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TOY ARt
Misturando arte, design, moda e culturas urbanas, pode-se dizer que toy art1 é um “brinquedo de arte”, porém, não se trata de um brinquedo convencional feito para brincar, mas sim para colecionar e expor. De um modo geral toy art é um objeto diferente e relativamente novo para expressão artística, representações de ícones pop e críticas sobre o mundo contemporâneo.
1 Usou-se o termo em inglês nesta monografia pois é o nome mais comum sobre o assunto no país e porque é uma expressão que define uma indústria em vez de um produto específico, já que o termo aplica-se mais à estética do que nos materiais que são produzidos.
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Segundo Phoenix (2006, p.43) diferente dos brinquedos tradicionais os toy arts não são encontrados em prateleiras de supermercados ou em lojas de varejo, porque sua produção é feita em pequena escala, pois artistas e designers não possuem os mesmos recursos de uma grande empresa para a fabricação dos mesmos e em parte o número limitado de toys produzidos os torna mais especiais, mantém colecionadores mais interessados e transforma o lançamento de um novo modelo em um evento. Essas produções geralmente têm tiragem entre dez e mil peças fazendo com que colecionadores do mundo todo se mobilize para comprar um toy art muitas vezes raro e exclusivo devido a sua pequena escala de peças produzidas.
Existem outros termos que definem a cena toy art como: boutique toys, designer toy, urban vinyl, (PHOENIX, 2006, p.43). Essas expressões têm ligações com sua estética de origem urbana, com o material que é produzido ou quando quem o concebeu é relevante para as características do personagem.
Podem ser feitos de qualquer material, embora seja mais comum em plásticos como PVC (Policloreto de vinila) conhecido como vinil, sofubi2 e ABS (Acrilonitrila butadieno estireno), porém, são mais caros já que é necessário ferramentas industriais para sua produção. Ainda há materiais bastante usados e mais acessíveis como resinas, tecido pelúcia, madeira, papel e metal.
No mundo do toy art não existe uma separação rígida entre quem produz e quem o consome, muitos compradores e simpatizantes da toy art fazem seu próprio toy e trocam seus produtos com artistas e outros colecionadores, alguns até vendem seu trabalho. É possível encontrar na internet diversos tutoriais de como trabalhar com esses materiais e produzir um novo toy art.
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Um exemplo é o documentário feito pelo estúdio espanhol de design Syntetyk, formado por José M. Cuñat e Victor M. Mezquida que mostra o processo de criação de um toy art feito à mão desde o primeiro esboço até a materialização do toy art e sua reprodução. O designer inglês Matt Jones do estúdio Lunartik em 2015 lançou um guia Plastik Surgery, para iniciantes onde ensina a modelar, fazer moldes de silicone e fala sobre o mercado.
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Sua temática é variada, mas, usualmente, utiliza a ironia, para tratar determinados assuntos, misturando a fofura e inocência do brinquedo para falar de problemas da vida adulta. De acordo com Silva (2015, p.77):
“os objetos transmitem narrativas constantes, e de diversas maneiras: claras e diretas, assim como sutis e indiretas, ou herméticas e abstratas. A estrutura narra através de formas e tamanhos, cores, cenas e grafismos. Podem-se identificar algumas narrativas recorrentes por estar transitando em grande parte pela crítica urbana, pelo humor, pela desconstrução e pela desmistificação. Os mitos urbanos, sejam eles heróis de histórias conhecidas, celebridades, personagens icônicos da sociedade, do cinema, música, televisão, e até mesmo produtos comercializáveis, conhecidos entre a sociedade são comumente alvos da narrativa do designer toy.”
Alguns exemplos destas narrativas produzidas a partir de uma perspectiva adulta, poderiam ser:
Cactus Friends - Tokidoki
Glomy, um filhotinho de urso, é encontrado por um garoto chamado Pity. Ele decidiu adotar o urso por achar ele frágil e fofo. O tempo passou, ele se deu conta de que Gloomy, seu pequeno mascote, que chegou frágil e delicado em sua casa, é um animal muito perigoso e selvagem pelo seu instinto animal incontrolável, assim, o urso termina por atacar o garoto. E por isso que em sua representação, o urso sempre aparece com manchas de sangue em suas patas e na boca.
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Sandy e seus amigos se atam em trajes de cacto porque acham que o mundo é um lugar frio e assustador, e precisam de alguma armadura para enfrentálo. O cacto é um sinal de proteção, conserva a água, e a água significa vida. Os Cactus Friends ou Amigos Cactos são a representação da vida, de serem frágeis e fortes ao mesmo tempo e puros como a água.
Tara McPherson abram a caixa e olhem qual modelo está dentro da embalagem as empresas começaram a utilizar proteção metálicas que bloqueiam até raio-x.
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De um mundo onde as crianças navegam no Dreamwell3 para encontrar seus amigos, Astra e Orbit podem ser encontradas além dos mares lúcidos e do céu rosa. Por baixo das cores boreais Dreamwell, este casal místico está elegantemente preparado para ajudar na sua viagem para além do sono.
3 É um jogo competitivo para 2 a 4 jogadores onde os jogadores tentam localizar os seus amigos perdidos na localidade Dreamwell. Fonte: https://www.ludopedia.com.br/jogo/dreamwell.
Moahh moahh!!! Thump! Clonk! Kwaii atropela as planícies cobertas de grama e os campos de repolho em busca de um lar. ´Procurou em cima na montanha e embaixo pelo riacho. Ele vira todas as pedras e arredonda todos os cantos, mesmo sabendo que essa terra não o quer. Mas o que ele sente em seus chifres? Um pássaro? Agora dois? Kwaii senta e descansa. Ele não está tão feliz há muito tempo porque, em vez de encontrar uma casa, o Kwaii se tornou uma.
Na leitura destas histórias, retiradas dos sites oficiais dos toys, pode-se perceber temas claramente preciosos para vida adulta e humana, como por exemplo, solidão, insegurança, resgate ao lúdico, medo e violência. Essa tentativa desenvolver uma empatia com o consumidor pode ser percebida e produzida de diferentes formas.
Uma das vertentes do toy art é o (D.I.Y.) do it yourself, que são os modelos comercializados sem grafismos e em cores sólidas sendo a cor branca a mais comum. É o faça você mesmo, onde não é necessário ser um artista ou dominar técnicas avançadas para produção. Algumas empresas vendem kits de toys com canetas, adesivos, acessórios para intervenção, além de concursos que incentivam essa prática.
Pode se dizer que o D.I.Y. é uma subcategoria do custom toy, que são os toy art personalizados por artistas. Modificando ou reinterpretando o modelo original o objeto transmite a visão e estilo de quem o customiza. Utiliza diversas técnicas manuais como, pintura, escultura e costura para a produção de um novo design, único e exclusivo, e alguns chegam a ser reproduzido em pequenas quantidades a fim de serem comercializados.
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O boneco utilizado como base para essas customizações é chamado de plataform toy, com formas simples, geralmente na cor branca alguns têm até partes articuláveis ou móveis para facilitar o trabalho, é uma tela em três dimensões. Exemplo dessas plataformas, existem o Munny que conta com uma linha com mais quatro modelos Bub, Trikky, Raffy e Rooz da empresa Kidrobot.
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Há também as séries, onde o mesmo modelo de toy art recebe diferentes grafismos, pinturas ou pequenas mudanças em sua forma. Seguindo temas, assuntos específicos ou trabalho de algum artista, as séries contam com 10 a 15 modelos de toy art, como vemos na imagem da linha Dunny com trabalho do artista Jean Michel Basquiat.
Nessa modalidade existem os chases que são modelos secretos dentro do lote, no entanto isso não significa que são um modelo mais raro. Esses toys estão distribuídos em ratios, que serve para indicar a raridade de um toy art em proporção. Se um toy art tiver a relação 2/20 significa que o comprador encontrará dois modelos daquele toy art a cada vinte embalagens. Existem várias proporções de ratio. O número mais alto indica o número da quantidade de toys em um lote.
Até aqui vimos que os toy art são, ao mesmo tempo, objetos de arte e produtos comerciais. Abordando vários temas esse produto é voltado ao público adulto, porém, não é uma regra. É possível reconhecer que existem diversos tipos e segmentos desses objetos, dos modelos únicos customizados por artistas até os licenciados distribuídos em maior quantidade. Sendo assim, os próximos textos irão nos mostrar a origem da cena toy art e como ela se estabeleceu até chegar nos dias atuais.
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Os toy art são vendidos em dois tipos de embalagem. As open box que o comprador sabe qual modelo está adquirindo, pois, o mesmo vem indicado na embalagem e possuem preços que variam pela raridade, artista, lançamento, etc.
De outro modo, há as embalagens do tipo blind box, que são os toy art embalados aleatoriamente e possuem o mesmo preço, no entanto o comprador não sabe qual exemplar está dentro da caixa, isso torna uma série ou modelo de toy art mais especial, estimulando que consumidores comprem mais a fim de conseguir completar sua coleção. Para evitar que compradores
História
O toy art surge na Ásia em meados dos anos 90, Ivan Vartanian (2006, p.9) diz que nenhum estudo sobre o assunto é completo sem mencionar Michel Lau, designer e pintor chinês considerado o precursor do toy art, quando em 1997 a pedido de seus amigos da banda Anodize, o artista criou o encarte de um CD do grupo. Lau não queria entregar uma foto ou desenho entediantes então Lau escolheu customizar os famosos bonecos dos Comandos em Ação (GI Joe) baseado nos integrantes da banda e os fotografou (PHOENIX, 2006, p.68-71).
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Ainda segundo Phoenix, em 1998 Lau foi convidado a fazer uma história em quadrinho pela East Touch Magazine4 de Hong Kong, ele se baseou na cultura hip- hop local e na cultura urbana para criar os “Gardeners”. A resposta positiva dos leitores fez com que os personagens virassem bonecos de ação e fossem expostos na ToyCon, feira anual de brinquedos de Hong Kong, porém não estavam à venda, mas com a procura e interesse de compradores, nos anos 2000 Lau criou Crazychildren, toys em edição limitada, com formas mais caricatas e menos articuladas.
Hikaru Iwanaga é outro nome importante para o nascimento do toy art, dono da cadeia de lojas japonesa Bounty Hunter, em 1997 Iwanaga 4 Revista de lifestyle voltada para público jovem-adulto disponível em: http://easttouch.mymagazine.me/main/ inspirado na estampa de uma camiseta criada por um amigo decidiu produzir o Kid Hunter que é considerado o primeiro toy art do mundo.
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Iwanaga dizia que ninguém fazia bonecos que ele queria ver, então, ele mesmo começou a produzir e logo casos parecidos de pessoas que queriam seu próprio brinquedo começaram a aparecer.
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A loja Bounty Hunter começou a atrair olhares de outros artistas e passou a acolhê-los e a se fazer de fabricante para ideias de ilustradores que queriam ver lançados seus personagens em três dimensões, na forma de pequenas esculturas humoradas e urbanas. (SILVA, 2015, p.72).
Então a cena do toy art foi se expandindo até chamar atenção internacional se popularizando no ocidente pela empresa estadunidense Kidrobot, fundada pelo artista, designer e empreendedor Paul Budnitz que viu potencial comercial nos toys art transformando o que era artesanal, não em industrial, mas em um híbrido, segundo o site kidrobot.com criando um espaço onde arte, design e surpresa se encontram.