Paraíso Violentado Este livro é revelador do relato histórico da nossa história para a preservação da memória coletiva, relato de experiências vividas por uma mulher durante o seu trajeto de vida como criança, como jovem, como esposa, como responsável, como prisioneira de guerra e como exilada que testemunhou com serenidade todo o sofrimento individual e coletivo que passara na jornada da libertação da nossa querida Pátria. É uma história não só de sofrimentos, mas também de alegria, de fidelidade, de determinação e de afirmação.
Fátima Guterres
Timor
ANTÓNIO BARBEDO DE MAGALHÃES
Fátima Guterres não sobrevoa, mas descreve num ritmo lento o seu drama e o do seu povo. Neste mergulho no inferno das vidas ceifadas, no genocídio de um povo, nas cenas de tortura, mutilação e de violação perpassa um olhar contemplativo. É um olhar feminino que se compadece, que espera apesar de todos os sinais contrários, onde o humor, o riso, o sorriso, os sinais da bondade em si e nos outros são um lampejo da humanidade que não desapareceu totalmente neste campo de ruínas. A sua memória assombrosa, meticulosa dá voz a essas vozes que desapareceram tão cedo da sinfonia do povo timorense.
ISBN 978-989-752-098-3
9 789897 520983
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FR. JOSÉ LUÍS DE ALMEIDA MONTEIRO
Timor I
A experiência de vida e de luta da Fátima era o paradigma da vida de muitas resistentes timorenses e simbolizava bem as heroicas mulheres da FRETILIN. Não só pelo que sofrera de torturas e humilhações, mas também pela sua inabalável determinação na luta.
Paraíso Violentado
XANANA GUSMÃO
Timor
Paraíso Violentado Fátima Guterres
Timor Paraíso Violentado Memórias de um Passado
Fátima Guterres
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Copyright © julho de 2014 LIDEL – Edições Técnicas, Lda. ISBN: 978-989-752-098-3 Pré-impressão: Ana Cristina Santos Impressão e acabamento: Times Printers Pte. Ltd., Singapura Dep. Legal: 377975/14 Capa: José Manuel Reis Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.lidel.pt) para fazer o download de eventuais correções. Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, digitalização, gravação, sistema de armazenamento e disponibilização de informação, sítio Web, blogue ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora, exceto o permitido pelo CDADC, em termos de cópia privada pela AGECOP – Associação para a Gestão da Cópia Privada, através do pagamento das respetivas taxas.
ÍNDICE Dedicatória........................................................................................
V
Prefácio..............................................................................................
IX
À Memória.........................................................................................
XIII
Agradecimentos.................................................................................
XV
1.ª Parte Uma Infância Feliz........................................................
1
2.ª Parte Vida Social Timorense antes da Invasão........................
85
3.ª Parte Os Vertiginosos Anos de 1974 e 1975........................... 111 4.ª Parte A Invasão Indonésia....................................................... 147 5.ª Parte Na Resistência............................................................... 233 6.ª Parte Prisão e Tortura............................................................. 325 7.ª Parte Reencontro com a Família e Vida na Cidade de Díli Ocupada....................................................................... 355 8.ª Parte Vinda para Portugal....................................................... 387 Testemunhos...................................................................................... 395 Pequeno Vocabulário......................................................................... 405 Glossário............................................................................................ 415 Bibliografia......................................................................................... 417
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Mapas................................................................................................ 419
III
Artur: A ti dedicarei sempre Recordação e Saudade Tenho de ti a semente Universal da bondade Raiada do Sol nascente.
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Fugiste de mim Amor Ávido da tua raça Tolhido por uma dor Irmã da tua desgraça Mas cá no meu coração A saudade é união.
A Memória é obra coletiva e individual. É uma constelação plural e sempre em atualização. É testemunho e é crítica – nem há memórias acabadas, nem perfeitas. O certo, no entanto, é que há testemunhos que, pela sua autenticidade e coragem, ganham uma força que em muito ultrapassa a simples narrativa de acontecimentos passados. E que marcam o nosso presente. Fátima Guterres atravessou um dos períodos mais negros da história recente de Timor-Leste, foi vítima e testemunha. Soube resistir e tem a força moral de hoje nos dar, na sua própria voz, a história de uma família e de um povo que, sofrendo a opressão, permaneceu fiel aos seus valores e à sua luta pela dignidade. Lisboa, 1 de maio de 2014
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Alfredo Caldeira
VII
PREFÁCIO Quanto mais longe os filhos se encontram, mais perto estão do coração da sua Terra-Mãe. Nem o tempo, nem a distância impedem que eu continue a sentir com intensidade nas vertentes da vida, desde os verdes anos da mocidade, as minhas andanças de um passado humilde, cheio de simplicidade e ternura, algumas fragmentadas com neblinas, outras recordo com nitidez, como se acontecesse há menos de uma semana e também da vivência quotidiana da brutal invasão indonésia com todo o tipo de crueldade. Ficar calada é consentir, fazer um pacto e ser cúmplice. Escolho a via dos ancestrais anónimos lia na’in. As experiências, mesmo agitadas ou perturbadoras guardadas no coração, devem ser expostas ou deixará de haver memória delas. Perante os acontecimentos passados nas montanhas, quando o povo timorense atravessava uma situação dramática resistindo com os maiores sacrifícios, o encanto e a beleza deslumbrante da natureza que nos aconchegava e o clima de paz que, de vez em quando, ali se respirava, foram dons preciosos que fizeram brotar em mim a inspiração de escrever. Embora as condições fossem desfavoráveis, com entusiasmo consegui fazer alguns apontamentos em diferentes momentos e situações, mas depois perdi‑os durante os ataques inimigos.
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Mesmo assim, sempre acreditei e confiei na minha memória e que algum dia iria dar o meu testemunho escrito da realidade, que pudesse servir como um marco histórico timorense na posição do Mundo. Em consequência dos tão maquiavélicos planos do inimigo, a campanha do cerco e aniquilamento, depois de presenciar a morte do meu adorado marido, fui capturada e presa sob várias ameaças e humilhações, procurei sempre a verdadeira coragem, de como dominar a situação e agir em todas as circunstâncias com perfeita calma, para continuar a sobreviver, porque cada dia tinha uma cruz diferente para carregar. IX
Timor – Paraíso Violentado
Já depois de posta em liberdade, sempre atormentada pelos vestígios, mesmo correndo riscos, em memória dos mártires e heróis, recomecei a escrever. Altura em que Timor se encontrava no isolamento e no abandono, o destino traçou novo rumo à minha vida. Com a minha família, fomos forçados a abandonar a nossa querida terra natal, os familiares, amigos e o povo. Uns dias antes de partirmos, por motivos comprometedores, tive que me despedir dos meus apontamentos, queimando‑os. Foram companheiros de todos os momentos, lembrando‑me sempre do passado vivido. Apesar das infinitas saudades, foi uma grande consolação refugiar‑me num país democrático, onde posso gritar aos quatro ventos, o bloqueio completo da ilha, o genocídio físico e cultural. Para continuidade das tarefas, em defesa do território de Timor‑Leste e do seu povo, pouco tempo depois assumi em Portugal o cargo de Vice ‑secretária da OPTT (Organização Popular dos Trabalhadores de Timor), uma das estruturas da FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente). Participei em inúmeras atividades, vários testemunhos foram apresentados um pouco por todo o Portugal Continental, Açores e no Brasil. O primeiro foi no colóquio sobre Timor‑Leste: Identidade do seu Povo e perspetivas para o futuro, que decorreu no círculo Universitário do Porto, promovido pela Reitoria da UP, em colaboração com a Comissão dos Direitos do Povo Maubere e a Associação Paz e Justiça para Timor-Leste, e tinha como objetivo contribuir para a resolução do problema do território invadido pelas tropas indonésias. No decorrer de simples conversas, histórias contadas, surgia como essência de um sentimento justo, desde então, comecei a colaborar e participar com o Professor Catedrático Barbedo de Magalhães, coordenador das Jornadas de Timor da UP, do curso de Ação de Formação para a democracia em Timor‑Leste, e noutras iniciativas que organizava, sempre contando com as opiniões valiosas da Dra. Judite Barbedo. Logo depois das 5.as Jornadas de Timor da UP, recebi uma carta do Professor Barbedo com algumas perguntas provocadoras, desafiando‑me para que abordasse em pormenor por escrito, os aspetos da minha vivência e experiência na Resistência. Embora com o meu compromisso sempre presente, no início causou‑me uma comoção, pois tratava-se de um assunto muito difícil, melindroso e X
Prefácio
achei que era incapaz de o fazer, mas com o apoio dos meus pais, da Dra. Judite Barbedo e da arquiteta Lígia de Jesus, enchi-me de coragem e isso fez com que confrontasse as dolorosas memórias que me esmagavam, desde a sufocação da cultura de um povo hospitaleiro, cheio de humor, de sabedoria, até às chacinas, e outros dramas que se viveram e da terra queimada. Enquanto escrevia, ocorreu‑me, o escritor mesmo que seja sedutor, é sempre vítima de vários preconceitos, entretanto não se pode desfazer algo que já aconteceu, por isso, tendo eu a preocupação de registar as verdades e descrever algumas facetas pouco conhecidas, de modo que, pedra a pedra, mais do que ninguém, produzi este trabalho de sabor exótico, convidando o leitor, a uma reflexão e ajudá-lo a compreender os momentos de uma passagem pela história trágica e a conhecer as suas belezas e também as suas necessidades, em especial àqueles que apenas têm uma vaga imagem de uma terra distante. Espero que o leitor tenha paciência de os ler até ao fim. Que este livro seja uma singela e humilde homenagem ao valoroso Povo timorense pelo grande amor à Pátria e o que cada um transportou em cada momento de angústia, de preocupação e manifestação de fé e de confiança. Aos sábios e gloriosos membros do Comité Central da FRETILIN, com elevada admiração e profundo respeito. Às FALINTIL que resistiram heroicamente na luta em defesa dos seus direitos. Aos jovens FAD (Forças de Auto Defesa) que combateram dando o melhor da juventude, generosos e confiantes na justeza da luta. Às mulheres timorenses que desempenharam um papel importantíssimo na luta, que ninguém sabe o que viveram nas horas altas de sofrimento e que mantiveram a sua dignidade até ao último momento. A todos os que tombaram à custa de muitos sacrifícios e que sonharam com a liberdade da sua Terra-Mãe e não puderam vê‑la concretizar‑se. © Lidel – Edições Técnicas
Honra e Glória aos Heróis da Pátria! Fátima Guterres
XI
À MEMÓRIA Do Artur, meu querido e inesquecível marido, amigo, companheiro, cúmplice de todos os momentos e a força moral que dá sentido, de saber viver e lutar por um ideal. Do Genito e da Nina, meus adorados irmãos, em defesa de uma razão, foram ceifados enquanto floresciam, sem poderem usufruir a época mais importante e brilhante das suas vidas. Do meu adorado pai, José Raimundo, que viveu ao sabor do terror, ameaças, perseguições, outros vícios de corrupção e as condições difíceis da vida. Da minha querida prima Fátima Irene, que presenciou e viveu o drama do seu Povo, marcado por dor e sofrimento. Dos meus primos Zélia Alves, Milú Alves, Mindo Alves e dos companheiros de luta, Armando Pina, Joaquim Pinheiro, Fernando Lay, Afonso Peixoto e Irene Gomes, que, em defesa dos seus direitos, à vida, à liberdade, à dignidade humana, foram injustamente massacrados, sem piedade nem julgamento. Dos meus estimados padrinhos, Pascoela Gomes, e António Guterres, e do meu querido tio Tito Lívio Marques, que também viveram as míseras condições de vida, sofreram com as barbaridades, crueldades e todas as maldades organizadas e lançadas em Timor‑Leste.
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Do meu amigo e companheiro de luta Hélder Neves, secretário da OPTT, uma das estruturas da FRETILIN em Portugal. Do meu grande amigo Engenheiro Manuel Barbedo Magalhães (pai do Professor Barbedo), sempre atento aos acontecimentos dramáticos em Timor‑Leste e pela nossa amizade. Do meu caríssimo amigo D. Décio Pereira, Bispo titular de St.º André (São Paulo), pessoa muito simpática, carinhosa e um excelente pastor, que juntos rezámos pelo duro calvário do povo timorense, na celebração da missa de domingo de ramos em São Paulo, Brasil. XIII
Timor – Paraíso Violentado
Da minha inesquecível amiga brasileira Lília Azevedo, do grupo Clamor por Timor, muito ativa e inteligente. Em São Paulo, ela acolheu-me na sua casa, orientou‑me e acompanhou‑me em quase todos os eventos sobre Timor, por ela exprimo a minha profunda gratidão, dor e eterna saudade.
XIV
AGRADECIMENTOS Aos meus queridos e estimados pais, com todo o amor do meu coração, obrigada por abençoarem a minha vida e por uma vida inteira de apoio e confiança. Foram uma autêntica biblioteca, contribuindo com carinho e sabedoria para que o meu trabalho se tornasse notável. Amo‑vos muito. Ao meu tio Henrique Guterres, que em convívio familiar nos transmitia a cultura timorense e que serviu para enriquecer o meu trabalho. Aos meus adorados irmãos e cunhados, com quem, entre tantas outras conversas, falei da vivência em Timor, dos acontecimentos passados, época que era sempre recordada com saudades, e que me ajudou mais do que pensava. Aos meus murak rai e queridos sobrinhos, Eugénia, Margarida, Isabel, Artur, José, Gonçalo, Àlvaro Mito, Filomena e Paulinha, por me encherem o coração de alegria.
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Ao meu querido marido, João Tolentino, que sempre se revelou carinhoso, compreensivo, apoiando-me em tudo e paciente com as inúmeras vezes que tive desavenças com o computador e pela inestimável ajuda com os mapas de Timor, o que me facilitou a situar a trajetória dos guerrilheiros na Resistência. Ao Professor Catedrático Barbedo Magalhães, caríssimo amigo que acreditou em mim, que me defendeu, que me convenceu e me incentivou e que nunca deixou que eu desistisse. Foi uma fase de ensinamentos, de desafios, coragem, esforço, firmeza e orientou o meu trabalho sendo também cúmplice e a disponibilidade fundamental com o seu tempo. Melhor agente, que me arrancou à obscuridade e responsável que me deu alento necessário para terminar este projeto. Foi um grande privilégio trabalhar com alguém com o seu enorme talento. É com muita emoção e carinho que lhe agradeço. À minha grande amiga Dr.ª Judite Barbedo, pelos comentários muito úteis, referentes ao primeiro esboço do meu trabalho, encorajou‑me e pressionou para que eu continuasse a escrever, pois dizia‑lhe não ser capaz. XV
Timor – Paraíso Violentado
Tanto à Dr.ª Judite, como ao professor Barbedo e aos seus dois filhos adorados, Inês e Samuel, todos muito carinhosos e simpáticos sempre que me acolhiam lá em casa, todas as vezes, quando ia ao Porto. À Arquiteta Lígia de Jesus, irmã da mesma mãe Pátria, nos momentos de mais necessidades, ela tentava sempre ajudar‑me e muitas vezes chorámos juntas, quando falávamos do passado revivido dos factos. À Mafalda Sofia dos Santos e ao Carlos Alexandre de Jesus, são primos, ajudaram‑me a passar para o computador a minha comunicação, ainda em manuscrito, para ser apresentada nas 5.as Jornadas de Timor da UP, mas nunca pensei que o conteúdo pudesse atingir tanto os sentimentos dos dois, quase miúdos, que não faziam a mínima ideia de como era a situação e os horrores da guerra. Vi‑os chorar e sentia‑me tão culpada. Mesmo assim, foram muito corajosos e conseguiram terminar o trabalho. Aos meus companheiros de luta, Dr. Luís Costa, Zeca Piedade, João Faria, Azé Reis, Madys Guterres, Adida Costa, Estevão Cabral e Apita Silva. Muitas das conversas construtivas que tivemos, ajudaram‑me muito a lembrar-me de alguns itinerários que tomámos, nomes de alguns responsáveis e dos sítios por onde passámos e estivemos, isso fez com que conseguisse completar os fragmentos que faltavam no meu trabalho. À Dr.ª Teresa Cunha, amiga e irmã de coração, sempre pronta a prestar ‑me auxílio quando a ela recorria. Ao jornalista Mário Robalo e à Dr.ª Rosário Rodrigues, meus grandes amigos, que tinham todo o tempo para me dar o melhor apoio e oportunos conselhos. Ao Dr. Francisco Espadinha, meu médico e o da minha família, que nos tratou e apoiou desde que cá chegámos de Timor. Ao querido primo amigo António Frias Marques, de uma bondade sem limites, nunca deixou de se preocupar comigo ao longo desses anos todos. Aos amigos da FRETILIN e companheiros de luta, Abílio Araújo, Guilhermina Araújo, Mari Alkatiri, Roque Rodrigues, José Luís Guterres e Ramos-Horta, que me acolheram com todo o respeito, partilhando comigo toda a dor e o sofrimento que transportava o drama do nosso querido País Timor-Leste. À Dr.ª Diana Andringa por toda a sua disponibilidade, sabedoria, inteligência e a preciosa paciência para a revisão do meu trabalho, que vou ficar‑lhe sempre em dívida.
XVI
Agradecimentos
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Agradeço a todos os que generosamente me ajudaram, os meus colegas e amigos dos Cursos na Faculdade de Letras de Lisboa, Mitsue Tanaka, japonesa; Jean Pierre, corso; Urbain Yombé, congolês; Holger Konrad, alemão; Lacramioara Stroe, romena; Sílvia Spánková, checa; Tomas Plattner, austríaco; Gaspare Trapani, italiano; Pedro Tanggal, moçambicano; Ana Amélia, portuguesa; e os amigos Claúdia Conceição, Paula Isabel Fonseca, Fernanda Jorge, Armandina Aguiar, Hermínia Bessa, Ana Caeiro, Ana Faria, Graça Afonso, Maria José Afonso, Ana Santos, Dr.ª Pascoela Barreto, Dr. Rui Marquês, Dr.ª Francisca Assis, Artur Marcos, Dª Helena Espadinha, Pe Baptista, Frei José Luís Monteiro e Frei João Xerri, aos meus Professores Doutores, que me transmitiram os seus conhecimentos, Inocência Mata, Valentina Ferreira, Clara Vitorino, Connie Cabral, Francisco Ferreira, Francisco Ramos, António Loja Neves, António Ventura e José Pascoal e, por último, à minha amiga brasileira a Dr.ª Teca Carvalho, do grupo de S. Domingos, em São Paulo.
XVII
1.ª PARTE UMA INFÂNCIA FELIZ
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1. Os primeiros anos Foi como numa manhã de primavera, serena, de um céu azul e raios de sol incidindo sobre o lar, que decorreu a infância dos nove filhos de José Raimundo Guterres e de Margarida do Carmo Gomes Guterres. A alegria pura e a felicidade seriam porém quebradas quando Cirilo, o mais velho, partiu para outro mundo, ainda de tenra idade. Como o algodoeiro plantado no campo, para depois tirar do fruto o algodão, fiar, tingir e tecer o tais, também os filhos de José Raimundo e Margarida cresceram no meio de muito cuidado, carinho e amor, respi‑ rando o ar puro e os delicados perfumes das esplêndidas flores que a leve aragem espalhava pela atmosfera deslumbrante, cheia de mistérios, e o pi‑ toresco da natureza no coração de Timor. Nos primeiros anos da infância já percorriam alguns recantos da ilha, correndo descalços sobre os prados adormecidos e orvalhados, iluminados pelo sol, em que as gotas de orvalho pendiam das folhas das árvores e se espalhavam no relvado, como pequenos pedaços de tule branco e onde se ouvia o doce chilrear dos pássaros, que levantavam voo a bater as asas e pousavam de novo, a gritar novidades uns aos outros. Viviam com a simplicidade e ingenuidade das horas mais felizes da inocência de infância, sem se preocuparem com as agitações que passavam por eles. Como qualquer criança timorense, que acompanha sempre os pais, onde quer que vão, assim também esses nove irmãos, de que faço parte, este humilde quadro familiar, não fugiu à lei. Apesar de sermos muitos irmãos, os meus pais sempre nos habituaram a respeitar as pertenças de cada um, que eles nos arranjavam dentro dos seus esforços, criando assim um bom clima no nosso lar. Ao fim do dia juntávamo‑nos todos, de joelhos diante do pequeno oratório construído pelo meu pai, iluminado com uma lâmpada de óleo de coco; e, nas datas dos nossos aniversários, acendiam‑se seis velas de cera ou estearina, para pedir a Deus ajuda e bênçãos celestiais. 1
Timor – Paraíso Violentado
Embora fosse sempre de saúde bastante frágil e a mais pacífica, tornei ‑me muito cedo mensageira da família. Era eu quem tomava as iniciativas das brincadeiras, que terminavam quase sempre com algum de nós com o nariz a sangrar, ou a chorar, com arranhões dos pequenos arbustos cheio de picos nas pernas e nos braços. A Olga, que era a mais traquina, ficava empoleirada nas árvores ou no cimo dos rochedos aos berros, à espera que alguém a fosse tirar. O meu pai, enfermeiro, tal como os outros colegas, era frequentemente colocado pela Repartição de Saúde nos postos sanitários do interior da ilha. Depois faziam‑se transferências recíprocas, a pedido ou por conveniência de serviço, e deste modo ficámos a conhecer várias zonas de Timor. Quando o meu pai foi destacado para a vila de Ossú, a distância que sepa‑ rava a casa onde morávamos da escola era muito grande, mas, nos primeiros anos, na companhia de outras crianças, ainda percorríamos a pé diariamente vários quilómetros, quer fizesse sol ou chuva com relâmpagos e ventanias que deitavam abaixo as árvores ao longo das estradas. Centenas de búfalos pastavam por todo o lado e na maioria das vezes tornavam‑se perigosos. Algumas pessoas de Ossú contavam que os búfalos tinham perseguido um rapaz e ele para se escapar trepou para uma árvore bastante alta, mas os animais conseguiram descobrir‑lhe o rasto, colocaram‑se todos debaixo e, com os seus bafos, baixaram a árvore, apanharam o rapaz e mataram‑no à marrada. Para evitar incidentes, os meus pais resolveram pedir às senhoras Madres Santina Gotti e Carolina Ferrari – que foram professoras da minha mãe em Manatuto – que eu, as minhas duas irmãs e a minha prima Alda Gomes, que vivia connosco na altura das aulas, ficássemos internas no colégio feminino Óscar Ruas, situado nos arredores de Ossú e administrado pelas Madres Canossianas, cinco italianas, uma timorense e uma portuguesa.
2. O Colégio O Colégio Óscar Ruas era um grande edifício com muitas divisões, as paredes pintadas de um amarelo muito pálido, as colunas cilíndricas mui‑ to grossas, o chão todo cimentado. No centro situava‑se a capela com o Santíssimo no sacrário, com a porta sempre aberta, para receber visitas de todos os que o queiram fazer. Havia dois tanques donde jorrava água com força, que serviam para nos lavarmos diariamente. No fundo do alpendre, situava‑se o palco das atuações teatrais. Na parede da sala de visitas, entrada principal, encontrava‑se bem visí‑ vel um grande retrato colorido do Governador Celestino da Silva. No centro 2
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Uma Infância Feliz
havia uma pequena mesa e, à volta, uns cadeirões; o chão era todo ladrilha‑ do, bem como o corredor, com mais de vinte metros de comprimento. Eu, as minhas irmãs e as outras meninas da nossa idade adorávamos andar de joelhos, com as mais velhas agarrando‑nos pelas mãos e puxando‑nos de uma ponta à outra. Ou então íamos escorregar no corrimão das longas es‑ cadarias do colégio. Quando as senhoras Madres nos apanhavam, punham ‑nos de castigo, durante algumas horas. Porque já tínhamos torcido muitas vezes os braços e esfolado os joelhos, na hora das nossas orações não nos podíamos ajoelhar. Além de que rompíamos frequentemente os fundilhos das cuecas, o que dificultava remendá‑las. Estavam internas cerca de duas centenas de alunas, idas de várias regi‑ ões de Timor, todas numeradas, para ser mais fácil controlar‑nos. As normas eram muito rigorosas e a que não as cumprisse era severa‑ mente castigada ou mesmo expulsa. Tínhamos um horário muito sobrecar‑ regado e com escalas estipuladas. Eram muito poucas as que calçavam sapatos quando entraram no colé‑ gio. A maioria não os tinha, porque os pais eram muito pobres e não tinham possibilidades de lhos comprar. Então, para ser tudo igual, toda a gente ti‑ nha que andar descalça. Nos dias de aulas usava‑se um uniforme de xadrez verde. Aos domingos, no Natal e na Páscoa, o uniforme era de outra cor e todas já iam calçadas com sapatilhas brancas e meias. Nas procissões de Corpo de Deus e de N.ª Sr.ª de Fátima íamos todas de vestido branco, com a cabeça coberta de lenços ou véus também brancos. Havia missa todos os dias às seis da manhã na Capela do colégio. Aos domingos também, mas depois tínhamos de estar às oito horas na igreja da vila de Ossú, para assistir à celebração da missa, em conjunto com os alunos internos e externos do colégio masculino de Santa Teresinha e todos os fiéis católicos de Ossú. Rezava‑se muito: ao levantar‑se, ao deitar‑se, antes das refeições e no início de todas as atividades. Antes de começar as aulas, entoava‑se o Hino Nacional Português, “A Portuguesa”, acompanhado ao piano, pela senhora Madre Carolina Ferrari. As professoras eram as próprias Madres e algumas monitoras timorenses que ficavam também internas no colégio. Eram muito exigentes, quando fazíamos muitos erros, na redação, no ditado ou na matemática, apanhá‑ vamos um “Mau” bem grande e grosso, com tinta vermelha, que ocupava toda a folha – que depois, de castigo, trazíamos penduradas nas costas durante todo o dia, à vista de todos. Lembro‑me da Esperança Costa, da Fátima Piedade e da Isabel Castro, que tinham artes de escrever bem à mão e faziam letras que eram uma perfeição; uma das professoras não gostou, ordenou‑lhes que mudassem de caligrafia, mas, como teimaram em mantê ‑la, puseram‑nas de castigo. 3
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Quem estivesse distraída durante as aulas, ou fosse apanhada a falar o tétum – que era proibido, como maneira de aprender o português, visto que a maioria das alunas quase não entendia nada – era castigada de diversas formas. Tomávamos as refeições em pé no centro do refeitório, com a “roseta preta” – feita de propósito para as castigadas – pregada no peito; só era tira‑ da quando se fosse pedir desculpas de joelhos às senhoras Madres Josefina, Carolina, Hermínia, Margarida, ou à Madre Elsa Sabbadin, a Superiora do colégio, que era muito rigorosa. Outras vezes íamos para a capoeira com os livros para estudar, fechadas e trancadas por fora, ou para o curral, tomar conta dos porcos. Enquanto es‑ perávamos pela hora do perdão, saltávamos para fora da cerca e púnhamo ‑nos a trepar às toranjeiras e às goiabeiras que cresciam à volta, carregadas de frutos; comíamos alguns e dávamos o resto aos porcos. Na maioria das vezes, levavam‑nos o almoço para o sítio de castigo, e os porcos quase que nos atacavam para tirar a nossa comida. Um dia, uma colega nossa, Rosário Belmonte, muito desobediente, foi posta de castigo na capoeira e, durante o tempo que aí esteve, entreteve‑se a arrancar todas as penas aos pintos e depois pintou‑lhes as cabeças de ver‑ melho com mercurocromo. Quando chegou a hora de terminar o castigo e a senhora Madre Francisquinha lhe foi abrir a porta, ficou muito surpreen‑ dida, pensando que os pintos tinham apanhado alguma doença estranha. Havia a catequese em português e em tétum, para aquelas que ainda não percebiam muito bem o português. Todas as monitoras e as mais velhas eram tratadas por “mana”, uma forma de respeito. Além dos trabalhos manuais e artesanais, aprendia‑se também a coser, remendar as roupas, colocar os botões, arranjar as bainhas das roupas, fa‑ zer bordados, ponto de cruz, croché e a Madre Margarida selecionava um número, bastante limitado, para lhe ensinar o desfiado (bordado tradicional timorense). A Madre Joaninha, que era a Prefeita do colégio, todos os sábados or‑ ganizava vários grupos que se encarregavam de fazer limpezas em todo o interior do edifício. O resto era no pátio: cortava‑se a relva, arranjavam‑se os jardins ou íamos limpar a horta, que depois nos ensinava a cultivar e a plantar. Tudo isto sempre acompanhado com canções animadoras. Um dia houve um problema com a canalização de água dentro do edi‑ fício e as senhoras Madres, aflitas, pediram ajuda ao Irmão Leigo Lobato, que vivia na residência dos padres, na vila. Mas como o senhor precisava de uma mangueira, perguntou à Maria do Carmo, que já tinha concluído a 4.ª classe, mas a quem os pais tinham deixado no colégio para tirar algumas lições de culinária, se podia arranjar uma. Ela respondeu: 4
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Uma Infância Feliz
– Sim senhor, mas o Irmão Leigo faz favor de me acompanhar. Estávamos a brincar junto às escadas, eu, as minhas irmãs e algumas meninas de Venilale, e a senhora Madre Carolina fez‑nos sinal para os acompanhar. Depois de andarmos uns cem metros, entre espesso capim, parámos todos e a Maria do Carmo deu um grito, apontando com o dedo para uma mangueira, árvore que dá mangas: – Irmão Leigo!... Irmão Leigo!... está ali!... é aquela árvore!... Ficámos todas a olhar para a árvore e de repente o Irmão desatou‑se a rir às gargalhadas e, sem sabermos porquê, pusemo‑nos também a rir, e a Maria do Carmo ficou de boca aberta. Depois, o Irmão Leigo explicou‑nos a todas que um tubo de borracha ou de plástico para condução de líquido ou de ar também se chama “man‑ gueira”. No regresso, a Maria do Carmo ameaçou‑nos que, caso fôssemos contar às outras colegas, ela iria fazer queixa à senhora Madre Joaninha que tínha‑ mos estado a comer goiabas verdes, o que era proibido, para não ficarmos com dores de barriga. Os dias destinados para os banhos eram as quartas‑feiras e os sába‑ dos. Era com água fria, despejada por outras, que tomávamos banho, com baldes de cinco litros, um para molhar o corpo e outro para enxaguar. No primeiro dia em que ia tomar banho com água fria, coloquei‑me atrás das outras na fila, todas só em cuecas. Começavam a cair os primeiros baldes nas primeiras da frente, que se dirigiam a correr, tremendo de frio, para as que se responsabilizavam em ensaboar. Chegou a minha vez e, quando o balde se despejou sobre mim, fiquei sem forças nas pernas, caí e quase per‑ di a respiração de susto, por causa do frio, visto que a minha mãe sempre nos habituou a tomar banho com água quente. Isso também aconteceu com as minhas irmãs, a minha prima Alda e a algumas colegas, mas depois, aos poucos, fomo‑nos habituando. Mesmo assim, quando íamos passar as férias a casa, a minha mãe queria ser ela própria a dar‑nos o banho, para poder limpar melhor o nosso corpo. O meu pai olhava para os nossos pescoços e na brincadeira dizia: – Há tanto estrume que me apetece fazer viveiros para semear as mos‑ tardas e as alfaces. Quinzenalmente, às sextas‑feiras, antes de irmos para a cama, as cabe‑ ças de toda a comunidade, sem exceção, eram salpicadas com DDT em pó e embrulhadas depois com uma toalha. Era uma maneira de matar os piolhos. Passava‑se por água só no dia seguinte, na hora do banho. Todos os meses tínhamos de cortar os cabelos e cada pessoa tinha de ter um ou mais ganchos, para os prender na parte da frente, para não tapar os olhos, caso contrário, eram atados com cordéis de palmeira ou sisal, até arranjarmos os ganchos. 5
Timor – Paraíso Violentado
Nos dias úteis, a partir das 15h30 e até às 17h30, reuníamo‑nos todas na “Casa de Pilagem”. As mais velhas juntavam‑se em grupo de quatro ou cinco para um almofariz e pilavam o milho e o neli e as mais novas limpavam‑no, separando‑o da casca e do farelo com a ajuda do lafatik. As mais pequenas ficavam à volta do almofariz, para apanhar os grãos que saltavam para o chão enquanto se pilava. De vez em quando, umas es‑ preitadelas furtivas, entre risos, para dentro das saias das mais velhas que, muito atarefadas, nem davam por isso. Mas, quando éramos apanhadas, chutavam‑nos ou levávamos umas sovas valentes, sem conhecimento das senhoras Madres, pois eram as únicas que nos podiam castigar. As nossas refeições diárias eram, ao pequeno‑almoço, um prato de can‑ ja simples e, ao almoço e ao jantar, batar da’an. Só aos domingos e dias feriados é que era arroz com feijão, carne e salada. Nos primeiros dias, nem todas as alunas conseguiam engolir o milho, principalmente as filhas dos funcionários, dos liurais e de alguns agriculto‑ res, que estavam habituadas a comer arroz. Ficavam quase sempre de cas‑ tigo enquanto não acabavam o prato de milho. Lembro‑me de que, quando os meus pais nos foram visitar das primeiras vezes ao colégio, viram‑nos muito magras, mesmo esqueléticas, e pediram autorização às senhoras Madres para nos mandarem todas as quintas‑feiras e domingos comida feita em casa. Nesses dias, lá ia o nosso criado Hae Boe ao colégio entregar as mar‑ mitas às responsáveis e só regressava a casa depois de nos vermos, mesmo sem nos falar, para depois contar aos meus pais. Chegando a hora de ir ao refeitório, sentíamos muita vergonha, porque íamos comer diferente das ou‑ tras. Havia algumas que, às escondidas, nos tratavam por liurai oan ou por malae e quando passavam por nós beliscavam‑nos, davam‑nos cotoveladas ou pregavam‑nos rasteiras e, muitas vezes, recusavam‑se a falar connosco. As louças eram lavadas por nós, com cinzas ou farelo, resíduos de casca do arroz, e tinham que ser muito bem limpas, porque senão as responsáveis mandavam lavar de novo. Depois do jantar, na companhia da Madre Joaninha ou da Madre Francisquinha, íamos todas para a parte da frente do colégio, onde havia um grande espaço relvado rodeado de canteiros de várias flores, passar o serão. À luz de cinco Petromax, dávamos as mãos umas às outras, constituindo três círculos: pequenas, medianas e crescidas, cada um com uma “mana”, para começar a entoar as canções, que eram várias, como por exemplo:
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Paraíso Violentado Este livro é revelador do relato histórico da nossa história para a preservação da memória coletiva, relato de experiências vividas por uma mulher durante o seu trajeto de vida como criança, como jovem, como esposa, como responsável, como prisioneira de guerra e como exilada que testemunhou com serenidade todo o sofrimento individual e coletivo que passara na jornada da libertação da nossa querida Pátria. É uma história não só de sofrimentos, mas também de alegria, de fidelidade, de determinação e de afirmação.
Fátima Guterres
Timor
ANTÓNIO BARBEDO DE MAGALHÃES
Fátima Guterres não sobrevoa, mas descreve num ritmo lento o seu drama e o do seu povo. Neste mergulho no inferno das vidas ceifadas, no genocídio de um povo, nas cenas de tortura, mutilação e de violação perpassa um olhar contemplativo. É um olhar feminino que se compadece, que espera apesar de todos os sinais contrários, onde o humor, o riso, o sorriso, os sinais da bondade em si e nos outros são um lampejo da humanidade que não desapareceu totalmente neste campo de ruínas. A sua memória assombrosa, meticulosa dá voz a essas vozes que desapareceram tão cedo da sinfonia do povo timorense.
ISBN 978-989-752-098-3
9 789897 520983
www.lidel.pt
FR. JOSÉ LUÍS DE ALMEIDA MONTEIRO
Timor I
A experiência de vida e de luta da Fátima era o paradigma da vida de muitas resistentes timorenses e simbolizava bem as heroicas mulheres da FRETILIN. Não só pelo que sofrera de torturas e humilhações, mas também pela sua inabalável determinação na luta.
Paraíso Violentado
XANANA GUSMÃO
Timor
Paraíso Violentado Fátima Guterres