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Linha Direta INOVAÇÃO . EDUCAÇÃO . GESTÃO

Auditoria e controladoria: para quê?

Transparência e credibilidade são algumas das vantagens para as instituições de ensino ANTÓNIO NÓVOA Conflito de gerações

GOOGLE Assessoria para a área educacional

APRENDIZADO O professor e a mente

HISTÓRIA A evolução da educação no Brasil

DEDICAÇÃO Como crescer de forma sustentável

MEC Expansão do ensino superior

Guiomar Namo de Mello

Jouberto Uchôa Júnior

Luiz Cláudio Costa

EDIÇÃO 187

ANO 17 - OUTUBRO 2013


editorial

Transparência e credibilidade

Transparencia y credibilidad

O setor educacional vem passando por um período de transformação. As fusões e aquisições nas instituições de ensino iniciaram seu processo de profissionalização, nos moldes do mercado financeiro, quando, em 2007, a Anhanguera Educacional Participações S.A. deu início ao primeiro IPO do setor. De lá para cá, muitas outras trilharam o mesmo caminho. A possibilidade de investimentos tornou o mercado atraente e lucrativo para grupos nacionais e estrangeiros. Mas, para garantir a credibilidade e transparência perante os diversos stakeholders, foi necessário fortalecer as áreas de auditoria e controladoria. Nesta edição da Linha Direta, esse é o tema da reportagem de capa, para a qual ouvimos especialistas para esclarecer e fortalecer alguns conceitos. Mauro Ambrósio, sócio-diretor da área de Auditoria da BDO, um dos entrevistados da matéria, explica que a auditoria é importante para avaliar os controles e levar informações e recomendações seguras aos interessados. Vale a pena conferir!

El sector educacional viene pasando por un período de transformación. Las fusiones y adquisiciones en las instituciones de enseñanza iniciaron su proceso de profesionalización, en moldes del mercado financiero, cuando, en 2007, la Anhanguera Educacional Participações S.A. dio inicio al primer IPO del sector. Desde entonces, muchas otras caminaron el mismo sendero. La posibilidad de inversiones tornó al mercado atractivo y lucrativo para grupos nacionales y extranjeros. Pero, para garantizar la credibilidad y transparencia frente a los diversos stakeholders, fue necesario fortalecer las áreas de auditoría y control. En esta edición de Linha Direta, ese es el tema del reportaje de tapa, para la cual oímos especialistas para aclarar y fortalecer algunos conceptos. Mauro Ambrósio, socio-director del área de Auditoría de BDO, uno de los entrevistados de la materia, explica que la auditoría es importante para evaluar los controles y llevar informaciones y recomendaciones seguras a los interesados. ¡Vale la pena ver!

Marcelo Chucre da Costa Presidente da Linha Direta

Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta Pré-Impressão e Impressão

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Tel.: (31) 3303-9999

Tiragem: 45.300 exemplares

Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação L’Hermitage e Sieeesp Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Editora Valéria Araújo – MG 16.143 JP Jornalista Renan Costa Coelho Designer Gráfico Rafael Rosa Atendimento Flávia Alves Passos Preparadora de Texto/Revisora Cibele Silva Tradutor/Revisor de Espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam

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Conselho Consultivo Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente da Fenep Anna Lydia Collares dos Reis Favieri Ferreira Presidente do Sinepe/RJ Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamin Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Dalton Luís de Moraes Leal Presidente do Sinepe/PI Emiro Barbini Presidente do Sinep/MG Fátima de Mello Franco Presidente do Sinepe/DF Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp

Ignez Vieira Cabral Presidente da Fenen Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília Ivo Calado Asepepe Jacir J. Venturi Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário Nacional da ABM Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação L'Hermitage Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Maria Nilene Badeca da Costa Presidente do Consed

Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Bruno Eizerik Presidente do Sinepe/RS Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Paulo Sérgio Machado Ribeiro Presidente do Sinepe/AM Pe. João Batista Lima Presidente do Sinepe/ES Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio

As ideias expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da Revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

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conexão linha direta

Práticas pedagógicas e tecnologia Estratégias educacionais estão sendo criadas para possibilitar à escola superar o gap geracional que existe entre professores e alunos

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Inês Abreu e Silva

omunicar de maneira eficaz é um processo que não demanda apenas a habilidade do emissor em transmitir a mensagem de maneira clara e entendível. É preciso também que o receptor esteja por dentro dos contextos em que a mensagem foi passada. Ao que parece, esse é o maior desafio da educação contemporânea: emissor e receptor não falam a mesma língua. Enquanto os alunos se mostram por dentro das inovações tecnológicas, fazendo com que estas façam parte do seu modus vivendi, muitos professores ainda não adotaram a tecnologia na sala de aula. O educador português António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, corrobora esse pensamento. Para ele, estabeleceu-se, hoje, uma revolução na aprendizagem que alterou a maneira com que a educação deve ser construída. Em entrevista exclusiva à Linha Direta, Nóvoa explica as implicações que a não introdução dos professores nessa nova realidade pode ter para a educação, mostrando quais os passos que a escola deve seguir para mudar esse cenário. A entrevista com António Nóvoa aconteceu após a palestra de encerramento do Conexão Linha Direta – III Fórum Internacional de Lideranças Educacionais, realizado pela Linha Direta, em parceria com a Conexa Eventos, nos dias 2 e 3 de setembro, em Campo Grande/MS. Confira!

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Estamos vivendo uma revolução da aprendizagem? Acredito que sim. Estamos diante de uma nova geração, que pensa, age e aprende de maneira diferente das gerações anteriores, que se posiciona de outra forma diante dos desafios da vida e que apresenta uma maneira nova de adquirir aprendizado. Essa nova geração demanda uma nova escola? Com certeza, e eu coloco aqui quatro características necessárias a essa nova escola: a nova geração demanda uma escola que seja capaz e inteligente, no sentido de proporcionar um método de aprendizagem que possibilite uma interligação de saberes, além de uma contextualização de conhecimentos e uma capacidade de ultrapassar a mera transmissão da informação; é importante que a escola valorize a comunicação, pois ela é, hoje, fator central de aprendizagem. Outro ponto a ser levantado é a importância de essa nova escola estar inserida em redes sociais e culturais, que não queira fazer tudo por conta própria e que seja capaz de produzir um espaço público mais amplo, em que as famílias e a sociedade dividam com ela as responsabilidades de se organizar em torno da aprendizagem e da cultura. Por fim, as instituições precisam ser criadoras do conhecimento, baseando-se nos princípios da pesquisa e da descoberta, procurando a todo tempo o conhecimento e não sendo a escola da mera transmissão passiva do conhecimento. Acredito que, com esses elementos, podemos encontrar os pilares do que pode vir a ser uma escola do futuro, que será responsável pela revolução da aprendizagem. Revista Linha Direta

Temos exemplos de escolas pelo mundo que já se propuseram a realizar essa mudança, ou isso ainda é algo distante da realidade? Em todo o mundo, hoje, temos exemplos de escolas que já adotaram essas práticas educacionais. Os professores trabalham em equipe com os outros funcionários, em uma prática de colaboração que produz outras formas de a instituição funcionar, mais próxima das necessidades que a escola do século XXI demanda. É preciso que essas escolas tenham mais visibilidade, que o trabalho realizado por elas seja mais bem divulgado e que os próprios professores divulguem mais aquilo que fazem de melhor. Como você explica o gap pelo qual passa o processo de aprendizagem contemporâneo? Em menos de 40 anos, passamos de uma geração que nunca havia tido nenhum contato com as tecnologias a uma geração que vive imersa nelas. Hoje, muitos professores de 50, 60 anos usam esses novos artifícios, mas é algo ainda distante de suas realidades. Já o jovem contemporâneo tem esse suporte tecnológico integrado à sua maneira de ser. Isso acaba gerando uma dificuldade nessa relação que é extraordinariamente forte. Não vale a pena tentar fazer o jovem aprender como nós aprendemos. Existe, portanto, esse gap geracional, e os professores precisam aprender a trabalhar com os alunos nessa perspectiva. É necessário que os estudantes trabalhem uns com os outros, pois eles são capazes de se comunicar com mais facilidade. Assim, seremos capazes de superar esse gap. Precisamos aceitar que ele de fato existe e desenvolver metodologias para ultrapassá-lo.

Então você acredita que muitas escolas ainda não estão preparadas para trabalhar com esse aluno da geração virtual? Sim! Temos, inclusive, uma grande dificuldade em compreender que mudanças se fazem necessárias. Costumo citar um exemplo concreto que se passou em uma universidade, onde um aluno que, durante as aulas expositivas de um professor, estava sempre usando o celular. Isso deixava o professor desesperado e o fazia sempre bater de frente com esse aluno. Até que um dia a situação chegou a um ponto de ruptura, e o docente pediu para que o estudante deixasse de utilizar o celular, ou ele se retiraria da sala. O aluno parou de utilizar o aparelho e, no dia seguinte, mostrou-lhe um aplicativo que sistematizava toda a aula desse mestre. Ou seja, o professor enxergou um ato de indisciplina onde havia apenas um aluno usando de um instrumento para potencializar seu aprendizado. Como deve ser o papel do educador de agora em diante? Precisamos ser capazes de lidar com esses alunos, ajudando-os a transformar a grande quantidade de informações que eles têm atualmente em aprendizagem. Precisamos perceber qual o sentido desse aprendizado, entendendo como certos conhecimentos se ligam a outros. É muito mais um trabalho de contextualização e ressignificação. É muito mais do que apenas dar uma aula atrás da outra, pois o que o professor passa ao aluno na sala de aula, esse aluno tem acesso de maneira mais fácil e muitas vezes mais atraente em outros dispositivos. O professor precisa então mudar de foco e passar a ser um organizador da aprendizagem, levando o aluno a perceber a ligação entre os conhecimentos. É essa a função do professor do século XXI. 


conexão linha direta

Caminhos percorridos Retrospectiva da evolução da educação no Brasil nos permite analisar e entender melhor o cenário que temos hoje

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ligação de Guiomar Namo de Mello com a educação vem de longa data. Bacharel, licenciada em Pedagogia, além de doutora e pós-doutora em Educação, ela ganhou ao longo do tempo conhecimento suficiente para entender como poucos os meandros da área. Guiomar participou do Conexão Linha Direta – IV Fórum Internacional de Lideranças Educacionais, realizado nos dias 19 e 20 de setembro, em Belo Horizonte/MG, onde contextualizou o momento atual da educação no Brasil e no mundo. Em entrevista exclusiva à Linha Direta, ela aborda esses temas e faz uma viagem no tempo, elucidando os fatores que explicam o atual cenário da educação no País. Por fim, ela opina quanto à eficiência brasileira em fazer com que a mudança pela qual a educação passará daqui para a frente aconteça também por aqui. Confira a entrevista!

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Como se sucederam as etapas da evolução das políticas educacionais no Brasil? No Brasil, a primeira geração de política educacional se estende até os anos de 1960. Ela se caracteriza por uma série de medidas pensadas de cima para baixo e que visava a atingir a população em massa. Foi a importação da política do bem-estar social, que existia na Europa, para um País subdesenvolvido, mas no continente europeu, essas políticas tiveram tempo de amadurecer e se consolidar. A segunda geração de medidas mostrou que, diante da ineficiência do Estado em proporcionar políticas educacionais abrangentes, as pessoas começaram a se reunir, formando grupos para buscar seus interesses, como, por exemplo, associações de bairro. A terceira geração ainda não está totalmente instalada, mas temos sinais de que ela já se faz presente. É a geração que situa a importância do protagonismo po-

pular. As políticas da terceira geração possuem um forte traço de accountability, ou seja, responsabilização por resultados. É a prestação de contas acerca dos gastos e das metas que foram propostas. É aí que entra a figura do gestor educacional, responsável por tornar possível esse cenário. A gestão privada dos recursos públicos se aplica ao universo educacional? Se sim, que benefícios poderia trazer para a educação? Sem dúvida, essa estratégia se aplica à educação. Costumo dar o exemplo das creches. O Estado passa para uma entidade privada uma quantidade de recursos correspondente a um custo per capita de alunos. Esse modelo adota a gestão de recursos públicos de forma privada. Existe uma experiência dessa prática em Londrina/PR, onde o prefeito resolveu criar o que ele chamou de Escola Cooperativa, mensurando os gastos relativos a cada aluno das escolas da cidade, passando esse valor para uma cooperativa de professores, que ficou responsável pela gestão desse patrimônio. Tudo dentro do que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) preconiza. Qual o papel das lideranças educacionais nessa sociedade do conhecimento que se apresenta contemporaneamente? É o papel de serem os condutores desse processo de mudança que, mais do que nunca, é preciso ser feito. Em poucas palavras, essa é


Divulgação

Para Guiomar Namo de Mello, os líderes educacionais devem ser os condutores do processo de mudança pela qual passa a educação

política não conseguiu estabelecer uma parceria entre Estados, municípios e Distrito Federal, e nem avançar com as diretrizes referentes a essas novas práticas. Precisamos de políticas públicas que façam as coisas acontecerem. Então você acredita que o fato de a escola se prender a velhas práticas educacionais também interfere negativamente nesse processo de mudança?

a questão mais importante do momento atual. A educação brasileira está caminhando. O gestor precisa ter o controle desse processo. A liderança precisa estar em suas mãos, mas eu sinceramente não sei se isso acontece hoje. Acredito que, infelizmente, temos no Brasil um governo que ocupa todos esses espaços. Quais as mudanças pelas quais a educação passará nos próximos anos? Daqui a 30 anos, 70% das carreiras para as quais o jovem será formado ainda nem existem hoje. É preciso saber o que é essencial a ele, independente do tempo em que isso acontecer. Saber ler, pensar e desenvolver o pensamento matemático são habilidades que com certeza ainda precisarão ser trabalhadas. Esse cenário traz algumas tendências estruturantes, como a mistura do global com o local, criando o

conceito de glocalização, que terá um enorme impacto no projeto político pedagógico das escolas, já que os alunos serão cidadãos do mundo. Nesse mundo tão incerto, é urgente criar prioridades e focar em áreas de ensino cujas competências são fundamentais para o entendimento das demais. É o caso do português e da matemática, por exemplo. A escola brasileira está evoluindo na velocidade ideal para a mudança de práticas que o mercado de trabalho demandará daqui a um tempo? Acredito que não. Essa mudança ainda está demorando muito para acontecer. Em alguns casos, escolas privadas do País colecionam experiências bem-sucedidas em relação a essas modificações. Temos exemplos de escolas que estão avançando, contudo ainda não se trata de uma mudança geral. No Brasil, essa

Sim, essa é uma das razões que explicam esse cenário. Como eu disse, algumas escolas estão se modernizando, mas, no geral, essa mudança ainda está longe de ser a realidade da grande maioria das instituições do Brasil. É uma realidade triste e preocupante. Nossa escola ainda se prende a práticas obsoletas. Apesar de a tecnologia estar cada vez mais presente na vida de todos, ainda existe por aqui uma grande dificuldade de introduzi-la nas escolas brasileiras. Em sua opinião, qual o futuro da educação pública no País? Acredito que é algo promissor. Não vejo o futuro com pessimismo. O sistema de ensino público irá avançar, mas, no meu ponto de vista, será um avanço lento. Temo que essa educação não avance em velocidade suficiente para fazer com que o Brasil desempenhe um papel de protagonista no cenário mundial. Falo isso porque sei da importância da educação, mas ela sozinha não tem a capacidade de mudar um cenário desfavorável.  Revista Linha Direta


jeto Alfa Tuning foi criado pela União Europeia no início deste século, com os objetivos de dar equidade aos currículos das diversas IES, promover a mobilidade acadêmica e formar cidadãos capazes de exercer a profissão em qualquer lugar do mundo. Em 2001, 135 universidades do velho continente já estudavam a implantação do chamado currículo por competências. É um currículo diferenciado, que oportuniza ao aluno trabalhar com estudos de caso, introduzindo-o mais cedo na atividade prática. Começamos justamente com as Engenharias e hoje também já incluímos cursos de outras áreas, como Gestão. Falando sobre a Universidade, como foi desenvolvido o ensino a distância da Unit? O Ensino a Distância (EaD) atualmente é oferecido por diversos players do mercado, mas o nosso data de 1998. Começamos com o EaD em um momento em que havia muito preconceito com essa forma de ensino, o que ainda hoje existe, mas em uma proporção muito menor. Atualmente, a Unit oferece disciplinas online, introduzindo o aluno do presencial na modalidade a distância, e alguns cursos totalmente feitos a distância. Temos 24 polos em funcionamento, estamos aguardando outros 12, todos no Nordeste, e não pretendemos estender nosso crescimento para além dessa região. Atualmente, qual o modelo de gestão do Grupo? Em 2006, diante da expansão para Alagoas, introduzimos o modelo de governança corporativa no Grupo. Fizemos o diagnóstico da situação da empresa e implan-

tamos um Conselho de Administração, que qualifica a gestão e o poder decisório, formado por cinco membros: os fundadores – meu pai, Jouberto Uchôa, e minha mãe, Amélia Maria Uchôa – como administradores e mais três conselheiros independentes, um especialista em Finanças, um em Gestão e outro em Educação. Além disso, diversas outras ferramentas foram implantadas para dar mais visibilidade e transparência à gestão, sempre com uma visão de futuro, tendo como princípios a qualidade, o planejamento, a avaliação, a meritocracia, o aprendizado permanente, a sustentabilidade e a responsabilidade colaborativa. Estamos indo para o quinto ano de auditoria externa, feita por duas grandes empresas, temos orçamento para todas as unidades e nosso planejamento estratégico foi renovado por mais dez anos, nos orientando para onde queremos ir. Ninguém no Grupo Tiradentes pode dizer que não sabe que caminhos queremos seguir. Sabemos bem para onde desejamos ir e agora estamos construindo esse caminho. Sou entusiasta da governança. Creio que toda empresa familiar deveria adotá-la o mais rápido possível, pois são muitos os benefícios, e implantá-la em um ambiente onde não existe crise é muito mais fácil do que promover mudanças forçadamente. Hoje, sou superintendente-geral do Grupo Tiradentes, mantenedor da Unit, Fits e Facipe. O professor Jouberto Uchôa, meu pai e fundador, está à frente do Conselho de Administração e é reitor da Unit. Reposicionamo-nos de forma a possibilitar uma sucessão tranquila e sem crise. Há dois anos estamos nesse processo e buscamos cada vez mais a pro-

fissionalização da gestão. Alguns profissionais que participam da governança são da família fundadora porque, quando se fala em profissionalizar a gestão, isso não implica necessariamente a retirada de familiares do comando. O importante é ter por perto bons profissionais, sejam eles da família ou não. Esse é o modelo que queremos implantar, levando em conta um crescimento ordenado e sustentado, em que possamos ter um tamanho considerável, que nos possibilite ser uma instituição importante para o ensino superior do Brasil. Como é o programa de internacionalização da Universidade? A internacionalização é outro ponto forte da Universidade Tiradentes. Desde 2009, a instituição mantém um programa de intercâmbio internacional regular com universidades da Europa, e recentemente ampliou sua atuação para o México, por meio das bolsas ibero-americanas oferecidas pelo Santander Universidades, e para os Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido, Espanha, Portugal, Itália, França, Irlanda e Hungria, através do programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal. Dessa forma, a Unit vem conseguindo importantes resultados, com o envio de alunos dos cursos de graduação, mestrado e doutorado para instituições de alto prestígio acadêmico, a exemplo do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Entendemos que a formação do indivíduo é globalizada, e o aluno demanda uma vivência fora do País, conhecendo outras culturas e rea­ lidades, agregando algo a mais com o aprendizado adquirido no exterior.  Revista Linha Direta


capa

Auditoria e controladoria: para quê? S

ua instituição é uma organização confiável, transparente e que possui boas práticas de gestão? Existem procedimentos de controle, interno e externo? Como anda o monitoramento da sua governança na área financeira e na gestão de riscos? Existe uma relação de confiança entre a sua instituição, o mercado e o governo? Com a expansão e a abertura de capital do setor educacional, as instituições passaram a enfrentar um processo de concorrência antes inexistente. Hoje, as exigências são muito maiores e não sobra espaço para improvisos e amadorismos na forma de gerenciar o negócio. Para o professor doutor Sergio Marcus Nogueira Tavares, o principal desafio da gestão de uma instituição privada de ensino é o de lidar com recursos limitados para atender às demandas acumuladas ao longo dos anos. “Se a educação é um desafio para o País, pesa sobre as instituições e seus gestores esse grande

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RevistaRevista Linha Direta Linha Direta

Transparência e credibilidade são algumas das vantagens para as instituições de ensino

desafio”, analisa. Para ele, as organizações educacionais se tornaram complexas nos últimos anos, e sua gestão financeira lida com limitações que podem inviabilizar a instituição em curto espaço de tempo. “O grande desafio da gestão financeira é a profissionalização. Antes vista como área de apoio, agora é entendida como função de alto risco e estratégica nos fins institucionais”, completa.

A importância da controladoria

Controladoria e auditoria nas instituições educacionais são necessárias ou apenas opcionais? Para Tavares, que também é o controller da Universidade Metodista de São Paulo, essas funções se tornam, a cada dia, mais importantes e essenciais à gestão educacional. “A controladoria e o trabalho de auditoria nas instituições, além do suporte como função de controle, dão credibilidade externa às práticas adotadas e, igualmente, às demonstrações contábeis apresentadas anualmente”, explica.

Transformar dados em informações e informações em inteligência irá direcionar as ações estratégicas da instituição. Tavares explica que essas são etapas que podem significar a sua permanência em um mercado tão exigente e competitivo. “O monitoramento através de indicadores se tornou uma exigência, até pelas demandas da avaliação institucional a que o sistema tem sido submetido por força de lei. E essa é uma das tarefas fundamentais de uma controladoria sintonizada com a contemporaneidade”, diz.

Tavares destaca que a controladoria é algo mais do que a simples manutenção de uma contabilidade atualizada. Ela tem importante papel estratégico na estrutura de governança, projetando valores, analisando riscos e prospectando cenários. “Além disso, confere maior grau de transparência e credibilidade institucional.”


Andre Conti

Independente da natureza jurídica, societária e econômica, do status acadêmico (creche, colégio, faculdade, centro universitário ou universidade), do tamanho e volume das operações, a função controle é vital para a longevidade das instituições privadas de ensino, pois é ela que dá o suporte aos processos internos, de forma a se evitarem des-

perdícios e a otimizar os recursos existentes para atender a demandas sempre elevadas. “Essa visão de controle aliada à gestão nada mais é do que um novo patamar de governança, que vem sendo implementado nas instituições educacionais para sua sobrevivência e qualidade”, completa o professor Tavares. Para Mauro Ambrósio, sócio-diretor da área de Auditoria da BDO – uma empresa destacada no mercado nacional e internacional como a quinta maior empresa de auditoria e consultoria no Brasil –, a controladoria nas instituições de ensino depende muito da entidade e do seu grau de organização. Ambrósio explica também que existem diversos procedimentos para controle nas instituições de ensino, desde os mais básicos até os mais complexos, todos envolvendo TI e sistemas integrados: “Definir bem o organograma da entidade, o

papel de cada um no sistema de controles, a utilização de ferramentas gerenciais adequadas e, por fim, auditar as demonstrações financeiras, preferencialmente, com um auditor independente.” Quando questionado sobre como é feita a controladoria nas instituições de ensino, Ambrósio avalia que varia muito de uma entidade para a outra. “Mas geralmente o ambiente necessita de recomendações de melhorias”, diz.

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Por que auditar uma instituição de ensino?

Resultados esperados

“Pela importância do ponto de vista de governança corporativa: transparência e credibilidade”, afirma enfaticamente Mauro Ambrósio. Dentro de um escopo de auditoria, existem diversas etapas que contribuem para o aprimoramento da estrutura de controles internos e processos, visando à melhoria contínua destes. “Sem falar que, dependendo da característica da instituição de ensino, é obrigatória a realização de auditoria, principalmente se a entidade for filantrópica ou sem fins lucrativos”, completa.

subordinado à direção. Ambas têm muito a colaborar com as organizações, uma vez que a complexidade operacional e as demandas geradas por controles do patrimônio exigem um acompanhamento rigoroso por parte dos executivos e acionistas.

Tendo como base o controle administrativo, a auditoria é uma atividade que examina e questiona para poder assessorar a área administrativa. Dentre suas funções está a de avaliar os controles para levar informações e recomendações seguras aos interessados, respeitando os critérios de conformidade, integridade e legalidade contábil, financeira, gerencial e operacional. Segundo Ambrósio, o principal papel de uma auditoria está em validar procedimentos internos e os demonstrativos produzidos pela área contábil, dando aos diversos stakeholders a segurança necessária sobre as demonstrações financeiras, os números e a estrutura de controle. “É importante dar credibilidade às informações e atestar os números econômicos, contábeis e financeiros”, diz.

A auditoria pode se desdobrar em vários tipos, como, por exemplo, a auditoria operacional, também chamada de auditoria de desempenho, que visa a examinar as atividades quanto a aspectos como economicidade, eficácia e eficiência; a auditoria de resultados ou de gestão, que tem seu foco no processo de gestão; e a auditoria de conformidade e legalidade, que atua na busca por irregularidades, visando a examinar a conformidade e a legalidade da gestão em relação aos aspectos contábil, financeiro, orçamentário e patrimonial. Ambrósio explica ainda que existem diversos tipos de auditoria aplicados no segmento educacional. “Auditoria das demonstrações financeiras, que checa e atesta que todos os números apresentados nas demonstrações estão corretamente apresentados; auditoria de controles internos e processos, que testa e revisa a estrutura de controles, verifica se ela é apropriada e sugere recomendações de melhorias; e auditoria das gratuidades, são alguns deles.”

As auditorias podem ser externas – realizadas por um profissional sem vínculos com a empresa – ou internas – desenvolvidas por um profissional da empresa, que deve estar RevistaRevista 26 Linha Direta Linha Direta

Auditoria interna ou externa: qual a mais indicada para as instituições de ensino? “Ambas”, garante o sócio-diretor da BDO – empresa presente em mais de 140 países, com escritórios nas principais capitais brasileiras, além de mais de 800 profissionais.

Mas o que podemos esperar do trabalho da auditoria e controladoria em uma instituição educacional? “Do processo de auditoria, esperamos a validação dos relatórios e práticas contábeis que levaram à sua obtenção, bem como dos procedimentos de controle interno adotados nos processos de gestão”, explica, com propriedade, o professor Sergio Tavares. E, graças ao trabalho da controladoria, é possível obter informações a partir de dados e transformá-las em inteligência para a tomada de decisão. “Uma coisa é informar ao gestor que a instituição deixou de receber R$ 1 milhão de sua receita de ensino; outra coisa é, a partir da mesma informação, afirmar que em um dado curso, x alunos estão em vias de cancelar sua matrícula por motivo de inadimplência e um determinado curso está prestes a fechar por falta de receita”, diz Tavares. O dado inicial vem da contabilidade, mas as informações seguintes são geradas na controladoria, com a mesma base de dados, porém com outra dinâmica de estruturação dessas informações. Questionado sobre a complexidade de se articularem as necessidades e demandas do processo pedagógico com a disponibilidade de recursos e planejamento de investimentos, o professor Sergio Tavares é enfático ao afirmar que “responder bem a essa contingência pode ser a diferença entre sobreviver ou não na área educacional nos próximos anos.” Mas esse é um tema para ser abordado em outra reportagem. 


pró-texto

Expansão do ensino superior: desafios e perspectivas Fórum do CRUB em Aracaju/SE reuniu mais de cem reitores em debate com governistas na Unit

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Plano Nacional de Educação (PNE) e os desafios e perspectivas da expansão da educação superior foram os principais temas debatidos no Fórum do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), realizado na Universidade Tiradentes (Unit), em Aracaju/SE, no final do mês de agosto. O evento contou com a presença de aproximadamente cem reitores de instituições de ensino públicas e privadas de todo o País, além de representantes do Ministério da Educação e de diversas entidades – entre elas a Associação Nacional de Universidades Particulares (Anup), a Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (Abruc) e a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Parlamentares da bancada de educação também marcaram presença.

A Linha Direta participou do Fórum e acompanhou toda a discussão levantada. Representando o ministro Revista Linha Direta

da Educação, Aloizio Mercadante, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio Costa, falou na abertura do evento sobre expansão, inclusão, cotas, Enem e Programa Mais Médicos. Ele começou sua exposição fazendo uma revisão histórica da evolução da educação superior brasileira. Luiz Cláudio contou que, até 1997, o Brasil tinha praticamente 1,5 milhão de estudantes no ensino superior. No governo Fernando Henrique houve um primeiro avanço, e o País chegou a 3 milhões, em 2002. A partir dessa data, aconteceu um grande crescimento, passando de 3 milhões para 6,7 milhões, em 2011. Hoje, no Brasil, 2,3 milhões de estudantes ingressam no ensino superior por ano, e aproximadamente 1 milhão se forma. “Temos um saldo líquido de 1,3 milhão, mas existe uma demanda muito maior que essa”, afirma o presidente do Inep. Em 1997, dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos, 7,2% estavam fre-

quentando ou já haviam concluí­ do o ensino superior. Estudiosos da educação apontam que esse índice representa uma profunda elitização do segmento. “Isso vem desde a época da nossa colonização. Portugal não colocava universidades em suas colônias, então, quando o Brasil se tornou independente, possuía apenas 3 mil estudantes no ensino superior, enquanto os EUA já tinham 9 mil, e as universidades americanas de colonização espanhola eram muito maiores e mais antigas que as nossas”, conta o palestrante, continuando a evolução histórica ao falar do índice de 2004, de 12,2%, e de 2011, de 17,8%. Os números demonstram que, a cada ano, 1 milhão de pessoas a mais ingressam na educação superior. “Sem fazermos muito esforço, a meta do PNE de elevar a taxa líquida de matrículas para 33% da população de 18 a 24 anos vai ser alcançada”, enfatizou o presidente do Inep, ressaltando que, então, é preciso ir além.


Fotos: Marcelo Freitas

Desafios “O maior indicador de qualidade educacional para um País como o Brasil é a inclusão, e poucas pessoas percebem isso”, afirmou Luiz Cláudio, acrescentando que os Estados têm feito um belíssimo trabalho de inclusão, principalmente no ensino médio. “Nesse segmento, passamos de 3,4 milhões de estudantes, em 1997, para 8,3 milhões, atualmente”, mostrou, destacando que, então, o País está melhorando no ensino superior, no ensino médio, na inclusão e na qualidade.

Mesa de abertura do Fórum de Reitores do CRUB, realizado na Unit, em Aracaju/SE

Luiz Cláudio analisou que, para pensar na estratégia da expansão, é preciso verificar a evolução do total de ingressantes. “Em 2001, entraram 1,043 milhão nas IES e, em 2011, 2,3 milhões. É um crescimento de 124%, em todas as faixas etárias”, explicou. “Isso é muito bom porque o Brasil tem um débito com as pessoas que não tiveram a oportunidade de fazer um curso superior no passado e estão retomando os estudos, principalmente através do Ensino a Distância (EaD).” O palestrante disse, ainda, que, das matrículas atuais do ensino superior, em torno de 15% são no EaD, o que representa quase 1 milhão de alunos. “Várias pessoas na faixa etária mais avançada podem e devem ser atendidas por essa modalidade. Temos espaço para avançar e precisamos caminhar. Não existe competição entre presencial e a distância, são públicos distintos”, afirmou Luiz Cláudio. Ele disse que é preciso identificar esses públicos e atendê-los. “Existem 3,5 mil municípios no Brasil que não contam com a presença de nenhuma IES e provavelmente não contarão, mas podem ser atendidos por um bom EaD.”

Luiz Cláudio Costa, presidente do Inep, representando o ministro Aloizio Mercadante

A maioria dos ingressantes no ensino superior brasileiro, hoje, está na faixa etária de 18 anos. “Praticamente resolvemos a equação do acesso ao ensino superior para quem está se formando no ensino médio. Temos 1,8 milhão de egressos da educação básica a cada ano no Brasil e 2,4 milhões de vagas disponíveis no ensino superior. Ou seja, não faltam vagas e ainda existem programas para garantir o acesso: Prouni, Fies, Reuni e os institutos federais, por exemplo”, enfatizou o presidente

do Inep, reforçando, então, que o desafio é de inclusão desses jovens. “Acho que, com as cotas, estamos fazendo muita justiça nesse País”, argumentou. Luiz Cláudio relatou sobre a existência de dois discursos apocalípticos em relação às cotas: elas iriam aumentar o racismo e produzir queda da qualidade. “Nada disso aconteceu. Os alunos convivem bem em nossas IES, e o resultado do Enade mostra que Revista Linha Direta


os estudantes cotistas têm rendimento igual ao dos não cotistas”, explicou. “A inclusão social pode e deve ser feita.” Sobre a questão da expansão, o presidente do Inep argumentou que só é possível através de um acesso republicano. “O Enem este ano será aplicado para 7,1 milhões de pessoas, em 1.636 cidades do País. É uma logística imensa fazer o Exame para esse número de pessoas, mas a causa vale a pena porque possibilita ao jovem de qualquer parte desse País, de qualquer classe social, fazer o Enem, abrir seu computador e encontrar à sua disposição 101 instituições, 3,7 mil cursos, 130 mil vagas”, enfatizou, ressaltando que vaga pública é bem público. Sobre o vestibular, Luiz Cláudio explicou que o problema é a lógica dele, em que você escolhe uma instituição e um curso apenas. “Perdeu, está fora”, disse. “O pobrezinho que não pode fazer vestibular em duas ou três IES, então, aí é que está fora mesmo”, concluiu. Polêmica Um dos temas mais debatidos durante o Fórum de Reitores do CRUB foi o Programa Mais Médicos. O representante do MEC disse que o governo está estudando a situação desde 2011. “Hoje, temos 110 mil matrículas nos cursos de medicina. O ingresso, por ano, é em torno de 17 mil jovens, e os concluintes chegam a 14 mil. Além disso, temos cursos de medicina em apenas 59 cidades do País”, relatou Luiz Cláudio, acrescentando que o Brasil é hoje um País com 0,8 vagas médicas para cada 10 mil habitantes. “Então, o que precisamos fazer, estruturalmente, com qualidade? Expandir vagas médicas. Isso é um consenso e estamos nos preparando para criar mais 11,4 mil”, contou. Revista Linha Direta

Participantes do Fórum do CRUB, realizado na Universidade Tiradentes

Continuando a argumentação, o palestrante falou que os números comprovam que, com essa quantidade de matrículas, ingressantes e concluintes, o País não consegue atender à demanda de saúde da sociedade brasileira. “Hoje, temos 1,8 médicos para cada mil habitantes. Temos 700 cidades que ainda não têm médicos, nem estrutura, e 1,7 mil cidades que têm menos de um médico para cada 3 mil habitantes”, explicou, falando, então, que o governo resolveu criar um projeto conjunto entre a Saúde e a Educação para levar médicos para essas cidades. Além da expansão das vagas, esse Programa conta com outra medida: trazer médicos estrangeiros, que estejam atuando em seus países de origem. “Eles serão auditados, analisados, e irão atuar somente nos serviços de atenção básica à saúde, em locais determinados pelo governo”, explicou o presidente do Inep, esclarecendo que por esses motivos é que esses médicos estrangeiros, especificamente, não farão o Revalida.

Fórum do CRUB O CRUB retoma a tradição de rea­ lizar fóruns regionais justamente com o objetivo de mobilizar os reitores de todas as regiões do País para participar das discussões importantes para o segmento da educação superior. “Temos que fazer um trabalho longo como reitores articulados do Brasil, com palavras e colaborações próprias, das quais não podemos abdicar, sobretudo nesse momento decisivo da educação brasileira”, afirmou Wolmir Amado, reitor da PUC-GO e presidente do CRUB. Ele mencionou, ainda, que, com o Fórum, busca-se analisar o ponto de vista do governo, do Ministério, das instituições, dos estudiosos, das experiências, de tudo que se carrega como desafio. “Em um horizonte mais amplo, queremos pensar no que será a educação, logo mais nos próximos anos, no modo como temos que nos preparar e nas implicações que teremos. Portanto, será uma longa caminhada e precisaremos estar bem unidos: o País, o povo e as lideranças, juntos, com causas, ideais e esperanças em ­comum.” 


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GOOGLE S

e você acredita que a única contribuição do Google para a educação é oferecer um caminho mais curto entre o aluno e a Wikipédia, se enganou. A empresa possui um setor voltado para consultoria na área educacional, com um escopo de ações que auxiliam a instituição na captação de alunos, oferecendo, ainda, ferramentas que facilitam a navegação desses estudantes, além de trabalhar a marca dessas instituições no ambiente online. Quem explica isso é Vicente Carrari Rodrigues, gerente de Vendas para Educação do Google. Em entrevista exclusiva à Linha Direta, ele fala sobre como funciona a assessoria que a empresa presta às instituições de ensino e sobre o perfil dessas instituições. Vicente revela também como o Google assessora empresas de variados setores econômicos, citando as especificidades que as estratégias mercadológicas voltadas para cada um desses setores demandam, no intuito de atingir seu público-alvo. Confira a entrevista!

Revista Linha Direta

De que forma o Google pode ajudar as empresas? No Google, temos um relacionamento com todos os setores da economia. Possuímos um departamento que atende à educação, bem como um responsável por lidar com o varejo, o financeiro, o automotivo e os bens de consumo, por exemplo. Meu trabalho é gerenciar a equipe do setor educacional. Tentamos oferecer o máximo de informações que temos, respeitando o objetivo de cada página web. Buscamos ajudar nosso cliente a compreender qual o melhor jeito de realizar a comunicação que ele deseja, levando em conta as estratégias que precisa utilizar e o público que deseja atingir. Qual a especificidade da assessoria prestada pela empresa? Todos os segmentos possuem especificidades, mas acredito que no da educação alguns detalhes interessantes se sobressaem. Um deles é o fato de cerca de 50% do público ser jovem, entre 18 e 25

Empresa multinacional americana de serviços online e software oferece consultoria e assessoria na área educacional

anos. Sabemos que a internet é uma mídia muito consumida por pessoas dessa faixa etária, então nossa preocupação com esses clientes é grande. Diferente do setor automotivo, por exemplo, que possui carros voltados para pessoas de uma faixa etária que não necessariamente correspondem a usuários de internet. É importante considerar também o fato de muitas instituições terem cursos de Educação a Distância (EaD) e, claro, se existem esses cursos apoiados no uso da internet, é preciso que a comunicação com esses alunos seja feita por essa via. Então, precisamos oferecer um suporte maior a essas empresas. Como funciona a assistência que o Google fornece às instituições de ensino? Entramos em contato com as agências de publicidade, diretores de marketing ou com os fundadores das empresas para ajudá-los a entender de que forma podem utilizar o Google de maneira eficiente dentro de suas estratégias de mercado: desde mostrar sua


Vicente Carrari Rodrigues, gerente de Vendas para Educação do Google

marca para os usuários até captar mais alunos, e também no processo de compreender a importância das plataformas digitais para as instituições de ensino. É uma assessoria de como utilizar o ­Google como ferramenta de educação e publicidade. Temos toda uma gama de clientes, desde escolas de idiomas até grandes universidades, passando por alguns players que fornecem serviços para esse mercado, como empresas de fundos e agregadores de geração de leads, por exemplo.

ressadas em discutir os dados que o mercado nos mostra, bem como em reagir ao que esses dados indicam. Para nós, não faz sentido que não haja debates sobre o trabalho que realizamos ou que apenas se aceitem as mudanças que propomos. Nosso foco são os clientes que nos proporcionam essas respostas.

Qual o perfil da instituição que busca a assessoria do Google?

A maioria das universidades públicas não está interessada em investir em publicidade. Geralmente elas possuem um número limitado de vagas e muitas são reconhecidas como referência no campo educacional. Mas outros serviços são oferecidos, como melhorias nos sites das instituições, e isso pode variar de uma universidade para outra. A iniciativa privada possui maior eficiência em processos desse tipo, pois precisa atuar dessa forma ou então morre. Já a faculdade pública é um pouco mais estável.

Tentamos mesclar nossas práticas, para que o trabalho não se limite a instituições de mesmo porte, ou seja, trabalhamos para pequenas, médias e grandes instituições. Em suma, temos interesse em atender a todos que desejam crescer no que se refere ao uso das ferramentas digitais. Então, não adianta que o cliente seja grande, mas não se proponha a participar do processo de mudança. Procuramos pessoas que estejam inte-

No ensino superior, os serviços prestados são voltados exclusivamente para as instituições particulares?

Qual a importância de se adotarem novas práticas em relação à construção do ensino e de que forma o Google pode auxiliar nesse processo? No Google, falamos muito de inovação, e é importante que as instituições de ensino entendam que inovar é preciso. Se não existe inovação na instituição, ela não durará por muito tempo. A inovação é como um músculo que, se não exercitado diariamente, atrofia. Se as instituições não admitirem o mínimo de risco em seu dia a dia, no que se refere à importância de ser preciso inovar em algumas práticas, bem como contratar pessoas dispostas a participar do processo de inovação, elas estarão fadadas ao fracasso. O Google existe para isso, para ajudar o mercado, que está cada vez mais globalizado e concorrido, a ser inovador. O Brasil tem tudo para ser uma potência educacional na América Latina, e o Google estará sempre disposto a participar desse processo.  Revista Linha Direta


crônica

O professor e a mente Q

©Lisa F. Young/PhotoXpress

ualquer pessoa vive e se refaz. Seja qual for a direção que damos à nossa existência e às nossas paixões, viver é fazer-se, e cada dia que nasce nos descobre diferentes do dia que passou. Diferentes por uma razão biológica, uma vez que o viver significa envelhecer a cada minuto, e não há evolução sem transformação, por mais imperceptível que seja esta. Mas, além das alterações corporais, as mudanças maiores, que mais sentido dão a esse se refazer, são

Revista Linha 100 Revista Direta Linha Direta

as ocasionadas pelo aprendizado. Impossível um dia de vida sem que algo se aprenda, ainda que também mal se perceba a sutileza dessa mudança. E é exatamente na configuração dessa realidade que emerge com inusitado vigor a figura do mestre. É evidente que não aprendemos somente na escola e que, portanto, muito além da função docente, o refazer se dá pelas experiên­cias vividas, pelos encontros surgidos e acasos circunstanciais. Mas, se é verdade que não somente o professor ensina, nenhuma outra profissão tem em sua estrutura essencial essa função. É por essa razão que ser professor possui significado indizível, e também por essa mesma razão, é essencial que todos os que foram abraçados por essa função se aprofundem na plena compreensão do que efetivamente significa ensinar. É esse domínio que liga a profissão à neurociência e que necessita fazer do professor um estudioso e curioso observador da mente humana. Em uma sociedade que transborda de informações e que, assim, se banaliza, saber selecionar essas informações, transformá-las em conhecimento e este em sabedoria é o grande desafio da modernidade e a imensa responsabilidade de qualquer professor.

Celso Antunes*

Somente quando aprendemos como a mente aprende e retém o essencial do que aprendeu, podemos verdadeiramente ensinar; e quando bem ensinamos, somos únicos na gloriosa missão de fazer de toda pessoa um verdadeiro agente na missão de fazer-se a cada dia. Se houve tempo e espaço para o professor que ditava informações, prescrevia memorizações, dominava pela rotina de ensinar saberes dispensáveis e descartáveis, esse tempo passou, tendo sido claramente substituído pelos novos tempos da perspectiva neurocientífica e psicológica. Sem se modernizar e fazer do que se ensina competências e habilidades para efetivamente se transformar, o velho professor sepulta-se na inutilidade, enquanto a pessoa humana verdadeira saúda os novos artífices na insubstituível arte de ensinar a viver. Dentro da sala de aula ou não.  *Bacharel e licenciado em Geo­ grafia, especialista em Inteligência e Cognição e mestre em Ciências Humanas. Sócio-fundador do movimento Todos pela Educação. Autor de mais de 180 livros didáticos e 60 educacionais www.celsoantunes.com.br


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