Alex Campos
FAÇA AS PAZES COM O DINHEIRO Como ganhar o seu segundo milhão... porque o primeiro você já deve ter perdido...
Copyright© Alex Campos, 2015 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem a autorização prévia por escrito da Editora, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados.
Editor João Baptista Pinto Revisão Izaura Alice Projeto Gráfico e Capa Rian Narcizo Mariano
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C21f Campos, Alex, 1963Faça as pazes com o dinheiro : como ganhar o seu segundo milhão... porque o primeiro você já deve ter perdido... / Alex Campos. - Rio de Janeiro : Letra Capital, 2015. 208 p. : il. ISBN 9788577853915 1. Economia. 2. Finanças pessoais. 3. Educação financeira. I. Título. 15-25626 CDD: 332.024 CDU: 330.567.2
Contato com o autor alex.campos@radiojb.fm Letra Capital Editora Telefax: (21) 2224-7071 / 2215-3781 letracapital@letracapital.com.br
DEDICATÓRIA Para minha Vó Anna – infinita, eterna e além... Uma velhinha que, mesmo sem conhecer letra ou número, me deu o dom poderoso da palavra e me ensinou o valor moderado do dinheiro. Com ela aprendi: – Obrigado, desculpe, por favor, com licença... são moedas de troca para qualquer ocasião, mesmo diante da grossura, da arrogância ou da truculência. – Rir sozinho ou chorar em público tem mais valor do que ser um milionário solitário ou alguém cercado por uma multidão de falsos amigos. – Ter fé, confiar e perdoar são os bens mais difíceis de se doar, mas não deixe de tentar porque, no fim, o espírito sairá lucrando. – Dinheiro não substitui amor, afeto, carinho, compaixão ou generosidade. – Não há riqueza maior no mundo do que educação, gratidão e gentileza. – A gente pode fazer tudo, ter tudo, ser tudo... ainda que comece do nada. – Ser feliz é mais barato do que se pode imaginar. Seja feliz, mas não seja barato. Que Deus a tenha, mantenha, preserve e conserve – infinita, eterna e além...
Prefácio Pelas ondas do rádio, os brasileiros que buscam notícias econômicas de boa fonte se habituaram a sintonizar a JBFM 99,9 (RJ) para escutar o que o jornalista Alex Campos tem a dizer. Com voz inconfundível, ele alinha pensamentos lúcidos, fruto de sua longa experiência profissional, e os traduz em palavras bem articuladas que transformam seus ouvintes em fiéis acompanhantes. Ao longo de sua trajetória, esse eloquente articulista vem interpretando episódios da história econômica agora transferidos para as páginas impressas deste Faça as Pazes com o Dinheiro como um verdadeiro presente ao público. Quem acompanha suas locuções sempre agradáveis, pode relembrar aqui o conjunto da obra. Objetivo, sintético, sempre com uma pitada de humor, Alex Campos faz da Economia – assunto árido para muitos, mas importante para todos – algo que atrai a atenção e encanta os ouvidos. Graças à sua experiência, competência, sagacidade, acurado senso crítico, atitude fidalga e independência no pensar e expressar, Alex Campos foi reconhecido pelos membros da Academia Brasileira de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais (Academia Nacional de Economia) como Titular Imortal da Cátedra 184, que tem como patrono o também jornalista Augusto Severo. Como seu fiel ouvinte, amigo, admirador – Confrade e Padrinho na Academia –, tenho a satisfação de prefaciar este livro na certeza de que privilegiados leitores que tiverem acesso a Faça as Pazes com o Dinheiro vão usufruir de gratos momentos do aguçado sabor de seu aguçado saber. Alex Campos sempre soube fazer som sem imagem, mas agora, com imaginação, faz arte com as letras – e com muita inspiração. Joper Padrão do Espírito Santo Economista, consultor, contador, conselheiro de empresas e membro da Academia Brasileira de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais (Academia Nacional de Economia) Alex Campos
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Sumário
A presentação Só depende de você se dinheiro é veneno ou remédio............................ 11 Introdução Era uma vez uma nação de pobres ignorantes e ignorantes ricos......... 15 Capítulo 1 Ter é tentação! Ser é vocação!............................................................. 21 Demora, mas agente aprende
Capítulo 2 Dinheiro preza, dinheiro gosta, dinheiro respeita................................ 23 Dinheiro preza quem tem metas, planos e objetivos
Capítulo 3 Poupança: proteção, segurança e simplicidade.................................... 30 Uma paixão nacional que vai além de feijoada, churrasco, futebol e novela
Capítulo 4 Penhor: mais seguro, improvável; mais fácil, impossível!.................... 35 Uma “joia” de 12 bilhões na Caixa
Capítulo 5 Tesouro Direto: Home Sweet Home!.................................................... 37 Viver ou Investir é sempre arriscado... Atravessar a rua também
Capítulo 6 Duas ou três coisas sobre mercado de ações, investimentos e etc........... 43 Recomendar aplicação é tão complicado quanto recomendar casamento
Capítulo 7 Renda fixa, ouro do tolo e pirâmide para otários................................ 56 Plano Real consagra a renda fixa, após 18 anos
Capítulo 8 Cartão de crédito é um perigo “cortante” ............................................ 62 O terrível cadáver que nos sorri, enquanto nos tira 1 trilhão de reais
Capítulo 9 Taxas de juros e desconjuros!.............................................................. 68 Juros compostos vencem juros simples
Capítulo 10 Financiamentos, endividamentos, aborrecimentos............................... 77 O que a novela e o crediário não ensinam: finanças felizes para sempre
Capítulo 11 Imóveis, automóveis e nossos pais....................................................... 92 Pode entrar que a casa é sua
Capítulo 12 Trabalho, folgas, feriados, fins de semana prolongados....................... 99 “O Brasileiro tem alma de feriado”
Capítulo 13 Taxas, impostos, tributos, contribuições............................................... 110 O Brasil é o “Suicidão dos Contribuintes”
Capítulo 14 FGC, CLT, FGTS............................................................................... 122 FGC faz ajuste de contas para evitar “nocautes”
Capítulo 15 O “câncer do dinheiro” voltou!........................................................... 129 Inflação: falência múltipla do valor de compra
Brasil: o que somos, o que temos e o que merecemos... Ou o que merecíamos
Capítulo 16 Inflação, corrupção, impunidade... E o dinheiro ficou frágil demais..... 137 A doença comum e a enfermidade do caráter
Capítulo 17 Petrobrás: nem contra, nem a favor.“Petrolão”: muito pelo contrário!.. 139 A pior ação ou o pior papel é o papel de bobo
Capítulo 18 Mensalão: o que deu certo, o que deu errado e o que deu em nada...... 152 Entre a miséria da pátria e a riqueza da nação
Capítulo 19 Dai-nos, Senhor, o milagre de políticos melhores................................. 165 Concurso público para deputados e senadores
Capítulo 20 O longo caminho entre o país grande e a grande nação...................... 180 A gente sempre descobre que a verdade tem vida própria
Capítulo 21 Ideologia! Eu quero uma para pagar as minhas contas...................... 187 Socialismo para ler com o sovaco
Capítulo 22 Inovação e Educação: Paixão e Salvação............................................ 205 Mãe de todas as tecnologias, inovação é como paixão Educação é a nossa cura, nossa única salvação
Apresentação
Só depende de você se dinheiro é veneno ou remédio
Dinheiro é um bem ou um mal tão necessário quanto o ar poluído ou despoluído que respiramos, a água pura ou impura que bebemos e tudo de bom ou de ruim que comemos... para nos manter vivos. A ideia de falar ou tratar de dinheiro sem economês, sem tecnicalidade, sem filosofismo, sem frescura e sem vergonha ainda é nova para os brasileiros. Aqui, falar de dinheiro é constrangedor, delicado ou proibido – como falar de sexo ou de religião. Mas é possível lidar com dinheiro sem demonizá-lo ou cultuá-lo. Sem medo, culpa ou hipocrisia. Sem convicções doutrinárias, dogmáticas ou filosóficas. Sem rancor, obsessão, ressentimento ou manipulação. Para isso, é fundamental abrir a mente e livrá-la de mitos ou maniqueísmos em relação ao dinheiro: vida e morte, Deus e diabo, sagrado e profano, triunfo e tragédia, sucesso e fracasso, verdade e mentira, amigo e inimigo, herói e vilão... Não é necessário fazer voto de pobreza para alcançar a felicidade verdadeira, suprema ou divina! Já se sabe que dinheiro não compra essa felicidade, nem qualquer outra, mas é importante aprender a conviver com ele de maneira mais lógica, prática e racional. É verdade que dinheiro não traz saúde, mas também é certo que ele não tem o poder de destruir ninguém (quem faz isso ou aquilo é a própria pessoa, com ou sem saúde, com ou sem dinheiro). Ter ou não ter dinheiro são condições que podem, sim, ser usadas como instrumento ou arma. Mas é necessário deixar claro que dinheiro só é um remédio ou um veneno conforme o modo de usar. Em geral, dinheiro é um bem ou um mal tão necessário quanto o ar poluído ou despoluído que respiramos, a água pura ou impura que bebemos
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e tudo de bom ou de ruim que comemos... para nos manter vivos. Agimos assim sabendo que, na melhor hipótese, “no longo prazo, estaremos todos mortos”, como dizia o economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946). É tolice levar a sério parte de nossa cultura e parte de nossa sociedade que preferem, fingem ou fazem crer que dinheiro é sujo, indigno, desprezível. Essa é uma gente que diz ter raiva de dinheiro, mas também não consegue e não pode viver sem ele; uma gente que precisa entender que o dinheiro não é só motor, é também matriz. O jornalista e crítico literário americano H.L. Mencken (1880-1956) alertava que “o dinheiro não deve ser medido pelos números nas cédulas, e sim pelo valor histérico nas mentes” – a meu ver, nas mentes que pensam coisas boas, nas que pensam coisas ruins e nas que não pensam. De acordo com registros do Museu de Valores do Banco Central do Brasil (BCB), o dinheiro, na forma das primeiras moedas com características das atuais (pequenas peças de metal com pesos definidos e impressões do cunho oficial, ou seja, da marca de quem as emitiu garantindo o seu valor), foi criado no século VII a.C. (antes de Cristo). Desde então, ou desde sempre, não inventaram modo de vida sem impacto, influência, intervenção ou ingerência do dinheiro. Até os hippies descobriram isso recentemente. Depois da fase “paz e amor” ou “sexo e drogas”, nos anos 60 e 70, eles estão hoje com 60 ou 70 anos vivendo felizes para sempre com “paz, amor, sexo e dinheiro”. As drogas agora são os talões de cheque, os cartões de crédito e o vil metal. Eles gozam hoje é de bens, riquezas, patrimônios... sem se importar que isso pareça heresia ou traição à fantasia e ao sonho da “contracultura”. Londres (Inglaterra) se tornou a capital das máfias russas. Wall Street, em Nova York (EUA), virou o quintal de negócios do “capitalismo de Estado” consagrado por Deng Xiaoping, o Grande Líder que converteu o comunismo chinês a uma “ideologia em liquidação” (“Não importa a cor do gato; importa que ele pegue o rato”, ensinou Deng ao começar a construir uma nova potência econômica). Foi-se a foice, foi-se o martelo, foi-se a utopia. A extinta União Soviética e a China são hoje amontoados de “repúblicas” e “muralhas” de bilionários, que fazem compras pelo mundo como se o planeta fosse um 12 | Faça as pazes com o dinheiro
Miami Deng Shopping ou um Hong Kong Fashion Mao. Nos quatro cantos ou nos cinco continentes, há exemplos de “Partidões” que também venderam foices, martelos, convicções e almas. Esse resto do mundo descobriu que a força da política ou da religião depende muito de quanto dinheiro se tem, se possui e se pode acumular. Há mais de 5.000, 2.000, 1.000 ou 500 anos, dinheiro começa e encerra guerras. Mas dinheiro também agrega, integra, emprega, paga projetos, financia conquistas, desenvolve nações. O dinheiro é a graxa das engrenagens que fazem multiplicar, transformar, progredir e inovar. Não fosse o dinheiro, até hoje, no Brasil, estaríamos todos trocando espelhinhos com índios tupis-guaranis e tocando berimbau com afrodescendentes. Sem dinheiro, ainda estaríamos de cocar e tanga, sacudindo o chocalho, caçando o almoço e pescando o jantar. A verdade é que o dinheiro só faz da gente o que a gente sempre foi, nem mais, nem menos, nem maior, nem menor. A gente até pode torcer para se tornar outra coisa ou outra pessoa em outras encarnações ou outras existências – se for o caso – mas, até que isso aconteça ou até que se prove o contrário, a melhor coisa ou a melhor pessoa é ser o que a gente é “com dinheiro”. Não se trata aqui de “investigar” como pensam cabeças duras, pessoas pobres, gente rica. Esse também não é um manual de boas maneiras visando tornar o leitor ou a leitora uma pessoa melhor, desde que se torne uma pessoa milionária. Não existe essa pretensão até porque não existe essa possibilidade – a menos que a iniciativa parta da própria pessoa, desconfortável em si mesma, diante do espelho ou com sua consciência acabrunhada no travesseiro. Nada na linha “fique rico agora” ou “pergunte-me como”. Já será uma vitória se, não aprendendo a amealhar fortuna, o leitor ou leitora entender a necessidade de cuidar do pouco que tem e administrar a escassez em sua vida. A ideia é mais simples, baseada em reproduzir experiências, histórias, casos, fatos e dados acumulados no dia a dia com os ouvintes da rádio JBFM, no Rio de Janeiro, no contato com o público de palestras e nos trabalhos de consultorias junto a empresas – muitas delas, felizmente, já preocupadas com a saúde financeira e o equilíbrio econômico de seus funcionários.
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Esse é um livro sobre “dinheiro s/a”, “dinheiro etc”, “dinheiro e ponto”, que também não tem a pretensão de ser profundo, fundamentalista ou “profundamentalista”. A única pretensão aqui é oferecer informação de qualidade e opinião relevante, o mesmo princípio que há décadas pauta o jornalismo da JBFM e que, não por acaso, cabe na premissa vertebral desse meu trabalho. Esse é um livro sobre dinheiro, essa força da natureza, inarredável, irrevogável e irreversível, como vento, chuva ou tsunami, fenômenos capazes de gerar vida (por meio da polinização financeira), desenvolvimento (por meio da energia monetária) ou morte (por meio da estupidez ou da catástrofe econômica). Por tudo isso, muito mais e todo o resto: leia, pense, compartilhe! E faça as pazes com o dinheiro... principalmente porque rancor e ressentimento não tiram ninguém da “dureza” que é a vida sem dinheiro. Boa leitura e boa sorte! (A.C.)
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Introdução
Era uma vez uma nação de pobres ignorantes e ignorantes ricos
Temos hoje “novos” clientes sem conhecimentos elementares sobre dívida, crédito, inflação, financiamento, poupança ou investimento Eis aqui os cenários políticos, os contextos financeiros e as oportunidades econômicas que inspiraram este livro. Nos últimos 20 anos, desde a semente do Plano Real, plantada em 1994 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e regada pelo sucessor Luiz Inácio Lula da Silva (ainda que abandonada pela descontinuista Dilma Rousseff), houve um fenômeno de migração nas classes A, B, C e D no Brasil. Somente a classe C teria recebido no período 30 milhões, 40 milhões ou 50 milhões de novos integrantes – não se sabe ao certo o número por conta dos diferentes cálculos, critérios e metodologias das instituições pesquisadoras, como FGV (Fundação Getulio Vargas), Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O fato é que, do fundo dessa explosão econômica e social, emergiram dados relevantes sobre a redução da desigualdade e o vigor da estabilidade monetária, apesar de surtos e saltos inflacionários de tempo em tempo. Também emergiram tendências irreversíveis diante desse fenômeno migratório, como a formação de uma “nova” geração de consumidores, com “novos” sonhos, desejos, hábitos, costumes, necessidades e expectativas. A maioria absoluta desses “novos” consumidores nasceu precisando de educação financeira ou reeducação econômica. Trata-se ainda hoje de “novos” clientes sem conhecimentos elementares sobre dívida, crédito, inflação, financiamento, poupança ou investimento – tudo o que gira em torno do
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dinheiro. E ainda há muita gente saindo da indigência do mercado e entrando no analfabetismo orçamentário – mais ou menos como ocorreu com os avanços tecnológicos, que também produziram uma geração de leigos e párias digitais, ou como ocorreu com a onda ou a doutrina ecológica, que, ao contrário, produziu uma geração de especialistas e doutores ambientais. É interessante observar que, neste “novo” universo, há pessoas ou famílias inteiras experimentando a primeira carteira de trabalho, o primeiro salário, a primeira caderneta, a primeira TV, a primeira geladeira, o primeiro fogão, o primeiro micro-ondas, o primeiro microcomputador, o primeiro carro (usado ou não), a primeira prestação da moradia ou, com um pouco de sorte, a primeira casa própria. É preciso cautela para que tudo isso não se transforme numa selva cheia de perigos e armadilhas capazes de libertar sonhos de consumo, mas, ao mesmo tempo, aprisionar vítimas de impulsos generalizados. Igualmente importante é que essa educação ou reeducação faz com que também os antigos clientes ou trabalhadores saiam ganhando diante de uma série de dicas, sugestões e recomendações sobre pequenos negócios, médios planos e, quem sabe, grandes projetos empreendedores. Também por isso até os donos do capital e dos meios de produção e de serviços (bancos, empresas, fundações e instituições diversas) passaram a investir em sites, portais, cartilhas, manuais, palestras, seminários e similares destinados a oferecer reflexões e orientações sobre o bolso, a conta, a poupança... das aplicações aos supermercados. Outras importantes iniciativas passaram a chegar a escolas públicas oferecendo aprendizado a alunos das principais capitais e grandes cidades. Milhares de crianças e adolescentes vêm recebendo aulas básicas relevantes. A ideia é ótima porque atende a uma das nossas maiores deficiências nacionais, que é a preparação da sociedade para lidar com cifras, valores, quantias – desafios que os estudantes não aprendiam nas salas de aula, apesar de se tratar de um dos fundamentos do sistema social e econômico. Esses projetos levam das escolas para os lares mensagens valiosas, como a de que dinheiro não pode mais ser tabu – a exemplo de sexo e de religião – e que pecado mesmo é deixar se multiplicar 16 | Faça as pazes com o dinheiro
uma nação sem noção... de pobres ignorantes ou de ignorantes ricos. No caso do sistema financeiro, esses esforços não são feitos somente por altruísmo, mas para tentar consolidar estratégias de crédito de médio e longo prazos. Os banqueiros aprenderam que o calote é o tarifaço que eles pagam (e repassam) por não terem investido antes em alfabetização econômica. Não interessa mais ao comitê de inteligência capitalista que a riqueza circulante, na forma de empréstimos, se perca nos labirintos da ingenuidade assalariada ou caia no abismo das despesas domésticas. A crítica que cabe aqui, especificamente ao empenho do sistema bancário, ainda é a falta de uma ação coletiva, conjunta e unificada; uma força-tarefa com um só objetivo, que vá na mesma direção. Não adianta alguns bancos investirem em campanha de conscientização, enquanto outros facilitam o acesso ao crédito até para quem não pode se endividar na padaria ou no açougue. Não adianta essa ou aquela instituição formar ou motivar poupadores, enquanto concorrentes empurram títulos de capitalização como se fossem raspadinhas ou figurinhas. O ideal seria que a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) coordenasse as boas intenções espalhadas por aí e patrocinasse uma espécie de ensino fundamental ou médio sobre dinheiro, orçamento e planejamento. Até que um dia, na Febraban, no setor bancário e para além dele, fez-se a luz! Em 2010, o Decreto 7.397 instituiu a Enef (Estratégia Nacional de Educação Financeira www.vidaedinheiro.gov.br). Uma das ações da Enef é o Pefe (Programa de Educação Financeira nas Escolas www.edufinanceiranaescola.gov.br). O Pefe é coordenado pela AEF-Brasil (Associação de Educação Financeira do Brasil www.aefbrasil.org.br), uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), instituição sem fins lucrativos, com objetivo de promover o desenvolvimento social e econômico. A AEF-Brasil foi criada em 2011 por quatros entidades privadas: Febraban, BM&FBovespa, Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNSeg) e Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Toda essa iniciativa evoluiu para a instituição de um GAP (Grupo de Apoio Pedagógico), com chancela e participação do MEC (Ministério da Educação). Alex Campos
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O GAP tem agentes dos setores educacional e financeiro, de instituições da sociedade civil e dos ministérios da Justiça, Fazenda e Previdência Social, além de BC (Banco Central), CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Susep (Superintendência de Seguros Privados) e Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar). O que temos aqui é uma parceria público-privada de sucesso, em que todos estão empenhados em promover educação financeira nas escolas públicas, dispostos a construir pontes que levem estudantes dos ensinos médio e fundamental à preparação necessária para enfrentar os desafios da sociedade e usufruir as delícias da cidadania. Para o melhor aproveitamento desses esforços – agora sim coletivos, conjuntos e unificados – é importante que o maior número possível de professores, profissionais e voluntários de vários segmentos, ligados ao mundo das finanças, “voltem às aulas”, acessem os sites e conheçam os livros, vídeos e palestras disponíveis aos aprendizados que precisamos propagar e devemos disseminar. Mais do que nunca, o Brasil precisa de investimentos em educação financeira porque é vital, essencial, primordial tirar grande parte dos brasileiros do analfabetismo econômico. Os investimentos para erradicar esse analfabetismo – como os de bancos e empresas de vários segmentos desenvolvendo projetos relevantes – devem impactar as pessoas com forte grau de consolidação, internalização e conscientização a fim de gerar nelas uma vocação natural, genética, imutável. Trata-se de inocular nas veias, mentes, corações e espíritos pensamentos e sentimentos capazes de suprimir deficiências e suprir conhecimentos. Muitos brasileiros ainda são orgulhosamente desinformados sobre crédito, empréstimo, rendimento, financiamento... dinheiro em geral. Esse é um problema, ao mesmo tempo, social, cultural e individual – com agravante de influências antigas ou antiquadas, do tipo que tornam o assunto mal falado, mal discutido e mal conversado – sim, de novo, como sexo e religião. Por causa dessa combinação de equívocos pessoais, históricos e conjunturais, predominam no país tabus, crenças, superstições e ignorâncias que acabam saindo caro na conta e no bolso. No caso dos juros, por exemplo, um dos princípios que regem o impulso dos
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brasileiros, mesmo lidando com compras a prazo e taxas altas, é “se dá para pagar as parcelas”. Partindo dessa afeição ao descuido, eles fecham negócio, efetivam consumo e assumem dívidas sem pensar nos custos embutidos que terão pela frente, ao longo de 10, 18, 36, 50, 64 meses – períodos de eternidades que podem trazer outras necessidades cercadas de emergências. Isso ainda acontece, reincidentemente, por falta de educação financeira básica, de informação econômica elementar e de preguiça matemática hereditária. Essa preguiça é global e está registrada, com todos os números e letras, na Edição 2014 de Educação Financeira do Pisa (Programme for International Student Assessment), mais importante análise dessa área no mundo, realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Apenas um em cada sete estudantes de 15 ou 16 anos de idade é capaz de realizar operações triviais de finanças, como calcular preços ou compreender faturas de compras em supermercados. O país onde o brasileiro Artur Ávila ganhou a Medalha Fields, o “Oscar da Matemática”, foi apontado pelos pesquisadores como uma das 50 nações que devem implantar com urgência uma política nacional de educação financeira nas escolas. A perspectiva é desafiadora. Outro levantamento revela que, aos 8 anos de idade, no 3º ano do ensino fundamental da rede pública, mais de 70 por cento das crianças não sabem matemática. Esse é um dos dados dramáticos da Prova ABC feita pela ONG Todos Pela Educação em parceria com a Fundação Cesgranrio, o Instituto Paulo Montenegro e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Um desafio a mais no ambiente de aprendizado que o país precisa consolidar é a baixa renda. Os próprios meios de produção de vários setores ainda desconhecem esse segmento, que sempre existiu, mas nunca esteve tão na moda. Para quem pergunta o que mudou, a resposta é uma surpresa: nada mudou, ninguém mudou. Em menor escala, a baixa renda sempre foi alvo de poderosas instituições e grandes marcas, além do médio negócio do Seu Manoel da Padaria ou da pequena barraca da Dona Maria das Couves. Estão aí para provar bancos, como Caixa; redes, como Casas Bahia; lojas, como Óticas do Povo; e artigos populares, como Omo, Havaianas... Alex Campos
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Todos fizeram o trajeto inverso, agradando antes aos pobres para só depois seduzir os ricos. Esses nomes se consagraram por ter enxergado, já no século passado, o potencial de consumo dos mais modestos. Hoje, a geração de “novos” clientes obriga os barões dos bens e serviços a se render ao poder dos assalariados. Profissionais de pesquisa, marketing, publicidade e comportamento se debruçam sobre dados, números, gráficos e indicadores, tentando decifrar a força da baixa renda. A diferença, e não a mudança, é que, a exemplo de muitos preconceitos sociais e culturais, o que está em queda agora é o preconceito econômico. Sem preconceito econômico, do ponto de vista do consumo, a baixa renda ou a “nova classe média” vem se tornando tão ou mais desejável que a “velha classe média”. Que assim seja, desde que conhecimentos monetários, semelhantes e afins estejam ao alcance de todos, sob todos os cuidados. Todos os cuidados são fundamentais porque a oferta de crédito no Brasil é inédita, sedutora e traiçoeira. Existem recursos irresistivelmente à disposição de jovens universitários e exclusivamente à disposição de idosos aposentados. Há oportunidades até para gente “negativada” ou desempregada – quando se dispensa comprovante de renda, de residência ou mesmo de identidade. Tantas facilidades e possibilidades de financiamento – ou endividamento – precisam de doses de equilíbrio e contrapartidas de precaução. Não é por acaso que jornalistas ou economistas com habilidade para traduzir o economês estão dando expedientes em jornais e portais, rádios e TVs, jornais e rádios, portais e TVs. Miriam Leitão, Mara Luquet, Flávia Oliveira, Luís Carlos Ewald e Carlos Alberto Sardenberg despontam em programas ou telejornais do Grupo Globo, justamente porque a rede campeã de audiência percebeu cedo as carências e as necessidades do novo mercado consumidor – depois de longo intervalo de privações. Esses e outros profissionais estão instruindo a nova nação de figurantes, promovidos a estreantes em busca de desafios, aventuras e histórias de consumo. Neste livro, eu venho oferecer minha contribuição para ajudar no possível final feliz – ou, pelo menos, no possível bom começo! Saúde para sempre, sucesso como nunca... merecemos! (A.C.)
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Capítulo 1
Ter é tentação! Ser é vocação!
Demora, mas a gente aprende... Regra de Ouro: “Para acumular 1 milhão de reais, é fundamental resistir a 1 milhão de tentações” É bom quando a gente aprende cedo que ter 1 milhão não é a mesma coisa que ser milionário. O que não falta por aí é oportunidade para ter ou ser as duas coisas. “Se até idiotas ficam ricos, por que você continua duro?” Ou pior: “Como ganhar o seu segundo milhão... porque o primeiro você já perdeu ou deixou escapar”. Não é ruim que todo dia apareça uma reportagem disposta a responder essas e outras perguntas – as duas aqui, na verdade, são temas de minhas palestras por esse pobre Brasil rico. Trata-se de pautas válidas para mostrar como é possível ficar milionário em 5, 10 ou 20 anos, dependendo do emprego, do salário ou do estilo de vida. Mas, além dessa interessante contribuição jornalística, duchas de dicas financeiras ou mergulhos em lições econômicas também são muito recomendáveis. Existem, sim, dicas e lições que, se forem levadas a sério, ajudam na subida. Além de sobra de recursos, os pretendentes precisam aplicar muita garra, total disciplina e absoluta determinação. Para tanto, deve-se pôr em prática alguns ensinamentos pré-históricos e pós-universais. Uma pessoa, família ou governo, por exemplo, não pode gastar mais do que ganha, tudo o que ganha ou quase tudo o que ganha. Qualquer orçamento – individual, coletivo ou federativo – tem que respeitar limites, equilíbrios e responsabilidades. Por isso, minha Regra de Ouro nº 1 é: “Para acumular 1 milhão de reais, é fundamental resistir a 1 milhão de tentações”. Tais dicas ou lições devem ser preferencialmente elementares para fazer parte do ensino fundamental dos orçamentos domésticos. Alex Campos
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Não devem ser complexas como os estudos acadêmicos das relações monetárias. Qualquer criança de seis ou sete anos – sim, assim, desde a infância – precisa entender que só se deve comprar aquilo que se consegue pagar; o resto é dívida. Nesse sentido, o salário precisa ser um aliado do nosso modo de vida, ele não pode ser a razão da nossa vida. Caso contrário, vira-se refém dele e do consumo. Consumo é querer, o que não é a mesma coisa que precisar. Querer é impulso ou improviso. Precisar é fato ou fatalidade. Sonho, desejo e ambição são coisas boas, desde que não se transformem em delírio, obsessão ou ganância. Limite, método, controle, sacrifício e disciplina são coisas chatas, mas ninguém fica duro ou falido experimentando essas boas práticas (há até quem fique rico fazendo isso). Nada contra o conforto e os prazeres da vida, mas eles precisam ser criteriosamente planejados e organizados de modo que ninguém se torne capacho de hábitos, costumes e dívidas – escravo do dinheiro. É muito bom trocar com frequência o carro, os móveis e as roupas, e fazer com frequência viagens, compras e despesas de todo o tipo. Mas esse comportamento, com frequência, revela mais o que a pessoa quer ter do que o que a pessoa quer ser. Ter é tentação! Ser é vocação! Outra boa dica ou lição para se descobrir a diferença entre ter e ser é se dar ao luxo de gastar menos, investir melhor e trabalhar mais. O que importa é que ter nunca será mais importante do que paz, saúde e prosperidade; e ser sempre será mais importante do que fama, poder e dinheiro. Por tudo, antes de tudo e acima de tudo – como dizia minha avó – a gente precisa de muito pouco para ter paz e ser feliz... demora, mas a gente aprende!
Tome nota: • Só se deve comprar aquilo que se consegue pagar; o resto é dívida. • Uma pessoa, uma família ou um governo, por exemplo, não pode gastar mais do que ganha, tudo o que ganha ou quase tudo o que ganha. • O salário precisa ser um aliado do nosso modo de vida, ele não pode ser a razão da nossa vida. Caso contrário, vira-se refém dele e do consumo.
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Capítulo 2
Dinheiro preza, dinheiro gosta, dinheiro respeita
Dinheiro preza quem tem metas, planos e objetivos Expectativas precisam ter começo, meio e fim, além de determinar quantias e fixar prazos Mesmo nascendo pobre, qualquer pessoa pode ficar rica, bem como qualquer pessoa rica pode ficar pobre. Ninguém é condenado a ser para sempre insanável ou irremediável; e ninguém é condenado a nunca progredir. No caso de educação, orientação, conscientização financeira, pode ser um dom, mas também pode ser um processo, um aprendizado. Seja como for, o fato é que toda cartilha, manual ou almanaque vai guiar os interessados por caminhos já traçados e trilhados ou ainda por traçar e por trilhar. O que traçar, como trilhar e onde chegar – seguindo ou não o trajeto, tomando ou não atalho – vai depender de cada um, de cada vocação. Dinheiro preza quem tem metas, planos, objetivos. E, quanto mais adequados ou significantes esses desafios ou conquistas, mais o dinheiro vai respeitar seus pretendentes. Assim, a casa, a moradia, o imóvel em geral sempre será um bom estímulo para alguém desenvolver aptidões financeiras. Depois da casa, talvez o automóvel ou automóveis; em seguida, uma viagem ou viagens... mas... calma! Antes dos automóveis ou das viagens, é necessário definir o foco na profissão, na carreira, porque é ela que vai balizar e estabelecer os padrões e parâmetros de vida que se deseja ou se sonha. Não se trata aqui de preconceber uma dependência entre a profissão e o desejo, mas apenas de calibrar a distância entre a carreira e o sonho. Essa cautela é razoável, mesmo considerando que uma pessoa Alex Campos
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pode almejar ser diplomata, sem passar por sua cabeça morar em palácios, assim como alguém pode escolher ser mecânico, sem cogitar viver de aluguel, ou ainda escolher ser garçom, sim, visando se tornar dono de restaurante. A dependência não existe, mas a distância entre uma coisa e outra precisa ser levada em conta. A profissão pode ser linear, mas carreiras sofrem altos e baixos, nessa segunda hipótese, implicando revisões temporárias das metas. Por isso as metas têm que ser viáveis, realistas, pertinentes e personalizadas, de modo que se mantenham estimulantes e não degenerem em desmotivação, desencanto ou desalento. Foco na profissão, meta no patrimônio a ser conquistado, atenção a prioridades a serem perseguidas, tudo isso vai exigir planejamento e organização. As expectativas precisam ter começo, meio e fim, precisam determinar quantias, precisam fixar prazos. Por exemplo: “Quanto custa o apartamento que eu quero?”, “Quanto terei que juntar, somar, totalizar e quando ou como vou poder pagar por ele?”. Um projeto de 40 mil reais pode ser realizado em um ano ou mais, e um projeto de 400 mil reais pode ser realizado em oito anos ou menos. Tudo vai depender do salário (causa e efeito da profissão ou da carreira) e de outros fatores comportamentais, como disposição ou não para poupar ou investir 30 por cento da renda mensal, metade das rendas adicionais (férias, abonos) e todas as rendas excepcionais (trabalhos premiados, participações nos lucros). Cabe alertar que o planejamento não deve ter vida própria, no sentido de não se tornar sem sentido. Fases ou etapas da organização têm que funcionar, têm que ser honradas, sob pena de não se chegar a lugar algum, de não se alcançar nada e de não se enganar ninguém, exceto a si mesmo ou a si mesma. Cumprir planejamento e organização requer paciência e perseverança. “Creio que paciência e perseverança têm o efeito mágico de fazer os obstáculos e as dificuldades desaparecerem”, ensinava John Quincy Adams (1767-1848), o sexto presidente dos Estados Unidos, de 1825 a 1829. Aquele era o século 19, este é o século 21. Passaramse quase 200 anos, mas ainda hoje, em qualquer país, a superação de obstáculos é outro fundamento exigido no roteiro da autonomia financeira ou da autossuficiência econômica. Barreiras, obstáculos, 24 | Faça as pazes com o dinheiro
contratempos fazem parte dos capítulos das nossas imprevisibilidades, mas não devem ser encarados como capítulos das nossas impossibilidades. Nesse caso, o sucesso estará na capacidade de o indivíduo dosar ou calibrar situações, mesmo que de forma tendenciosa: não se deixar desanimar demais e não se deixar entusiasmar de menos. Por fim – ou para começar – até sorte, destino ou predestinação precisam de apoio, fibra, garra, esforço, entrega, empenho, doação, dedicação, disciplina, disposição, determinação, persistência, superação, sacrifício... algumas palavras mágicas para tudo na vida – tudo mesmo, vida para valer.
Tome nota: • Tenha em mente foco na profissão, na carreira, porque é ela que vai balizar os desejos e os sonhos. • Fixação de metas, planos, objetivos, prioridades; quanto mais sólidos esses compromissos, melhor. • Atenção ao planejamento; expectativas precisam ter começo, meio e fim, além de quantias e prazos. • Fases ou etapas da organização têm que valer, têm que funcionar, têm que ser honradas sob pena de não se chegar a lugar algum. • Recomenda-se paciência e perseverança diante dos obstáculos; porque, inevitavelmente, eles virão. • Não se deixar desanimar demais e não se deixar entusiasmar de menos. • Até sorte, destino ou predestinação precisam de apoio, fibra, esforço, doação, dedicação, disciplina, disposição, superação, sacrifício...
Alex Campos
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Dinheiro gosta de orçamento, monitoramento e prevenção A vida que se pode viver deve estar em concordância com a vida que se pode pagar Mesmo no país onde até pequenas obras costumam começar de uma maneira e terminar de outra, orçamento não existe para produzir expectativa e entregar frustração. Orçamento existe para produzir monitoramento, prevenção e controle, benefícios que não têm preço, mas têm custo – o custo da vigilância e o custo da responsabilidade. Nem que seja escrito em um bloco ou uma agenda (o ideal é um arquivo ou uma planilha no computador), um orçamento precisa levar em conta receitas e despesas, fixas e eventuais, convencionais e extraordinárias – ou seja, todos os ganhos dentro ou fora do previsto e todos os gastos dentro ou fora do previsto. Esses dados e números ajudam a pessoa a conhecer seu perfil financeiro ou seu status econômico. Cada valor recebido ou pago deve ser anotado a fim de se conhecer diariamente, semanalmente ou mensalmente o tamanho dos direitos, de um lado, e dos deveres, obrigações ou compromissos, do outro; ou seja, o tamanho da vida que se pode viver em concordância com a vida pela qual se pode pagar. Um exemplo de receita fixa é o salário. Um exemplo de receita eventual é uma bonificação. Despesa convencional é a do supermercado, do transporte, do plano de saúde, do material escolar ou da mensalidade escolar. Despesa extraordinária é a da doença, da cirurgia, do tratamento médico inesperado ou do carro enguiçado, do reparo mecânico, da oficina mais cara do que o previsto. Há coisas que o orçamento pode prever e coisas que ele não pode prever. Graças às coisas que o orçamento pode prever, é possível estar prevenido para as coisas que ele não pode prever. É também positivo o fato de o orçamento permitir saber quando um financiamento vai terminar para permitir saber quando outro financiamento poderá começar. Com esse cuidado é possível programar as compras maiores ou despesas mais demoradas – uma TV em 5 vezes, um fogão em 10 vezes, uma geladeira em 12 vezes 26 | Faça as pazes com o dinheiro