Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino ENSINO E APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS PARA FALANTES DE OUTRAS LÍNGUAS

Coordenação

Rosa Bizarro Maria Alfredo Moreira Cristina Flores

Direção

Maria José Grosso



Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

Coordenação

Rosa Bizarro, Maria Alfredo Moreira e Cristina Flores Direção

Maria José Grosso


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Copyright © janeiro 2013 / Lidel – Edições Técnicas, Lda. ISBN: 978-972-757-928-0 Impressão e acabamento: Cafilesa – Soluções Gráficas, Lda. – Venda do Pinheiro Dep. Legal: n.º 353721/13 Capa: José Manuel Reis Pré-impressão: Mónica Gonçalves

Este pictograma merece uma explicação. O seu propósito é alertar o leitor para a ameaça que representa para o futuro da escrita, nomeadamente na área da edição técnica e universitária, o desenvolvimento massivo da fotocópia. O Código do Direito de Autor estabelece que é crime punido por lei, a fotocópia sem autorização dos proprietários do copyright. No entanto, esta prática generalizou-se sobretudo no ensino superior, provocando uma queda substancial na compra de livros técnicos. Assim, num país em que a literatura técnica é tão escassa, os autores não sentem motivação para criar obras inéditas e fazê-las publicar, ficando os leitores impossibilitados de ter bibliografia em português. Lembramos, portanto, que é expressamente proibida a reprodução, no todo ou em parte, da presente obra sem autorização da editora.


Índice Lista de Autores

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Abreviaturas e Siglas Utilizadas

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Nota Prévia

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Maria José Grosso

Introdução

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Reptos à investigação e ensino em Português Língua Não Materna

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Rosa Bizarro/Maria Alfredo Moreira/Cristina Flores

PARTE I PLNM e Bilinguismo Capítulo 1 1. Algumas Especificidades da Língua Portuguesa do Ponto de Vista do Ensino do Português Língua Segunda e Língua Estrangeira: Problematização

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25 26

Maria Helena Araújo Carreira

Capítulo 2 2. Português Língua Não Materna. Discutindo Conceitos de uma Perspetiva Linguística

35 36

Cristina Maria M. Flores 2.1 Português Língua de Herança

36

2.2 Português Língua Segunda

40

2.3 Português Língua Estrangeira

42

Capítulo 3 3. Bilinguismo e Cognição: Como Explicar os Desempenhos em Tarefas de Repetição de Dígitos e de Frases?

47 48

Maria da Graça L. Castro Pinto 3.1 Palavras Iniciais

48

3.2 Linguagem e Cognição

48

3.3 Bilinguismo, Multilinguismo e Plurilinguismo

54

3.4 Bilinguismo e Cognição

57

3.5 Como Explicar os Desempenhos em Tarefas de Repetição de Dígitos e de Frases?

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3.6 Palavras Finais

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

Capítulo 4 4. O Corpus de Produções Escritas de Aprendentes de PL2 (PEAPL2/CELGA): Caracterização e Desenvolvimento de uma Infraestrutura de Investigação

69 70

Cristina Martins 4.1 Apresentação

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4.2 Metodologia

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4.3 Dados

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4.4 Desenvolvimento Futuro

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Capítulo 5 5. “Saberes Vulgares” de Africanos sobre a Língua Portuguesa: Um Contributo para o Português Língua Não Materna

81 82

Maria Helena Ançã 5.1 Introdução

82

5.2 Enquadramento

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5.3 Referencial Teórico

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5.4 O Estudo

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5.5 Comentário Final

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Comentário Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

93 93

Perpétua Gonçalves

PARTE II Educação Bilingue e Formação de Professores Capítulo 6 6. Formação de Professores

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99 100

Antonio Bolívar/Rosel Bolívar Ruano 6.1 A Formação de Professores Hoje 101 6.2 Formação de Professores e Qualidade de Aprendizagens 103 6.3 Formação de Professores: Inicial e Contínua 106 6.4 A Formação Contínua numa Comunidade Profissional de Aprendizagem 108

Capítulo 7 7. Bilinguismo e Educação: Um Novo Currículo para a Formação de Professores

111 112

Joana Duarte/Maria Alfredo Moreira/Cristina Flores 7.1 Introdução 112 7.2 O Projeto EUCIM-TE: Origens e Conceitos-Base 114

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Índice

7.3 O Currículo Europeu para o Ensino Inclusivo de Linguagem Académica 116 7.4 Conclusão 125

Capítulo 8 8. Educação Bilingue e Aprendizagem do Português em Contexto Multilingue

129 130

Dulce Pereira/Pedro Martins/Vanessa Antunes 8.1 Turma Bilingue: Um Projeto de Educação Bilingue 130 8.2 Expectativas 131 8.3 Consciência e Atitudes Linguísticas 132 8.4 Desenvolvimento da Língua Portuguesa 134

Capítulo 9 9. Didática do Português Língua Não Materna – Língua Segunda/ /Língua Estrangeira: Entre a generalização e a especificação

145 146

José António Brandão Carvalho 9.1 A Didática do PLNM: PL2/PLE – Uma Didática Específica 146 9.2 A Didática do PLNM: PL2/PLE – Um Objeto Heterogéneo e Multifacetado. 148 Posicionamento Crítico 9.3 Um Outro Fator de Heterogeneidade – O(s) Alunos(s) de 149 Didática do PLNM: PL2/PLE 9.4 Didática do PLNM: PL2/PLE – Que Perspetivas? 152

Capítulo 10 10. A Formação de Professores de Português Língua Não Materna na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Questões Interculturais e Ensino Inclusivo do Português Língua Segunda

155 156

Rosa Bizarro/Fátima Braga 10.1 A Formação de Professores de PLNM na FLUP 157 10.2 Escola Inclusiva e Educação Intercultural: Alguns Traços Caracterizadores 159 10.3 Educação Inclusiva e Educação Intercultural num 162 Contexto de Educação Capacitadora 10.4 Proposta de um Curso de Mestrado em Questões Interculturais e 167 Ensino Inclusivo do Português Língua Segunda 10.5 Conclusões 170

Capítulo 11 11. Desafios para a Formação de Professores do Ponto de Vista da Diversidade Linguística

173 174

Charles Berg 11.1 De Pinóquio ao Projeto 174 11.2 Sobre o Projeto 177

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

11.3 Observação Final 179

Capítulo 12 12. Contributos para um Modelo de Formação de Professores de Português Língua Não Materna

183 184

Paulo Feytor Pinto

Comentário Tantas formas de dizer “contextualização”: Por uma Abordagem Contextualizada da Formação de Professores de Línguas Sílvia Melo-Pfeifer

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Índice de Quadros Quadro 1 171 Mestrado em Questões Interculturais e Ensino Inclusivo do PL2: componentes curriculares

Índice de Tabelas Tabela 1 Estímulos, por área temática, usados na recolha de dados textuais

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Tabela 2 Códigos de curso de PL2 e de nível

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Tabela 3 Número de textos por estímulo

76

Tabela 4 Número de palavras por estímulo

76

Tabela 5 Número de textos por nível de escolarização em PL2 do informante

76

Tabela 6 Número de textos e de palavras por LM do informante, por ordem decrescente de representatividade

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Tabela 7 136 Média de orações coordenadas e subordinadas por aluno na TB e na TC Tabela 8 137 Média de palavras por aluno na TB e na TC

Índice de Gráficos Gráfico 1 136 Desempenho de ambas as turmas nas quatro atividades de produção escrita Gráfico 2 138 Correção ortográfica. Percentagens de ambas as turmas nas quatro atividades de produção escrita

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Índice de Anexos Anexo I 141 Imagem Utilizada como Estímulo para a Terceira Atividade de Narrativa Escrita Anexo II 143 Narrativa Escrita, em Português, por uma Aluna de Origem Crioula Anexo III 145 Narrativa Escrita, em Crioulo Cabo-verdiano, por uma Aluna de Origem Portuguesa

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Lista de Autores COORDENADORAS/AUTORAS Rosa Bizarro

Professora, investigadora e formadora de professores em Portugal e no estrangeiro (Alemanha, Argentina, Áustria, Cabo Verde, França, Grécia, Reino Unido, São Tomé e Príncipe, Sérvia e Uruguai...). Doutorada em Didática das Línguas, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem como principais áreas de investigação a educação em línguas (nomeadamente o português como língua estrangeira/língua segunda), a formação de professores, a tradução e as questões interculturais ligadas à educação. Autora de diversas publicações nacionais e estrangeiras, é membro investigador da unidade I&D CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar ‘Cultura Espaço e Memória’), sedeada na Universidade do Porto. Maria Alfredo Moreira

Professora Auxiliar do Departamento de Estudos Integrados de Literacia, Didática e Supervisão da Universidade do Minho. Doutorou-se, em 2004, em Metodologia do Ensino das Línguas Estrangeiras pela Universidade do Minho. Tem como principais áreas de investigação a educação em línguas estrangeiras, a supervisão pedagógica e da formação e a pedagogia no ensino superior. Autora de diversas publicações nacionais e estrangeiras tem ainda experiência de formação de professores em Portugal e no estrangeiro (Alemanha, Espanha, EUA, França, Maldivas, Suécia, Timor-Leste). É membro do Centro de Investigação em Educação (Universidade do Minho). Cristina Maria M. Flores

Professora Auxiliar do Departamento de Estudos Germanísticos e Eslavos da Universidade do Minho. Doutorou-se, em 2008, em Ciências da Linguagem/Linguística Alemã pela Universidade do Minho. As suas principais áreas de investigação são o bilinguismo, a aquisição de L2, a linguística alemã e o PLNM, sendo autora de diferentes publicações nacionais e internacionais, relacionadas com estas temáticas. É membro da Linha de Ação de Ciências da Linguagem do CEHUM (Centro de Estudos Humanísticos) da Universidade do Minho.

AUTORES Antonio Bolívar

Professor Catedrático de Didática e Organização Escolar da Universidade de Granada. Publicou 30 livros e mais de uma centena de artigos. Dirige a revista Profesorado e é membro de comités editoriais ou científicos de várias revistas.

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

Charles Berg

Professor Auxiliar da Universidade do Luxemburgo. Estudou Ciências da Educação, Sociologia, Psicologia e Línguas Modernas nas Universidades de Marburg, Tübingen, Luxembourg e Trier. É um dos fundadores do Instituto Youth Research Institute CESIJE, atualmente integrado na Universidade do Luxemburgo. As suas principais áreas de investigação são a educação, a literacia e as metodologias de investigação e ensino. Cristina Martins

Professora Auxiliar do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, é doutorada em Linguística Aplicada pela mesma Universidade (2004). Tem desenvolvido investigação nas áreas do bilinguismo e contacto de línguas, aquisição/aprendizagem de L2, desenvolvimento metalinguístico, processamento psicolinguístico e avaliação neuropsicológica. Dulce Pereira

Docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é investigadora, formadora e autora de várias publicações nas áreas da crioulística, da língua de Cabo Verde e da educação linguística em contexto multilingue. Coordenadora, enquanto membro do ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional), dos projetos financiados pela Fundação Calouste Gulbenkian Diversidade Linguística na Escola Portuguesa (2003-2007), Turma Bilingue (2007-2012) e Uma Escola Multilingue – Consciência linguística, aprendizagem de línguas e sucesso educativo em contexto multilingue (2012-2014), este último em parceria com o Agrupamento de Escolas do Vale da Amoreira. Membro do Comité Português da UNESCO Rota do Escravo e da Direção da ACBLPE (Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola). Fátima Braga

Docente do Ensino Básico e Secundário, é Professora Auxiliar Convidada, a tempo parcial, na Universidade Portucalense e consultora do Serviço de Apoio à Melhoria das Escolas da Universidade Católica (Porto, Portugal). Doutorou-se, em 2006, em Desenvolvimento Curricular pela Universidade do Minho. As principais áreas de investigação são a formação e avaliação de professores e a (auto)avaliação de escolas. Autora e coautora de diversas publicações relacionadas com os seus interesses de investigação. Joana Duarte

Investigadora da Universidade de Hamburgo no âmbito do projeto Linguistic Diversity Management in Urban Areas (LiMA). Doutorou-se, em 2009, em Ciências da Educação pela Universidade de Hamburgo. Colaborou em vários projetos em torno da temática da educação bilingue. As suas principais áreas de investigação são a aquisição da linguagem em contextos linguisticamente heterogéneos, a educação intercultural, a língua e migração e os modelos de educação bilingue. 10

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Lista de Autores

José António Brandão

Professor Associado do Instituto de Educação da Universidade do Minho. Doutor em Educação, especialidade de Metodologia do Ensino do Português, desenvolve a sua investigação nos domínios da literacia, didática da escrita, escrita como ferramenta de aprendizagem. Leciona nas áreas da Didática da Língua Portuguesa, Metodologias da Investigação e Escrita Académica e é autor de diversas publicações. Maria Helena Ançã

Doutorou-se, em 1991, em Ciências da Educação/Didática do Português, pela Universidade de Aveiro, onde é atualmente Professora Associada, com agregação, no Departamento de Educação. É ainda investigadora do CIDTFF (Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores) e Coordenadora, com Cristina Sá, e do LEIP (Laboratório de Investigação em Educação em Português) (responsável pela Linha 2: PLNM). Autora de diversas publicações, apresenta regularmente a sua investigação em congressos nacionais e internacionais. Maria Helena Carreira

Professora Catedrática na Universidade de Paris 8. É especialista em Linguística Portuguesa (Semântica, Pragmática e Análise do Discurso). Desenvolve a sua investigação no âmbito da linguística geral e da linguística contrastiva (Português – Francês) e da didática de línguas, em especial o ensino do português no estrangeiro. Autora de inúmeras publicações de relevo para as áreas que investiga. Maria da Graça Pinto

Professora Catedrática de Linguística na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Obteve o grau de Doutor em Linguística Aplicada (Psicolinguística e Neurolinguística), em 1984, pela Universidade do Porto. As suas principais áreas de investigação são a linguagem e cognição, a literacia emergente, a leitura, a escrita e o seu papel ao longo da vida, os efeitos do envelhecimento na linguagem e aspetos cognitivos associados ao bilinguismo e multilinguismo. Paulo Feytor Pinto

Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Setúbal. Doutorou-se, em 2008, em Estudos Portugueses pela Universidade Aberta. É também Professor Efetivo do Quadro da Escola Secundária de Miraflores e foi Presidente da Associação de Professores de Português. Pedro Martins

Licenciado em Linguística pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Mestre em Tradução pela mesma Universidade, é investigador do ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional) no projeto Uma Escola Multilingue (2012-2014). Foi investigador no projeto Turma Bilingue, vertente do projeto Bilinguismo, Apren© LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

dizagem do Português L2 e Sucesso Educativo na Escola Portuguesa, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian (de 2010 a 2012). É colaborador nos projetos Intercultural Literature in Portugal, 1930-2000: a Critical Bibliography e Antologia(s) de Conto Inglês Traduzido para Português, desenvolvidos pelo Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa. Perpétua Gonçalves

Professora Catedrática da Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique. Doutorou-se em Linguística Portuguesa, em 1990, pela Universidade de Lisboa. Entre as principais áreas de investigação destacam-se a linguística do português, a aquisição de L2, o contacto de línguas e a mudança linguística. Rosel Bolívar Ruano

Licenciada em Administração e Gestão de Empresas, com uma pós-graduação em Ciências da Educação, e Mestre em Investigação e Inovação Curricular. É bolseira do programa de Formação do Investigador do Ministério da Economia e Competitividade na Universidade de Granada. Está a terminar a sua dissertação de doutoramento no âmbito deste programa. Sílvia Melo-Pfeifer

Doutorada em Didática de Línguas pelo Departamento de Didática e Tecnologia Educativa da Universidade de Aveiro. Desenvolveu o seu projeto de pós-doutoramento no LIDILEM (Laboratório de Investigação em Didática da Língua Materna e Estrangeira), na Universidade Stendhal Grenoble 3, e no Departamento de Didática e Tecnologia Educativa da Universidade de Aveiro. De entre os seus interesses científicos, destacam-se a comunicação eletrónica e o seu uso no ensino/aprendizagem de línguas, a interação plurilingue e intercultural, a coconstrução de intercompreensão em línguas românicas e as abordagens plurais no ensino/aprendizagem e o ensino do português como língua de herança. Atualmente, é coordenadora do Ensino Português na Alemanha. Vanessa Antunes

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, na variante de Estudos Portugueses e Franceses, e Mestre em Ensino de Português e de Francês pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2011). Investigadora no Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), nos projetos Uma Escola Multilingue: Consciência linguística, aprendizagem de línguas e sucesso educativo em contexto multilingue (2012-2014) e Turma Bilingue (2011 e 2012), financiados pela Fundação Calouste Gulbenkian. Foi colaboradora do projeto VOP (Vocabulário Ortográfico do Português).

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Abreviaturas e Siglas Utilizadas A3ES – Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior CE – Comissão Europeia/Conselho da Europa CELGA – Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada CIDTFF – Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória CLUL – Centro de Linguística da Universidade de Lisboa DGIDC – Direção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular EAL – English as a Additional Language EC – European Commission EFL – English as a Foreign Language ESHM – Escola Secundária Henrique Medina (Portugal) ESL – English as a Second Language ESM – Escola Secundária de Miraflores EUCIM-TE – European Core Curriculum for Mainstreamed Second Language Teacher Education and Further Training FLUC – Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto IES – Instituições de Ensino Superior ILTEC – Instituto de Linguística Teórica e Computacional L1 – Língua Primeira/Materna L2/LS – Língua Segunda L3 – Língua Terceira LE – Língua Estrangeira LM – Língua Materna LN – Língua Nativa LNM – Língua Não Materna LP – Língua Portuguesa LSF – Linguística Sistémica Funcional MAE – Multilingual Aphasia Examination OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PE – Português Europeu PEA – Plano Educativo de Agrupamento PEAPLE – Produções Escritas de Aprendentes de PL2 PEE – Plano Educativo de Escola PL2/PLS – Português Língua Segunda PLE – Português Língua Estrangeira PLM – Português Língua Materna PLNM – Português Língua Não Materna PIRLS – Progress in International Reading Literacy Study PISA – Programme for International Student Assessment © LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

QECR – Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas QUAREPE – Quadro de Referência para o Ensino Português no Estrangeiro RM – Representações Metalinguísticas TB – Turma Bilingue TC – Turma de Controlo UCs – Unidades Curriculares UE – União Europeia

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Nota Prévia O clima de grande mobilidade, as mudanças económicas e sociopolíticas fazem crescer o interesse pela língua portuguesa em vários países e contextos, e abre a porta a novos públicos, a novas necessidades de comunicação, estimulando os diferentes estudos que têm ocorrido nesta área e revisitando conceitos que se adaptam às novas realidades linguísticas e comunicativas. A indispensabilidade de se refletir hoje em dia sobre o Português Língua Não Materna é fundamental para a prática pedagógica e para o planeamento linguístico, reflexão coadjuvada pela proposta do Quadro Europeu Comum de Referência ao fornecer linhas de orientação, a nível do discurso. Rosa Bizarro, Maria Alfredo Moreira e Cristina Flores tiveram a exímia tarefa de gerir um conjunto de artigos de temas variados e teoricamente diversificados e integrá-los no volume Português Língua Não materna: Investigação e Ensino que coordenam e que a coleção Ensino e Aprendizagem do Português para Falantes de Outras Línguas tem o privilégio de publicar. A mudança impõe e induz transformações que geram uma multiplicidade de linguagens e códigos que é preciso compreender e gerir; exige ainda a reconstrução de novas formas de aprender, impondo-se um novo olhar sobre o papel da escola, desafios que o Português Língua Não materna: Investigação e Ensino apresenta ao longo dos seus textos, designadamente na investigação sobre formação de professores, que justificam e sublinham a importância da urgência duma formação pluridimensional, com um novo professor reflexivo, cultural, crítico, investigador, gestor construtor, mediador intercultural. O professor de Português para falantes de outras línguas, educador e ator social terá de integrar um conjunto de competências que são mobilizadas adequadamente em função do público e dos contextos e simultaneamente será plurilingue e pluricultural, capaz de implementar metodologias baseadas nas suas experiências, práticas individuais e colaborativas. Maria José Grosso Diretora da Coleção dezembro de 2012

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Introdução REPTOS À IINVESTIGAÇÃO E ENSINO EM PORTUGUÊS LÍNGUA NÃO MATERNA Rosa Bizarro Universidade do Porto

Maria Alfredo Moreira Universidade do Minho

Cristina Flores Universidade do Minho

No crescente contexto de imigração associado aos processos de globalização e de mobilidade no espaço europeu e mundial, Portugal tem vindo a tornar-se um país cada vez mais multilingue e multicultural. A igualdade de oportunidades no acesso a uma vida com melhores condições, o combate à pobreza e a dignificação humana, em geral, passam para os grupos imigrantes e de minorias étnicas, tal como para todos os outros, pela escolarização das crianças e jovens. Estes grupos, apenas pela pertença a uma minoria na sociedade de acolhimento, não têm, por esse motivo, direitos menores ou mitigados a uma educação digna. A escola não pode ser alheia a uma concretização do potencial humano individual e a uma plena cidadania numa sociedade que tem como língua oficial uma língua que não é a da família. A literacia na língua oficial do país de acolhimento é crucial à inclusão, emancipação e qualidade de vida, desempenhando um papel central na prevenção da exclusão social e promoção da justiça social e cognitiva (Richmond, Robinson e Sachs-Israel, 2008). A língua da escolarização é, então, uma questão essencial e de direitos humanos, pois afeta o modo como os objetivos das pessoas são atingidos e o seu potencial desenvolvido (Kosonen, Young e Malone, 2007). Por outro lado, a língua da literacia é usada de modo especializado e significativo na escola e nas várias disciplinas escolares; sem a capacidade de usar a língua desta forma, os alunos não estarão preparados para usar o discurso da(s) disciplina(s) (Gee, 2004). Em resultado, os alunos que possuem uma competência insuficiente da língua da literacia e da instrução têm menor probabilidade de aprender com o mesmo sucesso académico daqueles que são proficientes e/ou falantes nativos. Por conseguinte, a educação em línguas deve abraçar uma agenda de melhoria das oportunidades de aprendizagem e promoção do sucesso académico de todos os alunos. Com esta finalidade, a formação de professores e o seu desenvolvimento profissional, para além da sua capacitação técnica, deve incluir o desenvolvimento de saberes e capacidades de natureza intercultural e crítica, estudando, a título de exemplo, o papel dos compromissos ideológicos e políticos ou o modo como as relações de poder operam no tratamento das questões da língua (entre outros fatores, como etnia, classe, género...) (Bartolomé, 2007; Zeichner e Flessner, 2009). Assim se encoraja os professores a tornarem-se agentes de mudança educativa e de promoção da justiça social. © LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

Na prossecução desta agenda, para além de um conhecimento mais profundo sobre os processos de aquisição/aprendizagem linguística, usos e funções sociais da língua enquanto ferramenta cultural e metodologias de educação em língua segunda, todos os professores devem adquirir conhecimento sobre a diversidade de culturas que compõem as escolas. Quando convertido em programas e estratégias formativas contextualmente adequados à diversidade cultural e linguística dos alunos, este conhecimento leva ao desenvolvimento de um ensino e de uma pedagogia culturalmente responsivos, enquanto processos de ensino e aprendizagem que mobilizam características, experiências e perspetivas culturais de alunos étnica e/ou linguisticamente diversos, de modo a promover o seu sucesso académico (Gay, 2000 e 2002; Ladson-Billings, 1995). Estimando-se que mais de cinco dezenas de línguas são faladas em casa pelos alunos das escolas portuguesas e mais de três dezenas com os amigos e os colegas (Mateus, Fischer e Pereira, 2005), urge refletir sobre as implicações pedagógico-didáticas e sobre a formação de professores que advêm do facto de a língua portuguesa (LP) não ser a língua materna para cerca de 14% da população estudantil nacional. Dos quase 2 milhões de alunos inscritos nas escolas portuguesas em 20091, mais de 40 mil eram imigrantes (dados de 2008)2. Apesar de se tratar de uma percentagem menor à de muitos outros países no espaço lusófono, o facto é que esta população tem vindo a aumentar a um ritmo acelerado. Adicionalmente, e enquanto língua falada por cerca de 250 milhões de pessoas, a LP tem um lugar privilegiado no mundo, quer no ensino além-fronteiras, através, nomeadamente, da existência de mais de uma centena de leitorados no mundo, quer na crescente procura do nosso país por um público cada vez mais diversificado (estudantes dos PALOP e Timor-Leste, estudantes ERASMUS, entre outros). Estas diferentes realidades têm vindo a trazer novos reptos aos processos de ensino e de aprendizagem do Português Língua Não Materna (PLNM) e, consequentemente, à formação de professores e à investigação que esta obra se propõe divulgar e/ou problematizar. Não obstante as medidas portuguesas de política educativa para responder a esta emergente diversidade linguística e cultural3, não existem estruturas ou dispositivos capazes de fazer face às necessidades de formação específica dos professores dos ensinos básico e secundário em Portugal. Existem programas de formação de professores, a nível pós-graduado, centrados na aprendizagem do PLNM e no desenvolvimento de competências interculturais; todavia, ao nível da graduação, pode dizer-se que as competências para ensinar alunos de proveniências linguísticas e culturais diversas são escassamente desenvolvidas. Com estas necessidades em mente, as coordenadoras deste livro dirigem-no a professores, investigadores, formadores e outros interessados na educação de sujeitos para quem a língua materna não é a língua oficial do país de acolhimento, que se encontram a trabalhar e/ou estudar em contextos educativos formais e não-formais, e para quem as problemáticas do ensino e da aprendizagem do PLNM são relevantes. 1 2 3

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http://estatisticas.gepe.min-edu.pt/vistas.jsp?vm_id=461 http://sitio.dgidc.min-edu.pt/linguaportuguesa/Documents/RelatorioPLNM20062008.pdf Resolução do Conselho de Ministros n.º 63-A/2007.

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Introdução

A necessidade do diálogo permanente (e re/i-novado) entre a Investigação e a Ação, a Teoria e a Prática, os Atores e os Contextos, as Competências (de vários tipos) e os demais Saberes e, ainda, entre o Sujeito, o Indivíduo e a Sociedade que temos/somos e queremos ter/ser, levaram as coordenadoras à materialização deste projeto editorial, na certeza de que vale a pena sublinhar o papel que a diversidade linguística, em geral, e o PLNM, em particular (nas várias interfaces científicas aqui invocadas: Didática de Línguas, Formação de Professores, Linguística), podem ter na construção de pessoas e sociedades mais inclusivas. Na base deste projeto estão vários projetos de investigação e formação de professores em que as coordenadoras têm estado envolvidas: o Mestrado em Didática das Línguas Materna ou Estrangeiras e Supervisão Pedagógica em Línguas e o Doutoramento em Didática de Línguas, ambos da Universidade do Porto; o projeto Europeu EUCIM-TE (European Core Curriculum for Mainstreamed Second Language Teacher Education and Further Training)4 e, ainda, a realização do Colóquio «Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino», uma iniciativa conjunta entre a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e a Universidade do Minho. Assim, da confluência destes projetos formativos e investigativos, resultou o aprofundamento de contributos concetuais relevantes para uma melhor compreensão das implicações da diversidade linguística nos processos de ensino/aprendizagem e de formação de professores, bem como a intencionalidade de disseminação de boas práticas. O resultado é esta coletânea que, não pretendendo oferecer uma panorâmica completa do que se faz em Portugal e além-fronteiras neste âmbito, pretende oferecer (mais) um espaço de reflexão e discussão, proporcionado por mais de uma dezena de reconhecidos especialistas nacionais e estrangeiros e a quem as coordenadoras estão reconhecidas pelo apoio e encorajamento dados. Distribuídos por duas partes essenciais (“PLNM e Bilinguismo”, por um lado, e “Educação Bilingue e Formação de Professores”, por outro), os 12 textos aqui compilados correspondem a capítulos problematizadores de questões inerentes ao objeto em estudo que, para além de auxiliarem os seus leitores na compreensão/discussão das multifacetadas questões que lhe são inerentes, viabilizam espaços de reflexão que urge (re)fazer, de modo continuado. Na primeira parte, dedicada às questões da aprendizagem do PLNM em contexto nacional e outros, as autoras discutem os conceitos organizadores da aprendizagem linguística nestes contextos, bem como as condições sociais, linguísticas e educativas que determinam o sucesso da aprendizagem do PLNM. Maria Helena Carreira (Universidade de Paris 8/França) discute algumas especificidades da aprendizagem do PLNM no contexto da sala de aula e chama a atenção Currículo Europeu Comum para a formação de professores ao longo da vida: aumentar as competências dos professores para o ensino de alunos imigrantes multilingues (www.eucim-te.eu/33723). Este projeto foi financiado com o apoio da Comissão Europeia: Grant Agreement Number 2008-3349/001-001, concerning Project Number 141836-LLP-1-2008-DE-COMENIUS-CMP, entre a Agência Executiva de Educação, Audiovisual e Cultura (EACEA) e a Universidade de Colónia.

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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

para a importância de se associar a componente linguística aos perfis psicossociais e culturais dos aprendentes. Cristina Flores (Universidade do Minho/Portugal) problematiza o conceito PLNM, utilizado de forma abrangente como englobando diferentes tipos de Língua Não Materna (LNM): Língua Segunda (L2), Língua Estrangeira (LE) e Língua de Herança, realçando a necessidade de incluir na investigação sobre o PLNM este último tipo, falado pelas segundas e terceiras gerações de emigrantes portugueses. Maria da Graça Pinto (Universidade do Porto/Portugal) lança um olhar crítico sobre conceitos como língua e linguagem, bilinguismo, multilinguismo e plurilinguismo, ao mesmo tempo que procura definir a relação entre cognição e bilinguismo, problematizando a complexidade do conceito bilinguismo e os variados perfis de falantes bilingues. Cristina Martins (Universidade de Coimbra/Portugal) apresenta-nos o desenvolvimento, os objetivos e as principais características do “Corpus de Produções Escritas de Aprendentes de PL2” (PEAPL2), tornado recentemente acessível pelo Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA), uma ferramenta valiosa para a pesquisa sobre a aquisição do PLNM. Maria Helena Ançã (Universidade de Aveiro/Portugal), partindo de entrevistas realizadas junto de falantes cabo-verdianos e angolanos sobre perceções e crenças sobre a LP e outras línguas, defende que os “saberes vulgares”, de africanos não-especialistas sobre a LP e sobre a sua aprendizagem têm uma relevância social e cultural evidentes, sendo conhecimentos fundamentais para a educação em português e, em particular, para o PLNM. Na segunda parte, dedicada à formação de professores para a diversidade linguística nas escolas, os autores refletem sobre as implicações para a formação de professores da atual crescente diversidade cultural e linguística nas escolas. Antonio Bolívar e Rosel Bolívar Ruano (Universidade de Granada/Espanha) discutem políticas e práticas de formação (inicial e contínua) de professores como aspetos centrais para a melhoria da educação. Urge questionar os fins e objetivos da formação, colocando a tónica na centralidade das práticas docentes, desenvolvidas em comunidade educativa e na promoção de boas experiências de aprendizagem proporcionadas aos alunos. Joana Duarte (Universidade de Hamburgo/Alemanha), Cristina Flores e Maria Alfredo Moreira (Universidade do Minho/Portugal) apresentam as origens e o enquadramento do projeto de desenvolvimento de um currículo europeu comum para a formação de professores de Língua Segunda (projeto EUCIM-TE). É apresentada a adaptação deste currículo ao contexto português e são discutidas as condições da sua implementação. Dulce Pereira, Pedro Martins e Vanessa Antunes (ILTEC/Portugal) apresentam alguns resultados do projeto Turma Bilingue, desenvolvido numa escola básica da zona de Lisboa com crianças portuguesas e cabo-verdianas. Assente numa perspetiva dinâmica de biliteracia, este projeto visou promover não apenas competências linguísticas bilingues nas crianças, mas também a interculturalidade, sinalizando o estatuto 20

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Introdução

e o prestígio iguais de todas as línguas e culturas maternas, devolvendo, assim, aos falantes de uma língua minoritária, uma relação harmoniosa com as suas origens. José António Brandão (Universidade do Minho/Portugal) apresenta uma reflexão à volta da Didática do PLNM – L2/LE, em contexto de lecionação pós-graduada, orientação de trabalhos de investigação e arguição de provas académicas. No seu entender, o espaço da Didática do PLNM, enquanto lugar de teorização dos processos de ensino/aprendizagem visando uma prática mais reflexiva com base num conhecimento pluridisciplinar, é complexo e simultaneamente de generalização e de especificação, pois está impregnado de uma grande diversidade e heterogeneidade contextual. Partindo da experiência acumulada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Rosa Bizarro (Universidade do Porto & CITCEM/Portugal) e Fátima Braga (ESHM & CITCEM/Portugal) fundamentam uma proposta (que apresentam) de um segundo ciclo de estudos sobre Questões Interculturais e Ensino Inclusivo do Português Língua Segunda, a partir de um referencial de ação ancorado no conceito de escola inclusiva e educação intercultural, considerado mais adequado para uma educação e formação mais justas e respeitadoras da dignidade humana. Charles Berg (Universidade do Luxemburgo/Luxemburgo) fundamenta algumas das opções tomadas no âmbito do projeto europeu EUCIM-TE, partindo do reconhecimento do facto de faltarem aos professores das escolas em toda a Europa as aptidões e competências para lidarem adequadamente com a diversidade linguística. A seu ver, a educação escolar deve proporcionar atividades e interações inclusivas e respeitadoras das identidades multilingues dos alunos destas escolas, questionando ainda o papel das Universidades na gestão da incerteza (educacional e não só) da pós-modernidade. Após traçar um breve historial do PLNM nas escolas portuguesas, Paulo Feytor Pinto (Associação de Professores de Português) apresenta um contributo para pensar a formação inicial dos professores de PLNM, detalhando as componentes de formação que considera essenciais para uma plena integração dos alunos – últimos destinatários da formação – na escola e na comunidade de acolhimento. De sublinhar, ainda, o contributo dado a cada parte pelas duas comentadoras expressamente convidadas para o efeito: a Professora Doutora Perpétua Gonçalves (Universidade Eduardo Mondlane/Moçambique) e a Professora Doutora Sílvia Pfeifer (Universidade de Aveiro/Portugal), a quem as coordenadoras e os diferentes autores deixam aqui uma palavra específica de agradecimento. Uma palavra de gratidão é igualmente devida à Professora Doutora Maria José Reis Grosso (Universidade de Lisboa/Portugal) que, como diretora da coleção em que este volume surge inserido, de imediato se disponibilizou para acolher este nosso projeto e para redigir a Nota Prévia desta obra. Outras instituições são dignas de menção: a Fundação para a Ciência e Tecnologia, pelo apoio à licença sabática de Maria Alfredo Moreira e à publicação desta obra, e a LIDEL, que desde logo demonstrou grande recetividade a este projeto.

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PARTE I PLNM E BILINGUISMO


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Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino

No crescente contexto de imigração associado aos processos de globalização e de mobilidade no espaço europeu e mundial, Portugal tem vindo a tornar-se um país cada vez mais multilingue e multicultural. A igualdade de oportunidades no acesso a uma vida com melhores condições, o combate à pobreza e a dignificação humana, em geral, passam pela plena escolarização das crianças e jovens. A literacia na língua oficial do país de acolhimento é crucial à inclusão, emancipação e qualidade de vida, desempenhando um papel central na prevenção da exclusão social e na promoção da justiça social, o que torna a aprendizagem da língua uma questão de direitos humanos que a todos diz respeito. Esta obra visa proporcionar um espaço de reflexão das implicações pedagógico-didáticas e da formação de professores, trazidas pelo facto de a língua portuguesa não ser a língua materna para cerca de 14% da população estudantil nacional. Adicionalmente, e enquanto língua falada por cerca de 250 milhões de pessoas, a língua portuguesa assume um lugar de destaque no mundo, quer como instrumento de cultura, quer de inclusão social. Esta realidade traz novos reptos aos processos de ensino e de aprendizagem do Português Língua Não Materna (PLNM) e, consequentemente, à formação de professores e à investigação que esta obra se propõe divulgar e/ou problematizar. Este livro dirige-se, assim, a professores, investigadores, formadores e outros interessados na educação de sujeitos para quem a língua materna não é a língua oficial do país de acolhimento, a trabalhar e/ou estudar em contextos educativos formais e não formais, e para quem as problemáticas do ensino e aprendizagem do PLNM são relevantes.

Rosa Bizarro é Professora, investigadora e formadora de professores em Portugal e no estrangeiro (Alemanha, Argentina, Áustria, Cabo Verde, França, Grécia, Reino Unido, São Tomé e Príncipe, Sérvia e Uruguai...). Doutorada em Didática das Línguas, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tem como principais áreas de investigação a educação em línguas (nomeadamente o português como língua estrangeira/língua segunda), a formação de professores, a tradução e as questões interculturais ligadas à educação. Autora de diversas publicações nacionais e estrangeiras, é membro investigador da unidade I&D CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar ‘Cultura Espaço e Memória’), sedeada na Universidade do Porto. Maria Alfredo Moreira é Professora Auxiliar do Departamento de Estudos Integrados de Literacia, Didática e Supervisão da Universidade do Minho. Doutorou-se, em 2004, em Metodologia do Ensino das Línguas Estrangeiras pela Universidade do Minho. Tem como principais áreas de investigação a educação em línguas estrangeiras, a supervisão pedagógica e da formação e a pedagogia no ensino superior. Autora de diversas publicações nacionais e estrangeiras, tem ainda experiência de formação de professores em Portugal e no estrangeiro (Alemanha, Espanha, EUA, França, Maldivas, Suécia, Timor-Leste). É membro do Centro de Investigação em Educação (Universidade do Minho).

www.lidel.pt

Cristina Maria M. Flores é Professora Auxiliar do Departamento de Estudos Germanísticos e Eslavos da Universidade do Minho. Doutorou-se, em 2008, em Ciências da Linguagem/Linguística Alemã pela Universidade do Minho. As suas principais áreas de investigação são o bilinguismo, a aquisição de L2, a linguística alemã e o PLNM, sendo autora de diferentes publicações nacionais e internacionais, relacionadas com estas temáticas. É membro da Linha de Ação de Ciências da Linguagem do CEHUM (Centro de Estudos Humanísticos) da Universidade do Minho.

ISBN 978-972-757-928-0

9 789727 579280


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