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e alianças na capitania do Pará
CAPÍTULO 5
DEFESA LUSO-INDÍGENA: MILITARES, INDÍGENAS E ALIANÇAS NA CAPITANIA DO PARÁ
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É tão certo este conhecimento dos Tupinambás que sem um deles adiante não caminham os portugueses para a guerra, eles descobrem os caminhos, definem as jornadas, fazem as paradas, definem o lugar donde devem pernoitar, o que tudo determinam, confiando em sua capacidade a marcha militar (“Notícias da América Portuguesa, em especial mapa e roteiro geográfico”, Manuscritos da Livraria – PT/TT/ MSLIV, n. 1065).
Osistema defensivo da capitania do Pará, como vimos na Parte I deste livro, apresentava bastante dificuldades. As forças legais dispunham de pouca gente, em sua maioria desqualificada na arte militar. A solução foi a constituição de uma complexa rede de mobilização de gente para as tropas que integravam espaços e gente de diversas partes do império português. Na ausência de tropa auxiliar, esse sistema incluía e afirmava a necessária e importante aliança como os indígenas. Esses foram o socorro necessário à efetiva defesa da capitania. Portanto, nessa altura, para completar o quadro analítico deste estudo, resta ainda um último ponto, a atuação indígena nas diligências militares. Essa questão poderia ser verificada a partir de diversos aspectos, tais como a vigilância, o cotidiano das fortalezas, a logística e o caminho das tropas. Todavia, optou-se pelas ações de guerra por entender-se que o conflito deflagrado é o ponto mais crítico da ação de defesa, ocasião privilegiada em que se
pode verificar com mais clareza a atuação de militares e indígenas e, sobretudo, as estratégias defensivas pensadas por autoridades coloniais.
Aqui não é intenção caracterizar ou mapear todas as guerras ocorridas no Estado do Maranhão e Pará na primeira metade do século XVIII, mas perceber a presença e atuação indígena em ocasiões específicas de expansão colonial. Trata-se, portanto, de compreender melhor o “grandiosíssimo socorro”, no sistema defensivo da capitania. Este capítulo sustenta o argumento de que as atividades de defesa, sobretudo guerras contra índios hostis e a expansão da fronteira colonial só foram possíveis graças à participação de índios aliados. Em muitos casos, alianças consolidadas desde os primeiros anos de conquista ou mesmo fortalecidas pelas relações construídas no Estado do Brasil.
Ora, como tem se mostrado ao longo de estudo, não há efetivos regulares capazes de fazer frente a todas as demandas de defesa da região, basta lembrar que entre 1623 e 1747, as cinco companhias pagas da capitania do Pará e Maranhão não atingiram o número de 340 soldados pagos. Se considerarmos todas as atividades para as quais eram destacados e a vasta extensão territorial com dilatadas fronteiras, logo se constata sua insuficiência.
Por outro lado, é importante destacar que para o Estado do Brasil há, desde o século XVII, a constituição de companhias auxiliares de pardos e pretos; para o Estado do Grão-Pará e Maranhão, essa configuração só se verifica a partir de 1766, como vimos no capítulo 2. Portanto, a defesa nessas partes valeu-se da aliança com os indígenas. Nesses termos, não há como tratar de defesa sem destacar as alianças porque foram os índios aliados que possibilitaram às tropas portuguesas a vigilância das fronteiras, a guarnição das fortalezas e, sobretudo, a logística militar e os enfrentamentos em ocasiões de guerra.
É fundamental destacar que os aliados constituem um grupo heterogêneo formado por aqueles que provêm de diversas nações indígenas, dos aldeamentos, da intermediação dos principais e, inclusive, de outras capitanias. Esses foram importantes para a efetivação das atividades militares na capitania do Pará, mas, não somente; destaca-se também um grupo de militares descritos como “grandes esquadranistas reais”, “experientes na guerra dos sertões”, que ocuparam os postos do oficialato nas tropas regulares.
A capacidade de defesa não estava, portanto, nos soldados pagos, em sua maioria desqualificados. Mas sim na atuação combinada das práticas de guerra