Rir nem sempre foi o melhor remédio
mimetização ou outra estratégia será, porventura, perceber com qual dos elementos se sente mais confortável. As estratégias podem e, acredito que devem, ser utilizadas de forma complementar. Atender, exclusivamente, às características ou preferências individuais de quem as utiliza pode ter um efeito menor. 2. A utilização destas estratégias de humor depende, também, do contexto, onde se incluem as questões culturais e sociais. Por exemplo, ao utilizar um trocadilho ou uma insinuação, certifique-se de que o seu significado será compreendido por toda a audiência. Caso contrário, arrisca-se a não obter o resultado pretendido.
O Humor Ajuda! O humor e o riso, além de agradáveis, estão associados a uma variedade de funções que ultrapassam a simples diversão. A boa disposição, nos mais variados contextos – profissional, académico e pessoal –, torna os ambientes mais “confortáveis” ou menos tensos e, em simultâneo, mais propícios à interação. A literatura contém inúmeras referências às funções e benefícios que o humor pode ter na nossa vida. Sabemos, por exemplo, que o humor nos ajuda a lidar com situações difíceis do dia a dia ou que reduz a distância social entre pessoas. Ora, tais benefícios remetem-nos, claramente, para as funções sociais e psicológicas do humor. Se pensarmos com atenção, estas funções associadas ao humor são bastante visíveis na nossa sociedade. Por exemplo, os cartoons apresentados em jornais, muitas vezes, ilustram situações difíceis e complexas de uma forma cómica e/ou exagerada, provocando assim o sorriso/diversão momentânea do leitor. Nas redes sociais, sucede o mesmo. © pactor
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Com alguma frequência, há piadas, imagens, cartoons e vídeos que se tornam “virais”, sendo, em muitos casos, uma forma de aliviar a tensão de uma dada situação.
O Humor na vida social
Grande parte das nossas atividades diárias implica interação social, o que pressupõe, naturalmente, a construção e/ou manutenção de relacionamentos sociais. A inserção do indivíduo na sociedade ocorre, fundamentalmente, através dos contactos sociais que estabelece com terceiros. O humor e o riso podem funcionar como uma espécie de “lubrificante social” (Thorson & Powell, 1993), desbloqueando a comunicação entre as pessoas e facilitando a sua interação. O uso social do humor pode estar ou não associado a fins lúdicos. Tudo depende do contexto em que o humor é utilizado e dos efeitos que se espera que ele produza. O uso 24
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O que acontece no cérebro quando estamos bem−dispostos? Estudar o humor no cérebro não tem sido fácil. Porque o humor implica quase sempre rir e o riso é uma atividade com muita agitação motora, algo pouco compatível com as técnicas de imagiologia usadas para visualizar a atividade do cérebro durante as tarefas que se pretendem mapear. Outra dificuldade inerente aos estudos de mapeamento do humor tem sido a própria definição operacional de humor que subjaz aos protocolos experimentais com que são feitos os estudos de mapeamento. Em anos mais recentes, todavia têm-se feito experiências no sentido de identificar as áreas ativas no cérebro quando rimos, quando ouvimos uma piada ou reagimos a um cartoon. Tudo isto será abordado neste capítulo, onde também se procurará aprofundar a distinção entre rir, sorrir e prazer, quer nos planos do contexto e consequências, quer no plano do cérebro e fisiologia. Já a boa disposição (ou bom humor) é diferente. Clarifique-se desde já que não há um mapa da atividade cerebral do estado de espírito “bem-disposto”. Mas as várias experiências de prazer, a que na generalidade chamaremos “sentirmo-nos bem”, têm vindo a ser mapeadas no cérebro de humanos e de outros animais nas últimas três décadas.
Prazer no cérebro
Os centros de prazer do cérebro são relativamente bem conhecidos, mas estão identificados de acordo com dimensões e tipos de prazer. O mapeamento depende dos paradigmas usados e dos pressupostos dos estudos, mas os resultados de estudos independentes realizados nas últimas décadas são efetivamente de grande convergência. 36
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As organizações vivem, essencialmente, das interações internas e externas que se estabelecem entre pessoas: colaboradores, líderes, fornecedores, parceiros e clientes. Os processos produtivos, as vendas, assim como os restantes processos internos exigem a interação regular entre esses agentes. Claro que os resultados nem sempre são alcançados, as decisões dificilmente agradarão a todos e a necessidade de mudança origina resistências. Portanto, os pontos de vista e interesses, por vezes, conflituosos podem originar negociações difíceis e situações tensas entre as partes envolvidas. Ora, se o humor é um facilitador de relacionamentos e um aliviador de tensões por que não incluir uma dose de (bom) humor nos negócios? O riso, a alegria e a boa disposição poderão ser ótimos aliados na redução de conflitos, ineficácias e resistências internas que põem em causa a concretização das metas organizacionais. Nas secções seguintes abordo a temática das organizações positivas, procurando evidenciar os efeitos positivos em termos de eficácia organizacional. Seguidamente, apresento o caso concreto da publicidade, no qual o humor se tem vindo a destacar como uma poderosa técnica para aumentar as vendas.
O humor nos negócios Vivemos numa era altamente globalizada e em que a pressão para atingir resultados, melhorar a eficiência e procurar © pactor
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Figura 4.2 – Principais contributos do humor para a performance organizacional
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“Colaboradores felizes faltam menos e não querem sair da empresa.” Redução de custos associados a doenças profissionais devido à redução do absentismo e dos índices de rotatividade.
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“Colaboradores saudáveis produzem mais e melhor.” Melhoria dos níveis de satisfação com o trabalho e compromisso com a empresa, com efeitos positivos no desempenho individual e das equipas.
“O bom humor gera resultados.” Melhoria do desempenho dos líderes e das equipas, com efeitos positivos no desempenho organizacional.
Como referiu Wasserman (2009), um dos objetivos da publicidade é lançar apelos agradáveis que criem de imediato uma ligação emocional forte entre o recetor (potencial cliente) e o produto publicitado. Se analisarmos com atenção, grande parte dos comerciais que assistimos na televisão ou em cartazes de rua contêm elementos de humor de forma mais ou menos explícita (Figura 4.3). Para Eisend (2011), o humor pode ser incluído na publicidade por diversas razões: ••Para captar a atenção para o produto/marca que se pretende promover. ••Para criar uma resposta afetiva positiva: suscitar uma atitude positiva face ao produto/marca ou criar uma identificação com o produto/marca. ••Para persuadir o cliente a adquirir o produto. ••Para que o produto/marca seja mais facilmente lembrado. 104
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(Boas) práticas: o humor nas TED talks
Na secção seguinte apresento a análise da palestra The secret structure of great talks (“A estrutura secreta dos discursos notáveis”) apresentada por Nancy Duarte, reconhecida autora americana que tive a oportunidade de entrevistar no decurso do trabalho de pesquisa para este livro.
TED Talk e entrevista com Nancy Duarte A partir do célebre discurso “I have a dream” e do discurso de lançamento do iPhone proferido por Steve Jobs, Nancy Duarte (ver Caixa) defende que as apresentações de sucesso têm uma arquitetura comum. Na palestra The secret structure of great talks a autora analisa esses discursos e propõe linhas orientadoras para a realização de apresentações de sucesso.
sobre
nancy duarte
No dia 6 de junho de 2013 tive o prazer de conversar pessoalmente, via Skype, com Nancy Duarte, a propósito da utilização do humor enquanto estratégia de comunicação. Nancy Duarte é especialista em estruturação e design de apresentações e dirige a Duarte Design, onde foi CEO durante 21 anos. Nancy faz, também, comunicações um pouco por todo o mundo, que procuram ajudar os participantes a melhorarem as suas apresentações públicas. É autora de livros como slide:ology: The art and science of creating great presentations; Resonate: Present Visual Stories that Transform Audiences; ou o mais recente HBR Guide to Persuasive Presentations. Mais informação em http://www.duarte.com.
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Um formador é basicamente um contador de histórias e a formação deve ser encarada de forma descontraída e divertida. Comentário anónimo ao questionário
Este capítulo retoma, tal como o anterior, vários dos assuntos referidos até ao momento. Recupero, em particular, algumas ideias abordadas no capítulo “A Rir também Se Aprende” e apresento-lhe parte dos resultados de um inquérito concebido para analisar a incorporação do humor nas práticas formativas e pedagógicas (ver Figura 6.1). A análise dos dados inicia-se com uma “fotografia geral” dos resultados, a partir das respostas às questões e dos comentários efetuados. Segue-se uma comparação da utilização do humor em função do sexo, habilitação académica e experiência enquanto formador. Sempre que possível será efetuado um paralelismo com os resultados da análise das TEDx6.
Incorporação de humor em sessões de formação Para analisar a incorporação de humor nas sessões de formação, foi perguntado aos respondentes com que Note-se que embora as variáveis em análise sejam as mesmas, por razões metodológicas o tratamento estatístico foi distinto. Enquanto no caso das TEDx as variáveis são nominais (e os gráficos apresentam frequências relativas), no caso do inquérito são ordinais (e os gráficos apresentam médias de itens agregados).
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frequência adotam comportamentos humorísticos durante as sessões que ministram. As respostas foram dadas considerando uma escala da 5 pontos em que 1 correspondia a “nunca” e 5 correspondia a “sempre”.
Figura 6.1 – Recolha de dados e amostra
Os dados foram recolhidos entre outubro e novembro de 2013, através de um inquérito por questionário. Com o apoio do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o questionário foi enviado em formato eletrónico a todos os formadores que constam da base de dados da bolsa de formadores. Foram validadas 932 respostas, das quais 275 foram eliminadas por se encontrarem incompletas, sendo o número total de respostas válidas de 657. A amostra é constituída por participantes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre 22 e 66 anos (média=37,47; desvio-padrão=9,39). Praticamente todos os participantes (98%) são de nacionalidade portuguesa, sendo os restantes estrangeiros, portugueses com dupla nacionalidade e/ou não responderam. A frequência com que os participantes realizam apresentações é apresentada na Figura 6.2. Figura 6.2 – Frequência de realização de apresentações
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Suges7ões que têm resultado comigo! É verdade que há muitas pessoas que gostam de receitas. “Faça isto, siga estes passos e verá que resulta…” As sete sugestões que lhe apresento mais não são do que aquilo que faço com mais frequência e que tenho sentido que resulta em aulas, em ações de formação, em apresentações, ou seja, quando tenho de falar em público.
1 Comece antes de começar Por norma, o primeiro contacto que temos com o apresentador não é quando o vemos pela primeira vez. Antes disso, já se começa a ter uma perceção de quem é quem. Como? Antes de mais, pela forma como estamos presentes nas redes sociais. É um primeiro indicador, de grande relevância, a que os participantes acorrem com cada vez maior frequência. Mas centremo-nos em dois aspetos que podem ser determinantes: o título e as instruções que disponibilizamos previamente. O título da ação ou da apresentação pode funcionar como uma pista, uma orientação do que pretendemos com a sessão. Por si só, pode ser uma forma de os participantes pensarem “isto vai ser interessante”. Cuidado, apenas, para não desapontar os participantes com as expectativas que cria. Algo que considero realmente importante para marcar o tom da apresentação é a informação prévia que disponibilizamos. Refiro-me, por exemplo, ao envio prévio de um email aos participantes. E o que pode conter este email? Informações relevantes e indicações, mais óbvias ou mais subliminares, de como decorrerá a sessão. Partilho consigo 188
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Humor? Faça você mesmo!
excertos de emails que recebi como resposta a informações prévias que enviei antes da realização de alguns workshops: “Vou tentar pôr em prática as suas sugestões e estou realmente com muitas expectativas em relação à formação.”; “E sabe que… só o facto de ler as suas sugestões… parece que se entra no admirável mundo da leveza de espírito.”; “Cumprimentos risonhos e até 2.ª feira”.
2 "Utilize−se' Termos a capacidade de rirmos de nós próprios é um claro sinal de maturidade, de autoconfiança, de à vontade, que os participantes parecem apreciar. O humor autodirigido pode funcionar muito bem e diminui o risco de alguém se sentir incomodado. Deixo-lhe alguns exemplos que utilizei em apresentações, com breves comentários que permitem entender melhor o contexto.
Figura 7.2 – Quando pretendo sublinhar que uma apresentação com humor está ao alcance de qualquer pessoa, costumo fazer uma pequena analogia com os agentes secretos e, em especial, com o 007
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