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Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação Universa e Sieeesp

Secretaria Acadêmica Digital Com tecnologia avançada, instituições de ensino podem se livrar do excesso de documentos impressos

Entrevista Alberto Sileoni, ministro de Educación de Argentina Alberto Sileoni, ministro da Educação da Argentina Novos tempos Os desafios da sala de aula

EDIÇÃO 154 ANO 14 - JANEIRO 2011

Abrafi e Semesg

Meta

Em busca da excelência

Prioridade à educação

Jorge de Jesus Bernardo

Jorge Werthein


editorial

Tecnologia de ponta

Tecnología avanzada

Estamos dando boas-vindas a um novo ano. Nesta primeira edição de 2011, a Linha Direta traz uma reportagem sobre Secretaria Acadêmica Digital (SeAD) para quem deseja, seguindo uma tendência mundial, implantar processos e guarda de documentos acadêmicos em via eletrônica. A SeAD trata de processos, softwares e hardwares que permitem eliminar a geração de novos documentos em papel. Possibilita, também, o arquivamento e gerenciamento da documentação, incluindo a certificação digital dos arquivos, conforme a legislação brasileira. A edição traz, ainda, assuntos referentes às metas da educação, os desafios da sala de aula e uma avaliação sobre o Enem. Com o início de um novo ano, perspectivas de novos projetos se estendem à nossa frente. E, claro, com eles, novos desafios terão de ser superados e, com certeza, novas conquistas virão. Aos parceiros que estiveram conosco em 2010, aos novos parceiros e aos milhares de leitores, o nosso muito obrigado pela confiança em nós depositada. E um Feliz 2011 para todos!

Les damos la bienvenida a un nuevo año. En esta primera edición de 2011, Linha Direta trae un reportaje sobre Secretaria Académica Digital (SeAD) para quien desea, siguiendo una tendencia mundial, implantar procesos y archivamiento de documentos académicos por vía electrónica. SeAD trata de procesos, softwares y hardwares que permiten eliminar la generación de nuevos documentos en papel. Posibilita, también, el archivamiento y gerenciamiento de la documentación, incluyendo la certificación digital de los archivos, conforme la legislación brasileña. La edición trae, incluso, asuntos referentes a las metas de la educación, los desafíos de las clases, la evaluación sobre el Enem. Con el inicio de un nuevo año, perspectivas de nuevos proyectos se extienden en nuestra frente. Y, claro, con ellos, nuevos desafíos tendrán que ser superados y, ciertamente, nuevas conquistas vendrán. A los sócios que estuvieron con nosotros en 2010, a los nuevos socios y a los millares de lectores, nuestro agradecimiento por la confianza en nosotros depositada. ¡Y un Feliz 2011 para todos!

Marcelo Chucre da Costa Presidente da Linha Direta

Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta

Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Editora Jeane Mesquita – MG 09098 JP Designer gráfico Rafael Rosa Revisão Liza Ayub Tradução/Revisão espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor de Responsabilidade Socioambiental Marcus Ferreira Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam

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Conselho consultivo Ademar B. Pereira Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente do Sinepe/DF Antônio Eugênio Cunha Presidente do Sinepe/ES Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamim Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Cláudia Regina de Souza Costa Presidente do Sinepe/RJ Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília Ivo Calado Asepepe Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg

José Augusto de Mattos Lourenço Presidente da Fenep José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário nacional da ABM José Nunes de Souza Presidente do Sinepe/PI Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação Universa Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria Auxiliadora Seabra Rezende Presidente do Consed Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA Nelly Falcão de Souza Presidente do Sinepe/AM Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Osvino Toillier Presidente do Sinepe/RS

Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Thiers Theófilo do Bom Conselho Neto Presidente da Fenen Ulysses de Oliveira Panisset Presidente do Sinep/MG Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio Pré-Impressão e Impressão Rona Editora – 31 3303-9999 Tiragem: 20.000 exemplares

A Linha Direta, consciente das questões sociais e ambientais, utiliza, na impressão desse material, papéis certificados FSC (Forest Stewardship Council). A certificação FSC é uma garantia de que a matéria-prima advém de uma floresta manejada de forma ecologicamente correta, socialmente adequada e economicamente viável. Impresso na RONA EDITORA Ltda – Certificada na Cadeia de Custódia – FSC.

As ideias expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da Revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

(31) 3281-1537 www.linhadireta.com.br Revista Linha Direta


contexto

Educação de qualidade Abrafi e Semesg em busca da excelência na educação. Em entrevista, o presidente das entidades, Jorge de Jesus Bernardo

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utar pela qualidade do Ensino Superior no Brasil é a bandeira levantada pela Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades Isoladas e Integradas (Abrafi) e pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Educação Superior do Estado de Goiás (­Semesg). Além disso, as entidades buscam defender os interesses de seus associados, mantendo a representação do segmento e contribuindo com o dia a dia das instituições. Nesta entrevista, o presidente das duas entidades, Jorge de Jesus Bernardo, fala sobre um importante encontro, realizado em Goiânia, para os gestores e mantenedores de instituições de ensino – o I Encontro Regional da Abrafi. Em 26 e 27 de maio, a entidade prepara outro evento na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. No segundo semestre, nos dias 27 e 28 de outubro, quem recebe os gestores para as discussões relativas ao Ensino Superior é a cidade de Belém, no Pará.

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Graduado em Administração e Ciê­ncias Contábeis pela Faculdade de Ciências Administrativas Paulo Eiró (Fapei) e mestre em Engenharia pela Universidade de São Paulo (USP), Jorge de Jesus Bernardo é professor, gestor e consultor acadêmico. Atualmente, além da presidência da Abrafi e do Semesg, é vice-presidente da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), membro da Câmara de Ensino Superior da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) e professor titular das Faculdades Alves Faria (Alfa) e do Centro Universitário de Goiás (Uni-Anhanguera). Quais são seus planos à frente das presidências da Abrafi e do Semesg? Nosso principal objetivo é manter a unidade e a representação do segmento, promovendo, através dessas instituições, a busca constante da excelência no ensino. O que as entidades vêm fazendo em prol da educação superior?


A Abrafi busca chegar cada vez mais perto das faculdades espalhadas pelo Brasil por meio do projeto Encontro Regional da Abrafi. Ele surgiu da necessidade de a Associação se aproximar das instituições de Ensino Superior (IES), conhecendo os seus problemas e levando soluções pertinentes à realidade em que estão inseridas. Tudo isso a fim de possibilitar um ensino de qualidade. O Semesg, entidade da qual também sou presidente, busca, através da unidade e representatividade do segmento, a melhoria contínua da educação superior no estado de Goiás. Qual foi o objetivo do I Encontro Regional da Abrafi, em Goiânia? Fortalecer os vínculos da Abrafi e do MEC com as instituições de Ensino Superior, trazendo soluções aos problemas enfrentados no dia a dia das IES. Na sua opinião, quais são os principais problemas enfrentados pelas IES? O relacionamento institucional das IES com o Ministério da Educação, a mudança constante das regras de regulação e regulamentação, a falta de autonomia das faculdades e a falta de financiamento estudantil. Quais foram os principais assuntos abordados no encontro? O processo associativo entre as instituições de Ensino Superior no Brasil e a relação das associações com órgãos do Executivo e do Legislativo; a avaliação da educação superior, com cenário

Jorge de Jesus Bernardo, presidente da Abrafi e do Semesg

e perspectivas; a implementação e o desafio do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes); os desafios da implementação dos instrumentos de avaliação de cursos e de IES por parte do segmento privado; e a aplicação do Conceito Preliminar de Cursos (CPC) e do Índice Geral de Cursos (IGC). Qual a importância de se realizarem eventos como esse? É importante porque apresenta caminhos e alternativas para fortalecer as IES; desenvolve debates voltados para ações práticas dentro das instituições. É, também, uma forma de atualizar, constantemente, as IES para

a utilização plena do Sistema ­e-MEC. E otimiza a relação institucional entre IES e MEC, criando um canal permanente de comunicação através da Abrafi. Quais serão os encontros em 2011? Os próximos encontros da Abrafi terão o mesmo objetivo e estrutura do evento de Goiânia, com temas importantes e atuais. Já há dois encontros definidos para 2011: um em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, nos dias 26 e 27 de maio, e outro em Belém, Pará, nos dias 27 e 28 de outubro. ¢ www.abrafi.org.br www.semesg.org.br Revista Linha Direta

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capa

Secretaria Acadêmica Digital Lucas Ávila*

Com tecnologia avançada, instituições de ensino podem se livrar do excesso de documentos impressos

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comum ver, em campanhas de matrícula das escolas, o acesso à tecnologia sendo apresentado como um diferencial para os alunos. Laboratórios informatizados, aulas com recursos em 3D, internet, portal com serviços on-line, etc. Mas tão importante quanto essa acessibilidade é garantir eficiência também no registro, controle e organização de todos os processos referentes à vida escolar dos alunos, desde o seu ingresso até a emissão do seu diploma ou transferência da instituição. Trabalho realizado pela secretaria acadêmica, que cuida, por exemplo, do lançamento de notas e frequência, da emissão de históricos escolares, programas das disciplinas e grade curricular e tantos outros documentos necessários ao bom funcionamento da instituição educacional. Tudo isso gera uma infinidade de documentos e de papéis. Mas, hoje em dia, com a informatização e o avanço da tecnologia, essa realidade pode ser outra. Implantando uma Secretaria Acadêmica Digital (SeAD), é possível agilizar os processos, com o mínimo de papel e o máximo de documentos digitalizados, com acesso rápido, fácil e em rede, e evitar problemas como perda de documentos e espaço físico para armazenálos. A SeAD trata de processos e ­softwares que eliminam o uso de papel, além de arquivar e gerenciar a documentação eletrônica. Portanto, para as escolas, as vantagens de informatizar a secretaria são muitas. Reduz o tempo das análises de documentos, o custo com armazenamento, recuperação de arquivos e espaço físico, aumenta a facilidade, a rapidez, a segurança e o controle da documentação, além de perpetuar os arquivos no sistema. Dessa forma, a instituição de ensino pode se livrar do excesso de documentos em papel. Foi o que aconteceu, há dois anos, na Faculdade Sumaré, em São Paulo. A falta de espaço para armazenar tantos papéis na secretaria fez com que a instituição informatizasse todos os documentos administrativos e de docentes e os processos de matrícula. “Hoje, não acumulamos mais papéis, já que toda a documentação é digitalizada”, afirma Marcelo Soares, gerente de sistemas da faculdade. Segundo ele, no ato da matrícula, por exemplo, o aluno não precisa mais levar cópias de seus documentos, pois eles são todos digitalizados. Outra vantagem apontada por Soares é a agilidade na consulta dos documentos. De acordo com ele, se, antes, a demora para consultar os numerosos arquivos da instituição era quase de um dia inteiro, hoje o mesmo processo leva apenas alguns segundos. “Através do sistema, de qualquer local da faculdade, conseguimos ter acesso aos documentos, sem precisar deslocar funcionários para os arquivos, perder tempo e ter gastos”, explica. Se o sistema não tivesse sido informatizado, hoje em dia seria preciso o dobro do espaço físico destinado ao armazenamento de papéis. Ganha a faculdade, o aluno e até mesmo o meio ambiente. “Já estamos digitalizando a documentação antiga para que, no futuro, todas as consultas aos documentos da faculdade sejam feitas através do sistema informatizado”, conta Soares. Revista Linha Direta

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Diferenciais Para instalação da Secretaria Acadêmica Digital, a Faculdade Sumaré firmou uma parceria com a Stoque, empresa especializada em soluções tecnológicas para processos e documentos. A escolha da empresa foi, segundo Soares, pelo diferencial na validade jurídica da documentação digitalizada. “Além do know-how na área de certificação digital em instituições de Ensino Superior, a Stoque atendeu às necessidades da faculdade quanto à validade jurídica dos documentos”, ressalta. “Fazemos toda a gestão e digitalização dos documentos, aliados à tecnologia de certificação”, explica Murilo Taranto, diretor de Tecnologia da Informação da Stoque. O serviço é oferecido à instituição com o objetivo de atender ao processo de matrícula e de armazenamento de dados dos alunos. No entanto, isso não impede que ela use o ­software para outros fins. “Muitas empresas podem fazer uso da ferramenta em documentos de contabilidade, do departamento financeiro ou administrativo”, afirma Taranto. Os certificados digitais já são realidade em várias instituições brasileiras desde a implementação da MP 2200/01, que regularizou a validade das transações e dos documentos eletrônicos. “É um processo que tem amplo respaldo legal e é a mesma tecnologia utilizada pela Receita Federal no envio e acesso ao Imposto de Renda, assinaturas de câmbios no Banco Central, transferências bancárias, entre outros”, ressalta o diretor.

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Uma parceria com a Consae, empresa especializada no segmento educacional, permite uma consultoria acadêmica para que as instituições saibam que tipo de documento ou processo pode ser digitalizado e assinado. “Nosso serviço é especializado. Ele é destinado às secretarias das instituições de ensino, com ampla otimização dos processos e também respaldo legal dos documentos”, explica André Lemos, diretor de negócios da Stoque. Além de vantagens para as instituições na liberação de espaço físico, rapidez, segurança e agilidade na consulta de dados, o aluno também sai ganhando. Na hora da matrícula, ele não precisa levar cópia de documentos. Os originais são digitalizados e armazenados numa pasta, com todas as informações acadêmicas sobre o estudante. “O documento, de forma eletrônica, é mais seguro e mais rápido. O aluno pode ter total segurança do controle documental da vida acadêmica dele. O papel corre o risco de ser extraviado”, reitera Taranto. Implantação Com matriz em Belo Horizonte/ MG e filiais em Belém/PA, Brasília/DF, São Luís/MA, São Paulo/ SP e Vitória/ES, a Stoque atende instituições de ensino e empresas em todo o país. O processo de digitalização dos arquivos é feito em três fases. A primeira envolve o estudo dos arquivos físicos, sua revisão em conjunto com os profissionais de Tecnologia da Informação e a criação de um fluxo de documentos acadêmicos e de uma lista de documentos a serem guardados, segundo as exigências da legislação brasileira.

Na segunda fase, são instalados os equipamentos necessários à digitalização, como softwares de captura e tratamento automatizado de documentos, de armazenamento e busca. Além disso, há o treinamento dos funcionários e o início da digitalização. Na terceira e última fase, são realizados treinamentos para que a instituição tenha autonomia na execução desses processos e crie uma rotina de alimentação e manutenção da SeAD, como a aplicação da certificação digital e a criação de uma política de segurança para armazenamento dos arquivos eletrônicos. André Lemos acredita que o grande diferencial da Stoque é o fato de ela estabelecer uma transferência de tecnologia com a instituição contratante e não criar uma relação de dependência. O serviço garante 100% de autonomia após a instalação dos equipamentos da secretaria digital. “Nós ensinamos a digitalizar, os colaboradores são treinados, e a escola aprende a fazer. Preparamos os funcionários da secretaria para que a digitalização seja feita de uma maneira tão simples como passar um fax”, explica. O processo de implantação da Secretaria Acadêmica Digital leva uma semana. Muito pouco tempo, levando em conta o benefício e a diferença que fará à instituição de ensino. Lemos afirma que não há mais como fugir da realidade virtual dentro das instituições. Além dos alunos estarem cada vez mais acostumados com essa realidade, a tendência é que todos os processos que dependiam do papel estejam informatizados. ¢ *Jornalista


espaço ibero-americano espacio iberoamericano

La educación en Argentina En entrevista a Linha Direta, el ministro de Educación de Argentina, Alberto Sileoni, apunta algunas de las principales cuestiones educativas en su país

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rimer país latinoamericano en celebrar el Bicentenario de Independencia, Argentina tiene mucho que conmemorar, pero todavía hay mucho trabajo, según el ministro de Educación, Alberto Sileoni. Hay avances, por ejemplo, en la inclusión digital, con un programa que prevé el acceso a tres millones de estudiantes de la escuela secundaria. Pero, ¿y la formación de los docentes? El desafío será dotar de sentido a la tecnología. El ministro garantiza que Argentina tiene mucho para compartir con los países vecinos de Iberoamérica. Síganos y vea cuál es la visión de Sileoni. En su última entrevista a Linha Direta, nos ha dicho que era necesario invertir más en inclusión digital, entre otros retos. ¿Qué ha sido hecho en este último año? Estamos con un programa muy importante de dotación de recursos informáticos para todos los chicos de las escuelas secundarias, programa que anunció la presidenta en abril de 2010. Éste va a terminar distribuyendo, de aquí hasta 2012, tres millones de computadoras que, para nosotros, es una suma muy importante.

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A educação na Argentina Em entrevista à Linha Direta, o ministro da Educação da Argentina, Alberto Sileoni, aponta algumas das principais questões educacionais em seu país

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rimeiro país latino-americano a celebrar o bicentenário da Independência, a Argentina tem muito a comemorar, embora ainda exista bastante trabalho a ser feito, segundo o ministro da Educação, Alberto Sileoni. Há avanços, por exemplo, na inclusão digital, com um programa que prevê o acesso a três milhões de estudantes da escola secundária. Mas, e a formação dos professores? O desafio é dar aplicabilidade à tecnologia. O ministro garante que a Argentina tem o que compartilhar com os países vizinhos da América Latina. Acompanhe-nos e veja qual é a visão de Sileoni. Em sua última entrevista à Linha Direta, o senhor disse que era necessário investir mais na inclusão digital, entre outros desafios. O que foi feito no ano passado? Estamos com um programa muito importante para disponibilizar recursos de informática para todas as


Divulgação Ministério da Educação da Argentina

crianças do ensino secundário, programa anunciado pela presidente em abril de 2010. Distribuiremos, até 2012, três milhões de computadores, o que é, para nós, uma quantia muito significativa. A presidente anunciou a decisão de dar continuidade a esse programa mesmo depois de nossa gestão de governo, já que teremos eleições em outubro de 2011. É o tipo de programa que nunca termina, pois sempre haverá renovação. Estamos em um processo muito importante, com resultados positivos. Quando vamos distribuir computadores, sempre existe uma primeira impressão positiva e mobilizadora. No entanto, não nos contentamos com isso. As máquinas chegam com 50 programas diferentes. Ou seja, temos um grande desafio para dar aplicabilidade à tecnologia. Já existem programas de formação para os professores?

Alberto Sileoni, ministro de Educación de Argentina // Alberto Sileoni, ministro da Educação da Argentina

La presidenta tomó la decisión de que éste programa continuará después de nuestra gestión de gobierno. Nosotros tendremos elecciones en octubre de 2011. El programa va a estar terminado, aunque son programas que no terminan nunca, porque siempre va a haber algo para renovar. Estamos en un proceso muy importante, ya con resultados positivos. Cuando vamos a distribuir computadoras siempre hay una primera impresión positiva y que moviliza, por supuesto no nos contentamos con eso. Las máquinas llegan con 50 programas distintos. Tenemos un gran desafío de dotar de sentido a la tecnología. ¿Ya hay programas de formación para los maestros? Sí. Hay programas que han empezado el año pasado [2009]. Hay uno que estamos implementando con la Organización de los Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI) para la capacitación de miles de docentes que, a la vez, tengan la tarea de capacitar a otro y hacerse cargo de la tecnología en las escuelas. Es una acción del Ministerio de Planificación Fe-

Sim, há programas que começaram no ano passado [2009]. Existe um que estamos implementando com a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) para a capacitação de milhares de professores, que, por sua vez, têm a tarefa de educar e utilizar a tecnologia nas escolas. É uma ação do Ministério de Planejamento Federal da Argentina, que também disponibiliza a conectividade. O Fundo de Pensão dos Aposentados é quem capitaliza e financia a compra e, nós, como Ministério da Educação, temos o enorme desafio da capacitação de professores e da construção de um plano educacional que dê aplicabilidade à tecnologia que entra na sala de aula. A Argentina é o primeiro país a comemorar o seu bicentenário da Independência. O que há para comemorar? Em primeiro lugar, 200 anos de independência é um presente para o ser humano. Quando nascemos, a pátria já estava feita, foram outros que a fizeram. Historicamente, temos que celebrar a cultura, o fato de pertencer a um grupo social, uma nação. Creio que temos feito muitas coisas positivas na Argentina, não só com a educação, mas com o trabalho, a justiça, o emprego, a construção de rodovias, estradas, pontes. É para comemorar, pois estamos em um momento de crescimento econômico, de melhor distribuição da riqueza. Mas não são comemorações Revista Linha Direta

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deral de Argentina, que también va a proveer la conectividad. La Caja de Previsión Social de los Jubilados es la que nos capitaliza y financia la compra y, a nosotros, como Ministerio de Educación, nos queda el enorme reto de la capacitación docente y de la construcción de un plan educativo que le dé sentido a esta tecnología que entra en aula.

Primero, 200 años de independencia es un regalo para el ser humano. Cuando nacemos, la patria ya estaba hecha, la hicieron otros. Históricamente, hay que festejar una cultura, el hecho de pertenecer a un colectivo social, a una nación. Creo que hemos hecho muchas cosas positivas en Argentina, no sólo con la educación, sino que también con el trabajo, con la justicia, con el empleo, con la construcción de carreteras, rutas, puentes. Es para festejar, pues estamos en un

Tenemos un gran desafío de dotar de sentido a la tecnología. // ... temos um grande desafio para dar aplicabilidade à tecnologia. momento de crecimiento económico, de mejor distribución de la riqueza. Pero no son festejos irracionales, donde uno no deja de ver lo que le falta. Nos preocupamos con los chicos que debían estar dentro de la escuela y no están, con la calidad educativa y muchas otras cosas. ¿Cuántos son los chicos fuera de la escuela? Si tomamos los chicos de 13 a 17 años, creo que vamos a tener 400 mil chicos fuera de la escuela. Se ha incorporado un programa de asistencia universal, que se llama Asignación Universal por Hijo, que ha hecho con que muchos chicos vuelvan a la escuela. Pero todavía hay mucho trabajo. ¿Qué experiencia Argentina puede compartir con los países de Iberoamérica?

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Argentina es el primer país a celebrar su Bicentenario de Independencia. ¿Qué hay para conmemorar?

exageradas, nas quais deixamos de ver o que está faltando. Nós nos preocupamos com as crianças que deveriam estar dentro da escola, e não estão, com a qualidade da educação e muitas outras coisas. Quantas crianças estão fora da escola? Se considerarmos os adolescentes de 13 a 17 anos, acho que vamos ter 400 mil crianças fora da escola. Foi implementado um programa de assistência universal, que se chama Asignación Universal por Hijo, que tem feito com que muitas crianças voltem a estudar. No entanto, ainda há muito trabalho. Que experiência a Argentina pode compartilhar com os países da América Latina? Creio que todos os países têm coisas a ensinar. Podemos compartilhar este processo de ter um computador por criança, um canal educativo que temos e que prova que a qualidade e o entretenimento podem vir juntos. Temos aumentado o número de alunos na escola técnica, a tecnologia chegou a todas as crianças,


Creo que todos los países tenemos cosas para enseñarnos. Podemos compartir este proceso de conectar igualdad, de una computadora por chico, un canal educativo que tenemos y que prueba que la calidad y el entretenimiento pueden venir de la mano. Hemos aumentado el número de alumnos en la escuela técnica, tenemos la Asignación Universal por Hijo que ha llegado a todos los chicos, tenemos muy buenos materiales en educación sexual, una reforma en la educación media, una cantidad de cosas que siempre ponemos a disposición de otros países. ¿Cuál es la importancia de la educación técnico profesional? Si quisiesemos hacer un país pequeño y de servicios no tendría ninguna importancia. Pero si quisiesemos hacer un país pujante, productivo, de trabajadores, de técnicos, de obreros calificados, es decir, si se quiere tener a la industria en pleno funcionamiento, es muy importante. ¿Argentina tiene tradición en la formación técnico profesional? Tenemos la cultura y somos un país que, a diferencia de otros, donde educación y trabajo estuvieron mucho más ligado tempranamente, nuestro país no tanto. Quien se educaba no trabajaba y viceversa. Es una tradición que hay que cultivarla. Ahora lo que hemos hecho es una ley de educación técnica que dota a las escuelas de recursos y tecnologías. Y por la educación de jóvenes y adultos, ¿qué ha sido hecho? Tenemos un programa de alfabetización muy importante. Es el Encuentro. Estamos avanzando mucho. Pero, Argentina no es un país con alta tasa de analfabetismo. ¿Cuál es la tasa? Menos de 2% la tasa nacional. Pero si vas a alguna provincia, la tasa puede estar en 7%. En el interior, entre las mujeres, puede estar en 30%. Hay que seguir trabajando e invirtiendo, porque es una modalidad que nunca estuvo demasiado priorizada. ¢

existem muitos materiais bons sobre educação sexual e implementamos a reforma do ensino secundário, enfim, uma quantidade de coisas que sempre colocamos à disposição de outros países. Qual é a importância da educação técnicoprofissional? Se o desejo é fazer um país pequeno e de serviços, esse tipo de educação não tem nenhuma importância. Mas, se o que se pretende é construir um país forte e produtivo, de trabalhadores, de técnicos e de operários qualificados, se queremos ter a indústria em pleno funcionamento, ela se torna muito importante.

Hay que seguir trabajando e invirtiendo... // É necessário continuar trabalhando e investindo... A Argentina tem uma tradição na formação técnico-profissional? Nós temos a cultura e somos um país em que a educação e o trabalho estiveram, desde cedo, muito ligados, ao contrário de outros países, em que quem se educava não trabalhava e vice-versa. É uma tradição que deve ser cultivada. Agora, o que temos feito com relação à educação técnica é dotar as escolas de recursos e tecnologias. E para a educação de jovens e adultos, o que tem sido feito? Temos um programa de alfabetização muito importante: o Encuentro. Estamos avançando muito, mas a Argentina não é um país com elevada taxa de analfabetismo. Qual é a taxa? A taxa nacional é menos de 2%. Entretanto, se você vai a uma província, a taxa pode ser de 7%. No interior, entre as mulheres, pode estar em 30%. É necessário continuar trabalhando e investindo, porque é uma modalidade que nunca foi muito priorizada. ¢ Revista Linha Direta

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Prioridade à educação Jorge Werthein, ex-representante da UNESCO no Brasil e vice-presidente da Sangari Brasil, avalia o cenário educacional no país

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último resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado recentemente, dividiu opiniões no Brasil. Para uns, significou avanços. Para outros, atestou o atraso do país perante os demais da América Latina. Mas o im-

Prioridad a la educación Jorge Werthein, ex-representante de la UNESCO en Brasil y vicepresidente de Sangari Brasil, evalúa el escenario educacional en el país

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l último resultado del Índice de Desarrollo de la Educación Básica (Ideb), divulgado recientemente, dividió opiniones en Brasil. Para algunos, significó avances. Para otros, certificó el atraso del país frente a los demás de Latinoamérica. Ahora lo importante, según el ex-representante de la UNESCO en Brasil y vicepresidente de Sangari Brasil, Jorge Werthein, es reconocer los avances y los esfuerzos que han sido hechos en busca de la mejoría de la educación. “No obstante, no se puede bajar la guardia y descansar. Es preciso tener conciencia de que aún hay mucho por hacer”, afirma. Para avanzar, él cree que es preciso dar, de facto, prioridad a la educación. ¡Corrobore!

Jorge Werthein, ex-representante da UNESCO no Brasil e vice-presidente da Sangari Brasil // Jorge Werthein, ex-representante de la UNESCO en Brasil y vicepresidente de Sangari Brasil

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portante, segundo o ex-representante da UNESCO no Brasil e vice-presidente da Sangari Brasil, Jorge Werthein, é reconhecer os avanços e os esforços que têm sido feitos em prol da melhoria da educação. “No entanto, não se pode deitar sobre os louros. É preciso ter consciência de que ainda há muito por fazer”, afirma. Para avançar, ele acredita que é preciso dar, de fato, prioridade à educação. Confira! Segundo a UNESCO, o Brasil está na média do desempenho da América Latina em educação. Com as exceções de Cuba e Chile, os demais países da região enfrentam desafios semelhantes. A que o senhor atribui isso? De fato, o Brasil está na média da América Latina em termos de educação. Há indicadores diferentes, como a taxa de analfabetismo, por exemplo. Mas a maioria dos países latino-americanos enfrenta situação bastante semelhante. Isso porque temos uma herança histórica parecida. A colonização no continente foi predatória, com escravidão. A inclusão social dos negros no Brasil, por exemplo, ainda não se completou. Tanto que há políticas de cotas em algumas universidades brasileiras numa tentativa de superar esse legado. Sem contar que não conseguimos, na grande maioria dos países da América Latina, que a educação tenha uma política de Estado, independentemente das alternâncias no poder. Como pode haver mais cooperação entre os paí­ ses latino-americanos no âmbito da educação? Apesar do legado semelhante, há numerosas diferenças entre os países, e elas merecem respeito. Mas as semelhanças podem contribuir para que haja parcerias ou, no mínimo, uma ampliação do debate acerca do futuro desses países, incluindo o chamado intercâmbio cultural. Não somos mais colonos do ponto de vista político, em sentido estrito, mas permanecemos colonos do ponto de vista cultural. Há soluções “domésticas”, que talvez possam ser mais úteis do que soluções importadas, mas ainda temos os olhos muito voltados para o Hemisfério Norte. Há alguns anos, publiquei um artigo na Argentina no qual eu defendia a criação de um programa como o Erasmus para nossa região. Ele estimula o intercâmbio de jovens universitários europeus dentro da União Europeia. Não vemos algo

P sh e

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Según la UNESCO, Brasil está en un nivel promedio de desarrollo si comparado con el resto de Latinoamérica en educación. Con las excepciones de Cuba y Chile, los demás países de la región enfrentan desafíos semejantes. ¿A qué usted atribuye eso? De hecho, Brasil está promediando el nivel del resto de los países de Latinoamérica en términos de educación. Hay indicadores diferentes, como la tasa de analfabetismo, por ejemplo. Pero, la mayoría de los países latinoamericanos enfrenta una situación bastante semejante. Esto porque tenemos una herencia histórica parecida. La colonización en el continente fue predatoria, con esclavitud. La inclusión social de los negros en Brasil, por ejemplo, aún no se completó. Es tan evidente que hay políticas de beneficios en algunas universidades brasileñas en la tentativa de superar ese legado. Sin contar que no conseguimos, en la gran mayoría de los países de Latinoamérica, que la educación tenga una política de Estado, independientemente de las alternancias del poder. ¿Cómo puede haber más cooperación entre los países latinoamericanos en el ámbito de la educación? A pesar del legado semejante, hay numerosas diferencias entre los países, y estas merecen respeto. Pero las semejanzas pueden contribuir para que haya asociaciones o, como mínimo, una ampliación del debate acerca del futuro de estos países, incluyendo el llamado intercambio cultural. No somos más colonos desde el punto de vista político, en sentido estricto, pero permanecemos colonos desde el punto de vista cultural. Hay soluciones “domésticas”, que tal vez puedan ser más útiles que las soluciones importadas, sin embargo, aún tenemos los ojos puestos en el Hemisferio Norte. Hace algunos años, publiqué un artículo en Argentina en el cual defendía la creación de un programa como el Erasmus para nuestra región. Éste estimula el intercambio de jóvenes universitarios europeos dentro de la Unión Europea. No vemos algo parecido por aquí, ni Revista Linha Direta

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parecido por aqui, nem no interior dos países, tampouco entre uns e outros. Isso é sintomático.

en el interior de los países, tampoco entre unos y otros. Esto es sintomático.

Os resultados do Ideb dividiram opiniões. Para uns especialistas, entre eles o próprio MEC, a superação das metas representa um grande avanço. Para outros, o índice apenas demonstra o quanto o país ainda está atrasado no campo da educação. Qual a sua avaliação?

Los recientes resultados del Ideb dividieron opiniones. Para unos especialistas, entre ellos el propio MEC, la superación de las metas representa un gran avance. Para otros, el índice apenas demuestra cuánto el país aún está atrasado en el campo de la educación. ¿Cómo usted evalúa eso?

O Ideb é um diagnóstico importante. O simples fato de realizá-lo é um avanço. A superação de metas também estimula. Mostra que os esforços para melhorar a educação no Brasil têm valido a pena. Mas não se pode deitar sobre os louros. É preciso ter consciência de que ainda há muito por fazer. O próprio MEC reconhece isso. É preciso lembrar que o governo federal não é o único ator importante desse processo. Também são protagonistas as administrações municipais e estaduais, além da sociedade civil e do empresariado. Para o Brasil alcançar patamares elevados, vai ser preciso o envolvimento de todos. Há desafios gigantescos, como a qualidade da educação e a formação continuada dos professores.

El Ideb es un diagnóstico importante. El simple hecho de realizarlo es un avance. La superación de metas también estimula. Muestra que los esfuerzos para mejorar la educación en Brasil han valido la pena. No obstante esto, no se puede pensar que todo está hecho. Es preciso tener conciencia de que aún hay mucho por hacer. El propio MEC reconoce esto. Es preciso recordar que el gobierno federal no es el único actor importante de este proceso. También son protagonistas las administraciones municipales y estatales, además de la sociedad civil y del empresariado. Para que Brasil alcance niveles elevados, va a ser preciso el comprometimiento de todos. Hay desafíos gigantescos, como la calidad de la educación y la formación continuada de los profesores.

Recentemente, o IBGE divulgou um dado alarmante: um em cada cinco brasileiros é analfabeto funcional. Ou seja, a educação, mesmo quando chega, é insuficiente. Não basta saber ler e escrever. É indispensável, hoje em dia, ter conhecimento científico e tecnológico, por exemplo. Como sobreviver em uma sociedade altamente informatizada, e numa economia dependente de alta tecnologia e descobertas científicas, sem conhecimentos dessas áreas?

Recientemente, el IBGE divulgó un dato alarmante: uno de cada cinco brasileños es analfabeto funcional. Es decir, la educación, hasta cuando llega, es insuficiente. No basta saber leer y escribir. Es indispensable, hoy en día, tener conocimiento científico y tecnológico, por ejemplo. ¿Cómo sobrevivir en una sociedad altamente informatizada, y en una economía dependiente de la alta tecnología y hallazgos científicos, sin conocimientos de estas áreas?

O senhor tem defendido a necessidade de uma política de Estado para a educação no Brasil. Em quais países o Brasil poderia se inspirar? Há 30 anos, a Irlanda, pobre e com elevado índice de analfabetismo, estava entre os últimos lugares em educação na Europa. Quando teve a oportunidade de integrar a Comunidade Econômica Europeia, em 1973, os três partidos políticos

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Revista Linha Direta

Usted ha defendido la necesidad de una política de Estado para la educación en Brasil. ¿En qué países usted cree que Brasil podría inspirarse? Hace 30 años, Irlanda, pobre y con elevado índice de analfabetismo, estaba entre los últimos lugares en educación en Europa. Cuando tuvo la oportunidad de integrarse a la Comunidad Económica Europea, en 1973, los tres partidos políticos de la época debatieron y decidieron concentrar las inversiones en


Olga Iermolaieva

da época debateram e decidiram concentrar os investimentos em saúde gratuita e de qualidade para todos, educação de excelência para todos e ciência e tecnologia de ponta. Resultado: a Irlanda, apesar da crise que atravessa agora, tem hoje um dos mais bem-sucedidos sistemas educacionais do mundo. A Espanha fez algo semelhante com o Pacto de Moncloa. Seu índice de analfabetismo parecia o do Brasil hoje. Foi quando resolveu priorizar a educação. Todos os governos posteriores mantiveram esse propósito, e a Espanha conseguiu erradicar o analfabetismo de adultos, universalizar a educação infantil e desenvolver um sistema universitário de qualidade. Agora, discute a reformulação da política de Estado para a educação. A Coreia do Sul, por sua vez, era um país rural pobre e com educação precária na década de 1960. Hoje, depois de investir sistematicamente em educação ao longo de quatro décadas, orgulha-se de ocupar o primeiro lugar em várias categorias.

salud gratuita y de calidad para todos, educación de excelencia para todos y ciencia y tecnología de punta. Resultado: Irlanda, a pesar de la crisis que atraviesa actualmente, tiene hoy uno de los más bien sucedidos sistemas educacionales del mundo. España hizo algo semejante con el Pacto de Moncloa. Su índice de analfabetismo parecía con el de Brasil hoy. Fue cuando resolvió priorizar la educación. Todos los gobiernos posteriores mantuvieron este propósito, y España consiguió erradicar el analfabetismo de adultos, universalizar la educación infantil y desarrollar un sistema universitario de calidad. Ahora, discute la reformulación de la política de Estado para la educación. Corea del Sur, por su parte, era un país rural pobre y con educación precaria en la década de 1960. Hoy, después de invertir sistemáticamente en educación a lo largo de cuatro décadas, se enorgullece por ocupar el primer lugar en varias categorías.

Depois de anos à frente da UNESCO no Brasil, o senhor enfrenta novo desafio: a vice-presidência executiva de uma empresa do ramo educacional, responsável pela criação de uma nova metodologia de ensino de ciências, o programa CTC – Ciência e Tecnologia com Criatividade. Como o senhor vê o papel da iniciativa privada no sistema educacional brasileiro, tão marcadamente estatal?

Después de años al frente de la UNESCO en Brasil, usted enfrenta un nuevo desafío: la vicepresidencia ejecutiva de una empresa del ramo educacional, responsable por la creación de una nueva metodología de enseñanza de ciencias, el programa CTC – Ciencia y Tecnología con Creatividad. ¿Cómo ve el papel de la iniciativa privada en el sistema educacional brasileño, tan notoriamente estatal?

Os desafios da educação no Brasil ainda são tão grandes que não há por que recusar o apoio da iniciativa privada. Sozinho, o Estado não consegue pensar, planejar, implementar e avaliar a educação brasileira. Ele precisa de aportes do setor privado, da sociedade civil, dos organismos multilaterais. Há ONGs contribuindo para o enfrentamento do analfabetismo no país. Há empresas pensando soluções inovadoras, como o CTC, voltado para o ensino de ciências, uma das lacunas na atual formação brasileira. O Sesi, a Fundação Bradesco, a Philips e o Instituto Sangari são exemplos de ação social das empresas na área educacional. Hoje, discutem-se muito as chamadas PPP – parcerias público-privadas. Elas podem e devem funcionar na educação também. ¢

Los desafíos de la educación en Brasil aún son tan grandes que no hay razón para recusar el apoyo de la iniciativa privada. Solo, el Estado no consigue pensar, planear, implementar y evaluar la educación brasileña. Él precisa de aportes del sector privado, de la sociedad civil, de los organismos multilaterales. Hay ONGs contribuyendo para el enfrentamiento del analfabetismo en el país. Hay empresas pensando en soluciones innovadoras, como el CTC, orientado para la enseñanza de ciencias, una de las lagunas en la actual formación brasileña. El Sesi, la Fundación Bradesco, la Philips y el Instituto Sangari son ejemplos de acción social de las empresas en el área educacional. Hoy, se discuten mucho las llamadas PPP – asociaciones público-privadas. Ellas pueden y deben funcionar en la educación también. ¢ Revista Linha Direta

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intratexto

Os desafios da sala de aula Hercules Macedo*

E

screver sobre essa temática não é fácil, tampouco me torna livre de equívocos e julgamentos incompletos e inexatos. No entanto, vou aventurar-me nessa seara, com a humildade necessária e com a legitimidade de mais de 20 anos de profissão. É claro que aqui não vai nenhuma pretensão de estar com a razão incondicional. Isso seria um erro irreparável, pois estaria em completo desacordo com o que penso ser processo educativo e educação propriamente dita. O que pretendo é problematizar os desafios dos educadores, discutir o “drama” da atuação deles na sala de aula frente aos educandos e suas manifestações de comportamento, resultantes das mudanças políticas, sociais, culturais, etc. O que é, afinal, educação? Muito complicado um único conceito. Mas vou ficar com a definição de que é um processo de construção de conhecimento e de formação de identidades que se dá entre os homens, considerando suas diversas experiências e interesses, levando em conta o contexto em que ocorre esse processo e objetivando a formação de pessoas capazes de inserir-se em seu meio, de forma consciente, independente, colaborativa e ativa.

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Revista Linha Direta

Educação se dá na escola e na rua com os sujeitos que nela atuam, em casa juntamente com a família, na igreja, no trabalho. O processo de educação é o próprio viver em grupo, condição sine qua non para a evolução da humanidade. Aquela que se oferece na escola tem suas particularidades. É sistemática, sistêmica e sistematizadora. É formal. Tem objetivo pré-definido. Tem de ser planejada e avaliada permanentemente. É um direito social e político, portanto, obrigação do Estado. É o acesso à informação e ao conhecimento produzido para além da formação humana, em geral. Segundo a professora Lúcia Helena Alves de Sá, do Centro de Ensino Fundamental 104 Norte, em Brasília/DF, “educar é trazer para fora, é extrair de uma pessoa algo que a torne transformada. É, de certo, também, uma ação interativa e dialética, realizada entre as pes­soas que atuam na sociedade e nela estão imersas. Bem assim, educação é o processo que renova uma pessoa, extraindo-lhe ou libertando-lhe potencialidades criadoras.” Educadores num novo tempo Se é isso mesmo, o trabalho do educador é complexo e, ao mesmo tempo, fundamental para a socie-

dade. E como é que ele se coloca nesse cenário? Como se desenvolve nesse mundo de responsabilidades? Como se avalia para “encarar” esse gigantesco desafio? Que coragem tem ele para adentrar esse terreno de dificuldades da sala de aula? Como tem sentido a sua capacidade de lidar com os desafios trazidos por seus alunos? Como tem visto a chegada de tantos concorrentes que conduzem informação, notícias, dados, conhecimentos? Estamos falando sobre o papel do educador na atualidade. É preciso, então, focar o debate nesse sujeito para que o mesmo possa responder às perguntas acima. A grande maioria dos profissionais que atuam nas escolas brasileiras, sejam particulares ou públicas, vive dias difí-


ceis na sala de aula. Manifestações de violência de diversas naturezas, questionamento da autoridade do professor, exigência de uma nova forma de relacionamento, interesses diversos anunciados e verbalizados, um ataque fenomenal da informação por meio da internet, principalmente. Esse profissional, formado pela universidade conservadora, tende a se intimidar frente a esse quadro. E nem os cursos de formação continuada têm conseguido, eficazmente, municiar o professor para enfrentamento da situação. Mas é esse o profissional que temos, que somos. Cabe, então, discutir esse papel. E proponho dar um destaque à problemática da atuação do professor, tendo como concorrente uma das novas tecnologias que chegaram à escola: a internet. Porém, antes,

é importante ter em mente que há confusão com o que se denomina tecnologia. O senso comum nos leva a pensar que tecnologia é computador, é equipamento eletrônico, é máquina. Essas são ferramentas para viabilizar um novo jeito de fazer as coisas. São instrumentos para realizar processos, obviamente, com mais rapidez, mais facilidade e menos esforço humano (físico e intelectual). Tecnologia é uma maneira de transformar, um modo de fazer, que evolui constantemente. Portanto, o que é novo hoje não o será amanhã, uma corrida sem fim promovida pelo homem para aumentar a produção, aperfeiçoar as coisas, encurtar prazos, etc. Tecnologia na sala de aula não deveria assustar o professor, muito menos deixá-lo com a sensação de que está superado e condenado à aposentadoria ainda no exercício da profissão. Deveria ser uma injeção de energia no espaço da sala de aula para facilitar o seu trabalho e a aprendizagem dos educandos, nunca uma ameaça. Para tanto, ele tem de sair do lugar de detentor único do conhecimento e abandonar a antiga ideia de que o conhecimento está acondicionado em alguma caixa, à qual somente

ele tem acesso, pois possui a chave. Essa caixa está simbolizada no livro didático, muitas vezes, e nas enciclopédias guardadas nas bibliotecas. Quem permitia, quem dirigia, quem ditava a sequência da descoberta, quem controlava a forma de compreensão e de análise era o professor, no seu tempo, conforme o seu desejo. Acabou. Faz algum tempo. É bom que se diga que, pelo bem da verdadeira educação, esse tempo passou. Professores sintonizados com os novos tempos não têm medo das novas tecnologias ou das novidades ferramentais que adentram o espaço escolar. E não se deve cair no erro de achar que essa sintonia advém, exclusivamente, do domínio técnico desse ferramental. É um equívoco achar que os professores, principalmente os formados na universidade tradicional e em um tempo em que essas novidades tão chocantes não faziam parte da vida, vão dominar todas as dimensões dessas tecnologias novas, seja no seu aspecto concreto, material, operacional, seja no aspecto do seu significado mais amplo, das suas possibilidades de transformação do mundo. Então, é uma ilusão pensar que esses professores, em sua vasta maioria, chegarão próximos do nível de domínio que os seus alunos possuem. É uma covardia exigir isso deles.

Rajesh Sundaram

É preciso discutir o que é um professor atualizado, assunto que abordaremos na próxima edição. ¢ *Diretor pedagógico do Projecta-Melhor Escola, professor de História, pós-graduado em Gestão de Projetos Educacionais www.projecta.edu.br Revista Linha Direta

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