Os limites da ciência

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Paulo Boiteux

OS LIMITES DA CIÊNCIA


Copyright © Paulo Boiteux, 2018 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por meio impresso ou eletrônico, sem a autorização prévia por escrito da Editora/Autor. Contato com o autor: Paulo Cesar Silva Boiteux Rua das Quaresmas, 325 - Retiro das Palmeiras Cep: 26900-000 - Miguel Pereira - RJ Tel.: (24) 2484-2178 E-mail: pcboiteux@gmail.com Editor: João Baptista Pinto Capa: Rian Narciso Mariano Editoração: Luiz Guimarães Revisão: Do autor CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

B668L Boiteux, Paulo Os limites da ciência / Paulo Boiteux. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital, 2018. 100 p. : il. ; 12x18cm.

ISBN 978-85-7785-575-9

1. Ciências naturais. I. Título.

18-47032 CDD: 574.5 CDU: 504

Letra Capital Editora Telefone (21) 22153781 / 35532236 www. letracapital.com.br


Sumário Ciência e Conhecimento.......................... 5 Ciência e Metafísica................................ 11 Ciência e Tempo..................................... 21 A Terra objeto da Ciência...................... 30 Ciência e Vida......................................... 40 Medicina e Ciência................................. 55 A Mente objeto da Ciência..................... 59 As ditas Ciências Sociais........................ 64 A História como Ciência........................ 71 A Política como Ciência......................... 84 A Economia como Ciência..................... 91 Rumo ao Futuro da Ciência................... 97

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Ciência e Conhecimento

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etimologia dá como sinônimos ciência e conhecimento, embora a existência de dois radicais (scio e cognosco) para designar a mesma ideia já deixe implícitas as duas acepções distintas no mesmo conceito. Conhecimento é o simples contato entre os órgãos dos sentidos e a realidade externa, enquanto ciência é a correlação entre os dados obtidos através deste contato. Muitas vezes a correlação se dá logo de imediato por se mostrar à primeira vista; aí, ciência e conhecimento se integram, pois que quase simultâneos, num único processo de raciocínio, sem deixar explícita a sua dualidade. De qualquer modo, o cerne da atividade científica é a relação ciência-conhecimento, este como abastecedor de dados e aquela como processadora das deduções daí resultantes. Parece certo que pelo menos alguns dos fenômenos naturais se repetem, o que en-

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seja a possibilidade de serem previstos. Daí então se poderá tirar proveito de seus ocasionais benefícios ou se proteger de suas ocasionais ameaças ao dia-a-dia da espécie humana. Isto caso esta repetição não fosse às vezes aleatória, de causa indeterminada ou fora do alcance do observador, tornando-a assim imprevisível. Só quando ela ocorre sob o mesmo mecanismo, deixando patente a relação causa-efeito, é que o fenômeno se coloca no âmbito da ciência. Ciência então é todo fato passível de previsão, ou ainda, todo conhecimento articulado de modo a formar uma correlação constante. De qualquer maneira, ressalta-se indispensável o prévio acúmulo de conhecimentos como condição da prática científica. Não há ciência sem conhecimento. Uma concepção teórica desprovida de uma base de dados incontestes ou, o que é mais comum, assentada sobre dados incompletos, não faz jus à condição de científica. Os séculos XIX e XX foram pródigos 6

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em proclamar como científicas diversas teorias fundadas em observações incompletas da natureza, arrematadas por extrapolações tão pretensiosas quanto especulativas. Não houve acanhamento em torná-las elásticas o bastante par acomodá-las dentro de teses preconcebidas. Não raro as deduções antecediam a real verificação dos fatos, isto é, o oposto do normalmente sensato para a atividade científica. Há uma crença quase religiosa em encarar a ciência como resolutora toda poderosa das questões humanas, como se ela fosse onisciente. Almeja-se que todos os fenômenos sejam previsíveis e assim por ela por completo abrangidos. Esta capacidade não pode, porém ser comprovada, bem como, tampouco, em última análise se pode afirmar se um dado fenômeno é plena ou só parcialmente previsível. Este detalhe é responsável por acarretar a ridícula qualificação de algumas ciências como “exatas”, como se as demais não o fossem, uma baboseira já consagrada

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pelo uso generalizado. Ora, toda ciência é exata; se não é exata, não é ciência. Esta exatidão não é contudo absoluta, porque depende dos instrumentos de observação utilizados. Exemplo corriqueiro é o das previsões meteorológicas, sem dúvida feitas de maneira científica, mas que quando não se confirmam, motivam desdém ou até galhofa por parte dos leigos. Ocorre que a previsão meteorológica é limitada, tanto regionalmente como quanto à antecedência. Ela não desce à minúcia de prever se daqui a uma semana choverá na nossa horta. A própria matemática, alardeada pelos incautos como ciência exata por excelência, não consegue determinar o valor exato de PI, bem como o de diversos outros cálculos aritméticos . Exemplo ainda mais radical é, na física nuclear, o estudo da trajetória dos elétrons ao redor do núcleo atômico, quando a simples observação do fenômeno já interfere no seu desenrolar. De tudo isto se deduz que estabelecer 8

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um limite para a pesquisa e a observação dos fatos são necessidade e propósito intrínsecos da ciência, limite este por ela própria estabelecido. Na geometria, por exemplo, a relação cateto-hipotenusa se restringe apenas ao triângulo retângulo; já nos triângulos em geral, prevalecem os limites prescritos pela lei de Tales. A astronomia, por sua vez, restringe ao redor do Sol a translação planetária. Também a biologia resume a bombear sangue a função do coração; fora daí, ele não exerce nenhuma das funções sentimentais que tradicionalmente lhe atribuem os românticos. Colocar um fenômeno no âmbito estritamente científico consiste, pois, em limitar-lhe o alcance. Fique claro, porém, que todo limite é possível de ser ultrapassado, desde que, contudo, pela fixação de novo limite mais abrangente. Fazer ciência é sempre estabelecer limites. O uso de instrumentos de observação não torna o cientista onisciente; quando muito, apenas

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aprofunda-lhe o horizonte, e aí não rumo ao infinito, mas tão somente a um horizonte mais externo. O grande acúmulo de conhecimentos proporcionado na atualidade pelo progresso dos meios de observação produziu o otimismo de conferir à ciência o poder de resolução global dos problemas humanos. Não se tem atentado para o fato de que a ciência apenas amplia limites conforme se apropria dos conhecimentos disponíveis A ciência absoluta está, portanto, tão fora de propósito quanto o conhecimento global.

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Ciência e Metafísica

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vida humana, fenômeno cronologicamente finito, produz no indivíduo a angústia que o leva a investigar a própria origem, bem como, de modo análogo, a do mundo que o cerca. A natural curiosidade pela aquisição de conhecimentos nem sempre implica, porém, num processo metódico para obtê-los. A atividade científica assim estimulada se dá muitas vezes de modo atrabalhoado, resultando num descompasso em que a ciência propriamente dita chega a deduções ainda sem o respaldo do conteúdo pesquisado. Muito disto é decorrente da imaginação, atividade cerebral espontânea que com frequência interfere no raciocínio lógico. Isto foi corriqueiro na Antiguidade, quando os precários meios de pesquisa científica deixavam bastante vácuo a ser logo preenchido pela imaginação. Foi a

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