ESG na Indústria Capixaba 2022

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INTRODUÇÃO

Pesquisa IEL-Ufes: mudança de postura da indústria e construção de soluções •

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ESG na indústria capixaba

O quadro retratado mostra uma realidade que solicita mudanças. Acompanhar permitirá a construção de soluções para sintonizar a indústria capixaba com o que já acontece em diversas regiões do Brasil e do mundo

A relevância que temáticas como sustentabilidade, equidade de raça e de gênero e diversidade, entre outras, têm assumido na sociedade motivou o surgimento do Movimento ESG, uma sigla em inglês para designar Environmental, Social, and Governance, termo que pode ser traduzido para português como ASG (Ambiental, Social e Governança). “Idealizada pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável (PPGES), da Universidade

Federal do Espírito Santo (Ufes), com o apoio do Conselho Temático de Responsabilidade Social (Cores) e do Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), a pesquisa em tela teve por objetivo avaliar o estado da abordagem ESG na indústria capixaba. Este documento encontra-se dividido em duas partes distintas, porém complementares. A primeira delas, intitulada “ESG: empresas com propósitos mais elevados”, apresenta o que vem a ser o Movimento ESG; os antecedentes históricos; a evolução no cenário internacional e no Brasil; as dimensões ambiental, social e governança; as formas de medir as três dimensões nas empresas, denominada de métricas; as práticas ESG; bem como algumas inferências sobre o futuro desse Movimento. Na segunda parte, estão a apresentação e análise dos resultados da pesquisa com as empresas do setor industrial do Estado do Espírito Santo. O quadro retratado mostra uma realidade que solicita mudanças. Acompanhar sistematicamente esta realidade permitirá a construção de soluções para sintonizar a indústria capixaba com o que já acontece em diversas regiões do Brasil e do mundo. Como primeira iniciativa, esta pesquisa deve ser tomada como instrumento de observação da realidade. No entanto, a frequência sistemática da sua aplicação poderá garantir uma ferramenta essencial para medir tanto o volume como a intensidade das mudanças que forem se estabelecendo. A contemporaneidade e emergência do tema apontam para uma feliz iniciativa do IEL. O caminho está dado: práticas ambientalmente corretas e socialmente justas e governança com ética e responsabilidade. Basta trilhá-lo!

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ESG: EMPRESAS COM PROPÓSITOS MAIS ELEVADOS

Sede da ONU, em Genebra

1. ESG: empresas com propósitos mais elevados No ano 2000, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou um desafio às empresas de todo o mundo denominado de Pacto Global, com o objetivo de enfrentar problemas sociais em escala mundial, por meio de estratégias e ações empresariais alinhadas aos 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. Segundo a ONU, essa era a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, distribuídos em 69 redes locais, abrangendo 160 países. O nascimento oficial do ESG se deu no ano de 2004, quando o Pacto Global da ONU, com o Banco Mundial, lançou o documento Who Cares Wins (quem se importa vence), feito para provocar as 50 principais instituições financeiras do mundo sobre como

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integrar as dimensões ambientais, sociais e de governança ao mercado de capitais, servindo de estímulo para as empresas adotarem medidas que gerassem impactos positivos e ampliassem a visão sobre a sustentabilidade. Em outros termos, ESG é uma forma de se referir às práticas adotadas pelas empresas para minimizarem os seus impactos ambientais, para construir relações sociais mais justas com seus colaboradores e com a sociedade, bem como para melhorar as práticas de governança pautando-as por uma postura ética e responsável. Importante ressaltar que o G (Governança) não se refere somente à ética nos negócios, que inclui o combate às práticas de corrupção, assédios sexual e moral e racismo, entre outros, mas também à incorporação das demais

áreas da abordagem ESG à estratégia das organizações. No mercado de capitais, a sigla ESG é utilizada por investidores para identificar empresas que orientam a sua estratégia de negócio por critérios de sustentabilidade, que ao serem medidos possam revelar impactos sociais, ambientais e de governança corporativa cada vez mais positivos. Utilizada para designar um movimento de abrangência mundial, a sigla ESG pode ser nova, mas a luta por um mundo mais sustentável, justo e ético há muito tempo frequenta a agenda da sociedade global. Isso implica dizer que o Movimento ESG é apenas uma parte de um processo maior, ou seja, ele pode ter sido “registrado” em 2004, mas seus antecedentes remontam a tempos pretéritos da nossa vida social.


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A exata compreensão da relação entre a parte e o todo é critério fundamental para entendermos como uma série de eventos pode estabelecer um movimento maior e mais amplo, chegando até a constituir um fato social total, ou seja, um conjunto de eventos que se relacionam de maneira complexa criando fenômenos nos quais tudo aquilo que constitui a vida social se mistura. Nesses tipos de fenômeno, apresenta-se, ao mesmo tempo e de uma só vez, toda espécie de instituições políticas, jurídicas, morais, econômicas, entre outras (MAUSS, 1974). Se o ESG será classificado como fenômeno, só o futuro dirá; importa aqui compreender os eventos que auxiliaram a sua constituição.

1.1. ANTECEDENTES

Desde o século XIX, com o advento da Revolução Industrial, a humanidade vem se beneficiando, de modo inegável, da evolução da ciência e da tecnologia, o que proporcionou ao ser humano mais conforto, mais tempo de vida, mais agilidade nos fluxos globais de pessoas, mercadorias, informações e capitais. No entanto, visar a ganhos de produtividade com foco apenas no crescimento econômico revelou-se uma estratégia tão equivocada quanto catastrófica, por não zelar pela qualidade do ambiente nem pela saúde de todas as formas de vida. Contaminações de rios e mares, poluição do ar e do solo e vazamento de produtos químicos nocivos à saúde da vida no planeta, bem como os milhares de mortes ao longo de seguidos anos, constituíram-se no estopim para que a população e a comunidade científica pressionassem governos de todo o mundo a buscar formas de prevenção ou eliminação dos males advindos das atividades econômicas. Os quadros 1 e 2 apresentam algumas das mais trágicas catástrofes ambientais no mundo e no Brasil.

Memorial da Paz, em Hiroshima-Japão, também chamado Cúpula da Bomba Atômica pelos japoneses

QUADRO 1 - CATÁSTROFES AMBIENTAIS INTERNACIONAIS

1945

Bombas atômicas (Hiroshima e Nagasaki)

1954

Doença de Minamata

1976

Nuvem de dioxina

2 bombas nucleares lançadas pelos EUA contra o Japão, na II Guerra Mundial, mataram mais de 200 mil japoneses. Em 1 km de raio, quase todos os animais e plantas morreram.

Na ilha japonesa, animais apresentaram comportamentos estranhos. Em 1956, humanos tiveram as mesmas reações, como convulsões e perda das funções motoras. A causa era a presença de mercúrio e outros metais pesados nas águas.

Em Seveso, Itália, uma explosão em uma fábrica lançou uma nuvem de dioxina sobre a cidade. Animais começaram a morrer, e humanos tiveram feridas na pele, desfiguração, náuseas e visão turva e outros sinais e sintomas.

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1979

Three Mile Island

1984

Vazamento em Bhopal

1986

Explosão de Chernobyl

1989

Navio Exxon Valdez

1991

Queima de petróleo no Golfo Pérsico

Fonte: Jornal da Unicamp (2017).

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“Pesadelo nuclear”: falha mecânica e humana em usina nuclear na Pensilvânia lançando gases radioativos até 16 quilômetros. A população, que só foi informada dois dias depois, teve a saúde afetada.

Fábrica na Índia despejou no ar mais de 40 toneladas de gases tóxicos. Após o acidente, a empresa abandonou o local. Mais de duas mil pessoas morreram, e outras sofreram queimaduras nos olhos e pulmões.

Explosão nuclear na Ucrânia, considerada o pior acidente nuclear da história. Sua radiação era dezenas de vezes maior que a das bombas de Hiroshima e Nagasaki. Milhares perderam a vida. Florestas foram contaminadas. A Europa também foi atingida.

Petroleiro colidiu com rochas submersas no Alasca. 40 milhões de litros de petróleo contaminaram mais de 2 mil quilômetros de praias. 100 mil aves morreram, além de animais marinhos.

Saddam Hussein destruiu centenas de poços de petróleo no Kuwait, queimando mais de um milhão de litros de óleo no Golfo Pérsico. A fumaça bloqueou a luz do sol. Animais e mais de mil pessoas morreram.

Máscara de gás perto da escola na zona de exclusão de Prypiat Chernobyl, na Ucrânia

1999

Usina Nuclear de Tokaimura

2002

Navio Prestige

No nordeste de Tóquio, um acidente em uma usina de processamento de urânio expôs centenas de operários à radiação. Além de sentirem náuseas, eles tiveram o rosto, as mãos e outras partes do corpo queimadas. O petroleiro grego naufragou na costa da Espanha e despejou mais de 10 milhões de litros de óleo no litoral da Galícia, contaminando 700 praias e matando mais de 20 mil aves.


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QUADRO 2 - CATÁSTROFES AMBIENTAIS NO BRASIL

1980

Vale da Morte, Polo Petroquímico de Cubatão (SP)

Toneladas de gases tóxicos das indústrias geraram uma névoa venenosa, afetando o sistema respiratório. Bebês nasceram com deformidades físicas e anencefalia. Chuvas ácidas contaminaram as águas e o solo.

1984

Vazamento em dutos da Petrobras espalhou 700 mil litros de gasolina na Vila Socó, Cubatão, São Paulo. Após o vazamento, um incêndio destruiu parte da comunidade local, deixando quase 100 mortos.

1987

Dois catadores de lixo tiveram acesso a um hospital privado abandonado em Goiânia (GO) e espalharam pela cidade material radioativo, o Césio 137. Houve contaminação do ar, do solo e da água. Quatro mortes foram registradas.

Vila Socó

Césio 137

2000

Vazamento de óleo na Baía de Guanabara

2003

Vazamento de barragem em Cataguases

Um navio petroleiro derramou mais de um milhão de litros de óleo in natura, causando morte da fauna local e poluição da água e do solo em vários municípios.

A barragem de celulose em Minas Gerais derramou mais de 500 mil metros cúbicos de rejeitos e soda cáustica. O vazamento contaminou os rios Pomba e Paraíba do Sul, causando sérios danos ao ecossistema e à população ribeirinha.

2007

Rompimento de barragem em Miraí

2011

Vazamento de óleo na Bacia de Campos

2015

Incêndio na Ultracargo

2015

Rompimento da barragem de Mariana (MG)

2019

Rompimento da barragem Brumadinho (MG)

O acidente causou um vazamento de mais de dois milhões de metros cúbicos de água e argila. A empresa foi multada, mas os danos ainda permanecem evidentes.

A empresa americana Chevron despejou no mar 3 mil barris de petróleo, provocando uma mancha de 160 quilômetros de extensão, contaminação da água e morte de muitos animais. Incêndio no porto de Santos, São Paulo, foi causado pela Ultracargo ao lançar efluentes líquidos em manguezais e na lagoa contígua ao terminal. Foram, também, emitidos efluentes gasosos na atmosfera. O rompimento da barragem da Samarco Mineração S.A., controlada pela Vale e pela BHP, liberou uma onda de lama de mais de 10m de altura, com 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Houve 19 mortos, danos econômicos, sociais e ambientais graves.

Controlada pela Vale S.A., a barragem de rejeitos rompeu e causou a morte de 270 pessoas, destruição de comunidades, devastação ambiental e impactos socioeconômicos em diversos municípios.

Fonte: Jornal da Unicamp (2017), site do MPF, Agência Brasil.

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O enorme passivo socioambiental derivado da ação do homem e ocasionado pelos empreendimentos de caráter econômico acendeu a luz amarela. Tal situação forçou mobilizações planetárias para o debate de soluções, conforme exemplos do Quadro 3, consolidou a formação de uma nova consciência sobre o dilema economia versus ecologia, questionou o conceito equivocado de progresso como algo apenas benéfico para a humanidade e impulsionou a reflexão sobre a responsabilidade com o planeta e com as gerações presente e futura.

QUADRO 3 - CONFERÊNCIAS MUNDIAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE

1972

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

1987

Relatório Brundtland

1992

Cúpula da Terra (Rio 92)

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Conhecida como Conferência de Estocolmo, discutiu sobre a redução do uso de materiais tóxicos, a preservação do meio ambiente e o financiamento para promover essas ações. No evento, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), principal autoridade global em meio ambiente. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ao entregar o Relatório Brundtland à Assembleia Geral, inaugurou uma abordagem para a ação ambiental focada no conceito de desenvolvimento sustentável. Vários acordos ambientais foram estabelecidos, incluindo a Agenda 21, além da abertura de dois tratados multilaterais para assinatura: a ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima e a Convenção sobre Diversidade Biológica.

2001

Convenção de Estocolmo

2002 Rio + 10

Os Estados-Membros das Nações Unidas, que incluíam 176 partes, adotaram a Convenção de Estocolmo para proteção da saúde humana e do meio ambiente diante de produtos químicos que persistem por longos períodos no meio ambiente.

A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável aconteceu em Joanesburgo, com foco em melhoria da vida das pessoas e conservação dos recursos naturais em um mundo com aumento populacional.

O Painel foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para disseminar conhecimento sobre as mudanças Painel Intergovernamental climáticas causadas pelo ser humano e estabelecer sobre Mudanças as bases para as medidas Climáticas que são necessárias para neutralizar essas alterações.

2007


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2009

Conferência Mudança Climática de Copenhague

2012 Rio + 20

2014

Cúpula do Clima Nova York

2015

Cúpula das Nações para o Desenvolvimento Sustentável

2017

Convenção de Minamata

Os participantes assinaram um documento intitulado Acordo de Copenhague, com a meta de longo prazo de limitar o aumento da temperatura média global máxima a não mais do que 2ºC acima dos níveis pré-industriais. A Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu a adesão universal ao Conselho Administrativo do PNUMA. Inaugurou a nova governança ambiental internacional, fortalecida durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

A ONU convidou lideranças de governos, setor privado e sociedade civil a se unirem para tomar medidas concretas por um mundo com baixa emissão de carbono. Em Paris, 195 países adotaram o primeiro acordo climático global universal e juridicamente vinculante. A Cúpula estabeleceu os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como parte de uma nova agenda global sobre esse tema, com diferentes objetivos e metas.

A Convenção sobre Mercúrio entrou em vigor com o objetivo de proteger a saúde humana e o meio ambiente das emissões antropogênicas e emissão de compostos de mercúrio.

2019

Cúpula da Ação Climática

Teve como objetivo apresentar novos caminhos e ações práticas para mudar a resposta global de enfrentamento às alterações climáticas, bem como para impulsionar a ambição e acelerar a ação para cumprir os objetivos do Acordo de Paris.

Fonte: Pessini e Sganzerla (2016) e Pott e Estrela (2017).

Essas conferências, com seus acordos e protocolos, apresentam-se como expressão do esforço conjunto empreendido pelas nações por um mundo, senão mais sustentável, menos voraz e predatório. Ainda que possa ser questionada a efetividade dos seus resultados, garimpar compromissos sustentáveis efetivos por parte de todas as nações do planeta, envolvendo interesses de governos, mercados e sociedades, não é algo para se fazer fora da lógica do diálogo e do compartilhamento de responsabilidades. Mudanças nos modelos de governança corporativa também dialogam diretamente com o Movimento ESG. Até o século XX, o capitalismo desenvolveu-se de forma bastante rude, visando o lucro acima de qualquer coisa. A frase de Milton Friedman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia no ano de 1976, é reveladora: “O único propósito de uma empresa é gerar lucro para os acionistas”. Em outros termos, reMilton Friedman, vela uma postura de repulganhador do Prêmio sa com os colaboradores, Nobel de Economia no com os fornecedores, com ano de 1976 a saúde da cadeia de produção ou com a satisfação dos clientes. Enfim, um capitalismo de shareholders, aquele que só se importa com o resultado para os acionistas. As mudanças ocorridas na vida social, da segunda metade do século XX e início do XXI, apontam para uma virada de chave também no mundo corporativo. Ambiente econômico mundial mais competitivo, consumidores mais exigentes e pressões ambientais e governamentais

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e legislações mais rígidas formam a tempestade perfeita para empresas repensarem seus modelos de governança. Essa pressão induz uma transição do capitalismo de shareholders para o capitalismo de stakeholders, alertando as organizações sobre a existência de outras partes interessadas que devem ser consideradas nos processos decisórios das organizações que não somente os acionistas. A assimilação de boas práticas de governança apresenta-se de forma relevante para redesenhar a face hostil do sistema capitalista na última virada de século. Outro ponto da vida social que se conecta com o Movimento ESG são as mudanças geracionais e as diferentes visões de mundo entre elas. Para Mannheim (1982), geração reúne pessoas nascidas em uma mesma época, que vivem e partilham de uma mesma experiência histórica, e essa experiência comum fornece-lhes uma consciência que permanece ao longo de suas vidas, produzindo afinidade quanto às suas visões de mundo, suas experiências e suas formas de participação social. Fábio Alperowitch exemplifica dizendo que a geração nascida entre 1940 e 1960, conhecida como “Baby Boomers”, prezava pela estética, qualidade e preço dos produtos. A Geração Y (Millennials) e a Geração Z, nascidas entre 1980-1995 e 1995-2010, respectivamente, possuem outros valores que orientam seu consumo, para além da estética, qualidade e preço: a empresa atende corretamente aos direitos trabalhistas dos colaboradores? Utiliza-se de trabalho infantil ou análogo à escravidão? Causa sofrimento animal em sua produção? Esses temas se somam às preocupações com políticas de equidade de gênero e raça, valorização da diversidade e respeito às questões LGBTQIA+, com pressão de grande intensidade, que potencializada pelas redes sociais tem levado empresas de todo o mundo a repensar as suas práticas. Mesmo que não sejam completamente empoderadas financeiramente, essas gerações já impõem tendências e ditam comportamentos. Essa mudança geracional também está pressionando a transição do capitalismo dos shareholders para o capitalismo dos stakeholders. Fato que convida a pensar na dimensão das mudanças que estão por vir, ou seja, quando essas gerações se estabelecerem como lideranças empresariais, analistas de investimentos, gerentes de sustentabilidade, produtores de políticas públicas e investidores. Evidências a esse respeito, de que as novas gerações estão mais conscientes acerca de seu papel político e social, são corroboradas pelo Content Moments, pesquisa global realizada pela Verizon Media, que estudou as motivações dos jovens para ler e interagir com conteúdo na web. Segundo informa o site Meio & Mensagem, a pesquisa foi realizada com base na análise de 118 mil interações on-line, feitas por 60 mil pessoas que residem em 15 diferentes mercados, apontando que a Geração Z tem maior probabilidade de consumir, responder e compartilhar ativamente conteúdo relacionado a assuntos

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de política, questões sociais e pautas relativas ao meio ambiente. No comparativo com a mesma pesquisa feita em 2016, os jovens de 16 a 24 anos demonstraram ter 45% mais probabilidade de consumir conteúdo político; 40% mais de interagir com questões sociais e 50% mais de consumir conteúdo sobre meio ambiente.

1.2. ESG JÁ É UMA REALIDADE

O Pacto Global (2021) informa que, nos últimos anos, 78% da Geração Y e 84% da Geração Z declararam optar por investimentos sustentáveis. As estatísticas indicaram, ainda, que as pautas ambientais, políticas e sociais são os temas de maior atenção para a Geração Z. Em outros termos, uma geração mais politizada e em busca de propósitos. Ingenuidade negar o impacto dessa mudança geracional/comportamental sobre o consumo, sobre os investimentos e, impreterivelmente, sobre as práticas ambientais, sociais e de governança corporativa. Não são apenas os consumidores que estão se importando com uma gestão empresarial mais alinhada com as dimensões ESG; investidores também estão se reposicionando. Ungaretti (2020), analista da XP investimentos, informa sobre a relevância das dimensões ESG ao redor do mundo, conforme mostra o Quadro 4.


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QUADRO 4 - ESG EM NÚMEROS

No mundo

Mais de US$ 30 trilhões em Ativos sob Gestão – em inglês, Assets under Management (AuM) – são gerenciados por fundos com estratégias sustentáveis, ou seja, 36% de todos os ativos do mundo.

Na Europa

US$ 14,1 trilhões (mais de 50% do AuM total do continente).

Nos Estados Unidos

Aproximadamente 25% do AuM total do país.

No Brasil

R$ 700 milhões em fundos ESG; empresas com valor de mercado de R$ 1,8 trilhão, representando 15 setores, no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3.

Fonte: Ungaretti (2020), ANBIMA, B3.

A realidade expressa em números no Quadro 4 leva a observar que o Movimento ESG não é algo que está por vir; ao contrário, “cada vez mais investidores estão colocando o conceito de ‘investimentos responsáveis’ como fator decisivo na alocação de recursos e, na nossa visão, esse movimento deve somente se intensificar adiante” (Ungaretti, 2020, p.2). Esses exemplos permitem inferir que as mudanças promovidas no campo da sustentabilidade são de caráter multidimensional, que ocorrem na vida social e, impreterivelmente, impactam e solicitam esforços de mesma intensidade e sentido das organizações. Assim, ao observar que as empresas necessitam de propósitos mais elevados do que o lucro, que as iniquidades sociais e as mudanças climáticas não estão sendo devidamente tratadas com ações de estancamento ou regressão, a sociedade pressiona empresas e governos a adotarem posturas e normas mais contemporâneas. Há, também, os consumidores e os investidores que pressionam o mercado para incorporação da agenda ESG, exigindo ética nos negócios e postura ambientalmente correta e socialmente justa, confirmando aquilo que Porter (1999) já indicava, ou seja, incluir variáveis sociais e ambientais nos custos dos produtos e serviços não pode ser mais considerado uma externalidade negativa. No Brasil, pesquisa realizada pela Rede Brasil do Pacto Global em parceria com a Stilingue, plataforma de monitoramento digital com inteligência artificial, apresentou o cenário do ESG no país, alertando para as mudanças registradas entre 2019 e 2020 e sinalizando os impactos desse Movimento. O estudo aponta que, de um ano para o outro, as discussões acerca do assunto nas redes sociais cresceram mais de sete vezes. Outro dado importante revelou que 84% dos representantes do setor empresarial afirmaram que os interesses em entender mais sobre os critérios ESG aumentaram em 2020 (PACTO GLOBAL & STILINGUE, 2021). No Quadro 5, são apresentados alguns pontos relevantes do estudo sobre ESG na web, no Brasil.

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QUADRO 5 - EVOLUÇÃO DAS DISCUSSÕES SOBRE ESG NO BRASIL 2019-2020

• Discussões ESG ainda restritas: pouco mais de 3,4 mil citações. • 30% impulsionados pela imprensa tradicional. • Buscas, principalmente, por conteúdos de caráter informativo sobre compromissos e diretrizes e estimulados pela iniciativa.

• AMBIENTAL: 2019

mais de 11 milhões de publicações. Principal estimulador: cenário e discussões sobre a situação da Amazônia.

• SOCIAL:

484 mil conteúdos; expressões mais identificadas: “inclusão social” e “Direitos Humanos”.

• GOVERNANÇA:

126 mil publicações que mencionavam o termo. Interesse principal: casos de corrupção em grandes empresas como Vale e Petrobras.

• As discussões ganharam maior relevância: mais de 22 mil

conteúdos sobre o assunto, seis vezes mais que em 2019.

• As oito expressões mais usadas nas buscas: “questões ESG” (16%), 2020

“agenda ESG” (14%), “critérios ESG” (13%), “Movimento ESG” (10%), “iniciativa ESG” (9%), “políticas ESG” (9%), fatores ESG” (8%) e “tendência ESG” (7%). • Percepção geral: 72% afirmaram já ter conhecimento do termo ESG em 2020. • Percepção do setor empresarial: para 84% dos respondentes, o interesse pela discussão aumentou em 2021. • As cinco maiores vozes ativas sobre ESG pertencem a veículos de comunicação tradicionais: Exame (1º), InfoMoney (3º), Folha de S.Paulo (5º), Estadão (7º), Forbes Brasil (9º) e Valor Econômico (10º).

Fonte: Pacto Global & Stilingue (2021).

1.3. DIMENSÕES, MÉTRICAS E PRÁTICAS ESG

Para melhor compreensão do Movimento ESG, é importante olhar para cada uma das suas dimensões em separado. O Quadro 6 apresenta alguns exemplos de políticas e ações vinculadas a cada uma das dimensões.

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QUADRO 6 - DIMENSÕES ESG DIMENSÕES

AMBIENTAL

SOCIAL

GOVERNANÇA

ATRIBUTOS Relaciona-se ao impacto que uma empresa gera no meio ambiente. Pode-se entender isso por meio do uso eficiente dos recursos naturais nos processos de produção (gastos com energia, materiais e água); pelo impacto causado ao meio ambiente (poluição do ar, do solo, das águas); por intermédio da gestão correta dos resíduos e efluentes; pela política de inovações sustentáveis para melhoria de processos e produtos; pela política de redução de emissões diretas de gases de efeitos estufa; pela gestão da cadeia de suprimentos sustentável; pela produção verde e utilização de embalagens sustentáveis.

Didaticamente, essa dimensão possui duas vertentes: a) interna, que diz respeito à relação da empresa com os seus colaboradores – políticas de gestão de pessoas além dos requisitos legais; iniciativas para redução de risco operacional; remuneração justa; prevenção do trabalho infantil; fornecedores auditados; equidade de raça; equidade de gênero; inclusão e diversidade (LGBTQIA+); valorização e treinamento da força de trabalho; b) externa, comprometida com: o bem-estar da sociedade, em especial com as comunidades do entorno; atividades vinculadas aos direitos humanos; proteção de dados pessoais; engajamento dos funcionários em ações sociais externas; ações humanitárias a grupos vulneráveis (refugiados, sem-teto, dependentes químicos).

Mecanismos que fazem com que a organização atue da melhor forma: disponibiliza informações de interesse dos stakeholders além das exigidas por lei; trata de forma isonômica todos os sócios e stakeholders; executa prestação de contas clara, concisa, compreensível e tempestiva; assume as consequências de seus atos e omissões; atua com diligência e responsabilidade; zela a alta liderança pela viabilidade econômico-financeira da organização no curto, médio e longo prazos; disponibiliza canal para reclamações e denúncias; possui setor de compliance; zela pelos direitos dos acionistas; mantém um conselho com bom funcionamento e independente; mantém e apoia os comitês de auditoria, fiscal, ética e transparência; adota boas políticas de remuneração de executivos e de prevenção de práticas ilegais; adota práticas contábeis transparentes e oportunidade de voto aos acionistas em temas importantes; pratica diversidade de gênero, raça, idade e orientação sexual no conselho de administração e na gestão da organização.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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ESG: EMPRESAS COM PROPÓSITOS MAIS ELEVADOS

As dimensões ESG expressam uma nova forma de comunicação entre as organizações, colaboradores e sociedade, fazendo as primeiras interrogarem-se permanentemente: eu vou me comunicar com o meu cliente somente a partir do meu produto (estética, qualidade e preço) ou irei demonstrar publicamente os valores aos quais a empresa está alinhada? Atualmente, quadrinhos na recepção com missão, visão e valores não são mais suficientes para comunicar e declarar o posicionamento da empresa, se é que algum dia foram. Fundamental atentar que, principalmente para as novas gerações, o silêncio também é posicionamento. E não emite uma boa mensagem. Quanto às métricas e critérios de avaliação usados para medir as ações ESG, não existem padrões universais de avaliação. As consultorias coletam dados ESG com diferentes metodologias de avaliação para diferentes empresas. Assim, metodologias específicas por consultorias variam na

classificação ESG das empresas, dependendo de quem as realiza. É possível que, devido às diferentes formas de pontuações ESG, uma mesma empresa seja bem avaliada por uma consultoria e mal avaliada por outra. De mesmo modo, podem existir vários benefícios nos serviços oferecidos por cada consultoria ESG, ou seja, um processo natural de refinamento dos instrumentos de monitoramento e avaliação que, como tantos, vai se aperfeiçoando ao longo do tempo. Outra questão importante diz respeito às diferentes materialidades para cada dimensão; no caso específico, materialidade significa o nível de relevância. Assim, uma matriz de materialidade ESG deve ser composta por informações relevantes acerca de suas três dimensões. “Uma informação é material se a sua omissão ou distorção influenciar as decisões das pessoas – de forma semelhante, uma informação é imaterial se sua omissão ou distorção não fizer, ou fizer pouca diferença no processo

decisório” (UNGARETTI, 2020, p. 22). Por exemplo, em bancos, a proteção de dados dos clientes é um fator material, ou seja, muito relevante; uma falha gera impacto negativo e afeta a percepção do investidor. Porém, para gestoras de cartões de crédito, emissões de carbono são fator “imaterial”, pois não implica o modelo de negócio nem preocupação dos investidores. Uma matriz de materialidade com informações consistentes e relevantes é um passo fundamental para uma boa avaliação das dimensões ESG. Para analisar as práticas ESG no Brasil, a Rede Brasil do Pacto Global entrevistou gerentes, analistas, proprietários e diretores de setores diversificados da economia, entre fevereiro e março de 2021. De forma geral, a maior parte das iniciativas encontra-se na Dimensão Social e foi impulsionada pela emergência das ações de apoio às vítimas da Covid-19. Os resultados por cada uma das dimensões, especificamente, ficaram distribuídos conforme o Quadro 7.

QUADRO 7 - PRÁTICAS ESG NO BRASIL DIMENSÃO

Ambiental

Social

Governança Fonte: Pacto Global & Stilingue (2021).

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PRÁTICA

PERCENTUAL

Reciclagem e reaproveitamento de resíduos

27%

Redução das emissões de gases de efeito estufa

20%

Uso, tratamento e reaproveitamento de água

19%

Apoio emergencial à Covid-19

20%

Apoio às comunidades do entorno

20%

Políticas de equidade de gênero

19%

Criação de mecanismos internos de compliance

41%

Criação de comitês

35%

Participação em movimentos contra corrupção

22%


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1.4. O FUTURO DO MOVIMENTO ESG

A perspectiva brasileira apresentada pelo Pacto Global (2021) informa que a maior parte dos gestores entrevistados na pesquisa apontou ter sido estimulada com frequência a repensar e criar soluções que impactem de forma positiva as três dimensões ESG, na seguinte intensidade: 51% responderam que são incentivados a considerar práticas com impactos sociais positivos; 50% consideram práticas para impactos ambientais positivos; e 48% consideram práticas para impactos de governança mais positivos. Como pedra na água, o Movimento ESG, que tem epicentro na Europa, propaga-se em ondas. Mesmo que, inicialmente, tenha sido recepcionada com certa euforia, essa onda chegou ao Brasil como uma perturbação, pois trata de temas complexos e caros à realidade brasileira. Impõe uma agenda que se importa com questões até então fora do sistema de governança da maioria das empresas nacionais e pautada pelo

debate contemporâneo das novas gerações e dos segmentos sociais críticos ao modelo de desenvolvimento vigente. Como qualquer outro movimento social, o ESG deve ser observado com senso crítico e cautela. A equação que elucidará o seu futuro dependerá do comportamento das partes que a compõem; no caso específico, empresas, governos e sociedade. E não são poucas as barreiras a serem ultrapassadas: o vácuo histórico no meio empresarial sobre questões raciais, de gênero, diversidade e direitos humanos; o desmonte das estruturas estatais de controle socioambiental; o baixo incentivo às pesquisas científicas; a ausência de auditoria da cadeia de fornecedores; os jeitinhos institucionais; as práticas de greenwashing, as ações para criar uma imagem positiva falsa; entre outros. Enfim, mesmo que pareça um deserto, a travessia já teve início, pois o caminho está posto. Evidências apontam para um caminho sem volta e desfazem a ideia de que o Movimento ESG seja uma

nuvem passageira. Dois exemplos internacionais caminham nesse sentido: a) no ano de 2020, a maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock, enviou comunicado aos CEOs e anunciou uma série de medidas colocando a sustentabilidade no centro de estratégia de seus investimentos; b) a empresa líder mundial no mercado de consultoria empresarial, a McKinsey & Company, publicou um estudo em agosto 2021 no qual evidencia os principais pontos de criação de valor para os empresários ao internalizar os critérios ESG em sua cultura empresarial: 1. Crescimento da receita, 2. Redução de custos, 3. Redução das intervenções regulatórias e legais, 4. Aumento da produtividade dos funcionários, 5. Otimização de ativos e investimentos (RESUMO CAST, 2021). Em outros termos, a junção dos dois exemplos acima emite uma clara mensagem sobre o caminho a ser seguido: sendo a criação de valor a base essencial para sustentar um negócio rentável e duradouro, façamos do ESG a nossa estratégia!

15


A ABORDAGEM ESG NA INDÚSTRIA CAPIXABA •

2. A abordagem ESG na indústria capixaba A emergência do tema ESG na condução das organizações já está estabelecida, e avança em todos os setores e países. Neste sentido, o objetivo do presente trabalho foi analisar as condições em que se encontram as empresas industriais capixabas diante deste tema. Assim, empreendeu-se esta pesquisa (metodologia disponível no Anexo 1) para conhecer a realidade da indústria capixaba, por meio de um questionário (disponível no Anexo 2) enviado às empresas, com 10 questões, das quais nove podiam ser respondidas em uma escala de concordância de 1 (concordo totalmente) a 5 (discordo totalmente)

– escala Likert. Esse questionário teve respostas de empresas de 24 setores e de todos os portes, tal como descrito na metodologia da pesquisa em anexo. A seguir, apresentamos os resultados da pesquisa com a sua respectiva análise. Os dados coletados foram apresentados de duas formas: em gráficos e em tabelas. Os gráficos permitem uma visão geral das respostas, ao agrupar os dois itens de maior concordância dos respondentes (em azul) e os dois itens de menor concordância dos respondentes (em vermelho). Observa-se que a área da figura vermelha, na maioria dos gráficos, é maior do que a área da figura

azul, mostrando que a maior parte dos elementos da abordagem ESG ainda é pouco conhecida e implementada nas empresas industriais capixabas. As tabelas descrevem diretamente os percentuais de resposta obtidos dentro da escala de 1 a 5.

2.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 2.1.1. CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES

A maior parte dos respondentes atua no departamento administrativo ou diretoria de suas respectivas empresas, conforme mostra o Gráfico 1.

GRÁFICO 01: DEPARTAMENTO NA EMPRESA 14 12 10 8 6 4 2 0 ADM

DIRETORIA

Fonte: Elaborado pelos autores.

16

GERÊNCIA

COMERCIAL

FINANCEIRA

SÓCIO

TI

COMUNICAÇÃO ENGENHARIA

QUALIDADE FISCALIZAÇÃO


ESG na indústria capixaba

Em relação à formação acadêmica, a maioria possui pós-graduação; 13 respondentes possuem graduação como a maior titulação; e sete possuem o ensino médio. Os respondentes representam 24 setores industriais, como os de produtos alimentícios, produtos de minerais não metálicos, infraestrutura, resíduos, metalurgia, construção, informática e produtos de madeira, entre outros. Considerando-se a existência de 29 setores na lista de setores industriais brasileiros, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), observa-se que a pesquisa reflete bem a diversidade de setores da economia capixaba. Para classificação do porte da empresa, a referência utilizada foi o número de funcionários. O Quadro 8 apresenta as empresas pelo porte com o respectivo percentual de respondentes. Com relação ao setor responsável pelo ESG nas empresas, somente 7% dos respondentes informaram possuir um setor específico para esse assunto. Isso mostra que não somente as grandes empresas estão alinhadas com a necessidade de melhor encaminhar o assunto ESG nas suas organizações. Porém, na maioria das empresas esse tema está entregue aos setores de controladoria, qualidade e segurança e meio ambiente e saúde. Na realidade do ES, onde a grande maioria das empresas são pequenas, a estrutura organizacional tende a ser mais horizontal, com um cargo tendo diversas funções. Dessa forma, a abordagem ESG necessita ser conduzida por toda a equipe de gestão e disseminada entre os colaboradores. Essa estrutura horizontalizada das empresas capixabas permeia toda a análise desta pesquisa, e é um ponto muito importante a se considerar para quaisquer ações que se queira empreender.

QUADRO 8 - PORCENTAGEM DE RESPONDENTES/PORTE EMPRESA PORTE

N° EMPREGADOS

% RESPONDENTES

Microempresa

Até 19 empregados

41%

Pequeno porte

20 a 99 empregados

30%

Médio porte

100 a 499 empregados

25%

Grande porte

500 ou mais empregados

4%

Fonte: Elaborado pelos autores.

2.1.2 NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE ESG

Outro ponto verificado entre os respondentes fazia referência ao nível de conhecimento sobre as dimensões do

ESG, formas de avaliar as dimensões ESG, Movimento ESG e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conforme a Tabela 1.

TABELA 1 - NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE TEMAS CONHECE MUITO

CONHECE

CONHECE RELATIVAMENTE

CONHECE POUCO

NÃO CONHECE

14%

16%

11%

23%

36%

DIMENSÃO GOVERNANÇA DO ESG

9%

9%

18%

25%

39%

DIMENSÃO SOCIAL DO ESG

7%

16%

18%

18%

41%

FORMAS DE AVALIAR AS DIMENSÕES ESG NAS EMPRESAS

5%

5%

20%

23%

48%

MOVIMENTO ESG

7%

14%

18%

25%

36%

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

9%

18%

25%

16%

32%

TEMAS

DIMENSÃO AMBIENTAL DO ESG

Fonte: Elaborado pelos autores.

Entre os itens com maior índice de desconhecimento, destacam-se as “Métricas ESG”, ou seja, as formas de avaliar as dimensões ESG nas empresas, com 48%. Quanto às três dimensões ESG, a “Dimensão Social” é a menos conhecida, com

41%; seguida da “Dimensão Governança”, com 39%; e da “Dimensão Ambiental”, com 36%. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são o tema que os respondentes registraram ter o menor nível de desconhecimento, 32%.

17


A ABORDAGEM ESG NA INDÚSTRIA CAPIXABA •

GRÁFICO 02: NÍVEL DE CONHECIMENTO SOBRE ESG 50% 40% 30% 20% 10% 0%

DIMENSÃO AMBIENTAL DO ESG

Conhece muito

DIMENSÃO GOVERNANÇA DO ESG

Conhece

DIMENSÃO SOCIAL DO ESG

Conhece relativamente

Conhece pouco

FORMAS DE AVALIAR AS DIMENSÕES ESG NAS EMPRESAS

MOVIMENTO ESG

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

Não conhece

Fonte: Elaborado pelos autores.

Mesmo que os respondentes tenham registrado um nível de conhecimento sobre as dimensões e métricas ESG igual ou superior ao conhecimento declarado sobre o “Movimento ESG”, percebe-se que este ainda não é um tema que os gestores da indústria capixaba dominam amplamente, uma vez que em nenhum desses itens o nível de conhecimento atingiu 50%. A cultura ainda incipiente do ESG nas empresas capixabas acaba resultando

num conhecimento defasado sobre temas como: dimensões do ESG, formas de avaliação das dimensões ESG nas empresas, Movimento ESG e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). No entanto, essa situação parece estar se transformando, como exposto pela pesquisa da Rede Brasil do Pacto Global (2021), que mostrou o aumento crescente das discussões sobre esses temas. Ou seja, é de se esperar que dentro em breve

o tema seja fomentado pela cultura que está se criando pela preocupação com o equilíbrio das condições ambientais do planeta. 2.1.3. PRÁTICAS ESG E PRESSÕES

Após a avaliação sobre o conhecimento direto do tema ESG, foi perguntado aos entrevistados sobre seu conhecimento quanto aos aspectos operacionais do ESG. A Tabela 2 apresenta os vários aspectos abordados.

TABELA 2 - PRÁTICAS AMBIENTAIS ESG APLICA TOTALMENTE

APLICA

A1 - ENVOLVIMENTO COM GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS SUSTENTÁVEL

9%

5%

23%

18%

45%

A2 - CERTIFICAÇÃO ISO 14000

2%

0%

5%

2%

91%

A3 - POLÍTICA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

9%

9%

14%

30%

39%

A4 - POLÍTICA DE PRODUÇÃO VERDE

11%

2%

9%

20%

57%

A5 - POLÍTICA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

20%

11%

25%

16%

27%

A6 - POLÍTICA DE QUALIDADE AMBIENTAL

14%

9%

23%

16%

39%

A7 - POLÍTICA DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DIRETAS DE GASES DE EFEITOS ESTUFA

16%

7%

11%

11%

55%

A8 - POLÍTICA PARA MUDANÇA CLIMÁTICA

5%

-

11%

9%

75%

A9 - UTILIZAÇÃO DE EMBALAGENS SUSTENTÁVEIS

7%

5%

20%

27%

41%

A10 - PROCESSAMENTO EXTERNO DOS RESÍDUOS GERADOS

39%

18%

16%

11%

16%

A11 - RECICLAGEM INTERNA DOS RESÍDUOS GERADOS

16%

9%

25%

7%

43%

PRÁTICAS

Fonte: Elaborado pelos autores.

18

APLICA APLICA POUCO PARCIALMENTE

NÃO APLICA


ESG na indústria capixaba

Quanto à questão A1, “envolvimento da empresa com a gestão da cadeia de suprimentos sustentável”, somente 14% das empresas disseram que a “aplicam” ou “aplicam totalmente”. Isso demonstra que poucas empresas apresentam estratégia para desenvolver a cadeia de produção com vistas à abordagem ESG. A gestão da cadeia da produção sustentável consiste em uma série de ações executadas pelas empresas para garantir a sustentabilidade em todas as etapas de operações. A exigência crescente de investidores e consumidores por produtos e serviços mais sustentáveis é, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um desafio para as empresas: às grandes, a responsabilidade de gerir toda a cadeia de produção; às pequenas, a necessidade de se capacitar para disputar um mercado cada dia mais exigente. Na questão A2, foi perguntado se a empresa possui certificação

ISO 14000. Somente 2% responderam positivamente, ou seja, um percentual muito baixo das empresas capixabas está comprometido, formalmente, com o desenvolvimento de boas práticas ambientais. Quanto às várias políticas de cunho ambiental – aquelas atreladas à eficiência energética, produção verde, proteção e qualidade ambiental, redução de emissões dos gases de efeito estufa e mudanças climáticas –, as empresas que disseram “aplicar” ou “aplicar totalmente” ficaram entre 5% e 31%, isto é, um índice muito baixo de adesão das plantas industriais no Estado do Espírito Santo às políticas que podem expressar, de fato, o compromisso do setor com a sustentabilidade ambiental. Em relação ao uso de embalagens sustentáveis, apenas 12% dos respondentes afirmaram utilizar ou utilizar totalmente. E quanto à

destinação dos resíduos, 25% das empresas reciclam internamente os seus resíduos, e 57% realizam o processamento externo dos resíduos gerados por suas instalações. Conforme dito anteriormente, os gráficos permitem uma visão geral das respostas, ao agrupar os dois itens de maior concordância dos respondentes (em azul) e os dois itens de menor concordância dos respondentes (em vermelho). Observando o Gráfico 3, verificamos que a área gerada pela linha vermelha é muito superior à definida pela linha azul, o que leva a inferir que as empresas industriais do Estado do Espírito Santo pouco aplicam as práticas ambientais alinhadas à abordagem ESG As práticas sociais relacionadas ao ESG mostram um maior equilíbrio entre iniciativas aplicadas e não aplicadas do que o observado nas práticas ambientais, conforme informa a Tabela 3.

GRÁFICO 03: APLICAÇÃO DE PRÁTICAS AMBIENTAIS ALINHADAS COM A ABORDAGEM ESG

A1. ENVOLVIMENTO COM GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS SUSTENTÁVEIS

A11. RECICLAGEM INTERNA DOS RESÍDUOS GERADOS

100%

50%

A10. PROCESSAMENTO EXTERNO DOS RESÍDUOS GERADOS

A2. CERTIFICAÇÃO ISO 14000

75% A3. POLÍTICA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

25% 0% A9. UTILIZAÇÃO DE EMBALAGENS SUSTENTÁVEIS

A4. POLÍTICA DE PRODUÇÃO VERDE

A8. POLÍTICA PARA MUDANÇA CLIMÁTICA

A7. POLÍTICA DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DIRETAS DE GASES DE EFEITO ESTUFA

“Aplica totalmente” e “Aplica”

A5. POLÍTICA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

A6. POLÍTICA DE QUALIDADE AMBIENTAL

“Aplica pouco” e “Não aplica”

Fonte: Elaborado pelos autores.

19


A ABORDAGEM ESG NA INDÚSTRIA CAPIXABA •

TABELA 3 - PRÁTICAS SOCIAIS ESG APLICA TOTALMENTE

APLICA

9%

-

20%

11%

59%

S2 - DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES DE APOIO AO COMBATE À COVID-19

43%

25%

20%

5%

7%

S3 - COMPROMETIMENTO COM O BEM-ESTAR DA SOCIEDADE, EM ESPECIAL COM AS COMUNIDADES DO ENTORNO

34%

16%

27%

16%

7%

S4 - INCENTIVO AO ENGAJAMENTO DOS COLABORADORES EM AÇÕES SOCIAIS EXTERNAS

18%

9%

30%

18%

25%

S5 - INICIATIVAS PARA REDUÇÃO DE RISCO OPERACIONAL

32%

30%

18%

14%

7%

S6 - POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO JUSTA

36%

25%

27%

2%

9%

S7 - POLÍTICAS DE EQUIDADE DE GÊNERO

27%

9%

27%

7%

30%

S8 - POLÍTICAS DE EQUIDADE LGBTQIA+

16%

2%

27%

14%

41%

S9 - POLÍTICAS DE EQUIDADE RACIAL

30%

11%

20%

9%

30%

S10 - POLÍTICAS DE PREVENÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

55%

11%

14%

2%

18%

S11 - TREINAMENTO REGULAR DOS FUNCIONÁRIOS

34%

23%

23%

9%

11%

S12 - PROCEDIMENTOS DE RECURSOS HUMANOS SUPERAM OS REQUISITOS LEGAIS

23%

20%

25%

16%

16%

PRÁTICAS

S1 - APOIO A GRUPOS VULNERÁVEIS (REFUGIADOS, SEM-TETO, DEPENDENTES QUÍMICOS, ENTRE OUTROS)

APLICA APLICA POUCO PARCIALMENTE

NÃO APLICA

Fonte: Elaborado pelos autores.

A prática social com maior índice de adesão dos respondentes foi “Desenvolvimento de ações de apoio ao combate à Covid-19”, com 68% deles garantindo que a “aplicam” ou “aplicam totalmente”. Mesmo sendo de caráter conjuntural, a ação informa acerca da capacidade de resposta e mobilização das empresas do setor para proceder de forma proativa aos chamamentos sociais. Segundo o Pacto Global (2021), as políticas de equidade de gênero, equidade de raça e diversidade LGBTQIA+ são aquelas de cunho social mais frequentemente trabalhadas pelas empresas no Brasil, com 57%, 46% e 31%, respectivamente. No caso das empresas industriais do Espírito Santo, agregando os campos “aplica” e “aplica totalmente”, os índices apresentados foram: equidade de gênero, 36%; equidade de raça, 41%; e diversidade LGBTQIA+, 18%. Mesmo que não se refiram somente ao setor industrial do país, os percentuais da indústria capixaba revelam que essas políticas sociais específicas necessitam ser mais bem trabalhadas nas empresas do setor. Quando somados, os valores relativos aos campos “aplica” e “aplica totalmente” a atenção às “Políticas de prevenção do trabalho infantil”

20

alcançam 66%. Por meio desse mesmo cálculo, “Iniciativas para redução de risco operacional” chegam a 62%; “Política de remuneração justa”, a 61%; “Treinamento regular dos funcionários”, a 57%; e “Comprometimento com o bem-estar da sociedade, em especial com as comunidades do entorno”, a 50%. Índices iguais ou pouco acima de 50% sinalizam que essas políticas sociais não são desconsideradas pelas empresas, no entanto, observa-se que há premente necessidade de incrementar avanços em práticas sociais muito sensíveis como prevenção do trabalho infantil; treinamento, remuneração e risco dos trabalhadores; e relação com as comunidades do entorno. As porcentagens vinculadas a “Incentivo ao engajamento dos colaboradores em ações sociais externas” (27%) e a “Apoio a grupos vulneráveis – refugiados, sem-teto e dependentes químicos, entre outros” (9%) apontam pouca sensibilidade das empresas industriais com os problemas sociais da comunidade onde se encontram inseridas. O Gráfico 4 expressa um menor desequilíbrio entre as respostas que se aproximam (área em azul) daquelas que se distanciam (área em vermelho) da “Aplicação de práticas

sociais alinhadas à abordagem ESG”, se comparado ao Gráfico 3, acerca das práticas ambientais alinhadas ao ESG. No entanto, a situação desejável é um gráfico que materialize uma posição inversa, na qual as ações sociais das empresas possam corresponder aos anseios demandados pela sociedade brasileira. (Pacto Global, 2021) As práticas de governança são as que demonstram maior aderência com a abordagem ESG nesta pesquisa, inclusive 80% das respondentes afirmaram que as “aplicam” e “aplicam totalmente”. Tais práticas possuem maior influência sobre o valor das empresas, afetando dessa forma diretamente os seus acionistas, e concentram com maior intensidade as iniciativas ESG nas empresas industriais do Espírito Santo. Em relação à dimensão governança, as práticas “G6 - Tratamento justo e isonômico entre todos os sócios e demais partes interessadas” e “G1 - Atenção com viabilidade econômico-financeira da organização” são as predominantes, ao contrário das práticas “G4 - Setor de compliance” e “G3 - Canal para reclamações e denúncias”, que registram o menor nível de implementação, conforme mostra a Tabela 4.


ESG na indústria capixaba

GRÁFICO 04: APLICAÇÃO DE PRÁTICAS SOCIAIS ALINHADAS À ABORDAGEM ESG S1. APOIO A GRUPOS VULNERÁVEIS (REFUGIADOS, SEM-TETO, DEPENDENTES QUÍMICOS, ENTRE OUTROS) S12. PROCEDIMENTOS DE RECURSOS HUMANOS SUPERAM OS REQUISITOS LEGAIS

100%

S2. DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES DE APOIO AO COMBATE À COVID-19

75%

S11. TREINAMENTO REGULAR DOS FUNCIONÁRIOS

S3. COMPROMETIMENTO COM O BEM-ESTAR DA SOCIEDADE, EM ESPECIAL COM AS COMUNIDADES DO ENTORNO

50% 25%

S10. POLÍTICAS DE PREVENÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

S4. INCENTIVO AO ENGAJAMENTO DOS COLABORADORES EM AÇÕES SOCIAIS EXTERNAS

0%

S9. POLÍTICAS DE EQUIDADE RACIAL

S5. INICIATIVAS PARA REDUÇÃO DE RISCOS OPERACIONAIS

S8. POLÍTICAS DE EQUIDADE LGBTQIA+

S6. POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO JUSTA

S7. POLÍTICAS DE EQUIDADE DE GÊNERO

“Aplica totalmente” e “Aplica”

“Aplica pouco” e “Não aplica”

Fonte: Elaborado pelos autores.

TABELA 4 - PRÁTICAS DE GOVERNANÇA ESG APLICA TOTALMENTE

PRÁTICAS

APLICA

APLICA PARCIALMENTE

APLICA POUCO

NÃO APLICA

G1 - ATENÇÃO COM VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA ORGANIZAÇÃO

50%

25%

7%

9%

9%

G2 - DISPONIBILIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES ALÉM DAQUELAS IMPOSTAS POR DISPOSIÇÕES DE LEIS OU REGULAMENTOS

25%

27%

16%

18%

14%

G3 - CANAL PARA RECLAMAÇÕES E DENÚNCIAS

25%

11%

16%

20%

27%

G4 - SETOR DE COMPLIANCE

16%

2%

7%

11%

64%

G5 - PRESTAÇÃO DE CONTAS CLARA E RESPONSÁVEL

39%

25%

20%

9%

7%

G6 - TRATAMENTO JUSTO E ISONÔMICO ENTRE TODOS OS SÓCIOS E DEMAIS PARTES INTERESSADAS

43%

36%

11%

2%

7%

Fonte: Elaborado pelos autores. GRÁFICO 05: APLICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA ALINHADAS À ABORDAGEM ESG G1. ATENÇÃO COM VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA ORGANIZAÇÃO

100% 75% G6. TRATAMENTO JUSTO E ISONÔMICO ENTRE TODOS OS SÓCIOS E DEMAIS PARTES INTERESSADAS

G2. DISPONIBILIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES ALÉM DAQUELAS IMPOSTAS POR DISPOSIÇÕES DE LEIS OU REGULAMENTOS

50% 25% 0%

G3. CANAL PARA RECLAMAÇÕES E DENÚNCIAS

G5. PRESTAÇÃO DE CONTAS CLARA E RESPONSÁVEL

G4. SETOR DE COMPLIANCE

“Aplica totalmente” e “Aplica”

“Aplica pouco” e “Não aplica”

Fonte: Elaborado pelos autores.

21


A ABORDAGEM ESG NA INDÚSTRIA CAPIXABA • Como se pode ver no Gráfico 5, a área das alternativas que mostram uma aplicação de grande amplitude na empresa (em azul) supera a área das alternativas que apontam uma pequena aplicação dessas iniciativas (em vermelho). Faz-se importante reconhecer que essas práticas estão, em grande medida, alinhadas com o sucesso econômico do empreendimento. Isso independente de uma decisão com vistas ao ESG. Dentro dessa dimensão, a estratégia de tornar a empresa transparente é uma prática que contribui para a redução de pressões e para o estímulo de iniciativas de colaboração, que resultam na obtenção de bons resultados no desempenho ambiental e econômico. Apesar de o custo associado à divulgação de informações não trazer retornos no desempenho econômico, no curto prazo a criação de uma imagem corporativa melhor e de fácil comunicação entre stakeholders é um dos benefícios a ser colhido no longo prazo. As pressões que envolvem a implementação e uso da abordagem ESG tem diversas fontes, conforme elencado na Tabela 5. Todas as formas de pressão, dispostas na referida tabela, são pouco reconhecidas pelos entrevistados. Essa ausência de pressão pelo ESG nas empresas mostra que os diversos stakeholders do sistema industrial no ES ainda não se alinham a essa abordagem. Nota-se que, entre os stakeholders nominados, a alta administração lidera a possibilidade de transformação para o ESG, na visão dos respondentes. A grande área constituída pela linha vermelha mostra que as pressões ainda possuem papel muito tímido em relação à influência para adoção do ESG nas empresas industriais capixabas, como se pode ver no Gráfico 6. A falta de pressão por parte da alta administração revela que ainda não há o reconhecimento do ESG como instrumento de valor para a gestão.

22

TABELA 5 - PRESSÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS PRÁTICAS DO ESG PRÁTICAS

APLICA NÃO APLICA PARCIALMENTE POUCO APLICA

APLICA TOTALMENTE

APLICA

9%

9%

16%

18%

5%

5%

18%

14%

59%

5%

-

14%

14%

68%

5%

2%

11%

20%

61%

5%

5%

23%

11%

57%

7%

-

9%

20%

64%

M1 - ALTA ADMINISTRAÇÃO M2 - SOCIEDADE M3 - INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS/INVESTIDORES M4 - GOVERNO E AGÊNCIAS REGULADORAS M5 - CLIENTES M6 - CONCORRENTES

48%

Fonte: Elaborado pelos autores. GRÁFICO 06: PRESSÃO EXERCIDA PELOS STAKEHOLDERS PARA A ABORDAGEM ESG M1. ALTA ADMINISTRAÇÃO

100% 75% M6. CONCORRENTES

M2. SOCIEDADE

50% 25% 0%

M3. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS/ INVESTIDORES

M5. CLIENTES

M4. GOVERNO E AGÊNCIAS REGULADORAS

“Concordo totalmente” e “Concordo”

“Concordo pouco” e “Discordo totalmente”

Fonte: Elaborado pelos autores.

A expansão do ESG nas cadeias de produção ainda não se faz por demanda das empresas, como apontam os resultados na Tabela 6 e no Gráfico 7. Somados os itens “concordo” com “concordo totalmente”, tem-se por resultado que somente 12% das empresas exigem fornecedores alinhados com as práticas ESG.

TABELA 6 - FORNECEDORES E CONTRATANTES PRÁTICAS

APLICA TOTALMENTE

APLICA

APLICA APLICA NÃO PARCIALMENTE POUCO APLICA

EXIGE FORNECEDORES ALINHADOS COM AS PRÁTICAS DE ESG

5%

7%

14%

34%

41%

CONTRATANTES DEMANDAM ALINHAMENTO COM AS PRÁTICAS DE ESG

5%

9%

18%

20%

48%

Fonte: Elaborado pelos autores. GRÁFICO 07: NÍVEL DE DEMANDA PELO ESG NAS CADEIAS DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL DO ES CONTRATANTES DEMANDAM ALINHAMENTO COM AS PRÁTICAS DE ESG EXIGE FORNECEDORES ALINHADOS COM AS PRÁTICAS DE ESG

“Concordo totalmente” e “Concordo”

Fonte: Elaborado pelos autores.

14%

68%

11%

75%

“Concordo pouco” e “Discordo totalmente”


ESG na indústria capixaba

Da mesma forma, somente 14% dos respondentes disseram que “Os seus contratantes demandam alinhamento com as práticas ESG”. Conforme abordado anteriormente, em várias partes do mundo já está ocorrendo uma forte pressão para o desenvolvimento de práticas sustentáveis em toda a cadeia de suprimentos dos processos produtivos. No caso das empresas industriais do Estado do Espírito Santo, é importante atentar-se para a necessidade de maiores interações, além do monitoramento do desempenho dos fornecedores, condução de auditorias (fornecendo feedback) e treinamento para que as cadeias de produção sejam impulsionadoras do ESG na indústria capixaba. 2.1.4. PRÁTICAS DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

O último item do questionário apresentava os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e pedia que os representantes das empresas listassem, se houvesse, iniciativas relacionadas a cada ODS. Nesse item, foram identificadas ações concretas relacionadas a 14 dos 17 ODS existentes, como mostra o Quadro 9. Vale ressaltar que 10 empresas capixabas citaram ações relacionadas com o ODS 7 - Energia limpa e acessível e com o ODS 9 - Indústria, inovação e infraestrutura. Nove indústrias citaram ações referentes ao ODS 1 - Erradicação da pobreza. Os três ODS que ainda não contam com ações efetivas são o ODS 14 - Vida na água; o ODS 15 - Vida terrestre; e o ODS 16 - Paz, justiça e instituições eficazes. Importante observar que a categorização das ações como pertencentes a cada ODS foi feita pelos próprios respondentes. A forte relação entre o ESG e os ODS faz com que o envolvimento da indústria capixaba com os ODS possa ser um caminho para adoção das práticas ESG e vice-versa.

QUADRO 9 - AÇÕES CONCRETAS RELACIONADAS AOS ODS ODS ODS 1 - Erradicação da pobreza ODS 2 - Fome zero e agricultura sustentável

ODS 3 - Saúde e bem-estar

ODS 4 - Educação de qualidade ODS 5 - Igualdade de gênero ODS 6 - Água potável e saneamento

ODS 7 - Energia limpa e acessível

ODS 8 - Trabalho decente e crescimento econômico

ODS 9 - Indústria, inovação e infraestrutura ODS 10 - Redução das desigualdades ODS 11 - Cidades e comunidades sustentáveis ODS 12 - Consumo e produção responsáveis ODS 13 - Ação contra a mudança global do clima ODS 17 - Parcerias e meios de implementação

AÇÕES CONCRETAS Ajuda às comunidades vizinhas (doação de cestas básicas) Geração de empregos Pagamento de impostos Remuneração justa Cultivo de plantação Fornecimento de tíquete-alimentação Ambiente de trabalho agradável Condição trabalho segura Distribuição de equipamentos de segurança Fornecimento de plano de saúde Monitoramento da saúde ocupacional Período de descanso e alongamento ao longo do dia Cursos profissionalizantes Oportunidade de crescimento profissional através de programas sociais Treinamentos Oferta de emprego para diferentes grupos de gênero e orientação sexual Remuneração igualitária entre gêneros Destinação dos resíduos Tratamento da água e efluentes Reaproveitamento da água da chuva e processo de fabricação Aquisição de energia de fontes renováveis Implantação de uma usina fotovoltaica na empresa Redução de consumo energético das máquinas Cumprimento das normas técnicas e condições de trabalho Elaboração da política interna de trabalho Incentivo ao empreendedorismo para geração de empregos e soluções para problemas ambientais Aquisição de equipamentos modernos Caderno de sugestão para inovação Melhoria contínua Parceria com instituição de ensino para desenvolvimento processos inovativos Oferta contínua de emprego Realização de palestras para disseminação do respeito e igualdade Participação de associações organizadas que interajam com o setor público Valorização das crianças e adolescentes com projetos que buscam formar cidadãos conscientes e atuantes Projetos de reciclagem de materiais e resíduos Participação em grupos empresariais que tratam do tema Reaproveitamento da água Parcerias com entidades locais, empresas e ONGs

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• CONCLUSÕES •

3. Conclusões Os antecedentes do ESG informam que as catástrofes ambientais atuaram como gatilhos para um novo posicionamento da humanidade sobre o que é desenvolvimento, e que o lucro não é o único propósito que uma empresa deve perseguir. Mudanças nos modelos de governança corporativa, mudanças geracionais, diferentes visões por elas proporcionadas e pressões impostas por investidores e consumidores para inclusão de valores sustentáveis na condução dos processos de produção e consumo são evidências de que o Movimento ESG já é uma realidade. As suas características indicam não se tratar de entusiasmo passageiro ou modismo, pelo contrário, apontam para práticas que podem gerar valores essenciais para as empresas reposicionarem suas estratégias de negócio diante das novas exigências do mundo contemporâneo. Em uma perspectiva geral, a pesquisa reflete a situação de praticamente todos os setores que compõem a indústria capixaba, captando as características do cenário diversificado desse segmento produtivo. Os resultados apresentados sobre

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o nível de conhecimento do Movimento ESG, suas dimensões e métricas, apontam para um tema que os gestores da indústria capixaba ainda não dominam com profundidade. Da mesma forma, indicam um quadro ainda incipiente das práticas ESG na gestão das empresas industriais do Estado do Espírito Santo. Especificamente, essas empresas não aplicam, de forma satisfatória, as práticas ambientais alinhadas à abordagem ESG. Quanto às práticas sociais e de governança, as empresas posicionam-se melhor do que na dimensão ambiental, porém sem ainda corresponder a um patamar considerado como de boas práticas alinhadas à abordagem ESG. Por fim, a forte pressão para o desenvolvimento de práticas sustentáveis, em toda a cadeia de suprimentos dos processos produtivos, ainda não se encontra impulsionada na indústria capixaba. A realidade do conjunto das empresas industriais capixabas define-as mais suscetíveis a serem pressionadas a avançar na abordagem ESG do que a induzirem essa abordagem. A pressão para a adesão às práticas

ESG pode se dar de fora para dentro, e de forma rápida e intensa, devido a dois fatos: a) em âmbito internacional, as exigências e as práticas ESG encontram-se em estágio muito mais avançado; b) a economia capixaba funciona, predominantemente, baseada em plataformas de logísticas de integração internacional, sendo a dinâmica determinada em maior grau por agentes externos a seus domínios do que pelos internos. Isso impõe a necessidade de buscar alinhamento mais contemporâneo no qual a sustentabilidade seja considerada como um elemento vinculado à governança e ao desenvolvimento econômico responsável. De toda forma, o avanço da cultura da sustentabilidade vai aos poucos trazendo a discussão sobre a necessidade de adequação da gestão para as empresas do setor, ficando nítida a demanda por mecanismos indutores da abordagem ESG nas empresas industriais capixabas. Mais do que uma sintonização com a ideia da sustentabilidade, esta abordagem será crucial para o caminho de inovação e competitividade que tem seguido a economia mundial.


ESG na indústria capixaba

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MINUTOLO, M. C.; KRISTJANPOLLER, W. D.; STAKELEY, J. Exploring environmental, social, and governance disclosure effects on the S&P 500 financial performance. Business Strategy and the Environment, p. 1-13, 2019. NULTY, D. D. The adequacy of response rates to online and paper surveys: what can be done? Assessment and Evaluation in Higher Education, v. 33, n. 3, p. 301–314, 2008. PACTO GLOBAL; STILINGUE. A evolução do ESG no Brasil. Rede Brasil do Pacto Global – ONU & Stilingue, 2021. Disponível em: < https://brasil.un.org/pt-br/129007-rede-brasil-do-pacto-global-lancaestudo-sobre-evolucao-de-governanca-social-e-ambiental>. PESSINI, L.; SGANZERLA, A. Evolução histórica e política das principais conferências mundiais da ONU sobre o clima e meio ambiente. Revista Iberoamericana de Bioética, n. 1, p. 1-14, 19 may 2016. POTT, Crisla Maciel; ESTRELA, Carina Costa. Histórico ambiental: desastres ambientais e o despertar de um novo pensamento. Estud. av., São Paulo , v. 31, n. 89, p. 271283, Apr. 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Atividades econômicas na CNAE. Brasília: IBGE, 2010. Disponível em: https://concla.ibge.gov.br/ busca-online-cnae.html?view=estrutura. Acesso em: 21 nov. 2021.

PORTER, Michael E.; VAN DER LINDE, Class. Verde e competitivo. In: PORTER, M.E. Competição: estratégias competitivas essenciais. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Campus. Cap, v. 10, p. 371-397, 1999.

IONESCU, G. H. et al. The impact of ESG factors on market value of companies from travel and tourism industry. Technological and Economic Development of Economy, v. 25, n. 5, p. 820–849, 2019.

SILA, I.; CEK, K. The impact of environmental social and governance dimensions of corporate social responsibility on economic performance australian evidence. Procedia Computer Science, v. 120, p. 797-804, 2017.

LÓPEZ-TORO, A. A. et al. Influence of ESGC indicators on financial performance of listed pharmaceutical companies. International Journal of Environmental Research and Public Health, v.18, 2021.

TACHIZAWA, E. M.; GIMENEZ, C.; SIERRA, V. Green supply chain management approaches: drivers and performance implications. International Journal of Operations & Production Management, v. 35, n. 11, p. 1546–1566, 2015.

MANNHEIM, K. (1982). A questão das gerações. In M. M. Foracchi (Org.). Sociologia (pp. 67-95). São Paulo: Ática.

TAMIMI, N.; SEBASTIANELLI, R. Transparency among S&P 500 companies: an analysis of ESG disclosure scores. Management Decision, v. 55, n. 8, p. 1660–1680, 2017.

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UNGARETTI, Marcella. ESG de A a Z: tudo o que você precisa saber sobre o tema. Expert XP. XP Investimentos, 2020.

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ANEXO 1 •

Anexo 1. O caminho metodológico da pesquisa Para construção da maneira de abordar e analisar o ESG nas empresas industriais do ES, foi feita uma ampla revisão das mais recentes pesquisas sobre o tema. A construção do instrumento metodológico escolhido para este trabalho levou em consideração estruturas já testadas para se proceder o estudo de diversos aspectos do ESG. Dessa forma, o questionário elaborado teve seu conteúdo e estrutura montados a partir das pesquisas relatadas em Sila e Cek (2017), Minutolo, Kristjanpoller e Stakeley (2019), López-Toro et al. (2021), Tamimi e Sebastianelli (2017), e a de Tachizawa, Gimenez e Sierra (2015). Sila e Cek (2017) avaliaram o impacto do ESG na Performance Econômica. Sua conclusão foi a de que a dimensão social é o maior contribuinte para o desempenho econômico. Há também um apoio parcial para uma relação positiva entre desempenho ambiental e desempenho econômico. Entretanto, a governança não pareceu ter um efeito significativo no desempenho econômico. Minutolo, Kristjanpoller e Stakeley (2019) avaliaram a relação entre as pontuações ambientais, sociais e de governança (ESG) e o desempenho da empresa, reforçando o contrato social entre a empresa e as várias partes interessadas. Foi utilizado como hipótese o tamanho relativo das empresas, de acordo com o número de funcionários e nível de vendas, e a conclusão foi a de que em todos os casos o ESG tem um efeito positivo no Q de Tobin e no ROA. Já Dunne et al. (2020) examinaram o impacto da divulgação da responsabilidade social corporativa (RSC) sobre o custo da dívida para pequenas empresas, baseando-se nas categorias consideradas pela Bloomberg 2014 na pontuação do ESG. Neste caso, chegou-se à conclusão de que o custo da dívida para pequenas empresas diminui à medida que estas aumentam sua transparência de divulgação de RSC. López-Toro et al. (2021) desenvolveram um modelo de estudo da relação entre indicadores ambientais, sociais e de governança e o desempenho financeiro, medido por meio do retorno sobre o patrimônio (ROA), retorno sobre ativos (ROE) e Q de Tobin. Esse estudo

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demonstrou que investir no ESG é uma estratégia lucrativa, sendo relevante para os gerentes à medida que aumenta os lucros e o valor de mercado das empresas. Além dessas pesquisas, mostrando a validação da abordagem ESG para aprimoramento da performance das empresas, outras pesquisas têm sido feitas buscando traduzir os conceitos dessa abordagem para elementos passíveis de serem geridos. Entre essas pesquisas, destacam-se a de Tamimi e Sebastianelli (2017) e a de Tachizawa, Gimenez e Sierra (2015). Com base nesta revisão de literatura, foi elaborado um questionário on-line de autopreenchimento composto por cinco partes: 1) C aracterização do respondente; 2) Identificação de setor específico para gestão ESG; 3) A valiação do nível de conhecimento sobre ESG, e os ODS; 4) D escrição das práticas ESG na empresa, e daquelas exigidas na sua cadeia de produção; 5) L evantamento de ações concretas desenvolvidas na empresa referentes aos ODS. A escala Likert de cinco níveis foi utilizada para colher as respostas. E tinha representações de “conhecimento sobre esse tema”, “aplicação das medidas” e “concordância com as afirmativas”. De acordo com o boletim anual do Mapa de Empresas, divulgado pelo Ministério da Economia, o Espírito Santo fechou 2020 com 452.244 empresas ativas, entre matrizes e filiais, divididas entre Indústria, Comércio, Serviços, e Agronegócio, entre outros. Neste universo, destacamos que 95% desse total são empresas de pequeno e médio porte. No outro extremo, temos as 200 maiores empresas que operam em território capixaba de acordo com o IEL – Instituto Euvaldo Lodi, composto por três empresas do agronegócio, 40 empresas do setor de comércio, 58 industriais e 99 empresas do setor de serviços. Tais dados demonstram a diversificação da economia capixaba em número de empresas, tamanho e setor. O universo para a realização desta pesquisa partiu de uma lista de 84.346 CNPJs de empresas industriais no Espírito Santo, obtida da Receita Federal pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), entidade da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes). Um universo tão vasto mescla


ESG na indústria capixaba

empresas ativas e inativas dos mais variados portes e estruturas, entre elas as que apresentam informações de contato pouco confiáveis ou mesmo indisponíveis. Dessa forma, optou-se pela utilização de uma base de dados de 4.243 indústrias consideradas ativas e que têm, de alguma maneira, mantido contato com o Ideies/Findes. Após análise inicial e exclusão de informações duplicadas, empresas extintas e e-mails desativados ou inexistentes, chegou-se a um total de 3.554 e-mails, representando cada um uma única empresa. Assim, no período de 15 de outubro a 12 de novembro de 2021, foram enviados convites para participação nesta pesquisa contendo o link para o questionário em anexo.

EXPEDIENTE

O questionário final aplicado tem 11 questões, com estimativa de tempo de resposta não superior a 10 minutos. A partir do primeiro envio, foram feitos novos envios duas vezes por semana para as empresas solicitando participação na pesquisa. Além da equipe de pesquisa, alguns setores da Findes foram mobilizados para estimular os potenciais respondentes (empresas) a contribuírem. No total, 44 respostas completas foram recebidas até 12 de novembro de 2021, o que resulta em uma taxa de resposta de 1,2%. Desse modo, os dados coletados foram descritos, e sua análise foi feita por meio de avaliação qualitativa.

ederação das Indústrias do Estado do Espírito Santo F (Findes), Conselho Temático de Responsabilidade Social (Cores) e Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies) • Apoio

Pesquisadores • Dr. Alvim Borges • Professor do Departamento de Administração e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável - Ufes •D r. Gilton Luis Ferreira • Professor do Departamento de Administração e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável - Ufes • J úlia Fernandes • Aluna do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável • Ufes • L arissa Bussular Franquini • Aluna do curso de Administração • Ufes.

Execução • Rodrigo Teixeira • Coordenação-Geral • Carla Mara Pereira Franco • Gerente do Projeto

Apoio •M arília Gabriela Elias da Silva • E rnesto Bassini

Instituto Euvaldo Lodi (IEL) • Executor Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) • Parceiro

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