D. Estêvão Bettencourt, O.S.B.
Iniciação Teológica Mater Ecclesiae
Copyright © Arquidiocese do Rio de Janeiro, 2013 Esta obra não pode ser reproduzida total ou parcialmente sem a autorização por escrito do editor.
Editor João Baptista Pinto
Capa Carolina Alves
Editoração Luiz Guimarães
Revisão Daniel Custodio Rios Fabio da Silveira Siqueira CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
B466i Bettencourt, D. Estêvão Tavares, 1919-2008 Iniciação teológica: Mater Ecclesiae / D. Estêvão Tavares Bettencourt. 1. ed. - Rio de Janeiro : Letra Capital, 2013. 324 p. ; 15,5x23 cm. Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-7785-229-1 1. Catolicismo. 2. Teologia. I. Título.
13-05747 CDD: 282.09 CDU: 282 03/10/2013
04/10/2013
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Apresentação “Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada. Receberam a unção do Espírito Santo, que os instrui e os conduz à verdade em sua totalidade.” Catecismo da Igreja Católica n. 91 Caro leitor, Com muita alegria, a Escola Mater Ecclesiae apresenta o livro Iniciação Teológica. Dando continuidade ao trabalho de revisão de nossos livros, que nos foram todos eles consignados por D. Estêvão Bettencourt, OSB, de venerável memória, vemos vir à luz mais este volume com a revisão e a adequação linguística às regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e, também, com algumas modificações e pequenas atualizações de conteúdo nos módulos, que agora são chamados de “capítulos”. O novo formato e a nova diagramação visam tornar o conteúdo mais didático e prático tanto para os leitores, quanto para aqueles que se utilizam da obra como apostila do curso por correspondência. Nosso objetivo é que não somente este volume de Iniciação Teológica, mas todos os outros cursos de nossa Escola de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida, possam se tornar um instrumento nas mãos de catequistas, agentes de pastoral, professores de religião, enfim, de todos aqueles que desejam melhor “compreender” para melhor “transmitir” a verdade revelada, como afirma o n. 91 do Catecismo da Igreja Católica citado no início dessa apresentação. Este curso visa introduzir o aluno no universo da reflexão teológica, fazendo uma rápida passagem por todos os tratados da teologia que serão, depois, mais pormenorizadamente estudados nos outros cursos de nossa coleção. A bibliografia foi deslocada para o final do livro por uma questão de praticidade, uma vez que a Iniciação Teológica 3
menção de uma bibliografia para cada módulo dizia mais respeito à estrutura antiga do curso, onde o aluno poderia fazer um ou outro módulo isoladamente, o que não é mais possível diante das novas normas para a realização de nossos cursos. Queremos ao final desta breve apresentação confiar ao Bom Deus o êxito desta obra, pedindo que Ele abra o seu coração e a sua inteligência para compreender os mistérios da fé e que recompense no céu aquele que nos deixou tão grande legado, Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Pe. Fabio da Silveira Siqueira Vice-diretor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida
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Introdução1 Prezado(a) cursista, Você tem agora a oportunidade de fazer um curso de iniciação Teológica... Iniciação que, embora não exaustiva, lhe dará uma visão completa e assaz profunda das verdades da fé. E por que este curso? Porque, se é verdade que ninguém ama o que não conhece, também deve ser verdade que alguém tanto mais amará a Deus quanto mais O conhecer. Ora “conhecer a Deus é viver, e servir a Deus é reinar” (Missal Romano). Todo cristão deve ter interesse em aprofundar aquilo que professa, principalmente em nossos dias, quanto tantas propostas religiosas o interpelam. São Pedro nos diz que “devemos estar sempre prontos a dar razão da nossa esperança a todo aquele que no-la peça” (1Pd 3, 15). Isto só será possível mediante uma aplicação zelosa ao estudo da Ciência Sagrada. Ademais o aprofundamento teológico redunda naturalmente em estímulo e alimento da vida de oração; quem descobre mais lucidamente o plano de Deus, mais se sente impelido a experimentar a presença daquele que se nos revelou. O perigo que ameaça o(a) cursista, é o de não perseverar... por este ou aquele motivo. Sendo assim, convidamos você a não se deixar impressionar por possíveis obstáculos. Se encontrar dificuldades na assimilação da matéria, escreva-nos, e estaremos à sua disposição para ajudá-lo(a). Nosso intuito é servir a cada um(a) como for necessário, para que todos possam ter uma fé mais viva e ardente. Uma breve observação: a sigla DS, nas lições do Curso, significa “Denzinger-Schönmetzer”, autores de um Manual de Símbolos e DeEsta introdução consta da edição anterior do livro Iniciação Teológica. Ela foi conservada em homenagem à memória de nosso estimado D. Estêvão Tavares Bettencourt, OSB. 1
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finições; nessa obra encontram-se todas as Declarações da Igreja em matéria de fé e de Moral. Infelizmente ainda não existe em português, mas, sim, em espanhol, além do original latino e grego. Atenciosamente Pe. Estêvão Tavares Bettencourt O.S.B.
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Índice Geral
Capítulo 1: Revelação, Fé e Teologia................................................11 Capítulo 2: Teologia Fundamental (I) – “Creio em Deus”..............19 Capítulo 3: Teologia Fundamental (II) – “Creio em Jesus Cristo”.27 Capítulo 4: Teologia Fundamental (III) – “Creio na Igreja”...........35 Capítulo 5: Deus em Sua Unidade (Mensagem Bíblica).................43 Capítulo 6: Deus em Sua Trindade (I).............................................51 Capítulo 7: Deus em Sua Trindade (II)............................................59 Capítulo 8: A Criação (I)...................................................................67 Capítulo 9: A Criação (II)..................................................................77 Capítulo 10: Os Anjos 87...................................................................85 Capítulo 11: Antropologia Teológica (I)..........................................93 Capítulo 12: Antropologia Teológica (II).......................................101 Capítulo 13: A Queda Original......................................................109 Capítulo 14: Jesus Cristo (I)............................................................119 Capítulo 15: Jesus Cristo (II)...........................................................127 Capítulo 16: Jesus Cristo (III).........................................................135 Capítulo 17: Jesus Cristo (IV).........................................................143 Capítulo 18: Jesus Cristo (V)...........................................................151 Capítulo 19: Jesus Cristo e a Igreja.................................................159 Capítulo 20: A Igreja (I)..................................................................167 Capítulo 21: Igreja (II).....................................................................175 Capítulo 22: A Igreja (III)...............................................................185 Capítulo 23: A Igreja (IV)...............................................................193 Capítulo 24: A Igreja (V).................................................................201 Capítulo 25: Mariologia (I)..............................................................209
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Capítulo 26: Mariologia (II) ...........................................................217 Capítulo 27: Mariologia (III)...........................................................225 Capítulo 28: A Graça (I)..................................................................233 Capítulo 29: A Graça (II).................................................................241 Capítulo 30: Os Sacramentos (I).....................................................249 Capítulo 31: Os Sacramentos (II)...................................................257 Capítulo 32: Os Sacramentos (III)..................................................265 Capítulo 33: Os Sacramentos (IV)..................................................275 Capítulo 34: Os Novíssimos (I).......................................................285 Capítulo 35: Os Novíssimos (II)......................................................295 Capítulo 36: Os Novíssimos (III)....................................................305 Capítulo 37: Os Novíssimos (IV)....................................................315
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Bibliografia ARANGÜENA, J. R. P. Iniciação à Eclesiologia; São Paulo: Quadrante. BOJORGE, H. A Figura de Maria através dos Evangelistas. Ed. Loyola 1977. BETTENCOURT, E.T. Curso de Eclesiologia; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso de Mariologia; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso de Cristologia; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso de Teologia Fundamental; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso Sobre Deus Uno e Trino; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso de Escatologia; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso de Antropologia Teológica; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso Sobre os Sacramentos; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso Sobre a Graça; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. ________. Curso Sobre Problemas de Fé e Moral; Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA CECHINATO, L. A Missa parte por parte. Ed. Vozes. CECHINATO, L. O Sacramento da Confirmação, Ed. Vozes. CONCÍLIO DO VATICANO II, Const. Lumen Gentium c. 8. FEINER-LOEHRER, Mysterium Salutis IV/3 e 4. Ed. Vozes. FEINER-LOEHRER, Mysterium Salutis IV/7. Ed. Vozes. FEINER-LOEHRER, Mysterium Salutis VI/1 e 2. Ed. Vozes, Petrópolis. GOMES, C. F. Riquezas da Mensagem Cristã. Ed. Lumen Christi. GRINGS, D. A Força de Deus na Fraqueza do Homem. Est. Sulina, Porto Alegre 1975. GRINGS, D. A Força de Deus na Fraqueza do Homem. Est. Sulina, Porto Alegre 1975. JOÃO PAULO II, Exortação Pós-sinodal “Familiaris Consortio”. 1981. Iniciação Teológica 9
JOÃO PAULO II, Reconciliação e Penitência. Exortação Apostólica Pós-Sinodal, 1984. JOÃO PAULO II. Dies Domini. LAURENTIN, R. Breve tratado de Teologia Mariana. Ed. Vozes 1965. MARITAIN, J. A Igreja de Cristo: a pessoa da Igreja e seu pessoal. Ed. Agir 1972. Pela Misericórdia de Deus. Carta Apostólica 2002 REY, B. A nova criação, Ed. Paulinas 1974. SCHMAUS, M. A Fé da Igreja, vol. 4. Ed. Vozes. SCHMAUS, M. A Fé da Igreja, vol. 5, Ed. Vozes SCHMAUS, M. A Fé da Igreja, vol. 6. Ed. Vozes. SCHNITZLER, THEODOR, Missa, mensagem de vida. Ed. Paulinas 1980. FORTE, B. A Igreja Ícone Da Trindade; São Paulo: Loyola. RATZINGER, J. Dogma E Anuncio; São Paulo: Loyola TRESE L. J. A Fé Explicada; São Paulo: Quadrante. LADARIA, L. O Deus Vivo e Verdadeiro; São Paulo: Loyola, 2005. SEGUNDO, J. L. O Dogma Que Liberta: Fé, Revelação e Magistério Dogmático; São Paulo: Paulus, 1991. NOCKE, F.J. Doutrina Geral dos Sacramentos.; Petrópolis: Manual de Dogmática., 2001. FLORES, J. J. Introdução à Teologia Litúrgica; São Paulo: Paulinas, 2006. LACOSTE, J-Y. Dicionario Critico de Teologia; São Paulo: Loyola SESBOÜÉ, B. ; WOLINSKI, J. História Dos Dogmas 1 - O Deus de Salvação; São Paulo: Loyola LADARIA, F. ; SESBOÜÉ, B. ; GROSSI, V. História dos Dogmas 2 - O Homem e sua Salvação; São Paulo: Loyola. BOURGEOIS, H. ; SESBOÜÉ, B. ; TIHON, P. História dos Dogmas 3 - Os Sinais da Salvação; São Paulo: Loyola. SESBOÜÉ, B. ; THEOBALD, C. História dos Dogmas 4 - A Palavra da Salvação; São Paulo: Loyola.
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Capítulo 1:
Revelação, Fé e Teologia
CAPÍTUlo 1: Revelação, Fé e Teologia 11
Lição 1 Revelação: que é? Quem considera a história da humanidade, verifica que o homem é essencialmente religioso; todo homem reconhece espontaneamente a soberania do Ser Supremo. O Catecismo da Igreja nos ensina nos números 68-69: “Por amor, Deus revelou-Se e deu-Se ao homem. Dá assim uma resposta definitiva e superabundante às questões que o homem se põe a si próprio sobre o sentido e o fim da sua vida. Deus revelou-Se ao homem, comunicando-lhe gradualmente o seu próprio mistério, por ações e por palavras”. Distinguimos dois tipos de religião: 1) a Religião Natural. Dirige-se a Deus reconhecido mediante a revelação natural. Com efeito; Deus dá-se a conhecer a todo homem (cristão ou não cristão) através de dois canais: a) o mundo com sua ordem e harmonia. Diz a sabedoria popular: todo relógio supõe um relojoeiro. Assim o mundo, com a multidão de elementos que o compõem, leva-nos a admitir uma inteligência Suprema que concebeu, criou e conserva todos esses elementos na sua interdependência natural. Já São Paulo observa isto, retomando a afirmação de um escritor do Antigo Testamento: “O que se pode conhecer de Deus, é manifesto entre eles (pagãos), pois Deus o revelou a eles. Sua realidade invisível – seu eterno poder e sua divindade – tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas, de sorte que não têm desculpas” (Rm 1, 19s; Sb 13, 1-9; cf. Sb 14, 15-17). Vemos, pois, que a existência de Deus, Criador de todas as coisas e Fonte de todas as perfeições, está ao alcance da razão humana, a ponto de ser professada pela própria filosofia. b) a consciência moral existente em todo homem. Na verdade, todos sentem dentro de si uma voz que incita: “Pratica o bem, evita o mal”. Essa voz não é a projeção dos nossos sentimentos, pois muitas vezes ela fala à revelia nossa, “remordendo-nos” e incomodandonos interiormente; é a voz de Deus ou a marca do Criador, que nos fez para Si e que, desta maneira, nos chama constantemente a voltarmos para Ele. Acontece que, às vezes, a consciência é mal formada ou violentada. Em tais casos, como se compreende, já não é a voz de Deus. 12 Iniciação Teológica
Pois bem. Na base da revelação natural de Deus (através do mundo e da voz da consciência) constitui-se a religião natural. 2) A Religião Revelada, baseada sobre especial revelação de Deus, que convida os homens à filiação divina e à ordem sobrenatural. Com efeito; Deus se manifestou a Abraão (século XIX a.C.) e a seus descendentes até Jesus Cristo, dando-lhes a conhecer o seu plano de salvação. Este consiste em levar os homens à visão de Deus face-à-face; visto que tal dignidade ultrapassa as exigências da natureza humana, é chamada ordem sobrenatural. Notemos que a ordem sobrenatural nada tem que ver com milagres e portentos; implica um dom de Deus invisível (graça santificante), que põe o cristão em íntima comunhão com o próprio Deus. O Concílio do Vaticano II refere-se a essa revelação especial de Deus, que ocorreu mediante palavras e feitos na história do Antigo Testamento e atinge sua plenitude em Jesus Cristo: “Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e tornar conhecido o mistério de Sua vontade (cf. Ef 1, 9), pelo qual os homens, por intermédio do Cristo, Verbo feito carne, e no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2, 18; 2Pd 1, 4). Mediante esta revelação, portanto, o Deus invisível (cf. Cl 1, 15; 1Tm 1, 17), levado por Seu grande amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15, 14-15), e com eles se entretém (cf. Br 3, 38) para os convidar à comunhão consigo e nela os receber. Este plano de revelação se concretiza através de acontecimentos e palavras intimamente conexos entre si, de forma que as obras realizadas por Deus na História da Salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras. Estas, por sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido” (Const. Dei Verbum nº 2). A religião judaica apresenta-se assim como o preâmbulo do Cristianismo; este, por sua vez, não é simplesmente uma entre as várias religiões sobre a terra, mas é a mensagem especial de Deus, à qual os homens procuram responder mediante a profissão de fé, a celebração do culto sagrado e a vivência adequada. Com outras palavras: o Cristianismo não é simplesmente o movimento do homem que, por seus próprios méritos, se quer elevar a Deus, mas é a iniciativa de Deus, que se digna de amar o homem, revelar-lhe o mistério de sua vida (SS. Trindade) e convidá-lo para participar do CAPÍTUlo 1: Revelação, Fé e Teologia 13
consórcio da mesma. Tal iniciativa é absolutamente livre e gratuita da parte de Deus. Consciente disto, dizia São Paulo: “O Espírito dá testemunho de que somos filhos de Deus e, se filhos, também herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8, 16s). E São João: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus, e de fato o somos” (1 Jo 3, 1). Após Jesus Cristo e a geração dos Apóstolos, está encerrada a Revelação divina pública e oficial; pode haver revelações particulares, como as de Lourdes, Fátima..., que não se impõem à crença dos fiéis (embora tenham credenciais muito válidas); de resto, nada acrescentam de novo aos artigos do Credo, mas geralmente propõem exortações à oração e à penitência em desagravo dos pecados. A Igreja é cautelosa diante da notícia de alguma revelação particular, pois pode haver ilusão da parte dos “mensageiros” a tal propósito. O que ocorre na Igreja, é o desdobramento das verdades reveladas, o qual se faz sob a ação do Espírito Santo. Este foi enviado por Jesus à Igreja para “lhe recordar o que o Senhor disse e leválo à plenitude do sentido” (cf. Jo 14, 26). Assim, com o tempo, os cristãos compreenderam mais e mais o significado da Virgem Maria na obra da salvação, a questão do número dos que se salvam, o do batismo de desejo, etc. Ver neste livro os capítulos 24, 25.
Lição 2 Critérios de Revelação Para que os homens possam aceitar a Revelação divina, esta deve ser assinalada por critérios de autenticidade ou por motivos de credibilidade; não devo crer em qualquer coisa; a fé tem o direito de pedir credenciais para dizer o seu Sim. Os critérios da credibilidade podem ser: 1) subjetivos: paz profunda e felicidade experimentadas pelos fiéis, resposta às aspirações profundas do sujeito, santidade dos arautos; 2) objetivos: o milagre e a profecia; cf. Jo 5, 36; 10, 37; 14, 11; 15, 24. Estes critérios são mais persuasivos do que os subjetivos. Examinemo-los de mais perto.
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a) O milagre não é simplesmente um fato maravilhoso ou uma demonstração de Onipotência Divina. Antes, deve ser: – um fato histórico, realmente ocorrido (há muitas estórias maravilhosas, às quais nenhum acontecimento histórico corresponde); – ... no momento em que ocorre, é totalmente inexplicável pela ciência. Por isto, desde que haja alguma perspectiva remota de explicação científica, o fato portentoso já não é considerado um possível milagre; – ... produzido dentro de contexto de oração humilde e confiante, como resposta de Deus a uma pessoa devota. Em contexto de imoralidade, charlatanismo, cobiça financeira, irreverência religiosa... Deus não costuma falar. Assim todo milagre autêntico é um discurso de Deus que visa a corroborar a fé dos homens, dissipar-lhes dúvidas ou testemunhar a santidade de um mensageiro divino. O milagre só tem sentido como sinal (semeion) de Deus aos homens. Por isto deve ser: a’) público, sujeito a ser comprovado por todos os homens; b’) instantâneo (a natureza, a longo prazo, também realiza maravilhas), e c’) completo ou cabal. A existência de determinado milagre não pode ser presumida; há de ser testada e comprovada, às vezes com o auxílio de um “advogado do diabo”, que procura demonstrar a inexistência do milagre. Hoje em dia o gosto febril do maravilhoso pode ser indício de fé débil ou mal orientada; todo milagre verdadeiro é exceção realizada por Deus para fortalecer a fé dos homens. b) A profecia, em Teologia, é a predição de um acontecimento futuro, impossível de ser conhecido naturalmente pelo profeta no momento em que faz a predição. A parapsicologia hoje explica como fenômenos de pré-cognição natural certas manifestações que outrora eram tidas como profecias. Apesar destes progressos da ciência, a autêntica profecia fica sendo possível.
CAPÍTUlo 1: Revelação, Fé e Teologia 15
Lição 3 Fé e Teologia 1. A fé é a resposta do homem à Revelação Divina. Com outras palavras: é a adesão do homem a Deus que lhe fala. Essa atitude não é um sentimento de confiança apenas, nem é um posicionamento cego (há quem diga: “basta crer em alguma coisa, sem que o objeto da crença tenha importância”). Mas é um ato da inteligência humana, que foi feita para a verdade e que em Deus encontra a Verdade Suprema. Por conseguinte, existem, em matéria de fé, verdade e erro; não é indiferente o Credo ao qual o homem dá sua adesão. As verdades da fé serão sempre transcendentais ou claroescuras para a razão humana. Por isto ninguém é obrigado a crer porque tenha a evidência racional de que Deus é uno e trino, de que Jesus é Deus e homem, de que Cristo está presente na Eucaristia... Para crer, a vontade tem que mover a inteligência a dizer SIM; a fé é um ato da inteligência movida pela vontade (“eu quero crer”). Ora a vontade só poderá mover a inteligência ao ato de fé se estiver livre de paixões ou afetos desregrados. Com efeito; aceitar Deus significa converter-se ou mudar de vida; mas ninguém há de querer mudar de vida se está subjugado por tendências desordenadas. Vê-se, pois, que a fé está em íntima relação com o teor de vida que o homem leva; quem se entrega a uma vida desregrada, dificilmente pode chegar à fé (antes, pode rapidamente perder a fé); ao contrário, quem se esforça por ser honesto e fiel em tudo, põe-se a caminho da fé, se não a tem. Por conseguinte, é este o itinerário de uma proposição de fé: Afetos Vontade Intelecto Artigos de fé ou Paixões (Jesus é Deus e Homem) 4 3 2 1 O artigo de fé interpela a inteligência. Esta não o tem por evidente, mas também não o julga absurdo. Por isto entrega a decisão à vontade. Esta dirá SIM ou NÃO de acordo com os seus afetos; a quem está apegado ao pecado, é mais conveniente dizer NÃO às verdades da fé.
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Em última instância, a fé é um dom de Deus, dom que o Senhor a ninguém recusa; cf. 1Tm 2, 3s: “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”. Diz o Senhor no Evangelho: “Ninguém pode vir a Mim, se o Pai que me enviou, não o atrair” (Jo 6, 44). Por isto todo homem fiel há de reconhecer, com São Paulo, que “foi apreendido pelo Cristo Jesus” (Fl 3, 12) e que na verdade “ele não procuraria o Senhor se já não O tivesse encontrado (Blaise Pascal). Embora a fé seja um salto lento para dentro do Infinito de Deus, não é algo de irracional, como já frisamos. É, antes, uma homenagem racional da criatura ao Criador (cf. Rm 12, 1). É lícito – e até muito recomendável – ao cristão procurar aprofundar as riquezas da mensagem cristã. Escreve São Paulo: “Deus ilumine os olhos dos vossos corações para saberdes qual é a esperança que o seu chamado encerra, qual é a riqueza da glória da sua herança entre os santos” (Ef 1, 18). São Pedro exortava os cristãos a que estivessem sempre prontos a dar as razões da sua esperança a todo homem que as pedisse (cf. 1Pd 3, 15). Toda a tradição cristã proclamou a possibilidade de se ilustrarem as verdades da fé mediante o estudo ou o instrumental da inteligência humana. Foi desta convicção que se originou a Teologia. 2. Teologia quer dizer “discurso sobre Deus” (Théos = Deus; Lógos = palavra). É a procura lógica e sistemática de certo entendimento das verdades da fé. Classicamente é definida como “a fé que procura compreender” (fides quaerens intellectum); isto quer dizer que a Teologia supõe a fé ou parte da fé, à diferença da filosofia, que é ciência meramente racional. O teólogo é, antes do mais, um homem de fé, que procura soletrar as verdades da fé. Ora, a fé não é transmitida ao cristão por vias subjetivas ou particulares, mas pela Igreja, à qual Jesus confiou o encargo de anunciar a Boa Nova sob o cajado do Apóstolo Pedro (cf. Mt 28, 18-20; Lc 22, 31s; Jo 21, 15-17). Disto se segue que a autêntica teologia é cultivada em consonância com a voz da Igreja, que ressoa através de seu magistério (magistério ao qual Cristo quis prometer sua assistência CAPÍTUlo 1: Revelação, Fé e Teologia 17
infalível e a presença do Espírito Santo; cf. Mt 28, 20; Jo 14, 15-17; 16, 7. 13-15). O estudo da Teologia começa por tomar consciência das razões de crer (“por que creio em Deus, em Cristo e na Igreja”); é o que se chama “Teologia Fundamental”. A seguir, percorre os diversos artigos do Credo (Teologia Sistemática ou Dogmática). Estudar Teologia é vital para a vida do cristão, pois este deve estar sempre pronto para dar a razão da sua fé a todo aquele que vo-la pede (Cf. 1Pd 3,15).
Perguntas 1) Que é ordem sobrenatural? Que é Cristianismo? 2) Que é Revelação? 3) Que é milagre? 4) Que é a fé? Pode haver erro e verdade em matéria de fé? 5) Que é Teologia?
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