REVISTA
DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO
Número 37 – JUNHO de 2011
ISSN 1981-7770
Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/
Revista do IHGM, n. 37, junho de 2011
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, v.1, n.1 (ago. 1926) - São Luís: IHGM, JUNHO DE 2011. n. 37, junho de 2011. Edição eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/ ISSN: 1981-7770 1. História – Maranhão – Periódicos 2. Geografia – Maranhão - Periódicos p. CDD: 918.21 CDU: 918.121 + 981.21
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ISSN 1981 – 7770 REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO NO 37 – JUNHO – 2011 EDIÇÃO ELETRÔNICA Rua de Santa Rita, 230 – Centro Edifício Prof. Antonio Lopes – 2º. Andar CEP – 65015.430 – SÃO LUÍS – MA Fone (0xx98) 3222-8464 Fax (0xx98) 3232-4766 E.mail: ihgm_ma@hotmail.com As idéias e opiniões emitidas em artigos ou notas assinadas são de responsabilidade dos respectivos autores. ENDEREÇO DAS EDIÇÕES ELETRÔNICAS http://issuu.com/leovaz/docs/ http://issuu.com/leovaz/docs/revista_01_-_1926b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_29_dez_2008 http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm-30 http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm__32_-_mar_o_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_33_-_junho_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_34_-_setembro_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_35_-_dezembro_2010b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_36_-_mar_o_2011b
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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Fundado em 20 de novembro de 1925, registrado no Conselho Nacional de Serviço Social sob no. 80.578/75, de 14 de setembro de 1955 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Estadual no. 1.256, de 07 de abril de 1926 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal no. 3.508, de junho de 1996 Cartório Cantuária Azevedo – Registro Civil de Pessoas Jurídicas – reg. no. 180, registro em microfilme no. 31063, São Luís, 23 de agosto de 2007 GESTÃO 2010/2012 Presidente de Honra: JOSÉ DE RIBAMAR SEGUINS CHAPA ANTONIO VIEIRA Presidente: TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Vice-Presidente: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 1º. Secretário: JOÃO FRANCISCO BATALHA (até Fevereiro de 2011) RAIMUNDO GOMES MEIRELES (a partir de março de 2011) 2º. Secretário: RAIMUNDO GOMES MEIRELES (até Fevereiro de 2011) WASHINGTON LUIS MACIEL CANTANHEDE (a partir de junho de 2011) 1º. Tesoureiro: WASHINGTON LUIS MACIEL CANTANHEDE (até maio de 2011) DILERCY ARAGÃO ADLER (a partir de junho de 2011) 2º. Tesoureiro: DILERCY ARAGÃO ADLER (até maio de 2011) AYMORÉ DE CASTRO ALVIM (a partir de junho de 2011) Diretor de Patrimônio: ÁLVARO URUBATAN MELO Diretor de Divulgação: MANOEL SANTOS NETO
CONSELHO FISCAL Titulares: JOSÉ RIBAMAR SEGUINS JOSÉ RIBAMAR FERNANDES ILZÉ VIEIRA DE MELO CORDEIRO Suplentes: OSVALDO PEREIRA ROCHA KALIL MOHANA (até novembro de 2010 – falecido) AYMORÉ DE CASTRO ALVIM (a partir de 2011) RAUL EDUARDO CANEDO VIEIRA DA SILVA (a partir de junho 2011) ESTERLINA MELO PEREIRA Editor da Revista do IHGM LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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CALENDÁRIO DE REUNIÕES PARA 2011 APROVADO EM REUNIÃO DE DIRETORIA DIA 18/01/2011 MÊS ABRIL MAIO JUNHO
JULHO AGOSTO SETEMBRO
OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
DIA 13 27 11 25 08
OBSERVAÇÕES Reunião de Diretoria ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria
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ASSEMBLÉIA GERAL
06
Reunião de Diretoria
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ASSEMBLÉIA GERAL
Adesão do Maranhão / data magna SEMINÁRIO 400 ANOS
03 31 14
Reunião de Diretoria ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria
Palestra Washington
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ASSEMBLÉIA GERAL
Palestra Elizabeth Revista 38
19 26 09
Reunião de Diretoria ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria
Palestra Leopoldo
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ASSEMBLÉIA GERAL
02 14
ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria
Palestra Leopoldo Palestra Aymoré Palestra Washington Revista 37
Aniversário do IHGM SEMINÁRIO 400 ANOS Palestra Magna - ??? Revista 39
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PLANO DE TRABALHO 1. Rever a situação do quadro societário, aplicando as recomendações da Comissão formada para tal, ainda na administração anterior; Tomadas as providências recomendadas pela referida Comissão. Declaradas vagas as Cadeiras daqueles em débito por dois anos ou mais, que não responderam à correspondência enviada para se manifestarem, considerando-se renúncia, em acordo com os Estatutos e decisão da AGO. Àqueles indicados e que não tomaram posse dentro do prazo estabelecido pelos Estatutos, foi enviada correspondência e diante da não manifestação, tornando-se sem efeito as indicações, e vagas as cadeiras. 2. Incentivar os sócios ao retorno das atividades inerentes ao IHGM, especialmente a produção de estudos acadêmicos nas áreas da História, Geografia, e Ciências afins; Deu-se continuidade ao Programa de Palestras, retomado na gestão da Profa. Eneida, abrindo-se ainda em dezembro as inscrições, preenchidas as datas em dois dias. A AGO de março/2011 decidiu que as palestras serão proferidas no início das AGO, com uma hora de duração, início às 17:00 horas; após a parte científica/cultural, em continuidade se dará a parte administrativa. Com a divulgação das palestras, espera-se a presença de público externo; assim, após a mesma, poderão se retirar, sem participar da parte administrativa, de interesse apenas dos Sócios. 3. Dar mais visibilidade às ações do IHGM junto aos próprios sócios, à sociedade, à mídia, e aos entes acadêmicos; Ainda não se conseguiu dar visibilidade ao IHGM, haja vista que o Departamento de Divulgação ainda não foi estruturado. A Revista do IHGM – em seu formato eletrônico - teve, nos últimos meses, cerca de 2.800 acessos; desde seu lançamento neste formato, já ultrapassouse os 50.000 acessos. Os Sócios que mantêm Blog e/ou páginas na Internet, têm feito a divulgação, assim como alguns têm publicados trabalhos nos jornais locais, em que se apresentam como sócios do IHGM. Ainda não conseguimos que os Sócios façam lançamentos de suas obras no IHGM, preferindo outros locais; compreensível, mas devemos dar ênfase ao IHGM, mesmo que se faça um pré-lançamento em nosso Auditório, ou um breve relato na obra aos sócios, após o mesmo. Divulgar o IHGM – e sua programação – junto às IES e Escolas. 4. Elaborar o Regimento Interno; Constituída Comissão, composta pelos Sócios Washington Cantanhede (Presidente); Raimundo Meireles; e Leopoldo Vaz. Após estudos preliminares, feita proposta à AGO de Reforma do Estatuto, adequando-o à legislação atual; aprovada em AGO de março/2011, constituída nova Comissão, para reforma do Estatuto, com os mesmos membros, com prazo de 60 (sessenta) dias para apresentar a minuta e submissão à AGO – Portaria 03/2011.
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5. Completar o quadro de sócios; Solicitou-se aos Sócios a indicação de pessoas que possam integrar o quadro social do IHGM; atualmente se tem 20 cadeiras vagas (ver item 1), sendo que 10 (dez) receberam indicação, em processo de estudos. 6. Buscar soluções para a acessibilidade às instalações do IHGM; Contato com a Secretaria de Urbanismo, realizada vistoria, e indicação da necessidade de retirada dos camelôs, que obstruem a rua; aguardando decisão por parte da PMSL; A Corretora de Crédito IBIS, localizada no térreo (frente para a Rua Grande) solicitou junto à PMSL a mesma coisa, haja vista tratar-se de estabelecimento de crédito (banco) e necessita de segurança; processo em fase de estudos, também; já recebeu parecer favorável do setor competente, Aguardando-se as providencias por parte da PMSL. Quanto ao elevador, em estudo, elaboração de projeto para doação por parte de empresa já contatada. 7. Organizar a Biblioteca; Contato com a UFMA/Biblioteconomia, com o IHGM como campo de estágio; convenio em estudo pela IFES, para assinatura e indicação de acadêmicos; para tal, se precisa de um Bibliotecário responsável para acompanhamento; o Vice-Presidente é Mestre em Ciência da Informação, e poderá ser o responsável pelo estágio. A organização já iniciou com a definição de estante dedicada ao IHGM, com a identificação das obras de Patronos e ocupantes, existentes na Biblioteca. 8. Buscar outras fontes de recursos financeiros para sustentação do IHGM; Já se conseguiu Emenda Parlamentar, do Deputado Joaquim Haickel. Outras alternativas em estudo, inclusive elaboração de projetos de captação junto a entes financiadores de pesquisa. 9. Buscar meios para publicação, em papel, da Revista do IHGM; melhorar a edição eletrônica; A Emenda Parlamentar tem esse destino – publicações do IHGM; outras formas de financiamento estão sendo buscadas; em reunião com o Reitor natalino Salgado este se comprometeu em que a Editora da UFMA se responsabilizará pelas publicações de alguns números, já a partir do segundo semestre. 10. Criar comissão para as comemorações dos 400 anos de São Luís, em 2012. Criada, em ação, elaborada e aprovada proposta, constituindo-se em projeto, em fase de detalhamento; datas e temas definidos, assim como formas de execução e participação; indicação de palestrantes e participantes de mesasredondas; divulgação junto ao público.
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SUMÁRIO Diretoria – Gestão 2010 – 2012 CALENDÁRIO DE REUNIÕES PARA 2011 PLANO DE TRABALHO Sumário
APRESENTAÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Cadeira 40 EM MEMÓRIA A CARLOS DE LIMA, Cadeira 22 ELOGIO DE ALMA PARA A ALMA DE UM MENINO PAULO MELO SOUSA CARLOS DE LIMA. MEMÓRIAS. São Luís, 1996. Inédito, manuscrito enviado aos autores LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Cadeira 40 DELZUITE DANTAS BRITO VAZ, CEM “Liceu Maranhense”
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PALESTRAS AGO
TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Cadeira 40 A VILA DE SANTO INÁCIO DO PINHEIRO – A luta de um povo pela sua emancipação política. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM, Cadeira 25 FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ, MATRIZ DO POVOAMENTO DA RIBEIRA DO MEARIM WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHÊDE, Cadeira 58
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IHGM NA MÍDIA
DUAS MENTIRAS HISTÓRICAS JOÃO MENDONÇA CORDEIRO, Cadeira 32 A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL DE OCEANOGRAFIA NATALINO SALGADO FILHO, Cadeira 12 A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO /SÃO LUIS / VINHAIS – II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES - UFMA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Cadeira 40 IHGM COBRA DO SECRETÁRIO BULCÃO LIBERAÇÃO DE EMENDA PARLAMENTAR O ALERTA QUE VEIO DE LONGE. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM, Cadeira 25 NOVAS OBRAS LITERÁRIAS SÃO LANÇADAS EM NOITE DE AUTÓGRAFOS CONJUNTA. OSVALDO PEREIRA ROCHA, Cadeira 08 SUBLIME ORDEM MAÇÔNICA – Narrativas OSVALDO PEREIRA ROCHA, Cadeira 08 JOSÉ FERNANDES DIVULGA “AO SABOR DA MEMÓRIA”, SEU MAIS NOVO LIVRO MANOEL DOS SANTOS NETO, Cadeira 11 AYMORÉ DE CASTRO ALVIM LANÇA NOVO LIVRO DE CONTOS E CRÔNICAS UPAON-AÇU RENDE HOMENAGEM AO PROFESSOR LEOPOLDO VAZ
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MEMÓRIA CULTURAL DE ARARI-MA - IMPORTANTE ENTREVISTA COM O INTELECTUAL ARARIENSE, JOSÉ FERNANDES HILTON MENDONÇA DIA DAS MÃES EM 2011 OSVALDO PEREIRA ROCHA, Cadeira 08 DIA INTERNACIONAL DA MULHER: MOTIVOS PARA COMEMORAR E REFLETIR NATALINO SALGADO FILHO, Cadeira 12 LANÇAMENTOS DE LIVROS NO IHGM OSVALDO PEREIRA ROCHA, Cadeira 08 LANÇAMENTO DO LIVRO SOBRE RUBEM ALMEIDA NO IHGM OSVALDO PEREIRA ROCHA, Cadeira 08 O MENINO QUE GOSTAVA DE LER O JORNAL PEQUENO MANOEL DOS SANTOS NETO, Cadeira 11 THUCYDIDES BARBOSA: RESUMO BIOGRÁFICO JOÃO DIAS REZENDE FILHO SAUDAÇÃO AO POETA EDOMIR OLIVEIRA ILZÉ CORDEIRO, Cadeira 30 DISCURSO DE AGRADECIMENTO EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA, Cadeira 51 O SINDICATO DOS MÉDICOS DO MARANHÃO NATALINO SALGADO FILHO, Cadeira 12 UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DO ARARI JOÃO FRANCISCO BATALHA, Cadeira 23 POSSES NA ACADEMIA MAÇÔNICA MARANHENSE DE LETRAS OSVALDO PEREIRA ROCHA, Cadeira 08
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ESTUDOS INÉDITOS
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL NO ESTADO DO MARANHÃO RAIMUNDA NONATA FORTES CARVALHO NETA, Cadeira 27 HOMENAGEM PÓSTUMA A NOSSA QUERIDA AMIGA ALCINA EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA, Cadeira 51 TICs, EDUCAÇÃO A DISTANCIA E EDUCAÇÃO PRESENCIAL TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO, Cadeira 06 NOITE DE ALEGRIA NO IHGM OSVALDO PEREIRA ROCHA, Cadeira 08 JOÃO MIGUEL DA CRUZ, O PIONEIRO. ÁLVARO URUBATAN MELLO, Cadeira 54 “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, Pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Cadeira 40 DELZUITE DANTAS BRITO VAZ, CEM “Liceu Maranhense” VITÓRIA DO MEARIM, TESTEMUNHA E PARTÍCIPE DA HISTÓRIA REMOTA DE GRAJAÚ WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHÊDE, Cadeira 58 SÓCIOS EFETIVOS COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
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APRESENTAÇÃO Um amigo meu, Prof. Dr. Laércio Elias Pereira, sempre que morre um amigo ou alguém a quem admiramos – o que dá no mesmo – sempre diz que é algo com a qual ele não concorda e lamenta de que só morre gente ‘que está do nosso lado’. Carlos de Lima é uma dessas pessoas. Em uma de suas crônicas, publicada em O Estado, ao completar 90 anos, disse que não temia a morte. E que em seu túmulo deveria constar: “Aqui Jaz Carlos de Lima, sob protestos”. Mais uma vez somos obrigados a registrar a passagem de um de nossos amigossócios deste IHGM. “Em Memória” consta uma pequena biografia de nosso Mestre. Homem de muitos recursos, destacava-e pelo bom humor e, sempre, disponibilidade em atender a todos. A crônica do Paulo Melo – “Réquiem para um menino”, que reproduzimos -, bem diz quem foi o homem a quem aprendemos a admirar. Nunca o vi sem sua Zelinda por perto... Um pequeno trecho de suas “Memórias”, ainda inédito, que estava escrevendo, é transcrito aqui; a recebi ainda em1996, quando a convite de Profa. Delzuite D. B. Vaz proferiu palestra aos alunos do ‘seu’ Liceu Maranhense: carlos era um dos ‘meninos do Liceu”... A seguir, dentro da linha editorial adotada, as palestras do período. Procuramos manter a tradição – reinventada – de nas Assembléias Gerais de cada santo mês, um dos sócios apresente trabalho que contribua para a História, a Geografia e as Ciências afins – objetivo maior de nossa Instituição. Leopoldo, Aymoré, e Washington foram os palestrantes desse trimestre, que ora se encerra. Na seqüência, temos os registros do que foi veiculado na mídia impressa, contribuições de diversos sócios. Trazemos um Resumo Biográfico de um sócio já falecido - THUCYDIDES BARBOSA -, escrito pelo João Pecegueiro em seu Blog. Outro resgate que estamos a fazer, com “IHGM na mídia”. Dentro dessa pauta, as palestras e conferencias, apresentações de trabalhos em eventos científicos de autoria de nossos confrades também passam a receber registro. O que esperamos é que os textos cheguem às nossas mãos. Vários são os colaboradores destaedição: ÁLVARO URUBATAN MELLO; AYMORÉ DE CASTRO ALVIM; EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA; ILZÉ CORDEIRO; JOÃO MENDONÇA CORDEIRO; LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, MANOEL DOS SANTOS NETO, NATALINO SALGADO FILHO; RAIMUNDA NONATA FORTES CARVALHO NETA; TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO, WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHÊDE; De fora do IHGM, colaboraram PAULO MELO SOUSA, DELZUITE DANTAS BRITO VAZ, JOÃO DIAS REZENDE FILHO (João Pessegueiro), e HILTON MENDONÇA. Vários lançamentos de livros de nossos sócios ocorreram no período. Alguns foram feitos em pré ou pós lançamento em nossa Sede, com animada noite de autógrafos, e a benemerência de nossos autores: a renda dessas noites forma revertidas em benefício do IHGM... esperamos que os próximos lançamentos também ocorram com a presença de nossos sócios; pedidos aos autores que fizessem a apresentação de seus livros... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 40 Editor do presente número
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EM MEMÓRIA
CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA
São Luís * 14 de março de 1920 + 09 abril de 2011 CADEIRA 22 – PATRONO: CÉSAR AUGUSTO MARQUES Nasceu em São Luís, a 14 de março de 1920. Técnico em contabilidade fez os cursos de Crítica Cinematográfica; História Cultural e Social de São Luís; Cenotécnica; Interpretação Teatral; Folclore; Museologia; Arte Moderna; Iniciação às Artes Plásticas; Museografia; Metodologia do Uso de Fontes Orais. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, historiador, folclorista, escritor, ator e poeta. É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Comissão Maranhense de Folclore. Colabora na imprensa de São Luís, no jornal O Estado do Maranhão, na coluna Quinquilharias. Carlos de Lima foi ator de teatro. Atuou nas peças encenadas pelo grupo Teatro Experimental do Maranhão (Tema), sob a direção de Reinaldo Faray: “A ratoeira”, de Agatha Christie; “Gimba presidente dos valentes”, de Gian Francesco Guarniere; “O processo de Jesus”, de Henri Ghéon; “A revolução dos beatos”, de Dias Gomes; “Por causa de Inês”, de João Mohana. No cinema atuou em “A faca e o rio”, dirigido por Sloizer; “Uirá, um índio à procura de Deus”, dirigido por Gustavo Dahl; “Carlota Joaquina”, dirigido por Carla Camurati. Como escritor, publicou: (Fonte: Site AML)
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a) folclore: Bumba-meu-boi, 1968 (2ª ed. 1973, 3ª ed. 1982); Bumba-meu-boi do Maranhão, 1969 (coletânea de toadas); A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara, 1972 (2a ed. 1988); Lendas do Maranhão. São Luís: [s.n.], 2006. b) história: História do Maranhão, 1981; Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara, 1997; Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos, 2002; Breve história da Igreja dos Remédios de São Luís do Maranhão, 2004; História do Maranhão: a colônia. São Luís: Instituto Geia, 2007. c) cordel: Carta ao compadre Triburtino, 1995; ABC do SEBRAE, 1995; Lendas do Maranhão, 1996. Publicou ainda: “As minhas e as dos outros: estórias maranhenses”, 1988, livro de crônicas e contos; “Uma elegia, Réquiem para um menino”, 1982; com Mário Meireles e Kátia Bogea, “Palácio Arquepiscopal: 100 anos de história”, 2002. DO IHGB – Pesquisadores: LIMA, Carlos Orlando Rodrigues de, 1920São Luis, MA Bancário aposentado Áreas de pesquisa: História regional Obras: História do Maranhão (2006), Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara (....) e Caminhos de São Luís (....) Dos: IHGMA - http://www.ihgb.org.br/ihgb62.php?l=l
http://www.jornalpequeno.com.br/2011/5/9/governadora-lamenta-falecimento-do-pesquisador-carlos-de-lima-155058.htm
“Com profunda tristeza, a governadora Roseana Sarney recebeu a notícia do falecimento do pesquisador Carlos Orlando Rodrigues de Lima, aos 91 anos, na madrugada desta segunda-feira (9), vítima de leucemia. Membro da Academia Maranhense de Letras, o escritor que dedicou sua vida à investigação minuciosa da história do estado e de São Luís, publicando livros como “Lendas do Maranhão”, “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”, deixa um legado de humildade, sabedoria e trabalho. Reconhecendo o talento e a competência de um dos pesquisadores mais dedicados ao estado, a governadora se solidariza com a mulher dele, a pesquisadora Zelinda Lima, os familiares e amigos. “A obra e a admiração dos maranhenses pelo trabalho de
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Carlos de Lima eternizarão o pesquisador e manterão para sempre viva sua lembrança”, ressaltou a governadora.”
DIÁRIO DO ANDRÉ relatos da rotina, jornalismo cultural e mais. http://diariodoandre.com/2011/05/09/morre-o-escritor-maranhense-carlos-de-lima/
Internado desde terça-feira por problemas cardíacos, no UDI Hospital, o escritor Carlos de Lima, um dos maiores pesquisadores de cultura e história maranhenses, morreu aos 91 anos às 0h40. Combatia desde o ano passado uma leucemia. Entre as suas principais obras, estão os livros “Lendas do Maranhão”, a trilogia “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”. Carlos de Lima era membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Era casado há 64 anos com a folclorista e pesquisadora Zelinda Lima, depois de namorar por sete anos, um total de 71 anos de relacionamento. Sempre bem humorado e vivaz Carlos de Lima, que enfrentava uma leucemia desde 2010, mantinha no jornal O Estado do Maranhão a coluna dominical “Bisbilhotices”, na qual retratava diversas histórias burlescas, nas quais misturava bom humor, pesquisa histórica e o melhor que o ludovicense sabe fazer – como ele mesmo dizia - fuxico. Em diversos textos, o escritor sempre atribuiu o seu prazer pela pesquisa aos diversos bons professores que teve em vida, como Mário Meirelles e outros. Além de um competente e incansável pesquisador, Carlos de Lima era uma figura engraçada, educada e espirituoso, que fará falta à cultura e intelectualidade do estado. Nesta manhã, o escritor e jornalista Ubiratan Teixeira lamentou por telefone a perda do amigo.
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ELOGIO DE ALMA PARA A ALMA DE UM MENINO http://www.jpturismo.com.br/noticia.asp?id=13052011-elogio-de-alma-para-a-alma-de-um-menino
Simplesmente impossível para mim, nesta hora, não ser passional, muito me faz pensar em armadilhas foucaultianas no que se refere à ordem do discurso. Na verdade, é justamente pensando na desordem de qualquer discurso que começo a tecer, sem maiores preocupações, estas linhas, sem a mínima preocupação se serão bem ou mal traçadas. Sim, pois o que move os dedos no teclado do computador não é a mente, mas, a emoção. Surgida a partir de uma perda que não é somente dos parentes de Carlos de Lima, mas, também minha, dos amigos do historiador, que era um poeta incorrigível na vida e nas palavras, uma perda para a cidade, para o Maranhão, para o país. Há alguns anos atrás, quando entrevistei Cristóvam Buarque sobre o seu livro "O Colapso da Modernidade Brasileira", ele me disse que quando se perde uma espécie no planeta ficamos mais pobres. Imaginemos então quando o planeta perde um homem, e procure-se imaginar a envergadura dessa perda quando esse homem possui a estatura moral, intelectual e humana de um ser ímpar como Carlos de Lima. Sim, estamos mais pobres. Bem mais pobres nesta terra já tão minguada de homens de valor. Conheci seu Carlos através de dois dos filhos dele, Pablito e Fábio, amigos de infância, cúmplices das peladas nas ruas do Apeadouro, do Chuta Lata, das lanceadas de papagaios, das guerras de baladeira municiadas por sementes de mamona, dentre outras
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brincadeiras mais saudáveis. Eu tinha, nessa época, uns dez anos de idade, mais ou menos. A nossa turma era grande, Ivar e Júnior Saldanha, Marcos Itapary, Nélson Rego, Lucídio Santos, Tadeu, Tonho e Luís Cunha Lima, João Carlos, o Joca, Canela, Rui Mendonça, o Fuinha, Sérgio Sombra, Gustavo Marques, muita gente boa e amiga. Com o passar dos anos, o nosso ponto de encontro passou a ser a casa de seu Carlos e de dona Zelinda Lima, que foram, literalmente, nossos segundos pais. Ali, na casa do Apeadouro, esquina com a rua Astolfo Marques, também moravam Álvaro, Danúzio e Débora, a filha caçula, irmãos de Pablito e Fábio. Naquela casa sempre fomos acolhidos com carinho, atenção e respeito. Mais tarde, depois da mudança de seu Carlos para o Olho D'água, a casa foi transformada na escola Colméia, gerenciada pela filha Débora. Naquela casa, amigos de seu Carlos, como Jorge Amado e Zélia Gatai, que sempre freqüentavam o ambiente quando vinham a São Luís, Reinaldo Faray, dentre tantos outros artistas, fizeram parte do nosso cotidiano ao longo dos anos. Em maio e junho, grupos de Bumba-Boi faziam apresentações em frente à casa, e éramos expectadores privilegiados. Nesse ambiente foi crescendo em mim o gosto pela arte e pela cultura dita popular. No entanto, o aprendizado maior, ali, foi uma grande lição de humildade, simplicidade, respeito, carinho, compreensão com que todos os amigos dos seus filhos, inclusive eu, sempre fomos tratados. Esse aprendizado não se encontra nos livros, amigos. Dias felizes. Sim, é impossível não ser passional. Em todos esses anos, sinceramente, nunca vi seu Carlos zangado, mesmo nos momentos em que ficava sério, austero, impondo a sua autoridade paterna, que era extensiva a todos nós, adolescentes e deliciosamente irresponsáveis, parecia que no fundo ele estava apenas nos testando, curtindo um pouco com a nossa cara. Sim pois seu Carlos era um gozador. Lembro-me de muitos momentos em que isso vinha á tona, quando, por exemplo, assistíamos em sua casa aos jogos do Flamengo, filando, de vez em quando, uma cervejinha. As piadas faziam parte do espetáculo. Numa ocasião, ele me perguntou, com a maior seriedade: "seu Paulo, o senhor viu com que cor pintaram a fachada da igreja de Santo Antônio?" (mostarda). Ainda não, seu Carlos, eu respondia. E ele vinha com a pilhéria: "cor de merda". Era sempre uma gargalhada. Noutra ocasião, fez uma argumentação que ainda hoje é atualíssima, argumentação que não será ouvida por nossos gestores públicos, surdos como portas encardidas: "Os camelôs e os hippies não deixam mais a gente andar pelas calçadas e, quando reclamamos, dizem que o espaço é público. Justamente por ser público é que eles não deveriam loteá-los". Precisão cirúrgica. Seu Carlos fez o prefácio de meu primeiro texto publicado: "Rua Grande - um Passeio no Tempo", livro organizado e publicado pelo arquiteto Gustavo Marques, amigo de infância do Apeadouro, gente da nossa turma. Ele se dispôs, já com mais de 70 anos, a caminhar durante uma tarde inteira comigo pela Rua Grande, contando-me a história da rua, da sua Rua Grande. Falou-me da casa onde funcionava o Casino Maranhense, da Turma do Sereno, da qual fazia parte, falou-me da sua juventude como carnavalesco, do Cine Éden e seus bailes, foi um belo passeio no tempo. Nas questões sobre História do Maranhão, sempre foi para mim um orientador de primeira linha, da mesma forma como abordou de forma magistral a Festa do Divino Espírito Santo, em Alcântara, fazendo-me apaixonar não somente pela cidade, mas também pelas belas e animadas festas que anima na velha Tapuitapera.
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Seu Carlos deixou obra expressiva, muitos falarão dela. No entanto, quero me reportar a apenas uma, que sempre me tocou de forma indelével: "Réquiem para um Menino", livro dedicado a seu filho morto precocemente, Leôncio Neto, o Netinho. Nele, seu Carlos chora a ausência do filho. Não somente por causa do livro, sempre senti essa morte do filho na fala de seu Carlos, nos seus olhos, na sua alma, na sua fala um pouco trêmula, em certos momentos. Também sofri uma perda parecida, um primo amigo de infância, quando ele tinha nove anos, de forma trágica, de tal maneira que, sem que ele soubesse, sempre estive solidário com a sua dor. O livro é tocante, poético: "por acaso um astro se enclausura,/e guarda-se no cofre um pensamento?/Engaiola-se a brisa/passageira,/sepulta-se o amor?... É a missa de réquiem para o meu filho. Boneco que fiz e Deus quebrou". Esse livro sempre me emocionou, em razão da pureza de alma que dele flui, naturalmente. E agora seu Carlos se vai, como um menino, nem parecia que estava morto quando fui vêlo pela última vez, segunda-feira passada, parecia que estava apenas dormindo, um menino de 91 anos. Irretocável. Talvez esta seja a palavra mais adequada, se é que existe alguma, para que se possa tentar realizar a captura da síntese da trajetória de vida de um homem como Carlos de Lima, personalidade iluminada, abençoado pelo dom da simplicidade, um espírito impagável, inapagável, alegre e permanentemente espirituoso. Pare ele, eu tiro o meu chapéu. Parafraseando o outro Carlos, o Drummond de Andrade: Vai, seu Carlos, continuar sendo anjo, na outra vida. E que Deus ilumine e conforte toda a sua família, e a todos nós, órfãos dessa insubstituível clareira de luz.
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CARLOS DE LIMA MEMÓRIAS. São Luís, 1996 Inédito, manuscrito enviado aos autores in “LICEU MARANHENSE – MEMÓRIA, PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Este trecho das “Memórias” de Carlos de Lima foi encaminhado aos autores quando estavam elaborando trabalho de resgate da história do “Liceu Maranhense – memória, pesquisa, documentação”, ainda inédito. O Prof. Carlos foi convidado a falar aos alunos do Liceu, em evento comemorativo a mais um ano de sua fundação, naquele ano de 1996. Estava escrevendo suas memórias... “O LICEU “Ingressei no Liceu Maranhense em 1933, após ter levado uma surra de mamãe por ter tirado a nota sete em Matemática, nas provas de exame de admissão. Hoje, num ‘jogo de azar’... com 3, entra-se na Universidade. “O velho colégio funcionava na Rua Direita, no prédio ainda existente, que ia da Rua da Estrela à Rua do Giz, atualmente dividido para abrigar a Secretaria de Administração e uma repartição da Agricultura. “Relembrando-o agora, vejo-me galgando os degraus de cantaria da entrada, ao lado de Mário de Moraes Rego, nós ambos protegendo as cabeças com os braços, sob as biscas e os cascudos dos alunos veteranos. “De seus Diretores, lembro-me de Mata Roma, Helvídio Martins, Dr. Cordeiro (Dr. Bundinha). “Mata Roma chamou-me, um dia, e me disse: ‘- Vamos receber a visita de uma delegação do Liceu de Teresina. Vais fazer o discurso de saudação’. Comecei a pensar no assunto, a coordenar idéias, a alinhavar frases. Mas nada escrevi. “No dia da tal visita, ao cruzar comigo no corredor, interpelou-me : ‘Está pronto?’ Fiz um gesto afirmativo com a cabeça. ‘ - Traga-o ao meu gabinete, quero lê-lo.’ Criando coragem, respondi ’- Não o tenho escrito, está na minha cabeça.’ - Pois, então, não vais falar nada! “Fiquei triste. Os colegas solidarizaram-se comigo e me incentivaram à desobediência. “Na hora da recepção, não esperei mais e... mandei brasa. Não me lembro do que disse, sei que fui muito aplaudido, principalmente pelos colegas revoltados. Decerto minhas palavras não mereciam tão vibrantes palmas, mas foi a expressão da uma rebeldia e eu, o seu porta-voz. O professor visitante veio cumprimentar-me, Mata Roma falou depois, saudando o professor chefe da embaixada.
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“Quando os visitantes se retiraram, Mata Roma veio ao meu encontro, abraçou-me e disse: ‘- Um belo discurso, parabéns. Estás suspenso por dois dias! “(Cabe uma explicação do porque da minha escolha para orador oficial daquela solenidade): “As provas de Português constavam de duas partes: dissertação, valendo 70 pontos, e gramática, os 30 restantes. Na prova caiu como tema de dissertação, o Forte da Ponta d’Areia. Fiquei frio. A parte de Gramática eu não sabia. (Nunca soube) e o forte eu só conhecia de longe, da amurada da Avenida Beira-mar. Nunca havia ido à Ponta d’Areia que só se atingia, naquele tempo, de barco, ou na lancha do ‘Chocolate’, um mulato gordo e bundudo, cujo defeito nas pernas obrigava-no a andar desengonçado como um boneco de mola. “E agora, José? Olhei em volta e não achei quem me socorresse na gramática. A dissertação... como ‘soprar’ uma página inteira, pelo menos? Durante muito tempo fiquei olhando para o teto, com o lápis na boca, à espera de um milagre. E ele aconteceu. De-repente, chegou-me a inspiração e comecei”’- Oh! velho epônimo dos campos, por que permaneces de pé quando os teus coévos já tombaram?!’ E por aí fui, arrimado na citação de Afonso Arinos, numa embromação de grande estilo que me valeu os 70 pontos inteiros! “Numa visita que nos fez outro professor do Pedro II, do Rio de janeiro, Mata Roma, após ler-lhe essa minha composição, mandou que eu ficasse de pé, e apresentou-me com estas palavras: ‘- Este é o autor, Carlos de Lima. Inteligente, mas vagabuuuuuundo! e encompridava o adjetivo para dar mais ênfase à esculhambação. “Não se deduza daqui que o Mata Roma fosse mau. Ao contrário, tinha um grande coração, nós o adorávamos e ele gostava de nós. Em três ou quatro domingos reuniunos no quintal da casa do Sr. Bandeira, na rua dos Afogados, com a rua das Flores (atual Sindicato dos Bancários) para, de picaretas e enxadas nas mãos, construirmos uma quadra de vôlei e basquetebol, com o material que ele conseguiu pedindo aos seus amigos comerciantes. E todos trabalhavam alegres e felizes para alegra o mestre! “Ali jogaram os times ‘Oito de Maio’, ‘Vera Cruz’, drible’ e outros mais, cujos nomes agora me escapam. Eu era muito ruim atleta e sempre mofava no banco de reservas, pois o técnico não tinha coragem de me escalar. Um dia, porém,. por premente necessidade, visto como os ‘cobras’ tinham sido eliminados por falhas, e como não havia mais ninguém, foi obrigado a me por na quadra. Por favor, acreditem, eu juro de pés juntos: perdíamos por um ponto, faltava pouco para acabar o jogo; no último minuto passaram-me a bola; lancei a ‘pedrada’ e ... fiz a cesta da vitória do ‘8 de maio’! “Eram craques desse tempo: Rubem Goulart, Paulino e José Carvalho, Gontran, Eurípedes Chaves, José Dourado e muitos outros.
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“No mirante dessa casa da rua dos Afogados deu-se um fato doloroso: um filho do Dr. Fontenele, Chefe de Polícia, matou, acidentalmente, com um tiro, o colega do Liceu, filho do Sr. bandeira; examinava o revólver, ou brincava com ele, quando a arma disparou mortalmente o amigo. “Foram meus colegas de Liceu, entre outros, José Chagas (não confundir com o poeta), Bernardino..., Celso Figueiredo (Banco do Brasil), Tácito Barreiros Martins (Banco do Brasil), Tasso Vieira, João Duailibe (engenheiro), Lisle Novais, Listênia Taboada, Celeste Vieira, Danúzio e Franklin da Costa, Colbert..., José Borgnhet (Nada a ver com o político), Ivar Madureira (médico), Elci Freitas, Paulo Castelo Branco, Alexandre Costa (senador), José Figueira (Não é o desembargador), por apelido ‘Carioca’, Pedro Ferreira, Jomar Roland Braga, Agderson Carvalho, Jorge Mota, Mário Rego, etc., etc. “José Chagas era um preto alto, sempre risonho, irmão do motorista de praça muito popular chamado ‘Vareta’. Nossa professora de Geografia era D. Zoé Cerveira, uma mulata enorme e meio estrábica. Severíssima. Nesse tempo faziam-se duas provas parciais por ano e algumas argüições para notas mensais. Essas provas mensais eram sempre corrigidas em aula. Numa dessas correções, D. Zoé mostrou uma prova, pedindo que se identificasse o autor. Como mostrasse uma fisionomia alegre e acolhedora, o que era raro nela, o Zé Chagas, esperançoso de uma boa nota, apresentou-se. E D. Zoé, dirigindo-se à turma: ‘- Vejam o que esse imbecil escreveu: Os relevos da Europa como vêm no capítulo anterior... ’ Tudo copiado timtim por timtim do livro de Aroldo de Azevedo! “Mata Roma ensinava Português. Certo dia, discorria sobre as vantagens de recente reforma da língua, elogiando as novas regras que permitiam acentuar qualquer palavra, mesmo sem saber o significado dela. Lá atrás, o Adgerson Carvalho, péssimo aluno, rei da molecagem, ergueu a mão: ‘- Fale, disse o mestre.’. E ele, muito sério: ‘Professor, por obséquio, acentue esta palavra: bolololocofto.’. ‘- Acentuo já, meu besta,’ e , abrindo a caderneta, pespegou-lhe um redondo zero e expulsou-o da sala. “De todos os companheiros ao que mais me ligava era o Danúzio Franklin de Oliveira Costa, o ‘Fenômeno’, irmão do grande ensaísta Franklin de Oliveira. De estatura meã, forte e feio, a cabeçorra valeu-lhe o apelido. Era calado, arredio, triste, e não sei se foi isso que nos aproximou. Gostávamos muito um do outro, eu lhe frequentava a casa, um sobrado, na ladeira da rua das Barrocas (Isaac Martins). Todas as vezes que nos encontrava, sempre juntos, sentenciava Mata Roma: ‘- Assinus assinum fricat, e traduzia: um burro coça o outro! “Uma única vez, em toda a minha vida, fui reprovado: no 4o. ano do ginásio e em Latim. Fui estudar nas férias com minha prima Marília, aluna distinta do “Santa Teresa’, para prestar exame de segunda época com o mesmo professor Arimatéa Cisne. “Por falar nele, vale a pena descrever-lhe a figura e o caráter: era alto, vermelho, gordo, o bigode cobrindo-lhe inteiramente a boca, a roupa sempre amarrotada, os bolsos cheios sei de quê, as pontas dos dedos escuras de nicotina, pois, além de fumar exageradamente, acendendo um cigarro no outro, chupava a bagana até não, poder
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segurá-la sem se queimar. Fora padre, tinha um simplicidade, uma candura, que beiravam a puerilidade, destes tipos desligados para quem tudo está bem. Não tolerava burrice. Contou-me o ‘Zé Careca’ (José Araújo, conselheiro do TCE) que, numa argüição de Matemática, o velho Arimatéa apertava-o, passando no quadro negro carroções, equações, que ele não conseguia resolver. Perguntou-lhe o professor, afinal, o que sabia? Respondeu o José: ‘- Eu só sei cousas difíceis, logaritmos, cálculo integral, etc.’ O velho mandou chamar a mulher: ‘- Iaiá, manda para cá todos os alunos que estiveram na casa (‘Colégio Cisne’, na rua de São João (13 de maio). Com a presença de todos, declarou: ‘Vocês estão diante de um gênio (e apontava o Zé Araújo), este homem sabe tudo, sabe mais do que eu, do que todo mundo! Não pode permanecer nesta escola. Dá baixa nele agora.’ Disse-me o Zé que só consentiu na sua permanência no Colégio Cisne por intervenção de uma pessoa muito importante, muito amiga de seu pai e do velho Arimatéa. “Aula de Latim: ‘- Seu Paulo (Paulo Castelo Branco, ou Paulo Pupupu, porque era gago), decline Ora orae. Paulo dizia apenas o começo das palavras deixando incompreensíveis as terminações, pois a verdade é que não sabia a declinação. Arimatéa não gostou daquela burla, mandou que repetisse. Ele gaguejou e repetiu sem melhor resultado. Arimatéa: ‘- Diga de novo’, ordenou, com a mão em concha no ouvido. ‘- Qui, qui, qui eu já disse e não di, di, digo mais! “De outra feita, ensinava Português, voz passiva e voz ativa. ‘- Eu comi a galinha. Passe para a voz ativa, seu Paulo. ‘- A ga, ga, galinha me, me, comeu!’ ‘- Meu filho, tu não lascas, tu não lascas mesmo nada!, respondeu o Arimatéa, esfregando a palma da mão direita no dorso da esquerda. “Ainda a propósito, certa vez fui companheiro do velho mestre numa viagem a Ribamar [São José de Ribamar], no tempo das ‘lotações’, pequenas e muito desconfortáveis caminhonetes, que antecederam os ônibus. Viagem enjoada, demorada, com muitos ‘pregos’. Os radiadores antigos eram expostos e o do nosso carro tinha como rolha um pedaço de buriti mal talhada, que deixava escapar, a cada solavanco, na estrada esburacada, uma porção de água quente que vinha sobre nós pela abertura larga, outrora, houvera um pára-brisa. O chofer era um velho mal vestido, com uns óculos remendados com papel e barbante, um pobre coitado que tirava o sustento da família a ir e vir, todos os dias, naquele calhambeque. As reclamações eram muito grosseiras, a que ele, pacientemente, fazia ouvidos de mercador. O professor Arimatéa permanecia silencioso, alheio a todos aqueles percalços, chupando pachorrentamente, seu cigarrinho. À chegada, depois de horas e horas de percurso, todos os passageiros profundamente irritados, intimamente só desejavam bater no velho. O Arimatéa foi o primeiro a descer. Apertou a mão do motorista, abraçou-o carinhosamente e disse: ‘Meu amigo, muito obrigado. Foi uma viagem excelente, muito obrigado !’. Depois disto ninguém teve coragem de dizer alguma coisa. “Outros professores do Liceu eram Milton Paraíso (Física), Jerônimo Viveiros (que me ensinou a gostar de História), Mário Soares (responsável por eu detestar Matemática até hoje) Flor de Lis Vieira Nina (História), Amaral de Matos (irmão do médico), professor de Matemática, Nascimento de Moraes (Geografia). Cometa compareceu uma única vez no semestre, para fazer prova. Chegou e perguntou: ‘- Qual é a matéria
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dada? ’. ‘-Professor, informamos, esta é a primeira aula! ’. ’- Então escrevam: dissertação: Fascismo e comunismo.’. A prova era de Geografia! O professor Braga ensinava inglês (Diziam os entendidos que não sabia inglês), mademoiselle Mariah, francês, Vicente maia (inglês), Escrevia nos jornais muitos versos nesta língua), Maria Mendes (francês), Luís Gonzaga dos Reis (química). “Contava-se deste mestre a seguinte anedota: Gordo, corado e calvo (muito parecido com o comentarista esportivo Luis Mendes), sempre de terno branco, tinha um estranho sestro em três tempos: 1o.) um aperto com os cotovelos nas ilhargas, os braços dobrados como quem vai fazer cooper; 2o.) sungava, então, as calças com o auxílio da parte interna dos pulsos, à altura da cintura; 3o.) finalmente empalmava a genitália e dava-lhe um súbito puxão para cima. Uma vez, descrevendo a alambique, disse que se compunha de corcúbita, e comprimia a costelas, capitel (deu um aperto na cintura) e serpentina, no momento exato em que repuxava os ovos. “Foi no Liceu que conheci José Erasmo Dias, mais adiantado do que eu, inteligência brilhante, para quem todo mundo previa um futuro extraordinário. Infelizmente deixouse vencer pela bebida... Fez muito, escreveu, discursou, foi deputado estadual; poderia, porém, chegar às culminâncias e não chegou. “O recreio fazia-se no pátio interno, onde briguei pela primeira vez. Conto: Nesse pátio jogava-se futebol com bolas de papel, pedras, apagadores de lousa, pedaços de pau, o que fosse. Os jogadores, em grande número, chocavam-se uns com os outros, chutava-se a esmo, para qualquer lado, apenas para gastar energias. Num desses lances, o pedaço de pau que chutei subiu demais e acertou a boca do Bernardino, um caboclo do interior, forte e zangado, que partiu para agredir-me. Instintivamente, em puro reflexo, dei-lhe um soco em cada olho, antes que pudesse atingir-me. Surpreso com a reação daquele fedelho magro, ele ficou por instantes meio atordoado, esfregando os olhos, enquanto os colegas entreviam e cobriam minha retirada para a sala de aula. Ele, porém, jurou-me, desafiou-me durante toda a semana, chamando-me covarde. Por mais que lhe pedisse desculpas, com este meu espírito cordato, explicando-lhe que tudo não passara de um acidente, que minha raiva momentânea se desfizera e não havia motivo para levar o desentendimento adiante, ele queria brigar. Afinal, convenceu-se e ficamos amigos e a última vez que o vi, já maduro, nos abraçamos, mas sem lembrar o ocorrido. “Lembro-me com saudade de muitos companheiros, como João Duailibe, hoje engenheiro, em São Paulo (irmão de Alfredo, Antonio e Alberto) cantando óperas, a plenos pulmões, em dueto com Tasso Vieira, este como soprano, aquele fazendo de tenor. “Os bedéis do Liceu eram Nerval Lebre Santiago, o Cunha e o Euclides, por apelido ‘Bentivi’, autor dos seguintes versos, estampados na porta do sanitário: “Jesus, Maria, José,/ santo Deus, quem nos acode?/ Helvídio Maia Martins/ a paciência nos fode/ é pior do que alastrim ceifando culhão de bode’, alusão à naturalidade piauiense do Diretor. Todos sabíamos de quem era a autoria, mas ninguém abriu o bico para denunciar o poeta.
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“Estes eram o Liceu e os colegas de meu tempo. Belo colégio, bons amigos, por onde andarão? Muitos, decerto, já se foram; de outros perdi o contato ... assim é a vida. Há anos, encontrei, casualmente, o Ivar Madureira, velho, grande cirurgião, no Hospital Moncorvo Filho, no Rio de janeiro. Alexandre Costa é senador da República e vem se recuperando de uma trombose. “Outro episódio ressurge do passado. No largo do Carmo, na esquina da Rua do Egito, havia o bar ‘Excelsior’, dos irmãos Lobão, dois velhos gordos e sanguíneos, um dos quais tinha um belo calombo sobre a têmpora direita, do tamanho de um limão grande. Era um estabelecimento chique, amplo, com três portas para a praça e outras tantas laterais. A rua do Egito era estreita e para alargá-la demoliram o bar e a ‘Farmácia Jesus’ e ergueram, na metade do espaço, o prédio modernoso da Caixa Econômica. Nós, eu e o inseparável Danízuo, costumávamos gritar: ‘- Bicho Feio’ para o motorneiro do bonde ‘Gonçalves Dias’, quando ele fazia parada defronte do bar. Gritávamos e saíamos correndo, escapulindo pela porta lateral, perseguidos pelo ofendido, que, no entanto, era obrigado a voltar ao seu posto, frustrado. Certo dia, lanchávamos, despreocupadamente, caldo de cana e ‘engasga-gato’ (um bolo, espécie de manuê), quando vimos, aterrados, o ‘Bicho Feio’ interditando a única porta da garapeira, que ficava na rua de Nazaré, ao lado da ‘Casa Ribamar’, especialista em instrumentos musicais e de propriedade do Sr. Almeida, pai do radialista Marcos Vinicius, espaço hoje ocupado pelo Banco Nacional. Gelamos, os dois e, sem qualquer combinação prévia, pusemos os copos sobre o balcão e desabamos para a rua, conforme nos permitia o corredor estreito entre o balcão e a parede. Ele não conseguiu agarrar-nos, mas, na passagem, deu violentos murros em nossas cabeças e costas. “De outra vez, participei de nova molecagem, no largo dos Remédios. Festa de Nossa Senhora dos Remédios, no mês de outubro, que João Lisboa imortalizou e eu ainda alcancei bela e animada, com muitas barracas de comes-e-bebes, de sortes, de leilões, multidão de povo passeando, após a reza, enquanto muitos ficavam apenas apreciando o movimento, sentados nas cadeiras que o pai de Jaime Souza, o velho ‘Cu Suado’ colocava na calçada, desde a casa das Arches da Silva até a porta da igreja. Eram duas filas longas, as cadeiras amarradas umas às outras. Nessa noite, sobraram alguns metros de corda, que ficaram emboladas, no chão. No prédio junto à Escola Normal (atual sede da Reitora da UFMA), morava o português Joaquim Braga, cuja filha era noiva do Dr. Antônio Pires ferreira, médico maranhense, recém-chegado à cidade. Todas as noites ele visitava a noiva e deixava a ‘baratinha’branca, conversível, cujo pneu socorro ficava exposto na tampa da mala, estacionada à porta. Não sei de quem foi a idéia, se do Adgerson, do Franklin (‘Mata Virgem’), do Danúzio, do Mário Rego (‘Carrapatinho’), do Jorge Mota (‘Cara Cagada’). O certo é que eu fazia parte do grupo que formou uma parede junto ao automóvel para esconder o incumbido de amarrar a ponta da corda no estepe da ‘barata’. Aí fomos para a praça defronte para esperar o resultado. Quando o Pires Ferreira despediu-se da noiva e deu partida, as cadeiras saíram arrastadas pela rua, uma fila após a outra, enquanto o Souza corria atrás, desesperado, a barriga volumosa atrapelando as pernas curtinhas, as abas do paletó aberta ao vento, gritando-lhe que parasse. Foi um Deus nos acuda, alguns pouco que ainda estavam sentados foram ao chão, felizmente sem maiores consequências, dado o adiantado da hora, de reduzida frequência.
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“E foi nesse meu tempo de Liceu que conheci uma menina, aluna do Colégio Santa Teresa, que seria, pouco depois, a grande paixão de minha adolescência. O engraçado é que comecei a namorar uma sua amiga, a Naná (Natália), bonita, comunicativa, e que viria a casar-se com o jornalista e político Neiva Moreira, e acabei enfeitiçado por Benzinho Mota. Mas esta já é outra estória.”.
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TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 40 […] ladies and gentlemen, let me introduce you to…Tarracá. It was used by a Vale Tudo fighter who called himself “Rei Zulu” in the early 80´s here in Brazil; he kicked (better yet, throwed around) quite a few asses before getting tapped out by Rickson in 1984 www.bullshido.net
RESUMO Busca-se a origem do estilo de luta “Tarracá”, supostamente criado pelo lutador de Vale-Tudo (MMA) maranhense Rei Zulu - Casimiro de Nascimento Martins – e questão de pesquisa de Mayrhon José Abrantes Farias, do GEPPEF-UFMA, a quem fiz as anotações a seguir. Rei Zulú, por não ‘pertencer’ a uma escola do então Vale Tudo, ‘inventa’ a tradição de luta aprendida dos índios, TARRACÁ – atarracar, ou atarracado – que vai se constituir em um estilo - maranhense – disseminado tanto por ele, Zulu, em suas investidas no mundo da luta livre pelo mundo afora, como por seu filho Zuluzinho, quando coloca que seu estilo fora criado por seu pai – quem o treinava - e se chamaria ‘Tarracá’, de tradição indígena e negra, maranhense. Palavras-chave: MMA; ESTILO DE LUTA; TARRACÁ; MARANHÃO; REI ZULU
INTRODUÇÃO – ou Justificativa da pesquisa Vez por outra recebo pedido de ajuda de colega da Educação Física que está buscando material para iniciar trabalho de pesquisa, para elaboração de monografia de graduação, de especialização, dissertação de mestrado e, mesmo, tese de doutorado. Jamais me recuso em ajudar naquilo que posso. Geralmente, o pedido parte de indicação de algum professor. Torno-me fonte da História/Memória da Educação Física, dos Esportes e do Lazer, no/do Maranhão. Mas de vez em quando chega pedido que não posso atender; o que me leva a empreender algum tipo de investigação. Acabo fazendo uma pesquisa paralela. Nessas vezes, o solicitante acaba dando informações sobre o tema que pretende desenvolver. Aparece, então, um fato novo, que precisa ser investigado. Agradeço ao Mayrhon José Abrantes Farias do GEPPEF-UFMA- Grupo de Estudos e Pesquisas Pedagógicas em Educação Física a “dica”: “Caro Professor Leopoldo, [...] Sou recém formado em Educação Física pela UFMA, sou aluno do professor Emilio [Moreira] no Judô a longas datas, e batendo um papo recentemente com ele e através de recomendações de professor Paulinho da Trindade e professor Laercio [Elias Pereira] cheguei até o senhor.
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Já fiz algumas leituras de textos seus referentes à Capoeira no Maranhão e outros na disciplina de História da Educação Física. Com certeza o senhor pode me ajudar. Durante algum tempo venho interessado em estudar e investigar sobre o TARRACÁ, aparentemente uma luta praticada na baixada que foi “popularizada” pelo Rei Zulú. O Sr. já ouviu falar a respeito? Em um módulo de lutas com o professor James Adler recordo que ele abordou algo superficial sobre essa luta. Em uma de minhas espiadas online fiz a busca do termo e sempre é direcionado ao Rei Zulú. Fala-se que é uma luta indígena praticada em comunidades ribeirinhas. Amigos meus de Pinheiro já confirmaram a existência do tarracá enquanto uma manifestação lúdica, uma brincadeira comum entre pescadores da região. Estou louco para ir até lá e investigar e tentar a posteriori compor um projeto de mestrado referente à temática. Venho através deste e-mail solicitar ajuda ou dar um grito de SOCORRO para iniciar minhas empreitadas em campo. Algumas leituras com a antropologia e a etnografia se façam necessárias. O senhor tem conhecimento de algo a respeito de produções ou pistas para se investigar o tarracá? Caso tenha ficarei grato pela ajuda. Um forte abraço e desde já agradeço. “
O que é o TARRACÁ? Não sei! Nunca ouvira falar, até agora! Mas remeti a questão a alguns Mestres Capoeiras - Mestre Marco Aurélio Haickel, Baé, Mizinho que certamente darão alguma notícia. Marco Aurélio certamente vai investigar, também, junto ao Mestre Patinho, Mestre Nelsinho, Mestre Índio do Maranhão – apenas citando alguns – que poderão dar notícias do Tarracá. O que se sabe? Apenas aquilo que o Prof. Mayrhon coloca, em sua mensagem: 1. uma luta indígena praticada em comunidades ribeirinhas. 2. uma manifestação lúdica, uma brincadeira comum entre pescadores da região (Baixada) 3. luta praticada na Baixada que foi “popularizada” pelo Rei Zulú. Temos um ponto de partida! MMA (Mixed martial arts - artes marciais mistas), O REI ZULÚ E SEU ESTILO DE LUTA – O ‘TARRACÁ’ Buscar o que seja – ou qual a origem - do “Tarracá”, e partindo da referência ao Rei Zulú, leva-nos ao moderno movimento das lutas corporais, hoje corporoficadas na sigla MMA – as artes marciais misturadas modernas com suas raizes em dois acontecimentos: o vale-tudo no Brasil, e o “shoot wrestling” japonês. O Vale-Tudo é uma modalidade de combate sem armas, onde os lutadores utilizam apenas os seus corpos para ferir e possui com isso, poucas regras, o suficiente para preservar a integridade física dos lutadores, bastante amplo em termos técnicotáctico com um sistema muito próprio de preparação e desenvolvimento bastante complexo devido à exigência das lutas. É uma modalidade de luta com contacto pleno (full contact) em que os adversários nem sempre precisam seguir um único estilo de arte
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marcial. Essa modalidade foi muito difundida no Brasil, inicialmente pelos irmãos Gracie. O evento que mais difundiu a modalidade foi o Ultimate Fighting Championship – UFC -, que em seus primórdios havia menos regras e restrições, além de haver várias lutas na mesma noite, sem limite de tempo1: O vale-tudo começou na terceira década do século XX, quando Carlos 2 3 Gracie , um dos fundadores da luta marcial brasileira Gracie Jiu-Jitsu , convidou cada competidor de modalidades de luta diferentes. Isso era chamado de "Desafio do Gracie". Mais tarde, Hélio Gracie e a família Gracie 4 e principalmente, Rickson Gracie , mantiveram este desafio que passaram a 5 se dar como duelos de Vale Tudo sem a presença da mídia.
Rickson Gracie http://pt.wikipedia.org/wiki/Rickson_Gracie
Rorion Gracie
1
Carlson Gracie
Helio Gracie
Família Gracie
In http://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_tudo 2 Carlos Gracie (Belém, 14 de setembro de 1902 - 7 de outubro de 1994) foi um mestre do Jiu-Jitsu no Brasil. Filho de Gastão Gracie e aluno de Mitsuyo Maeda, ele é considerado o criador do sistema de luta marcial brasileira Brazilian Gracie Jiu-Jitsu (BJJ) e o precursor de todos os lutadores que tornaram a família Gracie mundialmente famosa. Seu aluno mais famoso é o irmão mais jovem, Hélio Gracie. (In http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Gracie) 3 Jiu-jitsu brasileiro ou Gracie jiu-jitsu - é uma luta marcial brasileira e estilo de jiu-jitsu desenvolvido pela família Gracie, que tornou-se a forma desse esporte mais praticada no mundo. 4 Rickson Gracie (Rio de Janeiro, 20/11/1958) é um artista marcial praticante do Jiu-Jitsu Gracie (ou JiuJitsu Brasileiro) e ex-lutador de MMA e vale-tudo. Atualmente mora nos Estados Unidos e é conhecido mundialmente. Possui 487 lutas entre desafios de Vale tudo, MMA, Torneios de Jiu-Jitsu, Sambô e Luta livre, e afirma ter vencido todas por finalização. (in http://pt.wikipedia.org/wiki/Rickson_Gracie) 5 in http://pt.wikipedia.org/wiki/Artes_marciais_misturadas
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Segundo essa mesma fonte, no Japão, década de 80, Antonio Inoki organizou uma série de lutas de artes marciais misturadas – o “shootwrestling”, com a formação de uma das primeiras organizações japonesas de artes marciais misturadas conhecida como “shooto” 6 A partir de 1993, Rorion Gracie7 e outros sócios criaram o primeiro torneio de UFC, quando as artes marciais misturadas obtiveram grande popularidade nos Estados Unidos. Os japoneses, em 1994, criam o “Free Style Japan Championship” ou “Open Free Style Japan” em 1994. Rickson Gracie - um grande lutador de Vale Tudo do Brasil na década de 1970 e 1980, e que fazia lutas em MMA no Open Japan, vencendo as duas primeiras edições (1995 e 1995); luta também nas Primeiras edições do “PRIDE Fighting Championships”. O UFC passou a ficar em baixa, perdendo valor e sendo proibido em vários estados dos Estados Unidos. Em 2001, os empresários Dana White, Lorenzo e Frank Fertitta compraam o UFC, fundando uma empresa chamada Zuffa. Após várias mudanças nas regras conseguiram legalizar o esporte em praticamente todos os estados americanos. Em 2007 o UFC compra o Pride, levando vários atletas do Japão para os EUA e tranformando o UFC na maior organização de MMA do planeta. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Artes_marciais_misturadas).
http://www.bullshido.net/
WingChun Lawyer 8 se posiciona, em sítio dedicado ao MMA:
6 In http://pt.wikipedia.org/wiki/Artes_marciais_misturadas 7 Rorion Gracie é um praticante de artes marciais brasileiro. É o filho mais velho de Hélio Gracie. Rorion é uma das poucas pessoas do mundo a deter o grau 9, ou seja, a faixa vermelha do Jiu-jitsu brasileiro. Rorion recebeu essa promoção de seu pai em 27 de outubro de 2003. Foi um dos fundadores do Ultimate Fighting Championship. Tendo como base os combates de gladiadores, desenhou o octógono do UFC. É o criador e proprietário da Academia Gracie em Torrance, Califórnia. Ele mora nos Estados Unidos desde a década de 1970 onde, inicialmente dava aulas de jiu-jítsu na garagem de casa. (in http://pt.wikipedia.org/wiki/Rorion_Gracie) 8 In (http://www.bullshido.net/forums/showthread.php?t=51830&page=3 (grifos nossos)
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I am afraid I have no more hard data on Zulu. He fought basically relying on his impressive strength, and I was told he managed to throw Rickson out of the ring a couple of times before being submitted.[…] Mainly what I find online are posts on messageboards with no more useful or reliable information, either in english or in portuguese. I thought this was an interesting subject because, well, it DOES seem like Tarracá was created from scratch – Rei Zulu´s boxing skills are really weird, his moves are strange, and it does look rough - although some of his throws would make many a judoka envious. […] I only know he claims to have created Tarracá from scratch because I found a very short interview on a blogspot, apparently he still 9 fights and runs a gym where he teaches Tarracá.
Rei Zulu ficou famoso por desafiar lutadores do Brasil e de outras partes do mundo. Após 17 anos de competição estava invicto após 150 lutas (década de 1980). Rei Zulu lançou um desafio à família Gracie para ver quem era o melhor lutador de Vale Tudo de toda a nação. Em entrevista - antes da primeira luta contra Rickson Gracie (1980) -, disse que “seria mais um freguês de pancada e que não se preocupava com a alimentação antes da luta, pois “comia até ferro derretido”. Rei Zulu é considerado por Rickson Gracie o mais difícil oponente com quem já lutou: [...] nos anos 80, Rickson travou cerca de 231 combates (nacionais e internacionais), e afirma ter sagrado-se vencedor em todos por finalização. No Brasil, a rivalidade entre o Jiu-Jitsu e a Luta Livre era tamanha, que houve a necessidade de se provar ao público, qual arte marcial e lutador era superior, assim, foi organizada uma luta entre Rickson e o temido Rei Zulu, com isso, após Rickson Gracie vencer por duas vezes o grande Rei Zulu (que estava no auge e há 150 lutas invicto), nunca mais teve desafiantes a altura enquanto lutou.( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rickson_Gracie)
REI ZULU X RICKSON GRACIE 9
Eu tenho medo que eu tenho não mais dados concretos sobre Zulu. Ele lutou basicamente depender de sua força impressionante, e foi-me dito que ele conseguiu lançar Rickson fora do ringue um par de vezes antes de serem apresentados. Principalmente o que eu encontrar on-line são posts no fórum com informações úteis ou não mais confiáveis, em inglês ou em português. Eu pensei que era um assunto interessante porque, bem, ele parece que Tarracá foi criado do zero - Rei Zulu´s habilidades de boxe são realmente estranhas, seus movimentos são estranhos, e olhar áspero - embora alguns dos seus lances faria muitos uma judoca invejosos. Só sei he afirma ter criado Tarracá do zero porque eu achei uma entrevista muito curta sobre um blogspot, aparentemente ainda luta e executa um ginásio onde ele ensina Tarracá.
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Rei Zulú é a maior referencia do “Vale Tudo” no/do Maranhão. Nascido Casimiro de Nascimento Martins, em 09 de junho de 1947 é um lutador de ValeTudo: “criado em Pontal, no interior do Maranhão. Lá, aprendeu a Tarracá, luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região. Como seus 17 irmãos, nunca freqüentaram a escola. Cresceu forte e brincalhão. Aos 14 anos, mudou-se com a família para a Vila Ilusão (sic), na Ilha de São Luís.” (LAROCHE, 2010) 10 (grifos nossos).
O Rei Zulu11 tornou-se famoso também pelas caretas que faz enquanto luta. Ele diz que as caretas são para mostrar que está feliz por estar ali. Nunca freqüentou academias de musculação, mas desenvolveu um estilo de luta próprio, e realiza seu treinamento físico diariamente com pedras pesadas, pneus, marreta e diz não gostar de freqüentar academia, por isso treina no quintal de casa: empurrar paredes, lançar pedras com mais de 5 Kg a grandes distâncias, correr entre arbustos, levantar carroças com pedras e andar com uma corda no pescoço puxando dois pneus eram instrumentos utilizados em seu arcaico treinamento. Possuía uma força naturalmente descomunal.
http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140
É pai do também lutador Zuluzinho12. Em entrevista (Budo International, Blackbelt) Zuluzinho enumera seu jiu-jítsu (faixa-roxa) e Vale Tudo, afirma ter aprendido Tarracá com seu pai, responsável pelo método de treinamento utilizado pelo lutador em todos esses anos.
10
LAROCHE, Marília de. “Conheça Rei Zulu e Zuluzinho, os lutadores do Maranhão, disponível em http://www.divirtase.uai.com.br/html/sessao_13/2010/11/15/ficha_ragga_noticia/id_sessao=13&id_noticia=30972/ficha_r agga_noticia.shtml e em http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140
11
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rei_Zulu
12
Algumas lutas de Zuluzinho:
http://www.youtube.com/watch?v=2RZtRfylWqA; http://www.youtube.com/watch?v=twbmb_i5YNk
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Rei Zulu nunca praticou artes marciais, desenvolveu seu estilo próprio que se aproxima de brigas de ruas: Eu só sei que ele afirma ter criado Tarracá a partir do zero, porque eu encontrei uma entrevista muito curto em um blogspot, aparentemente, ele ainda luta e corre uma academia onde ensina Tarracá. (WingChun
Lawyer)13
Rei Zulu e seu filho Zuluzinho
Mauricio Kubrusly, em “Me leva Brasil” 14 entrevistou Rei Zulu em São Luis do Maranhão, onde reside: - Quem primeiro me treinou foi meu pai. E tem a prática com zorras, os pneus… é que no interior chama zorras. E ele conhecia também o tarracá, a luta dos índios.
13
14
http://www.bullshido.net/forums/showthread.php?t=51830&page=3 Kubrusly, Mauricio in
http://fantastico.globo.com/platb/melevabrasil/2008/04/08/zuluzinho-x-zuluzao/
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Marc Magapi15, em outra reportagem, descreve o ritual do Rei Zulú em suas lutas, como também informa ser seu pai o criador do estilo que “desenvolveu”: Rei Zulú (Eu como até ferro derretido) – Nascido em São Luiz, Maranhão, este folclórico lutador, é protagonista de inúmeras histórias por conta das décadas em que praticou o vale tudo (um cartel com mais de 250 lutas). Zulú entrava no ginásio, seguindo um ritual, que tinha início com uma volta olímpica, na qual saudava o público presente, sempre com o braço esquerdo estendido. Ao subir no ringue, o maranhense jogava-se no chão, rolava para o lado, dava cambalhotas, movimentava os ombros para frente e para trás e fazia inúmeras caretas. Zulú tinha a característica de zombar de seus adversários, acreditando sempre em sua força descomunal para vencê-los no momento que bem quisesse. Um autodidata do mundo das lutas, que sempre se disse representante do “Tarracá”; estilo criado por seu pai, que consistia basicamente em se “atracar” com o adversário, nunca teve aulas de jiu-jitsu, capoeira ou luta livre em uma academia.
Esse mesmo autor informa ter havido em São Luís do Maranhão uma “arena de lutas”, denominada de “Terreiro Tarracá”, no Bairro do João Paulo, onde era disputado um campeonato semanal de Vale Tudo, conforme se vê em “O encontro de Magapi com Rei Zulú” 16: 1997 São Luis - MA - tem uma faixa lá no João Paulo (bairro) chamando as pessoas para assistir o (pásmem!!!) semanal campeonato de vale tudo do Tarracá e dizendo que o Rei Zulú vai lutar movimentadas com uma média de 3 minutos para cada uma [...] nesse local tinha luta todo final de semana mesmo [...] Era um sábado, o local era escuro, a entrada era R$5,00 e no programa estavam confirmadas 6 lutas. O nome do local é Arena do Tarracá ou Baixada do Tarracá.
UMA TEORIA POSSÍVEL, UMA CLASSIFICAÇÃO, UMA IDENTIDADE... Tubino (2010, p. 20) 17 ao tratar da ‘origem do esporte’, refere-se aos estudos de Diem (1966) 18 para quem a história do esporte é íntima da cultura humana. Ela vem da natureza e da cultura humana (EPPENSTEINER, 1973) 19: “[...] a natureza e a cultura coexistem ao criar um ‘instinto esportivo’, que para ela é a resultante da combinação do lúdico, do movimento e da luta.” Tubino (2010) refere-se que as antigas civilizações já tinham atividades físicas/pré-esportivas em suas culturas, a maioria com características utilitárias, que desapareceram com o tempo; outras se transformaram em esportes autótonos, esportes considerados “puros”, que continuaram a ser praticados ao longo do tempo sem sofrer influência de outras culturas. Quando essas práticas permanecem, mas sofrem
15
MAGAPI, Marc. “Esses loucos lutadores e suas estranhas manias”disponível em http://www.fisiculturismo.com.br/forum2/viewtopic.php?t=27186 16 MAGAPI, Marc “O encontro de Magapi com Rei Zulú” disponível em http://magatown.br.tripod.com/antigas.htm; Ver também http://www.sherdog.net/forums/f2/closed-door-underground-fights-389143/ 17 TUBINO, Manoel José Gomes. ESTUDOS BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE – ênfase no esporteeducação. Maringá: Eduem, 2010 18 DIEM, Carl. História de los deportes. Barcelona: Corali, 1966 19 EPPENSTEINER, F. El origen Del deporte. In CITIUS, ALTIUS e FORTIUS. Madri, XV, p. 259-272, 1973
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modificações de outras culturas, geralmente de nações colonizadoras, passam a ser chamados de Esportes ou Jogos Tradicionais. Dentre as correntes esportivas contemporâneas (TUBINO, 2010, p. 54), encontramos, dentre outros, os Esportes Tradicionais, esportes consolidados pela prática durante muito tempo -; os Esportes das Artes Marciais – provenientes da Ásia, inicialmente praticadas militarmente pelos guerreiros feudais, e hoje práticas esportivas: jiu-jitsu, judô. Karatê, taekwondo; os Esportes de Identidade Cultural, que são aqueles com vinculação cultural: no Brasil, a Capoeira principalmente; são identificadas outras modalidades esportivas de criação nacional, de prática localizada nos seus ”lócus”, inclusive as indígenas: Uka-uka, Corrida de Toras, etc., sem preocupações de práticas por manifestação. (p. 56-57): As it happens with natural opponents, luta livre absorbed elements from jiujitsu as well, just as jiu-jitsu absorbed elements from luta livre in the process of becoming "BJJ". Many jiu-jitsu experts fought professionally in the prowrestling context. Among some of the fighting cultures present in the Brazilian context having some impact upon Brazilian luta livre, we may consider hukahuka wrestling (from the Amazonian indigenous people), marajoara wrestling (practiced on the sands of the Marajó Island), tarracá (practiced at Maranhão) and capoeiragem (especially from the tradition practiced in Rio de Janeiro). As some early experts came from the "Graeco-Roman" wrestling context, luta livre also received some of its influence. (Notes on the History
of Brazilian Luta Livre)20 (grifos nossos).
Wrestlers da Grécia Antiga
20
in http://www.facebook.com/topic.php?uid=136381899755284&topic=70 “Como acontece com os adversários naturais, Luta Livre elementos absorvidos do jiu-jitsu, assim, como jiu-jitsu elementos absorvidos luta livre no processo de tornar-se "Bjj". Muitos especialistas do jiu-jitsu lutaram profissionalmente no contexto pro-wrestling. Entre algumas das culturas de luta presentes no contexto brasileiro, tendo algum impacto sobre a luta livre brasileira, podemos considerar wrestling huka huka (dos povos indígenas amazônicos), marajoara wrestling (praticado nas areias da Ilha do Marajó), tarracá (praticado no Maranhão) e capoeiragem (especialmente a partir da tradição praticada no Rio de Janeiro). Enquanto alguns especialistas mais antigos vieram do "greco-romano" wrestling contexto, a luta livre também recebeu algumas de suas influências”
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Recorramos à Wikipédia21: “Wrestling” (lit. luta) é uma arte marcial que utiliza técnicas de agarramento como a luta em “clinch”, arremessos e derrubadas, chaves, pinos e outros golpes do “grappling”. Uma luta de “wrestling” é uma competição física entre dois (às vezes mais) competidores ou parceiros de “sparring”, que tentam ganhar e manter uma posição superior. Há uma grande variedade de estilos, com diferentes regras tanto nos estilos tradicionais históricos, quanto nos estilos modernos: Técnicas de wrestling foram incorporadas por outras artes marciais, bem como por sistemas militares de combate corpo-a-corpo. Como esporte, com exceção do atletismo, o wrestling é o esporte mais antigo de que se tem conhecimento, e que se pratica ininterruptamente ao longo dos séculos de maneira competitiva.
“Grappling” é o nome que se dá a uma técnica de imobilização, ou uma manobra evasiva, a qual se dá por meio do domínio do oponente. Forma de combate muito utilizada em táticas policiais e esportes de contato, como o “wrestling”. Federação Universal de Wrestling (Universal Wrestling Federation) – O movimento da UWF foi liderado pelos lutadores de ‘catch wrestling’ e originou o “boom” da MMA (artes marciais mistas) no Japão. O “catch wrestling” forma a base dos estilos de “wrestling” japonês como o “shoot wrestling” (que incorpora movimentos realistas, como pegadas de submissão, chutes de “kickboxing”, entre outros). O catch wrestling é um estilo tradicional de wrestling que tem várias origens, os mais famosos são os estilos tradicionais da Europa como “collar-andelbow“, wrestling de Lancashire ou “catch-as-catch-can”, submission wrestling, entre outros, além dos estilos asiáticos pehlwani e jujutsu.
“Wrestling” tradicional (em inglês: folk wrestling; lit. luta tradicional) é denominação geral de várias disciplinas de “wrestling” ligadas a um povo ou a uma cultura, que podem ou não ser codificados como um esporte moderno. A maioria das culturas humanas desenvolveu seu próprio tipo de estilo de “grappling”, único se comparado a outros estilos praticados. Enquanto diversos estilos na cultura ocidental podem ter suas raízes na Grécia Antiga, outros estilos, particularmente os da Ásia, foram desenvolvidos de forma independente. Uka-uka é um estilo de “wrestling” tradicional brasileiro dos povos indígenas do Xingu e dos índios Bakairi, de Mato Grosso. O uka-uka faz parte do Jogos dos Povos Indígenas como parte da modalidade luta corporal que é praticada como modalidade de demonstração. Encontramos, ainda, como um estilo de “wrestling tradicional transmontano” a Galhofa que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas. Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha.
21
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wrestling http://pt.wikipedia.org/wiki/Grappling http://pt.wikipedia.org/wiki/Wrestling#Catch_wrestling
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SENHORAS TARRACÁ.
E
SENHORES
PERMITAM-ME
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APRESENTAR-LHE…
[…] ladies and gentlemen, let me introduce you to…Tarracá. It was used by a Vale Tudo fighter who called himself “Rei Zulu” in the early 80´s here in Brazil; he kicked (better yet, throwed around) quite a few asses before getting tapped out by Rickson in 1984 (Senhoras e senhores, permitam-me apresentar-lhe… Tarracá. Ela foi usada por um lutador Vale Tudo que se autodenominava “Rei Zulu” no início dos anos 80 aqui no Brasil, ele chutou (melhor ainda, jogou cerca de) um grande bundas poucos antes de começar batido para fora por Rickson em 1984.)
in http://www.bullshido.net/forums/archive/index.php/t-51830.html Mestre Baé – da Federação de Capoeira22 – responde e informa sobre o “ATARRACAR” em correspondência eletrônica, Recebi seu Email, Com relação ao tema ATARRACAR; posso lhe adiantar o seguinte: desde criança tenho ouvido falar,assim como quase todos que também como eu sou da Baixada maranhense, grande parte da minha família é de Viana, Penalva, e Municípios vizinhos. Minha família sempre foi voltada para criação de gado e pescaria no interior, quando éramos crianças sempre a gente se atarracava um com o outro na beira do curral ou do rio e até no campo para ver quem era melhor de queda e isso porque a gente via os mais velhos fazerem também ,meus avós e tiso/avós falavam que isso sempre existiu o nome ATARRACAR e conhecido em vários interiores do Maranhão mas nunca ouvir dizer que era uma LUTA ou eu tenho lido algo afirmando ser luta, sempre foi o nome dado a forma de nos pegarmos para dar uma queda no outro em um corpo a corpo mais nunca foi denominado como luta até porque era baseada mais na força física e jeito de cada um pegar e arremessar o outro no chão através de uma queda.Luta pelo que eu tenho conhecimento possui técnica, bases, nomenclatura de movimentos, regras e etc..
Então, é uma tradição na Baixada, uma forma de movimento agonístico, em forma de luta, conforme Baé guarda em suas memórias. Este Mestre Capoeira não considera aquela brincadeira como luta, dado seu conhecimento da Capoeira, e sua sistematização. Em outra correspondência, recebida de Mestre Marco Aurélio, em que indaguei sobre a busca da origem do “TARRACÁ”, estilo de luta livre (hoje seria MMA) adotado pelo lutador maranhense Zuluzinho, que aprendera com seu pai, o Rei Zulú; Zulu, criado em Pontal, no interior do Maranhão, onde aprendera uma luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região: o Tarracá23: Quanto ao Atarracado, desconheço sua presença no centro-sul do Maranhão, apesar de poder haver, mas é uma prática muito comum no 22
Mestre Baé - FECAEMA – Federação de Capoeira do Estado do Maranhão. Mestre/Presidente do Grupo Candieiro de Capoeira Ver Orkut;Mestre Baé ou baecapoeira@hotmail.com 23
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In Blog do Leopoldo Vaz, disponível em: http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/22/em-busca-do-elo-perdido-historiamemoria-daeducacao-fisica-nodo-maranhao/
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centro-norte, pelo menos na região do Pindaré e na Baixada, nesta última, pelo que já ouvi de alguns capoeiras originários daquela região das águas falarem-me a respeito. No que diz respeito à sua presença na região do Pindaré é fato, pois eu mesmo a praticava bastante, tendo sido ao longo do tempo, na qualidade de menino, e aí vai até meus doze (12) anos, a base de tudo o que sabia nas minhas ”brigas de rua”. Apesar de ter nascido em São Luís, me criei, desde bebê, até os sete (07) anos de idade, na cidade de Pindaré-Mirim, outrora, Engenho Central, e em sua origem, Vila São Pedro. Como toda criança ribeirinha, as brincadeiras eram em torno do rio, dos lagos e igarapés, ou então nas várzeas, e aí, não faltavam os embates. Lembro-me que a minha afinidade com a prática era bastante estreita, talvez, por desde pequenino ter sido corpulento, de maneira que não era muito afeito à briga “corpo fora”, como se dizia, mas, mais no “atarracado“, ou “corpo dentro”, o que se dava a partir de uma cabeçada. A ponto de quando ousava me aventurar pelo “corpo fora”, na maioria das vezes saía perdendo… Foi na Capoeira, que fui aprender o embate, digamos, “corpo fora”, a partir da ginga, de peneirar… – por favor, deixo claro que “corpo fora” e “corpo dentro”, não é nem um tipo de modaliade de luta, mas somente para fins, talvez, de didática, consoante dizíamos no interior.
Quanto à origem do Atarracado – Tarracá -, Mestre Marco Aurélio diz: [...] não sei afirmar, se indígena ou africano, quiçá, até mesmo européia, nesta senda, somente pesquisando-se para buscar referências. Posso afirmar, no entanto, o que não quer dizer que a priori seja africana, é que tive oportunidade de ver, em um evento internacional de lutas de origem africana, em Salvador/BA, em 2005, quando levamos daqui, a “Punga dos 24 Homens” , uma prática que existe rasteiras e desequilibrantes, no tambor de crioula, um pessoal de Angola/África, apresentar a Bassúla, uma luta, a despeito de alguns golpes diferentes, muito semelhante ao Atarracado, pois imediatamente, quando vi os angolanos praticando-a, eu achei bastante parecida com o Atarracado, impressão esta, também denunciada pelo Mestre Alberto Eusamor, que lá estava comigo, assim como tantos outros, representando o Maranhão. No que diz respeito a uma influência indígena direta, e que é uma brincadeira da região do Pindaré e, acho, da região Norte como um todo, é o “Cangapé”, uma espécie de rabo de arraia e outros molejos que se pratica lançando-se para cima do contrário, na água.
Em outra mensagem eletrônica, Mestre Marco Aurélio acrescenta: Falei de como o atarracado tem semelhança com a Bassúla, luta de um país africano (Angola) e, no entanto, não me lembrei, na oportunidade, de falar de uma luta de origem indígena, o que se faz necessário, para ponderarmos, trata-se do Uka-Uka, um embate indígena, que consiste em fazer com que o contrário ponha um dos ombros no chão, hoje, ocorrente durante o “Quarup” um grande evento-cerimonial existente entre os povos do Alto-Xingú. Mas poderiam perguntar o que uma prática existente entre povos indígenas do Alto-Xingú tem a ver com uma prática ocorrente no Maranhão? Segundo 24
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Roberto da Mata, desculpem-me não dispor da referência bibliográfica, os povos Krahô e Xavante saíram em uma corrente migratória, a partir do Maranhão, para onde se encontram hoje, respectivamente, Tocantins e AltoXingú. Daí há de notar-se que o Maranhão em razão de ser banhado por inúmeras e grandes bacias hidrográficas era e é um celeiro de alimentos, o que deve ter sido berço de inúmeros povos indígenas, entre atuais, extintos e migrantes. Talvez, esse berçário, para os que possuem uma visão míope, e consideram que o maranhense tenha uma cultura ”preguiçosa” é por desconhecerem exatamente esse manancial de alimentos que é e, que outrora, tenha sido ainda mais.
Em resposta ao Mestre Marco Aurélio, coloquei que o Xavante é originário do Maranhão, forçado a migrar, indo para os lados do Tocantins, subiu o Araguaia, se estabelecendo na Ilha do Bananal, forçado pelas ‘guerras justas’ do período colonial. As frentes de penetração, mais modernas, têm forçado essas migrações. É um fato histórico. Sobre o Uka-uka, andando por esses interiores, fui encontrar em Carutapera o estilo ‘onça pintada’, introduzido na região por um mestre paraense – Mestre Zeca – baseado em luta de antiga tradição marajoara – o agarre marajoara; lembrando que muitas das nações indígenas que se estabeleceram na Ilha do Marajó foram ‘desterradas’ do Maranhão durante o período colonial; inclusive, há certa semelhança entre as cacarias encontradas nas estearias do lago Cajari com motivos marajoaras: Já retornei de Caratupera, região do Alto Turi, fronteira com o Pará… conversei com alguns capoeiras da área – Caratupera e Maracassumé – que estão ligados ao Pará, através do Mestre Zeca… não consegui informações, ainda, sobre a “capoeira carioca”, pois, muito jovens não conhecem a história da região. Turiaçu fica bem próximo de Carutapera, na mesma região do Turi. O grupo de Carutapera denomina-se ACANP – Associação Capoeira Arte Nossa Popular – fundada por Mestre Zeca, de Belém do Pará – Jose Maria de Matos Moraes (33 anos). A ACANP é filiado da Federação Paraense de Capoeira; o estilo praticado é o “Angola com Regional”, estando desenvolvendo, em Maracassumé, e introduzindo em Caratupera, o estilo desenvolvido pelo Mestre Zeca, que denominam de “Onça Pintada” – que seria uma fusão da Regional com o Agarre Marajoara. De acordo com Álvaro Adolpho, de Belém do Pará, ex-diretor do Departamento de Educação Física do Pará, o “Agarre Marajoara” é uma luta desenvolvida pelos índios da Ilha do Marajó – que guarda uma certa semelhança com o Uka-uka havendo registro de sua pratica ha mais de 300 anos. De acordo com o Prof. Álvaro, talvez seja a primeira luta-esporte com registro de sua pratica no 25 Brasil.
Além da correspondência do Marco Aurélio, recebo outra, do Javier, desde as Astúrias/Espanha, indicando um sítio, da Biblioteca da Federação Internacional de Capoeira – FICA, da qual é Presidente -, em que aparece uma luta semelhante à que o Rei Zulu e Zuluzinho praticam – o tal estilo Tarracá -, disponível em vídeo do link 25
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notícias do Maranhão in JORNAL DO CAPOEIRA – 05/06/2005 – disponível em - http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/capoeira+maranhao+agarre+marajoara
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anexo: E “Batuque duro” do Kalahari http://salavideofica.blogspot.com/2010/11/1930-c-ernest-cadlewild-men-ofkalahari.html
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-1930.
UMA CONCLUSÃO POSSÍVEL Rei Zulú, que praticava o que denominou de “tarracá” em sua infância, como atividade corriqueira, jogo/luta de sua infância, e dada suas características físicas, em um dado momento, ainda no quartel, vale-se de ambas – a forma de ‘luta’ e a força – para conquistar um espaço, que vem a se tornar uma profissão. Para justificar seu estilo peculiar – força bruta – e por não ‘pertencer’ a uma escola do então Vale Tudo, ‘inventa’ a tradição de luta aprendida dos índios, TARRACÁ – atarracar, segundo Baé, ou atarracado, segundo Marco Aurélio – que vai se constituir em um estilo - maranhense – disseminado tanto por Zulu, em suas investidas no mundo da luta livre pelo mundo afora, como por seu filho Zuluzinho, quando coloca que seu estilo fora criado por seu pai – quem o treinava - e se chamaria ‘Tarracá’, de tradição indígena e negra, maranhense… Aguardemos a continuidade da pesquisa, a ser feita pelo Prof. Mayrhon José Abrantes Farias, do GEPPEF-UFMA, que provocou essa curiosidade, indo direto às fontes: Rei Zulu e Zuluzinho.
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A VILA DE SANTO INÁCIO DO PINHEIRO – A luta de um povo pela sua emancipação política. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM. IHGM, APLAC, AMM A fundação de Pinheiro, no que concerne às circunstâncias da época, pode-se dizer que ocorreu por acaso. Ao perscrutar os antecedentes desse fato histórico, permito-me fazer ligação com a desastrada política indigenista do Governo de D. José I, conduzida pelo seu primeiroministro, Marquês de Pombal. O Regimento das Missões do Estado do Maranhão e Grão-Pará, datado de 1686, segundo Serafim Leite, não pôs fim à renhida luta que vinha sendo travada entre jesuítas e colonos quanto à submissão do índio ao regime de escravidão. Essa era uma realidade, no Brasil Colônia. Analisando alguns documentos disponíveis, parece-me que a Coroa embutia em suas leis, sem que despertasse muita atenção, um velado consentimento à sujeição do silvícola ou fechava, por omissão, os olhos ao estrito cumprimento das mesmas. Afinal, ela precisava dos recursos da rica colônia americana e a presença do escravo africano ainda era escassa para o tamanho do território cujos limites pretendia expandir para além do que fora acordado, no Tratado de Tordesilhas. A nova política implantada por Pombal através do Alvará datado de 1755 e posto em execução, aqui, no Maranhão, em 1757, tornou sem efeito o Regimento das Missões retirando, assim, dos jesuítas a tutela temporal e espiritual sobre os aborígines. Garantiu-lhes o direito à liberdade e outras vantagens sem, contudo, abrir mão do controle de suas ações como está estatuído, nos 95 artigos que compunham o Diretório dos Índios, segundo Lourival Serejo. O permanente estado de tensão em que viviam com os diretores brancos e os conflitos étnicos com os principais das aldeias, como relata Flávio Gomes, motivava descontentamentos, fugas e castigos. Como se não bastasse, sofreram, ainda, com as epidemias de sarampo e bexiga que, nessa época, dizimaram uma parte da população indígena. Apesar de alguns dos resultados esperados terem sido alcançados, conforme Alessandra Alexandrina da Silva, a Lei do Diretório dos Índios foi revogada em Carta Régia, em 1898, por D. Maria I. Mas as novas medidas adotadas não foram diferentes, levando os índios a freqüentes fugas para as matas ou para os campos do Pericumã, onde vagavam, em grupos, assaltando fazendas, destruindo plantações, roubando e matando gado, motivando, assim, freqüentes denúncias dos fazendeiros e agricultores ao Governador do Estado. Foi, exatamente, uma dessas denúncias que levou o Governador e Capitão-General Antônio de Saldanha da Gama a convocar o Capitão-mór e Comandante da Vila de Alcântara, Inácio José Pinheiro, em fins de 1805, para ir resolver um desses conflitos,
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nos campos do Pericumã. Autorizou-lhe o Governador que demarcasse uma gleba para que esses índios a povoassem e a cultivassem. O Capitão Inácio Pinheiro ao retornar, no início de 1807, para prestar contas da incumbência recebida, encontrou, no exercício do cargo, o Capitão-General D. Francisco de Mello Manoel da Câmara a quem relatou as ordens que lhe foram dadas pelo antecessor e como as cumpriu. Disse-lhe o Capitão-mór que, na data de 23 de novembro do ano anterior, estabelecera uma povoação entre Alcântara e Guimarães que recebera o nome de Lugar do Pinheiro para ali viverem e roçarem algumas famílias de índios dispersos. Informoulhe que para tanto havia demarcado três léguas de terra de comprido por uma de largura. Ponderou-lhe que em face da presença de alguns cultivadores, na área, seria conveniente que mandasse passar Carta de Dacta e Sesmaria dessa terra aos índios para servir de patrimônio à povoação. Considerando o que lhe propusera o Capitão Inácio Pinheiro, achou por bem o Governador conceder por Dacta e Sesmaria a citada terra para que esses índios passassem a usá-la como coisa sua e de seus descendentes. Referida Carta, datada de 13 de maio de 1807, está transcrita, no Livro de Dacta e Sesmaria, fls. 65v., no Arquivo Público do Estado do Maranhão. Estabelecida a povoação, marco inicial de toda a história de Pinheiro, poucas e fragmentadas informações dão conta de como ela evoluiu ate novembro de 1820. Nesse mês, passou pela localidade o Engenheiro Antônio Bernardino Pereira do Lago que registrou o que viu, no seu “Itinerário da Província do Maranhão”: Esta povoação, à beira do lago do Pinheiro, está no pior estado, e se reduzirá a nada, se não forem tomadas novas medidas. Consta apenas de 5 fogos, 23 almas, uma capela sem coberta, um capitão-do-mato por comandante e um Juiz de vintena (de 20 vizinhos). Situação diferente não foi relatada por Cesar Marques, no seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão,quando narra que, em 28 de junho de 1826, o Conselheiro Provincial, Dr. Antônio Pedro da Costa Ferreira, reivindicou, para aquele ”infeliz povo”, formado por 300 a 400 almas, que pagava dízimo, uma igreja e um cura, como ainda, um mestre de primeiras letras. A falta de uma resposta à solicitação do Conselheiro Provincial motivou o sr. João Barreiros e outros moradores a construir um oratório público que, após as formalidades legais, foi bento em 3 de janeiro de 1828 pelo padre Raimundo José de Assunção e a primeira missa celebrada em 30 de julho desse mesmo ano. Em maio de 1828, a Câmara Municipal de Alcântara representou junto ao Governo do Estado para a criação de uma freguesia, no Lugar do Pinheiro. Embora, por desconhecidas razões, não fora dado provimento ao pedido, o mesmo atesta que, a essa altura, o lugar já tinha experimentado algum desenvolvimento. A partir desse ano, teve início as primeiras plantações de cana-de-açúcar e a instalação dos primeiros engenhos. Em 1832, segundo Jerônimo Viveiros, foi criado um Juizado de Paz e, em 1833, não obstante algumas escolas particulares já existentes, foi instituída uma escola pública de primeiras letras regida pelo professor concursado, procedente de Alcântara, José Custódio Alves Serrão.
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Nesse mesmo ano, o povoado, começou a participar das eleições paroquiais. Já mostrava uma tendência oposicionista que passou a incomodar os políticos de Guimarães, comandados pelo deputado provincial Torquato Coelho de Sousa. Os ânimos, porém, ficaram mais exaltados quando a Assembléia Provincial, em 1835, desanexou de Guimarães os territórios de Santa Helena e Pinheiro que passaram a fazer parte de Alcântara. Tal decisão veio de encontro aos anseios dos pinheirenses devido aos fortes laços de parentesco, amizade e políticos que mantinham com os alcantarenses. Mas essa mudança não ficou barata aos pinheirenses. O deputado Torquato Coelho com o seu cunhado Francisco Sotero dos Reis e Manoel Gomes da Silva Belfort, aliados a outros deputados de forte influência, na Assembléia, conduziram à aprovação, em 1838, a nulidade das eleições paroquiais primárias e secundárias de Pinheiro e Santa Helena sob a alegação de fraude, no número de eleitores escolhidos. Debalde foram os argumentos contrapostos pelo deputado oposicionista Cerqueira Pinto. O objetivo que perseguiam era a desqualificação dos eleitores contrários à sua orientação política. E não ficaram só nisso. Insatisfeitos com as posições assumidas pelos pinheirenses, o deputado Torquato Coelho e seus correligionários conseguiram da Assembléia Provincial, nesse mesmo ano, a criação da Comarca de Guimarães com a anexação dos distritos de Pinheiro e Santa Helena, buscando arrancá-los, talvez, assim, pensassem, da nefasta influência política de Alcântara. Era o castigo pela impertinência de suas posições em lhes negarem os votos, nos colégios eleitorais, na visão do jornalista e político João Lisboa. Uma nota de repúdio a esse ato foi enviada à Assembléia Provincial por 216 habitantes de Pinheiro, em 1839, não encontrando a receptividade esperada, conforme também nos relata João Lisboa. Os pinheirenses, contudo, não arrefeceram a luta que passou a ser travada, nos bastidores da política regional, envolvendo alcantarenses e vimarenses. A meta, a partir de então, passou a ser alcançar, o mais rápido possível, a emancipação política do povoado. Ao longo da década de 1840 e início da de 50, tal sentimento tomou conta de toda a comunidade, enchendo-a de esperança e entusiasmo. Tudo isso funcionava como um estímulo permanente às lideranças locais como Agostinho Raimundo dos Reis, José Estanisláo Lobato, José Assenço Costa Ferreira, João dos Santos Durães, José Bento Caldas, José Caetano de Sá, Diogo Antônio dos Reis, Miguel Arcanjo dos Reis, Theófilo Diniz Ferreira de Castro, Mariano Antônio Martins Costa e muitos outros que contando com o apoio de correligionários alcantarenses e mesmo da Assembléia Provincial conduziram com êxito tal empreitada. Mas era preciso um pouco mais de paciência. Os opositores a Pinheiro estavam atentos a todos os passos dados para postergar qualquer iniciativa que lhes revertesse o atual quadro. Embora o povoado estivesse em condições de ascender à condição de vila, desde o final de 1840, os acordos conduzidos deveriam passar primeiro pela criação da Freguesia que se efetivou, em 26 de maio de 1855. Este fato, certamente, abriu o caminho para atingir, com maiores possibilidades, o objetivo desejado.
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Novos obstáculos foram interpostos. Questionaram as disponibilidades de recursos para a manutenção dos serviços públicos da nova vila, alegando que o povoado estava assentado, em terras de índios, que lhes foram doadas pelo Rei a título de sesmaria. Para tanto, apresentaram, durante a tramitação do projeto, uma certidão passada, em maio de 1856, pelo curador desses índios, Tenente Frederico Leopoldo Martins da Costa confirmando a doação. Prosseguiram as conversas, acordos foram feitos e o resultado foi a Lei nº 439 decretada pela Assembléia Provincial Legislativa e sancionada, em 3 de setembro de 1856, pelo Presidente da Província, Antônio Cândido da Cruz Machado, elevando a povoação de Pinheiro à categoria de vila. E agora? Faltava instalar a Câmara de vereadores para garantir a autonomia política da recém-criada vila. Novas dificuldades com os políticos de Guimarães. Foi preciso a interferência do Presidente da Província para que os livros, atas eleitorais, relação de eleitores e outros documentos fossem liberados para que as eleições fossem procedidas. Realizadas, então, a Câmara da Vila de Santo Inácio do Pinheiro foi instalada, em 26 de fevereiro de 1861, sendo o seu primeiro presidente o major José Bento Caldas por ter sido o mais votado. E, assim, o Lugar do Pinheiro virou vila. A Vila de Santo Inácio do Pinheiro.
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FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ, MATRIZ DO POVOAMENTO DA RIBEIRA DO MEARIM WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHÊDE Cadeira 58, patroneada por Parsondas de Carvalho) Cadeira n. 5 da Academia Arariense-Vitoriense de Letras (patrono: Senador Lopes Gonçalves). wlmcant@terra.com.br
INTRODUÇÃO A ocupação do Maranhão, sob a ótica de protagonista do elemento de origem portuguesa, se fez sob os influxos de três grandes forças motrizes: 1º) inicialmente, a colonização a partir da Ilha de São Luís, realizada essencialmente pelos reinóis, espraiando-se, notadamente por via fluvial, pela porção norte do interior, ocorrendo de 1615 em diante, após a expulsão dos franceses, como forma de garantir o domínio português sobre esta parte da América; 2º) depois de meados dos anos 1700, mediante uma corrente de povoamento oriunda, principalmente, de Pernambuco e da Bahia, formada essencialmente por gente nascida no Brasil (pessoas, invariavelmente, chamadas de baianos), que, demandando o sertão dos pastos bons para a criação de gado, deu origem, primeiramente, ao povoado que tomou aquele nome – Pastos Bons – e, na seqüência, a vários novos núcleos de povoamento do sul do Maranhão; 3º) finalmente, de meados dos anos 1800 avante, com o surgimento dos grandes núcleos populacionais da região central, forjados do encontro da continuação das duas correntes (a proveniente do norte e a provinda do sul, ambas já com a heterogeneidade étnica que o tempo acarretara) e sob pressão das levas de nordestinos que passaram a chegar, grande parte fugindo do flagelo das secas (sentido leste-oeste). A isso se seguiu, em termos de povoamento, o fenômeno ainda em curso, protagonizado por gente de origem vária, ocupando com propósitos diversos e de forma difusa os vãos do território maranhense ainda existentes, ou “abertos” nem sempre de modo ortodoxo – ainda a história dos nossos dias... A colonização a partir do norte, através dos dois maiores rios genuinamente maranhenses, o Mearim e o Itapecuru, não ocorreu, entretanto, com êxito simultâneo. Enquanto os primeiros núcleos populacionais ao longo do Itapecuru começaram a surgir ainda em meados do Século XVII, no Mearim, em termos de povoação – desde a foz até onde uma missão jesuíta tentara o aldeamento de índios gamela na segunda metade dos 1700, o lugar de Lapela, também assentado sobre alta barreira – o que havia até o final do Século XVIII eram engenhos, fazendas e ajuntamentos de poucas casas. Afinal, no baixo curso desse rio, o terreno não era favorável à colonização – região vulnerável à força de suas típicas marés descomunais (baixa, alagadiça e de terras pouco firmes); e, rio acima, demandando o sertão, as dificuldades de penetração eram gigantescas: lajes quase intransponíveis no próprio leito do rio e a sempre hostil reação indígena à mais longa penetração do colono.
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O Arraial da Vitória, surgido em fins do Século XVIII, sede da vetusta Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim, que remonta ao início daquela centúria, e do Distrito do Julgado do Mearim (circunscrição administrativa e judiciária criada em meados da referida centena), conquanto ainda fizesse parte do Município de São Luís, a capital do Estado, era, até o início do século XIX, o único núcleo populacional significativo, em terras banhadas pelo Rio Mearim, como fruto daquela primeira onda povoadora. Localizado no curso inferior deste rio e assentado sobre uma colina, foi, portanto, o primeiro lugar onde alcançou êxito o projeto colonial de fixar um grande povoado no Mearim. Mas até chegar a esse ponto muito tempo e muita energia humana se haviam despendido. E a primeira personalidade fundamental nesse processo foi um homem chamado José da Cunha d`Eça. A FREGUESIA Em 1722, segundo Bernardo Pereira de Berredo e Castro, em seus famosos Anais Históricos do Estado do Maranhão, escritos em 1723 e publicados em 1749, as margens do Mearim, por ele considerado o príncipe soberano de todos os rios da Capitania do Maranhão, estavam povoadas somente a cerca de dez léguas de sua boca e com menos de setenta moradores. A região já sediara seis engenhos de açúcar de grosso rendimento e ainda conservava três naquela época, embora “de pouca utilidade, por falta de fábrica, desamparados todos os mais dos senhores deles por sobrado receio do gentio de corso, quando estas terras parece que as criou a alta Providência para a mesma cultura; porque facilitou por um tal modo o trabalho dela, que as plantas de um ano duram mais de trinta sem muito benefício”. Na região, apesar da existência precedente da igreja de São Lourenço, do Convento de Na. Sra. das Mercês, erigida à margem daquele rio há anos (nela, o bispo do Maranhão, D. Frei Manoel da Cruz, crismaria 344 pessoas em 1740), foi somente em 1723 que a Metrópole admitiu ao real padroado uma igreja do Mearim, construída recentemente. Antes, D. Frei José Delgarte, quarto bispo do Maranhão, comunicara a El-Rei D. João V que José da Cunha d’Eça, fidalgo da Casa Real e Capitão-mor que fora da mesma Capitania, se resolvera a abraçar o estado eclesiástico, pelo que lhe conferira as ordens necessárias e o persuadira, visto possuir bens de fortuna, a levantar uma igreja na Ribeira do Mearim, onde já existiam 500 almas privadas de sacramentos, ao que o dito padre atendera não só edificando a igreja como também dotando-a de um curral de gado, meia légua de terra, quatro escravos e mais abegoaria necessária e paramentos suficientes de três cores, naveta, turíbulo, caldeirinha e sino. [q.v. notas biográficas sobre o referido fidalgo, no Anexo] Por isso, El-Rei mandara admiti-la ao seu real padroado, e confirmava o referido padre como seu prelado, consignando-lhe a côngrua anual de 50$000 réis. Fizera isto através da Resolução Régia de 18 de março de 1723.26
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MARQUES, César. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão. verbete Mearim (Freguesia).
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Nascia, assim, com a nova igreja, a Freguesia da Ribeira do Mearim, fator de aglutinação populacional naquela época de intenso fervor católico – um templo e o respectivo vigário, que até então não existia, para cuidar das quinhentas almas privadas de sacramentos que viviam dispersas por toda a região que margeia o baixo curso do referido rio. Edificada a igreja e dotada de curral não muito distante, em lugar desde logo conhecido como Curral da Igreja, tudo em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, em 1734 já recebia a visita do Pe. João Rodrigues Covette, no período de 8 a 16 de novembro, em que foram ouvidas, aproximadamente, trinta pessoas, previamente notificadas, num procedimento inquisitório referente a práticas de concubinato, “amancebamento” e “ilícita amizade” de moradores do Mearim. A primeira testemunha a ser ouvida foi o vigário Pe. Joseph de Morais Pimenta. Ao final, os culpados foram punidos com admoestações, prometendo “emenda”, como filhos da Igreja.27 Em 1752, de 14 a 17 de janeiro, recebia a visita do bispo D. Fr. Francisco de Santiago, ocasião em que eram ali crismadas 335 pessoas.28 O JULGADO Nesse ínterim, pela primeira vez, a Coroa Portuguesa preocupou-se verdadeiramente com a administração civil dos seus interesses na região do Maranhão já habitada por muitos colonos às margens do Rio Mearim. Pela Provisão de 10 de março de 1747, Dom João, Rei de Portugal, fez saber ao ouvidor geral da Capitania de São Luis do Maranhão que aprovara sua solicitação, datada de 15 de setembro de 1743, para que se criasse em cada um dos distritos da Parnaíba, das Aldeias Altas e do Mearim “hum juiz ordinário com seu escrivão e meirinho”, declarando: (...) por ser conveniente ao serviço de Deus e mais útil a meus vassalos, sou, outrossim, servido que nos ditos rios Mearim e Pinaré tão somente se crie de novo um juiz ordinário com seus oficiais escrivão e meirinho, por ser muito de se virem aqueles moradores a essa cidade e os juízes dela irem àqueles rios a negócios de justiça, devassas de mortes e roubos cometidos nos ditos rios, tanto pelo longe e perigos do mar, como pela dificuldade de condução e gastos para eles de canoas e remeiros, pelo que se vos ordena façais as ditas criações e divisões na forma apontada nesta minha ordem – [com atualização ortográfica e pontuação que não consta no original]. Esse documento consta do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino (Portugal), hoje à disposição para consulta, em meio digital, no Arquivo Público do Estado do Maranhão. Trata-se da criação do Julgado do Mearim, o marco inicial da emancipação político-administrativa e da história da Justiça em terras da Ribeira do Mearim. É que, naquela época, a administração geral e civil compreendia funções administrativas e judiciais, em face da confusão de poderes e atribuições então vigente, incompreensível diante de nossa atual organização política. Por isso, o juiz colonial exercia tanto funções jurisdicionais como de mero agente administrativo, executando medidas tomadas pelos órgãos superiores da Administração, providenciando o cumprimento de normas legais 27
Autos de Visitação feita no Rio Mearim, Freguesia de Na. Sra. de Nazaré (1734), pelo Revmo. Pe. Visitador João Roiz Covette - códice Arquivo Arquidiocesano, S. Luís-Ma 28 Livro de registro de batismos da Paróquia de Na. Sra. de Nazaré (1744-1773).
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etc., sem fazer tal distinção no exercício do cargo. De um modo geral, os juízes executavam as leis e as faziam cumprir, além de resolver os litígios, pouco importando que fossem provocados para agir ou não, pois agiriam de ofício sempre que julgassem necessário intervir. As nomeações para os cargos de juiz cabiam ao Senado da Câmara, exceto para o de juiz de fora, que cabia ao rei, porque servia em qualquer lugar. Os cargos de juiz consistiam em juiz almotacel (fiscal do comércio de gêneros de primeira necessidade e guardião da higiene e da limpeza públicas), juíz vintenário ou de vintena, com jurisdição nas freguesias (magistrado das aldeias e julgados dos termos que não superassem vinte vizinhos, isto, é, habitantes, sobre os quais limitava-se sua jurisdição; podia ser leigo e era de categoria inferior à do juiz ordinário, pois sua jurisdição limitava-se às causas de até duzentos réis) e juiz ordinário ou da terra, com jurisdição nas vilas ou cidades (escolhido para exercício durante um ano, com domicílio na mesma localidade em que funcionava, podendo ser leigo, cabendo-lhe a aplicação da justiça segundo o direito costumeiro). No topo da hierarquia e no âmbito da comarca, figurava o ouvidor, um fiscal graduado da administração, em cujas atribuições encerravam-se competências judiciária e administrativa, também. No Maranhão, existia uma só comarca e à Ribeira do Mearim correspondia a Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré. Portanto, teoricamente, cabia-lhe juiz vintenário. Essa era a regra. Mas, por mercê régia e como característica da mixórdia que era a administração colonial, uma freguesia poderia, sim, ser erigida em julgado e, portanto, ter juiz ordinário, ainda que não fosse vila. De 1792 a 1795, serviram como juízes ordinários do Mearim, sucessivamente, José Raimundo Nepomucena, Gregório de Meireles Maciel Parente, alferes Alexandre dos Reis Rayol e Francisco Maciel Aranha, que figuram nos documentos da época supervisonando a arrecadação do subsídio literário, tributo pago na própria residência deles (instituído por lei de 1772, destinando-se ao pagamento dos ordenados dos professores régios). Foram os contribuintes naqueles anos: Bernardo Marques de Mattos, Francisca Josefa, José da Costa Teixeira, Gabriel Antonio, José de Medeiros, José Carlos Duttra, Vitoriano da Costa, Raimundo da Costa, Antonio Marçalino e Fr. Manoel Da Conceição e outros religiosos de Na. Sra. do Carmo, com sua capela.29 Ainda não se sabe quando, de fato, foi instalado o Julgado do Mearim, porém é de presumir-se tenha sido pouco tempo depois da Provisão Régia de 10 de março de 1747, pois já em 1758 foi eleito Ignocêncio Soares Palermo para servir como juiz ordinário da Ribeira do Mearim no ano de 1759, conforme registro da carta que lhe passou El-Rei D. José para o exercício do cargo (carta de usança), feito em livro da Câmara de São Luís do Maranhão (1753-1759), livro esse que se encontra no acervo da Diretoria de Patrimônio do Estado. O certo é que por, aproximadamente, oitenta anos, terá funcionado o Julgado do Mearim, se sua instalação não tardou após a criação.30 29
Livro de lançamento da arrecadação do subsídio literário da Ribeira do Mearim (1792-1795), existente no Cartório do 2º Ofício da Comarca de Vitória do Mearim. 30 Proclamada a Independência do Brasil e outorgada pelo Imperador D.Pedro I sua primeira Constituição, foram, pela lei de 17 de outubro de 1827, criados os juízos de paz para as freguesias e distritos e, pelo Código de Processo Criminal do Império, de 29 de novembro de 1832, efetivamente extintas as figuras dos juízes ordinários e vintenários, passando a existir, além dos juizes de paz, os conselhos de jurados, os juízes municipais e os juízes de direito.
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A MUDANÇA DO SÍTIO Prosseguia a vida tranqüila daqueles colonos católicos na última quadra do Século XVIII, uma pequena parte dos quais agora reunida em um só lugar, sede de freguesia e de julgado, com sua igreja matriz e seu juiz ordinário para decidir sobre pequenos litígios e dar providências de ordem administrativa, e ter-se-ia formado ali o núcleo populacional definitivo, cujo nome confundia-se com o da própria região – Ribeira do Mearim ou simplesmente Mearim –, se a própria natureza do local não fosse desfavorável ao empreendimento, em razão do problema secularmente evidenciado: terreno baixo e alagadiço e que, por isso, não resistiu à fúria das enchentes e à erosão decorrente do fenômeno, que provocava a queda das barreiras, destruindo até ruas inteiras. Passando de uma geração para a seguinte, chegou até os nossos dias o relato oral de que, por causa dessa impropriedade do terreno, foi o projeto abandonado ali onde se iniciara e decidiram-se os moradores a procurar outro local para a igreja e o povoado que, naturalmente, em torno dela novamente surgiria. A propósito, César Marques, no Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão (1870), precisamente no verbete Mearim (Vila), registrou ter encontrado na Vila da Vitória, quando nela esteve em 1865 e 1866, a seguinte narrativa oral, feita pelos mais idosos moradores: A primeira vila foi assentada no lugar chamado Sítio Velho entre o curral da igreja para a parte de baixo e o Bonfim para cima, à margem esquerda do rio. Aí existiu a primeira igreja, e foi a sede da freguesia. Com algumas modificações fantasiosas, essa é a tradição oral vigente até hoje. A decisão sobre a mudança do povoado do Mearim teria partido do próprio governador do Maranhão, Joaquim de Melo e Póvoas, segundo a narrativa ouvida por César Marques. Contava-se que, visitando o lugar e vendo sua impropriedade, o governante encarregou o alferes de cavalaria Félix Mendes de Faria, filho de Alcântara, de comandar a transferência para um lugar adequado. Então, este escolheu o lugar atual, distante do primitivo quatro léguas do rio e duas por terra, onde é provável que já existissem alguns moradores, pois, sendo elevado, não teria passado despercebido por muito tempo, até porque uma regra urbanística de ouro, das poucas dadas pelos portugueses acerca da ereção de vilas, recomendava que os sítios ficassem em situação de fácil defesa contra os indígenas, permitindo rechaçá-los pelas alturas. Melo e Póvoas, sobrinho do Marquês de Pombal, então primeiro-ministro de Portugal, governou o Maranhão de 1761 a 1779. Ele viajou por quase toda a Capitania do Maranhão, levando assistência pessoal aos moradores. E fez explorar os rios Mearim, Itapecuru e Pindaré. É comprovado, em virtude das cartas com relatórios de viagens que enviou a Sua Majestade em 30/08/1766, 17/06/1767, 01/03/1768 e Na esteira da reorganização judiciária do País, determinada pelo Código de Processo, em 19 de abril de 1833 o Conselho Geral da Província do Maranhão criou, entre outras, a Vila do Mearim, instalada a 7 de janeiro de 1834. O Conselho, em sessão de 29 de janeiro de 1834, nomeou, dentre listas tríplices elaboradas pela Câmara Municipal da Vila do Mearim, para juiz municipal o vereador João Duarte Dornelles, e para promotor público João Francisco Serejo. Iniciava-se, então, uma nova etapa do processo histórico, no qual as funções executivas e judiciárias (e também as legislativas) do Estado passaram a ser exercidas separadamente, processo que nos conduziu ao que hoje vivemos.
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22/12/1775, que visitou, respectivamente, a vila de Guimarães; o rio Itapecuru e outros; os rios Mearim e Pindaré; e os rios Mearim, Itapecuru e Munim. Nessas viagens, procurava dirigir e encaminhar os trabalhos dos lavradores, assim como alentá-los em meio ao desânimo reinante. Por eles intercedeu junto à Corte, pedindo que fossem adotadas providências em prol dos gêneros que produziam. Ao lado deles colocou-se contra a exorbitância dos fretes exigidos pela Companhia de Comércio, então detentora do monopólio de tudo. Portanto, a determinação para a transferência do povoado ter-se-ia dado num ano qualquer desse período de governo, itinerante, de Melo e Póvoas. Em meu livro Vitória do Mearim dos primórdios à emancipação (1998), calculei que a mudança do povoado teria ocorrido no final da década de 1760, pois nos registros de batismo da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré do Mearim, o Pe. João Pereira de Cáceres Albuquerque, sacerdote que respondia pela igreja desde 1762, começa a referir-se ao Sítio da Ribeira do Miary como sede da freguesia nos seus assentamentos de batismo do ano de 1766 (ilegíveis quase totalmente), quando terminou o seu período de vigário interino. Concluí que este sítio era, com certeza, a nova povoação que surgia, fundada pelo alferes Félix Mendes de Faria, pois tal denominação nunca fora usada nos registros anteriores a 1766, e a ideia de sítio é associada à de povoação nascente ou do espaço físico que abriga essa povoação, com suas edificações, daí a razão do nome Sítio Velho, atribuído ao primeiro lugar onde tentaram manter a sede da freguesia. Faltavam, contudo, documentos para dar suporte a tais afirmações, tanto às colhidas por César Marques, como às minhas, derivadas daquelas. Aliás, o ilustre dicionarista advertira, antes de expor o que colhera da narrativa oral: “... publicamos [a narrativa] não com aquele grau de certeza que costumamos dar aos nossos escritos, porém para provocar correções ou informações”. Com base em documento histórico incessantemente procurado, finalmente localizado no acervo do Arquivo Histórico Ultramarino, com cópia no Arquivo Público do Estado do Maranhão, comprova-se hoje, em parte, a narrativa oral colhida por César Marques e subsistente até hoje, mas desautoriza a minha anterior conclusão quanto à época de construção da igreja, que entendia ter sido por volta de 1766. Localizou-se uma carta do provedor-mor da Fazenda Real no Maranhão, Henrique Guillon, datada de 25 de setembro de 1776, endereçada ao rei de Portugal, D. José I, “sobre a necessidade de construção de uma nova igreja na Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, na Ribeira do Rio Mearim”. Na carta, o Provedor lembra que Sua Majestade, mediante resolução, tomada em consulta do Conselho Ultramarino de 1723, mandara admitir ao seu real padroado a igreja matriz daquela freguesia, erigida e dotada de patrimônio por José da Cunha d’Eça. Em seguida, expõe o dito Guillon como evoluíra a situação da igreja e de seu patrimônio até aquela data, concluindo por apontar a necessidade de uma nova igreja para a Freguesia, pois se achava totalmente arruinada a que existia, carente de ornamentos decentes e prestes a afundar, porque as enchentes do rio, pelo tempo do inverno, vinham cabalmente diminuindo a faixa de solo em que fora erguido o prédio. Por isso – acrescenta –, a requerimento dos moradores, fora pessoalmente à Ribeira do Mearim, onde examinara com eles lugar capaz para sediar uma nova igreja, construção com a qual alguns moradores já haviam principiado a colaborar, cedendo materiais. Por tudo isso, propunha a edificação do novo templo, à custa da Fazenda Real.
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Ainda não se sabe exatamente quando começou e quando terminou a construção da atual igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré. Todavia, já se pode afirmar, categoricamente, que foi construída de 1776 em diante e, sabendo-se que em 1827, quando sofreu um incêndio, seu teto ainda era de palha, conclui-se que até então era uma construção precária, vale dizer, inacabada. Pode-se afirmar também que, de 1776 em diante, foi que se consolidou o Arraial da Vitória (nome presumivelmente adotado para lembrar o êxito do novo sítio da povoação, escolhido pelo alferes Félix Mendes de Faria), povoado que depois seria a cidade de Vitória do Mearim, pois sua manutenção e seu crescimento dependiam de igreja e pároco por perto, o imprescindível socorro espiritual com que os moradores poderiam contar. Assim, restou comprovada a tradição oral, com algumas modificações, é verdade, mas abonando definitivamente o que até agora era dito sem lastro em fontes históricas primárias. O local da primeira tentativa de manutenção do povoado passou a ser conhecido como Sítio Velho, como registrado no Itinerário da Província do Maranhão, de autoria de Antonio Bernardino Pereira do Lago, datado de 1820 (“Sítio Velho, por ter ali sido primeiramente a freguezia”). Mas Ribeira do Mearim, ou apenas Mearim, continuou a designar a nova povoação, ainda confundindo-se com a denominação da própria região em que se situava, confusão que perdurou até que o nome definitivo se impusesse, popularmente, num primeiro momento e, depois, oficialmente – Vitória do Mearim. UM PEDIDO DE SOCORRO Ainda no final do Século XVIII, na esperança de obter ajuda do governo, os moradores das ribeiras do Mearim e do Pindaré dirigiram ao governador e capitão-geral José Teles da Silva uma representação, datada de 7 de maio de 1786, pedindo-lhe que a fizesse chegar ao conhecimento da Rainha, D. Maria I. Confiantes no conhecimento ocular que o governador tinha da região, pois a visitara em dezembro de 1784, depois de fundar nas terras do Cajari a povoação de São José [de Penalva] com índios gamela que fizera descer dos matos para aquela finalidade, os colonos pediam-lhe que cumprisse a promessa, que então fizera, de ajudá-los. Entre os subscritores da representação estavam os Maciel Aranha, os Meireles (que também eram Maciel Parente), os Rodrigues Chaves, os Reis Rayol e outros representantes de famílias menos numerosas, como Lourenço de Araújo Cantanhede e João Paulino da Costa, todos capitaneados pelo juiz ordinário do Julgado do Mearim, o advogado Miguel Inácio dos Santos Freire Bruce, primeiro a assinar a petição, sem dúvida, diretamente interessado no assunto, pois obtivera de Teles da Silva, no ano anterior, uma data de sesmaria “pelo Rio Grajaú acima, da parte esquerda” (Bruce depois se notabilizaria como político na Capital, chegando a ser o primeiro presidente da Província do Maranhão nomeado por D. Pedro I, após a adesão à Independência do Brasil). Alegavam os moradores do Mearim: a) apesar de suas terras serem das melhores da Capitania, viviam “pobres por falta de auxilio, de meios e de braços” para o trabalho; b) aqueles dois rios agasalhavam “muito gentio bárbaro”, ainda que no sertão, mas não era esse o embaraço maior para a sua povoação, e sim a falta de forças e de braços para o trabalho, que não poderia ser remediada senão por meio de escravos, havendo quem
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os vendesse a crédito, como fazia a extinta Companha Geral do Comércio [do Maranhão e Grão-Pará, 1755-1778], o que gerou “a felicidade do Itapucuru, o seu aumento e a sua povoação”; c) para os moradores do Mearim, toda a “infelicidade consistiu na extinção da Companhia”, pois, se ainda existisse, teriam o recurso de quem lhes “vendesse escravos fiado”, a fim de, com eles, aproveitarem as “as excelentes terras”, “um tesouro escondido, que não dá a conhecer o que é por falta de operários”; d) os escravos introduzidos em cumprimento ao contrato privativo de Cabo-Verde e Guiné não eram numericamente suficientes e, além disso, eram vendidos a preços mais caros do que os antigamente praticados pela Companhia; e) quanto ao meio de evitar as invasões do gentio bárbaro, não havendo intenção de fazer-lhes guerra, mas somente estender as povoações, e vivendo os selvagens, ordinariamente, com mais medo dos colonos do que estes deles (tanto que fugiam ao sentir quaisquer forças oponentes, deixando-lhes livre o passo para continuação dos estabelecimentos), seria importante considerar a proposta do capitão Antonio Corrêa Furtado de Mendonça e do alferes Theodoro Corrêa de Azevedo Coutinho [pai do futuro Barão do Mearim], os quais se ofereciam a fazer, à própria custa, “no lugar em que o Rio da Corda faz barra norte do Mearim, uma casa forte guarnecida de artilharia e outras comodidades”, servindo de fronteira ao gentio, de forma que, dali para baixo, ficasse “desimpedida uma grande parte do Rio”, propícia para fazer muitas povoações e fazendas. O Governador remeteu a representação à Corte no mês seguinte, endossando a postulação e acrescentando razões que lhe eram favoráveis, para servirem de demonstração da justiça “com que estes moradores, que são os mais pobres deste Estado, requerem remédio à sua desgraça”: a) “logo que a agricultura começou a florescer no tempo da extinta Companhia do Comercio, quase todos os novos cultivadores se foram estabelecer no Rio do Itapecuru, cujas terras principiaram a corresponder gratamente às mãos que as cultivavam, e como estes lavradores mereciam mais favor àquela Companhia, foram com o auxílio dela aumentando as suas plantações e fazendo-as mais opulentas”; b) “pelo contrário, as terras do Rio Miarim, merecendo pouco valor, os seus proprietários ficaram sempre destituídos dos braços suficientes para a sua cultura, e privados de um benefício igual ao que tinham os plantadores do Itapucuru”; c) “daqui procede a causa das poucas utilidades que os do Miarim têm tirado das suas culturas e, por consequência, a decadência em que sempre têm vivido, comparativamente aos mais lavradores deste Estado”; d) “a maior parte dos homens experimentados no conhecimento destas terras convêm, todos, que as do Miarim são fertilíssimas”, constando, por tradição, “que nos tempos atrasados era neste distrito que se achavam estabelecidos os maiores engenhos de açúcar e de moer cana que existiam então nesta Capitania”, sendo que, ainda hoje, os que cultivam esta planta tiram, à proporção das suas diminutas faculdades, muita conveniência, sinal de que estas terras conservam a mesma força de fecundidade que então as fazia procuradas”, e produzindose nelas o algodão igualmente bem, o arroz – a experiência todos os dias convence que produzirão tão bem como no Rio do Itapucuru; e) “só a renovação da Companhia ou um comércio franco de escravatura pode animar estes moradores ao aproveitamento das suas terras, e delas se tirar uma utilidade igual às que se tem tirado, e atualmente estão tirando, do Rio do Itapucuru”; “sofrendo as terras do Itapucuru uma grande destruição, pelas matas que devastam todos os anos, ao fazer os roçados, dentro de bem pouco os seus lavradores não terão ali terras para roçarem, estando já uma parte deles uma a duas léguas ao centro, por não terem nas margens já terras para cultivarem, e quando estas acabarem, a agricultura há de sofrer uma grande decadência”, convindo darem-se
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“novas sesmarias no Rio Grajaú, onde as terras são admiráveis”; e f) há grande utilidade em desinfestar as cabeceiras do Mearim e do Grajaú do gentio que lhes é vizinho, de forma a penetrarem-se os “sertões daqueles dois rios, achando-se neles, como é constante, e atestam todos aqueles que têm algum conhecimento daqueles sítios, todas as drogas que se tiram e exportam do sertão do Pará”. Mantida, entretanto, aquela difícil situação, pois não há registro do que tenha feito a Metrópole para resolvê-la em atendimento ao pleito que lhe fora endereçado, a colonização, contudo, estava prestes a ganhar novos contornos. A PARAGEM ARARI Na Ribeira do Mearim, a paragem Arari, banhada pelo riacho de mesmo nome e, com tal denominação, citada em documentos oficiais desde a primeira metade do Século XVIII, mantinha-se, como as demais localidades existentes na região, inexpressiva até o início do Século XIX, com cerca de três residências contadas no ano de 1803. Aquela situação começaria a mudar quando Lourenço da Cruz Bogea, nascido na vila de Paço dos Arcos, no Patriarcado do Reino de Portugal, filho de malteses, casou-se com Isabel de Hungria Martins, maranhense da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Itapecuru. Em 1806, já requeria ao bispo D. Luís de Brito Homem licença para levantar um templo naquele lugar. Em 1808, construída a igreja, criou uma irmandade. Em 1809, com outros moradores da localidade, requereu ao vigário capitular licença para trasladar, da igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré ao novo templo, uma imagem de Nossa Senhora da Graça que tinha pertencido ao extinto hospício de Butipema, da Ordem das Mercês, naquela mesma ribeira, e ali estava com outras da mesma procedência, todas quebradas. Deferida imediatamente a autorização, o traslado, porém, não ocorreria logo, mas no mesmo ano, visitado e bento o templo mediante provisão do bispado, já ali se realizavam missas e batismos. E no ano seguinte, obtinha provisão para expor o Santíssimo Sacramento na festividade de Nossa Senhora da Graça, que passara a realizar. Lourenço repetia, de certa forma, os passos de José da Cunha d`Eça, que, também à própria custa, edificara a primeira igreja do Mearim oito décadas antes, germe da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim. O lugar Arari crescia sensivelmente. Afinal, mercê do desprendimento de um reinol que chegara para ficar, constituindo família e civilizando, já havia o fator de aglutinação exigível naquela época de intenso fervor católico: um templo para os ofícios religiosos, ponto de apoio espiritual e referência cultural. O Arari nascente repetia a história do primeiro grande povoado da Ribeira do Mearim, que se tornara, não fazia muito tempo, o Arraial da Vitória, já em outro sítio, pois o primeiro soçobrara ante a fúria das marés. Todos esses fatos, que, em conjunto, constituem o marco inicial da história de Arari, foram coroados quando, em 1811, deu-se finalmente o traslado da imagem, de forma solene, episódio histórico assim narrado por César Marques no Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão (1870), com base nas pesquisas que fizera, inclusive in loco, cinco anos antes:
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Levaram a sagrada imagem do porto grande da vila, em um barco decente e vistosamente ornado, e seguido de muitos cascos e igarités bem enfeitados. Vieram pelo rio abaixo soltando foguetes e dando outras demonstrações de alegria, até o lugar denominado Bebedouro, distante do Arari 500 braças, onde saltaram e seguiram por terra até a igreja. Foi esta procissão acompanhada pelo vigário Inácio Homem de Brito e por mais de 400 pessoas da capital, do Itapecuru-Mirim, de Viana e seus arredores, e recolhendo-se a imagem ao seu novo templo em 5.ago.1811, no dia seguinte cantou-se aí solene Te Deum em ação de graça. Avaliando a importância daquele fato, mais de 170 anos depois, Clodomir Brandt e Silva, em sua obra Assuntos Ararienses, reconstitui a cena: Em 1811, no mês de agosto, no dia 6, a capela era inaugurada com a solene entronização da imagem de Nossa Senhora da Graça, que veio em procissão fluvial da vizinha Ribeira do Mearim. A festa naquele dia foi grande. Lourenço da Cruz Bogea e sua esposa Isabel de Hungria Mendes Bogea lideravam as atividades religiosas e sociais e eram incansáveis no zelo para que tudo saísse bem. (...) E não era para menos, pois aquele foi um grande dia para o lugar, pequeno para conter 400 pessoas que acompanharam a imagem da Ribeira do Mearim, tendo à frente o Padre Inácio Homem de Brito. Houve celebração da Santa Missa à chegada, um Te Deum, e, durante nove dias, todas as noites, eram realizados ofícios religiosos. Foi a inauguração oficial da primeira capela construída em Arari. Poderíamos até dizer que foi o dia da fundação oficial do lugar. (p. 25). Ainda em 1811, a 9 de dezembro, pela Câmara Eclesiástica foi passada “provisão de aprovação e confirmação do compromisso da Irmandade de Nossa Senhora da Graça na capela do Arari da Ribeira do Miarim”. Estava consolidada a povoação do Arari, da qual a Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré fora o ponto de partida. Entre seus antigos moradores figuraram, além dos Bogea, os Fernandes, os Pestana, os Moraes e Silva, os Rodrigues Chaves, os Ericeira, os Pereira e os Pimenta Bastos, entre outros, oriundos, uns, de Portugal, nascidos, outros, no Maranhão. UM DESEJO DE EMANCIPAÇÃO Em 1820, conforme o Itinerário de Pereira do Lago, a sede da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, o Arraial da Vitória, capital do Distrito do Mearim, contava 100 fogos e 680 habitantes, população menor apenas que a de São Luís, de Alcântara, de Caxias, de Itapecuru-mirim e de Tutóia; seus lugarejos e povoados principais eram: pelo rio Mearim – Curral da Igreja, com comandante militar parcial; Sítio Velho, assim chamado por ter sido o primeiro lugar da freguesia; Bonfim, com capela pertencente ao Carmo; Barreiro; Arari, já com 22 casas; Fazenda Na. Sra. do Carmo, com uma capela; Butipema; Saramanta; São José; Carcavelos; São João; e Ubatuba; pelo rio Grajaú – São Benedito; e por terra, vindo de Viana – Jaguary. Em 1822, a Comissão Particular da Administração e Interesse Público propõe à Junta Governativa, que a instituiu e que dirigia a Província do Maranhão, a transformação do Julgado do Mearim em Vila do Mearim: O Mearim é um Julgado regido por um único juiz ordinário, eleito pela Câmara desta cidade, e por ser considerável pela sua população, é a Comissão de parecer que
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seja elevado à condição de vila, com a sua Câmara, assinando-se-lhe terreno para seu patrimônio, visto haver muitos devolutos e desaproveitados no seu distrito. Em 1823, no local já existia uma escola de primeiras letras, cujo professor era Bernardo Gonçalves Barbosa, com o ordenado de 150$000 réis, provido pela Junta Provisória e Administrativa, que governou o Maranhão de 16 de fevereiro de 1822 a 28 de julho de 1823, quando a Província, após a capitulação de São Luís, aderiu à Independência do Brasil, proclamada a 7 de setembro do ano anterior. Em todo o Maranhão existiam, nesse ano, apenas dez cadeiras de primeiras letras, distribuídas entre Alcântara, Guimarães, Itapecuru-mirim, Munim, Rosário, São Bento dos Perises, Viana, Vila do Paço, Vinhais e Mearim. Na sessão do Conselho Geral da Província31 realizada em 4 de janeiro de 1830, o conselheiro Manoel Pereira da Cunha, apresentou ao órgão uma proposta “para que se representasse à Assembléia Geral a necessidade de elevar-se à categoria de vilas os distritos de Victória do Mearim,32 do Rosário e de Manga do Iguará, compreendendo o Rosário a capela filiada curada de S. Miguel da Lapa e Pias.”33 Transcorria já o ano de 1831 e como tardasse a emancipação, os moradores do Mearim decidiram oferecer ao Senado da Câmara de São Luís, da qual eram munícipes, uma representação pela criação da respectiva vila, em face do preenchimento dos requisitos legais, pois, dando 7 eleitores, tinha maior número de fogos do que os exigidos para a criação de qualquer vila. A Câmara comunicou o fato, em 27 de abril do mesmo ano, ao Presidente da Província, Cândido José de Araújo Viana, depois agraciado com o título de Marquês de Sapucaí. Registre-se que na mesma data a Câmara também oficiou ao juiz almotacé José Alexandre Nogueira dizendo que, por acórdão datado de 25 daquele mês, era ele autorizado a fazer o arrendamento de uma casa no Mearim, apropriada para cadeia, em razão da impossibilidade de mandar a Câmara edificar outra.34 Registre-se que a representação dos moradores pela emancipação foi submetida à apreciação do Conselho Geral da Província, por força do disposto no art. 82 da Constituição do Império, in verbis: “Os negócios, que começarem nas Câmaras serão remettidos officialmente ao Secretário do Conselho, aonde serão discutidos a portas abertas, bem como os que tiverem origem nos mesmos Conselhos (...).” Em sessão realizada no dia 11 de maio, o Conselho tomou conhecimento do ofício da Câmara, resolvendo que, “na forma do Regimento do Exmo. Conselho, se levasse este objeto ao conhecimento do Governo, mostrando a utilidade desta criação e indicando limites do projetado município os do julgado, até que se faça uma conveniente divisão do território da Província.”35 Não ocorreria logo a emancipação, todavia. Somente em 1833 foi que, finalmente, ocorreu a emancipação do mais antigo e principal povoado da Ribeira do Mearim,
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Poder legislativo provincial, órgão instituído pelo art. 72 da Constituição do Império. Esta é, sem dúvida, a mais antiga referência, em documento oficial externo ao Julgado do Mearim, à forma toponímica com a qual o lugar seria definitivamente denominado. 33 Índice dos Anais do Conselho da província (1830-1839), ano 1830, verbete Vilas. 34 MARQUES, César: idem, verbete Mearim (vila). 35 Livro de Atas nº 01 do Conselho Provincial - Arquivo Público do Estado do Maranhão. 32
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conhecido inicialmente com igual denominação, depois também como Arraial da Vitória, e finalmente como Vitória do Mearim. A EMANCIPAÇÃO Embora possa ter resultado indiretamente da pressão representada pelas iniciativas anteriormente mencionadas, a emancipação do Distrito do Mearim foi fruto direto, na verdade, de uma importante reforma da organização judiciária brasileira operada no ano de 1832, com reflexos na vida administrativa das comunas, determinada pelo Código de Processo Criminal do Império. O Conselho Geral da Província do Maranhão, cumprindo disposições do novo Código, criou, pela Resolução de 19 de abril de 1833, entre outras, a Vila do Mearim. Dispõe o seu artigo 10: O Julgado do Mearim fica ereto em Vila, compreendendo o seu termo o território da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré. Segundo esse documento oficial,36 havia no Maranhão em 1833 as seguintes vilas: Vinhais, Paço do Lumiar, Alcântara, Viana, Guimarães, Itapecuru-mirim, Icatu, Caxias, Brejo, Tutóia, Pastos Bons e São Bernardo. E então foram elevados à condição de vila os seguintes lugares: Freguesia de São Bento dos Perizes, desmembrada de Alcântara; Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Itapecuru, desmembrada da Vila do Itapecuru-mirim; povoado do Urubu,37 desmembrado de Caxias; Julgado do Mearim; povoação da Manga do Iguará,38 desmembrada de Icatu; povoação de São José,39 desmembrada de Caxias, e povoação de Nossa Senhora de Nazaré do Riachão, desmembrada de Pastos Bons. A emancipação desses lugares ocorreu, repisa-se, na sessão do Conselho Provincial de 19 de abril de 1833. Eleitos os primeiros vereadores da Vila do Mearim em 16 de junho, a Câmara Municipal foi instalada a 7 de janeiro de 1834, com a posse daqueles primeiros mandatários: Bernardo José Nogueira (presidente, por ser o mais votado), Agostinho Maciel Parente, Antonio José de Moraes Campelo, José Paulo Chaves, Leocádio de Jesus e Costa, João Duarte Dornelles e Manoel Lourenço Bogea. A posse ocorreu na residência deste, que era o segundo filho de Lourenço da Cruz Bogea, o grande responsável pelo povoamento do Arari. Dois dias depois, a Câmara fez a divisão do seu território em cinco distritos, mediante a qual pode-se conhecer os limites deste: Primeiro Distrito, denominado Vitória, compreendendo desde a Fazenda dos Religiosos de Nossa Senhora do Carmo, exclusive, rio Mearim acima, até o rio da Corda, que fica servindo de limite por esta parte; e pelo rio Guajahu até os primeiros morros, que igualmente esta paragem fica 36
É motivo de satisfação para o autor ter resgatado o texto desse documento, cuja existência era atestada por alguns historiadores, mas tinha paradeiro ignorado. A propósito, veja-se o que escreveu Elói Coelho Netto em sua História do Sul do Maranhão – terra, vida,, homens e acontecimentos (ed. 1979, página 79): “A vila e o município de Riachão foram objeto da Resolução Provincial de abril de 1833 cuja cópia não foi encontrada em nenhum arquivo, tendo sido confirmada pela Lei Nº 7, de 29 de abril de 1835.” 37 Vila do Urubu foi o primeiro nome do município hoje denominado Codó, localizado em outro sitio. 38 Vila da Manga do Iguará foi o primeiro nome do município hoje denominado Vargem Grande e já localizado em outro sítio. Onde ficava Manga do Iguará hoje existe a sede do município de Nina Rodrigues, que se desmembrou de Vargem Grande em 1961. 39 São José dos Matões, hoje denominado simplesmente Matões, localizado entre os municípios de Caxias, Timon e Parnarama.
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servindo de limite a este Primeiro Distrito; Segundo Distrito, denominado Arary, compreendendo todo o território desde a Fazenda dos Religiosos do Carmo, inclusive, de uma a outra parte do rio, por ele abaixo, até a paragem denominada Barreiro, servindo de limite o marco das terras de Nossa Senhora dos Remédios; Terceiro Distrito, denominado Curral da Igreja, compreendendo desde o mencionado marco das terras de Nossa Senhora dos Remédios, rio abaixo, até a foz do rio, e pela parte do centro tendo por limite a paragem denominada Igarapé Fundo, e pela parte esquerda tendo por limite a paragem denominada Ilha da Pindova; Quarto Distrito, denominado Santa Maria, compreendendo todo o território desde o Igarapé Fundo até o igarapé denominado Trauritá, e deste seguindo o rumo de jusante, para o centro a embocadura da estrada denominada do Olho d’Água, passando pela Primavera, até a Compatiúba, que fica servindo de limite; Quinto Distrito, denominado Sipahu, compreendendo todo o território desde o Igarapé do Trauritá até o porto denominado Banguella, seguindo para o centro em rumo de direção até os limites da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Itapecuru. Lugares como Sipaú e Trauritá pertencem ao atual Município de Anajatuba, do que resulta a conclusão: o território da Vila do Mearim, apesar da sensível imprecisão na descrição de seus distritos, compreendia, pelo rio Mearim abaixo e suas margens, além da área do atual Município de Arari, a área do hoje Município de Anajatuba. Pelo rio Mearim acima ia até o rio Corda, em área, portanto, do atual município de Barra do Corda. Pelo rio Grajaú acima, seguia até alcançar os primeiros morros, numa indicação, embora evidentemente vaga, sugestiva de que alcançava o início da alta ribeira. PRESENÇA DOS “BAIANOS” Àquela altura, as consequências da forte corrente de povoamento sertaneja, que ocupara o sul do Maranhão e de lá propendia em todas as direções, já alcançavam a Ribeira do Mearim. A secular inércia oficial fora suplantada pela livre iniciativa dos “baianos”. Se, do baixo curso do Rio Mearim para cima, não fora possível adentrar os sertões, a comunicação se fazia, finalmente, do interior em direção ao litoral. Em 1811, o alferes de milícias Antonio Francisco dos Reis e familiares, “baianos” habitantes da alta ribeira do Grajaú, navegaram aquele rio até chegar às fazendas Lajes e São Benedito, de João Paulino da Costa, no Distrito do Mearim, após enfrentar com sucesso as armadilhas dos índios piocobgês (timbira) em toda a viagem, ao longo de 1.089 voltas ou estirões. Depois, chegaram ao Arraial da Vitória e, finalmente, à capital São Luís. Retornando ao ponto de origem, fundaram naquela ribeira a povoação denominada Porto da Chapada, origem do atual Município de Grajaú, e inauguraram a navegação contínua e o comércio entre as duas regiões. O contato com aquela nova realidade, entretanto, para os habitantes do norte era, às vezes, assustador. Em 1833, o juiz de paz do Mearim avisou a Joaquim Vieira da Silva e Sousa, presidente da Província, que haviam aportado no lugar canoas vindas de S. Paulo do Norte (nome do lugar Grajaú por algum tempo), trazendo 58 baianos, assassinos e ladrões em sua maior parte, razão pela qual pedia reforço militar de 15 praças comandados por um oficial inferior, para repelir qualquer atentado que os sertanejos pretendessem cometer, permanecendo no local até que os malfeitores se retirassem. O Presidente repassou o pedido ao Ten. Cel. Ignácio Correa de Vasconcelos, comandante das armas (fevereiro de 1833).
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No mês de janeiro daquele ano, a Regência do Império oficiara ao Presidente da Província, determinando-lhe providências acerca do projeto de uma nova povoação na confluência dos rios Corda e Mearim, promovida por Antonio Lourenço da Silva e outros, projeto já aprovado: que prestasse para aquele fim os socorros necessários e compatíveis com os meios à sua disposição, ou seja, força armada tirada do corpo novamente criado, para semelhante destino; ou dinheiro para pólvora e chumbo, gratificação a um capelão, e alfaias precisas para a celebração do sacrifício da missa; valendo-se da consignação votada para despesas eventuais, e mesmo da que era aplicada à civilização dos indígenas na parte respectiva; e que providenciasse, no tocante à administração policial, pelas autoridades do Julgado do Mearim, às quais a nova povoação deveria ficar subordinada, para que os novos colonos tivessem preferência nos terrenos que cultivassem dentro dos limites marcados e com as condições que o Corpo Legislativo julgasse convenientes. Trata-se de notícia da idealização do lugar Barra do Corda, que surgiria em 1835, como resultado do pioneirismo do “baiano” Manoel Rodrigues de Mello Uchoa e do maranhense oriundo da Ribeira do Mearim Manoel Raimundo Maciel Parente. Estes, em março de 1837, juntamente como os indivíduos Francisco Sacoto e Félix Manoel Monteiro Jorge aportaram na Vila do Mearim, “vindos pelo rio Mearim, da paragem Rio da Corda, deixando as suas famílias na foz daquele mesmo rio, onde pretendem fazer a nova povoação, os quais necessitam de toda proteção do Exmo. Governo desta Província para o fim que desejam”. Foi como o juiz de paz do 1º Distrito, Antonio José Alves de Figueredo, participou o fato, em ofício, a Joaquim Franco de Sá, Vicepresidente da Província, à maneira de uma carta de apresentação dos fundadores de Barra do Corda. O FIM DE UM CICLO Os anos de 1833 e 1834, em que se concluiu a emancipação políticoadministrativa da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim, pertencente ao Bispado do Maranhão (ou, sob outra ótica, do Distrito do Mearim, parte do Município da Capital; ou, ainda, do Julgado do Mearim, termo da Comarca do Maranhão) marcaram o fechamento do longo ciclo de povoamento da região. A prova do seu crescimento populacional é dada pelo mapa anexo à Correspondência dos Juízes de Paz do Mearim ao Presidente da Província do Maranhão no maço referente ao ano de 1837 (acervo de documentos avulsos do Arquivo Público do Estado do Maranhão). Verifica-se a seguinte distribuição entre os distritos do município recém-instalado: Vitória – 1.828 moradores; Arari – 1.172; Curral da Igreja – 675; Santa Maria – 788; e Sipaú – 1.094. Total de moradores do território da Vila do Mearim: 5.557 (dez vezes mais o número 500 almas “privadas dos sacramentos” que existiam em 1723! Vencera, finalmente, o homem sobre a fúria aparentemente indômita da natureza. As águas revoltas do Mearim tinham sido definitivamente domadas.
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FATOS SUBSEQUENTES 1. Sonho e conquistas de emancipação Em Arari, enquanto isso se intensificava o desejo de autonomia. A 13 de maio de 1836, o juiz de paz José Antonio Fernandes, daquele 2º Distrito, encaminhara ao bispo D. Marcos Antonio de Sousa um requerimento, sob a forma de abaixo-assinado, em que os moradores da localidade pediam que a capela ali levantada fosse elevada à dignidade de curato, por estar situada duas léguas abaixo da igreja matriz, em terreno cortado de igarapés, e por isso intransitável no inverno, dificultando-se assim, e às vezes tornandose impossível, os socorros espirituais. O Bispo mandou ouvir o vigário do Mearim sobre a pretensão e não se sabe o que ele respondeu. O fato é que, dois anos depois, em sessão da Assembleia Provincial (8 de março de 1838), foi rejeitada a proposta de criação de uma capela curada naquela povoação. Mas a luta dos ararienses por autonomia, iniciada em 1806, continuaria, alcançando êxito sem muita demora. Antes disso, porém, pela lei nº 342, de 31 de maio de 1854, a povoação da Barra do Corda, na Comarca da Chapada, foi elevada à categoria de vila, tendo o seu termo por limites os mesmos que, pela lei provincial nº 25, de 30/11/1849, foram assinados à capela curada ali criada. Desta forma, o território da Vila do Mearim deixava de limitarse com o da Vila da Chapada para limitar-se com o da Vila de Santa Cruz da Barra do Corda, embora por pouquíssimo tempo, como adiante se verá. É que, em 12/06, pela lei nº 349, dessa data, foi elevada a vila a Freguesia de São Luiz Gonzaga do Alto Mearim, tendo o seu termo e freguesia por limites os mesmos já designados e reconhecidos pela portaria da Presidência da Província datada de 14/08/1846. Por incluir em seu território um trecho das margens do Rio Mearim entre a Vila do Mearim e a povoação Barra do Corda, a Vila de São Luiz Gonzaga, com certeza, beneficiou-se com o desmembramento de parte do território daquela para a formação do seu, que com o dela passou a limitar-se. Entretanto, como o povoado ereto em vila constituía distrito de Coroatá, município criado em 1843, é deste que se considera desmembrado. A 22 de julho de 1854, a lei nº 359, dessa data, erigiu em vila e freguesia, sob a invocação de Santa Maria de Anajatuba, a povoação deste nome, compreendendo as do Saco Grande e da Mata, ficando o governo autorizado a marcar os limites da nova vila e freguesia de acordo com o ordinário e ouvindo as câmaras municipais do Mearim, de Rosário e do Itapecuru-mirim, de cujos territórios se desmembraram as porções que formaram o novo município. A Vila de Santa Maria de Anajatuba, embora tenha recebido do território da Vila do Mearim a maior parte do seu território (dois distritos, o 4º e o 5º), ficou sujeita, pela mesma lei, à Comarca de Itapecuru-mirim e não à de Viana, da qual a Vila do Mearim era termo. A 13 de novembro, o Presidente da Província, após ouvir as câmaras municipais interessadas, fixou, por portaria, os limites da Vila de Santa Maria de Anajatuba da seguinte forma: “correrão ao norte, do Igarapé Fundo atté a ilha denominada Banguella; deste ponto a este, até o logar Jaibara, comprehendendo os logares da Matta, Monjebello e Sacco Grande; do mesmo logar Jaibara seguirão, ao sul, até o Laguinho, comprehendendo as terras de Copahiba, Fortaleza e Assutinga; e do Laguinho, a oeste, até o Igarapé Fundo, comprehendendo o retiro do Bom Fim, Ponta da Vargem, Jamonabo e Morcego.” Com a emancipação de Anajatuba, o território da antiga Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré e recente Vila do Mearim sofria seu primeiro decréscimo.
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Porém, os fatos mais importantes dessa época ainda estavam por vir, entre 1858 e 1864. 2. A emancipação do Arari A 18 de janeiro de 1858, aportava na Vila do Mearim, às 9 horas da noite, o bispo D. Manoel Joaquim da Silveira, 17º bispo do Maranhão, para uma visita pastoral que lhe traria satisfação e que demoraria até o dia 24. Na saída, foi acompanhado ao porto por 300 pessoas. O vigário da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, José Lourenço Bogea, e seu irmão, o Cel. Manoel Lourenço Bogea, acompanharam-no até Arari, onde chegaram às 8 horas da noite. José Lourenço era o pároco de Vitória do Mearim desde 1835, quando assumira o cargo aos 28 anos de idade. Manoel Lourenço fora comandante da Guarda Nacional no Mearim até 1855. Padre José era o primeiro, e Coronel Manoel era o segundo, dos filhos do já falecido Lourenço da Cruz Bogea, na prática, o fundador de Arari. O Bispo ficou impressionado também com Arari: “As suas casas enfileiradas e perfeitamente illuminadas, com as luzes reflectindo-se no rio, offereciam um espectaculo encantador”. Sinos, foguetes e roqueiras aumentavam a alegria de 250 fiéis com seus vivos archotes. O Antístite ficou hospedado em casa do Cap. José Antonio Fernandes, aquele que, juiz de paz em 1836, havia encaminhado o requerimento de elevação da Capela de Na. Sra. da Graça à dignidade de curato, mas não foi atendido. Tenente-coronel da Guarda Nacional, no comando do batalhão do Mearim, José Antonio Fernandes era, na época, também o presidente da Câmara Municipal da Vila do Mearim. Em Arari, na ocasião, houve 619 crismas e fizeram-se 3 casamentos. No dia 27 de janeiro, o Bispo despediu-se, agradecido a todos, especialmente ao Pe. João Francisco Coelho – capelão – e ao seu hospedeiro Cap. José Antonio Fernandes, abençoando cada pessoa, “uma a uma”, e tomou a igarité, em que os dois o acompanharamm até o “porto das Barreiras”. A 24 de maio, quatro meses depois, a lei nº 465, dessa data, erigiu em freguesia, com a invocação de Nossa Senhora da Graça, a capela filial da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré do Mearim localizada na povoação do Arari, com os mesmos limites marcados para a dita capela. No ano seguinte, a 26 de janeiro, a Freguesia de Nossa Senhora da Graça do Arari foi instituída canonicamente pelo bispo D. Manuel Joaquim da Silveira, tendo por território “o que demora entre o igarapé Arari, na margem direita do rio Mearim, até entestar com os limites da freguesia de Santa Maria de Anajatuba, na margem esquerda do Mearim, todo o território compreendido entre uma linha direita tirada do dito igarapé Arari até entestar com os limites da freguesia de São Francisco Xavier de Monção, de Nossa Senhora da Conceição de Viana e de São José de Penalva”. Seu primeiro vigário, inicialmente encomendado e depois colado, seria o Pe. João Francisco Coelho, que assumiria logo em fevereiro, permanecendo no paroquiato até 1866. Vencera a primitiva ideia de Lourenço da Cruz Bogea e seus contemporâneos moradores da paragem denominada Arari. A luta iniciada em 1806 terminara. Segundo informação constante nas edições de 1862 e 1863 do Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Maranhão, o Município do Mearim, compreendendo as duas freguesias, de Vitória e Arari, tinha naquela época 9.899
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habitantes, sendo 7.821 livres e 2.078 escravos. Destes, 1.379 estavam em Victória e 699 em Arari. A Vila do Mearim e a povoação do Arari, encontrando-se plantadas em terreno particular, porque nunca lhes fora concedido nenhum terreno, tinham, cada uma, disposição em quadro. Na Vila, existiam os seguintes logradouros: praça da Matriz, rua Grande, rua dos Coqueiros, rua da Ponte, rua Nova, rua da Lage, rua do Forte, rua Deserta, travessa do Alecrim, beco dos Bonitos, beco do Jutahy, beco do Quartel, beco dos Tucuns, beco da Matriz, beco do Cajazeiro e rua Formosa (maio de 1864). Em Arary, somente existia uma rua, beira-rio, denominada Rua Grande. Entretanto, devia ser uma bela rua, posto como se referira à povoação o bispo D. Manoel Joaquim da Silveira no relato que fizera da viagem pastoral feita à Ribeira do Mearim no ano de 1858. E como a importância daquele lugar (e de pessoas interessadas por ele), até então um distrito do Município do Mearim, já se fazia sentir no Maranhão, no dia 27 de junho de 1864, a lei nº 690, sancionada pelo desembargador Miguel Joaquim Ayres do Nascimento, Vice-Presidente da Província no exercício da presidência, dispunha em seu art. 1º: Fica elevada à categoria de Vila a Freguesia de Nossa Senhora da Graça do Arary, conservando os limites que atualmente tem a referida freguesia.40 Remetido o diploma legal à Câmara Municipal do Mearim, de cujo território a nova vila se desmembrava integralmente, no dia 23 de julho o órgão comunicava ao Presidente da Província que recebera o documento e tornara público o ato, por editais, fazendo todas as comunicações necessárias, inclusive ao primeiro juiz de paz do 2º Distrito, na Freguesia de Na. Sra. da Graça.41 Assim, nos termos da legislação aplicável, no dia 7 de setembro de 1864, simultaneamente, eram realizadas eleições municipais em Vitória e Arari.42 A apuração dos votos da primeira eleição na nova vila, presidida pelo juiz de paz Tenente João Joaquim Pereira, revelou os primeiros vereadores eleitos: Tenente-coronel José Antonio Fernandes (543 votos), Tenente Pedro Nunes Cutrim (535), Tenente João Joaquim Pereira (529), Lino José Thiago de Mello (528), Alferes Joaquim Duarte Fernandes (509), Alferes Raymundo Hermenegildo de Senna (490) e José Nicolau Pereira (481). José Antonio Fernandes e seus correligionários tinham vencido. Sua luta, iniciada à frente de vários moradores do povoado Arari, em 1836, terminara.
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Colecção das Leis, Decretos e Resoluções da Província do Maranhão, ano de 1864. Correspondência das Câmaras Municipais ao Presidente da Província do Maranhão, ano mencionado, Arquivo Público do Estado, setor de documentos avulsos, maço referente ao Mearim. 42 Idem 41
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ANEXO José da Cunha d’Eça – alguns dados genealógicos e traços biográficos Tudo o que até hoje foi dito, de forma mais ampla, a respeito de José da Cunha d’Eça é resultado das pesquisas de CÉSAR MARQUES na segunda metade do Século XIX. Sobre essa estranha figura da história do Maranhão e do Pará no final do século XVII e início do século XVIII, o ilustre pesquisador escreveu no seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão (1870), no verbete Mearim (Freguesia), e na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (vol. LIX, 2ª parte, p. 47, 1896), em artigo intitulado José da Cunha d’Eça. Com base, principalmente, nesses comentários, o historiador JERÔNIMO DE VIVEIROS escreveu um artigo publicado no jornal O Imparcial, de São Luís, edição do dia 26 de junho de 1955, com o título de “O Fundador de Arari”, no qual, em largos traços, procurou mostrar a vida daquele a quem, erroneamente, considerava o fundador do Curato de Na. Sra. das Graças de Arari, certamente porque César Marques caíra no mesmo erro, primeiramente (verbete Arari do Dicionário...). Sustenta Viveiros que, quando Cunha d’Eça aportou na cidade de Belém do Pará, que foi a sua primeira residência na Colônia, ele dizia-se fidalgo, homem de haveres e ex-frade da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, mas que, de tais valimentos, certeza há apenas quanto à sua fortuna, apesar de sua primeira função pública em Belém ter sido muito humilde, simples soldado de um batalhão de infantaria. Para tal afirmativa, baseou-se o historiador no fato de que os relatos existentes dão conta da ascensão do d’Eça na vida da Colônia através das simpatias que adquiria a custo de sua fortuna, que, com finura, sabia gastar. Compreendendo bem o seu tempo, deu-se bem na prática desta política e continuou-a. Pode-se dizer, contudo, que a origem nobre de Cunha d’Eça está comprovada, não só pelo fato de ser esta uma família das mais tradicionais de Portugal, como também pela própria menção que o rei de Portugal fez a respeito de tal fidalguia quando comunicou ao Provedor Mor da Fazenda no Maranhão que confirmara as ordens conferidas ao fidalgo da Casa Real José da Cunha d’Eça e mandara admitir ao seu real padroado a igreja que ele fizera construir no Mearim. Com a palavra, agora, CÉSAR MARQUES, em seu Dicionário HistóricoGeográfico da Província do Maranhão, sobre José da Cunha d’Eça: “Fidalgo da Casa Real, na Capitania do Pará, serviu de soldado, e ao depois foi capitão do Fortim da Ilha, construído à sua custa, superintendente das fortificações do Pará e capitão de Infantaria por espaço de 12 anos, 8 meses e 28 dias interpoladamente, desde 14 de agosto de 1681 até 26 de fevereiro de 1709. Serviu nessa mesma ocasião de alferes de ordenanças e capitão de forasteiros, por ter dado gratuitamente casas para se recolher a Infantaria, vinda de Pernambuco. Quando os franceses de Caiena foram invadir as fortalezas do Cabo do Norte, prestou ele uma canoa grande com remeiros e alguma gente à sua custa para ir ajudar a restauração. Receando que fosse também o Pará acometido deu madeiras para se fazerem trincheiras e canoas para irem buscar as madeiras do mato, índios seus para remá-las, e
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ele mesmo trabalhou nos serviços de fortificações como também fizeram seus soldados e escravos. Foi ao Amazonas praticar com o gentio bravio43, gastando quase sempre do seu, com risco de vida, conduzindo do Maranhão para o Pará o Governador Cristóvão da Costa Freire à sua custa com gastos e prejuízos consideráveis de sua fazenda44. Por tudo isto foi nomeado Capitão-Mor da Capitania do Maranhão pela Provisão Régia de 23 de novembro de 1709”. BERNARDO PEREIRA DE BERREDO, em seus Anais Históricos do Estado do Maranhão (1723), relata que Cunha d’Eça tomou posse no posto de capitão-mor do Maranhão em 16 de outubro de 1710, nele permanecendo até outubro de 1714, quando o governador Cristóvão da Costa Freire veio do Pará trazendo seu substituto (parágrafos 1.464 e 1.471). CÉSAR MARQUES, na introdução da biografia do d’Eça, diz que julgava a propósito não ocultar o que soubera a respeito deste. E, continuando a narrativa, pede que se veja o reverso do quadro, que até aquele ponto vinha cheio de flores e só mostrando cores agradáveis. Então, relata: “Em 6 de junho de 1713 o Senado da Câmara oficiou à Sua Majestade dizendo que já no ano próximo passado tinha posto na presença de Sua Majestade a aflição, em que se achava o Maranhão pelo reprovado procedimento do Capitão da Praça José da Cunha d’Eça atravessando os gêneros do reino e do Brasil para depois vendê-los por preços fabulosos e nunca vistos na terra. Disse mais que ‘ele comprava aqui escravos pretos, cafuzos, mamelucos e cobres dos engenhos e mandava vendê-los no Pará com tanto dano e prejuízo desta Capitania e do aumento dela, e para melhor conseguir este e outros negócios costumava ameaçar os homens com o poder do seu cargo, afirmando que ainda esperava ser governador, servindo isto de pretexto para pagar somente a seu arbítrio o trabalho dos oficiais que o serviam, e não o merecimento deles, sendo ainda mais estranho o excesso de atravessar a moeda, que vinha em ocasião dos comboios do Brasil e desmanchá-la para várias obras que tinha mandado fazer, sem embargo da
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Viveiros acrescenta, citando como fonte os Anais da Biblioteca Nacional, vol. 66, p. 288: Desta missão expontânea não se desobrigou corretamente, pois querendo em 1706 substituir ao Sargento Mor Pedro da Costa Raiol no encargo de visitar as fortalezas daquele rio, sem ônus para o Governo, negoulhe o Rei a licença, impetrada através do Governador do Estado do Maranhão e do Provedor da Fazenda do Pará, alegando não haver no ânimo de Eça “verdadeiro zelo no serviço real”, mas sim propósito de “aumentar os seus interesses”. Depreende-se desta recusa o desvalimento em que o exfrade argentário tinha caído no conceito da Coroa. 44 Viveiros considera que Cunha d’Eça, sabendo que Cristóvão da Costa Freire, Senhor de Pancas, chegara ao Maranhão e preparava-se para visitar o Pará, resolveu apresentar-se em São Luís e oferecer-se para acompanhá-lo à frente de um escolta, numa demonstração de oportunismo que surtiu os efeitos desejados, pois o Governador acabou seu íntimo amigo. Assim, quanto todos o julgavam um homem ao mar, ele estava nas graças do governo. Em pouco, o Senhor de Pancas reabilitava-o perante o Rei, e de modo tão cabal o fez, que era nomeado Capitão Mor de S., Luís pela provisão régia de 23 de novembro de 1709.
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pena da ordenação do reino e de um bando do Senado ao som de caixas pelo que pediam providências à Sua Majestade’.45 Passados dez anos deixou ele a vida do mundo, e voltou-se para a Igreja, sendo seu primeiro ato o que acima narramos [a edificação da igreja do Mearim]. Não se contentou só em edificar a igreja, deu-lhe também patrimônio, como já dissemos.” Antes disto, porém, e após a sua passagem pela Capitania do Maranhão, envolveuse em um incidente em Belém do Pará, entre os anos de 1717 e 1718, no qual se indispôs com Roque Bequimão, filho de Tomás Bequimão e sobrinho de Manoel Bequimão, os líderes da Revolta contra o Estanco (1684). Roque, servindo no Senado de Belém, viu-se envolto em muitos problemas na Capitania do Pará. Suas atitudes levaram as autoridades a enviar uma carta a El -Rei em 1717, o qual mandou então excluí-lo do Senado da Câmara, para jamais ser admitido, caso desse motivo a qualquer perturbação, valendo tal ordem para todo o sempre. Inobstante, na qualidade de juiz em Belém do Pará, Roque fez um auto judicial contra José da Cunha d’Eça, afeiçoado do governador Cristóvão da Costa Freire. O d`Eça teria injuriado Roque quando este assistia à feitura de um inventário. Costa Freire mandou prender Roque, soltando-o somente quando recebeu o dito auto das mãos do filho de Tomás Bequimão. Entregue o documento, o Governador ainda o mandou desterrado para fora da cidade.46 Sabe-se que, para abraçar o estado eclesiástico, apelou Cunha d’Eça para o bispo D. Frei José Delgarte, que lhe conferiu as ordens necessárias.47 Esse bispo o persuadiu a edificar a igreja da ribeira do Mearim, sabendo que ele possuía muitos bens. Ele não só a construiu, como dotou-a de patrimônio: curral de gado, meia légua de terra, quatro escravos, abegoaria, paramentos e, mais, naveta, turíbulo, caldeirinha e sino.48 Em face da obra de Cunha d’Eça no Mearim, El-Rei mandou admitir o templo ao seu real padroado e o confirmou como o seu primeiro prelado, consignando-lhe a côngrua de 50$000 réis, pela Resolução Régia de 18 de março de 1723. É certo, porém, que aquele primeiro vigário da Ribeira do Mearim não se demorou muito no referido paroquiato. Ora, já em 1734 o vigário do Mearim era Joseph de Moraes Pimenta, conforme consta nos Autos de Visitação feita na Freguesia de Na. Sra. de Nazaré, naquele ano, pelo padre visitador João Rodrigues Covette. Ademais, no livro de assentamento de batismos da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré do Mearim 45
“Aquele vassalo abnegado desaparece para surgir um aventureiro sequioso de lucros fabulosos. Será possível tão radical mudança! Difícil ventilar o caso, pois na documentação existente não há uma palavra em sua defesa, e que ela foi feita é de presumir-se, dada a inteligência e a energia do acusado. A representação do Senado da Câmara de São Luís é um libelo tremendo contra Cunha d’Eça. (...). Apesar do rigor da acusação, não há notícias de devassa a respeito, tudo indicando que ele exerceu o cargo sem constrangimento” - VIVEIROS, Jerônimo. O Fundador de Arari, in O IMPARCIAL, 26.06.1955. 46 Cf. Informação do Maranhão, Pará e Amazonas, para El-Rei do P. Visitador Manuel de Seixas, datada de 13 de junho de 1718, reproduzida in LEITE, Serafim, História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo IV, apêndice G. 47 Teria esta ordenação, segundo VIVEIROS, ob. cit., escandalizado o público da pequenina cidade de São Luís. Fora a segunda reviravolta na vida do d’Eça. Na primeira, tinha deixado o burel de frade pela jaqueta de emigrante; na segunda, despia o fardão de Capitão Mor para vestir a batina de padre secular. 48 É bem provável que tais objetos sejam os que ainda são usados nos atos religiosos, porque aparentam ser muito antigos.
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correspondente ao período de 1744 a 1773, o mais antigo existente na secretaria da referida Paróquia,49 vê-se que o padre em 1744 ainda era Joseph de Moraes Pimenta, que paroquiou até 1746. A partir de 1747 (janeiro), foi vigário o Pe. José de Mello Barbosa, sucedido por Francisco Xavier de Araújo em 1755 (novembro). “José da Cunha d’Eça foi padre da ordem de Nossa Senhora das Mercês, militar intrépido e abnegado servidor da Coroa Portuguesa. Capitão-mor do Maranhão, acusado como comerciante inescrupuloso, exemplar chefe de família, doutor do Tibi quoque,50 padre secular, primeiro vigário da Ribeira do Mearim, protonotário apostólico, Comissário da Santa Cruzada e arcediago da Sé do Maranhão. Morreu neste último cargo.51 (...) Tudo isso José da Cunha d’Eça fez. O que ele não fez foi fundar o curato de Nossa Senhora da Graça, em que gastou boa soma de seu patrimônio, como afirma categoricamente o professor Jerônimo de Viveiros. Mesmo porque o Curato de Arari nunca existiu e, se tivesse existido, seria muito depois da morte do Eça. Seria de 1836 em diante, de acordo com o informe de César Marques.”52 Com estas últimas palavras, o Pe. CLODOMIR BRANDT E SILVA, vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Graças de Arari, falecido em 1998, biografa Cunha d’Eça em sua obra Assuntos Ararienses (1985). E, destarte, espera-se ter fornecido, senão uma síntese biográfica, pelo menos um apanhado dos fatos mais marcantes da vida do fundador da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, sob o pálio da qual surgiu Vitória do Mearim: José da Cunha d’Eça, um tipo aventureiro, qual um cavaleiro andante, homem, enfim, que, segundo JERÔNIMO DE VIVEIROS, teve em sua vida muito de romanesco, ora com uma coragem indômita, ora com uma brandura de cordeiro, mas, em qualquer dos casos, sempre agindo com inteligência e larga previsão dos fatos. Assim era o controvertido José da Cunha d’Eça, fundador de uma igreja cujas implicações históricas se fizeram sentir em toda a região do Mearim. NOTA BIBLIOGRÁFICA Este texto resulta, essencialmente, de uma combinação, com cortes, correções e adaptações, de cinco trabalhos anteriores do autor, e foi enriquecido com novas reflexões e com informações colhidas em outras fontes. Todas as fontes a que recorreu para elaborá-lo são relacionadas a seguir.
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Assento mais antigo: Aos vinte e sete dias de fevereiro de mil, cetecentos e quarenta e quatro, baptizei com os santos oleos ao inocente Valentim, filho legítimo de Enrique Coelho e de sua mulher Ignácia de Almeida. Forão padrinhos Santos Cosme e Luzia Conceição. Dia mês anno ut supra. O Pe. Vigº desta Ribeira. 50 Jerônimo de Viveiros, ob. cit., comenta: Se ele não freqüentou, nos anos em que foi frade, alguma das Universidades da Europa, tal título importa em mais uma “blague” do famoso fidalgo. Em verdade, as Escolas só os conferiam àqueles que faziam os quatro anos do seu curso. “Tibi-quoque” era até uma frase da cerimônia do bacharelato. O infatigável César Marques descreve essa cerimônia no seu já citado estudo: (...). Já se vê, portanto, que era preciso cursar uma Universidade para usar legalmente tal diploma. Como Eça o arranjou, ninguém nunca soube. 51 Teria morrido já muito velho, em época imprecisa, segundo VIVEIROS, ob. cit. 52 O que, na verdade, não aconteceu, como foi demonstrado no texto principal.
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ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO. Ofício do governador do Maranhão, José Teles da Silva, para o secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, remetendo uma representação dos moradores do rio Mearim sobre a necessidade de mão-de-obra para o cultivo das terras. Dá também o seu parecer. Em anexo: a referida representação e 2ª via. AHU-ACL-CU-009, Caixa: 67, Doc.: 05879, 1786.junho.11. Disponível em CD-ROM. BOSCHI, Caio C. Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao Maranhão existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa). São Luís: Funcma/AML, 2002. BRANDT E SILVA, Clodomir. Assuntos Ararienses. Arari: Ed. Notícias, 1985. CANTANHÊDE, Washington Luiz Maciel.Vitória do Mearim dos primórdios à emancipação. São Luís: Lithograf, 1998. ____________________.Vitória do Mearim da emancipação à era dos intendentes. São Luís: Lithograf, 1999. ____________________.Origem de Vitória do Mearim: enfim, a prova que faltava. In: Folha da AVL, ed. n. 13. Arari/Vitória do Mearim: Academia ArarienseVitoriense de Letras, abr.2004. ____________________.A Justiça d`El-Rei na Ribeira do Mearim. In: Folha da AVL, ed. n. 24. Vitória do Mearim/Arari: Academia Arariense-Vitoriense de Letras, abr.2007. ____________________.A presença de Vitória do Mearim na história remota de Grajaú. In: Folha da AVL, ed. n. 36. Arari/Vitória do Mearim: Academia ArarienseVitoriense de Letras, abr.2011.
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DUAS MENTIRAS HISTÓRICAS JOÃO MENDONÇA CORDEIRO Do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, cadeira 32, e da Academia Vianense de Letra, cadeira nº 4 http://www.jornalpequeno.com.br/2011/4/3/duas-mentiras-historicas-151037.htm
O Maranhão, mais uma vez, se afirma e confirma como Terra da Mentira, conforme pregava o grande orador sacro, Padre Antônio Vieira que aqui viveu e durante anos lutou em favor da verdade absoluta de Deus e relativa dos homens. As duas mentiras históricas, perpetradas em escritos sobre São Luís e o Maranhão e repetidas continuamente em livros, na imprensa e em outros meios de comunicação de massa, referem-se à fundação da cidade de São Luís pelos franceses, em 8 de setembro de 1612 e o Impeachment do Governador Aquiles de Faria Lisboa, em 2 de julho de 1936. Durante três séculos, de 1612 a 1912, nenhum historiador português ou brasileiro considerou como francesa a fundação de São Luís. Assim, Diogo de Campos Moreno, que, em Jornada do Maranhão, descreve, com pormenores, as batalhas dos portugueses contra os invasores franceses, os seus locais de lutas, inclusive na Ilha do Maranhão, não considera, em qualquer momento, como indícios e/ou inícios da edificação de uma cidade, sede da França Equinocial, os raros pontos da construção frágil, com paus e pindobas, de forte e casebres. O conceituado historiador João Francisco Lisboa, em Apontamentos, Notícias e Observações para a História do Maranhão, limita-se a comentar a invasão francesa. Mas Bernardo Pereira de Berredo, em Anais Históricos do Estado do Maranhão, publicados em 1749, informa: “Logo que o General Alexandre de Moura saiu da Baía do Maranhão, aplicou Jerônimo de Albuquerque o principal cuidado à útil fundação de uma cidade naquele mesmo sítio, obra de que também se achava encarregado por disposições da Corte de Madri (...) dentro de pouco tempo adiantou tanto a povoação (...), lhe declarou a invocação de São Luís; ou fosse porque estando tão conhecida já aquela ilha pela natural participação da sua fortaleza, se não atreveu a confundir-lhe o nome com a mudança dele; ou porque quis na conservação desta memória segurar melhor a sua nas recomendações da posteridade”. Raimundo José de Sousa Gaioso, em Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão, publicado em 1818 afirma: ”Sossegado Jerônimo de Albuquerque na força de seus trabalhos com a fundação da cidade do Maranhão, de que tomou o apelido” e “Livre o Maranhão naquele dia de toda a sujeição francesa, aplicou Jerônimo de Albuquerque todo cuidado na fundação de uma cidade naquele mesmo sítio; Barbosa de Godóis, em História do Maranhão para uso dos alunos da Escola Normal, 1904, confirma: “de posse do Governo do Maranhão, Jerônimo de Albuquerque, cumprindo as ordens que recebera da Corte de Madrid,tratou com solicitude da fundação da cidade,dando o nome de São Luís”. César Marques, em seu indispensável Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão,também registra: “Jerônimo de Albuquerque volveu suas vistas para a fundação e edificação da
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capital,dando-lhe nova forma e ordem,como tudo lhe foi ordenado pela Corte de Madri”. Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres, em Poranduba Maranhense, escrito em 1819 comenta: “Jerônimo de Albuquerque fundou, logo junto à fortaleza de São Luís uma cidade (debaixo da proteção de Maria Santíssima com o título de Vitória que já lhe tinha decretado em Guaxenduba) com a invocação de São Luís e a fortaleza deste nome teve por diante o de São Felipe”. O padre jesuíta João Felipe Bettendorff, reportando-se ao livro do capuchinho Cláudio d’Abbeville, acrescenta: “para, pois, dar alguma breve notícia dela (Ilha do Maranhão) digo com o dito autor e pelo que consta por ter morado nela muitos anos, que é a que depois de expulsados os franceses, se edificou a Cidade de São Luís, cabeça de todo o Estado do Maranhão”. A historiadora ludovicense, professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix, com seus livros: A Fundação Francesa de São Luís e seus Mitos e Jerônimo de Albuquerque, vem lutando, parece que em vão, em favor da verdade histórica da fundação não francesa da cidade de São Luís do Maranhão, pois tanto a administração estadual como a municipal prometem obras e comemorações para 2012 e são lançados concursos literários e escritos em jornais sobre os quatrocentos anos da cidade. Anteriormente, o professor e antropólogo Olavo Correia Lima, em artigo publicado na Revista nº 16, de 1993, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, já contradizia com argumentos científicos o mito dessa fundação francesa, defendendo a verdade histórica de que a cidade foi fundada “pelo grande mameluco pernambucano, Jerônimo de Albuquerque, em 27 de novembro de 1614, data de assinatura do armistício” com os invasores franceses, derrotados na Batalha de Guaxenduba. O documento apresentado como prova da fundação francesa da cidade de São Luís, “la petite ville”, capítulo XIII,sob o título: De como se plantou a cruz no Maranhão e foi a terra benzida - do livro: História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas – do frade capuchinho, testemunha pessoal e fidedigna, Cláudio d’Abbeville, descreve, minuciosamente, as solenidades de 8 de setembro de 1612. O livro do frei Cláudio d’Abbeville é o único que registra esse acontecimento, pois a obra de outro capuchinho, frei Ivo D’Evreux: Viagem ao norte do Brasil, feita nos anos de 1613 a 1614, relata, portanto, fatos posteriores a 1612. O citado capítulo compõe-se de doze parágrafos assim distribuídos: 1º: sermão aos índios: para serem católicos, apostólicos,romanos, deveriam “chantar e arvorar em triunfo o estandarte da Santa Cruz”; 2º: Deliberaram reunir-se em 8 de setembro, dia da Natividade da Santíssima e Imaculada Virgem Maria.Da missa na capela, saíram em procissão até o forte; 3º: fidalgos levavam água benta, incenso e turíbulo e gentil-homem carregava belíssimo crucifixo. Dois jovens índios, filhos do principal da Ilha, conduziam dos lados da Cruz, dois castiçais com círios acesos. Religiosos de sobrepelizes brancas, nobres, plebeus e índios acompanhavam o Senhor de Razilly, locotenente – general de Suas Majestades.
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4º- Cantavam litanias à Virgem Maria, como na Ilha Pequena ou Santana. Junto ao Forte entoaram Te Deum Laudamus e outras orações. 5º:- Após o sermão, Des Vaux explicou aos índios que a colocação da Cruz era um testemunho da aliança firmada entre eles e Deus com a promessa de que abraçavam a religião cristã e renunciavam ao maldito Jurupari 6º: - Os índios, emocionados, asseguraram que voluntariamente aceitavam tudo quanto lhes fora proposto. 7º: - Benzida a Cruz, foi por todos adorada,ao som do cântico: Vexilla Regis Prodeunt, repetido o versículo: O Crux, ave spes única. 8º: - Os principais das Aldeias vestiam belos casacos azuis celeste, com cruzes brancas por diante e por trás, doados pelos locos-tenentes-generais e juntamente com os outros índios, anciãos e crianças, adoravam piedosamente a Santa Cruz. 9º:- Assim, fervorosamente, abraçavam a religião cristã. 10º:- Os índios levantaram e chantaram a Cruz, ao cântico de O Crux, ave spes unica, in hac triumphi gloria. 11º: - Dominava a alegria e felicidade de todos por se erguer e chantar a Santa Cruz, entre gentios e arraiais que se julgavam rebeldes às santas leis do cristianismo. “E isso se fez nesse dia notável na Ilha do Maranhão e com geral contentamento” 12º:- Erguida a cruz e benzida a Ilha, enquanto do forte e dos navios muitos canhonaços se disparavam em sinal de regozijo, o Sr. De Razilly deu ao forte o nome de São Luís, em memória eterna de Luis XIII; ao ancoradouro ou porto, junto ao forte,denominou de Santa Maria, em homenagem à Virgem Maria, cuja Natividade se comemorava naquela data. Assim, as cerimônias realizadas em 8 de setembro de 1612- missa, procissão, colocação e adoração da Santa Cruz, - constituíram-se de pura liturgia católica, ao som de cânticos sacros. Não se revestiram de qualquer intenção política, muito menos de fundação de uma cidade, tanto que La Ravardière, considerado, séculos depois, como fundador da cidade, nessa data, nem ao menos participou dessas solenidades de catequese católica, por ser protestante. O historiador Antônio Lopes, no artigo reproduzido em Estudos Diversos, sob o título Nossa Cidade, confirma como “religiosa” a cerimônia realizada em 8 de setembro, embora contraditoriamente aceite como data da fundação de São Luís. Da malograda invasão francesa restou o traço cultural do nome da cidade = São Luís, em homenagem ao rei Luis XIII, mantido pelos portugueses, mas em honra ao santo Luís IX e existia, na época, o núcleo primitivo: forte de pau a pique, denominado, depois, São Felipe, uma capela e armazém,casebres, todos construídos de paus e pindobas e não de pedras ou tijolos, no promontório da atual Avenida Pedro II, convento e capela, próximos, localizados onde hoje se encontra o Colégio Santa Teresa e não no local distante, de acesso, então, quase impossível onde hoje existem a igreja e o seminário Santo Antônio, como provou o historiador Antônio Lopes em artigo publicado na Revista do IHGM, Ano II, nº1, novembro de l948,sob o título: A História de São Luís – Questões e Dúvidas – A residência dos capuchinhos franceses.
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Por força da ideologia: conjunto de idéias determinantes de uma sociedade (Comte) ou superestrutura conceitual, produto necessário de uma infra-estrutura econômica (Marx), “atenienses”, alienados, em busca de um presente glorioso como fora no passado a Atenas Brasileira, dominados pelo galicismo, criaram, em 1912,o mito da fundação francesa da cidade de São Luís. Trocaram o verdadeiro fundador, o mameluco brasileiro, pernambucano, produto de duas etnias que formaram o Brasil- portugueses e índios - Jerônimo de Albuquerque, herói da expulsão gaulesa, o qual acrescentou ao nome o cognome Maranhão de que tanto se orgulhava,por um pirata francês, La Ravardière, pusilânime, que embora dispusesse de imbatível poderio bélico constituído por navios, canoas, soldados bem treinados e alimentados e milhares de índios, foi vergonhosamente, por sua absoluta incapacidade, derrotado na misteriosa Batalha de Guaxenduba, por soldados portugueses, doentes e famintos e alguns índios. Foram pioneiros dessa mentira histórica o professor e fundador da Academia Maranhense de Letras, José Ribeiro do Amaral, em Fundação do Maranhão, publicado em 1912 e Domingos Perdigão em discurso na abertura da Exposição comemorativa dos 300 anos da pretensa fundação da cidade de São Luís pelos invasores franceses. Por determinação de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, nomeado Capitão-Mor da Província, o Engenheiro-Mor do Reino, Francisco Frias de Mesquita providenciou a planta da cidade de São Luís (MA), partindo do núcleo primitivo francês, atual Avenida Pedro II, continuando pelo Largo do Carmo (Praça João Lisboa), estendendo-se as ruas estreitas, com quadras regulares, em direção à Madre Deus e outros bairros. No momento, cabe ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), em seus gloriosos 85 anos de fundação e instalação, comemorados no final de 2010, como entidade científica e não apenas literária, poético-ficcionista, o qual empreendeu, no passado, campanhas vitoriosas como na definição dos limites do Maranhão, com o Pará (Gurupi), com o Piauí (Delta do Parnaíba) debater e defender a verdade histórica da fundação da cidade de São Luís. A outra mentira histórica constitui o Impeachment do Governador Aquiles de Faria Lisboa, uma farsa jurídico-política, como já mostrei em artigo publicado em 2006, no ensejo das sete décadas desse acontecimento e será objeto de estudo mais longo e profundo no livro a ser publicado, em 2 de julho próximo,aos 75 anos desse embuste.
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A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL DE OCEANOGRAFIA NATALINO SALGADO FILHO Doutor em Nefrologia; Reitor da UFMA; Membro do IHGM, ACM e AMC Todos os anos a Universidade Federal do Maranhão realiza cerimônias de colação de grau de alunos concludentes de diversos cursos de graduação. Mas, neste artigo, quero destacar, em particular, uma cerimônia de colação de grau realizada recentemente. Falo da primeira turma do curso de Oceanografia, a qual foi uma grande conquista alcançada por todos que fazem a história dessa Instituição. Desde 1970, essa Universidade, antes mesmo de oferecer o curso de Oceanografia, tem se dedicado ao estudo dos oceanos, zonas costeiras do Estado e águas continentais, através do Laboratório de Hidrobiologia-LABOHIDRO, que estava vinculado ao Departamento de Ciências Fisiológicas do Instituto de Ciências Físicas e Naturais. Em 1980, foi criado o Departamento de Biologia com o objetivo de dar suporte ao Curso de Ciências Biológicas, o qual foi desmembrado em 1998 em dois Departamentos: Biologia e Oceanografia e Limnologia. Em 2000, criou-se o curso de Ciências Aquáticas para preencher duas lacunas no conhecimento e no manejo sustentável dos recursos hídricos do Estado do Maranhão: estudo de tecnologias apropriadas para o cultivo de organismos aquáticos e gestão e planejamento dos recursos hídricos. No ano de 2006, uma avaliação do Curso de Ciências Aquáticas feita pelo INEP/MEC sugeriu que o curso passasse a se denominar Oceanografia, ainda que àquela altura não houvesse regulamentação do curso com essa nova nomenclatura. Posteriormente, o reconhecimento da profissão aconteceu mediante Lei nº 11.760, 31 de julho de 2008. A mudança não ficou só no nome, para formar oceanógrafos fez-se necessário incorporar três novas disciplinas ao currículo. Esse resgate histórico é importante, mas não nos deixa esquecer de que o mar, um dos mais importantes campos de trabalho do oceanógrafo, sempre representou uma fonte inexaurível de mistérios e desafios para a humanidade. Aristóteles (380 a.C) foi o primeiro a estudar os oceanos a partir de uma abordagem científica. No entanto, passaram-se cerca de dois mil anos até que a ciência oceanográfica começasse a existir da forma como hoje a conhecemos. A Oceanografia, incluída na área das Ciências Exatas e da Terra, dedica-se ao estudo dos oceanos e zonas costeiras, tanto em seus aspectos bióticos como abióticos, e ainda aos processos que ocorrem nesses ambientes. Além disso, o profissional de Oceanografia tem, aliado à forma de atuar no mercado de trabalho, uma contribuição nobre e importante para a sociedade, pois se trata de uma ciência que investiga as características dos mares, rios, lagos, oceanos e zonas costeiras sob todos os aspectos, desde sua descrição física até a interpretação dos fenômenos que neles se verificam, além de sua interação com os continentes, com a atmosfera e com os seres vivos. Recordo que o primeiro astronauta a ir ao espaço, Yuri Gagarin, ao orbitar ao redor do nosso planeta, disse uma frase que representava seu assombro e
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maravilhamento: a terra é azul! A cor resultava da atmosfera, mas principalmente por causa dos oceanos que cobrem dois terços da superfície dela. Mais de quarenta anos depois desse feito, o mar ainda continua sendo a grande fronteira desconhecida para o homem. Afirmou um dos maiores apaixonados pelo oceano, o francês Jacques Cousteau: “Nascemos com os olhos acostumados ao azul das águas. Temos um corpo que anseia pelo abraço do mar e um pulmão que aceita grandes privações de ar apenas para prolongar a nossa vida no mundo azul”. Tenho a confiança de asseverar que os agora graduados em Oceanografia são herdeiros desse desafio que justifica uma característica fundamental da natureza humana: a capacidade de explorar, conhecer e transformar. Sequer podemos imaginar os mistérios e segredos que os mares guardam, embora os rios, ainda que mais explorados, nos reservem também seus enigmas. Os especialistas confirmam que somente o rio Amazonas ainda tem tantas espécies a serem descobertas e catalogadas quanto as que já são conhecidas. Cabe aos novos oceanógrafos, atuais detentores de um saber, direcioná-lo para a produção de um tipo de conhecimento gerador de novas áreas de pesquisas, tecnologias e desenvolvimento sustentável. O mundo de possibilidades que se abre diante dessa primeira turma e das que virão é tão vasto quanto o mar. Os universos de ambiente e seres que poderão ser trabalhados, dentro de um novo contexto econômico mundial, produzirão uma nova consciência do papel destrutivo de nossas ações para o planeta. Neste momento, percebe-se que nossa base energética é finita, que a população em constante crescimento precisa ser alimentada, e este mundo desconhecido das águas guarda soluções que estão à espera de seus descobridores. O Estado do Maranhão tem o segundo maior litoral do Brasil que, por sua vez, tem cerca de 7.500 km de faixa litorânea, sem contar as reentrâncias. Para o nosso Estado, todo este vasto território representa um enorme potencial turístico, econômico e social, ainda praticamente inexplorado. Do mesmo modo, o Maranhão é recortado por rios que ao longo de sua história foram as principais vias de acesso ao seu interior. Por estas veias d’água, singraram lanchas, batelões e canoas carregando suas riquezas. Seus rios com multivariadas espécies de peixes alimentaram gerações. Mas estes mesmos rios, atualmente, padecem de males diversos que os estão matando aos poucos e comprometendo inexoravelmente o futuro de toda a população do Estado. Diversas questões estão a esperar respostas: o que a nossa sociedade fará agora para garantir às gerações futuras este patrimônio do qual somos apenas mordomos? O meio ambiente aquático, objeto de trabalho dos oceanógrafos, é um direito transgeracional. A responsabilidade é de todos, contudo se espera desses profissionais, detentores do conhecimento das águas, que sejam os grandes agentes catalisadores de um processo que incorpore à vida de todos um sentido de valor da água, bem maior do que a simples conservação para a sobrevivência de nossa espécie. E, sobre isso, talvez dissesse São Francisco, água-irmã, beleza e suporte da vida na terra. Neste contexto, é possível, sim, fazer diferença e é isso que se espera do profissional de oceanografia. A UFMA, casa que abrigou estes novos profissionais em sua formação, espera de seus egressos que trabalhem muito para que o Maranhão e o Brasil cresçam com inclusão social. Para tanto, é preciso competência, talento e, não menos importante, um profundo senso ético, de respeito à vida e ao patrimônio público, material e imaterial, simbólico e cultural.
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II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES Mesa-redonda: Comemorações Históricas: São Luís 400 anos: Ciência, Arte e Humanidades 30/05/2011
A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO /SÃO LUIS / VINHAIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Cadeira 40 – Patroneada por Dunshee de Abranches
Agradeço o convite para este Encontro, o segundo do CRISOL - coordenado pelo Professor Alexandre Fernandes Correia, do Departamento de Ciências Sociais da UFMA. Um agradecimento especial ao Rafael. Conheci-o ainda quando estudante do “Liceu Maranhense”, aluno de minha mulher, Delzuite, professora de História. Depois, reencontrei-o, já acadêmico de História nesta Universidade. Quando Rafael fez-me o convite, disse que o evento trataria de uma temática ampla – este II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES, entre outras temáticas discutiria sobre Patrimônios Culturais, Comemorações Históricas, Museologia, Representações e Culturas. Informou, ainda, da participação, como palestrantes dos Senhores Nilton Batista e Abimael Ferracini. A proposta era que falasse como terceiro componente da mesa, sobre o Projeto do IHGM para os 400 anos de São Luís, ou mesmo minhas pesquisas sobre História do Maranhão. Optei pelo tema “A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO/SÃO LUIS/VINHAIS”. Devo esclarecer que não sou ‘Historiador de carteirinha’; minha formação básica é em Educação Física e Esportes. Tenho me dedicado, desde o início dos anos 80, do século passado, ao resgate da memória dos esportes, da educação física e do lazer no/do Maranhão. Escrevo sobre tema específico, mas para isso, tenho que saber a História deste estado que me acolheu. Vou começar com a cultura, entendida aqui como o conjunto de manifestações que dá singularidade a um determinado grupo social, fruto das relações sociais e da profunda interação dos homens com o meio em que vivem. Constitui-se num patrimônio material e imaterial acumulado e transformado ao longo de gerações. Um legado que não se limita a manifestações artísticas, à língua, à religião, mas se articula nos mais variados domínios da produção humana. A cultura confere uma identidade coletiva a um determinado grupo social, espacialmente definido e historicamente determinado (CASTRO, 2008)53.
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CASTRO Cláudia Steffens de. Educação para o turismo: preservação da identidade regional e respeito à cultura imaterial. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 4, ISSN: 1807-6971, Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em 09/09/2010.
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Para Castro (2008), a “memória” consiste na capacidade humana de retenção de acontecimentos, fatos e experiências vividas e na retransmissão deles às novas gerações através de diferentes suportes como a própria voz, a música, a imagem, textos, artesanato, etc. Serve-se de Câmara Cascudo (1971) 54 para definir essa memória, como o alicerce para a identidade regional. Afirma que o conjunto de memórias de uma sociedade tem uma função de convocar tanto o passado quanto o futuro. Tem, portanto, um lado de permanência e outro de produtividade à espera de quem com ela entre em contato. Segundo o autor, “[…] a memória é a imaginação no povo, mantida e comunicável pela tradição, movimentando as culturas convergidas para o uso através do tempo. Essas culturas constituem quase a civilização nos grupos humanos”. Essa memória é que define a origem e identidade do homem, conferindo-lhe também, dignidade. Trata-se de um mecanismo de apoio, que evita que uma localidade fique estagnada no tempo, auxiliando na preservação de fatores como as primeiras regras de vida associativa ou de técnicas de uso cotidiano e de produção tecnológica, lançando-se no mecanismo cumulativo de saber transmitido intra e inter-gerações (BARROS, 2003) 55. Já a identidade, segundo Castro (2008), é um processo em constante movimento e é o que faz com que o indivíduo reconheça a si mesmo, a priori, como parte de uma identidade coletiva, reconhecendo aos outros como iguais, estabelecendo uma relação íntima ou essencial entre ele e seu grupo. Portanto, a identidade se constrói dentro de um mecanismo que engloba a consciência de si mesmo e o reconhecimento do outro (BETTIO, 2000) 56. Assim, a identidade de um povo é o resultado da identidade individual e coletiva estabelecidas pelos membros de uma mesma comunidade. Fábio Lessa (2010) 57, ao fazer uma análise da construção da identidade grega, afirma que “pensar em práticas esportivas e, principalmente, em Olimpíadas nos remete, quase que automaticamente, aos gregos antigos”. Enfatiza esse autor, que o esporte, na Grécia Antiga, se constitui numa prática ritual que atuava na formação do cidadão ideal e na sua demarcação identitária. Cabia às divindades políades a função de regulação social, permitindo a integração dos indivíduos aos grupos sociais. Continuando com Lessa: as pesquisas antropológicas freqüentemente concebem o ritual como elemento de coesão social, servindo ainda para dirimir conflitos ou diminuir rivalidades e ao mesmo tempo para transmitir conhecimento. Roberto DaMatta (1997, p. 29)58, por exemplo, afirma que os ritos servem para promover a identidade social. Marc Auge (1999, p. 4445) 59, em sentido semelhante, destaca que as atividades rituais têm por objetivo essencial a conjugação e domínio da dupla polaridade: individual/coletivo e simesmo/outro 54
CASCUDO, Luis da Câmara. Tradição, ciência do povo. São Paulo: Perspectiva, 1971, p. 9. BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Memória, linguagem e identidade – Memória hoje. Morpheus – Revista Eletrônica em Ciências Humanas, ano 02, n. 03, 2003. Disponível em <http://www.unirio.br/cead/morpheus/>. 56 BETTIO, Valéria Maria da Silva. Movimento Brasileiro: crítica e nacionalismo no Modernismo. Porto Alegre: PUCRS, 2000. 57 LESSA, Fábio. Práticas Esportivas Na Construção Da Identidade Helênica. In Blog Historia(s) do Sport: http://historiadoesporte.wordpress.com/2010/09/06/praticas-esportivas-na-construcao-da-identidade-helenica/, acessdo em 11/09/2010. 58 DAMATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. 59 AUGÉ, M. Por uma antropologia dos mundos contemporâneos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. 55
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A identidade é relacional e depende de algo de fora dela para se constituir, isto é, da outra identidade. Afirma Lessa (2010): “Além de plurais e construídas historicamente, as identidades são constituídas por meio da marcação da diferença, o que significa dizer que a identidade depende da diferença. Afirmar a identidade implica em demarcar fronteiras. Atuam, entre outras coisas, na demarcação dos cidadãos frente aos outros; na explicitação das marcas das diferenças. Podemos mencionar que a questão da identidade, da diferença e do outro é um problema social, porque em um mundo heterogêneo, o encontro com o outro, com o estranho, com o diferente, é inevitável, e ao mesmo tempo, se articula perfeitamente com a dinâmica das práticas rituais.
Ao refletir a identidade local, nos sentidos coletivos e individuais, a memória local age reforçando a auto-estima. Pollak (1989) 60 escreveu: “A referência ao passado serve para manter a coesão dos grupos e instituições que compõe uma sociedade, para definir seu lugar respectivo, sua complementaridade, mas também as oposições irredutíveis”. Pertencer a uma identidade cultural significa descobrir-se, ser diferente dos comportamentos globais. Por isso, patrimônios culturais intangíveis como as formas de manifestações lingüísticas, de relacionamento, de trabalho com a terra e a tipificidade da culinária, o cultivo e o preparo do vinho, os passos das danças tornaram-se patrimônios da cultura e demonstram a riqueza da relação entre identidade e diversidade da cultura brasileira (REIS, 2009) 61. No século XX a sensação da fragmentação da identidade, da perda das referências culturais, despertou no homem o desejo de “retorno a algo perdido”, ou seja, a necessidade de buscar manifestações culturais que pertencem a seu passado vivo, a comportamentos que deixaram de ser comuns, pois o frenesi contemporâneo exige atitudes da sociedade globalizada:“A preservação do patrimônio tem entre suas funções o papel de realizar “a continuidade cultural”, ser o elo entre o passado e o presente e nos permite conhecer a tradição, a cultura, e até mesmo quem somos, de onde viemos. Desperta o sentimento de identidade. Margarita Barreto defende a ‘recriação de espaços revitalizados’, como um dos fatores que podem ‘desencadear o processo de identificação do cidadão com sua história e cultura” (BARRETO, 2000, p.44)62. Então, ao se buscar a identidade, fatalmente chegar-se-á a quem realmente se é. A essência cultural é o que une os povos, permitindo que se reconheçam como grupo, como coletividade diante de sua diversidade. A identidade irá se concretizar a partir da consciência de que a riqueza das pluralidades culturais, reveladas através da memória coletiva, está inserida no potencial de superação de marcas particulares do indivíduo. Até que ponto é possível conservar essa identidade num mundo marcado pela intensificação de fluxos globais de informação? É possível pensar em mundialização da cultura?
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POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, p. 9, 1989 REIS, Fábio José Garcia dos. Patrimônio cultural: revitalização e utilização. In Fonte: http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc, disponível em http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=14218, 6/11/2009, acessado em 03/09/2010. 62 BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000, citada por REIS, 2009, obra citada, disponível em http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc . 61
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Costa (2002) 63 considera haver um “paradoxo das identidades culturais em contexto de globalização”: Porventura, um dos aspectos mais importantes a sublinhar é, justamente, o cruzamento de dinâmicas identitárias que este tipo de contexto urbano cosmopolita proporciona. Cruzamento que se estabeleceu entre cada uma das representações de identidade cultural nacional ali presentes e a representação de uma “síntese global” da multiplicidade cultural planetária; síntese global essa, por sua vez, “localizada” num espaço de representação que se constituiu como referente identitário privilegiado da cidade e da sociedade promotoras. (p. 23) Já Castro (2008) 64 afirma que da globalização cultural emergem novas identidades nacionais, regionais e locais agora com novas abordagens. Vê-se atualmente o ressurgimento das culturas populares com algumas de suas características regionais modificadas para atender um novo mercado de consumo de bens simbólicos em um mundo gerido pelos meios de comunicação, de informação e inclusive, do turismo. Chamo aqui atenção, ao me referir às questões de cultura, memória, identidade regional e local, ao fato de, ano que vem, teremos um grande evento por estes lados: os 400 anos de “Fundação do Maranhão”. Prefiro me referir à ‘fundação do Maranhão’ do que à de São Luís. Questões que certamente serão levantadas no decorrer da exposição. A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO 65 Credita-se a Cristóvão Colombo 66 a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492 e a Pedro Álvares Cabral 67 o “achamento” do Brasil em 21 de abril de 1500. Mas há quem prefira outro termo a descobrimento ou achamento, prefere “encontro”... 63
COSTA, António Firmino da. Identidades culturais urbanas em época de globalização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17 n. 48, fev. 2002, citado por ALMEIDA, Bárbara Schausteck de; MEZZADRI, Fernando Marinho ; MARCHI JUNIOR, Wanderley. CONSIDERAÇÕES SOCIAIS E SIMBÓLICAS SOBRE SEDES DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS. In Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 178-192 Jun-Dez./2009 64 CASTRO Cláudia Steffens de. Educação para o tursmo: preservação da identidade regional e respeito à cultura imaterial. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 4, ISSN: 1807-6971, Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em 09/09/2010 65 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. VISITAÇÃO A SÃO LUÍS DO MARANHÃO ROTEIRO HISTÓRICO-TURÍSTICO. In MIX CULTURAL, promovido pelo 3º. PERÍODO DO CURSO DE TURISMO UFMA (Profa. MARILENE SABINO), 10 e 11 de Dezembro de 2009; tema: PATRIMONIO HISTÓRICO E CULTURAL LUDOVICENSE. PATRIMONIO HISTÓRICO Para saber mais sobre a História do Maranhão: PONTES, Jairo Ives (org.). NOVA HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luis: UEMA, 2005. Edição em CD-ROM. Disponível em www.cefet-ma.br/revista. (Professor de História do CEFET-MA) BOTELHO, Joan. CONHECENDO E DEBATENDO A HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís: Fort Gráfica, 2007 (Professor de História do CEFET-MA) BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988. CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luís: SECMA/SIOGE, 1993 LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO - A COLÔNIA. São Luís: GEIA, 2006. LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís, 1981 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980 66 Cristóvão Colombo (Gênova [?][1][2], c. 1437/1448 — Valladolid, 20 de Maio de 1506) foi um navegador e explorador europeu, responsável por liderar a frota que alcançou a América em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha. Empreendeu a sua viagem através do Oceano Atlântico com o objectivo de atingir a Índia, tendo na realidade descoberto as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, a costa do Golfo do México na América Central.
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Mas quem “descobriu” o Maranhão? 68
Cristovão Colombo
•
DIOGO DE TEIVE, em 1452 69?
•
GONÇALO FERNANDES TÁVIRE e JOÃO VOGADO, em 1453?
•
JOÃO COELHO, se verdadeira sua viagem, em 1493?
Com certeza, sabe-se PORTUGUÊSES, pois
que
os
ESPANHÓIS
chegaram
antes
que
• ALONSO DE OJEDA70 com Juan de Las Casas e Américo Vespúcio
os 71
67 Pedro Álvares Cabral (Belmonte, 1467 ou 1468 — Santarém, 1520 ou 1526) foi um fidalgo e navegador português, comandante da segunda viagem marítima da Europa à Índia, viagem em que se descobriu o Brasil, a 22 de Abril de 1500. 68 FONSECA, Aldeneiva Celene de Almeida. O descobrimento que não houve. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 16 de fevereiro de 1998, Caderno Opinião, p. 4 MOREIRA, Rafael. Foi o Maranhão descoberto antes do Brasil? In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 15 de fevereiro de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 7 REIS, Flávio. O Maranhão bárbaro e sua miséria historiográfica. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de setembro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 SÁ, Décio. Brasil pode ter nascido no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de abril de 2000, sábado, Caderno Cidade, p. 3 O ESTADO DO MARANHÃO. História passada a limpo. São Luís, 15 de novembro de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 (continuação) CORREA, Larissa. Maranhão, alvo de disputas. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de abril de 2000, sábado, Caderno Alternativo, p. 4 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. Cronistas do Maranhão colonial. In JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 03 de novembro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 6 ARAÚJO, Antonio Martins de. O sonho de João de Barros no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de janeiro de 2002, terça-feira, Caderno Alternativo, p. 6 69 Diogo de Teive foi capitão de caravela e escudeiro da Casa do Infante D. Henrique. Desembarcou na Ilha de Jesus Cristo (Terceira) em 1 de Janeiro de 1451, como ouvidor do Infante D. Henrique. Realizou duas viagens de exploração para Ocidente do Mar dos Açores. Em 1452, no regresso de sua segunda viagem, descobriu as ilhas das Flores e do Corvo. Inicialmente foi considerado um novo arquipélago, e receberam o nome de Ilhas Floreiras. Celebrou um contrato com o Infante D. Henrique, em 5 de Dezembro de 1452, para instalação na Ilha da Madeira de um engenho hidráulico de açúcar. Alguns investigadores sugerem que esteve relacionado com o desaparecimento do nobre flamengo Jácome de Bruges, Capitão donatário da ilha. Diogo de Teive veio viver para a Ribeira Brava, após 1472. Diogo de Teive, e seu filho, João de Teive, detiveram direitos sobre as ilhas até 1474, ano em que D. Fernão Teles de Meneses, casado com D. Maria de Vilhena, comprou os direitos sobre as ilhas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Teive_(navegador).
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esteve por aqui em 1497; ou com
Alonso de Ojeda
Vincente Yáñez Pinzón
• JUAN DE VERGARA e GARCIA DE OCAMPO, em 1499; • VICENTE PINZÓN 72 visitou o Maranhão em Janeiro de 1500 – e vendo-se aquém da Linha de Tordesilhas, portanto em terras portuguesas, retorna; e 70 Alonso de Ojeda (Cuenca, 1466 - Santo Domingo, 1516), foi um navegador espanhol. Almirante da marinha espanhola, participou da busca da rica província aurífera de Cibao em cuja expedição teve de socorrer o alcaide da Fortaleza de Santo Tomás, do ataque dos indígenas, liderados pelo cacique Caonabó, onde este acabou sendo preso. Como recompensa recebeu dos reis católicos a concessão de seis léguas de terreno em Maguana. Em pouco tempo partiu para a Espanha, onde, devido à sua estreita relação com o Bispo Fonseca, conseguiu permissão para organizar uma viagem ao Novo Mundo. No mês de maio de 1499, alcançou a foz do rio Orinoco, explorando a costa compreendida entre a ilha Margarita e o cabo de la Vela. Em 1501 foi nomeado governador da ilha de Cuquibacoa, para onde partiu no ano seguinte na companhia de Juan de Vergara e García de Ocampo. Em 1507, recebeu a missão de percorrer a costa da Nova Andaluzia e parte da bacia de Cartagena das Índias próximo à costa. Após uma campanha contra os índios, fundou, em fevereiro de 1510, San Sebastián, o primeiro assentamento europeu no continente sul-americano. Mudou-se para Santo Domingo, onde morreu, pobre e abandonado, em 1516. 71 Américo Vespúcio, em italiano Amerigo Vespucci (Florença, 9 de Março de 1454 — Sevilha, 22 de Fevereiro de 1512), foi um mercador, navegador,geógrafo, cosmógrafo italiano e explorador de oceanos que viajou pelo, então, Novo Mundo, escrevendo sobre estas terras a ocidente da Europa. Como representante de armadores florentinos, o mercador e navegador Vespúcio encarregou-se em Sevilha do aprovisionamento de navios para a segunda e a terceira viagens de Cristóvão Colombo. Supõe-se que tenha participado de incursões pelo Atlântico desde 1497. Em meados de 1499 passou ao largo da costa norte da América do Sul, acima do rio Orinoco, como integrante da expedição espanhola de Alonso de Ojeda, a caminho das Índias Ocidentais. 72 Vincente Yáñez Pinzón (Palos de la Frontera, 1462 — 1514) foi um navegador espanhol. Primo do navegador Diego de Lepe, integrou a primeira Armada de Cristóvão Colombo que descobriu a América em 1492, tendo comandado a caravela Niña, tripulada por vinte e quatro homens, que armou os seus gastos. A sua embarcação foi incumbida de socorrer a nau Santa Maria, que encalhou em 25 de dezembro de 1492, na costa da ilha de São Domingos. De volta à Espanha, em 1495 obteve licença dos soberanos para empreender novas expedições ao novo continente. Quatro anos depois, partiu com uma esquadra de quatro caravelas tendo sido considerado o primeiro navegador europeu a cruzar a linha do Equador na região das Américas, tendo descoberto várias ilhas naquela região. Nessa expedição, alcançou a costa do Brasil, tendo avistado um grande promontório, que chamou de Santa Maria da Consolação (sobre o qual atualmente os autores se dividem, considerando-o ou o cabo de Santo Agostinho (litoral sul de Pernambuco) ou a ponta do Mucuripe, (na cidade de Fortaleza), do qual tomou posse para a Espanha em 26 de janeiro de 1500. Na ocasião, registrou-se um violento combate com os potiguares. Infletindo para o Norte, Pinzón atingiu em fevereiro a foz do rio Amazonas, a qual denominou de "mar Dulce", de onde prosseguiu para as Guianas e daí para o mar do Caribe. Na costa do Brasil, Pinzón teria capturado trinta e seis indígenas. No Caribe, Pinzón aportou às atuais ilhas Bahamas. Em setembro de 1500, retornou ao porto de Palos de la Frontera, na Espanha. O navegador realizaria, em 1508, mais uma viagem à América do Sul. O seu nome batizou primitivamente o rio Oiapoque (durante séculos denominado como "rio de Vicente Pinzón", cujo curso demarca o limite setentrional do litoral brasileiro. Entre 1895 e 1900, pairando a dúvida sobre qual seria exatamente esse "rio de Vicente Pinzón" (se o Oiapoque ou o rio Araguari), registrou-se a Questão do Contestado Franco-Brasileiro (Questão do Amapá), arbitrada pelo Conselho Federal Suíço em favor do Brasil.
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• DIOGO DE LEPE 73 também visita-nos em Março de 1500. Em qualquer hipótese, o Maranhão já era conhecido antes do pretendido descobrimento casual do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500. Mas o Maranhão passou todo o século XVI praticamente fora da história política de Portugal. (MEIRELES, 1980) 74.
DUARTE PACHECO PEREIRA75 A Ilha do Maranhão – Upaon-Açú – é invadida pelos franceses em 1612
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Diego de Lepe (Lepe, Espanha, século XIV - século XV), foi um navegador espanhol. Primo de Vicente Yáñez Pinzón, partiu do porto de Palos de la Frontera, no Sul da Espanha, no início de dezembro de 1499 e alcançou a costa do Brasil, ou na altura do cabo de Santo Agostinho (atual Pernambuco) ou na da do cabo de São Roque (atual Rio Grande do Norte) em fevereiro ou março de 1500. Desse ponto, infletiu para o Norte, tendo passado pela foz do rio Amazonas, em direção às Guianas e ao Caribe, retornado em setembro do mesmo ano à Espanha. Na costa do Brasil teria capturado vinte indígenas. 74 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980. 75 Duarte Pacheco Pereira (Lisboa, ? — 1533) foi um navegador, militar e cosmógrafo português. Em 1455 encontrase Duarte Pacheco letrado, recebendo uma bolsa de estudos do monarca. Cavaleiro da casa de D. João II (14811495), contrariamente à tradição é pouco provável que tenha ido 1482 a São Jorge da Mina, onde Diogo de Azambuja iniciava a construção do Feitoria de São Jorge da Mina. De acordo com a obra Décadas da Ásia, do cronista João de Barros, na viagem de retorno do cabo da Boa Esperança, em 1488, Bartolomeu Dias, encontrouo gravemente doente na ilha do Príncipe e levou-o para Portugal. Reconhecido geógrafo e cosmógrafo, em 1490 viveu em Lisboa da pensão real a que o seu título lhe dava direito. Em 7 de junho de 1494 assinou, na "qualidade de contínuo da casa do senhor rei de Portugal", o Tratado de Tordesilhas. 76 Para saber mais: D’EVREUX, Ives. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL feita nos anos de 1613 a 1614. 3 ed. Anotadas aos cuidados de Sebastião Moreira Duarte. São Paulo: Siciliano, 2002 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. LIMA, Carlos de. Os Franceses no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial 390 anos, p. 5
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. O Mito da fundação de São Luís. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 02 de março de 2008, domingo, Caderno Alternativo, p. 1, p. 6 MARTINS, José Reinaldo. São Luís de 1612 descoberta. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 19 de julho de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 O ESTADO DO MARANHÃO. Palco de disputas por franceses, portugueses e holandeses. São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial, 390 anos, p. 7, FERREIRA, Abrl. Tratado de Tordesilhas a ‘invasão’ francesa do Maranhão. In JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 05 de outubro de 2003, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 SABOIA, Napoleão. Retrato do Brasil francês. Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 06 de janeiro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 1 MEIRELES, Mário. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1982
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que aí tentam fundar uma colônia – La France Equinoxiale. Em 1615, os franceses são expulsos e a região é incorporada aos domínios lusitanos durante a união das Coroas Ibéricas – 1580/1640.
Essa reconquista das terras do norte do Brasil é o ponto de partida para o avanço do sistema colonial português. A colonização foi iniciada por ilhéus açorianos chegados em duas levas, nos anos de 1620 e 1621, dando a São Luís uma feição de burgo, transformando o simples posto militar avançado em uma povoação de colonos a que se precisaria dar uma administração civil 77. A imensa extensão territorial e o isolamento daquelas áreas levaram a coroa a separá-la da administração central do Brasil – Bahia era a sede do Governo Geral criando o Estado Colonial do Maranhão, tendo como sede a vila de São Luís, cuja jurisdição estendia-se às terras atualmente ocupadas pelos estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Piauí, Ceará, Mato Grosso e Tocantins. Constituía-se de duas Capitanias Gerais – Maranhão e Grão-Pará -, as quais tinham sob sua tutela onze capitanias subalternas: a Capitania Geral do Maranhão compreendia as capitanias do Ceará, do Itapecurú, do Icatú, do Mearim, todas as quatro da Coroa, e mais as de Tapuitapera, de Caeté e de Vigia, estas três de donatários.
FORNEROD, Nicolas. SUR LA FRANCE ÉQUINOXIALE – SOBRE A FRANÇA EQUINOCIAL. São Luis: Aliança Francesa do Maranhão/Academia Maranhense de Letras, 2001 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS – os franceses na conquista do Brasil. Brasília: Alhambra; São Luís: Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, 1992 LACROIX, Laria de Lourdes Lauande. A FUNDAÇÃO FRANCESA DE SÃO LUÍS E SEUS MITOS. São Luís: EDUFMA, 2000 77 SILVEIRA, Si mão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976. (Edição facsimilar) VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, portuguesa com certeza. In CLIONET, Revista Eletrônica de História, Juiz de Fora, UFJF, 1989 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, francesa ou portuguesa? In Jornal O IMPARCIAL, São Luís, domingo, 11 de julho de 1999, Caderno Impar, p. 8. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Carta Aberta Ao Mestre Jomar Moraes – Sobre ‘Vieira, Novelos E Novelas. In REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, Volume 04, Número 01, jan/jun/2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista
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Capitania Geral do Grão-Pará estendia sua jurisdição às capitanias secundárias do Gurupá (da Coroa) e às de Joanes, de Cametá e do Cabo do Norte, estas de donatários.
→→→ Os portugueses saindo de Recife/PE, expulsaram os franceses de São Luis do Maranhão, em 1615. Ocuparam a foz do rio Amazonas, em 1616. E subiram o rio Amazonas em 1637 estabelecendo os limites Oeste entre as posseções espanholas e portugueses, no rio Nepo.
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Essa divisão administrativa perduraria até 1652, quando pela Carta Régia de 25 de fevereiro de 1652 foi extinto o Estado do Maranhão, agora sob a denominação de Maranhão e Grão-Pará; em 1651 o Pará passou a ser cabeça do Estado, denominando-se do Grão-Pará e Maranhão.
A Carta Régia de seis de agosto de 1653 repartiu-o em quatro capitanias – São José do Piauí; Maranhão; Grão-Pará; e São José do Rio Negro – todas sujeitas a um governador e capitão-general, e tinha como sede a cidade de Belém.
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Em 1772, a região recebeu nova organização administrativa, repartindo-se em dois estados: o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, e o Estado do Maranhão e Piauí. Até 1811, o Piauí ficou subordinado ao Maranhão.
Com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, e a conseqüente elevação da colônia lusa da América à condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, em 1815, o Maranhão passou a ser uma Província, subordinada ao
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Rio de Janeiro. Dessa maneira, alcançaria a Independência. (CAVALCANTI FILHO, 1990) 78.
ESSE NOME MARANHÃO Mas de onde vem esse nome – Maranhão? – recorramos ao Padre Antônio Vieira , que em seu sermão da Quinta dominga da quaresma, do ano de 1654, servindo-se de uma fábula, afirma que: 79
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CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís: SIOGE, 1990. 79 António Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Bahia, 18 de Julho de 1697) foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição. Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português. As universidades freqüentemente exigem sua leitura. António Vieira chegou à Bahia com seis anos de idade. Fez os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas em Salvador, onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se brilhante aluno. Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623. Em 1624, quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo o mestrado em Artes. Foi professor de Retórica em Olinda, ordenando-se sacerdote em 1634. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador. Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da Região Nordeste do Brasil.
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Retrato do Padre António Vieira, de autor desconhecido do início do século XVIII.
“... caindo um dia o diabo do céu, se fizera no ar em pedaços. E cada pedaço caiu em uma terra, onde ficaram reinando os vícios correspondentes ao membro que lhe coube: na Alemanha, caiu o ventre, daí serem os alemães dados à gula; na França, caíram os pés, por isso os franceses são inquietos, andejos e dançarinos; na Holanda e em Argel, caíram os braços com as mãos e unhas, daí serem corsários; na Espanha, caiu a cabeça, daí serem os espanhóis fumosos, altivos e arrogantes. “Da cabeça, coube a língua a Portugal, e os vícios da língua eram tantos, que já deles se fizera um grande e copioso abecedário. O que suposto, se as letras deste abecedário se houvessem de repartir pelas várias províncias de Portugal, não há dúvidas que o M pertenceria de direito à nossa parte, porque M Maranhão, M murmurar, M motejar, M maldizer, M malsinar, M mexericar, e, sobretudo M mentir; mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos. Que de todos e por todos os modos se mentia. Que novelas e novelos eram as duas moedas correntes da terra, só com esta diferença, que as novelas armavam-se sobre nada, e os novelos armavam-se sobre muito, para que tudo fosse moeda falsa. Que no Maranhão até o sol era mentiroso, porque amanhecendo muito claro, e prometendo um formoso dia, de repente e dentro de uma hora se toldava o céu de nuvens, e começava a chover como no mais entranhado inverno. E daí, já não era para admirar que mentissem os habitantes como o céu que sobre eles influía”. (LISBOA, 1991) 80 80
LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON II – Apontamentos, notícias e observações para servirem à História do Maranhão. São Luís: ALUMAR/AML, 1991 vol. I e vol. II
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Origem e significação do nome dado à terra 81 SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA, em sua “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, escrito em 1624, afirma que "... a terra tomou esse nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”. (Seu, do rio e não da terra, conforme Barbosa de Godois in História do Maranhão, 190482, e Berredo in Anais Históricos). “Marañon” era o nome do atual rio das Amazonas, daí que o nome foi herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro. A família de nome Marañon já era conhecida em Espanha desde o século XII, e em Navarra existe uma localidade com esse nome83
Com o topônimo Maranha, que significa matagal, há no Minho uma localidade com esse nome; Maranhão, ainda, é o nome de uma antiga aldeia alentejana, do Conselho de Aviz; é variação de Marachão - dique, recife; e aumentativo de Maranha, como dito acima, matagal; como também pode vir de Mara Ion, como os tupinambás designavam o grande rio da terra; ou do diálogo entre dois espanhóis: um pergunta, referindo ao Amazonas - Mar? E o outro responde: Non. Na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (despropositadamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida pelos espanhóis como marañon; ou ainda, Mair-Anhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Mara-munhã, que significa fazer-se barulhento ou 81
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. Inédito. 82 BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II 83 O rio Marañón nasce no Peru a uns 5.800 metros sobre o nível do mar, no glaciar do Nevado de Yapura, nos Andes ao leste do país. Depois de percorrer cerca de 1.600 quilômetros, junta-se ao rio Ucayali (Rio Amazonas), que por sua vez flui com o nome de Rio Amazonas até a fronteira com o Brasil onde recebe o nome de rio Solimões.
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impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (SILVEIRA, 1976; BERREDO, 1988; MEIRELES, 1980). Os primitivos habitantes84 Os TUPINAMBÁS habitavam a Ilha do Maranhão, quando os primeiros franceses chegaram. Vieram fugidos de Pernambuco, quando aquelas paragens foram ocupadas pelos Portugueses - Perós – tendo chegados à Ilha pelos menos 70/80 anos antes, expulsando os Jês para o interior. A etnia Jê se estabeleceu no Brasil há pelo menos 7.500 anos. Os Tupinambás que deram à Ilha o nome de UPAON-AÇÚ - Ilha Grande – e ao tempo da chegada dos Franceses seu chefe principal era JUPIAÇÚ. Não sabiam ler nem escrever - eram primitivos – e praticavam a antropofagia. Andavam nus, usando penas de aves nos dias de festas - usavam o urucu e o jenipapo. Viviam em pequenas aldeias, com as casas feitas de palha – pindova - e viviam da caça de pequenos animais; da coleta de frutos; da pesca; e cultivavam a mandioca, o milho e o algodão. 84
Povos nômades, vindos da Ásia, através do Estreito de Bering, em data ainda desconhecida, teriam sido os primeiros a colonizar o vasto território, por volta de 40 mil anos atrás. Um desses povos deu origem atuais tupis-guaranis, uma das sete grandes famílias que constituíam o grupo lingüístico MacroTupi. No início da Era Cristã, os tupis-guaranis começaram a migrar através dos vales de alguns afluentes do Rio Amazonas; essa migração – de causa religiosa procurava a terra prometida – deu-se por causa de crescimento demográfico e da desertificação do território tribal. Os tupis chegaram ao litoral do Brasil e dali expulsou os tapuias (“ os outros”, em tupi). Os tupis cultivavam mandioca e milho – símbolos de civilização – e, por isso, eram mais evoluídos que os tapuias, coletores e caçadores que eles consideravam “bárbaros”. Os tapuias (que eram do grupo lingüístico Jê já haviam expulsado da praia seus habitantes originais, os chamados “homens dos sambaquis”. O litoral era rico em peixes, crustáceos e sal. Todos queriam controlar a região, que oferecia vastos e nutritivos recursos alimentares. (BUENO, Eduardo. BRASIL: TERRA À VISTA. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 15-16) Ver também: LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olir Correa Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO – uma tentativa de reconstituição. São Luís: Augusta, 1983 ASSOCIAÇÃO CARLO UBBIALI; INSTITUO EKOS. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís, 2004 PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. ESSA TERRA TINHA DONO. 6 ed, ver, e atual. São Paulo: FTD, 2000 CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. A CRIANÇA E A MULHER TUPINAMBÁ. São Paulo: ScorTecci, 2000
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Tinham como armas o arco e a flecha, e a lança, feitos de madeira; machado e martelo, de pedra. Usavam a cerâmica para seus jarros e panelas; teciam para fazer redes; tinham como instrumentos musicais, o tambor, o maracá e a flauta. Não tinham religião, mas acreditavam em um ser superior – Tupã.
COLONIZAÇÃO DO MARANHÃO Inicia-se com MARTIN AFONSO DE SOUSA85, que mandou um de seus navios descobrirem as terras do Norte. DIOGO LEITE86 saiu de Pernambuco e chegou até o Rio Gurupi. 85
Martim Afonso de Sousa (Vila Viçosa, c.1490/1500 — Lisboa, 21 de julho de 1571) foi um nobre e militar português. Jaz em São Francisco de Lisboa. Como Tomé de Sousa, descendia por linha bastarda do rei Afonso III de Portugal. Senhor de Prado e de Alcoentre, ainda parente do conde de Castanheira, D. António de Ataíde, tão influente sobre o rei D. João III de Portugal, Martim de Sousa foi Senhor de Prado, e Alcaide-mor de Bragança e mais tarde Governador da Índia e do Estado do Brasil. Serviu algum tempo ao Duque de Bragança D. Teodósio I[1] mas «como era de um espírito elevado e queria esfera onde se dilatasse em coisas grandes, largou a Alcaidaria mor de Bragança e outras mercês que tinha do Duque, para servir ao Príncipe D. João, filho do rei D. Manuel. Depois foi a Castela e esteve algum tempo em Salamanca; e voltando a Portugal, D. João III, que já então reinava, o recebeu com muita estimação e honra porque Martim Afonso de Sousa foi um fidalgo em quem concorreram muitas partes, porque era valeroso, dotado de entendimento e talento grande». Acompanhou a rainha viúva D. Leonor a Castela. Iniciou sua carreira de homem de mar e guerra ao serviço de Portugal em 1531 na armada que o rei determinou mandar ao Brasil, nomeado desde fins 1530 em razão dos seguintes fatores: por ser primoirmão de D. Antônio de Ataíde, membro do Conselho Real, e ter forte influência junto ao Rei. Estudou Matemática, Cosmografia e Navegação. Havia vivido quatro anos na Espanha, onde se casou com D.Ana Pimentel dama da Rainha Católica, irmã de D. Bernardino Pimentel, 1º Marquês de Tavara, filhos de D. Pedro Pimentel, senhor de Tavara,comendador de Castro-Torense na Ordem de Santiago, o qual morreu em 6 de fevereiro de 1504, e irmã de D. Rodrigo Afonso Pimentel, 3º conde de Benavente. O casamento foi feito por D.Pedro, que dotou a filha, com assistência do irmão, o conde de Benavente,
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Martim Afonso de Sousa
Com a divisão do Brasil em CAPITANIAS, a do MARANHÃO foi dada a JOÃO DE BARROS87, mas não chegou a ser instalada. Se associando a AIRES DA CUNHA88, naufragou no Boqueirão. sendo o contrato de casamento firmado em Tordesilhas. Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, foi procuradora relativamente aos negócios do Brasil, ao partir aquele para a Índia. Natural da Espanha, era dama de companhia da Rainha D.Catarina. Foi ela quem, em 1534, providenciou para que se introduzisse o primeiro “gado vacum” na capitania de São Vicente e quem, em 1544, revogou a ordem do esposo, que proibia a entrada de europeus no campo de Piratininga e, assim, abriu o caminho para o sertão, facilitando a expansão bandeirante. Lutou sob Carlos V contra os franceses. Embora a historiografia tradicional em História do Brasil encare sua expedição como a primeira expedição colonizadora, o Regimento a ele passado permite compreender que o principal objetivo de sua missão era colocar padrões de posse portugueses em toda a área da bacia do Rio da Prata, o que não alcançou em função de ter naufragado na região. Diz-se que sua nomeação como governador compreendia a missão de expulsar franceses, descobrir terras, explorar o rio da Prata e fundar núcleos de povoamento. Fundou em 22 de Janeiro de 1532 a primeira vila do Brasil, batizando-a de Vila de São Vicente, uma homenagem a São Vicente Mártir e reafirmando o nome dado por Gaspar de Lemos, quando este chegou à São Vicente, coincidentemente em 22 de janeiro de 1502. O nome da cidade se deve ao fato de 22 de janeiro ser dia de São Vicente Mártir. Graças a medidas tomadas por Martim Afonso, São Vicente se tornou Cellulla Mater da Nacionalidade (Primeira Cidade do Brasil), Berço da Democracia Americana (pois em 22 de agosto de 1532 foram feitas as primeiras eleições populares das Três Américas, instalando a primeira Câmara dos Vereadores no continente) 86 Diogo Leite foi um navegador português do século XVI. Durante o período compreendido entre os anos de 1526 a 1529, comandou uma caravela da armada de Cristóvão Jacques, que tinha por finalidade impedir o comércio dos franceses, nas costas do Brasil. Entre 1530 e 1532, comandou também uma caravela da armada de Martim Afonso de Sousa com a finalidade de explorar a costa brasileira. Mais tarde teve sob o seu comando duas caravelas que conseguiram chegar ao rio Gurupi, no Maranhão 87 MEIRELES, Mário M. O BRASIL E A PARTIÇÃO DO MAR OCEANO. São Luis: AML, 1999 MEIRELES, Mário M. JOÃO DE BARROS – PRIMEIRO DONATÁRIO DO MARANHÃO. São Luis: ALUMAR, 1996. 88 Aires da Cunha (Portugal, ? — litoral maranhense, 1536) foi um capitão donatário do Brasil. Tendo recebido de João III de Portugal em 1535 a Capitania do Maranhão, associou-se a Fernando Álvares de Andrade e João de Barros, que organizaram uma expedição para colonizar a região norte do Brasil. Em novembro de 1535 a expedição aportou na Capitania de Pernambuco, onde recebeu auxílio de Duarte da Costa. Rumando para o norte, para a costa do Maranhão, um violento temporal fez naufragar a embarcação, perecendo a maior parte de seus integrantes.
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Capitania
Limites aproximados
87
Donatário
Capitania do Maranhão (primeira secção)
Extremo leste da Ilha de Marajó (PA) à foz do rio Gurupi (PA/MA)
João de Barros e Aires da Cunha
Capitania do Maranhão (segunda secção)
Foz do rio Gurupi (PA/MA) a Parnaíba (PI)
Fernão Álvares da Cunha
Os sobreviventes teriam fundado a Vila de Nossa Senhora de Nazaré, em 1534. Essa Vila teria sido instalada na Ilha Grande, alguns a dão como na Ilha do Medo e outros, em terras continentais – Alcântara. O certo, é que muitos anos depois se descobriu uma tribo de índios denominada de Barbados Rouxés, que se diziam descendentes dos “perós” – portugueses. Eram de pele clara, olhos pouco amendoados, cabelos claros, e cultivavam barba, como os perós, e cominam pão de milho zaburro, como os perós... Não se davam com as demais, de quem se mantinham permanentemente em guerra, aguardando a volta – socorro? - dos seus pais... Abandonada por João de Barros, a CAPITANIA DO MARANHÃO foi dada a LUÍS DE MELO E SILVA, que organiza duas expedições ao Maranhão, naufragando na segunda, no Boqueirão. Os PORTUGUESES abandonam a idéia de conquista do Maranhão por mar. Tentam chegar, então, por terra: PEDRO COELHO DE SOUSA89 sai da Paraíba e não consegue passar do Ceará, pois os índios não deixam. Os Padres FRANCISCO PINTO e LUÍS FIGUEIRA também não conseguem passar do Ceará.
89
Pero Coelho de Sousa foi um explorador português, primeiro representante da Coroa a desbravar os territórios da capitania do Ceará no início do século XVII. Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de Capitão-mor para desbravar e colonizar a capitania do "Siará Grande". Após uma série de lutas, conquistou a região da Ibiapaba vencendo os inimigos (franceses e indígenas). Retorna à barra do rio Ceará onde ergueu o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa.
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88
Franceses no Maranhão90 Os Portugueses abandonam a conquista do Norte, dadas as dificuldades de se entrar no Golfão maranhense - transpor o Boqueirão.
Franceses no Rio de Janeiro
90
Franceses em Pernambuco
DAHER, Andréa. O BRASIL FRANCES – as singularidades da França Equinocial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007
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Piratas estrangeiros começam a se estabelecer aqui, vivendo em boa paz com os índios.
Desde 1594 os Franceses organizam expedições com o objetivo de se estabelecerem no Maranhão. JACQUES RIFFAULT estabelece uma Feitoria e ao retornar à França, deixa alguns tripulantes, dentre eles, CHARLES DES VAUX.
Este, após nove anos de espera, consegue retornar a França, relatando as riquezas da terra e, em 1604, conduz DANIEL DE LA TOUCHE91 para fazer um reconhecimento e comprovar a veracidade das informações. 91 Daniel de La Touche, sob o título de Senhor de La Ravardière, foi um experiente capitão da Marinha Francesa do século XVII. Nobre, de religião protestante, liderou a expedição francesa que, em 1612, deu início as pretensões de colonização no Norte do Brasil. Denominada de França Equinocial, teve seu marco na fundação do "Fort Saint Louis" (Forte de São Luís), que atualmente chama-se "Palácio dos
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Com a morte do Soberano - HENRIQUE IV - a organização de uma armada de conquista é adiada até 1611, já no reinado de Luís XIII.
Em 1612, DANIEL DE LA TOUCHE, Senhor de La Ravardiére; o BARÃO DE RASSILY e o BARÃO DE SANCY aportam à Ilha Grande, fundando uma colônia, a qual deu o nome de FRANÇA EQUINOCIAL. Organizam a defesa da Ilha, com a construção de um Forte - de SÃO LUÍS - em homenagem a Luís XIII e um ancoradouro - PORTO DE SANTA MARIA -, em homenagem a Rainha-Mãe - Maria de Medicis. A oito de setembro de 1612, tem lugar a Leões" e abriga a sede do governo estadual em São Luís, atual capital do Maranhão. La Touche oriundo de Poitou, na região do Loire, viveu grande parte de sua vida em Cancale com sua esposa, cidade portuária próxima de Saint-Mailo, no Norte da França, na região da Bretanha.
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implantação da cruz na Ilha do Maranhão.
Fundada a França Equinocial, a oito de setembro de 1612, saíram a visitar a Ilha os lugares-tenentes de Daniel de La Touche, De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville92 e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upaon-Açú, de nome David Migan.
D' ABBEVILLE (1975) descreve as aldeias do Maranhão como tendo até quatro cabanas, medindo de 26 a 30 pés de largura por 200 a 500 pés de comprimento, segundo o número de pessoas que nelas habitavam. Algumas aldeias possuíam de 200 a 300 habitantes, outras de 500 a 600, e às vezes mais. As casas eram dispostas em forma de quadrado, havendo uma praça grande e bonita ao centro: "(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O Sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". 92
Claude d'Abbeville ( ? - Rouen, 1632)[1][2] foi um religioso e entomólogo francês. Participou da expedição enviada em 1612 ao Brasil (Maranhão) pelo governo de seu país. Junto de seu amigo Yves d'Évreux, identificou e batizou com nomes indígenas diversos insetos, tais como as grandes borboletas azuis, as mutucas e os mosquitos. É autor da obra Historie de la mission des pères capucins en l'isle de Maragnan et terres circonvoisines (1614), em português: História da missão dos padres capuchinhos na ilha de Maranhão e terras circunvizinhas.
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(História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas, p. 114). O Padre Claude D’Abbeville foi quem primeiro escreveu sobre o Maranhão e seus habitantes. Pela sua descrição, observa-se que a aldeia de índios localizada no hoje Vinhais foi o primeiro núcleo residencial dos brancos que se estabeleceram no Maranhão. No Forte - a hoje cidade de São Luís - ficava apenas uma guarnição de oito soldados, a vigiar. Os demais habitavam as aldeias então existentes. A primeira a ser ocupada foi Eussauap (hoje, Vila Velha dos Vinhaes) 93. Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuíam dois; uma possuía três. Eussauap possuía quatro - "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiaçu e Tapire-Evire". A aldeia principal da ilha contava com cinco principais. A ILHA REBELDE É em Eussauap que os franceses encontram certa resistência, por parte de um velho de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do que quatro a seis luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí - padres - plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para servi-los. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o Sr. de Sancy e D' Abbeville a sua visitação. A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO 94 Vencidos os franceses em Guaxenduba95 (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão96. Afirma Bernardo Pereira de BERREDO (1988) 97 - governador da 93
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A VILA VELHA DO VINHAES E A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA. Inédito. 94 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, portuguesa com certeza In REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, Volume 04, Número 01, jan/jun/2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. 95 O Forte de Santa Maria de Guaxenduba localizou-se a nordeste da ilha de São Luís, na baía de São José, à margem direita da foz do rio Munim, na vila velha do Icatu, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. 96 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. JERÔNIMO DE ALBUQUER MARANHÃO – guerra e fundação no Brasil colonial. São Luís: UEMA, 2006 MORENO, Diogo de Campos. JORNADA DO MARANHÃO POR ORDEM DE SUA MAJESTADE FEITA O ANO DE 1614. São Paulo: Alhambra; São Luís: ALUMAR/AML, 1984 97 BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988.
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província do Maranhão de 1726 a 1729 -, que Jerônimo de Albuquerque98 funda naquele mesmo lugar uma cidade - São Luís do Maranhão:
“Logo que o General Alexandre de Moura saiu da baía do Maranhão, aplicou Jerônimo de Albuquerque o principal cuidado à útil fundação de uma cidade naquele mesmo sítio, obra de que também se achava encarregado por disposições da corte de Madri com repetidas honras justissimanente merecidas: e como o seu zelo, e a sua atividade não sofriam demoras na execução de qualquer projeto, depois de bem premeditados os interesses dele, dentro de pouco tempo adiantou tanto a povoação, que reduzida a regular forma de república, debaixo da proteção soberana de Maria Santíssima com o augusto título de Vitória, que já lhe tinha decretado no feliz lugar de Guaxenduba, lhe declarou a invocação de São Luís; ou fosse porque estando tão conhecida já aquela ilha pela natural participação de sua fortaleza, se não atreveu a confundir-lhe o nome com a mudança dele; ou porque quis na conservação desta mesma memória segurar melhor a sua nas recomendações da posteridade; e como deste dia por diante acho sempre a invocação de São Felipe na tal fortaleza, me persuado fundamentalmente a que lhe foi posta em lugar da primeira, dando-se desde logo por transferida, por lisonja sem dúvida à magestade de Felipe III de Castela, a quem então obedecia a monarquia de Portugal”. (Anais históricos do Estado do Maranhão p. 116-117).
98 Jerônimo de Albuquerque Maranhão (Olinda, 1548 — Rio Grande do Norte, 1618) foi um militar e político brasileiro. Filho do português Jerônimo de Albuquerque e da indígena pernambucana M'Uirá Ubi, filha do cacique Uirá Ubi (Arco Verde, em português). Foi o verdadeiro conquistador do Rio Grande do Norte, em 1599, teve papel destacado na expulsão dos franceses na Região Nordeste do Brasil no início do século XVII com auxilio de Alexandre Moura. Ele após ter expulsado os franceses adotou o sobrenome Maranhão, como ficou conhecido. Ver também: LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. JERONIMO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO - Guerra e fundação no Brasil colonial. São Luis: UEMA, 2006.
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Para Raimundo José de Sousa GAIOSO (1970) a cidade de São Luís seria fundada em 1616, por Jerônimo de Albuquerque, em torno da fortaleza do mesmo nome, e iniciada sua povoação naquela ocasião: "Livre o Maranhão n'aquelle dia de toda a sugeição franceza [9 de janeiro de 1616, quando Alexandre de Moura se fez a vela para Pernambuco levando consigo o senhor de la Ravardiere], aplicou Jerônimo de Albuquerque todo o seu cuidado na fundação de huma cidade n'aquelle mesmo sitio; dentro de pouco tempo adiantou consideravelmente a povoação, e reduzindo a sua nova fundação á regular forma de republica, debaixo da proteção de Maria Santissima com o augusto titulo de N. Sra da Victoria, em memoria da que tinha alcançado sobre os Francezes, lhe declarou a invocação de S. Luiz, ou porque estando já tão conhecida aquella ilha pela participação da sua fortaleza, ou porque não quiz confundir o nome com a mudança delle, ou finalmente porque se lisongeava na conservação da mesma memoria, segurar melhor as suas recomendaçoens na posteridade. E como destes dias por diante se entrou a intitular a fortaleza com o nome de S. Felipe, he de presumir o fizessem por lizonja á Majestade de Felippe II, a quem então obedecia a monarquia Portugueza.".(Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão, p 73)99.
O que é confirmado por D. Felipe Condurú PACHECO (1968), quando afirma que o Forte de São Luís é transformado na cidade de São Luís pois “... Repartidas as terras pelos portuguêses, o Capitão-mór Jeronimo de Albuquerque formou logo o seu Govêrno e mandou que mudassem aqueles tugurios em mais agradáveis edifícios, construindo ‘uma bem
99
GAIOSO, Raimundo José de Sousa. COMPÊNDIO HISTÓRICO-POLÍTICO DOS PRINCÍPIOS DA LAVOURA DO MARANHÃO.Rio de Janeiro : Livros do Mundo Inteiro, 1970.
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regulada cidade’ (Moraes, História da Companhia de Jesus no 100. Maranhão, p. 75)...” (História eclesiástica do Maranhão, p. 10)
Na “Crônica da Companhia de Jesus no Maranhão”, Jacinto de Carvalho afirma ser Jerônimo de Albuquerque, “livre a influência de Alexandre de Moura”, o fundador de São Luís: “... deu princípio a uma cidade em o mesmo sítio em que os franceses tinham o seu forte e reparos, por ser sítio muito acomodado, assim para a defesa de inimigos, como por ter bom porto e ancoradouro seguro para navios; fica entre dous rios, dominando a ponta em que está o forte uma espaçosa enseada que faz o mar entre a terra e aponta de Nossa Senhora da Guia e a terra da Ponta da Areia e ilha de São Francisco, a mais abundante de peixes e mariscos que se tem achado em todas a costa do domínio de Portugal”. (p. 90) 101.
César Augusto MARQUES (1970) 102 informa que a fundação da cidade foi determinação da Corte de Madri, conforme se lê em seu famoso “Dicionário...”: “Jeronimo de Albuquerque inteiramente senhor de suas ações, e livre dos cuidados inerentes à guerra, aplicou-se à fundação da cidade, hoje de São Luís, como lhe fôra recomendado pela Côrte de Madri. “Dentro de pouco tempo por seu zêlo e atividade pôde adiantar tanto a povoação ‘que reduzida a regular forma de república, na frase de Berredo, debaixo da proteção soberana de Maria Santíssima com o augusto título de Vitória, que já lhe tinha decretado no feliz lugar de Guaxinduba, lhe declarou à invocação de São Luís’. “Jerônimo de Albuquerque aconselhou e conseguiu que os moradores ‘mudassem a antiga fábrica dos seus tugúrios em edifícios mais asseados, que na correspondência e boa arrumação das ruas fizessem 100
101
102
PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 CARVALHO, Jacinto. CRÔNICA DA COMPANHIA DE JESUS NO MARANHÃO. São Luís: ALUMAR, 1995. MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).
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aquela povoação, senão soberba, ao menos repartida com melhor direção e aparato’. “Deu êle logo começo ao palácio, que depois servia de morada dos governadores. “Todas estas obras eram de taipa e vara, e de ‘taipa de pilão, tão forte, que equivalia à mesma pedra e cal’.”. (Dicionário histórico-
geográfico da Província do Maranhão, p. 445) Recentemente, a Profa. Lurdinha Lauande – Maria de Lourdes Lauande Lacroix - escreveu um livro – A fundação francesa de São Luís e seus mitos 103– em que discorre como surgiu o mito de que São Luís foi fundado pelos franceses: no século XIX, para buscar uma origem; ao mesmo tempo, surgiu “a Atenas brasileira”. Depois, Jamaica brasileira e, suprema decadência: apenas brasileira, hoje!
OS 400 ANOS DA OCUPAÇÃO DA VILA (VELHA) DE VINHAIS104 Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha. "(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". (D'ABBEVILLE, 1975, p. 114)105. (grifos nossos). Capistrano de ABREU esclarece que: " EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes. 103
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS E SEUS Mitos. São Luís: EDUFMA, 2000
104 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. A VILA VELHA DO VINHAES E A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA. Palestra proferida por ocasião do 391º aniversário da primeira missa rezada na Vila do Vinhais Velho, em 19 de outubro de 2003, aos moradores da Freguesia da Vila do Vinhais – Igreja de São João Batista do Vinhais 105 ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975
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- Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto ...". ( apud D' ABEVILLE, 1975, p.107)106.
Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuiam dois; 1 possuia três. Eussauap possuia quatro – "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire". Junipar, a aldeia principal da ilha, contava com cinco principais. É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho "... de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu ..." e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os 106
ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975
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perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do que 4 a 6 luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí - padres plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para os servirem. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o sr. de Sancy e D' Abbeville a sua visitação. Cesar MARQUES (1970)107, em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais - freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram: “... foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. “Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina. “Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. “Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’. “Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. “Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. “... foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).
Às páginas 633, do Dicionário de César Marques, consta que houve contestação quanto à propriedade das terras da Aldeia da Doutrina, pertencente, então, ao Convento de Santo Antônio. Esta vila, situada ao N.E. da Ilha do Maranhão uma légua distante da capital, à margem do ribeiro Vinhais, ora transformada em Vila do Vinhais108 e, para
107
108
MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).
Era comum dar-se nomes às vilas e cidades do Maranhão o mesmo nome de vilas e cidades existentes em Portugal:
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Vinhais é uma vila portuguesa, pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e subregião do Alto Trás-os-Montes, limitado a norte e oeste pela Espanha, a leste pelo município de Bragança, a sul por Macedo de Cavaleiros e Mirandela e a oeste por Valpaços e Chaves .
História A ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas. Esta antiguidade é reiterada pelo Abade de Miragaia: O chão desta vila e desta paróquia foi ocupado desde tempos remotíssimos, como se infere da lenda ou história da igreja de S. Facundo, que a tradição diz ter sido fundada no tempo dos Godos. (...) Também por aqui se demoraram os Romanos, pois ao norte da vila, no monte da Vidueira, se encontraram em 1872 muitas moedas romanas bem conservadas (...).Perto de Vinhais foi encontrada uma lápide com a seguinte inscrição: JOVI / O.M. / LOVIIS / IAIIX / VOTO / LAP (Lovesia dedicou por voto e com generoso ânimo ao grande Júpiter). Em meados do século XIII surgiu, pela primeira vez, a referência a Vinhais, num documento de doação ao mosteiro leonês de São Martinho da Castanheira: in villa que vocitant Villar de Ossus in territorio Vinales. Nesta época, Vinhais não era um topónimo, mas sim um coronómio, visto que designava uma região, um território e não um lugar determinado. Pensa-se que a primeira povoação de Vinhais foi construída num outeiro, próximo da margem direita do rio Tuela, mais a norte do sítio actual, ou no monte da Vidueira, ou, ainda, no monte Ciradela ou Ciradelha, na Serra da Coroa. Estas suposições justificam-se pelo aparecimento de moedas romanas, vestígios de edificações da antiga cidade romana de Veniatia e da estrada militar romana que ligava Braga a Astorga (Asturica Augusti). Vinhais foi, primitivamente, um castro de povoamento galaico, transformado pelos romanos em castro galaico-romano, com a sua fortaleza (oppidum). Certamente, os suevos ou os visigodos cercaram a localidade de muralhas e, com a expulsão dos muçulmanos, Vinhais ficou arrasada, tendo sido repovoada na época da dominação dos reis de Castela e Leão (D. Sancho II e D. Afonso VI). Este repovoamento foi continuado pelos primeiros reis portugueses, nomeadamente com D. Afonso Henriques, D. Sancho I (O Povoador), D. Afonso II e D. Sancho II. Vinhais recebeu foral de D. Afonso III, no dia 20 de Maio de 1253, o qual foi outorgado pelo monarca D. Manuel I, em 4 de Maio de 1512. Quando D. João I de Castela invadiu Portugal, em 1384, devido à crise de sucessão suscitada pela morte de D. Fernando, o castelo de Vinhais foi um dos muitos que hastearam a bandeira castelhana, recusando, assim, obediência ao Mestre de Avis, futuro D. João I de Portugal. No século XVII, Vinhais sofreu bastante com a Guerra da Restauração, devido à sua localização geográfica, tal como conta Pinho Leal, na célebre obra Portugal Antigo e Moderno: Em 1666, achando-se em Lisboa o III conde de S. João da Pesqueira (futuro 1º Marquês de Távora, criado por D. Pedro II Regente, de 7 de Janeiro de 1670), governador de Entre Douro e Távora (...). entretanto, o general galego D. BALTAZAR PANTOJA, pôs a ferro e fogo a província de Trás-osMontes. Em 1 de Julho 1666 entrou por Montalegre, no dia 13 de Julho caíu sobre Chaves, no dia 14 de Julho os lugares de Faiões e Santo Estêvão, defendidos pelo sargento-mór ANTÓNIO DE AZEVEDO DA ROCHA, cometendo barbaridades. Recolhendo-se D. BALTAZAR PANTOJA a Monterey, praça galega ao Norte de Verim, e passados poucos dias volveu sobre Portugal, entrando por Monforte, veio pôr cerco a Vinhais, cercando com o seu exército o castelo, que era defendido pelo governador ESTÊVÃO DE MARIS, com os habitantes da vila e mais 50 auxiliares. Este acontecimento ficou eternizado numa inscrição que, ESTÊVÃO DE MARIS, GOVERNADOR DES / TA VILA DE VINHAIS, Fº DE Rº DE MORAIS DE TIO / ZELO, MANDOV FAZER ESTAS CASAS / NA E. DE MDCCVI (?) QUANDO PANTOXA / G L DO EXÉRCITO DE GALIZA COM O / MAIOR Q. SE VIO NESTA PROVÍNCIA / E LHE DEFENDEO A MURALHA CÕ / A GENTE NOBRE DA
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dar fim à qualquer contestação, sobre a quem pertenceria as terras, passou-se a seguinte certidão, que, segundo Cesar Marques, não deixa de ser curiosa: “José Inácio Pereira, escrivão por comissão da Câmara da vila de Vinhais: em cumprimento do despacho retro certifico que revendo o livro de ...... nele à fl. 87 verso achei o translado ..... “Por ser conforme às reais ordens que Sua Majestade foi servido expedir para o estabelecimento deste Estado e conveniente ao bem comum e particular dos moradores dele, que se destinem terrenos competentes, que sirvam de distritos às vilas para as suas respectivas justiças não excederem os seus limites, devo dizer de vossas mercês em observância das mesmas reais ordens, que o distrito dessa vila terá princípio no pôrto do Angelim sobre a foz do rio – Anil -, quer fica pertencente ao distrito desta cidade, e dele partirá em rumo direito para o nascente às terras alagadiças da fazenda que foi de Agostinho da Paz e que hoje é do Rvdo. Cônego Manuel da Graça, fincado pertencendo ao distrito desta mesma vila a estrada pública, que do dito porto do Angelim vai para a fazenda da Anindia e outras, como também a fazenda do defunto José de Araújo, partindo e confrontando da parte do sul com terras do distrito desta cidade e continuando este rumo da partte do nascente da mesma fazenda do dito Cônego Manual da Graça para a parte do norte, correrá em direitura à costa do mar, e por ela descerá à capela de São Marcos de onde continuando da parte do poente pela costa desta baía até a fortaleza da barra desta cidade continuará pelo rio, que divide a cidade das terras sobreditas da costa do mar até finalmente chegar ao dito porto do Angelim, onde fica fechando o rumo do dito distrito, em que se compreedem a dita vila e terras que possuem os seus moradores desde o tempo em que foi constituída doutrina dos padres de Santo Antônio desta cidade como também a Capela de São Marcos, a olaria, que foi dos padres da Companhia e vários sítios de fezendas e moradores, como são a do sobredito Cônego Manuel da Graça, de Domingos Fernandes e últimamente todos os que dentro dos referidos rumos e distrito se compreenderem sendo este suficinete para essa dita vila, sem prejudicar o da cidade. “Para rendimento das despesas da Câmara lhe não determino por hora terreno, o que farei com a brevidade que me fôr possível para cumprir completamente com a ordem de Sua Majestade, o qual sempre há de ser dentro do distrito dessa vila: o que tudo Vossas Mercês tenham entendido para inviolávelmente obervarem, registrando este no livros da Câmara para a todo o tempo constar até onde entendem os seus limites, de que me mandarão certidão de assim o haverem. – Deus guarde a Vossas Mercês – Maranhão. – Gonçalo Pereira Lobato e Sousa” “Senhore Juízes e oficiais da Câmara da vila do Vinhais. “Certifico eu escrivão abaixo nomeado em como transladei uma carta do Ilmo. Sr. Governador vinda ao juiz e mais oficiais da Câmara desta vila, o que juro em fé de meu ofício: três de novembro de 1760. – Manuel de Jesus Pereira. “Nada mais que o referido continha o dito translado fielmente aqui copiado do próprio livro, a que me reporto, e é verdade todo o referido em fé do ofício. – Vinhais, 10 de fevereiro de 1806. – José Inácio Pereira”. VILA E POV / QVA MAIS DE GRÃ E CÕ PERDER MVTÃ / LEVANTOU O SITIO E QUEIMOU AS / CASAS QUE FICAVÃO FORA DA MVRALHA; http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinhais_(vila)
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Como a vila do Vinhais não apresentou qualquer desenvolvimento, foi extinta pela Lei Provincial no. 7, de 20 de abril de 1835, passando a pertencer a frequesia à comarca da capital, formando o 5º distrito de paz, e tendo uma subdelegacia de Polícia, um delegado da Instrução Pública e uma cadeira pública de ensino primário para o sexo masculino. A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA DO VINHAES109 Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso "haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado". Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa. Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: "A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...". (MORAES, 1987, p.58)110. A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com CAVALCANTI FILHO (1990)111 a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: "... Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".(p. 109
MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 D’ÉVREUX, Yves de. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL –feita nos anos de 1613 a 1614.São Paulo: Siciliano, 2002. PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968. MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 CARVALHO, Jacinto. CRÔNICA DA COMPANHIA DE JESUS NO MARANHÃO. São Luís: ALUMAR, 1995. 110 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. 111 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís: SIOGE, 1990.
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31). Não há referência à Eussauap, Uçagoaba, Uçaguaba ou Aldeia da Doutrina na relação dos templos existentes na Ilha por ocasião da elevação de São Luís à sede de Bispado em 1677, pela Bula "Super Universas Orbis Ecclesias", muito embora em 1740 conste da relação das freguesias do Maranhão: "Na ilha de São Luis. Além da freguesia de N.S. da Vitória que abrangia toda a capital do Estado com suas muitas igrejas, capelas e conventos, havia três outros núcleos com a presença permanente de religiosos e que também naquele ano seriam erigidos em paróquia Anindiba (Paço do Lumiar), São José dos Poções, antiga aldeia da 112 Doutrina ...". (MEIRELES, 1977, p.127) .
COELHO (1990)113 em seu "Política indigenista no Maranhão Provincial", ao analisar "o lugar do índio na legislação: a questão da terra", afirma que " a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações" e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a " elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes". Cita, dentre outros exemplos, que " a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais". D. Felipe CONDURÚ PACHECO (1968)114 informa que em 1751, os jesuítas e os franciscanos tinham no Estado do Maranhão e Grão-Pará 80 missões e grande número de “doutrinas”, e que em oposição às numerosas propriedades dos demais religiosos, “... os franciscanos possuíam então no Maranhão apenas o convento de Santo Antonio, com 25 escravos, e a ‘missão’ de S. José dos Poções, em 1757 vila de Vinhais, de onde, com as esmolas dos fiéis, se mantinham com seus alunos de filosofia e de teologia...”. (p. 50).
Ao listar as paróquias da Ilha do Maranhão, “... no meado do século XVIII, conta de 1758,... distante da cidade ... Vila Nova de Vinhais, a que foi elevada a 1o. de agôsto de 1757, (antes, S. João dos Poções) dos franciscanos...”. (p. 61).
112 MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. 113 COELHO, Elizabeth Maria Beserra. A POLÍTICA INDIGENISTA NO MARANHÃO PROVINCIAL. São Luís: SIOGE, 1990 114 PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968
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De acordo com BARBOSA DE GODOIS (1904)115, o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário. MEIRELES (1964)116, conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida - a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” - costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais de uma meia dúzia de milhares de habitantes, a convocá-los, com a campainha que ia fazendo tilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irriquieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afóra; À noite, retornava à aldeida da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida... Buscamos uma vez mais em Cesar MARQUES (1970)117 outras informações, agora sobre a Igreja do Vinhais: “Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então se chamou aldeia de São João dos Poções. ........................... “... [1o. de agosto de 1757 em que a Aldeia da Doutrina foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais] foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antôno Felipe Ribeiro”. ....................... “Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’. “. (p. 632-633).
Ainda às págiasm 632 do referido Dicionário ..., César Marques informa que no referido têrmo – ao passar a freguesia para a Ordem de Santo Antônio, com o nome de São João dos Poções, em 13 de abril de 1757 -, achavam-se em palácio, reunidos, o Governador da Capitania, Gonálo Pereira Lobato e Sousa, o Governador do Bispado, 115
BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II 116 MEIRELES, Mário M. São Luís, cidade dos azulejos. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1964 117 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).
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Dr. João Rodrigues Covete, e o Desembargador Ouvidor-Geral Diogo da Costa e Silva, o Desembargador Juiz-de-Fora Gaspar Gonçalves dos Reis, e os reverendos prelados das regiões, mandava o Governador ler o têrmo da junta, feito na cidade de Belém do Grão-Pará em 10 de fevereiro de 1757: “Depois disso perguntou o governador do bispado o que respondiam suas paternidades ao proposto, determinado e resolvido no dito têrmo, devendo-se praticar neste bispado o que se praticou e resolveu no Grão-Pará”. “O padre provincial do carmo, Frei Pedro da atividade, e o padre comendador do Convento de N. S. das Mercês, Frei Bernardo Rodrigues Silva, não fizeram a menor objeçào, e declaram concordar com o que se tinha feito no Pará. “O padre-mestre, Frei Matias de Santo Antônio, por impedimento do guardião do Convento de S. Antônio, que então era Frei Miguel do Nascimento, respondeumque não tinha dúvida que se observasse o mesmo, com a declaração porém que neste bispado nõa havia missões algumas para observância do sobredito, e que só o seu convento tinha uma doutrina do serviço dele, a qual estava situada em terras doadas ao mesmo convento, aceitas pelo Sindico dele por títulos onerosos de compra e venda, e obrigação de missas anuais, e por isso tinham entrado no seu domínio por muitas bulas, e especialemnete pelas do papa Nicolau IV, fucando assim excluída da ordem de Sua Magestade. “No têrmo da junta de 18 de junho do mesmo ano (1757), declarou o dito governador, que havendo dado conta do ocorrido na sessão da Junta de 13 de abril ao capitão-General do Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marques de Pombal) do requerimento do guardião do Convento de Santo Antônio a respeito da sua aldeia chamada da Doutrina, fora por ele julgada em oposição à devida observancia da ordem de Sua Majestade de 7 de junho de 1755, que com força de lei mandou publicar nesta cidade. “Em virtude de tudo isto foi no dia 1 de agôsto de 1757 elevada à categoria de vila com a demonimação de Vinhais. “Acharam-se presentes a este ato o Governador da Capitania, dr. Bernardo Bequimão por comissão do governador do Bispado, o diretor Alferes Manuel de Farias Ribeiro, os Sargentos Manuel José de Abreu e Carlos Luis Soares, o povo do dito lugar e mais aldeias. “Fêz entrega das terras da vila, o que únicmente possuía esta aldeia, o Padre Frei Bento de Santa Rosa, religioso de Santo Antônio e aí missionário com a administração temporal.” (p. 632-633)
Ainda em Cesar Marques, descobrimos que os presbíteros Domingos Pereira da Silva, vigário colado da freguesia de São Bernardo da Parnaíba, e Maurício José Berredo de Lacerda, vigário de São João Batista de Vinhais, apresentaram requerimento colocando sob suspeição a divisão da freguesia da Sé e a criação da de Santana, em 17 de janeiro de 1803 (p. 446).
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GAIOSO (1970)118, ao identificar as cidades, lugares, villas, freguezias por toda a capitania, afirma que na ilha de São Luís do Maranhão - em 1818 -, tem a cidade deste nome e: "A villa de Vinhaes he uma pequena povoação de Indios, que goza de privilegio de ter seu governo municipal, de que são membros os mesmos Indios. Tem sua igreja particular que lhes serve de freguezia, com a invocação de S. João Batista. A congrua dos vigários destas povoações he de 50,000 r. pagos pela fazenda real, que cobra os dizimos, e devem apresentar certidão dos respectivos diretores, em como compriro com os officios pastoraes." (p. 110)
Sobre a igreja existente em Vinhais, MORAES (1989)119 lembra que a capela de São João dos Vinhais, construída no século XIX (sic), substituiu templo muito anterior, que ruíra, e que fora matriz da freguesia, criada pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757. A reconstrução da igrejinha do Vinhais foi feita pelo 15o. Bispo do Maranhão, D. Marcos Antonio de Souza. Em carta a seus auxiliares, datada de 30 de dezembro de 1838, “julgando aproximado o tempo de descer aos silêncios da sepultura”, pede para ser enterrado na Matriz de São João Batista do Vinhais, que mandara reedificar: “Se não fôr possível ter o último jazigo nesta Cathedral de Nsa. Sra, da Vitória, junto às cinzas dos meus Predecessores, como sesejava um santo Bispo de Milão, se não me fôr permitido descançar junto al Altar, em que poe muitas vêzes tenho celebrado os augustos mysterios da Religião Santa, que professo, hé de minha última vontade, que o meu enterramento, se fallecer nesta Cidade, ou suas vizinhanças seja na Matriz de S. João Baptista de Vinhaes, reedificada com algum trabalho meo”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 164)120. No ALMANAK DO MARANHÃO121 para o ano de 1849, consta da relação dos párocos do Bispado do Maranhão o nome de Manoel Bernardo Vaz, como vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais. D. Manoel Joaquim da Silveira, 17o. Bispo do Maranhão, inicia, a 27 de dezembro de 1854, uma visitação às paróquias. Sobe o “São Francisco” - “braço de mar em que deságua o rio Anil”, em dois escaleres do brigue “Andorinha: “... Pitoresco o promontório dos remédios, com a alvura deslumbrante e devota da Ermida de Nsa. Senhora. Com pouco mais de 3 quartos de hora de viagem, estão no pôrto de “Vinhaes, outrora Villa, e muito mais povoada que actualmente’. Foguêtes, recepção, bençãos. 118 GAIOSO, Raimundo José de Sousa. COMPÊNDIO HISTÓRICO-POLÍTICO DOS PRINCÍPIOS DA LAVOURA DO MARANHÃO.Rio de Janeiro : Livros do Mundo Inteiro, 1970. 119 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. 120 PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 121 REGO, A. ALMANAK DO MARANHÃO COM FOLHINHA PARA O ANNO DE 1849 (2o. anno). São Luís: Typografia Maranhense, 1848. (Edição fac-similar da AML, 1990).
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‘Hospedagem ecellente em casa de propriedade do Vigário Geral. Visita dos ingênuos habitadores dêste pacífico lugar’. “Na manhã seguinte começam os trabalhos. Pouca frequência. Não há confissões: 75 crismas. ‘Pequena a Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada’. Construída por D. Marcos, já está arruinada. Ajudado com 4:000$000 da Província e com o produto de loteria, D. Manoel fez os reparos desta... “...
a 3 de janeiro, por Vinhais, retorna S. Excia. à Capital”.
(CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 234-235)122. À época da nomação do 19o. Bispo do Maranhão, D. Antonio de Alvarenga 1876 -, era pároco da igreja de São João Batista de Vinhais o Pe. Custodio José da Silva Santos. Catarina Mina – Catharina Rosa Ferreira de Jesus – uma escrava que amealhou grande fortuna com o comércio de seu corpo, e comprou sua alforria – no dizer de Graça Guerreiro, tornara-se uma Xica da Silva do Maranhão – achando-se adoentada – em 19 de fevereiro de 1886 - e sendo solteira e sem herdeiros, abriu mão de seus bens em testamento, deixando-os para seus escravos –sim, os possuía, e muitos ! – além da alforria dos mesmos. Entre as exigências que fez, pediu aos herdeiros que “enquanto lhes permitissem os seus recursos, não deixassem de fazer a festa de São Pedro em Vinhaes, como de costume”. (BARBOSA, 2002; 2002b)123. (Grifos nossos). ABBEVILLE, Claude de. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. ARAÚJO, Antonio Martins de. O sonho de João de Barros no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de janeiro de 2002, terça-feira, Caderno Alternativo, p. 6 ASSOCIAÇÃO CARLO UBBIALI; INSTITUO EKOS. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís, 2004 AUGÉ, M. Por uma antropologia dos mundos contemporâneos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In REVISTA TJ MARANHÃO, São Luís, setembro/outubro 2002. BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In LIMA, Félix Alberto (org.). MARANHÃO REPORTAGEM. São Luís : Clara, 2002, p. 173-181 BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Memória, linguagem e identidade – Memória hoje. Morpheus – Revista Eletrônica em Ciências Humanas, ano 02, n. 03, 2003. Disponível em <http://www.unirio.br/cead/morpheus/>. BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000, citada por REIS, 2009, obra citada, disponível em http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc .
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IHGM NA MÍDIA
IHGM COBRA DO SECRETÁRIO BULCÃO LIBERAÇÃO DE EMENDA PARLAMENTAR http://www.jornalpequeno.com.br/2011/4/19/atos-fatos--baratos-152821.htm
A presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, fez ontem um apelo para que o secretário de Cultura do Estado, Luiz Henrique Bulcão, faça o quanto antes a liberação de uma emenda orçamentária, no valor de R$ 100 mil, destinada ao plano de revitalização das publicações do IHGM. Telma Bonifácio explicou que se trata da Emenda de nº 44/2010, aprovada na Assembléia Legislativa e sancionada pela governadora Roseana Sarney, e que visa garantir recursos para a publicação de livros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, fonte: 101, GND: 3, Modalidade de Aplicação: 50, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), no âmbito da Secretaria de Cultura. “É importante frisar que o nosso Instituto Histórico e Geográfico, em sucessivas reuniões com seus membros, elaborou uma vasta programação com vistas às comemorações do IV Centenário de São Luís, de modo que nós esperamos que o secretário Bulcão consiga se sensibilizar e envide esforços para a liberação dos recursos previstos nesta Emenda”, afirmou a professora Telma Bonifácio. Ela explicou que, tendo por objetivos o estudo, debate e divulgação de questões sobre História, Geografia e Ciências afins, assim como promover a coleta de documentos, ampliando a bibliografia maranhense, através de edição de sua Revista, em cujas páginas sejam insertos os trabalhos apresentados em suas reuniões, bem como promover a edição, e a reedição, de obras de autores maranhenses, preferentemente as antigas, e as inéditas, o IHGM vem encontrando dificuldades em cumprir suas finalidades. Sua Revista, concebida para ter uma periodicidade trimestral, desde sua concepção, ainda em 1926, vem sendo editada de forma descontínua, haja vista o IHGM não dispor de subsídios oficiais, ou doações particulares, para sua consecução. Em raros momentos contou com ajuda oficial. Daí que, em seus mais de 85 anos de existência, trouxe a público apenas 36 números, sendo que, nas últimas gestões, conseguiu estabelecer a periodicidade planejada, graças às novas ferramentas de editoração, no formato eletrônico. Buscando ajuda financeira para disponibilizar sua Revista no formato tradicional – tendo o papel como suporte, sem deixar de usar o formato eletrônico -, conseguiu sensibilizar o então deputado estadual Joaquim Haickel – hoje secretário de Estado de Desportos e Lazer -, que o contemplou com Emenda Parlamentar ao Projeto de Lei nº 199/2010, que estima a Receita e fixa a Despesa do Estado do Maranhão para o exercício financeiro de 2011. A Emenda Parlamentar aprovada é destinada à publicação de livros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão que, como parte das comemorações dos 400 anos
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de São Luís, fará a publicação dos trabalhos a serem apresentados nos seis seminários que serão realizados pela Instituição. O IHGM está também buscando recursos para trazer a São Luís pelo menos seis palestrantes, para discorrer sobre temas específicos, dentro da programação já aprovada pelos integrantes do IHGM. Fazem parte da Comissão dos 400 anos a presidente do IHGM, professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo; o vice-presidente, Leopoldo Gil Dulcio Vaz; o Padre Raimundo Meireles, o promotor de Justiça Washington Cantanhede; e o arquiteto Marcelo do Espírito Santo.
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O ALERTA QUE VEIO DE LONGE. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM IHGM, APLAC, AMM. Publicado no JP Turismo edição de 08 de abril de 2011 http://www.jpturismo.com.br/noticia.asp?id=08042011-o-alerta-que-veio-de-longe
As informações que continuam chegando do Japão sobre os acidentes ali ocorridos, no dia 11 de março, trazem, ainda, muitas apreensões e expectativas sobre a extensão do agravo e dos danos que continuam causando. Tudo isso tem sido um importante tema de reflexão para governos de muitos países inclusive do nosso que insistem no uso da energia nuclear, mesmo que para fins pacíficos como dizem. Há que se pensar em outras maneiras de expandir a matriz energética do país. Já bastam Angra I e Angra II. Devemos esquecer-nos das usinas programadas para o Nordeste, cujos locais de implantação estão sendo disputados por lideranças políticas regionais. Países mais adiantados começaram a pensar melhor antes de construir as usinas que já haviam planejado. Não obstante os benefícios decorrentes do uso de material radioativo, é certo que a sua utilização pode ser o caminho para o enriquecimento do urânio, o que cria uma situação de desconfiança que se reflete, negativamente, na construção de uma paz eficaz e duradoura que todos almejamos. A segurança que cerca as instalações nucleares, no Japão, desenvolvida com elevada tecnologia e a disciplinada conduta do seu povo adquirida, ao longo de sua cultura milenar, não impediram os acidentes com os reatores nucleares de Fukushima e tampouco o medo que deles tomou conta pelas lembranças ainda recentes da triste experiência vivida com radioatividade, quando a estupidez humana se abateu sobre Hiroshima e Nagasaki. Os acontecimentos, registrados pela imprensa, ocorridos em 1979, em Three Mile Island, nos Estados Unidos, por falha técnica com erro humano, em Chernobyl, na antiga União Soviética, em 1986, por erro humano e agora, no Japão, vêm mostrar que o uso da tecnologia por mais refinada que seja é sempre um produto elaborado pelo homem e, portanto, passível de falhas. Por isso, o uso de elementos radioativos como urânio cuja fissão, em reatores nucleares, além de fazer gerar energia elétrica pela liberação de calor que eleva a temperatura da água ao estado de vapor para acionar as turbinas, libera, também, subprodutos altamente radioativos (césio 137 e iodo 131 dentre outros igualmente perigosos) que são danosos à vida na terra e ao ambiente. Por diferentes motivos, inclusive por negligência, tais substâncias, apesar dos dispositivos de segurança, podem vazar para o ambiente produzindo sérias catástrofes. Quem já se esqueceu do ocorrido, em setembro de 1987, em Goiânia? Uma cápsula de césio-137, contida num invólucro de chumbo de um velho aparelho de radioterapia, foi jogado, displicentemente, em um lixeiro da cidade. O
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resultado foi a tragédia que vitimou quatro pessoas e deixou quase setecentas contaminadas que ainda reclamam a atenção do governo para os seus sofrimentos. Não estou me posicionando contra o uso de substâncias radioativas. Mas, ao que parece, elas são uma faca de dois gumes. Podem ser usadas para fins pacíficos como produção de energia elétrica, no diagnóstico e tratamento de certas doenças, na Agricultura, na Química, Arqueologia, Geologia e em muitos outros campos onde os radioisótopos têm uso necessário se bem controlados. Por outro lado, tem efeitos danosos, como já vimos, causando acidentes por circunstâncias naturais ou por falha humana. Mas se medirmos os prós e os contras sempre vêm a pergunta: será que a humanidade precisa mesmo de energia nuclear? Os graves riscos com radiações, acúmulo de lixo atômico, a corrida armamentista com produção de artefatos bélicos de destruição em massa justificam os benefícios que trazem? Na verdade, a expectativa de riscos para o planeta está sempre presente. Se assim não fora, não haveria a grande preocupação da ONU através da Agência Internacional de Energia Atômica com as grandes potências mundiais que desenvolveram a técnica de enriquecimento do Urânio e com os países emergentes que desejam adquirir a tecnologia e, tampouco, com os acordos que se sucedem para redução de ogivas nucleares. O certo é que as gerações futuras vão continuar convivendo com essa bomba de efeito retardado. Mas até quando? Isto é o que nos diz o alerta que vem de longe. Quem tem ouvidos, ouça.
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NOVAS OBRAS LITERÁRIAS SÃO LANÇADAS EM NOITE DE AUTÓGRAFOS CONJUNTA. OSVALDO PEREIRA ROCHA http://www.lojadivinaluz.com.br/ExibirNoticia.aspx?id=4497
Aconteceu na noite de 06/04/2011, no Centro de Criatividade ODYLO COSTA Filho (na Praia Grande), em São Luís do Maranhão, os lançamentos dos livros de João Francisco Batalha, José Ribamar Fernandes e Osvaldo Pereira Rocha (os três são maçons e sócios efetivos do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM), além do livro de Roque Pires Macatrão, diante de uma platéia de mais de 200 pessoas. A nova obra literária de João Batalha tem por título de ARARI, MAÇONS & MAÇONARIA; a de José Fernandes AO SABOR DA MEMÓRIA e a de Osvaldo Pereira Rocha SUBLIME ORDEM MAÇÔNICA Narrativas; a de Roque Macatrão discorre sobre a cidade de Brejo - MA. Os quatro escritores supracitados fizeram as apresentações de seus livros no auditório e os autografaram no salão de recepção. Houve uma declamação por parte de um amigo de José Fernandes e uma linda netinha de João Batalha executou uma linda música através de flauta, que foi aplaudida de pé. Nos dois momentos, a presença da comunidade arariense foi marcante, seguida de Irmãos Maçons dos escritores Osvaldo Rocha, João Batalha e José Fernandes, dentre eles dois Grão-Mestres “Ad Vitam” do Grande Oriente Autônomo do Maranhão GOAM, ou seja, Plinio Ferreira Marques e Raimundo Benedito Aires e o Eminente Grão-Mestre do GOB-MA, José de Jesus Billio Mendes. A Grande Loja Maçônica do Estado do Maranhão esteve representada pelo Respeitável Irmão Antonio Nicolau Barros, Venerável Mestre de Honra da Loja Divina Luz nº 39.
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E confrades e confreiras do IHGM, liderados pela sua Presidente, Professora Telma Bonifácio; colegas da Associação dos Auditores Fiscais do Trabalho; amigos da Sociedade Amigos da Marinha e de outras entidades também marcaram presença, para honra deste articulista e dos demais colegas escritores.
Os supracitados lançamentos tiveram a cancela da Federação das Academias Maranhenses de Letras, presidida pelo Imortal Álvaro Urubatan (Vavá). Foi uma noite memorável... E as fotos do profissional Monteles, dizem mais sobre o grande evento literário acima mencionado.
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SUBLIME ORDEM MAÇÔNICA – Narrativas OSVALDO PEREIRA ROCHA
O livro SUBLIME ORDEM MAÇÔNICA Narrativas, contém 130 páginas e mesmo sem contar os segredos da Maçonaria, tem narrativas interessantes, vivas, de fácil leitura e entendimento, inclusive sobre acontecimentos alegres ou tristes da minha vida (biografia) desde o meu nascimento até o mês de março de 2011, em curso. Modéstia à parte tem amplas possibilidades de se transformar em leitura obrigatória para os Maçons em geral e para quem está ligado ao mundo intelectual destas terras maranhenses ou fora delas. Em outras palavras, seu texto fixa momentos significativos do meu viver – sempre na expectativa de um novo amanhecer – principalmente como Homem Maçom que Iniciou na Sublime Ordem em agosto de 1968 e que, portanto, caminha para completar 43 anos de INICIADO, já tendo percorrido dos graus 1 ao 33... E que, ocupando o cargo eletivo de Grão-Mestre, no triênio 2009 a 2012, o mais alto e importante de uma Potência Maçônica, sinto-me plenamente realizado. Palavras do Grão-Mestre Osvaldo Rocha aos Neófitos em 03/07/2010; 37º Aniversário de Fundação do GOAM; Sagração do Templo da Loja Osman Aguiar Bacellar (de Brejo-MA); Palavras do Acadêmico Osvaldo Pereira Rocha; Homens como Irmãos; Mensagem de Natal e Ano Novo do Soberano Grão-Mestre; Chamada para o Oriente Eterno e Saudação ao Irmão Rubens Ricardo Franz (Presidente da Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, em Visita Oficial ao GOAM na noite de 29/03/2011 (data do lançamento da referida obra literária, são artigos que merecem uma atenção mais acurada do leitor ou da leitora.
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JOSÉ FERNANDES DIVULGA “AO SABOR DA MEMÓRIA”, SEU MAIS NOVO LIVRO MANOEL DOS SANTOS NETO http://www.jornalpequeno.com.br/blog/manoelsantos/?p=9302
JORNAL PEQUENO Publicado em 10 de abril de 2011 http://www.jornalpequeno.com.br/2011/4/9/jose-fernandes-divulga-ao-sabor-da-memoria-seumais-novo-livro-151848.htm
JORNAL PEQUENO Publicado em 02 de maio de 2011
O cronista, pesquisador e advogado José Fernandes, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), está divulgando seu mais novo livro: “Ao Sabor da Memória”, lançado quarta-feira passada (dia 6), no Centro de Criatividade Odilo Costa, filho, na Praia Grande. A obra reúne diversas crônicas do autor. “Ele nos brinda com textos de tocante sensibilidade, rebuscando impressões dos seus primeiros anos, reminiscências desse áureo tempo em que o Criador nos cumula de pureza”. A declaração é do escritor Agnor Lincoln da Costa, a respeito do livro. “Ao Sabor da Memória” traz impressões, recordações e histórias de vida de José Fernandes. São recortes de suas experiências e do que ele viveu em Arari, cidade onde nasceu; São Luís, onde estudou, cresceu e trabalhou, e dos lugares onde esteve em decorrência das inúmeras viagens que fez pelo Brasil e exterior. A obra contém 185 páginas e 57 crônicas, entre elas “A Ilha do Amor”, na qual e demonstra sua veneração por São Luís.
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Em “Londres Nunca Mais”, uma das crônicas, José Fernandes revela sua decepção em relação ao povo inglês. Em outra, intitulada “Na Infância, a Vida Rural”, o escritor descreve sua vida simples na infância, quando costumava viajar de canoa de sua cidade em direção às localidades de Belém e Barreiros, em cinco horas de percurso, acompanhado dos pais. Pesquisa – José Fernandes nasceu em 1938 e reside em São Luís desde 1952. Ele é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Maçônica Maranhense de Letras e da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, da qual é um dos fundadores e já foi presidente por duas vezes. O autor está atualmente debruçado em uma pesquisa historiográfica que resultará em mais um livro. “Estou pesquisando sobre o mundo da arte gráfica no Maranhão e toda sua evolução”, antecipou. Segundo ao autor, todos os textos representam para ele lances que foram significativos e alguns ainda se mantêm ínsitos em decorrência de uma maior carga de sentimentos de perplexidade. “Nas entrelinhas dos conceitos emitidos ouso insinuar, timidamente e de modo quase imperceptível, possibilidades de podermos alcançar um estado íntimo de maior plenitude existencial…”, escreve José Fernandes em sua introdução.
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AYMORÉ DE CASTRO ALVIM LANÇA NOVO LIVRO DE CONTOS E CRÔNICAS JORNAL PEQUENO 25 de abril de 2011
O escritor, médico, pesquisador e professor aposentado da Universidade Federal do Maranhão Aymoré de Castro Alvim lançou o seu segundo livro sobre a evolução, tradições e fatos pitorescos da cidade de Pinheiro (333 km de São Luís). O lançamento do livro "Crônicas e Contos de um Pinheirense" (Edições Aplac. 107p) aconteceu na sede do Conselho Regional de Medicina, no Renascença. Promovido pela Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências (Aplac) e Livraria Papiros do Egito, a noite de autógrafos foi prestigiada pelo secretário de Saúde de São Luís, Dr. Gutemberg Araújo; o vice-presidente da Aplac, José Agnaldo Mota, representando o seu presidente, José Márcio Soares Leite; a escritora e secretária da Aplac, Maria Rita Gonçalves; a professora da UFMA Andréa Pires. O lançamento foi prestigiado também pelo desembargador Lourival Serejo; a poetisa Dilercy Adler, a livreira e professora aposentada da UFMA, Moema Alvim, que faz a apresentação do livro; o professor da UFMA, Manoel da Conceição Silva, autor da bandeira de Pinheiro; a superintendente da Fundação Sousândrade, Regina Luna, o empresário e professor aposentado da UFMA, Mário Cella; Dona Inêz Castro, mãe do escritor; representantes do CRM/MA, professores e servidores da UFMA. Décadas de 40 e 50 - Integrantes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Sociedade Maranhense de Parasitologia e Medicina Tropical do Maranhão, Academia de Medicina do Maranhão, amigos e parentes do escritor também prestigiaram o evento.
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Em 30 contos e crônicas, o autor descreve com texto refinado e humor inteligente episódios pitorescos da sua infância e juventude e acontecimentos da sua terra natal. Em "Coisas da Política de Pinheiro", Aymoré de Castro Alvim narra um episódio hilário que aconteceu durante a visita do então governador de São Paulo, Adhemar de Barros, à Pinheiro, em 1959, na campanha de Getúlio Vargas para a presidente da República. No livro, Alvim também descreve procedimentos médicos e farmacêuticos das décadas de 40 e 50, curiosidades, costumes e diferenças da Pinheiro de outrora. "A cidade era menor. A área urbana não ia além do bairro de Alcântara. Veículos a motor? Só dois caminhões: o "Cavalo Preto", da Prefeitura, e o "Periquito Verde", dos Gonçalves", diz Alvim. E completa: "Nada de assaltos, drogas e outras tantas coisas trazidas pelo progresso ou pela modernidade. As viagens para São Luís eram feitas em barcos à vela de Franco Castro, Chico Silva ou do Chiquinho Azevedo. Outra opção era o teco-teco do Comandante Maranhão", recorda Aymoré Alvim.
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UPAON-AÇU RENDE HOMENAGEM AO PROFESSOR LEOPOLDO VAZ JORNAL PEQUENO 27 de abril de 2011 às 09:16
A II Olimpíada Esportiva do Centro de Ensino Upaon-Açu foi marcada de emoções durante a solenidade de abertura, sexta-feira, 22. Foram homenageados três destacados professores da área da Educação Física e do Esporte no Maranhão. Antônio Maria de Araújo, o professor Dimas; José Maranhão Penha; e Leopoldo Gil Dúlcio Vaz, todos com significativa participação no desenvolvimento do esporte maranhense e alhures. A diretora de esportes da Escola, Elza Balluz, durante discurso de abertura da Olimpíada, destacou entre todos os motivos para a comemoração, o título maranhense de campeão brasileiro de Handebol em 1976, que completou 35 anos neste ano de 2011. Os homenageados receberam placa de reconhecimento pelo pioneirismo e incansável trabalho em prol do desenvolvimento da Educação Física do Estado. De acordo com o coordenador de esportes, Eduardo Balluz, o professor Dimas foi grande incentivador e precursor do Handebol e Ginástica Olímpica no Maranhão. Após a entrega da placa, emocionado, o Dimas ressaltou: “Tive muitas glórias durante minha vida esportiva, mas esta honraria me deixou muito mais emocionado do que qualquer medalha”.
Ainda na cerimônia, Eduardo Balluz ressaltou o importante trabalho desenvolvido pelos outros dois homenageados, professor Leopoldo Vaz, que atualmente tem se destacado no resgate da história da Educação Física, Esportes e Lazer, com artigos publicados, livros e capítulos no Brasil e exterior, vice-presidente do Instituto Histórico e geográfico do Maranhão, e, finalmente, o professor José Maranhão Penha, um dos responsáveis pelo título da Seleção Maranhense de Handebol em 1976, como técnico das equipes e outras atuações. Foi também professor do Colégio Upaon-Açu por quase 10 anos. Atletas – Na ocasião, atletas de renome do Upaon-Açu como Vanessa Oliveira, Mateus Estrela e Lorena Pinheiro, acenderam a Pira Olímpica, marcando a abertura da Olimpíada. Ao final, a equipe campeã brasileira de Handebol há 35 anos enfrentou a atual seleção da escola em um jogo descontraído e acirrado.
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MEMÓRIA CULTURAL DE ARARI-MA IMPORTANTE ENTREVISTA COM O INTELECTUAL ARARIENSE, JOSÉ FERNANDES, HILTON MENDONÇA http://www.hiltonmendonca.adv.br/page200.php
HM - Há muito tempo ouço falar de José Fernandes. Quem é esse ilustre cidadão, qual o nível de escolaridade dele e por onde trabalhou? JOSÉ FERNANDES – Meu nome completo é José de Ribamar Fernandes, nascido em Arari, em 30.01.1938, filho do professor e depois comerciante Nestor Fernandes e de dona de casa Teresa de Jesus Fernandes. Trabalhei desde os 14 anos como operário tipográfico e, a partir dos 20, tornei-me proprietário de uma microempresa tipográfica onde imprimi os meus dois primeiros livros – Poemas do Início e Caminhos da Alma - , além de livros de outros autores, como J. C. de Macedo Soares, José Chagas, Cunha Santos, Kleber Leite, Abraão Cardoso, Raimundo Corrêa, Genésio Santos, Luís Pires, Ericeira de Sousa e Lopes Bogéa. Nela editei o 1º jornal de Imperatriz e de Bacabal-MA, nos anos 60. Devido à minha atuação como gráfico, tornei-me, por 30 anos, presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Estado do Maranhão e Diretor da FIEMA – Federação das Indústrias do Estado do Maranhão, com atuação no SESI, no Conselho de Contribuintes de São Luís-MA, Junta de Recursos da Previdência Social e no Tribunal de Recursos Fiscais do Estado. Formei-me em Direito e trabalhei muitos anos como advogado do BDM, incorporado pelo BEM – Banco do Estado do Maranhão. Fui assessor jurídico do TRT da 19ª Região e Juiz Classista do Trabalho, junto ao TRT da 7ª Região, onde me jubilei após ter recebido, em Brasília, a Comanda do Mérito do Juiz Classista. HM - Como foi a tua infância e adolescência? Cita alguns fatos marcantes dessa época. JOSÉ FERNANDES – Minha infância foi marcada por doenças: sofria de labinritite, desmaiava continuamente e sofria de outras patologias, curadas pelos remédios de uma bondosa vizinha, dona Sinuca, do homeopata “seu” Nicolau, do prático em remédios Antonio Garcia e, ainda, com a ajuda de um livro de um mestre do mentalismo, prentice Mulford, de meu pai. Na adolescência, eu era operário durante o dia e estudante à noite, quando fundei, no Liceu, o jornal “O Estudante de Atenas”, com José Farias, e a primeiro entidade cultural de Arari, a UAE – União Arariense dos Estudantes, o jornal Gazeta Arariense, o Grupo Teatral Raimunda Ramos e a Biblioteca Milton Ericeira; ajudei o hoje general Farias e Silva a criar a UVE - União Vitoriense dos Estudantes e o primeiro jornal de Vitória – O Mearim em Folha. HM - Em Arari, quando e onde estudaste?
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JOSÉ FERNANDES – Dos fins dos anos de 1940 ao início dos anos de 1950, estudei com Luzia Bastos e no Grupo Escolar Arimatea Cisne e, no último ano do antigo primário, no Instituto Nossa Senhora das Graças (hoje Colégio Arariense) e na Escola de Artes Gráficas Belarmino de Matos. HM - Quem eram alguns dos teus colegas de classe e de quais tens boas lembranças? JOSÉ FERNANDES – No Arimatéa Cisne: José Prazeres (que hoje mora em Curitiba), Maria Everton, Miriam Silva e Chiquinha Abas; no Instituto Nossa Senhora das Graças: - Antonio Rafael da Silva, Durval Prazeres, Antonio Batalha, Eden Soares e Digé Vale. HM - Da tua juventude, quem eram os personagens de destaque em Arari? JOSÉ FERNANDES – Antonio Anísio Garcia, padre Clodomir Brandt e Silva, o médico João Leão da Silva Melo, o oficial da Marinha, chefe da Agência da Capitania dos Portos, Manoel Abas (dono do Cassino Arariense), José Martins (dono de uma boa orquestra e professor de música) e, durante o tempo de sua administração, a prefeita Justina Fernandes Rodrigues (Bembém). HM - E quanto às moças ararienses, quem eram as mais belas e as mais destacadas? JOSÉ FERNANDES – É difícil enumerá-las. O Arari tinha a fama de ostentar as moças mais bonitas do Maranhão. Não citarei nomes com o receio de excluir alguma com a qual namorei. HM - Antes de ti e dos amigos da tua época, quais ararienses iam estudar em São Luís e, nas férias, retornavam para Arari, como muitos de nós fizemos, décadas depois? JOSÉ FERNANDES – Apenas por referências, sei que dois destacados estudantes, no início do século passado, ao passarem férias em Arari, fundaram o primeiro jornal da terra – A Luz – datilografado: José Silvestre Fernandes e Thiago Fernandes. O primeiro se tornou um dos maiores educadores do país e o segundo, apesar de culto e exímio beletrista, jamais atuou fora de Arari, contentando-se com uma promotoria-adjunta e a ajudar intelectualmente o grupo político comandado, primeiro pelo seu irmão Lucílio, e depois por Antonio Garcia. Nos meus tempos de juventude, não alcancei as férias dos estudantes José Saraiva, Milton e Sadi Ericeira, Benedito Alves Cutrim, José Fernandes Ribeiro (Zé Padre) nem daquele que veio a ser frei Carlos de Arary. Lembro, porém, das férias de Benedito Garcia, Kleber Moreira, Manoelzinho e Zuza Santos, estes dois filhos do fazendeiro Cipriano Ribeiro dos Santos; de José Salomão; de José Ribeiro (Ribeirinho, que estudava agronomia em Curitiba-PR) e de algumas estudantes, as primeiras que se formaram na Escola Normal do Estado. HM - Qual a tua ascendência conhecida e qual a tua descendência? JOSÉ FERNANDES – Meu antepassado mais remoto, conhecido, tem como tronco Pedro Leandro Fernandes, português do Arcebispado de Braga, um dos primeiros habitantes do Arari, no início do século XIX, que foi avô de outro Pedro Leandro Fernandes, este meu bisavô, pai de Ana Maria Fernandes, casada com Raimundo Benedito Fernandes (Tenente Prego), meus avós. Minha avó Ana Maria era irmã de Lucílio e de Thiago Fernandes, personagem da história política e administrativa de Arari, a partir do primeiro quartel do século XX. Do meu casamento com a pedagoga e
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assistente social Maria José Batista Fernandes vieram as filhas Sílvia e Cláudia, e o filho Nestor Neto, advogados. HM - Quem eram os líderes ararienses, antes do padre Brandt? JOSÉ FERNANDES – A história registra o cidadão José Antonio Fernandes, rico pecuarista e industrial, juiz de paz, vereador e primeiro administrador da vila que nascera com o seu maior líder nos tempos remotos; posteriores a ele, pode-se destacar Francisco de Paula Bogéa, Leonardo Pimenta Bastos, Belisário Duarte Fernandes, Manoel Rodrigues Nunes, Antonio Anísio Garcia e Cipriano Ribeiro dos Santos. HM - Quem eram os ararienses mais letrados da tua juventude? JOSÉ FERNANDES - A história registra o cidadão José Antonio Fernandes, rico pecuarista e industrial, juiz de paz, vereador e primeiro administrador da vila que nascera com o seu maior líder nos tempos remotos; posteriores a ele, pode-se destacar Francisco de Paula Bogéa, Leonardo Pimenta Bastos, Belisário Duarte Fernandes, Manoel Rodrigues Nunes, Antonio Anísio Garcia e Cipriano Ribeiro dos Santos. HM - Quem eram os ararienses mais letrados da tua juventude? JOSÉ FERNANDES – Na minha juventude, as pessoas mais letradas de Arari não eram filhos da terra, a exemplo do padre Brandt, do dr. João Leão da Silva Melo e dos professores Benedito Gonçalves de Morais e José Ribamar Avelar. Ararienses, residentes em Arari, letrados daquele tempo, só o Raimundo de Sousa Fernandes – Caiçara e o enfermeiro e professor Tonico Santos. Porém, é bom lembrar que outros conterrâneos, residentes em Arari, como o Jorge Oliveira, José Soares, Nestor Fernandes Pedroca e Hoendel (cartorários) e algumas abnegadas professoras e professores possuíam um bom nível cultural, acostumados à leitura. E residentes fora do Arari possuíamos muitas pessoas letradas; apenas como exemplo, o professor José Saraiva, o médico Milton e o irmão Sadi Ericeira, Kleber Fernandes, Jaime Pestana, José Ribeiro Fernandes (Zé Padre), frei Carlos de Arary, padre Cutrim, Dr. Ribeirinho. Possivelmente, devo ter omitido alguns. HM - Quais as grandes diferenças que tu notas entre os jovens a ti contemporâneos e os que fazem a Arari de hoje, final de 2010? JOSÉ FERNANDES – Por influência da televisão, da internet, da globalização, os interesses dos jovens ararienses de hoje são mais difusos. Nos tempos do GAE, o interesse nosso não era concentrado nos divertimentos mas, principalmente, nas questões sociais, econômicas e administrativas, objeto da nossa inquietação. Hoje, está faltando aos jovens um pouco mais de ideal, de espírito de cidadania, com bondosas exceções, de vez que muitos, alguns isoladamente, e outros em grupos, reunidos em entidades, estão criando boas iniciativas, inovadoras até, mesmo transpondo dificuldades. HM - Eu percebo que Arari está ficando sem a grande maioria da descendência oriunda da juventude dos anos 70 a 80. De modo mais claro: os teus filhos (e os dos teus amigos de juventude), e os meus filhos (e os dos meus amigos daqueles tempos), já não moram mais em Arari; todos residem em São Luís, ou em outros lugares. Isso não significa um corte na tradição familiar? Quem é essa nova gente que hoje mora em Arari?
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JOSÉ FERNANDES - Nossos filhos, de modo geral, ausentaram-se de Arari, dele se alheiando e, consequentemente, dispersando-se das raízes da família originária. Com raríssimas exceções, podemos dizer que perderam a arariensidade. A própria população local também vem perdendo, aos poucos, a sua antiga identidade, influenciada pelas migrações que miscigenam culturalmente a população da urbe, dificultando a sua integração com a comunidade antes unida por usos e costumes. Tomo por exemplo o carnaval, outrora brincado nas ruas e nas casas (os famosos “assaltos”) e hoje concentrado numa praça repleta de gente pulando, gente que as vezes nem se conhece. Por oportuno, pergunte a qualquer pessoa de Arari o nome e o que fez o personagem no único busto erigido na cidade, próximo à Rodoviária. Dificilmente alguém saberá de quem se trata. No entanto, é válido o esforço daqueles que tentam resistir para preservar as nossas boas tradições. HM - Zé, como era o acesso a São Luís do começo dos anos 1950 até a década seguinte? JOSÉ FERNANDES – Todo o acesso, tanto para São Luís como para qualquer parte, era por meio do transporte fluvial, lanchas e batelões que cortavam o Mearim, o Pindaré e o Grajaú transportando gente e uma grande produção agrícola. Foi a fase áurea da navegação fluvial liderada por Arari. Com o advento das estradas de rodagem, o acesso tornou-se mais fácil, mais rápido, mas o Arari passou a não fabricar nem produzir quase nada: acabaram-se as sapatarias, a construção naval, as mercenárias, carpintarias, artesanatos, alfaiatarias, exportação de carne-seca, mel de abelha, aguardente de cana e açúcar mascavo. Tudo passou a ser comprado fora, na capital. HM - E as ruas de Arari, como eram as principais delas? JOSÉ FERNANDES – As ruas de Arari, no inverno, eram infernos de lama e, no estio, um mundo de poeira fina e gripante, repletas de cachorros, porcos e gado. Vieram a melhorar depois do primeiro trabalho de piçarramento feito pelo prefeito Caiçara. HM - Poderias fazer um brevíssimo resumo de todos os livros que já escreveste? JOSÉ FERNANDES – Poemas do Início, Caminhos da Alma e Portal do Infinito, os três de poesias rimadas, metrificadas ou livres; Crônica Arariense, prosa variada sobre assuntos relacionados com a Arari; A Representação Paritária na Justiça do Trabalho, um ensaio de tema jurídico; O Educador Silvestre Fernandes, uma biografia desse grande polígrafo; O Rio, memorial histórico e geográfico sobre o rio Mearim, afluentes e suas implicações antrópicas-ambientais; Gente e Coisas da Minha Terra, sobre figuras do passado do Arari, origem desse nome, controvérsias sobre quem foi o fundador da cidade. Já impresso, lançarei, em São Luís, neste mês de março, o meu mais recente livro – Ao Sabor da Memória – contendo crônicas de viagens, perfis de personalidades, reminiscências e ilações variadas, extraídas do cotidiano – um livro que, modéstia à parte, merece ser lido, pois, afinal, para isso foi escrito. HM - Quem eram as pessoas que compunham o antigo Grêmio Arariense dos Estudantes e por onde andam essas pessoas, hoje? JOSÉ FERNANDES – Citarei vários nomes, os primeiros, desde a fundação, quatro já falecidos: Cleómenes Carneiro, David Maciel Santos, Paulo da Silva Prazeres e José Benedito Pestana. Os demais encontram-se em São Luís-MA e espalhados pelo Brasil, exercendo cargos públicos, profissões liberais, executivos, magistrados, empresários – uns aposentados e outros em atividades: Ester Salomão da Silva, Maria de Lourdes
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Gusmão, Belarmino Chaves Everton, João da Silva Maciel, Abdelaziz Aboud Santos, João de Oliveira Prazeres, José de Ribamar Fernandes, Maria de Nazaré Ferreira, João Mário Chaves, João Francisco Batalha, Raimundo Antonio Chaves, Walber Muniz, José Ribamar Muniz Pinto, Renato Reis Martins, Roberval dos Santos Pires, Francisca Sanches Pires, Laura Rosa Victor, João Damasceno Pinto, Luzia de Jesus Fernandes Ericeira, Jaime Muniz Pinto, Rômulo de Jesus Soares, José de Ribamar Salomão Prazeres, Jesus da Graça Rodrigues, Leão Santos Neto, José Abas Prazeres, Marcelino Chaves Everton, Maria do Rosário Everton Vale, José Raimundo Soares Filho, Abdomacir Coêlho Santos – todos com direito ao cargo de Conselheiro da Fundação Cultural de Arari, sucessora do referido Grêmio. HM - Que avaliação tu fazes da administração de todos os prefeitos que governaram Arari, no teu tempo? JOSÉ FERNANDES – Seria longa e exaustiva a minha resposta, em face da limitação de espaço disponível para esta pequena entrevista. No entanto, abordarei essa matéria, com minúcias, no meu livro de memórias; não custa aguardar um pouco. Só a título de curiosidade, direi apenas que acompanhei, de perto, as gestões dos prefeitos Justina Fernandes Rodrigues (Bembém), Raimundo de Sousa Fernandes (Caiçara), Benedito de Jesus Abas (Biné) e uma de Leão Santos Neto. Constatei bons trabalhos nessas administrações, a par das carências e deficiências do sistema e dos obstáculos políticosadministrativos peculiares ao cargo. HM - Padre Brandt ficou imortalizado em Arari, notadamente por ter-se empenhado muito, durante mais de 50 anos, para melhorar a qualidade educacional daquela Ribeira. Como o padre morreu em 1998, podemos dizer que a juventude atual, que conta com idade de 15 anos, aproximadamente, já não sofre mais nenhuma influência daquele educador? Seriam esses jovens aqueles que vão efetivamente começar a enterrar Clodomir Brandt Silva para sempre? JOSÉ FERNANDES – Do padre Brandt remanescem obras que perduram – o Colégio Arariense, com centenas de alunos, a Biblioteca Justina Fernandes Rodrigues, os diversos Secretariados da Associação da Doutrina Cristã e seus livros, que continuam disponíveis, no seu Memorial, para quem quiser lê-los. Seus feitos são sempre citados em artigos de jornais, discursos e palestras. Enquanto tiver alguém que repasse adiante as lições que ele ministrava nas suas aulas de Civilização, com todo o alunado reunido na igreja, ele continuará presente no sentimento de outras gerações. A propósito, eu, seu ex-aluno, estou reescrevendo a sua vida e a sua obra, num livro que se chamará A Utopia do Padre Brandt. HM - Thiago Fernandes foi um dos ararienses mais cultos que por ali viveu. O médico João Lima e o ex-prefeito Caiçara, também. Que outros nomes tu podes citar, como pessoas cultas, que viveram ou que ainda vivem em Arari-MA? JOSÉ FERNANDES – Dos que viveram, no passado, na nossa terra, além dos já citados, acrescento os nomes do professor e inspetor escolar José Francisco Chaves Fernandes (Zeca Fernandes), o orador Joaca Chaves, o tabelião Pantaleão Costa, o empresário Abdomacir Santos e os não-ararienses Clóvis Ribeiro de Morais, José Moreira e, por último, Lourival Serejo. É-me difícil as pessoas cultas que hoje vivem em Arari em face da minha ausência da cidade. Sei, porém, que são muitas, aí incluída a classe dos professores. Em tese, os
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homens e as mulheres com formação escolar superior, residentes ali, são pessoas consideradas cultas ou achegadas à cultura. HM - Ilustre Zé, pouco se escreve sobre a política arariense. Fico com a impressão de que essa tarefa cabia/cabe, principalmente, aos historiadores de Arari, que não se ocupam do tema, adequadamente; Com isso, o tempo passa, e Arari fica sem informações importantes acerca das disputas eleitorais havidas, dos atores envolvidos e das gestões realizadas em nossa terra. Como tu és testemunha e foste ator político, gostaria que tu fizesses uma explanação, o mais longa e detalhada possível, sobre as campanhas políticas que tu participaste bem como redigisses uma análise de cada uma das gestões municipais que tu presenciaste, em Arari, ao longo da tua vida. JOSÉ FERNANDES – Essa resposta, realmente, exige a percuciência de um historiador, e um historiador com profundo conhecimento político e sociológico. E só um alentado estudo talvez elucidasse essa complexa questão levantada – coisa que excede os parcos limites deste entrevistado. Empiricamente, todavia, é possível que eu dissesse algo a respeito, pois participei da política de Arari como Vereador, aos 20 anos de idade e como postulante à prefeitura, ao 29 anos, e coordenei a campanha eleitoral que elegeu prefeito o meu amigo Dico Caiçara. Tenho, pois, alguma experiência na matéria e prometo que um dia, se tiver engenho e arte, tentarei respondê-la. Por enquanto, permita-me o ilustrado entrevistador que eu diga apenas que o arariense, o maranhense, o paulista, o brasileiro, nós, com respeitabilíssimas exceções, votamos muito mal: por impulso, descaso, camaradagem, pedido de outrem, favor ou troca de favor, pela feição ou pela palavra malandra do candidato. Nem 5% dos eleitores deste país que elege Maluf, Tiririca, Renan, Jesuíno ou Roriz votam analisando a vida pregressa do candidato, seu passado, sua trajetória; jamais procuram saber se realmente o ou os candidatos têm competência e dignidade para se tornar nosso representante. E mesmo depois de contínuas decepções, nós, eleitores, continuamos a cometer os mesmos equívocos. Uma lástima, por nossa máxima culpa.
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DIA DAS MÃES EM 2011 OSVALDO PEREIRA ROCHA “O nosso caminho é feito pelos nossos próprios passos, mas a beleza da caminhada depende dos que vão conosco”, graças à iluminação do Grande Arquiteto do Universo! “As marcas do tempo não podem enrugar a nossa vontade e a inteligência de nossa alma”, esta é uma homenagem para todas as mulheres aposentadas, pela passagem do dia 24 de janeiro, DIA DO APOSENTADO. 8 de março, Dia Internacional da Mulher, mulher tão especial...Que traz beleza e luz aos dias mais difíceis; que divide sua alma em duas para carregar tamanha sensibilidade e força; que ganha o mundo com sua coragem; que luta pelos seus ideais! 1º de maio – Dia do Trabalho – e, portanto da trabalhadora e do trabalhador. Todas as conquistas obtidas são resultado da organização das trabalhadoras e dos trabalhadores em torno da luta por condições melhores de trabalho e de vida. Que esse dia marque sempre as inúmeras conquistas, já obtidas e as que ainda estão por vir! Parabéns para todas as trabalhadoras por esse dia! Principalmente as trabalhadoras da família maçônica e, mormente, a maranhense, destacadamente da Família Maçônica do GOAM. Hoje comemoramos, principalmente, com alegria e reconhecimento, o Dia das Mães, estas a quem quase tudo devemos, depois da bondade do Grande Arquiteto do Universo, que nos tem dado vida e saúde... “Em geral as mães, mais que amar os filhos, amam-se nos filhos” (Friedrich Nietzsche). As mães, as avós e as bisavós são para sempre! Quando morrem materialmente, ficam vivas espiritualmente, na eterna saudade de seus filhos e filhas; netos e netas, bisnetos e bisnetas. Feliz Dia das Mães minhas cunhadas e sobrinhas, que são ou serão mães; minha tia Maria Rocha Borges (Maria Hipólito); minhas irmãs, noras, filhas, netas e bisneta, que são ou serão mamães; minhas colegas da Associação dos Auditores Fiscais do Trabalho no Estado do Maranhão – AITEMA; minhas confreiras do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM; minhas amigas do Glorioso Exército Brasileiro e da querida Marinha do Brasil! Feliz Dia das Mães para todas as mamães deste Maranhão, do Brasil e do Mundo! Que o Grande Arquiteto do Universo continue iluminando os vossos e os nossos caminhos! Finalmente, agradeço as presenças e as atenções de todas e de todos. Muito obrigado.
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DIA INTERNACIONAL DA MULHER: MOTIVOS PARA COMEMORAR E REFLETIR NATALINO SALGADO FILHO Doutor em Nefrologia; Reitor da UFMA; Membro do IHGM, ACM e AMC Umas das maiores poetisas brasileiras vivas, a mineira Adélia Prado, escreveu um poema em homenagem às mulheres intitulado “Licença Poética”, no qual ela vaticina: “Mulher é desdobrável. Eu sou”. Trata-se de uma justa e merecida homenagem na qual ela conseguiu, com suprema maestria, falar da amplitude do ser mulher. Apenas palavras não bastam para falar dessa amplitude, e nossa breve manifestação é no sentido de reiterar que a Universidade Federal do Maranhão reconhece a importância do dinamismo e competência de dezenas e dezenas de mulheres que em seus trabalhos mais diversos – seja no magistério, em atividades técnico-administrativas, na pesquisa e na extensão – contribuem para o enobrecimento de nossa missão e compromisso com o povo deste Estado. É importante lembrar, num reconhecimento histórico, que a escolha da data de 8 de março para a celebração do Dia Internacional da Mulher guarda uma lembrança trágica. Nessa data, em 1857, na cidade de Nova Iorque, 129 mulheres morreram queimadas dentro da fábrica de tecidos em que trabalhavam. Foi o resultado de uma ação desastrada da polícia, que tentava conter um protesto reivindicatório das operárias. Seu crime? Pediam melhores condições de trabalho, equiparação salarial aos homens e redução da jornada de trabalho de 16 para 10 horas diárias. Apenas em 1910, num encontro da Internacional Socialista, na Dinamarca, consagrou-se o dia em homenagem às mulheres, e somente mais de meio século depois, em 1975, a ONU deu a este dia um caráter internacional. Entre o longínquo século XIX e os anos setenta, as mulheres protagonizaram muitas lutas em vários fronts, mas as conquistas mais substanciais e a emancipação feminina, pelo menos no ocidente, são frutos das transformações na sociedade do pós-guerra. Neste novo contexto, a mulher ocupou um lugar de destaque, não sem outras batalhas por direitos que se consubstanciaram em uma sociedade mais igualitária, solidária e fraterna. Pode-se afirmar que o resultado desta presença feminina redesenhou as relações sociais modernas, mudou a perspectiva da relação de uma hierarquia servil com o homem para um caminhar juntos. Os ecos do lema tríplice da Revolução Francesa – igualdade, liberdade e fraternidade – espraiaram-se no reconhecimento da importância da igualdade que a mulher tem em diversas áreas do conhecimento, das artes e da ciência. Em nosso país, porém, a despeito dos muitos avanços que colocam a mulher como peça fundamental na força de trabalho e, mais recentemente, na administração pública, quando elas conquistaram os mais altos cargos, ainda convivemos com resquícios da desigualdade que se revela em sua face mais sombria, que é a violência contra a mulher. Dados do início deste ano da Fundação Perseu Abramo revelam um quadro chocante: a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas no Brasil. Há dez anos era
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bem pior. Oito mulheres sofriam violência no mesmo período de tempo. A Lei Maria da Penha foi o principal fator na redução da violência doméstica contra as mulheres, mas quantas leis teremos que criar para equilibrar esta relação (ainda) desigual que se traduz em outras formas de agressão, estas até mais sutis? Permitam-me aqui parafrasear Martin Luther King: a violência contra mulher em qualquer lugar deste país ameaça a todo homem e a toda mulher em qualquer lugar. Ameaça a todos nós como povo e nação. Ainda que haja muita coisa a ser feita, alegra-nos ver que, por outro lado, uma grande maioria de mulheres tem tomado seu justo lugar em nossa sociedade, não meramente como representante de seu sexo, mas como pessoa, ser humano necessário ao crescimento desta nação, ao nosso aperfeiçoamento como povo de características especiais, cuja brasilidade se deve e muito ao papel desempenhado por elas. Às mulheres lutadoras que chefiam 35% das famílias brasileiras, às jovens mulheres dedicadas e estudiosas que ocupam mais da metade das vagas nas universidades brasileiras, às trabalhadoras do campo, àquelas que ocupam hoje os cargos mais importantes da nossa estrutura política e judiciária, às meninas que têm mais liberdade de escolha de seu futuro, às nossas companheiras, namoradas e mães, nosso louvor, nosso obrigado por estarem ombreadas conosco, caminhando juntos na construção de um país mais justo, solidário e acolhedor para todos e todas.
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LANÇAMENTOS DE LIVROS NO IHGM OSVALDO PEREIRA ROCHA Grão-Mestre do GOAM; Grande Inspetor Geral; membro fundador da AMML e do IHMM; efetivo do IHGM e da AMIL, além de correspondente da APLM. E-mail: rocha.osvaldo@uol.com.br http://www.mhariolincoln.com/articulistas/osvaldo-rocha-e-honoris-causa-do-pmlb/artigo/osvaldo-rocha-lancamentos-de-livros-noihgm
Na tarde de 27 de abril de 2011, quarta-feira, pela vontade do Grande Arquiteto do Universo e sob a presidência do Vice-Presidente Leopoldo Gil Dulcio Vaz, haja vista que a presidente Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo estava viajando, foi realizada a reunião de Assembléia Geral Ordinária do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM – tendo em sua pauta a Palavra do Presidente, que discorreu sobre o tema TARRACÁ (estilo de luta livre praticado pelo Rei Zulu, provavelmente de origem indígena e praticada na baixada maranhense e região do Pindaré - MA), e os lançamentos dos livros Sublime Ordem Maçônica – Narrativas, e Contos e Crônicas de um Pinheirense, dos sócios efetivos do referido sodalício Osvaldo Pereira Rocha e Aymoré de Castro Alvim, respectivamente.
Na oportunidade da apresentação do confrade Leopoldo, este articulista pediu um aparte para dizer que quando da sua juventude, no povoado Santa Cruz, interior de Pedreiras – Maranhão praticou Tarracá, todavia com o nome ATARRACÁ, mas como
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brincadeira de crianças ou adolescentes, geralmente junto ao grande açude da Fazenda Santa Cruz, de propriedade de meu pai e geralmente em local enlameado, da qual todos saiam cobertos de lama; que procuraria escrever a respeito disso em seu próximo livro, se esta for a vontade do Supremo Árbitro do Mundo. Este articulista disse que o grande segredo para se ganhar a referida brincadeira era ser bastante rápido ao pegar o adversário e derrubá-lo, isto é, adotando agilmente jogo de cintura, mãos e pernas. Às vezes acontecia que o perdedor ficava zangado e queria brigar realmente, mas era impedido pelos demais, brincantes. Na apresentação dos seus livros, os autores fizeram uma síntese de seus conteúdos: Osvaldo Rocha falou sobre a Maçonaria, mencionando alguns artigos a exemplo de HOMENS COMO IRMÃOS, a saudação que fizera ao Presidente da Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, quando de sua Visita Oficial ao Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM em 29 de março de 2011 e a síntese de sua biografia contida em sua obra e Aymoré Alvim discorreu sobre sua querida cidade de Pinheiro – Maranhão... Seguiram-se os autógrafos, com as respectivas receitas destinadas e entregues imediatamente ao próprio IHGM.
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LANÇAMENTO DO LIVRO SOBRE RUBEM ALMEIDA NO IHGM No lançamento do livro A ÁGUIA E O ROUXINOL (Elegia ao Prof. Rubem Almeida), do confrade Professor Edomir Martins de Oliveira, ocupante da Cadeira nº 51, do IHGM e seu ex - Presidente, cadeira esta que tem como patrono exatamente o saudoso e homenageado Professor Ruben Almeida, Edomir estava acompanhado de sua querida esposa, Elma e de outros familiares e amigos convidados especiais. OSVALDO PEREIRA ROCHA Sócio Efetivo do IHGM, Cadeira nº 8, Suplente do seu Conselho Fiscal http://www.mhariolincoln.com/articulistas/textos-escolhidos-de-osvaldo-rocha/artigo/lancamento-do-livro-sobre-rubemalmeida-no-ihgm
Edomir, autografando, observado por José Fernandes, Washington e Mhário
Com as graças do Grande Arquiteto do Universo, o Pai por Excelência, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, sob a presidência de sua presidente, Professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, promoveu a partir do final da tarde de 25 de maio de 2011, assembléia geral com uma pauta extraordinária. Inicialmente, comunicações importantes do supracitado sodalício, em seguida, palestra do Professor Aymoré Alvim, brindando a todos e a todas com uma magistral pesquisa história sobre a cidade de Pinheiro - MA e finalizando com o lançamento do livro A ÁGUIA E O ROUXINOL (Elegia ao Prof. Rubem Almeida), do confrade Professor Edomir Martins de Oliveira, ocupante da Cadeira nº 51, do IHGM e seu ex Presidente, cadeira esta que tem como patrono exatamente o saudoso e homenageado Professor Ruben Almeida. Edomir estava acompanhado de sua querida esposa, Elma e de outros familiares e amigos convidados especiais.
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A Casa de Antônio Lopes, nome dado ao mencionado Instituto, esteve lotada de confrades, confreiras, convidados e convidadas especiais que foram se deliciar com as falas de Aymoré e Edomir, este precedido da Confreira Ilzé Cordeiro, sua madrinha no IHGM, que, a pedido do autor, fez a apresentação do mencionado livro e, em seguida, Edomir agradeceu por suas palavras poéticas e inteligentes, com um pronunciamento igualmente poético e Inteligente, ambos intensamente aplaudidos. E tem mais, ou seja, como uma grata surpresa da noite, fez uso da palavra o Confrade Mhario Lincoln, diretor-geral do Portal AQUI BRASIL, com centenas de acessos nacionais e internacionais, ele, radicado em Curitiba – PR, atualmente sócio correspondente do IHGM que, emocionado, falou de seu tempo de sócio efetivo do Instituto, dos seus amigos mais chegados presentes e, principalmente, sobre o autor, com merecidos elogios, diga-se de passagem, além de elogiar a atual gestão do IHGM, sob a presidência da Confreira Telma Bonifácio, que dispõe de eficientes companheiros de diretoria, principalmente os confrades Vice-Presidente Leopoldo Vaz e Secretário, Padre Meireles. O amigo e confrade Mhário Lincoln esteve acompanhado da sua querida mulher, a amiga Veridiana Lincoln e de amigos e amigas. Com a palavra, a Confreira Telma Bonifácio fez os agradecimentos de praxe e ao mesmo tempo franqueou a palavra a quem dela quisesse fazer uso e, aproveitando a oportunidade, este articulista ocupou a tribuna e disse da sua alegria inenarrável de estar presente a tão alegre e feliz acontecimento, presentes Irmãos Maçons reencontrando amigos e amigas da melhor qualidade.
Raul, Álvaro, Mhário, Leopoldo, e Osvaldo
O vídeo gravado pelo jornalista Mhario Lincoln, membro-correspondente do IHGM, durante o lançamento do livro do confrade Edomir Martins de Oliveira já está publicado e pode ser visto e comentado pelo endereço: http://www.mhariolincoln.com/tvweb/ver/resgatada-memoria-de-um-grande-brasileiro
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O MENINO QUE GOSTAVA DE LER O JORNAL PEQUENO MANOEL DOS SANTOS NETO Publicado em 31 de maio de 2011 por santos http://www.jornalpequeno.com.br/blog/manoelsantos/?author=2
O blogueiro, com a filha Ana Beatriz e a esposa Aurina Nascimento
Minha mais antiga lembrança do Jornal Pequeno data do tempo em que, aluno novato do Liceu Maranhense, passei a freqüentar a Biblioteca Pública Benedito Leite. Recordo que sobre a imensa mesa de leitura, onde eram expostos os jornais para a consulta e a leitura diária, havia sempre o Jornal Pequeno com suas manchetes garrafais. Até então, o JP tinha ainda a fisionomia que lhe impusera o fundador, o saudoso José Ribamar Bogéa (1921-1996). Nessa época, o jornal dava prevalência, nas suas manchetes diárias, a fatos da crônica policial que provocavam grande impacto na cidade. Confesso que eu não gostava da grotesca narrativa dos crimes e, da mesma forma, eu saltava os anúncios, que não me interessavam, e ia diretamente às páginas dos artigos e editoriais. O que eu gostava mesmo era de ler as cartas, os comentários, as reminiscências, os atos e fatos da vida maranhense. Anos depois, nas leituras de meu tempo de adolescente, encontrei o Jornal Pequeno, surpreendentemente, em um dos romances mais elogiados de Josué Montelo (1917-2006): “Um beiral para os bem-te-vis”. Neste livro, Montello desenvolve uma romântica narrativa com várias referências ao Jornal Pequeno que, segundo ele, “sabe de tudo quanto se passa em São Luís”. Ribamar Bogéa, na pele do velho Zé Pequeno, aparece numa das cenas capitais da trama, quando Venâncio Sezefredo reage, irado, à publicação da foto de sua neta, completamente nua, na garupa de uma moto, na capa do jornal. Além de Ribamar Bogéa, outro ilustre personagem de “Um beiral para os bem-tevis” é o padre e escritor João Mohana (1925-1995), que durante muitos anos viveu num dos antigos sobrados da Rua Afonso Pena, nas proximidades do JP, em frente ao casarão onde hoje funciona o Hotel Pousada Colonial.
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Outra descoberta de meus tempos de adolescente: no livro Os tambores de São Luís, o romance monumental de Josué Montello, aparece a velha Rua Formosa, ou Rua Afonso Pena. O dado curioso é que esta rua surge, no contexto do romance, exatamente porque lá existia o Canto Pequeno, onde rodas vadias se reuniam para falar gostosamente da vida alheia. Muito provavelmente foi o Canto Pequeno, creio eu, que inspirou José Ribamar Bogéa a fundar o seu diário, intitulando-o de Jornal Pequeno. Em Os tambores de São Luís, o Canto Pequeno, situado nas proximidades do sobrado onde Bogéa instalou a redação e as oficinas de seu jornal, é retratado como um dos locais da capital maranhense de onde saíam os apelidos para os governantes e políticos famosos da época. Montello lembra, em seu romance, que de muitos dos poderosos efêmeros que governaram o Maranhão, o povo vingou-se deles com o labéu dos apelidos: ao comendador Fernando Pereira Leite de Toyos, do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima, capitão-general da Capitania, alcunhou de Cavalo Velho, por ser um tanto burro e já idoso; ao Dr. Francisco Manuel da Câmara, que era moreno carregado, apelidou de Cabrinha; ao general Bernardo da Silveira, por ter um incisivo muito pulado, chamou de Dente de Alho. Como se vê, o JP está alicerçado em profundas raízes maranhenses. Por isso mesmo eu, particularmente, acho que não há como ignorar a importância deste jornal no contexto da história da Imprensa no Maranhão. Acho também que, nestes 60 anos do JP, duas figuras humanas se impõem, de forma obrigatória: o saudoso José Ribamar Bogéa (1921-1996), o fundador, e Josilda Bogéa Anchieta (1959- 2011). Vale ressaltar que, após a morte do pai, foi Josilda, de corpo e alma, a dedicação quase exclusiva de toda uma vida, consagrada ao Jornal Pequeno. Com a morte de Josilda, no dia 10 de janeiro de 2011, senti a perda irreparável. Afinal, foi ela que, no começo de junho de 2002, me deu uma alegria inesquecível, ao me receber de braços abertos para trabalhar na Redação do Jornal Pequeno. E este seu gesto teve ainda a plena aprovação de seu irmão, o querido amigo Lourival Bogéa, diretor geral do JP. Nestes 60 anos, não é demais assinalar que passaram pela Redação do Jornal Pequeno levas sucessivas de grandes colaboradores, de grandes profissionais. Alguns, perto de meu convívio, deixaram-me saudades como José Ribamar Sousa dos Reis, Bo Korsak, Walter Rodrigues e Ray Santos, com aquela inesquecível coluna “Tintim por Tintim”. Jamais imaginava que um dia eu seria repórter e redator deste jornal e que, nesta condição, eu seria testemunha presencial tanto dos fenômenos culturais, quanto da vida cotidiana como também das lutas políticas mais importantes travadas ao longo dos últimos anos no Maranhão. Nos guardados de minha memória, consigo rever aquele menino que eu fui, vivamente interessado pelos jornais que eram colocados na mesa de leitura da Biblioteca Pública Benedito Leite. Dou graças a Deus por ter tido a chance de chegar à Redação do Jornal Pequeno. Afinal, foi aqui que tive a chance de estreitar os laços de amizade com grandes mestres, entre os quais o professor Alberico Carneiro Filho, Ademário Cavalcante, Oswaldo Viviani, Cunha Santos e Walter Rodrigues, profissionais por quem sempre tive particular admiração.
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THUCYDIDES BARBOSA: RESUMO BIOGRÁFICO JOÃO DIAS REZENDE FILHO http://joaopecegueirodias.blogspot.com/
Coronel Thucydides Barbosa Loreto, 08/07/1885 - São Luís, 05/11/1954 Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Cadeira 25, patroneada por Domingos de Castro Perdigão
Filho do Coronel da Guarda Nacional José Barbosa, comerciante, fazendeiro, coletor de rendas do Estado, farmacêutico prático, advogado provisionado em Loreto e em Balsas e da ilustre senhora dona Maria Pires Ferreira, da velha cepa sertaneja dos Pires Ferreira que tem origem no português Domingos Pires Ferreira, que migrou para o Brasil em meados do século XVIII (vide a célebre obra A Mística do Parentesco do museólogo e sociólogo Edgardo Pires Ferreira), nasceu Thucydides Barbosa na cidade de Loreto, em 8 de julho de 1885, e faleceu em São Luís, capital do Estado do Maranhão, em 5 de novembro de 1959. Thucydides foi Coronel da Guarda Nacional, comerciante, advogado provisionado em Balsas, coletor de rendas do Estado, diretor do Tesouro, o que hoje equivale ao cargo de Secretário Estadual de Fazenda, Deputado Estadual por quatro vezes consecutivas, nas seguintes legislaturas: 8ª legislatura (1913 a 1915), 9ª legislatura (1916 a 1918), 10ª legislatura (1919 a 1921) e 11ª legislatura (1922 a 1924) e Prefeito de Balsas (1925 a 1927). O Dr. Eloy Coelho, em seu livro História do Sul do Maranhão – Terra, Vida, Homens e Acontecimentos, assim o descreve: “ um sertanejo, autodidata, observador e com vocação para a cultura. Entusiasta pela cidade, a então Vila de Santo Antônio de Balsas”, mais à frente o mesmo Eloy continua descrevendo Thucydides a quem atribui “inteligência admirável e vasto conhecimento”.
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Segundo descrição de Francisco Marialva Mont'Alverne Frota na Revista do Instituto do Ceará, Thucydides era de "Estatura mediana, um pouco recurvo, rotundo, indefectívelmente portando chapéu e guarda-chuva, Thucydides Barbosa tinha o rosto plácido e o olhar azul que refletia a fortaleza do chefe de família, todo a ela dedicado(...)" Dentre seus projetos, como deputado, destaca-se aquele em que propôs com belo e empolgante discurso, a elevação da Vila de Balsas à condição de Município. Thucydides apresentou, na sessão legislativa de 1918, o projeto que foi convertido na Lei nº. 775, de 22 de Março de 1918, elevando a Vila à categoria de cidade, com a mesma denominação da atual Vila de Santo Antônio de Balsas, assim Thucydides dava com sua iniciativa à terra que tanto amava foros de cidade autônoma, condizente com a prosperidade econômica, política e cultural que Balsas naquele momento alcançava e, deste modo, inscrevia ele seu nome entre os que poderíamos chamar de “os fundadores” de Balsas. Neste mesmo ano de 1918, foi fundada a primeira associação desportiva de Balsas, estando à frente da empreitada Thucydides Barbosa que a presidiu por muitos anos. Era a “Associação Esportiva Balsense” cuja primeira diretoria era composta dos seguintes senhores: Presidente – Thucydides Barbosa, Vice-Presidente – Mário Coelho, Secretário - Ascendino Pinto e Tesoureiro – José de Carvalho Borba. Em 1919, outro importante projeto de iniciativa de Thucydides beneficiou o novel município. Tratava-se da lei que estabeleceu e instalou a linha telegráfica até São Luís, propiciando uma comunicação mais rápida e com isto um maior desenvolvimento de Balsas. Em 1925, Thucydides foi eleito prefeito de Balsas com consagradora votação, fazendo uma administração competente e atuante, alargando e calçando ruas, ajardinando praças e construindo as duas principais rampas no Rio Balsas que serviam de ancoradouro e desembarque de mercadorias e também algumas escolas primárias. Quando de seu mandato à frente da prefeitura balsense, esteve em Balsas, em novembro de 1925, a tão temida Coluna Prestes, sendo seus membros chamados nos sertões de “os revoltosos”. Enquanto o então Coronel Juarez Távora permaneceu em Riachão, hospedado em casa do Coronel Felipe dos Santos, o restante da tropa, sob o comando dos Coronéis Siqueira Campos, Luís Carlos Prestes, João Alberto e Cordeiro de Farias, dirigiu-se a Balsas. Chegando em Balsas marcharam sobre a cidade e para surpresa de todos, foram recebidos tranqüila e cordialmente pelo prefeito Thucydides Barbosa, que com muita diplomacia, fez o possível para evitar choques e conflitos com os revolucionários e assim não trazer pânico e medo ao povo balsense e prejuízos materiais ao município. A prefeitura transformou-se em quartel-general da Coluna que permaneceu na cidade, de 22 a 27 de novembro, sem causar nenhum tipo de perturbação à ordem pública. Apenas no dia 21 de fevereiro de 1926, a ação desastrada do tenente da Polícia Militar maranhense Herculano Cipriano Firmino e seus comandados diante da chegada de dois retardatários membros da Coluna Prestes: Oswaldo Gomes de Oliveira e Pascoal (desconhece-se seu sobrenome). Ao tomar conhecimento deste fato, o tenente Herculano envia um pequeno contingente composto de 1 cabo e 3 soldados que entram na cidade e à revelia das autoridades civis e militares de Balsas fuzilam os dois “revoltosos” que ali estavam sediados pacificamente. Conclui Eloy o caso dizendo: “E só então, e pela primeira vez, o clamor público e o pânico tomaram conta da pacata população de Santo Antônio de Balsas”.
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No ínicio da década de 1930, Thucydides, com seu gosto pela modernidade e pelas comunicações, instalou a primeira linha telefônica da cidade que interligava sua residência com o depósito de couro de gado de sua propriedade. Este depósito servia para armazenar o couro que seria, depois de beneficiado, exportado para os Estados do Piauí e Ceará. Mais tarde, instalou outra linha que ligava a já existente à prefeitura de Balsas e à Coletoria. Em fins de 1931, mais uma vez a sua veia comunicativa e intelectual falava alto. Thucydides Barbosa, junto com vários colaboradores, dentre eles seus irmãos Antônio, Sadoc e outros amigos, organizou e fundou a Empresa Tipográfica de Balsas “Jornal de Balsas”. Em 27 de Janeiro de 1932, começou a circular o primeiro número do Jornal de Balsas. A aceitação foi muito boa em toda zona do sertão maranhense e, até mesmo, em São Luís e outras zonas do Estado. Além das notícias locais, o Jornal de Balsas, segundo expressão de Eloy Coelho em sua obra acima citada, mantinha um vasto e minucioso serviço telegráfico de São Luís e do Rio de Janeiro, então Capital Federal o que contribuiu para que o jornal fosse muito bem aceito por todos. Thucydides foi seu diretor e proprietário até o ano de 1935. Em 1936, o Jornal de Balsas passa à direção de Padre Cincinato Ribeiro Rego sendo editado até 1940, período em que apesar de não estar mais a frente da direção do periódico, o Cel. Thucydides continuou colaborando ativamente com seus esforços para o bom andamento do jornal. Em fins da década de 30 (infelizmente, não foi possível precisar a data), Thucydides, intelectual atuante, foi eleito membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e primeiro ocupante da cadeira 25 patroneada pelo jurista maranhense Domingos de Castro Perdigão. Historiador autodidata e arguto pesquisador, ele escreveu muitas obras, algumas editadas, mas perdidas, outras inéditas e que não chegaram ao conhecimento do público. Dentre os livros e artigos publicados destacamos os seguintes: Subsídios para a História de Balsas, A Hecatombe de Alto Alegre, Um Crime Provocado, Nome sem significação, Biografia de Isaac Martins dos Reis, Subsídios para a História do Maranhão, As boiadas sertanejas, Cidades Desconhecidas e Dados Genealógicos. Thucydides casou-se, em 30 de julho de 1907, em Loreto, com Maria Rodrigues Botelho, nascida na Fazenda Jenipapo, em Balsas, em 05 de fevereiro de 1883 e falecida em São Luís, em 10 de julho de 1967, filha do Coronel (título político) Braulino Antônio Botelho, Deputado Estadual em várias legislaturas nos fins do século XIX e primeiros anos do século XX e de Dona Severiana Rodrigues Botelho. Desta união nasceram-lhes nove filhos: Alzira, José Barbosa Neto, Jacyra, Heloísa, Braulino, Antônia, Myrthes, Stella e Carlos Alberto. Dentre sua prole, pode-se destacar José Barbosa Neto, farmacêutico, a senhora Jacyra casada com seu primo Antônio Ribeiro da Silva, farmacêutico, médico graduado na primeira turma de medicina do Maranhão em 1963 e professor da Universidade Federal do Maranhão, o Embaixador Braulino Botelho Barbosa, diplomata de carreira e Carlos Alberto Botelho Barbosa, advogado e Juiz de Direito em São Luís. Thucydides legou aos filhos e demais descendentes, aos seus amigos e a todos que o conheceram, a figura de um homem probo e inteligente que muito amava Balsas e o Maranhão e que pensava sempre no desenvolvimento e no engrandecimento de sua terra e sua gente.
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Bibliografia consultada Documentos do Acervo Particular Família Barbosa. Documentos do Acervo Particular Família Corrêa Pecegueiro. Revista do Instituto do Ceará. Vol 91.93. Ano 1972 COELHO NETTO. Eloy. História do Sul do Maranhão. Terra Vida, Homens e Acontecimentos. São Luís:sem editora, 1979. COUTINHO, Mílson. O Poder Legislativo do Maranhão (1830-1930) 1º volume. São Luís: Edição da Assessoria de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Maranhão, 1981. OSTRIA DE CANEDO, Eneida Vieira da Silva. Patronos e Ocupantes de Cadeira do IHGM: 80 anos (1925-2005). São Luís: edição IHGM, 2005. PIRES FERREIRA, Edgardo. A Mística do Parentesco. 3º volume, tomo II. São Paulo. Editora Pedro Corrêa do Lago, 1984
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SAUDAÇÃO AO POETA EDOMIR OLIVEIRA ILZÉ CORDEIRO http://www.mhariolincoln.com/noticias/ver/a-forca-da-palavra-de-ilze-cordeiro-ao-apresentar-a-Aguiae-o-rouxinol
Edomir autografa A Águia e o Rouxinol. (Foto: Veridiana Santos)
CARÍSSIMOS CONFRADES E CONFREIRAS DO INTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. Ilustres convidados, para esta celebração, das boas lembranças, dos bons tempos e da saudade, do querido mestre maranhense, Prof. RUBEM ALMEIDA, tão bem conceituado e imortalizado, como um dos maiores escritores e grande pedagogo, maranhense, que, muito honrou e tanto contribuiu, para o engrandecimento deste sodalício. Na Verdade, para garantia do sucesso desta festa, foram bem apropriadas: as escolhas, da data e do local, neste ensolarado final de tarde; como, se, até a natureza, entusiasmada, quisesse, também, colaborar, com tão importante evento cultural, dando uma trégua, noite adentro, neste prolongado tempo de chuvas, na Ilha “IPAON AÇU”; permitindo, os tranquilos deslocamentos; e mais aconchego, para que , os amigos e admiradores, do poeta, que, está aqui, juntamente, com seus familiares e confrades, de braços abertos, esperando fraternalmente, seus seletos e nobres convidados. Com efeito, o que se vê e se percebe, ao olhar o número expressivo, de tantos nobres convidados, que compareceram a este evento cultural, tão significativo; é a motivação da amizade, mesclada, com um certo ar de curiosidade, impulsionando-os, a virem aqui, no meio de uma semana, com bastante acúmulos de trabalhos; porém, encontrando forças e disposições, para chegarem, sãos e salvos, ao topo deste velho e acabrunhado prédio;mesmo sabendo, que precisariam enfrentar, os estafantes degraus da fama e do sacrifício; mas, achando que, valeu a pena, ascender ao INSTITUTO
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HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, pela certeza dos acolhimentos afáveis, por parte de seus vetustos membros; e mais ainda, pela rara oportunidade, abraçar o dono da festa; e, de conhecer, ou relembrar , as belas lições de vida, do saudoso mestre maranhense, homenageado. Teremos, assim, nesta noite memorável, o retorno comovido, nas asas dos pensamentos, povoados de boas e saudosas lembranças, aos velhos tempos, de nossa romântica Capital, de outrora, repaginados, pela saudade; revelando agora, que, a tradição, é o grande, instrumento, protetor da História, dos povos; não permitindo que “jóias de lei”, sejam destruídas, pelo modernismo efêmero, e ,pelas inovações, desmemoriadas... Na verdade, os semblantes alegres, desta plêiade amantes, das boas leituras, com certeza, estão disfarçando suas curiosidades, querendo descobrir a fórmula miraculosa, utilizada, pelo poeta EDOMIR, para retratar, preciosas passagens, sobre a trajetória singular; e; sobre a importante obra literária, do Prof. RUBEM ALMEIDA; o grande mestre maranhense; indagando, perplexos, como o autor, pôde, registrar, com fidelidade, sua forma excêntrica e crítica, de ver e de explicar o mundo; relembrando, acima das idiossincrasias de sua personalidade marcante, críticas e defesas, de teses inusitadas, como, a contestação de que, o homem, nunca havia pisado na lua... O Porf. Rubem Almeida, realmente, muitas vezes, assemelhaou-se, à águia, pássaro afoito, voando sem muito alto, na busca do infinito... Mas, em outras tantas, revelou-se aos mais íntimos, como um ser humano comum: discreto e extremamente, modesto. Igual ao rouxinol, que, também, não tem plumas bonitas; e, provavelmente, acanhado, sem se dar conta da beleza harmoniosa, de sua voz, só vai se empoleirar, em uma palmeira, após o anoitecer, porque, não quer chamar atenção,nem rivalizar e nem destronar o sabiá... Enfim, os dois: pássaro e homem, preocupados, em não ofuscar ninguém; até hoje, se destacam, por seus valores individuais, incomparáveis: o trinado de um, e, o encanto das belas lições de vida, do outro! Por conseguinte, sendo maio, simbolicamente, o mais romântico de nosso calendário, por ser o Mês das Mães, o Mês da Noivas, o Mês de Poesia, nada mais apropriada, esta data mariana, bem ao gosto e ao temperamento romântico e sonhador, do escritor maranhense, contemporâneos, EDOMIR MARTINS OLIVEIRA,para que o mesmo, apresente aos amigos, confrades e admiradores, a sua ELEGIA, a um dos maiores pedagogos e escritores do Maranhão-Atenas; o festejado PROF. RUBEM ALMEIDA . De igual modo acertado, foi o INSITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, como o local, escolhido, para o lançamento da “ÁGUIA E DO ROUXINOL”; muito embora, nossa sede, seja tão simples, para acolher, este seleto auditório; representando, porém, aos que aqui, cultuam a história, a Geografia e a literatura maranhenses, um verdadeiro TEMPLO SACROSANTO, do saber e do conhecimento; independente, de sua a aparência física; já que pelo critério do afeto, o elegemos, com enorme carinho, como “território sagrado”, que, não é acessível, a qualquer mortal... só podendo ser pisado e habitado, pelos privilegiados, que, tiveram e têm a sorte, de serem consagrados, como seus guardiões e mensageiros: ontem, pelos nossos sábios antepassados; hoje, por nós, seus modestos sucessores; e, amanhã, por outros apóstolos, igualmente, dedicados; todos, contaminados, pelo vírus da paixão
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pelas pesquisas, sobre, as formas múltiplas e variadas, de viver, de sentir e de sonhar, dos maranhenses, produzindo-se, aqui, “relíquias imaculadas” e guardadas, ciosamente, neste espaço físico, por nossos ancestrais, e por nós mesmos, como legados que, se perpetuarão, intactos e incólumes, se continuarem velados; mercê da corrosão do tempo e da indiferença das memórias fracas... Por isso, estamos sendo agraciados, agora, prazerosamente, com mais uma obra literária, produzida, pelo confrade, EDOMIR enfileirando-se, em nossa biblioteca, com as demais produções, de lavra, abundante; consolidando, seu nome e seus repetidos sucessos, no mercado livreiro do Maranhão, e, além-fronteiras, de nosso Estado. Por outro lado, convocada que fui, para fazer a apresentação oficial do belo livro, que agora, nos chega às mãos, com atenção primeira, para sua capa colorida e chamativa; mas, principalmente, com expectativa positiva, sobre seu conteúdo de Primeira Grandeza, de repente, senti-me compelida, a aceitar, tão difícil encargo, advertida pela consciência, sobre o peso da honrosa outorga, sabendo-a, superior às minhas condições intelectuais. Submissa, porém, à praxe, desta Casa de ANTONIO LOPES, impondo-me o dever do ofício, recordo que, há mais de vinte anos, eu trouxe, pelas mãos, e tangida pelo coração, como meu dileto afilhado, EDOMIR, ajudando-o, a transpor, os umbrais deste sodalício, naquela ocasião, aparentemente, tão tímido e inseguro. No entanto, jamais assaltou-me a idéia, equivocada, de que, não seria aqui o lugar certo, para vê-lo, sem demora, ocupar, entre nós, um lugar de destaque, como um verdadeiro ASTRO DE PRIMEIRA GRANDEZA! Brilhando e galgando, exuberante, sem demora, a presidência desta Instituição, conduzido, pela democrática consagração unânime de seus confrades; e tendo registrado, um mandato, tão fecundo e produtivo, que, até, hoje, sonhamos, com sua recondução, lamentavelmente, sempre recusada... E agora que o vejo no ápice da glória cultural, já nem sei o que dizer e acrescentar, sobre meu dileto confrade, EDOMIR. Da mesma forma que, difícil, a mim,é agora, descobrir e explicar, o por que, da escolha do título de seu livro: “A ÁGUIA E O ROUXINOL”, como elegia ao saudoso Prof. Rubem Almeida. Por isso, em vez de continuar divagando, prefiro apelar, para a instigação e para o desafio, exortando a todos os presentes, a adquirem, a ÁGUIA E O ROUXINOL”; certos de que, nascido, por obra e graça, da inspiração e do espírito de justiça, do jurista- escritor- poeta- evangélico, EDOMIR MATINS OLIVEIRA, por certo, seu novo livro, representará, uma agradável retorno histórico ao passado; conhecendo-se, com uma leitura leve, pinceladas, em preto e branco, sobre perfil retilíneo, de um HOMEM DE BEM ! Ao mesmo tempo, ter-se-á, mais uma oportunidade, de constatar que, nos dias hodiernos, o Maranhão, ainda, honra, seu nome de “Atenas Brasileira”, resguardada, por intelectuais maduros, mas,não desatualizados; concorrendo com a safra nova, independentemente, de suas idades cronológicas. HOMENS ÍNTEGROS, INTELIGENTES, SONHADORES E MADUROS, como EDOMIR, o elegante pai, da “ÁGUIA E DO ROUXINOL” – Um menestrel, à moda antiga; tão apaixonado pela vida, que, fez da poesia, sua poderosa arma, contra o envelhecimento; não se cansando de glorificar seu Deus e Senhor, não se deixando dominar, pelas decepções com a convivência de seus semelhantes; e, se nutrindo de uma grande energia, que brota como
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água pura, da fonte, de seu generoso coração, incansável de proclamar, santa e devotadamente, sucessivas confissões de amor, á mulher que escolheu como companheira, para ser a mãe de seus filhos: ELMA - “ A MUSA INSPIRADORA” de seus versos... A nós outros mortais, que temos a felicidade, de conhecer de perto o sonhador, EDOMIR, só o privilégio de gozar de sua amizade, é o bastante, porque, não se precisa de remédio, mais eficaz, do que, ler e entender, as mensagens do poeta, cantando e decantando, sempre, o lado bom da vida; fazendo-nos mais crentes e mais retemperados, para prosseguir, na imprevisível caminhada... Evidente, que, não pretendo aqui, fazer apologia imerecida, ao afilhado; pois, meu objetivo principal, é recomendar, aos amigos de uma boa leitura, a elegia do poeta EDOMIR; como justa e oportuna, homenagem póstuma, ao saudoso prof. RUBEM ALMEIDA. Mas, como posso, nesta mesma missão, unir o útil ao agradável, quero e devo, afirmar, a quem não conhece o autor, poeta- EDOMIR, sua similitude simbólica, com RUBEM ALMEIDA; pois, em muitas etapas de suas vidas, ambos, serão lembrados, pela posteridade: COMO: ÁGUIA E COMO ROUXINOl” !
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DISCURSO DE AGRADECIMENTO EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA Membro efetivo do IHGM – CAD. 51
Ilma. Sra. Presidente do IHGM / Diletos confrades e confreiras Meus Senhores / Minhas Senhoras Foi há 31 anos, contudo, lembro-me como se fosse há instantes próximos. A confreira Ilzé recebia naquela oportunidade um novo sócio no IHGM. Este que agora vos fala. Ah! Ilzé quanta saudade daquelas palavras de recepção, que permaneceram hibernando dento de mim e que agora ressurgem como o Phoenix. Onde só eram cinzas, crepitam neste instante chamas ardentes e belas. As palavras ressurgem mais bonitas e vêm renovadas. E eu que pensei que era poeta! Eis confrades, confreiras e amigos, a verdadeira poetisa. Eu que privo de sua amizade desde os bancos de nossa sempre lembrada, Faculdade de Direito, a cada dia fico mais embevecido pelo que Ilzé pode oferecer a quem a escuta. Cheguei mesmo a pensar que um dia poderia ser poeta. Agora tenho a certeza de que sou um mero ouvinte e amante da poesia. Sentia saudades, confreira Ilzé, de sua sabedoria e das trocas de idéias que mantínhamos como amantes da poesia, que sempre sonhavam em poder contribuir para o crescimento intelectual de nosso Maranhão para que refulgissem cada vez mais as estrelas que compõem as letras da nossa terra, esta terra de Gonçalves Dias. Hoje satisfaço todos esses anseios vendo em Ilzé o protótipo daquela que engalana as letras do Maranhão, pelos seus belos exemplos, quer como promotora de justiça quer como intelectual. Nunca matei saudades. Pois tudo que se mata, ou se enterra, ou vira pó de imediato, através da cremação. Por isso nunca quis matar as saudades de velhos amigos. Quero sempre que essas saudades ressurjam em minha mente como soro revigorante. Quero preservar sempre as lembranças e as saudades das grandes amizades. Esta é, para mim, uma noite gloriosa e memorável. Relembro os exemplos deixados aqui pelos que nos antecederam nesta Casa, autêntico Sacrário intelectual, e faço destaque em especial ao Prof. Ruben Almeida, patrono da cadeira que ocupo e a quem dedico este trabalho, “A Águia e o Rouxinol”, que ora entrego aos estudiosos de nossa terra, e a tantos quantos são apreciadores das letras do Maranhão. Ele que muito se dedicou a esta Casa, enaltecendo-a com o brilho de sua inteligência privilegiada. Eu, que sou um eterno discípulo do saudoso mestre, cultivo estes momentos com o adubo das grandes amizades de hoje, exaltando esta Casa de Antonio Lopes, e rendendo homenagens à Presidente atual do IHGM, confreira Telma Bonifácio e ao Confrade Leopoldo, principalmente, pilares de sustentação da nova fase porque ora
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passa o Instituto, que recebe o apoio de todos aqueles que compõem o quadro social. Felizmente sobrevive o Sodalício, agora, como sempre sobreviveu desde tempos de outrora, graças ao dinamismo de homens ilustres como o confrade Seguins, Nivaldo, Salomão, e as Confreiras Eneida, Joseth e Esterlina e tantos outros, e mais remotamente Hedel Ázar, Ronald Carvalho, “in memoriam”, e mais próximo, Luiz Alfredo Neto Guterres, que por motivo de saúde, não pode estar conosco hoje. Não podemos deixar também de falar da presença sempre marcante de nomes mais jovens como o de Raul Eduardo Canedo Vieira da Silva, grande estudioso e entusiasta da história do Maranhão, em nome de quem saúdo a todos os demais, que estão empenhando muitos dos seus esforços para colaborar com o Instituto. Permitam-me senhores fazer um destaque especial ao confrade Mario Lincoln Felix dos Santos que, embora morando em Curitiba-PR, deixou os seus afazeres relacionados principalmente ao Portal de Internet Mhario Lincoln do Brasil, para atender ao meu convite e vir até aqui para engalanar este Instituto com sua presença tão ilustre e tão brilhante ele, que é um jornalista lido nos 4 Continentes através do seu Portal de Internet. Obrigado Mário Lincoln por tua presença. A minha felicidade está completa com tua presença. Por imperioso dever preciso também agradecer a todos que me honram com suas presenças nesta noite, em que o firmamento está representado pela lua, configurada na pessoa da senhora Presidente do IHGM e pelas presenças dos senhores e senhoras que se constituem as estrelas, e que juntos, harmoniosamente, engalanam esta noite inesquecível. Em assim fazendo trago três preciosas lições que o bambu nos oferece. A primeira nos ensina que ele cria raízes profundas. É muito difícil arrancar um bambu, pois o que ele tem para cima, ele tem para baixo também. Por isso ninguém pode me arrancar do coração o amor que trago no peito, sobre este Sodalício e de tantos confrades e confreiras com quem tenho convivido. As minhas raízes são profundas de ligação com todos os amigos e amigas que me deram a honra de suas presenças. A segunda lição que nos ensina o bambu é a de que só devemos crescer, à luz do seu exemplo, para o alto. Cresçamos olhando para o alto, buscando a presença constante de Deus em nossas vidas. Essa tem sido a minha meta que persigo diariamente. A terceira é a de que o bambu sabe se curvar, ante a força dos ventos e tempestades, para logo depois, se erguer majestosa, quando tudo passa. Quem se curva momentaneamente ante as intempéries da vida, se eleva, é um sábio, é humilde. Ele nos dá o exemplo de humildade. É, pois, minhas senhoras, meus senhores, confrades amigos, com humildade, que eu vos entrego “A Águia e o Rouxinol” resultado de laboriosa pesquisa, destacando que a ausência de bibliografia sobre o tema, não me permitiu ir além do realizado, dizendo a todos: MUITO OBRIGADO PELAS SUAS PRESENÇAS
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O SINDICATO DOS MÉDICOS DO MARANHÃO NATALINO SALGADO FILHO Doutor em Nefrologia; Reitor da UFMA; Membro da IHGM, ACM e AMC Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 12 de junho de 2011
Um dos capítulos que muito honra a história do Maranhão é o que se refere ao Sindicato dos Médicos, que tratarei neste artigo, não sem antes fazer um resgate histórico do assunto. Inicialmente, cabe afirmar que o sindicalismo no Brasil reflete vários aspectos das mudanças sociais, políticas e econômicas ocorridas no país, principalmente no terço final do século XIX. A extinção do trabalho escravo promoveu uma alteração substancial nas relações de trabalho. Ao mesmo tempo, políticas adotadas pelos governos neste período, até início do século XX, favoreciam a imigração de europeus para trabalharem nas fazendas de café em São Paulo, e eles depois ocuparam os postos de trabalhos nas primeiras fábricas. Esta população imigrante, entre outras contribuições, trouxe a organização dos trabalhadores que, naquele primeiro momento, sofria forte influência das ideias anarquistas. Já no ano de 1917, em São Paulo, mesmo ano da Revolução Bolchevique na Rússia, dois mil trabalhadores de fábricas de tecidos cruzaram os braços reivindicando melhores salários. É neste período que as principais correntes políticas de esquerda começam a se organizar pela realização de congressos nos quais circulavam as novas ideologias. O panorama relatado explica em parte a fundação do Sindicato Médico Brasileiro no Rio de Janeiro em 1927, então a capital federal. Porém, diferente das organizações dos demais trabalhadores, o Sindicato Médico se propunha, além de defender condições melhores de trabalho, o que certamente incluía remuneração compatível com a função médica, agir no sentido de regulamentar a propaganda médica na imprensa leiga, fiscalizar o exercício da medicina por profissional estrangeiro, combater as práticas ilegais, o curandeirismo e o charlatanismo. Entre outras atividades importantes do sindicato incluía atuar na fiscalização do relacionamento entre os próprios médicos e os demais profissionais da saúde. As denúncias de erros por parte dos médicos também eram constantes. Assim, as funções exercidas pela Associação resultariam naquilo que hoje se conhece como Conselhos de Medicina. De fato, o primeiro Conselho foi organizado pelo Sindicato Médico em seu quarto Congresso em 1931. O Jornal de Medicina Farmácia e Odontologia, cujo primeiro exemplar foi publicado em janeiro de 1934, em São Luís, relata que, em 28 de dezembro de 1933, aconteceu nas dependências do Casino Maranhense a primeira reunião com vistas à fundação do Sindicato Médico do Maranhão. Tarquínio Lopes Filho recebeu esta incumbência do presidente do Sindicato Médico Brasileiro. O Sindicato Médico Maranhense foi organizado com um Conselho Consultivo e um Conselho Deliberativo. Entre os membros deste segundo grupo, escolheu-se por votação o primeiro e o segundo secretários, e ainda o tesoureiro. A escolha do presidente do Conselho Executivo foi realizada por sorteio entre os membros presentes.
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Clarindo Santiago ficou como presidente e Tarquínio Lopes Filho em segundo lugar na escolha. Como Clarindo estava no interior do Estado, Tarquínio foi, de fato, o primeiro presidente do Sindicato Médico Maranhense, embora por pouco tempo – até março de 1934. Entre os nomes ilustres e pioneiros da prática médica em nosso Estado, foram participantes fundadores do Sindicato: Neto Guterres, Tarquínio Lopes Filho, Amaral de Mattos, Djalma Marques e Clementino Moura. O Sindicato Médico do Maranhão, entretanto, não sobreviveu com esta formação por muito tempo. Possivelmente porque não havia a mesma perspectiva que motivou o nascimento do sindicato no Rio de Janeiro. O Jornal de Medicina, mesmo em sua breve existência, relata algumas vezes o desânimo, a pouca convicção dos membros em atuar junto e através do sindicato, embora o autor do texto em um dos artigos não seja claro sobre quais seriam os objetivos de tais atuações. A fundação dos sindicatos médicos, país afora, independente do tipo de atuação em cada estado do país, teve como resultado a organização da profissão no aspecto jurídico-legal. É importante este registro, porque o marco legal, digamos, separava o joio do trigo, isto é, definia com clareza os direitos e deveres do profissional médico, separando-os dos incontáveis praticantes sem formação, que inclusive fabricavam medicações sem qualquer avaliação e testagem científica. A consolidação do estatuto legal para o exercício da medicina no Brasil andou lentamente. A primeira lei é de 30 de setembro de 1957 (Lei 3.268/57) – a qual dispõe sobre os Conselhos de Medicina, e dá outras providências, embora um Conselho existisse há mais de vinte anos. No ano seguinte é instituído o Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958 – que aprova o regulamento do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Medicina a que se refere a Lei 3.268/57. Passados pouco mais de trinta anos da iniciativa sindical médica maranhense, em 17 de agosto de 1978, um grupo de médicos dá início à Associação Profissional dos Médicos do Maranhão, que se constituiu no embrião do atual sindicato. Dentre os colegas que participaram dessa reunião, destacam-se: José Carlos Bastos Silva, Raimundo Elias Coelho Castro, José Ribamar Moraes, Onildo de Barros Correia, José Márcio Soares Leite, José Celso Santana Costa, Honório Ferreira Gomes, Francisco Balby, Natalino Salgado Filho, Ivan de Freitas Viégas, José Magno Fonseca, Gedecy Fontes de Medeiros, Juarez Alves Lima e Antonio Rafael da Silva. No dia 6 de março de 1982, foi eleita uma Junta Governativa para proceder à eleição da nova diretoria, representada pelos médicos Honório Ferreira Gomes, Luís de Lemos Silveira e Cleomar Sousa Pinheiro. Em 23 de julho de 1982, foi eleito para presidente desta associação o colega, já falecido, Cleomar Sousa Pinheiro, e, em 21 de setembro deste mesmo ano, foi aprovado o novo estatuto, reconhecendo a associação como sindicato. Participaram desse momento da fundação do Sindicato dos Médicos: Sebastião José Saraiva Filho, José Luís Nascimento Araújo, Alcimar Nunes Pinheiro, Ílis Maria Xavier Lima, Thompson Spindola de Paula Filho, Antonio de Pádua Duarte Saldanha, Luís Lemos Silveira, Hideki Yokoama, Honório Ferreira Gomes, Antonio Augusto Freitas Silva e Francisco José Furtado. Na recondução do Dr. Cleomar Pinheiro à presidência do sindicato para o triênio 1987-1990, houve a participação dos colegas: Abdon Murad, José Carlos Bastos,
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Arnaldo Sousa Barros, Lena Reis Bastos Silva, Francisco da Cunha Costa, Ibrahim Assub Neto, Terezinha Maranhão, Orlando Camelo da Silva, Alan Hass, Maria da Graça Oliveira, entre outros. No triênio 1994/1997, assumiu a presidência o Dr. Juarez Lima, sendo sucedido pelo Dr. Carlos Frias no último ano desse mandato, permanecendo à frente do sindicato até o começo do ano de 2007. Aos vinte e quatro dias do mês de janeiro do ano de dois mil e sete, de conformidade com o edital de convocação devidamente publicado no jornal “Pequeno” do dia 17 de janeiro de 2007, pág. 04 da seção geral, foi eleita a diretoria sob a presidência do Dr. Adolfo Paraíso, para o triênio 2007-2010, cuja posse se deu no dia 20 de abril de 2007, com a presença de toda a diretoria executiva da FENAM. A história ainda não está terminada. Outros capítulos ainda serão escritos, e o Sindicato dos Médicos ainda terá muito a legar para as novas gerações, que deverão se inspirar no modelo daqueles que construíram uma trajetória de dignidade, exemplo e dedicação.
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UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DO ARARI JOÃO FRANCISCO BATALHA
Um passeio sobre a história do Arari é um documentário sobre o município deste nome. Em ordem cronologia narra fatos desde 1684 quando o Maranhão foi palco da Revolução de Bequimão contra os desmandos das autoridades e da espoliação do Estanco até os dias atuais. Trás ao nosso conhecimento novas versões da história arariense segunda a qual Francisco Vieira teria sido o verdadeiro fundador do lugar e de que a palavra Arari deriva-se do nome de uma ave (pequena arara) de asas verde-escuras, poucas penas azuladas, pescoço amarelo, tórax amarelo queimado e abdome avermelhado que fora abundante neste lugar. O trabalho tem início com narrativa da colonização da costa leste-oeste brasileira quando o governo português tratou de dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias e finda relatando o tempo dos bons carnavais de nossa terra e dos animados matinais, vesperais e bailes realizados nas casas dos senhores Teodoro Batalha, Pemba Fernandes, Mundico Sampaio, Gregório Vale, Antônio Lima, Cassino Arariense e Sede dos Estivadores levando os senhores Paulo Pereira e Manoel Abas a arrastar uma longa fila de foliões ararienses, sem esquecer os blocos de rua e as escolas de samba comandadas por Dedo no Gatilho e Raimundo Sulepa. No decorrer das 372 páginas são abordados temas tais como: as grandes descobertas; os primeiros habitantes; as conquistas do Mearim; a criação do município e sua expansão geográfica; as administrações municipais; os destaques da política arariense; a toponomia dos passeios públicos da cidade e os destaques da política e da cultura arariense. Enumera uma relação contendo os nomes de todos os administradores do município, desde sua emancipação em 1865 até os dias atuais com uma galeria dos prefeitos, desde o primeiro que exerceu o mandato com esta denominação até o atual.
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Narra, também, alguns fatos pitorescos tais como a briga de Mundico de Sousa com a onça jaguar e a baleia que encalhara no Curral da Igreja. Detalha a prática de abigeato no município. Fala da hidrografia, do solo, das coordenadas, dos pontos turísticos, dos acidentes geográficos e dos limites do município e de suas tradições e lendas, dos festejos tradicionais, da culinária, da educação e da cultura, da comunicação e da vocação do arariense pelo jornalismo, e dos inúmeros jornais editados nesta cidade. Reportando-se à bela expressão da cultura popular, fala dos antigos bumba-boi e das toadas fortes e marcantes dos seus cantadores e também das quadrilhas comandadas por João Canoa, da Festa dos Reis, do Tambor de Criola, da Dança do São Gonçalo, da Festa do Divino, do Pau-de-sebo e dos mitos, lendas e superstições. Ilustrado com fotos antigas de eventos políticos, desfiles, solenidades, edificações, lanchas, enchentes e de pessoas, vivas e mortas. O lançamento foi no dia 25 do corrente mês na cidade de Arari, as 19 horas, na Casa do Professor
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POSSES NA ACADEMIA MAÇÔNICA MARANHENSE DE LETRAS OSVALDO PEREIRA ROCHA
Aconteceram na bela noite de 11 de junho de 2011, na sede do Grande Oriente do Brasil no Maranhão – GOB/MA, situada na Avenida São Luís Rei de França nº 1103, no bairro do Turú, nesta cidade cultural, patrimônio da Humanidade, São Luís do Maranhão, sob a proteção do Grande Arquiteto do Universo, as posses de quatro novos sócios e dos membros da Diretoria e do Conselho Fiscal da Academia Maçônica Maranhense de Letras – AMML, para o biênio 2011/2013, em solenidade bem concorrida. Os novos sócios são os seguintes Irmãos Acadêmicos: Manoel Antonio Nicolau Barros, José Henrique Muller Frazão e Wellington Santana da Silva, todos da Grande Loja Maçônica do Estado do Maranhão – GLEMA e Nilton Lima de Ornelas, do Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM, que foram saudados por Adelson de Souza Lopes e, em nomes de todos, agradeceu a recepção o novo Acadêmico Manoel Antonio Nicolau Barros. A Diretoria passou a ser constituída dos seguintes Irmãos Acadêmicos: Presidente – Raimundo Ferreira Marques; Vice-Presidente – Osvaldo Pereira Rocha; 1º Secretário – Henrique de Araujo Pereira; 2º secretário – Adelson de Souza Lopes; 1º Tesoureiro – João Francisco Batalha; 2º Tesoureiro – Antonio Guimarães de Oliveira; Diretor de Comunicação – Plínio Ferreira Marques; Diretor Social – Álvaro Sousa Rodrigues e Diretor de Patrimônio – Heli Lopes de Moraes. Já o Conselho Fiscal ficou integrado pelos Acadêmicos José Ribamar Fernandes, Wellington Santana da Silva e José Maria de Jesus e Silva (efetivos) e José de Ribamar Fonseca e Helio Viana (suplentes). O Presidente sainte, Henrique de Araujo Pereira, fez um discurso de agradecimento a todos que colaboraram com a sua administração “se não posso fazer tudo que devo, devo, pelo menos, fazer tudo o que posso”; é sempre melhor acender
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uma luz do que maldizer a escuridão e “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em União” e o Presidente entrante, Raimundo Ferreira Marques, “acredito na sensibilidade de todos; creio na vontade e determinação de cada um; creio no ideal de servir que nos alimenta e fortalece o espírito Maçônico e, por isso, creio, firmemente, que eu e os demais diretores que assumimos neste dia 11 de junho de 2011 os destinos da AMML, contaremos durante o nosso mandato, e mais que isso, de agora em diante, com o apoio decidido de todos os confrades”. E concluiu: “Não permitiremos a falência da AMML, que haverá de prosseguir sua caminhada, firme e destemida, cumprindo sua missão cultural”. O cerimonial do supracitado evento esteve a cargo da sobrinha Giselle Colins Pereira Dias, Mestre em Cerimonial (filha do confrade acadêmico Henrique de Araujo Pereira), que fez um ótimo trabalho. Ao final, foi servido um excelente coquetel, tudo acompanhado pelos fotógrafos, de ambos os sexos, que produziram boas fotos, e algumas delas ilustrarão este artigo. *Grão-Mestre do GOAM e Vice-Presidente da AMML (2011/2013). E-mail: rocha.osvaldo@uol.com.br e site www.osvaldopereirarocha.com.br
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL NO ESTADO DO MARANHÃO RAIMUNDA NONATA FORTES CARVALHO NETA INTRODUÇÃO O processo educativo nas Áreas de Proteção Ambiental tem recebido atenção dos projetos realizados por órgãos governamentais e não-governamentais e apresenta caráter obrigatório na Lei 9.985 de 18/07/2000, que define o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2010). Nos projetos educativos voltados para essas áreas devem-se fornecer subsídios para a modificação da ação dos indivíduos e dos grupos sociais, visando à superação das relações de dominação e de exclusão. A Área de Proteção Ambiental (APA) é uma categoria de Unidade de Conservação de Uso Sustentável que apresenta grande complexidade, visto que: a) busca conciliar o desenvolvimento de atividades humanas com a conservação dos recursos naturais; b) busca proteger o solo, subsolo, a cobertura vegetal e a fauna local, promover a melhoria da qualidade dos recursos hídricos e recuperar áreas degradadas; c) são áreas submetidas ao planejamento e à gestão ambiental; d) são áreas de usos múltiplos, controladas por meio de zoneamento, fiscalização e educação ambiental; e) podem ter uso urbano; f) propiciam a experimentação de novas técnicas e atitudes que permitam conciliar o uso da terra e o desenvolvimento regional com a manutenção dos processos ecológicos essenciais; g) permitem que a população residente e do entorno seja integrada nas medidas e práticas conservacionistas, por meio de ações de educação ambiental ou participação no processo de planejamento e gestão; h) permitem o estabelecimento de um processo de co-gestão entre órgãos governamentais, nãogovernamentais e setores organizados da sociedade (MEDEIROS et al., 2004). No Maranhão, existem várias APAs criadas pelo governo estadual, tais como: Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense, Área de Proteção Ambiental da Foz do Rio do Preguiças - Pequenos Lençóis, Área de proteção Ambiental da Serra de Tabatinga, Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses, Área de Proteção Ambiental do Itapiracó, Área de Proteção Ambiental do Maracanã, Área de Proteção Ambiental Estadual Upaon-Açu – Miritiba – Alto do Rio Preguiças (MARANHÃO, 2010). Essas áreas legalmente protegidas necessitam de ações concretas voltadas para a ampliação da ação educativa e participativa capaz de auxiliar nos processos de proteção da diversidade biológica, conservação dos sistemas naturais e melhoria da qualidade de vida da população local. Em termos metodológicos, a participação é um dos pressupostos indissociáveis do fazer educativo ambiental, especialmente em APAs aonde os conflitos de uso da terra são intensos e merecem metodologias educativas baseadas na ação participativa de toda a comunidade. Nosso objetivo neste trabalho é apontar caminhos metodológicos para o trabalho com educação ambiental em APAs maranhenses com enfoque na participação e
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na gestão de conflitos dos atores envolvidos com os usos diretos ou indiretos dos recursos dessas áreas legalmente protegidas. ENFOQUES METODOLÓGICOS PARA AÇÕES EDUCATIVAS EM APAs Nossa educação se constrói na atividade humana coletiva com sujeitos localizados temporal e espacialmente. Nesse sentido, a atuação dos educadores ambientais deve evitar o discurso genérico de que todos nós somos igualmente responsáveis e vítimas do processo de degradação ecossistêmica, já que educar é agir conscientemente em processos sociais que se constituem por indivíduos que possuem projetos distintos de sociedade, que se apropriam material e simbolicamente da natureza de modo desigual (LOUREIRO, 2004). Nas APAs são muitos os conflitos gerados a partir dos múltiplos interesses dos atores sociais envolvidos, sendo necessário que se pense em ações educativas capazes de fornecer condições para a modificação dos indivíduos e dos grupos sociais, visando à superação das relações de dominação e de exclusão que caracterizam e definem a sociedade capitalista globalizada (ZIAKA et al., 2003). Assim, os processos de Educação Ambiental a serem desenvolvidos em APAs devem enfocar vários aspectos, entre os quais: a) territorialidade nas Unidades de Conservação; b) objetivos e características da APA; c) resolução de conflitos na área; d) gestão participativa. Enfoque para o tema “territorialidade” Territorialidade é um conceito-chave no trabalho educativo em Unidades de Conservação. De acordo com Loureiro (2004) a territorialidade pode ser entendida como uma síntese integradora entre o natural e o humano localizada histórica e espacialmente, sendo o locus de atuação cotidiana e educativa no qual ocorre a transformação das relações sociais na natureza. Assim, de acordo com esse pensamento, o processo de Educação Ambiental nas APAs devem buscar entender onde cada educador e educando se situa, de modo a promover uma prática que seja simultaneamente específica e universal, que reconheça a diversidade na busca da igualdade. Ao se falar de transformação das relações sociais na natureza, é recorrente a idéia da propriedade privada. A lei que rege o SNUC estabelece que, respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental (BRASIL, 2000). Assim, o trabalho educativo mais complexo a ser desenvolvido nas APAs deve ser direcionado para os proprietários de terras localizados dentro dessas unidades de conservação. Enfoque para os objetivos e características das APAs O enfoque ligado ao entendimento do objetivo das APAs é um item chave a ser explorado nos trabalhos de Educação Ambiental, tanto nas escolas de ensino fundamental e médio, quanto com nas associações de moradores e demais grupos organizados. É importante que sejam ressaltados os conceitos e objetivos de uma APA
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estabelecidos na lei que rege o SNUC, bem como a história do surgimento dessa categoria de unidade de conservação. O Art. 15. da lei 9.985 conceitua Área de Proteção Ambiental como sendo uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000). Esse conceito de APA originou-se no modelo dos “parques naturais” - um tipo de área protegida compatível com a propriedade privada submetida a uma regulamentação especial de uso - existente em Portugal, Espanha, França e Alemanha (IBAMA, 1999). Muitos pesquisadores acreditam que a criação das APAs constitui-se em uma inovação na política brasileira de proteção ambiental, já que impõe à região protegida uma legislação específica voltada para disciplinar os usos dos recursos naturais, conciliando a convivência humana e a proteção na natureza em terras públicas ou privadas (GRANJA, 2009; GANEM, 2005; LOUREIRO, 2004; ROCCO, 2002). A legislação que rege o SNUC estabelece que a APA é também uma forma complementar de proteção da natureza, já que pode servir como zona tampão (ou primeira proteção) para outras Unidades de Conservação. A lei 9.985 determina que quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional (BRASIL, cap. IV, Art. 26, 2000). Nesse sentido, os educadores ambientais devem desenvolver ações que visem fornecer subsídios para uma gestão integrada entre as várias Unidades de Conservação maranhenses (já que dentro de muitas APAs existem outras Unidades de Conservação) sendo que essas intervenções educativas devem ser direcionadas principalmente para os gestores públicos e para os grupos socioprofissionais envolvidos com as áreas protegidas. Resolução de conflitos nas APAs Do ponto de vista socioeconômico, as APAs são importantes instrumentos da política ambiental brasileira, já que as atividades humanas devem ser exercidas com responsabilidade no sentido de permitir a integridade e a manutenção da qualidade ambiental da área protegida (CABRAL; SOUZA, 2005). Aqui o grande desafio é balancear os interesses individuais, uma vez que, dependendo da realidade analisada, os proprietários de terras localizadas em APAs podem não optar pelo comportamento de conservação dos recursos. Nas APAs do Estado do Maranhão, por exemplo, são vários os conflitos gerados pelas atividades econômicas realizadas na região, tais como: extração madeireira, mineração, criação extensiva de búfalos, barragens, carcinicultura e piscicultura, dentre outras. De acordo com Morsello (2006), os problemas causados por interesses econômicos conflitantes nas áreas protegidas ocorrem principalmente por que: a) não há
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reconhecimento dos benefícios que as unidades de conservação proporcionam à sociedade; b) mesmo quando se procura incorporar os cálculos desses benefícios, muitos deles extrapolam os conceitos em voga, causando ceticismo quanto à confiança que podemos ter em seu valor; c) um aumento substantivo dos investimentos na criação e manejo de áreas protegidas terá resultados apenas se for acompanhado por políticas mais amplas de desenvolvimento que procurem sanar as distorções existentes. Assim, é necessário que sejam desenvolvidos projetos educativos amplos, pautados no reconhecimento dos benefícios que as APAs e outras áreas protegidas no Estado proporcionam para a sociedade maranhense. Nesses projetos, a prática educativa voltada para a resolução de conflitos nas APAs deve levar em consideração vários aspectos no planejamento pedagógico das atividades, a fim de promover a convivência harmônica das populações humanas e seus sistemas produtivos com a almejada proteção ambiental. Entre tais aspectos, vale a pena ressaltar aqueles citados por Loureiro (2002), a saber: a) reconhecer os problemas como algo construído na dinâmica social e integrante da realidade, suas causas, interesses e argumentos produzidos pelas partes envolvidas; b) explicitar os posicionamentos distintos e suas implicações sociais e políticas; c) ter o diálogo como princípio indissociável do processo; d) atacar o problema e não as pessoas em suas individualidades; e) assumir uma postura de cooperação, solidariedade e respeito; f) usar a criatividade e o conhecimento disponível para encontrar alternativas; g) estabelecer mecanismos de avaliação coletiva das alternativas criadas, a partir de critérios definidos e aceitos consensualmente pelos atores sociais; h) negociar as bases que assegurem o cumprimento do que for acordado, construindo o senso de responsabilidade e de convivência democrática. Enfoque para a gestão participativa Toda Área de Proteção Ambiental deve dispor de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente (BRASIL, 2000). A participação dos cidadãos envolvidos em uma APA não é um processo simples, mas se constitui no cenário desejável para a administração dos conflitos (CABRAL; SOUZA, 2005). Na maioria das APAs maranhenses ainda não existe um “Conselho de APA”. Essa realidade aponta para a necessidade de ações educativas que visem mostrar a importância desse mecanismo de gestão participativa, ressaltando-se a necessidade de representação atuante da comunidade local, consciente dos objetivos, metas e resultados a serem buscados para a proteção ambiental e desenvolvimento sustentável da região. Nessa linha de pensamento, os projetos de EA para as APAs maranhenses devem estabelecer processos participativos de ação consciente e integrada, fortalecendo o sentido de responsabilidade cidadã e de pertencimento a cada localidade. A gestão integrada compreende as negociações e os entendimentos que devem ser feitos buscando uniformidade de gerenciamento de uma ou mais unidade de conservação (Guapyassú, 2003). De acordo com Loureiro (2004) é necessário pensar em uma Educação Ambiental voltada para a democratização no acesso e apropriação dos bens naturais, para a gestão participativa e o exercício da cidadania, capaz de levar os sujeitos a se recolocarem no ambiente e a se ressignificarem como natureza. Nesses projetos, ressalta o autor, é importante incluir, principalmente, os grupos sociais em situação de
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maior vulnerabilidade ambiental, tais como: a) grupos em maior grau de dependência direta dos recursos naturais para produzir, trabalhar e melhorar as condições objetivas de vida; b) grupos excluídos do acesso aos bens públicos socialmente produzidos; c) grupos ausentes de participação legítima em processos decisórios no que se refere à definição de políticas públicas que interferem na qualidade do ambiente em que vivem. Todavia, o mesmo autor ressalta que é fundamental que seja consolidados programas que articulem a educação formal com a não formal e a informal, num processo educativo popular e permanente. O enfoque voltado para a gestão participativa nas ações de Educação Ambiental deve incentivar, principalmente, a participação da comunidade na elaboração e implementação do plano de manejo das APAs, como possibilidade de redução de conflitos. O plano de manejo é o instrumento que deve orientar a utilização dos recursos naturais na unidade de conservação, definindo as atividades, os meios e o pessoal necessários para a gestão, estabelecendo normas de uso e ocupação do solo por meio de zoneamento (definição de zonas ou setores com objetivos de manejo e normas específicas), e sendo, portanto, o referencial das ações a serem empreendidas pelo gestor da APA (MEDEIROS, 2006). Desse modo, as ações educativas devem buscar o fortalecimento do compromisso dos moradores e usuários das APAs (já que parcela do território é de propriedade de particulares) com a elaboração e implementação do plano de manejo, a fim de torná-lo contextualizado, viável, qualitativo e aplicável. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei N° 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o SNUC e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/L9985.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010. CABRAL, N. R. A. J.; SOUZA, M. P. Área de Proteção Ambiental: planejamento e gestão de áreas protegidas. São Carlos: RIMA, 2005. GANEM, R. S. Políticas de conservação da biodiversidade e conectividade entre remanescentes de cerrado. 2005. Tese (Doutorado) – Universidade de Brasília, Brasília-DF. GRANJA, Lêda Virgínia A. de Carvalho. O papel das áreas de proteção ambiental – APAS na conservação dos recursos naturais em áreas urbanas. 2009. 208f. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano) – Universidade de Brasília, Brasília. GUAPYASSÚ, S. M. dos S. (Editora). Gerenciamento de áreas de proteção no Brasil. Curitiba: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, 2003. IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Plano de gestão ambiental: Área de Proteção Ambiental. Brasília: IBAMA, 1999. LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental e gestão participativa na explicitação e resolução de conflitos. Gestão em Ação, Salvador, v.7, n.1, p.37-50, jan./abr. 2004. LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania ecológica e planetária. In: LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. de. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002.
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HOMANGEM PÓSTUMA A NOSSA QUERIDA AMIGA ALCINA EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA Sócio efetivo do IHGM - cad.51 Esse seu nome completo: Alcina da Luz Santos Ferreira. O seu próprio nome já prenunciava a luz que espargiria sob tantos que com ela haveriam de conviver. Foi uma figura ímpar, onde a sua dedicação às coisas do Maranhão, levavam-na a transmitir em sala de aula o quanto lhe ia n`alma. Nunca esteve preocupada com academias culturais, preocupava-se sobremaneira, isto sim, em manter viva a chama que foi sua vida, ligada a nossa terra. Dedicou-se sobremaneira ao magistério. Lecionava Filosofia na Universidade Federal do Maranhão, fiel a todos que estivessem dispostos a conhecer de modo bem didático, a terra de Gonçalves Dias. Fez do seu magistério um sacerdócio. Nele estava inserta sua vida no Maranhão, as belezas da Ilha do Amor, sua história, sua gente e sua glória, com o apogeu que a levou a ser chamada de Atenas Brasileira. Pela sua dedicação ao magistério não foram poucas as turmas que levaram o seu nome, bem como incontáveis foram também aquelas que paraninfou. Médicos, advogados, engenheiros, professores, profissionais liberais de várias categorias passaram por sua sala de aula e é unânime em afirmar que aprenderam não só a disciplina que ela lecionava tão bem, mas também se enriqueceram com a história do Maranhão a que ela permanentemente fazia alusão. Era uma Marta e uma Maria ao mesmo tempo. Na Igreja lecionava uma turma de catecúmenos e transmitia aos jovens os alicerces de uma vida cristã que os ensinava a serem bons cidadãos mais à frente, quando a idade adulta os alcançasse. Apregoava que deveria ser aprendido o Hino Nacional e o Hino do Maranhão, que reafirmava sempre, não poderiam nunca ser esquecidos. Falava das praças e ruas de São Luis e de todos fornecia uma pitada de sua história. Afirmava que não podia entender alguém que não conhecesse o mínimo da história do Maranhão. Como Marta, dedicava-se às coisas do lar, de modo a causar inveja a quantos com ela conviviam. Como Maria, dedicava-se as coisas da Igreja, ao terço o qual nunca abandonava e às missas. Esta era a melhor coisa dizia ela, se referindo à Bíblia Sagrada, quando Cristo respondendo a uma indagação de Marta afirmou: deixa-a Marta, Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada. Alcina, amiga inesquecível, teve como cônjuge José Ribamar Ferreira, e o casal foi enriquecido com a presença de Júlio Cesar Santos Ferreira, José Ribamar Ferreira Junior e Isabel Cristina Costa Freire, sendo José Murilo de Sousa seu filho por afetividade. Deixou os seguintes netos: Murilo Junior, Aeriberto, Rosângela, Márcia Raissa, Tercya Vanessa e Ian Vitor tendo ainda sido contemplada com uma bisneta: a meiga Ana Letícia.
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Tendo nascido em São Luis - MA. aos 24.07.1925, e construído uma vida aos pés do Senhor, sempre dando exemplo de verdadeira cristã, nada poderia ser mais sublime. A querida Alcina, graduou-se em Filosofia em 1953, prestou concurso para ocupar a cátedra do mesmo curso, tendo exercido seu magistério, até a sua aposentadoria, função que exerceu por 32 anos consecutivos. Foi concursada do Serviço Público Federal, onde o Ministério da Fazenda se aposentou, após 30 anos de efetivo exercício, sendo exemplar funcionária, onde exerceu vários cargos de chefia e grande relevância.. Foi chamada pelo Senhor Deus para o exercício de uma função especial no Céu, ao lado do Criador. E partiu incontinenti. O Senhor a adormeceu e fez como fazem os pais para com os seus filhos: tomou-a nos braços e a carregou para o Céu, para viver ao seu lado. Estava Alcina com seus 85 anos. E os médicos que por amor, admiração e respeito a ela, teimavam em conservá-la entre nós, ainda a submeteram a 21 dias na UTI. Mas o Altíssimo fez ver a todos os dedicados á ciência de Hipócrates, que o seu poder de cura termina quando o Senhor Deus determina. Ela que vivia para sua família, seus amigos e para Cristo tinha uma vida religiosa incomparável. Foi do grupo pertencente as Missionárias de Jesus Crucificado, Coordenadora do Grupo de Oração Bom Pastor da Renovação Carismática Católica, Ministra Extraordinária da Comunhão, Catequista, tendo preparado várias gerações à iniciação cristã, devota de Nossa Senhora, rezando o terço todos os dias. Profa. Alcina, sem grandes pretensões da imortalidade decantada pelos homens, teve a sua vaga garantida na imortalidade pela sua vida e pelos fatos que lhe diziam respeito. Foi assim, que a Universidade Federal do Maranhão, em reconhecimento aos seus méritos pessoais, fez publicar e inserir o seu nome em “Memória De Professores: Histórias da UFMA e outras Histórias”. Trabalho organizado pelos Profs. Regina Helena Martins de Faria, Antonio Torres Montenegro. São Luís: UFMA/Departamento de História; Brasília: CNPQ, 2005; 610p; ISBN; CDD 378.8121; CDU 328.4 (812.1) (091). Em retrospecto da vida escolar da nossa inesquecível Alcina, registramos com prazer que assim se resumiu: Curso Primário, “Grupo Escolar Almir Nina”; Ginásio, Colégio Cisne São Luís; 2º grau: Escola Superior do Comércio do Centro Caixeiral em São Luis - MA. Registra-se também que a pranteada fez alguns outros cursos, entre eles: Filosofia Contemporânea, Estética, Filosofia dos Direitos Humanos, Orientação Educacional, Cibernética e Sistema, Metodologia da Pesquisa Filosófica, tendo ainda participado de vários Seminários, Simpósios, e Grupos de trabalho. É de sua autoria a frase lapidar, palavras de uma grande pensadora e filósofa, que passaram para os registros dos anais maranhenses: “E POSSO DIZER AOS JOVENS QUE A FILOSOFIA NÃO SE ENCONTRA PRONTA NAS LOJAS, PORÉM, QUEM CONSEGUE PELO MENOS APRENDER A REFLETIR É MAIS FELIZ DO QUE OS QUE FALAM E AGEM SEM PENSAR E NÃO PENSAM PARA FALAR E AGIR". Precisava o Altíssimo de alguém assim. E ninguém mais do que Alcina, para ser alçada à Suprema Glória. Por tudo isso e para que seja sempre lembrada, os pássaros haverão de cantar, ainda que um canto triste, sobre sua morada última, a anunciar que ali se encontra uma filha do Céu; as borboletas haverão de chegar e ali pousar como se
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estivessem em jardim celestial e flores haverão de nascer para adornar aquele melancólico jardim. Os estudiosos dos céus e das estrelas, haverão de descobrir agora uma nova estrela de brilho mais intenso, no firmamento. Quedar-se-ão a identificá-la e procurarão dar-lhe nome. Enquanto isso, nós, seus amigos, diremos: aquela estrela nova a brilhar mais intensamente, espargindo uma luz diferente se chama simplesmente Alcina.
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TICs, EDUCAÇÃO A DISTANCIA E EDUCAÇÃO PRESENCIAL TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO O objetivo da discussão é fazer uma análise da fala de Pedro Demo,(2008), Professor Titular da Universidade de Brasília, desde 1982, Departamento de Sociologia (SOL). Num dos seus artigos acessado no sitio http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/tics.html, especialista em educação está aposentado desde maio de 2008, foi professor do Doutorado de Educação, UFRJ, (19811986) e Técnico de Planejamento e Pesquisa do IPEA/SEPLAN, 1975-1994. Demo nos afirma em seu texto que, [...] desde fins de 1980, desenvolveu-se no Brasil o interesse pela causa dos professores básicos, por entender que, em parte pelo menos, a cidadania popular depende da qualidade de sua atuação e formação. (DEMO,2008, p.3) Em decorrência, este especialista da educação: Aproximou-se da sociologia da educação, área em que pesquisa e publica até hoje intensamente, sempre com realce para o vínculo estreito entre educação e combate à pobreza política. http://pedrodemo.sites.uol.com.br/Frame3.html). Este tipo de atividade teórica e prática segundo Demo(op.cit), têm como razão maior de ser aprimorar a educação básica, em especial a escola pública, por ser esta uma das arenas mais sensíveis da qualificação da democracia. (DEMO, 2008) Inspira-se ele na tese de que “o aluno aprende bem com professor que aprende bem”. É imprescindível que o professor tenha oportunidade de estudar, pesquisar, elaborar, tornando-se autor, sem falar no desafio de dar conta das novas tecnologias e novas alfabetizações. (DEMO,2008). O desenvolvimento das novas tecnologias poder-se-ia dizer até não tão novas pelo tempo que estão sendo usadas no cenário mundial ou se tomássemos como referencia o “saber fazer” do homem desde suas origens, na medida em que para fazer algum artefato necessário a sua sobrevivência, ele teve que acessar uma informação real ou virtual além de sua própria capacidade criacionista para alcançar seu objetivo, no entanto as alterações que se fazem no mundo virtual e real são tão recorrentes que as tecnologias da informação e da comunicação serão sempre novas, como novo é o homem a cada amanhecer de cada dia. Levando essa reflexão para o ambiente escolar, percebemos que assim como o homem em sociedade, o professor na sala de aula defronta-se a cada instante com a exigência de protagonizar novos papéis, em virtude das alterações que ocorrem momentaneamente no mundo real e virtual, exigindo dos profissionais da educação novas posturas frente aos desafios presentes no espaço escolar e em sua vida profissional.
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O questionamento que fazemos é de como enfrentar estes desafios, visto que como nos fala Pedro Demo (2008), somos sujeitos de uma formação instrucionista e porquanto reprodutores dessa prática educativa, atrelados aos deveres de casa e da escola já predefinidos, planejados, elencados, demonstrando até certa resistência as mudanças advindas da inserção no mundo virtual que hoje nos aponta novas perspectivas para o aprender a aprender (DEMO, 2008). Tais posturas não são exclusivas de professores em final de carreira como algumas pesquisas destacam. Profissionais recém-licenciados já trazem na sua bagagem formativa posturas avessas ao incremento de novos recursos midiáticos na sala de aula, falam de modismos, frente à possibilidade de inovar seja com um simples trabalho coletivo de campo até a uma oficina pedagógica que permita socializa acertos e erros seus e de seus pares, imagine-se uma intervenção midiática em sua sala de aula. Gaston Mialaret (1981) nos diz: [...] não se pretende trazer para o ensino a monotonia de um modelo, mas antes de uma diversidade criadora. É precisamente nessa diversidade criadora que o professor encontra sua unidade na realização do ato pedagógico (Mialaret,1981). O que a tecnologia nos oferece é a possibilidade de interagir de forma processual entre a ciência e a experiência dado que possibilitará um renascer de um novo saber (conhecimento), não sendo este a mera repetição do que foi ensinado, mas sim fruto de minhas possibilidades, significâncias reais e habilidade pessoal, enfim fruto de aprendizagem. A tecnologia surge quando se ultrapassa o limite do fazer baseado na experiência (o como) e se adquire, sob o modo de “logos”, a compreensão de tal fazer (o saber porque),quando se acrescenta a reflexão à técnica, numa formulação discursiva de carácter teórico (Bertrand e Valois, 1994,p.65). Deste modo, ao integrar os elementos básicos do “fazer” e a reflexão teórica do “saber”, a tecnologia pode ser considerada como “teoria da técnica”, situando-se entre ciências especulativas e conhecimentos aplicados, é o que se espera das TICs no campo educacional. O autor trata da relação existente entre TICs e educação utilizando outros autores referencia para dar sustentação teórica a sua reflexão procurando desconstruir a visão ora simplista ora preconceituosa que alguns profissionais da educação demonstram ter em relação às TICs e a educação, especialmente a educação formal escolarizada. Segundo DEMO (2008), o que se coloca para o professor seja o iniciante ou o pós-graduado é que precisam aprimorar os processos educativos de formação e de aprendizagem, para que a criatividade semântica, a (re)alfabetização, a inclusão digital, o conhecimento flexível seja rotina na sala de aula, segundo o autor a escola que temos não se adequa a uma educação autônoma, relacional, colaborativa que é o que preconizam as tecnologias da informação e da comunicação (DEMO, 2008).
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Em síntese o autor defende como práxis da escola contemporânea a inserção das TICs na educação e da educação nas tecnologias da informação e da comunicação destacando que o elemento transformador é a possibilidade do relacionamento entre as pessoas e as organizações sem fronteiras, sem preconceitos, sem racismo, colaborativamente aproximando pessoas de diferentes fazeres, saberes e falares. Pedro Demo desde fins de 1980 desenvolveu o interesse pela causa dos professores da educação básica, por entender que, em parte pelo menos, a cidadania popular depende da qualidade de sua atuação e formação”. Em decorrência, “aproximou-se da sociologia da educação, área em que pesquisa e publica até hoje intensamente, sempre com realce para o vínculo estreito entre educação e combate à pobreza política(DEMO, 2008). Este tipo de atividade teórica e prática têm como razão maior de ser aprimora a educação básica, em especial a escola pública, por ser esta uma das arenas mais sensíveis da qualificação da democracia. Inspira-se na tese de que aluno aprende bem com professor que aprende bem. É imprescindível que o professor tenha oportunidade de estudar, pesquisar, elaborar, tornando-se autor, sem falar no desafio de dar conta das novas tecnologias e novas alfabetizações. Concluindo entendemos que o professor de agora e do futuro deverão estar conectados com as TICs, pois a educação a distancia e a educação presencial são cada vez mais complexas, porque a sociedade vai-se tornando, em todos os campos mais complexa, exigente e necessitada de educação contínua. Segundo Moran (2003), a educação é mais complexa porque vai incorporando dimensões, antes menos integradas ou visíveis, como as competências intelectuais, afetivas e éticas, porque cada vez mais sai do espaço físico da sala de aula para outros espaços presenciais e virtuais; porque sai da figura do professor como centro da informação, para pensar o professor incorporando novos papeis como o de mediador, de facilitador, de gestor, de mobilizador, em todas as situações de ensino e aprendizagem (MORAN,2003). Existe no Brasil uma grande variedade de cursos a distancia: cursos para poucos e muitos alunos; cursos com pouca interação e com muita interação; cursos centrados nos professores e cursos centrados nos alunos; cursos com apoio local e com apoio remoto; cursos que visam lucros fáceis e cursos feitos com qualidade. Mas o que se deve levar em conta é que a educação a distancia está trazendo contribuições significativas para o ensino e a aprendizagem virtual e presencial, a legislação brasileira recomenda e as escolas e universidades que integrem aulas presenciais e atividades virtuais ou vice-versa, flexibilizando tempos e espaços, ampliando os espaços de ensino e aprendizagem até agora praticamente confinados a sala de aula. O currículo pode ser flexível segundo a portaria 2253 do MEC, em 20% da carga total. Temos nas universidades algumas disciplinas sendo oferecidas total ou parcialmente a distancia, o vinte por cento acreditamos seja a etapa inicial da criação da
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cultura on line, mais tarde cada universidade irá definir qual é o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual em cada área de conhecimento (MORAN, 2003). Com as tecnologias da informação e da comunicação cada vez mais rápidas e integradas, o conceito de presença e distancia se modifica profundamente e as formas de ensinar e aprender segue o mesmo caminho. Estamos caminhando para uma aproximação sem precedentes entre os cursos presenciais, semipresenciais e os a distancia. Os professores que atuam em sala de aula estão no presencial-virtual quer queiram ou não e começam a atuar também na educação a distancia, teremos no futuro próximo a combinação que melhor resulta trará para a educação como um todo, em pouco tempo todas as universidades e outras organizações educacionais estarão experimentando o presencial e o virtual garantindo uma aprendizagem significativa, onde a pedagogia da comunicação e gestão presencial e virtual aproximaram departamentos e grupos de professores interessados em flexibilizar suas aulas de forma flexível e aberta. Referencias Bibliográficas ALMEIDA, F. J. Aprendizagem colaborativa: o professor e o aluno resignificados. In ALMEIDA, F. J.(coord). Projeto Nave. Educação à distância. Formação de professores em ambientesvirtuais e colaborativos de aprendizagem. São Paulo: s.n., 2001. BARANAUSKAS, C.; Rocha, H. V.; Martins, M. C. e D’Abreu, J. V. Uma taxonomia para Ambientes de Aprendizado Baseados no Computador. In: Valente, J. A. O computador na sociedadedo conhecimento. Campinas, SP: UNICAMP/NIED, 1999. BOUCHARD, P. Autonomia e distância transacional na formação a distância. In Alava, S. (org.).Ciberespaço e formações abertas. Porto Alegre: Artmed, 2000. BERTRAND, Yves. Teorias Contemporâneas da Educação. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. DEMO, P. 2002. Complexidade e Aprendizagem - A dinâmica não linear do conhecimento. Atlas, São Paulo. DEMO, P. 2004. Aprendizagem no Brasil - Ainda muito por fazer. Mediação, Porto Alegre. GIUSTA, Ângela da Silva. Educação a Distância: uma articulação entre a teoria e a prática. Belo Horizonte: PUC Minas Virtual, 2003. Sites visitados: http://pedrodemo.sites.uol.com.br/Frame3.html http://www.eca.usp.br/prof/moran/tendencias.htm http://www.educacaoetecnologia.org.br/?p=4378 http://www.eca.usp.br/prof/moran/futuro.htm http://www.eca.usp.br/prof/moran/propostas.htm http://www.fc.up.pt/fcup/contactos/teses/t_030370032.pdf http://www.eca.usp.br/prof/moran/questoes.htm
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NOITE DE ALEGRIA NO IHGM OSVALDO PEREIRA ROCHA Sócio Efetivo do IHGM, Cadeira nº 8, Suplente do seu Conselho Fiscal e seu ex-Vice-Presidente. E-mail: rocha.osvaldo@uol.com.br Com as graças do Grande Arquiteto do Universo, o Pai por Excelência, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, sob a presidência de sua presidente, Professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, promoveu a partir do final da tarde de 25 de maio de 2011, assembléia geral com uma pauta extraordinária. Inicialmente, comunicações importantes do supracitado sodalício, em seguida, palestra do Professor Aymoré Alvim, brindando a todos e a todas com uma magistral pesquisa história sobre a cidade de Pinheiro - MA e finalizando com o lançamento do livro A ÁGUIA E O ROUXINOL (Elegia ao Prof. Rubem Almeida), do confrade Professor Edomir Martins de Oliveira, ocupante da Cadeira nº 51, do IHGM e seu ex Presidente, cadeira esta que tem como patrono exatamente o saudoso e homenageado Professor Ruben Almeida. A Casa de Antônio Lopes, nome dado ao mencionado Instituto, esteve lotada de confrades, confreiras, convidados e convidadas especiais que foram se deliciar com as falas de Aymoré e Edomir, este precedido da Confreira Ilzé Cordeiro, sua madrinha no IHGM, que, a pedido do autor, fez a apresentação do mencionado livro, e em seguida, Edomir agradeceu por suas palavras poéticas e inteligentes, com um pronunciamento igualmente poético e Inteligente, ambos intensamente aplaudidos. E tem mais, ou seja, como uma grata surpresa da noite, fez uso da palavra o Confrade Mhario Lincoln Felix Santos, editor – chefe do Portal Mhario Lincoln do Brasil, com centenas de acessos nacionais e internacionais, ele que ora está radicado em Curitiba – PR, atualmente sócio correspondente do IHGM que, emocionado, falou de seu tempo de sócio efetivo do Instituto, dos seus amigos mais chegados presentes e, principalmente, sobre o autor, com merecidos elogios, diga-se de passagem, além de elogiar a atual gestão do IHGM, sob a presidência da Confreira Telma Bonifácio, que dispõe de eficientes companheiros de diretoria, principalmente os confrades VicePresidente Leopoldo Vaz e Secretário, Padre Meireles. Com a palavra, a Confreira Telma Bonifácio fez os agradecimentos de praxe e ao mesmo tempo franqueou a palavra a quem dela quisesse fazer uso e, aproveitando a oportunidade, este articulista ocupou a tribuna e disse da sua alegria inenarrável de estar presente a tão alegre e feliz acontecimento, presentes Irmãos Maçons reencontrando amigos e amigas da melhor qualidade. Por tudo isso, a noite foi inesquecível e as fotos dizem mais sobre os fatos.
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JOÃO MIGUEL DA CRUZ, O PIONEIRO. ÁLVARO MELLO O nosso beletrista Domingos Barbosa, ilustre filho de São Bento, queixava-se do descaso dos maranhenses festejarem seus vultos, depois de consagrados lá fora. Foi um deles. Já envergando o pomposo fardão acadêmico, teve sua respeitabilidade definitiva coroada ao desembarcar em um dos ITAS, chegado da Cidade Maravilhosa, onde fora lançar a 3ª edição de seu livro “Contos da Minha Terra”, quando recebera calorosa homenagem de Coelho Neto, em almoço com a presença da elite dos contistas brasileiros. Muitos outros exemplos. Aluisio de Azevedo com seu romance o “Mulato”. Maria Firmina Reis, a poetisa de Guimarães. Lembro-me de que o saudoso Amigo Dr. Fernando Viana em suas vindas de sua bela Fazenda Canaã a São Bento, adentrava no comércio de papai, seu compadre, para compras, ensejo que me valia de sua generosidade para explorar seus amplos conhecimentos e captar seus trocadilhos, especialidade da qual foi singular. Nessa arte, ninguém da Taba Timbira, o ombreou. Certa vez, perguntou-me: meu filho tu tens alguma coisa de Souza Andrade, assim mesmo, Sousândrade, foi depois. Surpreso concluiu: um homem tão importante, desprestigiado no Maranhão, sendo estudado numa Universidade dos Estados Unidos. Recentemente conheci esse pesquisador, Sr. Frederick G. Williams, trazido a São Luís por Jomar Moraes. Assim continua nos dias hodierno. Vez por outras arrancam da cova um nome coberto de merecidos lauréis, envolto na penumbra da deslembrança. No mês passado o universitário são-bentuense Domingos Sá, em busca de informações de João Miguel da Cruz, procurou em São Bento, a professora Conceição de Maria Ribeiro Melo, minha irmã, que o aconselhou a visitar-me. Chegou acompanhado de uma colega, universitária Ingrid Araújo. Os atendi com o maior prazer, gesto que repito todas as vezes que o assunto reveste-se de louvores às glórias de minha famosa e formosa centenária urbe. E, modestamente, são muitas as aureolas que devem ser efusivas e garbosamente ostentadas. Alegre e até vaidoso quis saber quais as razões dessa pesquisa alusiva a tão ilustre educador. Disse-me ser do professor de História da Educação, o mato-grossense Acildo Leite da Silva, que veio de tão longe, interessar-se por esse vulto que o descobriu, como tema de monografia da Universidade do Rio de Janeiro e em tese de Mestrado da UNB. Julgava-o, esvaído da memória histórica da Educação, pois, o único registro dessa façanha, acha-se exarado em o Dicionário Histórico-Geográfico da Província Maranhão, 3ª edição, página 404, transcrito (sic). “A prioridade da idéia de cursos noturnos, nesta Província e talvez em todo o Império, pertence, incontestavelmente, ao professor da vila de São Bento dos Perizes, o cidadão João Miguel da Cruz, que no colégio fundado pelo reverendo Padre Luís Raimundo da Silva Brito, abriu na noite de 1º de julho de 1868, uma aula para adultos em presença do delegado da Instrução Pública, do presidente da Câmara Municipal e de muitos outros cidadãos, de que se lavrou uma ata,
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assinada por todas as pessoas presentes, no próprio livro da matrícula, onde se inscreveram nessa mesma ocasião doze alunos.” “Negando-se o presidente da Província a dar as luzes necessárias, por falta de verba na lei do orçamento provincial, foi essa falta sanada pelos cidadãos dr. Pompeu Ascenço de Sá, Coronel Trajano Belmudes Mendes e Inácio Antonio Viveiros.”
O próprio Dr. César esclarece que remeteu ao Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, um artigo de sua lavra, alusivo ao assunto, publicado em 1869, no Publicador Maranhense. O dito dicionário noticia que somente no dia 11 de agosto de 1870, na Sociedade Onze de Agosto foi fundado um curso noturno para as classes operárias. Com devida vênia, estribado em outras fontes informativas, acrescento que as aulas noturnas no Maranhão foram criadas pela Lei 920, de 24 de julho de 1870, e, sem pretender contestar, há informações que o funcionamento delas no Maranhão, ocorreu a partir de 1873. JOÃO MIGUEL DA CRUZ nasceu em São Luís, em 24 de novembro do ano de 1822. Moço mudou-se para São Bento e abraçou a sublime missão de educar. Casou-se nesta vila em 11 de junho de 1855, com a senhora Teresa Jesus da Costa Leite. Em lá mourejando, recebeu dia 7 de junho de 1861, nomeação de professor de primeiras letras, em lugar do titular professor Manuel Antônio Rodrigues de Oliveira, irmão do pedagogo e gramático Filipe Benicio de Oliveira Conduru que não pôde tomar posse por haver sido eleito deputado provincial e entrado no exercício desse mandato. Com a elevação dessa cadeira de primeiras letras do sexo masculino à categoria de segundo grau, ato do presidente da Província de 3 de setembro de 1866, requereu ao vice-presidente da Província um mês de licença sem vencimentos para que pudesse prestar exames para a dita função que já exercia interinamente. Deferida a autorização no expediente provincial de 24 de setembro de 1866, viajou a São Luís e, de acordo com as matérias do artigo 2º, do parágrafo 2º, do Regulamento de Sete de abril de 1861, prestou em 3 de novembro exames no Liceu Maranhense, perante a Mesa Examinadora composta pelos professores Pedro Sousa Guimarães, Sebastião Pedro Nolasco e José Rodrigues. Plenamente bem sucedido, foi nomeado pela portaria de 6 desse mês. No ano seguinte peticionou ao presidente pedindo o pagamento da quantia de cinqüenta réis, pelo tempo em que, como professor público de primeiras letras, demorou em São Luís, para submeter às provas de professor do 2° grau, conforme o ato do Presidente da Província de Três de setembro de 1866. Aprovado sem debates pela Comissão de Fazenda e Orçamento, na sessão da Assembléia Provincial de 13 de maio de 1867, o presidente mandou pagar-lhe. Político com ofício de alfaiate concorreu a uma cadeira na Câmara Municipal de São Bento, na legislatura de 1857 a 1860. Elegeu-se em 7º lugar, com cento e doze votos. Pouco assíduo nas poucas sessões, sem notável desempenho. Voltou às lides políticas, ao candidatar-se deputado provincial, para vigésima segunda legislatura, 1878/1879, eleito pela legenda do Partido Conservador, com duzentos e vinte e seis votos. No Parlamento teve destacada atuação, enaltecida pela freqüência. Eleito membro suplente da Mesa diretora. Por tornar-se intransigente defensor da Educação, foi
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meritoriamente escolhido em segundo lugar, com treze votos, para Comissão de Instrução Pública. Exerceu a suplência da secretaria e membro da Comissão de Câmaras Municipais. Devido sua participação nas causas mais complexas ficou conhecido como um dos “Sete Sábios da Grécia”. Em levantamento a sua atuação de deputado provincial, registra-se o discurso pronunciado a 11 de novembro de 1879 quando assomou à tribuna para defender-se da acusação proferida pelo deputado padre Lusitano sobre a existência, a qual negou, de um convênio entre Conservadores e Liberais, firmado em São Bento, na residência do juiz municipal Dr. Manuel Barbosa Álvares Ferreira, genitor do Dr. Domingos Barbosa. Concluiu, asseverando que o Parlamento devia aproveitar-se do pouco tempo que dispunha para tratar de assuntos importantes, e não esses de menos relevância em discussão. Acusado de recusar-me a fazer serões, aparteado pelo deputado Ângelo Costa que alegou: V. Exª iniciador dos cursos noturnos na Província, recusa-se trabalhar depois da hora marcada pelo Regimento? – Justificou. Sim senhor, V. Exª é testemunha ocular de que estive presente desde o primeiro dia da sessão preparatória em fevereiro, em maio e setembro para dar cumprimento a um mandato daqueles que me conferiram um lugar esta Casa. Nessa época, por falta de “quorum” as primeiras sessões deixavam de funcionar. Os deputados de vilas mais distantes demoravam a chegar. Como deputado ligado à Educação, defendeu a transferência da cadeira de Primeiras Letras do povoado Palmeiras para São Bento. Iniciou a praxe de que os melhores deputados maranhenses, nascidos em São Bento que mais de destacaram em suas legislaturas não conseguem reeleição. São muitos os exemplos. Walbert Pinheiro, Joaquim Itapary, Ibraim Almeida. Homem público, de elevado saber, ocupou destacadas funções na vila. Em 1865, encarregaram-no da vacinação contra bexiga, epidemia que já havia assolado o município em 1835. Coube-lhe convencer a população das vantagens da vacina, então recusada pelo povo que julgava serem-nas produzidas da própria bexiga. Sendo-a aplicada em colégios, tal a rejeição que os alunos deixaram de comparecer às aulas. Nesse ano de 1865, para fomentação do Teatro, associado ao juiz Municipal, Dr. Benedito de Barros e Vasconcelos, aos senhores João Novais Guimarães e ao major Antônio Raimundo de Oliveira Gomes foi um dos fundadores do Recreio Dramático. Com a implantação do Sistema Métrico Decimal, foi em 1873, nomeado aferidor com a responsabilidade de efetuar a conversão das medidas inglesas para as que passaram a viger no ano seguinte. Segundo o “Jornal Imparcial”, de São Bento (1921-924), ele colaborou com o famoso dicionarista de Cândido de Figueiredo, na remessa de vários verbetes regionais. Pelos seus amplos conhecimentos costumava sê-lo concitado para trabalhos mais difíceis, comprovados pela confecção de mapas e documentos emitidos pela Câmara Municipal e outras repartições.
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O Educador. Na verdade teve por grande objetivo a Educação. Seu sonho, sua vocação. O mérito maior desse notável e abnegado educador foi à fundação da primeira escola de alfabetização noturna do Brasil, ocorrida em primeiro de junho de 1868. Para maior brilho a instalação deu-se na casa onde funcionava a famosa Escola Imaculada Conceição, de propriedade do ilustre filho de São Bento, o padre Brito, o futuro Arcebispo de Olinda, Dom Luís Raimundo da Silva Brito. Situava-se na esquina norte/oeste da Rua Deputado José Araújo com a Travessa São José. Para o funcionamento dessa Escola, a qual se propunha lecionar gratuitamente, endereçou a 27 de maio de 1868, correspondência ao senhor presidente da Província, na qual solicitava permissão para fazê-lo e o ressarcimento das despesas de iluminação. Em sete de maio o presidente participou ao inspetor de Instrução interino o recebimento da correspondência. Em resposta, pasme quanto o descaso pela fomentação do alfabetizo é formidável e secular. O Senhor Presidente que tanto quanto muitos outros alardeiam ser a Educação meta prioritária, simplesmente admitiu tão-somente o funcionamento e, sob a estapafúrdia alegação de falta de verba para Instrução Pública, negou pagamento da luz para um educandário que já contava com perto de cem alunos. Como fato positivo autorizou que os alunos dela não fossem convocados para missão policial. Para melhor realce, em respeito às informações já expressas, colhidas do Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, o supracitado jornal “O Imparcial”, de São Bento divulgou, enfaticamente, quando acrescentou que a segunda escola desse tipo (alfabetização noturno do Brasil), somente veio a funcionar no Rio de Janeiro, em 20 de maio de 1871, por iniciativa da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, instituída por Joaquim Antônio de Azevedo, e foi, posteriormente, dirigida pelo ilustre benemérito são-bentuense, nascido em Macapá (Perimirim), o Dr. José Manuel Garcia, professor do Colégio Pedro II. Com respeito à luta pela obtenção de recursos oficiais para funcionamento de sua aula, contou com a simpatia dos deputados Segismundo Gonçalves, padre Carvalho e Pereira Matos autores deste projeto de lei. Assembléia Legislativa Provincial. Art. 1 ° - Fica marcada a quantia de 50 mil réis, anuais para o fornecimento de luzes para a aula noturna de primeiras letras, regida gratuitamente pelo professor público João Miguel da Cruz. Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário. Sala das Sessões da Assembléia Provincial, em 30 de maio de 1868.
Esse projeto de lei foi à Mesa na sessão de cinco de junho, defendido, ardorosamente pelo deputado Segismundo que requereu dispensa das formalidades prescritas pelo Regimento a fim de ser submetido à discussão, isto é, sem os interstícios e a publicação. Aprovado objeto de deliberação para entrar na ordem dos trabalhos. Sessão de três de julho, aprovado sem debates em 1 ª discussão. Em 2ª, sofreu emenda – “suprime-se’. O final quem sabe. Era tão forte seu interesse pela formação educacional do povo que, então professor de primeiras letras, para aproveitar uma verba de 1.000réis, colocada no orçamento
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provincial, na sessão de 19 de junho de 1867, autoria do deputado Dr. Antônio Marques Rodrigues, destinada a construção de uma casa para funcionar a aula de primeiras letras, fez doação de um terreno de sua propriedade, localizado na Rua dos Sapateiros. Com a liberação da verba ou sem ela, bem provável, empenhou-se, com donativos particulares, para edificação da obra, demonstrado neste translado, presente da amiga Miriam Corrêa. Translado. “Auto do assentamento da pedra angular do edifício que com donativos particulares pretende levantar o professor João Miguel da Cruz para nele funcionar a aula pública da vila. Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e setenta e um, aos vinte e três dias do mês de dezembro, sob o Governo Imperial de Sua Alteza a Princesa Regente Dona Isabel, e sendo Presidente da Província do Maranhão o Doutor Augusto Olimpio Gomes de Castro, na Rua dos Sapateiros desta vila e comarca de São Bento dos Peris, onde eu tabelião público fui vindo a convite do professor João Miguel da Cruz, e aí presentes com o mesmo professor o Ilustríssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Comarca Adriano Manuel Soares, o juiz municipal e órfãos doutor Cândido Pereira Lemos, o reverendo vigário Zaqueu Francisco da Penha, o presidente da Câmara Municipal – coronel-tenente Guilherme Luiz de Araújo e Souza, e os professores Filipe Benicio de Oliveira Conduru e Horácio Franklin de Sousa e mais cidadãos abaixo assinados, disse em uma [...] menção o supra dito professor público João Miguel da Cruz que tendo sido encarregado de edificar uma casa para aula pública de primeiras letras, nesta vila, em terreno de sua propriedade e mediante donativos oferecidos por diversos cidadãos, avultando entre estes o doutor Antônio Marques Rodrigues, pedia aos habitantes desta vila que aceitassem para denominação da mesma aula o nome de = Escola Marques Rodrigues a qual terá por protetora à Santíssima Virgem Imaculada, e ao reverendo vigário que benzesse a primeira pedra que tinha de se baixar no fosso que estava preparado para alicerce do edifício, o que fez, dignando-se o Ilustríssimo Senhor Doutor juiz de direito lançar a mesma pedra, depois de benta, no lugar próprio, sendo ajustado pelo mesmo professor Cruz, e o reverendo vigário, sendo testemunhas os cidadãos já acima referidos e os abaixo assinados. De tudo para constar lancei o presente auto que depois de extrair cópias, vai encerrado em uma caixa de madeira, coberta por outra de chumbo hermeticamente fechada, e embutidas na pedra angular do edifício. Eu, Antônio Augusto Corrêa de Castro, tabelião público do Judicial e Notas o escrevi e assinei = Adriano Manuel Soares, Horácio Franklin de Souza = Filipe Benicio de Oliveira Conduru = João Miguel da Cruz = Cândido Pereira Lemos = o vigário Zaqueu Francisco da Penha = Guilherme Luiz de Araújo e Souza = João Posidônio de Oliveira Cruz, Antônio Julião Carneiro = José Mariano Duarte Soares = Francisco Caetano de Azevedo Campos = Francisco Manuel Corrêa = Abdon Cândido de Carvalho = José Narciso Rodrigues Sá Viana Filho = João Custódio Bastos da Penha = Joaquim Francisco de Paula = Carlos Guilherme Lobato = Ângelo Custódio de Melo = Raimundo Sinfrônio Bastos de Oliveira = Custódio Joaquim Lopes de Souza = Olimpio Teodomiro de Carvalho = Manuel José Ferreira da Motta Júnior = Luiz Manuel Ferreira Viana = Luiz Augusto da Rocha Pereira = Antonio Bernardo Pereira Júnior = Justino Augusto da Penha = João Olegário Furtado = Antônio Felicíssimo Ribeiro = Manuel José Ferreira da Motta = Bernardino s Silva Britto = Antônio Florêncio Alves Serrão = Raimundo Manuel Soares Pereira = Felix Valois da Costa Leite = Raimundo Lourenço da Cunha = Antônio Manuel da Costa = Mariano da Silva Brito = Montezuma Alfredo Corrêa de Castro = O tabelião Antônio Augusto Corrêa de Castro. Estava uma estampilha de selo adesivo do
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valor de 400réis competentemente inutilizada em data de hoje por mim tabelião.” Está conforme o auto original a que me reporto e dou fé. Eu Antônio Augusto Corrêa de Castro, tabelião que escrevi e assinei.
Recorri às pesquisas e não descobrir qual a afinidade do Dr. Antônio Marques Rodrigues com nossa terra. Foi justa a sugestão de denominar a Aula com esse seu nome. Pela procuração a seguir, constata-se que o governo reconheceu os benefícios dessa aula, o nomeou para ministrar esse turno e alugou o prédio para esse fim. “Procuração bastante que João Miguel da Cruz. Saibam quantos este público instrumento de procuração bastante que tendo no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil, oitocentos e setenta e cinco, aos trinta dias do mês de julho do dito ano, nesta vila e comarca de São Bento, da Província do Maranhão, em meu cartório compareceram como outorgante João Miguel da Cruz, morador nesta vila, reconhecido pelo próprio de que faço menção; e por ele foi dito, na minha presença e na das testemunhas adiante nomeadas, e no fim assinadas, que esta constituição seus bastantes procuradores na capital desta Província, ao capitão Francisco José Ribeiro, a Vicente Antônio de Miranda e ao capitão Joaquim Raimundo da Silva, aos quais e a cada um “in solidem” dá especiais poderes, quanto em Direito se requer, para que em nome dele outorgante como se presente fosse possam receber do Tesouro Público Provincial os ordenados e gratificações a que ele outorgante tem direito em qualidade de professor tanto da aula diurna como da noturna de instrução primária do sexo masculino desta vila, e para receber também a gratificação que dá a Província para o aluguel da Casa em que funciona a aula, não só o que se acha vencido até esta data como o que se faz vencendo, isto é, tanto ordenados como gratificações, dando os recibos e quitações que lhes forem exigidos, assinando petições, termos, outros e demais que for preciso para o fim indicado; podendo esta substabelecer em um ou mais procuradores tantas vezes quanto forem necessárias e revogar os substabelecimentos; e olvado por ele procurador, ou substabelecido “in solidem”, [ ] haver por firme e valioso por sua pessoa e bens. Assim o disse sendo testemunhas presentes Manuel Pereira Guimarães e João José Martins, que aqui com o outorgante assinaram depois de ouvirem ler, do que dou fé; e são todos conhecidos de mim Antônio Augusto Corrêa e Castro, tabelião que escrevi. (Atas Gerais – 1875-1876, nº 14, páginas 23 v-24)
O interesse do professor Cruz pelo magistério foi uma atividade transmitida e assumida pelos seus familiares. No raiar do século XX funcionou com relevância o colégio de suas filhas, entre elas Matilde Lidia, nomeada em 22 de julho de 1877. Conhecidas por irmãs Joaçabas, cognome usados pelos descendentes, cuja origem desconhecemos. A respeito desse benemérito professor, o advogado Joaquim Silvestre Trinta, cidadão de lúcida e louvável memória, profundo conhecedor da história de São Bento escreveu na Coluna Fatos do Passado, em o “Jornal Folha de São Bento”, de 29 de julho de 1962, notas que lhes foram passadas pelo historiador e professor Opílio Justino Lobato. Trechos: “aqui constituiu família e não foram poucos os são-bentuenses que receberam ensino e aprimorada educação do respeitado mestre, por elevar lá fora o nome da terra. (Foram estes os mais destacados: Olímpio Ferreira, Raimundo Farias de Brito, Sérvulo Joaçaba, Manuel Ferreira da Mota Júnior, Clodomir Cardoso)”.
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Professor Cruz coberto de glórias faleceu em São Bento a 29 de julho de 1995 e recebeu a extrema-unção de seu filho, padre José Marcelino Joaçaba (Padre Cruz), então vigário da Paróquia de São Bento. Certidão de óbitos; “Aos vinte e nove dias do mês de julho de mil oitocentos e noventa e cinco (29/07/1895), nesta vila de São Bento dos Peris, comarca do mesmo nome, do Estado do Maranhão, em casa de Dona Teresa de Jesus Costa Leite Cruz, onde eu oficial interino do registro fui vindo, e sendo aí presente a dita Dona Teresa de Jesus Costa Leite Cruz, e exibindo atestado assinado por Othon Castro e Octavio Ferreira Vianna, pessoas qualificadas, em falta de facultativo declarou: que hoje a uma e meia hora da manhã, faleceu na Rua de São José desta vila, de moléstia do interior, seu marido João Miguel da Cruz, do sexo masculino, de sessenta e três anos de idade, casado com ela mesma declarante, professor jubilado, natural da capital do Estado e domiciliado nessa vila, filho natural de dona Matilde Maria da Conceição já falecida, faleceu sem testamento, deixando do seu consórcio oito filhos os quais são os seguintes: Matilde Lidia Joaçaba (39), Sérvulo Nascimento Joaçaba (33), Raimundo Corsino Joaçaba (29), dona Antônia Luisa Joaçaba (27), padre José Marcelino Joaçaba (25), Joaquim Antônio Joaçaba (23 ), Teresa de Jesus Joaçaba (21). Paulino Franklin Joaçaba (15), e declarou mais que o cadáver vai ser sepultado no Cemitério da Trindade, desta vila. E para constar lavrei este termo em que assino com o padre José Marcelino Joaçaba, pela declarante por não saber escrever, depois de se haver lido. Eu Desidério Francisco da Penha, oficial interino do registro, o escrevi.Cartório 2º Ofício de São Bento – livro 4, nº 65, fls. 80 v.
Desses seus filhos, o padre José Marcelino Joaçaba ou Padre Cruz, vigário, faleceu a 16 de maio de 1900, com 30 anos, com o corpo enterrado na Igreja Matriz do Senhor São Bento, conforme licença do Sr. Presidente da Câmara, vereador Gabriel Pereira Guimarães. Lázaro Joaçaba, guarda-livros, faleceu a 22 de outubro de 1886, antes do pai. Sérvulo Joaçaba, professor particular, faleceu aos 42 anos, em 1/11/1904, localizamos como participante da Mesa Examinadora do Colégio da Professora Eponina Serra Conduru. Casou-se em Fortaleza, com uma senhorita da família Garcia. Segundo conversas ouvidas dos mais antigos, ele era figura simpática, sempre freqüente nos movimentos sócio-cultural. Sabe-se que duas de suas filhas ficaram hansenianas, mal que invadiu lares sem respeitar condições sociais ou econômicas. De há muito é mais uma das famílias sem remanescente no município. Homem honrado e trabalhador morreu pobre. Deixou para viúva Terezinha de Jesus Costa Leite Cruz a pensão de 150 réis, pela Caixa de Beneficência. Depois de tanto tempo em que seu nome caminhava para o esquecimento, para relembrá-lo, o homenageamos com um artigo publicado em “O Debate”, edição de julho de 1995, data do centenário de falecimento. Para reconhecimento maior e mais justo a Academia Sambentuense o tornou patrono da Cadeira n º 3, do Quadro de Correspondentes, fundada pelo confrade José Teodoro Costa Leite. Estas informações foram extraídas dos livros São Bento dos Peris - água e vida, de autoria deste signatário.
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“Procuração bastante que João Miguel da Cruz. Saibão quantos este publico Instrumento de Procuração bastante que tendo no Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil, oitocentos e setenta e cinco, aos trinta dias do mez de Julho do dito Anno, nesta Villa e Comarca de Sam Bento, da Provincia do Maranhão, em meo Cartorio Comparecerão como Outorgante João Miguel da Cruz, morador n’esta Villa, reconhecido pelo próprio de que faço menção; e por elle foi dito, na minha prezença e na das testemunhas adiante nomeadas, e no fim assignadas, que esta Constituição seos bastantes procuradores na Capital d’esta Provincia, ao Capitão Francisco José Ribeiro, a Vicente Antonio de Miranda e ao Capitão Joaquim Raimundo da Silva, aos quais e a cada um “in Solidem” dá especiais poderes, quanto em Direito se requer, para que em nome delle Outorgante como se prezente fosse possão receber do Thezouro Publico Provincial os Ordenados e gratificações a que elle Outorgante tem direito em qualidade de Professor tanto da Aula diurna como da noturna de instrução primária do sexo masculino d’esta Villa, e para receber também a gratificação que dá a Provincia para o Aluguel da Caza em que funciona a Aula, não só o que se acha vencido até esta dacta como o que se faz vencendo, isto é, tanto Ordenados como gratificações, dando os recibos e quitações que lhes forem exigidos, assignando petições, termos, outros e demais que for precizo para o fim indicado; podendo esta Substabelecer em um ou mais procuradores tantas vezes quanto forem necessárias e revogar os substabelecimentos; e olvado (sic) por elle procurador, ou substabelecidos “in Solidem”, [ ] haver por firme e valioso por sua pessoa e bens. Assim o disse sendo testemunhas presentes Manuel Pereira Guimarães e João José Martins, que aqui com o outorgante assinaram depois de ouvirem ler, do que dou fé; e são todos conhecidos de mim Antônio Augusto Corrêa e Castro, tabelião que escrevi. (Atas Gerais – 1875-1876, nº 14, (páginas 23 v-24).
Contribuição do Amigo Pesquisador e Professor Antônio Castelin, Certidão de óbitos; “Aos vinte e nove dias do mês de julho de mil oitocentos e noventa e cinco (29/07/1895), nesta Villa de São Bento dos Perizes, comarca do mesmo nome, do Estado do Maranhão, em casa de Dona Theresa de Jesus Costa Leite Cruz, onde eu official interino do registro fui vindo, e sendo ahi presente a dita Dona Theresa de Jesus Costa Leite Cruz, e exibindo attestado assignado por Othon Castro e Octavio Ferreira Vianna, pessoas qualificadas, em falta de facultativo declarou: que hoje a uma e meia ahora da manhã, faleceu na Rua de São José desta Villa, de moléstia do interior, seu marido João Miguel da Cruz, do sexo masculino, de sessenta e três annos de idade, casado com Ella mesma declarante, professor Jubilado, natural da Capital do Estado e domiciliado nessa Villa, filho natural de dona Mathilde Maria da Conceição já fallecida, falleceu sem testamento, deixando do seu consorcio oito filhos os quais são os seguintes: Mathilde Lidia Juaçaba (39), Servolo Nascimento Juaçaba (33), Raimundo Corsino Juaçaba (29), dona Antonia Luisa Juaçaba (27), Padre José Marcelino Juaçaba (25)., Joaquim Antonio Juaçaba (23 ), Theresa de Jesus Juaçaba (21). Paulino Franklin Juaçaba (15), e declarou mais que o cadáver vai ser sepultado no Cemiterio da Trindade, desta Villa. E para constar lavrei este termo em que assigno com o Padre José Marcelino Juaçaba, pela declarante por não saber escrever, depois de se haver lido. Eu Desiderio Francisco da Penha, Official interino do registro, o escrevi.
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“BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, Pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Sócio efetivo – Cadeira 40 vazleopoldo@hotmail.com DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Professora de História – CEM “LICEU MARANHESE” SOBRE JOÃO TAVARES 124 Clóvis Ramos (1986; 1992) 125 ao analisar o surgimento da imprensa no Maranhão, afirma ser jornalista o magnífico João Tavares com sua Informação das recreações do rio Munim do Maranhão. Em seu roteiro literário do Maranhão (2001) 126 ·, refere-se a João Tavares como: “... cronista, professor de humanidades e filosofia, missionário. Padre da Companhia de Jesus, nascido no Rio de Janeiro a 24 de setembro de 1679, chegado ao Maranhão, e catequizando índios, os tremembés, arrebanhou-os em aldeias, fundou a cidade de Tutóia. Faleceu no Maranhão em onze de julho de 1744. Deixou manuscritos valiosos, interessado em explicar, também, o nome Maranhão e o fenômeno das pororocas, que o fascinava. No Dicionário histórico e geográfico da província do Maranhão de César Marques, no verbete Maranhão, vem mostrado como um escritor original, de prosa poética. (RAMOS, 2001, p. 3-4).
Esse Autor, baseado em César Marques127, e citando como bibliografia: Breve descrição das grandes recreações do rio Munim do Maranhão, 1724, passa a transcrever o que consta das páginas 454/455 daquele dicionário: “AS POROROCAS DO MARANHAY “Foi de indústria, por dar gosto a Vossa Revma. que, como tão perito na língua brasílica, folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por boca e por escritos antigos, sobre nunca assentarem em nada de quanto disseram nada tem fundamento no meu fraco entender. Veja os antigos manuscritos da missão. “O padre Bartolomeu Leão, da Província do Brasil, reformador do catecismo da língua brasílica, me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me 124
SOUZA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís : Fundação Cultural do Maranhão, 1977, p. 56-57 125 RAMOS, Clóvis. OS PRIMEIROS JORNAIS DO MARANHÃO – 1821 - 1830. São Luís : SIOGE, 1986; RAMOS, Clóvis. OPINIÃO PÚBLICA MARANHENSE (1831 a 1861). São Luís : SIOGE, 1992. 126 RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO – Neoclássicos e Românticos. Niterói : (s.e.), 2001 127 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO – GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 3ª ed. São Luís : (s.e.), 1970.
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avistasse com o padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma brasílico, soubesse dele o que sentia nesse ponto. Ambos morreram ignorantes do que aqui quero dizer, e nunca o dissera sem ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhay. Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos e de um substantivo. Os verbos são maramonhangá, que significa brigar e anham que significa correr (até aqui atinava o dito Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra ou letra que significa água, e ainda tirada de Maranhão por corrupção de palavra, assim como estão infinitos nomes da língua brasílica corrupta pela pronúncia dos portuguese. “Nesta palavra não podia atinar o padre Leão sem ver ou lhe disserem o que passa pelo Maranha. Deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava que são as pororocas, cujo aspecto é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay – água que corre brigando. Perguntar-me-hão pois porque não se chama o Maranhay pororoca; respondo que pororoca é a palavra que explica o que se ouve; parece-me que se compõe da palavra opõe, que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan, que significa roncar continuamente, como o mar; ou é palavra simples, feita pela freqüêntativa, tirada sempre do verbo opõe. De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar ou estalar, de onde do que se ouve se chama aquela fúria das águas – pororoca; e do que se vê se chama todo este Estado – Maranhão”. (RAMOS, 2001, p. 3-4; MARQUES, 1970, p.
437). Realmente, César Marques àquelas páginas refere-se às pororocas do Rio Munim, mas a descrição é outra, como se observa: “O Padre João Tavares na carta já alegada dá dêste fenômeno da pororoca uma tão poética descrição, que nos pareceu que sem ela não ficaria bem acabado êste maravilhoso quadro: - ‘Enquanto a maré vaza tudo vai em paz; em enchendo começam a pelejar em um lugar a enchente, que vem do oceano, com a vazante, que vem dos ditos rios (Mearim e Pindaré). O lugar desta peleja dista da barra dos dois rios como vinte léguas. Briga ali a enchente com a vazante, sem a maré passar daquele lugar para diante por espaço de tr6es horas. Nestas três horas toma a enchente fôrça, e nas águas vivas toma maior fôrça; forma grande pé atrás, alteia sobre a vazante à maneira de dois homens, que estivessem forcejando peito a peito, e um dêles vencendo levasse o outro abaixo de costas; assim vence a enchente, que naquele lugar só alterca por três horas, e no instante que cavalga sobre a vazante dá tal estouro, e continua com tal urrar, e corre com tal violência com três marés, ou três serras de águas, lançando para trás a modo de guedelha branca desgrenhada uns fios de água, acometendo a tudo quanto é baixo com tal fúria , que parece vai a ofender a seus contrários, ou a acudir a algum descuido da natureza, arrancando árvores, derrubando ribanceiras e cobre em três horas tudo quanto havia a cobrir nas seis ordinárias de uma maré. Daqui vem vazar a maré até onde se forma a pororoca nove horas, e daí para cima enche em três horas.” (MARQUES, 1970, p. 455).
Prossegue César Marques a descrição da pororoca - não encontrada no texto da “Breve descrição...” abaixo transcrita – como se fosse daquela carta. Como a cópia que tenho, em microfilme, é cópia de outra, conforme consta no final do texto128; é de se 128 “Esta Relação foi tirada de uma carta que o Padre da Companhia João Tavares, Missionário no Maranhão escreveu ao seu Visitador Geral o Padre Jacinto de Carvalho no ano de 1724. - “Biblioteca Pública Eborence “Códice CV 1 = 7 = a folha 165”.
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supor que no original do Padre Tavares houvesse as explicações citadas: “Restava agora examinar a causa desta extraordinária vagância das águas, a qual vi, e repetidas vêzes tornei a ver, sem nunca chegar a perceber a sua verdadeira causa. Ocorria-me que o pêso das águas doces pugnando com as salgadas, depois de grandes pugnas, vinha a vencer a fôrça das águas do mar, e com fôrça do receio que tinha tido naquela pugna, rompia naquele extraordinário ímpeto. Porém contra isto está que em muitos, ou em todos os mais rios não faz êstes efeitos, e só são particulares no Estado do Maranhão, onde os há só aqui e nos rios Mearim e Pindaré perto da cidade de S. Luís do Maranhão; e também se diz há uma pequena pororoca no rio Guamá perto da cidade do Pará e nos mais rios nada, nem nos da Europa e outras partes, e só conta a mesma maravilha no Rio Ganges da Índia. Além do que observa-se no curso da dita pororoca que em muitas partes e rios largos sucede correr primeiro uma margem e depois descer pela outra por modo de redemoinho, correndo ao redor quantas canoas encontra, e acabando isto vai surgir mais acima, continuando o mesmo ímpeto com que principiara, de que se convence Ter outra causa êste movimento tão extravagante. Faz um grande estrondo o mar da pororoca, e se ouve em uma légua de distância; comove também os ares em forma que sempre a precede um grande vento comovido dos mares dela. “Isto é o que observei; deixo a outros o discurso das suas verdadeiras causas”. (p.
455). Ainda do que consta do Dicionário... de César Marques, no verbete História (p. 372-376), ao relacionar as obras disponíveis do Catálogo dos Manuscritos da Biblioteca Pública Eborence, onde foram colhidas notícias de diversos manuscritos sobre as coisas do Maranhão, encontrando-se entre aqueles uma: “- Breve descrição das grandes recreações do rio Monim do Maranhão, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, missionário do dito Estado – 7 fôlhas em quarto” (p. 375). Às páginas 437/448, sob o verbete Maranhão, César Marques passa analisar a etimologia desse nome Maranhão, com base em textos disponíveis e explicações apresentadas. Afirma aquele autor que, para servir de contrapeso às hipóteses de algumas destas pretendidas etimologias 129: “... acrescentaremos outra opinião, que se não for a verdadeira terá ao menos o mérito de ser fundada em inéditas indagações sobre a língua brasílica. O Padre João Tavares não escreve na sua carta Maranhão, mas sim Maranhay, do que dá a seguinte satisfação - ...” (p. 437).
transcrevendo o que Clóvis Ramos (2001) trás como sendo das páginas 454/455 daquele Dicionário, acima já transcrito ... Ainda à página 438, e ainda referindo-se ao estado do Maranhão, traz que: “O alegado Padre Tavares, para quem o país era tão familiar, escreveu na carta sobredita o seguinte: ’Dizerem os cronistas que há aqui um rio, que se chama
129
Estas são comentários de João Francisco Lisboa, em seus Apontamentos para a história do Maranhão; de um jornal português, Panorama vol. 3, 1939, retirado da obra Maranhão conquistado a Jesus Cristo e à Coroa de Portugal pelos religiosos da Companhia de Jesus; do livro do padre Manoel Rodrigues, Marañon y Amazonas, dentro outros, que reproduzem estes textos (MARQUES, 1970, p. 437)
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Maranhão, do qual tomou a denominação todo o Estado, é para mim consideração 130 pia, que eles fizeram. E, se não, digam-me: onde está esse rio ?’” .
Já o sociólogo Rossini CORRÊA (1993)131, comenta uma carta de João Tavares a um superior seu – seriam as “Breves descrições...” ? -, descrevendo a paisagem da Ilha de São Luís, ante a chegada possível de missionários europeus ao Maranhão. Afirma que aqueles religiosos deixariam as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhão, conforme consta das “Breves descrições...”, tecendo os seguintes comentários: "Como na Ilha Grande foi decantada pelo espaço contrário aos trabalhos (os quais, no mínimo, resguardaria) antieticamente haveria de apresentar expressiva contenção de exercícios corporais, enquanto expressão de labuta, de fadiga e de descanso decorrentes de diligência em atividade física. Permitiria - na contrapartida da terra de gente excepcional - a alternativa das recreações para o cultivo e o requinte do espírito. Desdobrado da hipótese das recreações coletivas, o raciocínio desenclausurado outro não é, senão o de que, no Maranhão, seria comunitária a amizade pelas luzes, pela razão, pela sabedoria etc., considerada a educação do pensamento e do sentimento um fragmento indispensável das recreações." (40). “A afirmativa do padre João Tavares foi riquíssima, porque vaticinou uma permuta - as delícias (da Itália) pelas recreações (do Maranhão). Sociologicamente significativa, haja vista que, na substituição, as delícias européias não terminariam trocadas pelos trabalhos americanos. Ao contrário, o fundamento do intercâmbio seria a validade indicada como vantajosa - a das recreações maranhenses." (p.
39). O Padre jesuíta João Tavares é considerado o fundador da cidade de Tutóia - Ma; era natural do Rio de Janeiro, onde teria nascido a 24 de setembro de 1679. Viera para o Maranhão como mestre de Filosofia e Teologia, tendo ensinado também Gramática. Foi Vice-Reitor do Colégio132. Cumprida sua missão, deram-lhe opção de voltar ao Rio de Janeiro, não a aceitando, por amor aos Teremembés. Faleceu em São Luís, em 11 de julho de 1743 – (ou 44, segundo Ramos, 2001). Os Teremembés dominavam vastas regiões do norte maranhense – região dos Lençóis e Delta do Parnaíba -; o governo manda uma expedição, em 1679, sob o comando de Vital Maciel Parente; encontrando um troço de índios, estes são dizimados – mais de 300. Somente em 1722, se efetuaria a redução desses índios, por obra do Pe. 130 131
Alguns autores trazem esse rio como sendo o Mearim
CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: o presente de uma arqueologia. São Luís : SIOGE, 1993 132 O Colégio de Nossa Senhora da Luz, em curto espaço de tempo, tornou-se excepcional centro de estudos filosóficos e teológicos da ordem no Estado (universitate de artes liberais). Era o que melhores condições de estudos oferecia. Já em 1709, o Colégio do Maranhão era Colégio Máximo, nomenclatura usada pelos discípulos de Loyola para seus estabelecimentos normais de estudos superiores. Nesse colégio funcionavam as faculdades próprias dos antigos colégio da Companhia: Humanidades, Filosofia e Teologia, e, mais tarde, com graus acadêmicos, no chamado curso de Artes. Os estudos filosóficos compreendiam: no 1º ano, Lógica; no 2º, Física; no 3º, Matemática. O Colégio Máximo do Maranhão outorgava graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, como se praticava em Portugal e na Sicília, segundo os privilégios de Pio IV e Gregório XIII. Dentre os estabelecimentos de ensino dos jesuítas, as Escolas Gerais ocuparam um lugar de destaque, pelo fato de terem tornado o ensino popular ao alcance de todos. (CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís : SIOGE, 1990, p. 36).
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João Tavares, cognominado Apóstolo dos Teremembés. O próprio padre descreve os costumes daqueles índios marítimos, definindo-os como “peixes racionais”. Em 1724, o missionário pediu, e obteve duas léguas de terra e a ilha dos Cajueiros. Teve problemas com fazendeiros – três irmãos e um primo, que a invadiram, para criação de gado – e, não conseguindo resolvê-lo com o Governador – que também tinha interesse na região, retirando índios para seu serviço -, recorreu a El-Rei, que deu ganho de causa ao missionário e exigiu que se cumprissem as condições do aldeamento: servir aos brancos nas pastagens de gado vacum e cavalar e garantir para a Coroa a vigilância daquela faixa marítima. O padre comprou os gados introduzidos irregularmente aos fazendeiros. A missão chamou-se Nossa Senhora da Conceição. Em 1730, contava com 233 índios ainda pagãos, que aprendiam a doutrina. João Tavares situou a aldeia nas praias dos Lençóis, onde faz barra principal um dos braços do Parnaíba, chamado Santa Rosa e também Canal de Tutóia. César Marques (1970), no verbete Tutóia, de seu Dicionário..., informa serem os índios Trememés (sic), os mais bem figurados, valentes e prestimosos que tinha a Capitania, segundo o pensar do Governador Gonçalo Pereira Lobato e Sousa – 1753/1761. Esses índios tinham, em 1727, no tempo do Governador e Capitão-General João da Maia da Gama – 1722/1728 -, duas datas de seis léguas de terra, as quais foram medidas e demarcadas à custa dos mesmos índios. Prossegue: “Pouco tempo era passado quando das bandas da Parnaíba vieram uns homens que foram situando aí fazendas de gado vacum e cavalar, e sucitando-se questões entre eles, os índios os expeliram, e um jesuíta, que lá vivia em muita intimidade, com o fim de terminar tais pendências, comprou aos seus legítimos donos o gado existente, e de então por diante ficaram os padres da Companhia possuindo como suas as terras destes índios.” (p. 622) (grifos meus).
César Marques não traz João Tavares como o fundador de Tutóia, nem o identifica como o jesuíta que vivia entre os Teremembés - embora fosse conhecido como o Apóstolo desses índios -, o mesmo ocorrendo com CARDOSO (2001)133, que apresenta a descrição dos 217 municípios maranhenses. Às páginas 572-581 traz a descrição de Tutóia, basicamente transcrevendo do que consta no Dicionário de César Marques, não fazendo referência, também, a João Tavares... João Tavares, padre da Companhia de Jesus, é o autor da “Breve descrição das recreações do Rio Muni do Maranhão, pelo João Tavares da Companhia de Jesus missionário, do dito estado. 1724”. A seguir, transcrição do manuscrito disponível no Arquivo Nacional, Divisão de Manuscritos 5, 3, 24 134: 133 134
CARDOSO, Manoel Frazão. Tutóia. In O MARANHÃO POR DENTRO. São Luís : Lithograf, 2001, p. 572-582.
Os Autores tomaram conhecimento desse texto de João Tavares quando da elaboração de artigo intitulado “’Pernas para o ar que ninguém é de ferro’- as recreações em São Luís do Maranhão, no período imperial”, estudo segundo colocado do Prêmio “Antônio Lopes” de Pesquisa Histórica, do Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, 1995, quando se referiam aos jornais que se dedicavam ao lazer, instrução, literatura e artes, editados nos primórdios da imprensa maranhense. A primeira referência encontrada foi em Rossini Corrêa, logo depois em Clóvis Ramos; após cerca de dez anos de buscas – Biblioteca Pública Benedito Leite, Arquivo Público do Estado do Maranhão, Biblioteca Nacional e no próprio Arquivo Nacional - quando tomaram conhecimento da conclusão do levantamento dos manuscritos disponíveis – junho de 2003 – fez nova consulta, dando-se-lhe conta de que havia uma
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cópia dentre aqueles documentos. Mandaram buscar, então, cópia; adquirida através de suporte em microfilmagem (custo: R$ 40,00), fotocopiada na Biblioteca Pública Benedito Leite (custo: R$ 78,00!). A microficha foi doada ao Arquivo Público do Estado do Maranhão...
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“BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, missionário no dito Estado, ano 1724”. 135 “São as águas deste Rio tão salutíferas que seis dias purgou com suavidade, a quantas por ele navegamos. Toda a margem deste Rio é de claras areias, em partes descampadas, em parte rendadas em aprazível selva, em partes cobertas de arvoredos copado, em partes cortados de água e lamenta, a que chamam os naturais igarapé, em partes com ribanceiras de altura de dez palmos, de cima das quais desfazem de quando em quando torrentes de frias águas da grossura de um homem encorpado com suave sussurro, a que chamam os naturais tororoma136. “Pelas costas das margens do Rio se levantam grossas árvores entremeadas em parte de vistosas palmeiras entremeadas com as celebres Baunilhas, droga hoje tão apreciada para sal do chocolate, e como rezam; pois é tal a sua graça que não há fera nem aves que a não procure. “Entre tanto recreativo arvoredo se viu de espaço a espaço umas árvores a que chamam Visgueceyras estas se levantam sobre o mais arvoredo, como para serem vistas, com uma ástea branca, direta, sem algum outro ramo por toda a astea. Querendo armar a copa, cruza dois braços como fez Jacob, sobre eles forma toda a copa maneiras de uma meia laranja com 50 e tantas braças de circuito. Acima desta abóbada não se verá umas folhas mais altas que a outra; o mais curioso jardineiro não tosquiará uma muito mais esfericamente. Não brota fruta alguma pela rama, como o comum das árvores; toda a sua recreativa fruta, esta por baixo da copa, tão igual no comprimento toda pendente, que se pode pegar uma régua pelas extremidades sem que toque com alguma demora, cada fruta terá palmo e meio de comprimento tornando à maneira de bilros de fiar rendas, finíssima sobre o delgado no pé, em grosso proporcionalmente para o meio, torna a abaichar para fazer garganta, inha para fazer cabeça, e a cubra em ponto rombuda. “O que mais eleva a atenção que depois de tanta coerência, e igualdades do sujeito, se veja tanta incoerência incidentais, por que em uma árvore se vê toda a fruta de verde claro: em outra a fruta cor de carmesim, em outra toda a fruta de verde escuro; em outra toda a fruta variada de verde claro, verde escuro e de cor escarlate. Tanto me arrebatava na vista destas árvores que em aparecendo alguma já me chamávamos Soldados para me darem a recreação de a ver em antecipada recompensa das vistas, que ao depois me deva para chorar. “A largura deste Rio será como de vinte braças, por minha estimativa terá 200 léguas até a nascença. O peixe, as aves, a caça, e o mel, há em grande abundância. Enquanto navegamos, saiam a terra 10, 12, soldados pelas oito horas da manhã, pelas dez da mesma manhã os avistamos lavando-se a beira do Rio; tomávamos ali ponta, a bondade de meu Deus.
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A transcrição do documento foi feita pelos Autores, e revista por Jairo Ives de Oliveira Pontes, professor de História do CEFET-MA; e Heitor Ferreira Carvalho, professor de História, técnico do Arquivo Público do Maranhão, a quem os Autores agradecem. 136 Tororoma – do Tupi, corrente fluvial forte e ruidosa (Jairo Ives de Oliveira Pontes, comunicação pessoal)
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“Ali vi porcos monteses, veados de várias castas, antas de tamanho do maior capado, tamanduá uaçú, como uma vitela tatupeba vestido verdadeiramente de armas brancas; ali vi os pobres dos macacos, espretados tão sisudo, como defuntos. Voltei os olhos para as aves e ali vi o Nambyaçú, gênero como de Perdiz comum peito de carne com entrecascas, como cebola em tanta quantidade que debulhamos os entrecascas encheram um prato ordinário. É esta ave mui escassa por falhar, sura 137 vistosa bem armada, voa como a Perdiz, mas a grandeza, que chega a de uma Pavoa, faz que d6e grande baque quando pousa e que não se esconde quando pretende põem 12 ou 15 ovos de azul celeste do tamanho dos da Pavoa; chamo-lhe a gênero como da Perdiz, por ser o maior do qual tenho visto oito espécies de perdizes. Tem o 2º lugar macacauã, o qual canta infortunadamente como o galo, `meia noite formando silabas da maneira que o galo forma quatro. Tem o 3º lugar a perdiz verdadeira assim chamada por ser assim em tudo semelhante a da Europa. “Segue-se o Namby por antonomasia, cujos ovos são da cor de rosa, impertinentes no falar, e aonde muito ao remedo. Segue o piscoapa que será como uma franga de quatro meses. Segue-se o Nambú pintado de branco, com friso, e pé encarnado. Segue-se uma espécie, que agora estando escrevendo falou junto a minha choupana. Fui a o ver, ele se escondeu a erva de sorte que o não cheguei a ver. Disseram-me estes Tapuias que era como uma franga. Segue-se a Tureirina que é como uma rola, a que canta às Avemarias, meia noite e ao amanhecer. “Ali vi os Mutuns pouco menos de um peru, Huns de crista cor de coturno e penacho negro, e encrespado, outros de crista amarela e penacho; as fêmeas são pintadas de branco, e negro, com lavores como primaveras com penacho crespo, e pintado de branco e preto; metia compaixão ver essa ave morta, se bem que sabe bem de qualquer sorte guisado. Ali vi as Jacutingas pouco menores que os Mutuns. Ali vi os Jacumins tão estimados por serem as penas contra o ar, por se demesticarem bem, pela galanteria com que a todos de casa faz festas todas as manhãs pela comparação com que em vendo as galinhas com pintos os furta todas às Mães, e os cria com grande cuidado; no mato dá sinal às 8 horas da noite, a meia noite, e de madrugada. Ali vi o Turu, ave como um franganete, com crista de galo, anda em bandos, cantam juntos a tarde, e de madrugada. Foi o que vi de caças, e aves nesta vez, em outras vezes vi outras castas, perdoando os caçadores as vezes, e caças de menor grandeza, como as pacas, cantam juntos à tarde e de madrugada. “_______ Pacas, quatis, Acutio, Araras e papagaios prombo, trocas, etc “Sentei-me a ver aquela benção do Altíssimo, e me esqueci de quantos trabalhos tem esta miserável vida. Vendo-me os soldados absorto, a mim que tenho visto todo sertão desde o Rio de Janeiro até o Maranhão, disseram-me: mais se admirará R. Padre se por aqui viaje quando o Verão oferta mais e faltam águas pelo sertão, e vêm caça e que habitar a beira do Rio. Ferviam os caldeirões e fervia o peixe a comer os fragmentos da cozinha. Lançavam os Soldados uma tripa crua de porco montês dentro da água, e logo pularam e nele vinham e nela vinham pegadas as Piranhas, a duas e a quatro, de sorte que em vinte credos enchiam um cagete de peixe. São estas Piranhas do tamanho, cor e figuram de um panpasso pequeno. As deste rio são gostosas, brancas, de carne alva, e gordura cor de azeite. Chamaram-lhe os naturais piranha,
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do Tupi, panturrilha (Jairo Ives de Oliveira Pontes, comunicação pessoal)
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que no seu idioma quer dizer tesouras por que são mui mordazes, e corta o seu dente de sorte que nada agüentará que não tema a piranha. “Deixo de usufruir o delicioso Manduba, Mandim Açú, ______ leitões da água doce. “Não é alheio dessa relação, nem de fim dela, dizer que tem esta Ilha do Maranhão a forma de uma cobra em arco, cuja cauda é a ponta de areia onde está até a Fortaleza da barra, e cuja cabeça é aquele negro boqueirão o qual está olhando para a cauda por entre cuja cauda e cabeça entram para o ventre desta Serpente, onde está situada a Cidade do Maranhão: serve de crista postiça a esta cobra a Ilha das Cobras, por entre a qual e o boqueirão tão medonhamente passamos a buscar a terra firme. Esta fazendo ponta em Itaculumin, dá um cerco a aquela cobra de trezentas e tantas léguas na minha estimação até a ponta do Mearim; Meari Itaculumin são duas pontas da grande meia lua que faz a terra firme para dentro deste meia-lua absorvem a cobra, ou Ilha do Maranhão para cujo efeito abre a terra firme set horrorosas bocas dos sete famosos Rios que deságuam ao redor da Ilha do Maranhão: para a parte da cabeça até as costas da cobra lança a terra firme os quatro maiores Rios, convém a saber: Pinaré que para Ter mais força deságua unido com o Meari, Itapecurú, Muni; destes quatro rios não sabemos a nascença ainda dos três primeiros; para a frente do meio da cobra, até a cauda, lança a terra firme três deliciosos rios; convém a saber Tutuaba, Anajatuba, Periá, destes três sabemos as nascenças, mas de nenhum dos sete sabemos os haveres dos seus incultos exteriores. Só sabemos serem habitados por homens, feras, ferozes; serem de terras pingues cercados para fora de amenas e férteis campinas sobremodo as quais = fluunt Lacte et mele = sem exageração; sertões frios, e por isso sadios. “O quanto excedem estes sertões no saudável aos do Pará, assim foram seus habitadores mais um pouco macios. Quantas vezes navegando por estes Rios, dizia como magoa do meu coração: ahi! Senhor, não sois ainda servido de povoan estes Rios de missões, certos que se isto se chegasse a conseguir como se vai dispondo deixam os Religiosos as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhay. “Terá Vossa Reverendíssima reparado na ortografia com que escrevo a palavra – Maranhay – contra o comum. Foi de industrias por dar gosto a V.R. que como tão perito na língua Brasílica folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por bocas e por escritos antigos, e sobre nunca assentarem em nada, de quanto disseram, nada tem fundamento no meu fraco entender; Vejam-se os antigos manuscritos da missão. O Padre Bartolomeu Leão da Província do Brasil, reformador do Catecismo da língua Brasílica me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o Padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma Brasílico, soubesse dele o que sentia neste ponto; ambos morreram ignorantes de que aqui quero dizer, e nunca o disseram ser ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhãy: Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos, e de um substantivo, os verbos são MARAMONHANGÁ, que significa brigar; e anham que significa correr (até aqui atinavam desta padre Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra, ou letra, que significa água, e ainda tirada da palavra Maranhan, por corrupção da palavra, assim como estão infinitos nomes, da língua Brasílica corruptos pela pronúncia dos Portugueses: nesta palavra não podia atinar o Padre Leão sem ver
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ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay; deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava, que são as pororocas; cujo efeito é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, água que corre brigando. Perguntar-me-ão, pois por que não se chama Maranhay, pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que descreve; parece-me que se compõem da palavra opõe que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan que significa roncar continuamente, como o mar. Ou é palavra simples feita freqüentativa, tiradas sempre do verbo opõe. 138 “De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar, ou estalo donde do que se ouve se chama aquela infernal fúria das águas pororoca e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay. 139 “Dizem os cronistas que há aqui um Rio que se chama Maranhon, do qual tomam a denominação todo o Estado é para mim consideração para que ele fizeram. E se não digam-me onde está este Rio ? 140 “Já que entretive a Relação com estas curiosidades mais próprias para Crônica, quero dizer o que entendo da fundada da pororoca ou causa dela. É de saber que como estas terras são tão rasas visivelmente se se vê a terra abaixando do sertão para o mar, isto se vê sem embaraço de duvidas no Rio Itapecurú pelo qual quem vai navegando vê ao longe terra alta de uma a outra parte. Chega ao lugar em que mascara a terra alta e a vê a rasas como a de donde marcar a tem alta. “Deste mesmo lugar já demarca outra tem alta, e chegando a dela terra tão baixa ao parecer como o de donde demarcara terra alta, e assim todo o Rio até onde chamam as areias. “Donde a vir descendo a terra para o Mar de quatro centos e mais léguas. Faz que venham as águas com peso. Para mais peso sobre o Rio Pinaré e Rio Meari; por uma mesma faz, unidos estes dois grandes pesos d’água, acham o mar em que deságuam encanado com meia légua de largura. Por esta meia légua de mar, saírem estes dois Rios Pinaré e Meari, até chegarem e faz, que se forme entre a Ilha dos Caranguejos, e a terra firme. Em quanto a maré vaza tudo vai em paz em a maré enchendo começam a pelejar em um lugar a enchente que vem do Oceano com a vazante que vem dos ditos Rios, o lugar desta peleja dista da barra dos dois rios com vinte léguas; brigam ali a enchente com a vazante sem a maré passar daquele lugar para diante por esforço de três horas. Nestas três horas torna a enchente força e nas águas vivas torna maior força; Forma grande pé atrás alteia sobre a vazante, a maneira de dois homens que estiveram forcejando peito a peito e um deles vencendo levasse o outro a largo de costas, assim vence a enchente, que naquele lugar só alterca por três horas e no instante que cavalga sobre a vazante dá tal esturro, e continua com tal urrar, e corre com tal violência com três marés ou três serras d’água lançando para trás a modo de gadelha branca desgrenhada uns fios de água, acometendo a tudo o que há com tal fúria a que parece vai a ofender a seus caminhos, ou a acudir a algum da Natureza, arrancando árvores, derrubando ribanceiras, e cobrem em três horas tudo quanto havia cobrir nas seis ordinárias de uma maré.
138
Comparar este trecho com a descrição em Ramos, Clóvis, 2001, acima. Comparar este trecho com a descrição em Ramos, Clóvis, 2001, acima. 140 Comparar este trecho com a descrição em Marques, César, 1970, acima. 139
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“Daqui vem vazar a maré até onde se forma a pororoca nove horas e daí para cima enche em três horas. Deixada aqui estas notícias, e continuando minha navegação pelo Rio Muni acima. 141 “Esta Relação foi tirada de uma carta que o Padre da Companhia João Tavares, Missionário no Maranhão escreveu ao seu Visitador Geral o Padre Jacinto de Carvalho no ano de 1724. “Biblioteca Pública Eborence “Códice CV 1 = 7 = a folha 165 “Nota: neste doc. Vem sempre escrita “Maranhay” em vez de Maranhão.”
141
Comparar este trecho com a descrição em Marques, César, 1970, acima.
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VITÓRIA DO MEARIM, TESTEMUNHA E PARTÍCIPE DA HISTÓRIA REMOTA DE GRAJAÚ WASHINGTON CANTANHEDE Cadeira 58, patroneada por Parsondas de Carvalho Ocupante da Cadeira n. 5 da AVL: Ppatrono: Senador Lopes Gonçalves E-mail: wlmcant@terra.com.br
Maior afluente do Mearim, e desaguando neste não muito acima do Arraial da Vitória, o Rio Grajaú, como o chamavam os sertanejos sul-maranhenses, ou Grajaú, como então o denominavam os habitantes do norte do Maranhão, até 1811 não banhava nenhum povoado, ainda que pequeno, senão fazendas que o margeavam, esparsamente, nos seus alto e baixo cursos (sertão e Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim). Com efeito, debalde foram os esforços que se fizeram durante séculos para subjugar os índios indomáveis que habitavam aquelas terras e, em razão disso, conquistá-las, povoando-as e explorando-as. Mas a ocupação das terras banhadas por esses dois rios era um obstáculo a transpor sem demora, sob pena de regredir ou estagnar o esforço colonizador ao longo de séculos. O governo, embora não incentivasse materialmente além da concessão das sesmarias, exortava à ocupação e ao desbravamento, oficialmente. Os sesmeiros, por seu turno, precisavam encontrar meios de garantir-se, de modo a fixar residência nas terras obtidas e/ou torná-las produtivas. Isso exigia, principalmente, a organização de núcleos populacionais que se fizessem notados pelo governo, a fim de obter algum status político e a conseqüente e necessária assistência (eclesiástica, militar, judiciária etc.), até para desestimular ou melhor repelir os ataques dos índios, que continuavam a ocorrer com freqüência, a exemplo do acontecido na Ribeira do Mearim, na fazenda de Antonio Felipe de Meireles, de tradicional família local. Em 1804, aquela fazenda foi atacada pelos índios gamela, aos quais se juntaram negros fugitivos, resultando da ofensiva a morte de vários escravos da propriedade, ficando outros feridos – início de uma seqüência de ataques a roças, com mortes e lesões corporais naquele ano, ensejando diligências por parte do governo para reprimir a sublevação. No mesmo ano, o governador e capitão-general Antônio de Saldanha Gama reconhecia que estas terras eram “de excelente qualidade, porém infestadas por imensa quantidade de nações selvagens”, problema cuja resolução ele preconizava com pouco ônus para a Coroa: “podia ser concedida parte delas, dividida em porções competentes, a dois ou três vizinhos, para que juntos se pudessem defender mais seguramente do fraco porém atraiçoador inimigo, e dando-se até uma boa escolta de tropa, ficariam assim sem receio, hábeis para tratar da sua lavoura”. A partir de 1811, todavia, essa realidade, assim como a das terras do Grajaú, seria alterada e o Arraial da Vitória seria ator e testemunha desse processo de mudança. A mudança não viria, contudo, num primeiro momento, por determinação da Metrópole ou decisão do governo local. Seria fruto de decisões dos próprios moradores, movidos por seus interesses imediatos. Uns, sob os influxos da cruz, piamente, como no caso dos moradores da paragem Arari, que se mantinha, como as demais localidades existentes na região, inexpressiva até o início do Século XIX, com cerca de três residências
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contadas no ano de 1803. Outros, arrostando as dificuldades e os perigos da natureza, bem como repelindo os ataques e aniquilando a resistência do elemento autóctone, sem pejo de desembainhar a espada. No dia 5 de agosto de 1811, em que se deu o traslado da imagem de Nossa Senhora da Graça, da igreja matriz de Vitória do Mearim para a capela recémconstruída pelo português Lourenço da Cruz Bogea e por outros moradores do lugar Arari, teve início, oficialmente, a vida política daquele povoado. Afinal, o que faltava, fator de desenvolvimento do culto divino e, conseqüentemente, de aglutinação humana, fora suprido, de forma que, em 1820, já contava 22 casas. Em 1858, seria elevado à condição de paróquia; em 1864, à de município; e em 1960, à de comarca – sempre se desmembrando de Vitória do Mearim, a velha terra-mãe, paróquia desde 1723, município desde 1833 e comarca desde 1872. No alto curso do Rio Grajaú, em princípio dos anos 1800, Manoel Valentim Fernandes mantinha a fazenda denominada Chapada, visitada, em novembro de 1809, por Sebastião Gomes da Silva Berford, conforme registrado por ele em seu Roteiro e Mapa da Viagem da Cidade de São Luís do Maranhão até a Corte do Rio de Janeiro, viagem que fizera entre 1809 e 1810 (livro publicado pela Imprensa Régia, ainda em 1810, no Rio). Manoel Valentim Fernandes era um daqueles aventureiros que povoaram o sul do Maranhão depois de meados dos anos 1700, mediante uma corrente de povoamento oriunda, principalmente, de Pernambuco e da Bahia, formada essencialmente por gente nascida no Brasil, que, demandando o sertão dos pastos bons para a criação de gado, deu origem, primeiramente, ao povoado que tomou aquele nome – Pastos Bons – e, na seqüência, a vários novos núcleos de povoamento do sul do Maranhão. Eram, indistintamente, chamados de baianos. Em 1811, o alferes de milícias Antonio Francisco dos Reis e familiares, “baianos” habitantes daquela alta ribeira, depois de fabricarem pequenos barcos no porto da fazenda Chapada, abaixo do riacho Olho d`Água, a duzentas braças distante da dita fazenda, começaram, no dia 11 de março, a navegar o Rio Grajaú abaixo. Após doze dias de viagem, chegaram às fazendas Lajes e São Benedito, de João Paulino [da Costa], “a primeira que se acha situada na extrema sul da baixa ribeira do Mearim, ou no distrito da freguesia da Vitória” – narrou o sertanista Francisco de Paula Ribeiro em duas de suas memórias dos sertões maranhenses (Roteiro da Viagem que fez o capitão Francisco de Paula Ribeiro às fronteiras da Capitania do Maranhão e da de Goiás no ano de 1815 em serviço de S. M. Fidelíssima; e Descrição do Território de Pastos Bons nos Sertões do Maranhão, de 1819). Pelos relatos de Paula Ribeiro, sabe-se que viajaram sob perseguição dos índios piocobgês (timbira) em toda a viagem, os quais lhes fizeram armadilhas como “pontes rapidamente feitas ao lume da água” e “ramagens de mato, tecidas tão brevemente de um a outro lado do rio que, apenas eram com os terçados ou foices desfeitas umas, lhes sobrevinham imediatamente outras, valendo-lhes, para não serem mortos, o trazerem bem forradas as toldas das embarcações com duas cobertas de couros de boi, que grossos, secos e dobrados, puderam bem resistir às imensas nuvens de flechas que sobre eles choveram até fixar-se a noite”. Diz ainda aquele sertanista que se contaram “no espaço incógnito mil e oitenta e nove voltas ou estirões até aquelas fazendas”. Antonio Francisco dos Reis repetiu por várias vezes aquela viagem, sem socorro do governo, apenas em sociedade com outros habitantes daquelas paragens ermas,
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interessados no comércio, principalmente, de venda de carne e compra de sal que se estabelecia com a Capital, até onde chegaram, passando pelo Arraial da Vitória; e “para que mais comodamente pudessem em qualquer tempo fazê-lo, fundaram naquela ribeira a povoação denominada Porto da Chapada, sobre a margem leste do rio”. Segundo Carlota Carvalho (na verdade, Parsondas de Carvalho, seu irmão), em O Sertão (1924), “aos habitantes da cidade de São Luís essa aventura de Antonio Francisco dos Reis causou estupefaciente surpresa”. Antes deles, porém, os habitantes do Arraial da Vitória, seguramente, sentiram igual surpresa. O lugar era o ponto de chegada dos “temerários que com maior número de selvagens haviam viajado 150 léguas por um riozinho obstruído por paus até sair no Mearim”, aventura da qual “vinha-lhes a evidência da existência de um mundo novo além da impérvia mata”. Depois desta, a civilização, que, afinal, mercê da coragem daquele bandeirante dos sertões maranhenses, começaria a chegar aos rincões do Grajaú. O Porto da Chapada crescia sensivelmente até ser atacado em 1814 pelos índios piocobgês, que, temerosos de que no futuro não pudessem mais fazer “suas correrias no interior da ribeira”, queimaram as casas e 38 pessoas dentro delas, mantimentos e as embarcações que estavam no porto, além de fazerem a pilhagem do local. Em 1816, Manoel Valentim Fernandes, acompanhado de paisanos e quarenta soldados de Pastos Bons, conseguiu, finalmente, a paz com os picobgês, situando-se no Porto da Chapada, que, crescendo, tomou o nome, dado pelas autoridades, de São Paulo do Norte, em homenagem aos bandeirantes do sul. Vila e Freguesia do Senhor do Bonfim da Chapada em 1835, Comarca da Chapada em 1841, finalmente ganhou o nome oficial de Grajaú, simplesmente, em 1881. Ponto de partida do povoamento de Arari, Vitória do Mearim, seu município-mãe, sempre manteve uma sólida ligação política, social, econômica e cultural com o primeiro fruto de seus desmembramentos, por sinal, numerosos até os dias de hoje. Prova maior disso, e bem recente, é a existência, desde janeiro do ano 2000, da Academia Arariense-Vitoriense de Letras (AVL), então fundada por um grupo de vinte intelectuais das duas cidades. Com Grajaú a ligação foi intensa enquanto o meio de transporte usual era a navegação fluvial entre o sertão e a capital, até meados do Século XX. Desde 1816 registram-se ordens do governo às autoridades do Arraial da Vitória para o aprovisionamento e o socorro de tropas e aventureiros enviados pelo Rio Grajaú acima. Foi quando o lugar passou a funcionar como entreposto para a neutralização dos índios de outras regiões – o que não seria difícil, ao que parece, porquanto, pelo menos no período 1811-1814, a guerra contra os índios da região circunvizinha ainda continuava e o governo determinava providências às autoridades locais (juízes ordinários e comandantes militares) para combater os ataques às fazendas, a fim de fazer instalar a tranqüilidade na região. Quem melhor representou essa ligação entre Vitória do Mearim e Grajaú foram os ramos da família de Leonel Bogea (neto de Lourenço da Cruz Bogea) que para lá se transferiram no início do Século XX, entre os quais se destacam os nomes de Antenor Américo Mourão Bogea, prefeito municipal, promotor público, deputado federal, constituinte e jurista de escol (anos 1940 e 1950), e de seu primo Raimundo Rodrigues Bogea (Manduca Bogea), deputado estadual (anos 1950 e 1960). Eram filhos de Grajaú, mas com raízes familiares em Vitória do Mearim, onde residiu o primeiro quando
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criança e onde os dois sempre tiveram grande prestígio político – aquele, filho de Abraão Bogea; este, de Pedro Bogea. Foi muito pertinente a festa do povo de Grajaú em comemoração aos seus 200 anos de história, no dia 11 de março de 2011! Os vitorienses foram testemunhas do início e partícipes de boa parte dessa epopéia.
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SÓCIOS EFETIVOS COLABORADORES DESTA EDIÇÃO CADEIRA 06 PATRONO ANTONIO VIEIRA – Padre Jesuíta – Lisboa, 06 de fevereiro de 1608 - Bahia, 18 de Julho de 1697. Religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política e Oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).
OCUPANTES 1 Arias de Almeida Cruz – Padre e Jornalista - sócio fundador do IHGM, nasceu em Caxias em 14/11/1893; faleceu em Teresina em 12/01/1970 2 Josué de Sousa Montelo – Escritor – São Luís, 21 de agosto de 1917 — Rio de Janeiro, 15 de março de 2006. Jornalista, professor, teatrólogo e escritor brasileiro. Entre suas obras destacam-se Os tambores de São Luís, de 1965.
OCUPANTE ATUAL TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO – Professora Doutora em Ciências Pedagógicas - empossada em Presidente do IHGM gestão 2010 - 2012 Rua dos Professores, Qd – 14 nº 10, conj. Cohafuma Cep:65.078 Telefones: 3246 – 2218 / 3217 – 8332 - Cel: 8148 – 8141 E.mail: telma.bonifacio@yahoo.com.br
CADEIRA 08 PATRONO JOÃO FELIPE BETTENDORF – Padre Jesuíta Província Galo-Belga, atual Luxemburgo 25/08/1625 + Belém PA 05/08/1698. Graduou-se em Artes na U. de Tréveris 1644; Ingressa na Companhia de Jesus, em 1647, embarcando em 1660 para as missões jesuíticas do Maranhão e Pará, onde desempenha o cargo de reitor e superior da Missão. Escreve, em 1698, a Crônica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, na qual relata suas memórias e cita documenta suas obras.
OCUPANTE ATUAL OSVALDO PEREIRA ROCHA – Advogado. - empossado em 25 DE AGOSTO DE 1999 Foi Vice-Presidente do IHGM e tem 12 livros publicados, já está com o 13º no prelo Domicílio: Rua Portinari, Quadra 8, Casa 7 – Maranhão Novo – São Luís – MA – CEP 65061-390 (Telefones: 098 – 3236-2387 e 9971-1443); RG 86836398-7 e CPF 011960903–78. TE nº 001575611198, 10ª Zona, 397ª Seção – São Luís – MA. E-mail: rocha.osvaldo@uol.com.br) e SITE: http://www.osvaldopereirarocha.com.br/
OCUPANTES 1 Henrique Costa Fernandes – Magistrado, Jornalista, Historiador, Poeta - Brejos 18/11/1881/São Luís (?) 2 José Ribeiro do Amaral – Patrono da Cadeira 29 3 Bernardo Coelho de Almeida – Escritor, poeta, romancista e cronista. Jornalista. São Bernardo 13/06/1917 – São Luís 1996
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CADEIRA 11 PATRONO SEBASTIÃO GOMES DA SILVA BELFORT – Brigadeiro e Comendador
Brasão de Armas
Nascido em São Luís em 03/08/1781, e batizado na Freguesia de Nossa Senhora da Ribeira do Itapicurú, na Fazenda de seu pai, em 3 de Agosto de 1781. Falecido em 31/07/1825, vítima do naufrágio do navio “Providência”, em Coroa Grande, procedente do Rio de Janeiro. Coronel efetivo do Regimento de Milícias da Ribeira do Itapicurú no Maranhão, reformado no posto de Brigadeiro por Mercê de 31-1-1818 e Carta Patente de 19-2-1818. Teve participação ativa na Guerra dos Três Bes. Autor do “Roteiro e mapa da viagem da cidade de São Luis do Maranhão até a cidade do Rio de Janeiro’, 1819.
OCUPANTES 1 Antonio Lopes Ribeiro Dias – Doutor em Ciências Física e Naturais 2 Candido Pereira de Sousa Bispo – Promotor de Justiça - Grajaú, 03/10/1896 – São Luís 15/07/1950 3. Mário Martins Meireles – Historiador – São Luís 08/03/1915 – São Luis 2003 3 Almir Moraes Correia – Comerciante – Parnaíba/PI 21/03/1914 – São Luís 12/09/1992 4 Sebastião Barreto de Brito - Professor , Teólogo – 1930- 28/03/2007
OCUPANTE ATUAL MANOEL DOS SANTOS NETO - Jornalista - empossado em Diretor de Divulgação – Gestão 2010-2012 R-Senador Pompeu, 20 Vila Isabel - Cep: 65.080.190 Telefone 32284201 - /9971-4832 E-mail: masantosneto@gmail.com
CADEIRA 12 PATRONO FRANCISCO DE PAULA RIBEIRO – Militar Nascido em Portugal. Há notícias, com base em documentação arquivística que foi enviado de São Luís a Belém em 1798. Dois anos depois a 06/02/1800, foi enviado ao julgado de Bastos Bons. É autor do “Roteiro da viagem que fez o Capitão Francisco de Paula Ribeiro às fronteiras da Capitania do Maranhão e da de Goiás no ano de 1815”; “Descrição do território de Pastos Bons nos sertões do Maranhão”; “Memória sobre as nações gentias que presentemente habitam o continente do Maranhão”.
OCUPANTES 1 João Persondas de Carvalho – Patrono da cadeira 58 2 Liberalino Pinto Miranda – Canoeiro, Professor de Geografia, Jornalista - Cururupu 29/03/1903 – Cururupu 05/02/1951 3 Cesário dos Santos Veras – Médico, Professor Rosário 4 Eloy Coelho Netto – Historiador – Balsas 27/11/1924 – Ocupou a Presidência do IHGM. Secretário de Educação. Secretário de Interior e Justiça.
OCUPANTE ATUAL NATALINO SALGADO FILHO - Médico - empossado em Reitor da UFMA Rua dos Angelins, qda 10 nº 30 - São Francisco - Cep: 65.076-030 Telefone: Res: 3227-4072 / 3235-5888 9908-6110
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CADEIRA 23 PATRONO LUIS ANTÔNIO VIEIRA DA SILVA – Visconde. Advogado, Senador. Ministro do Império. Fortaleza/CE 02/10/1928 -
OCUPANTES 1 Domingos Américo de Carvalho – Desembargador. Jornalista. Brejo 14/03/1877 – São Luis 10/03/1944. 2 Nicolau Dino de Castro e Costa – Desembargador. Jornalista. Manaus 16/05/1900 – São Luis 1976 3 Merval de Oliveira Melo – Jornalista. Poeta. Político. Tutóia 05/07/1923 -
OCUPANTE ATUAL
JOÃO FRANCISCO BATALHA – Jornalista. Economiário. Empossado em 28 de janeiro de 2009 R- dos Jambos, Q-65 – C-3 Renascença I - Cep: 65075210 Telefone: 3227-3793/ 32271434 – 9972-3369 E.mail: batalha@elo.com.br
CADEIRA 25 PATRONO CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES – Promotor de Justiça. Poeta. Penalva 11/11/1849 – São Luis 09/06/1879 conhecido como Celso de Magalhães, foi um escritor brasileiro e o pioneiro do estudo do folclore no Brasil, adotando uma metodologia que lançou as bases do folclorismo nacional. Seu trabalho focou especialmente a poesia popular, mas ele incursionou por outras áreas como o teatro, a poesia, a ficção e a crítica. OCUPANTE ATUAL
AYMORÉ CASTRO ALVIM – Médico Empossado em: 07 de dezembro de 2007 Av. Sambaquis, Q-14 Nº 06 – Calhau - Cep: 65071-390 Telefones: 3231-3644 /22272654 (R) E.mail: aymore@elo.com.br
OCUPANTES 1 Antonio Lopes de Cunha – Patrono da Cadeira 31 2 Odilon da Silva Soares – Médico. São Bento 01/01/1902 – São Luis 08/07/1958
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CADEIRA 27 PATRONO RAIMUNDO LOPES DA CUNHA – Sociólogo, Antropologistra. Crítico. Historiador. Geógrafo. Professor.
OCUPANTES 1 Tasso de Moraes Rêgo Serra – Militar. São Luis 22/04/1900 – (?) 28/04/1998
Viana 28/09/1894 - Rio de Janeiro 08/09/1941
OCUPANTE ATUAL
RAIMUNDA NONATA FORTES CARVALHO NETA Professora Doutora - empossada em 24 de junho de 2008 Telefone: 8144-2573 E.mail: raimundafortes@yahoo.com.br
CADEIRA 30 PATRONO JUSTO JANSEN FERREIRA – Médico. Geógrafo. São Luis 16/03/1864 – São Luis 18/11/1930 OCUPANTE ATUAL
ILZÉ VIEIRA DE MELO CORDEIRO Procuradora de Justiça - empossada em Rua 08 Qda 14 Casa 06 Planalto Vinhais - CEP: 65070000 Telefone: 3236-0349 Ilzeveira@elo.com.br
OCUPANTES 1 Olímpio Ribeiro Fialho Patrono da cadeira 59
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CADEIRA 32 PATRONO AQUILES DE FARIAS LISBOA – Médico. Político. Cientista Cururupu, 28/09/1872 – São Luís 18/04/1951). Foi governador do Maranhão (1935 — 1936) e prefeito de Cururupu, além de médico e diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Considerado o pioneiro no tratamento da hanseníase no Maranhão, foi condecorado pela Assembléia Legislativa do Maranhão com um selo comemorativo, a ser usado em toda correspondência oficial daquela casa legislativa. OCUPANTE ATUAL
OCUPANTES 1 José Ribeiro de Sá Vale Patrono da Cadeira 55 2 Waldemar da Silva Carvalho – Contador Fazenda do Morro Agudo/Caxias 16/02/1916 – São Luis 29/06/2004
JOÃO MENDONÇA CORDEIRO – Professor. Sociólogo. - empossado em Av. Matos Carvalho Nº 55 Olho D’Água - Cep: 65.065-270 Telefone: 3226-0735/ 9971-6834 (?)
CADEIRA 40 PATRONO JOÃO DUNSHES DE ABRANCHES MOURA – Advogado. Historiador. Sociólogo. Crítico. Romancista. Jornalista. Professor. Parlamentar. Internacionalista São Luis 02/09/1867 + Petrópolis 11/03/1942 Autorm de Garcia de Abranches, o Censor; Aesfinge do Grajaú; O Cativeiro; A Setembrada;
OCUPANTE ATUAL
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – Professor de Educação Física Vice-Presidente do IHGM gestão 2010-2012 - empossado em Setembro de 2008 R- Titânia, 88 – Recanto dos Vinhais - Cep: 65070.580 Telefone: 3236-2076 # 8119-1322 E-mail: vazleopoldo@hotmail.com http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/ http://twitter.com/leopoldovaz http://lattes.cnpq.br/2105898668356649
OCUPANTES 1 José Ribamar Ferreira – Advogado São Luis 03/01/1910 + São Luis 25/07/1985 2 Pedro Rátis de Santana – Geógrafo. Historiador. São Luis 26/04/1906 + São Luis 16/01/1990 3 Carlos Thadeu Pinheiro Gaspar – Empresário. Viana 05/12/1939 Posse em 28/07/1992 – renuncia em
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CADEIRA 51 PATRONO RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA – Escritor. Jornalista. Historiador. Professor
OCUPANTES 1 Edomir Martins de Oliveira
São Luis 09/05/1896 + 09/04/1979 Lecionou em todos os colégios de São Luis. Diretor do Liceu Maranhense. Fundador da antiga Faculdade de Filosofia. Professor da Faculdade de Direito. Diretor da Biblioteca Pública Benedito Leite.
OCUPANTE ATUAL
EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA – Advogado. Professor - empossado em 29/10/1980 Presidente do IHGM -período 2000/2002 Av. do Vale Q 21 Lote 11 – Edif. Florença Aptº 501 – Renascença II - CEP: 65075-660 Telefones: 3235-4117 / 3235-1417 - Cel: 8871-2512
CADEIRA 54 PATRONO FELIPE BENITO CONDURÚ PACHECO - Bispo São Bento 18/07/1892 + São Luis 1º/10/1972) foi um bispo católico brasileiro, primeiro da Diocese de Parnaíba.
OCUPANTE ATUAL
ÁLVARO URUBATAN MELO - empossado em R-Andorinhas, nº 03 QD- 11 Renascença- Ponta do Farol Telefones: 3235-1881 /9606-0960
OCUPANTES 1 Kleber Moreira de Sousa – Jornalista.. Desembargador. Penalva 08/01/1931 + São Luis (?)
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CADEIRA 58 PATRONO JOÃO PARSONDAS DE CARVALHO – Sertanista. Jornalista. Historiador Riachão 1855 ou 1856 + Imperatriz 20/07/1926 Obras: conferências em São Luís e no Rio de Janeiro - A Sílvio Romero; Democracia; A Amazônia: do Tartarugal ao Gurupi; Do Gurupi ao Balsas; artigos/crônica política na imprensa do RJ e do MA - O Grajaú: últimos acontecimentos do Estado do Maranhão no Século XIX; livros (inéditos/extraviados) - Estudos Filosóficos;Fatos e Contos. livro com autoria atribuída à irmã Carlota Carvalho - O Sertão: subsídios para a história e a geografia do Brasil. Patrono da Cadeira 2 da Academia Imperatrizense de Letras; nome de vários prédios públicos e vias públicas: no Maranhão, em Carolina, Grajaú, Imperatriz, João Lisboa, Montes Altos, Porto Franco, Riachão, Sítio Novo e Primeira Cruz; no Tocantins, em Tocantinópolis; e no Pará, em Marabá. OCUPANTE ATUAL
WASHINGTON MACIEL CANTANHEDE – Promotor de Justiça Vitória do Mearim 06/06/1963 Empossado no IHGM em 28.07.2010, recebido pelo confrade José de Ribamar Fernandes.
OCUPANTES Vaga desde sua instituição até o dia 28.07.2010