Segunda Edição Edisaun Daruak
Frédéric Durand
História de
Timor-Leste da Pré-História à Actualidade
Istória
Timor-Leste Nian husi Pre-Istória to’o Atualidade
História de Timor-Leste da Pré-História à Actualidade Segunda Edição
Istória Timor-Leste nian husi Pre-Istória to’o Atualidade Edisaun Daruak
Frédéric Durand
LISBOA – PORTO e-mail: lidel@lidel.pt http://www.lidel.pt (Lidel on-line) (site seguro certificado pela Thawte)
EDIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
ESCRITÓRIO SEDE:
Rua D. Estefânia, 183 r/c Dto. – 1049-057 Lisboa Internet: 21 354 14 18 – livrarialx@lidel.pt Revenda: 21 351 14 43 – revenda@lidel.pt Formação/Marketing: 21 351 44 48 – formacao@lidel.pt/marketing@lidel.pt Ens. Línguas/Exportação: 21 351 14 42 – depinternacional@lidel.pt Fax: 21 357 78 27 – 21 352 26 84 Linha de Autores: 21 351 14 49 – edicoesple@lidel.pt Fax: 21 352 26 84
LIVRARIAS/FILIAIS LISBOA: PORTO:
Av. Praia da Vitória, 14 – 1000-247 Lisboa Telef. 21 354 14 18 – Fax 21 317 32 59 – livrarialx@lidel.pt Rua Damião de Góis, 452 – 4050-224 Porto Telef. 22 557 35 10 – Fax 22 550 11 19 – delporto@lidel.pt
Título original: 42 000 ans d’histoire de Timor-Est Autor: Frédéric Durand Copyright: © Éditions Arkuiris, Toulouse (França), 2009 Copyright © para língua portuguesa: LIDEL – Edições Técnicas, Lda. Tradução para português: Daniel Lacerda e Carlos Semedo Tradução para tétum: Timor-Aid e Madalena Ximenes Cartografia e Textos: Frédéric Durand Créditos iconográficos e fotográficos: Australian War Memorial, Brigitte Clamagirand, António Dias, Stéphane Dovert, Frédéric Durand, Photo Library UN, Pierre Labrousse, Rowena Lennox, Yann Quero, Servizio Fotografico de «L’O.R.» - Vatican, Max Stahl, Luís Filipe Thomas, Timor-Aid, Carlos Semedo. Revisão do tétum: Madalena Ximenes e Filomeno Fernandes com a colaboração de Maria Helena Gonçalves, Cidália Cruz e Marcelo Nunes Pré-Impressão: REK LAME Multiserviços Gráficos & Publicidade, Lda. Impressão e Acabamento: Rolo & Filhos II, S.A. – Indústrias Gráficas Depósito Legal: 318344/10 ISBN: 978-972-757-342-4 Capa: José Manuel Reis
Este pictograma merece uma explicação. O seu propósito é alertar o leitor para a ameaça que representa para o futuro da escrita, nomeadamente na área da edição técnica e universitária, o desenvolvimento massivo da fotocópia. O Código do Direito de Autor estabelece que é crime punido por lei, a fotocópia sem autorização dos proprietários do copyright. No entanto, esta prática generalizou-se sobretudo no ensino superior, provocando uma queda substancial na compra de livros técnicos. Assim, num país em que a literatura técnica é tão escassa, os autores não sentem motivação para criar obras inéditas e fazê-las publicar, ficando os leitores impossibilitados de ter bibliografia em português. Lembramos portanto, que é expressamente proibida a reprodução, no todo ou em parte, da presente obra sem autorização da editora.
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Alphonse Pellion, Col. part.
Luís Klaco, filho do rei de Díli, 1818 / Luís Klaco, liurai Díli nian oan, tinan 1818
3
Índice Índise Prefácio ............................................................................................................................................................... Prefásiu ...................................................................................................................................................................................................................................................... Introdução e notas metodológicas........................................................................................................................ Introdusaun ho nota metodolójika sira ................................................................................................................................................................................ Os tempos mitológicos......................................................................................................................................... Tempu mitolójiku sira ......................................................................................................................................................................................................................
11 12 13 14 17 17
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
PARTE 1 OS TEMPOS ANTIGOS .............................................................................................................................................. ANTIGUIDADE............................................................................................................................................................................................................................................
21 21
Capítulo 1 – Timor Pré-histórico........................................................................................................................... Kapítulu 1 – Timor Pre-istóriku ................................................................................................................................................................................................... 1.1 – Uma primeira fase de povoamento melanésio ou papua há pelo menos 42 000 anos.................................. 1.1 – Faze primeiru husi povoamentu melanéziu ne’ebé akontese iha menus de tinan 42 000 ba kotuk................................. 1.2 – O contributo austronésio, há 4 500 anos ..................................................................................................... 1.2 – Kontribuisaun austronézia, husi tinan 4 500 liu ba .......................................................................................................................................... 1.3 – Alterações dos dois últimos milénios........................................................................................................... 1.3 – Alterasaun ne’ebé mosu/eziste iha miléniu rua ikus ........................................................................................................................................
23 23 24 24 28 28 31 31
Capítulo 2 – Os grandes contactos com o exterior antes da chegada dos portugueses ......................................... Kapítulu 2 – Kontaktu boot ne’ebé halo ho rai liur ántezde portugés sira to’o mai .................................................................................. 2.1 – As redes de contacto chinesas .................................................................................................................... 2.1 – Rede kontaktu xina sira nian............................................................................................................................................................................................ 2.2 – As redes de contactos muçulmanas ao serviço do comércio chinês ............................................................ 2.2 – Rede kontaktu musulmanu sira ne’ebé serve ba komérsiu xina nian....................................................................................................
35 35 36 36 39 39
Capítulo 3 – As sociedades tradicionais ............................................................................................................... Kapítulu 3 – Sosiedade tradisionál sira.................................................................................................................................................................................. 3.1 – Valores comuns apesar de uma grande diversidade e de longas evoluções ................................................. 3.1 – Valór komún sira ne’ebé iha, mézmuke iha tempu ne’ebá eziste diversidade barak no mós iha evolusaun ne’ebé naruk tebes ................................................................................................................................................................................................................................. 3.2 – Alianças, poderes e organização das sociedades ........................................................................................ 3.2 – Aliansa, podér no organizasaun iha sosiedade nia laran ............................................................................................................................... 3.3 – Culturas, saberes de experiência e produções materiais ............................................................................. 3.3 – Kultura, esperiénsia no produsaun ba materiál sira ..........................................................................................................................................
41 41 42 42 43 43 46 46
PARTE 2 PRIMEIROS CONTACTOS COM O OCIDENTE .................................................................................................................. KONTAKTU SIRA NE’EBÉ HALO BA DALA ULUK HO OSIDENTE............................................................................................................................................
49 49
5
Capítulo 4 – 1512-1642: O início da influênca ocidental ...................................................................................... Kapítulu 4 – 1512-1642: Influénsia husi Osidente iha tinan..................................................................................................................................... 4.1 – 1512-1613: Primeiros contactos com os portugueses................................................................................. 4.1 – 1512-1613: Kontaktu ne’ebé halo ba dala uluk ho portugés sira ............................................................................................................. 4.2 – 1613-1642: O início da rivalidade entre portugueses e holandeses ............................................................. 4.2 – 1613-1642 Hahún rivalidade entre portugés no olandés sira ....................................................................................................................
51 51 52 52 56 56
Capítulo 5 – 1642-1769: O progresso dos portugueses e dos topasses................................................................ Kapítulu 5 – 1642-1769: Portugés no topaz sira fila mai ............................................................................................................................................ 5.1 – 1642-1702: O progresso da comunidade topasse ....................................................................................... 5.1 – 1642-1702: Progresu husi komunidade topaz sira ............................................................................................................................................. 5.2 – 1702-1726: A consolidação da presença portuguesa e as primeiras grandes rebeliões ............................... 5.2 – 1702-1726: konsolidasaun husi portugés sira nia prezensa no mós períodu ne’ebé akontese revolta ba dala uluk 5.3 – 1726-1769: Declínio e ressurgência dos topasses ...................................................................................... 5.3 – 1726-1769: Períodu ne’ebé topaz sira nia influénsia hahú menus no depois mosu hikas fali................................................
59 59 60 60 61 61 66 66
Capítulo 6 – 1769-1852: Alianças e confrontações no leste de Timor ................................................................... Kapítulu 6 – 1769-1852: Aliansa no konfrontasaun ne’ebé akontese iha parte leste Timor nian ..................................................... 6.1 – 1769: Díli, um novo centro de poder bem frágil para os portugueses .......................................................... 6.1 – 1769: Díli, hanesan sentru ba podér ne’ebé frájil tebetebes........................................................................................................................ 6.2 – 1851-1852: A primeira delimitação da fronteira .......................................................................................... 6.2 – 1851-1852: Markasaun fronteira ba dala uluk .......................................................................................................................................................
69 69 70 70 73 73
PARTE 3 O VERDADEIRO COMEÇO DA COLONIZAÇÃO EM MEADOS DO SÉCULO XIX ...................................................................... Kolonizasaun Ninia Hahún Loloos Iha Sékulu XIX Nia Klaran ...........................................................................................................
75 75
Capítulo 7 – As guerras coloniais da segunda metade do século XIX .................................................................... Kapítulu 7 – Funu koloniál sira ne’ebé akontese iha sékulu XIX nia klaran ..................................................................................................... 7.1 – A aplicação de um projecto colonial a partir de 1860 .................................................................................. 7.1 – Aplikasaun projetu koloniál ida ne’ebé hahú husi tinan 1860.................................................................................................................... 7.2 – 1894-1908: O impacto do governador Celestino da Silva ............................................................................ 7.2 – 1894-1908: Impaktu husi governadór Celestino da Silva ..............................................................................................................................
77 77 78 78 80 80
Capítulo 8 – 1895-1912: As guerras de Manufahi ................................................................................................ Kapítulu 8 – 1895-1912: Funu Manufahi .............................................................................................................................................................................. 8.1 – A primeira campanha de 1895 .................................................................................................................... 8.1 – Kampaña ba dala uluk iha tinan 1895 ....................................................................................................................................................................... 8.2 – A segunda campanha sem vencedor de 1900 ............................................................................................. 8.2 – Segunda kampaña iha tinan 1900 ne’ebé laiha vensedór ida .................................................................................................................... 8.3 – A grande guerra de 1911-1912................................................................................................................... 8.3 – Funu bo’ot ne’ebé mosu iha tinan 1911-1912 ......................................................................................................................................................
85 85 86 86 87 87 89 89
Capítulo 9 – As transformações económico-políticas e a fixação definitiva da fronteira ........................................ Kapítulu 9 – Transformasaun ekonómika no politíka sira no fiksasaun definitiva ba fronteira .......................................................... 9.1 – 1893-1914: O delicado traçado da fronteira................................................................................................ 9.1 – 1893-1914: Fiksasaun fronteira nian ne’ebé delikadu tebes ........................................................................................................................ 9.2 – As transformações das sociedades e das “repúblicas aristocráticas” timorenses ........................................
93
6
93
94 94 95
9.2 – Transformasaun husi sosiedade sira nian no mós “repúblika aristokrátika sira” timor nian ...................................................... 9.3 – O declínio do sândalo e a expansão do café ................................................................................................ 9.3 – Diminuisaun ai-kameli nian no expansaun plantasaun kafé ......................................................................................................................
95 98 98
PARTE 4 O FIM DO PERÍODO COLONIAL: 1941-1975 ........................................................................................................... 101 IKUS PERÍODU KOLONIÁL NIAN: 1941-1975.......................................................................................................................................................................... 101 Capítulo 10 – 1941-1945: A Segunda Guerra Mundial e a ocupação japonesa ..................................................... Kapítulu 10 – 1941-1945: Segunda Gerra Mundiál no okupasaun japoneza................................................................................................ 10.1 – Um Portugal neutro entre as forças aliadas ocidentais e o Japão .............................................................. 10.1 – Portugál ne’ebé hanesan rai ida ne’ebé neutru entre forsa aliadu osidentál sira no Japaun ............................................... 10.2 – A Segunda Guerra Mundial em Timor-Leste .............................................................................................. 10.2 – Segunda Gerra Mundiál iha Timor-Leste .............................................................................................................................................................. 10.3 – Timor-Leste: Um drama desconhecido da Segunda Guerra Mundial .......................................................... 10.3 – Timor-Leste: Drama dezkoñesidu ida husi Segunda Gerra Mundiál....................................................................................................
103 103 104 104 105 105 107 107
Capítulo 11 – 1945-1974: A aliança “resignada” entre timorenses e portugueses ................................................ Kapítulu 11 – 1945-1974: Aliansa entre timoroan ho portugés sira ne’ebé “resignado”......................................................................... 11.1 – A lenta reconstrução do pós-guerra .......................................................................................................... 11.1 – Rekonstrusaun depoizde funu ne’ebé lao neneik los ................................................................................................................................... 11.2 – O levantamento de Viqueque em Junho de 1959 e a tentativa de invasão em Agosto de 1966 .................. 11.2 – Levantamentu iha Viqueque ne’ebé akontese iha fulan Juñu 1959 no tentativa invazaun ida iha fulan Agostu 1966 ............................................................................................................................................................................................................................ 11.3 – Endurecimento político no final do período colonial e começo de progressos técnicos .............................. 11.3 – Situasaun polítika iha rai laran ne’ebé maka’as iha finál tempu koloniál nian, no progresu tékniku sira ne’ebé hahú daudaun .......................................................................................................................................................................................................................
110 110 111 111 112
Capítulo 12 – 1974-1975: O despertar político e o fracasso do processo de descolonização ................................ Kapítulu 12 – 1974-1975: Animasaun polítika hahú mosu no frakasu husi prosesu deskolonizasaun......................................... 12.1 – O efeito catalizador da Revolução dos Cravos ........................................................................................... 12.1 – Efeitu katalizadór husi Revolusaun Kravu sira nian ......................................................................................................................................... 12.2 – Convergências políticas locais contra as influências externas ................................................................... 12.2 – Konverjénsia polítika lokál kontra influénsia ne’ebé mai husi liur ........................................................................................................ 12.3 – A Guerra Civil de Agosto de 1975 .............................................................................................................. 12.3 – Gerra Sivil fulan Agostu 1975 ....................................................................................................................................................................................... 12.4 – A declaração de independência a 28 de Novembro de 1975 ..................................................................... 12.4 – Deklarasaun independénsia iha loron 28 fulan Novembru tinan 1975.............................................................................................
115 115 116 116 117 117 118 118 120 120
112 113 113
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
PARTE 5 1975-2002: DA OCUPAÇÃO INDONÉSIA À INDEPENDÊNCIA ........................................................................................ 123 1975-2002: Husi Okupasaun Indonézia to’o ba Independénsia..................................................................................................... 123 Capítulo 13 – 1975-1989: Os anos de luta armada .............................................................................................. 125 Kapítulu 13 – 1975-1989: Tinan sira ne’ebé hala’o luta armada ............................................................................................................................. 125 13.1 – A invasão de 7 de Dezembro de 1975 ....................................................................................................... 126 13.1 – Invazaun 7 fulan Dezembru tinan1975.................................................................................................................................................................. 126 7
13.2 – Primeiras campanhas militares e os campos de reagrupamento ............................................................... 127 13.2 – Dahuluk kampaña militár sira iha kampu reagrupamentu sira nian ................................................................................................... 127 13.3 – Uma resistência armada que se recompõe ............................................................................................... 132 13.3 – Rezisténsia armada ida ne’ebé harii an fali ........................................................................................................................................................... 132 13.4 – As negociações de Março de 1983 e o prosseguimento da luta................................................................. 133 13.4 – Negosiasaun ne’ebé hala’o iha fulan Marsu tinan 1983 no kontinuasaun luta nian .................................................................. 133 Capítulo 14 – 1989-1999: Das manifestações populares ao referendo ................................................................. Kapítulu 14 – 1989-1999: Husi manifestasaun popular to’o referendu ............................................................................................................. 14.1 – A “abertura” de 1989 e a vinda do Papa João Paulo II a Díli ...................................................................... 14.1 – “Abertura” ne’ebé hala’o iha 1989 no vizita Amu-Papa João Paulo II ba Díli ..................................................................................... 14.2 – O massacre de Santa Cruz em 1991 e a captura de Xanana Gusmão........................................................ 14.2 – Masakre Santa Krús iha 1991 no kaptura Xanana nian ................................................................................................................................ 14.3 – O prémio Nobel da Paz em 1996 e a fundação do CNRT ........................................................................... 14.3 – Prémiu Nobél ba Dame iha 1996 no fundasaun CNRT nian..................................................................................................................... 14.4 – A viragem com a crise asiática de 1998 e o acordo de 5 de Maio de 1999................................................ 14.4 – Mudansa ne’ebé mosu ho krize aziátika iha 1998 no mós Akordu sira ne’ebé halo iha 5 fulan Maiu tinan 1999 ...
137 137 138 138 139 139 141 141 143 143
Capítulo 15 – 1999-2002: Do referendo à independência .................................................................................... Kapítulu 15 – 1999-2002: Husi referendu to’o independénsia ............................................................................................................................... 15.1 – Do referendo de 30 de Agosto de 1999 até à chegada da INTERFET ......................................................... 15.1 – Husi referendu loron 30 fulan Agostu tinan 1999 to’o bainhira INTERFET mai ............................................................................. 15.2 – Uma tentativa de balanço das perdas humanas ........................................................................................ 15.2 – Tentativa ida atu sura ema sira ne’ebé mate ....................................................................................................................................................... 15.3 – A transição da UNTAET.............................................................................................................................. 15.3 – Tranzisaun UNTAET nian .................................................................................................................................................................................................. 15.4 – As eleições presidenciais e a declaração da independência a 20 de Maio de 2002 ................................... 15.4 – Eleisaun presidensiál no deklarasaun ba independénsia loron 20 fulan Maiu tinan 2002...................................................
145 145 146 146 147 147 148 148 150 150
Bibliografia .......................................................................................................................................................... 153 Cronologia ........................................................................................................................................................... 159 Kronolojia ................................................................................................................................................................................................................................................ 169
8
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Col. part.
António, jovem do reino de Failacor, 1818 / António, foin-sa’e reinu Failacor nian, tinan 1818
9
Alphonse Pellion, Col. part.
Dona Joana, esposa do Capitão-Mor de Díli, 1818 / Dona Joana, Kapitaun-Mór Díli nia kaben, tinan 1818
10
Prefácio O investigador francês Frédéric Durand tinha já contribuído significativamente para o conhecimento da história de Timor-Leste com um “atlas geo-histórico”, publicado na altura da independência em Maio de 2002 (posteriormente traduzido em inglês e em português), com um livro sobre a história da cartografia e das viagens para Timor desde o século XIII e com uma outra obra sobre a evolução do cristianismo na ilha desde o século XVI até aos nossos dias. Este novo livro pretende ser mais didáctico, tentando também ser claro e visual devido a mais de 40 mapas e 200 gravuras e fotografias. A publicação desta obra em versão bilingue português/tétum marca também uma nova etapa. Com efeito, já existiam bons livros sobre alguns episódios da história de Timor-Leste, mas muitos deles eram bastante antigos, frequentemente destinados a um público académico ou activista e diziam respeito a períodos sensivelmente mais curtos. Uma visão completa da história de Timor-Leste através dos séculos é o que nos é aqui proposto. Este livro é dirigido a um largo público, com a intenção de que seja largamente difundido junto da juventude timorense para que esta possa dispor de meios para melhor conhecer a história do país, a vida e o combate das gerações precedentes, sem esquecer os laços históricos que unem Timor-Leste à Europa. Trata-se de uma contribuição tanto mais significativa para a construção da identidade nacional de Timor-Leste quanto foi feita a opção de escrever do ponto de vista dos próprios timorenses. As Embaixadas de Espanha, de França e de Portugal estão particularmente felizes por ter apoiado em conjunto esta iniciativa. Embora o texto tenha sido escrito originalmente em francês, a sua tradução em português e em tétum oferece duas vantagens: dá a todo o público de Timor-Leste acesso à sua história e valoriza o tétum como língua de ensino e de cultura. O voto é de que este livro auxilie os professores que dispunham até agora de pouco material pedagógico. Gostaríamos de agradecer calorosamente ao Instituto de Linguística da Universidade Nacional de Timor-Leste e às associações France Timor-Leste e Timor Aid pela preciosa ajuda que deram na tradução deste livro.
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Aurora Bernaldez Dicenta Embaixadora de Espanha
Philippe Zeller Embaixador de França
Luís Barreira de Sousa Embaixador de Portugal
AMBASSADE DE FRANCE AU TIMOR ORIENTAL
11
Prefásiu Investigadór fransés Frédéric Durand nia kontribui barak ona hodi fo koñesimentu istória Timor-Leste nian ho “atlas jeo-istóriku”, ne’ebé publika tiha ona iha loron independénsia Timor nian iha fulan Maiu tinan 2002 liu ba ne’ebé tradús tiha ona ho lian inglês no portugés, núdar livru kartografia ida ba viajen ne’ebé hala’o tinan atus ba atus ba Timor hahú iha sékulu XIII no tan obra seluk-seluk kona-ba kristianismu ne’ebé mosu iha illa ida ne’e hahú sékulu XVI to’o ohin loron. Livru foun ida ne’e mós sai hanesan livru didátiku ida ne’ebé hakarak hatudu no haree mo-mós tanba iha mapa hatnulu resin iha mós gravura no fotografia sira to’o atus rua (200). Publikasaun obra ne’e hanesan versaun bilinge portugés/tetun hodi marka mós etapa foun ida. Maibé iha mós livru sira di’ak barak ne’ebé ko’alia kona-ba istória Timor nian iha epizódiu ruma nia laran, maiske barak maka koa’lia kona-ba istória ne’ebé antigu nian, liu-liu destinadu ba públiku akadémiku no ativista sira, no ko’alia kona-ba períodu ne’ebé badak liu. Haree kona-ba istória tomak ne’ebé ami tau iha ne’e kona-ba istória Timor-Leste nian tinan atus ba atus. Livru ida ne’e dirije ba ema hotu-hotu ho hanoin ida ne’ebé atu hamutuk haluan no hakle’an juventude timoroan sira, hodi sira bele hatene di’ak liu tan kona-ba istória rai ida ne’e nian, no ba moris jerasaun tuir mai hodi nune’e labele haluhan istória ne’ebé hametin Timor-Leste ba Europa. Ida ne’e hanesan kontribusaun ida ne’ebé signifikativa tebes ba konstrusaun identidade nasionál Timor-Leste nian, opsaun ida ne’ebé halo tiha ona tuir timoroan sira nia haree rasik. Embaixada sira hanesan España, Fransa no Portugál sira haksolok tebes tanba sira mós bele fo apoiu ba inisiativa ida ne’e. Maske testu ida ne’e hakerek ho lian fransés nia tradusaun ba lian portugés no tetun fo vantajen rua hanesan: fo ba públiku asesu kona-ba istória timor-leste nian; fo valór ba tetun nu’udar lian hodi hanorin no kultura nian. Votu bainhira livru ida ne’e sei fo tulun ba professores sira tanba to’o ohin loron siran hetan materiál pedagójiku ne’ebé mukit tebes. Ami mós hakarak hato’o ami nia agradesimentu boot ba Instituto Nacional de Linguística Universidade Nacional Timor-Lorosa’e nian no mós asosiasaun sira France Timor-Leste no Timor Aid tanba tulun ne’ebé sira fo hodi halo tradusaun ba livru ida ne’e.
Aurora Bernaldez Dicenta Embaixadora España nian
Philippe Zeller Embaixadór Fransa nian
AMBASSADE DE FRANCE AU TIMOR ORIENTAL
12
Luís Barreira de Sousa Embaixadór Portugál nian
Introdução e notas metodológicas Redigir um livro de história obriga a fazer escolhas. Foi aqui privilegiado o pôr em destaque a cronologia, para favorecer a sua dimensão didáctica. Apesar de existirem numerosas obras e artigos sobre a história de Timor-Leste, são ainda pouco conhecidas ou pouco acessíveis aos Timorenses. De facto, e contrariamente ao que muitos tendem a pensar, existe mesmo uma história antiga e até uma pré-história timorenses. Os dados arqueológicos permitem, actualmente, recuar pelo menos até 42 mil anos. No contexto da construção nacional da República Democrática de Timor-Leste, é necessário que os Timorenses possam conhecer e apropriar-se da sua história, porque é a partir do passado e da estima que se tem pelos seus antepassados que se pode construir um presente e um futuro. Este livro foi concebido como uma feramenta destina-se a todos aqueles que desejam ter uma visão global da história do país. A obra está dividida em cinco partes e quinze capítulos. Mantiveram-se as ortografias dos nomes, os dados e as informações históricas mais utilizados nos meios académicos. Para não tornar a leitura pesada, decidiu-se também limitar as referências. As principais fontes são enumeradas no final em três secções: uma bibliografia geral, reagrupando os principais textos de referência; uma lista de obras bibliográficas; e uma bibliografia por capítulo, apresentando as principais fontes utilizadas em cada capítulo. Contudo, mencionaremos, entre as referências incontornáveis que cobrem este longo período, a história em quatro volumes do historiador português Luna de Oliveira (publicada em 1949, reeditada em 2004), os livros em francês de Gabriel Defert (1992) e René Pélissier (1996), os livros em inglês e português de Geoffrey Gunn (1999) e mais recentemente o de Barbedo de Magalhães (2007).1 Por outro lado, foram retraçados certos aspectos da história este-timorense num atlas geo-histórico em 2002 (traduzido em inglês em 2006 e em português em 2010), e mais tarde em dois outros livros temáticos, sobre a história do cristianismo (2004) e da cartografia e das viagens para Timor (2006).2 A história de Timor-Leste revela-se rica e complexa. Consoante as épocas, o conjunto da ilha não conheceu os mesmos fenómenos e, sobretudo, as visões habituais ocultam ou menosprezam vários factos: – Existiu uma história timorense antes da chegada dos portugueses; – Os numerosos reinos timorenses bateram-se ferozmente para conservar o domínio do território. Só a partir da segunda metade do século XIX a potência colonial iniciou o controlo do país; – Em contrapartida, o legado português não foi tão limitado como alguns o pretenderam.
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Esperamos que este trabalho permita esclarecer alguns destes aspectos e, sobretudo, dê vontade aos timorenses de escreverem a sua “história”.
1
Oliveira (Luna de), Timor na História de Portugal, edição facsimilada da edição de 1949, Fundação Oriente, Lisboa, 2004, 4 vol., iv-330 p.; 578 p.; 310 p.; 332 p.; Defert (Gabriel), Timor-Est, le génocide oublié, L’Harmattan, Paris, 1992, 323 p.; Pélissier (René), Timor en guerre, le crocodile et les Portugais (1847-1913), Pélissier éditeur, Orgeval, 1996, 368 p.; Gunn (Geoffrey C.) Timor Loro Sae: 500 Years, Livros do Oriente, Macau, 1999, 323 p.; Gunn (Geoffrey C.) Timor Loro Sae: 500 Anos, Macau, Livros do Oriente, 335 p.; Barbedo de Magalhães (António Pinto) (ed), Timor-Leste: interesses internacionais e actores locais, Afrontamento, Porto, 2007, 1010 p.
2
Durand (Frédéric), Timor Lorosa’e, pays au carrefour de l’Asie et du Pacifique, un atlas géo-historique, Presses Universitaires de Marne-la-Vallée/IRASEC, 2002, 208 p.; Durand (Frédéric), Catholicisme et protestantisme dans l’île de Timor 1556-2003, construction d’une identité chrétienne et engagement politique contemporain, Éditions Arkuiris/IRASEC, 2004, 240 p.; Durand (Frédéric), Timor 1250-2005, 750 ans de cartographie et de voyages, Éditions Arkuiris/IRASEC, 2006, 520 p.
13
Introdusaun ho nota metodolójika sira Atu hakerek kona-ba livru istória ida ita tenke hodi bit halo eskolla sira. Hanesan mós bainhira hakerek livru ida ne’e autór tenke deside atu tau mós kronolojia ida, atu nune’e haktuir ninia dimensaun didátika. Maski iha ona eskrita ka istória kona-ba Timor-Leste nian, buat hirak ne’e la asesivél/fásil ba timoroan hotu-hotu atu haree. Kontráriu husi buat ne’ebé ema barak hanoin, eziste duni istória antiga ida no mós pre-istória ida kona-ba timoroan sira. Haree husi dadus arkeolójiku ne’ebé iha, permite ita atu hakiduk pelumenus tinan rihun 42 ba kotuk. Iha kontestu atu harii nasaun Repúblika Demokrátika Timor-Leste nian, presiza tebes atu timoroan sira atu koñese no sente iha duni sira nia istória, tanba liu husi ita nia pasadu no husi estima ne’ebé ita fo ba ita nia bei’ala sira maka ita bele harii didi’ak ita nia prezente no futuru. Livru ida ne’e mosu sai hanesan ferramenta ida. Livru ida ne’e hamosu liu-liu ba timoroan ne’ebé hakarak atu iha vizaun globál ida husi istória sira nia rain. Livru ida ne’e fahe ba parte lima no kapítulu sanulu resin lima. Iha ne’e la halo mudansa ida kona-ba ortografia naran sira, dadus no informasaun istórika sira ne’ebé baibain aseita iha kampu akadémiku sira. Atu ema komprende ho fasilidade, iha ne’e la tau referénsia barak. Fonte prinsipál sira enumerada hotu iha parte finál, iha seksaun tolu: bibliografia jerál ida, ne’ebé reagrupa testu sira referénsia prinsipál sira; lista ida tan ba obra bibliográfika sira; bibliografia kapítulu ida-idak ne’ebé aprezenta fonte prinsipál sira ne’ebé utiliza iha kada kapítulu. Maski hanesan ne’e, entre referénsia inkontornável sira ne’ebé kobre períodu naruk ne’e, ami sei fo sai istória husi istoriadór portugés Luna de Oliveira (ne’ebé publika iha tinan 1949, no emite tan fila fali iha tinan 2004) iha volume hat nia laran, livru sira iha lian fransés husi Gabriel Defert (1992) ho René Pélissier (1996), livru sira iha lian inglés no portugés husi Geoffrey Gunn (1999) ho mós livru ida ne’ebé foin sai ikus husi Barbedo de Magalhães (2007).1 Husi ami nia parte, ami trasa fila fali aspetu balun sira husi istória Timor-Leste nian iha atlas jeo-istóriku ida nia laran iha tinan 2002 (tradús ba lian inglés iha tinan 2006 no ba lian portugés iha tinan), no iha tempu ikus iha livru temátiku rua, ne’ebé ida ko’alia kona-ba istória kristianismu nian (2004) no ida seluk kona-ba kartografia no viajen sira ba Timor (2006).2 Istória Timor-Leste nian riku no kompleksu tebetebes. Tuir époka sira ne’ebé liu, illa ne’e tomak la esperiénsia fenómenu sira ne’ebé hanesan ba fatin hotu-hotu. Liu-liu, vizaun ne’ebé ema bai-bain iha, haksubar ka ladun fo valór ba faktu barak: – Eziste duni istória ida timoroan sira nian molok portugés sira to’o mai; – Reinu timoroan sira ne’ebé uluk iha luta maka’as atu mantein nafatin domíniu ba territóriu. De’it husi segunda metade sékulu XIX hahú maka poténsia koloniál komesa kontrola rai ne’e; – Pelu kontráriu, legadu portugés la’os limitadu tebes hanesan ema balun hakarak. Ami hein katak ho hakerek livru ida ne’e bele esklarese aspetu balun no liu-liu fo vontade ba timoroan sira atu hakerek rasik sira nia “istória”.
1 Oliveira (Luna de), Timor na História de Portugal, edição facsimilada da edição de 1949, Fundação Oriente, Lisboa, 2004, 4 vol., iv-330 p.; 578 p.; 310 p.; 332 p.; Defert (Gabriel), Timor-Est, le génocide oublié, L’Harmattan, Paris, 1992, 323 p.; Pélissier (René), Timor en guerre, le crocodile et les Portugais (1847-1913), Pélissier éditeur, Orgeval, 1996, 368 p.; Gunn (Geoffrey C.) Timor Loro Sae: 500 Years, Livros do Oriente, Macau, 1999, 323 p.; Gunn (Geoffrey C.) Timor Loro Sae: 500 Anos, Macau, Livros do Oriente, 335 p.; Barbedo de Magalhães (António Pinto) (ed), Timor-Leste: interesses internacionais e actores locais, Afrontamento, Porto, 2007, 1010 p. 2 Durand (Frédéric), Timor Lorosa’e, pays au carrefour de l’Asie et du Pacifique, un atlas géo-historique, Presses Universitaires de Marne-la-Vallée/IRASEC, 2002, 208 p.; Durand (Frédéric), Catholicisme et protestantisme dans l’île de Timor 1556-2003, construction d’une identité chrétienne et engagement politique contemporain, Éditions Arkuiris/IRASEC, 2004, 240 p.; Durand (Frédéric), Timor 1250-2005, 750 ans de cartographie et de voyages, Éditions Arkuiris/IRASEC, 2006, 520 p.
14
/RPEOHQ
3DQWDU
$ORU
$WD~UR
$WODV YDQ 7URSLVFK 1HGHUODQG H 'HIHQVH 0DSSLQJ $JHQF\ 21& 1
P E DL GH 2 L R W L H U W ED (V WX 2P (VWUHL
0DQDWXWR
'tOL
(VWUHLWR GH :HWDU (VWUHLWX :HWDU
.LVDU -DFR
%DXFDX
(UPHUD
0DU GH 6DZX 7DVL 6DZX QLDQ 0RQWH 6DSR )RKR 0DQGXNX P
0RQWH )RKR 0DQDFRFR P
3DQWH 0DFDVVDU
3DQWH 0DNDVVDU
0RQWH )RKR 0DWHELDQ P
6DPH $WDPEXD
0RQWH 0XQGR 3HUGLGR )RKR 0XQGXSHUGLGX P
6XDL
0RQWH )RKR 7DWD 0DL /DX P
0RQWH )RKR &DLODFR 0RQWH )RKR P 7DURPDQ P
PRU GH 7L )RVVD 7LPRU QLDQ )RVVD ! P > P P@ > P P@ > P P@
6HPDX .XSDQJ
> P P@ > P@ > P @
5RWL
NP
NP
0DU GH 7LPRU 7DVL 7LPRU QLDQ
> P P@ P
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Mapa 1 – O relevo da ilha de Timor / Relevu illa Timor nian
Motivos timorenses / Motivu timoroan
15
Tempu mitolójiku sira
A memória das sociedades tornou-se hoje uma tarefa de pesquisa que mobiliza diversos especialistas: arqueólogos, historiadores, linguistas, assim como antropólogos e especialistas em genética. Mas não devemos perder de vista que a história é igualmente uma “construção” em que o investigador decide privilegiar ou acentuar certos aspectos. Daí dispormos de crónicas dos feitos da realeza, da história económica e social das populações dominantes ou da história das minorias.
Memória sira kona-ba sosiedade sira ohin loron sai hanesan servisu peskiza nian ne’ebé mobiliza espesialista sira oin-oin hanesan: arkeólogu, istoriadór, linguista sira, nune’e mós antropólogu no espesialista sira iha área jenétika nian. Maibé ita mós labele haluha katak istória mós hanesan “konstrusaun” ida, ne’ebé investigadór bele deside atu fo priviléjiu ka atu fo énfaze ba aspetu balun. Ita bele foti ezemplu ba istória/krónika sira kona-ba liurai sira no sira nia hahalok, istória ekonómika no sosiál husi populasaun sira ne’ebé dominante ou mós kona-ba istória husi populasaun ki’ik sira.
Todavia, a memória não é obrigatoriamente histórica. Em parte, é também “mítica”. Em Timor existem numerosos mitos que se diferenciam segundo os grupos etnolinguísticos. Os três principais merecem ser lembrados:
Maibé memória ida, nein sempre tenke sai istóriku. Dala barak memória ida bele mós hanesan “mítiku”. Iha Timor eziste mitu sira barak ne’ebé la hanesan, maibé diferente konforme ida-ida nian grupu etnolinguístiku sira. Iha mitu prinsipál na’in tolu ne’ebé labele haluha:
– Timor ter-se-ia formado a partir do corpo de um grande crocodilo que fossilizou no fundo do mar. Ele fizera isso para permitir que um menino, que o tinha salvo quando era bebé, fundasse um país. Efectivamente, vista do espaço ou quando se chega de barco, a forma da ilha evoca a forma de um sáurio (mapa 1). Esta forma encontra-se, mais ou menos estilizada, em numerosos motivos decorativos timorenses. A geologia também pode conduzir-nos a essa “imagem”. Contrariamente a muitas das ilhas vizinhas, Timor não é de origem vulcânica, tendo-se formado a partir da pressão da placa tectónica australiana que se encaixa progressivamente sob a placa asiática (mapa 2).
– Rai Timor ne’ebé mosu husi lafaek bo’ot ida nia isin ne’ebé sai tiha ba fatuk/fosil iha tasi kidun. Lafaek ne’e halo nune’e atu ajuda labarik ida, ne’ebé uluk salva nia bainhira nia sei kosok oan, atu harii ninia rain/ nasaun. Los duni, bainhira illa Timor ne’e haree husi leten ou bainhira to’o ho ró-ahi, rai ne’e nia formatu hanesan lafaek ida (mapa 1). Forma ida ne’e, ne’ebé dala balun hadia ka modifikadu ona, ita bele haree iha timoroan sira ninia motivu dekorativu barak. Jeolojia rai ne’e nian mós bele kondús ita ba “imajen” ida ne’e. La hanesan ho illas sira seluk ne’ebé besik, rai Timor ne’e la’os husi orijen vulkánika. Nia forma tanba plaka tektónika australiana ne’ebé nakfisik an sa’e mai, plaka ida ne’ebé sena an iha plaka aziátika nia okos (mapa 2).
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Os tempos mitológicos
17
%RUQpX
0RQN . $ HW DO
3ODFD 3ODND DXVWUDOLDQD
%RUQpX
&HOHEHV 6HOHEHV
1RYD *XLQp 1RYD *LQp
0RQN . $ HW DO
3ODFD 3ODND DXVWUDOLDQD
%RUQpX
0RQN . $ HW DO
&HOHEHV 6HOHEHV
=RQD GH VXEGXFomR =RQD VXEGXNVDXQ QLDQ 3ODFD DVLiWLFD 3ODND D]LiWLND 3ODFD 3ODND DXVWUDOLDQD 'HVORFDomR GH SODFDV 'HVORNDVDXQ SODND VLUD 'HVOL]DPHQWR 5DL KDODL
0RQN . $ HW DO
%RUQpX
3ODFD 3ODND DXVWUDOLDQD
3ODFD 3ODND DXVWUDOLDQD
Mapa 2 – A evolução geológica de Timor / Evolusaun jeolójika Timor nian
Paralelamente, as narrativas de viagens conďŹ rmam a presença de numerosos crocodilos atĂŠ ao sĂŠculo XX. A introdução das armas de fogo reduziu consideravelmente o seu nĂşmero:
Nune’e mós, husi istória kona-ba viajen sira ne’ebÊ ema liur halo ba rai Timor, konfirma katak to’o sÊkulu XX, iha duni lafaek barak iha rai ne’e nia laran. Ho introdusaun råpidu iha rai ne’e konsege hamenus tiha lafaek iha rai laran:
– Muitos povos timorenses conservaram a ideia de uma origem externa, indicando terem chegado de barco noutras ĂŠpocas. Estudos arqueolĂłgicos e linguĂsticos conďŹ rmam que o povoamento das ilhas se veriďŹ cou no decurso de sucessivas vagas migratĂłrias desde hĂĄ mais de 40 000 anos.
– Povu timoroan barak maka sei iha hanoin ida katak sira nia orijen husi liur, ne’ebĂŠ hateten katak bei’ala sira uluk mai ho rĂł husi fatin seluk. Estudu arkeolĂłjiku no linguĂstiku sira mĂłs konfirma katak ema sira ne’ebĂŠ mai hela iha illa sira ne’e mai husi migrasaun barak hahĂş kedas husi tinan 40 000 liu ba.
– Outros grupos etnolinguĂsticos consideram a sua regiĂŁo como sendo o centro do mundo, onde os homens apareceram e onde um laço ou liana os ligava anteriormente ao cĂŠu, constituindo uma ligação com os antepassados ou com os espĂritos,
– Grupu etnolinguĂstiku sira seluk konsidera sira nia rejiaun hanesan rai nia husar, ne’ebĂŠ ita ema mosu mai no ne’ebĂŠ iha ai talik ida ne’ebĂŠ hatutan rai ne’e ho lalehan, hodi nune’e sira iha nafatin ligasaun ho sira nia bei’ala no matebian sira, ne’ebĂŠ mĂłs dala ba-
18
alguns dos quais continuam a manifestar-se na ilha. Isto comprova a profunda adesão de inúmeros timorenses ao sagrado.
lun sei mosu iha rai ne’e. Ida ne’e hatudu mós tanba sa maka timoroan sira fiar lulik/sagradu.
Estes mitos incitam-nos à modéstia na tarefa histórica e, acima de tudo, a não esquecer que a parte espiritual constitui uma componente essencial das sociedades, especialmente na região Ásia-Pacífico. Uma história não pode limitar-se aos factos e aos acontecimentos. Deve igualmente preocupar-se em compreender a cultura e as tradições, de modo a evitar trair, tanto quanto possível, o espírito dos povos.
Mitu sira hirak ne’e hamosu modéstia iha tarefa istórika no liu-liu tan atu labele haluha parte espirituál mós konstitui komponente esensiál ida husi sosiedade sira, espesialmente iha rejiaun Ázia-Pasífiku nian. Istória ida labele limita an de’it ba faktu no akontesimentu sira. Maibé mós tenke preokupa atu komprende kultura no tradisaun sira ne’ebé iha, atu nune’e bele evita halo fali duni traisaun ba espíritu povu sira nian.
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Jacques Arago, 1822, Col. part.
Caça ao crocodilo em Timor no início do século XIX Kasa lafaek iha Timor hahú iha sékulu XIX
19
Brigitte Clamagirand
Construção em madeira em Marobo / Uma halo ho ai iha Marobo
Brigitte Clamagirand
Brigitte Clamagirand
Porta de casa em Marobo / Uma nia odamatan iha Marobo
20
Estátuas de antepassados / Bei’ala sira nia estátua
PARTE 1 OS TEMPOS ANTIGOS ANTIGUIDADE
Brigitte Clamagirand
Cerim贸nia em Marobo nos anos 1960 / Serim贸nia iha Marobo iha tinan 1960 nia laran
Capítulo 1 – Timor Pré-histórico Kapítulu 1 – Timor Pre-istóriku Síntese
Sínteze
Para além das histórias lendárias, os primeiros vestígios da ocupação humana em Timor datam de há, pelo menos, 42 000 anos. Tratam-se provavelmente das primeiras vagas de migrações melanésias, aparentadas às populações da Nova Guiné e da Austrália.
Aleinde ai-knanoik ne’ebé ita rona beibeik husi bei’ala sira, vestíjiu ba ema nia prezensa iha Timor hatudu pelumenus tinan 42 000 liu ba kotuk. Prezensa humana ne’e bele posivelmente mai husi migrasaun dahuluk ema melanézia nian, ne’ebé iha karakteristika hanesan ho populasaun husi Nova Giné ho Austrália nian. Maizumenus tinan 4 500 liu ba iha tan migrasaun foun husi populasaun Austronézia, ho nia hun no abut husi illa Taiwán (Formoza), ne’ebé introdús kultura foun hanesan uza bikan fatuk. Parese ke iha Timor sivilizasaun husi Idade Bronze nian ladun iha ida, maizumenus iha tempu ne’ebé mosu Era Kristu nian. Nune’e mós, mudansa klima nian ne’ebé mosu iha tempu entre 1100 to’o 1600, provoka mudansa/transformasaun iha kultura, hanesan ema komesa ona harii fortifikasaun iha fatin sira ne’ebé a’as ne’ebé hanaran trankeira (muru ne’ebé harii de’it ho fatuk).
António de Almeida, 1964
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Há cerca de 4 500 anos novas migrações de populações austronésias, cujo núcleo de origem seria Ásia do Nordeste, através da ilha de Taiwan (Formosa), introduziram novas culturas e a cerâmica. Timor parece ter sido pouco tocado pelas civilizações da Idade do Bronze, no início da Era de Cristo. Em contrapartida, as alterações climatéricas entre 1100 e 1600 teriam provocado transformações culturais, nomeadamente a construção de fortificações em locais elevados: as tranqueiras.
Utensílios em sílex encontrados em Timor / Sasán ho síles ne’ebé hetan iha Timor
23
1.1 – Uma primeira fase de povoamento melanésio ou papua há pelo menos 42 000 anos
1.1 – Faze primeiru husi povoamentu melanéziu ne’ebé akontese iha menus de tinan 42 000 ba kotuk
Desde as primeiras escavações arqueológicas portuguesas, a descoberta de utensílios de pedra e de pinturas rupestres deu a conhecer que o povoamento de Timor era antigo, ainda que as técnicas da época não permitissem datá-las.
Hahú kedas husi eskavasaun arkeolójika primeiru ne’ebé portugés sira halo, ne’ebé iha tempu ne’ebá sira hetan utensíliu sira (sasan ne’ebé hodi uza lorloron) ne’ebé halo husi fatuk, no mós pintura ne’ebé ema pinta hela iha fatuk kuak, ne’ebé hatudu hela kedas ba ita katak ema hahú hela iha rai Timor ne’e hahú kedas iha tempu antigu, mézmuke téknika eskavasaun uluk nian la permite atu fo data ida loloos ba buat ne’ebé sira hetan. Iha finál sékulu XX ema konsege hatene ona katak vestíjiu sira kona-ba ezisténsia ema nian iha rai ne’e mai kedas dezde tinan 42 000 ba kotuk. Vestíjiu sira ne’e ema hetan iha parte lorosa’e nian ba. Sasan sira ne’e maka hanesan utensíliu sira ne’ebé halo ho fatuk, no mós hetan xipu ne’ebé ema halo kuak, ne’ebé konserteza sira uluk uza hanesan atu hafutar an ou mós bele uza hanesan osan. Durante eskavasaun sira ne’e, hetan mós hahan restu hanesan: lenuk tasi, ikan atún, animál roedór sira. Fatuk kuak barak ne’ebé mak iha parte lorosa’e nian ajuda atu hari fila fali parte husi pre-istória. Arkeólogu sira hateten katak ema hahú hela iha rai timor ne’e bele hahú kedas iha tinan 60 000 ou 50 000 liu ba, iha tempu ne’ebé Homo Sapiens sira hakat arkipélagu Insulíndia, atu husi rai Ázia ba fali rai Austrália. Ho tempu ne’ebé liu no mós ho kruzamentu rasa ne’ebé akontese durante tempu ne’e tomak, eransa jenétika ho lian sira ne’ebé uluk liu uza muda ona/sai oin seluk ona. Maibé sei eziste familiaridade linguístika entre lian melanézia ne’ebé uza iha Timor ho rejiaun Berau ne’ebé iha parte loromonu rai Nova Giné nian, ne’ebé kuaze hanesan (mapa sira 3 no 4). Aleinde lian Bunak, lian melanézia ne’ebé uza iha Timor ne’e ita hetan liu iha parte lorosa’e Timor nian.
Nos anos 2000, os mais antigos vestígios de presença humana encontrados pela arqueóloga Sue O’Connor datavam de há cerca de 42 000 anos, e foram descobertos na gruta de Jerimalai, no extremo oriental da ilha. Trata-se de utensílios de pedra e de conchas perfuradas, certamente utilizadas como decoração ou talvez como moeda. Foram também encontrados restos de comida: tartarugas de mar, grandes peixes e animais roedores. Numerosas grutas de toda a parte oriental da ilha permitem reconstituir uma parte da pré-história. Os arqueólogos admitem que o povoamento de Timor pode remontar a entre 50 000 e 60 000 anos, época em que os Homo Sapiens atravessaram o arquipélago da Insulíndia para passarem da Ásia à Austrália. Ao longo dos tempos, as misturas e os cruzamentos certamente alteraram as heranças genéticas e as línguas faladas, contudo persiste um parentesco linguístico entre as línguas melanésias ou papuas de Timor (Búnague, Fataluco, Macassai, Macalero, Maku’a) com a da região de Berau na parte ocidental da Nova Guiné (mapas 3 e 4).
24
Timor PrĂŠ-histĂłrico
Timor Pre-istĂłriku
1RYD *XLQp 1RYD *LQp
&HOHEHV 6HOHEHV
:XUP H +DWWRUL &HQVXV
Mapa 3 – As aďŹ nidades linguĂsticas de Timor / Lian ne’ebĂŠ hanesan iha Timor
0DU GH 6DZX 7DVL 6DZX QLDQ
,OLyPDU 8DWRFDUEDX
$WDEDL
3DQWH 0DFDVVDU 3DQWH 0DNDVVDU
0DU GH 7LPRU 7DVL 7LPRU QLDQ
+DWR 8GR
/DFDOHL ,GDWp
Š LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
%~QDJXH
7pWXP 7HWXQ 4XpPDTXH (PD
)DWDOXFR )URQWHLUD DFWXDO HQWUH 7LPRU 2FLGHQWDO H 7LPRU /HVWH 5DL NHWDQ DWXiO HQWUH 7LPRU 2VLGHQWiO QR 7LPRU /HVWH
7RFRGHGH
&DLUXL PtGLTXH
0DFOHUH
Mapa 4 – Os principais grupos etnolinguĂsticos da ilha de Timor / Grupu prinsipĂĄl etnolinguĂstuku sira iha illa Timor
25
Exceptuando os Búnague, estes grupos etnolinguísticos situam-se principalmente na parte extrema-oriental de Timor. O modo de vida e a economia dessas populações assentava certamente numa mistura de caça, colheita, pesca e agricultura, mas, actualmente, não é possível descrever com precisão a sua evolução nem as alterações ocorridos no decorrer dos milénios. Entre as prováveis plantas alimentícias, encontra-se a palmeira sagu (metroxylon sagu), tubérculos como o taro (colocasia esculenta), a palmeira açucareira (arenga pinnata) e, possivelmente, lágrimas de Job (coix laccryma-jobi). Este último cereal, identificado em Timor há pelo menos 17 400 anos, pode ter sido colhido e não cultivado. As migrações proporcionaram a introdução de animais comestíveis como o cuscus e alguns roedores. A pesca era igualmente uma actividade importante. Anzóis de conchas datando de há 10 500 anos, assim como restos de grandes peixes, como os atuns, provam que os timorenses praticavam por essa data a pesca em pleno mar. Vestígios de fornos em argila indicam que as populações tinham práticas culinárias complexas. Há cerca de entre 30 000 e 12 000 anos, verificaram-se modificações profundas devido à subida dos mares, provocada pelo degelo do final da última época glaciária. As águas subiram então 120 metros atingindo o actual nível. As antigas localizações na costa ficaram progressivamente submersas, obrigando as populações a instalar-se nas regiões mais altas. Alguns pigmentos encontrados nas grutas, datando de há mais de 29 000 anos, dão a entender que essas populações melanésias efectuavam pinturas nas paredes de pedra. Todavia, a maior parte dos desenhos encontrados estariam mais ligados a uma segunda grande vaga migratória.
26
Ema sira ne’e nia moris no mós sira nia ekonomia bazeia liu ba kasa, buka hahan iha ai laran, peska no agrikultura, maibé to’o ohin loron seidauk konsege deskreve didi’ak ema sira ne’e nia evolusaun no mós alterasaun ne’ebé akontese durante tempu rihun ba rihun ne’ebé liu ba tiha ona. Entre ai-horis ne’ebé identifika hanesan sira nia hahan, balun maka akar (metroxylon sagu), talas (colocasia esculenta), tua aka midar (arenga pinnata), no mós dala balun inklui lágrima sira Job nian (coix laccryma-jobi). Sereál ida ikus ne’e, ne’ebé hetan iha Timor laran pelumenus iha tinan 17 400 liu ba, iha probabilidade ida katak aihan ne’e bei’ala sira uluk uza duni hodi han maibé, aihan ne’e moris fuik de’it no sira la kuda ida. Migrasaun sira ne’e mós lori tama hahalok balun hanesan han animál hanesan cuscus no mós animál roedór seluk tan. Peska mós iha tempu ne’ebá sai hanesan atividade importante ida. Kail ne’ebé halo ho sipu, ne’ebé datadu husi tinan 10 500 liu ba, no mós ikan atun boot nia ruin ne’ebé ema hetan, sai hanesan prova ida katak timoroan sira iha tempu ne’ebá mós hala’o peska iha tasi klaran ona. Vestíjiu sira husi fornu ne’ebé halo ho rai mós hatudu katak ema sira uluk ne’e tein hahan ho métodu oioin ona. Entre tinan 30 000 to’o 12 000 liu ba, akontese mós mudansa bo’ot balun tanba tasi sa’e, ne’ebé hanesan efeitu husi jelu ne’ebé naben iha finál époka glasiária ida ikus. Tasi sa’e to’o metru 120, hanesan tiha ho nível ida agora ne’e. Ema nia hela fatin ne’ebé iha tasi ibun tasi taka tiha, nune’e mós halo ema sira ne’e tenke muda sa’e liu ba fatin sira ne’ebé as. Pigmentu sira ka tinta restu ne’ebé hetan iha fatuk kuak laran ne’ebé datadu dezde tinan 29 000 liu ba, hatudu katak populasaun melanézia sira halo ona pintura iha fatuk lolon. Maibé pintura hirak ne’e barak liu maka iha relasaun ho migrasaun bo’ot ida segundu.
Timor Pré-histórico
Timor Pre-istóriku
Fatuméan
Cailaco
Remexio
Viqueque
Tilomar
Balibó Fatuberliu
Liquiçá
Ataúro
Lacló
Lautém
Nítibe
Ermera
Manatuto
Vemasse
Baucau
A palmeira sagu / Akar-hun
A. Mesnel, segundo Temmink, Col. part. A. Mesnel, tuir Temmink, Kol. part.
Colijn (H.), 1911
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Fotografias de timorenses nos anos 1930 por Álvaro Eugénio Neves de Fontoura Retratu timoroan sira nian iha tinan 1930 nia laran husi Álvaro Eugénio Neves de Fontoura
O cuscus de Timor, marsupial, espécie de oppossum (cuscus orientalis) Cuscus Timor nian, marsupiál, espésie oppossum nian (cuscus orientalis)
27
1.2 – O contributo austronésio, há 4 500 anos
1.2 – Kontribuisaun austronézia, husi tinan 4 500 liu ba
A história da Ásia do Sudeste ficou marcada por uma série de migrações dos povos chamados “austronésios” ou “malaio-polinésios”, através da ilha de Taiwan (Formosa). Essas populações teriam começado a descer para as ilhas do sul há 5 500 anos através do arquipélago filipino, Bornéu, Celebes e Molucas (mapa 5).
Istória husi Ázia Sudueste nian hela tiha ho marka husi migrasaun barabarak husi povu sira ne’ebé hanaran “austronéziu sira” ka “malaiu-polinéziu sira”, ne’ebé mai husi illa Taiwán (Formoza). Populasaun sira ne’e mai liu hahú husi illas sira iha parte súl, tinan 5 500 liu ba, hahú husi arkipélagu Filipinas nian, Borneu, Selebes no Molukas (mapa 5). ,OKDV 5\XN\X ,OODV 5\XN\X
D & &KLQD ;LQD
7DLZDQ 7DLZiQ
D &
D &
D &
0LQGDQDR 0LQGDQDX D &
D & &HOHEHV 6HOHEHV
D &
(TXDGRU (NXDGyU
1RYD *XLQp 1RYD *LQp
D & 2FHDQR ËQGLFR 2VHDQX ËQGLNX
2FHDQR 3DFtILFR 2VHDQX 3DVtILNX
D &
Mapa 5 – As migrações austronésias da Ásia do Norte / Migrasaun austronézia husi Ázia Norte
Estas migrações estão na origem da difusão das línguas da Malásia, da Ásia do Sudeste insular (malaio, indonésio, tagalog) e de numerosas línguas timorenses (tétum, mambai, quémaque) assim como das línguas da Polinésia. Para Timor, as afinidades linguísticas fazem pensar que teriam existido duas grandes vias de propagação: a primeira por Buton, no sudeste das Celebes, e a segunda, por Ambon, nas Molucas (mapa 3). Essas populações 28
Hanesan konsekuénsia husi migrasaun sira ne’e maka mosu difusaun lian husi Malázia, Ázia Sudueste nian Insular (malaiu, indonéziu, tagalog) no mós lian barak ne’ebé uza iha Timor (tetun, mambae, kemak) no mós lian sira husi Polinézia. Ba Timor, familiaridade linguistika ne’ebé iha halo ema hanoin katak iha tempu ne’ebé akontese dalan bo’ot rua hodi habelar/hafahe lian sira ne’e: dalan ida primeiru maka liu husi Buton ne’ebé iha sudueste Selebes nian, no dalan
Timor Pré-histórico
Timor Pre-istóriku
teriam vindo em barcos de 5 a 15 metros de comprimento, propulsionados por pangaias, remos e talvez velas quadradas, como testemunham as pinturas rupestres.
ida segundu maka liu husi Ambon iha rai Molukas (mapa 3). Povu sira ne’e mai to’o iha ne’e ho ró-ahi ne’ebé nia naruk metru 5 to’o metru 15, ne’ebé uza pangaia sira, remu sira e mós karik hena vela ho forma kuadradu, hanesan hatudu iha pintura tuan sira ne’ebé bei’ala sira pinta hela iha fatuk lolon.
Barco das pinturas rupestres em Lene Cece / Ró pintura taturik iha fatuk iha Lene Cece Fonte / Hun: Sue O’Connor, 2003
Pintura sira ne’e aprezenta figura oin-oin ne’ebé hatudu tema bo’ot barak husi arte parietál (pinta de’it ho liman) ne’ebé bele hetan iha rejiaun bo’ot sira iha mundu. Pintura sira ne’e mak hanesan: liman fatin, forma jeométrika balun, ema no animál sira. Dala balun, iha pintura sira ne’e, iha figura ema ho kroat iha liman hanesan halo hela funu ka hala’o kasa.
Frédéric Durand
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Essas pinturas mostram motivos diversos que ilustram os grandes temas da arte parietal nas grandes regiões do mundo: mãos em negativo, formas geométricas, silhuetas humanas e animais. Por vezes, os homens apresentam-se com armas de combate ou de caça.
A gruta de Illi Kérékéré / Fatuk-kuak Illi Kérékéré
29
Frédéric Durand
Frédéric Durand
Pinturas rupestres da gruta Illi Kérékéré / Pintura taturik iha fatuk-kuak Illi Kérékéré
Os Austronésios trouxeram com eles a técnica da olaria e numerosos animais domésticos: o cão, o porco, cabras e bovinos. Provavelmente deve-se-lhes também a introdução do veado timorense (cervus timorensis), de que até agora ainda não se encontraram vestígios com mais de 1 800 anos. Estes contributos modificaram e enriqueceram inegavelmente as culturas locais pré-existentes, já que progressivamente se difundiram por todas as regiões da ilha. Os Austronésios devem certamente encontrar-se na origem da difusão do arroz, mas, até agora, ainda não foi possível fixar a data da sua introdução. Até ao século XIX, esse cereal permaneceu secundário na agricultura de Timor-Leste.
Ema Austronéziu sira lori mós arte olaria (halo bikan no sanan rai), no mós animál doméstiku sira hanesan: asu, fahi, bibi ho karau. Nune’e mós, introdusaun bibi rusa timur (cervus timorenses) provavelmente povu Austronéziu sira maka lori mai, bibi rusa ne’ebé to’o ohin loron so hetan de’it ninia vestíjiu sira to’o de’it timan 1 800 ba kotuk. Kontribuisaun hirak ne’e hotu ajuda modifika no hariku/haburas liu tan kultura sira ne’ebé iha ona iha rai ida ne’e, ne’ebé mós namkari ba rejiaun tomak iha illa ida ne’e nia laran. Austronéziu sira mós sertamente maka lori habitu/ kostume han fos, maibé to’o ohin loron seidauk hatene loloos bainhira mak fos tama iha ne’e. To’o sékulu XIX, aihan ida n’e seidauk sai hanesan aihan prinsipál ne’ebé ema kuda iha parte leste rai Timor nian.
Carlos Semedo
Caçadores das pinturas rupestres em Illi Kérékéré e em Suntarléu / Kasadór sira pintura taturik iha fatuk leten iha Illi Kérékéré
30
Timor Pré-histórico
Timor Pre-istóriku
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
António Dias
Stéphane Dovert
Estátuas de antepassados / Bei’ala sira nian estátua
Timorenses com cerâmica à cabeça / Timoroan tutur serámika iha ulun
1.3 – Alterações dos dois últimos milénios
1.3 – Alterasaun ne’ebé mosu/eziste iha miléniu rua ikus
No início da Era de Cristo, a Ásia do Sudeste conheceu uma nova vaga de influências com o desenvolvimento de culturas que praticavam a metalurgia do bronze. As duas mais famosas são a de Dong Son (Vietname do Norte), conhecida por “tambores de bronze”, e a de Sa Huynh (Vietname Central). Esta última, tendo sido certamente de povoamento austronésio (mapa 6). Numerosos tambores ou objectos de bronze desse período foram encontrados na península indochinesa, no arquipélago insulíndio e nas pequenas ilhas da Sonda, como Bali, Flores, Roti, Alor e Leti. Os tambores maiores chegam a atingir 1,85 metros de altura. Essa cultura não parece ter desempenhado uma importante influência em Timor, onde apenas foi encontrado, nos anos 1960, pelo arqueólogo Ian Glover, um anel antigo em bronze, datado de há 2 300 a 2 000 anos.
Bainhira iha Era Kristu nian, Ázia Sudueste nian koñese mós influénsia foun ne’ebé mai husi dezenvolvimentu kultura sira nian ne’ebé pratika atividade sira tuku besi/bronze. Kultura rua ne’ebé kuñesidu liu maka kultura ida husi Dong Son (husi Vietname Norte nian) ne’ebé kuñesidu ho “tambór ne’ebé halo ho bronze”, no mós kultura husi Sa Huynh (Vietname Sentrál). Ida ikus ne’e mai husi povoamentu povu austronéziu nian (mapa 6). Tambór barak no sasan balun tan ne’ebé halo ho bronze husi períodu ida ne’e, ema hetan iha península/ inur Indoxina, arkipélagu Insulíndia no mós iha illa ki’ik sira hanesan Sunda, Bali, Flores, Roti, Alor no Leti. Tambór boot balun nia as bele atinje metro 1,85. Kultura ida ne’e parese ke ladun iha influénsia importante iha Timor. Iha tinan 1960, iha Timor-Leste, arkeólogu Ian Glover hetan de’it maka kadeli bronze ida datadu husi 2 300 to’o tinan 2 000 liu ba.
31
7DLZDQ 7DLZiQ
&HOHEHV 6HOHEHV
(TXDGRU (NXDGyU
6DPDWUD
Mapa 6 – Os principais locais da Idade do Bronze na Ásia do Sudoeste / Fatin prinsipál sira Idade Bronze iha Ázia Sudueste
Uma outra alteração provocou, provavelmente, maior impacto em Timor. Referimo-nos ao reforço do fenómeno climático El Niño, que perturba as monções e provoca fases de prolongadas secas na Ásia. Os estudos de sedimentos marinhos e lacustres mostram que El Niño conheceu uma forte intensidade entre 1100 e 1600 da era cristã. O arqueólogo Peter Lape postolou a hipótese que essas alterações climáticas podem ter provocado escassez e fomes em Timor e acentuado os conflitos entre os grupos. De qualquer modo, esse período coincide, numa variação de umas dezenas de anos, com a propagação das praças fortificadas (tranqueiras), as quais foram sobretudo edificadas em Timor entre 1150 e 1650 d.C., verificando-se o seu auge de construção entre 1450 e 1650. 32
Maibé iha alterasaun ida ne’ebé katak iha impaktu bo’ot tebes iha Timor. Ami refere ba reforsu fenómenu klimátiku El Niño, ne’ebé altera monsaun sira no mós provoka udan la mai durante tempu naruk iha parte Ázia. Estudu ne’ebé halo kona-ba sedimentasaun iha tasi no lagoa sira laran hatudu katak El Niño mosu maka’as iha tinan 1100 to’o tinan 1600 durante tempu kristaun. Arkeólogu Peter Lape hasai ipótese ida katak mudansa klima hirak ne’e bele mós, iha tempu ne’ebá, provoka hahan menus no hamlaha iha Timor laran, hodi nune’e prova liu tan konflitu entre grupu sira ne’ebé iha ne’ebá. Biar halo nusa mós, mézmuke iha variasaun tinan uitoan, períodu ida ne’e koinside kedas ho tempu ne’ebé ema harii fortifikasaun (tranqueiras) iha prasa barabarak, ne’ebé iha Timor laran konstrusaun sira ne’e halo barak liu entre tinan 1150 to’o 1650.
Timor Pré-histórico
Timor Pre-istóriku
Esses locais fortificados, dos quais restam muitos vestígios na zona oriental de Timor, eram construídos em pontos altos de modo a tirarem partido das escarpas do relevo natural. As paredes de pedra podiam atingir entre 1,4 e 4 metros de altura, com uma largura na base de 1 a 3 metros. Podiam estender-se sobre uma superfície de 500 a 3 000 metros quadrados, mas são hoje por vezes invadidos pela vegetação. É possível que a chegada de barcos chineses no século XIII, de comerciantes muçulmanos em seguida, e dos portugueses tenha favorecido a multiplicação dessas construções defensivas para os guerreiros timorenses.
Fatin sira ne’ebé uluk ema halo fortifikasaun ne’e iha Timor laran bele hetan barak, no fatin sira ne’e ema harii iha foho tutun ne’ebé fatuk lolon barak e nune’e bele ajuda fo protesaun di’ak liu tan. Didin/muru ne’ebé harii ho fatuk sira ne’e nia as bele to’o metru 1,4 to metru 4 no nia luan bele husi metru 1 to’o metru 3. Didin sira ne’e nia bo’ot no luan bele to’o metru kuadradu 500 to’o 3 000, maibé ohin loron fatin sira ne’e ai horis maka taka hotu. Iha posibilidade balun ne’ebé sai hanesan razaun ba konstrusaun didin bo’ot sira ne’e: tanba ró-ahi Xina ne’ebé mai iha sékulu XIII, komersiante musulmanu ne’ebé mai tuir, no portugés ne’ebé mós mai. Funu na’in timoroan sira hari didin fatuk sira ne’e atu defende sira nia an.
D. R. Frédéric Durand
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
Tranqueira na época colonial / Trankeira iha époka koloniál
Tranqueira na época contemporânea / Trankeira iha époka kontemporánea
33
Guerreiros timorenses / Funu-na’in timoroan
34
CapĂtulo 2 – Os grandes contactos com o exterior antes da chegada dos portugueses KapĂtulu 2 – Kontaktu boot ne’ebĂŠ halo ho rai liur ĂĄntezde portugĂŠs sira to’o mai SĂntese
SĂnteze
A ilha de Timor foi regularmente visitada por barcos chineses a partir de meados do sÊculo XIII, sobretudo para comprar madeira de sândalo. Antes da chegada dos portugueses, comerciantes do MÊdio-Oriente e de Java tambÊm participavam nesse comÊrcio, que na Êpoca se concentrava nas regiþes costeiras de Timor Oeste.
iha sÊkulu XIII nia hahún, ró-xina sira nian mai be’beik iha rai Timor ne’e, liu-liu ho objetivu atu hola ai-kameli. à ntezde portugÊs sira to’o mai, ema komersiante husi MÊdiu-Oriente no husi Java mós mai halo komÊrsiu iha ne’e, ne’ebÊ iha tempu ne’ebå atividade sira ne’e hala’o lu iha rejiaun kosteira parte Timor loromonu nian/Barat.
7DLZDQ 7DLZiQ
0LOOV - 9 H 5HLG $
Š LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS
0DODFD 0DODND
0DFDVVDU 0DNDVVDU
Mapa 7 – As principais rotas marĂtimas chinesas no sĂŠculo XV / Dalan tasi prinsipĂĄl xina sira nian iha sĂŠkulu XV
35
A República Democrática de Timor-Leste, antiga colónia portuguesa ocupada pela Indonésia de 1975 a 1999, tornou-se em 2002 o primeiro Estado do 3º milénio. É apresentado como uma nova nação, que teve que “recomeçar do zero”, visto como um país que “não teria história”. Assim, contrariamente ao que muitas pessoas tendem a pensar, existe uma história antiga e mesmo uma pré-história de Timor. Os dados arqueológicos na parte oriental da ilha permitem, actualmente, recuar pelo menos 42 mil anos, ou seja, bem mais que os mais antigos frescos da gruta de Lascaux. Numa preocupação didáctica, este livro foi concebido como uma ferramenta, apoiando-se numa cronologia sistemática e numa abundante iconografia de mais de 200 mapas, gravuras e fotografias. Esforça-se por oferecer uma visão global da história do país, desde os primeiros sinais de ocupação humana até à ascensão da independência sob a égide da ONU, em Maio de 2002. Repúblika Demokrátika Timor-Leste nian, antiga kolónia portugeza okupa husi Indonézia iha tinan 1975 to’o 1999, hetan Estadu dahuluk iha miléniu datoluk iha tinan 2002, aprezenta an hanesan nasaun foun, ne’ebé tenke “hahú fali husi zero”, haree hanesan nasaun ida ne’ebé “la iha istória”. Nune’e, kontráriu fali ba sá mak ema sira hanoin, eziste istória antiga ida no loloos kedas pré-istória Timor nian. Atualmente, dadus arkeolójiku sira iha parte lorosa’e illa nian permite rekua fali pelumenus ba tinan rihun haat-nulu-resin-rua (42), ka, di’ak liu fali fresku antigu sira ne’ebé iha gruta Lascaux nian. Iha preokupasaun didátika, livru ida-ne’e idealiza hanesan ferramenta ida, apoiu ba kronolojia sistemátika no ikonografia abundante ida ne’ebé liu husi mapa 200, gravura no fotografia sira. Haka’as an atu oferese vizaun globál ida husi istória nasaun nian, dezde husi sinál dahuluk okupasaun ema nian to’o sa’e ba ukun-an husi ONU nia okos, iha fulan Maiu tinan 2002.
www.lidel.pt
ISBN 978-972-757-342-4
9 789727 573424