Antรณnio Costa Barata
FACTOS & PESSOAS do pรณ do tempo para instruir o futuro
FACTOS & PESSOAS do pó do tempo para instruir o futuro
António Costa Barata
1ª Edição Junho de 2018
Nota Editorial
José Manuel Martins
Título Autor Editores Revisão e Edição Direcção de Arte e Design Impressão 1ª Edição ISBN Depósito Legal
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Factos & Pessoas António Costa Barata Letras d’Ouro, editores José Manuel Martins Pedro Martins Artipol, Artes Tipográficas, LDA Junho de 2018 978-989-8215-64-2 442500/18 Letras d’Ouro, editores Rua Quinta da Flamância, n.º 3, 3º Dt.º Casal do Marco 2840-030 Paio Pires, Portugal 914 847 055 livros@letrasdouro.com www.letrasdouro.com facebook.com/letrasdouro © Letras d’Ouro, editores, 2018 © António Costa Barata, 2018 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com a indicação da fonte.
ÍNDICE
NOTA EDITORIAL ...............................................................................................................9 PRÓLOGO ............................................................................................................................19 CAPÍTULO 1 FACTOS / antes e depois do pentecostalismo em Portugal 1
EXPRESSÃO DA REFORMA PROTESTANTE EM PORTUGAL ..............................23
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EXPANSÃO PENTECOSTAL NO SÉCULO VINTE .....................................................37
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EXEMPLIFICANDO A EXPANSÃO................................................................................67
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A OBRA SOCIAL PROTESTANTE NA SOCIEDADE PORTUGUESA ....................81 CAPÍTULO 2 PESSOAS / exemplos de vida marcantes
1. ALFREDO ROSENDO MACHADO / uma coluna firme ..............................................87 2. ALICE HIPÓLITO / dorme no Senhor ......................................................................... 91 3. ANGÉLICA CARTAXO PEREIRA / membro nº 1 da Assembleia de Deus em Lisboa93 4. ANTÓNIO EMÍLIO FERREIRA DE ALMEIDA / promovido à glória ...................... 97 5. ANTÓNIO PARREIRA / um amigo dos jovens à espera da ressurreição .................... 99 6. ARNALDO E BRANCA CALDEIRA / parabéns ao casal ......................................... 101 7. COLIN MONYPENNY E MARGARIDA PROUSE BOWKER EM PORTUGAL / duas vidas repartidas por muitas outras vidas ................................................................... 105 8. DURVAL E HERMÍNIA CORREIA / digna homenagem .......................................... 115 9. EDUARDO MOREIRA / ministro do evangelho literato ..............................................119 10. EUGÉNIO DA PONTE / pastor promovido à glória.................................................. 123
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11. HERMANO DA SILVA FONSECA / um presbítero exemplar e dinâmico .................125 12. ISABEL NUNES GUERRA MARECO / promovida à glória .................................... 129 13. JOÃO DA COSTA FERREIRA /ancião polifórmico .....................................................133 14. JOÃO SEQUEIRA HIPÓLITO / Tio Hipólito, 60 anos de vida ................................. 137 15. JOAQUIM ANTÓNIO CARTAXO MARTINS / levou os angolanos no coração ..... 141 16. JOAQUIM TOMAZ / presbítero com o senhor ...............................................................147 17. JOSÉ CARLOS DO NASCIMENTO / ministro evangélico promovido à glória.........149 18. JOSÉ GONÇALVES BASTOS / um amigo da evangelização .......................................153 19. JOSÉ ILÍDIO FREIRE / nova pessoa em Cristo .......................................................... 155 20. JOSÉ PESSOA / primeiro aniversário do falecimento ................................................. 165 21. JOSÉ PLÁCIDO DA COSTA / pioneiro da Assembleia de Deus em Portugal........... 171 22. LUÍS REIS / bodas de prata ......................................................................................... 179 23. MANUEL DA SILVA MOUTINHO / 40 anos de ministério .......................................183 24. MANUEL JOAQUIM PERNAS CANHOTO / dorme no Senhor ...............................187 25.MARIA JOAQUINA DA MATA CRUZ / membro nº 2 da Assembleia de Deus em Lisboa ..........................................................................................................................................189 26. MONIZ DA CÂMARA / duplas bodas de prata ............................................................193 27. NASCIMENTO DE JESUS FREIRE / um exemplo vivo de evangelista ......................195 28. VIRGÍLIO ALEXANDRE CONDEÇO / descansa em paz com Jesus .........................201 APÊNDICE .........................................................................................................................203 ANTÓNIO COSTA BARATA ..........................................................................................207
NOTA EDITORIAL
Há tempo para tudo pois existe um tempo próprio para cada coisa e para tudo que se faz. E a grandeza dum homem não o salva da morte, nem é expectável que o que devesse ter feito em tempo, ou seja, em vida, venha a acontecer depois dele... Mas ainda que seja, com base nos materiais por si denodadamente recolhidos, ele nunca o saberá! E a acontecer, será obra alheia, não integrando a sua recompensa. Pode não ser agora perceptível, mas o que queremos sublinhar é que no percurso de vida do autor, o distinto Pr. António Costa Barata, longo – em face dos parâmetros de tempo médio de vida dos portugueses homens porque, para nós, não há velhice enquanto se tiver capacidade de sonhar e realizar... – e trabalhoso – porque, a nosso ver, não é tarefa fácil ser Ministro do Evangelho e menos ainda sê-lo compatibilizando as exigências e responsabilidades eclesiais e familiares com a permanente necessidade de estar a par do que se passa ao redor, para melhor contextualizar a acção pastoral e evangelística – houve tempo para procurar e divulgar aspectos da vida colectiva que melhor se evidenciavam se fossem vistos em percursos de vida com rosto, em pessoas nomeáveis pelo testemunho dado acerca da sua fé. Desde logo, tendo em consideração o testemunho dos que trouxeram aos portugueses as novas da Reforma, fundando igrejas locais, em tempos de grande adversidade, e dinamizando amplos extractos populacionais, menos favorecidos, através de acções meritórias de natureza social em vertentes como a saúde, a promoção da leitura, o apoio à formação infantil e juvenil, nomeadamente. Mas também através dos exemplos de vida das pessoas que aceitaram a mensagem evangélica e deram por ela a sua juventude, o seu tempo, a sua dedicação, num protagonismo impressionante, embora, às vezes,
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localizado, no seio da família, em círculos sociais restritos, sem aparentes méritos para merecer registo imorredouro... Não será novidade afirmar que coube ao autor de Factos & Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro uma fatia importante na tarefa de procurar e sistematizar o que era necessário saber-se, no seio das Assembleias de Deus, em particular, sobre a influência da Reforma protestante em Portugal e sobre as várias realidades eclesiais que, ao longo dos anos, em especial a partir do século XIX, foram criando raízes no nosso país e, em especial, sobre a génese do Movimento Pentecostal e o seu desenvolvimento, durante varias décadas, desde José Plácido da Costa a Manuel José de Matos Caravela, passando pela chegada e permanente relevância de vários missionários suecos, no início dos anos de 1930, às cidades do Porto e Lisboa. Muito do que hoje se sabe resultou do labor permanente do autor. Registou factos e relevou a vida de pessoas. Leu e analisou documentos, aproximou-se das pessoas e ouviu-as. Se não tivesse feito esse trabalho, a escassez de fontes para compreender a implantação e desenvolvimento do Movimento Pentecostal e/ou das Assembleias de Deus em Portugal, mas não só, seria muito mais evidente. Estamos convictos de que grande parte do que se publicou durante décadas sobre as igrejas locais, sobre os seus dirigentes e sobre as pessoas que, por uma qualquer razão, se mostraram mais influentes tem a marca do seu laborioso trabalho, da sua curiosidade e investigação permanentes. Há pessoas de quem temos, hoje, memória razoável porque o autor se interessou pelas suas histórias pessoais no momento em que se deu a notícia da sua morte ou porque se associou a homenagens ou a momentos de celebração por diferentes motivos. Sabemos também algo mais sobre missionários, pastores, evangelistas e pregadores em geral, por mais desconhecidos e humildes que fossem, por causa do seu cuidado e atenção à história, por vezes, aparentemente, de interesse quase comezinho ou para parecer bem. Temos também conhecimento de factos relevantes, sobre a vida de pessoas influentes, porque indirectamente indagou de terceiros,
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de pessoas com informação privilegiada por razões de amizade, de parentesco, de proximidade eclesial ou empenho nas mesmas causas ou tarefas. E estamos certos que muito do que o autor apurou e publicou esteve na base de trabalhos mais desenvolvidos, quiçá mais elaborados e rigorosos, esteve sempre presente na mesa de trabalho dos respectivos articulistas/escritores, se não constituiu mesmo a base primeira do assunto a desenvolver no que concerne a várias áreas de interesse, quais sejam as da Reforma Protestante, as dos autores cristãos dos primeiros séculos, as dos vários ramos protestantes e/ou evangélicos, do Movimento Pentecostal, da obra social, enfim, dos factos e pessoas relevantes em cada tema ou circunstância concreta. É também nossa convicção que as novas gerações, em geral, não fazem ideia das centenas de expressões escritas desse labor de décadas, mas o mais grave é que essa ignorância, inexoravelmente, se acentuará com o decorrer do tempo se não se fizer muito mais no que tange à sua divulgação. Excepto para os interessados na indagação da origem da comunidade local em que se congregam, ou para aqueles que, por razões familiares, académicas ou outras se proponham voltar às origens, haverá sempre a possibilidade de procurar tais escritos nas bibliotecas públicas e privadas ou, até, com mais facilidade, nalgumas particulares. A quem passará pela cabeça ler o que o autor publicou na revista Novas de Alegria nos anos de 1960, ou o muito que publicou na revista juvenil Caminho, nos finais dessa mesma década e durante a década seguinte, ou na revista Avivamento a partir do ano de 1977, por exemplo? Muito poucos até porque será trabalhoso e só justificável para satisfazer uma necessidade muito premente ou relevante. Mas o desconhecimento e a inacessibilidade não devem ser razões para deixar no pó dos tempos esse acerbo de doutrina e cultura, esse acerbo de intervenção e polémica, esse acerbo de história e vida colectiva, esse acerbo de história de vida em que se imortalizaram muitas dezenas de pessoas e se consubstanciou o seu recto modo de viver, que ainda hoje é ou pode ser inspirador.
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Dizíamos que há um tempo para tudo e uma hora para cada coisa e para tudo o que se faz. Às vezes – parece contraditório! – deixamos que o tempo próprio passe – porque não era a hora certa? – e parece que a oportunidade se perdeu. Como quando vemos a água correr célere debaixo da ponte e ficamos seguros de que não regressará à nascente, à fonte, à origem. Passou, passou. Não passará de novo... Vem isto a propósito do que queríamos partilhar, no início. Há precisamente três lustros que verbalizámos esta ideia que representava um desafio enorme para o autor e para nós, em planos diferentes, naturalmente. Tínhamos o propósito de dar oportunidade a autores portugueses que quisessem publicar os seus trabalhos. Era o tempo do empolgamento, o tempo de fazer o que não fora ainda feito, o tempo de dar luz ao inédito, oportunidade ao desconhecido, ocasião às obras únicas, ímpares, capazes de preencher tempos vazios, omissões intoleráveis... Ao autor – lembramo-nos muito bem – desafiámo-lo a escrever, a seu critério, sobre a vida e obra de uma dezena de pessoas com percursos relevantes, porém pouco conhecidos, escolhidas dentre as centenas que foram, por todo o país, baluartes na evangelização e na implantação de igrejas. Não seria tarefa fácil, mas estava ao seu alcance tanto mais que havia escrito e publicado vários esboços biográficos acerca de muitas delas. Naturalmente, essa tarefa implicava trabalho metódico e persistente, difícil de compatibilizar com outras actividades, igualmente exigentes e senhoras do seu quotidiano. Exigia-lhe dedicação, exclusividade... Passou o tempo, passou essa hora, ficaram outras coisas, ficou tudo o que se fez com esse tempo. Certamente muito importante e cujo resultado proporcionou gozo, o que é o melhor para uma pessoa que vive intensamente realizando o que lhe apraz. Só que, como a água do rio, que não volta a passar sob a ponte, o tempo e a hora também passaram e essa tarefa, agora, parece impossível ao autor e a nós nos moldes em que fora concebida. Por várias razões. O tempo escoa-se porque a vida é como a flor do campo que nasce, floresce e logo desaparece. O tempo dá lugar a sucessivos tempos que se obnubilam como muitos sóis que iluminam as
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mesmas trevas em simultâneo. O tempo de uns não se submete ou sobrepõe ao de outros... anulam-se! O que queríamos da pena do autor foi surgindo da pena de outros, em alguns casos de quem menos se esperava – com todo o respeito o dizemos – como projectos únicos de escrita, ou escrita do tempo da última hora, na primeira pessoa, dando à história parte do registo das pequenas coisas que faltavam. Lembramo-nos de testemunhos como O que Deus fez de mim, Em suas mãos e Não desistas, só para referir as obras próximas do registo que idealizámos, as quais deram aos autores oportunidade de gozar o que fizeram, em merecida recompensa. Ademais, não fora o autor ter deixado passar o tempo e a hora e não integrariam o catálogo da Letras d'Ouro trabalhos como Manuel da Silva Moutinho. Um padrão da Igreja Bíblica ou José Pessoa. Missionário por vocação ou, ainda, João Sequeira Hipólito. Pastor pentecostal fundamentalista que procurava activamente a santificação, a mais recente de todas. Nesse registo ou próximo dele era o que esperávamos, nesse tempo e hora que parecia pertencerem ao autor, em concretização desse plano de trabalho em prol da história, em prol da luz que faz falta a quem perdeu a noção do caminho percorrido, do perfil ético, moral, espiritual dos que antes andaram nele. Agora é outro tempo, outra hora, quiçá de gozar ainda o resultado do que se faz com menor intensidade, com sabor a pouco, com menor recompensa. Mas é vida vivida ainda assim, é tempo de plantar o que tem tempo de germinar e produzir, o que tem hora para nascer porque é tempo de falar, tempo de ir ao encontro de quem tanto tempo esperou o leitor. Vamos já pôr termo ao nosso tempo para dizer, finalmente, ao que vimos. Não temos as obras daquele tempo porque o autor não lhes deu hora para as escrever. Temos as obras que outros escreveram, aproveitando muitos registos que noutros tempos o autor partilhou. Mas isso não nos basta. Agora que o tempo da própria Letras d'Ouro, editores, como projecto editorial, está em vias de se esgotar, resistindo a memória do gozo que foi dar-lhe corpo durante 15 anos – e nisso se traduzindo a recompensa de tanto fazer! – abre-se um derradeiro tempo, uma derra-
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deira hora, uma fonte que gera a corrente de água capaz de levar até ao leitor uns goles que não lhe matarão a sede... Ou seja, queremos aproveitar o ensejo da celebração do octogésimo quinto aniversário de vida do autor e permitir-lhe que encerre o tempo e a hora desse projecto editorial tão fascinante dando-lhe a honra da publicação da derradeira obra. Não será a que queríamos, nem será, cremos, a última do autor. É o que nos é possível, sem subavaliar o direito do leitor, que exige sempre o melhor. Nesse propósito, do vasto acerbo da obra publicada pelo autor, e respeitando a própria selecção que efectuou, escolhemos textos que são muito representativos duma das partes importantes do seu labor de décadas: o protestantismo, a génese e expansão do Movimento Pentecostal em Portugal, os sinais dessa acção – que são alguns factos, meramente exemplificativos – na sociedade portuguesa e testemunhos de protagonistas, cuja omissão representaria o seu apagamento definitivo da memória colectiva, com o correspondente empobrecimento. Assim, estando ainda bem presentes as significativas iniciativas a propósito da celebração dos 500 anos da Reforma Luterana, damos a palavra ao autor para relembrar o que esse movimento representou para os portugueses e as suas expressões mais significativas em termos eclesiais. Depois, como não podia deixar de ser, é pela sua pena que recordamos a origem e expansão do Movimento Pentecostal, matéria em que foi desbravador e trabalhador incansável. Esse é um tópico que, certamente, o leitor relevará porquanto o resultado das investigações do autor, ao longo da vida, se vê plasmado em todas as tentativas de abordagem da história das Assembleias de Deus em Portugal. Em terceiro plano, a propósito de homenagear os fiéis dos quais o mundo não era digno, que lutaram por causa da sua fé em circunstâncias tão adversas, relacionou nomes, exemplificou a vida cristã em testemunhos com rosto, registou a mobilidade de muitos, levando sempre a semente que germinou noutros corações e nos lugares muitas vezes os mais improváveis. Não fora esse trabalho de base biográfica, contextualizado em origens, famílias e lugares, e elaborado a partir da notícia da chamada
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dos salvos às moradas celestes, e saberíamos muito pouco acerca da importância da mensagem evangélica na mudança de padrões de vida que influenciou, muito mais do que sabemos, a sociedade portuguesa. Aliás, é precisamente na possibilidade de dispormos desses retratos que vemos como é possível caracterizar o legado que esses cristãos dedicados constituíram e ao qual agregaram o ónus de tanto quanto possível não dever ser desvalorizado na sua natureza e potencial reprodutivo. Na verdade, se um legado tem uma determinada natureza, é ela que acorrenta os legatários respectivos na acção que visa mantê-lo socialmente útil. Não vá dar-se o caso do legatário receber um rebanho, alimentado de certa maneira, e alterar radicalmente a forma de o nutrir, julgando assim poder manter a reprodução e evitar que se extinga... Estamos certos que a linha de continuidade dos valores que sustentavam esse modo de viver o cristianismo – salvo, certamente, aquilo que é socialmente irresistível e não fere a respectiva substância – só se assegura quando somos interpelados, agora que já descansam das suas canseiras, pelo exemplo registado. Pode muito bem dizer-se, à semelhança de S. Paulo, por exemplo, que o autor de Factos & Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro nos interpelou, para além de todas as doutrinas, por intermédio do testemunho de quem conheceu ou acerca de quem recolheu informação credível. No fundo, o autor foi testemunha de quanto se esforçaram homens e mulheres, na sua generosidade, para que o Evangelho, às vezes conhecido apenas nas suas casas, alcançasse tanta gente e a transformasse em luz e sal do mundo, e sabemo-lo, em grande medida, porque o autor no-lo contou! Pode até ter sido a pretexto da notícia das honras fúnebres que mereceram os finados de quem falou. Não importa. O facto é que o autor nos revelou – e revela agora ao leitor – o quanto mereceram essas honras os homens e mulheres que ergueram as comunidades cristãs locais e deixaram a marca evangélica em muitos corações que lhes reconheceram o viver benfazejo, a convicção e a coerência até que o Senhor a si os chamou. Por fim, mas não menos importante, as homenagens em vida foram sempre um pretexto, na pena do autor, para biografar os visados. A partir
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da ideia de dar as flores em vida, não depositá-las à volta da urna em que se encerra o corpo já sem vida ou na campa, depois de o inumar, se abriram oportunidades de contar uma história de vida no contexto, quase sempre, duma família comprometida com a causa do Evangelho. Fossem celebrações a propósito da perenidade da conjugalidade, fossem celebrações a propósito de datas referentes à longevidade do desempenho ministerial, em qualquer caso ficavam registos acerca da vivência cristã dos cônjuges, dos ministros ou doutros servidores da causa evangélica. Daí que, não fora assim, estaríamos às escuras em relação ao modo como muitos cristãos, homens e mulheres, cada um com o seu talento, acrescentaram valor ao desempenho eclesial, fosse qual fosse a área de intervenção em que serviram. O que vamos ler representa, estou certo disso, uma ínfima parte do contributo que o autor deu para se saber quem somos e donde viemos. É um quase nada de tudo o que investigou, escreveu e publicou. No entanto, parece suficiente para consubstanciar o dá-lhe flores enquanto vive, 1 por um lado, e para incentivar, por outro, os cristãos evangélicos das novas gerações, mas não só, amantes da leitura, sedentos de saber, a penetrarem nos meandros da sua parentalidade espiritual, dando-lhes a conhecer os que, pela sua convicção, determinação e coerência, foram 1 Esta rubrica na revista Avivamento foi iniciada pelo respectivo director, João Sequeira Hipólito, logo no primeiro número, em 1977, com o objectivo de reconhecer as qualidades dos que se entregavam à Causa de Cristo, fosse qual fosse a natureza do seu serviço. A primeira pessoa a receber as flores enquanto vive foi a Arminda, dedicada irmã que cuidava da limpeza da Casa de Oração da Rua Neves Ferreira com a dedicação de um verdadeiro ministério. O autor deu-lhe continuidade, ao longo dos anos, embora bem sabendo que não faz parte dos nossos costumes dizer bem ou mal directamente aos outros (…) sendo todavia comum elogiar ou criticar nas costas dos outros, culminando nas célebres homenagens póstumas. Apesar de ter arrojado com as consequências dessa forma comum de estar na vida, sendo até caluniado, foi a sua persistência em prosseguir o espírito inicial da rubrica que permitiu perpetuar testemunhos que, doutra forma, não teriam merecido qualquer registo senão o habitual, se não imperasse o esquecimento, o fúnebre. Muito desse labor para estimular os cristãos, reconhecendo-lhes as respectivas qualidades, estará presente amiúde nesta obra Factos &Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro.
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dignos de figurar nesta nomeação particular como heróis da fé que a todos inspiram. Factos & Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro representa, neste preciso tempo, para eles, em particular, e para os leitores, em geral, a síntese possível. Na parte que nos diz respeito, lamentamos não dispor de maior talento para expressar quanto estamos reconhecidos ao autor pela sua perseverança na documentação dos factos, que a todos interessam, e na celebração da vida daqueles que a não tinham em grande conta senão para servir a causa maior do seu Senhor e em cujos exemplos nos inspirámos. Pena é que também o nosso tempo já não tenha mais horas para outras iniciativas editoriais como esta, uma vez que também está ligado ao da Letras d'Ouro, editores que exala, depois dum longo e extenuante caminho, os seus derradeiros suspiros. Outros, no seu tempo, na hora determinada, acrescentarão à obra feita a que falta fazer, mas será, então, para gozo próprio, aliás merecido, por acreditarem no potencial do que, entretanto, jazia no pó do tempo, nas páginas envelhecidas onde registou o autor de Factos & Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro tanto que interessa ao futuro! Justifica-se, ainda, dar nota de que não foi observado nenhum critério especial na apresentação formal da obra. No que tange aos textos, como é óbvio, foram introduzidas alterações que a contemporaneidade exigia, além dos reparos e correcções que, a nosso ver, o rigor linguístico impunha. Mas não escamoteámos o acesso aos textos originais, remetendo sempre o leitor para a revista/jornal aonde antes foram publicados. Isso facilitará quem quiser melhor contextualizar a obra e pensamento do autor. Ademais, no que concerne à parte com especial enfoque nos testemunhos de vida, a ordem com que são apresentados é alfabética, pelo que se pede ao leitor que leve isso em conta para melhor situar no tempo histórico respectivo tudo o que se consubstancia em Factos & Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro. José Manuel Martins
PRÓLOGO
Antes do mais, apresentamos duas razões, em especial, para justificar a selecção e publicação dos textos que, no essencial, integram esta obra. A primeira delas, e a mais importante, visa dar a conhecer ao leitor que não teve acesso, e hoje com facilidade não a terá, aos meios de comunicação – jornais e revistas – nos quais os mesmos, ao longo do tempo, foram publicados; a segunda razão, porque os revimos, aumentámos e lhes fizemos as correcções pertinentes, deste modo acautelando que mantêm interesse para quem antes os tenha lido. Ainda bem que muitos assembleianos, hoje em dia, se dedicam a publicar em livro o que pensam nas diversas vertentes da vida social e espiritual. Além desta nossa selecção, que agora publicamos sob o título Factos & Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro, outras poderão vir a lume, se Deus o permitir, com intenção de informar tudo em que acreditamos e praticamos na esfera espiritual, cultural e social. Mais uma vez, aqui e agora, os nossos agradecimentos à Letras d’Ouro, editores e ao Dr. José Manuel Martins, pelos estímulos que nos têm dado, e nós acreditamos que de facto os estímulos e apreços valem mais do que os preços. E termino lembrando que quem possui ideias, boas ou menos boas, as deve escrever e dar a conhecer, no tempo e através dos meios próprios, sob pena de a memória as não guardar para sempre, porque falha; se erradas estiverem, com a crítica que suscitarem, serão corrigidas, mas se certas estiverem, logo edificarão quem as ler. O AUTOR
CapĂtulo 1
FACTOS antes e depois do pentecostalismo em Portugal
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EXPRESSÃO DA REFORMA PROTESTANTE EM PORTUGAL Tenho intenção de comunicar, resumidamente, quando na literatura portuguesa se começou a aludir a Lutero e aos seus ideais relacionados com a necessidade de uma reforma religiosa no Cristianismo. O monge alemão e professor de teologia na Universidade de Vitemberga, na Alemanha, principiou a divulgar essas ideias, através da publicação das suas famosas 95 teses, no dia 31 de Outubro de 1517, e não só. A propósito deste assunto, aproveito para historiar, sintética e cronologicamente, a implantação das primeiras Igrejas Protestantes, estrangeiras e nacionais, em território português. Quando se falava de Reforma Protestante, referia-se a tudo o que não era católico romano. Com o decorrer dos tempos, porém, várias igrejas começaram a ter identidade própria, a saber, a Igreja Luterana, a Igreja Calvinista, a Igreja Anglicana, a Igreja Anabaptista, e assim por diante. Os cristãos evangélicos, em geral, podem divergir na forma administrativa ou nos modos de cultuar a Deus, todavia possuem princípios comuns como, por exemplo, Jesus Cristo é o único e suficiente Salvador e só a Escritura Sagrada serve para gerar fé e guiar a vivência cristã. É verdade existirem outras fontes que geram crenças e superstições, mas essas são diferentes da fé. A mais antiga alusão que encontrei na literatura portuguesa, na qual se menciona o nome do Doutor Martinho Lutero, data de 29 de Agosto de 1520. A mesma consta num relatório enviado de Roma para Lisboa, da parte do representante de Portugal na Santa Sé, D. Diogo da Silva. No fim do documento lê-se: «Contra aquele frade de Alemanha Martym Luther, que la faz tantas reuoltas, fez aguora o papa humma bulla de que se ele
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muyto ry, segundo dizem: é esta humma cousa que tyra o somno porque todo aquele pouo pede concílio e reformação.» Mais tarde, outros escritos referiram-se à Reforma, em geral, uns contra, como os de João de Barros, André e Garcia de Resende, Luís Vaz de Camões e de outros, contudo houve também portugueses simpatizantes da Reforma Luterana, tais como Gil Vicente, Damião de Góis, Diogo de Teive e Manuel Travassos. Segundo o investigador Isaías da Rosa Pereira, o primeiro luterano em Portugal de nacionalidade portuguesa terá sido de facto Manuel Travassos, bacharel em cânones pela Universidade de Coimbra, condenado pela Inquisição a 11 de Março de 1571. De acordo com o mesmo investigador, só depois deste caso é que se efectivou a prisão do célebre cronista Damião de Góis, o qual nunca se confessou luterano, apesar de ter convivido com Lutero e Melâncton, na Alemanha. Igreja Reformada da Holanda. Não se sabe muito acerca da vida da primeira Igreja Evangélica de Lisboa, organizada em 1641, mas sabe-se que estava instalada numa dependência da Embaixada Holandesa, na capital do nosso país. Era formada por cidadãos de diversas nacionalidades e servida por ministros luteranos, oriundos de nações de maioria religiosa luterana. É possível que nela se reunissem anglicanos, luteranos e huguenotes. Depois do terramoto de 1755, perdeu-se o contacto com tal comunidade; porém, em 1761, surgiu nova comunidade, até hoje existente, que é a Igreja Alemã, sita na Av. Bordalo Pinheiro, em Lisboa. Essa igreja, portanto, é a família reformada mais antiga em Portugal, com continuidade. Igreja Episcopal Espanhola. No ano de 1833, chegou a Lisboa o cidadão espanhol, Dr. Vicente Gomez e Tojar, ex-sacerdote católico romano, forçado a deixar o seu país, não só pelas ideias liberais que partilhava, como por causa das suas convicções teológicas. Semelhantes convicções recebeu-as, após dialogar com os evangélicos sinodais, em Gibraltar. Não se achando seguro ali, foi para Tânger. A seguir, partiu rumo ao Brasil e à Inglaterra, e só depois fixou residência em Lisboa, por altura de 1833, onde, com o apoio da Sociedade Missionária Metodista de Londres
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e da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, fez colportagem e fundou uma nova Igreja Evangélica, desta vez espanhola, pois que, por força da lei, aos Portugueses era expressamente proibido aderir a outra fé que não à católica romana... Decorria o ano de 1839, altura da sua inauguração, sobrevivendo esta Igreja Evangélica até 1870. Igreja Presbiteriana Portuguesa. As primeiras reuniões de oração celebradas por cristãos evangélicos da família presbiteriana, em território nacional, ocorreram na cidade do Funchal, na Ilha da Madeira, dirigidas por James Halley. Estava-se em 1837. Nesse ano, dois outros acontecimentos importantes deram-se em Lisboa: a Colónia Britânica fundou uma escola para os filhos dos seus súbditos socialmente menos favorecidos; a revista O Panorama, dirigida por Alexandre Herculano, inseriu uma bela apologia das Escolas Domingueiras, isto é, Escolas Dominicais. Recorde-se que só no ano de 1854 criar-se-ia a primeira Escola Dominical, onde se ministrava em língua inglesa, no nosso país. 2 Em 12 de Outubro de 1838, desembarcou no porto do Funchal, vindo da Escócia, o casal Kalley. O missionário e cirurgião Robert Reid Kalley e sua esposa iam à Madeira em busca de clima propício à saúde da senhora Kalley. Mas ao contemplarem as necessidades dos madeirenses resolveram ajudá-los. Com o que era seu, e não de uma qualquer Missão religiosa, abriram um pequeno hospital e algumas escolas em diversas localidades da Ilha. Isso revelou-se de tal ordem meritório que as próprias autoridades civis, no ano de 1842, prestaram-lhe homenagem pública. Quando menos se esperava, levantou-se uma grande perseguição religiosa contra esse trabalho e contra a própria família Kalley. A oposição, nos anos de 1843 e 1846, foi sempre piorando a tal ponto que o casal e os
Em apêndice, publico o que escrevi sobre as Escolas Dominicais ou Domingueiras a propósito da passagem do seu bicentenário.
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muitos madeirenses que o apoiavam viram-se forçados a deixar a Ilha da Madeira. 3 Algum tempo antes de 1846, outro ministro presbiteriano, William H. Hewitson, fora enviado para o Funchal. Ele organizou a primeira Igreja Presbiteriana em território nacional, no ano de 1845. Foi organizada na clandestinidade, por certo pela nova intolerância das autoridades. Na cidade de Lisboa, a primeira comunidade organizou-se, posteriormente, aí por volta de 1866, sendo um dos seus ministros, nos primeiros tempos, Robert Stwart da Igreja Presbiteriana Livre da Escócia. Esta Igreja existe ainda hoje, situada na Rua Tomás da Anunciação, 56, em Lisboa. Igreja Metodista Portuguesa. Apesar de se efectuarem cultos metodistas nas minas do Palhal, Aveiro, desde o ano de 1854, sob a direcção do senhor Thomas Chegwin, e no Porto, à responsabilidade de James Cassels, em 1868, a igreja apenas seria organizada, no ano de 1871, pelo ministro evangélico Robert Hawkey Moreton. A Igreja Metodista comemorou o seu primeiro centenário no ano de 1971. O presidente da Comissão Executiva, órgão que administra a igreja entre Sínodos, é o bispo José Sifredo Oliveira Linhares Teixeira. Nos primórdios desta comunidade, o então jovem Alfredo Henriques da Silva foi não só uma bênção para a Igreja Metodista como também para toda a obra evangélica em Portugal. O Reverendo Albert Aspey, responsável por esta Igreja, entre 1954 e 1983, deixou uma magnífica obra sobre os metodistas no nosso país, livro que é uma fonte rica de informações sobre os valorosos pioneiros evangélicos em terra lusa. O título da obra é Por Este Caminho. 4
Sobre a presença e obra do Dr. Kalley no Funchal, pode ser lida com interesse uma breve referência em José Pessoa. Missionário por vocação, pág. 219, Martins, José Manuel, Letras d'Ouro, 2015. Também do jornalista António Marujo se pode ler O escocês perseguido na Madeira por causa da sua fé, in jornal Público, 24 de Janeiro de 2006, artigo em parte reproduzido em NA, nº 758, Março de 2006, em foco, pág. 17. 4 Mais exactamente: Por este caminho: origem e progresso do Metodismo em Portugal no século XIX – umas páginas da história da procura da liberdade religiosa. 3
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Igreja Episcopal Espanhola. Com alguns dos antigos membros da Igreja Espanhola, fundada na Rua Nova do Almada, em Lisboa, pelo dirigente evangélico Gomez, e com novos aderentes o ministro cristão Angel Herreros de Mora inaugurou outra Igreja Episcopal Espanhola, na Praça das Flores, na capital do país. Mais tarde, com base nos 39 artigos da Igreja Anglicana, organizou-se a Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, no ano de 1878, com o auxílio do então capelão da Capelania Anglicana de Lisboa, Thomas Godfrey Pembroke Pope (1837-1902), que se encontrava na capitania portuguesa, desde 1864. O primeiro Sínodo da Igreja Lusitana realizou-se no dia 8 de Março de 1880. O primeiro bispo eleito português da Igreja Lusitana foi o ministro evangélico Joaquim dos Santos Figueiredo. Nos anais dessa Igreja constam grandes nomes da família evangélica portuguesa. Entre outros citam-se Santos Ferreira, Ferreira Fiandor, Luís Pereira, 5 Eduardo Henriques Moreira, 6 Daniel de Pina Cabral e António Ribeiro Jr. O senhor Fernando Luz Soares foi consagrado Bispo Diocesano em 1 de Maio de 1980, sendo Bispo Emérito desde o ano de 1913, após a sagração do actual Bispo Diocesano, D. Jorge Pina Cabral, em 25 de Abril de 2013. 7 Igreja dos Irmãos. A primeira comunidade dos Irmãos poder-se-á dizer que se iniciou com a cristã evangélica Helen Roughton, em 1860, pelo facto de simpatizar com a eclesiologia do Dr. Robert Reid Kalley. D. Luís César Rodrigues Pereira, nascido em 22 de Abril de 1908, em Vila Franca de Xira. Converteu-se nos anos 20 do século passado, em Lisboa, quando estudava medicina. Já médico, regressou à terra natal e aí, em conjunto com José Ilídio Freire, fundou uma congregação evangélica e, mais tarde, outras duas em Salvaterra de Magos e Castanheira do Ribatejo. Ingressou na Igreja Lusitana, em 1948. Foi eleito Bispo pelo Sínodo Diocesano em 1960. Em 1981, resignou ao cargo de Bispo Diocesano e Deus chamou-o à sua presença no dia 6 de Novembro de 1984. Ver Opúsculo Culto Ecuménico, Evocação de D. Luís César Rodrigues Pereira no centenário do seu nascimento 1908/2008 6 Ver infra Eduardo Moreira - ministro do evangelho literato -. 7 https://www.igreja-lusitana.org/index.php/publicacoes/noticias/259-cerimonia-dasagracao-episcopal, acedido em 30 de Abril de 2018. 5
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Após os dramáticos acontecimentos da Madeira, Kalley esteve em Beirute, aonde faleceu a esposa. Visitou, entretanto, as igrejas surgidas em várias partes da América do Norte, com crentes que haviam deixado a Ilha da Madeira, posteriormente a 1846. O Dr. Kalley acabou por fixar-se no Brasil, aonde fundou a igreja que continuou a ser uma bênção na evangelização em língua portuguesa. Helen Roughton, imitando Kalley, como, aliás, já os anglicanos tinham feito, organizou uma escola primária para as crianças pobres, em São Sebastião da Pedreira – Lisboa. O caso chegou ao Parlamento de então, mas este, feitas as investigações, elogiou a obra e formulou votos no sentido de que outras obras do género se implantassem em território nacional. Por volta de 1875, chegou a Lisboa o engenheiro inglês George Macrow que, na altura, era um darbista8 convicto. Conversando com Helen Roughton, concluíram que seria bom convidar um dirigente cristão para tomar conta do trabalho em Lisboa. Convidou-se o ministro ex-anglicano e sua esposa, respectivamente Richard e Cathryn Holden, os quais, de facto, em 1877, fundariam a Igreja dos Irmãos na capital do país. Dessa igreja saíram crentes que seriam usados por Deus na fundação de outras igrejas em Portugal. Longa é a lista de portugueses e estrangeiros que militaram na dita comunidade. Relembro Stwart Menair e George Owens, em Coimbra e Aveiro; José Ilídio Freire9 e Guido Waldemar de Oliveira, 10 em Santa Catarina e Praça das Amoreiras, Lisboa. Adepto do darbismo, movimento que não aceita a vaidade das funções eclesiásticas e defende o sacerdócio universal dos crentes, cuja forma de governo da igreja é congregacional, como é o caso das Assembleias dos Irmãos. 9 Ver infra José Ilídio Freire - nova pessoa em Cristo - um pioneiro da evangelização em Portugal - vida consagrada a Deus e ao próximo -. 10 O jornal Novas de Alegria, nº 296, Agosto de 1967, pág. 96, Promoção à Glória, assinalou a morte do Pastor Guido Waldemar Oliveira, ocorrida em 6 de Junho de 1966: «(...) A Assembleia de Deus de Lisboa tinha nele um bom amigo, aliás ele sabia ser amigo de todos, pois que acima de todos os preconceitos denominacionais (…) sabia distinguir, já pela sua cultura, alma generosa e espírito desanuviado e cheio de amor cristão, aqueles que, como ele, têm recebido a graça da salvação. Com a sua promoção à 8
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Igrejas Congregacionais. No tocante às igrejas congregacionais, as mesmas começaram a ser implantadas no ano de 1879, em Lisboa, pelo ministro evangélico Manuel dos Santos Carvalho, em virtude de discordar dos sinodais.11 E como simpatizou com o método adoptado pelo Dr. Kalley, optou por ele, isto é, pelo sistema congregacional. O seu primeiro trabalho surgiu na Calçada do Cascão, perto de Santa Apolónia, em Lisboa, no ano de 1879. Nomes nobres desta denominação foram, além de Manuel dos Santos Carvalho, José Augusto e Silva, José Marques Calado e outros. Por terem sido muito perseguidos é que cresceram bastante! Como diz o ditado: «Ideia perseguida, ideia seguida.» Várias igrejas congregacionais organizaram-se no país. De facto, os Irmãos e os Congregacionais foram os que mais cresceram nos fins do século XIX e inícios do século XX. Igrejas Baptistas. O historiador baptista Herlânder Felizardo afirma que a primeira Igreja Baptista, em terra lusa, foi organizada no ano de 1888. 12 Sim, porque pouco tempo antes as igrejas evangélicas que existiam no Porto – a Metodista e a Episcopal – não quiseram baptizar, pelo rito imersivo, duas filhas do comerciante inglês Joseph Charles Jones (18481929), o qual deslocou-se a Londres com elas, sendo ali baptizadas por Glória (…) a Obra Evangélica em Portugal perde um dos seus valorosos lutadores; perde a igreja da Travessa de Santa Catarina, nº 3, em Lisboa, de que foi digno Pastor durante 33 anos; perde o periódico “Correio Evangélico” o seu dinâmico editor e perde, ainda, a Aliança Evangélica Portuguesa o seu Presidente, que desde há muito vinha pelejando pelos direitos dos Cristão Evangélicos em Portugal.» Ver ainda http://www.irmaos.net/v2/historia/guido_waldemar_oliveira.html, acedido em 16 de Abril de 2018. 11 Sinodais ou de governo sinodal da igreja, em que um dos presbíteros superintende nas reuniões do Presbitério, função equivalente à de Bispo no governo Episcopal, mas nesta forma de governo existe um Arcebispo. Ou seja, o governo da igreja sinodal é garantido em conjunto pelos que desempenham funções eclesiásticas sob a convocação e superintendência de um responsável superior. 12 Ver História dos Baptistas em Portugal, CEBAPES, Centro Baptista de Publicações, Lda. Julho de 1995, pág. 7.
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imersão. Regressando da capital inglesa, começaram a reunir-se na cidade portuense, prestando culto a Deus. Para ajudar os membros baptistas, pelo menos dois ministros do evangelho estrangeiros vieram ao Porto, mas por pouco tempo. Por exemplo, Robert Reginald Young, de 1902 a 1905, sucedendo-o o ministro Jerónimo Teixeira de Sousa. A Junta de Missões da Convenção Batista Brasileira enviou, então, a Portugal Zacarias Clay Taylor, missionário norte-americano da Junta de Richmonde, em 1908, e, com o fruto já existente, fundou a Igreja Baptista Portuguesa. Jerónimo de Sousa foi substituído, em 1911, por João Jorge de Oliveira (1883-1958). Depois foi a altura da expansão do trabalho do Senhor. Eis alguns dos nomes dos primeiros tempos do ministério do pastor João J. de Oliveira: António Maurício (1893-1980), Arduíno Adolfo Correia (1865-1943) e tantos outros. Abriram igrejas em Viseu, Leiria, Tondela e noutras localidades. Igrejas do Nazareno. O pastor Francisco Xavier Ferreira, nazareno, contou-nos, em 1972, como se iniciou a Igreja Evangélica do Nazareno, de índole pentecostal: «Data dos fins do ano de 1800 o começo da obra evangélica da Ilha Brava, porém só em 1901 se organizou a primeira Igreja de feição Pentecostal.» Foi João José Dias, ministro evangélico caboverdiano, que, nos Estados Unidos, havia aceite a mensagem pentecostal. Anos depois, a Igreja do Nazareno decidiu retirar da sua denominação o título pentecostal. Historicamente, pode dizer-se que os primeiros pentecostais portugueses existiram primeiro na Ilha Brava, no arquipélago de Cabo Verde. Em 1914, deslocou-se aí o evangelista Sales 13 que, em espaços públicos, realizou campanhas de evangelização com êxito. Nos anos 30, Leovegildo Pelágio de Mendonça e Sales, filho de Júlio Cardoso da Silva Sales e de Francisca Romana Mendonça Sales, nascido em 1878, em Santa Catarina, Lisboa. Alistou-se como voluntário no exército em 1893, com 15 anos de idade, donde saiu em 1902. Nesse ano, a 8 de Fevereiro, casou com Virgínia da Silva Oliveira, cuja cerimónia foi celebrada na Igreja Metodista da Estefânia, Lisboa, pelo Ministro do Culto inglês Arthur 13
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foram a Cabo Verde transmitir a Palavra de Deus o pastor José Ilídio Freire e também Eduardo Henriques Moreira. Este ajudou muito a juventude a organizar uma biblioteca evangélica em Cabo Verde. O ministro e fundador da Obra de Deus, João José Dias, trabalhou naquelas paragens de 1901 a 1936, ano em que, velho e doente, se reformou, sendo na altura substituído pelo casal D. Garnet e Rev. Everett D. Hward. No continente português, só depois de 1973 se começaram a implantar estas igrejas, e são já diversas em Portugal. Igrejas Assembleias de Deus Pentecostais. Decorria o ano de 1903. José Plácido da Costa (1869-1965) estava emigrado, no Brasil, desde 1901. Ele nasceu em Valezim, na Beira Alta. Conduzido a Jesus Cristo em 1903 pelo então colportor João Jorge de Oliveira, seria baptizado na Igreja Baptista, nesse mesmo ano. Em 1907, José Plácido da Costa podia dizer: «Eu e a minha casa servimos ao Senhor!» Wilks. Depois de casado, ainda nesse ano de 1902, foi para Timor trabalhar. Em 1909, passou férias em Cabo Verde e nesse ano deixou o seu trabalho secular para consagrar-se ao múnus espiritual como evangelista pentecostal. Ele próprio escreveu «que desde 25 de Dezembro de 1909, iniciei o meu ministério evangelístico, numa missão Pentecostal, em Guiné (Bolama)». Ofereceu-se para ir a São Tomé e Príncipe ao serviço da Sociedade Bíblica Britânica Estrangeira no ano de 1910 e em 1912 trabalhou em Braga, São João da Ponte, exercendo actividade num Dispensário, em acção social e espiritual. No ano de 1913, foi oficiante do primeiro baptismo pentecostal em Valezim, aonde se deslocou, indo de Braga, e em 1914, entre 20 Fevereiro e 5 de Maio, foi conferencista no Arquipélago de Cabo Verde, em que falou para mais de 2 mil pessoas. Era um homem culto, que conhecia bem a situação social da Bélgica, da França, do Canadá e de Portugal. Regressou a Braga, após esse período em Cabo Verde, e sabemos que voltou a envergar o uniforme do exército, mais tarde, para ser expedicionário, tendo combatido em Brest, França, em 1917; em Março de 1918 estava no Hospital Militar, em Lisboa. Foi promovido a capitão em 20 de Julho de 1918. Deixou o activo meses depois, mas continuou vinculado ao exército, até 1922, para concluir um projecto de que foi inventor. Morreu em 1940. Dados recolhidos em O Pequeno Mensageiro, nº 11, Fevereiro de 1902, nº 16 de Julho de 1902, A Voz de Cabo Verde, de 1 de Março de 1914, de 14 de Abril, de Maio de 1914 e de 2 de Junho de 1914, A Voz da Madeira e a Voz de Cabo Verde e O Mensageiro de Janeiro e Abril de 1915 e no Arquivo Geral do Exército. Ver, ainda, outros dados em Movidos pelo Espírito, Branco, Paulo, pág. 27-28, Edições NA, Maio 2013.
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Em fins de 1910, Plácido, sua família e outros membros da Igreja Batista em Belém do Pará aderiram à doutrina glossolálica, sendo, por causa disso, excluídos em bloco. No ano de 1911, organizaram a Missão da Fé Apostólica e, em 1918, com uma nova casa de oração, mudaram o nome para Assembleia de Deus Pentecostal. No mês de Abril de 1913, Plácido da Costa veio para Portugal com intenção de entregar a mensagem evangélica. Em Maio, baptizou a primeira crente pentecostal em terra lusa. Em abono da verdade, quem celebrou o baptismo foi o evangelista Sales, o qual efectuaria uma campanha evangelística, no ano de 1914, em Cabo Verde. De 1913 a 1919, a Obra do Senhor não cresceu muito através da actividade de José Plácido da Costa. No ano de 1919 faleceu a sua filha única, e Plácido da Costa sentiu dever consagrar totalmente a sua vida à evangelização. Se bem o pensou, bem o realizou, ainda que por poucos anos. João Jorge de Oliveira, ministro baptista, que no Brasil levara Plácido a converter-se a Cristo, aceitou a colaboração deste em Portugal. José Plácido da Costa fixou-se na cidade do Porto. Depois pastoreou a igreja baptista, em Viseu, e no ano de 1922 achava-se em Tondela. A Assembleia de Deus Pentecostal em Belém do Pará, no ano de 1921, enviou outro obreiro para Portugal, de nome Manuel José de Matos Caravela, 14 o qual se encontrou com José Plácido, em Tondela, não gostando de ver o colega a trabalhar com quem não estava teologicamente de acordo. José de Matos acabou por fundar a Assembleia de Deus Pentecostal, em Tondela. Os irmãos baptistas opuseram-se-lhe fortemente e ele acabaria por encerrar o trabalho e rumar, em 1924, para Portimão, no Algarve. Plácido deixou os irmãos baptistas, regressou a Valezim e, durante uns anos, trabalhou nas suas courelas até que, em 1927, emigrou outra vez 14 De seu nome de baptismo, Manuel José. No Brasil, era conhecido por José de Matos e o seu pai tinha por apelido Caravela. A fim de não se perder a identidade de José de Matos, passou a ser chamado por Manuel José Matos Caravela.
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para a América do Sul: viajou para a Argentina, depois para a Baía (no Brasil) e, por fim, chegou a Belém do Pará. Aí foi informado que já se inaugurara o trabalho pentecostal na cidade portuguesa do Porto, por intermédio de Daniel Berg, um dos fundadores da Obra Pentecostal no país irmão. Plácido da Costa voltou do Brasil, em fins de 1934, indo para o Porto, a fim de cooperar com o sueco Daniel Berg (1894-1963) 15 e Augusto Holguer Mausritz Baeckströem (1904-1964). 16 Este sucedeu a Berg e pastoreou entre 1934 e 1939, mas desde 1935 que Plácido da Costa era o presidente da Junta Administrativa da Igreja, pois a lei portuguesa não autorizava que um estrangeiro fosse o presidente. José Plácido da Costa assumiu, entretanto, o pastorado que manteria até ao ano de 1954, altura em que se aposentou. Lisboa viu a inauguração da sua primeira sede em 21 de Janeiro de 1934 e a 13 de Maio de 1934 foi celebrado o primeiro serviço baptismal, cujos candidatos eram todos de Évora. O missionário que organizou a Igreja de Lisboa foi o sueco Jack Härdstedt (1895-1973). 17 O seu sucessor era, outrossim, sueco, e chamava-se Samuel Nyström. 18 A seguir veio Tage Stählberg (1902-1980) 19 onde, pela mesma razão que aconteceu no Porto, o pastor Alfredo Rosendo Machado foi o primeiro presidente da Junta Administrativa. Também o missionário sueco Eric Emgärd 20 deu muito da sua vida e da dos familiares à Obra do Senhor em Portugal. Ver Berg, David, Daniel Berg, Enviado por Deus, versão ampliada, CPAD, Brasil, 1ª edição, 1995; Pioneiros e líderes, Daniel Berg, Avivamento nº 1, 1977, pág.11-12, J.S. Hipólito. Sobre o trabalho na cidade do Porto pode ler-se, com interesse, João Sequeira Hipólito. Pastor Pentecostal..., nota 101, pág. 133/134, e, ainda, Movidos pelo Espírito, pág. 31-32. 16 Ver Pequeno Historial da Assembleia de Deus do Porto, Santos, Agostinho Soares, pág. 29 e, ainda, Movidos pelo Espírito, pág. 32 17 Ver Movidos pelo Espírito, pág. 32 e Novas de Alegria, nº 26, Fevereiro de 1945, pág. 16, Do Vigilante Fiel, 50º aniversário (1-2-1895). Ainda com interesse, Línguas de Fogo, História da Assembleia de Deus de Lisboa, pág. 9 e segts., CAPU, 1999. 18 Idem 19 Ver Em Suas Mãos, Fernandes, João, pág. 50, Junho 2005; Movidos pelo Espírito, pág. 33 20 Ver Movidos pelo Espírito, pág. 43-44. 15
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Sem dúvida alguma que os servos de Deus Tage Stählberg e Alfredo Machado, apoiados por talentosos e dedicados jovens portugueses, fizeram prosperar a Obra do Senhor na grande Lisboa e, até, no país inteiro. Durval Correia, 21 António Rodrigues da Silva, 22 João Sequeira Hipólito 23 são alguns deles. Ver infra Durval e Hermínia Correia - digna homenagem -. Ver Movidos pelo Espírito, pág. 44; José Pessoa, pág. 87. E em Avivamento, nº 2, pág. 45, Dá-lhe as flores enquanto vive, o director, JSH, escreveu: «António Silva, decano do ministério da igreja de Lisboa, tem 92 anos e quem o conhece desde a sua conversão, há 44 anos, parece-lhe que não mudou, nem tem jeito de mudar. Anda ligeiro, lê sem óculos e raramente está enfermo. Quando brincamos com ele procurando saber qual o dia do seu funeral, ele diz (fazendo-se muito sério) que ainda há-de fazer o nosso. E é possível, pois ele é cangalheiro. António Silva era um pobre pecador, que estivera no Brasil sem nada conseguir. Morava numa humilde casa no bairro da Graça, e dedicava-se à venda de jornais como ardina. Quando havia muito trabalho, um armador contratava-o para «gato pingado»... Foi então que o missionário Jack Hardstedt abriu a velha capela da Rua da Verónica a fim de pregar a mensagem pentecostal. António Silva com a sua pequena família eram praticamente os únicos crentes no princípio; os outros ia ele com o pastor buscá-los à taberna da frente já meio turbados pelo álcool, para tornar a pô-los na rua pegando-lhes ao colo quando perturbavam demasiado a reunião. António Silva era o porteiro geralmente, outras vezes o orador. Quando se tornou necessário eleger a primeira Junta Administrativa, foi eleito Tesoureiro. Na altura as ofertas subiam a pouco mais de cem escudos. A renda da casa era uns duzentos escudos e tinha de vir da Suécia. No entanto, durante o tempo que desempenhou o seu cargo até há uma dúzia de anos, passaram-lhe pelas mãos milhares de contos, nunca recebendo nada pelo serviço, nem faltou qualquer importância. Silva é daquelas pessoais típicas que nunca vamos esquecer mesmo muito tempo depois de morrer. Entre as particularidades que tem, salienta-se uma memória privilegiada. Com mais de 90 anos ele conhece praticamente a Bíblia de cor, e quando prega os textos bíblicos saem encadeados como as cerejas, uns ligados aos outros. Quando o deixam cantar a solo, o que faz melhor do que muitos, raramente precisa de livro ou de música a acompanhá-lo. Com a idade que tem ainda faz os seus biscates, apanha toda a espécie de transportes, sobe escadas e dá conta do recado que lhe é entregue. Ele sabe o seu lugar como Ancião da Igreja, e não é preciso convidá-lo para subir ao púlpito. António Silva é um evangelista pessoal e não perde a oportunidade de dar o seu testemunho seja a quem for e onde for. Está sempre pronto para fazer qualquer coisa que lhe peçamos e fá-lo satisfatoriamente. Nunca vimos o irmão Silva lamentar-se, zangado, murmurar ou falar mal de alguém, antes pelo contrário procura desculpar toda a gente. Também nunca encontramos quem quer que fosse que tivesse qualquer motivo de queixa contra ele (a não ser talvez as três mulheres de quem é viúvo, mas ele prometeu aos 21 22
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A Amadora teve a sua primeira casa de oração em 1942, aberta pelo Dr. Colin Monypenn Bowker e sua esposa Dra Margarida Bowker, que organizaram várias igrejas, como Mafra, Malveira, Buraca, Pontinha e outras. O casal Bowker foi pioneiro na Beira Baixa aonde estabeleceu trabalhos na Covilhã, Castelo Branco, Fundão, Quintãs e diversas outras localidades. 24 Coimbra foi o resultado de um reavivamento nas igrejas dos Irmãos, iniciado por um crente vindo do Brasil. Para consolidar o trabalho que ficou, deslocou-se a Coimbra, em 1963, o pastor José da Cunha Oliveira Pessoa. 25 Depois dele, outros pregadores pentecostais deram ali a sua cooperação. Igrejas Acção Bíblica. O movimento denominado Acção Bíblica começou na Figueira da Foz, em resultado da acção do evangelista João de Oliveira Coelho. Ele era um dos congregacionais nessa cidade que não aceitara o presbiterianismo, assumindo então a liderança de alguns trabalhos congregacionais do país. João de Oliveira Coelho convidou a Escola Bíblica de Genebra (Acção Bíblica) a enviar um obreiro para a Figueira da Foz, o que aconteceu em 1923. O ministro enviado foi Samuel Mathez. Outros nomes deste pastores não repetir a façanha). Todos nós gostamos do irmão Silva e desejamos para ele muitos anos de vida com saúde e actividade no trabalho do Senhor. É que o irmão Silva é uma inspiração para todos nós.» Destacamos a figura do presbítero Silva por se tratar duma referência dos primórdios do Movimento Pentecostal em Lisboa. 23 Ver infra João Sequeira Hipólito – tio Hipólito 60 anos de vida -; e para uma visão global do seu percurso ministerial ver Martins, José Manuel, João Sequeira Hipólito. Pastor Pentecostal fundamentalista que procurava activamente a santificação, Letras d'Ouro, Abril de 2018. 24 Ver infra Colin Monypenny e Margarida Prouse Bowker em Portugal - duas vidas repartidas por muitas outras vidas - e, ainda, Movidos pelo Espírito, pág. 40. Sobre o ministério destes dois médicos missionários, com interesse a citada obra de referência, José Pessoa. Missionário por vocação. 25 Ver infra José Pessoa - primeiro aniversário do falecimento - e, ainda, Movidos pelo Espírito, pág. 52, com necessidade de corrigenda, aliás feita em Martins, José Manuel, José Pessoa. Missionário por vocação, leitura também necessária para uma visão global do seu percurso ministerial.
O que vai ler representa uma ínfima parte do contributo que o autor deu para se saber quem somos e donde viemos. É um quase nada de tudo o que investigou, escreveu e publicou. No entanto, parece suficiente para dar a conhecer os que, pela sua convicção, determinação e coerência, foram dignos de figurar nesta nomeação particular como heróis da fé que a todos inspiram. Factos & Pessoas – do pó do tempo para instruir o futuro representa para os leitores, neste preciso tempo, a síntese possível.
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movimento evangélico são, nomeadamente, Pierre Dubois, Pierre Mathez e Robert Spichinger. Eis, em síntese, o início de cada uma destas Igrejas Evangélicas implantadas em Portugal desde o ano de 1641 a 1923. P.S. Há outras igrejas evangélicas mais recentes que ainda não têm a sua história escrita. 26
26 A fonte próxima desta parte da obra é o texto publicado em NA, Ano 59, nº 718, Novembro de 2002, pág 30-33, na rubrica História, sob o título A Reforma religiosa em Portugal.