ÃGOHÓ LUA PATAXÓ
ÃGOHÓ LUA PATAXÓ
Presidência da República Ministério da Educação Secretaria Executiva Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena
Universidade Federal de Minas Gerais Reitor: Clélio Campolina Diniz Vice-Reitora: Rocksane de Carvalho Norton Faculdade de Letras Diretor: Luiz Francisco Dias Vice-diretora: Sandra Maia Gualberto Braga Bianchet Núcleo Transdiciplinar de Pesquisas Literaterras Coordenadora: Maria Inês de Almeida
Lucidalva Pataxó
ÃGOHÓ LUA PATAXÓ
Ficha catalográfica elaborada pelos Bibliotecários da Biblioteca FALE/UFMG
L937a
Lucidalva, Pataxó. Ãgohó Lua Pataxó / Lucidalva, Pataxó. - 1. ed. - Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2011. 156p. : il., color. + 1 CD.
1a Edição
Inclui CD com músicas sobre o alfabeto e cânticos dos rituais Pataxó. 1. Índios da América do Sul - Brasil. 2. Índios Pataxó Minas Gerais. 3. Língua Pataxó. 4. Literatura indígena Brasil. 5. Alfabetização. I. Título. CDD : 980.41
Belo Horizonte Faculdade de Letras 2011
Ãgohó Lua Pataxó Este livro é resultado do processo de pesquisa e do percurso acadêmico da estudante Lucidalva Pataxó no curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas - FIEI/UFMG, eixo Múltiplas Linguagens, sob coordenação de Maria Inês de Almeida e monitoria de Liliana Vasconcelos Xavier.
Arte e alfabetização caminham juntas, uma pisando no rastro da outra, pois são como inconha, as duas estão juntas, no dia-a-dia, na fala dos alunos, dos professores, dos nossos mais velhos.
AUTORIA Lucidalva Pataxó
Não tem como separá-las. Esta cartilha é um material didático que escrevi para as crianças da Escola Estadual Indígena Pataxó “Bacumuxá”, da Aldeia Imbiruçu.
ORGANIZAÇÃO Anna Gobel Liliana Vasconcelos Xavier Lucidalva Pataxó PROJETO GRÁFICO Anna Gobel Liliana Vasconcelos Xavier Lucidalva Pataxó
Estou realizando um sonho que colhi da memória dos mais velhos, pensando nas crianças e nos jovens Pataxó. A cartilha é como uma planta frutífera que as crianças, ao pegar e olhar, desfrutarão com nossas próprias reflexões do passado, presente e futuro. Espero que essa cartilha auxilie os professores e crianças das escolas indígenas de Minas Gerais, da Bahia e de outros estados. Agradeço primeiramente a Niamissú, a comunidade Pataxó da Aldeia
CAPTAÇÃO DE SOM E MASTERIZAÇÃO Beto Militani
Imbiruçu e também aos meus filhos e ao meu esposo, pelo mutirão que fizemos juntos
uns desenhando outros colorindo
para que esse
sonho brotasse. COORDENAÇÃO Maria Inês de Almeida EDITORAÇÃO E ARTE FINAL Liliana Vasconcelos Xavier
Lucidalva Pataxó Aldeia Imbiruçu - MG
SUMÁRIO ALFABETO
10
Cada capítulo tem um desenho do Cacique Mongangá. Por mais que ele esteja no céu, seus frutos estão nos alimentando: seus netos, filhos e sobrinhos.
NÚMEROS
58
SARABATANA
70
ARMADILHAS
86
BICHOS E PLANTAS
108
COMO É FEITO
120
SERES DA MATA
138
NOSSO POVO VEM D’ ÁGUA
146 9
A aldeia Barra Velha, no sul da Bahia, é a aldeia mãe para os Pataxó. A aldeia Imbiruçu localiza-se no município de Carmésia, Minas Gerais. A comunidade está muito feliz pela conquista da nossa nova escola. Ela já funciona desde setembro de 2010 com aulas para crianças e jovens indígenas Pataxós.
Aldeia Imbiruçu Hoje
A Aldeia Imbiruçu pelas mãos do Mongangá. 10
11
ALFABETO
MÚSICA DO ALFABETO
Música do Alfabeto
-
ESTÁ NA HORA VOU ENSINAR O ALFABETO É IMPORTANTE PARA AS CRIANÇAS CONHECEREM COM SIGNIFICADO É MELHOR DE ENTENDER.
DE
DE DE
DE DE
DE
DE DE
Está na hora vou ensinar O alfabeto é importante Para as crianças conhecerem Com significado é melhor de entender.
DE
DE
DE DE
DE
^ DE DE DE
DE
14
15
Agora vamos cobrir o:
16
17
Agora vamos cobrir o:
^
18
19
Agora vamos cobrir o:
20
21
Agora vamos cobrir o:
22
23
Agora vamos cobrir o:
24
25
Agora vamos cobrir o:
26
27
Agora vamos cobrir o:
28
29
Agora vamos cobrir o:
30
31
Agora vamos cobrir o:
32
33
Agora vamos cobrir o:
34
35
Agora vamos cobrir o:
36
37
Agora vamos cobrir o:
38
39
Agora vamos cobrir o:
^
40
41
ALFABETO NO IDIOMA PATAXÓ de
Ãgohó
de
Bambu
Catitu
de
de
de
Hamagui
de
Itohã
de
Juktã
de
Kokawã
de
Lança
de
Mãhã
Dendê
Exanãi
de
de
Formiga
de
Gamela 42
43
de
Ngahã
de
Uhãi
de
Otxab
de
Vinhático
de
Poniogã
de
Wayenê
de
Xarri
de
Yamãni
de
Zabelê
de
Quati
Raiz
de
de
Sapucaia
de
Tahab
44
45
MÚSICA DAS VOGAIS
Agora vamos cobrir o:
de
Ãgohó
de
Exnãi
de
Itohã
de
Otxab
de
Uhãi
46
47
Agora vamos cobrir o:
48
49
Agora vamos cobrir o:
50
51
Ligue as vogais aos desenhos:
52
Ligue as vogais:
53
Escreva as vogais com letra maiĂşscula:
54
Escreva as vogais com letra minĂşscula:
55 55
ALGUMAS PALAVRAS NA LÍNGUA PATAXÓ
Itôhã Txahá
Tahab
Kohõ
Amanay
Anguá
Anxoek
Ponioga 56
Otxab
Mahã
Juktã
Kokawã 57
Desenhe o que está escrito:
Mikay Miotikajo
Mibkoi
Poniohõ
Kebka
Petetiog
Nionnactim
Poitãg 58
Mahã
Âgohó
Guahãi
Miotikajo 59
NÚMEROS
MÚSICA DOS NÚMEROS EU ESTAVA NA JABUTICADEIRA OLHANDO
Agora vamos cobrir os números: Mãhã
OS PÁSSAROS CANTAREM QUE BELO O CANTO DOS PÁSSAROS OS NÚMEROS VOU ENSINAR
Txahá
CANTA O BEM-TE-VI
CANTA O SABIÁ
~
Uxetei
CANTA O QUERO - QUERO
CANTA O JOÃO VÉIO 62
63
Otxab
kebka
Angu叩
Petetiog
M達h達 Jukt達
64
65
Escreva os números da Passarada:
Ligue os números de acordo com a quantidade:
CANTA O BEM-TE-VI
CANTA O SABIÁ
CANTA O QUERO - QUERO
CANTA O JOÃO VÉIO
66
67
Escreva o numeral correspondente a cada conjunto:
68
Desenhe a quantidade de elementos que se pede:
69
Escreva o resultado da soma dos conjuntos:
+
=
DĂŞ o resultado:
=
+
=
+
+
=
=
+
=
+
+
= 70
+
= + 71
=
SARABATANA
SARABATANA A sarabatana é feita com bambu ou taquara, imbira e pena colorida. Ela tem duas flechas pequenas. A sarabatana serve para enfeitar, e antigamente servia para caçar e pescar. Eu e meu primo estávamos brincando com nossas sarabatanas, quando tentei acertar o alvo, acabei acertando o meu primo. Ele gritou! Ai você me acertou uma flechada, como está doendo, ai dói muito. A irmã gritou: Menino, vai guardar essa sarabatana!
Com medo, o menino correu e foi guardar a sua sarabatana, e ficou triste por ter acertado seu primo. O menino foi para casa resmungando: Ai, como dói, lá minha mãe banha com casca de batimona e, então vai passar a dor do meu dedo. Para agradar o primo que estava com o dedo doendo por causa da flechada, o menino foi logo gritando: Primo, está caindo tanajura, vamos pegar? O outro respondeu: Vamos! Me espera... E saíram correndo, no meio da roça, pegando tanajura. E foi aquela chuva de tanajura, um corre para lá, o outro corre para cá, atrás dos bichinhos. Foi só alegria naquela hora. 74
75
Desenhe uma Sarabatana com penas coloridas:
Junte as sílabas: RACURA BUGO
SA
PUCAIA
PO
RUÊ
Separe as sílabas: SALA BANANA
RAPOSA TATU NATUREZA 76
77
Colora as sílabas das palavras do quadro abaixo: A
BA
NO
A
BA
CA
BA
LA
Junte as sílabas que você copiou e veja qual a palavra que vai aparecer:
XI
Complete as sílabas que estão faltando: CA
NA
BA
PA
TI
O
MAN
GA
BA
BA
Copie das palavras abaixo somente as sílabas que estão circuladas:
SA
BATANA
SA
CURA
JA
CARÉ
SA
GO
Junte as sílabas:
SARACURA
PUCAIA
SAMBURA BACURAU
SA
TAMANDUÁ NAMBU
RACURA
PO 78
79
Copie as sílabas: SA
JIQUIÁ SE
SI
SO
SU LANÇA JABUTI
RA
RE
RI
RO
RU BACURAU RATOEIRA
BA
BE
BI
BO
BU ARAPUCA
TA
TE
TI
TO
TU
NA
NE
NI
NO
NU
Junte as sílabas: NANA
Separe as sílabas:
BA
SURÚ
LA
LAIO 80
81
Separe as sílabas:
Junte as sílabas:
BALAIO
TO
VARA LO SABIÁ
RA
BO
SAPOTA PADURA
SARACURA
POSA
Complete com a sílaba que está faltando: SARA
TANA
SA
TA
SAM
RA
SA
EMA
SA
Ê
SA
GO
JA
TI
RA
SO
QUA
SA 82
Separe as sílabas: RABO
RAPADURA
ARARA RATO 83
Ligue a sílaba a palavra que começa com a mesma sílaba:
GARRAFA
RAPOSA
SA
RAPOSA
Ligue as palavras:
RIACHO
RA
SAPUCAIA SUCO
BA
TATU
TA
BANANA BURACO
NA
NOVO
TOALHA
rapadura
ARARA SAPOTA
sapucaia
SURÚ
laço
MUNDÉU
surú
LAÇO
sapota
SAPUCAIA
arara
RAPADURA
mundéu 84
NADAR
Circule as sílabas que formam a palavra Sarabatana: SA
SE
SI
SO
SU
RA
RE
RI
RO
RU
BA
BE
BI
BO
BU
TA
TE
TI
TO
TU
NA
NE
NI
NO
NU
85
Procure a palavra Sarabatana no quadro:
Quantas palavras você encontra em cada frase:
X
H
B
U
I
L
B
H
R
O
T
SA
M
C
A
P
L
J
F
M
Os índios usam a sarabatana para pescar e caçar.
Ela é feita de bambu e taquara. S
H
RA
I
V
Z
Y
T
O
P
M
E
F
BA
A
O
E
P
H
T
T
Y
G
S
TA
X
W
F
M
L
Quando as flechas estão tortas fica difícil acertar o alvo.
Quantas letras tem a palavra Sarabatana: B
Z
H
U
Q
NA
C
B
R
R
Complete no quadro abaixo com a sílaba que forma a palavra Sarabatana:
Circule a sílaba SA de Sarabatana nas palavras abaixo e, depois ligue as palavras ao desenho: CASA
SA
RA
BA
SA
RA
BA
SA
RA
TA NA TA
NA
SA
BA
TA
NA
SA
BA
TA
NA
86
SAPUCAIA
SAMBURA
SARABATANA
87
ARMADILHAS
Armadilhas dos índios Pataxó
Desenhe as armadilhas que aparecem no texto.
Os índios Pataxó mais velhos sempre se reuniam e iam para a mata fazer mundéu, quizó, fogo, laço, arapuca e outras armadilhas. Quando iam olhar as armadilhas, os índios passavam uma semana na mata muquinhando a carne. A panela que os índios usavam na mata para cozinhar a carne era a folha da patioba. Eles dormiam numa cama de vara amarrada de cipó, que faziam nos galhos das árvores. O fogo ficava aceso a noite toda, para não fazer frio e para espantar os bichos. 90
91
Qual era o tipo de panela que os índios usavam para cozinhar?
Escreva as sílabas:
Faça o desenho. Laço
LA
Como era a cama que os índios Pataxó dormiam na mata?
LE
la
le
ÇA
ÇO
LI
LO
li
lo
Faça o desenho.
ça
92
ço
ÇU
çu
93
LU
lu
Escreva as sílabas:
Tapage
TA
TE
ta
te
PA
pa
GA
ga
PE
Surú
TI
ti
go
PO
pi
SE
sa
se
RA
ra
SI
SO
SU
si
so
su
RE
RI
RO
RU
re
ri
ro
ru
TU
to
PI
pe
GO
TO
SA
tu
PU
po
pu
GU
gu
94
95
Escreva as sílabas:
Escreva as palavras:
MUNDÉU
Jiquiá FOJO
LAÇO JA
JE
JI
JO
JU
ARAPUCA ja
je
ji
jo
ju
QUIZÓ QUA
QUE
QUI
QUO JEQUIÁ
qua
que
qui
quo
SURÚ
TAPAGE 96
97
Monte os nomes das armadilhas com o Alfabeto Móvel e escreva a palavra formada nos espaços abaixo:
Escreva as sílabas: Sarabatana
98
SA
SE
SI
SO
SU
sa
se
si
so
su
RA
RE
RI
RO
RU
ra
re
ri
ro
ru
BA
BE
BI
BO
BU
ba
be
bi
bo
bu
TA
TE
TI
TO
TU
ta
te
ti
to
tu
NA
NE
NI
NO
NU
na
ne
ni
no
nu
99
Escreva as sĂlabas: Borduna
Tacape
TA
TE
TI
TO
TU
ta
te
ti
to
tu
CA
CO
CU
ca
co
cu
PA
PE
PI
PO
PU
pa
pe
pi
po
pu
100
BAR
BER
bar
ber
BIR
BOR
bir
bor
BUR
bur
DA
DE
DI
DO
DU
da
de
di
do
du
NA
NE
NI
NO
NU
na
ne
ni
no
nu
101
Escreva as sílabas: Maracá Arco e flecha
AR
ER
IR
OR
UR
ar
er
ir
or
ur
CA
CO
CU
ca
co
cu
FLA
FLE
fla
fle
CHA
CHE
MA
ME
ma
me
RA
FLI
FLO
FLU
fli
flo
flu
CHO
CHU
CHI
ra
CA
ca cha
che
chi
cho
102
RE
MI
mi
co
MU
mo
RI
re
CO
MO
mu
RO
ri
RU
ro
CU
cu
chu
103
ru
Casos especiais...
Escreva as sílabas:
Escreva as sílabas: Gamela Angico GA
GO
GU
ga
go
gu
MA
ME
MI
MO
MU
ma
me
mi
mo
mu
GE
GI
ge
gi
Cedro CE
LA
LE
LI
LO
LU
ce la
le
li
lo
104
CI
ci
lu
105
108
109
BICHOS E PLANTAS
O Minhocuçu vive dentro da terra. Quando ele anda, a terra racha por cima. A Cobra d’água come sapos e folha seca. Seu corpo é coberto de escamas e também cheio de bolinhas verdes. A Rã é da família do sapo. Por isso eles se entendem.
112
113
O Pernilongo ĂŠ um inseto muito ruim. Ele chupa o sangue das pessoas.
O Besouro vive na ĂĄgua tomando banho e comendo plantinhas que tem no rio.
114
115
Remela de cachorro só dá na beira do córrego. Nós tiramos quando ela está roxa.
Araçá é parente da goiaba, mas só que ela é azeda. Ela só dá em pasto. Maria Rosa é um côco, nós chupamos e comemos sua massa.
116
117
118
119
reiro e v e F
Pla ana do ntaç e B feijã ão ana o nna aC eit Col h
milho de Colheita
J an eir
Pla n Man tação dioc de a, fe can ijão a, m ilho
Jul h
sto Ago
Setem b r o
ro
a
err aT
d ão
bro Dezembr m e v o No
Jun h o
ç ara
do Frio
120
Colheita de Feijão Época de Frio
Maio
as chuv
as gu Á das o das s a t ã Fes paç s Lim nta Pla
de
e Feijão
ep Pr
das
Èp
al
u Rit
Capina d
o Terminaçã
ca Épo
oca
r il
Pla Col ntaç hei ão ta d do e m feij and ão ioc Renov a ação d as Colheit a do F Planta das água eijão s s
Ab
o
o
Março
121
Ou t ub
COMO É FEITO
Sarabatana
Borduna
A sarabatana é feita de bambu e taquara. Antigamente ela era utilizada para caçar, pescar e guerrear. Hoje serve como enfeite. Retira-se o bambu no campo e a taquara na mata.
A borduna é feita com madeira, como braúna, jacarandá e angico. A b o r d u n a d e a n g i co s ó é u t i l i z a d a n o s m o v i mentos indígenas. Antigamente as bordunas eram feitas para caçar e guerrear. Hoje são feitas para enfeite e venda.
Tacape O tacape é feito do coqueiro chamado macaúba. Esse coqueiro tem muito espinho e, é encontrado no campo. Para retirar o coqueiro utiliza o machado. Para fazer o tacape o coqueiro tem que está limpo. Usa o facão e o machado para dar o detalhe final ao tacape.
124
Machadinha A machadinha é feita com coqueiro, pedra, madeira, cedro e araribá. Essas madeiras também são retiradas da mata e o coqueiro é do campo. A machadinha é cortada com machado e facão.
125
Arco e flecha
Maracá
O arco e flecha é feito com madeira: c a n o de -pito, braúna, pau de arco, c o queiro e pati. O pati é que faz o melhor arco para o uso diário, por ser de alta flexibilidade. Retiramos essas madeiras da Mata Atlântica.
O maracá é feito de côco, coité e cabaça. A cabaça e o coité têm plantado no quintal e o côco se encontra na Aldeia Barra. O cabo do maracá é feito com madeira braúna e jacarandá. O maracá é o instrumento de dançar o Awê nas festas religiosas.
Lança Quebra-Quebra A lança pode ser feita de madeiras como: braúna, coqueiro, pati e jacarandá. O coqueiro e a braúna são encontradas nas matas. O pati é encontrado na Mata Atlântica. Retiramos a madeira com machado. Para deixá-la pronta é preciso o uso do facão. 126
O quebra - quebra serve para pegar pequenos pássaros: tururim, chororão e capoeira. E também pequenas caças: rato, puba e saracura. É feito com varas, cipó e embira.
127
Mundéu
Arapuca
O mundéu é feito com dois pedaços de pau e estacamento de ambos os lados. Essa armadilha é própria para pegar pequenos animais: tatu, paca, cutia, tamanduá, quati, jacu, chororão e macuco. Essas aves são as que vivem na mata.
Arapuca é feita com pedaço de varas e cipó. Serve para pegar pássaros: pombo, juruti e rolinha. Para esses pássaros a arapuca é servida com mandioca e milho. Esta armadilha é de pegar pássaros pequenos.
Gamela
Laço
A gamela é feita com as madeiras gameleira, cedro e gueirana. Elas são retiradas da mata. Antigamente, os índios faziam muitas gamelas que serviam para dar banho em crianças recém nascidas, para lavar pratos e tratar os peixes. Os velhos falavam que eles quase não faziam gamelas de gameleira, porque tem um espírito que não gosta que corte a árvore.
Tem dois tipos de laço: laço de pé e de forca. Eles são bons para pegar jaçanã, saracura e preá. A armadilha é feita com varas fincadas no chão, geralmente nas trilhas, no brejo.
128
129
Fojo
Jequiá
O fojo é um buraco grande e profundo feito numa trilha, ou seja, um caminho de caça, na mata. Depois de aberto o buraco, tampa com pequenas varas, folhas de ouricana seca. Esta armadilha serve para pegar animais de médio porte: catitu, porco-do-mato.
O jequiá, também, é feito com cipó retirado da mata e do campo. Corta-se o cipó com o facão e o tece com a mão. Esta armadilha é para pegar peixe nos rios e nos córregos.
Surú Tapage A tapage é feita com varas e palha de côco de chandó. Essas varas e palhas são encontradas no campo. É uma armadilha que os índios fazem no mangue para pegar peixes.
130
O surú é feito com cipó, vara e broto de biriba. O cipó é retirado da mata e a vara, do campo. Para fazer o surú a pessoa tece o objeto com a mão. O cipó é cortado com o facão. Esta armadilha é para pegar peixes pequenos no rio e em córregos.
131
Pintura Corporal
A pintura corporal é feita com jenipapo e urucum, representa força e proteção. O vermelho do urucum representa guerra e o preto do jenipapo representa luto. Começamos a usar a pintura do jenipapo quando mataram o nosso parente Galdino. Quando os índios guerreavam, usavam o vermelho do urucum. Atualmente não guerreamos, apenas usamos a pintura no ritual. O vermelho do urucum representa amor e união com seu parente.
132
133
Pintura da Espinha do Peixe
A pintura da espinha do peixe é usada especialmente para a cerimônia do casamento. Esta pintura é exclusiva da noiva. A pintura é feita de urucum e significa união para o casal.
134
135
Pintura da Boca do Peixe Pintura usada nas costas
Antigamente os velhos utilizavam essa semente, chamada mauí, para pescar, e pegar o peixe mais fácil. A pintura tem o desenho da boca do peixe, e a bolinha simboliza a semente do mauí. É uma pintura que representa fartura, e atualmente quem a utiliza são as mulheres.
136
Pintura usada na barriga das mulheres Pataxó
137
Pintura do cipó de Hamãy
Significa proteção. Quando a Hamãy percebe que há algo estranho na mata, ela sobe pelo cipó para chamar e proteger as caças do perigo do caçador que na, maioria das vezes, caça sem precisão. Nos rituais, as mulheres utilizam esta pintura no rosto, pois significa proteção. A pintura é feita com jenipapo e urucum.
138
139
SERES DA MATA
Hamãy
Asas que viram o vento
A Hamãy é a protetora dos animais. Ela fica furiosa quando ferem seus animais e, principalmente, quando os caçadores caçam sem necessidade. Para proteger os animais a Hamãy atrai o caçador para o meio da mata fazendo ele ficar longe de sua casa, perdido na mata. Se ele não for esperto, pode ficar perdido para sempre na mata, vagando sempre no mesmo lugar.
Para os índios, o vento foi virado por um velho índio cabeludo, narigudo e que tinha um bocão. Hoje ele tem asas, por isso é que venta.
142
143
Pé de
Ma
o d a ch
O Pé de Machado é um ser que vive na mata. Ele é muito cabeludo, tem queixo grande, unhas enormes e os pés como um machado. Isso o deixa muito assutador. Mas não se preocupe, pois, atualmente, ele é apenas um espírito. O que ele mais gosta é de mel e de assustar os homens que gostam de tirar mel.
O Pai da Mata, como o próprio nome já fala, é o protetor da mata! Ele é muito grande, cabeludo, possui o umbigo grande, unhas enormes e olhos grandes, bem redondos e avermelhados. Quando ele quer assustar alguém que está destruindo a mata, ele se transforma numa palmeira chamada piaçaba.
Pai d a
ata
Caveira A Caveira é um ser que vive no pé de goti. Quando alguém quer pegar goti e, se a caveira estiver por perto, não deixa ninguém chegar no pé de goti. A caveira tem cabeça sem cabelo, olhos fundos, dente de fora e anda arrastando suas tripas pelo chão. 144
M
145
C
afú
A Velha do Pirulito
O Lombêta é um ser que fica nas roças de mandioca a espera dos índios que tiram a mandioca para fazer cauim, pois ele gosta muito de beber cauim. O cauím é uma bebida feita de mandioca. O Lombêta é barrigudo, com boca bicuda e a língua é comprida, boa para beber cauim. Quando o Lombêta bebe cauim, a bebida fica espumada, então fica ruim para nós bebermos.
A Velha do Pirulito é um ser que vive na mata. Ela usa seu pirulito no peito para atrair as crianças e levá-las para a mata e depois comê-las. O pirulito é feito de mel de abelha e cheira muito longe, o que deixa as crianças abobadas e fáceis presas para a Velha do Pirulito.
Lombêta
146
147
NOSSO POVO VEM D’ÁGUA
FESTAS DAS ÁGUAS
A festa das águas começa bem cedo, ao clarear do dia todos se levantam. As mulheres fazem o café, todos tomam o café juntos e logo depois os homens se preparam, trocam de roupa e se pintam para receber o Pai da Mata. As moças também se preparam para o ritual, elas pintam as crianças e se pintam para as brincadeiras.
O dia 05 de outubro é uma data muito importante para o povo Pataxó, pois nesta data fazemos o nosso ritual chamado Festas das Àguas. Neste dia, nos reunimos para darmos boas vindas à chuva que traz com ela muita fartura, e agradecemos a Niamissu pela fartura que tivemos, e a que ainda iremos
As mulheres mais velhas fazem o almoço. O
ter. Reunimos os jovens, adultos, crianças e velhos para dançar o Awê. Este é um
momento antes do almoço é para reflexão,
ritual sagrado, no qual dançamos e cantamos para chamar os bons espíritos que
distração, harmonia e comunicação entre os
irão trazer boas energias e muita força para lutarmos por um mundo e uma
membros da comunidade. Na hora do
vida melhores. Pedimos força para as nossas crianças, pois elas são o nosso
almoço, descansamos e começamos a nos
futuro, e que nunca deixarem esse ritual importante se perder no tempo. Pedimos
preparar para o Awê. Enquanto os homens
saúde para os nossos mais velhos, para que eles vivam muito e passem pra nós
vão para um lugar dentro da mata buscar o
toda sabedoria, e nos ensinem e contem suas histórias de vida, para sermos
Pai da Mata, as mulheres vão para outro
fortes e guerreiros como eles.
lugar, separado dos homens. 150
151
Para os Pataxó, não são apenas brincadeiras, mas sim uma maneira de observar se o espiríto de guerreiro Pataxó ainda vive em cada um. A partir das brincadeiras, conhecemos melhor as pessoas, do que elas são capazes e se seus sentidos funcionam perfeitamente. Se elas têm as condições físicas e mentais para serem grandes guerreiros, como nossos antepassados.
No momento do Awê, os homens caminham até a mata para buscar o Pai da Mata, as mulheres ficam em outro lugar. Os homens começam a cantar e as mulheres os acompanham nos cantos, juntos eles se encontram na cabana. Então começa o ritual, e junto com o Pai da Mata dançamos e cantamos o Awê. Neste momento, o Pai da Mata nos transmite toda a sua força e sabedoria. Depois os homens levam o Pai da Mata para o seu lugar, então eles voltam e começam as brincadeiras. Neste dia, as brincadeiras que mais brincamos são: cabo de guerra, derruba o toco, brincadeiras de bambu, corrida de maracá e tiro ao alvo com arco e flecha.
152
153
PRESERVANDO OS CÓRREGOS DA ALDEIA No nosso córrego não tem lixo, pois o lixo não é bom para a saúde da comunidade, principalmente para as crianças que gostam de tomar banho no córrego. Sempre falamos, para o nosso parente, da preservação das árvores ao redor do córrego. Se nós não preservarmos a água, aos poucos vai acabando e não vamos deixar isso acontecer, pois viemos da água.
Um dia, no céu, formou uma grande nuvem e começou a chover, cada pingo de chuva que caía chocava na Terra e ía se transformando em índio Pataxó. Por isso, nós cuidamos da água, pois ela é um pedaço de nós, Pataxó.
Cantos Pataxó Faixa 1: Música do Alfabeto Faixa 2: Música da Passarada Faixa 3: Música das Vogais Faixa 4: Música das Vogais Faixa 5: Ãgohó Faixa 6: Dawê Mayão Îhé Faixa 7: Iõ Niamissu Faixa 8:Kanã Pataxí Faixa 9: Tibiriça Faixa 10: Utxei Ekpõy Mikay Faixa 11: Aktxé Faixa 12: Mikay Ãtxuab Faixa 13: Atõ Atõ Faixa 14: Pataxó Muká Mukaú Faixa 15: Yõ Hayõ Faixa 16: Taputary Faixa 17: Tamanyã Faixa 18: Âgpôy
Agradeço a toda comunidade Pataxó, em especial a Aldeia Imbiruçu com seus jovens, adultos, crianças e velhos que nos ajudaram com desenhos e vozes para os cantos: Nionactim
Txawã
Tamaniã
Homem
Crianças
Mulher
Txonãg (cacique)
Ãgoho
Soĩ (vice cacique)
Itohã
Waketãn
Akanawã
Buriti
Indhyayane
Aricurí
Wanawana
Mabaço
Kézela
Uru
Ixonang
Kaiano
Tarawí
Judinê
Harakinawã
Araritana
Nionactin Iamãny
Mayry Hamãngui Mika Arapaynã Ouricana Tawane Nayá Samara Wareti Juruti
E, também, agradeço ao Vlad Poenaru, Maria Inês de Almeida, Anna Gobel, Beto Militani e Liliana Vasconcelos, sem os quais este trabalho não seria publicado.
156
157