REVISTA DO LÉO 23.1 - AGOSTO - 2019 - EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

"INSERIR O NOVO NO VELHO, SEM MOLESTAR RAÍZES"

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 23.1 – AGOSTO – 2019 - EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

Capa Fotos de Sapo e Roberval Serejo, em demonstração de Capoeira Mestres-alunos do Curso de Capacitação de Mestres Capoeiras do Maranhão, no dia do início das aulas, na UFMA, com coordenadores, professores. 2017

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

2017 VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017

2018 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018

https://issuu.com/…/docs/3ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201


2019 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019

VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL:AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE


EDITORIAL A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Minhas publicações sobre a Capoeiragem tiveram início ainda nos anos 1990... Aparecem no Atlas do Esporte no Brasil1, coordenador/editado por DaCosta (2006), e no Atlas do Esporte no Maranhão, editado/coordenado por mim (2014)2; por cerca de 10 anos mantive um Blog no sitio da Mirante/Rede Globo G1/Esporte, retirado recentemente do ar, e de então iniciei a publicação do arquivo – das publicações – daquele sitio em um veiculo de difusão próprio – a Revista do Léo, até o momento com 23 numeros publicados, além de QUATRO edições especiais – esta será a quinta, das dedicadas... Aqui, replicarei os artigos publicdos em algumas revistas dedicadas – ou não. A primeira delas, a REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, edição eletrônica, editada por mim, poir cerca de 10 anos, semestral. Revista do Departamento de Educação Física do hoje IF-MA (antigo CEFET-MA, antes ETFM). www.cefet-ma.br revista Nova Atenas Por cerca de três anos, colaborei com o JORNAL DO CAPOEIRA, editado,por Miltinho Astronauta desde Sorocaba... www.capoeira.jex.com.br; os artigos e crônicas publicados estarão disponibilizados, também, neste edição... Artigos publicdos, também, na revista eletrônica EDUCACION FÍSICA Y DEPORTES, editada por Túlio Gutman, desde Buenos Aires, Argentina... www.efdeportes.com Tamém das revistas eletrônicas do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, das 14 edições em que fui seu editor - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm -, e da ALL EM REVISTA, da qual sou, também, editor - https://all.slz.br/all-em-revista/ -Além, é claro, da REVISTA DO LÉO, eletrônica... Vários desses artigos foram apresentados em duversos Congressos e encontros científicos, no Maranhão, e fora dele, alguns internacionais... Em cadaum desses eventos apresentou-se uma versão diferente para os artigos aqui apresentados, desde a sua primeira publicação, aperfeiçoando a apresentação, com acrescismos, revisões, e supressões de fatos, adequando-os à atividade da qual foi apresentado. Assim, embora repetitivo – ou repetidos – cada versão tem a sua peculiaridade, singularidade e se constitui material ‘novo’. Aqui, colocarei parte de meu livro, disponibilizado na nuvem: CRONICA DA CAPOEIRAGEM, em sua 1ª edição - https://issuu.com/home/published/cronica_da_capoeiragem_-_issuu , e segunda edição revista e ampliada https://issuu.com/home/published/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g - já com mais 100.000 acessos!!!. Tenho defendido, em meus escritos, a singularidade da capoeiragem – assim mesmo!!! – praticada no Maranhão, mesmo nominando-a de “Capoeiragem Tradicional Maranhense”, após ampla pesquisa feita junto aos mais importantes e antigos Mestres (e Contramestres...) atuantes, e que participaram do Curso de Formação de Mestres Capoeira, promovidos pela UFMA, em 2017. Naquele curso, ministrei a disciplina “Historia e Desenvolvimento da Capoeira(gem)”... Além do material – parte dele já disponibilizado em diversas publicações, e replicadas na edição anterior – REVISTA DO 22.1, julho de 2019 – edição especial: Capoeiragem Tradicional Maranhense, disponível em https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed , abodei a História da Capoeira e 1

http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-brasil/ http://cev.org.br/biblioteca/capoeira-2/ http://cev.org.br/biblioteca/cluster-esportivo-sao-luis-maranhao-1860-1910/ 2 http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ http://cev.org.br/biblioteca/cluster-esportivo-sao-luis/ http://cev.org.br/biblioteca/tambor-de-crioulo-a/ http://cev.org.br/biblioteca/tradicoes-capoeira-capoeiragem-maranhao/ http://cev.org.br/biblioteca/box-tributo-mestre-sapo/ http://cev.org.br/biblioteca/capoeria-outras-cidades/


seu desenvolvimento, resgatando-lhe a memória. Replicarei alguns dos artigos, agora, neste edição, além de procurar justificar minhas escolhas, no que serefere ao uso do termo ‘capoeiras’, ‘capoeiras primitivas’, e buscando a origem da capoeiragem praticada no Maranhão, anterior à chegada de Sapo e mesmo Serejo... Como venho colocando, a capoeiragem praticada no Maranhão é tão, ou mais, antiga do que aquelas praticadas em Salvador, Reconcavo baiano, Rio de janeiro e Recife. Quando a maioria dos pesquisadores que tratam dessa trajetória publicou seus estudos, quando muito se referiam apenas a estes três centros, e só recentemente, incluindo São Paulo – aparece já na década de 1830... – esquecendo-se do Maranhão, São Luis... Entrando na Roda...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO

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MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER: Capoeiragem no/do maranhão REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA A INTRODUÇÃO DO ESPORTE (MODERNO) EM MARANHÃO – A CAPOEIRA - Volume 05, Número 01, jan/jun/2002 ARTUR EMÍDIO E A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO - Volume 9, Número 01, jan/jun/2006 PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO (A) “PUNGA DOS HOMENS” Volume 09, Número 02, jun/dez2006 TAMBOR-DE-CRIOULO (A) - MARCO AURÉLIO HAICKEL - Volume 09, Número 02, jun/dez2006

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OS HOLANDESES E OS PALMARES: Nassau atacou os Palmares! - Volume 09, Número 02, jul/dez/2006 A CAPOEIRA NO/DO MARANHÃO: ALGUMAS QUESTÕES PARA REFLEXÃO - Volume 10, Número 01, jan/jun/2007 CAPOEIRA/CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Volume 10, Número 02, jul/dez/2007 CAPOEIRA(GEM) EM SÃO LUIS DO MARANHÃO – NOVOS ACHADOS... Volume 11, Número 01, jan/jun2008 JORNAL DO CAPOEIRA CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO - Parte II - AFINAL, O QUE É CAPOEIRAGEM? QUAL CAPOEIRA? – JUNHO 2005 CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO - Parte IV - CAPOEIRA ANGOLA CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO - Parte V - "CAPOEIRA REGIONAL" CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO - Parte VI - A CAPOEIRA "CARIOCA" PUNGADA DOS HOMENS & A CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO - MESTRE BAMBA, do Maranhão - 30.Julho.2005 NOTAS SOBRE A CAPOEIRA EM SÃO LUIS DO MARANHÃO - Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005 NOTAS SOBRE A PUNGA DOS HOMENS - CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005 EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE JIU-JITSU NO MARANHÃO - Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005 O QUE É A CAPOEIRA? Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 CAPOEIRAGEM E A GUARDA NEGRA : PARTE I - Edição 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005 CAPOEIRAGEM, GUARDA NEGRA & ISABELISMO : PARTE II Edição 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005 CAPOEIRAGEM, GUARDA NEGRA & O FUZILAMENTO DO DIA 17 :: PARTE III - Edição 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005 CONVERSANDO COM ANTÔNIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS, O MESTRE PATINHO Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 SOBRE A MATÉRIA "SEGREDO NÃO É PRA QUALQUER UM", JUCA REIS & FERNANDO DE NORONHA Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 ATLAS DAS TRADIÇÕES & CAPOEIRA E CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO – Edição 64 – março 2006 FERNANDO DE NORONHA & ATLAS DA CAPOEIRA MARANHENSE - Edição 64 – março 2006 OS HOLANDESES E OS PALMARES< NASSAU ATACOU OS PALMARES! Edição 71 - de 30/Abril a 06/Maio de 2006 A CAPOEIRA NOS CONGRESSOS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA – EDIÇÃO 73, MAIO 2006 O VÔO DO FALCÃO: Mudanças de paradigma no ensino da Capoeira? - Edição 74 - de 21 a 27 de Maio de 2006 CAPOEIRA, MARANHÃO & AGARRE MARAJOARA EDUCACION FÍSICA Y DEPORTES O ‘Chausson/Savate’ influenciou a capoeira? Crónica de la capoeira (GEM). ¿El ‘Chausson/Savate’ influyó sobre la capoeira? EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. CONGRESSOS DE HISTÓRIA XIII CONGRESS OF THT INTERNACIONAL SOCIETY FOR TH HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT – JULY, 9-13, RIO DE JANEIRO, BRAZIL A “CARIOCA” PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868

10 11 13 15 19 21 23 27 36 38 40 42 45 50 52 55 61 67 70 73 76 80 83 86 90 95 96 98 103 106 108 112 114 115 148 149 149 156


O “CHAUSSON/SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” – XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA- LONDRINA – PARANÁ - 19 A 22 DE AGOSTO DE 2014 O “CHAUSSON/SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? III SIMPOSIO DE HISTORIA DO MARANHÃO OITOCENTISTA A “CARIOCA” PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868 CRISOL - III ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS - CULTURA & SUBJETIVIDADES – Processos e Conexões São Luís – 16 a 18 de novembro de 2011 CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: ASPECTOS HISTÓRICOS E SÓCIO-CULTURAIS ARTIGOS, CRONICAS & OPINIÕES “RES PRO PERSONA”: MAIS UMA NOTA SOBRE A CAPOEIRA NO MARANHÃO EVIDÊNCIAS DA CAPOEIRA(GEM) NA SÃO LUIS OITOCENTISTA ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? SOBRE A “PUNGA” – VISITAÇÃO A CÂMARA CASCUDO REVISITANDO A PUNGA: “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ - – A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA MOVIMENTOS DA CAPOEIRA(GEM) CAPOEIRAGEM É UMA ARTE, CADA MOVIMENTO TEM UM NOME

160 182 207 207 (144) (166) 212 212 234 235 238 242 253 255 262 267 267


MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER

CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE


REVISTA “NOVA ATENAS”, DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA ARTIGOS PUBLICADOS


REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA REVISTA ELETRÔNICA DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – BIOLOGIA - SEGURANÇA DO TRABALHO Volume 05, Número 01, jan/jun/2002 (Disponibilizado em dezembro de 2006) A INTRODUÇÃO DO ESPORTE (MODERNO) EM MARANHÃO3 A CAPOEIRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ4 Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão DELZUITE DANTAS BRITO VAZ 5 Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense” Resumo Procura-se estabelecer quais os primeiros “sports” praticados em Maranhão, desde o final do século XIX e início do século XX. Muito embora tenha-se encontrado a prática uma forma primitiva de tênis (jogo da pella) e do bilhar desde os anos 1820, e a educação física desde os 1840, inclusive para o sexo feminino, alguns autores trazem como sendo a capoeira o primeiro esporte praticado em São Luís. Seguiu-se o turfe6 4, o remo, o ciclismo, o tiro ao alvo, o tênis, o tênis de mesa, o "foot-ball association" 7, o "cricket", o "crockt", o atletismo. Abstract It’s set up that the first sport practiced in Maranhão since the end of the XIX century and the begining og the XX century. Although it was found such a primitve form of practicing tennis (jogo da pella) and billu\iards since 1820, and the phisuc education since 1840, inclouding the females, some others used to bring capoeira as the firts sport practiced in São Luís followed by tyrfe, scull, ciclying, shootig, tennis, tabletennis, “foot-ball association” (soccer), cricket, crocket, and track and field (athletics). Palavras-chave – História do Esporte; Maranhão: Capoeira; Remo; Ciclismo; Bilhar; Esgrima MARTINS (1989) aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão, tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. Considera que tenha sido praticada antes, trazida pelos escravos bandu-angoleses. Fugitivos, os negros a utilizavam como meio de defesa, exercitando-se na prática da capoeira para apurarem a forma física, ganhando agilidade. Conhecida no sul de Angola pelo nome de "n'golo", no norte recebia a denominação de "busula", sendo muito difundida em Luanda, passando de um cerimonial mágico-religioso, a uma forma de defesa. Impedido de portar armas, só restava ao escravo fugitivo adestra-se na prática do ritual, para escapar das agressões do branco, e à captura e buscar a liberdade. Domingos VIEIRA FILHO (1971), ao traçar a história da Rua dos Apicuns dá-nos notícias de ser local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: "A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do

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Um primeira versão foi apresentada no VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, Ponta Grossa – Paraná (Brasil), 14 a 17 de novembro de 2002. Coletâneas ... Ponta Grossa-Pr : UEPG, 2002. ( Publicado em CD-Room). Ver, também, “O lúdico e o movimento em Maranhão”, VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, ano 7, no. 37, junho de 2001, disponível em www.efdeportes.com 5 Ver “A ‘inauguração’ do foot-ball em Maranhão” In Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, ano 5, no. 34, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com 4 Professor de Educação Física; Mestre em Ciência da Informação; CEFET-MA/DCS 5 Professora de História; Especialista em Metodologia do Ensino Superior; CEM “Liceu Maranhense”. 6 Ver “O hipodrismo em Maranhão”, de VAZ, Delzuite Dantas Brito; e VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, artigo publicado nas Coletâneas do VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, Ponta Grossa-PR, 14 a 17 de novembro de 2002. ... Ponta Grossa-Pr : UEPG, 2002. (Publicado em CD-Room). 7 Ver “A ‘inauguração’ do foot-ball em Maranhão” In Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, ano 5, no. 34, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com


'Eco do Norte"86 contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís." (VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). O famoso Canto-Pequeno, situado na rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. VIEIRA FILHO (1971) afirma que ali, alguns domingos antes do carnaval costumava um magote de pretos se reunir em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. O público tomou conhecimento de um acontecimento esportivo a 10 de janeiro de 1877, através do Diário do Maranhão: "JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179) Em Turiaçú, no ano de 1884, é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio9 7 – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca8. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124). (Grifos nossos) A capoeira foi duramente reprimida quando da Proclamação da República, pois no Código Penal Brasileiro Decreto no. 487, de 11 de outubro de 1890, em seu capítulo XII, artigo 402, era tratado da ação dos 'vadios' e 'capoeiras.

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6 ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836. De acordo com a chefe do Arquivo Público do Estado do Maranhão, sra. Maria Raimunda Araújo, esta é a única referência sobre Capoeira encontrada naquele Arquivo. A Sra. Maria Raimunda tem como tema de pesquisas, o Negro no Maranhão, buscando referências sobre as atividades dos escravos – batuques e capoeiras (in ARAÚJO, 2002) 8 Cabe esclarecer que a partir de 1835, a importação de escravos negros se acentua no Maranhão, dada a expansão da economia algodoeira e os centros fornecedores eram, além da África, o Brasil, especialmente Salvador e o Rio de Janeiro. Turiaçú recebeu grande contingente de escravos vindos do Rio de Janeiro; devem ter trazido suas lutas daí a denominação “capoeira” ou “carioca”.


REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA REVISTA ELETRÔNICA DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA SAÚ E D EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – BIOLOGIA - SEGURANÇA DO TRABALHO Volume 9, Número 01, jan/jun/2006 (Disponibilizado em dezembro de 2006) ARTUR EMÍDIO E A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física – CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Em “CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO”, já publicado em nosso ‘Jornal do Capoeira’, procurei resgatar os primórdios da capoeira praticada em São Luís do Maranhão (Brasil), assim como seu estágio atual, através do resgate da história de vida de seus principais atores – os Mestres de Capoeira. A Capoeira maranhense teve dentre seus precursores, Roberval Serejo. Para o Mestre Mirinho 101 – Casimiro José Salgado Corrêa - a origem da capoeira no Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo “Bantos”, em época remota. Este grupo praticava a capoeira na antiga Guarda Municipal, no Parque Veneza. Outro Mestre, Patinho, relata o aparecimento desse grupo: “... bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci.... Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60; Babalú, um apaixonado pela capoeira; outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participaram Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando.” (Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira) 11.. Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: “Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi”. (MARTINS, 2005, p. 31)12. GRUPO BANTUS (Mestre Catumbi) Mestre Firmino Diniz Babalú 10

/ Gouveia

(Mestre Artur Emídio) Mestre Roberval Serejo Alô

Patinho

(Mestre Djalma Bandeira) Mestre Jessé Lobão Didi

Elmo Cascavel

Ubirajara

In LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DA CAPOEIRA NO MARANHÃO – em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005. 11 Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in “Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira do Maranhão”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. 12 MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís: UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005.


Mestre Patinho – o mestre de referencia da capoeira maranhense, hoje , afirma ter recebido influencia de Artur Emídio: “Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê”. (Mestre Patinho in Entrevistas)13 Roberval Serejo morre em 1970, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui; seus alunos da academia Bantú passam a treinar com Mestre Sapo, que forma, então, seu grupo e passa a dar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco: “Acredita-se que Mestre Sapo, embora muito novo passe a ser a maior referência da capoeira de São Luís, respaldado por Mestre Diniz, que era o mais experiente de todos, mas que não tinha tempo de se dedicar ás aulas de capoeira em função de seu trabalho. No entanto, ainda continuava a promover suas rodas de capoeira”. (MARTINS, 2005, p. 36). Buscamos na memória dos Mestres mais antigos de São Luís a influência de Artur Emídio na/para a atual Capoeira maranhense...

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Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in “Mestres de Capoeira do Maranhão”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005.


REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA REVISTA ELETRÔNICA DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – BIOLOGIA - SEGURANÇA DO TRABALHO – Volume 09, Número 02, jun/dez2006 SUPLEMENTO - ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR-DE-CRIOULO (A) “PUNGA DOS HOMENS” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Origens – Informa Mestre Bamba - Kleber Umbelino Lopes Filho – que no município de Itapecurú-Mirim, junto a remanescentes quilombolas, no Povoado de Santa Maria dos Pretos encontrou uma variação do Tambor-de-Crioula em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens” - em que utilizam movimentos semelhantes ao da capoeira. Mestre Bamba identificou semelhança entre esses movimentos com os descritos por Mestre Bimba. Descreve assim essa manifestação: os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga Pungada na Coxa - também chamado "bate-coxa", aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a "pernada carioca" ou mesmo com o "batuque baiano"; Pungada Mole -o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege "as partes baixas" com as mãos ... Pungada Rasteira/Corda - semelhante à "negativa de dedos (sic)", de Bimba; Queda de Garupa - lembra o Balão Costurado, de Bimba. De acordo com Mestre Marco Aurélio, a Punga era prática de homens, antigamente; após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade, que passa a ser dançada por mulheres, apenas. 1820 - desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente de/por homens: “Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005). Informa que há uma referência em Dunshe de Abranches, porém não a encontramos. Em “O Captiveiro”, Dunshe de Abranches se refere ao “Club dos Mortos”, e que os membros desse clube se envolveram nas disputas entre caixeiros e estudantes por causa de duas artistas de um circo, instalado no Tívoli. Para enfrentar os empregados do comércio, na sua maioria homens feitos, os preparatorianos (estudantes do Liceo) reuniram-se no pátio do colégio para selecionar os melhores atletas para a defesa. Fundaram, assim, o Club Roncador, que guardavam suas armas na casa dos Abranches: “... Veio dahi uma grande amizade dos campeões dos murros e dos cambitos (synonimo de rasteira naquella época) pelo Club dos Mortos”. (p. 190-191). (grifos meus). Rasteira? Seria a capoeira? Nada sobre o Tambor-de-crioula e a punga dos homens, nada em “A Setembrada”, nem n’ “A Esfinge do Grajaú”... Em Câmara Cascudo, no verbete “punga”, consta: dança popular no Maranhão, capital e interior ... que é a mesma “dança do tambor”. A punga é também chamada “tambor de crioula”. Há também referencia a grafia “ponga”, que como se sabe é um jogo. Crê Câmara Cascudo que


punga é um termo em uso apenas no Maranhão e significa, na dança em questão, a umbigada, a punga. A punga seria uma dança cantada mas sem versos próprios, típicos. Geralmente são improvisados na hora, quando as libações esquentam a cabeça e despertam a “memória” do “tiradô” de versos. Após descrever o que seria a dança do tamborde-crioula, informa que pong provirá do tupi – soar, bater, ou antes soar por percussão. “O que fervia era o lundum, e estalavam as umbigadas com o nome de ‘pungas’” (p. 742-743). Remete a Tambor: “... mas a autonomia dos tambores indígenas e sua existência pré-cabralina parecem-me indiscutíveis no Brasil. Dança do Tambor, Tambor-de-Mina, Tambor-de-Crioulo [Tambor-deCrioulo?]. As danças denominadas ‘do Tambor’ espalham-se pela Ibero-América. No Brasil, agrupam-se e são mantidas pelos negros e descendentes de escravos africanos, mestiços e crioulos, especialmente no Maranhão. [grifos meus]. Conhece-se uma Dança do Tambor , também denominada Ponga ou Punga que é uma espécie de samba, de roda, com solo coreográfico, e os Tambor-de-Mina e Tambor-de-Crioulo, [chamo atenção novamente para a grafia, em masculino], série de cantos ao som de um ferrinho (triangulo), uma cabaça e três tambores, com danças cujo desempenho ignoro.” (p. 850-851). Informa o ilustre pesquisador, ainda, que uma missão cultural colheu exemplos das músicas utilizadas tanto no Tambor-de-Mina quanto no de Crioulo, em 1938. Estão ligados esses tambores-de-mina-e-de-crioulo às manifestações religiosas dos “terreiros”, ao passo que: “... a punga (dança e batida) parecem alheias ao sincretismo afro-brasileiro na espécie... o Tambor-de-Crioula [já passa a usar no feminino ...] é o Bambelô do Maranhão, mas com a circunstância de que só dançam as mulheres. Passa-se a vez de dançar com a punga, que é um leve bater de perna contra perna. Punga é também espécie de pernada do Maranhão: batida de perna contra perna para fazer o parceiro cair.. às vezes o Tambor-deCrioula termina com a punga dos homens.”. (p. 851). Por “Pernada”, registra: jogo ginástico, brincadeira de agilidade, entre valentões, malandros e capadócios. É uma simplificação da capoeira... Sua descrição, assemelha-se à da “pungada dos homens”, do Tambor-deCrioulo(a) (p. 709). Já “bambelô” é descrito como samba, côco de roda, danças em círculo, cantada e acompanhada a instrumentos de percussão (batuque), fazendo figuras no centro da roda um ou dois dançarinos, no máximo. O ético é o vocáculo quimbundo mbamba, jogo, divertimento em círculo (p. 113). 2005 - Ontem, 10 de agosto, houve uma reunião do Matroá, escola de capoeira de Mestre Marco Aurélio. Mestre Patinho esteve presente, assim como Mestre Didi. Uma verdadeira aula de cultura maranhense. Presentes, também, Domingos de Deus, Luis Senzala, Bamba, Vespasiano, Aziz, Same... Conversas sobre os artigos do Jornal do Capoeira, sobre a Punga dos Homens, e novas informações e esclarecimentos ... Desafiados para colocarem no papel suas pesquisas – mais de oito anos – sobre essa manifestação: “Há cerca de oito anos, eu e mais outros capoeiras estamos pesquisando a punga, e posso lhe afirmar que apesar da correlação de alguns golpes com a capoeira, esta pode até ter similaridade, mas daí afirmar que é capoeira é outra coisa.” (in correspondência pessoal, de 10 de agosto de 2005). Uma certeza: punga não é capoeira, embora alguns movimentos se assemelhem... Informa Marco Aurélio: “Ano passado, participei em Salvador, de um Encontro Internacional de capoeira "GINGAMUNDO". onde coordenei um grupo do Maranhão, com 25 (vinte e cinco) pessoas entre estas, o Mestre Felipe e outros pungueiros, entre pessoas de um Povoado de Rosário e mais outros coreiros e coreiras, algumas capoeiras angola. Lá, estavam presentes representantes de outras lutas de origem africana, de países como Angola e Madagascar, porém, a grande vedete do encontro foi a Punga dos Homens... Estavam presentes neste encontro, além de mestres antigos, tais como João Pequeno, João Grande, Mestre Boa Gente, também haviam pesquisadores de renome como Jair Moura, Carlos Líbano Soares, Fred Abreu, Mathias Röhring Assunção, etc”.(in correspondência pessoal).


Prosseguindo, sobre as origens da Punga, Câmara Cascudo registra o termo “Bate-coxa”, uma manifestação das Alagoas: uma dança ginástica: “a dança do bate-coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos”. Acredita Câmara Cascudo que o bate-coxa seja mais violento, onde os dois contendores, sem camisa, só de calção, aproximam-se, colocando peito a peito, apoiando-se só nos ombros, direito com direito. Uma vez apoiados os ombros, ao som do canto de um grupo que está próximo, ao ouvir-se o ê boi, ambos os contendores afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido. Depois da batida, a coxa direita com a coxa direita, repete a esquerda, chocando-se bruscamente ao ouvir o ê boi do estribilho. A dança prossegue até que um dos contendores desista e se dê por vencido. Por “capoeira” registra: jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos1 de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. No ano de 1926, foi publicada uma série de artigos sobre “Capoeira e Capoeiragem” no jornal Rio Sportivo, edições de 16/06, 19/07, 6 e 16/09, 18/10, escritos por Adolfo Morales de Los Rios. [Miltinho, acredito que André Lace poderia recuperar esses artigos e incluí-los em “Literatura Clássica”, com comentários...] Por “Batuque” – dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro “quando entra gente mais asseada”. Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile. De uma descrição de um naturalista alemão, em visita às Gerais, em 1814/15, ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]. Com o nome de “batuque” ou “batuque-boi” há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e 1 Bantos – grupo de cerca de 50 milhões de homens na África Central e SE, falando 254 línguas e dialetos aparentados. Banto é família lingüística e não etnográfica ou antropológica. capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, talqualmente a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola. É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos) – a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar aposição primitiva. Do vocábulo “batuque-boi”, registra: espécie de Pernada. Bahia. Voltemos a Pernada. Câmara Cascudo informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam, os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o “rei da pernada carioca”; é o bate-coxa das Alagoas. Ainda Edson Carneiro (Dinâmica do Folklore, 1950) informa ser o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário – a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada – nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... A orquestra das rodas de batuque era a mesma das rodas de capoeira – pandeiro, ganzá, berimbau.


Fontes: Carlos Carvalho Cavalheiro; Luís da Câmara Cascudo - “Dicionário do Folclore Brasileiro”. 3 ed. Rio de janeiro: Tecnoprint, 1972; Marco Aurélio Haickel. Jornal do Capoeira..


TAMBOR-DE-CRIOULO (A) MARCO AURÉLIO HAICKEL O Tambor de Crioula, manifestação popular genuinamente afro maranhense, de caráter lúdico, é tradicionalmente identificada como "festa de preto", assim como onde houvesse instrumentos de sopro, tinha-se como "festa de branco". Dessa forma, à exceção do período da quaresma " hoje em dia, até nesta época " toca-se o tambor de crioula durante o ano inteiro, seja festa ou o evento que for: Carnaval, aniversário, Divino, nascimento, São João, São Pedro, falecimento, ou mesmo uma simples confraternização de fundo do quintal. A festa de São Benedito ocorre entre agosto e novembro, tendo em vista os costumes de cada lugar, mas, sempre durante a fase da lua cheia. Apesar de o aspecto lúdico prevalecer, brincantes (coreiros e coreiras) mais antigos, na sua quase totalidade é devoto de São Benedito, a constatar pelas centenas de grupos de tambor de crioula existentes: "Brincadeira de S. Benedito", "Unidos de S. Benedito", "Filhos de S. Benedito", "Orgulho de S. Benedito", etc., acrescentando-se que ao início de cada "brincada", a primeira salva é dirigida ao Santo, que no culto religioso de influência africana, hegemônico no Maranhão, Mina (com tradição Jeje-Nagô), é relacionada à divindade Vodun, Avêrêkête. Os tambores, em número de 03 (três), constituem o que se denomina parelha, assim definida: tambor do meio, meião ou socador, o tambor menor, pererengue, merengue ou crivador, seguido do tambor grande, sulador, ou roncador. O meião inicia e, marca o toque, seguido do pererengue, que faz o contratempo, logo após o tambor grande entra, com o seu roncado característico, definindo a punga. Conforme as regiões do Estado onde o tambor de crioula se faz presente, define-se o sotaque (forma apropriada de tocar, cantar, dançar, pungar e se expressar). O sotaque, que pode representar sutis diferenças, ou mesmo nem ser percebido pelos leigos, demonstra uma forte característica entre os brincantes, assim, a depender do sotaque, o meião só começa a tocar, após o início do canto, e conforme o ritmo empreendido pelo cantador (acelerado ou compassado), ou o contrário, o meião inicia dando o ritmo e, o cantador acompanha-o, puxando o canto, mas em todo o caso, o pererengue sempre entra após o meião, fazendo o contra-tempo, logo em seguida, o tambor grande se faz ouvir, e livre para solar, evolui numa diversidade de toques até alcançar seu ápice, a punga. Entre os sotaques mais conhecidos está o "de Guimarães", "Alcântara", ou "do litoral", neste, a "brincadeira" acontece num pique frenético, outro, é o sotaque "da Baixada", mais compassado e de rica variedade rítmica, há ainda os sotaques "de Rosário" e "do Munim", que por fazerem parte dos caminhos dos boiadeiros, trazendo e levando gado de norte a sul, sofreram fortes influências destes, com seus aboios. Os cantos seguem a mesma tendência, podendo ser guturais ou bem definidos. O sotaque define ainda, o uso ou não de baquetas, as quais, quando se fazem presentes são repenicadas na costa do tambor grande, com mais raridade, algumas "brincadeiras" utilizam baquetas (finas e flexíveis) no couro do pererengue. Os tipos de madeira para a confecção dos tambores são diversos, variando quanto ao peso e sonoridade, sendo umas mais leves e outras mais pesadas, a exemplo do mangue branco ou siriba, pequiá, faveira, etc. A feitura dos mesmos requer um certo ritual, que compreende desde a identificação da árvore, o sangramento desta, durante certa fase da lua, bem como outras particularidades. Conforme o lugar, a exemplo de São Luís, a dança é exclusividade das mulheres, há, no entanto, homens que dançam, mas neste caso, requer usarem saia. A dança das mulheres se reveste de pura sensualidade e com belas evoluções, onde o ápice acontece quando a mulher, após saldar os tambores menores dançando, mostra-se de frente ao tambor grande, e os dois como que numa simbiose evoluem desafiando-se, até realizarem a punga. O toque dos tambores é predominantemente realizado por homens, apesar de que em alguns lugares a mulher toca, porém, quando se trata de tocar o tambor grande, aquela o az ao lado deste, nunca sobre, mas, é na capital, onde já há grupos constituídos exclusivamente por jovens, que as mulheres se fazem mais presentes na batida dos tambores. A punga dos homens, ao contrário da punga das mulheres (umbigada), não acontece em todas as "brincadas de tambor", sendo encontrada mais comumente em comunidades rurais. Acontece ao lado da roda das mulheres, geralmente em areal, e conforme o lugar, é aplicada com mais ou menos intensidade, quando mais vigorosa, não é raro ver homens ao chão, com menos vigor, acontece somente um leve bater de coxas, no


entanto, vale ressaltar que nos lugares onde ocorrem as derrubadas, com o avançar das horas, os coreiros já sob os efeitos da cachaça, intensificam-nas em quantidade e vigorosidade, sem que haja no entanto, qualquer incidente grave. O Maranhão, pelas suas características geográficas, em tempos remotos era um manancial natural de alimentos (até hoje, apesar do desmatamento), tornando-se morada de inúmeras nações indígenas, atualmente, espalhadas ao longo do Brasil Central. Acolheram levas de escravos insurgentes, seja nas aldeias, ou tolerando a formação de (inúmeros) quilombos, mas o certo é que desses ajuntamentos, formouse o que comumente se reconhece como terras de índio (que não são áreas indígenas) e, terras de preto, entre estas últimas, muitas foram identificadas como verdadeiros quilombos (Projeto "Vida de Negro", da Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos) daí, que as características físicas de muitos habitantes de inúmeras comunidades rurais maranhenses, demonstram de forma singular, expressões indígenas e africanas. A forte miscigenação ocorrida entre as populações africanas e ameríndias, somadas à cultura européia, em menor escala, derivou numa profusão de manifestações populares onde, em relação ao som, predominou a cultura africana com seus ritmos e tambores, no movimento, o predomínio tornou-se da cultura indígena, pois esteja o som sob um embalo mais frenético ou compassado, aquele se faz miúdo, e por último, não há como negar a preponderância do guarda roupa europeu, tendo em vista o pudor deste em relação à nudez indígena e, à sensualidade africana. Vale ressaltar, que ainda há muitas pesquisas a serem feitas, mas esses três elementos culturais são evidentes. A cantoria do tambor dá-se por um cantador/puxador e, um coro respondendo, seu conteúdo, diverso e revestido de picardia, onde os cantadores costumam saudar São Benedito, fazerem choça uns com os outros, cantarem seus lugares, etc., tudo, dentro do ritmo e de uma métrica, que se não for respeitada, é simplesmente desconsiderada. Como todas as tradições, o tambor sofreu alterações, uma delas a participação de mulheres, como forma de abrandar a repressão, uma vez que era reconhecida pela sua agressividade, sendo vista inclusive como luta, pelas "autoridades" da época. Tem-se que o termo tambor de crioula é mais recente do que a própria manifestação, uma vez que antes de 13 de maio de 1888, as mulheres com raridade, participavam, pois sendo extremamente vigorosa sua prática traduzia uma maneira de deixar os guerreiros em forma, capazes de enfrentar as adversidades da época, talvez daí tenha-se originado um ditado antigo, ainda hoje pronunciado a respeito em relação à manifestação: tocado a murro, dançado a coice e afinado a fogo. Enquanto manifestação, não há como dissociar homens e mulheres, vez que para acontecer a brincadeira requer a participação de todos tocando, cantando, dançando, evoluindo e pungando, uma verdadeira festa, que contagia quem estiver presente.


REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA REVISTA ELETRÔNICA DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – BIOLOGIA - SEGURANÇA DO TRABALHO Volume 09, Número 02, jul/dez/2006 (Disponibilizado em dezembro de 2006) OS HOLANDESES E OS PALMARES: Nassau atacou os Palmares! Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do CEFET-MA Na Edição 69 - de 16 a 22 de Abril de 2006, do Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br - André Pêssego pergunta “Por que Nassau não atacou a Palmares?”. Pêssego (2006), no artigo citado, vale-se do argumento – Nassau não atacou Palmares – baseando-se de relatório de 1637, em que este reconhece a importância do Quilombo, “... ao fazer seu relatório de posse e plano de atuação reconhece a importância de Palmares - do contrário anunciaria planos para atacá-los, destruí-los.” Mais adiante, ainda servindo-se da mesma carta: "estabelecerei negócios com os quilombos, pois estes mais que todos, repudiam os portugueses, podendo ser nossos aliados... A Holanda já havia enviado uma delegação a Palmares, chefiada por ‘um pernambucano conhecedor dos Quilombos’. Em seguida, Bartolomeu Lintz, é feito embaixador holandês residente até o advento de 1640. (Tem sido dito de Lintz, um espião em Palmares. Bestagem, um holandês disfarçando-se junto a milhares de negros, em mocambos).” Pêssego ainda se refere que Nassau renuncia ao seu posto de administrador do Brasil holandês por se recusar em atacar Palmares, ordem que teria recebido em 1643: “Nassau recebe ordens para ‘atacar seriamente a Palmares...’ Homem de alto caráter, Nassau se tornara amigo de Ganga Zumba, recusa. Renuncia, volta para a Holanda. Mais, cita as razões de Nassau não atacar a Palmares: “a) o reconhecimento da instituição Quilombo, como tal. O Quilombo cumpre os itens do acordo: Não planta cana para produzir açúcar; não cria gado vacum, alem do necessário para produzir leite para consumo interno; não ataca; tem as oficinas do ferro, mas não vende armas. b) A possibilidade de trazer Gamga Zumba, para aliar-se à Holanda contra Portugal; o estilo de vida no Quilombo. c) O interesse pelo conhecimento científico da flora e do conhecimento extrativo dos Palmarinos.” Informa José Antonio Gonsalves de Mello – em “Tempos dos Flamengos” (4ª. ed. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brennand, 2005?) que foi durante o período da dominação holandesa que tiveram condição para se desenvolver vários quilombos. Desde 1638 há referência a quilombos que se constituíam uma grave ameaça para as populações e os bens dos moradores. Havia, também, pequenos aldeamentos ou bandos de negros que roubavam e matavam pelos caminhos: os boschnegers, contra os quais eram empregados capitães de campo brasileiros, já que os holandeses eram considerados incapazes para tal função. Vários capitães de campo foram empregados a soldo dos holandeses (Dag. Notule de 19 de dezembro de 1637; idem de 30 de dezembro de 1637; de 21 de setembro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 192-193). O domínio holandês no Nordeste brasileiro vai de 1630 a 1654, 24 anos; Nassau “reinou” de 1637 a 1644 - 7 anos. O “Diário da viagem do capitão João Blaer aos Palmares em 1645” (in Mello, 2005(?), p. 193), dá-nos informes interessantes a respeito de alguns quilombos. Fica-se sabendo que, nas imediações do quilombo que Jan Blaer destruiu, tinham existido anteriormente mais dois outros. Nas palavras do autor do relatório, houve um “velho Palmares” que os negros tinham abandonado por estar situado em “local muito insalubre” e do qual se passaram para o “outro Palmares” ou “grande Palmares”, destruído por Reolof Baro e seus tapuias. Deste transferiram-se eles para o “novo Palmares”, que Blaer atacou ... (p. 193).


Outros documentos informam a respeito dos Palmares ... desde 1638, um deles causava sérias apreensões aos moradores de Alagoas, dos quais os quilombolas roubavam escravos e incendiavam as casas. O capitão Lodij foi encarregado de persegui-los, com mosqueteiros holandeses e com índios. Do resultado, nada consta dos documentos (Dag. Notule de 26 de fevereiro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193). Em 1642, preparou-se nova expedição, deste vez chefiada por Manuel de Magalhães, pessoa conhecedora da região e respeitada pelos moradores portugueses, morador nas Alagoas. Concedeu-se-lhe autorização para a expedição, mas sobre o que posteriormente ocorreu, nada informam os documentos (Dag. Notule, de 20 de fevereiro, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193). Dois anos mais tarde, em 1644, Roelof Baro parte em expedição ao interior do país. Levava uma tropa de índios brasilianos (tupis), e os holandeses, inclusive Baro, eram quatro. Os documentos não dão permenores, mas o caso é quye os índios amotinaram-se e Baro desistiu de prosseguir. Reuniu à sua gente ins cem tapuias e resolveu atacar o que ele chamou de “pequeno Palmares”. Ouçamos o escrito de Mello (2005 (?), p. 194, com base no Dag. Notule de 2 de fevereiro de 1644 e Gen. Missive ao Conselho dos XIX, datada de Recife, 5 de abril de 1644) sobre o episódio: “A 2 de fevereiro o conde de Nassau recebia notícias de Baro, por carta datada de Porto Calvo de 25 de janeiro de 1644.Contava ele que, pretendendo atacar o ‘pequeno Palmares’, achou-se imprevistamente em frente ao ‘grande Palmares’ que investiu em seguida. A luta pela posse do quilombo foi dura, tendo Baro contado cem negros quilombolas mortos. De seu lado houve um morto e quatro feridos. O sítio foi incendiado, tendosido feitos ali 31 prisioneiros, entre os quais sete índios tupis (brasilianos) e alguns mulatinhos (mulaetjens). O quilombo estava cercado por duas ordens de estacas, e ‘era tão grande que nele moravam quase 1.000 famílias, além dos negros solteiros’. Em volta da estacada ‘havia muitas plantações de mandioca e um número prodigioso (wonderbaer) de galináceos, embora não possuíssem qualquer outro animal de maior vulto’, sendo que ‘os negros viviam ali do mesmo modo que viviam em Angola’.” (p. 194). Estas são as informações que Baro transmitiu ao Conde e que os documentos conservam... Outros quilombos surgiram no período da dominação holandesa, mas são poucas as informações sobre eles. Um estava situado na “Mata do Brasil” e os seus elementos corriam a região, em bandos, roubando e matando. O governo holandês castigava exemplarmente os que conseguia capturar: eram enforcados ou queimados vivos (Carta do Conselho de Justiça do Brasil ao Conselho dos XIX, datada do Recife, 1º. De outubro de 1644 e outras, in Mello, 2005(?), p. 195). Nassau atacou os Palmares! Fonte: MELLO, José Antonio Gonsalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brannad, 2005(?).


REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA REVISTA ELETRÔNICA DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – BIOLOGIA - SEGURANÇA DO TRABALHO Volume 10, Número 01, jan/jun/2007

A CAPOEIRA NO/DO MARANHÃO: ALGUMAS QUESTÕES PARA REFLEXÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física – CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Gostaria inicialmente de agradecer ao convite para estar aqui este dia falando sobre Capoeira. O convite é muito especial para mim; talvez, mais do que ter coisas a falar, eu tenha muito a apreender sobre Capoeira, principalmente com os Mestres, Professores, demais Capoeiras e com o público presente. Tenho a pretensão de levantar algumas questões sobre a Capoeira... Agradeço, então, ao Contramestre Baé e à Federação de Capoeira do Estado do Maranhão. Também gostaria de aproveitar a oportunidade para de público citar alguns Capoeiras que contribuíram para meus estudos sobre essa nobre arte de luta: Índio do Maranhão, Mizinho, Cláudio (meu ex-aluno no CEFET-MA), e claro, Baé, com que tive contato maior e ouvi muito sobre a Capoeira; ao meu Mestre Patinho – meus respeitos e sua licença para me manifestar – com quem tive algumas conversas recentemente e me mostrou que não sabia nada de Capoeira – porque Capoeira é vivência, e eu não vivo a Capoeira; disse-me o Mestre: Capoeira só se aprende na prática. Bela lição para quem tem a pretensão de escrever sobre Capoeira, sem a praticar ... obrigado, Mestre Pato 141; ainda, Marco Aurélio15, Domingos de Deus, Acinho, 12 16

Bamba 3, Senzala e sobretudo, André Lacé (do Rio de Janeiro) e Miltinho Astronauta e o Cavalheiro, ambos de Sorocaba, meus “colegas” do Jornal do Capoeira17 ... Pensei em fazer uma fala que tivesse como preocupação de fundo a atuação e talvez a própria formação dos educadores de capoeira – termo que ouvi de vários Mestres e Professores durante as entrevistas realizadas por meus alunos da UEMA, do Curso de Educação Física, quando estávamos construindo o Livro-Álbum dos Mestres Capoeira do Maranhão – ainda inconcluso18. Compreendi a importância do uso desse termo – educadores de capoeira – para chamar a atenção para a responsabilidade daqueles (as) que ensinam Capoeira19. Parto do entendimento de que a Capoeira é uma prática cultural20 no sentido mais dinâmico possível do termo. Mas, o que é a Capoeira? Como podemos defini-la? Tenho encontrado as mais variadas respostas: capoeira é luta; capoeira é um esporte; capoeira é folclore; outros dizem que é um lazer; é uma festa; é vadiação; é brincadeira; é uma

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONVERSANDO COM MESTRE PATINHO. Jornal do Capoeira, edição 63, de 05 a 11/mar de 2006, in www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=881 15 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens – capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira, edição 43, 15 a 21 de agosto de 2005, in www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=609 HEICKEL, Marco Aurélio. Breves observações sobre o Tambor de Crioula. In Jornal do Capoeira, edição 43, 15 a 21 de agosto de 2005, in www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=626 16 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Punga dos Homens e a capoeira no Maranhão: Mestre Bamba, do Maranhão. In Jornal do Capoeira, julho 2005, in www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=589 17 www.jornalexpress.com.br 18 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Capoeiragem no Maranhão – Atlas da Capoeiragem. In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=342 19 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O vôo do Falcão. Jornal do Capoeira, edição 74, de 21 a 27 de maio de 2006, in www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=1 20 7 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004


atividade educativa de caráter informal.21 Não me conformo com essas classificações simplistas e reducionistas; compreendi que a Capoeira é tudo isso... compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural22 representa um salto qualitativo para além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de um certo antigamente da Capoeira. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança. Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc.23. O que importa é dizer que seja qual for a forma de entendermos a Capoeira, seja como luta, esporte, dança ou outra maneira aqui não pensada, um ponto fundamental pode estar na relação dessas idéias com a prática da Capoeira. O que quero questionar é o seguinte: quais conseqüências uma Capoeira compreendida como esporte, como luta pode ter para seu ensino?24. Ou quais conseqüências a capoeira entendida como cultura, como vadiação pode ter para o seu ensino e para sua prática? Ou melhor, quais dessas opções queremos? Essas questões estão relacionadas com a defesa de uma capoeira enquanto prática cultural e tem a ver com um pensamento que procura chamar atenção para a necessidade de diálogo com as diferenças. Nesse sentido, até poderíamos falar da existência não de uma capoeira, mas de capoeiras: capoeiras danças; capoeiras lutas; capoeiras esportes; capoeiras culturas; capoeiras angolas, regionais, contemporâneas e assim por diante25. Assim como Corte Real26, devemos adotar a noção de interculturalidade ao se tratar da Capoeira. A educação intercultural é uma forma de educação que: “requer que se trate nas instituições educativas os grupos populares não como cidadãos de segunda categoria, mas que se reconheça seu papel ativo na elaboração, escolha e atuação das estratégias educativas”. A mesma visa a promover processos integradores que conciliem os direitos de igualdade dos cidadãos e o direito de diferenças das culturas 2714. Pergunta, então Corte Real: “será que uma roda de capoeira não é um bom exemplo de processo integrador, no qual todos são iguais no direito à participação, como no direito à diferença de ter seu jeito próprio de vadiar?”. Nesses mais de dois anos que tenho me dedicado mais a fundo ao estudo da Capoeira maranhense, tenho visto algumas experiências no contexto da capoeira que mostram a possibilidade da construção de projetos coletivos baseados na participação solidária próxima à essa visão de educação intercultural, caracterizadas como a troca de saberes entre universidade/capoeira. Trago aqui exemplos dessa interação: Primeiro, o Convênio entre UFMA e uma universidade espanhola – Universidad de Múrcia - que realizaram um 21

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 22 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 23 COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 1999 24 SOUZA, Thiago Vieira de. Aspectos didáticos e metodológicos no processo de ensino aprendizagem da Capoeira. In Lecturas: Educacion Física y Deportes, Revista digital – Buenos Aires - ano 11, no. 96, maio de 2006, disponible em www.efdeportes.com – http://www.efdeportes.com/efd96/capoei;htm 25 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão: Angola ou Regional? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=425 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão: Capoeira Angola In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=438 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão: Capoeira Regional? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=498 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão: A Capoeira “Carioca” In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=509 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Qual Capoeira? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=535 26 CORTE REAL, M.P. Intercultura e dialogicidade: investigando estratégias educativas e práticas de resistência cultural na capoeira. Florianópolis: PPGE/CED/UFSC, Projeto de Tese, 2002. 27 FLEURI, R.M. (org). Intercultura e movimentos sociais. Florianópolis: MOVER/NUP, 1998. FLEURI, R.M. Desafios a educação intercultural no Brasil. Porto Alegre: 2000, III Seminário Pesquisa em Educação Regional Sul/ANPED


encontro de Capoeiristas em São Luís, no ano de 2002 – o I Encontro Maranhão-Múrcia de Capoeira Angola (EMAMUR) que aconteceu em setembro daquele ano. Vocês tomaram conhecimento? Foi firmado convênio entre as duas universidades. Participaram do encontro o professor doutor Jesus Molina Saorín, da Universidade de Múrcia, e mais sete acadêmicos e profissionais espanhóis das áreas de Serviço Social, Educação Física, Educação Musical, Psicologia e Direito, todos adeptos da Capoeira Angola. Eles integram o Grupo de Pesquisa na Diversidade numa Perspectiva Transdisciplinar, daquela universidade. Realizado através do Núcleo de Estudo/Pesquisa e Análise Social do Movimento Humano (Nepas), ligado ao Departamento de Educação Física UFMA, o I Emamur consiste na primeira dentre muitas outras atividades a serem desenvolvidas pelo convênio. O objetivo deste acordo é estabelecer o intercâmbio entre as duas universidades para qualquer área do conhecimento. Não se tem notícias de houve continuidade.. Outro exemplo foi a defesa de duas monografias de graduação em áreas distintas de conhecimento: - a de Mestre Nelsinho, em Educação Física, que resgata a importância de Mestre Sapo na implementação da Capoeira baiana no Maranhão e resgata parte da história da Capoeira maranhense. Esse trabalho de Nelsinho tem que ser divulgado entre todos os que amam a Capoeira, pois se trata de uma pesquisa de suma importância que deve extrapolar os muros da Universidade; - o outro, na área da Economia, me é especialmente caro: a monografia de minha filha, Loreta Brito Vaz, que estudou a capoeira na perspectiva de fonte de renda e emprego em São Luis. Acredito que muitos de vocês foram participantes-respondentes da pesquisa que empreendeu. Tenho notícias que outras duas pesquisa foram feitas, uma na área de História, também relatando a vida de Mestre Sapo – ainda não consegui cópia – e outra, em Educação Física, aprovada junto ao colegiado do curso, que estava se iniciando. Com isso, gostaria de colocar a questão sobre qual poderia ser a contribuição da relação universidade – especialmente de pesquisadores concreta e politicamente envolvidos – com a Capoeira? E mais, qual a contribuição de momentos como este que estamos vivendo hoje aqui? Qual a importância da Capoeira estar dentro do espaço acadêmico? E indo mais longe, por que a Capoeira não tem sido objeto de estudo de nossas universidades? Outra questão que gostaria de levantar, diz respeito à música... Mestre Patinho chamou-me a atenção para o aspecto educacional que a música tem dentro da Capoeira. Para ser, realmente, um Capoeira, a musicalidade deve ser desenvolvida, não apenas através do saber executar as ladainhas, os cantos, as chamadas, mas de saber os seus significados, o que dizem... mais, aprender a executar os instrumentos, a cantar, o ritmo... tudo é questão de ritmo, e é o ritmo que determina os movimentos; se você não dominar o ritmo, não executará os movimentos ... Temos observado que a música, na Capoeira, tem assumido um caráter de protesto e contestação social; observamos que as músicas são sempre improvisadas, e em geral falam do negro na senzala, do negro livre, da religião, da comunidade, seus hábitos, seus feitos, etc., algumas vezes são cantos de louvor, tristeza, revolta, desafio28. A musica organiza uma série de práticas educativas informais na Capoeira ao ditarem normas da dinâmica do jogo; e ao assumirem a narrativa das lutas da cultura popular, especialmente negra. Como Mukuna (1980)29, a capoeira hoje reinvindica-se ser patrimônio da cultura brasileira, podemos afirmar que essa prática cultural ainda potencializa uma dimensão crítica de protestos e contestação social ? qual é ou qual tem sido o papel da musica na atuação dos educadores de capoeira? A musica é um saber que está ao alcance de todos e todas na capoeira? As temáticas tratadas nas musicas tem favorecido idéias comunitárias? E por fim, um outro questionamento seria sobre a atuação daqueles que são responsáveis por aquilo que se constitui um conjunto de práticas educativas informais, ou seja, aqueles que chamamos de professores e professoras ou para lembrar educadores de capoeira. Como esses educadores desenvolvem informalmente seus processos de formação? Como desenvolvem estratégias de organização educativa, por exemplo, mediadas pela musica? Quais são as suas visões e opiniões sobre as atuais discussões sobre a regulamentação dos profissionais da capoeira? Gostaria de concluir - com Corte Real -, fazendo um balanço 28 29

In CAPOEIRA: arte marcial do Brasil. Rio de Janeiro: Grupo de Comunicação Três, 1983 MUKUNA, K. Contribuição Bantú na musica popular brasileira. São Paulo: Global, [ca. 1980]


das idéias e questões levantadas3017. Penso que seja válida a visão da capoeira como sendo dinâmica, inserida no processo histórico e em constante transformação. Portanto, como uma prática cultural, que engloba os aspectos de arte, luta, dança, esporte, educação, resistência entre outros. Lembrar também da possibilidade de compreender a capoeira na perspectiva intercultural da educação significa reconhecer a riqueza dessa prática cultural em suas múltiplas formas. Por isso mesmo, a perspectiva intercultural chama atenção para necessidade de reconhecimento das diferentes formas de manifestação da capoeira. Necessidade também de reconhecer a individualidade de cada pessoa e sua contribuição, seja para realização de uma roda de capoeira, seja na luta por seu reconhecimento. Mas, sobretudo, a idéia de intercultura chama atenção para necessidade de lidarmos com todos os tipos de conflitos presentes numa prática cultural como a capoeira que mostram que a capoeira é, de fato, uma luta, assim como a cultura é um campo de lutas sociais. Termino, então, com as questões: • Quais conseqüências de compreender a capoeira como prática cultural em transformação que engloba esporte, luta, arte, resistência, educação entre outros aspectos? Quais opções dessas queremos? • Até que ponto a roda ou a capoeira como um todo é um exemplo de educação intercultural? Ou seja, a capoeira pode ser um espaço de participação de pessoas diferentes unidas por objetivos comuns? • Qual pode ser a contribuição da relação da universidade com a capoeira? Acadêmicos e capoeiras podem ter algo a aprender juntos? • Qual tem sido o papel da música na atuação e formação dos educadores de capoeira? Se alguma de todas essas palavras que disse conseguiu mexer um pouco com os pensamentos de vocês, assim como o capoeira se mexe quando o berimbau chora, terei cumprido o meu propósito em estar nesta roda. Segue o jogo. Obrigado

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CORTE REAL, M.P. Círculos de cultura na investigação temática de musicas negras. PPGE/CE/UFSM, dissertação de mestrado, 2001 CORTE REAL, M.P. A capoeira pode ter seu espaço na escola? Texto apresentado no evento O negro e o currículo escolar. Santa Maria: 8ª. Delegacia de Educação, 1999


REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA REVISTA ELETRÔNICA DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – BIOLOGIA - SEGURANÇA DO TRABALHO Volume 10, Número 02, jul/dez/2007 (Disponibilizado em Fevereiro de 2008) SUPLEMENTO - ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO TRADIÇÕES Formada pelos três esportes principais de origem nacional: CAPOEIRA; PETECA; RODEIO. CAPOEIRA/CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DEFINIÇÕES Por Capoeira deve-se entender “... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira); assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a “... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40). “Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ” uma luta dramática”(in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388). “CARIOCA” - uma briga-de-rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu ‘a capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX. 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124) 2003 - Mestre Mizinho, natural de Cururupu, informa que naquela cidade também se praticava uma luta, semelhante a Capoeira, a que denominavam “carioca”: 2005 - Dilvan de Jesus Fonseca Oliveira informa que seu avô, falecido aos 92 anos, estivador do Porto de São Luís – Cais da Sagração, Portinho, Rampa Campos Melo – sempre se referia á “capoeira” como “carioca”, luta praticada em sua juventude. Mestre Diniz, nascido em 1929, lembra que “na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira”. - em Codó, entre os antigos, a capoeira é denominada de “carioca”. 1820 – registra-se nesta data referência a “punga dos homens”, jogo que utiliza movimentos semelhantes à capoeira. 1829 - registram-se certas atividades lúdicas dos negros. Nesse ano é publicado no jornal “A Estrela do Norte” a seguinte reclamação de um morador da cidade:


“Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d’elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém ? “(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite) 1835 - na Rua dos Apicuns, local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural:- “A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís.” (ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). 1843 - o Diretor da Casa dos Educandos Artífices do Maranhão em relato ao Presidente da Província informava que havia “um outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor: “Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em conseqüência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer conseqüências mais desagradáveis [...] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192). A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, e havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis


Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184). Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 1842311, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada? 1863 – Josué Montelo, em seu romance “Os degraus do Paraíso”, em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863 quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite: "Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, ão mais luziram no abandono das ruas." O que é confirmado por VIEIRA FILHO (1971) quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunirem em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. 1877 – MARTINS (1989, in MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179) 1889 - No mês de julho desse mesmo ano teriam ocorrido outras duas conferências em que os republicanos foram apedrejados pelos libertos de 13 do maio (denominados capoeiras) insuflados pelos monarquistas. (Fonte: Luiz Alberto Ferreira - Escola Caminho das Estrelas O MOVIMENTO REPUBLICANO NO MARANHÃO - 1888-1889) 1915 - NASCIMENTO DE MORAES, em uma crônica que retrata os costume e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem: “A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (NASCIMENTO DE MORAES. Vencidos e Degenerados. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000, p. 95). Em outro trecho é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”. (in MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005

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ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001


ANOS 30/40 -Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 – que é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo; Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. ANOS 50 ANOS 60 – “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO no início dos anos 60. Criação do Grupo “Bantus”, do qual participavam, além de Mestre Roberval Serejo (graduado por Arthur Emídio); Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. 1965 – Mestre Paturi (Antonio Alberto Carvalho, nascido em 1946, o Mestre mais velho em atuação, hoje), inicia-se na Capoeira com os Mestres Manoelito e Leocádio, e após a chegada de Mestre Sapo, passa a treinar com este. Foi o primeiro a registrar uma Associação de Capoeira (?). 1966 - Mestre Canjiquinha [Washington Bruno da Silva, 1925-1994], e seu Grupo Aberrê passam pelo Maranhão, apresentando-se em Bacabal, no teatro de Arena Municipal; e em São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (in REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador :Itapuã, 1968). Acompanhavam Mestre Canjiquinha Sapo [Anselmo Barnabé Rodrigues]; Brasília [Antônio Cardoso Andrade]; e Vitor Careca, os três, ‘a época, menores de idade. 1968 – Mestre Sapo retorna ao Maranhão, para ensinar capoeira. Vai se tornar a maior referência da capoeira do Maranhão, formando inúmeros alunos e graduando vários mestres, até sua morte, em 1982. ANOS 1970 - A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Em uma de suas viagens, no final dos anos 70, Mestre Sapo, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília. Foi quem o graduou Mestre. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. Mas quem o iniciou na capoeira foi Mestre Pelé de Salvador [Natalício Neves da Silva, nascido em 1934] 1979 – Mestre Robervaldo Sena Palhano funda, no bairro da Alemanha, a “Associação Cativos de Capoeira”, com estilo e características próprias, com o objetivo de divulgar e motivar a prática da capoeira; atualmente, possui as seguintes filias e locais de treinamento: São Luís – Mestre Murilo; Paço do Lumiar – Instrutor Genivaldo; Imperatriz – Mestre Miguel; Porto Franco – Instrutora Luiza; Bacabal – Instrutor Fábio; Buriti de Inácia vaz – Instrutor Roberto; Araguaina (TO) – Formado Pessoa; Cachoeirinha (TO) – Instrutor Pedro; Resende (RJ) – Mestre Ricardo; Penedo (RJ) – Mestre Ricardo; Porto Murtinho (MS) – Mestre Robervaldo; Correspondente na Suiça – Aluno URS. ANOS 80 – 1982 – Morte de Mestre Sapo. Encerra-se um ciclo na capoeira no Maranhão, inciado por ele. ANOS 90 1990 – em 26 de julho, é fundada a Federação Maranhense de Capoeira, pelo Mestre Robervaldo Sena Palhano, com as seguintes associações fundadoras: Cativos da Capoeira; Filhos de Aruanda; Capoeira Cordel Branco; Grupo de Apoio à Capoeira. Sua primeira diretoria foi assim constituída: Presidente: Robervaldo Sena Palhano; Vice: Jorge Luis Lima de Sousa; Primeiro Secretário: Roberto Edeltrudes Pinto Cardoso; Segundo Secretário: Antonio Alberto Carvalho. - Após a primeira gestão, assumiram a Federação: Jorge Luis Lima de Sousa e depois Evandro Costa. – a Capoeira volta aos Jogos Escolares Maranhenses por interveniência de Mestre Robervaldo Sena Palhano, da Associação Cativos de Capoeira;


ANOS 2000 2000 – Fundada, em maio, a Associação Nação Palmares de Capoeira; vem desenvolvendo um trabalho forte na capital e em várias outras cidades do Estado. Principalmente na Baixada Ocidental maranhense, onde se concentra a maioria de suas unidades de ensino. Fundada através da união de 8 professores e contramestres, atualmente sob a coordenação geral do Contra-Mestre Jota Jota, a Nação Palmares de Capoeira atravessou as fronteiras do Estado e do país se instalando na França, na Bélgica. Núcleos no Maranhão: Barreirinhas (Formado : Feiticeiro); Paulino Neves (Formado : Feiticeiro); São Mateus (Estagiários : Cinô e Paturi); Viana (Formado : Zequinha); São João Batista (Formado : Zequinha); PindaréMirim (Formado : Ventania). 2006 – assume a Federação Maranhense de Capoeira -“gestão volta ao mundo” – como Presidente: Murilo Sérgio Sena Palhano (988806 54 89); Vice: Cláudio da Conceição Rodrigues; Primeiro Secretário: José Antonio de Araújo Coelho; Comunicação Social: Genivaldo Mendes;DiretorTécnico: Juvenal dos Santos Pereira; Tesoureiro: Márcia Andrade Sena Palhano; Diretor de Arbitragem: Jorge Luis Lima de Sousa. Associações filiadas: Cativos da Capoeira; Filhos de Aruanda; Jeje Nagô; Mara Brasil; Amarauê; Art Brasil;Sheknah. BOX Mestre Sapo morreu em 1982. Mereceu do Professor Laércio Elias Pereira um “Tributo ao Mestre Sapo”, em que é traçada, poeticamente, sua história de vida: “Era um dos ‘capitães da areia’ das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali. Vivem é muito otimismo; sobrevivem à margem da sociedade dando e pedindo esmola, como cantou outro baiano, Moraes Moreira. “Daí até chegar à capoeira pra turista foi fácil, que a Capoeira era parte de seu dia-a-dia. Já tinha até arranjado um lugar de destaque junto a Mestre Canjiquinha, que fazia apresentações em bares e boates da Bahia de Todos os Santos. Com Canjiquinha apareceu na maioria dos filmes feitos sobre a Bahia pela Atlântica e se orgulhava de ter filmado com Anselmo Duarte. “Convidado, Canjiquinha fez uma excursão pelo Nordeste, e, no Maranhão, o garoto Sapo foi convidado para ficar. Era bom de luta e a política local precisava de guarda-costas. Foi a primeira investida da máquina, desta vez a política. Com a facilidade de manejar armas pela nova profissão Mestre Sapo teria aí uma de suas paixões: sempre tinha um trintaeoito ou uma bereta pra ‘botar no prego’ e recuperar quando aparecesse algum, pois a convivência com políticos não tinha deixado nada que o ajudasse no leite das crianças, a não ser o estudo, com que ele deu um rabo-de-arraia nas poucas letras trazidas de Salvador. Estudou muito. Até o cursinho, e se foi sem ter conseguido superar o vestibular que a Universidade teima em manter na área médica, pra Educação Física. Mas era professor de Educação Física: Professor Anselmo. Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo. Era a segunda investida da máquina: a administrativa. A modernização da pobreza também tenta tirar a originalidade das pessoas. Como Sapo não seria aceito; só como Anselmo. Essa parada contra a máquina ele ganhou: nunca deixou de ser Mestre Sapo. “Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em ‘Capoeira Angola’ é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova ‘Ginástica Brasileira’ a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica. “Ia se aperfeiçoar e o sonho de fazer Educação Física foi ficando cada vez mais sonho. Mas tinha orgulho de sua forma física: ‘Fique calmo!’, ‘Olha o bíceps!’. “Ele gostava de domingo. Um dia malemolente pra se tomar cana e brigar. Brigar com os companheiros de briga. E foi num domingo, domingo de cachaça e briga que ele recebeu a terceira e definitiva investida da máquina: o automóvel, que mostrava a ‘mais vaia’ de sua capacidade de competição contra os músculos do Homem. Os músculos bem treinados de Mestre Sapo nada puderam contra a máquina forte e estúpida, medida em cavalos. Mais de cinqüenta. Uma máquina movida por um companheiro de profissão, um amigo, pra combinar com o domingo, com a briga e a cachaça. Jamais seria um desconhecido dirigindo a máquina


da morte. Sapo era amigo de todo mundo”. (in PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17) BOX – GENESE DA CAPOEIRA EM SÃO LUIS DO MARANHÃO Manoelito Leocádio Zé Baianinho Mané GRUPO BANTUS | (Arthur Emídio) Roberval Serejo / (Djalma Bandeira ) Jessé Lobão / (Catumbi) Firmino Diniz | Babalú Patinho Ubirajara Manuel Peitudinho Elmo Cascavel Alô Gouveia Didi | ABERRÊ | CANJIQUINHA | Brasília SAPO Vítor Careca | MESTRE PATINHO | Costa Rodrigues Academia Senzala Parque do Bom Menino Pró-Dança Lítero Gladyz Brenha Marquinhos Tião Carvalho Bigu Gavião Jacaré Robert Carlos César Brenha Neto | LABORARTE | Laborarte Mandigueiros do Amanhã Centro Matroá Escola Criação Maré do Chão N´Zambi Brinquedos de Angola Nelsinho Klebinho Bamba Marco Aurélio Same Serginho Marinheiro Nestor Elma Frederico | CENTRO CULTURAL MESTRE PATINHO Acinho de Jesus Alex Cabeludo Domingos de Deus Euzamor | Pudiapen Águia Sidnelson Madeira | Abelha Paulinho Gavião Arara Merão King Paturi De Paula Dominguinhos Pirrita Raimundão Açougueiro | | Ciba Pedro Soares Canarinho Negão Vânio Socó

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Generoso Valdeci Índio Maranhão Cacá Faquinha

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(Canjiquinha) Evandro (Bimba) Edy Baiano Camisa Bartô Ribaldo Pai Velho Camisa Rui Pinto (Burguês) Fuzuê (CBC-RJ) Sena | | | | | | | | | Mirinho Baé Bodinho Pezão Chiquitita Cimbar Juruna Euzamor Frazão Magno Mizinho Tutuca | | Chicão Curoja Graúna CAPOEIRA/CAPOEIRAGEM EM SÃO LUÍS – ANOS 1970 EM DIANTE - Mestre Patinho - Mestre Nelsinho - Mestre Marco Aurélio -

DATAS/ACONTECIMENTOS/QUEM SITUAÇÃO ATUAL LOCAIS DE PRÁTICA (mapa São Luis)


DESTAQUES - núcleos de ensino de capoeira - ANGOLA - REGIONAL - CONTEMPORÂNEA - eventos - competições CAPOEIRA FEMININA Em AÇAILÃNDIA - 1996 – o introdutor da Capoeira em Açailândia foi Roberth Francisco de Sousa Cruz (Piabão); vem fazendo, desde então, um trabalho de divulgação da modalidade junto às crianças de várias escolas locais; em outubro de 1997 representou Açailândia na cidade do Rio de Janeiro. [Nascimento informa, em seu livre, a pág. 147, quando se refere à introdução da Capoeira, que esta é “uma modalidade esportiva que surgiu na Bahia, em 1649. Naquela época, Vicente Ferreira Pastinha juntou-se em uma capoeira com os negros africanos que vieram para o Brasil, fazendo uma luta disfarçada de dança, para defender suas colônias e aldeias. Daí originou-se a dança Abada-Capoeira e a Maculelê.”.]. Fonte: NASCIMENTO, Evangelista Mota. AÇAILÂNDIA E SUA HISTÓRIA. Imperatriz: Ética, 1998 Em BACABAL - 1974 - o professor João José da Silva Montou uma academia de capoeira na Praça Silva Neto no centro da cidade de Bacabal. Capoeirista por opção e Engenheiro Agrônomo de profissão, trabalhava na empresa EMAPA e em suas horas vagas ensinava a arte da capoeira. Com o decorrer dos anos a academia deixou de existir. 1979 - inaugurado o Centro Social Urbano de Bacabal (CSU); entre suas atividades educativas incluía-se a capoeira, com as aulas ministradas por João José, único professor de capoeira, e contratado para ministrar aulas de capoeira neste Centro, o ensinamento ocorreu sem problemas nos anos que se seguiram. 1980 – surgimento do Grupo de Capoeira Escravos de Angola, do sr. Roberto ( ? ). O grupo tinha 08 pessoas que treinavam na casa do Instrutor Roberto, que ficava na Rua Osvaldo Cruz, enfrente a fábrica do Café Bacabal. O principal objetivo do grupo era compor músicas, tocar, cantar e fazer farra nas suas apresentações; participaram do ultimo Festival de Musica Popular de Bacabal. 1981 - chegou de São Luis – MA o sr. Almir dos Santos, aluno de Capoeira do Professor Neguinho, que na época ensinava nos Centros Sociais Urbanos de São Luis. Chegando a Bacabal se instalou na casa de sua avó, na Rua da Mangueira, e com o passar do tempo começou a ensinar capoeira aos seus vizinhos e conhecidos no quintal da casa. Foi então que veio a conhecer o professor João José que através do mesmo veio também a ser contratado para ensinar capoeira auxiliando-o no Centro Social Urbano de Bacabal. 1982 -chegava a Bacabal o senhor Mariano Pereira Lopes, baiano, Se instalou na casa de seus pais e começou a por em prática a sua experiência na arte da capoeira, tentando formar grupos de capoeira na cidade e assim permaneceu por vários anos, mas devido a seu péssimo gênio não chegou a lugar algum com seus grupos. 1984 – por um tempo os mestres locais se ausentaram da capoeira em Bacabal; neste período, os discípulos destes professores formaram o Grupo de Capoeira CORDÃO DE OURO, composto por quatro pessoas: Antonio dos Reis Machado, Arapoã Evangelista Lopes, Iralde Ferreira da Costa, e Isabela da Silva. Realizaram várias apresentações de Capoeira pela cidade, com a intenção de divulgar o esporte. Mais tarde o grupo fora desarticulado por falta de estrutura e apoio das autoridades. Algum tempo depois alguns capoeiristas deste grupo se destacaram com trabalhos individuais dentro e fora da cidade, como foi o caso de Antonio dos Reis Machado – Mestre PINTA - que fundou a Escola de Capoeira Zâmbi, na Rua 10, casa 74, Bairro Vila São João e Iralde Ferreira da Costa – BIRIMBAL - que após ter tentado fazer alguns trabalhos em Bacabal, como o caso do grupo que montou no pátio do Colégio Nossa Senhora dos Anjos e em sua casa que durou pouco tempo por causa de sua profissão que o obrigava a viajar muito, em dessas viagens parou


na cidade de Paulo Ramos – MA onde fundou o grupo SUCURI, que mais tarde veio para Bacabal ficando localizado no G.N.P.R., mais durou pouco tempo fechando suas portas após pouco mais de um ano. - O Grupo de Capoeira Zâmbi surgiu com a finalidade de difundir e divulgar a cultura e a arte da defesa pessoal, a capoeira. Nesta época, os treinamentos eram realizados no campo do Conjunto Habitacional Aracati, nos horários das 16:00 às 18:00, todos os dias; era constituído de 14 pessoas. O grupo durou cerca de um ano e se extinguiu temporariamente. 1985 – ressurgimento do Grupo Zâmbi, no bairro da Areia, com sede provisória no CSU sendo o instrutor Antonio dos Reis Machado convidado pela senhora Maria José “ZEZE,” diretora na época do CSU, para que ele ensinasse capoeira no Centro. O grupo tinha 20 integrantes e resistiu por um período de seis meses, quando então o instrutor precisou viajar, assim sendo o grupo se extinguiu por mais um período. 1986 - retomada do Grupo Zâmbi, no Clube Recreativo Icaraí, quando Antonio dos Reis Machado foi convidado pela diretora do clube a lecionar capoeira juntamente com os professores de ginástica e karatê. O programa da instituição durou pouco tempo e também por motivos particulares, como emprego, viagens o instrutor teve que abandonar por mais algum tempo o ensino da capoeira. 1987 - 18 de janeiro - O Grupo de Capoeira Zâmbi volta nesse ano, agora com mais experiência e maturidade, e inaugura sua sede oficial, no antigo Clube Imperial na Rua 10, Casa 74, Bairro Vila São João. A inauguração foi feita pelo Grupo Cordão de Ouro, constituído pelos srs: Almir dos Santos, Iralde Ferreira da Costa, Arapoã Evangelista Lopes, Mariano R. Sousa e Antonio dos Reis Machado – PINTA -, na função de Instrutor e Coordenador geral do grupo. Na época o grupo contava com 15 participantes que divulgavam a capoeira em Bacabal. - participação no aniversario do Frei Evaldo, Diretor do Colégio Nossa Senhora dos Anjos. O grupo se apresentou no palco do auditório do CONASA com a participação de vários alunos da escola que aproveitaram para homenagear o seu diretor. - Abril - Após quatro meses de treinamento, participaram da “1ª AMOSTRA DE CAPOEIRA DO MARANHÃO“ no Ginásio Costa Rodrigues, com o objetivo principal de mostrar qual dos grupos de capoeira se apresentava melhor no Jogo Regional e Angola. - Agosto, 21 e 22 - a primeira apresentação do Grupo Zâmbi, em Bacabal, durante a EXPOABA; a Terceira Roda Aberta de Capoeira de Bacabal; houve outra apresentação no pátio do Colégio Nossa Senhora dos Anjos; com ajuda da Prefeitura de Bacabal foram trazidos vários integrantes dos Grupos de Capoeira Aruandê, e Cascavel, de São Luis, com a participação da Casa de Cultura de Bacabal. - Agosto, 29 o Grupo de Capoeira Zâmbi participou do 3º MOVIMENTO PRÓ CAPOEIRA DO MARANHÃO que se realizou no Teatro Itapicuraíba, no bairro do Anjo da Guarda, em São Luis – MA. O evento foi coordenado pelos grupos de capoeira Aruandê e Filhos de Aruanda, com a participação do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN). - setembro, 27 - o Grupo de Capoeira Zâmbi integra-se oficialmente ao movimento negro em Bacabal, patrocinado pelo GNPR - Grupo Negro Palmares Renascendo. O evento aconteceu na Praça Chagas Araújo, onde teve várias apresentações culturais como: “a canga”, peça teatral realizada pelo grupo de teatro de São Luis, bumba-meu-boi de Piratininga, afoxé pelo grupo local “Geafro”, show de musica com o cantor Negro Hamilton do CCN, e capoeira pelos Grupos de Capoeira Zâmbi e Sucuri, de Bacabal, e Raízes de Palmares, de São Luis – MA. - outubro - convidado a participar dos Festejos de São Francisco, no Povoado do Copem, no município de Bacabal; o grupo se apresentou no dia 30 no salão de festas do povoado, onde o instrutor falou da importância da capoeira na comunidade. - primeiro evento oficial, o 1° TORNEIO DE CAPOEIRA CLASSE EXTREANTES, que aconteceu entre os primeiros integrantes do grupo, onde se destacaram os seguintes alunos: Antonio Carlos da Silva (1° lugar individual, categoria médio juvenil ), Antonio Carlos Andrade da Silva (2° lugar individual, categoria médio juvenil) e Ch arles Augusto França (3° lugar individual, categoria médio juvenil). 1994 - Em 23 de outubro Associação de Capoeira Zâmbi realiza o 1° FESTIVAL REGIONAL DE CA POEIRA DE BACABAL, realizado no GNPR, com a participação do Núcleo de Cultura, representantes de Imperatriz e Comissão Julgadora de São Luis, constituído por Mestre Pirrita, Mestre Índio, Mestre Patinho, Mestre Jorge, Mestre Evandro e Mestre Roberval Seno.


1995 - em meados de 1995, o grupo se dissipa; motivo: uma discussão entre Mestre Pinta e seu aluno formado Raimundo da Silva Reis, conhecido como Ratinho. Ratinho monta um outro grupo em Bacabal, de nome Aruanda, composto por seus companheiros de treino e seus alunos, para quem já dava aulas nos bairros de Bacabal. O grupo era independente, sem sistema de graduação, e funcionava no GNPR, situado no bairro Madre Rosa. - Outra discussão, desta vez no Grupo Aruanda, faz também o mesmo se dividisse. Os instrutores desta divisão começaram a se filiar com outros grupos de fora, para obterem um sistema de graduação, algo inexistente no grupo que participavam. 2000 – dezembro, 19 – é formado o Grupo Escravos Brancos quando Irlan Alves Veloso (Facão) se filiou a este grupo de Teresina – PI, de Mestre Albino. Antes, Irlan treinava na ACZ, hoje é estagiário no grupo Escravos Brancos, e treinam no Clube da AABB, com 45 alunos, ministrados por ele e seus instrutores. 2002 – inicio das atividades do Grupo Guerreiros do Quilombo com uma filiação de João Filho (Filão), exaluno de Ratinho e Jose Filho Marcos (Marcio), este ex-aluno de Irlan, com o grupo de Delmar (Zumbi) aluno formado por uma junção dele com o grupo Escravos Brancos para obtenção de graduação. O grupo iniciou seu treinamento no Centro Comunitário no Bairro Alto do Assunção; atualmente está instalado na sede provisória do Clube Melhor Idade Anos Dourados, no centro de Bacabal.Conta com 28 alunos; 2005 - a Associação de Capoeira Zâmbi, instalada na Rua Santa Terezinha, liderado por Mestre Pinta e seu aluno formado Huston (Caverna), tem alunos espalhados por toda Bacabal, totalizando mais de 80. BOX BIOGRAFIA DO MESTRE PINTA Nome: Antonio dos Reis Machado (Mestre Pinta) Filiação: Sebastião Machado de Oliveira e Eunice Francisca dos Reis Nascimento: 17/11/1963 Residência: Rua Paraíba, Bairro Pedro Brito – Bacabal – MA Estilo de Capoeira: Angola e Regional Seu mestre: Mestre Pirrita da Associação de Capoeira Aruandê de São Luis – MA Sua Academia: Associação de Capoeira Zâmbi, Rua Santa Terezinha, s/n – Bacabal - MA N° de alunos: mais de 80 Graduado em capoeira aluno formado sendo a 7ª Corda Amarela e Branca trançado (professor), pela Associação de Capoeira Aruandê de São Luis – MA e com curso de arbitragem de campeonato de capoeira pela Associação de Capoeira Aruandê de São Luis – MA em 13/10/1988.


REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA REVISTA ELETRÔNICA DO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – BIOLOGIA - SEGURANÇA DO TRABALHO Volume 11, Número 01, jan/jun2008 (Edição pré-printer) CAPOEIRA(GEM) EM SÃO LUIS DO MARANHÃO – NOVOS ACHADOS... Leopoldo Gil Dulcio Vaz Na primeira semana deste novembro de 2007, São Luis do Maranhão teve sua “I Feira do Livro”, promovida pela Prefeitura Municipal, em que houve lançamento de novos títulos dedicados ao resgate da história da cidade, do estado, e de suas instituições. Dentre as obras lançadas, destaco a de César Augusto Castro – INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL: uma história da Casa dos Educandos Artífices (1841-1889)321. Diz o Autor, às páginas 191, que o Diretor da Casa dos Educandos em relato ao Presidente da Província informava que havia “um outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor, em 1843: “Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passouse algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em conseqüência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito pareceme que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer conseqüências mais desagradáveis [...] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192, grifos meus). A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da 32

CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL: uma história da Casa dos Educandos Artífices (1841-1889). São Luís: EdFUNC, 2007. (Prêmio Antonio Lopes (Erudição) do XXX Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luis, 2006).


cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, e havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184). Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 1842332, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada? Leopoldo Gil Dulcio Vaz é Mestre em Ciência da Informação; Professor de Educação Física – CEFET-MA

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ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001


JORNAL DO CAPOEIRA VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Alunos do Curso Seqüencial de Educação Física turma C, da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. Capoeiragem No Maranhão. Parte I. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão - Parte II - Afinal, O Que É Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Maranhão - Parte IV - Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte V - Capoeira regional". IN In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte VI - A Capoeira "CARIOCA". In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Qual Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Pungada dos Homens & A Capoeiragem no Maranhão - MESTRE BAMBA, do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Capoeira em São Luis do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005. http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005 - EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo. In JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL estendida CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio O que é a Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem e a Guarda Negra :: Parte I. JORNAL DO CAPOEIRA Edição 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem, Guarda Negra & ISABELISMO :: Parte II JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem, Guarda Negra & O fuzilamento do dia 17 :: Parte III Jornal do Capoeira - Edição 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Angoleiros em Barra da Corda (MA) - JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 59 - de 05 a 11/Fev de 2006 disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Sobre a matéria "Segredo não é pra qualquer um", Juca Reis & Fernando de Noronha. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Loreta Brito; HOLANDA, Felipe de. Conversando Com Mestre Patinho JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/


VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atlas Das Tradições & Capoeira E Capoeiragem No Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006, http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Fernando De Noronha & Atlas Da Capoeira Maranhense. IN JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Os Holandeses e os Palmares - Nassau atacou os Palmares! JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 71 - de 30/Abril a 06/Maio de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Capoeira nos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança. JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 73 - de 14 a 20 de Maio de 2006. http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio O Vôo Do Falcão - Mudanças de paradigma no ensino da Capoeira?JORNAL DO CAPOEIRA - Edição 74 - de 21 a 27 de Maio de 2006 http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira, Maranhão & Agarre Marajoara - Atlas da Capoeiragem no Brasil Maranhão e o "Agarre Marajoara". In JORNAL DO CAPOEIRA, edição 78, 28 de maio a 03 de junho de 2006, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Loreta Brito; HOLANDA, Felipe de. Pesquisa: A Capoeira na Economia - Estudo de Caso: Qual a participação da Capoeira no PIB de São Luis do Maranhão? http://www.capoeira.jex.com.br/


CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Artigo enviado por Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Capoeiragem no Maranhão, No Brasil e no Mundo - Atlas da Capoeiragem -

Nota do Editor: Como já tivemos oportunidade de registrar neste jornal, é de fundamental importância Diagnosticar antes de Planejar. A Capoeira precisa de um Grande Diagnóstico, nos moldes do recém lançado Atlas do Esporte no Brasil. Dorme nas gavetas de Brasília, há décadas, um bom projeto sobre isto ("Atlas da Capoeira no Brasil"). A recente liberação de quase dois milhões de reais, para projetos capoeirísticos em Salvador, reacendeu a questão, tendo de fundo, uma avaliação tipo custo & benefício. O que será melhor, projetos efêmeros, quase turísticos, que duram uma noite, uma semana, ou a elaboração de um Diagnóstico sério e, mais do que oportuno, sobre a verdadeira situação da Capoeira e dos capoeiras no Brasil? Pois muito bem, o Maranhão saiu na frente, dando aos demais estados brasi-leiros e, porque não dizer, a todo Mundo da Capoeira, um belo exemplo. Sem alarde marquetológico (tão comum hoje em dia), mas com seriedade, competência, representatividade e transparência, o Maranhão começou a fazer um diagnóstico da capoeiragem local. O produto final será uma publicação, com excelentes textos de entrada, sobre teoria e prática da Arte Afro-Brasileira da Capoeiragem, especial-mente em terras maranhenses, e um resumo biográfico de cada mestre e estudioso que passou ou que realiza um trabalho no Maranhão. Ou seja, um Atlas da Capoeiragem no Maranhão, incluindo-se aí um Álbum dos Mestres atuais de lá e os que lá por passaram. Realmente um exemplo que deve ser seguido por todos os estados brasileiros. Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul... E, não temos dúvida que, em breve teremos, cada estado publicando seu Atlas Estadual da Capoeira, com textos locais e a biografia de seus mestres e pesquisadores. A soma desses Atlas, vocês já perceberam, será, simplesmente, o Atlas da Capoeira no Brasil. A próxima etapa, então, será realizar diagnóstico igual no resto do mundo. Por que não? Assim considerando, o Jornal do Capoeira, com muito prazer, passa a publicar uma série de matérias sobre esta oportuna iniciativa do Maranhão. Que vem sendo feita sob a competente Coordenação do ProfessorMestre Leopoldo Gil Dulcio Vaz, por Alunos do Curso Seqüencial de Educação Física - Turma C, da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Miltinho Astronauta CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ e Alunos do Curso Seqüencial de Educação Física - Turma C, da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA "A Capoeira no Maranhão tem seu inicio - segundo os registros mais antigos encontrados até agora - em 1835 ! De acordo com depoimentos dos Mestres atuais, teve um recomeço por volta dos anos 60, com a vinda de um grupo - do mestre Canjiquinha, Aberrê - no qual veio junto Mestre Sapo; que retorna depois, se fixando em São Luis. Diz a lenda que fora convidado por Sarney, para ser seu guarda costas. Ganhou emprego público, para ensinar a capoeira, num período em que houve a revitalização do esporte no Maranhão, comandado por Cláudio Vaz dos Santos; a capoeira foi incluída entre os esportes que ganharam escolinha no Ginásio Costa Rodrigues, com Sapo no comando.


Naturalmente que a Capoeira tinha seus adeptos, sendo citado como o mestre principal, ou mais importante naquela época - anterior aos anos 60 - Roberval Serejo. No depoimento de Mestre Patinho são citados alguns dos praticantes, com a fundação do primeiro grupo, do qual Roberval já participava". INTRODUÇÃO Em correspondência pessoal, via correio eletrônico, o Mestre André Lace, do Rio de Janeiro, enviou-me documento[1] em que propunha "DEZ Projetos para o Rio de Janeiro" chamando-me a atenção para o "Projeto Livro Álbum dos Mestres de Capoeira no Rio de Janeiro", em que propõem o cadastramento dos aproximadamente 150 mestres capoeiras do Rio de Janeiro; uma página para cada mestre, com foto. Haverá uma parte Introdutória com resumo da História da Capoeira no Rio de Janeiro e, também, resumo crítico dos principais livros sobre o assunto. Este projeto está, atualmente, com 12 biografias. Em outra correspondência, ao indagar sobre um aspecto da Capoeira no Maranhão, sugeriu-me a elaboração do "Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira de São Luís do Maranhão", assim como anteriormente já havia sugerido a criação de um "Centro de Capoeiragem do Maranhão". Os demais projetos são: 1.

Projeto SEIS RODAS ESPECIAIS de CAPOEIRA - Idealização (através de concurso para arquitetos urbanistas), construção e implantação de uma Programação Anual. Rodas especiais, concha acústica de cimento para a "orquestra", roda acimentada de apresentação e arquibancada tipo anfiteatro.

2.

Projeto "CENTRO DE MEMÓRIA DA ARTE-AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO" um espaço que poderá abrigar o "Centro de Memórias da Arte Afro-Brasileira da Capoeiragem".

3.

Projeto CONCURSO LITERÁRIO ANUAL - Redação, para o 2º grau; Monografia, para o 3º grau - Tema Básico: Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo.

4.

Projeto FUNDAÇÃO RIO CAPOEIRA - Criação de um Organismo que realmente contemple todos os múltiplos aspectos da Arte Afro-Brasileira da Capoeiragem. O Projeto incluirá a criação de um PONTO DE ENCONTRO DOS CAPOEIRAS que, em princípio, será calcado na experiência vitoriosa do Espaço nos Capoeiras, no Mercado Popular da Uruguaiana.

5.

Projeto LABORATÓRIOS DE CAPOEIRA - Série de experiências práticas testando a real eficácia da Capoeira enquanto Luta Marcial.

6.

Projeto FUNDAMENTOS DA CAPOEIRA - Criação de um grupo multidisciplinar para estudar, sem fantasias, os fundamentos da Capoeiragem em todos seus múltiplos aspectos: religioso, filosófico, ritmo e cantado, histórico, sociológico etc.

7.

Projeto UNIVERSIDADE DA CAPOEIRA - Projeto, inicialmente, apresentado do Governo Federal e, depois, à Universidade Estácio de Sá.

8.

Projeto HOMENAGENS ESPECIAIS - Exemplo: reforma completa do túmulo do Sr. Agenor Sampaio, Sinhozinho, com colocação solene de uma Placa de Agradecimento.

9.

CAPOEIRA EDITORIAL - Republicação enriquecida por uma avaliação crítica dos principais livros escritos Capoeiragem - ODC, Plácido de Abreu, ZUMA, Inezil Penna Marinho etc.

AFINAL, O QUE É CAPOEIRA? FICHAS BIOGRÁFICAS & MESTRES NO MARANHÃO - Continua no próximo número [1]

A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal - Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão).


Capoeira no Maranhão - Parte II Segunda parte do artigo "Capoeira no Maranhão", de autoria do Professor Leopoldo Vaz

Capoeira no Maranhão - Parte II AFINAL, O QUE É CAPOEIRAGEM? Leopoldo Vaz Nota do Editor: Temos agora no Vaticano, Itália, um Papa alemão. Assim como, guardando as proporções, um belo dia poderemos ter grandes mestres alemães de capoeira comandando a capoeira mundial. Senão alemão, de outro país qualquer, inclusive, certamente, do nosso querido Brasil. Cada vez mais, o Mundo transforma-se numa Aldeia Global, numa Grande Roda de Capoeira, onde, cada vez menos, caberá visão tacanha, dogmatismos, fanatismos, regionalismos, mercantilismos ou versões fantasiosas sobre as origens e a saga da Capoeiragem. Chegou a hora, portanto, de resgatar a História da Capoeira por completo. Assim pensando, começamos publicar, com excelente retorno de sugestões e críticas construtivas, , artigos históricos, clássicos, da literatura da Capoeira. Na mesma linha editorial estamos interessados em publicar todo e qualquer trabalho, bem fundamentado, que contribua para trazer à tona, finalmente, mestres e episódios da Capoeira no Brasil ocorridos e ocorrendo em vários estados, que não contem com a merecida divulgação. Citaria três bons exemplos: 1. As experiências realísticas com a Capoeira-Luta, a Capoeira na sua faceta marcial, como o Grupo Muzenza vem realizando (recomendo leitura da matéria publicada na Revista Tatame abril); 2. As pesquisas do grupo de mestres-pesquisadores de Floripa (Santa Catarina); e 3. Os estudos, pesquisas e projetos que o Maranhão vem realizando. Já publicamos a primeira parte do interessante estudo que está sendo realizado sob a coordenação do Professor Leopoldo Vaz (Capoeira no Maranhão), já publicamos, também, o oportuno artigo de autoria de Mestre Eli Pimenta - "A Capoeira em São Luiz do Maranhão". No jornal desta semana, estamos publicando a segunda parte do estudo do Mestre Leopoldo - Afinal o que é Capoeiragem? Estudo que, para efeito de publicação neste Jornal, foi dividido em cinco partes. No próximo número estaremos publicando a terceira parte, tão preciosa quanto esta que ora oferecemos a todos vocês. Valendo adiantar que, a partir da quarta parte estaremos começando a publicar as bases do exemplar trabalho que está sendo elaborado sob a coordenação do Mestre Leopoldo Vaz: "Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira no Maranhão". Todos os mestres e pesquisadores locais estão sendo entrevistados e cadastrados - uma experiência pioneira e mais do que oportuna - pelos alunos, como já adiantamos, da Disciplina Dimensões Históricas da Educação Física e dos Esportes, Curso Seqüencial de Educação Física Escolar, da Universidade Estadual do Maranhão, Turma "C": Allyson Ricardo Dias Nunes; Raimunda Lourença Correa; Hirlon Pires Braga; Erodax Rocha Caldas Filho Jaqueline Pinheiro Marinho Dutra; Pedro Henrique Silva De Brito; Priscila Souza Alves Pereira; Henrique de Jesus Sousa Diniz; José Lindberg A. Melo, Cláudio José Reis Brito; Alexsandro Aurélio Serra; Conrado Fernandes Cavalcante Neto; Fábio Luiz B. Silva; Josué Paiva Gomes; Wagner Almeida Berrêdo ; Witaçuci Khlewdyson Reis Bezerra; Maria do Socorro Viana Rego, Jonatha de Abreu Souza; José César Sousa Freire; Antonio Gilson de Sousa Silva ; Luiz Carlos Silva Albuquerque; Alzira Dias da Silva; Alan Carlos Gomes Ribeiro; Conrado Fernandes C. Neto; Hermílio Armando Viana Nina, Ismênia de Abreu Mendes ; Mayara Mendes de Azevedo. Já temos em mãos as "fichas" de mais de quinze mestres, contramestres e pesquisadores, dos mais antigos aos mais jovens: Mestres Sapo, Patinho, Nelsinho, Fred, Marco Aurélio e Bamba e vários outros. Pouco a pouco esse Jornal irá publicando a "ficha técnica" de cada um. Vale repetir, trata-se de um excelente exemplo que, seguramente, será seguido por todos demais estados brasileiros, especialmente aqueles onde a Capoeiragem é mais intensamente praticada. Miltinho Astronauta


AFINAL, O QUE É CAPOEIRAGEM? Segunda parte do trabalho "Capoeira no Maranhão" de autoria do Professor LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ e Alunos do Curso Seqüencial de Educação Física - Turma C, da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA De acordo com seu Regulamento Internacional como um:

[1]

, a "Capoeira" passa a ser reconhecida internacionalmente

"... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada": A existência da capoeira parece remontar aos quilombos brasileiros da época colonial, quando os escravos fugitivos, para se defenderem, fazem do próprio corpo uma arma. Não há indicações seguras de que a capoeira, tal qual a conhecemos hoje no Brasil, tenha se desenvolvido em qualquer outra parte do mundo (REIS, 2005)[2]: "Como não existem pesquisa históricas a respeito da capoeira para os séculos XVI a XVIII, não é possível reconstruirmos o processo que levou ao deslocamento da capoeira do campo à cidade, o que deve ter ocorrido por volta do começo do século XIX, posto que datam desse período as primeiras referências históricas (até agora conhecidas) referentes aos capoeiras urbanos". (REIS, 2005). Ainda de acordo com seu Regulamento Internacional, a Capoeira por sua inserção no processo histórico da nação portuguesa no período colonial brasileiro, bem como por haver recebido da mesma suas influências culturais, também faz parte reconhecidamente do acervo cultural do povo português. Mais, em virtude da Capoeira ser concebida no Brasil passa a ser considerada também como um patrimônio cultural dos povos da América e da humanidade. E ainda, em virtude dos dispostos em seu Regulamento, a Capoeira é reconhecida internacionalmente como: A- Desporto Cultural; B- Desporto de Identidade; C- Desporto Tradicional. Por isto, considera-se como prática do desporto formal da Capoeira sua manifestação cultural sistematizada na relação ensino-aprendizagem, havendo um ou mais docentes e um corpo discente, onde se estabelece um sistema de graduação de alunos e daqueles que ministram o ensino, havendo uma identificação indumentária por uniformes e símbolos visuais, independentemente do recinto onde se encontrarem. Assim, considera-se como pratica desportiva não-formal da Capoeira sua manifestação cultural, sem qualquer uma das configurações estabelecidas pelo anteriormente, e que seja praticada em recinto aberto, eminentemente por lazer, o que caracterizará a liberdade lúdica de seus praticantes. Aquele documento ainda estabeleceu em seu art. 17 a Nomenclatura de Movimentos de Capoeira, estabelecida em duas partes: A- Nomenclatura Histórica - colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, a saber: Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma). A mesma poderá ser ampliada em função da evolução das pesquisas científicas. B- Nomenclatura Oficial - estabelecida com base nos referenciais obtidos pelos trabalhos de Manuel dos Reis Machado (Ms. Bimba), fundador da segunda Escola Técnica de Educação Física no Brasil e por Vicente Ferreira Pastinha (Ms. Pastinha), fundador do primeiro Centro Esportivo de Capoeira, entendendo como única a Capoeira, porém considerando-se distintos seus os padrões de jogo advindos do emprego dos ritmos do berimbau em cada um dos legados que nos foram deixados como herança cultural. Quanto ao termo "Capoeiragem", o Mestre André Lace assim se manifesta: (a) Capoeira seria uma luta dramatizada; (b) a Capoeiragem é uma luta dramática (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388) [3].


Ambas podem se confundir, mas esta (Capoeiragem) refere-se mais à luta de rua; aquela (Capoeira) é mais utilizada para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo; berimbau, pandeiro, caxixi, reco-reco, agogô, atabaque); esta, uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual batiam-se palmas e cantavam versos curtos (samba duro, pernada carioca, etc.). Para esse Autor, a Capoeiragem "nasceu em berço africano", não com esse nome, certamente, e tampouco com suas formas atuais. Serve-se do perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado para essa assertiva, pois não se sabe onde tenha aportado, primeiro. Mas uma e outra - Capoeira e Capoeiragem têm mais predominância na Bahia - aquela - e no Rio de Janeiro - esta. É a Bahia o grande celeiro de mestres da Capoeira mais tradicional chamada de "Angola" - dança-luta -, embora praticada em outros estados, inclusive no Rio de Janeiro. A Capoeira Angola, também luta, envolveria e envolve outros componentes fascinantes, mas no dizer de Lace Lopes, "fora do presente contexto de luta pura". Já a Capoeiragem, ou seja, a capoeira-luta, a capoeira briga-de-rua, concentrou-se no Rio de Janeiro. Sobre a origem da Capoeira, há uma tendência dominante entre pesquisadores e antropólogos em considerar que surgiu no Brasil, fruto do processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e português (Vieira, 2005, p. 39-40) [4]. Ainda seguindo esse autor, em seu processo histórico apresenta três eixos fundamentais: Capoeira Desportiva. Capoeira Regional e Capoeira Angola. Capoeira, em termos esportivos, refere-se a "... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica". (VIEIRA, 2005, p. 39-40). Nota do Editor: Fim da Segunda Parte. No próximo número do Jornal do Capoeira, estaremos apresentando a Terceira Parte - Capoeira: Angola ou Regional? - deste interessante estudo do Professor Leopoldo Vaz. [1]

Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. [2]

REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). [3]

LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 386-388. [4]

VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40.


Capoeira no Maranhão - Parte III QUAL CAPOEIRA? Neste artigo o autor, professor Leopoldo Vaz, do Maranhão, apresenta algumas denominações de nossa Capoeira naquele Estado, e propôe uma pesquisa de opinião quais capoeiras existem realmente? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação "Depois de semanas de debates e propostas para programação, fiquei surpreso com alguns capoeiristas que disseram que a capoeira do Rio Grande do Sul só tem duas vertentes: Angola e Regional, não querendo aceitar a capoeira que poderíamos denominar contemporânea ou de rua, mas fiquei mais espantado pela falta de conhecimento e exclusão de outros grupos para participarem desta luta democrática que é a semana da capoeira..." (Vitor Hugo Narciso (Mestre Gavião), Presidente da Liga Regional de Capoeira do Rio Grande do Sul in http://www.capoeira.jex.com.br/, edição 35, 20 a 26 de junho de 2005) (grifos meus). "Porque não criar espaço para se debater estilos de Capoeira, fazendo-se, inclusive, entrevistas com o Mestre Fulano de Regional, ou então o Angoleiro da Antiga Tal. Por que não incluir, também, representantes da Capoeira do Rio Antigo (estilo Sinhozinho)? Sem esquecer, é claro, do pessoal do Capoeira Onça Pintada (Maranhão!), e por ai vai." (Instrutor Carlos Alberto Macaco - Grupo Coquinho Baiano de Campinas, São Paulo - in http://www.capoeira.jex.com.br/, edição 36, 27 de junho a 02 de julho de 2005). Em meus estudos tenho ouvido/lido a existência de muitas "capoeiras"; a capoeira não é uma só: cada mestre tem a "sua capoeira". Antigamente, havia apenas "capoeira", "capoeiragem", e seus praticantes, "capoeiras”... Depois, surgiu a "angola" e a "regional" ou "tradicional". Primeira divisão, consubstanciando, agora, duas capoeiras. Com sua disseminação, ou melhor, dizendo, irradiação da Bahia para o mundo, surge uma síntese das duas, que passa a ser denominada de "contemporânea”? Seria isso? O que diferencia a capoeira angola da regional, e estas da contemporânea? No Maranhão, aparece o termo "Mista", referindo-se a "muitas capoeiras. A tal "capoeira mista" seria: a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) k) l) m) n)

Maranhense para angola Maranhense nos três tempos Angolana Angolagem Contemporânea Regional Angola + Regional Regional + Angola Angola com Regional Regional com Angola Angola e Regional Regional e Angola Capoeiragem, que seria Angola e Regional com São Bento Grande e São Bento Pequeno; Capoeiragem, Regional com São Bento Grande e São Bento Pequeno; Onça Pintada, que seria a Regional com a Agarrada Marajoara (na região do Turiaçú, nas cidades


de Maracassumé e Carutapera, com influência do Mestre Zeca, de Belém do Pará). Abaixo apresento a lista de mestres de Capoeira de São Luís do Maranhão, indicando-se os estilos de Capoeira que cada um pratica, indicando também seus mestres: CAPOEIRA MISTA MESTRE Pedro Marcos Soares ABELHA ACINHO DE JESUS ou ASSSUERO

ESTILO Angola e Regional Angolana Angolagem

AÇOUGUEIRO ALYSON ou BOLINHO BODINHO CANARINHO CHICÃO CHIQUITITA CUROJA DE PAUILA EVANDRO FAQUINHA FRAZÃO FRED GENEROSO GRAÚNA ÍNDIO MARANHÃO JURUNA MAGNO MARIMBA MIRINHO NEGÃO PATINHO PAULINHO PEZÃO PUDIAPEN SEBÁ SOCÓ TUTUCA VALDECI

Angola e Regional Contemporâneo Regional Contemporânea Angola e Regional Mista, Angola, São Bento, Regional Angola e Regional Angola e Regional Angola e Regional Regional e Angola Contemporânea Angola Regional Angola Regional Maranhense para Angola Angola e Regional Angola e Regional Mista Angola e Regional Capoeira Contemporânea Mista Maranhense, nos três tempos Capoeiragem Angola e Regional Regional (mista) Angolagem Mista - Angola e Regional Angola e Regional Contemporânea Angola e Regional

Mestre a que é ligado Jorge e Pirrita Madeira Neguinho Murilo Patinho Pelé Sapo Evandro Mizinho Camisa Pirrita e Jorge Pezão Ribaldo Juruna Sapo Canjiquinha Valdecir e Gouveia Fuzuê Patinho Socó Pezão Firmino Diniz Camisa Sena Robervaldo Evandro Pirrita Sapo Madeira Bartô Patinho e Acinho Pelé Raimundão Evandro Diniz e Gouveia

CAPOEIRA ANGOLA ÁGUIA ou ALBERTO ALEX ARARA AZIZ BAMBA CABELUDO CIMBAR DOMINGUINHO

Angola

Euzamor

Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola

Patinho e Assoero Madeira Patinho Patinho Patinho Pai Velho Sapo


DOMINGOS DE DEUS EUSAMOR EUZAMOR GAVIÃO KYNG LOURO LUIS SENZALA MADEIRA MARCO AURÉLIO MERÃO MILITAR NELSINHO RAIMUNDÃO SAPO SIDNELSON ZUMBI BAHIA

Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola Angola

Patinho Patinho Rui Pinto Madeira Arara Patinho Madeira Euzamor Patinho e Nô Madeira Neguinho, Bigodinho Patinho Sapo Pelé e Canjiquinha Euzamor Bigode de Santo Amaro

CAPOEIRA REGIONAL/TRADICIONAL BAÉ EDY BAIANO

Regional Regional

FUZUÊ JOSÉ ANTONIO MIZINHO PEZÃO (2) CACÁ

Regional Regional Regional Regional Tradicional

Edy Baiano Bimba Vermelho Boxceu Vermelho 27 Burguês China Evandro Dedé e Militar Índio Maranhão

CAPOEIRA SEM DEFINIÇÃO DE ESTILO BACANA ou MUZENZA JUVENCIO MIGUEL PEDRO PIRRITA SENA

Indefinido

Jorge Navalha Gouveia Jorge Sapo CBP-RJ

A Capoeira do/no Maranhão tenha suas particularidades - haveria uma "capoeira maranhense" ? -; a principal referência foi Mestre Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues -, discípulo de Mestre Pelé - com quem aprendeu - e de Mestre Canjiquinha - com quem excursionou pelo Nordeste, vindo ao Maranhão. Ambos os mestres de Sapo eram "Angolas"; mas Sapo não tinha estilo definido, utilizava muito da Angola - dizia-se angola -, mas incluía elementos da regional - praticava/ensinava tanto "jogo baixo" quanto "jogo alto". Mestre Patinho, seu principal discípulo e que deu continuidade à obra, no início se definia "Angola", recentemente, chama seu estilo de "capoeiragem", sem no entanto definir o que seja isso... Quase todos os seus alunos, hoje mestres, definem-se como "Angola"... No Maranhão há uma divisão entre os capoeiras: existem duas federações - a de Mestre Sena (graduado mestre pela CBP-RJ), e a de Mestre Baé (graduado mestre por Edy Baiano, discípulo de Bimbinha); esta a oficial, reconhecida pela Confederação Brasileira de Capoeira, e ainda existe o grupo do Laborate, ligado ao Mestre Patinho. O pessoal da federação oficial, a do Mestre Baé, em sua maioria definem-se como "Regional", embora


Mestre Índio defina-se como "Mista" e seus discípulos, "tradicional"... Nos Jogos Escolares Maranhenses - JEMs -, quem a coordena e arbitra, é Mestre Sena. Qual capoeira? Lanço, aqui, umas questões aos leitores do Jornal do Capoeira: vamo-nos utilizar da técnica de Delphos (Delfi) para estabelecer alguns conceitos e definições, que possam ser aceitos e utilizados por todos. O domínio de qualquer tecnologia passa pela compreensão de sua linguagem. Se dominarmos a linguagem, dominamos a tecnologia. Assim: a)

em sua opinião, o que é capoeira? Regulamento Internacional , da Capoeira: "... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada": VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40: "... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica". (VIEIRA, 2005, p. 39-40).

b)

O que caracteriza a angola? E a regional? E a contemporânea? E a "de rua"? VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40: em seu processo histórico apresenta três eixos fundamentais: Capoeira Desportiva. Capoeira Regional e Capoeira Angola. ANGOLA - a Capoeira de Mestre Pastinha . Antes de abrir sua escola, a Capoeira não tinha uniformização e nem um método de ensino. As pessoas aprendiam de oitiva. As roupas usadas, eram de cor branca ou roupas comuns, alguns até descalço e outros calçados. Na escola de Mestre Pastinha, tinha um padrão, que era o uniforme preto e amarelo e calçado; tinha as suas "Chamadas", as quais ele aprendera com seu mestre. Tentou manter os fundamentos da Capoeira que ele aprendeu com seu mestre, um africano. (in http://www.capoeira.esp.br/). REGIONAL - a Capoeira de Mestre Bimba, seu sistematizador (criador). Sua maior contribuição foi a criação de um método de ensino, coisa que até então não existia. O que caracterizava a Capoeira Regional, é a sua "Seqüência de Ensino"; esta seqüência é uma série de exercícios físicos completos e organizados em um número de lições práticas e eficientes a fim de que o principiante em Capoeira, dentro do menor espaço de tempo possível se convença do valor da luta, como um sistema de ataque e defesa. A seqüência é para o capoeirista o seu ABC. Ela veio contribuir de maneira definitiva para o aprendizado da Capoeira. (in http://www.capoeira.esp.br/). c)

"Capoeira" é diferente de "capoeiragem"? Quanto ao termo "Capoeiragem", o Mestre André Lace assim se manifesta: (a) Capoeira seria uma luta dramatizada; (b) a Capoeiragem é uma luta dramática (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388) . Ambas podem se confundir, mas esta (Capoeiragem) refere-se mais à luta de rua; aquela (Capoeira) é mais utilizada para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo; berimbau, pandeiro, caxixi, reco-reco, agogô, atabaque); esta, uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual batiam-se palmas e cantavam versos curtos (samba duro, pernada carioca, etc.).

d)

Podemos falar em "capoeira", ou o certo seria em "capoeiras" ?


Comecemos por essas quatro questões/definições/conceitos. Cada Mestre leitor do Jornal do Capoeira poderá participar, emitindo sua definição/conceito. Uma Comissão composta de três a cinco mestres. Sugiro Falcão (UFSC), Eli Pimenta (SP), André Lacé (RJ), Miltinho Astronauta(SP), e Lamartine DaCosta (RJ), que poderão sintetizar e eleger até cinco definições/conceitos, em cada item, e dentre estes, a comunidade votará aquela que mais de adeque àquilo que está-se procurando. Poderão ser sugeridos, pelos participantes, outros temas relevantes que buscam definições. Estabelece-se como prazo de resposta, duas semanas - duas edições - do Jornal do Capoeira para que se emitam os "comentários". LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação leopoldovaz@elo.com.br aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001. Vicente Ferreira Pastinha, nasceu em 05 de abril de 1889, em Salvador. Foi o maior nome da Capoeira Angola e hoje é citado como exemplo e referência da Capoeira Angola por vários escritores. Faleceu em 13 de novembro de 1981 e deu muito de si para a Capoeira, mas morreu na miséria, sem ter sequer onde morar. Enquanto viveu para a Capoeira, ele procurou manter os fundamentos da Capoeira Angola e até implantou alguns de sua própria criação. Vale dizer até que ele implantou alguns fundamentos como as "Chamadas" para o passo à dois, as composições dos instrumentos e outros. Escolhendo a Capoeira como a sua maneira de viver, praticou e ensinou a Capoeira Angola por muitos anos e fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, em Salvador/BA. Pastinha já foi a África mostrar a nossa Capoeira, no 1° Festival de Artes Negras no ano de 1966, com ele foram também: Mestre João Grande, Mestre Gato, Mestre Gildo Alfinete, Mestre Roberto Satanás e Camafeu de Oxossi. Divulgou a Capoeira de Angola por quase todo País. Citado nos livros do grande Jorge Amado, Mestre Pastinha apareceu sempre como uma figura carismática. Outros grandes amantes da Capoeira Angola foram Besouro Mangangá, Valdemar da Paixão, Totonho de Maré, Cobrinha Verde, Canjiquinha, Caiçara, Atenilo, Nagé Traíra, Pedro Mineiro, Porreta, Sete Morte, Bento Certeiro, dentre outros. (in http://www.capoeira.esp.br). Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba , nascido a 23 de novembro de 1899 no bairro de Engenho Velho, freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia. Filho de Maria Martinha do Bonfim, e de Luiz Cândido Machado, grande "batuqueiro". Seu apelido, Bimba, ganhou logo ao nascer, em virtude de uma aposta feita por sua mãe e pela parteira que o "aparou". Sua mãe dizia que daria luz a uma menina; a parteira afirmava que seria um homem. Perdeu dona Maria Marinha, e o Manuel, recém-nascido, ganhou o apelido que o acompanharia para o resto da vida. Bimba é, na Bahia, um nome popular do órgão sexual masculino em crianças. (http://www.capoeira.esp.br/ ). LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 386-388.


CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO - PARTE IV - CAPOEIRA ANGOLA Nesta edição do Jornal do Capoeira publicamos a quarta parte da série de artigos sobre a Capoeiragem no Maranhão. Os artigos são frutos de um trabalho de pesquisa elaborado sob a coordenação do Professor Leopoldo VAZ (CEFET-MA) Início da Quarta Parte (para o Jornal do Capoeira) "Capoeira Angola" CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Parte IV - "Capoeira Angola" Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nota do Editor: Neste pequeno capítulo, Professor Leopoldo Vaz limita-se a fazer um resumo e alguns comentários, bem cautelosos, sobre algumas das principais versões que circulam por aí, em artigos, livros, depoimentos e cantos de Capoeira. Algumas versões, em função de uma mídia mais forte, conseguiram maior relevância, a rigor, entretanto, percebe-se que está se aproximando o momento ideal para surgir um trabalho de peso que mergulhe fundo neste tema - Capoeira Tradicional - que é, simplesmente, de vital importância para o pleno entendimento, resgate e prática da Capoeiragem. E que fique claro, quando escrevemos Capoeira Tradicional, não estamos nos referindo apenas a que, atualmente, atende pelo nome de Capoeira Angola. Tão pouco estamos a negar a dinâmica do folclore, para usar a expressão tão bem trabalhada por Edison Carneiro. Mas isto é outra história, para algum outro artigo. Concordamos, também, que nesta Parte IV, não houve uma correlação muito forte com o quadro passado ou atual da Capoeira no Maranhão. Entretanto, juntando todo o texto do Professor Leopoldo será possível a razão de cada uma de suas partes. O próprio Cadastro dos Mestres e Contramestres de Capoeira no Maranhão (excelente exemplo para os demais estados) já vem revelando alguma confusão, por parte de alguns mestres entrevistados, ao tentar rotular o tipo de capoeira que pratica e ensina. Miltinho Astronauta CAPEIRA ANGOLA[1] Não se sabe com certeza a origem da Capoeira Angola; alguns Mestres acreditam ter vindo da África, outros afirmam ter sido criada no Brasil pelos escravos africanos em ânsia de liberdade. Acredita-se que seja esta a origem, pois ainda não se conseguiu encontrar nada que levasse a crer que a Capoeira Angola fosse africana, apesar de saber-se que em África existia o "Jogo de zebra", ou "N'Golo" que era praticado com bastante violência, fazia parte de um ritual onde os negros lutavam num pequeno recinto e os vencedores tinham como prêmio as meninas da tribo, que ficavam moças. Ainda hoje, existe um ritual semelhante em Katagun, na Nigéria. Os negros vindos para o Brasil eram, em sua maioria, de Angola. Diziam-nos ser mais ágeis por terem estatura mediana e por isto tinham mais aproveitamento no trabalho e no jogo da Capoeira. O nome "CAPOEIRA" deu-se pelo motivo dos escravos ao fugirem para as matas. Os senhores mandavam os capitães-do-mato buscarem os escravos, que os atacavam com pés, mãos e cabeça, dando-lhes surras ou até mesmo matando-os, porém os que sobreviviam voltavam para os seus patrões indignados. Então os Senhores perguntavam: "Cadê os negros?" e a resposta era: - Nos pegaram na Capoeira", referindo-se ao local onde formam vencidos. A Capoeira no meio das matas era praticada como luta mortal, já nas fazendas ela era praticada como brinquedo inofensivo, pois ela estava sendo feita por baixo dos olhos dos Senhores de Engenho e dos Capitães-do-mato; e naquele momento se transformou em dança, pois ela precisava sobreviver, uma luta de resistência. O nome Capoeira Angola surgiu quando o Senhor de Engenho flagrava os negros jogando, ele dizia: -"Os negros estão brincando de Angola". Movimentos muito raros nas fazendas. Com as fugas em massa das


fazendas, a Capoeira se afirmava como arma de defesa no meio das grandes matas, onde se situavam os Quilombos. (http://www.capoeira.esp.br) Hoje quando se fala de Capoeira Angola, se fala na Capoeira de Mestre Pastinha [2]. Antes de abrir sua escola, a Capoeira não tinha uniformização e nem um método de ensino. As pessoas aprendiam de oitiva. As roupas usadas eram de cor branca ou roupas comuns, alguns até descalço e outros calçados. Na escola de Mestre Pastinha, tinha um padrão, que era o uniforme preto e amarelo[3] e calçado; tinha as suas "Chamadas", as quais ele aprendera com seu mestre, um africano. Tentou manter os fundamentos da Capoeira que ele aprendeu com seu mestre, um africano. Próximo: Quinta Parte (para o Jornal do Capoeira) "Capoeira Regional" [1]

In http://www.capoeira.esp.br

[2]

Vicente Ferreira Pastinha, nasceu em 05 de abril de 1889, em Salvador. Foi o maior nome da Capoeira Angola e hoje é citado como exemplo e referência da Capoeira Angola por vários escritores. Faleceu em 13 de novembro de 1981 e deu muito de si para a Capoeira, mas morreu na miséria, sem ter sequer onde morar. Enquanto viveu para a Capoeira, ele procurou manter os fundamentos da Capoeira Angola e até implantou alguns de sua própria criação. Vale dizer até que ele implantou alguns fundamentos como as "Chamadas" para o passo à dois, as composições dos instrumentos e outros. Escolhendo a Capoeira como a sua maneira de viver, praticou e ensinou a Capoeira Angola por muitos anos e fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, em Salvador/BA. Pastinha já foi a África mostrar a nossa Capoeira, no 1° Festival de Artes Negras no ano de 1966, com ele foram também: Mestre João Grande, Mestre Gato, Mestre Gildo Alfinete, Mestre Roberto Satanás e Camafeu de Oxossi. Divulgou a Capoeira de Angola por quase todo País. Citado nos livros do grande Jorge Amado, Mestre Pastinha apareceu sempre como uma figura carismática. Outros grandes amantes da Capoeira Angola foram Besouro Mangangá, Valdemar da Paixão, Totonho de Maré, Cobrinha Verde, Canjiquinha, Caiçara, Atenilo, Nagé Traíra, Pedro Mineiro, Porreta, Sete Morte, Bento Certeiro, dentre outros. (in http://www.capoeira.esp.br). [3]

Pelo motivo do Mestre torcer pelo Ipiranga, um time de futebol da Bahia. Apesar de utilizar essas cores, ele próprio utilizava o branco.


Capoeira no Maranhão Este é o quinto texto da série, e fala sobre a Capoeira Regional CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO

PARTE V - "CAPOEIRA REGIONAL" Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nota do Editor: Elogios continuam chegando sobre os textos maranhenses. Mas, com razão, estamos recebendo, também, sugestões para não abusar do número de capítulos, até mesmo por ser pouco jornalístico. Concordamos com a crítica e mais ainda com a sugestão. Na realidade usamos o recurso dos capítulos para poder publicar todo o texto do Professor Leopoldo Vaz, o que seria impossível em apenas uma edição. Daí a divisão que fizemos e explicitamos em número anterior. Para controle do leitor. que acompanha esta boa novela, explicitamos novamente: Textos do Professor Leopoldo Vaz  Parte I - Capoeiragem em São Luis do Maranhão  Parte II - Afinal, o que é capoeiragem?  Parte III - Capoeira: Angola ou Regional?  Parte IV - Capoeira Angola  Parte V - Capoeira Regional  Parte VI - A Capoeira "CARIOCA"  Parte Especial: Cadastro de Mestres e Contramestres de Capoeira no Maranhão Nesta quinta parte, o Professor Vaz, baseado quase que exclusivamente no site http://www.capoeira.esp.br/ (Capoeira das Gerais, Mestre Mão Branca), faz um resumo da Capoeira Regional. E inicia o trabalho afirmando ter sido Mestre Bimba o autor pioneiro da criação e implantação de um método de ensino para a Capoeiragem. É claro, baseando-se em registros jornalísticos e literários, além depoimentos de velhos mestres, entretanto, podemos também que a Capoeiragem sempre contou com métodos de ensinos. Basta assistir uma aula de um velho mestre, como Mestre João Grande, por exemplo, para perceber a existência e genialidade do seu método de ensino. E quanto ao misterioso livro de "ODC", publicado em l907, não seria um método de ensino? E quanto ao livro de Zuma Burlamaqui (1928) Gymnastica Nacional (Capoeiragem) methodisada e regrada? Sem esgotar o assunto, e o método do santista Sr. Agenor Sampaio, Sinhozinho, que tanto sucesso fez no Rio de Janeiro? Outro ponto que merece especial reflexão, é a firmação que a Regional é uma luta, com eficiente sistema de ataque e defesa. Não que se negue o mérito da Regional como luta, apenas, jornalisticamente, a história não registra, depois dos confrontos feitos por Mestre Bimba, nenhuma outra comprovação similar. Afora, é claro, os encontros e desencontros informais e, por definição, questionáveis, em rodas livres de capoeira. Mas, como adiantamos logo de início, o longo texto do Prof. Leopoldo Vaz deve ser apreciado exatamente como se aprecia um livro, de ponta a ponta, só desta maneira será possível entender totalmente a obra e dela, conseqüentemente, tirar muito bom proveito. Valeria, ainda, registrar um terceiro ponto, para ficar só em três, no que tange a definição dada para Batuque ("A luta braba, com quedas..".). Ora, como se sabe, o Batuque era dançado em várias partes do Brasil. O que significa, como é natural, ainda mais num país-continente como o nosso, eventualmente, o surgimento de estilos derivados. No Rio de Janeiro, por exemplo, era sim, quase uma luta, cheia de quedas e, às vezes, até morte, mas, era também, na maior parte das vezes, apenas uma dança, e uma dança cheia de sedução, como, aliás, todas as demais. Miltinho Astronauta


CAPOEIRA REGIONAL [1] Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UEMA - Maranhão O que caracteriza a Capoeira Regional é a sua "Seqüência de Ensino"; uma série de exercícios físicos, completos e organizados em um número de lições práticas e eficientes a fim de que o principiante em Capoeira, dentro do menor espaço de tempo possível se convença do valor da luta, como um sistema de ataque e defesa. A seqüência é para o capoeirista o seu ABC. Ela veio contribuir de maneira definitiva para o aprendizado da Capoeira (in http://www.capoeira.esp.br/ - Capoeira das Gerais, Mestre Mão Branca). Mestre Bimba [2] foi o sistematizador (criador) da Capoeira denominada de "Regional". Sua maior contribuição foi a criação de um método de ensino, coisa que até então não existia. "O capoeirista aprendia de oitava", dizia o Mestre. Inicia-se na Capoeira aos 12 anos de idade, na Estrada das Boiadas, hoje bairro da Liberdade, em Salvador, com Mestre Bentinho, Capitão da Cia. de Navegação Bahiana. Nesse tempo, a Capoeira era bastante perseguida e Bimba contava: "... Capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandros. Eu era estivador, mas fui um pouco de tudo. A polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado. Imagine só, que um dos castigos que davam a capoeiristas, que fossem presos brigando, era amarrar um dos punhos num rabo de cavalo e outro em cavalo paralelo. Os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada até o quartel. Comentavam até, por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel, pois houve muitos casos de morte. O indivíduo não agüentava ser arrastado em velocidade pelo chão e morria antes de chegar ao seu destino: o quartel de polícia".(in http://www.capoeira.esp.br/). A essa altura, Bimba começou a sentir que a "Capoeira Angola", que ele praticava e ensinou por um bom tempo, tinha se modificado, degenerou-se e passou a servir de "prato do dia" para "pseudocapoeiristas", que a utilizavam unicamente para exibições em praças e, por possuir um número reduzido de golpes, deixava muito a desejar, em termos de luta. Aproveitou-se então do "Batuque" [3] e da "Angola" e criou o que ele chamou de "Capoeira Regional", uma luta baiana. Possuidor de grande inteligência, exímio praticante da "Capoeira Angola" e muito íntimo dos golpes do "Batuque", intimidade esta adquirida com seu pai, um mestre nesse esporte, foi fácil para Bimba, com seu gênio criativo, "descobrir a Regional". (in http://www.capoeira.esp.br/). Para Reis (2005), a partir de então se observa uma crescente "baianização" da capoeira brasileira que produzirá a "impureza" das capoeiras de outros lugares, particularmente daquela praticada no Rio de Janeiro. Para Reis, "... não é possível discutir os motivos da migração do centro hegemônico da capoeira do Rio de Janeiro para a Bahia dos anos 30. De qualquer forma, importa destacar que, se a intelectualidade carioca de princípios do século XX tinha um projeto nacional para a capoeira, será a capoeira popular dos mestres de capoeira baianos que vingará e conformará a esportização da capoeira em todo o país." FIM da Quinta Parte (para o Jornal do Capoeira) "CAPOEIRA REGIONAL" Próxima (sexta) e última parte: A Capoeira "CARIOCA" Obs.: E logo depois - Cadastro de Mestres e Contramestres do Maranhão! [1]

http://www.capoeira.esp.br/

[2]

Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba , nascido a 23 de novembro de 1899 no bairro de Engenho Velho, freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia. Filho de Maria Martinha do Bonfim, e de Luiz Cândido Machado, grande "batuqueiro". Seu apelido, Bimba, ganhou logo ao nascer, em virtude de uma aposta feita por sua mãe e pela parteira que o "aparou". Sua mãe dizia que daria luz a uma menina; a parteira afirmava que seria um homem. Perdeu dona Maria Marinha, e o Manuel, recém-nascido, ganhou o apelido que o acompanharia para o resto da vida. Bimba é, na Bahia, um nome popular do órgão sexual masculino em crianças. (http://www.capoeira.esp.br/ ). [3]

Batuque - A luta braba, com quedas, com o qual o sujeito jogava o outro no chão.


Capoeiragem no Maranhão Esta é a sexta parte do estudo que o Prof. Leopoldo Vaz está desenvolvendo sobre a Capoeiragem no Maranhão. Neste artigo, Leopoldo explora a Capoeira "Carioca", além de explorar, de forma positiva, a contribuição de Mestre SAPO para a Capoeira Maranhense. CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Parte VI - A Capoeira "CARIOCA" -

Considerações Preliminares

Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Nota do Editor: Ainda não será agora, caros leitores, que terminaremos de transcrever o informativo e oportuno do Professor Leopoldo Vaz, sobre a Capoeiragem no Maranhão. Essa foi a previsão e a nossa promessa, ocorre, entretanto, que esta sexta e última parte, depois de diagramada, ficou em 12 laudas. Também aqui, portanto, ficará mais jornalístico fazer um outro parcelamento. Até a edição passada tínhamos o seguinte Roteiro (divisão do texto do Professor Leolpoldo Vaz); Parte I - Capoeiragem em São Luis do Maranhão Parte II - Afinal, o que é capoeiragem? Parte III - Capoeira: Angola ou Regional? Pare IV - Capoeira Angola Parte V - Capoeira Regional Parte VI - A Capoeira "CARIOCA" Parte Especial - Cadastro de Mestres e Contramestres de Capoeira no Maranhão Já publicamos até a Parte V e, nesta edição, publicaríamos a sexta e última. Pela razão acima resumida, esta última parte, por sua vez, será subdividida em três partes. 1. 2. 3. 4.

Capoeira Carioca no Maranhão Mestre SAPO Possível Gênese da Capoeiragem no Maranhão Considerações Finais

Talvez esta última parte possa ser considerada a mais informativa e surpreendente. Uma bela demonstração de como a Capoeiragem, já em seus primórdios, irradiou-se por grande parte do Brasil. Não temos dúvida que boa parte deste interessante texto do Professor Leopoldo Vaz servirá de base para a INTORDUÇÃO do livro-Álbum dos Mestres e Contramestres de Capoeira no Maranhão. Realmente, um belo exemplo para os demais estados. Miltinho Astronauta


A CAPOEIRA "CARIOCA" Leopoldo Vaz 1. CAPOEIRA CARIOCA NO MARANHÃO - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Seria a "Carioca" uma briga-de-rua - capoeiragem - no sentido apresentado por Lacé Lopes? De acordo com REIS (2005): "No século XIX, os três principais centros históricos da capoeira eram as cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Destas, destacava-se a capoeira carioca em virtude da presença massiva e organizada das maltas de capoeiras, as quais distribuíam-se por todas as freguesias da Corte." (grifos meus) Mas, em Turiaçú, no ano de 1884, é proclamada uma Lei - de no. 1.341, de 17 de maio - em que constava: "Artigo 42 - é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão". (Grifos nossos) Ainda, Mestre Mizinho, natural de Cururupu, informa que naquela cidade também se praticava uma luta, semelhante a Capoeira, a que denominavam "carioca": "Quando de uma apresentação em Cururupu, alguns anos atrás, um senhor já de uma certa idade aproximou-se do grupo e falou-me que praticava aquela luta, em sua juventude, mas o nome era outro, era "carioca". Mais recentemente - fevereiro de 2005 -, Dilvan de Jesus Fonseca Oliveira informa que seu avô, falecido aos 92 anos, estivador do Porto de São Luís - Cais da Sagração, Portinho, Rampa Campos Melo - sempre se referia á "capoeira" como "carioca", luta praticada em sua juventude ... Mestre Diniz lembra que "ali, na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira". Mas a Capoeira aparece registrada em Maranhão desde o princípio do século XIX. Domingos VIEIRA FILHO (1971), ao traçar a história da Rua dos Apicuns dá-nos notícias de ser local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: "A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís." (VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). O famoso Canto-Pequeno, situado na rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. VIEIRA FILHO (1971) afirma que ali alguns domingos antes do carnaval costumavam um magote de pretos se reunir em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. MARTINS (1989) aceita a capoeira como o primeiro "esporte" praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. Considera que tenha sido praticada antes, trazida pelos escravos bandu-angoleses. Fugitivos, os negros a utilizavam como meio de defesa, exercitando-se na prática da capoeira para apurarem a forma física, ganhando agilidade. JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179)


NASCIMENTO DE MORAES, em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem: "A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve". (2000, p. 95, citado por MARTINS, 2005, p. 29). MARTINS (2005) transcreve outro trecho da obra de Nascimento de Moraes, em que é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: "Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um "lenço" roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no "lenço" as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor". (MARTINS, 2005, p. 29) 23. Para o Mestre Mirinho - Casimiro José Salgado Corrêa - a origem da capoeira no Maranhão se deu com o finado Roberval Serejo, quando fundou o grupo "Bantos", em época remota. Este grupo praticava a capoeira na antiga Guarda Municipal, no Parque Veneza. Mestre Patinho relata o aparecimento desse grupo:

"... bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci. "Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60; Babalú, um apaixonado pela capoeira; outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participaram Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando." (Antonio José da Conceição Ramos - Mestre Patinho - em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira). Mestre Firmino Diniz - nascido em 1929 - que é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na "venda" de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical.


Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 2002, citado por MARTINS, 2005, p. 30). Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com "Catumbi", um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. (MARTINS, 2005, p. 31)27. Sapo chegou a freqüentar as rodas de capoeira de Mestre Diniz, assim também como jogava na academia Bantú, de Roberval Serejo. Antônio José da Conceição Ramos - na capoeira, Mestre Patinho -, tem como seu grande Mestre, o Sapo Anselmo Barnabé Rodrigues. Conta que, aos nove anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas e que, ao observar um vizinho (Jessé Lobão) fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre Roberval Serejo -, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões ... no ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos... Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: "Segundo "Seu" Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi". (MARTINS, 2005, p. 31). 2. MESTRE SAPO Para a maioria dos mestres capoeiras do Maranhão - ouvido de seus depoimentos -, a capoeira tem início, no estado, com a chegada de Mestre Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues - nos anos 60. É o que diz a lenda ... Diz a lenda, também, que Sapo veio a convite do então Governador do Estado - José Sarney - para ser seu guarda-costas. Mestre Patinho recorda que: "... por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o Mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca.... "Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas à capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram de menor. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão". (Mestre Patinho in Entrevistas).. De acordo com MARTINS (2005, p. 31), foi no ano de 1966 que Canjiquinha e seu grupo passou por São Luís, conforme notícia dos jornais da época: "Capoeira no ginázio "Será, finalmente, hoje, no Ginázio Costa Rodrigues, a exibição de Canjiquinha o rei da capoeira baiana que juntamente com Brasília, Careca e Sapinho formam um discutido quarteto ...".(Jornal Pequeno, São Luís, 16 de junho de 1966) O que é confirmado por REGO (1968, p. 277) que lista o ano e os locais das exibições de Canjiquinha fora da Bahia, dentre elas: 1966 - Maranhão - Bacabal, no teatro de Arena Municipal; São Luís do Maranhão:


Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (citado por MARTINS, 2005,p. 33). Segundo depoimentos tomados por Martins (2005), Canjiquinha recebeu uma proposta de Alberto Tavares Chefe da Casa Civil a época -, e do professor de Boxe Tacinho - motorista do Palácio -, para que deixasse um de seus alunos na cidade no intuito de implantar a capoeira na capital: "Foi então que Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues) voltou com o grupo para Salvador para pedir autorização para seu pai, pois ainda era menor de idade (tinha 17 anos), retornando em seguida a São Luís, para ensinar capoeira." (p. 33). Ainda de acordo com os depoimentos tomados por Martins (2005), Sapo retornou logo que completou a maioridade e foi contratado como segurança do Governador (in entrevista com Graça Maria Barbosa Rodrigues (Dona Graça), viúva de Mestre Sapo). O Grupo Folclórico Aberrê foi fundado por Mestre Canjiquinha - Washighton Bruno da Silva-, que levou a capoeira e o show folclórico por todo o Brasil. Iniciou-se na capoeira em 1935 então com 10 anos de idade, com o Mestre Raimundo Aberre. Canjiquinha foi Contra Mestre na academia de Mestre Pastinha, mesmo não tendo sido aluno deste. Ao sair fundou, já como Mestre, a sua própria academia - em 22 de maio de 1952 -, por onde passaram grandes capoeiras, alguns dos quais hoje renomados Mestres: Brasília, Sapo, Vitor Careca, Manoel Pé de Bode, Antonio Diabo, Foca, Roberto Grande, Roberto Veneno, Roberto Macaco, Burro Inchado, Cristo Seco, Garrafão, Sibe, Alberto, Paulo Dedinho (conhecido hoje como Paulo dos Anjos), Madame Geni (conhecido hoje como Geni Capoeira), Olhando Pra Lua (conhecido hoje como Lua Rasta), Peixinho Mine-saia, Papagaio, Satubinha, Cabeleira, Língua de Teiú, Urso, Bola de Sal, Boemia Tropical, Salta Moita, Melhoral, Lucidío, Bico de Bule, Bando, Dodô, Salomé, Mercedes, Palio, Cigana, Urubu de Botina, entre outros. O Grupo Aberrê, com Mestre Sapo (aos 17 anos) tocando pandeiro; no berimbau, Vítor Careca; jogando capoeira, estão Mestre Canjiquinha (de cabeça para baixo), e Mestre Brasília (Fonte: MARTINS, 2005, p. 33) Mestre Canjiquinha tinha um estilo próprio de praticar a capoeira Angola - a sua marca registrada - que passava para seus alunos - pois saia do característico jogo amarrado, lento, às vezes até monótono, para um jogo mais aberto, bonito, solto, com floreios, quedas, jogando em cima e embaixo com muita malícia e desenvoltura, sem jamais esquecer a filosofia e fundamentos da capoeira. Patinho praticava um estilo que chama de "Capoeiragem da Remanecença", fundamentada: "Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d´Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, .Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença, fundamentada... Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê".(Mestre Patinho in Entrevistas) 3.

POSSÍVEL GÊNESE DA CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO (Adaptado de Manoel Maria Pereira, 200532)

A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira. Passou a ministrar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco. É também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo. Os alunos da academia Bantú passam a treinar com Mestre Sapo: "Acredita-se que Mestre Sapo, embora muito novo passa a ser a maior referência da capoeira de São Luís, respaldado por Mestre Diniz, que era o mais experiente de todos, mas quer não tinha tempo de se dedicar ás aulas de capoeira em função de seu trabalho. No entanto, ainda continuava a promover suas rodas de capoeira". (MARTINS, 2005, p. 36). em Brasília. Foi quem o graduou Mestre. Entretanto, essa graduação não se deu de forma comum, ou seja, através de um Mestre para o seu discípulo, e sim através de cursos e exames para avaliar os


seus conhecimentos. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. Mas quem o iniciou na capoeira foi Mestre Pelé de Salvador: "Conforme depoimento de Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida, Mestre Didi, Sapo, certa vez, contou que foi iniciado na capoeira pelo Mestre Pelé de Salvador. A esse respeito, o Mestre Alberto, através de uma conversa com o Mestre Pelé no ano de 2004, afirmou que este último, de fato, foi o primeiro Mestre de Mestre Sapo".(MARTINS, 2005, depoimentos). Mestre Sapo morreu em 1982. Mereceu do Professor Laércio Elias Pereira um "Tributo ao Mestre Sapo", em que é traçada, poeticamente, sua história de vida: " Era um dos "capitães da areia" das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali. Vicem é muito otimismo; sobrevivem à margem da sociedade dando e pedindo esmola, como cantou um outro baiano, Moraes Moreira. " Daí até chegar à capoeira pra turista foi fácil, que a Capoeira era parte de seu dia-a-dia. Já tinha até arranjado um lugar de destaque junto a Mestre Canjiquinha, que fazia apresentações em bares e boates da Bahia de Todos os Santos. Com Canjiquinha apareceu na maioria dos filmes feitos sobre a Bahia pela Atlântica e se orgulhava de ter filmado com Anselmo Duarte. " Convidado, Canjiquinha fez uma excursão pelo Nordeste, e, no Maranhão, o garoto Sapo foi convidado para ficar. Era bom de luta e a política local precisava de guarda-costas. Foi a primeira investida da máquina, desta vez a política. Com a facilidade de manejar armas pela nova profissão Mestre Sapo teria aí uma de suas paixões: sempre tinha um trintaeoito ou uma bereta pra "botar no prego" e recuperar quando aparecesse algum, pois a convivência com políticos não tinha deixado nada que o ajudasse no leite das crianças, a não ser o estudo, com que ele deu um rabo-de-arraias nas poucas letras trazidas de Salvador. Estudou muito. Até o cursinho, e se foi sem ter conseguido superar o vestibular que a Universidade teima em manter na área médica, pra Educação Física. Mas era professor de Educação Física: Professor Anselmo. Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo. Era a segunda investida da máquina: a administrativa. A modernização da pobreza também tenta tirar a originalidade das pessoas. Como Sapo não seria aceito; só como Anselmo. Essa parada contra a máquina ele ganhou: nunca deixou de ser Mestre Sapo. " Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em "Capoeira Angola" é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova "Ginástica Brasileira" a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica. " Ia se aperfeiçoar e o sonho de fazer Educação Física ia ficando cada vez mais sonho. Mas tinha orgulho de sua forma física: "Fique calmo!", "Olha o bíceps!". " Ele gostava de domingo. Um dia malemolente pra se tomar cana e brigar. Brigar com os companheiros de briga. E foi num domingo, domingo de cachaça e briga, que ele recebeu a terceira e definitiva investida da máquina: o automóvel, que mostrava a "mais vaia" de sua capacidade de competição contra os músculos do Homem. Os músculos bem treinados de Mestre Sapo nada puderam contra a máquina forte e estúpida, medida em cavalos. Mais de cincoenta. Uma máquina movida por um companheiro de profissão, um amigo, pra combinar com o domingo, com a briga e a cachaça. Jamais seria um desconhecido dirigindo a máquina da norte. Sapo era amigo de todo mundo". (in PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17) 4. Considerações Finais DIÁLOGO DE CORPOSTraduzindo a capoeira angola como sendo um estilo que carrega uma práxis e um discurso ético que defende a não violência, eles ensinam que o capoeirista não deve aplicar seus conhecimentos para subjugar o oponente, mas para realizar um diálogo de corpo.


E foi com base nessa práxis que no ano de 2000 foi criada a "Orquestra de Capoeira Angola Mestre Patinho", constituído por 33 jovens músicos capoeiristas com a finalidade de resgatar a musicalidade da capoeira, relacionando-a com as demais manifestações de cultura negra no Maranhão. O repertório da Orquestra é pautado na execução, com berimbaus e caxixis, de alguns como tambor de crioula, bumba-meu-boi. E ele de São Simão, tambor de mina e afoxé e ainda os nove toques tradicionais da capoeira. Para quem não sabe, a capoeira apresenta-se como uma das mais ricas e importantes manifestações da cultura negra no Brasil, pois que sua prática envolve música, dança e luta. http://www.capoeira.esp.br/ REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124. Alcemir Ferreira Araújo Filho, em conversa com o Autor, em Barreirinhas, em 2002, com a participação de Mestre Índio do Brasil e Mestre Baé, durante os Jogos Escolares do Município de Barreirinhas, quando se comentava sobre a história da Capoeira no Maranhão. Informação prestada por Dilvan de Jesus Fonseca Oliveira, aluno do Curso de Educação Física da UEMA, participante da pesquisa sobre os Mestres Capoeira no Maranhão, quando de aula sobre a história do esporte no Maranhão naquele curso, ministrada pelo Autor. Em entrevista concedida a SOUZA, Augusto Cássio Viana de. A capoeira em São Luís.]: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. São Luís : UFMA, 2002. Monografia de graduação em História, p. 44, citado por MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005. VIEIRA FILHO, Domingos. BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO LUÍS. 2a. ed. rev. E aum. São Luís : (s.e.), 1971. ECCHO DO NORTE - jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836. MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís : (s.n.), 1989. In NASCIMENTO DE MORAES. Vencidos e Degenerados. 4 ed.São Luís : Cento Cultural nascimento de Moraes, 2000, citado por MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005. MESTRE DA CAPOEIRA NO MARANHÃO - em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina, aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005. Anexos. Antonio José da Conceição Ramos - Mestre Patinho - em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in "Mestres de Capoeira do Maranhão", trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005 SOUZA, Augusto Cássio Viana de. A capoeira em São Luís.]: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. São Luís : UFMA, 2002. Monografia de graduação em História, citado por MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005. In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes


Roberval Serejo morreu em 1970, enquanto mergulhava a trabalho na construção do Porto do Itaqui. MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005. Em 1965, um quarteto baiano denominado Aberrê fez uma demonstração de Capoeira no Palácio dos Leões - sede do governo estadual -, trazidos que foram pelo então governador José Sarney - que precisava de um guarda-costas. Desse grupo participavam Anselmo Barnabé Rodrigues - Mestre Sapo -, o lendário Mestre Canjiquinha, Vítor Careca, e Brasília. Após essa apresentação, receberam convite para permanecer no Estado, para ensinar essa arte marcial brasileira. Em 1966, Mestre Sapo - incentivado por Alberto Tavares, aceita o convite e passa a fazer parte do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação DEFER -, onde trabalha até sua morte, em 1982. in RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes O Mestre Canjiquinha levou a capoeira e o show folclórico por todo o Brasil, foi ele que induziu Maculelê nas academias de capoeira, fundou o Grupo Folclórico Aberrê. Participou de diversos filmes nacionais entre eles: O Pagador de Promessas, Capitães de Areis, Terra em Transe, A Grande Feira, O Cangaceiro, Senhor dos Navegantes, Deus e o Diabo na Terra do Sol. Participou também de fotonovela (sétimo céu). M 1963 foi premiado no festival de Cannes com a Palma de Ouro, além da capoeira foi cantor de Orquestra e goleiro do Esporte Clube Ipiranga. In http://www.zambiacongo.com.br/jornal.htm#2 Antonio José da Conceição Ramos - Mestre Patinho - em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in "Mestres de Capoeira do Maranhão", trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador :Itapuã, 1968 Recebeu esse apelido porque gostava de cantar a música "Canjiquinha Quente", um dos sucessos da cantora Carmem Miranda. nascido em 25 de Setembro de 1925 Salvador-Ba. Faleceu em 08 de Novembro de 1994. Bayer Notícias em maio de 1994, transcrito por Mestre Geni in ww.zambiacongo.com.br/jornal.htm#2 Mestre Brasília: Antônio Cardoso Andrade, mestre Brasília, é também um dos pioneiros da Capoeira paulista. Aprendeu com mestre Canjiquinha, de quem foi amigo dedicado. Veio para São Paulo, gostou, acabou ficando. Praticava capoeira na antiga CMTC, com mestre Melo, e na academia do mestre Zé de Freitas, no Brás. Conheceu então mestre Suassuna, e juntos fundaram uma academia, a "Cordão de Ouro", que viria a se tornar no pólo principal da Capoeira paulista. Joga com extrema elegância e habilidade. Mantém academia e casa de espetáculos em São Paulo. É vice-presidente cultural da Federação de Capoeira do Estado de São Paulo, entidade filiada à Confederação Brasileira de Capoeira e à Federação Internacional de Capoeira, e membro do Conselho Superior de Mestres da CBC - seção São Paulo.in http://www.capoeiramalungo.hpg.ig.com.br/mestrebrasilia.HTM Mestre Geni in www.zambiacongo.com.br/jornal.htm#2 Antonio José da Conceição Ramos - Mestre Patinho - em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in "Mestres de Capoeira do Maranhão", trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. Professor da Fundação Educacional; Professor Aposentado do Ministério da Educação; Professor do Curso de Pós Graduação Capoeira na Escola da Faculdade de Educação Física da UnB, (97/98); Químico; PósGraduado em Didática e em Metodologia do Ensino Superior; Autodidata, Pesquisador e Mestre de Capoeira; Introdutor da Capoeira na Rede Oficial de Ensino; Fundador do Centro Ideário de Capoeira; Formulador do Ideário de Capoeira e Idealizador da Vertente de Capoeira Arte-Luta; Autor de 19 Trabalhos Publicados; Técnico da Seleção Escolar de Capoeira de abr/85 a dez/90; Coordenador do CID Ideário; Idealizador e Promotor da Grande Roda Brasileira de Capoeira por 19 anos. In http://www.capoeiramalungo.hpg.ig.com.br/mestrezulu.HTM Natalício Neves da Silva, o mestre Pelé, nasceu em 1934. É do tempo em que se jogava capoeira nos finais de feira e nos dias de festa. Também fez parte de uma geração dividida entre a marginalizada capoeira de rua à institucionalizada capoeira nas academias. Conheceu a capoeira aos 12 anos de idade, quando ia às feiras e


às festas populares do recôncavo baiano. . Era o povo que dava para o capoeirista o título de mestre, que disputava o título ali no jogo, jogo duro", lembra. O aprendizado da maioria dos capoeiristas dessa época era mesmo nas grandes rodas na rampa do Mercado Modelo e nas chamadas festas de largo, que começavam na festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia - coração da cidade baixa, próxima ao elevador Lacerda " no dia 1º de dezembro e se prolongavam até o dia 8 do mesmo mês. Depois, vinha a festa de Santa Luzia, freqüentada pelos estivadores (trabalhadores do cais do porto), muitos deles, capoeiristas. Foi Bugalho, carregador de embarcações que, nas horas de descanso e nas noites de lua-cheia, ensinou o menino Natalício a gingar nas areia da praia da Preguiça. Além das rodas da Liberdade nas tardes de domingo, em que o guarda civil Zacarias Boa Morte "tomava conta", Pelé mostrava sua arte nas rodas de Valdemar da Liberdade, num galpão de palha de dendê, cercado de bambu. Durante 25 anos Pelé deu aulas de capoeira e, também, no V Batalhão da Policia Militar. Além dessas atividades, mestre Pelé participou, ao mesmo tempo, de importantes grupos folclóricos da Bahia como o Viva Bahia. Fez apresentações com o grupo de mestre Canjiquinha, no Belvedere da Praça da Sé, shows para turistas, onde mostrava a capoeira, o maculelê, a puxada de rede e o samba de roda. In http://www.capoeiramalungo.hpg.ig.com.br/mestres.htm In Mayara Mendes de Azevedo - Entrevistas com os Mestres Bamba, Bolinho, e Aziz, na introdução do "Trabalho sobre Capoeira e suas origens no Maranhão", apresentado á disciplina História do Esportes, ministrada pelo Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz, do Curso Seqüencial de Educação Física da UEMA, fevereiro de 2005, Entrevistas.


PUNGADA DOS HOMENS & A CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO MESTRE BAMBA, do Maranhão Leopoldo Gil Dulcio Vaz Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Jornal do Capoeira - 30.Julho.2005 Hoje, 29/07 [2005], fui ao Centro Histórico me informar sobre o Tambor-de-Crioula e a Punga, movido pela curiosidade de um artigo do Jornal do Capoeira -Capoeira em Sorocaba -em que é mencionado pelo Autor, Carlos Carvalho Cavalheiro, em que no Maranhão a Capoeira receberia também o nome de "Punga", ligado àquela dança... achei estranho, pois nunca ouvira falar nisso... dei uma olhada no material que tenho sobre folclore maranhense e achei [em Reis, José Ribamar Sousa dos -Folclore Maranhense, Informes. 3 ed. São Luís : (s.e.), 1999, p. 35 -Tambor-de-Crioula]: "Caracteriza-se pela PUNGA ou UMBIGADA, onde é verdadeiramente observada em sua coreografia a participação destacada da mulher". Dançam o Tambor-deCrioula apenas mulheres, cabendo aos homens, a percussão dos tambores. Nada relacionado com a Capoeira ... Procurei em outros autores alguma relação entre "punga" e "capoeira", e não achei nada. Então fui ao Centro de Cultura Popular "Domingos Vieira Filho", procurar alguns pesquisadores que pudesse me dar alguma informação, e também não haviam ouvido falar de que a Capoeira, enquanto manifestação cultural, fosse chamada de "punga", conforme informa o ilustre pesquisador sorocabano. Conforme já publicado no nosso Jornal do Capoeira, havia o uso de "capoeira" ou "carioca", o que estamos buscando ainda o que seria a "carioca". Voltei disposto a escrever um artigo, questionando essa informação. Então ouvi um toque de berimbau. Vinha de um sobrado, e a placa "Escola de Capoeira Angola "Mandingueiros do Amanhã"". Subi e encontrei Mestre Bamba... aproveitei a oportunidade para entrevistá-lo para uma nova pesquisa que estou realizando,junto com minha filha, sobre a relação "capoeira e renda", para sua monografia de graduação em Economia. Já tinha o seu perfil, do Livro-Álbum sugerido pelo Mestre André Lace -e que em breve deverá ser publicado pelo Jornal do Capoeira. De nossa conversa -mais de duas horas -perguntei se sabia alguma coisa sobre "uma capoeira" denominada "punga"". "Já ouvi falar ..." foi a resposta. Pronto! Resolvido. Não haveria necessidade de contestar a informação do ilustre mestre paulista. E havia novidade para a história da capoeira ... Falou-me Mestre Bamba -Kleber Umbelino Lopes Filho, nascido na Madre Deus, bairro de São Luís, em 12.04.1966, desde os doze na Capoeira, nove ensinando, e um (comemorou ontem) como Contramestre: dá aulas em um "Projeto Ago", do grupo G-DAM, no município de Itapecurú-Mirim, junto a remanescentes quilombolas; no Povoado de Santa Maria dos Pretos encontrou uma variação do Tambor-de-Crioula em que os homens participam da roda de dança - Pungada dos Homens - em que utilizam movimentos semelhantes ao da capoeira -no entendimento de Mestre Bamba, esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba -; os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho -a punga -: 

Pungada na Coxa -também chamado "bate-coxa", aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a "pernada carioca" ou mesmo com o "batuque baiano";

Pungada Mole -o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege "as partes baixas" com as mãos ...

Pungada Rasteira/Corda -semelhante à "negativa de dedos (sic)", de Bimba;

Queda de Garupa -lembra o Balão Costurado, de Bimba.

Mais, Mestre Bamba informou que há um vídeo, em que registrou todos os movimentos usados na "pungada dos homens", identificando os golpes... ficou de disponibilizar... há a possibilidade de converter em fotografia... Na saída, deu-me um jornal -Jornal Pequeno -em que é contada sua história (anexa).


DEU NO JORNAL PEQUENO - http://www.jornalpequeno.net/ Quem passe, num rolé noturno pelo Centro da Cidade, sobretudo numa sexta-feira, subindo ou descendo a João Victal de Matos, rumo ao Largo do Carmo ou à Rua da Estrela (Reviver)... Chegando ao trecho que costura as Ruas da Palma e do Giz, não se poderá furtar à magia dos ritmos que ornamentam e cadenciam a Capoeira de Angola, que ali se manifesta entre solos e refrões, no compasso percussivo dos berimbaus e atabaques, do pandeiro, reco-reco, agogô e caxixi e sob o comando do Mestre Bamba... Eles são os Mandingueiros do Amanhã. Parar para ouvi-los, é encantar-se. E, uma vez encantado, o querer ver pra crer, sentir de perto, envolver-se nessa poesia acústico-cinética que se vai coreografando no gingado feiticeiro, se faz irresistível. Assim, se você, passando por ali, uma noite dessas, ficar seduzido, tal qual pescador pelo canto da sereia, não tente quebrar esses encantos... Suba! Chegue lá... Sem delongas, sem cuidados: a ancestral, venerável, sábia Capoeira de Angola é fraterna, cordial, acolhedora... E o Bamba, na sua evidente simplicidade, é aquele que possui mesmo o carisma do Mestre -instrutor, orientador, conselheiro-amigo... Ali chegado, você será bem recebido. Não lhe faltará o sorriso alegre, a palavra amena, o convite para entrar e sentar, a água para beber, o clima para entrosar-se... E o companheirismo poderá ir-se formando, naturalmente, com a familiaridade conquistada nos contatos subseqüentes. Estando lá, no recinto onde essa Capoeira se desenvolve (com muita alegria e animação), e estabelece como arte, artesanato, esporte e lazer, música, canto, dança, brincadeira, teatro... laboratório de expressão corporal, projeto educativo e de assistência social... doutrina, filosofia e escola de vida, você perceberá, numa leitura interativa, que tudo ali é temático e emblemático, no puxar dessas raízes transcendentais arraigadas no Coração da Mãe África: vasos, cortinas, quadros, painéis... conjuntos de berimbaus pendendo nas paredes... Toda a decoração (artesanal), enfim, articulada à natureza, se faz simbólica e evocativa de uma cultura ascendente, que remanesce, perpetuada no presente. Olha lá! São 19:00h e os mandingueiros começam a chegar, caracterizados nas suas indumentárias (camisetas iconográficas -ou o que se pode inferir, o traje de gala dos capoeiristas: a veste branca, com a qual devem combinar os adereços). Vão entrando... E os mais devotos inclinam-se, tocam o solo e fazem o sinal da cruz. Vale ressaltar que, no contexto dessa ritualística, a sexta-feira é dia especial em que a tradição recomenda o branco. Não cabe, pois, o treinamento físico nem os fundamentos expositivos: sexta-feira é dia de roda. Roda (integrativa) de Capoeira. E pronto: o espaço está aberto para o jogo. Mestre Bamba, solenemente de branco (da cabeça aos pés), toma posição na ala dos músicos, ensaiando os primeiros acordes, afinando e regendo a orquestra (monocórdia e percussiva), ao mesmo tempo em que vai solando os cantos (responsados em coro nos refrões), num variado repertório de inspiração cotidiana. Ao seu lado, a princesa Valdira, também de branco, ritmando o atabaque. Olhares e sorrisos se vão cruzando, em sintonia e mútua empatia, entre o casal. Os instrumentos já vibrando em harmonia... A onda sonora já contagiando, otimizando o ambiente... Mestre Bamba pondera e cala. Pede silêncio em volta. É preciso um reparo. Ouçamo-lo, que instrui, terna e docemente (retomando lições que já passara aos discípulos): "Gente, não fiquem assim em duas filas, façam a roda! A Capoeira, nós já sabemos, é uma roda. Vocês lembram o que significa a roda? A roda é a integração, é a nossa união, a igualdade, a fraternidade... Quando ficamos em duas filas, assim de frente uns para os outros, ainda estamos separados e como que nos enfrentando. Em roda é que ficamos unidos e igualados. O mundo deve funcionar como uma roda, que move o carro da vida, com todo mundo de mãos dadas, solidário, um ajudando o outro". E assim falou o Mestre -que antes de ser o Bamba da Capoeira de Angola teve uma longa trajetória de trabalho e responsabilidade na luta pela sobrevivência... ... Ele se chama Kleber Umbelino Lopes Filho. Sanluisense da Madre Deus (12.04.1966). Até os quatro anos de idade, freqüentou muito a Cohab, quando o pai ainda chefiava a família. "Minha avó paterna me levava muito pra lá, quando eu era menino", ele diz. Depois é que, definitivamente, só lhe restou a Madre Deus, seu bairro natal, onde ele passou, praticamente, toda a infância, no trânsito da Rua do Norte para o Goiabal. O pai (mecânico, caminhoneiro e motorista de ônibus, ainda vivo e residente no Tibiri, com outra família) separou-se deles, deixando a mãe, ainda muito jovem, os filhos pequenos, e ele (Kleber), o caçula, com


apenas quatro anos, fato que o marcou profundo... "Sofri muito porque era agarrado com meu pai. Ele me levava pra assistir futebol", ele confirma. E já em outra tonalidade: "Mas, minha mãe supriu tudo isso. Preencheu todos os vazios das minhas carências. Foi pai, mãe, amiga, educadora, foi tudo pra nós" -diz já refeito e altaneiro, orgulhoso dessa mãe admirável que se chamou em vida Marinildes Pinheiro Braga, mulher extraordinária, que "fazia de tudo para sobreviver e criar os filhos" -Kleber, Joarenildes e Itajacy: "lavava pra fora, era manicura, passando depois a cabeleireira, foi cobradora de ônibus, até arranjar um emprego fixo na Prefeitura. E nos fins-de-semana, ainda trabalhava no Clube Berimbau, fazendo a revista das mulheres". Essa heroína da família, entretanto, "faleceu em 2000, aos 53 anos, sem ter realizado o sonho da aposentadoria" -diz Kleber contristado. Após a separação dos pais, a família, já incompleta, vai morar no fim da Rua do Norte, na fronteira com o Goiabal. Marinildes, então com 23 anos, procura o amparo dos pais. "Meu avô possuía, no fim da Rua do Norte, uma casa grande, com vários quartos pra alugar. Nós fomos morar no último", relembra Kleber. Iniciado no processo de alfabetização, em casa, estudando com a mãe, sua primeira escola foi a da União de Moradores da Madre Deus, onde ele cursou o primário (até a 4ª. série do Ensino Fundamental) e encontrou a sua "professora do coração", a tia Zefinha que, nas suas próprias palavras: "foi a minha segunda mãe e uma mãe pra minha mãe". Reiterando: "Tia Zefinha nos adotou, abaixo de Deus". Ainda com a palavra: "Concluído o primário na escola comunitária, o filho da tia Zefinha (Jorge Dias) me colocou pra estudar no Humberto Ferreira, no Canto da Fabril, pagando meus estudos até a 8ª. série. A partir daí, fui para o Coelho Neto, onde fiz todo o 2º. Grau (Ensino Médio). No Coelho Neto, fiz parte do time de futsal e fui campeão quatro vezes, ganhando prestígio na Escola. Fui bom aluno. Nunca dei desgosto pra minha mãe, em reconhecimento à luta dela". Para ajudar a mãe, ele começou a trabalhar muito cedo. Aos 14 anos, já "fazia bicos corriqueiros", como: "carregar carradas de terra, vender água no Cemitério, pintar uma carneira"... Aos 17, vamos encontrá-lo no Sindicato dos Transportes, ajudando o padrinho Osmar Dias. De lá, foi para uma empresa de refrigeração (ar condicionado), a MC Dias, prestadora de serviços para o Banco Itaú, vinculado à qual, passou seis meses como faxineiro, limpando banheiros, etc. Nos intervalos, estudava. Dona Deusa (da Chefia do Banco), que o via sempre apegado aos livros e aos cadernos escolares, ficou sensibilizada e lhe deu uma oportunidade de entrar para o quadro de funcionários da Empresa. Ele começou como contínuo, passando a escriturário, chegando a Caixa. Nesse percurso ascensional, no Itaú, contou ainda com o apoio do gerente da Casa, ao qual rendeu homenagem, colocando no filho o nome de Mikael Kalil (como aquele se chamava). Passando-lhe a palavra: "No banco, pude ter melhores condições de dar conforto a minha mãe, de quem nunca me separei". E chegou o dia em que ele teve de sair do Itaú, numa dessas crises de contenção de gastos e de enxugamento do quadro de pessoal, por que passam as empresas financeiras. Na emergência de um novo trabalho, ele "pegaria o que aparecesse, fosse o que fosse" e assim foi. O próximo emprego foi na Gás Butano, "como pião carregador de botijão". O gerente, então, descobrindo que ele era escolarizado, que já fora bancário, sendo, portanto, dotado de outras competências, digamos mais nobres, ficou constrangido e, não tendo melhor colocação a oferecer, o despediu. Ele foi para a Trevo pneus, ali trabalhando por dois anos, começando como motoboy, elevando-se, em seguida, à categoria de Caixa. Por último, militou na Cotepro prestadora de serviços para a Caixa Econômica Federal -como digitador, ali ficando até maio de 2004, quando, por sugestão e orientação da princesa Valdira, abandonou tudo para devotar-se, exclusivamente, à Capoeira de Angola, com a qual selou um pacto profissional e missionário... Seu primeiro contato efetivo (e afetivo) com essa modalidade de Capoeira data de 1978. Ele tinha 12 anos e começou a observar as rodas que professavam essa ginga/mandinga. "Eles não ensinavam crianças" -diz, referindo-se aos grupos que se reuniam e exercitavam ao ar livre, em espaços alternativos, pelas ruas da Madre Deus. Em 1980, conheceu o Mestre Eusamor (maranhense), hoje seu compadre, que o encaminhou na senda. Mas, é o Mestre Patinho, que vem a conhecer nos meados dos anos 90, que considera seu grande Mestre. E, à princesa Valdira (que conheceu também nesse período, quando tinha 27 e ela 17), ele deve esse encontro decisivo. Ei-lo que diz, num reconhecimento à princesa e ao Mestre): "Valdira, é a pessoa que mais me incentivou e ajudou a me educar na Capoeira. Ela é a minha princesa, minha musa inspiradora, minha estrela-guia. Foi quem me levou pra conhecer o Mestre Patinho, no


Laborarte, onde ela já treinava a Capoeira. Mestre Patinho é o meu Mestre, Meu Pai, na Capoeira de Angola. Foi ele quem me educou nessa Arte. Foi ele que me sagrou Mestre". Ele que já fora casado (aos 20) com Goreth, também da Madre Deus, mãe do seu primeiro filho Mikael Kalil (que teve de criar sozinho, com a ajuda da mãe Marinildes, pois a esposa os abandonou quando o primogênito tinha quatro anos), casou-se em segundas núpcias com a princesa Valdira (Valdira Barros, hoje advogada, militando no Centro de Defesa Marcos Passerini e Mestranda em Políticas Públicas, já em fase de defesa da tese de conclusão, na UFMA), com quem tem uma princesinha -Olga. Em setembro próximo, mamãe Marinildes completará cinco anos de transição desta para a outra vida e a memória edificante dessa heroína que nunca desistiu de lutar pelos filhos que teve de criar só, com a ajuda de Deus e da tia Zefinha, ressoa forte na alma do Mestre Bamba, numa grande motivação para continuar essa luta, numa dimensão maior, em prol das crianças e dos jovens da Madre Deus e do Centro Histórico da sua Cidade. "Se não cuidarmos da criança e do jovem, vamos perdê-los para as drogas. É preciso criar oportunidades para que a nossa infância e juventude possa preencher sadiamente o seu tempo, encontrar um objetivo, um sentido na vida, que eleve a auto-estima delas, preparando-as para assumir a liberdade com responsabilidade"... Ei-lo que se expressa no seu idealismo. E a Capoeira é o seu "abre caminhos", o "carro-chefe" desses ideais. E nasce a Escola, fundada em 12.04.1996 (um aniversário do Mestre). Ele, que já liderava um grupo de capoeiristas integrado por jovens de 4 a 19 anos, vem a merecer desse povo uma festa surpresa, de aniversário, e então, emocionado, proclamou: "A partir de hoje nós somos uma Escola!" E batizou-a com o nome de "Mandingueiros do Amanhã". Antes dessa proclamação, o grupo recebia aulas nas praças. Ele comprava sacos de açúcar, vazios, para fazer roupas, que sorteava entre o pessoal. Depois, passaram para a União dos Moradores, depois para a sede do Boi da Madre Deus, para Quintão, para o Quintinho... E o grupo ficou um ano parado, por falta de espaço, voltando a treinar nas praças. Mas, para a Escola, já solenemente consagrada e batizada, urgia um espaço definitivo, onde esta pudesse abrir-se mais para a comunidade. Essa oportunidade acontece com a ida de Abelha para a Holanda, deixando, para o grupo, o seu Cortiço do Abelha, ora transformado em Escola de Capoeira, funcionando nos três turnos, com aulas três vezes por semana: às segundas, quartas e sextas, e às terças, quintas e sextas, num programa que inclui "aula corporal, fundamentos sobre a Capoeira, história do negro, da Capoeira e toda a filosofia da Capoeira e do Mestre". No momento, a Escola tem dois projetos em execução: o Solta Mandinga e o Orquestra de Berimbaus. O primeiro, empenhado na promoção de cursos gratuitos para crianças e jovens carentes, "conscientizando-os dos valores culturais e morais, imprimindo neles um sentido positivo para a vida". O segundo, (uma homenagem ao Mestre Patinho), em que, crianças, jovens e adultos, formando uma orquestra, habilitam-se na percussão dos ritmos maranhenses: boi, tambor de crioula, cacuriá, lelê, mangaba, coco, caroço... Instrumentos são confeccionados pelos discípulos e vendidos para o público adepto. A orquestra já se apresenta, com sucesso, em espetáculos culturais, onde quer que seja, sobretudo na temporada junina. Para o futuro, o sonho do Mestre Bamba é "viabilizar projetos sociais para o Centro Mandingueiros do Amanhã", que é, na verdade, uma ONG" E tudo deveria, de preferência, funcionar na Madre Deus. "Está tudo na mão de Deus e da Madre de Deus". E vamos ver o que Deus tem pra fazer... GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES, por CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES (Mestre Bamba). In JORNAL PEQUENO, São Luís, Sábado, 14 de junho de 2005, p.8 (Professora da Uema. Membro da AVL - Academia Arariense-Vitoriense de Letras). Cordialmente, Prof. Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão ................................... O site http://users.elo.com.br/~bentomln//galeria de Bento Moreira Lima Neto, natural de Pedreiras (MA) traz uma galeria muito interessante de telas sobre Tambor de Crioula, de onde capturamos a ilustração deste artigo. Recomendamos o site a todos.


NOTAS SOBRE A CAPOEIRA EM SÃO LUIS DO MARANHÃO Jornal do Capoeira - Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005 Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Ao reler o artigo publicado em seis capítulos no Jornal do Capoeira abortando o tema "Capoeiragem em São Luís do Maranhão", vejo-me obrigado a rever alguns pontos ali apresentados. É o que faço a seguir, uma vez que novas informações vão surgindo sobre este encantador fenômeno da Capoeiragem, que desde há muito tempo, tem percorrido e participado da história do Brasil. Fenômeno este que, diga-se de passagem, jamais foi regional, mas sim Nacional. 1. Sobre o Livro-Album dos Mestres de Capoeira: já foram cadastrados mais de 80 (oitenta) Mestres que atuam em São Luis do Maranhão; em reunião com o contramestre Baé “Florisvaldo Costa -, presidente da Federação de Capoeira do Estado do Maranhão - baecapoeira@ibest.com.br " solicitei que desse uma olhada nos cadastrados e identificasse quem efetivamente era graduado como "mestre" ou "contramestre" dentre aqueles que se identificaram como tal; tinha a informação de que, na Federação, apenas 16 (dezesseis) pessoas eram registradas como essas graduações. Junto com Contramestre Baé, outros mestres, contramestres, e formados, e passaram a identificação/ reconhecimento. Sem surpresas, a grande maioria não possuía esse titulo. Talvez identificaram-se como mestres porque ensinavam a arte da Capoeiragem. 2. "A existência da capoeira parece remontar aos quilombos brasileiros da época colonial, quando os escravos fugitivos, para se defenderem, fazem do próprio corpo uma arma. Não há indicações seguras de que a capoeira, tal qual a conhecemos hoje no Brasil, tenha se desenvolvido em qualquer outra parte do mundo (REIS, 2005)[1]"“ em conversa com Mestre Bamba - Kleber Umbelino Lopes Filho (divulgada na edição 41 - 1º. A 7 de agosto do Jornal do Capoeira) " este confirmou a existência de movimentos semelhantes aos da capoeira em remanescentes quilombolas do Maranhão, da região do Rio ItapecuruMirim. Essa região é ocupada desde o tempo dos franceses (1612-1615) e depois holandeses (16401643) e portugueses - desde o início da colonização, quando da reconquista do território aos franceses, em 1615, e a retomada aos holandeses, em 1643. E a partir dos meados dos 1700, receberam os primeiros escravos negros e, conseqüentemente, com suas fugas, a formação dos primeiros quilombos, naquela região. Mestre Bamba chegou a filmar esses movimentos, que aparecem dentro do Tambor-deCrioula, denominado "Pungada dos Homens", com a identificação dos "golpes" pelos "da terra" e a sua correlação com a capoeira de Bimba. 3. Ainda dentro da assertiva de Reis: "Como não existem pesquisa históricas a respeito da capoeira para os séculos XVI a XVIII, não é possível reconstruirmos o processo que levou ao deslocamento da capoeira do campo à cidade, o que deve ter ocorrido por volta do começo do século XIX, posto que datam desse período as primeiras referências históricas (até agora conhecidas) referentes aos capoeiras urbanos". (REIS, 2005). Pois bem, em São Luís há uma referência de quando aparecem na cidade: em 1829, conforme registro de certas atividades lúdicas dos negros [2] no jornal "A Estrela do Norte" [3], onde aparece a seguinte reclamação de um morador da cidade: "Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d"elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém ? ". 4.

Depois disso, aparece em crônicas policias nos anos de 1835: "A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte" [4] contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís." (VIEIRA FILHO, 1971, p. 36).


5. Mais, Josué Montello, em seu romance "Os Degraus do Paraíso"[5], em que trata da vida social e dos costumes de São Luiz do Maranhão, na passagem do século XIX para o século XX, fala-nos de prática da capoeira no ano de 1863, conforme relato de Mestre Eli Pimenta[6]. 6. O que é confirmado por VIEIRA FILHO (1971) quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Afirma esse autor que ali, alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunir em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. 7. E ainda, MARTINS (1989)[7] aceita a capoeira como o primeiro "esporte" praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877: "JOGO DA CAPOEIRA - "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179). 8. Por fim, e mais emblemático, em Turiaçú, no ano de 1884, é proclamada uma Lei " de no. 1.341, de 17 de maio [8] " em que constava: "Artigo 42 " é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão". (Grifos nossos). 9. Finalmente, NASCIMENTO DE MORAES, em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem: "A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve". (2000, p. 95, citado por MARTINS, 2005, p. 29)[9]. 10. Outros autores nascidos no Maranhão abordam a Capoeira " inclusive um é referencia obrigatória para quem a estuda -, descrevendo-a, mas em outras terras " Rio de Janeiro. Artur Azevedo, refere-se a Capoeira, em uma de suas obras, embora o fato não se passe em São Luís do Maranhão. Na opereta "O Barão de Pituaçu", narra a conversa de um capoeira. (Azevedo, Artur. O Barão de Pituaçu. Opereta em quatro atos, 1887, in CAVALHEIRO, 2005.) [10]. Não há necessidade de transcrever os artigos de Coelho Neto: veja em nosso Jornal do CAPOEIRA a seção Clássicos da Literatura. A crônica O Nosso Jogo,escrita por Coelho Neto, em 1922 e publicada no livro Bazar. 11. REIS (2005)[11] identifica que a Capoeira passa a ser aceita como uma atividade física, de origem nacional, a partir dos anos 30 e 40 do século passado, em Salvador, com as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva. O ressurgimento da crônica sobre a capoeiragem maranhense ocorre também por essa época, quando Dilvan de Jesus Fonseca Oliveira [12] informa que seu avô, falecido aos 92 anos, estivador do Porto de São Luís se referia á "capoeira" como "carioca", luta praticada em sua juventude. E Mestre Diniz lembra que "ali, na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira"[13]. Mestre Firmino Diniz " nascido em 1929 " que é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na "venda" de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 2002, citado por MARTINS, 2005, p. 30)[14]. 12. Reis (2005) observa que há uma crescente "baianização" da capoeira brasileira, que produzirá uma "impureza" das capoeiras de outros lugares. Esse fenômeno aparece também em São Luis do Maranhão, a partir dos anos 60/70, quando da chegada de Roberval Serejo e da passagem de Mestre Canjiquinha (1966), com seu grupo Aberre, constituído pelo próprio Canjiquinha, Sapo, Brasília e Vitor Careca " estes três últimos, ainda menores de idade e iniciantes na/da capoeira -; Sapo, depois Mestre em 1973 por conta de Mestre Zumbi " é o "pai" da atual capoeira maranhense, que se deixou "contaminar" num


primeiro momento pela "da Bahia". Aliás, a "capoeira baiana de Canjiquinha" já chegou contaminada por aqui, e assim foi ensinada por Sapo, pois Mestre Canjiquinha tinha um estilo próprio de praticar a capoeira Angola " a sua marca registrada - que passava para seus alunos - pois saia do característico jogo amarrado, lento, às vezes até monótono, para um jogo mais aberto, bonito, solto, com floreios, quedas, jogando em cima e embaixo com muita malícia e desenvoltura, sem jamais esquecer a filosofia e fundamentos da capoeira[15]. 13. Mas a capoeira praticada no Maranhão reagiu, tanto que hoje, podemos falar de uma "Capoeira Maranhense" em função da também "contaminação" das artes e danças e ritmos maranhenses: tambor-de-crioula " a primitiva capoeira - ou melhor, uma capoeira primitiva aparece em uma de suas versões, através da "pungada dos homens"; tambor-de-mina, das religiões afro-maranhenses; mesmo o cacuriá, o lelê, o côco, o maculelê, o próprio bumba-meu-boi em seus diversos sotaques, conforme informa Mestre Bamba (Angola), Mestre Índio Maranhão (Regional), Mestre Acinho de Jesus (criação de novo método de ensino da capoeira através do jogo lógico, pedagógico e didático; fundação do NIEC " Núcleo Internacional de Estudos da Capoeira " sede no bairro da Cohab e Parque Shalon, onde ministra aulas já utilizando o jogo pedagógico); ou Mestre Patinho, que praticava um estilo que chama de "Capoeiragem da Remanecença", fundamentada, e hoje utiliza-se de "capoeiragem"; e por aí afora... sem contar a "Onça Pintada", mistura de Regional com "Agarrada marajoara", praticada na região do rio Turiaçú " na fronteira com o Pará. LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ São Luis do Maranhão, Agosto de 2005


NOTAS SOBRE A PUNGA DOS HOMENS - CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005 - EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação "QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE" Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel) em correspondência pessoal acerca da "Punga dos Homens" [Jornal do Capoeira] esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens; que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade, que passa a ser dançada por mulheres, apenas. Mas desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente de/por homens: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005). Onde? Informa que há uma referência em Dunshe de Abranches[1]... Buscamos em "O Captiveiro", de 1941. "O Captiveiro", não é apenas um livro de memórias; escrito em 1938, para comemorar o cinquentanário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, trata-se de registros de acontecimentos políticos e sociais do Maranhão (GASPAR, 1993)[2]. Numa de suas passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcadia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de ABRANCHES (1941) em suas memórias: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisdos athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos..." (p. 187-188). O "Club dos Mortos" envolveu-se, ainda, nas disputas entre caixeiros e estudantes por causa de duas artistas de um circo, instalado no Tívoli. Para enfrentar os empregados do comércio, na sua maioria homens feitos, os preparatorianos (estudantes do Liceo) reuniram-se no pátio do colégio para selecionar os melhores atletas para a defesa. Fundaram, assim, o Club Roncador, que guardavam suas armas na casa dos Abranches: "...veio dahi uma grande amizade dos campeões dos murros e dos cambitos (synonimo de rasteira naquella época) pelo Club dos Mortos". (p. 190-191). (grifos meus). Rasteira? Seria a capoeira? Nada sobre o Tambor-de-crioula e a punga dos homens, nada em "A Setembrada", nem n" "A Esfinge do Grajaú"... Em Câmara Cascudo[3], no verbete "punga", consta: dança popular no Maranhão, capital e interior ... que é a mesma "dança do tambor". A punga é também chamada "tambor de crioula". Há também referencia a grafia "ponga", que como se sabe é um jogo. Crê Câmara Cascudo que punga é um termo em uso apenas no Maranhão e significa, na dança em questão, a umbigada, a punga. A punga seria uma dança cantada mas sem versos próprios, típicos. Geralmente são improvisados na hora, quando as libações esquentam a cabeça e despertam a "memória" do "tiradô" de versos. Após descrever o que seria a dança do tambor-de-crioula,


informa que pong provirá do tupi " soar, bater, ou antes soar por percussão. "O que fervia era o lundum, e estalavam as umbigadas com o nome de "pungas"" (p. 742-743). Remete a Tambor: "... mas a autonomia dos tambores indígenas e sua existência pré-cabralina parecem-me indiscutíveis no Brasil. Dança do Tambor, Tambor-de-Mina, Tambor-de-Crioulo [Tambor-deCrioulo?]. As danças denominadas "do Tambor" espalham-se pela Ibero-América. No Brasil, agrupam-se e são mantidas pelos negros e descendentes de escravos africanos, mestiços e crioulos, especialmente no Maranhão. [grifos meus]. Conhece-se uma Dança do Tambor , também denominada Ponga ou Punga que é uma espécie de samba, de roda, com solo coreográfico, e os Tambor-de-Mina e Tambor-de-Crioulo, [chamo atenção novamente para a grafia, em masculino], série de cantos ao som de um ferrinho (triangulo), uma cabaça e três tambores, com danças cujo desempenho ignoro." (p. 850-851). Informa o ilustre pesquisador, ainda, que uma missão cultural colheu exemplos das músicas utilizadas tanto no Tambor-de-Mina quanto no de Crioulo, em 1938. Estão ligados esses tambores-de-mina-e-de-crioulo às manifestações religiosas dos "terreiros", ao passo que: "... a punga (dança e batida) parecem alheias ao sincretismo afro-brasileiro na espécie... o Tambor-de-Crioula [já passa a usar no feminino ...] é o Bambelô do Maranhão, mas com a circunstância de que só dançam as mulheres. Passa-se a vez de dançar com a punga, que é um leve bater de perna contra perna. Punga é também espécie de pernada do Maranhão: batida de perna contra perna para fazer o parceiro cair.. às vezes o Tambor-de-Crioula termina com a punga dos homens.". (p. 851). Por "Punga", registra: jogo ginástico, brincadeira de agilidade, entre valentões, malandros e capadócios. É uma simplificação da capoeira... Sua descrição, assemelha-se à da "punga dos homens", do Tambor-deCrioulo(a) (p. 709). Já "bambelô" é descrito como samba, côco de roda, danças em círculo, cantada e acompanhada a instrumentos de percussão (batuque), fazendo figuras no centro da roda um ou dois dançarinos, no máximo. O ético é o vocáculo quimbundo mbamba, jogo, divertimento em círculo (p. 113). Ontem, 10 de agosto, houve uma reunião do Matro-á, escola de capoeira de Mestre Marco Aurélio. Mestre Patinho esteve presente, assim como Mestre Didi. Uma verdadeira aula de cultura maranhense. Presentes, também, Domingos de Deus, Luis Senzala, Bamba, Vespasiano ... Conversas sobre os artigos do Jornal do Capoeira, sobre a Punga dos Homens, e novas informações e esclarecimentos ... desafiados para colocarem no papel suas pesquisas - mais de oito anos - sobre essa manifestação: "Há cerca de oito anos, eu e mais outros capoeiras estamos pesquisando a punga, e posso lhe afirmar que apesar da correlação de alguns golpes com a capoeira, esta pode até ter similaridade, mas daí afirmar que é capoeira é outra coisa." (in correspondência pessoal, de 10 de agosto de 2005). Uma certeza: punga não é capoeira, embora alguns movimentos se assemelhem ... Informa Marco Aurélio: "Ano passado, participei em Salvador, de um Encontro Internacional de capoeira "GINGAMUNDO". onde coordenei uma grupo do Maranhão, com 25 (vinte e cinco) pessoas entre estas, o Mestre Felipe e outros pungueiros, entre pessoas de um Povoado de Rosário e mais outros coreiros e coreiras, algumas capoeiras angola. Lá, estavam presentes representantes de outras lutas de origem africana, de países como Angola e Madagascar, porém, a grande vedete do encontro foi a Punga dos Homens... Estavam presentes neste encontro, além de mestres antigos, tais como João Pequeno, João Grande, Mestre Boa Gente, também haviam pesquisadores de renome como Jair Moura, Carlos Líbano Soares, Fred Abreu, Mathias Röhring Assunção, etc".(in correspondência pessoal). Como diria o Mestre Laércio, oremos! E aguardemos... Cordialmente, Prof. Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão [1]

João Dunshe de Abranches Moura nasceu à rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar e internacionalista. Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelo "A Setembrada", "O Captiveiro", e "A


Esfinge do Grajaú" .(VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e VAZ, Delzuite Dantas Brito. CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES. In VII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, Gramado-RS, 20/05 a 1º/06 de 2000. [2]

GASPAR, Carlos. DUNSHE DE ABRANCHES. São Luís : (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92).

[3]

CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro:Tecnoprint, 1972


JIU-JITSU NO MARANHÃO Novos apontamentos para sua História, com informações adicionais referentes à nossa Capoeiragem no século XIX Jornal do Capoeira http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005 Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física " CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Em "A Pacotilha"[1], São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo "JIUJITZÚ" - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): "Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espirito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. "Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficialgeneral da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. "Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. "A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão. "Ha alguns dias esse terrível jogador vem assombrando a platéia daquela casa de diversões com a sua agilidade indiscritível, com os seus pulos maquiavélicos. Todas as noites o campeão japonês desafia a platéia a medir forcas com ele, sendo que, logo nos primeiros dias de sua exibição, se achava na platéia um conhecido "malandrão". "Feito o desafio, o "camarada" não teve duvidas em aceitar, subindo ao palco. "Depois de tirar o paletó, colete, punhos, colarinho e as botinas, o freguês "escreveu" diante do campeão, "mingou" abaixo do "cabra"; este assentou-lhe a testa que o japones andou amarrotando as costelas no tablado. A coisa aqueceu, o japonês indignou-se, quis virar "bicho", mas o brasileiro, que não tinha nada de "paca" foi queimando o grosso de tal maneira que a policia teve que intervir para evitar ... o japonês. " 'A Folha do Dia' narra o seguinte: 'Diversos freqüentadores do Pavilhão Nacional vieram ontem a esta redação apresentar o Sr. Cyriaco Francisco da Silva, dizendo-se o mesmo senhor vencido o jogador japonês que se exibe atualmente naquela cada de diversão. "O Sr. Cyriaco é brasileiro, trabalhador no comercio de café e conseguiu vencer o seu antagonista aplicando-lhe um "rabo de arraia" formidável, que no primeiro assalto o prostrou . "O brasileiro jogou descalço e o japonês pediu que não fosse continuada a luta. "Ficam assim cientes os que se preocupam com o novo esporte que ele é deficiente. Basta estabelecer o seguinte paralelo: no jiu-jitzu a defesa é mais fácil que o ataque; na capoeiragem a grande ciência é a defesa, a grande arte é saber cair. "Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que o brasileiro 'sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta'.". Para LACÉ (s.d.)[2], Francisco da Silva Ciríaco, mais conhecido como Macaco Velho, nascido em Campos, foi um dos mais afamados capoeiristas no Rio de Janeiro, na virada do século 19 para os 20. Era o mestre preferido pelos acadêmicos de medicina, fenômeno que se repetiu na Bahia, décadas mais tarde, com Mestre Bimba. Foram esses estudantes que insistiram no confronto da Capoeira (Macaco Velho) com o jiu-jitsu (Sada Miyako, campeão japonês). Evento que acabou ocorrendo, no dia 1º de maio de 1909, com um fulminante desfecho: aplicando um literalmente surpreendente rabo-de-arraia, Ciríaco encerrou a luta em alguns segundos. Mesmo existindo


uma versão " jamais comprovada - de que Ciríaco teria utilizado um recurso, digamos, de rua, mesmo assim, luta é luta, vale-tudo é vale-tudo, e ninguém jamais poderá negar o mérito da vitória. Tanto assim, que Mestre Ciríaco saiu vitorioso do Pavilhão Internacional Paschoal Segreto, com o povo cantando pelas ruas "a Ásia curvou-se ante o Brasil". No dia seguinte, a Capoeira foi notícia em quase todos os jornais, valendo registrar, por oportuno, a ocorrência de algumas redações cautelosas, quase envergonhadas da própria cultura brasileira, como a nota do jornal do Commercio (02.05.1909, pág. 7): O sportman japonez do tão apreciado jogo jiu-jitsu foi hontem vencido pelo preto campista Cyriaco da Silva, que subjugou o seu contendor com um passo de capoeiragem". A nota, curiosamente, não menciona o nome do "sportman" perdedor. Mais adiante, entretanto, no mesmo jornal garimpei o seguinte anúncio: "JIU-JITSU: Mr. Sada Miyako, professor contratado para leccionar na marinha brasileira encarrega-se de dar lições particulares a domicílio. Cartas para a Rua Gonçalves Dias n. 78 ou para a Fortaleza de Willegaignon". Ou será que a nota, de modo até sutil, protesta a respeito do tal recurso de rua acima levemente mencionado? Isso, no Rio de Janeiro; mas e no Maranhão ? vejamos: nesse mesmo jornal " "A Pacotilha" - de 18 de abril de 1910, segunda feira, no. 90, consta noticia de que o "Fabril Athletic Club" " FAC - estava preparando uma jornada esportiva para recepcionar ao Barão de Rio Branco, em visita à São Luís. Em nota do final da noticia é informado que: "Tem funcionado neste clube aos domingos pela manhã, um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d'agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia." Informa MARTINS (1989)[3] que Nhozinho Santos, em 1908, implanta mais duas modalidades esportivas no FAC: o Tiro, com inscrição na Confederação Brasileira de Tiro; e o "jiu-jitsu", com um grande número de adeptos[4]. Muito embora Martins dê como sendo o ano de 1908 a introdução do Tiro no FAC " em 18 de setembro de 1908 realizou-se uma Assembléia Geral Extraordinária para mudanças do Estatuto do Clube para aproveitarse da Lei de Reorganização do Exército -, este se deu, efetivamente, em 1910, com o concurso do então Tenente Luso Torres, muito embora tenham-se realizados desde esse ano exercícios de marcha e voltas, assim como de tiro. Em 1910, o esporte em Maranhão " diga-se, o FAC (Fabril Athetic Club) - experimenta uma de suas inúmeras crises, surgidas com o descontentamento de alguns associados por causa de problemas financeiros, não só da Fábrica Santa Isabel - de propriedade da família de Nhozinho Santos -, mas por falta de pagamento de mensalidades por parte dos associados - da maioria, segundo MARTINS (1989) Das propostas apresentadas, 13 associados não concordaram, pedindo sua eliminação. Pensavam na formação de uma outra agremiação, mais popular, aberta, mais democrática. Fundam o ONZE MARANHENSE, que, além do futebol, desenvolveu outras atividades esportivas: tênis, crocket, basquetebol, bilhar, boliche, ping-pong (tênis de Mesa), xadrez, e a luta livre, introduzida por Álvaro Martins. Sabe-se que o Jiu-jitsu foi introduzido no Brasil, oficialmente, por Mitsuyo Maeda, - "Conde Koma" -, por volta de 1914. Em 1915, o Conde Koma - em viagem de exibição pelo Brasil para divulgar sua arte -, e a caminho de Belém (novembro daquele ano), passou por São Luís e fez algumas exibições. Em Belém do Pará, o professor Koma passou a lecionar o verdadeiro Jiu Jitsu a seu dileto aluno Carlos Gracie. Os irmãos Carlos e Hélio Gracie foram os precursores do que hoje é chamado de Jiu Jitsu Brasileiro, de eficiência comprovada no mundo inteiro [5] Em 1925 Geo Omori fundou a primeira academia de Jiu Jitsu no Brasil, mas o esporte só se consolidou com a família Gracie. Como explicar que o Jiu-jitsu foi introduzido " no Brasil - em 1914/15, pelo Conde Koma, e que a primeira academia date de 1925, criada por Geo Omori se desde 1909 já era praticada no Rio de Janeiro " e consta que "o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros." e, provavelmente desde 1908, e certamente desde 1910, em São Luís do Maranhão? Se em 18 de abril de 1910, segunda feira, em "A Pacotilha" de no. 90 consta noticia de que no "Fabril Athletic Club" " FAC " estava em funcionamento um "um curso de jiu-jitsu, dirigido pelo Sr. F. Almeida


contando já com muitos adeptos. Esse curso passará a funcionar, regularmente d'agora em diante, aos domingos das 8 as 10 horas do dia" ?; E que também no "Onze Maranhense - fundado nesse mesmo ano de 1910, de uma dissidência do FAC -, desenvolveu-se, dentre outras atividades esportivas, a luta livre, introduzida por Álvaro Martins?, segundo informa Dejard Ramos Martins ?

Leopoldo - São Luis do Maranhão - Junho de 2005 [1]

Do acervo da Biblioteca Pública "Benedito Leite", disponível em microforma.

[2] (IN LACÊ, André. Disponível em CD-Room, enviado ao autor. CIRÍACO, HERMANNY, ARTUR E HULK. [3] MARTINS, Djard Ramos. MERGULHO NO TEMPO. São Luís : Sioge, 1989; in VAZ, Leopoldo Gil

[4]

Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) no Maranhão. CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E º DANÇA, 8 , Ponta Grossa, UEPG ... Coletâneas ... disponível em CD-ROOM, novembro de 2002.

Quero acreditar que o Jiu-jitsu deve ter sido apresentado aos sócios por Aluísio Azevedo. Ao abandonar as carreiras de caricaturista e de escritor abraça a carreira pública, em busca de sobrevivência, como funcionário concursado do Ministério de Relações Exteriores;torna-se cônsul, servindo por quase três anos no Japão - em Yokohama (setembro 1897 a 1899) -, onde deve ter aprendido essa arte marcial, assim como a jogar Tênis e Futebol, quando de sua estada na Inglaterra. [5] (fonte: www.pef.com.br/esportes/?e=jiu-jitsu).


O QUE É A CAPOEIRA? Crônica com uma abordagem muito interessante por Leopoldo Vaz, na qual o autor faz uso de algumas matérias recentes do Jornal do Capoeira para enquadrar o questionamento "O que é a Capoeira?", ou melhor dizendo, "como o que a capoeira vem sendo tratada recentemente?" Jornal do Capoeira http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 Leopoldo Gil Dulcio Vaz Professor de Educação Física " CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Três notícias do nosso "Jornal do Capoeira" (http://www.capoeira.jex.com.br/ ) chamaram-me a atenção, André Lacé - CAPOEIRA LUTA - DEBATE ABERTO E FRANCO - Crônica por Andre Luiz Lacé Lopes, tendo-se como foco a Capoeira Luta. Afinal, a Capoeira é ou não uma luta/arte marcial? , e André Lacé Capoeira :: VALE TUDO, MESTRE HULK E A TGA - Crônica de Mestre André Luiz Lacé Lopes sobre Vale Tudo, Capoeira e Mestre Hulk, com algumas considerações sobre a Teoria Geral da Administração na Capoeira, e Política Pública - Capoeira :: CREF, Confef & Políticas públicas - Dança, Capoeira, Ioga, Artes Marciais e Pilates estão novamente sob ameaça na Câmara dos Deputados.. Miltinho Astronauta, em Nota do editor, assim se manifesta, acerca da ultima notícia: "Recebemos em nossa redação uma "circular" enviada pelo Mestre Cafuné, da Bahia, versando sobre o PL 7.370/2002, proposto pelo deputado Luiz Antônio Fleury (PTB/SP). Pelo teor de tal circular podemos ver que o "lobby" do Sistema CREF/CONFEF continua forte e reinante. Acreditamos ainda que o Congresso Nacional de Capoeira e/ou outros movimentos paralelos e independentes, consigam alguma vitória rápida e rasteira... Seria até interessante que nossos representantes nacionais - Jairo José Junior (CNC) e Gersonilto Heleno de Sousa (CBC)-, ou mesmo internacional (Sérgio Vieira - Federação Internacional de Capoeira - FICA) emitissem, vez ou outra, algum posicionamento do que tem sido feito, e de quais os avanços na causa.... Acredito que este é o momento, pois as eleições estão aí. Embora grande parte dos capoeiristas acreditam que o trem já passou e que ficaremos na estação. A julgar pelo caminhar da carruagem, "adeus viola". Miltinho Astronauta." A notícia, com o título "Dança, Capoeira, Ioga, Artes Marciais e Pilates estão novamente sob ameaça na Câmara dos Deputados" referia-se à tramitação do Projeto de Lei Nº 7.370/2002, de autoria do deputado Luiz Antônio Fleury (PTB/SP), que acrescenta parágrafo único ao art. 2º da Lei 9.696, de 1º de setembro de 1998, dispondo que não estão sujeitos à fiscalização dos Conselhos Regionais de Educação Física os profissionais de dança, artes marciais e ioga, continua emperrada na Câmara dos Deputados por força do poderoso lobby exercido por setores ligados ao Conselho Federal de Educação Física. O projeto, apresentado em 21 de novembro de 2002 e arquivado em 31 de janeiro de 2003 sem ter sido apreciado em nenhuma comissão foi desarquivado em 21 de março de 2003 - PL 7.370/2002 - e enviado à Comissão de Educação, Cultura e Desporto, onde o deputado Gilmar Machado foi designado seu relator. Em 19 de abril de 2004, o deputado Gilmar Machado devolveu o projeto sem apresentar seu parecer. A Comissão de Educação e Cultura designou então a deputada Alice Portugal para relatar a matéria, que na condição de relatora propôs e realizou audiências públicas para debater o assunto com os diferentes segmentos profissionais e culturais envolvidos. Realizadas as audiências públicas, a deputada elaborou seu parecer, apresentando substitutivo que estabelecia que "Não estão sujeitos à fiscalização dos Conselhos previstos nesta lei os profissionais de dança, capoeira, artes marciais, ioga e método pilates, seus instrutores e academias". O substitutivo da deputada Alice Portugal foi aprovado por unanimidade na Comissão de Educação e Cultura e o projeto foi encaminhado à Comissão de Turismo e Desporto, onde o deputado Josué Bengtson (PTB-PA) foi designado relator. Também nesta Comissão, a despeito das pressões em contrário, o texto da deputada Alice Portugal foi mantido pelo relator, que teve seu parecer aprovado em 4 de maio de 2005. Com a aprovação em duas comissões temáticas, o Projeto de Lei nº 7.373/2002 seguiria então para a Comissão de Constituição e Justiça, onde poderia ser aprovado em caráter terminativo. Porém, antes da distribuição da matéria para a Comissão de Constituição e Justiça, o deputado Gilmar Machado (PT/MG) e o


deputado Cláudio Cajado (PFL/BA) apresentaram requerimento solicitando que o projeto fosse apreciado também pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público. Acatados os requerimentos, o PL 7.370/2002 foi remetido em 20 de maio de 2005 à Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, onde o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP) foi designado relator. Aberto o prazo para a apresentação de emendas, estranhamente foram apresentadas emendas modificativas exatamente iguais, tanto no conteúdo das modificações propostas, quanto nas justificativas apresentadas. Os autores das emendas são os deputados Cláudio Cajado (PFL/BA), Alceu Colares (PDT/RS), Laura Carneiro (PFL/RJ), André Figueiredo (PDT/CE), Nelson Marquezelli (PTB/SP), Mário Maia (PT/RS) e Tacísio Zimmermann (PT/RS). As emendas apresentadas por esses parlamentares estabelecem que as atividades de dança, artes marciais, ioga, capoeira e método plilates, "praticadas com características desportivas e/ou com o cunho de exercícios, na busca de condicionamento físico", ficarão sujeitas à fiscalização do Conselho Federal de Educação Física. Aqui, no Maranhão, há uma discussão por parte dos Capoeiras " Angolas e Regionais " se a Capoeira é cultura ou esporte. Os Angolas a querem como cultura " fazem parte da cultura corporal do povo maranhense, e suas apresentações " rodas " devem fazer parte do calendário da Secretaria de Cultura e inseridas nos diversos eventos culturais, inclusive com acesso às verbas e subsídios para esse fim ; os Regionais querem-na como Luta, e disputada em Torneios e Campeonatos de Capoeira " roda -, além de " já incluída " nos Jogos Escolares Maranhenses; também reivindicam acesso às verbas da Cultura, além das do Esporte... Se “e não estou defendendo o Sistema Confef/Cref” for praticadas com características desportivas e/ou com o cunho de exercícios, na busca de condicionamento físico então é atividade de Educação Física ... e os seus profissionais devem estar sujeitos as formas da Lei. E isso vai depender de qual definição para "Capoeira" se adota. Dependendo dela é que se vai caracterizar a CAPOEIRA... a) "Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada". Federação Internacional de Capoeira - FICA[1] b) "um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica". (VIEIRA, 2005).[2] A "regulamentação" da Capoeira como atividade física " portanto passível de profissionalização - dá-se nas primeiras décadas do século passado. Segundo REIS (2005)[3] foram nos anos 30 e 40, em Salvador, que se abriram as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva. Destacando-se dois mestres baianos negros e originários das camadas pobres da cidade, Bimba e Pastinha. Mestre Bimba, criador da capoeira Regional Baiana, não verá nenhum inconveniente em "mestiçar" essa luta, incorporando à mesma movimentos de lutas ocidentais e orientais (tais como Box, catch, savate, jiujitsu e luta greco-romana). Por outro lado Pastinha, contemporâneo de Bimba e igualmente empenhado na legitimação dessa prática, reagindo àquela "mestiçagem" da capoeira, afirmando a "pureza africana" da luta, difundindo o estilo da capoeira Angola e procurando distingui-lo da Regional. Para REIS (2005), Bimba e Pastinha elaboraram, através da capoeira, estratégias simbólicas e políticas diferenciadas que visavam, em última instância, ampliar o espaço político dos negros na sociedade brasileira e propõem dois caminhos possíveis para a inserção social dos negros naquele momento histórico[4]: "A capoeira "mestiça" representada pela capoeira Regional. Embora incorpore elementos de lutas ocidentais, a capoeira Regional guarda elementos que reafirmam a identidade étnica negra nas músicas, nos toques do berimbau e nos próprios movimentos que, conforme depoimento de mestre Bimba, são provenientes também do batuque e do maculelê (Rego, 1968:33). Assim, a capoeira Regional, ao colocar em contato sistemas de valores distintos e, portanto, construções corporais distintas (os movimentos corporais brancos e os negros), opera uma mediação, criando um campo simbólico ambíguo e ambivalente: (a) A capoeira Regional seria


uma afirmação de identidade que é mais ampla que a da capoeira Angola pois afirma não a existência do negro excluído da sociedade branca mas sua presença enquanto parte da sociedade brasileira e, finalmente, enquanto símbolo da nação como um todo. (b) tem no ecletismo de que faz prova (por exemplo, a incorporação de elementos de outras formas de luta e a nova racionalidade na maximização dos efeitos dos golpes) um elemento de dinamismo que permite a construção de uma nova presença negra no cenário nacional. (c) tem um preço a pagar por tudo isso, no plano político, que significa renunciar à afirmação de uma diferença na "identidade negra". "A capoeira Angola, em contrapartida:(a) a capoeira "pura", como forma inequívoca de afirmação da identidade étnica. A capoeira Angola, em sua própria designação, reafirma peremptoriamente sua origem étnica e, ao "conservar" a construção corporal negra, demarca uma forma culturalmente distinta de jogar capoeira.(b)existindo como resistência no momento de inclusão do negro na sociedade brasileira, só é revalorizada como reafirmação dessa mesma resistência em função da recuperação de uma "identidade negra" específica no cenário nacional, no bojo da construção política (contemporânea) de uma "consciência negra". (c) essa construção só se torna possível a partir de uma postura "conservadora", que reinventa a tradição e só se mantém com a recuperação simultânea dos outros elementos que, no plano simbólico, organizam essa "visão de mundo negra" (como por exemplo, a afirmação da origem africana da capoeira a partir do ritual de iniciação denominado dança da zebra ou "N'Golo"). Taffarel (2004)[5] levanta como possibilidade histórica a responsabilidade social dos capoeiristas " enquanto produtores associados, intelectuais orgânicos "-, na construção de uma nova cultura - a cultura socialista -, o que exige rigorosa consideração da teoria do conhecimento e teoria pedagógica que subsidia, constrói e consolida a práxis capoeirana, responsável também pela sociabilização da classe trabalhadora. A Autora traz como dados empíricos da inserção da capoeira em tais complexos econômicos " empresariamento, mercadorização, esportivização, espetacularização, privatização da capoeira - as discussão sobre produção do conhecimento, formação de mestres e professores, políticas públicas e sobre ética e violência, exemplificando a ação do sistema CREF/CONFEF interferindo na cultura e na economia popular contribuindo para a destruição das forças produtivas. Afirma a ilustre Professora-Doutora em Educação Física, manifestando sua contrariedade pela perda que a mercantilização da capoeira representa para os valores culturais da própria Humanidade, justificando sua fala: "Para contribuir com a reflexão da temática proposta neste ano "Capoeira a Serviço do Social ou do Capital?" apresentei o tema CAPOEIRA E PROJETO HISTÓRICO expondo dados da realidade sobre a destruição das forças produtivas, enquanto tendência do modo do capital organizar a vida e suas expressões na capoeiragem. Levantei a tese de que a capoeira está em franca degeneração e decomposição de seus valores genuínos - capoeira patrimônio da humanidade - quando subsumida ao modo do capital de produzir mercadorias para usá-las e trocá-las em relações capitalísticas. Procurei demonstrar que as abordagens da questão da capoeira centradas na ética, na ciência, na educação, na compreensão de cultura popular e, na normatização/monitorização reguladas pelo Mercado, pelo Estado e Comunitária são limitadas quando desprovidas da referencia de um projeto histórico explicito, superador do modo do capital organizar a produção " uso e troca de mercadorias.". Essa Autora levanta algumas teses, com base na economia política, para poder compreender as relações estabelecidas no âmbito da cultura e o processo atual de destruição, decomposição e degeneração da capoeira (primeira hipótese); A segunda hipótese que a Autora levanta é a da destruição das forças produtivas " trabalho, trabalhador, meio ambiente, cultura " dentro do que se localiza a destruição, degeneração, decomposição da capoeira, enquanto uma produção social, historicamente acumulada. A terceira hipótese, é que a maioria dos estudos sobre capoeira faz referência à ética em uma sociedade contraditória e altamente violenta, recorrência esta que necessita ser questionada porque desarticulada do projeto histórico alternativo ao modelo do capital. A quarta hipótese, é de que uma nova cultura capoeirana, uma genuína práxis capoeirana, exige sintonia com uma novo projeto histórico e será reconhecida na organização do trabalho pedagógico de construção da cultura, com nexos e implicações em uma dada teoria do conhecimento e teoria pedagógica e em um projeto histórico superador do projeto capitalista. Um outro autor, Hajime Nosaki (2004)[6], ao tratar das relações de trabalho no campo profissional da Educação Física, dentro do sistema Sistema CONFEF/CREF apresenta elementos acerca do reordenamento do trabalho do professor de educação física, da regulamentação da profissão e da disputa de projetos históricos. A Regulamentação da profissão veio para "regulamentar a terra de ninguém". Isto significou que o ensino de todas as praticas corporais, entre as quais a capoeira, passaram a ser exclusividade de quem tem


a carteira do CONFEF. Ou seja, o desenvolvimento de um relevante bem social, a capoeira, passa a ser propriedade privada da educação física. Com base na analise do mundo do trabalho são apresentados elementos mediadores entre o movimento mais geral do capital e a especificidade do trabalho na educação física e particularmente a questão da regulamentação da profissão, exigência do mercado do trabalho e, portanto, do capital e sua estratégia de reordenamento para manutenção da hegemonia. São apresentados dados concretos sobre o Conselho Federal de Educação Física, resgatando-se elementos históricos desde as primeiras intenções presentes nas Associações de Professores até a legalização dos Conselhos pela aprovação da Lei 9696/98 que encontrou sua base de sustentação na Lei 9649/98 " principalmente em seu artigo 58 que transforma conselhos profissionais em entidades privadas. Hajime nos apresenta dados sobre a ingerência de tais conselhos juntos aos trabalhadores de educação física, aos trabalhadores de outras áreas, tanto na formação quanto na qualificação.A ação inibidora do Sistema CREF/CONFEF está contribuindo para atacar a cultura e destruíla, tornando a ação de construção da cultura um monopólio exclusivo de professores de educação física. Isto diz respeito a reserva de mercado. Com isto somem culturas, trabalho, trabalhador. ENGELS em "Do socialismo utópico ao socialismo cientifico" (pg.19) já afirmava: "Quando nos detemos a pensar sobre a natureza, ou sobre a história humana, ou sobre a nossa própria ati-vidade espiritual, deparamo-nos, em primeiro plano, com a imagem de uma trama infinita de concatenações e in-fluências recíprocas, em que nada permanece o que era, nem como e onde era, mas tudo se move e se transforma nasce e morre.". A isto está sujeita a capoeira, enquanto pratica, conhecimento, profissão, formação, mercadoria. Como Taffarel (2004), aceitamos que a capoeira é um dos fenômenos sócio-culturais da alta relevância no Brasil e constitui o processo civilizatório[7], e que hoje: "... está situado dentro da divisão social internacional do trabalho e portanto, neste momento histórico sofre também o processo de degeneração, decomposição e destruição." Isto é visível quando observamos o empresariamento da capoeira internacionalmente " no sistema de franquias. A mercadorização da capoeira, vista nos empórios e centros turísticos, a espetacularização da capoeira visita na mídia e nos fantasiosos espetáculos. Na esportivização da capoeira, na construção de confederações, federações com finalidades competitivas, necessidade imperiosa do capital. O que é a Capoeira? Um PRODUTO CULTURAL ou uma MERCADORIA? Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão - , Setembro de 2005 [1] Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001 [2] VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. [3] REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). [4]In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/, capturado em 14 de abril de 2005. (Grifos meus). [5] TAFFAREL, Celi Zulke. Capoeira e projeto histórico. In VI SIMPÓSIO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE CAPOEIRA - VI SNUC, Florianópolis-SC - 12, 13 e 14 de novembro 2004, Universidade Federal de Santa Catarina - Temática do evento: Capoeira a Serviço do Social ou do Capital! [6] NOZAKY, Hajime. EDUCAÇÃO FÍSICA E REORDENAMENTO NO MUNDO DO TRABALHO: MEDIAÇÕES DA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO. Tese Doutorado. Universidade Federal Fluminense, 2004. [7] ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. DEPORTE Y OCIO EM EL PROCESO DE LA CIVILIZACION. México : Fundo de Cultura Econômica, 1992


GUARDA NEGRA :: PARTE I Nesta crônica o autor apresenta alguns fatos relacionados à Capoeiragem e à Guarda Negra (Rio de Janeiro), enquanto ele, o autor, busca indícios da presença da própria Guarda Negra em São Luis do Maranhão. Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA Novembro de 2005 Com um misto de alegria e surpresa, li na edição 25, de novembro de 2005, da Revista HistóriaViva um interessante artigo de Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio Gomes - p. 74-79 - sobre "O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista". Alegria, por contar um pouco mais da história da/dos capoeiras. Surpresa, por se referir à "Guarda Negra". Por não ser da área, isto é, capoeira, e não se lhe conhecer a história, nunca ouvira falar da "guarda negra"; e mais, como estudioso da história do Maranhão, especialmente do esporte e da educação física, não encontrara nenhuma referência a esse assunto nos mais de 400 livros que tenho em minha biblioteca... Procurei o Prof.Jairo Ives de Oliveira Pontes, meu colega de magistério no CEFET-MA, e organizador de uma "Nova história do Maranhão", ed. em CD-ROM, e fiz-lhe a pergunta, a queima-roupa: "Fale-me da guarda negra!". Espantado, disse nada saber; nem na História do Brasil - da qual é professor -, nem na história do Maranhão, da qual é pesquisador... Mostrei-lhe o artigo em questão. Mostrou-se, qual, surpreso. "Precisamos investigar". No artigo a que me refiro, da chamada consta "quilombolas, jornalistas e capoeiras foram personagens fundamentais do Rio de Janeiro contrários à escravatura"; e no corpo do artigo, inicia afirmando que "a abolição da escravidão não foi fruto apenas de uma suposta ação exclusiva de enfrentamentos parlamentares. Nas ruas - principalmente nas cidades -, abolicionistas de várias origens sociais, escravos, libertos, operários de fábricas que alvoreciam, capoeiras, jornalistas e pequenos negociantes transformaram a campanha pela liberdade dos cativos numa verdadeira batalha ... e mais adiante ... capoeiras se engalfinhavam com republicados contrários à abolição...". Isso, em cidades como Rio de Janeiro, Santos, Porto Alegre, Campinas, Salvador e Recife não foram poucas as refregas nas ruas envolvendo polícia, abolicionistas, capoeiras, escravos e libertos. O dono das ruas, naquele momento em que o grito da abolição cortou os ares, era o capoeira. Para os autores, a participação dos capoeiras nesse memorável momento político da vida carioca ainda é plena de contradições e zonas de sombra, em virtude de as maltas - como eram chamados os grupos de capoeira - não se posicionavam somente de um dos lados da contenda. Estavam nas trincheiras dos que defendiam o fim imediato da escravidão, assim como no lado dos que postulavam uma transição lenta, gradual e segura, sem o grito das ruas. Mas os capoeiras se fizeram presentes, com suas correrias, suas lutas de rua, empastelamento de jornais - de ambos os lados - e os inesquecíveis golpes da capoeira, da rasteira e da navalha... Iniciando em 05 de janeiro de 1885, quando capoeiras de uma malta armada pelos inimigos da causa abolicionista invadiram o prédio da redação do jornal "Gazeta da Tarde", dirigido por José do Patrocínio. Consta que essa invasão não teve nada relacionada com o movimento abolicionista, conforme a história passou a registrar o empastelamento do jornal, pelos capoeiras. Foi apenas um enfrentamento entre maltas rivais, colocada de um lado, grupo do Campo de Santana (identificada com os abolicionistas) formada por pequenos vendedores de jornais, e do outro lado (dos escravistas), a malta que dominava o Largo de Santa Rita, chefiada por um tal de Castro Cotrim, junta com outros chefes de malta da região portuária de Santa Rita como Coruja e Chico Vagabundo. Os pequenos vendedores de jornal entraram na redação para fugir de seus perseguidores e foram apoiados pelos funcionários do jornal, que rebateram o ataque.


Anos mais tarde, José do Patrocínio cria a "Guarda Negra", em função da Lei Áurea, que abriu caminho para uma temporária unificação dos grupos em prol da novel agremiação, talvez a face mais conhecida da capoeiragem política dos últimos anos da monarquia. Mais tarde, Patrocínio a iria renegar, após a queda do gabinete João Alfredo, que concretizou o 13 de maio. Patrocínio foi quem introduziu os capoeiras para o ninho abolicionista e circulava bem no complexo mundo das maltas de capoeira do Rio - José do Patrocínio era mulato, filho de uma africana e de um poderoso cônego do conservador clero católico, de Campos dos Goitacases -, algo muito raro entre as lideranças abolicionistas - Joaquim Nabuco e André Rebouças, dentre outros ... -, em geral compostas de moradores de classe média que nutriam verdadeira ojeriza à capoeiragem. O porta-voz da Guarda Negra escrevia seus manifestos nas páginas de "A Cidade do Rio", o novo jornal de Patrocínio; as primeiras reuniões foram realizadas na redação do jornal; a polêmica na imprensa era travada entre o jornal de patrocínio e o "Paíz", no qual Rui Barbosa vociferava os maiores impropérios contra a Guarda da Redentora. Após o incidente de 14 de julho de 1889 entre os capoeiras da Guarda Negra e militantes republicanos no coração do Rio, Patrocínio gradualmente se afastou da organização... a guarda entraria em declínio, até ser completamente desbaratada pela repressão de Sampaio Ferraz em 1890. Informam os Autores que houve episódios da Guarda Negra em outras cidades, como Porto Alegre, Salvador e São Luís... São Luís? Daí nosso espanto, de Jairo e eu. Nunca ouvíramos falar... Procurei em Mário Meireles, nosso maior historiador, e não achei nada; em Vieira Filho, em seu "A Polícia Militar do Maranhão", de 1975, e não consta nada; Navas-Toríbio, em seu "O negro na literatura maranhense", também não há referência... Resta a Internet! Na Wikipedia, sob o título Capoeira, consta que, historicamente, capoeiristas têm sido utilizados em guerra e conflitos como na Guerra do Paraguai e na Revolta dos Mercenários, em 1828, e que em 1888 foi instituída pelo exército brasileiro a Guarda Negra, composta praticamente por capoeiristas. Em 1897, o general Couto de Magalhães disse que a capoeira não deveria ser perseguida mais sim dominada e ensinada em escolas militares. Em 1939, mestre Bimba começa a ensinar a capoeira no quartel do CPOR de Salvador. Não se pode esquecer que como arte de guerra a capoeira foi utilizada contra a opressão da escravidão nos quilombos e posteriormente nas maltas. [1]. CARDOSO, em "HISTÓRIA DA CAPOEIRA", ao tratar da "repressão da capoeira" refere-se que, quando da chegada da família Real ao Brasil em 1808, começou o processo de repressão à cultura negra e foi intensificada a perseguição policial. Em 1809, foi criada a Guarda Real da Polícia na qual o Major Miguel Nunes Vidigal foi nomeado comandante. Major Vidigal foi o verdadeiro terror dos capoeiristas, perseguiaos, espancava-os e torturava-os na tentativa de exterminá-los. Apesar dos severos castigos, os capoeiras resistiam bravamente e em 1824, a punição tornou-se pior: além das trezentas chibatadas eram enviados por três meses para realizar trabalhos forçados na Ilha das Cobras. A partir da segunda metade do século XIX (1850), começaram a ocorrer sucessivas prisões de capoeiristas, os quais estavam formando maltas que atemorizavam a população e os governantes. Os principais focos da capoeira eram: Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. No entanto, no Rio de Janeiro é que a capoeira era motivo de maior preocupação (mesmo porque o Rio era a capital do país na época), era onde estava a maior concentração das maltas, sendo as mais temíveis as do Guaiamuns e dos Nagoas. Os Nagoas eram ligados aos monarquistas do Partido Conservador, agiam na periferia, e os Guaiamuns eram ligados aos Republicanos do Partido Liberal, controlavam a região central da cidade. (in Letícia Cardoso de Carvalho [2] ). Maltas adversárias que por décadas se digladiaram pelas ruas da cidade; os nagoas e guaiamus sempre aparentavam estar imersos num universo imaginário, fronteira entre a ficção acadêmica e uma nebulosa tradição popular. Nesse processo de divisão da cidade em dois grandes grupos rivais estaria completo, definindo uma linha divisória que mantinha nagoas e guaiamus em lados opostos, e em permanente conflito pelo controle de cada área. O conflito político-partidário entre liberais e conservadores acabou se cristalizando como a clivagem mais importante entre as maltas de capoeiras, que assim se ligaram indelevelmente ao destino dos dois partidos principais do sistema político do Império. O ano de 1888 foi o da Abolição da Escravatura e de grandes mobilizações de capoeiras. (in Soares, Carlos Eugênio Líbano. Dos


nagoas e guaiamus: a formação das maltas In: A negregada instituição: os capoeiras no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994.). Apesar da repressão que sofria, quando interessava, a capoeira servia também de instrumento nas mãos dos políticos. Ora para os liberais, ora para os conservadores. Um exemplo é a Guarda Negra, criada em 1888 por José do Patrocínio, composta por negros capoeiristas que tinham o objetivo de defender a monarquia e lutar contra a República (após a libertação dos escravos os capoeiristas ficaram ainda mais a favor da monarquia como agradecimento à Princesa Isabel por ter assinado a Lei Áurea). Logo após a Proclamação da República (1889), a capoeira foi proibida pelo Marechal Deodoro, permanecendo nessa situação até 1937 quando Mestre Bimba a tira do código penal e a leva a esporte nacional. (in Letícia Cardoso de Carvalho [3]). A formação da Guarda Negra é precedida por violentos conflitos entre nagoas e guaiamus, retratados quase diariamente pela imprensa. Nunca como naquela época a atuação das maltas de capoeiras atingiu um impacto e uma sofisticação como se viu. O termo "fortaleza" para as tavernas deixa entender que aqueles eram locais típicos de reunião e conflito, e mais, pontos nervosos de uma geografia de bairro, constantemente em movimento pelo embate intermitente das maltas. (in Elias, Larissa Cardoso. Capoeira: Revolta e Teatralidade, Uma Perspectiva Artaudiana, disponível em [4]) Nos últimos dias do império, os conflitos entre republicanos e monarquistas ocorreram freqüentemente. A fim proteger a princesa Isabel, os monarquistas criaram a Guarda Negra (protetor preto), composto dos pretos, mulatos e muitos escravos libertos. Estes homens foram extremamente devotados à Princesa porque tinha assinado a lei que abolia a escravidão. A Guarda Negra combateu os republicanos até que a última faísca da vida do império morreu. Furiosos, os republicanos juraram matar seus membros; se a monarquia não conseguiu extinguir a capoeira, a república recém-estabelecida o faria. Continua na próxima edição falando sobre O ISABELISMO. Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão, Nov-2005 Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação [1]

in http://pt.wikipedia.org/wiki/Discuss%C3%A3o:Capoeira in http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm [3] in http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm [4] in http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/Larissa/Larissawork.htm [2]

Nota da Ilustração: capturada da página 75 da Revista HISTÓRIA VIVA - Novembro de 2005, cujo título apresenta-se como "CORRIDA DE CAPOEIRA - Caricatura de autor desconhecido. Observar na ilustração, além de paus e porretes "voando", a presença da Sardinha (Navalha).


CAPOEIRAGEM, GUARDA NEGRA & ISABELISMO : PARTE II Nesta crônica o autor apresenta mais algumas informações sobre a Capoeiragem e a Guarda Negra, tendose como enfoque desta semana o "ISABELISMO" Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA Dezembro de 2005 José do Patrocínio foi o mais fervoroso adepto do isabelismo, e procurou aliciar libertos para defender a monarquia ameaçada pela onda republicana que crescera após a Abolição. Não satisfeito em beijar os pés da Redentora, José do Patrocínio inicia a arregimentação de ex-escravos, capoeiras e marginais de um modo geral, para fundar a Guarda Negra. Esse ajuntamento tinha como finalidade impedir a propaganda republicana, inclusive com a tarefa de dissolver comícios pela violência. Essa posição dos elementos aliciados por José do Patrocínio deu muito trabalho às autoridades e impediu, em muitos casos, que os adversários da monarquia se manifestassem. Os seus membros conseguiram dissolver muitos comícios republicanos através da violência. Segundo registra a crônica da época, houve mesmo mortes em comícios republicanos pelas quais a Guarda Negra foi responsabilizada. Osvaldo Orico, biógrafo de José do Patrocínio, assim descreve a situação: "Incompreensível por um lado, mas explicável por outro, essa famigerada Guarda Negra tivera um inspirador. Não fora outro senão José do Patrocínio. O fanatismo abrira-lhe na alma a ilusão desse recurso com que imaginava cercar de garantias o prestígio da Redentora de sua raça. Foi a gratidão que o moveu a provocar e a sugerir um movimento de solidariedade dos libertos para com a padroeira inesquecível. E, ao toque de reunir, acorreram de todo lado os antigos sentenciados do cativeiro, ansiosos de oferecer com a força material do peito aberto a flor do seu reconhecimento heróico. Os acontecimentos registrados na capital e no interior, durante a fase em que se fez sentir a influência da Guarda Negra e se apelou para a sua incontida violência, mostraram como fora infeliz a idéia de arregimentar no antigo holocausto das senzalas a força que deveria guardar o Trono. Inaugurou-se uma época de terror que deu à nação enormes prejuízos em dinheiro e em vidas. Onde quer que brilhasse a centelha da luz republicana, surgia aí o conflito das raças, desencadeado pela fúria dos libertos em louvor à rainha. E amiudaram-se os atentados e morticínios. Na rua do Passeio; em frente à Secretaria de justiça; em dias de março de 89, durante a agitação popular que a febre amarela e a falta de água provocaram, a Guarda Negra deixou indícios de sua lamentável influência." [1]. Noel Nascimento, em ARCABUZES, assim relata os acontecimentos daqueles dias: "Xandô espantou-se e perguntou: - Que guerra? - Tu não sabes? Essa do fim da monarquia. Não sabes que está pipocando Brasil afora? Donde vens, então? Tem motim em toda parte, no Sul, no Norte. Eu vi brigas de grupos armados. Nas ruas do Ouvidor, do Teatro, de Luís de Camões e na Travessa do Rosário a cavalaria dispersou o povo a pranchadas. Houve mais de duzentos feridos. Não sabes que quase mataram o doutor Silva Jardim à saída da Sociedade Francesa de Ginástica? Ao almoçarem na mesa grande do refeitório, comentavam: - A guarda negra persegue os que mais lutaram contra a escravidão. - Ainda há quem defenda a monarquia por causa da Princesa Isabel. Não viram a multidão que se formou no dia treze de maio? - O pobre quer o direito do eleitor, até o negro deve ter o direito de votar. O funcionário que falou foi interpelado pelo estudante de medicina, o qual procurou esclarecê-lo:


- Até os negros por quê? Eles em primeiro lugar, pois construíram o Brasil. Sabes? prosseguiu- os falsos abolicionistas é que, como alguns escritores, julgam o negro inferior. São uns racistas. - Muito bem falado - aplaudiu o português que acabara de consertar uma das poltronas, português abrasileirado e não da casta dos galegos. O mesmo pensionista indagou de Xandô: - Tu não sabias que na Bahia, em Ilhéus, bandidos tomaram a cidade, arrombando casas comerciais, aterrorizando a população? O império está em ruínas - concluiu convicto.".[2] Ainda segundo Osvaldo Orico, a Guarda Negra agiu com violência contra os republicanos, nas cidades de Campos e Lage do Murié,: "Na primeira localidade em uma reunião republicana que se processava pacificamente, massa enorme de policiais e libertos abertos armados invadiu o edifício em que se realizava um banquete democrático, alarmou as senhoras, desrespeitou com ameaças a intervenção amistosa do pároco, que suplicava das janelas do templo ordem e clemência, disparou tiros, arremessou garrafas, espancou e feriu, tudo isto para levantar entre acompanhamentos bélicos vivas e saudações à rainha. "Na segunda, a polícia, após uma série de distúrbios, prendeu no tronco um honrado cidadão por suspeita de ideais republicanos." [3] Natal também teve a sua Guarda Negra. Criação do Partido Conservador e instrumento de combate às idéias republicanas. Segundo os conservadores, os negros, por gratidão deveriam defender a monarquia. Em Natal, a Guarda Negra recebeu o nome de Clube da Guarda Negra. O seu presidente foi Malaquias Maciel Pinheiro. Instalada a 10 de fevereiro de 1889, com muita festa, essa organização, na apuração de Câmara Cascudo, nada fez de bom ou mal.[4] A Guarda Negra era um movimento contraditório e confuso. Apoiava a monarquia porque os escravos conseguiram libertar-se do cativeiro através da magnanimidade da princesa Isabel. Via a Abolição como um ato de munificência social praticado pela regente, sem analisar as estratégias ocultas nessa medida e as conseqüências negativas que a Abolição traria, feita da forma inconclusa como o foi. Por outro lado, deixaram de pressionar os republicanos, especialmente os mais democratas, como Silva Jardim, no sentido de radicalizar o seu programa, exigindo reformas sociais e econômicas estruturais, como a distribuição da terra aos ex-escravos. Foi, portanto, um movimento conjuntural e reacionário, e o próprio José do Patrocínio, ao ver proclamada a República, foi um dos primeiros a aderir ao novo regime. Com isto, a Guarda Negra se desarticulou completamente logo depois da proclamação da República, vindo a desaparecer sem maiores conseqüências. Nesse período de transição, os negros recém-saídos da escravidão passaram a se organizar de várias formas alternativas, especialmente em grupos de lazer, culturais ou esportivos. Por outro lado, levando-se em consideração a forma como a Abolição foi feita, descartando-os da participação naquelas reformas estruturais que as mudanças do momento estavam a exigir, as reminiscências do sistema escravista e da Redentora continuaram existindo como ideologia de apoio psicológico em diversos grupos negros de exescravos. Isto retardou ainda mais o processo, pois a Guarda Negra tinha uma ideologia de retrocesso, de volta ao passado e ao mesmo utópica (monarquia sem escravidão), quando devia exigir medidas de avanço social radicais.[5] O isabelismo passa a avassalar José do Patrocínio e também milhares de africanos recém-libertos. Vêem na Princesa a única e abnegada senhora que os redimira da escravidão. Arregimentados e orientados por José do Patrocínio, em várias cidades do Brasil organizam-se em Guarda Negra que dissolve, pela violência, comícios e manifestações de republicanos. Pensam mostrar assim eterna gratidão à Princesa... O isabelismo converte a razão apaixonada de José do Patrocínio em paixão irracional... Mas nada impede (nem sequer a Guarda Negra) que em 15 de Novembro de 1889 a República seja implantada no Brasil.


Mas, e em São Luís? Dunshe de Abranches, em suas memórias sobre a escravidão e o movimento abolicionista, se refere à guarda negra, naquele episódio que resultou na queda do gabinete Cotegibe: "Voltando logo depois ao Rio [de viagem a São Paulo e Santos], assisti à agitação revolucionária que se fez em torno do gabinete organizado pelo Barão de Cotegipe. Participei dos memoráveis comícios em que, ao lado de Patrocínio, a mocidade das escolas civis e militares resistia heroicamente às investidas da guarda negra. E, em uma dessas reuniões subversivas no Largo da Lapa, um dos quartéis generaes da capoeiragem carioca, terminada em tremendo e sangrento conflitcto, sendo talves o vigésimo orador, que alli falava do alto do chafariz...". (in DUNSHE DE ABRANCHES. O Captiveiro (memórias). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941, p. 228-229). Ainda nada sobre a Guarda Negra em São Luís ... Continua na próxima edição falando sobre O FUZILAMENTO DO DIA 17. Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão, Nov-2005 Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação [1]

In http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm In www.astrovates.com.br/tese/arcabuze.htm [3] in www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm [4] in www.tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_7f.htm [5] in www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm Nota da Ilustração: capturada da página 75 da Revista HISTÓRIA VIVA - Novembro de 2005, cujo título apresenta-se como "CORRIDA DE CAPOEIRA - Caricatura de autor desconhecido. [2]


CAPOEIRAGEM, GUARDA NEGRA & O FUZILAMENTO DO DIA 17 :: PARTE III Apresentamos mais informações sobre Guarda Negra e a Capoeiragem Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA Dezembro de 2005 "...o Brasil foi o último país a abolir a mão de obra escrava, criou e sustentou uma série de ambigüidades em seu discurso racial, como vemos em relação à chamada Guarda-Negra - um símbolo da integração negra ao contexto da luta abolicionista que, ao mesmo tempo, se torna um culto ao imperialismo e se torna uma ameaça ao debate democrático do próprio racismo..".(Reginaldo da Silveira Costa (Mestre Squisito) Os movimentos pela abolição da escravatura são iniciados a partir de alguns eventos ocorridos: a cessação do tráfico negreiro da África, em 1850; a volta vitoriosa de negros da Guerra do Paraguai, que se estendeu de 1865 a 1870, a promulgação da Lei do Ventre Livre; a criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão (tendo José do Patrocínio e Joaquim Nabuco como fundadores); a Lei Saraiva-Cotegipe (mais popularmente conhecida como a Lei dos Sexagenários). Dois conceitos históricos são entendidos por abolição da escravatura: o conjunto de manobras sociais empreendidas entre o período de 1870 a 1888 em prol da libertação dos escravos, e a própria promulgação da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, que promove a oficialização da abolição do regime. "As mudanças ocorridas afetavam diretamente a economia de produção neste período do Brasil. Os negros chegaram a participar da luta anti-escravista e muitos deles, perseguidos por seus atos insurrecionais ou mesmo fugindo do jugo escravista, reuniam-se em povoados como os quilombos. Após as medidas oficiais anti-escravistas determinadas pela Lei Áurea, os senhores escravistas, insatisfeitos com a nova realidade, intencionavam exigir indenizações pelos escravos libertos, não obtendo nenhum aval do Império. Desta forma, surgiram os movimentos republicanos, que foram engrossados com a participação dos mesmos senhores que eram antigos detentores da "mercadoria escrava" e que, descontentes com as atitudes do Império, acabaram por defender um novo sistema de governo, decorrendo daí um dos principais motivos da derrocada final do Império. Por outro lado, a mão de obra proveniente das novas correntes imigratórias passa a ser empregada. Os negros, por um lado libertos, não possuíam instrução educacional ou a especialização profissional que passa a ser exigida, decorrendo destes aspectos a permanência dos negros à margem da sociedade frente à falta de oportunidades a eles oferecidas. A liberdade dada aos negros anteriormente escravizados é relativa: embora não mais escravizados, nenhuma estrutura que garantisse a ascensão social ou a cidadania dos negros foi oferecida. Nesse contexto, a Guarda Negra foi formada por José do Patrocínio em 28 de setembro de 1888, como um movimento paramilitar, composto por negros, que tinha passagem pelo Exército e com habilidade em capoeira. O objetivo dele era demonstrar gratidão à família real pela abolição e intimidar republicanos e tumultuar os comícios. A ação da Guarda Negra travava batalhas com os partidários do fim da Republica, sendo classificados como terroristas. Antonio Jardim, advogado abolicionista, chega a realizar suas palestras e comícios em posse de um revolver atento a ação dos capoeiristas da Guarda Negra. Muito embora Patrocínio, em virtude da Lei Áurea, seja identificado como monarquista e formado a Guarda Negra para defender a Princesa Izabel, aderiu às idéias republicanas, conforme informa Sergio Cavalcante, em " A Maçonaria e Proclamação da República": "Precisavam de um lugar para essa agitação. Procuraram um vereador para ver se era possível usar a Câmara... Paradoxalmente, procuraram o monarquista negro José do Patrocínio, detestado pelos republicanos, devido a suas ligações com a Guarda Negra. Estranhamente,


Patrocínio havia aderido à República naquele dia e, na condição de mais moço vereador(conforme a regra exigia), convocou uma sessão na Câmara." O jornalista Renato Pompeu, em "Confissões de um trirracial", afirma saber que: "... a República foi proclamada porque o Império, ao proclamar a Abolição, ficou comprometido com o futuro dos negros recém-libertados, como prova o fato de que só guarnições militares compostas de negros, como a Guarda Negra da Princesa Isabel, resistiram ao golpe de Estado de 15 de novembro de 1889. O regime republicano, assim, nasceu, e continua, sem nenhum compromisso maior com as pessoas de pele mais escura." O que sabemos até agora?  que capoeiras

foram combatidos desde a chegada da família imperial ao Brasil em 1808;

 que

capoeiras sempre foram arregimentados para "lutaram" ao lado de alguma facção política isso, desde o Império.

 que negros

foram recrutados para lutarem na Guerra do Paraguai, muitos pela sua habilidade de luta corporal - capoeiras.

 que

ao voltarem, muitos como heróis, não tiveram seus esforços reconhecidos e continuaram como cidadãos de segunda classe, ou sem classe alguma - ainda eram a escória do reino.

 que

grupos foram formados - maltas - e que esses grupos se enfrentavam entre si, pela posse de um território na cidade; que essa rixa entre capoeiras foi aproveitada, com a contratação de uma e outra, por partidos políticos, para dar surras nos adversários e impedir realização de comícios.

 que

por ocasião da Abolição, e em gratidão à Princesa imperial, abolicionistas - José do Patrocínio - cria um corpo paramilitar, recrutando capoeiras com alguma experiência no Exército, o qual foi denominado de Guarda Negra.

a

criação dessa Guarda Negra uniu as diversas maltas, que passaram a atacar os republicados e a defender a monarquia - a herdeira do trono brasileiro, Princesa Isabel.

 por

essas ações, cada vez mais violentas, houve perseguição aos negros, em sua maioria capoeiras, e ligados a guarda negra, provocando sua marginalização, quando do advento da República, e a conseqüente criminalização do ato de praticar capoeira... (Logo após a Proclamação da República (1889), a capoeira foi proibida pelo Marechal Deodoro, permanecendo nessa situação até 1937 quando Mestre Bimba a tira do código penal e a leva a esporte nacional).

Em São Luís do Maranhão, encontramos um episódio relacionado com a participação dos negros no processo de combate à República recém proclamada. Foi denominado de "o fuzilamento do dia 17", e ocorreu com uma manifestação de escravos, recém-libertos, contra Paula Duarte, o único republicano no novo governo, conforme informa Mario Meireles, e isso porque se dizia que o novo regime vinha para tornar sem efeito a Lei Áurea. Os manifestantes foram à redação de "O Globo", jornal republicano, e tentaram o empastelar. A polícia interveio, dispersando-os. Na boca do povo, e naquelas circunstâncias, teria ocorrido um massacre - os fuzilamentos do dia 17. (Meireles, Mário. História do Maranhão. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980, p. 307). Barbosa de Godois assim relata aqueles acontecimentos: "A" surpresa com que no Maranhão foi recebida a noticia da revolução de 15 de Novembro succedeo a adhesão de ambas as parcialidades políticas ao regime que se instituía... Feita abstração d´um grupoi de libertos pela lei de 13 de maio que, imbuídos da idéagrosseira de que a republica viera para reduzil-os novamente ao captiveiro e no dia 17 percorreram desarmados algumas ruas, hasteando a bandeira imperial e dando vivas à princesa Isabel, nenhuma outra manifestação em contrario à nova instituição surgio em toda a província. "Esse grupo, porém, que viera por vezes á frente da officina do jornal "Globo", na rua 28 de Julho, canto da dos Barqueiros, vociferava ameaças contra o redactor d´esse diário, o chefe republicado Dr. Francisco de Paula Belfort Duarte,debandou ás primeiras descargas d´um


pequeno contingente, postado perto do edifício da mesma officina, para pol-a á salvo de qualquer aggressão...Ainda n´essa data não estava proclamada a adhesão d aprovíncia á forma republicana, o que só se realisou no dia 18 de Novembro." (BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. Historia do Maranhão. São Luís: Mar. Typ. De Ramos d´Almeida & C., Suces., 1904, tomo II, p. 539-540.) Note-se que a obra de Barbosa de Godois é de 1904. Os acontecimentos ainda eram recentes. E não faz nenhuma referência a uma "guarda negra" formada por libertos, para defender a monarquia ... Será que houve, mesmo, guarda negra no Maranhão? Conforme se referem Carlos Eugênio L. Soares e Flávio Gomes? Milson Coutinho, ao descrever os acontecimentos daquele dia 17 de Novembro - Maranhão, 1889: fuzilamentos e torturas na alvorada da república - afirma que, após ler e reler inúmeros autores que se referiram aos fatos do dia 17 - Jerônimo de Viveiros e Mário Meireles - "provocaram, no autor deste estudo, um grande desejo de examinar, à luz da documentação da época, a origem desses distúrbios, sua ocorrência, amplitude e conseqüências" (p. 16). (COUTINHO, Milson. Subsídios para a História do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1978). Para Coutinho, as origens dos distúrbios provocados principalmente por ex-escravos, no Maranhão, com o advento da proclamação do regime republicado, tiveram origem em boatos que circularam por toda a cidade segundo o qual o regime recém-implantado iria revogar a Lei Áurea sancionada pela Princesa Isabel e os pretos teriam que voltar à condição de cativos. Esses boatos partiam dos sebastianistas, isto é, dos saudosos do monarquismo agonizante, e, mentira ou não, calaram fundo no espírito dos negros, que jamais poderiam aceitar a volta ao tronco, ao chicote do feitor, ao trabalho forçado. Não foi possível apurar o cabeça do movimento, informa Coutinho, nem nos livros de história e nem nas pesquisas que empreendeu. Nem mesmo a polícia, naquela época, deslindou a sedição contra o jornalista Paula Duarte, talvez porque, convenientemente elucidado o fato, "esboroassem seus resultados nos costados d´algum ex-barão do Império, já devidamente engastado no novo regime." (p. 17). O estopim, ao que parece, foi uma conferência na Câmara Municipal, que seria proferida por Paula Duarte, em que falaria sobre o novo regime doutrinando sobre matéria republicana. O povo da cidade fora convidado, através de comunicação do dr. Sá Valle. "Grossa multidão formada em sua maioria por pardos e ex-escravos se acercou da redação do jornal de Paula Duarte, em atitude hostil, haja vista a gritaria, algazarra e berreiro próprios a esse tipo de manifestação. "Pessoas gradas intervierem, pedindo aos manifestantes que dissolvessem o aparato popular, enquanto Paula Duarte, acuado no prédio de sua tipografia, dali não pode se retirar, escoandose, conseqüentemente, a hora marcada para a que pronunciasse a sua conferência. "O grupo, cada vê mais reforçado, e sempre no maior alarido, retirou-se de frente da redação d´O Globo, passando a percorrer as ruas de São Luís dando vivas à Monarquia." (p. 18) Prossegue Coutinho o seu relato, informando que a turba passou em frente à casa do Desembargador Tito de Matos, ainda respondendo pelo Governo da Província: "...estancou a passeata, com a finalidade de cumprimentar o Magistrado, derradeiro lampejo da Monarquia deposta e última esperança da malta enfurecida". (p. 18-19). Malta enfurecida? Coutinho a teria usada em que sentido? De identificar os manifestantes com as maltas de capoeira que agiam no Rio de Janeiro, dando vivas à monarquia e contra o novo regime? No-lo sabemos ... Prosseguindo, O Desembargador pediu as massas que aguardassem a ordem, dissolvessem a passeata. Esses acontecimentos se deram pela manhã. Os espíritos serenaram e a tranqüilidade pública volveu à Capital. Mas... "...por volta das 15 horas do dia 17 os ânimos voltaram a se reacender, com novos grupos de anarquistas a percorrer as ruas e praças da capital, estocando todos os segmentos da balbúrdia em frente ao jornal de Paula Duarte, desaguadouro do contingente de alucinados que para ali convergiam, provindos de quantos becos se contassem, isto já em profusa massa humana.


"O Comandante do 5º. Batalhão de Infantaria destacou, para o local uma força devidamente embalada, tropa essa que se postou em frente à tipografia de Paula Duarte, a partir das 16 horas, a fim de garantir a segurança do jornalista e evitar a depredação do edifício.".(p. 19, grifos meus). Os revoltosos debandaram, proferindo gestos coléricos e invulgar alacridade, e assim se passou o resto da tarde, sem outras conseqüências que não o clima de total intranqüilidade reinante. "Os relógios assinalavam pouco mais das 19 horas, quando a multidão enfurecida e com muitos de seus componentes já armados voltou à carga para tirar a prova de fogo "Iniciou-se a fuzilaria, de que resultou a morte imediata de três manifestantes, ferimentos em 11 outros, lesões em vários soldados, cabo e sargento do destacamento, vindo a morrer depois, na Santa casa, um dos sediciosos ferido por balaço da tropa." (p. 20). Nenhuma palavra sobre uma Guarda Negra ... nem no relatório do suboficial que ordenou o fogo... Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão, Nov-2005 Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação In http://bahia.port5.com/terreiro/racial.html In http://www.algosobre.com.br/ler.asp?conteudo=206 In http://negro.www.marconegro.blogspot.com/ In http://www.salmo133.org/sal/Htm_Div/HinoProclamacaoRepublica BR_SergioCavalcante.htm In http://carosamigos.terra.com.br/outras_edicoes/edicoes_especiais/eleicoes/renato_pompeu.asp


ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO CONVERSANDO COM ANTÔNIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS, O MESTRE PATINHO Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz * São Luis do Maranhão-MA Março de 2006 CONVERSANDO COM MESTRE PATINHO

São co-responsáveis por este artigo: Loreta Brito Vaz - UFMA, Acadêmica de Economia, Capoeira Angola Felipe de Holanda - UFMA, Professor de Economia, Capoeira Angola (Orientador) No dia 26 de fevereiro de 2006 estivemos - Loreta e eu - na casa de Mestre Patinho, em plena Madre Deus. Entrevista marcada para as 09:00 horas de la mañana, de um domingo de carnaval! Chegamos e Patinho, também: estava chegando da folia. Para quem conhece São Luis do Maranhão, a Madre-Deus (Bairro) e Carnaval de São Luis, sabe o que isso significa. Realmente um grande "sacrifício" do Mestre. Loreta, minha filha, está se formando em Economia, pela UFMA; como já anunciado, sua monografia de graduação versará sobre Economia e Capoeira: a capoeira como formadora de renda; seu impacto na economia ludovicense. Seu orientador, Felipe de Holanda, ainda não se decidiu se é Capoeira ou se é Economista, ou vice-versa... é aluno de Patinho... Da mui proveitosa entrevista com Mestre Patinho (foto 1), capturamos o seguinte: Capoeira é um jogo corporal, é um diálogo - a rasteira é um choque, é preciso um corpo rítmico para ser bem dada; Capoeira é fundamento, três alturas, três distancias, três ritmos... Capoeiragem: jogo estratégico para a guerra - é um jogo de xadrez; Quando conheci a Capoeira (anos 60), não era profissão, não havia possibilidade de viver da capoeira; aprendi a capoeira do Rio de Janeiro, com Jessé Lobão, aluno de Djalma Bandeira (foto 2), e com Sapo, meu Mestre... Bimba não criou um estilo, ele criou um método: para se afirmar na "chamada de Angola" para disfarçar o jogo estratégico - passa-dois, balão cinturado - malícia, jogo de malícia, jogo de transformação, jogo de cintura: oitiva, rústica...


Hoje, a Capoeira é uma mesmice, se transformou em uma ginástica coreografada - vi um aulão, com mais de 500 alunos, todos repetindo o movimento... lembra aquelas aulas de calistenia, aquelas apresentações de ginástica, de antigamente? As aulas de educação física do Exército? Isso não é Capoeira ... A Angola ... é auto-defesa, busca do diálogo corporal, é transformação, jogo de dentro, você encontra a sua altura, o seu jogo, sua dimensão; é diferente da capoeira do pós-modernismo; capoeira é matemática; é história; é geografia... tem que estar em contato, é comunhão, todo dia ... No jogo estratégico, não pode baixar a guarda; deve-se respeitar o oponente; mesmo que o adversário não saiba jogar, o bom Capoeirista joga mesmo com quem não sabe, e o faz jogar, gingar... Maçonaria x Capoeira - 0 a 9, infinita forma Não existe uma capoeira, Angola, Regional, cada jogador tem a "sua Capoeira" ... A Capoeira é uma arte-cultura esportiva que mais representa este País ... O Capoeira não procura emprego - procura trabalho, realiza um trabalho... Não consigo sobreviver da Capoeira, sou um artista de rua, sou um mestre, hoje me aceito como mestre, pois estudo os ritmos maranhenses - são 37 ... - o boi, o teatro, a ginástica, a educação física, a lateralidade, a psicomotricidade, a música; para ser mestre da capoeira, tem que ser um Doutor ... Diálogo da Trilogia: § Angola - gunga § São Bento Pequeno - viola § São Bento Grande - violinha São células na mesma cadência que preenchem o espaço melódico - pulsação; A roda tem regência... O Traíra (Mestre), no local de Angola, fazia Santa Maria; quando chega em São Bento grande, fazia cavalaria ... A teoria não vale nada, se não inserida na prática ... A grande dificuldade é a música, a musicalidade da capoeira; muitos me criticam por ensinar música, teoria musical, para se cantar as ladainhas, as chamadas... Mas é preciso, é necessário entender os toques, saber quando e como entrar, os tons, a harmonia; assim como o texto, saber o que esta cantando, não apenas repetir um som ... É necessário entender a letra, o que canta, é preciso ter conhecimento ... Capoeira, hoje, é arte de negro, esporte de branco ... Capoeiristicamente, Leopoldo Vaz, São Luis - Carnaval Maranhense de 2006 Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Do Livro-Álbum dos Mestre de Capoeira de São Luís do Maranhão MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS "Antonio, de Santo Antonio, José, de São José, Conceição, de Nossa Senhora da Conceição, Ramos, de Domingo de Ramos ..." ESTILO: Capoeiragem; Contemporâneo (Josué) MESTRE: Mestre Sapo NOME: Antonio José da Conceição Ramos FILIAÇÃO: Djalma Estafanio Ramos e Alaíde Mendonça Silva Ramos NASCIMENTO: São Luis do Maranhão " 14/09/1953 ENDEREÇO: São Pantaleão, 513, Centro, 65000-000


TELEFONE: (098) 9968-2525 EMAIL: mestrepato@uol.com.br ACADEMIA: Escola Centro Cultural Mestre Patinho RESUMO DE VIDA: Foram os movimentos da capoeira, a ginga que o encantou aos 9 anos. Vendo como um rapaz jogava, passou a imitá-lo. O Mestre Sapo foi quem o ensinou e o graduou. Observando, que seu conhecimento muito restrito, foi estudar a capoeira na Bahia, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Trabalhou no Ginásio Costa Rodrigues, na Academia Senzala. A capoeira o influenciou a ser um ginasta (olímpica); e um dançarino pelas escolas Pró-dança, Lítero e Gladys Brenha. Hoje divulga capoeira no Laborarte e em sua escola Centro Cultural Mestre Patinho. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira >Tinha medo dos meus amigos, pois apanhava cascudo, rasteira, todos da mesma idade simplesmente porque tinha o corpo raquítico, tudo isso as nove anos de idade. Por coincidência bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci. Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participaram Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sulamericano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram de menor. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão. Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d´Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do primeiro e segundo Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso


pluma e Sapo no peso pesado. Me intensifiquei pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença, fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distancias e três ritmos. O termo capoeira vem do chapéu que os mercadores usavam para vender seus produtos, com abas longas, botavam sues produtos dentro do chapéu, e com berimbau na mão vinham a chamar a atenção. Eu quero deixar uma ressalva na entrevista. A capoeira por ser um jogo de guerra, o golpe estratégico era o disfarce. O Capitão-do-Mato, quando ia prender o negro que fugia das senzalas, e via o negro "gingar", dizia: "Preto ta disfarçando de angola", quando investia pegava um ponta-pé ou uma rasteira. O risco que tem pela perca (sic) dos fundamentos pelo grau de dificuldade de execução ou falta de conhecimento. Temos que ter forma de viver e formas e meios de sobreviver. A capoeira saiu dos quilombos e hoje está nos shoppings. Digo, querem transformar a capoeira em jogo de competição que é um risco. A capoeira tem golpes perigosos que pode até matar. A facilidade que você aplica um golpe mortal é muito grande. No século XIX, em Tutóia, Caxias, Pindaré e Codó se vê a capoeira com influência bahiana, só se vê na forma capoeiragem, no folclore, como o Boi da Ilha, por exemplo.O caboclo de pena, pela sua malicia, seu gingado e vadiagem em estilo defensivo da capoeira. O miolo do boi, que é a pessoa que fica debaixo do boi, pela forma de artimanha utilizando na coreografia de luta. No tambor de crioula, não só pelos componentes, mas pela primeira colocação antropóloga (sic) afinado do afogo (sic) tocado a mucê (sic) e dançado a foice, que vem provar a chamada pernada. Me casei, aumentando o meu ensino voltado para academias, me separei indo ministrar no Bom Menino, voltando para a dança, também para o Lítero e depois para o Gladys Brenha e percebi que não tinha nada a ver com academias e fundei a primeira escola de capoeira do Maranhão, que foi a escola de capoeira do Laborarte. Os últimos trabalhos que realizei aberto ao público foi "Quem nunca viu, venha ver" e outros que me deram prêmios, como a gravação de um CD. Hoje tenho minha forma de ensinar, buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumento participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento agogô, atabaque, berimbau contra-baixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas. Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha cm as palmas. Marvana - com 3 palmas Caudaria - com 2 toque e 3 batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento. Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar. O mestre não participa da roda, ele coordena, ensina, dando ritmo e puxando as músicas. Mestre Pato ou Patinho Rua São Pantaleão, 513 - Centro Fone (98) 3221-4620 cel. (98) 9117-2731


ANTÔNIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS - MESTRE PATINHO Nasceu em 1953, tendo como seu grande Mestre o Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues. Patinho, além da capoeira, praticou ginástica olímpica, sendo aluno de Dimas, e judô. Aos 9 anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre - um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões ... no ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos... In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes


SOBRE A MATÉRIA "SEGREDO NÃO É PRA QUALQUER UM", JUCA REIS & FERNANDO DE NORONHA Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - Março de 2006 No Domingo de Carnaval, 26 de fevereiro, estive conversando com Mestre Patinho sobre diversos assuntos. Ao chegar no Jornal deparo-me com a matéria do Luiz Cabeleira, de São Paulo (Segredo não é pra qualquer um). Curiosamente Mestre Patinho falou-me a mesma coisa, ou seja, sobre a dificuldade que os capoeiristas tem em entender as letras de capoeira. Apenas a repetem, sem saber, muitas das vezes, o significado do que estão cantando. E não compreendem o "texto", por falta de leitura! Nossos alunos, da escola tradicional - não os da de capoeira, a formal - também tem essas dificuldades de leitura, de compreensão. Luiz Cabeleira acerto "na mosca", ou melhor, aplicou a rasteira dentro do fundamento. Aliás, rasteira... onde andará... Estou com viagem marcada para Fortaleza, onde passarei uma semana em AquaVille, um pequeno "resort" ao lado de Beach Park, e depois sigo para Fernando de Noronha, onde ficarei até dia 19 de Março. Antes de partir, gostaria de informar os amigos da capoeira maranhense, ou que por aqui estarão de passagem ou estadia, que no dia 9 haverá um seminário sobre Capoeira. Em se tratando de Fernando de Noronha, mesmo "de férias", encontrarei algum tempo para pesquisar um pouco sobre os capoeiras deportados do Rio de Janeiro (1890/1891) para lá. Quem sabe meus encontro algo sobre a deportação do "moço rico" Juca Reis, que sabemos quase causou uma crise ministerial durante a transição Monarquia/República. Assim refere-se Inezil Pena Marinho (1945) sobre o fato: "No dia 12 de abril deste ano, todo ministério reunido, o Ministro de Relações Exteriores, Quintino Bocaiúva pede a palavra: ou o famoso capoeira Juca Reis, filho do Conde de Matosinho, seria solto ou ele pediria exoneração. Todos os demais ministros intervêm, especialmente Rui Barbosa, tentando uma solução conciliatória. Episódio que está nos Anais da História da República do Brasil." (Fonte: Marinho, 1945, p. 27) Mestre André Lacé também andou trazendo "novidades" sobre Juca Reis (Jornal do Capoeira, Edição 58), tendo-se como base um jornal datado de 1890. Parte da crônica de André Lacé está compilada abaixo. A Matéria na íntegra pode ser encontrada sob o título Juca Reis mulherengo e a Mulher Africana, No próprio Jornal: "Partiu hontem para Fernando de Noronha, a bordo do paquete Arlindo, da empresa Norte-Sul, José Elysio dos Reis, que se achava preso por ordem do dr. Sampaio Ferraz, chefe de polícia da Capital Federal. Às duas horas da madrugada de hontem, compareceu na casa de detenção o sr. Tenente Pereira e Souza, do corpo militar de polícia, ajudante de ordens do sr. Dr. Sampaio Ferraz, e declarou que estava encarregado de acompanhar o preso durante a viagem. A ordem para embarcar não foi uma surpresa para Juca Reis, que estava preparado pra a viagem. Achava-se muito abatido; emagreceu bastante nestes últimos dias; tinha a barba e o cabelo crescidos, e uma pallidez marmórea. Trajava um terno de casemira escura e chapéo preto. Um bello typo romântico, que parecia evadido de uma página sombria de Montepin. Exhibido o competente documento oficial, Juca Reis foi entregue ao sr. Tenente Pereira e Souza, que lhe ofereceu logar n`uma carruagem da Companhia Fluminense, parada à porta da Detenção. A carruagem seguiu immediatamente para o caes Pharoux...." Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação


ATLAS DAS TRADIÇÕES & CAPOEIRA E CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - Março de 2006 Na edição 63 do Jornal do Capoeira publicamos matéria sobre uma entrevista com Mestre Patinho. Além da entrevista em si, publicamos também seu PERFIL DE MESTRE, que é resultado de um estudo que tenho feito com meus alunos da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Pouco a pouco estaremos também publicando os perfis de vida dos demais mestres da capoeira maranhense. Nas próximas três edições do Jornal do Capoeira estarei apresentando algumas informações históricas sobre Capoeira em solo maranhense. Este breve histórico é fruto de pesquisas e entrevistas que tenho feito nos tempos recentes sobre a capoeira, capoeiragem ou carioca, e que acho oportuno compartilhar com nossa comunidade. A finalidade principal é a de se encontrar mais subsídios para concretizar nosso sonho: O ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO ESTADO DO MARANHÃO. Sabemos que outros estados já estão também se organizando neste sentido, e nossa terra não poderia deixar de fazer sua parte. Vamos aos fatos. Por Capoeira deve-se entender "... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada" (Regulamento Internacional da Capoeira). Assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a "...um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica". (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40). Para Mestre André Lace, "Capoeiragem é uma luta dramática" (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386388). Já por "CARIOCA" entende-se por uma briga-de-rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes), sendo que "carioca" é outra denominação que se deu "a capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX". Vamos à algumas informações históricas:. 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei - de no. 1.341, de 17 de maio - em que constava: "Artigo 42 - é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 50 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão". (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124) 2003 - Mestre Mizinho, natural de Cururupu, informa que naquela cidade também se praticava uma luta, semelhante a Capoeira, a que denominavam "carioca": 2005 - Dilvan de Jesus Fonseca Oliveira informa que seu avô, falecido aos 92 anos, estivador do Porto de São Luís - Cais da Sagração, Portinho, Rampa Campos Melo - sempre se referia á "capoeira" como "carioca", luta praticada em sua juventude. 2005 - em recente temporada - outubro -, em Codó, recebi a informação de que alguns capoeiristas da velha geração da cidade tratam a capoeira ainda como "carioca". Mestre Diniz, nascido em 1929, lembra que "na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira".


1820 - registra-se, nesta data, referência a "punga dos homens", jogo que utiliza movimentos semelhantes à capoeira. 1829 - registram-se certas atividades lúdicas dos negros. Nesse ano é publicado no jornal "A Estrela do Norte" a seguinte reclamação de um morador da cidade: "Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d"elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém ? "(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite) 1835 - na Rua dos Apicuns, local freqüentado por "bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público", os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: "A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do 'Eco do Norte´ contra a folgança dos negros que, dizia, 'ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...' (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís." (ECCHO DO NORTE - jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36). 1863 - Josué Montello, em seu romance "Os degraus do Paraíso", em que trata da vida social e dos costumes de São Luis do Maranhão, fala-nos de prática da capoeira neste ano de 1863 quando da inauguração da iluminação pública com lampiões de gás; ao comentar as modificações na vida da cidade com a ruas mais claras durante a noite: "Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas." O que é confirmado por VIEIRA FILHO (1971) quando relata que no famoso Canto-Pequeno, situado na rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. Em alguns domingos antes do carnaval, costumavam um magote de pretos se reunir em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do "Publicador Maranhense" reclamar a atenção das autoridades para esse fato. Continua na próxima edição Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação


FERNANDO DE NORONHA & ATLAS DA CAPOEIRA MARANHENSE Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 64 - de 12 a 18/Mar de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - Abril de 2006 No início de março segui de São Luis direto para Fortaleza, e depois para Fernando de Noronha. O que era para ser uma simples viagem de passeio com a família acabou resultando em uma viagem arqueológicocapoeirística. Explico. É que durante aquela viagem consegui recuperar algumas informações sobre a capoeiragem que acontecia naquela Ilha-Presídio, quando os capoeiras do Rio de Janeiro, então capital federal, eram deportados - alguns com nomes trocado - para lá. Mas a grande "descoberta" mesmo foi o contato com a professora Marieta Borges, pessoa que é ao mesmo tempo "amante" e "protetora" da Ilha. Nos últimos anos Marieta tem se dedicado incansavelmente à preservação e resgate da Memória da Ilha. Dela recebi diversos artigos sobre capoeira, sendo um deles de sua autoria. Recebi também um facsimili de um livro de Amorim Netto, publicado na década de 1930 e que se refere à capoeiragem carioca em Fernando de Noronha, no final do século XIX e início de século XX. Professora Marieta, que conheci durante a travessia Ilha-Continente já foi escalada para compor o "time" deste Jornal do Capoeira, e assim que nosso Editor regressar de Curitiba, teremos o prazer de compartilhar com os amigos leitores as contribuições da capoeira "noronhense", sejam as informações históricas, sejam sobre a capoeiragem atual. Fonte: http://www.noronha.pe.gov.br/ - Foto por Michele Roth Voltando ao momento antes da viagem (Maranhão!), na edição 65 do Jornal do Capoeira publicamos a primeira parte do artigo ATLAS DAS TRADIÇÕES & CAPOEIRA E CAPOEIRAGEM NO MARANHÃO. Trazemos aos senhores leitores mais uma "peça" da histórica da capoeira em solo maranhense. Pouco a pouco vamos reconstituindo e democratizando informações que, por um motivo ou outro, são pouco conhecidas da maioria dos praticantes de nossa arte. Vamos, pois, às informações cronológicas 1877 - MARTINS (1989, in MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís : (s.n.), aceita a capoeira como o primeiro "esporte" praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. "JOGO DA CAPOEIRA "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (MARTINS, 1989, p. 179) 1915 - NASCIMENTO DE MORAES, em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem: "A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve". (NASCIMENTO DE MORAES. Vencidos e Degenerados. 4 ed. São Luís : Cento Cultural Nascimento de Moraes, 2000, p. 95). Em outro trecho é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: "Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um "lenço" roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no "lenço" as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos


os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor". (in MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. São Luís : UFMA, 2005. Monografia de Graduação em Educação Física (Licenciatura), defendida em abril de 2005 ANOS 30/40 -Mestre Firmino Diniz - nascido em 1929 - que é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo; Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com "Catumbi", um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. ANOS 50 - por ora, não há registros. ANOS 60 - "Renascimento" da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO no início dos anos 60. Criação do Grupo "Bantus", do qual participavam, além de Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. 1965 Mestre Paturi (Antonio Alberto Carvalho, nascido em 1946, o Mestre mais velho em atuação, hoje), inicia-se na Capoeira com os Mestres Manoelito e Leocádio, e após a chegada de Mestre Sapo, passa a treinar com este. Foi o primeiro a registrar uma Associação de Capoeira (?). 1966 - Mestre Canjiquinha [Washington Bruno da Silva, 1925-1994], e seu Grupo Aberrê passam pelo Maranhão, apresentando-se em Bacabal, no teatro de Arena Municipal; e em São Luís do Maranhão: Palácio do Governador; Jornal Pequeno; TV Ribamar; Residência do Prefeito da capital; Ginásio Costa Rodrigues. (in REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador :Itapuã, 1968). Acompanhavam Mestre Canjiquinha Sapo [Anselmo Barnabé Rodrigues]; Brasília [Antônio Cardoso Andrade]; e Vitor Careca, os três, na época, menores de idade. 1968 Mestre Sapo retorna ao Maranhão, para ensinar capoeira. Vai se tornar a maior referência da capoeira do Maranhão, formando inúmeros alunos e graduando vários mestres, até sua morte, em 1982. ANOS 1970 - A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando a ministrar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco; é também nesse ano que se dá a morte de Roberval Serejo; seus alunos, da academia Bantú, passam a treinar com Mestre Sapo. Em uma de suas viagens, no final dos anos 70, Mestre Sapo, conheceu o Mestre Zulú, em Brasília. Foi quem o graduou Mestre. A partir de então, Mestre Sapo implantou em São Luís o sistema de graduação, através de cordas ou cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre Zulú. Mas quem o iniciou na capoeira foi Mestre Pelé de Salvador [Natalício Neves da Silva, nascido em 1934] Continua na próxima edição Leopoldo Vaz, São Luis do Maranhão Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação


Pesquisa: A Capoeira na Economia Estudo de Caso: Qual a participação da Capoeira no PIB de São Luis do Maranhão? Leopoldo Gil Dulcio Vaz Mestre em Ciência da Informação São Luis do Maranhão - CEFET-MA "Filha de peixe, peixinho é". Assim diz um adágio popular. Não sou Mestre de Capoeira. Mas sou Mestre em Ciência da Informação. Não sou capoeirista, mas há bom tempo estou pesquisando a Capoeira no Maranhão à luz da Ciência do Esporte e da Historiografia oficial. Estou realizando um novo trabalho em prol da Capoeira, junto com minha filha - eis o motivo do ditado acima - Loreta Brito Vaz. Loreta está se formando em Economia, na Universidade Federal do Maranho e, talvez por influência minha, ela está fazendo sua Monigrafia de Conclusão de Curso com o tema: O esporte e as atividades físicas como geradora de renda: A Capoeira de São Luis do Maranhão - Um estudo de caso. O título, por si só, já é uma tese interessante. Quando mais aos resultados que estamos encontrando. Na verdade eu proveito a oportunidade para complementar os levantamentos de que necessito, e Loreta trabalha em sua de graduação em economia, prevista para ser defendida ate dezembro. Vamos utilizar o material do Jornal do Capoeira e o do Livro-Album que estamos elaborando para verificar uma "omissão" - ou falta de dados, um buraco - do Atlas do Esporte no Brasil, lançado no ano passado pelo Ministério dos Esportes, no Rio de Janeiro, e que está percorrendo as principais bibliotecas do Brasil. Este presente estudo fará também parte, é claro, do Atlas da Capoeira no Maranhão. Loreta e eu estamos trabalhando para verificar o que representa a Capoeira no Produto Interno Bruto (PIB) maranhense. Da introdução do trabalho capturamos: "... o setor (esporte e atividades físicas) movimenta algo entre 2% e 3% do PIB. Esta cifra ao se ampliar pela incorporação das atividades de turismo, lazer e entretenimento define simplesmente o maior setor de economia de qualquer país desenvolvido, como também o de maior geração de emprego (DaCosta, 2005b)[1]. DaCosta (2005)[2], utilizando-se do método de análise de cenários[3], estabeleceu o número de participantes e de empregos gerados pelo esporte e atividades físicas no Brasil: Brasil (Atlas " COMPASS) " Totais de participantes em esporte e atividades físicas (2003) Empregos gerados por grupo de esporte e atividades complementares Estimativas e dados provisórios sujeitos a revisão " Atlas, 1ª ed, 2005 Esportes e atividades selecionadas Atlas/COMPASS Mais ativos Regulares Ocasionais Empregos Esportes Olímpicos 395.329 8.212.422 65.346.542 443.000 Esportes não Olímpicos 366.239 319.900 44.919.000 334.700 Esportes outdoor 28.035 136.288


8.140.120 46.492 Atividades complementares 8.667.894 761.222 Totais de contagem acumulada 1.585.414 Totais em contagem múltipla 7.365.504 118.405.162 Totais efetivos 749.603 10.847.815 74.208.125 870.000 Fonte: DaCOSTA, 2005, p. 838 Quando se analisa tabela uma outra tabela do Atlas sobre os cenários gerais, em que se apresentam estimativas e dados provisórios -, na modalidade "Capoeira", no que se refere a "atletas registrados" consta (N/d) e "dados complementares de gestão" - (N/d), isto é, não existem dados disponíveis sobre Capoeira...[4], isto, no que se refere à área cultural " Capoeiragem (Lopes, 2005)[5]. Ainda reportando-nos ao Atlas, 2005 - Cenários (DaCosta, 2005; Alves, 2005; e Boschi, 2005) [6] -, existem 1.585.414 (hum milhão, quinhentos e oitenta e cinco mil, quatrocentos e quatorze) empregos ligados direta ou indiretamente ao esporte, o que representa 2,42% da população empregada no Brasil. Tendo em vista que, segundo as mesmas fontes, o esporte movimenta 1,7% do PIB nacional, pode-se então interpretar que esta é uma atividade econômica intensiva em mão-de-obra. Afinal, sua participação no emprego nacional é de 42,4% maior que o correspondente PIB nacional." Mesmo o estudo estando em fase de desenvolvimento, optamos par compartilhar esta análise preliminar com os pesquisadores e interessados no assunto, afim de se ter críticas e sugestões ao trabalho que está em andamento. Leopoldo Vaz [1]

Da COSTA, Lamartine Pereira. Cenário de tendências gerais do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 825-838 [2] Da COSTA, Lamartine Pereira. Cenário de tendências gerais do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 825-838 [3]

O método de análise de cenários é uma descrição de uma situação corrente e de eventos a ela vinculados que podem sugerir uma situação futura, constituindo então um estudo de tendências (presente) e de projeção de situações alternativas (futuro) (DaCosta, p. 825) [4] DaCOSTA, 2005, p. 835 [5] Dados levantados por LOPES, André Lacé. Capoeiragem. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 386-387


[6]

Da COSTA, Lamartine Pereira. Cenário de tendências gerais do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 825-838; ALVES, José Antonio Barros. Cenário de tendências econômicas do esporte e atividades físicas no Brasil. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 857-858; BOSCHI, Rodrigo Fortini. Cinário de tendências de emprego na área de esporte e atividades físicas. In Da COSTA, Lamartine Pereira (org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 859-860;


OS HOLANDESES E OS PALMARES< NASSAU ATACOU OS PALMARES! Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 71 - de 30/Abril a 06/Maio de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - 29 de Abril de 2006 Nota do Editor: Pouco a pouco nosso Jornal do Capoeira vai indo além de apenas divulgar informação sobre nossa Capoeira. Como nossos amigos leitores já perceberam, nossos Colunistas são mestres não somente em Capoeira, mas em outras áreas correlatas, como culturas afro-brasileiras, jornalistas e administradores, folcloristas, cientistas sociais, educação física, história, filosofia, música, e por aí vai. Na edição anterior, o amigo André Pêssego publicou interessante análise sobre o período da história do Brasil em que o Governo Holandês invadiu o Brasil. Fato este que se deu enquanto o povo escravo se organizava em quilombos. Palmares já era um "problema crônico" para a Corte de Portugal. Quando Nassau invade o Brasil, a colônia portuguesa deixa momentaneamente de preocupar com Palmares, e passa a defender-se do invasor holandês. É neste contexto que Andrê Pessego desenvolve sua interessante análise. Nesta edição de nosso Jornal do Capoeira temos duas matérias envolvendo o assunto "Invasão Holandesa & Palmares": 1) uma nota de um capoeira leitor solicitando mais informações sobre as fontes de pesquisa do amigo André Pêssego; 2) o artigo abaixo, do professor Leopoldo Vaz de São Luis do Maranhão comentando o artigo de André Pêssego e afirmando que "Nassau atacou, sim, Palmares!". Vamos ao artigo do professor Leopoldo. Deixando espaço no Gunga para uma saudável tréplica do amigo André. Aliás, de Bertioga, André Pêssego, acompanhado por sua linda princesa Luiza, escreve enviando-nos mais um artigo - ELEIÇÕES 2006: o galo já cantou, ACABOU A NOVA REPÚBLICA: ENTRA EM CENA OS INTELECTUAIS DA CAPOEIRA - e dizendo que está bem acompanhado do Mestre Camarão, de onde nos trará boas novas sobre a capoeiragem do Litoral Sul de São Paulo. Iêê é hora, é hora Iêê é hora, é hora, camará... Miltinho Astronauta

OS HOLANDESES E OS PALMARES: Nassau atacou os Palmares! Leopoldo Gil Dulcio Vaz Na Edição 69 - de 16 a 22 de Abril de 2006, do Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br - André Pêssego pergunta "Por que Nassau não atacou a Palmares?". Pêssego (2006), no artigo citado, vale-se do argumento - Nassau não atacou Palmares - baseando-se de relatório de 1637, em que este reconhece a importância do Quilombo, "... ao fazer seu relatório de posse e plano de atuação reconhece a importância de Palmares - do contrário anunciaria planos para atacá-los, destruí-los." Mais adiante, ainda servindo-se da mesma carta: "estabelecerei negócios com os quilombos, pois estes mais que todos, repudiam os portugueses, podendo ser nossos aliados... A Holanda já havia enviado uma delegação a Palmares, chefiada por "um pernambucano conhecedor dos Quilombos". Em seguida, Bartolomeu Lintz, é feito embaixador holandês residente até o advento de 1640. (Tem sido dito de Lintz, um espião em Palmares. Bestagem, um holandês disfarçando-se junto a milhares de negros, em mocambos)."


Pêssego ainda se refere que Nassau renuncia ao seu posto de administrador do Brasil holandês por se recusar em atacar Palmares, ordem que teria recebido em 1643: "Nassau recebe ordens para "atacar seriamente a Palmares..." Homem de alto caráter, Nassau se tornara amigo de Ganga Zumba, recusa. Renuncia, volta para a Holanda. Mais ainda, cita as razões de Nassau não atacar a Palmares: "a) o reconhecimento da instituição Quilombo, como tal. O Quilombo cumpre os itens do acordo: Não planta cana para produzir açúcar; não cria gado vacum, alem do necessário para produzir leite para consumo interno; não ataca; tem as oficinas do ferro, mas não vende armas. b) A possibilidade de trazer Gamga Zumba, para aliar-se à Holanda contra Portugal; o estilo de vida no Quilombo. c) O interesse pelo conhecimento científico da flora e do conhecimento extrativo dos Palmarinos." Informa José Antonio Gonsalves de Mello - em "Tempos dos Flamengos" (4ª. ed. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brennand, 2002) que foi durante o período da dominação holandesa que tiveram condição para se desenvolver vários quilombos. Desde 1638 há referência a quilombos que se constituíam uma grave ameaça para as populações e os bens dos moradores. Havia, também, pequenos aldeamentos ou bandos de negros que roubavam e matavam pelos caminhos: os boschnegers, contra os quais eram empregados capitães de campo brasileiros, já que os holandeses eram considerados incapazes para tal função. Vários capitães de campo foram empregados a soldo dos holandeses (Dag. Notule de 19 de dezembro de 1637; idem de 30 de dezembro de 1637; de 21 de setembro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2002, p. 192-193). O domínio holandês no Nordeste brasileiro vai de 1630 a 1654, 24 anos; Nassau "reinou" de 1637 a 1644 - 7 anos. O "Diário da viagem do capitão João Blaer aos Palmares em 1645" (in Mello, 2002, p. 193), dá-nos informes interessantes a respeito de alguns quilombos. Fica-se sabendo que, nas imediações do quilombo que Jan Blaer destruiu, tinham existido anteriormente mais dois outros. Nas palavras do autor do relatório, houve um "velho Palmares" que os negros tinham abandonado por estar situado em "local muito insalubre" e do qual se passaram para o "outro Palmares" ou "grande Palmares", destruído por Reolof Baro e seus tapuias. Deste transferiram-se eles para o "novo Palmares", que Blaer atacou ... (p. 193). Outros documentos informam a respeito dos Palmares ... desde 1638, um deles causava sérias apreensões aos moradores de Alagoas, dos quais os quilombolas roubavam escravos e incendiavam as casas. O capitão Lodij foi encarregado de persegui-los, com mosqueteiros holandeses e com índios. Do resultado, nada consta dos documentos (Dag. Notule de 26 de fevereiro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2002, p. 193). Em 1642, preparou-se nova expedição, desta vez chefiada por Manuel de Magalhães, pessoa conhecedora da região e respeitada pelos moradores portugueses, morador nas Alagoas. Concedeu-se-lhe autorização para a expedição, mas sobre o que posteriormente ocorreu, nada informam os documentos (Dag. Notule, de 20 de fevereiro, em nota de pé-de-página de Mello, 2002, p. 193). Dois anos mais tarde, em 1644, Roelof Baro parte em expedição ao interior do país. Levava uma tropa de índios brasilianos (tupis), e os holandeses, inclusive Baro, eram quatro. Os documentos não dão permenores, mas o caso é quye os índios amotinaram-se e Baro desistiu de prosseguir. Reuniu à sua gente em cem tapuias e resolveu atacar o que ele chamou de "pequeno Palmares". Ouçamos o escrito de Mello (2002), p. 194, com base no Dag. Notule de 2 de fevereiro de 1644 e Gen. Missive ao Conselho dos XIX, datada de Recife, 5 de abril de 1644) sobre o episódio: "A 2 de fevereiro o conde de Nassau recebia notícias de Baro, por carta datada de Porto Calvo de 25 de janeiro de 1644.Contava ele que, pretendendo atacar o "pequeno Palmares", achou-se imprevistamente em frente ao "grande Palmares" que investiu em seguida. A luta pela posse do quilombo foi dura, tendo Baro contado cem negros quilombolas mortos. De seu lado houve um morto e quatro feridos. O sítio foi incendiado, tendo sido feitos ali 31


prisioneiros, entre os quais sete índios tupis (brasilianos) e alguns mulatinhos (mulaetjens). O quilombo estava cercado por duas ordens de estacas, e "era tão grande que nele moravam quase 1.000 famílias, além dos negros solteiros". Em volta da estacada "havia muitas plantações de mandioca e um número prodigioso (wonderbaer) de galináceos, embora não possuíssem qualquer outro animal de maior vulto", sendo que "os negros viviam ali do mesmo modo que viviam em Angola"." (p. 194). Estas são as informações que Baro transmitiu ao Conde e que os documentos conservam... Outros quilombos surgiram no período da dominação holandesa, mas são poucas as informações sobre eles. Um estava situado na "Mata do Brasil" e os seus elementos corriam a região, em bandos, roubando e matando. O governo holandês castigava exemplarmente os que conseguia capturar: eram enforcados ou queimados vivos (Carta do Conselho de Justiça do Brasil ao Conselho dos XIX, datada do Recife, 1º. De outubro de 1644 e outras, in Mello, 2002, p. 195). Nassau atacou os Palmares! Leopoldo Gil Dulcio Vaz, São Luis do Maranhão Professor de Educação Física do CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação Fontes Consultadas: MELLO, José Antonio Gonsalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brannad, 2002. PÊSSEGO, A. Por que Nassau não atacou a Palmares? In RIBEIRO, Milton Cezar - MILTINHO ASTRONAUTA (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/, capturado em 28 de abril de 2006 (Pêssego, 2006).


A CAPOEIRA NOS CONGRESSOS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 73 - de 14 a 20 de Maio de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz São Luis do Maranhão-MA - 14 de Maio de 2006 Nos próximos 30/05 a 04/06, em Curitiba-Paraná, será realizada a décima edição do CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER & DANÇA. Junto, o sulamericano. Uma iniciativa do Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física, da UNICAMP, que promoveu um Primeiro Encontro de História da Educação Física e do Esporte, em 1993. O segundo encontro, ainda com esse nome, aconteceu em Ponta Grossa-Paraná, no ano de 1994. Nesses dois primeiros eventos, nenhum trabalho sobre Capoeira. O Terceiro encontro, realizado em Curitiba-Paraná, em 1995, já contou com um artigo sobre Capoeira - um único, e o primeiro -, de autoria de Heloisa Turini Bruhns, da Faculdade de Educação Física da Unicamp, com o título "A CAPOEIRA - A TRANSIÇÃO ENTRE OS GRUPOS SOCIAIS". Nos anos de 1996 - Belo Horizonte, IV Encontro - e 1997 - Maceió, V Encontro - nenhum trabalho tendo como tema a Capoeira. No ano de 1998, o evento passa a se denominar "Congresso", não mais encontro - e o VI aconteceu no Rio de Janeiro; um único artigo publicado - Mestre Falcão (José Luiz Cerqueira Falcão) e "A esportivização da capoeira: uma análise histórico-crítica". Já no Sétimo Congresso - Gramado-RS - por tema memórias e descobrimentos: 500 anos de história da educação física, esporte, lazer e dança no Brasil, também um único artigo: de Alberto de Carvalho Pereira Sobrinho (UNEP-Bauru) "Capoeira: tradição e/0u esporte?". O encontro seguinte foi realizado novamente em Ponta Grossa, no Paraná. Dessa vez, outros autores, dentre eles, com uma conferencia, nosso companheiro Paulo Coelho, da Universidade de Coimbra. Infelizmente, a sua fala não foi transcrita nas Coletâneas; das apresentações de temas livres e painéis, temos:   

A história da Capoeira: pressupostos para uma abordagem na perspectiva da cultura corporal, de André da Silva Mello; Os outsiders afro-brasileiros e suas danças ancestrais, de Edílson Fernandes de Souza; Capoeira e seus eixos civilizadores tradicionais, de Sérgio Luis de Sousa Vieira;

Eu apresentei um tema livre - A introdução dos esportes modernos no Maranhão -, junto com a Profa. Delzuite Dantas Brito Vaz, em que me referi à Capoeira como o primeiro "esporte" praticado no Maranhão. No congresso anterior - o 9º -, realizado em Recife-Pernambuco, apenas um tema livre, de Henrique Gerson Kohl; Milena Feitosa de Oliveira; David Arcoverde, e Tereza Luiza de França, com o título "Trajetória da capoeira em Pernambuco: realidades e perspectivas". A Comissão Científica do X Congresso, já divulgou a relação dos trabalhos a serem apresentados este ano. Sobre capoeira, os abaixo-relacionados. 1. A Integração da Capoeira Na Suíça: Um Processo de Adaptação Sóciocontextual Requerendo Um Modelo de Analise Interdisciplinar, da Doutoranda Mônica Aceti. Doutoranda 2. A Capoeira Vestindo Beca: Avaliação E Perspectivas da Inserção da Capoeira No Currículo Universitário Brasileiro, de - Dr. José Luiz Cirqueira Falcão. 3. A Capoeira No Contexto do Estado Novo: Civilização Ou Barbárie. De Prof. Diego Fernandes de Mello e Mestrando Marcelo Moraes e Silva 4. Carnaval Para As Elites, Cadeia Para Os Vadios Imprensa Local e o carnaval Recifense de 1900, do Prof. José Luis Simões. Centro;


5. Notas Sobre A Capoeira Em São Luis do Maranhão - Ms. Leopoldo Gil Dulcio Vaz Apresentarei, ainda, mais dois trabalhos: OS ESCOLARES E OS JOGOS/ESPORTES NO MARANHÃO, de Delzuite Dantas Brito Vaz e Ms. Leopoldo Gil Dulcio Vaz; e ESPORTE & LITERATURA MARANHÃO - Ms. Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Mestre em Ciência da Informação e Especialista Delzuite Dantas Brito Vaz. Em ambos, falo sobre Capoeira. Leopoldo Gil Dulcio Vaz leopoldovaz@elo.com.br 2006 - Ano Internacional da Mulher Capoeirista no Jornal do Capoeira


O VÔO DO FALCÃO: Mudanças de paradigma no ensino da Capoeira? Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 74 - de 21 a 27 de Maio de 2006 Leopoldo Gil Dulcio Vaz Professor de Educação Física Mestre em Ciência da Informação CEFET-MA - Maranhão - Maio/2006 Abriu-se, na CEVCAPO - lista de discussões sobre a Capoeira do Centro Esportivo Virtual http://www.cev.org.br/ - uma polêmica apresentada por Aníbal Brito acerca da produção acadêmica de Mestre Falcão, colaborador de nosso "Jornal do Capoeira". "Quem acompanha a produção a respeito da temática capoeira, deve ter lido o artigo do professor Falcão no Livro Didática da Educação Física I, em que o mesmo sistematiza o conhecimento fundamentado na perspectiva crítico-emancipatória, mais recentemente o professor Falcão foi orientado pela prof. Celi Taffarel e aprofunda sua discussão na abordagem critico-superado [ra], fundamentada em princípios marxistas. Gostaria de saber se alguém desse grupo acompanha essa "transição" do pensamento do professor Falcão, ou entende que a discussão de fundo entre crítico-superadora (marxismo)[1] e crítico-emancipatoria (fenomenologia[2]), é menos importante!!! Quais as diferenças entre abordar a capoeira por um ou outro viés??? Como deve se dar esse dialogo lá na UFSC, em que se encontra o prof. Falcão e o próprio Kunz? Alguém da UFSC aí? Quem na escola procura trabalhar com alguma dessas abordagens?". Eraldo Brito (KPTA) assim se posicionou, em resposta: " Interessante a preocupação do Aníbal sobre a mudança de perspectiva do Professor Falcão. Só não sei se há alguma confusão sobre a sua abordagem estar mais voltada às teorias gerais da educação ou, especificamente, à educação física. Se for o segundo caso, o II SENECA é uma oportunidade ímpar de se questionar ao próprio Falcão como se deu essa mudança e, mais importante, o porquê dela. Particularmente, não sei se posso classificar nas minhas aulas de educação física, tomando como conteúdo emergente a capoeira, em uma ou outra perspectiva. Trabalho com a capoeira por meio do elemento lúdico, apoiado nas idéias de Paulo Freire sobre autonomia e exercício de liberdade no processo pedagógico, Vygotsky e sua ZDP na aprendizagem infantil e na construção socializada de conhecimento. A capoeira possui uma infinidade de temas que podem ser trabalhos nas aulas, inclusive extrapolando para fora da escola como: a sua história e identificação importantes para a formação do povo brasileiro e da própria história nacional, a musicalidade e o ritmo, os movimentos e suas possibilidades de superação e interação, o própria dinâmica do jogo da capoeira como expressão de linguagem corporal e comunicação, o jogar "com" e não "contra" etc. etc. etc. São muitas as possibilidades... Agora, não sei se consigo classificar o método de ensino pelo qual tento materializar conhecimento (capoeira como conceito espontâneo e, na escola, aproximação com o conceito científico) em alguma dessas perspectivas. É só". O próprio Falcão entrou na discussão, esclarecendo que "Realmente houve, de minha parte, uma transformação (ampliação, melhor dizendo) na minha perspectiva teórica.". Ainda mais, esclarece ser: "...importante dizer que no campo epistemológico se instaura um intenso debate teórico, a partir de diferentes perspectivas que provocam tensão, resultando em conseqüências nem sempre alvissareiras. Dentre os argumentos que propagam a morte do sujeito até os que se apresentam incrédulos em relação as metanarrativas, podemos verificar um certo colapso (crise) de paradigmas, pautado pela fragmentação teórica, cujo relativismo absoluto impossibilita qualquer pretensão de consenso.


Diante desse labirinto epistemológico, tenho adotado a perspectiva gramsciana que sugere a incorporação, de forma subordinada, das formulações mais elaboradas à "Filosofia da Práxis" (materialismo histórico-dialético[3]). Não se trata de uma mera substituição de uma teoria por outra. A realidade concreta atual vem demonstrando claramente que a perspectiva do conflito no interior da sociedade capitalista continua atual e nos impele a pensar na perspectiva de sua superação. "Daí a pertinência do materialismo histórico-dialético para a explicação e transformação da realidade.". Eu mesmo respondi à lista, referindo-me à mudança de paradigma[4] - podemos assim dizer? - apontada nos escritos de Falcão devem-se à mudança de orientação acadêmica - Celi é marxista - dai a guinada... [mas lembrem-se, o problema de Marx sempre foi o Capital - melhor dizendo, a falta dele...] não podemos olhar o mundo com os mesmos olhares de sua época; os tempos são outros e, como disse Fukuiama, a historia terminou, o capitalismo triunfou sobre o socialismo e o único estado que conseguiu, sob certa forma, viver em um regime comunista, foi um estado de direita: Israel com seu kibutz... Mas o que tem isso com o ensino da capoeira? já tentaram discutir essas teorias para o ensino da capoeira, com, por exemplo, o formado Donaldson em Maracassumé-MA? ou o professor que ensina capoeira num quilombo, a 18 quilômetros de Guimarães, também no Maranhão? Afinal, de que estamos falando? As teorias referidas são partes da linguagem específica da educação - e da educação física. A grande maioria dos que "militam" na Capoeira como transmissores do conhecimento mestres, contramestres, instrutores e monitores - nos diversos locais de ensino da capoeira, não são formados nem em educação, muito menos em educação física - conforme preconiza a lei. A imensa maioria tem como formação acadêmica formal, quanto muito, o ensino médio (antigo segundo grau). Daí levantar uma discussão sobre teorias ou concepções do processo ensino-aprendizagem só tem razão se se der dentro da academia, e excluindo a maioria dos "professores de Capoeira"... Trata-se, assim, de um processo de exclusão, exclusões daqueles que não tem o conhecimento específico dos que freqüentaram a academia e, especificamente, só compreensível pelos da área da educação - o substantivo está acima do adjetivo. Está-se falando das abordagens sobre a cultura no campo da Educação Física. Suas características específicas aparecem nos anos 1980, quando surgem preocupações em analisar como as práticas corporais humanas estão impregnadas de valores hegemônicos que contribuem para a manutenção da sociedade capitalista. O paradigma cultural representou uma tentativa de dar um novo enfoque à Educação Física, executando, ao mesmo tempo, uma resignificação e a inserção de novas práticas corporais que constituem o universo dos conteúdos a serem trabalhados. O uso da referência cultural abre espaços para que a intervenção da Educação Física se baseie não mais, ou não somente, nos estudos do treinamento esportivo, da aprendizagem motora ou do desenvolvimento humano, mas sim, ou também, como aponta Bracht (1997), nos pressupostos sociofilosóficos da educação crítica. Uma das conseqüências desse movimento renovador foi a criação de perspectivas pedagógicas preocupadas em fazer uma análise do papel social da educação numa sociedade capitalista. Nesse contexto, as perspectivas crítico-superadora e crítico-emancipatória compreendem que as formas do movimentar-se humano (com destaque para o esporte) reproduzem os valores e princípios da sociedade capitalista (BRACHT, 1999). A Crítico-Superadora tem como referencial teórico o materialismo histórico-dialético e seus autores se identificam como "Coletivo de Autores" - Carmen Lúcia Soares, Micheli Ortega Escobar, Lino Castellani Filho, Elizabeth Varjal, Celi Zülke Taffarel e Valter Bracht - e foi apresentada na obra intitulada "Metodologia do Ensino de Educação Física" (1992); faz uma crítica ao modelo de Educação Física pautada na aptidão física e no tecnicismo com uma postura de forte crítica social; essa teoria defende a formação de sujeitos autônomos e conscientes de sua condição histórica e capaz de interferir na realidade. A teoria crítico-superadora trata da cultura corporal numa proposta que possibilita interpretar e estabelecer relações dos conhecimentos com as possíveis mudanças sociais, do ponto de vista das classes trabalhadoras. Os conceitos fundamentais desta teoria são: identidade de classes, solidariedade substituindo o individualismo, cooperação confrontando a disputa, distribuição em confronto com a apropriação, liberdade de expressão dos movimentos e negação à dominação do homem pelo homem.


Já a Crítico-Emancipatória tem como referência Elenor Kunz, e faz uma crítica à Educação Física tradicionalista e está embasada nas ciências humanas e sociais - anos 90. Esta teoria tem como objeto de estudo o movimento humano utilizando-se de uma forma de ensino denominada "didática comunicativa"; são conceitos fundamentais desta teoria: subjetividade, a relação identidade pessoal/identidade social, a questão do sentido/significado, a preocupação com a dicotomia mente/corpo e natureza/cultura. Além dessas, existem outras concepções, tais como a Concepção de aulas abertas (Reiner Hildebrandt e Ralf Laging) apresentada no livro Concepções Abertas no Ensino da Educação Física. Esta teoria foi importante, num determinado momento da história do ensino da Educação Física - anos 80 - pois rompeu com a perspectiva metodológica tecnicista e fez uma crítica à aptidão física como única forma de tratar a Educação Física. O aluno ganhou destaque no processo ensino-aprendizagem, enquanto o professor assumia o papel de simples mediador. Na Sistêmica, a referência é Mauro Betti, 2002, fundamentada em um modelo sociológico que apresenta a cultura física como o foco do ensino da área, apresentando uma grande crítica à forma de ensino relacionada à educação do movimento e pelo movimento. O autor apresenta três princípios a serem considerados: (1) Princípio da não exclusão: discute que os conteúdos e métodos da Educação Física devem incluir a totalidade dos alunos, (2) Princípio da diversidade: que os conteúdos do programa de educação física ofereçam variedade de atividades, a fim de permitir ao aluno escolher criticamente, de forma valorativa, seus motivos-fins em relação às atividades da cultura corporal de movimento e (3) Princípio da alteridade: fez com que os pesquisadores de campo se defrontassem com o outro, o diferente, o exótico, o distante. Outra teoria, a Cultural/Plural, que tem como referência Jocimar Daólio, fundamentada na antropologia, influenciados principalmente por Marcel Mauss e Clifford Gueertz, defende que a Educação Física deve se pautar no conceito de cultura, por entender que a cultura representa todas as manifestações corporais humanas e tem significados diversos em cada grupo específico, podendo ser apresentada aos alunos como forma de representação da diversidade cultural. As atividades físicas, por si só, não têm sentido, se não forem analisadas, trabalhadas e criticadas a partir de suas manifestações culturais, relacionadas ao corpo e ao movimento humano. Busca-se uma proposta pedagógica que forme sujeitos capazes de decidir com autonomia, dialogar junto à sociedade com clareza e coerência, refletir sobre sua condição humana e lutar por dignidade e condições melhores de vida. Será que alguém que não esteja "nacademia" pode entrar na discussão? O Laercio já dizia que somente dominaremos uma tecnologia se dominarmos sua linguagem. Na Capoeira, é importante que os "de fora" possam incorporar a linguagem dos "de dentro", mas isso somente acontecerá se, de ambas as partes, houver uma integração e, sobretudo, interesse em ouvir "o outro". Onde você se localiza? Na sua metodologia de ensino, da capoeira - em qual das teorias acima você se enquadra? Leopoldo Desde o Maranhão Na foto estão Mestre Falcão (Florianópolis, SC) & Mestra Paulette (Campinas-SP), durante o II SENECA [1]

Marxismo é o conjunto das idéias filosóficas, econômicas, políticas e sociais que Marx e Engels elaboraram e que mais tarde foram desenvolvidas por seguidores. Interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das sociedades de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Marxismo) [2]

A Fenomenologia, nascida na segunda metade do século XX, a partir das análises de Franz Brentano sobre a intencionalidade da consciência humana, trata de descrever, compreender e interpretar os fenômenos que se apresentam à percepção. O método fenomenológico se define como uma volta às coisas mesmas, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como objeto intencional. Seu objetivo é


chegar à intuição das essências, isto é, ao conteúdo inteligível e ideal dos fenômenos, captado de forma imediata. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fenomenologia) [3]

Propõem uma história que não mais seja baseada em indivíduos, mas sim nas classes e nos interesses que representam. Bem como a relação destas faz gerar de forma dialética a construção dos novos modelos de sociedade, de produção, de pensamento. Fazer-nos pensar em como estas relações fazem com que grandes homens podem ser consfiderados meros objetos da história e da luta entre classes ao invés do contrário (http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo_dialético) [4]

Paradigma é a representação do padrão de modelos a serem seguidos. É um pressuposto filosófico matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas. Na filosofia grega, paradigma era considerado a fluência de um pensamento, pois através de vários pensamentos do mesmo assunto é que se concluia a idéia, seja ela intelectual ou material, depois dela realizada surgiam outras idéias até chegar a uma conclusão final. Pensar que a idéia inicial, tanto a intelectual como a material, é o paradigma da conclusão final demonstra uma incoerência com o que de fato ocorre, pois não conta com a inspiração e os diversos fluxos de pensamento.Em Lingüística, Ferdinand de Saussure define como paradigma o conjunto de elementos similares que se associam na memória e, assim, formam conjuntos. O encadeamento desses elementos chama-se sintagma. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Paradigmas)


CAPOEIRA, MARANHÃO & AGARRE MARAJOARA Atlas da Capoeiragem no Brasil Maranhão e o "Agarre Marajoara" Nota do Editor: Sem Diagnóstico não se faz Planejamento sério e eficaz. Sem diagnóstico, portanto, será temerário lançar um Plano Nacional, muito menos um Plano Mundial para a Capoeiragem. Salvo se o plano mágico for decidido entre quatro paredes em função de uns poucos iluminados. Mas, neste caso, será mais um plano pretensioso, sem representatividade nem legitimidade. Raciocínio que serve, também, para os freqüentes congressos nacionais e internacionais que, em função de um pequeno grupo de vestais, pensam que vão resolver todos os problemas da capoeiragem. Salta aos olhos que, mais do que nunca, é hora de um grande diagnóstico, bairro a bairro, cidade por cidade, estado por estado. Precisamos saber a história e a estória locais, de cada região, precisamos saber ao certo o perfil sócio-econômico dos nossos mestres e contramestres, precisamos descobrir as diversas capoeiras que tenderão a morrer esmagadas pelas grifes mais poderosas. Não se trata de um sonho impossível, agora mesmo, a Escola e Educação Física e Desporto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (que vai prestar grande e longa homenagem ao Mestre Artur Emídio de Oliveira) começa a estudar a viabilidade de assumir um projeto desses em relação ao Estado do Rio de Janeiro. O melhor exemplo, entretanto, até porque já está em marcha, vem do Maranhão. Quem já ouviu falar sobre o Agarre Marajoara? Pois muito bem, informação como esta, valiosa, começa a vir à tona, através do extraordinário trabalho que vem sendo coordenado pelo Professor Leopoldo Vaz, em São Luis do Maranhão. Daí porque, a seguir, tomo a liberdade de transcrever o e-mail que dele acabo de receber. Miltinho Astronauta ----- Original Message ----From: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Subject: CAPOEIRA NO MARANHÃO Caro Milton Cezar Ribeiro - Miltinho Astronauta / Jornal do Capoeira Já retornei de Caratupera, região do Alto Turi, fronteira com o Pará ... Conversei com alguns capoeiras da área - Caratupera e Maracassumé - que estão ligados ao Pará, attravés do Mestre Zeca ... Não consegui informações, ainda, sobre a "capoeira carioca", pois, muito jovens não conhecem a história da região. Turiaçu fica bem próximo de Carutapera, na mesma região do Turi ... O grupo de Carutapera denomina-se ACANP - Associação Capoeira Arte Nossa Popular - fundada por Mestre Zeca, de Belém do Pará - Jose Maria de Matos Moraes (33 anos) -, que atua em duas escolas - Escola Valter Leite, do município e outro grupo no Abrigo João de Deus. Mantém vários grupos atuando na região do Alto Turi, no Maranhão, e em outras localidades do Pará, alem de Belém. Em Carutapera a ACANP mantém cerca de 40 alunos, de idades entre 5 e 16 anos, liderados pelo Monitor Canela - Donaldo Conceição (27/04/82) - da cidade de Maracassumé, onde mantém outro grupo; em


Carutapera, o núcleo foi fundado em 23/03/2002, e é dirigido por Reginaldo Tavares (23/03/76) - Estagiário Verdão - e conta ainda com Jose Nilson da Silva (25/05/78) , na capoeira, Batizado Nanico. A ACANP é filiado aa Federação Paraense de Capoeira - e o estilo praticado é o "Angola com Regional", estando desenvolvendo, em Maracassumé, e introduzindo em Caratupera, o estilo desenvolvido pelo Mestre Zeca, que denominam de "Onça Pintada" - que seria uma fusão da Regional com o Agarre Marajoara. O pessoal já manteve contato com a federação Maranhense, de Mestre Bae e Mizinho e é visitada por Mestre Índio Maranhão, mas foi recomendado que se mantivessem em contato com o Pará, devido aa distância ... De acordo com Álvaro Adolpho, de Belém do Pará, ex-diretor do Departamento de Educação Física do Pará, o "Agarre Marajoara" é uma luta desenvolvida pelos índios da Ilha do Marajó - que guarda certa semelhança com o Aku-Aku - havendo registro de sua pratica ha mais de 300 anos. De acordo com o Prof. Álvaro, talvez seja a primeira luta-esporte com registro de sua pratica no Brasil. Existem estudos sobre isso, que ficou de mandar, assim como o grupo de Carutapera ficou de enviar um histórico do grupo,com essa historia da capoeira local ... Leopoldo Vaz Professor de Educação Física do CEFET-MA


EDUCACION FÍSICA Y DEPORTES REVISTA ELETRÔNICA, BUENOS AYRES, ARGENTINA


O ‘CHAUSSON/SAVATE’ INFLUENCIOU A CAPOEIRA? Crónica de la capoeira (GEM). ¿El ‘Chausson/Savate’ influyó sobre la capoeira? EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 158 - Julio de 2011. http://www.efdeportes.com/ Leopoldo Gil Dulcio Vaz* *Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (Brasil) vazleopoldo@hotmail.com Efren Javier Rubiera Cuervo **Presidente General de FICA (Espanha) ** Resumo Em uma série de artigos em que se busca a ancestralidade da Capoeira, comprovada africana não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África de práticas similares, como o Moringue, no Oceano Índico - nas Ilhas de São Lourenço (Madagascar), Reuniões e em Moçambique. Assim como encontramos uma influencia européia, configurada através da Chausson/Savate, praticado por marinheiros no Porto do Sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos 'leões marinhos' em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Houve intenso tráfico entre os portos brasileiros - Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luis e Belém - e Marselha. Unitermos: Capoeira. História. Chausson. Savate.

Prezado Leopoldo: Já insisti em varias ocasiões nesta cita seguinte que pode ter relação com a de mais abaixo do colégio da Imaculada Conceição. Todos os Capoeiras conhecidos que estudaram no Colégio Pedro II do Rio, eles praticaram sua capoeira (Savate) e nestas datas destas citas pode ter a competição de capoeira de 1877 como uma do SAVATE. Se consegue se orientar e procurar a fonte primaria disto e "chave" pela história da Capoeira desportiva. E. JAVIER RUBIERA CUERVO - Presidente General de FICA/Espanha1 Recebi nova correspondência do Javier Rubiera, atual presidente da Federação Internacional de Capoeira. Faz algumas citações de trabalhos meus, sobre a Capoeira do Maranhão: MARTINS (1989) 2 aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. Considera que tenha sido praticada antes, trazida pelos escravos bandu-angoleses. Fugitivos, os negros a utilizavam como meio de defesa, exercitando-se na prática da capoeira para apurarem a forma física, ganhando agilidade: "JOGO DA CAPOEIRA: "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (p. 179). Outra citação é a que se refere à criação de um novo colégio em São Luis: 1869 - é anunciada a criação de um novo colégio - o Collégio da Imaculada Conceição -, sendo seus diretores os Padres Theodoro Antonio Pereira de Castro; Raymundo Alves de France; e Raymundo Purificação dos Santos Lemos. Internato para alunos de menor idade seria aberto em 07 de janeiro de 1870. Do anúncio constava o programa do colégio, condições de admissão dos alunos, o enxoval necessário, e era apresentado o Plano de Estudos tanto do 1º grau como do 2º grau, da instrução primária; o da instrução secundária; e da instrução religiosa. No que se referia às Bellas Artes – desenho, música vocal e instrumental, gymnástica, etc., mediante ajustes particulares com os senhores encarregados dos alunos. O novo colégio situava-se na Quinta da Olinda, no Caminho Grande, fora do centro da cidade, e possuía água corrente, tanque para banhos, árvores frutíferas, jardim, bosque e lugar de recreação. (A ACTUALIDADE n. 28, 28 de dezembro de 1869).


Pergunta, então: “Será a mesma fonte?”. Não, são fontes diferentes, embora tenham aparecido em jornais publicados em São Luís no período estudado. Encontrei a referencia no “Diário do Maranhão”, edição de 10 de janeiro de 1877. Javier levanta duas questões: a semelhança dos golpes da capoeira com a savate; as referencias que se faz aos praticantes da capoeira em colégios de elite carioca, dentro das aulas de “gymnástica”; o uso de métodos ginásticos no Brasil, da escola francesa, em especial a de Amóros. Indícios de ‘gymnástica’ no Maranhão Os sistemas ginásticos começam a aparecer a partir da segunda metade do século XVIII. São eles: “[...] a ginástica alemã, imbuída de propósitos nacionalistas e destinada ao adestramento físico, alicerçada na fundação do Philantropinum 3 por Basedow (1723-1790); a nórdica, sistematizada por Ling (1478-1839) que deu à mesma sentido formativo e higiênico, criando um sistema de quatro divisões para a realização das atividades: pedagógica, médica, estética e militar; a ginástica inglesa, baseada nos esporte e nos jogos, sendo a única a não possuir uma orientação ginástica, e a francesa. Amorós (1770-1848) fundamentou a ginástica francesa nos conhecimentos da natureza humana e na análise do movimento. Seu método privilegiava o desenvolvimento das qualidades físicas e aperfeiçoamento das qualidades morais. Desses sistemas, surgiram, na Europa, três movimentos doutrinários: o movimento germânico (ginástica alemã), o sueco (ginástica sueca) e o francês (ginástica francesa).(AGUIAR e FROTA, on line) 4 Grifos nossos). Em 1841 aparece o registro da palavra “ginástica” em São Luís do Maranhão, conforme anúncio no “JORNAL MARANHENSE” 5 sob o título de: “THEATRO PUBLICO “Prepara-se para Domingo, 21 do corrente huma representação de Gimnástica que será executada por Mr. Valli Hércules Francez, mestre da mesma arte de escola do Coronel Amoroz em Paris; e primeiro modelo da academia Imperial de Bellas Artes do Rio de Janeiro, que terá a honra de apresentar se pela primeira vez diante d’este Ilustrado público, a quem também dirige agradar como já tem feito nos principais Theatros de Europa, e deste Império. “Mr. Valli há contractado o Theatro União, para dar sua função, junto com Mr. Henrique, e tem preparado para este dia um espetáculo extraordinário que será composto pela seguinte maneira: Exercícios de forças, Agilidade e posições Acadêmicas Exercícios no ar e muitas abelidades sobre colunnas assim como admiraveis sortes nas cordas “Nos intervalos de Mr. Valli, se apresentará Mr. Henrique, para executar alguns exercícios de fizica, em quanto Mr. Valli descansa.”(Grifos nossos). O método francês de ginástica, idealizado por Amoros (1770-1848), constituía-se de 17 itens, e incluía exercícios elementares ou movimentos graduados em diferentes ritmos, visando à resistência à fadiga e um direcionamento moral para o método. Esses exercícios seriam o andar e o correr sobre terrenos fáceis ou difíceis; o saltar em profundidade, extensão e altura, com ou sem ajuda de materiais; a arte de equilibrar-se em traves fixas, o transpor barreiras; o lutar de várias maneiras; o subir com auxilio de corda com nós ou lisa, fixa ou móvel; a suspensão pelos braços; a esgrima e vários outros procedimentos aplicáveis “a um grande número de situações de guerra ou de interesse público”.6 Nova chamada é publicada em 16 de novembro daquele ano de 1841,7 sob o mesmo título, em que eram anunciadas as novas atrações do programa a ser apresentado: “Theatro Publico “Domingo 21 do corrente 1841, 1ª apresentação gimnastica dirigida por Mr. Valli, Herculez Francez, que tem a distinta honra de apresentar-se diante deste ilustre publico para executar seis noites de divertimentos: 1ª noite – exercícios gimnasticos, malabares, fizica


2ª dita – grande roda gyratoria 3ª dita – jogos hydraulicos como existem em Europa dita – a grande luta dos dois gladiadores”. (Grifos nossos).

Método Amorós (Savate) Outra ocorrência que solicita nossa atenção refere-se à presença de 31 (trinta e um) nomes de brasileiros identificados pela origem de nascimento nos arquivos de Schnepfenthal 8, e como tais incluídos no corpo discente daquela instituição nas primeiras décadas do século XIX9:              

Emanuel Bernhard; Louis Stockmeyer; Christiano Stockmeyer Guillermo Frohlich Tito de Sá; Julio de Sá José Antonio Moreira; Joaquim Moreira; João Antonio Moreira Francisco Pereira; Manuel Moreira; Antonio Moreira Adolfo Klingelhoefer; Eduard Klingelhoefer Constancio Pinto; Alberto Pinot Johan Reidner; Franz Reidner Jean de La Roque; Auguste de La Roque; Henri de La Roque; Guilherme de La Roque; Louis de La Roque; Carlos de La Roque Paul Tesdorpf; Ludwig Tesdorpf Cuno Mathies Waldemar Krug; Eberhard Krug James Otto.

Os LaRocque - importante família estabelecida no Pará -, procedem de dois irmãos: 

I - HENRIQUE de LaROCQUE (c. 1821 – Porto ?), que deixou geração do seu casamento, em 1848 – Pará -, com Matilde Isabel da Costa ( ? – 1919); e


II – LUIZ de LaROCQUE (c. 1827 – Porto ?), que deixou geração de seu casamento, em 1854 (Pará) com sua cunhada Emília Ludmila da Costa.

Ambos, filhos de JOÃO LUIZ de LaROCQUE (c. 1800 – a. 1854) e de Rosa Albertina de Melo. Entre os membros dessa família registra-se o senador maranhense Henrique de LaRocque Almeida10. No Dicionário das Famílias Brasileiras é dada como sobrenome de origem escocesa, o que é contestado por Henrique Artur de Sousa, genealogista estabelecido em Brasília, que está escrevendo um livro sobre o Senador LaRocque 11, família estabelecida no Brasil de origem portuguesa, da cidade do Porto. O falecimento de dois membros dessa família – os irmãos Henrique e Luís, filhos de João Luís de LaRocque e sua mulher Rosa Albertina de Melo – se dão na cidade do Porto, no século XIX... (vide Dicionário...). Informa-nos Henrique Artur de Sousa que alguns LaRocque se estabeleceram no Maranhão, a partir de 1832. Se encontrou documentos no Arquivo Público do Estado do Maranhão “firmados de próprio punho” de três membros da família LaRocque, quando de sua chegada, “de que haviam estudado na Alemanha”, numa cidade chamada Schnepfenthal ! Filhos de Jean Francoise de LaRocque: Carolina – depois Baronesa de Santos; Henrique de La Rocque; Guilherme de LaRocque; João Luís de LaRocque; Luís de LaRocque; Rosa; Amélia; Antônio de LaRocque. Deixemos no ar os conhecimentos adquiridos pelos LaRocque... Voltemos aos questionamentos de Javier. Chamamos a atenção para o item quatro do programa do quarto dia: “a grande luta dos dois gladiadores”, seguindo o Método de Amóros. (Grifos nossos).        

A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira12, e em Recife, com as gangues de Rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês)13 em Paris e das maltas de fadistas14 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos. O ‘savate’ surgiu na França, praticado por alguns marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos “leões marinhos”, em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Posteriormente, em cada rixa da barra em portos franceses era comum ver chutes infligidos em qualquer parte do corpo. Os marinheiros chamavam "Chausson" este tipo de combate, em referência à chinelos normalmente usados a bordo. Marinheiros gauleses e espanhóis eram instruídos com estas formas de ataques e defesas. Na época de Napoleão Bonaparte, os soldados do imperador exibiam publicamente suas "aptidões" chutando a bunda de seus prisioneiros. A punição era conhecida como “Savate”, que pode ser traduzido como "sapato velho".15


http://cap-dep.blogspot.com/search/label/1890-BRASIL-Capoeiragem%20prohibido

O Savate ou boxe francês, é um desporte de combate na qual os pés e as mãos são utilizados para percutir os adversários e combina elementos de boxe com técnicas de pontapé. O “Box Savat” é uma luta corpo a corpo que também era uma forma de treinar os soldados franceses nos tempos das guerras napoleônicas, sendo o vigor físico a principal qualidade exigida do soldado. Assemelha-se a um Kata de luta marcial, o qual é composto de golpes de pernas, pés e punhos.


Zaqui, João, " Jiu-jitsu (attaque e defensa) contendo os requlamaentos japonés e brasileiro ", Sao Paulo, Brazil, Companhia Brasil Editora, 1936, Publicado por Javier Rubiera para Influências Asiáticas no Brasil el 3/01/2010

Negroes fighting, Brazil”” c. 1824. Autor Augustus Earle (1793-1838) - Painting by Augustus Earle depicting an illegal capoeiralike game in Rio de Janeiro (1824) Fonte English Wikipedia, original: http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=NW0171&recordCount=2&theRecord=0


Diamanga malgache journal: 1936/01/29 (A3,N144). formato original: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k54276490.r=diamanga.langES

FOTO:http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/05/juego-de-imagenes-mujeres.html


Gravura de um belo “furdunço” entre capoeiras ocorrido no Rio de Janeiro, no final do século XVIII, publicada em uma revista da época. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

foto:Le moring connaît aujourd’hui une reconnaissance internationale. Ici lors de la Fête de la liberté 2008 à Aix-en-Provence disponible em http://sala-prensa-internacional-fica.blogspot.com/search/label/Moring-Capoeira

O "Chausson" era do sul da França e usava somente os pés; já no Norte, usava-se a combinação de pés e mãos abertas - "savate”. Enquanto os homens se reúnem em um duelo de tiro com espadas ou bastões, as classes mais populares lutavam com os pés e batendo com os punhos, de modo que o Savate, esgrima, pés e


punhos, tornaram-se a prática de "Thugs" no momento, para citar apenas Vidocq16, Chefe simbólico do fim do século XVIII.

O contato com essas formas de luta se dá, também, com a interação entre marinheiros, nas constantes viagens entre os dois lados do Atlântico, pois navios da marinha francesa entre 1820 e 1833 foram de Brest (cidade natal de Savate) para Portos do Brasil (Capoeira), Martinica (Ladja) e Bourbon (Moringa):

Fonte: Tratado de hygiene naval, ou, Da influencia das condições physicas e moraes ... Por J. B. Fonssagrives, on line http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1820-1833-BREST%28Cuna%20del%20SAVATE%29-Navios%20de%20la%20Armada %20frecuentando%20BRASIL%28Capoeira%29%20-MARTINICA%28Ladja%29%20Y%20BOURBON%28Moringue%29


Fonte: LIBRO:Souvenirs d'un aveugle Escrito por François Arago, Jules Janin Edición: 4 - 1868 - http://books.google.com/books?id=5hGQK-QrB8QC&hl=es&source=gbs_navlinks_s, on line:Ç http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1840-RIO-Savate%20y%20Bast%C3%B3n%20en%20Rio%20de%20Janeiro

De luta de rua passa a esporte regulamentado quando o médico Michel Casseux, em 1825 abriu o primeiro centro de treinamento para o ensino e a prática regulamentada dessas habilidades. Ele tentou criar um sistema de combate menos desajeitado, enfatizando o “roundhouse kick”, laterais e frente ao joelho, canela e peito do pé. Em 1832, Charles Lecour combinou as técnicas do boxe clássico Inglês com os princípios formulados por Casseux. Esta mistura foi chamada de "savate” - boxe francês - e atraiu tanto a elite da sociedade como os jovens, o que beneficiou o esporte como a aptidão muscular e autodefesa. Em 1850, a primeira luta de boxe francês com as regras estabelecidas por Casseux, para diferenciá-lo de uma rixa da rua. Louis Vignezon foi o primeiro campeão de Savate ao derrotar seu adversário com a batida de apenas quatro chutes.


Credit: Boxing Lesson by Charles Charlemont (1862-1942), 1906 (b/w photo), French Photographer, (20th century) / Bibliotheque des Arts Decoratifs, Paris, France / Archives Charmet / The Bridgeman Art Library

fuente: Deportes de combate - boxeo francés y esgrima de palo, Badenas, Madrid 1934 - Título Deportes de combate: boxeo inglés, boxeo francés, lucha grecorromana, lucha libre, esgrima de palo, jiu-jitsu, kuatsu ; Autor José Bádenas Padilla; Editor s.n., 1934, on line http://eu-bras.blogspot.com/

Em 1852, a Academia Militar Ecole De Joinville incluiu o Savate no treinamento de recrutas. Em seguida, essas mesmas regras foram estendidas para outras partes do Velho Continente, África, Canadá e Estados Unidos.


O Box Savat também foi introduzido em nossa Escola pela missão militar francesa17 tanto no Colégio Pedro II18 no Rio e no exército e da polícia francesa através de diversas missões ao Brasil e em 1885 uma missão brasileira viajou para Paris para obter informações sobre o Sistema policial francês (Savate Vidocq)19: A referência a aparelhos e peças próprias aos exercícios gymnasticos faz pensar que Pedro Guilherme Meyer tenha desenvolvido um trabalho diferenciado daquele que até então acontecera no CPII que, de um modo geral, esteve centralizado no conteúdo da esgrima. Neste sentido, é esclarecedor o relatório do Inspetor Geral da Instrução Pública do Município da Corte, enviado ao Ministro do Império em 1859: apraz-me declarar a V. Exa. que durante o anno passado começou a funccionar com a possível regularidade o gymnasio do internato. Com pequena despeza se acha provido de um portico regular com varios apparelhos supplementares que permittem a maior parte dos exercícios da gymnastica pratica de Napoleon Laisné, ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Meyer. (MINISTÉRIO DO IMPÉRIO, 1858, p.18). De acordo com o Inspetor, Pedro Meyer teria ministrado lições de exercícios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné. Este era discípulo do Coronel Francisco Amorós y Ondeano, a principal figura Organização e cotidiano escolar da Gymnastica (CUNHA JUNIOR, 2004, 2008)20 Em 1928, a Missão Militar Francesa passou a contar entre seus integrantes com um oficial encarregado exclusivamente de dirigir a instrução de educação física. Escolhido entre os instrutores da escola de Joinville, o major Pierre Ségur ficou encarregado de ministrar educação física na Escola Militar do Realengo. O relatório do chefe da Missão Militar Francesa referente ao ano de 1928, ao comentar a situação da educação física nas escolas do Exército (Militar, de Sargentos, de Cavalaria e de Aviação), informava que, apesar de nelas ser desenvolvido um trabalho intenso e de muito boa vontade, faltavam os meios práticos e a aplicação de um método firme referência óbvia ao Método Francês.21 Também na Escola de Educação Física da Polícia Militar de São Paulo, criada em 1910, o Savat é introduzido:


Pg. II. Executivo - Caderno 1. DOSP de 25/02/2010 http://www.jusbrasil.com.br/diarios/5135262/dosp-executivo-caderno-1-25-02-2010-pg-ii/ pdfView#xml=http://www.jusbrasil.com.br/highlight/5135262/missao%20francesa – Publicado por AEC para Influencias Européias no Brasil

Para COSTA (2007)22 , no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, européia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48) 23; José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968) 24; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como


carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73)25; Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14)26. Todos eram capoeiristas. Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-Capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio.27 Outro professor, Pedro Meyer, para além da esgrima, desenvolveu um trabalho mais abrangente no CPII: Nesse sentido, é esclarecedor o relatório apresentado pelo inspetor geral da Instrução Pública do Município da Corte em 1859: Durante o anno passado começou a funccionar com a possivel regularidade o gymnasio do internato. Com pequena despeza se acha provido de um portico regular com varios apparelhos supplementares que permittem a maior parte dos exercicios da gymnastica pratica de Napoleon Laisné ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Meyer 17. De acordo com o inspetor, Pedro Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné, discípulo do coronel Francisco Amoros y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa, falecido em 1848. Laisné tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amoros, desenvolvendo seu trabalho na Escola de Joinville-le-Point, local para o qual Foi transferido em 1852, o principal ginásio antes dirigido pelo Coronel Amoros (Baquet, 199-). Segundo Carmen Lúcia Soares (1998), no método organizado por Amoros destacavam-se os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, tais como as barras fixas e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No CPII, atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os exercicios gymnasticos em aparelhos.28


Um aluno, reconhecido como capoeira, foi José Basson de Miranda Osório, nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836, faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo e ingressando na Faculdade de Direito. Filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório, um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822, Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. (PASSOS, 1982)29: Para CARVALHO (2001)30 , entre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam: “A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos". O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street do Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade.

http://web.tiscalinet.it/canneitaliana/italo.htm


No início do século XX, no Brasil começou a se tornar mais comum a prática da luta romana, notadamente desafios entre atletas cariocas e de São Paulo. José Floriano Peixoto foi um dos mais renomados dessa modalidade naquele momento.


No seu livro de memórias, comenta Luiz Edmundo, captando bem o momento de transição: Não se pratica a ginástica do corpo. A do sentimento basta. E nesse particular, ninguém supera o jovem desse tempo... Vive ainda da lírica do poeta Casimiro de Abreu, acha lindo sofrer-dopeito, bebe absinto e, de melenas caídas nas orelhas, ainda insiste em recitar ao piano. Toda uma plêiade de moços de olheiras profundas, magrinhos, escurinhos, pequeninhos... Tipos como o do atleta José Floriano Peixoto, são olhados, por todos, com espanto. (Edmundo, 1957, p.833) Zeca Peixoto, como era conhecido, destacava-se não só pelo seu corpo forte, como também pelo fato de ser praticante e campeão de muitos esportes diferentes. Ganhou ar de herói quando salvou diversas pessoas em um naufrágio que ocorrera na Bahia, ocasião em que retornava de excursão à Europa. Nos primeiros anos da década de 1900, Peixoto já estava envolvido com o grupo de Paul Pons, um francês muito atuante nos primeiros momentos do halterofilismo no Brasil e no mundo. No decorrer da década esteve envolvido com apresentações em teatros, fazendo parte da "Companhia Ginástica e de Variedades" e chegando a ser proprietário de um circo (Circo Floriano), que fez sucesso na cidade.31

O escrito maranhense Coelho Neto, tido como grande capoeirista é citado como um dos precursores da Capoeiragem, haja vista que no Artigo 17- do regulamento da FICA, quando trata da Nomenclatura de Movimentos de Capoeira estabelecida em sua parte “A- Nomenclatura Histórica”, colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, aparecem Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma): Parágrafo 1°- Legado de Plácido de Abreu - 1886: Trastejar, Caçador, Rabo de Arraia, Moquete, Banho de Fumaça, Passo de Sirycopé, Baiana, Chifrada, Bracear, Caveira no Espelho, Topete a Cheirar, Lamparina, Pantana, Negaça, Ponta-pé e Pancada de Cotovelo. Parágrafo 2°- Legado Apócrifo - 1904: Pronto, Chato, Negaça de Inclinar, Negaça de Achatarse, Negaça de Bambear para direita ou esquerda, Negaça de Crescer, Pancada de Tapa, Pancada com o Pé, Pancada de Punho, Pancada de Tocar, Rasteira Antiga, Rasteira Moderna e Defesas. Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto - 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Parágrafo 4°- Legado de Annibal Burlamaqui (Zuma), autor da primeira Codificação Desportiva - 1928: Guarda, Rasteira, Rabo de Arraia, Corta Capim, Cabeçada, Facão, Banda


de Frente, Banda Amarrada, Banda Jogada, Banda Forçada, Rapa, Baú, Tesoura, Baiana, Dourado, Queixada, Passo de Cegonha, Encruzilhada, Escorão, Pentear ou Peneirar, Tombo da Ladeira ou Calço, Arrastão, Tranco, Chincha, Xulipa, Me Esquece, Vôo do Morcego, Espada e Suicídio.

Para Pol Briand32, dois termos da capoeira baiana têm origem certamente francesa, são o “aú” que em português é “pantana” como escrito nos artigos de 1909 descritivos da luta de Ciríaco contra Sada Miako no Pavilhão Pascoal no Rio de Janeiro e “role”; é provável que os nomes usados na capoeira venham de instrutores militares de ginástica das Missões francesas. A expressão francesa "faire la roue" designa um movimento similar ao “aú” da capoeira, e o "roulé-boulé" é uma técnica para amortecer um choque (pulando de uma altura) rolando sobre si mesmo, com alguma semelhança ao “role” da capoeira: “Suponho que a influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908. Foi promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional 33. Antes da vinda dos franceses em 1908, a influencia alemã predominava do exército brasileiro. Os franceses tiveram não somente atuação direta em S. Paulo, como também indireta, com difusão de um manual de educação física no Brasil inteiro34. Ainda estou a recolher elementos sobre a sua presença na Bahia. Há de ressaltar, pista ainda não seguida, que a Marinha também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20. Como indica Loudcher (op.cit), o exército e a marinha de guerra francesa fizeram ao inventar o esporte como preparação física para a guerra no final do século 19, interpretação muito particular do jogo de desordeiros que era a savate, transformando-la em largas proporções. É certo que a escola de polícia de Joinville, situada perto da École normale militaire de gymnastique de Joinville, tinha um uso mais prático para o combate sem armas ou com armas improvisadas. Entretanto, os instrutores militares sempre dominaram o ensino. Os instrutores de educação física da missão militar francesa foram pouquíssimos. Se influência tiveram, foi geralmente indireta, através de pessoas por eles [in]formados. Portanto, os ensinos franceses foram interpretados e adaptados pelos brasileiros, e, notadamente, pelos adeptos da capoeiragem e do jogo de capoeira, sempre interessados em novos “truques” (outra palavra francesa que substitui o português 'ardil' nos Ms. de mestre Pastinha).Os franceses, como os ingleses e alemãs, participaram também da promoção da idéia esportista no Brasil. Passar, no conceito dos praticantes, de brinquedo e da vadiação a esporte de competição, transtornou a capoeira, como quem sabe ler pode constatar nos debates consecutivos à organização de campeonato no palanque do Parque Odeon em Salvador em 1936. Hoje se procura recuperar o sentido e a sabedoria associadas à atividade antes desta fase. Aparentemente, o esporte de competição não atende às necessidades de todo mundo. Como sempre com essa fonte, o artigo citado 35 traz erros na grafia dos nomes (dos franceses) e uma inconguidade: "O Bailado Joinville Le Pont: dança folclórica, hoje extinta na França e só praticada pela Polícia Militar


do Estado de São Paulo." Não faz sentido. "La danse de Joinville Le Pont" não pode ser dança folclórica. É obviamente piada de militares para designar o seu treino, sendo que Joinville, situada perto no rio Marne próximo de Paris, era o subúrbio onde no espaço onde não se construía por causa das enchentes, vinha dançar o povo (e malandros) parisiense em barracões chamado “guinguettes" (o termo, de mesmo origem que 'ginga', evoca o ato de mexer as pernas “jambes” ou popularmente 'gambettes'-- como também 'gigolette' e 'degingandé'. O que foi extinta é a École normale militaire de Gymnastique, chamada 'de Joinville' embora o terreno em que se situava, no Bois de Vincennes, tivesse sido anexado pelo município de Paris em 1929. PANTANA

Capoeiragem: Articulo EEUU-Nueva York -1953 http://capoeira-utilitaria-capoeiragem.blogspot.com/2010/03/1953-eeuuarticulo-de-capoeiragem-en.html PANTANA - Volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito d o adversário (Abreu, 1886, in LIMA, 2007, p. 158).

O capoeirista, negaceando, simula um salto mortal e, com as mãos apoiadas no chão, desfere com os pés uma violenta pancada, que visa geralmente o rosto ou o peito do adversário (Moura, 1991, in LIMA, 2007, p. 158) O “AÚ” é descrito como: Movimento que na Capoeira corresponde ao posicionamento do corpo apoiado nas mãos (“em representação ao desenho da letra ‘A”) com os pés erguidos e abertos (em representação ao desenho da letra “U”. É um movimento característico da capoeira, no qual o praticante leva as duas mãos ao chão, subindo imediatamente as duas pernas, geralmente esticadas e caindo geralmente em pé. (MANO LIMA, 2007, p. 64): É um movimento de capoeira que pode ser aplicado de muitas formas: Em pé, agachado entre outros – AÚ AGULHA; AÚ AMAZONAS; AÚ BANDEIRA; AÚ BATIDO; AÚ CAMALEÃO; AÚ CHAPA DE FRENTE; AÚ CHAPA DE COSTAS; AÚ LATERAL; AÚ CHIBATA COM UMA PERNA; AÚ CHIBATA COM DUAS PERNAS; AÚ COICE; AÚ COM UMA DAS MÃOS; AÚ CORTADO; AÚ DE COLUNAS; AÚ DE ROLÊ; AÚ DUBLÊ; AÚ FININHO; AÚ GIRO COMPLETO; AÚ MARTELO; AÚ MORCEGO; AÚ MORTAL; AÚ PALITO; AÚ PARAFUSO; AÚ PICADO; AÚ PICO; AÚ PIRULITO; AÚ QUEBRADO; AÚ SANTO AMARO; AÚ SEM MÃOS; AÚ TESOURA; AÚ VIRGULINO.


Pintura do italiano Giovanni Battista Tiepolo, chamada Pulcinella and the Tumblers de 1797, época em que a ginástica renascia em apresentações públicas. A obra encontra-se no Museu Settecento Veneziano

Aú é indispensável na pratica da capoeira, por ser um dos passos mais usados. Existem dois tipos de aú. Aú aberto: é utilizado no início e na saída da roda. É também conhecido como estrela. É só colocar as mãos no chão e depois os pés para o alto,e termina em pé. Aú fechado:semelhante ao rolê,acrescenta-se um pulo Aú dobrado: a entrada do movimento é semelhante ao aú aberto, mas na metade do movimento dobra-se a coluna para sair de frente. Aú trançado: movimento em que se entra no aú aberto mas troca-se as pernas "trançando-as", sendo a perna que impulsiona o corpo a primeira que vai tocar o solo. Aú sem mãos: mesmo movimento do aú aberto, mas executado sem o emprego das mãos. http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%BA Techniques et apprentissage du moring réunionnais Résumé Sport de combat rituel, le moring associe la musique, l’’expression corporelle, les traditions guerrières et les cultes afro-malgaches. Cousin de la Capoeira du Brésil, le moring réunionnais dû affronter bien des préjugés et des interdits tout au long de son histoire. Ce livre contribue à réhabiliter cet art populaire. Il met en valeur les bienfaits de cette discipline où le


corps et l’’esprit s’’épanouissent. Règles et techniques sont expliquées précisément, illustrées par de nombreux croquis de mouvements. http://www.livranoo.com/livre-Reunion-Techniques-et-apprentissage-du-moring-reunionnais-252.html


http://www2.webng.com/portaldacapoeira/au.html

Pencak IndonĂŠsia


Seqüência de Bimba (8) Jogador 1 - bênção e aú de rolê. Jogador 2 - negativa e cabeçada. http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://lh3.ggpht.com/_MARp4qSlMvU/SiRJDUmNnaI/AAAAAAAAAPA/O02nIzd1G5 o/ sequencia6.gif&imgrefurl=http://omandinguero.blogspot.com/2009_06_01_archive.html&usg=__R477GbXv4MFJTojcTNYDN3MA0=&h=261&w=481&sz=6&hl=ptBR&start=1&tbnid=xGLM7LmLEMqgzM:&tbnh=70&tbnw=129&prev=/images%3Fq%3Djoelhada %2B%252B%2Bcapoeira%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR

http://angoleiro.files.wordpress.com/2008/12/traira.jpg


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O pesquisador francês está a buscar evidencias de que a Marinha “também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20” haja vista que a “influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908”, tendo sido “promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional”. Em artigo publicado no Jornal do Capoeira36 em 2005, já havia respondido parte dessa questão: “Em "A Pacotilha", São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo "JIU-JITZÚ" - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): "Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. "Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficialgeneral da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. "Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. "A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão. "Ha alguns dias esse terrível jogador vem assombrando a platéia daquela casa de diversões com a sua agilidade indiscritível, com os seus pulos maquiavélicos. Todas as noites o campeão japonês desafia a platéia a medir forcas com ele, sendo que, logo nos primeiros dias de sua exibição, se achava na platéia um conhecido "malandrão". "Feito o desafio, o "camarada" não teve duvidas em aceitar, subindo ao palco. "Depois de tirar o paletó, colete, punhos, colarinho e as botinas, o freguês "escreveu" diante do campeão, "mingou" abaixo do "cabra"; este assentou-lhe a testa que o japones andou amarrotando as costelas no tablado. A coisa aqueceu, o japonês indignou-se, quis virar "bicho", mas o brasileiro, que não tinha nada de "paca" foi queimando o grosso de tal maneira que a policia teve que intervir para evitar ... o japonês.


“'A Folha do Dia' narra o seguinte: 'Diversos freqüentadores do Pavilhão Nacional vieram ontem a esta redação apresentar o Sr. Cyriaco Francisco da Silva, dizendo-se o mesmo senhor vencido o jogador japonês que se exibe atualmente naquela cada de diversão. "O Sr. Cyriaco é brasileiro, trabalhador no comercio de café e conseguiu vencer o seu antagonista aplicando-lhe um "rabo de arraia" formidável, que no primeiro assalto o prostrou. "O brasileiro jogou descalço e o japonês pediu que não fosse continuada a luta. "Ficam assim cientes os que se preocupam com o novo esporte que ele é deficiente. Basta estabelecer o seguinte paralelo: no jiu-jitzu a defesa é mais fácil que o ataque; na capoeiragem a grande ciência é a defesa, a grande arte é saber cair. "Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que o brasileiro 'sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta'.". (Grifos nossos). Em 1972, o General Jayr Jordão Ramos37 apresenta seu “Parecer sobre a Capoeira-Desporto”, em relatório do Conselho Nacional do Desporto do Ministério da Educação e Cultura (MEC), ressaltando a importância de dar à capoeira “formas e regras desportivas”, com o objetivo de reabilitá-la enquanto luta. Nesse mesmo parecer citado acima, o General aponta que pela falta de incentivo público, a capoeira serviu, por muitos momentos, à malandragem e desordem. Assim, só teria restado para a capoeira, fixar-se no campo do folclore (FONSECA, 2009)38. Entretanto, ainda para o General Ramos, se tivesse sido devidamente fomentada: “[...] seria modalidade ginástica bastante praticada (...). Ao lado do Judô, do Boxe, do Karatê e de outras formas de luta, deve ser a capoeira estimulada. Como desporto, ela apresenta no seu aspecto, um misto de semelhança com a luta francesa “Savate” e com a japonesa do Karatê (...). (FONSECA, 2009) inda segundo essa autora, Vicente Ferreira Pastinha nasceu em Salvador, na Bahia, em 05 de Abril de 1889. Filho de uma mulata baiana e de um comerciante espanhol, aprendeu capoeira ainda na infância, através dos ensinamentos de um africano chamado Benedito, buscando aprender a se defender depois de muito apanhar de um menino de seu bairro. Aos 12 anos entrou, em Salvador – onde morou a vida toda – na Escola de Aprendizes de Marinheiro e, posteriormente, na Marinha, lá permanecendo até os 20 anos. Em 1910 dá baixa e começa a dar aulas de capoeira em um espaço onde funcionava uma oficina de ciclistas. Ainda na Marinha, teve contato com esgrima, florete e ginástica sueca, o que nos mostra que conheceu outros estilos de luta que não a capoeira. Já Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba, como ficou conhecido, nasceu em 23 de novembro de 1899, na freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia. Era filho de Luiz Cândido Machado, ex-escravo, e Maria Martinha do Bonfim, descendente de índios. Iniciou a capoeira com cerca de 12 anos, mas nessa época já tinha familiaridade com as técnicas do batuque39, uma vez que seu pai era muito famoso nessa modalidade. Seu professor, segundo relata Muniz Sodré (2002)40, era um mestre da ‘capoeira antiga’, anterior à divisão em diferentes estilos, chamado Bentinho. Na realidade, não é novidade um membro das Forças Armadas Brasileiras estar envolvido com questões relativas à capoeira, principalmente no intento de enquadrá-la enquanto atividade esportiva. No início do século XX, como demonstrado anteriormente, setores militares defenderam a criação de um Método Nacional de Educação Física baseado na capoeira, além de serem feitas as primeiras propostas acerca da regulamentação da capoeira enquanto esporte. (FONSECA, 2009). Em 1906, a luxuosa Kosmos, Revista Artistica, Scientifica e Literaria, do Rio de Janeiro, publica um artigo de Lima Campos: "A Capoeira", ilustrada por Kalixto. Este artigo é um registro da construção da capoeira moderna, sua arquitetura tem como base o movimento nacionalista do final do século XIX, o qual se estenderá até meados do século XX. Lima Campos enaltece a vocação cultural mestiça da capoeira carioca e mostra a destruição da capoeira de movimento social, pela República e a gênese da proposta moderna da capoeira; A ginástica Nacional. "Das cinco grandes lutas populares: a savata francesa, o jiu-jitsu japonês, o box inglês, o pau português e a nossa capoeira, temiveis pelo que possuem de acrobacia intuitiva de elastério e de agilidade em seus recursos e avanços táticos e em seus golpes destros é, sem duvida, a última,


ainda desconhecida fora do Brasil, mesmo na América, a melhor a mais terrível como recurso individual de defesa certa ou de ataque impune. Nas outras (com bem limitada exceção de apenas alguns golpes detentivos ou de tolhimento no Jiu-jitsu e a limitadíssima exceção do célebre círculo defensivo descrito pelo movimento giratório contínuo do pau no jogo português) o valor está no ataque; na capoeira porém, dá-se o contrario: o seu mérito básico é a defesa; ela é por excelência e na essência defensiva. Lima Campos: "A Capoeira", 1906 Kosmos, Revista Artística, Scientifica e Literaria." Santos (2006)41 informa que em 1928, o capoeira-intelectual carioca Anibal Bulamarqui, conhecido como mestre Zuma, publicou o livro Ginástica Nacional (Capoeiragem) metodizada e regrada, cujo prefácio de Mário Santos dizia: “Adotemos a capoeiragem, ela é superior ao box, que participa dos braços; ela é superior à luta romana, que baseia na força; é superior à japonesa, pois que reúne os requisitos de todas essas lutas, mais a inteligência e a vivacidade peculiares ao tropicalismo dos nossos sentimentos pondo em ação braços, pernas, cabeça e corpo”. Em Negros e Brancos no Jogo da Capoeira: a Reinvenção da Tradição, Letícia Vidor de Sousa Reis descreve a tentativa de Burlamarqui, e de outros intelectuais do começo do século, de transformar a capoeira num esporte “branco” e “erudito”, ou seja, eles tinham para a capoeira um projeto nacional, implicando numa única nomenclatura dos movimentos corporais da capoeira e no estabelecimento de um único conjunto de regras: MOVIMENTOS DO MESTRE ANNIBAL BURLAMAQUI.“Apellidei este methodo, puramente meu, de “ZUMA”, não só porque Zuma é a quarta parte do meu segundo nome, como também porque uma feliz coincidência faça com que se perceba nitidamente a letra Z no centro do campo de luta que adoptei para o meu método de capoeiragem, differenciando-o dos campos de sports communs. Primeiramente idealisei um campo de luta onde, com espaço suficiente, se pudesse realisar a GYMNASTICA BRASILEIRA.43


Aproximadamente na mesma época em que Bimba criava na Bahia a Luta Regional, no Rio de Janeiro, se tem notícias de Agenor Moreira Sampaio, conhecido como Sinhozinho de Ipanema. Sinhozinho nasceu em 1891, em Santos, filho de um tenente-coronel e chefe político local, e descendente de Francisco Manoel da Silva, autor do Hino Nacional Brasileiro. Esses dados nos permitem perceber que Sinhozinho, como seu próprio apelido sugere, não provinha das classes baixas, fazendo parte das camadas mais favorecidas. Sua clientela também era composta por rapazes de classe média, em geral jovens de Ipanema e Copacabana (FONSECA, 2009). Segundo André Lacé Lopes (2005)44, ele aprendeu capoeira nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, para onde se mudara com sua família. Aprendeu boxe e luta greco-romana, e achando que a capoeira se mostrava pobre para a luta, principalmente a ‘agarrada’, resolveu aplicar alguns dos golpes aprendidos nas outras lutas à capoeira.


Agenor Sampaio – Sinhozinho - começa sua vida esportiva praticando a luta greco-romana: “Comecei a minha vida sportiva – disse o Sinhôzinho, preliminarmente – em 1904, no Club Esperia de S. Paulo; como socio-alumno. Ahi me mantive até 1905, quando fui para o Club Athletico Paulistano, que foi o primeiro club do Brasil que teve piscina. [...] Houve um movimento dissidente no football de então, de modo que me transferi para a Associação Athletica das Palmeiras, que havia feito fusão com o Club de Regatas São Paulo. Ahi, em companhia de Itaborahy Lima, José Rubião, Hugo de Moraes e mais alguns amigos, comecei a praticar com enthusiasmo a gymnastica, tendo, por exemplo, Cícero Marques e Albino Barbosa, que eram, naquelle tempo, os maiores athletas do Brasil.[...] Mais tarde ” prosseguiu o nosso entrevistado ” com a vinda de Edú Chaves da Europa, novos ensinamentos nos foram ministrados, dos quaes a luta greco-romana, box francez (savata) e a gymnastica em apparelhos foram os mais importantes. [... ] Em 1907, ingressei no Club Força e Coragem, que obedecia à direcção do professor Pedro Pucceti. Continuei os exercícios que sabia e outros mais, que aprendera com o referido mestre. [...] em 1907, obtive os meus primeiros sucessos nesta luta e tive occasião de vencer o torneio da minha categoria. [...] Em 1908, mudei-me para esta capital, de onde jamais me afastei. O Rio é uma cidade encantadora pelos seus recursos naturaes e captivante pela lhaneza dos cariocas, que são extremamente hospitaleiros.[...] Fui um dos fundadores do Centro de Cultura Physica Enéas Campello, que teve o seu período de fastigio no sport carioca. Ali, ao lado de João Baldi, Heraclito Max, Jayme Ferreira e o saudoso Zenha, distingui-me em diversas provas em que tomei parte.” (in “Clube Nacional de Gymnastica: Uma grande Promessa” - Diário de Notícias, RIO, 1º de setembro de 1931) Grifos nossos Segundo Jorge Amado (VASSALO, 2003)45 Mestre Bimba foi ao Rio de Janeiro mostrar aos cariocas da Lapa como é que se joga capoeira. E lá aprendeu golpes de catch-as-catch-can, de jiu-jitsu, de boxe. Misturou tudo isso à Capoeira de Angola, e voltou falando numa nova capoeira, a ‘Capoeira Regional’. Em 1962 é criada a Federação Brasiliense de Pugilismo46,


Notas 1. Correspondência eletrônica pessoal, enviada por FICA-Espanha- [capoeira.espanha@gmail.com] sáb 12/6/2010 13:16 para Leopoldo Gil Dulcio Vaz [leopoldovaz@elo.com.br] assunto: A Galhina dos ovos de ouro (Muito Importante). 2. MARTINS, Dejard. Esportes: um mergulho no tempo. São Luís: (s.n.), 1989.


3. O Philantropinum foi fundado em 1774 por J. B. Basedow, professor das escolas nobres da Dinamarca. O Philantropinum foi a primeira escola dos tempos modernos a ter um cunho fundamente democrático, pois, seus alunos provinham indiferentemente, de todas as camadas sociais. Foi também, a primeira escola a incluir a ginástica no curriculum, no mesmo plano das matérias chamadas teóricas ou intelectuais. As atividades intelectuais ficavam lado a lado às atividades físicas, como equitação, lutas, corridas e esgrima. Na Fundação Philantropinum havia cinco horas de matérias teóricas, duas horas de trabalhos manuais, e três de recreação, incluindo a esgrima, equitação, as lutas, a caça, a pesca, excursões e danças. A concepção Basedowiana contribuía para a execução de atividades a fim de preparação física e mental para as classes escolares maiores. 4. AGUIAR, Olivette Rufino Borges Prado Aguiar; FROTA, Paulo Rômulo de Oliveira Frota. Educação Física em questão: resgate histórico e evolução conceitual. On line, disponível em http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/iiencontro/GT-1/GT-01-05.htm 5. JORNAL MARANHENSE,, São Luís, n. 36, 12 de novembro de1841 6. SOARES, Carmen Lúcia. Imagens da Educação no Corpo – estudo a partir da Ginástica Francesa no século XIX. Tese (Doutorado em Educação) – Unicamp, Campinas, 1996. o SOARES, Carmen Lúcia. Raízes Européias e Brasil. Campinas, Autores Associados, 2001. 2a edição revista 7. JORNAL MARANHENSE,, São Luís, n. 37, 16 de novembro de1841 8. Schnepfental Educational Institute, criado por Salimann, um ex-professor do Philantropinum, instituição que atravessaria séculos e seria a herdeira dos sistemas que celebrizaram Basedow. 9. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A família LaRocque, do Maranhão: questão de pesquisa. In Revista “Nova Atenas” de educação tecnológica, São Luis, Volume 06, Número 01, jan/jun/2003 (Disponibilizado em dezembro de 2006), on line www.cwfwt-ma.br/revista. 10. In Dicionário das Famílias Brasileiras, vol. II, BARATA, Carlos Eduardo de Almeida; CUNHA BUENO, Antônio Henrique da. Arquivos da Biblioteca Pública “Benedito Leite”. 11. Informação encontrada no Arquivo Público, sobre a existência desse pesquisador; viria publicar, posteriormente, Entrelaços de Família. Brasília, 2003. Meu exemplar é o de número 288. 12. As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 13. On line http://pt.wikipedia.org/wiki/Savate 14. SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf 15. On line http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/pelea-de-marinos-savate.html 16. Eugène François Vidocq (23 de julho de 1775 - 11 maio de 1857) foi um criminalista francês cuja história de vida inspirou vários escritores, incluindo Victor Hugo e Honoré de Balzac. Um exbandido que posteriormente se tornou o fundador e primeiro diretor do combate ao crime Sûreté Nationale bem como a cabeça do primeiro conhecido agência privada de detectives, Ele é hoje considerado pelos historiadores como o pai da moderna criminologia e da polícia francesa. Ele também é considerado como o primeiro detective privado. Na prisão de Bicêtre Vidocq era de esperar vários meses para a transferência para o Bagne em Brest ao trabalho no cozinhas. Um companheiro preso lhe ensinou a arte marcial savate que mais tarde foi muitas vezes útil para ele. No final de 1811 Vidocq informalmente organizado uma unidade à paisana, o Brigada de la Sûreté (Brigada de Segurança). O departamento de polícia reconheceu o valor dos agentes civis, e em outubro de 1812 o experimento foi oficialmente convertido em uma unidade da polícia de segurança sob a égide da Delegacia de Polícia. Vidocq foi apontado como seu líder. Em 17 de dezembro de 1813 Napoleão Bonaparte assinou um decreto, que fez a brigada de um estado policial de segurança. On line http://en.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A8ne_Fran%C3%A7ois_Vidocq 17. http://www.policiamilitar.sp.gov.br/noticias.asp?TxtHidden=144 on line http://sala-prensainternacional-fica.blogspot.com/search/label/1906-


Mission%20Francesa%20para%20en%20Brasil%20para%20formaci%C3%B3n%20de%20la%20Fu erza%20P%C3%BAblica 18. O Imperial Collegio de Pedro Segundo (CPII) foi fundado no Rio de Janeiro em 1837. O principal objetivo do governo brasileiro ao organizar o CPII foi oferecer aos filhos da boa sociedade imperial (Mattos, 1999) uma formação secundária abrangente e distintiva, própria à elite da época. A distinção pode ser avaliada pelo título conferido aos alunos que finalizavam o curso de estudos do Colégio, o de Bacharel em Letras, cuja posse garantia lugar em qualquer uma das Academias Superiores brasileiras. CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com/ Revista Digital Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008; CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html 19. Para saber mais sobre Vidocq e a criação do Savate, ver http://www.arrasonline.com/celeb_vidocq.php 20. CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html o CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 21. VIEIRA, Luis Renato. Educação e autoritarismo no Estado Nobo. In EDUC E FILOS. Uberlândia, 6 (12): 83-94, jan./dez. 1992, disponível em http://capoeira-utilitariacapoeiragem.blogspot.com/2010/03/1921-adop-metodo-ed-fisica-ejercito-br.html 22. COSTA, Neuber Leite Capoeira, trabalho e educação. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007. 23. NESTOR Capoeira: Pequeno Manual do Jogador. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. 24. REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. 25. PIRES, Antonio Liberac A. Capoeira na Bahia de Todos os Santos: estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 26. CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (Cadernos de Folclore). 27. Guilherme de Taube, como a maioria dos mestres de gymnastica que passariam pelo CPII ao longo dos oitocentos, era um ex-oficial do Exército. Sua experiência com os exercícios ginásticos no meio militar serviu como um atestado de sua aptidão para o emprego no Colégio. Durante todo o período imperial não haveria concurso para esse cargo, sendo os profissionais contratados diretamente pelo Reitor ou pelo Ministro do Império, de acordo com a necessidade da instituição. A gymnastica era considerada uma atividade eminentemente prática. Ao contrário dos responsáveis pelas outras cadeiras oferecidas pelo CPII, os pretendentes ao cargo de mestre de gymnastica não eram avaliados por seu conhecimento teórico, mas por sua perícia e experiência de trabalho com esta arte no meio militar ou nas instituições escolares civis. [...] (CUNHA JR, C F F. Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” - uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004) on line, disponível em http://eubras.blogspot.com/search/label/1841-Gymnasia%20militar%20en%20el%20Colegio%20Pedro%20II 28. CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html o CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com// Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 29. PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO


COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA. on line, http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ivencontro/GT10/companhia_aprendizes.pdf 30. CARVALHO, José Murilo De. BESTIALIZADOS OU BILONTRAS? (do Livro Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001). On line, http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html 31. On line http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882007000200008&script=sci_arttext 32. On line in http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/search/label/Ginga-SAVATE 33. KUHLMANN, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança? Campinas: Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1. 34. SOUSA, Celso. , La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive. Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, 2006 in [http://www.esefex.ensino.eb.br/atual_trab/%40cap I.PDF 35. Bailado Joinville Le Pont -SESC Pompeia Dia(s) 26/04 Domingo, às 17h. O “Bailado Joinville Le Pont” é uma dança folclórica, originalmente extraída de uma dança camponesa do interior da França, posteriormente sistematizada pela Escola de Joinville Le Pont. Com o advento das Guerras Napoleônicas essa dança foi utilizada pelos comandantes franceses como forma de treinamento e entretenimento de seus soldados. Em 1906, uma missão composta por 19 oficiais da gerdarmarie francesa introduziu a dança na Academia de Polícia Militar do Estado de São Paulo, com a finalidade de reforçar o condicionamento físico dos soldados brasileiros. Hoje em dia este bailado está extinto na França, contudo ainda é praticado no Brasil pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Deck Solarium. In http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=149568 36. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. In Jornal do Capoeira Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005, 0on linme. Diospon[ível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 37. RAMOS, Jayr Jordão. OS EXERCICIOS FISICOS NA HISTORIA E NA ARTE. Rio de Janeiro: IBRASA, 1983 o O General Jayr Jordão Ramos nasceu em 14 de julho de 1907, no Rio de Janeiro. Cursou a Escola Militar do Realengo, e foi declarado aspirante a oficial em 1930. Ao longo de toda a sua carreira militar dedicou-se às questões relacionadas à prática e ao ensino de Educação Física. Como aluno, recebeu Menção Honrosa na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx). É importante ressaltar que esta instituição balizava os rumos da Educação Física no Brasil à época. Em 1935, é nomeado instrutor da EsEFEx e começa a estabelecer contato com outras Escolas importantes internacionais, como a Escola Superior de Educação Física Joinville-Le-Pont, lá realizando cursos 38. FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História, Política e Bens Culturais. 39. O batuque é uma mistura de dança e luta, na qual os jogadores usam as pernas para desequilibrar o adversário. 40. SODRÉ, Muniz. Mestre Bimba: corpo de mandinga. 2002. Citado por FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História, Política e Bens Culturais. 41. SANTOS, Eduardo Alves (Mestre Fálcon) CAPOEIRA NACIONAL: A Luta por Liberdade IV IN Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 61 - de 19 a 25/Fev de 2006 Sorocaba-SP, disponível em http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.jornalexpress.com.br/gerencia/antigos/ver_i magem.php%3Fid_imagem%3D4273&imgrefurl=http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes .php%3Fid_jornal%3D13170%26id_noticia%3D848&usg=__Sn7kJPy_YwGNzGjlIVhtUcf6xro=&h =414&w=287&sz=60&hl=ptBR&start=6&tbnid=q52S4xUiYR9MQM:&tbnh=125&tbnw=87&prev=/images%3Fq%3Dcapoeira %2B%252B%2Bodc%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR


42. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm 43. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm 44. LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo. Literatura de Cordel, 2ª edição. Rio de Janeiro, 2005. 45. VASSALO, Simone Ponde. “Capoeiras e intelectuais: a construção coletiva da capoeira autêntica”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, 2003, v.2, n.32, p 106-124 46. DOU (Diário Oficial da União), de 21/12/1962, pg. 61. Seção 1., disponível em http://www.jusbrasil.com.br/diarios/3100574/dou-secao-1-21-12-1962-pg-61 , Publicado por AEC para Conexoes da Capoeira Desportiva el 8/03/2010 02:25:00 AM


CONGRESSOS DE HISTÓRIA & OUTROS EVENTOS CIENTÍFICOS


CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM)34 – A CARIOCA35 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CEM – “Liceu Maranhense”

RESUMO Buscando as origens da Capoeira no Maranhão, foi encontrada referência à ‘Carioca”, conforme consta sua proibição no Código de Posturas de Turiaçú, no ano de 1884. O que era a carioca? Palavras-Chave: Capoeira. Maranhão. História. Carioca. Buscando as origens da Capoeira no Maranhão36, encontrei referencia à prática da “carioca”. Fora proibida, em Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124). Em conversa com alguns Capoeiras, Mestre Mizinho informa que em uma de suas apresentações em Cururupu um senhor - já idoso e negro - disse que praticava aquela brincadeira, mas a conhecia como “carioca”, não como “capoeira”. Em aula da disciplina “História do Esporte no Maranhão” referi-me à capoeira e à carioca. Um dos alunos disse-me que o avô, ex-estivador no Portinho, dizia-lhe que já praticara muito aquelas ‘brincadeira’, mas era chamada pelos estivadores de “carioca”. 34

Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502). Ver também: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; RUBIERA CUERVO, E. Javier. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): algumas considerações. 35

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Apresentado no XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport, Rio de Janeiro, 2010 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629 http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=905 http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/a-carioca-inicio-estudo http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/category/capoeira/


A prática de Capoeira por estivadores é confirmada por Mestre Diniz, nascido em 1929, quando lembra que “na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira”. Também em Codó, entre os antigos, a capoeira é denominada de “carioca”. Desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Foi encontrada no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-de-Crioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens” 37 38 39 , , . Para Mestre Gil Velho40, ainda hoje muito se discute sobre as origens da capoeira, com as perspectivas do debate atreladas aos diversos discursos que vestem sua imagem moderna, a esportiva: “Parte-se de idéias construídas, e não de práticas sociais espontâneas. Assim, a capoeira carioca está historicamente imbricada às maltas de capoeiras da cidade e à “filosofia da malandragem carioca” dos anos 1800. A baiana, por sua vez, está ligada à cultura negra baiana e especificamente ao candomblé. No Recife, ela se manifesta nas gangues de Rua Brabos e Valentões. Esse autor considera que para a análise da essência da capoeira, tem-se que voltar no tempo e considerar o contexto da realidade sócio-cultural de espaços com registros identitários e territoriais dela, destacando-se dois loci: Rio de Janeiro e Recife. Estes dois centros urbanos eram, no século XIX, os maiores pontos de comunicação com o resto do mundo, onde mais circulava gente, idéias, comércio. As zonas portuárias permitiam a troca de idéias entre nichos sócio-culturais semelhantes. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira41, e em Recife, com as gangues de rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês)42 em Paris e das maltas de fadistas43 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos: Por outro lado, as perspectivas identitárias e territoriais próprias dão a cada movimento sua sócio-fronteira, com espaços personalizados dos atores em seus próprios contextos sócioculturais. A capoeira marca sua presença em grupos de sócio-fronteiras a partir de meados do século XIX, no Rio de Janeiro com as maltas e no Recife com as gangues. Nessas cidades, os grupos disputavam os espaços demarcados identitariamente e tinham suas próprias manifestação rítmicas.(CAVALCANTI, 2008)44 Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira (Carneiro, 1937, p. 161-165). O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola45.

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http://www.jornalexpress.com.br/ 38 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009, disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 39 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 40 Gil Cavalcanti, o Mestre Gil Velho, geógrafo, é coordenador do Projeto Memorial da Capoeira Pernambucana, do Programa Capoeira Viva, do Ministério da Cultura, 2008 41 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 42 O Savate ou boxe francês, é um desporto de combate, desenvolvido na França na qual os pés e as mãos são utilizados para percutir os adversários e combina elementos de boxe com técnicas de pontapé. Um praticante de savate é chamado savateur e uma praticante de savate é chamada savateuse. http://pt.wikipedia.org/wiki/Savate 43 SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf 44 CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica 45 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009


El Juego "Sisemba"- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA. Fonte: http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional

Para Lacé Lopes (2006) 46, a origem africana, entretanto, é evidente e incontestável. Comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares. O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc. – sem dúvida, é um bom exemplo. O mesmo raciocínio pode ser ajustado ao berimbau africano, instrumento musical que, no Brasil, acabou fortemente associado ao jogo da capoeira. Cada vez menos, mestres de capoeira e pesquisadores tendem a divergir quanto a esses aspectos. Da mesma forma que está surgindo um consenso sobre a utilização do nome “capoeira” para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo: berimbau, pandeiro, caxixi, reco-reco, agogô, atabaque), e a utilização do nome “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual, no máximo, batiam-se palmas e cantavam-se versos curtos (samba duro, pernada carioca etc.). Indícios de Capoeiragem47 no Maranhão Garcia de Abranches em “O Censor”, edição de 24 de janeiro de 1825, comenta o posicionamento político do Marquês governante – Lord Cockrane – e compara alguns portugueses com os desocupados do Rocio – em sua maioria caixeiros – que “pela sua péssima educação, muitos brancos da Europa são tão vis, e tão baixos, como esses mulatos que andam a espancar, a roubar e a matar, pelas ruas da Cidade…”. Estaria o Censor referindo-se aos capoeiras? Em 1829, registram-se certas atividades lúdicas dos negros, publicada no jornal “A Estrela do Norte” a seguinte reclamação de um morador da cidade: “Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d’elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?” 48 Fregolão (2008) 49 informa que na página 61 dos Códigos de Posturas da Câmara Municipal da cidade de Desterro [Florianópolis], de 10 de maio de 1845 no artigo 38 há a proibição dos ajuntamentos de escravos ou libertos para formarem batuques, sob pena de castigos conforme a lei para os cativos e para os libertos multa ou cadeia. O código de posturas da cidade de Salvador proibia "os batuques, danças e ajuntamentos em qualquer hora e lugar sob pena de prisão". A expressão "batuque", repleta de significados, podia representar diversas expressões culturais.

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LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 47 Venho me utilizando do termo “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, conforme definição de André Lacé Lopes, no Atlas do esporte no Brasil. In http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 48 ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite. 49 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa Internacional FICA el 8/18/2009 disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf


Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile. O naturalista alemão, George Wilhelm Freyreiss50 que faleceu no sul da Bahia, em uma viagem a Minas Gerais em 1814 -1815 em companhia do barão de Eschwege 51. Assistiu e registrou um batuque, e ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]: “Os dançadores formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola), move-se o dançador no centro, avança, e bate com a barriga na barriga de outro da roda (do outro sexo). No começo o compasso é lento, depois pouco a pouco aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada. Assim passam a noite inteira. Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta. Razão pela qual tinha muitos inimigos, principalmente os padres.” 52 Com o nome de "batuque" ou "batuque-boi" há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos): a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar à posição primitiva.

BATUQUE - Johann Moritz Rugendas (Augsburg, 29 de março de 1808 — Weilheim, 29 de maio de 1858) foi um pintor alemão que viajou por todo Brasil durante 1822-1825 e pintou povos e costumes. Date 1822-1825. Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa Internacional FICA

Augustus Earle “Negroes fighting. Brazils” (Nègres combattant. Brésils) aquarelle sur papier, 16.5x25.1 cm, date approximative 1821...1823

Catunda (1952)53 ressalta que na capoeira baiana [...] Não é como a capoeira carioca, na qual um dos comparsas se mantém imóvel, em atitude de defesa, enquanto só o outro ataca, dançando em volta do inimigo, assestando-lhe golpe sobre golpe. Em comentário de pé-de-página consta o seguinte: “A descrição da capoeira do Rio relembra a do batuque ou da pernada carioca por Edison Carneiro 1950 54, [...] Edison Carneiro descreveu a capoeira bahiana em Negros Bantus em 1938”.

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FREYREISS. Georg Wilhelm. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982. Ver também http://openlibrary.org/b/OL16308743M/Reisen_in_Brasilien_von_G._Wilhelm_Freyreiss. 51 PRINZ MAXIMILIAN VON WIED (1782-1867) - VOYAGE AU BRÉSIL, DANS LES ANNÉES 1815, 1816, ET 1817 Paris: A. Bertrand, 1821-1822 (http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional/Principal/Obras_raras.htm) 52 D´ÁVILA, Nícia Ribas. Fundamentos da Cultura Musical no Brasil e a Folkcomunicação. UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional São Bernardo do Campo - SP. Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo, disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf Ver também: CÂMARA CASCUDO, Luis da: Folclore do Brasil (pesquisas e notas). Rio de Janeiro, São Paulo, Fundo de Cultura, 1967 http://www.historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/cascudo/ccrdfolclorenobrasil.htm) 53 CATUNDA, Eunice, Capoeira no Terreiro de Mestre Waldemar, Fundamentos—Revista de Cultura Moderna, nº30, São Paulo, 1952, pp. 16–18. 54 CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro: O Autor, 1950


Câmara Cascudo55 informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o "rei da pernada carioca"; é o bate-coxa das Alagoas. O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada - nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... Na Rua dos Apicuns, local freqüentado por “bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público”, os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: “A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do ‘Eco do Norte” 56 contra a folgança dos negros que, dizia, ‘ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever… ’ (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís).” Dunshee de Abranches em "O Captiveiro"57, de 1941, livro de memórias escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, trata de registros de acontecimentos políticos e sociais do Maranhão (GASPAR, 1993)58. Numa de suas passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcadia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizesse, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de Abranches (1941) em suas memórias: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisdos athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos..." (p. 187-188). O "Club dos Mortos" envolveu-se, ainda, nas disputas entre caixeiros e estudantes por causa de duas artistas de um circo, instalado no Tívoli. Para enfrentar os empregados do comércio, na sua maioria homens feitos, os preparatorianos (estudantes do Liceo) reuniram-se no pátio do colégio para selecionar os melhores atletas para a defesa. Fundaram, assim, o Club Roncador, que guardavam suas armas na casa dos Abranches: ”... veio dahi uma grande amizade dos campeões dos murros e dos cambitos (synonimo de rasteira naquella época) pelo Club dos Mortos". (p. 190-191). (grifos meus). MARTINS (1989) 59, aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877: “JOGO DA CAPOEIRA “Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da Rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes”. ( p. 179)

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CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972 ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36. 57 DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, João. O CAPTIVEIRO (memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DUNSHEE DE ABRANCHES. Discurso de posse no Instituto Histórico e geográfico do Maranhão, em 03 de setembro de 2008. 58 GASPAR, Carlos. DUNSHEE DE ABRANCHES. São Luís : (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 59 MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: (s.n.), 56


E A “CARIOCA”? Soares (2005)60, em “Capoeira no Pará: resistência escrava e cultura popular, 1849-1890”, ao referir-se a acontecimentos na Corte, compara-o à situações vividas em Belém, no ano de 1849. Refere-se, mais adiante, a recente trabalho de Vicente Salles (A defesa pessoal do negro: a capoeira no Pará, 1994) 61 que revela a antiguidade da capoeira paraense, seu enraizamento, sua proximidade com a capoeira praticada no Rio de Janeiro e Bahia, e sua peculiaridade regional. Soares (2005) 62, se referindo a acontecidos nos anos de 1890, discorre: “Sintomático também em Belém, muito precocemente, também fosse palco da Carioca, como nos mostra ofício […] descreve uma patrulha na região de Ver-O-Peso: ‘estive em patrulha […] quando vimos alguns individuos pulando jogando carioca.” 63 Para Albuquerque64, o êxito da economia paraense atraiu para a região amazônica, entre 1890 e 1910, trabalhadores nordestinos e imigrantes europeus, principalmente portugueses. A interação entre esses trabalhadores levou à incorporação pela capoeira paraense de armas próprias às lutas portuguesas, assim como golpes e hábitos dos capoeiristas baianos, cearenses e pernambucanos. No Rio de Janeiro, essa convivência entre negros, imigrantes pobres e migrantes de diversas regiões do país nas ocupações braçais, principalmente na estiva, ampliou, ainda mais, os tipos sociais que praticavam capoeira. Entre os praticantes estavam portugueses, espanhóis e italianos que trabalhavam no porto, operários nordestinos, soldados, brasileiros brancos e pobres. Não eram apenas os negros que podiam ser facilmente identificados como capoeiras pelo andar gingado, as calças de boca larga e a argolinha de ouro na orelha, sinais de valentia. Soares (2005) considera que a repressão desencadeada em 1890, a criminalização no novo código penal da República, teria obrigando os praticantes a encontrar novas formas de dissimulação, para ocultar-se da atenção das autoridades. Nos últimos anos do século XIX, no Rio de Janeiro teria aparecido a chamada Pernada Carioca, que consistia de golpes da capoeira tradicional, como a rasteira, camuflados em nova roupagem. Miltinho Astronauta, ao referir-se à Pernada de Sorocaba65, na Capital Paulista, e à outra "espécie de capoeira", a Tiririca, comenta que, aparentemente, com a repressão de algumas manifestações (ai inclui-se a Capoeira, o Batuque e até mesmo a Religião Candomblé), o povo era obrigado a mascarar suas práticas, mudando formas de execução e nome de tais práticas. Refere-se ainda ao Folclorista Alceu Maynard Araújo (1967) que relata que foi encontrada capoeira no interior paulista entre o final do século XIX e início do século XX. Trata-se de levas de capoeiras soltas nas pontas dos trilhos da Sorocabana, que tinha como destino final a cidade de Botucatu. Na verdade eram capoeiras desterrados do Rio em consequência do Código Penal de 1890 66. Na Bahia, era o batuque o escalão inicial para a capoeira; no Rio de Janeiro, era e é a pernada, banda ou batuque a forma de ataque e defesa preferida pelo carioca; no Maranhão, a punga, associada ao tambor-decrioula, parece preencher a mesma função. Já no Recife, a capoeira, desaparecida em conseqüência de vigorosa reação policial, se transfigurou no passo.67

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SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160. 61 SALLES, Vicente. A DEFESA PESSOAL DO NEGRO: A CAPOEIRA NO PARÁ. Micro-edição do autor, 1964, citado por SOARES, 2005, op. Cit. 62 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160. 63 (AE. Secretaria de Segurança Pública. Autos-Crimes, 22/09/1892). 64 ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL, nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/19/2009, disponível em http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.pdf 65 CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Pernada de Sorocaba. In JORNAL DO CAPOEIRA, 29 de outubro de 2004, disponível em http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=3 66 MILTINHO ASTRONAUTA, CAPOEIREIRO Capoeira, Pernada & Tiririca na Terra da Garoa in http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=713 67 CARNEIRO, Edison in Folguedos Tradicionais disponível em http://www.capoeira-infos.org/ressources/textes/t_carneiro_capoeira.html


Soares (2005) 68 considera que a identificação da ‘capoeira’ como ‘carioca’, simplificação de ‘pernada carioca’ acontece pela dissimulação dos praticantes para fugir aos rigores da repressão do chefe de polícia Sampaio Ferraz, quando da criminalização da prática da capoeira, pelo Código de 1890. Gil Velho coloca que a capoeira do século XIX morre com o advento da República. Inimiga da capoeira, ela chega com uma proposta de reformas sociais e urbanas, criticando a organização e a expressão popular da sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à mestiçagem étnica e cultural. Sua proposta alternativa seria baseada no modelo cultural europeu republicano – e positivista - e qualquer coisa que estivesse fora desses princípios era desconsiderada: Essas mudanças alteraram os nichos e a geografia culturais da cidade. Espaços de expressões culturais foram perdidos, desarticulando a forma de organização urbana e quebrando a dinâmica interativa das comunidades que a compunham. Assim, com a alteração de elementos essenciais do contexto social da capoeira, o processo que a personalizava se alterou. Desaparecidas, as maltas são substituídas pela solitária figura do malandro. Malandro é um indivíduo e a malta, um grupo social. [...] “(CAVALCANTI, 2008) 69 Mas seis anos antes (1884) aparece sua proibição no Código de Posturas de Turiaçú - Lei 1342, de 17 de maio de 1884 -, e já identificada como “o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca”...

68 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160. 69 CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica


XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport Wednesday July 11, 2012 - 11:15 – 12:45 - 3 (Room 501) Sara Quenzer Matthiesen PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868 DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CEM ‘ LICEU MARANHENSE’ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO - IHGM Javier Rubiera Cuervo, presidente da “Agrupación Española de Capoeira Deportiva” e, também, da Federação Internacional de Capoeira (FICA www.capoeira-fica.org), é um dos mais profícuos e respeitáveis pesquisadores da atualidade. Os surpreendentes resultados de suas pesquisas capoeirísticas já estão inspirando e fundamentando um número crescente de estudos que, por causa dele, começam a ser feitos aqui no Brasil. Estou incluído nesse grupo. Tanto assim que, constantemente, ele, em Astúrias, eu, no Maranhão, através do correio eletrônico, trocamos informações e debatemos, desassombrada e respeitosamente, alguns mitos desse cada vez mais fascinante fenômeno sócio-cultural e esportivo chamado Capoeira. No ano passsado, 2009, Javier convidou-me (quase um desafio) para escrever uma série de artigos sobre a ancestralidade da Capoeira. O que passei a fazer, modestamente, com o propósito de mostrar a riqueza e o grande potencial dessa garimpagem histórica. Ao receber, recentemente, preciosa descoberta de Javier, garimpada nos “Annaes do Parlamento Brasileiro" (ver a seguir) percebi logo a importância de disponibilizar para os capoeiras pesquisadores o texto em questão. Entendendo que seria recomendável, além da transcrição, tecer alguns comentários a respeito, o que tratei de fazê-lo em parceria com o autor da proeza, Senhor Javier Rubiera Cuervo. É o que vem a seguir.


O TEXTO “ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO” da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima-quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-29570, referente à Sessão de 24 de julho de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro71 esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão. O Senador Pompeo referia-se a crimes horrendos acontecidos, afirmando não ser exclusividade de seu Estado, e que o mesmo, segundo noticias do Jornal do Comercio, acontecia também em outras Províncias, citando os acontecimentos do Maranhão e que a polícia não agia, estando a soldo das autoridades: “O fato acontecido em São Vicente de Ferrer 72 é realmente grave, foi uma batalha campal travada entre os diversos grupos que dividem a população daquela freguezia, acontecimento que todos lamentam. Não pretendo, Sr. Presidente, loucura culpa exclusivamente a este ou 70

http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA&sa=X&oi=book_result&ct=resul t&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false 71 Augusto Olímpio Gomes de Castro – nascido em 07/11/1836, em Alcântara - MA, era filho do Capitão Januário Daniel Gomes de Castro e Ana Francisca Alves de Castro; Falecimento: 31/1/1909. Histórico Acadêmico: fez o Secundário no Liceu do Maranhão; Direito - Faculdade de Direito; Cargos Públicos: Praticante da Tesouraria da Fazenda; Provedor da Casa da Misericórdia; Ministro da Marinha; Promotor Público (Alcântara); Exerceu as seguintes Profissões: Advogado; Magistrado; Jornalista. Mandatos: Deputado Provincial por dois mandatos: 1862 a 1863; 1876 a 1877; Deputado Geral por sete mandatos: 1867 a 1868; 1869 a 1872; 1872 a 1875; 1877 a 1877; 1882 a 1884; 1885 a 1885; 1886 a 1889; Presidente de Província - 1868 a 1869; 1870 a 1872; 1873 a 1875; Senador: 1894 a 1903; 1903 a 1909; Vice-governador - 1890 a 1890 72 São Vicente Ferrer é um município brasileiro do estado do Maranhão. Localiza-se a 280 quilômetros de São Luís, fica na região conhecida como Baixada Ocidental Maranhense. Foi freguesia pela Provisão Régia de 7 de setembro de 1805, e daí elevada a categoria de vila pela Lei Provincial no. 432, de 27 de agosto de 1856, e depois extinta pela Lei no. 625, de 27 de setembro de 1861, e, posteriormente restabelecida pela Lei Provincial no. 678, de 1º. De junho de 1864. Pela lei Provincial de 31 de maio de 1860 foi dividido em dois distritos, compreendendo o primeiro todo o território que pertencia ao terceiro distrito de São Bento dos Perizes, o qual era a cabeça deste novo distrito, e o segundo, toda a parte que pertencia à cidade de Viana, tendo por cabeça o lugar chamado Jabutituba. (CARDOSO, Manoel Frazão. O MARANHÃO POR DENTRO. São Luis: Lithograf, 2001, p. 528-530).


aquello grupo. No meu conceito o crime teve por origem a rudeza, a falta de cultura de seus autores, em um momento de exaltação política, em que a reflexão é impossível, em que os bons sentimentos se calam no homem ignorante e mal educado. Conheço quasi todos os individuos que figurm neste fato, e peço licença a Câmara para expôr-lhe em poucas palavraa o estado politico daquela freguezia. “Tres são os partidos que alí existem e pleiteram as eleicões de Setembro, o partido conservador 73, o liberal 74 e um terceiro, conhecido pela denominacão de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interese do momento. “Devo confessar que o chefe desto grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa indole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fóra de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectarios, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram-se por atos de inaudida violencia. “Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policía, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente proximo do Sr. senador Nunes Gonçalves75. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragedia que mais tarde se devia representar. A agresâo, como se ve, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas. “Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policía, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horaa da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. > “A confissão não podia ser mais completanem mais franca.A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a camara vai 73

O Partido Conservador foi um partido político brasileiro do Período Imperial, surgido por volta de 1836 e extinto com a Proclamação da República, em 1889. Foi evolução direta do Partido Restaurador, reunindo os antigos caramurus com a ala dissidente dos liberais moderados. Também se denominavam regressistas, em contraposição aos progressistas partidários do padre Feijó. O partido abarcava grandes proprietários rurais, ricos comerciantes e os altos funcionários do governo. A força política dos conservadores concentrava-se nas províncias do Nordeste. Entre suas realizações temos o restabelecimento do Conselho de Estado, a reforma do Código de Processo, e a Abolição da Escravatura (desde a supressão do tráfico de negros, sob a gestão de Eusébio de Queiroz, a Lei do Ventre Livre, de 1871, a Lei dos Sexagenários - preparada pelos liberais mas promulgada por um gabinete conservador - e finalmente a Lei Áurea, do conservador João Alfredo). O Partido Liberal diferia do Partido Conservador quanto ao método ou ao modo de lidar com a realidade social. Os conservadores apostavam num poder central forte, enquanto os liberais defendiam a autonomia das províncias e valorizavam a representação nacional (deputados eleitos). Embora a diferença de posição entre conservadores e liberais não fosse grande nem irreconciliável, ambos adotavam processos absolutamente iguais, usando da máquina administrativa de acordo com suas necessidades eleitoralistas. Em 1862, um grupo de eminentes membros do Partido Conservador - Nabuco, Sinimbu, Saraiva, Paranaguá e Zacarias formariam a "Liga Progressista", que a partir de 1868 se uniria ao Partido Liberal, gerando insatisfações dentro deste partido. Em 1870 os liberais "exaltados" do Partido Liberal lançaram o Partido Republicano. http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Conservador_(Brasil_Imp%C3%A9rio). 74 O Partido Liberal foi um partido político brasileiro do Período Imperial, surgido por volta de 1837 e extinto com a Proclamação da República, em 1889. Sua ideologia propunha a defesa dos interesses dos senhores rurais e das camadas médias urbanas sem compromissos diretos com a escravidão. Com base de apoio nas províncias do Centro-sul do país, pode ser considerado como um partido à esquerda de seu grande rival, o Partido Conservador, que tinha como bandeira a manutenção da dominação política das elites escravocratas rurais. Já em fins de 1860, o Partido Liberal deu lugar ao Partido Progressista, cujo fundador principal foi Joaquim Nabuco. O Partido Progressista, porém, logo teve nova cisão, mantendo-se nele os liberais moderados, ao passo que os liberais radicais uniram-se aos republicanos e um pequeno grupo mais conservador fundou o novo Partido Liberal, em 1870. http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Liberal_(Brasil_Imp%C3%A9rio). Antônio Marcelino Nunes Gonçalves, o Visconde de São Luis do Maranhão, (Itapecuru Mirim, 6 de abril de 1823 — 31 de maio de 1899) foi um juiz, promotor e político brasileiro. Filho do comendador Joaquim José Gonçalves e Isabel Marcelina Nunes Belfort. Visconde com grandeza por decreto de 13 de junho de 1888; comendador das imperiais Ordens de Cristo e da Rosa. Foi presidente das províncias do Rio Grande do Norte, de 18 de junho de 1858 a 4 de outubro de 1859, do Ceará, de ? de ? a 9 de abril de 1861, e de Pernambuco, de ? de 1861 a 20 de março de 1862. Foi deputado à Assembléia Geral pelo Maranhão na 12ª legislatura (1864-1866), bacharel em direito; senador pela província do Maranhão (1865), conselheiro de estado em 1889 e desembargador aposentado. 75


ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré76, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouvou um movimento de confusão,e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto,onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja;e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo “[...]Vê a camara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos. “E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...)”(grifos nossos) Passa a relatar os acontecimentos de Guimarães. Não há envolvimento de ‘capoeiros’... Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interese do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Para SOARES (2005) 77, nas décadas seguintes a capoeira alcançou novo patamar na luta política, participando das rusgas eleitorais que dividiam liberais e conservadores. Essa presença político-partidária foi fruto do prestígio conquistado pelos capoeiras durante a Guerra do Paraguai. Voltando ao Brasil, foram convocados pelas elites políticas para participar das truculentas demandas eleitorais da época. No vizinho Pará, SALLES (2005) 78 informa que nas rusgas políticas que dividiam partidários de Antonio Lemos e Lauro Sodré, nos alvores do século, capoeiras tiveram papel privilegiado: “a capoeiragem só desapareceu de Belém quando atenuaram as lutas partidárias e, com a expulsão de Antonio Lemos liquidou-se a oligarquia que durante muitos anos dirigiu os destinos políticos do Pará; quando os bois, finalmente, foram proibidos de circular pela cidade [...] A partir da década de 50 do século XIX se ampliam os espaços das diversas maltas para atividade secundária e terciária, e com ele a ‘viração’, com a formação de um de um mercado onde se ofereciam e compravam ‘experiências’, assim como já ocorria com o jogo da força de trabalho. Essas experiências adquiridas no cotidiano da viração e da vadiagem ganharam um valor de troca. Assim, as habilidades da capoeiragem passaram a ser compradas pelo jogo político partidário 79. A capoeira a serviço de liberais e conservadores foi um eficiente instrumento de pressão no processo eleitoral 80. Por vezes os poderes se misturavam como vemos neste comentário de cronista da Revista Ilustrada, 1878, n.º 124: "Acabaram-se as eleições, e a esta hora jazem a um canto o sabre do urbano e o cacete do capoeira, os dois reguladores da soberania nacional." 8. Devemos lembrar que em 1868 houve uma grande crise política, com a queda do gabinete liberal de 3 de agosto, comandado por Zacarias de Góis e Vasconcelos, e com a conseqüente ascensão dos conservadores. D. Pedro II sacrificou definitivamente a credibilidade do regime político que, árdua e tenazmente, havia sido construído ao longo de todo o seu reinado por duas gerações de estadistas brilhantes. Naquele momento, com aquela substituição do gabinete, começa a crescer a onda que vai derrubar a instituição monárquica81. Voltando ao episódio, há que se destacar a identificação de um capoeiro: Marcolino Antonio da Silva, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca... Antônio Pedro da Costa Ferreira, primeiro e único barão de Pindaré, (Alcântara, 26 de dezembro de 1778 — 18 de julho de 1860) foi um advogado e político brasileiro. Foi deputado provincial, presidente de província e senador do Império do Brasil de 1837 a 1860. Nasceu em Alcântara, a 26 de dezembro de 1778, filho do Tenente-Coronel Ascenço José da Costa ferreira e Maria Teresa Ribeiro da Costa Ferreira. Primeiras letras em São Luis, seguindo para Portugal, cursando o Seminário de Coimbra, Colégio das Artes, onde cursou Humanidades, formando-se em Cânones em 2 de junho de 1803. Em 1804 está de volta à Alcântara. Faleceu em 18 de julho de 1860 77 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160. 78 SALLES, Vicente. A DEFESA PESSOAL DO NEGRO: A CAPOEIRA NO PARÁ. Micro-edição do autor, 1964, citado por SOARES, 2005, op. Cit. 79 CAVALCANTI, Gil (Mestre Gil Velho). As Maltas de capoeira carioca. PROJETO MEMORIAL DA CAPOEIRA PERNAMBUCANA, do Programa Capoeira Viva do Ministério da Cultura, 2008. on line http://www.memocapoeirapernambucana.com.br/untitled5.html 80 DIAS, Luiz Sérgio. QUEM TEM MEDO DA CAPOEIRA? 1890-1904. Dissertação de Mestrado; Rio de Janeiro; UFRJ; 1993 81 MENCK, José Theodoro Mascarenhas. A Crise Política de 1868 e a Gênese do Manifesto Republicano de 1870. in CADERNOS ASLEGIS, maio/agosto, 2009 76


XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport Wednesday July 11, 2012 - 11:15 – 12:45 - 3 (Room 501) Sara Quenzer Matthiesen CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): O “CHAUSSON/SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Prezado Leopoldo: Já insisti em varias ocasiões nesta cita seguinte que pode ter relação com a de mais abaixo do colégio da Imaculada Conceição. Todos os Capoeiras conhecidos que estudaram no Colégio Pedro II do Rio, eles praticaram sua capoeira (Savate) e nestas datas destas citas pode ter a competição de capoeira de 1877 como uma do SAVATE. Se consegue se orientar e procurar a fonte primaria disto e "chave" pela história da Capoeira desportiva. E. JAVIER RUBIERA CUERVO - Presidente General de FICA/Espanha82 RESUMO Em uma série de artigos em que se busca a ancestralidade da Capoeira, comprovada africana não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África de práticas similares, como o Moringue, no Oceano Índico - nas Ilhas de São Lourenço (Madagascar), Reuniões e em Moçambique. Assim como encontramos uma influencia europeia, configurada através da Chausson/Savate, praticado por marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos 'leões marinhos' em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Houve intenso tráfico entre os portos brasileiros - Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luis e Belém - e Marselha. Palavras-chave: Capoeira. História. Chausson. Savate. Recebi nova correspondência do Javier Rubiera, atual presidente da Federação Internacional de Capoeira. Faz algumas citações de trabalhos meus, sobre a Capoeira do Maranhão: MARTINS (1989) 83 aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. Considera que tenha sido praticada antes, trazida pelos escravos bandu-angoleses. Fugitivos, os negros a utilizavam como meio de defesa, exercitando-se na prática da capoeira para apurarem a forma física, ganhando agilidade: "JOGO DA CAPOEIRA: "Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes". (p. 179). Outra citação é a que se refere à criação de um novo colégio em São Luis: 82

Correspondência eletrônica pessoal, enviada por FICA-Espanha- [capoeira.espanha@gmail.com] sáb 12/6/2010 13:16 para Leopoldo Gil Dulcio Vaz [leopoldovaz@elo.com.br] assunto: A Galhina dos ovos de ouro (Muito Importante). 83 MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: (s.n.), 1989.


1869 - é anunciada a criação de um novo colégio - o Collégio da Imaculada Conceição -, sendo seus diretores os Padres Theodoro Antonio Pereira de Castro; Raymundo Alves de France; e Raymundo Purificação dos Santos Lemos. Internato para alunos de menor idade seria aberto em 07 de janeiro de 1870. Do anúncio constava o programa do colégio, condições de admissão dos alunos, o enxoval necessário, e era apresentado o Plano de Estudos tanto do 1º grau como do 2º grau, da instrução primária; o da instrução secundária; e da instrução religiosa. No que se referia às Bellas Artes – desenho, música vocal e instrumental, gymnástica, etc., mediante ajustes particulares com os senhores encarregados dos alunos. O novo colégio situava-se na Quinta da Olinda, no Caminho Grande, fora do centro da cidade, e possuía água corrente, tanque para banhos, árvores frutíferas, jardim, bosque e lugar de recreação. (A ACTUALIDADE n. 28, 28 de dezembro de 1869). Pergunta, então: “Será a mesma fonte?”. Não, são fontes diferentes, embora tenham aparecido em jornais publicados em São Luís no período estudado. Encontrei a referencia no “Diário do Maranhão”, edição de 10 de janeiro de 1877. Javier levanta duas questões: a semelhança dos golpes da capoeira com a savate; as referencias que se faz aos praticantes da capoeira em colégios de elite carioca, dentro das aulas de “gymnástica”; o uso de métodos ginásticos no Brasil, da escola francesa, em especial a de Amóros. Indícios de ‘gymnástica’ no Maranhão Os sistemas ginásticos começam a aparecer a partir da segunda metade do século XVIII. São eles: “[...] a ginástica alemã, imbuída de propósitos nacionalistas e destinada ao adestramento físico, alicerçada na fundação do Philantropinum84 por Basedow (1723-1790); a nórdica, sistematizada por Ling (1478-1839) que deu à mesma sentido formativo e higiênico, criando um sistema de quatro divisões para a realização das atividades: pedagógica, médica, estética e militar; a ginástica inglesa, baseada nos esporte e nos jogos, sendo a única a não possuir uma orientação ginástica, e a francesa. Amorós (1770-1848) fundamentou a ginástica francesa nos conhecimentos da natureza humana e na análise do movimento. Seu método privilegiava o desenvolvimento das qualidades físicas e aperfeiçoamento das qualidades morais. Desses sistemas, surgiram, na Europa, três movimentos doutrinários: o movimento germânico (ginástica alemã), o sueco (ginástica sueca) e o francês (ginástica francesa).(AGUIAR e FROTA, on line) 85 Grifos nossos). Em 1841 aparece o registro da palavra “ginástica” em São Luís do Maranhão, conforme anúncio no “JORNAL MARANHENSE” 86 sob o título de: “THEATRO PUBLICO “Prepara-se para Domingo, 21 do corrente huma representação de Gimnástica que será executada por Mr. Valli Hércules Francez, mestre da mesma arte de escola do Coronel Amoroz em Paris; e primeiro modelo da academia Imperial de Bellas Artes do Rio de Janeiro, que terá a honra de apresentar se pela primeira vez diante d’este Ilustrado público, a quem também dirige agradar como já tem feito nos principais Theatros de Europa, e deste Império. “Mr. Valli há contractado o Theatro União, para dar sua função, junto com Mr. Henrique, e tem preparado para este dia um espetáculo extraordinário que será composto pela seguinte maneira: -

Exercícios de forças, Agilidade e posições Acadêmicas

84

O Philantropinum foi fundado em 1774 por J. B. Basedow, professor das escolas nobres da Dinamarca. O Philantropinum foi a primeira escola dos tempos modernos a ter um cunho fundamente democrático, pois, seus alunos provinham indiferentemente, de todas as camadas sociais. Foi também, a primeira escola a incluir a ginástica no curriculum, no mesmo plano das matérias chamadas teóricas ou intelectuais. As atividades intelectuais ficavam lado a lado às atividades físicas, como equitação, lutas, corridas e esgrima. Na Fundação Philantropinum havia cinco horas de matérias teóricas, duas horas de trabalhos manuais, e três de recreação, incluindo a esgrima, equitação, as lutas, a caça, a pesca, excursões e danças. A concepção Basedowiana contribuía para a execução de atividades a fim de preparação física e mental para as classes escolares maiores. 85 AGUIAR, Olivette Rufino Borges Prado Aguiar; FROTA, Paulo Rômulo de Oliveira Frota. EDUCAÇÃO FÍSICA EM QUESTÃO: RESGATE HISTÓRICO E EVOLUÇÃO CONCEITUAL. On line, disponível em http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/iiencontro/GT-1/GT-01-05.htm 86

JORNAL MARANHENSE,, São Luís, n. 36, 12 de novembro de1841


- Exercícios no ar e muitas abelidades sobre colunnas assim como admiraveis sortes nas cordas “Nos intervalos de Mr. Valli, se apresentará Mr. Henrique, para executar alguns exercícios de fizica, em quanto Mr. Valli descansa.”(Grifos nossos). O método francês de ginástica, idealizado por Amoros (1770-1848), constituía-se de 17 itens, e incluía exercícios elementares ou movimentos graduados em diferentes ritmos, visando à resistência à fadiga e um direcionamento moral para o método. Esses exercícios seriam o andar e o correr sobre terrenos fáceis ou difíceis; o saltar em profundidade, extensão e altura, com ou sem ajuda de materiais; a arte de equilibrar-se em traves fixas, o transpor barreiras; o lutar de várias maneiras; o subir com auxilio de corda com nós ou lisa, fixa ou móvel; a suspensão pelos braços; a esgrima e vários outros procedimentos aplicáveis “a um grande número de situações de guerra ou de interesse público”87.

Método Amorós (Savate) Nova chamada é publicada em 16 de novembro daquele ano de 1841 88, sob o mesmo título, em que eram anunciadas as novas atrações do programa a ser apresentado: “Theatro Publico “Domingo 21 do corrente 1841, 1ª apresentação gimnastica dirigida por Mr. Valli, Herculez Francez, que tem a distinta honra de apresentar-se diante deste ilustre publico para executar seis noites de divertimentos: 1ª noite – exercícios gimnasticos, malabares, fizica 2ª dita – grande roda gyratoria 3ª dita – jogos hydraulicos como existem em Europa 4

dita – a grande luta dos dois gladiadores”. (Grifos nossos).

Outra ocorrência que solicita nossa atenção refere-se à presença de 31 (trinta e um) nomes de brasileiros identificados pela origem de nascimento nos arquivos de Schnepfenthal89, e como tais incluídos no corpo discente daquela instituição nas primeiras décadas do século XIX90: -

Emanuel Bernhard; Louis Stockmeyer; Christiano Stockmeyer Guillermo Frohlich Tito de Sá; Julio de Sá José Antonio Moreira; Joaquim Moreira; João Antonio Moreira Francisco Pereira; Manuel Moreira; Antonio Moreira

SOARES, Carmen Lúcia. Imagens da Educação no Corpo – estudo a partir da Ginástica Francesa no século XIX. Tese (Doutorado em Educação) – Unicamp, Campinas, 1996. SOARES, Carmen Lúcia. Raízes Européias e Brasil. Campinas, Autores Associados, 2001. 2a edição revista 88 JORNAL MARANHENSE,, São Luís, n. 37, 16 de novembro de1841 89 Schnepfental Educational Institute, criado por Salimann, um ex-professor do Philantropinum, instituição que atravessaria séculos e seria a herdeira dos sistemas que celebrizaram Basedow. 90 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A FAMÍLIA LaROCQUE, DO MARANHÃO: QUESTÃO DE PESQUISA. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luis, Volume 06, Número 01, jan/jun/2003 (Disponibilizado em dezembro de 2006), on line www.cwfwt-ma.br/revista . 87


-

Adolfo Klingelhoefer; Eduard Klingelhoefer Constancio Pinto; Alberto Pinot Johan Reidner; Franz Reidner Jean de La Roque; Auguste de La Roque; Henri de La Roque; Guilherme de La Roque; Louis de La Roque; Carlos de La Roque Paul Tesdorpf; Ludwig Tesdorpf Cuno Mathies Waldemar Krug; Eberhard Krug James Otto.

Os LaRocque - importante família estabelecida no Pará -, procedem de dois irmãos: I - HENRIQUE de LaROCQUE (c. 1821 – Porto ?), que deixou geração do seu casamento, em 1848 – Pará -, com Matilde Isabel da Costa ( ? – 1919); e II – LUIZ de LaROCQUE (c. 1827 – Porto ?), que deixou geração de seu casamento, em 1854 (Pará) com sua cunhada Emília Ludmila da Costa. Ambos, filhos de JOÃO LUIZ de LaROCQUE (c. 1800 – a. 1854) e de Rosa Albertina de Melo. Entre os membros dessa família registra-se o senador maranhense Henrique de LaRocque Almeida91. No Dicionário das Famílias Brasileiras é dada como sobrenome de origem escocesa, o que é contestado por Henrique Artur de Sousa, genealogista estabelecido em Brasília, que está escrevendo um livro sobre o Senador LaRocque 92 , família estabelecida no Brasil de origem portuguesa, da cidade do Porto. O falecimento de dois membros dessa família – os irmãos Henrique e Luís, filhos de João Luís de LaRocque e sua mulher Rosa Albertina de Melo – se dão na cidade do Porto, no século XIX... (vide Dicionário...). Informa-nos Henrique Artur de Sousa que alguns LaRocque se estabeleceram no Maranhão, a partir de 1832. Se encontrou documentos no Arquivo Público do Estado do Maranhão “firmados de próprio punho” de três membros da família LaRocque, quando de sua chegada, “de que haviam estudado na Alemanha”, numa cidade chamada Schnepfenthal ! Filhos de Jean Francoise de LaRocque: -

Carolina – depois Baronesa de Santos; Henrique de La Rocque; Guilherme de LaRocque; João Luís de LaRocque; Luís de LaRocque; Rosa; Amélia; Antônio de LaRocque.

Deixemos no ar os conhecimentos adquiridos pelos LaRocque... Voltemos aos questionamentos de Javier. Chamamos a atenção para o item quatro do programa do quarto dia: “a grande luta dos dois gladiadores”, seguindo o Método de Amóros. (Grifos nossos). A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira 93, e em Recife, com as gangues de Rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês) 94 em Paris e das maltas de fadistas95 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos.

91

in DICIONÁRIO DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS, vol. II, BARATA, Carlos Eduardo de Almeida; CUNHA BUENO, Antônio Henrique da. Arquivos da Biblioteca Pública “Benedito Leite”. Informação encontrada no Arquivo Público, sobre a existência desse pesquisador; viria publicar, posteriormente, ENTRELAÇOS DE FAMÍLIA. Brasília, 2003. Meu exemplar é o de número 288. 93 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 94 On line http://pt.wikipedia.org/wiki/Savate 95 SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf 92


http://cap-dep.blogspot.com/search/label/1890-BRASIL-Capoeiragem%20prohibido O ‘savate’ surgiu na França, praticado por alguns marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos “leões marinhos”, em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Posteriormente, em cada rixa da barra em portos franceses era comum ver chutes infligidos em qualquer parte do corpo. Os marinheiros chamavam "Chausson" este tipo de combate, em referência à chinelos normalmente usados a bordo. Marinheiros gauleses e espanhóis eram instruídos com estas formas de ataques e defesas. Na época de Napoleão Bonaparte, os soldados do imperador exibiam publicamente suas "aptidões" chutando a bunda de seus prisioneiros. A punição era conhecida como “Savate”, que pode ser traduzido como "sapato velho".96

O Savate ou boxe francês, é um desporte de combate na qual os pés e as mãos são utilizados para percutir os adversários e combina elementos de boxe com técnicas de pontapé. O “Box Savat” é uma luta corpo a corpo que também era uma forma de treinar os soldados franceses nos tempos das guerras napoleônicas, sendo o vigor físico a principal qualidade exigida do soldado. Assemelha-se a um Kata de luta marcial, o qual é composto de golpes de pernas, pés e punhos.

Zaqui, João, " Jiu-jitsu (attaque e defensa) contendo os requlamaentos japonés e brasileiro ", Sao Paulo, Brazil, Companhia Brasil Editora, 1936, Publicado por Javier Rubiera para Influências Asiáticas no Brasil el 3/01/2010 96

On line http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/pelea-de-marinos-savate.html


Negroes fighting, Brazil”” c. 1824. Autor Augustus Earle (1793-1838) - Painting by Augustus Earle depicting an illegal capoeira-like game in Rio de Janeiro (1824)Fonte English Wikipedia, original: http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=NW0171&r ecordCount=2&theRecord=0

FOTO:http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/05/juegode-imagenes-mujeres.html

Diamanga malgache journal: 1936/01/29 (A3,N144). formato original: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k54276490.r=diamanga.langES

Gravura de um belo “furdunço” entre capoeiras ocorrido no Rio de Janeiro, no final do século XVIII, publicada em uma revista da época.. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

foto:Le moring connaît aujourd’hui une reconnaissance internationale. Ici lors de la Fête de la liberté 2008 à Aix-en-Provence disponible em http://sala-prensainternacional-fica.blogspot.com/search/label/Moring-Capoeira

O "Chausson" era do sul da França e usava somente os pés; já no Norte, usava-se a combinação de pés e mãos abertas - "savate”. Enquanto os homens se reúnem em um duelo de tiro com espadas ou bastões, as classes mais populares lutavam com os pés e batendo com os punhos, de modo que o Savate, esgrima, pés e


punhos, tornaram-se a prática de "Thugs" no momento, para citar apenas Vidocq97, Chefe simbólico do fim do século XVIII.

O contato com essas formas de luta se dá, também, com a interação entre marinheiros, nas constantes viagens entre os dois lados do Atlântico, pois navios da marinha francesa entre 1820 e 1833 foram de Brest (cidade natal de Savate) para Portos do Brasil (Capoeira), Martinica (Ladja) e Bourbon (Moringa):

Fonte: Tratado de hygiene naval, ou, Da influencia das condições physicas e moraes ... Por J. B. Fonssagrives, on line http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1820-1833-BREST%28Cuna%20del%20SAVATE%29Navios%20de%20la%20Armada%20frecuentando%20BRASIL%28Capoeira%29%20-MARTINICA%28Ladja%29%20Y%20BOURBON%28Moringue%29

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Eugène François Vidocq (23 de julho de 1775 - 11 maio de 1857) foi um criminalista francês cuja história de vida inspirou vários escritores, incluindo Victor Hugo e Honoré de Balzac. Um ex-bandido que posteriormente se tornou o fundador e primeiro diretor do combate ao crime Sûreté Nationale bem como a cabeça do primeiro conhecido agência privada de detectives, Ele é hoje considerado pelos historiadores como o pai da moderna criminologia e da polícia francesa. Ele também é considerado como o primeiro detective privado. Na prisão de Bicêtre Vidocq era de esperar vários meses para a transferência para o Bagne em Brest ao trabalho no cozinhas. Um companheiro preso lhe ensinou a arte marcial savate que mais tarde foi muitas vezes útil para ele. No final de 1811 Vidocq informalmente organizado uma unidade à paisana, o Brigada de la Sûreté (Brigada de Segurança). O departamento de polícia reconheceu o valor dos agentes civis, e em outubro de 1812 o experimento foi oficialmente convertido em uma unidade da polícia de segurança sob a égide da Delegacia de Polícia. Vidocq foi apontado como seu líder. Em 17 de dezembro de 1813 Napoleão Bonaparte assinou um decreto, que fez a brigada de um estado policial de segurança. On line http://en.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A8ne_Fran%C3%A7ois_Vidocq


Fonte: LIBRO:Souvenirs d'un aveugle Escrito por François Arago, Jules Janin Edición: 4 - 1868 - http://books.google.com/books?id=5hGQKQrB8QC&hl=es&source=gbs_navlinks_s, on line:Ç http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1840-RIOSavate%20y%20Bast%C3%B3n%20en%20Rio%20de%20Janeiro

De luta de rua passa a esporte regulamentado quando o médico Michel Casseux, em 1825 abriu o primeiro centro de treinamento para o ensino e a prática regulamentada dessas habilidades. Ele tentou criar um sistema de combate menos desajeitado, enfatizando o “roundhouse kick”, laterais e frente ao joelho, canela e peito do pé. Em 1832, Charles Lecour combinou as técnicas do boxe clássico Inglês com os princípios formulados por Casseux. Esta mistura foi chamada de "savate” - boxe francês - e atraiu tanto a elite da sociedade como os jovens, o que beneficiou o esporte como a aptidão muscular e autodefesa. Em 1850, a primeira luta de boxe francês com as regras estabelecidas por Casseux, para diferenciá-lo de uma rixa da rua. Louis Vignezon foi o primeiro campeão de Savate ao derrotar seu adversário com a batida de apenas quatro chutes.

Credit: Boxing Lesson by Charles Charlemont (1862-1942), 1906 (b/w photo), French Photographer, (20th century) / Bibliotheque des Arts Decoratifs, Paris, France / Archives Charmet / The Bridgeman Art Library


fuente: DEPORTES DE COMBATE - BOXEO FRANCES Y ESGRIMA DE PALO, BADENAS, MADRID 1934 - Título Deportes de combate: boxeo inglés, boxeo francés, lucha grecorromana, lucha libre, esgrima de palo, jiu-jitsu, kuatsu ; Autor José Bádenas Padilla; Editor s.n., 1934, on line http://eu-bras.blogspot.com/

Em 1852, a Academia Militar Ecole De Joinville incluiu o Savate no treinamento de recrutas. Em seguida, essas mesmas regras foram estendidas para outras partes do Velho Continente, África, Canadá e Estados Unidos.

O Box Savat também foi introduzido em nossa Escola pela missão militar francesa98 tanto no Colégio Pedro II99 no Rio e no exército e da polícia francesa através de diversas missões ao Brasil e em 1885 uma missão brasileira viajou para Paris para obter informações sobre o Sistema policial francês (Savate Vidocq) 100: A referência a aparelhos e peças próprias aos exercícios gymnasticos faz pensar que Pedro Guilherme Meyer tenha desenvolvido um trabalho diferenciado daquele que até então acontecera no CPII que, de um modo geral, esteve centralizado no conteúdo da esgrima. Neste sentido, é esclarecedor o relatório do Inspetor Geral da Instrução Pública do Município da Corte, enviado ao Ministro do Império em 1859: apraz-me declarar a V. Exa. que durante o anno passado começou a funccionar com a possível regularidade o gymnasio do internato. Com pequena despeza se acha provido de um portico regular com varios apparelhos supplementares 98

http://www.policiamilitar.sp.gov.br/noticias.asp?TxtHidden=144 on line http://sala-prensa-internacional-fica.blogspot.com/search/label/1906Mission%20Francesa%20para%20en%20Brasil%20para%20formaci%C3%B3n%20de%20la%20Fuerza%20P%C3%BAblica 99 O Imperial Collegio de Pedro Segundo (CPII) foi fundado no Rio de Janeiro em 1837. O principal objetivo do governo brasileiro ao organizar o CPII foi oferecer aos filhos da boa sociedade imperial (Mattos, 1999) uma formação secundária abrangente e distintiva, própria à elite da época. A distinção pode ser avaliada pelo título conferido aos alunos que finalizavam o curso de estudos do Colégio, o de Bacharel em Letras, cuja posse garantia lugar em qualquer uma das Academias Superiores brasileiras. CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008; CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html 100 Para saber mais sobre Vidocq e a criação do Savate, ver http://www.arras-online.com/celeb_vidocq.php


que permittem a maior parte dos exercícios da gymnastica pratica de Napoleon Laisné, ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Meyer. (MINISTÉRIO DO IMPÉRIO, 1858, p.18). De acordo com o Inspetor, Pedro Meyer teria ministrado lições de exercícios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné. Este era discípulo do Coronel Francisco Amorós y Ondeano, a principal figura Organização e cotidiano escolar da Gymnastica (CUNHA JUNIOR, 2004, 2008) 101 Em 1928, a Missão Militar Francesa passou a contar entre seus integrantes com um oficial encarregado exclusivamente de dirigir a instrução de educação física. Escolhido entre os instrutores da escola de Joinville, o major Pierre Ségur ficou encarregado de ministrar educação física na Escola Militar do Realengo. O relatório do chefe da Missão Militar Francesa referente ao ano de 1928, ao comentar a situação da educação física nas escolas do Exército (Militar, de Sargentos, de Cavalaria e de Aviação), informava que, apesar de nelas ser desenvolvido um trabalho intenso e de muito boa vontade, faltavam os meios práticos e a aplicação de um método firme referência óbvia ao Método Francês102. Também na Escola de Educação Física da Polícia Militar de São Paulo, criada em 1910, o Savat é introduzido:

Pg. II. Executivo - Caderno 1. DOSP de 25/02/2010 http://www.jusbrasil.com.br/diarios/5135262/dosp-executivo-caderno-1-25-02-2010-pgii/pdfView#xml=http://www.jusbrasil.com.br/highlight/5135262/missao%20francesa – Publicado por AEC para Influencias Européias no Brasil 103

Para COSTA (2007) , no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, européia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo

CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 102 VIEIRA, Luis Renato. Educação e autoritarismo no Estado Nobo. In EDUC E FILOS. Uberlândia, 6 (12): 83-94, jan./dez. 1992, disponível em http://capoeira-utilitaria-capoeiragem.blogspot.com/2010/03/1921-adop-metodo-ed-fisica-ejercito-br.html 103 COSTA, Neuber Leite Capoeira, trabalho e educação. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007. 101


da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48) 104; José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968)105 ; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73)106; Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14)107. Todos eram capoeiristas. Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-Capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio.108 Outro professor, Pedro Meyer, para além da esgrima, desenvolveu um trabalho mais abrangente no CPII: Nesse sentido, é esclarecedor o relatório apresentado pelo inspetor geral da Instrução Pública do Município da Corte em 1859: Durante o anno passado começou a funccionar com a possivel regularidade o gymnasio do internato. Com pequena despeza se acha provido de um portico regular com varios apparelhos supplementares que permittem a maior parte dos exercicios da gymnastica pratica de Napoleon Laisné ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Meyer 17. De acordo com o inspetor, Pedro Meyer teria ministrado lições de exercicios gymnasticos inspiradas na ginástica do francês Napoleon Laisné, discípulo do coronel Francisco Amoros y Ondeano, a principal figura da ginástica francesa, falecido em 1848. Laisné tornou-se um dos principais continuadores da obra de Amoros, desenvolvendo seu trabalho na Escola de Joinvillele-Point, local para o qual Foi transferido em 1852, o principal ginásio antes dirigido pelo Coronel Amoros (Baquet, 199-). Segundo Carmen Lúcia Soares (1998), no método organizado por Amoros destacavam-se os exercícios da marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, bem como a natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, tais como as barras fixas e móveis, as paralelas, as escadas, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio. No CPII, atividades desse tipo foram implementadas por Pedro Meyer, mestre que introduziu na instituição os exercicios gymnasticos em aparelhos.109 Um aluno, reconhecido como capoeira, foi José Basson de Miranda Osório, nasceu em Parnaíba a 17 de novembro de 1836, faleceu a 17 de abril de 1903, na Estação de Matias Barbosa, Estado de Minas Gerais. Cursou humanidades no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, seguindo para São Paulo e ingressando na Faculdade de Direito. Filho do Coronel José Francisco de Miranda Ozório, um dos chefes emancipacionista do Piauí no movimento parnaibano de 19 de outubro de 1822, Comandante das forças legalistas na guerra dos Balaios e um dos raros monarquistas brasileiros a resistir ao golpe republicano de 1889. Ocupou dentre outros, os seguintes cargos: Inspetor, Tesoureiro da Alfândega, Promotor e Prefeito de Parnaíba, Deputado Provincial e Vice-Presidente da Província do Piauí por longos anos, Presidente da Província da Paraíba, Inspetor da Alfândega do Pará e do Ceará, Chefe de Polícia da Capital do Império. (PASSOS, 1982) 110:

104

NESTOR Capoeira: Pequeno Manual do Jogador. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. 106 PIRES, Antonio Liberac A. Capoeira na Bahia de Todos os Santos: estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 107 CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (Cadernos de Folclore). 108 Guilherme de Taube, como a maioria dos mestres de gymnastica que passariam pelo CPII ao longo dos oitocentos, era um ex-oficial do Exército. Sua experiência com os exercícios ginásticos no meio militar serviu como um atestado de sua aptidão para o emprego no Colégio. Durante todo o período imperial não haveria concurso para esse cargo, sendo os profissionais contratados diretamente pelo Reitor ou pelo Ministro do Império, de acordo com a necessidade da instituição. A gymnastica era considerada uma atividade eminentemente prática. Ao contrário dos responsáveis pelas outras cadeiras oferecidas pelo CPII, os pretendentes ao cargo de mestre de gymnastica não eram avaliados por seu conhecimento teórico, mas por sua perícia e experiência de trabalho com esta arte no meio militar ou nas instituições escolares civis. [...] (CUNHA JR, C F F. Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” - uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004) on line, disponível em http://eubras.blogspot.com/search/label/1841-Gymnasia%20militar%20en%20el%20Colegio%20Pedro%20II 109 CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 110 PASSOS, Caio. Cada rua sua história. Parnaíba: [s.n.], 1982. citado por , SILVA, Rozenilda Maria de Castro COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO PIAUÍ E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO DA CIDADE DE PARNAÍBA. on line, http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ivencontro/GT10/companhia_aprendizes.pdf 105


Para CARVALHO (2001) 111, entre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam: “A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos". O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street do Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade.

http://web.tiscalinet.it/canneitaliana/italo.htm

111 CARVALHO, José Murilo De. BESTIALIZADOS OU BILONTRAS? (do Livro Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001). On line, http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html


CAPOEIRAS PRESOS SEGUNDO A COR Brancos Pretos Outros* TOTAL

36 33 41 110

32,7% 30,0% 37,3% 100,0%

* Inclui Fulos, Pardos, Morenos e Pardos Escuros Fonte: BRETAS, 1989, p. 58 CAPOEIRAS PRESOS SEGUNDO O LOCAL DE NASCIMENTO Rio de Janeiro Estado do Rio Nordeste Sudeste Sul Europa Paraguai Açores e Cabo Verde Não identificados TOTAL

47 10 16 8 4 17 1 2 5 110

42,3% 9,1% 14,5% 7,2% 3,6% 15,4% 0,9% 1,8% 4,5% 99,3%

Fonte: BRETAS, 1989, p. 58 CAPOEIRAS PRESOS SEGUNDO A IDADE Menores de 18 anos De 18 a 23 anos De 24 a 29 anos De 30 a 35 anos De 36 a 41 anos Maiores de 41 anos TOTAL

1 61 25 9 10 4 110

Fonte: BRETAS, 1989, p. 58 No início do século XX, no Brasil começou a se tornar mais comum a prática da luta romana, notadamente desafios entre atletas cariocas e de São Paulo. José Floriano Peixoto foi um dos mais renomados dessa modalidade naquele momento.

No seu livro de memórias, comenta Luiz Edmundo, captando bem o momento de transição: Não se pratica a ginástica do corpo. A do sentimento basta. E nesse particular, ninguém supera o jovem desse tempo... Vive ainda da lírica do poeta Casimiro de Abreu, acha lindo sofrer-dopeito, bebe absinto e, de melenas caídas nas orelhas, ainda insiste em recitar ao piano. Toda uma plêiade de moços de olheiras profundas, magrinhos, escurinhos, pequeninhos... Tipos como o do atleta José Floriano Peixoto, são olhados, por todos, com espanto. (Edmundo, 1957, p.833)


Zeca Peixoto, como era conhecido, destacava-se não só pelo seu corpo forte, como também pelo fato de ser praticante e campeão de muitos esportes diferentes. Ganhou ar de herói quando salvou diversas pessoas em um naufrágio que ocorrera na Bahia, ocasião em que retornava de excursão à Europa. Nos primeiros anos da década de 1900, Peixoto já estava envolvido com o grupo de Paul Pons, um francês muito atuante nos primeiros momentos do halterofilismo no Brasil e no mundo. No decorrer da década esteve envolvido com apresentações em teatros, fazendo parte da "Companhia Ginástica e de Variedades" e chegando a ser proprietário de um circo (Circo Floriano), que fez sucesso na cidade112. O escrito maranhense Coelho Neto, tido como grande capoeirista é citado como um dos precursores da Capoeiragem, haja vista que no Artigo 17- do regulamento da FICA, quando trata da Nomenclatura de Movimentos de Capoeira estabelecida em sua parte “A- Nomenclatura Histórica”, colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, aparecem Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma): Parágrafo 1°- Legado de Plácido de Abreu - 1886: Trastejar, Caçador, Rabo de Arraia, Moquete, Banho de Fumaça, Passo de Sirycopé, Baiana, Chifrada, Bracear, Caveira no Espelho, Topete a Cheirar, Lamparina, Pantana, Negaça, Ponta-pé e Pancada de Cotovelo. Parágrafo 2°- Legado Apócrifo - 1904: Pronto, Chato, Negaça de Inclinar, Negaça de Achatarse, Negaça de Bambear para direita ou esquerda, Negaça de Crescer, Pancada de Tapa, Pancada com o Pé, Pancada de Punho, Pancada de Tocar, Rasteira Antiga, Rasteira Moderna e Defesas. Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto - 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Parágrafo 4°- Legado de Annibal Burlamaqui (Zuma), autor da primeira Codificação Desportiva - 1928: Guarda, Rasteira, Rabo de Arraia, Corta Capim, Cabeçada, Facão, Banda de Frente, Banda Amarrada, Banda Jogada, Banda Forçada, Rapa, Baú, Tesoura, Baiana, Dourado, Queixada, Passo de Cegonha, Encruzilhada, Escorão, Pentear ou Peneirar, Tombo da Ladeira ou Calço, Arrastão, Tranco, Chincha, Xulipa, Me Esquece, Vôo do Morcego, Espada e Suicídio.

112

On line http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882007000200008&script=sci_arttext


PLÁCIDO DE ABREU MORAIS

COELHO NETO

Para Pol Briand113, dois termos da capoeira baiana têm origem certamente francesa, são o “aú” que em português é “pantana” como escrito nos artigos de 1909 descritivos da luta de Ciríaco contra Sada Miako no Pavilhão Pascoal no Rio de Janeiro e “role”; é provável que os nomes usados na capoeira venham de instrutores militares de ginástica das Missões francesas. A expressão francesa "faire la roue" designa um movimento similar ao “aú” da capoeira, e o "roulé-boulé" é uma técnica para amortecer um choque (pulando de uma altura) rolando sobre si mesmo, com alguma semelhança ao “role” da capoeira: “Suponho que a influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908. Foi promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional 114. Antes da vinda dos franceses em 1908, a influencia alemã predominava do exército brasileiro. Os franceses tiveram não somente atuação direta em S. Paulo, como também indireta, com difusão de um manual de educação física no Brasil inteiro. 115. Ainda estou a recolher elementos sobre a sua presença na Bahia. Há de ressaltar, pista ainda não seguida, que a Marinha também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20. Como indica Loudcher (op.cit), o exército e a marinha de guerra francesa fizeram ao inventar o esporte como preparação física para a guerra no final do século 19, interpretação muito particular do jogo de desordeiros que era a savate, transformando-la em largas proporções. É certo que a escola de polícia de Joinville, situada perto da École normale militaire de gymnastique de Joinville, tinha um uso mais prático para o combate sem armas ou com armas improvisadas. Entretanto, os instrutores militares sempre dominaram o ensino. Os instrutores de educação física da missão militar francesa foram pouquíssimos. Se influência tiveram, foi geralmente indireta, através de pessoas por eles [in]formados. Portanto, os ensinos franceses foram interpretados e adaptados pelos brasileiros, e, notadamente, pelos adeptos da capoeiragem e do jogo de capoeira, sempre interessados em novos “truques” (outra palavra francesa que substitui o português 'ardil' nos Ms. de mestre Pastinha).Os franceses, como os ingleses e alemãs, participaram também da promoção da idéia esportista no Brasil. Passar, no conceito dos praticantes, de brinquedo e da vadiação a esporte de competição, transtornou a capoeira, como quem sabe ler pode constatar nos debates consecutivos à organização de campeonato no palanque do Parque Odeon em Salvador em 1936. Hoje se procura recuperar o sentido e a sabedoria associadas à atividade antes desta fase. Aparentemente, o esporte de competição não atende às necessidades de todo mundo. Como sempre com essa fonte, o artigo citado116 traz erros na grafia dos nomes (dos franceses) e uma inconguidade: "O Bailado Joinville Le Pont: dança folclórica, hoje extinta na França e só praticada pela Polícia Militar do 113

On line in http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/search/label/Ginga-SAVATE KUHLMANN, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança? Campinas: Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1. 115 SOUSA, Celso. , La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive. Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, 2006 in [http://www.esefex.ensino.eb.br/atual_trab/%40cap I.PDF 116 Bailado Joinville Le Pont -SESC Pompeia Dia(s) 26/04 Domingo, às 17h. O “Bailado Joinville Le Pont” é uma dança folclórica, originalmente extraída de uma dança camponesa do interior da França, posteriormente sistematizada pela Escola de Joinville Le Pont. Com o advento das Guerras Napoleônicas essa dança foi utilizada pelos comandantes franceses como forma de treinamento e entretenimento de seus soldados. Em 1906, uma missão composta por 19 oficiais da gerdarmarie francesa introduziu a dança na Academia de Polícia Militar do Estado de São Paulo, com a finalidade de reforçar o condicionamento físico dos soldados brasileiros. Hoje em dia este bailado está extinto na França, contudo ainda é praticado no Brasil pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Deck Solarium. In http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=149568 114


Estado de São Paulo." Não faz sentido. "La danse de Joinville Le Pont" não pode ser dança folclórica. É obviamente piada de militares para designar o seu treino, sendo que Joinville, situada perto no rio Marne próximo de Paris, era o subúrbio onde no espaço onde não se construía por causa das enchentes, vinha dançar o povo (e malandros) parisiense em barracões chamado “guinguettes" (o termo, de mesmo origem que 'ginga', evoca o ato de mexer as pernas “jambes” ou popularmente 'gambettes'-- como também 'gigolette' e 'degingandé'. O que foi extinta é a École normale militaire de Gymnastique, chamada 'de Joinville' embora o terreno em que se situava, no Bois de Vincennes, tivesse sido anexado pelo município de Paris em 1929. PANTANA

Capoeiragem: Articulo EEUU-Nueva York -1953 http://capoeira-utilitariacapoeiragem.blogspot.com/2010/03/1953-eeuu-articulo-de-capoeiragem-en.html PANTANA - Volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito d o adversário (Abreu, 1886, in LIMA, 2007, p. 158). O capoeirista, negaceando, simula um salto mortal e, com as mãos apoiadas no chão, desfere com os pés uma violenta pancada, que visa geralmente o rosto ou o peito do adversário (Moura, 1991, in LIMA, 2007, p. 158)

O “AÚ” é descrito como: Movimento que na Capoeira corresponde ao posicionamento do corpo apoiado nas mãos (“em representação ao desenho da letra ‘A”) com os pés erguidos e abertos (em representação ao desenho da letra “U”. É um movimento característico da capoeira, no qual o praticante leva as duas mãos ao chão, subindo imediatamente as duas pernas, geralmente esticadas e caindo geralmente em pé. (MANO LIMA, 2007, p. 64): É um movimento de capoeira que pode ser aplicado de muitas formas: Em pé, agachado entre outros – AÚ AGULHA; AÚ AMAZONAS; AÚ BANDEIRA; AÚ BATIDO; AÚ CAMALEÃO; AÚ CHAPA DE FRENTE; AÚ CHAPA DE COSTAS; AÚ LATERAL; AÚ CHIBATA COM UMA PERNA; AÚ CHIBATA COM DUAS PERNAS; AÚ COICE; AÚ COM UMA DAS MÃOS; AÚ CORTADO; AÚ DE COLUNAS; AÚ DE ROLÊ; AÚ DUBLÊ; AÚ FININHO; AÚ GIRO COMPLETO; AÚ MARTELO; AÚ MORCEGO; AÚ MORTAL; AÚ PALITO; AÚ PARAFUSO; AÚ PICADO; AÚ PICO; AÚ PIRULITO; AÚ QUEBRADO; AÚ SANTO AMARO; AÚ SEM MÃOS; AÚ TESOURA; AÚ VIRGULINO.

Pintura do italiano Giovanni Battista Tiepolo, chamada Pulcinella and the Tumblers de 1797, época em que a ginástica renascia em apresentações públicas. A obra encontra-se no Museu Settecento Veneziano


Aú é indispensável na pratica da capoeira, por ser um dos passos mais usados. Existem dois tipos de aú. Aú aberto: é utilizado no início e na saída da roda. É também conhecido como estrela. É só colocar as mãos no chão e depois os pés para o alto,e termina em pé. Aú fechado:semelhante ao rolê,acrescenta-se um pulo Aú dobrado: a entrada do movimento é semelhante ao aú aberto, mas na metade do movimento dobra-se a coluna para sair de frente. Aú trançado: movimento em que se entra no aú aberto mas troca-se as pernas "trançando-as", sendo a perna que impulsiona o corpo a primeira que vai tocar o solo. Aú sem mãos: mesmo movimento do aú aberto, mas executado sem o emprego das mãos. http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%BA Techniques et apprentissage du moring réunionnais Résumé Sport de combat rituel, le moring associe la musique, l’’expression corporelle, les traditions guerrières et les cultes afro-malgaches. Cousin de la Capoeira du Brésil, le moring réunionnais dû affronter bien des préjugés et des interdits tout au long de son histoire. Ce livre contribue à réhabiliter cet art populaire. Il met en valeur les bienfaits de cette discipline où le corps et l’’esprit s’’épanouissent. Règles et techniques sont expliquées précisément, illustrées par de nombreux croquis de mouvements.

http://www.livranoo.com/livre-Reunion-Techniques-et-apprentissage-du-moring-reunionnais-252.html

http://www2.webng.com/portaldacapoeira/au.html

Pencak Indonésia

Seqüência de Bimba (8) Jogador 1 - bênção e aú de rolê. Jogador 2 - negativa e cabeçada.

http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://lh3.ggpht.com/_MARp4qSlMvU/SiRJDUmNnaI/AAAAAAAAAPA/O02nIzd1G5o/sequencia6.gif&im grefurl=http://omandinguero.blogspot.com/2009_06_01_archive.html&usg=__R477GbXv4M-FJTojcTNYDN3M-A0=&h=261&w=481&sz=6&hl=ptBR&start=1&tbnid=xGLM7LmLEMqgzM:&tbnh=70&tbnw=129&prev=/images%3Fq%3Djoelhada%2B%252B%2Bcapoeira%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR


http://angoleiro.files.wordpress.com/2008/12/traira.jpg http://4.bp.blogspot.com/_kL_C1q2fRZo/SairYBUBtsI/AAAAAAAAAFg/GyRpMviliGQ/S760/capoeira+03.jpg

O pesquisador francês está a buscar evidencias de que a Marinha “também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20” haja vista que a “influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908”, tendo sido “promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional”. Em artigo publicado no Jornal do Capoeira 117 em 2005, já havia respondido parte dessa questão: “Em "A Pacotilha", São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, há uma noticia que tem por titulo "JIU-JITZÚ" - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói): "Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. "Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficialgeneral da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. "Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. "A curiosidade pelo jiu-jitzu chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão. "Ha alguns dias esse terrível jogador vem assombrando a platéia daquela casa de diversões com a sua agilidade indiscritível, com os seus pulos maquiavélicos. Todas as noites o campeão japonês desafia a platéia a medir forcas com ele, sendo que, logo nos primeiros dias de sua exibição, se achava na platéia um conhecido "malandrão". "Feito o desafio, o "camarada" não teve duvidas em aceitar, subindo ao palco. "Depois de tirar o paletó, colete, punhos, colarinho e as botinas, o freguês "escreveu" diante do campeão, "mingou" abaixo do "cabra"; este assentou-lhe a testa que o japones andou amarrotando as costelas no tablado. A coisa aqueceu, o japonês indignou-se, quis virar "bicho", mas o brasileiro, que não tinha nada de "paca" foi queimando o grosso de tal maneira que a policia teve que intervir para evitar ... o japonês.

117

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. In Jornal do Capoeira Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005, 0on linme. Diospon[ível em http://www.capoeira.jex.com.br/


“'A Folha do Dia' narra o seguinte: 'Diversos freqüentadores do Pavilhão Nacional vieram ontem a esta redação apresentar o Sr. Cyriaco Francisco da Silva, dizendo-se o mesmo senhor vencido o jogador japonês que se exibe atualmente naquela cada de diversão. "O Sr. Cyriaco é brasileiro, trabalhador no comercio de café e conseguiu vencer o seu antagonista aplicando-lhe um "rabo de arraia" formidável, que no primeiro assalto o prostrou. "O brasileiro jogou descalço e o japonês pediu que não fosse continuada a luta. "Ficam assim cientes os que se preocupam com o novo esporte que ele é deficiente. Basta estabelecer o seguinte paralelo: no jiu-jitzu a defesa é mais fácil que o ataque; na capoeiragem a grande ciência é a defesa, a grande arte é saber cair. "Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que o brasileiro 'sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta'.". (Grifos nossos). Em 1972, o General Jayr Jordão Ramos118 apresenta seu “Parecer sobre a Capoeira-Desporto”, em relatório do Conselho Nacional do Desporto do Ministério da Educação e Cultura (MEC), ressaltando a importância de dar à capoeira “formas e regras desportivas”, com o objetivo de reabilitá-la enquanto luta. Nesse mesmo parecer citado acima, o General aponta que pela falta de incentivo público, a capoeira serviu, por muitos momentos, à malandragem e desordem. Assim, só teria restado para a capoeira, fixar-se no campo do folclore (FONSECA, 2009) 119. Entretanto, ainda para o General Ramos, se tivesse sido devidamente fomentada: “[...] seria modalidade ginástica bastante praticada (...). Ao lado do Judô, do Boxe, do Karatê e de outras formas de luta, deve ser a capoeira estimulada. Como desporto, ela apresenta no seu aspecto, um misto de semelhança com a luta francesa “Savate” e com a japonesa do Karatê (...). (FONSECA, 2009) Ainda segundo essa autora, Vicente Ferreira Pastinha nasceu em Salvador, na Bahia, em 05 de Abril de 1889. Filho de uma mulata baiana e de um comerciante espanhol, aprendeu capoeira ainda na infância, através dos ensinamentos de um africano chamado Benedito, buscando aprender a se defender depois de muito apanhar de um menino de seu bairro. Aos 12 anos entrou, em Salvador – onde morou a vida toda – na Escola de Aprendizes de Marinheiro e, posteriormente, na Marinha, lá permanecendo até os 20 anos. Em 1910 dá baixa e começa a dar aulas de capoeira em um espaço onde funcionava uma oficina de ciclistas. Ainda na Marinha, teve contato com esgrima, florete e ginástica sueca, o que nos mostra que conheceu outros estilos de luta que não a capoeira. Já Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba, como ficou conhecido, nasceu em 23 de novembro de 1899, na freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia. Era filho de Luiz Cândido Machado, ex-escravo, e Maria Martinha do Bonfim, descendente de índios. Iniciou a capoeira com cerca de 12 anos, mas nessa época já tinha familiaridade com as técnicas do batuque120, uma vez que seu pai era muito famoso nessa modalidade. Seu professor, segundo relata Muniz Sodré (2002)121, era um mestre da ‘capoeira antiga’, anterior à divisão em diferentes estilos, chamado Bentinho. Na realidade, não é novidade um membro das Forças Armadas Brasileiras estar envolvido com questões relativas à capoeira, principalmente no intento de enquadrá-la enquanto atividade esportiva. No início do século XX, como demonstrado anteriormente, setores militares defenderam a criação de um Método Nacional de Educação Física baseado na capoeira, além de serem feitas as primeiras propostas acerca da regulamentação da capoeira enquanto esporte. (FONSECA, 2009).

118 RAMOS, Jayr Jordão. OS EXERCICIOS FISICOS NA HISTORIA E NA ARTE. Rio de Janeiro: IBRASA, 1983 O General Jayr Jordão Ramos nasceu em 14 de julho de 1907, no Rio de Janeiro. Cursou a Escola Militar do Realengo, e foi declarado aspirante a oficial em 1930. Ao longo de toda a sua carreira militar dedicou-se às questões relacionadas à prática e ao ensino de Educação Física. Como aluno, recebeu Menção Honrosa na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx). É importante ressaltar que esta instituição balizava os rumos da Educação Física no Brasil à época. Em 1935, é nomeado instrutor da EsEFEx e começa a estabelecer contato com outras Escolas importantes internacionais, como a Escola Superior de Educação Física Joinville-Le-Pont, lá realizando cursos 119 FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História, Política e Bens Culturais. 120 O batuque é uma mistura de dança e luta, na qual os jogadores usam as pernas para desequilibrar o adversário. 121 SODRÉ, Muniz. Mestre Bimba: corpo de mandinga. 2002. Citado por FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História, Política e Bens Culturais.


Em 1906, a luxuosa Kosmos, Revista Artistica, Scientifica e Literaria, do Rio de Janeiro, publica um artigo de Lima Campos: "A Capoeira", ilustrada por Kalixto. Este artigo é um registro da construção da capoeira moderna, sua arquitetura tem como base o movimento nacionalista do final do século XIX, o qual se estenderá até meados do século XX. Lima Campos enaltece a vocação cultural mestiça da capoeira carioca e mostra a destruição da capoeira de movimento social, pela República e a gênese da proposta moderna da capoeira; A ginástica Nacional. "Das cinco grandes lutas populares: a savata francesa, o jiu-jitsu japonês, o box inglês, o pau português e a nossa capoeira, temiveis pelo que possuem de acrobacia intuitiva de elastério e de agilidade em seus recursos e avanços táticos e em seus golpes destros é, sem duvida, a última, ainda desconhecida fora do Brasil, mesmo na América, a melhor a mais terrível como recurso individual de defesa certa ou de ataque impune. Nas outras (com bem limitada exceção de apenas alguns golpes detentivos ou de tolhimento no Jiu-jitsu e a limitadíssima exceção do célebre círculo defensivo descrito pelo movimento giratório contínuo do pau no jogo português) o valor está no ataque; na capoeira porém, dá-se o contrario: o seu mérito básico é a defesa; ela é por excelência e na essência defensiva. Lima Campos: "A Capoeira", 1906 Kosmos, Revista Artística, Scientifica e Literaria." Santos (2006) 122 informa que em 1928, o capoeira-intelectual carioca Anibal Bulamarqui, conhecido como mestre Zuma, publicou o livro Ginástica Nacional (Capoeiragem) metodizada e regrada, cujo prefácio de Mário Santos dizia: “Adotemos a capoeiragem, ela é superior ao box, que participa dos braços; ela é superior à luta romana, que baseia na força; é superior à japonesa, pois que reúne os requisitos de todas essas lutas, mais a inteligência e a vivacidade peculiares ao tropicalismo dos nossos sentimentos pondo em ação braços, pernas, cabeça e corpo”. Em Negros e Brancos no Jogo da Capoeira: a Reinvenção da Tradição, Letícia Vidor de Sousa Reis descreve a tentativa de Burlamarqui, e de outros intelectuais do começo do século, de transformar a capoeira num esporte “branco” e “erudito”, ou seja, eles tinham para a capoeira um projeto nacional, implicando numa única nomenclatura dos movimentos corporais da capoeira e no estabelecimento de um único conjunto de regras: “Apellidei este methodo, puramente meu, de “ZUMA”, não só porque Zuma é a quarta parte do meu segundo nome, como também porque uma feliz coincidência faça com que se perceba nitidamente a letra Z no centro do campo de luta que adoptei para o meu método de capoeiragem, differenciando-o dos campos de sports communs. Primeiramente idealisei um campo de luta onde, com espaço suficiente, se pudesse realisar a GYMNASTICA BRASILEIRA. 123

122

SANTOS, Eduardo Alves (Mestre Fálcon) CAPOEIRA NACIONAL: A Luta por Liberdade IV IN Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 61 de 19 a 25/Fev de 2006 Sorocaba-SP, disponível em http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.jornalexpress.com.br/gerencia/antigos/ver_imagem.php%3Fid_imagem%3D4273&imgrefurl=http://www. jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php%3Fid_jornal%3D13170%26id_noticia%3D848&usg=__Sn7kJPy_YwGNzGjlIVhtUcf6xro=&h=414&w=287&sz=6 0&hl=pt-BR&start=6&tbnid=q52S4xUiYR9MQM:&tbnh=125&tbnw=87&prev=/images%3Fq%3Dcapoeira%2B%252B%2Bodc%26gbv%3D2%26hl%3DptBR 123 Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm


Aproximadamente na mesma época em que Bimba criava na Bahia a Luta Regional, no Rio de Janeiro, se tem notícias de Agenor Moreira Sampaio, conhecido como Sinhozinho de Ipanema. Sinhozinho nasceu em 1891, em Santos, filho de um tenente-coronel e chefe político local, e descendente de Francisco Manoel da Silva, autor do Hino Nacional Brasileiro. Esses dados nos permitem perceber que Sinhozinho, como seu próprio apelido sugere, não provinha das classes baixas, fazendo parte das camadas mais favorecidas. Sua clientela também era composta por rapazes de classe média, em geral jovens de Ipanema e Copacabana (FONSECA, 2009). Segundo André Lacé Lopes (2005) 124, ele aprendeu capoeira nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, para onde se mudara com sua família. Aprendeu boxe e luta greco-romana, e achando que a capoeira se mostrava pobre para a luta, principalmente a ‘agarrada’, resolveu aplicar alguns dos golpes aprendidos nas outras lutas à capoeira.

Agenor Moreira Sampaio, mais conhecido como Sinhozinho, ao centro, e alunos. Ano: 1940 (Paulo Azeredo é o último à esquerda). Sinhozinho, que sempre enfatizou o treinamento de força, foi um grande treinador e formador de campeões na capoeira e em outros esportes no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX. A capoeira de Sinhozinho, também conhecida como Capoeira Utilitária, era uma capoeira voltada para a eficácia como luta, inspirada na violenta capoeira carioca e não era acompanhada por instrumentos musicais. Agenor Sampaio – Sinhozinho - começa sua vida esportiva praticando a luta greco-romana: “Comecei a minha vida sportiva – disse o Sinhôzinho, preliminarmente – em 1904, no Club Esperia de S. Paulo; como socio-alumno. Ahi me mantive até 1905, quando fui para o Club Athletico Paulistano, que foi o primeiro club do Brasil que teve piscina. [...] Houve um movimento dissidente no football de então, de modo que me transferi para a Associação Athletica das Palmeiras, que havia feito fusão com o Club de Regatas São Paulo. Ahi, em companhia de Itaborahy Lima, José Rubião, Hugo de Moraes e mais alguns amigos, comecei a praticar com enthusiasmo a gymnastica, tendo, por exemplo, Cícero Marques e Albino Barbosa, que eram, naquelle tempo, os maiores athletas do Brasil.[...] Mais tarde ” prosseguiu o nosso entrevistado ” com a vinda de Edú Chaves da Europa, novos ensinamentos nos foram ministrados, dos quaes a luta greco-romana, box francez (savata) e a gymnastica em apparelhos foram os mais importantes. [... ] Em 1907, ingressei no Club Força e Coragem, que obedecia à direcção do professor Pedro Pucceti. Continuei os exercícios que sabia e outros mais, que aprendera com o referido mestre. [...] em 1907, obtive os meus primeiros sucessos nesta luta e tive occasião de vencer o torneio da minha categoria. [...] Em 1908, mudei-me para esta capital, de onde jamais me afastei. O Rio é uma cidade encantadora pelos seus recursos naturaes e captivante pela lhaneza dos cariocas, que são extremamente hospitaleiros.[...] Fui um dos fundadores do Centro de Cultura Physica Enéas Campello, que teve o seu período de fastigio no sport carioca. Ali, ao lado de João Baldi, Heraclito Max, Jayme Ferreira e o saudoso Zenha, distingui-me em diversas provas em que tomei parte.” (in “Clube Nacional de Gymnastica: Uma grande Promessa” - Diário de Notícias, RIO, 1º de setembro de 1931) Grifos nossos

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LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo. Literatura de Cordel, 2ª edição. Rio de Janeiro, 2005.


Segundo Jorge Amado (VASSALO, 2003) 125 Mestre Bimba foi ao Rio de Janeiro mostrar aos cariocas da Lapa como é que se joga capoeira. E lá aprendeu golpes de catch-as-catch-can, de jiu-jitsu, de boxe. Misturou tudo isso à Capoeira de Angola, e voltou falando numa nova capoeira, a ‘Capoeira Regional’.

125

VASSALO, Simone Ponde. “Capoeiras e intelectuais: a construção coletiva da capoeira autêntica”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, 2003, v.2, n.32, p 106124


XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport

CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?”

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Mestre em Ciência da Informação Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão/Brasil vazleopoldo@hotmail.com “o segredo da verdade é o seguinte: não existem factos, só existem histórias” 127 João Ubaldo Ribeiro RESUMO Busca-se a ancestralidade da Capoeira, comprovada africana não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, de práticas similares, como o Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc. Palavras-chave: Capoeira. História. Moringue. Para esta série de artigos, temos entendido ‘crônica” como: “Chrônica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos.” 128 Javier Rubiera, da “Agrupación Española de Capoeira” e Presidente da FICA129 - Federação Internacional de Capoeira – me convida a fazer uma análise de imagens sobre a Capoeira(gem), a partir das gravuras de Rugendas130, fazendo uma correlação entre os movimentos encontrados na(s) Capoeira(s) e outras

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Carioca. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, novembro de 2009, p. 150-175, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? 127 Jorge Bento, citando João Ubaldo Ribeiro , in ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997, p. 7 128 DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502. Ver também: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; RUBIERA CUERVO, E. Javier. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): algumas considerações. Pesquisa em andamento 129 Federação Internacional de Capoeira 130 Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, 29 de março de 1802 — Weilheim, 29 de maio de 1858) pintor alemão que viajou por todo Brasil durante 1822-1825 e pintou povos e costumes. Rugendas era o nome que usava para assinar suas obras. Cursou a Academia de Belas-Artes de Munique, especializando-se na arte do desenho. Pintor de cenas brasileiras, nasceu em Augsburg, em 29 de março de 1802 e faleceu em Weilheim, em 29 de maio de 1858. De família de artistas, integrou a missão do barão de Georg Heinrich von Langsdorff e permaneceu no Brasil três anos. IN http://pt.wikipedia.org/wiki/Rugendas


manifestações da lúdica e do movimento, encontrada em outras terras. Vem reunindo uma série de “pranchas” buscando as raízes da Capoeira 131. Informa Javier: Encontramos en nuestra pesquisa los artes marciales indicados en el mapa que se encuentran justamente en los lugares de las rutas de los navíos de los imperios coloniales así como en las ruta ancestra de los malayos e hindúes que poblaron Madagascar.132

HIPÓTESIS DE LA PESQUISA (RUBIERA CUERVO, 2009) A

Jogo Malayo Bersilat versión demostración (técnica de malicia) Lucha Malaya-Bersilat versión lucha-del juego malicioso a la Lucha (versión lucha) B - Jogo Malgache (Hablar de malgaches es hablar de malayos, primeros habitantes de Madagascar (Lucha Diamanga, Ring-Morainguy afro-malgache-Bantú). C - Jogo de Angola - Moringue Malgache versión demostración (mantenida por Pastinha) e o jogo dos bosquimanos ao suL de angola D - Jogo de Regional - Moringue Malgache versión Lucha como escisión del Moringue Malgache promovida por Bimba por influencia de Cisnando (jiu-jitsu) buscando una Lucha Brasileña sin tener en cuenta el Fair Play. E - Jogo da Capoeira Deportiva: Rescate de la versión Juego de las dos técnicas ancestrales del Bersilat teniendo en cuenta el Fair Play. Recordando palabras de Cajiquinha” la capoeira no tiene fín hasta que no esté deportivizada”.

131 “[...] data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’.” in VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/. 132 http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/; http://asi-afri.blogspot.com/; http://afroasia-bras.blogspot.com/ ; http://asia-brasil.blogspot.com/; http://cap-dep.blogspot.com/; http://cap-ang.blogspot.com/; http://cap-reg.blogspot.com/; http://ladja-martinica.blogspot.com/. http://moraingy-malgache.blogspot.com/; http://moringue-reunion.blogspot.com/;


REFLEXIÓN: Cuando la Capoeira Deportiva, como tal, sea reconocida como deporte a nivel mundial, podremos, rescatar la versión lucha (Bersilat, capoeiragem de rua (savate), lucha de navaja (faca, sardinha) pero primero debemos tener en cuenta el FAIR PLAY y seguidamente rescataremos la Capoeira como Lucha en un contexto deportivo reglado. En esta situación Cajiquinha vería realizada su reflexión. Indo mais adiante, Rubiera Cuervo envia-me mensagem eletrônica em que provoca: “[...] Se você concorda que uma raiz da Capoeira é a Ringa-Moringue malgache 133 depois dos fatos de minhas pesquisas relatemos num artigo. A partida da redação são as gravuras de Rugendas [...].” 134 Prancha 18 – JOGO DA CAPOEIRA - 1820/1835 – publicada em 1835-

Comentário do autor da obra: “os negros tem ainda um outro folguedo guerreiro mais violento, a ‘capoeira’: dois campeões se precipitam contra o outro, procurando dar com a cabeça no peito do adversário que desejam derrubar. Evita-se o ataque com saltos de lado e paradas igualmente hábeis; mas lançando-se um contra o outro mais ou menos como bodes, acontece-lhes chocarem-se fortemente cabeça com cabeça, o que faz com que a brincadeira não raro degenere em briga e que as facas entrem em jogo, ensangüentando-a”.(p. 75)[...] Araújo e Jaqueira (2008) tecem o seguinte comentário: “Dentro do contexto da luta brasileira, este é a imagem mais referenciada em documentos de origens diversas, talvez por ser a primeira iconografia publicada, mas não a única, que mais explicitamente identificou a presença do jogo denominado Capoeira num dos períodos históricos brasileiros e, igualmente descrita pelo autor com uma série de adjetivações, que vão desde um folguedo guerreiro de cariz violento ou mesmo uma brincadeira e por fim um jogo, o que nos faz refletir sobre as suas possíveis características de expressividade no período colonial do Brasil – luta, jogo, dança”. (p. 75-76) Prancha 27 - SÃO SALVADOR - 1820/1835 – publicada em 1835:

133 O malgaxe (malagasy) é uma língua malaio-polinésia falada por praticamente toda a população de Madagascar. Em Madagascar, a língua malgaxe é considerada a língua nacional, mas divide a condição de língua oficial com o francês, que continua sendo a língua principal nos meios escritos e na educação. Existem também alguns falantes de malgaxe na ilha francesa de Mayotte e em comunidades originárias de Madagascar assentadas em Reunião (França), Comores e outros países. IN http://pt.wikipedia.org/wiki/Malgache 134 Correio eletrônico recebido de Javier Rubiera - Presidente, Presidente General de FICA www.capoeira-fica.org, Agrupación Española de Capoeira, http://aecfica.blogspot.com/,, NIF G74237405, através do endereço FICA. [capoeira.espanha@gmail.com], enviada dia 4/9/2009 13:30 para Leopoldo Gil Dulcio Vaz leopoldovaz@elo.com.br.


“A iconografia denominada São Salvador, apresenta-se como um dado histórico que nos possibilita interpretações de alguns factos dos costumes dos grupamentos marginais da sociedade imperial brasileira, mais concretamente da Capoeira [...] a imagem de Rugendas, busca fundamentalmente retratar uma panorâmica da cidade do Salvador, apresentando-nos em primeiro plano, uma cena característica de um dos costumes baianos, o jogo da Capoeira, tornando esta iconografia de capital importância para a reescrita e/ou reinterpretação da história desta expressão corporal, visto ser este tipo de documento dentre tantos outros, até ao momento, o primeiro, mas não o único que confirma ter existido tal expressão corporal na sociedade soteropolitana, isto para os contextos históricos colonial, imperial e da 1ª república. [...]” (ARAUJO e JAQUEIRA, 2008m, p. 69) “Apesar de Rugendas não referir-se explicitamente nesta obra sobre a exercitação da capoeira pelos indivíduos enfocados, não podemos deixar de concluir pela presença de elementos de cariz corporal que bem podem evidenciar na imagem, isto pelos conhecimentos por nós adquiridos sobre esta expressão, trata-se estes, de gestuais específicos da luta, onde a cabeçada, ginga e esquivas se podem visualizar, não nos permitindo inferir acerca da sua forma de emanação – jogo; luta, aprendizagem. Destarte não haver indicações do autor sobre este enfoque, e considerando a sua descrição sobre a iconografia ‘Jogo da Capoeira’, nos conduz na admissão de estarmos na presença de jogo ou de aprendizagem, quando associamos as condutas miméticas de alguns, brejeiro e de admiração de outros personagens presentes na cena.[...] O que mais podemos extrair desta imagem, é a presença de uma movimentação rítmica configurada pelo movimento alternado das pernas e conhecida contemporaneamente por ginga, isto, sem qualquer auxílio de instrumentos musicais para a sua exercitação, indiciando portanto, a não obrigatoriedade destes no seu contexto de expressividade, e muito menos a subordinação ao berimbau”. (ARAUJO e JAQUEIRA, 2008m, p. 72-73) 135. Em nota de pé-de-página, Araujo e Jaqueira (2008) referem-se a outras obras, desse mesmo período, que retratam o movimento identificado como Capoeira no Brasil: “No período de 1820/25 foram igualmente elaboradas mais duas imagens que retratam a prática de uma manifestação de luta dos negros e, posteriormente, identificada como Capoeira em face das movimentações corporal presentes, e sustentadas pelas descrições de Rugendas. Este mesmo artista foi o autor de outra obra em que se pode visualisar (sic) na Bahia, uma forma de expressão corporal, que não identificando-se nominalmente com manifestação da luta brasileira, não nos podemos furtar de assim reconhecê-la. A outra imagem é a denominada “Negros brigando nos Brasis’ de autoria de Augustus Earle”. (ARAUJO e JAQUEIRA, 2008, nota de péde-página, fls. 75-76, obra citada). PRENCHA 7 – NEGROS BRIGANDO NOS BRASIS (NEGROES FIGHTING, BRAZILS) 1822

Negroes fighting, Brazil”” c. 1824. Autor Augustus Earle (1793-1838) - Painting by Augustus Earle depicting an illegal capoeiralike game in Rio de Janeiro (1824)

135

ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS ÀS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra-Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008


Comentário do apresentador da obra136: “Dois negros moços entregues ao ‘jogo da capoeira’, enquanto outros contemplam de uma casa própria e um policial colonial prepara-se para saltar uma cerca, afim de sustar a luta” Comentários sobre a obra: “[...] as figuras apresentadas por Rugendas foram e ainda são as mais representativas para o contexto da capoeira, principalmente aquela que foi acompanhada pela descrição [...] A imagem de Augustuis Earle [...] apesar de ter sido elaborada no mesmo período das iconografias de Rugendas, foi durante muito tempo relegada ao esquecimento [...] Earle retratou uma cena típica dos costumes urbanos da cidade do Rio de Janeiro [...] ao tipo de exercitação visualizada pela imagem [...] entendemos ser esta, manifestadamente, a expressão corporal denominada Capoeira [...] onde depreendemos estarmos diante de dois movimentos conhecidos no contexto atual da luta brasileira, como ginga e benção/escorão/chapa [...]”. (ARAÚJO e JAQUEIRA, 2008, p. 80-87)12 Araújo e Jaqueira (2008) analisaram também a obra de Frederico Guilherme Briggs – Negros que vão levar “açoutes”, estampa avulsa: tipos de rua e caricaturas: FIGURA 20, OBRA DO ANO DE 1832/1836, PUBLICADA EM 1984:

Negros que vão levar açoutes Briggs del. Litho. R.B. Rua do Ouvidor nº 118. Source: Biblioteca Nacional, acervo de gravuras sobre escravatura Negros que vão levar açoutes, 1832/1836, publicada em 1984

Os autores se valem da obra de TURAZZI (2002) 137, que comenta: “Se as imagens podem ser tomadas como uma ‘narrativa’, as estampas de tipos de rua da Litografia Briggs nos permitem várias leituras [...] Para tanto, eles adotaram como estratégia uma figura de linguagem empregada com freqüência na fala dos cariocas. Mas a substituição de nome próprio por perífrase (isto é, a designação de alguém ou de algo que dê relevo a uma de suas qualidades, e não por seu nome) tem sido, historicamente, um dos traços mais marcantes da linguagem popular do Rio de Janeiro. Pois é exatamente esse estilo de linguagem, saído das ruas, o recurso adotado pelos litógrafos da oficina Briggs para representar e legendar as figuras de suas estampas”.( TURAZZI, 2002, citada por ARAÚJO e JAQUEIRA, 2008, p. 94-95)

136

Não foram encontradas descrições de Augustus Earle sobre a obra, mas somente, a denominação atribuída à imagem como sendo; “Negros brigando nos Brasil” – (Negros fighting, Brazils). ARAUJO e JAQUEIRA, 2009, p. 80-81 137 TURAZZI, Maria Inez (org.). Tipos e cenas do Brasil imperial: a Litografia Briggs na Coleção Geyer. Petrópolis: Museu Imperial, 2002.


Em resposta ao desafio, respondi138 que tenho escrito sobre Capoeira(gem), e agora me vejo na contingência de escrever sobre a relação da Capoeira(gem) e as ‘capoeiras’ 139, melhor, sobre a lúdica e o movimento das populações trazidas para o que hoje chamamos de Brasil, dos diversos recantos do antigo Império português140.

E aceitando a Capoeira como uma atividade física - vamos chamá-la por hora assim - de criação nacional, tem-se buscado suas origens na África, considerando ser esta a terra de origem dos escravos para cá trazidos, esquecendo-se de que, aqueles a que se chamava de ‘negros’ estavam para além dessa territoriedade - a Mãe-África141.

138

http://cev.org.br/comunidade/lusofonia/debate/capoeira/

139 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jornal do Capoeira http://www.capoeira.jex.com.br/, Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005, Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br; Edição 64 - de 12 a 18/Mar http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=905

de

2006,

disponível

em

Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL estendida - CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/ainda+sobre+a+punga+dos+homens+-+maranhao Jornal do Capoeira Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005, http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao 140

disponível

em

O Império Português foi o primeiro império global da história, com um conjunto de territórios repartidos por quatro continentes, sob soberania portuguesa. Foi também o mais duradouro dos impérios coloniais europeus modernos, sob o nome "Império Colonial Português" na primeira metade do Estado Novo; abrangeu quase seis séculos desde a tomada de Ceuta em 1415 à independência de Timor, em 2002 in BOXER, Charles. The Portuguese Empire: 1415-1825 in http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs. 141 JACINTO, Cristiane Pinheiro Santos. Fazendeiros, negociantes e escravos: dinâmica e funcionamento do tráfico interprovincial de escravos no Maranhão (1846-1885). In GALVES, Marcelo Checvhe; COSTA, Yuri (org). O MARANHÃO OITOCENTISTA. Imperatriz: Ética; São Luis Editora UEMA, 2009, p. 169-194. ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES – formação do Brasil no Atlântico Sul, Séculos XVI e XVII.São Paulo: Cia. Das Letãs, 2000; MELLO, José Antônio Gonçalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS – influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brennand, 200(5). COSTA E SILVA, Alberto da. UM RIO CHAMADO ATLÂNTICO – A África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.


Fonte: CAMARGO NETO, 2002, p. 275142 Além das características da lúdica e movimento existentes na África, identificadas as semelhanças com os movimentos da(s) Capoeira(s) - Angola, Regional, e/ou Contemporânea -, há as que chamei de “capoeiras primitivas”143 - tiririca144, batuque145, pernada(s), punga146, carioca147, etc. e mais recentemente, o ‘agarre 142

Fernão Pompêo de Camargo Neto. Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas –área de concentração: Política Econômica, sob aorientação do Prof. Dr. José Ricardo Barbosa Gonçalves. CPG, 22/02/2002, p. 275

143

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; LACÉ LOPES, André Luis; RIBEIRO, Milton César. ATLAS DA CAPOEIRA(GEM) NO BRASIL. Pesquisa em construção.

LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL : http://andrelace.cjb.net/ LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro,2004 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006 LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 VER AINDA: ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. Maia: Instituto Superior de Maia, 1997. Série Estudos e Monografias. O ensino da capoeiragem no início do século XX, ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro onde comenta a repercussão em jornal de Sorocaba, São Paulo, sobre a abertura de Academia de Capoeira no Rio de Janeiro, em 1920. A matéria trouxe a chamada "Um Desporto Nacional", disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/


marajoara’… ainda temos148 o N´golo, a savate, o fado português, o frevo, o semba, o samba... e, os movimentos encontrados nas Reuniões, nas Antilhas… Influencias européias e asiáticas. Traço de união? Portugal…

Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005 EDIÇÃO ESPECIAL estendida - CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 144

Pernada de Sorocaba - ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro, em que faz uma análise da relação entre danças-luta (pernada, tiririca etc.) com a Capoeira no interior Paulista. In http://www.capoeira.jex.com.br/

Capoeira, Pernada e Tiririca in Crônica sobre Capoeira, com algumas informações sobre a Pernada de Sorocaba e a Tiririca da capital paulista, ambas uma espécie de "capoeira primitiva" do Estado de São Paul, por Miltinho Astronauta, in Jornal do Capoeira Edição AUGUSTO MÁRIO FERREIRA - Mestre GUGA (n.49) de 13 a 19 de Novembro de 200, disponível em www.capoeira.jex.com.br Tiririca, Capoeira & Barra Funda, por Elaine Muniz Pires, sobre a história dos bairros paulistanos, em especial a Barra Funda, onde acontecia a Tiririca, uma espécie de Capoeira Primitiva, disponível em www.capoeira.jex.com.br 145 146

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM): ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? (inédito)

Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005 EDIÇÃO ESPECIAL estendida - CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 147 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Carioca. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, novembro de 2009, p. 150-175, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 148 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009, disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica FALCÃO, José Luiz Cirqueira. Fluxos e refluxos da capoeira: Brasil e Portugal gingando na roda. In Análise Social, vol. XL (174), 2005, 111-133, disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n174/n174a05.pdf TINHORÃO, José Ramos. HISTÓRIA SOCIAL DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA. Rio de Janeiro: Editpora 34, 2001, disponiverl em http://books.google.es/books?id=8qbjll0LmbwC&printsec=frontcover&source=gbs_v2_summary_r&cad=0#v=onepage&q=&f =false


Fonte: CAMARGO NETO, 2002, p. 272149 Para Cavalheiro (2005), o fenômeno das academias baianas trará uma nova conformação à própria história da capoeira, uniformizando (no que tange às tradições, hábitos, costumes, rituais, instrumentação, cantigas etc.) sua prática, especialmente após a migração de mestres para o sudeste brasileiro: Isso foi um dos motivos pelos quais a capoeira conhecida e praticada hoje é a baiana. Infelizmente, por outro lado, foram-se apagando pouco a pouco as práticas regionais anteriores como a pernada, a tiririca, o cangapé, a punga, o bate-coxa... Que não puderam oferecer resistência e nem conseguiram criar condições para competir com a capoeira baiana. (Carlos Carvalho Cavalheiro, in Jornal do Capoeira)150. Concordamos com o grupo que elaborou o projeto para o IPHAN, quando afirma que esta expansão significa a possibilidade de congregar povos e propiciar o diálogo inter-cultural. 151 MITO DAS ORIGENS REMOTAS152 No prefácio do catálogo de uma exposição de Neves e Sousa em Angola, no ano de 1966 - “Da minha África e do Brasil que eu vi”, Câmara Cascudo mencionava que o pintor “viu a ginástica do n´golo, batizada ‘capoeira’. Estava se divulgando então, pela primeira vez no Brasil a teoria do ‘n´golo’ como luta ancestral 149

CAMARGO NETO, Fernão Pompêo de. Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas –área de concentração: Política Econômica, sob a orientação do Prof. Dr. José Ricardo Barbosa Gonçalves. CPG, 22/02/2002, (p. 272)

150 CAVALHEIRO, Carlos Carvalho in RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Capoeira em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).

Porto

Feliz.

in

La

Insignia,

2007

disponível

em

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho - Cantadores - o folclore de Sorocaba e região (encarte de CD) - Linc - 2000 151

IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 152 Mito das origens remotas. In VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118


da Capoeira. Encampada a teoria de Neves e Sousa por Câmara Cascudo em seu Folclore Brasileiro (1967) 153 e as explicações no Dicionário do Folclore brasileiro (1972) 154.

Já em sua obra Folclore do Brasil/ Pesquisas e Notas155 afirma que a capoeira é originária da África, e seria o N´golo, dança praticada no Sul de Angola. Escreve: “[...] Entre os mucope do Sul de Angola, há uma dança da zebra, N´golo, que ocorre durante a Efundula, festa da puberdade das raparigas, quando essas deixam de ser muficuenas, meninas, e passam à condição de mulheres, aptas ao casamento e à procriação. O rapaz vencedor no N´golo tem o direito de escolher esposa entre as novas iniciadas e sem pagar o dote esponsalício (...) O N´golo é a Capoeira [...] (Câmara Cascudo, 1967, p. 184). A unanimidade das fontes brasileiras indica a capoeira como tendo vindo de Angola. Capoeira Angola, vadiação ou brinquedo, como dizem na cidade de Salvador. (Câmara Cascudo, 1967, p 181). Para Assunção e Peçanha (2009) 156 o ‘n´golo’ acabou transformado num mito de origem – um “elo perdido” – da Capoeira. Até a década de 1960, ninguém tivera conhecimento dessa ancestralidade, quando Pastinha recebeu a visita do pintor angolano Albano Neves e Sousa. Este afirmou ter visto na África uma dança semelhante ao tipo de Capoeira que o Mestre baiano ensinava. A memória oral não registrava nenhuma prática ancestral específica. Em suas palestras pelo Brasil, Albano Neves e Sousa conseguiu 153

Folclore do Brasil. Natal: Fundação José Augusto, 1980.(BAA / BN/BMCC)

Folclore do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1967. 252p. (PUC-RIO / BAA/ BUFRN/BMCC) Folclore. Recife, Secretaria de Educação e Cultura, 1975. 62p. (BMCC) 154

Dicionário do Folclore Brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1962.(BAA / BMR / BCCBB / BPI/BFCRB/AN/BMCC)

Dicionário do Folclore Brasileiro. 3ª edição. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1972.(BAA / BPI / PUC-RIO / BE / BIFICS) Dicionário do Folclore Brasileiro. 4ª edição. São Paulo: Melhoramentos, 1976 (BFCRB) Dicionário do Folclore Brasileiro. 4ª edição. São Paulo: Melhoramentos: Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1979.(BAA / BE/BMCC) Dicionário do Folclore Brasileiro. 5a. edição. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1984 (BN / BIFICS) Dicionário do Folclore Brasileiro. 5a. edição. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1984 (BCCBB) Dicionário do Folclore Brasileiro. 5a. edição. São Paulo: Melhoramentos, 1980 (BN) Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª edição. Belo Horizonte: Itatiaia: São Paulo, Universidade de São Paulo, 1988.(BAA / BN) Dicionário do Folclore Brasileiro. 7a edição. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. (BIFICS) Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993 (BN) Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1954.(BAA / PUC-RIO / BCCBB / BFCRB / BE / RGPL / NA / BFGV) 155

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Folclore do Brasil / Pesquisas e Notas. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1967; citado por PENTEADO JUNIOR, Wilson Rogério. A ARTE DE DISCIPLINAR. Jogando Capoeira em Projetos sócio-educacionais. Disponível em

http://www.antropologia.com.br/divu/colab/d43-wjunior.pdf 156

ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig; PEÇANHA, Cinésio Feliciano (Mestre Cobra Mansa). Elo perdido: A dança da zebra. In REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Março 2008, p. 14-21, disponível em www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1445


convencer alguns brasileiros de sua teoria, entre eles o folclorista Câmara Cascudo, então presidente da Sociedade Brasileira de Folclore. Afirmam Assunção e Peçanha (2009) que se trata de um mito no mínimo questionável: “Para começar, não foi transmitido pelos mestres africanos aos seus alunos brasileiros via tradição oral. Aceitar literalmente o mito, um tremendo anacronismo, ou seja: como pode uma manifestação documentada apenas no século XX ser ‘a origem’ de uma capoeira que existe pelo menos desde o início do século XIX? Pensar que o n´golo teria sobrevivido inalterado desde a época do tráfico negreiro é ignorar as profundas mudanças pelas quais passaram as sociedades do território angolano nesse período”.[...] Surpreende que hoje, em Angola, o n´golo seja completamente desconhecido, assim como seu papel como mito fundador da capoeira.[...]”. Para Lacé Lopes (2006) 157, a origem africana, entretanto, é evidente e incontestável, comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares e, haja vista estudos recentes que apresentam movimentos semelhantes à capoeira entre os bosquímanos, de Angola:158 “[...] También tuvieron una danza muy singular, que quizás convenga llamar la danza de acróbatas. En este sentido, brincar y saltar en un círculo, parecía como si sus esfuerzos fueran dirigidos a colocarse en todas las posiciones y contorsiones, el líder tomar su puesto en el centro, y en pasa a su alrededor, mientras que los bailarines se mueven en un círculo retorciéndose, hermanándose, y retorciendo su cuerpo divirtiéndose y la actitud poco común sugiere su fantasía; ahora sí ,en equilibrio con sus manos y tirando de sus las piernas hacia arriba hasta que sus cabezas estaban en la posición de un payaso mirando a través de un caballo en un circo, ahora de pie y sus cabezas, de nuevo el equilibrio caminan sobre sus manos con sus piernas lanzadas en el aire, en el estilo acrobático de verdad. Cambian de una postura a otra, fueron rápidos y continuos, y todo el círculo estaba siempre en constante movimiento [...]” (GEORGE W. STOW, 1905., p. 118)159

SOCIAL CUSTOMS OF THE BUSHMEN, STOW, 1905 34

157 LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 158 1952- Entre los Bosquimanos de Angola(jogo de Angola) in http://salavideofica.blogspot.com/2010/02/1952-entre-losbosquimanos-de.html 159 GEORGE W. STOW, F.G.S., F.R.G.S. A History of the Intrusion of the Hottentots and Bantu into the Hunting Grounds of the Bushmen, the Aborigines of the Country WITH NUMEROUS ILLUSTRATIONS. In History of South África. New York : THE MACMILLAN CO.1905, disponibilizado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 2/28/2010


ver vídeos http://www.tvciencia.pt/tvcarq/pagarq/tvcarq02.asp?codaqv=80007 O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião160, Madagascar161, Moçambique162 etc. – sem dúvida, é um bom exemplo.

160 Réunion ou Reunião é um departamento francês no Oceano Índico, localizado a leste de Madagáscar. A ilha principal é uma das duas maiores Ilhas Mascarenhas, sendo o seu vizinho mais próximo a outra: a Maurícia. Reunião tem, no entanto, várias dependências, espalhadas em torno de Madagáscar, no Índico e no Canal de Moçambique. Capital: Saint-Denis. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Reuni%C3%A3o_(Fran%C3%A7a) 161 Madagáscar ou Madagascar é um país africano que compreende a Ilha de Madagáscar e algumas ilhas próximas. Está situado ao largo da costa de Moçambique, da qual está separado pelo Canal de Moçambique. Os vizinhos mais próximos de Madagáscar são a possessão francesa de Mayotte, a noroeste, a possessão francesa da Reunião, a leste, e as suas dependências Ilhas Gloriosas (noroeste), Juan de Nova (oeste), Bassas da Índia e Europa (sudoeste) e Tromelin (leste), as Comores a noroeste e as Seychelles a norte. Sua capital é a cidade de Antananarivo. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Madag%C3%A1scar 162 Moçambique é um país da costa oriental da África Austral, limitado a norte pela Zâmbia, Malawi e Tanzânia, a leste pelo Canal de Moçambique e pelo Oceano Índico, a sul e oeste pela África do Sul e a oeste pela Suazilândia e pelo Zimbabwe. No Canal de Moçambique, tem vários vizinhos, as Comores, Madagáscar, a possessão francesa de Mayotte e o também departamento francês de Reunião, através das suas dependências Juan de Nova, Bassas da Índia e Ilha Europa. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Mo%C3%A7ambique


Ao longo dos séculos a diversidade cultural da Ilha de Reunião possibilitou a emergência de um esporte moderno, o “moring”, primo da Capoeira brasileira, tendo como origem comum a África, entendida como uma tradicional dança de guerra e arte marcial, tendo como antepassado a dança fabulosa “Combat” das Ilhas Reunião, Madagáscar e África.

Gravura Cabeçada(Ilha Reunión) - Souvenirs D’’ un aveugle Escrito por Jacques Aragão. http://books.google.com/books?id=jBt5rS1S874C&printsec=toc&hl=es&source=gbs_v2_summary_r&cad=0

Gravura Cabeçada:(Moçambique)Viaje al rededor del mundo:(pag 60,61) recuerdos de un ciego ,Escrito por Jacques Aragão, François Aragão, Santiago Aragão, Publicado por Gaspar y Roig, 1851.http://books.google.com/books?id=y-Jh5z9lHeUC&hl=es

Credit: Studies of gestures and postures of wrestlers, from a Manga (colour woodblock print), Hokusai, Katsushika (1760-1849) Libraryhttp://www.bridgemanart.com/image.aspx?key=&categoryid=2ccd2910-bd46-4cd5-8ª436d00e2c67b41&filter=CBPOIHV&thumb=x150&num=15&page=86&img=5f983efe5b6f489382b976748b8ebf0b


‘‘A NEGRO FIGHT IN SOUTH AMERICA’’ (VENEZUELA) herper´s weekli 1874.

Gravura de um belo “furdunço” entre capoeiras ocorrido no Rio de Janeiro, no final do século XVIII, publicada em uma Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

MÉTODO DE BURLAMAQUI – A CABEÇADA: A cabeçada é dada muito simplesmente. Aproximando-se do adversário e abaixando-se repentinamente faz-se com que a cabeça bata ou na parte inferior dos queixos ou no peito, na barriga ou ainda no rosto. Este golpe é um segundo rabo de arraia pelas suas conseqüências porque, sendo bem dado, é demasiadamente terrível para quem o leva.

CAPOEIRA REGIONAL (MESTRE BIMBA) – A CABEÇADA: Este golpe é uma verdadeira “marrada” desferida com violentíssimo impulso no meio da cara ou no peito do indivíduo. Sua aplicação requer muita malícia. O golpe em causa já existia desde a Capoeira primitiva (Angola).


Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

http://2.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SxzxrdHOGaI/AAAAAAAAGbI/kTWDuR3_Qcc/s1600h/bimba.bmp


CapoeiraCabecada_ST_05.jpg (800 × 600 pixel, tamanho do ficheiro: 110 KB, tipo MIME: image/jpeg) Transmitido de pai para filho, por tradição oral, a “moring” não é mais encontrada nos ouvidos de ouvir dizer que em todas as suas sutilezas e suas belezas, até que Jean Rene DREINAZA 163 a tirou das sombras e o esquecimento cruel. Assistida no seu trabalho pelo historiador Sudel FUMA, ele encontrou nos escritos de viajantes e outros escritores (apenas o moring trilha, especialmente em Madagascar) a descrição de gestos, técnicas e rituais.

Para SUDEL (2004)164 “El moring: una capoeira criolla - El moring, arte marcial practicado todavía en Madagascar (moraingy), Comoras (mrengué), Mayotte, La Reunión y África, llegó a las islas del Océano Índico con los esclavos africanos y malgaches. Pariente cercano de la capoeira brasileña, el moring permitió a los esclavos reestructurar sus vidas y resistir a la opresión cultural colonial. La supervivencia de este rito ancestral recuerda a diario la extraordinaria riqueza de la cultura creole de los esclavos negros de las islas del Océano Índico.” (grifo nosso)

163

http://www.moringue-france.com/index.html. Artículo publicado el 20 de febrero de 2004 en el diario L’Express de Mauricio, http://portal.unesco.org/es/ev.php-URL_ID=23885&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html 164

disponível

em


Fonte: Javier Rubiera [capoeira.espanha@gmail.com] Enviado em: sexta-feira, 4 de setembro de 2009 08:28 Para: leopoldovaz@elo.com.br Assunto: [Sala de Pesquisa - Internacional FICA] Capoera,el viaje de ida y vuelta.

1724-MARTINICA-Ladja descrito port el Padre Labat. Fuente: libro: Padre LABATt ““Nouveau vogage ause iles de l’’Amérique””, París 1742


http://unesdoc.unesco.org/images/0003/000385/038520sb.pdf

Diamanga malgache journal: 1936/01/29 (A3,N144). formato original: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k54276490.r=diamanga.langES

http://cap-dep.blogspot.com/search/label/1890-BRASIL-Capoeiragem%20prohibido


Metodo Amorรณs (Savate)


Credit: Boxing Lesson by Charles Charlemont (1862-1942), 1906 (b/w photo), French Photographer, (20th century) / Bibliotheque des Arts Decoratifs, Paris, France / Archives Charmet / The Bridgeman Art Library


FOTO:http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/05/juego-de-imagenes-mujeres.html

Esse historiador se refere, ainda, em seu artigo, aos diversos povos envolvidos, tanto em África quanto em Madagascar: “Despojados de su linaje, nombre y genealogía, no se les permitía agruparse y, además, no siempre podían entenderse entre sí por hablar lenguas diferentes, poseer tradiciones distintas y pertenecer a etnias muy diversas del África y Madagascar – makuas, yaos, inhambanes, makondés, betsimisarakas, sakalavas, merinas, betsileos, etc.–, así como de la India, Malasia e Indonésia [...] Entre los tesoros legados por los esclavos que forman parte del milagro creole, tenemos la cocina, la artesanía, la farmacopea, los cuentos y leyendas, y sobre todo las músicas típicas de las islas del Índico – el sega y el maloya– que no sólo perpetúan la memoria de los antepasados en las ondas de las emisoras públicas y privadas de radio, sino que además se han puesto tan de moda entre los jóvenes como el arte marcial del moring [...]En la isla Borbón (La Reunión), las distintas etnias procedentes de Inhambanne (Mozambique) se designaron con el nombre de esta región geográfica.”


165 Comme sports de combats traditionnels, les malgaches connaissent plus le Moraingy, la boxe du nord, et le Ringa, la lutte du sud. Pratiqué par l'élite, le diamanga est en passe de se démocratiser et espère de nombreux transfuges des autres disciplines. 166

As técnicas de combate são encadeamento de mãos e pés, seguindo o ritmo da música e surgiu nas fazendas da Ilha onde os escravos do século XVIII a praticavam em segredo até à sua abolição em 1848. Posteriormente, a condição de muitos pequenos colonos brancos ou mestiços já não era melhor do que a dos negros libertos de suas correntes, o “moring” se tornou uma distração alegre da miséria nos bairros pobres de cidades ou campos de cana-de-açúcar.

165 http://3.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SwwhFACgp9I/AAAAAAAAGXo/K5DMEv_eNG0/s1600/img00025.jpg 166

Diamanga é herdado de nossos ancestrais como os malaios, que importou os estilos" Pencak, ber-silat, calazar e Sikaran "budistas e indianos que impuseram" Kalaripayat. A pesquisa conduzida pela "Fototra Diamanga malgaxe" não ficar lá, parte histórica e filosófica já está concluída através de um manuscrito do livro. Mesmo se uma lista de diferentes estilos de técnicas "Diamanga" também já está estabelecido língua nacional da associação, esta continuará a ser procurado exaustivamente. http://www.madatsara.com/articles/detail-article/article/le-diamanga-fera-partie-des-arts-martiaux-pratiques-a-madagascar2/rubrique/sports/news-browse/1/


1820-BAHÍA-Jogo da Capoeira semejante al Moringue malgache,; 1834-RUGENDAS -dibuja la Capoeira ó Moringue ?, 1940-ANTROPÓLOGO Herskovits Compara la Capoeira con Moringue disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/08/1733-carolina-del-sur-boxeador-y.html

A tradição oral relatada “moringueurs” prestigiados, relacionados com a história da ilha. Personagens como o "Lorenzo, o Diabo", "Inferno Coco", "Henry, a Seta", "Cadine", "Couve-Flor", o “Café Marc”, voltam muitas vezes nas narrativas de vida. Hoje, graças a seu trabalho pioneiro, o moring é revivido como um esporte, cultura e espetáculo de folclore da ilha da Reunião, sob a forma de dança coreografada e muito espetacular. Desde 1996, o Comitê Reunião foi estabelecido e começou a oferecer cursos que tenham feito rapidamente na íntegra e escolas de toda a Ilha. Desde então, o moring tem investido na cidade. Ao expandir os esportes reconhecidos pelo Ministério da Juventude e Desportos estabeleceu uma estrutura para enfrentar o futuro com serenidade uma Federação Francesa de Moring. Um de seus principais objetivos é descobrir este desporto como muitos a localizar em diferentes regiões da metrópole.

El Juego “Sisemba”- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA. Fonte: http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional 167

A TÍTULO DE CONCLUSÃO Aceitamos, para este estudo o que afirmam Adid (2009) 168 e Luiz Renato Vieira (1998) que antropólogos, como Herskovits, têm apontado para a existência de “danças de combate” que trazem semelhanças com aquilo que conhecemos hoje como capoeira, não só na África - como o Muringue, em Madagascar -, como também em vários pontos da América, nos locais em que a diáspora negra se instalou. Relatos sobre o Mani em Cuba, e a Ladja na Martinica são dois exemplos dessas práticas. Sobre a Ladja, Vieira mostra a impressionante semelhança com a capoeira, verificada não somente do ponto de vista da execução de movimentos e golpes, como, o que é mais importante, o fato de congregar aspectos lúdicos, musicais (pratica-se ao som de atabaques) e de combate corporal.

167 Celebes (Sulawesi, em indonésio) é uma das Grandes Ilhas da Sonda, na Indonésia, situada entre Bornéu e as Molucas. Com cerca de 16,3 milhões de habitantes e 189 216 km², divide-se em cinco províncias: Gorontalo, Celebes do Norte (Sulawesi Utara), Celebes Central (Sulawesi Tengah), Celebes do Sul (Sulawesi Selatan) e Celebes do Sudeste (Sulawesi Tenggara). As maiores cidades de Celebes são Macáçar - possessão portuguesa entre 1512 e 1665 -, na costa sudoeste, e Manado, na ponta setentrional da ilha. Os primeiros europeus a alcançar a ilha foram os portugueses, em 1525. in http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lebes 168 ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. CAPOEIRA ANGOLA: CULTURA POPULAR E O JOGO DOS SABERES NA RODA. Origens de uma tradição, disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/04/capoeira-angola_18.html


Marcel Mauss: “Tudo são misturas, misturam-se as almas nas coisas, misturam-se as coisas nas almas, e é assim que as pessoas e as coisas misturadas saem cada qual de suas esferas e se misturam”.



O “CHAUSSON/SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IF-MA / IHGM / ALL RESUMO Em uma série de artigos em que se busca a ancestralidade da Capoeira, comprovada africana não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África de práticas similares, como o Moringue, no Oceano Índico - nas Ilhas de São Lourenço (Madagascar), Reuniões e em Moçambique. Assim como encontramos uma influencia européia, configurada através da Chausson/Savate, praticado por marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos 'leões marinhos' em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Houve intenso tráfico entre os portos brasileiros - Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luis e Belém - e Marselha. Capoeira. História. Chausson. Savate. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira, e em Recife, com as gangues de Rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês) em Paris e das maltas de fadistas de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos. O ‘savate’ surgiu na França, praticado por alguns marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos “leões marinhos”, em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Posteriormente, em cada rixa da barra em portos franceses era comum ver chutes infligidos em qualquer parte do corpo. Os marinheiros chamavam "Chausson" este tipo de combate, em referência à chinelos normalmente usados a bordo. Marinheiros gauleses e espanhóis eram instruídos com estas formas de ataques e defesas. Na época de Napoleão Bonaparte, os soldados do imperador exibiam publicamente suas "aptidões" chutando a bunda de seus prisioneiros. A punição era conhecida como “Savate”, que pode ser traduzido como "sapato velho". O "Chausson" era do sul da França e usava somente os pés; já no Norte, usava-se a combinação de pés e mãos abertas - "savate”. Enquanto os homens se reúnem em um duelo de tiro com espadas ou bastões, as classes mais populares lutavam com os pés e batendo com os punhos, de modo que o Savate, esgrima, pés e punhos, tornaram-se a prática de "Thugs" no momento, para citar apenas Vidocq, Chefe simbólico do fim do século XVIII. O contato com essas formas de luta se dá, também, com a interação entre marinheiros, nas constantes viagens entre os dois lados do Atlântico, pois navios da marinha francesa entre 1820 e 1833 foram de Brest (cidade natal de Savate) para Portos do Brasil (Capoeira), Martinica (Ladja) e Bourbon (Moringa): De luta de rua passa a esporte regulamentado quando o médico Michel Casseux, em 1825 abriu o primeiro centro de treinamento para o ensino e a prática regulamentada dessas habilidades. Ele tentou criar um sistema de combate menos desajeitado, enfatizando o “roundhouse kick”, laterais e frente ao joelho, canela e peito do pé. Em 1832, Charles Lecour combinou as técnicas do boxe clássico Inglês com os princípios formulados por Casseux. Esta mistura foi chamada de "savate” - boxe francês - e atraiu tanto a elite da sociedade como os jovens, o que beneficiou o esporte como a aptidão muscular e autodefesa.


Em 1850, a primeira luta de boxe francês com as regras estabelecidas por Casseux, para diferenciá-lo de uma rixa da rua. Louis Vignezon foi o primeiro campeão de Savate ao derrotar seu adversário com a batida de apenas quatro chutes. Em 1852, a Academia Militar Ecole De Joinville incluiu o Savate no treinamento de recrutas. Em seguida, essas mesmas regras foram estendidas para outras partes do Velho Continente, África, Canadá e Estados Unidos. O Box Savat também foi introduzido em nossa Escola pela missão militar francesa tanto no Colégio Pedro II no Rio e no exército e da polícia francesa através de diversas missões ao Brasil e em 1885 uma missão brasileira viajou para Paris para obter informações sobre o Sistema policial francês (Savate Vidocq). Em 1928, a Missão Militar Francesa passou a contar entre seus integrantes com um oficial encarregado exclusivamente de dirigir a instrução de educação física. Escolhido entre os instrutores da escola de Joinville, o major Pierre Ségur ficou encarregado de ministrar educação física na Escola Militar do Realengo. O relatório do chefe da Missão Militar Francesa referente ao ano de 1928, ao comentar a situação da educação física nas escolas do Exército (Militar, de Sargentos, de Cavalaria e de Aviação), informava que, apesar de nelas ser desenvolvido um trabalho intenso e de muito boa vontade, faltavam os meios práticos e a aplicação de um método firme referência óbvia ao Método Francês. Também na Escola de Educação Física da Polícia Militar de São Paulo, criada em 1910, o Savat é introduzido: Para COSTA (2007), no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, européia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48); José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968) ; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73); Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14). Todos eram capoeiristas. Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-Capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio. No início do século XX, no Brasil começou a se tornar mais comum a prática da luta romana, notadamente desafios entre atletas cariocas e de São Paulo. José Floriano Peixoto foi um dos mais renomados dessa modalidade naquele momento. O escrito maranhense Coelho Neto, tido como grande capoeirista é citado como um dos precursores da Capoeiragem, haja vista que no Artigo 17- do regulamento da FICA, quando trata da Nomenclatura de Movimentos de Capoeira estabelecida em sua parte “A- Nomenclatura Histórica”, colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, aparecem Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma): Parágrafo 1°- Legado de Plácido de Abreu - 1886: Trastejar, Caçador, Rabo de Arraia, Moquete, Banho de Fumaça, Passo de Sirycopé, Baiana, Chifrada, Bracear, Caveira no Espelho, Topete a Cheirar, Lamparina, Pantana, Negaça, Ponta-pé e Pancada de Cotovelo. Parágrafo 2°- Legado Apócrifo - 1904: Pronto, Chato, Negaça de Inclinar, Negaça de Achatarse, Negaça de Bambear para direita ou esquerda, Negaça de Crescer, Pancada de Tapa, Pancada com o Pé, Pancada de Punho, Pancada de Tocar, Rasteira Antiga, Rasteira Moderna e Defesas. Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto - 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé,


Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Parágrafo 4°- Legado de Annibal Burlamaqui (Zuma), autor da primeira Codificação Desportiva - 1928: Guarda, Rasteira, Rabo de Arraia, Corta Capim, Cabeçada, Facão, Banda de Frente, Banda Amarrada, Banda Jogada, Banda Forçada, Rapa, Baú, Tesoura, Baiana, Dourado, Queixada, Passo de Cegonha, Encruzilhada, Escorão, Pentear ou Peneirar, Tombo da Ladeira ou Calço, Arrastão, Tranco, Chincha, Xulipa, Me Esquece, Vôo do Morcego, Espada e Para Pol Briand, dois termos da capoeira baiana têm origem certamente francesa, são o “aú” que em português é “pantana” como escrito nos artigos de 1909 descritivos da luta de Ciríaco contra Sada Miako no Pavilhão Pascoal no Rio de Janeiro e “role”; é provável que os nomes usados na capoeira venham de instrutores militares de ginástica das Missões francesas. A expressão francesa "faire la roue" designa um movimento similar ao “aú” da capoeira, e o "roulé-boulé" é uma técnica para amortecer um choque (pulando de uma altura) rolando sobre si mesmo, com alguma semelhança ao “role” da capoeira: “Suponho que a influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908. Foi promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional. Antes da vinda dos franceses em 1908, a influencia alemã predominava do exército brasileiro. Os franceses tiveram não somente atuação direta em S. Paulo, como também indireta, com difusão de um manual de educação física no Brasil inteiro.Ainda estou a recolher elementos sobre a sua presença na Bahia. Há de ressaltar, pista ainda não seguida, que a Marinha também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20. Como indica Loudcher (op.cit), o exército e a marinha de guerra francesa fizeram ao inventar o esporte como preparação física para a guerra no final do século 19, interpretação muito particular do jogo de desordeiros que era a savate, transformando-la em largas proporções. É certo que a escola de polícia de Joinville, situada perto da École normale militaire de gymnastique de Joinville, tinha um uso mais prático para o combate sem armas ou com armas improvisadas. Entretanto, os instrutores militares sempre dominaram o ensino. Os instrutores de educação física da missão militar francesa foram pouquíssimos. Se influência tiveram, foi geralmente indireta, através de pessoas por eles [in]formados. Portanto, os ensinos franceses foram interpretados e adaptados pelos brasileiros, e, notadamente, pelos adeptos da capoeiragem e do jogo de capoeira, sempre interessados em novos “truques” (outra palavra francesa que substitui o português 'ardil' nos Ms. de mestre Pastinha).Os franceses, como os ingleses e alemãs, participaram também da promoção da idéia esportista no Brasil. Passar, no conceito dos praticantes, de brinquedo e da vadiação a esporte de competição, transtornou a capoeira, como quem sabe ler pode constatar nos debates consecutivos à organização de campeonato no palanque do Parque Odeon em Salvador em 1936. Hoje se procura recuperar o sentido e a sabedoria associadas à atividade antes desta fase. Aparentemente, o esporte de competição não atende às necessidades de todo mundo. Como sempre com essa fonte, o artigo citado traz erros na grafia dos nomes (dos franceses) e uma inconguidade: "O Bailado Joinville Le Pont: dança folclórica, hoje extinta na França e só praticada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo." Não faz sentido. "La danse de Joinville Le Pont" não pode ser dança folclórica. É obviamente piada de militares para designar o seu treino, sendo que Joinville, situada perto no rio Marne próximo de Paris, era o subúrbio onde no espaço onde não se construía por causa das enchentes, vinha dançar o povo (e malandros) parisiense em barracões chamado “guinguettes" (o termo, de mesmo origem que 'ginga', evoca o ato de mexer as pernas “jambes” ou popularmente 'gambettes'-- como também 'gigolette' e 'degingandé'. O que foi extinta é a École normale militaire de Gymnastique, chamada 'de Joinville' embora o terreno em que se situava, no Bois de Vincennes, tivesse sido anexado pelo município de Paris em 1929. O pesquisador francês está a buscar evidencias de que a Marinha “também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20” haja


vista que a “influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908”, tendo sido “promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional”. Aproximadamente na mesma época em que Bimba criava na Bahia a Luta Regional, no Rio de Janeiro, se tem notícias de Agenor Moreira Sampaio, conhecido como Sinhozinho de Ipanema. Sinhozinho nasceu em 1891, em Santos, filho de um tenente-coronel e chefe político local, e descendente de Francisco Manoel da Silva, autor do Hino Nacional Brasileiro. Esses dados nos permitem perceber que Sinhozinho, como seu próprio apelido sugere, não provinha das classes baixas, fazendo parte das camadas mais favorecidas. Sua clientela também era composta por rapazes de classe média, em geral jovens de Ipanema e Copacabana (FONSECA, 2009). Segundo André Lacé Lopes (2005), ele aprendeu capoeira nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, para onde se mudara com sua família. Aprendeu boxe e luta greco-romana, e achando que a capoeira se mostrava pobre para a luta, principalmente a ‘agarrada’, resolveu aplicar alguns dos golpes aprendidos nas outras lutas à capoeira. Agenor Sampaio – Sinhozinho - começa sua vida esportiva praticando a luta greco-romana: “Comecei a minha vida sportiva – disse o Sinhôzinho, preliminarmente – em 1904, no Club Esperia de S. Paulo; como socio-alumno. Ahi me mantive até 1905, quando fui para o Club Athletico Paulistano, que foi o primeiro club do Brasil que teve piscina. [...] Houve um movimento dissidente no football de então, de modo que me transferi para a Associação Athletica das Palmeiras, que havia feito fusão com o Club de Regatas São Paulo. Ahi, em companhia de Itaborahy Lima, José Rubião, Hugo de Moraes e mais alguns amigos, comecei a praticar com enthusiasmo a gymnastica, tendo, por exemplo, Cícero Marques e Albino Barbosa, que eram, naquelle tempo, os maiores athletas do Brasil.[...] Mais tarde ” prosseguiu o nosso entrevistado ” com a vinda de Edú Chaves da Europa, novos ensinamentos nos foram ministrados, dos quaes a luta greco-romana, box francez (savata) e a gymnastica em apparelhos foram os mais importantes. [... ] Em 1907, ingressei no Club Força e Coragem, que obedecia à direcção do professor Pedro Pucceti. Continuei os exercícios que sabia e outros mais, que aprendera com o referido mestre. [...] em 1907, obtive os meus primeiros sucessos nesta luta e tive occasião de vencer o torneio da minha categoria. [...] Em 1908, mudei-me para esta capital, de onde jamais me afastei. O Rio é uma cidade encantadora pelos seus recursos naturaes e captivante pela lhaneza dos cariocas, que são extremamente hospitaleiros.[...] Fui um dos fundadores do Centro de Cultura Physica Enéas Campello, que teve o seu período de fastigio no sport carioca. Ali, ao lado de João Baldi, Heraclito Max, Jayme Ferreira e o saudoso Zenha, distingui-me em diversas provas em que tomei parte.” (in “Clube Nacional de Gymnastica: Uma grande Promessa” - Diário de Notícias, RIO, 1º de setembro de 1931) Grifos nossos Segundo Jorge Amado (VASSALO, 2003) Mestre Bimba foi ao Rio de Janeiro mostrar aos cariocas da Lapa como é que se joga capoeira. E lá aprendeu golpes de catch-as-catch-can, de jiu-jitsu, de boxe. Misturou tudo isso à Capoeira de Angola, e voltou falando numa nova capoeira, a ‘Capoeira Regional’. Em 1962 é criada a Federação Brasiliense de Pugilismo CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (Cadernos de Folclore). CARVALHO, José Murilo De. BESTIALIZADOS OU BILONTRAS? (do Livro Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001). On line, http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html COSTA, Neuber Leite Capoeira, trabalho e educação. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007. CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009.


KUHLMANN, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança? Campinas: Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1. LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo. Literatura de Cordel, 2ª edição. Rio de Janeiro, 2005. NESTOR Capoeira: Pequeno Manual do Jogador. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. PIRES, Antonio Liberac A. Capoeira na Bahia de Todos os Santos: estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 RAMOS, Jayr Jordão. OS EXERCICIOS FISICOS NA HISTORIA E NA ARTE. Rio de Janeiro: IBRASA, 1983 REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. SANTOS, Eduardo Alves (Mestre Fálcon) CAPOEIRA NACIONAL: A Luta por Liberdade IV IN Jornal do Capoeira www.capoeira.jex.com.br Edição 61 - de 19 a 25/Fev de 2006 Sorocaba-SP, SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf SODRÉ, Muniz. Mestre Bimba: corpo de mandinga. 2002. Citado por FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. SOUSA, Celso. , La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive. Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, VASSALO, Simone Ponde. “Capoeiras e intelectuais: a construção coletiva da capoeira autêntica”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, 2003, v.2, n.32, p 106-124 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. In Jornal do Capoeira Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005, 0on linme. Diospon[ível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VIEIRA, Luis Renato. Educação e autoritarismo no Estado Nobo. In EDUC E FILOS. Uberlândia, 6 (12): 83-94, jan./dez. 1992


Mesa redonda 1:169 CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: ASPECTOS HISTÓRICOS E SÓCIO-CULTURAIS 16 de novembro de 2011 – 16 horas LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (IHGM) 170 Vamos começar por duas citações: A Capoeira é essencialmente dialética e dinâmica; e por ser uma manifestação que se espalhou pelo mundo muito recentemente, recebe milhares de análises em seus diversos aspectos – teórico, técnico, didático, tático, filosófico etc. - e cada uma delas baseada na realidade de cada norteador de um trabalho (entenda-se: Mestre, Professor, Instrutor etc.). Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira. (Mestre Tuti (Gde. Fpolis, SC, Brasil) in Chamada na ‘Benguela’ -17/11/2011) 171 João Ubaldo Ribeiro afirma, sobre a Capoeira, que “o segredo da verdade é o seguinte: não existem factos, só existem histórias” 172 Venho me dedicando, nos últimos 30 anos, ao resgate da Memória/História dos Esportes, do Lazer, e da Educação Física no/do Maranhão. A Capoeira se insere, então, como objeto de estudo 173; e a metodologia de pesquisa é a adotada na construção do Atlas do Esporte no Brasil/Maranhão (www.atlasesportebrasil.org.br/Maranhão) 174 169

Demais participantes da Mesa: ALBERTO GRECIANO (UNIV. AUTONÓMA/ES); BRUNO PIMENTA (PGCULT); GABRIEL KAFURE (CRISOL/UFMA) 170 Professor de Educação Física, Mestre em Ciência da Informação; sócio efetivo do IHGM, Cadeira 40; Vice-Presidente gestão 2010/2012. 171 To: capoeiranaescola@googlegroups.com Cc: fabiano caviquio ; Marcelo ; jeferson batista ramos ; capoeiramestrepop@gmail.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela' 172 Jorge Bento, citando João Ubaldo Ribeiro, in ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997, p. 7 173 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In Da Costa, Lamartine Pereira. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 3-2.6-7 PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. Revista do IHGM, N. 30, agosto 2009 ed. Eletrônica, p. 86-107 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A GUARDA NEGRA. Revista do IHGM, N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 20-33 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A ”CARIOCA”. Revista do IHGM, N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 54-75 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LANÇAMENTO DE LIVRO - RODA DE RUA: MEMÓRIA DA CAPOEIRA DO MARANHÃO DA DÉCADA DE 70 DO SÉCULO XX, de ROBERTO AUGUSTO PEREIRA – crítica REVISTA IHGM 32 - MARÇO 2010, p. 111 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. OS HOLANDESES E OS PALMARES. REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 120 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. 174

“Atlas do Esporte, Educação Física e Atividades Físicas de Lazer e Saúde no Brasil” (2005): Livro que atua como ponto de partida e modelo experimental do Sistema ATLAS de Informações Esportivas, produzido por 410 autores voluntários e 19 editores (14 voluntários), abrangendo três centenas de temas relacionados com as atividades físicas em suas diversas modalidades de prática, de gestão em esporte e de produção de conhecimento. Esta publicação em papel está próximo ao limite do formato livro com 924 páginas tamanho duplo, com 4,8 kg de peso, indicando a necessidade de desenvolvimentos futuros por meios eletrônicos ou por livro de partes selecionadas do Sistema ou dos Atlas de Estados, regiões e cidades. (ver pormenores em www.confef.org.br, no link do ATLAS, item “Perguntas mais freqüentes”)


O Atlas é um documento de memória (registros descritivos e datados) e não de história (processo de interpretação sob forma de narrativa com base temporal). Daí não caber digressões nem análises pormenorizadas. Ou seja: trabalha-se com marcos histórico, mas não se faz história. O Atlas, em resumo, oferece base para o trabalho de historiadores embora seja focado para a gestão do esporte e atividades similares. Há que então reduzir ou evitar juízos de valor do autor (es) sobre o tema enfocado, isto é, comentários de que algo é bom ou mau no presente ou para o futuro contextualizado do tema. Outra abordagem a evitar é a de criticas ou denúncias diretas a pessoas ou instituições, que não são próprias de um banco de dados com registros a serem interpretados por terceiros com interesses múltiplos e que está proposto para contínua revisão de dados. A base de conteúdo de cada capítulo é a ordem cronológica dos fatos descritos começando por referência ao ano (s) do acontecimento, a décadas se o período focalizado é mais longo, ou até mesmo século(s) em casos excepcionais. Não se usa hífen depois da data na abertura de cada fato examinado: ano, década e século são subtítulos no Atlas. O padrão geral de formato dos capítulos sugere uma listagem cronológica de fatos relevantes que tiveram conseqüências no desenvolvimento (crescimento, mudança de direção, estagnação e/ou retrocesso) do esporte ou da manifestação relacionada à educação física ou atividade física de saúde e/ou lazer. O parágrafo inicial de cada capitulo também é padrão, levando o título de "Origem(s) e Definição (ões)" ou Definições primeiro e depois Origens. Se aceita também a separação entre "Origem" e "Definição", pois às vezes há maior clareza quando há dois enfoques. ENTRANDO NA RODA175 175

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; LACÉ LOPES, André Luis; RIBEIRO, Milton César. ATLAS DA CAPOEIRA(GEM) NO BRASIL. Pesquisa em construção (Inédito).

LACÉ LOPES, André Luiz. A VOLTA AO MUNDO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA DA CAPOEIRAGEM - Ação Conjunta com o Governo Federal – Estratégia 2005 - Contribuição do Rio de Janeiro - Minuta de André Luiz Lace Lopes, com sugestão de Mestre Arerê (ainda sem revisão). LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388 LACÉ LOPES, André Luiz. PÁGINA PESSOAL: http://andrelace.cjb.net/ PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2004 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 VER AINDA: Pernada de Sorocaba - ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro, em que faz uma análise da relação entre danças-luta (pernada, tiririca etc.) com a Capoeira no interior Paulista. In http://www.capoeira.jex.com.br/


Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro foi considerada: “Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta”: Expressão brasileira surgida nos guetos negros há mais de um século como forma de protesto às injustiças sociais, arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta, a capoeira foi reconhecida como patrimônio imaterial da cultura brasileira. A decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi concretizada terça-feira (15) [de julho de 2008] no Palácio Rio Branco, em Salvador (BA).176 sendo definida como uma arte multidimensional, um fenômeno multifacetado - ao mesmo tempo dança, luta, jogo e música - que tem na roda o ritual criado pelos capoeiristas para desenvolver esses vários aspectos. Parto do entendimento de que a Capoeira é uma prática cultural 177 no sentido mais dinâmico possível do termo. Mas, o que é a Capoeira? Como podemos defini-la? Tenho encontrado as mais variadas respostas: capoeira é luta; capoeira é um esporte; capoeira é folclore; outros dizem que é um lazer; é uma festa; é vadiação; é brincadeira; é uma atividade educativa de caráter informal.178 Não me conformo com essas classificações simplistas e reducionistas; compreendi que a Capoeira é tudo isso... Compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural179 representa um salto qualitativo para além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de certo antigamente da Capoeira. Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã – esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança. Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico, etc. 180. Capoeira - vernaculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu Amaral: ‘‘Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. O ensino da capoeiragem no início do século XX, ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro onde comenta a repercussão em jornal de Sorocaba, São Paulo, sobre a abertura de Academia de Capoeira no Rio de Janeiro, em 1920. A matéria trouxe a chamada "Um Desporto Nacional", disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ Capoeira, Pernada e Tiririca in Crônica sobre Capoeira, com algumas informações sobre a Pernada de Sorocaba e a Tiririca da capital paulista, ambas uma espécie de "capoeira primitiva" do Estado de São Paul, por Miltinho Astronauta, in Jornal do Capoeira Edição AUGUSTO MÁRIO FERREIRA - Mestre GUGA (n.49) de 13 a 19 de Novembro de 200, disponível em www.capoeira.jex.com.br Tiririca, Capoeira & Barra funda, por Elaine Muniz Pires, sobre a história dos bairros paulistanos, em especial a Barra Funda, onde acontecia a Tiririca, uma espécie de Capoeira Primitiva, disponível em www.capoeira.jex.com.br Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ Ainda sobre a Punga dos Homens – Maranhão - Visita à Câmara Cascudo: crônica por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, in Jornal do Capoeira - Edição 44: 22 a 28 de Agosto de 2005 EDIÇÃO ESPECIAL estendida - CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 176 Capoeira é registrada como patrimônio imaterial brasileiro - África 21 - Da Redação - 16/07/2008 http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 177 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 178 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão – afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675 179 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004 180 COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 1999


Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968):

DEBRET – 1816/1831 http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=brasil&theRecord=71&recordCount=77

“[...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. Por metonímia res pro persona, o nome da coisa passou para a pessoa com ela relacionado” (Antenor Nascimento, apud Rego, 1968, citados por Mano Lima – Dicionário de Capoeira; Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79). Por Capoeira deve-se entender “indivíduo (s) ou grupos de indivíduos que promoviam acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno”? (p. 65), conforme a conceitua Araújo (1997) 181, ao se perguntar “mas quem são os capoeiras?“; e por “capoeiragem” como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70). Ou devemos entendê-la como: “... Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira); assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a “... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40). Considera-se como prática do desporto formal da Capoeira sua manifestação cultural sistematizada na relação ensino-aprendizagem, havendo um ou mais docentes e um corpo discente, onde se estabelece um 181

ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. Maia: Instituto Superior de Maia, 1997. Série Estudos e Monografias.


sistema de graduação de alunos e daqueles que ministram o ensino, havendo uma identificação indumentária por uniformes e símbolos visuais, independentemente do recinto onde se encontrarem. Considera-se como pratica desportiva não-formal da Capoeira sua manifestação cultural, sem qualquer uma das configurações estabelecidas pelo Artigo anterior, e que seja praticada em recinto aberto, eminentemente por lazer, o que caracterizará a liberdade lúdica de seus praticantes. Capoeira – “jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade.” (Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore) 182 Do Atlas do Esporte no Brasil183: “Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica.” (Sergio Luiz De Souza Vieira In DaCOSTA, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.44-1.45) “Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ” uma luta dramática”(in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388). “CARIOCA” - uma briga-de-rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) – outra denominação que se deu ‘a capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX.

182

CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. DaCOSTA, Lamartine (Org.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L. Rio De Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br

183


Para a capoeira, apresentam-se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte. CAPOEIRA ANGOLA - a proposta explícita da capoeira Angola é tradicionalista, no sentido de manter, o quanto possível, os “fundamentos” ensinados pelos antigos mestres. Está intimamente ligada a figura de Mestre Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha -; aprendeu a capoeira antes da virada do século XIX (nasceu em 1889) com um velho africano. CAPOEIRA REGIONAL - é a partir do final da década de 1920 que Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado – desenvolveu na Bahia a sua famosa capoeira Regional, que, apesar do nome, foi a primeira modalidade de capoeira a ser praticada em todo o Brasil e no exterior. Bimba partiu de uma crítica da capoeira baiana, cujo nível técnico considerava insuficiente, sobretudo se confrontado com outras lutas e artes marciais, que começavam a ser difundidas então no Brasil. CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA – o panorama da capoeira no Brasil e no exterior se tornou de tal maneira complexa que é impossível, atualmente, distinguir apenas a capoeira Angola e a Regional, pois surgiram estilos que se pretendem intermediários e que têm sido denominados de “Contemporânea” ou mesmo “Angonal”: - CONTEMPORÂNEA – é a denominação dada por Mestre Camisa a capoeira praticada no Grupo Abadá, com sede no Rio de Janeiro; - ANGONAL – neologismo que representa uma tendência na capoeira atual que funde elementos da Capoeira Angola com a Capoeira regional, criando um estilo intermediário entre essas duas modalidades; é, também, o nome de um grupo, do Rio de Janeiro – Mestre Boca e outros; - ATUAL – denominação que seria usada por Mestre Nô de Salvador, para designar esta terceira via (Vieira e Assunção, 1998). A ”CARIOCA” Buscando as origens da Capoeira no Maranhão184, encontrei referencia à prática da “carioca”. Fora proibida, em Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124). Mestre Mizinho informa que em uma de suas apresentações em Cururupu um senhor - já idoso e negro disse que praticava aquela brincadeira, mas a conhecia como “carioca”, não como “capoeira”. Em aula da disciplina “História do Esporte no Maranhão” referi-me à capoeira e à carioca. Um dos alunos disse-me que o avô, ex-estivador no Portinho, dizia-lhe que já praticara muito aquelas ‘brincadeira’, mas era chamada pelos estivadores de “carioca”. A prática de Capoeira por estivadores é confirmada por Mestre Diniz, nascido em 1929, quando lembra que “na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira”. 184

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629 http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=905 http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20-%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/a-carioca-inicio-estudo http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/category/capoeira/


Também em Codó, entre os antigos, a capoeira é denominada de “carioca”. Desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. De acordo com Mestre Bamba, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-deCrioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga185: Pungada na Coxa - também chamado "bate-coxa", aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a "pernada carioca" ou mesmo com o "batuque baiano"; Pungada Mole - o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege "as partes baixas" com as mãos ... Pungada Rasteira/Corda - semelhante à "negativa de dedos (sic)", de Bimba; Queda de Garupa - lembra o Balão Costurado, de Bimba.

Fonte: LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: 2005, p. 18

Para Mestre Gil Velho186, ainda hoje muito se discute sobre as origens da capoeira, com as perspectivas do debate atreladas aos diversos discursos que vestem sua imagem moderna, a esportiva: “Parte-se de idéias construídas, e não de práticas sociais espontâneas. Assim, a capoeira carioca está historicamente imbricada às maltas de capoeiras da cidade e à “filosofia da malandragem carioca” dos anos 1800. A baiana, por sua vez, está ligada à cultura negra baiana e especificamente ao candomblé. No Recife, ela se manifesta nas gangues de rua Brabos e Valentões. Esse autor considera que para a análise da essência da capoeira, tem-se que voltar no tempo e considerar o contexto da realidade sócio-cultural de espaços com registros identitários e territoriais dela, destacando-se dois loci: Rio de Janeiro e Recife. Estes dois centros urbanos eram, no século XIX, os maiores pontos de comunicação com o resto do mundo, onde mais circulava gente, idéias, comércio. As zonas portuárias permitiam a troca de idéias entre nichos sócio-culturais semelhantes. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira187, e em Recife, com as gangues de rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês)188 em 185

http://www.jornalexpress.com.br/ Gil Cavalcanti, o Mestre Gil Velho, geógrafo, é coordenador do Projeto Memorial da Capoeira Pernambucana, do Programa Capoeira Viva, do Ministério da Cultura, 2008 187 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da 186


Paris e das maltas de fadistas189 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos: Por outro lado, as perspectivas identitárias e territoriais próprias dão a cada movimento sua sócio-fronteira, com espaços personalizados dos atores em seus próprios contextos sócioculturais. A capoeira marca sua presença em grupos de sócio-fronteiras a partir de meados do século XIX, no Rio de Janeiro com as maltas e no Recife com as gangues. Nessas cidades, os grupos disputavam os espaços demarcados identitariamente e tinham suas próprias manifestação rítmicas.(CAVALCANTI, 2008)190 Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel) [Jornal do Capoeira]191 esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas. Destaca que desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente por homens: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005). Para Ferreti (2006) 192, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula193. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula,

Proclamação da República havia http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira)

duas

grandes

maltas,

os

Nagoas

e

os

Guaiamús.

188

O Savate ou boxe francês, é um desporto de combate, desenvolvido na França na qual os pés e as mãos são utilizados para percutir os adversários e combina elementos de boxe com técnicas de pontapé. Um praticante de savate é chamado savateur e uma praticante de savate é chamada savateuse. http://pt.wikipedia.org/wiki/Savate

VER: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “Chronica da Capoeira(gem): O “Chausson/Savate” influenciou a Capoeira?”.in PAPOÉTICO 29 de setembro de 2011, debate ocorrido no Sebo do Chiquinho, promovido pelo jornalista Paulo Melo. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 189 SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf 190 CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica 191

HEICKEL, Marco Aurélio. Tambor de Crioulo. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf.

Ver também: http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 192

FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf

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O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula".


costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres.

Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA

Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. Letícia Vidor de Souza Reis194, baseada em Câmara Cascudo, afirma que o "batuque baiano" era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana195: Em entrevista ao Jornal Diário da Bahia, na sua edição de 13 de março de 1936 196, na matéria: “Titulo Máximo da Capoeiragem Bahiana”, Bimba, dá uma longa entrevista acerca de seus desafios públicos na divulgação da chamada Luta Regional. Da mesma destacamos o seguinte trecho: “Falando sobre o actual movimento d’aquele ramo de lucta, genuinamente nacional uma vez que difere bastante da Capoeira d’angola, o conhecido Campeão (Bimba) referindo-se a uma nota divulgada por um confrade matutino em que apparecia a figura do Sr. Samuel de Souza. Do Bimba, de referência aos tópicos ouvimos: Ao som do berimbau não podem medir forças dois capoeiras que tentem a posse de uma faixa de campeão, e isto se poderá constatar em Centros mais adiantados, onde a Capoeira assume aspectos de sensação e cartaz. A Polícia regulamentará estas exibições de capoeiras de acordo com a obra de Aníbal Burlamaqui (Zuma) editada em 1928 no Rio de Janeiro... . Nesta reportagem existem alguns itens que merecem uma atenção mais detalhada: (a) A confirmação da influencia de Zuma no trabalho implantado por Mestre Bimba; (b) O reconhecimento de Bimba ao trabalho de Zuma; (c) A afirmação de Bimba existia Centros mais adiantados em Capoeira que a Bahia, no caso, a Cidade de Rio de Janeiro; (d) O interesse de Bimba pela prática desportiva da “Luta Nacional”; (e) A integração de seu discípulo nesta inovação; (f) A adoção do regulamento de Zuma pela direção do Parque Odeon, onde se realizavam tais apresentações; 194

REIS, Letícia Vidor de Sousa. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR: A CAPOEIRA NO BRASIL. 2. ed. São Paulo: Publisher Brasil/ FAPESP, 1997. v. 1. 195 in http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf 196

(Fonte: Rego, op. cit., 1968. pág. 282 e 283; Diário da Bahia. Salvador 13 de março de 1936; Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural - Prof. Dr. Sergio Luiz de Souza Vieira - PUC/SP 2004)


(g) A liberação pela polícia, daquela forma de luta já existente no Rio de Janeiro. A afirmação traz um significado especial por tratar do batuque baiano na formação de Mestre Bimba, da qual seu pai era campeão na modalidade, porque implicava num jogo agressivo de pernas contra as pernas do oponente, já como uma forma característica de luta acompanhada por cânticos e instrumentos. Também há apontamentos de que o batuque se disputava entre "pernadas" durante os carnavais cariocas 197. Quanto a Anibal Burlamaqui - Zuma198 - foi um importante inventor desta nova capoeira carioca e afirmou que vários golpes foram extraídos dos “batuques” e “sambas”, como no caso do “baú”. Trata-se de um golpe dado no adversário com a barriga, sendo similar aos movimentos do “samba de umbigada”. O “baú” também era usado durante os “batuques lisos”, segundo Zuma, os mais delicados. O “rapa” havia sido um golpe usado nos “batuques pesados”. Ele também explica os golpes de “engano”, que serviam somente para burlar o adversário.199 Fregolão (2008) 200 considera que toda a pluralidade cultural imbricada na constituição destes elementos podem significar manifestações culturais diferentes, conforme a região em que ocorrem.

Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA 201

Mestre André Lacé , a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas202.

197 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008 disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-

%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 198

http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf - A Capoeira Desportiva é o mais antigo segmento organizado da Capoeira. Surgiu no Rio de Janeiro após a Proclamação da República, no Brasil, em 1889. É resultante do reaproveitamento da corporalidade da antiga capoeiragem, em seus gestos e movimentos, para a construção de um método ginástico caracterizado por uma forma de luta sistematizada. Em 1904 surgiu um livreto anônimo, sob o nome: Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira, com algumas propostas deste reaproveitamento, no qual se encontram as letras ODC, que significam “ofereço, dedico e consagro”, no caso “à distinta mocidade”. Foi somente em 1928 que a Capoeira Desportiva foi metodizada e estruturada por seu precursor, Annibal Burlamaqui, conhecido pelo nome de Zuma, o qual elaborou a primeira Codificação Desportiva da Capoeira, sob o título de: Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada. Sua obra . 199 http://4.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SWfpDlAQZ6I/AAAAAAAAC68/mfXW2md8_IM/s1600-h/punga.gif, in Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA 200 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009, disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 201 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro,2004 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005


Em setembro passado, durante mais um encontro promovido pelo Jornalista Paulo Melo – Papoético – abordei essa questão com “Chronica da Capoeira(gem): O “Chausson/Savate” influenciou a Capoeira?”.

Fonte: http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/grabado-de-capoeira-siglo-xix.html Fuente foto Silat: Martial arts of the world: an encyclopedia, Volume 2 Escrito por Thomas A. Green. http://books.google.es/books?id=v32oHSE5t6cC&pg=PA529&dq=pentjak+silat&as_brr=3#v=onepage&q=pentjak%20silat&f=false

O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira.203 Para Lacé Lopes (2006) 204, a origem africana, entretanto, é evidente e incontestável. Comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares. O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc.205 – sem dúvida, é um bom exemplo. O mesmo raciocínio pode ser ajustado ao berimbau africano, instrumento musical que, no Brasil, acabou fortemente associado ao jogo da capoeira. Cada vez menos, mestres de capoeira e pesquisadores tendem a divergir quanto a esses aspectos. Da mesma forma que está surgindo um consenso sobre a utilização do nome “capoeira” para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo: berimbau, pandeiro, caxixi, reco-reco, agogô, atabaque), e a utilização do nome “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual, no máximo, batiam-se palmas e cantavam-se versos curtos (samba duro, pernada carioca etc.).

El Juego "Sisemba"- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA. Fonte: http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional

LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 202 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 203 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 204 LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 205 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22


1820-BAHÍA-Jogo da Capoeira semejante al Moringue malgache, 1834-RUGENDAS -dibuja la Capoeira ó Moringue ?, 1940-ANTROPÓLOGO Herskovits Compara la Capoeira con Moringue disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/08/1733-carolina-del-sur-boxeador-y.html

Já em Portugal encontrou-se o chamado fado batido, que surgiu no início do século XIX como dança de umbigadas semelhante ao lundu. Popularizou-se primeiro no Rio de Janeiro e depois na Bahia. Na década de 1830, já existiam em Lisboa inúmeras casas de fado, onde moravam as fadistas, jovens que cantavam, tocavam e "batiam" o fado num ambiente de bordel. Por volta de 1840, o canto ganhou especial importância, o que parece haver coincidido com a substituição da viola pelo violão206. José Ramos Tinhorão (2001), no capítulo "Os negros na origem do fado-canção em Lisboa" revela ter havido rodas de fado que funcionavam como as rodas de pernada dos crioulos do Brasil: era o chamado ‘fado batido’, clara referência à antiga umbigada africana e em que um dançarino ‘batia’ (aplicada a pernada) e o outro ‘aparava’ (procurava neutralizar o golpe para não cair).207

1810-RIO -danzas de africanos españoles y portugueses, capangas disponível em http://www.cchla.ufpb.br/pergaminho/1907_capitulos_-_capistrano.pdf

Não conseguimos localizar até agora documentação referente à presença antiga da capoeira no Maranhão e sua relação com o tambor de crioula, tema que atualmente tem despertado grande interesse.208

206

http://www.casadobacalhaupb.com.br/v2/fado.php, referencia de Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA TINHORÃO, José Ramos. HISTÓRIA SOCIAL DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA. Rio de Janeiro: Editpora 34, 2001, disponiverl em http://books.google.es/books?id=8qbjll0LmbwC&printsec=frontcover&source=gbs_v2_summary_r&cad=0#v=onepage&q=&f =false 208 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Punga dos Homens e Capoeira do Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf 207


INDÍCIOS DE CAPOEIRAGEM209 NO MARANHÃO Garcia de Abranches em “O Censor”, edição de 24 de janeiro de 1825, comenta o posicionamento político do Marquês governante – Lord Cockrane – e compara alguns portugueses com os desocupados do Rocio – em sua maioria caixeiros – que “pela sua péssima educação, muitos brancos da Europa são tão vis, e tão baixos, como esses mulatos que andam a espancar, a roubar e a matar, pelas ruas da Cidade…”. Estaria o Censor referindo-se aos capoeiras? Em 1829, registram-se certas atividades lúdicas dos negros, publicada no jornal “A Estrela do Norte” a seguinte reclamação de um morador da cidade: “Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d’elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?” 210 Fregolão (2008) 211 informa que na página 61 dos Códigos de Posturas da Câmara Municipal da cidade de Desterro [Florianópolis], de 10 de maio de 1845 no artigo 38 há a proibição dos ajuntamentos de escravos ou libertos para formarem batuques, sob pena de castigos conforme a lei para os cativos e para os libertos multa ou cadeia. O código de posturas da cidade de Salvador proibia "os batuques, danças e ajuntamentos em qualquer hora e lugar sob pena de prisão". A expressão "batuque", repleta de significados, podia representar diversas expressões culturais. Câmara Cascudo registra por "Batuque" a dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro "quando entra gente mais asseada". Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile. De uma descrição de um naturalista alemão, em visita às Gerais, em 1814/15, ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]. Edison Carneiro212 ao fazer uma espécie de etimologia do batuque, cita que Macedo Soares considerava a palavra produto do verbo bater, mas cita também “Esta palavra, na sua acepção mais lata no Brasil, aplica-se ao conjunto de sons produzidos por instrumentos de percussão, em especial se considerados desarmônicos ou ensurdecedores. Também em sentido lato, a toda e qualquer dança ao som de atabaques dá-se, depreciativamente, o nome de batuque. Especificamente, batuque designa um jogo de destreza da Bahia, uma dança de umbigada de São Paulo – que se filia ao batuque africano – e dois tipos de cultos de origem africana correntes na região amazônica e do Rio Grande do Sul.” José Ramos Tinhorão (1988) 213 aponta para o problema do uso genérico do termo batuque: Na verdade, tal como o exame mais atento das raras informações sobre essas ruidosas reuniões de africanos e seus descendentes crioulos deixa antever, o que os portugueses chamaram sempre genericamente de batuques não configurava um baile ou um folguedo, em si, mas uma diversidade de práticas religiosas, danças rituais e formas de lazer. HEICKEL, Marco Aurélio. Tambor de Crioulo. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf 209 Venho me utilizando do termo “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, conforme definição de André Lacé Lopes, no Atlas do esporte no Brasil. In http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 210 ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite. 211

FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20-%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf

212 CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro:O Autor, 1950.Citado por FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. 213 TINHORÃO, José Ramos. OS SONS DOS NEGROS NO BRASIL: CANTOS, DANÇAS, FOLGUEDOS: ORIGENS. São Paulo: Art Editora, 1988.


Com o nome de "batuque" ou "batuque-boi" há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola.

BATUQUE - Johann Moritz Rugendas (Augsburg, 29 de março de 1808 — Weilheim, 29 de maio de 1858) foi um pintor alemão que viajou por todo Brasil durante 1822-1825 e pintou povos e costumes. Date 1822-1825. Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA

É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos): a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar à posição primitiva.

Augustus Earle “Negroes fighting. Brazils” (Nègres combattant. Brésils) aquarelle sur papier, 16.5x25.1 cm, date approximative 1821...1823

Catunda (1952) 214 ressalta que na capoeira baiana [...] Não é como a capoeira carioca, na qual um dos comparsas se mantém imóvel, em atitude de defesa, enquanto só o outro ataca, dançando em volta do inimigo, assestando-lhe golpe sobre golpe. Em comentário de pé-de-página consta o seguinte: “A descrição da capoeira do Rio relembra a do batuque ou da pernada carioca por Edison Carneiro 1950 215, [...] Edison Carneiro descreveu a capoeira bahiana em Negros Bantus em 1938”.

214 CATUNDA, Eunice, Capoeira no Terreiro de Mestre Waldemar, Fundamentos—Revista de Cultura Moderna, nº30, São Paulo, 1952, pp. 16–18. 215 CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro: O Autor, 1950


Recordemos a descrição de Mestre Bamba sobre a Punga: esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga216: Pungada na Coxa - também chamado "bate-coxa", aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a "pernada carioca" ou mesmo com o "batuque baiano"; Pungada Mole - o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege "as partes baixas" com as mãos ... Pungada Rasteira/Corda - semelhante à "negativa de dedos (sic)", de Bimba; Queda de Garupa - lembra o Balão Costurado, de Bimba. Câmara Cascudo217 informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o "rei da pernada carioca"; é o bate-coxa das Alagoas. Em “Dinâmica do Folklore” (1950) Edson Carneiro218 afirma que o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário - a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada - nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... No verbete "punga", Câmara Cascudo219 se refere à dança popular no Maranhão, capital e interior; que é a mesma "dança do tambor". A punga é também chamada "tambor de crioula". Há também referencia a grafia "ponga", que como se sabe é um jogo. Crê que punga é um termo em uso apenas no Maranhão e significa, na dança em questão, a umbigada, a punga. A punga seria uma dança cantada, mas sem versos próprios, típicos. Geralmente são improvisados na hora, quando as libações esquentam a cabeça e despertam a "memória" do "tiradô" de versos. Após descrever o que seria a dança do tambor-de-crioula, informa que pong provirá do tupi “soar, bater, ou antes, soar por percussão. "O que fervia era o lundum, e estalavam as umbigadas com o nome de "pungas"" (p. 742-743). Remete a Tambor: "... mas a autonomia dos tambores indígenas e sua existência pré-cabralina parecem-me indiscutíveis no Brasil. Dança do Tambor, Tambor-de-Mina, Tambor-de-Crioulo. As danças denominadas "do Tambor" espalham-se pela Ibero-América. No Brasil, agrupam-se e são mantidas pelos negros e descendentes de escravos africanos, mestiços e crioulos, especialmente no Maranhão. [grifos meus]. Conhece-se uma Dança do Tambor , também denominada Ponga ou Punga que é uma espécie de samba, de roda, com solo coreográfico, e os Tambor-de-Mina e Tambor-de-Crioulo, [chamo atenção novamente para a grafia, em masculino], série de cantos ao som de um ferrinho (triangulo), uma cabaça e três tambores, com danças cujo desempenho ignoro." (p. 850-851). O lundu ou lundum220 é um gênero musical contemporâneo e uma dança brasileira de natureza híbrida, criada a partir dos batuques dos escravos bantos trazidos ao Brasil de Angola e de ritmos portugueses. Da África, o lundu herdou a base rítmica, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, os rebolados e outros gestos que imitam o ato sexual. Da Europa, o lundu, que é considerado por muitos o primeiro ritmo afro-brasileiro, aproveitou características de danças ibéricas, como o estalar dos dedos, e a melodia e a harmonia, além do acompanhamento instrumental do bandolim. O lundu veio para o 216

http://www.jornalexpress.com.br/ CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972 218 http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629 219 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972 220 http://pt.wikipedia.org/wiki/Lundu 217


Brasil com os negros de Angola, por duas vias, passando por Portugal, ou diretamente da Angola para o Brasil. Informa o ilustre pesquisador, ainda, que uma missão cultural colheu exemplos das músicas utilizadas tanto no Tambor-de-Mina quanto no de Crioulo, em 1938. Estão ligados esses tambores-de-mina-e-decrioulo às manifestações religiosas dos "terreiros", ao passo que: "... a punga (dança e batida) parecem alheias ao sincretismo afro-brasileiro na espécie... o Tambor-de-Crioula é o Bambelô do Maranhão, mas com a circunstância de que só dançam as mulheres. Passa-se a vez de dançar com a punga, que é um leve bater de perna contra perna. Punga é também espécie de pernada do Maranhão: batida de perna contra perna para fazer o parceiro cair.. às vezes o Tambor-de-Crioula termina com a punga dos homens.". (p. 851). Por "Punga", registra: jogo ginástico, brincadeira de agilidade, entre valentões, malandros e capadócios. É uma simplificação da capoeira... Sua descrição, assemelha-se à da "punga dos homens", do Tambor-deCrioulo(a) (p. 709). Já "bambelô" é descrito como samba, côco de roda, danças em círculo, cantada e acompanhada a instrumentos de percussão (batuque), fazendo figuras no centro da roda um ou dois dançarinos, no máximo. O ético é o vocábulo quimbundo mbamba, jogo, divertimento em círculo (p. 113). Na Rua dos Apicuns, local freqüentado por “bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público”, os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: “A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do ‘Eco do Norte” 221 contra a folgança dos negros que, dizia, ‘ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever… ’ (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís).” No ano de 1843, o Diretor da Casa dos Educandos Artífices do Maranhão em relato ao Presidente da Província informava que havia “outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor: “Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar222, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em conseqüência da má administração 221

ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36.

222

Mathias Assunção acredita que se estava referindo a capoeira ‘mato, ‘[...] que não consegue derrubar[...]’. Mas ‘mato’ agride, rouba, mata?


em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer conseqüências mais desagradáveis […] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192) 223. A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184). Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 1842224, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada?225 Dunshee de Abranches em "O Captiveiro"226, de 1941, livro de memórias escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, trata de registros de acontecimentos políticos e sociais do Maranhão (GASPAR, 1993, VAZ, 2008)227. Numa de suas passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcadia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizesse, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de Abranches (1941) em suas memórias:

223

CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL - uma história da casa dos Educandos Artífices (1841-1889). São Luís: EdFUNC, 2007. 224 ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001 225 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ERAM OS BALAIOS CAPOEIRA? (INÉDITO) 226 DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, João. O CAPTIVEIRO (memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DUNSHEE DE ABRANCHES. Discurso de posse no Instituto Histórico e geográfico do Maranhão, em 03 de setembro de 2008. 227 GASPAR, Carlos. DUNSHEE DE ABRANCHES. São Luís : (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA Nº 40. REVISTA DO IHGM – No. 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 157 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A GUARDA NEGRA REVISTA DO IHGM N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 20-33 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A ”CARIOCA”. REVISTA DO IHGM N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 54-75 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. OS HOLANDESES E OS PALMARES. REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 120 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70.


"E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisdos athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos..." (p. 187-188). O "Club dos Mortos" envolveu-se, ainda, nas disputas entre caixeiros e estudantes por causa de duas artistas de um circo, instalado no Tívoli. Para enfrentar os empregados do comércio, na sua maioria homens feitos, os preparatorianos (estudantes do Liceo) reuniram-se no pátio do colégio para selecionar os melhores atletas para a defesa. Fundaram, assim, o Club Roncador, que guardavam suas armas na casa dos Abranches: ”... veio dahi uma grande amizade dos campeões dos murros e dos cambitos (synonimo de rasteira naquella época) pelo Club dos Mortos". (p. 190-191). (grifos meus). MARTINS (1989) 228, aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877: “JOGO DA CAPOEIRA “Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da Rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes”. ( p. 179) E A “CARIOCA”?229 Soares (2005) 230, em “Capoeira no Pará: resistência escrava e cultura popular, 1849-1890”, ao referir-se a acontecimentos na Corte, compara-o à situações vividas em Belém, no ano de 1849. Refere-se, mais adiante, a recente trabalho de Vicente Salles (A defesa pessoal do negro: a capoeira no Pará, 1994) 231 que revela a antiguidade da capoeira paraense, seu enraizamento, sua proximidade com a capoeira praticada no Rio de Janeiro e Bahia, e sua peculiaridade regional. Soares (2005) 232, se referindo a acontecidos nos anos de 1890, discorre: “Sintomático também em Belém, muito precocemente, também fosse palco da Carioca, como nos mostra ofício […] descreve uma patrulha na região de Ver-O-Peso: ‘estive em patrulha […] quando vimos alguns individuos pulando jogando carioca.” 233 Para Albuquerque234, o êxito da economia paraense atraiu para a região amazônica, entre 1890 e 1910, trabalhadores nordestinos e imigrantes europeus, principalmente portugueses. A interação entre esses trabalhadores levou à incorporação pela capoeira paraense de armas próprias às lutas portuguesas, assim como golpes e hábitos dos capoeiristas baianos, cearenses e pernambucanos. No Rio de Janeiro, essa convivência entre negros, imigrantes pobres e migrantes de diversas regiões do país nas ocupações braçais, 228

229

MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: (s.n.), VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A ”CARIOCA”. Revista do IHGM, N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 54-75

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRÔNICA DA CAPOEIRA(GEM) – “UMA RAIZ DA CAPOEIRA É A RINGA-MORINGUE MALGACHE?” REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 22 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. OS HOLANDESES E OS PALMARES. REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 120 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. 230 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144160. 231 SALLES, Vicente. A DEFESA PESSOAL DO NEGRO: A CAPOEIRA NO PARÁ. Micro-edição do autor, 1964, citado por SOARES, 2005, op. Cit. 232 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144160. 233 (AE. Secretaria de Segurança Pública. Autos-Crimes, 22/09/1892). 234 ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL, nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa Internacional FICA el 8/19/2009, disponível em http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.pdf


principalmente na estiva, ampliou, ainda mais, os tipos sociais que praticavam capoeira. Entre os praticantes estavam portugueses, espanhóis e italianos que trabalhavam no porto, operários nordestinos, soldados, brasileiros brancos e pobres. Não eram apenas os negros que podiam ser facilmente identificados como capoeiras pelo andar gingado, as calças de boca larga e a argolinha de ouro na orelha, sinais de valentia. Soares (2005) considera que a repressão desencadeada em 1890, a criminalização no novo código penal da República, teria obrigando os praticantes a encontrar novas formas de dissimulação, para ocultar-se da atenção das autoridades. Nos últimos anos do século XIX, no Rio de Janeiro teria aparecido a chamada Pernada Carioca, que consistia de golpes da capoeira tradicional, como a rasteira, camuflados em nova roupagem. Miltinho Astronauta, ao referir-se à Pernada de Sorocaba235, na Capital Paulista, e à outra "espécie de capoeira", a Tiririca, comenta que, aparentemente, com a repressão de algumas manifestações (ai inclui-se a Capoeira, o Batuque e até mesmo a Religião Candomblé), o povo era obrigado a mascarar suas práticas, mudando formas de execução e nome de tais práticas. Refere-se ainda ao Folclorista Alceu Maynard Araújo (1967) que relata que foi encontrada capoeira no interior paulista entre o final do século XIX e início do século XX. Trata-se de levas de capoeiras soltas nas pontas dos trilhos da Sorocabana, que tinha como destino final a cidade de Botucatu. Na verdade eram capoeiras desterrados do Rio em conseqüência do Código Penal de 1890 236. Na Bahia, o batuque era o escalão inicial para a capoeira; no Rio de Janeiro, era e é a pernada, banda ou batuque a forma de ataque e defesa preferida pelo carioca; no Maranhão, a punga, associada ao tambor-decrioula, parece preencher a mesma função. Já no Recife, a capoeira, desaparecida em conseqüência de vigorosa reação policial, se transfigurou no passo.237 Soares (2005) 238 considera que a identificação da ‘capoeira’ como ‘carioca’, simplificação de ‘pernada carioca’ acontece pela dissimulação dos praticantes para fugir aos rigores da repressão do chefe de polícia Sampaio Ferraz, quando da criminalização da prática da capoeira, pelo Código de 1890. Gil Velho coloca que a capoeira do século XIX morre com o advento da República. Inimiga da capoeira, ela chega com uma proposta de reformas sociais e urbanas, criticando a organização e a expressão popular da sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à mestiçagem étnica e cultural. Sua proposta alternativa seria baseada no modelo cultural europeu republicano – e positivista - e qualquer coisa que estivesse fora desses princípios era desconsiderada: Essas mudanças alteraram os nichos e a geografia culturais da cidade. Espaços de expressões culturais foram perdidos, desarticulando a forma de organização urbana e quebrando a dinâmica interativa das comunidades que a compunham. Assim, com a alteração de elementos essenciais do contexto social da capoeira, o processo que a personalizava se alterou. Desaparecidas, as maltas são substituídas pela solitária figura do malandro. Malandro é um indivíduo e a malta, um grupo social. [...] “(CAVALCANTI, 2008) 239 Mas seis anos antes (1884) aparece sua proibição no Código de Posturas de Turiaçú - Lei 1342, de 17 de maio de 1884 -, e já identificada como “o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca”...

235

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Pernada de Sorocaba. In JORNAL DO CAPOEIRA, 29 de outubro de 2004, disponível em http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=3 236 MILTINHO ASTRONAUTA, CAPOEIREIRO Capoeira, Pernada & Tiririca na Terra da Garoa in http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=713 237 CARNEIRO, Edison in Folguedos Tradicionais disponível em http://www.capoeirainfos.org/ressources/textes/t_carneiro_capoeira.html 238 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144160. 239 CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lenco-de-seda-a-calca-de-ginastica


Negros que vão levar açoutes Briggs del. Litho. R.B. Rua do Ouvidor nº 118. Source: Biblioteca Nacional, acervo de gravuras sobre escravatura

BOX Mestre Sapo morreu em 1982. Mereceu do Professor Laércio Elias Pereira um “Tributo ao Mestre Sapo”, em que é traçada, poeticamente, sua história de vida: “Era um dos ‘capitães da areia’ das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali. Vivem é muito otimismo; sobrevivem à margem da sociedade dando e pedindo esmola, como cantou outro baiano, Moraes Moreira. “Daí até chegar à capoeira pra turista foi fácil, que a Capoeira era parte de seu dia-a-dia. Já tinha até arranjado um lugar de destaque junto a Mestre Canjiquinha, que fazia apresentações em bares e boates da Bahia de Todos os Santos. Com Canjiquinha apareceu na maioria dos filmes feitos sobre a Bahia pela Atlântica e se orgulhava de ter filmado com Anselmo Duarte. “Convidado, Canjiquinha fez uma excursão pelo Nordeste, e, no Maranhão, o garoto Sapo foi convidado para ficar. Era bom de luta e a política local precisava de guarda-costas. Foi a primeira investida da máquina, desta vez a política. Com a facilidade de manejar armas pela nova profissão Mestre Sapo teria aí uma de suas paixões: sempre tinha um trintaeoito ou uma bereta pra ‘botar no prego’ e recuperar quando aparecesse algum, pois a convivência com políticos não tinha deixado nada que o ajudasse no leite das crianças, a não ser o estudo, com que ele deu um rabo-de-arraia nas poucas letras trazidas de Salvador. Estudou muito. Até o cursinho, e se foi sem ter conseguido superar o vestibular que a Universidade teima em manter na área médica, pra Educação Física. Mas era professor de Educação Física: Professor Anselmo. Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo. Era a segunda investida da máquina: a administrativa. A modernização da pobreza também tenta tirar a originalidade das pessoas. Como Sapo não seria aceito; só como Anselmo. Essa parada contra a máquina ele ganhou: nunca deixou de ser Mestre Sapo. “Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em ‘Capoeira Angola’ é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova ‘Ginástica Brasileira’ a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica. “Ia se aperfeiçoar e o sonho de fazer Educação Física foi ficando cada vez mais sonho. Mas tinha orgulho de sua forma física: ‘Fique calmo!’, ‘Olha o bíceps!’. “Ele gostava de domingo. Um dia malemolente pra se tomar cana e brigar. Brigar com os companheiros de briga. E foi num domingo, domingo de cachaça e briga que ele recebeu a terceira e definitiva investida da máquina: o automóvel, que mostrava a ‘mais vaia’ de sua capacidade de competição contra os músculos do Homem. Os músculos bem treinados de Mestre Sapo nada puderam contra a máquina forte e estúpida, medida em cavalos. Mais de cinqüenta. Uma máquina movida por um companheiro de profissão, um amigo, pra combinar com o domingo, com a briga e a cachaça. Jamais seria um desconhecido dirigindo a máquina da morte. Sapo era amigo de todo mundo”. (in PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17)


BOX – GENESE DA CAPOEIRA EM SÃO LUIS DO MARANHÃO Manoelito

Leocádio Zé Baianinho

Mané

GRUPO BANTUS | (Arthur Emídio)

(Djalma Bandeira )

(Catumbi)

Roberval Serejo

Jessé Lobão

Firmino Diniz

| Babalú

Patinho

Ubirajara

Manuel Peitudinho

Elmo Cascavel

Alô

Gouveia

Didi

| ABERRÊ | CANJIQUINHA

| Brasília

SAPO

Vítor Careca

| MESTRE PATINHO | Costa Rodrigues

Academia Senzala

Parque do Bom Menino

Pró-Dança

Lítero

Gladyz Brenha

Bigu

Marquinhos

Gavião

Tião Carvalho

Robert

Carlos César

Jacaré

Brenha Neto

| LABORARTE | Laborarte Nelsinho

Mandigueiros do Amanhã Klebinho

Centro Matroá

Escola Criação

Maré do Chão

Same

Marinheiro

Serginho

Nestor

Marco Aurélio

Bamba

N´Zambi

Brinquedos de Angola

Elma

Frederico

| CENTRO CULTURAL MESTRE PATINHO

Acinho de Jesus

Alex

Cabeludo

Domingos de Deus

|

Euzamor

| Pudiapen

Águia Sidnelson Madeira | Abelha Paulinho Gavião Arara Merão King

Paturi

De Paula

|

Dominguinhos

| Ciba

Pirrita

Raimundão

Pedro Soares

Vânio

|

Açougueiro


Canarinho Negão

Socó

Generoso Valdeci Índio Maranhão

Cacá

(Canjiquinha)

(Bimba)

Evandro

Edy Baiano

| Mirinho

|

Camisa

| Baé

Bartô

| Bodinho

Ribaldo

| Pezão

Pai Velho

| Chiquitita

| Cimbar

Camisa

| Juruna

Mizinho Tutuca

|

| Chicão Graúna

Curoja

Rui Pinto

| Euzamor

Faquinha

(Burguês)

(CBC-RJ)

Fuzuê

Sena

| Frazão

Magno


ARTIGOS, CRONICAS & OPINIÕES


“RES PRO PERSONA” 240: MAIS UMA NOTA SOBRE A CAPOEIRA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Universidade Estadual do Maranhão O que é ‘capoeira’?241 Quando do reconhecimento da Capoeira como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro foi considerada: “Arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta”; é: Expressão brasileira surgida nos guetos negros há mais de um século como forma de protesto às injustiças sociais, arte que se confunde com esporte, mas que já foi considerada luta, a capoeira foi reconhecida como patrimônio imaterial da cultura brasileira. A decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foi concretizada terça-feira (15) [de julho de 2008] no Palácio Rio Branco, em Salvador (BA).242. Vernaculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu Amaral: ‘‘Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 243 Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968): “[...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira. (Antenor Nascimento, apud Rego, 1968, citados por Mano Lima – Dicionário de Capoeira; Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79).

240

Por metonímia res pro persona, o nome da coisa passou para a pessoa com ela relacionada. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jornal do Capoeira http://www.capoeira.jex.com.br/, Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD-R (pré-print). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; LACÉ LOPES, André Luis; RIBEIRO, Milton César. ATLAS DA CAPOEIRA(GEM) NO BRASIL. Pesquisa em construção (Inédito). LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007 ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS ÀS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra-Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008 242 Capoeira é registrada como patrimônio imaterial brasileiro - África 21 - Da Redação - 16/07/2008 http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/16/capoeira-e-registrada-como-patrimonio-imaterial-brasileiro/ 243 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 241


DEBRET – 1816/1831 http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=brasil&theRecord=71&recordCount=77

Por Capoeira deve-se entender “indivíduo (s) ou grupos de indivíduos que promoviam acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno”? (p. 65), conforme a conceitua Araújo (1997) 244, ao se perguntar “mas quem são os capoeiras?“; e por “capoeiragem” como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70). Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79), em nota registrando a Decisão (205) de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores). Outra questão é: quando surgiu? No entender de muitos capoeiristas, quando o primeiro escravo angolano pisou a Terra de Santa Cruz (hoje, Brasil), já o teria feito no passo da ginga e no ritmo de São Bento Grande: “numa noite escura qualquer, o primeiro negro escapou da senzala, fugiu do engenho, livrou-se da servidão, ganhou a liberdade... escapou o segundo e o terceiro, na tentativa de segui-lo, fracassou. Recapturado, recebeu o castigo dos negros (...) as perseguições não tardaram e o sertão se encheu de capitães-do-mato em busca dos escravos foragidos. Sem armas e sem munições, os negros voltaram a ser guerreiros utilizando aquele esporte nascido nas noites sujas das senzalas, e o esporte que era disfarçado em dança se transformou em luta, a luta dos homens da capoeira. ’A capoeira assim foi criada’. (Jornal da Capoeira, n. 1, 1996)”. (VIEIRA E ASSUNÇÃO, 1998, p. 83)245. Durante as invasões holandesas - SÉCULO XVII, 1640 - surgem as expressões: ‘negros das capoeiras’, ‘negros capoeiras’, e ‘capoeiras’. (Vieira, 2004, 2005) 246. Com o advento das invasões holandesas, na 244

ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. Maia: Instituto Superior de Maia, 1997. Série Estudos e Monografias. 245 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118 246 VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/. VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40.


Bahia e em Pernambuco, principalmente a partir de 1640, houve uma desorganização generalizada no litoral brasileiro, permitindo que muitos escravos fugissem para o interior do país, estabelecendo-se em centenas de quilombos, tendo como consequência o contato ora amistoso, ora hostil, entre africanos e indígenas. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. (Vieira, 2005) 247. Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Sendo assim, aquilo que antes etimologicamente designava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (Vieira, 2005) 248. Segundo Coelho (1997, p. 5)249 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem linguística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5)250. Mas por que essas dúvidas? Marcos Carneiro de Mendonça251, em “A Amazônia na era Pombalina”, traznos carta de Mendonça Furtado252 a seu irmão, o Marques de Pombal – datada de 13 de junho de 1757 -, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande: “[...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente-Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo-se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...]” (p. 300).(grifos do texto). Para Vieira (2004)253: “[...] data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’.”

247

VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 248 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 249 ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997 250 ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997 251 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A Amazonia na era pombalina. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C. 252 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado 253 VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/.


EVIDÊNCIAS DA CAPOEIRA(GEM) NA SÃO LUIS OITOCENTISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Universidade Estadual do Maranhão Tenho colocado que a Capoeiragem, no Maranhão, é tão antiga quanto as do Rio de Janeiro, Bahia, ou Recife... Fato contestado por alguns Capoeiras... Diz o ditado: “mata-se a cobra e mostra-se o pau”; prefiro mostrar a cobra morta... Venho trazendo ao conhecimento dos estudiosos da área várias evidências de que desde o principio dos 1800 - e até antes... - já se falava – e se praticava – a capoeiragem por estas bandas. As expressões ‘negros das capoeiras’, ‘negros capoeiras’, e ‘capoeiras’ surgem durante as invasões holandesas – Século XVII - (Vieira, 2004, 2005) 254, na Bahia e em Pernambuco, principalmente a partir de 1640 quando houve uma desorganização generalizada no litoral brasileiro, permitindo que muitos escravos fugissem para o interior do país, estabelecendo-se em centenas de quilombos, tendo como consequência o contato ora amistoso, ora hostil, entre africanos e indígenas. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. (Vieira, 2005) 255. Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras” 256. Sendo assim, aquilo que antes etimologicamente designava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (Vieira, 2005) 257. Segundo Coelho (1997, p. 5) 258 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem linguística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi-guarani. Em 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 259. Essa referencia do Professor Catedrático da Universidade de Coimbra – Cátedra de Capoeira!!! – é encontrada na correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará e o Ministro de D. José I. Marcos Carneiro de Mendonça260; em “A Amazônia na era Pombalina”, traz-nos carta de Mendonça Furtado261 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte das 254

VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. CAPOEIRA – ORIGEM E HISTÓRIA. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/.

VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. CAPOEIRA. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40. 255

VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40

256

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “RES PRO PERSONA”: MAIS UMA NOTA SOBRE A CAPOEIRA NO MARANHÃO.

257

VIEIRA, 2005, obra c iatada, p. 39-40.

258

ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997

259

ARAÚJO, 1997, obra ciatada,

260

MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49-C.

261

Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado


gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande: “[...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando-se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente-Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo-se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...]” (p. 300). (grifos do texto). Para Vieira (2004)262: “[...] data a Capoeiragem de 1770, quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’.” Mario Meireles (2012) 263, quando da chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702), homem intolerante, refere-se às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas: “[...] enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.” (p. 98). Em 1843, José Antônio Falcão, tenente-coronel reformado do Exército, organizador da Casa dos Educandos Artífices, diretor no período de 1841 a 1853, informa ao Presidente da Província que havia “outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local264. Meireles (2012) 265, no capitulo referente ao Serviço de iluminação pública – implantado em 1863 -, fala da falta de iluminação nas ruas, em que era dado toque de recolher às 21 horas, com o repicar dos sinos: “Os que não atendiam ao oportuno aviso dado pelos sinos, corriam o risco, aventurando-se mergulhados nas trevas das ruas estreitas, de ir ao desagradável encontro de animal vagabundo ou de defrontar um capoeira encachaçado, se não de emparelhar com um negro escravo que levasse à cabeça um daqueles fétidos tigres – que iam ser despejados na maré mais próxima.” (p. 222, grifo meu). Em 1861 é publicado em A IMPRENSA266, de 11 de dezembro de 1861 o seguinte: “[...] Serafim é um jovem de cara lavada, moreno, barba a lord Raglan, desempenado de capoeira, e andar de cahe a ré, como marinheiro tonto, ou redactor do Porto Livre, nas horas em que o sol procura as ondas do mar [...]”

262 263

VIEIRA, 2004, obra citada.

MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99 264 CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL: uma história da Casa dos Educandos Artífices (1841-1889). São Luís: EdFUNC, 2007. (Prêmio Antonio Lopes (Erudição) do XXX Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luis, 2006. 265 MEIRELES, 2012, obra citada, 266 OS ILUMORISTAS. PÁGINAS SOLTAS: o Sr. Primo, o Serafim e o Cavallo preto de Sua Excia. A IMPRENSA, 11 de dezembro de 1861, p. 4



Antes, em 1860 esse mesmo jornal267 publica um artigo, dividido em partes, que apareciam em várias edições, como era costume na época, sob o titulo A FAZENDA, na coluna de variedades: “Jogos e danças dos negros – No sábado à noite, depois do ultimo trabalho da semana, e nos dias santificados, que trazem folga e repouso, concede-se aos negros uma ou duas horas para a dança. Reunem-se então no terreiro, chamam-se, grupam-se incitam-se, e a festa começa. Aqui, é a capoeira, espécie de dança física, de evoluções atrevidas e guerreiras, cadenciada pelo tambor do Congo; ali o batuque, posições frias ou lascivas, que os sons da viola aceleram ou demoram: mais além tripudia-se uma dança louca, na qual olhos, seios, quadris, tudo fala, tudo provoca; espécie de frenesi convulsivo e inebriante a que chamam lundu. Alegrias grosseiras, volúpias asquerosas, febres libertinas, tudo isto é nojento, é triste, porém os negros apreciam estas bacanaes, e outros aí encontram proveito. Não constituirá isto um sistema de embrutecimento?”.

267

CH RIBEYROLLES. VARIEDADES. A Fazenda (continuação do numero anterior), São Luis, 29 de setembro de 1860, p. 2


CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM)268: ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão No recente lançamento do ‘livreto’ “RODA DE RUA – memória da Capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX”, de Roberto Augusto A. Pereira (São Luis: EDUFMA, 2009), Mestre Patinho269 falava do Renascimento da Capoeira no Maranhão nos anos 1960/70, através de Roberval Serejo e Sapo... Renascimento, porque desde os idos da década de 1820 temos referências sobre a lúdica e o movimento dos povos radicados no Maranhão, especialmente os negros. Mundinha Araújo fala-nos de manifestação de negros em São Luís, através da prática do Batuque, aparecido lá pelo início dos 1800, referencia que encontrou no Arquivo Público do Estado, órgão que dirigiu. Perguntada sobre o que havia sobre ‘capoeira’ no Arquivo, respondeu que, além do ‘batuque’, encontrara apenas uma referência sobre a Capoeira, no Código de Posturas de Turiaçú do ano de 1884: 1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124, grifos meus) 270. Encontrei, ainda, que em 1829, era publicada queixa ao Chefe de Polícia: “Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite; grifos meus). BATUQUE - dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro “quando entra gente mais asseada”. Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África.

DEBRET – BATUCA DANCE, SAN PAULO, BRASIL 1817 1820 http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=brasil&theRecord=75&recordCount=77 268

Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502). 269 Antonio José da Conceição Ramos, ‘Antonio” de Santo Antonio; ‘José’, de São José; ‘Conceição’, de N. S. da Conceição, e ‘Ramos’, de Domingo de Ramos – herdeiro de Mestre Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues. 270 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CARIOCA. In REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, n. 31, p. 54-75, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009


Batuque é o baile, conforme descrição de um naturalista alemão, George Wilhelm Freyreiss271 que faleceu no sul da Bahia, em uma viagem que fez a Minas Gerais em 1814 -1815 em companhia do barão de Eschwege 272. Assistiu e registrou um batuque, e ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]: “Os dançadores formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola), move-se o dançador no centro, avança, e bate com a barriga na barriga de outro da roda (do outro sexo). No começo o compasso é lento, depois pouco a pouco aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada. Assim passam a noite inteira. Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta. Razão pela qual tinha muitos inimigos, principalmente os padres.” 273 Com o nome de “batuque” ou “batuque-boi” há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola.

Batuque Muila http://www.nossoskimbos.net/Etnografia/Povos/index.htm

De acordo com D´Ávila (2006) 274, no século XVIII, constituído de instrumentos de percussão (membranofones, idiofones), o Batuque surgiu com esta designação, em conseqüência da homologação entre os atos do “bater”, verificados, tanto na forma primitiva do candomblé - o batucajé na Bahia, dança religiosa de negros ( onde os atabaques marcam o ritmo para o contato com as divindades), quanto numa modalidade de capoeira, o famoso batuque-boi ou pernada (ou batuque), luta popular de origem africana muito praticada nos municípios de Cachoeira, Santo Amaro e Salvador, acompanhada de pandeiro, ganzá, berimbau ( o único cordofone + idiofone, como exceção), e cantigas. É de procedência banto como a capoeira. Segundo João Mina (citado por D´ÁVILA, 2006)4, grande batuqueiro e capoeirista baiano que se mudou para o Rio de Janeiro: “o Batuque era praticado por negro macumbeiro, bom de santo, bom de garganta e principalmente bom de perna para tirar o outro da roda”. Todos os dias no Morro da Favela (onde nasceu o samba, no Rio) havia Batuque, pernadas, pessoas caídas no chão até que surgisse a polícia. Na chegada dela, o batuque rapidamente virava meio dança lenta, meio ritual. As mulheres dos batuqueiros, para disfarçar, entravam na roda (tal qual a gira dos candomblés) e, num batuque mais lento, mole, com remelexos, trejeitos sensuais e umbigadas (= semba, em Luanda) no sexo oposto, - sendo estas consideradas o ponto culminante

271

FREYREISS. Georg Wilhelm. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982. Ver também http://openlibrary.org/b/OL16308743M/Reisen_in_Brasilien_von_G._Wilhelm_Freyreiss. 272

PRINZ MAXIMILIAN VON WIED (1782-1867) - VOYAGE AU BRÉSIL, DANS LES ANNÉES 1815, 1816, ET 1817 Paris: A. Bertrand, 1821-1822 (http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional/Principal/Obras_raras.htm)

273

D´ÁVILA, Nícia Ribas. Fundamentos da Cultura Musical no Brasil e a Folkcomunicação. UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional São Bernardo do Campo - SP. Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo, disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf Ver também: CÂMARA CASCUDO, Luis da: Folclore do Brasil (pesquisas e notas). Rio de Janeiro, São Paulo, Fundo de Cultura, 1967 http://www.historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/cascudo/ccrdfolclorenobrasil.htm) 274 D´ÁVILA, Nícia Ribas. Fundamentos da Cultura Musical no Brasil e a Folkcomunicação. UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional São Bernardo do Campo - SP. Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo, disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf


da dança -, demonstravam estar se divertindo. Segundo Elias Alexandre da Silva Correia, “o batuque é uma dança indecente que finaliza com umbigadas” (D´ÁVILA, 2006)4. Conforme citação de M. de Araújo (citado por D´ÁVILA, 2006)4, os fazendeiros que também viam no Batuque uma dança ritual da procriação, “fingiam que não viam, pois tinham grande interesse em aumentar o número de escravos”. Assim nasceu o samba-de-roda na Bahia. Mistura de um batuque com as mulheres das rodas dos candomblés, com outro batuque representado pelos homens das capoeiras. É em virtude desta fusão que, ainda nos dias atuais, verificamos ser o samba-de-roda a única modalidade de samba em que a presença do berimbau se faz notar e é tocado, tradicionalmente, quando há mulheres presentes na roda. Quando a polícia se retirava, recomeçava o batuque bravo quando caprichavam na capoeiragem, com pernadas violentas, soltando “baús”, “dourado”, “encruzilhada”, “rabo-de-arraia”, que tiravam os conflitantes da roda. Corte difícil de defender para um batuqueiro era o da “tiririca” com o seguinte canto puxado pelo mestre: “tiririca é faca de cortar / quem não pode não intima /deixa quem pode intimá”. Um pé ficava no chão e o outro com violência, no pé do ouvido do adversário. Em conseqüência da tiririca = faca, surgiu no samba-de-roda o raspado de prato e “faca”, do modo dos reco-recos raspados nas batucadas (D´ÁVILA, 2006)4.

Cuanhamas batuque homens

Éfundula

Cuanhamas Éfunduladança nocturna

Encontramos em Angola um estilo musical popular - O Semba275 -, que significa ‘umbigada’ em quimbundo - língua de Angola. Foi também chamado ‘batuque’, ‘dança de roda’, ‘lundu’, ‘chula’, ‘maxixe’, ‘batucada’ e ‘partido alto’, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente! O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na ‘massemba’ (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba). Jomo explica que o semba (gênero musical), atual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assente fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas.

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Fonte:

disponível

em

l Juego “Sisemba”- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA 276 http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional 275

http://forum.angolaxyami.com/musica-de-angola-e-do-mundo/71-historia-do-semba.html.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Semba 276 Celebes (Sulawesi, em indonésio) é uma das Grandes Ilhas da Sonda, na Indonésia, situada entre Bornéu e as Molucas. Com cerca de 16,3 milhões de habitantes e 189 216 km², divide-se em cinco províncias: Gorontalo, Celebes do Norte (Sulawesi Utara), Celebes Central (Sulawesi Tengah), Celebes do Sul (Sulawesi Selatan) e Celebes do Sudeste (Sulawesi Tenggara). As


É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos) 277 - a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar aposição primitiva. Já Corte Real (2006) 278 referindo-se ao batuque afirma que o mesmo foi uma prática competitiva presente nas festas de largo da Bahia. Como a capoeira, teria sido perseguido pela repressão policial decorrente do código penal de 1890. Vieira (1995, p.135) informa mais detalhadamente que: “São raras e geralmente muito vagas as referências a essa instituição na literatura especializada nas tradições nordestinas. Segundo Édison Carneiro (1812: 111- 112), trata-se de um jogo praticado ao som de berimbaus e outros instrumentos, em que o objetivo é derrubar o adversário com o uso de golpes de perna, como rasteiras e joelhadas. Formado um círculo, um dos participantes entra na “roda” e dirige o desafio a outro jogador, enquanto o grupo acompanha o ritmo dos instrumentos com palmas e cânticos. Édison Carneiro afirma, ainda, que o batuque teria sido incorporado à capoeira, inexistindo atualmente como tradição isolada.” Apesar da referência às fontes esparsas, Reis (1997) 279 informa que: O batuque baiano, segundo Câmara Cascudo (1988), era uma modalidade da capoeira. O acompanhamento musical assemelhava-se ao dela, com utilização de pandeiros, berimbaus e ganzás, além do que entoavam-se cantigas. A luta envolvia dois jogadores por vezes, os quais deveriam unir as pernas com firmeza e aplicar rasteiras um no outro. O principal era evitar cair e “por isso mesmo era comum ficarem os batuqueiros de banda solta, isto é, equIlibrado numa única perna, a outra no ar, tentando voltar à posição primitiva (...).”(p.129 – nota de número 12) O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada - nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... Grande batuqueiro da época foi Tibúrcio José de Santana (década de 50, em Jaguaripe) quando, em entrevista, confirmou o nome de batuqueiros famosos com os quais conviveu e lutou: Lúcio Grande (Nazaré das Farinhas), Pedro Gustavo de Brito, Gregório Tapera, Francisco Chiquetada, Luís Cândido Machado (pai de Bimba), Zeca de Sinhá Purcina, Manoel Afonso (de Aratuípe), Mansú Pereira, Pedro Fortunato, Militão, Antônio Miliano, Eusébio de Tapiquará (escravo da família Abdom em Jaguaripe) 280. Segundo Édison Carneiro: maiores cidades de Celebes são Macáçar - possessão portuguesa entre 1512 e 1665 -, na costa sudoeste, e Manado, na ponta setentrional da ilha. Os primeiros europeus a alcançar a ilha foram os portugueses, em 1525. in http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lebes 277 CARNEIRO, Edson. Negros Bantos, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1937 CARNEIRO, Edson. Samba de Umbigada. Ministério da Educação e Cultura" Rio de Janeiro, (1961) 278

CORTE REAL, Márcio Penna. AS MUSICALIDADES DAS RODAS DE CAPOEIRA(S): DIÁLOGOS INTERCULTURAIS, CAMPO E ATUAÇÃO DE EDUCADORES. Tese de Doutorado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação. Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Matias Fleuri. In [Conexões da Capoeira Regional] batuque, mensagem eletrônica enviada por Javier Rubiera (capoeira.espanha@gmail.com) em sábado, 7 de novembro de 2009 16:50:26 Para: leopoldovaz@elo.com.br

279

REIS, Letícia Vidor. O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher, 1997. D´ÁVILA, Nícia Ribas. Fundamentos da Cultura Musical no Brasil e a Folkcomunicação. UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional São Bernardo do Campo - SP. Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo, disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf

280


“[...] a competição mobilizava um par de jogadores de cada vez. Havia golpes como a encruzilhada em que o atacante atirava as duas pernas contra as pernas do adversário, a coxa lisa, em que o jogador golpeava coxa contra coxa, acrescentando ao golpe uma raspa, o baú, quando as coxas do atacante davam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente.” (citado por D´ÁVILA, 2006)9 Do vocábulo “batuque-boi”, registra: espécie de Pernada. Bahia. A orquestra das rodas de batuque era a mesma das rodas de capoeira - pandeiro, ganzá, berimbau. Pavão (2004) 281 citando Hiram Araújo (2000) apresenta o cenário das chamadas rodas de batuque, populares entre as classes pobres do Rio de Janeiro: “De repente, era uma navalha que brilhava a luz dos lampiões e um batuqueiro que caía ensangüentado, enquanto o coro abafava os gemidos da vítima cantando: ‘pau rolou... caiu! Lá nas matas ninguém viu... ’ (pg.148)”. Continuando, as rodas de batucada, é divertimento associado à violência. Para Sandroni esta prática: “[...] um jogo de destreza corporal, variante da capoeira, que foi popular no Rio de Janeiro. Pode ser considerada também como uma variante do samba-de-umbigada definido por Carneiro, pois consistia numa roda, como os usuais cantos responsoriais e palmas dos participantes, onde a umbigada era substituída pela pernada, golpe com a perna visando derrubar o parceiro, o qual, se conseguisse se manter de pé, ganhava o direito de aplicar a próxima pernada no parceiro que escolhesse. A batucada se diferencia dos outros sambas-deumbigada por sua componente violenta (2001:103”). Mais adiante, esses confrontos aparecem, por exemplo, quando analisamos as famosas rodas de batuqueiro, como Candeia Filho (1978) nos mostra: ”O samba-duro é um tipo de samba partido alto. Caracteriza-se pela violência em suas apresentações. Formavam-se círculos com o ritmo marcado pela palma da mão. O mais importante não era o samba de partido alto cantado, mas sim, a ginga do malandro, a rasteira ou pernada surgida da brincadeira. O samba-duro também chamado de roda de “batuqueiros” existia na Balança (Praça Onze), nas festas da Penha (1978:57)”. Nas “rodas de batuqueiro”, assim como nas demais manifestações da Praça Onze, o “desafio” se fazia presente como forma de disputa entre amigos, muitas vezes através da violência. O confronto revelava atributos destacados da personalidade, propiciando a valorização de aspectos como valentia, coragem, força e outros valores. Ari Araújo, por sua vez, apresentou um pouco do que acontecia nas antigas disputas entre batuqueiros: “O ponto de honra era não cair. Era tornar-se conhecido como perna santa, ou seja, aquele a quem ninguém consegue derrubar venha como vier: de banda de frente, banda jogada, banda de lado, etc.” (1978:27). Em conferência intitulada “Batuque, samba e macumba” Cecília Meireles assim se manifesta: “Do batuque derivou-se a roda de 'capoeiragem' que vem a ser uma espécie de 'jiu-jitsu', de efeitos muito mais extraordinários, na opinião dos entendidos”.282 O batuque é a essência da cultura 283. Esta é a definição de batuque que consta de uma placa comemorativa exposta no Parque Memorial Quilombo dos Palmares: “Os sons dos tambores, berimbaus, adufés (pandeiro) e agogôs, levam homens e mulheres a sintonizar profundamente com seus corpos e espíritos, através da ginga da capoeira, da congada, do maracatu e do samba. Os acontecimentos da vida cotidiana, como nascimentos, mortes, plantios, colheitas, vitórias e manifestações da natureza, eram comemorados 281

PAVÃO, Fábio Oliveira. ENTRE O BATUQUE E A NAVALHA. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas ,Curso de Pós-Graduação em Sociologia Urbana, Junho de 2004, disponível em http://209.85.229.132/search?q=cache:ffz_I2-8ARUJ:www.academiadosamba.com.br/monografias/fabiopavao1.pdf+competi%C3%A7oes+de+batuque&cd=12&hl=es&ct=clnk 282 MEIRELES, Cecília. BATUQUE, SAMBA E MACUMBA. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; INL, 1983, citada por GOUVEIA, Sonia Vilas Boas. CECÍÇIA EM PORTUGAL. Rio de Janeiro: Iluminuras, 2001, p. 60-61, disponível em http://books.google.es/books?id=uK9QeChVPFsC&pg=PA62&dq=em+1935+batuque+samba+e+macumba&as_brr=3#v=onep age&q=em%201935%20batuque%20samba%20e%20macumba&f=false 283 in http://pt.wikipedia.org/wiki/Batuque_(m%C3%BAsica)


comunitariamente com danças, músicas e baticuns. Antigamente, os toques eram também um precioso meio de comunicação entre os guerreiros e entre o divino e o profano.” O batuque (batuku ou batuk em crioulo cabo-verdiano) 284 é um gênero musical e de dança de Cabo Verde.

Como dança, o batuque tradicional desenrola-se segundo um ritual preciso. Numa sessão de batuque, um conjunto de intérpretes (quase sempre unicamente mulheres) organiza-se em círculo num cenário chamado terreru. Esse cenário não tem de ser um lugar específico, pode ser um quintal de uma casa ou no exterior, numa praça pública, por exemplo. A peça musical começa com as executantes (que podem ou não ser simultaneamente batukaderas e kantaderas) desempenhando o primeiro movimento, enquanto que uma das executantes dirige-se para o interior do círculo para efetuar a dança. Neste primeiro movimento a dança é feita apenas com o oscilar do corpo, com o movimento alternado das pernas há marcar o tempo forte do ritmo. No segundo movimento, enquanto as executantes interpretam o ritmo e o canto em uníssono, a executante que está a dançar muda a dança. Neste caso, a dança (chamada da ku tornu) é feita com um requebrar das ancas, conseguido através de flexões rápidas dos joelhos, acompanhando o ritmo. Quando a peça musical acaba, a executante que estava a dançar retira-se, outra vem substituí-la, e inicia-se uma nova peça musical. Estas interpretações podem arrastar-se por horas.

http://www.reisetraeume.de/kapverden/viadoso/mus1/en00.html#bilder 284

In http://pt.wikipedia.org/wiki/Batuque_(Cabo_Verde))


O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira285·.

Fonte: CAMARGO NETO, 2002, p.. 275

286

287

Letícia Vidor de Souza Reis , baseada em Câmara Cascudo, afirma que o “batuque baiano” era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana288.

289

Mestre André Lacé290 lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. 285 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 286

Fernão Pompêo de Camargo Neto. Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas –área de concentração: Política Econômica, sob aorientação do Prof. Dr. José Ricardo Barbosa Gonçalves. CPG, 22/02/2002, p. 275 287 REIS, Letícia Vidor de Sousa. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR: A CAPOEIRA NO BRASIL. 2. ed. São Paulo: Publisher Brasil/ FAPESP, 1997. v. 1. 288 in http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf 289

FOTO: Bimba y Cisnando - Nascido Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba (1900-1974) era filho de Luís Cândido de Machado, caboclo de Feira de Santana, e Maria Martinha do Bonfim, negra do Recôncavo.Segundo Héllio Campos, Bimba deu os primeiro passos na capoeira aos 14 anos, com o pai, que foi campeão de batuque, e com Mestre Bentinho, africano que era capitão da Companhia de Navegação Baiana.“ FUENTE: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp020539.pdf 290 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro,2004 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004.


Concordamos com Almeida e Silva (?) 291, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semi-verdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998). Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas292. Castro (2002)293 nos esclarece esse fato e diz que em todos os casos de fenômenos da cultura corporal existe a tentativa, por parte dos seus atores, de expressar identidade, coesão e estabilidade social em meio a tantas situações de rápida transformação histórica/social, “através do recurso à invenção de cerimônias e símbolos que evocam continuidade com um passado muitas vezes ideal ou mítico” (p.11). Para Soares (2001) 294, há todo um debate envolvendo a origem da capoeira, de onde ela veio etc. Embora a capoeira do Século XIX tenha passado por um período fortemente escravista, com uma população africana muito grande, a origem está no século XVIII, nos primórdios da sociedade urbana. A capoeira é um fenômeno urbano, que anuncia uma leitura de negros africanos e crioulos para o mundo urbano colonial.

Prancha 18 – RUGENDAS - JOGO DA CAPOEIRA - 1820/1835 – publicada em 1835

Vieira (2004) 295 ensina-nos que, de acordo com os melhores cronistas, a Capoeiragem data de 1770, “[...] quando para cá andou o Vice-Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores”2. Este texto de Hermeto Lima, se alinha com o de Macedo, que nos afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez o LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 291 ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. e-mail: julazal@yahoo.com.br 292 11 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. 293 CASTRO, Celso. A invenção do Exército brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2002. 294 In http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/out2001/unihoje_ju167pag22.html 295

VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa. Capoeira – origem e história. Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural. PUC/SP – Tese de Doutorado – 2004. disponível em http://www.capoeira-fica.org/.


mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente, a espada, a faca, o pau e ainda de preferência, a cabeçada e os golpes com os pés.” Para Soares (2001)38, é a partir do início do século XVIII que se dá a formação de uma sociedade urbana colonial pela primeira vez, em Minas e no Rio de Janeiro – a grande cidade do ciclo do ouro era o Rio de Janeiro -, para onde convergiam todas as remessas de ouro que iam para a corte. A cidade cresceu muito, tanto que virou capital da colônia, havendo ali uma espécie de revolução urbana durante o século 18, que com certeza trouxe os africanos, já que até 1700 a população escrava no Rio era quase toda indígena: “Os africanos vinham de um ponto distante do continente e que não se conheciam originalmente. Eles estavam num ambiente novo, tenso, de concentração, porque a cidade colonial era pequena, mas concentrava uma população densa. Os africanos traziam bagagens culturais diferentes, mas alguns elementos eram mais ou menos articuláveis, a língua, por exemplo. Também a dança foi importante, já que os povos se articularam nesse sentido. A capoeira, então, era uma forma de união desses diversos grupos. O termo capoeira foi dado pela ordem policial. Eles eram identificados assim. Isso cria um problema, já que de certa forma você tem uma identificação grupal que não parte do grupo, mas sim do seu rival. Os termos da documentação são o “jogo do capoeira”. Todos esses povos traziam uma bagagem cultural com diversas danças e artes marciais. Essas danças, por mais diferentes, tinham um ponto comum. Possivelmente essas semelhanças fossem articuladas na América. Capoeira, na hipótese desse autor, nasceu na América.”

Prancha 27 – RUGENDAS - SÃO SALVADOR - 1820/1835 – publicada em 1835

Jorge Olimpio Bento, no prefácio do livro de Araújo (1997) 296, afirma que esse autor, ao procurar esclarecer as origens e evoluções daquela luta ao longo de vários séculos, viu-se forçado a proceder a pesquisas documentais sobre todo o contexto social abrangente. Afirma Bento (p. 6): “não admira assim que na história da capoeira surjam indicações referentes: Ao tráfico negreiro; Às manifestações culturais de origem africana dos povos traficados para o Brasil; À vida dos negros, quer fossem escravos ou forros, às suas rebeliões e aos seus quilombos; Ao período colonial e imperial do Brasil; A fatores político-sociais ligados ao fim do império, ao início da república, à era getulista e a tempos mais recentes. Mais adiante, citando João Ubaldo Ribeiro: “o segredo da verdade é o seguinte: não existem factos, só existem histórias” (p. 7).

296

ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto) : Insituto Superioro Maia, 1997


OS “BALAIOS” 297 O evento que deu início à Balaiada298 foi a detenção do irmão do vaqueiro Raimundo Gomes, da fazenda do padre Inácio Mendes (bem-te-vi), por determinação do sub-prefeito da Vila da Manga (atual Nina Rodrigues), José Egito (cabano). Contestando a detenção do irmão, Raimundo Gomes, com o apoio de um contingente da Guarda Nacional, invadiu o edifício da cadeia pública da povoação e libertou-o, em dezembro de 1838. Raimundo Gomes teve o apoio de Cosme Bento, ex-escravo à frente de três mil africanos evadidos, e de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira – o Balaio, dando início a maior revolta popular do Maranhão. Para combatê-los foi nomeado Presidente e Comandante das Armas da Província, o coronel Luís Alves de Lima e Silva, que venceu os revoltosos na Vila de Caxias.299

A área assinalada em vermelho, é a área onde ocorreu a Balaiada300 Castro (2006) em “INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL: uma história da Casa dos Educandos Artífices (1841-1889)” 301 refere-se a relato do Diretor da Casa dos Educandos ao Presidente da Província informando que havia “outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor, em 1843: “Capoeiras [...] cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito 297 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRA(GEM) EM SÃO LUIS DO MARANHÃO – NOVOS ACHADOS 298 A Balaiada foi uma revolta de caráter popular, ocorrida entre 1838 e 1841 no interior da Província do Maranhão, e que após a tentativa de invasão de São Luís, dispersou-se e estendeu-se para a vizinha província do Piaui. Foi feita por pobres da região, escravos, fugitivos e prisioneiros. (ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001) 299 http://pt.wikipedia.org/wiki/Balaiada 300 http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/balaiada/imagens/balaiada15.jpg&imgrefurl=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/balaiada/balaiada-5.php&usg=__DOn8MqTHQ-t7idEdqXbDHwZffA=&h=389&w=373&sz=21&hl=ptBR&start=19&tbnid=UUiadDnIdBaH4M:&tbnh=123&tbnw=118&prev=/images%3Fq%3Dbalaiada%2B%252B%2Bmaranhao% 26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR 301 CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL: uma história da Casa dos Educandos Artífices (1841-1889). São Luís: EdFUNC, 2007. (Prêmio Antonio Lopes (Erudição) do XXX Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luis, 2006).


adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em conseqüência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer conseqüências mais desagradáveis [...] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham. (FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192, grifos meus). “Capoeiras” era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (ARAÚJO, 1997, p. 79)302, conforme registra a Decisão (205) de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores). A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, e havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184). Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 1842303, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada?

302

ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. Maia (Portugal) : Instituto Superior da maia, 1997, Série Estudos e monografias. 303 ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001 ARAUJO, Mundinha. EM BUSCA DE DOM COSME BENTO DAS CHAGAS – NEGRO COSME – Tuto e Imperador da Liberdade. Imperatr0z: Ética, 2008 ASSUNÇÃO, Mathias Röhrig. A GUERRA DOS BEM-TE-VIS – a balaiada na memória oral. São Luís: SIOGE, 1988 CRUZ, Mago José; CRUZ, Carlos César França. A GUERRA DA BALAIADA (a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos oprimidos). 2 ed. São Luis: CCN-MA, 1998 SANTOS NETO, Manoel. O NEGRO NO MARANHÃO – a escravidão, a liberdade, e a construção da cidadania. São Luis, 2004 SERRA, Astolfo. A BALAIADA. 2ª Ed. Rio de janeiro: DEBESCHI, 1946 SERRA, Astolfo. CAXIAS E O SEU GOVERNO CIVIL NA PROVINCIA DO MARANHÃO. 2 ed. Rio de Janeiro, 1944 COELHO NETO, Eloy. CAXIAS E O MARANHÃO SESQUICENTENÁRIO. São Luis: 1990 OTÁVIO, Rodrigo. A BALAIADA – 1939. São Luis; EDUFMA, 1995


SOBRE A “PUNGA” – VISITAÇÃO A CÂMARA CASCUDO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física – CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação O Confrade Carlos Carvalho Cavalheiro mandou-me alguns sítios sobre a capoeira, a punga, e o tambor-decrioula. Interessante, e instigante. Especialmente quando se refere às varias manifestações, em seus comentários, que são identificadas com/como Capoeira. Passemos a Luís da Câmara Cascudo e seu “Dicionário do Folclore Brasileiro”, obra obrigatória - primeira edição de 1954, a segunda de 1959 – e, a terceira que estou usando, de 1972, Tecnoprint. Registra a página 148, o termo “Bate-coxa”, manifestação das Alagoas, uma dança ginástica: “a dança do bate-coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos”. Acredita Câmara Cascudo que o bate-coxa seja mais violento, onde os dois contendores, sem camisa, só de calção, aproximam-se, colocando peito a peito, apoiando-se só nos ombros, direito com direito. Uma vez apoiados os ombros, ao som do canto de um grupo que está próximo, ao ouvir-se o ê boi, ambos os contendores afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido. Depois da batida, a coxa direita com a coxa direita, repete a esquerda, chocando-se bruscamente ao ouvir o ê boi do estribilho. A dança prossegue até que um dos contendores desista e se dê por vencido. Por “capoeira” registra: jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos 304 de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. No ano de 1926, foi publicada uma série de artigos sobre “Capoeira e Capoeiragem” no jornal Rio Sportivo, edições de 16/06, 19/07, 06 e 16/09, 18/10, escritos por Adolfo Morales de Los Rios. [Miltinho, acredito que André Lace poderia recuperar esses artigos e incluí-los em “Literatura Clássica”, com comentários ...] Por “Batuque” – dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro “quando entra gente mais asseada”. Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile. De uma descrição de um naturalista alemão, em visita às Gerais, em 1814/15, ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]. Com o nome de “batuque” ou “batuque-boi” há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, talqualmente a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola. É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos) – a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar aposição primitiva. Do vocábulo “batuque-boi”, registra: espécie de Pernada. Bahia. 304

Bantos – grupo de cerca de 50 milhões de homens na África Central e SE, falando 254 línguas e dialetos aparentados. Banto é família lingüística e não etnográfica ou antropológica.


Voltemos a Pernada. Câmara Cascudo informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam, os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o “rei da pernada carioca”; é o bate-coxa das Alagoas. Ainda Edson Carneiro (Dinâmica do Folklore, 1950) informa ser o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário – a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada – nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... A orquestra das rodas de batuque era a mesma das rodas de capoeira – pandeiro, ganzá, berimbau.


CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM)305 - REVISITANDO A PUNGA:

“QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão No recente lançamento do ‘livreto’ “RODA DE RUA – memória da Capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX”, de Roberto Augusto A. Pereira (São Luis: EDUFMA, 2009), Mestre Patinho306 falava do Renascimento da Capoeira no Maranhão nos anos 1960/70, pelas mãos de Roberval Serejo e Mestre Sapo... Renascimento, porque desde os idos da década de 1820 temos referências sobre a lúdica e o movimento dos povos radicados no Maranhão, especialmente os negros. Mestre Patinho, em sua intervenção quando do lançamento do livreto307 referiu-se à ancestralidade da Capoeira, usando da expressão “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE” referindo-se à um movimento encontrado no Maranhão denominado de ‘punga”, ou ‘umbigada”, que aparece no Tambor de Crioulo. Mestre Bamba descreve alguns movimentos da punga: os “desafiantes” ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, “provocando”, através de movimentos, como se o “chamando”, e aplica alguns golpes com o joelho - a punga 308. Associa-os àqueles descritos por Mestre Bimba: Pungada na Coxa - também chamado ““bate-coxa””, aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a ““pernada carioca”” ou mesmo com o “batuque baiano”; Pungada Mole - o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege ““as partes baixas”” com as mãos... Pungada Rasteira/Corda - semelhante à “negativa de dedos (sic)”, de Bimba; Queda de Garupa - lembra o Balão Costurado, de Bimba. QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE309 Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel) em correspondência pessoal acerca da "Punga dos Homens" [Jornal do Capoeira]310 esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens; que após a abolição e a

305

Chronica (do latim) é termo que indica narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica; como também é conjunto das notícias ou rumores relativos a determinados assuntos (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 502). Ver também: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; RUBIERA CUERVO, E. Javier. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): algumas considerações. 306 Antonio José da Conceição Ramos, ‘Antonio” de Santo Antonio; ‘José’, de São José; ‘Conceição’, de N. S. da Conceição, e ‘Ramos’, de Domingo de Ramos – herdeiro de Mestre Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues. 307 PEREIRA, Roberto Augusto A. RODA DE RUA – memória da Capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luis: EDUFMA, 2009. 308 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Mestre Bamba, do Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 08/04/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/pungada+dos+homens+a+capoeiragem+no+maranhao VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Capoeiragem em São Luís do Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 08/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao 309 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Loreta Brito; HOLANDA, Felipe de. Conversando com Mestre Pastinho. In JORNAL DO CAPOEIRA, Edição 63 de 05 a 11/Mar de 200, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=881 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE": Notas sobre a Punga dos Homens Capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira - Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL- CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 Disponível também em http://www.capoeiravadiacao.org/index.php?option=com_content&view=article&catid=10%3Abiblioteca&id=46%3Apungados-homens-tambor-de-criouloa-qpunga-dos-homensq&Itemid=38


aceitação da mulher no convívio em sociedade, que passa a ser dançada por mulheres, apenas. Mas desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente de/por homens: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005). Em reunião do “Matro-á” 311, escola de capoeira de Mestre Marco Aurélio, com a presença dos Mestres Patinho, Didi, Domingos de Deus, Luis Senzala, Bamba, Vespa, conversando sobre a ‘punga dos homens’ surgiram novas informações e esclarecimentos: "Há cerca de oito anos, eu [Mestre Marco Aurélio] e mais outros capoeiras estamos pesquisando a punga, e posso lhe afirmar que apesar da correlação de alguns golpes com a capoeira, esta pode até ter similaridade, mas daí afirmar que é capoeira é outra coisa." (in correspondência pessoal, de 10 de agosto de 2005). Uma certeza: punga não é capoeira, embora alguns movimentos se assemelhem. Informa Marco Aurélio: "Ano passado, participei em Salvador, de um Encontro Internacional de Capoeira "GINGAMUNDO". onde coordenei uma grupo do Maranhão, com 25 (vinte e cinco) pessoas entre estas, o Mestre Felipe e outros pungueiros, entre pessoas de um Povoado de Rosário e mais outros coreiros e coreiras, algumas capoeiras angola. Lá, estavam presentes representantes de outras lutas de origem africana, de países como Angola e Madagascar, porém, a grande vedete do encontro foi a Punga dos Homens... Estavam presentes neste encontro, além de mestres antigos, tais como João Pequeno, João Grande, Mestre Boa Gente, também haviam pesquisadores de renome como Jair Moura, Carlos Líbano Soares, Fred Abreu, Mathias Röhring Assunção, etc".(in correspondência pessoal). O naturalista alemão, George Wilhelm Freyreiss312 que faleceu no sul da Bahia, em uma viagem a Minas Gerais em 1814 -1815 em companhia do barão de Eschwege 313. Assistiu e registrou um batuque, e ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]: “Os dançadores formam roda e ao compasso de uma guitarra (viola), move-se o dançador no centro, avança, e bate com a barriga na barriga de outro da roda (do outro sexo). No começo o compasso é lento, depois pouco a pouco aumenta e o dançador do centro é substituído cada vez que dá uma umbigada. Assim passam a noite inteira. Não se pode imaginar uma dança mais lasciva do que esta. Razão pela qual tinha muitos inimigos, principalmente os padres.” 314 Em Câmara Cascudo (1972) 315, no verbete "punga", consta: dança popular no Maranhão, capital e interior... Que é a mesma "dança do tambor". A punga é também chamada "tambor de crioula". Há também referencia a grafia "ponga", que como se sabe é um jogo. Crê Câmara Cascudo que punga é um termo em uso apenas no Maranhão e significa, na dança em questão, a umbigada, a punga. A punga seria uma dança cantada, mas sem versos próprios, típicos. Geralmente são improvisados na hora, quando as libações esquentam a cabeça 310

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens - Capoeiragem no Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 14/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+punga+dos+homens++capoeiragem+no+maranhao 311 10 de agosto de 2005 312 FREYREISS. Georg Wilhelm. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982. Ver também http://openlibrary.org/b/OL16308743M/Reisen_in_Brasilien_von_G._Wilhelm_Freyreiss. 313 PRINZ MAXIMILIAN VON WIED (1782-1867) - VOYAGE AU BRÉSIL, DANS LES ANNÉES 1815, 1816, ET 1817 Paris: A. Bertrand, 1821-1822 (http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional/Principal/Obras_raras.htm) 314 D´ÁVILA, Nícia Ribas. Fundamentos da Cultura Musical no Brasil e a Folkcomunicação. UNESCOM - Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional São Bernardo do Campo - SP. Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo, disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04-_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf Ver também: CÂMARA CASCUDO, Luis da: Folclore do Brasil (pesquisas e notas). Rio de Janeiro, São Paulo, Fundo de Cultura, 1967 http://www.historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/cascudo/ccrdfolclorenobrasil.htm) 315 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro:Tecnoprint, 1972


e despertam a "memória" do "tiradô" de versos. Após descrever o que seria a dança do tambor-de-crioula, informa que pong provirá do tupi “soar, bater, ou antes, soar por percussão. "O que fervia era o lundum, e estalavam as umbigadas com o nome de "pungas"" (p. 742-743). Remete a Tambor: "... mas a autonomia dos tambores indígenas e sua existência pré-cabralina parecem-me indiscutíveis no Brasil. Dança do Tambor, Tambor-de-Mina, Tambor-de-Crioulo [Tambor-deCrioulo?]. As danças denominadas "do Tambor" espalham-se pela Ibero-América. No Brasil, agrupam-se e são mantidas pelos negros e descendentes de escravos africanos, mestiços e crioulos, especialmente no Maranhão. [grifos meus]. Conhece-se uma Dança do Tambor, também denominada Ponga ou Punga que é uma espécie de samba, de roda, com solo coreográfico, e os Tambor-de-Mina e Tambor-de-Crioulo, [chamo atenção novamente para a grafia, em masculino], série de cantos ao som de um ferrinho (triangulo), uma cabaça e três tambores, com danças cujo desempenho ignoro." (p. 850-851).

1810-RIO - danzas de africanos españoles y portugueses, capangas disponível em http://www.cchla.ufpb.br/pergaminho/1907_capitulos_-_capistrano.pdf

Informa o ilustre pesquisador, ainda, que uma missão cultural colheu exemplos das músicas utilizadas tanto no Tambor-de-Mina quanto no de Crioulo, em 1938. Estão ligados esses tambores-de-mina-e-de-crioulo às manifestações religiosas dos "terreiros", ao passo que: "... a punga (dança e batida) parecem alheias ao sincretismo afro-brasileiro na espécie... o Tambor-de-Crioula [já passa a usar no feminino ...] é o Bambelô do Maranhão, mas com a circunstância de que só dançam as mulheres. Passa-se a vez de dançar com a punga, que é um leve bater de perna contra perna. Punga é também espécie de pernada do Maranhão: batida de perna contra perna para fazer o parceiro cair.. às vezes o Tambor-de-Crioula termina com a punga dos homens.". (p. 851). Por "Punga", registra: jogo ginástico, brincadeira de agilidade, entre valentões, malandros e capadócios. É uma simplificação da capoeira... Sua descrição, assemelha-se à da "punga dos homens", do Tambor-deCrioulo(a) (p. 709). Já "bambelô" é descrito como samba, côco de roda, danças em círculo, cantada e acompanhada a instrumentos de percussão (batuque), fazendo figuras no centro da roda um ou dois dançarinos, no máximo. O ético é o vocábulo quimbundo “mbamba”, jogo, divertimento em círculo (p. 113). Para Ferreti (2006) 316, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula317. No passado foi vista como elemento erótico e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a 316

FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 07-10/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf


punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão.

Fonte: LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: 2005 p. 18

Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse que a dança das mulheres.

Cuanhamas Éfundula batuque homens

Cuanhamas Éfundula dança nocturna

Quanto à PERNADA - Câmara Cascudo informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o “rei da pernada carioca”; é o bate-coxa das Alagoas. Ainda Edson Carneiro (Dinâmica do Folklore, 1950) informa ser o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Na Bahia somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário - a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. 317

O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula".


318

Comme sports de combats traditionnels, les malgaches connaissent plus le Moraingy, la boxe du nord, et le Ringa, la lutte du sud. Pratiqué par l'élite, le diamanga est en passe de se démocratiser et espère de nombreux transfuges des autres 319 disciplines.

Já a chamada Pernada de Sorocaba 320 é uma luta brasileira que utiliza os pés, comum nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo em meados do século XX. Praticada ao som do samba, a Pernada de Sorocaba tinha sua coreografia aproveitada pelos passistas dos blocos carnavalescos (chamados de pessoal do rabo de arraia). Era também presente nas brigas e disputas. Apesar de ser o nome de um golpe, a pernada acabou por denominar o todo de um sistema de luta em que se privilegiavam os golpes com pés, a dissimulação, o jogo de corpo (esquiva ou ginga), a cabeçada e movimentos giratórios como o rabo de arraia. Segundo o depoimento de Pedro de Almeida, conhecido por Pedro Fuminho, a pernada era a mesma capoeira, diferenciando apenas que na sua prática não havia o berimbau e era realizada ao som do samba. Era a capoeira de então, antes do surgimento das academias com o estilo baiano (angola e regional) de capoeira. O escritor sorocabano Jacob Penteado no livro “Belenzinho, 1910” descreve mesmo que o samba no início do século XX era um amálgama de danças e coreografias, incluindo a capoeira.

318 http://3.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SwwhFACgp9I/AAAAAAAAGXo/K5DMEv_eNG0/s1600/img00025.jpg 319

Diamanga é herdado de nossos ancestrais como os malaios, que importou os estilos" Pencak, ber-silat, calazar e Sikaran "budistas e indianos que impuseram" Kalaripayat. A pesquisa conduzida pela "Fototra Diamanga malgaxe" não ficar lá, parte histórica e filosófica já está concluída através de um manuscrito do livro. Mesmo se uma lista de diferentes estilos de técnicas "Diamanga" também já está estabelecido língua nacional da associação, esta continuará a ser procurado exaustivamente. http://www.madatsara.com/articles/detail-article/article/le-diamanga-fera-partie-des-arts-martiaux-pratiques-a-madagascar2/rubrique/sports/news-browse/1/

320

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pernada_de_Sorocaba


Encontramos em Angola um estilo musical popular - O Semba321, que significa ‘umbigada’ em quimbundo língua de Angola. Foi também chamado ‘batuque’, ‘dança de roda’, ‘lundu’, ‘chula’, ‘maxixe’, ‘batucada’ e ‘partido alto’, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente! O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na ‘massemba’ (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba). Jomo explica que o semba (gênero musical), atual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assente fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque322, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. Os bantos (grafados ainda bantu) constituem um grupo etnolingüistico localizado principalmente na África subsariana que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes. A unidade deste grupo, contudo, aparece de maneira mais clara no âmbito lingüístico, uma vez que essas centenas de subgrupos têm como língua materna uma língua da família banta. A palavra bantu foi primeiramente usada por W. H. I. Bleek (1827-75) com o significado de povo como é refletido em muitos dos idiomas deste grupo - em muitas destas línguas, usa-se a palavra ntu ou dela derivada refrindo-se a um ser humano; ba - é um prefixo que indica o plural para seres humanos em muitas destas línguas323.

A expansão bantu espalhou as línguas bantu pela África.

Localização aproximada das 16 zonas bantu (com a zona J incluida)

A TÍTULO DE CONCLUSÃO Concordamos com Vieira e Assunção (1998) 324, quando afirmam ser a capoeira como luta aparece nas fontes de forma massiva a partir da segunda década do século XIX, justamente depois da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. Para esses autores, a palavra “capoeira” era usada tanto para designar uma prática, quanto para um grupo de pessoas. Capoeira se referia então a um conjunto de técnicas de combate que envolvia tanto o uso de uma grande variedade de armas (facas, sovelões, navalhas, cacetes, 321

http://forum.angolaxyami.com/musica-de-angola-e-do-mundo/71-historia-do-semba.html.

disponível

em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Semba 322 Ver VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): ERAM OS ‘BALAIOS’ CAPOEIRA? VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; RUBIERA CUERVO, E. Javier. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM): algumas considerações. 323

324

In http://pt.wikipedia.org/wiki/Bantos

VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118.


estoques até pedras e fundos de garrafa) quanto o uso de golpes com as pernas ou a cabeça. Era praticada por indivíduos que eram, em sua grande maioria, escravos africanos, dos quais muitos provinham de áreas de cultura bantu. Ocasionalmente pessoas livres ou mesmo membros do exército ou da polícia, como no caso do Major Vidigal, também conheciam estas técnicas, ou pelo menos tal conhecimento era atribuído a eles. Ao mesmo tempo, o termo capoeira designava os integrantes de grupos de “malfeitores”, que, segundo as fontes policiais, andavam pelas ruas, armados, atentando contra a ordem estabelecida. (Vieira e Assunção, 1998). Esses autores consideram que o uso indiferenciado do termo capoeira tanto para as técnicas de combate quanto para os grupos à margem da sociedade colonial sugere que o primeiro significado se tenha criado por extensão do segundo. Aceitamos, para este estudo o que afirmam Adid (2009) 325 e Luiz Renato Vieira (1998) 326 que antropólogos, como Herskovits, têm apontado para a existência de “danças de combate” que trazem semelhanças com aquilo que conhecemos hoje como Capoeira, não só na África, como o Muringue, em Madagascar, também em vários pontos da América, nos locais em que a diáspora negra se instalou. Relatos sobre o Mani em Cuba, e a Ladja na Martinica são dois exemplos dessas práticas. O fenômeno das academias baianas após a migração de mestres para o sudeste brasileiro foi um dos motivos pelos quais a capoeira conhecida e praticada hoje é a baiana. Infelizmente, por outro lado, foram-se apagando pouco a pouco as práticas regionais anteriores como a pernada, a tiririca, o cangapé, o bate-coxa, a punga... Que não puderam oferecer resistência e nem conseguiram criar condições para competir com a capoeira baiana. (Carlos Carvalho Cavalheiro, in Jornal do Capoeira)327.

325 ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. CAPOEIRA ANGOLA: CULTURA POPULAR E O JOGO DOS SABERES NA RODA. Origens de uma tradição, disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/04/capoeira-angola_18.html 326 VIEIRA, L.R. O jogo da capoeira: corpo e cultura popular no Brasil (Rio de Janeiro : Sprint, 1998 327 CAVALHEIRO, Carlos Alberto in RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, SorocabaSP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Capoeira em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).

Porto

Feliz.

in

La

Insignia,

2007

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho - Cantadores - o folclore de Sorocaba e região (encarte de CD) - Linc - 2000

disponível

em


CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ – A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA Ao Sérgio Capoeira - Sergio Luis Aguiar da Costa Sérginho é velho conhecido; licenciado (Plena) em Educação Física e Especialista em Docência do Ensino Superior, um dia o vi como Artista Popular, tocando no Tambor de Mestre Felipe, ali no CEPRAMA. Fui cumprimentá-lo e conversamos um pouco. Logo depois vim a encontrá-lo no Matroá, de Mestre Marco Aurélio e soube-o Capoeira também. Temos conversado desde então... Nesse dia, ele e Serginho estavam conversando sobre o evento que estavam preparando – A Punga dos Homens do Tambor de Crioula. Pediram-me uma contribuição, meus escritos, sobre o tema proposto, uma vez que advogo: (1) a existência de uma capoeira genuinamente maranhense; (2) que essa Capoeira recebeu várias influencia, e também denominações diferentes ao longo do tempo, pelo menos desde o inicio dos anos 1800, conforme comprovado por fontes primárias; (3) que ao identificar o surgimento dessa modalidade da lúdica e do movimento, e sua singularidade no Maranhão, aparecem várias denominações e gestos que a caracterizam e a identificam, todos comprovados por pesquisas; (4) dentre as denominações da Capoeira – prefiro, no Maranhão, a utilização do termo "Capoeiragem”, para diferenciá-la da ‘"Capoeira” de origem baiana, introduzida aqui por Mestre Sapo nos idos 1960 – e dentre essas denominações aparecem “carioca”, “pernada”, “punga”, que diversos pesquisadores identificam como ligadas à Capoeiragem maranhense. Sérginho me escreve, apresentando duas ressalvas em relação a meus escritos: 1 O debate de sábado à tarde, com a presença de mestres de Capoeira, não estava "tratando da capoeira como punga dos homens" e sim, tentando sensibilizar os Capoeiras a conhecer mais a fundo e valorizar algo que é nosso, está em nosso estado ainda de latente forma. Há muito tempo que nós do Laborarte, passamos por esse fogo cruzado com a comunidade de Capoeira. Dançamos Cacuriá, brincamos bumba-boi, dançamos Lele e felizmente, tivemos a graça de ter um MESTRE da qualidade de Mestre Felipe.

Bem, Serginho, o objetivo foi de: “[...] esclarecer se tal expressão corporal é remanescente de uma forma de luta, própria de povos africanos trazidos para o Maranhão e, se há uma relação com a Capoeira, bem como, os motivos pelos quais não se faz presente entre as brincadeiras de tambor de crioula, existentes na capital do estado.” (FOLDER DO EVENTO).

Creio que se estava, sim, tratando da Punga dos Homens como uma Capoeiragem primitiva, e que possivelmente tenha sua origem no Tambor de Crioulo. Note que uso no masculino... E afirmo baseado em Câmara Cascudo, Carlos Cavalheiro, e outros pesquisadores do folclore brasileiro, que trazem a ‘punga’ como maranhense, ou melhor, identificada como maranhense, e sua descrição aparece em vários momentos e localidades, seus gestos, com outros nomes. Mas a raiz é uma só: a matriz africana, e sua simbiose com a indígena. Repetindo o que já escrevi: dizia Mestre Cavalheiro: Das diversas lutas/jogos afro-brasileiras, tem-se informação das seguintes: Em Alagoas foi chamada de bate-coxa; em Pernambuco transformou-se no passo do frevo; na Bahia era a capoeira Angola e o batuque; samba de aboio em Sergipe; samba-de-roda no interior fluminense; pernada no Rio de Janeiro; punga no Maranhão; tiririca na capital paulista e pernada no interior de São Paulo. Isso não significa que não se encontrasse o nome genérico de capoeira nessas localidades. Não negamos, em momento algum, o que consta do folder: “[...] o aprendizado, a pesquisa e o debate em torno dessa expressão –[Punga dos Homens] -, que muito embora seja tema de interesse da Capoeiragem, também diz respeito ao público em geral, na medida em que pessoas ligadas à pesquisa, dança, artes cênicas e de lutas, audiovisual, dentre outras, buscam na arte e na cultura popular, elementos de composição para as suas mais diversas expressões.”

Eu fui buscar elementos que comprovassem a relação punga e capoeiragem no Maranhão; de ser a punga dos homens uma forma de capoeira primitiva; o que vi me dá essa certeza, dentro dessa hipótese levantada, e creio eu, comprovada... Sem descartar o ponto de vista, o teu, principalmente, que o vê como atividade eminentemente cultural, pertencente ao grupo de jogos dançados... Prossegue Serginho:


“Quanto a esse aspecto, nos apaixonamos pelo Tambor de Crioula. Tocar tambor, não tem explicação, ainda mais quando os três tambores se emparelham, os tocadores se conhecem, sabem o que cada um vai fazer. Nesse aspecto, descobrimos que dançar, não é apenas rebolar ou fazer caras e bocas, como atualmente já se detecta. Observando os pés da tambozeira, percebemos que quanto melhor ela é, mais a mesma acompanha as pancadas do Tambor Grande, punga certinho no meião e ainda dá tempo de fazer uns quebrados no pererengue.

O que é reforçado quando fala de sua motivação a querer conhecer mais a punga dos homens: “Claro que a Capoeira nos levou ao tambor e como não poderia deixar de ser, também nos levou a punga dos homens. Mas, quero que leve em consideração, que embora amantes incondicionais da Capoeira, em momento algum, uma coisa tenta se tornar outra em nossos corpos. Evidente que o que aprendemos na Capoeira, pode facilitar e muito que pretendemos aprender na punga. Aquilo que possamos aprender na punga, com certeza se manifestará na Capoeira e, quem sabe, fortaleça nossa prática enquanto Capoeira do Maranhão, uma questão de identidade para uma localidade que quase tudo de novo que se aprende vem de fora.”

O Mestre Sérgio Capoeira afirma que o desejo não é divulgar que a punga seja a Capoeira primitiva do Maranhão; entende que “os diversos estados em nosso país desenvolveram algumas artes de luta e que localizadas no tempo passado, nunca foram denominadas de Capoeira. Preferimos deixar a punga onde ela está dentro do Tambor de Crioula. O Capoeira que quiser aprender a punga, além de ser Capoeira, passará também a ser Coureiro, Tambozeiro ou Punga (como eles se denominam, e não "pungueiros").

Concordo plenamente!!! Onde está a divergência? Quanto ao uso do termo ‘pungueiro’ foram os próprios participantes – Junhero, o próprio Marco Aurélio, que o utilizou e assimilei... 2 Quando Mestre Patinho desenhou o triangulo no chão, ele estava se referindo somente a Capoeira. Quando inverteu o triangulo, ele estava abordando aquilo que o mesmo chama de ginga invertida. Na punga não existe o triangulo e sim a base de pés juntos naquilo que denominam de "esperando" punga. Meu Mestre, Patinho me ensinou que Capoeira é prática, e só quem a pratica tem condições de discutir, com o que concordo; mas naquele momento, Patinho fez referencia à similaridade gestual, em que ‘ginga invertida’ se assemelha à punga, no momento em que vai levar o joelho – daí a necessidade do passo a frente – saindo da base paralela, passo a frente, para elevar a outra perna, a que vai golpear; deu o exemplo, riscando o triangulo no chão, e depois repetiu o gesto com o auxílio de outro capoeira, que recebeu o golpe... Até aí, concordamos... Claro, eu não sou Capoeira, escrevo sobre a História, daí minha dificuldade em entender e descrever o gestual... Prossegue Sérgio: “Estou plenamente de acordo com vossa pessoa, quando diz que a ascensão histórica da Capoeira "matou" diversas artes e brincadeiras de luta por esse Brasil afora. Acho que sim, a "invasão" cultural e apaixonante da Capoeira deve ter causado esse efeito. Por isso, quando detectamos que a punga dos homens sobreviveu, isto se torna mais um motivo para que tenhamos orgulho do Tambor de Crioula pertencer ao Maranhão e que mais pessoas passem a praticá-lo, inclusive nossos camaradas da Capoeira”

Já escrevi que concordo com Mestre Cavalheiro quando afirma que o fenômeno das academias baianas trouxe uma nova conformação à própria história da capoeira, uniformizando (no que tange às tradições, hábitos, costumes, rituais, instrumentação, cantigas etc.) sua prática, especialmente após a migração de mestres para o sudeste brasileiro. Isso foi um dos motivos pelos quais a capoeira conhecida e praticada hoje é a baiana. Infelizmente, por outro lado, foram-se apagando pouco a pouco as práticas regionais anteriores como a pernada, a tiririca, o cangapé, a punga, o bate-coxa... Que não puderam oferecer resistência e nem conseguiram criar condições para competir com a capoeira baiana. (Carlos Carvalho Cavalheiro, in Jornal do Capoeira). Vamos verificar algumas descrições, então, dos gestuais: BATE-COXA - manifestação das Alagoas, uma dança ginástica: “a dança do bate-coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos” - os dois contendores, sem camisa, só de calção, aproximam-se, colocando peito a peito, apoiando-se só nos ombros, direito com direito. Uma vez apoiados os ombros, ao som do canto de um grupo que está próximo, ao ouvir-se o “ê boi”, ambos os contendores afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido. Depois da batida, a coxa direita com a coxa direita, repete a esquerda, chocando-se bruscamente ao ouvir o “ê boi” do estribilho. A dança prossegue até que um dos contendores desista e se dê por vencido. BATUQUE 328- dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro “quando entra gente mais asseada”. A tradição indica o batuque-boi329 como de

328

CARNEIRO, E. A Sabedoria Popular. Rio de Janeiro: Edição de Ouro (1948), Civilização Brasileira, 1978, citado por D.ÁVILA, Nícia Ribas in UNESCOM Congresso Multidisciplinar de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, São Bernardo do Campo - SP. Brasil - 9 a 11 de outubro de 2006 - Universidade Metodista de São Paulo, disponibilizado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 3/01/2010.


procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola - a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita-se o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar a posição primitiva. Havia golpes como a encruzilhada em que o atacante atirava as duas pernas contra as pernas do adversário, a coxa lisa, em que o jogador golpeava coxa contra coxa, acrescentando ao golpe uma raspa, o baú, quando as coxas do atacante davam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. O batuque era uma luta/dança parecida com a capoeira, onde os jogadores usavam as pernas para desequilibrar o adversário, jogada ao som de músicas, ritmada por pandeiros e bastante violenta, uma vez que muitos golpes tentavam acertar a região genital.330 Permita outra transcrição, e veja se lembra de algo: “Todos os dias no Morro da Favela (onde nasceu o samba, no Rio) havia Batuque, pernadas, pessoas caídas no chão até que surgisse a polícia. Na chegada dela, o batuque rapidamente virava meio dança lenta, meio ritual. As mulheres dos batuqueiros, para disfarçar, entravam na roda (tal qual a gira dos candomblés) e, num batuque mais lento, mole, com remelexos, trejeitos sensuais e umbigadas (= semba, em Loanda) no sexo oposto, - sendo estas consideradas o ponto culminante da dança -, demonstravam estar se divertindo. Segundo Elias Alexandre da Silva Correia 331o batuque é uma dança indecente que finaliza com umbigadas.”. (D´Avila, 2006)332.

Para D´Ávila (2006), assim nasceu o samba-de-roda na Bahia. Mistura de um batuque com as mulheres das rodas dos candomblés, com outro batuque representado pelos homens das capoeiras. É em virtude desta fusão que, ainda nos dias atuais, verificamos ser o samba-de-roda a única modalidade de samba em que a presença do berimbau se faz notar e é tocado, tradicionalmente, quando há mulheres presentes na roda: “[...] Quando a polícia se retirava, recomeçava o batuque bravo quando caprichavam na capoeiragem, com pernadas violentas, soltando baús, dourado, encruzilhada, rabo-de-arraia, que tiravam os conflitantes da roda. Corte difícil de defender para um batuqueiro era o da tiririca com o seguinte canto puxado pelo mestre: ‘tiririca é faca de cortar / quem não pode não intima /deixa quem pode intimá’. Um pé ficava no chão e o outro com violência, no pé do ouvido do adversário. Em conseqüência da tiririca = faca, surgiu no samba-de-roda o raspado de prato e faca, do modo dos recorecos raspados nas batucadas. Um último tipo de batuque bravo (dança-luta) é o bate-coxa em Alagoas, na cidade de Piaçabuçu, praticada exclusivamente por negros em que dois disputantes sem camisa, só de calção aproximam-se e colocam peito com peito, apoiando-se mais nos ombros. Soa a música... ‘são horas de eu virar negro / eh! boi.../ Minha gente venha ver / com meu mano vadiar /, eh! Boi.../ são horas de eu virar negro / tanto faz daqui pr.ali / como dali pr.acolá / eh! Boi.../ são horas de eu virar negro’. Afasta a coxa o mais que podem e quando escutam o coro cantar eh! Boi...., chocam-se num golpe rápido, coxa direita com a direita do adversário. Repetem a esquerda chocando bruscamente ao ouvir o eh! Boi...Perde quem desistir, sentir-se vencido ou levar uma queda após a batida. O canto é acompanhado por um tocador de reco-reco [...]”D´Avila (2006)333. 329

Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Com o nome de “batuque” ou “batuque-boi” há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. 330 Vale aqui uma referencia a Mestre Tiburcinho, também conhecido como Tibúrcio de Jaguaripe, lembrado entre poucos capoeiristas como um mestre de batuque. Também foi um grande mestre de capoeira e figura importante da cultura popular brasileira. Tibúrcio José de Santana nasceu por volta de 1870 em Jaguaripe. Aprendeu o batuque com Mestre Bernardo, ali no Recôncavo mesmo. Foi um grande batuqueiro e um dos últimos a preservar essa arte. Chegou a Salvador de saveiro, como a maioria dos trabalhadores da região. Conheceu a capoeira de Salvador no Mercado Popular e se enturmou com os capoeiristas locais, se tornando um deles. Ficou famoso nas rodas de capoeira pela sua habilidade. Depois de algum tempo, Mestre Tiburcinho começou a freqüentar a academia de Mestre Pastinha e era muito visto por lá. Com mais de 80 anos, era um capoeirista malicioso, mandingueiro, perigoso. Cantava sempre músicas da outra luta que praticava, mantendo-as vivas, como: Ê loandê... Tiririca é faca de cortá... num me corta molequinho de sinhá... Outro fato importante para a cultura brasileira é que foi Mestre Tiburcinho, levado a Mestre Bimba por Mestre Decânio, quem ajudou o famoso criador da Capoeira Regional a lembrar-se de muitas cantigas e até coreografias de maculelê. Graças a esse encontro, Mestre Bimba começou a colocar o maculelê em apresentações com seu grupo. Oo que fez com que o maculelê fosse estudado e apresentado por vários grupos de capoeira até hoje. Se o batuque Mestre Tiburcinho não conseguiu manter vivo, a "redescoberta" do maculelê teve uma grande força dele. Esse grande Mestre participou do “Dança de Guerra”, filme de Jair Moura. É citado entre outros capoeiristas no livro “Tenda dos Milagres”. E a gente faz questão de lembrar o nome dele por aqui. In http://zungucapoeira.blogspot.com/2009/06/mestre-tiburcinho-batuque-capoeira-e-o.html, disponibilizado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 3/01/2010. 331 SILVA, A. E. C. - História de Angola - I, 89, Lisboa, 1937, in Moura J. - MESTRE BIMBA. Salvador (BA): Prod. Zumbimba, 1993. 332 D.ÁVILA , 2006, obra citada. Disponível em http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/34/GT2-_FOLKCOM-_04_Fundamentos_da_Cultura_Musical_-_Nicia.pdf, publicado por Javier Rubiera para Conexoes da Capoeira Angola el 3/01/2010. 333 Conforme D.ÁVILA, R. N. ANÁLISE SEMIÓTICA DO FATO MUSICAL BRASILEIRO BATUCADA. Tese de doutorado em Ciências da Linguagem - Semiótica. Sorbonne, Paris III - França, 1987. Ver também D'ÁVILA, R. N.. Trabalho apresentado no II° Congresso Brasileiro de Musicologia e III° Congresso Internacional de Música Sacra, na Escola Superior de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Da contribuição afro-indígena na música do Brasil, promovido pela (SBM) SOCIEDADE BRASILEIRA DE MUSICOLOGIA, 1992; D.ÁVILA, R. N. - O SAMBA EM PERCUSSÕES - BATUCADA BRASILEIRA. Como tocar os instrumentos das Escolas de Samba, por música. Vol. I. Método com cassete. Santos (SP): Ed. A Tribuna, 1990; ARAÚJO, A. M. - BRASIL. HISTÓRIAS, COSTUMES E LENDAS. S. Paulo: Editora TRÊS;


Reis (1997) 334 informa que: O batuque baiano, segundo Câmara Cascudo (1988), era uma modalidade da capoeira. O acompanhamento musical assemelhava-se ao dela, com utilização de pandeiros, berimbaus e ganzás, além do que se entoavam cantigas. A luta envolvia dois jogadores por vezes, os quais deveriam unir as pernas com firmeza e aplicar rasteiras um no outro. O principal era evitar cair e “por isso mesmo era comum ficarem os batuqueiros de banda solta, isto é, equilibrado numa única perna, a outra no ar, tentando voltar à posição primitiva (...).” (p.129 – nota de número 12)

Para Sandroni, trata-se de: “[...] um jogo de destreza corporal, variante da capoeira, que foi popular no Rio de Janeiro. Pode ser considerada também como uma variante do samba-de-umbigada definido por Carneiro, pois consistia numa roda, como os usuais cantos responsoriais e palmas dos participantes, onde a umbigada era substituída pela pernada, golpe com a perna visando derrubar o parceiro, o qual, se conseguisse se manter de pé, ganhava o direito de aplicar a próxima pernada no parceiro que escolhesse. A batucada se diferencia dos outros sambas-de-umbigada por sua componente violenta (2001:103”).

PERNADA - Câmara Cascudo assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro; diziam os marinheiros que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o “rei da pernada carioca”; é o bate-coxa das Alagoas. Ainda Edson Carneiro (Dinâmica do Folklore, 1950) informa ser o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Na Bahia somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário - a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. “Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?“(ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite).

Letícia Vidor de Souza Reis335, baseada em Câmara Cascudo, afirma que o “batuque baiano” era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana336. Em entrevista ao Jornal Diário da Bahia, na sua edição de 13 de março de 1936, na matéria: “Titulo Máximo da Capoeiragem Bahiana”, Bimba, dá uma longa entrevista acerca de seus desafios públicos na divulgação da chamada Luta Regional. Da mesma destacamos o seguinte trecho: “Falando sobre o actual movimento d’aquele ramo de lucta, genuinamente nacional uma vez que difere bastante da Capoeira d’angola, o conhecido Campeão (Bimba) referindo-se a uma nota divulgada por um confrade matutino em que apparecia a figura do Sr. Samuel de Souza. Do Bimba, de referência aos tópicos ouvimos: Ao som do berimbau não podem medir forças dois capoeiras que tentem a posse de uma faixa de campeão, e isto se poderão constatar em Centros mais adiantados, onde a Capoeira assume aspectos de sensação e cartaz. A Polícia regulamentará estas exibições de capoeiras de acordo com a obra de Aníbal Burlamaqui (Zuma) editada em 1928 no Rio de Janeiro... Nesta reportagem existem alguns itens que merecem uma atenção mais detalhada: (a) A confirmação da influencia de Zuma no trabalho implantado por Mestre Bimba; (b) O reconhecimento de Bimba ao trabalho de Zuma; (c) A afirmação de Bimba existia Centros mais adiantados em Capoeira que a Bahia, no caso, a Cidade de Rio de Janeiro; (d) O interesse de Bimba pela prática desportiva da “Luta Nacional”; (e) A integração de seu discípulo nesta inovação; (f) A adoção do regulamento de Zuma pela direção do Parque Odeon, onde se realizavam tais apresentações; (g) A liberação pela polícia, daquela forma de luta já existente no Rio de Janeiro. ( Fonte: Rego, op. cit., 1968. pág. 282 e 283; Diário da Bahia. Salvador 13 de março de 1936; Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural - Prof. Dr. Sergio Luiz de Souza Vieira - PUC/SP 2004)337

CARNEIRO, A. L. CANÇÕES E DANÇAS DE MONTE-Córdova. Sep. de Douro - Litoral, IV; 3a. Série. Porto. 1964; RODRIGUES, N. - Os africanos no Brasil - S.Paulo: Ed. Nacional - 5a. Edição. Vol.9, l977; MUNIZ JR., J. DO BATUQUE À ESCOLA DE SAMBA, S. Paulo: Ed. Símbolo - l976; CARNEIRO, E. - Samba de Umbigada, p. 33, in Mukuna, Kasadi Wa.- Contribuição BANTO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. S. Paulo: Editora Global - s/d. 334

REIS, 1997, obra citada.

335

REIS, 1997, obra citada. in http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf

336 337

Disponível em http://www.capoeira-fica.org/


Banda jogada, de Zuma338 A afirmação traz um significado especial por tratar do batuque baiano na formação de Mestre Bimba, da qual seu pai era campeão na modalidade, porque implicava num jogo agressivo de pernas contra as pernas do oponente, já como uma forma característica de luta acompanhada por cânticos e instrumentos. Quanto a Anibal Burlamaqui – Mestre Zuma 339 - foi um importante inventor da nova capoeira carioca e afirmou que vários golpes foram extraídos dos “batuques” e “sambas”, como no caso do “baú”. Trata-se de um golpe dado no adversário com a barriga, sendo similar aos movimentos do “samba de umbigada”. O “baú” também era usado durante os “batuques lisos”, segundo Zuma, os mais delicados. O “rapa” havia sido um golpe usado nos “batuques pesados”. Ele também explica os golpes de “engano”, que serviam somente para burlar o adversário.340 Mestre André Lacé341, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas342. Segue a Roda...

338

339

Zuma fue un importante inventor de esta nueva capoeira carioca y afirmó que varios golpes fueron extraídos de los “batuques” y “sambas”, como en el caso del “baú”. Se trata de un golpe dado en el adversario con la barriga, siendo similar a los movimientos del “samba de ombligada”. El “baú” tam- bién era usado durante los “batuques lisos”, segundo Zuma, los más delicados. El “rapa” habría sido un golpe usado en los “batuques pesados”. Él también explica los golpes de “en- gaño”, que servían solamente para burlar al adversario. Correspondencia pessoal de Javier Rubiera [mailto:capoeira.espanha@gmail.com] Enviada em: quarta-feira, 5 de agosto de 2009 22:49 Para: leopoldovaz@elo.com.br Assunto: [SPAM] [Sala de Pesquisa - Internacional FICA] Zuma, la Samba de Umbingada, el Morin...

VIEIRA, 2004, obra citada. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf - A Capoeira Desportiva é o mais antigo segmento organizado da Capoeira. Surgiu no Rio de Janeiro após a Proclamação da República, no Brasil, em 1889. É resultante do reaproveitamento da corporalidade da antiga capoeiragem, em seus gestos e movimentos, para a construção de um método ginástico caracterizado por uma forma de luta sistematizada. Em 1904 surgiu um livreto anônimo, sob o nome: Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira, com algumas propostas deste reaproveitamento, no qual se encontram as letras ODC, que significam “ofereço, dedico e consagro”, no caso “à distinta mocidade”. Foi somente em 1928 que a Capoeira Desportiva foi metodizada e estruturada por seu precursor, Annibal Burlamaqui, conhecido pelo nome de Zuma, o qual elaborou a primeira Codificação Desportiva da Capoeira, sob o título de: Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada. Sua obra. Ver ainda: http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/08/zuma-la-samba-de-umbingada-el-moringue.html http://www.capoeira-fica.com/PDF/Capoeira_Origem_Historia.pdf http://www.capoeiraunb.com/textos/DOS%20ANJOS,%20ED%20-%20Educacao%20fisica%20e%20reordenamento%20no%20mundo%20do%20trabalho.pdf http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=848 340 http://4.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SWfpDlAQZ6I/AAAAAAAAC68/mfXW2md8_IM/s1600-h/punga.gif, in Javier Rubiera para Sala de Pesquisa Internacional FICA 341 LACÉ LOPES, 2004, obra citada. LACÉ LOPES, 2004, obra citada.. LACÉ LOPES, 2005, obra citada. LACÉ LOPES, 2005, obra citada. LACÉ LOPES, 2007, obra citada. LACÉ LOPES, 2006, obra citada. 342 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz.


MOVIMENTOS DA CAPOEIRA(GEM)


CAPOEIRAGEM É UMA ARTE, CADA MOVIMENTO TEM UM NOME343 A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS344 João do Rio Em 1908, iluminada pelas primeiras luzes da modernidade, o Rio de Janeiro já se revelava, aos olhos mais sensíveis, como uma cidade multifacetada, fascinante, efervescente na democracia das ruas. Nesse ano, um cronista lança o livro "A alma encantadora das ruas", em que observa deslumbrado, as novas relações sociais que se desenham no coração daquela seria mais tarde chamada a Cidade Maravilhosa. Seu nome: João do Rio. — Sim senhor. Capoeiragem é uma arte, cada movimento tem um nome. É mesmo como sorte de jogo. Eu agacho, prendo V. Sa. pelas pernas e viro — V. Sa virou balão e eu entrei debaixo. Se eu cair virei boi. Se eu lançar uma tesoura eu sou um porco, porque tesoura não se usa mais. Mas posso arrastar-lhe uma tarrafa mestra. — Tarrafa? — É uma rasteira com força. Ou esperar o degas de galho, assim duro, com os braços para o ar e se for rapaz da luta, passar-lhe o tronco na queda, ou, se for arara, arrumar-lhe mesmo o baú, pontapé na pança. Ah! V. Sa não imagina que porção de nomes tem o jogo. Só rasteira, quando é deitada, chama -se banda, quando com força tarrafa, quando no ar para bater na cara do cabra meia -lua. — Mas é um jogo bonito! Fiz para contentá-lo. — Vai até o auô, salto mortal, que se inventou na Bahia. Para aquela lição tão intempestiva, já se havia formado um grupo de temperamentos bélicos. Um rapazola falou. — E a encruzilhada? — É verdade, não disseste nada de encruzilhada? E a discussão cresceu. Parecia que iam brigar. SEGUNDO O REGULAMENTO INTERNACIONAL DE CAPOEIRA Artigo 1°- Os trabalhos desenvolvidos pela Federação Internacional de Capoeira e suas filiadas diretas ou indiretas se fundamentam no resgate e difusão da Cultura Física da Capoeira e se objetivam a construção de um mecanismo internacional de preservação e deste acervo, através da padronização de procedimentos técnicos, culturais e desportivos. Artigo 3°- A Capoeira passa a ser reconhecida internacionalmente como um Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal, integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada. Parágrafo 1°- A Capoeira por sua inserção no processo histórico da nação portuguesa no período colonial brasileiro, bem como por haver recebido da mesma suas influências culturais, também faz parte reconhecidamente do acervo cultural do povo português. Parágrafo 2°- Em virtude da Capoeira ser concebida no Brasil passa a ser considerada também como um patrimônio cultural dos povos da América e da humanidade. Parágrafo 3°- Em virtude dos dispostos neste Artigo e Parágrafos anteriores, a Capoeira é reconhecida internacionalmente como: A-

Desporto Cultural;

B-

Desporto de Identidade;

C-

Desporto Tradicional.

343

João do Rio. A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS. MINISTÉRIO DA CULTURA. Fundação Biblioteca Nacional. Departamento Nacional do Livro. Disponível em http://cultvox.locaweb.com.br/livros_gratis/alma_encantadora_das_ruas.pdf

344

João do Rio (s.d.) obr citada. Disponível em http://cultvox.locaweb.com.br/livros_gratis/alma_encantadora_das_ruas.pdf


Artigo 17- A Nomenclatura de Movimentos de Capoeira está estabelecida em duas partes: A-

Nomenclatura Histórica

B-

Nomenclatura Oficial

Artigo 18- A Nomenclatura Histórica de Movimentos foi colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, a saber: Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma). A mesma poderá ser ampliada em função da evolução das pesquisas científicas.

Parágrafo 1°- Legado de Plácido de Abreu - 1886: Trastejar, Caçador, Rabo de Arraia, Moquete, Banho de Fumaça, Passo de Sirycopé, Baiana, Chifrada, Bracear, Caveira no Espelho, Topete a Cheirar, Lamparina, Pantana, Negaça, Ponta-pé e Pancada de Cotovelo. PLÁCIDO DE ABREU MORAIS345 Na crônica da capoeiragem carioca, um vulto importante foi Plácido de Abreu Morais, de nacionalidade portuguesa. Nasceu a 12 de março de 1857 e foi assassinado em fevereiro de 1894, em represália à sua desassombrada atitude, de oponente às ações arbitrárias, ditatoriais de Floriano Peixoto, aderindo aos insurgentes que desencadearam a revolta da Esquadra. No Brasil, trabalhou no comércio, exerceu a arte tipográfica, salientando-se como homem de letras, militando no Correio do Povo. Republicano intransigente, incondicional, foi acusado de estar envolvido numa tentativa que visava suprimir o imperador D. Pedro II. Da sua bibliografia, ressalto o romance Os Capoeiras, publicado em 1886. No seu contexto, ele focaliza os rituais inerentes à capoeiragem no Rio e, prosseguindo, descreve as infelicidades, os sofrimentos de um jovem que, vindo do interior para capital, foi vitimado pelos perversos, pelos marginais, que infestavam as hordas capoeirísticas, mancomunadas com a prostituição. Na interessante e elucidativa introdução do seu romance, Plácido anuncia a publicação para breve, de outro trabalho da sua lavra, intitulado Guaiamus e Nagoas. Efetuei reiteradas buscas e pesquisas e cheguei à conclusão que o intento do malogrado escritor lusitano, de imprimir o referido Guaiamus e Nagoas, não foi concretizado.

345

MOURA, Jair. Um Titã da Capoeiragem –Plácido de Abreu disponível em: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.revistacapoeira.com.br/dados/Image/placido.jpg&imgrefurl=http://www.revistacapoeira.com.br/site/i ndex.php%3Fm%3Dhistoria&usg=__oXJg98IBm1DxRhoPefzz4CQpeJg=&h=100&w=100&sz=6&hl=ptBR&start=6&tbnid=932hx83Iu4wh_M:&tbnh=82&tbnw=82&prev=/images%3Fq%3Dcapoeira%2B%252B%2Bplacido%2Bde%2Babreu%26gbv%3D2%26hl%3DptBR


No preâmbulo de Os Capoeiras, Plácido de Abreu transcreve um vocabulário da gíria vigorante no seu tempo, que reputo de essencial importância para os capoeiras da atualidade e os pesquisadores que têm abordado esta temática: Banho de Fumaça - tombo. Bracear - dar pancada com os braços. Caçador - tombo que o capoeira dá, arrastando-se no chão sobre as mãos e o pé esquerdo e estendendo a perna direita de encontro aos pés do adversário. Caveira no Espelho - cabeçada na cara Chifrada - cabeçada. Lamparina- bofetada. Moquete - marretada, soco Negaça Pancada de Cotovelo Pantana - volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito do adversário Passo de Sirycopé - pulo que dá o capoeira depois que faz negaça, para ferir Ponta-pé Rabo de Arraia - volta sobre o corpo, rodando uma das pernas de encontro ao inimigo Topete a Cheirar - cabeçada. Trastejar, - dar um golpe falso “Cambar, passar de um partido para outro. Arriar, deixar de jogar capoeiragem. Distorcer, disfarçar ou retirar por qualquer motivo. Tapear, enganar o adversário. Tungar e balear, ferir o inimigo. Trastejar, dar um golpe falso. Alfinete, biriba, biscate e furão, estoque ou faca. Sardinha, navalha. Caçador, tombo que o capoeira dá, arrastando-se no chão sobre as mãos e o pé esquerdo e estendendo a perna direita de encontro aos pés do adversário. Rabo de arraia, volta sobre o corpo, rodando uma das pernas de encontro ao inimigo. Moquete, marretada, soco. Banho de fumaça, tombo. Alto da sinagoga, rosto. Grampear, pegar à unha o adversário. Passo de constrangimento, vacilação do inimigo quando leva um tombo ou é vencido; ato de retirarse cabisbaixo. Passo de siricopé, pulo que dá o capoeira depois que faz negaça, para ferir. Pegada, encontro de dois partidos inimigos. Marcha, procura de adversário. Vou ver-te cabra, ameaça para brigar. Carrapeta, pequeno esperto e audacioso que brama desafiando os inimigos. Bramar, gritar o nome da província ou casa a que pertence o capoeira. Senhora da cadeira, Santana. Velho carpinteiro, S. José. Velho cansado, S. Francisco. Senhora da palma, Santa Rita. Espada, Senhora da Lapa. Sarandaje, pequenos capoeiras, miuçalha. Endireitar, enfrentar com o inimigo. Mole, covarde. Leva, leva, grito de vitória, perseguição ao inimigo. Baiana, joelhada que se dá depois de se haver saracoteado para tapear o inimigo. Chifrada, cabeçada. Encher, dar bordoada. Bracear, dar pancada com os braços.


Melado, sangue. Firma, não foge. Caveira no espelho, cabeçada na cara. Porre, pifão, bebedeira. Topete a cheirar, cabeçada. Não venha, que sais do passinho mole, sê prudente, porque levas um tombo. Lamparina, bofetada. Pantana, volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito do adversário. Branquinha, aguardente. Está pronto, está ferido. Foi baleado, foi ferido. Quero estia, quero tasca, senão bramo, quero parte disto ou daquilo, roubado, senão denuncio. Deixa de saliências, não contes patranhas. Rujão, batalhão ou sociedade. Roda, vamos embora. Desgalhar, fugir da polícia. Jangada, xadrez de polícia. Palácio de cristal, detenção. Chácara, casa de correção. Fortaleza, capela, taverna. Piaba, sem valor. Dar sorte, (diversas aplicações) cair em ridículo ou cousa bem desempenhada. É direito, é destemido.” Parágrafo 2°- Legado Apócrifo - 1904: Pronto, Chato, Negaça de Inclinar, Negaça de Achatar-se, Negaça de Bambear para direita ou esquerda, Negaça de Crescer, Pancada de Tapa, Pancada com o Pé, Pancada de Punho, Pancada de Tocar, Rasteira Antiga, Rasteira Moderna e Defesas. O.D.C. Para Santos (2006) no final do século XIX e início do século XX, assistimos às tentativas de legitimar a capoeira. Em 1907, é publicado um folheto O Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira. Guia dividido em cinco partes: I) Posições; II) Negaças; III) Pancadas simples; IV) Defesas relativas; V) Pancadas afiançadas. O autor, que dedica o trabalho à “distinta mocidade”, coloca apenas as iniciais O. D. C. Segundo relatos, tratava-se de um oficial do exército que não quis revelar o nome devido ao preconceito com a capoeira. 346

Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto - 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça.

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SANTOS, Eduardo Alves (Mestre Fálcon) CAPOEIRA NACIONAL: A Luta por Liberdade IV IN Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 61 - de 19 a 25/Fev de 2006 Sorocaba-SP, DISPONÍVEL EM

http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.jornalexpress.com.br/gerencia/antigos/ver_imagem.php%3Fid_imagem%3D4273&imgrefurl=http://w ww.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php%3Fid_jornal%3D13170%26id_noticia%3D848&usg=__Sn7kJPy_YwGNzGjlIVhtUcf6xro=&h=414&w=287&sz=60 &hl=pt-BR&start=6&tbnid=q52S4xUiYR9MQM:&tbnh=125&tbnw=87&prev=/images%3Fq%3Dcapoeira%2B%252B%2Bodc%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR


Parágrafo 4°- Legado de Annibal Burlamaqui (Zuma), autor da primeira Codificação Desportiva - 1928: Guarda, Rasteira, Rabo de Arraia, Corta Capim, Cabeçada, Facão, Banda de Frente, Banda Amarrada, Banda Jogada, Banda Forçada, Rapa, Baú, Tesoura, Baiana, Dourado, Queixada, Passo de Cegonha, Encruzilhada, Escorão, Pentear ou Peneirar, Tombo da Ladeira ou Calço, Arrastão, Tranco, Chincha, Xulipa, Me Esquece, Vôo do Morcego, Espada e Suicídio. ZUMA Continuamos com Santos (2006), que afirma: “Em 1928, o capoeira-intelectual carioca Aníbal Bulamarqui, conhecido como mestre Zuma, publicou o livro Ginástica Nacional (Capoeiragem) metodizada e regrada, cujo prefácio de Mário Santos dizia: “Adotemos a capoeiragem, ela é superior ao box, que participa dos braços; ela é superior à luta romana, que baseia na força; é superior à japonesa, pois que reúne os requisitos de todas essas lutas, mais a inteligência e a vivacidade peculiares ao tropicalismo dos nossos sentimentos pondo em ação braços, pernas, cabeça e corpo”. Em Negros e Brancos no Jogo da Capoeira: a Reinvenção da Tradição, Letícia Vidor de Sousa Reis descreve a tentativa de Burlamarqui, e de outros intelectuais do começo do século, de transformar a capoeira num esporte “branco” e “erudito”, ou seja, eles tinham para a capoeira um projeto nacional, implicando numa única nomenclatura dos movimentos corporais da capoeira e no estabelecimento de um único conjunto de regras. “Apellidei este methodo, puramente meu, de “ZUMA”, não só porque Zuma é a quarta parte do meu segundo nome, como também porque uma feliz coincidência faça com que se perceba nitidamente a letra Z no centro do campo de luta que adoptei para o meu método de capoeiragem, differenciando-o dos campos de sports communs. Primeiramente idealisei um campo de luta onde, com espaço suficiente, se pudesse realisar a GYMNASTICA BRASILEIRA. 347 OS GOLPES - Os golpes na capoeiragem são muitos e somente praticando-os, com treinos regulares, firmes e constantes, é que os poderemos aprender conscientemente. Os principais são: A RASTEIRA; O ESCORÃO; O RABO DE ARRAIA; O PENTEAR OU PENEIRAR; O CORTA CAPIM; O TOMBO DE LADEIRA OU CALÇO; A CABEÇADA; O ARRASTÃO; O FACÃO; O TRANCO; A BANDA DE FRENTE; A CHINCHA; O RAPA; A XULIPA; O BAHÚ; A BANDA AMARRADA; A THESOURA; A BANDA JOGADA; A BAHIANA; A BANDA FORÇADA; O DOURADO; O ME ESQUECE; A QUEIXADA (do autor); O VOO DO MORCEGO; O PASSO DE CEGONHA (do autor); A ESPADA (do autor); A ENCRUZILHADA; O SUICIDIO

347

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm



Método Amorós (Savate)


Artigo 19- A Nomenclatura Oficial de Movimentos foi estabelecida com base nos referenciais obtidos pelos trabalhos de Manuel dos Reis Machado (Mr. Bimba), fundador da segunda Escola Técnica de Educação Física no Brasil e por Vicente Ferreira Pastinha (Mr. Pastinha), fundador do primeiro Centro Esportivo de Capoeira, entendendo como única a Capoeira, porém considerando-se distintos seus os padrões de jogo advindos do emprego dos ritmos do berimbau em cada um dos legados que nos foram deixados como herança cultural, a saber:

MOVIMENTOS DE CAPOEIRA REGIONAL: 1Açoite De Braço; 2 - Acoite De Braço Em Cruz; 3 – Apanhada; 4 – Armada; 5 – Armiloque; 6 – Arpinio; 7 – Arqueado; 8 - Arqueado De Costas; 9 – Arrastão; 10 – Asfixiante; 11 – Au; 12 - Au Batido; 13 – Baiana; 14 - Balão Cinturado; 15 - Balão De Lado; 16 - Banda De Costas; 17 - Banda Lisa; 18 - Banda Traçada; 19 – Baú; 20 – Benção; 21 - Boca De Calça; 22 – Bochecho; 23 – Buzina; 24 – Cabeçada; 25 – Calcanheira; 26 – Chapa; 27- Chapa De Costas; 28 - Chapéu De Couro; 29 – Chulipa; 30 - Cintura Robusta; 31 - Colar De Força; 32 – Cotovelo; 33 – Crucifixo; 34 – Cruz; 35 – Cruzilha; 36 – Cutila; 37 – Dentinho; 38 – Desprezo; 39 – Dubliesse; 40 – Escurinho; 41 – Escurrumelo; 42 – Esporão; 43 – Forquilha; 44 – Galopante; 45 – Ginga; 46 - Giro Da Sereia; 47 – Godeme; 48 - Gravata Alta; 49 - Gravata Baixa; 50 Guarda Baixa; 51 - Guarda Média; 52 - Guarda Alta; 53 – Joelhada; 54 – Leque; 55 – Marrada; 56 – Martelo; 57 - Meia-Lua De Compasso; 58 - Meia-Lua De Frente; 59 – Mortal; 60 – Negativa; 61 – Palma; 62 – Pantana; 63 – Pescocinho; 64 – Ponteira; 65 – Presilha; 66 - Quebra Mão; 67 - Quebra Perna; 68 Quebra Pescoço; 69 - Queda De Rins; 70 – Queixada; 71 – Rasteira; 72 – Suicídio; 73 – Telefone; 74 Tesoura De Costas; 75 - Tesoura De Frente; 76 - Tombo Da Ladeira; 77 – Vingativa.

MOVIMENTOS DE CAPOEIRA ANGOLA: 1– Au; 2 - Au Rolê; 3 – Cabeçada; 4 - Chamada Aberta De Costas; 5 - Chamada Aberta De Frente; 6 Chamada Da Palma De Frente; 7 - Chamada De Entrada Na Barriga; 8 - Chamada Do Sapinho; 9 - Chapa De Costas; 10 - Chapa De Frente; 11 - Corta Capim; 12 – Cotovelada; 13 - Cutilada De Mão; 14 – Esquiva; 15 – Ginga; 16 – Joelhada; 17 - Meia-Lua De Costas; 18 - Meia-Lua De Frente; 19 – Negativa; 20 - Queda De Rins; 21 - Rabo De Arraia; 22 – Rasteira; 23 – Role; 24 - Tesoura De Angola. MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS - FICA 01Ginga; 02- Guarda Alta (Posição Base); 03- Guarda Média (Esquiva Lateral); 04- Guarda Baixa (Cocorinha); 05- Aú; 06- Aú Batido; 07- Negativa; 08- Role; 09- Rasteira; 10- Benção; 11- Martelo; 12Chapa; 13- Xulipa; 14- Calcanheira; 15- Joelhada; 16- Chapa de Costas; 17- Meia Lua de Frente; 18-


Queixada; 19- Esporão; 20- Ponteira; 21- Giro; 22- Armada; 23- Rabo de Arraia; 24- Meia Lua de Compasso; 25- Queda de Rins; 26- Cabeçada; 27- Escorrumelo; 28- Palma; 29- Godeme; 30- Galopante; 31Telefone; 32- Forquilha; 33- Cutila; 34- Cotovelo; 35- Desprezo; 36- Bochecho; 37- Presilha; 38- Presilha de Rins; 39- Arrastão; 40- Baiana; 41- Vingativa; 42- Baú; 43- Banda Lisa; 44- Banda Traçada; 45- Banda de Costas; 46- Tesoura de Frente; 47- Tesoura de costas; 48- Arpão de Giro; 49- Chapéu de Couro; 50Tranco; 51- Amarrada; 52- Volta do Mundo; 53- Chamada da Palma de Frente; 54- Chamada Aberta de Frente; 55- Chamada Aberta de Costas; 56- Chamada de Entrada na Barriga; 57- Chamada do Sapinho; MOVIMENTOS DE ESPECIALIZAÇÕES - FICA 58- Apanhada; 59- Arqueado; 60- Arqueado de Costa; 61- Açoite de Braço; 62- Açoite de Cruz; 63- Balão Cinturado; 64- Balão de Lado; 65- Gravata Baixa; 66- Gravata Alta; 67- Crucifixo; 68- Cruz; 69- Cruzilha; 70- Dentinho; 71- Giro da Sereia; 72- Cintura Robusta; 73- Tombo da Ladeira; 74- Arpínio; 75- Pescocinho; 76- Armiloque; 77- Buzina; 78- Leque; 79- Quebra Mão; 80- Quebra Perna; 81- Quebra Pescoço; 82- Colar de Força; 83- Dubliesse; 84- Escurinho; 85- Sapinho; 86- Pantana; 87- Vôo do Morcego; 88- Mortal; 89Suicídio; 90- Asfixiante. OS MOVIMENTOS DA CAPOEIRA348 - Ilustrações (e interpretação): E. Zolcsak, 2004. Fonte do manuscrito (ilustração): Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre Pastinha. Os movimentos da Capoeira Angola são tradicionais, mas cada capoeirista os reproduz a partir de sua constituição física e gestualidade. Há uma série de movimentos (golpes) básicos que se desdobram em variações e combinações complexas, o que leva a compará-los com os sons musicais. A seqüência é opção de cada capoeirista, sempre em estreita dependência dos movimentos do parceiro de jogo. “Era eu era você Era você era eu Era eu era meu mano Era mano era eu Você não jogava sem eu.” (Mestre Pastinha)

O jogo se desenrola com a ginga, movimento de dança e de luta; de concentração e descontração, personalizado, e desconcertante. Mas muitas vezes começa com movimentos próximos ao chão. De pernas para o ar, o capoeirista está em posição de ataque e ao mesmo tempo defende tronco e cabeça... Pode girar as pernas, tendo a cabeça ou as mãos como eixo. As pernas no chão podem levar um golpe aos pés do parceiro ou formar uma tesoura para derrubá-lo.”

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http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.nzinga.org.br/incab/fig/cobr_gav.jpg&imgrefurl=http://www.nzinga.org.br/incab/movi.htm&usg=__SR AZgkLtpoLsV_oNGoaP5TC8Ju4=&h=182&w=284&sz=17&hlptBR&start=55&tbnid=Zn3JP4Ja_0TTXM:&tbnh=73&tbnw=114&prev=/images%3Fq%3Dcapoeira%2B%252B%2Bmovimentos%2B%252B%2Bangola%26gbv%3D2% 26ndsp%3D20%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN%26start%3D40


”Mãos no chão, como em falsa queda, as pernas continuam livres, de frente ou de costas. Já de pé, o capoeirista pode partir para uma cabeçada ou se agachar para uma rasteira. De frente para o parceiro, pode surpreendê-lo sendo direto ou desenhando um golpe no ar. Ou se esquivar e ao mesmo tempo golpear. E de repente girar e voltar, como pião. Se preciso, pode procurar espaço, dissimulado, de cabeça para baixo. E logo rolar, protegendo a cabeça e preparando um ataque. Ou se afastar voando pra trás...”

CAPOEIRA ANGOLA DO MARANHÃO CARMO (2006) 349 em seu NA RODA DA CAPOEIRA – um estudo semântico-lexical da mandinga angoleira dentro do projeto ALiMA – o português falado no Maranhão, tem como objetivo contribuir para o conhecimento da realidade lingüístico-cultural do Maranhão. Dessa forma a autora investigou o universo da capoeira Angola em São Luís do Maranhão, elaborando, ao final um glossário da Capoeira Angola. Em visita a várias casas de capoeiras, realizou entrevistas, aplicadas a um aluno, um professor e três mestres de capoeira, cinco informantes, visando à elaboração do glossário. Está organizado em a) termos pertencentes aos campos semânticos selecionados: 1. Instrumentos musicais – composto de termos que nomeiam os tipos de instrumentos utilizados nas rodas de capoeira; 2. Movimentos – composto de termos que denominam os movimentos defensivos e desequilibrantes; 3. Golpes – composto de termos que nomeiam os tipos de golpes de ataque e defesa utilizados nas rodas de capoeira; 4. Toques – composto de termos que nomeiam os tipos de toques feitos nos berimbaus e usados para entoar os cânticos na roda de capoeira. b) termos não inseridos nos campos selecionados, porém registrados durante a pesquisa. Os verbetes do glossário estão organizados obedecendo à seguinte estrutura: termo-entrada + categoria gramatical + gênero + definição + remissivas + variantes. 349

CARMO, Rosangela Maria Costa Pinto do. NA RODA DA CAPOEIRA – um estudo semântico-lexical da mandinga angoleira. In RAMOS, Conceição de Maria de Araújo; ROCHA, Maria de Fátima Sopas; BEZERRA, José de Ribamar Mendes. (Org.). A DIVERSIDADE DO PORTUGUÊS FALADO NO MARANHÃO: O Atlas Lingüístico do Maranhão em foco. São Luís: EDUFMA, 2006, p. 80-103.


A autora traz a seguinte classificação dos movimentos básicos, segundo o Mestre Bola Sete, em Capoeira na Bahia350: quinze movimentos (quatro defensivos, quatro desequilibrantes e sete golpes, sendo, respectivamente: ginga, negativa, role e aú; rasteira, banda, tesoura, boca-de-calça; rabo-de-arraia; meia-lua, ponteira, chibatada, chapa, joelhada e cabeçada. MOVIMENTOS DEFENSIVOS E DESEQUILIBRANTES Aú. s.m. Consiste em um salto com as pernas para o ar, fazendo apoio com as mãos no solo, voltando, em seguida, à posição inicial. Usado para entrar na roda. É um movimento defensivo. Banda. s.f. o capoeira se aproxima encaixando uma perna atrás do corpo do adversário, calçando-o e procurando derrubá-lo com o auxílio do braço ou da cabeça. É um movimento desequilibrante. Boca-de-calça. s.f. o capoeira abaixa o corpo e segura a ‘boca de calça’ ou a perna do adversário, puxando-a em sua direção, derrubando-a para trás. É um movimento desequilibrante. Ginga. S.f. o principal movimento da capoeira. O capoeirista se movimenta com o corpo para a direita e para a esquerda, com a intenção de confundir o seu adversário e se colocar em posição adequada para o ataque. Movimento defensivo. Negativa. S.m. Movimento em que o capoeirista se abaixa, rapidamente, apoiando-se no chão com uma mão e um pé. Pode ser dado de lado ou de frente. É um movimento defensivo. Rasteira. S.f. O capoeirista aplica uma ‘varredura’, isto é, encaixa o pé na altura do calcanhar do adversário, procurando derrubá-lo no chão. É um movimento desequilibrante. Rolê. S.m. O capoeirista rola o corpo rapidamente no chão, com o auxílio das mãos e dos pés, afastando-se ou aproximando-se do adversário. É um movimento defensivo. Tesoura. S.f. É um movimento desequilibrante, em que o capoeirista encaixa as duas pernas na altura dos joelhos do adversário e, com uma girada de corpo, procura derrubá-lo no chão. GOLPES DE ATAQUE E DE DEFESA Cabeçada. S.f. Movimento de ataque em que o capoeirista lança a cabeça no abdômen, no peito ou no rosto do adversário. Chapa de costas. S.f. é um golpe de coxa erguida, desferido com a planta do pé, na altura do plexo solar, ou em qualquer parte do corpo do adversário. Pode ser aplicado de frente, de lado, ou solto (quando é aplicado sem apoio das mãos no solo), Chibatada. S.f. Golpe aplicado com o dorso do pé, de preferência à altura dos rins, do rosto e plexo solar do adversário. Joelhada. S.f. Só é aplicado quando o capoeirista está bem próximo do adversário. Os órgãos genitais e a coxa são os locais mais visados para aplicá-la. Meia-lua. S.f. è um golpe em forma de meia-lia nas combinações de golpes. Pode ser usado para tingir o adversário com as faces laterais do pé., de preferência, na cabeça. Pode ser dado de frente e de lado. Ponteira. S.f. É um golpe de fácil aplicação e bastante perigoso. O capoeirista leva a perna ao local desejado com bastante rapidez e a recolhe imediatamente. Desferido com a ponta do pé nos órgãos genitais, no joelho e embaixo do queixo do adversário. Rabo-de-arraia. S.f. O capoeirista gira o corpo na direção do adversário com uma perna flexionada, servindo de apoio no solo juntamente com as mãos e com a outra perna, completamente estirada, procura atingi-lo com o calcanhar na altura dos rins ou da cabeça. Esse golpe é, também, denominado, em outras vertentes da capoeira, de meia-lua de compasso.

350

BOLA SETE, Mestre. A capoeira na Bahia. 4 ed. Rio de janeiro: Pallas, 2003.


PLÁCIDO DE ABREU 1886 Chifrada Topete a Cheirar Caveira no Espelho Rabo de Arraia Pantana Negaça

Banho de Fumaça Pancada de Cotovelo

APÓCRIFO 1904

Negaça de Inclinar, Negaça de Achatar-se, Negaça de Bambear para direita Negaça de Bambear para esquerda Negaça de Crescer,

COELHO NETO 1928

ZUMA 1928

ANGOLA

ANGOLA/ MARANHÃO

Cocada

Cabeçada

Cabeçada

Cabeçada

Rabo de Arraia

Rabo De Arraia

Rabo De Arraia

Rabo De Arraia

REGIONAL

FICA

Cabeçada

Cabeçada

Pantana

Rabo de Arraia Pantana

Negaça

Banho de Fumaça Pancada de Tapa, Pancada com o Pé, Pancada de Punho, Pancada de Tocar

Ponta-pé Rasteira Antiga Rasteira Moderna

Ponta-pé Rasteira, Rasteira de Arranque

Rasteira

Rasteira

Rasteira

Rasteira

Rasteira

Tesoura, Tesoura Baixa

Thesoura

Tesoura De Angola

Tesoura

Baiana Joelhada

Bahiana Joelhada

Joelhada

Tesoura De Costas Tesoura De Frente Baiana Joelhada Chulipa Baú Tombo Da Ladeira

Tesoura de Frente Tesoura de costas Baiana Joelhada Xulipa Baú Tombo da Ladeira

Arrastão Banda De Costas Banda Lisa Banda Traçada

Arrastão Banda Lisa Banda Traçada Banda de Costas;

Queixada

Queixada

Xulipa Bahú Tombo De Ladeira Ou Calço Arrastão Banda De Frente Banda Amarrada Banda Jogada Banda Forçada Queixada

Banda


(Do Autor) Suicídio Corta Capim Tranco Voo Do Morcego

Suicídio

Suicídio

Au; Au Batido Chapa Chapa De Costas

Tranco Vôo do Morcego Aú; Aú Batido Chapa Chapa de Costas

Cotovelo Cutila;

Cotovelo Cutila

Ginga Meia-Lua De Compasso Meia-Lua De Frente Negativa Queda De Rins

Ginga Meia Lua de Frente Meia Lua de Compasso Negativa Queda de Rins Chamada da Palma de Frente Chamada Aberta de Frente Chamada Aberta de Costas Chamada de Entrada na Barriga Chamada do Sapinho; Role Açoite de Braço Açoite de Cruz;

Corta Capim;

Au; Au Rolê; Chapa De Costas; Chapa De Frente Cotovelada Cutilada De Mão Ginga Meia-Lua De Costas Meia-Lua De Frente Negativa Queda De Rins

Au

Chamada Aberta De Costas; Chamada Aberta De Frente; Chamada Da Palma De Frente; Chamada De Entrada Na Barriga; Chamada Do Sapinho;

Chamada de Angola

Role

Role

Chapa De Costas

Ginga Meia-Lua Meia-Lua De Compasso Negativa

Açoite De Braço Acoite De Braço Em Cruz; Apanhada Armada Armiloque Arpinio Arqueado Arqueado De Costas Asfixiante Balão Cinturado Balão De Lado Benção Bochecho Buzina Calcanheira

Apanhada Armada Armiloque Arpínio Arqueado Arqueado de Costa Asfixiante Balão Cinturado Balão de Lado Benção Bochecho Buzina Calcanheir a


Chapéu De Couro Cintura Robusta Colar De Força Crucifixo Cruz; Cruzilha Dentinho Desprezo Dubliesse Escurinho Escurrumelo Esporão Forquilha Galopante Giro Da Sereia

Godeme Gravata Alta Gravata Baixa

Guarda Baixa Guarda Média Guarda Alta

Ponteira

Leque; Martelo Mortal; Palma Pescocinho Ponteira Presilha

Quebra Mão Quebra Perna Quebra Pescoço

Telefone Vingativa Marrada Trastejar, Caçador Moquete Passo de Sirycopé Bracear

Chapéu de Couro Cintura Robusta Colar de Força Crucifixo Cruz Cruzilha Dentinho Desprezo Dubliesse Escurinho Escorrumel o Esporão Forquilha Galopante Giro Giro da Sereia Godeme Gravata Baixa Gravata Alta Guarda Alta (Posição Base); Guarda Média (Esquiva Lateral) Guarda Baixa (Cocorinha Leque Martelo Mortal Palma; Pescocinho Ponteira Presilha Presilha de Rins Quebra Mão Quebra Perna Quebra Pescoço Telefone Vingativa Amarrada


Lamparina Pronto Chato Defesas Grampeament o Canelada Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba Refugo de Corpo Salto de Banda Escorão Pentear Ou Peneirar Facão Chincha Rapa Dourado Me Esquece Passo De Cegonha Espada (Do Autor) Encruzilhada Esquiva Boca calça

de

Boca De Calça Arpão de Giro Volta do Mundo Sapinho

Chibatada


DESCRIÇÃO DOS GOLPES FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 05- AÚ 11 – AU 1 AU 06- AÚ BATIDO 12 - AU BATIDO 2 - AU ROLÊ Movimento que na Capoeira corresponde ao posicionamento do corpo apoiado nas mãos (“em representação ao desenho da letra ‘A”) com os pés erguidos e abertos (em representação ao desenho da letra “U”. É um movimento característico da capoeira, no qual o praticante leva as duas mãos ao chão,, subindo imediatamente as duas pernas, geralmente esticadas e caindo geralmente em pé. (MANO LIMA, 2007, P. 64). É um movimento de capoeira que pode ser aplicado de muitas formas: Em pé, agachado entre outros – AÚ AGULHA; AÚ AMAZONAS; AÚ BANDEIRA; AÚ BATIDO; AÚ CAMALEÃO; AÚ CHAPA DE FRENTE; AÚ CHAPA DE COSTAS; AÚ LATERAL; AÚ CHIBATA COM UMA PERNA; AÚ CHIBATA COM DUAS PERNAS; AÚ COICE; AÚ COM UMA DAS MÃOS; AÚ CORTADO; AÚ DE COLUNAS; AÚ DE ROLÊ; AÚ DUBLÊ; AÚ FININHO; AÚ GIRO COMPLETO; AÚ MARTELO; AÚ MORCEGO; AÚ MORTAL; AÚ PALITO; AÚ PARAFUSO; AÚ PICADO; AÚ PICO; AÚ PIRULITO; AÚ QUEBRADO; AÚ SANTO AMARO; AÚ SEM MÃOS; AÚ TESOURA; AÚ VIRGULINO. Aú é indispensável na pratica da capoeira, por ser um dos passos mais usados. Existem dois tipos de aú. Aú aberto: é utilizado no início e na saída da roda. É também conhecido como estrela. É só colocar as mãos no chão e depois os pés para o alto,e termina em pé. Aú fechado:semelhante ao rolê,acrescenta-se um pulo Aú dobrado: a entrada do movimento é semelhante ao aú aberto, mas na metade do movimento dobra-se a coluna para sair de frente. Aú trançado: movimento em que se entra no aú aberto mas troca-se as pernas "trançando-as", sendo a perna que impulsiona o corpo a primeira que vai tocar o solo. Aú sem mãos: mesmo movimento do aú aberto, mas executado sem o emprego das mãos. http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%BA

http://www.capoeira.com/plugins/autogallery/Gallery/pv_AU_De_FRENTE._Grupo_Capoeira_Brasil.%5BSubmitted_By_Lagarto PL%5D.JPG http://www.geocities.com/learncapoeira/aubatido.jpg http://www2.webng.com/portaldacapoeira/au.html Techniques et apprentissage du moring réunionnais Résumé Sport de combat rituel, le moring associe la musique, l’’expression corporelle, les traditions guerrières et les cultes afro-malgaches. Cousin de la Capoeira du Brésil, le moring réunionnais dû affronter bien des préjugés et des interdits tout au long de son histoire. Ce livre contribue à réhabiliter cet art populaire. Il met en valeur les bienfaits de cette discipline où le corps et l’’esprit s’’épanouissent. Règles et techniques sont expliquées précisément, illustrées par de nombreux croquis de mouvements.


http://www.li

/vranoo.comlivre-Reunion-Techniques-et-apprentissage-du-moringreunionnais-252.html

http://4.bp.blogspot.com/_kL_C1q2fRZo/SairYBUBtsI/AAAAAAA AAFg/GyRpMviliGQ/S760/capoeira+03.jpg Pencak Indonésia

Seqüência de Bimba (8) Jogador 1 - bênção e aú de rolê. Jogador 2 - negativa e cabeçada.


http://angoleiro.files.wordpress.com/2008/12/traira.jpg http://it.wikipedia.org/wiki/File:Lkick.jpg

Au Batido

. Pintura do italiano Giovanni Battista Tiepolo, chamada Pulcinella and the Tumblers de 1797, época em que a ginástica renascia em apresentações públicas. A obra encontra-se no Museu Settecento Veneziano

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 26- CABEÇADA 24 - CABEÇADA 3 - CABEÇADA A CABEÇADA Consiste em aplicarem-se pancadas com a cabeça contra o adversário (CBP, 1969). A cabeçada é um dos golpes preferidos na capoeiragem. Apesar de ser de simples execução, é dos mais perigosos, causando freqüentemente mortes. Para dar uma cabeçada, basta abaixar o corpo e lançar-se em direção ao adversário, atingindo-o pela cabeça (MANO LIMA, 2007, p. 73). A cabeçada é um golpe geralmente desferido para desequilibrar o adversário, atingindo no peito ou na barriga. Através da ginga o capoeirista lança sua cabeça pra frente contra o adversário. CABEÇADA VOADORA. A cabeçada é um golpe geralmente desferido para desequilibrar o adversário, atingindo no peito ou na barriga. Através da ginga o capoeirista lança sua cabeça pra frente contra o adversário. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabe%C3%A7ada_(capoeira) . Cabeçada: ato de empurrar o adversário com a cabeça. Também pode ser usado como golpe traumatizante, acertando com força o abdômen ou outra parte do corpo do adversário.


‘‘A NEGRO FIGHT IN SOUTH AMERICA’’ (VENEZUELA) herper´s weekli 1874. http://2.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SxzxrdHOGaI/AAAA AAAAGbI/kTWDuR3_Qcc/s1600-h/bimba.bmp

Gravura Cabeçada(Ilha Reunión) - Souvenirs D’’ un aveugle Escrito por Jacques Aragão. http://books.google.com/books?id=jBt5rS1S874C& printsec=toc&hl=es&source=gbs_v2_summary_r&c ad=0

(Moçambique) Viaje al rededor del mundo:(pag 60,61) recuerdos de un ciego ,Escrito por Jacques Aragão, François Aragão, Santiago Aragão, Publicado por Gaspar y Roig, 1851 http://books.google.com/books?id=y-Jh5z9lHeUC&hl=es


http://unicarportugal.no.sapo.pt/sequencia1.gif

http://unicarportugal.no.sapo.pt/sequencia2.gif

MÉTODO DE BURLAMAQUI – A CABEÇADA: A cabeçada é dada muito simplesmente. Aproximando-se do adversário e abaixando-se repentinamente faz-se com que a cabeça bata ou na parte inferior dos queixos ou no peito, na barriga ou ainda no rosto. Este golpe é um segundo rabo de arraia pelas suas conseqüências porque, sendo bem dado, é demasiadamente terrível para quem o leva.

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm CAPOEIRA REGIONAL (MESTRE BIMBA) – A CABEÇADA: Este golpe é uma verdadeira “marrada” desferida com violentíssimo impulso no meio da cara ou no peito do indivíduo. Sua aplicação requer muita malícia. O golpe em causa já existia desde a Capoeira primitiva (Angola).

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm


Gravura de um belo “furdunço” entre capoeiras ocorrido no Rio de Janeiro, no final do século XVIII, publicada em uma revista da época.. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

Credit: Studies of gestures and postures of wrestlers, from a Manga (colour woodblock print), Hokusai, Katsushika (1760-1849) Libraryhttp://www.bridgemanart.com/image.aspx?key=&categoryid=2ccd2910-


CapoeiraCabecada_ST_05.jpg (800 × 600 pixel, tamanho do ficheiro: 110 KB, tipo MIME: image/jpeg) http://www.solbrilhando.com.br/Esportes/Capoeira/Golpes.htm


FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 12- CHAPA 26 - CHAPA 9 - CHAPA DE COSTAS 16- CHAPA DE COSTAS 27- CHAPA DE COSTAS 10 - CHAPA DE FRENTE Golpe aplicado com a planta do pé sobre o tórax do adversário (PASTINHA, 1988). A chapa inicia-se, com o martelo, numa negativa. Após o giro, quando o corpo se equilibra sobre os pés e as mãos, uma das pernas é lançada em direção ao oponente com o calcanhar à frente. (MANO LIMA, 2007, p. 850. Chapa é um golpe de capoeira executado com a ““chapa”” do pé. Pode ser de frente (chapa de frente) ou de costas (chapa de costas). A Chapa de Frente: Movimento semelhante a benção só que executado com lado do atacante. O atacante pode simular um martelo e esticar a perna abruptamente acertar com a chapa do pé o adversário. A Chapa de Costas: É o mesmo da Chapa de Frente só que com um giro. O atacante pode simular uma armada e abruptamente ainda com as costas para o adversário esticar a perna. CHAPA CONTRA AÚ LATERAL; CHAPA DE CHÃO; CHAPA DE CODSTAS; CHASPA DE FRENTE; CHAPA EM PÉ; CHAPA GIRATÓRIA; CHAPA NO CHÃO; CHAPA PULADA. Chapa é um golpe de capoeira executado com a "sola" do pé. Pode ser de frente (chapa de frente) ou de costas (chapa de costas). A Chapa de Frente: Movimento semelhante a benção só que executado com lado do atacante. O atacante pode simular um martelo e esticar a perna abruptamente acertar com a chapa do pé o adversário. Este golpe também pode ser conhecido como "esporão". A Chapa de Costas: É o mesmo da Chapa de Frente só que com um giro. O atacante pode simular uma armada e abruptamente ainda com as costas para o adversário esticar a perna. http://pt.wikipedia.org/wiki/Chapa_(capoeira) Chapa: também conhecida como chapa de chão. Coice aplicado com uma das pernas estando em posição de rolê (com as duas mãos e pés ao chão, com o corpo virado para o chão e as costas para cima). [...] onde depreendemos estarmos diante de dois movimentos conhecidos no contexto atual da luta brasileira, como ginga e benção/escorão/chapa[...]”. (ARAÚJO e JAQUEIRA, 2008, p. 80-87)12

Negroes fighting, Brazil”” c. 1824. Autor Augustus Earle (1793-1838) - Painting by Augustus Earle depicting an illegal capoeiralike game in Rio de Janeiro (1824)Fonte English Wikipedia, original: http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=NW0171&recordCount=2&theRecord=0

Diamanga malgache journal: 1936/01/29 (A3,N144). formato original: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k54276490.r=diamanga.langES


http://cap-dep.blogspot.com/search/label/1890-BRASIL-Capoeiragem%20prohibido

Metodo Amorรณs (Savate)

Credit: Boxing Lesson by Charles Charlemont (1862-1942), 1906 (b/w photo), French Photographer, (20th century) / Bibliotheque des Arts Decoratifs, Paris, France / Archives Charmet / The Bridgeman Art Library


Gravura de um belo “furdunço” entre capoeiras ocorrido no Rio de Janeiro, no final do século XVIII, publicada em uma revista da época.. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

FOTO:http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/05/juego-de-imagenes-mujeres.html


1724-MARTINICA-Ladja descrito port el Padre Labat. Fuente: libro: Padre LABATt ““Nouveau vogage ause iles de l’’Amérique””, París 1742 http://unesdoc.unesco.org/images/0003/000385/038520sb.pdf

FICA REGIONAL ANGOLA 34- Cotovelo 32 - Cotovelo 12 - Cotovelada Cotovelada: golpe com o cotovelo em qualquer parte do corpo do adversário.

ZUMA

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 33- Cutila 36 - Cutila 13 - Cutilada De Mão É o ato de aparar ou contragolpear um martelo com a mão fechada contra a perna do adversário. Faz-se um movimento de giro com o antebraço, de cima para baixo e de dentro para fora. A parte que apara ou golpeia é a lateral externa do punho (CBP, 1969). (LIMA, 2007, p. 95). CUTILADA DE MÃO – golpe que se aplica com a mão, em forma de cutelo, sobre numerosas partes do corpo (Pastinha, 1974). FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 01- Ginga 45 - Ginga 15 - Ginga Movimento característico da capoeira que consiste na sincronia de braços e pernas, executada pelo capoeirista em vai-e-vem harmônico de avanços e recuos, iludindo o adversário e buscando a melhor oportunidade para desferir seus golpes e contragolpes (CBP, 1969) (LIMA, 2007, p. 113). A ginga é o movimento básico da capoeira. É a parte da "dança" da capoeira. É comum esconder na ginga a malandragem do capoeirista e enganar o adversário. O termo Mandingueiro é popularmente utilizado pelos capoeiristas como definição para um capoeirista malandro, que utiliza a ginga de uma forma que engana o adversário fanzendo-o pensar em um possível movimento caindo na tramóia e recebendo outro golpe diferente. A ginga serve também para descanso, mas não tirando a possibilidade de ataque e contra-ataque. É a dança que se usa antes de atacar o oponente, com objectivo de distraí-lo, e também uma oportunidade para raciocinar a luta (pensar nos golpes). http://pt.wikipedia.org/wiki/Ginga_(capoeira) [...] O que mais podemos extrair desta imagem, é a presença de uma movimentação rítmica configurada pelo movimento alternado das pernas e conhecida contemporaneamente por ginga, isto, sem qualquer auxílio de instrumentos musicais para a sua exercitação, indiciando portanto, a não obrigatoriedade destes no seu contexto de expressividade, e muito menos a subordinação ao berimbau”. (p. 72-73).

ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS ÀS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra-Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008


[...] onde depreendemos estarmos diante de dois movimentos conhecidos no contexto atual da luta brasileira, como ginga e benção/escorão/chapa[...]”. (ARAÚJO e JAQUEIRA, 2008, p. 80-87)12

Negroes fighting, Brazil”” c. 1824. Autor Augustus Earle (1793-1838) - Painting by Augustus Earle depicting an illegal capoeiralike game in Rio de Janeiro (1824)Fonte English Wikipedia, original: http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=NW0171&recordCount=2&theRecord=0

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 15- Joelhada 53 - Joelhada 16 - Joelhada Movimento por meio do qual o capoeirista ataca a cabeça ou o abdômen do adversário com o joelho dobrado (LIMA, 2007, p. 126). FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 17- Meia Lua de Frente 58 - Meia-Lua De Frente 18 - Meia-Lua De Frente 24- Meia Lua de Compasso 57 - Meia-Lua De Compasso 17 - Meia-Lua De Costas Meia-lua é o nome dado a um movimento de capoeira, que se executa erguendo-se o pé, empurrando-o para fora e puxando para dentro em forma de uma meia lua. Quando chega à frente da outra perna encolhe-se. Este golpe tem duas formas de execução: Meia-Lua de Frente: A partir da posição com pés paralelos da ginga estica-se a perna (também o pé) do golpe e se faz um desenho de meia-lua acertando o alvo (cabeça) com a lateral interna do pé e depois retornando o pé paralelo ao outro continuando então a ginga. Meia-Lua de Compasso: A partir de ginga o atacante coloca as mãos entre as pernas para servir de apoio, então, impulsiona a perna de trás (esticada) fazendo um giro de 360° que projetada acerta com o calcanhar as costelas do adversário. O alvo do golpe pode variar conforme a situação. http://pt.wikipedia.org/wiki/Meia-lua Meia-lua de compasso: também conhecida por rabo-de-arraia, sendo a meia-lua de compasso uma variação do golpe rabo-de-


arraia que vem da capoeira angola. Ficando de lado, agacha-se sobre a perna da frente, estendendo a perna de trás. Faz-se um movimento de rotação varrendo a horizontal com a perna de trás esticada, apoiando-se na perna da frente, terminando em posição de ginga. O corpo do aplicante fica rente à perna da frente sobre a qual ele está agachado. O aplicante pode colocar as duas mãos ao chão para aumentar a sua segurança, ou apenas uma ou nenhuma mão.

Sequencia de Bimba (1) Jogador 1 - meia-lua de frente, meia lua de frente, bênção e aú. Jogador 2 - Cocorinha, cocorinha, negativa e cabeçada.

Sequencia de Bimba (6) Jogador 1 - meia-lua de compasso, cocorinha, joelhada lateral, aú de rolê. Jogador 2 - cocorinha, meia-lua de compasso, negativa e cabeçada. A meia-lua de base é um movimento de capoeira no qual é usado o calcanhar para se acertar o adversário A meia-lua de compasso é um movimento de capoeira no qual é usado o calcanhar para se acertar o adversário, girando-se com uma das mãos no chão, colocando-as para parte de dentro da ginga. A meia-lua de frente é um movimento de capoeira no qual é usado o calcanhar para se acertar o adversário.

http://www2.webng.com/portaldacapoeira/meialuadebase.html http://www2.webng.com/portaldacapoeira/meialuadecompasso.html http://www2.webng.com/portaldacapoeira/meialuadefrente.html

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 07- Negativa 60 - Negativa 19 - Negativa Esquiva que o praticante de capoeira faz, descendo ao solo, apoiado em uma das pernas e com a outra esticada. As duas mãos vão ao chão, sendo que, se estivesse do lado da perna esticada, sua característica é quase que exclusivamente de defesa. Porém, se as mãos estiverem para o lado da perna dobrada, propicia ao executor a oportunidade de aplicar uma rasteira logo em seguida. Em uma de suas variações, quando as mãos estiverem viradas para o lado da perna dobrada, elas poderão não ir ao solo, permanecendo à altura do tronco e do tórax, em posição de defesa (II Simpósio de Capoeira, 1969, in LIMA, 2007, p. 151) Negativa de Angola – o capoeirista na posição da negativa, apóia as duas mãos no chão do lado da perna que está estendida e olha para o adversário por baixo do braço do lado da perna que está dobrada (HTTP://spaziowind.libero.ir, in LIMA, 2007, p. 151)


Sequencia de Bimba (8) Jogador 1 - bênção e aú de rolê. Jogador 2 - negativa e cabeçada. FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 25- Queda de Rins 69 - Queda De Rins 20 - Queda De Rins Exercício de equilíbrio em que o capoeirista se apóia nos braços, encostando a cabeça no chão (Vieira, 1995, in LIMA (2007, p. 167). Esquiva em forma de rolamento, na qual o praticante de capoeira vai ao chão, rola por cima da cabeça, mas apoiado num dos braços à altura do seu rim. Ao final do golpe, estará normalmente em posição de negativa ou resistência (II Simpósio de Capoeira, 1969). Quebra de rins - Movimento de capoeira onde a pessoa finaliza um Aú, ou qualquer outro movimento similar, dobrando o braço de apoio (o que é usado para "sair" do aú) e levando o 'cotovelo' em direção ao abdomen, na altura dos rins, fazendo assim com que seu corpo fique apoiado sobre o braço dobrado, enquanto o outro braço permanece na altura da cabeça, até que um de seus pés cheguem a tocar no chão. Neste ponto, deve-se fazer o movimento chamado negativa para conseguir finalizar o movimento. Ao chegar nesta posição (negativa), pode-se levantar usando um outro movimento chamado rolê ou apenas "sair da negativa", se levantando mantendo a posição de base da capoeira, dando sequencia com outro golpe ou apenas gingando. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Quebra_de_rins" FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 09- Rasteira 71 - Rasteira 22 - Rasteira A RASTEIRA Movimento ardiloso, rápido e brusco, que consiste em meter o pé ou a perna entre as de outra pessoa, em luta, jogo ou simples brincadeira, e provocar-lhe a queda; calço, cambapé, pernada, rabanada, transpés, travessa (Rego, 1968). Há duas classes: antigas e modernas. A rasteira antiga applicada com o pé direito, quando o adversário nos apresentar toda a frente ou que estiver de flanco esquerdo avançado. É preciso tapeá-lo com a primeira negaça e em seguida atirar com a perna direita para deante, violentamente, de modo que a parte interior do tacão (ou calcanhar) vá bater com força sobre o lado exterior do pé esquerdo do adversário entre o ornozelo e o terreno, tentando deslocá-lo... A rasteira moderna é mais aplicável quando estiver o adversário com as pernas separadas uma das outra. Dá-se com qualquer dos pés lateralmente, do interior para o exterior ou vice-versa, sobre a cannela da perna avançada do adversário provocando-lhe dor além da contusão (ODC, 1907). MANO LIMA, 2007, p. 172). A rasteira é um golpe simples de capoeira que consiste em apoiar as mãos no chão e rodar a perna, num ângulo de 360º, ate que c encaixe por tras do pe do adversario e entao o arrasta pra voce com o objetivo de derrubar o adversário. RASTEIRA BAIANA; RASTEIRA DE ARRANQUE; RASTEIRA DE MÃO; RASTEIRA DE MEIA-LUA PRESA; RASTEIRA DEITADA; RASTEIRA EM PÉ. A rasteira é um golpe simples de capoeira que consiste em apoiar as mãos no chão e rodar a perna, num ângulo de 360º, ate que se encaixe por trás do pé do adversário e então o arrasta pra si com o objetivo de derrubar o adversário. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rasteira Rasteira de mão: puxa-se a perna de apoio do adversário quando este está aplicando um golpe (normalmente, golpe de giro alto) usando as mãos. Golpe utilizado em raríssimas oportunidades. Rasteira: passa a perna rente ao chão em um movimento circular ou semicircular puxando a perna do adversário desequilibrando-o. Pode ser aplicada estando em pé ou abaixado.

fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃ O DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm


http://www.portalventrelivre.com/wp-content/uploads/2009/08/capoeira_escravos.jpg MÉTODO DE BURLAMAQUI - A RASTEIRA:O jogador da capoeiragem póde dar a rasteira em pé ou descahido (quasi deitado). Dando este golpe descahido pode-se também dar á este golpe o nome de corta-capim. Para se chamar uma rasteira verdadeira é preciso que seja dada em pé, isto é, que o jogador esteja rijo, firme. No entretanto, é muito commum, ainda, entre nós, um bom capoeira abaixar-se e, apoiando-se nas mãos (á guiza de cortacapim) e no pé esquerdo ou direito, arrastar célere o pé direito (é conforme o pé que se apóia) estendido; naturalmente o contendor se fôr pouco esperto tomba a fio de comprido. Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm MÉTODO DE BURLAMAQUI - O RAPA: Rasteira dada pegando-se a guiza de rapagem nos calcanhares, isto é, no lado de fóra do pé do adversário (pé direito ou esquerdo).

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm CAPOEIRA REGIONAL (MESTRE BIMBA) – RASTEIRA DEITADA E EM PÉ: RASTEIRA: Comece gingando. Caindo para trás, apóie-se no solo com as mãos e procure derrubar o adversário, arrastando-o violentamente, com a perna bem estirada. BANDA TRAÇADA: Procure dar uma pancada com a coxa na perna do seu oponente, desequilibrando-o, para em seguida arrastalo com a mesma perna (RASTEIRA). Ele se defende com o ROLÊ ou SAÍDA-DE-AÚ defende com o ROLÊ ou SAÍDA-DE-AÚ.


Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

Mestre Caiçara e Aluno – BAHIA – 1970

O calço ou a rasteira” .Kalixto, 1906.


http://www2.webng.com/portaldacapoeira/rasteira.html

WEST JAVA – PENCAK SIMPLI (serimpi) from d’Eerste Boeck 1579 PENCAK SILAT FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 46- Tesoura de Frente 75 - Tesoura De Frente 24 - Tesoura De Angola A THESOURA 47- Tesoura de costas 74 - Tesoura De Costas Movimento no qual o praticante de capoeira procura envolver o corpo do seu adversário com as suas pernas em forma de tesoura, procurando desequilibrá-lo. A entrada poderá ser efetuada de frente u de costas (II Simpósio de Capoeira, 1969, in LIMA, 2007, p. 186). TESOURA DE AÚ; TESOURA EM AMBAS AS PERNAS; TESOURA EM UMA PERNA; TESOURA FECHADA; TESOURA DE CHÃO; TESOURA TRANCADA; TESOURA VOADORA. Tesoura: envolve o adversário com as pernas e depois gira o corpo para desequilibrá-lo. A mesma pode ser aplicada no chão por trás ou pela frente. Também pode ser aplicada no alto, salta-se antes de aplicar a mesma, que também pode ser pela frente ou por trás.


MÉTODO DE BURLAMAQUI – A THESOURA: É dada (o que vae dar a thesoura joga-se ao chão com a barriga para baixo ou para cima), cruzando ao mesmo tempo as pernas com as do adversário e, virando-as violentamente, faz com que o adversário caia para o lado esquerdo ou direito.

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm CAPOEIRA REGIONAL - (MESTRE BIMBA) - A TESOURA: A tesoura já existia desde quando Mestre Bimba praticava a Capoeira Angola. Com a criação da Regional ele instituiu a tesoura aberta (de costas) e posteriormente a de frente e a de lado. Note que nenhuma das pernas de quem aplica o golpe é introduzida entre as pernas do adversário.

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 22- ARMADA 4 - ARMADA Golpe com a perna para desviar a mão armada do adversário. Aplica-se em pé e consiste em firmar-se um pé no chão e, com a outra perna livre, fazer um movimento de rotação, varrendo no horizontal, atingindo o adversário com a parte lateral externa do pé. (MANO LIMA, 2007, p. 51). A armada é um movimento de capoeira que pode ser aplicado pulando, duplamente, com as duas pernas ou apenas com uma. A armada é uma pernada giratória aplicada com o tronco ereto. O giro dado no golpe funciona como esquiva. Aplica-se estando em pé, e consiste em firmar-se com um pé no chão e com a outra perna livre, fazendo um movimento de rotação, varrendo na horizontal, atingindo o adversário com a parte lateral externa do pé : ARMANDA COM MARTELO; ARMADA DE COSTAS; ARMADA DUPLA; ARMADA PULADA; ARMADA SOLTA A armada é um movimento de capoeira que pode ser aplicado pulando, duplamente, com as duas pernas ou apenas com uma. A armada é uma pernada giratória aplicada com o tronco ereto. O giro dado no golpe funciona como esquiva. Aplica-se estando em pé, e consiste em firmar-se com um pé no chão e com a outra perna livre, fazendo um movimento de rotação, varrendo na horizontal, atingindo o adversário com a parte lateral externa do pé. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Armada_(capoeira) Armada: também conhecida por meia-lua de costas, a armada aplica-se estando em pé. Através de um movimento de rotação, um pé fica firme ao chão enquanto o outro sobe varrendo a horizontal atingindo o adversário com a parte externa do pé.

Armada Pulada (Armada com Martelo)


Sequencia de Bimba (2) Jogador 1 - martelo, martelo, cocorinha, benção e aú de rolê. Jogador 2 - rasteira, rasteira, armada, negativa e cabeçada.

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 39- Arrastão 9 - Arrastão O ARRASTÃO “Deixa-se cair para traz e apoiando-se nas mãos mettese-se aos pé à frente,m com violência, sobre o adversário” (Burlamaqui, 1928,m in LIMA, 2007, p. 52). ARRASTÃO-NEGATIVA; ARRASTÃO-NEGATIVA BATENDO; ARRASTÃO-NEGATIVA EMPURRANDO; Arrastão da negativa: estando em posição de negativa, coloca-se a perna estendida atrás de uma das pernas do adversário e aplica-se um puxão, visando derrubá-lo.

FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 40- Baiana 13 - Baiana A BAHIANA Joelhada que se dá depois de se haver saracoteado para tapear o inimigo (Abreu, 1886, in LIMA, 2007, P. 59). “Corre-se no adversário e assim se chega bem próximo delle, abaixa-se com a máxima ligeireza e o segurando com firmeza pelas pernas faz-se que elle caia repentinamente para traz, num arranco busco (Burlamaqui, 1928, im LIMA, 2007, p. 59). baiana ou abaianada é um golpe de capoeira em que o capoeirista num determinado momento da ginga, no meio da dança, abaixa bruscamente e com o movimento dos braços pega seu oponente pelas pernas, puxando para frente e derrubando-o. Uma espécie de rasteira com as mãos. É um golpe rápido e que pode pegar o oponente distraído. Apenas é um golpe neutralizante. em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Baiana_(capoeira)"


FICA 45- Banda de Costas 43- Banda Lisa 44- Banda Traçada

REGIONAL 16 - Banda De Costas 17 Banda Lisa 18 - Banda Traçada

ANGOLA

ZUMA A BANDA DE FRENTE A BANDA AMARRADA A BANDA JOGADA A BANDA FORÇADA É uma rasteira com a perna semiflexionada, aplicada em pé (Descrição da Terminologias, CBP, 1969, in LIMA, 2007, p. 61). BANDA AMARRADA; BANDA DE COSTAS; BANDE DE FRENTE; BANDE DE LADO; BANDA FORÇADA; BANDA JOGADA; BANDA LISA ACOMPANHADA; BANDA MENTAL; BANDA TRANÇADA; BANDA TRANÇADA DE FRENTE. Consiste em derrubar o oponente mirando nas pernas usando também as pernas. Também conhecida como rasteira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Banda_(capoeira) Banda: estando em pé, aplica-se uma rasteira com a perna semi-flexionada. Também conhecida popularmente como “pé-derodo”. Banda de costas: também conhecida como banda trançada. Estando em pé, coloca-se uma das pernas atrás de uma das pernas do adversário, então puxa a perna podendo empurrar o adversário para frente com o corpo ou braço. MÉTODO DE BURLAMAQUI - A BANDA DE FRENTE: É uma segunda rasteira, porém é dada sendo ajudada com o joelho da perna com que se dá a rasteira, isto é, o joelho empurra naturalmente as pernas adversárias, pegando-as pela frente.

Zuma Banda jogada

Zuma Banda amarrada

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 42- Baú 19 - Baú O BAHU É dado com a barriga para o levantamento do adversário (auxilia na bahiana, banda e rapa). É muito praticado nos ‘batuques lisos’ e sambas (Burlamaqui, 1928, im LIMA, 2007, p. 59)

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 10- BENÇÃO 20 - BENÇÃO No jogo da capoeira, golpe desferido com a sola dom pé em qualquer parte do corpo do adversário, preferencialmente no peito. Também chamada de ‘chapa de frente’. Golpe aplicado com o pé para jogar o adversário no chão; durante o batizado, depois de escolhido o nome do capoeirista, todos batiam palmas. Então, o mestre dizia ‘a bênção do padrinho’; assim, o calouro, ao estender a mão para o formado que o batizou, recebia uma benção. (MANO LIMA, 2007, p. 650. A bênção é um movimento da capoeira que visa acertar do abdômen para cima do adversário, cuja perna de trás da ginga é esticada para frente em linha reta visando empurrar ou deslocar o adversário e não bater (como alguns grupos fazem) – BENÇÃO DE LADO; BENÇÃO DE MÃO. A bênção é um movimento da capoeira que visa acertar do abdômen para cima do adversário, cuja perna de trás da ginga é esticada para frente em linha reta visando empurrar ou deslocar o adversário e não bater (como alguns grupos fazem). A "benção" era pronunciada pelos negros de "bença", este golpe pode ser traumatizante (bater), ou desequilibrante (empurrar). Dependendo do professor ele varia entre um ou outro. Em alguns casos são ensinados as duas possibilidades. http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%AAn%C3%A7%C3%A3o_(capoeira) Benção: estando em base de ginga, atinge-se o adversário com perna de trás, usando a planta dos pés. Assim, o aplicante empurra o adversário. [...] onde depreendemos estarmos diante de dois movimentos conhecidos no contexto atual da luta brasileira, como ginga e benção/escorão/chapa[...]”. (ARAÚJO e JAQUEIRA, 2008, p. 80-87)12


Negroes fighting, Brazil”” c. 1824. Autor Augustus Earle (1793-1838) - Painting by Augustus Earle depicting an illegal capoeiralike game in Rio de Janeiro (1824)Fonte English Wikipedia, original: http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/detailsKeyword.php?keyword=NW0171&recordCount=2&theRecord=0

Reminiscencias malayas en la Capoeira

foto: L’’école à l’’Ile de La Réunion entre les deux guerres Escrito por Paule Fioux, Louis Porcher http://books.google.es/books?id=Yrc-NTD2pYoC&dq=moringue&lr=&as_brr=3&source=gbs_navlinks_s


Sequencia de Bimba (8) Jogador 1 - bênção e aú de rolê. Jogador 2 - negativa e cabeçada.

http://www2.webng.com/portaldacapoeira/bencao.html Cultura Malgache en Bahía

foto:Young Malagasy boys wrestling ringa Madagascar 1900 http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/search/label/1720-***Malgaches%20bautizados%20es%20Brasil


http://4.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SsTqVCUxgSI/AAAAAAAAGHM/MeMhLE8veiE/s1600-h/zzz34.jpg FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 36- Bochecho 22 - Bochecho Com a parte frontal da mão (metatarso), o capoeirista cruza os dois braços no sentido do rosto do adversário e o atinge na altura do queixo (Goes, 2005, in Lima, 2007, p. 69). FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 14- Calcanheira 25 - Calcanheira Contragolpe aplicado contra o adversário quando este tenta desferir uma cabeçada. Neste caso, o capoeirista joga o calcanhar para trás, buscando atingir a face do adversário (Saci, 2005, in LIMA, 2007, p. 74-75). FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 53- CHAMADA DA PALMA DE FRENTE 6 - CHAMADA DA PALMA DE FRENTE 54- CHAMADA ABERTA DE FRENTE 5 - CHAMADA ABERTA DE FRENTE 55- CHAMADA ABERTA DE COSTAS 4 - CHAMADA ABERTA DE COSTAS 56CHAMADA DE ENTRADA NA 7 - CHAMADA DE ENTRADA NA BARRIGA BARRIGA 57- CHAMADA DO SAPINHO 8 - CHAMADA DO SAPINHO Chamada – um dos rituais da capoeira tradicional, também conhecida como passagem (Rego, 1968, in LIMA, 2007, p. 85). CHAMADA AO PÉ DA CRUZ - chamada do jogo de Angola que tem como objetivo testar a técnica de seu oponente e, ao mesmo tempo, é usada para o capoeirista descansar; CHAMADA DE ANGOLA – ritual no jogo de Angola, destinado a diferentes funções, entre as quais quebrar a evolução do adversário que estiver em movimento; recuperar a energia e a evolução do jogo e testar os conhecimentos do adversário (Squisito, 2006, in LIMA, 2007, p. 85); Momento de ruptura na roda de capoeira quando os jogadores dançam abraçados para frente e para trás, até que um, subitamente, desarme a chamada, misto é, aplique um golpe qualquer sobre o adversário, reiniciando o jogo (Couto, 1999, in LIMA, 2007, p. 85).

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 49- Chapéu de Couro 28 - Chapéu De Couro Golpe desferido na posição do aú. Com uma das pernas o capoeirista aplica um movimento de ataque sobre o outro, na forma de um chute de cima para baixo. (Squisito, 2006, in LIMA, 2007, p. 86). É o ato de sair de uma esquiva, ou seja, de ir para uma posição de queda de três, tirando uma mão do chão, esticando uma perna, lançando o corpo, enquanto uma perna serve de base, a outra ataca (Odilon, 2005, in LIMA, 2007, p. 86).


FICA REGIONAL 35- Desprezo 38 - Desprezo Soco aplicado lateralmente, com o dorso da mão (LIMA, 2007, p. 98)

ANGOLA

ZUMA

FICA REGIONAL 27- Escorrumelo 41 - Escurrumelo Não foi encontrada descrição

ANGOLA

ZUMA

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 19- Esporão 42 - Esporão Golpe traumatizante em que o capoeirista cruza uma das pernas por trás da outra, deixando o corpo de lado, elevando a perna que está na frente, flexionando-a e batendo o calcanhar na cabeça do adversário (HTTP:/spazioinwind.libero.it) Esporão: também conhecido como chapa rodada ou chapa de costas. Aplica-se o escorão, porém a perna de trás passa por trás do aplicante em um movimento de giro semelhante à armada. FICA REGIONAL ANGOLA 32- Forquilha 43 – Forquilha Forquilha: é a ação de introduzir um ou mais dedos nos olhos do adversário.

ZUMA

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 30- Galopante 44 - Galopante Tapa na cara. Galopante é um golpe deferido contra o adversário no qual o capoeirista utiliza da ginga para dar velocidade ao braço que atingirá o adversário tirando-o do compasso. É semelhante ao soco cruzado, mas com a mão aberta e com o impulso da ginga. http://pt.wikipedia.org/wiki/Galopante Galopante: aplica-se uma mão em forma de concha contra o ouvido do adversário

Sequencia de Bimba (4) Jogador 1 - godeme, godeme, arrastão e aú de rolê. Jogador 2 - 2 parada de godeme, galopante, negativa e cabeçada. http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://lh3.ggpht.com/_MARp4qSlMvU/SiRJDUmNnaI/AAAAAAAAAPA/O02nIzd1G5o/sequencia6.gif&imgrefurl=htt p://omandinguero.blogspot.com/2009_06_01_archive.html&usg=__R477GbXv4M-FJTojcTNYDN3M-A0=&h=261&w=481&sz=6&hl=ptBR&start=1&tbnid=xGLM7LmLEMqgzM:&tbnh=70&tbnw=129&prev=/images%3Fq%3Djoelhada%2B%252B%2Bcapoeira%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 21- Giro 46 - Giro Da Sereia Esquiva em que o praticante de capoeira executa, com a finalidade de sair da direção do golpe inimigo, mas mantendo-se me pé, limitando-se simplesmente a fazer um ‘giro’ em um dos pés, vindo a colocar-se quase que ao lado do inimigo, podendo assim desferir, em seguida, um golpe traumatizante de curta distância – cotovelada, tapa, etc. (II Simpósio de Capoeira, 1969, in LIMA, 2007, p. 113. Giro de cabeça é o movimento que o capoeirista coloca a cabeça no chão e da o impulso do giro fazendo um movimento giratorio similar ao giro de mão. http://pt.wikipedia.org/wiki/Giro_de_cabe%C3%A7a Giro de mão é um golpe semelhante a um pião, onde o capoeirista dá um impulso e gira com a mão no chão. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Giro_de_m%C3%A3o" FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 29- Godeme 47 - Godeme Golpe traumatizante aplicado com o cotovelo ou com as mãos sobre o adversário


Sequencia de Bimba (4) Jogador 1 - godeme, godeme, arrastão e aú de rolê. Jogador 2 - 2 parada de godeme, galopante, negativa e cabeçada. FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 02- Guarda Alta (Posição Base) 52 - Guarda Alta 03- Guarda Média (Esquiva Lateral) 51 - Guarda Média 04- Guarda Baixa (Cocorinha) 50 - Guarda Baixa Nome genérico dado às posições defensivas na capoeira. A primeira posição da capoeiragem, é característica, é essencial, indispensável em toda sua integridade ao exercício de tão perseguida e tão útil gymnastica. E por essa bellica attitude que se começa a apre4ndizagem da capoeiragem. Preparar. Attenção. Em guarda (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 115). GUARDA BAIXA

Zuma – Guarda REGIONAL ANGOLA ZUMA 11- MARTELO 56 – MARTELO Golpe que se caracteriza por um pequeno giro no quadril que, conseqüentemente, gira o calcanhar que servirá de base. Nesse momento, levante-se o joelho, estica-se a perna e o alvo é atingido com o peito do pé. (Freitas, 2005, in LIMA, 2007, p. 142). MARTELO CRUZADO; MARTELO EM PÉ; MAERTELO NO CHÃO; MARTELO RODADO; MARTELO VOADOR. Martelo é o nome dado a um movimento de capoeira , que se executa erguendo-se a perna ao mesmo tempo que o corpo é deixado de lado, batendo com a parte de cima do pé. Os principais alvos são costelas e cabeça sendo acertados pela lateral. http://pt.wikipedia.org/wiki/Martelo_(capoeira) . O martelo cruzado é um golpe de Capoeira. O jogador dá um salto, girando para o lado em que o oponente será atingido, para apanhar balanço. De seguida, o jogador utiliza a parte superior do pé para atingir a cabeça do adversário. Este golpe é baseado no martelo. Também conhecido como martelo rodado ou parafuso. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Martelo_Cruzado_(capoeira)" Martelo: estando em pé, a perna de trás sobe lateralmente, flexionada depois estende-se para atingir o adversário. Também pode ser aplicado com uma mão apoiando-se no chão, onde a mão que vai ao chão é a oposta à perna que aplica o golpe. FICA

Sequencia de Bimba (2) Jogador 1 - martelo, martelo, cocorinha, benção e aú de rolê. Jogador 2 - rasteira, rasteira, armada, negativa e cabeçada.


http://www.nupep.org/capoeiramistica/curso2_arquivos/aula10.jpg FICA

REGIONAL 61 – Palma

ANGOLA

FICA REGIONAL 37- Presilha 65 – Presilha 38- Presilha de Rins Não foi encontrada descrição

ANGOLA

ZUMA

28- Palma Não foi encontrada descrição FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 20- Ponteira 64 – Ponteira Ponteira é um golpe frontal em que o capoeirista usa a ponta do pé para atingir o adversário. É um golpe que sai de baixo para cima, semalhante ao martelo, diferindo por ser frontal e não lateral. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Ponteira" Ponteira: golpe que atinge o adversário com a perna de trás utilizando a parte debaixo dos dedos, na planta do pé, semelhante ao bicão/bicuda do futebol. Normalmente, mira-se a região abdominal do adversário O capoeirista em base, procura atingir o adversário com a perna de trás, utilizando a parte abaixo dos dedos, na planta do pé.

ZUMA

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 18- Queixada 70 – Queixada A QUEIXADA (do autor) É um golpe traumático que se aplica de pé, estando-se em base uma das duas pernas e suspendendo a outra contra o oponente, visando especialmente no seu queixo. A perna é deslocada de maneira retesada e a parte que toca o oponente é a lateral externa do pé (CBP, 1969). Dá-se um passo à frentedo adversário e, (calculando-se sempre a distância), suspendendo-se a perna com ligeireza (Burlamaqui, 1928) (MANO LIMA, 2007, p. 168). QUEIXADA DE FRENTE; QUEIXADA DE GANCHO. A queixada é um golpe da capoeira com dois tipos de execução: lateral e frontal. Na queixada lateral, a perna de trás da ginga cruza com a da frente que simultaneamente é levantada fazendo um meio círculo. Na queixada frontal, a perna de trás da ginga faz um movimento circular de dentro para fora visando acertar o rosto do adversário com a parte externa do pé. A queixada frontal também é chamada de Meia-Lua de Frente. http://pt.wikipedia.org/wiki/Queixada_(capoeira) Queixada: também conhecida como queixada de costas. Aplica-se em pé, estando em base de uma perna e estendendo a outra contra o oponente em forma de giro, de dentro para fora. A parte que atinge o adversário é a parte lateral externa do pé. MÉTODO DE BURLAMAQUI - A QUEIXADA: Dá-se um passo à frente do adversário e, (calculando sempre a distancia) suspendendo-se a perna com ligeireza, (direita ou esquerda) faz-se com que o pé (direito ou esquerdo) bata no queixo do adversário.


Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm CAPOEIRA REGIONAL - (MESTRE BIMBA) –QUEIXADA: QUEDA-DE-COCORINHA (DEFESA) Consiste este golpe no levantamento circular da perna, de dentro para fora (vide linha pontilhada), objetivando atingir em cheio o queixo de uma pessoa com o pé. É praticamente um tapa com o lado externo do pé.

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

http://www2.webng.com/portaldacapoeira/queixada.html FICA REGIONAL ANGOLA zuma 23- Rabo de Arraia 21 - Rabo De Arraia O RABO DE ARRAIA Volta sobre o corpo, rodando uma das pernas de encontro ao inimigo (Abreu, 2003). O capoeira dará o rabo de arraia pondo as palmas das mãos no chão e, dando apparentemente um salto mortal, fará com que as palmas dos pés toquem no peito ou no rosto ou n’outra parte escolhida pelo jogador e resulta sempre cahir para traz. Esse golpe é um dos mais perigosos, tanto para o jogador que o pratica, como para o que recebe porem, sendo bem dado, é uma fatal conseqüência para aquelle que o recebe (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 171). RABO DE ARRAIA AMARRADO; RABO DE ARRAIA AMARRADO CHAPA; RABO DE ARAIA AMARRADO MARTELO. Rabo-de-arraia é um conhecido golpe de capoeira , que consiste em fazer o corpo cair sobre as mãos e rodando-o ao encontro do adversário, de forma a derrubá-lo contra o solo. Existem três tipos de execução: de frente, com as pernas e com uma perna de lado. Rabo-de-arraia: golpe semelhante à meia-lua de compasso, porém no estilo da capoeira angola. Tecnicamente são o mesmo golpe, sendo um uma variação do outro. Rabo-de-arraia (2): salto mortal para frente, onde um ou os dois pés visam atingir o adversário com o(s) calcanhar(es). Também podem ser aplicado apoiando as mãos no chão. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rabo-de-arraia Rabo-de-arraia: golpe semelhante à meia-lua de compasso, porém no estilo da capoeira angola. Tecnicamente são o mesmo golpe, sendo um uma variação do outro. Rabo-de-arraia (2): salto mortal para frente, onde um ou os dois pés visam atingir o adversário com o(s) calcanhar(es).


Também podem ser aplicado apoiando as mãos no chão.

http://www2.webng.com/portaldacapoeira/rabodearaia.html MÉTODO DE BURLAMAQUI – O RABO DE ARRAIA: Este golpe é um dos mais perigosos, tanto para o jogador que o pratica, como para o que o recebe, porém, sendo bem dado, é de uma fatal consequencia para aquelle que o recebe. O capoeira dará o rabo de arraia pondo as palmas das mãos no chão e, dando apparentemente um salto mortal, fará com que as plantas dos pés toquem no peito ou no rosto ou n’outra parte escolhida pelo jogador e resulta sempre o adversário cahir para traz. O rabo de arraia tem diversos modos de se executar. Para pratical-o com precisão é preciso conhecer um pouco (pelo menos) de saltos, pois depende do salto e da ligeireza este golpe. (I) Com as duas pernas de frente – O jogador “peneirando” (...) ameaça rapido e, apoiando com rapidez as duas mãos no chão, bate com os dois pés no rosto ou no peito do adversário. Foi com este golpe que o nosso Cyriaco venceu o japonez com o jiu-jitsu, e assim tivemos a supremacia no jogo.

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm MÉTODO DE BURLAMAQUI – O RABO DE ARRAIA: (II) Com uma perna de lado – Este golpe é bello pelo seu estylo, pois depende somente de intelligencia. Dá-se ao adversário um dos pés (direito ou esquerdo); chama-se golpe de tapiação e depois delle segural-o, gyra-se de modo que as mãos se firmem no chão, e o outro pé bata horrivelmente no adversário, no rosto ou nos ouvidos. Este golpe é quasi sempre certo e de bôas consequencias. CAPOEIRA REGIONAL (MESTRE BIMBA) – MEIA-LUA-DE-COMPASSO OU RABO-DE-ARRAIA: QUEDA-DE-COCORINHA (DEFESA):


Comece gingando. Coloque as duas mãos no chão, levante uma perna bem estirada, gire completamente o corpo, tentando atingir o adversário na cabeça, com o pé. Este se defende com a queda-de-cocorinha. O exercício deve ser praticado 4 vezes, com ambas as pernas.

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 08- Role 23 - Role Movimento por meio do qual o capoeirista enrola o corpo rapidamente no chão com o auxílio das mãos e dos pés, afastando-se ou aproximando-se do seu oponente (Bola Sete, 1997, in LIMA, 2007, p. 175). Role ou rolo – esquiva que o praticante faz ao findar um golpe de ataque, um aú ao sentir que terá de continuar rolando pelo chão, ou mesmo quando, ele, depois de ter descido em uma cocorinha, negativa ou resistência , sente que terá que rolar pelo chão para galgar melhor posição em relação ao seu opositor. O praticante vai rolando sem deixar encostar o corpo no chão, usando as mãos e os pés alternadamente como apoio (II Simpósio de Capoeira, 1969, in LIMA, 2007, p. 175-176). FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 31- Telefone 73 – Telefone Aplicação de pancada, com as duas mãos em forma de concha, no pavilhão auditivo do adversário, dos dois lados, simultaneamente (Saci, 2005, in LIMA, 2007, p. 185). TELEFONE (GALOPANTE0 ´-e um golpe traumático que consiste em aplicarse uma das mãos em forma de concha no ouvido do adversário. Pode, também, ser aplicado com as duas mãos em forma de concha, contra os dois ouvidos, ou com as mãos fechadas ou espalmadas (Descrição da Terminologia, CBP, 1969, in LIMA, 2007, p. 185).

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 41- Vingativa 77 – Vingativa É um dos poucos golpes usados em capoeiragem por aproximação. O lutador lança-se bruscamente ao adversário procurando encaixar-se lateralmente, ou seja, de maneira a ficar com uma das pernas apoiando-se pela coxa por tr5ás das pernas inimigas. Conseguindo aproximar-se destas forma, semiflexiona as pernas, baixando o tronco como se estivesse sentado no ar.. Nessa posição afastará o braço do mesmo lado de apoio e o retornará violentamente, atingindo com o cotovelo o estomago ou o plexo solar do adversário (Costa, s/d., in LIMA, 2007, p. 194). Movimento de capoeira em que o aplicante se aproxima rapidamente do adversário, coloca-se ao lado dele e, com uma das pernas atrás, servindo de apoio e um empurrão com o bgraço ou com o cotovelo., para trás. A perna que fica por trás do adversário é a que estiver lado a lado com a perna do oponente, quando o aplicante já estejactambém lado a lado (Ii Simpósio de Capoeira, 1969, in LIMA, 2007, p. 194). Vingativa: aproxima-se rapidamente do adversário (normalmente logo após um golpe), coloca-se lado a lado com ele e com uma das pernas atrás servindo de apoio e aplica-se um empurrão com o cotovelo, costas, ou cabeça para trás. A perna que fica por trás do adversário é a que estiver lado a lado com a perna do oponente. FICA 1

-

REGIONAL Açoite De

ANGOLA Braço

ZUMA


2 - Açoite De Braço Em Cruz Não foi encontrada descrição FICA 51- Amarrada Não foi encontrada descrição

FICA

REGIONAL

ANGOLA

ZUMA

REGIONAL 3 – Apanhada

ANGOLA

ZUMA

REGIONAL 5 – Armiloque

ANGOLA

ZUMA

Não foi encontrada descrição FICA Não foi encontrada descrição

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 48- Arpão de Giro Arpão – movimento que o capoeirista executa, partindo da posição da ginga, lançando os dois braços para trás, enquanto projeta a cabeça em direção ao adversário (Goes, 2005, in LIMA, 2007, p. 51). Golpe desferido com o joelho contra o adversário, debaixo, para cima ou lateralmente (Descrição da Terminologia, CBP, 1969, In LIMA, 2007, p. 51). ARPÃO DE CABEÇA; ARPÃO DE JOELHO. Arpão: golpe desferido com as mãos em um movimento giratório. Com os braços abertos, o aplicante gira visando pegar a cabeça do adversário a arremessá-la ao chão com o auxílio do movimento giratório.

FICA

Sequencia de Bimba (5) Jogador 1 - arpão de cabeça, joelhada e aú de rolê. Jogador 2 - cabeçada, negativa e cabeçada. REGIONAL ANGOLA 6 – Arpinio

ZUMA

Não foi encontrada descrição FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 7 – Arqueado 8 - Arqueado De Costas Movimento de projeção da cintura desprezada de Mestre Bimba, m que o capoeirista projeta o outro por detrás do seu corpo (Bamba, 2005, in LIMA, 2007, p. 52). Movimento de projeção criado por Mestre Bimba: quando um capoeirista dá meia lua de frente ou benção, o outro entra por baixo da perna que projeta o golpe e arremessa o adversário para cima e depois para baixo, como um balão. (Odilon, 1986, in LIMA, 2007, p. 52) FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 10 – Asfixiante Golpe com a palma da mão no nariz do adversário, também conhecido como escala (Squisito, 2005, in LIMA, 2007, p. 53). Asfixiante: golpe aplicado com a mão fechada (soco) contra o nariz e/ou boca do oponente FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 14 - Balão Cinturado 15 - Balão De Lado Balão – em lutas corporais, golpe em que o lutador lança o adversário por cima do próprio corpo. Balão cinturado – Movimento integrante da cintura desprezada, feito no aú. Quando o oponente vem por baixo, o capoeirista faz que vai dar uma cabeça ou benção e projeta no ombro o corpo do adversário (Odilon, 2005, in LIMA, 2007, p. 60).


Balão de lado – movimento por meio do qual o capoeirista aplica uma gravata sobre o adversário, projetando o seu corpo para a frente (Bamba, 2005, in LIMA, 2007, p. 60) FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 21 - Boca De Calça Boca de calça ou arrastão – golpe de capoeira no qual o praticante leva as duas mãos aos pés ou pernas do adversário e o desequilibra, puxando as duas pernas para a frente, fazendo com que ele caia para trás. A puxada poderá ser efetuada nosm pés, nas canelas, nas pernas e até mesmo por trás dos joelho do adversário. Uma cabeçada ajuda a derrubar. (II Simpósio de Capoeira, 1969, in LIMA, 2007, p. 69) Boca de calça: puxam-se as duas pernas do adversário com as mãos, podendo ajudar com uma cabeçada. FICA

REGIONAL 23 – Buzina

ANGOLA

ZUMA

Não foi encontrada descrição FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA Xulipa 29 – Chulipa A XULIPA Aplica-se uma banda de frente no adversário, como se quisesse derrubá-lo. Se a banda for deferida com a perna esquerda, antes de se completar o giro, deve-se aplicar um telefone ou galopante com uma das mãos (Descrição da Terminologia, CBP, 1969, in LIMA, 2007, p. 88). Xulipa – é dada com as costas da mão ou com a palma. Antigamente para reconhecer se o inimigo era entendido no jogo, usavase um estratagema interessante: depois de ligeira ginga levava-se, rápido, um pé a corpo, para desviar o golpe do pé punha naturalmente o rosto para a frente, expondo-o a uma xulipa reveladora. O capoeira que sabia deitar-se e levantar-se ligeiro merecia respeito (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 200y7, p. 88) FICA

REGIONAL 30 - Cintura Robusta

ANGOLA

ZUMA

REGIONAL 31 - Colar De Força

ANGOLA

ZUMA

Não foi encontrada descrição FICA Não foi encontrada descrição FICA

REGIONAL

ANGOLA ZUMA 11 - Corta Capim O CORTA CAPIM O CORTA-CAPIM: O corta-capim é um golpe sympathico pelo seu estylo, pois é dado de uma fórma toda especial. Abaixa-se o corpo repentinamente (ou na perna direita ou esquerda, conforme o treno individual do jogador), e esticando-se a perna não apoiada faz-se com que esta gyre violentamente. Este golpe quasi sempre é dado n’uma luta desegual, isto é, de um homem contra diversos. (Burlamaqui, 1928) MÉTODO DE BURLAMAQUI - A RASTEIRA: O jogador da capoeiragem póde dar a rasteira em pé ou descahido (quasi deitado). Dando este golpe descahido pode-se também dar á este golpe o nome de corta-capim.


Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm

Gravura de um belo “furdunço” entre capoeiras ocorrido no Rio de Janeiro, no final do século XVIII, publicada em uma revista da época, onde se pode ver a eficiência de uma rasteira (estilo corta-capim) anulando completamente a pontaria de um tiro de revólver... Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 33 – Crucifixo Crucifixo: ao receber um golpe de perna alta, o aplicante aproxima-se do adversário, colocando a perna do adversário sobre seu ombro. Assim, o aplicante levanta ainda mais a perna do adversário desequilibrando-o. Normalmente aplicado contra golpes giratórios altos como a armada ou contra o martelo. Contragolpe aplica do pelo capoeirista, que consiste na reação a um golpe de martelo recebido (Mestre Bamba, 2005, in LIMA, 2007, p. 93) FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 34 – Cruz Golpe desequilibrante no qual o capoeirista, ao receber um pé de giro alto, ‘entra’ no adversário, colocando o seu braço por baixo da perna elevada do oponente e lhe tira o equilíbrio ao elevar mais ainda a perna do adversário (II Simpósio de Capoeira, 1969, in LIMA, 2007, p. 93) FICA

REGIONAL 35 – Cruzilha

ANGOLA

ZUMA

Não foi encontrada descrição FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 37 – Dentinho Dentinho de Angola – golpe assim descrito por Mestre Waldemar, citado por Abreu (2003): “é curvar o corpo e levar o salto do sapato ao gogó do adversário”

FICA Não foi encontrada descrição FICA

REGIONAL 39 – Dubliesse

ANGOLA

ZUMA

REGIONAL 40 – Escurinho

ANGOLA

ZUMA

Não foi encontrada descrição FICA

REGIONAL

ANGOLA ZUMA 14 - Esquiva 'Esquiva é o nome de um movimento de a defesa na capoeira, a forma de se livrar de um golpe. Podem ser ainda: ESQUIVA LATERAL, ESQUIVA DIAGONAL, ESQUIVA ATRÁS, ESQUIVA COM A MÃO NO CHÃO. Em seguida da esquiva pode-se complementar com algum outro movimento, floreio e/ou golpe. http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquiva Abaixaqmento ou desvio do corpo para evitar um golpe, ação de evitar algo ou alguém indesejável. As esquivas são os recursos


de um capoeirista para safar-se de um golpe e dar continuidade ao fluxo do jogo de capoeira: plástico, belo, coordenado e dialogado sem interrupções abruptas (Reis, 1997, in LIMA, 2007, p. 104). ESQUIVA FRONTAL; ESQUIVA LATERAL. FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 48 - Gravata Alta 49 - Gravata Baixa Golpe sufocante, no pescoço, em algumas lutas esportivas. Movimento por meio do qual o capoeirista, apoiando-se no pescoço do adversário, arremessa-o para frente (Moreno, 2005, in LIMA, 2007, p. 115). GRAVATA ALTA; GRAVATA BAIXA; GRAVATA CINTURADA. FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 54 – Leque Movimento de quase salto, por meio do qual o capoeirista dá um meio-salto, apoiando o corpo sobre uma das mãos, enquanto desfere uma pernada sobre o adversário (Pereira, in LIMA, 2007, p. 134); LEQUE DE COTOVELO FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 55 – Marrada Não foi encontrada descrição FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 59 – Mortal Mortal chutado – movimento acrobático em que o individuo dá uma ponteira, virando em seguida, para dar um salto mortal de costas (LIMA, 2007, p. 146); MORTAL DE COSTAS; MORTAL DE FRENTE; MORTAL DE PERNA; MORTAL DUPLO; MORTAL ESTICADO; MORTAL MEIA-PIRUETA; MORTAL PIRUETA FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 62 – Pantana Volta sobre o corpo aplicando os pés contra o peito d o adversário (Abreu, 1886, in LIMA, 2007, p. 158). O capoeirista, negaceando, simula um salto mortal e, com as mãos apoiadas no chão, desfere com os pés uma violenta pancada, que visa geralmente o rosto ou o peito do adversário (Moura, 1991, in LIMA, 2007, p. 158)

Capoeiragem: Articulo EEUU-Nueva York -1953 http://capoeira-utilitaria-capoeiragem.blogspot.com/2010/03/1953-eeuuarticulo-de-capoeiragem-en.html FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 63 – Pescocinho Não foi encontrada descrição FICA

REGIONAL 66 - Quebra Mão 67 - Quebra Perna 68 - Quebra Pescoço

ANGOLA

ZUMA

Não foi encontrada descrição FICA

REGIONAL ANGOLA ZUMA 72 – Suicídio O SUICÍDIO Benção aplicada pelo capoeirista quando o outro cai, com o objetivo de executar um mortal para frente, para cair sobre om peito do mesmo (Jesus, 2005, in LINMA, 2007, p. 184)


MÉTODO DE BURLAMAQUI – O SUICÍDIO: Avança-se peneirando, e rapido descai-se o corpo, fazendo com que os pés, curvos, rentes ao chão, mettam-se entre os pés do inimigo e, num brusco empurrão de pernas, faz-se com que o inimigo tombe sobre o que ataca e, mais rapido ainda, encolhe-se uma das pernas de maneira que o joelho anteponha-se entre os dois que lutam. (Este golpe é original e terrivel, porque se o inimigo estiver armado de punhal ou faca suicida-se infallivelmente.) (Talvez faça mal em descrevel-o).

Fonte: SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião ). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm CAPOEIRA REGIONAL - (MESTRE BIMBA) - O SUICÍDIO: O suicídio é um golpe que só era ensinado no Curso de Especialização. Ao derrubar um indivíduo, pula-se com a máxima força com os dois pés em cima dele, procurando atingir o peito, a barriga ou a virilha. Trata-se de um golpe violentíssimo e perverso. FICA

REGIONAL 76 - Tombo Da Ladeira

ZUMA O TOMBO DA LADEIRA OU CALÇO Tombo da ladeira: golpe que visa derrubar o adversário quando ele aplica um golpe com salto ou faz acrobacias. Pode ser através de um escorão, puxão no pé etc. Ato de derrubar o indivíduo que pula, tocando-lhe os pés quando estes estão no ar; este tombo é sempre desastrado (espécie de facão) (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 188) FICA REGIONAL 50- Tranco Não foi encontrada descrição

ANGOLA

ANGOLA

ZUMA O TRANCO

FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA 52- Volta do Mundo Expressão usada na capoeira Angola que corresponde ao sinal para o inicio do jogo (Sodré, 1968, in LIMA, 2007, p. 194). Caminhar rapidamente em sentido anti-horário em volta dosm jogadores, esperando o momento oportuno para comprar o jogo. É também um recurso usado pelos capoeiristas para descansar sem precfisar dar o jogo por encerrado (Santos, 1993, in LIMA, 2007, p. 195). É um ritual existente no jogo da capoeira. Quando um dos capoeiristas bate palmas por trás das costas, está convidando o oponente para que o acompanhe. É obrigatório acompanhá-lo, sendo que o convidado não pode atacar. (Descrição de Terminologia, CBP, 1969, in LIMA, 2007, p. 195) FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA O FACÃO Espécie de corta-capim, porém é dado pegando-se a perna do adversário no ar, golpe maravilhoso pelo seu efeito (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 107). FACÃO BATEL EM BAIXO


FICA

REGIONAL

ZUMA O RAPA Rasteira dada pegando-se à guiza de repagem nos calcanhares, isto é, no lado de fora do pé do adversário (pé direito ou esquerdo), (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 172).

FICA

REGIONAL

ANGOLA

ZUMA O DOURADO Golpe assim descrito por Zuma: tranca-se a nossa perna (direita ou esquerda) na do individuo que se vai dar este golpe, e, descahindo-se o corpo para traz, até encostar as mãos no chão, e, com a máxima ligeireza possível, faz-se com que o adversário execute um semi-circulo no espaço, cahindo horrigvelmente para nossa retaguarda (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 100)

FICA

ANGOLA

REGIONAL

ANGOLA

ZUMA O PASSO DA CEGONHA (do autor) Contragolpe aplicado contra a armada. Aplica-se, primeiramente o gancho (descrição da terminologia, CBP, 1969, in LIMA, 2007, p. 158). O passo da cegonha parece ter sido introduzido na capoeira carioca por Aníbal Burlamaqui, o Zuma, e consiste em contra-atacar o adversário quando este lança um pontapé. Nesse momento entra-se por debaixo da perna opressora e prende-se a mesma com o pescoço ou braço e aplica-se, na perna de apoio, uma rasteira, rapa ou banda (Binates, 1999, in LIMA, 2007, p. 159). Quando o adversário suspender a perna (direita ou esquerda) para abatel-a sobre nós entra-se debaixo da mesma e, prendendoa com uma das mãos ou o pescoço, dá no momento, a rasteira, a rapa ou a banda (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 159)


FICA

ZUMA A ENCRIZILHADA Golpe em que o atacante atira as duas pernas contra as pernas do adversário (Moura, 1991, in LIMA, 2007, p. 102). A encruzilhada é semelhante ao corta-capim (Costa, s.d.). Golpe originário do batuque, incorporada na capoeira regional (Rego, 1968, in LIMA, 2007, p. 102). Cruza-se um dos pés a frente do adversário e descahindo o corpo completamente para traz, leva-se o adversário num arranco forte, fazendo-o cahir para o lado (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 102).

FICA

REGIONAL

REGIONAL

ANGOLA

ANGOLA

ZUMA

ESCORÃO Escorão: também conhecido como pisão, chapa, ou chapa de frente. Aplica-se em pé distendendo a perna de trás em movimento de coice acertando o adversário com a planta do pé. Este golpe pode visar empurrar (derrubando) o adversário o traumatizá-lo. Movimento por meio do qual o capoeirista, com as mãos no chão, empurra o adversário para trás com o pé (Roxinho, 2005, in LIMA, 2007, p. 102) Encolhe-se o pé simulando recuo manda-se com rapidez, o pé em cheio sobre o ventre do inimigo (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 103)

FICA

ZUMA O PENTEAR OU PENEIRAR Joga-se os braços em todos os sentidos em ginga, de modo a perturbar a attenção do adversário e preparar melhor o golpe decisivo (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 161) FICA

REGIONAL

REGIONAL

ANGOLA

ANGOLA

ZUMA A CHINCHA Movimento da capoeira assim descrito por Aníbal Burlamaqui: Corre-se para o inimigo como a abraçal-o e, agachando-se rápido, pucha-se as pernas, abaixo dos joelhos, ajudando-a a cahir com uma reveladora cabeçada (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 87)


FICA

REGIONAL

ANGOLA

ZUMA O ME ESQUECE Este golpe é uma espécie de banda, porém não é firmado nos joelhos do adversário; avança-se para o inimigo, levando-se a perna rija (direita ou esquerda), faz-se com que fique collada nas pernas do mesmo, isto é, que corresponda dos pés a cintura, à frente do corpo do adversário e, ajudando-a com um impulso, isto é, o bahu, levanta-se violentamente fazendo com que o mesmo caia de frente para nós. Este golpe, é dos que sendo bem dado, surtem muito efeito, pois é de uma firmeza pouco vulgar (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 143) FICA

REGIONAL

ANGOLA

ZUMA O VOO DO MORCEGO Vôo do morcego: dá um salto e estende-se uma ou as duas pernas visando atingir o adversário. Este golpe também é popularmente conhecido como “voadora”. Golpe de capoeira assim descrito por Burlamaqui: Para surtir effeito este golpe é preciso uma espantosa ligeireza. Toma-se uma certa distancia do adversário e, num pulo certo e rápido, deixa-se o corpo voar, de forma que quando tocar-se no adversário os braços estiquem-se e façam empurrar o mesmo. Deve-se argumentar o effeito do golpe, batendo-se com as pontas dos pés nos joelhos ou nas canellas do adversário (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 195). FICA REGIONAL ANGOLA ZUMA A ESPADA (do autor) Golpe de capoeira assim descrito por Burlamaqui: este golpe é puramente para desarmar o inimigo que ataque o seu adversário com faca, navalha ou coisa semelhante. Avança-se, peneirando, olhos fixos nos dos inimigo, estudando os menores gestos e quando elle de certo quizer ferir, levanta-se rapipido uma das pernas, faznedo com que o pé curvado para dentro, vá bater fortemente na mão, armada ficando a mesma entre o pé e a barriga da perna (Burlamaqui, 1928, in LIMA, 2007, p. 103)


351

Concordamos com Assunção e Peçanha (2009) quando afirmam que o n´golo acabou transformado num mito de origem – um “elo perdido”. Como esses autores, talvez o mais correto seja imaginar o n´golo e as outras lutas e jogos de combate ainda existentes na Angola contemporânea como primos mais ou menos distantes da capoeira brasileira. Concluem que: “[...] findo o tráfico negreiro, as técnicas de combates corporais que existiam dos dois lados do Atlântico teriam evoluído em direções diversas, o que explicaria não só suas semelhanças, mas também suas tremendas diferenças.”. 351

ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig; PEÇANHA, Cinésio Feliciano (Mestre Cobra Mansa).Elo perdido: A dança da zebra. In REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Março 2008, disponível em www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1445


http://nzambiangola.blogspot.com.br/p/nossos-mestres.html

Mestre AberrĂŠ de Santo Amaro/Ba 1895 a 1945


Mestre Canjiquinha/Ba 1925 a 1994



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