do Autor, 2015. Disponível em https://issuu.com/home/published/cronica_da_capoeiragem_-_issuu 353 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo: Alamenda, 2013. 354 LUIZ JOAQUIM DUQUE ESTRADA TEIXEIRA, nasceu em 06 Junho 1836, no Rio de Janeiro-RJ, falecendo em 09 Setembro 1884 na mesma cidade. Filho de Joaquim José Teixeira e Rita Manuela Duque Estrada Furtado, casado com Isabel Duque Estrada Teixeira, e pai de Luiza Tosta Duque Estrada Teixeira. Doutor em direito pela faculdade de S. Paulo; membro da assembleia provincial do Rio de Janeiro; deputado geral pelo distrito da Côrte nas legislaturas, 14ª, 15ª, 16ª e 18ª; e pela Província do Rio de Janeiro na 16ª; 1º juiz de paz da freguesia da Glória, na Côrte, onde é chefe do partido conservador; distinto advogado, filosofo e literato, membro do Instituto da Ordem dos Advogados brasileiros; deputado geral em 18814. Fonte: https://www.geni.com/people/Luiz-Joaquim-Duque-Estrada-Teixeira/6000000032673397007 355 JOSÉ BASSON DE MIRANDA OSÓRIO era filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório e nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde seguiu para São Paulo, ingressando na Faculdade de Direito. Foi um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822. Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. Faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais, justamente a um mês depois do falecimento de Dona Filismina Basson Carvalho Osório, sua cunhada, sobrinha e esposa. Em sua homenagem, José Basson é o nome de uma Rua, localizada no Centro de Parnaíba, cujo percurso vai da Praça Santo Antonio à Av. Capitão Claro. PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982, p. 236). 356 JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES (Diamantina, 1 de novembro de 1837 — Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1898) foi um político, militar, escritor e folclorista brasileiro.Iniciou os estudos no Seminário de Mariana. Estudou matemática na Academia Militar do Rio de Janeiro e frequentou o curso de Artilharia de Campanha em Londres. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1859, doutorando-se em direito em 1860. Couto de Magalhães conhecia bem o interior do Brasil e foi o iniciador da navegação a vapor no Planalto Central. Foi conselheiro do Estado e deputado por Goiás e Mato Grosso. Foi presidente das províncias de Goiás, de 8 de janeiro de 1863 a 5 de abril de 1864, Pará, de 29 de julho de 1864 a 8 de maio de 1866, Mato Grosso, de 2 de fevereiro de 1867 a 13 de abril de 1868, e São Paulo, de 10 de junho a 16 de novembro de 1889, presidência que ocupava quando foi proclamada a república. Preso e enviado ao Rio de Janeiro, foi liberado em reconhecimento da sua enorme cultura e ações em prol do desbravamento dos sertões brasileiros. Foi afiliado a maçonaria durante o cargo. Falava francês, inglês, alemão, italiano, tupi e numerosos dialetos indígenas. Foi quem iniciou os estudos folclóricos no Brasil, publicando O selvagem (1876) e Ensaios de antropologia (1894), entre outros. Fundou em 1885 o primeiro observatório astronômico do estado de São Paulo, na sua chácara em Ponte Grande, às margens do rio Tietê. https://pt.wikipedia.org/wiki/Couto_de_Magalh%C3%A3es 357 COSTA, Neuber Leite CAPOEIRA, TRABALHO E EDUCAÇÃO. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007.


partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, europeia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48) 358; José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968) 359; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73) 360; Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14)361. Todos eram capoeiristas. Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio362. Outro professor, Pedro Meyer, para além da esgrima, desenvolveu um trabalho mais abrangente no CPII: Nesse sentido, é esclarecedor o relatório apresentado pelo inspetor geral da Instrução Pública do Município da Corte em 1859: Durante o anno passado começou a funccionar com a possível regularidade o gymnasio do internato. Com pequena despeza se acha provido de um portico regular com varios apparelhos supplementares que permittem a maior parte dos exercicios da gymnastica pratica de Napoleon Laisné ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Meyer 17. De acordo com o inspetor, Pedro Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné, discípulo do coronel Francisco Amoros y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa, falecido em 1848. Laisné tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amoros, desenvolvendo seu trabalho na Escola de Joinville-le-Point, local para o qual Foi transferido em 1852, o principal ginásio antes dirigido pelo Coronel Amoros (Baquet, 199-). Segundo Carmen Lúcia Soares (1998), no método organizado por Amoros destacavam-se os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, tais como as barras fixas e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No CPII, atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os exercicios gymnasticos em aparelhos.363.

358

NESTOR CAPOEIRA: PEQUENO MANUAL DO JOGADOR. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA: UM ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador: Itapuã, 1968. 360 PIRES, Antonio Liberac A. CAPOEIRA NA BAHIA DE TODOS OS SANTOS: ESTUDO SOBRE CULTURA E CLASSES TRABALHADORAS (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 361 CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (CADERNOS DE FOLCLORE). 362 Guilherme de Taube, como a maioria dos mestres de gymnastica que passariam pelo CPII ao longo dos oitocentos, era um exoficial do Exército. Sua experiência com os exercícios ginásticos no meio militar serviu como um atestado de sua aptidão para o emprego no Colégio. Durante todo o período imperial não haveria concurso para esse cargo, sendo os profissionais contratados diretamente pelo Reitor ou pelo Ministro do Império, de acordo com a necessidade da instituição. A gymnastica era considerada uma atividade eminentemente prática. Ao contrário dos responsáveis pelas outras cadeiras oferecidas pelo CPII, os pretendentes ao cargo de mestre de gymnastica não eram avaliados por seu conhecimento teórico, mas por sua perícia e experiência de trabalho com esta arte no meio militar ou nas instituições escolares civis. [...] (CUNHA JR, C F F. Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” - uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004) on line, disponível em http://eubras.blogspot.com/search/label/1841-Gymnasia%20militar%20en%20el%20Colegio%20Pedro%20II 363 CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN EDUCACION FÍSICA Y DEPORTE, Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 http://www.efdeportes.com/; CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html 359


Um aluno, reconhecido como capoeira, foi José Basson de Miranda Osório364, nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836, faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo e ingressando na Faculdade de Direito. Filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório, um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822, Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. (PASSOS, 1982) 365: Para Carvalho (2001) 366, entre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam: “A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos". O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street do Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade. Cunha (2013) 367, ao analisar os depoimentos de vários casos de policia que coletou, reconstituiu uma faceta do jogo da capoeira naquela época caracterizada por uma espécie da dança na qual um homem armado de navalha nas mãos tentava acertar uma varinha curta sustentada pelo adversário. A documentação mostra a capoeira como uma ‘atenuante’ nos casos de ofensa física em São Paulo, uma vez que é associada a uma ‘brincadeira’. [...] 368 ... Correspondências reproduzidas pelo Farol Republicano, em 1829, revelam o envolvimento de um professor de francês do Curso Anexo à recém-montada Academia de Direito, criticado por jogar capoeira também em um chafariz com negros. O caso aponta ser a cabeçada um importante componente do caráter de luta que tal prática já trazia, mas que ganhava ares de brincadeira, beirando a espetáculo, com palmas e assobios acompanhando o gestual. O professor não seria o único intelectual a participar de encontros com cativos e libertos, sendo 364

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Piauí. In CRONICA DA CAPOEIRAGEM, obra citada, p. 723-738 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atlas da Capoeiragem no Piauí. In CRONICA DA CAPOEIRAGEM, obra citada, p. 740-768 365 PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA. on line, http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ivencontro/GT10/companhia_aprendizes.pdf 366 CARVALHO, José Murilo De. BESTIALIZADOS OU BILONTRAS? (do Livro Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001). On line, http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html 367 Obra citada, p. 352 368 Aqui, refere-se à análise de um jogo de capoeira entre um africano livre e um cativo, maranhense, tidos como ‘meninos do chafariz’. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864, in REVISTA DO LÉO 15, DEZEMBRO de 2018, p. 123-124, disponível em https://issuu.com/home/published/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20


acompanhado por alguns estudantes do Curso Jurídico em diversas ‘patuscadas’ e desordens noturnas369. Informa Cunha (2013), que dentre essas ‘patuscadas’, estava o furto de galinhas, perus, cabritos, que se transformavam em almoços e jatares, promovidos pelos acadêmicos. Em suas investidas noturnas, aos quintais alheios, algumas vezes confrontavam-se grupos de escravos e/ou libertos, que também perambulavam pelas ruas e, algumas vezes, haviam confrontos. Dai, diz o pesquisador, alguns desses estudantes dominavam a principal forma de ataque-defesa dessas populações menos favorecidas. Duque-Estrada comentava com seus colegas que (CUNHA, 2013, p. 128): a prevenção existente contra a capoeiragem era justificada pela degeneração dela. A verdadeira capoeiragem, explicava ele, não admite o auxilio de armas de qualquer natureza. O seu principio básico é que – o homem deve empregar para a sua defesa, ou para o ataque somente os órgãos que da natureza recebeu. E, com efeito, são eles mais que suficientes para a completa preservação da pessoa e para a subjugação do adversário por mais terrível que este seja, ou por mais armado que se apresente, uma vez que não conheça o segredo da arte ou não disponha de agiloidade resultante do seu exercício. Em seguida, expunha ele com método, com clareza, e de modo convincente as funções agressivas ou defensivas da cabeça, das mãos, dos pés, das pernas, e até dos joelhos, próprias a darem imediatamente superioridade nos jogos da capoeira. Cunha (2013) destaca haver “um segredo da arte” entre os praticantes, um significado profundo. Também indica o pesquisador haver, na cidade de São Paulo, uma metodologia de ensino e aprendizagem, algo que ele, o autor, conforme diz, não tem como conferir entre escravos, forros e homens livre pobres, pois não deixaram relatos escrito. Nesse sentido, o uso da palavra “arte”, na fala de Duque-Estrada, implica na compreensão, entre os estudantes de Direito, de que a capoeira era mais do que um ‘jogo de escravos, aproximando-se de outras artes marciais, como o boxe e o savate, e até mesmo como uma forma de expressão artística. Chegou a cogitar-se em fundar uma “Escola de Capoeiragem” em São Paulo, ideia de “um importante capitalista, então na sua completa integridade mental, o general Couto de Magalhães”. Cunha (2013, p. 138) considera que Couto de Magalhães tenha praticado capoeira com estudantes e em meio a cativos e libertos por volta de 1850, além de ter grande proximidade com Duque-Estrada, chegando os dois a participar do mesmo jornal acadêmico. O general ao que parece não desistiu da ideia de fundar uma ‘escola de capoeiragem’, pois em 1897, durante a 2ª Conferencia para o Tricentenário de Anchieta, defendeu o uso da capoeira pelos militares, como mforma de treinamento para lutas corpo a corpo. Voltemos à Basson. Na turma de 1855-1859, José Basson de Miranda Osório era reconhecido como conhecedor da capoeira. Um piauiense descrito como “baixo, claro, loiro, olhos azuis e imberbe. Perito na arte da capoeiragem, destro e valente cacetista”. “Valente e bom capoeira, chefe do grupo de matadores de cabritos”.

369

CUNHA, 2013, p. 152-153.


Cunha (2013) detalha qual era a atividade ordinária desse grupo: uma espécie de esporte noturno com caçadas a galináceos pelos quintais e cabritos pelas praças e ruas da cidade. Identificado desde os primeiros anos da faculdade, esse “esporte acadêmico” perdurou até o final dos oitocentos, provavelmente associado à capoeira. Continuando o relato, para fazer parte desses exercícios, era essencial estar pronto para os enfrentamentos, como ocorreu certa vez com Basson, surpreendido “quando já havia deitado a unha” em um peru e “apesar da chuva de pancadaria que lhe caiu sobreb o costado, não largou o peru, raciocinando, explicou ele depois que pior seria apanhar a sova e ainda ficar sem o peru. Basson era discípulo de José Calmon Nogueira da Gama, o Juca Gama, exímio esgrimista, de uma das mais tradicionais famílias paulistas. “Robusto e acrobata”.


MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física RESUMO Ante a afirmação, por parte de um dos herdeiros de Sapo e Patinho, de que a capoeiragem anterior à chegada de Serejo e Sapo ao Maranhão não deixou descendente, por isso o não reconhecimento dos mestres que aqui haviam desde períodos imemoriais, demonstra-se que, sim, deixaram descendência, inclusive Patinho os reconhecia como primeiros mestres, em especial Jessé lobão, Mestre Diniz, inclusive, Serejo.

Ontem (21/11/2018), foi lançado documentário sobre Mestre Patinho, direção de Alberto Greciano Merino e produção de Bruno Ferreira, dentro do Festival de Filmes “Maranhão na Tela”:

O filme DIVINO PATO (2018, documentário, 27 minutos), dirigido por Alberto Greciano e produzido por Bruno Ferreira será exibido hoje (quarta-feira, dia 21/11) pela programação do Maranhão na Tela. As sessões acontecem no Kinoplex Golden, no Calhau às 16h30 e 21h30. Não percam a oportunidade de ver este documentário sobre o ícone da capoeiragem maranhense na telona do cinema! Agradecimentos especiais ao Centro Cultural Mestre Patinho e FAPEMA que viabilizaram o Projeto de Patrimônio Imaterial que desenvolvemos este ano no Museu Histórico do Maranhão.


Certamente baseado em sua tese de doutorado, defendido na Universidade Autônoma de Barcelona, em 2015370. Poucas pessoas no lançamento dessa obra magnífica!!! A maioria, para assistir ao filme que se lhe seguiu, produtores, diretor, atores... Da Capoeira, identifiquei umas poucas pessoas: Nelsinho, o filho de Patinho e uma acompanhante, e eu. E só... Depois da apresentação, seguiu-se uma discussão, em torno de um cafezinho, já na praça de alimentação... Conversamos sobre a ancestralidade da capoeiragem maranhense – Capoeiragem tradicional maranhense371 – e a participação de Sapo e Pato Rouco no ressurgimento da capoeira em São Luís, na década de 60. Sobre os pioneiros dessa tradição da implantação da Capoeira nos anos 60, Grciano Merino (2015) 372coloca que: Pioneros de la tradición. Roberval Serejo era oriundo de Maranhão pero aprendió Capoeira en Rio de Janeiro con un maestro bahiano llamado Artur Emídio durante la época en que sirvió a la Marina de Guerra. Al retornar a su tierra natal, en 1958, comenzó a entrenar y a enseñar Capoeira para un grupo de amigos en el patio de su casa. Ese grupo sería el embrión de lo que vendría a constituirse como el primer grupo de capoeira en Maranhão, la ‘Academia Bantu’ . A pesar de definirse como academia, el Bantu, era simplemente un grupo de personas que se reunían para practicar capoeira. Es decir, no poseía ‘organización’ ni estructura formal, como existe actualmente, ese será un rasgo bien característico de la Capoeira local en esa época. (GRECIANO MERINO, 2015) Según el sargento de la policía militar Gouveia, el grupo estaría Integrado en ese primer momento por el propio Roberval Serejo, Bezerra, Fernando, Ubirajara, Teixeira y Babalú. 373 De acordo com Kafure (2012), a história da capoeira no Maranhão está ligada principalmente a um mestre que foi discípulo de Pastinha, o conhecido Mestre Canjiquinha. Este foi responsável também por uma desconstrução da capoeira, a chamada capoeira contemporânea, que é uma mistura das modalidades regionais e angola. Canjiquinha ficou famoso por falar que dançava conforme o ritmo do berimbau, se ele tocava rápido era regional e se tocava devagar era angola. Essa era a sua ideologia que ao mesmo tempo reduzia a uma função rítmica as modalidades da capoeira, quando regional e angola eram distintas por muitos outros fatores tais como principalmente a nivelação social, já que os alunos de Bimba eram "brancos" enquanto os alunos de Pastinha eram compostos por proletários da região portuária, geralmente estivadores, pessoas que carregavam o peso das cargas que chegavam e embarcavam nos navios. Logo, Canjiquinha mesmo sendo considerado aluno do Mestre Pastinha, era tido como um bastardo. Já que as diferenças atuais entre a regional e a angola estão principalmente no discurso de que a angola é mais tradicional e que foi essencialmente seguida pelos principais alunos de Pastinha, os mestres João Grande e João Pequeno, este último veio a falecer no final de 2011. Considerando então uma capoeira desconstruída,

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GRECIANO MERINO, Alberto. IMAGEN-CAPOEIRA - UNA FENOMENOLOGÍA HERMENÉUTICA DE LA INTERFAZ EN LAS RODAS DE CAPOEIRAGEM DE LA ‘MARANHENSIDADE'. Tesis de doctorado: UNIVERSIDADE AUTONOMA DE BARCELONA. FACULTAD DE CIENCIAS DE LA COMUNICACIÓN. DEPARTAMENTO DE COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. PROGRAMA DE DOCTORADO EN COMUNICACIÓN AUDIOVISUAL Y PUBLICIDAD. Dirigida por el catedrático Josep Maria Català Domènech. Año 2015. 371 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. REV. LÉO, n. 3, Dezembro de 2017, p. 134. Disponível em: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. XV CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, ufpr/Universidde Positivo, Curitiba, 06 a 09 de novembro de 2018. 372 GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 373 Veja-se PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua; Memoria da capoeira do Maranhão da década de 70 do seculo XXI. Edufma, São Luís, 2009, p. 5.


a capoeira baiana no Maranhão é trazida pelos discípulos de Canjiquinha, sendo caracterizada pelo termo "capoeiragem".374 Nelsinho se posiciona de que os capoeiras que atuavam em São Luís, antes da chegada de Serejo, Sapo e a continuação da obra de revitalização, por Patinho, não deixaram descendência... Pato, no depoimento que prestou no documentário, fala de que aprendera capoeira com Jessé Lobão, às escondidas, com aulas no quintal de sua casa, e que não poderia falar disso para ninguém. Ora, a capoeira, naqueles anos – décadas de 30 a 50 – era feita às escondidas, nos quintais das casas dos seus praticantes, certamente devido à repressão policial. Mas havia as rodas de Mestre Diniz (anos 1950 em diante)...

Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 – teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Mestre Diniz se referia ainda a outros Capoeiras da época de sua infância, como “Caranguejo”, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 2002375, citado por MARTINS, 2005, p. 30) 376. Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO – final do ano 1959, e início dos anos 60 - e a criação do Grupo “Bantus“, do qual participavam, além do próprio Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida].377

374374

KAFURE, 2012; ROCHA, 2012, obras citadas SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002 376 BRITO, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS, monografia de graduação em Educação Física orientado pelo Prof° Drdo. Tarciso José Melo Ferreira, 2005 377 http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g 375


Firmino Diniz, conhecido também como Velho Diniz, serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo, e, posteriormente com Gouveia, passaram a frequentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas 378. Sobre isso, Roberto Augusto A. Pereira diz que: (...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) 379 Quanto à afirmação de que não havia descendência de Mestre Diniz, por exemplo, tomamos a graduação de Mestre Índio do Maranhão:

Mestre Índio Maranhão Graduado por mestre Diniz em 07 de setembro de 1996 na presença do irmão de capoeira o Mestre 380 Patinho - ambos treinaram juntos na adolescência .

SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. Uma análise das contribuições de Mestre Sapo para a capoeira em São Luís. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005. 378 BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: Recorde: Revista de História do Esporte. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010. 379 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009. 380 Fonte: http://saojorgerj.blogspot.com.br/2008/07/mestre-indio-maranho-vai-espanha.html


GENEALOGIA DE MESTRE DINIZ ZÉ BAIANINHO

MANÉ

CATUMBI

DINIZ

JORGE NAVALHA

INDIO DO MARANHÃO

NEGÃO

BOCUDA

LEITÃO

NILTINHO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, 2018

Para Mestre Mirinho381 – Casimiro José Salgado Corrêa - a origem da capoeira no Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo “Bantus”, em época remota (anos 60). Este grupo praticava a capoeira na antiga Guarda Municipal, no Parque Veneza. Mestre Patinho relata o aparecimento desse grupo: bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci... Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60; Babalú, um apaixonado pela capoeira; outro amigo que era marinheiro da Marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio (sic) e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. “Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando.” (Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira) 382.

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DA CAPOEIRA NO MARANHÃO, em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005. 382 Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DO MARANHÃO”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. Grifos meus


(Mestre Catumbi) Mestre Firmino Diniz Babalú Manuel Peitudinho Ubirajara Elmo Cascavel

GRUPO BANTUS | (Mestre Artur Emídio) Mestre Roberval Serejo | Patinho

(Mestre Djalma Bandeira) Mestre Jessé Lobão Gouveia Alô Didi

Mestre Euzamor383 comenta que até 1930 só existia capoeira ou capoeiragem (palavreado maranhense). Era considerado esporte marginalizado devido à prática e ação de como era jogado. Distingue os tipos de capoeira como: Capoeira Regional que era praticado apenas no estado da Bahia e difundindo-se para as demais regiões, era jogada mais por pessoas que tinham certo poder aquisitivo; a Capoeira de Angola; memoriza na Capoeira de Angola a existência de três tipos de ritmo mais jogados hoje: Angola (fase de preparação, aquecimento), São Bento Pequeno (fase intermediária) e São Bento Grande (fase de roda). Explica o motivo que levou a esta escolha que foi origem, habitat, vindo do sangue sob o fato de ter nascido num lugar de sobrevivência cotidiana “Madre Deus”. Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio384, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi. (MARTINS, 2005, p. 31) 385.

Patinho, aos nove anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre - um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões... No ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos 386: Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os 383

Mestre ALBERTO EUZAMOR - ALBERTO PEREIRA ABREU (1962-2017), iniciou-se na Capoeira em 1969. IN VAZ, leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum da capoeiragem no Maranhão, em entrevista concedida a José Lindberg A. Melo. E Fábio Luiz B. Silva 384 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Artur Emídio e a capoeiragem em São Luis do Maranhão. In http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/15/cronica-da-capoeiragem-artur-emidio-e-a-capoeiragem-em-sao-luisdo-maranhao/ 385 MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. Monografia apresentada ao Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física. São Luís, UFMA/DEF, 2005. Orientador: Prof. Drdo. Tarcísio José Melo Ferreira 386 In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes.


para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão. Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê.

Mestre Patinho – o mestre de referencia da capoeira maranhense -, afirma ter recebido influencia de Artur Emídio: “Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê”. (Mestre Patinho in Entrevistas) 387 Roberval Serejo morre em 1970, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui; seus alunos da academia Bantú passam a treinar com Mestre Sapo, que forma, então, seu grupo e passa a dar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco: “Acredita-se que Mestre Sapo, embora muito novo passe a ser a maior referência da capoeira de São Luís, respaldado por Mestre Diniz, que era o mais experiente de todos, mas que não tinha tempo de se dedicar ás aulas de capoeira em função de seu trabalho. No entanto, ainda continuava a promover suas rodas de capoeira”. (MARTINS, 2005).388 Sapo, que participava do Quarteto Aberrê (nome em homenagem ao mestre de Canjiquinha), juntamente com Vitor Careca e Brasília, além do próprio Mestre Canjiquinha, líder do grupo baiano, de fato, depois de estabelecido em São Luís, a partir de 1966, segundo Roberto Augusto Pereira (2010)-389, passa a ministrar aulas de capoeira somente após cinco anos, no Ginásio Costa Rodrigues, já no governo Pedro Neiva de Santana. ABERRÊ | CANJIQUINHA JESSÉ LOBÃO

SAPO | PATINHO

ROBERVAL SEREJO

A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Sapo – da linhagem de Canjiquinha – acabou desenvolvendo um trabalho de reeducação das lutas e ritos primitivos dos ‘valentões da ilha’

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Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio0. “MESTRES DE CAPOEIRA DO MARANHÃO”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. 388 MARTINS, 2005, obra citada, p. 36, grifo nosso 389 PEREIRA, Roberto Augusto. O Mestre Sapo, a passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (des)construção do ‘mito’ da ‘reaparição’ da capoeira no Maranhão dos anos 60 RECORD, Revista de História, v. 3, n. 1, 2010, disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/view/748


Em 1971, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER/SÉC – coordenado por Cláudio Antônio Vaz dos Santos, criou um projeto que consistia na implantação de várias escolinhas de esportes no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre as atividades esportivas, estava a capoeira, e o Mestre Sapo fora convidado para ministrar as aulas. A partir desse momento, houve um crescimento muito grande do número de praticantes de capoeira em São Luís, com várias turmas funcionando com aproximadamente 30 alunos cada. Mestre Sapo deu aula nessas turmas até o seu falecimento em 1982, mesmo com as trocas de Governos e Coordenadores390. Mestre Sapo passou a dar um caráter esportivizante à capoeira ensinada no supracitado ginásio, minimizando sua conotação enquanto manifestação da cultura popular. Atribuiu-se a esse processo de esportivização, dentre outros fatores, os objetivos do projeto e o contexto no qual estavam inseridos o mundo da educação física e o esporte, em que eram realizadas várias outras atividades como futsal, vôlei, handebol, basquete e caratê. Diante desse contexto, Mestre Sapo passou a sistematizar as aulas, adotando o uso de uniformes, e deu muita ênfase à preparação física dos alunos. Com a inclusão da Capoeira no sistema de educação física escolar – escola formal – foi preciso uma adaptação de seu ensino, criando-se uma ‘metodologia de ensino de capoeira’, adaptada às exigências de disciplina curricular, com seus sistemas de promoção (avaliação escolar). Começa a profissionalização do capoeira, com o surgimento de um mercado de trabalho, para atender aos estabelecimentos de ensino, como uma demanda que se apresenta nas então surgentes academias de ginástica e/ou de musculação É dessa fase que se busca uma ‘identidade’, uma padronização: padronização dos uniformes, admissão de graduações internas, organização dos grupos e eventos, intercambio estaduais e a fundação de Federação contudo, houve a expansão da Capoeira através do surgimento de vários grupos. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, mostras e competições. A Capoeira do Maranhão se expandiu com a criação de vários grupos, em São Luis. Com a criação de grupos, a capoeira passou a ser mais praticada em recintos fechados, como: escolas, associações, terreiros de Mina. Sapo vai se aplicar na ‘construção’ de um método educativo, desportivo, baseado em uma férrea disciplina de índole rústica e autoritária. Passa a utilizar – como todos os professores da época, o Método Desportivo Generalizado, introduzido, no Maranhão, por Laércio Elias Pereira.391 A esse respeito, cumpre informar que Sapo foi beber direto na fonte: com o Prof. Dr. Laércio Elias Pereira392, que veio para o Maranhão em 1974 integrar a equipe de Cláudio Vaz dos Santos, quando da implantação das escolinhas esportivas, no Ginásio Costa Rodrigues. Dentre elas, estava a de Capoeira, sob a responsabilidade do prof. Anselmo – Sapo. Na época, vários esportistas foram selecionados para ficar à frente dessas escolinhas de esportes, pois o Maranhão não dispunha de um numero suficiente de professores 390

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. CLÁUDIO VAZ, O ALEMÃO e o legado da geração de 53. São Luís, 2017 (inédito); VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins de. QUERIDO PROFESSOR DIMAS – Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo e a Educação Física maranhense: uma biografia autorizada. São Luis: EPP, 2014, VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. REV. LÉO, n. 3, Dezembro de 2017, p. 134. Disponível em: https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem tradicional maranhense. IN XV CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DOS ESPORTES, ALZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, i congresso internacional de história dos esportes, Curitiba, 06 a 09 de novembro de 2015, UFPR/Universidade Positivo, Tema Livre 391 O “Método Desportivo Generalizado” aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR. Alfredo Gomes de. Introdução à didática de Educação Física. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf 392

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI. Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ Atuou no Maranhão por 30 anos, como professor de handebol, e da Universidade Federal do Maranhão.


de Educação Física. Esse ‘monitores’ foram selecionados e receberam treinamento para – no dizer de Laércio – falarem numa ‘linguagem única’, base de estabelecimento de uma tecnologia, que se estava implantando. Essa metodologia de ensino estava baseada no livro de Listello, do qual Laércio foi um dos tradutores e responsável pela sua implantação no Maranhão (VAZ e PERIERA, 2016) 393 Há o retorno dos - agora reconhecidos - Mestres mais antigos, em torno dos quais a Capoeiragem de São Luís orbitava; as rodas de rua são revitalizadas, assim como há um movimento surgindo com novos grupos, novos nomes, nos bairros periféricos, e a retomada dos antigos locais de suas apresentações: (seu retorno se deu) através de Mestre Diniz, foi que continuou as Rodas (Mestre Paturi); as rodas de ruas (Deodoro, Olho D´Água, Gonçalves Dias 394. Através desses grupos eram realizadas rodas em praças públicas, amostras e competições [...] 395. Para Kafure (2017) 396, é possível dizer que a capoeira em São Luís passou por um grande processo de marginalização, e isso teve dois aspectos: 1 - os mestres treinavam escondidos no quintal de casa e desenvolviam uma identidade bem singular, 2 - houve uma grande descontinuidade por conta desse período, e muita gente boa se perdeu no meio do caminho, entregue principalmente a marginalidade e a pobreza. Patinho se apresenta como o herdeiro de Sapo, e o principal artífice da sistematização dessas ‘nova capoeira’, com característica genuinamente maranhense, fundando a sua própria escola de capoeira... Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, que a capoeira ‘tava’ na academia e eu sempre me senti, insaciei (sic) com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo; então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo. Que o primeiro é o GECAP, dirigido pelo mestre Moraes, que é da Bahia; mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, onde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, e dos fundamentos da capoeiragem, e a Escola de Capoeira Angola que eu criei no LABORARTE, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, dos mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. (BOÁS, 2011) 397 . [...] então assim, eu acho que foi um período de reunião de adeptos. Logo, na minha concepção, a capoeira sempre existiu e é possível falar de capoeira antes desse período tanto no Maranhão quanto em tribos indígenas pelo Brasil e mesmo na África. O que ocorre, ao meu ver, é o processo de síntese de ritos primitivos pela capoeira baiana. Contudo, podemos dizer que o movimento inverso, de análise e desmembramento dessa própria capoeira sintética é superimportante para ressaltar os valores de identidade da capoeira de acordo com sua regionalidade.

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 03 de março de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. In CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, 03 de março de 2016, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ ; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016.

Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, pelo Grupo 1, formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 395 Depoimento dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz pelo Grupo 2, formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 396 ROCHA, 2017, obra citada. 397 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Moraes ; http://www.iteia.org.br/laborarte BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf


Logo, acredito que a capoeira maranhense realiza um movimento de retorno a sua ancestralidade principalmente com o Mestre Patinho, ele foi o grande estudioso da relação entre corpo X musicalidade X cultura, em outras palavras, ele deu o ritmo da capoeiragem maranhense (KAFURE, 2017) . A partir da inclusão da Capoeira entre as atividades do LABORARTE, que se dá a aproximação da capoeiragem do Maranhão com a Capoeira Angola, de Pastinha. Como ele mesmo afirma, “[...] eu criei no LABORARTE (...) o segundo Grupo de Capoeira Angola registrado no mundo” 398. O período de 80/85 a 90/95 caracteriza a organização da Capoeira do Maranhão. A partir de 1985, com a formação de grupos, apresentando-se nos bairros, praças e locais públicos. Nos anos 90/95 foi a explosão da Capoeira Maranhense na mídia, tendo muita repercussão pelas emissoras de televisão. Mestre Rui399 confirma que não se conhecia, por aqui, a divisão da Capoeira por estilos: Angola e Regional, pois Quando eu aprendi não tínhamos o entendimento de que existia dois estilos de capoeira, e sim que existia vários ritmos. Só passamos a ter informação de capoeira angola e regional com o tempo e viagens. Estilo é capoeira Maranhense, nós na época não aprendemos estilo, tínhamos a informação que angola é um toque seguido de um jogo em baixo (no chão), que significa mais lento e cadenciado, com malícia e molejo. Regional, um toque com jogo rápido, com velocidade dos movimentos com muita malícia e molejo, jogo em cima. Entre os praticantes mais novos, como Mestre Roberto400, não havia conhecimento de estilos na capoeira praticada no Maranhão, pois afirma: Não tínhamos estilo determinado para jogarmos capoeira e sem nenhum fundamento e conceito daquela capoeira jogada na época; sentindo a necessidade de evoluir com os demais grupos da época, comecei a ler mais sobre a Capoeira, pois éramos muito fechados e não recebíamos visitas. A existência de grupos – vamos dizer assim, já que àquela época, final dos anos 50, inicio dos anos 60, antes da passagem de Serejo e Sapo -, é confirmada por Mestre Paturi – ANTONIO ALBERTO CARVALHO – que diz: Comecei no Judô e Luta Livre em 1962 e logo em seguida passei para a CAPOEIRA, Comecei a treinar com MANOELITO, LEOCADIO E AUBERDAN, Vivíamos treinando pelo Rio das Bicas, Bairro de Fatima , Parque Amazonas, DEPOIS Passamos a treinar atrás da Itapemirim no bairro de Fátima e foi chegando Lourinho, Zeca Diabo, Fato Podre, Ribaldo Preto, Alô, Babalu, e as vezes Ribaldo Branco; também treinamos no Sá Viana e sempre participavam Cordão de Prata, Butão, Romário e Curador. Passei um Período treinando com SAPO, no Ginásio Costa Rodrigues, e depois no Alberto Pinheiro . Depois passei a treinar direto com ALÔ na 28, mais precisamente na CASA E BAR DO DEZICO. Mestre “Socó” 401 iniciou-se na pratica da capoeira em 1971, com mestre Raimundo Aprígio, no bairro Bom Milagre, no qual ele era aluno de mestre Gouvêia, que foi aluno de Roberval Cerejo. Treinávamos aos 398

ROCHA, 2017, obra citada. RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO. 399

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MESTRE ROBERTO – ROBERTO JAMES SILVA SOARES. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres capoeira do Maranhão, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


sábados e domingos. Desenvolvíamos uma capoeira chamada: “encima –embaixo”, um jogo no qual não era nem (Angola nem regional), era conhecido com “Capoeiragem”; Eram alunos: Miguel, “China”, Zé Mario, “Socó”, Beto, “Cabeca”, “Boi”, “Raspota”, Danclei, Messias, Batata, Nei, Roberval, Riba e muitos outros: Eu participava muito das rodas de capoeiras do mestre Diniz, no qual estavam: “Curador”, “Pelé”, “Didí”, “Cordão de Prata”, “Pesão’’, Miguel, “China”, D´Paula, “Mimoso’’, Alberto, Rui, “Jacaré’’, Mariano,”Boi’’, Nei,” Faquinha’’, Ze Melo, ‘’Pato’’, ‘’Aló’’, Sebastião e muitos outros. Fizemos muitas rodas no feriado de 7 de setembro, e nos festejos de Nossa Senhora da Conceição, também no dia do soldado no quartel do 24º BC, na Casas das Mina, Jorge Babalaô no dia 13 de maio, dia dos escravos no bairro da Fé em Deus, assim como nos sábados a tarde tínhamos no João Paulo, na casa do Beto na antiga Estrada de Ferro. No fim dos anos 70 foi feito um bloco carnavalesco por Afonso “Barba Azul”, que era aluno do finado mestre “Sapo”, era na Rua da Saúde, onde se reuniu a grande massa capoeirista, para desfilar no carnaval da João Lisboa. No ano de 1976, no bairro do Diamante centro, no estacionamento do “fomento”, (Ministério da Agricultura), treinávamos capoeira, com os alunos, “Biné”, Celso, Alex, Missinho, Déco, Mauro Jorge, Marcelo, “Uruca”,” Motor”, e muitos outros. Aprendiam a praticar a capoeira com Socó. Nessa época, não era necessário o reconhecimento como mestre para dar aula, bastava saber e conhecer na pratica o “jogo” da capoeira. Ouçamos Mestre Índio do Maranhão402: Eu como todo menino traquino, pulador e saltador, aos meus 9 para 10 anos já apresentava vocação para a luta. Gostava de brigar, “tarracar”, termo usado pelos mais velhos da época, por esta razão era chamado para “garrotiar” com os garotos do meu tope ou até maiores naquela época. Mas foi em 1970, assistindo na televisão, na TV Difusora canal 4, vi uma apresentação do Mestre Sapo, Anselmo Barnabé Rodrigues, fazendo uma chamada para matriculas na escolinha de capoeira no Ginásio Costa Rodrigues, no qual era o Mestre de Capoeira. Após assistir essa apresentação pela televisão, eu fiquei encantado, doido, queria muito aprender aquela capoeira que eu tinha visto na televisão. Filho de policial e mãe crente da Assembleia de Deus, eles jamais deixariam eu fazer capoeira, quando falei que queria fazer foi um terror a palavra capoeira para meus pais. Como eu em minha inocência, queria era praticar capoeira, toda tarde subia para o Alto de Fátima e ia correr, pular, saltar, fazer movimentos de minha cabeça, e nisso eu passei um bom tempo, saltando e pulando fazendo movimentos de capoeira, sem saber que todos os movimentos que executava eram de capoeira. Foi quando um companheiro me observando, um bom tempo, chegou pra mim e disse: - Tu quer fazer judô comigo? então lhe respondi: - Não, eu quero é capoeira. Ele então falou, eu faço judô lá no Ginásio Costa Rodrigues com Jorge Saito, um japonês, mas todo dia eu assisto o treino do Mestre Sapo, ai eu venho e te passo os nomes dos movimentos Na semana seguinte ele estava lá e já foi me falando, eu vou dá uma meia lua de frente e você se abaixa, o nome da defesa é cocorinha, eu vou dá um martelo e você faz assim....uma resistência. Essa atenção comigo durou de julho de 1971 a Abril de 1972, ele se chamava José de Ribamar, mas era conhecido como Hipopótamo, apelido que ele não gostava, foi esse rapaz que me iniciou na capoeira com os primeiros passos, porém ele não era capoeira. 401

EVANDRO DE ARAÚJO TEIXEIRA (1961); (1971 INICIA-SE NA cAPOEIRA). IN Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o Livro-Álbum dos Mestres capoeira do Maranhão, 2017. 402 Mestre INDIO DO MARANHÃO - OSIEL MARTINS FREITAS (1957); iniciou-se na Capoeira em 1972. IN VAZ, leopoldo Gil Dulcio. Livro-Álbum dos Mestres capoeiras do Maranhão. Depoimentos, 2017


No dia 22 de junho, ano que eu me intitulo capoeira, foi após eu assistir uma roda de capoeira no Centro Comunitário do Bairro de Fátima, sob o comando do Mestre Manoel Peitudinho e os companheiros, Ribaldo Branco, Leocádio, Ribaldo Preto, Batista, Bambolê e Sansão. Após essa apresentação, o Cabral, que estava no comando da Radiola, colocou o disco de Oswaldo Nunes, com a letrada cantiga “ Você me chamou pra jogar capoeira na Beira do Mar”. Como eu já estava arrisco nos movimentos, convidei um amigo chamado Emidio, pra trocarmos movimentos de todo jeito e fomos cercados por um conjunto de pessoas que estavam no arraial esperando outras apresentações folclóricas, isto em 1972. Final de julho, começo de agosto, eu brincando de rouba bandeira na Rua Nossa Senhora de Fátima, bem em frente a garagem da extinta Itapemirim, estavam lá um pequeno grupo de capoeira fazendo roda ao som de um toca disco da época, e lá Mestre Paturi estava nesta roda junto á Babalú, Gouveia, Ribaldo Preto, Leocádio, Samuel e deste dia em diante comecei a ir olhar essa roda até que um dia o famoso Babalú, de tanto me ver lá um dia, me chamou pra fazer um jogo. – Quer fazer um jogo? E eu um garoto meio envergonhado respondi: - Sim, eu quero, então entrei na roda e comecei a dá meus pulos com o Babalú. Então ele viu que eu levava jeito e me convidou para ir até a roda da Bom Milagre que era comandada pelo Velho Firmino Diniz. Quando Babalú chegou foi logo dizendo: - eu trouxe esse indiozinho pra jogar na roda com nós! Fiquei nervoso, mas quando berimbau tocou, o atabaque acompanhou, ai eu fiquei tonto, cai na roda com vontade, isso já em outubro de 1972. Daí em diante passeia a ser frequentador dessa roda e lá fui conhecendo muitos capoeiras, tais como o Velho Diniz, Babalú, Gouveia, Esticado, Raimundão, Alô, Elmo Cascavel, Murilo, Sansão, De Paula, Gordo, Teudas, Mimi, Volf, Alan, Rodolfinho, Ribaldo Branco, Til, Fato pode, Nelson galinha, Geraldo cabeça, Manoel pretinho, Cesar dentinho, Batista, Bambolê, Tião Carvalho, Jesse, Didi, Sócrates, Carlinhos, Louco, Patinho, Cordão de Prata, Sapo Cola, Faquinha, Valdecir, Cebola, Pelé, Sabujá Candinho, Boi, Mimoso, Carioca, Leocádio, Samuel, Paturi, Zeca diabo, Cabeça, Miguel, todos esses companheiros citados são da minha época de 1972 a 1976, quando eu migrei para o Rio de Janeiro. De outubro de 1972 eu comecei a participar das rodas de rua, indo para a casa do Velho Diniz na Rua Paulo de Frontin, próximo a Casa Inglesa, entrada da Liberdade. Em sua casa, Velho Diniz me dava aula de toques de berimbau, pandeiro e atabaque, mas me recomendando a treinar com Mestre Gouveia e Raimundão no fundo da casa de Raimundão, numa casa de conjunto Elca acima da Bom Milagre, e foi neste treinamento que aprendi muito com Gouveia e Raimundão, uma vez ou outra o Babalú e o Velho Diniz apareciam lá para ver os treinos. Foi através do velho Diniz que eu pude treinar com o Mestre Sapo cola em abril de 1973 até outubro do mesmo ano, não fui muito feliz por causa das pancadas que ele me dava, mais sempre acompanhando o velho Diniz nas rodas de rua,e sobre seu comando. Em 1976, precisamente no dia 19 de Abril, eu migro ou seja, eu viajo para o Rio de Janeiro e no dia 22 eu desembarco na Rodoviária Novo Rio, cidade onde eu conheci vários mestres, aonde o primeiro mestre o qual eu tive o meu primeiro contato, foi o Mestre Dentinho no Sindicato dos Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro, daí pra frente muitos mestres passaram a fazer parte do meu convívio, tais como Mestre Dentinho, Canela, Touro, Levi, já falecido Medeiros, mestre Dé, Mosquito, já falecido, mestre Peixinho da Senzala, já falecido Mais Velho, já falecido boca, Mestre Capa, Canela, Preguiça do Iê Capoeira, Titio, Chita, Beira mar, Djalmir, Sorriso, Rege Angola, Sorriso Senzala, Russo, Ramos, Gigante, Edgar, Gege, Pitu, Thiara, Mancha e tantos outros no Rio de Janeiro. Mas o mestre que me deu toda a orientação para eu me tornar um capoeira, foi o Velho Firmino Diniz a quem eu devo Saúde, dinheiro e obrigação, foi quem me ensinou a tocar o berimbau, pandeiro, atabaque e agogô e me ensinou a cantar e compor as minha músicas e letras, ele dizia: “ Indio aprenda a compor as suas cantigas de capoeira”, músicas da Bahia e da Bahia tem que cantar músicas nossas feitas por você, Babalú, Miguel e Patinho.


Firmino Diniz é o meu Mestre porque o acompanhei desde 1972 a 1982, após a morte de Mestre Sapo, foi quando ele se afastou das rodas até a sua morte em 22 de dezembro de 2014, mesmo longe da capoeira, no dia 07 de Setembro, ele foi me entregar a corda de Mestre no Clube Nova Geração II, no bairro do Sá Viana, mesmo assim ele ainda marcou presença em alguns eventos de nossa cidade e de alguns companheiros. Em outro depoimento, Mestre Índio do Maranhão (2015) 403 conta como eram essas rodas, que constituíam verdadeiros momentos de ensinamentos e troca de experiências, sem a formalidade de uma ‘escola/grupo de capoeira’ nos moldes atuais: tenho conhecimento da história da capoeira de São Luís do Maranhão, pois o Velho Diniz passava isso para a gente. Ele dizia que a história da capoeira lá no Maranhão, precisamente em São Luís, ela começa em 1885. Ele dizia que os estados mais antigos da capoeira, eram Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Maranhão. A capoeira chega em 1885 no Maranhão, porque os escravos que eram enviados para lá, vinham do Rio de Janeiro, não vinham de outros estados, eram específicos do Rio de Janeiro, enviados para a cidade de Turiaçu, e de Turiaçu para São Luis. Deste período de 1885 a 1959, quando surgiu o primeiro grupo de capoeira, um grupo chamado Grupo Bantu de Capoeira, comandado por Roberval Cereja (sic), que era marinheiro, e foi do Rio de Janeiro para São Luís, e chegando lá montou esse trabalho de capoeira. Lembro muito bem do Velho Diniz contando isso para a gente, eram: Roberval Cereja, Babalu, Jese, Patinho, Bizerra, Manuel Peitudinho, Murilo, Lourinho, Elmo Cascavel e Alô, esse grupo de 10 pessoas. Era um grupo isolado, não saia muito até por causa do preconceito da época e da taxação que aquela rapaziada recebia de vagabundo, arruaceiro e etc, pois capoeira era tudo o que não prestava na boca da sociedade. Então nego se isolava muito, treinavam muito ali e às vezes saiam para as festas, onde aconteciam as brigas, ai eles quebravam a galera e os caras às vezes nem sabiam de quem estavam apanhando, anos depois vieram a saber, que eram da capoeira. Em 1966, um grupo chamado Aberrê, fez sua primeira viagem a São Luis, era comandado pelo Mestre Canjiquinha, acompanhado de Brasília, Vitor Careca e João Pequeno. Dois anos depois eles retornaram, isso em 1968, dessa vez com uma alteração no quarteto, tendo Canjiquinha como mentor, Sapo Cola, Brasília e João Pequeno, o Vitor Careca não foi. Assim eles ficaram como uma referência dos percussores da capoeira, sendo que o Sapo Cola, a convite do governador, permaneceu em São Luis. Dessa forma, até o José Sarney, querendo ou não, tem um dedo dele na capoeira do Maranhão, isso em 1968 quando ele foi governador do nosso estado. A roda de capoeira mesmo que me marcou, foi quando eu comecei a frequentar as rodas do Velho Diniz, que era uma roda lá na Bom Milagre, com vários companheiros que eu lembro até hoje o nome deles, que era o Velho Diniz como chefe da roda, Sargento Gouveia, Babalu, Jese, Elmo Cascavel, Esticado, Raimundão, Alan, Gordo, Volf, Mimi, Ribaldo Branco, Ribaldo Preto, Zeca Diabo, Curador, Cordão de Prata, Sabujá, Patinho e Mareco, tinha mais ou menos uns 30 capoeiras que ele comandava essa galera todinha que comparecia lá nessa roda, e isso marcou a minha iniciação na capoeira, foi a roda da Bom Milagre, eu estava com uns 15 anos de idade na época, hoje estou com 58, daqui a 2 anos eu completo os 60 anos nesse mundo cão ai da capoeira. Mestre Curió404 dá seu depoimento: 403

Entrevista com Mestre Índio Maranhão: Conheça um pouco da história dos 43 anos de capoeira do Mestre Índio Maranhão por suas palavras. Saiba como ele conheceu a capoeira, como a vive e como aprendeu a história da capoeira do Maranhão na qual ele ensina aos seus alunos com alegria e dedicação. In

http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1; Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau; grifos nossos 404

João PalhanoJansen, o Mestre Curió, casado com dona Joana Santos Reis Jansen, da qual teve quatro filhos, nasceu em 15 de fevereiro de 1956 na comunidade quilombola de São Carlos, povoado do município de Coroatá, no interior do Estado do


Primeiro conheceu o karatê em 1975 por intermédio de um amigo por nome Luís, apelidado de Gigante. Luís lhe falou de outra luta chamada capoeira. Então, lembrou-se de que já havia visto essa luta no Arraial de Zé Cobertinho, no bairro do João Paulo, no período das festas juninas um ano antes. Nessa roda testemunhou Manuel Peitudinho jogando e ao assistir a apresentação de capoeira imediatamente relacionou-a com a Punga dos Homens, uma brincadeira de sua terra. Pensava se tratar da mesma coisa, mas aos poucos percebeu que eram diferentes. No mesmo ano, em 1975, aos 19 anos de idade, já fazia alguns movimentos e golpes da capoeira, sem no entanto saber direito o que fazia. Passou a assistir as apresentações de capoeira na antiga Estrada de Ferro, na casa de um amigo conhecido como Beto do Cavaco. Começou a se motivar. Os dois ainda iniciantes, brincavam juntos tentando aprender alguma coisa. Por meio desse amigo entrou pela primeira vez numa roda, na Praça Duque de Caxias (no João Paulo). Foi quando Curador, um capoeirista dessa época, comprou o jogo e desferiu sobre ele vários golpes violentos sem levar em consideração que se tratava de um iniciante (esse mesmo Curador, conhecido por seus poderosos movimentos, martelo, meia-lua e ponteira, era um capoeirista marginalizado). Nesse momento outro colega, conhecido como João Matavó, interviu e disse pra não fazer isso com ele, ao que respondeu Curador: “Só entra em roda quem se garante!”. Este episódio ficou registrado na memória do Mestre Curió. Depois disso não entrou mais nas rodas, ia apenas para observar os capoeiristas jogando, analisando seus pontos fortes e fracos. A noite, ao chegar a casa do serviço, treinava sozinho no seu quintal os movimentos que aprendia olhando. Também treinava com alguns amigos em algumas ocasiões. Beto do Cavaco o levou para treinar com Raimundão. Treinou apenas dois meses, pois Raimundão precisou viajar para o Rio de Janeiro. Ali conheceu alguns capoeiras que também estavam aprendendo, Miguel, Tancrei, Boi, Caninana, Socó, dentre outros. Sem seu mestre, passou a treinar sozinho novamente, fazendo o que já sabia e esporadicamente pegando dicas com um e com outro, aprendendo a capoeira “no tempo”. Autodidata também não teve mestre de berimbau, aprendeu olhando e imitando. Quando ele conheceu a capoeira ainda morava na Jordoa, no João Paulo, e já com família, mulher e filhos, prosseguiu treinando. Em 1979 mudou-se para o bairro do Coroado, alguns meses depois para o bairro do Sacavém, e em 1980 já estava morando no bairro do Rio Anil, no Conjunto Bequimão. Na época em que Mestre Sapo ensinava nas escolas da cidade, Curió aprendia a arte da capoeira nos quintais e nas rodas de rua. Não conheceu pessoalmente o Sapo, só ouvia falar. Entretanto, conheceu personalidades da capoeira que não foram alunos de Sapo, mas de capoeiristas anteriores a ele. Mestre Baé405 também relata que, naqueles anos iniciais, a capoeira era praticada nos quintais, com os ‘mestres’ ensinando durante as rodas que ocorriam na cidade, sem uma formalização, do tipo ‘grupo’, ‘escola’, ou ‘academia’: Em 1974 conheci O SR. ANTONIO ALBERTO CARVALHO / BETINHO (MESTRE PATURI) na Avenida Kennedi em frente da Paulo Frontim pois foi o primeiro local onde fui morar e logo depois me mudei para o bairro de Fátima; morava ao lado do bar da ZILOCA, que era um local muito freqüentado pelos amigos capoeiristas do Mestre Paturi, mas foi só em 1976 através de ALÔ que comecei a freqüentar os treinos do Mestre Paturi, na época não tinha

Maranhão. Seus pais se chamavam Domingos PalhanoJansen e Antônia PalhanoJansen. Aos oito anos de idade foi para Santana, uma cidadezinha da região. Aos 10 anos de idade, sem saber, foi vendido para trabalhar em regime de escravidão numa fazendo do interior do Estado, mas sendo observador das coisas ao seu redor, percebeu que havia algo de errado e fugiu. Com 12 anos se mudou para a cidade de Coroatá. Aos 16 anos veio para São Luís, capital do Estado. In DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS DO MARANHÃO, 2017. Grifos meus 405 Mestre BAÉ - FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. In DEPOIMENTO. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro-Album dos Mestres capoeiras do Maranhão, 2005. entrevista realizada por: Raimunda Lourença Correa; Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra; Maria do Socorro Viana Rego; José César Sousa Freire; Hermílio Armando Viana Nina ; Roberval Santos Corrêa. Grifos meus.


academia para a gente treinar pois a gente treinava era nos locais combinados, ate porque tudo era bem escondido. Em outro depoimento406: Iniciei a capoeira em fevereiro de 1977, na feira do João Paulo com o finado Alô, depois passei a treinar com o mestre Paturi até conhecer o mestre Patinho tendo me afastado devido o mesmo ter se dedicado só à capoeira de angola, e meu objetivo eram me aprofundar mais na capoeira, pois a mesma está no sangue. Em 1989, comecei a praticar e estudar a capoeira regional pelo Brasil inteiro. Mestre Rui Pinto407 lembra que a maioria dos praticantes de capoeira, frequentadores das escolinhas, seja do Costa Rodrigues, seja nos diversos estabelecimentos de ensino, que participavam dos Festivais da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses, faziam, também outras modalidades; ele mesmo praticava Handebol:

Em 1970, aos 10 anos de idade conheci a capoeira, e com os primos como Roberto Edeutrudes Pinto Cardoso, (conhecido como Jacaré) e outros amigos, brincávamos nos quintais de parentes, treinávamos sem orientação de um mestre. Com o passar do tempo, continuei na adolescência, aprendia apenas por ver os demais que tinham mais experiências praticando. Aos sábados à tarde, na casa de tia Dadá, no bairro do Bom Milagre e no parque do Bom Menino, reuníamos para treinarmos, tocar os instrumentos e cantar, em pouco tempo aprendemos a fazer os berimbaus e outros instrumentos. Em meio a minha iniciação à capoeira, já na adolescência, conhecemos Gouveia e Raimundão, que eram os adultos que viram o nosso interesse em aprender e praticar, passando a partir daí seus ensinamentos sobre a capoeira; para nós, em nossos encontros aos sábados, também no quintal de Raimundão. Mas esse treinamento durou pouco, pois nos matriculamos na escolinha de capoeira que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues com Mestre Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues). Algum tempo depois fomos para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem - (ITA), em um prédio ao lado do ginásio Costa Rodrigues, e demos continuidade aos nossos treinos com Mestre Sapo. Com o tempo o mesmo prédio onde funcionava o ITA, tornou-se o colégio MENG, onde o Mestre Sapo continuou dando aula. No mesmo período já com 15 anos, perto dos 16, comecei a jogar Handball com o professor Dimas no SESC Deodoro, na época os jovens que jogavam capoeira faziam outros esportes, por que a capoeira não era um esporte “olímpico” da época, o maior objetivo dos jovens em praticar outros esportes era o simples fato de que viajavam para competir em outros estados. As competições de capoeira chamadas de “A Grande Roda” só aconteciam em Salvador no mês de Dezembro de cada ano, e por falta de patrocínio poucos éramos os alunos que iam, pois os custos eram altos, a outra forma de ir era por conta própria, o que era muito difícil para alguns. Nesse período, como aluno do Mestre Sapo, participamos de diversos campeonatos tendo como parceiro, amigo e irmão de capoeira Alberto Euzamor, Marquinho, Didi, Curador e outros, onde compartilhávamos as rodas celebradas nas festas religiosas como a do Divino Espírito Santo, na casa das Minas, seguido de 13 de Maio na casa de Jorge Babalaô, 8 de dezembro na igreja de nossa Senhora da Conceição, na praça Deodoro, onde era de costume se reunir as sextas- feiras a partir das 17:00 até as 23:00 horas.

406

Mestre BAÉ - FLORIZALDO DOS SANTOS MENDONÇA COSTA. In DEPOIMENTO a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Livro-Album dos Mestres capoeiras do Maranhão, 2017. Grifos meus. 407 RUI PINTO, Mestre Rui. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


E não nos restringíamos a essas datas, tínhamos o período carnavalesco na Deodoro, Madre Deus, Praça da Saudade, Largo do Caroçudo, também no dia da Raça, 05 de setembro e Independência do Brasil, 07 de setembro, tradicionalmente em todas essas datas era realizada uma roda. Em 1979 aos 18 anos, entrei para o Exército, e mesmo servindo a pátria, continuei com os amigos a nos encontrar para jogar, e nessa mesma época reencontrei amigos como D’Paula, capoeirista que tornou-se cabo do exército, e Roberval Sena que tornou-se sargento do exército, grande capoeirista da época. Com a morte de Mestre Sapo em 1982, a capoeira sofreu uma grande perda, causando a dispersão de muitos capoeiristas que o tinham como mestre, enfraquecendo assim a capoeiragem (congregação dos capoeiras), por um curto período de tempo. Até que movimentos começaram a ser criados renovando e incentivando a manutenção da capoeiragem, que, com esse incentivo fui em busca de mais informações em outros estados, como São Paulo, no DEF (Departamento de Educação Física - em Água Branca), e em União dos Palmares – Serra da Barrica – Alagoas, e dessa forma adquiri mais conhecimento. Hoje componho o Fórum Permanente dos Mestres de Capoeira, e faço parte do Curso de Capacitação de Mestres do Maranhão. Mestre Gavião408 lembra-se dos diversos lugares em que a ‘escola’ de Sapo passou, quando o acompanhou nas aulas de iniciação: ficamos sabendo que o Mestre Sapo dava aula na Escola Alberto Pinheiro e no antigo Costa Rodrigues, e fomos olhar a aula. Quando chegamos lá, para nossa surpresa a aula era escola de elite, só estudava quem tinha uma boa condição financeira. A sala era toda no tatame e cheia de alunos jogando de 2 em 2. E movidos pelo ritmo da música de capoeira do Mestre Caiçara; sem sermos convidados, começamos a jogar. Logo chamamos atenção de todos por ter o jogo desenrolado e cheio de floreio. Estávamos fazendo bastante movimentos no jogo, quando o mestre Sapo nos abordou perguntando se éramos alunos da escola. Dissemos que não, então ele nos disse que não poderíamos jogar mais. No outro dia, curiosamente, Mestre Pato apareceu na minha casa conversando com meus pais para que me liberassem para treinar capoeira. Desde então comecei a treinar com mestre Pato que na época ainda era contramestre e eu tinha por volta de oito anos de idade. Treinamos na Rua Cândido Ribeiro, na antiga academia Real de Karatê do professor Zeca, e passado um tempo mudou-se para o antigo Lítero. Depois, mudamos para Rua da Alegria, e na Deodoro fazíamos bastantes rodas de apresentação com Mestre Sapo e M. Pato. Essas rodas reuniam todo o grupo. Esse tempo foram três anos de treinos e depois a academia acabou. Ainda em 1978, Mestre Sapo criou a Associação Ludovicense de Capoeira Angola com o intuito de oferecer uma melhor estrutura física e organizacional à capoeira em São Luís. No depoimento de José Ribamar Gomes da Silva (Mestre Neguinho), nos anos seguintes a 1978, Mestre Sapo, através da referida Associação, na qual era presidente, passou a realizar uma série de competições em São Luís. Nesse período, já aconteciam várias competições de capoeira pelo Brasil, assim como encontros, simpósios e seminários, com o objetivo de organizar e regulamentar a capoeira e suas competições. O Mestre Sapo, por sua vez, sempre viajava para esses eventos e sua participação nesse movimento trouxe mudanças para a capoeira ao longo dos anos 70 e início dos anos 80. Ao final desses anos 70, Mestre Sapo, em uma de suas viagens, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília, que o graduou Mestre. Essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. A adoção do sistema de graduação para a capoeira foi um fenômeno comum nos anos 70, influenciado pelas artes marciais do oriente.

Com a morte de Anselmo Barnabé Rodrigues – Sapo – encerra-se um ciclo da Capoeira do Maranhão. 408

MESTRE GAVIÃO – HÉLIO DE SÁ ALMEIDA. Depoimento a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, durante o Curso de Capacitação dos Mestres Capoeira do Maranhão – UFMA/DEF 2017, para o LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO.


Era um dos ‘capitães da areia’ das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali. Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em ‘Capoeira Angola’ é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova ‘Ginástica Brasileira’[409] a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica.410.

Para Mestre Índio, [...] a capoeira no Maranhão teve uma mudança já dos anos 80 pra cá, após a morte do Mestre Sapo “Anselmo Barnabé Rodrigues”, vários capoeiras que estavam isolados, criaram seus grupos, eram grupinhos mesmos só para treinar, eu mesmo criei o meu nessa época. Antes disso se o Sapo soubesse que tinha capoeira ou roda de capoeira, ele ia lá e dava porrada em todo mundo. Por que ele queria ser o centro das atenções, capoeira era só ele, e o resto era o resto. E após a morte, vitima de um atropelamento em 29 de maio de 1982, após uma confusão muito grande que ele arranjou, enquanto ele foi em casa buscar um revolve, na travessia dele um carro em alta velocidade lhe deu uma trombada, e ele veio a óbito no dia 1 409

MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA (Resumo do Projeto Geral). 2 ed. Brasília: 1982 PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao Mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17.

410


de junho sendo sepultado em 2 de junho, para esperar alguns parentes que moravam em outro estado. Como eu disse, após isso surgiram vários grupos, eu criei o meu que na época se chamava Filhos de Ogum, e tinha o Gayamus, Filhos de Aruanda, Aruandê, Cascavel, Escola de Capoeira Laborarte e outros que eu não lembro os nomes nesse momento. (Mestre Índio do Maranhão, in Entrevista, 2015) 411 Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança. Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc. 412. Para Mestre Tuti (2011) 413: Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira. Kafure (2012) 414 ao discutir o processo de “desconstrução da capoeira maranhense” apresenta a hipótese de que, no início, tudo era uma coisa só: capoeira, tambor de crioula, frevo, samba etc.; entende por desconstrução, primeiramente: o tipo de transformação que se inicia no discurso acerca do folguedo ou cultura popular. Logo, um discurso sobre a capoeira começou a se formar a partir da repercussão dessa arte supostamente vinda da Bahia, com os mestres Bimba e Pastinha. Então podemos dizer que essa palavra mestre é a primeira desconstrução fundamental de toda a capoeira, pois sendo ela uma luta afro-brasileira transmitida pelos escravos vindos de angola e congo, questionamos até que ponto ela era ensinada por supostos "mestres", já que diversas origens rituais foram atribuídas a esta cultura. É de fato impossível encontrar uma origem específica desta brincadeira popular ou arte marcial... Esse autor se propõe: [...] a nível do Maranhão analisar(emos) a história da linhagem de mestres da capoeiragem de Patinho e suas metodologias, bem como as ligações com religiosidade, musicalidade e filosofia. (KAFURE, 2012) 415. 411

ENTREVISTA

COM

MESTRE

ÍNDIO

MARANHÃO,

disponível

em

http://www.rodadecapoeira.com.br/artigo/Entrevista-com-Mestre-Indio-Maranhao/1. Publicado em 19/11/2015, enviado por: jeffestanislau 412

COELHO, T. DICIONÁRIO CRÍTICO DE POLÍTICA CULTURAL. São Paulo: Iluminuras, 1999 Mestre Tuti in CHAMADA NA ‘BENGUELA’ -17/11/2011) To: capoeiranaescola@googlegroups.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela’ 414 ROCHA, Gabriel Kafure da. AS DESCONSTRUÇÕES DA CAPOEIRA. In 413

http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html, 415

em segunda-feira, 5 de março de 2012 ROCHA, Gabriel Kafure

da.

AS

DESCONSTRUÇÕES

DA

CAPOEIRA.

http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html, em segunda-feira, 5 de março de 2012

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publicado


Como também reconhece a existência de uma “Capoeiragem Ludovicense”: [...] é o nome denominado pelos mestres da cidade de São Luís - MA para um jogo que mistura a Capoeira Angola com a Capoeira Regional, uma síntese das modalidades e estilos de capoeira. Essa miscigenação propiciou a caracterização do jogo maranhense de uma maneira singular, muito semelhante a uma capoeira antiga em que não havia uniformes ou obrigatoriedade do sapato.416. Segundo Greciano Merino (2015) 417, o Maranhão se caracteriza por ser um território afetado por fortes insurreições de negros e por uma vasta diversidade de rituais ligados à cultura popular (Tambor de Mina, Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Festa do Divino Espírito Santo, Bambaê de Caixa, Festa de São Gonçalo, etc.) que foram fomentados principalmente durante a constante reorganização dos quilombos ou ‘Terras de Preto’. Antonio José da Conceição Ramos, mas conhecido como Mestre Patinho, se inicia na Capoeira em 1962 e vem desenvolvendo seu trabalho de una forma ininterrupta; por isso, na atualidade se o considera o praticante mais antigo desta atividade em São Luís de Maranhão: É ainda Greciano Merino (2015) que nos dá maiores explicações sobre essa simbiose entre a capoeira maranhense e as demais manifestações folclóricas que ocorrem no Maranhão: Algunos maestros de la capoeira ‘maranhense’ como Patinho, Tião Carvalho, Alberto Euzamor o Marco Aurelio indican dos personajes del cortejo del bumba meu boi como paradigmas que celan la expresión corporal de la capoeira durante esos años de fuerte represión: el ‘caboclo de pena’ y el ‘miolo del boi’. Los ‘caboclos de pena’ son una figura emblemática, imponente e impresionante; que situados al frente del cortejo despliegan una danza circular vigorosa abriendo espacio y anunciando la llegada del grupo. Los capoeiras, por su conocimiento de técnicas de lucha y guerra, habrían sido destinado a ocupar esas posiciones para proteger al grupo de los embates de otros grupos rivales. El ‘miolo del boi’ es como se designa a la persona que manipula la figura del boi, y su papel sería entrenar y mantener alerta a los integrantes del grupo a través de su cabezadas y coces. El maestro Patinho, durante la conferencia de apertura del VIII Iê Camará524 (2014)418, expresaba que: El caboclo de pena rescata la mandinga, la picardía y la malicia de la capoeira a través de la rasteira de mano. Y del miolo de boi destaca que tiene que tener una malicia y una ginga para inserir la cabezada y la coz, ésta última desde su opinión es la chapa de costas de la capoeira. Otro aspecto que en su opinión comparten estas manifestaciones serían las improvisaciones de los cánticos que relatan acciones del momento en que están ocurriendo los acontecimientos”419. En ese mismo acto, el maestro Marco Aurelio Haikel reforzaba que: “dentro del mosaico cultural brasileño los capoeiras eran guerreros temidos y admirados; necesarios como protectores lo que les permite participar y ser miembros de varias y diversas manifestaciones. Ese ‘lleva’ y ‘trae’ de informaciones quizá sea una de sus grandes contribuciones dentro de la cultura popular.Pues se convierte en el eslabón que conecta y agrega esas informaciones y esa profusión de ritmos”420. El tambor de crioula es una danza genuinamente maranhense que, como señalábamos anteriormente, forma parte de las expresiones que surgen de la diáspora africana. La forma en que se despliega el ritual del tambor, la cadencia batuques”. Durante una

416

ROCHA, 2012, In http://procaep07.blogspot.com.br/2012/03/texto-as-desconstrucoes-da-capoeira.html GRECIANO MERINO, 2015, obra citada. 418 Evento nacional de capoeira organizado por el grupo de Capoeira Angola Laborarte 419 Ramos, Antonio da Conceição. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 420 HAIKEL, Marco Aurelio. Batuques locais e suas influencias entre capoeiras. En VIII Iê Camará: Dialogo de Batuques, LABORARTE, São Luís do Maranhão, 2014. 417


semana se organizaron charlas, mesas redondas, presentaciones y diversas rodas de capoeira, tambor y samba donde se trató de profundizar sobre las vicisitudes de este mosaico cultural. Prossegue: En este sentido, el profesor Leopoldo Vaz 421 se hace eco de las posibles relaciones que se establecen entre ambas manifestaciones a través de la punga dos homens, que es un juego de lucha practicado dentro de los rituales del tambor422. Para ello, indica que la punga dos homens en Maranhão vendría a ocupar la misma función que la pernada carioca en Rio de Janeiro, el batuque en Bahía o el passo en Pernambuco. Todas estas manifestaciones serían formas complementarias donde se diluiría la capoeira. Pues, las medidas restrictivas que imponía el nuevo código penal de la República habría obligado a sus practicantes a encontrar nuevas formas de camuflar su práctica para ocultarse de la atención de las autoridades. Asimismo, Vaz trata de este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito423. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. Em meados dos anos 80, para frente, após a morte de Sapo, começa uma movimentação para ‘restituir’ a Capoeira ao seu lugar – a rua. Esse movimento começa a partir da formação de grupos, em lugares considerados periféricos, como o eixo Itaqui-Bacanga. Para os Mestres-alunos, O movimento ‘pró-capoeira’ surgiu na área Itaqui-Bacanga através dos grupos ‘Aruandê’ do Mestre Pirrita, ‘Filho de Aruanda’, do Mestre Jorge, como forma de apresentações individuais dos grupos que fizeram parte desse movimento, entre eles ‘Cascavel’, ‘Filho de Ogum’, ‘Unidos dos Palmares’, e outros. Esse movimento teve como objetivo uma maior organização da Capoeira, pois a mesma se encontrava no anonimato; com a realização do movimento pró - capoeira surgiu, em São Luis, vários grupos de capoeira com objetivo de uma maior organização e expansão em toda São Luis424. Projeto “Capoeira nos Bairros”, e “Movimento Pró-Capoeira”; com os Mestres Jorge e Pirrita; com a mobilização de grupos de capoeira; para a organização e transformação dos grupos em associações, surgindo a partir daí, a Federação Maranhense de Capoeira – FMC -, no ano de 1990 425. Pela necessidade de revitalizar e divulgar a capoeira, que estava muito dispersa nas periferias dando por sua vez uma nova fase a este movimento, tendo como protagonizadores Pirrita, Jorge, Neguinho do Pró-dança426. As lideranças: Mestres Jorge e Pirrita e Mestre Leles, Madeira, para a divulgação da organização dos grupos de capoeira no Maranhão427; Foi a Associação Aruandê, com os Mestres Jorge e Pirrita428; Pelos Mestres Pirrita e Jorge, com o objetivo de divulgação da capoeira. Muitos adeptos na prática da capoeira, a popularização da capoeira criando uma boa imagem da capoeira429.

421

VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf 422 En la década de 1950, el folclorista Camara Cascudo lo describirá de esta manera: "Las danzas denominadas ‘do Tambor’ se esparcen por Ibero-América. En Brasil, se agrupan y se mantienen por los negros y descendientes de esclavos africanos, mestizos y criollos, especialmente en Maranhão. Se conoce una Danza de Tambor, también denominada Ponga o Punga que es una especie de ‘samba de roda’, con solo coreográfico, (...) Punga es también una especie de pernada de Maranhão: batida de pierna contra pierna para hacer caer al compañero, a veces el Tambor de Crioula termina con la punga dos homens.". Camara Cascudo, Luis da. Diccionario do Folclore Brasileiro.Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1972, p. 851. 423 Este carácter profano puede resultar paradójico cuando su manifestación se ejecuta como agradecimiento y promesa por las peticiones realizadas a San Benedito. Asimismo adquiere un aspecto religioso cuando se ejecuta dentro de un terreiro de Mina provocando el trance de los Voduns o Caboclos, Gentis, Orixás. 424 O Grupo 4 é formado pelos Mestres: PIRRITA; RUI; TIL; SOCÓ; GENEROSO. 425 O Grupo 5 é formado pelos Mestres: JORGE NAVALHA; CACÁ; PEDRO; CANARINHO; REGINALDO. 426 O Grupo 6 é formado pelos Mestres: MANOEL; LEITÃO; GAVIÃO; CM FORMIGA ATÔMICA. 427 O Grupo 1 é formado pelos Mestres: PATURI; CURIÓ; BAÉ; TUTUCA; e ROBERTO. 428 O Grupo 2 é formado pelos Mestres: MILITAR; NEGÃO; CM MÁRCIO; SENZALA; MARINHO. 429 O Grupo 3 é formado pelos Mestres: MIZINHO; SOCÓ; CM DIACOCM BUCUDA; NILTINHO.


Percebe-se que houve uma evolução no formato, quanto à organização formal dos grupos e núcleos de capoeira existentes, e os formados a partir de meados dos anos 80, no Novecento. Com a interiorização e internacionalização dos Grupos – no dizer de Lacé Lopes, ‘grifes de capoeira’ -, houve a necessidade de uma estrutura legalizada, com estatutos, registro junto aos fiscos federal, estadual, municipal, com obtenção de CNPJ, Alvará de Funcionamento e Inscrição Estadual. Passam a se constituir em empresas prestadoras de serviços, outras, associações esportivas, núcleos artesanais – confecção de uniformes, instrumentos – notadamente berimbaus, caxixis, atabaques, reco-reco... – e uma forte conotação social, de proteção à criança e ao adolescente. Continuam, apesar disso, com a ‘informalidade’ das Rodas de Rua... Concordamos com Almeida e Silva (2012) 430, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998) 431. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas432.

GENEALOGIA DE MESTRE SAPO

ANTONIO BEERRA BENEDITO

PASTINHA

ZECA

ABERRÊ

ARTUR EMÍDIO

CANJIQUINHA ZULU

PELE

JESSÉ LOBÃO

ROBERVAL SEREJO SAPO

PATINHO AÇOUGUEIRO 430

RAIMUNDÃO

ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e-mail: julazal@yahoo.com.br 431 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 432 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118


RUI PINTO

ALBERTO ALZAMOR

LEOCÁDIO

MANUELITO

PATURI

AUBERDAN

LUCIEL ALÔ

GENEALOGIA DE MESTRE RAIMUNDÃO

SAPO MIGUEL ARCANGELO RAIMUNDÃO

CURIÓ

SOCÓ

ALZAMOR MILITAR

BAE

MARCIO MULATO


GENEALOGIA DE MESTRE PATO

ROBERVAL SEREJO JESSÉ LOBÃO

SAPO

BARTÔ PATO MARCO AURELIO

PEZÃO FRED

BAMBA JORGE NAVALHA INDIO

PIRRITA

LEITÃO NELSON CANARINHO

CACÁ

DIACO

NEGÃO PEDRO

DOMINGOS DE DEUS

MADEIRA

NELSINHO

GAVIÃO

PUDIAPEN SILVIO

ARY

BOCUDA


GENEALOGIA DE MESTRE PATURI LEOCÁDIO

UBERDAN

MANUELITO

SAPO ALÔ PATURI EDI BAIANO

BAMBA (S (Salvador)

BAÉ GUDA

MILITAR ALZAMOR

CIBA

ROBERTO CURIÓ EVANDRO MIRINHO

MARCIO MULATO


“NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física

RESUMO Verifica-se a relação entre Capoeiras e Eleições no Maranhão, com a formação de ‘maltas’ que ora defendiam um ou outro partido, no período imperial. O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO”, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão

Jeronimo de Viveiros433 publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?” 434: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus435. Mario Meireles (2012)436 ao tratar da chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas resolviam suas questões com brigas nas ruas: enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira437. (p. 98).

433

Jerônimo de Viveiros (Maranhão, 1884 — São Luís, 29 de novembro de 1965), foi um professor e historiador maranhense. Foi membro da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a cadeira de nº 8. Filho de Jerônimo José de Viveiros e de Maria Francisca de Viveiros descendia de uma família de posses no Maranhão. Seus avós paternos foram o Barão e deputado provincial ,além de fidalgo e cavaleiro da Casa Imperial do Brasil, Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho e Mariana Francisca Correia de Sousa. E seu bisavô paterno foi o senador do Império do Brasil Jerônimo José Viveiros, sendo este filho de Alexandre José de Viveiros e de Francisca Xavier de Jesus Sousa. Foi demitido, pelo interventor do Maranhão Paulo Ramos em 1937, do cargo de catedrático de História do Liceu Maranhense. O mesmo procedimento adotou o prefeito de São Luís, Pedro Neiva de Santana que o demitiu das funções de Ajudante de Inspetor do Ensino Municipal. Dona Luiza Viveiros encaminhou carta ao ditador Getúlio Vargas e ao ministro da Justiça, Francisco Campos, relatando os abusos contra o marido, trancafiado na Penitenciária, sem direito a receber o seu advogado, que lutava para libertá-lo devido a debilidade de sua saúde. A insistência dela resultou na liberdade do esposo, após o que se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi admitido no corpo docente . do Colégio Pedro II OBRAS: História do Comércio do Maranhão, 3 vol. (1950); A Rainha do Maranhão; A ficha de Adelino Fontoura na Academia; Benedito Leite, um verdadeiro republicano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo_de_Viveiros 434 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205. 435 O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107. 436 MEIRELES, Mário. A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702). In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99 437 Pela data, 1702, cremos não ser ainda a Capoeiragem...


Jeronimo de Viveiros438 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847: A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... O cacetistas armava-se na casa do chefe...439.(Grifos meus).

MELLO, 2016

O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 440, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado 441 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro442 esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as

438

In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847 439 AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150. 440 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 441 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295, 442 Augusto Olímpio Gomes de Castro, mais conhecido por Gomes de Castro, (Alcântara, 7 de novembro de 1836 — Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1909) foi um promotor, escritor e político brasileiro. Filho do capitão Januário Daniel Gomes de Castro e Ana Francisca Alves de Castro. Casou-se com Ana Rosa Viveiros de Castro, filha do Barão de São Bento. Foi pai do ministro do Supremo Tribunal Federal Viveiros de Castro. Fez seus estudos secundários no Liceu Maranhense, concluídos em 1856, e formou-se em direito pela Faculdade de Direito do Recife em 1861. Foi membro da Academia Maranhense de Letras. Ficou à frente dos jornais a Situação (1864-1868), dirigindo o Tempo (1878-1881), e depois O Paiz, de 1882-1888. Foi filiado ao Partido Conservador. Foi promotor da cidade de Alcântara de 1862 a 1864, presidente da Câmara dos Deputados de 1887 a 1888, ministro da Marinha, senador durante o período 1909-1911 e presidente das províncias do Piauí, de 28 de agosto de 1868 a 3 de abril de 1869 e do Maranhão, de 28 de outubro de 1870 a 19 de maio de 1871, de 14 de outubro de 1871 a 29 de abril de 1872, de 4 de outubro de 1873 a 18 de abril de 1874, de 28 de setembro de 1874 a 22 de fevereiro de 1875, e de 7 de julho a 25 de julho de 1890. Deputado provincial de 1862 a 1863, 1868 a 1869, 1870 a 1872 e 1873 a 1877. Deputado geral de 1867 a 1868, 1869 a 1872, 1872 a 1875, 1877, 1882 a 1889. https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Ol%C3%ADmpio_Gomes_de_Castro


eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 443: Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento. Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaramse por atos de inaudita violência. Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos). Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX.

443

http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA &sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false


CAPOEIRA: DESENVOLVIMENTO E ASPECTOS HISTÓRICOS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhãoi Academia Ludovicense de Letras Vamos começar por duas citações: A Capoeira é essencialmente dialética e dinâmica; e por ser uma manifestação que se espalhou pelo mundo muito recentemente, recebe milhares de análises em seus diversos aspectos – teórico, técnico, didático, tático, filosófico etc. - e cada uma delas baseada na realidade de cada norteador de um trabalho (entenda-se: Mestre, Professor, Instrutor etc.). Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira. (Mestre Tuti (Gde. Fpolis, SC, Brasil) in Chamada na ‘Benguela’ -17/11/2011) 444·.

João Ubaldo Ribeiro afirma, sobre a Capoeira, que “o segredo da verdade é o seguinte: não existem factos, só existem histórias” 445·.

“Eduardo, como já vimos, era um jovem escravo vindo do Maranhão” (CUNHA, 2013, p. 101)

446

.

QUE CAPOEIRA ERA ESSA? 447, 448, 449 O Autor, ao analisar as ocorrências policiais havidas naquele inicio da capoeiragem em São Paulo – Capital e algumas cidades do interior – inicia seu trabalho com a análise de duas dessas ocorrências, uma, no ano de 1831, ocorrida no distante subúrbio do Brás, envolvendo ‘africanos capoeiras paulistas’ e ‘africanos capoeiras cariocas’, com estes desafiando aqueles para um confronto. O segundo caso, ocorreu entre os ‘pequenos do chafariz’, já na capital, no ano de 1864. Adão dos Santos Jorge – africano congo liberto - agride a Eduardo – preto escravo, quando se encontravam naquele local, caminho do centro para o subúrbio... Local de ajuntamento de pretos... Eduardo era escravo de Carlos Mariano Galvão Bueno – um advogado e professor na Escola de Direito, escritor e poeta conhecido, subdelegado de policia. O Autor nos chama atenção do fato de o agressor, Adão, ser africano livre, registrado no Livro de Matricula de Africanos Livres, dado que a lei de abolição do tráfico de cativos da África de sete de novembro de 1831 dava emancipação àqueles entrados após esta data, por força de convenções internacionais, para acabar com o tráfico no 444

To: capoeiranaescola@googlegroups.com Cc: fabiano caviquio ; Marcelo ; jeferson batista ramos ; capoeiramestrepop@gmail.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela' 445 Jorge Bento, citando João Ubaldo Ribeiro, in ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997, p. 7 446 CUNHA, Pedro Figueiredo Alves da. CAPOEIRAS E VALENTÕES NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO (1830-1930). São Paulo, Alamedara, 2013. 447 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UM CAPOEIRA MARANHENSE ENTRE OS ‘PEQUENOS DO CHAFARIZ’ – SÃO PAULO-SP, 1864. In REVISTA DO LÉO, 15, janeiro de 2019 (no prelo) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio UM CAPOEIRA PIAUIENSE CHEFE DE POLICIA NA CÔRTE. . In REVISTA DO LÉO, 15, janeiro de 2019 (no prelo) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio MENINO, QUEM FOI TEU MESTRE? . In REVISTA DO LÉO, 15, janeiro de 2019 (no prelo) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 449 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 448


Atlântico; mesmo assim, deveriam servir pelo prazo de quatorze anos a concessionários particulares ou a instituições públicas. No processo que se seguiu, Eduardo disse ser escravo “do pai de Paulino Coelho de Sousa, que se achava ausente desta cidade tendo ido para o Maranhão” 450. Então, deveria estar prestando serviços ao nominado Galvão Bueno. Com 24 anos de idade, disse ser filho de José e Sabina - escravos do mesmo senhor -, natural do Maranhão, sem ofício (p. 94). Em seu depoimento, disse que Adão “começou um jogo ou gritos de correr jogar capoeira com este declarante e soltou-lhe uma tapa nas costas...” (p. 94). Eduardo foi ferido com uma navalhada. Alegava o autor da agressão que o fizera por também ter sido ferido, em outro encontro – não com Eduardo – com duas anavalhadas no abdome. Eduardo avocou outros escravos, como sua testemunha da agressão que sofrera desafiado que fora por Adão. Todos frequentavam o chafariz de Miguel Carlos, e possivelmente fora para marcar território, demonstrando sua valentia, caso pretendesse dominar tal espaço; isso explicaria porque Adão “começou um jogo ou gritos de querer jogar capoeira” (p. 100).

https://www.google.com.br/search?biw=1920&bih=969&tbm=isch&sa=1&ei=PMztW5fFLITGwAS3krbwAw&q=rugendas+%2B+chafarizes&oq=rugendas+%2B+c hafarizes&gs_l=img.12...134530.140765.0.143128.37.18.0.0.0.0.0.0..0.0....0...1c.1.64.img..37.0.0....0.Hp1BshBj7Cw#imgrc=0WNpMwjol-YmXM: IN CUNHA, 2013, P. 97

Pedro Figueiredo Alves da Cunha pergunta-se: que capoeira era essa? Adão estava a conversar com outros negros, no chafariz, quando Eduardo chegou e passou a brincar com Adão jogando capoeira. Depois de ‘brincar”, pediu para parar; como não foi atendido, disse que ‘poria a navalha nele’. Adão achara uma navalha na rua – essa explicação que deu ao delegado – e Eduardo, com um pauzinho, passou a provoca-lo, dizendo que cortasse o mesmo com a navalha, para mostrar destreza. Acabou por ferir a Eduardo, só percebendo quando viu sangue em sua mão, cortando-lhe um dedo com a navalha... só depois viu que também o atingira no peito. Cunha chama atenção para o uso de pau, de navalha, e o uso de facas e navalhas, e de cacetes, pelos capoeiras; mais, que as autoridades deram pouca importância à prática da capoeira, em si, mas sim à desordem e agressão física, que ocorrera: se fosse na Corte, seria diferente, pois a capoeira era duramente reprimida. Diz ainda, o autor, que parecia haver um pacto de silencio quanto à prática da capoeira, por parte de todos os envolvidos: agressor, agredido e testemunhas, no sentido de não demonstrar a prática do jogo-luta. O uso de arma branca, o gestual, o uso de pau, faz lembrar, ao autor da tese, uma modalidade de luta que ocorria na África Central 450

Paulino Coelho de Sousa consta como aluno na Faculdade de Direito, no ano de 1863, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_02&pesq=Paulino%20Coelho%20de%20Sousa&pasta=ano%2 0186


denominada ‘cafuinha’, caracterizada como um ritual, de demonstração de valentia, com o uso de armas brancas, que exigia habilidade corporal, com uso de saltos, acompanhado por pancadas (percussão), berrarias (canto) e assobios, muito próximo à capoeira que se descrevia, como praticada em São Paulo, àquela época. Eduardo, nascido no Brasil, também dominava o gestual de demonstração de valentia, naquilo que se denominava capoeira. Soares (2002, A capoeira escrava) 451, assinala que a década de 1830 foi caracterizada por um agravamento das ações desses indivíduos (os capoeiras), pois ‘ao invés de pequenos grupos furtivos, típicos da era joanina [...] agora grandes maltas se embatiam diretamente com o repressor’(CUNHA, 2013, p. 46-47). Referindo-se ao primeiro episódio, do enfrentamento de ‘capoeiras cariocas’ e ‘capoeiras paulistas’, Cunha (2013) coloca que estes deveriam usar reminiscências de suas terras de origem para criar estratégias de domínio espacial. O desafio fazia parte de um jogo de demonstração de valentia, com seus rituais e símbolos próprios, “ecos específicos” de um passado africano. Dentre estes símbolos podem estar os ‘barretes vermelhos’, usados pelos líderes dos capoeiras paulistas, pois o uso de barretes, chapéus e fitas de cor, em especial nos tons vermelho, amarelo e branco, entre capoeiras, têm registro desde a primeira década do século XIX. Esses ornamentos eram geralmente exibidos como sinal de distinção de determinados grupos, servindo ainda para marcar domínio de uma determinada área. Da mesma forma, o uso de assobios e assuadas eram formas de desafiar os oponentes, estratégia que ressoava de forma especial entre grupos africanos. Como a cabeçada, o assovio se tornou uma faceta exclusiva da capoeira escrava carioca (Soares, 2002). Ao analisar estes dois casos, Cunha (2002) afirma que:

A capoeira foi desenvolvida no Brasil por africanos, inicialmente que reproduziram ou adaptaram estratégias de vivencia e sobrevivência de suas terras de origem, dentro de um processo de troca de saberes com iguais e desconhecidos através do ‘fluxo e refluxo’ interno, proporcionado por atividades comerciais ou mesmo de tráfico dentro do Brasil. (p. 59).

Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro foi considerada: “Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta”:

Expressão brasileira surgida nos guetos negros há mais de um século como forma de protesto às injustiças sociais, arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta, a capoeira foi reconhecida como patrimônio imaterial da cultura brasileira. A decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi concretizada terça-feira (15) [de julho de 2008] no Palácio Rio Branco, em Salvador (BA).452

sendo definida como uma arte multidimensional, um fenômeno multifacetado - ao mesmo tempo dança, luta, jogo e música - que tem na roda o ritual criado pelos capoeiristas para desenvolver esses vários aspectos. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança. Por Capoeira deve-se entender “indivíduo (s) ou grupos de indivíduos que promoviam acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno”? (p. 65), conforme a conceitua Araújo (1997) 453, ao se perguntar “mas quem são os capoeiras?“; e por “capoeiragem” como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que 451

SOARES, Carlos Eugênio Libano. A CAPOEIRA ESCRAVA E OUTRAS TRADIÇÕES REBELDES DO RIO DE JANEIRO (1808-1850). 2 ED. Campinas: Editor da UNICAMP, 2002. 452 Capoeira é registrada como patrimônio imaterial brasileiro - África 21 - Da Redação - 16/07/2008 http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 453

ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. Maia: Instituto Superior de Maia, 1997. Série Estudos e Monografias.


praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70). Ou devemos entendê-la como: Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira);

assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a

“... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40).

Considera-se como prática do desporto formal da Capoeira sua manifestação cultural sistematizada na relação ensino-aprendizagem, havendo um ou mais docentes e um corpo discente, onde se estabelece um sistema de graduação de alunos e daqueles que ministram o ensino, havendo uma identificação indumentária por uniformes e símbolos visuais, independentemente do recinto onde se encontrarem. Considera-se como pratica desportiva não-formal da Capoeira sua manifestação cultural, sem qualquer uma das configurações estabelecidas pelo Artigo anterior, e que seja praticada em recinto aberto, eminentemente por lazer, o que caracterizará a liberdade lúdica de seus praticantes.

Capoeira – “jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuqueboi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade.” (Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore) 454

Do Atlas do Esporte no Brasil455:

“Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África 454

CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. DaCOSTA, Lamartine (Org.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br

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bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica.” (Sergio Luiz De Souza Vieira In DaCOSTA, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.44-1.45)

“Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ” uma luta dramática”(in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388). “CARIOCA” - uma briga-de-rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu ‘a capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX. Para a capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte. CAPOEIRA ANGOLA - a proposta explícita da capoeira Angola é tradicionalista, no sentido de manter, o quanto possível, os “fundamentos” ensinados pelos antigos mestres. Está intimamente ligada a figura de Mestre Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha -; aprendeu a capoeira antes da virada do século XIX (nasceu em 1889) com um velho africano. CAPOEIRA REGIONAL - é a partir do final da década de 1920 que Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado – desenvolveu na Bahia a sua famosa capoeira Regional, que, apesar do nome, foi a primeira modalidade de capoeira a ser praticada em todo o Brasil e no exterior. Bimba partiu de uma crítica da capoeira baiana, cujo nível técnico considerava insuficiente, sobretudo se confrontado com outras lutas e artes marciais, que começavam a ser difundidas então no Brasil. CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA – o panorama da capoeira no Brasil e no exterior se tornou de tal maneira complexa que é impossível, atualmente, distinguir apenas a capoeira Angola e a Regional, pois surgiram estilos que se pretendem intermediários e que têm sido denominados de “Contemporânea” ou mesmo “Angonal”: - CONTEMPORÂNEA – é a denominação dada por Mestre Camisa a capoeira praticada no Grupo Abadá, com sede no Rio de Janeiro; - ANGONAL – neologismo que representa uma tendência na capoeira atual que funde elementos da Capoeira Angola com a Capoeira regional, criando um estilo intermediário entre essas duas modalidades; é, também, o nome de um grupo, do Rio de Janeiro – Mestre Boca e outros; - ATUAL – denominação que seria usada por Mestre Nô de Salvador, para designar esta terceira via (Vieira e Assunção, 1998).


Para Mestre Gil Velho456, ainda hoje muito se discute sobre as origens da capoeira, com as perspectivas do debate atreladas aos diversos discursos que vestem sua imagem moderna, a esportiva:

“Parte-se de ideias construídas, e não de práticas sociais espontâneas. Assim, a capoeira carioca está historicamente imbricada às maltas de capoeiras da cidade e à “filosofia da malandragem carioca” dos anos 1800. A baiana, por sua vez, está ligada à cultura negra baiana e especificamente ao candomblé. No Recife, ela se manifesta nas gangues de rua Brabos e Valentões.

Esse autor considera que para a análise da essência da capoeira, tem-se que voltar no tempo e considerar o contexto da realidade sociocultural de espaços com registros identitários e territoriais dela, destacando-se dois loci: Rio de Janeiro e Recife. Estes dois centros urbanos eram, no século XIX, os maiores pontos de comunicação com o resto do mundo, onde mais circulava gente, ideias, comércio. As zonas portuárias permitiam a troca de ideias entre nichos socioculturais semelhantes. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira457, e em Recife, com as gangues de rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês)458 em Paris e das maltas de fadistas459 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos:

Por outro lado, as perspectivas identitárias e territoriais próprias dão a cada movimento sua sóciofronteira, com espaços personalizados dos atores em seus próprios contextos sócio-culturais. A capoeira marca sua presença em grupos de sócio-fronteiras a partir de meados do século XIX, no Rio de Janeiro com as maltas e no Recife com as gangues. Nessas cidades, os grupos disputavam os espaços demarcados identitariamente e tinham suas próprias manifestação

Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. Letícia Vidor de Souza Reis460, baseada em Câmara Cascudo, afirma que o "batuque baiano" era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana461: Em entrevista ao Jornal Diário da Bahia, na sua edição de 13 de março de 1936 462, na matéria: “Titulo Máximo da Capoeiragem Bahiana”, Bimba, dá uma longa entrevista acerca de seus desafios públicos na divulgação da chamada 456

Gil Cavalcanti, o Mestre Gil Velho, geógrafo, é coordenador do Projeto Memorial da Capoeira Pernambucana, do Programa Capoeira Viva, do Ministério da Cultura, 2008 457 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 458 O Savate ou boxe francês, é um desporto de combate, desenvolvido na França na qual os pés e as mãos são utilizados para percutir os adversários e combina elementos de boxe com técnicas de pontapé. Um praticante de savate é chamado savateur e uma praticante de savate é chamada savateuse. http://pt.wikipedia.org/wiki/Savate VER: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “Chronica da Capoeira(gem): O “Chausson/Savate” influenciou a Capoeira?”.in PAPOÉTICO 29 de setembro de 2011, debate ocorrido no Sebo do Chiquinho, promovido pelo jornalista Paulo Melo. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 459

SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf 460 REIS, Letícia Vidor de Sousa. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR: A CAPOEIRA NO BRASIL. 2. ed. São Paulo: Publisher Brasil/ FAPESP, 1997. v. 1. 461 in http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf


Luta Regional. Da mesma destacamos o seguinte trecho: “Falando sobre o actual movimento d’aquele ramo de lucta, genuinamente nacional uma vez que difere bastante da Capoeira d’angola, o conhecido Campeão (Bimba) referindose a uma nota divulgada por um confrade matutino em que apparecia a figura do Sr. Samuel de Souza. Do Bimba, de referência aos tópicos ouvimos: Ao som do berimbau não podem medir forças dois capoeiras que tentem a posse de uma faixa de campeão, e isto se poderá constatar em Centros mais adiantados, onde a Capoeira assume aspectos de sensação e cartaz. A Polícia regulamentará estas exibições de capoeiras de acordo com a obra de Aníbal Burlamaqui (Zuma) editada em 1928 no Rio de Janeiro... . Nesta reportagem existem alguns itens que merecem uma atenção mais detalhada: (a) A confirmação da influencia de Zuma no trabalho implantado por Mestre Bimba; (b) O reconhecimento de Bimba ao trabalho de Zuma; (c) A afirmação de Bimba existia Centros mais adiantados em Capoeira que a Bahia, no caso, a Cidade de Rio de Janeiro; (d) O interesse de Bimba pela prática desportiva da “Luta Nacional”; (e) A integração de seu discípulo nesta inovação; (f) A adoção do regulamento de Zuma pela direção do Parque Odeon, onde se realizavam tais apresentações; (g) A liberação pela polícia, daquela forma de luta já existente no Rio de Janeiro.

A afirmação traz um significado especial por tratar do batuque baiano na formação de Mestre Bimba, da qual seu pai era campeão na modalidade, porque implicava num jogo agressivo de pernas contra as pernas do oponente, já como uma forma característica de luta acompanhada por cânticos e instrumentos. Também há apontamentos de que o batuque se disputava entre "pernadas" durante os carnavais cariocas463. Quanto a Anibal Burlamaqui - Zuma464 - foi um importante inventor desta nova capoeira carioca e afirmou que vários golpes foram extraídos dos “batuques” e “sambas”, como no caso do “baú”. Trata-se de um golpe dado no adversário com a barriga, sendo similar aos movimentos do “samba de umbigada”. O “baú” também era usado durante os “batuques lisos”, segundo Zuma, os mais delicados. O “rapa” havia sido um golpe usado nos “batuques pesados”. Ele também explica os golpes de “engano”, que serviam somente para burlar o adversário .465 Fregolão (2008) 466 considera que toda a pluralidade cultural imbricada na constituição destes elementos pode significar manifestações culturais diferentes, conforme a região em que ocorrem. Mestre André Lacé467, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas europeias e asiáticas468.

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(Fonte: Rego, op. cit., 1968. pág. 282 e 283; Diário da Bahia. Salvador 13 de março de 1936; Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural - Prof. Dr. Sergio Luiz de Souza Vieira - PUC/SP 2004) 463 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008 disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 464

http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf - A Capoeira Desportiva é o mais antigo segmento organizado da Capoeira. Surgiu no Rio de Janeiro após a Proclamação da República, no Brasil, em 1889. É resultante do reaproveitamento da corporalidade da antiga capoeiragem, em seus gestos e movimentos, para a construção de um método ginástico caracterizado por uma forma de luta sistematizada. Em 1904 surgiu um livreto anônimo, sob o nome: Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira, com algumas propostas deste reaproveitamento, no qual se encontram as letras ODC, que significam “ofereço, dedico e consagro”, no caso “à distinta mocidade”. Foi somente em 1928 que a Capoeira Desportiva foi metodizada e estruturada por seu precursor, Annibal Burlamaqui, conhecido pelo nome de Zuma, o qual elaborou a primeira Codificação Desportiva da Capoeira, sob o título de: Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada. Sua obra. 465 http://4.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SWfpDlAQZ6I/AAAAAAAAC68/mfXW2md8_IM/s1600-h/punga.gif, in Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA 466 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009, disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 467

LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro,2004


O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira.469 Para Lacé Lopes (2006) 470, a origem africana, entretanto, é evidente e incontestável. Comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares. O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc.471 – sem dúvida, é um bom exemplo. O mesmo raciocínio pode ser ajustado ao berimbau africano, instrumento musical que, no Brasil, acabou fortemente associado ao jogo da capoeira. Cada vez menos, mestres de capoeira e pesquisadores tendem a divergir quanto a esses aspectos. Da mesma forma que está surgindo um consenso sobre a utilização do nome “capoeira” para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo: berimbau, pandeiro, caxixi, reco-reco, agogô, atabaque), e a utilização do nome “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual, no máximo, batiam-se palmas e cantavam-se versos curtos (samba duro, pernada carioca etc.). Já em Portugal encontrou-se o chamado fado batido, que surgiu no início do século XIX como dança de umbigadas semelhante ao lundu. Popularizou-se primeiro no Rio de Janeiro e depois na Bahia. Na década de 1830, já existiam em Lisboa inúmeras casas de fado, onde moravam as fadistas, jovens que cantavam, tocavam e "batiam" o fado num ambiente de bordel. Por volta de 1840, o canto ganhou especial importância, o que parece haver coincidido com a substituição da viola pelo violão472. José Ramos Tinhorão (2001), no capítulo "Os negros na origem do fado-canção em Lisboa" revela ter havido rodas de fado que funcionavam como as rodas de pernada dos crioulos do Brasil: era o chamado ‘fado batido’, clara referência à antiga umbigada africana e em que um dançarino ‘batia’ (aplicada a pernada) e o outro ‘aparava’ (procurava neutralizar o golpe para não cair).473 Fregolão (2008) 474 informa que na página 61 dos Códigos de Posturas da Câmara Municipal da cidade de Desterro [Florianópolis], de 10 de maio de 1845 no artigo 38 há a proibição dos ajuntamentos de escravos ou libertos para formarem batuques, sob pena de castigos conforme a lei para os cativos e para os libertos multa ou cadeia. O código de posturas da cidade de Salvador proibia "os batuques, danças e ajuntamentos em qualquer hora e lugar sob pena de prisão". A expressão "batuque", repleta de significados, podia representar diversas expressões culturais. Câmara Cascudo registra por "Batuque" a dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro "quando entra gente mais asseada". Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile. De uma descrição de um naturalista alemão, em visita às Gerais, em 1814/15, ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 468 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 469 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 470

LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 471 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 472 http://www.casadobacalhaupb.com.br/v2/fado.php, referencia de Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA 473

TINHORÃO, José Ramos. HISTÓRIA SOCIAL DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA. Rio de Janeiro: Editpora 34, 2001, disponiverl em http://books.google.es/books?id=8qbjll0LmbwC&printsec=frontcover&source=gbs_v2_summary_r&cad=0#v=onepage&q=&f =false 474 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf


Edison Carneiro475 ao fazer uma espécie de etimologia do batuque, cita que Macedo Soares considerava a palavra produto do verbo bater, mas cita também

“Esta palavra, na sua acepção mais lata no Brasil, aplica-se ao conjunto de sons produzidos por instrumentos de percussão, em especial se considerados desarmônicos ou ensurdecedores. Também em sentido lato, a toda e qualquer dança ao som de atabaques dá-se, depreciativamente, o nome de batuque. Especificamente, batuque designa um jogo de destreza da Bahia, uma dança de umbigada de São Paulo – que se filia ao batuque africano – e dois tipos de cultos de origem africana correntes na região amazônica e do Rio Grande do Sul.” José Ramos Tinhorão (1988) 476 aponta para o problema do uso genérico do termo batuque: Na verdade, tal como o exame mais atento das raras informações sobre essas ruidosas reuniões de africanos e seus descendentes crioulos deixa antever, o que os portugueses chamaram sempre genericamente de batuques não configurava um baile ou um folguedo, em si, mas uma diversidade de práticas religiosas, danças rituais e formas de lazer. Com o nome de "batuque" ou "batuque-boi" há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola.

BATUQUE - Johann Moritz Rugendas (Augsburg, 29 de março de 1808 — Weilheim, 29 de maio de 1858) foi um pintor alemão que viajou por todo Brasil durante 1822-1825 e pintou povos e costumes. Date 1822-1825. Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA

É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos): a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando 475 CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro:O Autor, 1950.Citado por FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. 476 TINHORÃO, José Ramos. OS SONS DOS NEGROS NO BRASIL: CANTOS, DANÇAS, FOLGUEDOS: ORIGENS. São Paulo: Art Editora, 1988.


as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar à posição primitiva.

Augustus Earle “Negroes fighting. Brazils” (Nègres combattant. Brésils) aquarelle sur papier, 16.5x25.1 cm, date approximative 1821...1823

Catunda (1952) 477 ressalta que na capoeira baiana [...] Não é como a capoeira carioca, na qual um dos comparsas se mantém imóvel, em atitude de defesa, enquanto só o outro ataca, dançando em volta do inimigo, assestando-lhe golpe sobre golpe. Em comentário de pé-de-página consta o seguinte: “A descrição da capoeira do Rio relembra a do batuque ou da pernada carioca por Edison Carneiro 1950 478, [...] Edison Carneiro descreveu a capoeira bahiana em Negros Bantus em 1938”. Câmara Cascudo479 informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o "rei da pernada carioca"; é o bate-coxa das Alagoas. Em “Dinâmica do Folklore” (1950) Edson Carneiro480 afirma que o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário - a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada - nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... No verbete "punga", Câmara Cascudo481 se refere à dança popular no Maranhão, capital e interior; que é a mesma "dança do tambor". A punga é também chamada "tambor de crioula". Há também referencia a grafia "ponga", que como se sabe é um jogo. Crê que punga é um termo em uso apenas no Maranhão e significa, na dança em questão, a umbigada, a punga. A punga seria uma dança cantada, mas sem versos próprios, típicos. Geralmente são improvisados na hora, quando as libações esquentam a cabeça e despertam a "memória" do "tiradô" de versos. 477 CATUNDA, Eunice, Capoeira no Terreiro de Mestre Waldemar, Fundamentos—Revista de Cultura Moderna, nº30, São Paulo, 1952, pp. 16–18. 478

CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro: O Autor, 1950 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972 480 http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629 481 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972 479


Após descrever o que seria a dança do tambor-de-crioula, informa que pong provirá do tupi “soar, bater, ou antes, soar por percussão. "O que fervia era o lundum, e estalavam as umbigadas com o nome de "pungas"" (p. 742-743). Remete a Tambor:

"... mas a autonomia dos tambores indígenas e sua existência pré-cabralina parecem-me indiscutíveis no Brasil. Dança do Tambor, Tambor-de-Mina, Tambor-de-Crioulo. As danças denominadas "do Tambor" espalham-se pela Ibero-América. No Brasil, agrupam-se e são mantidas pelos negros e descendentes de escravos africanos, mestiços e crioulos, especialmente no Maranhão. [grifos meus]. Conhece-se uma Dança do Tambor , também denominada Ponga ou Punga que é uma espécie de samba, de roda, com solo coreográfico, e os Tambor-de-Mina e Tambor-de-Crioulo, [chamo atenção novamente para a grafia, em masculino], série de cantos ao som de um ferrinho (triangulo), uma cabaça e três tambores, com danças cujo desempenho ignoro." (p. 850-851). O lundu ou lundum482 é um gênero musical contemporâneo e uma dança brasileira de natureza híbrida, criada a partir dos batuques dos escravos bantos trazidos ao Brasil de Angola e de ritmos portugueses. Da África, o lundu herdou a base rítmica, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, os rebolados e outros gestos que imitam o ato sexual. Da Europa, o lundu, que é considerado por muitos o primeiro ritmo afrobrasileiro, aproveitou características de danças ibéricas, como o estalar dos dedos, e a melodia e a harmonia, além do acompanhamento instrumental do bandolim. O lundu veio para o Brasil com os negros de Angola, por duas vias, passando por Portugal, ou diretamente da Angola para o Brasil. Informa o ilustre pesquisador, ainda, que uma missão cultural colheu exemplos das músicas utilizadas tanto no Tambor-de-Mina quanto no de Crioulo, em 1938. Estão ligados esses tambores-de-mina-e-de-crioulo às manifestações religiosas dos "terreiros", ao passo que:

"... a punga (dança e batida) parecem alheias ao sincretismo afro-brasileiro na espécie... o Tambor-deCrioula é o Bambelô do Maranhão, mas com a circunstância de que só dançam as mulheres. Passa-se a vez de dançar com a punga, que é um leve bater de perna contra perna. Punga é também espécie de pernada do Maranhão: batida de perna contra perna para fazer o parceiro cair.. às vezes o Tambor-deCrioula termina com a punga dos homens.". (p. 851).

Por "Punga", registra: jogo ginástico, brincadeira de agilidade, entre valentões, malandros e capadócios. É uma simplificação da capoeira... Sua descrição, assemelha-se à da "punga dos homens", do Tambor-de-Crioulo(a) (p. 709). Já "bambelô" é descrito como samba, côco de roda, danças em círculo, cantada e acompanhada a instrumentos de percussão (batuque), fazendo figuras no centro da roda um ou dois dançarinos, no máximo. O ético é o vocábulo quimbundo mbamba, jogo, divertimento em círculo (p. 113). Soares (2005) 483, em “Capoeira no Pará: resistência escrava e cultura popular, 1849-1890”, ao referir-se a acontecimentos na Corte, compara-o à situações vividas em Belém, no ano de 1849. Refere-se, mais adiante, a recente trabalho de Vicente Salles (A defesa pessoal do negro: a capoeira no Pará, 1994) 484 que revela a antiguidade da capoeira paraense, seu enraizamento, sua proximidade com a capoeira praticada no Rio de Janeiro e Bahia, e sua peculiaridade regional. Soares (2005) 485, se referindo a acontecidos nos anos de 1890, discorre:

482 http://pt.wikipedia.org/wiki/Lundu 483

SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160. 484 SALLES, Vicente. A DEFESA PESSOAL DO NEGRO: A CAPOEIRA NO PARÁ. Micro-edição do autor, 1964, citado por SOARES, 2005, op. Cit. 485 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160.


“Sintomático também em Belém, muito precocemente, também fosse palco da Carioca, como nos mostra ofício […] descreve uma patrulha na região de Ver-O-Peso: ‘estive em patrulha […] quando vimos alguns individuos pulando jogando carioca.” 486 Para Albuquerque487, o êxito da economia paraense atraiu para a região amazônica, entre 1890 e 1910, trabalhadores nordestinos e imigrantes europeus, principalmente portugueses. A interação entre esses trabalhadores levou à incorporação pela capoeira paraense de armas próprias às lutas portuguesas, assim como golpes e hábitos dos capoeiristas baianos, cearenses e pernambucanos. No Rio de Janeiro, essa convivência entre negros, imigrantes pobres e migrantes de diversas regiões do país nas ocupações braçais, principalmente na estiva, ampliou, ainda mais, os tipos sociais que praticavam capoeira. Entre os praticantes estavam portugueses, espanhóis e italianos que trabalhavam no porto, operários nordestinos, soldados, brasileiros brancos e pobres. Não eram apenas os negros que podiam ser facilmente identificados como capoeiras pelo andar gingado, as calças de boca larga e a argolinha de ouro na orelha, sinais de valentia. Soares (2005) considera que a repressão desencadeada em 1890, a criminalização no novo código penal da República, teria obrigando os praticantes a encontrar novas formas de dissimulação, para ocultar-se da atenção das autoridades. Nos últimos anos do século XIX, no Rio de Janeiro teria aparecido a chamada Pernada Carioca, que consistia de golpes da capoeira tradicional, como a rasteira, camuflados em nova roupagem. Miltinho Astronauta, ao referir-se à Pernada de Sorocaba488, na Capital Paulista, e à outra "espécie de capoeira", a Tiririca, comenta que, aparentemente, com a repressão de algumas manifestações (ai inclui-se a Capoeira, o Batuque e até mesmo a Religião Candomblé), o povo era obrigado a mascarar suas práticas, mudando formas de execução e nome de tais práticas. Refere-se ainda ao Folclorista Alceu Maynard Araújo (1967) que relata que foi encontrada capoeira no interior paulista entre o final do século XIX e início do século XX. Trata-se de levas de capoeiras soltas nas pontas dos trilhos da Sorocabana, que tinha como destino final a cidade de Botucatu. Na verdade eram capoeiras desterrados do Rio em consequência do Código Penal de 1890 489. Na Bahia, o batuque era o escalão inicial para a capoeira; no Rio de Janeiro, era e é a pernada, banda ou batuque a forma de ataque e defesa preferida pelo carioca; no Maranhão, a punga, associada ao tambor-de-crioula, parece preencher a mesma função. Já no Recife, a capoeira, desaparecida em consequência de vigorosa reação policial, se transfigurou no passo.490 Soares (2005) 491 considera que a identificação da ‘capoeira’ como ‘carioca’, simplificação de ‘pernada carioca’ acontece pela dissimulação dos praticantes para fugir aos rigores da repressão do chefe de polícia Sampaio Ferraz, quando da criminalização da prática da capoeira, pelo Código de 1890. Gil Velho coloca que a capoeira do século XIX morre com o advento da República. Inimiga da capoeira, ela chega com uma proposta de reformas sociais e urbanas, criticando a organização e a expressão popular da sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à mestiçagem étnica e cultural. Sua proposta alternativa seria baseada no modelo cultural europeu republicano – e positivista - e qualquer coisa que estivesse fora desses princípios era desconsiderada: Essas mudanças alteraram os nichos e a geografia culturais da cidade. Espaços de expressões culturais foram perdidos, desarticulando a forma de organização urbana e quebrando a dinâmica interativa das comunidades que a compunham. Assim, com a alteração de elementos essenciais do contexto social da capoeira, o processo que a

486

(AE. Secretaria de Segurança Pública. Autos-Crimes, 22/09/1892). ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL, nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa Internacional FICA el 8/19/2009, disponível em http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.pdf 488 CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Pernada de Sorocaba. In JORNAL DO CAPOEIRA, 29 de outubro de 2004, disponível em http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=3 489 MILTINHO ASTRONAUTA, CAPOEIREIRO Capoeira, Pernada & Tiririca na Terra da Garoa in http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=713 487

490

CARNEIRO, Edison in Folguedos Tradicionais disponível em http://www.capoeirainfos.org/ressources/textes/t_carneiro_capoeira.html 491 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160.


personalizava se alterou. Desaparecidas, as maltas são substituídas pela solitária figura do malandro. Malandro é um indivíduo e a malta, um grupo social. [...] “(CAVALCANTI, 2008) 492.

Negros que vão levar açoutes Briggs del. Litho. R.B. Rua do Ouvidor nº 118. Source: Biblioteca Nacional, acervo de gravuras sobre escravatura

492

CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica


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