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Uma Eternidade A Mais Ana Cava
Talvez fosse seu momento mais prematuro de solidão. Sentia um vazio que nunca havia sentido. Um frio em pleno janeiro.
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Não seria a única, a primeira, mas não queria esse pesadelo.
Nas manhãs aquele homem alegre saía para trabalhar e jurava voltar com rosquinhas, aquelas diversas, salgadas,amanteigadas, recheadas de carinho.
E não esquecia. Muito menos de levar as filhas à praia para, felizes, catar conchinhas. E cantavam e brincavam como se tudo fosse eterno. E foi. Nas lembranças.
Lembranças tantas de meninas felizes.
Um dia um grito. Uma internação, seguida de outra até ser finito todo o conflito, toda dor. Até ser sepultado um corpo, mas nunca o amor.
E o único querer foi de um dia a mais, um ano a mais, uma eternidade a mais. Não havia vitimismo, apenas uma dor real de perder de vista o toque, o abraço, o olhar de um ser muito amado.
Não havia desespero, mas uma saudade colocada no colo pesa uma tonelada. Você sabe.
Assim começava o distanciamento que nunca foi ausência. As lembranças continuavam povoando mente e coração. E o tempo seguiu em frente. E o pai não mais existiu fisicamente. E ela moça adolescente, virou mulher. E aprendeu que a vida normalmente poderia ser precedida de bons e maus momentos. Até que um dia, ela se viu diante de uma pandemia e só queria te dizer que a vida tem muitos casos e esse eu te conto outro dia. Até.