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Linha Direta INOVAÇÃO . EDUCAÇÃO . GESTÃO

Novas práticas na educação Jogos digitais no contexto da sala de aula

ECE-SP Fortalecimento e participação

EDIÇÃO 167

ANO 15 - FEVEREIRO 2012

IBEROAMÉRICA // IBERO-AMÉRICA Educación en Paraguay // Educação no Paraguai

DESAFIOS A educação que podemos propor

SONHO Construção de um futuro melhor

FORMAÇÃO Foco na melhoria dos processos

Rômulo Marinho

Tobias Ribeiro


editorial

Jogos digitais educativos

Juegos digitales educativos

Em um mundo tecnológico, repleto de mídias dinâmicas e sedutoras, as salas de aula tradicionais correm o risco de se tornarem ambientes monótonos para uma geração acostumada a mensagens instantâneas e buscas rápidas feitas na internet. Incorporar os jogos ao processo de aprendizagem é oferecer a possibilidade de construir o conhecimento de forma lúdica e atraente. De modo especial, os jogos digitais educativos criam práticas com recursos multimídia que estimulam e enriquecem as atividades escolares, reunindo informação e entretenimento, propiciando um ambiente de aprendizagem complexo e emocionante, potencializando os conceitos e permitindo que os conteúdos sejam visualizados de forma clara. Tudo isso significa respeitar o aluno do século XXI, preparando-o para ser um cidadão na sociedade do conhecimento. A todos, uma boa leitura!

En un mundo tecnológico, repleto de medios de comunicación sociales dinámicos y seductores, las salas de clase tradicionales corren el riesgo de tornarse ambientes monótonos para una generación acostumbrada a mensajes instantáneos y búsquedas rápidas hechas en internet. Incorporar los juegos al proceso de aprendizaje es ofrecer la posibilidad de construir el conocimiento de forma lúdica y atractiva. De modo especial, los juegos digitales educativos crean prácticas con recursos de multimedios que estimulan y enriquecen las actividades escolares, reuniendo información y entretenimiento, propiciando un ambiente de aprendizaje complejo y emocionante, potencializando los conceptos y permitiendo que los contenidos sean visualizados de forma clara. Todo esto significa respetar al alumno del siglo XXI, preparándolo para ser un ciudadano en la sociedad del conocimiento. A todos, ¡una buena lectura!

Marcelo Chucre da Costa Presidente da Linha Direta

Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta

Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação Universa e Sieeesp

Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Editora Valéria Araújo – MG 16.143 JP Designer Gráfico Rafael Rosa Gerente Administrativo-financeiro Sandra Ferreira Atendimento Flávia Alves Passos Reportagens e Entrevistas Laila Aninger e Valéria Araújo Preparadora de Texto/Revisora Cibele Silva Tradutor/Revisor de Espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam

Revista Linha Direta

Conselho Consultivo Ademar B. Pereira Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente da Fenep e do Sinepe/DF Antônio Eugênio Cunha Presidente do Sinepe/ES Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamin Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Cláudia Regina de Souza Costa Presidente do Sinepe/RJ Dalton Luís de Moraes Leal Presidente do Sinepe/PI Emiro Barbini Presidente do Sinep/MG Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília

Ivo Calado Asepepe Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário Nacional da ABM Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação Universa Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Maria Nilene Badeca da Costa Presidente do Consed Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA Nelly Falcão de Souza Presidente do Sinepe/AM Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Osvino Toillier Presidente do Sinepe/RS

Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Thiers Theófilo do Bom Conselho Neto Presidente da Fenen Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio Pré-Impressão e Impressão Rona Editora – 31 3303-9999 Tiragem: 20.000 exemplares

A Linha Direta, consciente das questões sociais e ambientais, utiliza, na impressão desse material, papéis certificados FSC (Forest Stewardship Council). A certificação FSC é uma garantia de que a matéria-prima advém de uma floresta manejada de forma ecologicamente correta, socialmente adequada e economicamente viável. Impresso na RONA EDITORA Ltda. – Certificada na Cadeia de Custódia – FSC. As ideias expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da Revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

(31) 3281-1537 www.linhadireta.com.br


capa

Novas práticas na educação Jogos digitais no contexto da sala de aula

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© Ilike / Photoexpress

interessante observar o fascínio que os jogos digitais provocam nas crianças, adolescentes e até mesmo em adultos. Os desafios propostos, a qualidade gráfica, as interfaces com a alta interatividade e o design sofisticado despertam interesse, prendem a atenção e estão, cada vez mais, presentes no dia a dia dos nossos alunos.

Revista Linha Direta

Por se constituírem em um recurso potencialmente estimulante para o desenvolvimento integral do aluno, os jogos digitais educativos possibilitam a criação de ambientes de aprendizagem atraentes, oportunidades relevantes para a construção do conhecimento e, consequentemente, o desenvolvimento de diferentes habilidades. Para Ígor Guadalupe Coelho, diretor executivo da Jungle Digital Games, os jogos digitais estimulam a participação de alunos e professores. “Os jogos digitais são conhecidos por seu alto poder de imersão e por permitirem que grande quantidade de dados necessários para vencer desafios sejam absorvidos pelos jogadores de forma natural”, afirma. Confira, a seguir, a entrevista do executivo, concedida com exclusividade à Linha Direta.


Foto e ilustrações Divulgação

Por que trabalhar com jogos digitais na educação? O mercado de games no Brasil e no mundo vem crescendo significativamente nos últimos anos, e também cresce a variedade de aplicações para os jogos, antes somente utilizados para fins de entretenimento. Aliado a isso, políticas públicas recentes no Brasil têm visado à informatização e à inserção de tecnologias no contexto educacional. Os jogos digitais são conhecidos por seu alto poder de imersão e por permitirem que grande quantidade de dados necessários para vencer desafios sejam absorvidos pelos jogadores de forma natural. No Brasil, hoje, somente na Educação Básica, temos mais de 52 milhões de estudantes matriculados, um mercado gigantesco, que respira tecnologia. Acreditamos que os jogos digitais podem apro-

ximar professores e alunos, além de permitir que ambos alcancem seus objetivos escolares: o primeiro, de moderar o processo de aprendizagem do aluno; e o segundo, de aprender e se desenvolver. Sabemos que, em muitas salas de aula, ainda existe o conflito entre os nativos digitais (alunos) e os imigrantes digitais (professores). Você acredita que o uso dos jogos digitais na educação está “forçando” a criação de novas relações em sala de aula? Sem dúvida. Os jogos digitais podem ser a ponte e o caminho para um novo relacionamento entre alunos e professores. A nova geração de aprendizes está imersa no ambiente tecnológico, conectada a diversas redes sociais, compartilha informações e se sente motivada quando recebe múltiplos estímulos. Ao utilizar jogos digitais como fer-

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RevistaRevista Linha Direta Linha Direta


ramenta pedagógica, os professores entram nesse mundo e têm a oportunidade de assumir, sob a perspectiva do aluno, um papel de colaboradores no processo de aprendizagem. Com o emprego não apenas de jogos digitais, mas de multimídias e outros recursos interativos, os professores oferecem aos alunos os recursos esperados por eles em sala de aula. Nesse momento, a escola e a educação se libertam do modelo tradicional utilizado há vários séculos e se aproximam das expectativas da nova geração de alunos. Quais as vantagens, para o processo educativo, da utilização dos jogos digitais em sala de aula? Ígor Guadalupe Coelho, diretor executivo da Jungle Digital Games

Os jogos digitais permitem que os professores lancem mão de diferentes estratégias para contribuir com o processo de aprendizagem. Eles utilizam recursos audiovisuais, além de permitir a simulação e manipulação de objetos em ambientes virtuais, o que não seria possível no mundo real. Por exemplo, através de jogos digitais e animações, é possível visualizar fenômenos naturais, reações químicas e físicas que podem depender de grandes investimentos ou grandes estruturas, e que dificilmente são reproduzidos no ambiente real. Como a abordagem de conteúdos por meio de um jogo digital facilita o trabalho do professor e o entendimento do aluno? Utilizando jogos digitais, os professores conseguem maior engajamento dos alunos em sala de aula, retêm a atenção para os conteúdos trabalhados e, confor-

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Linha Direta RevistaRevista Linha Direta


me dito anteriormente, passam a fazer parte do mundo da atual geração de alunos. Estes, por sua vez, se sentem motivados e desafiados ao jogar. Não é difícil ver crianças e jovens aprendendo centenas de códigos e estratégias para vencer obstáculos e desafios. No contexto dos jogos educacionais, os códigos e estratégias utilizados são necessários para a resolução de desafios pedagógicos, e isso contribui para o aprendizado.

anos. Dá para alcançar a todos, se desenvolvermos jogos atrativos para as diferentes faixas etárias e atendendo a diferentes demandas dos alunos/jogadores. Os jogos digitais podem ser utilizados na Educação Infantil, para demonstração de semelhanças de objetos do cotidiano com certas figuras geométricas, e com alunos do Ensino Superior que necessitem adquirir conhecimentos acerca de fundamentos de física, por exemplo.

A motivação é fundamental durante o processo de aprendizagem. O aluno precisa ter interesse pelo que está aprendendo, e os jogos digitais são uma estratégia eficaz para despertar seu interesse.

Atualmente, na Jungle, os produtos estão focados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I. Estamos trabalhando em uma proposta para avaliação e acompanhamento do progresso do aluno através de jogos digitais.

Além disso, a retenção do conhecimento é duradoura. Se indagarmos um jovem sobre seu jogo preferido há 10 anos e as estratégias que ele utilizava para vencer os desafios, não nos surpreenderemos ao obter respostas claras e precisas sobre esse jogo. E é isso o que esperamos dos jogos educacionais: que os alunos consigam ter uma experiência prazerosa e que o conhecimento seja absorvido naturalmente.

A Jungle está desenvolvendo, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2012, atividades lúdicas educacionais destinadas a portadores de necessidades especiais, síndromes de Down, de Williams e autismo. Como será esse material?

Além do conteúdo, que habilidades podem ser desenvolvidas no aluno durante o trabalho com os jogos educativos digitais? Os jogos digitais podem também estimular e desenvolver habilidades motoras, o raciocínio lógico e o reflexo dos jogadores. Os jogos podem ser utilizados em qualquer nível de ensino? Sim. A média de idade de jogadores de videogame hoje é de 35

Esse projeto está recebendo o apoio do CNPq para seu desenvolvimento. Temos uma equipe experiente e qualificada identificando as principais limitações apresentadas por alunos com essas síndromes para que possamos utilizar estratégias nos jogos e atividades lúdicas que minimizem tais limitações. Se um aluno com síndrome de Williams, por exemplo, possui gosto para música, iremos utilizar instruções musicais. Se o aluno com autismo possui dificuldades de atenção, utilizaremos leves contrastes de cores e chamadas em áudio para reter a atenção dele. Lançaremos um portal online com diversas atividades lúdicas específicas para esses alunos.

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Educação para o século XXI A Jungle é uma empresa que, desde 2007, oferece ao mercado soluções inovadoras no segmento de Tecnologias Educacionais. Iniciou suas atividades na incubadora de empresas da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e hoje está se preparando para fazer parte do Parque Tecnológico de Viçosa (Tecnoparq) como empresa residente. Conta com uma equipe multidisciplinar formada por cientistas da computação, pedagogos, especialistas em psicopedagogia, psicólogos, além de designers, desenhistas e modeladores 3D. Atuando principalmente na produção de jogos educacionais, a ­Jungle tem como carro-chefe a tecnologia educacional denominada O mito da caverna, que mescla as características dos jogos tradicionais através de um jogo de aventura 3D com um sistema de acompanhamento pedagógico que permite ao professor acompanhar o desempenho e progresso do aluno. Na perspectiva do aluno, O mito da caverna é um jogo de aventura com imagens. Sob os olhares do professor, é uma ferramenta pedagógica que lhe permite não só acompanhar, mas também chamar a atenção dos alunos e oferecer a eles algo interessante e de acordo com suas expectativas. O nome O mito da caverna é uma analogia à alegoria das cavernas de Platão, que reflete sobre a necessidade de o homem se libertar de “correntes”, da inércia, para obter novos conhecimentos. Sempre baseados nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os produtos desenvolvidos pela Jungle se tornam aplicáveis em todo o território nacional. A empresa foi contemplada, em três oportunidades, por editais de agências de fomento como CNPq e Finep, que incentivam a produção de tecnologias educacionais. É parceira do Laboratório de Multimídias Interativas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Sudeste de Minas Gerais – Campus Rio Pomba, que desenvolve pesquisas a respeito de novas tecnologias, como realidade aumentada, realidade virtual e aplicações para dispositivos móveis. Além de O mito da caverna, a Jungle possui um produto destinado à Educação Infantil, chamado Gutinho no espaço; está desenvolvendo atividades lúdicas educacionais destinadas a portadores de necessidades especiais – síndromes de Down, de Williams e autismo, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2012; e iniciou a produção de livros digitais, aproveitando as oportunidades apresentadas pelo governo e as movimentações do mercado educacional, que tende a investir em novas tecnologias nos próximos anos.

Prêmios O mito da caverna recebeu, em outubro do último ano, o prêmio de melhor jogo educativo no festival de jogos da Brasil Game Show, a maior feira de games da América Latina. Saiba mais em www.jungledigitalgames.com.br  Revista Linha Direta


ações de cidadania

Fortalecimento e participação

O território

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nstalado em um clube municipal do distrito da Brasilândia, na periferia da capital paulista, o Espaço Criança Esperança de São Paulo (ECE-SP) desenvolve seu trabalho em dois eixos estruturantes: o atendimento direto às crianças, adolescentes e jovens da comunidade e a articulação e mobilização comunitária. Em visita ao ECE-SP, a reportagem da Linha Direta conheceu os projetos desenvolvidos pela equipe gestora do Espaço, composta por profissionais do Instituto Sou da Paz, em parceria com a UNESCO, com a Rede Globo e com a Prefeitura de São Paulo. Nesta e na próxima edição da Revista, serão apresentadas várias ações de cidadania, com o objetivo de servirem de exemplo e inspiração para os leitores. Revista Linha Direta

A comunidade da Brasilândia é formada por 260 mil habitantes. Segundo a coordenadora geral do ECE-SP, Beatriz Miranda, essa não é uma comunidade selecionada com delimitador territorial pequeno; por isso, o Espaço desenvolve um projeto de articulação e mobilização que tem como objetivo impactar a comunidade, desenvolvendo um trabalho mais amplo, para que a atuação do Criança Esperança vá além do atendimento direto. “Ainda que façamos o maior número possível de atendimentos dentro do Espaço, não conseguimos alcançar um percentual significativo de pessoas, capaz de provocar uma mudança cultural na Brasilândia e produzir o impacto social esperado”, afirma a coordenadora, ressaltando que o trabalho interno dá resultados positivos de

impacto, sim, mas de forma mais restrita. Nessa direção, todo o trabalho desenvolvido pelo ECE-SP pressupõe uma ação de intervenção comunitária e busca influenciar políticas públicas. Beatriz revela que essa linha de atuação vai ao encontro do trabalho desenvolvido pelo Instituto Sou da Paz, instituição que coordena o Espaço. “A ONG tem um viés muito forte em segurança pública e prevenção à violência por meio da promoção da cultura de paz e da inclusão social”, afirma ela, justificando o direcionamento dos projetos do Criança Esperança, em São Paulo.


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ECE-SP promove ações de intervenção comunitária e de influência em políticas públicas

Caminhada pela Brasilândia promovida pelo grupo Atos de Paz

Brincadeira de Criança Espaços de convivência O ECE-SP está inserido numa área importante da região da Brasilândia, o Centro Esportivo Oswaldo Brandão. Conta Beatriz que o Criança Esperança promove a utilização do clube de forma democrática e pacífica. “O objetivo é a apropriação do espaço, mostrando para a comunidade outras referências culturais e sociais”. Nas periferias, os espaços públicos às vezes são palco de ações de violência. No clube onde está o ECE-SP, podem ser desenvolvidas várias ações comunitárias, com caracteres diferentes, mas que preservem a convivência, a diversidade e o respeito. O trabalho externo realizado pelo ECE-SP é bastante amplo e tem

dois focos de atuação: na comunidade e com gestores de políticas públicas. Segundo Adriana Toledo, coordenadora de articulação e mobilização comunitária, com a comunidade são pensadas ações de interesse comum que promovam seu fortalecimento. “Essas ações podem ser tanto no clube como no entorno, com o apoio do ECE-SP”, diz, ressaltando que sempre que possível o Espaço dialoga com os grupos sobre a importância de estar em um espaço aberto e público, de convivência familiar e de respeito.

O ECE-SP conta com um grupo de voluntários, chamado Sou Capaz, formado por pais de educandos, ex-educandos e moradores da comunidade interessados em promover ações na Brasilândia. “Esse grupo é uma forma de estimular a participação de outras pessoas”, diz Adriana. Segundo ela, a Brasilândia é um local onde a mobilização não é tão simples, por uma questão geográfica e de contexto histórico de ocupação. Um dos destaques do trabalho realizado pelo grupo de voluntários foi o evento Brincadeira de Criança, em outubro de 2010, que teve como objetivo desenvolver atividades em uma das ruas da comunidade, chamada Travessa de Itaipava. “O ECE-SP deu todo o suporte necessário para a orRevista Linha Direta


Assessoria de comunicação ECE-SP

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Evento Brincadeira de Criança na Travessa de Itaipava

ganização, promovendo reuniões mensais com os moradores e ajudando a pensar o formato do evento”, revela Adriana, ressaltando que esse não era um evento do Criança Esperança, mas da comunidade, e que contava com todo o apoio do projeto. Paralelamente, o ECE-SP mobilizou instituições parceiras que compõem um grupo de atuação na comunidade chamado Atos de Paz. Desse grupo participam, além do Criança Esperança, escolas municipais, centros de juventude, centros de crianças e adolescentes, entre outras instituições que, anualmente, realizam ações de sensibilização à cultura de paz. “Em 2010, esse grupo promoveu a segunda caminhada saindo de uma escola próxima ao clube, entregando panfletos, carregando cartazes e faixas. Todo o material foi criado pelas crianças, chamando a atenção para o tema”, descreve Revista Linha Direta

Adriana, completando que a caminhada terminou na Travessa de Itaipava, onde estava acontecendo o evento Brincadeira de Criança. “Foi um dia inteiro de atividades, pensadas no resgate de brincadeiras de rua, como amarelinha, por exemplo. A comunidade se organizou, juntou dinheiro, contratou barraquinhas de batata frita, de algodão-doce, de pipoca”, lembra. Ainda nesse mesmo dia, um dos educandos do ECE-SP articulou grafiteiros que moram na região da Travessa de Itaipava para participarem com pinturas nas fachadas das casas, revitalizando a rua como um todo, enquanto as crianças brincavam. Coletivos jovens A articulação com grupos juvenis da comunidade da Brasilândia é mais uma ação de destaque do

Espaço Criança Esperança de São Paulo. O trabalho é desenvolvido com jovens articulados, que necessitam de apoio para suas ações, ou com grupos recém-formados, que precisam aprender a se organizar. “Ao reunir os jovens, eles propõem eventos e ações no clube, apoderando-se do espaço, num exercício de autonomia e de cidadania”, explica Beatriz Miranda, completando que uma das diretrizes do projeto de articulação e mobilização é fazer com que os grupos a partir dessas experiências consigam construir seus projetos de vida. Douglas Gomes dos Santos, assistente da área de atendimento direto da parte de juventude do projeto, informa que, desde que começaram a ser desenvolvidas as ações no ECE-SP, percebeu-se a existência de vários grupos de jovens que se juntavam por interesses comuns, e desenvolviam diversas ações na Brasilândia, tanto esportivas quanto culturais. “Essas pessoas não articula-


Assessoria de comunicação ECE-SP

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Encontros da Juventude no ECE-SP

vam em redes, as ações eram isoladas”, afirma Douglas, dizendo que, a partir desse diagnóstico, o ECE-SP mapeou esses grupos e começou a organizar, dentro do Espaço, momentos de diálogo entre eles. Como fruto desse trabalho, os jovens vêm promovendo encontros culturais e esportivos. “Já realizamos seis Encontros da Juventude, sempre com o intuito de envolver o máximo de grupos com diversidade de estilos e interesses”, explica Douglas, que ressalta que um dos trabalhos do ECE-SP é passar para os grupos de jovens as noções de organização, apoiando e incentivando a participação também em eventos públicos. Parceiros públicos Por estar dentro de um clube esportivo municipal, por muitos anos o ECE-SP dialogou com o poder público para que as mesmas

políticas públicas que haviam sido implantadas em outros espaços municipais de esporte fossem levadas para lá. “Mesmo o clube tendo a presença do Criança Esperança, sob a gestão de uma ONG, era necessário fazer uma direção integrada”, explica Beatriz. Hoje, o ECE-SP tem um coordenador ligado à Prefeitura, que participa de todas as decisões da gestão do Espaço. Além disso, o clube conta com uma política pública da cidade de São Paulo, chamada Clube Escola, que possui suas próprias oficinas, organizadas por meio de licitações da Prefeitura. “As licitações foram feitas depois de considerada a posição da coordenação do ECE-SP, que, além de contribuir na parte programática da iniciativa, também opinou em horários e espaços”, diz Beatriz, informando que o papel do ECE-SP é promover o alinhamento pedagógico das atividades para que, quando se falar em nome do Espaço, seja passada uma única imagem positiva.

Existem também servidores públicos trabalhando no clube, como alguns técnicos de atividades e o pessoal da recepção, por exemplo. “Todos devem levantar a mesma bandeira e se sentir respeitados. O Criança Esperança não chegou para substituí-los, mas para trabalhar junto”, analisa Beatriz, dizendo que essa é uma característica muito forte do Instituto Sou da Paz: a de não substituir o poder público, e sim atuar em parceria com ele. Outra importante parceira do ECE-SP é a Subprefeitura Freguesia/Brasilândia. “Por uma questão de proximidade com a realidade local, ela consegue dialogar melhor sobre os problemas da comunidade do que a Secretaria Municipal de Esportes, que está distante do território e tem de atender a mais de 140 clubes. A Subprefeitura conhece os problemas da região e comunga da Revista Linha Direta


vontade do ECE-SP de ajudar a diminuir a vulnerabilidade da região”, explica a coordenadora do Espaço. O gabinete do prefeito também está aberto às demandas mais complexas do Espaço Criança Esperança. Há 5 anos, por exemplo, está sendo negociada uma reforma estrutural completa no clube esportivo. “Atualmente não dispomos de instalações adequadas para as aulas. As atividades são realizadas em adaptações feitas no vestiário do clube. Mas a reforma será feita”, comemora Bea­triz, dizendo que a licitação da obra já foi realizada e que está prevista uma injeção significativa de recursos para a reforma ainda em 2012. Políticas públicas O outro foco de atuação da área de articulação e mobilização é o trabalho desenvolvido com os Revista Linha Direta

Beatriz Miranda, coordenadora geral do ECE-SP

gestores das políticas públicas da Subprefeitura Freguesia/Brasilândia. “Há 5 anos, o ECE-SP propôs a criação do Grupo de Trabalho Intersetorial Freguesia/ Brasilândia (GTI), com o objetivo de influenciar políticas públicas”, diz Adriana, coordenadora de articulação e mobilização, que explica que o GTI é um espaço para discussão em torno das melhores formas de atendimento a crianças e adolescentes, suas famílias e os encaminhamentos para os atendimentos necessários. “Nesse grupo não são discutidos casos, são pensadas as gestões das políticas públicas, uma forma de olhar os atendimentos básicos de forma integrada”, afirma Adriana Toledo. Como resultado dessas discussões, foi construído um mapa de georreferenciamento dos serviços da rede de proteção da Freguesia e da Brasilândia. “Essa ferramenta foi montada utilizando-se o Google Maps e está acessível no site da Subpre-

Valéria Araújo

Valéria Araújo

Assessoria de comunicação ECE-SP

Adriana Toledo, coordenadora de articulação e mobilização comunitária

Douglas dos Santos, assistente da área de atendimento direto da parte de juventude

feitura”, conta Adriana, ressaltando que o desafio é fazer com que os técnicos dos serviços públicos e os gestores dos projetos sociais se apropriem dessa ferramenta cada vez mais. “O importante é que as instituições e os órgãos públicos entendam a incompletude do seu próprio atendimento e encaminhem os atendidos para outros parceiros, de preferência que atendam na própria comunidade, para facilitar o acesso para os moradores”, analisa Adriana. Em 2012, será feita uma atualização do mapa de georreferenciamento e na formação dos técnicos para a utilização da ferramenta. “É um trabalho de formiguinha, de estimular a acessar o mapa, de encaminhar as famílias a partir do CEP residencial”, ressalta Adriana, dizendo, ainda, que outro desafio para este ano é a construção do fluxo de atendimento. “Uma coisa é todos visualizarem as opções


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Grupo de voluntários Sou Capaz

disponíveis; outra é fazer com que as instituições e os órgãos dialoguem entre si”, explica. Grupo gestor A gestão do ECE-SP é feita de forma casada. “O Instituto Sou da Paz, a UNESCO, a Rede Globo e a Prefeitura de São Paulo, juntos, fazem a gestão do ECE-SP”, conta Beatriz, explicando que esses são os quatro pilares que compõem o projeto. Os principais parceiros discutem conjuntamente os caminhos a serem percorridos. “Os parceiros do ECE-SP são muito acessíveis e presentes”, comenta a coordenadora do Espaço, lembrando que existem casos de projetos sociais que encontram dificuldades em dialogar com parceiros, o que não acontece com o Espaço Criança Esperança. A UNESCO, segundo Beatriz, é uma parceira que procura potencializar as ações do Espaço, além de for-

que, a partir desses resultados, é possível corrigir rumos.” necer as diretrizes pedagógicas, subsidiando a atuação do ECE com temas que devem ser abordados, sempre trabalhando referências importantes, como cultura de paz e não violência. “Além disso, a Organização promove possibilidades de trocas de tecnologias sociais, como, por exemplo, encontros de formação entre os quatro Espaços Criança Esperança, quando é possível compartilhar experiências que nos alimentam nas construções de conhecimento”, explica, dizendo que a UNESCO exerce também um importante papel de articuladora das grandes parcerias institucionais, necessárias à realização de ações importantes para o ECE-SP. Como novidade para 2012, Beatriz destaca que, em mais uma ação assertiva, a UNESCO está promovendo uma avaliação dos Espaços Criança Esperança. “Ser avaliado é um ponto muito importante para qualquer projeto social, por-

Outra parceira essencial na gestão do Criança Esperança é a Rede Globo. O ECE-SP tem procurado pautar positivamente a Brasilândia junto ao jornalismo da emissora, ou seja, tem destacado as produções culturais da região, proporcionando visibilidade no cenário municipal, o que tem gerado uma resposta significativa da comunidade. O Espaço Criança Esperança de SP mostra que a parceria de uma empresa privada, um organismo internacional, uma organização não governamental e o poder público, a união de esforços de diferentes naturezas, pode produzir resultados transformadores na vida de muitos cidadãos brasileiros. Na próxima edição da Revista, será apresentado o trabalho de atendimento direto realizado pelo ECE-SP, com depoimentos de alguns educandos.  Revista Linha Direta


espaço ibero-americano

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Educación en Paraguay / Luis Alberto Riart cuenta cómo es la educación en Paraguay y cuáles son los planes para alcanzar las Metas 2021

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n conmemoración al Bicentenario de la Independencia del Paraguay, que ocurrió en el año de 2011, el Ministerio de Educación y Cultura realizó una serie de actividades. Una de ellas fue recibir, en el mes de septiembre, la XXI Conferencia Iberoamericana de Ministros de Educación, evento que se realiza anualmente, promovido por la Organización de los Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI) y que contó con la cobertura de la Revista Linha Direta. El anfitrión del encuentro fue Luis Alberto Riart, ministro de Educación y Cultura en el período de 2008 a 2011. En la oportunidad, Riart mostró cómo es la educación en Paraguay y cuáles son los planes del país para llegar en las Metas Educativas 2021. A continuación, un resumen de lo más importante que resaltó el ministro en su discurso. El país El Estado observa regionalmente las necesidades de las poblaciones en los aspectos económico, jurídico y estructural. Está siendo ahora investigado, por ejemplo, el impacto de las migraciones, y se percibe que Iberoamérica es un territorio en movimiento, con profundas desigualdades económicas y sociales. Es preciso tener acciones para consolidar modelos, por eso, hay un hermanamiento con los países vecinos, buscándose una reestructuración con derechos y alianzas estratégicas para mejorar la calidad y la dignidad de la vida. En otras épocas no se miraba la relación sur-sur, se veían otros tipos de relaciones. En el pasado, en Paraguay, había una política autoritaria, con una economía subordinada al poder político que regía los planes educativos. Es importante afirmar: dictadura nunca Revista Linha Direta

Álvaro Marchesi, secretario general de la OEI, y Luis Alberto Riart, ministro de Educación y Cultura en el período de 2008 a 2011 // Álvaro Marchesi, secretário-geral da OEI, e Luis Alberto Riart, ministro da Educação e Cultura no período de 2008 a 2011


/ Educação no Paraguai Luis Alberto Riart conta como é a educação no Paraguai e quais são os planos para alcançar as Metas 2021

MEC Paraguay

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m comemoração ao Bicentenário da Independência do Paraguai, que ocorreu no ano de 2011, o Ministério da Educação e Cultura realizou uma série de atividades. Uma delas foi receber, no mês de setembro, a XXI Conferência Ibero-americana de Ministros da Educação, evento que se realiza anualmente, promovido pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), que contou com a cobertura da Revista Linha Direta. O anfitrião do encontro foi Luis Alberto Riart, ministro da Educação e Cultura no período de 2008 a 2011. Na oportunidade, Riart mostrou como é a educação no Paraguai e quais são os planos do país para alcançar as Metas Educativas 2021. A seguir, os pontos mais importantes, ressaltados pelo ministro em seu discurso. O país O Estado observa regionalmente as necessidades da população nos aspectos econômico, jurídico e estrutural. Está sendo investigado agora, por exemplo, o impacto das migrações, e percebe-se que a Ibero-América é um território em movimento, com profundas desigualdades econômicas e sociais. Ações são necessárias para consolidar modelos, por isso, há uma interação com países vizinhos, buscando uma reestruturação com direitos e alianças estratégicas para melhorar a qualidade e a dignidade de vida. Em outras épocas não havia foco na relação sul-sul, mas sim em outros tipos de relações. No passado, no Paraguai, havia uma política autoritária, com uma economia subordinada ao poder político que regia o planejamento educacional. É importante Revista Linha Direta


más, desaparecidos nunca más, totalitarismo nunca más, para sentir el compromiso y tener una nueva lectura de la historia, absolutamente diferente y crítica, pero además práctica.

Nuevas tecnologías ayudan mucho, sobretodo redes sociales, canales educativos, lo que genera nuevas prácticas. El modelo de una computadora por alumno, una computadora por docente, los modelos de los laboratorios, el modelo de las Tecnologías de la Información y la Comunicación (TICs) en clase deben servir para mejorar la calidad educativa. Son necesarias herramientas de liberación y de expansión – esto es un desafío que, en otros tiempos, se llamó enciclopedia; hoy, se puede llamar página web.

El país busca la recuperación de la democracia participativa a través del desarrollo, de un Estado sensible con las problemáticas de su pueblo, eficiente y efectivo, y ese no es solo un tema académico, o retórico, o político, sino una necesidad social.

Hoy existe una división en los periodos de estudios de formación para los niños, y es así desde el siglo XIX. Pero, es importante comenzar a pensar en trayectorias que tengan que ver con la educación a largo de toda la vida. Hay que potenciar la primera infancia, pero también hay que hacerlo con los adultos que quieren volver a formarse o que quieren seguir estudiando.

... se percibe que Iberoamérica es un territorio en movimiento, con profundas desigualdades... // ... percebe-se que a Ibero-América é um território em movimento, com profundas desigualdades... Paraguay tenía problemas educacionales históricos. El sistema educativo tenía 1,5 millón de alumnos, y solamente 500 mil recibían una canasta básica; hoy, 100% de los alumnos reciben, con el mismo presupuesto de antes. De los 8.500 establecimientos educativos del país, solamente 655 estaban en buenas condiciones, y hoy, ya están reparados más del 50%. Los maestros tenían un beneficio por hijo, pero ninguno lo había cobrado; hoy, 60 mil maestros reciben este beneficio. Antes, las capacitaciones se hacían una vez por año, y básicamente con los mismos estándares; ahora, la escuela pública lo hace una vez al mes.

Entonces, existen modelos, pero se necesitan presupuestos y, en tiempos de crisis económica, es preciso ser creativo para impulsar nuevas estrategias. Paraguay llevó tres años para formular políticas que tienen que ver con un canal educativo, con un centro de investigación, con la resignificación de la educación media, con la educación agrícola y agropecuaria.

Esas conquistas fueron hechas por una sociedad conservadora, con una sola visión del mundo, y muchas veces le costaba liberarse de esa forma de vida, ya que fueron 30 años de dictadura.

Proyectos educativos En la educación, no se desea reemplazar actores sociales, ni a la familia, ni a los políticos, ni a los académicos, sino que se busca interactuar con ellos, en una pedagogía liberadora, para una sociedad justa, equitativa, donde se garanticen los derechos de todos los ciudadanos. Revista Linha Direta

© Helder Almeida / Photoexpress

En el año de Bicentenario, es necesario seguir afianzando la segunda independencia del Paraguay, que requiere una educación iberoamericana con consistencia, con solidez, y que piense en los grandes problemas del país y en grandes soluciones para ellos.


afirmar: ditadura nunca mais, desaparecidos nunca mais, totalitarismo nunca mais, para sentir o compromisso e ter uma nova leitura da história, absolutamente diferente e crítica, mas também prática. O país busca a recuperação da democracia participativa através do desenvolvimento, de um Estado sensível às problemáticas de seu povo, eficiente e efetivo, e esse não é apenas um tema acadêmico, ou retórico, ou político mas uma necessidade social. A educação no Paraguai tinha problemas históricos. O sistema educacional tinha 1,5 milhão de alunos, e somente 500 mil recebiam cesta básica; hoje, 100% dos alunos a recebem, com o mesmo orçamento de antes. Dos 8.500 estabelecimentos educacionais do país, somente 655 estavam em boas condições, e hoje, mais de 50% já estão reparados. Os professores tinham um benefício por filho, mas ninguém o havia cobrado; hoje, 60 mil professores recebem esse benefício. Antes, os treinamentos eram feitos uma vez por ano, e basicamente com os mesmos padrões; agora, a escola pública realiza treinamentos uma vez por mês. Essas conquistas foram feitas por uma sociedade conservadora, com uma única visão de mundo, e

muitas vezes era difícil libertar-se dessa forma de vida, uma vez que foram 30 anos de ditadura. No ano do Bicentenário, é necessário seguir consolidando a segunda independência do Paraguai, o que requer uma educação ibero-americana com consistência, solidez, e que pense nos grandes problemas do país e em grandes soluções para eles. Projetos educacionais Na educação, não se pretende substituir atores sociais, nem a família, nem os políticos, nem os acadêmicos, mas sim interagir com eles, em uma pedagogia libertadora, para uma sociedade justa, equitativa, onde se garantam os direitos de todos os cidadãos. Novas tecnologias ajudam muito, sobretudo redes sociais, canais educativos, o que gera novas práticas. O modelo de um computador por aluno, um computador por docente, os modelos dos laboratórios, o modelo das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) em classe devem servir para melhorar a qualidade educacional. São necessárias ferramentas de liberação e expansão – um desafio que, em outros tempos, se chamou enciclopédia; hoje, pode-se chamar página web.

Nuevas tecnologías ayudan mucho, sobretodo redes sociales, canales educativos, lo que genera nuevas prácticas. // Novas tecnologias ajudam muito, sobretudo redes sociais, canais educativos, o que gera novas práticas. Hoje existe uma divisão nos períodos de estudos de formação para as crianças, e é assim desde o século XIX. Porém, é importante começar a pensar em trajetórias relativas à educação ao longo da vida. É preciso potencializar a primeira infância, mas também fazê-lo com os adultos que querem voltar a se formar ou continuar estudando. Existem, então, modelos, porém é necessário haver orçamento e, em tempos de crise econômica, é preciso ser criativo para impulsionar novas estratégias. O Paraguai demorou três anos para formular políticas relacionadas a um canal educativo, com um centro de investigação, com a redefinição da educação média, com a educação agrícola e agroRevista Linha Direta


Fueron invertidos 8 millones de dólares en asistencia técnica.

El modelo que se busca se debe consolidar como un papel importante para la universidad, los centros de investigación y para los gerentes y lideres, que deben generar redes que permitan compartir experiencias mutuas.

Sectores económicos creen que, en tiempos de crisis, se debería recortar la inversión en la educación, pero, en realidad, en Paraguay es necesario llegar al mínimo del 7% en el presupuesto nacional. Hasta 2011, el país era el único que no tenía educación media gratuita y obligatoria, y esa información convenció al parlamento a liberar fondos para invertir en el área educativa.

El error cometido en los años 90 fue no apostar en la formación de los docentes, con la responsabilidad de construir nuevos ambientes y contextos de aprendizaje para la educación. Los organismos internacionales tienen de replantearse el modelo de interacción con los sistemas educativos, con las experiencias pedagógicas, y existe un buen modelo que la OEI viene llevando adelante, que son las Metas Educativas 2021. Estos tipos de experiencias son las que sirven y ayudan a seguir evolucionando. Es importante conocer organizaciones como la OEI, que ayudan a lograr y concretar el ideal de la pedagogía latinoamericana. 

... es necesario hacer evaluaciones de calidad en los procesos de aprendizaje, pensados y realizados para la región.// ... é necessária a avaliação da qualidade no processo de aprendizagem, concebido e realizado para a região. Es imprescindible, también, que se asuma la tarea de recuperar la escuela pública, la universidad pública, la calidad, la pertinencia y la equidad. La oferta pública tiene de recuperar la calidad para que un ciudadano tenga el derecho de elegir entre la escuela pública y otra oferta privada, no porque una es mala y otra es buena, sino porque las dos son buenas. Esa es una verdadera libertad pedagógica. Metas Educativas 2021

Hay grandes pedagogos en Iberoamérica y, por eso, sin eludir ninguna evaluación internacional, es necesario hacer evaluaciones de calidad en los procesos de aprendizaje, pensados y realizados para la región. Es necesaria la construcción de nuevas ofertas de políticas educativas integrales, con herramientas que tengan calidad y cantidad. Los maestros necesitan una nueva propuesta de formación, hay una gran cantidad de docentes que están en servicios; por lo tanto, el desafío es fortalecer la formación inicial para que el trabajo les traiga buenas condiciones económicas y dignidad. Revista Linha Direta

© Jacek Chabraszewski / Photoexpress

Es importante generar la discusión educativa en Iberoamérica para saberse cuáles son los problemas y las problemáticas que afectan los sistemas educativos y marcar líneas de acción y de reflexión para las próximas décadas, a través de la construcción de propuestas reales para mejorar la calidad educacional.


pecuária. Foram investidos 8 milhões de dólares em assistência técnica. Setores econômicos creem que, em tempos de crise, dever-se-ia reduzir o investimento em educação, mas, na realidade, no Paraguai é necessário chegar ao mínimo de 7% no orçamento nacional. Até 2011, o país era o único que não tinha educação média gratuita e obrigatória, e essa informação convenceu o parlamento a liberar fundos para investir na área educativa. É imprescindível, também, que se assuma a tarefa de se recuperar a escola pública, a universidade pública, a qualidade e a relevância. A oferta pública tem de recuperar a qualidade para que o cidadão tenha o direito de escolher entre a escola pública e outra oferta privada, não porque uma é ruim e outra é boa, mas sim porque as duas são boas. Essa é uma verdadeira liberdade pedagógica.

Metas Educativas 2021 É importante gerar a discussão educacional na Ibero-América para se saber quais são os problemas e as problemáticas que afetam os sistemas educacionais e marcar linhas de ação e reflexão para as próximas décadas, através da construção de propostas reais para melhorar a qualidade educacional. Existem grandes pedagogos na Ibero-América e, por isso, sem evitar qualquer avaliação internacional, é necessária a avaliação da qualidade no processo de aprendizagem, concebido e realizado para a região. É necessário construir novas ofertas de políticas educacionais abrangentes, com ferramentas que tenham qualidade e quantidade. Os professores precisam de uma nova proposta de formação, há um grande número de professores em serviço; portanto, o desafio é fortalecer a formação inicial para que o trabalho lhes traga boas condições econômicas e dignidade. O modelo que se busca pretende se consolidar como um importante papel para a universidade, centros de pesquisa e para os gestores e os líderes, que devem criar redes de intercâmbio de experiências mútuas. O erro cometido na década de 90 foi não apostar na formação de professores, com responsabilidade para a construção de novos ambientes e contextos de aprendizagem para a educação.

Es importante conocer organizaciones como la OEI, que ayudan a lograr (...) el ideal de la pedagogía latinoamericana.// É importante conhecer organizações como a OEI, que ajudam a alcançar (...) o ideal da pedagogia latino-americana. Os organismos internacionais têm de repensar o modelo de interação com os sistemas de ensino, com as experiências pedagógicas, e existe um bom modelo que a OEI vem levando adiante, que são as Metas Educativas 2021. Esses tipos de experiências são aquelas que servem e ajudam a continuar a evoluir. É importante conhecer organizações como a OEI, que ajudam a alcançar e realizar o ideal da pedagogia latino-americana.  Revista Linha Direta


espaço ibero-americano

espacio iberoamericano

Innovación en la gestión educativa // Inovação na gestão educativa R

umbo a una gestión educacional innovadora, con pertinencia y calidad: eso es el tema de la ponencia del maestro argentino Dr. ­Norberto Fernández Lamarra, director de post graduación de la Universidad Nacional de Tres de Febrero (­UNTREF) y vicepresidente del Consejo Mundial de las Sociedades de Educación Comparada (WCCES), que será realizada en el II Congreso Internacional de Gestión Educacional, día 28 de marzo, en el Hotel Maksoud Plaza, en São Paulo/SP. El evento está integrado al X Congreso Brasileño de Gestión Educacional (GEduc 2012). Vea a seguir la entrevista que el ponente concedió a Linha Direta. ¿Cómo describiría usted la educación latinoamericana hoy en día? La educación en América Latina registra avances y también algunos estancamientos. Es necesario conocer y analizar esos avances – las “buenas prácticas” –, considerar sus posibilidades de aplicación y llevarlas adelante si se registran condiciones adecuadas para ello. Todos los países – por supuesto, también Brasil – tienen aspectos posibles de analizar para ayudar a mejorar los sistemas educativos y las escuelas y otros Revista Linha Direta

a corregir. Esos intercambios contribuyen, justamente, a enriquecer esos procesos. ¿Qué innovaciones usted evalúa como esenciales para las instituciones educacionales en el mundo? ¿Cree usted que las entidades están preparadas para esos avances? Las innovaciones más importantes son aquellas que tienden al mejoramiento de la calidad y de la pertinencia de la educación y de su gestión. Un aspecto muy importante es la profesionalización y la formación específica para las funciones de dirección de las escuelas y de los sistemas educativos. Un buen docente no es, necesariamente, un buen gestor de la educación; aunque si se forma adecuadamente y se capacita en forma permanente, sus buenas condiciones para la docencia le permitirán convertirse en un buen directivo, con condiciones de liderazgo favorables. Es decir, un buen directivo también debe ser un buen líder. Lamentablemente, en muchos casos, las escuelas y los sistemas educativos no están adecuadamente preparados para la innovación. Siempre reitero que la innovación debe dejar de ser una excepción para convertirse en una práctica generaliza-


Divulgação

Norberto Fernández Lamarra, director de post graduación de la UNTREF y vicepresidente del WCCES // Norberto Fernández Lamarra, diretor de pós-graduação da UNTREF e vice-presidente do WCCES

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umo a uma gestão educacional inovadora, com pertinência e qualidade: esse é o tema da palestra do professor argentino Dr. Norberto­ Fernández Lamarra, diretor de pós-graduação da Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF) e vice-presidente do Conselho Mundial das Sociedades de Educação Comparada (WCCES), que será realizada no II Congresso Internacional de Gestão Educacional, dia 28 de março, no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo/SP. O evento está integrado ao X Congresso Brasileiro de Gestão Educacional (GEduc 2012). Confira a seguir a entrevista que o palestrante concedeu à Linha Direta. Como o senhor descreveria a educação na América Latina hoje em dia? A educação na América Latina registra avanços e também alguma estagnação. É necessário conhecer e analisar esses avanços – as “boas práticas” –, considerar suas possibilidades de aplicação e levá-las adiante, se houver condições adequadas para isso. Todos os países – inclusive o Brasil – têm aspectos que podem ajudar a melhorar os sistemas educacionais e as escolas, e outros a corrigir. Esses inter-

câmbios contribuem, justamente, para enriquecer esses processos. Que inovações o senhor avalia como essenciais para as instituições educacionais no mundo? O senhor acredita que as entidades estão preparadas para esses avanços? As inovações mais importantes são aquelas que tendem ao melhoramento da qualidade e da pertinência da educação e de sua gestão. Um aspecto muito importante é a profissionalização e a formação específica para as funções de direção das escolas e dos sistemas educacionais. Um bom docente não é, necessariamente, um bom gestor da educação; a não ser que seja formado adequadamente e que se capacite de forma permanente, suas boas condições para a docência lhe permitirão tornar-se um bom diretor, com condições favoráveis de liderança. Ou seja, um bom diretor também deve ser um bom líder. Lamentavelmente, em muitos casos, as escolas e os sistemas educacionais não estão adequadamente preparados para a inovação. Sempre digo que a inovação deve deixar de ser uma exceção para converter-se em Revista Linha Direta


da en la educación, en las escuelas y en los sistemas educativos. Desde ya, que las innovaciones deben ser evaluadas en forma permanente y deben corregirse aquellos aspectos menos positivos. Una innovación, una buena práctica, aislada, no contribuye a la mejora de las escuelas y de los sistemas educativos.

Una gestión innovadora pertinente y eficiente requiere un análisis previo de la situación, un diagnóstico, una programación estratégica adecuada, elaborada a partir de la bibliografía pertinente y del estudio de buenas prácticas, de un liderazgo democrático, que posibilite la participación de todos los actores requeridos para la innovación, metas y objetivos concretos, un seguimiento adecuado de su implementación y un proceso de evaluación permanente. Es decir, una gestión que reúna tales condiciones podrá considerarse una gestión innovadora. ¿Cómo evalúa usted la situación en Brasil delante de esas nuevas tendencias? Al igual que en otros países, Brasil tiene en ejecución programas y proyectos de carácter innovador, no siempre adecuadamente difundidos. También tiene, como ocurre en el resto de América Latina, programas obsoletos, que deberían actualizarse. Es imposible, en un país tan extenso y con tantas diferencias y desigualdades regionales, como Brasil, hacer un juicio homogéneo. Brasil debe aprovechar de sus propias buenas prácticas de gestión, estudiarlas, difundirlas y formar a los dirigentes educativos del futuro para el mejoramiento de sus instituciones y sistemas educativos. Para que la institución obtenga una gestión de calidad, ¿cuáles son los requisitos que debe tener? Una gestión de calidad debe basarse en una adecuada definición sobre qué es calidad. Eso no es un concepto único, igual para todos los sistemas y todas las instituciones, porque el concepto de calidad se complementa con el de pertinencia. La elaboración del concepto de calidad es un proceso colectivo, participativo, dirigido por quien asume el liderazgo, el que debe permitir expresarse a todos los actores. Tampoco es un concepto estático, por lo que debe estar actualizándose a medida que se avanza en el proceso de mejoramiento. Por lo tanto, para obtener una gestión de calidad debe haber una dirección, un Revista Linha Direta

© Primabild / Photoexpress

¿Cómo definiría usted una gestión innovadora? ¿Qué es esencial para su aplicación?

liderazgo democrático y actualizado profesionalmente, con capacidad de síntesis de los aportes de sus miembros, de promover el debate y los intercambios con todos los actores (profesores, especialistas, padres, estudiantes, cuando correspondiese, líderes de la comunidad etc.) y de conducir el proceso de mejoramiento y su evaluación con certeza y firmeza, todo esto en el marco de un programa flexible, con objetivos y metas claras y factibles. ¿Cuáles son las nuevas orientaciones para la gestión educacional y cómo las instituciones deben prepararse? El principal desafío para las instituciones educativas es formar a sus alumnos para desempeñarse calificadamente en la cada vez más exigente sociedad del conocimiento y de las nuevas tecnologías. Formar para un futuro todavía es difícil de predecir, pero absolutamente necesario. Por eso, los sistemas, las instituciones y sus directivos y gestores deben formarse para enfrentar esos nuevos desafíos, que se pueden sintetizar en “prever lo que todavía es difícil de predecir”. Ahora, más que nunca, la gestión de la educación y de las escuelas es un proceso difícil y desafiante. Para obtener información e inscripción para GEduc 2012, visite: www.humus.com.br/geduc 


Quais requisitos uma instituição deve ter para obter uma gestão de qualidade?

uma prática generalizada na educação, nas escolas e nos sistemas educacionais. As inovações devem ser sempre avaliadas de forma permanente, e os aspectos menos positivos devem ser corrigidos. Uma inovação, uma boa prática, isolada, não contribui para a melhora das escolas e dos sistemas educacionais. Como o senhor definiria uma gestão inovadora? O que é essencial para sua aplicação? Uma gestão inovadora relevante e eficiente requer uma análise prévia da situação, um diagnóstico, uma programação estratégica adequada, elaborada a partir de bibliografia relevante e do estudo de boas práticas, de uma liderança democrática, que possibilite a participação de todos os atores requeridos para a inovação, metas e objetivos concretos, um seguimento adequado de sua implementação e um processo de avaliação permanente. Ou seja, uma gestão que reúna essas condições poderá se considerar inovadora. Como o senhor avalia a situação no Brasil diante dessas novas tendências? Como em outros países, o Brasil tem em execução programas e projetos de caráter inovador, nem sempre adequadamente difundidos. Também tem, como ocorre no resto da América Latina, programas obsoletos, que deveriam atualizar-se. É impossível, em um país tão extenso e com tantas diferenças e desigualdades regionais, como o Brasil, fazer um juízo homogêneo. O Brasil deve aproveitar suas próprias boas práticas de gestão, estudálas, difundi-las e formar diretores educacionais do futuro para o melhoramento de suas instituições e sistemas educacionais.

Uma gestão de qualidade deve se basear em uma definição adequada do que é qualidade. Esse não é um conceito único, igual para todos os sistemas e todas as instituições, porque o conceito de qualidade se complementa com o da relevância. A elaboração do conceito de qualidade é um processo coletivo, participativo, dirigido por alguém que assuma a liderança e que permita divulgá-lo a todos os atores. Tampouco é um conceito estático, pois deve ser atualizado na medida em que se avança no processo de melhoramento. Portanto, para obter uma gestão de qualidade, deve-se ter uma direção, uma liderança democrática e profissionalmente atualizada, com capacidade de síntese dos aportes de seus membros, de promover o debate e o intercâmbio com todos os atores (professores, especialistas, pais, estudantes, quando necessário, líderes da comunidade etc.) e de conduzir o processo de melhoramento e sua avaliação com certeza e firmeza, tudo isso no marco de um programa flexível, com objetivos e metas claras e viáveis.

... un buen directivo también debe ser un buen líder. // ... um bom diretor também deve ser um bom líder. Quais são as novas orientações para a gestão educacional e como as instituições devem se preparar? O principal desafio para as instituições educacionais é formar seus alunos para um desempenho de qualidade numa sociedade cada vez mais exigente de conhecimento e de uso das novas tecnologias. Formar para o futuro, entretanto, é ainda difícil, mas absolutamente necessário. Por isso, os sistemas, as instituições e seus diretores e gestores devem se formar para enfrentar esses novos desafios, que podem ser sintetizados como “prever o que ainda é difícil de predizer”. Agora, mais do que nunca, a gestão da educação e das escolas é um processo difícil e desafiador. Para informações e inscrições para o GEduc 2012, acesse: www.humus.com.br/geduc  Revista Linha Direta


conhecimento

A Educação que podemos propor

Alexa Giovana Martins*

A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro... À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele. Jacques Delors

Revista Linha Direta

© Suprijono Suharjoto / Photoexpress

F

rente aos desafios da sociedade contemporânea, há que se pensar em uma educação que proporcione inovação a partir das múltiplas demandas e diversidades individuais dos atores envolvidos nesse processo e, sobretudo, reconhecer que a educação se faz no ato cotidiano de educar e autoeducar-se. Diante disso, vale lembrar que a essência do ser é composta por um leque multicolorido de relações que se ampliam no contexto educacional.


A educação que podemos propor perpassa o viés da afetividade, da vivência de valores, visando a entender o ser humano com suas complexidades, pois compreende que é a partir de sua essência e de experiências vividas que ele se realizará como ser completo, sujeito que aprende e troca aprendizagens. O contexto de que ora iremos tratar vem ao encontro da educação que buscamos para a formação de um cidadão capaz de se sentir inserido na sociedade da qual faz parte e, nela, fazer a diferença. Essa educação forma no aspecto cognitivo, mas não pode perder de vista o compromisso de contribuir para a realização integral desse sujeito-homem pelo qual é responsável. Ao se iniciar um novo ano letivo, definem-se conjuntamente planejamentos e ações que definirão o caminhar em prol do sucesso para o trabalho escolar, cujos protagonistas — estudantes e professores — estão em busca da construção de um conhecimento de qualidade, realmente significativo, norteado pelo saber que pressupõe uma intencionalidade para o crescimento do cidadão. Nesse cenário educacional, é imprescindível traçar metas possíveis de serem alcançadas, contando-se, ainda, com a efetiva participação da família, sem a qual o processo não se consolida por inteiro. Educar com a participação da família perpassa também a afetividade e suscita nos envolvidos o desejo de promover situações que levem diferenciais para uma sociedade que se encontra carente de ética, altruísmo e amor. Diante disso, compreendemos que a educação que buscamos fundamenta-se também nos quatro pilares da educação: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; e, finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes.

*Professora, pedagoga, especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Coordenadora pedagógica do Portal EducarBrasil www.educarbrasil.org.br Revista Linha Direta

© Galina Barskaya / Photoexpress

Os documentos oficiais que regem a Educação Básica brasileira apontam rumos que descortinam possibilidades de se trabalhar competências e habilidades como uma forma de extrapolar o contexto teórico do currículo e de, assim, garantir um saber mais atrelado à cidadania. Isso vem legitimar uma prática consciente para a formação integral do sujeito, pautada nos conteúdos a serem desenvolvidos, bem como na sensibilização de valores para a educação que podemos propor. 


intratexto

Rômulo Marinho*

A estética da R sensibilidade

esgatar a nossa capacidade de sonhar significa implementar mudanças e também realizar projeções, para assim construirmos um futuro melhor. Na escola atual como um todo, não se aprende a sonhar. De um modo geral, é ensinada a apatia social, a repetição de coisas e a reaplicação de velhos modelos. A tarefa de lidar com os alunos seria mais fácil se pais e educadores admitissem que não podem suprir tudo. No entanto, divididos entre as imperfeições humanas e a crença de que devemos passar aos jovens a imagem de pessoas fortes e bem-sucedidas, ficamos perdidos diante da rebeldia das crianças, ou mesmo da indiferença dos adolescentes. Com medo de sermos tidos como pais e/ou educadores tiranos, acabamos por abrir mão do legítimo exercício da autoridade que nos é solicitada naturalmente no processo educacional.

© Jasmin Merdan / Photoexpress

Sabemos que é fundamental definir as fronteiras entre o respeito à individualidade dos jovens e a necessidade de lhes incutir valores que levem ao exercício da liberdade com responsabilidade. Acontece que a nossa realidade se dá apenas pelo que vivenciamos e, de certa forma, não somos educados para experimentar o novo. É preciso criar urgentemente uma parceria de valores e de efetividade para sairmos do velho modelo e

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valorizarmos aquilo que o diferencia. Para isso, é necessário também nos atermos a três momentos distintos: o momento do construir, o momento do ensinar e o momento do aprender. Penso que esse modelo de parceria é apenas uma necessidade que se faz latente nesse mundo em que estamos vivendo. Nesse novo século, somos convidados a mudar o rumo da nossa própria história, e não há outra forma de apreender o que vem, senão ampliando a nossa consciência para um novo olhar, que, ao sair do velho modelo, com toda certeza irá transformar essa parceria almejada em valores e efetividade.

uma avalanche de novidades sem precedentes na história. Atravessamos uma época de profundas mudanças, incertezas e possibilidades, e, ao mesmo tempo, este se torna o momento mais importante da humanidade, pois nunca houve tanto acúmulo de conhecimento. Estamos vivendo as dores do parto de uma nova era, e assim constituímos o reflexo de uma história que fez a sua trajetória a partir do caos e da dor. A característica sistêmica da sociedade é que devemos estar cada vez mais atentos às nossas atitudes. Vivemos neste mundo pós-cartesiano, em que os princípios da incerteza e da mudança estão trazendo uma nova ordem para a humanidade.

... a sensibilidade não é emergência, é sobrevivência! Precisamos pensar: que pilar é esse que chamamos construir? O que denominamos ensinar? E que situação é essa a que queremos dar o nome de aprender? Sabemos, ainda, que os sentimentos, as ideias, os desejos, os pensamentos que compõem nossa vida interior terminarão por influenciar a dinâmica do mundo e, claro, atingirão coisas e pessoas. Mesmo munidos desse saber, continuamos a mostrar aos nossos jovens que não vale a pena o ingresso no mundo adulto, permeado por tantas obrigações e encargos. Mas, se pensarmos um pouco mais, podemos perceber que, por exemplo, o trabalho não é um peso a ser carregado até a aposentadoria. O trabalho é também um espaço de desafios, de descobertas e vitórias. Estamos nos adaptando a

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Aliás, nessa nova era não há nada que se possa olhar sem antes considerar o princípio da estética ou da sensibilidade. Diante disso, numa educação norteada por valores, ninguém ensina nada para ninguém. Trocam-se experiências pela vida. E essas experiências são completadas no dia a dia. Talvez seja esse o maior de todos os processos sociais do ser humano: o poder se completar a cada dia. Infelizmente, na maioria de nossas escolas, os programas acadêmicos e os quadros curriculares ainda são por demais segmentados. Diante dessa nova realidade, o processo educacional vem nos pedir uma cocriação. O educar precisa ser o principal processo que define nossa humanidade: o ser humano transcende seu status biológico, indo além dos instintos:

compreende, reelabora, reflete, critica, aprende, ensina e, desse modo, orienta para a busca da compreensão e transformação da realidade. O jovem precisa ser induzido, sempre, à busca por mais de uma resposta para uma mesma questão, e, ao invés de sermos vítimas do futuro e das mudanças, precisamos perceber que podemos nos apropriar de desafios cada vez maiores. Temos inteligência e conhecimento para que esse processo se realize. A estética da sensibilidade nos pede com urgência alguns desafios: o primeiro é que possamos nos apropriar da capacidade de tomar decisões diversas, e o segundo, o de adquirir a técnica, a forma pela qual percebemos a realidade fazer a diferença. Isso é urgente! Quando entendermos que a mudança de mentalidade nos trará um novo olhar, com certeza realizaremos novas escolhas. Essas escolhas nos farão refletir sobre nossa identidade e consciência terrestre. Poderemos, dessa forma, ensinar o destino planetário do gênero humano. Está aí a nossa grande oportunidade. Precisamos construir uma participação ativa na vida dos nossos jovens. É necessário estar com eles. Mas estar em plenitude e, com isso, poder construir um novo tempo. Isso é estabelecer parceria. É criar efetividade. Onde a sensibilidade não é emergência, é sobrevivência!  *Pós-graduado em Responsabilidade Social de Empresas; graduado em Pedagogia e especializado nas áreas de Teatro na Educação e Educação e Valores Humanos www.avidaemais.com.br


pró-texto

As duas pulgas e a E

xiste um consenso no meio educacional de que a escola é um ambiente diferente de outras organizações e exige de quem a administra o conhecimento de educação e das relações humanas. Isso não se discute mesmo, embora também não baste ser apenas um bom educador para ser um bom gestor.

Muitas escolas caem na armadilha da inovação pela inovação, e alguns gestores tornam-se novidadeiros, introduzindo na rotina de suas escolas uma série de boas ideias, desarticuladas entre si, mas com dificuldades para aprimorar o que já existe. Isso lembra a história das duas pulgas, contada por Max ­Geringher:

Nesse contexto, porém, existe uma resistência dos educadores aos modelos de gestão, com medo do engessamento, da perda da autonomia e da agressão à gestão democrática, que muitas vezes torna-se uma “democratite” por falta de foco, lentidão nas decisões e confusão no desempenho dos papéis, resultando nos baixos resultados de aprendizagem dos alunos – o que é o mais grave.

Duas pulgas estavam conversando, e uma disse para a outra: - Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí, nossa chance de sobrevivência quando somos percebidas é zero. É por isso que existem muito mais moscas do que pulgas no mundo: moscas voam.

A falta de um “modelo” de gestão que oriente diretores e coordenadores pedagógicos faz com que, antes de tudo, não se possa avaliar objetivamente a qualidade da gestão que está sendo praticada, uma vez que não existem parâmetros definidos para isso. Além do mais, na falta de um bom diagnóstico, o melhoramento da instituição fica também comprometido e, no planejamento do novo ano letivo, algumas atividades são criadas, como resultado da “obrigação” de inovar, inchando o calendário anual, com foco excessivo nos eventos e não nos processos.

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E elas tomaram a decisão de aprender a voar. Contrataram os serviços de uma mosca, entraram num curso intensivo e saíram voando. Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a outra: - Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas ao corpo do cachorro, e o nosso tempo de reação é menor do que a velocidade da coçada dele. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam e levantam voo rapidamente. E elas contrataram os serviços de uma abelha, que lhes ensinou a técnica do chegar-sugar-voar. Funcionou, mas não resolveu. Porque, como a primeira pulga explicou, a bolsa delas para armazenar sangue é muito pequena e, por isso,

tinham de ficar sugando por muito tempo. Conseguiam escapar, mas não estavam se alimentando adequadamente. Achavam que tinham de aprender com os pernilongos como é que eles conseguiam se alimentar com mais rapidez. E, então, um pernilongo lhes ensinou como incrementar o tamanho do abdômen. E as duas pulgas foram felizes. Por poucos minutos. Como tinham ficado muito maiores, sua aproximação era facilmente percebida pelo cachorro. E elas começaram a ser espantadas antes mesmo de conseguir pousar. Foi aí que encontraram uma saltitante pulguinha dos velhos tempos: - Ué, o que aconteceu com vocês? Vocês estão enormes! Fizeram plástica? - Pois é, nós agora somos pulgas adaptadas aos grandes desafios do século XXI. Voamos ao invés de saltar, picamos rapidamente e podemos armazenar muito mais alimento. - E por que é que vocês estão com essa cara de subnutridas? - Isso é temporário. Já nos consultamos com um morcego, que vai nos ensinar a técnica de radar. E você? - Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sacudida. Era verdade. A pulguinha estava viçosa e bem alimentada. Mas as duas pulgonas não quiseram dar a pata a torcer: - Mas você não está preocupada


gestão escolar com o futuro? Não pensou numa consultoria? - E quem disse que eu não tenho uma? Contratei uma lesma como consultora. - Hã? O que lesmas têm a ver com pulgas? - Tudo. Eu tinha o mesmo problema de vocês. Mas, ao invés de dizer para a lesma o que eu queria, deixei que ela avaliasse bem a situação e me sugerisse a melhor solução. E ela ficou ali três dias, quietinha, só observando o cachorro, tomando notas e pensando. E então a lesma me deu o diagnóstico: “Você não precisa fazer nada radical para ser mais eficiente. Sente-se no cocuruto do cachorro. É o único lugar que ele não consegue alcançar com a pata.”

Tobias Ribeiro*

4. Um olhar externo tende a contribuir muito para que enxerguemos o que o nosso olhar já viciado não nos permite perceber.

e da instituição. Resistência? Devese ter apenas aos baixos resultados por falta de foco na melhoria dos processos.

5. As ações de capacitação precisam passar por bons diagnósticos, como, por exemplo, uma adequada e objetiva avaliação de desempenho profissional.

Em tempo: estão abertas as inscrições para o Curso de Consultores em Gestão Escolar, modalidade semipresencial, com início previsto para abril de 2012. Informações pelo site www.gestaoescolardequalidade.org.br 

Por fim, todos esses aspectos podem ser favorecidos por um modelo de gestão já desenvolvido, estruturado e testado e que poderá acelerar o crescimento dos profissionais

*Gerente de Negócios da Fundação L’Hermitage e coordenador do Programa Gestão Escolar de Qualidade

Essa simples historinha nos ajuda a chamar a atenção para alguns conceitos importantes, úteis para a gestão:

© joanna wnuk / Photoexpress

1. Um bom diagnóstico é essencial para que um plano de trabalho seja eficaz e produtivo. 2. A melhoria de nossos serviços não necessariamente depende de grandes inovações, mas do reposicionamento ou alinhamento do que já fazemos. 3. Muitas coisas podem ser melhoradas em nossos serviços sem que dependam de grandes investimentos ou recursos. Revista Linha Direta

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