Conselho Editorial Série Letra Capital Acadêmica Beatriz Anselmo Olinto (Unicentro-PR) Carlos Roberto dos Anjos Candeiro (UFTM) João Medeiros Filho (UCL) Luciana Marino do Nascimento (UFRJ) Maria Luiza Bustamante Pereira de Sá (UERJ) Michela Rosa di Candia (UFRJ) Olavo Luppi Silva (USP) Orlando Alvez dos Santos Junior (UFRJ) Pierre Alves Costa (Unicentro-PR) Robert Segal (UFRJ) Sandro Ornellas (UFBA) Sergio Azevedo (UENF) Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz (UTFPR) William Batista (Bennet - RJ)
Otávio Rios Organizador
Raul Brandão, um intelectual no entre-séculos (Estudos para Luci Ruas)
Agradecimentos especiais à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que fomentou a realização do "Colóquio Raul Brandão, um intelectual no entre-séculos", realizado na Universidade do Estado do Amazonas, e que financiou parcialmente a publicação deste volume; à FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), que concedeu as passagens aéreas aos nossos convidados internacionais; e à CAEL (Cátedra Amazonense de Estudos Literários), grupo de pesquisa que, ao abrigo da regional Norte da ABRAPLIP (Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa), promoveu os debates realizados nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 2012, em Manaus, e que agora integram este compêndio
Copyright © Otávio Rios, 2014 Esta obra não pode ser reproduzida total ou parcialmente sem a autorização por escrito do editor. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos respectivos autores e obedecem à norma ortográfica vigente após o Novo Acordo, em vigor desde 2009. À exceção do ensaio de Luci Ruas, agora republicado, todos os demais advém das falas proferidas durante o “Colóquio Raul Brandão, um intelectual no entre-séculos”, realizado na Universidade do Estado do Amazonas, em 2012. O presente volume recebeu financiamento da Coordenação de Pessoal de Nível Superior (CAPES), via Convênio PAEP 4119/2012-71.
Editor: João Baptista Pinto Capa: Luciana Braga Projeto Gráfico e Editoração: Luiz Guimarães Revisão e Normalização: Otávio Rios
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
R189 Raul Brandão, um intelectual no entre-séculos: estudos para Luci Ruas / organização Otávio Rios. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Letra Capital, 2014. 304 p. : il. ; 15,5x23 cm. Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-7785-292-5 1. Brandão, Raul, 1867-1930. 2. Literatura portuguesa - História e crítica. I. Rios, Otávio. 14-14567 30/07/2014
CDD: 869.09 CDU: 821.134.3(09) 04/08/2014
Letra Capital Editora Telefax: (21) 3553-2236/2215-3781 letracapital@letracapital.com.br
Sumário Duas palavras de apreço e agradecimento...........................................9 Isabel Pires de Lima Apresentação.........................................................................................11 Otávio Rios
I – As Tensões da Estética................................................................15 Representações do mal em Raul Brandão....................................17 Maria Helena Nery Garcez
Raul Brandão: do imaginário finissecular ao expressionismo grotesco...........................................................34 Vitor Viçoso
II – Literatura, Paisagem e Artes Visuais.......................................65 A paisagem expressionista em A Farsa.........................................67 Eloísa Porto Corrêa
Entre tintas e palavras: tonalidades impressionistas em Os pescadores e As ilhas desconhecidas.......................................87 Mágna Tânia Secchi Pierini
III – Reflexões Sobre o Teatro......................................................103 O teatro de Raul Brandão no compasso da modernidade europeia................................................................105 Fermín Ivorra Filho
Raul Brandão, da sombra à cena ou considerações sobre um teatro dos vencidos......................................................115 Otávio Rios
Jesus Cristo em Lisboa: de pecados e virtudes..........................133 Paulo Motta Oliveira
Visões do inferno ou a cena deformada: uma leitura do expressionismo no teatro de Raul Brandão..........................147 Renata Soares Junqueira
IV – A Questão do Lirismo..............................................................157 Húmus: romance lírico de Raul Brandão...................................159 Luzia Aparecida Berloffa Tofalini
Questões sociais e lirismo na prosa de Raul Brandão...............181 Raquel Madanêlo Souza
V – Brandão sob o Viés do Comparatismo. ...................................191 Húmus e Signo sinal ou o diálogo possível entre romances de um tempo de crise.................................................193 Luci Ruas Entre mistérios e cemitérios: a estética da vida-morta e da morte-vida em Raul Brandão e Fialho de Almeida...........206 Adriana Aguiar
Brandão e Pessoa, sonho e modernidade..................................217 Caio Gaglardi
História dum Palhaço, de Raul Brandão: uma ópera da modernidade no fim do século XIX em Portugal................230 Jorge Valentim
VI – Ruína, Enxurro e Decadência. ...............................................247 A Farsa e El-rei Junot, subversão e decadência..........................233 Débora Renata de Freitas Braga
Gênero e circunstância: uma leitura do risível em Raul Brandão.........................................................................262 Gleidys Maia
História dum Palhaço: a narração como procedimento alegórico.......................................................................................275 Graziela Ramos Paes, Otávio Rios Editar Raul Brandão...........................................................................285 Vasco Rosa Brandoniana Recolha da bibliografia passiva sobre a vida e a obra de Raul Brandão..........................................................................295 Jorge Valentim, Mágna Tânia Secchi Pierini, Otávio Rios, Vasco Rosa
Duas palavras de apreço e agradecimento Isabel Pires de Lima1
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oravante não será viável não conhecer este livro quando se pretender aprofundar o conhecimento sobre a obra de Raul Brandão. Este o maior elogio que eu poderia fazer-lhe. O universo brandoniano é aqui escalpelizado por várias gerações de estudiosos deste nome maior e insuficientemente estudado da literatura portuguesa que é Raul Brandão; sendo que a maioria destes estudiosos são jovens investigadores brasileiros, o que, sem retirar o mérito dos outros, se me afigura extremamente positivo, sinalizando a própria vitalidade da obra brandoniana e a internacionalização de que ela vai sendo cada vez mais objecto no Brasil. A diversidade das perspectivas de abordagem é outra das suas riquezas, assim como a diversidade de campo genológico brandoniano que abrange. Para não referir esse precioso instrumento de trabalho fornecido pela “Brandoniana” que nos é oferecida no final do volume. Acresce que este livro reúne mestre(s) e discípulo(s) - a homenageada, Luci Ruas, e o organizador, Otávio Rios. Sou amiga de ambos, conheço o mérito do trabalho de ambos e também por isso me sinto feliz. Continuem os dois a afirmar os seus méritos de brandonianos encartados de mais longa ou mais recente data; como portuguesa interessada pelo estudo da literatura do meu país só posso agradecer-vos a dedicação e pedir-vos que continuem.
Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Ex-Ministra da Cultura de Portugal 1
Duas palavras de apreço e agradecimento
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Apresentação (Raul Brandão lido no Brasil)
Otávio Rios
Não só os sentimentos criam palavras, também as palavras criam sentimentos […] É com palavras que construímos o mundo. É com palavras, que são apenas sons, que tudo edificamos na vida. Mas agora que os valores mudaram, de que nos servem estas palavras? É preciso criar outras, empregar outras, obscuras, terríveis, em carne viva, que traduzam a cólera, o instinto e o espanto. (Raul Brandão)
Nos últimos anos temos assistido a uma inequívoca renova-
ção da crítica brandoniana, com notabilidade para estudiosos brasileiros que se têm unido a críticos portugueses no processo de reabilitação da figura de Raul Brandão (1867-1930) e de sua obra literária. A renovação a que me refiro dá-se não apenas na perspectiva de que novas vozes têm-se se somado àquelas já estabelecidas de longa data, mas também no que se refere a uma expansão quantitativa com o crescente interesse por parte de estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento acerca da obra brandoniana. A universidade brasileira, com seus professores e estudantes, tomou para si o papel ativo na produção de conhecimento sobre a obra de Raul Brandão, tal qual havia feito com outros escritores portugueses, a exemplo de Fernando Pessoa, Jorge de Sena ou José Saramago, para relembrar apenas alguns escritores do século XX que receberam especial atenção da nossa academia, cujo trabalho no estabelecimento de uma crítica é bastante sólido e, nos casos apontados, de certa forma inaugural. No caso brandoniano, se não se pode dizer que a universidade brasileira teve papel de um protagonismo primevo na sua crítica literária, pode-se afirmar sem Apresentação
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qualquer hesitação que muito contribuiu para a atual vaga de entusiasmo e que tem sido responsável pela maior parte dos estudos produzidos nos últimos anos. Dessa forma, este volume que chega às mãos dos investigadores de literatura portuguesa, com especial interesse àqueles que se debruçam sobre os séculos XIX e XX e mais ainda acerca da viragem de um para o outro, é o resultado de uma crescente sistematização dos estudos brandonianos no Brasil, que se inicia, a meu ver, nos últimos anos da década de 1990. No que tange à recepção literária de Raul Brandão no Brasil e à produção de ensaios críticos sobre a sua obra, é preciso evidenciar preliminarmente dois fatos. O primeiro é que o escritor foi lido deste lado de cá do Atlântico desde muito cedo, quase ao mesmo tempo em que seus livros eram publicados em Portugal. Com efeito, a segunda versão de Húmus foi editada no Rio de Janeiro (em 1921, pela Annuário do Brasil) e uma consulta ao espólio do artista depositado na Biblioteca Nacional Portuguesa comprovará, de forma documental, a recepção de seus textos em searas brasileiras, além de exemplares autografados por Brandão que se encontram no acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, dirigidos ao jurista e intelectual brasileiro. O segundo fato a se sublinhar é que já na década de 1980 há alguma crítica brasileira sobre Raul Brandão – e isto não pode ser esquecido. Essas duas questões se impõem de forma a permitir a construção de um historial daquilo que vem a ser a presença, mesmo que quase silenciosa, do escritor em nosso meio literário. Raul Brandão, se não era totalmente desconhecido da intelectualidade brasileira, era apenas de forma muito tímida que se fazia conhecer. Este era o ponto da situação até que nos anos 90 uma investigadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro ministrou dois cursos na pós-graduação stricto sensu (níveis mestrado e doutorado), abrindo um novo e promissor horizonte para os estudos brandonianos. A professora a que me refiro é Luci Ruas Pereira, responsável pelas lições em torno dos temas “Raul Brandão e a narrativa finissecular portuguesa”, em 1996, e “Raul Brandão, o neorrealismo e depois...”, em 1999, pontos fundadores de dissertações de mestrado e teses de doutorado orientadas por Luci Ruas nos anos sub12 Apresentação Otávio Rios
sequentes. Nenhum histórico dos estudos brandonianos no Brasil seria efetivamente válido se não menciosasse de forma manifesta o papel desempenhado pela ensaísta, cujo labor intelectual em torno do fim-de-século culminou na formação de uma nova geração de críticos, hoje estabalecidos nas mais diversas universidades brasileiras. Alguns dos capítulos que integram este compêndio são de autoria de investigadores dessa primeira geração, outros textos são frutos agora de uma segunda geração que desponta. Luci Ruas, na discrição que lhe é habitual, pode nem ter se apercebido de que formou não apenas uma primeira linha de críticos brandonianos, mas duas, incluindo a dos alunos de seus alunos. Este Raul Brandão, um intelectual no entre-séculos não poderia, portanto, ter subtítulo mais adequado que o de “Estudos para Luci Ruas”, antecipando as comemorações em torno dos seus 40 anos de magistério superior. Se anteriormente reportei-me ao papel da academia brasileira no longo – e até agora bem-sucedido – processo de reabilitação crítica e divulgação da obra de Raul Brandão e lancei-me à empreitada de atribuir uma historiografia mínima para essa crítica produzida no Brasil, talvez fosse boa hora para dizer um pouco mais do espaço íntimo que me circunda e que me liga ao escritor. Diz-se que o labor acadêmico deve ter por premissa a isenção e a busca pela objetividade, mas será isto possível quando se trata de crítica literária? Sem paixão nenhum estudo literário se edificia, a criatividade inerente à atividade do ensaísta é castrada. Conheci Raul Brandão ainda nos anos da licenciatura e posso dizer que devo à sua obra o meu caminho pelos estudos de literatura portuguesa. Com o tempo soube que não era o único apaixonado, que não estava sozinho. Aqui e acolá, pelo Brasil e em Portugal, fui partilhando com outras pessoas daquele segredo de leitor – e fomos crescendo juntos. Hoje, no Brasil, se Raul Brandão não pode ser considerado mainstream nos programas das disciplinas dedicadas aos estudos de literatura portuguesa, talvez não possa mais ser olhado como o escritor totalmente desconhecido que foi no passado recente. Os estudos que integram este Raul Brandão, um intelectual no Apresentação
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entre-séculos, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), vêm servir de subsídio crítico tanto para investigadores experienciados na obra brandoniana quanto para novos leitores, sejam alunos de cursos de Letras (ou Teatro) e de pós-graduação nas mais variadas universidades brasileiras e estrangeiras, sejam críticos que se tenham decidido por um mergulho no texto denso e profundamente dramático que é o de Raul Brandão. Este livro visa a preencher uma lacuna no mercado editorial em língua portuguesa, carente de um volume que se debruce sobre estudo da obra brandoniana a partir dos mais diversos olhares, perspectivas e metodologias. A multiplicidade da natureza dos estudos coligidos propiciará aos leitores tanto uma abordagem iniciática quanto uma outra especializada, mesclando o pensamento de críticos consagrados e de investigadores argutos ainda em formação. Em todo caso, a qualidade das publicações é patente e selam duradoura parceria entre investigadores dos dois lados do Atlântico. Outrossim, opto por não apresentar individualmente cada um dos ensaios, posto que não seria produtivo e certamente cansativo para o leitor. Deixarei que cada texto fale por si. De fato, explicito somente agradecimentos sinceros aos que aceitaram o convite para participar do evento homônimo, em Manaus, e que generosamente ofertaram os textos para que o presente volume se concretizasse. Subsequente aos ensaios, o volume traz uma compilação da bibliografia passiva sobre a vida e a obra de Brandão, oferecendo ao estudioso da sua arte um apanhado inédito do que foi publicado até maio de 2013. Espera-se que a ferramenta sirva de porta de acesso a outros textos críticos e que fomente novos estudos. “A vida vale pelo sonho”, diz Raul Brandão no Húmus. A obra que ora chega às mãos do leitor é uma empreitada coletiva, que dedicada ao escritor português é, ao final, um sinuoso percurso pela via sedutora da linguagem e uma porta de acesso à literatura dita finissecular e às teorizações sobre esse intrincado período estetico-literário.
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