A formula da vida

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Copyright © Adriana Igrejas, 2011 Esta obra não pode ser reproduzida total ou parcialmente sem a autorização por escrito do editor.

Editor João Baptista Pinto

Capa Rian Narcizo Mariano Projeto Gráfico e Editoração

Luiz Guimarães

Revisão Da autora

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

I27f Igrejas, Adriana, 1970A fórmula da vida / Adriana Igrejas. - Rio de Janeiro : Letra Capital, 2011. 434 p. : 15,5x23 cm ISBN 978-85-7785-121-8 1. Ficção brasileira. I. Título. 11.7093.

CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

21.10.11 28.10.11

030785

Letra Capital Editora Telefone (21) 22153781 / 35532236 www. letracapital.com.br


Agradecimentos À minha mãe, que sempre acreditou em mim e me fez também acreditar que eu era capaz. Ao meu amado esposo, que me motivou através do desafio. Aos meus filhos, que tiveram a paciência de, além de me dividir com o trabalho de professora, também me dividir com o computador e as intermináveis folhas de rascunho. À minha irmã mais nova, que acompanhou o processo de criação ouvindo minhas angústias e dividindo comigo a ansiedade. E a todos os amigos que de uma forma ou outra me motivaram nos longos três anos e seis meses em que me dediquei a escrever este romance.



Sumário

Prefácio...............................................................................................................................7 Prólogo................................................................................................................................9 Manchetes de jornais................................................................................................10 Vale-tudo....................................................................................................................12 Análise........................................................................................................................28 De vítima a algoz.......................................................................................................32 Autodefesa..................................................................................................................48 Solidão........................................................................................................................66 Patricinha Pitbull......................................................................................................85 Garota má.................................................................................................................105 Nem Madre Teresa nem Mulher Maravilha........................................................128 Quase uma garota normal......................................................................................139 Ariel..........................................................................................................................141 O destino..................................................................................................................154 Gregório...................................................................................................................169 O beijo......................................................................................................................202 Consequências.........................................................................................................217 O que há em um nome?.........................................................................................227 Festa de rodeio.........................................................................................................237 Ameaças...................................................................................................................249 A revanche...............................................................................................................259 Ex-namorada...........................................................................................................269 Determinismo..........................................................................................................286 Confissões................................................................................................................289 Amigos......................................................................................................................319 5


Mais que amigos......................................................................................................322 O pedido...................................................................................................................335 Feliz aniversário.......................................................................................................340 A verdade vos libertará...........................................................................................354 Purgatório................................................................................................................375 Em xeque..................................................................................................................383 Desenrolando o novelo...........................................................................................392 O confronto..............................................................................................................410 Quem merece o paraíso?........................................................................................420 Epílogo............................................................................................................................431

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Prefácio

Vida. O que é? Como começou? De onde veio? Um dos grandes mistérios. A Bíblia explica; a Ciência também. Explicam mesmo? Mesmo assim, ainda há tantas lacunas, tantas perguntas... Porque por mais que saibamos que existem átomos e mundos invisíveis..., por mais que estudemos os planetas e procuremos por formas de carbono como base e água como meio..., por mais que acreditemos em Adão e Eva..., ainda assim, como? E por quê? Vida, vital, vitalício. O que dura uma vida? Expectativa de vida − oitenta anos para um ser humano hoje em dia..., quatorze para um cachorro, alguns dias para alguns insetos... Valorizar a vida..., a importância da vida... Mas que vida? Existem vidas mais importantes que outras? A vida humana é realmente mais importante que a de um réptil? Quem disse? Provavelmente não o réptil. A vida inteligente. Ah, sim... Inteligência... Mas, tudo está definido e baseado em pressupostos e referenciais humanos... Ah, um grande mestre disse que tudo é relativo. Há seres humanos que acham que suas vidas valem mais que as de outros seres humanos. Sim, ainda hoje há: segregação racial, preconceito, fanatismo religioso, conceito de superioridade racial... E a felicidade? Mesmo os que se dizem felizes parecem perseguir ainda a tal felicidade perfeita porque “para eu ser completamente feliz, só falta...” Viu? Sempre falta alguma coisa. Pode ser amor, realização profissional, dinheiro, poder, satisfazer um desejo... De qualquer forma, como disse Jobim, “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho...”

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O certo é que muitos concordam que o amor é a fórmula para uma vida feliz e, para que haja vida, duas pessoas têm que fazer amor, ou ao menos esse seria o ideal − que no ato da concepção houvesse realmente amor. Mas há diversas formas de amor e cada um pode ter uma fórmula diferente para amar ou viver. Ela será a fórmula certa se e somente se, faz de você uma pessoa feliz.

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Prólogo

Jorge Durval estava sozinho em um dos laboratórios de sua companhia. Apesar do ar condicionado ligado no máximo, Durval suava de ansiedade, agitação e excitação. Como sempre, seus cabelos estavam desgrenhados e os óculos tortos no rosto. Não importava. Estava no meio de um experimento. Depois de dois anos de testes, achava que agora havia encontrado o elemento que faltava para a fórmula funcionar. A solução de teste estava pronta. O béquer que ele segurava estava cheio dela. Aproximou-se do tanque cheio de água de esgoto. Respirou fundo e despejou solenemente a solução no tanque. Colocou o recipiente vazio em cima da bancada. Ajustou um cronômetro, cruzou os braços e esperou olhando para o tanque.

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Adriana Igrejas

Manchetes de jornais

V

alério Rodrigues, Presidente das Indústrias Químicas Ecoleveq, dava uma palestra no Hotel Glória. A plateia era numerosa e parecia bastante interessada em cada palavra do que dizia. Sua fala macia e educada, pontuada de interessantes recursos expressivos e leves piadas jocosas fazia o público sorrir regularmente e evitava que o assunto – compromisso com o meio ambiente por parte das indústrias químicas − suscitasse enfado ou tédio. Aparentava uma distinção notável em seu impecável terno bege, contrastando com sua pele bastante morena. Magro, de cabelos lisos e pretos, com poucos fios brancos, trazia por detrás dos óculos redondos de metal, um olhar astuto e sagaz, de um verde-escuro cor de musgo. Aos cinquenta e três anos, brilhava ali em toda a sua arrogância e orgulho, disfarçados em meio à composição do discurso. Dado o momento para as perguntas, iniciou-se a agitação entre os braços de estudiosos, curiosos e de jornalistas. Valério começou a responder uma a uma todas as perguntas, sempre calma e educadamente, de forma clara e sucinta e ainda terminando cada explicação com bom humor. Após alguma irritação com um jornalista que acusou a Ecoleveq de despejar dejetos industriais em um rio próximo a sua fábrica em São Paulo, ele voltava a se recompor e acalmar depois de ter derrubado todos os argumentos do jornalista com provas, números e estatísticas. Outro jornalista, porém, surpreendeu Valério voltando a uma indesejável questão, que nada tinha a ver com a palestra: – Senhor Valério, não é verdade que até hoje o assassinato de Jorge Alencar Durval, o antigo Presidente da Ecoleveq, permanece um mistério, assim como o paradeiro da fórmula milagrosa descoberta por ele, que diziam ter o poder de limpar a água? Aquela que chamaram fórmula da vida? Valério, visivelmente irritado pela pergunta, sorriu irônico e tentou responder sarcasticamente, em tom de galhofa: – Quem disse? Ora, meus senhores, somos adultos! Ninguém aqui, acredito eu, daria nenhum ouvido a essas histórias. Não existe fórmula miraculosa. Era uma fórmula interessante, é verdade, mas já existem outros processos que fazem a mesma coisa. E demais, onde está essa fórmula? Ela funcionava? Ela realmente existiu? Só Durval poderia responder a essas perguntas e, lamento, mas ele não pode no momento – concluiu com uma risada forçada, que provocou outras, entre os espectadores. − Mas quanto ao assassinato de meu amigo, não houve mistério algum. Foi um assalto. Ele 10


A fórmula da vida

tinha objetos valiosos em casa e, roubaram provavelmente a tal fórmula, se ela existia, junto. Nenhum mistério. Infelizmente houve a tragédia... – disse mostrando uma voz de consternação – felizmente os culpados foram presos. – concluiu em tom grave. − E assassinados; três menores, pela sua afilhada. E havia possivelmente um mandante na morte de Durval que não foi descoberto... − Senhor... − começou procurando o nome do jornalista no crachá. − Veiga. Senhor Veiga, não creio que o senhor tenha uma pergunta propriamente dita, muito menos uma que tenha alguma relação com o tema de nosso encontro aqui. Se o seu objetivo é apenas me trazer lembranças dolorosas e falar de minha pobre e perturbada afilhada que já sofreu mais que uma jovem da idade dela pode suportar, sugiro que se retire ou se cale. − Mas Senhor Valério Rodrigues, a fórmula da vida... − tentou argumentar ainda Veiga, mas inutilmente, pois Valério já dava a palavra à outra pessoa, ignorando totalmente a pergunta do jornalista. Não se voltou mais ao assunto; as outras perguntas foram mais dentro do padrão normal e pertinentes ao assunto. Apenas algumas perguntas em relação ao meio ambiente e, referentes à emissão de poluentes por parte de sua empresa, também o aborreceram, mas só porque aquele jornalista já tinha estragado o seu dia. Quando chegou a casa, foi direto para o seu escritório. Sentou-se à escrivaninha, destrancou uma de suas gavetas e retirou de lá alguns recortes de jornais. Passou os olhos pelas manchetes e algumas linhas como que a procurar o que poderia ter levado aquele jornalista a tocar em um assunto tão antigo. Teria a imprensa deixado alguma interrogação? Pelo que se lembrava, tudo havia sido esclarecido, o caso encerrado adequadamente. Por que mexer em um passado tão doloroso? Sensacionalismo? Para cada evento, ele tinha manchetes de jornais diferentes: Químico brasileiro descobre fórmula mágica para despoluir as águas. Fórmula milagrosa vai poder acabar com a poluição das águas. O cientista e empresário que descobriu a fórmula da vida é assassinado em sua casa durante um assalto. Jorge Alencar Durval e sua filha são vítimas da violência. Fórmula da vida é roubada e seu descobridor, assassinado. Vítima se revolta e mata seus malfeitores e assassinos de seu pai. A violência não escolhe classe social: menina rica faz justiça com as próprias mãos. Vingou a honra e a morte do pai e foi presa. 11


Adriana Igrejas

É. Realmente a imprensa deixou muitos questionamentos. Principalmente sobre a fórmula. Onde ela estaria? Tudo dava a entender que não foi um simples assalto. Apesar de terem levado outros objetos e dinheiro, o depoimento de sua afilhada levantou a questão sobre a maldita fórmula, e com ele a possibilidade de haver um mandante para o crime. Mas depois de tanto tempo... Aquele jornalista não podia querer nada além provocá-lo com a lembrança daquele triste episódio! Provavelmente só queria fazer uma pergunta sensacionalista para chamar a atenção. Aí decidiu tocar em uma velha ferida. Meio distraído, acabou olhando outros recortes subsequentes: Patricinha Pitbull promove quebra-quebra em boate. Gangues de artes marciais se enfrentam nas noites do Rio. Ela ataca de novo: a Patricinha Pitbull manda três para o hospital. Bandidos têm medo de “bad girl” à solta nas noites do Rio. Catarina Durval é acusada de tentar matar um assaltante e um trabalhador na Tijuca. Patricinha Pitbull foragida. Valério balançou a cabeça negativamente e deu um murro na mesa. Guardou os recortes. Saiu dali, fechou a porta cuidadosamente e foi ruidosamente para o quarto da afilhada. Olhou em torno; levantou alguns objetos; andou de um lado para o outro agitado. Olhou para os pôsteres nas paredes com ar de reprovação, rangeu os dentes e soltou: − Onde essa garota biruta se meteu?

Vale-tudo

C

inco meses antes... Catarina acordou cedo naquela manhã de sábado. Era dia de vale-tudo. Tomou um café da manhã moderado − frutas, leite, suco, torradas e queijo. Voltou ao seu quarto para pegar a mochila. Abriu-a novamente para se certificar de que não esquecia nada. O quimono (ou dobok) estava lá, camiseta ribana, outra muda de roupa, toalha, sabonete e um pequeno kit de primeiros socorros − band-aids, gaze, esparadrapo, água oxigenada e gel para dores musculares. Colocou os fones de ouvido e ligou seu MP4. Selecionou uma lista de reprodução bem eclética que incluía desde música popular brasileira como Novos Baianos e Ana Carolina até Beethoven, passando por rock nacional e 12


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