CAPÍTULO 8
BOSSA NOVA E RENOVAÇÃO MUSICAL EM BELÉM NOS ANOS 1960
Cleodir Moraes1
O
s compositores envolvidos com a renovação da canção popular em Belém, nos anos 1960, mostraram-se bem à vontade para acrescentarem umas tantas inovações formais e temáticas às suas criações. Eles se lançaram à busca de uma linguagem estética sofisticada e moderna, gestada a partir de um dinâmico e tenso processo composicional, no qual se entrecruzam referências “regionais”, “nacionais” e “cosmopolitas” na música popular produzida na cidade. Como artesãos em sua oficina de trabalho – Rui Barata, um dos mais respeitados poetas e letristas do período, dizia compor qual um “carpinteiro faz uma mesa”2 –, esses artistas selecionaram, descartaram, adaptaram e lapidaram materiais cancionais diversos na configuração de suas obras, em sintonia, ao mesmo tempo, com alguns movimentos de expressão nacional e à paisagem sonora e sociocultural do lugar.3 Entre eles estavam João de Jesus Paes Loureiro, José Maria de Villar Ferreira, Paulo André Barata, Tânia
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Doutor em História Social (UFU). Professor da Escola de Aplicação da UFPA.
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Tratei, em outra oportunidade, de parte dessa história ao abordar o que denominei “visão amazônica” na MPB produzida em Belém nas décadas de 1960 e 1970. Ver MORAES, Cleodir. Canção popular e política em Belém: sonoridades “caboclas” e as ações nacionais desenvolvimentistas na MPB. ArtCultura, v. 18, n. 32, Uberlândia, jan./jun. 2016.
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BARATA, Ruy apud OLIVEIRA, Alfredo. Paranatinga. Belém: Secretaria de Estado de Cultura, Desporto e Turismo, 1984, p. 41.