O povo kaxixó compreendendo a sua história no seu jeito de comunicar

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Glayson Kaxixó

Presidência da República Ministério da Educação Secretária Executiva

Secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão

Diretoria de Politícas para Educação do Campo, Índigena e para as Relações Étnico-Raciais

Universidade Federal de Minas Gerais Reitor: Clélio Campolina Diniz

Vice-Reitora: Rocksane de Carvalho Norton

O povo Kaxixó compreendendo a sua história no seu jeito de comunicar

Faculdade de Letras

Diretor: Luiz Francisco Dias

Vice-Diretora: Sandra Maria Gualberto Braga Bianchet Núcleo Transdiciplinar de Pesquisas Literaterras Coordenadora: Maria Inês de Almeida

Ficha catalográfica elaborada pelos Bibliotecários da Biblioteca FALE/UFMG

Glayson Kaxixó O povo Kaxixó compreendendo a sua história no seu jeito de G552p comunicar / Glayson Kaxixo. _ Belo Horizonte : Literaterras : FALE/UFMG, 2012. 124p. : il.,color. ISBN: Inclui bibliográfia 1. Índios da América do Sul _ Brasil. 2. Índios Kaxixó _ Minas Gerais. 3. Literatura Indígena _ Brasil. I. Título. CDD : 980.41

Literaterras - FALE/UFMG Belo Horizonte 2012


O povo Kaxixó compreendendo a sua história no seu jeito de comunicar Autor Glayson Kaxixó Ilustração Alunos e professores indígenas Kaxixó Organização Glayson Kaxixó Lila Vasconcelos Coordenação Maria Inês de Almeida Preparação de originais e revisão Eduardo Siqueira Priscila Oliveira Monteiro Capa e Projeto gráfico Lila Vasconcelos Diagramação Lila Vasconcelos Coordenação Editorial Maria Inês de Almeida

Este livro é resultado do processo de pesquisa e do percurso acadêmico do estudante Glayson Kaxixó no curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas - FIEI/ UFMG, eixo Múltiplas Linguagens, sob orientação de Maria Inês de Almeida e monitoria de Liliana Vasconcelos.

SUMÁRIO Apresentação 7

A aldeia Kaxixó 10

Como eram as moradias 12

A vida do índio na aldeia 14 A luta pela terra Kaxixó 18

O pé da árvore Kaxixó: Dona Joaquina e Mãe Joana 22 Arqueologia Kaxixó 38

As nascentes: fontes de sobrevivência 44 Para que serve a mata 56

Como produzir remédio do mato 60 Como é feita a pintura corporal 64

Como o povo utiliza as pinturas corporais 73 Os artesanatos 74

Kaxixó também vive no universo 76 Filosofia Kaxixó 78

Como Kaxixó se comunica com Deus Jaci e Tupã 80 Calendário da cultura Kaxixó 82

A história das festas tradicionais 90 As músicas tradicionais 94

Como é feito o casamento tradicional 100 A alimentação tradicional e

a caça do índio Kaxixó

Brincadeiras com as crianças 104

102

Quais as metas Kaxixó usa para fazer as medidas 106 Algumas palavras na língua Kaxixó 108 História da escola Kaxixó 112 Referências 122


E

u dedico este livro a uma pessoa muito especial que é o

Cacique Djalma, o principal interlocutor, a voz, a peça mais

importante do registro para este livro que traz ilustrações e cenas de acervos da história Kaxixó.

A ideia de produzir este livro é mostrar a verdadeira história do nosso povo Kaxixó. Ela nasceu do contato com outros livros de outros povos, no curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI), da Secretaria de Educação

de Minas Gerais. O curso preparava os professores gestores

no sentido da criação de uma escola do nosso povo Kaxixó. O desejo dos professores da aldeia era ter um material próprio para utilizar na sala de aula, porque assim poderíamos ler e contar as histórias do próprio povo Kaxixó.

Quando iniciamos este trabalho, começamos a pesquisar o início

da história Kaxixó. Vivenciei o curso ao mesmo tempo como professor na pesquisa da cultura Kaxixó, como índio Kaxixó e também como aluno, registrando depoimentos históricos dos índios mais velhos para que essas histórias fossem contadas por nós,

índios Kaxixó. Quando nós começamos a escola, eu compreendi que o verdadeiro sentido da população Kaxixó era ter uma educação diferenciada na identidade da conquista da Mãe Terra.

Comecei a me dedicar mais ao livro Kaxixó quando eu já estava estudando no curso de graduação para Formação Intercultural

para Educadores, na Faculdade de Educação da Universidade

Federal de Minas Gerais, lugar que abriu para mim várias portas do conhecimento, me mostrou a diversidade acadêmica como 9


aluno e pesquisador. A universidade me ajudou a valorizar as

na linguagem indígena. Para o Cacique não seria difícil falar

os educadores e educadoras, lideranças e comunidades indígenas,

Kaxixó constantemente, pois Kaxixó tinha o segredo encapado.

histórias orais e escritas, e produzimos um fruto coletivo entre

não apenas em Minas Gerais, mas em todo o Brasil, muitas etnias que compartilharam esse diverso conhecimento cultural.

Para a feitura do livro, fizemos uma entrevista com o índio Zico, que relata um pouco de como que é feita “A caça do índio Kaxixó

com a sua história”. No seu depoimento, foi possível perceber que os índios Kaxixó praticavam as suas caças usando os instrumentos artesanais.

Já em sala de aula, tivemos vários registros feitos pelos alunos

nas aulas de cultura e do uso do território. Nas aulas do uso do território com a professora Maria Inês, registramos várias

plantas medicinais e as receitas de fazer chá tradicional Kaxixó, além dos desenhos dos alunos. As aulas de cultura com o professor

Cacique Djalma me mostraram a verdadeira história Kaxixó, tanto

no seu contexto da fala como também na prática de ensinar as crianças. Cacique mostrou lugares fragmentados onde os índios Kaxixó moraram desde o passado até a vida atual. Ele cantou

as músicas Kaxixó e a música cantada que me chamou mais atenção foi a musica do jacaré. Ele ensinou como faz artesanato,

na língua Kaxixó, mas ele falava que não podia falar na língua No depoimento da índia mais velha da aldeia, Josina Kaxixó,

ela relata como são as brincadeiras das crianças Kaxixó, a vida do índio na aldeia e como os índios Kaxixó viviam no passado dentro das aldeias até a vida atual.

Josina e Djalma foram importantes fontes de registro da história Kaxixó. Ambos falaram de temas importantes da cultura Kaxixó, além de contar as histórias de antes de 1500 anos. Eles também mostraram lugares históricos onde os índios moraram.

Em cada tema que apresento no livro, está presente a fala do

Cacique Djalma e agora, já no processo final, percebo que quando eu o entrevistava, eu me deparava na sua fala começando a

contar uma história. Ele já entrava em outra história sem perder

a primeira que começou. Assim, eu tiro a minha conclusão de

que a história do Cacique não tinha fim. Ele podia contar história o dia inteiro que não repetia nunca a mesma história!

Glayson Kaxixó

como são feitas as pinturas corporais, mostrou como é a dança da

cultura Kaxixó e, ensinar a fala da língua Kaxixó foi um grande desafio tanto para os alunos, que não compreendiam nada, quanto para

os professores, que não compreendiam a tradução de expressar 10

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A aldeia Kaxixó

A aldeia Kaxixó Cacique Djalma conta que antigamente o nosso povo era livre:

andava sem medo, descalço, pelado, vestia suas roupas da maneira que queria e todos faziam o seu trabalho na aldeia da

De 1601 a 1615, o tempo foi passando e o

Nossa aldeia Kaxixó era muito bonita. Os nossos parentes

para invasores, grileiros, fazendeiros, homens

maneira que pensavam, sempre respeitando a cultura Kaxixó.

trabalhavam livres nas suas terras, sem medo. Isso sobre o

povo Kaxixó livre, isso foi antes de 1500, 1600. De lá para cá, são outras histórias que eu vou contar...

nosso povo Kaxixó foi perdendo suas terras brancos e jagunços. Muitos índios Kaxixó sa-

íram de suas terras simplesmente por trocas de objetos que não tinham valor algum

para a cultura Kaxixó, enquanto outros

índios eram mortos por vingança desses

invasores. Nessa época, muitos caciques

e lideranças morreram lutando pelas terras de origem. Muito sangue foi derramado na luta de muitos anos. E a maioria dos índios

presenciando o que estava acontecendo, foram saindo de suas terras para protegerem suas famílias, pois tinham medo de morrer.

Invasores, grileiros, fazendeiros, homens brancos e jagunços tomaram as nossas terras Kaxixó por vingança.

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Como eram as moradias

Como eram as moradias

Em 1600, o povo Kaxixó foi obrigado a abandonar suas ocas e

Cacique Djalma conta que antigamente as

morar nas cidades. Hoje são poucos parentes Kaxixó vivendo

moradias Kaxixó eram chamadas de oca e c abanas. A s o c as er am c onst r uídas dent r o d o c hão. E as c abanas er am feitas de madeiras, barros e palhas. Para

cabanas. Kaxixó perdeu suas terras e a maioria dos parentes foram em pequenas aldeias, lut ando par a terem suas terr as de origem. Kaxixó perdeu sua terra, mas preser va seu costume e sua cultura até hoje!

fazer uma moradia de oca dentro do chão, os índios tinham que perfurar um buraco enorme, como se fosse um turno redondo.

As moradias de cabana eram feitas de

madeira e palhas; barro nem todas tinham. A s c abanas er am fe it as em for ma de

c ho c has, me io ar r e d on dadas, c omo o estilo da oca.

O temp o fo i pas san d o e o s par ente s foram perdendo o contato das moradias de ocas com medo de perder suas terras

par a o s invasor e s. Com isso, os índios Kaxixó passaram a construir mais cabanas,

pois eram mais práticas e eram construídas mais rápido do que as moradas de oca.

O s índio s se sent iam fe lize s m or an d o dentro da cabana, da mesma forma como se estivessem morando dentro da oca.

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A vida do índio na aldeia A vida do índio na aldeia O nosso povo Kaxixó levanta bem cedo. Eu vou contar um pouco da história de uma família Kaxixó:

Primeiro, levanta o homem da casa,

ele organiza suas coisas e chama a sua mulher para fazer o café. Enquanto o café fica pronto, ele

vai cuidar das criações que tem: de

galinha, d o p or c o, da vac a, d o pas sar inho e outr os. Dep ois de tomar o café, o homem sai para

o trabalho. Tem dia que vai para o trabalho em fazendas e tem dia que

vai cuidar da sua pequena lavoura. E as crianças vão para a escola, e

a mulher fica cuidando da casa. A

mulher prepara o almoço para as crianças e também leva o almoço para o seu marido no trabalho.

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Para ajudar no sustento da casa, tem alguns dias que a mulher precisa

trabalhar na roça, na fazenda, auxiliando o marido no trabalho. No dia em que a mulher acompanha o marido no

trabalho, as crianças também vão ajudar os pais.

Atualmente, os índios quase não

plantam, pois as suas terras foram tomadas por fazendeiros e invasores.

Plantam pouca coisa, mas ainda p lant am:

milho,

amendoim,

fe ijão,

man dio c a,

ar r oz,

horta

e

frutas em geral. Alguns pais, para sustentar a família, pescam no Rio

Pará. E os mais velhos produzem os remédios do mato.

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A luta pela terra Kaxixó

A luta pela terra Kaxixó

que entraram na beira do Rio Pará com o Rio Picão e tomaram

Quando Kaxixó tinha suas terras, não tinha um limite que

Os anos passaram e os nossos parentes Kaxixó foram à luta

as marcava. Os índios Kaxixó contam que antigamente nossa

etnia era unida e sabia utilizar suas terras com seus costumes

tradicionais da cultura Kaxixó. Cacique Djalma conta que Kaxixó plantava, colhia, caçava, pescava, andava à noite e trabalhava muito durante o dia. Faziam muitas festas da cultura e tinham muitos bichos nas florestas.

Esculastra Costa Pinto, Diolina Ferreiro Costa e Civiriano

Medeiro da Costa foram os primeiros latifundiários que entraram na área de Martinho Campos. Essas foram as primeiras famílias

conta da terra até Bom Despacho.

pelo direito de ter as terras de volta e praticar a sua cultura na maneira que o índio pensava.

Foram anos lutando pelo reconhecimento como uma entidade indígena. Kaxixó procurou várias entidades como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Centro de Documentação

Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES), Fundação Nacional do

Índio (FUNAI), falando para eles que somos índios Kaxixó, que somos um povo de raça. A única coisa que queremos é a nossa terra de volta! A terra que a gente tem

hoje é por usucapião. Mas a terra que Kaxixó reivindica é uma área de 27.000 hectares de

terras, que pegam no município de Martinho Campos e Pompéu e pedacinho de Pitangui. Estes são lugares onde consta que têm 15

sítios arqueológicos com desenhos e pinturas rupestres, e mais uns 10 sítios que não têm pinturas e desenhos.

Quando se anda no lugar, a terra aprova.

Quem andar, verá que tudo era aldeia antes de 1500. Há cacos que ainda estão no chão. A escritura do índio são os cacos

que se vê no chão. Para os brancos, são

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sítios arqueológicos. Isso tudo é diferente: nóis fala “polidor”,

que os Kaxixó estão dentro do Curral Fechado: a Lapa, a

Próximo a Ibitira, numa área reivindicada pelos Kaxixó, há um

fazendeiros os índios entravam na Lapa, andavam por dentro

“cerâmica”, “caco velho”.

cemitério no qual foram enterrados os índios Kaxixó que morreram de

barriga de bexiga preta. Eles morriam porque era dado a eles veneno.

A maioria dos índios enterrados nesse cemitério eram o povo da Aldeia Retirão.

Há cruzes que apresentam riscos, pinturas rupestres com sentidos diferentes. É difícil distinguir o que está escrito na cruz:

pode ser 0 ou 6, ou até mesmo o 1 ou 9. Neste caso, a escrita

pode ser de 1922, mas esta data não é comprovada e, para o Cacique Djalma, a data é anterior.

Há também o Córrego do Fundo, na fazenda São José, onde

tem as Moradas de dentro Chão que têm 807 anos. São os restos das casas do povo Kaxixó que moravam dentro do chão. Nessa área ainda tem mato de pau grande, igual a Amazônia, e ainda se não derrubou tudo.

Então, ser Kaxixó da floresta é comprovado nos lugares. Aquilo

do sujeito ficar brigando se índio Kaxixó se escreve com letra “K” ou com letra “C”, faz sentido ficar brigando para branco,

para Kaxixó não. Até hoje o K está dando confusão na lei nossa para conseguir a terra. Nós somos Kaxixó de nascença,

comprava trem não é de 1500 anos, não! É 10.000 anos pra trás! O povo Kaxixó tem três sítios arqueológicos que comprovam

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Taoca e as Moradas do Chão. Segundo Djalma, para fugir dos do chão, saíam na Taoca, então atravessavam o rio e saíam

nas Moradas do Chão. Essas arqueologias que comprovam a etnia Kaxixó.

Hoje o povo Kaxixó vive em uma pequena alp esperando receber

sua terra de volta, pois está faltando a FUNAI concluir o Grupo de Terras (GT) e indenizar os fazendeiros. Hoje muitos índios

Kaxixó vivem espalhados nas cidades, onde não podem praticar a sua cultura, pois se praticam um ritual são, muitas vezes, discriminados. A maioria desses índios estão espalhadas nas

cidades por falta da terra. Hoje estamos esperando a terra, quer dizer a terra que dá guia pela fome, pela saúde. No Capão do

Zezinho e entorno, são 504 Kaxixó cadastrados que têm auxílio de atendimento de escola, posto de saúde, porém, os Kaxixó são 20 mil! E como estes ficam? Cadê esses coitados de 20 mil com a lei que temos na mão?

Os Kaxixó das Aldeias Capão do Zezinho, Fundinho, Criciúma, Pindaíba e Logradouro têm formulado sua condição de ser ao

longo da história. Os índios mais novos estão sempre buscando informações com os índios mais velhos para que a cultura do

povo Kaxixó nunca termine. Para isso, eles têm estabelecido um diálogo com o passado para chegar no futuro.

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O pé da árvore Kaxixó: Dona Joaquina e Mãe Joana O pé da árvore Kaxixó: Dona Joaquina e Mãe Joana História da Mãe Joana Agora nóis vai contar do primeiro sítio arquiológico dos morador

Kaxixó d’antes de 1500 nas ardeia Fundinho e Ispindaíba do município de Pompéu. Saindo daqui da divisa do Terreno do Marreco, vai entrar n’área do sítio arquiológico, onde que tem

muitas coisa que nóis vai falar. Lugares da cova da Mãe Terra, da Mãe Juana que tá enterrada lá. Assim nóis vai falar de vários mandamento, se tiver jeito nóis vai fazer uma filmação lá na

área da Taoca, no terreno onde os Kaxixó de Martinho Campos trabalhava. Agora nóis vai contá do primeiro trabalho da Dona Joaquina, que tá na área de Pompéu.

Eu vô mostrar isso aqui d’antes de existir branco! Naquele

tempo, Kaxixó tinha forno pra cozinhar as panela de barro. E

lá na frente têm o cementério e as urna de barro, que também já passou tudo nas filmação. Quando o povo fala: quand’é que pispiô? Mas tá ‘qui a prova na minha mão, aqui tá verdade,

aqui na minha mão! Aqui tá a escritura do povo Kaxixó, d’antes d’existir branco e negro! A inteligência do povo da floresta tá’qui nesse caco de cerâmica na minha mão, e o povo tá vendo

coisa que já vem passando de geração, onde qu’eu sou um del’s:

neto e bisneto da Mãe Juana! Hoje nóis está noutra geração: as geração antiga estão na minha mão! Tinha forno, tinha cementério

aqui do povo da Mãe Juana e também nóis, do povo da Tia

Vovó. Aqui tá o pé da história Kaxixó! O povo Kaxixó comprova 24

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pequeno, mas tinha hora que se encontrava até trinta, quarenta índio morando. Até pra andar nos encontro nóis Kaxixó num deixava não, pois os índio eram perigosos.

Quando nóis fala da Mãe Juana, quando pegou ela no laço

e pegou os índio Kaxixó no laço, ela era mais pequena. A Mãe Juana ela era a mais pequena das mulher. E as outras mulher correro tudo! Então, para ocêis entender, a mulher do Till é da mesma família da Mãe Juana qu’eu vou contar. Ela num

a terra d’antes de 1500, pois ainda tem morada dos índio lá.

Aqui na banda do córgo tá a terra Kaxixó do povo da Dona Joaquina. Era lugar de muitos bicho, pois era lugar que havia muitos matos nativo. Daquele lado ali agora, ocêis tá vendo

deserto, mais foi lugar onde o povo da Mãe Juana do povo da floresta morô.

Antigamente, pra gente andar aqui seria como a verdadeira Amazônia: ‘qui tinha cerrado e mato mesmo, e só se via índio Kaxixó! Aqui é a verdadeira história da Mãe Juana nesse

tempo! Aqui nóis Kaxixó tem terra de vários mandamento, terra do mato, terra da floresta, terra da Mãe Juana. Aqui era um lugar perigoso onde até os agente de saúde tinha medo de

frequentar, pois os índio Kaxixó que morava ‘qui quase num andavam: ficavam mais é dentro da ardeia. Antes, aqui era lugar servagem mesmo, agora que deu uma mudança. Aqui é um lugar 26

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é dess’ardeia não. Ela é mesmo índia do mato. O que ocêis

é d’outra geração, mas é da mesma familha minha. Antônio

não, e nem da Mãe Juana não. Antônio Luiz é dos índio Kaxixó

tornaram uma família só, que ficou sendo de bicho do mato.

conta é do Antônio Luiz Neto. Antônio Luiz num é Till daqui da mãe da ardeia da Vagem do Galinheiro e que casou cum a Maria do Till. Então, nóis é uma família só, e nóis é tudo índio da floresta!

A Mãe Juana é do povo de seu avô antigo. O povo do Till já

Luiz Neto é o nosso avô. Os índios do Till e a Mãe Juana se Então, a Mãe Juana é do povo de seu avô antigo. O povo

do Till já é d’outra geração, mais é da mesma familha minha. Antônio Luiz Neto é o noss’avô, os índios do Till e a Mãe Juana

se torna uma familha só, que ficou sendo de bicho do mato. Os índios mais velhos me contou que

índios do mato num tinha contato co’s índios das’ardeias. Para vocêis entender,

quando via fumaça naquela banda da floresta, ocêis podia perceber que tinha

famílha Kaxixó limpando o terrero pra fazer as suas cabana pra morar.

Eu aprendi isso tudo num foi em livro não: eu aprendi isso tudo foi cum os

índios Kaxixó da floresta! Muito trem eu não aprendi em livro: eu aprendi foi co’s índio Kaxixó mais velho! E as histórias qu’eu aprendi foi dos índio

Kaxixó d’antes de 1500! Eu comecei a contar as histórias Kaxixó pro povo

entender já tem uns 30 anos atrás, mais

quem contava mesmo essas história antiga pro povo era minha mãe. 28

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Agora nós vamos contar sobre o primeiro sítio arqueológico dos

moradores Kaxixó de antes de 1500, nas aldeias Fundinho e Pindaíba do município de Pompéu.

Saindo da divisa do Terreno do Marreco, entramos na área

do sítio arqueológico, onde tem muitas coisas que nós vamos falar. Lugares da cova da Mãe Terra e da Mãe Joana, que está

enterrada lá. Assim, nós vamos falar de vários mandamentos e, se tiver jeito, nós vamos fazer uma filmagem na área da Taoca, no terreno onde os Kaxixó de Martinho Campos trabalhavam.

Agora, nós vamos contar sobre o primeiro trabalho da Dona Joaquina, que foi aqui na área de Pompéu.

Eu vou mostrar isso aqui de antes de existir branco! Naquele

tempo, Kaxixó tinha forno para cozinhar nas panelas de barro. Lá na frente, têm o cemitério e as urnas de barro, que também já foram mostradas nas filmagens. Quando o povo se pergunta:

quando foi que Kaxixó principiou? Aqui está a prova, na minha

mão, de antes de existir branco e negro! A inteligência do povo da floresta está aqui, nesse caco de cerâmica na minha mão,

e o povo está vendo coisas que já vem passando de geração.

E eu sou um deles: sou neto e bisneto da Mãe Joana! Hoje nós estamos em outra geração: as gerações antigas estão na

minha mão! Tinha forno, tinha cemitério aqui do povo da Mãe

Joana, e também nós, do povo da Tia Vovó. Aqui está o pé da história Kaxixó!

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O povo Kaxixó comprova estar na terra desde antes de 1500,

contam é sobre o Antônio Luiz Neto. Antônio Luiz não é Till

córrego está a terra Kaxixó do povo da Dona Joaquina. Era

Kaxixó da mãe da aldeia da Vargem do Galinheiro, e que

pois ainda têm moradas dos índios lá. Aqui na banda do

lugar de muitos bichos, pois era lugar que havia muitos matos nativos. Daquele lado ali agora, vocês estão vendo deserto, mas foi lugar onde o povo da Mãe Joana do povo da floresta morou.

Antigamente, para gente andar aqui seria como na verdadeira

Amazônia: aqui tinha cerrado e mato mesmo, e só se via índio Kaxixó! Aqui é a verdadeira história da Mãe Joana nesse tempo! Aqui nós, Kaxixó, temos terras de vários

mandamentos, terras do mato, terras da floresta, terras da Mãe Joana. Aqui era um lugar perigoso onde até os agentes

de saúde tinham medo de frequentar, pois os índios Kaxixó

que moravam aqui quase não andavam: ficavam mais dentro da aldeia. Antes, aqui era lugar selvagem mesmo, agora que aconteceram mudanças. Aqui é um lugar pequeno, mas tinha

hora em que se encontravam trinta, quarenta índios morando. Até para andar nos encontros nós, Kaxixó, não deixávamos, não, pois os índios eram perigosos.

Quando nós falamos da Mãe Joana, quando pegou ela no laço

e pegou os índios Kaxixó, ela era menor. A Mãe Joana era a mais pequena das mulheres. E as outras mulheres todas correram! Então, para vocês entenderem, a mulher do Till é

da mesma família da Mãe Joana que eu vou contar. Ela não

é dessa aldeia, não. Ela é mesmo índia do mato. O que vocês

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daqui, não, e nem da Mãe Joana. Antônio Luiz é dos índios casou com a Maria do Till. Então, nós somos uma família só, e nós somos todos índios da floresta!

A Mãe Joana é do povo de seu avô antigo. O povo do Till já

é de outra geração, mas é da mesma família minha. Antônio

Luiz Neto é o nosso avô. Os índios do Till e a Mãe Joana se tornaram uma família só, que ficou sendo de bicho do mato. O povo do Till já é de outra geração, mas é da mesma família

minha. Antônio Luiz Neto é o nosso avô, os índios do Till e

a Mãe Joana se tornam uma família só, que ficou sendo de

bicho do mato. Os índios mais velhos me contaram que índios

do mato não tinham contato com os índios das aldeias. Para vocês entenderem, quando se via fumaça naquela banda na

floresta, vocês podiam saber que tinha família Kaxixó limpando o terreiro para fazer suas cabanas para morar.

Eu aprendi isso tudo não foi em livro, não: eu aprendi isso tudo com os índios Kaxixó da floresta! Muito trem eu não aprendi em

livro: eu aprendi com os índios Kaxixó mais velhos! E as histórias que eu aprendi foi dos índios Kaxixó de antes de 1500! Eu

comecei a contar as histórias Kaxixó para o povo entender, já tem uns 30 anos atrás, mas quem contava mesmo essas histórias antigas para o povo era a minha mãe.

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História da Dona Joaquina

A nossa história que nóis lá vai levano é de 1600: Kaxixó era livre de branco!

Para fazer a picada do Rio de Janeiro, do Goiás Velho, foram

os bandeirante Castanho Taco e Antonho Rodrigo Pompéu Velho.

De São Paulo, foram fazer a capital de Minas no Corgo Pari. E o povo servagem da Mãe Juana e Till derrubava as casa desde

1601 a 1604. Cada ano, Kaxixó, povo da Mãe Juana, derrubava a casa dos branco que ‘tacava as ardeia.

E, em 1605, el’s trouxe mil negro e, na hora que os índio juntô

os negro, matô os Kaxixó da Mãe Juana que deu enxurrada de sangue. Ali se pôis o nome de Pompéu Velho. E foi mexê

no Pitangui depois de 117 ano qu’a Dona Joaquina casô cum o primeiro governo da região de Minas Gerais: capitão Inácio

de Oliveira Campos, que veio ao Pitangui. Nessa matança, teve muuuuito problema: roubaram a terra, a língua e as dança, de-

pois dessa matança. A Dona Joaquina e o governo vieram pro

Pompéu Velho, e quem residia lá na casa chamava Manoel da Cruz, que residia lá. Ele tinha negro escravo. Então, Dona Joaquina ‘quela influência de criá cavalo, boi, vaca, égua, e os negro

contou que lá só tinha mato virge e cerrado e que o povo da Tia Vovó da Vagem do Galinheiro, esse num era selvage não,

e lá tinha a campina de criar criação e nenhum deles num foi matado, não.

Onde tinha localidade perto dos buriti cumprido, buritizal e dos buriti da estrada, e o governo trouxe quarenta negro na tocay para matar os índio pra colocar as criação na campina. 34

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Enquanto se deu iss’, o primeiro filho do governo e da Dona

Na cabeceira do Vale do Rio Doce, são os Krenak Bocós, antes

Tia Vovó e o nome do menino é Fabrício, e ele falou: “Ocêis

é de 1600: Kaxixó era livre de branco!

Joaquina era chamado Jorge e já tinha também um menino c’a

num mata a Vagem não! Fala que ocêis tem um neto, nome de

Fabrício, do primeiro filho da Dona Joaquina chamado Jorge e o

cacique é irmão del’ ”: nóis é neto do governo na quinta geração! E nóis da Vagem do Galinheiro dá noticia desde 1500 e vem de geração a geração.

O Cacique é do mesmo povo da Tia Vovó! A Dona Joaquina é o pé da árvore dos Kaxixó, todo do povo da Mãe Juana! O

governo não tinha morrido e ficou aleijado e ela foi nora dos Kaxixó do povo da Mãe Juana. E quando fez a matança cum

quarenta negro, el’s encapou o nome Kaxixó e arrumou jagunço

que podia matar e ‘té hoje o branco queria saber sobre Kaxixó! A primeira capital pr’os Kaxixó é Pitangui, depois foi Ouro Preto, daí foi Belizonte. A Dona Joaquina é o pé d’árve da tribo

chamados Botocudos. A nossa história que nós vamos levando Para fazer a picada do Rio de Janeiro, do Goiás Velho, vieram

os bandeirantes Castanho Taco e Antonio Rodrigo Pompéu

Velho. De São Paulo, foram fazer a capital de Minas no

Córrego Pari. E o povo selvagem da Mãe Joana e Till derrubavam

casas desde 1601 a 1604. Em cada ano, os Kaxixó, povo da Mãe Joana, derrubavam as casas dos brancos que atacavam a aldeia. Em 1605, os brancos trouxeram mil negros e, quando os índios

se juntaram com os negros, mataram os Kaxixó da Mãe Joana que deu enxurrada de sangue. Ali se pôs o nome de Pompéu Velho. Foram mexer no Pitangui depois de 117 anos, quando

a Dona Joaquina era casada com o primeiro governador da região de Minas Gerais: capitão Inácio de Oliveira Campos,

Kaxixó d’antes do 1500, desd’a Serra do Curral que hoje tá o

Belizonte, o município de Treis Maria, Bom Despacho e uma

cidade faz divisa com Capelin’. As capital de Minas Gerais tá

dentro da terra Kaxixó: de São Romão pra baixo, os Kaxixó faz divisa com Xacriabá, desd’antes de 1500. Do outro lado do São Francisco, faz divisa c’os índio Penacho, que vai até os ares

de Pato de Minas, Perdiz, Araxá, Trianglo Minero, onde está os Caiapó. Nas cidade perto, os Kaxixó fazia divisa com os Aranã, de banda do São Francisco, na parte de cima Itaúna, Divinóplis, e eram dias pra ir afora e, os índio Candidez no Itapecirica. 36

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neto de Antônio Rodrigues, bandeirante que veio ao Pitangui.

aleijado. Dona Joaquina foi nora dos Kaxixó do povo da Mãe

terra, a língua e as danças. A Dona Joaquina e o governador

eles encaparam o nome Kaxixó e arrumaram jagunço e eles

Nessa matança, aconteceram muitos problemas: roubaram a

vieram para o Pompéu Velho, e quem residia lá na casa se

chamava Manoel da Cruz. Ele tinha negro escravo. Dona Joaquina

tinha aquela influência em criar cavalo, boi, vaca, égua. Os negros contaram que lá no Pompéu só tinha mato virgem e serrado, e que o povo da Tia Vovó da Vargem do Galinheiro não era

selvagem, que lá tinha a campina de criar criação e que nenhum deles tinha sido morto.

Tinham localidades no buritis cumprido, buritizal e buritis da

estrada, onde o governador trouxe quarenta negros e os colocou na tocay para matar os índios e introduzir criações na campina. Enquanto se deu isso, o primeiro filho do governador e da Dona Joaquina, chamado Jorge, já tinha um menino com

a Tia Vovó e o nome do menino era Fabrício. Ele falou: “Ocêis não mata a vargem, não! Fala que vocês tem um neto, nome

de Fabrício, do primeiro filho da Dona Joaquina chamado Jorge, e o cacique é irmão dele”: nós somos netos do governador na

quinta geração! E nós, da Vargem do Galinheiro, damos notícia

Joana. E quando fizeram a matança com quarenta negros,

podiam matar os índios. Os Kaxixó foram encapados e até hoje o branco quer saber sobre Kaxixó!

A primeira capital para os Kaxixó é Pitangui, depois foi Ouro

Preto, depois foi Belo Horizonte. A Dona Joaquina é o pé da

árvore da tribo Kaxixó antes de 1500, desde a Serra do Curral, que hoje está Belo Horizonte, o município de Três Marias, Bom Despacho e uma cidade faz divisa com Capelinha. As capital de

Minas Gerais está dentro da terra Kaxixó: de São Romão para baixo, os Kaxixó fazem divisa com Xacriabá. Do outro lado do

São Francisco, fazem divisa com os índios Penacho, que vão

até os ares de Patos de Minas, Perdiz, Araxá, Triângulo Mineiro, onde estão os Caiapó. Das cidade perto, os Kaxixó fazem divisa com os Aranã; de banda do São Francisco, na parte de

cima Itaúna, Divinópolis são dias para ir afora, além dos índios

Candidés no Itapecirica. Na cabeceira do Vale do Rio Doce, ficam os Krenak Bocós, antes chamados Botocudos.

desde 1500 e vem de geração a geração.

O Cacique é do mesmo povo da Tia Vovó! A Dona Joaquina é o pé da árvore dos Kaxixó, todo do povo da Mãe Joana! O governador sofreu um acidente, mas não tinha morrido: ficou

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Arqueologia Kaxix贸

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Arqueologia Kaxixó Desd’a Serra do Curral a Treis Maria, Bom Despacho a Sete

Lagoa é a prova nossa Kaxixó. Então, é a arqueologia que tem mais de dez milano atrás! A Taoca existe há mais de dez

milano, ainda as Morada Dentro do Chão que são próxima do corgo do fundo, têm 807 ano. Essa é a verdadeira prova da

tribo Kaxixó! A ardeia do Capão do Zezinho é a principal ardeia Kaxixó levantando o segredo encapado. A ardeia do Logradoro é caso histórico na Gruta da Lapa.

Atrás aqui o povo viu um cupim, e hoje não tá tendo água

não. De primeiro, tinha muita água, o povo que não conhece e ficam teimando! Prest’enção no assunto qu’eu vou falar: quando foi criar Martinho Campos, arrumou foi a Abadia, e antes

tinha u’a igrejinha feita de palha de coco, e então pegava a Nossa Senhora da Lapa e levavam para Abadia. Se o tempo fosse de poeira, levava a imagem de pedra. Noutro dia, era o caminho dela, o resto dela na poeira. Voltando o tempo de lama, a

mesma coisa. E aquela pedra não ficava lá onde o povo fala que é o símbolo do sinal. Que ela contava é com os Kaxixó, não

co’s brancos. Então, Jerômo Vieira e Marciano, nesse tempo

milano! A gruta da Lapa e a Taoca mesma coisa: aqui tem uma

Quando nóis fala de Kaxixó é de nascença, e dá prova antes

Pará. A Taoca, a mesma coisa: tem outra loca que entra direita

teve que ir em Portugal buscar a Nossa Senhora da Abadia.

de 1500 anos atrás, né isso? Nóis dá prova... trem de dez

milano pra trás! Dez milano pra cá deu prova foi o aparelho dos Estados Unido que acusou aqui mesmo comprovando trem de dez 42

loca que dá 18 quilôm’tro dentro do chão até chegar no Rio e sai pra cá da gruta da Lapa.

Isso que eu tô falando, trem sem fim... Ocêis que tá ’qui não

conhece os corredor de dentro do chão. Correno aqui na porta, 43


daí passa baixin na porta. Isso é o mesmo corredor qu’eu já

tempo de lama, a mesma coisa. E aquela pedra não ficava lá

Aqui nessa estrada que nóis estamo, essa história da Nossa

Kaxixó, não com os brancos. Então, Jerônimo Vieira e Marciano,

andei aqui dentro do chão uns dois mêis e num achei o fim. Senhora da Lapa num acaba aqui: tem mais história pra ser contada na próxima vez.

Desde de a Serra do Curral até Três Marias, Bom Despacho e Sete Lagoas existe prova nossa, Kaxixó! É a arqueologia que tem há mais de dez mil anos! A Taoca existe há mais de

dez mil anos, ainda as Moradas de Dentro do Chão que são próximas do córrego do fundo, têm 807 anos. Essa é a

verdadeira prova da tribo Kaxixó! A aldeia do Capão do Zezinho é a principal aldeia Kaxixó levantando o segredo encapado. A aldeia do Logradouro é caso histórico na Gruta da Lapa.

Atrás aqui o povo viu um cupim, e hoje não está tendo água.

De primeiro tinha muita água, o povo que não conhece e fica teimando! Preste atenção no assunto que eu vou falar: quando foram criar Martinho Campos, arrumaram a Abadia, e

como antes tinha uma igrejinha feita de palha de coco, pegavam a Nossa Senhora da Lapa e levavam para Abadia. Se o tempo fosse de poeira, levava a imagem de pedra. No outro

onde o povo fala que é o símbolo do sinal. Ela contava é com os nesse tempo tiveram que ir a Portugal buscar a Nossa Senhora da Abadia. Quando nós falamos de Kaxixó é de nascença, e

damos prova de antes de 1500 anos. Nós damos prova trem

de dez mil anos pra trás! Dez mil anos pra cá o que deu prova foi o aparelho dos Estados Unidos, que acusou aqui mesmo

comprovando que esse trem tem dez mil anos! A gruta da Lapa e a Taoca, mesma coisa: aqui tem uma loca que dá 18 km

dentro do chão até chegar no Rio Pará. A Taoca, mesma coisa: tem outra loca que entra à direita e sai pra cá da gruta da Lapa.

Isso que eu estou falando é trem sem fim... Vocês que estão aqui não conhecem os corredores de dentro do chão. Correndo aqui na porta, passa baixinho na porta. Isso é o mesmo corredor que eu já andei aqui dentro do chão uns dois meses e não achei o fim. Aqui nessa estrada que nós estamos, essa

história da Nossa Senhora da Lapa não acaba aqui: tem mais história para ser contada na próxima vez!

dia, era o caminho dela, o resto dela na poeira. Voltando o

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As nascentes: fontes de sobrevivência

As nascentes: fontes de sobrevivência

delas é principal fornecedora de água para a comunidade, mas

O povo Kaxixó sempre viveu em locais onde possuem várias

proximidade das construções das fossas. Outra nascente de

nascentes, próximo ao Rio Pará, aproveitando as condições

favoráveis da água na região para a construção de suas casas, seu artesanato, agricultura e pecuária. As águas que temos

nas terras Kaxixó são águas minerais. Quase todo o lugar de cidade tem um negócio de cloro, mas nós não contamos com

isso, não! Nós somos criados numa água boa. Os índios Kaxixó usam água pura, que não precisa de cloro. A água da mina é corrente, ela tem sabor doce.

Na Aldeia Capão do Zezinho, tem sete nascentes. Uma

atualmente sofre com problemas de contaminação devido à

uso mais antigo, ainda conhecida pelo seu sabor adocicado,

era usada pelas mulheres para lavarem roupas e vasilhas. Hoje a vegetação é rala e o volume de água diminuiu bastante. Nesta nascente, foi colocada uma bica de bambu que serve para

tomar banho e pegar a água. Como hoje tem uma bomba elétrica que distribui água da caixa central para as casas, não é mais feito o uso contínuo da água desta nascente, porém a

maioria das pessoas pega a água da bica para beber. A terceira

nascente é conhecida como Capão da Onça, pois até pouco tempo havia onça no local saboreando a água.

Em torno dela, tem somente um pé

de coco e tem poucas matas, porque a natureza foi destruída pelos fazendeiros para as construções de açudes próximos à nascente. Há duas nascentes das quais

não aproveitamos as águas, porque uma filtra dentro da terra e cai na nascente

em que está a bica. Já a outra, apenas

em tempo de chuva é que ela mina.

Temos também outras duas nascentes, mas que foram totalmente destruídas e desmatadas.

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Antigamente, era maior o volume de águas das nascentes, e as nascentes eram preservadas. Não havia o corte nem a retirada de árvores de lugares inapropriados. Mantinha-se tudo preservado:

só se retirava o que a natureza oferecia sem esbanjar, sem

desperdiçar. Não se derrubava as matas para conservar as

capoeiras, e neste tempo não tinha carvoeira. Os córregos pareciam cachoeira e faziam um barulho, que hoje já não tem mais. Plantava-se rama de mandioca e cana na beira do córrego para fazer rapadura e açúcar, que dava o ano todo.

Para bombear as águas, utilizava-se o carneiro. Como corria muita água, ligava um cano que tinha uma gomeira preta. O

carneiro trabalhava de jeito que a água ia para o cano e, a

outra parte, descia para os córregos. O restante era para a manutenção da água, para não sujar o carneiro com as folhas. Se não ficasse atento, o carneiro parava de trabalhar e

entrava ar na gomeira. Em todo o Capão do Zezinho, a água

dos anos, foram escavando o chão para fazer o açude, então

que ajudou a comunidade a fazer irrigamento de horta e plantações.

polidor é a argila, que juntando os dois barros dá uma cerâmica

era tocada à base de carneiro. Depois surgiu o motor a óleo, Com a chegada da energia elétrica no Capão do Zezinho, passou-se a utilizar a bomba elétrica.

No centro, onde se encontram as sete nascentes, existe um local que se chama Polidor. Com o barro deste local, que

damos o mesmo nome, é possível fabricar ferramentas como machadinhos, formão e outras. Próximo ao Polidor, foram construídos fornos para queimar as cerâmicas, as panelas,

machadinhos, urnas e demais objetos artesanais. Com o passar 48

era arrancado um pouco do polidor. Um barro próximo do muito boa. Argila faz panela boa para fazer biscoito, panela que não quebra.

Atualmente,

têm

muitas

nascentes

próximas

aos

sítios

arqueológicos. Elas estão no processo de demarcação da terra

Kaxixó. São nascentes largadas, deixadas, e esperamos que

com a demarcação das terras possamos cuidá-las e preservá-las. Um dos maiores problemas que enfrentamos é a diminuição das

águas devido à falta de preservação ambiental. Com a produção 49


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de carvão, o corte da madeira começou a ser feito de forma

pisoteada pelo gado. Uma das nossas preocupações é como

causado pelo avanço das pastagens e do plantio de eucalipto,

A água deve ser cuidada e todos devem conservar a

acelerada e em lugares impróprios. O desmatamento também foi

destruindo o meio ambiente. As muitas nascentes que existiam não resistiram e algumas acabaram secando.

Além da redução das águas, das matas e dos animais, existem conflitos com os “donos da terra”, com quem onde estão as nascentes degradadas. Hoje existem três nascentes que estão

fazer para reflorestar essas nascentes.

natureza com as suas matas, as minas de águas, e não ficarem brigando pela água. Água serve tanto para nós, quanto para outros.

Precisamos conservar a natureza, pois hoje ela é a sobrevivência de nossas vidas.

em áreas dos fazendeiros e que a água corta dentro da nossa

Kaxixó e o segredo do caboclo

próprios fazendeiros. A comunidade sofre com o desmatamento

Cacique Djalma falou na sua gravação uma história que quem

aldeia, e que não há como preservar por haver conflitos com os

ambiental em torno das nascentes e com a sujeira da água

ler este texto, vai ficar com ela guardada na sua memória. A história Kaxixó começa assim:

Nóis tem outra história pra contar aqui. Os índio nosso os mais novo num conhecem e nóis mais véio cunheceu os índios

Kaxixó Caboclo. Aqui muita gente fala, tem lugar qu’ocê escuta: ah, fulano é “puri”! Puri significa que é índio Kaxixó Caboclo.

Os Puri morava dentro do rio. Aqui nóis já é índio Kaxixó das aldeias. El’s morava era dentro do rio!

Eu vou falá dos índio das treis ardeia. Aqui, purin de nóis que

é aqui no rumo, nóis os índio furou dentro do rio e, enquan-

to isso, os outro drumia dentro do seco, qu’era no mato, na ardeia. Então, ninguém mediava cum el’s, mas o dia que foram caçar el’s pra matar, tocava dentro do rio, na loca.

Século sem nome! Então, aquel’s menino que nasceram, já nascêro noutro mandamento! 52

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Então, tinha os índio Caboclo. Mais aí, ficou nóis perto da beira do rio, que tinha contato com el’s. Então, tinha os índios do Till

e da Mãe Juana. Sabe quê que el’s fazia? Nóis num conhecia, mais tem um jeito de matar peixe no rio: ocê vai matano, deixano por lá. Os índios do Till um dia chegou aqui e tão matano

e deixano lá no rio. Só atirava deixano el’s lá pra hora que el’s

Eu que tava lá no pasto fiquei bobo de ver índio

deu um tiro e gritou: “AAAAAAAAAAH!”.

meu peixe e jogava lá pra ês. É por isso que

vim embora, trazer um terno. Quando el’s desceu lá no rio, el’

de todo jeito, rapaz, moça, menino, e el’ pegava

quando ocêis tá escutano que índio é de união, el’s repartia pedacin-pedacin um pro outro. E

el’ gritava cum el’s assim: “Não, num precisa de

repartir pequeno, não, qu’eu vou jogar é tudo!”, e eu

gritano cum el’s: “Num joga o meu peixe não!”. “Não”, ele dizia, “hoje é o dia dos Caboclo nosso!”, “Ah! mais nóis conta que isso é bicho!!”,

“Não! era pura pessoa”, e el’ catava os peixe.

Mais eu num sei a língua del’s! Aqui, tem del’s que eu deixei pra contar só agora: a Lenira mesmo é uma das Cabocla. Ela tava cunversano de natureza a língua deles,

mas quando pegô vindo dos estrangero p’a entrevistar, ela num fala mais. Cê tá vendo: se mandar ela cunversá, ela num cunversa! Cunversa é por natureza.

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E agora quem aprendeu a ler, já tem outra história pra contar...

levarem um terno. Quando eles desceram lá no rio, ele deu um

novos não conhecem e nós mais velhos conhecemos os índios

Eu que tava lá no pasto fiquei bobo de ver índio de todo jeito,

Nós temos outra história para contar aqui. Os índios nossos mais Kaxixó Caboclo. Aqui tem muita gente que fala, tem

lugar que você escuta: fulano é “puri”! Puri significa que é índio Kaxixó Caboclo. Os Puri moravam dentro do rio. Aqui, nós já

somos índios Kaxixó das aldeias. Eles moravam era dentro do rio! Eu vou falar dos índios das três aldeias. Aqui, purinho de nós,

que é aqui no rumo, furávamos dentro do rio e, enquanto isso, os outros durmiam dentro do seco, que era no mato, na

aldeia. Ninguém mediava com eles, mas no dia em que foram caçá-los para matar, tocavam dentro do rio, na loca. Século sem

nome! Aqueles meninos que nasceram, já nasceram em outro mandamento!

Então, tinha os índios Caboclo. E tinha os índios do Till e da

Mãe Joana. E nós ficamos perto da beira do rio que tinha

contato com eles. Sabe o que eles faziam? Nós não conhecíamos, mas tem um jeito de matar peixe no rio: você vai matando e

deixando por lá. Os índios do Till um dia chegaram aqui e

tiro e gritou: “ah!”.

rapaz, moça, menino, e ele pegava meu peixe e jogava lá pra

eles. É por isso que quando vocês escutam “índio é de união”,

é porque eles repartiam pedacinho por pedacinho, um para o outro. E ele gritava com eles assim: “Não, num precisa de repartir pequeno, não, que eu vou jogar é tudo!”, e eu gritando

com eles: “Num joga o meu peixe, não!”, “Não”, ele dizia, “hoje

é o dia dos Caboclo nosso!”, “Ah! mais nóis conta que isso é bicho!!”,

“Não! era pura pessoa”, e ele catava os peixe.

Mas eu não sei a língua deles! Aqui, tem deles que eu deixei para contar só agora: a Lenira mesmo é uma das

Cabocla. Ela tava conversando de natureza a língua deles, mas desde quando vieram os estrangeiros para entrevistar, ela não

falou mais. Você tá vendo: se mandar ela conversar, ela não conversa! Conversa é por natureza!

E agora quem aprendeu a ler, já tem outra história para contar...

estavam matando peixe e deixando lá no rio. Só atiravam e

deixavam os peixes lá, para hora em que eles fossem embora

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Para que serve a mata

Como os índios preservam a natureza

O povo Kaxixó é o povo da floresta, pois é a natureza que

fornece alimento, proteção e materiais para fazer o artesanato e para ter alegria de viver. A terra Kaxixó foi roubada por invasores, grileiros,

fazendeiros, homens brancos e jagunços que não

cuidaram da mata. Para os Kaxixó, a mata tem muito valor. Cacique Djalma conta que a mata serve para fazer sombra e para fazer os remédios

tradicionais. Ela tem várias espécies de plantas nativas que utilizamos no dia a dia. A mata é o sustento para o futuro das novas gerações.

Foto: Amanda Lima

Ao classificar as plantas, observamos que tem

Os índios Kaxixó gostam muito de admirar a natureza, pois ela é o nosso sustento. Cacique Djalma conta que antigamente os

índios Kaxixó se alimentavam apenas do que a natureza dava: os frutos, as plantas e as caças. Era dela que se tiravam os materiais para fazer as roupas e até mesmo as cabanas para morar. Em volta da aldeia, só tinha mato. 58

planta que só serve para fazer o remédio da cultura Kaxixó. Tem planta que só dá para

colher fruto, tem planta que só dá flor. Tem planta pequena, alta, baixa, grossa, fina. Cada planta que

nasce na mata tem um significado diferente para a cultura Kaxixó.

Além das plantas, na mata existem várias espécies de animais que dependem da natureza para sobreviver. Os animais, para os índios

Kaxixó, são vidas que se transformam como os seres humanos, trabalhando para sustentar suas vidas.

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Na mata, quando nasce uma planta é como se tivesse nascendo

uma criança Kaxixó. No futuro, essa planta vai dar frutos para o sustento da cultura Kaxixó.

Na mata fechada, próximo às nascentes, é possível ouvir os

cantos dos pássaros. Antes de entrar na mata, o Cacique Djalma coloca o cocar e explica que o cocar é para os espíritos dos antigos acompanharem e abençoarem a caminhada.

Há várias espécies de pássaros e todos são trabalhadores,

buscam seus alimentos e fazem suas próprias casas. O lugar onde os passarinhos se reproduzem é chamado de casinha de formiguinha e taoca. Coãm, também chamado de Mãe da Lua, é um pássaro que agoura as pessoas. Quando ele pousa em

pau seco, é tempo sem chuva; quando posa em pau verde, é tempo de chuva. Quando ele canta, é porque está chocando.

As corujas também agouram as pessoas e avisam quando

O joão-de-barro se acasala só depois que tem casa. Ele faz

Os gaviões comem os passarinhos menores. Ele era usado na

passarinho bem ciumento: se a esposa o trair, ele fecha a porta

outras pessoas morreram.

feitiçaria: pegavam o gavião, depenavam deixando apenas as penas para voar. Então, pegavam uma peça de roupa da pessoa

que receberia o feitiço. Colocavam a peça de roupa no ânus do gavião com muita pimenta para ele morrer longe. Enquanto o

passarinho sofria, a pessoa para quem foi feito o feitiço também sofria e podia até morrer.

Os tico-ticos fazem os ninhos com garrinchos. Os merros bebem os ovos e botam os ovos nos ninhos do tico-tico, e estes chocam os ovos dos merros e criam os filhotes. 60

a porta virada para o lado que a chuva não vem. É um

com ela dentro. O joão-de-barro é ciumento por causa do tico-tico, que colocava os ovos no ninho dele. Com raiva, o joão-

-de-barro trancava a esposa dentro e hoje, quando faz as suas moradas, ele a vigia até o nascer dos filhotes.

Os enxames de abelhas indicam de qual lado virão as chuvas: do lado de onde vem os enxames, a chuva vem logo atrás. O

passarinho guachó quando faz os ninhos embaixo, indica que não haverá enchente, e quando faz o ninho em cima, nos galhos mais altos, que haverá.

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na lua nova. Para o remédio de casca do pau, tem que recolher na lua crescente. Já o remédio de raiz é recolhido na lua

minguante, e para o remédio da flor e da árvore, é recolhido na lua cheia. O remédio da fruta é feito quando a fruta estiver

madura. Recolhendo dessa maneira, o remédio depois de pronto

Foto: Glayson Kaxixó

dura mais e é mais saudável para o nosso corpo.

O remédio nunca teve marca e nem divisão de doença. Um tipo de remédio pode curar vários encontros. Por exemplo:

garrafada da folha do pau-terra é bom tanto para dor de

cabeça, quanto para dor no estômago. Cada remédio tem uma dosagem para ser tomada. Esses remédios vêm do tempo da nossa bisavó.

A tesourinha e o bem-te-vi aparecem naqueles períodos em que chove muito e a chuva vai dar uma parada.

Antigamente, havia muitos pássaros, porém, com o desmata-

mento, alguns pássaros foram extintos, e alguns ainda existem, mas em poucas espécies. A natureza que Deus Jaci fez jamais pode acabar!

Como produzir remédio do mato Cacique Djalma ensinou que para fazer remédio do mato tem

que olhar a fase da lua. Ele mostrou como se deve recolher o produto para fazer o remédio em cada fase.

Para fazer o remédio de folha, tem que recolher as folhas 62

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Plantas medicinais: receitas de chá para a saúde

Chá de folha de pau-terrão

Chá de folha de mamão

Coloque as folhas de pau-terrão em uma vasilha com um

Depois acrescente uma pitada de sal. Tomar três vezes ao dia

É bom para dor de barriga.

pouco de água e coloque no fogo para ferver. Depois de fervida, coloque um pouquinho de açúcar para adoçar. Tome

durante sete dias.

meio copo de hora em hora.

Chá de folhas para gripe

Chá de flor de algodão

favaca, marado de espinho, lírio e erva cidreira. Coloque para

É bom para cólica.

Cozinhe a flor ou a folha do algodão em pouca água. Depois

de cozida, prepare o chá, adoçando a gosto. Tomar três vezes ao dia.

Chá de boldo

O chá de boldo é ótimo para o estômago, enjôo e dores

Plantas que são boas para gripe: folha de sabregueiro, folha ferver todas as folhas juntas. Tome o chá duas vezes ao dia. Receita de planta que é boa contra dor de dente

Pegue um punhado de folha de goiaba e um punhado de folha

de gonçalve. Deixe ferver com um pouco de sal. Depois de pronto, deixe esfriar. Bocheche três vezes ao dia.

de cabeça.

Receita de planta que é boa para curar infecção de rins

filtrada. Esmague as folhas até obter um suco verde. Pode

folhas de quebra-pedra e um punhado de cabelo de milho seco.

Lave as folhas de boldo e coloque numa vasilha com água

ferver para obter um chá recomendável, pois o boldo tem uma

substância que, em maior quantidade, faz mal ao coração. Tomar um copo quando estiver sentindo dores. Combate verme e dor no estômago.

Coloque três folhas de mamão em uma panela com um pouco

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de água para ferver e deixe no fogo até a água ficar verde.

Pegue um punhado de folhas de abacate, um punhado de

Coloque todas as folhas numa vasilha com água e deixe ferver. Tomar três vezes ao dia. Receita de lumbrigueiro

Pegue flores de erva santa-maria e flores de mamão. Coloque em uma panela com leite e deixe ferver. Tomar em jejum.

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Como é feito a pintura corporal

Como é feita a pintura corporal A pintura é tirada de uma fruta de uma árvore muito

especial, chamada de jenipapo, que produz uma tinta preta. Para

o povo Kaxixó, o jenipapo é uma árvore sagrada. A fruta do jenipapo serve não só para a pintura: depois de madura, ela também é boa como alimento e para fazer suco. Do fruto da

árvore, também pode fazer remédio para curar dor de barriga e dor de estômago.

O urucum também é uma árvore boa para fazer pintura corporal de outra cor, de tom avermelhado. A tradição da

cultura Kaxixó só permite utilizar esta pintura no rosto. Além do

Foto: Glayson Kaxixó

uso como tinta, na aldeia, o urucum é usado para fazer corante

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na comida. Outra árvore chamada zezinho faz uma pintura muito boa da cor avermelhada. Essa árvore dá um fruto pequeno. A

pintura corporal com a tinta da árvore do zezinho é tradição dos índios Kaxixó mais velhos.

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Jabuti desovando na beira do rio. Simboliza a felicidade de uma

K de Kaxixó.

Simboliza a luta.

vida a mais.

Sol se pondo na aldeia

atrás das montanhas e se escondendo também. Simboliza a alegria do sol nascer.

Moça que não é casada usa no rosto 68

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Índio Kaxixó andando, caçando e em busca da sua terra.

Simboliza um índio forte e guerreiro.

Proteção, amor e fertilidade

Cobra cascavel.

Cobra passeando pela aldeia Kaxixó.

não acabar sua espécie.

calmamente pela aldeia.

Simboliza a esperança de 70

Simboliza a paz de estar andando

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Aranha Kaxixó.

Mulher usa no braço no dia do casamento

Simboliza a proteção dos kaxixó.

X de Kaxixó

Simboliza o sangue derramado pelos antepassados. 72

K de Kaxixó dos dois lados,

ou seja, duas aldeias: Fundinho e Capão do Zezinho.

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Cobra Jibóia à procura de alimento no cerrado.

Simboliza esforço e empenho.

Como o povo utiliza as pinturas corporais A

pintura

Kaxixó

é

utilizada

no

corpo

em

forma de desenho. O povo Kaxixó se pinta para se

embelezar e também quando tem vontade de se

pintar. Um dos momentos importantes da pintura no corpo é quando são feitos os rituais, as danças, as festas de costumes. A pintura tem um significado importante para os mais velhos, pois para eles a

pintura mostra um símbolo de resistência do pas-

sado, de vida da história Kaxixó. Os mais velhos contam que, naquela época, os índios não tinham leitura, “por isso a gente ia riscando as coisas para construir as nossas pinturas, para não

perder no tempo”, dizem eles. Assim, as pinturas

passavam de geração a geração para não se

Foto: Glayson Kaxixó

perderem os costumes dos índios mais velhos.

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Até hoje preservamos a pintura tanto no ritual, quanto seu uso no dia a dia da aldeia. As pinturas são feitas de urucum, jenipapo ou da árvore do zezinho.

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Os artesanatos

Os artesanatos

Os índios Kaxixó estão sempre buscan-

do novas maneiras para fazer os seus

Foto: Lila Vasconcelos

artesanatos numa forma mais simples, para

Fazer artesanatos da cultura Kaxixó é muito simples. Cacique Djalma conta que o artesanato é uma arte que não acaba. Os índios mais novos buscam o conhecimento com os mais velhos,

pois eles sabem fazer qualquer tipo de artesanato do costume, da cultura e da tradição Kaxixó. Os

artesanatos

que

os

Kaxixó

gostam

de

fazer

são:

flechas, bordunas, colares, brincos, lanças, vestuários, cocar, cabanas (tanto para morar, quanto de religião e ritual), pulseiras, sarabatanas, anéis de coco, bauzinho de bambu, colher de pau, copo, potes de barros de argila etc. 76

que não percam a tradição de usar os seus próprios artesanatos.

Todos os artesanatos têm significados nos costumes e na tradição da cultura Kaxixó. Têm artesanatos da sorte, artesanatos para

o casamento cultural, artesanatos para fazer

um ritual, artesanatos para trazer alegria etc. Todos os artesanatos que um índio usa têm o seu peso do conhecimento da visão da arte e da cultura Kaxixó.

A arte é uma alegria que os índios Kaxixó

carregam nas suas vidas, aprendendo des-

de pequenos a criar seus artesanatos. É da natureza que se tira a arte para fazer os artesanatos. Sem a natureza não existem

os Kaxixó! Sem a natureza não existe o conhecimento da arte!

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Kaxixó também vive no universo

Kaxixó também vive no universo

Na aldeia, produzimos artesanatos, cabana, músicas, desenhos, brincadeiras, danças, cantos e outros mais. É assim que os parentes viajam no universo da arte da cultura Kaxixó.

O dia e a noite, para os Kaxixó, também são um universo.

O dia mostra claro, se vê tudo que está na frente. A noi-

te mostra o escuro, onde se vê apenas as estrelas piscando dentro da escuridão.

Para o Cacique Djalma, também é possível caminhar no universo da lua e do sol. O sol significa o homem e a lua

significa a mulher, e foi do encontro do sol com a lua que surgiu o povo Kaxixó. O sol, para nossos parentes, significa uma energia do vento que sempre está perto de nós. A lua tem um

peso mais forte na cultura Kaxixó: a lua caminha no céu sempre em volta do reflexo do sol. A lua representa os espíritos da cura

na hora de fazer uma oração, na hora de preparar um remédio. A lua, o sol e a terra não acabam! Kaxixó sempre ensinando os espíritos do Deus Jaci para novas gerações!

Eu gosto muito da alp Kaxixó na minha vida. Gosto também de viajar no universo.

É com essa frase que o Cacique Djalma ensina o índio

Kaxixó a plantar, colher fruto, olhar o universo para saber a respeito da fase da lua para cada tipo de planta. Da mesma

maneira, a terra também é um universo, onde os índios Kaxixó olham que tipo de planta dá certo para plantar aquela semente naquela terra. 78

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Filosofia Kaxixó

Filosofia Kaxixó Antigamente, os índios Kaxixó cantavam muita música no seu ritual. Faziam muito o seu toré com as danças dos seus

costumes tradicionais. O índio Kaxixó nunca esqueceu ou deixou

de

praticar

seus

costumes

tradicionais.

Mas

o

índio tem uma visão além: gosta de criar novas invenções na cultura. A música, por exemplo, é um grande desafio para os índios Kaxixó!

Para os índios fazerem o seu wah-weê, têm que praticar muito a cultura Kaxixó para que o seu wah-weê seja bom. No final da produção do wah-weê, o Cacique e o pajé consagram o

seu wah-weê fazendo um toré, e chamam todas as pessoas da aldeia para participar da consagração do novo wah-weê.

A filosofia para o povo Kaxixó é uma visão muito grande, na

qual o aprendizado está no ensinar as coisas que nossos parentes

querem

aprender.

São

os

conhecimentos

dos

antepassados ensinados para as novas gerações. A filosofia é um grande desafio na beleza de uma pessoa, ou mesmo numa arte que está surgindo de uma cinza.

A filosofia Kaxixó nunca acaba, buscando reiterar como se tivesse aqui. É como um sonho que está ali na prosa, que parece que tem mais coisa na história pra contar!

Cacique Djalma conta que o povo Kaxixó se comunica com

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Como Kaxixó se comunica com Deus Jaci e Tupã

Como Kaxixó se comunica com Deus Jaci e Tupã

Deus Jaci, não com Deus Tupã. Mesmo assim, ele fala que Deus Tupã está em toda nação indígena brasileira.

Antigamente, os índios Kaxixó se comunicavam com Deus Jaci

em uma roda fazendo as suas orações de costumes, com todos os parentes da aldeia. Os Kaxixó faziam uma fogueira

no meio da roda para afastar os espíritos que todos os parentes tinham nos seus corpos. Os índios faziam uma oração na língua Kaxixó e depois no português.

Depois que os índios Kaxixó perderam as suas terras, eles

não fizeram mais as suas orações de costumes com Deus Jaci com uma fogueira no meio da roda. Hoje os índios mais velhos

continuam se comunicando com Deus Jaci em todo o momento

de suas vidas. Cacique Djalma diz que vê que os parentes

Kaxixó mais novos já perderam a oração do Deus Jaci, mas com as aulas de cultura que estamos dando para as crianças, a gente está começando a ensinar a oração outra vez. pai, o nosso protetor maior!

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Foto: Glayson Kaxixó

As novas gerações têm que acreditar que Deus Jaci é o nosso

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Calendário da Cultura Kaxixó

Calendário da cultura kaxixó:

tempo de colheita, ritual e danças

juntamente com os mais velhos, procurando saber das principais

atividades que são (e que vão) ser realizadas em nosso território durante o ano: o que plantam, quando colhem, o que fazem

na época das chuvas e do sol. Kaxixó pratica a suas culturas

de várias maneiras diferentes e com algumas atividades com data definida. Desta maneira, resgatamos a cultura Kaxixó nos costumes dos índios mais velhos, que consideramos ser a tradição Kaxixó.

Foto: Amanda Lima

Eu vou falar um pouco do calendário Kaxixó que fizemos

Dezembro e Janeiro De dezembro a janeiro é o tempo do sossego As mulheres na beira do rio pegando o pescado e os homens nada compromissados.

É tempo do sossego com muita chuva, roças

plantadas esperando a colheita, tempos de muito

barro e enchentes do rio. Estes são os meses em

que as mulheres vão para o rio pegar o peixe na beira do barraco. Os principais peixes pescados Foto: Amanda Lima

nestes meses são o mandi e a corvina. Os alu-

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nos em férias escolares estão livres para fazer o

tempo da memória das muitas brincadeiras culturais e diversões, também de se sentirem livres e sem compromisso com a vida da escola.

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Foto: Glayson Kaxixó

Fevereiro a Abril Você não pode acreditar Mas no mês de fevereiro e abril Os espíritos estão à solta e podem atacar Por este motivo, é bom voltar ao trabalho Para o bicho não pegar.

É o tempo da retornada ao trabalho pesado: no mês de

fevereiro, iniciam as aulas e as colheitas das roças. Esse é um

Maio

No mês de abril, comemoramos também o nosso dia. A gente

O ritual no Cruzeiro

Primeiro, fazemos um ritual de comemoração na beira do rio o

Lá tem fogueira, prenda, uma festa animada

tempo de rituais religiosos para mandar os espíritos embora.

faz as nossas comemorações religiosas em dois mandamentos.

É no mês de maio

dia inteiro. Para alegrar o nosso dia sagrado, usamos os cantos

Com levantar de poeira no entardecer da madrugada.

dentro da água, e o sabor das comidas tradicionais para o

Este é um mês de muito frio e também é o mês da festa da

fazemos um ritual de comemoração na aldeia para agradecer

até um lugar alto, onde tem uma cruz, fazem uma fogueira e

das músicas, as danças do toré, as brincadeiras e os jogos

almoço, que é o peixe frito, peixe assado na areia etc. À noite, o nosso dia e, com uma fogueira acesa, usamos os cantos e as danças do toré. Para encerrar a noite, saboreamos com as comidas típicas Kaxixó que são: paçoca, macaxeira cozida, feijão tropeiro, caldo de macaxeira e sucos das frutas.

fogueira. Em maio, praticamos o ritual do Cruzeiro: todos vão

acendem ela todos os dias; fazem um ritual sagrado com prenda e comidas tradicionais Kaxixó, e rezam o mês inteiro. Nesse mês, se

caça muita paca e capivara, que encontram nas roças o milho pronto para colher e, por isso, são animais que estão prontos para serem devorados. Em maio, oferecemos pratos típicos feito

com milho como, por exemplo, mingau, pamonha cozida, pamonha

frita, bolo e outros. A atividade que fazemos é a colheita das roças, tais como milho, feijão e outros. 86

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Junho e Julho Nos meses de junho e julho É tempo do arrasta pé! Tempo de encontrar o seu companheiro Com santo casamenteiro.

Nestes meses, há comemoração escolar, onde reunimos a família e preparamos uma animada quadrilha com alunos e

funcionários. Nesta época, acendemos a fogueira para a comemoração de Santo Antônio, São Pedro e São João e

Agosto

Nestes dias, são oferecidos os pratos típicos do mês, tais como

No mês de agosto É mês de muita ventania Os homens ficam loucos E tentam mostrar na pesca a sua valentia.

também realizamos o batizado das crianças com ritual sagrado. paçoca de gergelim, pé de moleque, pipoca, canjica e outros.

Também são dias de frio muito intenso e por esse motivo, comemos muito o prato típico vaca atolada, que é feito com caldo

de mandioca. Há uma grande queima de fogos na realização dessas comemorações.

Agosto é o mês em que as árvores perdem todas as folhas e apenas os ipês florescem. É um período de muita ventania

e também de tempo seco. É um mês em que não se pode

desmamar as crianças, pois dizem que é um mês em que as pessoas podem ficar loucas.

Nesse tempo, as pessoas apresentam grande problema de saúde, principalmente respiratório. No mês de agosto, se inicia a pesca feita pelos homens com suas tarrafas, redes, fila e

anzóis de espera. É um tipo de pesca mais pesada e serve

para retirada de grandes peixes como: curimatã, cascudo, pacu, piranha, piau, curimba, surubim, pacamã, curvina, ananais e outros. 88

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Setembro

É o mês de muita fartura Tempo de muita comilança E sobrando gordura.

O mês de setembro é início da maravilha Para esperar da chuva e reflorescer das árvores Trazendo muita alegria

Outubro e novembro são tempos de muitas chuvas, da fartura

Esse mês é tempo onde começa o reflorescer das árvores

e o início da reprodutividade dos pássaros. É o mês em que começamos a colher os frutos que a natureza nos oferece nesse período. Consideramos que setembro é um mês de muita

alegria e fartura, e podemos considerar que é um tempo de boas

caçadas, pois os animais estão sempre à procura dos muitos frutos que

brotaram. Também nesse mês, iniciamos o preparo da terra

para o roçado e a espera da chuva, que acaba atrapalhando o acesso e deslocamento para aldeia.

maduros para nos alimentar e também os filhotes dos pássaros estão nascendo e se desenvolvendo nesses meses.

O local onde se encontra o povo Kaxixó é um local de muitos frutos como os frutos dos quintais: manga, laranja, caju,

cajamanga, goiaba, limão, ameixa, banana, pitanga, mexerica, acerola, carambola e outras. Também há os frutos do cerrado:

pitanga, coco, sapurtar, guariroba, jatobá, jenipapo, goiaba, caju, pequi, mangaba, macadela, marmelada, araticum, cabacinha, murici e outros.

Nesse período, a escola realiza o festival gastronômico onde

Outubro e Novembro Outubro é mês do nosso Santo Padroeiro Que não é casamenteiro Mas no dia da festa pode deixar de ser solteiro. Tempo dos frutos e fartura É no mês de novembro É neste mês Que o povo Kaxixó não fica devendo. No mês de novembro, 90

dos frutos retirados do cerrado ou dos quintais. Muitos frutos

pratos diferentes são feitos com os frutos encontrados no cerrado ou quintais, como exemplo: doce de manga, doce de

pequi, bolo de manga, cocada e outros. Também é tempo

para o plantio das roças e a espera dos brotos nascerem para termos uma boa produção.

O povo Kaxixó, pela influência do catolicismo sobre a tribo,

passou a ser um povo muito católico. Em meados de outubro,

acontece a festa do Santo Padroeiro, São Francisco de Assis, que representa a humildade e os animais, por isso possui um grande elo com o povo Kaxixó.

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A história das festas tradicionais

A história das festas tradicionais

As danças Antigamente, quando Kaxixó fazia as suas danças, não tinha hora para fazer o seu

ritual. Fazia as danças sempre com uma

fogueira no meio da roda. O povo Kaxixó vivia livre, não tinha medo que acontecesse alguma coisa de má.

Kaxixó fazia vários tipos de danças na cultura

tradicional. Hoje a dança Kaxixó é o jacaré, mas existem mais danças do que antigamente, quando o nosso povo Kaxixó cantava e

Ritual do Toré

dançava agradecendo ao Deus Jaci como, por

O mais importante ritual sagrado do povo Kaxixó é o Toré.

Nele, temos danças, cantos e vestuário próprio, que é confeccionado por nós mesmos. Fazem parte deste vestuário a

tanga da taboa, o cocar, a pulseira, o sutiã de cabaça e blusa. Os

cantos

do

Toré

são

acompanhados

pelo

maracá,

instrumento de grande importância na nossa aldeia. Ele

faz parte da nossa história indígena. Com os velhos e as

crianças, o nosso Toré fica cheio de alegria e nos dá disposição para cantar. 92

exemplo, com a dança da chuva, a dança da caça, a dança da colheita, a dança do

wah-weê. Hoje quando fala das danças Kaxixó, falamos da dança do jacaré.

Os índios Kaxixó gostam muito de fazer os seus rituais na beira do rio. Enquanto fazem

o seu ritual, gostam de pescar e colocar um

mukussay para assar na areia. O ritual é feito durante o dia com todos os parentes.

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As músicas tradicionais As músicas tradicionais

A música que os alunos cantam junto

aos

velhos

expressa

sentimentos. Ela ajuda o aluno

viver o movimento do corpo e da

mente, através do qual a pessoa se torna alegre e levanta o astral. Nela,

Cabe aqui, na apresentação de algumas das

enfrentando.

propósito de expô-las em partitura consiste

falamos do sofrimento que estamos A

música

sem-

pre fez parte da nossa história

passada, e hoje estamos resgatando nossas músicas e todos os nossos costumes em geral.

canções dos Kaxixó, lembrar ao leitor que o

apenas em propor uma aproximação - daquele que domina a leitura de tal sistema - com alguns

dos elementos que compõem estas canções, e

que estas canções são tradicionalmente executadas e vivenciadas coletivamente, cantadas em roda e,

portanto, se inserem em práticas que lhes dão sentido. As partituras apresentam, portanto, um panorama apenas parcial do que acontece na execução destas canções. Cabe também lembrar

que as músicas e letras apresentadas são de

propriedade coletiva dos Kaxixó, e qualquer forma de uso destas informações deve ser feita mediante consentimento dos detentores de seus direitos autorais.

Rubens Alexandre Fonseca 96

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Como é feito o casamento tradicional

Como é feito o casamento tradicional

Após o cacique ou pajé terem feito o casamento tradicio-

nal, os noivos trocavam os colares que estavam nos seus pescoços como um compromisso de uma prova de amor. Os

noivos não podiam tirar os colares. Os colares ficavam no pescoço enquanto durassem. Às vezes, os colares não duravam por muito

tempo. Então, os noivos falavam para o cacique ou pajé para consagrar novos colares para usar como uma prova de amor.

Depois do casamento, tinha a festa, preparada pelos pais dos noivos. A festa durava a noite inteira na aldeia.

Ainda hoje o nosso povo Kaxixó preserva o seu casamen-

to tradicional, mas tem índio que casa como branco, nas igrejas das cidades. Ou até mesmo índio que se casa nos dois

casamentos: casamento tradicional e casamento do branco.

Mas eles não deixam de fazer as suas festas tradicionais a noite inteira. Cacique Djalma conta que antigamente o casamento era livre,

ou seja, casava na hora que o índio sentia vontade e prazer

por uma índia, ou vice-versa, se a índia sentia prazer com um índio. Eram os pais dos noivos que preparavam o casamento. Só que o casamento na tradição Kaxixó só poderia ser feito pelo

Cacique ou pelo pajé. O casamento era feito em volta da

Hoje, para o Cacique Djalma, o casamento na tradição dos

Kaxixó é a união de duas pessoas que estão se transforman-

do em uma família, capaz de viver a vida a dois para o resto de suas vidas. O casamento da cultura Kaxixó é a paz, a

alegria, a união e a conquista de dois índios viverem as suas vidas felizes.

fogueira tradicional. Os noivos no dia do casamento se pintavam com as pinturas corporais. Eles também usavam um

colar de compromisso. Os índios que iam para o casamento se enfeitavam com as pinturas corporais nos seus costumes. 102

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A alimentação tradicional e a caça do índio Kaxixó

A alimentação tradicional e a caça do índio Kaxixó com a sua história A

culinária

é

mantida

e

preservada

pelos

índios

mais

velhos, que ensinam as novas gerações. Assim, aprendemos através dos saberes dos índios mais velhos como é bom nos

alimentarmos com carne do mato para fortalecer. Uma importante

iniciativa da comunidade foi a construção de uma horta irrigada. Além da horta, estamos nos organizando para produção de mel e para criação de uma granja de galinha caipira.

Quando deu de madrugadinha, o bicho apon-

terra, que foi tomada pelos brancos, que além de tirar a terra

arrumei a minha flecha e esperei o bicho ficar

Também tínhamos o costume da caça. Porém com a falta da de origem Kaxixó e destruir a mata, quase não tem caça mais. Hoje a nossa alimentação tradicional nos traz um espírito forte em defesa de nossas vidas.

E agora vou contar uma história de um dos mais antigos caçadores Kaxixó...

Quando um índio Kaxixó sai para caçar bicho, na volta ele conta para os seus parentes o que aconteceu na caça:

Ontem quando eu saí para caçar, fui lá na roça da beira do rio. Eu fiquei de tucáy esperando um bicho que estava comendo a

lavoura. Então a noite ia passando, e nada do bicho. A minha expectativa era grande: “Venha ou talvez não venha, mas fico esperando a noite toda! Quando o dia amanhecer e não tiver aparecido bicho nenhum, eu volto para casa”. 104

tou devagarinho, devagarinho, devagarinho. Eu

debaixo de mim. Quando o bicho se aproximou, eu simplesmente flechei, e eu matei o bicho. Eu

esperei para ver se chegavam outros, pois os

bichos sempre andam de bandos. Esperei e nada de aparecer mais bicho, e acabou o dia amanhecendo, aí fui embora. Mas pensei: “Apesar de

tudo, eu matei um bicho e vou levar para casa para os meus parentes”.

Eu contei o que aconteceu na caça. Cada caça tem uma história diferente para contar. Hoje

Kaxixó quase não pratica esses tipos de caças, pois a natureza está degradada e os parentes Kaxixó estão sem terra para morar.

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Brincadeiras com as crianças

Brincadeiras com as crianças As crianças Kaxixó gostam de brincar nos costumes da cultura dos mais velhos e, na hora de fazer algumas brincadeiras, há

uma divisão de sexo. As mulheres mais velhas da aldeia

ensinam as brincadeiras para as meninas, separadas dos meninos. E os homens mais velhos ensinam as brincadeiras

para os meninos, separados das meninas. Cada brincadeira tem

cantigas, como por exemplo: a brincadeira do solo e a brincadeira do recortado. Têm algumas cantigas que são cantadas só com as mulheres no trabalho do roçado. O tempo passa e a história

da brincadeira continua passando de geração a geração. O que às vezes muda é que as novas gerações alteram algumas regras das brincadeiras.

um sentido para movimentar o nosso corpo: tem brincadeira de roda, brincadeira de correr, brincadeira de pular, brincadeira de falar.

Cacique Djalma conta que uma brincadeira muito legal que

as crianças gostam de brincar que envolve as meninas e os

meninos é a brincadeira fede na moita. Essa brincadeira chama muita atenção para os jovens que querem começar

o namoro. Essa brincadeira é assim: um índio fica no meio do terreiro com os olhos vendados, contando de um a dez. Aí, as crianças se escondem nas moitas. Na brincadeira, o índio que for

encontrado primeiro será o fede na moita. Antes de começar a

outra rodada, as crianças cantam e dançam para um novo índio ser o fede na moita. Assim vai prosseguindo a brincadeira, até que todos participem da rodada. Além

dessa

brincadeira,

têm

outras

brincadeiras

que

também as crianças gostam de brincar: o veado caçador, a cobra canina, o corra cotia, o passar anel, a brincadeira na água, a

Fotos: Amanda Lima

brincadeira do namoro. Dessas brincadeiras, algumas delas envolvem a dança do jacaré, já outras envolvem apenas as 106

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Quais as metas Kaxixó usa para fazer as medidas

Quais as metas Kaxixó usa para fazer as medidas Hoje os Kaxixó usam as medidas de várias maneiras, mas

Depois da entrevista feita com Cacique Djalma,

comum para uma medida. As medidas eram feitas através

a vida de hoje e como são feitas essas medidas

antigamente para os índios das aldeias não existia senso das falas no contato com os parentes. Os índios Kaxixó não

pensavam que um dia ia acontecer de usar uma forma diferente para fazer um tipo de pronúncia com as metas das medidas.

Segundo Cacique Djalma, na cultura Kaxixó usavam as medidas de várias formas diferentes: as medidas podiam ser

de andar de um lugar para outro, quer dizer, de uma aldeia

para outra aldeia. Algumas vezes, usavam as medidas com

uma vara de pau da sua altura. Ao registrar esses conceitos

de medidas, iam registrando também as suas maneiras de

pensar. Para marcar as medidas ou fazer as contagens de uns objetos sagrados, eram feitos cortes nos troncos das árvores

ou até mesmos faziam pinturas rupestres nas pedras e nas cerâmicas de barro. Para os índios mais velhos, outra forma

de se usar as medidas na cultura Kaxixó é o peso. Cacique Djalma mostra nas suas práticas alguns exemplos de como se procede para pesar um tipo de quilo de alimento nos moldes dos materiais artesanais que os mais velhos usavam. Para medir essa

quantidade, usavam o prato de barro, uma colher de pau, meia quarta, meia arqueiro. Depois foram surgindo outras formas de

usar as medidas como: o litro, o quilo, a saca de cinquenta quilos e o balaio feito de bambu e outros. 108

pude concluir e classificar a vida no passado com

nas práticas da cultura Kaxixó. Eu me deparei na sua fala que os índios Kaxixó no passado não

tinham essa preocupação de registrar essas

medidas, sabendo que para o Cacique nós somos povo da floresta.

No passado Kaxixó, não tinha separação de

famílias para fazer as divisórias de aldeia ou até mesmo de alimentos. Moravam todos juntos em

bandos nas cabanas. Hoje as famílias Kaxixó moram em

casas de alvenaria e dividiram as suas famílias e as aldeias.

Os

alimentos,

a

gente

quase

não

produz por não ter as nossas terras demarcadas. Assim, os índios Kaxixó consomem a maioria dos

seus alimentos já industrializados com o peso e a quantidade já fornecidos nas indústrias. Eu vejo que

Kaxixó ainda não deixa de usar as suas práticas do passado e ainda fazem algumas medidas como, por exemplo, medir a farinha, polvilho e outros feitos na

aldeia. As caças e as pescas são outros fatores para usar o peso nos repartimentos dos índios.

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Algumas palavras na língua Kaxixó

Algumas palavras na língua Kaxixó

G

A nossa língua é da família macro-jê.

guéyss comer.

goyá doce.

Antigamente, os Kaxixó só conversavam na língua materna, po-

rém com o passar dos anos e o contato com os brancos, os

I

conflitos com os fazendeiros e invasores, os Kaxixó perderam a

itowhá nuvem.

Kaxixó foram obrigados a não falar mais a língua. Devido aos

terra e com isso o nosso povo perdeu o vínculo de se comunicar

com os parentes na língua Kaxixó. Muitos índios morreram na

luta pela terra, outros saíram para as cidades. Por tudo isso, os índios deixaram de falar a língua Kaxixó. Hoje predomina o português, porém os mais velhos sabem algumas palavras e

ixokãy fogo.

Jaci Deus.

K

A

kokawá Venha a cá!

kanâxtt caça. kottêp

atôxeêk café. atxchá

luta

C

kutôxk pesca

loca túnel que permite acesso de um sítio arqueológico a outro.

cuyrinãn índia.

deay lua.

chuta.

L

Alp aldeia

cayhará bonita (o).

D

Itohá céu

J

frases na língua nativa e nos ensinam:

aguich chuva.

110

intxãy pênis.

M aruwhará mata

makaxeira mandioca. makãy Obrigado!

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mukussay mahá peixe grande. mukussay peixe.

wapeê folha.

N

Foto: Amanda Lima

wganú entrar.

niytâpot laranja.

P

waretênãn índios pequenos

paktuy menstruação. platth pratos.

X

S

sasaçã mafarrá sacecê mafarré Bom dia! Boa tarde! Boa noite!

sasaçã mafarré

Está bem!

T

xakvãy vagina.

xeê mimpá cuyrinãn cayhará Eu gosto de índia bonita! xeê mimpá tuwaratê cayhará

tewãrrá terra.

Y

tuwaratê índio.

yteohô história.

tukinãn namorado (a).

Eu gosto de índio bonito!

yâlp religião.

U

uapnawaeê vencer.

W

wah-weê música.

wahrrayá quadrilha. 112

uwpê folha

yadomirim sol 113


História da escola Kaxixó

História da escola Kaxixó

A primeira escola da Aldeia Capão do Zezinho foi criada pela

Cacique Sérgia Barbosa da Cruz, no ano de 1970, e funcionava

em sua própria casa, sendo a professora sua filha Valdertrudes. Em 1986, foi criada a primeira Escola Municipal, na Aldeia Capão do Zezinho, voltada para alunos de primeiro grau. A

escola recebeu o nome de Gerônimo em homenagem a um fazendeiro da região. Posteriormente, com uma pequena

reforma no estabelecimento ocorrido em 1992, o mesmo

passou a ser Escola Municipal Carlos Teodoro da Costa. Diante dos conflitos do processo de demarcação das terras Kaxixó,

iniciado em 1994, a prefeitura ao invés de contratar professores para dar as aulas no Capão do Zezinho, transportava os alunos

para as escolas da cidade de Ibitira. Sendo assim, em 1996 a escola foi desativada.

Em 2000, participaram da turma do magistério indígena, que acontece no Parque Estadual do Rio Doce, três índios

Kaxixó: Glayson Humberto Ferreira, Maria Aparecida da

Silva e Fernanda Cristina da Costa. Em 2004, a comunidade Kaxixó reivindicou junto à Secretaria de Educação da Superintendência Regional de Pará de Minas a reabertura da escola

Kaxixó. Em 2005, foi autorizado o funcionamento da Escola Estadual Ensino Fundamental, localizada na Aldeia Capão do Zezinho. Em 2006, a Escola foi denominada Escola Estadual Indígena

Kaxixó Taoca Sérgia, cujo nome foi escolhido pela comunidade.

114

115


Foto: Glayson Kaxixó

Escola Indígena Kaxixó Taoca Sérgia: Cacique Sérgia, liderança Kaxixó

Sérgia Barbosa da Cruz nasceu em 1916 na Aldeia Barreiro Branco, próximo de Pompéu Velho. Era filha de Francisco Barbosa da Cruz e não chegou a conhecer a mãe. Era neta de Mãe Joana. Quando

Sérgia

cresceu,

o

seu

primeiro

emprego

foi

Foto: Lila Vasconcelos

ajudar a amansar os animais para o povo da Dona Joaquina. Depois trabalhou como cozinheira dos trabalhadores que estavam

Jaciara, Fernanda e Maria Aparecida Kaxixó

derrubando a mata do Rio Peixe. O fogão de Sérgia era duas forquilhas de pau fincados no chão e, com um pau que

passava por cima, amarrava as panelas. Saía do Barreiro Branco

às duas horas da manhã para chegar na mata do Rio Peixe antes do sol nascer.

Sérgia era chamada de bicho-do-mato, pois foi criada por sua

avó, Mãe Joana. Aos quinze anos, Sérgia foi para Martinho

Alunos da Escola Sérgia Taoca

Campos, porque seu pai era da Aldeia Vargem do Galinheiro,

e seu namorado era índio do mato. Mas seu pai não aceitou

Glayson Kaxixó

o casamento. Desde os seis anos, Sérgia era católica. Quem

Foto: Glayson Kaxixó

ensinou a religião para ela foi uma cega, no tempo do Padre

116

João Porto de Pompéu. Depois Sérgia mudou para a Aldeia do Logradouro para morar com a sua tia, Maria Antônia, que era Carinjó cruzada com Kaxixó.

Aos dezesseis anos, Sérgia casou-se com um índio da Aldeia

Logradouro, que se chamava João Vicente de Oliveira. Do seu primeiro casamento, Sérgia teve quatro filhos: José Vicente de

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Oliveira, o segundo morreu pequeno antes do batizado, o terceiro é o Cacique Djalma Vicente de Oliveira, e a quarta Valdertrudes Maria de Oliveira. O

seu

segundo

casamento

foi

com

Firmino

Cacique Djalma conta um pouco da escola

Nogueira

Ferreira. Vinte dias depois do casamento, ele morreu. Sérgia

trabalhava para tratar dos filhos na Aldeia Baianço, próximo ao sítio arqueológico da Taoca. Saía cedo e voltava tarde da noite. No terceiro casamento, casou-se com Pedro Ferreira da Costa e teve quatro filhos: Pedro Ferreira Filho, Lourdes Maria

Ferreira Costa, Faustina Maria Ferreira e José Francisco Ferreira. Sérgia foi cacique até a morte, quando passou o seu cargo

Foi Sérgia quem reivindicou a primeira escola na aldeia. Ela trabalhava como merendeira e quem dava as aulas era

Valdertrudes, sua filha. Por isso que a escola recebeu o

nome Escola Estadual Indígena Kaxixó Taoca Sérgia, para homenagear a mulher que serviu o povo Kaxixó até a morte.

Foto: Glayson Kaxixó

para o filho Djalma Vicente de Oliveira.

Em 1932, antes d’eu nascer, já tinha escola nas ardeias,

Escola Sérgia Taoca

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Foto: Amanda Lima

menos na Ardeia Capão do Zezin. A primeira escola construída foi na Aldeia do Logradouro, que foi onde meu pai aprendeu

a ler. Tinha índio e negro na escola. Essa escola num era de menino, não! Minino que quisesse ir à escola tinha que ir loooonge. E nessa época s’escrevia num era em papel: era em

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quadradin de pedra, pois num tinha nem lápis, nem papel. A gente rabiscava era na pedra! A maioria dos aprendizado era formado para fazer conta e ler algumas palavra.

Frequentava essa escola índio das ardeias Grota Funda, Retirão, Liro, Formiguinha, Capão do Zezin, Grota d’água e

Espindaíba. Em 1960, foi criada a segunda escola Kaxixó, que

foi a Escola da Morada, na qual estudava os índio das aldeias Lapa, Bonsucesso e Brejo.

Há cinquenta e seis anos atrás, abriu a primeira escola

particular de fazenda na Aldeia Criciúma, e a maioria dos

alunos também eram os índio Kaxixó. Com o passar dos ano, essa escola se transformou numa escola municipal, abrangeno a maioria dos índios das ardeias Espindaíba, Criciúma, Ponte Alta e Urubu.

Isso tudo que eu estou falano são o povo Kaxixó da floresta, e nós já damos notícia dessas escola!

Crianças Kaxixó escrevendo a história do índio na aldeia

O índio é esperto. Quando ele mata algum

bicho, ele fica louco. Na aldeia, ele é assim:

triste e alegre, ele faz colar, brinco, pulseira,

flecha e outros mais. O índio gosta de dançar e cantar.

O índio engraçado da cara pintada, você é valente não tem medo de nada é... É... Tú... Tú... É... Tú. Você vive no mato no meio dos

animais, entre plantas e rios. Muita coisa a mais, é... É... Tú... Tú... É... Tú. É assim que a vida do índio KAXIXÓ na aldeia. 120

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Referências Este livro foi feito a partir dos relatos e depoimentos da

comunidade Kaxixó. Além destes, utilizei o laudo de reconhecimento da comunidade coordenado por Vanessa Alvarenga

Caldeira; Kaxixó quem é esse povo, uma entrevista feita por Ubirajara Santiago, em 2007, na época monitor do curso de

Formação Intercultural de Educadores Indígenas; Os Caxixó do Capão do Zezinho: uma comunidade indígena distante de imagem da primitividade e do índio genérico, de João Pacheco de Oliveira; e os extras do filme Casca do Chão, lançado em 2008, dirigido por mim e por Jaciara Kaxixó. Glayson Kaxixó

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