O Sorriso da RazĂŁo uma quase-elegia Ă verdade
Edson Monteiro 2
Edson Monteiro
O Sorriso da Razão uma quase-elegia à verdade
O sorriso da razão: uma quase–elegia à verdade 3
Copyright © Edson Monteiro, 2004 profedson@terra.com.br
Capa João Paulo Pires das Neves Editoração Eletrônica Claudete Stevanato
CIP-Brasil. Catalogação na Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. M775s Monteiro, Edson, 1940 – O sorriso da razão : uma quase–elegia à verdade / Edson Monteiro. – Rio de Janeiro : Letra Capital, 2004
Inclui bibliografia ISBN 85-86568-59-7
1. Verdade. 2. Verdade – Aspectos psicológicos. 3. Verdade – Aspectos sociais. 4. Razão. 5. Ética social. 04-2818. CDD 111.83 CDU 111.83 13.10.04
18.10.04
Letra Capital Editora
Telefax: (21) 2224-7071 letracapital@letracapital.com.br Edson Monteiro 4
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À memória de Alice Monteiro, minha mãe, de quem aprendi que a verdade, por mais dura, deve prevalecer no relacionamento entre os seres humanos que se dizem éticos.
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Agradeço ao companheiro, amigo e irmão de longo tempo, Ricardo Maranhão, sem o qual teria sido impossível esta publicação. Agradeço ao mais genial de meus antigos mestres, o engenheiro, professor e escritor Leon Clement Rousseau, o primeiro a ler o trabalho, que me honrou com seu Prefácio. Agradeço à Ingrid Faccion, que me ajudou na organização e disposição final dos textos, e a Hernani Bottega e Sydney Reis Santos, que se dispuseram, com o pouco tempo que dispõem, a proceder às primeiras leituras críticas da obra. Agradeço ao meu dileto editor, João Batista Pinto, paciente incentivador, com quem pretendo novas jornadas. Agradeço ao meu amigo, poeta e contista premiado, Luis Eduardo Neves, a quem devo a rigorosa e necessária revisão.
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Sumário
Prefácio.................................................................................................... 11 Capítulo 1 – Intimidade........................................................................... 19 Capítulo 2 – Razão, um recurso ético..................................................... 23 Capítulo 3 – Herança memorial.............................................................. 41 Capítulo 4 – Palavra e ação................................................................... 45 Capítulo 5 – Mentira, um recurso de pequeno esforço........................... 48 Capítulo 6 – Arte e realidade.................................................................. 55 Capítulo 7 – O “self-inato” ético............................................................ 57 Capítulo 8 – Deus, pelo uso da razão..................................................... 64 Capítulo 9 – As qualidades do espírito humano..................................... 70 Capítulo 10 – A ironia ética da “razão”........................................................ 79 Capítulo 11 – Pensamento e razão.......................................................... 87 Capítulo 12 – Intelectualização caritativa.............................................. 99 Capítulo 13 – A invariabilidade da alma...............................................111 Capítulo 14 – A caótica realidade......................................................... 128 Capítulo 15 – Dos cuidados com a verdade.......................................... 149 Capítulo 16 – Contradizendo o caos..................................................... 158 Capítulo 17 – Um certo texto que nos veio à mente.............................. 174 Capítulo 18 – Os três primeiros relatos................................................ 183 Capítulo 19 – Prosseguem os discursos................................................ 215 Capítulo 20 – O anúncio....................................................................... 265 O sorriso da razão: uma quase–elegia à verdade 9
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Prefácio
N
ão consigo encontrar o que acrescentar a este livro. Edson já diz tudo. Com precisão, riqueza de estilo e farta fundamentação. Não necessita de prefácio, nem de posfácio. Contentar-me-ei em cometer algumas digressões, frutos de reflexões e pesquisas estimuladas pela obra, com a pretensão de ativar a curiosidade de um leitor preguiçoso. Abrirei pequenas janelas na construção através das quais este leitor percorrerá todos os recintos, preparando-o para os “momentos de angústia e de enlevo” prometidos pelo autor. Refiro-me agora à forma, já que o conteúdo é de uma coerência indubitável. Vejo nesta obra três livros, ou ensaios: no primeiro, personagens reais, de épocas distintas, estão sendo apresentados, e debatem conceitos, ou noções; no segundo, estes personagens criam vida nas estórias que são exemplares reais; e no terceiro, o ensaio “grande final”, ficção, reúne um adequado número de personagens humanos (com perfis engenhosamente construídos) que se enfrentam em um cenário e num momento da atualidade que somente um professor da qualidade de Edson poderia imaginar. Tudo nesta obra é elaborado com esmero. A começar pelo título que convida à reflexão mesmo antes de se ler as primeiras linhas ou mesmo de conhecer a parte onde seu significado se torna cristalino. Se a Razão sorrisse, como seria este sorriso? Por que um sorriso? Um ator treinado poderia, através do sorriso, demonstrar felicidade, amor, ódio, raiva, mentira, engodo ou mesmo razão? Leonardo da Vinci conseguiu captar o quase-sorriso de Mona Lisa, enigmático. A proposta do autor fica mais esclarecida no subtítulo. Seu preciosismo, talvez autocrítica, apresenta-a como sendo de uma quase-elegia e não de uma perfeita elegia, no sentido exato: elegia penta/hexamétrica cujo modo de expressão seja de tristeza ou de ternura. O sorriso da razão: uma quase–elegia à verdade 11
Tudo nesta obra convida à reflexão, ao exercício físico da mente inteira, lado direito e esquerdo, neurônios e conexões. Não falarei dos conceitos, abrirei janelas escrutando pérolas e darei os nomes dos personagens para que o leitor verifique se os conhece. No caso contrário, garanto-lhe que, durante a leitura, sua importância irá se manifestar a cada passo. No primeiro instante, assombra e ilumina. A seguir, causa uma profunda ruminação. Pensar, “dever da espécie humana” - primeiro livro. Seus personagens: Charles Darwin, Carl Sagan, Geraldo Vandré, Jesus Cristo, João, Tomé, Aldous Huxley, Frei Beto, John Duncan, Charles Spearman, Jung, Platão, Marilena Chauí, Karl Marx, Sigmund Freud, J.-W. Papez, Joana d’Arc, Jacinta e Francisco Marto, Lúcia de Jesus, Bernadette. Soren Aabye Kierkgaard, Jean Auel, Glauber Andrade Rocha, Jardel Jercolis Filho, Joannes Chrysostomus, Wolfgang Amadeus Mozart, John Locke, François Marie Arouet, Einstein, Isaac Newton, Van Gogh, Moisés, Werner Karl Heisenberg, Nise da Silveira, Adam Smith, René Descartes, Bacon, Martinho Lutero, Karl Popper, Aristóteles, Hippolyte Leon Denizard Rivail, Allan Kardec, Tenzin Gyatso, Kenneth Clark, Auguste Rodin, Friedrich Wilhelm Nietzsche, Jean-Antoine Houdon, Denis Diderot, Jean-Jacques Rousseau, William Blake, William Wordsworth, Napoleão Bonaparte, Ludwig Van Beethoven, George Gordon Byron, Eugène Delacroix, Théodore Géricault, Honoré de Balzac, Guillon Ribeiro, Alfred Nobel, Chico Xavier, Frei Damião, Davi Geiger, Galileu Galilei. Desperta curiosidade e franzido de testa diante dos casos apresentados, a começar pelo do surfista pastor. Pensar, “dever da espécie humana” – segundo livro. Seus novos personagens: Santo Agostinho, Francesco d’Assisi, Nehru, Paulo, Leon Clement Rousseau, Gilberto Freyre, Edson Monteiro 12
Edson Nery da Fonseca, Joaquim Nabuco, Wilfred Burchett, Franklin Schafner, Montaigne, Siddhartha Gautama, Antonio Candido, Silvio Romero, Rutherford, Carlos Heitor Cony, David Heymann, Leonardo Cruz, Mark Mallock Brown, Joschka Fischer, Luis Eduardo Neves, Dominique Voynet, Colin Powell, Montesquieu, Eugênio Sales, Aurélio Buarque de Holanda, Bob Kerrey. Cativante, desperta ao final da leitura novo estado de ruminação. Pensar, “dever da espécie humana” – terceiro livro. Mistura os personagens enciclopédicos de sua ficção a outros de sua citação: Thomas, João da Silva ou de Voltaire, Viviane Pascal, Ingrid Maurízius, Gabriel Debray, Zigong Hui, Adir Ribeiro, Ernani Souza, Luiz Meirelles, Mariano Random, Benito Mussolini, Goethe, Emile Zola, Fernando Pessoa, Tobias Barreto, Wanda Engel, Quyet Thang, Qiu Kong, Jean Paul Sartre. Interessante seria perguntar qual deles ou delas é o preferido ou a preferida do autor. Tenho uma pequena idéia a respeito, mesmo considerando que todos são igualmente ricos em erudição, a começar pelo poeta fazendo poesia, ali, no momento de sua intervenção. As janelas Abro uma janela para que vejam aquele que capta a verdade humana dos rostos: Jean-Antoine Houdon. Vejam aquele que faz críticas dos dogmas do cristianismo; que faz sátira dos costumes; que trata sobre a tolerância; elogia a razão; denuncia a corrupção; luta pela liberdade e pela justiça: Voltaire. Abro para que vejam como a mentira compulsiva própria da natureza humana se transforma na mentira do interesse, e como a busca da verdade seria desnecessária se não houvesse a mentira. Como paixões e sentimentos podem O sorriso da razão: uma quase–elegia à verdade 13
estar desprovidos de razão. Como a fé absoluta que dispensa demonstração pode ser uma irresponsabilidade. Abro uma janela para que conheçam o fator "g" e meditem a seu respeito, e a respeito da vida ética e de suas condicionantes. Como a morte da inteligência leva à ineficiência no uso da razão e ao surgimento de egoístas, exclusivistas, instintivos e fanáticos. Abro outra janela e percebo o autor político, radical ou não, e o professor. Vejo Papez e compreendo melhor que a prática e capacidade de memorização podem ser saudáveis ou malévolas. Vejo Joana canonizada em 1920 e queimada em 1431 pela mesma Igreja. Vejo o segredo de Lúcia e como o autor imagina seria a reação de Kierkgaard a respeito. Abro uma janela para que vejam os gênios artistas, livres da influência do meio, e os gênios cientistas. Vejo a diferença entre o ver e o entender. Vejo Nise da Silveira e Jung dialogando sobre os vestígios da história da humanidade gravados no inconsciente coletivo. Vejo um rico debate sobre as religiões. Vejo como a grande mentira que confunde meios e fins, que justifica ações como repressão e censura, leva ao obscurantismo. Abro a janela para que vejam como Edson procura “contradizer o caos”. Vejo um relato no estilo de fábula: o rei, o clero e os camponeses. Vejo-me décimo personagem do terceiro livro, obra prima que reúne os ingredientes dos dois primeiros numa sinfonia com nove movimentos. Vejo quando o superficial mergulha no profundo. A quase-elegia à verdade O Cristianismo e a “deterioração tendenciosa de seus fundamentos solidários em prol de um incontável número de falsos profetas e enganadores da boa fé individual e coletiva.” “Perece-nos fatal que será necessário muito tempo e muitas reações da Natureza até que toda essa realidade se modifique.” “o inconsciente coletivo alienado.” “uma foto de criança nigeriana, segura de que vive porque seus olhos ainda denotam um certo alcance horizontal,...” “Quem não fica indignado ao perceber a inversão dos valores éticos e a propagação de mentiras como se fossem verdades,...” Edson Monteiro 14
“Por isto é que a salvação eterna é sempre prometida para além dos mundos...” “A verdade é um caminho, jamais um fim.” “Nosso propósito é o de seguir argumentando, exigindo a contrapartida da argumentação.” “Que Deus estranho é este que utiliza a indução ao crime para produzir uma alma santa?” “a grande maioria está surda e insensível aos esclarecimentos, permanecendo inerte e acomodada,...” “O novo mundo, que todos almejamos, não queremos que seja um mundo bandido, um mundo de diferenças preconceituosas, um mundo de mentiras.” “... é como se apenas alguns elétrons tivessem o direito de captar parcelas de energia necessárias ao salto para a liberdade.” “Registramos uma aceleração do suicídio global.” “que o caos provém da mentira e que somente a busca da verdade pode evitá-lo ou, quem sabe, afetar — dificultando — a sua progressão.” “Barrigas vazias e cabeças ocas. Dogmas e fome, ignorância e pestes. Fim do primeiro milênio...” “Reconheço que minha visão contém traços de pessimismo, mas a minha idade não se permite ingenuidade suportada por simples atos de fé.” (dito por um dos personagens) As digressões A primeira grande mentira: o Diabo, por personificar o Mal, pratica a maior mentira através da Serpente, que leva Adão à desobediência. Provar da fruta que “supostamente” – mentira – o levaria ao conhecimento do Bem e do Mal. A mentira deve se referir às qualidades da fruta, e o pecado consistir na desobediência, provocando a ira de Deus com os maldosos. Pergunto-me como e quando a minoria dos dominadores (D) ficará inibida de praticar a mentira sobre a maioria dos dominados (d)? Pergunto-me: é possível estimular o uso do pensamento e da razão através da emoção? a indignação, às vezes, não seria o detonador da reflexão e conseqüente prática da razão? Sobre a herança memorial: considerando que em termos científicos o ser humano está evoluindo, é lícito se perguntar de que maneira as muO sorriso da razão: uma quase–elegia à verdade 15
tações ocorreriam, no que concerne ao uso da razão. Ao longo de milênios destacam-se poucos filósofos que legaram seus pensamentos através de seus escritos, e não de seus genes. Uma explicação disto poderia ser a de que as cópulas da fecundação ocorrem entre seres com idade não tendo alcançado ainda a maturidade da inteligência ou da sabedoria, a ser passada para a prole. A educação seria uma forma de formação de consciência coletiva, contanto que seja centrada na busca da verdade. Os filmes que estimulam: gênios das artes produziram obras primas, as quais por sua vez produziram filmes que transmitem mensagens e estimulam o raciocínio. Lembro-me de um deles onde eram julgadas companhias de seguros que se recusavam a indenizar as vítimas de sinistros considerados por elas como de força maior. Como, no idioma Inglês, força maior pode ser traduzida como “Act of God” (Ato de Deus), o réu principal sendo julgado, por uma lógica engenhosa do advogado, passou a ser o próprio Deus, representado no tribunal pelos sacerdotes das três religiões monoteístas. Encerro minhas digressões, cuja culpa é exclusivamente sua, caro Edson, com o pedido de licença feito por um pequeno grupo de mutantes do pensamento e da razão, para que se manifestem como debatedores estimulados pela última parte de sua obra. Poderão ser convidados a L’Incudine, em espírito, no local onde a transparência impera: M*: Deus tem um arbítrio eterno não amarrado nas leis naturais. O homem é incapaz de ter conhecimento concreto concernente a Deus. Não acredito que a verdade emane das revelações dos profetas num modo supra-racional. Para mim, os profetas, com exceção de Moises, possuem elevada capacidade intelectual que os qualifica como filósofos com alto poder imaginativo. Não são superiores em relação aos filósofos que não dispõem do poder imaginativo. As leis e religião instituídas por Moises têm o objetivo de garantir o bem estar e a segurança dos membros da comunidade e também servem para facilitar a captação de verdades intelectuais por indivíduos dotados suficientemente para desvendar as leis e práticas religiosas. Algumas crenças são falsas porém necessárias para manter a ordem pública: Deus fica irado com quem age errado. As leis são únicas em excelência e válidas para todos os tempos. Entretanto, em certos aspectos estão relacionadas com situações históricas específicas. [Atrevo-me a acrescentar que parte das leis pode não ser aplicável no momento de sua vigência, e que muitas vezes o espírito do legislador é confundido pelos dominadores. Desde a queda da Bastilha, a liberdade deve ser Edson Monteiro 16
interpretada como sendo um direito de todos e a igualdade como sendo pelos direitos e deveres de todos.] Sp*: Sobre a certeza da razão, digo que a certeza do ser humano é inteira por que não se impõe como um fato contra o qual nada se pode, mas como uma razão que todos podem compreender, deriva da própria natureza do pensamento. O homem, ser razoável, sabe que a razão é como uma parte divina em si, e que a causa do mundo ou aquilo que o governa é razão. Deus se identifica com a natureza, está presente em todas as coisas, e vive a vida de cada ser. Deus é extensão e pensamento. O homem, pelo seu corpo e seu pensamento está enraizado na própria natureza de Deus. As paixões nos tornam dependentes das coisas exteriores e nos separam dos outros homens. R*: O homem nasce livre, apto a se governar moral e politicamente. Entretanto, os fatos (a falta de liberdade) indicam o contrário. Portanto, aquilo que é da ordem do racional e do razoável não deve ser deduzido da experiência, mas da razão em si. Para que a liberdade seja, a razão pede que eu cumpra a lei que eu mesmo me fixei, a mesma lei para todos os seres de razão. Sa*: Posso viver como uma escolha, uma fatalidade, uma restrição, uma felicidade: tudo depende de mim. Tenho que decidir e decidir sozinho: tenho a liberdade até de cometer uma loucura irreparável, sem barreiras sociais, psicológicas ou razoáveis mesmo. Tenho capacidade de escolha: de ser bom ou mau. A má fé consiste em me convencer a mim mesmo que estou submetido a um determinismo psíquico como se minha consciência viesse do exterior. Considero que “opinião” no sentido pejorativo não é pensamento ativo, mas recebido e repetido passivamente. A raiz de todo significado e de toda inteligibilidade é sempre a liberdade. No “L’Être et le Néant” fundamento um existencialismo (enaltecendo a liberdade do ser humano individual). Sou ateu. Para mim, a moral é a do engajamento e a da responsabilidade. O ser humano não foi criado para qualquer objetivo específico. Portanto, estamos livres de escolher nossa própria essência (a existência precede a essência). E não existem padrões morais pelos quais nossa conduta possa ser criticada. T*: Concilio os ensinamentos da ciência moderna (a evolução) com os dogmas da fé cristã. Na molécula material vejo uma energia espiritual aliada à energia física. Virtualidade que se expandirá com a complexidade crescente dos seres: o fenômeno humano (noosfera: do espírito) sobreposto à esfera da vida dos naturalistas (biosfera). Ao homem pertence levar a evolução ao seu termo (ponto ômega, derradeira mutação) onde o fenômeno humano cederá o lugar ao fenômeno cristão. O sorriso da razão: uma quase–elegia à verdade 17
P*: Só a religião pode ajudar o homem. Apelar para a razão é sem efeito. Creio porque há interesse. Apoio-me na intuição aguardando pela graça. Explicação racional de nossa natureza, a religião se oferece como um refúgio aos espíritos, que, sem ela seriam condenados a um ceticismo estéril. Sabendo que os libertinos são jogadores, apelo para seu interesse. Numa situação de aposta, há toda a vantagem em apostar que Deus existe, arriscando o Finito contra o Infinito. De um lado quase nada a perder, apenas alguns prazeres de qualidade animal, sendo o cristão o mais feliz dos homens e aquilo que sacrifica à sua felicidade, desprezível. Do outro lado, pela sua opção e a conduta que deriva dela, tem a chance de ganhar a beatitude eterna. * Os mutantes: M: Maimônides (1135-1204). Maior nome da filosofia medieval judaica, codificador das leis; Sp: Spinoza (1632-1677): filósofo holandês; R: Rousseau (1712-1778): escritor e filósofo de língua francesa; Sa: Sartre (1905-1980): filósofo, romancista, ensaísta e autor dramático francês; T: Teilhard de Chardin (1881-1955): jesuíta, filosofo, sábio francês, paleontólogo; P: Pascal (1623-1672): sábio, filósofo e escritor francês; aos 19 anos inventa uma máquina aritmética, segue estudando sobre o peso do ar e o vácuo; defensor dos jansenistas contra os jesuítas; concebe uma apologia do cristianismo sem concluir. Terminada a leitura, chego à certeza de que se trata de um excelente e muito bem construído ensaio. À convicção de que se trata de uma busca que estimula mais busca. Própria de quem usa a inteligência e a razão. Irrelevante para os leitores alienados. Leon Clement Rousseau julho 2004
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