Gestão de Conflitos na Escola

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16,5cm x 21cm

13mm

A escola partilha um conjunto de características que acarretam tensões e conflitos. O desafio atual passa por desenvolver uma educação para a convivência e para a gestão construtiva das conflitualidades, no sentido de se construir uma cultura de paz e de salutar convivência. Tendo por base esta perspetiva e pretendendo contribuir para a construção de uma cultura de paz nas escolas, o presente livro adota uma abordagem teórica e prática, tratando diferentes temas referentes à gestão construtiva de conflitos em contextos de educação, enriquecida com 22 atividades de implementação.

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Constitui-se como um instrumento útil para um leque alargado de leitores, tais como Professores, Educadores, Psicólogos, Assistentes Sociais, Sociólogos, Formadores, Estudantes do Ensino Superior e todo um conjunto de outros profissionais interessados nos temas por ele abordados, oferecendo-lhes a possibilidade de melhorarem as suas competências de gestão dos mesmos e de serem mais bem sucedidos na sua vida profissional e pessoal.

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Conflito Violência Indisciplina Negociação em contexto educativo Conciliação Mediação: modelos e implementação Arbitragem Normas de sala de aula Gestão das emoções Construção da paz nas escolas

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ANA PAULA MONTEIRO Professora Auxiliar no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Autores com reconhecida atividade de ensino, investigação e formação nas áreas de Gestão de Conflitos, Negociação e Mediação em diferentes âmbitos sociais.

ISBN 978-989-693-084-4

9 789896 930844

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PEDRO CUNHA ANA PAULA MONTEIRO

PEDRO CUNHA Professor Associado com Agregação na Universidade Fernando Pessoa e Convidado na Porto Business School – Universidade do Porto

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GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

16,5cm x 21cm

GESTÃO DE

CONFLITOS NA ESCOLA PEDRO CUNHA ANA PAULA MONTEIRO


EDIÇÃO

PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação Av. Praia da Vitória, 14 A – 1000-247 LISBOA Tel: +351 213 511 448 pactor@pactor.pt www.pactor.pt

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ÍNDICE Os Autores

XIII

Prefácio XV Introdução XIX 1. Conflito e convivência nas escolas

1

1.1. Algumas considerações sobre os conceitos de conflito, violência e indisciplina 1 1.1.1. Conflito

3

1.1.2. Violência

6

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1.1.3. Indisciplina

10

1.2. Tipos de problemas e conflitos no âmbito escolar

13

1.3. Conflitos construtivos versus conflitos destrutivos

16

1.4. Fatores que contribuem para situações de conflito escolar

20

1.5. Modelos e estratégias de gestão de conflito nas escolas

24

Referências Bibliográficas

32

Atividades

39

Atividade 1 – Definições de conflito – “Na escola existem muitas pessoas e relações!”

39

Atividade 2 – Definições de conflito – “O que é o conflito?”

41

Atividade 3 – Abusos verbais são abusos reais

43

Atividade 4 – Estudo de caso “Na estação de metro”

45

Atividade 5 – Guião de análise do filme A Turma (Laurent Cantet, 2008) 47

VII


GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

Atividade 6 – “O Sol e a Lua em conflito”

49

Atividade 7 – Questionário de Estilos de Gestão de Conflito do Professor 51 2. A gestão construtiva de conflitos no contexto educativo

55

2.1. Introdução: a negociação no contexto educativo

55

2.2. Conciliação

62

2.3. Mediação

65

2.4. Outros procedimentos

66

2.4.1. Arbitragem

66

2.4.2. Assembleias de turma

67

2.4.3. Consenso de normas de sala de aula

71

2.4.4. Sistema de ajuda entre iguais

75

Referências Bibliográficas

79

Atividades

83

Atividade 1 – O processo de negociação – interesses são diferentes de posições! 83 Atividade 2 – Importante! Esclarecer e analisar os interesses das partes 85 Atividade 3 – Preparação da negociação

87

Atividade 4 – Vamos negociar?

89

Atividade 5 – Questionário de Eficácia Negocial de Conflitos na Escola 91 Atividade 6 – Normas de convivência 3. Mediação escolar

VIII

95 97

3.1. Introdução: razões para a mediação escolar

97

3.2. Breve história da mediação escolar

99


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Índice

3.3. Paz e princípios da cultura de mediação

108

3.4. Características, benefícios e limites da mediação

112

3.5. Modelos de mediação

116

3.5.1. Modelo tradicional

117

3.5.2. Modelo transformativo de mediação

118

3.5.3. Modelo circular narrativo

120

3.6. Fases do processo de mediação escolar

121

3.7. O mediador escolar: funções e competências

125

3.7.1. Escuta ativa

126

3.7.2. Estruturação das atividades

128

3.7.3. Empatia

129

3.7.4. Assertividade

129

3.7.5. Formulação de perguntas

131

3.7.6. Resumo

132

3.7.7. Redefinição do conflito

133

3.7.8. Criação de um ambiente de credibilidade e confiança

133

3.7.9. Troca de papéis

134

3.7.10. Criatividade

134

3.7.11. Equilíbrio do poder

134

3.7.12. Gestão de impasses com intervenções

135

3.7.13. Escuta e queixa em mediação

135

3.7.14. Gestão da ira e de emoções fortes

136

3.7.15. Projeção do futuro

137

3.7.16. Garantia da eficácia dos resultados do processo

137

Referências Bibliográficas

139

IX


GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

Atividades

145

Atividade 1 – Perguntas abertas e fechadas – “Adivinhar o pensamento” 145 Atividade 2 – Praticando a mediação – caso prático “Conflito aluno-professor” 147 Atividade 3 – Praticando a mediação – caso prático “Conflito aluno-aluno” 151 Atividade 4 – Escuta ativa

153

Atividade 5 – Desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro

155

4. Programas de mediação de conflitos nas escolas 4.1. Introdução: condições para a implementação

157

4.2. Fases de implementação de um programa de mediação escolar

161

4.2.1. Diagnóstico das necessidades da escola

161

4.2.2. Sensibilização para a implementação do projeto

162

4.2.3. Formação de mediadores

163

4.2.4. Implementação do programa

164

4.2.5. Avaliação

165

4.3. Modalidades de programas de mediação escolar

167

4.3.1. Modelo global

168

4.3.2. Modelo professor-aluno

168

4.3.3. Mediação entre pares ou entre iguais

168

4.3.4. Professor mediador

172

4.3.5. Mediador externo

173

Referências Bibliográficas

X

157

174


Índice

Atividades

177

Atividade 1 – Análise SWOT para a implementação de um programa de mediação de conflitos na escola

177

Atividade 2 – Questões para análise das situações de conflitualidade na escola

179

Atividade 3 – Ficha de Registo do Processo de Mediação

181

Atividade 4 – Ficha de Registo do Acordo da Mediação

183 185

Referências Bibliográficas Complementares

187

Índice Remissivo

191

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Considerações Finais

XI



OS AUTORES PEDRO CUNHA Professor Associado com Agregação na Universidade Fernando Pessoa e Professor Convidado na Porto Business School da Universidade do Porto (UP). Pós-doutorado e doutor em Psicologia pela Universidade de Santiago de Compostela. Licenciado e mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Universidade Católica. Licenciado em Sociologia pela UP. Certificado de Mediador de Conflitos e Mediador Familiar. Autor das obras Conflito e Negociação e Manual de Gestão Construtiva de Conflitos. Coautor de Processos de Grupo: Um Manual para Estudantes e Profissionais. Há cerca de 20 anos que os seus interesses profissionais e de investigação se direcionam prioritariamente para as áreas de Gestão de Conflitos, Negociação e Mediação em diferentes âmbitos da vida social. Tem publicado em revistas e livros da especialidade.

ANA PAULA MONTEIRO

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Professora Auxiliar no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Doutorada em Psicologia Social pela Universidade de Santiago de Compostela. Tem lecionado as unidades curriculares de Psicologia do Conflito, Negociação e Mediação, Psicologia Social e Psicologia das Organizações. Organizadora de simpósios no campo da Gestão de Conflitos e formadora na mesma área. Desenvolve investigação no campo da Gestão de Conflitos, Negociação e Mediação em diferentes contextos. Coautora da obra de Processos de Grupo: Um Manual para Estudantes e Profissionais. Tem publicado em revistas e livros da especialidade.

XIII



PREFÁCIO A ESCOLA E O FUTURO OU O FUTURO DA ESCOLA?

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Este novo livro de Pedro Cunha e Ana Paula Monteiro tem todos os elementos constituintes de um manual para se aprender o essencial sobre a gestão de conflitos na escola nestes estranhos e pícaros tempos de quase glorificação de heroicidades negativas. Tempos em que a intimidação pela violência, física ou psicológica, ganha um estatuto de normalidade social com manifesta hipovalorização da virtude, da convivialidade, da bonomia e da paz. Tempos em que a disciplina, fundamental para que a Escola promova a educação pela instrução, como base da igualdade de oportunidades e como forma de ascensão social, é menosprezada pelos modismos do discurso politicamente correto, construído na volatilidade do visual e da falação viciosa, sem se preocupar com o rigor do dizer, que sempre exige conhecimento do que se diz e temperança do pensamento crítico sobre a forma como se diz. Tempos que só uma Escola apostada em ensinar a pensar bem, o que, já no século XVII, Blaise Pascal considerava ser o princípio da moral, e a instruir para a igualdade de oportunidades, o que, no século seguinte, Condorcet via como fundamento do crescimento e do aperfeiçoamento do humano, pode contrariar e, com persistência, derrotar os fundamentalismos religiosos e os extremismos ideológicos que tanto têm acicatado o desrespeito pelas diferenças culturais e minado a convivência social. S. Tomás de Aquino, seguramente um dos melhores intérpretes medievais das antigas filosofias fundadoras da nossa humanidade, designadamente da de Aristóteles, escreveu, inspirado neste, na Summa Teologica um texto luminoso sobre o binómio indissociável “liberdade e disciplina” no qual, depois de afirmar que há no ser humano uma aptidão inata e natural para a virtude, considera que tal aptidão não se desenvolve nem se aperfeiçoa espontaneamente, antes requer uma disciplina exterior moldada por normas morais, éticas e legais – disciplina essa a que chama pedagogia ou educação. O insigne dominicano parafraseava, desse modo, o grande filósofo grego que sentenciava que, assim como o homem cheio de virtude é o melhor dos animais, o homem sem normas e sem justiça é o pior animal de XV


GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

todos. Sendo a razão virtude exclusiva e superior do ser humano, porque é ela que lhe permite dominar os instintos animais e moderar os seus empolgamentos e as suas concupiscências, é pela educação que ela se cultiva, se treina e se aprofunda, construindo, em casa e na parentalidade, os alicerces sobre os quais a Escola completará a pessoa e edificará o cidadão. Thomas Hobbes, a maior figura da filosofia política do século XVII, ensinou-nos no seu Leviathan que são três as causas principais dos viciosos conflitos humanos: a rivalidade, estimulada pelo desejo do lucro; a desconfiança, espicaçada pelo sentimento de segurança; a glória, alimentada pela reputação. A educação e a escola são, assumidamente, as instâncias de relativização e de moderação dessas causas que o filósofo reconhece como fazendo parte da natureza humana, da mesma forma que advoga que os sentimentos que impulsionam as pessoas para a paz são o medo da morte, o desejo das coisas necessárias a uma condição de vida confortável e a esperança de as vir a obter pelo seu trabalho. O fim da educação e a função essencial da escola consistiriam, portanto, na confrontação e no debate entre aqueles vícios geradores dos conflitos, bélicos ou não, e aquelas virtudes que nos tornam paladinos da paz. Estas considerações, que aqui deixo à guisa de prefácio, foram-me obviamente sugeridas pela leitura deste livro/manual, no qual os autores fazem uma sustentada visitação bibliográfica, uma apurada revisão e atualização teórica e uma adequada construção de modelos didáticos, para refletir, nas salas de aula ou noutros ambientes de aprendizagem, sobre a complexa e inescapável questão do conflito na escola (aqui olhada também em recorrido por diferentes países como os Estados Unidos da América, a Argentina, o Brasil, a França e a Espanha), sob as suas várias taxonomias, a mais verrinosa das quais será certamente a do bullying. A adoção desta palavra, oriunda dos Estados Unidos da América, para traduzir essa forma de violência, moral e psicológica, sem rosto ou de seita sobre colegas de escola, descambando, não raras vezes, também para a violência física, merece que lhe rastreemos o percurso semântico, para vermos quão abominável ela é e como é lamentável e reprovável a conduta daqueles que, seguramente por ignorância, lhe prestam tributo. No ano de 1876, no sul dos Estados Unidos da América, apareceram algumas seitas de indivíduos brancos que, cobardemente e pela calada da noite, intimidavam membros da comunidade afro-americana, tendo ficado tristemente famoso um desses indivíduos por brutalizar fisicamente algumas pessoas da comunidade, a XVI


Prefácio

quem puseram a alcunha de bulldoser, termo cunhado por derivação metafórica da expressão verbal to bull dose com o sentido de “intimidar, aterrorizar”, a partir do significado literal de “dar uma dose de touro”. A vinculação histórico-semântica da palavra bullying a essa prática animalesca de um touro bravo serve para lhe mostrar a hedionda máscara de desumanidade e quão abomináveis são aqueles que, praticando bullying, se comportam como famigerados bulldosers. A análise que os autores fazem sobre como gerir os conflitos na escola e a aplicação dos seus modelos didáticos para os neutralizar, associadas a uma reflexão sobre a viagem no tempo de palavras horrorosas que se tornam, incompreensivelmente, revivalistas e modelos de conduta, quando deveriam permanecer sepultadas nas tumbas históricas da indignidade, darão a este livro a utilidade e a visibilidade que ele bem merece. Porto, agosto de 2018

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Salvato Trigo

XVII



INTRODUÇÃO “Educar para a não violência significa mediar, criar pontes que procurem evitar o aparecimento de problemas e dificuldades futuras, através da sua prévia identificação e da rápida intervenção, ensinando capacidades e competências aos alunos no sentido de melhorar as suas relações interpessoais”. González-Pérez & Del Pozo (2015)

Paz, violência e conflito são conceitos muito atuais e que fazem parte do nosso dia a dia, mas nem sempre significam o mesmo para todos nós. No presente livro, iremos, assim, abordar esses conceitos e as culturas em que se espelham numa perspetiva não violenta (Caireta & Barbeito, 2005). Segundo Torrego (2007), presentemente subsiste um conjunto de fatores, como o aumento da escolaridade obrigatória, a exigência de formar os alunos para um futuro em mudança e o aumento da diversidade, que tornam cada vez mais complexa a harmonia na escola e até mesmo a própria tarefa educativa.

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Nesse sentido, a convivência escolar converteu-se num dos temas centrais da educação atual. Com o aumento dos conflitos nas escolas, surgiu a necessidade de implementar mecanismos que atenuem os riscos dos mesmos e potenciem as oportunidades das situações de conflito. Neste âmbito, existem novos procedimentos centrados em estratégias de gestão de conflitos e de diálogo, como os modelos de mediação escolar e a assembleia de turma, entre outros. Como assinalam Caireta e Barbeito (2005), a escola deve constituir um espaço no qual crianças e adolescentes possam construir aprendizagens escolares e socioemocionais e, simultaneamente, aprendam a conviver de maneira democrática, convertendo-se nos protagonistas de sociedades mais justas e de maior participação. XIX


GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

Uma abordagem pedagógica e científica do conflito pressupõe uma visão integrada da escola e do conflito. Deste modo, torna-se fundamental desenvolver uma educação para a convivência e para a gestão positiva das conflitualidades, no sentido de se construir uma cultura de paz, de cidadania e de salutar convivência. Ora, isto constitui um desafio contemporâneo, pertinente e multidimensional, que, por si só, justificaria o aparecimento da reflexão e das propostas de intervenção que apresentamos neste livro. Pensemos apenas na dimensão da própria formação de base dos professores, na qual os temas do conflito e da cultura de paz, por exemplo, são, ainda e infelizmente, pouco considerados. Tal leva a que, já em plena fase de prática profissional, os professores se sintam pouco qualificados para lidar com as diferentes confrontações que surgem no espaço escolar e procurem, por vezes quase “em desespero de causa”, informação sobre deteção, prevenção e gestão de conflitos nesse ambiente propício ao confronto. De facto, não é por mero acaso que a gestão de conflitos escolares (bem como a negociação e a mediação no contexto da escola), enquanto área de atenção académica e profissional, tem vindo a crescer exponencialmente nos últimos anos. Na verdade, uma gestão positiva dos conflitos poderá contribuir para processos mais colaborativos na gestão escolar para que as escolas, enquanto organizações sociais, se transformem num meio sociocultural no qual se promovam valores de comunicação, interdependência e solidariedade nos processos de tomada de decisões educativas e de desenvolvimento de autonomia e de capacidade institucional dos estabelecimentos escolares (Escudero & Moreno, 1992). Este livro é integralmente dedicado à problemática da gestão de conflitos e procura apresentar e debater diferentes abordagens, procedimentos e seus benefícios para a construção da paz nas escolas. O livro está organizado em quatro capítulos dedicados ao conflito e à convivência nas escolas, à gestão construtiva de conflitos no contexto educativo, à mediação escolar e aos programas de mediação de conflitos e convivências nas escolas. Dado que compreender a dinâmica de um conflito e desenvolver competências de gestão de conflitos são procedimentos ativos, no final de cada capítulo propõem-se diferentes atividades. Essas atividades têm o objetivo de incrementar a compreensão das questões abordadas ao longo do manual e desenvolver competências emocionais, cognitivas e comportamentais de gestão construtiva de conflitos. Essas atividades XX


Introdução

reportam a diferentes autores e perspetivas sobre os assuntos, tendo-se identificado as fontes correspondentes, e outras atividades foram adaptadas e/ou concebidas pelos autores especificamente para este livro. Esperamos, deste modo, ter conseguido concretizar a tão afamada e desejada ponte entre teoria e prática, entre conceitos e intervenção no terreno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Caireta, M., & Barbeito, C. (2005). Introducción de conceptos: paz, violencia, conflicto. Programa de Educación para la paz. Cuadernos de Educación para la Paz. Bellaterra: Escola de Cultura de Pau, Universidad Autónoma de Barcelona. Escudero, J. M., & Moreno, J. M. (1992). El asesoramiento a centros educativos. Madrid: Consejería de Educación y Cultura de la Comunidad de Madrid. González-Pérez, J., & Del Pozo, M. J. C. (2015). Educar para a não-violência: Educação com valores e prevenção da violência infantil e juvenil. Lisboa: Bookout.

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Torrego, J. C. (2007). Convivencia, Conflicto y Escuela. In J. M. Moreno Olmedilla, & F. Luengo Orcajo, Construir ciudadanía e prevenir conflictos (pp. 49-59). Madrid: Wolters Kluwer España.

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GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

1.1.2. VIOLÊNCIA A questão da violência nas organizações escolares é incontestavelmente uma das preocupações crescentes, tanto para investigadores, como para a sociedade civil. De facto, nos últimos anos, devido à ação dos media, aumentou de forma notável a preocupação pelas relações interpessoais nas escolas e, particularmente, por alguns comportamentos antissociais que ocorrem entre os atores educativos. Na conceção de Vinyamata (2001), a violência corresponde a qualquer ação que possa representar ou significar dano para outro sujeito ou para o meio ambiente, levada a cabo de forma consciente ou inconsciente para o prejudicar. No entanto, para prejudicar o outro por vezes não é necessário atuar, pois, em certas situações, são alcançados resultados iguais ou superiores quando não se age, se escondem informações, se nega assistência ou solidariedade ou se assume uma atitude passiva. Neste âmbito, importa destacar um tipo específico de violência – o bullying. Este fenómeno compreende atitudes agressivas, propositadas e repetidas, que acontecem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais aluno(s) contra outro(s), ocasionando dor e angústia, sendo praticadas dentro de uma relação desigual de poder (Pearce & Thompson, 1998). Pode ainda ser descrito como um desejo consciente e propositado de maltratar alguém, causando tensão nas vítimas (Fante & Pedra, 2008; Neto, 2005). O bullying pode ser classificado como direto ou indireto. São considerados atos de bullying direto:

•  Alcunhas; •  Agressões físicas; •  Ameaças; •  Roubos; •  Ofensas verbais ou expressões e gestos que geram mal-estar nos alvos. O bullying indireto, mais adotado pelas meninas (Pearce & Thompson, 1998), compreende:

•  Atitudes de indiferença; •  Isolamento; •  Difamação; •  Negação de desejos. 6


Conflito e convivência nas escolas

Outra categoria presentemente referenciada é o cyberbullying, que consiste em utilizar tecnologias de informação e comunicação (internet ou telemóvel) para hostilizar, deliberada e reiteradamente, alguém, com o intuito de o magoar e de que os outros vejam (Pessoa & Amado, 2014). O cyberbullying tem sido uma preocupação acrescida para investigadores e educadores por deter duas características diferentes da intimidação cara a cara, designadamente, a divulgação rápida e o anonimato, ambas resultantes do fator tecnologia (Huang & Chou, 2013). A característica de rápida difusão do cyberbullying tem sido confirmada pela maioria dos estudos desenvolvidos (Huang & Chou, 2013), todavia, o anonimato constitui uma questão polémica na literatura. Os cyberbullies podem facilmente permanecer anónimos no ciberespaço; no entanto, algumas investigações (e.g., Huang & Chou, 2010; Juvonen & Gross, 2008) revelam que dois terços das vítimas sabiam ou, pelo menos, desconfiavam da identidade do cyberbullie. A literatura descreve o cyberbullying como um fenómeno mais complexo do que o bullying tradicional, devido às suas especificidades e aos diferentes tipos que pode assumir (e.g., Dehue, Bolman, & Völlink, 2008; Slonje & Smith, 2008; Vandebosch & Van Cleemput, 2009; Willard, 2005). Entre essas especificidades, encontramos a ausência de restrições de tempo e espaço (em qualquer altura e em qualquer lugar), a grande audiência (espetadores) e a audiência invisível (ser testemunhado por um grande número de pessoas desconhecidas), o facto de o agressor não ter medo de ser apanhado (por se considerar protegido pelo anonimato que os dispositivos eletrónicos lhe proporcionam), não observar as reações imediatas da vítima (o que pode levar o agressor a ser mais agressivo online do que seria cara a cara) e a fraca supervisão dos pais (de agressores e vítimas). Quanto aos tipos de cyberbullying, Willard (2005) classifica-os de acordo com a ação realizada:

•  Flaming – Discussões online utilizando mensagens eletrónicas com linguagem vulgar e enraivecida;

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•  Harassement – Enviar reiteradamente mensagens indecentes, más e insultuosas; •  Denigration – Enviar ou postar rumores sobre alguém que prejudiquem a sua reputação; •  Impersonation – Fazer-se passar por outra pessoa e enviar ou colocar material para causar problemas ou perigo, ou prejudicar a reputação ou amizades; 7



Conflito e convivência nas escolas

ATIVIDADE 3 ABUSOS VERBAIS SÃO ABUSOS REAIS5 Objetivos •  Sensibilizar os participantes para diferenciarem expressões de divertimento de insultos;

•  Procurar outras formas de expressão; •  Incentivar à utilização dessas formas de expressão alternativas; •  Estimular a capacidade de reflexão dos participantes sobre os seus comportamentos e atitudes para com os colegas.

Sugestão de trabalho Antes de a atividade começar, é necessário explicar aos participantes que irão ser analisadas diferentes formas de expressão, de modo a que os mesmos estejam orientados sobre o objetivo da atividade. Tarefa individual

•  Os alunos recebem um número entre 1 e 4 e é-lhes pedido que escrevam um exemplo, o mais realista possível, das conversações que são desenvolvidas em cada uma das situações que lhes é proposta: –– Número 1 – Os alunos pensam na saída para o recreio; –– Número 2 – Os alunos pensam no relacionamento na sala de aula, enquanto não está presente nenhum professor; –– Número 3 – Os alunos pensam no tempo livre, como, por exemplo, no recreio; –– Número 4 – Os alunos pensam como será quando estiverem com seus colegas, fora da escola.

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Nas conversas, devem ser incluídas as palavras usadas para chamarem os colegas e as palavras usadas para se dirigirem às restantes pessoas.

Adaptado de Ortega, R., Del Rey, R. e Gómez, P. (2002). Estrategias educativas para la prevención de la violencia: Mediación y diálogo. Madrid: Cruz Roja Juventud.

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43


GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

Tarefa em grupo Os grupos serão formados por um aluno de cada número, ou seja, em cada grupo, haverá quatro alunos com os diferentes números. Assim, cada membro do grupo terá trabalhado uma situação diferente. De início, cada participante lê a conversa que descreveu. A seguir, em conjunto, é elaborada uma lista das palavras usadas para se dirigirem às diferentes pessoas. Depois, discutem sobre as palavras da lista que podem ser consideradas insultos (levam em conta as circunstâncias subjacentes à conversa, o tom de voz, a relação existente entre os envolvidos, entre outras). Para que possa ser observada uma mudança no uso da linguagem, será necessário lembrar aos participantes, em diferentes momentos, as conclusões da atividade, valorizando a autocrítica e refletindo em voz alta sobre o que os grupos vão elaborando. Exemplos de perguntas a fazer ao grupo:

•  Que outras palavras poderiam ser utilizadas em vez das palavras e expressões insultuosas ou de desprezo? •  Por que motivo(s) a mesma palavra pode ofender uma pessoa e não outra?

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MEDIAÇÃO ESCOLAR

“A mediação implica transformação a nível pessoal e contextual.” adaptado de Sánchez (2013a)

3.1. I NTRODUÇÃO: RAZÕES PARA A MEDIAÇÃO ESCOLAR A mediação escolar permite a participação, a responsabilidade e as soluções não violentas dos conflitos na comunidade escolar. A escola, no seu conjunto, incorpora a solidariedade e a tolerância como valores em ação e como finalidades educativas a conquistar. No entanto, a mediação pressupõe mudanças estruturais na sua organização que admitam a existência do conflito e a sua abordagem mediante metodologias construtivas em desfavor de métodos punitivos e competitivos. Assim, a mediação escolar constitui uma oportunidade que ultrapassa a aprendizagem de novas formas de relação e de comunicação que realça a importância de uma convivência salutar assente no diálogo e no respeito pelos direitos humanos. No entanto, existem outros mecanismos para resolver os conflitos, já retratados neste livro, e que fazem parte de uma cultura de paz.

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De acordo com Vezzulla (2001), a mediação de conflitos concentra a sua atenção no ser humano e nas suas relações com os outros, tendo em conta a sua individualidade e as suas particularidades, e procura ajudar as partes na compreensão das suas dificuldades e na resolução dos seus problemas, sem impor soluções ou modelos predeterminados.

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GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

Numa análise sobre programas de mediação nas escolas, o NAME (National Association for Mediation of Education) estabeleceu um conjunto de razões que determinam a implementação destes programas (Girard & Koch, 1997; Gorbeña, 2013):

•  O conflito é intrínseco à condição humana, provocando, muitas vezes, mudanças nas organizações e no crescimento integral dos alunos. Com efeito, o emprego de competências adequadas na gestão do conflito produz resultados mais positivos do que o confronto e a evitação do mesmo; •  A mediação constitui um sistema mais apropriado e eficaz na gestão do conflito em contexto educativo do que as formas punitivas (processos disciplinares e judiciais, expulsões) de resolução do mesmo; •  O emprego da mediação como método de resolução de conflitos nas escolas pode originar melhor comunicação entre alunos, professores, administradores e pais, e frequentemente melhora o ambiente nas escolas, permitindo ainda criar um espaço para abordar preocupações em comum; •  A formação em técnicas de mediação aumenta o interesse dos alunos na resolução de conflitos, incentivando, ao mesmo tempo, um nível maior de atividade cívica; •  O recurso à mediação como método de resolução de conflitos pode apresentar num conjunto de vantagens, como a diminuição da violência escolar e do vandalismo, a diminuição do absentismo e a redução de suspensões; •  Deslocar/transferir a responsabilidade da resolução de alguns conflitos escolares para os alunos concede aos professores tempo para se concentrarem mais no ensino do que na disciplina; •  O reconhecimento de que os alunos são competentes para participar na resolução dos seus próprios conflitos estimula/proporciona o desenvolvimento de competências tais como a escuta, a resolução de problemas e o pensamento crítico; •  A formação em mediação potencia o respeito pelo ponto de vista dos outros e a resolução pacífica das diferenças, ajudando, assim, a preparar os alunos para conviverem num mundo multicultural; •  A formação em mediação contribui para que alunos e professores aumentem a compreensão acerca de si e dos outros, bem como para o desenvolvimento de competências de gestão construtiva de conflitos na vida diária;

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Mediação escolar

•  A mediação fomenta nos alunos capacidades não só para a resolução dos problemas na escola, mas também para resolverem melhor os problemas com os seus pais e com todos os adultos, em geral. Uma vez que a nossa atenção neste capítulo está centrada na mediação escolar, a secção seguinte é dedicada a uma análise da história da mediação nesse contexto.

3.2. BREVE HISTÓRIA DA MEDIAÇÃO ESCOLAR A mediação em contexto escolar como estratégia de resolução de conflitos teve o seu início nos EUA, através de programas em que os alunos, mediante um processo de diálogo, apresentavam as razões da contenda, para, em seguida, auxiliados por um terceiro, alcançarem o restabelecimento da relação existente entre as partes (García-Longoria & Vázquez, 2013). Nas escolas, a mediação surge nos anos 60 pela ação de grupos religiosos e organizações para a paz, com o objetivo de ensinar a crianças e jovens procedimentos não violentos de gestão de conflitos. Nos anos 60 e 70, nos EUA, o conflito era uma realidade muito presente e que esteve na origem do aparecimento do paradigma da paz. A origem da mediação está desde sempre ligada a estes movimentos pacifistas e ao estudo dos conflitos, que começou a surgir também como resposta à inquietude social provocada pelas circunstâncias históricas de então (Ibarrola-García & Iriarte, 2012).

© PACTOR

A mediação como ferramenta para compreender e restaurar relações rompidas devido à violência, foi lançada pelos Quakers, nos anos 70, nos EUA. Este modelo apostou na formação de alunos mediadores de conflitos ocorridos nos recreios e nos refeitórios das escolas. O procedimento implicou uma maior participação dos alunos nos conflitos por eles experienciados, levando ao desenvolvimento da consciencialização pelos valores dos outros colegas. É também na década de 70, em Nova Iorque, que é implementado pela primeira vez um programa de resolução de conflitos no âmbito educativo – Children’s Creative Response to Conflict Program (Ibarrola-García & Iriarte, 2012; Munné & Mac-Cragh, 2006). Os resultados positivos desse programa impulsionaram o desenvolvimento de ações conducentes à implementação de procedimentos pacíficos na resolução de conflitos por todo o país, sendo que as escolas que o puseram em prática 99


16,5cm x 21cm

13mm

A escola partilha um conjunto de características que acarretam tensões e conflitos. O desafio atual passa por desenvolver uma educação para a convivência e para a gestão construtiva das conflitualidades, no sentido de se construir uma cultura de paz e de salutar convivência. Tendo por base esta perspetiva e pretendendo contribuir para a construção de uma cultura de paz nas escolas, o presente livro adota uma abordagem teórica e prática, tratando diferentes temas referentes à gestão construtiva de conflitos em contextos de educação, enriquecida com 22 atividades de implementação.

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Constitui-se como um instrumento útil para um leque alargado de leitores, tais como Professores, Educadores, Psicólogos, Assistentes Sociais, Sociólogos, Formadores, Estudantes do Ensino Superior e todo um conjunto de outros profissionais interessados nos temas por ele abordados, oferecendo-lhes a possibilidade de melhorarem as suas competências de gestão dos mesmos e de serem mais bem sucedidos na sua vida profissional e pessoal.

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Conflito Violência Indisciplina Negociação em contexto educativo Conciliação Mediação: modelos e implementação Arbitragem Normas de sala de aula Gestão das emoções Construção da paz nas escolas

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ANA PAULA MONTEIRO Professora Auxiliar no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Autores com reconhecida atividade de ensino, investigação e formação nas áreas de Gestão de Conflitos, Negociação e Mediação em diferentes âmbitos sociais.

ISBN 978-989-693-084-4

9 789896 930844

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PEDRO CUNHA ANA PAULA MONTEIRO

PEDRO CUNHA Professor Associado com Agregação na Universidade Fernando Pessoa e Convidado na Porto Business School – Universidade do Porto

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www.pactor.pt

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GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

GESTÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

16,5cm x 21cm

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CONFLITOS NA ESCOLA PEDRO CUNHA ANA PAULA MONTEIRO


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