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Linha Direta INOVAÇÃO . EDUCAÇÃO . GESTÃO

INDICADORES EDUCACIONAIS

Mais do que investimentos financeiros, são necessárias boas condições de trabalho e valorização cultural MOTIVAÇÃO Como e por quê?

EDIÇÃO 179

ANO 16 - FEVEREIRO 2013

BILITERACY Selo de Formação Bilíngue

EDUCAÇÃO E CULTURA Diálogo de competências

CALENDÁRIO Um desejo para 2013

EDUCAÇÃO Interação e interatividade

Francisca Paris

Mariluce Salles


editorial

Educação para todos

Educación para todos

No mundo globalizado, as distâncias e fronteiras físicas não representam mais obstáculo para a livre circulação do conhecimento. Nesse contexto, tanto países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento buscam aprimorar, cada vez mais, seus sistemas educacionais. Para entender melhor o que está sendo feito e o que ainda é necessário fazer, a Linha Direta entrevistou, com exclusividade, o diretor superintendente de Educação Básica da Pearson no Brasil, Mekler Nunes, apresentando o estudo global The Learning Curve, lançado pela Pearson no final do ano passado, em Londres. O Brasil ficou na penúltima posição no índice comparativo de desempenho educacional feito com dados de 40 países. O estudo, realizado pela Economist Intelligence Unit (EIU) e publicado pela Pearson, pretende ajudar a comunidade escolar mundial a identificar os principais fatores que impulsionam melhorias educacionais e que podem servir de modelo. Vale a pena conferir!

En un mundo globalizado, las distancias y fronteras físicas no representan más obstáculo para la libre circulación del conocimiento. En este contexto, tanto los países desarrollados como los que están en desarrollo buscan mejorar, cada vez más, sus sistemas educacionales. Para entender mejor lo que está siendo hecho y lo que aún es necesario hacer, Linha Direta entrevistó, con exclusividad, al director superintendente de Educación Básica de Pearson en Brasil, Mekler Nunes, presentando el estudio global The Learning Curve, lanzado por Pearson al final del año pasado, en Londres. Brasil quedó en la penúltima posición en el índice comparativo de desempeño educacional hecho con datos de 40 países. El estudio, realizado por Economist Intelligence Unit (EIU) y publicado por Pearson, pretende ayudar a la comunidad escolar mundial a identificar los principales factores que inducen a mejorías educacionales y que pueden servir de modelo. ¡Vale la pena ver!

Marcelo Chucre da Costa Presidente da Linha Direta

Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta

Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação L’Hermitage e Sieeesp

Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Editora Valéria Araújo – MG 16.143 JP Designer Gráfico Rafael Rosa Atendimento Flávia Alves Passos Estagiário de Jornalismo Renan Costa Coelho Preparadora de Texto/Revisora Cibele Silva Tradutor/Revisor de Espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam

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Revista Revista Linha Linha Direta Direta

Conselho Consultivo Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente da Fenep Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamin Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Cláudia Regina de Souza Costa Presidente do Sinepe/RJ Dalton Luís de Moraes Leal Presidente do Sinepe/PI Emiro Barbini Presidente do Sinep/MG Fátima de Mello Franco Presidente do Sinepe/DF Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp

Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília Ivo Calado Asepepe Jacir J. Venturi Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário Nacional da ABM Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação Universa Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Maria Nilene Badeca da Costa Presidente do Consed Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG

Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Osvino Toillier Presidente do Sinepe/RS Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Paulo Sérgio Machado Ribeiro Presidente do Sinepe/AM Pe. João Batista Lima Presidente do Sinepe/ES Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Thiers Theófilo do Bom Conselho Neto Presidente da Fenen Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio Pré-Impressão e Impressão Rona Editora – 31 3303-9999 Tiragem: 20.000 exemplares As ideias expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da Revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

Rua Felipe dos Santos, 825 - Conj. 305/306 - Lourdes - Belo Horizonte - MG - CEP: 30.180-160 - Tel.: (31) 3281-1537 - www.linhadireta.com.br


conexão linha direta

MOTIVAR: como e por quê? E

©Robert Kneschke/PhotoXpress

rroneamente, pensa-se que é possível motivar alguém. Podemos incentivar. O incentivo é externo; a motivação, interna. Posso incentivar uma pessoa para que ela tenha motivos para agir. Porém, ela agirá ou não conforme essa força interior. Já a psicologia comportamental, sim, entende que a “motivação” é algo de fora para dentro.

Revista Linha Direta

Assim, na década de 1970, quando essa palavra foi incorporada ao vocabulário dos educadores brasileiros, nos diários de classe e nos programas anuais de ensino via-se, com frequência, a palavra motivação, como se, em determinado momento de uma unidade, os educadores fossem motivar alguém. O Dicionário Houaiss, em seu verbete motivar, apresenta como sinônimos impulsionar e estimular, duas palavras tipicamente behavioristas. Carlos Gosh, da Nissan, a segunda maior montadora de carros do mundo, afirma que a motivação é o mais importante: “Dinheiro vai e vem, ativos vão e vêm, mas se uma pessoa perder a motivação, ela terá perdido tudo.” Essa afirmação aceita, claramente, a motivação como força interior.


Hamilton Werneck*

Se o professor perder a motivação, terá perdido tudo. Como consequência, não terá compromisso com seus alunos, nem com o desenvolvimento de sua profissão, e não se interessará pela formação continuada, podendo até, por uma questão behaviorista que muitos educadores condenam, pensar que, se o salário aumentar, seu trabalho terá mudanças significativas. De fato (e Freud já alertava os membros de Frankfurt sobre isso), a mudança deve ser, antes, interior. Vale dizer, para quem pensa que ser professor é entrar e sair de uma sala de aula, que há um engano enorme; como é engano também pensar que vale um elevado salário entrar em sala de aula e pedir aos alunos que abram o livro na página 38 e façam o exercício. Nesses casos, o salário mínimo é até elevado, porque esse professor é, apenas um “piloto” de livro didático, não um agente de transformação. A pergunta que se faz constantemente é se um professor motivado seria suficiente para levar adiante a sua ação pedagógica e didática. É verdade que a motivação do professor ajuda, mas não é suficiente. Porém, o contrário, um professor desmotivado mais facilmente produ-

zirá alunos desinteressados. O professor motivado terá, a seu favor, uma grande ajuda pela transpiração da realização pessoal, embora não haja um modo especial de se manter esse elã durante o trabalho do dia a dia escolar. Se pensarmos do ponto de vista da psicologia comportamental, a ideia será de que um professor motivado bastaria dentro de uma sala de aula. Não há forma nem fórmula. A motivação é uma disposição que ocorre dentro da liberdade de cada um. Mostrar a beleza de uma determinada disciplina e ressignificar os conhecimentos, parece-me, é a melhor maneira de conseguir que alguém se motive a responder positivamente aos incentivos apresentados. Por fim, cabe ressaltar a questão do autoconhecimento. Como alguém, sem conhecer-se a si mesmo, pode entender o eu querendo alguma coisa? Quem não tem autoconhecimento certamente não terá rumo, não terá objetivo e, portanto, não necessitará de uma força interior impulsionadora. Vale, então, a antiga máxima Socrática: Noelete auto – Conhece-te a ti mesmo, que os latinos traduziram para o nosce te ipsum.

Além disso, se um educador desejar ensinar alguma coisa a alguém (porque muitos, no magistério, ainda têm a pretensão de ensinar alguma coisa a alguém, de fora para dentro, como se isso fosse possível sem alunos motivados), três coisas serão muito importantes: primeiro, conhecer-se a si mesmo e os assuntos que for ensinar. Ser competente, dominar o conteúdo. Porém, isso só não basta. Aqui termina a estrada do instrucionismo, aquela ação acadêmica capaz, apenas, de treinar “monstrinhos”; segundo, saber quem é “João”. Que pessoa é essa? Como está a sua vida, quais seus anseios? E em terceiro lugar, é preciso saber onde “João” reside, qual o contexto em que mora esse aluno. Em termos conceituais, tudo parece ser muito simples, mas, na verdade, a prática exigirá sempre, além da motivação do profissional, muita experiência e vontade de acertar.  *Professor, pedagogo e mestre em Educação. Palestrante do Conexão Linha Direta www.hamiltonwerneck.com.br Revista Linha Direta


capa

INDICADORES EDUCACIONAIS Mais do que investimentos financeiros, são necessárias boas condições de trabalho e valorização cultural

O

desenvolvimento econômico do Brasil nos últimos tempos é inegável. Em particular, a última década foi marcada por um grande crescimento do País, que, como dizem os especialistas, entrou de vez no grupo dos players da economia mundial. Contudo, alguns indicadores de desenvolvimento ainda emperram o estabelecimento do Brasil como um País de primeiro mundo. Um desses indicadores é o da educação. Prova disso é um índice comparativo de desempenho educacional, realizado recentemente, que classificou o Brasil na 39ª posição em uma lista de 40 nações que tiveram seu desempenho comparado em testes internacionais de educação. O Brasil supera apenas a Indonésia no ranking, que têm a Finlândia e a Coreia do Sul como líderes absolutos. A listagem faz parte do estudo The Learning Curve (A curva de aprendizagem), encomendado pela Pearson à Economist Intelligence Unit (EIU) e divulgado no último mês de novembro. O estudo levou em conta fatores como investimento dos países em educação, condições de trabalho dos professores e taxas de alfabetização da população. O objetivo é auxiliar a comunidade escolar mundial a identificar os principais fatores que promovem melhorias educacionais e que podem se tornar modelos de sucesso. O resultado evidenciou que, mais do que investimentos financeiros, é preciso que exista uma valorização da cultura de forma geral. Além disso, oferecer boas condições de trabalho ao professor é um dos caminhos para o desenvolvimento da educação de qualidade. Revista Linha Direta

Esse estudo traz, ainda, o novo Índice global de habilidades cognitivas e desempenho escolar, criado a partir do cruzamento de indicadores internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento­ Econômico (OCDE): o Programme for International Student Assessment (Pisa), o Trends in International Mathematics and ­Science Study (TIMSS) e o Progress in International Reading Literacy Study (Pirls). Além de dados educacionais de cada país sobre alfabetização, também foram consideradas as taxas de conclusão de escolas e universidades. O Índice global de habilidades cognitivas e de desempenho escolar compara o desempenho de 39 países e da região de Hong Kong (China) em duas categorias de ensino: habilidades cognitivas e nível de escolaridade.


Divulgação

Mekler Nunes, diretor superintendente de Educação Básica da Pearson no Brasil

Em entrevista exclusiva à Linha Direta, o diretor superintendente de Educação Básica da ­Pearson no Brasil, Mekler Nunes, afirma que já existem mudanças acontecendo na educação brasileira. “Educação é um processo global de troca de melhores práticas. Hoje o Brasil já se insere nesse cenário, também apresentando bons exemplos adotados aqui no País.” Em nossa conversa, o diretor fala também sobre as metas que o estudo busca atingir, comenta os resultados e opina sobre quais são os passos que o País deve seguir para mudar, de vez, essa realidade. Confira! Qual o objetivo desse estudo? A proposta do estudo encomendado pela Pearson é mensurar, avaliar e auxiliar gestores do mundo inteiro a melhorar a educação. Revista Linha Direta


BRAZIL PROFILE

FONTE: thelearningcurve.pearson.com/country-profiles/brazil/infographic

EDUCATION INPUT INDICATORS 0

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Public expenditure on education as % of total government expenditure Source: UNESCO Institute for Statistics (UIS) Year: 2009

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Public expenditure per pupil as % of GDP per capita. All levels Source: UNESCO Institute for Statistics (UIS) Year: 2009

Como é possível acessar os dados do estudo? No site thelearningcurve.pearson.com é possível ter acesso ao relatório do estudo, a dados sobre investimentos realizados pelos países em educação, a casos de sucesso – com foco na educação do Brasil – e a análises realizadas por especialistas.

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Public expenditure per pupil as % of GDP per capita. Tertiary

Que fatores foram considerados para a formulação do ranking do Índice global de habilidades cognitivas e desempenho escolar?

Source: UNESCO Institute for Statistics (UIS) Year: 2009

Foram considerados diferentes indicadores internacionais da Orga8 12 nização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que tratam de tendências de estudos em matemática e ciências, e do progresso de alfabetização e leitura, por exemplo. O mais conhecido deles é o Programme for International Student Assessment life expectancy (Pisa), realizado com estudantes que têm em média 15 anos de School (Primary to tertiary) idade. Também foram consideradas taxas de conclusão em escolas Source: UNESCO Institute for Statistics (UIS) e universidades e dados socioeconômicos, como os investimentos Year: 2005 do governo em educação mensurados pela UNESCO.

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14,23 years

A partir desse estudo, é possível identificar o que realmente funciona em educação? Educação é um processo global de troca de melhores práticas. Hoje o Brasil já se insere nesse cenário, também apresentando bons exemplos adotados aqui no País. Os sistemas de ensino, que reúnem material didático, formação de professores, tecnologias interativas, palestras para a comunidade escolar e familiares e soluções educacionais diferenciadas, são uma criação brasileira que já é vista como modelo a ser seguido em outros países. Outro exemplo é que um dos nossos principais indicadores educacionais, o Ideb, também é um esforço convergente de identificar e promover a eficácia na educação, algo que, em essência, é a missão da Pearson. Ainda sobre o Ideb, a partir da parceria que temos com dezenas de prefeituras de todas as regiões com o nosso Sistema de Ensino, cuja marca é o NAME, ocupamos pelo terceiro ano Revista Linha Direta

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Pupil-teacher ratio. Primary Source: UNESCO Institute for Statistics (UIS) Year: 2010

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Teacher salary at primary, lower and upper secondary levels over the avg. gross wage Source: EIU based on OECD and EIU data Year: 2003


EDUCATION OUTPUT INDICATORS 200

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Grade 8 - PISA (overall Reading, Maths and Science) Source: EIU based on OECD data Year: 2009

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Grade 4 - TIMSS (overall Maths and Science) Source: EIU based on IEA data Year: 2007

consecutivo o primeiro lugar entre os municípios brasileiros que participam da aferição.

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O estudo fala também de manter uma verdadeira cultura de aprendizagem. O que seria essa cultura e qual a sua importância? A importância da cultura é percebida quando a educação permeia as conversas, os interesses e o dia a dia das pessoas nas ruas e nos ambientes formais e informais, por exemplo. A mídia tem um papel fundamental nisso, assim como as iniciativas pública e privada. É importante incluir educação como pauta constante na vida das pessoas, gerando assim uma cobrança e o interesse em acompanhar regularmente o tema na busca por melhorias na aprendizagem. Bons exemplos educacionais fora da escola, sejam em casa, no trabalho ou nos espaços de lazer, também são importantíssimos! A cultura é um dos principais motores para movimentar a educação. Corriqueiramente, fala-se que o Brasil é o país do futebol, o país do Carnaval. Ou seja, o elemento cultural é detectado quando faz parte desse tipo de repertório. Nesse caso, queremos algo como “Brasil, o país da educação”.

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Graduation rate at upper secondary level Source: No data Year: No data

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Graduation rate at tertiary level Source: OECD Year: 2003

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No Brasil, os investimentos em educação são de fato menores que nesses outros países? O estudo contemplou cerca de 40 países onde há dados comparáveis de educação. O fato de possuir dados comparáveis já é um destaque para o Brasil, que há poucos anos talvez nem fizesse parte de um estudo como esse. No entanto, é verdade que, por causa da comparação, percebemos mais objetivamente que muito pode e deve ser feito em educação. Investimento financeiro é importante, mas não é o fator essencial, pois alguns países investem em educação um percentual do PIB menor que o do Brasil e têm desempenhos melhores. Ao longo do tempo, fatores tais como investimento, cultura, formação de professores, gestão profissionalizada, mensuração regular, entre outros, proporcionam a melhoria desses índices educacionais.

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Overall productivity of labour (GDP at US$PPP per worker) Source: EIU Year: 2011

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Unemployment of those with tertiary level education over total unemployment Source: EIU based on ILO and EIU data Year: 2007

Revista Linha Direta


SOCIO ECONOMIC INDICATORS 0

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Human Development Index

Source: UNDP Year: 2011

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Homicide per 100,000 people Source: UNODC Year: 2010

O Brasil realmente merece estar nessa posição? A presença do Brasil entre os países com dados educacionais comparáveis que compõem o índice do estudo da Pearson já pode ser visto como um avanço. A comparação entre sistemas internacionais de educação contribui para a definição de políticas educacionais em nível local, regional e nacional. O Pisa ainda não é um indicador “popular” por aqui, mas, inevitavelmente, teremos de convergir nossas atenções para esse tipo de índice internacional também. Afinal, estamos em um mundo cada vez mais globalizado, no qual o Brasil pretende, e pode, se tornar um grande referencial econômico, social, político e, por que não, educacional.

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A presença do Brasil entre os 40 países onde foi possível realizar a pesquisa já é um fato a ser comemorado? Reconhecido, sim. Comemorado, creio que ainda não, porque, literalmente, temos um dever de casa a ser feito.  Revista Linha Direta

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GDP per capita (US$PPP) Source: EIU Year: 2011

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Quais são os passos a serem seguidos para mudar essa realidade? Além de investimento e cultura, uma forma adequada de se apropriar de estudos como o The Learning Curve é a ótica da gestão. A gestão educacional, que podemos compreender desde as grandes políticas nacionais até o gerenciamento do dia a dia de uma escola, tem um desafio de profissionalização e aperfeiçoamento técnico significativo. Gestores atuando em parceria com educadores possivelmente serão as alavancas essenciais para fazer diagnósticos precisos, obter informações e análises pertinentes, propor planos de ação eficazes e monitorar progressos como componentes das rotinas que fazem parte da educação e que levam a relação ensino-aprendizagem a outros patamares de eficácia. As evoluções tecnológicas, os processos de inclusão educacional, as dinâmicas das novas gerações que as escolas experimentam antes do mercado de trabalho e tantos outros desafios educacionais modernos irão requerer gestores que encarem e atuem frontalmente, a partir de índices e estudos como esse.

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Real GDP growth per head (% per annum) Source: EIU Year: 2011

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Recorded unemployment (%) Source: EIU Year: 2011

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Labour force. Tertiary attainment (%) Source: ILO Year: 2007

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inovação

Um desejo para 2013

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ara quem vive no mundo da educação, há dois calendários distintos e igualmente importantes: um é o calendário greco-romano, de 365 dias, que todos seguimos. Mas há também o calendário letivo, que dita o ritmo das escolas. Nesses calendários, 2013 acaba de começar, marcando o início de um novo ciclo. Pois bem, qual é o seu desejo, como gestor, para o ano que se inicia? Muitos pensarão: mais alunos, resultados acadêmicos melhores, uma comunidade mais satisfeita, mais harmonia, mais sucesso escolar, educação à altura de nossos melhores ideais, reconhecimento. E é verdade: o mundo pedagógico é (talvez mais do que outras áreas) movido por grandes inspirações, por um idealismo a toda prova, no qual a esperança é diariamente desafiada – e cotidianamente renovada. Pois aqui vai uma sugestão: o começo do ano letivo é uma boa ocasião para que a escola preste muita atenção – e ponha foco total, mesmo – na qualidade do ambiente ou “clima” escolar. Não estamos falando de disciplina, nem de interação de professores e comunidade. Não apenas. Ambiente é o conjunto de dinâmicas, relacionamentos e procedimentos que determinam a rotina escolar. Numerosos estudos internacionais vêm mostrando que a qualidade do clima escolar é um dos indicativos mais fortes do sucesso de uma instituição, tanto do ponto de vista da formação acadêmica como da perspectiva da construção de atitudes e valores. Todos nós já conhecemos uma escola assim: um lugar que parece ter no próprio ar que se respira algo de diferente, um local harmônico, equilibrado, onde não há caras fechadas, tampouco alegria histérica. Nas escolas que têm ótimo clima escolar, as regras são razoáveis, pactuadas por todos, e alicerçam a qualidade do relacionamento humano. Estuda-se na hora de estudar, descontrai-se quando é tempo de brincar. Os objetivos a serem atingidos são conhecidos por todos, e juntos todos enfrentam os desafios e assumem os insucessos. Os professores atuam em equipe, “vestem a camisa” da escola, mas sem perder a autoridade e a autonomia de quem lidera uma sala de aula. Escolas assim apresentam espaço físico visivelmente organizado e limpo e não toleram problemas de infraestrutura fáceis de solucionar, como rachaduras e outras imperfeições, que dão ar desleixado aos ambientes pedagógicos. Escolas assim são espaços sociais sem vácuos de liderança e claramente orientados para o ensino-aprendizagem, que tratam o processo educativo com o respeito e a seriedade que este impõe – e por isso suas decisões são acatadas e compartilhadas pela comunidade. Não há milagre nenhum nessas instituições, e todas as escolas podem ser assim. Mas querer é preciso, e também é preciso trabalhar todos os dias na construção do ambiente escolar, que é feito de detalhes, muitos detalhes. Sempre é tempo de começar.  Revista Linha Direta

Francisca Paris Pedagoga, mestre em Educação e diretora de Soluções Educacionais do Ético Sistema de Ensino www.sejaetico.com.br


tecnologia

Mariluce Salles*

Interação e interatividade em educação F

alar em educação hoje nos remete a alguns conceitos próprios de um novo contexto: tecnologia, conteúdos digitais, aprendizagem online, interação/interatividade, sendo estes dois últimos os focos da análise deste texto.

©Eléonore H/PhotoXpress

Quando nos referimos a educação, seja ela em qualquer modalidade, consequentemente estamos falando de interação. Tal prática, inerente às relações sociais, sempre se fez presente nos processos educacionais.

Revista Linha Direta


Quando nos referimos às relações professor/aluno e aluno/aluno, por exemplo, temos presente a interação, que ocorre de maneiras distintas. Vygotsky, Piaget e Paulo Freire já percebiam a importância das interações fundamentais para o desenvolvimento e a aprendizagem dos sujeitos.

... um grande desafio é colocado para as escolas, visto que a cultura interativa demanda uma nova forma de apreensão do conhecimento. Porém, um outro termo – interatividade – surgiu no século XX e fez com que uma confusão conceitual fosse criada. Esse conceito é amplamente utilizado no campo das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e, não diferentemente, na educação. Modismo ou não, sabemos que o conceito vem sendo empregado em discussões acerca do papel das novas TICs na relação ensino-aprendizagem. Muitos estudiosos analisam os termos interação e interatividade, diferenciando-os ou utilizando-os como sinônimos. De forma geral, entretanto, o que predomina é uma diferenciação básica: a interação envolve trocas entre os sujeitos, enquanto a interatividade envolve um contato com as tecnologias atuais. Fato é que ambos os conceitos constantemente são utilizados em debates e estudos na área de educação. Como, então, podemos analisar o modo como interação e interatividade se relacionam com a aprendizagem? Sabemos que as interações podem ocorrer de diversas formas. Revista Linha Direta

Na própria sala de aula, com toda a sua dinâmica, percebemos o quanto tais interações assumem diferentes perfis. Um deles diz respeito às práticas em que a tecnologia atua como mediadora do processo educacional, o que acontece na educação a distância e no próprio ensino presencial, em que diversos recursos digitais contribuem para o ensino-aprendizagem. Nesse cenário, percebemos níveis de interatividade, antes não existentes, facilitados pelas novas tecnologias. Assim, um grande desafio é colocado para as escolas, visto que a cultura interativa demanda uma nova forma de apreensão do conhecimento. De simples receptor de informações, temos atualmente um usuário que interage com o conteúdo, sendo chamado, muitas vezes, de interagente. E tal modalidade de comunicação estende-se à área da educação. Nossos alunos, hoje, desejam dialogar, participar, intervir. Tais processos podem acontecer com a mediação do computador ou de outras ferramentas tecnológicas, e cabe à escola, portanto, facilitar a interatividade, para que tenhamos alunos capazes de intervir de forma significativa em várias situações. A tradição do “ditar e copiar”, há tempos, precisa ser substituída por uma prática que considere a não linearidade dos conteúdos, o que possibilitaria ao aluno navegar, explorar, selecionar, problematizar e, sobretudo, participar ativamente da construção do seu próprio conhecimento.  *Pedagoga e especialista em Produção em Mídias Digitais. Analista Pedagógica da EducarBrasil www.educarbrasil.org.br


tecido

Laurie Olsen*

Shelly Spiegel-Coleman**

Biliteracy E

m outubro de 2011, a Califórnia tornou-se o primeiro Estado americano a homenagear formandos do ensino médio que demonstraram proficiência em múltiplos idiomas, afixando o Selo de Formação Bilíngue (Biliteracy) em seus diplomas ou históricos escolares. Concedido pelo superintendente Estadual de Instrução Pública, o Biliteracy é fruto de uma campanha iniciada em meio a crescentes diversidade linguística e imigração, simultaneamente ao crescimento de debates políticos na Califórnia como reação a essas tendências demográficas. Em 1998, uma iniciativa eleitoral do Estado removeu de manei-

Revista Linha Direta

ra efetiva programas bilíngues das escolas públicas estaduais. Muitos filhos de imigrantes estavam ingressando nas escolas da Califórnia falando idiomas diferentes do inglês, mas a maioria estava perdendo esses idiomas: na medida em que ficavam mais proficientes em inglês, as crianças perdiam sua língua materna. Ainda assim, surgiam mais pesquisas sobre os benefícios do domínio de dois idiomas. Empregadores procuravam, cada vez mais, funcionários com capacidade de se comunicar em comunidades diversificadas, e ampliavam-se as discussões sobre os tipos de habilidades que os jovens precisariam ter para a economia global e para o mundo globalizado do século XXI.

Ampla coalizão Californians Together (Californianos Unidos), uma coalizão de 23 organizações de pais, de profissionais e de direitos civis de todo o Estado, concentrada em melhorar políticas e práticas para a educação de estudantes de inglês, criou uma campanha para mudar as percepções públicas sobre a diversidade linguística. A meta era fazer com que a diversidade linguística fosse vista não como um peso, mas como uma vantagem para o Estado.


Os objetivos do Biliteracy são: • Encorajar os alunos a desejar o domínio de dois idiomas; • Certificar a obtenção de formação bilíngue; • Reconhecer e valorizar as habilidades de formação bilíngue de todos os alunos; • Fornecer aos empregadores um meio de identificar funcionários em potencial com habilidades linguísticas e de formação bilíngue; • Auxiliar universidades a re-

conhecer e dar créditos aos matriculados com capacidade de formação bilíngue. A Californians Together embarcou em um esforço estadual para trabalhar com escolas, distritos e órgãos municipais para desenvolver abordagens e modelo para implantação do Biliteracy. A campanha extraiu sua inspiração do Multilingual Competency Award (Prêmio de Competência Multilíngue), desenvolvido pelo Distrito Escolar de Glendale, em 1992.

Em dois anos, 66 distritos escolares subscreveram a iniciativa do ­Biliteracy. A Associação de Diretorias de Escolas da Califórnia enviou uma amostra de Política de Diretoria para seus membros. Sindicatos de Professores juntaram-se à Associação de Gestores Escolares da Califórnia em apoio à ideia. E Câmaras de Comércio publicaram declarações reconhecendo o valor da capacitação da Biliteracy. Em junho de 2011, mais de 6 mil jovens em toda a Califórnia Revista Linha Direta


haviam sido agraciados com o Selo em seus diplomas de ensino médio. O crescimento rápido e espontâneo preparou o caminho para o legislativo estadual criar o Biliteracy da Califórnia, tornando esse Estado o primeiro dos EUA a criar tal distinção educacional. Implantando um Biliteracy Qualquer escola, distrito ou entidade municipal pode outorgar o Biliteracy. O primeiro passo é esclarecer o propósito específico para a comunidade, o qual pode ser incentivar alunos a estudarem idiomas, reforçar o emprego do idioma falado em casa, preparar jovens para a universidade e o mercado de trabalho ou fortificar relações intergrupais. O que ressoa em uma comunidade pode não ser prioritário em outra. A adoção de uma política formal dá peso à declaração do sistema escolar de que as habilidades do bilinguismo têm valor. No nível estadual, a legislação detalha os critérios para a outorga. Para o inglês, pode-se estabelecer que os alunos concluam todos os níveis dos cursos de inglês exigidos para a graduação com uma média de notas (Grade Point Average – GPA) de 2.0 e sejam aprovados no teste estadual de realização acadêmica em nível de proficiente no 11th grade (2º ano do ensino médio). Para a maioria das línguas mundiais, as avaliações existentes, como os testes SAT® II, ­Advancement Placement® ou IB, ou a conclusão de programas de estudo de língua podem simplificar o desafio de certificar competência em um idioma diferente do inglês. Revista Linha Direta

Pode-se também exigir que estudantes de inglês consigam uma pontuação equivalente a proficiente no teste de proficiência em inglês. Uma vez que os critérios estabelecidos sejam alcançados, anuncia-se o processo de outorga; alunos inscrevem-se para receber a outorga; determina-se se os alunos satisfazem os critérios; define-se a outorga; e realiza-se a cerimônia.

A adoção de uma política formal dá peso à declaração do sistema escolar de que as habilidades do bilinguismo têm valor. A abordagem “de caminho” Alguns distritos estão instituindo outorgas “de caminho” além do Biliteracy. Outorgas “de caminho” destinam-se a incentivar as crianças, desde cedo, a procurar capacitação linguística e a desenvolver atitudes que valorizem a diversidade linguística. Elas servem também a outro propósito: reconhecer a proficiência apropriada para cada idade, em múltiplas línguas. Através de “webnários” e outros meios, a Californians Together está trabalhando para compartilhar a história e promover o conceito do Biliteracy por todos os EUA e para auxiliar outras comunidades a adotarem programas similares.  *Pesquisadora e membro da diretoria da Californians Together **Diretora Executiva da ­Californians Together www.uplanguage.com.br


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Mauricio Trindade*

Diálogo de competências O

Serviço Social da Indústria (SESI), através da sua rede de educadores e consultores, tem proporcionado ao ambiente escolar a possibilidade de transformar-se em um espaço de interação de diferentes saberes e de articulação de diferentes linguagens. As ações em conjunto entre as áreas de educação e cultura são exemplos de como o diálogo de competências pode, de forma simples, conduzir a comunidade escolar, como um todo, de forma criativa, rumo ao conhecimento.

As atividades desenvolvidas integram profissionais das áreas de educação e de cultura

Se o assunto é história, o repertório é farto. Que tal estudar o movimento modernista de 1922 e ter um concerto de violão com obras de Villa-Lobos dentro da sala de aula? Ou, quem sabe, estudar o ciclo do ouro e ter um contador de histórias, que Revista Linha Direta

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Profissionais das áreas de educação e cultura se reúnem para identificar, dentro das escolas, demandas que possam receber a colaboração da área cultural, através da exploração de diversas linguagens, sejam de natureza artística, intelectual­ ou vivencial, contribuindo e enriquecendo a experiência do conhecimento.


datam de mais de 300 anos, ao lado da sua carteira? Tem aluno que não esquece o fato de ter visto a cabeça de Tiradentes na mão erguida do contador de histórias, que visita cada sala onde é chamado. Outras ações também são desenvolvidas, como cursos, oficinas e palestras, a partir do rico acervo e de recursos disponíveis no próprio SESI. O projeto Circuladô, por exemplo, propõe o encontro da arte, da filosofia e das ciências como um caminho pelo qual o adolescente pode entender o seu adolescer. A reflexão e o espaço para se expressar possibilitam ao aluno se conhecer e entender o mundo por meio da nossa herança cultural.

da música e da criação musical para ele próprio propor e inventar novas formas de aprendizado. Além das atividades em que cultura e educação buscam a sala de aula como forma de introduzir diálogo criativo ao aprendizado, outras ações merecem destaque, como é o caso da Escola de Cultura do SESI, que encontrou nas unidades educacionais um espaço para a promoção do

Quando o ensino de música nas escolas passou a ser lei no Brasil, educação e cultura sentaram-se à mesa e, em conjunto, conseguiram formas de contribuir para o conhecimento e a prática de professores de artes, responsáveis em sua disciplina por introduzir o conteúdo. Em formato de oficinas, foi trabalhada a vivência musical dos professores, como também introduzidas atividades que tinham por objetivo o desdobramento do conhecimento adquirido em novas atividades, dotando o professor da capacidade de reconhecer elementos Revista Linha Direta

©Alenavlad/PhotoXpress

Programas de incentivo à leitura são aplicados para a Educação de Jovens e Adultos, dando relevo e vida às letras impressas, imaginação às palavras, movimento ao enredo. O objetivo é despertar o prazer de ler, o que torna as pessoas também mais preparadas para o mundo.

ensino da arte. Do balé à dança de rua, do teatro ao circo, do violão ao violino, o ambiente das escolas do SESI favorece não só o conhecimento e o saber, mas a sensibilidade e a criatividade de seus alunos.  *Músico, mediador cultural e consultor das gerências de Cultura e Educação do SESI Minas www.fiemg.com.br/sesi


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