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INTRODUÇÃO
Oantijesuitismo é um tema complexo, tanto do ponto de vista de sua constituição temporal e espacial quanto do seu estudo como um objeto histórico. Seu nascimento ocorreu com o da própria Companhia de Jesus (1540), e se estendeu para além de sua extinção (1773) e restituição (1814), chegando ao século XX. Vale destacar que o antijesuitismo esteve presente em todos os continentes nos quais a Companhia atuou. A complexidade do assunto evidencia-se ainda claramente com a possibilidade de ele ser analisado enquanto movimento histórico; como uma construção discursiva, ou seja, o discurso antijesuítico como acontecimento histórico; ou ainda como uma forma de reconstrução de uma dada realidade em sua totalidade, seja ela no Maranhão e Grão-Pará, no Brasil, em Portugal, ou qualquer outra região1 . Diante de tantos caminhos que poderiam ser seguidos, neste livro, optamos por estudar a construção discursiva do antijesuitismo amazônico como um movimento histórico. Nosso recorte temporal vai do final do século XVII até o período de atuação pombalina, na segunda metade do século XVIII, especialmente no espaço que compreendemos como Amazônia portuguesa, no que pese, o antigo estado do Maranhão e Grão-Pará. Porém, não deixamos de lado o contexto de mudanças que estavam ocorrendo na Europa durante aquele período. Por isso, analisamos as políticas para o Reino e a colônia empreendidas pelos três monarcas portugueses que governaram de fins do século XVII até a segunda metade do século XVIII – D. Pedro II (1683-1706), D. João V (1706-1750) e D. José I (1750-1777) –, assim como estudamos as mudanças culturais ocorridas no período, especialmente a formação dos iluminismos.
1 Sobre as diversas metodologias aplicadas à análise de discurso, ver o livro de Durval Muniz, especialmente o capítulo 5, intitulado Menocchio e Rivière: criminosos da palavra, poetas do silêncio. In: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Ensaios de Teoria da História. Bauru: Edusc, 2007, p. 101-112. Nesse capítulo, o autor problematiza as diferenças teórico-metodológicas com que Foucault e Ginzburg trataram fontes parecidas. O primeiro analisa os escritos de Pierre Rivière, assassino confesso de sua família; e o segundo, interrogatórios do moleiro Menocchio feitos pela Inquisição.
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