A B Z Z Z Z Z D O SONO
COORDENAÇÃO:
Carla ESPINEY Amaro
Susana Sousa
SAIBA MAIS SOBRE O SONO
QUE INFLUENCIA O SONO
QUAL A RELAÇÃO DO TABACO COM O SONO?
ANTÓNIO BUGALHO
TENHO PIEIRA DE NOITE E NÃO CONSIGO DORMIR!
ANTÓNIO BUGALHO
DURMO BEM O PRIMEIRO SONO, MAS, ENTRETANTO, ACORDO E VEJO AS HORAS A PASSAR…
ANA SANTA CLARA
TRABALHO POR TURNOS – O QUE POSSO FAZER PARA DORMIR MELHOR?
SUSANA SOUSA
O MEU FILHO NÃO DORME, E AGORA?
TIMÓTEO
O MEU RELÓGIO, O MEU TELEMÓVEL E ATÉ O MEU ANEL DIZEM-ME QUE
PARTE III DOENÇAS DO SONO
COMO SE DIAGNOSTICAM AS DOENÇAS DO SONO?
É UM EXAME DO SONO?
CLARA BARBOSA, DIANA FREITAS
TENHO DE DORMIR NO HOSPITAL PARA FAZER UM EXAME DO SONO?
CLARA BARBOSA, DIANA FREITAS
A RONCOPATIA E A APNEIA DO SONO PODEM SER RESOLVIDAS COM
AMARO
CARLA
CARLA ESPINEY AMARO
SUSANA SOUSA
CARLA MOURA GONÇALVES O QUE SÃO
CARLA MOURA GONÇALVES
JOANA SIMÕES
AUTORES
COORDENADORAS/AUTORAS
CARLA ESPINEY AMARO
Otorrinolaringologista do Hospital das Forças Armadas – Polo de Lisboa, da Unidade de Otorrinolaringologia e da Unidade do Sono do Hospital CUF Descobertas; assistente e orientadora de mestrados na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; fez parte da Comissão de Roncopatia e Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço (SPORL-CCP); associada da Associação Portuguesa de Sono (APS) e da European Research Society, European Underwater and Baromedical Society (EUBS), European Diving Technology Committee (EDTC) e da European Academy of Facial Plastic Surgery (EAFPS).
SUSANA SOUSA
Pneumologista com competência em Medicina do Sono pela Ordem dos Médicos; somnologist certificada pela European Sleep Research Society (ESRS); serviço de Pneumologia e Unidade de Medicina do Sono do Hospital CUF Tejo e do Hospital CUF Descobertas; assistente convidada da NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa.
AUTORES
ANA RITA PERALTA
Neurologista e neurofisiologista com competência em Medicina do Sono pela Ordem dos Médicos; assistente hospitalar de Neurologia na Unidade Local de Saúde Santa Maria e assistente de Fisiologia e Neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; doutora no laboratório de Neurofisiologia e Estudos do Sono no Hospital CUF Descobertas; especialista na consulta de sono e epilepsia e doutora no laboratório de estudos do sono no Campus Neurológico Sénior.
ANA SANTA CLARA
Psiquiatra com competência em Medicina do Sono pela Ordem dos Médicos; mestrado em Medicina do Sono na Faculdade de Medicina da Universidade de
Lisboa; doutora na Unidade do Sono no Hospital CUF Descobertas, na clínica CUF Mafra e no Centro de Eletroencefalografia e Neurofisiologia Clínica –CENC; docente convidada na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade
Católica Portuguesa e na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa.
ANTÓNIO BUGALHO
Pneumologista; doutor no serviço de Pneumologia do Hospital CUF Descobertas e do Hospital CUF Tejo; professor auxiliar convidado da NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa; investigador no Comprehensive Health Research Center.
CARLA MOURA GONÇALVES
Médica dentista; especialista em Medicina Dentária do Sono e em disfunção temporomandibular e dor orofacial; doutora no serviço maxilofacial no Hospital CUF Descobertas.
CATARINA TIMÓTEO
Pediatra com formação específica em Pediatria do Sono; doutora na consulta de Pediatria e na consulta do Sono no Hospital CUF Torres Vedras e no Hospital CUF Descobertas.
CLARA BARBOSA
Coordenadora técnica no laboratório de Neurofisiologia e na Unidade do Sono no Hospital CUF Descobertas.
DIANA FREITAS
Técnica de Neurofisiologia no Hospital CUF Descobertas.
DULCE NEUTEL
Neurologista com competência em Medicina do Sono no Hospital CUF Descobertas; somnologista certificada pela European Sleep Research Society; MsC em Medicina do Sono na Universidade de Oxford.
FILIPA RICARDO
Fisioterapeuta; prática clínica exclusiva em dor orofacial, disfunção temporomandibular e sono; docente na Escola Superior de Saúde Atlântica com título de especialista em Terapia e Reabilitação – Fisioterapia.
JOANA SIMÕES
Especialista em Medicina Interna no Hospital CUF Descobertas.
RITA TALHAS
Nutricionista clínica no Hospital CUF Descobertas.
PORQUÊ ESTE LIVRO?
Porque nenhuma questão levantada por um doente deve ficar sem resposta, a equipa multidisciplinar de uma Unidade de Medicina do Sono procurou, neste ABZzz do Sono, dar resposta às inquietações que todos os dias entram no consultório.
Ressonar é normal? Quais são e como se tratam as principais doenças do sono? Para fazer um exame do sono terei de dormir no hospital?
Estes são alguns exemplos de questões que ouvimos diariamente em consulta e para as quais encontrará respostas simples e acessíveis que o podem ajudar.
Todos os doentes são diferentes, mas estas e outras preocupações são transversais e justificam um esclarecimento mais detalhado. Conhecer melhor o seu sono, saber identificar os sinais de uma possível doença do sono e saber quando procurar ajuda médica é essencial.
Este livro não pretende ser um tratado e nem sequer abarca todas as doenças do sono. Mas esperamos que seja um contributo para uma noite de sonho.
Carla Espiney Amaro Susana Sousa (Coordenadoras)
PREFÁCIO
Este livro é um convite ao conhecimento sobre a importância do sono na nossa vida. Vários especialistas vão densificando, ao longo da obra, com a informação científica e clínica que nos deixam, um convite à nossa reflexão sobre a importância do sono no que somos.
Percebemos, através desta obra, que o sono é uma pausa especial, uma outra forma de nos consolidarmos, de nos organizarmos e de nos descobrirmos. Mas é acima de tudo parte determinante do nosso equilíbrio do nosso bem-estar.
A nossa saúde depende do sono de qualidade que tivermos. Ser capaz de aceitar que o sono é um enorme investimento na nossa construção quotidiana é o convite que fica depois de ler este admirável livro.
Escrito de forma simples e clara para chegar a todos e a cada um de nós. Feito num tempo certo… porque vivemos sem tempo para dedicar ao sono o espaço que nos deve merecer. Muda o paradigma ainda tão frequente de que o sono pode ser uma perda de tempo para viver. Mostra-nos exatamente o contrário: que é o nosso melhor investimento para tudo o que temos e queremos concretizar. Materializa o nosso propósito. Amadurece a nossa identidade.
Trata-se de uma obra que simplifica matérias muito complexas, ligadas ao nosso desempenho, às nossas funções vitais. Trata todas as matérias relacionando-as como se de uma melodia se tratasse. Conta-nos tudo sobre o sono, como se fosse uma história na qual nos sentimos necessariamente protagonistas. Todos e cada um de nós.
Este livro coordenado pelas Doutoras Carla Amaro e Susana Sousa, merece o nosso reconhecimento. Porque, no limite, veio para nos motivar a uma vida em que estar a dormir não é o oposto de estar acordado. Recorda-nos a complementaridade de que somos feitos.
Deixo uma palavra de enorme reconhecimento às coordenadoras e autores. Permitam-me uma palavra especial à Doutora Carla Amaro, que me deu a honra de escrever este prefácio, que me permitiu convencer-vos a ler uma obra que pode mudar as vossas vidas.
Que esta obra vos inspire tanto quanto me inspirou a mim.
Ana Paula Martins
Ministra da saúde de Portugal
QUAL A IMPORTÂNCIA DO SONO?
SUSANA SOUSA
Todas as noites, colocamos o nosso telemóvel a carregar a bateria, ligado à corrente. E é durante este tempo que o telemóvel faz atualizações, resolve problemas e sincronizações, e a bateria fica renovada a 100%. Também nós precisamos de um período para processar nova informação, recuperar energia, armazenar memórias e limpar a caixa de spam.
Esse período chama-se sono.
IMPORTÂNCIA DO SONO
O sono é importante para várias funções, que incluem:
• Garantir o crescimento e a reparação das células: é durante o sono, por exemplo, que é produzida a hormona de crescimento, que estimula a produção de proteínas importantes para o nosso corpo e o crescimento, e promove o aumento da massa muscular e a formação e manutenção da estrutura óssea, entre outras funções. A quantidade de hormona do crescimento produzida durante o sono é cerca de 2/3 do total produzido nas 24h do dia, por isso é fácil reconhecer que as perturbações do sono podem ter impacto no crescimento e desenvolvimento de todos nós;
• Conservar energia: alguns investigadores defendem que uma das funções fundamentais do sono é a poupança de energia;
• Manter o bom funcionamento do metabolismo: um bom sono influencia os hábitos alimentares e é essencial para manter um peso corporal adequado. A privação de sono e outras doenças do sono podem levar a um aumento de diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade;
• Regular o sistema imunitário: ficamos, assim, mais protegidos de infeções. Durante o sono existe um aumento da atividade do nosso sistema imunitário, responsável pela defesa contra doenças infeciosas;
Vários estudos afirmam que, se dormirmos melhor em quantidade e qualidade, as vacinas são mais eficazes, ou seja, existe uma maior produção de anticorpos em pessoas com um sono regular e na quantidade adequada.
• Consolidar a memória e aprendizagem: a formação e consolidação de memórias dependem do sono. Em contrapartida, a privação de sono tem impacto na memorização de palavras, na aprendizagem de comportamentos e no desempenho de funções;
• Regular a temperatura corporal: durante o sono, o metabolismo e a temperatura são reduzidos, permitindo que o nosso corpo regule melhor a temperatura;
• Eliminar substâncias consideradas tóxicas: pensa-se que existe acumulação de determinadas substâncias no tecido cerebral que podem ser tóxicas e relacionar-se com o aparecimento de determinadas doenças. O
QUANTAS HORAS DEVO DORMIR?
DULCE NEUTEL
O número de horas que cada pessoa necessita de dormir é único para cada indivíduo e muda ao longo da vida. De uma forma geral, as crianças precisam de dormir mais horas do que os adultos.
Assim, uma criança em idade escolar necessita de dormir entre 9-11 horas, enquanto um adulto jovem saudável precisa de dormir entre 7-9 horas para sentir que teve uma noite de sono reparadora. Desta forma, se dois adultos sensivelmente com a mesma idade se deitarem às 23h00 e acordarem às 6h30, um pode acordar sentindo-se bem e com as energias restabelecidas e o outro pode acordar com sono e a sentir que precisa de dormir mais. O primeiro pode ter uma necessidade de sono de 7h30 e, por isso, acordar bem; o segundo pode ter uma necessidade de sono de 8h30. Os dois podem ser indivíduos saudáveis, sem qualquer problema de sono, mas um ter uma necessidade de sono superior à do outro.
Fazendo uns cálculos simples, este último adulto que tem uma necessidade de sono de 8h30 vai ter, no final da semana de trabalho, uma dívida de sono de cinco horas (cinco dias x uma hora de sono de que necessita para chegar às 8h30 – as horas que precisa de dormir para se sentir bem).
É natural que se sinta cansado e com sono durante a semana, e mesmo ao fim de semana poderá não conseguir recuperar a dívida em atraso (uma vez que tem de dormir as suas 8h30 mais as cinco horas que está a dever ao banco de sono – ou seja, cerca de 11 horas no sábado e 11 horas no domingo). A estas pessoas basta deitar aproximadamente uma hora mais cedo para que sintam menos sono, com mais energia e maior poder de concentração ao longo do dia (Tabela 5.1).
Tabela 5.1 – Horas de sono de acordo com a idade.
Idade Horas recomendadas Horas adequadas Horas não recomendadas
Recém-nascido (0-3 meses)
14 a 17 horas
Bebé (4-11 meses) 12 a 15 horas
Criança (1-2 anos) 11 a 14 horas
Idade pré-escolar (3-5 anos) 10 a 13 horas
Idade escolar (6-13 anos) 9 a 11 horas
Adolescente (14-17 anos) 8 a 10 horas
Jovem adulto (18-25 anos) 7-9 horas
11 a 13 horas
18 a 19 horas
10 a 11 horas
16 a 18 horas
9 a 10 horas 15 a 16 horas
8-9 horas 14 horas
7-8 horas 12 horas
7 horas 11 horas
6 horas 10 a 11 horas
Adulto (26-64 anos) 7-9 horas 6 horas 10 horas
Sénior (65+ anos) 7-8 horas
(Adaptado de sleep Foundation, 2015)
5 a 6 horas 9 horas
Menos de 11 horas
Mais de 19 horas
Menos de 10 horas
Mais de 18 horas
Menos de 9 horas
Mais de 16 horas
Menos de 8 horas
Mais de 14 horas
Menos de 7 horas
Mais de 12 horas
Menos de 7 horas
Mais de 11 horas
Menos de 6 horas
Mais de 11 horas
Menos de 6 horas
Mais de 10 horas
Menos de 5 horas
Mais de 9 horas
A MINHA ALIMENTAÇÃO
INTERFERE NO SONO?
RITA TALHAS
O que comemos tem impacto na duração e qualidade de sono.
Nos últimos anos, o termo crononutrição tem sido utilizado para descrever a interação entre alimentação, apetite, digestão e metabolismo com os ritmos circadianos, inclusive no que concerne ao sono-vigília. Este conceito engloba dois momentos complementares: um momento de ingestão de alimentos que contribuem para a manutenção da saúde e o momento em que se engloba uma escolha de alimentos mais saudáveis (Quadro 9.1), horas regulares para comer e atividade física, que melhoram o sistema de relógio biológico interno, aumentando a qualidade do sono.
Quadro 9.1 – Alimentos que favorecem um sono tranquilo e reparador.
Abacate caju natural Grão
Arroz integral cebola leite
Aveia ervilhas Maracujá
Abacaxi Alface nozes
Amêndoas espinafres ovo
Amendoins espargos Pescada
Batata Frango Queijo
Brócolos Feijão sementes de linhaça
Banana Gengibre sementes de abóbora couve-flor Gérmen de trigo sumo de cereja
Quadro 9.2 – Alimentos que promovem a vigília
Álcool chá preto, verde, vermelho e mate
Bebidas energéticas Pimenta
cafeína refrigerantes
carne vermelha refrigerantes com cafeína
chocolate Snacks com gordura e sal
A ingestão de bebidas alcoólicas, sobretudo à noite, num período que deveria ser de diminuição de stress e promoção de sonolência, é fortemente não recomendada, na medida em que promove um sono não reparador por alterações no sono REM e, além disso, o seu consumo leva à desidratação, o que pode fazer com que acordemos de noite com sede.
A infusão de algumas plantas, como a camomila, conhecida pelas suas propriedades calmantes e indutoras do sono, melhora a qualidade do sono quando consumida durante pelo menos quatro semanas. A valeriana também é um calmante que ajuda a adormecer, mas é igualmente necessário consumir durante algum tempo para sentir os seus feitos. A passiflora é uma planta com propriedades terapêuticas utilizada por vezes na insónia, ansiedade e depressão.
Alimentação e sono, uma dupla saudável!
COMO É UM EXAME DO SONO?
CLARA BARBOSA, DIANA FREITAS
O exame de sono, ou polissonografia, é um exame não invasivo que pode ser realizado no domicílio ou no hospital.
A polissonografia é realizada durante a noite. O paciente desloca-se para a Unidade do Sono (hospital ou clínica do sono) em horário programado. Faz a admissão na área administrativa e depois é encaminhado para o Laboratório de Sono, onde é recebido por um técnico especializado que irá apresentar o laboratório e explicar todo o procedimento de forma clara.
A preparação do paciente demora cerca de 60 minutos e consiste na colocação de vários sensores que permitem o registo simultâneo de diversos parâmetros fisiológicos (Figura 20.1).
Figura 20.1 – exemplificação esquemática das ligações do teste do sono.
o ressonar, denominado, na gíria médica, roncopatia, consiste no som provocado pela vibração das estruturas da faringe, como palato (úvula), língua, paredes da garganta, estruturas das vias respiratórias, quando o ar passa por elas.
É NORMAL RESSONAR?
CARLA ESPINEY AMARO
Não, não é normal ressonar. A maior parte de nós já teve períodos de roncopatia pelas mais diversas razões, mas quando se torna persistente, a roncopatia crónica deve ser investigada e tratada. Habitualmente, torna-se mais frequente com a idade e é mais elevada nos homens (35-45%) do que nas mulheres (15-28%). O ressonar pode surgir como sintoma isolado ou como um sinal de uma doença do sono, ser potencialmente grave e um compromisso para a saúde, vida social e bem-estar, nomeadamente a SAOS.
QUAIS SÃO AS CAUSAS DA RONCOPATIA?
Álcool em excesso
Mesmo nas pessoas que não têm o hábito de ressonar, se, porventura, tiverem uma refeição acompanhada de excesso de álcool, existem fortes probabilidades de ressonar. O álcool tem efeito sobre a atividade cerebral, influencia o comando central da nossa respiração e pode ser um fator de risco, sobretudo se já existir alguma doença respiratória ou neurológica. Faz com que o sono surja mais rapidamente, mas altera a qualidade, aumenta os despertares ao longo do sono encurtando o tempo total de sono de qualidade. É um poderoso relaxante muscular e faz com que os tecidos e os músculos fiquem mais relaxados, com maior tendência para vibrar e provocar a roncopatia. Além de relaxar as estruturas, o álcool contribui para a desidratação das mucosas, provocando um agravamento
Obesidade
O aumento de peso implica acumular mais gordura nas estruturas da garganta (faringe), tornando-a mais estreita (Figura 23.1). Estudos referem como alvo ideal ter um índice de massa corporal inferior ou igual a 25 kg/m2. Uma medida que é muitas vezes feita no consultório é o perímetro cervical (medido à volta do pescoço). Não só um perímetro elevado aumenta o risco da roncopatia, como pode implicar que o ronco tenha um som mais alto.
Amígdalas
Figura 23.1 – Anatomia da faringe.
Úvula
Determinados medicamentos
Todos os medicamentos que provoquem algum relaxamento podem levar ao ronco. Além de provocar alterações do sono, estes medicamentos podem aumentar a propensão para a via aérea colapsar durante o sono e provocar a apneia:
• Benzodiazepinas: são medicamentos que pertencem à classe dos psicofármacos, sendo vulgarmente (mas na maior parte dos casos de modo incorreto) usados no tratamento da insónia. Podem provocar
questionários disponíveis e que o médico lhe poderá fazer numa consulta; estes questionários permitem perceber se, de facto, deve ser considerado um possível caso de apneia do sono. No entanto, é fundamental a realização da polissonografia (Figura 23.2).
doente que ressona
História clínica + questionários + observação clínica
suspeita de apneia do sono
não
tratamento das causas de roncopatia sim
Polissonografia
Figura 23.2 – o que fazer quando o doente ressona.
COMO SE TRATA A RONCOPATIA?
A roncopatia pode ser provocada por vários fatores, pelo que, na maioria, exige uma abordagem multidisciplinar. Todas as condições que podem induzir ao ronco devem ser resolvidas. A perda de peso pode implicar aconselhamento por um nutricionista. O aconselhamento pela especialidade de psiquiatria poderá ajudar numa melhor seleção dos medicamentos que não interfiram tanto com o sono. Os hábitos alcoólicos, tabágicos e os erros alimentares devem ser corrigidos.
estabelecer um plano de sono saudável é muito importante.
Figura 25.1 – o tamanho das amígdalas pode influenciar a roncopatia e a apneia do sono. Quanto maiores forem, maior a probabilidade de ter apneia do sono.
COMO SE TRATA?
Todos os fatores que contribuem para a roncopatia e/ou apneia do sono devem ser resolvidos:
• A congestão nasal pode ser resolvida com métodos conservadores que incluem lavagens nasais ou utilização de sprays nasais de tratamento;
• A remoção cirúrgica dos adenoides e das amígdalas pode ser a opção mais adequada;
• O tratamento das alergias ou outros problemas respiratórios é também essencial;
• Crianças com obesidade de difícil resolução podem beneficiar de acompanhamento por um nutricionista com vista à perda de peso;
• É fundamental que sejam criados hábitos saudáveis do sono, nomeadamente: horários regulares de dormir, evitar aparelhos eletrónicos antes de se deitar, reduzir a luminosidade do quarto e garantir silêncio;
• Por vezes, nos casos mais graves, pode ser necessário utilizar um equipamento [chamado pressão positiva contínua da via aérea (CPAP – do inglês
SE FOR OPERADO AO NARIZ, DEIXO DE RESSONAR?
CARLA ESPINEY AMARO
Existem várias causas para o ressonar. Todas as situações que provocam obstrução nasal podem, de facto, contribuir para o ronco. Mas não são o único motivo.
A roncopatia consiste no som provocado pela vibração das estruturas e mucosas da faringe.
Para perceber como o nariz pode influenciar a respiração, antes de mais devemos compreender um pouco a sua anatomia. O nariz é composto por várias estruturas de pele, osso, cartilagem e mucosa. Divide-se ao meio, pelo septo nasal, em duas fossas nasais. Ainda dentro de cada fossa nasal encontramos, de cada lado, três estruturas compostas por uma lamela óssea revestida de mucosa, denominadas cornetos. Em cada lado existem três cornetos: o inferior, o médio e o superior. As fossas nasais comunicam com cavidades repletas de ar (seios perinasais) e com a garganta, através da nasofaringe. No teto das fossas nasais existe uma estrutura muito importante para o olfato e paladar – a fenda olfativa.
Existem duas válvulas nasais: a interna e a externa (Figura 26.1). A externa é perfeitamente visível por qualquer um de nós – corresponde às narinas, com as suas cartilagens (alares), pele e mucosa. A válvula nasal interna é a região correspondente à cabeça do corneto inferior, ao septo e à cartilagem da pirâmide nasal nessa zona (cartilagem lateral superior).
Válvula nasal externa
colapso da válvula nasal externa
Figura 26.1 – Válvula nasal externa. o colapso ou a flacidez da válvula nasal externa compromete muito o fluxo nasal.
Além das doenças que podem provocar obstrução nasal, como rinite, desvio do septo, pólipos nasais, etc., a fraqueza das cartilagens pode também ser a causa de obstrução, sobretudo durante a inspiração (quando estamos a inalar o ar) (Figura 26.2).
cornetos inferiores
septo nasal
Figura 26.2 – Anatomia do nariz. A obstrução nasal pode ser provocada pelo desvio do septo nasal e/ou congestão dos cornetos inferiores.
Se não tivermos qualquer obstrução à passagem do ar, o fluxo nasal na fossa nasal tem um padrão laminar (as partículas no ar movem-se em linhas paralelas). Logo, quando chega à faringe, não provoca tanta vibração nas
A B Z Z Z Z Z
O SONO
O sono é essencial para o bem-estar físico, mental e emocional, mas para muitos, uma noite de sono de qualidade parece um sonho impossível.
Neste livro, vai encontrar a resposta para as suas questões –desde a sonolência excessiva até ao acordar cansado; a forma como a obesidade, o exercício e as novas tecnologias afetam o sono, entre muitas outras.
Mais do que dar respostas para os problemas de uma noite mal dormida, os autores, especialistas de diferentes áreas que se dedicam à Medicina do Sono, desmistificam termos médicos complexos, numa linguagem clara e acessível, para que fique a saber mais sobre o sono, o que influencia o sono e as doenças do sono.
De A a Z, fique a saber tudo o que precisa para ter uma boa noite de sono!