REVISTA DO IHGM - MARÇO 2012

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REVISTA

DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

Número 40 – MARÇO DE 2012 ISSN 1981-7770 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/

ANIVERSÁRIO DE 86 ANOS

NOVOS SÓCIOS 2011/2012 2011/2012/2012-ATÉ MARÇO

CAMPOS

ANA LUIZA

PAULO SERGIO

JOAQUIM

IVA

NOBERTO

MÁRCIO

JOANA

MACATRÃO

CLENIA

RONALD

EDEN

CLORES


Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, v.1, n.1 (ago. 1926) - São Luís: IHGM, DEZEMBRO DE 2011. n. 40, março de 2012. Edição eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/ ISSN: 1981-7770 1. História – Maranhão – Periódicos 2. Geografia – Maranhão - Periódicos p. 235 CDD: 918.21 CDU: 918.121 + 981.21


ISSN 1981 – 7770 REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO NO 40 – MARÇO – 2012 EDIÇÃO ELETRÔNICA Rua de Santa Rita, 230 – Centro Edifício Prof. Antonio Lopes – 2º. Andar CEP – 65015.430 – SÃO LUÍS – MA Fone (0xx98) 3222-8464 Fax (0xx98) 3232-4766 E.mail: ihgm_ma@hotmail.com As idéias e opiniões emitidas em artigos ou notas assinadas são de responsabilidade dos respectivos autores. ENDEREÇO DAS EDIÇÕES ELETRÔNICAS http://issuu.com/leovaz/docs/ http://issuu.com/leovaz/docs/revista_01_-_1926b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_29_dez_2008 http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm-30 http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm__32_-_mar_o_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_33_-_junho_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_34_-_setembro_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_35_-_dezembro_2010b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_36_-_mar_o_2011b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011b


SUMÁRIO Edições eletronicas SUMÁRIO PLANO EDITORIAL DO IHGM Diretoria – Gestão 2010 – 2012 Sócios efetivos PLANO DE TRABALHO CALENDÁRIO DE EVENTOS PARA 2012 AGENDAMENTO DO CICLO DE PALESTRAS PARA 2012 PROGRAMA DO XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA - (A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL) FOTOS APRESENTAÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ OS PRIMEIROS SÓCIOS DO INSTITUTO RAFAEL AGUIAR POSSES APRESENTAÇÃO DE RONALD PEREIRA DOS SANTOS JOSEMAR RAPOSO DISCURSO DE POSSE RONALD PEREIRA DOS SANTOS DISCURSO DE RECEPÇÃO A ÉDEN DO CARMO SOARES NO IHGM WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHEDE DISCURSO DE POSSE EDEN DO CARMO SOARES DISCURSO EM RECEPÇÃO A CLORES HOLANDA ANTONIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA DISCURSO DE POSSE CLORES HOLANDA SILVA AULA PÚBLICA SOBRE O VINHAIS VELHO VINHAIS VELHO AMEAÇADO PELA VIA EXPRESSA ANTONIA MOTA VILA DE VINHAIS – RUMO AOS 400 ANOS? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ SAINT LOUIS CAPITALE DE LA FRANCE EQUINOXIALE EVANDRO JUNIOR O IHGM NA MÍDIA O POTENGI E O RIFOLES ANTONIO NOBERTO SÃO LUÍS DO MARANHÃO – 400 ANOS DE HISTÓRIA OSVALDO PEREIRA ROCHA OS 90 ANOS DO JORNAL CIDADE DE PINHEIRO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM ZÉ SOARES JOÃO FRANCISCO BATALHA SÃO BENTO É ASSUNTO ÁLVARO URUBATAN MELO O LUGAR DO ARRAIAL DO PRÍNCIPE REGENTE ADALBERTO FRANKLIN

3 4 6 8 9 14 15 16 17 18 22 24

29 31 32 41 42 47

55 61 89

92 94 95 97 98 100


AULA PÚBLICA VINHAIS VELHO GERAÇÃO DE 53

RESGATOU

IMPORTÂNCIA

HISTÓRICA

DO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O PRIMEIRO MÉDICO PINHEIRENSE TOMBAMENTO DA VILA CULTURAL BRASILEIRA

VELHA

DE

AYMORÉ DE CASTRO ALVIM VINHAIS COMO PAISAGEM

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ OBRAS DA VIA EXPRESSA DE ROSEANA AMEAÇAM SÍTIO ARQUEOLÓGICO, CONSTATA ESPECIALISTA JULLY CAMILO OSWALDO VIVIANI A GRILAGEM E PRODUÇÃO DE ARROZ NO MARANHÃO ADALBERTO FRANKLIN ALCANTARENSES DEPOIS SÃO-BENTUENSES ÁLVARO URUBATAN MELO E DEUS CRIOU A MULHER! AYMORÉ DE CASTRO ALVIM UMA HOMENAGEM AS MULHERES MARANHENSES E BRASILEIRAS TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO A MULHER NA MAÇONARIA OSVALDO PEREIRA ROCHA LÍNGUA PORTUGUESA? ANTONIO NOBERTO ADALBERTO FRANKLIN ELEITO PARA O IHGM HISTÓRIAS DE ANA JANSEN NA VISÃO DO MAMULENGO JOANA BITTENCOURT CUMPRIMENTANDO UM AMIGO EDOMIR DE OLIVEIRA INÉDITOS MEIO AMBIENTE E CRESCIMENTO AUTOSUSTENTÁVEL: UM ENFOQUE HISTÓRICO JURÍDICO E SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO GLOBAL COM QUALIDADE DE VIDA E CIDADANIA. ANA HÉLIA DE LIMA SARDINHA CÉLIO GITAHY VAZ SARDINHA CICLO DE ESTUDOS/DEBATES A CIDADE DO MARANHÃO: UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS DAS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE OCUPAÇÃO ATÉ A CONSOLIDAÇÃO DA CONQUISTA DA TERRA: CRONOLOGIA - SEGUNDO PERÍODO – 1580 A 1640 – UNIÃO IBÉRICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ AS PRIMEIRAS TENTATIVAS PORTUGUESAS DE POVOAMENTO E COLONIZAÇÃO DO BRASIL E DO MARANHÃO E A ORIGEM DO NOME “MARANHÃO” ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

102 104 116 118

126

129 131 133 135 137 139 142 143 146

148

159

202


“PLANO EDITORIAL DO IHGM”

1

“I – O Plano Editorial do IHGM é destinado, exclusivamente para os seus associados, no sentido de: a) Defender e velar o patrimônio histórico e cultural do Maranhão; b) Estimular o estudo e cooperar na publicação prioritariamente, de questões sobre História, Geografia e Ciências afins referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão; c) Cooperar com os Poderes Públicos nas medidas que visem ao engrandecimento científico e cultural do Maranhão. II – O Plano Editorial usará o seu órgão especial – a REVISTA – para as publicações trimestrais de trabalhos previamente selecionados. III – Os Associados poderão usar o PLANO EDITORIAL nas publicações de outros gêneros como romances, peças teatrais, ensaios, críticas, versos, novelas, crônicas, contos e monografias, quando os referidos assuntos forem previamente escolhidos em concursos e promoções realizadas pelo IHGM. IV – Será estabelecido premio anunciado com antecipação, além de medalha de ‘honra ao mérito’, apoio e cobertura da solenidade de lançamentos da obra. V - As inscrições serão feitas de 1o. a 15 do primeiro mês de cada trimestre, com apresentação de original inédito, titulo da obra do nome do autor. VI – A Diretoria do IHGM designará anualmente por portaria três (3) membros de seu quadro de sócios efetivos com três (3) suplentes para comporem a Comissão de Leitura, sendo o julgamento por votação com parecer escrito considerado irrevogável. Os suplentes serão, automaticamente, convocados pela ordem, quando houver impedimento de quaisquer dos membros efetivos da mencionada Comissão. VII – Os casos omissos serão decididos de comum acordo pela Diretoria do IHGM e pela Comissão de Leitura e, em ultima Instancia pela Assembléia Geral do IHGM. São Luís, 05 de outubro de 1984 JOSÉ RIBAMAR SEGUINS Presidente do IHGM.”

1

SEGUINS, José de Ribamar. Plano Editorial do IHGM. In Rev. IHGM, São Luís, ano LIX, n. 07, dezembro de 1984, p. 83-84


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Rua de Santa Rita, 230 – Centro - Edifício Prof. Antonio Lopes – 2º. Andar CEP – 65015.430 – SÃO LUÍS – MA Fone (0xx98) 3222-8464 - Fax (0xx98) 3232-4766 E.mail: ihgm_ma@hotmail.com CGC 006.407.860/0001-20; Registro no Conselho Nacional de Serviço Social sob no. 80.578/75 Utilidade Pública pela Lei Estadual no. 1.256, de 07 de abril de 1926 Utilidade Pública pela Lei Municipal no. 3.508, de 20 de junho de 1996

PORTARIA 02/2012, de 09 de fevereiro de 2012

A Presidente do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM -, no uso de suas atribuições, e tendo em vista o que consta do PLANO EDITORIAL DO IHGM, em seu item VI – “A Diretoria do IHGM designará anualmente por portaria três (3) membros de seu quadro de sócios efetivos com três (3) suplentes para comporem a Comissão de Leitura, sendo o julgamento por votação com parecer escrito considerado irrevogável”, de 05 de outubro de 1984, publicado na Rev. IHGM, São Luís, ano LIX, n. 07, dezembro de 1984, p. 83-84, e indicação da Diretoria em sua reunião de 08 de fevereiro de 2012, RESOLVE: a) NOMEAR os Sócios efetivos relacionados a seguir para comporem o Conselho Editorial da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, com mandato até o término da atual gestão 2010/2012:

1. TITULARES: 1. Manoel dos Santos Neto – Presidente; 2. Leopoldo Gil Dulcio Vaz – Editor da Revista; 3. Antonio José Noberto da Silva; e 2. SUPLENTES: 1. Álvaro Urubatan Melo 2. Raimundo Gomes Meireles 3. Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel

TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO PRESIDENTE


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Fundado em 20 de novembro de 1925, registrado no Conselho Nacional de Serviço Social sob no. 80.578/75, de 14 de setembro de 1955 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Estadual no. 1.256, de 07 de abril de 1926 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal no. 3.508, de junho de 1996 Cartório Cantuária Azevedo – Registro Civil de Pessoas Jurídicas – reg. no. 180, registro em microfilme no. 31063, São Luís, 23 de agosto de 2007 GESTÃO 2010/2012

Presidente de Honra: JOSÉ DE RIBAMAR SEGUINS CHAPA ANTONIO VIEIRA

Presidente: TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Vice-Presidente: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 1º. Secretário: JOÃO FRANCISCO BATALHA (até Fevereiro de 2011) RAIMUNDO GOMES MEIRELES (a partir de março de 2011) 2º. Secretário: RAIMUNDO GOMES MEIRELES (até Fevereiro de 2011) WASHINGTON LUIS MACIEL CANTANHEDE (a partir de junho de 2011 – renunciou ao cargo em dezembro de 2011)

ANTONIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA (a partir de fevereiro de 2012) 1º. Tesoureiro: WASHINGTON LUIS MACIEL CANTANHEDE (até maio de 2011) DILERCY ARAGÃO ADLER (a partir de junho de 2011) 2º. Tesoureiro: DILERCY ARAGÃO ADLER (até maio de 2011) AYMORÉ DE CASTRO ALVIM (a partir de junho de 2011) Diretor de Patrimônio: ÁLVARO URUBATAN MELO Diretor de Divulgação: MANOEL SANTOS NETO CONSELHO FISCAL Titulares: JOSÉ RIBAMAR SEGUINS JOSÉ RIBAMAR FERNANDES ILZÉ VIEIRA DE MELO CORDEIRO Suplentes: OSVALDO PEREIRA ROCHA ESTERLINA MELO PEREIRA KALIL MOHANA (até novembro de 2010 – falecido) RAUL EDUARDO CANEDO VIEIRA DA SILVA (a partir de junho de 2011) Editor da Revista do IHGM LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ


SÓCIOS EFETIVOS CADEIRA 1 CLAUDE D’ABBVILLE

CADEIRA 2 YVES D’EVREUX

CADEIRA 3 DIOGO DE CAMPOS MORENO

CADEIRA 4 SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA

DILERCY ARAGÃO ADLER Psicóloga

JOSEMAR BEZERRA RAPOSO Advogado

RAIMUNDO CARDOSO NOGUEIRA

CARLOS ALBERTO SANTOS RAMOS Oficial de Marinha

CADEIRA 5 LUÍS FIGUEIRA

CADEIRA 6 ANTONIO VIEIRA

CADEIRA 7 JOÃO DE SOUSA FERREIRA

CADEIRA 8 JOÃO FELIPE BETTENDORF

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO Contabilista

TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Historiadora

IVA SOUSA DA SILVA Historiadora

OSVALDO PEREIRA ROCHA Advogado

CADEIRA 9 BERNARDO PEREIRA DE BERREDO E CASTRO

CADEIRA 10 JOSÉ XAVIER DE MORAES DA FONSECA PINTO

CADEIRA 11 SEBASTIÃO GOMES DA SILVA BELFORT

CADEIRA 12 FRANCISCO DE PAULA RIBEIRO

ÉDEN DO CARMO SOARES Odontólogo

ALEXANDRE FERNANDES CORREA A TOMAR POSSE - junho

MANOEL DOS SANTOS NETO Jornalista

NATALINO SALGADO FILHO Médico

CADEIRA 13 RAIMUNDO DE SOUSA GAYOSO

CADEIRA 14 ANTONIO BERNADINO PEREIRA DE LAGO

CADEIRA 15 JOÃO ANTONIO GARCIA DE ABRANCHES

CADEIRA 16 FRANCISCO DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES

Sofiane Labidi

JOSÉ MARCELO DO ESPÍRITO SANTO Arquiteto

JOSÉ MARCIO SOARES LEITE Médico

Adalberto Franklin

A TOMAR POSSE

A TOMAR POSSE EDITOR


CADEIRA 17 CUSTÓDIO ALVES DA PUREZA SERRÃO

CADEIRA 18 JOÃO FRANCISCO LISBOA

CADEIRA 19 CANDIDO MENDES DE ALMEIDA

CADEIRA 20 ANTONIO GONÇALVES DIAS

PAULO OLIVEIRA Procurador de Justiça

CLORES HOLANDA SILVA Historiadora

CÉLIO GITAHY VAZ SARDINHA Engenheiro

ELIMAR FIGUEREDO DE ALMEIDA SILVA Procuradora de Justiça

CADEIRA 21 ANTONIO HENRIQUES LEAL

CADEIRA 22 CÉSAR AUGUSTO MARQUES

CADEIRA 23 LUIS ANTÔNIO VIEIRA DA SILVA

CADEIRA 24 ANTONIO ENES DE SOUSA

JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA A TOMAR POSSE

EUGES SILVA LIMA A TOMAR POSSE

JOÃO FRANCISCO BATALHA Economiário

PAULO SÉRGIO CASTRO PEREIRA Historiador

CADEIRA 25 CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES

CADEIRA 26 LUIS FELIPE GONZAGA DE CAMPOS

CADEIRA 27 RAIMUNDO LOPES DA CUNHA

CADEIRA 28 RAIMUNDO NINA RODRIGUES

AYMORÉ CASTRO ALVIM Médico

MARIA HÉLIA CRUZ DE LIMA A TOMAR POSSE

ASSIR ALVES DA SILVA A TOMAR POSSE

CLENIA DE JESUS PEREIRA DOS SANTOS Pedagoga

CADEIRA 29 JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL

CADEIRA 30 JUSTO JANSEN FERREIRA

CADEIRA 31 ANTONIO LOPES DA CUNHA

CADEIRA 32 AQUILES DE FARIAS LISBOA

ANTONIO RUFINO FILHO

ILZÉ VIEIRA DE MELO CORDEIRO Procuradora de Justiça

RONALD PEREIRA DOS SANTOS Procurador de Justiça

JOÃO MENDONÇA CORDEIRO Sociólogo


CADEIRA 33 CRISTOVÃO LISBOA

CADEIRA 34 WILSON DA SILVA SOARES

CADEIRA 35 DOMINGOS DE CASTRO PERDIGÃO

CADEIRA 36 ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA

TEREZINHA DE JESUS ALMEIDA SILVA RÊGO Botanica

JOSÉ JORGE LEITE SOARES A TOMAR POSSE

CÂNDIDO JOSÉ MARTINS DE OLIVEIRA Juiz de Direito

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Promotora de Justiça

CADEIRA 37 JOSÉ CONSTANTINO GOMES DE CASTRO

CADEIRA 38 ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODÓIS

CADEIRA 39 FRANCISCO GAUDÊNCIO SABBAS DA COSTA

CADEIRA 40 JOÃO DUNSHES DE ABRANCHES MOURA

MADALENA MARTINS DE SOUSA NEVES Geógrafa

ROQUE PIRES MACATRÃO Advogado

RAIMUNDO NONATO PALHANO SILVA A TOMAR POSSE

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

CADEIRA 41 JOSÉ DOMINGUES DA SILVA

CADEIRA 42 ANTÔNIO DO RÊGO

CADEIRA 43 AUGUSTO TASSO FRAGOSO

CADEIRA 44 TEMISTOCLES DA SILVA MACIEL ARANHA

RAUL EDUARDO DE CANEDO VIEIRA DA SILVA Advogado CADEIRA 45 MANOEL NOGUEIRA DA SILVA

NYWALDO GUIMARÃES MACIEIRA

ANTONIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA Turismólogo

CADEIRA 46 FRANCISCO DE PAULA E SILVA

CADEIRA 47 JOAQUIM DE MARIA SERRA SOBRI

ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO Geógrafa CADEIRA 48 FRANCISCO SOTERO DOS REIS

ALDY MELLO DE ARAÚJO A TOMAR POSSE

MARIA ESTERLINA MELO PEREIRA Historiadora

JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL Advogado

MÁRCIO AUGUSTO VASCONCELOS COUTINHO Advogado

Professor de Educação Física


CADEIRA 49 JOÃO DA MATA DE MORAES

CADEIRA 50 ANTONIO PEREIRA

CADEIRA 51 RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA

CADEIRA 52 JOAQUIM GOMES DE SOUSA

JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES Advogado

CLAUBER PEREIRA LIMA Sacerdote

EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA Advogado

JOSEH CARLOS ARAÚJO A TOMAR POSSE

CADEIRA 53 JOSÉ NASCIMENTO DE MORAES

CADEIRA 54 FELIPE BENITO CONDURÚ PACHECO

CADEIRA 55 JOSÉ RIBEIRO DE SÁ VALE

CADEIRA 56 JERÔNIMO JOSÉ DE VIVEIROS

SALOMÃO PEREIRA ROCHA Médico

ÁLVARO URUBATAN MELO

JOSETH COUTINHO MARTINS DE FREITAS Filósofa

JOANA MARIA BITENCOURT. Teatróloga

CADEIRA 57 JOSÉ EDUARDO DE ABRANCHES MOURA

CADEIRA 58 JOÃO PARSONDAS DE CARVALHO

CADEIRA 59 OLÍMPIO RIBEIRO FIALHO

CADEIRA 60 JOSÉ DE RIBAMAR CARVALHO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO A TOMAR POSSE

WASHINGTON MACIEL CANTANHEDE Promotor de Justiça

ELIZABETH PEREIRA RODRIGUES Historiadora

RAIMUNDO GOMES MEIRELES Sacerdote

SOCIA CORRSPONDENTE

RAIMUNDA NONATA FORTES CARVALHO NETA

Bióloga – RIO DE JANEIRO


RELAÇÃO DE CANDIDATOS A POSSE, CADEIRAS E PATRONOS Nº

NOME DO CANDIDATO

1 2

Alexandre Fernandes Correa Sofiane Labidi

3

Adalberto Franklin

4 5 6

José Augusto Silva Oliveira Euges Silva de Lima Maria Hélia Cruz de Lima

7 8 9

Assir Alves da Silva José Jorge Leite Soares Raimundo Nonato Palhano Silva

10 11

Aldy Mello de Araújo José Carlos Araújo Silva

12

Arthur Almada Lima Filho

PATRONO Padre José De Morais Raimundo José De Sousa Gaioso Frei Francisco De Nossa Senhora Dos Prazeres Antonio Henriques Leal Cesar Augusto Marques Luis Felipe Gonzaga De Campos Raimundo Lopes Da Cunha Wilson Da Silva Soares Francisco Gaudencio Sabbas Da Costa Manoel Nogueira Da Silva Joaquim Gomes De Sousa Fragoso Jose Eduardo De Abranches Moura

CAD. 10 13

DATA POSSE junho

16 21 22 26 27 34 39 45 52 57

25/5


PLANO DE TRABALHO 1. Rever a situação do quadro societário, aplicando as recomendações da Comissão formada para tal, ainda na administração anterior; 2. Incentivar os sócios ao retorno das atividades inerentes ao IHGM, especialmente a produção de estudos acadêmicos nas áreas da História, Geografia, e Ciências afins; 3. Dar mais visibilidade às ações do IHGM junto aos próprios sócios, à sociedade, à mídia, e aos entes acadêmicos; 4. Elaborar o Regimento Interno; 5. Completar o quadro de sócios; 6. Buscar soluções para a acessibilidade às instalações do IHGM; 7. Organizar a Biblioteca; 8. Buscar outras fontes de recursos financeiros para sustentação do IHGM; 9. Buscar meios para publicação, em papel, da Revista do IHGM; melhorar a edição eletrônica; 10. Criar comissão para as comemorações dos 400 anos de São Luís, em 2012.


CALENDÁRIO DE EVENTOS PARA 2012 Reuniões de Diretoria – Hora: início 16:30 horas 2. Ciclo de Palestras – 19:00 horas 3. Assembléia Geral Ordinária - Hora: início 16:30horas 1.

MÊS

DIA 11 18

JANEIRO

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

20 27/28 25 08 29 29 14 20 21 28

OBSERVAÇÕES Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS

Marta Rufino 17:00 hs - IHGM

Posse do Dr. Ronald Posse de Eden VIAGEM A CAXIAS -

19h – Palácio Cristo Rei Projeto Gonçalves Dias - Dilercy

ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria POSSE DE SOCIO CICLO DE PALESTRAS ASSEMBLÉIA GERAL

José Almeida - Icatu

30

POSSE DE SÓCIOS - ADIADAS

11

Reunião de Diretoria

12 a 14 25 09 23 25 30 13 ? 20 27 11 18 (27?) 28 08 06 a 13 29 05 12 19 26 10 24 31 07 07 a 10

ENCONTRO NACIONAL MAÇÔNICA SEMINÁRIO 400 ANOS Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS POSSE DE SÓCIO ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria POSSE DE SÓCIO CICLO DE PALESTRAS ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS

DA

CLORES HOLANDA CAD.18 Antonio Rufino Filho Revista 40 JOSÉ OLIVEIRA – CAD. 21 MARIA LIMA CAD. 26

CULTURA

ASSEMBLÉIA GERAL

Osvaldo Rocha e Francisco Batalha

Aymore de Castro Alvim EUGES LIMA CAD 22

ALEXANDRE CORREA – CAD. 10 Revista 41 Washington Cantanhede SÁBADO Data Magna

Reunião de Diretoria MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS

Dilercy Adler/Álvaro (Comissão IHGM

SEMINÁRIO 400 ANOS SEMINÁRIO 400 ANOS SEMINÁRIO 400 ANOS Reunião de Diretoria ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria

Revista 42

17º Congresso Brasileiro de História da Medicina

20

ASSEMBLÉIA GERAL

28

CICLO DE PALESTRAS

03

ASSEMBLÉIA GERAL

12 20

Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS

Mello

Washington Cantanhede

Aymore de Castro Alvim; Natalino, José Marcio, Salomão Rocha TERÇA-FEIRA Aniversário do IHGM Elisabeth Rodrigues SEGUNDA-FEIRA – Aniversário do IHGM Confraternização Natalina Revista 43


AGENDAMENTO DO CICLO DE PALESTRAS PARA 2012 MES

DATA

JANEIRO

18

FEVEREIRO

29

MARÇO

21

ABRIL 12 a 14 25 MAIO

23

JUNHO

20

JULHO

18

AGOSTO

06 a 13 29 05

SETEMBRO

12

OUTUBRO

24

NOVEMBRO

28

DEZEMBRO

20

AGENDAMENTO Expositor: MARTA RUFINO CANCELADO Tema/Título: IHGM Expositor: José Almeida Tema/Título; A Batalha de Guaxenduba - CANCELADO Expositor: ANTONIO RUFINO FILHO Tema/Título Expositor: Osvaldo Rocha/Francisco Batalha (Comissão IHGM) Tema/Título ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA SEMINÁRIO 400 ANOS – Maranhão Republicano Expositor: AYMORÉ DE CASTRO ALVIM Tema/Título- 400 anos de Medicina no Maranhão Expositor: Tema/Título Expositor: WASHINGTON CANTANHEDE Tema/Título: A Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré como matriz do povoamento da Ribeira do Mearim Expositor: Dilercy Adler/Álvaro Mello (Comissão IHGM Tema/Título: MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS SEMINÁRIO 400 ANOS – São Luis não foi fundada por franceses SEMINÁRIO 400 ANOS – São Luis foi fundada por franceses SEMINÁRIO 400 ANOS – São Luis foi fundada por quem? Conclusões possíveis Expositor: WASHINGTON CANTANHEDE Tema/Título: A contribuição do Programa Memória do Ministério Público do Maranhão para a historiografia Expositor: ELISABETH RODRIGUES Tema/Título Expositor: Tema/Título


PROGRAMA DO XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA (A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL) I – ABERTURA DIA 13 ÀS 20H NO SALÃO ITAPECURU – BRISAMAR HOTEL. Fala do Soberano Irmão Osvaldo Pereira Rocha, dando boas vindas às Autoridades, aos visitantes e a todos os valorosos Irmãos do Maranhão, presentes, assim como às cunhadas, sobrinhas, sobrinhos e outros convidados; dizendo da finalidade do XVII ENCM e seu tema central (A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL) e informando dos lançamentos, na oportunidade, de Livros sobre assuntos Maçônicos e dos Trabalhos sobre o tema RESPONSABILIDADE COM A EDUCAÇÃO ou suas variantes, com seus respectivos autores, locais e horários do dia 14/04/2012. II – DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS DIA 14/04/2012, NO BRISAMAR HOTEL. TRAJE ESPORTE FINO: 1 – Das 08:00 às 09:00 h – Inscrições dos participantes (Casal R$80,00 e solteiro R$50,00); 2 – Das 09:00 às 10:20 h – PAINEL coordenado pela ABIM 2.1 – Palestrante - Professor LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ (IHGM) 2.2- Debatedor – Eminente Irmão Acadêmico Raimundo Ferreira Marques 2.3 – Moderador – Respeitável Irmão Acadêmico José Ribamar Fernandes 2.4 – Tema – A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL 2.5 – Tempo: Coordenador 10’ – Palestrante 45’ – Debatedor 15’ e Moderador 10’ Intervalo – 10 minutos 3 – Das 10:30 às 11:50 h – PAINEL coordenado pelo INBRAEM 3.1 – Palestrante – Professora DILERCY ADLER (IHGM) 3.2 – Debatedor – Respeitável Irmão José Ribamar MONTEIRO Segundo. 3.3 – Moderador – Eminente Irmão Acadêmico Plínio Ferreira Marques. 3.4 – Tema – O PROFESSOR NECESSÁRIO PARA O SÉCULO XXI 3.5 – Tempo: Coordenador 10’ – Palestrante 45’ – Debatedor 15’ e Moderador 10’. Almoço – intervalo de 12 às 14 horas. 4 – Das 14:00 às 15:20 h – PAINEL coordenado pela UBRAEM 4.1 – Palestrante - Deputado Estadual César Pires 4.2 – Tema - RESPONSABILIDADE EDUCACIONAL 4.3 – Debatedor – Eminente Irmão Raimundo Benedito Aires 4.4 – Moderador – Respeitável Irmão Paulo Vieira de Magalhães. 4.5 – Tempo: Coordenador 10’ – Palestrante 45’ – Debatedor 15’ e Moderador 10’ Intervalo – 10 minutos.


5 – Das 15:30 às 17:00 h – PAINEL coordenado pela AABML 5.1 – Palestrante - Professor Doutor NATALINO SALGADO FILHO, Magnífico Reitor da UFMA. (IHGM) 5.2 – Tema – A EDUCAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR NO BRASIL. 5.3 – Debatedor – Eminente Irmão José de Jesus Billio Mendes. 5.4 – Moderador – Sereníssimo Irmão Bolivá Marques Vieira. 5.5 – Tempo: Coordenador 10’ – Palestrante 45’ – Debatedor 15’ e Moderador 10’. 6 – ENCERRAMENTO 6.1 – MESA com as autoridades da abertura ou outras; 6.2 – Carta de São Luís; 6.3 – Elogios e Agradecimentos; 6.4 – Troféu Imprensa; 6.5 – Entrega de Certificados de Participação aos inscritos; 6.6 – Anúncio do local do XVIII ENCM; 6.7 – Homenagens à Revista A TROLHA, pelos seus 40 Anos de existência em 10/04/2012 e ao GM Antonio do Carmo Ferreira, aniversariante do dia 15/04. 6.8 – Fala do Soberano Grão-Mestre Osvaldo Pereira Rocha, encerrando o XVII ENCM. 6.9 – JANTAR de confraternização. OUTRAS INFORMAÇÕES: Coordenação do Evento: Irmãos OSVALDO PEREIRA ROCHA – coordenador; JOÃO FRANCISCO BATALHA (IHGM) – coordenador adjunto e Lucio Silva Carneiro – secretário executivo. Assessoria Especial: Irmãos Plínio Ferreira Marques, Raimundo Benedito Aires e José Ribamar Monteiro Segundo. Comissões: de Recepção: Irmãos Carlos Craveiro Pessoa, Noê Paulino de Carvalho e Alex de Sousa Fialho; de Transportes: Irmãos Edson Tabet Ahid, Paulo Vieira de Magalhães e Raimundo Assunção Amaral; de Organização Interna: Irmãos Lucio Silva Carneiro, de Comunicação: Irmãos Jonilson Silva Bogéa (GOAM), Joaquim Farias de Oliveira (GLEMA) e Ivan Lima Verde (GOB –MA) e de Turismo (Acompanhamento das Cunhadas Visitantes): Cunhadas Odete, Isabel, Alice, Amélia, Marly, Odimar e Silvana. Cerimonial: Jornalista José Ribamar Silva (Riba Um). Oriente de São Luís – MA, 29 de fevereiro de 2012.


POSSE RONALD PEREIRA DOS SANTOS


POSSE DE EDÉM SOARES


POSSE DE CLORES HOLANDA


APRESENTAÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 40 Iniciamos mais um ano – 2012 -, o do Quarto Centenário de São Luís. O IHGM vem se empenhando em buscar uma resposta: quem fundou a Cidade do Maranhão? Franceses? Portugueses? Seus Sócios têm opiniões diferentes; alguns francófanos; outros lusófanos... E foi-se buscar respostas às perguntas junto à comunidade acadêmica. Após discutir-se a Formação do Maranhão, em três seminários - realizados dois, o terceiro sai na próxima revista os trabalhos que abordam o Maranhão republicano – procurar-se-á, então uma resposta: Quem fundou São Luis? Este o desafio para o ano que se inicia. Nossos sócios continuam publicando estudos abordando os temas e subtemas do Seminário, contribuindo para o debate e resgate de nossa História. Textos pertinentes de outros pesquisadores também estão sendo dado conhecimento ao público leitor. Abrindo um parêntese, com a publicação eletrônica de nossa Revista o acesso ao seu conteúdo tem sido amplo, com cerca de 300 a 400 leitores/mês, que a baixam do sitio que a acolhe. O numero de acesso das revistas anteriores, dada ao conhecimento através dessa ferramenta, também aumenta à medida que passa o tempo. Neste ano ainda teremos eleições. E novos sócios sendo empossados: o Sr. Ronald Pereira Dos Santos e o Sr. Éden do Carmo Soares ingressaram em 18 e 20 de janeiro, respectivamente; seguiu-se Clores Holanda no dia 22 de março. Com a polemica da construção de uma estrada em São Luís, em comemoração aos 400 anos da cidade, levantaram-se vozes em defesa do patrimônio histórico e cultural da Vila Velha do Vinhais; o IHGM foi chamado para mediar as questões levantadas. Vários atos foram realizados com nossa participação, inclusive a idéia de fundação de um “Museu do Vinhais Velho”, proposto ao IPHAN quando se comunicou a descoberta de objetos líticos – uma machadinha de pedra – na área; o IBRAM, na pessoa do Dr. Daniel Caíres Rincón ofereceu todo apoio técnico necessários ao IHGM na constituição e instalação do mesmo. A comunidade aplaudiu e já começa a colaborar, oferecendo peças para o futuro acervo, incluindo sócios do nosso IHGM – o Padre-Dr. Meireles doou objeto pertencente aos jesuítas; o pesquisador Antonio Noberto, bacharel em Turismo, reprodução estilizada de um mapa do tempo de La Ravardiére. Voltamos a falar de uma coleção e um museu no IHGM; propomos que a Curadoria do futuro museu seja do IHGM... Nossos sócios Antonio Noberto e Leopoldo G. D. Vaz participaram de Aula Pública em 31 de janeiro, no Auditório d’ O Imparcial, convidados pela Dra. Antonia Mota, professora de História da UFMA e membro do Comitê dos Amigos do Vinhais Velho. O objetivo foi dar conhecimento a jornalistas da História daquela comunidade; aos acadêmicos dos diversos cursos da UFMA na área das Ciências Sociais sobre pesquisa histórica, geográfica, etnológica, arqueológica, incentivando-os a apresentar trabalhos tendo por tema a história do Maranhão, em particular da Vila Velha de Vinhais. As falas dos expositores constam desta edição... Em 14 de fevereiro, o Acadêmico de História da UFMA Rafael Aguiar dos Santos apresentou sua monografia de graduação com o tema: A ODISSÉIA NEOATENIENSE: A FUNDAÇÃO DO IHGM E A CONSTRUÇÃO ÉPICA DE UM MARANHÃO GRANDIOSO. A Monografia versou sobre a fundação do hoje Instituto


Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) em 1925, o sentido de Historia narrada pelo mesmo e a construção da identidade maranhense presente nas paginas de sua primeira Revista publicada em 1926, contextualizando com o panorama político, econômico e social do Maranhão no período, analisando a escrita da historia na década de 1920, os discursos numa perspectiva foucaultiana e a perpetuação de conceitos como a Atenas Brasileira e a construção de uma representação épica de um passado de significação maranhense. Logo abaixo, transcrição do capítulo que trás a biografia dos sócios fundadores publicada em nossa primeira Revista. Parabéns ao Rafael... Das três palestras programadas neste inicio do ano, nenhuma foi feita; a da Mestra em História marta Rufino, que seria proferia em janeiro, quando apresentaria sua dissertação de Mestrado defendida na USP, sobre o IHGM, teve que ser adiada, haja vista ter que viajar para Boa Vista, onde assumiu função docente; a de fevereiro, que teria como tema “A Batalha de Guaxenduba”, o palestrante esqueceu o compromisso e não se fez presente no dia e hora agendado; e a de março, que seria proferida pelo Confrade Rufino, ainda não se sabe o motivo... Esperamos que as próximas sejam mantidas... agora em abril teremos nosso 3º. Seminário, já confirmadas a participação do Confrade Márcio Coutinho, os co-irmãos da AML Benedito Buzar e Joaquim Itapary e do agora Professor de História Rafalel Aguiar; quanto aos trabalhos de pesquisa, as inscrições ainda estão abertas... Colaboraram com o presente numero os Confrades: Álvaro Urubatan Melo; Célio Gitahy Vaz Sardinha; Ana Luiza Almeida Ferro; Antonio José Noberto Da Silva; Aymoré De Castro Alvim; Clores Holanda Silva; Eden Do Carmo Soares; Edomir De Oliveira; Joana Bittencourt; João Francisco Batalha; Josemar Raposo; Leopoldo Gil Dulcio Vaz; Osvaldo Pereira Rocha; Ronald Pereira Dos Santos; Telma Bonifácio Dos Santos Reinaldo; e Washington Luiz Maciel Cantanhede. Tivemos a colaboração de diversos autores, também, em coautyoria com nossos confrades, ou em artigos de interesse: Adalberto Franklin, de Imperatriz já admito como sócio, aguardando a posse; Ana Hélia De Lima Sardinha; Antonia Mota, professora da UFMA; Delzuite Dantas Brito Vaz, professora do CEM Liceu Maranhense; Evandro Junior, jornalista; Jully Camilo, acadêmica de História da UFMA; Rafael Aguiar, Acadêmico de História da UFMA; e Oswaldo Viviani, acadêmico de História da UFMA.


OS PRIMEIROS SÓCIOS DO INSTITUTO2 RAFAEL AGUIAR O historiador francês Michel de Certeau aponta que, quanto ao seu oficio, a operação historiográfica empreendida pelo historiador se refere à combinação de um lugar social, de práticas “científicas” e de uma “escrita”.3 Portanto, para se compreender a escrita da história constituída por esses agentes intelectuais fundadores do Instituto e construtores da sua primeira Revista, faz-se necessário analisar quem eram esses primeiros membros, quais os lugares sociais que os mesmos ocupavam dentro da sociedade na qual estavam inseridos, com quem dialogavam e como teciam suas redes de relações de poder. Quanto aos membros do Instituto, quando da publicação da primeira Revista, contava a Diretoria eleita para o biênio 1926-1927 com: Justo Jansen Ferreira, presidente; José Domingues da Silva, vice-presidente; Antonio Lopes da Cunha, secretário-geral; Wilson da Silva Soares, tesoureiro.4 A primeira Revista publicada pelo IGHM, em 1926, nas suas páginas 55 a 59, também traz-nos, algumas informações relevantes sobre os primeiros sócios efetivos e fundadores, quando da época de publicação da mesma, como a naturalidade de alguns dos sócios, suas profissões e suas principais obras publicadas, o que nos permite traçar um breve perfil biográfico dos mesmos em 1926:5 Sócios Efetivos Fundadores ANTÔNIO LOPES DA CUNHA (1889-1950): Maranhense, natural da cidade de Viana. Filho do desembargador e governador do Estado (1902-1906), Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha. Estudou direito em Recife, concluiu o curso em 1911. Retornando ao Maranhão, exerceu o magistério, com a cátedra de Literatura Brasileira no Liceu Maranhense e de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito do Maranhão a partir de 1918. Foi também diretor da escola de Belas Artes do Maranhão, atuou também como jornalista na “Pacotilha”, e publicou artigos e críticas literárias em diversos periódicos e revistas do período, além de ter escrito obras de relativa relevância intelectual, como Alcântara: Subsídios para a história da cidade. Foi um dos fundadores da Faculdade de Direito de São Luís em 1918 e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, do qual foi considerado secretário perpétuo, tendo sido também o diretor responsável, quando da publicação da primeira Revista do Instituto em 1926. 6 PADRE ARIAS CRUZ (1893-1970): Maranhense, natural de Caxias. Quando da Fundação do IGHM e publicação da primeira Revista, era professor de Português do 2

Parte da Monografia de Graduação em História, defendida junto à UFMA em 14 de fevereiro de 2012 pelo Acadêmico de História Rafael Aguiar. 3 CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2008, p.66. 4 HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, p. 55. 5 .HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 6 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59.


Liceu Maranhense e do seminário arquiepiscopal de Santo Antonio do Maranhão com vários estudos publicados no âmbito da literatura e jornais e revistas. 7 JOSÉ EDUARDO DE ABRANCHES MOURA: maranhense, foi capitão de engenheiros. Professor de Matemática do Liceu Maranhense. Astrônomo, diretor do observatório Orion. Sócio Correspondente da Sociedade Astronômica da França. Escreveu: “Carta Topográfica da Ilha de São Luís do Maranhão, obra publicada em 1923. 8 BENEDITO DE BARROS E VASCONCELOS (1880-1955): Maranhense, nascido em São Luís, formado em Direito pela Faculdade do Rio de Janeiro; atuou como magistrado, jornalista e escritor. Profissionalmente foi Secretário da Fazenda, Consultor Jurídico do Estado e Presidente do Conselho do Estado. E quando da fundação do IGHM, era desembargador e membro do superior tribunal de justiça do estado do Maranhão. Sócio fundador efetivo da academia maranhense de letras. Seus principais trabalhos Publicados foram: “A Tutoia e a Delta do Parnaíba,” de 1919, e “O Parnaíba no Maranhão”, de 1926. Historiador e Geógrafo autodidata, seus trabalhos e publicações versavam desde temáticas ligadas a História até estudos geográficos sobre as áreas fronteiriças do Maranhão. 9 DOMINGOS DE CASTRO PERDIGÃO: Maranhense. Ex-diretor da Biblioteca Publica do Estado do Maranhão, com diversos trabalhos publicados, entre os quais prefiguraram: “Catálogo do Estado do Maranhão na exposição Nacional de 1908”, publicado em 1908; “O Maranhão na Exposição Nacional de 1908”, publicado em 1910; “Álbum do Tricentenário do Maranhão de 1913; “A Biblioteca Publica do Estado do Maranhão em 1914”, obra publicada no ano de 1915; “Relatórios da Biblioteca publica do Maranhão, 1916, 1917, 1918”; “A Biblioteca Publica do Maranhão em 1919”, obras de 1920; “Exposições e Feiras” de 1922; “O Esperanto”, As Bibliotecas Infantis”, “o Colégio Perdigão”, “Nos Anais do primeiro Congresso Pedagógico Maranhense, obras publicadas em 1922; “O que se deve ler” 1924. Domingos de Castro Perdigão contava com uma vasta obra que abrangia desde as temáticas ligadas a área da biblioteconomia, até a leitura e educação. 10 JOSÉ DOMINGUES DA SILVA (1871-1946): Maranhense, engenheiro civil. Diretor da estrada de ferro São Luís-Teresina. Contava na época de fundação do Instituto com os seguintes trabalhos Publicados: “Problemas Maranhenses”, de 1923; e em 1926, ano de publicação da primeira Revista do IHGM, publica “O Alto Tury”. 11 JOSÉ FERREIRA GOMES: Padre maranhense era professor do seminário Episcopal de Santo Antonio do Maranhão, diretor da Escola de Radiotelegrafia do Maranhão, com publicações na área de literatura, história e religião em periódicos ludovicenses do período. 12 7

Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 8 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 9 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 10 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 11 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 12 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59.


JOSÉ PEDRO RIBEIRO: Maranhense, diplomata: Vice-Cônsul da Noruega e interino da Dinamarca, quando da época de fundação do Instituto. Principais trabalhos Publicados: “A Industrialização da borracha no Maranhão" de 1913, além de vários estudos sobre a economia maranhense publicados em jornais, periódicos e revistas. 13 JUSTO JANSEN FERREIRA (1864-1930): maranhense, nascido em São Luís, médico com formação no Rio de Janeiro. Atuou como professor de Geografia do Brasil do Liceu Maranhense, de Física, Química e Mineralogia da Escola Normal do Maranhão; Sócio fundador efetivo da Academia Maranhense de Letras e correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto do Ceará, da Sociedade Astronômica de Paris, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e da Sociedade de Medicina do Paraná. Seus principais trabalhos publicados foram: “Fragmentos para a Chorographia do Maranhão”, 1904; “A propósito da Carta do Maranhão”, 1904; “Breve notícia sobre o ensino de Física, Química e Mineralogia no Maranhão”, 1907; “A Barra da Tutoya”, 1908; “Geografia Médica e Climatologia do Estado do Maranhão”, “A Mulher e o ensino primário”, obras publicadas em 1910; “Carta Geográfica do Maranhão”, 1912; “Carta Geográfica da Ilha de São Luís”, 1912; “Planta da Cidade de São Luís”, 1912; “Contribuição para a História e Geografia do Maranhão. Ainda a Barra da Tutoya”, 1913; “A divisória Pelo Parnaíba”, 1921. Boa parte de sua obra desenvolveu-se no âmbito geográfico, com uma vasta problematização sobre as áreas limítrofes entre o Maranhão e o Piauí na região do delta do Rio Parnaíba. 14

JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL (1853-1927): Maranhense, natural de São Luís. Fundador do Colégio de S. Paulo. Catedrático de História e Geografia do Liceu Maranhense, instituição no qual também foi diretor, ex-diretor da Biblioteca Pública. Sócio fundador da Academia Maranhense de Letras, e correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Suas principais obras publicadas foram: “O Estado do Maranhão em 1896”, 1898; “Apontamentos para a História da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão”, 1898, 1900, 1906; “A Fundação do Maranhão”, 1912; “Apontamentos para a História da Vida e Obras do Senador Candido Mendes de Almeida, 1913; “História do Maranhão” - Edição para a infância-, 1914, 1923; “Limites do Maranhão com o Piauí ou a questão Tutoya”, 1919; “As Revoluções do Segundo Império e a obra pacificadora de Caxias”, 1922; “Ephemerides Maranhenses - 1° Parte Tempos Coloniais”, 1923; “Estado do Maranhão”- Contribuição ao 2° Volume da Introdução Geral do Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. 15 WILSON DA SILVA SOARES (1898-1949): maranhense, com trabalhos publicados em jornais e revistas, especialmente no âmbito de biografias e bibliografias. 16 Sócios Efetivos. 13

Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 14 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 15 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 16 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59.

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ANTONIO LOPES DIAS: maranhense, engenheiro químico e mineralogista, com formação em Ciências Físicas e Naturais pela Universidade de Genebra. Os principais trabalhos publicados pelo mesmo quando da Fundação do Instituto foram: “Contribution a l`Etude Petrographique des Shistes de Casanna dir Val d`Hèrens (Valais Suisse) – et de quelques Grites qui s´y ralttachent”, 1920; “O Sertão MaranhenseEsboço Geológico, físico e Social”, 1922; “ A siderurgia no Brasil”, 1925. 17 FRAN PAXECO (1874-1952): Manuel Francisco Pacheco, Português, natural de Setúbal, chegou ao Maranhão em Maio de 1902. Diplomata, quando da fundação do Instituto e da publicação da primeira revista era ex-consul de Portugal no Maranhão, e cônsul de Portugal no Pará. Fazia Parte da Academia de Ciências de Portugal, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da academia Maranhense de Letras da qual foi um dos sócios fundadores, também das academias de Letras do Piauí e Alagoas, Além dos Institutos Históricos da Bahia, Pernambuco, Piauí e Pará. Fran Paxeco também era professor honorário da Faculdade de Direito do Maranhão, no qual também foi um dos fundadores em 1918. Suas principais obras publicadas foram: “O sangue Latino”, 1897; “O centenário Indiano”, 1897; “O Sr Silvio Romero e a Literatura Brasileira”, 1900; “O Maranhão e os seus recursos”, 1902; “Os interesses Maranhenses”, 1904; “O Departamento do Juruá”, 1906; “A Literatura Portuguesa na Idade Média”, 1909; “Portugal e a Renascença”, 1912; “Angola e os Alemães”, 1916; “O Trabalho Maranhense”, 1916; “Teophilo no Brasil”, 1917; “A Escola de Coimbra e a dissolução do Romantismo”, 1917; “Portugal e o Maranhão”, 1919; “O Pará e a colônia Portuguesa”, 1920, “Geografia do Maranhão”, 1922. Além de publicações em Jornais e Revistas. 18 CARLOTA CARVALHO: maranhense, tendo publicado a obra “O Sertão”, em 1924, era a única mulher presente entre os primeiros integrantes do Instituto. 19 RAYMUNDO LOPES DA CUNHA: Maranhense, professor de História e Geografia do Brasil no Liceu Maranhense, sócio efetivo da academia maranhense de letras; da sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Trabalhos Publicados: “O Torrão Maranhense”, 1904. “Maranhão Sobrinho”- estado crítico - de 1917. “A Civilização Lacustre do Brasil”, 1924. 20 VIRGILIO DOMINGUES DA SILVA: Maranhense, com vários trabalhos publicados sobre estudos regionais do Maranhão em periódicos. 21 DOMINGOS AMÉRICO DE CARVALHO: Desembargador, com publicações em Jornais e periódicos locais, principalmente na área da História. 22 Foram ainda criadas três comissões de estudo, as comissões de Geografia, que contava com a participação de José Domingues, Abranches de Moura e Justo Jansen; a 17

Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 18 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 19 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 20 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 21 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. 22 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59.

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de História com Ribeiro do Amaral, B. Vasconcelos, Ferreira Gomes; e a de Bibliografia com Domingos Perdigão, Arias Cruz e José Pedro. 23 Nota-se certa homogeneidade presente entre os sócios nesse momento inicial do Instituto. Os mesmos eram predominantemente integrantes da pequena elite letrada da São Luís na Primeira República (1889-1930), constituindo-se profissionalmente como professores da Faculdade de Direito ou do Liceu Maranhense, jornalistas, diplomatas, engenheiros, juristas, clérigos e funcionários públicos. A presença de clérigos demonstra a relativa força social que a Igreja Católica ainda detinha junto ao meio social letrado da sociedade ludovicense na época, e havia apenas uma mulher, Carlota Carvalho, na constituição inaugural dos primeiros membros do IHGM. Também se constata, a partir da análise do perfil biográfico dos primeiros integrantes do Instituto, que, no momento de sua fundação, buscou-se a constituição de figuras proeminentes no meio letrado do estado, com a valorização, sobretudo, dos “homens de letras”, com uma vasta produção intelectual e cujos trabalhos viessem a contribuir dentro do processo de consolidação e legitimação da Instituição. Antonio Celso Ferreira ressalta que, O historiador típico dos institutos era o homem erudito, que transitava, com fluência, por diferentes domínios intelectuais. Nas homenagens, fossem póstumas ou em vida, prestadas aos seus mais notórios representantes, delineava-se o modelo ideal esperado: o homem público, pesquisador sério, escritor de múltiplas habilidades e, além de tudo, dotado de uma bela oratória.24 Era esse o modelo de intelectual que os intelectuais constituintes do IHGM buscavam representar, o homem público e pesquisador sério e rigoroso, escritor multifacetado com amplas habilidades e uma bela retórica e que transitasse com plena facilidade pelos mais diversos campos do conhecimento humanístico. 25

23

GEOGRAFIA E HISTÓRIA – REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, São Luís, ano 2, n. 1, novembro, 1948, p.148. 24 FERREIRA, Antonio Celso. A Epopéia bandeirante: letrados, instituições, invenção histórica (1870-1940) – São Paulo: Editora UNESP, 2002, p.123. 25 Cf. FERREIRA, Antonio Celso. A Epopéia bandeirante: letrados, instituições, invenção histórica (1870-1940) – São Paulo: Editora UNESP, 2002, p.123.


DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DE RONALD PEREIRA DOS SANTOS

JOSEMAR RAPOSO


O texto foi encaminhado em como slide – foto, não havendo condições de reveerter para Word.


DISCURSO DE POSSE DE RONALD PEREIRA DOS SANTOS NA CADEIRA 31

18 de janeiro de 2012


DISCURSO DE RECEPÇÃO A ÉDEN DO CARMO SOARES NO IHGM, PROFERIDO POR WASHINGTON LUIZ MACIEL CANTANHEDE NA SESSÃO SOLENE DE 20.01.2012

Exma. Sra. Professora Telma Bonifácio Santos Reinaldo, digníssima presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Caríssimos Confrades e Confreiras, Distintas autoridades, que saúdo na pessoa do juiz de direito Lúcio Paulo Soares, Senhoras e Senhores,

No último trimestre de 1999, na residência de João Francisco Batalha, nesta capital, quando da primeira reunião ampliada, entre filhos de Vitória do Mearim e Arari, para tratar da fundação da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, foi que conheci pesoalmente Éden do Carmo Soares. Não lembro como a ele me apresentei ou fui apresentado, mas se, para fazê-lo, tivesse buscado na compositora e cantora Roberta Miranda versos de sua canção Tinha que acontecer, teria sido muito apropriado: “estou te conhecendo agora, mas eu já te conhecia”. De fato, conhecia-o de nome há exatos dez anos. A rigor mesmo, conhecia-o, inconscientemente, desde sempre, pois compartilhamos a ancestralidade dos Maciel da Ribeira do Mearim e do Maranhão quadricentenário. Há 22 anos, aguardando no terminal rodoviário de São Luís a hora da viagem para minha Vitória do Mearim, passei, como sempre fazia, pela banca de jornais e revistas a fim de comprar algo para ler no ônibus durante as três horas seguintes. Comprei um livro que me chamou a atenção porque sua 4ª capa, na fotografia do autor, estampava um rosto conhecido de vista e porque ali se dizia que ele era da vizinha cidade de Arari. Até então, de autores ararienses, eu conhecia somente a obra do Pe. Clodomir Brandt e Silva sobre história e genealogia locais. Quanto à nova aquisição, tratava-se de um livro de memórias intitulado Um sonho da colheita de outono. O autor, eu tinha visto de longe, várias vezes entre 1979 e 1980. Sempre o via com um porte ereto e sobranceiro,


no bom sentido – diria mesmo que com um certo ar de nobreza, que ele naturalmente irradiava –, acompanhando de perto, e vivamente interessado, os ensaios e apresentações da banda da Escola Técnica Federal do Maranhão naquele período em que ali estudei. Por isso, como disse, comprei o livro, vi que fora publicado em 1987 e que seu autor se chamava José Soares. Velha mania, mantida até hoje: assinei e grafei o local e a data da compra na folha de rosto – “São Luís, 10 de novembro de 1989”. Acomodado no ônibus e lendo o texto da primeira aba, escrito por alguém que até então eu não conhecia – José Fernandes –, descobri, no primeiro parágrafo, que o memorialista nascera no povoado Santa Joana, da região denominada Japão, do Município de Vitória do Mearim. Meu interesse pela leitura cresceu, pois daquele povoado é procedente minha mãe e lá havia morado até morrer, sete anos antes, meu avô materno João Benedito Maciel, mais conhecido como João Doura Maciel. Pulei para o índice – que me perdoe meu hoje duplamente confrade José de Ribamar Fernandes, padrinho do meu ingresso nesta Casa, pois só depois retomei a leitura da aba. Ao passar uma vista d`olhos pela sequência de títulos dos muitos textos daquele memorial, parei no que remetia à página 103 – A festa de São José, promovida por tio Zeca Maciel, em Santa Joana do Japão – e, sem pestanejar, abri o livro ali, além do início de sua segunda metade. De repente, naquela página e nas seguintes, o homem de cabelos encanecidos que eu só conhecia de vista, e de longe, começou a me dizer de fatos, coisas e pessoas da terra dos meus avós maternos, que eu bem conhecia. No texto Um tocador de pífaro ressuscita em minha memória os bailes e pessoas de mais de quatro décadas, destacou a maior participação, nesses eventos, do grupo a que ele pertencia no referido lugar, que denominou de “a grande família Maciel, proprietária das terras de lavoura do povoado Santa Joana”, distinguindo, entre outros parentes, seus contemporâneos José Maciel e Diquinho Maciel, Hamilton Maciel e Paulo Maciel, e... João Doura Maciel! Faltou-me o fôlego. A vista ficou embaçada. O memorialista, que eu só conhecia de vista, da época que contava apenas 16 anos de idade, dizia-me agora, dez anos depois de ter deixado de vê-lo à distância, que meu avô João Doura era seu parente. Acabara de descobrir um parente que eu nunca suspeitei o fosse... Continuando a leitura, soube que o autor José Soares tinha vários filhos e que seu primogênito se chamava Éden. Conhecendo-os assim, ansiei por conhecê-los mais, porém não sabia como fazê-lo. Fiquei aguardando uma oportunidade, que surgiu somente de janeiro do ano 2000 em diante, com a existência da Academia ArarienseVitoriense de Letras. Uma das grandes alegrias: irradiando simpatia, entre os familiares de José Soares encontrei João Doura Maciel redivivo, encarnado e esculpido em José dos Reis Fernandes, outro membro da família Maciel, residente no Rio de Janeiro, que passei a conhecer, primo direto de José Soares e, no mesmo grau em que este o era, primo mais distante e bem mais jovem do meu avô. Tristeza: não pude fruir do convívio com José Soares, pois ele falecera em 1997, aos 81 anos de idade... Todavia, na noite de 29 de janeiro de 2000, na 2ª sessão inaugural da Academia, em Vitória do Mearim, aclamado seu primeiro presidente, proclamei que, como inspiração, devíamos mirar a trajetória de vida de um determinado homem, definitivamente emblemático para a entidade, porque herói dos dois municípios que se irmanavam em torno do ideal daquela casa de cultura, “pois, nascido em um deles, viveu a maior parte da vida no outro, e deixou parentes, amigos e sementes de esperança em ambos”. E, quanto a isso, concluí: “Descendente da família Maciel, nasceu em Santa Joana do Japão - Vitória do Mearim, em 1916. Alfaiate em Arari, criou e educou com honra e desvelo sua prole. Mudando-se com a família para São Luís em 1970, concluiu com êxito os seus estudos, até então de nível primário, indo do curso de madureza


ginasial à Faculdade, formando-se em 1981, aos 65 anos de idade, ainda com vigor suficiente para escrever e publicar dois livros, de memórias, poesia e crônicas. Faleceu aos 81 anos. Por tudo isso, talvez tenha sido ele, verdadeiramente, o homem do século no Baixo Mearim, um homem simples, decidido a alcançar seus objetivos e a deixar um registro da sua luta como luzeiro para as futuras gerações. Chamava-se José Soares. É patrono da cadeira fundada por seu próprio filho nesta Academia, Dr. Éden Soares.” Como vêem, Senhoras e Senhores, Éden do Carmo Soares, cujos méritos adiante serão realçados, razão pela qual hoje toma posse na Cadeira 9 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, tem a quem puxar. Maranhense de Arari, nascido em 16 de julho de 1940, filho de José Raimundo Soares e Francisca Ribeiro Soares, Éden pertence, na verdade, a famílias seminais da Ribeira do Mearim, sendo duas delas fundadoras do próprio Maranhão. Pela linha paterna, é neto de Joaquim Cardoso Soares e Emília Maciel de Sousa; bisneto de Antonio Luís Soares e Mariana Cardoso, pelo lado do avô, e de Justino Ferreira de Sousa e Tolentina Maciel, pelo lado da avó. Esta, era filha de José Thomaz Maciel, que, portanto, é o trisavô de Éden, assim como também é o meu. José Thomaz Maciel – e a partir deste ponto entra o resultado de pesquisas genealógicas que fiz para identificar a origem europeia de uma das linhas da minha ancestralidade, que reconheço, no conjunto, forte e inegavelmente miscigenada – José Thomaz Maciel, como dizia, era filho de José Maciel Parente, neto de Inácio João Maciel Parente e Maria Bárbara Maciel Aranha, bisneto de Antonio Maciel Parente e Mariana Joana Cutrim, trineto de Bento Maciel Parente e Mariana de Araújo Cantanhede, tetraneto de Vital Maciel Parente e Maria de Melo, e quinto neto de Bento Maciel Parente, aventureiro português, natural de Viana do Castelo, que viveu entre o Maranhão e o Pará na primeira metade do Século XVII, desde a expulsão dos franceses, dizimando índios para alargar as fronteiras da América portuguesa, enquanto procriava com as índias, sua paixão, do que lhe resultou, aliás, o filho Vital, marcado por Manoel Beckman com a pecha de bastardo e mameluco e pela história, por ter comandado a expedição que dizimou os índios tremembés. Todos esses integrantes da família, de Vital Maciel Parente a Éden Soares, nasceram e/ou viveram na Ribeira do Mearim. Acusado tantas vezes ao longo da história de ter capitulado, no governo do Maranhão, ante a invasão holandesa, sem disparar um só tiro, sobre Bento Maciel Parente, o Velho, disse, entretanto, o grande historiador João Lisboa, no Século XIX: “Bento Maciel não era um covarde. Simples capitão de um dos navios da expedição de Alexandre de Moura, o seu valor nos combates, não menos que uma atividade devoradora revelada em multiplicadas expedições contra índios e holandeses, o foram cada dia acrescentando em honras e postos, primeiro comandante do forte de S. José de Itapari, depois do [forte] do Calvário, capitão-mor da Capitania do Pará, cavaleiro da Ordem de Cristo, fidalgo da casa real, e governador enfim do Estado do Maranhão.” Esclareçamos que o filho de Bento Maciel Parente, Vital, era casado com sua prima Maria de Melo. Esta era filha de Antonio Teixeira de Melo com Catarina Maciel Parente, irmã do dito Bento Maciel. Teixeira de Melo, natural da Ilha da Madeira, foi quem, definitivamente, após a morte de Antonio Muniz Barreiros, comandou a expulsão dos holandeses do Maranhão, estado que também governou. Portanto, somente para precisar o grau de parentesco, Éden Soares está na décima geração dos governadores Bento Maciel Parente e Antonio Teixeira de Melo. Um, entregou, sem alternativa, o


Maranhão aos holandeses, foi deposto e preso aos 75 anos de idade, e morreu cativo logo depois; o outro libertou o Maranhão do jugo holandês. Neste ponto, uma breve digressão para registrar uma grata surpresa. Definida a cadeira a ser ocupada pelo Dr. Éden Soares no IHGM, patroneada por Bernardo Pereira de Berredo e Castro, descobriu-se que este militar, governador e historiador português, apaixonado pelo Rio Mearim, também se apaixonou, quando visitava sua ribeira no final de 1719, por uma donzela de família tradicional ali residente, com a qual passou a conviver maritalmente. É César Marques quem nos diz na edição revista e ampliada do seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, que preparou mas não viu publicada, o que se deu, finalmente, mais de cem anos depois, em 2008, em edição crítica do grande intelectual maranhense Jomar Moraes: a moça com quem Berredo concubinou-se era Maria de Melo, filha da homônima viúva de Vital Maciel Parente, que se casara novamente, com Diogo Fróis de Brito. Isso faz dos descendentes maranhenses de Berredo, pelos motivos já expostos, também descendentes de Antonio Teixeira de Melo e Catarina Maciel Parente e colaterais dos descendentes de Bento Maciel Parente. A descendência maranhense de Bernardo Pereira de Berredo e Castro, na qual se inclui o próprio César Marques, é, portanto, toda composta de parentes de Éden do Carmo Soares, o novo ocupante da Cadeira 9 do IHGM, patroneada exatamente por Berredo. Magnífica coincidência! Ainda na linha paterna, o bisavô de Éden, Antonio Luís Soares, que eu sei nascido por volta de 1862, foi um dos primeiros dirigentes da Vila do Arari no início do período republicano, como membro do seu Conselho de Intendência em 1891 – informa-nos João Batalha em seu livro Um passeio pela história do Arari. Seu trisavô, que também se chamava Antonio Luís Soares, capitão da guarda nacional, eleitor paroquial e agente consular português naquela vila – o que também nos informa Batalha na referida obra –, era um idealista, empregando-se na feitura de planos para a navegação fluvial, paixão que parece ter sido transmitida ao nosso novo confrade no IHGM, como adiante será demonstrado. Antonio Luís Soares, o Velho, segundo César Marques, em seu Dicionário (verbete Grajaú) fez publicar no jornal O Paiz, em 1869, um Plano para a incorporação de uma companhia de navegação a vapor no rio Grajaú e a abertura de uma estrada marginal ao mesmo rio. A companhia teria sede na Vila do Arari e seus serviços seriam realizados de lá até a Vila da Chapada (Grajaú). O manifesto sustentava a possibilidade de navegação daquele rio, mencionava as vantagens que o empreendimento traria para a lavoura e o comércio e, finalmente, idealizava a abertura de uma estrada que, partindo dos primeiros campos, no município da Chapada, viesse margeando o Rio Grajaú até os campos de São Benedito, no Baixo Mearim. Referida estrada implicaria a redução, em 50%, do tempo gasto para o percurso entre as vilas de Anajatuba ou do Mearim e a Vila da Chapada, calculado em vinte dias, por qualquer das estradas então existentes. Não lhe deram ouvidos, porém. Pela linha materna, Éden do Carmo Soares descende de Lourenço da Cruz Bogea, português da Vila de Paço d`Arcos e filho de malteses. Descende também, entre outros, de Leonardo Pimenta Bastos, português da cidade de Braga, igualmente ancestral de Antonio Rafael da Silva, atual presidente da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, integrando a assistência deste evento. Esses homens, juntamente com Pedro Leandro Fernandes, Nicolau Antonio Rodrigues Chaves e outros, foram, na prática, os fundadores do povoado Arari, entre os anos de 1808-1811, quando surgiu, e passou a atrair fiéis para o seu entorno, a capela de Nossa Senhora da Graça do Arari, filial da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, cuja matriz ficava no Arraial da Vitória, cabeça do Distrito do Mearim, hoje Vitória do Mearim – fato também registrado por César


Marques em seu Dicionário (verbete Arari). À frente de todos aqueles devotos e sedentos de emancipação política, estava Lourenço Bogea, cuja descendência, pela singularidade do nome, é identificável em qualquer parte pelo Brasil afora. Patrono da cadeira 36 da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, Lourenço Bogea é tetravô de Éden, por ser trisavô da mãe deste, D. Francisca Bogea Ribeiro Soares, que, sendo neta de Pedro Alexandre Cardoso Bogea e de Joana Benedita Pimenta Bastos, é bisneta de Leonardo Pimenta Bastos e trineta do português homônimo já citado, que, por isso, assim como Lourenço Bogea, é tetravô do empossando de hoje no IHGM. Senhoras e Senhores, É impossível falar adequadamente sobre Éden Soares, seus irmãos e seus filhos sem falar sobre o casal que deu origem a essa família, deste colhendo, inclusive, as informações que definem os contornos de sua própria saga. Colhe-se na obra memorialística de José Raimundo Soares que ele e Francisca Bogea Ribeiro, carinhosamente conhecida como Nini – neste momento solene, honrando-nos a todos, e extasiando particularmente o filho Éden, com sua presença –, conheceram-se no dia 28 de julho de 1935, um festivo domingo no Casino Arariense, ao que se seguiu namoro e casamento, em 26 de junho de 1937, “entre as alegrias que se confundiam com as festividades íntimas no seio da família da noiva”. Em maravilhosa metáfora da constituição de sua família, diz o autor de Um sonho da colheita de outono: “Abriram-se as portas para outro mundo, na encruzilhada de meu caminho; trocaram-se os cenários e mudaram-se as paisagens. ‘O palco de meu teatro’ foi projetado e sua construção iniciada; o elenco multiplicava-se de um para dois personagens. O meu público seria o mundo que me cercava, aguardando a representação no ‘palco do teatro da vida’. Necessário se fazia que o elenco continuasse aumentando para que se pudesse apresentar algo satisfatório a esse público. Os novos personagens não se fizeram presentes de uma só vez, em um só momento, mas cada um de per si, despreparadamente para desempenhar o papel que a eles o ‘jogo da peça’ se lhes oferecia. A um longo espaço de 14 anos, reuni os novos atores da pequena ‘troupe’. Também não foi breve nem foi fácil a preparação de todos esses elementos para uma representação satisfatoriamente regular. Mas consegui fazê-los conscientes de seus misteres.”

E continua: “Após o casamento, esperamos durante três longos anos para que nosso lar se fizesse enriquecer com o primeiro fruto de nossa ‘seara’. (...) Como sempre ocorre com todo casal que chega ao feliz momento da espera de um filho, também as nossas primeiras preocupações em relação ao futuro daquele que iria chegar se prendiam ao nome, pois este nos pareceu sempre garantir um futuro alvissareiro àquele a quem se pretendia dar, conforme a impressão que nos dera alguém com esta ou aquela denominação, para a vida material ou espiritual. E foi também assim que procedemos, mas sempre num clima de cuidados, para que pudéssemos mantê-los unidos, entre si e ao ‘ninho’ em que iriam ser protegidos. (...)


Quando o primeiro se fez anunciar, a escolha, entre muitas outras, recaiu na palavra Éden, que pela tradição, na história da vida, significa o lugar escolhido por Deus para início da Sua bela criação – o homem, que deveria cuidar e fazer frutificar a semente por Ele semeada naquele Paraíso. Plenamente satisfeitos com a escolha, levamos nosso Éden à pia batismal e confirmamos o nome na esperança de que também o nosso lar se iria constituir no Paraíso que Deus abençoara.”

Seguiram-se o nascimento e a escolha sempre fundamentada dos nomes dos demais filhos, nesta ordem: Élen, Rômulo, Maria da Glória (que faleceu aos 40 dias de vida), José Raimundo, Jofran, Maria Iara e Maria Emília. Os membros da pequena ‘troupe’, longa e dificilmente preparada para uma representação satisfatória de seus papéis no palco do teatro da vida, transmutaram-se, respectivamente, em cirurgião dentista, enfermeira, desenhista industrial, médico, veterinário, geógrafa e pedagoga. Seus diretores teatrais os fizeram conscientes de seus misteres e os educaram, tornandoos úteis a si próprios, à família e à sociedade. Por isso que o alfaiate José Soares e sua esposa Nini chegaram realizados e felizes à maturidade avançada. Ele, sem descurar do próprio progresso intelectual, enquanto impulsionava o dos filhos; ela, nas palavras de Éden em um discurso a seguir referido, a companheira incansável, inspiradora de toda a sua vida, forte e inteligente, sempre sobrecarregada pelas lides domésticas, a quem coube a mais árdua das tarefas nos tempos difíceis: a tarefa de multiplicação dos pães... A infância e a juventude de Éden Soares em Arari foram muito bem delineadas por ele mesmo no magistral discurso de elogio ao patrono da cadeira que fundou na Academia Arariense-Vitoriense de Letras, seu próprio pai, o patrono da Cadeira 16. Em um dos mais belos discursos já proferidos naquele sodalício, disse Éden: “O homem – diz Montaigne – só vale quando emocionado. É esse o sentimento que me assalta nesta noite de grandiosidade ímpar em que, homenageando meu pai, peço-lhe a bênção e, comovido, lanço um olhar para trás, espio a infância esmaecida, a juventude consumida, a maturidade itinerante. Neste retrospecto, avalio-me, corrijo rotas, revivo e sinto saudades e, sentindo saudades, relembro as canções para adormecer, cantadas por minha mãe, percutidas por coração ansioso naquelas noites de céu escuro ou estrelado da Rua da Beira. Se, cedo da noite, era aquele cancioneiro que me fazia adormecer, cedo, porém, da manhã, antes do raiar da Estrela d’Alva, vozes choradas faziam-me despertar; eram as vozes dos carros-de-boi mal despertos que, tangidos pelos carreiros, iam cumprir a sua sina de cantar e de chorar rumo aos verdejantes canaviais da tresidela do Arari, de onde, carregados de cana-caiana, regressavam e despejavam aqueles doces colmos no engenho de Léo. A fumaça da chaminé e as emanações do mel cozido, daquela casa histórica, eram poesias perfumadas na atmosfera das tardes infantis ararienses do mês de junho. Cerro os olhos e deixo passar o barquinho Telúrico, por mim fabricado com folhas de papel de embrulho, para, naquelas tardes chuvosas infantis, deslizar nas águas dos córregos da minha rua, onde, rapidamente impelido pelo turbilhão pluvial, encharcavase e naufragava no meandro, que fazia esse córrego, em frente à casa do tocador de rabeca José Leão. Ainda ouço, no fundo íntimo do meu coração, o ronco e o apito saudoso da Estrela Branca, de Aracaty Campos, na volta da Rabela, que, vitoriosa, chegava em cima da maré enchente de lua cheia.


Sinto eriçar os meus pêlos animados pelas lembranças dos ventos de maio para junho, anunciando o fim do inverno e dizendo que o sol cinzento daquela estação chuvosa era agora o dourado de junho. Buliçoso vento infantil, vindo das campinas e que, doido, invadia o casario arariense, batia portas, tilintava facões, catanas e urinóis pingentes no comércio da vila. “Alevantamento de tempo”, assim se dizia. Tempo de muita coisa: da colheita do arroz, da tapagem do Nema, da safra da lima e da laranja dos sítios do Barreiros. Tempo das férias, dos papagaios de papel de seda empinados pela meninada vadia, dos purgantes-de-vermes que nos deixavam confinados no quarto para não vermos o mato verde. Assombrações, banhos de rio, histórias contadas nas portas das casas sem calçadas em noites enluaradas; bandeirinhas de papel de seda que, adornando a Praça da Matriz, tremulavam em festival de cores na festa de Bom Jesus. (...)A infância se foi. O que dizer então da minha geração juvenil ou, em particular, da minha própria juventude? – Daquela, a minha geração juvenil, incorporada por gente talentosa (...). Diga-se: laboriosa e benfeitora. Convido-os a peregrinar por seus caminhos para encontrá-la instituidora: fundando jornais, teatros experimentais, escolas e eventos culturais, alguns ainda vivos como o Festival da Melancia. E mais viva e vibrante é a Fundação Cultural de Arari com o seu Colégio Comercial iluminando a juventude arariense. Quanto à minha, nela incorporada, assim como em outros ideais luminosos desta terra, deixa-me em posição bastante favorável para o meu próprio julgamento ou para o de terceiros.”

Relembrando as realizações vitoriosas do pai, embora tardias, considerou-as “troféus de quem vem de longe, enfrentando tempestades e batendo em rochedos, viagem em que, muitas vezes, lhe faltaram pão e água”, mas, em postura vertical, desembarcou no Porto da Glória e, usando a experiência daquela viagem, escreveu livros e publicou dois: o memorial Um sonho da colheita de outono e Ressonância de ecos. É quando revela um aspecto interessante de sua mocidade de professor em São Luís: “Ao mudar-se para São Luís, em 1970, aos 55 anos, trazendo um grande ideal no coração, e com razoável preparo intelectual, mas sem nada que atestasse aquele saber, recorre ao Madureza de 1º grau e, bem-sucedido, faz o Curso Técnico de Contabilidade no Centro Caixeiral, onde tivera como professor de Matemática o seu próprio filho [no caso, ele, o próprio Éden]. Aos 59 anos, conclui o aludido curso e submete-se a concurso público federal, sendo nomeado funcionário da Escola Técnica Federal do Maranhão. Enfrenta a Universidade e, aos 65 anos, bacharela-se em Geografia.”

Sim, Senhoras e Senhores, Éden do Carmo Soares exerceu o magistério por dez anos! Tem, entre outros, curso de Matemática promovido pela Divisão de Aperfeiçoamento de Magistério da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Maranhão. No Arari, lecionou no Colégio Arariense, onde prestou notável colaboração para que se instituísse sua Escola Normal. No Colégio Comercial de Arari, do Grêmio Arariense dos Estudantes-GAE, foi grande colaborador e professor. Acabou profissionalizando-se como cirurgião-dentista, formado pela Universidade Federal do Maranhão, e fez breve incursão pelo ramo da construção civil nesta capital. Com vocação militar, como seu patrono Berredo, serviu no Exército Brasileiro como praça. Mercê de sua formação profissional na área de saúde, obtida depois, voltou à caserna como oficial, hoje na reserva não remunerada do Serviço de Saúde daquela Força Armada. Foi diretor do Centro de Saúde Odontológico da Alemanha, bairro de São Luís do Maranhão, de 1982 a 1987, e manteve consultório particular nesta capital.


Conselheiro da Fundação Cultural de Arari, recebeu da Prefeitura Municipal de sua terra, em 1986, menção honrosa pelos relevantes serviços prestados à cultura local. Ali, foi secretário municipal de cultura entre 2007 e 2008, com importantes atividades culturais desenvolvidas em prol da juventude local. Apaixonado por Geografia e pesquisador de temas histórico-geográficos relacionados aos rios maranhenses, especialmente ao Mearim, dedica-se, principalmente, ao estudo de sua fauna ictiológica e de sua navegação. Desenvolveu inventário, com fotografias e notas sobre a biologia das espécies incidentes nesse rio e, por isso, recebeu moção de louvor aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão. Do bojo desse trabalho foram aproveitadas pela empresa TELEMAR, no ano 2000, fotos de indivíduos de várias espécies para ilustração de seus cartões telefônicos. Nauta por vocação, talvez por força da herança genética, navega principalmente pelas águas do Rio Mearim, detendo carta de arrais, conferida pela Capitania dos Portos do Maranhão. Dá gosto ouvi-lo quando discorre, entusiasmado, sobre essa atividade, e melhor ainda é vê-lo em atuação, como pude conferir em pequena viagem exploratória pelo Mearim, realizada em agosto de 2011, na qual o acompanhei com seu irmão Rômulo, nosso confrade João Batalha e o poeta e contista vitoriense Arimatea Coelho. Um dos fundadores da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, tem artigos sobre questões ambientais publicados no jornal daquela entidade, a Folha da AVL. É autor do livro Peixes do Mearim, inventário biológico e iconográfico, ricamente ilustrado com fotografias que ele mesmo fez daquela fauna ictiológica, publicado pelo Instituto Geia em 2005, sob chancela do Ministério da Cultura, como volume 6 da Coleção Geia de Temas Maranhenses. A obra, inovadora, inclusive porque alia a denominação científica à local, cunhada pelo povo do Mearim, foi muito bem recebida pela crítica especializada do país. Horácio Higuchi, zoólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi, prefaciando o livro, pontificou, a propósito: “O Dr. Éden escolhe chamar os peixes pelos nomes populares – ‘vulgares’ não, antes ao contrário! – locais, aqueles adotados pelos ribeirinhos e moradores da região. Nada mais justo e instrutivo. Nestes tempos de globalização massacrante, em que culturas distantes do eixo central são subjugadas a forças poderosas, é importantíssimo defender o conhecimento popular regional e microrregional que espelha a sabedoria do povo e a riqueza do vocabulário nacional. Citando as espécies por seus nomes locais, o Dr. Éden registra, difunde e perpetua o seu uso pela gente da região do Mearim, prestando uma contribuição nada trivial para o patrimônio cultural brasileiro.”

Éden Soares alegra-se com o fato de ter ligações familiares com Vitória do Mearim e viver no seio da grande família arariense, o que o tornou uma referência na academia de letras dos dois municípios, desde quando assestou, com profunda sabedoria poética, no discurso de elogio ao seu pai e patrono: “Inspiração feliz foi a criação desta Academia e coerente foi fazê-la abranger Arari e Vitória. As razões são pontuais: têm elas a mesma gênese e assim carregam nas costas a mesma ancestralidade; alegram-se juntas no mês de setembro para depois padecerem, nos meses restantes, das mesmas mazelas sociais; assentam-se no mesmo chão geográfico e no mesmo segmento do caudaloso Mearim que amedronta na estação chuvosa, inundando campos, lagos e igarapés, mas que no abaixamento das águas é o Nilo que fertiliza margens e pradarias e, com a sua exuberância piscosa, é o pão que farta a mesa de todos com as mais de cinqüenta espécies de peixes.”


Tem ele residências em Arari e São Luís do Maranhão, onde convive com sua mãe, seus irmãos, sobrinhos e, principalmente, com os três filhos que, do seu casamento com a economiária e advogada arariense Terezinha de Jesus Pereira Fernandes, gerou: Éden Júnior, graduado em Economia e Comunicação, auditor da Controladoria Geral da União; Lúcio Paulo, juiz de Direito; e Juliana, médica. Caríssimos Confrades e Confreiras, O novo ocupante da Cadeira 9 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão adentra esta Casa portando, não tanto pelo sangue, mas principalmente pelos feitos, um patrimônio de significativa monta no contexto maranhense. Se é verdade que nesta instituição quase nonagenária que, tal como o povo a que serve, por divisa tem a glória, ele penetra com um séquito de numes que são nossos avós, os avós de todos nós, os pais da pátria maranhense, não menos verdadeiro é que suas credenciais para essa entronização não vieram especialmente do berço. Vieram, sim, da faina incessante que o tornaram o homem de bem, fraternal, laborioso e benfeitor reverenciado simplesmente como Éden do Carmo Soares. Recebamo-lo, pois, amistosa e festivamente com tais credenciais para uma salutar convivência nesta Casa de Antonio Lopes! Éden do Carmo Soares, Como você bem lembrou, evocando Montaigne, o homem só vale quando emocionado. O que valho neste momento é quanto carrego de emoção pela graça de recebê-lo no IHGM. Como bom nauta, entusiasta das viagens pelas estradas líquidas do Maranhão adentro, junte-se agora a nós, continuadores da viagem iniciada por Antonio Lopes e outros, há quase 90 anos, em prol dos estudos da história, da geografia e das ciências afins, notadamente no que diga respeito ao heróico povo maranhense. Seja bem-vindo, meu confrade-parente-amigo!


DISCURSO DE POSSE DE ÉDEN DO CARMO SOARES NO IHGM


DISCURSO DE ANTONIO NOBERTO EM RECEPÇÃO A CLORES HOLANDA

São Luís, 22 de março de 2012. Excelentíssima Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Senhora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, Exmº Sr Antonio Oliveira, Vice-reitor da Universidade Federal do Maranhão Exmª Sra Clores Holanda Silva, historiadora e empossanda Demais autoridades, Caros confrades, caras confreiras; familiares, amigos e colegas de trabalho de Clores Holanda; amigos da imprensa, fotógrafos, funcionários da casa, amigos (as) Oswaldo Luiz Gomes, Raymond e Almerinda Ricart, Imair Pedrosa e Marilene Sabino Demais presentes, boa noite! Primeiramente destacamos que o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, instituição fundada em 1925, é uma entidade formada por homens e mulheres de reconhecido saber e valor literário. Pessoas experimentadas que prestaram e prestam relevante contribuição ao Maranhão, ao Brasil e ao Mundo. As últimas administrações desta casa entraram em processo de renovação do seu quadro de sócios efetivos. A atual diretoria, capitaneada com competência pela presidente Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo – que comigo indicou Clores Holanda para esta vaga – e ancorada pelo incansável vice-presidente Leopoldo Gil Dulcio Vaz, vem imprimindo novo ritmo às ações do Instituto, conhecido como casa de Antonio Lopes. A sócia efetiva e então presidente desta entidade, professora Eneida Canedo, no ano de 2009, sintetizou a missão precípua do IHGM, que é “desenvolver o conhecimento científico, especialmente nos campos da história e da geografia do Maranhão”. Todos os ocupantes das cadeiras do IHGM têm plenas condições de ocupar esta tribuna e fazer com competência a apresentação de novos (as) sócios (as). Porém, nesta noite coube a mim, um dos pequenos nesta seara de imortais, servir de moldura a este


belo quadro chamado Clores Holanda. E o faço alegremente em nome de todos os meus pares, presentes e ausentes. A deusa das flores A sociedade contemporânea tem características consideradas bastante exóticas se comparada às demais. A partir do período Industrial (1750 – 1950 – arredondando as datas) passou a existir, por exemplo, a figura do desempregado. Antes, nos ofícios, na sociedade agrária, trabalhava-se no próprio espaço onde se habitava. O deslocamento diário para a jornada de trabalho, a ida e a volta, que atualmente não raro culmina em grandes engarrafamentos de veículos nas vias urbanas, àquela época, na Sociedade Industrial, ao final da jornada, os trabalhadores voltavam para casa, mas a empresas continuavam com todo o seu patrimônio retido no prédio da fábrica. O valor da empresa estava nos insumos, especialmente, no maquinário e na matéria-prima, e naquilo que foi produzido. Nestes tempos digitais, do computador e do homo conectus, em que os valores e demandas da sociedade migraram, as empresas de tecnologia não mais retêm seu patrimônio ao fim da jornada, pois o mesmo vai embora diariamente quando os colaboradores deixam o serviço, e retornam no dia seguinte. O valor da empresa, portanto, passou a ser medido pelo grau de tecnologia e, principalmente, pela competência e pelo nível de conhecimento do seu staff. Todo este exórdio, confreiras e confrades, senhoras e senhores, tem a finalidade de abrirmos a cortina para acessarmos uma história bonita, singular, quase uma odisséia, repleta de detalhes emocionantes que, tenho certeza, tem um pedacinho de cada um dos presentes. A trajetória de Clores Holanda é marcada pelo amor, carinho, sucesso e pela competência, porém, de uma luta constante, onde o líquido e certo nem sempre era tão líquido e tão certo, visto que ela viveu a aridez da dureza da vida. Clores viu e sentiu na pele – no dizer do meu patrono Augusto Tasso Fragoso – “os travos da injustiça humana”. Mas, repetindo o imperador Júlio Cesar, hoje ela pode dizer: “Vim, vi e venci”. Clóris é, segundo a mitologia grega, a ninfa dos campos, a deusa das flores e da primavera. Em Roma era chamada de Flora, possuindo o mesmo significado. Nosso discurso, como visto, é muito atrativo, colorido, perfumado, gostoso de discorrer, mas sabemos que nem tudo são flores, até porque a primavera não dura o ano inteiro. Além de não ser um mar de rosas a vida é um intenso combate, renhido às vezes, que nossa historiadora e empossanda soube com maestria levar a bom termo. O grande maranhense Humberto de Campos, nascido em Miritiba, lugar que hoje recebe o seu nome, em sua obra Destinos (OPUS EDITORA LTDA. 1983), certa vez nos contou a história de um gênio que, passando pela terra encontrou dois beduínos no deserto da Arábia, quando lhes deu, além de alguns palmos de terra em um oásis, a um, um saco de ouro, ao outro um saco de estrume. Ao voltar no ano seguinte, o gênio observou que o homem que recebeu o saco de ouro continuava com seu ouro. O que recebeu o saco de estrume possuía um jardim, todo coberto de flores. Humberto de Campos finaliza dizendo que “A sabedoria humana..., consiste não na conservação das coisas boas que recebemos, mas em transformar em coisas boas as más coisas que o céu nos dá”. Esta estória, você perceberá, não é, nada mais, nada menos que o resumo da vida da nossa homenageada. Que não encontrou um mundo pronto, cercadinho, bonitinho, mas, impulsionada pela inquietação – comum aos vencedores, aos espíritos evoluídos e bons pesquisadores – e pelas palavras do apóstolo Paulo de Tarso, que, escrevendo aos


romanos os admoestava: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Romanos 12:2). Todo este nhenhenhém você verá ao final, que muito diz respeito a Clores Holanda Silva. Comecemos, então... Inesquecível aquele 30 de novembro de 1979. Aos 19 anos, saindo da adolescência, portanto, muito insegura e com as pernas trêmulas, Clores deixou a residência na Rua de Santaninha e pegou o coletivo na Praça Deodoro. Seu destino era a sala do reitor da UFMA, professor José Maria Cabral Marques, para uma entrevista de primeiro emprego. Aquele tormento infernal, um estado de nervos que parecia lhe dizer que aquele recinto era certamente uma câmara de gás de um campo de concentração, só terminou quando ela adentrou ao local e o reitor, com toda a simpatia do mundo, chamou-a de criança. Ela respirou fundo, descontraiu, o chão retornou e tudo acabou dando certo. O primeiro labor foi como arquivista no prédio que conhecemos como CEB Velho. Deu nova cara aos amontoados de pilhas de papéis. Racionalizou o lugar. E como nem tudo está tão bom que não possa melhorar (tenho certeza que todos aqui já ouviram o contrário desta frase, mas lembrem que estamos falando de Clores Holanda, que é extremamente positiva, pensa positivo e as coisas sempre dão certo), ela fez um curso de Documentação e Arquivo, um perfeito divisor de águas, que lhe deu um upgrade na carreira (permita-me o estrangeirismo). Imagine só, uma pessoa alegre e feliz, autodidata, criativa, apaixonada pelo que faz, que ainda por cima recebe um curso que tem tudo a ver com a sua personalidade e pretensão.... O que isto poderia resultar? Em trabalho bem feito, é claro! E trabalho bem feito, é sabido, sempre atrai a atenção das outras pessoas – para o bem e para o mal. Uma de suas características é nunca esperar cobrança do gestor, sempre se antecipando aos fatos. Observada por todos, não demorou muito para ser “confiscada” por outro setor mais destacado. Tentou algumas vezes o vestibular para o curso de Medicina, e nada! Em um deles faltou só um pontinho. E depois, influenciada pelo irmão historiador Nacor Holanda Silva, investiu em Licenciatura em História e obteve, enfim, em 1985, a glória da aprovação. Hoje, Clores é graduada e pós-graduada em História pela Universidade Federal do Maranhão, além de ter iniciado mestrado em Franca-SP, mas o infortúnio da perda de um dos irmãos, trouxe-a de volta ainda nos primeiros meses do curso. Em 2005 concluiu especialização em Gestão de Arquivos, também pela UFMA. Publicou diversos artigos e livretos, geralmente ligados à administração da UFMA e ao Palácio Cristo Rei. Entre eles: Histórico do Palácio Cristo Rei (2005); Os significados e usos das vestes talares na Universidade Federal do Maranhão (2011); A bandeira da Universidade Federal do Maranhão (2011); Os reitores da Universidade Federal do Maranhão – Gestão Pedro Neiva de Santana – 1967-1968 (2011), dentre outros. Nossa confreira – já posso chamá-la assim – é esta pessoa competente, de valor, que conhecemos. É totalmente dedicada e devotada ao trabalho, como é sabido pela maioria dos presentes. É romântica, agregadora e de incontáveis virtudes. Sempre solicitada, vez que tudo faz com singular amor e competência. Senhoras e senhores, quem quiser saber mais sobre a vida profissional da nossa empossanda está convidado (a) a tomar um cafezinho com ela. Você vai ter muito a ouvir, a ficha é extensa. Ou poderá dar uma espiadinha no curriculum dela, que ficará à disposição no IHGM, pois agora vamos nos ater ao momento que moldou a personalidade gostosa, alegre, jovial, descontraída e vitoriosa da nossa estimada noviça confreira.


Meus avôs diziam que nunca se deve perguntar ou falar a idade de uma dama, por isso, digo que Clores tem um pouco mais de primaveras que este que vos fala e bem menos que nossos confrades Vavá Melo e Aimoré Alvim. Ela nasceu em Presidente Dutra – MA, “quando o sino batia as 18h30”, no dizer da sua adorável mãe. É a antepenúltima de uma família de dez irmãos. Usou azul e branco até aos sete anos, quando também cortou o cabelo – foi promessa materna! Boas lembranças são as roupas rodadas, o branco, o azul, a escola e os colegas, a fartura na mesa, o aconchego da mãe e dos irmãos. Seus pais Geraldo Holanda Cavalcante e Maria Nazaré Gomes Holanda Cavalcante, conhecida por Zazá Holanda, ambos falecidos, foram seus balizadores. Na verdade os pais de Clores foram obrigados a casar porque, em um baile, ele deu um beijo na boca da mãe dela. Isto passado apenas três dias daquela “imoralidade”. Beijar na boca já foi coisa muito grave. Se ainda hoje cada beijo resultasse em um casamento tenho um parente que, de cada balada, voltaria com umas dez sogras. Dona Zazá amava Clores a mais da conta, tanto amor materno transpôs décadas e chegou aos nossos dias na forma de um olhar sereno e um sorriso alegre, que fala muito daquela infância bem vivida. Seu maior sonho era usar roupa encarnada. Desejo inesquecível. Na cidade natal estudou no Convento, que era uma escola de freiras, a melhor da cidade. Era muito sapeca. Brigava com a irmã, pois tinha ciúmes dela. A luz apagava as dez da noite, ocasião em que aproveitava para brincar de roda à luz da lua com seus belos cabelos cacheados. O pai dava uma vida confortável aos filhos e a toda a família, viviam tranqüilos naqueles anos sessenta. A fartura era tanta que, para agradar a todos os filhos, cada um ganhava uma melancia. Mas, como falamos acima, a primavera não dura o ano inteiro. E o certo e líquido, foi deixando de ser tão certo e tão líquido, quando a política, felicidade de uns e tristeza de outros, mostraria sua face perversa àquele clã alegre e feliz. Seu pai, por esses revezes da vida, perdeu o tabelionato, e ficou abalado emocionalmente. O apoio outrora constante de amigos e parentes se tornou escasso. A família migrou para Santa Inês. Nada melhorou. No ano seguinte retornaram a Presidente Dutra sem o triunfo pretendido. A mãe colocou comércio. Aos doze anos Clores foi estudar em Aracaju, capital de Sergipe. O pai faleceu no ano de 1975. Nesse período os irmãos mais velhos já ajudavam no sustento da família. Entre eles destacouse Pergentino, que se tornou jornalista e foi o pai de todos. Naquele mesmo ano do passamento do pai, trouxe a família para São Luís. Clores se tornou bolsista no colégio Santa Tereza. Depois estudou no colégio MENG. Clores rima com UFMA, vez que praticamente toda sua vida profissional e acadêmica foi nesta instituição de ensino superior. Sempre teve medo de alma, mas adora cemitério, “lugar de paz”, diz com certa empolgação no rosto. Qualquer semelhança comigo não é mera coincidência. A diferença é que não tenho medo de alma. A missão dela é cuidar da irmã e da família. Considera o horário do almoço uma hora sagrada. Foi feliz duas vezes. Teve dois amores. Sua frustração é não dirigir, tem um carro que fica parado na garagem, mas prefere andar de ônibus. É mãe e cúmplice da jovem e bonita Marcella Holanda Mendes, formada em Design de interiores e graduanda em Administração no UNICEUMA. Ela diz com olhar de mãe coruja – “Marcella é a razão da minha vida!”. Vou ficando por aqui, até porque o patrono de Clores é um vulto gigante, que demanda muito tempo para apresentá-lo. Mas não poderia deixar de dizer que se a vida dela teve grandes percalços ou não foi um “perfeito mar de rosas”, ao menos agora ela pode cantar como Edith Piaf: Non, rien de rien, non, je ne regrette rien. Ni le bien qu’on


m’a fait. Ni Le mal. Tout ça m’est bien égal – “Não, nada de nada! Eu não lamento nada. Nem o bem que me fizeram. Nem o mal. Tudo isso tanto faz!”. Portanto, minha amiga e confreira, pela competência, simplicidade, amor, serenidade, ternura, devoção, alegria e vitória é que o teu jardim está tão florido. Por tudo isto, pelo majestoso amor ensinado por Dona Zazá, a boa criação, providência e carinho dos irmãos, é que você exala o bom perfume. Puseram-te o nome Clores profetizando, quem sabe, que um dia você seria A deusa das flores. Por isso, em nome de todos os confrades e confreiras desta casa de Antonio Lopes, convido-te a entrar neste Instituto. Embeleze-o e perfumeo ainda mais. Muito obrigado!


DISCURSO DE POSSE DA HISTORIADORA CLORES HOLANDA SILVA NA CADEIRA DE NÚMERO DEZOITO PATRONO: JOÃO FRANCISCO LISBOA

São Luís, 22 de março de 2012. Excelentíssima Senhora, Professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Meus Confrades e minhas Confreiras, Colaborados de Trabalho do Palácio Cristo Rei, Funcionários da Universidade Federal do Maranhão, Parceiros dos Museus e representantes de espaços culturais de São Luís, Meus familiares, aqui representados pela minha única filha, irmãos, irmãs, sobrinhos, sobrinhas, cunhadas, tias, primos e primas, Meus Amigos e minhas amigas, Autoridades presentes, Meus Senhores e minhas Senhoras, boa noite!

É com o coração transbordando de alegria que me encontro diante dos senhores e senhoras para assumir, na condição de Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, a Cadeira de nº. 18 e que tem como Patrono João Francisco Lisboa. Interpreto a minha posse e o quanto me é grata, em termos pessoais, a distinção que o Instituto me acaba de conferir, principalmente vindo de um órgão que cultua a pesquisa, buscando realçar aspectos da história local, salientando a importância da região na composição da história nacional.


Para chegar a este momento houve muitos percalços, mas nunca desistir diante dos obstáculos impostos pela vida. É como dizia Fernando Pessoa: “Pedras no caminho eu retiro todas quem sabe eu poderei construir um castelo”. Mediante estas dificuldades vencidas eu quero agradecer àquele que sempre foi e é a minha fortaleza: O Deus Pai Todo Poderoso, Criador do céu e da terra, por me permitir ter chegado a mais esta conquista; assim como agradeço aos meus pais por terem transmitido os princípios da dignidade e da educação, transformando-me nessa pessoa que sou hoje; a minha família pelo apoio, em especial ao meu irmão Pergentino Holanda, pelo apoio moral, escolhido pela irmandade como o nosso pai e herói; e, ainda faz-se necessário um agradecimento especial aos responsáveis diretos pela concretização deste meu rito de iniciação neste sodalício, ou seja, àqueles que indicaram e aprovaram o meu nome. Assim, quero publicamente, neste instante, agradecer à Presidente desta Casa, a Professora Telma Bonifácio dos Santos e Antonio José Noberto da Silva (escolhido por mim como padrinho desta solenidade), e aos meus novos pares a aprovação para pertencer aos quadros desta nobre Instituição mais do que centenária. Confesso a vocês a minha emoção de passar a habitar esta Casa, na condição de uma legítima moradora, fortemente aumentada pelo fato de ter ela por Patrono a personalidade tão digna e ilustre de João Francisco Lisboa. Sinto-me à vontade, principalmente porque muitos dos confrades e confreiras deste órgão trabalharam ou ainda trabalham como eu na Universidade Federal do Maranhão, Instituição amada por mim há 32 anos. Dentre eles, citarei apenas os que eu tive o privilégio de conviver no mesmo ambiente de trabalho, como: Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo – já foi Presidenta deste Instituto. Prestava serviços de assessoramento na antiga Secretaria de Planejamento – SEPLAN, atual Pró-Reitoria de Gestão e Finanças. Quantas vezes datilografei textos e documentos oficiais com o seu nome, naquelas antigas máquinas de escrever, Tekne 3 e 7! Hoje, peça obsoleta; Célio Githay Vaz Sardinha – atuava como Engenheiro Civil, no antigo Departamento de Planejamento Físico, atual Departamento de Obras, quando eu exercia a função de Secretária deste Setor. Nessa época a UFMA sediou a primeira SBPC, que propiciou o desenvolvimento de projetos voltados à reestruturação do Campus Universitário como a construção de muros, guaritas, parada de ônibus, passarelas de acesso de um prédio ao outro, sinalização de trânsito vertical e horizontal, entre outras obras, das quais providenciei o Termo de Recebimento. E, finalmente, o gestor atual da Universidade Federal do Maranhão, o Professor Doutor Natalino Salgado Filho, fazendo parte de sua Equipe de trabalho, desde o mês de dezembro de 2007, e quero ressaltar o seu empenho e competência como gestor desta Instituição, realizando uma gestão de renovação, mudando os rumos da UFMA, propiciando a comunidade universitária, como ele próprio diz em seu artigo publicado no Jornal O Estado do Maranhão, do dia 29 de janeiro do presente ano: ... “um ambiente acadêmico renovado que inspira vontade de trabalhar, de ensinar, de pesquisar e de realizar atividades de extensão tanto pelas condições físicas, técnicas e operacionais como pela renovação tecnológica que todos os setores estão passando”... Diz ainda, ... a UFMA, aos 45 anos, está mais jovem a cada dia e, nessa renovação, tem deixado o seu papel passivo de lado e assumido um papel ativo, a partir de um trabalho de interação com a sociedade civil, isto é, a UFMA tem trabalhado cada vez mais para resolver os problemas da sociedade civil e esta tem procurado sempre mais a UFMA como fonte de reflexão qualificada e de produção de conhecimento privilegiado”.


Enquanto aluna do Curso de História da UFMA, tive o privilégio de ter como professoras minhas confreiras, Telma Bonifácio, atual Presidenta do IHGM e Maria Esterlina de Melo, Coordenadora do referido curso, que sempre nos recebia cordialmente e sem contar o grande trabalho realizado por ela como membro da Comissão do Plano de Trabalho de criação do Memorial Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão. Hoje, estamos à frente desse órgão, buscando o desenvolvimento de projetos necessários à sua consolidação como espaço de divulgação, preservação e registro da memória da primeira Instituição de Ensino Superior do nosso Estado. Também, cito outros colegas da UFMA, sócios deste sodalício; que embora não tenha convivido diretamente com eles no mesmo ambiente de trabalho, pude acompanhar o desempenho de cada um. Eis, portando alguns deles: O professor Aymoré de Castro Alvim – por muito tempo exerceu o cargo de Chefe do Departamento de Patologia, eleito por vários mandados em reconhecimento ao seu trabalho; o Professor Márcio Soares Leite, Chefe de Gabinete da primeira gestão do Dr. Natalino Salgado Filho, Dr. Gutemberg Araújo e a professora Joseth Freitas. Se esqueci de citar o nome de alguém, peço as minhas desculpas. Então, como vocês podem ver a UFMA está bem representada neste Instituto, o qual agora passa a me receber como Sócia Efetiva. Ancorada na história destes que ajudaram a construir a história da Universidade Federal do Maranhão e estão tendo a oportunidade de contribuir na pesquisa sobre nosso Estado, como confrades e confreiras do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, e tomada por um sentimento de regozijo, quero manifestar a minha grande satisfação, na condição de Sócia Efetiva desse Instituto. Recebi a notícia da eleição como um verdadeiro presente antecipado para homenagear João Francisco Lisboa, principalmente quando tomo posse no dia que marca o seu aniversário de 200 anos e justamente no ano alusivo aos 400 anos da fundação de São Luís, ilha de encantos e beleza, que passei a residir desde o ano de 1975. Confesso a vocês, ser o mês de março um mês de acontecimentos marcantes na minha vida como posso relatar: No dia 11, na Cidade de Presidente Dutra, precisamente as 18h30, sair do ventre da minha mãe. Chorei quando cortaram o cordão umbilical que unia os nossos corpos. Relutei, e, finalmente Deus soprou nas minhas narinas e comecei a respirar pela primeira vez o ar da vida. Em 18 de março de 1996, meu irmão caçula, João Holanda Neto partiu para a eternidade. No dia 7 de março de 2007, perdi, mas o céu ganhou mais uma estrela: a minha amada mãe, Maria Nazaré Gomes Holanda Cavalcante, mas conhecida como Zazá Holanda, cuja presença dela em minha vida foi e continua sendo muito forte. Por isso tenho certeza que neste momento ela está irradiando luz nesta solenidade rogando por mim e por todos nós. No dia 7 deste mês, a nossa família cresceu, nasceu Isabel, sobrinha-neta. E, hoje, a primogênita da irmandade, Vanda Maria Gomes Ferreira, fruto do primeiro casamento da minha mãe, completa 70 anos de vida, nascida no dia do aniversário de João Francisco Lisboa, onde quero render-lhe uma homenagem, citando esse trecho encontrado no Diário da minha mãe sobre o dia do seu nascimento: “... Em uma linda manhã do dia 22 de março de 1942 nasceu a minha linda filha. A que recebeu o nome Wanda Maria Gomes Ferreira. Na hora que ela nasceu o sino da Igreja tocava a última chamada da Missa das oito, não encontro nunca encontrei palavras para expressar a minha alegria no dia feliz que fui mãe, mas como felicidade não existe é o momento quando minha Wanda fez 40 dias de nascida o pai dela morria na vizinha Cidade de Codó...”.


Mediante essas marcas registradas na minha memória, de um passado atávico, permitiram-me destacar alguns aspectos, a partir da condição de Historiadora e de Gestora de um museu, os fatos que antecederam o meu ingresso no quadro de titulares do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, somando-se outros fatores. O primeiro contato com o IHGM foi através da Professora Telma Bonifácio, quando ela esteve a minha procura, aqui neste Palácio, belo exemplar da arquitetura ludovicense do Século XIX, de construção neoclássica, a fim de utilizar o seu espaço para sediar o 1º Ciclo de Debates sobre os 400 anos de São Luís, iniciado no dia 28 de julho de 2011, dia alusivo à adesão do Maranhão a independência e finalizado em outubro de 2011, ocasião que tive de mostrar o trabalho ora realizado no Palácio Cristo Rei: “Guardião das Memórias da UFMA”, denominado assim, por abrigar em seu espaço o Memorial Cristo Rei, museu específico sobre a Universidade Federal do Maranhão. Durante a realização do evento passei a conhecer um pouco sobre o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, nascendo daí o meu interesse em contribuir com este Instituto, onde tive a oportunidade de apresentar um artigo em forma de comunicação oral. A partir daí, silenciosamente vislumbrei a possibilidade de ingressar como Sócia efetiva deste Instituto, que para alegria minha o desejo foi consumado através da Carta nº 009/2012 – GB/IHGM, datada de 26 de janeiro de 2012, informando que a assembléia do dia 25 de janeiro aprovou o meu nome para ser empossada como Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Minhas Senhoras e Meus Senhores. Gostaria de dizer-lhes que recebi o resultado da aprovação do meu nome com grande humildade, quando passei a integrar o quadro de membros desse Instituto. Quero ressaltar que o nosso objeto preferencial de estudo chama-se Universidade Federal do Maranhão, lugar das nossas experiências administrativas e culturais, vivenciadas, tanto como aluna como funcionária, associando-me às histórias vividas pelos que me antecederam. É nesse contexto que se dá a educação como processo de criação do homem para a sociedade para benefício do homem. “(...) o homem, ao ser educado pela sociedade, modifica esta mesma sociedade, como resultado da própria educação recebida. Ai consiste o progresso social, no processo de autogeração do saber e da cultura” ADLER, 1997, p.20. A sociedade se torna, assim, a mediadora entre os homens no processo de criação e transmissão da cultura, na qual consiste a educação. O nosso vínculo com a Universidade Federal do Maranhão, ao longo da nossa vida profissional, e na condição de historiadora e gestora de um museu nos deu e está nos dando a oportunidade de contribuir para a gestão da cultura de nossa Cidade. Como funcionária pública, vestindo e abotoando os botões das competências a mim incumbidas, realizando com transparência, dedicação e zelo a jornada de trabalho; como Historiadora e Pós-Graduada em Gestão de Arquivo, no Cargo de Coordenadora do Memorial Cristo Rei, registrando, preservando e divulgando a memória desta Instituição, no cenário local, nacional e internacional, conseguindo unir as nossas duas formações básicas, a de Arquivista, primeiro cargo ocupado na UFMA e a de Historiadora. Neste contexto, a UFMA, como Instituição de Ensino Superior serve como espaço de reflexão e criação de conhecimento, através da experiência no Memorial Cristo Rei, por guardar em seu acervo documentos indispensáveis para a compreensão da interrelação entre educação, pesquisa e avanço da ciência. Nesse aspecto a pesquisa emerge. Portanto, meus senhores e minhas senhoras é uma grande honra poder ingressar no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, principalmente em poder ressaltar aspectos da vida e obra desse grande maranhense, chamado João Francisco Lisboa.


Quanto à Instituição que me recebe como Sócia Efetiva, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sua fundação ocorreu em dezembro de 1925, por Antonio Lopes da Cunha com a ideia de um Instituto de História e Geografia, apoiado por Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilason Soares e José Ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de São Luís apoiaram calorosamente a idéia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto. Em 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutido e votado os estatutos e eleita a diretoria cujo Presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito Presidente da Assembléia Geral. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão tem dentre seus objetivos, estudar, debater e divulgar questões sobre a história, geografia e ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão em cooperação com os poderes públicos que visem o engrandecimento científico e cultural do Estado; estimular o estudo da História, da Geografia e das Ciências afins, em todo o país, particularmente neste Estado. Uma das funções do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão é o de fomentar pesquisas e disseminar informações delas decorrentes, que possibilitem a nossas autoridades uma tomada de decisão. Portanto, os princípios que nortearam a criação do IHGM continuam a ser de uma atualidade reconhecida por todos. Como sabemos o momento histórico vivido por nosso país, está profundamente marcado por uma globalização sem precedentes, tanto da informação e do conhecimento, como dos mercados, do qual podem surgir novas oportunidades, há pouco insuspeitados, para muitos indivíduos e, diria mesmo para populações inteiras. Como membro desta prestigiada e mais do que centenária Instituição, tenho as melhores razões para me sentir honrada com esta conquista, atribuída por uma Instituição com tão elevados pergaminhos, que acompanha a vida intelectual deste Estado. Na verdade, quer enquanto funcionária pública federal quer enquanto gestora de um museu universitário, sempre atribui um significado e uma importância muito especiais a Instituições como esta, que são fruto da visão e da vontade de cidadãos livremente empenhados numa causa de profundo alcance social. Foi a partir dessa conjugação de vontades, entre industriais e políticos, científicos e homens de letras, que se lançaram os alicerces da notável coleção de documentos sobre a história e geografia do Maranhão que o Instituto mantém à sua guarda. A cadeira que passo a ocupar teve três antecessores, mas, cabe-me, agora, falar do Patrono e que passo doravante a ocupar a Cadeira de nº. 18, João Francisco Lisboa, ressaltando a sua trajetória de vida. Para tanto, tive que debruçar na pesquisa científica, tentando conciliar o trabalho na UFMA, que me consome oito horas por dia e o restante do tempo, disponível a minha família. As informações aqui reportadas se baseiam nos dados publicados por seu contemporâneo e amigo íntimo Antônio Henriques Leal, no “Notícia acerca da vida e obras de João Francisco Lisboa”, que precede maranhense, editado em 1857 pela Imprensa Nacional de Lisboa, embora em 1977 tenha saído o livro João Francisco Lisboa Jornalista e Historiador, de Maria de Lourdes Menaço Janotti, em 1986, entre outras obras e fontes. Ao apresentarmos João Francisco Lisboa, começaremos falando um pouco da sua origem. Seu nascimento ocorreu no dia 22 de março do ano de 1812, na Cidade de Pirapemas, no Estado do Maranhão. Ele foi o primogênito do casal João Francisco de Melo Lisboa e Gerardes Rita Gonçalves Nina. Iniciou os estudos em São Luís, onde viveu até os onze anos, quando voltou à sua terra natal, Pirapemas, permanecendo lá até


a idade de quatorze anos. Com o falecimento do pai, voltou para a Capital da Província, a fim de trabalhar no comércio como Caixeiro da loja do Negociante Francisco Marcos Rodrigues. Nessa profissão trabalhou no período de 1827 a 1829. Depois, dedicou-se intensamente ao estudo, sob a orientação de alguns mestres renomados, entre os quais o professor de Latim, Francisco Sotero dos Reis. Depois, separados por divergências de natureza política, os dois se tornaram adversários ferrenhos. É como podemos mostrar que Sotero dos Reis, em seu Curso de Literatura, gabou-se de ter contribuído para a educação de João Francisco Lisboa, no entanto, fez sérias restrições ao mestre. Na carreira profissional, João Francisco Lisboa, quer enquanto Jornalista, Historiador, Escritor, Político, Literato, Advogado e intelectual, tornou-se um autodidata, tendo se dedicado ao jornalismo e à pesquisa histórica, registrando de forma única aspectos da sociedade política do Maranhão. Exerceu o jornalismo num tempo de efervescência política (a Regência e o início do Primeiro Reinado). O Brasil estava aprendendo a se governar, tempo de ataques aos portugueses, de conflitos entre as oligarquias, de rebeliões populares e de grande influência da imprensa. Os jornais, muitos deles simples pasquins, eram a principal arma de luta política: os jornalistas punham sua pena a serviço dos partidos e facções em conflito. No Jornalismo, João Francisco Lisboa fez sua estréia após a suspensão da circulação do Jornal Farol Maranhense, dirigido por José Cândido de Morais, em 1832, após sua morte. Assim, fundou o Brasileiro, seu primeiro diário. Para continuar a pregação doutrinária do grande jornal, fez reviver o Farol, assumindo sua direção por dois anos. De 1834 a 1836, dirigiu o Eco do Norte, também retirado de circulação. Aí termina, segundo o seu biógrafo Antonio Henrique Leal, a primeira fase da carreira de jornalista do escritor. Aos 29 anos de idade, no dia 20 de novembro de 1834, aconteceu o casamento de João Francisco Lisboa com D. Violante Luísa da Cunha, sobrinha de João Inácio da Cunha, Visconde de Alcântara. O casal não teve filhos. Adotou uma filha de Olegário José da Cunha, a qual veio a falecer pouco depois. Outra filha de Olegário foi adotada pelo casal e sobreviveu a ambos, tendo, já idosa, assistido à inauguração da estátua do pai adotivo, na Cidade de São Luís, na Praça João Lisboa, em 1918. O Escritor Viriato Correia (1884 – 1967) foi quem fez, como Deputado Estadual, o Projeto de Lei mandando erigir uma estátua ao ilustre maranhense. Somente em 28 de julho de 1901, através da Resolução nº. 14, que o histórico Largo do Carmo passou a ser denominado Praça João Lisboa, em homenagem à memória do grande mestre do Jornalismo, e um dos mais corretos escritores de nossa língua, João Francisco Lisboa, sendo que ele residiu muitos anos neste local. Sobre a Praça João Lisboa, temos a dizer que ela ficou famosa no Século XIX, porque durante muito tempo, no largo antigo, grupos de pessoas se reuniam todas as tardes para comentar a vida da cidade. Era lá também que os intelectuais costumavam se encontrar à noite para discutir arte, literatura e política. Nesta praça aconteceu um dos mais importantes fatos históricos maranhenses, a batalha travada entre holandeses invasores comandados por Anderson e a tropa do português Antônio Teixeira de Melo, em 1643. O Convento do Carmo, que pertencia à Ordem dos Carmelitas e depois passou para o controle da Ordem dos Capuchinhos, serviu de abrigo para os portugueses durante a expulsão dos holandeses. Por esse logradouro passaram todos os movimentos políticos e sociais da cidade. Possui numa de suas alas a estátua francesa do escritor. Vejamos como Domingos Vieira Filho, no livro Breve História das ruas de São Luís, recorda com nostalgia, a Praça João Lisboa:


“povoada de sombra espessa, dadivosa, fresca, aprazível, com bancos terminando os encostos laterais em cabeças de carneiros modelados em cimento e gesso, era o coração, a alma, o centro nervoso da Cidade, onde funcionava um poderoso mecanismo de censura social, cadinho, maravilhoso e infalível”. Nos relatos dos jornais oposicionistas do governo do início do século, a Praça João Lisboa era uma espécie de “menina dos olhos” do Governador Benedito Leite. Político influente conduziu, sob sua batuta, os destinos políticos do Estado pelo menos durante 15 anos até a sua morte em 1909. A Praça João Lisboa, extensão do Largo do Carmo, constituía-se numa das partes mais suntuosas da cidade, merecendo toda a atenção da ação do poder público no início do Século XX. Com calçamento em perfeitas condições, banco, e excelente arborização, faziam daquela área uma das mais aprazíveis da cidade. Ao final de sua carreira jornalística, João Francisco Lisboa passou a trabalhar na administração pública, no Cargo de Secretário do Governo durante três anos, oportunizando-lhe um período de duas legislaturas como Deputado Provincial. Dois anos depois, em 1838, retomou ao jornalismo, assumindo a direção da Crônica Maranhense, em sua fase áurea como Escritor. Na concepção de Antonio Henrique Leal, “A Crônica era um jornal de combate, especialmente criado para defender os interesses do Partido Liberal, reproduzindo a história viva das lutas políticas daqueles anos”. Em dezembro de 1840 deixou de circular. Historicamente, era o período difícil da Regência e da Maioridade de D. Pedro II. Na Tribuna Parlamentar e na imprensa, Lisboa defendia princípios da liberdade e interesses do povo. Por esta razão teve que se afastar temporariamente da política, dedicando-se à literatura e à advocacia. Em 1847, recusou o convite que lhe fizeram os liberais para se apresentar como candidato a Deputado Geral. Aceitou, contudo, a participação na Assembléia Provincial para a qual foi eleito no ano seguinte. Somente em 25 de junho de 1852, saiu o primeiro número de Timon (usava o pseudônimo de Timon onde o autor foi buscar no filósofo grego conhecido pela misantropia pelo ódio à humanidade (costumes políticos da época). O Timon era um folheto composto de 100 páginas, inteiramente redigido por Francisco Lisboa. Os cinco primeiros números circularam mensalmente. Em 1854 saíram, em volume de 416 páginas, os fascículos de 6 a 10; e o 12 saíram em março de 1858, quando o publicista residia com a família em Lisboa. Atacou, entre outros, Varnhagen, pelo método que empregou na História do Brasil. Apareceu, então, em Lisboa o panfleto Diatribe contra a timonice. Seu Varnhagen replicou no opúsculo Os índios bravos e o senhor Lisboa (Lima, 1867.) Vejamos como José Guilherme Merquior se refere ao Jornal de Timon: “as narrativas e reflexões do Jornal de Timon [...], fruto do silêncio do publicista, trocando a ênfase pelo juízo irônico, buscando por trás dos costumes e das ideologias as molas ocultas do comportamento humano, [...] soam como palavra íntima, em que os recursos expressivos da língua são o instrumento de uma crítica da experiência”. Em 1855, João Francisco Lisboa transferiu-se para o Rio de Janeiro, passando a colaborar no Correio Mercantil. No ano seguinte, incumbido pelo Governo Imperial foi encarregado de substituir Gonçalves Dias junto aos arquivos portugueses, em Lisboa, visando colher dados elucidativos da história do Brasil, começando aqui a sua carreira


de Historiador. Lá, pesquisou também sobre a vida do Padre Antonio Vieira, para uma biografia, que ficou inacabada. Após um período de intenso trabalho em arquivos portugueses, realizou uma viagem de despedida ao Maranhão, no período que vai de 5 de junho a 11 de dezembro de 1859. Nos anos posteriores, o estado de saúde do Escritor tornava-se cada vez mais precário, e ele veio a falecer às duas horas da madrugada em 26 de abril de 1863. Ainda em 1855, já de volta ao Maranhão, D. Violante da Cunha Lisboa tomava providências para que o corpo do marido fosse trasladado de Lisboa para São Luís. Houve alguma demora, e somente em 24 de maio de 1864, depois de um ano ali chegou o brigue angélia 1ª, conduzindo a bordo os restos mortais de João Francisco Lisboa. Logo após o regresso de D. Violante Lisboa ao Maranhão, os amigos da família, destacando-se à frente deles Olegário José da Cunha e Antônio Henriques Leal, iniciaram as gestões para que fossem reunidas todas as obras de João Francisco Lisboa, incluindo-se entre elas a Vida do Padre Antonio Vieira, inacabada. Nos estudos que realizamos sobre João Francisco Lisboa, pude perceber que ele foi um político honestíssimo, de vida pública exemplar, desde as atividades que desenvolveu e as obras que produziu ele é um típico representante de uma época e de uma sociedade. Foi um dos homens mais importantes da literatura maranhense e integrante do primeiro grupo de destaque literário do Maranhão chamado Os AteniensesForam seus contemporâneos Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Joaquim Serra, Francisco de Sá, Sousa Andrade, Antonio Henriques Leal, Cândido Mendes de Almeida e César Augusto Marques. O Jornalista, Escritor, Historiador e Crítico Político João Francisco Lisboa (18121863) foi um dos homens mais importantes da literatura maranhense e integrante do primeiro grupo de destaque literário do Maranhão, chamado Os Atenienses. Neste ano em que São Luís completará 400 anos essa data de hoje é muito significado para o nosso Estado, pois marca os 200 anos do nascimento do escritor nascido em Pirapemas. A sua representatividade na literatura, política e história do Brasil é inquestionável. Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Professor Telma Bonifácio. Meu padrinho Antonio Noberto. Ilustríssimos membros do nosso Instituto maranhense, doravante confrades, quero apenas manifestar a minha gratidão e reiterar a minha alegria de estar entre vós, e o quanto me sinto honrada em ter o nosso nome aprovado para integrar o quadro de membros deste importante Instituto, reafirmando o meu compromisso com a História dessa terra abençoada, terra dos nossos antepassaados e pátria símbolo de todos os brasileiros. Agradeço àqueles que estão partilhando deste momento ímpar da minha vida, e ainda faz-se necessário um agradecimento especial aos responsáveis diretos pela concretização deste meu rito de iniciação neste sodalício, ou seja, àqueles que indicaram e aprovaram o meu nome. Assim, quero publicamente, neste instante, agradecer à Presidente desta Casa, a Profª. Telma Bonifácio e ao Antonio Noberto, que mui gentilmente indicaram o meu nome. Enfim, a todos os sócios efetivos que, em assembléia, aprovaram a minha indicação. Muito obrigada.


AULA PÚBLICA – SOBRE O VINHAIS VELHO

VINHAIS VELHO AMEAÇADO PELA VIA EXPRESSA ANTONIA MOTA A comunidade de Vinhais Velho passou por todos os momentos da história das Américas. Foi terra indígena, em que grupos semi-nômades viviam da caça e da pesca; coletando e plantando, no intuito de se manter, criar seus filhos e enterrar seus mortos. Até que, no final do século XVI, grupos pertencentes à grande nação Tupinambá foram conquistados pelos franceses. Atestam pesquisas recentes carregamentos de mercadorias chegando ao porto de Dieppe vindos das “Terras do Maranhão”. O retorno lucrativo do comércio encorajou a nação francesa a fundar nestas terras uma colônia, a França Equinocial, designando uma missão composta de generais, capitães e religiosos para concretizar a empreitada. Em 1612, A Missão Francesa, depois de fundar um forte e as primeiras construções civis, saíram em visita pela Ilha, quando então conheceram Eussauap, que em passagens diversas do relato do padre Claude d’Abeville conta que era a segunda comunidade indígena em população na Upaon Açu. Segundo o capuchinho, neste lugar foi erguida pelos índios uma capela, com uma grande cruz, devidamente benzidas pelos padres capuchinhos na ocasião da visita. (2002, p. 107) Mais tarde, em 1615, como resultado de articulações diplomáticas, os franceses foram convencidos a deixar o território aos portugueses, que iniciaram o processo de colonização. Sobre o espaço onde estava Eussauap, nos informa o historiador César Marques que, Na armada de Alexandre de Moura vieram os jesuítas Manuel Gomes e Diogo Nunes. Quando principiaram a estabelecer missões de índios a primeira que fundaram foi a que deram o nome de Uçaguava, onde com os da ilha da capital aldearam os índios que tinham trazido de Pernambuco, e como esta houvesse de ser a norma das mais aldeias, nela estabeleceram todos os costumes que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificação aos estranhos [....] foi chamada aldeia da Doutrina, e hoje chama-se Vinhais. (1970, p. 394 e 632)

A comunidade indígena de Eussauap tornou-se Uçaguaba, depois Aldeia da Doutrina, pelos jesuítas. Como sabemos, as Missões se constituíam num complexo auto-sustentável, com porto, capela, escola, cemitério, as casas dos índios, plantações, fazendas de gado, armazéns, algumas com engenhos de cana-de-açúcar e olarias, também se dedicavam à colheita e exportação das “drogas do sertão”, empreendimentos movidos pelo trabalho compulsório indígena. O aldeamento durou quase um século e meio, produzindo gêneros que abasteciam a cidade de São Luís e eram exportados pela próspera Companhia de Jesus. Os aldeamentos missionários agrupavam grandes contingentes de nativos, impondo-lhes fainas agrícolas e artesanais contínuas intercaladas com momentos de lazer e oração, projeto missionário cuja tônica era mais civilizacional do que religiosas. (VAINFAS, 200, p. 327)

Os grupos indígenas reunidos nas missões eram obrigados a “sedentarizar-se por meio do trabalho agrícola, a adotar costumes cristãos. Desta forma, “os aldeamentos desarticulavam as culturas indígenas, ao fixar populações semi-nômades e alterar


radicalmente seu modo de vida”. (VAINFAS, 2000, p. 22 e 327). Importante desmistificar as impressões superficiais dos Jesuítas como defensores dos Índios, na verdade, estudiosos não chegaram a um acordo sobre o que efetivamente significou mal maior às populações indígenas, se as armas e a escravização dos capitães-generais ou a catequese dos missionários. Ambas significaram um desastre biológico e cultural para milhões de ameríndios. Em quase um século e meio, as missões do Grão-Pará enriqueceram sem precedentes alimentadas pelo trabalho compulsório dos índios missioneiros. A Coroa portuguesa, percebendo a ameaça determinou a expulsão dos padres da Companhia de Jesus, em 1759 e 60. Os bens dos Jesuítas foram confiscados e os aldeamentos missionários elevados à categoria de vila, com Casa de Cadeia e Câmara. Às populações indígenas foram concedidas liberdade e terras para fazerem suas roças. O controle destes povoamentos passou ao controle do Estado português, notadamente dos governadores a quem coube a tarefa de indicar Diretores, intermediários entre os índios e os funcionários régios e os particulares. Ante a importante missão de “civilizar” os índios, aos diretores foi dado o poder de repartir a mão-de-obra disponível nas aldeias conforme as necessidades de obras públicas ou interesses particulares, mas mediante o pagamento de um “jornal”, um salário. Em 1757, a aldeia da Doutrina passou a se chamar Vila de Vinhais, com casa de Cadeia e Câmara, Vereadores e Juízes. O arquivo público do Maranhão guarda tanto os registros ligados à capela de São João Batista de Vinhais, com seus livros de batismos, casamentos e óbitos, como as atas e Livros de Registro do Conselho Municipal, estabelecido em um sobrado no anterior aldeamento jesuítico (MARQUES, 1970, p. 632). A comunidade estabelecida na antiga Eussouap era tão próspera neste período, que o governador Melo e Póvoas fundou ali uma “fábrica de soque de arroz”, onde foram empregados os outrora missioneiros. Este era um tipo de empreendimento muito comum nos arredores do porto de São Luís, uma vez que na segunda metade do século XVII, o Maranhão era grande exportador de algodão e arroz, sendo as fábricas de beneficiamento localizadas nas margens dos igarapés, aproveitando a força das águas para mover seus engenhos. Existem registros sobre várias destas fábricas nos arredores do porto de São Luís, a partir da Praia do Caju, passando pela por Santo Antônio, Remédios, Genipapeiro, Camboa, até chegar a Vila de Vinhais. Com a decretação do Diretório (1757-58), os índios passaram a ser súditos da coroa “com privilégios”, como a doação de terras e promessa de escolas para educar os nativos, de “civilizá-los”, afinal. Neste processo acelerou-se a perda de identidade cultural das populações nativas, pois a língua portuguesa tornou-se obrigatória, os ritos e crenças indígenas foram considerados condenáveis, a bigamia perseguida e os casamentos mistos incentivados. (VAINFAS, 2000, p. 186/187) Hoje sabemos que a liberdade e assalariamento dos descendentes das populações indígenas ficaram apenas na letra escrita. Logo os abusos contra as populações indígenas tornaram-se mais intensos, sendo fartamente documentados através dos requerimentos enviados por lideranças indígenas ao Conselho Ultramarino. Neste sentido foi que, em 1782, se queixou o índio Manuel Ribeiro através do vigário da Igreja de São João Batista de Vinhais, como vemos na transcrição abaixo: Do presente Vigário da Villa de S. João de Vinhais. A todos que a presente certidão virem que he verdade ter o suplicante Manoel Ribeiro cinco filhos, e ser lavrador em terras suas próprias e ser bem procedido, temente a Deus, cabido da Igreja, e lhe terem tirado da sua companhia, em grave


detrimento de sua casa, para trabalharem no serviço da roça do Sargento-Mor Antônio José de Brito; não obstante ter servido o dito na Câmara da dita Villa, e por ser todo o referido verdade o juro aos Santos Evangelhos, Villa de São João Batista de Vinhais, aos vinte e três de junho de 1790. Pe. Timotheo de Santa Rita e Serra (AHU, Manuscritos diversos, Cx. 68, D. 5933, grifos meus)

Pelo conteúdo das denúncias torna-se claro que os diretores nomeados pelos passaram a cometer inúmeros abusos, pois “as comunidades indígenas passaram a ser vistas como exército de trabalhadores”, ocorrendo uma nova espécie de servidão. Neste mesmo sentido, em 1782, ao Conselho Ultramarino, encarregado dos negócios de ultramar no Império marítimo português, foi enviada uma “representação do juiz da Vila de Vinhais Calisto Arnaut, e do escrivão dos Armazéns Reais, Valério Xavier Campelo para rainha D. Maria I, solicitando medidas de proteção para os índios que vivem em estado de cativeiro.” (AHU, Cx. 58, doc. 5397) Melo e Póvoas, governador durante décadas do antigo Estado do Maranhão, foi consultado sobre as queixas que vinham da colônia e respondeu nos termos abaixo: Senhora, He Vossa Magestade servida mandar ouvir o meu parecer na queixa que forma o Juiz da Villa de Vinhais Calisto Arnaut, de seu diretor Luís Liconti, e do General que me sucedeu no Governo do Maranhão. Só quem viesse agora daquela terra poderia verdadeiramente informar da queixa que faz o suplicante, eu o que posso dizer lhe, é que a Villa de Vinhais era muito populoza no meu tempo, que por ser hu bom porto de mar, e perto da cidade, estabeleci nella huma boa Fábrica de arroz, em que os Indios tinhão os mais avultados interesses, e não os empregava em outros serviços por ser interessante ao de Vossa Magestade o da Cultura e Descasque de Arroz, que por isso não havia nesta Villa rossa do comum. Sempre fiz conservar aos índios os seus privilégios para ser assim maior a porção de dinheiro para se poderem manter [...] Agora o suplicante se queixa de que a três annos lhe não pagão, isto me paresse impossível, porque não tendo os Índios outra fonte de Rendimento, possão subsistir sem lhes pagar a tanto tempo. Queixa o Suplicante de que os Indios são obrigados a hir trabalhar nas Rossas que o Diretor tem no Rio Mony, Cumã, e Tury, o que He inteiramente contrario a novíssima Ley do Directório, que prohibe aos Directores o terem Rossas, nem gênero algum de comércio, da mesma sorte o Diretório manda que quando se vão com as Portarias buscar os Índios às Povoações se deixe nella o salário do tempo por que vão servir, o qual fica no cofre da Villa, para se lhe entregar quando a Ella se Recolham, e faltando-se a todos esta circunstância está inteiramente prevertida a boa ordem do Governo dos Índios, o que se não espera de nenhum General cordato, por que o seria arruinar-se totalmente o Estado. E como os ouvidores tem obrigação de conhecerem nas correições, dos Directores, por este Ministro pode Vossa Magestade saber, se he ou não certo o de que se queixa o suplicante... Isto He o que me paresse Vossa Magestade mandará o que for servida Paço do Lumiar, a 11 de Março de 1783, (AHU, Cx 59, doc. 5452)

O parecer do capitão-general mostra o que ocorreu no antigo estado do GrãoPará e Maranhão após a saída dos jesuítas, sob o biombo de leis protecionistas, a população indígena ficou à mercê dos interesses dos colonos, ávidos de terras e mão-deobra para produzir gêneros comercializáveis. A comunidade da Vila de Vinhais, que o


capitão general ressaltou ser no seu tempo “populoza e próspera”, localizada muito próxima da sede da capitania foi presa fácil dos interesses voltados para a agroexportação. Em 1787, denúncias mais graves chegam a Lisboa, como segue: “requerimento do Juiz da vila de Vinhais, Calisto Arnaut, que se queixa das violências praticadas contra os índios pelo diretor desta vila, Luís Liconte. Por isso, solicita uma devassa ao seu procedimento”. Extratos do texto são transcritos abaixo: O Juiz da Villa de Vinhais, Calisto Arnaut, Indio nacional da capitania do Maranhão, na qual disse que ele servia a Vossa Magestade naquella Villa havião quatorze annos com boa satisfação, e sendo a mais populosa de quantas se crearam na dita capitania, a mais abundante de gêneros, e fértil em todas as suas produções, sempre se governaram em paz, e os índios dela perceberam os seus interesses Repartidos a seu tempo, conforme as Reais Ordens de Vossa Magestade, conservando-se nos seus Privilégios. Que tomando porem posse do Governo D. Antônio de Sales Noronha, tudo tinham sido inquietações, prejuízos, injúrias, e castigos que se fazião naquela villa....(AHU, Caixa 76, Documento 6518).

Historiadores e antropólogos são unânimes em afirmar que a partir daí as populações indígenas foram submetidas a uma servidão disfarçada, sendo expulsos das terras mais férteis e seu trabalho usado para enriquecer funcionários régios e particulares. Pela farta documentação depositada nos arquivos, acreditamos que durante todo o século XIX se consolidou o processo de expulsão das populações nativas e ocupação de suas terras pelos fazendeiros. Em poucas décadas fez-se a ruína da Vila de Vinhais, tanto que poucos assistiram à ruína da capela de São João Batista, sendo o pedido de reconstrução feito pelos vereadores da Vila em 1857. (César Marques, 1970, p.632 ) Na segunda metade do século XIX, inúmeras fontes se referem aos negócios movimentados por Ana Jansen em Vinhais, onde inúmeros poços eram explorados para abastecer o núcleo urbano próximo, sendo que alguns deles ainda hoje estão aparentes. Outra importante figura feminina maranhense tem sua presença ligada à vila de Vinhais, Catarina Mina. A alforriada que adquiriu fortuna em vida, deixou uma esmola para que se continuasse a fazer às suas custas o famoso festejo de São Pedro, realizado anualmente no antigo aldeamento jesuítico. Com a queda dos preços do algodão e do arroz, a agroexportação deixou de ser o eixo econômico da região. Desde a segunda metade do século XIX as famílias de comerciantes e proprietários rurais enriquecidos no período colonial buscaram novas alternativas de negócios. Em Vinhais Velho, algumas poucas famílias descendentes da extinta nação Tupinambá, resistiram em torno da capela em ruínas. Passaram a sobreviver nas terras próximas ao igarapé, estas sem nenhum valor comercial. Os jovens do bairro que chegavam à idade produtiva eram mandados por seus pais para trabalhar em serviços subalternos, as famílias complementando sua renda com pescados e frutos da região. Seu Olegário, descendente do índio Manuel Ribeiro mencionado acima, conta que ainda rapazote foi trabalhar com a família de César Aboud, proprietário de fábricas de tecidos em São Luís. Segundo relata, só vinha em casa a cada quinze dias, mas acompanhava de perto a sobrevivência do lugar. Em suas conversas lembra que foi batizado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, demolida e deu lugar à construção do primeiro edifício de São Luís, o Caiçara... Quando já no século XX, a partir da década de 70, grandes avenidas rasgaram a capital, a antiga Vila de Vinhais continuou isolada, os poucos moradores utilizando


canoas para se locomoverem, sendo utilizada também a estrada do Anil para chegar ao centro de São Luís de carro. Na década de oitenta, os quintais que circundavam a antiga comunidade passaram a ser ameaçados pela especulação imobiliária, que buscava novos espaços para se expandir. Inúmeros conjuntos habitacionais e condomínios fechados foram “comendo” as áreas verdes em seu entorno. O isolamento do lugar, que passou por todo aquele processo histórico comunidade indígena, missão jesuítica, vila de Vinhais e depois bairro periférico -, preservou a cultura tradicional, seja na memória dos anciãos como nas práticas de seus moradores. Finalmente, agora a Via Expressa ameaça passar por cima da comunidade, expulsando famílias que sempre viveram no lugar, que mantiveram com seu esforço pessoal as tradições herdadas de seus ancestrais. Uma das lideranças da comunidade é Dona Ulbaldina, hoje com oitenta e cinco anos, que desde sua mocidade zela pela igreja secular. Dedicação que vai além do cuidado com o templo, mantendo as tradições do catolicismo popular, com seu calendário litúrgico composto por várias festividades, incluindo rezas, cânticos, ladainhas e procissões. Tragicamente, a família de seu Olegário, d. Ubaldina e de Maria Vitória, anciãos na faixa dos oitenta anos, cujos filhos e cônjuges, netos e bisnetos, totalizando mais de cinqüenta pessoas, que até agora viviam mansamente nas propriedades deixadas por seus ancestrais, tiveram parte de suas moradias condenadas para passagem da Via Expressa. No processo de “desapropriação a bem do serviço público” as casas da família Ribeiro foram avaliadas em torno de trinta mil reais pelos engenheiros da Caixa Econômica, acionados pela Secretaria de Infra-estrutura do Estado do Maranhão. São residências simples, mas com grandes quintais contendo reservas de mata nativa e nascentes de águas cristalinas. Trata-se de uma injustiça muito grande, pois com o valor das indenizações jamais conseguirão comprar imóveis na área, hoje supervalorizada. Importante ressaltar que Vinhais Velho não se constitui num caso isolado. O interior do Estado do Maranhão e as áreas periféricas da ilha de São Luís vêm passando por este processo desde a década de setenta do século XX, quando grandes projetos expulsaram de suas terras comunidades tradicionais. No interior da ilha inúmeras comunidades foram expropriadas para a implantação da Alumar e da Companhia Vale do Rio Doce. Nos últimos anos, as obras financiadas pelo PAC, novamente ameaçam comunidade tradicionais, que se vêem obrigadas a se alojar de qualquer forma nos bairros de ocupação ilegal. A luta das famílias é pela permanência na área, pois ninguém é mais merecedor do que eles, que descendem das populações ameríndias que milenarmente ocupavam estas terras. Também lutamos para que as comunidades tradicionais sejam respeitadas, seus espaços de vida preservados. Finalmente, que o espaço onde hoje está o bairro de Vinhais, como ficou demonstrado neste texto, de grande valor arqueológico e histórico seja estudado pelas instituições de pesquisa e ensino.


REFERÊNCIAS D’ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002. D’EVREUX, Yves. Viagem ao Norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. São Paulo: Sciliano, 200. MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico e geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, l970. SILVA FILHO. Olavo Pereira da Silva. Arquitetura Luso-brasileira no Maranhão. 2ª ed. Belo Hor izonte: Formato, 1998 PORTUGAL. ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO. Manuscritos avulsos relativos ao Maranhão. VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000.


VILA DE VINHAIS – RUMO AOS 400 ANOS?

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CEM “Liceu Maranhense” “[...] o bem-aventurado Gabriel Malagrida (...) À noite, retornava à aldeida da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida [...]”.MEIRELES (1964)27 O hoje bairro de São Luís, Vinhais Velho – ou Vila Velha de Vinhais como também é conhecido - já foi independente; isto é, se constituiu, no dizer de hoje, em município. Em 1º de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de Vila com a denominação de Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista de Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757 28. Isso ocorreu durante o consulado pombalino (17551777), quando o Marques de Pombal29 expulsou os jesuítas da metrópole e das colonias

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Versão de 20 de outubro de 2011.

MEIRELES, Mário M. SÃO LUÍS, CIDADE DOS AZULEJOS. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1964 28 ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 D’ÉVREUX, Yves de. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL – feita nos anos de 1613 a 1614.São Paulo: Siciliano, 2002. PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968. MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 CARVALHO, Jacinto. CRÔNICA DA COMPANHIA DE JESUS NO MARANHÃO. São Luís: ALUMAR, 1995. 29 Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, (Lisboa, 13 de Maio de 1699 — Pombal, 8 de Maio de 1782) foi um nobre e estadista português. Foi secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I (1750-1777), sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa. Representante do Despotismo esclarecido em Portugal no século XVIII, viveu num período da história marcado pelo iluminismo, tendo desempenhado um papel fulcral na aproximação de Portugal à realidade económica e social dos países do Norte da Europa, mais dinâmica do que a portuguesa. Iniciou com esse intuito várias reformas administrativas, económicas e sociais. Acabou na prática com os autos de fé em Portugal e com a discriminação dos cristãos-novos, apesar de não ter extinguido oficialmente a Inquisição portuguesa, em vigor "de jure" até 1821. No tempo de D.João V foi embaixador nas cortes inglesa e austríaca. Era ministro do reino de Portugal. A sua administração ficou marcada por duas contrariedades célebres: o primeiro foi o Terramoto de Lisboa de 1755, um desafio que lhe conferiu o papel histórico de renovador arquitectónico da cidade. Pouco depois, o Processo dos Távoras, uma intriga com consequências dramáticas. Foi um dos principais responsáveis pela expulsão dos Jesuítas de Portugal e das suas colônias. Após a sua morte, na noite de 11 de Maio de 1782, o seu cadáver foi conduzido num coche puxado por três parelhas para a igreja do convento de Santo António da vila de Pombal. Contava o Marquês de Pombal com 82 anos, quando os seus restos mortais ali foram depositados. http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Carvalho_e_Melo,_marqu%C3%AAs_de_Pombal


(Setembro 1759), confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus 30 agia como um poder autônomo dentro do Estado português e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio. Informa Eloy Abreu - em seu “O Senado da Câmara de São Luís e as festas públicas” (2010)2 – que no dia 07 de julho de 1647 é registrado no Livro de Acórdãos da Câmara de São Luís a ausência dos habitantes desta cidade – e das vilas próximas – às festas públicas que se organizavam, e que os cidadãos não a estavam acudindo, isto é, não estavam contribuindo para a sua realização, quer em dinheiro, quer em sua organização, quer no acompanhando das procissões: “Acordamos e mandamos que todo cidadão desta cidade de São Luís de qualquer qualidade que seja que a Câmara celebre festas e procissões estando residente na cidade ou duas léguas ao redor não acudir as ditas festas e procissões para acompanhá-las nos postos que lhe forem ordenados paguem mil reis de pena as obras do conselho.” (p. 237) (grifamos).

A obrigação de participar das festas públicas incluía, além dos moradores da cidade, os que habitavam as vilas de índios do Vinhais e do Paço do Lumiar, ambas localizadas no interior da ilha e distantes da cidade duas léguas, pois as festas religiosas também funcionavam como um veículo de catequização dos nativos31. Em correspondencia eletronica, a Dra. Antonia Mota, professora da UFMA, cominica a descoberta no Arquivo Ultramarino de correspondencia de antigos moradores datadas do final dos 170032:

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A Companhia de Jesus (em latim: Societas Iesu, S. J.), cujos membros são conhecidos como jesuítas, é uma congregação religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Inácio de Loyola. A Congregação foi reconhecida por bula papal em 1540[1]. É hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional. http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus 31 ABREU, Eloy Barbosa de. O senado da Câmara de São Luís e as festas públicas. In CORRÊA, Helidacy Maria Muniz; ATALLAH, Cláudia Cristina Azevedo (Org.). ESTRATÉGIA DE PODER NA AMÉRICA PORTUGUESA: dimensões da cultura política (séculos XVII-XIX). Niterói: PPGH-UFF / São Luís: UEMA / Imperatriz: Ética, 2010, p. 219-251 32 HISTÓRIA - ANTONIA MOTA - HISTÓRIA - ANTONIA MOTA motaufma@gmail.com Para vazleopoldo@hotmail.com, De: Antonia da Silva Mota Enviada:segunda-feira, 23 de janeiro de 2012 17:44:34 Para: vazleopoldo@hotmail.com; As referências a Vinhais Velho remontam o período dos franceses, o padre Claude d'Abeville relatou que em 1612 visitaram a aldeia de Uçaguaba, a segunda em população na ilha de Upaon Açu. Depois a povoação tornou-se uma Missão Jesuítica, a primeira do Norte do Brasil, em que se iniciou a produção de gêneros alimentícios para abastecer São Luís. Com a expulsão dos Jesuítas pelo Marquês de Pombal, em 1755, tornou-se Vila, com Casa de Cadeia e Câmara, Juízes e vereadores, sendo concedida as terras à comunidade que ali vivia. Depois, no século XIX, foi anexada ao município de São Luís. Durante todo este período as ameaças às terras dos índios foram uma constante, como atestam os documentos abaixo anexados. Hoje ainda resiste na área, sob grave ameaça de despejo pela Via Expressa, a família Ribeiro. Em conversa com os irmãos Olegário e dona Babá - os moradores mais antigos, consegui contabilizar o número de pessoas de sua família que vivem nas casas sob ameaça, são os seguintes: * Quatro idosos: seu Olegário Batista Ribeiro e sua esposa Janete Burgos; D. Ubaldina Ribeiro (Babá); D. Maria Vitória - irmãos que beiram os oitenta anos, que nasceram na vila, assim como seus ancestrais;


Do presente Vigario da Villa de S. João de Vinhais. A todos que a presente certidão virem que he verdade ter o suplicante Manoel Ribeiro cinco filhos, e ser lavrador em terras suas próprias e ser bem procedido, temente o cabido da Igreja e lhe terem estas tirado da sua companhia, em grave detrimento de sua casa, para trabalharem no serviço da roça do Sargento-Mor Antônio José de Brito; não obstante ter servido o dito na Câmara da dita Villa, e por ser todo o referido verdade o juro aos Santos Evangelhos, Villa de São João Batista de Vinhais, aos vinte e três de junho de 1790. Pe. Timotheo de Santa Rita e Serra33

No documento 02, anterior a esse primeiro, refere-se ao Governo de Antonio de Sales e Noronha – 1779-1784: A Vossa Magestade fez petição por este Concelho o Juiz da Villa de Vinhais Calisto Arnaut, Indio nacional da capitania do Maranhão, na qual disse que ele servia a Vossa Magestade naquella Villa havião quatorze annos com boa satisfação, e sendo a mais populosa de quantas se crearam na dita capitania, a mais abundante de gêneros, e fértil em todas as suas produções, sempre se governaram em paz, e os índios dela perceberam os seus interesses Repartidos a seu tempo conforme as Reais Ordens de Vossa Magestade, conservando-se nos seus Privilégios. Que tomando porem posse do Governo D. Antônio de Sales Noronha, tudo tinham sido inquietações, prejuízos, injúrias, e castigos, que se faziam naquella Villa, porque o primeiro objeto do dito governador tinha sido a acomodação dos muitos criados que consigo levou, entre os quaes era um chamado Luís Licont, mosso libertino, ______, dissoluto que com o favor do dito governador que lhe aprova todas as ações, por mais depravadas...34

Em 1834, existiam na Província do Maranhão apenas treze municípios e somente o da Capital, São Luís, tinha sede com status de cidade. Os doze restantes eram sediados em vilas: Vinhais, Paço do Lumiar, Alcântara, Viana, Guimarães, Itapecuru-Mirim, Icatu, Caxias, Brejo, Tutóia, Pastos Bons e São Bernardo 35. Como a vila de Vinhais não apresentou qualquer desenvolvimento, foi extinta pela Lei Provincial no. 7, de 20 de abril de 1835, passando a pertencer a freguesia à comarca da capital, formando o 5º distrito de paz, e tendo uma subdelegacia de Polícia, um delegado da Instrução Pública e uma cadeira pública de ensino primário para o sexo masculino. Suas terras eram excelentes, baixas, próprias para a plantação da cana-de-açúcar. Achando-se

* Dezesseis filhos adultos da família Ribeiro, entre trinta e quarenta anos: Jair, Jurandir, Jaílson, Jairo, Odinéia, Odiléia; Ademir, Adelson, Adaílton, Almir, Arlindo, Ana Luíza; Altamira, Marco Aurélio e Solange, e outro, filho de D.Maria Vitória que não sabiam o nome. * 23 netos e dois bisnetos Ao todo, serão atingidas quarenta e cinco pessoas da família Ribeiro. Descobri no Arquivo Histórico Ultramarino um requerimento feito em 1790 de um ancestral desta família, que reproduzo abaixo, comprovando que se trata de uma comunidade de origem indígena e tradicional, pois vêm reproduzindo, ao longo dos séculos, suas estratégias de sobrevivência, valores, religiosidade etc. 33 MOTA, 2012, Referência: PORTUGAL. Arquivo Histórico Ultramarino. Manuscritos avulsos relativos ao Maranhão. Cx. 68, D.5933 34 MOTA, 2012, REFERÊNCIA: PORTUGAL. Arquivo Histórico Ultramarino. Manuscritos avulsos relativos ao Maranhão. Caixa 76, Documento 6518. 35 http://pt.wikipedia.org/wiki/Vit%C3%B3ria_do_Mearim


estabelecidas aí pequenas roças de arroz, mandioca e mais gêneros. Calculava-se o número de seus habitantes em 1.020, sendo 887 livres e os mais escravos36. Conquista do Maranhão37 A colonização do Brasil tem seu início em 1534, quando D. João III38 intenta a conquista de suas novas terras "descobertas" pela expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500, dividindo-as entre seus vassalos, pois estava preocupado com a presença de corsários franceses que navegavam por estas costas desde 1504. Estabele o sistema de Capitanias Hereditárias (Regimento Castanheira). O Maranhão atual, por sua extensão litorânea do Paraíba ao Gurupi, está compreendido nas duas mais setentrionais, dentre elas: a de Fernão Alvares de Andrade39, com 70 léguas de costa contadas da foz do Mundau (Camocim) aos Mangues Verdes (Golfão Maranhense) e uma segunda, de João de Barros40, com 50 léguas, dos Mangues Verdes à foz do Gurupi. João de Barros e Fernando Álvares de Andrade associam-se a Aires da Cunha41, na tentativa de apossarem-se dela, sem resultado. Eram lotes enormes, de cerca de 350 km de largura, até à linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, interior a dentro: "Dez anos depois de criadas, as desordens internas, as lutas com os índios e a ameaçadora presença dos franceses acabaram provocando o colapso do sistema que o rei e seus conselheiros haviam optado por aplicar ao Brasil" (BUENO, 1999)42. 36

MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970), p. 633 37 D’EVREUX, Ives. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL feita nos anos de 1613 a 1614. 3 ed. Anotadas aos cuidados de Sebastião Moreira Duarte. São Paulo: Siciliano, 2002 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. LIMA, Carlos de. Os Franceses no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial 390 anos, p. 5 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. O Mito da fundação de São Luís. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 02 de março de 2008, domingo, Caderno Alternativo, p. 1, p. 6 MARTINS, José Reinaldo. São Luís de 1612 descoberta. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 19 de julho de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 O ESTADO DO MARANHÃO. Palco de disputas por franceses, portugueses e holandeses. São Luís, 08 de setembro de 2002, Caderno Especial, 390 anos, p. 7, FERREIRA, Abel. Tratado de Tordesilhas a ‘invasão’ francesa do Maranhão. In JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 05 de outubro de 2003, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 SABOIA, Napoleão. Retrato do Brasil francês. Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 06 de janeiro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 1 MEIRELES, Mário. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1982 FORNEROD, Nicolas. SUR LA FRANCE ÉQUINOXIALE – SOBRE A FRANÇA EQUINOCIAL. São Luis: Aliança Francesa do Maranhão/Academia Maranhense de Letras, 2001 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS – os franceses na conquista do Brasil. Brasília: Alhambra; São Luís: Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, 1992 LACROIX, Laria de Lourdes Lauande. A FUNDAÇÃO FRANCESA DE SÃO LUÍS E SEUS MITOS. São Luís: EDUFMA, 2000 DAHER, Andréa. O BRASIL FRANCES – as singularidades da França Equinocial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. São Luís, portuguesa com certeza In REVISTA NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, Volume 04, Número 01, jan/jun/2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista 38 D. João III de Portugal (Lisboa, 6 de Junho de 1502 — Lisboa, 11 de Junho de 1557) foi o décimo quinto Rei de Portugal, cognominado O Piedoso ou O Pio pela sua devoção religiosa. Filho do rei Manuel I de Portugal, sucedeu-o em 1521, aos 19 anos. Herdou um império vastíssimo e disperso, nas ilhas atlânticas, costas ocidental e oriental de África, Índia, Malásia, Ilhas do Pacífico, China e Brasil. Continuou a política centralizadora do seu pai. Para fazer face à pirataria iniciou a colonização efectiva do Brasil, que dividiu em capitanias hereditárias, estabelecendo o governo central em 1548. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_III_de_Portugal 39 "Fernão Álvares de Andrade - No ano de 1535 o Rei D. João III concedeu para Fernão Álvares de Andrade, o mais poderoso e importante dos agraciados com terras no Brasil que era fidalgo descendente dos Condes de Andrade, Tesoureiro Mor de Portugal e membro atuante do Conselho Real e o principal conselheiro do rei -http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 40 João de Barros que era Feitor da Casa da Índia, Tesoureiro das Casas das Índias e de Ceuta. 41 Aires da Cunha navegador e militar experiente afeito às agruras da vida no mar e `a conquista em terras estrangeiras. 42 BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999


Em 1535, os donatários e o associado Aires da Cunha à frente de uma frota de 10 navios, com 900 homens, vão tentar a conquista e colonização do Maranhão. Chegando a seu destino, a esquadra desaparece em um naufrágio, mas uns poucos sobreviventes conseguem fundar a povoação de Nazaré. O Rei D. João III consciente da importância das dimensões e dos vultosos investimentos a ser movimentado por aquele projeto colonial, tratou de conceder aos donatários associados vantagens adicionais, além daquelas que já lhes tinham sido asseguradas pelos respectivos forais e no processo de partilha do Brasil. A esses três homens coubera quase todo o vasto território que se prolongava desde a Baia da Tradição na Paraíba, até a Ilha de Marajó no Pará. Os três lotes concedidos aos donatários associados perfaziam 225 léguas de costa que abrangia todo o litoral setentrional do Brasil, embora a extensão das terras fosse enorme, havia um grave problema logístico, pois aquelas capitanias ficavam na região chamada de Costa Leste-Oeste, uma porção menos conhecida do litoral brasileiro e a que apresentava as maiores dificuldades náuticas para os homens dispostos a percorrê-la nos tempo da navegação a vela. Os donatários já sabiam disto, mas sabiam também que a partir de seus lotes, seria possível tentar a conquista do Peru.43 “Fernão Álvares de Andrade, embora fosse muito rico, não se lançou sozinho em suas aventuras brasileiras, ele decidiu se associar com João de Barros que havia sido agraciado com duas donatarias em parceria com Aires da Cunha, sendo que um dos seus lotes tinha 50 léguas de extensão que se iniciava no extremo norte do Brasil, no chamado Cabo de Todos os Santos e ao sul era estabelecido pela foz do Rio Gurupi na chamada Abra de Diogo Leite e o outro lote mais tarde conhecido como Capitania do Rio Grande que ficava bem mais ao sul e tinha 100 léguas de larguras que começava na ponta de Mucuripe e ia até a Baia da Tradição na Paraíba e entre os lotes de João de Barros e Aires da Cunha existiam duas outras capitanias, uma que mais tarde passou a se chamar de Maranhão que fora entregue a Fernão Álvares com 75 léguas de costa que principiava na foz do Rio Grande e ia até a foz do Rio Paraíba, e em Novembro de 1535, com Aires da Cunha no comando da expedição, pois Fernão Álvares de Andrade e João de Barros haviam permanecido na corte, onde alias os seus serviços eram indispensáveis ao bom funcionamento dos negócios ultramarinos, que na oportunidade João de Barros foi representado pelos seus filhos Jerônimo e João”. (RIBEIRO) 44 O ano de 1536 é tido como o da chegada ao Maranhão dos sobreviventes da expedição de Aires da Cunha. Até hoje se discute o local do desembarque desses sobreviventes: se na Ilha Grande (Trindade, São Luís) ou na Ilha Pequena (Sant' Ana) ou na do Boqueirão (do Medo) onde teriam erigido a aldeia de Nossa Senhora de Nazaré. Outros a localizam em terras de Cumã (Alcântara) ou mesmo há quem afirme que ela nunca tenha existido. [...] Aires da Cunha zarpou com sua frota para as terras de Fernão Álvares de Andrade acompanhando a linha da Costa até dobrarem o Cabo de São Roque onde entraram na traiçoeira Costa Leste-Oeste onde as correntes 43 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 44 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm


corriam paralelamente à costa conduzindo os navios em direção ao Caribe; por este motivo a frota foi levada bem mais à oeste na zona dos chamados Lençóis Maranhenses e foi justamente ai que a frota de Aires da Cunha perdeu o auxilio inestimável da fusta que a acompanhava, que fora empurrada por ventos contrários, com isto essa pequena embarcação sumiu e se desgarrou da armada. Sem o insubstituível apoio do barco de reconhecimento a tragédia logo se abateu sobre a frota de Aires da Cunha, pois a nau capitaneia foi tragada pelos Corais do Parcel de Manoel Luiz, porém os navios da frota chegaram até a uma ilha junto ao Rio Maranhão onde ao desembarcarem foi bem recebida pela gente que ali viviam, a ilha foi batizada como Ilha da Trindade e nela ergueram uma povoação e edificaram uma fortaleza que recebeu o nome de Nazaré. Porém o desanimo e a anarquia se abatera sobre os sobreviventes e os nativos indígenas Tremembé que a principio tinham recebido bem os forasteiros, se rebelaram queimando as plantações e sitiando a Vila de Nazaré e ao longo de dois anos, isolados no remoto litoral maranhense os sobreviventes ainda perseveraram, mas sem a energia e o comando de Aires da Cunha e sem deparar com o ouro nem preciosidade e cercados pelos índios, eles decidiram renunciar aos sonhos de grandezas, e aos poucos foram iniciando a melancólica jornada de retorno para Portugal “(RIBEIRO) 45 Assim, os náufragos da expedição se abrigaram na então conhecida como Ilha de Trindade, onde hoje está a cidade de São Luís. Por sorte, não foram hostilizados pelos nativos. Com o pouco que havia restado e auxiliados pelos índios, levantaram fortificações provisórias e algumas casas. Enquanto uns tentavam a lavoura, outros tratavam de explorar o sertão. A aliança com os indígenas resultou até em casamentos que geraram os primeiros portugueses mestiços. Mas essa convivência cordial não tardou a se transformar em revolução social: os índios queimaram as casas dos portugueses e destruíram suas plantações. De fato, não seria ainda daquela vez que as selvagens terras do Maranhão seriam conquistadas. A grande expedição transformou-se num grande fiasco; e aos dois donatários que ficaram em Portugal, restaram apenas as dívidas com a coroa. João de Barros, assim que soube da tragédia, empenhou-se em resgatar seus dois filhos. Em 1538, sem o apoio da corte e com a moral em baixa, os malogrados colonos deixaram o Maranhão num regresso desolador, embarcando em três caravelas e seguindo para as Antilhas. Um barco seguiu para São Domingos e os outros dois chegaram a Porto Rico, com 140 índios (entre escravos e livres) e somente 45 dos náufragos a flotilha de Aires da Cunha. Barros pagou apenas parte dos compromissos obtidos junto ao tesouro português - mais tarde, D. Sebastião perdoou o restante do "papagaio real” (RIBEIRO) 46 Quanto à Nazaré, não vingou. Bernardo Pereira de Berredo, nos "Anais Históricos do Estado do Maranhão"47, estranha que, decorridos apenas oitenta anos, a expedição de Jerônimo de Albuquerque não haja encontrado vestígios desse sítio, o que não impede

45 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 46 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 47 BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais históricos do Estado do Maranhão. Rio de Janeiro : Tipografia Ideal, 1988.


que estudiosos do assunto afirmem ainda ser verídica sua existência, esposando a tese de ter São Luís48 origem lusa e não francesa. O embaixador de Carlos V em Lisboa, Luis de Sarmiento escreve em 15 de julho de 1536 que assim aquela armada (João de Barros e Aires da Cunha) foi dar ao Maranhão e saltaram em uma ilha junto ao rio e dizem que foram bem recebidos da gente que ali habitava e pusera-lhe nome, à dita ilha, de Trindade e empregaram-se a edificar um lugar e um castelo e puseram nome àquele lugar Nazaré 49. Simão da Silveira, em sua "Relação Sumária das Coisas do Maranhão", publicada em 162450, dá o testemunho de ter visto na ponta do Bonfim, na ilha de São Luís, as ruínas de um forte que teria sido construído para a defesa dessa povoação. Para Frei Vicente do Salvador (2010)51, tanto nos comentários de Capistrano de Abreu (p. 120-121) quanto no Capitulo XIII, p. 159-160 “Da terra e capitania que elrei D. João terceiro doou a João de Barros”: “Deste naufrágio escapou muita gente, com a qual os filhos de João de Barros se recolheram a uma ilha, que então se chamava das Vacas, e agora de S. Luís, donde fizeram pazes com o gentio tapuia, que então ali habitava, resgatando mantimentos e outras cousas que lhes eram necessárias. E chegou o trato e amizade a tanto que alguns houveram filhos das tapuias, como se descobriu depois que cresceram [...] “Donde se colige que não era o Maranhão a terra que el-rei deu a João de Barros, como alguns cuidam senão esta outra que demarca pela Paraíba com a de Pero Lopes de Sousa; porque, se fora a do Maranhão havendo seus filhos escapado do naufrágio e chagado à do Maranhão com quase toda a sua gente, e achando a da terra tão benévola e pacífica, que causa havia para que não a povoassem? Prova-se também porque todas as que se deram em aquele tempo foram contíguas umas com outras, e os donatários eram uns dos outros pela ordem que vimos nos capítulos precedentes. E finalmente se confirma porque a do Maranhão foi dada a Luís de Melo e Silva, que a descobriu (...) e não devia el-rei de dar o que tinha dado a outro. Nem o mesmo João de Barros, em a primeira Década, livro sexto, capítulo primeiro, onde fala da sua capitania, faz menção do Maranhão, mas só diz que, da repartição que el-rei D. João Terceiro fez das capitanias na província de Santa Cruz, que comumente se chama Brasil, lhe coube uma [...] E daí (depois do naufrágio...) mandou depois em outros navios buscar seus filhos [...]” João de Barros, arruinado, não desistiu de imediato do Brasil, pois em 1539 ele enviou o fidalgo Luiz de Melo para instalar-se no Maranhão, mas sua sorte foi uma vez mais desastrosa e fugidia, pois Luiz de Melo também veio a naufragar nos tenebrosos baixios da costa maranhense e em três anos após a este novo fracasso os portugueses 48 O nome da cidade é uma homenagem dada pelos franceses ao Rei da França Luís IX também chamado de São Luís. O rei Luís IX ficou popular porque durante seu reinado, a França teve um excepcional poder político, econômico, militar e cultural, conhecido como o "o século de ouro de São Luís". Houve um grande desenvolvimento da justiça real, passando o monarca a representar o juiz supremo. Assim os franceses em homenagem a este rei puseram o nome São Luís na nova cidade. http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_(Maranh%C3%A3o) 49 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 50 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COISAS DO MARANHÃO dirigida aos pobres desse reino de Portugal. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976 – edição fac-similar SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COISAS DO MARANHÃO. 7 ed. São Luis, UFMA; SIOGE, 1979 51

SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, 2010


tiveram que amargar outra vitória dos castelhanos, pois Francisco de Orelhana partindo de Quito no Equador em Junho de 1541, em companhia do frei dominicano Gaspar de Carvayal havia chegado em 26 de Agosto de 1542 ás águas do Atlântico, e se tornando como o primeiro homem a ter navegado da nascente à foz do maior rio do mundo o qual ele batizou com o seu próprio nome, porém ele ficaria conhecido como o Rio das Amazonas52. João de Barros em cujas capitanias se localizavam a foz do Amazonas, ainda levaria alguns anos para desistir da conquista da região. Embora financeiramente arruinado pelos fracassos de suas expedições anteriores, tornou a enviar Jerônimo e João, seus dois filhos, para novas tentativas de instalarem-se na Costa Leste-Oeste. Com uma expedição partindo de Lisboa em 1556, mas ao tentar fundar uma colônia na donataria os dois irmãos foram novamente rechaçados pelos índios Potiguar e por seus aliados franceses. Velho, empobrecido e fatigado João de Barros desistiu definitivamente de seu lote no Brasil. Ao contrario de João de Barros o Tesoureiro-mor, Fernão Alvares de Andrade, que também perdera muito dinheiro na tentativa de ocupar o Maranhão, manteve-se como um dos principais incentivadores do projeto de investir no Brasil. 53 Vamos seguir Ribeiro54, ao perguntar: qual era a verdadeira missão de Aires da Cunha? Quando a costa brasileira foi tocada pela primeira vez por Pedro Álvares Cabral, em 1500, os portugueses mal imaginavam qual a extensão exacta da "Terra Brasilis". Os métodos cartográficos eram muito rudimentares e os mapas, muito vagos. Assim, o "descobrimento" ainda estava apenas começando. Tanto que muitas regiões só foram colonizadas décadas depois da chegada de Cabral. A história do Maranhão ilustra bem a dificuldade dos descobridores e, até hoje, guarda em seus arquivos a mal-explicada história do navegador Aires da Cunha - um personagem misterioso e pouco explorado pelos livros. Qual era, de fato, o intuito da viagem de Aires da Cunha? Lembremos que por mais de 30 anos após o descobrimento, o Maranhão foi totalmente desprezado pelos portugueses. Acredita-se que o primeiro navegador a avistar o litoral maranhense tenha sido o espanhol Vicente Yañes Pizón, que em 1500 percorreu o nordeste brasileiro de Pernambuco até a foz do Rio Amazonas. Em 1524, os franceses começaram a visitar aquelas praias. Somente em 1530 o rei D. João III começou a se preocupar com as intenções francesas em fundar por aqui a França Equinocial, e enviou para cá o administrador colonial Martim Afonso de Sousa que, por sua vez, um ano depois mandou Diogo Leite explorar o norte da terra descoberta. Só então Portugal tomou conhecimento do que realmente havia por lá. O desinteresse real pela Ilha do Maranhão (hoje Ilha de São Luís) durou até 1534, quando o desprezo pela região foi trocado por um súbito (e grande) interesse. Naquele ano, para facilitar a colonização, D. João repartiu o Brasil em nove capitanias hereditárias. O Maranhão foi dividido em dois lotes (Itamaracá e Pará): o primeiro foi doado a Fernão Álvares de 52 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 53 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 54 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm


Andrade e o segundo ao historiador João de Barros e Alves da Cunha, que já conhecia a colônia, pois participou do descobrimento como membro da expedição de Pedro Álvares Cabral. Repentinamente, as capitanias de Itamaracá e Pará passaram a ser consideradas como as mais nobres de toda a colónia, pela grandeza de seus rios, fertilidade das terras, abundância de animais e, o mais importante, devido aos boatos sobre a riqueza de suas jazidas de ouro. Assim, uma grandiosa expedição foi organizada, com todo o apoio da corte, através de muitas concessões financeiras da coroa portuguesa, que adiantou aos donatários muitas armas e munições, além de prometer condições especiais para a exploração das minas - caso elas fossem realmente encontradas Como Fernão Álvares e João de Barros não podiam deixar a corte, a missão de comandar a expedição foi entregue ao experiente Aires da Cunha. Junto com ele, embarcaram também os dois filhos de João de Barros e um delegado de confiança de cada donatário. Em outubro de 1535, o navegador zarpou do Tejo, com 10 caravelas muito bem armadas, tripuladas por 900 homens e, também, 113 cavalos. A armada de Aires da Cunha atravessou o Atlântico sem grandes surpresas e foi directo para a capitania de Pernambuco, onde o comandante foi acolhido com grande atenção pelo donatário Duarte Coelho, que havia recebido muitas recomendações da coroa para dar à expedição tudo o que fosse necessário. A frota brasileira recebeu mantimentos, batedores práticos da costa e do sertão, intérpretes de línguas indígenas a até embarcações para sondagem das baías. Meses depois de chegar ao Brasil, a expedição seguiu para o norte, em busca do almejado ouro do Amazonas - na época, o Rio Maranhão era confundido com o Rio Amazonas, tamanha a falta de uma cartografia eficiente". 55 Luís de Melo da Silva estivera por aqui em 1554 e tenta retornar em 1573, quando naufraga no Mar-Oceano sua nau-capitânea "São Francisco" que tinha Luis da Gamboa como comandante. No Capítulo XIV “Da terra e capitania do Maranhão que el-rei D. João Terceiro doou a Luis de Melo e Silva”, Frei Vicente de Salvador (2010, p. 161-162) descreve “o Maranhão” como uma grande baía que fez o mar, entre a ponta do Pereá e a do Cumá, tendo no meio a ilha de S. Luis, onde esteve Aires da Cunha, quando se perdeu com a sua armada e os filhos de João de Barros (capítulo precedente): “[...] No tempo que se começou a descobriri o Brasil, veio Luis de Melo da Silva, filho do alcaide-mor de Elvas, como aventureiro, em uma caravela a correr esta costa, para descobrir alguma boa capitania, que pedir a el-rei e não podendo passar de Pernambuco, desgarrou com o tempo e água e se foi entrar no Maranhão, do qual se contentou muito, e tomou língua do gentio, e depois na Margarita de alguns soldados que haviam ficado da companhia de Francisco de Orelhana, que como testemunhas de vista muito lhe gabaram e prometeram haveres de ouro e prata pela terra adentro. “Do que movido Luís de Melo se foi a Portugal pedir a el-rei aquela capitania para a conquistas e povoar e, sendo-lhe concedida, se fez prestes 55 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm


em a cidade de Lisboa partiu dela em tres naus e duas caravelas, com que chegando ao Maranhão se perdeu nos parcéis e baixos da barra, e morreu a maior parte da gente que levava, escapando só ele com alguns em uma caravela, que ficou fora de perigo, e dezoito homens em um batel, que foi ter à ilha de Santo Domingo [...] “Depois de Luís de Melo ser em Portugal se passou à Índia, onde obrou valorosos feitos e, vindo-se para o Reino muito rico e com a intensão de tornar a esta empresa, acabou na viagem em a nau S. Francisco, que desapareceu sem se saber mais novas dela. Não houve quem tratasse mais do Maranhão, o que visto pelos franceses lançaram mão dele, como veremos em o livro quinto”. Frei Vicente do Salvador informa, ainda, que seu pai esteve nessa viagem de Luís de Melo: “se embarcou então para o Maranhão e depois para esta baia, onde se casou e me houve e a outros filhos e filhas” (p. 162): “João Rodrigues Palha, escudeiro fidalgo da geração dos Palhas do Alentejo, emigrou por desgostos domésticos, à procura de melhor fortuna, por ser pouco grão para sustentar a família. Seu compatriota Luís de Melo da Silva armava uma expedição para as terras brasílicas, aonde lhe fora doada uma capitania. Nela alistou-se, partiu em junho de 1554 e naufragou dia de S. Martinho, 11 de novembro, nas espacéis e baixos do Maranhão. Das três naus, duas caravelas da armada salvaram-se apenas uma caravela e um batel, em que dezoito pessoas aportaram a São Domingos. Foi uma delas. [...] Como se saiu da ilha ignoramos [...] devia ter tornado à pátria [...] afrontou novamente os mares, deu consigo na Bahia de Todos os Santos, estabeleceu-se em seu reconcavo, casou, teve tres filhos. Chamou-se o mais velho de Vicente Rodrigues Palha, o nosso autor. [...]” (p. 35, Nota Preliminar de J. Capistrano de Abreu). Quando Felipe II anexou Portugal e suas colônias à Espanha (1580) percebeu o abandono que estaria ocorrendo em regiões que correspondem hoje ao Norte e Nordeste do Brasil. Entretanto, a situação agravante era a permanência de povos franceses. Por isso, duas Cartas Régis, a primeira em 1596 e a segunda em 1597, determinaram de fato a expulsão francesa, além da construção de um forte e a fundação de uma cidade na capitania do Rio Grande. A Capitania do Rio Grande constituiu o segundo lote doado a João de Barros e a Aires da Cunha, da foz do rio Jaguaribe a norte, até à Baía da Traição, a sul. Tendo o empreendimento de ambos sido direcionado ao primeiro lote (a Capitania do Maranhão), devido às dificuldades ali encontradas em 1535, este segundo lote permaneceu abandonado56. O principal porto frequentado pelos franceses na Capitania do Rio Grande era o rio Potengi, onde também se detinham navios ingleses. Naquele ancoradouro se procediam aos reparos necessários nas embarcações e obtinham-se provisões frescas ("refrescos"). De acordo com Frei Vicente do Salvador57, no Rio Grande os "[...]franceses iam comerciar com os potiguares, e dali saíam também a roubar os navios que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as 56 57

http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_do_Rio_Grande SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Edição revista por Capistrano de Abreu. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010.


fazendas mas as pessoas, e vendendo-as aos gentios para que as comessem [...]". O topônimo "Refoles" (outrora "nau de Refoles"), coincidente com o trecho do Potengi onde atualmente se ergue a Base Naval de Natal, recorda a presença na região, do francês Jacques Riffault58, corsário que pirateava pelas costas brasileiras ao tempo do rei francês Henrique, o Grande59. O capitão Jacques Riffault consegue vencer o Boqueirão e chega à Ilha Grande, estabelecendo-se aqui; ao retornar à França, deixa um seu imediato, de nome Carlos, Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine. Jacques Riffault é personagem constante em nossa história. Desde 1594 Jacques Riffault estabelecera em Upaon-açu (ilha de São Luís) uma feitoria, deixando-a a cargo de seu compatriota Charles dês Vaux, que havia conquistado a amizade dos silvícolas, e tinha inclusive o domínio da língua nativa.60 embora Wehling e Wehling (1994) afirmem que sua chegada teria ocorrido em 1584 61. Capistrano de Abreu (in Salvador 2010, servindo-se de Abbeville) 62 conta que Riffault partiu com tres navios para o Brasil em 1594, disposto a fazer conquistas com o auxílio de Ouirapiue, Pau Seco. Seu principal navio encalhou; dissensões e desarmonias privaram-no do outro; reduzido a um só, abaixou muitos companheiros em terra e voltou para França. Por sua vez Feliciano Coelho anuncia apenas que dera a costa um navio de Rifoles. Devia ter sido seu companheiro o língua Migan, morto na batalha de Guaxinduba depois de ter escapado quatorze vezes das mãos dos portugueses. Meireles (1982, p. 34)63 traz que David Migan, natural de Vienne, no Delfinado, há tanto já vivia em Upaon-Açú. Vamos encontrar Jacques Riffault na hoje Alcântara, cuja ocupação remonta a um primitivo aldeamento dos Tapuias, conquistado pelos Tupinambás e denominado "Tapuitapera" ("casa dos Tapuias") à época da chegada dos colonizadores franceses de Jacques Riffault. Estabelecidas relações amistosas entre os dois povos64, esta aldeia teria fornecido de trezentos a quatrocentos trabalhadores para a fortificação do nascente núcleo colonial na ilha Grande, depois ilha de São Luís, após a chegada de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière (1612).65 Entre 1603-1604 percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava:

58

http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil 59 Fundador da Dinastia Bourbon. Em 1572, tornou-se rei de Navarra. Sua família era uma das mais importantes do país. Seu principal momento na vida política foi a assinatura do Edito de Nantes (1598), documento que dava liberdade religiosa para católicos e protestantes. Foi um rei que mereceu o título de restaurador e libertador do Estado. Morre em 1610, assassinado por um fanático religioso. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna#Henrique_IV.2C_o_Grande 60 http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o 61 WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José C. de. FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL. Rio de Janeiro: Nova Fonteira, 1994, p. 75 62 SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, 2010, p. 254 63 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 64 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 65 http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_S%C3%A3o_Sebasti%C3%A3o_de_Alc%C3%A2ntara


"[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Integravam a expedição Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda, à frente de oitenta e seis europeus e duzentos indígenas. Em obediência ao Regimento, iniciou, na foz do rio Jaguaripe, uma fortificação em 10 de agosto de 1603, antes de prosseguir para combater os franceses de Jacques Riffault na Ibiapaba. (BARRETTO, 1958, p.82-83). 66 Henrique IV, de França, concede a René-Marie de Mont-Barrot, Carta Patente datada de 8 de maio de 1602, autorizando-o a arregimentar 400 homens e fundar uma colônia no norte do Brasil; se associa a Daniel de La Touche, transferindo-lhe a empreitada. O Senhor de la Ravardière com o navegador Jean Mocquet parte a 12 de janeiro de 1604 com dois navios, chegando as costas da Guiana (Oiapoque) a 8 de abril, retornando àquele porto a 15 de agosto. Ante a desistência de Mont-Barrot, o monarca francês, por Carta Patente de 6 de julho de 1605 nomeia La Ravardière seu Lugar-tenente e vice-almirante nas costas do Brasil. A primeira concessão a Daniel de La Touche, data do mês de julho: “Luis, a todos os que virem a presente. Saúde.O defunto rei Henrique, o Grande, nosso muito honrado senhor e pai [...] tendo por cartas patentes de julho de 1605 constituído e estabelecido o Sr. De Ravardiére de La Touche seu lugar-tenente na América, desde o rio do Amazonas até a ilha da Trindade [...] 67 Em 1596, esse Capitão Guérard armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste – estabelecendo com regularidade as visitas à terra, de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guérard68. Para Antonio Noberto (2011) 69 em matéria do Jornalista Evandro Júnior sobre “A história de fundação da cidade de São Luís” 70: “O que essas informações nos trazem de novidade é exatamente a existência de duas fortalezas no Maranhão antes da fundação de São Luís. E 66

BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 67 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 68 (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

69 Segue interessante matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão no último dia 18.12.11. A proposta da matéria foi do acadêmico da AML Salvio Dino, que gentilmente me convidou para também contribuir no trabalho, dedicado ao resgate da história do Forte Sardinha. Abraço. O original deste documento, conforme Antônio Noberto está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904. 70 Matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-la-france.html


tudo converge para que uma dessas seja o Forte do Sardinha. Primeiro porque existia desde o último quartel dos anos 1500 uma linha quase que regular de navegação entre Dieppe e a Costa leste do Amazonas. UpaonAçu era o principal ponto de comércio da região[...] Meireles (1982, p. 34) 71 traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. Em 1607 - ou 1609 - Carlos Des-Vaux retorna à França cansado de esperar por Riffault, e é recebido por Henrique IV. Ainda em 1609, Daniel de LaTouche e Charles Des-Vaux visitam o Maranhão. De LaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis72. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as "terras" de Riffault: “[...] e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento [...] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.”, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas”. 73 De acordo com Moreira (1981) 74 essa concessão foi uma farsa dos franceses, pois na verdade eles não tinham credencial nenhuma e tanto é verdade, que Maria de Médicis, que reinava em nome de seu filho, ainda menor, Luís XIII, estava há muito tempo negociando o casamento dele com a princesa Ana d’Austria, filha de Felipe III, que era portador das coroas Espanha e Portugal. Nutria esse desejo de muito tempo e por isso, não iria autorizar um aventureiro e conhecido pirata Daniel Ravardiere, inimigo da sua religião, a invadir terras que eram da coroa portuguesa, desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, homologado pelo Papa Alexandre VI, há 118 anos, isto é, antes da descoberta do Brasil. La-Ravardière, associa-se a Francois de Razilly, Senhor de Razilly e Aunelles, ajudante de ordens do Rei, gentil homem de sua câmara, aparentado com o cardeal de Richelieu; Nicolas de Harlay, Senhor de Sancy e Barão de Molle e Gros-Bois, membro do Parlamento e do Conselho do Rei; além deles conseguiu o apoio e a proteção do 71

MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 72 Filho de Henrique IV, tinha apenas oito anos de idade quando o pai morreu. A nobreza pensou em assumir o trono mas a rainha mãe Maria de Médicis assumiu a regência em nome do filho até que ele completasse a maioridade. No ano de 1624 foi nomeado o cardeal Richelieu como primeiro-ministro com o apoio da rainha mãe Maria de Médicis. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna#Henrique_IV.2C_o_Grande 73 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982

74 MOREIRA, José. Fundação Da Cidade De São Luís. In Jornal o Estado do Maranhão, 1981, p. 6


Senhor de Dampulho, Almirante de França e Bretanha, primo do Rei, e do abastado Auber de Claumont. A 24 de julho de 1612, Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy largam âncora na ilha de Sant' Ana e a 6 de agosto a esquadra entra no golfo, indo fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), onde se localizavam as feitorias de Du Manoir e do Capito Gerard. Os franceses atravessam o braço de mar, indo se fixar em um promontório onde, a 12 de agosto, uma sexta-feira, dia consagrado a Santa Clara, celebram o santo ofício da missa. A 8 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colonia. Du Manoir, Riffault, dês Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos75. Deixamos a seguinte questão em aberto: tivemos uma invasão francesa a um território português, como está registrado na História, ou teria sido, na verdade, uma invasão ibérica a uma ocupação francesa, que se estabelecia por conta de um período histórico confuso, que já não mais garantia o domínio indiscutível dos portugueses sobre a região? A VILA DE VINHAIS76 Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha: "(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". (D'ABBEVILLE, 1975, p. 114)77. (grifos nossos). O que é confirmado, também, por Noberto, quando afirma que após a implantação da França Equinocial, Uçaguaba / Miganville passou a ser chamada pelos cronistas

75 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 174. ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 D’ÉVREUX, Yves de. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL –feita nos anos de 1613 a 1614.São Paulo: Siciliano, 2002. PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968. FORNEROD, Nicolas. SUR LA FRANCE ÉQUINOXIALE – SOBRE A FRANÇA EQUINOCIAL. São Luis: Aliança Francesa do Maranhão/Academia Maranhense de Letras, 2001 DAHER, Andréa. O BRASIL FRANCES – as singularidades da França Equinocial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007 MEIRELES, Mário. FRANÇA EQUINOCIALLACROIX, Maria de Lourdes Lauande. JERÔNIMO DE ALBUQUER MARANHÃO – guerra e fundação no Brasil colonial. São Luís: UEMA, 2006 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. O Mito da fundação de São Luís. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 02 de março de 2008, domingo, Caderno Alternativo, p. 1, p. 6 MORENO, Diogo de Campos. JORNADA DO MARANHÃO POR ORDEM DE SUA MAJESTADE FEITA O ANO DE 1614. São Paulo: Alhambra; São Luís: ALUMAR/AML, 1984 77 ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 76


Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia 78. Capistrano de Abreu esclarece que: " EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes. Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto ...". ( apud D' ABEVILLE, 1975, p.107)79. Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627 ou 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Magestade80, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno81 durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, MigaoVille, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil

78 Evandro Junior; in Jornal O Estado do Maranhão, 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-lafrance.html O original deste documento, conforme Antônio Noberto está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904. 79

ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 80 João Teixeira Albernaz, também referido como João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira Albernaz, o Velho (Lisboa, último quartel do século XVI — c. 1662), para distingui-lo do seu neto homónimo, foi o mais prolífico cartógrafo português do século XVII. A sua produção inclui dezanove atlas, num total de duzentas e quinze cartas. Destaca-se pela variedade de temas, que registam o progresso das explorações marítimas e terrestres, em particular no que respeita ao Brasil. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Teixeira_Albernaz,_o_velho 81 Diogo de Campos Moreno (Tânger? 1566? – 1617?) foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de Sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno


guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(SILVA, 2011)82. Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. “[...]Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan” (SILVA, 2011)83. Continuemos com Antonio Noberto: [...] tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba / Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. [Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d’Areia)...] “Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Outra observação é que em hora nenhuma e em nenhuma narrativa se vê que La Ravardière tenha construído tal forte. Percebe-se que ele já existia. “ 84 Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuiam dois; 1 possuia três. Eussauap possuia quatro: "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire". É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho "... de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu ..." e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco, 80 anos antes (cerca de 1835).

82 SILVA, Antonio Noberto. In Blog de Antonio Noberto O Maranhão francês sempre foi forte e líder. http://antonio.noberto.zip.net/, publicado em 03/11/2011 83 SILVA, Antonio Noberto. In Blog de Antonio Noberto O Maranhão francês sempre foi forte e líder. http://antonio.noberto.zip.net/, publicado em 03/11/2011

84 Matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-la-france.html O original deste documento, conforme Antônio Noberto está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904.


MIGAN-VILLE Ou UÇAGUABA

MIGAOVILLE/UÇAGUABA/ALDEIA DA DOUTRINA Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34

Fonte: ANTONIO NOBERTO – correspondência pessoal

Cesar Marques (1970)85, em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais - freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram: “... foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina. “Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’. “Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. ... foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633). Fica a curiosidade da origem do nome dado à nova vila, criada em função do esbulho das propriedades dos jesuítas, expulsos de toda Portugal – e suas Colônias – pelo Marquês de Pombal. Era comum darem-se nomes às vilas e cidades do Maranhão o mesmo nome de vilas e cidades existentes em Portugal. Vinhais86 é uma vila 85

86

MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinhais_(vila)


portuguesa, pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e subregião do Alto Trás-os-Montes, limitado a norte e oeste pela Espanha, a leste pelo município de Bragança, a sul por Macedo de Cavaleiros e Mirandela e a oeste por Valpaços e Chaves. A ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas.

Esta antiguidade é reiterada pelo Abade de Miragaia: O chão desta vila e desta paróquia foi ocupado desde tempos remotíssimos, como se infere da lenda ou história da igreja de S. Facundo, que a tradição diz ter sido fundada no tempo dos Godos. (...) Também por aqui se demoraram os Romanos, pois ao norte da vila, no monte da Vidueira, se encontraram em 1872 muitas moedas romanas bem conservadas (...). Perto de Vinhais foi encontrada uma lápide com a seguinte inscrição: JOVI / O.M. / LOVIIS / IAIIX / VOTO / LAP (Lovesia dedicou por voto e com generoso ânimo ao grande Júpiter). Em meados do século XIII surgiu, pela primeira vez, a referência a Vinhais, num documento de doação ao mosteiro leonês de São Martinho da Castanheira: “in villa que vocitant Villar de Ossus in territorio Vinales”. Nesta época, Vinhais não era um topónimo, mas sim um coronómio, visto que designava uma região, um território e não um lugar determinado. Pensa-se que a primeira povoação de Vinhais foi construída num outeiro, próximo da margem direita do rio Tuela, mais a norte do sítio atual, ou no monte da Vidueira, ou, ainda, no monte Ciradela ou Ciradelha, na Serra da Coroa. Estas suposições justificam-se pelo aparecimento de moedas romanas, vestígios de edificações da antiga cidade romana de Veniatia e da estrada militar romana que ligava Braga a Astorga (Asturica Augusti). Vinhais foi, primitivamente, um castro de povoamento galaico, transformado pelos romanos em castro galaico-romano, com a sua fortaleza (oppidum). Certamente, os suevos ou os visigodos cercaram a localidade de muralhas e, com a expulsão dos muçulmanos, Vinhais ficou arrasada, tendo sido repovoada na época da dominação dos reis de Castela e Leão (D. Sancho II e D. Afonso VI). Este repovoamento foi continuado pelos primeiros reis portugueses, nomeadamente com D. Afonso Henriques, D. Sancho I (O Povoador), D. Afonso II e D. Sancho II. Recebeu foral de D. Afonso III, no dia 20 de Maio de 1253, o qual foi outorgado pelo monarca D. Manuel I, em 4 de Maio de 1512. Quando D. João I de Castela invadiu Portugal, em 1384, devido à crise de sucessão suscitada pela morte de D. Fernando, o castelo de Vinhais foi um dos muitos que hastearam a bandeira castelhana, recusando, assim, obediência ao Mestre de Avis, futuro D. João I de Portugal.


No século XVII, Vinhais sofreu bastante com a Guerra da Restauração, devido à sua localização geográfica, tal como conta Pinho Leal, na célebre obra Portugal Antigo e Moderno: Em 1666, achando-se em Lisboa o III conde de S. João da Pesqueira (futuro 1º Marquês de Távora, criado por D. Pedro II Regente, de 7 de Janeiro de 1670), governador de Entre Douro e Távora (...). entretanto, o general galego D. BALTAZAR PANTOJA, pôs a ferro e fogo a província de Trás-osMontes. Em 1 de Julho 1666 entrou por Montalegre, no dia 13 de Julho caíu sobre Chaves, no dia 14 de Julho os lugares de Faiões e Santo Estêvão, defendidos pelo sargento-mór ANTÓNIO DE AZEVEDO DA ROCHA, cometendo barbaridades. Recolhendo-se D. BALTAZAR PANTOJA a Monterey, praça galega ao Norte de Verim, e passados poucos dias volveu sobre Portugal, entrando por Monforte, veio pôr cerco a Vinhais, cercando com o seu exército o castelo, que era defendido pelo governador ESTÊVÃO DE MARIS, com os habitantes da vila e mais 50 auxiliares. Este acontecimento ficou eternizado numa inscrição que, ESTÊVÃO DE MARIS, GOVERNADOR DES / TA VILA DE VINHAIS, Fº DE Rº DE MORAIS DE TIO / ZELO, MANDOV FAZER ESTAS CASAS / NA E. DE MDCCVI (?) QUANDO PANTOXA / G L DO EXÉRCITO DE GALIZA COM O / MAIOR Q. SE VIO NESTA PROVÍNCIA / E LHE DEFENDEO A MURALHA CÕ / A GENTE NOBRE DA VILA E POV / QVA MAIS DE GRÃ E CÕ PERDER MVTÃ / LEVANTOU O SITIO E QUEIMOU AS / CASAS QUE FICAVÃO FORA DA MVRALHA. Pois bem, a antiga Aldeia da Doutrina é elevada à categoria de vila em 1o. de agosto de 1757 com a denominação de Vinhais - Vila Nova de Vinhais – a nossa hoje Vila Velha de Vinhais. No ano de 1779, a Vila de Vinhais contava 630 ‘almas”; a cidade de São Luís, 13.000, a Vila do Paço do Lumiar 808, conforme registro na Biblioteca da Ajuda. (Notícias de todos os governadores e populações das provincias do Brasil. Documento no. 2001, 54 – v. 12 no. 5)87. Às páginas 633, do Dicionário de César Marques, consta que houve contestação quanto à propriedade das terras da Aldeia da Doutrina, pertencente, então, ao Convento de Santo Antônio. Esta vila, situada ao N.E. da Ilha do Maranhão uma légua distante da capital, à margem do ribeiro Vinhais, ora transformada em Vila de Vinhais e, para dar fim à qualquer contestação, sobre a quem pertenceria as terras, passou-se a seguinte certidão, que, segundo Cesar Marques, não deixa de ser curiosa: “José Inácio Pereira, escrivão por comissão da Câmara da vila de Vinhais: em cumprimento do despacho retro certifico que revendo o livro de ... nele à fl. 87 verso achei o translado ... Por ser conforme às reais ordens que Sua Majestade foi servido expedir para o estabelecimento deste Estado e conveniente ao bem comum e particular dos moradores dele, que se destinem terrenos competentes, que sirvam de distritos às vilas para as suas respectivas justiças não excederem os seus limites, devo dizer de vossas 87

In CAMPOS, Marize Helena de. SENHORAS DONAS – economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755-1822). São Luís: Café & Lápis; FAPEMA, 2010, p. 327


mercês em observância das mesmas reais ordens, que o distrito dessa vila terá princípio no pôrto do Angelim sobre a foz do rio – Anil -, quer fica pertencente ao distrito desta cidade, e dele partirá em rumo direito para o nascente às terras alagadiças da fazenda que foi de Agostinho da Paz e que hoje é do Rvdo. Cônego Manuel da Graça, fincado pertencendo ao distrito desta mesma vila a estrada pública, que do dito porto do Angelim vai para a fazenda da Anindia e outras, como também a fazenda do defunto José de Araújo, partindo e confrontando da parte do sul com terras do distrito desta cidade e continuando este rumo da parte do nascente da mesma fazenda do dito Cônego Manual da Graça para a parte do norte, correrá em direitura à costa do mar, e por ela descerá à capela de São Marcos de onde continuando da parte do poente pela costa desta baía até a fortaleza da barra desta cidade continuará pelo rio, que divide a cidade das terras sobreditas da costa do mar até finalmente chegar ao dito porto do Angelim, onde fica fechando o rumo do dito distrito, em que se compreedem a dita vila e terras que possuem os seus moradores desde o tempo em que foi constituída doutrina dos padres de Santo Antônio desta cidade como também a Capela de São Marcos, a olaria, que foi dos padres da Companhia e vários sítios de fazendas e moradores, como são a do sobredito Cônego Manuel da Graça, de Domingos Fernandes e últimamente todos os que dentro dos referidos rumos e distrito se compreenderem sendo este suficiente para essa dita vila, sem prejudicar o da cidade. “Para rendimento das despesas da Câmara lhe não determino por hora terreno, o que farei com a brevidade que me fôr possível para cumprir completamente com a ordem de Sua Majestade, o qual sempre há de ser dentro do distrito dessa vila: o que tudo Vossas Mercês tenham entendido para inviolávelmente observarem, registrando este no livros da Câmara para a todo o tempo constar até onde entendem os seus limites, de que me mandarão certidão de assim o haverem. – Deus guarde a Vossas Mercês – Maranhão. – Gonçalo Pereira Lobato e Sousa” “Senhores Juízes e oficiais da Câmara da vila do Vinhais. “Certifico eu escrivão abaixo nomeado em como transladei uma carta do Ilmo. Sr. Governador vinda ao juiz e mais oficiais da Câmara desta vila, o que juro em fé de meu ofício: três de novembro de 1760. – Manuel de Jesus Pereira. “Nada mais que o referido continha o dito translado fielmente aqui copiado do próprio livro, a que me reporto, e é verdade todo o referido em fé do ofício. – Vinhais, 10 de fevereiro de 1806. – José Inácio Pereira”. (gruifos nosso). No ano de 1862, São Luís possuia três frequesias: Vinhaes, Bacanga e São José dos Índios. Eram chamadas de 1ª., 2ª, e 3ª. freguesias.88

A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA DE VINHAES89 88

BORRALHO, José Henrique de Paula. UMA ATHENAS EQUINOCIAL – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro. São Luís: EDFUNC, 2010, em nota de pé-de-página 181, p. 377 89

MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).


Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso "haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado". Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi rezada a missa.

Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: "A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...". (MORAES, 1987, p.58)90. O sócio do IHGM, Turismólogo Antonio Noberto refez o mapa do português João Teixeira Albernaz, de1615 - provávelmente baseado naquele de Daniel de LaTouche -, e teve a gentiliza de me fornecer uma cópia, ‘reeditada’ por ele: A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com Cavalcanti Filho (1990)91 a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: "... Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".(p. 31).

ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 D’ÉVREUX, Yves de. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL –feita nos anos de 1613 a 1614.São Paulo: Siciliano, 2002. PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968. MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 CARVALHO, Jacinto. CRÔNICA DA COMPANHIA DE JESUS NO MARANHÃO. São Luís: ALUMAR, 1995. 90 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃOPARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. 91 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís: SIOGE, 1990.


Não há referência à Eussauap, Uçagoaba, Uçaguaba ou Aldeia da Doutrina na relação dos templos existentes na Ilha por ocasião da elevação de São Luís à sede de Bispado em 1677, pela Bula "Super Universas Orbis Ecclesias", muito embora em 1740 conste da relação das freguesias do Maranhão: "Na ilha de São Luis. Além da freguesia de N. S. da Vitória que abrangia toda a capital do Estado com suas muitas igrejas, capelas e conventos, havia três outros núcleos com a presença permanente de religiosos e que também naquele ano seriam erigidos em paróquia - Anindiba (Paço do Lumiar), São José dos Poções, antiga aldeia da Doutrina ...". (MEIRELES, 1977, p.127)92. Coelho (1990)93 em seu "Política indigenista no Maranhão Provincial", ao analisar "o lugar do índio na legislação: a questão da terra", afirma que " a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações" e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a "[...] elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes". Cita, dentre outros exemplos, que " a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais".

D. Felipe Condurú Pacheco (1968)94 informa que em 1751, os jesuítas e os franciscanos tinham no Estado do Maranhão e Grão-Pará 80 missões e grande número de “doutrinas”, e que em oposição às numerosas propriedades dos demais religiosos, “[...] os franciscanos possuíam então no Maranhão apenas o convento de Santo Antonio, com 25 escravos, e a ‘missão’ de S. José dos Poções, em 1757 vila de Vinhais, de onde, com as esmolas dos fiéis, se mantinham com seus alunos de filosofia e de teologia [...]”. (p. 50). Ao listar as paróquias da Ilha do Maranhão, 92

MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. COELHO, Elizabeth Maria Beserra. A POLÍTICA INDIGENISTA NO MARANHÃO PROVINCIAL. São Luís: SIOGE, 1990 94 PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968

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“[...] no meado do século XVIII, conta de 1758,... distante da cidade ... Vila Nova de Vinhais, a que foi elevada a 1o. de agôsto de 1757, (antes, S. João dos Poções) dos franciscanos[...]”. (p. 61). De acordo com Barbosa de Godois (1904)95, o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário”. Meireles (1964)96, conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida - a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” - costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais de uma meia dúzia de milhares de habitantes, a convocá-los, com a campainha que ia fazendo tilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irriquieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afóra; À noite, retornava à aldeida da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida... Buscamos uma vez mais em Cesar Marques (1970)97 outras informações, agora sobre a Igreja do Vinhais: “Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então se chamou aldeia de São João dos Poções.[...] [1o. de agosto de 1757 em que a Aldeia da Doutrina foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais] foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antôno Felipe Ribeiro”. [...] “Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’. “. (p. 632-633). Ainda às págiasm 632 do referido Dicionário ..., César Marques informa que no referido têrmo – ao passar a freguesia para a Ordem de Santo Antônio, com o nome de São João dos Poções, em 13 de abril de 1757 -, achavam-se em palácio, reunidos, o Governador da Capitania, Gonálo Pereira Lobato e Sousa, o Governador do Bispado, Dr. João Rodrigues Covete, e o Desembargador Ouvidor-Geral Diogo da Costa e Silva, o Desembargador Juiz-de-Fora Gaspar Gonçalves dos Reis, e os reverendos prelados das regiões, mandava o Governador ler o têrmo da junta, feito na cidade de Belém do Grão-Pará em 10 de fevereiro de 1757:

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BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II MEIRELES, Mário M. SÃO LUÍS, CIDADE DOS AZULEJOS. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1964 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).


“Depois disso perguntou o governador do bispado o que respondiam suas paternidades ao proposto, determinado e resolvido no dito têrmo, devendose praticar neste bispado o que se praticou e resolveu no Grão-Pará”. “O padre provincial do Carmo, Frei Pedro da Natividade, e o padre comendador do Convento de N. S. das Mercês, Frei Bernardo Rodrigues Silva, não fizeram a menor objeçào, e declaram concordar com o que se tinha feito no Pará. “O padre-mestre, Frei Matias de Santo Antônio, por impedimento do guardião do Convento de S. Antônio, que então era Frei Miguel do Nascimento, respondeu que não tinha dúvida que se observasse o mesmo, com a declaração porém que neste bispado não havia missões algumas para observância do sobredito, e que só o seu convento tinha uma doutrina do serviço dele, a qual estava situada em terras doadas ao mesmo convento, aceitas pelo Sindico dele por títulos onerosos de compra e venda, e obrigação de missas anuais, e por isso tinham entrado no seu domínio por muitas bulas, e especialemnete pelas do papa Nicolau IV, ficando assim excluída da ordem de Sua Magestade. “No têrmo da junta de 18 de junho do mesmo ano (1757), declarou o dito governador, que havendo dado conta do ocorrido na sessão da Junta de 13 de abril ao capitão-General do Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marques de Pombal) do requerimento do guardião do Convento de Santo Antônio a respeito da sua aldeia chamada da Doutrina, fora por ele julgada em oposição à devida observancia da ordem de Sua Majestade de 7 de junho de 1755, que com força de lei mandou publicar nesta cidade. “Em virtude de tudo isto foi no dia 1 de agôsto de 1757 elevada à categoria de vila com a demonimação de Vinhais. “Acharam-se presentes a este ato o Governador da Capitania, dr. Bernardo Bequimão por comissão do governador do Bispado, o diretor Alferes Manuel de Farias Ribeiro, os Sargentos Manuel José de Abreu e Carlos Luis Soares, o povo do dito lugar e mais aldeias. “Fêz entrega das terras da vila, o que únicmente possuía esta aldeia, o Padre Frei Bento de Santa Rosa, religioso de Santo Antônio e aí missionário com a administração temporal.” (p. 632-633) Ainda em Cesar Marques, descobrimos que os presbíteros Domingos Pereira da Silva, vigário colado da freguesia de São Bernardo da Parnaíba, e Maurício José Berredo de Lacerda, vigário de São João Batista de Vinhais, apresentaram requerimento colocando sob suspeição a divisão da freguesia da Sé e a criação da de Santana, em 17 de janeiro de 1803 (p. 446). Gaioso (1970)98, ao identificar as cidades, lugares, villas, freguezias por toda a capitania, afirma que na ilha de São Luís do Maranhão - em 1818 -, tem a cidade deste nome e: "A villa de Vinhaes he uma pequena povoação de Indios, que goza de privilegio de ter seu governo municipal, de que são membros os mesmos 98

GAIOSO, Raimundo José de Sousa. COMPÊNDIO HISTÓRICO-POLÍTICO DOS PRINCÍPIOS DA LAVOURA MARANHÃO.Rio de Janeiro : Livros do Mundo Inteiro, 1970.

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Indios. Tem sua igreja particular que lhes serve de freguezia, com a invocação de S. João Batista. A congrua dos vigários destas povoações he de 50,000 r. pagos pela fazenda real, que cobra os dizimos, e devem apresentar certidão dos respectivos diretores, em como compriro com os officios pastoraes." (p. 110) Sobre a igreja existente em Vinhais, Moraes (1989)99 lembra que a capela de São João de Vinhais, construída no século XIX (sic), substituiu templo muito anterior, que ruíra, e que fora matriz da freguesia, criada pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757. A reconstrução da igrejinha do Vinhais foi feita pelo 15o. Bispo do Maranhão, D. Marcos Antonio de Souza. Em carta a seus auxiliares, datada de 30 de dezembro de 1838, “julgando aproximado o tempo de descer aos silêncios da sepultura”, pede para ser enterrado na Matriz de São João Batista de Vinhais, que mandara reedificar: “Se não fôr possível ter o último jazigo nesta Cathedral de Nsa. Sra, da Vitória, junto às cinzas dos meus Predecessores, como sesejava um santo Bispo de Milão, se não me fôr permitido descançar junto al Altar, em que poe muitas vêzes tenho celebrado os augustos mysterios da Religião Santa, que professo, hé de minha última vontade, que o meu enterramento, se fallecer nesta Cidade, ou suas vizinhanças seja na Matriz de S. João Baptista de Vinhaes, reedificada com algum trabalho meo”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 164)100.

No ALMANAK DO MARANHÃO101 para o ano de 1849, consta da relação dos párocos do Bispado do Maranhão o nome de Manoel Bernardo Vaz, como vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais.

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MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃOPARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. 100 PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 101 REGO, A. ALMANAK DO MARANHÃO COM FOLHINHA PARA O ANNO DE 1849 (2o. anno). São Luís: Typografia Maranhense, 1848. (Edição fac-similar da AML, 1990).


D. Manoel Joaquim da Silveira, 17o. Bispo do Maranhão, inicia, a 27 de dezembro de 1854, uma visitação às paróquias. Sobe o “São Francisco” - “braço de mar em que deságua o rio Anil”, em dois escaleres do brigue “Andorinha: “... Pitoresco o promontório dos remédios, com a alvura deslumbrante e devota da Ermida de Nsa. Senhora. Com pouco mais de 3 quartos de hora de viagem, estão no pôrto de “Vinhaes, outrora Villa, e muito mais povoada que actualmente’. Foguêtes, recepção, bençãos. ‘Hospedagem ecellente em casa de propriedade do Vigário Geral. Visita dos ingênuos habitadores dêste pacífico lugar’. “Na manhã seguinte começam os trabalhos. Pouca frequência. Não há confissões: 75 crismas. ‘Pequena a Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada’. Construída por D. Marcos, já está arruinada. Ajudado com 4:000$000 da Província e com o produto de loteria, D. Manoel fez os reparos desta... “... a 3 de janeiro, por Vinhais, retorna S. Excia. à Capital”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 234-235)102. À época da nomação do 19o. Bispo do Maranhão, D. Antonio de Alvarenga 1876 -, era pároco da igreja de São João Batista de Vinhais o Pe. Custodio José da Silva Santos. Ana Jansen, em meados do século XIX, monopolizava o abastecimento de água de São Luís, utilizandos-e de aguadeiros, seus escravos, que se abasteciam nas fontes do Apicum e Vinhais, transportando suas pipas para o centro da cidade, vendendo o caneco por vinte réis, de acordo com Viveiros.103 Catarina Mina – Catharina Rosa Ferreira de Jesus – uma escrava que amealhou grande fortuna com o comércio de seu corpo, e comprou sua alforria – no dizer de Graça Guerreiro, tornara-se uma Xica da Silva do Maranhão – achando-se adoentada – em 19 de fevereiro de 1886 - e sendo solteira e sem herdeiros, abriu mão de seus bens em testamento, deixando-os para seus escravos –sim, os possuía, e muitos ! – além da alforria dos mesmos. Entre as exigências que fez, pediu aos herdeiros que “enquanto lhes permitissem os seus recursos, não deixassem de fazer a festa de São Pedro em Vinhaes, como de costume”. (BARBOSA, 2002; 2002b)104. (Grifos nossos). O Deputado Francisco Antonio Brandão Junior, em 1892, apresenta projeto de criação de uma cadeira de “primeiras letras” em Vinhais. Essa, deve ser a origem da nossa Escola Oliveira Roma...105 Em 1985, os moradores da Vila velha do Vinhais pedem ajuda aos moradores do Conjunto Recanto dos Vinhais para a reconstrução da Igrejinha ... o telhado estava no chão, mais uma vez ... A primeira pessoa que, nessa época estendeu a mão, foi uma 102

PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 103 COSTA, Yuri; GALVES, Marcelo Cheche (org.). MARANHÃO – ENSAIOS DE BIOGRAFIA E HISTÓRIA. São Luis: Café & Lápis; Editora UEMA, 2011, p. 65 104 BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In REVISTA TJ MARANHÃO, São Luís, setembro/outubro 2002. BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In LIMA, Félix Alberto (org.). MARANHÃO REPORTAGEM. São Luís : Clara, 2002, p. 173-181 105

FARIA, Regina Helena Martins de. BRANDINDO ESPERANÇAS E FANTASIAS: o controvertido Francisco Antonio Brandão Jr. In COSTA, Yuri; GALVES, Marcelo Cheche (org.). MARANHÃO – ENSAIOS DE BIOGRAFIA E HISTÓRIA. São Luis: Café & Lápis; Editora UEMA, 2011, p. 78-101


médica, que mandou reconstruir o telhado. Depois, alguns moradores reuniram-se e resolveram ajudar, criando uma comissão – informal – pró-reconstrução da Igreja... Muito embora conste do “Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados”, do Ministério da Cultura, que em 1995 tenha sido restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado, através do Departamento de Patrimônio Histório e Paisagístico (MinC, 1997) – recurso de R$ 8.000,00 (oito mil reais) – isso nunca se deu; desde 1985, todas as intervenções físicas se deram com recursos arrecadados junto à comunidade, sem qualquer interferência de qualquer poder público – seja nacional, estadual, ou municipal...

Fonte: Departamento de Patrimônio Histório e Paisagístico (MinC, 1997)

CONCLUSÃO: Onde hoje é localizado o bairro Vila Velha de Vinhais – ou Vinhais Velho – ficava antiga aldeia indígena, onde um certo David Migan habitava com os índios. Uçaguaba era a segunda maior aldeia de Upaonj-Açú. Com a chegada da armada de Daniel de La Touche, veio a recebeu seus alguns habitantes brancos, em 1612, quando o sr. de Pizieux e alguns franceses alí fixam residência e edificam uma capela - a segunda da ilha, “batizada” por D'Abbeville a 20 de outubro do mesmo ano. Em 1615, de acordo com Moraes (1987) ou 1622, no entender de Cavalcanti Filho (1990) os jesuitas alí estabelecem sua primeira residência, ou missão, em terras


maranhenses. A Eussauap de D' Abbeville (1612) é chamada de Uçagoaba pelos padres Manoel Gomes e Diogo Nunes (1615) e, a partir de 1622, recebe o nome de Aldeia da Doutrina dos padres Luis Figueira e Benedito Amodei. Em 1º de agosto de 1757 recebe a atual denominação - Vila de Vinhais. Extinta em 1835... Desde o ano de 1985, os moradores do "Vinhaes Velho" - hoje compreendendo os bairros da Vila Velha do Vinhais, Recanto dos Vinhais, Portal do Vinhais, Alameda dos Sonhos, Conjunto dos Ipês (Vale), Residencial Vinhais III, Conjunto dos Colibris a estão reconstruíndo - pela quinta vez, nesses quase 400 anos. Por muitos anos abandonada, tendo deixado de cumprir sua função de unir pela fé católica seus moradores, estava novamente em ruínas. Desde que o conjunto Recanto dos Vinhais foi construído, seus moradores tentam, junto com os residentes da Vila Velha de Vinhais, ter um Padre rezando missa. Estamos em campanha permanente para a recuperar físicamente ... A histórica igrejinha precisa de sua ajuda. A Igrejinha do Vinhais completou 399 anos... ano que vem, comemoraremos, junto com São Luís, 400 anos, só que a 20 de outubro.

PATRIMONIO AMEAÇADO PELA CONSTRUÇÃO DA VIA EXPRESSA


SAINT LOUIS CAPITALE DE LA FRANCE EQUINOXIALE EVANDRO JUNIOR Publicada no Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11. http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-la-france.html

Riqueza histórica esquecida O Forte do Sardinha, monumento que, segundo relatos históricos, foi palco da entrega da cidade de São Luís dos francesas para os portugueses

A história de fundação da cidade de São Luís, que no dia 8 de setembro de 2012 completará 400 anos, está intimamente ligada a um monumento de indiscutível valor histórico e que remete ao episódio da transferência da posse das terras ludovicenses das mãos dos franceses para as dos portugueses, nos idos de 1615. O Forte do Sardinha, em francês Fort de Sardine, foi transformado e renomeado para Forte São Francisco, edificado em pedra no governo de Bernardo Pereira de Berredo (1718-1722), e cujas ruínas permaneceram até a década de 1950 onde atualmente existe uma praça, nos fundos do bairro Basa, atual Ilhinha. O lugar representa o cenário onde os franceses, comandados por Daniel de La Touche, entregaram a cidade de São Luís para os portugueses, liderados pelo general Alexandre de Moura, mais precisamente no dia 4 de novembro de 1615, segundo o historiador maranhense Antônio Noberto, cujo instinto de curiosidade levou à pesquisa sobre o fato e à aquisição do mapa histórico que documenta o forte geograficamente. O mapa está no livro Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão, de Olavo Pereira da Silva F. e no Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale, trabalho do historiador que traz desenhos e artes de Jonilson Bruzaca. Ao lado do escritor e membro da Academia Maranhense de Letras Sálvio Dino, o historiador foi em busca de informações para trazer à luz essa história, esquecida inclusive pelas autoridades. Sálvio


Dino começou a se interessar pelo assunto desde quando era vereador em São Luís, na década de 1950. “O professor Rubem Almeida me sugeriu que fizesse o trabalho de resgate desse episódio, tal seja a entrega da coroa de São Luís dos franceses para os portugueses, uma vez que ele estava sendo esquecido”, disse Sálvio Dino, que desde então insiste e persiste no resgate daquele momento histórico. “Estamos lutando para fazer um monumento comemorativo dessa passagem que tanto enriquece a história de São Luís, como um presente em homenagem aos 400 anos de fundação de São Luís e para que, definitivamente, permaneça na memória de quem desconhece o fato e na memória das futuras gerações”, completou Sálvio Dino. As ruínas do Forte São Francisco foram vistas por maranhenses como o historiador Carlos de Lima e sua esposa Zelinda Lima, e Mário Meireles. Não se sabe se o nome Sardinha se deve em razão da presença desse pescado no local ou se porque o mesmo foi entregue aos cuidados de um português aliado dos franceses que tinha esse nome. O Forte do Sardinha, segundo Antônio Noberto, é provavelmente o mais antigo do Maranhão. É anterior ao período de fundação da cidade por La Ravardière. Na Relação do Maranhão pelo padre Luiz Figueira - 1608, quando estava em uma penosa viagem de reconhecimento do Ceará, na Serra Grande, (transcrição do Barão de Studart), Luiz Figueira diz: "Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão". Arquivo – O original deste documento, conforme Antônio Noberto está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904. “O que essas informações nos trazem de novidade é exatamente a existência de duas fortalezas no Maranhão antes da fundação de São Luís. E tudo converge para que uma dessas seja o Forte do Sardinha. Primeiro porque existia desde o último quartel dos anos 1500 uma linha quase que regular de navegação entre Dieppe e a Costa leste do Amazonas. Upaon-Açu era o principal ponto de comércio da região”, disse Noberto. O historiador continua: “Segundo, tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba / Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia)”. Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Outra observação é que em


hora nenhuma e em nenhuma narrativa se vê que La Ravardière tenha construído tal forte. Percebe-se que ele já existia. Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba / Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Com a construção do Forte São Luís (em forma de cidadela), com 21 peças de artilharia, o Forte do Sardinha perdeu importância no cenário de defesa da cidade. “Quando da chegada do Capitão-general Alexandre de Moura na Ilha Grande, ele se apossou do Forte do Sardinha e o rebatizou de Forte São Francisco, local onde em 4 de novembro de 1615 a França Equinocial capitulou definitivamente quando Daniel de La Touche concordou com os "termos arrogantes" ditados por Moura. Observa-se a importância do forte pela sua anterioridade à fundação da cidade e por ter sido ali o evento de entrega das chaves da cidadela”, conta Antônio Noberto.


DIÁRIO DE NATAL - quarta-feira, 28 de dezembro de 2011 http://www.diariodenatal.com.br/2011/12/28/opiniao.php

O POTENGI E O RIFOLES ANTONIO NOBERTO Escritor, sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão antonionoberto@hotmail.com

O primeiro alvor da manhã era revelador da agitação na "Curva do Rio Grande", no Nordeste brasileiro. Naus, pirogas, potiguaras, franceses, papagaios, macacos, bovinos, madeiras, fardos de algodão, machados, tesouras, canivetes, espelhos, espadas, facas, foices, anzóis e tantos outros compunham a paisagem descortinada nas manhãs do último quartel dos anos mil e quinhentos. Uns cuidavam do desembarque do gado e das muitas caixas contendo toda sorte de utensílios e quinquilharias que alimentavam o escambo dos franceses com os aliados nativos; outros embarcavam os produtos da terra, sendo madeiras, algodão, bípedes e quadrúpedes, papagaios, araras, periquitos e muitos outros. Tangiam o gado para os currais, serravam madeiras ou as cortavam a golpes de machado. Alguns eram destacados para o abastecimento e conserto das naus, outros adentravam as matas e se alojavam nas aldeias onde realizavam as trocas e se relacionavam com os selvagens, sendo que muitos se amasiavam e mantinham relação duradoura com as índias (cunhãs). Era assim no Porto do Rifoles (também conhecido por Nau do Rifoles), na margem direita do Rio Potengi, a três quilômetros da desembocadura do mesmo. Lugar balizador da futura cidade do Natal - RN, onde foi encravado o bairro do Alecrim. O historiador Luís da Câmara Cascudo, em artigo publicado em 26.06.1941, pergunta: "Qual a origem do Topônimo? Recorda gente guerreira e audaciosa, vivendo ao sabor de assaltos e aventuras, nos intervalos de permutas com nossos avós amerábas". É derivado do nome do capitão francês Jacques Riffault (pronuncia-se "rifô") e da sua mais importante nau, a Nau do Rifoles. Era deste porto potiguar que o dito capitão, originário de Dieppe, com sua maiúscula esquadra, que diziam chegava a mais de uma dezena de naus bem aparelhadas de peças de artilharia, profundo conhecedor das costas setentrionais brasileiras, partia para suas andanças que iam desde a Paraíba até o Amazonas, isto sem falar no próprio Potengi, "navegável quinze léguas". Todo este vasto território, abandonado dos donatários régios, que incorriam nas penas de comisso, era caminho e paragem do corsário normando, que se tornou lenda em todo o Norte e Nordeste. Foi da Curva do Potengi que Riffault, no apagar daquele século, recém chegado da França, partiu acompanhado dos trouchements (tradutores) Charles des Vaux e David Migan em direção ao Maranhão. As literaturas conhecidas, desde Claude Abbeville, nos informam que Riffault, após o naufrágio de uma de suas naus no Maranhão, deixou seu imediato na Ilha Grande (Upaon-Açu dos tupinambás, que se tornou Ilha de São Luís), no Porto de Jeviré, retornou à França e nunca mais se ouviu falar dele. Mas não é bem assim... O famoso capitão comandou pessoalmente a tentativa de assalto ao Forte do Cabedelo, na Paraíba, em 1597, ocasião em que David Migan, "líder dos negros (índios)" e "parente do governador de Dieppe", uma das figuras mais conhecidas do Maranhão e doPotengi de então, foi ferido na batalha. Daí se conclui a simbiose e


cumplicidade entre o Potengi e a Ilha Grande, entre o porto do Rifoles e o de Jeviré (ou Jevirée - atual Ponta da Areia). O historiador potiguar Tarcísio Medeiros escreveu na obra Proto-história do Rio Grande do Norte que, poucos anos após a tomada da cidade do Natal e da capitania do Rio Grande, os holandeses catalogaram vinte e quatro mil cabeças de gado solto na região, que viviam como animais selvagens. Isto porque os nativos recebiam dos franceses o gado vacum e, como tudo lhes era comum e não tinham a mesma noção de propriedade que os europeus, deixavam esses animais em liberdade, vagando nas matas. Em 1912, o Rifoles tornou-se a Sede da Escola de Aprendizes Marinheiros e, em 1941, no mesmo sítio, a Marinha Brasileira construiu a Base Naval do Natal, nomeada inicialmente Base Naval do Rifoles. O Potengi e o Rifoles são o nascedouro, a origem da expansão e ocupação setentrional brasileira. Histórias de tal monta valem a pena recordarmos em face da aproximação dos grandes eventos internacionais que o Brasil está próximo a organizar e sediar, bem como do quadricentenário de fundação de São Luís pelos franceses, a ser comemorado em 8 de setembro de 2012 e, é claro, pelos 401 anos de fundação da cidade do Natal. E não deixa de ser uma demonstração de cultivo das nossas raízes históricas. Parte considerável dos turistas estrangeiros é ávida por tais pérolas. O quadro O Potengi e o Rifoles foi encomenda nossa ao consagrado artista plástico Rogério Martins, o mestre da espátula, que, mais uma vez, conseguiu materializar, de maneira irretocável, um importante momento da história brasileira.


SÃO LUÍS DO MARANHÃO – 400 ANOS DE HISTÓRIA OSVALDO PEREIRA ROCHA Grão-Mestre do GOAM e Coordenador do ENCM. E-mail rocha.osvaldo@uol.com.br / site: www.osvaldopereirarocha.com.br/ Nossa querida São Luís, Cidade Cultural, Patrimônio da Humanidade, como registra a História, foi fundada em 08 de setembro de 1612 e, por esta razão, se prepara para comemorar seus 400 anos de fundação e de bonita história. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM constituiu uma comissão de historiadores de seus quadros, tendo à frente a sua dinâmica diretoria, com a finalidade de estudar com afinco, pesquisar com profundidade, a História de São Luís e, desde então, tem mostrado trabalho, como a realização de seminários, com a participação de notáveis de nossa terra e do Estado do Maranhão como um todo, além de assembléias gerais e reuniões que avaliaram o que já foi feito e o que ainda ter por ser feito, com um saldo positivo. A Maçonaria Unida do Maranhão, em face dessa grande história, conseguiu trazer para nossa querida cidade o XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA - ENCM, que será realizado nos dias 13 e 14 de abril próximo, tendo como tema central A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL, com as participações de Irmãos Maçons de todo o País, seus familiares e convidados, Pesquisadores, Historiadores, Imortais Acadêmicos, Escritores, Jornalistas, todos os que fazem a cultura maçônica brasileira. O Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM foi escolhido para coordenar esse importante Encontro Nacional e fará parceria com o IHGM e da UFMA; os trabalhos serão aperfeiçoados com palestras proferidas por professores universitários de nossa terra, e Eminentes Irmãos Maçons daqui e de outros Estados da Federação Brasileira, virão engrandecer o nosso ENCM. Livros sobre assuntos maçônicos deverão ser lançados, na oportunidade, e os Maçons também deverão apresentar trabalhos escritos sobre o tema ‘A Educação Pública no Brasil’ ou suas variantes, cujos trabalhos defenderão, no ato. Desses trabalhos, os que forem selecionados, serão divulgados em livro, publicado pela Editora A TROLHA Ltda., segundo nos informa o Soberano Irmão Antonio do Carmo Ferreira, um dos seus expoentes. Finalmente, rogo ao Grande Arquiteto do Universo para que nos ilumine e guarde durante todo este ano que se inicia (2012).


OS 90 ANOS DO JORNAL CIDADE DE PINHEIRO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM APLAC, AMM, IHGM. Data de 1921 a chegada do jornalismo a Pinheiro. Foi uma luta travada contra vários empecilhos para, naquela época, instalar, no interior do Maranhão, uma prensa para fazer rolar um jornal. Mas os estágios pelo quais passou a comunicação, ao longo da história da humanidade, foram também marcados por muitas lutas e sacrifícios. Os primeiros registros do homem, revelados pela Arqueologia, se expressaram, nas pinturas em cavernas (arte rupestre), constituindo a revolução cultural ocorrida, possivelmente, há 40 mil anos atrás, e que Jared Diamond a chamou de “O Grande Salto para Frente”. Já no final do período Neolítico ou da Pedra polida, por volta de 3,5 a 4.000 anos a.C., apareceu a escrita entre os povos mesopotâmicos ou, mais precisamente, entre os sumérios. Foi mais um passo decisivo do homem, na longa trajetória da comunicação, no seu processo de evolução sócio-cultural. Nessa mesma época, ocorreram as primeiras impressões sobre blocos de cera, de argila ou mesmo de granito em que foi cunhado o Código de Hamurabi, (século XVII a.C), na antiga Babilônia, considerado o registro escrito mais antigo até então conhecido. Na senda desses estágios evolutivos, surge entre os chineses, no século VI a.C., a fabricação do papel, preparando outra grande revolução que estabeleceu o marco inicial dos meios de comunicação de massa que foi a criação da imprensa, surgida nos albores do Renascimento. Embora os chineses tenham se antecipado na impressão de livros com o uso de blocos de madeira, nos quais eram esculpidos os caracteres a serem impressos, foi um ourives alemão chamado Johannes Gutemberg que, em 1438, criou a novidade dos tipos móveis que revolucionaria, nos anos e séculos seguintes, a comunicação de massa na Europa e no mundo. Multiplicaram-se, a partir de então, os impressos com diferentes formas, trazendo os mais variados assuntos até que, no século XVII, surgiu, na França, Inglaterra e Alemanha, o formato de impressão que passou a ser chamado de jornal. A força da informação que esse veículo passou a exercer sobre o povo foi suficiente para despertar, nos governos constituídos, a necessidade de controle da impressão e, conseqüentemente, a censura das publicações, mal que a imprensa sofre até o presente, em vários países, embora a função social do jornal tenha sido firmada desde a Revolução Francesa. Após a sua difusão pela Europa Central e do Norte, chegou a Portugal, em 1641, e deste ao Brasil, em 1808, com a família real portuguesa. Nesse mesmo ano, por ordem do príncipe-regente D. João, foi instalada a Imprensa Régia com a publicação de A Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso no Brasil. Enquanto isso, em cidades da América Espanhola, a imprensa já se fazia presente desde o século XVI.


No Maranhão, ela teve o seu início com a chegada de uma tipografia importada de Portugal pelo governador Bernardo da Silveira. Foi então impresso “O Conciliador do Maranhão”, em abril de 1823, o primeiro periódico da Província. Outros jornais não oficiais começaram a ser publicados a partir de 1821, tendo uns vida mais longa e outros efêmera. Mas foi somente em finais do século XIX e início do XX que os ventos da modernidade, soprados da Europa, promoveram radicais mudanças nas artes e na cultura do país. Uma das conseqüências mais marcantes foi a Semana da Arte Moderna, em 1922. Imbuído desse espírito de modernidade, chega a Pinheiro, em fins de 1919, o juiz de Direito, Dr. Elizabetho Barbosa de Carvalho, com muitas idéias na cabeça. Com essas idéias, várias realizações e atividades começaram a ser desencadeadas, envolvendo diferentes seguimentos da comunidade Pinheirense, que constituíram o que chamamos de Movimento Cultural de 1920 ou Movimento Cultural Pinheirense. No bojo desse movimento, Dr. Elizabetho, com a ajuda dos amigos Josias Abreu e Clodoaldo Cardoso, bem como, com a colaboração financeira das famílias locais, adquiriu, em São Luís, os equipamentos e todo o material necessário para fazer imprimir um jornal. E foi assim que, a 25 de dezembro de 1921, foi entregue ao povo de Pinheiro e da Região da Baixada o jornal Cidade de Pinheiro, o mais antigo em circulação no Estado. Nestes seus 90 anos, o jornal vem prestando inestimáveis serviços à cultura, à arte e à educação da região e do município além de servir de relicário das memórias do povo pinheirense. Parabéns e vida longa ao nosso jornal.


IHGM NA MÍDIA – publicado em O ESTADO DO MARANHÃO, edição de 16 de janeiro de 2012

ZÉ SOARES JOÃO FRANCISCO BATALHA Titular da Academia Arariense Vitoriense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Se vivo fosse José Raimundo Soares completaria 96 anos de idade em 2012. Sua trajetória de vida começou no dia 16 de janeiro de 1916 quando nasceu no povoado Japão, município de Vitória do Mearim. Posteriormente, ainda jovem, mudou-se para a vila do Arari onde constituiu família, casando-se com a então senhorita Francisca Bogéa Ribeiro. Além de inteligente e culto Zé Soares era sábio. Não aquela sabedoria que adquirimos dos livros ou nos bancos escolares, dessa ela também era possuidor, mas aquela adquirida por intuição própria. Cidadão honrado e simples, gestos nobres, correto, seletivo, reservado e tímido, bom marido e pai de família dedicado, cultivava como marca pessoal o respeito a todos, tratando-os sem distinção, com o devido merecimento e, principalmente, às pessoas mais modestas. Predominava a humildade e a simplicidade nos seus atos e gestos, como pilares de dignidade e formação moral. Ser humano admirável de honradez e retidão comprovada era ético na família, na sociedade e na profissão. Figura de fino trato social e reputação ilibada, das mais expressivas da sociedade arariense pelas suas qualidades de honradez, dignidade e inteligência. Além de músico, nem tanto brilhante como outros de sua geração, foi o alfaiate mais famoso de sua época em Arari. Já quase sexagenário transfere-se para São Luís, cursa o Segundo Grau, enfrenta o concorrido vestibular da Universidade Federal e gradua-se em Geografia e em seguida abraça a fase das letras, estreando com o livro Ressonância de Ecos e posteriormente Um Sonho da Colheita de Outono. Antes de transferir-se para São Luís e tornar-se geógrafo, sua preocupação primeira foi com os filhos, enviou com o sacrifício de sua própria profissão, todos para estudar na capital do Estado e assistiu a todos bacharelarem-se. De invejável qualidade moral foi candidato a prefeito de Arari, pela oposição, na eleição que marcou a redemocratização do país, em 1947. Teve como companheiro de chapa o Senhor Sebastião Abssalah Silva, outro cidadão honrado (ambos do PSP), e perderam a eleição para os senhores José Aureliano do Vale e Pedro de Alcântara Fernandes, candidatos situacionistas e também de reputação ilibada. Personalidade admirável foi importante para o Arari como referência pela sua postura moral e através de sua valorosa participação na sociedade local e nas representações teatrais que atuava como ator de comédias e sketchs apresentadas nos palanques dos salões da Associação da Doutrina Cristã para um auditório sempre lotado de expectadores. Foi um cidadão exemplar e deixou lições de retidão, bom caráter, dignidade e simplicidade. Nascido em Vitória do Mearim desenvolveu com mestria e simplicidade as atividades artísticas e intelectuais em Arari, por isso a merecida ocupação do patronato da cadeira nº 16 da Academia Arariense Vitoriense de Letras. Faleceu aos 81 anos de idade, em 23 de março de 1997. Se vivo estivesse assistiria no próximo dia 20, no Palácio Cristo Rei, no Largo dos Amores, a posse do seu primogênito Éden do Carmo Soares na Cadeira nº 09 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, patroneada pelo historiador e administrador colonial português Bernardo de Berredo e Castro.


SÃO BENTO É ASSUNTO ÁLVARO URUBATAN MELO (Vavá Melo), pesquisador, membro da Academia Sambentuense e sócio o IHGM No final da década de 1920 existia no centro da cidade e nos principais bairros de São Bento um time de futebol. O de Outra Banda, denominado de Carioca Futebol Clube possuía campo de jogo, na Travessa Mariz de Barros, hoje Cristóvão Martins, na quadra oeste, da Travessa Cristóvão Martins, entre as Ruas 15 de Novembro e Santa Quitéria, local em que depois funcionou o primeiro poço da Caema, atual Clube da Juventude Sambentuense. Todas as agremiações tinham suas diretorias, dono ou donos. A figura mais proeminente do Carioca era o senhor José Cursino Gonçalves, vulgo Zezico Mururu, cidadão de bem, trabalhador e respeitado. Casado com a senhora Ana (Anica) Martins, tia legítima de André Martins Melo, meu pai. Foram-nos seus padrinhos e com eles que morou a partir da adolescência. Apaixonado que era pelo futebol, contam que em dias de jogos era o primeiro atleta a equipar-se, e, enquanto aguardava os companheiros, ficava a passear na calçada de seu comércio, no qual vendia saborosas cocadas, doces de leite e os famosos queijos fabricados pelos seus cunhados – os Martins. Os torcedores interessados em saber da escalação, perguntavam-lhe: Sr. Zezico, qual o time que vai jogar, respondia: EU e citava os demais; ou então nominava somente os dez – falta um Sr. Zezico - completava EU Com o passar do tempo tornou-se apenas um assíduo e exemplar torcedor. Em todas as partidas, lá estava ele, ao lado da trave, todo imponente e comportado, com ares de europeu, a segurar sua bengala. Pelos idos de 1960, os arrendadores de lanchas para aumentarem seus passageiros levavam times de São Luís o que animava a cidade. Umas dessas equipes foi o Vitória do Mar. O árbitro “refere” foi José Torres, capataz dos Portos, jogador de voleibol, exímio dançarino, e experiente cidadão. Peleja difícil para a os sãobentuenses, mas em dos seus ataques o juiz em gesto de praxe, corre para o centro, com o dedo para baixo e assinala GOL. Protesto solene dos vitorienses com alegação de que o goleiro defendeu a bola cima da linha divisória. Enorme discussão do foi não foi. Um defensor, dizem Misael, zagueiro visitante em busca de uma testemunha, conduz o árbitro até as pessoas que se encontravam perto do gol, olha para todos, entre eles escolhe um senhor bastante sério, que o era, considera o mais capaz de elucidar a dúvida, dirige-se ao juiz e solicita: pergunta a esse senhor se essa bola foi gol. - José Torres fingindo desconhecer o personagem, indaga: moço essa bola foi gol? - Sr. Zezico, calmamente responde, com evidente ingenuidade – não sei quando é gol. - Zé Torres, didaticamente, explica ser gol quando a bola ultrapassa essa linha – mostra-a. - Sr, Zezico com explícita convicção, complementa: então foi porque a bola passou. Por que hesitar de sua palavra?. Soube que o jogador lhe dissera impropérios. Não acreditei, tanto pela educação de Misael quanto pelo porte do Sr. Zezico, meu avô afim, que impunha respeito, em


que pesasse os anos. Outro motivo, muitos de seus conterrâneos não aceitariam que lhe fosse atribuído tais ofensas, e jamais desperdiçariam mais uma oportunidade para provar aos caluniadores ser inverdade essa infâmia estória do “poção” e do fala fino. Este artigo é uma homenagem ao seu neto paterno, meu querido primo e afilhado, o bem sucedido empresário e ilustre cidadão João José Gonçalves Pinheiro (Zequinha Pinheiro – Gordo), sua estimada consorte Elza, filhos Luciano, Lívia e a netinha.


O LUGAR DO ARRAIAL DO PRÍNCIPE REGENTE ADALBERTO FRANKLIN Jornalista, Historiador e Editor Literário da Ética Editora. Autor de “Breve história de Imperatriz” e “Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz”.

Até bem pouco tempo, a exata localização do antigo Arraial do Príncipe Regente, fundado e comandado pelo militar português Francisco de Paula Ribeiro às margens do rio Itapecuru, nos sertões do leste maranhense, no início do século XIX, era uma questão de muitas dúvidas. Vários pesquisadores e estudiosos defendem ser a cidade de Mirador o lugar do velho arraial, enquanto outros imaginam que tenha sido a cidade de Colinas. Ainda agora, porém, essa questão se prolifera equívoca. A respeitada resenha do IBGE sobre o município de Mirador afirma ter sido esta cidade a sucessora do arraial, enquanto vários outros escritos refutam essa informação. Sabe-se que o arraial oitocentista foi mandado fundar em 1806, por ordem do governador D. Francisco de Melo Manuel da Câmara, o Cabrinha, com o fim de proteger os criadores que começavam a ocupar com fazendas os sertões do leste maranhense, às margens do Itapecuru, e favorecer a navegação desse rio, existiu por pouco tempo, sendo devassado pelos índios. Há mais de um quarto de século empreendo pesquisas sobre a história do sul do Maranhão, tanto em fontes primárias quanto secundárias e mais. Até certo tempo, também tive essa dúvida. Nos últimos anos, a partir de obras bibliográficas e cartográficas, não há, para mim, mais dúvidas quanto a essa questão. Os documentos que dão sustentação a essa convicção são: 1) o mapa do roteiro de Sebastião Gomes da Silva Berford, publicado no livro “Viagem da cidade de S. Luís do Maranhão até a Corte do Rio de Janeiro” (do mesmo Berford, publicado pela Ética Editora); 2) o “Mappa Geographico da Capitania do Maranham”, de 1919, de Francisco de Paula Ribeiro (o fundador e comandante do Arraial do Príncipe Regente), primeiro que descreve com detalhes os sertões maranhenses, desenhado pelo próprio autor, documento que se imaginava desparecido (digitalizado recentemente pela Biblioteca Nacional, em excelente estado); 3) a informação precisa de Curt Nimundaju, o “pai” da etnologia brasileira, autor da mais importante obra sobre os índios Timbira -- The Western Timbira (Os Timbira Orientais) --, publicado em 1946 pela Universidade da Califórnia (EUA) e somente neste ano terá sua edição em português, pela Ética Editora. Há também informação pouco precisa de César Marques, em seu Dicionário, embora esse grande historiador maranhense não seja tanto confiável quando se trata dos sertões e do sul do Maranhão. Após cuidadosa análise dessas obras, posso afirmar que o velho arraial localizavase bem próximo da confluência dos rios Alpercatas e Itapecuru, exatamente onde fica hoje a cidade de Colinas. Alguns autores chegam a afirmar que era na própria desembocadura.


Depois de conferir quase desconhecido mapa de Paula Ribeiro, fica evidente que o Arraial ficava pouco abaixo da confluência dos rios Alpercatas e Itapecuru, próximo à margem deste rio, praticamente o mesmo local em que a cartografia atual indica a cidade de Colinas. Também, pelo relatório de Sebastião Berford, que esteve no Arraial de 26 de outubro a 2 de novembro de 1809 e fez um relato detalhado do lugar, verificase que a distância que ele contabiliza, saindo daí até chegar a Pastos Bons, é de cerca de 20 léguas, a distância aproximada hoje entre Colinas e Pastos Bons, enquanto a distância para Mirador é menos que a metade disso. Outra evidência é que no dia 3 de novembro Berford anota que chegou ao riacho “Minador”, quando já teria viajado oito léguas desde a saída do Arraial do Príncipe Regente. Essa é a distância aproximada entre Colinas e Mirador. E a grafia “Minador”, constante no roteiro de Berford, impresso pela Imprensa Régia, em 1810, na verdade, pode ser um equívoco de leitura do revisor, visto que a grafia do “r” e do “n” eram muitos parecidas. Por sua vez, Curt Nimuendaju, autor do fabuloso “Mapa Etno-histórico”, elaborado a partir da consulta a 1.001 outras obras, nacionais e estrangeiras (todas elas referenciadas no trabalho), assegura no seu The Western Timbira, que “Um papel importante nas lutas, tanto contra os Sacamekra como contra os Ramkokamekra, coube ao posto militar do Príncipe Regente, na confluência do Alpercatas com o Itapecuru”. E adianta ainda que “Já na fundação de Pastos Bons (1764) existia uma estrada até esse ponto, que foi abandonada devido ao ataque dos índios” e que “em 1815, intrigas políticas motivaram o abandono do posto [o arraial] em favor do novo povoado de Almeida, situado a 15 quilômetros abaixo do atual Picos [Colinas]”. Ressalte-se a autoridade, principalmente, de Francisco de Paula Ribeiro, o fundador e comandante do arraial, e de Sebastião Berford, que elaboraram os citados mapas, são incontestáveis, posto que personagens envolvidas com o lugar. E leve-se em conta que esses documentos são ainda quase desconhecidos. O mapa de Francisco de Paula Ribeiro nunca foi publicado (existe apenas em meio digital, na Biblioteca Nacional, e sua primeira do arquivo foi cedida a apenas dois anos, ao professor Alan Kardec Pacheco, da UEMA), enquanto a obra de Berford fora publicada em 1810, pela Imprensa Régia, e também somente há dois anos teve ganhou reedição, pela Ética Editora. Certamente, esses importantes documentos fizeram falta aos pesquisadores.


IHGM NA MÍDIA - http://tribunalpopulardojudiciario.wordpress.com/2012/02/01/aula-publica-resgatouimportancia-historica-do-vinhais-velho/

AULA PÚBLICA RESGATOU IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DO VINHAIS VELHO Moradores do “bairro mais antigo do Maranhão” conclamaram presentes à atividade a se engajarem na luta da comunidade Aconteceu ontem em uma sala de reuniões na sede do jornal O Imparcial uma aula pública sobre a importância histórica da comunidade Vinhais Velho, que tem parte da população ameaçada com a construção da Via Expressa, avenida que interligará os shopping centers do Renascença e Jaracaty ao Shopping da Ilha, num percurso de pouco mais de 9 km.

Á mesa, da esquerda para a direita: Leopoldo Vaz, Ricarte Almeida Santos, Antonia Mota e Antonio Norberto

Tomaram parte da mesa os professores Leopoldo Vaz, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Antonia Mota, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Antonio Norberto, também do IHGM. Os trabalhos foram coordenados por Ricarte Almeida Santos, secretário executivo da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, entidade-membro do Comitê de Amigos do Vinhais Velho. O sociólogo contextualizou o caso do Vinhais Velho como inserido num contexto de violação de direitos, sobretudo de quilombolas e indígenas, que se dá em todo o Brasil, para a implantação dos chamados grandes projetos, o que inclui hidrelétricas, termelétricas, siderúrgicas, barragens e outros. Os três professores resgataram as origens de Vinhais Velho como o bairro mais antigo do Maranhão, já tendo sido inclusive município independente de São Luís. “Para verem o quanto o governo do Maranhão é atrasado: estadualizar uma avenida que liga


alguns shopping centers entre si é se basear na época em que o Vinhais Velho era outro município”, afirmou, em tom jocoso, Ricarte Almeida Santos. Mais de 30 pessoas compareceram à aula pública, entre moradores, membros de igrejas, estudantes, pesquisadores e jornalistas. A história do bairro foi recontada, tendo como fontes, entre outras, o Arquivo Histórico Ultramarino. Alguns achados arqueológicos – como um machadinho cuja foto recentemente circulou em blogues e redes sociais – foram expostos na ocasião. Para a professora doutora Antonia Mota, do departamento de história da UFMA, estudiosa do período colonial maranhense e moradora do Recanto dos Vinhais, bairro vizinho, “a Via Expressa ameaça o patrimônio histórico e arqueológico do Vinhais Velho. Reivindica-se a permanência dos moradores na área, e também que sejam feitos estudos sérios, que se resgatem as peças [achados arqueológicos] e se constitua um museu com as relíquias pertencentes a Vinhais Velho”, conclamou. Leopoldo Vaz, que também é membro da Comissão dos 400 anos da Igreja de São João Batista – localizada no bairro – afirmou que a igreja dispõe de estrutura para abrigar o museu e suas peças. Após a aula, os professores e alguns moradores concederam entrevista coletiva aos meios de comunicação presentes. Carlos Magno, que mora no Vinhais Velho há 25 anos, relatou o nível de intransigência do governo do estado para com a população da localidade. “Já tivemos encontros com o secretário [de infraestrutura] Max Barros e com o vice-governador Washington Oliveira. Eles só nos perguntam quanto queremos. Não abrimos mão de nossa permanência e dos estudos sérios que devem ser feitos ali”, afirmou. Morador mais antigo do Vinhais Velho, seu Olegário Batista Ribeiro revela o tom de deboche usado pelas autoridades. “O Max Barros esteve em minha casa e pediu para olhar o quintal. Viu o poço, as árvores e disse que eu morava no Paraíso. Aí eu perguntei: “e você quer destruir esse paraíso?. Dois dias depois voltaram me oferecendo indenização. Não há dinheiro que me faça sair de minha casa”, declarou, enfático. Uma das proprietárias da Granja do Japonês, palco de vários atos de resistência pela permanência das famílias no Vinhais Velho, dona Maria José, uma das iminentes despejadas pela obra, pediu o engajamento dos presentes na luta da comunidade: “Temos sido ameaçados, nunca somos chamados para negociar. Peço a ajuda de todos os que vieram aqui para vencermos essa batalha”, conclamou.


IHGM NA MÍDIA – BLOG DO LEOPOLDO VAZ – 10/12/2011 http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/12/10/geracao-de-53/

GERAÇÃO DE 53 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Hoje (10/12/2011) está sendo realizado o 21º Jogos dos Amigos, evento esportivo que vem ocorrendo ao longo dos anos reunindo atletas hoje veteranos que começaram sua vida esportiva por volta do ano de 1953 – daí a denominação que tenho usado de “Geração de 53”, em analogia às diversas gerações de jovens que, vem por outra, brotam nestas terras gonçalvinas. Ao contrário das gerações precedentes, ligadas mais à literatura, esta estava ligada ao esporte. Todos os envolvidos naquele movimento – em continuidade ao iniciado na década de 1940 – a Geração dos Erres – declaram ser o agente catalisador Cláudio Alemão, como é conhecido Cláudio Antônio Vaz dos Santos (24/12/1935), filho de Antônio Rodrigues da Costa Santos e Maria José Raposo Vaz dos Santos. Mas quem reune os seus pares é Mauro Fecury... Cláudio começou seus estudos no Jardim de Infância Antônio Lobo ao lado da Igreja do Santo Antônio, tendo sua mãe como professora; lá estudou dos quatro até os seis anos de idade, se transferindo para o Colégio São Luís Gonzaga, da Professora Zuleide Bogéa, que ficava na Rua do Sol. Daí foi para o Marista (Ceará?), e em 1952 está no de São Luis, nesse tempo funcionando no Palácio do Bispo, na Avenida Dom Pedro II; naquela época havia exame de admissão para o 4º primário. Ao chegar ao Marista, já era praticante de futebol e de espiribol; naquela escola teve contato com o irmão Manuel, considerado diretor de esportes; ao olhar para Cláudio – loiro – passou a chamá-lo de Alemão – Cláudio Alemão. Anos mais tarde, já dirigente esportivo, o jornalista Herbert Fontenelle passou a tratá-lo de Cláudio Vaz, o Alemão. Cláudio Alemão começa a se envolver com os esportes no Colégio dos Irmãos Maristas, ainda no Ceará. Em 1952 é transferido para o Colégio de São Luís. Cláudio informa que nessa época não tinha professores de educação física, muito embora o Coronel Eurípedes Bezerra afirmasse que fora Professor de Educação Física nos Maristas, quando retornou em 1943 de seu curso de Sargento Monitor de Educação Física, feito na Escola de Educação Física do Exército. Euripão depois chama outros colegas daquele curso para trabalhar nos Maristas, como Nego Júlio, como era conhecido o Major Júlio; depois juntou-se a eles o Professor Manoel Furtado. Na época em que o colégio funcionava no Palácio do Bispo hoje, na Pedro II, ao lado da Catedral – onde hoje é um hotel, não havia professor de Educação Física; se praticava esportes, comandado sempre pelos irmãos Maristas: o futebol de campo e o espiribol; o Basquete, o Vôlei não existia também - muito embora na década de 30 houvera uma equipe muito famosa na cidade, comandada pelo irmão Dourado; a prática maior era o futebol de campo, num campinho de futebol, em que se pagava 500 réis para o Colégio Marista para participar; depois do almoço os alunos arregaçavam as calças antes de começar as aulas, e praticavam esporte de 12:30 até às 13:30h.


Lembrando que antigamente funcionava, ali por perto, atrás do Palácio, o Campo do Onze Maranhense, construído por volta de 1910, por Gentil Silva; depois houve a quadra de tênis dos ingleses... Em suas rememorações, Cláudio Alemão lembra uma quadra, onde praticava Basquete, jogando pelo "8 de Maio", em uma quadra por trás do Cassino Maranhense; ali era um matagal. O GREMIO “8 DE MAIO”, foi fundado em 1932 por estudantes do Liceu Maranhense, liderados por Tarcísio Tupinambá Gomes. Como entidade representativa dos estudantes junto à direção do Liceu, foi um fracasso, por falta de interesse da rapaziada, que só queria se divertir. Mas os outros fundadores, dentre eles Paulino Rodrigues De Carvalho Neto e Dílio Carvalho Lima resolveram levar o Grêmio para o esporte, com o intuito de jogar Voleibol, pois as opções de esportes para os jovens da época eram, além do futebol, o voleibol. O pessoal do “8 de Maio” também se envolvia com o Basquetebol. Numa segunda fase, já como equipe esportiva, o “8 de Maio” foi comandado por Rubem Goulart, era o time dos “ erres”: Rubem, Ronald, Raul Guterres; praticava o Paulinho Carvalho, Zeca Carvalho, e foi onde Cláudio começou a praticar vôlei e basquete. Essa quadra do 8 de Maio, ficava nos fundos do Casino Maranhense hoje. Ainda garoto, Alemão era pegador de bola, pois quando a bola caia no campinho ao lado, eles diziam: - Alemão; ele olhava para o lado e ia buscar. Era o garoto de fazer tudo o que eles praticavam, era o mascote. Cláudio Vaz dos Santos – o Cláudio Alemão, “da Geração de 53” - em entrevista ao Autor, disse ser praticante de Boxe, também; e discorre de como foi o reinicio do Boxe, nos anos 50: Boxe, eu tive oportunidade qualquer coisa que eu fale, eu sempre tive, eu fiquei conhecido, tem um livro do Benedito Buzar é política e politicagem, Pedro Neiva foi um homem, trabalhei com o Pedro Neiva, no Governo dele eu e o Buzar (o Escritor Benedito Buzar) e eu tive a felicidade quando era garoto; Lupercino [Almeida] era um lutador de boxe do Maranhão e eu era, sempre fui entusiasmo pela prática do esporte, eu acordava cedo, eu ia para a Beira-Mar, onde eu morava, caminhar, correr, tudo o que eu conheci, o Lupercino, que era um lutador de boxe e eu tive a felicidade, na época, de ser a primeira pessoa a aprender a técnica do boxe aprender a bater : ponta de queixo, coração, fígado, baço, estômago, supercílio, aquilo tudo ele me ensinou os movimentos. Eu ainda era garoto, esse tempo foi em 1945, tu falou em boxe, eu tive que ir lá, eu aprendi uma técnica que nessa época ninguém tinha a briga aqui era de cabeça naquele tempo a briga era um negócio saudável quando se decidia alguma rivalidade era uma coisa saudável, amanhã estava tudo bem, era uma briga sem nenhuma maldade e o que aconteceu Lupecínio me ensinou a bater, eu transformei essa técnica futuramente numa defesa que eu fui ter e foi como é que vai .... Olha o atleta aí e foi aí que veio quando nós fizemos a (???) do Oton Mondego foi o primeiro professor da escolinha que nós tínhamos de boxe no Maranhão, Professor Oton Mondego, que depois foi assassinado por Hiluy, (José de Ribamar Hiluy, Juiz de Direito), que teve um problema com ele. O adolescente Cláudio se envolvia com aqueles jovens - alguns já professores, inclusive Rubem Goulart já retornara do Rio de Janeiro formado em Educação Física e começava sua carreira profissional; Cláudio, na ausência de algum outro jogador, era chamado para completar o time, nos diversos esportes que praticavam notadamente o Basquete e o Voleibol. Quando Cláudio chegou ao Colégio Marista de São Luís, começou a praticar Atletismo, numa pista improvisada no Estádio do Santa Isabel: corridas, lançamento de


peso, lançamento de dardo e lançamento de disco; teve nessa época um filme, Homem de Ferro, com Burt Lancaster, que fazia tudo quanto era esporte; Burt Lancaster fazia o papel de Jim Thorpe, índio americano que foi campeão do decatlo e pentatlo na mesma olimpíada; e ele praticava as demais modalidades... Faziam naquela época atletismo sem nenhuma orientação, apenas com intuição, praticando o atletismo puro. Anos depois, já dirigente, trouxe professor Zé Teles da Conceição, campeão brasileiro, que reciclou os professores. Naquela época, início dos anos 50, passava no Cine Éden, antes da sessão de cinema, passava um noticiário, com filmes sobre esportes e geralmente passava sobre basquete, com os Globen Trotters. Jogava-se também uma mistura de basquete e futebol americano, introduzido pelo Professor Zé Rosa, do Liceu - uma espécie de basquete, tipo futebol americano, onde você saia correndo com uma bola e encestava. Logo depois, por volta de 1956, Cláudio passa a jogar futebol americano, já no quartel, em aulas dadas pelo Tenente Nélio, que era o orientador, formado pela Escola de Educação Física do Exército; Aqueles jovens, agora com seus 18 anos de idade, integrantes do NPOR - Núcleo Preparatório dos Oficiais da Reserva – começam a receber um conhecimento mais aprofundado sobre preparação física e práticas esportivas. Voltando a 1952, eram disputados os Jogos Olímpicos Secundaristas, organizado pelo jornalista Mario Frias, disputando-se Basquetebol, Voleibol, Futebol de Campo, Atletismo e Natação. “No Maranhão, a prática do tênis também foi (re) iniciada pelos ingleses, entre os anos de 1955 e 1960. Eles trabalhavam na antiga Agência Telegráfica dos Correios, em São Luís. O Clube Jaguarema, no bairro do Anil, que atualmente está em estado de abandono, foi um dos primeiros locais onde partidas de tênis começaram a ser disputadas.” No ano de 1953, Cláudio Alemão, junto com outros atletas da época, de várias escolas, funda a equipe dos “Milionários”, que faz história no esporte maranhense, especialmente no Basquetebol, por mais de 20 anos; a equipe era formada por Gedeão Matos, os irmãos Mauro e Miguel Fecury, Aziz Tajra, Raimundinho Sá, Poé, Denizar, Canhotinho, Fabiano Vieira da Silva, Cleon Furtado, Jaime Santana, os irmãos Zé Reinaldo e Silvinho Tavares, Wilson Bello, Sá Valle, Joaquim Itapary, Henrique Moreira Lima, Márcio Viana Pereira; com a extinção d´ “Os Milionários”, fundam o “Cometas”, que além de basquete e vôlei, participam dos jogos de Futebol de Salão: "O Milionários... nós fomos participar de volei e basquetebol, sábado à tarde no Colégio São Luís, e na quadra coberta que tinha no Liceu, onde jogava o Milionário, o Colégio São Luiz, jogava 08 de Maio; nós jogávamos na quadra do Colégio São Luiz,... assim que nós jogávamos à tarde e jogávamos o Campeonato Maranhense de Basquete, já no Santa Isabel, que era a única quadra iluminada que tinha em São Luís; ... era os Milionários e era um contra-senso; não tínhamos um tostão, mas como tinha aquele time os Milionários, e nós tivemos a idéia de fazer nossa equipagem, nós saímos da Praia Grande, pedindo dinheiro no comércio da Praia Grande. Na rua Portugal, a gente chegava e vendia os nossos ingressos, mandava fazer ingresso de jogo, quando dinheiro arrecadava, mandava fazer nossa equipagem de jogo.." É organizado um Campeonato Juvenil de Basquetebol com as equipes do Moto Clube formado por Cândido, Dilson Lago, Roberto Oliveira, João Botão, Paraibano, Benjamim, Coqueiro, e Bandeira; só perderam para “Os Milionários”, que contava com Mauro e Miguel Fecury, Alcy, Poé (Palmério César Maciel de


Campos); Canhotinho (João Carlos de Sousa Martins). Quando os dois times se enfrentavam, era uma verdadeira guerra entre Mauro Fecury (14 anos, 1,84 metros de altura), dos Milionários e Dilson Lago, (15 anos, 1,84 m), do Moto Clube. Os campeonatos eram disputados em uma quadra de cimento, do Moto, no Estádio Santa Isabel; usavam uma bola de couro. Nesses jogos, havia grande afluência de público. Em 1955 houve uma primeira convocação de uma seleção juvenil, para a disputa de um Campeonato Brasileiro, em Guaratinguetá – SP. Foram chamados os cinco titulares do Moto e os cinco do Milionários – Cândido fora dispensado. Ao retornarem – sem um resultado expressivo – os atletas foram defender seus colégios, nos Jogos Intercolegiais. Cândido foi conduzido à condição de titular do Liceu, ao lado de Nonato Cassas; Ney Belo; Rogério; e César Bragança. “Os Milionários” foram os campeões juvenis desse ano, com Januário de Sillos Oliveira Goulart, Williame, Canhotinho, Murica, Bita, Edeir, Ney Bello, Mário Brazuca, Aziz Tajra. Ronald da Silva Carvalho, junto com Rubem Goulart, Rinaldi Maia, Carlos Vasconcelos e Tenente Alves fundam uma associação para reerguer o Basquetebol; essa associação foi a semente para a criação da Federação Maranhense. Campeonato Brasileiro de Basquetebol Juvenil de 1956 – Dimas lembra de outros clubes famosos e seus atletas: "Nessa mesma época eu jogava Basquetebol pelo Moto Clube; Quando eu retornei, passei a jogar Basquetebol, pelo Moto Clube, no [Campo do] Santa Isabel, tanto que ai nós fomos disputar um campeonato em 54 ...55 e em 56 eu fui seleção maranhense para disputar o Brasileiro em Recife, eu, Rubem Goulart; Antônio Bento; Vieirão, Major Vieira; Bebeto [Carlos Alberto Barateiro da Costa], também da Policia; Willame Najas, filho Titico. "Nessa época, Mauro Fecury era Juvenil, quando eu jogava basquetebol, depois ele já teve um destaque muito grande e ele, Miguel Fecury - o irmão dele -, eles, pode se dizer, que foram os meus juvenis, os aspirantes..."nós disputamos o campeonato - era Moto Clube, o time que eu jogava -, era o Vera Cruz, o Oito de Maio - que era de Rubem Goulart -, o General Severiano [Sampaio], que era do Exército; Tiradentes, que era o time Militar [Polícia Militar], e os Milionários, dos jovens – Alemão [Cláudio Vaz] e Poé, esta turma nova, Jesus Itapary, esta turma.... do Liceu, do São Luís, basicamente, o Liceu, São Luís e Maristas.., foi essa turma que nos acompanhou, que acompanhou os adultos que já jogavam, que era Os Milionários..". No ano de 1953 é fundado o Clube Recreativo Jaguarema; e construída sua piscina. No final dos anos 40, início dos anos 50 eram realizadas as primeiras provas de natação que se tem notícia em São Luís, num tanque que abastecia a Fábrica Santa Isabel; esse tanque, medindo 30 m de comprimento, por 10 m. de largura e três de fundo, servia como piscina; Gedeão Pereira de Matos, em suas memórias, afirma que, acostumado com as travessias da baia de São José, nadar em provas de 30, 60, ou 90 metros, era fácil; Gedeão destacou-se na natação nesta época. Dimas é considerado como o primeiro professor de natação, e dava suas aulas duas piscinas que existiam à época (1953/54); uma, na Rua Grande, em casa de Domingos Mendes; e a outra, do Sr. Almir Moraes Corrêa, no Apeadouro. Os jovens da “geração de 53” deixaram de praticar a natação na casa de Domingos Mendes e passaram a nadar na do Jaguarema. Futebol de Salão - FUTSAL – aparece oficialmente em 1955; muito embora alguns exatletas, em seus tempos de colegiais, informem em suas memórias de que foi na década de 40 que o Futebol de Salão teve início em São Luís, na realidade jogava-se com bola de futebol, nos pátios dos colégios, pois somente em 1955 que foi introduzido, seguindo-se as regras e com material oficial, professor de física do Liceu Maranhense Pedro Lopes dos Santos, quando fundou a equipe do Próton, primeira equipe formada


por alunos daquele estabelecimento de ensino – e também a do Elétron, (segunda equipe?). O Prof. Pedro trouxe a primeira bola e as regras da modalidade. Jogavam no Próton, além de Januário Goulart, como atacante, Rogério Baima, Chico Tetê, Rui, Nonato Cassas, Ernani Cantanhede. No primeiro jogo interestadual - disputado na quadra do Liceu -, contra o América, de Fortaleza (CE), houve empate de 2 x 2. O que é confirmado por Januário Goulart, por Nilson Ferreira Santiago: O Prof. Pedro fundou o Próton, formado inicialmente por Chico Tetê, Ernani Coutinho, Nonato Cassas, e Rogério Baima. Nessa época, aqueles que se descobria que não podiam jogar futebol de campo, iam para a quadra, jogar salão. Logo, surgiram outras equipes. Os irmãos Ferdinand (Ferdic) Carvalho e Constâncio Carvalho Neto fundaram a Sociedade Esportiva Sparta; além dos dois, jogavam ainda Nilson, os irmãos Bira e Juca Abreu, Airton, Paulinho, Nervalzinho, Paru (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Ruibasco (Ribasco), Inésio e Roberto Babão. Mais grupos foram surgindo, como o Saturno (de Samuel Gobel, Zequinha Goulart, e Heitor Heluy), e Nilson passou a jogar nele, ao lado de César Bragança, Januário Almeida, Márcio Viana Pereira, Hamilton, tendo como técnico o Capitão Medeiros. Nilson nasceu em 1940, e era filho de Nerval Lebre Santiago, secretário do Liceu por 42 anos; foi um dos fundadores do Sparta, time que marcou época. Nilson, daquele grupo que estudava no Liceu, viu nascer o futsal. Outro foi João Pinheiro Cunha – o Manga – craque dessa mesma época; para ele, daquele grupo que jogava futebol, o único selecionado foi Nonato Cassas. Desse primeiro grupo, a primeira formação do Próton, além de Cassas, figuravam Rogério Bayma (goleiro), Chico Tetê, Ruy Poxo, Ernani Catinga. Quando entrou para o Liceu Maranhense teve contato com o pessoal das peladas, jogadas na hora do recreio e após as aulas (1954): Vilenô, Nonato e Elias Cassas, Nonato Sabock, Guilherme Saldanha, Mota, Januário Goulart, Silvinho Goulart, José Reinado Tavares, César Bragança, Nerval e Nilson Santiago, Milson Cordeiro, e outros. GERAÇÃO DE 53 O principal nome, sem dúvidas, é o de Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão, e seu irmão Janjão. Junto com eles destacam-se outros irmãos, como os Fecury, os Cassas, os Goulart, os Carvalho, os Itapary, os Santiago, os Tavares, os Baldez, os Rosa, os Vieira da Silva, os Pflüger, os Lamar... Adolescentes que tinham na “Geração dos ERRES” – da década de 40: Rubem Goulart, Ronald Carvalho, José Rosa, Rinaldi Maia, Raul Guterres, Djard Ramos Martins, Raimundinho Vieira da Silva, dentre outros – como exemplo e com quem começam a se envolver nos esportes, notadamente o Voleibol e o Basquetebol e viram surgir o Futebol de Salão (Futsal, hoje). Dessa Geração de 53 destacam-se também: César Bragança, Palmério César Maciel De Campos (Poé), Gedeão Matos, João Pinheiro Cunha, Aziz Tajra, Cleon Furtado, Jaime Santana, Roberto Babão, Alim Maluf, Wilson Bello, Raimundinho Sá, Denizar Almeida, Canhotinho, Fabiano Vieira da Silva, Sá Valle, Henrique Moreira Lima, Márcio Viana Pereira; Rogério Baima, Chico Tetê, Rui Poxo, Ernani Cantanhede (Catinga), Airton, Paulinho, Miguel Arcanjo Vale dos Santos (Paru), Milson Cordeiro, Ruibasco (Ribasco), Inésio, Januário Almeida, Márcio Viana Pereira, Hamilton, Rogério Bayma, Mozart Sá Tavares, Benedito Moraes Ribeiro (Biné), Murilo Gago, Enemêr, Luís Portela, Walber, Vavá, Zé Augusto Lamar, Benito Neiva, Cauby, Gracco


Bolívar, Luiz Soares de Sousa (Luizinho) e seu irmão João Carlos Soares de Sousa (Cabeça), Nega Fulô, Salim Lauande, Osmario de Ribamar Raposo (Esmagado); Alcir Zeni, Dílson , João Botão, José de Ribamar Lobão Filho (Lobão); José Antonio Ferreira e Silva (Manteiga)... Incentivando esses jovens, havia aqueles que eram professores, técnicos, radialistas, enfim, os mais velhos e que organizavam os diversos torneios e campeonatos, como Jafer Mendes Nunes, Nagib Haickel, Samuel Gobel, Heitor Heluy, Carlos Alberto (Bebeto) Barateiro de Costa, Albino Travincas, Márcio Matos Viana Pereira, Carlos Alberto Alves, Dimas, Manoel Andrade, Joaquim Casanovas Anglada, José Antonio Almeida e Silva (Anjinho)... CLÁUDIO ANTÔNIO VAZ DOS SANTOS, o Cláudio "Alemão" – esportista Nasceu em São Luís, no dia 24 de dezembro de 1935. Décadas de 1950/60 - Foi atleta de Basquetebol, Voleibol, Futebol de Campo e de Salão, Atletismo e Natação. Pertenceu àquela famosa "Geração de 53", do esporte maranhense, atuante nas décadas de 50 e 60. Faziam parte desse grupo: José Reinaldo Tavares (ex- Governador do Estado), Alim Maluf (ex-Secretário de Esportes e Lazer); Mauro de Alencar Fecury (ex-prefeito de São Luis, deputado federal, hoje, suplente de Senador); Raul Guterres; Janjão Vaz dos Santos, Cel. PM Bebeto Barateiro de Costa; Por iniciativa de Mauro Fecury, esses atletas ainda hoje se reúnem no mês de dezembro, para os Jogos dos Amigos, para relembrar o passado de atletas, disputando várias modalidades, junto com os “jovens” das gerações que o precederam. JOACY FONSECA GOMES - outro que escreveu o nome nos anais do Futsal Maranhense, nascido em Cururupu em 12 de junho de 1938. Em 1953, então com 15 anos, veio para São Luís, onde fez o ginásio e o científico no Liceu Maranhense, destacando-se no futebol, indo jogar no Flamengo do Monte Castelo. Em 1958, estava disputando o campeonato de Futebol de Salão, em uma competição organizada pela Liga que havia sido fundada por João Rosa Filho e o jornalista Jaffé Mendes Nunes; jogava pelo T8 (Tê Oito). Os clubes de futsal que se destacam eram: Spartakus (Nilson Santiago, Ribarco e Paru); Graça Aranha (Albino Travincas, Canhoteiro, Wallace e Jafer); Santelmo (Cleon Furtado, Poé, Mozart, Biné, Murilo Gago); Rio Negro; Vitex (Enemêr, Luís Portela, Walber, e Vavá); Drible (dos irmãos Saldanha, Zé Augusto Lamar, Manteiga, Mota); SAELTIPA (a companhia de água); e América; depois, vieram Próton, Saturno, Cometas, Flamengo do Monte Castelo. Os jogos eram disputados nas quadras do Lítero e do Casino. Havia uma rivalidade muito grande entre as equipes de Futebol de Salão do Liceu (Marinaldo, Guilherme Saldanha, Josenil Souza, e Jacy) e Atheneu (Mota e companheiros); havia o grupo do Colégio São Luís (Biné, Chedão, Jaime Tavares) e dos Maristas (Garrincha, e os irmãos Nonato e Cury Baldez). Outro que se destaca é LUÍS CARLOS MOTTA, considerado até hoje, um “mestre do futsal”. Estudante do Colégio Ateneu de 1952 a 1956 (ganhou uma bolsa de estudos, pela sua habilidade com a bola), passou para o Liceu Maranhense, foi sete vezes campeão do Campeonato Maranhense de Estudantes – tetra pelo Ateneu, e tri pelo Liceu. Sua habilidade técnica como pivô valeu um convite para ingressar no Drible (1959), time dos irmãos Saldanha, recém inaugurado (1958). Em 1961, deixa o Drible e passa para o Santelmo, sagrando-se campeão naquele ano; retorna ao Drible (1962), após uma temporada, conquistando diversos títulos, como o de campeão invicto do Torneio Carneiro Belfort (62); do Torneio do Jaguarema (63); além dos Torneios Major Mota e do “3º aniversário do Elmo” (65). Pelo Drible, foi ainda, hepta-campeão – 66 a


72 -, ano em que o Drible encerrou suas atividades. Motta, em 1974, abandona os esportes, devido a um acidente – foi atropelado por um ônibus. PALMÉRIO CÉSAR MACIEL DE CAMPOS – Poé - Aos 16 anos (54) a família transferiu-se para São Luís, onde fez contato com o esporte. Jogou Futebol de Campo, Futebol de Praia, depois Futsal e Basquete, sempre se destacando como craque de bola... 1957 - passa a jogar futsal pelo Santelmo – recém-criado -, convidado por Cleon Furtado e João Rosa e que contava, ainda, com Raul Guterrez, Murilo Gago, Biné (Benedito Moraes Ribeiro), Mouzart (de Sá Tavares), Ivaldo. Com esse time, foram campeões de 1958 e 1959. A final do campeonato desse ano, foi entre o Santelmo e o Próton, decidida em melhor de cinco pontos; a primeira partida, disputada no Casino, o Próton venceu por 5 x 2; o segundo jogo, na AABB (sede da Rua Grande, depois vendida aos Maristas), o Santelmo saiu vencedor, por 3 x 0; e a terceira partida, também no Casino, empate em 2 x 2; e a quarta e última, disputada no Lítero, 5 x 1, para o Santelmo.- 1960 - estava no Próton, convidado pelo Prof. Pedro Santos, jogando ao lado dos irmãos Cassas, Coronel Vieira, Cadico, Canhotinho, César Bragança. O Santelmo conquistou o tetra-campeonato – 58, 59, 60, e 61. 1962 - Santelmo e o Próton foram extintos, fundando-se o Cometas, formando uma verdadeira seleção: Poé, Lobão, Enemê (goleiro) Dunga, Nonato e Elias Cassas, Coronel Márcio (Matos Viana Pereira), Luisinho, Canhotinho, César Bragança, Murilo Matos, e Vavá. Essa formação jogou de 62 a 66 sem conquistar nenhum título ... No final de 66, deixa de jogar futsal. Os times da época eram bons demais: Graça Aranha, Atenas, Drible, Sampaio... Segundo Poé, o futsal viveu duas fases; a primeira, foi da espontaneidade, onde tudo era nativo, não existindo tática, só técnica; a segunda, iniciou depois que o time cearense Francisco Lerda passou por aqui e ensinou tática. Juntaram técnica e tática. 1955 -Surge a Sociedade Esportiva Sparta, dos irmãos Ferdinand (Ferdic) e Constâncio Carvalho; jogavam ainda: os irmãos Nilson e Nervalzinho Santiago, os irmãos Bira e João Abreu, Paulista, Piauí (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Enésio, Roberto Babão. 1955 - Saturno, de Samuel Gobel, Zequinha Goulart e Heitor Heluy, contou com Nilson Ferreira, César Bragança, Januário, Almeida, Marcio Viana Pereira, Hamilton, e o técnico era o capitão Medeiros. Em 1955, surge a Sociedade Esportiva Sparta, dos irmãos Ferdinand (Ferdic) e Constâncio Carvalho; jogavam ainda: os irmãos Nilson e Nervalzinho Santiago, os irmãos Bira e João Abreu, Paulista, Piauí (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Enésio, Roberto Babão. O Saturno, de Samuel Gobel, Zequinha Goulart e Heitor Heluy, contou com Nilson Ferreira, César Bragança, Januário, Almeida, Marcio Viana Pereira, Hamilton, e o técnico era o capitão Medeiros. Em 1957 – é fundado o Santelmo, de convidado por Cleon Furtado e João Rosa e que contava, ainda, com Raul Guterrez, Murilo Gago, Biné (Benedito Moraes Ribeiro), Mozart (de Sá Tavares), Ivaldo. Com esse time, foram campeões de 1958 e 1959 - a final do campeonato desse ano foi entre o Santelmo e o Próton, decidida em melhor de cinco pontos; a primeira partida, disputada no Casino, o Próton venceu por 5 x 2; o segundo jogo, na AABB (sede da Rua Grande, depois vendida aos Maristas), o Santelmo saiu vencedor, por 3 x 0; e a terceira partida, também no Casino, empate em 2 x 2; e a Quarta e última, disputada no Lítero, 5 x 1, para o Santelmo. 1960 - estava no Próton, convidado pelo Prof. Pedro Santos, jogando ao lado dos irmãos Cassas, Coronel Vieira, Cadico, Canhotinho, César Bragança. O Santelmo conquistou o terra-campeonato – 58, 59, 60, e 61.


CANDIDO AUGUSTO MEDEIROS – Basquetebol - Aluno do Liceu Maranhense – ingressou aos 12 anos, no ginásio -Fanático por Basquetebol, após ver no cinema - Éden - os jogos dos Globen-Trotters (time americano do Harlen, bairro da cidade de Nova Iorque, que se exibia pelo mundo) e, ao que parece, serviu de inspiração para muitos daqueles jovens que se iniciavam no esporte, em especial, o Basquete, naquelas décadas de 50-60: "... nas aulas de educação física do professor Zé Rosa era dado um jogo que tinha muito de basquete e futebol americano. O aluno pegava a bola e, sem batê-la no chão, corria em direção ao aro de basquete e arremessava, tentando encestá-la. Eu, no entanto, já queria jogar de verdade, segundo as regras oficiais do Basquetebol...". CAUBY DA COSTA CELESTINO - Década de 50 – jogador de Futebol de Salão (Futsal), começou sua carreira esportiva na Quinta do Macacão (atual sede da CAEMA), num campo ao lado da fábrica da Albertina; faziam parte do grupo Feijão, Tibico, Zé Coió, Neguinho, os irmãos Fifi e Antonio Carlos, e Valdecy; da Quinta do Macacão passou para o Santos Futebol Clube, dirigido por Jaffé Mendes Nunes, radialista e professor de futebol de salão da ETFM; nessa época, jogava ao lado de Decadela, Tácito, Cadico, Baralhada, Sapo, Parú, Canhotinho, os irmãos Mauro e Miguel Fecury. CONSTÂNCIO CARVALHO NETO e seu irmão JOSÉ FERDINAND CHAVES CARVALHO – FERDIC – em 1955 os irmãos Carvalho fundam a Sociedade Esportiva Sparta, ao lado de Nilson Santiago e Juca Abreu; como toda equipe daquela geração de esportistas da década de 1950,começaram jogando futebol de meia na rua, ou nos pátios dos colégios (estudavam no Liceu Maranhense), quando surgiu o Futebol de Salão (1955), trazido pelo prof. Pedro Santos; dentre os gazeteiros doidos por bola, destacavam-se, além dos irmãos Constantino e Ferdic, os irmãos Nilson e Nervalzinho Santiago (filhos do secretário do Liceu, Nerval Lebre Santiago), Juca Abreu, Januário, José Reinaldo Tavares, Xuxuca, Negão, César Bragança, Malheiros, Macieira, Canhotinho, etc.; passaram pelo Sparta: Parú, Milson Cordeiro, Enésio, Antonio Coxinho, Nonato Santos, Bira, Roberto Babão, Guilherme Saldanha, Paulista; em 1959, o Sparta encerra suas atividades. FABIANO VIEIRA DA SILVA – Basquetebol, jornalista filho de Raimundo Vieira da Silva - (os irmãos Vieira da Silva: Fabiano, Marco Antônio e Paulo, filhos de Raimundinho). Fabiano - e seus irmãos - cresceu vendo o pai e os amigos praticando esportes: Rubem Goulart, Coronel Bebeto, Raul Guterres, Ronald Carvalho, no campo do Moto Clube. Quando foi para o Liceu, ainda garoto, já praticava o esporte, participando de peladas, porém sem qualquer tipo de treinamento específico. Em 1958 Participou das Olimpíadas Estudantis, ao lado de Nega Fulô, Sá Valle, Salim Lauande, Jaime Tavares. 1959 - foi para o Marista, jogando ao lado de Nonato e Elias Cassas e do irmão Marco Antônio. JOACY FONSECA GOMES - que jogava no Flamengo do Monte Castelo, disputou o campeonato de Futebol de Salão, em uma competição organizada pela Liga que havia sido fundada por João Rosa Filho e o jornalista Jaffé Mendes Nunes (1958); jogou pelo T8 (Tê Oito), contra o Spartakus; Graça Aranha; Santelmo; Rio Negro; Vitex; Drible; SAELTIPA; e América; depois, vieram Próton, Saturno, Cometas, Flamengo do Monte Castelo. Jogando pelo Liceu, Manga foi campeão nas Olimpíadas Estudantis, e havia uma rivalidade muito grande entre as equipes de futebol de campo do Liceu e a Escola Técnica; no Salão, o duelo ficava por conta do Liceu e Atheneu, havia o grupo do Colégio São Luís e dos Maristas.


JOÃO PINHEIRO CUNHA - em 1954 sonhava em entrar para o Liceu Maranhense; lá, teve contato com o pessoal da pelada, jogada na hora do recreio e após as aulas: Vilenô, Nonato e Elias Cassas, Nonato Sabock, Guilherme Saldanha, Mota, Januário Goulart, Silvinho Goulart, José Reinado Tavares, César Bragança, Nerval e Nilson Santiago, Milson Cordeiro, e outros. Viram nascer o primeiro time de futebol de salão do estado, em 1955 quando o prof. Pedro Lopes dos Santos, de Física, em uma de suas viagens ao sul do país, acabou se apaixonando pela modalidade e trouxe para São Luís uma bola e um livro de regras; selecionou uma equipe dentre os peladeiros da escola e fundou o Próton. Daquele grupo que jogava futebol, o único selecionado foi Nonato Cassas. Desse primeiro grupo, a primeira formação do Próton, além de Cassas, figuravam Rogério Bayma (goleiro), Chico Tetê, Ruy Poxo, Ernani Catinga João Cunha, como calouro, não tinha escolha – ia para o gol – e acabou gostando da posição, passando a disputar as Olimpíadas Intercolegiais pelo Liceu, como goleiro da equipe de Futsal. Nessa época, os goleiros tinham seus apelidos – Jesus Itapary (do Saturno e Cometas) era o Diabo Loiro; José Augusto Lamar (Drible) era o Pangaré; Dilson (do Próton, depois Saturno e Cometas), Guabirú; João Cunha ficou sendo o João Boi e, depois, Manga. Biné Moraes – outro monstro sagrado do Futsal de antanho – o levou para o Saturno. 1960 - o grupo era formado por, além de Manga e Biné, Benito Neiva, os irmãos Nonato e Elias Cassas, Cláudio Alemão, Poé, Tenente Vieira, Samuel Gobel, Jesus Itapary. No ano seguinte, o Saturno foi vice-campeão, perdendo a final - por 2 x 1 - para o Athenas, de Ribarco, Cauby, Gracco Bolivar, Jaiminho e Silvinho Tavares; o jogo aconteceu no Casino Maranhense e foi o último da existência do Saturno. 1962 - o grupo que defendia o Saturno reapareceu no recém-criado Cometas. LUIS CARLOS MOTTA - é considerado, até hoje, um “mestre do futsal”; no período de 1952 a1956 estudava no Colégio Ateneu (ganhou uma bolsa de estudos, pela sua habilidade com a bola), passou para o Liceu Maranhense, foi sete vezes campeão do Campeonato Maranhense de Estudantes – tetra pelo Ateneu, e tri pelo Liceu. Em 1959 , pela sua habilidade técnica como pivô valeu um convite para ingressar no Drible, time dos irmãos Saldanha, recém inaugurado (1958). Em 1961 deixa o Drible e passa para o Santelmo, sagrando-se campeão naquele ano; 1962 retorna ao Drible, após uma temporada, conquistando diversos títulos, como o de campeão invicto do Torneio Carneiro Belfort (62); 1963 – campeão do Torneio do Jaguarema 1965 – campeão dos Torneios Major Mota e do “3º aniversário do Elmo” 1966 a 1972 - Pelo Drible, foi ainda, hepta-campeão – 66 a 72 -, ano em que o Drible encerrou suas atividades. 1974 Motta abandona os esportes, devido a um acidente, atropelado por um ônibus. LUIZ SOARES DE SOUSA, o “canhão da Vila Beira-Mar”. Jogava como ala esquerda, iniciando-se no esporte jogando futebol, junto com os irmãos Inácio e João Carlos, na rua da Saavedra e na crôa formada na Beira-Mar. 1954 - com 13 anos, entra no Liceu Maranhense, e passou a jogar pelo Próton, time da escola fundado pelo Prof. Pedro Santos. Havia ainda o Elétron, formado também por alunos do Liceu, bons de bola também, mas que não foram aproveitados; servia de “sparring’ para o time principal. Após o Próton, onde só jogou uma temporada, ingressou no Rio Negro, time de Rodolfo Rosa (irmão de João Rosa Filho, também filho de João Rosa); jogavam: Esmagado (Osmario de Ribamar Raposo); Cabeça (João Carlos Soares de Sousa, irmão de Luizinho); Pula-Pula, dentre outros. O Rio Negro – como tantas outras equipes de então, teve vida curta, como também o Vitex, fundado pelo Dr. Vazquez (hoje, dono do Colégio Girassol). Ao sair do Rio Negro, Luizinho vai para o Saturno, de


grego Samuel Gobel. 1960 - passa a jogar pela equipe do 24º BC, pois se alistara para servir ao Exército. O treinador era o major Medeiros. NILSON FERREIRA SANTIAGO - filho de Nerval Lebre Santiago, secretário do Liceu por 42 anos. Foi incentivado pelo pai a praticar futebol e acabou no futsal de salão. Um dos fundadores do Sparta, time que marcou época. Jogava futebol - de rua – quando fundou, junto com o Irmão Nerval Filho, Bogéa, Caracol, Monteiro, Zé Diniz, Daniel, Índio, Quebrado e outros, a Sociedade Esportiva União. Jogou também Basquete, pelo Cisne Branco, de José Gonçalves da Silva, o Zéquinha, treinador do MAC e árbitro; após a desativação do time, ainda jogou pelo Moto Clube. Estava naquele grupo, em 1955, que estudava no Liceu e viu nascer o futsal, trazido pelo professor de Física, Pedro Lopes dos Santos, que fundou o Próton, formado inicialmente por Chico Tetê, Ernani Coutinho, Nonato Cassas, e Rogério Baima. Nessa época, aqueles que se descobriam que não podiam jogar futebol de campo, iam para a quadra, jogar salão. Logo, surgiram outras equipes. Os irmãos Ferdinand (Ferdic) Carvalho e Constâncio Carvalho Neto fundaram a Sociedade Esportiva Sparta; além dos dois, jogavam ainda Nilson, os irmãos Bira e Juca Abreu, Airton, Paulinho, Nervalzinho, Paru (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Ruibasco (Ribasco), Inésio e Roberto Babão. Mais grupos foram surgindo, como o Saturno (de Samuel Goberl, Zequinha Goulart, e Heitor Heluy), e Nilson passou a jogar nele, ao lado de César Bragança, Januário Almeida, Márcio Viana Pereira, Hamilton, tendo como técnico o Capitão Medeiros. ROBERTO JOSÉ DE OLIVEIRA - em 1946, aos oito anos, muda-se com a família para São Luís, vindo residir na Rua dos Afogados; como todo jovem da época, dedicase ao futebol de meia, jogado na rua; nos anos 50, funda o Brasil Futebol Clube, ao lado de Aziz Tajra, Reinado Bandeira, José Reinaldo Tavares, Coronel Vieira, e outros; o time foi fundado para disputar um torneio de bairro, no campo do Santa Isabel; outra equipe fundada na mesma época foi o Maguary, para disputar os torneios de Basquete; em 195(2?) está no Maristas, onde disputava além de futebol de campo, basquete, atletismo – era velocista, disputando as provas de 100, 200 e revezamento 4x100 metros; mais tarde passa a disputar também o futebol de salão; 1955 – fez parte da seleção maranhense que disputou o Juvenil de Basquete, em Guaratinguertá-SP; a equipe era formada pelos irmãos Mauro e Miguel Fecury, Alcir Zeni, Denizar Almeida, Jesus Itapary, Poé, Canhotinho, Dílson , João Botão, além de Roberto Babão; o técnico era o capitão Carlos Alberto Alves; ao retornar de Guaratinguetá, passa a jogar Basquete pelo Moto Clube, que já contava com Reinaldo Bandeira, Dílson Guabirú, Candido, Aziz Tajra, João Botão; 1956 – convidado para a seleção maranhense de futebol amador jogava pelo Santos, de Jaffé Mendes Nunes, ao lado de, dentre outros, Nonato Cassas, Canhotinho, Biné Moraes, etc.; no Futebol de Salão, jogou pelo Sparta, sendo campeão ao lado de Cafetão, Milson Cordeiro, Inésio, Parú, Milson Coutinho, Constancio, Ferdic; 1963 – já no Rio de Janeiro, foi campeão carioca de futsal no campeonato dos industriários, pela Coca-Cola; 1967 – campeão brasileiro de futsal dos industriários, pela Good-Year SÉRGIO PATELO SALDANHA – Chedão, Shedão, Xedão - 1956 funda o Guanabara, junto com o irmão Roberto e os amigos Mauricio, seu Riba, Costa, Jayrom Guimarães, Klauss e Herberth Pflüger, Zé Roberto e Zé Augusto Lamar, Manteiga (José Antonio Ferreira e Silva), Nascimento e Tobias; para jogar futebol de campo na várzea; em maio de 1957 o Guanabara muda o nome para Drible; Klauss Pflüger, um dos jogadores, representava essa marca de material esportivo em São Luís e doou uma equipagem para a equipe, com a condição de divulgar a marca; surge a mais


emblemática equipe de futebol de salão do Maranhão, que sobreviveu até 1972; a formação- só de fundadores, era: Pangaré, Chedão e Schalcer, Manteiga e Guilherme; Roberto era reserva; mais tarde, juntaram-se Mota, Luisinho e Lobão (José de Ribamar Lobão Filho); o maior adversário do Drible foi o Cometas, derrotado na conquista do primeiro título, em 1966. CLUBE RECREATIVO JAGUAREMA - 1953 - fundado em 03 de fevereiro, pelo médico pediatra Orlando Araújo, com o objetivo de lazer, esporte, divertimento e um local para congregar pessoas da sociedade maranhense. Orlando, e os amigos, estavam cansados de praticar o voleibol na praia. GRAÇA ARANHA ESPORTE CLUBE - 1952 - fundado pelos irmãos Andrade, com a primeira sede localizada na Rua Graça Aranha, em casa de Mero Preto. Seu primeiro presidente foi Manoel Andrade. 1954, Manoel Andrade deixa o clube, assumindo o cargo Joaquim Casanovas Anglada. Nesse mesmo ano, convidou Albino Travincas (nascido em São Luís, em 1º de novembro de 1924) para dirigir o GAEC, função que exerce até sua morte. Na corrida rústica, o destaque era Reinaldo Pinto Carneiro, que conquistou vários títulos e representou o Maranhão na tradicional Corrida de São Silvestre – organizada, as eliminatórias, pelos jornalista Nonato Masson e depois, por Dejard Ramos Martins. GREMIO “8 DE MAIO” 1931 – data de sua fundação – Histórico: fundado estudantes do Liceu Maranhense, liderados por Tarcísio Tupinambá Gomes. Como entidade representativa dos estudantes junto à direção do Liceu, foi um fracasso, por falta de interesse da rapaziada, que só queria se divertir. Mas os outros fundadores, dentre eles Paulino Rodrigues de Carvalho Neto e Dílio Carvalho Lima resolveram levar o Grêmio para o esporte, com o intuito de jogar Voleibol, pois as opções de esportes para os jovens da época eram, além do futebol, o voleibol. O pessoal do “8 de Maio” também se envolvia com o Basquetebol. 1938 - O grupo representou o Maranhão em um Campeonato Brasileiro de Basquete disputado em Belém do Pará; viajaram de navio. 1942 - Paulino largou tudo em 1942, deixando o Grêmio “8 de Maio” para a nova geração, liderada por Rubem Goulart e Zé Rosa... OS JOGOS DAS DÉCADAS DE 1950-60: Carlos Vasconcelos x Mary Santos Nas lembranças de Dimas, lá pelos anos de 1955/56, o Maranhão tinha um Basquete muito bom, com Rubem Goulart, Ronald Carvalho, Fabiano Vieira da Silva, Cláudio Alemão, aquele pessoal do “Oito de Maio”, dos “Milionários”, mas só adulto, a nível de colégio mesmo, não tinha nada, só de adulto, porque vinham terminado o Colégio e continuaram em faculdade, em clubes, em quartéis; muitos serviram o Exército - eram as experiências vindas de fora, não era como hoje que os esportes do Maranhão vem tudo do colégio -, naquela época não, está o inverso hoje... (DIMAS, entrevistas). Em meados da década de 1950, o Dr. Carlos Vasconcelos, então delegado do MEC no Maranhão, especializado em Educação Física, começa a promover os “Jogos Intercolegiais” - 1956. Nas lembranças do Prof. Emílio, durante esses jogos, é que o Batista conquistou seu primeiro título - em voleibol -; esses Jogos eram disputado no Cassino Maranhense. O Prof. Emílio lembra de um resultado em Basquete - cujo professor era Rubens Goulart - 1x 0 -, perdido para o Colégio de São Luís. 1949 – A Federação Acadêmica Maranhense de Esportes – FAME - é fundada em 04 de julho, por Ronald da Silva Carvalho, seu primeiro presidente. Seu segundo presidente foi José Antonio Almeida e Silva (Anjinho). 1950 – Participação do


Maranhão nos Jogos Universitários realizados em Recife – PE; essa participação foi irregular, devido à FAME não estar regularizada junto à CBDU. 1951 – Ronald da Silva Carvalho, acadêmico de Direito e diretor de esportes do Diretório dos Estudantes, funda a Associação Atlética da Faculdade de Direito da UFMA, a fim de regularizar e legalizar a Federação Acadêmica de Esportes – FAME – junto à CBDU; funda, ainda, as Atléticas dos cursos de Odontologia e Farmácia, ligando-os à FAME. Naquela época, os atletas eram polivalentes e competiam em mais de uma modalidade, a exemplo de Mauro Bezerra (sic), Nelson Fontinha, Evandro Bessa, Carlos Guterres, Lino Castelo Branco, Alim Maluf, e muitos outros; 1952 – Participação nos JUB´s de Belo Horizonte; 1955 – São realizados os Jogos Universitários do Norte e Nordeste, em São Luís, com a participação dos estados do CE, PI, PA, AM, além do MA, sendo disputadas as modalidades de Voleibol, Basquetebol e Atletismo.


O PRIMEIRO MÉDICO PINHEIRENSE AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM e IHGM. Um dos grandes luminares do panteon médico maranhense, Odilon da Silva Soares nasceu na Vila de Pinheiro, em 1902, da união matrimonial de Tito Otaviano Duarte Soares e dona Maria Thereza da Silva Soares. Desde cedo, o menino Odilon manifestou pendor para a medicina e literatura, em cujos campos desenvolveu uma produção de inestimável valor. Os primeiros estudos fez sob a orientação do pai, professor leigo, advogado provisionado, funções estas que desenvolvia em Pinheiro quando para lá se mudou de Bacurituba ou São Bento Velho, em 1889. O primário foi concluído, em São Bento, para onde voltou o pai juntamente com toda a família, em 1908 O ginásio e o científico foram cursados, no Liceu Maranhense, em São Luís. Ainda no científico, conquistou, aos 18 anos, o primeiro lugar, no concurso para professor da Escola Técnica do Centro Caxeiral, o que muito o ajudou na sua manutenção. Submeteu-se, em 1920, ao vestibular para o Curso de Direito da Faculdade de Direito de São Luís. Estava no primeiro ano quando recebeu a notícia da sua aprovação no vestibular que havia feito para a Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro. Mudou-se, então, para a capital federal e, em 1923, iniciou seus estudos de medicina. Para manter-se lecionava português. Ocorre que tendo por aluno um casal de alemães, aproveitou-se do ensejo para adestrar-se na língua germânica. Foi auxiliar técnico da Cadeira de Anatomia e conseguiu o 1º lugar no concurso para o internato do Hospital da Marinha. No último ano do curso de medicina, estando de férias em São Luis, foi aprovado com distinção no concurso para professor catedrático de alemão do Liceu Maranhense. Graduou-se, inicialmente, em Farmácia e, a seguir, em 1928, em Medicina, defendendo a tese: “Contribuição ao estudo das apófises pterigóides” que foi publicada, no ano seguinte, no Boletim do Museu Nacional, em cujo Laboratório de Antropologia a desenvolveu. Ainda, no Rio de Janeiro, fez especialização em Obstetrícia e Ginecologia, Tisiologia e em Cirurgia Geral. Ao retornar ao Maranhão, deu início às suas atividades profissionais. Foi médico cirurgião do Hospital Português e da Santa Casa de Misericórdia da qual foi seu diretor, vice-provedor e provedor. Foi, no entanto, como tisiologista que realizou sua principal obra: a criação e execução de um programa de prevenção, controle e tratamento da tuberculose, neste Estado. Para dar suporte ao seu programa, fundou a Liga Maranhense contra a Tuberculose que inestimáveis serviços prestou, gratuitamente, ao povo maranhense, principalmente, aos estratos mais carentes.


Pioneiro, no Norte e Nordeste do Brasil, na implantação da técnica do pneumotórax como tratamento auxiliar, à época, da tuberculose, chefiou a equipe que realizou essa primeira intervenção cirúrgica. Para maior divulgação desse programa entre os profissionais maranhenses, promoveu, em 1935, a 1ª Semana contra a Tuberculose e, a partir de 1945, várias Jornadas Médicas com enfoque na mesma temática. Dr. Odilon Soares exerceu sempre com grande proficiência o magistério desde o tempo de estudante de medicina. Professor dedicado ao problema da educação manteve sempre a sua preocupação voltada para a qualidade do ensino, principalmente, das crianças e dos jovens. Foi professor fundador da Faculdade de Farmácia e Odontologia, da Faculdade de Filosofia e da Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão, nas quais ocupou a cátedra. No Serviço Público Estadual, foi Diretor de Instrução Pública tendo a oportunidade de implantar novos métodos para implementar a integração educação/saúde, na escola. Não foi somente na área da medicina e da educação que o Dr. Odilon se distinguiu pelos sólidos conhecimentos adquiridos, nessas áreas do saber. Com excelente e esmerada educação, ampliou ainda mais o seu campo de atividades. Poliglota, falava fluentemente alemão, francês, inglês, espanhol, italiano sem descuidar da sua preferência pelo latim. Traduziu as obras do escritor e filósofo Goethe e verteu para o alemão os poemas de Sousândrade. Foi membro da Academia Maranhense de Letras onde ocupou a Cadeira nº 14 e foi sócio benemérito e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. A Academia Maranhense de Medicina o homenageou com o patronato da Cadeira nº 31, ocupada pelo acadêmico fundador José Ribeiro Quadros. A Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciência, APLAC, não poderia deixar de prestar ao ilustre filho da terra as honras que lhe são devidas e o fez na qualidade de patrono da Cadeira nº 4 que tem por acadêmico titular fundador este articulista. Esse foi o Dr. Odilon Soares, o primeiro médico pinheirense. Competente e ético ilustra as páginas da História da Medicina deste Estado e serve de exemplo aos jovens médicos que estão entrando na atividade profissional.


TOMBAMENTO DA VILA VELHA DE VINHAIS COMO PAISAGEM CULTURAL BRASILEIRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão A chancela da Paisagem Cultural Brasileira figura como novidade no rol dos instrumentos de preservação, partindo-se da constatação de que era necessário trabalhar a preservação do patrimônio a partir de uma nova abordagem, buscando atuar sobre os aspectos dinâmicos que estão implicados na relação entre natureza e cultura, cujo resultado se evidencia através de manifestações materiais e imateriais e sobre as quais não basta a aplicação de um instrumento apenas, mas onde, para se obter sucesso, é preciso o estabelecimento de um pacto106. O Decreto Lei 25/37107, que instituiu o tombamento como forma de proteção do patrimônio cultural brasileiro, definido como “o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico” 108,

consolidou-se cada vez mais como instrumento eficaz e estratégico para a preservação do patrimônio cultural brasileiro, sendo hoje considerado como um dos mais importantes instrumentos não só de proteção, mas de planejamento urbano e regional que o Brasil dispõe. Todas as manifestações do patrimônio cultural de natureza material encontram abrigo no Decreto Lei 25: Art. 4º O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber: 1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º.109 2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interêsse histórico e as obras de arte histórica; 3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira; 4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras. (grifamos). 106

Reflexões sobre a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, disponível em http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1757 , acessado em 15/02/2012 107 Decreto Lei nº 25 de 30 de Novembro de 1937 - Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. 108 Decreto Lei nº 25 de 30 de Novembro de 1937, CAPÍTULO I - DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, Art. 1º, 109 § 2º do Art. 1º do Decreto Lei nº 25 de 30 de Novembro de 1937 - Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.


No que tange ao patrimônio natural, o Decreto Lei 25 também foi feliz na sua definição ao declarar que “equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo [no caso, o artigo 1º] e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pelo indústria humana.” 110

Mesmo não incorporando abertamente o conceito de paisagem cultural, o texto do Decreto Lei não era impeditivo ao seu uso para os casos onde importasse proteger a relação estabelecida entre homem e natureza, entendidas como “paisagens agenciadas pela indústria humana.” 111 Além disso, tanto o conceito de patrimônio imaterial112 (para o qual se instituiu, no ano de 2000, o registro como nova categoria de preservação) 113 como de paisagem cultural brasileira já fazia parte do repertório dos especialistas do patrimônio e constituíam a base da própria política de construção de uma identidade nacional, adotada desde a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Constitui Paisagem Cultural Brasileira 114 “uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores” conforme o artigo 1º da Portaria 127, de 10 de abril de 2009, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN115. A chancela da Paisagem Cultural - assim como o tombamento e o registro -, integra o rol de instrumentos de preservação do patrimônio cultural, sendo a ela igualmente aplicados os conceitos de excepcionalidade, exemplaridade e singularidade, que costumam ser a base para a diferenciação de um bem cultural patrimonializável de outro que não o é. Importante destacar que chancela não se aplica a todos os sítios excepcionais ou singulares. Se os fatores preponderantes que singularizam o sítio forem materiais é 110

§ 2º do Decreto Lei nº 25 de 30 de Novembro de 1937 § 2º do Art. 1º do Decreto Lei nº 25 de 30 de Novembro de 1937 112 Patrimônio cultural imaterial (ou patrimônio cultural intangível) é uma concepção de patrimônio cultural que abrange as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras. São exemplos de patrimônio imaterial: os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições. A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural." http://pt.wikipedia.org/wiki/Patrim%C3%B4nio_cultural_imaterial http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan 113 DECRETO Nº 3.551, DE 4 DE AGOSTO DE 2000. Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências. 114 Reflexões sobre a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, disponível em http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1757 , acessado em 15/02/2012 115 PORTARIA Nº 127/IPHAN, DE 05 DE MAIO DE 2009 Estabelece a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, aplicável a porções do território nacional. http://www.prpe.mpf.gov.br/internet/Legislacao/Patrimonio-Historico-eCultural/Portarias/PORTARIA-N1-127-IPHAN-DE-05-DE-MAIO-DE-2009 111


possível que o tombamento seja o instrumento de proteção mais adequado. Se os elementos materiais forem secundários ou acessórios, o registro será possivelmente o instrumento indicado. Nos sítios onde são constatadas as singularidades materiais de determinada área, somadas à sua relação intrínseca com a natureza e ao caráter dinâmico no convívio com o elemento humano, aí então caberá a chancela da Paisagem Cultural. Portanto, determinada porção do território nacional pode ser peculiar devido às qualidades excepcionais, exemplares e/ou singulares que guarda nas relações diretas, que implicam em intervenções materiais – “à qual a vida ou a ciência humana imprimiram marcas”; ou indiretas calcadas nas relações simbólicas e afetivas – “ou atribuíram valores”, estabelecidas entre homem e natureza. Miranda (2011) 116 afirma não serem poucos os que confundem meio ambiente com natureza: “[...] concluindo equivocadamente que somente os bens naturais (recursos hídricos, fauna, flora, ar, etc.) integram o conjunto de elementos componentes do meio ambiente”. Afirma esse pesquisador, especialista em direito ambiental, que: “[...] o meio ambiente é a interação do conjunto de todos os elementos naturais, artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em suas variadas formas, constituindo a ambiência na qual se move, desenvolve, atua e se expande a vida humana. Por isso, para os fins de proteção, a noção de meio ambiente é muito ampla, abrangendo todos os bens naturais e culturais de valor juridicamente protegido, desde o solo, as águas, a flora, a fauna, as belezas naturais e artificiais, o ser humano, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico, monumental, arqueológico, espeleológico, paleontológico além das disciplinas urbanísticas contemporâneas”. (grifo meu).

À luz desse entendimento, o ordenamento jurídico expresso no Capítulo V, seção IV da Lei 9.605/98 e art. 2º, XII da Lei 10.257/2001, têm-se - ainda seguindo Miranda (2011)117: a) Meio Ambiente Natural ou Físico – formado pelo subsolo, recursos hídricos, ar, fauna, flora e demais elementos naturais responsáveis pelo equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem, sendo objeto dos arts. 225, caput, e parágrafo 1º, da CF/88. b) Meio Ambiente do Trabalho – integrado pelo conjunto de bens, instrumentos e meios, de natureza material e imaterial, em face dos quais o ser humano exerce suas atividades laborais, recebendo tutela imediata do art. 200, VIII, da CF/88; c) Meio Ambiente Artificial - integrado pelo espaço urbano construído pelo homem, na forma de edificações (espaço urbano fechado) e equipamentos tais como praças, parques e ruas (espaço urbano aberto), recebendo tratamento não apenas no art. 225, mas ainda nos arts. 21, XX e 182, todos da CF/88; d) Meio Ambiente Cultural – integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arquitetônico, paisagístico, espeleológico, geológico, fossilifero, turístico, científico e pelas sínteses culturais que integram o universo das práticas sociais das relações de intercambio entre o homem e a natureza ao longo do tempo, recebendo proteção dos arts. 215 e 216 da CF/88. 116

MIRANDA, Marcos Paulo de Sousa. Análise dos impactos ao patrimônio cultural no âmbito dos estudos ambientais. In SEMINÁRIO NACIONAL: ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE, São Luís, 17 a 19 de agosto de 2011, Coletâneas... 117 MIRANDA, Marcos Paulo de Sousa. Análise dos impactos ao patrimônio cultural no âmbito dos estudos ambientais. In SEMINÁRIO NACIONAL: ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE, São Luís, 17 a 19 de agosto de 2011, Coletâneas...


A grande inovação da chancela da Paisagem Cultural Brasileira é a possibilidade de se trabalhar de forma conjugada com manifestações culturais dinâmicas, de diversas naturezas, tangíveis e intangíveis, e com forte correlação com uma determinada porção territorial. A medida dos ingredientes, porém, dependerá muito mais de cada realidade do que de uma matriz predefinida de causa e conseqüência. Uma das premissas para a aplicação do conceito de Paisagem Cultural Brasileira é a busca pela preservação da diversidade e riqueza dos cenários, urbanos e rurais, tendo em vista que os processos de massificação da vida e das paisagens têm colocado em risco e mesmo provocado o desaparecimento de contextos de vida e tradições culturais que, a rigor, não deveriam ser perdidas, sob pena do empobrecimento do próprio espírito e da ciência humana, isto é, a constatação de que “os fenômenos de expansão urbana, globalização e massificação das paisagens urbanas e rurais colocam em risco contextos de vida e tradições locais em todo o planeta”. Em tempos de “globalização” e pasteurização das culturas, é saudável que possamos resguardar e valorizar contextos de vida singulares, que se traduzam na relação harmônica do homem com a natureza e, conseqüentemente, em maior qualidade de vida 118. Temos que destacar que a “chancela” não é um instrumento de proteção, tal como o tombamento. Sobre a porção do território chancelada como paisagem cultural não recairão sanções ou restrições administrativas e/ou jurídicas que impeçam sua transformação119. Se for o caso (e em muitas vezes será) a chancela deverá ser acompanhada, antecedida ou complementada pelo tombamento, pelo registro e/ou por outras formas de proteção, incluindo os mecanismos disponíveis em outras esferas (instrumentos de proteção ambiental, de planejamento urbano, de fomento e outros). Tal entendimento encontra respaldo nos artigos 2 (da finalidade) e 3 (da eficácia) da Portaria 127/2009: “Art. 2º. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira tem por finalidade atender ao interesse público e contribuir para a preservação do patrimônio cultural, complementando e integrando os instrumentos de promoção e proteção existentes, nos termos preconizados na Constituição Federal” “Art. 3º. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira considera o caráter dinâmico da cultura e da ação humana sobre as porções do território a que se aplica, convive com transformações inerentes ao desenvolvimento econômico e social sustentáveis e valoriza a motivação responsável pela preservação do patrimônio.”120

A gestão, preservação e socialização do patrimônio cultural brasileiro cabe ao IPHAN (Lei federal 3.924/1961121, CF/88, e da legislação ambiental implantada a partir da década de oitenta). Mais recentemente, evidencia-se uma preocupação com a socialização do patrimônio, com o arqueológico ocupando um lugar de destaque no cenário nacional, 118

Reflexões sobre a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, disponível em http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1757, acessado em 15/02/2012 119 Portaria 127, de 10 de abril de 2009, DOU 83, de 05 de maio de 2009, seção 1, p. 17 120 PORTARIA Nº 127/IPHAN, DE 05 DE MAIO DE 2009 Estabelece a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, aplicável a porções do território nacional. http://www.prpe.mpf.gov.br/internet/Legislacao/Patrimonio-Historico-eCultural/Portarias/PORTARIA-N1-127-IPHAN-DE-05-DE-MAIO-DE-2009 121 LEI No 3.924, DE 26 DE JULHO DE 1961. Dispõe sôbre os monumentos arqueológicos e préhistóricos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3924.htm


com adoção de um modelo em que setores não-governamentais têm participado de modo ativo, notadamente na área da pesquisa arqueológica e da guarda de acervos (Migliacio, 2011) 122. Assim, que medidas deverão ser tomadas, pelos diversos agentes que atuam na área, para que possam ser mantidas as características que definem a paisagem cultural e, conseqüentemente, justificam a chancela? Primeiro, é necessário o estabelecimento do “pacto de gestão”, onde serão estabelecidas ações de planejamento, ordenamento territorial, gestão e fomento da porção do território a ser chancelada e das práticas culturais que a particularizam como paisagem cultural, pois é preciso ter clareza de quais são os atributos e as qualidades que particularizam aquela porção do território, tornando-a diferente das demais e, por sua importância e singularidade, passível de ser reconhecida como Paisagem Cultural Brasileira. Reportamonos ao que estabelece o Art. 4º: “A chancela da Paisagem Cultural Brasileira implica no estabelecimento de pacto que pode envolver o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando a gestão compartilhada da porção do território nacional assim reconhecida”. (grifo nosso)

Importante ressaltar que o pacto precede a chancela, cuja proposta será avaliada e julgada pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que emitirá parecer final sobre sua aprovação ou não. Cabe ainda chamar atenção de que o rol de signatários do pacto dependerá de cada realidade e, por isso, estabeleceu-se a participação do poder público, sociedade civil e iniciativa privada como possibilidade, e não como obrigação. Em determinados casos, o pacto pode ser efetivado apenas no âmbito do poder público, ou deste com a sociedade civil, ou apenas entre a iniciativa privada, desde que este arranjo seja capaz de garantir a preservação da paisagem cultural através de ações que se encontrem dentro da alçada de competência dos pactuantes123. No fundo, para se estabelecer o pacto, é de suma importância ter clareza de quais são as medidas e ações que devem ser acordadas porque estimulam, garantem ou possibilitam a preservação da paisagem cultural, sem que, usando como justificativa a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, se pretenda resolver todos os problemas daquela porção do território. Neste sentido, caberá também uma priorização das ações e linhas de atuação acordadas quando da construção e assinatura do pacto. No capítulo que trata sobre a instrução do processo de chancela, a Portaria IPHAN 127/2009 no seu artigo 9º diz que: “Para a instrução do processo administrativo poderão ser consultados os diversos setores internos do IPHAN que detenham atribuições na área, as entidades, órgãos e agentes públicos e privados envolvidos, com vistas à celebração de um pacto de gestão da Paisagem Cultural Brasileira a ser chancelada.” (grifos nossos).

Para que se principie um processo de chancela, é necessário definir, primeiramente, o recorte territorial que será trabalhado e, em seguida, a abordagem que

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MIGLIACIO, Maria Clara. O IPHAN e a gestão, preservação e socialização do patrimônio arqueológico brasileiro. In In SEMINÁRIO NACIONAL: ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE, São Luís, 17 a 19 de agosto de 2011, Coletâneas... 123 Reflexões sobre a chancela da Paisagem Cultural Brasileira, disponível em http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1757, acessado em 15/02/2012


será dada a este recorte de forma que passe a ser compreendido como “uma porção peculiar do território” 124. A Vila Velha de Vinhais possui uma história paralela à de São Luís. É um lugar que representa um passado, ainda vivo na memória de seus moradores, resgatado por pesquisadores residentes nos bairros que se instalaram em seu entorno e, trazem uma história anterior ao período colonial, que até o momento não recebeu atenção dos órgãos responsáveis por essa preservação. Assim, pede-se que a Vila Velha de Vinhais – ou o Vinhais Velho como também é conhecida – seja tombada em todo seu conjunto, como PAISAGEM CULTURAL BRASILEIRA, estendendo-se o de sua Igreja, ampliando-se o ‘entorno’, inclusive aos bairros formados recentemente à sua volta.

ABAIXO-ASSINADO “Qualquer pessoa natural ou jurídica é parte legítima para requerer a instauração de processo administrativo visando a chancela de Paisagem Cultural Brasileira” São Luis, 15 de fevereiro de 2012 À Senhora Kátia Santos Bogéa Superintendente do IPHAN no Maranhão Endereço: Rua do Giz, 235 - Centro CEP: 65.010-680 – São Luís-MA Telefone: (98) 3231-1388 e-mail: iphan-ma@iphan.gov.br Senhora Superintendente Nós, o Povo, residentes na VILA VELHA DE VINHAIS, também conhecida como VINHAIS VELHO, e das demais COMUNIDADES existentes no seu entorno, com base na PORTARIA no. 127/IPHAN, de 30 de abril de 2009, publicada no DOU 83, terça-feira, 05 de maio de 2009, seção 1, p. 12, em seu parágrafo 6º. “Qualquer pessoa natural ou jurídica é parte legítima para requerer a instauração de processo administrativo visando a chancela de Paisagem Cultural Brasileira” VIMOS REQUERER que seja INSTAURADO PROCESSO ADMINISTRATIVO VISANDO a CHANCELA DE PAISAGEM CULTURAL BRASILEIRA à referida VILA VELHA DE VINHAIS. Os abaixo-assinados, representando as Comunidades requerentes, se comprometem a, em tempo hábil apresentar as justificativas e documentos necessários para tal tombamento, conforme inscritos na Legislação vigente. Vimos, ainda, solicitar de Vossa Excelência sejam designados técnicos do IPHAN para, junto à nossa população da Vila Velha de Vinhais e demais comunidades de seu entorno, preparar a documentação necessária para o referido tombamento. 124

peculiar: Adjetivo [Do lat. peculiare.] Que é atributo particular de uma pessoa ou coisa; especial, próprio


Como é de seu conhecimento, a Vila do Vinhais Velho, como é conhecida hoje, se constitui núcleo residencial de índios e brancos desde tempos imemoriais, e precisa preservar sua memória. Assim como é de seu conhecimento que a população do entorno da Igreja de São João Batista, com a proficiente orientação de Vossa Excelência e seus técnicos, vêm mantendo a memória desta comunidade e de seu Patrimônio Histórico vivo, inclusive com a recuperação física da referida Igreja de São João Batista, Pedem, em nome das Comunidades do entorno da Igreja de São João Batista do Vinhais Velho, neste ano de comemoração dos 400 anos. Senhora Superintendente, A História, e nosso Patrimônio, não poderão subsistir sem a interferência institucional do IPHAN e sua, em particular. ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO VINHAIS VELHO ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO RECANTO VINHAIS INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ VICE-PRESIDENTE Morador do Recanto Vinhais Membro da Comissão de Comemoração dos 400 anos de São Luis, do IHGM Membro da Comissão de Comemoração dos 400 anos da Vila de Vinhais COMISSÃO DAS COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DA VILA DE VINHAIS VELHO e sua IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA LUIZ ROBERTO M. DE ARAUJO FRANCINALDA ARAGÃO LIMA DELZUITE DANTAS BRITO VAZ COMITÊ DOS AMIGOS DO VINHAIS VELHO OLEGÁRIO BATISTA RIBEIRO ADEMIR BATISTA RIBEIRO DE ASSUNÇÃO JOEIDE PRESTANA BURGOS CARLOS MAGNO SANTOS JACINTO PENHA MARIA JOSÉ ALVES DOMINGOS FRANCISCO DUTRA FIHO Deputado Federal NEUSILENE NÚBIA FEITOSA DUTRA MORADORES DA VILA DE VINHAIS VELHO E COMUNIDADES DO SEU ENTORNO



OBRAS DA VIA EXPRESSA DE ROSEANA AMEAÇAM SÍTIO ARQUEOLÓGICO, CONSTATA ESPECIALISTA Publicado em 18 de fevereiro de 2012 por John Cutrim Várias peças importantes estão sendo desencavadas pelas máquinas que trabalham no Vinhais Velho, diz arqueólogo do Iphan POR JULLY CAMILO e OSWALDO VIVIANI (JP) Na manhã de quinta-feira (16), a Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Maranhão, autorizada por meio de uma portaria publicada no Diário Oficial na quarta-feira (15), enviou o arqueólogo Júlio Meirelles Steglich até a comunidade do Vinhais Velho para verificar eventuais danos causados ao sítio arqueológico existente no local, por conta das obras da chamada Via Expressa – projeto do governo estadual que interligará as avenidas Colares Moreira e Daniel de La Touche, passando por mais de 20 bairros.

O arqueólogo constatou que várias peças importantes foram encontradas nas escavações das máquinas que trabalham na obra – ao contrário do que informara o arqueólogo indicado pelo governo, que relatou não ter encontrado nenhum objeto de


importância arqueológica. Um pilão, uma machadinha e cerâmicas de no mínimo 200 anos foram alguns dos objetos achados. De acordo com Júlio Steglich, as peças remetem a culturas indígenas e gerações passadas. Ele afirmou que pretende fazer um relatório técnico sobre o que foi coletado. O relatoria também vai registrar os danos causados aos quatro hectares de sítio arqueológico no Vinhais Velho, onde há grande concentração de cerâmica. ‘O documento será encaminhado para a superintendente do Iphan, Kátia Bogéa, que tomará as providências cabíveis’, explicou Steglich. Os moradores do Vinhais Velho querem que toda a vila seja chancelada como Paisagem Cultural Brasileira, no intuito de preservar os costumes e as tradições remanescentes dos índios uçaguabas, da nação tupinambá. Segundo o vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Leopoldo Gil Dulcio Vaz, 59 anos, que mora no Vinhais Velho há mais de 30 anos, já foram protocolados, junto ao Iphan, dois ofícios solicitando a intervenção do órgão na comunidade. Os moradores também querem criar no bairro um Museu Comunitário, para abrigar as peças arqueológicas encontradas na comunidade. Muitas dessas peças estão sendo encontradas com a movimentação das máquinas que trabalham na construção da Via Expressa. ‘Uma das premissas para a aplicação do conceito de Paisagem Cultural Brasileira é a busca pela preservação da diversidade e riqueza dos cenários urbanos e rurais, tendo em vista que os processos de massificação da vida e das paisagens têm colocado em risco e mesmo provocado o desaparecimento de contextos de vida e tradições culturais que, a rigor, não deveriam ser perdidas. Portanto, queremos construir o Museu Comunitário com o objetivo de sermos os fiéis depositários desses objetos e assim mantermos a historia viva e atualizada. Precisamos da chancela do Iphan para garantir a preservação da comunidade, uma vez que apenas a igreja é tombada pelo patrimônio público estadual’, disse Leopoldo Vaz.

‘A chancela de Paisagem Cultural Brasileira implica no estabelecimento de um pacto, que pode envolver o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando a gestão compartilhada da porção do território nacional assim reconhecida’, disse Júlio Steglich. Ameaças de despejo – Um dos integrantes da Comissão de Comemoração dos 400 anos do Vinhais Velho, Carlos Jacinto, 43, que reside na área há 25 anos, contou que


atualmente existem quatro processos de despejo tramitando nas 3ª e 5ª varas da Fazenda Pública. Porém, dois já teriam sido suspensos por meio de liminar. ‘As ações contra a Odinéia Burgos Ribeiro Diniz e o Ademir Batista Ribeiro de Assunção foram derrubadas. Mas ao menos outras cinco famílias ainda devem ser notificadas. Diante da nossa recusa em relação às indenizações oferecidas pelo governo estadual, que ficaram entre R$ 28 mil e R$ 34 mil, nos pediram um projeto alternativo para a Via Expressa. O projeto que altera a obra, prevendo a demolição de apenas duas casas, em vez das 35 propostas pelo governo, foi desenhado por três engenheiros e protocolado no Palácio dos Leões. O projeto é bom para o governo, que pode implantar a obra sem maiores impactos, e beneficia os moradores, que não terão de deixar suas casas’, disse Carlos Jacinto.


A GRILAGEM E PRODUÇÃO DE ARROZ NO MARANHÃO ADALBERTO FRANKLIN Final da década de 1960. O Maranhão tornara-se o segundo maior produtor de arroz do país, graças às safras recordes de Imperatriz e das regiões do Mearim e Pindaré. Arroz cultivado no velho sistema sertanejo do “toco” e da queimada, por dezenas de milhares de famílias nordestinas que se estabeleceram no Maranhão, fugitivas das inclementes secas da primeira metade do século XX. O sudoeste maranhense era o paraíso dos migrantes. Além de incontáveis rios perenes, como em todo o Estado, havia um vastíssimo território de terras devolutas. Aí, em menos de dez anos, se estabeleceram mais de trinta mil agricultores nordestinos, exímios plantadores de arroz, feijão, milho e mandioca. Em 1969, a produção de arroz na região teria superado a barreira de um milhão de sacas. Chegara-se ao final da década com mais de duas dezenas de usinas de beneficiamento de arroz no município. A predominância da cultura do arroz na economia de Imperatriz se deu até os primeiros anos da década de 70, quando as grandes fazendas de gado foram tomando o espaço das roças, muitas vezes através do esbulho possessório e do poder da grilagem, ou mesmo da pistolagem. Centenas de famílias que há mais de uma década ocupavam áreas devolutas se viam, de repente, obrigadas a abandonar suas posses sob a coação de um documento forjado ou do cano de uma arma. Era o poder da grilagem, no caso imperatrizense, ativa por mais de duas décadas, contribuindo com a gradativa redução da área destinada à agricultura, que cedia espaço ao gado, forçando o despovoamento do campo e o inchaço das áreas suburbanas da cidade. A fragilidade dos posseiros se dava, principalmente, porque a quase totalidade dos que imigraram para o sudoeste maranhense era formada por camponeses analfabetos ou por pessoas de pouca instrução, sem noção legal de posse ou propriedade; para quem a terra devoluta, sem produção e sem reclamante, era território de quem nele se atrevesse a derrubar, queimar, plantar e colher; que tivesse disposição e coragem para a lida da roça. Documentação de terra não era objeto de sua preocupação. Essa mentalidade típica do sertanejo nordestino, porém, entrou em choque com outras culturas que se cruzaram nos territórios do Bico do Papagaio, na região do Tocantins e do Pindaré, onde surgiu cruel e violentamente a figura do grileiro, com documentos forjados em conluio com cartorários, políticos e autoridades, expropriandoos de suas posses. A mesma situação vinha se verificando na região maranhense do Pindaré, contígua ao território de Imperatriz, onde surgiram violentos conflitos no processo de resistência dos lavradores que, a partir da década de 1950, ocuparam aquelas matas com grandes plantações de arroz, abrindo novas fronteiras produtivas e formando povoações, o que deu origem à criação do município de Santa Luzia. O desmantelamento desse ciclo produtivo foi, principalmente, resultante do embate e da concepção de propriedade da terra, em que o pequeno agricultor tinha larga desvantagem. Para este, a terra em si mesmo não era vista como mercadoria, mas como


meio de produção de sua sobrevivência, raciocínio que o levava a um sistema de cultivo em áreas abertas, sem cercas ou demarcações, a “terra liberta”, variando sua extensão de acordo com a necessidade, ano a ano, conforme sua capacidade de cultivá-la. Nesse universo cultural não se enquadra a titulação. No início deste ano, tive acesso a um registro do modus operandi da grilagem na área conhecida como “Estrada do Arroz”, município de Imperatriz, formada por mais de uma dezena de povoados então maiores produtores de arroz na região. O texto, datado de 14 de setembro de 1975, é da Irmã Gertrudes, uma missionária católica que na primeira metade dos anos 70 dava assistência às famílias daquelas comunidades. “Nova e triste notícia do Pequizeiro. Os homens de Raimundo Fogoió queimaram as terras perto do povoado, atingindo também algumas casas. [...] Três famílias, não aguentando a pressão e sabendo inútil o seu esforço em procurar seus direitos, resolveram vender por Cr$ 2.000,00 suas terras, suas casas e seus ricos quintais e foram morar em Imperatriz. Os outros estão sem saber o que fazer, pois sentem que estão ficando sem forças, sem coragem de lutar. Sabem que o mais forte e o que tem mais dinheiro é quem vai vencer.”


ALCANTARENSES DEPOIS SÃO-BENTUENSES ÁLVARO URUBATAN MELO A vigência do Código de Processo Criminal de Primeira Instância do Império, de 29 de novembro de 1832, regulamentado pelo de 13 de dezembro seguinte, levou o recém Conselho Geral da Província a aprovar, em reunião de 19 de abril de 1833, o Plano de Divisão Judiciária da Província em termos e comarcas, estas com sedes nas cidades de São Luís e Alcântara, e as vilas de Viana, Caxias, Itapecuru Mirim, São Bernardo e Pastos Bons, então as mais populosas e de extensas áreas. Esse ato do Conselho foi ratificado pela Assembléia Legislativa Provincial, em sua primeira legislatura, pela Resolução nº 8, de 17 de abril de 1835, transformada em Lei n º 7, de 29 de abril de 1835, sancionada pelo Presidente Antônio Pedro da Costa Ferreira. Para dirimir dúvidas, com devida vênia, discordamos do que há, indevidamente, em alguns registros: “Que essa confirmação deu-se no mesmo ano (1833), assinada pela Junta Governativa”. Com a nova organização administrativa os termos judiciários foram elevados à condição de municípios, denominados de vilas, com autonomia legislativa e limites próprios. Destes, os que gozavam da prerrogativa de freguesias, ficaram com as antigas áreas estabelecidas pela Mesa da Consciência. No caso de São Bento dos Peris, oriundo da freguesia de São Matias, da vila de Alcântara permaneceu com 4.200 Km², limitados ao norte – São Antônio e Almas e os Campos de Pericumã; sul – com São Vicente Ferrer; leste – com a extremidade ocidental da Baía de São Marcos e com a freguesia de São Matias de Alcântara; oeste, com as freguesias de Pinheiro, Viana e São Vicente Ferrer. Esse desmembramento privilegiou com dupla naturalidade os cidadãos nascidos distantes das sedes das comarcas, em localidades que passaram a integrar as novas comunas. Ocorrência que se sucedeu em todas elas, com notáveis personalidades maranhenses. Em São Bento inclui-se nesse rol, entre os mais renomados, o coronel José Demétrio de Abreu, cujos dados biográficos foram publicados neste espaço; e, na seqüência serão os do Desembargador Raimundo Felipe Lobato, Doutor Vital Raimundo da Costa, Frei Custódio Alves Serão, Dr. Urbano Ferreira da Mota, médico que se transferiu para Santa Catarina, altamente conceituado nesse Estado, do qual pouco sabemos. Nossa pesquisa alusiva a tais personalidades, advém, há muitas décadas, de uma nota inserida no 1º número, edição de 12 de novembro de 1921, de um jornal hebdomadário denominado “O Imparcial”, que circulou em São Bento desse ano a 1924. Por ser esse veiculo de muita credibilidade, e a coluna “História de São Bento”, ter por colaboradores sábios estudiosos da historiografia da região, consagrados nomes da estirpe do professor Opilio Justino Lobato, Dom Felipe Conduru Pacheco, jornalista Urbano Pinheiro. Fascinado pelo tema que mais enriquece a galeria do estrelado são-bentuense é que, presenteado com documentos pelo Amigo Desembargador Milson de Sousa Coutinho, conseguimos descobrir em que fazendas nasceram e o exato lugar.


A relevância desta pesquisa nos leva a afirmar que esses personagens tornaramse frondosos ramos de famílias, entre as mais antigas e tradicionais do município, consorciadas a outras, e com fulgor, espalharam-se pelo Maranhão afora, dominaram a comunidade de São Bento que tão honrosamente souberam engrandecer e enaltecer.


E DEUS CRIOU A MULHER! AYMORÉ DE CASTRO ALVIM Parece, à primeira vista, tratar-se de algum comentário sobre o filme francês que tanta polêmica gerou e atraiu grande número de espectadores às salas de projeções, em fins da década de 50. Quem, assim, pensou se enganou. Na verdade, quero prestar a minha homenagem à mulher mãe e companheira, predicados que se interdependem nessa instituição que, em várias partes do mundo, é reverenciada no dia 8 de março, “Dia Internacional da Mulher”. A data não traz boas lembranças. Em 1857, em Nova York – Estados Unidos, a força excludente da sociedade capitalista da época negou a 130 mulheres, que protestavam contra o insalubre ambiente de trabalho e os baixos salários que recebiam, o direito às suas reivindicações e as matou de forma trágica e cruel. Mas, no plano das compensações, a data lembra, também, as conquistas por elas alcançadas, em 1917, na Rússia. Por que, ainda em nossos dias, continua a mulher sendo subtraída dos seus direitos sociais? Não foi a mulher criada tanto quanto o homem à imagem e semelhança de Deus, o que os nivela no mesmo patamar? Não lhe infundiu o Senhor, no penúltimo dos longos dias da Criação, a sua força geradora de vida para que com o homem povoassem e sujeitassem a terra? Para tanto, não lhe deu graça, não a fez atraente, provocante, sedutora e bela, atributos essenciais à estabilidade da relação com o companheiro e condição necessária ao desempenho dessa parceria? O Senhor, então, viu tudo que fizera, achou muito bom e os abençoou. Instituía, assim, naquele momento, a organização da família, unidade basilar que deveria assegurar e consolidar as sociedades futuras. O Criador a distinguiu, ainda, com a dádiva maior que a enobrece e a eterniza, na memória das sucessivas gerações: Ser mãe. A tua vida será de desprendimento e doação total àquele que de ti nascer. Isto é amor. É a sublime opção da mulher ao cumprimento do mandamento divino. É a força propulsora que reforça o elo dessa cadeia que se projeta através dos séculos na consolidação de civilizações. Não é uma luta de sexos. É o direito que tem a mulher de participar com o homem de toda ação transformadora da natureza que venha assegurar, pelo desenvolvimento tecnológico e científico, o pleno bem-estar da humanidade. Por isso, na organização das sociedades através da história, o trabalho sempre foi a atividade mais importante da produção social. Mas, à medida que crescia em complexidade quanto aos avanços obtidos, nos meios de produção, a mulher passou a se sentir mais segregada do processo, cabendolhe, conforme as diferentes culturas de cada povo, tarefas de menor importância. A parceria estabelecida, no ato criador, parecia fenecer sob a hegemonia crescente do primado patriarcal. Restringiram-lhe a participação, no processo produtivo, menoscabando-lhe a capacidade criadora e o seu potencial de trabalho, atribuindo-lhe atividades secundárias, quase sempre, em condições perigosas, insalubres e exaustivas.


Mas, apesar de tudo, a mulher não desvaneceu. Na seqüência dos tempos, sem abrir mão da sua predestinação biológica e histórica, perseguiu com tenacidade e obstinação os direitos que lhe são pertinentes como sujeito gerador de vidas e como agente, igualmente, da produção de bens. Essa é a mulher, centro das nossas homenagens. A mulher companheira sempre pronta a compartilhar como elemento essencial, na estrutura da organização familiar. A mulher que se projeta pelo ensinamento que orienta e pelo amor que reflete sua abnegação, extrema sensibilidade e ternura para conduzir, no exercício da maternidade responsável, o desenvolvimento psicológico e moral da criança e do jovem com vista ao equilíbrio, nas suas relações sociais. A mulher trabalhadora que move e constrói que participa e impulsiona as transformações que se operam, no tecido social, buscando para que, de forma equânime, haja a participação de todos, nos benefícios decorrentes das riquezas que pelo seu trabalho ajuda a produzir. A essa guerreira, que hoje se levanta na busca do pleno direito que lhe confere a sua condição de cidadã, a nossa admiração na parceria construtiva; o nosso afeto à companheira de cumplicidade de todos os momentos e o nosso amor à mulher mãe causa primeira da nossa existência. E, assim, Deus criou a mulher. Viu, então, o Senhor tudo o quanto fizera, e eis que achou muito bom. Houve tarde e manhã. Era o sexto dia da criação.


UMA HOMENAGEM AS MULHERES MARANHENSES E BRASILEIRAS TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Tive oportunidade de participar nos últimos meses do ano de 2011 a dois momentos importantes de celebração em homenagem a uma mulher maranhense; a primeira quando convidada para comemorar o aniversario da nossa amiga e confreira no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM - Joana Bittencourt e outra quando da posse da mesma pessoa no IHGM, nestes dois momentos tivemos a honra de assistir a uma apresentação teatral encenada pelos integrantes da Companhia de Teatro Beto Bittencourt, dirigida pela confreira Joana, embora nos dois momentos a mesma não fosse “a dirigente” e sim a homenageada. Bem, mas o que me levou a rememorar estes dois momentos foi à organização da homenagem feita pelas artistas da Cia e que envolvia a encenação de momentos da vida de algumas mulheres maranhenses e ou brasileiras que se destacaram pela sua participação social, política, cultural e cientifica entre elas a Dra. Maria José Aragão, a Maria Bonita companheira de Lampião – o rei do Cangaço, a Catarina Mina, celebre negra alforriada que lutou pela liberdade de seus irmãos de cor e sofrimento em São Luis e Carmem Miranda que com sua voz e coragem atravessou fronteiras, ainda podendo falar de Chiquinha Gonzaga, e tantas outras MARIAS, CATARINAS, CARMENS e CHIQUINHAS.

Tal acontecimento me fez pensar sobre a criação do Dia Internacional da Mulher, elebrado no dia 8 de março e que tem origem nas manifestações das mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada do seu país na Primeira Guerra Mundial. Essas manifestações marcaram o início da Revolução de 1917. Entretanto a ideia de celebrar um dia da mulher já havia surgido desde os primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, bem como pelo direito de voto.


Nos países ocidentais, a data foi esquecida por longo tempo e somente recuperada pelo movimento feminista, já na década de 1960. Na atualidade, a celebração do Dia Internacional da Mulher perdeu parcialmente o seu sentido original, adquirindo um caráter festivo e comercial. Nessa data, os empregadores, sem certamente pretender evocar o espírito das operárias grevistas do dia 8 de março de 1917, costumam distribuir rosas vermelhas entre suas empregadas. Em 1975, foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres. Ficam aqui a nossa homenagem as mulheres integrantes do IHGM, bem como as mulheres que participam ativamente das lutas sociais, políticas e culturais no Maranhão quatrocentão e no Brasil. Parabéns a todas nós mulheres deste país!


A MULHER NA MAÇONARIA OSVALDO PEREIRA ROCHA Academias: Maçônica Internacional de Letras; Maçônica de Ciências, Letras e Artes da COMAB e Maçônica Maranhense de Letras. Membro efetivo do Instituto Histórico da Maçonaria Maranhense e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. E-mail: rocha.osvaldo@uol.com.br e site www.osvaldopereirarocha.com.br

Muitos têm procurado tratar do problema da mulher na Maçonaria... Existem aqueles que defendem o “direito” da mulher ingressar nas Lojas Maçônicas, e aqueles que negam esse “direito”. Os primeiros apegam-se à idéia de que, sendo a mulher igual ao homem, em direitos e inteligência, capaz, como o homem, não poderia ser preterida pela Instituição, que prega a Fraternidade Universal e a igualdade em seus usos. Afirmam os que assim entendem que ao tempo em que James Anderson codificou a Maçonaria (1723), a mulher ainda não desfrutava de direitos que conquistou mais tarde. Direito à participação na vida pública, a exercer cargos públicos, a exercer cargos nas empresas privadas, etc... Nessa época a mulher era ainda limitada ao trabalho do lar, uma auxiliar do homem, incumbida de cuidar dos filhos e da casa. Mas, como tudo evolui, a mulher paralelamente às conquistas que obteve, deveria, também, ter conquistado o direito de ser admitida nos templos maçônicos. Os que assim pensam apegam-se aos princípios de que não é possível romper-se esse mandamento basilar, sob pena de se desnaturar a Instituição, que é masculina, embora não subestime a mulher, alvo de todo respeito e admiração. À mulher cabe o papel de auxiliar o homem, no lar educando e criando os filhos, e na Maçonaria, auxiliando nas obras de filantropia, em entidades para-maçônicas, não iniciáticas. Os defensores da participação feminina lembram os salões maçônicos, as lojas maçônicas femininas anteriores à Revolução Francesa, onde pontificaram mulheres inteligentes que atraiam a elite do pensamento e da cultura na França. Citam a iniciação, no século XIX, de Maria Deraismes, que fundou a Maçonaria Feminina, ou seja, o “Droit Humaine” que existe até hoje, graças ao trabalho de Georges Martin. Mencionam as Lojas de Adoção e as Lojas Mistas como precedentes históricos. De outro lado, os tradicionalistas apontam o fato de que, excluindo-se a França, a Maçonaria Feminina não encontrou eco no restante do mundo, sendo poucas as lojas femininas que se fundaram, consideradas irregulares, sem qualquer reconhecimento por parte da Maçonaria Universal. Sabe-se que o Grande Oriente de França, o mais liberal de todos, não se insurge contra a Maçonaria Feminina, mas não admitiu até hoje, a mulher em seu Quadros de obreiros. Sabe-se, ainda, que em 1975, a Grande Loja da Itália (Piazza Del Gessú), através de seu Grão-Mestre Giovanni Ghinazzi, indicou uma irmã, residente no Estado de São Paulo, como garantia de amizade daquela Potência, justo a Grande Loja Simbólica da Maçonaria Mista do Estado de São Paulo. Entretanto, nenhuma Potência regular brasileira reconhece a Maçonaria Feminina. A nós parece, que o assunto até hoje não mereceu o tratamento reclamado, sendo analisado de forma superficial. A mulher tem conquistado direitos políticos, dirigindo


Nações, como o caso de Golda Meir, Indira Gandhi, Isabelita Perón, Margareth Tatcher e outras. Sou de opinião semelhante ao esposado no último parágrafo acima, em que pese o inteiro teor dos Landmarks, que são pétreos como princípios da Maçonaria Regular universal, considerando que existem fatos históricos importantes, que podem ser reconhecidos sem alteração da essência dos mencionados princípios. Parece-me que mulher a médio ou longo prazo estará Iniciando regularmente na Maçonaria, com iguais direitos e deveres dos homens, mesmo mantidos em seus princípios a essência dos Landmarks. Minhas homenagens às mulheres, pelo Dia Internacional da Mulher (08 de março). BRUNO, Alci. “A Mulher na Maçonaria Regular”, A Gazeta Maçônica, 2ª Ed., março/1999, pág. 69/70,


LÍNGUA PORTUGUESA? ANTONIO NOBERTO Um amigo europeu que sempre passa férias no Brasil, não faz muitos meses, trouxe-nos uma questão que não é nova. Queria saber o porquê do nosso idioma ainda se chamar português. Ele resumiu que, para os europeus mais inteirados da cultura brasileira, em razão da maiúscula participação de termos indígenas, africanos e estrangeiros na língua brasileira, é incompreensível o país ainda manter algo que não interessa à cultura, a política e, muito menos, à economia nacional. Finalizou dizendo que nossa língua é O BRASILEIRO, e não o português. “É uma questão de justiça e independência”, arrematou. As palavras do nosso amigo, entre outras coisas, nos fizeram refletir também sobre a recente adequação ou revisão ortográfica da língua portuguesa. Em Portugal a resistência à alteração na gramática é assaz acentuada. Tem gente chiando barbaridade, como uma portuguesa que, em um site, sobre a reforma, postou o seguinte: “Mais uma vez Portugal rebaixa-se, porque razão é que temos que ser nós a mudar e não os brasileiros, eles é que não tiveram inteligência suficiente para aprender a lingua correctamente, e agora por causa disso somos nós que temos que aprender a nossa lingua novamente? Como é que vamos pôr nas cabecinhas das nossas crianças que a maneira como aprenderam a escrever agora já não é a correcta. Quanto a mim vou continuar a escrever como sempre escrevi, sou portuguesa não sou brasileira”. Ela chega a nos chamar de “burros brasileiros”. Mas, como toda moeda tem dois lados, perguntamos: será que ela não tem lá suas razões? O seu sagrado direito de, no mínimo, espernear? Portugal errou quando fez sua primeira grande reforma a um século e – como era de se esperar – não consultou o Brasil, aumentando, com isto, a distância lingüística entre o dois países. O certo é que o Brasil tem quase duzentos milhões de habitantes e Portugal apenas dez. Ou este se adéqua a mudança ou “não sabemos” o que lhe poderá acontecer. A adequação é questão de sobrevivência para o país do Velho Mundo, que, mesmo com a irrelevante e frágil economia, nunca perdeu o hábito de querer ser colonizador. Mas não percamos o foco... Até meados do século XVIII vigorava no Brasil o escambo, vez que, pela escassez de cédulas e de moedas de metal, a moeda corrente era o pano ou rolo de algodão. O famoso escritor Laurentino Gomes, repetindo as palavras de um viajante francês, disse: “Antes da chegada da Corte ao Rio de Janeiro, o Brasil era um amontoado de regiões com pouco contato, isoladas umas das outras, sem comércio ou qualquer outra forma de relacionamento”. E a língua mais falada até aquela época era o tupi-guarani. Isso mesmo, a língua indígena foi a língua mais falada no Brasil até a metade daquele século. Nessa época a população branca era consideravelmente pequena. Em 1600, por exemplo, era de apenas 30.000 e em 1766 a população livre girava em torno de 800.000 (Cronologia de história do Brasil Colonial – 1500 – 1831 / Andrea Slemian... et al. São Paulo; FFLCH-USP. 1994). Em 1756 o Marquês de Pombal proibiu a utilização de qualquer outra língua, inclusive a língua geral, de base tupi. Os africanos foram escravizados e os indígenas dizimados, o mesmo, felizmente, não conseguiram fazer totalmente com a língua destes povos que, incorporada ao idioma oficial do país, atravessou séculos e permanece viva através dos milhares de termos que usamos no dia a dia.


O legado da cultura negra é bastante presente no Brasil, percebemos isto na religião, na comida, música, no modo de ver a vida, nos mitos e lendas, e também na própria língua. Para cá vieram negros de quase toda a África, sendo o destaque por conta de dois grandes grupos: o guineano-sudanês e o banto – que habitava o litoral africano. Provenientes em sua maioria do Benin, Angola, Nigéria e Congo, falavam diversas línguas e dialetos como o quimbundo, quicongo e o umbundo, dos quais herdamos inúmeros termos, sendo: vatapá, quitute, farofa, acarajé, canjica, mandinga, oxalá, iemanjá, ogum, senzala, Bangu, quilombo, miçanga, tanga, samba, berimbau, maxixe, maribondo, camundongo, mangangá, mutamba, dendê, quiabo, moleque, bagunça, cachimbo, coringa, dengo, quitanda, fubá, bunda, calombo, banguela, e incontáveis outros. Algumas se misturaram com o português: pé-de-moleque, angu-decaroço, mini-tanga, molecagem, etc. Um maiúsculo legado para nossa língua que não cabe em um simples texto, mas em um volumoso dicionário. Do tupi-guarani são milhares as palavras herdadas dos primeiros habitantes do Brasil. “Do Oiapoque ao Chuí!” a língua inicial tira de letra. São nomes de lugares – a maioria dos nomes dos estados brasileiros são de origem indígena –, acidentes geográficos, nomes de pessoas, etc. A culinária brasileira típica é profundamente indígena. Mas a gente pode começar por uma palavra que pipocou na rede mundial, ao menos aos usuários do Facebook: cutucar – tocar alguém com algo em forma de ponta. Não menos lembradas: cuia, embiocar, espocar, canoa, igapó, abacaxi, capenga, aipim, jacá, araçá, Aracaju, taquara, beiju, bocó, boitatá, buriti, bruaca, iara, Ipanema, Itaipava, Itamaracá, Itapemirim, tororó, jiqui, jirimum, jururu, piracema, pirão, pitada, pixaim, Piauí, Ceará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Pará, Goiás, Acre, perereca, peteca, pipoca, pindorama, mandioca, maniçoba, maruim, mingau, mirim, moqueca, mussum, mutirão, mutuca, paçoca, socar, pamonha... E tantas e tantas outras. Os termos indígenas e africanos não raro sofreram um doloroso processo de depreciação, como parte de uma política de dominação do vencedor luso. Vemos isto, por exemplo, em mulher (cunhã), menino (curumim), interiorano (caipira), garoto (guri), morada (tapera), piolho / sovina (muquirana), vadia (piranha), pobre (pindaíba), bruxaria / ritual (pajelança), lerdo / tonto (pamonha), pereba, etc. A influência estrangeira na nossa língua e cultura também é muito presente. Temos então, a título de exemplo. Do francês: abajur, ateliê, baguete, baton, bege, bistrô, bijuteria, boate, carrossel, capô, cassetete, etc. Catalã: beldade, baixela, capacete, convite, disfarçar, esmalte, faixa, nau, moscatel, etc. Do inglês: bife, blecaute, blefe, club, coquetel, craque, dólar, drinque, futebol, gol, etc., quase todos os termos utilizados na informática. E tantas outras participações alógenas. A mudança da nomenclatura da língua – de português para O BRASILEIRO – será um enorme ganho, principalmente através da atividade turística, uma ótima oportunidade de divulgação da cultura nacional genuína, uma forma de emergir a cultura local gerando riquezas e empregos aos nacionais, pois o estrangeiro ainda tem muita curiosidade com relação à cultura brasileira. Outro ganho imensurável é que as incursões governamentais que tentam diminuir a desigualdade entre ricos e pobres ganhariam reforço, vez que o resgate de tão valoroso legado afro-indígena traria para a pauta as duas culturas secularmente marginalizadas pelo privilégio branco. Para um país que vem galgando enormes passos e vencendo degraus na economia é importante atentar também ao campo cultural sob pena deste não acompanhar a contento o avanço do nosso mercado e não fincarmos marcos mais profundos, quando todos sabem que o poder não prescinde de uma forte produção cultural (existe exemplo


mais flagrante do que a produção Hollyhoodiana?). Os galhos do poder constituído são uma tentação, é verdade, mas não devemos ter receio das idéias alternativas, pois, neste caso, a justa adoção dO BRASILEIRO, ainda que não nos leve ao Jardim do Éden, aumentará a estima dos brasileiros e poderá ser um vetor a mais na atração de fluxos estrangeiros a este paraíso para conhecerem esta terra ainda tida por muitos como sem males. Sonho do imaginário estrangeiro que perdura, sem, no entanto, ser devidamente explorado através da nossa atividade turística. Viva o idioma BRASILEIRO!


ADALBERTO FRANKLIN ELEITO PARA O IHGM http://adalbertofranklin.por.com.br/2012/03/adalberto-franklin-eleito-para-o-ihgm/

Adalberto Franklin realiza palestra no auditório do IHGM, em São Luís. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) elegeu o jornalista e historiador Adalberto Franklin como seu novo membro efetivo, para ocupar a cadeira 16, patroneada por Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres, o autor da Poranduba maranhense. Franklin é o primeiro historiador de Imperatriz a integrar o quadro efetivo do IHGM, entidade fundada em 1925, em São Luís (MA). A indicação do historiador imperatrizense foi de autoria da própria direção do Instituto, através de Telma Bonifácio e Leopoldo Vaz, respectivamente, presidente e vice-presidente da instituição, candidatura que foi eleita por unanimidade pelos membros do IHGM. A posse deverá ocorrer no mês de junho, no Palácio Cristo Rei, em São Luís, onde está sediada a entidade. O IHGM – O Instituto de História e Geografia, depois Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), foi fundado em 20 de novembro de l925 e instalado em 2 de dezembro do mesmo ano, em São Luís (MA). A entidade tem como objetivo estudar, debater e divulgar questões da história e da geografia maranhenses. Tem sido responsável pela publicação de periódicos com importantes documentos sobre a história e a evolução política e social do Maranhão. Foram sócios fundadores do Instiuto, Antônio Lopes da Cunha – seu idealizador e realizador –, Arias de Almeida Cruz, Benedito Barros Vasconcelos, Domingos de Castro Perdigão, José Abranches de Moura, José Domingues da Silva, José Ferreira Gomes, José Pedro Ribeiro, José Ribeiro do Amaral, Justo Jansen Pereira e Wilson da Silva Soares. Tem 60 cadeiras, ocupadas pelos membros efetivos. Entre os membros do IHGM, além de historiadores e geógrafos, estão jornalistas, sociólogos, médicos, cientistas, pesquisadores, educadores e advogados. PERFIL – Adalberto Franklin é piauiense, tem 49 anos e há 40 reside em Imperatriz. Jornalista, historiador, editor literário e bacharelando em Direito. Coordenou a publicação de mais de 400 títulos de obras literárias. Fundou e dirige a Ética Editora. É membro da Academia Imperatrizense de Letras e da Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons. Tem sete obras publicadas, entre as quais Breve história de Imperatriz e Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz, dois dos mais importantes trabalhos sobre a história do sudoeste maranhense.


HISTÓRIAS DE ANA JANSEN NA VISÃO DO MAMULENGO JOANA BITTENCOURT Escritora, pesquisadora, teatróloga. Membro da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências – APLAC, Cadeira n° 09 e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão –IHGM, Cadeira nº 56.

A peça teatral Histórias de Ana Jansen na visão do Mamulengo, texto de minha autoria, produzida pela Sociedade Artística e Cultural Beto Bittencourt, foi contemplada pela Funarte e levada ao público no ano de 2002, com mais de vinte apresentações, nos teatros de São Luís. Logo no início, Ana Joaquina Jansen Pereira é definida como uma mulher de sangue forte, rica e respeitada; de espírito indomável e inteligência arguta, possuía um extraordinário tino para os negócios e para a política. Amada e invejada; querida e temida, Nha Jança ou Donana, como ficou conhecida, foi alvo de histórias inusitadas, tramas polêmicas e por vezes jocosas, que foram tomando forma diversificada, exagerada e fantasiosa, ao sabor do imaginário popular. A apresentação é comandada pelo boneco Pirilampo, um observador que vem recontar os episódios envolvendo a matriarca Ana Jansen naqueles idos de mil e oitocentos, sob uma visão mais humana, demonstrando nas atitudes da rica senhora, os aspectos sociais, de colaboração com o progresso da terra, aplicando idéias muito além do seu tempo, provocando uma revolução nos costumes. No tempo em que a mulher não possuía qualquer direito, ela já se impunha como mandatária, num poder paralelo, enfrentando com firmeza todas as adversidades impostas às mulheres. Pirilampo então se encarrega de desmitificar as lendas que cercam Ana Jansen, oferecendo explicação realista para cada argumento fantasioso. Para tanto, vale-se de “Joca Sete Vidas”, personagem fictício, um moleque de recados, que viaja entre o passado e o presente, levando as novidades para sua patroa e trazendo os devidos esclarecimentos para os tempos atuais. A personagem Ana Jansen, é tão forte que acaba por confundir seu comunicador e passa a exercer seu lugar no presente, fazendo-o acreditar que ele sim, faz parte do pretérito, na história. Foi gratificante escrever sobre Ana Jansen; foi, porém, dificultoso encontrar subsídios para elaborar um trabalho próximo ao verdadeiro caráter dessa venerável senhora, que virou lenda ao sabor da imaginação do povo. Fui encontrar informações mais fidedignas no livro Perfil de Ana Jansen, do emérito pesquisador Waldemar Santos, editado pelo SIOGE, em 1978. Nesse trabalho, o jornalista/pesquisador gastou mais de dez anos em pesquisas sucessivas e ininterruptas, rebuscando arquivos, entrevistas com pessoas nonagenárias, contatos com descendentes; usando de todos os meios ao alcance, para apresentar um relato verdadeiro, pautado na decência e na honradez, estribados em provas incontestes, longe de imputações levianas. Sábias e irrepreensíveis são as considerações do autor no prefácio da obra, demonstrando o quanto é meritória a tarefa do pesquisador. Assim é que, o jornalista Waldemar Santos, recheou seu Perfil de Ana Jansen com fotografias, retratos, cópias de documentos e até a árvore genealógica de Ana Jansen, traçando um perfil realmente digno da maior credibilidade. Adentrando na pesquisa de Waldemar Santos, revendo os documentos, muitos deles ilegíveis na reprodução, chamou-me maior atenção o traslado do testamento de


Ana Jansen. Documento esclarecedor, tanto em relação aos bens elencados, como na distribuição dos mesmos, de forma correta e equitativa; a promoção da alforria de escravos, mesadas, esmolas, doações em dinheiro e escravos a parentes e terceiros; deixando evidente a magnanimidade da signatária. No documento, elenca os herdeiros diretos, assumindo publicamente a maternidade dos filhos tidos fora do casamento, “por fragilidades femininas”; sendo o primeiro, Manuel Jansen, em sua época de solteira, e quatro no estado de viuvez: Francisco, Joaquina, Maria Ludgera e Luís Venâncio. Além destes, teve seis filhos legítimos com o marido Coronel Isidoro, são eles: Isidoro, Bruno, Anastácio, Joaquim, Ângela e Ana. Portanto, Ana Jansen teve onze filhos. Casou-se em segundas núpcias com o comerciante Antonio Xavier da Silva Leite, com quem não teve filhos. Sabe-se que Ana Jansen nasceu em São Luís do Maranhão, no ano de 1787 e faleceu em 11 de abril de 1869, aos 82 anos de idade. Era filha legítima do Capitão Vicente Gomes de Lemos e Albuquerque e de Rosa Maria Jansen Muller. Casou-se em primeiras núpcias com o Coronel Isidoro Rodrigues Pereira, português, possuidor de boa fortuna, que a laboriosa esposa fez multiplicar, empregando as posses, nos mais rentáveis negócios da ocasião. Possuía muitos bens imóveis, fazendas agropecuárias; tão abastados, ao ponto de fazer doação ao estado, de mil arrobas de arroz pilado e ensacado, por ano, para alimentar o exército, enquanto durou a luta com os rebeldes do Rio Grande do Sul. Por conta desta e de outras doações com que agraciava o governo, deixou-as assentadas na petição ao Imperador, quando requereu o título de Baronesa de Santo Antonio. Informava, na ocasião, com as provas disponíveis, sua descendência nobre, advinda de Pedro Jansen Moller e Praet, anexando como prova, a Carta de Brasão de Armas, concedida por D.João V, em Lisboa, no ano de 1719 ao dito Pedro Moller (no Maranhão grafado Muller, parente da mãe); assim como o traslado de outra Carta de Brasão de Armas concedida a João de Souza Castro, quarto avô da requerente (por parte do pai de Ana Jansen). O pedido estava claramente fundamentado, mas jamais obteve despacho favorável de Sua Majestade D.Pedro II, Imperador do Brasil. Diz o notável pesquisador Waldemar Santos, que Ana Jansen não se deixou abater e não se sentiu humilhada com a negativa do Imperador. Antes, levantou a cabeça e apregoou não necessitar e tal comenda, visto já ser considerada a Rainha do Maranhão face ao seu poderio econômico. Supõe-se, no entanto, que o título de Baronesa foi o grande sonho de sua vida, pois já possuía riqueza, prestígio, respeito e poder; talvez o almejasse pela vaidade de ostentar um título de nobreza, com o qual fecharia a boca de muita gente. Muito se tem falado e escrito sobre Ana Jansen, muitas vezes atribuindo a ela, atrocidades, que vão tomando maior dimensão, sempre que repassadas adiante; sem, contudo, aprofundarem-se nos feitos relevantes daquela matrona, no que se refere às ações progressistas por ela executadas. Era de supor que uma mulher com todos os recursos, prestígio e domínio nas altas esferas social e política do Maranhão, despertasse o ódio e a inveja de alguns ou de muitos, criando desafetos em todas as áreas. Tais desafetos demonstravam seu descontentamento pelos jornais, desenrolando-se verdadeiras batalhas através dos periódicos, haja vista que Ana Jansen também possuía um jornal, o Bentivi Maranhense, por onde rechaçava as impiedosas agressões, atacando sem dó nem piedade a quem lhe combatia. Daí surgirem retaliações de parte a parte, onde não faltavam calúnias, injúrias e infâmias. Por esse tempo correu a estória (e perdura até nossos dias) de que ela castigava escravos, jogando-os num poço fundo cheio de lanças pontiagudas, aonde os desditosos morriam espetados. Ora, não só nas casas de Ana Jansen, mas em todas as moradas nobres de São Luís, existiam poços com lanços de ferro (espécie de escada) para a descida de quem fazia a limpeza dos tais


poços. Por outro lado, um escravo valia muito dinheiro. Como uma proprietária zelosa de seus bens, atiraria fora um bem equivalente a um carro de luxo, de hoje? Mas nem só de horrores se fala. Como meu Mamulengo diz no início, havia tramas polêmicas e outras jocosas. É o caso dos pinicos de porcelana com o retrato de Ana Jansen pintado no fundo, encomendados pelo Comendador Meirelles para achincalhar sua desafeta, e esta, muito esperta, mandou adquirir, em surdina, o lote das peças sanitárias, para depois mandar quebrar tudo na porta do palacete do Comendador, na Rua do Giz. Sobrou algum exemplar desta peça histórica, é certo; pois o pesquisador Waldemar Santos teve acesso a uma delas, publicou a foto e assim a descreve: é toda de porcelana cor de rosa, parecendo mais uma terrina, na parte dos fundos (interna), a figura de Ana Jansen sentada numa cadeirinha, ou carruagem, vendo-se, também, escravos com barris de água. ÁGUA... Uma das fontes de recursos de Ana Jansen... Vendia água potável captada nos poços do Apicum e Vinhais, acondicionada em pipas, era conduzida até a freguesia (navios, residências, comércios, etc) em carros de bois e canoas. Até que o engenheiro Raimundo Teixeira Mendes fundou a Companhia de Águas do Rio Anil, para canalizar as águas do Rio Anil e abastecer a cidade. Ana Jansen moveu ferrenha campanha contra a tal Companhia, que realmente não foi exitosa. Estava defendendo o seu ganha-pão, ou ganha-água, como diria o Mamulengo. Os episódios são teatralizados, cantados e dançados durante o espetáculo. Aproveita-se o tema ÁGUA para abordar questões ambientais de grande importância em nossos dias. Assim como Waldemar Santos, submeti o texto, à apreciação dos descendentes de Ana Jansen, na pessoa da saudosa Terezinha Jansen, que considerou o trabalho “impecável e ético”. Compareceu à estréia do espetáculo, acompanhada de alguns familiares, na primeira fila do teatro, onde recebeu aplausos e assistiu comovida a encenação das Histórias de Ana Jansen na visão do Mamulengo. Foi em agosto de 2002. Boa temporada, aquela!


CUMPRIMENTANDO UM AMIGO

20.03.2012

Há poucos dias recebi convite de uma concessionária local de carros importados para assistir ao lançamento de um novo veículo. Aceitei o convite e fui participar do coquetel de lançamento. Ali a concessionária por seus gerentes de vendas me expunha as vantagens que o modelo apresentava. Maior potência de motor, mas velocidade a ser alcançada em menor espaço de segundos. Beleza de “design”, retrovisores externos controlados sob comando interno, ar condicionado digital, etc. Ah!... E acrescentaram os autorizados para coroar tudo o que foi dito, estamos lhe oferecendo a oportunidade de um “teste drive”. Agradeci o oferecimento e me limitei a pensar que faltava ao veículo a sensibilidade para acolher o cliente, o que só é próprio da natureza humana. Eis que agora estou a receber convite para o lançamento de um modelo humano 7.3. Este sim tem sensibilidade suficiente para transmitir sentimentos ao próximo. Este não precisa de oferecimento de “teste drive”. Este foi um convite que aceitei prazerosamente e o fiz com muita alegria. Era o meu confrade do IHGM e amigo particular Osvaldo Pereira Rocha que lançava o modelo novo de idade e me convidava para o evento a ser realizado no salão de festas do GOAM onde seria servido saboroso jantar, o que foi feito. Fui às comemorações do seu aniversário e ali vi o presente de Deus ao homem. Todos os dias e anos Osvaldo se renova. O Supremo Arquiteto do Universo dele não se esquece, porque ele é um homem de fé que Nele deposita toda sua confiança. É graças a sua crença inabalável em Deus que nele se refletem as promessas do Profeta Isaias: “O Senhor faz forte ao cansado e multiplica as forças dos que não têm nenhum vigor... Os que esperam no Senhor renovam as suas forças sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Bíblia Sagrada - Isaías 40:29-31).


Feliz Osvaldo, por participar da sua festa de aniversário, digo-lhe, agora, que foram momentos de muita felicidade estar presente, junto com outros seus amigos e parentes, naquela reunião de inesquecíveis momentos. Que Deus lhe multiplique esses anos de vida, fazendo-o cada vez mais feliz e renovado. Que venha o modelo 7.4 no próximo ano. Esperaremos ansiosos, orando por você, para que com saúde plena e cercado por amigos e parentes, possamos juntos, se assim aprouver ao nosso Deus, cumprimenta-lo novamente. Parabéns meu amigo. Felicidades em cascatas e rios caudalosos de muitas alegrias. Um abraço, Edomir


MEIO AMBIENTE E CRESCIMENTO AUTOSUSTENTÁVEL: UM ENFOQUE HISTÓRICO JURÍDICO E SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO GLOBAL COM QUALIDADE DE VIDA E CIDADANIA. ANA HÉLIA DE LIMA SARDINHA125 CÉLIO GITAHY VAZ SARDINHA126

RESUMO O presente trabalho enfoca a preservação do meio ambiente como premissa básica para lograrmos o crescimento auto sustentável, com desenvolvimento global das nações do mundo, assegurando a continuidade da vida no planeta e a conservação das espécies da fauna e da flora. Aborda-se a problemática ambiental, perpassando pela retrospectiva histórica desde o início da industrialização, do século XIX até a atualidade. Demonstra-se o processo de degradação ambiental ocorrido ao longo de quase dois séculos e sugere-se uma série de providências viáveis com o objetivo de conter e reverter tal destruição. Enfoca-se os aspectos jurídico e social do problema, tomando por base o Diploma constitucional de 1988, vigente no Brasil, e a legislação especifica de âmbito federal. Palavras-chave: Preservação. Meio ambiente. Crescimento autosustentável. Desenvolvimento global. Qualidade de vida.

INTRODUÇÃO Há milhares de anos a humanidade vem experimentando modelos de vida os mais distintos, desde os tempos remotos da pré-história, quando o primitivo homem de Java, “Pitecantropos, Erectus”, ou “Neanderthal” e tantas outras denominações, daquele rude precursor do homem racional e moderno, buscava, a seu modo, a melhor e mais feliz maneira de viver em sociedade, pois, sua condição natural de ser gregário, instintivamente perpassa pelo seu “modus vivendi” em sociedade, levando-o a uma constante busca da otimização de sua existência na terra ao longo do tempo. Com o advento das civilizações mais belicosas, ávidas pelo poder e domínio do mundo, no afã do acúmulo de riquezas materiais, exsurgem as ambições desmedidas que são capazes de produzir a destruição do próprio homem e do mundo que o cerca. As premissas da vida de origem grego-romana apontam para o mandamento: “Men sana in corpore sano”, ou seja, mente sã em corpo são que sabiamente direciona o comportamento humano para uma plenitude de bem-estar e bom condicionamento 125

Ana Hélia de Lima Sardinha, Enfermeira, Professora da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, Especialista em Enfermagem do Trabalho, Especialista em Nutrição e em Saúde Pública e Meio Ambiente, Doutora em Educação. 126 Célio Gitahy Vaz Sardinha, Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho, Advogado, Professor da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, Especialista em Saneamento Ambiental e em Engenharia e Ciências dos Materiais, Especialista em Segurança do Trabalho e em Segurança Pública, Mestre em Pedagogia Profissional, Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM e Conselheiro Curador da Fundação Antonio Jorge Dino – FAJD / IMOAB.


físico, associados à lucidez mental, que transcendem todos os limites e fases do desenvolvimento humano, chegando até a atualidade. O presente trabalho é fruto de pesquisa bibliográfica, qualitativa e quantitativa, tomando-se como universo estudando o Brasil e países desenvolvidos, estes últimos, principais poluidores do meio ambiente. Tem como objetivo principal mostrar a origem e evolução histórica dos problemas que atingem em dois séculos, o ambiente, focando numa visão holística do planeta, bem como correlacionar com aspectos sociais e jurídicos atuais inerentes ao tema. Os objetivos específicos que perpassam a abordagem ora apresentada se constituem de: Avaliar a realidade vivenciada, projetando uma visão de futuro a curto e médio prazos; diagnosticar causas e efeitos de lesões ou danos ambientais existentes; prevenir agravamentos de situações de risco de destruição e/ou degradação do meio ambiente equilibrado; sugerir medidas preventivas e protetivas capazes de resguardar a vida no planeta e propor ações efetivas e interdisciplinares conjugadas e estribadas na legislação vigente, que assegurem o equilíbrio ecológico conciliando com as atividades humanas. Nesse contexto, os componentes antropológico, sociológico, biológico e ecológico, se complementam na sociedade moderna que experimenta transformações radicais e bruscas, em nome do desenvolvimento quase sempre mal planejado e sacrificante do meio ambiente. Como “pano de fundo”, visualiza-se o desejo humano de obter a todo custo, um maior desenvolvimento econômico, escopo do modelo capitalista predominante, que impõe um crescimento econômico contingenciado por riscos de destruição de bens valiosíssimos, como o são os recursos naturais da biosfera, ou seja, a vida do planeta terra, hoje tão ameaçada e lesionada de todos os modos possíveis, pela ação do homem. Diante do crescimento acelerado produzido pela sociedade de consumo, fica comprometido o equilíbrio ambiental e, por via reflexa o bem-estar social, a segurança das comunidades e todas as obras do homem enquanto agente de transformação. Multiplicando-se as situações e condições de risco inerentes ao processo de modernização social, a cada dia mais complexo e sofisticado, em conseqüência da evolução científica e tecnológica acentuada. O meio ambiente equilibrado e autosustentável, nesse viés, depende diretamente de instrumentos e mecanismos preventivos, que assegurem o efetivo controle de riscos de danos ambientais, advindos no bojo da exploração dos recursos naturais do planeta, acentuada pela industrialização exacerbada dos bens de consumo em nome do rápido crescimento econômico das nações, com ênfase, as mais ricas e desenvolvidas. Caminhando-se nessa esteira de raciocínio e deduções que se estribam em fatos reais e metamorfoses de cunho climático, geomorfológico e em prognósticos dantescos e pessimistas de cientistas, vislumbram-se lamentavelmente, maiores e mais graves desastres ecológicos futuros na terra. Se não houver, urgentemente, um esforço conjunto das nações do mundo, com ênfase as mais desenvolvidas economicamente, no sentido de deter o ímpeto ou pelo menos refrear, a tempo, os processos produtivos poluidores e contaminantes dos recursos naturais, no solo, nas águas e na atmosfera, chegaremos ao fim do planeta. Assim sendo, somente com princípios e medidas de precaução, prevenção e reparação de danos, constantes do arcabouço jurídico, dos tratados internacionais celebrados e a celebrar pelas nações desenvolvidas e em desenvolvimento, assim chamadas, poderemos em um horizonte de tempo factível, viável e o mais breve possível,


garantirem proteção e integridade do meio ambiente em que vivemos, em prol de tão decantada qualidade de vida, não só para os seres humanos, mas na visão mais abrangente e globalizada, para todos os seres vivos habitantes da terra. Tomando-se por lição a proteção e perenização das espécies mostradas, com clarividência, na passagem bíblica da “Arca de Noé”, salvando os seres vivos da terra durante o dilúvio que, pelo visto, tende a se repetir com os requintes da modernidade sôfrega de desenvolvimento, há que se proteger o meio ambiente agora e muito mais ainda no porvir, garantindo a vida e o bem-estar aos nossos descendentes. É o mínimo que se pode exigir e esperar da espécie humana, como maior transformadora e poluidora do planeta Terra, devendo, portanto zelar pela autosustentabilidade harmônica com o desenvolvimento planejado. DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL DO SÉCULO XIX AOS DIAS ATUAIS: uma breve retrospectiva Tudo começou no século XIX, com o advento da Revolução Industrial liderada pela Inglaterra, expandindo-se para os demais países da Europa e chegando rapidamente às Américas, dando lugar ao modelo econômico industrializado de máxima produção industrial, nos moldes do Taylorismo, pela busca desenfreada daquilo que Marx definiu como a “Mais Valia tônica do capitalismo selvagem dominante. Assim, durante mais de cem anos, o crescimento econômico norteou as políticas de desenvolvimento das nações mais ricas do mundo, dominantes da economia mundial e, por conseguinte, dos destinos dos demais povos que ficaram a reboque do processo produtivo de bens de consumo, em uma verdadeira guerra entre mercados para produzir e exportar mais e mais em nome do desenvolvimento econômico e do enriquecimento maior e a todo custo das nações que já eram ricas. Nessa explosão de ambições, os recursos naturais da Terra, o equilíbrio ambiental e a vida no planeta, foram esquecidos, relegados a um plano secundário, ante a cegueira do homem movido pelos desejos mórbidos de dominação da economia e da natureza. Esse quadro de destruição suicida arrastou-se por várias gerações, movidas somente pelo desejo de desenvolvimento e de enriquecimento, podendo-se perceber que a desarmonia entre sociedade e a natureza, demonstra que os problemas ambientais enfrentados nos últimos anos decorrem diretamente da exorbitante exploração dos recursos naturais que nos cercam cabendo-nos, no momento histórico em que vivemos, deter o desenvolvimento inconseqüente e irresponsável e, adotarmos uma política séria e continuada de desenvolvimento sustentável, regulado pela premissa básica da preservação, conservação e regeneração da natureza, já que o próprio homem faz parte dela. O problema ecológico agravou-se mais ainda no século XX, a partir dos anos sessenta quando os países ditos desenvolvidos passaram a transferir seus resíduos poluentes para os países do terceiro mundo chamados então de subdesenvolvidos, porque esses últimos eram dependentes economicamente dos primeiros, tornando-se a eles subordinados. Essa realidade perversa perdurou por muitos anos, até que em junho de 2000 foi celebrada a Declaração Tripartite de Princípios sobre Empresas Multinacionais e Política Social da OIT, reafirmando os direitos fundamentais do trabalho e estende uma


série de recomendações importantes para os trabalhadores e ambientes de trabalhos, seguida das Diretrizes para as Empresas Multinacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde 30 países são signatários e baseiam-se em documentos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Representa, portanto, uma iniciativa espontânea e compartilhada das nações partícipes desse documento internacional. A Declaração do Rio e a Agenda 21 da ONU, são os marcos da modernidade no que tange a um futuro comum mundial, contando com 178 Estados representados nas negociações sobre meio ambiente, com 118 Chefes de Estado componentes da “Cúpula da Terra”. Nessa ocasião a “Cúpula da Terra” ou Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, decidiu e discutiu acerca de problemas relevantes de proteção ambiental e desenvolvimento socioeconômico, tendo sido assinadas a Convenção sobre o Clima e a Convenção sobre Biodiversidade, além de endossarem a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Declaração de Princípios sobre Florestas, adotando ainda a Agenda 21, para o desenvolvimento sustentável ao longo do século XXI. ASPECTOS JURÍDICOS E SOCIAIS SUSTENTÁVEL COM QUALIDADE DE VIDA

DO

DESENVOLVIMENTO

A mudança de paradigmas de vida na sociedade moderna, vem ocorrendo muito rapidamente nos últimos cinqüenta anos. O padrão de comportamento social, a evolução científica e tecnológica, a noção do que é permitido ou não fazer-se, os valores morais e de caráter na formação dos indivíduos e outros parâmetros congêneres, demonstram que a tônica do dia a dia no meio social, é obter sucesso, e “se dar bem”, na visão mais materialista egocêntrica e individualista possível. Dessa forma, quase sempre quem pretende empreender, projetar ou produzir algo em proveito próprio ou de um grupo, tendo como finalidade maior obter vantajosidades, lucro etc., não se preocupa muito com as conseqüências e reflexos no meio ambiente. Por isso, a proteção efetiva do meio ambiente exige que se produza e adote instrumentos e mecanismos eficientes e eficazes, para garantir a segurança ambiental de acordo com os novos padrões da sociedade em que vivemos hoje. Nesse viés, os princípios jurídicos da prevenção e da precaução contidos nos ditames legais vigentes, tornam-se indispensáveis à consumação do sagrado dever do Estado, de proteger o meio ambiente, haja vista ser o Estado, o tutor legítimo da sociedade desde as remotas concepções iluministas de Hobbes, Locke, Rousseau e Montesquieu, onde o Estado Tripartite rege a sociedade através dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, os quais se completam nessa missão mantenedora do equilíbrio, da ordem e da paz social, à luz do ordenamento jurídico vigente. Examinando o texto da nossa Carta Maior de 1988, podemos comprovar o cuidado do legislador constituinte com o maior ambiente, explicitado a seguir: “Art. 23 – É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios............................................................................................................... VI – Proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. VII – Preservar as florestas, a fauna e a flora.


Art. 24 – Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: ........................................................................................... VI – Florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII – Proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;” CAPÍTULO VI DO MEIO AMBIENTE “Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (Transcrito “ipsis litteris” do texto constitucional da Constituição Federal do Brasil de 1988).

Há que mencionar-se a existência da legislação infraconstitucional para respaldar o poder de polícia do Estado nos três âmbitos: federal, estadual e municipal ou distrital, instrumentalizando a ação protetora preventiva e reparadora do meio ambiente. A severidade se acentua mais ainda na esfera penal, com a Lei nº 9.605 de 12/02/1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Nesse diploma legal, o legislador acuradamente tipificou os crimes contra o meio ambiente, os crimes contra a fauna, os crimes contra a flora, os crimes de poluição e outros crimes ambientais. Os crimes contra a administração ambiental e infrações administrativas, tornando essa lei um valioso instrumento para o combate a todo e qualquer ato nocivo ao meio ambiente, capaz de lesioná-lo de alguma forma ou pô-lo em risco. Na visão mais ética e civilizada, pressupondo-se que todos os indivíduos de um meio social são dignos dos direitos e deveres implícitos à condição de cidadãos, há que se louvar e estimular a conscientização natural, espontânea, inata ou mesmo adquirida ao longo do processo educacional familiar ou escolar, de que cada um de nós é um instrumento de Deus e de nossos semelhantes, para promover a preservação e conservação do maravilhoso mundo que nos cerca, como dádiva do nosso criador, pois, não bastam somente compilações de leis e códigos positivados até a exaustão, se não houver a mentalização verdadeira dos seres racionais, ditos humanos, para que assumam conscientemente suas missões de garantir a continuidade da vida no planeta terra e mais ainda, que essa vida ofereça amenidades e qualidade saudável iguais ou superiores as que herdamos generosamente de nossos ancestrais. Esse é o desafio maior dos próximos séculos. Na concepção do legislador, os princípios da precaução e da prevenção norteiam os dispositivos legais, haja vista que as agressões ao meio ambiente são tão graves que assumem uma condição de quase irreversibilidade, pela reparação difícil e remota, onde somente ao longo de muito tempo a natureza se regenera ou se auto- restaura como em um condão divino, porém lento e gradual. Por isso, ao lidar-se com o meio ambiente, é preciso uma visão preventiva e precaucional, de tal forma que possibilita, em tempo, evitar a ocorrência do desastre ou da degradação ou a indenização desses danos é de difícil concretização, pelos motivos já expostos.


A GLOBALIZAÇÃO DO PROBLEMA AMBIENTAL: econômico com sustentabilidade, um grande desafio

desenvolvimento

As transformações que o meio ambiente vem sofrendo, ganharam amplitude globalizada, preocupando não só as autoridades, mas, todos os indivíduos que tem consciência das conseqüências negativas refletidas pela queda da qualidade de vida, agravada sobremaneira pelos desastres ambientais muito freqüentes na atualidade em quase todos os pontos do planeta. Assim, o aumento das temperaturas ambientes, provocado pelo efeito estufa, causa desdobramentos gravíssimos tais como: o degelo acentuado das calotas polares, fazendo desaparecer as grandes massas de geleiras, elevando os níveis dos oceanos. As cidades litorâneas são afetadas seriamente com erosões marítimas e inundações costeiras. O desmatamento indiscriminado praticado há décadas, com interesses meramente econômicos exploratórios e inescrupulosos, de madeireiros e outros segmentos capitalistas ligados ao setor primário, plantando soja, pasto para gado etc., causa a destruição florestal conseqüentemente morte da diversidade biológica com extinção de espécies raras, quebra do ciclo biológico e da cadeia alimentar. A poluição dos mananciais de superfícies e lençóis freáticos, rios, lagos e lagoas de água doce, que poderiam abastecer, fartamente, muitos conglomerados urbanos e rurais. A desertificação desenfreada que avança em várias regiões brasileiras, com ênfase no Nordeste, árido por natureza. Vale ressaltar, por oportuno, as premolições do sábio e notável Padre Cícero Romão Batista de Juazeiro do Norte que, na primeira metade do século XX, como um grande ambientalista que foi, além de líder religioso respeitadíssimo, previu com precisão espantosa, todos os desastres ambientais hoje vivenciados pela humanidade. Culminando essa hecatombe generalizada, uma avalanche de resíduos (lixo) industriais, residenciais e de outras espécies, resíduos esses produzidos pelas atividades humanas, vem poluindo e contaminando a superfície da terra, atingindo não só o solo, mas também os recursos hídricos, o subsolo, a biosfera enfim, deixando seqüelas para decênios e até centenas de anos à frente, como uma herança maldita legada às futuras gerações. No contexto globalizado, a crise ambiental se caracteriza de formas distintas, assumindo denominações e conseqüências diferenciadas, caso a caso, tipologicamente como em um quadro geral de classificação, considerando as lesões ou danos gerados. Por exemplo: • • • • • • •

Crise ambiental localizada; Crise ambiental global; Crise ambiental acelerada e crescente; Crise ambiental irreversível; Crise ambiental ameaçadora; Crise ambiental reforçadora das desigualdades; Crise ambiental causadora de impactos socioculturais. A crise ambiental localizada é toda aquela que atinge uma microrregião urbana ou rural, quer em um só estado ou província, quer em um ponto de um continente, porém, seus efeitos e danos assumem proporções localizadas ou mais ou menos contidas em limites de coordenadas bem definidas geograficamente, não se estendendo a outros locais. A crise ambiental global tem proporções globalizadas, pois, atinge todos os grandes ecossistemas ganhando amplitudes em toda a massa viva (biosfera), que reveste


e envolve o planeta terra. Os efeitos e conseqüências funestos desse tipo de crise ambiental, não são somente momentâneos, mas perduram por um lapso temporal muito maior do que se possa imaginar, perpassando por várias gerações. É o caso, por exemplo, do efeito estufa produzindo o superaquecimento da terra e um sem número de danos, degradações, catástrofes que mais e mais se acentuam com o passar do tempo. A crise ambiental acelerada e crescente em seus efeitos danosos, data do século XIX, com o advento da revolução industrial ocorrida na Europa e capitaneada pela Inglaterra, estendendo-se por todo o século XX. Essa crise ambiental acelerou-se mais ainda no período da segunda guerra mundial, com a indústria bélica de armamentos convencionais, culminando com a produção das ogivas nucleares lançadas contra o Japão, cujos danos à natureza e às vidas humanas de civis inocentes, assumiram proporções inimagináveis, acelerando-se vertiginosamente no pós-guerra, com os planos de reconstrução das cidades destruídas pela guerra bem como economias abaladas e estagnadas. Com a aceleração da produção visando alcançar o “Welfare State” em todas as nações do mundo, a intensidade dos níveis de poluição atmosférica e contaminação do solo, das águas etc., experimentou incrementos elevados que, em mais de meio século degradaram o planeta, destruindo florestas e recursos hídricos, produzindo desertificação de áreas outrora verdes, comprometendo os mananciais de abastecimento e extinção de um grande número de espécies da flora e da fauna, destruindo cadeias alimentares e reservas naturais irrecuperáveis por muitas gerações seguintes. A crise dita irreversível, tem lugar quando ecossistemas são saturados por cargas poluentes demasiadas, a ponto de causar degradação irreversível do meio ambiente com perdas irreparáveis, desaparecendo praticamente a capacidade de absorção ou de digestão do meio sólido, líquido ou gasoso, em relação a essa carga poluidora, lesionando de forma irreversível o meio ambiente. A crise chamada de ameaçadora, embora pareça redundância nominá-la dessa forma já que toda crise é ameaçadora, tem como características a destruição quase completa do ambiente com grande mortandade de animais e vegetais de muitas espécies, especialmente enfocando-se perdas de vidas humanas em larga escala, alcançando amplitudes incomuns e de grande vulto. Tais catástrofes atômicas como de Chernobyl; Three Miles Island; Bhopal, e agora, recentemente, no Japão, onde além de abalos sísmicos intensos que provocam maremotos, tsunamis, destruíram vários reatores nucleares da usina nuclear japonesa de Fukushima, resultando em vazamentos de radiações nucleares de plutônio, e iodo radioattivo, comprometendo e contaminando solo, águas e atmosfera, com efeitos danosos a longo prazo. Nesses casos, o ambiente atingido, fica inóspito por tempo indeterminado, ameaçando toda espécie de vida com radiações mortais, desencadeando processos mórbidos crônico degenerativos, levando à morte rapidamente. Também os seres vivos integrantes da cadeia alimentar, natural são mortos pelas radiações muito acima dos níveis toleráveis à vida e ficam contaminados, passando a contaminar outros seres vivos predadores (saprófitas) os quais se alimentam desses primeiros, comprometendo toda a cadeia alimentar. É o caso japonês, que mencionamos como ocorrência mais recente de desastre nuclear, onde as radiações vazam em um raio de ação superior a cinqüenta quilômetros, com níveis elevadíssimos, atingindo até dez mil vezes o limite tolerável e, ainda mais, contaminando águas doces e salgadas de rios, lagos e oceanos. As ameaças de destruição da vida ganham proporções internacionais incalculáveis e tão funestas, que lesionam as gerações presentes e futuras pela morbimortalidade quase certa e inevitável. A crise ambiental reforçadora das desigualdades sociais e de povos de diferentes nações, enfatizam os casos de poluição multinacional, conseqüente de lixo tóxico,


químico, biológicos, industrial, urbano etc., lançado aleatoriamente “in natura” e na maioria das vezes sem tratamento adequado para minorar seus efeitos deletérios. Esses resíduos sólidos, líquidos e gasosos se espraiam, ultrapassando fronteiras territoriais de várias nações do mundo ou são levados e dispostos em territórios quase sempre de nações mais pobres, como as do “terceiro mundo”, ironicamente assim, chamado em um processo de descarte ou expurgo dos resíduos indesejáveis aos povos mais ricos que procuram se livrar desses resíduos poluentes. A crise ambiental causadora de impactos socioculturais e socioambientais de grandes proporções, como as catastróficas inundações e secas, tem como peculiaridade a degradação ambiental direcionada mais fortemente todas as camadas sociais, porém, as camadas da população mais pobre ou hipossuficientes da sociedade, quer urbanas, quer rurais, favelados, “sem terra”, “sem teto”, os quais invadem áreas inadequadas para habitar, tais como: lixeiros a céu aberto, áreas ribeirinhas sustentáveis de enchentes, barreiras e encostas de morros sustentáveis de deslizamentos ou desmoronamentos, deixando dezenas ou até milhares de desabrigados, além dos mortos por afogamento, esmagamento ou soterramento, formando-se estados de calamidade pública. Essas situações surgem quase sempre como conseqüências de políticas ambientais errôneas, sacrificantes da biodiversidade, da sóciodiversidade, e atingem mais os chamados de “excluídos” ou “marginalizados” da sociedade capitalista massacrante. Nesse rol de desvalidos incluem-se os indígenas desassistidos (silvícolas não aculturados); os despossuídos; os refugiados; os imigrantes abandonados; os desempregados; os dependentes químicos (drogados); os moradores de rua; os abandonados pelas famílias; os dementes desassistidos; os “meninos de rua” etc., quase sempre desamparados e desvalidos. Esses casos se acentuam gradualmente a cada ano, tomando vulto maior ainda graças à política neoliberal perversa e com a extinção das instituições filantrópicas governamentais, a pretexto de acabar com o paternalismo e maternalismo institucionalizados, restando somente as ONG’s e os espíritos caritativos das populações mais fraternais e religiosas, que socorrem os desafortunados e mais sofridos pelos revezes da vida, os quais são ignorados pelo materialismo exacerbado do sistema capitalista dominante. Essa é a crise social, talvez mais comum e freqüente da atualidade, em face das políticas públicas negativas que geram injustiças sociais acentuadas, e negam a qualidade de vida, tão apregoada e desejada. A RECICLAGEM DE RESÍDUOS COMO ALTERNATIVA DE SANEAMENTO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE Ao longo de três séculos os resíduos produzidos pela atividade humana ganharam diversificação, volume, peso e nocividade além do previsível. A superpopulação mundial da ordem 7 bilhões de almas agravou o problema dos resíduos atingindo a escala de seiscentos a um mil quilos por habitante ano, de resíduos produzidos pelas atividades humanas de toda ordem, com ênfase as industrializadas, que envolvem substâncias biodegradáveis e não-biodegradáveis, conforme as intensidades dessa produção, tornando-se maiores e mais nocivos ou menores, à proporção que nos aproximamos dos grandes centros industrializados. Nesse viés,vivenciamos uma situação caótica em que aproximadamente 88% dos municípios brasileiros dispõem os resíduos sólidos a céu aberto e in natura, em “lixões”


ou em aterros controlados, gerando impactos sociais, visuais e ambientais, com degradação do ambiente, da qualidade de vida e das condições sanitariais desejáveis para possibilitar saúde às populações. Como solução viável do problema, a reciclagem e tratamento de resíduos sólidos domiciliares constitui alternativa econômica e fácil de executar, sendo mais interessante e rápido, com efeitos imediatos em benefício da população e do meio ambiente urbano ou rural com sensíveis vantagens tais como: preservação dos recursos naturais renováveis ou não renováveis, economia de energia, geração de emprego e renda, minorando graves problemas sociais; reaproveitamento de matérias primas tais como polímeros, metais e outros; conscientização da população para as obrigações de preservar o meio ambiente, a qualidade de vida e a cidadania. Para consecução da reciclagem de resíduos, precisa-se viabilizar a formação de cooperativas de catadores/recicladores em todas as capitais dos Estados brasileiros e também nas cidades principais e mais populosas, bem como construir, instalar e equipar usinas de reciclagem e compostagem, operando harmonicamente com o sistema de limpeza urbana de cada cidade assegurando a coleta seletiva de resíduos, com ênfase os mais perigosos e nocivos à saúde humana e contaminação ambiental, tais como: Resíduos industriais, resíduos de serviços de saúde, resíduos de laboratórios, resíduos da construção civil etc. Como vemos, essa é a melhor solução para substituirmos os lixões a céu aberto, que representam atualmente o destino final dos resíduos de mais de 50% dos municípios brasileiros, sujeitos a elevados índices de prevalência de patologias graves, como: leptospiroses, leishmanioses, cólera, salmoneloses, tifo, disenterias, verminoses, viroses, além de outras sem diagnóstico definido, produzindo males e danos de toda ordem. Os criatórios de vetores, como ratos, baratas, moscas, mosquitos, pulgas, aranhas, escorpiões etc., também infestam as cidades, incrementando as taxas já elevadas de morbimortalidade. Portanto, os lixões podem e devem ser transformados em centros de tratamento, como podemos mencionar o de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro, com a Central de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçú, em parceria com o Centro de Tecnologia, Ambiental da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, cujo modelo deve ser seguido e adotado em todos os Estados, como solução de curto e médio prazos, para solucionar o problema dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. Ou seja, o modelo citado funciona bem e tem viabilidade econômica, devendo ser disseminado e aplicado em larga escala, contemplando as capitais e principais cidades brasileiras CONCLUSÃO A sociedade industrializada atual, consumista e capitalista por vocação, responde pela crise ambiental em que vivemos, onde se torna mais e mais acentuada à proporção em que se desenvolveram os modelos industriais sofisticados, trazendo em seu bojo novos riscos ao ambiente e à vida no planeta Terra. É imprescindível a adoção de modelos de gestão compatíveis com o grau de risco vivenciado na atualidade, fruto do consumismo exacerbado e da industrialização exagerada e agressiva, movida pela ambição desmedida do homem, enquanto agente principal nesse cenário social, político, ambiental, econômico e cultural, sem racionalidade e sem equilíbrio, confirmando a velha máxima do “Homo Lupus Homo”, (o Homem é o Lobo do Homem), tornando-o seu próprio algoz, ao destruir-se e a seus semelhantes, em nome do poder e da riqueza material efêmera e ilusória.


Os preceitos constitucionais soberanos e vigentes, desde 1988, no Brasil respaldam o dever de todos, de evitar e combater qualquer risco ou possibilidade de dano ambiental em defesa de vida no Planeta, garantindo a sustentabilidade ambiental em prol das gerações atuais e vindouras, preservando o maior legado recebido de nossos ancestrais, cuja origem é obra de Deus: o mundo em que vivemos. Assim sendo, não é mais concebível ou aceitável qualquer procedimento potencialmente danoso à biosfera e demais camadas envoltórias do nosso planeta, sob pena de condenarmos à morte nossos descendentes e os demais seres vivos existentes. Há que se preservar a incolumidade do ciclo hidrológico e das cadeias alimentares, incrementando as políticas públicas de preservação e conservação ambientais em todos os níveis, na defesa do solo, atmosfera e recursos hídricos, sem esquecermos de extinguir por completo o desmatamento, a emissão de gases poluentes e a disposição de efluentes em mananciais hídricos. Conclui-se, portanto, que urge sanear efetivamente o meio ambiente fazendo-se a adequação de soluções caso a caso, com determinação política e seriedade no trato de tão valioso e vital patrimônio, que transcende as barreiras naturais do tempo e do espaço, perpetuando-se pela eternidade. ENVIRONMENT AND GROWTH AUTOSUSTENTÁVEL: a legal and social historical approach for the global development with quality of life and citizenship. ABSTRACT This work focuses on the preservation of the environment as a basic premise to succeed in selfsustaining growth, with overall development of nations, ensuring the continuity of life on the planet and the conservation of fauna and flora. Addresses the environmental issue, passing through historical review from the beginning of the industrialization of the nineteenth century to the present. Demonstrates the process of environmental degradation occurred over almost two centuries and suggests a series of feasible measures with the goal of halting and reversing such destruction. It is focused legal and social aspects of the problem, based on the Diploma of the 1988 Constitution, in force in Brazil, and specifies the federal legislation. Keywords: Conservation. The environment. Self-sustaining growth. Global Development. Quality of life.

REFERÊNCIAS AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento. Brasília: Senado Federal, 2001. ARRUDA JÚNIOR, Edmundo Lima de. Direito e século XXI: conflito e ordem na onda neoliberal pós-moderna. Rio de Janeiro: Luam, 1997. BECK, Ulrich. La sociedade Del riesgo: hacia uma nueva modernidad. Tradução Jorge Navarro, Daniel Jimenez e Maria Resa Borrás. Barcelona: Paidós, 1998. CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1997. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988. GORE, Al. Na inconvenient truth: the planetary emergency of global warming and What we can do about it. New York: Rodale, 2006.


LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. ESCOBAR, A. La invención Del Tercer Mundo: construcción y desconstrucción Del desarrollo. Bogotá: Norma, 1996. O’CONNOR, J. Causas naturales: ensayos de Marxismo ecológico. México: Siglo Veintiurno, 2001. VARELA, F. El Fenomeno Vida. Santiago de Chile: Dolmen – Océano, Santiago de Chile, 2001. VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac of Naify, 2002.


CICLO DE ESTUDOS/DEBATES A CIDADE DO MARANHÃO: UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS

DAS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE OCUPAÇÃO ATÉ A CONSOLIDAÇÃO DA CONQUISTA DA TERRA – CRONOLOGIA SEGUNDO PERÍODO – 1580 A 1640 – UNIÃO IBÉRICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM - Cadeira 40 DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CEM “LICEU MARANHENSE”

Rotas comerciais portuguesas de Lisboa a Nagasaki entre 1580-1640 (azul). E a rota comercial espanhola estabelecida em 1565, o chamado galeão de Manila (branco) http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs

1580-1640 Dinastia Filipina em Portugal (período da chamada "União Ibérica") 127

Territórios da Casa de Habsburg ao tempo de Filipe II http://www.culturabrasil.org/holanda.htm 127 Ver também http://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_de_sucess%C3%A3o_de_1580


A DINASTIA FILIPINA ou Dinastia de Habsburgo (igualmente conhecida por Terceira Dinastia, Dinastia dos Áustrias ou Dinastia de Espanha) foi a dinastia real que reinou em Portugal durante o período de união pessoal entre este país e a Espanha, isto é, em que o Rei de Espanha era simultaneamente o Rei de Portugal. Os três reis da dinastia filipina pertenciam à Casa de Habsburgo e governaram em Portugal entre 1580 e 1 de Dezembro de 1640. Foram: Filipe I de Portugal e II de Espanha r. 1580-1598; Filipe II de Portugal e III de Espanha r. 1598-1621; Filipe III de Portugal e IV de Espanha r. 1621-1630. A dinastia filipina subiu ao trono português na crise sucessória de 1580, aberta com o desaparecimento de Sebastião de Portugal na batalha de AlcácerQuibir sem descendentes, e com a derrota do legítimo sucessor, o seu tio-avô o Cardeal-Rei D. Henrique, igualmente sem descendência quando morreu. http://pt.wikipedia.org/wiki/Dinastia_Filipina

1570-72 Ao descrever as migrações dos Tupinambá128, Caeté e Potiguar do litoral de Pernambuco e da Bahia para o Maranhão, Fernandes (1989), argumenta que ao fugirem dos portugueses que ocupavam estas regiões, estes grupos se aliaram e no trajeto percorrido a partir de 1570-72, ocuparam diversas áreas do interior e litoral “A composição dessas migrações é perceptível na distribuição dos emigrantes nas terras do Maranhão e do Pará, conquistadas aos Tapuias, seus antigos senhores. Os Tupinambá abandonaram a zona do Ibiapaba, e localizaram-se na Ilha do Maranhão. Os Potiguar continuaram a viver ali. Em virtude do rompimento dos laços de solidariedade, os dois grupos tribais tornaram-se inimigos designando-se reciprocamente como Tabajara.” (1989, p. 43, grifos nossos). Em virtude disso, os grupos que se fixaram na serra da Ibiapaba ficaram conhecidos nos registros históricos como Tabajara. Nesta região, viviam ainda inúmeros grupos tapuias, tais como Tacarijú, Quitaiaiú, Ocongá, Caratiú, Reriiú (Areriú), Acriú, Anacé, Aconguassu (Acoanssu), que eram de certa foram subordinados aos Tabajara. Ainda no século XVII, após as invasões holandesas, centenas de índios Potiguara da Paraíba e Pernambuco, convertidos ao calvinismo, buscaram refúgio na Ibiapaba, até então, uma área livre do controle português. No século XVIII quando os padres jesuítas conseguem finalmente instalar uma missão na serra da Ibiapaba esta vai ser composta por uma variedade de etnias indígenas, muitas vezes citadas na documentação como Tabajara (Cf. Barros, 2001). Essa população aldeada vai sendo incorporada ao projeto colonial paulatinamente, destacando-se a sua utilização como mão-de-obra agrícola e fornecimento de tropas para combater índios rebeldes e invasões estrangeiras. A associação entre o etnônimo Tabajara e as populações nativas da serra da Ibiapaba vai se costurando nesse processo, de modo que, nos séculos seguintes serão tratados em muitos textos quase como sinônimos. Com a elevação das aldeias missionárias à categoria de vilas de índios a partir de 1759, registram-se na capitania do Ceará uma grande dispersão dos índios aldeados, em virtude das novas condições de trabalho, ditadas pelos diretores civis que substituíam os padres (Porto Alegre, 1992, p. 203-208). Na Ibiapaba, as aldeias missionárias constituirão as vilas de Viçosa, São Benedito e Ibiapina, que serão registradas como lugares habitados por índios até o século seguinte (Porto Alegre, 1992; 2004). http://pt.wikipedia.org/wiki/Tabajara_(Cear%C3%A1)

1576 Catarina de Médicis129 confia a seu primo Filipe Strozzi130 a organização de missões ao Brasil, que seriam dirigidas por Jean de Coquigny e Jacques Dês Vaux 128

CUNHA, Manuela Carneiro da. (org.) História dos índios no Brasil, 2ª ed., São Paulo: Cia. Das Letras/ Secretaria Municipal de Cultura/FAPESP, 1998 OLIVEIRA, João Pacheco de (org.). A viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: Contracapa. 1999. DANTAS, Beatriz Gois (Orgs.). Documentos para a história indígena no nordeste : Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe. São Paulo : USP-NHII/FAPESP, 1994. PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Aldeias indígenas e povoamento no Nordeste no final do século XVIII : aspectos demográficos da "cultura do contato". (Trabalho apresentado no GT "História Indígena e do Indigenismo", no XVI Encontro Anual da ANPOCS, Caxambú-MG, 1992) 129 CATERINA MARIA ROMOLA DI MEDICI (13 de abril de 1519 - 5 de janeiro de 1589) foi rainha consorte francesa de origem italiana.


131 (MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. OS FRANCESES NO MARANHÃO – La Ravardiére e a França Equinocial (1612-1615). São Luis: Geia, 2011) 132.

(Jacques de Vau de Claye)

Os portos franceses na Normandia, especialmente o de Rouen e Dieppe, onde no século XVI estava estabelecida uma indústria têxtil florescente que se tornava a principal atividade econômica que competia com Portugal pelo mercado brasileiro. Atentos à presença de vastas florestas com "Pau Brasil" (usado no tingimento de tecidos) no litoral brasileiro, os franceses logo estabeleceram relações comerciais com os indígenas. A primeira viagem data de 1503-1504, quando a embarcação "Espoir" chegou às costas brasileiras. Após este primeiro contato, multiplicaram-se as expedições. Em 1531, dois navios franceses e 120 homens sob o comando de Jean Dupéret, aportaram nas costas brasileiras. Na ilha de Santo Aleixo (próximo de Recife), chamada pelos franceses de "Ile Saint-Alexis", eles construíram um forte e uma feitoria comercial. Esta feitoria francesa teve vida breve. Os portugueses capturaram os navios franceses na sua viagem de volta à Europa e em dezembro de 1531 sitiaram o forte francês até a rendição. Os franceses fizeram três outras tentativas para se estabelecerem no Brasil. A primeira delas foi no Rio de Janeiro (15551560), a segunda em Ibiapaba-Ceará (1590-1604), e a terceira em São Luís do Maranhão (16121615). http://www.colonialvoyage.com/pt/america/brasil/franceses.html 133

1579/1583 Brasil objeto de discussões entre o Prior do Crato134 e Catarina. A rainhamãe francesa decidiu apoiar o Prior do Crato, neto de D. Manuel, outro candidato http://pt.wikipedia.org/wiki/Catarina_de_M%C3%A9dicis FILIPPO STROZZI (Florença, 1541 — no mar, frente a Vila Franca do Campo, 27 de Julho de 1582), também referido por Philippe Strozzi ou Filipe Strozzi, nobre florentino, da poderosa família Strozzi, que ao serviço de França foi senhor de Epernay e de Bressuire e coronel general do exército francês. Comandou as forças franco-portuguesas na batalha naval de Vila Franca do Campo, onde perdeu a vida. Era grande amigo do escritor Pierre de Bourdeille, senhor de Brantôme (1540-1614), que o acompanhou na expedição aos Açores. http://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_Strozzi 131 JACQUES DE VAU DE CLAYE (nascido no século XVI) foi um cartógrafo do Renascimento. Trabalhou em Dieppe, na França. Pouco se sabe acerca deste cartógrafo além da época em que viveu e de duas de suas obras, inscritas nos denominados "Mapas de Dieppe". http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_de_Vau_de_Claye . Paris, BNF, Cartes et Plans, Rés. Ge D 13871. 45 X 59 cm. Délimitant par un demi-cercle le territoire de "10 000 saulvages pour fere la guerre aux Portugais", ce portulan pourrait être le plan de campagne d'une expédition confiée en 1581 par Catherine de Médicis à son cousin Philippe Strozzi pour conquérir toute la côte brésilienne comprise entre l'Amazone et le rio de São Francisco (Bahia). Arrêtée aux Açores par une flotte espagnole, l'expédition fut détruite. Cette carte préparatoire nous offre l'inventaire des ressources naturelles (or, ambre gris, bois de brésil, sucre et coton), des espèces animales (singes, oiseaux) et des tribus indiennes - ainsi les amazones sont-elles situées près du Marañon - d'un pays qui fut convoité pour ses richesses autant réelles qu'imaginaires. http://expositions.bnf.fr/utopie/grand/2_31.htm 132 MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. OS FRANCESES NO MARANHÃO – La Ravardiére e a França Equinocial (1612-1615). São Luis: Geia, 2011 133 ROMERINI, Marco. OS FRANCESES NO BRASIL: SAINT-ALEXIS, RIO DE JANEIRO, IPIAPABA E SÃO LUÍS DO MARANHÃO. http://www.colonialvoyage.com/pt/america/brasil/franceses.html 134 D. ANTÓNIO DE PORTUGAL (Lisboa, 1531 – Paris, 26 de Agosto de 1595), mais conhecido pelo cognome de o Prior do Crato (e, mais raramente, como o Determinado, o Lutador ou o Independentista, pela ênfase posta no recobro da independência de Portugal), foi filho do Infante D. Luís e neto de D. Manuel I, pretendente ao trono durante a crise sucessória de 1580 e, segundo alguns historiadores, rei de Portugal (durante um breve espaço de tempo em 1580, no continente, e desde então, até 1583, reconhecido como rei nos Açores). Não consta geralmente na lista de reis de Portugal, contudo há quem considere que seria historicamente correto incluí-lo nela, pois não só foi aclamado rei como teria reinado de fato, durante um curto período. Porém a maioria da historiografia, tanto em Portugal como a nível internacional, continua a caracterizá-lo apenas como um dos pretendentes ao trono em 1580, e assim, no ensino português, não lhe é atribuída a ordem de décimo-oitavo rei de Portugal. 130


ao trono português, em detrimento de Felipe II, então Felipe I de Portugal. O contrato era claro: o Prior ficaria com Portugal e a França com o norte do Brasil. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011).

1579 Jacques de Vaux de Clayes, sob ordem de Strozzi, investigou a costa brasileira e elaborou mapas que completavam aqueles de Desliens135, Desceliers136 e Le Testu137. A missão de dês Vaux de Clayes foi assim definida: “Nesse recinto de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_de_Portugal,_Prior_do_Crato 135 NICOLAS DESLIENS (nascido no século XVI) foi um cartógrafo francês do Renascimento. Trabalhou em Dieppe, na França. Pouco se sabe acerca de sua biografia além da época em que viveu e de algumas de suas obras, inscritas nos denominados "Mapas de Dieppe". http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicholas_Desliens 136 PIERRE DESCELIERS (~1500 — ~1558) foi um cartógrafo francês do Renascimento. É considerado como o "pai" da hidrografia francesa. Pouco se conhece acerca da sua vida. Acredita-se que tenha nascido em Arques-la-Bataille por volta de 1500. Entretanto, outras fontes apontam a data de 1483, o que parece pouco provável, haja vista a data da criação dos seus mapas. O seu pai era um arqueiro no Castelo de Arques e é possível que a família seja oriunda do país do Auge, onde o seu nome sobrevive entre Honfleur e Pont-l'Évêque. Sabe-se que Desceliers foi ordenado padre, e residiu em Arques. Foi ainda examinador dos pilotos marítimos, autorizado a outorgar as licenças em nome do soberano, como o testemunha um selo descoberto, com as suas iniciais. Lecionava também, acredita-se, hidrografia. Confeccionou para o duque de Guise uma carta hidrográfica das costas da França. Era próximo de Jean Ango e do círculo dos exploradores de Dieppe - entre os quais Giovanni da Verrazano e os irmãos Parmentier -, aparente não realizou viagens próprias de exploração. Encontrava-se, entretanto, em posição de coletar um sem-número de informações e de portulanos, os quais compilou em suas cartas. Uma fecunda escola de cartografia formou-se, desse modo, ao seu redor, notadamente Nicolas Desliens. Acredita-se que Desceliers faleceu em Dieppe por volta de 1558. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Desceliers 137 GUILLAUME LE TESTU (Le Havre, Normandia, c. 1509 – Panamá, 31 de Março de 1573) foi um navegador, cartógrafo e corsário francês do Renascimento. Fez os seus estudos de navegação no porto de Dieppe, vindo a tornar-se piloto de uma embarcação durante uma viagem de exploração francesa à costa do Brasil em 1551, na qual veio o cosmógrafo franciscano André Thevet. Na ocasião reconheceu a costa do Brasil desde a latitude de 26º sul até à altura da actual São Francisco do Sul, então denominada "Porto Novo dos Franceses". Conduziu ao Brasil, em seguida, a expedição de Nicolas Durand de Villegagnon, que fundou uma colónia francesa na baía de Guanabara em 1555. Em abril de 1556 retornou a Le Havre com uma carta de Villegagnon requisitando mais colonos. Nesse ano foi indicado como Piloto Real, e presentou o rei Henrique II de França com um atlas composto por cinquenta e seis cartas, dedicado ao almirante Gaspard de Coligny. Acredita-se que retornou com os três navios de reforços enviados à França Antártica por aquele almirante em Novembro de 1556, embora o seu nome não seja referido pelo pastor hugenote Jean de Léry ("Histoire d'un voyage fait en la Terre du Brésil, autrement dite Amérique, en 1557"). Le Testu retornou à França em fins de 1559, provavelmente conduzindo o próprio Villegagnon. Partiu em seguida para a costa da África e para a América do Norte, sem que se saiba ao certo se essa foi uma viagem para o comércio triangular de escravos, atividade econômica que começava a ganhar força, à época. As observações feitas nesse período, assim como as que obteve de outros navegadores, levaram-no, em 1566, a redesenhar um planisfério que apresenta importantes progressos sobre os seus portulanos de dez anos antes, notadamente no que concerne ao continente austral, a propósito do qual rejeitou várias das legendas anteriores. Com a sua nova carta concluída, Le Testu saiu a combater, a partir de 1567 pelos Huguenotes durante as Guerras de religião. Em 1568, foi capturado no mar pelos católicos espanhóis, permanecendo encarcerado até 1572 em Middelbourg, na Flandres. Um florentino estabelecido na França, como Giovanni da Verrazano, Filippo Strozzi advogou a sua causa junto a Catarina de Médici. Em Junho de 1571, Carlos IX de França escreveu a seu primo, Filipe II da Espanha, pedindo a libertação do navegador francês, o que finalmente foi obtido, conforme demonstra um informe do secretário do duque de Alba, datado de 30 de Janeiro de 1572. Strozzi conhecia bem a experiência e as habilidades de Le Testu, e, à época, planejava uma grande expedição às Índias Ocidentais (informações espanholas coevas confirmam esse projeto francês), para onde enviou Le Testu em missão de reconhecimento. Para esse fim, Le Testu recebeu o comando de uma nau de guerra francesa de oitenta toneladas, tripulada por setenta homens. Dirigindo-se à região do Caribe encontrou Sir Francis Drake na Primavera seguinte (Abril de 1573) ao largo do Panamá. Le Testu é o


uma meia circunferência que vai do cabo Inglês, junto a Pernambuco, até o rio da Cruz, alistei dez mil selvagens para combater os portugueses”. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011)

Globo terrestre (Jacques de Vau de Claye, 1583). http://pt.wikipedia.org/wiki/Mapas_de_Dieppe Mapas de Dieppe - uma série de mapa-múndi produzidos na cidade de Dieppe, na França, nas décadas de 1540, 1550 e 1560. São mapas de grandes dimensões, manuscritos, elaborados para grandes senhores e patronos reais, entre os quais Henrique II de França e Henrique VIII de Inglaterra. A escola de cartografia de Dieppe compreende nomes como os de Guillaume Le Testu, Jacques de Vau de Claye, Johne Rotz, Nicholas Desliens e Pierre Desceliers. Ao longo do século XVI, o apoio à expansão marítima no reino começou a registrar acentuado declínio, em função da guerra contra o Imperador Carlos V. Os problemas internos que se avolumam na França em função da Reforma Protestante, colocaram frente a frente os partidários da Liga Católica e os huguenotes, mergulhando o país numa sangrenta guerra religiosa (15611598). Os conflitos consumiram a maior parte dos recursos públicos e privados, sustando o próspero desenvolvimento náutico vivido até então. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mapas_de_Dieppe

Os portugueses canhonearam quatro naus normandas na Paraíba, quatro de La Rochelle em Pernambuco, quatro outras no Rio; um forte construído na Paraíba também foi destruído. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011) 1581 Martim Afonso de Sousa ordena a Diogo Lopes a exploração do Maranhão 1582 Vau de Claye (Jacques de Vau de Claye) esteve no Amazonas (MEIRELES,

Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

1584 Vau de Claye (Jacques de Vau de Claye) volta ao Amazonas acompanhando Jean de Coquigny, embarcado em navio de Guillaume de Héricy de Potpierre (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

autor de um atlas-portulano com cinquenta e seis mapas (Cosmographie Universelle selon les navigateurs, tant anciens que modernes, 1555–1556), integrante dos denominados "Mapas de Dieppe". Neste atlas, baseado numa coleção de cartas portuguesas, espanholas e francesas atribuída ao almirante Gaspard de Coligny (a quem a obra é dedicada), incluiu um continente austral referindo: "não imaginário embora ninguém o tenha encontrado". Esses mapas apresentam grande variação em sua precisão e encontram-se ilustrados com habitantes, animais e plantas, muitos dos quais imaginários. http://pt.wikipedia.org/wiki/Guillaume_Le_Testu (grifos nosso).


- a Liga dos Católicos, partido extremista de Henri de Guise abandona o Brasil a Felipe II de Espanha. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011) Os GUISE foram, na França, uma poderosa família ducal católica com muita influência ao longo do século XVI. Tiveram grande influência na formação da Liga Católica (conhecida como Santa Liga) e tiveram participação direta em várias Guerras de Religião, sobretudo ao influenciar o rei Carlos IX e Catarina de Médicis para o massacre da noite de São Bartolomeu. A Casa dos Guises foi fundada como um ramo colateral da Casa de Lorena por Claude I de Lorena (1496-1550), que recebeu o título de duque de Guise pelas mãos de Francisco I de França. A filha de Claude, Maria de Guise (1515-1560), casou-se com o rei Jaime V da Escócia e foi mãe da rainha Maria Stuart. A linha principal da casa se extinguiu em 1688, mas persistiu em ramificações, atualmente, assim como pelos monarcas ingleses, descendentes da Casa de Stuart. Os Guise também foram, na França, uma família tradicionalmente católica, a quando HENRI GUISE quis acabar com o Calvinismo na França. Seu assassinato causou ataques católicos sobre os huguenotes franceses e sua cultura. http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_Guise

1587 Noticia do Brasil ou Tratado Descritivo do Brasil é uma das obras capitais do século XVI sobre o Brasil, escrita por Gabriel Soares de Sousa138. Ou ainda: Descrição verdadeira de todo o Estado pertencente à Coroa de Portugal, da fertilidade dessa província, de todas as aves, animais, peixes, bichos, plantas, que nelas há, e dos costumes dos seus naturais.". Relaciona os locais do litoral do Rio Grande do Norte à época frequentados pelos franceses, sendo o principal porto o rio Potengi, onde também se detinham navios ingleses. Naquele ancoradouro se procediam aos reparos necessários nas embarcações e obtinham-se provisões frescas ("refrescos"). De acordo com Frei Vicente do Salvador, no Rio Grande os "franceses iam comerciar com os potiguares, e dali saíam também a roubar os navios que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas mas as pessoas, e vendendo-as aos gentios para que as comessem"139. O topônimo "Refoles" (outrora "nau de Refoles"), coincidente com o trecho do Potengi onde atualmente se ergue a Base Naval de Natal, recorda a presença na região, do francês Jacques Riffault. http://pt.wikipedia.org/wiki/Not%C3%ADcia_do_Brasil; http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil

1590-1604 sob o comando de Adolf Montbille (o "corsário Mambille" para os colonizadores portugueses), uma expedição francesa se estabeleceu em Ibiapaba140 (Viçosa-Ceará)141, onde os franceses fundaram uma feitoria e um forte ("Fort 138 GABRIEL SOARES DE SOUSA (Portugal, década de 1540 — Bahia, 1591) foi um agricultor e empresário português, e um estudioso e historiador do Brasil. Foi para o Brasil entre os anos de 1565 e 1569. Na Bahia estabeleceu-se como colono agrícola. Ali casou e prosperou a ponto de nos 17 anos de estada se fazer senhor de um engenho de açúcar, e abastado, como do seu testamento se depreende. Ganhando com a fortuna posição, foi dos homens bons da terra e vereador da Câmara de Salvador. Faleceu no final de 1591, perto das cabeceiras do rio Paraguaçu. http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Soares_de_Sousa 139 http://pt.wikipedia.org/wiki/Not%C3%ADcia_do_Brasil 140 A Serra da Ibiapaba, também conhecida como Serra Grande, Chapada da Ipiabapa e Costa da Ibiapaba, é uma região montanhosa que se localiza nas divisas dos estados do Ceará e Piauí. Uma região atraente em riquezas naturais que já era habitada por diversas etnias indígenas. Os povos que viviam já negociavam diversos produtos naturais com povos europeus, tais como os franceses, antes mesmos da chegada dos portugueses. A cidade mais antiga da serra é Viçosa do Ceará, que foi colonizada pelos jesuítas da Companhia de Jesus no século XVIII. http://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_da_Ibiapaba 141 Viçosa do Ceará é o primeiro município criado na Serra da Ibiapaba, inicialmente habitada por índios Tabajaras pertencentes ao ramo Tupi, anacé, arariú e croatá do ramo Tapuia. Viçosa foi antiga


Saint Alexis"), e comercializavam "pau brasil" com os índios Tabajaras142 que habitavam o núcleo comercial francês. Os franceses viveram em paz com os indígenas por 14 anos, mas em 1604 uma expedição portuguesa chefiada por Pero Coelho atacou a colônia e após uma batalha violenta, forçaram os franceses a se renderem. http://pt.wikipedia.org/wiki/Feitoria_da_Ibiapaba 1591 Gabriel Soares de Sousa115 (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

1594 Jacques Riffault estabelece em Upaon-açu (ilha de São Luís) uma feitoria, deixando-a a cargo de seu compatriota Charles dês Vaux, que havia conquistado a amizade dos silvícolas, e tinha inclusive o domínio da língua nativa (para WEHLING e WEHLING, 1994, p. 75, teria sido em 1584); Capistrano de Abreu in SALVADOR, 2010, p. 254 servindo-se de Abbeville conta que Riffault partiu com tres navios para o Brasil em 1594 (Mariz e Provençal trazem a data de 15 de março), disposto a fazer conquistas com o auxílio de Ouirapiue, Pau Seco. Seu principal navio encalhou; dissensões e desarmonias privaram-no no outro; reduzido a um só, abaixou muitos companheiros em terra e voltou para França. Por sua vez Feliciano Coelho anuncia apenas que dera a costa um navio de Rifoles. Devia ter sido seu companheiro o língua Migan, morto na batalha de Guaxinduba depois de ter escapado quatorze vezes das mãos dos portugueses). Dês Vaux, indo à França, provocou a vinda de Daniel de La Touche, mandado por Henrique IV numa viagem de reconhecimento do terreno. Não obstante ter sido o rei assassinado nesse meio-tempo, e entusiasmado La Touche com a terra, conseguiu com Maria de Medicis, regente na menoridade de Luís XIII, concessão para estabelecer uma colônia ao sul do Equador, 50 léguas para cada lado do forte a ser construído. O Golfão Maranhense fez-se abrigo preferido de piratas normandos. 1595 Jean Noyer, aliado ao inglês John Lancaster, conquista Pernambuco, onde o francês perdeu a vida; mais tarde, Le Tremblade, Lecoq e Portel investiram nas costas brasileiras. Charles de Scudéry, fidalgo de Provence pilhou a costa nordestina com 80 piratas (MARIZ; PROVENÇAL, 2011) 1596 o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Capitão Guérard armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste – estabelecendo com regularidade as visitas à terra, de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo

aldeia de índios dirigida por padres da Companhia de Jesus. Foi desbravada ao findar o século XVI, quando do contato dos índios com os franceses, vindos do Maranhão entre 1590 e 1604, data em que foram expulsos por Pero Coelho de Sousa, quando este fazia tentativas de colonização portuguesa no Ceará. http://pt.wikipedia.org/wiki/Vi%C3%A7osa_do_Cear%C3%A1 142 Tabajaras pertencentes ao ramo Tupi, anacé, arariú e croatá do ramo Tapuia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Vi%C3%A7osa_do_Cear%C3%A1


Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; David Migan, natural de Vienne, no Delfinado, que há tanto já vivia em Upaon-Açú; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

1597 Jean Guérad, comandante de Le Dauphin e Le Poste, organizou uma ligação regular entre o Porto de Dieppe e o Maranhão. No seu relatório enviado ao rei, concluiu pela possibilidade de uma implantação permanente francesa na região, o que aconteceria em 1612. A tentativa de Guérard recebera autorização legal do Parlamento de Rouen, por decisão de 27 de agosto de 1567, confirmada a 28 de julho de 1603. - concedida ao capitão de mar e guerra Toussait Conen de la Villaudoré subsídio de 60 mil libras para fretar uma esquadra de sete navios. A Guerra Luso-Holandesa143 começou com um ataque a São Tomé e Príncipe. Foi travada pelas Companhias Holandesas das Índias Orientais e Ocidentais, com o objectivo de tomar as redes de comércio portuguesas de especiarias asiáticas, escravos da África ocidental e açúcar do Brasil. Após vários confrontos no oriente e no Brasil, começaram os ataques nos postos comerciais da costa oeste africana, visando assegurar escravos para a produção de açúcar em territórios conquistados no Brasil. Em 1638 os holandeses tomaram o Forte de São Jorge da Mina, seguindo-se Axim (1642) no golfo da Guiné, e Luanda em 1641

Mapa dos Impérios Espanhol e Português conjuntos em 1598. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Philip_II%27s_realms_in_1598.png

143 Travada de 1595 a 1663, caracterizou-se principalmente pelas invasões das companhias majestáticas holandesas aos territórios do império português nas Américas, África, Índia e extremo oriente. Os confrontos foram iniciados durante a dinastia Filipina, a pretexto da Guerra dos Oitenta Anos, travada então, na Europa, entre a Espanha e os Países Baixos. Portugal foi envolvido no conflito por estar sob a coroa Espanhola dos Habsburgos, durante a chamada União Ibérica, mas os confrontos ainda perduraram, mesmo vinte anos após a Restauração da Independência (1640). http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Luso-Holandesa


1599 Henrique IV144 enviou Toussaint Couée de la Villaudiére ao Rio Grande do Norte, onde já se encontrava Riffault. Derrotado por portuguêses na tentativa de conquistar o forte de Cabedelo145, acaba renunciando à sua missão. Três de seus navios unem-se a Riffault, que se encontrava no Rio Grande do Norte desde 1594, aí estabelcido excelentes relações com os caciques Ouvirapive e Jupiaçú. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011)

1602 Henrique IV, de França, concede a René-Marie de Mont-Barrot, Carta Patente (8/5) que o autoriza a arregimentar 400 homens e fundar uma colônia no norte do Brasil; se associa a Daniel de La Touche, transferindo-lhe a empreitada. O objetivo era o Maranhão, onde Guérard e Du Manoir haviam instalado uma feitoria e dês Vaux mantinha conatos amistosos com os índios. 1603 Pero Coelho, com 80 homens e 800 índios, em dois caravelões tentou chegar ao Maranhão, por ordem de Martins Soares Moreno PERO COELHO DE SOUSA foi um explorador português, primeiro representante da Coroa a desbravar os territórios da capitania do Ceará no início do século XVII. Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de Capitão-mor para desbravar e colonizar a capitania do "Siará Grande". Após uma série de lutas, conquistou a região da Ibiapaba vencendo os inimigos (franceses e indígenas). Retorna à barra do rio Ceará onde ergueu o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa.

26 de julho - um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guerard (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

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HENRIQUE IV DE BOURBON (Pau, 13 de Dezembro de 1553 - Paris, 14 de Maio de 1610), chamado o grande (em francês: le grand), foi o primeiro rei de França pertencente à família dos Bourbons e também rei de Navarra com o nome de Henrique III. Filho de António de Bourbon, duque de Vendôme e Joana III de Albret, rainha de Navarra. http://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_IV_de_Fran%C3%A7a

145 O FORTE DE SANTA CATARINA DO CABEDELO, popularmente conhecido como Fortaleza de Santa Catarina, localiza-se sobre uma elevação arenosa ("cabedelo" = pequeno cabo) à margem direita da barra do rio Paraíba do Norte, atual município de Cabedelo, no litoral do estado da Paraíba, no Brasil. A sua primitiva estrutura é confundida ora com o Forte de São Filipe (1584) (GARRIDO, 1940:60), ora com o Forte de Nossa Senhora das Neves (1585) (SOUZA, 1885:78), com a mesma função de defesa da barra do rio Paraíba do Norte e da povoação de Filipéia de Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa), na primitiva Capitania da Paraíba. O Forte do Matos - BARRETTO (1958) remonta este forte, no Cabedelo, a 1586, guarnecido por 220 homens sob o comando do capitão João de Matos Cardoso, denominando o Forte do Cabedelo como Forte do Matos, dando-o como artilhado com dezoito peças (op. cit., p. 114). O contexto de sua construção é o do domínio da Dinastia Filipina, em Portugal. Em "taipa e area solta", esta primitiva estrutura foi arrasada durante o governo de André de Albuquerque por um ataque combinado de corsários francesas e indígenas (1591), foi reconstruído a partir do ano seguinte, em alvenaria de pedra e cal. Foi concluído em 1597 sob a invocação de Santa Catarina de Alexandria, padroeira da Capela do forte, e em homenagem a Dona Catarina de Portugal, Duquesa de Bragança. Nesse mesmo ano, uma esquadra de treze navios franceses desembarcou uma força de 350 homens, que atacaram o forte por terra (SOUZA, 1885:78). Durante a resistência ao assalto registrou-se a morte do comandante do forte, reassumindo o comando o Capitão João de Matos Cardoso (BARRETTO, 1958:114-115). BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. in http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_Santa_Catarina_do_Cabedelo


1604 Diogo de Campos Moreno é mandado a Lisboa para solicitar a povoação do Norte, pois holandeses e franceses haviam se estabelecido com feitorias no Maranhão e no Amazonas Diogo de Campos Moreno (Tânger? 1566? – 1617?) foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de Sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno

O Senhor de la Ravardière com o navegador Jean Mocquet parte a 12 de janeiro com dois navios, chegando as costas da Guiana (Oiapoque) a 8 de abril, retornando àquele porto a 15 de agosto. 1605 O monarca francês, ante a desistência de Mont-Barrot, por Carta Patente de 6/7 nomeia La Ravardière seu Lugar-tenente e vice-almirante nas costas do Brasil. A primeira concessão a Daniel de La Touche, data do mês de julho: “Luis, a todos os que virem a presente. Saúde.O defunto rei Henrique, o Grande, nosso muito honrado senhor e pai [...] tendo por cartas patentes de julho de 1605 constituído e estabelecido o Sr. De Ravardiére de La Touche seu lugar-tenente na América, desde o rio do Amazonas até a ilha da Trindade e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento[...] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.”, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas”. (LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

1607 Os jesuítas tomam a si a empresa, não passando do Ceará; Francisco Pinto segue juntamente com Padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território. Os dois avançaram até a Chapada de Ibiapaba, chegando a habitar com os índios Tabajara. Em outrubro de 1607, foi assassinado pelos índios Carariju, sendo enterrado no sopé da Serra Grande. Depois da sua morte e sepultamento recebeu o codinome Amamaiara (o senhor da chuva) em Tupi, entre as etnias indígenas, transformado assim numa entidade espiritual, conforme a crença dos indígenas. Os seus restos mortais viraram amuletos no combate à seca, sendo estes trasladados até a Parangaba pelos índios Potiguara. FRANCISCO PINTO, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Falecido em outubro de 1607, na Chapada de Ibiapaba. Açoriano veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou. Aos 17 anos de idade seguiu para a Bahia e em


1568(9) entrou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo a o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas índigenas é indicado para a Missão do Maranhão. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Pinto_(padre); Girão, Raimundo. Três Documentos do Ceará Colonial. Fortaleza, Departamento de Imprensa Oficial, 1967. pag. 20 – 34. LUIZ FIGUEIRA nasceu em Almodóvar em 1574, e completou seus estudos na Universidade de Évora, alistando-se na Companhia de Jesus em 22 de janeiro de 1592. Chegou ao Brasil em 1602, e esteve pela primeira vez em terras maranhenses em 1622, mas já havia tentado chegar à região em outra jornada, que não se concretizou por completo, entre 1607 e 1608. Em 26 de março de 1608, assinou a Relação da Missão do Maranhão, um dos mais antigos registros sobre a expansão portuguesa para o norte sobre a conquista do Maranhão. Foi publicada pela primeira vez pelo Barão de Studart em 1904; dirigida ao superior da Companhia de Jesus, o padre Cláudio Aquaviva, relata a primeira missão de evangelização dos índios implementada no Maranhão por ele mesmo e pelo padre Francisco Pinto, no início do século XVII. Neste texto, verifica-se claramente como a propaganda do cristianismo se configura em uma outra frente de batalha na conquista portuguesa do Maranhão aos franceses. Memorial sobre as terras e gente do Maranhão, Grão Pará e Rio Amazonas, onde tece considerações sobre aspectos econômicos, sociais e religiosos sobre o local. Trata-se de uma descrição das vantagens do Maranhão e da necessidade de povoamento e ocupação de suas terras. Este documento data de 10 de agosto de 1637, publicado em Lisboa e foi reimpresso pelo Barão de Studart. Autor de Relação de vários sucessos acontecidos no Maranhão e Gram Pará assim de paz como de guerra, contra o rebelde Olandes Ingreses & Franceses & outras nações. Trata-se de uma crônica, de 1631, In MENEZES, Aline Bezerra de. OS ESCRITOS DO PADRE LUIZ FIGUEIRA E A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS NO MARANHÃO. MNEME – Revista de Humanidades, Publicação do Departamento de Historia e Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Centro de Ensino Superior do Serido – Campus de Caico. V. 07. N. 16, jun./jul. de 2005 – Semestral ISSN 1518 3394 Disponível em www.cerescaico.ufrn.br/mneme

PAX CHRISTI. No mez de jan.ro de 607 p. ordem de fernaõ Cardim pr.al desta pr.a nos partimos pera a missão do Maranhão o p.e fr.co Pinto e eu cõ obra de sessenta Indios, cõ intenção de pregar o evangelho aaquella desemperada gentilidade, e fazermos cõ q’ se lançassem da parte dos portugueses, deitando de si os frãcezes corsairos q’ lá residem pera q’indo os portugueses como determinão os não avexassem nem captivassem, e pera q’ esta nossa ida fosse sem sospeita de engano pareceo bem ao p.e pr.al q’ não levassemos cõnosco portugueses e assi nos partimos sós cõ aquelles sessenta Indios. (Figueira, 1903: 97). (FIGUEIRA, Pe. Luís, apud STUDART, Guilherme. A Relação do Maranhão, 1608, pelo jesuíta Padre Luiz Figueira enviada a Cláudio Aquaviva. In: Revista do Instituto do Ceará. 1887, Tomo I, p. 97-138, site: http://www.institutodoceara.org.br/ acesso: 20-03-2008.)


1609 Monsieur de Mombelle, companheiro de Riffault resistiu na Serra de Ibiapaba a uma coluna lusitana BENTO MACIEL PARENTE serviu como Capitão de Entradas e Descobrimentos em São Vicente, no Maranhão e no Pará. Durante o período da União Ibérica, Bento Maciel Parente fez parte da vitoriosa campanha de Alexandre de Moura, sendo enviado numa expedição que partiu da Capitania de Pernambuco com a finalidade de expulsar os franceses do Maranhão, fazendo brilhante campanha, obrigando o invasor a capitular no dia 1 de novembro de 1615. 1610 La Ravardière, em companhia de Charles des Vaux, que fora imediato de Riffault, faz uma primeira viagem de reconhecimento ao Maranhão. Assassinado Henrique IV, a Rainha-Viúva e Regente D. Maria de Médici, por Carta Patente de 1º-10, dá-lhe autorização para fundar, ao sul da linha Equinocial, uma colônia que se estenderia por um raio de 50 léguas em torno do forte que fosse construído. Henrique IV resolveu mandar La Ravardiére e Des Vaux reconhecer essa ilha de que o ultimo falava; retornam os dois ao Maranhão, levando duzentos homens em três navios – Ange, Archange, Affection – e vão ter primeiro à Guiana onde deixam um fortim, sob o comando de Robert le Bret Du Boc de la Villesauges, e se passam a seu destino para uma estada de reconhecimento que duraria mais de seis meses. Ao regressarem à Europa foram surpreendidos com a má notícia do assassinato do monarca em 14/05/1910 (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982)

CHARLES DES VAUX – natural de Sainte Maure, na Turenne (LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 167-168, nota de pé-de-página). HENRIQUE IV DE BOURBON (Pau, 13 de Dezembro de 1553 - Paris, 14 de Maio de 1610), chamado o grande (em francês: le grand), foi o primeiro rei de França pertencente à família dos Bourbons e também rei de Navarra com o nome de Henrique III. Filho de António de Bourbon, duque de Vendôme e Joana III de Albret, rainha de Navarra. http://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_IV_de_Fran%C3%A7a MARIA DE MÉDICI ou Médicis (Florença, 26 de Abril de 1575 — Colónia, 3 de Julho de 1642) foi rainha consorte de França, segunda esposa do rei Henrique IV, o primeiro dos Bourbon no trono francês. Mais tarde, viria a ser regente do reino durante a menoridade do seu filho Luís XIII de França. Foi também Rainha Mãe de França. http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_de_M%C3%A9dici

1611 quase um ano demoraram as providencias da organização da expedição; em fins de agosto, estava tudo e estavam todos prontos em Cancale, pequeno porto ao fundo do golfo de Saint-Malô, na Bretanha; demorou-se ainda mais um mês por falta de autorização formal da Coria, só dada em 19 de outubro, data da expedição das cartas patentes. 1612 19 de Março - A França Equinocial - O estabelecimento da chamada França Equinocial iniciou-se a expedição francesa partiu do porto de Cancale, na Bretanha, com cerca de quinhentos colonos a bordo de três navios - "Régente", "Charlote" e "Saint-Anne" -, dirigiam-se à costa norte do Maranhão. Para facilitar a defesa, os colonos estabeleceram-se numa ilha, onde fundaram um povoado


denominado de "Saint Louis" (atual São Luís), em homenagem ao soberano, Luís XIII de França (1610-1643). CANCALE (Kankaven em bretão) é uma comuna francesa de 13 km² e com 5203 habitantes (1999) situada no departamento Ille-et-Vilaine, na região Bretanha. Cancale é o porto de onde partiram, em 1612, os navios de Daniel de La Touche, Seigneur de la Ravardière, para o Brasil: La Regente, La Charlotte e La Sainte Anne. Essa expedição marcou o início da França Equinocial. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cancale A BRETANHA (em bretão Breizh, em francês Bretagne) é uma região administrativa do oeste da França com uma larga costa litoral entre o Canal da Mancha e o Oceano Atlântico. Sua capital é Rennes e seus habitantes chamam-se bretões. Depois da conquista da Gália pelos Romanos, a Bretanha fazia parte da Armórica (aremoricae – que está frente ao mar). Cerca de 500 d.C., os Bretões da ilha da Bretanha (a Grã-Bretanha actual), atacados pelos Anglo-saxões emigraram para aí, trazendo os seus costumes e língua. A região passou a se designar Bretanha com a sua chegada. Muitos designam-na, também, de Pequena Bretanha, por oposição à ilha de onde vieram. No início da Idade Média, a Bretanha foi dividida em três reinos - o Domnonée, a Cornualha, e o Bro Waroch - que foram incorporados ao Ducado da Bretanha. O Ducado da Bretanha esteve independente do reino de França até 1532. Guardou os seus privilégios (legislação e impostos próprios) até a Revolução Francesa. A Bretanha histórica, que teve por capital Nantes, foi dividida em 1790 em cinco departamentos: Côtes-du-Nord (hoje, Côtes-d'Armor); Finistère; Ille-et-Vilaine; Morbihan; Loire-Inférieure (Hoje, Loire-Atlantique). http://pt.wikipedia.org/wiki/Bretanha LUÍS XIII DE BOURBON, chamado O Justo (Fontainebleau, 27 de setembro de 1601 – SaintGermain-en-Laye, 14 de Maio de 1643), foi rei de França e Navarra entre 1610 e 1643. Filho de Henrique IV, primeiro da dinastia Bourbon, e de Maria de Médicis, a qual, durante a sua menoridade (1610-1617), governou a França como regente. Seu reinado foi marcado por lutas religiosas ocasionais entre os católicos e os protestantes ou huguenotes, assim como pela luta contra a Casa de Habsburgo. Sua imagem está inseparavelmente ligada a de seu primeiro ministro, o Cardeal de Richelieu, que lhe ajudou na reorientação da monarquia francesa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_XIII_de_Fran%C3%A7a

Luís XIII e o cardeal de Richelieu. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_XIII_de_Fran%C3%A7a

La-Ravardière, associa-se a Francois de Razilly, Senhor de Razilly e Aunelles, ajudante de ordens do Rei, gentil homem de sua câmara, aparentado com o cardeal de Richelieu; Nicolas de Harlay, Senhor de Sancy e Barão de Molle e Gros-Bois, membro do Parlamento e do Conselho do Rei; além deles conseguiu o apoio e a


proteção do Senhor de Dampulho, Almirante de França e Bretanha, primo do Rei, e do abastado Auber de Claumont. OS RAZILLY - François de Razilly, o pai, era o chefe dessa ilustre família; foi cavaleiro da Ordem do rei, primeiro ‘maitre d´hotel’ da rainha, governador de Loudon (perto de Amboise), casado com Catherine de Villiers de Laudardiére, da família dos Villiers de L´Ísle Adam, o famoso grão-mestre da ordem de Malta. Seu filho mais velho também se chamava FRANÇOISE nascido em Touraine, gentil-homem da câmara do rei Luis XIII, e seria um dos grandes personagens da França Equinocial. Depois do Maranhão, combateu na Itália, salvou o livro de Yves d´Evreux do esquecimento, e foi nomeado ministro da frança na Suíça. Faleceu em 1622, em batalha perto de Montepellier. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011, p. 59-60) Seu irmão, ISSAC de RAZILLY nasceu em Loudon em 1588, foi cavaleiro da Ordem de São João de Jerusalém. Combateu no Maranhão e, em 1621, participou das lutas contra os protestantes em torno a La Rochelle; destruiu uma frota de 30 navios em Saint Martin de Ré e foi promovido a capitão de mar e guerra em 1624. Conduziu uma operação de represálias no Marrocos e, em 1625 foi ferido em combate. No ano seguinte, redigiu um importante memorando ao cardeal de Richelieu, ministro de Luiz III, sublinhando a importância da marinha de guerra e sugerindo seu fortalecimento. Promovido a chefe de esquadra, dirigiu três expedições punitivas contra Salé, no Marrocos, onde estavam prisioneiros cristãos. Em 1630 um de seus adjuntos era La Ravardiére, com quem continuara a amizade apesar das divergências religiosas. Issac tentou interessar o Cardeal em outra aventura no Maranhão, mas o famoso ministro preferiu investir no Canadá. Isaac foi encarregado de tomar a Acádia aos ingleses, serviu sob as ordens de Champlain, desenvolveu na Escócia a Nova Escócia e conseguiu ocupar Port Royal (Anápolis, atualmente). Issac Razilly faleceu no Canadá a 12 de junho de 1636. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011, p. 59-60) O terceiro irmão era CLAUDE de RAZILLY, barão de Launay, o mais jovem dos três, nascido em Tours em 1593. Ele esteve no Maranhão e participou da batalha de Guaxenduba ao lado de Pézieux, mas não foi ferido. De regresso à França, Claude combateu os rochelenses de 1624 a 1627. Promovido a capitão de mar e guerra em 1629, serviu a Richelieu em diversos projetos, inclusive na Mauritânia. Em 1634, estava no Canadá, ao lado de sue irmão Issac, sendo promovido a vice-almirante em 1638. Combateu na guerra contra a Espanha e se destacou no cerco de Fontarabia. Nomeado chefe de esquuadra em 1639, Claude de Razilly foi governador da ilha de Ré e do Oleron, e terminou sua carreira como governador do Canadá. (MARIZ; PROVENÇAL, 2011, p. 5960)

NICOLAS DE HARLAY, SENHOR DE SANCY (1546 – 13 de outubro de 1629), foi um soldado e diplomata francês, pertencente ao ramo protestante da família de Harlay, mas adotou a religião católica em 1572 durante os massacres dos huguenotes. Em 1589 obteve em Genebra e Berna quantia suficiente para formar um exército de mercenários para Henrique III, em parte, com a venda de jóias, entre elas o diamante Sancy, que em 1835 encontrou o seu caminho para o tesouro imperial russo, e em parte com os suíços, alegando que as tropas seriam destinadas à guerra contra o Ducado de Saboia. Henrique IV tornou-o superintendente de suas finanças em 1594, mas em 1599 foi substituído por Maximilien de Béthune, Duque de Sully. Entretanto, pela segunda vez foi convertido ao catolicismo, mas sua influência na corte diminuiu, e ele deixou a vida pública em 1605. Nicolas de Harlay morreu em 13 de outubro de 1629, deixando uma publicação intitulada Discours sur l'occurrence des affaires. Seu filho, Achille Harlay de Sancy (1581-1646), foi bispo de Saint-Malo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolas_de_Harlay ; "Sancy, Nicolas de Harlay". Encyclopædia Britannica (11th). (1911).

Martim Soares Moreno, a mando de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, foi reconhecer o Maranhão, ocupado pelos franceses, que haviam sublevado o gentio daquela terra. Na volta, entretanto, seu navio foi jogado pelos ventos às Antilhas. Em 1614 estava em Sevilha, na Espanha. MARTIM SOARES MORENO - Capitão-mor do Ceará, (Santiago do Cacém, c.1586 — Portugal, após 1648), foi um militar português que defendeu os interesses da coroa lusitana no Brasil, tendo durante décadas combatido piratas franceses e invasores holandeses. É considerado o fundador do Ceará. http://pt.wikipedia.org/wiki/Martim_Soares_Moreno


24 de junho chegam a Fernando de Noronha onde se demoram 15 dias; 11 de julho avistam as montanhas dos canibais, a altura do Mucuripe (Ceará, para ancorar no cabo das Tartarugas (12 de julho), onde permanecem por mais 12 dias 24 de julho passam pelo rio Camocim 26 de julho chega ao Maranhão a expedição de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, fundeando em Upaon-Mirim, ilha pequena, na entrada dos Mangues Verdes, à qual dão o nome de Sant’Anne; logo se transferem a Upaon-açu, ilha grande, a da Trindade, (onde os sobreviventes do naufrágio de Aires da Cunha teriam fundado a cidade de Nazaré), desembarcaram no porto de Jeviré (ponta de São Francisco) e são recepcionadas pelo Capitão Du Manuir (sic), que ali mantinha uma feitoria com 400 homens. Após terem confraternizado com os nativos, que obedeciam ao morubixaba Japiaçú, escolhem para a construção do forte uma ponta de rochedo que ficava defronte, entre dois rios: Maioba (Anil) e Bacanga, que ali despejavam suas águas no chamado porto de Guaraparí. 29 de julho batizam a ilha de Santana, onde ao pé de uma grande cruz cantaram o Te Deum Laudamus. Dês Vaux foi, em companhai de Razilly, a Upaon-açú, 12 léguas a dentro da baía. As naus vieram ancorar em Jeviré, entre a ponta da Areia e a Ponta de São Francisco. Ali encontraram três corsários de Dieppe, além de dois vistos na ilha de Santana. Du Manoir, Riffault, dês Vaux e os piratas de Dieppe, fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos (LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 174).

12 de agosto Tendo os franceses passados à Ilha-grande, foi rezada a primeira missa e erguida uma cruz; tem inicio a construção do forte. 08 de setembro Solenemente, fundaram a colônia, a França Equinocial, com a colaboração espontânea dos índios, tendo à frente o cacique Japiaçu e iniciaram a construção do forte 146, chamado de São Luís, em honra ao rei-menino, o qual "posto que feito de estacadas é forte por arte de grandes terraplenos, com seus baluartes altos e casamatas com fosso de quarenta palmos de largo e dez de alto. (Alexandre de Moura, "Relatório" de 1616). Haviam-se associado à empresa o rico Barão de Molle e Gros-Bois, Senhor de Sancy e François de Rasilly, Senhor de Aunelles e Rasilly, que financiaram a armação das naus "Regente" e "Charlotte" e o patacho "Saint'Anne". 146 http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_do_Maranh%C3%A3o BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974. 418 p. il. BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora FonFon e Seleta, 1970. 683 p. MARQUES, César Augusto. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circumvizinhanças pelo padre Cláudio d'Abbeville. Maranhão: Typ. do Frias. 1874. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140. VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil (4a. ed.). Edições Melhoramentos.


Integraram a expedição os padres franciscanos Yves d’Evreux, Claude d'Abbeville, Arsene de Paris e Ambroise d’Amiens, dando início ao culto católico, muito embora fosse La Ravardiére protestante e à catequese dos indígenas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o YVES D’EVREUX – Padre Capuchinho - Nasceu em 1577, em Normanville, perto de Evreux na Normandia; chamava-se Simon Michelet. Religioso e entomólogo francês, participou da Comissão Francesa que veio estabelecer a França Equinocial. Faleceu em 1632. Sua obra foi Voyage dans le nord du Brésil (1615) - Viagem no norte do Brasil. CLAUDE D'ABBEVILLE – Padre Capuchinho - Nasceu em Abbeville, França na segunda metade do século XV. Recebeu o nome de Firminno Foullon, era de família muito religiosa, tendo também dois irmãos seus, Marçal e Cláudia, seguido a vida religiosa em conventos distintos. Veio ao Maranhão, integrando a expedição de La Ravardière, em 1612, e por aqui ficou apenas quatro meses que, no entanto, renderam-lhe o equivalente a pródigos anos, e o fizeram interpretar, com uma argúcia singular, os primórdios da Geografia e Etnografia do Maranhão, através da sua obra, História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças, lançada em Paris em 1614 e traduzida no Brasil por Dr. Cezar Augusto Marques em 1874. A narrativa de D’Abbeville inclui diálogos entre os personagens tanto em discurso direto quanto indireto. Abrange não só os episódios mais significativos da permanência dos franceses no Maranhão, a exemplo da edificação da cidade de São Luís, como também das interfaces do cotidiano dos índios. Segundo registros, ao chegar à Ilha de Maranhão o Pe. D’Abbeville tinha por volta de 40 anos, tendo sido ordenado em 1593. Portanto, dezenove anos antes, o que indica vasta experiência sacerdotal à época. Faleceu na cidade de Ruão, em 1621. Ver também http://pt.wikipedia.org/wiki/Claude_d%27Abbeville

FORTE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO localizava-se na ponta de terra entre o rio Anil e o rio Bacanga, a noroeste da ilha de São Luís, dominando o principal ancoradouro da ilha. Primitiva estrutura defensiva neste local foi iniciada a partir de 8 de Setembro de 1612 pela expedição colonizadora francesa de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, que estabeleceu a chamada França Equinocial. O forte foi denominado de "Fort Saint Louis" em homenagem a Luís XIII de França (1610-1643), estendendo-se a denominação à povoação e a toda a ilha (SOUZA, 1885:69). De faxina e terra (BARRETTO, 1958:77), apresentava planta com dois baluartes semicirculares ligados por uma cortina de cento e cinqüenta metros de extensão (SOUZA, 1885:69). A sua artilharia foi descrita por Claude d'Abbeville, contemporâneo da sua fundação: "(...) Com o auxílio dos franceses [os indígenas] montaram no dito Forte [de São Luís], embora muito alto, vinte canhões grandes, para a sua defesa." ("História dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Paris, 1614.) Sob o comando do Capitão Henrique Afonso, o forte foi REBATIZADO COMO FORTE DE SÃO FILIPE em homenagem a Filipe III de Espanha (1598-1621) (GARRIDO, 1940:36), então soberano de Portugal sob a Dinastia Filipina. A estrutura encontra-se cartografado por João Teixeira Albernaz, o velho ("Capitania do Maranhão", c. 1615. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro), porém com a forma de um polígono quadrangular com baluartes pentagonais nos vértices, em estilo Vauban. O forte foi reconstruído em 1627 no governo do Capitão-general Antônio Coelho de Carvalho, o Sardo (MARQUES, 1970:281), em pedra e cal, com risco do Engenheiro-mor e dirigente das obras de fortificação do Brasil, Francisco de Frias da Mesquita (1603-1634) (GARRIDO, 1940:36). No contexto da segunda invasão holandesa, quando do assalto e saque de São Luís pelo Almirante Jon Cornelizoon, à frente de uma esquadra de quatorze embarcações, e dois mil soldados (25 de Novembro de 1641), o forte encontrava-se sob o


comando de Bento Maciel Parente, quase octogenário, guarnecido por apenas sessenta homens. Parente capitulou (contra a opinião de seu imediato, o Capitão Francisco Coelho de Carvalho, mais tarde governador da Capitania), sendo conduzido como prisioneiro para Recife, e de lá para o Forte dos Reis Magos em Natal, onde veio a falecer após um mês no calabouço (SOUZA, 1885:69). Pode ter sido designado no século XVIII como FORTALEZA DE SÃO MIGUEL: "Para se erigir nesta cidade a Fortaleza de São Miguel foi preciso mudar as oficinas deste quartel dos governadores, em cuja ocasião se lhe deu uma reforma pelo que está mais decente" (Ofício do Governador Joaquim de Melo e Póvoas, 19 de Outubro de 1755. apud: MARQUES, 1970:281). O mesmo Governador posteriormente descreveu a estrutura "(...) que esta cortina fica na ponta em que está fundada esta cidade, com os dois baluartes de São Cosme, e São Damião e tem mais duas cortinas que se fizeram para vencer a altura da dita terra, em que pode laborar muita artilharia", e computa a sua artilharia como uma peça de calibre 16, três de 12, três de 10, uma de 8, seis de 6, duas de 5, uma de 4, uma de 3, e quatro de 2 (Ofício do Governador Joaquim de Mello e Póvoas ao Sr. Martinho de Melo e Castro, 21 de Janeiro de 1777. apud: MARQUES, 1970:281).

A Colônia francesa - coube aos franceses a primazia da colonização do Maranhão, pois seu comércio, posto que incipiente fosse além dos produtos da indústria extrativa do pau-brasil e do âmbar, com o cultivo do algodão e do fumo, além da descoberta de minas de ouro, prata e enxofre. Por outro lado, foi essa ocupação do território que abriu os olhos à Coroa para a necessidade de promover a efetiva posse da Capitania, até então desprezada. Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha: 28 de setembro – subirem o rio Maioba (Anil) indo diretamente à aldeia de Touroup – Turu 29 de setembro – passaram-se a de Januaré – Jaguarema; aí, em capela num tijupá especialmente construída, batizaram uma menina - prosseguem até Juniparã – Genipaiana, em São José dos Índios, onde no dia seguinte 1/10 realizam uma primeira doutrinação pública; construiu-se uma capela e erigiu-se uma cruz 03 de outubro - passam para Uatimba; daí a Carnaupió onde se deixa uma cruz 04 de outubro – ao meio dia estão na aldeia de Itapari; na noite desse mesmo dia estão em Timbopi – Timbuba, onde erigem outra capela de pindoba realizando-se cerimônia de batismo (5/10); voltam por Carnaupió e Uatimbó, indo até Juniparã, onde chegam a 07 de outubro ficando ai até o dia 10; ai deixam frei Arséne de Paris 11 de outubro alcançam a aldeia de Maiove – Maioba; daí foram a Coieup – Cutim 20 de outubro – "(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". (D'ABBEVILLE, 1975, p. 114) rezada missa na capela erguida em EUSS-OUAP- Capistrano de ABREU esclarece: nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes. Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se


come caraguejos, conforme com a definição do texto ...". ... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou SolaUaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire". ( apud D' ABEVILLE, 1975, p.107)147. 1º de novembro Ao lado da cruz, colocaram as armas da França e franceses e índios, especialmente convocados de todas as aldeias, juraram fidelidade à Sua Majestade Cristianíssima, o Rei, dando-se à colônia recém-fundada uma constituição, a segunda do Brasil (Regimento dado a Tomé de Sousa, em 1549, quando da implantação do Governo Geral) e a primeira do Maranhão. Ao forte deram o nome de Saint-Louis, em homenagem ao rei-menino Luís XIII, e que com o tempo, se transmitiria à povoação e a toda ilha; ao porto de Guaraparí, o de SainteMarie, em homenagem à Regente e à Santíssima Virgem, mas que acabaria por cair no esquecimento. 1º de dezembro Razilly retorna à França, embarcando com ele seus irmãos Claude e Issac, Claude d´Abeville, Charles Dês Vaux e seis embaixadores índios. 25 de dezembro inaugurou-se a capela de São Francisco (hoje Igreja de Santo Antonio), em 1677 a primeira Catedral do Maranhão (LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 185). Para MEIRELES (1982, p. 63) seria mais crível ser onde hoje está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. 1613 La Ravardiére promove o reconhecimento da terra através de expedições ao Mearim, Gurupi, Caeté, ao Amazonas; constrói os fortes de Sardinha, Itapari, Cahur, além do de São Luis (LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 184).

Janeiro primeira expedição ao Mearim, sob o comando de Maillart, subindo duzentas léguas, indo negociar com os Tabajaras da região A seguir, enviou sue imediato De Pezieux até o Uarpi – Guripi em busca das minas de ouro e prata, subindo 200 léguas Uma terceira entrada chefiada por Migan, indo ao encontro dos tapuias Igaran-Vavá 16 de março Razilly chega ao porto do Havre, a bordo da Regente 1º de junho O Governo-Geral do Brasil, preocupado com as notícias inquietantes que lhe chegavam, mudara-se da Bahia para Pernambuco e confiara o comando de uma expedição de quatro navios e cem homens a Jerônimo de Albuquerque148; Martins Soares Moreno incorpora-se a expedição no Ceará (foz do Camocim). Mandado, com 25 soldados e sete índios, sob o comando do Sargento Pedro Lobato Malio, na nau Santa Catarina, do mestre Sebastião Martins, foi fazer o reconhecimento do Maranhão, onde se demorou 18 dias, incendiando um armazém dos franceses (Cahura); lá fora encontrado um letreiro com um aviso: aqui chegou o Cap. Martim Soares Moreno, pelo Rei, meu Senhor. Perseguido pelo Capitão Maillart (10/08), que lhe cortou o caminho para o Ceará, velejou para o norte indo ter à ilha da Trindade, nas costas da Venezuela e daí a Cumaná, indo arribar em São Domingos, nas Antilhas, em fins de setembro, de onde viajou para a Espanha.

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ABBEVILLE, Claude d’. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 148 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo_de_Albuquerque_Maranh%C3%A3o


JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO (Olinda, Pernambuco 1548 — Rio Grande do Norte, 1618) foi um militar e sertanista brasileiro. Filho do português Jerônimo de Albuquerque e da indígena pernambucana M'Uirá Ubi (Arco Verde, em português), filha do cacique Uirá Ubi, Jerônimo de Albuquerque Maranhão notabilizou-se nas lutas travadas contra os franceses, na Região Nordeste do Brasil. Sua primeira atuação destacada ocorreu quando, à frente de uma companhia que lhe foi entregue pelo Capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, empreendeu a reconquista da Capitania do Rio Grande (atual estado brasileiro do Rio Grande do Norte) - que fora invadida pelos franceses - onde ele viria a fundar a cidade de Natal (1599). Por conta desse feito, foi-lhe atribuído o título de fidalgo. Em 9 de janeiro de 1603, foi nomeado Capitão-mor do Rio Grande, em substituição a João Rodrigues Colaço, que o antecedera no cargo. No ano seguinte, concedeu uma sesmaria de 5.000 braças em quadra, aos seus filhos Matias e Antônio de Albuquerque, em cujas terras logo foi instalado o engenho de cana de Cunhaú, que se tornaria o mais importante núcleo econômico da Capitania. Em 17 de junho de 1614, foi nomeado "capitão da conquista do Maranhão", região que então se achava sob o domínio dos franceses, que nela haviam erigido o forte São Luís e instalado uma colônia - a França Equinocial. Para cumprir a missão que lhe fora confiada, Jerônimo preparou navios, acumulou armas e munições, e recrutou homens, inclusive esvaziando as prisões. A fim de obter o concurso dos índios, visitou várias aldeias, negociando com os caciques. Afinal, partiu do Rio Grande com destino ao Maranhão. Chegando à Capitania do Piauí, enviou um grupo de reconhecimento sob o comando de Martim Soares Moreno e, enquanto esperava, fundou a povoação no Camocim, para reforçar o domínio português na região. Martim Soares Moreno encontrou os franceses instalados no Maranhão e colheu informações sobre eles, mas ao retornar, uma violenta tempestade desviou-o para as Antilhas, de onde ele ele tomou o rumo da Espanha. Julgando-o perdido e sem dispor de informações sobre o inimigo, Jerônimo de Albuquerque achou mais prudente deslocar-se para Pernambuco, onde se encontrava o governador-geral, Gaspar de Sousa. Ciente da situação, o governador-geral mandou vir de Portugal, para ajudar Jerônimo, Diogo de Campos Moreno, que era grande conhecedor do Brasil. Formou-se uma nova expedição, com cerca 300 homens, aos quais se juntaram os 200 índios de Jerônimo. Velejando até o Maranhão, os expedicionários desembarcaram na praia de Guaxinduba, onde ergueu uma fortificação, a que deram o nome de Santa Maria. Na madrugada de 19 de novembro de 1614, navios franceses fundearam ao largo da praia, e deles saíram cerca de 300 soldados e mais de 2.000 índios. O comandante francês, La Ravardière, intimou os portugueses a se renderem, haja vista a desproporção de forças. Contudo, deprezando a intimação, Jerônimo atacou e, apesar de suas forças serem numericamente inferiores, colheu uma surpreeendente e decisiva vitória. Oito dias depois, ainda sob a alegria da vitória alcançada, Jerônimo acrescentou ao seu nome o apelido “Maranhão”, conforme consta de sua assinatura, aposta em documento de 27 de novembro. Por força do resultado da Batalha de Guaxinduba, os franceses aceitaram negociar. Jerônimo e La Ravardière acordaram um armistício, suspendendo as hostilidades por um ano, enquanto mandavam, para cada uma das Cortes, emissários em busca de novas instruções. Mas o governo luso-espanhol não aprovou o armistício, conforme notícia trazida por Francisco Caldeira Castelo Branco. Ainda assim, Jerônimo não desfez o acordo com o qual se comprometera, preferindo aguardar a chegada de documento oficial. Este lhe chegou com o General Alexandre de Moura, nomeado Governador-Geral da Armada e Conquista do Maranhão, instruído a obter dos franceses a rendição incondicional. Embora ressentido pelo que considerou uma falta de reconhecimento pelos serviços que prestara à Coroa, Jerônimo curvou-se diante de seu superior hierárquico, entregandolhe o comando. Em 31 de outubro de 1615, recomeçaram as hostilidades. Enquanto Jerônimo de Albuquerque cercava, por terra, o forte São Luís, a esquadra de Alexandre de Moura fechava o cerco, por mar. Intimado à rendição, La Ravardière submeteu-se com condições, prometendo partir em 3 meses. De Portugal chegaram reforços e ordens específicas: não pagar indenizações, apenas permitindo que os invasores franceses levassem seus pertences. No prazo acordado, La Ravardière entregou o forte e seus homens embarcaram para a França. Em reconhecimento aos seus relevantes serviços, Jerônimo de Albuquerque foi nomeado capitão-mor da Capitania do Maranhão, cargo que exerceu por dois anos (1616 a 1618), até sua morte, sendo sucedido por seu filho, Antônio de Albuquerque Maranhão. Por algum tempo, pairaram dúvidas sobre o local da morte do guerreiro. Enquanto o Barão do Rio Branco, em seu livro, "Efemérides Brasileiras", afirmava que Jerônimo falecera no dia 11 de fevereiro de 1618, em São Luis do Maranhão, Borges da Fonseca, em "Nobiliarquia Pernambucana", sustentava que ele morrera no Engenho Cunhaú, no Rio Grande do Norte. A


dúvida persistiu até a descoberta de uma antiga pedra tumular, medindo cerca de 1,24 x 0,69m, localizada no piso da Capela do Engenho, ao pé do retábulo. Bastante desgastada pelo tempo, a pedra contem uma inscrição, quase apagada, mas onde ainda é possível ler: QUIJA O DADO JNIMODE ALBUQ.MARANHÃO (Aqui jaz o fundador, Jerônimo de Albuquerque Maranhão).

08 de julho quarta expedição, comandada pelo próprio La Ravardiére, ao famoso rio das Amazonas; saiu do porto de Santa Maria levando uma companhia de 40 soldados e 10 marinheiros franceses e muitos guerreiros às ordens de 10 morubixabas, somando 1200 homens. Ravardiére recebe a noticia de que aparecera (em meados de junho) (sic) na Ilha-Grande, para o lado de Itapari, um navio português. 1614 organizada nova expedição, inferior à primeira, com um caravelão e 14 soldados, aos quais se juntaram 14 castelhanos; não foi além do Ceará. 1614-1616 Jerônimo de Albuquerque Maranhão – Capitão-Mor da conquista e descobrimento das terras do Maranhão Março ou abril Razilly despacha para o Maranhão os recursos que consegue, os quais levaram um ano para reunir. A Regente retorna ao Maranhão, sob o comando de Senhor de Du Pratz, trazendo cerca de 300 tripulantes e passageiros, dentre eles doze novos capuchinhos, vinte mulheres com seus maridos e filhos, e mais as três outras casadas com os cavaleiros tupinambás, e muitos mestres de ofícios. 8 de abril Diogo de Campos Moreno é mandado de Madri para Lisboa e daí regressar ao Brasil, levando 80 homens, reassumindo seu cargo de Sargento-Mor, e reforçar a já chamada Jornada do Maranhão que o Governador estava organizando. Jerônimo de Albuquerque, sem noticias de Martim Soares Moreno, resolve voltar a Pernambuco, deixando um seu sobrinho – Jerônimo de Albuquerque, mesmo nome – com 50 homens num forte que chamou de Nossa Senhora do Rosário, no chamado Buraco das Tartarugas (Ponta de Jericoacoara). Em 27 de maio é mandado para assumir o comando desse forte o Capitão Manuel de Sousa d´Eça, com 46 homens de reforço. 19 de junho A Regente sob o comando de Senhor de Du Pratz, chega ao Ceará, assediando o Forte de Nossa Senhora do Rosário, sob as ordens de Longeville; repelido o ataque pelo Capitão Manuel de Sousa d´Eça, embora acudido por La Bastille. 22 de junho Jerônimo de Albuquerque recebe em Olinda, das mãos de Gaspar de Sousa, o regimento que deveria cumprir como Capitão da Conquista do Maranhão, colocando-se em marcha nesse mesmo dia; a expedição militar, que a história chamaria de "Jornada Milagrosa", tinha a missão de expulsar os franceses do Maranhão; dois navios redondos, uma caravela, cinco caravelões, uns 600 soldados e índios; levava três peças de artilharia, 200 balas de ferro, arcabuzes e mosquetes e 20 quilos de pólvora. Participavam da jornada Frei Cosme de São Damião e Frei Manuel da Piedade, o engenheiro Francisco Frias de Mesquita, o capitão Gregório Fragoso Albuquerque. (LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 192).

FRANCISCO FRIAS DE MESQUITA (c.1578 - c.1645) foi um engenheiro-militar e arquiteto português com destacada atuação no Brasil colonial. Seu nome também pode aparecer grafado Francisco de Frias da Mesquita ou Francisco de Frias de Mesquita. Chegou ao Brasil em 1603 como engenheiro-mór, projetando e construindo várias fortificações e outros edifícios até voltar a Portugal, em 1635. Participou da conquista de São Luís do


Maranhão, que se encontrava em mãos dos franceses. Entre as obras de Frias de Mesquita destacam-se: Forte dos Reis Magos (Natal, Rio Grande do Norte) - de planta pentagonal, erguida a partir de 1598. Frias de Mesquita reforçou a primitiva edificação, reconstruindo-a entre 1614 e 1628. É um dos símbolos da cidade de Natal. Forte do Mar (Salvador, Bahia) - de planta circular, única no Brasil, situada no meio do mar em frente à cidade. Frias de Mesquita ergueu-a entre 1612 e 1623. Alguns atribuem o projeto original ao engenheiro militar italiano Leonardo Torriani. Forte de São Diogo (Salvador, Bahia) - localizada perto da Santa Casa da Misericórdia. O seu desenho pode ser de autoria de Tibúrcio Spanochi, engenheiro militar italiano a serviço do reino da Espanha (ao qual o reino de Portugal se encontrava unificado). Frias da Mesquita ergueu-o entre 1608 e 1612. Forte de São Mateus (Cabo Frio, Rio de Janeiro) - localizado na barra da Lagoa de Araruama em Cabo Frio, cidade fundada em 1615. A construção do forte projetado por Frias de Mesquita, destinado à proteção do novo povoado, foi iniciada em 1617 e terminada em 1620. Igreja do Mosteiro de São Bento (Rio de Janeiro) - as obras da igreja, de feição maneirista, começaram em 1633 com base em um projeto de Frias de Mesquita datado de 1617. Plano da cidade de São Luís do Maranhão - após a conquista da cidade em 1615, com a participação de Frias de Mesquita, o engenheiro projetou uma nova cidade em forma de tabuleiro de xadrez, com ruas retas. O plano original ainda é visível no centro histórico da cidade. Frias de Mesquita projetou também vários fortes para defender a cidade, http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Frias_de_Mesquita ; http://www.funceb.org.br/images/revista/18_7q5t.pdf

Início da colonização portuguesa no Maranhão e Norte do Brasil, marcada pela expedição, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, com o objetivo primeiro de expulsar os franceses que aqui estavam. É importante esclarecer que o povoamento europeu no Maranhão teve início com a invasão francesa às terras maranhense, pois mesmo depois da batalha de Guaxenduba, quando foram expulsos, ficaram no Maranhão, alguns franceses, uns fincados à terra, outros ligados à mulheres nativas. O povoamento europeu em território maranhense teve continuidade com o estabelecimento da colonização portuguesa, que se deu por duas vias, uma litorânea, às margens dos rios, Itapecuru, Mearim, Pindaré e Munim, essa fora iniciada pelos franceses e posteriormente retomada pelos portugueses, outra interiorana, cuja atividade principal era a pecuária. http://www.portugalweb.net/portugalnomundo/america/maranhao/coloniza%C3%A7ao.htm

Agosto Com a chegada da Regente, os franceses ganham confiança, com o próprio Du Pratz reiniciando as viagens de reconhecimento, mandado até o rio Guajuhug (Grajaú), conseguindo o descimento de toda a nação tapuia dos Pedras-Verdes. Prosseguiu-se com o preparo das defesas na eventualidade de um ataque de surpresa; além de reforçar o Forte de Saint-Louis, foram construídos mais três fortins: Sardine (Sardinha), no São Francisco; Cahurs e Itapari.


23 de agosto Diogo de Campos Moreno sai por mar ao encontro de Jerônimo de Albuquerque, com 100 homens, em uma caravela, uma charrua, um patacho e cinco caravelas. (Lima, 2006 diz a 24 de agosto) 25 de agosto Diogo de Campos Moreno reúne-se com Jerônimo de Albuquerque na fortaleza do Rio Grande, partindo em 5 de setembro para a baia do Iguape (8 de setembro), onde se separam, indo Albuquerque por terra. 24 de setembro reunidos novamente no forte de Nossa Senhora do Amparo, daí prosseguindo até o de Nossa Senhora do Rosário (30/09). 12 de outubro retomam a marcha e ao anoitecer do dia 14 alcançam a foz do Periá, onde se instalam provisoriamente num chamado Quartel de São Tiago, deixando uma grande cruz (hoje, a cidade de Primeira Cruz). Convencido por Diogo Moreno e o engenheiro Francisco Frias de Mesquita a mandar o Capitão Belchior Rangel como batedor, três dias depois este retorna com a informação de não ter visto sinal de franceses, mas que encontrara um sitio ideal para o estabelecimento da tropa, quatro léguas abaixo da foz do Munin e de frente a aldeia de Iatapari, na Ilha Grande. 26 de outubro Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos chegam a Guaxenduba, próximo da foz do rio Munim e dão início à construção do forte de Santa Maria. Localizava-se à margem esquerda do pequeno rio Tatuaba, ou Tajuaba, justamente onde antes o Coronel Pereira do Lago descobrira restos de uma construção (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982, p. 86) Cidade de Icatu no Maranhão - Em novembro de 1614, em lugar denominado Águas Boas, após a vitória dos portugueses sobre os franceses, foi realizada uma procissão em ação de graças a Nossa Senhora da Ajuda e iniciada a construção de sua Igreja. Em 1688, fundou-se a Vila, posteriormente transferida para outro local, na margem direita do rio Munim, de acordo com solicitação do Congresso aprovada pela Corte Portuguesa através da Provisão Régia de 1758. A Vila de Icatu, inicialmente, chamou-se Arraial de Santa Maria de Guaxenduba, denominação dada pelo seu fundador Jerônimo d’ Albuquerque Maranhão. Adquiriu categoria de Cidade em 1924. Segundo Varnhagen, o topônimo Icatu ou Hycatu significa Pontes Boas. Já Ayres Casal a traduz por Águas Boas. Formação Administrativa: Distrito criado com a denominação de Águas Boas, anteriormente a 1715. Elevado à categoria de vila com a denominação de Águas Boas, em janeiro de 1688. Com sede na antiga vila de Água Boas. Instalado em 1688. Entre os anos de 1757 e 1759, confirmada pela lei provincial nº 7, de 29-04-1835, transfere a sede da antiga vila de Águas Boas para Icatu. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, vila apareceu constituído de 3 distritos: Icatu, Axixá e Salgado. Elevado à condição de cidade com a denominação de Icatu, pela lei estadual nº 1179, de 22-04-1924. Pelo decreto estadual nº 75, de 22-04-1931, o município adquiriu o extinto município de Morros. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município é constituído de 2 distritos: Axixá e Morros. Não aparecendo o distrito de Salgado. Pelo decreto estadual nº 844, de 12-06-1935, desmembra do município de Icatu os distritos de Axixá e Morros. Elevados à categoria de município. Em divisão territorial datada de 31-XII-1936, o município aparece constituído de 3 distritos: Icatu, Itapera e Tatuaba. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de 2 distritos: Icatu e Itapera. Não aparecendo o distrito de Tatuaba. Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído de 2 distritos: Icatu e Itapera. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.

28 de outubro É rezada a primeira missa pelos portugueses, os padres Miguel Gomes e Diogo Nunes, vindos com Albuquerque na "Jornada Milagrosa". Foram os


primeiros religiosos portugueses a por os pés no Maranhão, muito embora seja provável a chegada de outros padres nas expedições de João de Barros/Aires da Cunha e a de Luís de Melo e Silva, como era de praxe. No entanto foi daqueles que a História fez registro. 19 de novembro BATALHA DE GUAXENDUBA 149- 300 franceses e 2.000 índios, sob o comando do próprio La Ravardiére, entrincheiram-se no outeiro defronte do forte lusitano. Jerônimo de Albuquerque divide suas forças em duas colunas, cada uma com 70 soldados e 40 índios, assumindo o comando de uma, enquanto Diogo de Campos e Antônio de Albuquerque (filho de Jerônimo) acometia os franceses, na praia. Apesar da inferioridade numérica, obtiveram os portugueses retumbante vitória; romperam-se as linhas gaulesas com o ataque de Diogo de Campos e a debandada foi geral. Quando os silvícolas, sob o comando do capitão Madeira, atacaram, os franceses perderam seu comandante Du Pezieux e mais de 100 combatentes, abatidos na luta, ou afogados na fuga, ou devorados pelos tubarões. Os cronistas portugueses dão apenas 10 mortos e 30 feridos como baixas, e entre os últimos, Antônio de Albuquerque, Estevão de Campos e Belchior Rangel.

http://search.babylon.com/imageres.php?iu=http://2.bp.blogspot.com/_qT0RptG4y8/SwXVA0KLZ0I/AAAAAAAAAGI/ZY7eg1ERjFs/s320/210108_11.jpg&ir=http://sobrehistoriadomaranhao.blogspot.com/2 009/11/395-anos-da-batalha-deguaxenduba.html&ig=http://images.google.com/images?q=tbn:ANd9GcSMakqvkQDkJaDywmi4xoKNCww2oioYEhStPbV1B mf8QJ6d38P8DfOmOU8:2.bp.blogspot.com/_qT0RptG4y8/SwXVA0KLZ0I/AAAAAAAAAGI/ZY7eg1ERjFs/s320/210108_11.jpg&h=191&w=250&q=BATALHA DE GUAXENDUBA&babsrc=HP_ss

Sobre a vitória portuguesa criou-se a lenda do Milagre de Guaxenduba, que o padre José de Morais assim descreve: "Foi fama constante (e ainda hoje se conserva por tradição) que a Virgem Senhora fora vista entre os nossos batalhões, animando os soldados em todo o tempo de combate"; e Humberto de Campos imortalizou no magnífico soneto "O Milagre de Guaxenduba". A Batalha de Guaxenduba foi um confronto militar ocorrido entre forças portuguesas e francesas onde hoje se localiza a cidade de Icatu, no estado do Maranhão. A batalha foi um importante passo dado pelos portugueses para a expulsão definitiva dos franceses do Maranhão, dada em 4 de novembro de 1615, que permitiu que a Amazônia fosse portuguesa, e, portanto, brasileira. Na manhã de 19 de novembro de 1614, os soldados portugueses notaram que, ao lado do forte de Santa Maria, o mar estava repleto de embarcações a vela e a remo, se aproximando 149

http://www.jornalpequeno.com.br/2006/2/18/Pagina29025.htm http://search.babylon.com/imageres.php?iu=http://arquiteturahistorica.files.wordpress.com/2010/08/icatu 02.jpg&ir=http://arquiteturahistorica.wordpress.com/&ig=http://images.google.com/images?q=tbn:ANd9 GcS4h5baq-


silenciosamente da costa. Para atacá-los no desembarque, Jerônimo de Albuquerque dirigiu-se à praia com 80 soldados portugueses, mas, percebendo que o número de inimigos era muito maior, retrocedeu. Logo, havia centenas de combatentes na praia e assim foi iniciada uma longa troca de tiros de mosquetes e arcabuzes. Nesse primeiro encontro, foram mortos um soldado português e dois franceses Imediatamente à frente do forte de Santa Maria, estava um pequeno morro. Sob o comando de Monsieur de la Fos Benart, cerca de 400 tupinambás que lutavam pelo lado francês receberam a ordem de fortificar o máximo que pudessem seu topo: construíram, ao todo, 7 trincheiras, fortificando todo o espaço entre a maré e o topo do outeiro. Por um caminho secreto, Jerônimo de Albuquerque subiu o morro com 75 soldados e 80 arqueiros portugueses. Em terra, saltou de uma canoa um trombeta (mensageiro), que levava o brasão de armas reais da França e uma carta em francês escrita por Daniel de la Touche, a qual dizia que os portugueses deviam se render em 4 horas ou seriam massacrados. Astuto, Diogo de Campos percebeu que a carta não passava de uma tentativa dos franceses de ganhar tempo e obter informações sobre o estado das tropas portuguesas. A esta altura, o grupo de soldados e arqueiros que acompanhava Jerônimo de Albuquerque já estava próximo às trincheiras francesas. Os índios que as defendiam eram uma grande multidão, e neles, os portugueses não perdiam um tiro. Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière, percebia do mar que o exército francês sofria pesadas baixas: em menos de uma hora, a área ao redor do forte de Santa Maria estava repleta de mortos franceses e indígenas. Ravardière mandou para próximo da praia os navios mais velozes para prevenir maiores danos à sua tropa, mas, sob bombardeio de artilharia de navios portugueses, foi forçado a desistir. Com todas as canoas ardendo em chamas na praia, os franceses restantes em terra não tiveram como fugir e tudo o que puderam fazer foi se recolher na fortificação no topo do outeiro. Entre eles estavam Monsieur de la Fos Benart e Monsieur de Canonville. Ao final da batalha, próximo ao outeiro, muitos dos soldados portugueses se punham à frente dos mosquetes dos inimigos, que ainda resistiam. Turcou, o intérprete dos franceses na comunicação com os índios, foi baleado pelos portugueses, e com ele, Monsieur de la Fos Benart, líder dos indígenas que lutavam com os franceses. Sem orientação, os índios restantes, mais de 600, começaram a fugir, descendo o outeiro e a eles se misturaram os soldados franceses, que não possuíam mais pólvora para atirar Após a Batalha de Guaxenduba, as tropas francesas restantes no Maranhão estavam recolhidas no Forte de Saint Louis. Para ganhar tempo, Ravardière propôs uma trégua aos portugueses e sua proposta foi aceita, ficando estipulado que um oficial português e um francês fossem à França e um oficial português e um francês fossem a Portugal, para procurar nas cortes desses países uma solução para o conflito. http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Guaxenduba

27 de novembro Tratado de trégua - Concordaram os adversários em suspender hostilidades e enviar representantes dos dois lados à Europa, submetendo o litígio à decisão dos governantes de seus países, devendo o vencido retirar-se do Estado dentro de dois meses. as partes entram em acordo no caso de qualquer receber reforços, dele não se serveria para alterar o acordo, o que não impediu que, com a chegada deo capitão Miguel de Siqueira Sanhudo, vindo de Portugal, e de Francisco Caldeira Castelo Branco150, vindo do Brasil, ficasse o dito por não dito; intimou Ravaediére a deixar o Maranhão. Diogo de Campos, frei Manuel Tavares e Simão Alves Correia passam a ilha de São Luis. Ravardiére levou-os a Tapuitapera e Cumã. FRANCISCO CALDEIRA CASTELO BRANCO (1566 ? - 1619) foi um Capitão-mor português, fundador da cidade de Belém, capital do Estado do Pará, em 12 de janeiro de 1616. Francisco Caldeira Castelo Branco teria nascido na localidade portuguesa de Castelo Branco, em 1566.Fontes mais recentes indicam que nasceu no Crato, no distrito de Portalegre, também em Portugal e, mais ainda, que se chamou mesmo Francisco Caldeira de Castelo Branco, como o demonstram as fontes existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa. Foi Capitão-mor da Capitania do Rio Grande de 1612 a 1614 (atual estado do Rio Grande do Norte) e da Capitania da Bahia de 1615 a 1618. Quando servia na guarnição de Pernambuco, foi enviado como

150 http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Caldeira_Castelo_Branco


comandante de uma expedição em socorro às tropas portuguesas que, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, lutavam contra os franceses no Maranhão.

16 de dezembro partida para a França dos plenipotenciários Du Prat e Gregório Fragoso de Albuquerque, na Regente; 1615 a 4 de janeiro partiram os outros dois plenipotenciários, Diogo de Campos e Mathieu Malhart, chegando estes a Lisboa em 05 de março. 31 de julho Ravardiére consegue com Castelo Branco prazo de cinco meses para a retirada; o forte de Itapari passa ao poder dos portugueses 5 de outubro Alexandre de Moura151, à frente e uma expedição de nove navios e 600 soldados é despachado para o Maranhão para desalojar os franceses; o acompanham Diogo de Campos152, como Almirante; Henrique Afonso, capitãode-mar e guerra; Manuel de Sousa d´Eça, Gregório Fragoso de Albuquerque, Bento Maciel Parente153, e Martim Afonso Moreno, capitães. Os frades Manuel Gomes e Diogo Nunes. ALEXANDRE DE MOURA foi o líder do exército português que colaborou com a destruição da França Equinocial, durante o período colonial brasileiro. Em 1598 chegou a capitania de Pernambuco, para participar na etapa final da conquista da Parahyba em 1599. Entre 1603 e 1615, foi lugar-tenente governador da capitania e teve um papel preponderante na ocupação do Nordeste e do Norte do Brasil. Em 1615, venceu os franceses no Maranhão e aprisionou o seu líder, La Ravardière, regressando à Europa no ano seguinte. Em Portugal, serviu na Armada, sabendo-se que ainda estava vivo em 1620. DIOGO DE CAMPOS MORENO (Tânger?, 1566? – 1617?) foi um militar português.Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de Sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. BENTO MACIEL PARENTE (Caminha, 1567 — Recife, Fevereiro de 1642) foi um explorador, sertanista e militar português; no período da União Ibérica, Bento Maciel Parente fez parte da vitoriosa campanha de Alexandre de Moura, sendo enviado numa expedição que partiu da Capitania de Pernambuco com a finalidade de expulsar os franceses do Maranhão. Com a ascensão de Jerônimo de Albuquerque ao governo do Estado do Maranhão, em Janeiro de 1616, foi nomeado Capitão de Entradas. Durante esta década, explorou os rios que desembocam na baía de São Marcos, por baixo de São Luís, o rio Mearim e o rio Pindaré. Seguindo os exemplos e processos dos bandeirantes, construiu o Forte da Vera Cruz do Itapecuru. Bento Maciel Parente foi um dos eleitores das primeiras eleições para Câmara municipal de São Luís, em 1619, quando chegaram ao Maranhão os primeiros açorianos. Em julho de 1621, o rei de Portugal nomeou-o Capitão-Mor do Grão-Pará. Durante o seu governo, Bento Maciel fortificou o Forte do Presépio e ordenou investida contra os invasores holandeses, com objetivo de expulsá-los da colônia. Em maio 1623, junto com Luís Aranha de Vasconcelos, Aires de Souza Chichorro e Salvador de Melo, conquistou dos holandeses os pontos fortificados de Muturu e Mariocái, próximo á foz do rio Xingu, também chamado de Paranaíba, fundando no lugar do Forte de Mariocai, o Forte de Santo Antônio de Gurupá, fazendo dele a base de apoio para as suas arrancadas, expulsando nos anos seguintes os neerlandeses do Baixo Xingu e do rio Tapajós. A

151 http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_de_Moura 152 http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno 153 http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_Maciel_Parente


ação realizada no Forte de Mariocai foi um grande feito. Liderando cerca de 70 soldados e aproximadamente mil índios em canoas nativas, o Capitão-mor do Pará investiu contra os invasores holandeses, que não impediram o ataque luso-brasileiro à fortificação. Em 1625, Bento Maciel Parente, Capitão-mor do Pará, foi responsável pela criação do Escudo das Armas e da bandeira da cidade de Belém, com provimento de D. Luis de Souza. A idéia era colocar o escudo no Forte do Castelo, simbolizando a coragem, a tradição e o pioneirismo dos portugueses. O governador recebeu auxílio de Pedro Teixeira, Aires de Souza Chichorro e Francisco Baião de Abreu. Em 1630, a capitania de Pernambuco foi invadida pelos neerlandeses. Bento Maciel foi consultado, e, logo depois, enviado para a luta. Participou de várias fases da resistência. Em 1634, por seus feitos foi elevado a fidalgo, sendo que desde 1625 já recebera o hábito de cavaleiro de Santiago. Em 1636, com a morte de Francisco Coelho de Carvalho, governador do Estado do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha assumiu interinamente. Finalmente, em junho de 1637, Bento Maciel Parente foi nomeado para seu antigo sonho, governar o Maranhão. Durante o período em que governou o Estado, Bento Maciel continuou a repelir as várias incursões de ingleses e holandeses. Em 1637, em reconhecimento aos seus muitos serviços, obteve a mercê do foro de Cavaleiro do hábito de Cristo e a de perpétuo Senhor e a donataria da Capitania do Cabo Norte, atual estado do Amapá, por doação de Felipe III de Portugal, com a honrosa cláusula, de que todos seus herdeiros e sucessores na Capitania se chamariam Macieis Parentes. A doação foi registrada no livro Segundo da Provedoria do Pará. Noticiada no Maranhão a ocupação do Ceará, pelos neerlandeses, Bento Maciel Parente enviou tropa ao Cabo Norte, pois entendiam que, por se localizar no extremo do Amazonas, estaria vulnerável tanto aos ataques de ingleses, franceses, holandeses e, mesmo, espanhóis que poderiam vir do Peru ou Equador por rio ou por mar. Obtendo a ciência e a evidencia da ameaça holandesa, o Governador criou uma estratégia para enfrentar os invasores com os recursos que possuía. Para fazer face ao inimigo, distribuiu três frentes de ataques: uma ficaria no Forte de São Felipe, outra estaria de prontidão na Praia Grande e a última foi mandada para confirmar no Araçagi os boatos dos nativos, que logo retornou com a noticia que se tratava de navios holandeses, de gente amiga e sabedor do Tratado de Trégua. Portanto o Governador do Maranhão não se preocupou com as naus, homens e armas holandesas. Em novembro de 1640, uma esquadra holandesa de 19 embarcações, mandada por Mauritz van Nassau-Siegen, que desde 1637 era governador-geral da Nova Holanda, com sede em Pernambuco, aproximou-se de São Luís. Como era do cotidiano de nações amigas, a esquadra holandesa fora acolhida com uma salva de canhões do Forte São Felipe. Os holandeses não corresponderam às boas vindas, o que ocasionou a advertência, sendo realizados novos disparos reais contra a frota. Os batavos voltaram e prosseguiram para o sul da cidade, ancorando onde hoje é conhecido como portinho. No encontro dos holandeses e luso-brasileiros, o comandante da frota, Joan Cornellizon Lichthart, ratificou o Tratado de Trégua, lavrando um entendimento em "Termo", pelo qual o governador poderia continuar no seu cargo. Solicitou, ainda, um local da ilha para que sua tropa pudesse acampar até vir de Portugal a decisão definitiva do Tratado. Contudo, o batavo não cumpriu sua parte do acordo, saqueando e ocupando a cidade. O “Termo” de entendimento antes assinado pelos respectivos representantes das nações foi substituído por um novo denominado de Capitulação. Houve a substituição das bandeiras e no mastro passou a tremular a bandeira da Companhia das Índias Ocidentais. Os holandeses intimidaram os poucos habitantes que não fugiram a prestar juramento de fidelidade aos Estados Gerais das Províncias Unidas ao mesmo tempo em que embarcavam todas as tropas portuguesas para serem repatriadas para Portugal. O Governador Bento Maciel Parente foi feito prisioneiro e mandado por Nassau para a Fortaleza dos Reis Magos. Mas faleceu a caminho, em fevereiro de 1642. Os holandeses ocuparam o Maranhão, não passando ao Grão-Pará. Dez meses depois, Antônio Muniz Barreiros a partir do Itapicuru, com reforços de Pedro Maciel Parente, Capitão-mor do Grão-Pará, e de seu irmão João Velho do Vale, comandaram um levante contra os invasores. Durante algum tempo ainda resistiram os holandeses, até que, em fevereiro de 1644, partiram, deixando a cidade em destroços.

Novembro 1º chega ao Maranhão, bloqueando o porto, e assume o comando da luta; Novembro 2 Daniel de La Touche assina a rendição, entregando o forte no dia seguinte. Alexandre de Moura ocupa o território, mandando Martim Soares para Tapuitapera e Cumã; Castelo Branco para o Pará; destacamentos para Itapecuru, Mearim e Munim.


Novembro Matias de Albuquerque (c. 1590-1647)154 foi nomeado capitão dos aldeamentos de Tapuytapera, assim como Martim Soares Moreno155 o foi para o de Cumã, ficando ambos subordinados ao governo da nova Capitania do Maranhão156.

25 de dezembro - Expedição ao Grão-Pará - após a expulsão dos franceses, Gaspar de Souza, governador geral do Brasil, substituiu Jerônimo de Albuquerque por Alexandre de Moura que, entre outras medidas, preparou uma expedição militar 154

MATIAS DE ALBUQUERQUE, primeiro e único conde de Alegrete (Olinda, c. 1580 — Lisboa, 9 de junho de 1647), foi um administrador colonial português, irmão do donatário da Capitania de Pernambuco. http://pt.wikipedia.org/wiki/Matias_de_Albuquerque 155 MARTIM SOARES MORENO, Capitão-mor do Ceará, (Santiago do Cacém, c.1586 — Portugal, após 1648), foi um militar português que defendeu os interesses da coroa lusitana no Brasil, fazer com todos os países europeus reconhecessem o Tratado de Tordesilhas. É considerado o fundador do atual Ceará. Martim Soares Moreno nasceu em 1586 (ou talvez 1585) na cidade de Santiago do Cacém em Portugal. Era filho dos portugueses Martim de Loures Moreno e Paula Ferreira Soares. Seu tio, Diogo de Loures Moreno diz que "mui pequeno o havia mandado com Pero Coelho de Sousa, para que servindo naquela entrada aprendesse a língua dos índios, e seus costumes, dando-se com eles, e fazendo-se seu mui familiar, e parente, ou compadre, como eles dizem". Participou da expedição de Pero Coelho ao Ceará em 1603 e acabou por se tornar, anos mais tarde (1612), o virtual fundador daquela capitania. Na margem direita da foz do rio Ceará, com a ajuda de índios Potyguaras e seus soldados, construiu o Fortim de São Sebastião e uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Amparo. No mesmo ano foi a mando de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, reconhecer o Maranhão, ocupado pelos franceses, que haviam sublevado o gentio daquela terra. Na volta, entretanto, seu navio foi jogado pelos ventos às Antilhas. Em 1614 estava em Sevilha, na Espanha. No ano seguinte, já capitão, retornou ao Maranhão, junto com um reforço de 900 homens, que tornaram possível a expulsão definitiva dos franceses e a captura da cidade de São Luís. Em 1616 foi capturado em alto mar por um navio corsário francês, após violento combate, que o deixou seriamente ferido, com uma cutilada no rosto e uma mão a menos. Nessa embarcação foi reconhecido por familiares das vítimas do Maranhão foi e preso. Ao chegar na França foi julgado e chegou a fica preso até 1618. Sendo repatriado a Portugal em 1618, graças negociações diplomáticas, escreveu uma carta patente de 26 de maio de 1619 fez mercê da capitania do Ceará a Martim Soares Moreno, em atenção aos seus serviços. Lá, em 1624 e 1625, repeliu os ataques de duas naus neerlandesas. Em 1630 deu-se a invasão holandesa de Pernambuco. Martim Soares partiu do Ceará com uns poucos índios e soldados e chegou ao Arraial do Bom Jesus em junho de 1631. Na fase inicial da luta, tomou parte no bloqueio das forças holandesas postadas em Recife e Olinda. Destacou-se sempre, como combatente e intérprete junto aos índios. Nos anos seguintes, tomou parte na defesa da Paraíba e de Cunhaú (na capitania do Rio Grande). http://pt.wikipedia.org/wiki/Martim_Soares_Moreno 156 A Capitania do Maranhão foi uma das subdivisões do território brasileiro no período colonial. Seu primeiro donatário foi Fernando Álvares de Andrade, que recebeu a capitania em 11 de março de 1535. Ela tinha 75 léguas de costa, estendendo-se do cabo de Todos os Santos até a foz do Rio da Cruz, cobrindo o nordeste do atual estado do Maranhão, pequena parte do Pará (onde hoje está Belém) e um extremo da Ilha de Marajó. Os donatários das três últimas capitanias, João de Barros, Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, organizaram juntos uma expedição colonizadora composta de dez navios, com novecentos povoadores, sob o comando de Aires da Cunha, a qual chegou ao Brasil em 1535. Foram pouco felizes: obrigados a abandonar o navio ao ver as terras do Maranhão, fundaram a povoação da Nazaré. Sempre foram ameaçados pelos indígenas, com os quais entravam constantemente em luta. Em 1538, abandonaram a empresa. Nova tentativa de aproveitamento dos dois lotes foi feita em 1554, sob a chefia de Luís Melo. Já os franceses, por sua vez, visitavam freqüentemente a região, o que obrigou a Coroa, em princípios do século XVII, a empreender sua conquista. Em 1621 foi elevada à dignidade de Estado do Maranhão, com administração independente do resto do Brasil, sob ordens de Filipe III de Espanha, a fim de promover o desenvolvimento da região. Uniu-se a antiga capitania ao GrãoPará, mantendo São Luís como a capital desse extenso território. http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_do_Maranh%C3%A3o


para expulsar estrangeiros (franceses, holandeses, ingleses) que se tivessem estabelecido no Grão-Pará. Para o comando da expedição, escolheu Francisco Caldeira, que partiu com um Caravelão, um Patacho e um Lanchão, com dez peças de artilharia, oito quintais de pólvora, munições e mantimentos. A força de desembarque dispunha de três companhias de infantaria e 50 soldados sob o comando dos capitães Álvaro Neto (no caravelão Santa Maria da Candelária), Pedro de Freitas (no patacho Santa Maria da Graça) e António Fonseca (no lanchão Assunção), tendo por subalternos os alferes Gaspar de Macedo, Pedro Teixeira e Pedro Favela. Também seguiram na expedição o piloto Antônio Vicente Cochado e o famoso prisioneiro francês, Charles des Vaux. Segundo relato de Capistrano de Abreu, "partiram no dia de Natal, correndo a costa, fazendo sondagens, dando fundo todas as noites, tomando as conhecenças da terra, numa extensão de cento e cinqüenta léguas. Entraram na barra pela ponta de Saparará, e seguiram por entre ilhas, bem acolhidos pelo gentio disposto em seu favor, graças à derrota dos franceses, e encontraram notícias imprecisas de flamengos e ingleses que freqüentavam aquelas regiões". http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Caldeira_Castelo_Branco

1616 a 2 de janeiro criada a Capitania de Tapuitapera, por regimento outorgado a Martim Soares Moreno; da baia de São Marcos ao Pará. 9 de janeiro - Alexandre de Moura retorna a Pernambuco, deixando Jerônimo de Albuquerque como primeiro Capitão-Mor da Conquista do Maranhão; nomeou ouvidor e auditor-geral Luis Madureira; sargento-mor Baltasar Álvares Pestana; capitão-de-mar Salvador de Melo; capitão das entradas Bento Maciel Parente; capitão de Cumã Martim Soares Moreno; comandante do forte de São Luis Ambrósio Soares; comandante do de São Francisco Álvaro Câmara; do de Itapari, Antonio de Albuquerque; e destruiu terras entre povoadores. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o

Janeiro Com a ascensão de Jerônimo de Albuquerque ao governo do Estado do Maranhão, BENTO MACIEL PARENTE foi nomeado Capitão de Entradas. Durante esta década, explorou os rios que desembocam na baía de São Marcos, por baixo de São Luís, o rio Mearim e o rio Pindaré. Seguindo os exemplos e processos dos bandeirantes, construiu o Forte da Vera Cruz do Itapecuru. A construção do Forte do Presépio e a fundação da cidade de Santa Maria de Belém, por Francisco Caldeira Castelo Branco, em 1616, seriam os pontos de apoio de que Pedro Teixeira e Bento Maciel Parente necessitavam para dar combate aos neerlandeses e ingleses invasores nos anos que se seguem. Capitães-mores do Estado do Maranhão - Jerônimo de Albuquerque Maranhão de 9 de janeiro de 1616 a fevereiro de 1618, sendo sucedido por seu filho, Antônio de Albuquerque Maranhão. O forte de São Luís muda o nome para o de São Felipe, em homenagem ao monarca reinante em Portugal, mas a povoação continua sendo de São Luís. Plano da cidade de São Luís do Maranhão - após a conquista da cidade em 1615, com a participação de Frias de Mesquita, o engenheiro projetou uma nova cidade em forma de tabuleiro de xadrez, com ruas retas. O plano original ainda é visível no centro histórico da cidade. Frias de Mesquita projetou também vários


fortes para defender a cidade; "traça" feita pelo Engenheiro-Mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita157, a ser observada na implantação e desenvolvimento da futura vila, para cuja Câmara, quando se instalasse, deixa uma légua de terra como patrimônio. São Luís terá sido, por certo, a primeira cidade brasileira a ter sua planta previamente traçada, em uma malha urbana ortogonal, posicionada no sentido dos pontos cardeais.

http://cclbdobrasil.blogspot.com/2011/01/e-assim-nasceu-sao-luis-do-maranhao.html

FRANCISCO FRIAS DE MESQUITA (c.1578 - c.1645) foi um engenheiro-militar e arquiteto português com destacada atuação no Brasil colonial. Seu nome também pode aparecer grafado Francisco de Frias da Mesquita ou Francisco de Frias de Mesquita. Frias de Mesquita veio ao Brasil em 1603 como engenheiro-mór, projetando e construindo várias fortificações e outros edifícios até voltar a Portugal, em 1635. Participou da conquista de São Luís do Maranhão, que se encontrava em mãos dos franceses

12 de janeiro Francisco Caldeira desembarcou na enseada da Baía do Guajará, chamada pelos Tupinambás de "Paraná-Guaçu", e na elevação que os nativos chamavam de "Mairi", fez edificar um forte de madeira, coberto de palha, ao qual denominou "Presepe" (Presépio), que mais tarde viria a se chamar Forte do Castelo. À colônia que se formou junto ao forte, ele deu o nome de "Feliz Lusitânia" – embrião da futura cidade de Belém. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Caldeira_Castelo_Branco

- Fundação de Belém - A região onde a atual cidade se localiza era primitivamente ocupada pelos Tupinambás. O estabelecimento do primitivo núcleo do município remonta ao contexto da conquista da foz do rio Amazonas, à época da Dinastia Filipina, por forças luso-espanholas sob o comando do capitão Francisco Caldeira Castelo Branco, quando, a 12 de janeiro de 1616, fundou o Forte do Presépio. A povoação que se formou ao 157 http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Frias_de_Mesquita


seu redor foi inicialmente denominada de Feliz Lusitânia. Posteriormente foi sucessivamente denominada como Santa Maria do Grão Pará, Santa Maria de Belém do Grão Pará, até a atual denominação de Belém. Belém foi a primeira capital da Amazônia http://pt.wikipedia.org/wiki/Bel%C3%A9m_do_Par%C3%A1 11 de fevereiro expedição de Bento Maciel Parente ao Mearim, com 45 soldados e 90 índios civilizados; começa a carnificina. 7 de março Francisco Caldeira mandou ao Maranhão o alferes Pedro Teixeira158, para comunicar o resultado de sua missão. Esse oficial, com um pequeno grupo de soldados e alguns índios de confiança. A difícil viagem por terra durou dois meses, traçou uma rota de comunicação terrestre entre o Grão-Pará e o Maranhão. Pedro Teixeira regressou, dessa vez por mar, trazendo no lanchão que o conduzia, 30 soldados arcabuzeiros, sob o comando de Salvador de Melo, além de petrechos bélicos e fardamento. PEDRO TEIXEIRA (Cantanhede, 1570 — Belém, 4 de Julho de 1641) foi um explorador, sertanista e militar português. Pouco se conhece sobre a sua família ou os seus primeiros anos de vida. No contexto da Dinastia Filipina participou com Jerônimo de Albuquerque, na campanha para expulsar os franceses de São Luís do Maranhão, no litoral nordeste do Brasil. Após a expulsão destes, em fins de 1615, a Coroa Portuguesa determinou o envio de uma expedição à foz do rio Amazonas, com vistas a consolidar a sua posse sobre a região. Uma expedição de três embarcações, sob o comando de Francisco Caldeira Castelo Branco, foi enviada, nela seguindo o então alferes Pedro Teixeira. A 12 de janeiro de 1616, as embarcações ancoraram na baía de Guajará onde, numa ponta de terra, foi fundado o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém do Pará. Em 1625 lutou contra os neerlandeses que estavam em um forte no rio Xingu e os ingleses ao longo da margem esquerda do rio Amazonas. Em 1626 subiu o rio Tapajós atrás dos Tupinambás para o comércio de escravos. Em 1627, frei Vicente do Salvador, na sua obra "Historia do Brazil", destacou a sua atuação Como reconhecimento por sua extensa lista de serviços prestados na conquista da Amazônia brasileira, foi agraciado com o cargo de capitão-mor da Capitania do Grão-Pará. Tomou posse em fevereiro de 1640, mas a sua gestão foi curta, tendo durado apenas até Maio de 1641, vindo a falecer em Julho desse mesmo ano.

1617 por Carta Régia de 4 de maio Felipe III de Espanha, e II de Portugal cria o Estado do Maranhão, autônomo, compreendendo as duas capitanias gerais do Maranhão e 158 http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Teixeira_(militar)


do Grão Pará; ficava considerado parte do Brasil, para o fim de para ele mandarem degredados. Nascia, verdadeiramente, o Maranhão. 1618 (?) Jerônimo de Albuquerque, sentindo próxima a morte, nomeia seu filho Antonio de Albuquerque Maranhão como Capitão-General do Maranhão, tendo como adjutores Bento Maciel Parente, capitão das entradas e explorador das riquezas do Pindaré, e o Alferes Diogo (ou Domingos) da Costa Machado, subcomandante da fortaleza de São Felipe (Baluarte). Capitães-mores do Estado do Maranhão - Antônio de Albuquerque 11 de fevereiro de 1618 a novembro de 1619 11 de fevereiro morre Jerônimo de Albuquerque, agora, Maranhão, incorporado ao nome. 1618-1619 governo de Antonio de Albuquerque Maranhão, de 11 de fevereiro de 1618 a novembro de 1619 ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE foi um administrador colonial português, décimo terceiro governador da capitania da Paraíba. Governou de 1627 a 1634 e sucedeu Afonso de França. Em seu último ano de governo ocorreu a invasão holandesa na Paraíba.

Bento Maciel Parente reconstrói o forte de Itapari 22 de julho chegam ao Pará Frei Cristóvão de São José e Frei Sebastião do Rosário, tendo por comissário Frei Francisco Antonio de Merciana começam a chegar a São Luís casais vindos da ilha dos Açores, litoral do norte da África. A sucessiva chegada de açorianos às terras do Maranhão fez com que a nova vila de São Luís comece a sair da simples condição de quartel de defesa territorial, para tornar-se realmente uma povoação de colonos. Passa a tomar feição urbana, a vida civil e econômica começa a se organizar. 1619 Trazidos por Simão Estácio da Silveira chegam 200 açorianos, os primeiros colonos para o Maranhão, o que permite que a povoação passe à vila com a eleição (9/12) de seu primeiro Senado da Câmara, do qual foi ele mesmo o primeiro presidente. 6 de abril Diogo da Costa assume o governo (Lima 2006 afirma ser 7 de novembro, indo até 1622; Sebastião Barbosa assume como ouvidor-geral, por regimento de 7 de novembro (confirmação, trazendo suas atribuições) Domingos da Costa Machado – capitão-comandante da Fortaleza de São Felipe (Baluarte); até 1622 junho Bento Maciel Parente chega a Belém com um exército de 80 soldados e 400 índios frecheiros, vindos do Rio Grande e Paraíba, promovendo verdadeira carnificina dos índios que encontrou pela frente, começando por Cumã Capitães-mores do Estado do Maranhão - Domingos da Costa Machado de 7 de novembro de 1619 a 1622


1620 o Capitão-Mor Diogo da Costa Machado faz construir, à sua custa, a igreja da N. S. da Vitória, em pagamento de promessa feita à Santíssima Virgem para que livrasse a vila de uma primeira epidemia de varíola que estava dizimando sua população, estimada em apenas 300 almas; destinada a ser a matriz da freguesia quando se instalasse. Chegam duas levas de açorianos; a primeira, com 200 casais, trazida por Manuel Correa de Melo, a custa de Jorge de Lemos Bittencourt; a segunda, no ano seguinte (1621), trazidos por Antonio ferreira Bitencourt. Para Meireles (1980), São Luís tem duplicata a população, transformandose de simples posto militar avançado da conquista portuguesa, que fora até então, em uma povoação de colonos a que se precisaria dar, agora, uma administração civil: o capitão-mor fez sair um bando convocando o povo a se reunir e escolher seus representantes – os chamados homens-bons – que elegeriam os membros da vereação; saíram eleitores Sargento-mor Afonso Gonçalves ferreira, os capitães bento Maciel Parente e Pedro da Cunha e Álvaro Barbosa Mendonça e Rui de Sousa, elegendo os integrantes do Senado da Câmara: Simão Estácio da Silveira, presidente; Jorge da Costa Machado, juiz; Antonio Vaz Borba e Álvaro Barbosa, vereadores; e Antonio Simões, procurador. (p. 70). 1621 13 de junho – por Carta Régia é efetivado de direito, o propósito de criação do Estado do Maranhão, que só o seria de fato cinco anos - Carta Régia de 25/08/1626, denominado do Maranhão e Grão-Pará tendo São Luis como Capital, já sob Felipe IV; abrangia desde os baixios de São Roque, para o norte, até o rio Vicente Pinzon (Oiapoque)- atuais estados do Acre ao Ceará, incluindo o que são hoje o Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Maranhão e Piauí. O Estado do Maranhão compreendia também os atuais territórios de Ceará, Piauí, Pará e Amazonas. Essa região subordinava-se, desse modo, diretamente à Coroa Portuguesa. Entre as suas atividades econômicas destacavam-se a lavoura de cana e a produção de açúcar, o cultivo de tabaco, a pecuária (para exportação de couros) e a coleta de cacau. A maior parte da população vivia em condições de extrema pobreza, sobrevivendo da coleta, da pesca e praticando uma agricultura de subsistência. Desde meados do século XVII, o Estado do Maranhão enfrentava séria crise econômica, pois desde a expulsão dos Holandeses da Região Nordeste do Brasil a empresa açucareira regional não tinha condições de arcar com os altos custos de importação de escravos africanos. Neste contexto, teve importância a ação do padre Antônio Vieira (1608-1697)159 que, na década de 1650, como Superior das Missões Jesuíticas no Estado do Maranhão, implantou as bases da ação missionária na região: pregação, batismo e educação, nos moldes da cultura portuguesa e das regras estabelecidas pelo Concílio de Trento (1545-1563). http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Beckman

159 PADRE ANTÔNIO VIEIRA (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Salvador (Bahia), 18 de julho de 1697) foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãosvelhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição. Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português.


Julho O rei de Portugal nomeia Bento Maciel Parente Capitão-Mor do Grão-Pará. Durante o seu governo, Bento Maciel fortificou o Forte do Presépio e ordenou investida contra os invasores holandeses, com objetivo de expulsá-los da colônia.

Aparece a primeira epidemia de varíola, trazida por um navio vindo de Pernambuco Daniel de La Touche tenta armar nova frota para voltar ao Maranhão, na companhia de holandeses Diogo da Costa comunica a descoberta de um gentio a que chamou de Barbados, vivendo entre os rios Moni, Tapecuru e Meari, outubro – fim do governo de Diogo da Costa Machado; Lima (2006, p. 260) afirma que Antonio Muniz saiu de Pernambuco a 11 de março e chegou a São Luis, e assumindo o governo, em 20 de abril; trouxe gado e fazendas; vindo em sua companhia os padres Luis Figueira e Benedito Amodei160 BENEDITO AMODEI (HOMODEI, Benedito / AMADEU, Benedito) Bivona [Sicília], 1583 – Maranhão, 1647 - Jesuíta siciliano, Benedito Amodei entrou para a Companhia de Jesus a 10 de Abril de 1598, na província de Palermo. Ainda antes de partir em missão para o Brasil, foi nomeado coadjutor espiritual, em 1617. Dois anos depois, estava de partida para terras brasileiras. Desde 1622 que Amodei se encontrava na missão do Maranhão, acompanhando o padre Luís Figueira. Foi particularmente ativo na tentativa de expansão da atividade evangelizadora na região. Tal é visível numa carta que, a 3 de Dezembro de 1646, escreveu do Maranhão para o geral da Companhia de Jesus, solicitando o envio de mais missionários que conhecessem as línguas nativas. Após a morte do padre Lopo de Couto, foi ele quem assumiu a liderança daquela missão. O Maranhão fora invadido pelas forças holandesas e o jesuíta siciliano tomou posição na resistência portuguesa. Aliás, a vitória contra os neerlandeses foi popularmente atribuída à força e devoção das suas orações, segundo narrou o capitão António Teixeira de Melo num certificado de 9 de Março de 1654. A fama de santidade passou a acompanhar Amodei.

1622 20 de abril Antônio Muniz Barreiros Filho – filho de Antonio Muniz Barreiros, Provedor mor da Real Fazenda do Brasil; conseguiu a nomeação de seu filho 160

http://www.catedra-alberto-benveniste.org/dic-italianos.asp?id=384


como quarto Capitão-mor da conquista do Maranhão, não obstante a titulo precário, haja vista a criação do estado do Maranhão. Por ser moço e da falta de experiência, foi lhe dado como assistente o jesuíta Luis Figueira; foi um período com fatos marcantes: construído um engenho na região de Itapecuru; padre Luís Figueira abriu a primeira escola para os filhos dos portugueses; chegam os primeiros gados na capitania; aberto uma estrada ligando Maranhão – Belém (Estrada Real Alcântara – Belém). Até 1625 Capitães-mores do Estado do Maranhão - Antônio Moniz Barreiros Filho 20 de abril de 1622 a 1626 1624-1625 Primeira invasão Neerlandesa do Nordeste do Brasil (conquista de Salvador); 1623 Em maio, Bento Maciel Parente junto com Luís Aranha de Vasconcelos, Aires de Souza Chichorro e Salvador de Melo, conquistou dos holandeses os pontos fortificados de Muturu e Mariocái, próximo á foz do rio Xingu, também chamado de Paranaíba, fundando no lugar do Forte de Mariocai, o Forte de Santo Antônio de Gurupá, fazendo dele a base de apoio para as suas arrancadas, expulsando nos anos seguintes os neerlandeses do Baixo Xingu e do rio Tapajós. A ação realizada no Forte de Mariocai foi um grande feito. Liderando cerca de 70 soldados e aproximadamente mil índios em canoas nativas, o Capitão-mor do Pará investiu contra os invasores holandeses, que não impediram o ataque luso-brasileiro à fortificação. Parente, buscando ludibriar a guarnição holandesa, manobrou rumo ao Forte de Orange, na parte leste do Baixo Xingu, provocando a debandada dos invasores fugindo rumo à selva. O desfecho português na derrota da força dos neerlandeses e aliados foi alcançado no Forte de Nassau, 67 km acima do Xingu, uma vez que a fortaleza capitulou sem luta. 1624 dão-se por criada a freguesia do Maranhão (5/02) e a Igreja de N. S. da Vitória erigida em matriz com a chegada de Frei Cristovão de Lisboa acompanhado de 18 padres. Superior dos franciscanos de Santo Antonio, visitador eclesiástico e comissário do Santo Ofício. Tentou reconstruir o convento de palha abandonado pelos jesuítas, diligenciava a construção do Convento de Santa Margarida – atuais conventos e igreja de Santo Antônio, inaugurado em 1º de fevereiro de 1625. 15 de março Frei Cristóvão de Lisboa publica alvará dearrebatando dos colonos a administração dos índios 1625 o jesuíta Luís Figueira já possuía a légua de terra que lhe fora doada, no sítio Anindiba. Em virtude da Carta Régia de 11 de junho de 1761, o Governador Joaquim de Melo e Póvoas deslocou-se para aquela povoações, elevando-a à categoria de vila, com o nome de Paço do Lumiar, em razão de sua semelhança com localidade do mesmo nome existente em Portugal. Para promover o desenvolvimento da Vila, mandou para o núcleo famílias indígenas e numerosos homens brancos que viviam nas proximidades. Distrito criado com a denominação de Paço Lumiar, pela Resolução Régia de 18-06-1757. Elevado à categoria de vila com a denominação de Paço do Lumiar, pela Carta Régia nº 7, de 29-04-1835.


Bento Maciel Parente, Capitão-mor do Pará, foi responsável pela criação do Escudo das Armas e da bandeira da cidade de Belém, com provimento de D. Luis de Souza. A idéia era colocar o escudo no Forte do Castelo, simbolizando a coragem, a tradição e o pioneirismo dos portugueses. O governador recebeu auxílio de Pedro Teixeira, Aires de Souza Chichorro e Francisco Baião de Abreu. PEDRO TEIXEIRA toma três fortins erguidos por ingleses. De acordo com TINÉ (1969:45), três fortins teriam sido erguidos pelo inglês Francis (ou Henri) Ro, na região do rio dos Tucujus. Como outros estabelecimentos erguidos por estrangeiros na embocadoura do rio Amazonas, no início do século XVII, acreditase que se tratasse de pequenas feitorias fortificadas, dedicadas ao escambo de drogas do sertão com os indígenas. O mesmo autor defende ainda que os estabelecimentos ingleses erguidos na Amazônia no período tiveram a autorização dos reis Jaime I de Inglaterra (1603-1625) e Carlos I de Inglaterra (1625-1645) (op. cit. p. 45). CASTRO (1983:23) complementa que estes soberanos ingleses doaram terras a fidalgos da sua Corte, entre os anos de 1613 e 1627. SOUZA (1885) remonta estes três fortes a 1620, computando-os um na ilha dos Tocujus (Forte do Tauregue), outro em terra firme, ao Norte do primeiro (Forte de Phillipe)161, e o terceiro na ponta do Macapá (Forte de Cumaú)162. Quanto às datas 161 O Fortim de Filipe, mais propriamente Fortim de Phillip, mas também grafado como Forte Felippe (ROCQUE, 1968:738), localizava-se na região do rio dos Tucujus, afluente da margem esquerda do rio Amazonas, no litoral do atual estado brasileiro do Amapá. Cândido Mendes de Almeida (Pinsônia, 1873) localiza-o na ilha dos Tucujus (hoje ilha do Gurupá), e refere o seu chefe como Thomaz (Purcell), o que OLIVEIRA (1968) atribui a uma confusão com o Forte do Rio Tauregue (op. cit., p. 749). GARRIDO (1940) atribui-o ao inglês Roger North, quando este, após ser batido no Forte de Santo Antônio de Gurupá em 1629, fortificou-se entre o rio Matapi e o rio Anamirapucú, na margem esquerda do rio Amazonas (op. cit., p. 24-25). OLIVEIRA (1968) nomeia-o também como Forte North, atribuindo também a Roger North, mas quando da retirada deste do Forte do Torrego, naquele ano, localizando-o também entre os rios Matapi e Anamirapucú (op. cit., p. 749). ROCQUE (1968) refere-o ainda como Forte North (op. cit., p. 738), parecendo mais correto utilizar esta designação com relação ao Forte inglês de Cumaú, este sim, erguido por Roger North à época. OLIVEIRA (1968) complementa que o Capitão-mor do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha conquistou este fortim em 1 de maio de 1631, retirando-lhe a artilharia e arrasando a posição (op. cit, p. 749). http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortim_de_Filipe; http://fortalezasmultimidia.com.br/fortalezas/ini.php 162 O Forte inglês de Cumaú (também grafado como Camaú) localizava-se na altura da atual ponta da Cascalheira, à margem esquerda do rio Amazonas, na antiga Província dos Tucujus, cerca de quinze quilômetros ao Sul de Macapá, no atual estado do Amapá, no Brasil. Uma expedição enviada por uma companhia de comércio inglesa, da qual o próprio duque de Buckingham era sócio, sob o comando de Roger Fray, erigiu, no início do século XVII, este fortim, artilhado com sete peças. Esta feitoria fortificada destinava-se ao armazenamento de drogas do sertão. Em 1631, uma nau e dois patachos, que se dirigiam ao Forte do rio Tauregue com gente e reforços, cientes da queda deste desde 1629, retornaram à Inglaterra. Um dos patachos, entretanto, com parte dos quarenta tripulantes doente, dirigiu-se a Cumaú na tentativa de obter auxílio. Cientes dessa movimentação, o Capitão-mor Feliciano Coelho de Carvalho, com os reforços de Ayres Chichorro e Pedro Baião de Abreu, à frente de um destacamento de Belém do Pará, apoiados por indígenas flecheiros Tucujus em canoas, atacaram e conquistaram a posição inglesa em Cumaú, a 9 de julho de 1631 (GARRIDO, 1940:25). O comandante do forte não foi encontrado entre os defensores - fora ao encontro da nau com os reforços. Ayres Chichorro perseguiu-o e, encontrando a nau a 14 de julho, abordou-a com os indígenas, tomando-a, matando Roger Fray, e retornando a Belém com a embarcação apresada, a artilharia da fortificação e os despojos dos vencidos (GARRIDO, 1940:25; REIS, 1949). OLIVEIRA (1968) esclarece os efetivos portugueses mobilizados para o efeito: Carvalho, Chichorro e Abreu reuniram em Cametá 127 canoas com 240 soldados e 5.000 índígenas. Dá, entretanto as datas como: o assalto inicial terá se registrado em 19 de junho de 1632, e a rendição da fortificação em 9 de julho (de 1632, portanto). Complementa com o comentário de Artur Viana, de que "era o último reduto inglês na Amazônia". (OLIVEIRA, 1968:749). SOUZA (1885) remonta este forte a 1620,


dos respectivos desaparecimentos, dá o primeiro como arrasado por Pedro Teixeira (1629), o segundo por Jácome Raimundo de Noronha (1631) e o terceiro por Feliciano Coelho de Carvalho (1632). http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortim_de_Filipe; http://fortalezasmultimidia.com.br/fortalezas/ini.php

1626 dá-se por instalado o Estado do Maranhão, criado pela Carta Régia de 13/06/1621, separado do Brasil e tendo São Luís por capital com a posse (3 de setembro) de Francisco Coelho de Carvalho163 no cargo de Governador e Capitão-General, nomeado por Carta Regia de 25 de setembro de 1623. Chegaram com o Governador Manuel de Sousa d´Eça, nomeado capitão-mor do Grão-Pará; Jacome Raimundo de Noronha, como Provedor-mor da Fazenda Real do Maranhão; Frei Cristóvão de Lisboa. A Capitania-Geral do Maranhão era a cabeça do Estado e compreendia, em seu distrito, as capitanias subsidiárias do Ceará – compreendida entre os ruios Jaguaribe e Mondaituba, com sede na aldeia e forte de N. S. do Amparo,hoje Fortaleza, fundado por Martim Soares Moreno em1611 -; do Itapicuru – com sede em S. Jacóforte construído em 1629 por bento Maciel Parente, com limites pelo rio Peri-Açu, seguindo pelo Mearim até a ponta de Tapuitapera; do Icatu – instalada em 1691; do Mearim, todas quatro da Coria, e mais as de Tapuitapera – ou de Cumã primeiro administrados (1616) Martim Soares Moreno, doada a Francisco Coelho de Carvalho em 16 de março de 1624, passada a Antonio Coelho de carvalho por Carta Regia de 1637, estyendeendo-se por 50 léguas entre o Pindaré e o Turiaçu, com sede na vila de Santo Antonio de Alcantara; de Caeté – Bragança – doada a Frei D. Manuel de Melo, prior do Crato, antes chamada de Gurupi; e de Vigia- , de donatários e hereditários. A Capitania´Geral do Grão-Pará estendia sua jurisdição às capitanias secundárias do Gurupá, da Coroa, e as de Joanes, de Cametá, e do Cabo do Norte, estas de donatários, e possivelmente uma quarta, a de Xingu. FRANCISCO DE ALBUQUERQUE COELHO DE CARVALHO foi um administrador colonial português, oitavo governador da capitania da Paraíba. Governou de 1608 a 1612 e sucedeu João de Barros de Correia. Foi ainda governador do Maranhão e do Pará. Era filho de Feliciano Coelho de Carvalho, comendador de Seia, Governador de São Tomé e Governador da Paraíba, casado com D. Maria Monteiro. Francisco casou-se com a pernambucana Brites de Albuquerque, natural de Olinda, filha de Antonio Cavalcanti de Almeida e de Isabel de Góis (esta, filha de Arnau de Holanda. Seu filho mais velho, que o auxiliou no Maranhão, se chamou Feliciano Coelho de Carvalho. Do casamento do outro filho, Antonio Albuquerque Coelho, com a prima Inês Francisco Coelho, nasceu Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1655-1725) ou Antonio Albuquerque Coelho de Carvalho, que assinava sem a partícula «de» e

atribuindo a sua destruição a Feliciano Coelho [de Carvalho], em 1632. (op. cit., p. 33-34). http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_ingl%C3%AAs_de_Cuma%C3%BA BARRETTO (1958) periodiza a construção do forte no ano de 1631, e sua conquista no ano seguinte, por Feliciano Coelho de Carvalho e Pedro Baião (op. cit., p. 44). Sobre as suas ruínas foi erguido um novo fortim de madeira, com a mesma designação (Forte português de Cumaú), por Francisco da Mota Falcão (1658), por sua vez sucedido pelo Forte de Santo Antônio do Macapá (1688). 163 http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Coelho_de_Carvalho


jamais teve o título de Dom. Era o futuro Governador do Maranhão, do Pará, da capitania do Rio de Janeiro (que incorporava São Paulo e as chamadas Minas do Ouro) e ainda Angola.

Capitães-mores do Estado do Maranhão Antônio Coelho de Carvalho de 3 de setembro de 1626 a 15 de setembro de 1635 1625/1636 - FRANCISCO DE ALBUQUERQUE COELHO DE CARVALHO – primeiro Capitão-General, Fidalgo da Casa real, Comendador da Ordem de Cristo, reinante Felipe IV de Castela Luis Figueira abriu a primeira escola de que se tem notícias no Maranhão, para ensinar as letras aos filhos dos portugueses reconstrução do Forte de São Felipe em pedra e cal; construção de um forte na boca do Itapecuru 17 de dezembro (1626) Carta Régia encarecia ainda a necessidade de se criar um local para a capital do Maranhão (Lima, 2006, 276) 1627 27 de novembro Daniel de La Touche recebe nova carta patente de Luis XIII, nomeando-o tenente-teneral na América, desde o rio Amazonas até a ilha da Trindade; junto com ele, Loudrieres também é nomeado.

Mapa múndi das Tabelas Rodolfinas de Johannes Kepler (1627), incorporando muitas das novas descobertas http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_dos_Descobrimentos

1628 Construção do Forte do Rio Tauregue, também denominado como Forte de Tauregue, Forte do Torrego, Forte do Torrejo ou Forte do Maracapuru, localizavase na confluência do rio Tauregue (hoje rio Maracapuru) com a margem esquerda da foz do rio Amazonas, no atual estado do Amapá, levantada por contrabandistas ingleses de drogas do sertão, com a função de feitoria. GARRIDO (1940) atribui-o a ingleses e neerlandeses (op. cit., p. 24). TINÉ (1969:45) explica que teria sido


erguido por James Purcell164, comerciante irlandês associadao a capital neerlandês, localizando este forte na região dos Tucujus. Defende ainda que os estabelecimentos ingleses erguidos na Amazônia no período tiveram a autorização dos reis Jaime I de Inglaterra (1603-1625) e Carlos I de Inglaterra (1625-1645) (op. cit., p 45). Na "Carta Particolare dell Rio d'Amazone con la Costa sin al fiume Maranhan" do século XVI (Biblioteca Nacional do Brasil, Rio de Janeiro), figuram o forte, o cabo, o rio e a ilha "di Taurego" naquela costa. O pernambucano Pedro da Costa Favela surpreendeu este estabelecimento fortificado, que resistiu ao cerco que lhe foi imposto por suas forças, a 26 de setembro de 1629. O Capitão português Pedro Teixeira chegou com reforços, e juntos, cerca de dois mil homens, a maioria indígenas flecheiros em noventa e oito canoas, conseguiram a sua rendição, a 24 de outubro de 1629, arrasando a posição (SOUZA, 1885:34). BAENA informa que, nomeado o capitão Aires de Souza Chichorro para receber a obra, "extrahe-se do Forte a Artilharia, e suas anexidades: e derroca-se-lhe os muros por uma prompta e inteira demolição." http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_do_Rio_Tauregue 1630-1654 Segunda invasão Neerlandesa ao Nordeste do Brasil (conquista de Pernambuco);

São Luís do Maranhão. Mapa de 1629 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo_de_Albuquerque_Maranh%C3%A3o

1630 Jácomo Raimundo de Noronha nomeado capitão-mor do Pará, em substituição a Luis Aranha de Vasconcelos Segundo Lima (2006, p.274/5) o governador Francisco Coelho de Carvalho (sobrinho), O Sardo (1626-1636)165, impossibilitado de se afastar de São Luis, enviou seu filho Feliciano para conjurar os distúrbios que agitavam aquela capitania, no que resultou a substituição do capitão-mor Luis Aranha de Vasconcelos pelo provisor164

O seu nome é referido na historiografia do Pará como "Gomes" Purcell. De acordo com ALBUQUERQUE (2008), o irlandês Philip Purcell, que em 1609 comerciava tabaco com os indígenas na Guiana, juntamente com mais quatorze compatriotas, estabeleceu uma colónia voltada para o cultivo desse gênero na região do rio Maracapuru. Esse estabelecimento prosperou até 1620, quando passou para o controle da "Amazon Company". Esta empresa tinha como finalidade empreender a colonização da região do Amazonas, explorando não apenas o cultivo do tabaco mas também o de algodão e a cana-deaçúcar, fazendo instalar engenhos para a produção de açúcar. A repressão luso-espanhola sobre os estabelecimentos estrangeiros na região desencadeia-se a partir de 1625 com a ação de Pedro Teixeira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_do_Rio_Tauregue 165 http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Coelho_de_Carvalho


mor Jácome Raimundo de Noronha, sucedido por Antonio Cavalcanti de Albuquerque, cunhado do governador, por sua vez seguido de Luis do Rego Barros, primo. Ainda segundo Lima (2006) com o estabelecimento dos holandeses em Pernambuco, e o planejado domínio do Norte, Coelho ordenou a jacome Noronha passar o governo a Antonio Cavalcanti de Albuquerque e fosse combater os estrangeiros no Amazonas, com a ajuda de Manuel Pires freire, Aires de Sousa Chichorro e Pedro da Costa Favela. 1635 Capitães-mores do Estado do Maranhão - Jácome Raimundo de Noronha, de 9 de outubro de 1635 a janeiro de 1638 1636 a população da então vila de São Luís era de 310 habitantes. Lima (2006, p. 270) dá que em 1937 era de 250; Belém, 80 habitantes e 50 soldados com a morte de Francisco Coelho de Carvalho, governador do Estado do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha assumiu interinamente. 1636-1638 – governador geral do Maranhão e Grão Pará JÁCOME RAIMUNDO DE NORONHA – eleito pelo povo, Fidalgo da Casa Real, Provedor-Mor da Fazenda Real, e ex-Capitão-Mor do Grão-Pará 1637 Gedeon Morris incitava a Câmara holandesa a ocupar as terras do Maranhão, acenando com exagerados benefícios. Os holandeses antes estiveram no Gurupá, onde construíram a fortaleza de Mariocaí, de onde os expulsou Luis Aranha de Vasconcelos (Lima, 2006: 285) Junho Bento Maciel Parente foi nomeado para seu antigo sonho, governar o Maranhão. Durante o período em que governou o Estado, Bento Maciel continuou a repelir as várias incursões de ingleses e holandeses. 25 de Julho Pedro Teixeira chefiou uma expedição partindo do Maranhão, com 45 canoas, setenta soldados e mil e duzentos flecheiros e remadores indígenas subindo o curso do rio Amazonas, buscando confirmar a comunicação entre o oceano Atlântico e o Peru, rota percorrida no século anterior por Francisco de Orellana. Seu destino final foi Quito, no Equador. Fundou Franciscana na confluência do rio Napo com o Aguarico, no alto sertão, para delimitar as terras de Portugal e Espanha, segundo o Tratado de Tordesilhas. A viagem foi registrada pelo jesuíta Cristóbal de Acuña em obra editada em 1641. Como reconhecimento por sua extensa lista de serviços prestados na conquista da Amazônia brasileira, foi agraciado com o cargo de capitão-mor da Capitania do Grão-Pará. Tomou posse em fevereiro de 1640, mas a sua gestão foi curta, tendo durado apenas até Maio de 1641, vindo a falecer em Julho desse mesmo ano. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Teixeira_(militar)

PEDRO TEIXEIRA (Cantanhede, 1570 ou 1587 — Belém, 4 de Julho de 1641) foi um explorador, sertanista e militar português. Pouco se conhece sobre a sua família ou os seus primeiros anos de vida. No contexto da Dinastia Filipina participou, com Jerônimo de Albuquerque, na campanha para expulsar os franceses de São Luís do Maranhão, no litoral nordeste do Brasil. Após a expulsão destes, em fins de 1615, a Coroa Portuguesa determinou o envio de uma expedição à foz do rio Amazonas, com vistas a consolidar a sua posse sobre a região. Uma expedição de três embarcações, sob o comando de Francisco Caldeira Castelo Branco, foi enviada, nela seguindo o então alferes Pedro Teixeira. A 12 de janeiro de 1616, as embarcações


ancoraram na baía de Guajará onde, numa ponta de terra, foi fundado o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém do Pará. Em 1625 lutou contra os neerlandeses que estavam em um forte no rio Xingu e os ingleses ao longo da margem esquerda do rio Amazonas. Em 1626 subiu o rio Tapajós atrás dos Tupinambás para o comércio de escravos. Em 1627, frei Vicente do Salvador, na sua obra "Historia do Brazil", destacou a sua atuação. Foi agraciado com o cargo de capitão-mor da Capitania do Grão-Pará. Tomou posse em fevereiro de 1640, mas a sua gestão foi curta, tendo durado apenas até Maio de 1641, vindo a falecer em Julho desse mesmo ano. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Teixeira_(militar)

1638 Bento Maciel Parente, segundo Governador e Capitão-General do Estado, faz construir, em torno do núcleo original de São Luís, uma muralha que se transforma em uma cidadela a área das atuais Avenida Pedro II e Praça Benedito Leite. Lima (2006, p. 280-81) – “[...] mandou construir um muro ‘que corria da praia Pequena detrás da cerca do colégio até a praia Grande’, para compor a cidadela e fortificar a cidade, o qual aparece na planta de São Luís levantada pelos holandeses, não sendo ela, a cidade ‘senão mais que uma fortaleza’, cujos limites não ia além da Rua do Egito”.

Maragnon, de Frans Jansz, 1645 Bento Maciel Parente tomou posse em 27 de janeiro de 1638 – Fidalgo da casa real, Cavaleiro da Ordem de Cristo, perpétuo senhor e donatário de Capitania do Cabo do Norte, criada em 14 de junho de 1636 por Felipe IV de Castela. Capitão-mor do Estado do Maranhão de 27 de janeiro de 1638 a 1642 Bento Maciel Parente (Caminha, 1567 — Recife, Fevereiro de 1642) foi um explorador, sertanista e militar português. Foi veterano das guerras da Paraíba e do Rio Grande, onde participou da construção do Forte de São Filipe e da Fortaleza dos Reis Magos. Participou da Campanha do Salitre, sendo mandado ao interior da Bahia, 80 léguas sertão adentro. Bento Maciel Parente foi um dos eleitores das primeiras eleições para Câmara municipal de São Luís, em 1619, quando chegaram ao Maranhão os primeiros açorianos. Em 1630, a capitania de Pernambuco foi invadida pelos neerlandeses. Bento Maciel foi consultado, e, logo depois, enviado para a luta. Participou de várias fases da resistência. Em 1634, por seus feitos foi elevado a fidalgo, sendo que desde 1625 já recebera o hábito de cavaleiro de Santiago. Em 1637, em reconhecimento aos seus muitos serviços, obteve a mercê do foro de Cavaleiro do hábito de Cristo e a de perpétuo Senhor e a donataria da Capitania do Cabo Norte, atual estado do Amapá, por doação de Felipe III de Portugal, com a honrosa cláusula, de que todos seus herdeiros


e sucessores na Capitania se chamariam Macieis Parentes. A doação foi registrada no livro Segundo da Provedoria do Pará. Noticiada no Maranhão a ocupação do Ceará, pelos neerlandeses, Bento Maciel Parente enviou tropa ao Cabo Norte, pois entendiam que, por se localizar no extremo do Amazonas, estaria vulnerável tanto aos ataques de ingleses, franceses, holandeses e, mesmo, espanhóis que poderiam vir do Peru ou Equador por rio ou por mar. Obtendo a ciência e a evidencia da ameaça holandesa, o Governador criou uma estratégia para enfrentar os invasores com os recursos que possuía. Para fazer face ao inimigo, distribuiu três frentes de ataques: uma ficaria no Forte de São Felipe, outra estaria de prontidão na Praia Grande e a última foi mandada para confirmar no Araçagi os boatos dos nativos, que logo retornou com a noticia que se tratava de navios holandeses, de gente amiga e sabedor do Tratado de Trégua. Portanto o Governador do Maranhão não se preocupou com as naus, homens e armas holandesas. O Governador Bento Maciel Parente foi feito prisioneiro e mandado por Nassau para a Fortaleza dos Reis Magos. Mas faleceu a caminho, em fevereiro de 1642. Os holandeses ocuparam o Maranhão, não passando ao Grão-Pará. Dez meses depois, Antônio Muniz Barreiros a partir do Itapicuru, com reforços de Pedro Maciel Parente, Capitão-mor do Grão-Pará, e de seu irmão João Velho do Vale, comandaram um levante contra os invasores. Durante algum tempo ainda resistiram os holandeses, até que, em fevereiro de 1644, partiram, deixando a cidade em destroços. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_Maciel_Parente

1640 Começou a Guerra da Independência de Portugal, a União Ibérica termina graças ao movimento que ficou conhecido como Restauração (recuperação) 166. Este movimento significou o retorno da autonomia política de Portugal, agora sob a dinastia dos Bragança, sendo seu primeiro rei D. João IV. A aliança entre os portugueses e a República das Províncias Unidas167, sua aliada na luta pela independência contra a Espanha, propiciou uma trégua aos combates, o que foi muito bom para os negócios holandeses na Colônia. O rei enviou embaixadores a França, Inglaterra e à República Holandesa, visando formar parcerias com estes países na luta contra Espanha. http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Luso-Holandesa; 166 A Restauração da Independência é a designação dada à revolta dos portugueses, iniciada em 1 de Dezembro de 1640, chefiados por um grupo designado de Os Quarenta Conjurados e que se alastrou por todo o país, contra a tentativa da anulação da independência do Reino de Portugal pela governação da Dinastia filipina, e que vem a culminar com a instauração da 4.a Dinastia Portuguesa que parte da casa de Bragança. É comemorada anualmente em Portugal por um feriado no dia 1 de Dezembro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Restaura%C3%A7%C3%A3o_da_Independ%C3%AAncia. 167 A república das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos (neerlandês: Republiek der Zeven Verenigde Nederlanden; Latim: Belgica Foederata), ou república Unida dos Países Baixos ou mais simplificadamente as Províncias Unidas, foi um Estado europeu, antecessor dos actuais Países Baixos, também conhecido como Holanda, que existiu entre 1579 e 1795, agrupando as sete províncias do norte dos Países Baixos (Frísia, Groningen, Güeldres, Holanda, Overijssel, Utrecht e Zelândia). A república foi fundada pela união de Utrecht (1579) e sobreviveu até a sua transformação em república Batava na sequência da ocupação francesa de 1795. A partir da primeira metade do século XVIII, teve início o declínio da república Unida dos Países Baixos. Leis mercantis da GrãBretanha e da França e as Guerras Anglo-Holandesas contribuíram para o declínio. Com a mortes de De Witt e de De Ruyter, a república Neerlandesa perdeu sua hegemonia marítima e, com ascensão de Inglaterra, Amsterdão perdeu a sua posição de principal centro económico europeu. Em 1795, a república teve seu território ocupado pela França, sendo substituída pela república Batava. Atuais Bélgica, Holanda e parte do norte da França, desde a segunda metade da Idade Média, constituíram se numa região de grande prosperidade econômica, cujas manufaturas têxteis desfrutavam inigualável reputação internacional. Formou-se, assim, nos Países Baixos, uma poderosa burguesia mercantil, uma das mais progressistas da Europa. Os Países Baixos eram possessões dos Habsburgos e tinham grande autonomia no reinado de Carlos V (pai de Filipe II). Suas tradições e interesses econômicos locais eram respeitados. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_das_Sete_Prov%C3%ADncias_Unidas_dos_Pa%C3%A Dses_Baixos. http://www.culturabrasil.org/holanda.htm


http://multirio.rio.rj.gov.br/historia/modulo01/restauracao.html

Zonas disputadas entre 1588-1654 (a tracejado) pelas companhias da República das Sete Províncias Unidas que originaram o Império Holandês (laranja) http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs

Novembro Uma esquadra holandesa de 19 embarcações, mandada por Mauritz van Nassau-Siegen, que desde 1637 era governador-geral da Nova Holanda, com sede em Pernambuco, aproximou-se de São Luís. Como era do cotidiano de nações amigas, a esquadra holandesa fora acolhida com uma salva de canhões do Forte São Felipe. Os holandeses não corresponderam às boas vindas, o que ocasionou a advertência, sendo realizados novos disparos reais contra a frota. Os batavos voltaram e prosseguiram para o sul da cidade, ancorando onde hoje é conhecido como portinho. No encontro dos holandeses e luso-brasileiros, o comandante da frota, Joan Cornellizon Lichthart, ratificou o Tratado de Trégua, lavrando um entendimento em "Termo", pelo qual o governador poderia continuar no seu cargo. Solicitou, ainda, um local da ilha para que sua tropa pudesse acampar até vir de Portugal a decisão definitiva do Tratado. Contudo, o batavo não cumpriu sua parte do acordo, saqueando e ocupando a cidade. O “Termo” de entendimento antes assinado pelos respectivos representantes das nações foi substituído por um novo denominado de Capitulação. Houve a substituição das bandeiras e no mastro passou a tremular a bandeira da Companhia das Índias Ocidentais. Os holandeses intimidaram os poucos habitantes que não fugiram a prestar juramento de fidelidade aos Estados Gerais das Províncias Unidas ao mesmo tempo em que embarcavam todas as tropas portuguesas para serem repatriadas para Portugal. JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU-SIEGEN, em neerlandês Johan Maurits van Nassau-Siegen e em alemão Johann Moritz von Nassau-Siegen (Dillenburg, 17 de junho de 1604 – Cleves, 20 de dezembro de 1679), cognominado "o Brasileiro", foi conde e (após 1674) príncipe de NassauSiegen, um Estado do Sacro Império Romano-Germânico e mais tardiamente da Confederação Germânica, localizado nas cercanias das cidades de Wiesbaden e Coblença. Filho do conde João VII de Nassau, casado em segundas núpcias com Margarida de Holstein, princesa de HolsteinSonderburg, filha do duque de Schleswig-Holstein e de uma princesa da dinastia de Brunswick, João Maurício foi o décimo-terceiro filho de seu pai, mas o primogênito do segundo casamento. Pouco se sabe da sua infância, passada em Siegen. Recebeu boa educação nas Universidades da Basileia, onde chegou aos 10 anos, famosa desde os tempos de Erasmo, e de Genebra — importantes centros calvinistas no século XVII. Em Genebra, o rigor da época de Calvino estava atenuado pela presença de Teodoro de Bèze, grande teólogo protestante. Em 1616 ingressou no Collegium Mauritianum, criado por seu cunhado Maurício de Hesse-Kassel para filhos da nobreza protestante, participando da vida da corte da landgravina, sua meia-irmã Juliana. aceitou o convite da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (WIC) para administrar os domínios por ela conquistados na região Nordeste do Brasil (1636), percebendo uma ajuda de custo de 6.000 florins (equipamento) e salário mensal de 1.500 florins (que C. R. Boxer classifica como principesco), o


soldo de Coronel do Exército, além de uma participação de 2% sobre os lucros. Corriam ainda por conta da WIC suas despesas de mesa e criadagem (trouxe dezoito criados), os salários do predicante Francisco Plante, de seu médico Guilherme van Milaenen, e de seu secretário Tolner. Nassau prestou juramento perante os XIX em 4 de agosto de 1636 comprometendo-se pelo prazo de cinco anos a ser o Governador, Almirante e Capitão-General dos domínios conquistados e por conquistar pela Companhia das Índias Ocidentais no Brasil. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mauricio_de_Nassau

1641 25 de novembro invasão do Maranhão pelas tropas holandesas.

Map of the main WIC settlements in the Atlantic Ocean (1640s./1650s.)

http://www.colonialvoyage.com/eng/wic/map.html


AS PRIMEIRAS TENTATIVAS PORTUGUESAS DE POVOAMENTO E COLONIZAÇÃO DO BRASIL E DO MARANHÃO E A ORIGEM DO NOME “MARANHÃO” ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Nos primeiros anos do século XVI, Portugal, de território sabidamente pequeno, contava com menos de dois milhões de habitantes,168 em contraste com uma população aproximada de três a quatro milhões de índios no Brasil da época do Descobrimento.169 Com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, Portugal, dividido entre o Oriente e o Ocidente, era senhor potencial ou efetivo de extensas terras, para cuja exploração, ocupação ou colonização eram necessários recursos indubitavelmente superiores aos disponíveis ou possíveis. O Brasil não era e não podia ser então prioridade para Portugal. A Índia, com suas especiarias, ainda era a fonte principal de riquezas, embora cada vez a exigir maiores investimentos. Isto não quer dizer que não tenham sido adotadas medidas, tímidas que fossem, sob o reinado de D. Manuel, para a ocupação da terra inicialmente identificada como Ilha de Vera Cruz. A primeira expedição, de cunho exploratório, da qual participou Américo Vespucci, foi a de Gaspar de Lemos, que deixou Lisboa a 10 de maio de 1501, à frente de três navios, para lá retornando em setembro de 1502, após percorrer a costa brasileira da altura do Rio Grande do Norte para o sul, ao longo da qual foram batizados os lugares e acidentes geográficos visitados com os nomes dos santos e das festividades religiosas do dia: Cabo de São Roque, Cabo de Santo Agostinho, Rio São Francisco, Baía de Todos os Santos, Cabo de São Tomé, Rio de Janeiro, Angra dos Reis, entre outros. Tais explorações possibilitaram aos portugueses o reconhecimento de que a nova possessão não era uma ilha, porém uma vasta extensão de terra, com abundância de pau-brasil, denominada ibirapitanga pelos indígenas. A segunda, tendo como comandante Gonçalo Coelho, formada por seis caravelas, igualmente dispondo da perícia e experiência do cosmógrafo Américo Vespucci, saiu de Lisboa em 10 de junho de 1503, alcançando uma ilha desabitada, a qual foi chamada de Quaresma, nome posteriormente mudado para São João e, por fim, Fernando de Noronha. Encarregado de buscar um ancoradouro para os navios, o piloto florentino demorou-se nessa missão, na qual obteve êxito, de maneira que, quando retornou ao ponto onde estava a capitânia, não mais a encontrou, uma vez que esta seguira para o sul, havendo informação de que teria atingido o Rio de Janeiro e continuado até o Rio da Prata. Enquanto isso, Américo Vespucci rumou para a Baía de Todos os Santos e Cabo Frio, onde foi plantada uma feitoria com cuidados de fortim, e voltou a Portugal levando um expressivo carregamento de pau-brasil. Aliás, o navegador que deu nome ao 168

Ver, a propósito, MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. 2. ed. São Luís: SECMA; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. p. 31; e MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. São Luís: Tipografia São José, 1962. p. 23. 169 Ver, sobre o assunto, MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. La Ravardière e a França Equinocial: os franceses no Maranhão (1612-1615). Rio de Janeiro: Topbooks, 2007. p. 19.


nosso continente, em carta endereçada a D. Manuel em 1504, mostrou-se cético sobre as possibilidades econômicas da terra, cuja riqueza maior parecia ser o pau-brasil, por não haver nela sido encontrada qualquer espécie de minério, como o ouro, o que certamente não foi uma notícia animadora para os lusitanos. De qualquer forma, o pau-brasil foi, sem dúvida, nossa primeira riqueza, explorada pelos portugueses, nada comparável, é certo, aos lucros advindos do comércio das especiarias das Índias nesses tempos primordiais, mas logo alvo de vigoroso tráfico, em especial por parte dos franceses, que se revelaram mais hábeis no estabelecimento de relações com os indígenas ao longo da costa brasileira, conquistando a simpatia e a colaboração de várias tribos. Assim, considerando a utilidade dessa madeira para a indústria de tintas e o despertar da cobiça dos concorrentes estrangeiros, seu aproveitamento econômico não podia ser desprezado ou negligenciado, motivo pelo qual D. Manuel, depois do regresso da expedição de Gaspar de Lemos, reservou à Coroa o monopólio desse comércio, optando, no entanto, por confiar à iniciativa particular a exploração da Terra de Santa Cruz, mediante o arrendamento da extração do pau-brasil a mercadores de Lisboa, destacando-se, entre os arrendatários, o cristão-novo Fernão de Noronha ou Loronha, cuja fortuna estava assentada no comércio das especiarias e a quem caberia, pelo contrato firmado, enviar seis navios por ano à terra descoberta por Cabral, explorar 300 léguas do litoral, edificar e manter uma fortificação no correr de três anos e pagar à Coroa lusa 1/5 do valor da madeira obtida. Por conta deste, esteve no Brasil uma frota em 1503, viagem essa sobre a qual pouco é sabido, mas que levou o soberano lusitano a doar ao rico armador, em 16 de janeiro de 1504, a Ilha de São João, hoje conhecida, conforme já frisado, como Fernando de Noronha, a propósito, a primeira capitania hereditária destas plagas. O sistema de arrendamento a particulares, contudo, baseado prioritariamente no lucro, não surtiu os efeitos exploratórios e colonizadores desejados, quase abandonando a nova possessão à ação contínua de piratas, corsários e armadores europeus, notadamente franceses e espanhóis. D. Manuel e seu sucessor D. João III protestaram contra essa ação perante a Coroa francesa, principalmente o monarca Francisco I, sem êxito, já que este não reconhecia os alegados direitos de monopólio comercial dos portugueses e não se dispunha a coibir a lucrativa atividade desenvolvida por armadores, aventureiros, negociantes, marinheiros, piratas e corsários gauleses. Ante o insucesso dos protestos, e visando proteger o nosso litoral e dar fim ao tráfico estrangeiro do pau-brasil, cuja madeira de melhor qualidade era possivelmente a encontrada em Pernambuco (Caesalpinia crista), D. Manuel, recorrendo à alternativa militar, enviou a primeira expedição guarda-costa, chefiada por Cristóvão Jaques, o qual, entre 1516 e 1519, estruturou a defesa das feitorias de Cabo Frio, Santa Cruz e Igaraçu, respectivamente no Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, e teria prosseguido até o Rio da Prata. Já sob o governo de D. João III, o mesmo Cristóvão Jaques comandou outra expedição guarda-costa, no período de 1526 a 1528, providenciando a fundação da povoação ou feitoria de Itamaracá em Pernambuco. Nesses anos, o comandante citado foi responsável pelo afundamento dirigido de navios de nacionalidade francesa e pela captura e morte de seus tripulantes. A postura militar, todavia, não foi suficiente para sequer abalar os alicerces do tráfico combatido, visto que os comerciantes gauleses contavam com a boa vontade de seus aliados índios para a


continuação de suas atividades, além do que os piratas daquele país, concomitantemente, apresavam naus lusitanas, chegando a mais de duzentas em 1551. D. João III, o Piedoso, ao ascender ao trono português em 1521, preocupado em preservar e ampliar a sua herança de um império ancho e disperso de ilhas atlânticas e terras ultramarinas, promoveu o efetivo início da colonização do Brasil, porquanto a cobiça estrangeira pela madeira de tingir, origem do nome pelo qual a terra seria finalmente conhecida, já punha em risco o futuro do domínio português sobre essa possessão. Em 3 de dezembro de 1530, partiu do Tejo uma esquadra integrada por duas naus, um galeão e duas caravelas, comandada pelo fidalgo Martim Afonso de Sousa, descendente bastardo de D. Afonso III, acompanhado de seu irmão Pero Lopes, que narraria o êxito da empresa no seu valioso Diário de navegação. Foi a primeira expedição realmente colonizadora de nosso país, dotada de uma tripulação de quatrocentos homens, mudas de plantas e instrumentos agrícolas, cujo objetivo era afirmar a posse da terra, mediante a intensificação do combate aos piratas e, maiormente, a doação de sesmarias e o estabelecimento de núcleos de povoação de cunho permanente, que pudessem, de forma autônoma, cuidar do seu próprio desenvolvimento, proteger e explorar o território. Alcançando o litoral pernambucano, defrontou-se, logo no começo, nas proximidades do Cabo de Santo Agostinho, com três navios gauleses, os quais foram vencidos e apresados, sendo o carregamento de pau-brasil apreendido e remetido a Portugal. Em Pernambuco, Martim Afonso reativou a feitoria que fora pouco tempo antes saqueada por um galeão francês. Também enviou Diogo Leite com as caravelas Rosa e Princesa com a missão de explorar a costa norte até o “Rio do Maranhão”, o qual, de fato, atingiu a foz do Gurupi, oportunamente denominada Abra de Diogo Leite, atribuindo-se-lhe a conferição dos nomes de São José e São Marcos às baías do Golfão Maranhense. Em sequência, com o resto da frota, velejou para a Baía de Todos os Santos, aí encontrando o náufrago ou degredado Diogo Álvares, o famoso Caramuru, português que, vivendo entre os índios há 22 anos, usufruía do respeito destes e prestaria preciosa assistência aos seus compatriotas. Dirigiu-se então mais ao sul, alcançando a barra do Rio de Janeiro, onde se quedou por três meses. Determinou a edificação de uma casa forte à foz do Rio Comprido. Em prosseguimento da missão, Martim Afonso deteve-se por um mês e meio na área de Cananeia e rumou para o Rio da Prata, mas, à altura do Chuí, perdeu a nau capitânia em virtude de um temporal, salvando-se, com dificuldade, numa tábua, e abrigando-se na Ilha das Palmas. Em consequência, delegou a seu irmão a tarefa de exploração do rio visado e da região, o que este cumpriu em um bergantim com sucesso, atingindo o delta do Rio Paraná e seguindo-o até o esteiro dos Carandins, nas proximidades de San Pedro, na Argentina, onde foram postos dois padrões de pedra das armas reais, para marcar a posse da terra em favor de Portugal. Novamente juntos, Martim Afonso e Pero Lopes deixaram para trás o território platino e retornaram à costa brasileira, aportando em São Vicente em janeiro de 1532. Na região, o capitão-mor fundou duas vilas: a de São Vicente, na ilha da mesma denominação, que vingou, e a de Piratininga, no planalto, que pereceu. Distribuiu terras de sesmaria aos companheiros que ficariam no Brasil. No rol dessas sesmarias, estão aquelas de Pero de Góis, Brás Cubas e João Ramalho. Estruturou a administração das duas primeiras colônias regulares, nomeando autoridades, municipais e judiciárias, sem


olvidar a relevância da presença religiosa. Providenciou a defesa de São Vicente com a construção de um fortim. Incentivou o desenvolvimento da lavoura canavieira, contribuindo para a transição da economia colonial do comércio do pau-brasil para o do açúcar. O trabalho de Martim Afonso agradou, como era esperado, a D. João III, o qual, em carta de 28 de setembro de 1532, louvou-lhe os serviços prestados e anunciou-lhe a sua decisão de adotar o sistema de Capitanias hereditárias para a colonização do Brasil, dando-lhe a opção de regressar à metrópole ou de aqui permanecer, com direito a 100 léguas do litoral, enquanto seu irmão teria terras de extensão significativa, porém inferior. Martim Afonso escolheu voltar a Portugal, o que fez em 1533, incumbindo o Padre Gonçalo Monteiro da administração da Vila de São Vicente e João Ramalho do governo da outra povoação. Jonathas Serrano refere-se ao fidalgo como o detentor da “glória de ter iniciado a verdadeira colonização portuguêsa no Brasil”, cuja obra maior residiria precisamente na fundação das vilas no sudeste brasileiro e em suas consequências: Para dar início ao povoamento da primeira vila, levantou-se o pelourinho; uma igreja e uma alfândega logo se ergueram entre as habitações destinadas aos colonos. Depois de fundada, à beira-mar, a vila de S. Vicente, Martim Afonso transpôs a Serra do Mar e lançou, beira-rio, no interior, os alicerces de uma segunda vila, a de Piratininga, que teria duração efêmera. Aí foi secundado por João Ramalho, que lhe proporcionou a aliança dos Tamôios, graças à sua qualidade de marido de Bartira, filha do cacique Tibiriçá e que fundou a vila de Santo André da Borda do Campo. Introduziu nas duas colônias vários animais domésticos trazidos da Europa e cana de açúcar vinda da ilha Madeira. A cultura do trigo e a da vinha também prosperaram [...]170 Já por essa época, as Índias haviam perdido a sua condição de inquestionável manancial de riquezas para Portugal, face à crescente concorrência estrangeira na aquisição das especiarias, demandando mais e mais recursos, em sobrecarga ao Tesouro, de feição a compelir D. João III a recorrer a empréstimos para a manutenção de pessoal administrativo e militar no Oriente. Endividando-se, o país tinha dificuldades para fazer frente aos necessariamente dispendiosos esforços de colonização de suas terras na América, ainda mais pelo fato de que o pau-brasil não constituía um negócio admiravelmente rentável, levando-se em consideração o continuado, e cada vez mais organizado, comércio clandestino de que era alvo por parte de outras nações. “A incapacidade do Erário régio para atender às vultosas despesas da colonização foi, portanto, uma das principais razões da aplicação, ao Brasil, do regime da concessão de Capitanias hereditárias”, escreve Helio Vianna, acrescentando que Portugal buscou apoio na iniciativa de particulares, mais especificamente “grandes soldados e marinheiros da África e do Oriente, altos funcionários do Reino e fidalgos da Casa Real que se dispusessem a correr os riscos de uma emprêsa tão difícil quanto honrosa”.171 Para não perder suas terras americanas no porvir, pela eventual colonização que viesse a ser realizada por uma dessas nações cobiçosas, e para resguardar o erário, o governo luso adotou esse sistema, o qual representou uma adaptação da experiência de doação de bens da Coroa que orientara, desde os século XV, os primeiros passos da 170

SERRANO, Jonathas. História do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia., 1968. p. 73. VIANNA, Helio. História do Brasil: período colonial. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1965. v. 1, p. 62.

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exploração, povoamento e colonização das ilhas atlânticas, como as da Madeira, Açores e Cabo Verde. Os donatários usufruíam um imenso poder no âmbito de suas capitanias, reunindo atribuições dos três poderes, isto é, executivo, legislativo e judiciário, mas sempre como vassalos do soberano reinante, submetidos, tão-somente, à autoridade e fiscalização da metrópole. Também eram hercúleas as suas responsabilidades, descritas por Mário da Veiga Cabral, voltadas para o objetivo prioritário de colonização dessas terras: Os donatários ficavam na obrigação de colonizar o solo, fundar povoações, nomear todos os empregados (administrativos, judiciários e militares), decretar e cobrar impostos, estudar as bacias hidrográficas, conceder sesmarias a particulares desde que êstes seguissem a religião católica, criar alcaidarias e monopolizar marinhas e cursos de rios.172 A Coroa, por sua vez, não abria mão de certos privilégios, assegurando-se-lhe “o quinto dos metais e pedras preciosas, o monopólio do pau-brasil, das drogas e especiarias, os pequenos direitos alfandegários, o direito de cunhar moeda e o dízimo de todos os produtos”, como enumera Jonathas Serrano.173 A concessão das capitanias, estas de cunho hereditário, inalienável e indivisível, era formalizada pelas chamadas “cartas de doação”, nas quais restavam sacramentados os direitos e prerrogativas dos donatários, adquiridos em função do reconhecimento da legitimidade da posse, não se tratando, destarte, de outorga de propriedade. Já o “foral” traduzia o documento de natureza contratual que regia a relação entre os colonos, o donatário e o rei, no tocante a direitos, foros, tributos e outras coisas. Além da capitania insular da Ilha de São João, criada em 1504, futura Fernando de Noronha, sob o reinado de D. Manuel, D. João III criou, entre 1534 e 1536, 14 capitanias hereditárias na parte continental leste do Brasil, correspondentes a 15 lotes, em benefício de 12 donatários, que acompanhavam o contorno do litoral, do Maranhão até Santa Catarina, findando, a oeste, no meridiano estabelecido no Tratado de Tordesilhas (1494), de limites não demarcados. Eram estas, na direção norte-sul: a) Maranhão (a primeira), situada entre a Aba de Diogo Leite e o Cabo de Todos os Santos ou entre a foz do Rio Gurupi e a Ponta dos Mangues Verdes, de 50 léguas de 172

CABRAL, Mário da Veiga. História do Brasil: curso superior. 19. ed. Rio de Janeiro: Paulo de Azevedo, 1959. p. 62. 173 SERRANO. História do Brasil, p. 78. O mesmo autor oferece outros detalhes sobre o regime das Capitanias hereditárias: “O donatário devia colonizar e defender a sua capitania com seus próprios recursos. Em compensação, eram-lhe outorgados favores extraordinários: tinham amplíssimos direitos para governar, e exercer a justiça. Nunca seriam suspensos nem condenados sem que primeiros ouvissem em pessoa o próprio soberano. Podiam até cativar gentio para seu serviço e de seus navios, e mandar dêles vender a Lisboa até 39 cada ano! No mais, vigoravam no Brasil as leis da metrópole (Ordenações afonsinas e código manuelino), porém muito abrandadas.” Ibidem, p. 78. O antropólogo Roberto DaMatta vê na aurora da colonização lusitana no Brasil as origens do fomento às condições propícias à corrupção, favorecida pela falta de distinção entre o público e o privado, hoje impregnada na tessitura social deste país: “Além disso, estamos falando de um mal de raízes muito antigas, entranhado no caldo cultural brasileiro desde os primórdios da colonização portuguesa. Foi ali que se fincaram as bases da ideia antimoderna de estado que persiste até hoje. [...] Temos um modelo de estado generoso, condescendente e que faz vista grossa aos pecadilhos de seus altos funcionários em detrimento do mérito e da eficiência. Ou seja: é um verdadeiro pai, mas apenas para quem se encastela na máquina e para os que orbitam ao seu redor. Ali impera a lógica dos privilégios e dos favores, como se fosse a extensão da própria casa daqueles que estão sob suas asas.” DAMATTA, Roberto. Sobra dinheiro, falta vigilância. Veja, São Paulo, v. 44, n. 2236, p. 20, 28 set. 2011. Entrevista concedida a Monica Weinberg.


costa, tendo Aires da Cunha como donatário, o qual firmou associação com Fernando Álvares de Andrade e o afamado historiador João de Barros; b) Maranhão (a segunda), localizada entre o Cabo de Todos os Santos ou a Ponta dos Mangues Verdes e a foz do Rio da Cruz (Camocim), com extensão de 75 léguas, cujo donatário era o mencionado Fernando Álvares de Andrade, Tesoureiro-Mor da Fazenda Real; c) Ceará, cobrindo desde a foz do Rio da Cruz até a Angra dos Negros (Mucuripe) ou foz do Rio Jaguaribe, de 40 léguas, concedida ao Cavaleiro-Fidalgo Antônio Cardoso de Barros; d) Rio Grande, situada entre a Angra dos Negros ou a foz do Rio Jaguaribe e a Baía de Acajutibiró (atualmente da Traição), compreendendo 100 léguas, outorgada ao mesmo João de Barros, Feitor e Tesoureiro da Casa da Índia; e) Itamaracá, abrangendo desde a Baía da Traição até o norte do Rio Igaraçu, de 30 léguas, conferida ao já citado Pero Lopes de Sousa, irmão de Martim Afonso de Sousa; f) Pernambuco ou Nova Lusitânia, localizada entre o norte do Rio Igaraçu e a foz do Rio São Francisco, com 60 léguas, cujo donatário era o navegador Duarte Coelho, antigo comandante na Ásia; g) Baía de Todos os Santos, estendendo-se da foz do Rio São Francisco à Ponta do Padrão, de 50 léguas, tendo como donatário Francisco Pereira Coutinho, militar na Índia; h) Ilhéus, cobrindo desde a Baía de Todos os Santos até o Rio Santo Antônio, de 50 léguas, concedida a Jorge de Figueiredo Correia, Escrivão da Fazenda Real; i) Porto Seguro, situada entre os rios Santo Antônio e Mucuri, com 50 léguas, doada ao rico navegador Pero do Campo Tourinho, de reconhecida experiência marítima; j) Espírito Santo, localizada entre os rios Mucuri e Itapemirim, abarcando 50 léguas de litoral, conferida a Vasco Fernandes Coutinho, militar no Oriente; k) São Tomé, cuja extensão ia desde os baixos de Pargos (Itapemirim) até o Rio Macaé, com 30 léguas, outorgada a Pero de Góis, integrante da expedição de Martim Afonso de Sousa; l) São Vicente, incluindo dois lotes, um situado entre os rios Macaé e Curupacé ou Juqueriquerê, de 55 léguas, e o outro espraiando-se do Rio de São Vicente à Ilha do Mel, à entrada da Baía de Paranaguá, com 45 léguas, tendo como donatário de ambos o mesmo Martim Afonso de Sousa; m) Santo Amaro, localizada em meio à capitania anterior, limitada pelos rios Curupacé e de São Vicente, entre o primeiro rio e a Barra da Bertioga, com apenas 10 léguas, também doada a Pero Lopes de Sousa; n) Santana, situada entre a Baía de Paranaguá e Laguna ou entre a Ilha do Mel e o ponto de 28º20’ de latitude sul, correspondendo a Laguna, ostentando 40 léguas, igualmente concedida a Pero Lopes de Sousa.174

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Ver, sobre a lista de capitanias donatárias, VIANNA. História do Brasil, p. 66-68; e CABRAL. História do Brasil, p. 62-63.


O mesmo monarca ainda foi responsável pela criação de mais duas donatarias insulares, as das ilhas da Trindade e de Itaparica. E D. Sebastião I criou a derradeira capitania hereditária do século XVI, a de Peroaçu, Paraguaçu ou Recôncavo da Bahia. Porém, o sistema das Capitanias hereditárias não gerou os efeitos desejados. Poucas prosperaram, a exemplo das de São Vicente175 e Pernambuco, razão pela qual o Reino português instituiu um Governo-Geral no Brasil, com o propósito de complementar o regime vigente, dando-lhe suporte. Na avaliação de Vasco Mariz e Lucien Provençal, foi este o passo decisivo para a colonização, apoiado firmemente pela Igreja, não obstante as continuadas dificuldades com os indígenas: Como as capitanias não alcançaram muito sucesso, a verdadeira colonização só começaria em 1548 com a chegada do primeiro governadorgeral do Brasil, Tomé de Souza, acompanhado de mil homens, dos quais 400 eram condenados. As doações passam a ser capitanias organizadas militar, administrativa e judicialmente. Tomé de Souza, apesar do apoio de um mestiço, Caramuru, não conseguiu convencer os índios a serem seus aliados. D. João III associou Inácio de Loyola, fundador da Ordem de Jesus, à sua colonização. A ordem foi encarregada pelo Papa Paulo III, em 1540, de ‘lutar contra as heresias e propagar a fé nas partes do mundo que não conhecem o cristianismo’. Assim, em 1548, os jesuítas dirigidos por Manuel da Nóbrega embarcaram em direção da Bahia, tendo em mente a divisa de Loyola: ‘Parte e inflama o mundo!’ Essa seria uma contribuição essencial para fazer do Brasil uma terra portuguesa.176 Os índios dos primórdios do povoamento e colonização do Brasil são classificados, tradicionalmente, em dois grupos mais importantes: tupis, mais avançados, que viviam no litoral e falavam uma língua comum; e tapuias, mais atrasados, que habitavam o interior e os sertões e se expressavam por diversas linguagens, ditas “línguas travadas”. Os tupinambás compunham o primeiro grupo, mas o termo foi usado, nesses primeiros tempos, como sinédoque designativa dos indígenas em geral habitantes da costa do Brasil, ligados ao grupo linguístico tupi.177 Osvaldo Souza apresenta uma divisão assaz didática dos grupos índios brasileiros: Classificam-se os indígenas do Brasil em quatro grandes grupos e outros menores, formados de muitas tribos. Os tupis, mais adiantados, viviam no litoral e eram constituídos pelos caetés, tupinambás, tamoios, guaianás e outros. Os tapuias ou jês viviam no interior, mais atrasados, eram formados pelos aimorés e botocudos. Os caraíbas, guerreiros, antropófagos, ocupavam as Guaianas e Norte de Mato Grosso e de Goiás e eram representados pelos bacaris, pimenteiras e aracajus. Os nuaruaques eram grandes ceramistas, localizavam-se no Alto Amazonas e eram constituídos

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A Capitania de São Vicente, apesar de grandes dificuldades iniciais, desenvolveu-se, mesmo na ausência do titular da capitania, Martim Afonso de Sousa, mercê da administração eficiente dos prepostos. 176 MARIZ; PROVENÇAL. La Ravardière e a França Equinocial, p. 19. 177 Ver nota de rodapé de Raul Barbosa em THEVET, André. A cosmografia universal de André Thevet, cosmógrafo do rei. Tradução e notas de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Batel: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. p. 60.


pelos paumaris, manaus, purupurus, parecis e aruãs. Os grupos menores eram formados pelos bororos, nambiquaras, coitacás, guaicurus e cariris.178 Os indígenas dos primeiros tempos da colonização também aprenderam a diferenciar os europeus, sobretudo entre aqueles que mais frequentemente aportavam na terra: os portugueses e os franceses. Denominavam os primeiros de peró, significando “tubarões” ou “os que vêm pelo mar”, e os últimos de mair, denotando “os transformadores”,179 ou ayurujuba, querendo dizer “papagaio amarelo”,180 “porque eles falavam abundantemente, e geralmente ostentavam uma aterradora barba ruiva, ou pelo menos loira”.181

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SOUZA, Osvaldo Rodrigues de. História Geral. 5. ed. São Paulo: Ática, 1971. p. 275. Veiga Cabral procura indicar as principais áreas de localização das nações tupi e tapuia: “A primeira compreendia diversas tribos, sendo as mais importantes a dos Tamôios, no atual Estado do Rio de Janeiro; a dos Tupinambás e Tupiniquins, na Bahia; a dos Carijós, entre Santos e Rio Grande do Sul; a dos Caetés, em Pernambuco; a dos Potiguaras, no Rio Grande do Norte e Paraíba; e a dos Guajajáras, no Maranhão. A nação dos Tapuias compreendia também diversas tribos, destacando-se a dos ferozes Aimorés, ao N. do Espírito Santo e S. da Bahia; a dos Botocudos e a dos Xavantes.” CABRAL. História do Brasil, p. 37. 179 Noticia André Thevet que Maire, na mitologia indígena, era o nome pelo qual eram conhecidos indivíduos de feitos grandiosos, genuínos heróis da civilização, herdeiros e sucessores de Maire-monan, espécie de grande profeta, de quem os franceses seriam sucessores e descendentes por merecimento: “Acreditam os selvagens que desse Irin-magé provêm todos os homens, que viveram antes do dilúvio [...]. Desse Irin-magé saiu um grande Caraíbe, que eles têm por seu profeta, assim como os turcos têm por profeta a Maomé. E, por causa das obras maravilhosas que ele fazia, deram-lhe a denominação de Maire-monan, nome que devo interpretar para o leitor. A palavra Maire, em língua selvagem, significa ‘transformador’, uma vez que o personagem em causa era hábil em transformar uma coisa em outra; quanto a Monan, significa ‘velho’ ou ‘antigo’. Aplicado ao grande Caraíbe, o vocábulo significa ‘imortal’, visto que o grande Monan [ser divino], que fez descer o fogo do céu sobre a terra, nem tem começo nem fim. [...] Dizem eles que, por consideração para com o segundo Monan, admirável entre os homens, já multiplicados na face da terra, os que faziam coisas mais maravilhoas e maiores que os outros eram chamados indiferentemente Maire, como herdeiros e sucessores de Maire-monan, assim como outrora entre os gregos aqueles que se distinguiam em qualquer terreno eram chamados heróis, de onde veio a expressão ‘virtude heroica’. Essa palavra Maire foi usurpada até o tempo do dilúvio, que eles dizem ter sido universal, para aqueles que eram raros em obras; de maneira que, vendo agora que sabemos mais que eles, e que nossas ações lhes parecem admiráveis, dizem que somos os sucessores e verdadeiros descendentes de Maire-monan, que sua verdadeira raça se instalou em nossas terras [...].” A cosmografia universal de André Thevet, cosmógrafo do rei, p. 51-52. Ver, ainda, THEVET, André. Les français en Amérique pendant la deuxième moitié du XVIe siècle: le Brésil et les brésiliens. Choix de textes et notes par Suzanne Lussagnet. Introduction par Ch.-A. Julien. Paris: Presses Universitaires de France, 1953. p. 40-41. Em nota constante do Capítulo III do livro Les français en Amérique pendant la deuxième moitié du XVIe siècle, Suzanne Lussagnet também comenta o significado da palavra Maire, criticando, no entanto, o texto de André Thevet sobre o assunto: “Maire (Maíra em tupi) é o nome genérico dos heróis civilizadores e se combina, segundo o caso, com diversos qualificativos, aqui com monan, que sugere a ideia de criação (Maire Monan corresponderia então a ‘deus criador’). A etimologia de Thevet é puramente fantasista e provavelmente de sua lavra.” Ver ibidem, p. 40. (Tradução nossa). A redação em francês é a seguinte: “Maire (Maíra en tupi) est le nom générique des héros civilisateurs et se combine, selon le cas, avec divers qualificatifs, ici avec monan, qui suggère l’idée de création (Maire Monan correspondrait donc à ‘dieu créateur’). L’étymologie de Thevet est purement fantaisiste et probablement de son cru.” 180 THEVET. A cosmografia universal de André Thevet, cosmógrafo do rei, p. 159; THEVET. Les français en Amérique..., p. 198; e VIANNA. História do Brasil, p. 53. 181 PIANZOLA, Maurice. Os papagaios amarelos: os franceses na conquista do Brasil. Tradução de Rosa Freire d’Aguiar. São Luís: Secretaria da Cultura do Estado do Maranhão; Brasília: Alhambra, 1992. p. 78.


Por outro lado, Robert Southey, assentando-se em Bernardo Pereira de Berredo,182 sustenta uma explicação alternativa para o uso do vocábulo peró como designativo dos lusitanos, atrelando-a à convivência entre os índios de um português, cujo nome teria servido para a generalização em tela, sobrevivente de uma malograda expedição ao Maranhão, da qual trataremos mais adiante, a mesma da qual não voltaria o donatário Aires da Cunha.183 Barbosa de Godóis, contudo, rechaça categoricamente essa hipótese.184 Outra possibilidade é que perros fosse a denominação dada pelos indígenas aos seus inimigos.185 O fato de que os gauleses tinham, em geral, mais facilidade em angariar a simpatia dos nativos e a adesão destes aos seus objetivos nos albores da exploração e colonização do Brasil, é justificada por Maurice Pianzola nestes termos: Esses índios preferem os franceses aos portugueses porque estes, instalados nas terras férteis ao longo da costa, precisam de escravos em suas plantações de cana-de-açúcar, o que provoca grandes ‘tormentos’, assim como caçadas humanas, evasões, perseguições, sevícias e ódio, ao passo que os franceses apenas passam, trazendo machados, foices, espelhos e contas de vidro, para partirem carregados de pau-de-tinta, papagaios e macacos. No máximo deixam na região um ou dois jovens marinheiros que vão aprender a língua, tornando-se assim indispensáveis ‘línguas’, e se casar, esquecendo-se das leis da Igreja; levarão para a França um ou dois filhos de chefes, sistema que o manuscrito de Turim qualifica cruamente de

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Ver o parágrafo 50 de BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais históricos do Estado do Maranhão, em que se dá notícia do seu descobrimento, e tudo o mais que nele tem sucedido desde o ano em que foi descoberto até o de 1718: oferecidos ao Augustíssimo Monarca D. João V. Nosso Senhor. 4. ed. Rio de Janeiro: Tipo Editor, 1988. p. 36. 183 “Desta expedição ficou um homem entre os selvagens. Era ferreiro, de tôdas as profissões a mais útil em semelhante situação, e das peças dos cascos naufragados arrojadas à praia, extraiu êle ferro bastante, para si próprio tornar grande personagem e obter para mulheres as filhas de muitos caciques vizinhos. Do seu nome chamaram os índios aos portuguêses Peros, supondo ser esta a designação genérica; e daqui veio a fábula de ter existido uma tribo guerreira entre os rios Mouí e Itapicuru, descendente dos que sobreviveram a êste grande naufrágio, e que além de ter barbas como os avós, com os seus nomes os faziam lembrar.” SOUTHEY, Robert. História do Brasil. Tradução de Luiz Joaquim de Oliveira e Castro. 3. ed. São Paulo: Obelisco, 1965. v. 1, p. 72. A versão exposta por Ferdinand Denis sobre este Adão luso é muito assemelhada: “Nestes tempos de singulares aventuras, em que se tinham visto simples capitães chegarem a ser reis nas Índias, um dos náufragos resolveu tentar fortuna entre os indígenas, e a herdar, sendo possível, direitos do donatário. Era este homem simplesmente um serralheiro, chamado Pedro, e, por abreviação, Pero. Caminhando pela praia, recolheu os destroços do navio, que continha algum ferro, e espantou os selvagens com as maravilhas da sua indústria; tal foi o princípio da sua alta fortuna. Esposou a filha de um chefe ou, dizendo melhor, de um pretenso cacique, como refere Aires de Casal, e viveu cercado de honras no meio dos que o haviam acolhido. Seus dois filhos receberam dos selvagens o nome de Peros.” Brasil. Tradução de João Etiennne Filho e Malta Lima. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1980. p. 299. 184 “Fraca por demais essa explicação, que é, além disso, contrastada com o fato de no sul do país ser o mesmo nome de pero usado pelos selvagens, não merece que sobre ela nos detenhamos, bastando que a apontemos como simples curiosidade histórica.” GODÓIS, Antônio Batista Barbosa de. História do Maranhão para uso dos alunos da Escola Normal. 2. ed. São Luís: AML/EDUEMA, 2008. p. 50. Ver também GODOIS, Antonio Baptista Barbosa de. Historia do Maranhão para uso dos alumnos da Escola Normal. São Luís: Mar. Typ. de Ramos d’Almeida & G., Suces., 1904. t. 1, p. 12. 185 “Às vezes quer parecer-me, que outra fôsse a origem do nome, e que os indígenas quisessem chamar perros os seus inimigos.” SOUTHEY. História do Brasil, v. 1, p. 76.


simples troca de reféns, garantindo a segurança e a volta de uns e de outros.186 Somente onze das donatarias elencadas assistiram efetivamente ao advento do século XVII, do norte para o sul: Ilha de São João, Itamaracá, Pernambuco, Peroaçu, Itaparica, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, São Tomé, São Vicente e Santo Amaro, incluindo-se aí as despovoadas terras de Santana. As principais vilas das capitanias, fundadas ainda no século XVI, e que conheceriam continuidade, foram as de Conceição (Itamaracá), Igaraçu e Olinda (Pernambuco), São Jorge dos Ilhéus (Ilhéus), Porto Seguro (Porto Seguro), Espírito Santo e Nossa Senhora da Vitória (Espírito Santo), São Vicente (de fundação anterior à criação da capitania), Todos os Santos (ou Porto dos Santos, posteriormente apenas Santos), Santo André da Borda do Campo (com transferência de seus habitantes para São Paulo do Campo de Piratininga) e Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, as quatro últimas na Capitania de São Vicente).187 No Livro que dá razão do Estado do Brasil – 1612, escrito quando o Maranhão estava sob o domínio francês e o Grão-Pará, menos conhecido, tampouco fora ainda conquistado, são descritos os limites do Brasil de então e referidas as donatarias que tiveram algum desenvolvimento, mormente em função de uma maior participação da Coroa lusitana nos seus destinos: O Estado do Brasil, Províncias de Santa Cruz, é a parte oriental do Peru povoada na costa do mar Etiópico, e repartida em partes a que chamam capitanias, que em tal forma foram servidos os passados reis de Portugal de as encarregar, com largas doações, a certos donatários. Corre a costa de seu distrito desde o rio Mearim ou Maranhão, até a boca do rio da Prata ou Paraná, como na Carta Geral se mostra. Tôdas essas capitanias, para bem do que produzem tratam de separação e sustentam-se de violências, e nesta conformidade gozaram de mais aumento aquelas que o braço real tomou mais à sua conta quando no povoar e conquistar faltaram seus donatários. Neste caso fazem exemplo a Bahia de Todos os Santos, o Rio de Janeiro, Paraíba, o Rio Grande, tôdas hoje de sua Majestade, nas quais, porque o são, aumentam-se cada dia as povoações e crescem as fazendas. Pernambuco e Itamaracá podem entrar nessa conta, porquanto às suas maiores necessidades acudiu Sua Majestade com capitais, presídios e fortificações, que até hoje sustenta de sua Real Fazenda.188 As primeiras capitanias pertencentes à própria Coroa, fundadas ainda no século XVI, em áreas de insucesso das hereditárias, foram a da Bahia de Todos os Santos, a de São Sebastião do Rio de Janeiro, a da Paraíba e a do Rio Grande (do Norte). A listagem das capitanias hereditárias que alcançaram o século XVII e das primeiras vilas bem-sucedidas leva a uma observação importante: as donatarias do norte do Brasil fracassaram praticamente por completo, entre as quais as duas do Maranhão. E não por falta de tentativa ou por abandono de seus donatários.

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PIANZOLA. Os papagaios amarelos, p. 78. VIANNA. História do Brasil, p. 88-89. 188 MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão do Estado do Brasil – 1612. Edição crítica, com introdução e notas de Helio Vianna. Recife: Arquivo Público Estadual, 1955. p. 107-108. 187


Mas antes de nos aventurarmos pelas tormentosas águas do Brasil setentrional e, mais especialmente, do Maranhão, que já receberam em seu regaço tantos naufrágios, é preciso que nos debrucemos sobre duas questões, uma de interesse linguístico, outra de interesse histórico: a origem e significado da palavra “Maranhão” e o processo pelo qual tal vocábulo passou de designativo de rio, hoje Amazonas, para o de capitanias hereditárias e do futuro estado da República. Comenta Suzanne Lussagnet, em anotação ao texto de André Thevet, que, na época da publicação de suas obras, não era clara, para muitos, a diferenciação entre o atual Rio Amazonas e o tríplice estuário dos rios Mearim, Itapecuru e Munim, conquanto esta não aparentasse ser a regra entre os franceses: Na data das Singularidades (1557) e mesmo naquela da Cosmografia (1575) a distinção nem sempre era nítida entre o rio das Amazonas, chamado Marañon pelos espanhóis após a viagem de Orellana [...] e, mais ao sudeste, o triplo estuário dos rios Mearim, Itapecuru e Munim, conhecido dos portugueses sob o nome de Maranhão e visitado pelas expedições de Aires da Cunha e de Luiz de Melo. Esta porção do litoral brasileiro, defendida por suas perigosas correntes e, na direção do sul, por seus escolhos, permaneceu, aliás, mal conhecida durante todo o século XVI, se bem que ela foi teoricamente da alçada de capitanias portuguesas. É também possível que a confusão tenha sido encorajada pelo emprego de um termo índio (de onde derivariam ao mesmo tempo Marañón e Maranhão) que teria podido designar uma configuração geográfica análoga (um largo estuário barrado por uma ou várias ilhas). Para os pilotos e viajantes franceses, parece que, em geral, Amazonas e ‘Marignan’ tenham sido distintos [...]. Enfim, no princípio do século seguinte, ‘o rio de Maragnon’, com sua ilha, jamais designa outra coisa para os franceses que não seja o mesmo Maranhão [...].189 Não deve ser esquecida a manifestação de uma testemunha daqueles tempos pioneiros: Simão Estácio da Silveira, supostamente o primeiro presidente da nascente Câmara de Vereadores de São Luís, instalada em 9 de dezembro de 1619. Ele chegou ao Maranhão em abril do mesmo ano, na condição de comandante da nau capitânia da expedição de Jorge de Lemos Bitencourt, em companhia de um primeiro grupo de colonos açoreanos, entre os quais mulheres, voltou a Portugal e lá escreveu a Relação sumária das cousas do Maranhão, obra laudatória originalmente publicada em 1624, com o intuito de estimular a migração portuguesa para a terra que o encantara. Em redação confusa, na realidade reportando-se ao rio, como alerta Cândido Mendes de 189

Ver nota em THEVET. Les français en Amérique..., p. 218. (Tradução nossa). Este é o texto no original: “A la date des Singularitez (1557) et même à celle de la Cosmographie (1575) la distinction n’était pas toujours nette entre le fleuve des Amazones, nommé Marañon par les Espagnols après le voyage d’Orellana [...] et, plus au sud-est, le triple estuaire des rios Mearim, Itapecuru et Monin, connu des Portugais sous le nom de Maranhão et visité par les expéditions d’Aires da Cunha et de Luiz de Melo. Cette portion du littoral brésilien, défendue par ses courants dangereux et, vers le sud, par ses écueils, resta d’ailleurs mal connue durant tout le XVIe siècle, bien que’elle fût théoriquement du ressort de capitaineries portugaises. Il se peut aussi que la confusion ait été encouragée par l’emploi d’un terme indien (d’où dériveraient à la fois Marañón et Maranhão) qui aurait pu désigner une configuration géographique analogue (un large estuaire barré par une ou plusieurs îles). Pour les pilotes et voyageurs français, il sembre qu’en général Amazone et ‘Marignan’ aient été distincts [...]. Enfin, au début du siècle suivant, ‘la riviere de Maragnon’, avec son île, ne désigne jamais autre chose pour les Français que le même Maranhão [...].” A derradeira assertiva de Suzanne Lussagnet tem como base as obras de Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux.


Almeida,190 ele diz que o Maranhão tomou este designativo “do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”.191 O certo é que o vocábulo “Maranhão” foi inicialmente utilizado por portugueses e espanhóis, sobretudo, como uma das denominações do rio hoje conhecido como Amazonas. Consoante esclarece Mário Meireles no livro João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, “o rio em verdade tinha vários nomes, conforme o chamavam as diferentes tribos que habitavam suas margens”, isto é, “Guiene, para umas, Paranápetinga para outras, e também Maraon, que os espanhóis traduziriam para Marañon e os portugueses para Maranhão; e em cuja foz, concordavam estes e aqueles, passava a Linha de Tordesilhas”.192 Em um segundo momento, todavia, enquanto os espanhóis e outros estrangeiros continuavam a identificar como Rio Maranhão o Rio Amazonas, no cenário lusitano, “foi o nome de Maranhão transferido do Amazonas para designar a grande enseada”, por onde desembocam no mar as águas dos rios Pindaré, Mearim, Itapecuru e Munim, além da “ilha, situada no meio desta grande enseada, e na qual está fundada a cidade de S. Luiz”, embora alguns autores da mesma nacionalidade parecessem tencionar “applicar o nome de Maranhão ao rio Meary, o mais caudal e possante de quantos pagam o tributo de suas aguas áquella enseada”, na lição de um certo J. H. da C. R., autor de um texto intitulado “Maranhão”, publicado no jornal semanal luso O panorama no longínquo ano de 1840193 e lembrado por César Marques em seu célebre Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão.194 Há grande controvérsia sobre a origem da palavra “Maranhão”, se ibérica, indígena, tupi ou tapuia, ou até fenícia, sem dúvida a menos considerada. Mário Meireles fornece um painel deveras abrangente das diferentes opiniões sobre a etimologia do termo na sua História do Maranhão: Xavier Fernandes, reportando-se naturalmente a essa (sic) hipóteses, observa nos Topônimos e gentílicos (Porto, 1943) que em Navarra existe uma localidade desse nome; entretanto, ressalta que o vocábulo deve ser aumentativo de maranha, sinônimo de matagal, mesmo porque ‘na província do Minho existe o topônimo Maranhas e, mais, porque Maranhão é o nome 190

Ver nota em SILVEIRA, Simão Estácio da. Relação sumária das cousas do Maranhão. 7. ed. São Luís: UFMA/SIOGE, 1979. p. 59. 191 Ibidem, p. 21. Mário Meireles procura esclarecer a tese de Estácio da Silveira: “Marañon era o nome do atual rio Amazonas, como já lhe registrara o descobrimento em 1499, em seus Descobrimentos do mundo, Antonino Galvão, admitindo-se que o tivesse herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro, que primeiro o tivesse descoberto, eis que tal apelido de família era conhecido em Espanha desde o século XII, referindo mesmo Berredo que o sexto mestre da Ordem de Santiago, fundada em 1614, era Fernando Gonçalves Marañon. Daí, por extensão, o nome dado a toda a região, pela circunstância de, ao demandar Aires da Cunha o rio Maranhão, ter naufragado no golfão em que está a ilha de S. Luís e que, com os poucos conhecimentos geográficos da zona à época, teria sido confundido com o estuário do Amazonas.” MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 3. ed. São Paulo: Siciliano, 2001. p. 29-30. Ver igualmente BERREDO. Anais históricos do Estado do Maranhão..., p. 29-30; GODÓIS. História do Maranhão para uso dos alunos da Escola Normal, 2008, p. 52-53; e GODOIS. Historia do Maranhão para uso dos alumnos da Escola Normal, 1904, p. 16-17. 192 MEIRELES, Mário Martins. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão. São Luís: ALUMAR, 1996. p. 60. 193 R., J. H. da C. Maranhão. O panorama: jornal litterario e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis, Lisboa, v. 4, p. 234, jan./dez. 1840. 194 Ver MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão. [2. ed]. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1970. p. 438; e MARQUES, César Augusto. Dicionário históricogeográfico da Província do Maranhão. Notas e apuração textual de Jomar Moraes. 3. ed. São Luís: Edições AML, 2008. p. 721.


de uma antiga aldeia alentejana, concelho de Avis, o que parece provar que tal palavra já existia em Portugal antes do descobrimento do Brasil’. Cândido Figueiredo, mestre da língua, discordando (Problemas de linguagem, v. II) da hipótese de Orville Derby (Costa do norte do Brasil), de que o vocábulo seria uma variação morfológica de marachão (dique, recife), esclarece que ele é simples aumentativo de maraña – matagal, coisa enredada, teia de lã; e fala naquela aldeia alentejana de que teríamos herdado o topônimo. Não obstante, Ludovico Schwennhagen, em sua atrevida Antiga história do Brasil, decompondo o vocábulo Mara-Ion, diz que assim os tupinambás designavam o grande rio da terra, nome possivelmente formulado pelos fenícios quando teriam andado pela região, antes da era cristã. O jesuíta Manuel Rodrigues, em seu Marañon y Amazonas, apresenta conjecturas absurdas. Primeiro, a de um pretenso diálogo entre dois dos primeiros espanhóis descobridores do rio: – Mar?... Non! Ou em latim: – Mara?... Non! Segundo, a de o nome ter-se originado das maranhas (intrigas ou enredos) do famigerado Lopo de Aguirre. Terceiro, a de que viria de mara, amarga, e não, ‘como quem dissesse que as águas daquelas paragens não eram amargas!!’. As exclamações são de Cândido de Figueiredo, que também não concorda em que seja simples aumentativo de mar, conforme pretende o padre Vieira. Fran Paxeco, em sua monumental Geografia do Maranhão, discorda de tudo isso e se diz convencido de uma ainda desconhecida origem tupi-guarani, mesmo porque esse é o nome de um afluente goiano do Tocantins. Xavier Fernandes também aponta um Maranhão, afluente do Tietê, em São Paulo. As hipóteses de origem indígena, além do Mara-ion tupinambá de formação fenícia, são apresentadas pelo referido Fran Paxeco naquele inestimável livro. Maranhay, corruptela de maramonhagá (brigar) e anham, é designativo da pororoca comum ao Amazonas e ao Maranhão, explica o padre João Tavares, baseado em estudos de Bartolomeu Leão e Ascenso Gago. Ou Maranhay, de maram (despropositadamente), nhãna (correr) e y (água, ou seja, água que corre à toa, em vertigem), na explicação de João Afonso do Nascimento. Ainda, paranã que se teria corrompido em maranã, de onde maranãguaras, por parañaguaras, para os habitantes da ilha, conforme Henriques Leal, em Lucubrações. Mais ainda: maraunás, os indígenas encontrados por Pinzón em Piracuruca, cuja maraunataba teria sido traduzida pelo espanhol marañon, segundo Manuel Barata na Jornada de Francisco Caldeira Castelo Branco. Finalmente, mariamtabalo, de origem caribo-aruaque, nome com que aparece o Amazonas na literatura relativa a seu descobrimento por Pinzón, de conformidade com Rodolpho R. Schuller. Além dessas, reunidas na citada Geografia do Maranhão, anotemos mais estas conjecturas: Mair-Anhangá, alma ou espírito de Mair, figura lendária da tradição andina, conjectura formulada por Morales de los Rios; e a corruptela tupi marã-n-aã, mau, ruim, com referência ao terreno pantanoso daquele


Maranhão, afluente do Tietê. Hipóteses, estas ambas, registradas por Xavier Fernandes. Victor B. Caminha, em Locativos sem explicações (Doc. n. 244-1952 da Comissão Nacional de Folclore), anota mais duas hipóteses da origem indígena: de mara-munhã, fazer-se barulhento ou impetuoso, ou talvez de marã-nhu, só, como rio de um só leito num trajeto longo, em divergência a sua continuação em labirinto. Finalmente, Teodoro Sampaio (O tupi na geografia nacional) indica: mbará-nhã, o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr.195 O indigitado articulista do jornal O panorama, ao discorrer sobre o mesmo tema, vale-se do teor de fragmentos manuscritos de uma obra maior atribuída ao Padre Bento da Fonseca, cujo título seria Maranhão conquistado a Jesus Cristo e à Coroa de Portugal pelos religiosos da Companhia de Jesus, em que o autor critica as curiosas hipóteses levantadas pelo jesuíta Manuel Rodrigues, empenhando a sua simpatia, no entanto, pela opinião de Simão Estácio da Silveira: ‘O Pe. Manuel Rodrigues no seu livro Marañon y Amazonas diz que a deducção do nome Maranhão vem das maranhas e traições de Lopo de Aguirre contra o capitão Pedro de Ursúa. Esta deducção é menos averiguada, porque antes de Lopo de Aguirre intentar as ditas maranhas contra Pedro de Ursúa, que foi no anno de 1560, já o rio das Amazonas tinha o nome de Maranhão, e com elle o nomeia Antonio Galvão no livro Descubrimentos do Mundo em 1499. – Outra deducção do mesmo nome traz o dito Pe. Manuel Rodrigues, tirada da Harmonia das Vozes, dizendo que os primeiros descubridores da boca do rio Maranhão, admirados de verem aguas doces no mar largo, por onde se diz que o dito rio as conserva doces por distancia de 30 léguas, perguntavam uns aos outros se aquellas aguas eram do mar, e que respondiam outros que não eram do mar por serem doces; e que alguns fariam as ditas perguntas em latim mári? e lhes responderiam outros na mesma lingua non, de que póde ser resultasse depois o unir-se mari com o non e ficar com leve corrupção do vocabulo Maranhon na lingua castelhana, e na portugueza Maranhão. – Finalmente outros dizem que o nome Maranhão posto ao rio das Amazonas, e depois trasladado a todo o Estado procede de que o primeiro descubridor deste monarcha dos rios pelas suas cabeceiras e origem tinha o appellido de fulano Maranhão, e que o daria ao rio para nelle celebrar o seu nome. Esta ultima deducção é a que parece mais verdadeira, e por tal a teem Simão Estacio da Silveira na sua Relação do Maranhão, e Fr. Christovam de Lisboa na sua História Natural do Maranhão, que deixou manuscripta’ – 195

MEIRELES. História do Maranhão, p. 30-31. Não obstante a profusão de hipóteses etimológicas, o historiador conclui, por outro lado, dizendo inexistir questionamento de que a denominação da terra tem como fonte o rio: “Do que não há dúvida, porém, é de que o nome da terra nos veio do rio, ainda hoje Marañon em plagas peruanas, porque assim designado antes e porque confundida a sua foz com o golfão em que demora a ilha de S. Luís. Em 1613, o jesuíta Nicolau Teixeira escreveu uma Informação de entrada que se pode fazer da Vila de S. Paulo ao Grande Rio Pará, que é o verdadeiro Maranhão, chamado também rio das Amazonas etc.’; e anteriormente, no livro IX, da Segunda Década, Anghiera já descrevera, em 1514, a embocadura do Marañon.” Ibidem, p. 31. Ver também MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 62-63; MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 1970, p. 437-438; MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 2008, p. 719-721.


aos quaes nós podêmos accrescentar o Pe. Moraes no mesmo logar já citado.196 A versão de que a palavra tem suas raízes etimológicas em “maranhas”, expressando “intrigas” ou “mentiras”, encontra o apoio literário de uma já famosa sátira do Padre Antônio Vieira ao Maranhão de seus dias e aos seus desafetos, versando sobre a verdade e a mentira, proferida no Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, na “Igreja Maior da Cidade de São Luís”, ou seja, provavelmente na primitiva Sé, em 1654: Os vícios da língua são tantos, que fez Drexélio um abecedário inteiro e muito copioso deles. E se as letras deste abecedário se repartissem pelos estados de Portugal, que letra tocaria ao nosso Maranhão? Não há dúvida, que o M. M – Maranhão, M – murmurar, M – motejar, M – maldizer, M – malsinar, M – mexericar, e, sobretudo, M – mentir: mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos, que de todos e por todos os modos aqui se mente. Novelas e novelos, são as duas moedas correntes desta terra, mas têm uma diferença, que as novelas armam-se sobre nada, e os novelos armam-se sobre muito, para tudo ser moeda falsa. Na Bahia, que é a cabeça desta nossa província do Brasil; acontece algumas vezes o que no Maranhão quase todos os dias. Amanhece o sol muito claro, prometendo um formoso dia, e dentro em uma hora tolda o céu de nuvens, e começa a chover como no mais entranhado inverno. Sucedeulhe um caso como este a D. Fradique de Toledo, quando veio a restaurar a Bahia no ano de mil seiscentos e vinte e cinco. E tendo toda a gente da armada em campo para lhe passar mostra, admirado da inconstância do clima, disse: En el Brasil hasta los cielos mientem. Não sei se é isto descrédito, se desculpa. Que mais pode fazer um homem, que ser tão bom como o céu da terra em que vive? Outra terra há em Europa, na qual eu estive há poucos anos, em que se experimentaram cada dia as mesmas mudanças, pelas quais Galeno não quis curar nela; porém, ali há outra razão, porque como a terra tem jurisdição sobre o céu, segue o céu as influências da terra. Mas o que se disse do Brasil por galanteria, se pode afirmar do Maranhão com toda a verdade. É experiência inaudita a que agora direi, e não sei que fé lhe darão os matemáticos que estão mais longe da linha. Quer pesar o sol um piloto nesta cidade onde estamos, e não no porto, onde está surto o seu navio, senão com os pés em terra: toma o astrolábio na mão com toda a quietação e segurança. E que lhe acontece? Coisa prodigiosa! Um dia acha que está o Maranhão em um grau, outro dia em meio, outro dia em dois, outro dia em nenhum. E esta é a causa por que os pilotos que não são práticos nesta costa, areiam, e se têm perdido tantos nelas. De maneira que o sol, que em toda a parte é a regra certa e infalível por onde se medem os tempos, os lugares, as alturas, em chegando à terra do Maranhão, até ele mente. E terra onde até o sol mente, vede que verdade falarão aqueles sobre cujas cabeças e corações ele influi. Acontece-lhes aqui aos moradores o mesmo que aos pilotos, que nenhum sabe em que 196

R. Maranhão. O panorama, p. 234-235. Ver igualmente MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 1970, p. 437; e MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 2008, p. 720; 735. César Marques faz equivocada alusão ao volume e ano de publicação da edição do jornal O panorama que contém o artigo “Maranhão”. O escrito em causa foi trazido a lume no quarto, e não no terceiro volume, no ano de 1840, e não de 1839.


altura está. Cuida o homem nobre hoje que está em altura de honrado, e amanhã acha-se infamado e envilecido. Cuida a donzela recolhida que está em altura de virtuosa, e amanhã acha-se murmurada pelas praças. Cuida o eclesiástico que está em altura de bom sacerdote, e amanhã acha-se com reputação de mau homem. Enfim, um dia estais aqui em uma altura, e ao outro dia noutra, porque os lábios são como o astrolábio. É isto assim? A vós mesmos o ouço, que eu não o adivinhei. vede se é certa a minha verdade: que não há verdade no Maranhão.197 Mas talvez a versão mais considerada entre os estudiosos sobre a etimologia do vocábulo “Maranhão”, ou pelo menos a que parece angariar a preferência do articulista J. H. da C. R., do periódico literário lusitano,198 e de César Marques,199 seja a já mencionada explicação do Padre João Tavares, pela qual a corruptela Maranhay, extraída de dois verbos e um substantivo, traduziria a expressão “água que corre brigando” e representaria a visão do conhecido fenômeno da pororoca. Curiosidades à parte, ainda resta a questão sobre em que circunstância o termo “Maranhão” foi transmutado do rio para a ilha e, posteriormente, para a província e o estado. A primeira resposta, por cronologia do fato alegado, é-nos dada uma vez mais por Mário Meireles, que a colhe na viagem de Diogo Leite à região em 1531, aquele mesmo 197

VIEIRA, António. Sermão da Quinta Dominga da Quaresma. Portal Domínio Público. Fonte: VIEIRA, Antonio. Sermões escolhidos. São Paulo: Edameris, 1965, v. 1. Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro, A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000035.pdf>. Acesso em: 13 out. 2011. 198 “Para servir de contrapeso ás inepcias de algumas destas pertendidas (sic) etymologias, accrescentaremos outra opinião, que se não fôr a verdadeira, terá ao menos o merito de ser fundada em ineditas indagações sobre a lingua brasílica. — O Pe. João Tavares, já tantas vezes citado, não escreve na sua Carta Maranhão, mas sim Maranhay, do que dá a seguinte satisfação. – ‘Terá V. R. reparado na orthographia, com que escrevo a palavra Maranhay contra o commum. Foi de industria, por dar gôsto a V. R., que como tão perito na lingua brasílica, folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado ácerca da etymologia desta palavra Maranhão: ponto em que tenho ouvido altercar por boca e por escriptos antigos; e sobre nunca assentarem em nada de quanto disseram, nada tem fundamento no meu fraco entender. Vejam-se os antigos manuscriptos da missão. O Pe. Bartholomeu Leão, da provincia do Brasil, reformador do Cathecismo da lingua brasílica, me recommendou muito quando vim para o Maranhay que se me avistasse com o Pe. Ascenso Gago, o mais perito que por então reconheciamos neste idioma brasílico, soubesse delle o que sentia neste ponto. Ambos morreram ignorantes do que aqui quero dizer, e nunca o dissera sem ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhay. Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos e de um substantivo. Os verbos são Maramonhàngá, que significa brigar; e anham, que significa correr [até aqui atinava o dito Pe. Bartholomeu Leão]; e o substantivo é a palavra ou litr, que significa agua, e anda tirada da palavra Maranhão por corrupção da palavra: assim como estão infinitos nomes da lingua brasílica corruptos pela pronuncia dos portuguezes. Nesta palavra não podia atinar o Pe. Leão sem vêr ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay. Deram os naturaes este principal nome a esta terra do que nella mais principalmente avultava, que são as pororocas, cujo aspecto é uma briga das aguas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, agua que corre brigando. Perguntar-me-hão pois porque não se chama o Maranhay Pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que se ouve: parece-me que se compõe da palavra opoé, que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororon, que significa roncar continuadamente, como o mar: ou é palavra simples, feita frequentativa, tirada sempre do verbo opoé. De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar ou estalar, donde do que se ouve se chama aquella infernal furia das aguas pororoca; e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay.’” R. Maranhão. O panorama, p. 235. 199 Ver MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 1970, p. 437-438; e MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 2008, p. 720.


enviado por Martim Afonso de Sousa. Para o historiador, o navegador foi aquele que, ao ser incumbido de atingir o Rio Maraon e o limite oeste do domínio português, acabou por descobrir o Maranhão, daí a transferência do nome do rio para a terra.200 Já o autor do escrito “Maranhão”, outra vez evocado por César Marques, atém-se a duas possibilidades: a de que a transmutação do vocábulo se verificou por equívoco originado na fracassada expedição de Aires da Cunha, em virtude da identificação do ponto do naufrágio com a boca do Rio Amazonas, na época chamado de Maranhão, em deliberada propagação do local errado; e a de que tal ocorreu em decorrência da genuína confusão dos navegadores entre a enseada do Maranhão e a do Grão-Pará.201

200

“E por que perderia ele, o rio, esse nome último que passaria a ser do hoje Golfão Maranhense, antes dito Baía de Todos os Santos ou dos Mangues Verdes, e que daí se generalizaria para nominar toda a Capitania de João de Barros e, depois, todo o Estado Colonial do Maranhão, criado por Carta Régia de 13/6/1621. Estamos convictos de que isso foi conseqüência da viagem de reconhecimento da região feita, em 1531, por Diogo Leite, a mando de Martim Afonso de Sousa. De fato. Enviado ao Brasil, no comando de uma expedição guarda-costa, para afugentar da terra os muitos piratas e corsários que já a freqüentavam, e principalmente os franceses bretões, Martim Afonso, enquanto ele mesmo faria o policiamento do litoral, desde o cabo de Santo Agostinho para o sul, mandou que Diogo Leite, no comando de duas caravelas, Princesa e Rosa – pera q fossem descobrir o rio do Maranhão, pois que era del Rei nosso sôr e dentro de sua demarcagem. Diogo Leite foi mandado descobrir algo de que só sabia pelas notícias fantásticas e fantasiosas espalhadas na Europa, pelos poucos marinheiros que houvessem estado na região ou ouvido falar dela. Então, ele, Diogo Leite, deveria saber, por essas imprecisas notícias, que o Maraon era um grande rio que, na altura em que passava a Linha de Tordesilhas, se lançava ao Mar Oceano em tamanho volume que a água doce levava a água salgada de vencida por muitas milhas e provocando um ruidoso macaréu, a pororoca, ao mesmo tempo em que, por um segundo braço, mais ao sul, chamado rio Pará, ele recebia outro e também grande rio, o Tocantins; e mais, que entre os dois braços se contavam inúmeras ilhas, em torno de uma maior, de nome Marajó. Justamente isso ele viu ao chegar aos Mangues Verdes. Um grande rio, o Mearim, se lançava ao mar repartido em dois braços, que ele chamou de Baía de São Marcos e Baía de São José; na primeira, no encontro das águas com as do mar, formava-se um grande macaréu, e no segundo vinha se lançar outro grande rio, o Tapocuru; e, entre os dois, um delta formado por muitas ilhas em torno de uma maior – Upaon-Açu. Tera ou não descoberto o Maraon, conforme a ordem recebida? Ele subiu um pouco pelo litoral, chegou até ao rio da Lama, o Turiaçu, ou até o Ouvirapive, o Gurupi e, no receio de ultrapassar a linha da demarcação do que pertencia a seu rei, voltou atrás a dar conta de que fizera o que lhe fora mandado. Ele descobrira o Maranhão.” MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 60-61. 201 “Mas como e quando é que os portuguezes fizeram a trasladação do nome de Maranhão, para designar a cidade, ilha, e enseada, que hoje o conservam, e das quaes se estendeu a toda a provincia e Estado? Responderemos reproduzindo as conjecturas, que achámos nos AA., que lemos por mais competentes juizes. — Nos citados fragmentos do Maranhão Conquistado, escriptos pelos annos de 1750 e tantos, refere-se o A. á antiga tradição, que ensinava fôra isto na occasião, que alli se perdeu e naufragou Ayres da Cunha , um dos dôze primeiros donatários de toda a costa do Brasil. – ‘Procurava este fidalgo [diz o A.] com os seus adherentes o rio Maranhão, nome porque então se conhecia melhor o rio das Amazonas, e naufragou na ilha do Maranhão, para onde entrou pela boca de um rio largo de cinco leguas desde a ponta do Pereá até a de Itaculumim: de que succedeu darem áquelle logar o nome de Maranhão, ou já enganados e persuadidos que aquelle era o rio Maranhão, ou já querendo ennobrecer a sua infelicidade espalhando o seu naufragio como acontecido na boca do rio Amazonas, conhecido então pelo rio Maranhão. E deste accidente ficou até hoje o nome Maranhão affixo á cidade e ilha do Maranhão.’ – O Pe. José de Moraes, jesuita, que depois da extincção da Companhia se chamou José Xavier de Moraes da Fonseca Pinto, na sua Historia [ms.] da Companhia de Jesus do Maranhão e Pará, composta em 1759 , pag. 693, parece-lhe que esta transferencia de nome foi em rasão da semelhança que aos navegantes lhes parecia haver entre esta enseada do Maranhão e a do Grão-Pará ou rio das Amazonas, por desembocarem por ella outros quatro grandes rios como na enseada do Grão-Pará. Mas para se tirar esta commum equivocação [concluiremos nós tambem com o mesmo Pe. Moraes] fique a cidade do GrãoPará com o seu rio das Amazonas, e a cidade de S. Luiz com o seu antigo Maranhão.” R. Maranhão. O panorama, p. 234. Ver também MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 1970, p. 438; MARQUES. Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, 2008, p. 721; e SOUTHEY. História do Brasil, v. 1, p. 71.


Voltemos então ao porquê do completo malogro do regime das Capitanias hereditárias no atinente às donatarias originais do Brasil setentrional: as duas do Maranhão, a primeira atribuída a Aires da Cunha e a segunda a Fernando Álvares de Andrade, a do Ceará, cujo donatário era Antônio Cardoso de Barros, e a do Rio Grande, concedida a João de Barros. Antônio Cardoso de Barros aparentemente não demonstrou maior interesse pela capitania que lhe fora destinada, jamais tomando posse de seu território. Na qualidade de Provedor-Mor da Fazenda Real, nomeado por D. João III, ainda acompanhou ao Brasil Tomé de Sousa, o primeiro Governador-Geral (1549-1553). Mas, a essa altura, a sua capitania, a do Ceará, já retornara ao seio da Coroa. Desentendendo-se com o segundo Governador-Geral, Duarte da Costa, decidiu regressar à metrópole, na companhia do primeiro bispo do Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha, sofrendo um famoso naufrágio no litoral alagoano ou paraibano, vindo ambos, juntamente com a grande maioria dos náufragos, a serem mortos e devorados pelos caetés, índios canibais. Em relação às três outras capitanias, Aires da Cunha, Fernando Álvares de Andrade e João de Barros, num esforço para levarem a cabo a sua missão colonizadora, optaram pela associação, de que resultou a formação de uma poderosa esquadra de 10 navios, sendo quatro naus e seis caravelas – apenas inferior, em qualquer época, entre as expedições enviadas de Portugal às suas possessões d’além-mar, à frota cabralina de 13 naus –, composta por aproximadamente 900 homens de arma, 113 ou 130 cavalos e abundante munição, sob o comando do primeiro donatário,202 bravo capitão de larga experiência. A organização e o financiamento da empresa ficaram especialmente a cargo do segundo e do terceiro donatários, fidalgos abastados, detentores, respectivamente, das importantes funções de Tesoureiro-Mor do Reino e Feitor das Casas da Índia e da Mina. O monarca de então lhes revalidou as doações anteriormente deferidas, mediante nova carta de doação expedida em 18 de junho de 1535, em favor dos três e de seus herdeiros e sucessores, incluindo não somente o encargo de povoamento desses quinhões e o direito de reparti-los após 20 anos, mas também a concessão de eventuais minas de ouro e prata que viessem a ser descobertas, porquanto era pensamento corrente que a Amazônia guardava imensos tesouros ocultos.203 Comenta José Ribeiro do 202

Existe a possibilidade de que o real nome de Aires da Cunha fosse Ayres del Acuña, pois a sua nacionalidade seria espanhola, e de que a expedição que comandou ao Maranhão possuísse constituição luso-espanhola: “E para mais nos confundir na exata compreensão do que de fato se passava nos bastidores políticos e diplomáticos das duas cortes ibéricas, lembremos que o Professor Ruben Ribeiro de Almeida, professor emérito da Universidade Federal do Maranhão e grande sabedor das coisas da terra, em uma série de artigos que, em 1949, publicou na imprensa de São Luís, afirmou, por convicção escudada em documentos irrecusáveis, que a expedição em causa tinha uma tripulação luso-espanhola e que seu próprio comandante, embora a serviço de Portugal no caso, era espanhol de nascimento, tanto assim que seu verdadeiro nome era Ayres del Acuña.” MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 70. Os artigos referidos, publicados no Diário de São Luís, são intitulados: “Palácio do Governo”, “Avenida Maranhense” e “Arruamentos Desaparecidos”. 203 Ferdinand Denis tece considerações críticas sobre a lenda do El Dorado e da cidade de Manoa na Amazônia: “É por estas paragens que se colocou o famoso Lago Parima que se risca e se restitui alternativamente nos mapas. Este lago, célebre na história geográfica do Novo Mundo, poderia não ser mais que o resultado de aluviões passageiras; da mesma sorte que a tradição de que às suas margens se erguia a cidade resplandecente de Manoa, era devida provavelmente a vagas recordações das cidades antiqüíssimas descobertas na América meridional, e principalmente a esses rochedos micáceos, que costeiam certos rios, cujos reflexos brilhantes puderam enganar os viajantes prevenidos. Seja qual for, aliás, a origem deste império fabuloso de Eldorado, que principiou no tempo de Colombo, e que tem sido alternativamente recuado para os desertos menos explorados da América meridional, ele parece haver-se fixado entre o Orenoco e o Amazonas. Foi aí que Keymis e o infortunado Raleigh, após haverem feito inúteis esforços para descobrir a verdade, acabaram por criar eles mesmos uma cidade maravilhosa; e tal


Amaral que, em razão da doação real referente ao ouro e à prata, os três “tiveram mais favor que todos os demais donatários”.204 A armada partiu do Tejo em outubro ou novembro de 1535, figurando igualmente, entre seus integrantes, um representante de Fernando Álvares de Andrade e dois filhos de João de Barros, que seriam Jerônimo e João.205 Aires da Cunha, depois de alcançar Pernambuco, onde pôde contar com o auxílio do também donatário Duarte Coelho, materializado no oferecimento de intérpretes e guias práticos, cuja tarefa seria prestar-lhe assistência na viagem rumo ao Rio Maranhão, sua meta final – fosse este o Maraon dos índios, descoberto por Vicente Pinzón, ou, com maior probabilidade, o atingido por Diogo Leite, na região dos Mangues Verdes –, seguiu para a parte setentrional, chegando ao litoral do Rio Grande do Norte, área da capitania originalmente conferida a João de Barros, na qual tentou implantar uma colônia no Rio Baquipe, hodiernamente Ceará-Mirim, sem sucesso, pois enfrentou a forte resistência dos potiguaras, que estavam associados aos gauleses, de presença lá consolidada. Por derradeiro, velejando para o oeste, o audaz, porém desafortunado capitão-mor conheceu trágica morte nas tormentosas águas da costa maranhense, em outro célebre naufrágio registrado nas páginas da História. Não há certeza, todavia, sobre o ponto exato do naufrágio dos navios da esquadra, nem sobre o fato de essas naus sinistradas haverem sucumbido ou não na mesma oportunidade, nem sobre a quantidade de naves da armada eventualmente salva, conquanto pequena, nem sobre o número dos poucos tripulantes que escaparam ao sinistro, nem, ao menos, sobre o local onde os sobreviventes buscaram refúgio. Na compreensão de uns, a esquadra, pouco antes de atingir a costa do Brasil, em decorrência de uma tempestade violenta, extraviou-se parcialmente, sob o efeito de fortes ventos e ondas, indo dar no Mar das Caraíbas, nas Antilhas, onde seus tripulantes teriam sido aprisionados por determinação das autoridades locais espanholas, com o argumento de que haviam transposto o limite imposto pelo Tratado de Tordesilhas, sem prévia autorização. Segundo outra versão, o desastre teria se verificado quando a frota já navegava por águas brasileiras, nas proximidades do Cabo de São Roque, no litoral do Rio Grande do Norte. Em ambos os casos, teria sido reduzido o número de navios que alcançaria o Maranhão, palco do naufrágio da própria nau capitânia e da morte do líder da expedição. Uma terceira hipótese é de que a armada, após perda de contato com os guias práticos que lhe haviam sido cedidos em Pernambuco e seguiam em uma canoa,

é a duração de semelhantes ficções, que esta não tinha sido ainda abandonada no começo do século. Em lugar de uma lagoa imensa, de onde uma população florescente recolhe ouro como areia; em vez de uma cidade semelhante à do Cataí, e cuja magnificência é tal, que pelo relato dos índios, é o seu brilho que, por reverberação, produz a Via Láctea; em lugar desses palácios, de telhados de prata, que fizeram admirar ao longe a Felipe d’Utre, e por esse rei chamado o Dorado, porque o mais brilhante pó de ouro era espalhado com profusão todas as manhãs sobre seus membros nus; em vez de mil outras maravilhas, cujo relato nos levaria longe demais, é preciso contentar-se em admirar, na Guiana portuguesa e na Província do Rio Negro, grandes florestas, rios magníficos, férteis vales, que não esperam senão por braços laboriosos para se cobrirem de ricas colheitas.” Brasil, p. 329. 204 AMARAL. José Ribeiro do. O Maranhão histórico – Artigos de jornal (1911-1912). São Luís: Instituto Geia, 2003. p. 19. 205 MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 70; 78. Há a versão, entretanto, menos autorizada, de que tais filhos seriam Diogo e Lopo. Ver ibidem, p. 87-88. Por outro lado, Jomar Moraes, em nota de rodapé inserta na obra O Maranhão histórico, de José Ribeiro do Amaral, apoiado em “diversas pesquisas que desfizeram equívocos provavelmente provindos de Gândavo”, alega taxativamente que, da “primeira expedição, ao comando de Aires da Cunha, não participaram os filhos de João de Barros”. Ver AMARAL. O Maranhão histórico, p. 19.


findaria por ir além do Cabo de Todos os Santos, na entrada dos Mangues Verdes, lá chocando-se contra os parcéis submersos.206 Para Bernardo Berredo, que governou o Maranhão de 1718 a 1722 e teve a primeira edição de sua obra Anais históricos do Estado do Maranhão publicada em Lisboa no ano de 1749, a perda da esquadra chefiada por Aires da Cunha foi completa e o lugar que serviu de abrigo imediato aos sobreviventes foi a Ilha do Medo, onde teriam travado contato amistoso com os seus ocupantes da época, os tapuias, antes de estes serem expulsos pelos tupinambás: Com próspera viagem chegou este fidalgo [Aires da Cunha] à chamada barra do Maranhão, que é hoje a principal entrada da ilha deste nome; mas como sendo desconhecida de todos os pilotos, lhes faltou a ciência para os acautelar daqueles perigos, que prudentemente deviam supor-lhe, já como ordinários na maior parte delas, naufragou nos seus baixios com toda a armada; e ainda que na pequena ilha do Boqueirão (conhecida também pela do Medo), que lhe fica na boca, se salvou a nado alguma da gente, que logo contraiu amizade com os tapuias seus habitadores, como não bastava para a povoação, principalmente na total falta dos meios necessários, passado algum tempo, voltou a Portugal, a bordo dos navios piratas, que navegavam aquela costa.207 A realidade é que não há consenso sobre qual teria sido o local onde, possivelmente em março de 1536,208 os sobreviventes náufragos conseguiram guarida, se na citada Ilha do Medo, se na Ilha Pequena, posteriormente batizada pelos franceses de Sant’Ana, se na Ilha Grande, futuramente conhecida como Ilha de São Luís, se, mais especificamente, na Ponta do Bonfim.209 Em João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, Mário Meireles defende que o Rio Maranhão era inequivocamente o destino derradeiro da expedição, face à perspectiva de que levasse ao cobiçado El Dorado,210 corrobora a informação de que foram poucos os sobreviventes e enormes as perdas, inclusive oferecendo números, e elenca as hipóteses mais acolhidas sobre o ponto inicial de refúgio dos náufragos, contudo corteja a ideia de que alguns navios da armada teriam se esquivado da fatalidade: A certeza que se tem é que, desarvorada, sim, e já sem comando, e no número de apenas dois ou três navios, chegou ao que seria seu destino – o rio Maranhão, ou seja, aquele que, como tal, fora descoberto por Diogo Leite, em 1531.

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Ver MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 72. BERREDO. Anais históricos do Estado do Maranhão..., p. 35. 208 A data é referida por MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 74. 209 A Ponta do Bonfim é mencionada pelo Padre José de Morais como sendo o lugar onde, decorridos muitos anos do naufrágio, teriam sido encontrados vestígios de uma “fortificação por umas pedras de cantaria”. MORAIS, Padre José de. História da Companhia de Jesus na extinta província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Editorial Allhambra, 1987. p. 22. 210 Expõe Lucien Provençal a relação que os navegadores do século XVI faziam entre o Maranhão e o El Dorado: “Na idéia dos descobridores do século XVI, o Maranhão conduziria até o Eldorado e à cidade de Manoa, onde teria sido escondido o fabuloso tesouro dos incas. Para todos, era o paraíso. Teria sido descoberto por Alonso de Hojeda em 1497 e, mais tarde, visitado por Juan de la Cosa, Vicente Yanez Pinzón e Diego de Lepe. Ninguém conhecia exatamente a sua posição geográfica: uns falam de um braço do Rio Amazonas, outros de uma enseada, confluência de três rios.” A França Equinocial: os franceses no Maranhão. In: MARIZ, Vasco (Org.). Brasil-França: relações históricas no período colonial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 2006. p. 90.

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A esta altura invocamos a autoridade de Rocha Pombo – planos muito mais vastos trazia ele, Aires da Cunha, seguramente. Ou não se compreenderá por que passou ao largo de todas as cem léguas da extensa donataria que era de João de Barros, e de quem era associado, para ir em busca, depois de percorridas também as 40 léguas da de Antônio Cardoso de Barros, do rio Maranhão... Seguramente porque nas ainda desconhecidas margens desse rio é que estava escondido o Paititi, o El-Dorado. Discutem os historiadores sobre onde exatamente teriam chegado. Para uns, depois do naufrágio ocorrido no estreito do Boqueirão, teriam, os sobreviventes, se abrigado na Ilha do Medo; para outros, na própria IlhaGrande, a Upaon-Açu dos nativos, e ainda para outros, como o sempre autorizado Varnhagen, na Ilha-Pequena, a Upaon-Mirim a que os franceses, em 1612, dariam o nome de Sant’Ana, que ainda hoje conserva. Não importa se do desastre só se salvaram duas ou três das dez unidades da esquadra; se apenas quarenta e cinco, ou seja, 5% dos homens da tripulação lograram se salvar a nado; se se perderam os 113 cavalos e todo o armamento, munição e mantimentos. O que importa é a certeza de que uns poucos se salvaram; o que nos é atestado pela carta datada de 15/7/1536, em que o atento e zeloso embaixador Luis Sarmiento transmitiu ao Imperador Carlos V, dando-lhe conta das notícias recebidas de seus agentes junto à expedição, com as quais retificou seu comunicado anterior de que se estava aprestando, em Portugal, uma expedição destinada ao Rio da Prata.211 Na terceira edição da História do Maranhão (2001), posterior a João de Barros, primeiro donatário do Maranhão (1996), Mário Meireles, embora não desprezando as demais versões, mostra a sua preferência pela que relata haver o perecimento da frota de Aires da Cunha ocorrido no Boqueirão e haverem os sobreviventes ido ter, primeiramente, à Ilha do Medo e, em seguida, à Ilha Grande, onde teriam providenciado a edificação de uma fortaleza, nesta informação recorrendo a Estácio da Silveira.212 Com efeito, fala o Capitão Simão Estácio da Silveira que “a gente que escapou, depois de fazerem na Ilha de S. Luís (onde agora se chama o Boqueirão) uma fortaleza de que ainda ali estão alguns vestígios, em que se vê pedras brancas de Alcântara”, não logrou prosperar, porquanto “os consumiu o tempo, ou alguma desordem com o gentio, sem ficar outro rasto mais”, a não ser pelo descobrimento ulterior de indivíduos de uma tribo “na comarca de entre o Rio Monim e o Rio Itapecuru”, com costumes distintos dos índios em geral, posto que “vivem em sobrados, comem pão de milho zaburro e não usam da farinha da mandioca, nem de arco e frechas, e por divisa criam barbas como os portugueses, e por isso os circunvizinhos os chamam de barbados”, além do que “têm umas espadas, como achas e umas azagais de arremesso, com que são temidos e valentes”, um “gentio tão bárbaro, ou mais que o outro”, apresentando-se como 211

MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 72-73. “Naufragaram, porém, no Boqueirão, e uns poucos sobreviventes recolheram-se à ilha do Medo (Beauchamp e Gabriel Soares indicam a ilha das Vacas, ou seja, a de São Luís; Varnhagen opina pela de Sant’Ana, no que apoiado por João Lisboa e Rocha Pombo; o padre José de Morais fala na Ponta do Bonfim, naquela), de onde, confraternizados com o indígena, se passaram à Ilha Grande, então conhecida como da Trindade, e defronte ao lugar do naufrágio, em que teriam construído uma fortaleza com pedra (sic) brancas do Itaqui, segundo conta Estácio da Silveira.” MEIRELES. História do Maranhão, p. 24.

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“descendentes de brancos, a que eles chamam Perós parece por memória de algum Pedro notável, de que conservam aquele nome”, com a anotação final de que “não quiseram nunca paz nem trato com os franceses, dizendo que eles não eram verdadeiros Perós”.213 Bernardo Berredo, entretanto, “com a sinceridade de verdadeiro historiador”, duvida da veracidade das notícias de Estácio da Silveira, tendo-as por “fabulosas nas partes principais”, pelo fato de que “o Boqueirão é ilha chamada deste nome, como já fica referido e como tal absolutamente separada da de São Luís”, e, maiormente, pela constatação de que não há “tradição alguma no Estado do Maranhão” da fortaleza ou das pedras de Alcântara citadas, argumentando, ainda, que “mal pode crer-se, que no espaço só de oitenta anos”, contados da data do naufrágio de Aires da Cunha até 1615, ano do estabelecimento de Jerônimo de Albuquerque na Ilha de São Luís, “tivesse já o tempo consumido uma obra de tanta duração, e com tamanho estrago, que nem lhe deixasse os fundamentos para memória dela”.214 Mas a maioria dos estudiosos sustenta a existência, conquanto transitória, de uma povoação, a de Nossa Senhora de Nazaré ou simplesmente Nazaré, fundada pelos expedicionários de Aires da Cunha, entre os quais os filhos de João de Barros, residindo a dissensão, uma vez mais, no lugar de sua breve história. Para alguns, o sítio escolhido foi exatamente na Ilha Grande, hodiernamente de São Luís, caso de Ribeiro do Amaral, o qual também justifica a designação que foi dada (ou confirmada, já que assim era conhecida desde 1513)215 a esta última na época, isto é, de Ilha da Trindade: A esta ilha (do Maranhão), deram os sobreviventes o nome de Trindade, ou porque já se encontrasse ela com tal nome no mapa de Diogo Ribeiro, em 1529, ou porque melhor devia caber-lhe agora, pela associação dos três donatários; e procuraram, com as relíquias do naufrágio, nela estabelecerse, fundando uma pequena povoação que recebeu o nome de Nazaré, a qual de efêmera duração foi, pois os índios, com a sua proverbial volubilidade de amigos, que a princípio se tinham mostrado, pouco tardaram em se levantar, queimando e destruindo as plantações e sementeiras e chegando a pôr em apertado sítio a povoação e a tomar-lhes a água das fontes de beber, de sorte que, reduzidos à última penúria e havendo perdido já muita gente, viram-se os que restavam ainda forçados a abandonar a terra para onde haviam partido todos, tão cheios de esperanças.216 É certo que a carta do embaixador da Espanha em Portugal, Luis Sarmiento, ao Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico, ou Rei Carlos I de Espanha, de julho de 1536, atesta que os sobreviventes da expedição malograda chegaram a uma ilha, a qual denominaram de Trindade, foram bem recebidos pelos nativos, começaram a edificar um lugar e um castelo e batizaram o primeiro de Nazaré. Nada diz, e não tinha condições de dizê-lo então, sobre a eventual conclusão da 213

SILVEIRA. Relação sumária das cousas do Maranhão, p. 27. Alcântara, in casu, é uma referência a uma pedreira, localizada perto do Aqueduto das Águas Livres, na cidade de Lisboa, e não ao topônimo maranhense. MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 85. O Frei Vicente do Salvador corrobora plenamente a tese de Estácio da Silveira, no tocante ao destino dos descendentes dos homens da expedição de Aires da Cunha que sobreviveram ao naufrágio. Ver História do Brasil. Prolegômenos de Capistrano de Abreu. 6. ed. São Paulo: Melhoramentos: Instituto Nacional do Livro, 1975. p. 127. 214 BERREDO. Anais históricos do Estado do Maranhão..., p. 36. 215 Ver MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 41; e MEIRELES. França Equinocial, 1962, p. 35. 216 AMARAL. O Maranhão histórico, p. 20-21. Ver também SERRANO. História do Brasil, p. 82.


fortificação e do núcleo de povoamento. Porém, em reforço, Mário Meireles consigna que, ao lado de Estácio da Silveira e Luis Sarmiento, Pero Magalhães Gandavo é outro que se refere à existência da povoação, quando “informa terem [os expedicionários] daí, em dois batéis, subido o Mearim 250 léguas a dentro, ou 150 como o retifica Capistrano de Abreu, deixando a prova de sua passagem em três marcos que chantaram”, figurando “um na Ilha Grande, outro na confluência de dois grandes rios e um terceiro em meio à floresta virgem”.217 Se a Ilha de São Luís, antes das Vacas, da Trindade e do Maranhão, foi o solo onde esteve plantada a efêmera povoação fundada pelos homens da armada de Aires da Cunha, qual teria sido o local aproximado de seu estabelecimento? Alguns poucos autores veem Nazaré como a origem, embora remota, da própria cidade de São Luís: Estudiosos outros há, todavia, como nosso conterrâneo Ruben Almeida, que a identificam com a atual São Luís, de que teria sido a célula mater, não obstante os franceses, em 1612, a houvessem ocupado, mudando-lhe não só o próprio nome, como o de seu forte e de suas ruas; e ressaltam, os deste ponto de vista, que toda uma esquadra de dez naus, com novecentos homens a bordo, não poderia ter desaparecido no Boqueirão. E Jeviré, o porto indígena de Upaon-açu, não seria mais que a corruptela de Nazaré, na língua nativa.218 A narrativa de Estácio da Silveira conduz, no entanto, a conclusão diversa sobre o lugar selecionado. Conforme pode ser depreendido de suas palavras, a fortaleza teria sido erguida, sim, na Ilha Grande, hoje de São Luís, na área do Boqueirão, em frente à Ilha do Medo, portanto não no local onde, no ano de 1612, os franceses fundadores da França Equinocial lançariam as bases de sua colônia, ao construírem o Forte São Luís, verdadeiro alicerce e origem da cidade do mesmo nome, situado na parte final da ponta de terra divisória dos atuais rios Bacanga e Anil, na Baía de São Marcos, conhecida como Guarapari pelos índios. O argumento contrário de que toda uma esquadra de dez navios “não poderia ter desaparecido no Boqueirão” é falho, visto que, como já assinalado, não há certeza sobre se a expedição de Aires da Cunha foi vítima de um único naufrágio, ou seja, se todas as suas naus pereceram no mesmo lugar. Além disso, como indaga Mário Meireles no livro João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, bem a propósito, “por que, com que proveito, com que fim, Simão Estácio da Silveira diria, por escrito, que vira o que não vira porque não existia?”219 E complementa o raciocínio, defendendo a plausibilidade da tese de que Cumã (Alcântara), por conseguinte na parte continental e não insular do Maranhão, consoante mapas de cartógrafos holandeses, pode ter sido o locus da povoação de Nossa Senhora de Nazaré: “Insistimos, pois, embora algo temerariamente: será que a razão estaria com os cartógrafos holandeses que, ainda em 1646, registravam Cumã, onde ninguém, até hoje, cuidou de procurar qualquer vestígio?”220 217

MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 42. Ver, ainda, MEIRELES. França Equinocial, 1962, p. 36. 218 MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 41. Ver também MEIRELES. França Equinocial, 1962, p. 35; e MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 87-88. 219 Ibidem, p. 87. 220 Ibidem, p. 87. O autor maranhense, em outra passagem, oferece detalhes do histórico dos mapas batavos registrando Cumã como o local da povoação de Nazaré: “Ou será que a verdade está com os holandeses que, já em 1595, apontavam, como se vê do mapa de Arnold van Langeren, a discutida Nazaré em terras continentais, da futura Capitania de Cumã, próxima da aldeia indígena de Tapuitapera? Tê-lo-ão feito, por certo, em face de informações de piratas batavos que já então freqüentavam a região e


De qualquer maneira, sabemos que os franceses integrantes da missão de implantação da França Equinocial não informaram haver encontrado alguma ruína ou evidência de uma anterior fortificação ou povoação portuguesa na Ilha do Maranhão, futura de São Luís, ou delas haver tido conhecimento, quando de sua chegada ao lugar em 1612. E disso sabemos, porque nada há nos detalhados relatos dos cronistas capuchinhos Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux nesse sentido, até pelo fato de que os gauleses lá se depararam não com os tapuias, nome da tribo dos indígenas da época do naufrágio da frota de Aires da Cunha, mas com os tupinambás, sucessores daqueles na posse da terra insular. Em seus discursos perante os gauleses, Japi-açu, cacique principal da Ilha Grande, e o velho índio Momboré-açu, de mais de 180 anos, por exemplo, em conformidade com a narração de Claude d’Abbeville, somente se referiram aos peró (lusitanos) que os haviam forçado a deixar Pernambuco e Potiiú (Rio Grande do Norte), nada mencionando sobre hipotéticos portugueses ou seus descendentes com quem houvessem se defrontado no Maranhão.221 O frade Claude d’Abbeville chega, inclusive, a explicitar que os tupinambás, “que habitavam antes no trópico de Capricórnio, se haviam refugiado na Ilha do Maranhão e regiões circunvizinhas para escapar ao domínio dos portuguêses”222 Tampouco há dúvida real de que a escolha francesa do sítio para a edificação do Forte São Luís em 1612 teve motivação puramente estratégica, nada indicando a descoberta de qualquer mínimo vestígio do questionado povoado luso ou a intenção gaulesa de aproveitamento de alguma improvável ruína no lugar onde nasceria a cidade de São Luís. Nas palavras do mesmo onipresente capuchinho, os chefes da expedição da França Equinocial “escolheram uma bela praça, muito indicada para êsse fim por se achar numa alta montanha e na ponta de um rochedo inacessível e mais elevado do que todos os outros e donde se descortina o terreno a perder de vista”.223 Sublinhemos, ainda, que tampouco Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura, principais responsáveis pela expulsão dos franceses, deixaram qualquer registro da povoação de Nazaré. E jamais foram descobertos os três marcos supostamente chantados em diferentes pontos pelos homens de Aires da Cunha. É razoável a suposição, destarte, de que a povoação portuguesa teve vida tão breve que desapareceu completamente antes da chegada ao Maranhão dos franceses comandados por Daniel de la Touche e François de Razilly. Mas, nesse caso, qual foi a sua duração aproximada e qual o destino dos sobreviventes do naufrágio da armada de Aires da Cunha? Ruben Almeida, alegando apoiar-se em “documentos de indiscutível validade”, mas sem nominá-los, rema inteiramente contra a maré ao contestar a ocorrência do deveras comentado naufrágio de navios da expedição de Aires da Cunha, ao mesmo tempo em que firma o período razoável de três anos como tendo sido o tempo de duração do núcleo de Nazaré:

nisso insistiriam como, por exemplo, se pode ver de dois outros mapas – o chamado Novus Brasiliae Tipus, de Guglielmo Blacus, gravado por Jodocus Hondius em 1625, e o dito Brasiliae Tabula, de Johannes Jansonius, datado de 1646/1647, e que se guarda na biblioteca da Universidade de Amsterdã.” Ibidem, p. 83-84. 221 Ver, a título ilustrativo, ABBEVILLE, Claude d’. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Tradução de Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975. p. 61; 115. 222 Ibidem, p. 65. 223 Ibidem, p. 57.


Pois ainda não se ensina a (sic) acredita que essa armada, a mais poderosa já vinda ao Brasil, até á época, de portugueses, como de outros povos, veio naufragar no Boqueirão, quando documentos de indiscutível validade provam ter aqui chegado em paz e salvamento, em 9-1535, fundando o povoado de Nazaré, em crescente prosperidade até 8-1538, quando, em consequência de desrespeito ao tratado de Tordesilhas, e de lutas com os franceses, tiveram de abandoná-la?224 Na obra França Equinocial, em suas duas edições (1962 e 1982), Mário Meireles também intenta responder, conquanto hipoteticamente, porém com mais credibilidade, a essas indagações. Enfatiza que a povoação “não sobreviveu muitos anos e dela não ficaria vestígio algum, apenas a memória”, citando Rocha Pombo como fonte da informação de que Nazaré existiu somente até 1538.225 E acaba por se render à possibilidade de que a versão de Estácio da Silveira não esteja longe da verdade histórica: Sobrepor-se-á, então a pergunta de o que teria sido feito dos fundadores de Nazaré, e dos que nela teriam ficado enquanto outros, como os filhos de João de Barros, iriam ter em 1538 a São Domingos, nas Antilhas. Teriam todos perecido no curso desses setenta e sete anos, até 1612? Ou teriam logo sido devorados pelos tapuias da região, antes que os tupinambás tivessem nela vindo se localizar recentemente? As perguntas ainda não têm resposta segura pelos subsídios de que dispomos para o restabelecimento de nossa pré-história colonial. Ressaltamos, apenas, que os maranãguaras estavam na Ilha Grande e adjacências cercados por tribos tapuias e que, dentre estas havia, entre as bacias do Itapecuru-mirim e do Munim, os chamados tapuias barbados. Seria que estes tapuias foram os antecessores dos tupinambás na posse de Upaon-açu e que a existência de indivíduos barbados entre eles (o que não é característico antropológico do australóide, ressalte-se) e o que tanto mais chamava a atenção que acabou por identificar toda a tribo, viria a ser prova de que aqueles portugueses primeiros teriam com eles convivido e entre eles casado e procriado? E que com eles, por si mesmos ou já por seus descendentes barbados, teriam trocado a Ilha Grande pelo continente, quando o litoral foi ocupado pelos tupinambás que subiam do sul? A hipótese não é nossa, mas ainda do mais de uma vez invocado Simão Estácio da Silveira [...]. É uma hipótese, repetimos, e sedutora. A verdade, porém, é que Nazaré desaparecera e que de seus fundadores, no Maranhão das primeiras eras, afora as famosas pedras do Itaqui, o único vestígio discutível era a barba daqueles tapuias do Itapecuru-mirim.226

224

ALMEIDA, Ruben. Gaspar de Sousa no Maranhão. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, São Luís, v. 1, n. 2, p. 9-10, nov. 1948.

225

MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 41; e MEIRELES. França Equinocial, 1962, p. 35. Ver igualmente MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 74. 226 MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 43. Ver também MEIRELES. França Equinocial, 1962, p. 37-38. O historiador alude à “chamada tribo dos Barbados” como “aldeada entre Peritoró e Pirapemas”. MEIRELES. História do Maranhão, p. 25.


No livro João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, posterior a essas duas edições, Mário Meireles avança no detalhamento do destino que teria acometido os sobreviventes da esquadra de Aires da Cunha, entre os quais os filhos de João de Barros: O desastre do naufrágio, logo à chegada, e a morte da maior parte dos companheiros, inclusive a perda do próprio capitão-mor, não terá, todavia, tirado o entusiasmo dos sobreviventes para que insistissem na busca daquilo que tinham vindo descobrir – o ouro. E, para mais animá-los e chefiá-los, havia os dois filhos de João de Barros, que se contavam entre os sobreviventes. Nos dois anos de estada na terra, depois de terem erguido a povoação de Nazaré e o castelo que a defenderia, atiraram-se ao curso do rio Marañon, em verdade o Mearim, em busca do infinito oro, que ali havia, e em vão buscaram até a distância de duzentas e cinqüenta léguas, como o disse Gandavo em sua História da Província de Santa Cruz, ou mesmo de apenas cento e cinqüenta, como corrigiu Capistrano de Abreu, mas sempre em vão. Desiludidos e já faltos de recursos e oferecendo-se-lhes uma possibilidade de tentar o regresso, embarcaram naqueles caravelões que lhes apareceram, talvez tomados a piratas desgarrados, mas foram pelas ondas arrastados, como de costume, às Antilhas, onde foram feitos prisioneiros das autoridades espanholas de San Domingo. Na terra deixariam, de lembrança, além daquela povoação e do forte, que haviam começado a edificar na ilha a que chamaram de Trindade, e duas outras fortificações menores, supostamente localizadas, uma, na foz do Mearim, e outra, na confluência de seu tributário Pindaré, mais aqueles jovens índios barbados que eram seus filhos com as nativas com que haviam convivido naqueles dois anos, pois que foram bem recebidos da gente que ali habitava, e delas inclusive.227 O naufrágio da portentosa frota de Aires da Cunha e a trágica morte deste donatário tiveram consequências desastrosas para os esforços de povoamento e colonização do Maranhão na época. A sociedade desfez-se completamente. Fernando Álvares de Andrade compreensivelmente desistiu do negócio, não mais empreendendo esforços para tomar posse de seu quinhão. O notável historiador João de Barros foi o único que persistiu. Homem de valor e caráter providenciou o resgate de seus filhos, mantidos prisioneiros em San Domingo, e tratou de prestar auxílio financeiro, extraído de seus próprios recursos, às famílias daqueles que haviam desaparecido no Maranhão, mormente a do seu amigo Aires da Cunha. Ele “pagou tôdas as dívidas que deixara Aires da Cunha e os que com êle pereceram; e pela artilharia e petrechos se constituiu devedor à coroa de cêrca de seiscentos mil réis”, os quais, muitos anos mais tarde, “lhe foram perdoados por D. Sebastião, ato de generosidade tão tardia, que de generoso mal lhe cabe o nome”, escreve Robert Southey.228 As terras do Rio Marañon, envolvidas em mistérios e tragédias, território de aventuras e desventuras, estendendo-se do Maranhão aos incertos limites a oeste da hodierna Amazônia, das quais muitos não retornavam, onde estariam guardadas as riquezas do El Dorado, continuaram, porém, a excitar a imaginação dos lusitanos, 227 228

MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 74-75. SOUTHEY. História do Brasil, v. 1, p. 72.


ansiosos por repetirem os recentes êxitos espanhóis na obtenção de ouro e prata sob as pedras do ocaso dos impérios Azteca e Inca, nos termos das notícias que circulavam na Europa. Não é surpresa, pois, que novos candidatos à descoberta do local das cobiçadas riquezas amazônicas do lado luso da linha do Tratado de Tordesilhas, cuja porta de entrada seria o Rio Marañon, logo se apresentassem. Em 1539, talvez menos de um ano do possível abandono do povoado de Nazaré, Sebastião Marinho teria contornado a Ilha Grande e rumado rio acima pelo Mearim por aproximadamente 20 léguas, regressando em sequência sem conseguir o que pretendia. Diogo Nuñez, por seu turno, teria obtido de Tomé de Sousa, o primeiro Governador-Geral do Brasil, autorização para empreender a colonização do Maranhão e procurar os seus hipotéticos metais preciosos, associando-se, para tal fim, com um indivíduo de nome João da Saúde, contudo inexiste registro do que ambos hajam realizado. O próprio Tomé de Sousa parece ter dedicado esforços ulteriores em prol da conquista do Maranhão. Em carta reservada ao monarca português, de 18 de julho de 1551, firmou que despachara da Bahia para a região setentrional o Capitão Miguel Henrique, em uma galé, na data de 6 de novembro do ano precedente, com o propósito de explorar um rio localizado em terra do Peru e encontrar algo que constituísse boa notícia para a Corte. O problema é que o Peru foi implicitamente identificado como a mesma terra do Maranhão, de novo nada constando sobre algum sucesso eventual da iniciativa. Depois da expedição de Aires da Cunha, a tentativa mais conhecida é a do célebre e abastado Luís de Melo da Silva, filho do Alcaide-Mor de Elvas, que esteve nas costas nortistas brasileiras e encantou-se com o visto e informado por terceiros, daí decidindo voltar à metrópole, onde, segundo uma conjectura, teria conseguido em doação a desassistida Capitania do Maranhão,229 sob a condição de que alargasse as suas explorações até os domínios do Amazonas. Frei Vicente do Salvador, considerado o Pai da História do Brasil, vai além, sustentando que a Capitania do Maranhão “foi dada a Luís de Melo da Silva, que a descobriu”, uma vez que “não era o Maranhão a terra que el-rei deu a João de Barros, como alguns cuidam, senão estoutra que demarca pela Paraíba com a de Pero Lopes de Sousa”.230 Esta tese é, entretanto, nos dias de hoje, de 229

Ver MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 78; e AMARAL. O Maranhão histórico, p. 21. Capistrano de Abreu, no entanto, nos Prolegômenos ao Livro II do livro História do Brasil, de autoria do Frei Vicente do Salvador, ostenta informação que refuta tal hipótese: “Da capitania de Luís de Melo da Silva não apareceu ainda nem carta de doação nem foral.” Ver SALVADOR. História do Brasil, p. 98. 230 Ibidem, p. 127. Seu entendimento de que a capitania doada a Luís de Melo da Silva (a do Maranhão) não seria a mesma concedida a João de Barros é vigorosamente contrariado pela grande maioria dos estudiosos, entre os quais Mário Meireles, no livro João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, cujo título é autoexplicativo. São assaz elucidativas as observações do historiador maranhense a seguir reproduzidas: “Na explicação de D’Avezac, [...] a donataria, de nome Rio Grande, era de cem léguas; Frei Vicente do Salvador, contudo, sem nominá-la, diz que era de apenas cinqüenta léguas e que ela não era a do Maranhão... que foi dada a Luís de Mello da Silva, mas Capistrano de Abreu, nos Prolegômenos ao Livro II, adverte que da capitania de Luís de Melo da Silva não apareceu ainda nem carta de doação nem foral, e o que se sabe dele é segundo documentos espanhóis. Talvez as dúvidas e controvérsias acima possam ficar definitivamente esclarecidas com a leitura da certidão passada, em data de 26/1/1742, pelo escrivão da Torre do Tombo, em cumprimento a despacho d’El Rei D. João V (1706/1750), a pedido de Lopo de Barros de Almeida, que a terá requerido na qualidade de herdeiro de João de Barros, seu trineto ou tetraneto. Nessa certidão, que transcreve verbo ad verbum a “Carta de Doação das minas de ouro e prata das respectivas Capitanias de João de Barros, Aires da Cunha e


escassa ou nenhuma confiabilidade, porquanto não há quase dúvida alguma de que se tratava da mesma donataria e de que Luís de Melo da Silva não a descobriu. Este deixou Lisboa com uma frota de três naus e duas caravelas em 1554, com o objetivo de conquistar o Maranhão, no que não teve melhor sorte que Aires da Cunha, a não ser pelo fato de que sobreviveu ao naufrágio ocorrido em uns baixios possivelmente na Coroa dos Atins, à entrada dos Mangues Verdes, “salvando-se apenas uma das caravelas, em que os desventurados náufragos conseguiram se recolher à Pátria” detalha Ribeiro do Amaral.231 Para o Heródoto brasileiro, “morreu a maior parte da gente que levava, escapando só ele com alguns em uma caravela, que ficou fora do perigo, e dezoito homens em um batel, que foi ter à ilha de São Domingos”.232 Nesse ínterim, apesar do enorme prejuízo sofrido em decorrência do malogro da expedição de 1535, comandada por seu sócio e amigo Aires da Cunha, da morte deste e da desistência de Fernando Álvares de Andrade, João de Barros, tido como o primeiro grande historiador luso, agora um velho com mais de 50 anos, vivendo bem acima da média da população lusitana, não desistira do Maranhão. Assim, em 1550, quando Luís de Melo da Silva ainda estava empenhado em obter o favor real da doação da capitania em causa, João de Barros enviou novamente seus filhos para a colonização da donataria, mas eles, outra vez, não foram bem-sucedidos. Estas duas tentativas são mencionadas em representação dirigida ao soberano de Portugal em 1555, noticiando a ocorrência de assaltos e roubos perpetrados por forasteiros na capitania, entre os quais egressos de outras donatarias, o que originou a expedição de alvará datado de 5 de março de 1561, pelo qual o governo vedou a futura incursão de outras pessoas às terras do Tito Lívio português. Sobre a derradeira iniciativa da família Barros nas terras da Ilha da Trindade, relata Jerônimo, em representação destinada à Coroa, quando D. João III já não mais reinava, cuja morte se verificou em junho de 1557, que ele e seu irmão João de Barros, a serviço real, em uma armada, haviam explorado o Rio Maranhão e a costa à procura de ouro, encontrando e resgatando indivíduos da expedição de Luís de Melo e outro”, datada de 15/6/1535 e que está no Arquivo Nacional da Torre do Tombo – manuscritos da Livraria nº 2.264, documento nº 102, lê-se o seguinte: Dom Joam por graça de Deos Rei de Portugal [...] A quantos esta minha carta virem Faço saber que eu tenho doação e merçe a Fernão D’Alvares de Andrade do meu Conselho e meu Thezoureiro mor e a Ayres da Cunha fidalgo de minha caza e a Joam de Barros feitor das cazas da India e Mina para elles e todos seus filhos e netos erdeiros sucessores de juro e herdade para sempre da capitania e governança de duzentos e vinte sinco leguas de terra na minha costa e terras do Brazil, repartidas em capitanias nesta maneira convem a saber ao dito Fernão D’Alvares trinta e sinco leguas que comesão do cabo de Todollos Santos da banda do leste e vam correndo para lo-este athe o rio que está junto com o Rio da Cruz e aos ditos Ayres da Cunha e Joam de Barros cento e sincoenta legoas covem a saber cem legoas que comesão honde se acaba a Capitania de Pedro Lopes de Souza da banda do norte e correm por a dita banda do norte ao longo da costa tanto couber nas ditas cem legoas e as sincoenta legoas que comesão da terra de Diogo Leyte da banda de loeste e se acabão no cabo de Todollos Santos da banda do leste do rio do Maranhão segundo mais inteiramente he contheudo e declarado nas cartas e Doações que os sobreditos Fernão D’Alvares, Ayres da Cunha e João de Barros das ditas terras e Capitanias de mim tem sobre as quase terras e capitanias elles todos tres juntamente estam contratados e concertados por minha licença [etc...] [...] E o ilustre historiador que foi Frei Vicente do Salvador, a quem Frei Venâncio Willeke, OFM chama , com absoluta justiça, de o Pai da História do Brasil, o Heródoto Brasileiro, deve tê-lo negado tão enfaticamente, como o fez, porque não terá tido, com certeza, oportunidade de conhecer o mapa do cartógrafo português Luís Teixeira, datado do ano de 1574, já no reinado de D. Sebastião (1557/1578), sucessor de seu avô D. João III, e que se guarda na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa.”. MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 54-56. 231 AMARAL. O Maranhão histórico, p. 21-22. 232 SALVADOR. História do Brasil, p. 129.


empreendendo vários trabalhos de guerra contra os gauleses e os nativos, lá permanecendo aproximadamente cinco anos a expensas de seu pai. Esta última tentativa acabou por arruinar definitivamente as finanças do valoroso historiador, o qual faleceu pobre em 1570, acometido de uma apoplexia, ocasião na qual sobrevivia à custa de uma pensão que lhe fora deferida pela Rainha Regente D. Catarina. Para robustecer seu argumento de que João de Barros foi o primeiro donatário do Maranhão, Mário Meireles refere que, “ainda em 1574, em um mapa do Brasil desenhado por Luís Teixeira [...], o extremo norte do litoral brasileiro, compreendendo aqueles quatro quinhões concedidos, em 1534/1535”, por ordem do leste para o oeste, “a ele, a Antônio Cardoso de Barros, a Fernão d’Álvares de Andrade e a Aires da Cunha, aparecem como uma única donataria e sob o título de Capitania de João de Barros”.233 Tampouco Luís de Melo, enriquecido nas Índias, se restringiu a uma tentativa solitária de conquista do Maranhão. Em 1573, já morto João de Barros, teria encarregado, de Portugal, Leitão de Gamboa, no comando da nau São Francisco, de dar início à colonização daquela terra, mas as profundas águas do Atlântico a teriam recebido em seu regaço, posto que não mais tivesse sido vista. Uma versão diz que ele próprio morreu no que teria sido a sua segunda viagem à donataria. Jomar Moraes, em nota de rodapé contida no livro O Maranhão histórico, de Ribeiro do Amaral, concorda que João de Barros antecedeu Luís de Melo na titularidade da Capitania do Maranhão, porém defende que o segundo apenas se tornou o seu legítimo donatário após o falecimento do primeiro: Luís de Melo da Silva, não como donatário, mas na condição de contratado por João de Barros ou a ele associado, viajou pela primeira vez ao Maranhão em 1554. Em 1573, provavelmente já na qualidade de titular da capitania do Maranhão, por compra aos filhos de João de Barros (falecido em 1570), Luís de Melo da Silva fez sua segunda viagem ao Maranhão, na qual pereceu. Entre a primeira e a segunda expedição de Luís de Melo da Silva, houve a dos filhos de João de Barros, Jerônimo e João, que no Maranhão se demoraram de 1556 a 1561, fazendo diversas explorações na região.234 Após tantos reveses pela via marítima, os portugueses buscaram o acesso ao Maranhão por terra. Gabriel Soares de Sousa teria saído com tal fim em 1591, na companhia de numerosos homens, mas somente “chegando até as cabeceiras do Rio São Francisco e a Serra Verde”, em cuja “jornada se perderam muitos”, conforme Estácio da Silveira.235 Fran Paxeco descreve a expedição seguinte, de Pero Coelho de Sousa, no ano de 1603, também por rota terrestre e sem sucesso:

233

MEIRELES. João de Barros, primeiro donatário do Maranhão, p. 81. Conclui o autor que inexiste informação sobre quando ocorreu a unificação das quatro donatarias iniciais em uma única capitania: “Não sabemos quando e através de que nova ou novas cartas de doação esses lotes teriam sido transferidos de dono e unificados sob o nome do novo donatário que os identifica no mapa, como também não sabemos quando teria sido extinta esta nova capitania.” Ibidem, p. 81. 234 Ver nota em AMARAL. O Maranhão histórico, p. 22. 235 SILVEIRA. Relação sumária das cousas do Maranhão, p. 21.


Segue-se-lhe o açoriano Pero Coelho de Souza, irmão de Martim Afonso, em 1603; desfeito o plano de tocar o território maranhense pela via oceânica, combinou transitar por terra, mas junto ao litoral, na companhia de cerca de cem europeus e oitocentos indígenas. Diogo Botelho, governador-geral da colônia, liberalizou-lhe a patente de capitão-mor, com poderes para conquista do Maranhão. Saíram da Paraíba, em junho, agregando-se-lhes Diogo de Campos Moreno, sargento-mor do Estado e Martin Soares Moreno, individualidades que se notabilizaram, no decurso destas valorosas entrepresas. Aportados a Jaguaribe, de Pernambuco, encaminharam-se pro Ceará, seguindo, nos fins de outubro, com destino à serra de Ibiapaba, incluída na área disputada. Jornadearam, té ali, debaixo das simpatias dos sertanejos. Mas, em janeiro de 1604, azagaiados pelos tabajaras, enfrentaram os morubixabas Mel Redondo e Jurupari-Guaçu. Os constantes recontros, apesar de vitoriosas as forças de Pero Coelho, levaram o capitão a desistir da iniciativa e a arrepiar carreira. Os franceses, que já tinham travado amizade com os que vagueavam em Ibiapaba, reforçaram a fúria dos atacantes – contra os perlustradores desses ínvios atalhos. Do mal, todavia, sempre se aproveita alguma cousa: – os tupinambás advertiramnos do que ocorria no Maranhão.236 Esta empreitada, a despeito das úteis informações colhidas sobre os territórios percorridos e mesmo sobre o Maranhão, tendo em conta a exploração de áreas da Paraíba, Pernambuco e Ceará, a habilidade de Martim Soares Moreno, que se tornara um competente intérprete ou “língua”, e a tomada de prisioneiros indígenas, entre os quais alguns tupinambás vindos das terras maranhenses, que estavam visitando seus parentes tabajaras, como atesta o Padre José de Morais, da Companhia de Jesus,237 teve um efeito extremamente negativo na relação dos portugueses com os índios, em decorrência da escravização de tabajaras e tupinambás. O citado religioso atribui principalmente a Pero Coelho de Sousa a responsabilidade pelos atos reprováveis perpetrados contra os aborígenes, pois teria sido dele, contrariando o conselho de Martim Soares, a decisão de aprisionamento dos nativos, com a finalidade de obter mão de obra para as suas lavouras.238 A questão é 236

PAXECO, Fran. O Maranhão: subsídios históricos e corográficos. 3. ed. São Luís: AML/EDUEMA, 2008. p. 54. 237 Ver MORAIS. História da Companhia de Jesus na extinta província do Maranhão e Pará, p. 24-25. 238 “Receava Martim Soares que os intentos com que Pedro Coelho saiu de Pernambuco, de cativar os índios para o benefício das suas lavouras, se pusessem agora em execução, com grave perigo do estabelecimento da sua capitania, fundada só por então nos braços e forças daqueles índios, que voluntariamente o ajudavam. Não se enganou, porque de um confidente da mesma comitiva soube logo a firma resolução em que estava Pedro Coelho de amarrar os índios, que consigo tinha trazido da serra. Buscou-o prudente e com confiança de amigo lhe propôs eficazmente, e à luz da mesma razão, as prejudiciais conseqüências de um tão injusto procedimento, mostrando-lhe como experimentado no país os desserviços que nisto fazia a Deus e ao seu rei. [...] Nada bastou para abrandar o resoluto ânimo de Pedro Coelho, mais duro que a mesma pedra, nem as evidentes razões, que tinha ouvido, o moveram a desistir de um projeto tão alheio da razão e da justiça daqueles miseráveis, que seguros na boa fé e promessas o tinham acompanhado até aquele lugar, e quando não tivessem por si outro motivo, bastavam as esperanças que davam os tupinambás do descobrimento do Maranhão, e do muito que nele podia interessar à Coroa portuguesa, para não só os não ofenderem, mas ainda serem tratados com mimo e regalo, e obrigados com a desconveniência de algum donativo. Eram outros e muito diversos os desígnios de Coelho e seus companheiros, um e outros cegos com tão execranda ambição. Não quiseram perder mais tempo fiados no descuido e inocência dos pobres índios: deram sobre eles de repente, e foram amarrando assim os tabajaras da serra como os tupinambás do Maranhão, ao estrondo de muitos tiros, que espantando a maior parte do gentio que ali se achava da obrigação do capitão-mor, nos deixou


controversa, sendo fato, contudo, que o procedimento adotado pelos expedicionários foi censurado e que o indivíduo punido foi um tal de João Soromenho, como esclarece Mário Meireles.239 Diante de mais essa iniciativa infrutífera de cunho militar, e não havendo condições para o envio de nova expedição nos mesmos moldes, foi a missão ao Maranhão assumida pelos jesuítas, possivelmente por sugestão dos próprios. Os missionários Luiz Figueira e Francisco Pinto deixaram Recife em 20 de janeiro de 1607, por via marítima, acompanhados de muitos dos tupinambás anteriormente feitos prisioneiros. O Padre Luiz Figueira assim testemunha o início da difícil empresa e os objetivos que a animavam: No Mez de janro de 607 p. ordem de fernão Cardim pral desta pra nos partimos pera a missão do Maranhão o pe fro Pinto e eu cõ obra de sessenta Indios, cõ intenção de pregar o evangelho aaquella desemperada gentilidade, e fazermos cõ q’ se lançassem da parte dos portugueses, deitando de si os frãcezes corsarios q’ lá residem para q’ indo os portugueses como determinão os não avexassem nem captivassem, e peraq’ esta nossa ida fosse sem sospeita de engano pareceo bem ao pe pral q’ não levassemos cõnosco portugueses e assi nos partimos sós cõ aquelles sessenta Indios.240 Os religiosos atingiram o forte do Rio Grande, onde foram bem recebidos pelo seu comandante Jerônimo de Albuquerque, o qual, inclusive, pôs-lhes uma escolta à disposição, oferta essa declinada. Tomaram o rumo do Jaguaribe, embrenhando-se pelo sertão. Os primeiros passos nos domínios indígenas foram promissores. Tiveram boa acolhida entre os potiguaras de Amanaí, no Ceará, onde ergueram uma capela. Dirigiram-se então para Ibiapaba, permanecendo por cerca de cinco meses nas aldeias do chefe Jeropari, entre as quais Ararenda, onde construíram outro lugar de culto. Animados por esses resultados, despacharam emissários para as tribos próximas, visando ampliar a obra catequizadora. Não atendidos pelos índios tacarijus, os dois jesuítas, na companhia de nativos amigos, “não obstante os péssimos prenúncios, aventuraram-se a recolher ao aprisco as gentes das aldeias serranas”, conforme sentencia Fran Paxeco.241 Os tacarijus, no entanto, surpreenderam-nos em 10 de janeiro de 1608, matando, a golpes de tacape, na região da Serra da Ibiapaba, no norte do senhores da presa para os levarem com as suas famílias a chorar no serviço de suas casas e lavouras a injustiça de seu infortúnio. Tão antigos são neste Estado semelhantes cativeiros, e insultos contra a liberdade. Notavelmente magoado, e por extremo queixoso ficou o Capitão-Mor Martim Soares; e vendo a cena mudada, perdidas as esperanças do descobrimento do Maranhão, pouco segura a sua pessoa, levantados os índios, não se querendo já fiar dos portugueses pelo modo aleivoso, com que os tratavam; se partiu logo para Pernambuco, aonde chegou governando já o Brasil Gaspar de Sousa, fidalgo de tão grande zelo do serviço do seu rei, como da glória de Deus no aumento da fé e conversão dos gentios. Pasmou com a inconsiderável resolução de Pedro Coelho, que Soares lhe referiu da ocasião oportuna, que a sua temeridade tinha arrancado das mãos ao capitão-mor, pela qual sem dúvida adiantaria muito a sua capitania, e o que mais era a redução de tantas almas, que em vez de se atraírem, eram desviadas por este modo do grêmio da Santa Igreja.” Ibidem, p. 25-26. 239

“Discute-se muito, aliás, sobre a culpa ou responsabilidade do capitão-mor no caso, afirmando alguns que agia assim por ordem expressa do governador geral; a verdade é que, desaprovado esse procedimento, a punição recaiu sobre João Soromenho, que fora despachado do Brasil em seu auxílio.” MEIRELES. História do Maranhão, p. 27. 240 Ver a Relação do Maranhão, de autoria do Padre Luiz Figueira, em STUDART, Guilherme (Barão de Studart). Documentos para a Historia do Brasil e especialmente a do Ceará. 1608-1625. Fortaleza: Typ. Studart, 1904. v. 1, p. 1. 241 PAXECO. O Maranhão, p. 56.


Ceará, o Padre Francisco Pinto, ironicamente prestes a oficiar o sacrifício da missa, enquanto o outro sacerdote conseguiu sobreviver ao ataque, vindo a ser resgatado pelo sargento-mor, que acorreu do Rio Grande logo após tomar conhecimento das más notícias. Portanto, nenhum dos dois missionários jamais chegou ao Maranhão. O Padre Luiz Figueira, depois de retornar a Pernambuco e, posteriormente, à Bahia, apresentou ao seu superior, o Prepósito-Geral da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, a narrativa de sua tumultuada viagem, sob o título Relação do Maranhão, datada de 26 de março de 1608,242 da qual consta a informação de que os franceses haviam edificado duas fortificações em duas ilhas situadas na boca do Rio Maranhão.243 Esta tentativa empreendida pelos jesuítas, tão malograda quanto as militares, encerrou o período das primeiras expedições ao Maranhão, promovidas pelos portugueses, deixando a terra, agora uma possessão espanhola, sob a vigência da União das Coroas Ibéricas (1580-1640), à mercê da persistente ação dos gauleses no Brasil setentrional244 e abrindo caminho para a implantação da França Equinocial, que tornou o Maranhão um pedaço da França por aproximadamente três anos, a partir de 1612, até que os ibéricos despertassem para a realidade de que o continuado abandono da região e a posição de subestimar as iniciativas e pretensões gaulesas poderiam levar à definitiva perda daquele território. E então os lusitanos partiriam para o segundo e derradeiro grande embate com os franceses, depois da experiência da França Antártica, quando seria decidido se o Maranhão seria de uns ou de outros. REFERÊNCIAS ABBEVILLE, Claude d’. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Tradução de Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975. 297 p. (Coleção Reconquista do Brasil, 19). ALMEIDA, Ruben. Gaspar de Sousa no Maranhão. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, São Luís, v. 1, n. 2, p. 5-11, nov. 1948. AMARAL. José Ribeiro do. O Maranhão histórico – Artigos de jornal (1911-1912). São Luís: Instituto Geia, 2003. 123 p. (Coleção Geia de Temas Maranhenses, 1). BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais históricos do Estado do Maranhão, em que se dá notícia do seu descobrimento, e tudo o mais que nele tem sucedido desde o ano em que foi descoberto até o de 1718: oferecidos ao Augustíssimo Monarca D. João V. Nosso Senhor. 4. ed. Rio de Janeiro: Tipo Editor, 1988. 390 p. CABRAL, Mário da Veiga. História do Brasil: curso superior. 19. ed. Rio de Janeiro: Paulo de Azevedo, 1959. 612 p. DAMATTA, Roberto. Sobra dinheiro, falta vigilância. Veja, São Paulo, v. 44, n. 2236, p. 17-21, 28 set. 2011. Entrevista concedida a Monica Weinberg. DENIS, Ferdinand. Brasil. Tradução de João Etiennne Filho e Malta Lima. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1980. 436 p. (Coleção Reconquista do Brasil, 46). GODOIS, Antonio Baptista Barbosa de. Historia do Maranhão para uso dos alumnos da Escola Normal. São Luís: Mar. Typ. de Ramos d’Almeida & G., Suces., 1904. t. 1. GODÓIS, Antônio Batista Barbosa de. História do Maranhão para uso dos alunos da Escola Normal. 2. ed. São Luís: AML/EDUEMA, 2008. 367 p. (Publicações do Centenário. Série Fundadores, 4). MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. La Ravardière e a França Equinocial: os franceses no Maranhão (1612-1615). Rio de Janeiro: Topbooks, 2007. 231 p. 242

Guilherme Studart contesta a data, alegando que, com base na leitura do documento, “Luiz Figueira devia datal-o de 609 e não 608”. STUDART, Guilherme (Barão de Studart). Documentos para a Historia do Brasil e especialmente a do Ceará, p. 1. 243 Ver ibidem, p. 12. 244 “Assim, abandonada a região pelos portugueses e deixada de lado pelos espanhóis, ante os sucessivos fracassos de uns e outros, ficou ela praticamente em mão dos franceses, que só os rouliers de la mer a visitavam com freqüência, conforme aliás a denúncia dos filhos de João de Barros.” MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 43. Ver igualmente MEIRELES. França Equinocial, 1962, p. 38.


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