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Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, IMDC, Fundação Universa e Sieeesp

Boas ideias para aprimorar o ensino no Brasil Presidente do Sieeesp defende contribuição do setor privado para o ensino brasileiro

Nova rede

Sistema de ensino alia tradição e modernidade

Enem

Questões e paradigmas do novo exame

Ensino Fundamental

O cuidado com a aprendizagem das crianças

R$10,00

9 772176 441000

ANO 13 - ABRIL 2010

ISSN 2176- 4417

EDIÇÃO 145

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Benjamin Ribeiro, presidente do Sieeesp


capa

Boas ideias para aprimorar o ensino no Brasil Presidente do Sieeesp defende contribuição do setor privado para o ensino brasileiro e revela sua trajetória nas áreas educacional, social e, agora, política

“S

Divulgação

e os governos federal, estaduais e municipais resolvessem prescindir dos estabelecimentos particulares de ensino, teriam que desembolsar mais de 25 bilhões de reais por ano”, defende o professor Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), segundo dados da Fundação Getulio Vargas. Acumulando experiência de mais de 30 anos na área educacional, o professor liderou, junto à Fenep, a elaboração de um documento com propostas para a Conferência Nacional de Educação, realizada pelo Ministério da Educação (MEC). Benjamin, que também é empresário e tem forte atuação na área social, como gestor da Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), em São Paulo, agora também está entrando para a atividade política. Acompanhe entrevista concedida à Revista Linha Direta. À frente da presidência do Sieeesp, como o senhor busca contribuir para a melhoria da qualidade do ensino? Todos os anos promovemos viagens internacionais – já estamos na 12ª edição –, levando centenas de mantenedores de instituições de ensino para visitar, estudar e fazer intercâmbio com escolas de países do primeiro mundo. É a forma que encontramos de “importar” novas tecnologias e ideias para melhorar a qualidade do ensino. Outra iniciativa é a realização do Congresso e Feira de Educação Saber, que, este

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Revista Linha Direta

Benjamin Ribeiro, presidente do Sieeesp


ano, vai acontecer em setembro, com centenas de atividades e palestrantes do Brasil e do exterior. Através dele, consigo prover as escolas de informações atualizadas sobre o setor educacional. Passam pelo evento cerca de 14 mil educadores, entre os mais de 30 mil visitantes. Além disso, o Sieeesp, entidade que representa as escolas particulares paulistas, adota algumas iniciativas que merecem ser destacadas, como os projetos PróBásico e o Escola Legal. Em que consistem estes projetos? Hoje, temos mais de 37 mil escolas com cerca de 11 milhões de alunos matriculados. Se os governos federal, estaduais e municipais resolvessem prescindir dos estabelecimentos particulares de ensino, teriam que desembolsar mais de 25 bilhões de reais por ano, sem contar os impostos pagos, beirando a casa dos 46%. Os números não são nossos, são da Fundação Getulio Vargas. Em recente audiência com o ministro da Educação, Fernando Haddad, tivemos a oportunidade de reivindicar, mais uma vez, a instituição do programa de bolsas de estudo, para alunos de baixa renda terem a oportunidade de cursar o ensino básico (da Educação Infantil ao Ensino Médio) em instituições privadas. Trata-se do PróBásico. As instituições poderiam aderir ao programa mediante assinatura de um termo de compromisso. Em contrapartida, os estabelecimentos ficariam isentos de impostos, contribuições e outras taxas, proporcionalmente às bolsas concedidas. Esse projeto, destinado ao ensino básico, tem o mesmo significado

do ProUni para o Ensino Superior, que é um sucesso e tem um forte apelo social. Sensibilizados com o projeto defendido há mais de 15 anos pelo Sieeesp, senadores e deputados apresentaram projetos de lei que estão sendo estudados pelas diversas comissões para a instituição do PróBásico. A ideia surgiu há quase duas décadas e já foi apoiada por inúmeras prefeituras paulistas, que mantêm o projeto de isenção de impostos até hoje. Trata-se de uma permuta na qual as escolas particulares oferecem bolsas de estudo a alunos de baixa renda ou da rede pública em troca de tributos municipais, tais como IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e ISS (Imposto Sobre Serviços), no valor correspondente à anuidade escolar. O projeto se justifica, pois cobriria a falta de vagas existentes no ensino público, principalmente de creches; permitiria o acesso de alunos na rede particular sem onerar os cofres públicos com gastos, como infraestrutura, manutenção de pessoal e equipamentos, entre outras despesas. Já a campanha Escola Legal tem o objetivo de orientar os pais de alunos quanto à necessidade de escolher uma escola legalizada, que esteja devidamente registrada junto aos órgãos competentes. Para isso, o Sieeesp certifica as escolas com o selo Escola Legal. Como a escola adquire o selo? Ela deve ser associada ao Sieeesp para poder se inscrever e passar pelo processo de certificação. Aquela instituição que ainda não é registrada poderá ser orientada, em relação aos trâmites legais, pelo Departamento Técnico-Peda-

gógico do Sindicato. A iniciativa é um sonho antigo nosso, pois representa a valorização da escola particular, e é um serviço gratuito. Se o Sieeesp, como representante de instituições de ensino, pudesse sugerir reformas para a educação no Brasil, qual seria a principal sugestão? No intuito de contribuir para a construção do Plano Nacional de Educação, as escolas particulares, por meio da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), e o Sieeesp elaboraram um documento com suas proposições. Este foi enviado aos municípios paulistas como sugestão para a Conferência Nacional de Educação, realizada pelo MEC. O documento está esquematizado em seis eixos básicos. O primeiro deles trata do papel do Estado na garantia do direito à educação de qualidade: organização e regulação da educação nacional. Propõe a construção e a implantação efetiva do Sistema Nacional de Educação e a articulação entre os sistemas estaduais, municipais e federal de ensino; leis complementares que regulamentem a cooperação entre União, estados e municípios, como prevê a Constituição de 1988; o aprimoramento dos processos de gestão; o entendimento mais amplo da função social da educação; a criação e consolidação de conselhos estaduais e municipais; priorização da educação básica com a construção de uma política afirmativa de financiamento; aproximação dos setores educativo e produtivo; criação do Fórum Nacional de Educação; fortalecimento do Conselho Nacional de Educação; e redefinição do papel e das funções do MEC. Revista Linha Direta

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Outro eixo fala de qualidade da educação, gestão democrática e avaliação. Mais adiante, cita a democratização do acesso, permanência e sucesso escolar. Novo item propõe a formação e valorização dos profissionais da educação. Um capítulo especial é dedicado ao financiamento da educação e controle social. O sexto eixo fala em justiça social, educação e trabalho: inclusão, diversidade e igualdade. O documento destaca que, embora reconhecida a especificidade dos conceitos envolvidos nesse eixo, na prática social, todas essas dimensões se realizam no contexto das relações de poder, das redefinições do capitalismo e das lutas sociais. O cunho político, prático e pedagógico das políticas educacionais deve estar presente em todas as

dade paulista de Rancharia. Como diretor social do Rancharia Clube, dei os primeiros passos na área da benemerência, promovendo ações sociais para aquela comunidade. Aos 22 anos, mudei-me para São Paulo e, desde então, persigo um grande objetivo, o de dar oportunidade de ensino a todos, e um ensino de qualidade. Também sou delegado da Fenep, entidade que congrega sindicatos de estabelecimentos de ensino do país, e membro do Conselho da Confederacion Mundial de Ensenanza Privada (Comep), com sede na Argentina. Mas meu interesse pela educação começou ainda em 1976, na Faculdade e Colégio Albert Einstein, estabelecimento de que sou diretor-presidente,

...o problema educacional brasileiro não está na destinação de recursos, mas sim na gestão... instituições educativas, em todos os níveis e modalidades de ensino. A posição da escola particular no documento está muito bem fundamentada e é reflexo de muitos anos de prática educacional de um grupo de profissionais. O intuito é colaborar para o aprimoramento do ensino no país. Quando o senhor começou a se dedicar à educação e à área social? Minha atividade profissional começou muito cedo, ainda na pequena Centenário do Sul, cidade paranaense onde nasci. Aos 12 anos, mudei com minha família para a ci-

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desde aquela época até os dias de hoje. Além disso, também sou diretor-presidente da Faculdade e Colégio Morumbi Sul, desde 1989. E como é a atuação do senhor na área social? Entendo que o problema educacional brasileiro não está na destinação de recursos, mas sim na gestão, pois deparamos com prédios mal conservados, falta de professores, poucos recursos didáticos e violência dentro das escolas. Como resultado, temos baixo rendimento dos alunos e um grande prejuízo para as gerações futuras. Mas, não podemos imaginar que essas

dificuldades serão vencidas apenas pelos governos. A sociedade é parte integrante desse contexto e deve dar a sua contribuição. Foi pensando nisso que, em 1984, um grupo de maçons idealizou uma entidade que pudesse amenizar essas carências da vida brasileira. Daí surgiu a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), uma organização sem fins lucrativos que trabalha em prol do bem social. A entidade emprega 500 pessoas, atende 4.500 crianças, 2.000 idosos, 380 adolescentes e quase 600 mulheres. As crianças são atendidas em oito creches e recebem formação integral. Os idosos são atendidos principalmente nas áreas de lazer e esporte. A entidade foi ganhando notoriedade com seu trabalho e recebendo muitas doações através de convênios com várias empresas. São tantas doações que instituímos um trabalho de redistribuição de alimentos para mais de 26 entidades. Para nós, é uma satisfação muito grande. Quais são seus planos para 2010? Acredito que este ano será bastante difícil para mim, já que vou lançar minha candidatura a deputado federal, um projeto já de alguns anos. Difícil porque sou presidente do Sieeesp, sou empresário e cuido da gestão da Sobei. Quando me perguntam se eu terei tempo para a política, eu digo não, mas vou encontrar, até porque sempre fui muito crítico a tudo que está acontecendo e tenho que fazer a minha parte. É um desafio. Na minha primeira candidatura à Câmara Federal, consegui o respaldo e a confiança de mais de 81 mil paulistas da capital e do interior. ¢


contexto

Unindo o tradicional ao moderno Rede Zatti chega ao mercado, propondo ações inovadoras para os setores administrativo, pedagógico e financeiro das escolas

É

unindo o tradicional ao moderno que a Rede Zatti se apresenta ao mercado educacional. Com material didático da educação infantil ao pré-vestibular, o sistema de ensino foi criado para atender as instituições particulares de ensino com produtos e serviços diferenciados e inovadores. Entre os destaques, estão a assessoria pedagógica, em gestão e em marketing. “Temos como objetivo atender às expectativas das escolas particulares da educação básica e surpreendê-las, através de soluções que proporcionem melhoria no desempenho educacional e também nos setores administrativo, pedagógico e financeiro”, destaca a diretora da Rede Zatti, Cynthia Zaniratti. Em entrevista à Revista Linha Direta, ela revela as propostas do grupo e explica como a Rede pretende contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil.

Arquivo pessoal

A Linha Direta alegra-se em testemunhar o lançamento da Rede Zatti. O que propõe esse novo sistema de ensino?

Cynthia Zaniratti, diretora da Rede Zatti

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Revista Linha Direta


A Rede Zatti foi criada para oferecer às escolas particulares uma solução diferenciada, com materiais didáticos e serviços educacionais sistematizados e customizados. E já começamos com uma grande novidade: seremos a primeira rede de ensino a lançar o livro didático digital no Brasil. Temos como objetivo atender às expectativas das escolas particulares da educação básica e surpreendê-las, através de soluções que proporcionem melhoria no desempenho educacional e também nos setores administrativo, pedagógico e financeiro. Buscamos propostas para o desenvolvimento completo dos alunos, integradas a sua realidade e códigos de linguagem. Com o desafio da utilização das novas tecnologias e a sua constante evolução, precisamos inovar com consistência pedagógica, integrando as novas mídias e as novas tecnologias aos processos educacionais, com muita responsabilidade e profissionalismo, e unindo o tradicional ao moderno. Apresentamos, também, uma solução única por meio de consultores educacionais, proporcionando um suporte de excelência na gestão das instituições de ensino. Como nasceu a Rede Zatti? Aliamos a experiência do nosso grupo empresarial a profissionais do segmento e, após uma análise detalhada das oportunidades mercadológicas, decidimos pela criação da Rede. A partir de uma extensa pesquisa desenvolvida em escolas com educadores, gestores e especialistas do segmento educacional e da experiência de profissionais

de diversas áreas, desenvolvemos uma proposta inovadora, com estratégias e ações pedagógicas, administrativas e de marketing, para atender às necessidades dos novos desafios propostos às instituições educacionais. Aliamos a essas estratégias a participação de empresas do segmento tecnológico e editorial com foco no setor educacional.

Os professores terão acesso a um grande projeto de qualificação profissional, presencial e a distância, além de suporte a todas as ferramentas que serão oferecidas. Eles serão tratados como os atores principais da multiplicação e, portanto, teremos uma atenção especial com eles, buscando sempre valorizá-los com premiações por destaque e dedicação.

O que a Rede tem a oferecer às escolas? Quais são seus diferenciais?

O nosso objetivo final é atender os alunos e, consequentemente, a família como um todo. Temos que recuperar o tempo perdido entre o discurso e a prática na educação. Precisamos nos comunicar melhor e utilizar as ferramentas existentes para integrarmos as ações das escolas com as famílias. Queremos melhorar a relação dos alunos entre eles e deles com os

Entendemos que precisamos atender as escolas com produtos e serviços adequados a sua realidade regional e, mais do que isso, ser parceiros para o desenvolvimento de estratégias vencedoras, criando diferenciais

...seremos a primeira rede de ensino a lançar o livro didático digital no Brasil. competitivos que possibilitem o atendimento das comunidades em que estão inseridas. A grande maioria das escolas particulares passa por momentos de indefinição e crise, transição empresarial, além das dificuldades de definição estratégica de modelos de público e mercado a serem atendidos. Será oferecido um plano de atendimento que propicie às escolas, além de ganho institucional, o ganho financeiro, oferecendo materiais didáticos a preços muito especiais. E para professores, alunos e famílias, qual é a proposta?

educadores e, para isso, lançaremos vários projetos especiais, que estão sendo desenvolvidos com muito critério. Como a Rede Zatti espera contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil? Não queremos ser mais um sistema de ensino, vamos fazer diferente, propondo sempre ações desafiadoras. Estamos qualificando a nossa equipe e contratando profissionais de notório saber. Vamos buscar sempre as melhores práticas do ensino mundial para adequar ao nosso modelo e à realidade brasileira. ¢ Revista Linha Direta

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extratexto

O novo Enem: questões e paradigmas O

s processos seletivos para os cursos superiores no Brasil sempre foram uma catástrofe. Com critérios estabelecidos por uma elite docente conservadora, quanto mais difíceis, acreditavase que mais qualidade tinham. Ledo engano e triste manifestação. Os antigos concursos vestibulares sempre selecionaram aqueles que sabiam mais, por questões, em sua maioria, discursivas, de difícil avaliação impessoal. Quanto menos os candidatos não sabiam, melhor classificados eram. Nunca se procurou conhecer, de fato, o quanto e o que era necessário saber como pré-requisito ao curso superior. Cada instituição sempre fez seus próprios processos seletivos, porém todas, sem exceção, buscavam selecionar, e não classificar, os que mais sabiam os diversos conteúdos. Nunca houve preocupação

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com as competências mínimas (saber fazer, saber aplicar) necessárias ao desenvolvimento daquele curso superior almejado. Difíceis e excludentes, separavam, mesmo, aqueles que mais sabiam daqueles outros que sabiam menos. Tudo sempre foi uma questão de saber, mais ou menos. Pouco se pensava em inclusão social pela educação superior. No ano passado, o atual ministro da Educação propôs à comunidade universitária brasileira o uso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), num novo formato, como instrumento de certificação de conhecimento e competências mínimas para a habilitação para os cursos superiores. Uma nota obtida por uma prova bem elaborada por docentes experientes (que, espero, sejam sempre do Ensino Médio, conhecedores da sua realidade),

Antonio Carbonari*

cujos conteúdos serão aqueles ministrados nas escolas de Ensino Médio do país. Eu disse ministrados, e não apenas programados. Não será fácil alcançar uma média nacional do que foi ensinado, tenha sido programado ou não. O que não poderá ser feito é buscar aquele conteúdo dado nas melhores escolas do país, com os melhores professores – o que só manterá o status quo. A ideia do novo ENEM não é essa, e sim possibilitar que mais alunos, de qualquer parte do país, possam ter condições de concorrer com os privilegiados. É admirável a coragem do atual ministro de enfrentar antigos dogmas educacionais. Os processos seletivos não são para buscar estudantes de melhor qualidade, mas sim para classificar alguns para as vagas existentes nos cursos supe-


riores. É isso mesmo, a lei é clara: o vestibular classifica, não seleciona. E mais, os que têm mais deficiências deveriam ir para as escolas de ponta para que fossem, digamos assim, lapidados pelos mais experientes e competentes professores, e não o contrário, como a elite docente pensa. Em se tratando de classificar alunos para um determinado número de vagas, é de se esperar que os melhores também tenham uma boa chance, mas não excluindo os que não são. É a possibilidade de se fazer inclusão social. Todos estamos cansados de saber que o atual sistema privilegia majoritariamente os que estudaram nos melhores colégios e cursinhos preparatórios, os que têm maiores recursos, etc. Quando haverá de ser rompido esse sistema? Só com a coragem que nosso ministro está demonstrando, mesmo com os percalços naturais das ações corajosas. Com o novo Enem, de qualquer lugar do país poderá vir um candidato com boas notas para uma grande universidade, uma ótima faculdade ou qualquer outra instituição de Ensino Superior de qualidade. A classificação se dará pela sua nota, em nível nacional, e não pelas suas condições sociais, de filiação ou posses. É realmente o rompimento de alguns paradigmas da velha educação conservadora. A aristocracia docente detesta falar em mudanças. O ministro Fernando Haddad é, de fato, muito corajoso e competente. Rompeu com as velhas tradições de só prestigiar alunos abastados com a criação do ProUni – aquele programa de bolsas do governo federal que troca vagas por

impostos (que são muito, mas muito mais baratos que custear vagas públicas e suas infraestruturas). Teve a coragem de trazer à baila assuntos de inclusão social, diversidade, cotas raciais e sociais, reserva de vagas para minorias, etc. Isso sem falar que vem diminuindo os privilégios das castas docentes universitárias, com avaliação de desempenho, exigências de mais qualidade para todos os cursos superiores do país, inclusive para as instituições estatais (até então intocáveis). Enfatizou, ainda, oportunidades de propiciar uma grande discussão nacional sobre a importância do Ensino Superior no desenvolvimento sustentável do Brasil, um país que quer e merece estar na liderança do futuro do mundo. Como se não bastasse, foi também aprovado como lei o novo FIES, que, com certeza,

mais fortes entidades de classes e seus órgãos corporativos, que só pensam no atual mercado das profissões e empregos, defendendo suas corporações, esquecendo-se da preparação dos jovens profissionais do futuro, das próximas gerações, em quantidades bem maiores que as atuais. Todas essas corporações também pensam naquele vestibular seletivo, querendo só os melhores, mais bem preparados, das melhores escolas médias, esquecendo-se daquela grande parcela da população de jovens que precisam entrar no mercado de trabalho, adentrando primeiramente os cursos superiores a que conseguem ter acesso. O novo Enem poderá ser uma redenção para esses jovens. Venham de qualquer parte do país, de quais escolas puderam cursar, dos mais

Os processos seletivos não são para buscar estudantes de melhor qualidade, mas sim para classificar alguns para as vagas existentes... propiciará milhares e milhares de novos financiamentos estudantis, pela sua real aplicabilidade. Faltou evidentemente um esforço adicional para o aumento substancial do número de vagas dos cursos superiores de necessidade nacional, que está muito aquém daqueles dos outros países da América Latina, para não comparar com os demais países bem desenvolvidos que conhecemos sobejamente. E aqui a culpa não é só do ministro, mas majoritariamente das

distantes municípios e regiões, de quaisquer condições sociais. Com uma boa nota, conseguirão entrar na instituição que desejam – se as castas não inventarem 2ª etapa, 3ª etapa, provas adicionais, para, de novo, sofisticar o processo de facilitação aos abastados. Realmente esse ministro é corajoso, bem intencionado e merece respaldo e apoio em sua iniciativa. ¢ *Diretor-presidente da Anhanguera Educacional www.anhanguera.edu.br Revista Linha Direta

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intratexto

“SER” criança no Ensino Fundamental A

precisa do apoio do adulto. Precisa sentir-se livre para construir ideias e conhecimentos, mas ancorado num olhar de orientação que não o deixe sentir-se inseguro, incapaz. A proposta não é a de uma educação voltada para a tutoria, mas sim de acompanhamento individual à criança que, nesta faixa etária, está descobrindo suas possibilidades cognitivas e psicomotoras

Heriberto Herrera

nova organização do Ensino Fundamental, com duração de nove anos, absorveu as crianças com seis anos de idade, as quais estavam, até o momento, na Educação Infantil, com suas orientações pedagógicas específicas. Já que o ingresso desses alunos se deu de forma generalizada e obrigatória no país, precisa ser problematizado, considerando o ambiente, a estimulação, as características singulares deste público. Segundo Zenker (2008), um novo sujeito – criança – nasce. Se nasce um novo sujeito, nasce uma nova escola. Um novo educador. Um novo projeto educacional. O Ensino Fundamental deve priorizar essa ideia, trazendo para o debate muito mais do que somente preocupações com atividades ou conteúdos. Trabalhar com alunos de seis anos dentro de um programa de conteú­dos e objetivos não é nada fácil, é complexo, desafiador e exige do professor um olhar diferenciado. Demanda esforço da escola para dimensionar seu trabalho, descartando a visão da criança como um adulto em miniatura. Tamanho desafio requer um educador preocupado com a formação social do aluno, que, através da sua afetividade e identidade, está construindo espaços de autonomia, mas ainda

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Revista Linha Direta

autônomas. E trabalhar nessa perspectiva é desafio constante e diário. Será um tempo de transição ou de novas construções e desconstruções de velhos paradigmas que assolam o Ensino Fundamental? Considerar a estruturação da rotina diária escolar é importante para que a criança entenda que regras são formas de organização da sociedade. E, ao mesmo tempo, possa liberar-se delas, retomando suas construções ainda

Cibele Dias*

infantis e, a partir daí, abrir espaço para outras elaborações. Chamo atenção para o “ser” criança nas suas dimensões corporal, mental e social, que demanda um cuidado especial da escola para que não se perca ou se fragmente ao elaborar conhecimentos mais específicos. Se seu corpo precisa de movimento, sensações e abstrações, por que não utilizar essas necessidades para ensinar a criança a aprender? O ambiente escolar precisa superar sua forma tradicional de organizar o tempo, o espaço, a didática. É importante propor aos alunos um espaço de aprendizagem significativa, onde haja possibilidades de expor emoções e sensações e trabalhar o lúdico. É nessa relação de conhecimento e prazer que a criança se desenvolve. E não há como negá-los, uma vez que acreditamos no potencial infantil como forma de acomodação de conhecimentos que resultará na condição de sujeito ativo no exercício da cidadania. ¢ *Pedagoga, especialista em Supervisão Escolar e Sistema de Gestão e consultora em Gestão Educacional www.projecta.edu.br


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