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Linha Direta INOVAÇÃO . EDUCAÇÃO . GESTÃO

EDUCAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO

Movimento propõe ações de curto e médio prazos em busca de um ganho de qualidade educacional

SESI A escola da indústria

COMPETIÇÃO WorldSkills

ATUAÇÃO Coordenação pedagógica

VÍNCULOS Educação escolar, mundo do trabalho e prática social

IES O cenário educacional no Brasil e no mundo

LINKEDIN Novas possibilidades de colocação profissional

Jane Tosin

Claudio de Moura Castro

Milton Beck

EDIÇÃO 185 ANO 16 - AGOSTO 2013


editorial

Movimento nacional

Movimiento nacional

O nível educacional de uma população é um dos fatores que podem estimular ou entravar a competitividade dos setores econômicos. Diante disso, a indústria brasileira percebeu que, para avançar, é necessário que todos tenham proficiência em língua portuguesa, matemática e ciências. As atuais tecnologias produtivas exigem que os trabalhadores dominem conhecimentos e habilidades possíveis de serem adquiridos através de uma adequada educação básica e, ainda, quando for necessário, aliada a uma qualificação profissional específica. Nessa direção, o SESI e o SENAI nacionais estão lançando o movimento Educação para o Mundo do Trabalho, por meio do qual irão mobilizar governos, empresas, associações, movimentos, escolas e famílias em torno de uma agenda nacional que promova impactos no perfil de formação do estudante brasileiro de educação básica e daqueles que, já fora da escola, necessitam integrar-se ao mercado de trabalho. A Linha Direta já aderiu a essa causa. Veja como participar na matéria de capa deste mês. Boa Leitura!

El nivel educativo de una población es uno de los factores que pueden estimular o trabar la competitividad de los sectores económicos. Frente a esto, la industria brasileña percibió que, para avanzar, es necesario que todos tengan capacidad en lengua portuguesa, matemática y ciencias. Las actuales tecnologías productivas exigen que los trabajadores dominen conocimientos y habilidades posibles de ser adquiridos a través de una adecuada educación básica e, inclusive, cuando fuera necesario, aliada a una calificación profesional específica. En esta dirección, SESI y SENAI nacionales están lanzando el movimiento Educación para el Mundo del Trabajo; por este medio irán a movilizar gobiernos, empresas, asociaciones, movimientos, escuelas y familias en torno de una agenda nacional que promueva impactos en el perfil de formación del estudiante brasileño de educación básica y de aquellos que, ya fuera de la escuela, necesitan integrarse al mercado de trabajo. Linha Direta ya adhirió a esta causa. Sepa cómo participar en la materia de tapa de este mes. ¡Buena Lectura!

Marcelo Chucre da Costa Presidente Linha Direta Pré-Impressão eda Impressão

Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta

Tel.: (31) 3303-9999 Tiragem: 45.300 exemplares Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Editora Valéria Araújo – MG 16.143 JP Jornalista Trainee Renan Costa Coelho Designer Gráfico Rafael Rosa Atendimento Flávia Alves Passos Preparadora de Texto/Revisora Cibele Silva Tradutor/Revisor de Espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam

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Revista Revista Linha Linha Direta Direta

Conselho Consultivo Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente da Fenep Anna Lydia Collares dos Reis Favieri Ferreira Presidente do Sinepe/RJ Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamin Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Dalton Luís de Moraes Leal Presidente do Sinepe/PI Emiro Barbini Presidente do Sinep/MG Fátima de Mello Franco Presidente do Sinepe/DF Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp

Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação L’Hermitage e Sieeesp

Ignez Vieira Cabral Presidente da Fenen Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília Ivo Calado Asepepe Jacir J. Venturi Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário Nacional da ABM Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação Universa Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Maria Nilene Badeca da Costa Presidente do Consed

Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Osvino Toillier Presidente do Sinepe/RS Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Paulo Sérgio Machado Ribeiro Presidente do Sinepe/AM Pe. João Batista Lima Presidente do Sinepe/ES Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio

As ideias expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da Revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

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educação para o trabalho

EDUCAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO D

iante da consolidação das novas tecnologias como ferramentas essenciais ao processo produtivo, o mercado, cada vez mais, exige mão de obra qualificada. Ele quer não só um profissional capaz de executar bem sua função, mas que interprete desafios e novas situações, estando preparado para calcular, avaliar e discernir riscos para corrigir fazeres e antecipar escolhas, aprendendo a conviver com o incerto e o inusitado. O novo mundo do trabalho pede que o indivíduo esteja preparado para atuar em situações planejadas e não planejadas, dando respostas adequadas à complexidade da tarefa apresentada, contribuindo significativamente para a garantia dos resultados demandados. Os últimos anos, especialmente a última década, foram de grande importância para o Brasil, por caracterizarem um momento de

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Movimento propõe ações de curto e médio prazos em busca de um ganho de qualidade educacional

crescimento econômico e consolidação como uma das grandes potências mundiais, alicerçado na aceleração da atividade industrial que o País vem apresentando. No entanto, alguns fatos ainda atravancam o pleno crescimento da Nação, entre os quais a baixa qualificação e escolarização dos profissionais que atuam nos setores produtivos. Mesmo diante de evidente melhora no que se refere à capacidade produtiva nos últimos anos, o Brasil ainda se encontra em uma posição aquém de suas possibilidades no que se refere à competitividade global. É o que revela o Relatório de Competitividade Global 2012-2013 do Fórum Econômico Mundial. O estudo revela que o principal fator para a composição desse cenário é a precária qualidade da educação, fato que interfere diretamente na produtividade da indústria.

Por mais que o empregador decida por capacitar seus colaboradores, ficam evidentes deficiências oriundas da baixa qualidade da educação básica. O nível educacional da população, dos que já estão inseridos no mercado de trabalho e dos que em breve tentarão ocupar uma vaga nas empresas, é um dos principais fatores que estimulam ou entravam a modernização e a competitividade dos diversos setores econômicos. Ciente da importância que o nível de escolaridade dos profissionais possui para o desenvolvimento econômico do País, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criou o projeto Educação para o Mundo do Trabalho, que tem como objetivo principal melhorar a qualidade da educação para formar futuros profissionais mais preparados, além de aproximar cada vez mais a educação básica e a formação profissional. Revista Linha Direta


O programa As ações tiveram início no ano de 2011, quando um significativo debate promovido pela CNI levantou a questão: “O que é educação para o mundo do trabalho hoje?” Especialistas em educação no Brasil, como Claudio de Moura Castro, Francisco Aparecido Cordão, José Pastore e João Batista Araújo fizeram parte desse debate, que teve como objetivo realizar um diagnóstico dos principais desafios de qualidade do sistema educacional brasileiro e propor ações que promovam o seu desenvolvimento, tendo como eixo principal a aproximação da educação do jovem ao mundo do trabalho, indispensável para a qualificação do sistema produtivo e para a competitividade da indústria brasileira no panorama internacional. O objetivo da ação é mobilizar empresários, governos, sociedade civil e pais de alunos por meio de uma agenda permanente de ações, que apresentem resultados de curto e médio prazos e contribuam para a qualidade da educação voltada para o mundo do trabalho. De acordo com o gerente executivo de Estudos e Prospectiva do SESI, SENAI e IEL, Luiz Caruso, as ações que o projeto irá desenvolver visam a apresentar soluções mais emergenciais para o atual cenário da educação no País, ao contrário de outras ações que ele também julga necessárias, mas que demandariam maior tempo até surtir efeito. “Trata-se de uma mobilização que estamos promovendo junto com empresários e sociedade de modo geral, no sentido de melhorar a qualidade da educação. Existem ações que visam a Revista Linha Direta

desenvolver a carreira docente. Concordamos que isso é fundamental, bem como o fato de ser preciso que se revisem os currículos do ensino médio ou a importância da educação em tempo integral. No entanto, a realização dessas ações pode levar muito tempo, na busca pela melhora da educação em seus fundamentos.” O foco do projeto é trabalhar a proficiência em disciplinas como português, matemática e ciên­ cias. As estratégias a serem utilizadas nesse processo serão discutidas em reuniões regionais e em um encontro nacional. Durante todo o mês de agosto de 2013, os 27 departamentos do SESI e do SENAI vão promover encontros para definir quais dessas ações de resultados em curto prazo serão implantadas. Por meio de palestras de sensibilização, buscar-se-á obter a adesão formal dos parceiros locais ao programa e discutir as ações a serem desenvolvidas. As reuniões têm o objetivo de apresentar as ideias centrais da ação a empresas, famílias, governo, trabalhadores, escola e mídia, convidando-os para participar da realização do projeto. Após esses encontros estaduais, será feito um trabalho de consolidação, em que as premiações aos projetos que se destacarem serão definidas e, logo depois, ocorrerá o lançamento nacional do programa, no dia 30 de outubro. Espera-se que as linhas de ações contemplem a melhoria do desempenho dos jovens e dos trabalhadores em língua portuguesa e matemática, além de ampliar os compromissos da comunidade escolar, das famílias e da sociedade em geral com a qualidade da educação.


Após o lançamento do projeto, a CNI pretende construir, em conjunto com a sociedade civil e com os poderes públicos, uma agenda específica de trabalho com foco em ações que gerem resultados em curto prazo – ações que produzam efeitos mais imediatos (em um período de 1 a 2 anos) de melhoria do perfil educacional dos jovens, de modo que estes se integrem mais adequadamente ao mundo do trabalho, fazendo com que a indústria conte com profissionais com melhor nível de escolarização básica, especialmente no domínio da língua portuguesa e dos conhecimentos matemáticos. Em curto prazo, propõe-se que a ênfase se situe na melhoria da proficiência em português e matemática daqueles que estão na fase de transição escola-trabalho. Dependendo da situação do jovem e da indústria local, é possível contemplar também algumas competências genéricas, como raciocínio lógico, e algumas competências comportamentais. Além disso, é necessário ampliar a oferta de educação profissional de média e alta qualificação. Define-se assim um público a ser prioritariamente atendido. Público-alvo Após estudos, foi feito um recorte referente ao público que o projeto visa a atingir. As ações serão voltadas para jovens de 18 a 24 anos que ainda estão cursando o ensino médio, apresentando atraso na idade-série. O programa também contemplará jovens que possuem o ensino médio completo ou incompleto, e que se encontram sem trabalho. Segundo Caruso, “este é um grupo de extrema vulnerabilidade, no qual ações em curto prazo po-

deriam ser desenvolvidas, visando a oferecer a eles condições de melhorar sua proficiência em português e matemática para que eles possam ser inseridos no sistema produtivo de algum modo.” Outra ação que se pretende desenvolver é a elevação da escolaridade dos trabalhadores que já se encontram empregados atualmente. Luiz Caruso diz que, no Brasil, existe uma grande quantidade de pessoas que se encaixam no perfil que os estudos indicaram. Em 2011, quando o projeto começou a ser discutido, o número de pessoas dentro das características que o programa irá contemplar girava em torno de 14 milhões, sendo que mais de 5 milhões eram trabalhadores que necessitavam ter seu nível de escolaridade elevados. Uma análise mais aprofundada mostrou, ainda, que 81 mil desses trabalhadores eram analfabetos. O número de jovens na faixa etária de 18 a 24 anos, com o ensino médio completo ou incompleto, chegava a cerca de 9,3 milhões de pessoas, enquanto outros 2 milhões estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Para ele, a iniciativa é de grande valor, mas demanda a união de outras forças em prol do seu sucesso. “Nós sozinhos não temos condições de resolver essas demandas, mas, com a adesão de outros atores ao projeto, as soluções serão potencializadas. Nosso objetivo é, exatamente, proporcionar essa adesão. É um projeto que extrapola as dimensões da CNI, do SESI e do SENAI. SESI e SENAI já possuem ações, dentro de suas escolas, que contribuem em parte para a solução desses problemas. Mas esse é um projeto que necessita da ação de muitos outros atores”, finaliza.  Revista Linha Direta


educação para o trabalho

A escola da indústria

Na educação básica, o SESI oferece desde a educação infantil até o ensino médio articulado com a educação profissional. Nos nove anos do ensino fundamental, o currículo do SESI segue as Diretrizes Curriculares Nacionais e os Parâmetros Curriculares Nacionais, e também contempla outros princípios, como qualidade de vida e educação, que incluem a importância da saúde, da cultura e do exercício da cidadania. Os conteúdos dessa fase da educação são vistos de forma transversal, envolvendo várias disciplinas em um único projeto temático, que é definido e elaborado pelos professores. Já no ensino médio regular, o estudante é estimulado a desenvolver o empreendedorismo e habilidades como trabalho em equipe, liderança e autonomia. Além disso, o SESI trabalha em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) no programa Educação Básica Articulada com Educação Profissional (Ebep), que permite aos alunos da educação média complementar os estudos com um curso técnico. Assim, ao cursar a educação regular com um curso profissionalizante, Revista Linha Direta

jovens e adultos se qualificam para ingressar no mercado de trabalho. A qualidade do ensino oferecido pelas escolas SESI foi atestada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011. As escolas da instituição ficaram entre as primeiras colocadas, à frente de redes privada, estadual, municipal e federal. De acordo com o Ideb, 94% das escolas SESI do 5º ano e 86% das escolas do 9º ano superaram as metas estabelecidas pelo MEC para 2021. Revisão curricular Uma das principais propostas do Sistema SESI de Ensino é formar pessoas para o mundo do trabalho. Para isso, as escolas do SESI estimulam a criatividade, a capacidade de inovação, o empreendedorismo e a responsabilidade social e ambiental dos estudantes, sejam eles crianças, jovens ou adultos. Mas, diante da análise do cenário brasileiro de educação, a instituição começa a rever o próprio currículo educacional, já que constatou que o Brasil precisa de um modelo de educação que favoreça o desenvolvimento econômico e social. Segundo o gerente executivo de Educação Básica do SESI, Henrique Santos, a percepção que se tem é de que a educação, hoje, não oferece o resultado que o mundo do trabalho demanda. Dentro dessas perspectivas, e em resposta aos anseios da indústria, que busca por trabalhadores qualificados, o Sistema SESI começa a incrementar seu currículo alinhando a

teoria com a prática. “O objetivo é que, desde o ensino fundamental, o aluno veja na prática aquilo que ele aprende na teoria”, diz Henrique. Ensino médio Como se sabe, o sistema educacional brasileiro prepara os estudantes como se todos fossem para a universidade. Mas, hoje, apenas 17% deles conseguem uma vaga no ensino superior. Os outros interrompem os estudos sem ter sequer uma hora de aula preparatória para ocupar um emprego. O resultado desse despreparo para o mercado de trabalho é que o Brasil convive com um baixo índice de produtividade. Nessa direção, o SESI optou por começar a reforma do seu currículo pelo ensino médio. “Queremos preparar os alunos para o vestibular,

Fotos: José Paulo Lacerda

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elhorar a qualidade da educação e elevar a escolaridade dos brasileiros é um dos objetivos do Serviço Social da Indústria (SESI), desde a sua criação, há 67 anos. Para isso, a instituição possui o Sistema SESI de Ensino, que mantém uma rede de escolas que oferecem educação básica, educação de jovens e adultos, educação continuada e acompanhamento pedagógico para trabalhadores da indústria e seus dependentes.


SESI promove revisão curricular para formar cidadãos para o trabalho

mas também queremos dar a eles a oportunidade de ter uma profissão, ao final do ensino médio”, explica o gerente de Educação Básica do SESI, ressaltando que essa revisão curricular pretende trabalhar o aprender-fazendo e que o aprendizado pode ser, ou não, articulado com o SENAI, através do Ebep. “Temos a meta de atingir 80% dos nossos alunos, até 2014, com o ensino articulado”, conta. Nesse programa, os currículos da educação básica e do ensino técnico dialogam, fazendo com que não haja sombreamento das disciplinas e podendo oferecer aos jovens uma habilitação enquanto o ensino médio ainda está em curso. “O objetivo, então, é dar proficiência ao aluno, para que ele seja capaz de superar os desafios que se apresentarão em sua vida profissional”, argumenta Henrique.

Matérias básicas Além de trabalhar a questão da educação profissionalizante, a revisão curricular do SESI também irá se preocupar com a proficiência nos conteúdos básicos, como matemática, português e ciências. “Trata-se de uma revisão curricular que transforme esses conteúdos em algo que os alunos possam de fato utilizar em sua vida cotidiana, quando forem demandados”, afirma Henrique. No ensino fundamental, os alunos terão a oportunidade de aprender-fazendo, mas a proficiência será mais bem trabalhada, pois nas séries iniciais ela ainda não existe. É importante ressaltar, segundo o gerente, que, além de dar aos estudantes o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, a educação

fundamental do SESI já lhes proporciona a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores que sustentam a sociedade. O início A revisão curricular do Sistema SESI de Ensino entra em prática no próximo ano, começando pelo ensino médio. “O desafio é sermos uma rede articulada de ensino, pois queremos sair de uma situação de bons trabalhos regionais para um trabalho em rede nacional, inclusive com o desejo de influenciar políticas públicas para a área de educação em um futuro próximo”, salienta Henrique, que conclui dizendo que será uma implantação gradativa, para não acontecerem erros durante o processo. 

Escola do ensino médio articulado do SESI em Salvador

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educação para o trabalho

WORLDSKILLS Saiba como foi a participação brasileira nessa importante competição internacional

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) é um dos grandes responsáveis por essa realidade, e a compensação pelo trabalho bem feito por seus profissionais se reflete no ótimo desempenho dos alunos, que comprovaram, em nível mundial, o crescimento do ensino técnico no País. Estamos falando do sucesso dos alunos brasileiros, em sua maioria estudantes do SENAI, na última edição do WorldSkills, que aconteceu em ­Leipzig, na Alemanha, entre os dias 2 e 7 de julho. Realizado a cada dois anos, o evento é o maior torneio de ensino profissionalizante do mundo. Seu Revista Linha Direta

objetivo é gerar intercâmbio profissional e cultural entre jovens de todo o mundo, além de promover a troca de habilidades, experiências e inovações tecnológicas. Os jovens participantes devem ter, no máximo, 22 anos de idade, e só podem participar da competição uma vez. Participação brasileira Ao todo, a delegação brasileira conseguiu 12 medalhas. São quatro de ouro, cinco de prata e três de bronze, sendo este o melhor resultado do País na história da competição. A equipe que representou o Brasil foi formada por 41 jovens de até 22 anos. Desses, 37 saíram de cursos de formação oferecidos pelo SENAI e quatro do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). No ranking geral, o Brasil ficou em quinto lugar no número de medalhas, com 52 pontos, atrás de Coreia (89), Suíça (73), Taiwan (65), Japão (56), e à frente de Áustria (45), Alemanha (42), França (40), Finlândia (35) e Inglaterra (34). Além das medalhas, o time brasileiro voltou para casa com 15 diplomas de excelência.

Fotos: José Paulo Lacerda

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iante do atual cenário da educação brasileira, fica clara a necessidade de uma reformulação do processo educacional. A valorização e consequente ampliação da educação profissional é, sem dúvida, um dos importantes passos a serem seguidos nesse sentido. Ela, que por muito tempo foi desvalorizada e marginalizada, apresenta-se hoje como um dos principais focos de crescimento do País.


O número de medalhas conquistadas pela delegação brasileira no WorldSkills 2013 foi a melhor da história do País no torneio

Revista Linha Direta


Richard Souza da Silva, de apenas 18 anos, morador de Itaquaquecetuba/SP, foi quem teve a maior nota entre os brasileiros. O estudante está desde os 14 anos no SENAI, onde fez cursos de Ferramentaria e Técnico em Mecânica. Com o ótimo desempenho no torneio, ele ganhou a medalha de ouro na ocupação de Polimecânica e recebeu o título de “o melhor da Nação”. O estudante comemorou os resultados obtidos salientando as dificuldades que enfrentou no processo de preparação para a competição. “Durante seis meses me dediquei integralmente ao mundial, dormia só quatro, cinco horas por dia. Os cursos do SENAI são realmente muito bons. Tive a atenção dos professores não só nos cursos, mas também em aulas individuais, para me treinar na minha ocupação. Eles me ajudaram passando o conhecimento que tinham.” Rafael Wenderson de Morais, de 20 anos, define sua participação na competição como “um sonho realizado”. Ele, que fez curso Técnico em Mecânica no SENAI/RN, conquistou a medalha de prata na modalidade Soldagem e, após competir com estudantes de 36 países, diz que sua conquista é fruto do trabalho e da boa preparação recebida no SENAI. “Eu me preparei por dois anos e meio, de domingo a domingo, e tenho o sentimento de dever cumprido.” Bons frutos O reconhecimento pelo excelente trabalho realizado pela delegação brasileira vai além das medalhas trazidas no peito orgulhoso de cada estudante e da certeza de terem representado bem o País. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, garantiu que Revista Linha Direta

Além das medalhas, o time brasileiro voltou para casa com 15 diplomas de excelência


Todas as 12 medalhas conseguidas pelo Brasil foram conquistadas por ex-alunos do SENAI

os 41 competidores brasileiros no WorldSkills ganharão bolsas de estudos para continuar sua formação em universidades do Brasil ou do exterior. Andrade salientou a importância de competições desse porte contarem com a presença de estudantes brasileiros, para que o ensino oferecido pelo País seja comparado ao das grandes potências. “O WorldSkills­ é uma oportunidade para o Brasil formar jovens multiplicadores de boas práticas profissionais”, argumentou. O desempenho dos estudantes brasileiros também foi comemorado pelo diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi. Segundo ele, a quinta colocação no ranking geral de medalhas é uma demonstração de que o Brasil está maior, mais forte e mais consistente na competição. E, a julgar pelo número de premiados, é também uma demonstração da excelência da instituição como sistema educacional. “Nós nunca tínhamos conseguido tantas medalhas”, comemora o diretor.

A delegação brasileira no WorldSkills 2013 foi a maior do País na história do torneio

Outra importância de eventos do tipo, na opinião do dirigente do SENAI, é a possibilidade de avaliar a qualidade do ensino oferecido no Brasil em relação aos outros países. “O nosso objetivo, ao participar desse torneio, é comparar a qualidade do ensino que fazemos no Brasil com o restante do mundo.” Ainda segundo Lucchesi, resultados como esses, conseguidos pela delegação brasileira, são de suma importância para a valorização da educação profissional no Brasil, já que ainda existe certo preconceito com o ensino técnico no País. “Precisamos fazer nosso dever de casa. Apenas 17% dos jovens entre 18 e 25 anos cursam ensino superior. E o restante, o que faz da vida?”, questiona.

Um grupo de parlamentares que viajou até a Alemanha para acompanhar de perto o desempenho da delegação brasileira compartilha esse pensamento de valorização do ensino profissional e, diante do bom desempenho dos brasileiros, avaliou como essencial o investimento na área. Próxima edição Promessas de maiores investimentos no ensino técnico, somadas ao grande desempenho dos estudantes brasileiros no WorldSkills, são fatores que contribuem para aumentar a expectativa de todos para a próxima edição do evento, que será realizada em São Paulo/SP. A cidade foi escolhida para receber o torneio em 2015, e os responsáveis já trataram de mostrar que a realização da competição estará em muito boas mãos. Durante a edição alemã do ­WorldSkills, Rafael Lucchesi, apresentou para dirigentes e competidores os preparativos do País para receber a competição, reforçando sua fala ao citar a infraestrutura da cidade, que, segundo ele, está apta a receber um acontecimento desse porte, já que conta com uma extensa rede hoteleira, além de restaurantes, aeroportos e metrô suficientes para suprir a demanda de turistas. “O orçamento para a realização do WorldSkills em São Paulo é de R$ 150 milhões. Estamos em negociação com alguns patrocinadores, para que eles custeiem pelo menos a metade disso. Também vamos conversar com o governo para nos ajudar, e o restante será de responsabilidade do SENAI”, encerrou.  Revista Linha Direta


©Monkey Business/PhotoXpress

conhecimento

Coordenação pedagógica Cada época se impõe e nos impõe desafios diante dos quais nos sentimos, muitas vezes, despreparados. No século que findou, constatamos a todo momento indícios de mudança nos diferentes campos do conhecimento (...) Eles têm chegado à escola, levantando questionamentos que demandam reflexões e sobre os quais o coletivo da escola precisa se debruçar. [Almeida e Placco]

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as escolas, encontramos verdadeiramente as pessoas. Escolas não são apenas instituições de formalidades, de cumprimento de programas e ensino. São locais de presenças humanas e poderiam revolucionar o mundo se conseguissem inovar, implantando práticas humanizadoras. Revista Linha Direta

Isabel C. Rodrigues*


Em nossas escolas, encontramos sujeitos de gerações do passado, do presente e do futuro. Nelas estão agentes históricos, socialmente construídos: alunos, professores, coordenadores, funcionários, diretores, famílias, comunidade – frutos de relações socialmente construídas, permeadas de afetos (um afetando o outro) nos processos de mudanças. Nessa relação dialética e complexa encontra-se a atuação do coordenador pedagógico, um dos atores/agentes de transformação do processo educativo. Seu trabalho não se concretiza na solidão, mas no coletivo, “mediante a articulação dos diferentes atores escolares, no sentido da construção de um projeto político pedagógico transformador”, como diriam Almeida e Placco, no livro O coordenador pedagógico e o espaço de mudança. É um trabalho que se realiza em um movimento de relações/interações construídas no cotidiano escolar, mediatizadas por alguns saberes que fundamentam o fenômeno da ação pedagógica transformadora: saber conhecer, saber fazer, saber ser, saber agir e saber transformar. Para transformar processos educativos, a atuação do coordenador pedagógico deve envolver uma prática dialética, reflexiva, crítica e consciente, sincronizada aos movimentos/ mudanças que ocorrem no cenário da sociedade, na comunidade e na escola, assumindo assim uma práxis transformadora. As intervenções do coor­denador pedagógico podem, dessa forma, “afetar” o processo educaRevista Linha Direta

tivo, desencadeando transformações na prática do professor, “afetando” os alunos, familiares e comunidade educativa. Tais intervenções pedagógicas devem ser planejadas intencionalmente, a partir das dimensões ética, política, técnico-científica e relacional. À dimensão ética (Por quê? O que move meu fazer?) está atribuído o sentido do trabalho que rea­ liza. A finalidade do que se faz está na dimensão política (Para quê? Com que valores?). Por trás dos saberes que organiza e das escolhas metodológicas que fundamentam sua atuação, está a dimensão técnico-científica. A dimensão relacional se dá na forma, no como se efetiva a construção dos processos pedagógicos, atitudes/ações do cotidiano escolar, capazes ou não de desencadear mudanças externas (objetivas) e internas (subjetivas) nas pessoas.

... a atuação do coordenador pedagógico deve envolver uma prática dialética, reflexiva, crítica e consciente, (...) assumindo assim uma práxis transformadora. O momento atual propõe ao coordenador pedagógico ser um dos agentes de mudança de práticas pedagógicas, oferecendo-lhe a possibilidade de projetar sua ação pela articulação de valores, convicções, atitudes e saberes.  *Coordenadora e consultora Pedagógica da Rede RCE www.rceonline.com.br


intratexto

Da relação entre a escola, o trabalho e vice-versa

Jane Tosin*

©erikdegraaf/PhotoXpress

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uando se visita uma sala de aula de uma escola pública, percebe-se que não há muita diferença nesse ambiente, se comparada com a escola de dois séculos atrás: a disposição dos móveis, os materiais didáticos, a organização das carteiras, voltadas para o quadro de giz, com um ou dois professores na frente da turma dirigindo o grupo. Apesar de muitas tecnologias terem sido associadas à prática docente, pouco mudou quanto à metodologia em sala de aula. Os alunos questionam-se, muitas vezes, por que estão aprendendo determinados conteúdos, pois não conseRevista Linha Direta

guem perceber sua aplicabilidade prática e, infelizmente, grande parte dos estudantes sai da escola sem saber ler nem escrever adequadamente. E as consequências dessa formação deficiente podem ser observadas nos péssimos resultados escolares e, em especial, no momento de escolher e exercer uma profissão. Como a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ­(LDBEN) determina, deve haver vínculo entre a educação escolar, o mundo do trabalho e a prática social. Analisando o processo da história da educação, podemos identificar as diferentes formas

de preparação para a vida em sociedade e para o trabalho, com a transmissão de conhecimentos e práticas se dando originalmente no seio da comunidade ou da família. Somente com o passar dos séculos se constitui uma instituição social específica para tal fim: a escola. Com efeito, a formação do adulto é um processo muito mais amplo que o processo educacional escolar. Não pode ser reduzida a este, historicamente o antecede e jamais é, de todo, substituída pela instituição social escola, embora esta passe a exercer a centralidade, enquanto locus social específico para tal fim.


Em nosso País, a situação não é diferente. Percebemos como a educação passou a ter rumos bem definidos de acordo com as transformações nas relações de produção, sendo a escola a responsável por reproduzir as ideologias das classes dominantes. Do confronto entre ideologias e projetos de sociedade, ao longo da história da educação surgiram diversas teorias pedagógicas. Dentre elas, as que objetivavam

sociais vigentes, que traz algumas possibilidades de lhes proporcionar um mínimo de condições para conseguir um emprego. Exigências como conhecimentos em informática e experiência profissional, que, por um lado, reforçam a importância da qualificação para o trabalho, por outro acentuam a exclusão de milhares de jovens e demais trabalhadores. Isso sem contar a dificuldade de se expressar verbalmente, com pleno domínio da língua formal e culta.

Apesar de muitas tecnologias terem sido associadas à prática docente, pouco mudou quanto à metodologia em sala de aula. transformar os paradigmas educacionais, de forma que a educação para o povo realmente fosse destinada ao seu crescimento e emancipação, atribuindo à escola um papel social distinto e mais relevante do que o de mera reprodutora da ideologia burguesa. Quando falamos de trabalho, não podemos considerar apenas o formal, remunerado, ou o exercido por profissionais liberais que têm sua profissão socialmente reconhecida. Devemos salientar que, na atualidade, existe um sem-número de atividades informais, sem falar do trabalho doméstico que, em muitos casos, preconceituosamente ainda é tido como atividade obrigatória das mulheres. Enfrentamos problemas sérios, como o trabalho infantil e a exploração da mão de obra, com requintes de escravidão, em pleno século XXI. Milhões de brasileiros ainda não têm acesso à escola, e esta segue sendo a instituição fundamental, dentro do sistema de relações Revista Linha Direta

Assim, é preciso repensar o papel da escola e o modo como ela tem tratado este que é um dos aspectos primordiais de sua existência: a preparação para o trabalho, que resulta na obtenção de cidadania e de vida com mais dignidade. É claro que, dentro de tal perspectiva, os limites e as possibilidades de intervenção da escola como instituição social dependem do projeto de sociedade que se tem e que se pretende construir e da natureza das relações sociais de produção que o caracterizam e nele são dominantes. No entanto, mesmo no sistema social de relações capitalistas de produção, do qual o trabalho degradado é uma característica, podemos encontrar projetos educacionais que estejam orientados de forma distinta, seja para uma sociedade mais excludente, seja para uma sociedade de maior fortalecimento da democracia e da participação popular. Ou seja, dentro das contradições do capitalismo, a escola e o projeto edu-

cacional, como as demais instituições da sociedade, são campos de disputas entre as classes sociais. Daí, voltamos à questão dos limites e possibilidades da escola. Para termos uma escola mais democrática, seria fundamental e necessário, porém não suficiente, investir na formação dos professores, preparando-os para ensinar a analisar, com criticidade, a realidade em que seus alunos estão inseridos, para então ajudálos no processo de interpretação, compreensão e transformação de sua realidade. Para tanto, faz-se mister que esses profissionais estejam em constante aprendizado, que sejam pesquisadores educacionais e que, por meio do seu trabalho, possam contribuir para que crianças e jovens – futuros trabalhadores – possam exercer seus papéis sociais com cidadania, orientando-os rumo a uma profissão que lhes dê autossuficiência, realização pessoal e profissional. Somado a isso, fundamental se faz que haja políticas públicas decentes, que realmente se destinem à emancipação do trabalhador e ao seu crescimento, e não à legitimação dos ideais burgueses. Seja na escola formal, seja por meio de outras instituições, o cidadão tem o direito de vislumbrar e alcançar os patamares mais elevados de sua condição de ser humano. E isso se dá principalmente com uma educação de qualidade e com oportunidades de interagir e participar ativamente na sociedade, especialmente por meio de um trabalho digno.  *Mestre em Tecnologia pela UTFPR, pedagoga e especialista em Tecnologias Educacionais pela PUC-PR; assessora da Área Pedagógica da Editora Positivo www.positivo.com.br


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A educação nas IES Claudio de Moura Castro analisa o cenário educacional das instituições de ensino superior no Brasil e no mundo

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esmo tendo se formado em economia, foi pela área educacional que Claudio de Moura Castro se apaixonou. Ele já publicou, durante os mais de 30 anos dedicados a conhecer e entender os meandros do universo da educação no Brasil e no mundo, inúmeros livros relacionados ao tema, e sua credibilidade e know-how, conquistados ao longo desses anos, proporcionaram-lhe o reconhecimento como uma das mais contundentes vozes desse cenário, atualmente. Claudio de Moura Castro foi um dos palestrantes do VI Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular, realizado pela Linha Direta e pelo Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, em Foz do Iguaçu/PR, entre os dias 6 e 8 de junho. Em sua fala, o economista abordou as mudanças pelas quais as Instituições de Ensino Superior (IES) passam atualmente, em especial no que diz respeito à introdução das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) no processo de ensino. Ele criticou, ainda, o fato de as práticas

Revista Linha Direta

educacionais não se renovarem, mas apenas absorverem novas técnicas ao processo já existente. Em entrevista exclusiva à Linha Direta, Moura Castro aprofundou a análise dos temas citados em sua palestra, avaliando como um “mito” a ideia de que o ensino de qualidade nas IES depende necessariamente da realização de pesquisas. O economista ressaltou, ainda, a necessidade de uma mudança nos currículos atuais, a começar pelo aprofundamento dos conteúdos básicos dados em sala de aula. Confira! Em sua opinião, qual a relação entre ensino e pesquisa nas IES? Não é uma relação satisfatória na graduação porque, geralmente, professores-pesquisadores ficam mais preocupados com a pesquisa em si do que com a preparação das aulas. Na pós-graduação, o cenário se modifica, pois ali o aprendizado está relacionado à pesquisa, e o professor-pesquisador acaba ventilando em suas aulas o tema que está estudando, além de orientar os alunos em seus trabalhos de

conclusão de curso. Nos Estados Unidos, não existem programas de pesquisa nas universidades. O professor pode fazer por conta própria, sem financiamentos públicos, ou por meio da própria IES, desde que ela tenha condições financeiras e vocação para isso. Mas o importante disso tudo, em minha opinião, é que o ensino de qualidade não precisa de pesquisa, isso é um mito. O que realmente precisamos fazer é ajustar os conteúdos do ensino, pois alunos que saem de escolas completamente diferentes, com bases completamente diferentes, não podem ter de dominar os mesmos conteúdos, no primeiro período da faculdade. É preciso que se ensinem, primeiramente, matérias básicas, para que haja um nivelamento, e depois, que se ensine aos alunos o que eles irão usar de fato em sua carreira profissional. As IES brasileiras têm feito essa junção do ensino técnico com o teórico? O SENAI é um caso clássico de instituição técnica que percebe a necessidade de oferecer cursos com maior densidade teórica, mas a maioria dos cursos tecnólogos criados pelas IES brasileiras revelam a falta de uma vivência prática, fazendo com que eles acabem por apresentar conteúdos demasiadamente teóricos. Acredito que a educação para formar profissionais competentes, aptos a resolver problemas, é aquela que agrega o maior número possível de conteúdos teóricos, como filosofia, literatura, entre outros, ou seja, uma boa educação precisa ser plena e não segmentada. Contudo, ela precisa também ser aliada ao ensino dos conhecimentos específicos que o profissional demanda para atuar na profissão que escolheu.


Wilson Ruanis

mos de um ensino simples, para que o aluno aprenda a ler, escrever, usar números e desenvolver habilidades básicas. Quais os dilemas que as IES estão enfrentando, atualmente? O primeiro deles é a necessidade de a instituição assumir sua personalidade. Não se pode vislumbrar ser muito grande e, ao mesmo tempo, oferecer um ensino de excelência. Se a intenção da IES é ser uma instituição grande, ela precisa, então, buscar amenizar a perda que fatalmente terá na qualidade do ensino. Mas, caso o objetivo da instituição seja oferecer uma educação de alta qualidade, ela terá de reduzir sua capacidade de alunos para isso. Sabemos que as instituições possuem filosofias diferentes, mas elas devem ficar atentas e adequar o seu processo educacional ao perfil de seus alunos.

O economista e especialista em educação Claudio de Moura Castro palestrou durante o VI Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular

Dessa forma, podemos concluir que a boa educação é aquela que combina a educação geral com a profissional. A partir dessa teoria, o ensino no Brasil está na direção de uma boa educação? Não, pois não possuímos uma formação geral. Só possuímos a formação profissional e, assim, formamos profissionais incultos. Em qualquer país de primeiro mundo, os cursos possuem dois anos de formação geral dos alunos, oferecendo disciplinas como filosofia, antropologia, ética, literatura, entre outros. É como se fosse uma continuação do ensino médio, em que o estudante rece-

O ensino superior brasileiro está sofrendo com a baixa qualidade do ensino básico? be dois anos de formação geral antes de escolher a profissão que deseja seguir. O que deve ser feito no Brasil, então? Pegar o currículo existente e rasgar pela metade. Se for possível rasgar dois terços, será melhor ainda. Precisamos ensinar com mais calma e profundidade os conteúdos básicos, aplicando o conhecimento em situações concretas, ao invés de apenas fazer os alunos decorá-lo. Para que o conhecimento seja realmente aplicado, é necessário um tempo maior de ensino de cada conteú­ do, e isso atualmente não tem acontecido no Brasil. Necessita-

Acredito que sim. Comparativamente, em média, o ensino superior no Brasil está recebendo alunos que possuem conhecimentos compatíveis com alunos com quatro anos a menos de escolaridade, na Europa. Ou seja, as instituições brasileiras não estão recebendo alunos com um nível tradicional de ensino superior europeu, mesmo o nosso currículo sendo igual ao da Europa. A boa notícia é que já existem iniciativas que começam a mudar esse cenário, como o ensino a distância, por exemplo. O Brasil está realizando a receita certa, se modernizando, indo a outros paí­ ses e tendo contato com outros modelos que também podem ser implementados aqui.  Revista Linha Direta


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Talentos na rede Diretor do LinkedIn fala sobre as possibilidades que a internet trouxe para a colocação de profissionais

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internet reinventou a maneira de o ser humano se relacionar com o mundo, transportando muitas de suas relações, antes exclusivas do universo físico, para o ambiente online. Essa nova realidade não se limita às relações interpessoais­, valendo também para o universo empresarial. O LinkedIn é um exemplo desse novo cenário: uma rede social que nasceu com o objetivo de proporcionar a profissionais uma forma não só de se apresentar, como também de se relacionar com o mercado. Com mais de 200 milhões de perfis em todo o mundo, a rede é, para Milton Beck, diretor de Vendas e Soluções de Talentos do LinkedIn Brasil, “uma forma de atrair talentos, além de congregar alunos e consumidores.” Em entrevista exclusiva à Linha Direta, durante o GEduc 2013, ele explica um pouco mais sobre a rede, revelando o perfil do profissional que se conecta a ela. A entrevista aborda, ainda, os benefícios que estar conectado a essa rede pode trazer para instituições de ensino. Confira!

Revista Linha Direta

A forma como as empresas buscam seus colaboradores mudou? Hoje, existem cerca de 11 milhões de profissionais em rede no País, pessoas de variados perfis. O Brasil vive, atualmente, uma situação de quase pleno emprego, e as redes sociais quebraram o paradigma no que se refere às formas de as empresas buscarem talentos. Antes, essas empresas apresentavam duas formas de captação: para os altos cargos executivos, elas faziam contratações de alta qualidade, alto custo e baixo volume, ou seja, o pensamento era ter o melhor diretor financeiro ou o melhor CEO do mercado, pois, caso contrário, iriam por um caminho em que poderiam não colher bons frutos no futuro. Já na base da pirâmide, essas empresas anunciavam vagas e esperavam que as pessoas se aplicassem em busca dessa vaga, e o melhor desse processo seria contratado. Com a evolução da economia, as empresas não querem mais estratificar dessa forma, mas ter os melhores talentos, independente da posição que eles ocuparem na pirâmide. Até então, não existiam modelos para realizar esse tipo de contratação,

para buscar esses talentos, seja no topo ou na base da pirâmide, de forma massiva. O que havia eram empresas de headhunters­para contratações no topo da pirâmide e os anúncios para contratações na base dessa pirâmide. Qual a importância da gestão da marca para atrair os melhores colaboradores? Para as empresas que querem atrair os melhores colaboradores, trabalhar a marca significa atuar assim como o marketing trabalha seus produtos. A expressão employer branding, ou marca do empregador, surgiu na década de 1990, época em que os departamentos de Recursos Humanos e de Aquisição de Talentos das empresas começaram a agir menos como agentes passivos desse processo e mais como protagonistas, ou seja, passaram a ir atrás do profissional que eles desejavam ter na empresa. Nessa direção, é preciso trabalhar a marca da empresa como empregadora. Isso inclui oferecer e divulgar os benefícios, as opções de desenvolvimento de carreira, o que as pessoas que lá atuam falam


Andreia Naomi

Milton Beck, diretor de Vendas e Soluções de Talentos do LinkedIn Brasil

do ambiente de trabalho etc. Com isso, se a marca for reconhecida como boa empregadora, a chance de ela encontrar o melhor profissional de maneira mais rápida e com menor custo quando estiver em um processo de busca por profissionais é muito maior. E o que mantém colaboradores? Depende de três pilares: econômico, funcional e psicológico. Do ponto de vista econômico, o colaborador precisa ser bem recompensado pelo que faz, pagar suas contas, seu plano de saúde etc. Em relação ao lado funcional, é preciso que ele tenha motivações do tipo fazer o que gosta, aprender algo com o trabalho, que deve ser um desafio interessante, que lhe proporcione algum tipo de crescimento. E

do ponto de vista psicológico, ele precisa refletir se está ou não está feliz com seu ambiente de trabalho, com o relacionamento com os colegas etc. Trabalhar esses pilares de forma equilibrada fará com que os colaboradores tendam a permanecer na empresa. Logicamente, a motivação das pessoas é algo muito particular. Existem aquelas que buscam ascender de maneira rápida na carreira, mas também as que buscam estabilidade econômica. É preciso que se cuide de todos os pilares, fazendo com que esse cuidado seja algo constante. Conte-nos um pouco sobre o LinkedIn. O LinkedIn iniciou suas atividades em 2003 e, desde então, apresenta um crescimento exponencial. Al-

guns meses atrás chegamos a 200 milhões de perfis no mundo. O Brasil é o terceiro País em número de membros, atrás somente dos Estados Unidos e da Índia. Hoje, no Brasil, temos 11 milhões de profissionais, com um ritmo de crescimento de 100 mil novos perfis por semana. Isso permite a troca de informações entre os profissionais, além de possibilitar que eles se apresentem para outras empresas. Nosso objetivo é fazer com que esses profissionais possam ser melhores do que são nos empregos atuais. É uma forma de fazer com que as pessoas sejam mais felizes no trabalho. O LinkedIn é uma rede social que pode ser usada para diversas finalidades. Dentro dele, as escolas e universidades podem criar páginas em que se apresentam para o público, falando sobre seus cursos, localização, características. Além disso, podem ficar por dentro do que as pessoas nessa rede estão falando delas. Assim, é possível estabelecer um contato da escola com a rede, que, por sua vez, é composta por pessoas que demonstram algum tipo de interesse no que é desenvolvido pela instituição. O que o profissional busca ao se conectar ao LinkedIn? Quando ele entrar no sistema, vai disponibilizar seu perfil, composto por uma foto, a experiência acadêmica e profissional, o que ele realizou de relevante nas empresas em que atuou, quais são suas competências, referências profissionais etc. Não é um currículo propriamente dito, porque o currículo é um documento fixo. O LinkedIn é uma ferramenta dinâmica para pessoas que procuram se conectar profissionalmente. As pessoas estão lá para estabelecer sua identidade na rede e para ter insights, o que leva o profissional a entender o que está acontecendo em sua área de atuação.  Revista Linha Direta


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