JORNALISMO REGIONAL

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302.2 Moroni, Benedito de Godoy G724j Jornalismo Regional: O jornal Correio do Porto, 6º aniversário / Benedito de Godoy Moroni, Reinaldo Lázaro Ruas. – Presidente Prudente: [S.n.], 2011. 138 p. : il. Trabalho (Graduação) - Universidade do Oeste Paulista – Unoeste – : Presidente Prudente – SP, 2011. . Bibliografia 1. Jornalismo. I Autor. II. Ruas, Reinaldo Lázaro. III. Título ISBN: 978-85-903061-4-6 Capa Paulo de Souza Carneiro

NOTA SOBRE A OBRA Esta é uma versão ebook PDF, em 2011, da obra originariamente publicada na forma impressa em 2006, porém atendendo as novas regras do acordo ortográfico da língua portuguesa.


“Se o que é sólido se desmancha no ar, nada é menos sólido do que a maioria das notícias que os jornais publicam. O fato que provoca barulho não é necessariamente o fato importante. Importa o fato destinado a produzir mudanças na vida das pessoas.” (Ricardo Noblat)


MORONI, Benedito de Godoy; RUAS, Reinaldo Lázaro. Jornalismo Regional: O jornal Correio do Porto, 6º aniversário. 2003. 102f. Trabalho de Conclusão de Curso – TCC - apresentado como requisito para a conclusão do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social Jornalista “Roberto Marinho” de Presidente Prudente, Universidade do Oeste Paulista Unoeste, Presidente Prudente. Orientadora: Prof.ª Heloisa Miguel RESUMO Este trabalho tem por objetivo desenvolver um suplemento comemorativo ao 6º aniversário do jornal Correio do Porto, de Presidente Epitácio. O referido suplemento faz a revisão da história do município, no período de 13/11/2002 a novembro/2003, através das matérias editadas pelo semanário Correio do Porto. A proposta é atualizar esse material de modo a contribuir com a comunidade epitaciana, acompanhando não só as notícias editadas, mas seus desdobramentos dentro da comunidade. O projeto foi desenvolvido para que o jornal possa, anualmente, acompanhar a evolução dos fatos sociais, políticos, econômicos e culturais que forem importantes para a história de Presidente Epitácio.


MORONI, Benedito de Godoy; RUAS, Reinaldo Lázaro. Regional Journalism: the newspaper “Correio do Porto”, 6th anniversary. 2003. 102p. The Conclusive Works of Course – CWC – presented a requirement for the conclusion of the course in Journalism from the University of Social Communication Journalist “Roberto Marinho” of Presidente Prudente, University of Western São Paulo – Unoeste, Presidente Prudente, Brazil. Consultant: Prof. Heloisa Miguel ABSTRACT This material’s main objective is to develop a commemorative supplement for the 6th anniversary of the newspaper “Correio do Porto”, of Presidente Epitácio. The refered supplement forms a review of the county, within a period from 11/13/2002 to November/2003 by the articles edited by the weekly “Correio do Porto”. The reason is to update this material so as to contribute with the “epitaciana” community, accompanying not only the announcements edited, but their unfolding with-in the community. The project was developed so the newspaper can, annually, follow the evolution of social facts, politics, economical and cultural that are important to the history of Presidente Epitácio.



SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO______________________________ 11 2 FUNDAMENTAÇÃO_________________________ 13

2.1 Justificativa_________________________________ 13

2.3 Metodologia_________________________________ 14

3 HISTÓRIA DO JORNALISMO_____________________ 17

3.1 Evolução____________________________________ 17

3.2 Conhecimento e notícia_______________________ 19

4 IMPRENSA REGIONAL: O JORNAL DO IN­TERIOR_________________________ 27

4.1 Imprensa regional____________________________ 27

4.2 Era do especulativo___________________________ 33

4.3 O Jornalismo e a construção social da realidade____ 36

4.4 Lição d’além-mar_____________________________ 42

4.5 Jornais regionais crescem no mundo_____________ 44

5 O NOSSO JORNALISMO REGIONAL E O CORREIO DO PORTO, UM JORNAL EPITA­CIANO____________ 47

5.1 Presidente Prudente__________________________ 47

5.2 Presidente Epitácio___________________________ 51

5.3 Análise do jornal Correio do Porto ______________ 57

5.4 Projeto editorial do Correio do Porto____________ 65

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5.5 Linguagem jornalística________________________ 69

5.6 As seções do jornal ___________________________ 70

6 SUPLEMENTO ESPECIAL DE ANIVERSÁ­R IO DO CORREIO DO PORTO_________ 73

6.1 Justificação__________________________________ 73

6.2 Projeto editorial_____________________________ 74

6.3 Projeto Gráfico______________________________ 75

6.4 Tipologia___________________________________ 78

6.5 Dados técnicos do produto_____________________ 84

6.6 Pesquisa____________________________________ 85

6.6.1 Resultado da pesquisa realizada________________ 88

6.6.2 Dedução da pesquisa________________________ 93

7 CONCLUSÃO___________________________________ 103 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA___________________ 105 BIBLIOGRAFIA___________________________________ 109 ANEXO A – HISTÓRIA DE PRESIDENTE PRUDENTE________________________ 115 ANEXO C – SERVIÇOS DE ALTO-FALANTES DE PRESIDENTE EPITÁCIO__________________________ 129 ANEXO D________________________________________ 131


1 INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso – TCC – visa a produzir um suplemento comemorativo ao 6º aniversário do jornal Correio do Porto de Presidente Epitácio. Através desse produto, promovemos um ano de retrospectiva da história local, pela análise das mais significativas matérias editadas pelo referido jornal. O semanário Correio do Porto vem regis­ trando acontecimentos (fatos e eventos) que alteraram decisivamente o rumo da história de Presidente Epitácio, como por exemplo, a transformação da paisagem da cidade, a impactação do lago por força da instalação da Usina Hidrelétrica “Sérgio Motta”, a mudança turística com esse advento, transferindo-se, inclusive, o Parque Figueiral. Fazer essa retrospectiva é ir além das páginas do jornal, ou da história do jornal. É mostrar a história de Epitácio em constante mutação e por um olhar retros­pectivo, que tira os fatos do “calor da hora”, próprio de sua primeira edição, e os contextualiza e dimensiona em uma nova perspectiva. A seleção das matérias reeditadas e ora atualizadas, se dá com a participação direta dos as­sinantes, cujas opiniões foram identificadas em pesquisa. Assim, esse trabalho possibilita uma re­ flexão aos leitores do Correio do Porto, mostrando e revi­ sitando o material mais significativo editado no período de um ano, revivendo os principais assuntos abordados pela ótica de um jornal com enfoque local. A proposta é atualizar esse material de modo a contribuir com a comunidade epitaciana, acom­ panhando não só as notícias editadas, mas seus desdo­ bramentos dentro da comunidade. O projeto foi desenvolvido para que o jornal possa, anualmente, acompanhar a evolução dos fatos sociais, políticos, econômicos e culturais que fo

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rem importantes para a história de Presidente Epitácio. Para elaboração deste TCC foram utiliza­ das pesquisas bibliográficas para fundamentação teórica, de arquivo de jornal e de opinião de assinantes. Como convém a todo trabalho acadêmico, procura­mos uma fundamentação teórica para nortear essa pesquisa. Parti­mos dos conceitos de jornalismo, em geral, abordados no capítulo História do Jornalismo e enfocamos particu­larmente as questões referentes ao jornalismo regional, tema sobre o qual discorremos nos capítulos Imprensa Regional: O Jornal do Interior e Nosso Jornalismo Regional e o Correio do Porto um Jornal Epitaciano. Assim chegamos ao Suplemento Especial de Aniversário do Correio do Porto, a qual dedicamos integralmente o capítulo 6. Mesmo com a dificuldade de se encon­ trar obras específicas sobre jornalismo regional, as quais são esparsas e escassas, busca este trabalho mostrar que a imprensa regional desempenha um papel altamente relevante, não só no âmbito territorial a que natural­mente mais diz respeito, mas também na informação e contribuição para a manutenção de laços de autêntica familiaridade entre as comunidades locais e as comu­nidades mais longínquas do mundo. Muitas vezes, a imprensa regional é, com efeito, o único veículo de publicação das aspirações da comunidade local, papel ao qual a imprensa de expansão nacional dificilmente é sensível. Além disso, tem, por regra, sabido desempenhar função cultural a que nenhum órgão de comunicação social pode manter-se alheio. No capítulo final, apresentamos as principais conclu­ sões oportunizadas por essa pesquisa, quando desta­camos o papel do jornalismo regional e do Correio do Porto.

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2 FUNDAMENTAÇÃO 2.1 Justificativa Como acadêmicos do curso de Comu­ nicação Social, habilitação em Jornalismo, buscamos, diante do desafio de realizar um Trabalho de Conclusão de Curso – TCC -, desenvolver uma atividade prática fundamentada teoricamente. Ao propormos a realização de um suple­ mento com o caráter de promover uma retrospectiva histórica anual para Presidente Epitácio, através das notí­cias do Correio do Porto, estamos contribuindo, com uma ação jornalística, para que a comunidade se reconheça e se motive à participação na vida comunitária. Assim, estamos colocando nosso conhe­ cimento acadêmico a serviço de uma comunidade. O resultado deste TCC servirá, também, como fonte de pesquisa para estudantes, acadêmicos, profissionais do jornalismo e da Comunicação Social, posto que a literatura sobre jornalismo regional é esparsa e escassa. 2.2 Objetivos O trabalho tem os seguintes objetivos: a) Geral - que é realizar uma pesqui­sa bibliográfica que fundamente a elaboração do produto “suple­mento especial do 6º aniversário do Correio do Porto” enfocando: • Conceitos gerais de jorna­lismo • Conceitos de imprensa regional • Conceitos de produção gráfica

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b) Específico – que é desenvolver o “suplemento especial do 6º ani­versário do Correio do Porto”, con­tendo uma revisão dos principais fatos que afetaram a comunidade de Presidente Epitácio no perío­do de 13 de novembro de 2002 a novembro de 2003, através da análise das matérias editadas pelo semanário. 2.3 Metodologia Para o desenvolvimento do referido su­ plemento, utilizamo-nos de: a) pesquisa bibliográfica b) pesquisa aos arquivos do jornal Correio do Porto e c) pesquisa de opinião junto a assinantes O desenvolvimento do estudo supõe três fases (CHIZZOTTI, p. 102-103): a) seleção e delimitação do caso Explicitar as delimitações: objeto de observação, no caso o jornal, as balizas cronológicas, as editorias envolvidas, o número de edições; mostrar, como na justificativa, a importância do caso selecionado para o contexto geral; b) trabalho de campo O trabalho de campo objetiva reunir e organizar as informações coletadas nesta pesquisa por meio de fontes escritas. A pesquisa ocorreu em todas as edições do último ano do jornal Correio do Porto. c) organização e redação do relatório A publicação de uma retrospectiva, sob a forma de suplemento, obtida pela seleção e organiza­ção dos dados coletados na pesquisa. O estudo de caso se articula com outros métodos complementares: a) estatístico, cuja função é quantificar 14

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uma realidade em observação, possibilitando uma aná­ lise objetiva de representações e expressões coletivas (LAKATOS, 1991, p. 83) Ex: efetuou-se pesquisa por amostragem sobre os desejos do leitor quanto ao de­ senvolvimento de outros temas que não os abordados atualmente pelo Correio do Porto. b) histórico, como escreve Lakatos: “o método histórico consiste em in­vestigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma melhor compreensão do papel que atualmente desempe­nham na sociedade, deve remontar aos períodos de sua formação e de suas modificações”.(1991, p. 82)

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3 HISTÓRIA DO JORNALISMO 3.1 Evolução O jornalismo constitui-se na utilização de todos os meios possíveis disponibilizados a fim de que a notícia chegue ao público e esse processo inclui a seleção, produção, edição e distribuição/circulação da notícia. A obtenção desse resultado requer trabalho elaborado, contínuo e sistemático, conforme nos aponta Juarez Bahia (1990, p.9). Ao reportar-se a ideias, acontecimentos e informações gerais, o jornalismo enfrenta o desafio e o compromisso de apresentá-los à sociedade com vera­ cidade, exatidão, clareza e rapidez, de modo a unir pen­ samento e ação. Ao selecionar, apurar, reunir e difundir essas notícias, dentro dos parâmetros de linguagem e estrutura adequados às diversas possibilidades da prática jornalística, os profissionais devem fazê-lo com ética e compromisso social. O jornalismo, consequentemente, pode ser considerado como arte, técnica e ciência. Sobre a importância do jornalismo, Thomas Jefferson, em 1787 (Apud BAHIA, 1990, p. 10), opinava que: “se me fosse dado decidir se devemos ter um governo sem jornais, ou jornais sem governo, eu não hesitaria um momento em escolher esta última alternativa”. Para alguns, entretanto, o jornalismo de um modo reducionista -, deve ser visto apenas como uma das formas de comércio. Mas, embora fazendo parte do sistema econômico, no contexto da indústria cultural, o jornalismo constitui-se em inegável bem social, levando a comunidade a participar da vida pública. Para os que acreditam que nada pode ser considerado mais velho do que o jornal de ontem, diremos que as coberturas de ontem pautam as conversas e auxiliam as escolhas de hoje e serviriam, se nada mais houvesse, como

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registro da história. Bem H. Bagdikian (Apud BAHIA, 1990, p.10), traça considerações sobre o já citado processo que envolve a notícia, e as mercadorias de consumo de massa, produzidas e distribuídas por homens e máquinas. O autor aponta como diferen­cial o fato de que a notícia resulta, em sua origem, de esforço intelectual, artesanal, de avaliação pessoal, de técnicas e de organização, dando-lhe, fundamen­talmente, significado social. Desta forma, a responsabilidade do jor­ nalismo, como aponta Bahia (1990, p.11-19 passim), deve repousar na: • independência, pois impren­sa que não possui esta qua­lidade torna-se manobrável por interesses obscuros, não sendo confiável; • veracidade, dizendo o que se pensa e fazendo de acordo com o que se diz, lembran­do-se que a verdade que se apura é geralmente a veracidade que se publica, mas que ela não é a última verdade e nem sequer a verdade definitiva; • objetividade, informando fielmente o que se relata e sendo preciso no que se diz; • honestidade, tendo-se em conta que uma informação não é uma informação se não for verdadeira; • imparcialidade, onde a ética profissional e a consciência do indivíduo são trazidas à tona; • exatidão, para que a infor­ mação não corra o risco de ser desmentida ou desqua­lificada pela intenção de desonestidade; • credibilidade, representada pela confiança no veículo que traz a informação res­ponsável e qualificada. Podemos perceber que o jornalismo está inserido num processo histórico cultural laboriosamen18

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te aperfeiçoado no tempo, onde a missão do jornalismo se confundiria com a natureza da informação. 3.2 Conhecimento e notícia A cultura avança pelo conhecimento e, em última instância, conhecimento é poder so­cial. O peso e o envolvimento contidos no conhe­cimento podem ser apreciados nas colocações de Nilson Lage (1998, p.7): O conhecimento em geral privilegia o que as coisas são [...] [...] há mui­to tempo, e talvez desde o início da cultura, a tarefa da guardar e produzir conhecimento vem-se especializando. O jogo de poder entre pajé e caciques amplia-se entre sacerdotes e reis, filó­sofos e ditadores.

A comunicação sempre esteve na base da organização e do desenvolvimento das sociedades humanas. Conforme as sociedades se tornavam mais complexas, também a comunicação avançava no sentido não só de atender às novas necessidades sociais, mas de criar condições e contribuir para o progresso, humano e material. Assim, a comunicação privada de caráter dialógico, interpessoal, precisou coexistir com a comu­ nicação social, que passa a desenvolver-se plenamente na Idade Moderna. Se na Idade Média as informações dispo­ níveis vinham embutidas em decretos, proclamações, exortações e nos sermões da Igreja, levando décadas para cruzar a Europa, com a expansão da atividade comercial, novas técnicas e informações começam a chegar, apon­ tando para o desenvolvimento do jornalismo. Para que isto ocorresse concorreram: o papel fabricado na Espanha no século XII, sob a ocupação árabe, e na Itália no

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século XIV; os tipos de metal surgidos na Coreia, em 1390; a tecnologia gráfica utilizada por Gutenberg ao imprimir a Bíblia em 1452; a alfabetização e o início da colonização da América. Foi nesse contexto que surgiu a imprensa. Tem-se que o primeiro jornal a circular foi em 1609 na cidade de Bremen, na Alemanha. O crescimento desse segmento foi rápido para os padrões da época. Dez anos depois Estrasburgo, Colônia, Frankfurt, Basileia, Ham­ burgo, Amsterdã e Antuérpia já contavam com jornais, os quais eram impressos em francês e inglês. Londres publicou em 1621 a Current of General News. Paris, por sua vez, em 1631 publica sua Gazette. Mais que acompanhar as transformações que marcaram a sociedade dessa época e que foram determinantes para o surgimento da “modernidade” (como o surgimento dos Estados Nacionais, das línguas oficiais, a mudança do eixo da vida social do campo para a cidade, a consolidação do capitalismo mercantilista e da sua burguesia), o jornalismo contribuiu para que essas mudanças ocorressem, segundo John B. Thompson (1995, p.230). Nota-se que nos primeiros jornais a preocupação noticiosa era com fatores de acumulação de capital mercantil. Noticiavam-se fatos ou aconteci­ mentos que influenciavam o comércio, como geadas, queimadas e quedas na produção, ou ainda guerras, que com isto indicavam aumento na procura de armas e de dinheiro pelos reis. Ocorre que a burguesia propagava os novos valores pelos jornais, que podiam ser úteis para sua arrancada final sobre os palácios. A Igreja e o Estado tentaram conter a livre circulação de impressos através do índex e da censura. Lage (1998, p.11) nos mostra que na­quele 20

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instante da história: O investimento para imprimir um jornal era pequeno, a redação se limi­tava a duas ou três pessoas, os leitores pagavam o preço do papel, da tinta e costumavam até prover o capital inicial, com a contratação de assinaturas. Do ponto de vista econômico, qualquer um podia lançar a sua folha, desde que tivesse algumas centenas de amigos, correligionários ou pessoas com motivo para temer ataques impressos caso não contribuíssem.

Nesse período havia o jugo de tribunais e forte pressão de sistemas sutis de controle, como cartas de monopólio, imposto do selo e taxação do papel. Isto durou até a última metade do século XIX, quando as transformações geradas pela Revolução Industrial contribuíram para a derrubada da censura na maior parte da Europa Ocidental. Esta mudança deveu-se: • Ao surgimento de um efetivo mercado de massa para os jornais, com os trabalhadores aprendendo a ler; • Máquinas e organização da pro­dução chegando aos jornais, como a impressora de Koening em 1814, • A rotativa de Marinoni em 1867 • A linotipo de Megenthaler em 1886. Com essas transformações foi permitido ao empreendimento jornalístico que se tornasse empre­ sarial, e com a inclusão da publicidade que se tornaria a principal fonte para cobrir os custos editoriais. Deve ser destacado que esse desenvolvi­ mento histórico não se deu da mesma forma, em todo o mundo. As bases do jornalismo moderno viriam a se desenvolver na América.

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Com referência ao desenvolvimento do jornalismo nos Estados Unidos, Lage (1998, p.14) coloca: De seus primeiros tempos, a imprensa ame­ricana trazia uma tradição de cobertura local. Nos anos de Hearst e de Pulitzer, adquiriu novo aspecto, dando ênfase às histórias senti­mentais e de crimes que distraem e ao mesmo tempo projetam aspirações e angústias das grandes massas. O tratamento emocional desses temas gerou o que se chama de im­prensa sensacionalista-competitiva, voltada para a coleta de informações a qualquer preço e, eventualmente, mentirosa. A par do sen­sacionalismo, e no esforço para superá-lo, os jornalistas americanos conseguiram emprestar rigor às técnicas de apuração e tratamento de informações. Foram buscar no espírito científico o respeito pelos fatos empíricos e o cuidado de não avançar além daquilo que os fatos indicam. A ideia da imparcialidade é parte desta postura, que se contrapôs ao modelo sensacionalista nos grandes jornais da América. Foi nos Estados Unidos que o jornal-imprensa atingiu sua maturidade.

No Brasil, a imprensa surge com a vinda da Família Real portuguesa, que trouxe uma tipografia completa, fundando a Imprensa Régia no Rio de Janeiro, em 1808, por Dom João VI. Isso, 308 anos após a des­ coberta do Brasil pelos portugueses. Até então, Portugal não permitia a instalação da Imprensa no país. O objetivo da Coroa era manter a colônia atada a seu domínio, nas trevas e na ignorância. Manter a imprensa fora da vida colonial era característica própria da dominação: a ideolo­gia dominante deve manter o povo sem um mecanismo social de expressão de ideias e divulgação dos fatos, como é o caso do jornal. Em 10 de setembro de 1808 saía o nú­ mero inicial do primeiro jornal brasileiro, A Gazeta do Rio de Janeiro, dirigida por Frei Tibúrcio José da Rocha, 22

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órgão oficial da administração portuguesa. O jornal tinha quatro páginas e só publicava atos oficiais, notícias sobre o estado de saúde dos príncipes europeus e informações sobre a Família Real. Não falava em liberdade política, nem fazia críticas ao sistema colonial. Nada podia ser impresso contra religião, governo ou bons costumes. Seu texto era extraído da Gazeta de Lisboa e de jornais ingleses. Todo o conteúdo era lido antes pelos Condes de Linhares e Galveias, per­ tencentes a Junta Censora da Coroa. As notícias ignora­ vam um Brasil já marcado pelas revoltas de movimentos populares, que questionavam as relações coloniais, o país escravocrata e monocultor. Anteriormente à edição da Gazeta do Rio de Janeiro, em 1º de Junho de1808, nasce em Londres o Correio Braziliense ou Armazém Literário, de Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, maçom e liberal, exilado naquela cidade. Hipólito chegou à Inglaterra em 1805, fugido dos cárceres da Inquisição Portuguesa. Jornal mensal com 72 a 140 páginas, doutrinário, não do tipo noticioso como era a Gazeta do Rio de Janeiro. Tinha seções de Política, Comércio, Arte, Literatura, Ciências e Miscelânea. Seus objetivos eram discutir questões que afetavam Brasil, Portugal e Inglaterra. O Correio Braziliense, de Hipólito da Cos­ ta, queria preparar para o Brasil, instituições liberais e melhores condições políticas. Atacava os defeitos da ad­ ministração no país; criticava os monopólios português e inglês que mandavam mercadorias para o Brasil, en­ quanto produtos de outros países eram proibidos, como forma de manter a dominação econômica. Defendia o livre comércio com todas as nações. Atacava a corrupção e a imoralidade. Recebia informações do Brasil por meio de correspondência trocada com patriotas brasileiros. Em 1809, estava proibido de circular no

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país pelo Conde de Linhares, da Junta Censora da Co­ roa. Era um veículo independente, porque era impresso fora dos domínios da coroa portuguesa. Defendia o abolicionismo, desagradando os escravistas portugueses. Em 1811 surgiu em Londres o Investigador Português, financiado pela corte portuguesa, para neutralizar o Correio Braziliense. Esse jornal era orientado pelo irmão do Conde de Linhares. No Brasil, a Imprensa Régia publicou, também, a primeira revista carioca, O Patriota, criada em 1811. Também em 1811, na Bahia, surgia A Idade de Ouro do Brasil, nos mesmos moldes da Gazeta do Rio de Janeiro, que defendia o absolutismo. Este jornal nascia para neutralizar o material contrário a Portugal que chegava ao Brasil com a abertura dos portos. A censura, que começara com a Imprensa Régia, acabou em 1821, procurando-se caracterizar, porém, os chamados cri­mes de imprensa com punições. Nessa época, D. Pedro procurava fomentar na colônia ideias separatistas, que culminariam com a Independência política do Brasil, de Portugal. Desde 1820, o Correio Brasiliense teve per­ missão para circular no Brasil, mas com o surgimento de outros jornais, praticamente perdeu a finalidade. Desapareceu em 1822, com a independência do Brasil. Publicou 175 números, de junho de 1808 a dezembro de 1822. Hipólito da Costa apenas aceitava a Indepen­ dência e, com a ampliação desse movimento no país, acabou sendo ultrapassado pelos acontecimentos e pelo seu público. Após a independência registrou-se grande impulso na imprensa. Minas Gerais, em 1823, tem o jornal O Compilador e, em 1828, o Precursor das Eleições. O Diá24

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rio de Pernambuco é inaugurado em 1823. Nesse mesmo ano, em São Paulo é criado O Paulista, jornal inteiramente manuscrito. Em 1827 circula O Farol Paulistano e, em 1929, São Paulo tem O Observador Constitucional. O Jornal do Commércio é veiculado dia 1º de outubro de 1827, no Rio de Janeiro. No ano de 1891 surge, também no Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil. As empresas de mídia surgiram no Brasil com características muito específicas, que marcaram seu desenvolvimento posterior. A primeira dessas caracterís­ticas é a tardia implantação da imprensa no país. Somente no século XIX é que surgem os primeiros jornais diários impressos. Virgílio Noya Pinto, (1995, p. 38) relata que até 1922 a imprensa dominava como único meio de comunicação de massa. Isto foi reconhecido pelos governantes, tanto que um dos primeiros atos da Repú­ blica foi estabelecer a censura conforme os decretos de 23 de dezembro de 1889, e de 28 de março de 1890. Na era Vargas (Getúlio, 1930-1945), com a instalação de um Estado autoritário, o controle da informação passou a ser mais rígido, inclusive com a criação do órgão de difusão e de controle ideológico da informação: O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIPE). Pinto (1995, p.50) destaca que “apesar do Regime, a evolução da imprensa foi grande, em especial no sentido de consolidar a estru­tura empresarial e capitalista.” Na República Nova (de 1945 a 1964), caracterizada como um período democrático, as em­presas jornalísticas passam a uma fase de conglomera­do, incluindo jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão. Desta forma, ainda segundo Pinto (1995, 59), “por estas razões, dificilmente surgiriam novas empresas, e os pequenos jornais e rádios foram sendo absorvidos” De 1964 a 1985 o Brasil passou pelo au­

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toritarismo através da ditadura militar. A repressão e a censura atingiram duramente os meios de comunicação. Entretanto, a imprensa vai rompendo vagarosamente o esquema de censura, criticando a política socioeconômi­ ca, denunciando escândalos e apoiando reivindicações populares. Atualmente, a imprensa brasileira possui liberdade de expressão e pensamento. Muitos outros jornais nasceram e cir­ culam até os dias atuais. Hoje, os quatro grandes da imprensa diária estão, dois em São Paulo, O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, e dois no Rio de Janeiro, Jornal do Brasil e O Globo.

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4 IMPRENSA REGIONAL: O JORNAL DO IN­TERIOR 4.1 Imprensa regional Os estudos sobre a imprensa, normal­ mente, visam os veículos de ampla abrangência. Thomp­ son (2000, p.167) coloca que a comunicação de massa precisa ser vista sob os enfoques da questão tecnológica e da produção, transmissão e recebimento de formas sim­bólicas. As formas simbólicas “se tornaram desde o fim do século XV cada vez mais e de uma forma irresistível, parte de um processo de mercantilização e transmissão que é, agora, de caráter global”. Isso levou a um processo difuso e irreversível de mediação da cultura, que ganhou o mundo. Para Thompson (2000, p.349), “a comu­ nicação de massa desempenha um papel sempre mais importante”. Desta forma, ao olharmos para as co­ munidades do interior, principalmente das pequenas cidades, reconhecemos que o jornalismo não pode ficar apenas na realidade macro, não discutindo o dia-a-dia e as especificidades e características próprias de cada região e local. O que é notícia para a pequena cidade, como Presidente Epitácio, com seus cerca de 40 mil habitantes, pode despir-se de qualquer interesse à metrópole, neste caso, a mais de 600 quilômetros de distância. Os problemas locais como falta de sane­ amento, uma licitação não transparente, a indústria que fecha, as eleições municipais, tudo pode ser de relevância para a cidade do interior e de nenhum significado para a grande cidade. Assim, as pequenas cidades não irão se reconhecer nas páginas dos grandes jornais. É nessa situação que surge o jornal do interior. Tem-se, ainda, que uma de suas funções essenciais é o acompanhamento e registro da história local. Este aspecto relevante serve como impulso para a

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formação da consciência de cidadania e educação/inte­ gração do indivíduo na vida comunitária. O jornal do interior permite que o ci­ dadão participe da vida pública local, inteirando-o das notícias de sua cidade, e sendo instrumento viável para expressão de seus anseios e aspirações. Enquanto que a globalização das comuni­ cações coloca em relação os contrastes do mundo atual, acelera também o contraste da própria comunicação: a convivência entre a sua tendência à internacionalização e a tendência à regionalização, ou entre sua nacionalização/estadualização, e a sua regionalização. Como afirma Cicilia M. Krohling Peru­ zzo (1998, p.148), em seu artigo Mídia Comunitária: “a tendência à regionalização das comunicações aumenta o potencial do desenvolvimento da comunicação comu­ nitária”. A autora (1998, p.151) defende a regionaliza­ ção como forma do exercício pleno da cidadania, pela sociedade, o que potencializa a “feitura” dos meios de comunicação que conseguem comportar e expressar as várias tendências políticas, vários credos religiosos, “mas sempre em conformidade com a realidade, necessidades, expectativas, gostos e culturas locais, visando o desen­ volvimento das comunidades”. A sociedade precisa de outros canais de expressão social, coexistindo com a grande imprensa. No final dos anos 70 e nos anos 80, enquanto a comunicação sofria repressão e censura no Brasil, os movimentos sociais de classe subalternas foram se organizando, visando, essencialmente, a satisfação de suas necessidades de acesso aos bens de consumo coleti­vo, numa conjuntura de opressão à participação política e da degradação das condições de existência de grande parcela da população, advindas das condições impostas pelos regimes militares autoritários em muitos países da América latina. As manifestações que emergiram nas 28

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organizações das classes populares se concretizaram en­quanto comunicação popular - ligada ao povo - ou deno­minada de imprensa alternativa - no sentido do conteúdo e dos canais utilizados, tais como boletins, panfletos, alto-falantes - em relação aos meios de comunicação de massa – rádio e televisão. A censura e a autocensura eram rígidas e vinculadas a políticos, interesses econômicos e ao governo militar. Em artigo intitulado Comunicação Popu­lar: Salto para o Massivo, Peruzzo (1998, p.145) explica: [...] os movimentos populares e outras organizações foram criando canais pró­prios de expressão nos quais pudessem transmitir suas reivindicações e suas críticas à “ordem” estabelecida e assim divulgar o seu modo de ver o mundo e contribuir para a efetivação de mudan­ças que a sociedade requeria.

Nesse sentido, a imprensa alternativa foi oposta aos meios de comunicação de massa. Es­ses eram tidos como dominadores e manipuladores das mentes e corações, a fim de cooptar a sociedade à ideologia e aos interesses das classes dominantes. As aspirações da sociedade, seus problemas e sua conscientização eram a tônica dos que faziam da imprensa alternativa um instrumento de conscientização, que tentava levar à transforma­ção da sociedade. Ainda segundo Peruzzo (1998, p.145): De fato, na época, só os meios al­ternativos se aventuravam falar de assuntos proibitivos sob o regime militar. Portanto, o antagonismo entre comunicação popular e massiva foi uma construção teórica que refletia uma conjuntura específica.

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Na passagem do processo autori­tário para a democracia, muitas alterações ocorreram nos meios de comunicação: • As eleições diretas permitiram mais liberdade de organização e expressão; • A grande mídia - aos poucos e de forma crescente - foi abrindo espaço em sua programação para temas e tipo de abordagem antes tratados apenas em esferas pro­gressistas; • A grande imprensa começa a fazer denúncias e entrevistar lideranças comunitárias, além de adotar uma linguagem mais popular, acessível a todas as camadas, universalizan­do a informação. Peruzzo (1998, p.151) cita alguns aspec­ tos que hoje caracterizam uma mídia comunitária: • Estar aberta à participação ativa dos cidadãos e suas entidades representativas; • As pessoas da própria co­munidade se revezam enquanto produtoras e receptoras dos pro­dutos comunicacionais; • Desenvolvimento do pro­cesso de interatividade na comu­nicação; • Pautada sobre temas de interesse local; • As ações se desenvolvem em torno de interesses comuns; • Envolve um processo de aprendizado no exercício da de­mocracia e da cidadania. Reunimos dados e informações que evidenciam que a comunicação comu­nitária, tal como se apresenta no final de década de 90, tem suas raízes nas manifestações comunicacionais que marcaram época na sociedade brasi­leira, no contexto das transformações ocorridas a partir do final da década de 70. Dos movimentos sociais são trazi­dos princípios e experiências, tais como de participação e democracia que vão ajudando a configurar as novas expe­riências. (PERUZZO, ibidem, p. 147)

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152) destaca:

Sobre o cenário atual, a autora (1998, p. Atualmente, apesar de algumas premis­sas continuarem vivas, a conjuntura é outra, as preocupações das pessoas tam­bém, e assim vão sendo incluídas outras temáticas e mudando as linguagens e formatos, mais adequados ao momento atual. Hoje, o cerne das questões gira em torno da informação, educação, arte e cultura, com mais espaços para o entretenimento, prestação de serviços, participação de várias organizações e divulgação das manifestações culturais locais.

Esse tipo de abordagem sobre mídia co­ munitária permite-nos sua definição como um instru­ mento de atuação política e social de uma determinada coletividade, seja ela um grupo de trabalhadores de uma fábrica, o conjunto de moradores de um espaço territorial delimitado ou mesmo pessoas vinculadas a laços culturais e religiosos. Através desse tipo de comunicação, a pro­dução da informação surge num processo de partilha de um grupo, que se vê representado e coautor do processo comunicativo. Diferentemente da grande mídia - onde a informação é tratada como bem de consumo não-durável - numa perspectiva de comunicação comunitária, a in­ formação ressurge transmutada em elemento educativo, aglutinador das identidades, prestador de serviço. Uma das características da comunicação comunitária é que, por abordar temas locais ou especí­ ficos, desperta o interesse do público pela informação, uma vez que conteúdo e personagens envolvidos têm relação mais direta com as pessoas. As notícias não têm um tom de espetáculo como na mídia convencional, mas revelam algo do qual o público participa, reconhecendo nas informações dados do seu próprio cotidiano.

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Dessa forma, realiza-se um processo de construção das identidades e de cultivo dos valores his­ tóricos e culturais. Os “pequenos jornais” têm hoje, com a abertura do processo democrático no país, o papel de fomentadores dessa dinâmica. Recorremos a Raquel Paiva (1998, p.155) para diferenciar a imprensa regional, o jornal do interior, de um veículo comunitário. Segundo a autora: O que nesse caso funcionaria como di­ferenciador é a vinculação que a comu­nidade possui com o veículo. Vincula­ção, comprometimento e inserção total na gestão do sistema adotado: quanto mais estreita for a relação entre o veí­culo e os propósitos e objetivos duma comunidade, mais seus membros vão estar envolvidos em sua produção, e proporcionalmente maiores serão a representatividade e reconhecimento como veículo comunitário [...]

É comum fazer-se confusão entre um veículo comunitário e jornais de pequena abrangência. Um jornal de bairro, por exemplo, é feito por poucas pessoas, para o público de determinada comunidade, mas tem por objetivo o lucro, portanto não pode ser tomado como veículo comunitário. Da mesma forma, o jornal regional ou jornal do interior não se caracteriza como veículo co­ munitário, o que não lhe destitui o inegável valor de promover a cobertura jornalística a partir de temas locais, gerando participação comunitária. O jornal Correio do Porto, de Presidente Epitácio, não pode ser considerado como um veículo comunitário, mas contribui com a construção da iden­ tidade e o cultivo dos valores históricos e culturais do município. Nas diferentes instâncias políticas, cul­turais 32

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e econômicas locais que formam o município de Presidente Epitácio, eis, talvez, a mais nobre missão do jornal Correio do Porto: tirar o cidadão comum do anoni­mato imposto pela mídia nestes tempos de globalização, e transformá-lo em personagem de uma nova criação nar­rativa contada a partir da perspectiva e referência locais. Fazer com que os moradores conheçam aspectos diversos da realidade que os cerca e que acredi­ tem e busquem soluções para o local onde vivem. Tornar a informação local mais forte do que a versão que vem de fora. Projetar a sociedade à discussão da cidadania, na qual somos responsáveis por nossa história e onde devemos encontrar a alternativa viável de projeto político local, na conturbada era da globalização. Pode-se mesmo arriscar em dizer que o espírito que anima a proposta de um jornal regional se encaixa, com harmonia, nas palavras do professor e escritor Paulo Freire (Acesso em: 7 set. 2003): A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente é pronunciar o mundo, é modificá-lo.

4.2 Era do especulativo No INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001, o professor doutor Luís Esteves Pinto (2001, loc. cit.), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, cita que estamos em uma era do dinheiro imaterial especulativo, que nas frações de segundos dos impulsos digitais, se desloca - na escala dos bilhões de dólares -, entre bolsas de valores de Nova Iorque, Tóquio ou São Paulo, ameaçando blocos econômicos intei

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ros com o risco de colapsos relâmpagos. É também a era da instabilidade das culturas e tradições dos povos do globo, postas em contato pelas tecnologias da comunicação e mantidas sob a mira constante da varinha de condão das for­ças do Mercado - que tudo transforma em padrões de consumo. E quando o assunto é política mundial, o que não faltam são pontos de interrogação. É uma afirmação que fica clara ao obser­ var a busca da Esquerda por um eixo ideológico estável desde o colapso dos países socialistas nas décadas de 80 e 90. E mesmo ao perceber a crescente angústia das forças hegemônicas da Direita com as tendências cada vez mais autodestrutivas do capitalismo.

Em seu trabalho científico, Esteves Pinto apresenta dados de estudos realizados por organismos internacionais que ajudam a justificar essa preocupação. Segundo pesquisa do Banco Mundial (Bird), existem 1,5 bilhões de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia, no planeta. A previsão para 2015 é de 1,9 bilhões de pessoas nessas condições. De 4,4 bilhões de pessoas vivendo em países em desenvolvimento, cerca de 60% não têm acesso a condições básicas de saneamento, um terço não sabe o que é água limpa, 25% não têm moradia adequada e 25% estão sem acesso a serviços médicos. O Banco Mundial aponta também um estoque de poupança global na ordem de 13,7 trilhões no ano 2000. No entanto, apenas 25% desse montante fica nos países em desenvolvimento. O Brasil ocupa papel de destaque nessa dança estatística. Em outro relatório do Bird, concluído em 1996, o país aparece como primeiro em desigualdade social e de renda em todo o mundo. Segundo dados do mesmo relatório, 51% de toda a renda do país está concentrada nas mãos de apenas 10% da população. No outro extremo da balança 34

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social, os 20% mais pobres ficam com 2,1% da renda nacional. O resultado dessa desigualdade é a existência 25 milhões de miseráveis com 16 anos ou mais - 24% da população nessa faixa etária. Esteves Pinto (2001, loc. cit. ) expõe: São os excluídos do próximo século, prováveis focos de conflitos sociais. São números que projetam sombras para o futuro e preocupam os Governos para uma futura crise de governabilidade mundial. Afinal, o que fazer com a cres­cente turba de desempregados globais formada pelos excluídos da formação educacional e pelos não adaptados à nova ordem tecnológica do mercado de trabalho globalizado. Os efeitos da desigualdade econômica e social ge­rada por um processo desequilibrado de globalização já pode ser sentido de forma concreta no dia-a-dia das cidades grandes. É o aumento da violência civil em todas as partes do globo.

Nos últimos 10 anos, segundo E. Pinto, estudiosos de ciências sociais do mundo todo têm se debruçado sobre a questão. É interessante perceber que as atenções de muitos pensadores e pesquisadores, em busca de respostas e alternativas, convergem para a pa­lavra comunidade. Na opinião de Ladislau Dowbor, em seu texto de 1999, Da globalização ao poder local, (Acesso em: 8 set. 2003) com a fragilização e redução do Estado­-mínimo neoliberal ocorre hoje uma nova hierarquia de espaços. Dowbor visualiza como fenômeno atual, a gradual recomposição dos espaços comunitários, permi­ tindo novas formas de inserção do indivíduo no processo de reprodução social. A intervenção do cidadão sobre a transformação social, para Dowbor (1999, ibidem) res­ surge então sob nova roupagem. Não mais através do eixo político­-partidário ou

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sindical-trabalhista. Mas na organização da comunidade como espaço de ação política e poder vinculados às potencialidades e refe­rências locais. Apesar de ainda con­troversa, essa nova perspectiva real de atuação social na esfera comunitária permite o vislumbre de um novo projeto político alicerçado justamente em princípios esvaziados pela globa­ lização: vinculação identitária, soli­ dariedade, cidadania, valorização da prática do cotidiano.

Por todos os atributos antes colocados, destacamos a importante colaboração que o jornalismo regional tem a oferecer neste processo de fortalecimento comunitário. 4.3 O Jornalismo e a construção social da realidade De uma maneira geral, destacamos defi­ nições de jornalismo e notícia a partir de dois grandes grupos “os que defendem a notícia como um espelho da realidade e aqueles que concebem a notícia como uma construção social da realidade” conforme define o jornalista e professor de Telejornalismo da Unicamp (Universidade de Campinas) e doutorando em Comu­nicação Social da ECO/UFRJ, Alfredo Vizeu (2002. Acesso em: 8 set. 2003): Dessa forma, podemos reiterar que no jornalismo não basta noticiar que um grupo de estu­ dantes da rede pública do Estado esteja protestando em frente a uma prefeitura qualquer contra o término de um programa social que lhe garantia passe gratuito no sistema de transporte coletivo (espelho da realidade). Deve sim, mostrar essa realidade e a conjuntura que a levou a efeito, como não ter como pagar a tarifa fixada pelo Poder Público a cada vez que tiver que se dirigir à escola. Muitos deixam de estudar por razões econômicas que favorecem a exclusão do processo de ensino 36

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por conta das dificuldades impostas pela omissão de governos em setores essenciais, como o da educação, quer seja nas esferas municipal, estadual e federal. Apontar o efeito é retratar o espelho da realidade e, sua causa, a construção social da realidade. Os jornais regionais estão mais próximos dessa construção social da realidade, diferentemente dos chamados grandes jornais que, esporádica e super­ ficialmente, abordam temas interioranos distantes por uma ótica distante, com a frieza de quem não vivencia a realidade nua e crua. Os jornais regionais exercem papel preponderante na nudez dos panos de fundo das relações sociais com o Poder Público, da conflitante re­ lação capital/trabalho, das necessidades e anseios de sua comunidade. A sociedade ajuda a formar a consciência e, por outro lado, mediante uma apreensão intencional dos fenômenos do mundo social compartilhado – mediante seu trabalho efetivo –, os homens e as mulheres cons­ troem e constituem os fenômenos sociais coletivamente. Em seu artigo, Vizeu alega que cada uma destas perspectivas, ao atuar sobre os atores sociais, de­ termina uma abordagem diferente da notícia. A ideia da notícia como um espelho da realidade corresponderia à concepção tradicional das notícias. Este ponto de vista, segundo Vizeu (2002. Ibidem) defende a “objetividade como um elemento-chave da atividade jornalística. Dentro desta concepção, o máximo que se admite é a possibilidade de que as notícias reflitam o ponto de vista do jornalista”. O autor aborda, ainda, que a notícia não espelha a realidade. Para ele, a notícia ajuda a constituí­-la como um fenômeno social compartilhado, uma vez que no processo de definir um acontecimento, a notí­ cia define e dá forma a este acontecimento. Ou seja, a notícia está permanentemente definindo e redefinindo, constituindo e reconstituindo fenômenos sociais. Em continuação Vizeu (2002. Ibidem) aponta:

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No Brasil, a concepção de que o jor­nalismo é um simples espelho da reali­dade ainda encontra um grande espaço nas redações, em algumas faculdades de Jornalismo e naquelas pessoas que não compreendem a função social do jornalismo. Consideramos uma atitude reducionista definir o jornalismo como uma simples técnica, reduzindo-a a uma operação meramente mecânica de meia dúzia de regras – os tradicionais quem?, quê?, quando?, onde?, como?, e por quê ? –; ou considerar que é lendo que se aprende, ou que é na redação que formamos jornalistas. Em oposição a essa visão mecanicista temos um campo de estudos ainda em construção que procura entender o jornalismo como uma forma de conhe­cimento. Grosso modo, o jornalista não seria alguém que comunica a outrem o conhecimento da realidade, mas também quem o produz e o reproduz. Nesse sentido, acreditamos que fica difícil pensar o jornalismo como uma mera reprodução do real. Como po­demos ver são tantos os “discursos” – não cometeríamos uma heresia se disséssemos que são infinitos – que atravessam o campo jornalístico, são tantas as tensões, as “vozes”, as práticas discursivas, que reduzi-lo a uma sim­ ples técnica, ao simples acionamento de regras “mecânicas” seria perder sua própria dimensão, seu próprio objeto.

Os jornais regionais são espaços nos quais podemos nos deparar com o conhecimento repassado através do jornalismo, nos quais pode – e deve – haver um entrelaçamento de “vozes” e discursos sociais que representem os diversos setores da sociedade. Como cita o jornalista Clovis Rossi (1992, p. 5): 38

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[...] acho que a função do jornalista é, também, conquistar mentes e corações para a causa da Justiça Social, ingre­diente que jamais pode ser dissociado da democracia, sob pena de esta perder a substância. Faço minhas as palavras da Igreja Católica: “O luxo das minorias é um insulto à miséria das grandes massas”.

A justiça social não se faz somente em torno dos grandes temas internacionais e nacionais, mas concretiza-se em ações que amparem e promovam indi­ víduos em suas comunidades. Daí mais um compromisso e desafio para o jornalismo regional. O jornalismo regional apresenta-se como um fecundo laboratório de formação profissional, a partir do qual projetam-se grandes nomes no cenário nacional. O jornalista Hermano Henning é um desses casos. Começou sua carreira em 1964, como locutor da Rádio Difusora de Guararapes - região de Araçatuba, trabalhou como repórter da Tribuna da Varian­te, em Guararapes, e ainda na Rádio Luz, de Araçatuba. Posteriormente foi correspondente internacional da Rede Globo de Televisão e, hoje, é o âncora do telejornal do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Aos 56 anos de idade, dos quais 40 dedicados ao jornalismo, Henning vê a consolidação dos jornais regionais como a grande transformação da im­ prensa nacional. Em entrevista concedida ao jornal Folha da Região, de Araçatuba, interior de São Paulo, em 11 de junho de 2002 – quando o veículo completava 30 anos de existência -, o jornalista (2002, p. 7) afirmou que: O jornalismo regional é o caminho. A imprensa deve explorar essa linguagem local. Não adianta você produzir um jornal nos grandes centros, abordando os assuntos de lá. As pessoas querem

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saber o que acontece no bairro onde moram, querem notícia do universo onde vivem. O jornal local ou regional tende cada vez mais a crescer, porque fala das notícias e problemas locais e tem essa linguagem direta com a comu­nidade, que nenhum jornal de capital vai conseguir. Então, antes existia essa grande lacuna, que hoje, com grande mérito, os jornais regionais estão pre­ enchendo com muita propriedade e eficiência. Volto a repetir: o jornalismo regional é uma tendência muito séria da nossa imprensa e altamente benéfica.

Na mesma matéria publicada pela Folha da Região de Araçatuba, comemorativa aos 30 anos de fundação do veículo, o professor de jornalismo Adolpho Queiroz (2002, p. 8), do curso Master de Jornalismo, de São Paulo, afirma que a expansão do jornalismo regional foi estimulada pela globalização cultural. Na mesma proporção em que amplia o interesse em se ver os jogos na TV, transmitidos ao vivo, cresce o sentimento de interesse pelo futebol local, regional, varzeano. Assim como acom­ panhamos as lutas de Arafat na Palestina ocupada, temos imenso interesse em discutir com vereadores e prefeitos as decisões que tomam a favor ou contra os moradores de suas cidades.

Para Queiroz, autor de tese sobre o jorna­ lismo regional, os jornais locais e regionais apresentam possibilidade de ampliar os seus projetos editoriais. Se­ gundo ele, apesar do advento da Internet, que possibilita um acesso mais rápido aos acontecimentos mundiais, existe um grande interesse do leitor em obter informa­ ções sobre a sua cidade, a sua rua, o seu time de futebol, as ações dos seus políticos e a cultura local. Para o coordenador do curso de Comuni­ cação Social das Faculdades Toledo de Araçatuba, Basi40

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le Mihailidis, na referida matéria, embora os jornais de grande circulação tenham tentado o filão dos noticiários regionais, com a criação dos cadernos regionais, são os jornais da cidade que têm a credibilidade dos leitores. Mihailidis (2002, p. 8) justifica afirmando que: Os jornais regionais respondem de forma mais rápida e direta à necessidade do leitor. Cumprem o papel mais diretamente e estão focalizados dentro de um contexto do grupo e de espaço, e por isso os leitores confiam mais.

Essa é a verdadeira função da imprensa regional. Esse foco local de farto noticiário que é dispen­ sado pelos grandes jornais, a necessidade da sociedade em ter abertura e espaço próprios e não estar a reboque da grande imprensa, que objetiva informar temas de relevância estadual, nacional e internacional. O noticiário da chamada grande imprensa não conflita com o do chamados “pequenos jornais”. Ao contrário, se completam. Ao passo que a grande imprensa busca temas de caráter nacional, estadual e internacional, as comunidades de cidades menores per­cebem a necessidade de terem voz ativa e espaço social nos jornais regionais. As pautas locais e regionais não atraem os grandes veículos, exceto pela ocasionalidade que gera conflitos que mobilizem grande número de pessoas, ou autoridades públicas reconhecidas. Já os “buracos em sua porta”; o “esgoto a céu aberto”; o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU); a majoração do Imposto Sobre Serviços (ISS); o reajuste nas tarifas de água e luz – hoje em dia administradas por concessioná­rias regionalizadas -; a irregularidade na coleta de lixo; a abertura do comércio local aos sábados e domingos; as ações tomadas por políticos – que nem sempre agem em favor da coletividade -; as ações sindicais em defesa dos salários e de melhores con

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dições de trabalho - na eterna e conflitante relação capital/ trabalho; são temas sentidos, produzidos e repercutidos em cada cidade que os geram. É nessa perspectiva que nascem e se fortalecem os jornais regionais. Mihailidis (2002, p. 8), que faz doutorado em Comunicação e Marketing, diz que a tendência do marketing é o atendimento personalizado, e isso ocorre também no jornalismo. “Ninguém quer mais ser tratado como massa”. 4.4 Lição d’além-mar O jornalista português, Mário Mesquita, durante palestra realizada no ano 2000 na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, falou sobre o papel do jornalista moderno para estender a discussão acerca da integração Brasil-Portugal. Mesquita (2003. Acesso em: 8 set. 2003), afirmou: Esta ideia de que o jornalismo deve ser produtor de solidariedade, a meu ver, não deve fazer esquecer ao jornalista do que são as suas missões profissio­nais e de seu papel na sociedade. Se o jornalista deixa de ser observador para ser participante ou militante, ele não cumpre a sua missão e acaba por nem servir bem às causas que quer servir e nem servir bem à causa do jornalismo, que deve ser a sua primeira causa, a de ser um observador distanciado, crítico e atento à realidade. Isto não quer dizer que o jornalismo não possa ter e até nem tenha tido em determinadas circunstâncias um papel importante na resolução de conflitos militares e no despertar da opinião pública de deter­minados países para a necessidade de se fazer a paz. Conhecemos situações, pelo contrário, em que o jornalismo foi colocado a serviço dos exércitos, das estratégias militares. Situações que só foram claramente percebidas tempos depois, por meio dos jornalistas. Um exemplo 42

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foi a guerra no Golfo Pérsico. Sabe-se que houve situações de mani­pulação de informação muito claras e que meses depois é que foram desco­bertas e desmontadas. Se o conceito de paz não se limitar àquelas situações em que não há guerra, acredito que o jorna­lismo pode desempenhar uma função muito importante em todo o mundo, mostrando situações de subnutrição, mau alojamento das pessoas, condi­ções de vida negativas. São situações geradoras de conflitos e potencialmente de guerras. E tudo o que o jornalismo faz no sentido de informar sobre estas questões, é importante. A relevância do jornalismo não é somente a opinião que ela transmite, mas a maneira como a mídia constrói a agenda pública. A mídia tem um papel decisivo em co­locar em evidência, sob os holofotes, determinados acontecimentos e deixar outros à sombra. Se a mídia informar sobre situações gritantes de injustiça social, por exemplo, acho que ela está a prestar um serviço grande pela paz.

Ora, são exatamente essas condições de manipulação da informação que são mais perceptíveis em jornais regionais. Na grande imprensa, conforme a análise de Mário Mesquita, os leitores demoram até anos para perceber que um jornal manipulou informações por interesses políticos ou econômicos, por força do espaço geográfico e da distância das fontes e personagens. Em impressos regionais, onde as pessoas convivem com personagens e fontes do dia-a-dia, in­ seridas no jornal, despertam, rapidamente, à tendência apontada pelo veículo. A resposta também é imediata: os reflexos de uma publicação em jornal local/regional trazem efeitos instantâneos na vida das pessoas. O públi­ co por sua vez, na mesma velocidade, repercute inten­ samente na publicação. Para sobreviver a essa simbiose e ganhar mercado editorial, os jornais regionais ficam

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mais atentos ao que publicam. O jornalista, José Maria Tomazela (2003), publicou a informação de que a prefeitura de Presidente Epitácio havia requerido, na Justiça Comum, a rein­ tegração da área onde estavam acampadas, às margens da rodovia, cerca de 4,5 mil famílias do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). A notícia foi reproduzida por “O Imparcial”, em edição do mesmo dia, por ser assinante da Agência Estado. Pela publicação regional em veículo sediado em Presidente Prudente, o prefeito Adhemar Dassiê (PSDB) foi obrigado a ir às emissoras de rádio regionais para desmentir a informação publicada, e afirmar, em meio a um verdadeiro bombar­deio em que viveu com lideranças do MST, que “jamais requeri tal pedido à Justiça”. 4.5 Jornais regionais crescem no mundo Os jornais regionais não apenas conquis­ tam a preferência dos leitores, como tendem a ocupar cada vez mais o espaço dos jornais de circulação nacional. A afirmação é unânime entre empresários de comuni­cação e especialistas em jornalismo, conforme matéria veiculada no jornal Folha da Região de Araçatuba, dia 11 de junho de 2002. O presidente da APJ (Associação Paulista de Jornais), Fernando Salerno (2002, Jornalismo Regio­ nal, p.8), afirma que os jornais regionais já não são con­ siderados o segundo jornal, mas o primeiro em muitas cidades polo do interior paulista. Segundo ele, essa é uma tendência já consolidada em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. No Estado da Flórida, segundo o jorna­ lista, o jornal Orlando Sentinel, da cidade de Orlando, circula com 250 páginas aos domingos, conquistando de tal forma os leitores que o tradicional Miami Herald, antes o preferido em Orlando, perdeu espaço na cidade. Argumenta Salerno (2002, Jornalismo 44

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Regional, p.8) que “o mesmo processo ocorre no Brasil. As perspectivas para os jornais regionais são alentadoras e irreversíveis”. Para ele, que é diretor do jornal ValeParai­bano, de São José dos Campos, os números já mostram essa tendência. O ValeParaibano detém 72% do mercado contra os 28% do mercado dos grandes jornais. O presidente da APJ atribui o fortaleci­ mento dos jornais regionais do interior paulista à postura independente das empresas jornalísticas. Para ele (2002, Jornalismo Regional, p.8) “elas têm hoje uma consciência bem maior de liberdade de expressão, fator fundamental para ampliar o mercado”. Outro fator decisivo é a autonomia em relação às verbas dos governos, o que vem ocorrendo nos últimos dez anos e contribuiu muito para a relação com os leitores. Hoje, segundo o presidente da APJ, a grande imprensa é muito mais dependente das verbas dos governos do que a imprensa do interior. Dos 15 jornais filiados a APJ, nenhum depende de verbas oficiais, assegura Salerno (2002, Jornalismo Regional, p.8): “são jornais independentes, livres de qualquer partidarismo. Os jornais regionais vêm ainda satisfazendo a ansiedade dos leitores por notícias locais e regionais”. Consideremos, ainda, o fato de o jornal regional não apenas editar notícias nacionais e internacio­nais que chegam pelas agências de notícias, mas também abordá-las e discuti-las no contexto regional. O diretor-executivo de A Tribuna, de Santos, Roberto Clemente Santini, afirma na mesma entrevista à Folha da Região de Araçatuba, que os jornais regionais já dominam o mercado. Para ele “isso representa um desafio e incentivo ao crescimento”(2002, p.8). Para Santini, essa realidade é confirmada no próprio jornal que dirige, o qual detém hoje cerca de 80% do mercado contra os 20% dos jornais de grande

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circulação, apontando como a principal vantagem dos veículos de circulação regional a aproximação com o leitor. Santini (2002, p.8) continua: “um jornal nacional pode falar de todas as cidades, mas nunca vai dar tanto espaço para os problemas do dia-a-dia de um bairro.” Ainda para o representante da ANJ, os jornais regionais fazem e retratam a história de uma ci­ dade como nenhum outro veículo, e não há livros que contem tão bem a história da cidade como os jornais. O sucesso dos jornais regionais lança por terra, segundo Santini, a previsão feita há alguns anos de que os grandes jornais dominariam os jornais de cidades do interior. ocorrerá.”

Ele afirma (2002, p.8): “isso dificilmente

O autor do Manual de Redação do O Estado de S. Paulo, Eduardo Martins (2002, ibidem), ressalta a importância da imprensa regional: “Ela sempre vai dar informações que não se encontra nos grandes jornais porque se preocupa com os bairros, com o quintal de casa” Martins, entre 1992 e 1998, coordenou a editoria de Interior do Estadão. Também para ele, os jornais regionais não apenas tendem a se expandir, como atrairão a atenção dos grandes jornais para parcerias. Sua conclusão (2002, ibidem) é que “o interior é um ótimo filão.” Desta forma, pode-se verificar que a imprensa regional se reveste de vital importância para suas comunidades, permitindo, inclusive, que o cidadão atue na transformação social de seu espaço geográfico, verdadeiramente exercendo a cidadania.

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5 O NOSSO JORNALISMO REGIONAL E O CORREIO DO PORTO, UM JORNAL EPITA­CIANO 5.1 Presidente Prudente Ao tratar de mídia regional, como acadê­ micos da Faculdade de Comunicação Social, Jornalista “Roberto Marinho”, passaremos necessariamente pelo município de Presidente Prudente, historicamente re­ presentativo da evolução da mídia regional. A fundação de Presidente Prudente se deu a 14 de setembro de 1917. Nesse ano, foi formado o primeiro núcleo de povoamento e intensificada a venda de terras na zona rural. Presidente Prudente está localizada no sudoeste do Estado de São Paulo, numa área popular­ mente denominada Alta Sorocabana, nas proximidades do Rio Paraná, em cujas barrancas a antiga Estrada de Ferro Sorocabana termina suas linhas. Para entender o surgimento de Presidente Prudente é preciso retroceder um pouco mais no tempo. A parte sudoeste paulista era chamada no século XIX e princípio do XX, de Vale do Paranapanema ou Sertão do Paranapanema, ia desde Sorocaba até o Rio Paraná. Sua descrição geográfica científica mais antiga foi feita por Teodoro Sampaio. O Vale do Paranapanema abrangia uma área de 109.000 Km2, sendo 27.400 Km2 pertencentes ao Estado de São Paulo. A cidade de Presidente Prudente nasceu de dois núcleos urbanos, criados para amparar as ven­ das de terras do coronel Francisco de Paula Goulart e do coronel José Soares Marcondes. O primeiro abriu sua fazenda e vendia terras de cultura de seu domínio aos que chegavam e, o segundo, não era proprietários de terras, mas possuía uma empresa colonizadora para venda de terras, obtendo a opção de vendas de vários tratos de terra, dentre eles a fazenda Montalvão. Goulart possuía suas terras aquém linha férrea - trecho da zona sul

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até o centro da cidade, e Marcondes, além linha -após a passagem férrea, do centro da cidade até a zona norte (histórico mais amplo, em anexo A). Hoje, segundo o IBGE – Instituto Brasi­ leiro de Geografia e Estatística (Acesso em 4 out. 2003), Presidente Prudente tem: • área de 562 km2, onde habi­tam 189.186 pessoas, sendo 91.797 do sexo masculino e 97.389 do sexo feminino; • 55.178 domicílios; • taxa de alfabetização, com pessoas acima de 10 anos, de 94,3%; • 131.945 eleitores; • Imposto Territorial Rural de Prudente de R$ 24.501,36; • Fundo de Participação Mu­nicipal de R$ 9.590.725,74; • 57.000 bovinos e • receitas orçamentárias re­alizadas correntes de R$ 61.172.402,46. A cidade de Presidente Prudente foi formada por “coronéis” que disputavam os poderes ad­ ministrativo e político do município. Sob essa perspec­tiva, à época, não poderia ser diferente: a construção da imprensa escrita e seu desenvolvimento, até a década de 40, fez-se no escopo da facciosidade ideológica de grupos políticos e de agremiações partidárias, como veremos a seguir. Por se tratar de cidade sede ad­ministrativa do Estado de São Paulo, importante se faz registrar o surgimento de veículos impressos locais que, de certa forma, influenciaram no aparecimento de tantos outros nas demais cidades que integram a região da Alta Sorocabana. Para tanto, utilizamo-nos de pesquisa realizada por Josefa Costa Silva, Marcela Aparecida Pereira Alves, Michelli Pulzatto e Thaís Helena Gomes Menossi em “O Imparcial: Um jornal com sessenta anos de 48

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história”, FACOPP. Segundo Silva et al (1999, p. 14), o pri­meiro veículo impresso em Presidente Prudente foi “O Momento”, de propriedade de Braz Albanense, em 1922. No mesmo ano surge, em 30 de novembro, “A Van­guarda”, de José Milano. Este era custeado pelo Coronel Francisco de Paula Goulart que utilizava o veículo como seu porta-voz. Já em 17 de dezembro de 1923 é criado “A Ordem”, vinculado ao Partido Republicano. “O Libertador” aparece em agosto de 1924. “A Voz do Povo” surge em 26 de maio de 1926 e “O Município”, que circulou no início de 1928, era ligado ao Partido Republicano Paulista. “O Diário” data de 28 de maio de 1926, circulou apenas dois meses, e pertencia ao Partido Republicano. Já “O Pro­gressista” surgiu em janeiro de 1927 e estava atrelado ao Partido Republicano Progressista. O “Boletim Paroquial” e “O Independente”, respectivamente, aparecem datados de abril e setembro de 1927. Em 21 de outubro de 1927 nasce “O Apito” e em 14 de abril de 1929 “O Republicano” – este último ligado ao Partido Republicano Paulista. “O Município” tem nova fase e ressurge em junho de 1929. “O Presidente Prudente” aparece na história entre os meses de junho e julho de 1929. Em 5 de abril de 1930 é a vez do surgimento do “O Amanhã do Brasil”, órgão de escolares. Em 1931 surgem “A Cidade”, em 6 de janeiro, e a “Gazeta Quermesse” em outubro. “O Constitucionalista” tem seu registro de 4 de outubro de 1935. Já no ano de 1936 são criados os jornais: “O Jequiti­ bás” em março e “Pequeno Jornal”. A “Folha da Sorocabana” data sua fundação no ano de 1939. O jornal “O Imparcial” surge em 2 de fe­ vereiro de 1939, no início da Segunda Guerra Mundial. Atualmente, “O Imparcial” circula em 62 cidades da re­ gião, com exceção de as segundas-feiras, e é o 10º jornal de melhor circulação paga no Estado de São Paulo e o 33º do país, conforme dados do Instituto de Verificação de Circulação (IVC). Atualmente, a direção do jornal

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é de Deodato da Silva, Mário Peretti e Adelmo Santos Reis Vanalli. Este último, diretor de Redação. “O Imparcial” foi o único jornal impresso do final da década de 30 que conseguiu sobreviver às transformações econômicas mais adversas do País e dos reflexos internacionais, estando hoje com 64 anos de fun­dação. É uma demonstração de que os jornais regionais são viáveis e indispensáveis à comunidade. Por sua vez Neif Taiar (2003) acresce que Presidente Prudente também teve os jornais: na década de 1920 o “Paranapanema” financiado pela família Marcondes, em 1945 criou-se o “Correio da Sorocabana”, em 1967 nasceu “A Região”, em 1982 surgiu o “Diário de Prudente”, em 1985 foi criado “A folha da Região” e em 1989 foi avez de circular o jornal Realidade. O Oeste Notícias circulou, pela primeira vez, em 2 de fevereiro de 1995. Foi o primeiro jornal impresso em cores na cidade de Presidente Prudente e região. O jornal Oeste Notícias nasceu da iniciativa do empresário de comunicação Paulo César de Oliveira Lima, sócio proprietário da TV Fronteira/Globo e dono das rádios Diário AM e 91 FM. Está filiado à Associação Nacional de Jornais (ANJ). A tiragem média por exem­plar é de 30 páginas. O recorde registrado no ano de 2001 se deu em 14 de setembro, com 56 páginas. Tratou-se de edição em caráter especial, pelos 84 anos de Presidente Prudente. A Comunicação é uma necessidade básica do homem e de fundamental importância para formação e manutenção dos grupos. Na medida em que tais grupos agigantaram-se e foram se tornando mais complexos, a Comunicação seguiu na mesma direção, tornando­-se mais elaborada e precisando atender a demandas crescentes. Se hoje nos é permitido reaver fatos que marcaram a história de Presidente Prudente e região, tal condição é viável por força da imprensa, que além da divulgar cumpre o papel de gravar, imprimir, documentar 50

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e transformar os registros em matéria prima de grande relevância ao historiador e às futuras gerações. Esse é também um dos papéis funda­ mentais dos jornais regionais: documentar fatos e, ao mesmo tempo, permitir que sejam estudados, mesmo que após 64 anos – como no caso de “O Imparcial” – tais quais foram registrados à época. A grande imprensa, que reproduz apenas fatos esporádicos de uma certa comunidade interiorana, jamais dará oportunidade para que historiadores possam levantar dados sobre o que esta comunidade tenha produzido durante determi­nado período de sua história. Estarão os pesquisadores limitados a personagens que vivenciaram a época, ou de quem possa relatar, a partir de narrativas ouvidas de seus antigos partícipes. Como bem destaca Manuel Ibipiano de Oliveira (1998, p. 7) o jornal local estabelece, ainda, as bases para a ação comunitária: A notícia veiculada pelos Meios de Comunicação é caracterizada pela sua abrangência e importância para a socie­dade à qual se destina. Se é importante e abrangente, com certeza tem valor de manutenção de status quo ou de pro­moção de mudanças significativas no meio onde circula: portanto, tem valor histórico.

A valorização das comunidades regionais através da cidadania, do respeito à cultura local e a sua importância enquanto meio de formação, devem estar alinhavadas em jornais regionais. Assim, no futuro, seus cidadãos terão a oportunidade de conhecer o passado e possuir bem precioso: a informação. A democratização da informação permite que a sociedade possa usá-la no sentido positivo mais amplo – em seu próprio proveito e formação. 5.2 Presidente Epitácio Benedito de Godoy Moroni (2003, p.7

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228 pas­sim), nos mostra que a origem da cidade se deveu à necessidade, no início do século XX, da construção de uma estrada de rodagem que ligasse o trecho entre “o sertão desconhecido” e desabitado desta parte do Estado de São Paulo, com o sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul). Em 1906, a última cidade do Estado de São Paulo, antes de Mato Grosso, era Assis. Fazia-se necessária uma estrada que ligas­ se esses dois estados, mas na época, era um empreendi­ mento que nem mesmo os governos estaduais tinham coragem de enfrentar, principalmente porque a região era considerada sertão, tanto de São Paulo como de Mato Grosso e, segundo Francisco Cunha (1980, p. 23), “terço do mapa de São Paulo onde se lia: TERRENOS DES­ CONHECIDOS HABITADOS PELOS ÍNDIOS”. Francisco Tibiriçá, no início do século XX, recebe a concessão definitiva para construir a Estrada Boiadeira, obtendo na mesma ocasião autorização do go­verno do Mato Grosso para abertura da estrada naquele território, em prosseguimento programado para o lado paulista. O destino da estrada seria a região de Vacaria, no Mato Grosso. Tibiriçá procurou um sócio e encontrou o Coronel Arthur de Aguiar Diederichsen. A união de Francisco Tibiriçá e Arthur de Aguiar Diederichsen re­ sultou na empresa Diederichsen & Tibiriçá. Tinha-se que fundar um porto nas barran­cas do rio Paraná. Este porto foi a origem de Presidente Epitácio. Com respeito a fundação de Presidente Epi­tácio, Francisco Whitaker (1934, p. 3) nos relata como se deu: No dia primeiro de janeiro de 1907, ao meio dia, depois de trinta e um dias de penosa navegação, a flotilha estava ancorada no Porto Tibiriçá. Era o ter­mo de nossa viagem. A primeira etapa estava vencida.

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Ali e naquele momento, estava sendo plantada a semente da atual Estância Turística de Presi­ dente Epitácio. A Estrada Boiadeira foi concluída, o Porto Tibiriçá, homenagem ao governador de São Paulo, Jorge Tibiriçá, ficou pronto em 1908. Segundo Cunha (1980, p. 97), referindo-se ao Capitão Francisco Whitaker, a ingente batalha tinha sido finalmente vencida pelo “úl­timo bandeirante”. Porto Tibiriçá ganhou forte impulso. Ao seu redor, nasceu um patrimônio, batizado de Vila Tibiriçá. Pouco distante desse patrimônio inicia-se um novo núcleo, que juntamente com a Vila vêm a formar Presidente Epitácio. Os ciclos por que passou Presidente Epi­ tácio variaram. Inicialmente foi local por onde passavam as boiadas vindas do Mato Grosso com destino a São Paulo. Numa segunda etapa, transforma-se em corre­dor das madeiras extraídas, para em seguida tornar-se pólo de serrarias, sempre com uma navegação vigorosa e marcante. Com o esgotamento das madeiras, seu veio agrícola se fez presente. Houve o plantio de algodão, tomate e, posteriormente, melão, com produção voltada à exportação. Uma visão mais detalhada da história de Presidente Epitácio está apresentada no Anexo B. Hoje, Presidente Epitácio está voltada principalmente ao que é realmente sua vocação: o tu­ rismo, tendo, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Acesso em 4 out. 2003): • área de 1.282 km2, onde ha­bitam 39.298 pessoas, sendo 19.564 do sexo masculino e 19.734 do sexo feminino; • 11.109 domicílios; • taxa de alfabetização, com pessoas acima de 10 anos, de 90%; • 24.240 eleitores;

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• Imposto Territorial Rural de Epitácio de R$ 95.142,27; • Fundo de Participação Mu­nicipal de R$ 3.400.759,90; • 108.501 bovinos e • receitas orçamentárias re­alizadas correntes de R$ 11.501.652,22. Com relação à imprensa, para enten­ dermos a utilização e importância dos jornais regionais, principalmente em Presidente Epitácio, tem-se que fazer um retrospecto dos meios de comunicação que a cidade dispôs até os dias atuais. Inicialmente Epitácio, não tendo meio de comunicação próprio, valia-se de correspondentes para transmitir os fatos ocorridos e de interesse da cidade. O primeiro agente-correspondente de jornais de grande circulação em Epitácio foi Domingos Marinho, ao ser credenciado pelo Diário de S. Paulo em 19 agosto 1940 (RECORDAR, 2003). Através de seu livro, Morini (2003) ao re­ latar desde os serviços de alto-falante, rádio até jornais, permite constatar que cada um desses veículos trouxe, a seu modo, contribuição para os meios de comunicação de Presidente Epitácio. Quanto aos serviços de alto-falantes, Presidente Epitácio contou com sete desses serviços em sua história, de 1945 a 1994, que ofereciam de música à notícia e informes de interesse comunitários. (Anexo C) A rádio, em Presidente Epitácio, começa a operar somente em 1994. A cidade teve autorização do Dentel para instalação de uma rádio AM, nos idos dos anos setenta, mas não foi efetivada sua instalação. Em 18/5/89 constitui-se uma empresa vi­ sando obter concessão para a instalação de uma emissora de rádio AM na cidade. No dia 4/8/1992, pela Portaria 148, foi autorizado o funcionamento da Rádio Vale do Rio Paraná 54

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AM na frequência de 1560 khz. Em 14/3/94 foi instalada a Rádio Vale, de Presidente Epitácio, cuja inauguração oficial deu-se no dia 27/3/94 à avenida Pre­sidente Vargas, 1-23. Efetuamos, a seguir, o resgate da memória dos jornais locais: A Vigilância: Fundado em 1961 por Wal­ demar Lourenço, o jornal A Vigilância, tinha sua redação à rua Florianópolis, 1-76 (antigo 488). Era impresso com matriz a álcool, em seus números iniciais. Depois passou a ser mimeografado a tinta, e no início de 1964, já era impresso tipograficamente. O jornalista Waldemar Lourenço contava com a colaboração de João Brilhante Júnior e Adão Virgulino da Cruz, entre outros. Em maio de 1964 o jornal A Vigilância foi adquirido por José Luiz Tedesco, que se tornou seu di­ retor, José Veloso Meneses e Sebastião Ferreira da Silva, tendo circulado até dezembro de 1967. Posteriormente, por José Luiz Tedesco ter-se tornado prefeito, compra a parte dos dois outros sócios e o jornal A Vigilância deixou de circular, transformando-se na Impressora Panorama. A Gazeta Epitaciana: Sua existência se deu em dois períodos, de novembro de 1968 a fevereiro de 1969, e de agosto de 1972 a abril de 1978. Tinha a direção de Waldemar Lourenço e contava com a participação de João Brilhante Júnior e Adão Virgulino da Cruz. Sua sede era à rua Curitiba, 3-74, e as oficinas de impressão mimeográfica à rua Florianópolis, 1-76. O exemplar de n. º 1, de 1972, diferen­ temente dos demais, estampava o nome do jornal como Tribuna Epitaciana, sendo que nos números seguintes voltou a circular como Gazeta Epitaciana. Teve o número 1 de registro no Cartório de Notas e Anexos de Presi­ dente Epitácio. Jornal de Epitácio: Estabelecido à rua Fortaleza, 3-30 e com oficinas à rua Rio Branco, 9-49 em Bauru/SP, tendo como diretor responsável Oswaldo Penna, foi criado em 13/12/1976 o Jornal de Epitácio, que

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teve vida breve, circulando por poucos meses. A Fronteira: Fundado em 27 de março de 1978 por Victor Pereira Martins, tendo como jornalista responsável José Aparecido, o jornal A Fronteira, impresso tipograficamente, estava localizado à rua Vitória, 2-03. Em 1980 foi vendido a Élio Gomes, passando a funcionar à rua Fortaleza, 7-09. Em 1983, Marcos Tizziani e Gerson Constante de Oliveira adquiriram A Fronteira, mudando sua sede para a rua Florianópolis, 4-50.Posteriormente, Sebastião Mattos Lima comprou a parte de Gerson Constante de Oliveira. O jornal passou a ser impresso pelo sistema de linotipia. Em 1995 Juliano Ferraz Lima, juntamente com seus irmãos André e Thiago, passaram a ser os novos proprietários do jornal A Fronteira, que inaugurou sua sede própria à avenida Presidente Vargas, 17-81 e passa para o sistema offset de impressão. Em 1998 o jornalista responsável passou a ser Djalma We­ffort. É jornal bi semanário. Tribuna Ribeirinha: Fundado por Joa­quim Zeferino Nascimento e Walter Lombardi em 1987, a Tribuna Ribeirinha inicialmente funcionou à rua Pernambuco, 3-44. Posteriormente, em 1988, seus diretores passaram a ser Celestino Marques de Oliveira e Cláudio Diamante, mudando-se para a avenida Presidente Vargas, 12-29. A Tribuna Ribeirinha, impresso em offset, era um bi semanário, tendo em pequenos períodos torna-se trissemanário. Posterior­mente passou à direção de Moacir Bento. Deixou de ser editado em 1990. Tribuna do Povo: Fundado por Nilson de Abreu em janeiro 1998, o jornal Tribuna do Povo era quinzenário, tendo como editora Rose Rubini, funcionando inicialmente à rua Juca Pita, 8-82. Poste­riormente mudou-se para a avenida Presidente Vargas, 6-19 Fundos, onde esteve em atividade até março de 1999. Circulava impresso em cores. Correio do Porto: Jornal semanário, teve sua primeira edição em 13/11/97 e seu editor é José Aparecido. Foram seus fundadores José Aparecido, Olívia Helena 56

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Avalone Pires, Dalmo Duque dos San­tos, Sérgio Antonio Maroto, Waldenir Pita de Andrade e Amarildo Valdo Cruz. Por motivo de mudança, poucos meses após sua fundação, saiu Dalmo Duque dos Santos, passando a fazer parte do jornal Benedito de Godoy Moroni. Posteriormente, também por motivo de mudança, saíram Waldenir Pita de Andrade e Olívia Helena Avalone Pires. Inicialmente sua sede foi à rua Maceió, 20-39. Posteriormente mudou-se para a rua Antonio Marinho de Carvalho Filho, 4-64 e rua Porto Alegre, 4-40. Atualmente está instalado na avenida Presidente Vargas, 9-47, salas 7 e 8. Em 22/2/2002 começou a realizar impressão em cores. 5.3 Análise do jornal Correio do Porto O jornalista Wilson Marini em seu artigo, A Imprensa em Questão: Dez tendências do Jornalismo Regional, ressalta que a imprensa do interior de São Paulo está em transformação. Aproveitamo-nos de cada uma dessas tendências, para promover uma análise do jornal Correio do Porto. Para Marini (1997. Acesso em: 8 set. 2003), as mudanças não ocorrem de uma vez só, em todos os lugares. Mas é possível detectar a corrente e antecipar as principais tendências: 1. É preciso uma fonte de inspiração: o parâmetro são os jornais do eixo Rio­-São Paulo Os regionais mais evoluídos são uma mistura de conceitos do Estado, da Folha, do Globo e do JB. Alberto Di­nes identificou essa tendência como “mimetismo”. A tendência de seguir os passos dos grandes, para tentar se igualar à “cara” dos bem-sucedidos. As inovações são sempre inspiradas no modelo dos “grandes jornais”. Copian­ do os jornalões, os regionais se sentem seguros e até se orgulham quando recebem elogios dos leitores do tipo “até parece jornal de Capital”. A dia­gramação segue os mesmos conceitos. As edi

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torias são divididas em cadernos e é obrigatório criar cadernos semanais de informática, Veículos e Televisão, seguindo o exemplo dos grandões.

O jornal Correio do Porto foge dessa pers­ pectiva e encara seus próprios projetos, gráfico e editorial. Seu formato atual é stand – mas até pouco tempo ainda era impresso em formato germânico. Por ser semaná­rio, não possui qualquer identidade com o formato dos “jornalões”, possuindo condições técnicas próprias, mas dentro de um modelo dividido por seções específicas como social, esporte, política, cultura e opinião. Seguindo com as considerações do autor: 2. Os leitores valorizam os assuntos locais: daí a pulverização de jornais por regiões Os jornais regionais tendem a privile­ giar nas manchetes os assuntos locais e regionais, em contraposição à tendência anterior de seguir as manchetes dos jornais da Capital. Houve época em que os regionais davam manchetes interna­ cionais, a exemplo da grande imprensa nacional. O noticiário de Cidades é disparado o mais lido e é a área mais sensível do jornal. A maioria abre o primeiro caderno já com o noticiário da cidade e somente depois dá o Nacional e Internacional. Os que fazem o inverso reconhecem que os assuntos locais são os de maior índice de leitura. O motivo é que os leitores de cada cidade apoiam o jornal de sua cidade. Uma parte pode até acompanhar a grande imprensa, no desejo de estar bem informado. Mas não abre mão do jornal local.

O jornal Correio do Porto possui oito páginas e todas destinadas à cobertura local da comuni­dade, abrangendo aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos e esportivos. Por essa razão, a direção do veículo epitaciano, em todas as edições pesquisadas, editou apenas manchetes 58

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e chamadas de capa relativas às notícias da cidade. 3. Globalização versus regionalização: falta amadurecimento dos conceitos Os jornais regionais ouviram o galo cantar, mas não sabem aonde. Ainda não chegaram a um equilíbrio da re­ceita “visão global com ação local”. A visão global ainda é entendida como a reprodução de noticiário do Exterior, retirado quase sempre de uma única agência noticiosa e editada por profis­sional nem sempre preparado. A edito­ria internacional é a menos valorizada nas redações. Muitas vezes, ela é um apêndice de uma editoria maior, que congrega várias seções. Alguns jornais chegam a ponto de não abrir espaço para o Exterior, exceto casos como o da princesa Diana. Em compensação, nesses jornais, o noticiário local ainda peca pelo provincianismo, pela visão estreita que termina nos limites do município. A poluição de um rio é vista tão somente como uma ameaça para o abastecimento de água da cidade. Um olho global sobre os assuntos locais e outro local sobre os temas globais - esse é o desafio em fase ainda embrionária nos jornais regionais. Será o próximo passo na evolução.

Usando da expressão “Visão global com ação local”, o Correio do Porto abordou em seu noticiário, por exemplo, questões de interesse regional com enfo­que local. É o caso da impactação do lago por conta da necessidade da Usina Hidrelétrica “Sérgio Motta”. Os municípios impactados ainda sofrem consequências com a inevitável mudança na fauna e na flora, com o desaparecimento de vários espécimes. Os impactos am­bientais – devido à quantidade de água represada e pelo processo de condensação - ainda podem acarretar desdo­bramentos em futuro próximo, conforme levantamentos feitos por técnicos e especialistas, causando problemas à comunidade regional. A

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estas questões tem-se dedicado o Correio do Porto. 4. Ênfase aos colunistas da casa: fim do reinado de colunistas nacionais Os regionais tendem a abrir espaço cada vez maior para os colunistas da cidade ou com vínculos com a comunidade. O objetivo é tornar mais “íntima” a relação dos autores com os leitores. Os jornais estão se convencendo de que não há necessidade de publicar nomes consagrados na mídia para alcançarem leitura nas páginas de Opinião. Ao contrário, estes se tornam muitas vezes distantes da realidade regional. Os arti­ culistas regionais estão sendo buscados nas universidades, empresas e associa­ções locais e entre os artistas, jornalistas e escritores que moram ou tem ligações permanentes com a cidade. A tendência começou quando os próprios jornalões diminuíram a ênfase às reportagens e comentários políticos provenientes de Brasília e em paralelo apostaram em novos nomes como colaboradores fixos exclusivos. Acabaram fazendo o modelo para os regionais.

O semanário Correio do Porto não possui colunista específico, mas todos os seus profissionais realizam coberturas nos diversos campos das seções disponíveis.

5. Os três maiores são solitários: con­centração em poucos títulos Interessante analisar o que há de comum entre os jornais que foram o grupo dos três maiores e melhores jornais regionais de São Paulo (A Tribuna, de Santos, Correio Popular, de Campinas, e Diário do Grande ABC, de Santo André). Além da posição forte que ocupam no mercado jornalístico do país, estão praticamente sozinhos em suas respectivas praças que, por sua vez, estão entre as mais importantes em porte econômico e popula-

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cional do Estado. São os expoentes da tendência de concentração que começa a se de­senhar em outras cidades importantes do Interior, como Piracicaba, São José dos Campos e São José do Rio Preto, que também possuem um único jornal diário de expressão. 6. A polarização em dois jornais: quan­tidade não é qualidade Nos demais centros regionais, pre­domina a concorrência entre apenas dois títulos. É o caso de Guarulhos, Mogi das Cruzes, Jundiaí, Sorocaba, Americana, Limeira, Bauru, Presi­dente Prudente, Araçatuba, Ribeirão Preto, Marília, Franca e Barretos, que possuem apenas dois jornais diários, embora no passado tivessem convivi­do com maior número de jornais. Há algumas cidades de porte equivalente que ainda possuem três diários, como é o caso de São Carlos, Araraquara e Rio Claro. Mas entre esses jornais, alguns são de futuro duvidoso e a maioria não chegou ao padrão daqueles situados em cidades com um ou dois títulos apenas. A diversidade de títulos, portanto, ao invés de se constituir em pluralidade jornalística, facilitando a livre divul­gação de ideias e informações, denota fraqueza das empresas, o que é ruim para a liberdade.

Em Presidente Epitácio ocorre a mesma polarização entre o Correio do Porto e A Fronteira. O pri­ meiro semanário e o segundo bi semanário. 7. A proximidade com a Capital: quem tem medo da segunda-feira? As edições de segunda-feira foram adotadas primeiramente nas cidades si­tuadas num raio de 100 quilômetros ao redor da Capital. A pressão parece ser geográfica. Vários jornais em cidades

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próximas à Capital passaram a circular todos os dias da semana, desde que a Folha e o Estado definiram essa neces­sidade. O mesmo não acontece ainda com os jornais de porte equivalente, mas situados em cidades mais distantes da Capital. Seus diretores admitem que é uma exigência do mercado, mas alegam que ainda não estão preparados para a inovação. Um exemplo é Jundiaí, a meio caminho entre Campinas e São Paulo. O Jornal de Jundiaí já possui a sua edição de segunda-feira. Americana, a 20 quilômetros de Campinas, também (jornal TodoDia). Em contrapartida, jornais de maior circulação, em Bauru e Rio Preto, por exemplo, ainda não lançaram a edição de segunda-feira.

Por ser semanário, o jornal Correio do Porto não possui características quanto a publicações às segundas-feiras. Os jornais diários com sede em Presi­dente Prudente que circulam em Presidente Epitácio: O Imparcial e Oeste Notícias, também não circulam às segundas-feiras. 8. O jornal são as informações: o pro­duto pode ser feito em qualquer lugar As inovações tecnológicas acabam com o conceito de localidade em se tratando de jornal. As edições da Tribuna Im­pressa, de Araraquara, são transmitidas eletronicamente para Bauru e rodadas na gráfica do Jornal da Cidade. Os exemplares seguem de caminhão e são distribuídos a tempo em Araraquara. Outro exemplo: um semanário de Araraquara é paginado em Campinas e impresso em Rio Claro. A triangula­ção é feita numa operação simples, via modem. A maioria dos semanários de cidades pequenas e médias, e até alguns diários, são impressos nas gráficas dos grandes regionais, que chegam a rodar dezenas de títulos em horários ociosos. Não há mais necessidade de se possuir uma gráfica para se fazer 62

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um jornal e nem que ela esteja anexa à Redação.

O jornal Correio do Porto é impresso em gráfica de Presidente Prudente, onde também é impresso o jornal Oeste Notícias. O investimento que seria reali­zado para a aquisição de uma impressora seria inviável, pelo custo de manutenção operacional, a um jornal que imprime cerca de mil exemplares por semana. O Correio do Porto é diagramado e paginado em Presidente Epitácio, na sede do próprio jornal, e impresso em Presidente Prudente. 9. A defesa da liberdade permanece viva: não há lugar nem época para preservá-la Não é necessário ser poderoso para fazer jornalismo com dignidade. Dois semanários do Interior deram o exem­plo este ano. Em Santa Cruz do Rio Pardo, o jornalista Sérgio Fleury, do Debate, sentiu-se prejudicado com a sentença de indenização que, se fosse cumprida, levaria o jornal à falência. Foi à luta, mobilizou a consciência dos jornalistas em todo o País, ganhou apoio para a sua causa e arrecadou dinheiro suficiente para recorrer da medida e aguardar a decisão em segun­da instância. O jornal continua saindo. Em Taquaritinga, o Defensor reagiu à orientação de um promotor, que coibia divulgação de notícias policiais. Passou a dar receitas no lugar da página poli­cial e ganhou notoriedade nacional ao marcar posição em prol da liberdade de imprensa. A ação do promotor foi esvaziada, especialmente depois que foi transferido de comarca.

O Correio do Porto possui linha editorial independente, quer seja da administração municipal – com a qual não possui vínculos econômicos – quer seja de grupos econômicos da cidade. Mesmo para um município do porte de Presidente Epitácio, um jornal sobreviver exclusivamente do jornalismo, do produto que

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é confeccionado e com “investimentos” apenas publicitários (do próprio comércio da cidade) parece utópico, mas é real no “Correio do Porto”. Há seis anos o jornal vem se mantendo sem recursos publicitários da prefeitura municipal ou do Poder Legislativo. 10. Novos jornais têm títulos mais abrangentes: a busca da regionalização Os jornais com mais de meio século de existência costumam ter o seu nome as­sociado à cidade onde é editado. Alguns exemplos: Gazeta de Limeira, Comércio do Jahú, Diário do Rio Claro, Diário de Bauru, Jornal de Piracicaba. Mas o que antes conferia prestígio, agora dificul­ta os projetos de expansão regional. Assim, o Diário Marília Notícias virou simplesmente Diário em 1992; a Folha de Londrina, que é um jornal estadual, ganha um segundo nome, Folha do Para­ná, na edição que circula fora da região de Londrina; e o Diário do Grande ABC estuda como resolver o seu problema de marketing, já que cresceu tanto que deixou de ser só das três cidades do ABC (o caderno regional se chama Sete Cidades). Em função de limites como esse, os novos produtos já saem com os títulos embalados pela vocação regional ou universal. Americana lançou há um ano o TodoDia, que pode ser nome de jornal em qualquer ponto do País. Em Presidente Prudente, foi lançado o Oes­te Notícias, para concorrer com o velho O Imparcial, já sinalizando no título a intenção de abraçar todo o canto Oeste do Estado. São Carlos tem o Primeira Página. Teresina lançou há dois anos o Meio Norte. Em Belo Horizonte, surgiu O Tempo.

Em se tratando de uma cidade com pou­ co mais de 40 mil habitantes, o Correio do Porto surgiu há seis anos, oferecendo a opção de cobertura local aos 64

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moradores da cidade, com uma linha de independência em relação ao Poder Público. O jornal não estende, atu­ almente, sua cobertura a outros municípios. 5.4 Projeto editorial do Correio do Porto O jornal Correio do Porto foi fundado com o objetivo de envolver a sociedade com a realidade local, abordando, entre outros, os setores de educação, saúde, política, transporte, meio ambiente e saneamento básico. Não obstante a realidade vivida no dia-a-dia, o Correio do Porto vem demonstrando, durante esses seis anos, que a história de uma cidade – bem como das outras que existem ao se redor na Bacia de Porto Primavera - pode ser enfocada e contada sob a óptica de jornalistas e editores que nela vivem, criam suas famílias e sentem os reflexos diretos emanados nas decisões político­-administrativas dos Poderes constituídos – executivo e legislativo. Contar a história de uma sociedade, em oito páginas semanais torna-searefa árdua e, em certo ponto, um ato quase que cirúrgico. Os veículos impres­sos possuem um determinado espaço para abrigar aos mais diversos, e necessários, temas sociais. Para desafio dos editores, a cultura, o esporte, o lazer, o turismo de­vem “caber” neste espaço. No caso do Correio do Porto, em oito páginas, formato stand e com periodicidade tão parca. Além de cobrir muitos temas, um jornal deve, ainda, constituir-se em um veículo plural, repre­ sentativo dos diversos setores da sociedade. A democracia exige a pluralidade, a crítica, a dia­lética. Só em ambiente assim, oxigenado, o cidadão tem condições de formar seu próprio juízo sobre a realidade e de exercer, lucidamente, a parcela de soberania que detém enquanto membro de uma comunidade. O Correio do Porto nasceu do propósito de articular vários discursos sociais. É, assim, um jornal independente, cujo objetivo é debater os rumos de sua cidade, a partir de uma visão da realidade, desvinculada de quaisquer com­

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promissos da visão oficial. Um jornal não é apenas um prédio com pessoas e máquinas capazes de produzir a cada expediente um número variável de folhas com um apreciável volume de informações, segundo o jornalista Ricardo Noblat. Para ele (2002, p. 21), um jornal ainda não se limita a ser a soma de registros úteis destinados a orientar a vida das pessoas a curto prazo e tampouco, uma espécie de ata do cotidiano de um lugar ou de um ajuntamento de lugares e muito menos, deve ser a oportunidade de negócios. Um jornal é ou deveria ser um espelho da consciência crítica de uma comuni­dade em determinado espaço de tempo. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou real dessa consciência. E que não tema jamais ampliá-la. Pois se não lhe faltarem ta­lento e coragem, refletirá tão-somente uma consciência que de todo ainda não amanheceu. Mas que acabará por amanhecer.

Para ser independente, o Correio do Porto precisa captar os recursos que o viabilizem, sem com­ prometer sua linha editorial. Portanto, “financiam” o jornal, basicamente, os assinantes, pessoas desejosas de dispor de um meio informativo confiável. Por isso, o jornal nasce como um semanário, embora ambicione, um dia, tornar-se um diário. Esperamos que num futuro próximo possamos reunir condições de mercado que demande uma estrutura operacio­nal que nos permita edições diárias para satisfazer nossa comunidade de forma quase instantânea com a velocidade com que a factualidade dos fatos ocor­rem. Sérgio Antonio Maroto¹, um dos sócios do Correio do Porto. (informação verbal).

Desde sua edição de número um, o Correio do Porto vem sendo publicado semanalmente e ain66

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da não está disponível para acesso na Internet, a Rede Mundial dos Computadores, o que poderia permitir, diariamente, a inclusão de informações que mereçam chegar ao conhecimento imediato de seus leitores, além de indicações de leituras e sítios. A tarefa básica do Correio do Porto é contextualizar as notícias, interpretar os fatos e as falas, desvelar a manipula­ção dos veículos de comunicação, em resumo, explicar o noticiário que seus leitores ouviram no rádio, viram na televisão ou leram nos diários, durante a semana. Jornalista, editor-chefe e só­cio do Correio do Porto, José Aparecido².(informação verbal).

O Correio do Porto funciona na avenida Presidente Vargas, conforme citado anteriormente, sob o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) 02.510.547/0001-62 e seu e-mail é <correiodoporto@ uol.com.br>. Todos os setores, englobando redação, diagramação e paginação estão centralizados nas duas salas alugadas de um prédio comercial da cidade. Por ser um jornal com poucas pessoas trabalhando, ficou ainda mais fácil concentramos todos os departamentos em um só endereço, ganhando em in­teratividade e em rapidez na tomada de decisões e na edição do produto. José Aparecido³ (informação verbal).

A proposta de José Aparecido é a de que o Correio do Porto “cresça em circulação e ganhe maior importância no cenário local e nos municípios da Bacia do Porto Primavera”. Segundo o editor-chefe, ao ser entrevistado, o jornal sempre abordará mais os temas locais com profundidade, mas sem esquecer do vínculo com a região, onde “também queremos que ele ganhe cada vez mais força”, disse. José Aparecido lembrou que as opiniões de cidadãos comuns, sobre os mais diversos assuntos,

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serão cada vez mais utilizadas nas páginas do jornal. O planejamento editorial foi reforçado pelo projeto gráfico. O jornal passou do formato germânico para stand. “O trabalho foi no sentido de que a informação fique me­lhor destacada, que a notícia salte aos olhos do leitor”, ressaltou José Aparecido na entrevista. O Correio do Porto possui um editor-chefe, dois repórteres, um fotógrafo e dois, dos três sócios, redigem notícias e editam o jornal. Seu departamento comercial é composto por vendedores autônomos e pelos próprios diretores-proprietários. Sobre a linha editorial do jornal Correio do Porto, o jornalista e diretor de Redação do jornal O Imparcial, Adelmo Santos Reis Vanalli4 (informação verbal), que o acompanha desde o surgimento, afirma: O jornal Correio do Porto nasceu das mãos experientes de um antigo jorna­lista, com militância na chamada “gran­de imprensa” paulista. Ao aposentar-se, mas sem abandonar de vez o trabalho que sempre fez, decidiu viver no ex­tremo oeste do Estado – Presidente Epitácio – onde já residiam os fami­liares de sua mulher. José Aparecido foi sempre um idealista, contestador e permanentemente inconformado com os deslizes da “classe dirigente”. Quando chegou a Presidente Epitácio já havia um jornal de apoio ao situa­cionismo. Entendendo que não havia nenhum espaço para abrigar as vozes de oposição, e com esse objetivo, criou o Correio do Porto, com a consciência de que seria muito difícil mantê-lo, com os gastos de um corpo de redatores, com sua elaboração informatizada e com a sua circulação. Como se tratava de um semanário, ele podia folgadamente responder sozinho pela produção redatorial. Entretanto, preferiu recrutar alguns colaboradores, pinçados da própria comunidade. Sabia também que nunca contaria com as publicações oficiais do município e, portanto, era preciso sensibilizar os empresários locais para obter deles suporte de anúncios. Por essa razão o Correio do Porto sobre­vive já há seis anos e pode marcar uma longa existência. O segredo de sua linha redatorial é não estar atrelado a ne­nhuma liderança política de oposição, entre as duas existen68

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tes no município. Isso é que o reveste de credibilidade junto à parcela ponderável da opinião pública. No início de sua circulação, a linha adotada era muito agressiva, digamos raivosa. E podia ensejar alguns problemas com a Lei de Imprensa. A linguagem foi amenizada, mas sem dúvida, continua crítica. Ultimamente vem respondendo pelo seu conselho editorial o jornalista Benedito de Godoy Moroni, que é também advogado, tendo em vista o estado de saúde do fundador José Aparecido. Moroni é experiente e a condição de advogado leva o semanário a uma po­sição equilibrada. As críticas podem ser contundentes, mas sempre muito bem fundamentadas. Nessas condições a cidade conta com dois jornais, pelos quais, na compara­ção, é sempre possível buscar a verdade do fato.

5.5 Linguagem jornalística O texto jornalístico oferece, além de informações, controle de qualidade para que os leitores possam atribuir credibilidade à mensagem transmitida. Esse controle se dá através da confiabilidade aferida à linguagem jornalística, o que torna o relato jornalístico bem sucedido no tocante à sua capacidade de provocar interações sociais. Quanto à linguagem, de acordo com Lage (1997, p. 36) “a linguagem coloquial é espontânea de raiz materna, reflete a realidade comunitária, regional, imediata, alguns de seus conhecimentos são passageiros, outros terminam por se formalizar, incorporando-se à literatura e à escola”. No suplemento de retrospectiva de um ano do Correio do Porto, buscamos a linguagem clara, informativa e direta da informação que leve o leitor ao entendimento da mensagem. Segundo a sua direção, o Correio do Porto executa cada uma de suas edições a partir de uma pauta relevante para a comunidade e buscada com criatividade, o processo da apuração da notícia é resguardado pela precisão e pelo rigor, a depuração é realizada por critérios de relevância e significação. Como já foi dito, o jornal busca pautar e

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comentar com independência. Assim, ao elaborarmos o suplemento, estaremos seguindo os mesmos princípios, que pautam um jornalismo sério e contributivo. Como jornais são lidos não apenas por leitores estudados: Do ponto de vista da eficiência da co­municação, o registro coloquial seria sempre preferível. É mais acessível para as pessoas de pouca escolaridade e, mesmo para as que estudaram ou li­dam constantemente com a linguagem formal, permite mais rápida fruição e maior expressividade. (LAGE, 1997, p. 37)

5.6 As seções do jornal O Jornal Correio do Porto, conforme constata-se no Anexo D, está subdividido em seções, discriminadas abaixo: Capa/primeira página (colorida), composta por: a) chamadas das matérias internas que foram distribuídas em várias seções; b) Manchete com a principal infor­mação da edição, no alto da página. Nosso suplemento com oito páginas sobre a retrospectiva de um ano das matérias publicada pelo Correio do Porto estará alicerçado dentro do “padrão” estabelecido pelo jornal, com as mesmas seções e os fatos que marcaram a cidade de Presidente Epitácio. Opinião/página 2 (a 2ª página que ocupa o expediente) compostas por: a) Seção de Cartas-trechos de corres­ pondências enviadas ao jornal, vinda de leitores e de personalidades da cidade, região, estado e do País sobre temas diversos; b) Charge - bem humorada que expri­me uma reflexão ou crítica local e regional sobre tema atual 70

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abordado na edição; c) Artigo-texto mais aprofundado. É opinativo, mas apresenta embasamento, dados e expli­ cações. São textos de especialistas em áreas de interesse da comunidade como política, religião, social; d) Coluna Arame Farpado - espaço em que o jornal expressa seu ponto de vista sobre alguma questão local e regional no campo político. Geralmente são notas curtas e apimentadas; e) Expediente: Contém o nome do jornalista responsável, Conselho Editorial, gráfica e endereço da redação. Polícia e Cidade/página 3 (PB), com­ posta por: a) Notas de acontecimentos poli­ciais da cidade e região durante a semana, em uma espécie de retrospectiva, e outros factuais que ante­cedem à edição; b) Matérias (de 3 a 5) que abordam questões sobre educação, saúde, transporte, meio am­biente, ecologia e problemas sociais de caráter geral. Temas como lixão, esgoto, canalizações, assoreamento também têm espaço nesta página. Geral e Cidadania/páginas 4 e 5 (PB), compostas por: a) Matérias que tratam de questões pontuais dos municípios e da Bacia do Porto Primave­ra e podem abordar um problema de uma cidade ou programa desenvolvido em um município que pode servir de exemplo a outros, além de matérias relativas à administração pública municipal nos poderes executivo e legislativo local e regional; b) Matérias com representantes de trabalhadores e patronais de sindicatos e associações, sempre enfocando a conflituosa relação capital/trabalho ou atividades desenvolvidas a seus associados. Variedades e Cultura / página 6 (PB), composta por: Espaço para textos literários, passatem­

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pos, quadrinhos, horóscopo, novelas, palavras cruzadas e anúncios populares de classificados. Esportes/ página 7 (PB): São destaques matérias sobre o Cam­ peonato amador de futebol de Presidente Epitácio e rodada do fim de semana. A Coluna Mosaico enfoca categorias inferiores de futebol de campo como fral­dinha, dente de leite e dentão e outras modalidades de esportes, como basquete, futsal, vôlei, etc., além de julgamentos e decisões promovidos por cada entidade esportiva. Social / página 8 (contracapa, colo­rida): Notas e fotos que vão de crianças a adul­ tos que ganham destaque ou que encaminham ao jornal suas fotos anunciando aniversário, bodas, casamento, noivado, festa de formatura, lançamentos de livros, entre outras atividades sociais do município e da cidade da Bacia do Porto Primavera. Por ser tratar de página colorida, as fotos sociais dão vida à edição. Os projetos editorial e gráfico do Correio do Porto permitem a utilização de fotos horizontais e verticais para ilustração, boxes, subdivisões de textos em intertítulos e outros recursos jornalísticos como texto­legenda – muito usado nas edições.

________________________ 1 Entrevista concedida na sede do Correio do Porto, Presidente Epi­t ácio, 2003 (informação verbal) 2 Entrevista concedida na sede do Correio do Porto, Presidente Epi­t ácio, 2003 (informação verbal) 3 Idem (informação verbal) 4 Entrevista concedida na sede do Imparcial, Presidente Prudente, 2003 (informação verbal)

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6 SUPLEMENTO ESPECIAL DE ANIVERSÁ­RIO DO CORREIO DO PORTO 6.1 Justificação Este trabalho acadêmico visa a confecção de um suplemento especial de aniversário, do sexto ani­ versário, do jornal Correio do Porto, para o qual são apli­ cados os embasamentos teóricos e práticos aprendidos durante o curso de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo. Assim, utilizamo-nos das normas e téc­ nicas jornalísticas, para o desenvolvimento do produto. O suplemento fará o acompanhamento e registro da história de Presidente Epitácio, retratada através das edições compreendidas entre 13 de novembro de 2002, a novembro de 2003, do jornal Correio do Porto. O suplemento, produto final deste tra­ balho acadêmico, além do acompanhamento e registro da história local, tem por finalidade contribuir como impulso e cimento para a formação da consciência de cidadania e educação/integração do indivíduo na vida comunitária. Outrossim, a elaboração da retrospectiva anual desse mesmo jornal do interior, atua como mais um ato de documentação dos principais fatos ocorridos e noticiados, além de seus desdobramentos políticos e sociais. A retrospectiva proposta destina-se a revolver fatos publicados durante o ano, e que foram pautados pela lógica que organiza o espaço da imprensa onde, a cada edição as manchetes promovem à categoria de “surpreendentes” fatos que, necessariamente, não os são. Essa retrospectiva anual servirá como lente para observarmos efetivamente o sucedido durante o ano, para não incorrermos no erro apontado por Ortega y Gasset (1967, p.67):

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O adágio alemão afirma que as árvores não deixam ver o bosque. Selva e cidade são duas coisas essencialmente profun­das, e a profundidade está condenada de maneira fatal a converter-se a superfície se se quer manifestar.

Isto significa que muitas vezes as notícias não deixam ver a história, por esta ficar encoberta pela cortina de novidades. 6.2 Projeto editorial O suplemento de aniversário do jornal Correio do Porto segue os mesmos parâmetros editoriais das edições semanais, já que seu conteúdo jornalístico publicado é o mesmo inserido no especial. Nosso produto final obedece aos pre­ ceitos básicos do jornalismo pertinentes à linguagem, elaborando textos claros, diretos, objetivos, informativos e ricos em detalhes relevantes, permitindo que o leitor chegue a um entendimento correto da mensagem. A seleção do conteúdo jornalístico inseri­ do no suplemento resulta de pesquisa realizada em todas as edições do jornal Correio do Porto, no período de 13 de novembro de 2002 a novembro de 2003. As matérias foram selecionadas a partir da ordem de hierarquização, partindo da premissa do interesse público, com o objetivo de alcançar, respectivamente, o maior número de pessoas que possam ser envolvidas com as notícias publicadas e selecionadas para a edição. Desta forma, este trabalho tem a preocupação de fugir do modelo jornalístico contemporâneo que apresenta a novidade como produto a cada edição. A retrospectiva permite que os fatos noticiados pelo Correio do Porto durante o período abordado no presen­ te suplemento, como diz Leão Serva (2001, p.125) dê “ao leitor ferramentas importantes para uma eventual compreensão deles”. Assim procedendo, a retrospectiva 74

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permite ao leitor ver o retrato dos fatos de forma plena e contextualizada. 6.3 Projeto Gráfico A preocupação com o projeto gráfico é fundamental. Para tanto, atenção especial foi dada à diagramação, tipologia, gramatura, cores, impressão e design gráfico, todos itens técnicos aglutinados no projeto editorial em consonância com o projeto gráfico. Como já observado por João Roberto do Prado (Apud MORAIS, 2001, p.39) o discurso gráfico é um conjunto de elementos visuais de um jornal, revista, livro ou tudo que é impresso. Como discurso, ele possui a qualidade de ser significável; para se compreender um jornal não é necessário ler. Então, há pelo menos duas leituras: uma gráfica e outra textual.

Etimologicamente, diagramação provém do latim diagramma (desenho geométrico usado para demonstrar ou resolver algum problema, além de re­ presentação gráfica da lei de variação de um fenômeno). Através da diagramação é que dispomos em livros, jornais e revistas os textos, as fotos, as ilustrações ou os gráficos. Vários autores discorrem sobre o que é diagramar. Dentre eles destacamos o estabelecido por Rafael Souza Lima (Apud MORAIS, 2001, p.40) quanto à programação visual: a diagramação é o projeto, a configura­ção gráfica de uma mensagem colocada em determinado campo (página de li­vro, revista, jornal, cartaz), que serve de modelo para a sua produção em série. A preocupação do programador visual e, consequentemente, sua tarefa espe­cífica, é dar a tais mensagens a devida estrutura visual a fim de que o leitor

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possa discernir, rápida e confortavel­mente, aquilo que para ele representa algum interesse.

Por isso tem-se que levar em conta as ideias que as palavras deverão representar, os elementos gráficos a serem utilizados, a importância relativa das ideias e dos elementos gráficos e a ordem de apresen­ tação. Tudo isto para que consigamos transmitir visual­ mente a mensagem da página. Na elaboração do suplemento segue-se a padronização gráfica adotada pelo jornal Correio do Porto, sem excluir eventuais estudos para readequar os ele­ mentos gráficos às necessidades e anseios do leitor. Isto principalmente para fazer face à concorrência exacerbada que existe nos meios de comunicação, notadamente do rádio, da TV e da Internet. Outro ponto a ser atentamente observado na diagramação é o tocante as zonas de visualização. Edmund C. Arnold (apud BAHIA, 1990, P. 118), lembra que o sentido usual de perceber a leitu­ ra visual ocidental é da esquerda para a direita. Desta forma a primeira parte que se olha é o canto superior esquerdo da escrita. Esta é a zona primária, a qual deverá conter elemento atrativo para o leitor. Logo em seguida a visão é deslocada diagonalmente para o canto inferior direito da página, a zona secundária. Estas são as zonas de maior visualização. As zonas mortas, compreendidas do canto inferior esquerdo até o canto superior direito, são destituídas de grande atração. Desta forma nesses espaços devemos concentrar especial atenção a fim de que o interesse do leitor recaia nessas partes. Para tanto é prática utilizar-se de imagens nesses espaços. Tem­-se que considerar a diferença entre centro geométrico (cruzamento das duas diagonais) de centro ótico (pouco acima do centro geométrico) para se realizar uma boa diagramação. A tipologia adequada é outro fator de 76

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suma importância para permitir uma boa leitura. Da correta utilização da tipologia depende a forma como o leitor perceberá o que se quer transmitir, podendo de­ monstrar formalidade ou descontração, frieza ou calor, modernidade ou tradição. Saber como adequar isso é uma das tarefas do diagramador. Outro fator a ser observado é o corpo ou tamanho do tipo utilizado. Na maioria dos casos são utilizados corpos que variam entre 9 e 12 pontos. Modesto Farina (2000, p. 33) destaca que “pessoas de lugares tropicais gostam mais de cores saturadas e com brilho; porém, os moradores de regiões mais temperadas possuem uma tendência para cores sombrias”. A preferência por cores pode ser influen­ ciada, ainda, por costumes sociais, como, por exemplo, cores de roupas sóbrias de pessoas idosas e vivas para jovens. As sensações visuais precisam ser con­ sideradas, tanto as acromáticas, como as cromáticas. Acromáticas são aquelas que têm apenas sensações da luminosidade, incluindo-se as tonalidades entre o branco e o preto. Cromáticas abrangem todas as cores do espectro solar. Estudando mais profundamente as cores, podemos constatar sensações que as mesmas podem causar nas pessoas. Farina (2000, p. 89) mostra que o vermelho é cor quente e o azul cor fria e que quando utilizadas em conjunto provocam o “fenômeno do con­ traste”, que causa impacto, atraindo a atenção do leitor. O autor (2000, p. 201) argumenta, também, que o azul se equilibra e harmoniza com o vermelho, estimulando a espiritualidade, combinação delicada e de maior eficácia em Publicidade. Serão utilizadas harmonicamente as cores nas duas pá­ginas (capa e contracapa), procurando tornar agradável a percepção do leitor

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6.4 Tipologia No suplemento do Correio do Porto, a escolha da tipologia baseou-se no critério de facilidade de leitura, tanto na forma quanto no tamanho, não se desvinculando do projeto gráfico original do Correio do Porto. Desta maneira utilizamos os seguintes parâmetros:

Cabeça de coluna: Tahoma - 18/20 negrito

FACULDADE DE CO­MUNICAÇÃO SOCIAL JORNA­LISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Con­clusão de Curso – TCC Cabeça de matéria: Exotc350 DmBd BT - 18/21.6 - negrito

FACULDADE DE COMU­NICAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESI­DENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC 78

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Corpo de texto: Times New Roman -11/12 FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MA RINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC Crédito de foto: Futura Bk BT - 6/7,2

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso – TCC

Crédito matéria/ Artigo: Times 12/14.4

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC Legenda: Times New Roman - 11/12 – negrito - itálico FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso – TCC

Manchete: Futura XBlkCN BT - 36/43.2

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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SO­CIAL JORNALISTA “ROBERTO MARI­NHO” DE PRESI­DENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Cur­so - TCC 80

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Subtítulo: Amertype Md BT - 11/12 - negrito FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SO­CIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso – TCC

Título 1: Times New Roman - 24/28.2 - negrito

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Con­clusão de Curso – TCC Título 2: Times New Roman - 14/16.8 - negrito - sublinhado

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SO­CIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

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Título 3: Arial - 15.5/18.6

FACULDADE DE COMUNI­CAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESI­DENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

Título de Anúncio: Time New Roman - 10/12

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

Título Arame: Arial Black - 12/14.4

FACULDADE DE COMUNICA­ÇÃO SOCIAL JORNALISTA “ROBERTO MARINHO” DE PRESIDEN­TE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

Título Artigo: Times New Roman - 36/43.2 itálico

FACULDADE DE MUNICAÇÃO 82

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SOCIAL JORNA­LISTA “ROBER­TO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC Título Matéria: Times New Roman - 36/43.2

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

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JORNA­LISTA “ROBER­TO MARINHO” DE PRESIDENTE PRUDENTE Trabalho de Conclusão de Curso - TCC 6.5 Dados técnicos do produto Tipo de impressão: offset Papel: jornal Uso de cor: duas páginas coloridas (capa e contra capa) e seis páginas PB Tiragem: 1.000 exemplares Circulação: suplemento inserido em uma das edi­ções do mês de novembro de 2003 do jornal Correio do Porto Formato: stand Páginas: oito 84

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Número de propagandas: serão destinados cerca de 30% a 40% do espaço Produção gráfica: sob a supervisão dos autores Produção de fotolitos: na gráfica onde será impresso o suplemento Impressão: gráfica particular que apresentar o me­nor custo 6.6 Pesquisa Nossa pesquisa sobre os fatos que mais marcaram os assinantes do Correio do Porto no período de 13 de novembro de 2002 e novembro de 2003 foi efetuada com pessoas das mais variadas classe sociais. Realizou-se a pesquisa nos dias 27 e 28 de setembro de 2003. No universo de 657 assinantes, entrevistou-se 20% desse total, ou seja, 132 pessoas. Foi ouvida uma pessoa por residência, pesquisando nos diversos pontos da cidade, a fim de obter-se uma amostra diversificada. Escolheu-se a Pesquisa de Campo Explo­ ratória devido a esta, como demonstra Lakatos (1991, p. 189), “aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno [...] ou modificar e clarificar conceitos”. Isto facilitou e permitiu formulações quantitativas (fechadas) e qualitativas (abertas). A pes­ quisa quantitativa, que é objetiva, foi elaborada através de questionário composto por questões de múltipla escolha ou, ainda, concordância com uma afirmativa. A pesquisa qualitativa, que por sua vez é subjetiva, deixando em aberto as respostas. A pesquisa, para Ander-Egg (Apud LAKATOS, 1991, p. 155) é um “procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”.

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As questões foram apresentadas oralmen­ te ao entrevistado para que este respondesse ao questio­ nário e perguntas abertas. O resultado final permitiu a escolha dos principais tópicos que foram abordados pelo suplemento. Questionário e perguntas abertas apre­ sentadas: 1 – Sexo [ ] masculino [ ] feminino 2 – Idade [ ] até 20 anos [ ] de 20 a 30 anos [ ] de 30 a 40 anos [ ] de 40 a 50 anos [ ] de 50 a 60 anos [ ] acima de 60 anos 3 – Trabalha? [ ] sim [ ] não 4 – Escolaridade [ ] fundamental incompleto [ ] fundamental completo [ ] médio incompleto [ ] médio [ ] superior incompleto [ ] superior [ ] pós-graduação incompleto [ ] pós-graduação

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5 – Em geral você considera que o que o jornal Correio do Porto apresenta: [ ] é importante [ ] é muito importante [ ] é pouco importante [ ] não é nada importante

mais aprecia?

6 – Qual seção do Correio do Porto você [ ] charge [ ] arame farpado [ ] notícias [ ] horóscopo [ ] esporte [ ] social

7 – Você se lembra mais de qual destas manchetes do Correio do Porto? [ ] Prefeito troca o trevo por dinheiro[ ] Anulada classificação do concurso [ ] Ferrovia nunca mais, diz Ludovico [ ] Volta dos desfiles estimula comércio [ ] Pedida a cassação de Adhemar [ ] Governo apura potencialidades no Tietê-Paraná [ ] Tribunal rejeita contas de Adhemar [ ] Matadouro ameaça saúde pública [ ] João Bérgamo foi condenado de novo [ ] Justiça condena Brescansin, Carlos e Aldo [ ] Outra ______________________ 8 – Sobre qual tema você gostaria que o Correio do Porto desse mais informações?

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9 – Além do Correio do Porto que jornal você lê? [ ] Estadão [ ] Folha S. Paulo [ ] Imparcial [ ] Oeste Notícias [ ] A Fronteira [ ] nenhum outro [ ] outro __________________ 6.6.1 Resultado da pesquisa realizada Foram realizadas 132 consultas, corres­ pondendo a 20% do universo de assinantes do Correio do Porto. Os resultados obtidos, devidamente tabulados, são: 1 – Sexo:

1: masculino 2: feminino

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2 – Idade:

1: até 20 anos 2: de 20 a 30 anos 3: de 30 a 40 anos 4: de 40 a 50 anos 5: de 50 a 60 anos 6: acima de 60 anos 3 - Trabalha?

1: sim 2: não 4 – Escolaridade

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1: fundamental incompleto 2: fundamental completo 3: médio incompleto 4: médio completo 5: superior incompleto 6: superior completo 7: pós-graduação incompleto 8: pós-graduação completo 5 – Em geral, você considera que o que o jornal Correio do Porto apresenta

1: é importante 2: é muito importante 3: é pouco importante 90

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4: não é nada importante 6 - Qual seção do Correio do Porto você mais aprecia?

1: charge 2: arame farpado 3: notícias 4: horóscopo 5: esporte 6: social 7 – Você se lembra mais de qual destas manchetes do Correio do Porto?

1: Prefeito troca o trevo por dinheiro (22 nov. 2002)

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2: Anulada classificação do concurso (29 nov. 2002) 3: Ferrovia nunca mais, diz Ludovico (31 jan. 2003) 4: Volta dos desfiles estimula comércio (7 mar. 2003) 5: Pedida a cassação de Adhemar (18 abr. 2003) 6: Governo apura potencialidades no Tietê-Paraná (1º maio 2003) 7: Tribunal rejeita contas de Adhemar (13 jun. 2003) 8: Matadouro ameaça saúde pública (18 jul. 2003) 9: João Bérgamo foi condenado de novo (15 agosto 2003) 10: Justiça condena Brescansin, Carlos e Aldo (19 set. 2003) 11: Não lembra 8 - Sobre qual tema você gostaria que o Correio do Porto desse mais informação?

1: carnaval 2: educação 3: esporte 4: estadual/nacional 5: policial 6: política 7: economia 8: emprego 9: família 92

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10: administração municipal 11: não sugeriram tema para mais informação 9 – Além do Correio do Porto que jornal você lê?

1: Estadão 2: Folha S. Paulo 3: Imparcial 4: Oeste Notícias 5: A Fronteira 6: nenhum outro 7: outro 6.6.2 Dedução da pesquisa O principal objetivo da pesquisa foi identificar as matérias mais relevantes noticiadas pelo jornal Correio do Porto durante um ano sob o ponto de vista do leitor. Além disso, a aplicação da pesquisa per­ mitiu que fizéssemos um levantamento sobre questões importantes para que o jornal Correio do Porto identifi­ que melhor o seu leitor. Nesse sentido concluímos: 1) Os leitores do Correio do Porto, em sua maioria (64%) estão situados na faixa dos 30 aos 60 anos de idade;

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2) Esses leitores, em grande parte, trabalham (65%); 3) O Correio do Porto tem entre seus leitores um percentual elevado (70%) de pessoas com o curso médio e superior; 4) Todos os entrevistados (100%) opinaram que o Correio do Porto é importante (44%) ou muito importante (56%). Nenhum disse que o jornal é pouco importante ou nada importante; 5) Quanto as seções publicadas, Arame Farpado e No­ tícias têm a preferência de 69% dos leitores consultados; 6) As manchetes mais lembradas são as de conotação política 51% (itens 5,7,9 e 10); 7) O público leitor, em sua grande maioria (74%) está sa­tisfeito com os enfoques abordados pelo Correio do Porto e 8) Além do jornal Correio do Porto, 59% dos pesquisados leem preferencialmente jornais regionais. Estes dados levam a concluir que os leitores do Correio do Porto constituem-se em pessoas portadoras de boa escolaridade, com potencialidade de compra por, em sua maioria, trabalharem. Eles são in­teressados em acompanhar a política regional, inclusive, dando preferência a jornais regionais.

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6.7 Pรกginas do suplemento

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7 CONCLUSÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso – TCC – da Faculdade de Comunicação Social de Presidente Prudente Jornalista “Roberto Marinho”, da Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE – para habilitação em jornalismo teve por objetivo aplicar os ensinamentos das aulas teóricas e práticas, ministradas e apreendidas durante o curso e a pesquisa de fundamentação teórica, para a qual, também, nos preparamos, a serviço de um produto jornalístico com caráter de contribuição social. Nossa pesquisa bibliográfica contém a história geral do jornalismo no mundo, no Brasil, o jornalismo regional de Presidente Prudente e, em especial, de Presidente Epitácio. A revisão e ampliação dos conceitos consolida, ainda mais, nossa formação profissional. No percurso da pesquisa, identifica-se a tendência à regionalização das comunicações, fator determinante para o fortalecimento do caráter comunitário do jornalismo. A regionalização favorece o exercício da cidadania, pela sociedade, ao comportar e expressar as várias tendências e ao expor a problemática cotidiana das comunidades, incentivadas pela ação jornalística, a participar da vida pública. Isso “[...] sempre em conformidade com a realidade, necessidades, expectativas, gostos e culturas locais, visando o desenvolvimento das comunidades” (PERUZZO. 1998, p.145-151 passim). O estudo serviu para a elaboração do “suplemento de 6º aniversário do jornal Correio do Porto”, oferecendo à comunidade epitaciana uma retrospectiva dos principais fatos noticiados entre 13 de novembro de 2002 e novembro de 2003. O suplemento, por sua vez, contribuiu

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para a memória histórica de Presidente Epitácio, haja vista seu teor relevante de assuntos relacionados ao dia-a-dia da sociedade epitaciana no período abordado. Para a elaboração do suplemento fez-se pesquisa de opinião entre 132 leitores do Correio do Porto, que corresponde a 20% do universo de 657 assinantes, para obter o perfil e identificar as necessidades dos mesmos. Esse exercício reforçou em nós, ainda, a convicção de que, para se praticar um bom jornalismo, é preciso ouvir a comunidade ao qual ele se destina. A principal lição que nos fica é a de que a grande imprensa não dá conta de todo o universo do jornalismo. Tem a mesma papel importante e inquestionável de colocar os grandes temas nacionais e mundiais. Paradoxalmente, no mundo globalizado pela comunicação, cresce a grande imprensa e, ao mesmo tempo, há crescimento da imprensa regional. Para tanto é preciso atentar para a importância do jornalismo regional, não só como expressão legítima dos municípios e polos regionais do interior, mas também como promissor mercado de trabalho para os profissionais do jornalismo.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABREU, Diores Santos. História de Presidente Prudente. Disponível em: <www.camarapprudente.sp.gov.br>, Acesso em: 22 agosto 2003. BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: História da imprensa, v.1. São Paulo: Ática, 1990. ______. Jornal, História e Técnica: As técnicas do Jornalismo, v.2. São Paulo: Ática,1990. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 2001. CUNHA, Francisco. Memórias de um picadeiro; Crônicas. Presidente Prudente: Fundação Museu Municipal, 1980. DOWBOR, Ladislau. Da globalização ao poder local. Disponível em: <www.dowbor.org>, Acesso em: 8 set. 2003. FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: 4 ed., Edgard Blucher, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: 15 ed., Paz e Terra, 1985. HENNING, Hermano. Jornalismo Regional. Folha da Região. Araçatuba: 11 jun. 2002, p. 7. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Disponível em: <www.ibge.com.br/home/presidencia/default_ant. shtm>, Acesso em: 4 out. 2003. LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo: 5 ed., Ática, 1997. ______. Estrutura da Notícia. São Paulo: 4 ed., Ática, 1998.

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de conclusão de curso (Jornalismo) – Faculdade de Comunicação Social de Presidente Prudente, Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, Presidente Prudente. ORTEGA Y GASSET, José. Meditações do Quijote. São Paulo: Ibero-Americano, 1967. PAIVA, Raquel. O Espírito Comum: Comunidade, mídia e globalismo. Petrópolis: Vozes, 1998 PERUZZO, Cicília M. Krohling. Mídia Comunitária. São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 1998. PINTO, Luis Esteves. Um jornal comunitário na era da globalização. Campo Grande: INTERCOM – Soc. Bras. de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, XXIV Congresso Bras. da Comunicação, 2001. PINTO, Virgílio Noya. Comunicação e Cultura Brasileira. São Paulo: 4 ed., Ática, 1995. QUEIROZ, Adolpho. Jornalismo Regional. Folha da Região. Araçatuba: 11 jun 2002, p. 8. RECORDAR é viver. A Fronteira. Presidente Epitácio: 20 set. 2003, p.4. REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicação empresarial/comunicação institucional. São Paulo: Summus, 1986. RIBEIRO, Jorge Cláudio. Sempre Alerta; condições e contradições do trabalho jornalístico. São Paulo: Olho D’água, 2001.

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ROSAS, Fábio Sampaio; FILETTI, Janaina; MAGALHÃES, Mara Lúcia. Normas e padrões para apresentação de trabalhos acadêmicos e científicos da Unoeste. Presidente Prudente: 2 ed., Unoeste, 2003. ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. São Paulo: 10 ed., Brasiliense, 1995. ______. Vale a pena ser jornalista? São Paulo: 3 ed., Moderna, 1992. SALERNO, Fernando. Jornalismo Regional. Folha da Região. Araçatuba: 11 jun. 2002, p. 8. SANTINI, Roberto Clemente. Jornalismo Regional. Folha da Região. Araçatuba: 11 jun.2002, p. 8. SANTOS, Waldery. Caiuá – História de sua fundação: história. Caiuá, 11 jul. 2000. 1 disquete, 3 ½ pol. Word for Windows 7.0. SERVA, Leão. Jornalismo e desinformação. São Paulo: SENAC, 2001. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2000. SILVA, Josefa Costa; ALVES, Marcela Aparecida Pereira; PULZATTO, Michelli; MENOSSI, Thais Helena Gomes. O Imparcial: Um jornal com sessenta anos de história. 1999. 122f. Trabalho de conclusão de curso (Jornalismo) – Faculdade de Comunicação Social de Presidente Prudente, Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, Presidente Prudente. TAIAR, Neif. História do Oeste de São Paulo. Presidente Pru-

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dente: Emubra Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 2003. CD-ROM Base de dados em Comunicação, Jornais em Presidente Prudente. THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: Teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2000. TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho. “Conversas” sobre a pesquisa em Ciências Sociais. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 1994. TOMAZELA, José Maria. Superacampamentos podem ser despejados. O Estado de São Paulo. São Paulo, 24 jun 2003, A9. VIZEU, Alfredo. O jornalismo e a notícia. Disponível: <www. observatoriodaimprensa.com.br>, Acesso em: 8 set. 2003. WHITAKER, Francisco Guilherme de Aguiar. Recordações. [S.l. : s.n.], 1934

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ANEXO A – HISTÓRIA DE PRESIDENTE PRUDENTE A cidade de Presidente Prudente foi fundada a 14 de setembro de 1917, ano em que foi formado o primeiro núcleo de povoamento e intensificada a venda de terras na zona rural. Presidente Prudente está localizada no sudoeste do Estado de São Paulo, numa área popularmente denominada Alta Sorocabana, nas proximidades do Rio Paraná, em cujas barrancas a antiga Estrada de Ferro Sorocabana termina suas linhas. Para entender o surgimento de Presidente Prudente é preciso retroceder um pouco mais no tempo. A parte sudoeste paulista era chamada no século XIX e princípio do XX, de Vale do Paranapanema ou Sertão do Paranapanema, ia desde Sorocaba até o Rio Paraná. Sua descrição geográfica científica mais antiga foi feita por Teodoro Sampaio. Segundo o professor da Unesp de Presidente Prudente (Universidade Estadual Paulista), Diores Santos Abreu (História. Acesso em: 22 agosto 2003), o Vale do Paranapanema abrangia uma área de 109.000 Km2, sendo 27.400 Km2 pertencentes ao Estado de São Paulo. A ocupação da região deu-se na segunda metade do século XIX. Os primeiros desbravadores do Sertão do Paranapanema foram os mineiros José Teodoro de Souza, João da Silva Oliveira e Francisco de Paula Morais. Essas terras desocupadas propícias à criação atraíram aqueles aventureiros que fizeram na região grandes posses e fundaram cidades como São Pedro do Turvo, Conceição de Monte Alegre e Campos Novos do Paranapane

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ma. Os três primeiros, iniciadores da ocupação, incentivaram famílias de Minas Gerais a se fixarem na região. A decadência da mineração, o crescimento demográfico, a partilha de propriedades por heranças sucessivas levaram populações mineiras à dispersão. Num primeiro momento dirigiram-se para os contrafortes paulistas da Serra da Mantiqueira. Posteriormente, foram procurando terras mais para o oeste paulista, terras desocupadas que oferecessem possibilidades para a pecuária e a agricultura. Assim foram se estabelecendo no Vale do Paranapanema. As famílias mineiras compraram daqueles três pioneiros ou seus descendentes, as aguadas, isto é, terras compreendidas entre duas linhas de morros, correspondendo a uma pequena bacia hidrográfica. A água era o elemento indispensável à propriedade. Além de pequenas lavouras de subsistência, a principal atividade econômica dos mineiros era a criação. Os animais eram soltos no campo, aproveitando-se a vegetação natural. Criavam-se porcos e gado vacum. Mais ou menos uma vez por ano levavam os animais gordos para os mercados do Leste, principalmente São Paulo. Voltavam com os carros de bois lotados de mercadorias como sal, querosene, pólvora e remédios. Os mineiros fixados no Sertão do Paranapanema formavam um povoamento ralo, disperso, sem o apoio de núcleos urbanos expressivos e com dificuldades de comunicação, que se fazia por caminhos precários e inseguros. Era uma região erma, ameaçada por índios e animais bravios que obrigavam os moradores a uma constante vigilância. As relações com os índios eram, em geral, inamistosos e sangrentas. A posse da terra fazia-se à 116

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custa de muita luta e mortes. Os índios não perdiam oportunidade para atacar, levando armas e instrumentos de trabalho que se achavam nas rústicas moradas. Ofereciam resistências aos que consideravam intrusos em suas terras. O revide dos pioneiros era revestido de todos os requintes de crueldade. Não havia nenhuma mediação do Governo entre os povoadores e os índios e a solução para afastar o obstáculo era a dizimação dos silvícolas. A crônica da violência na ocupação do Sertão do Paranapanema constitui uma amostra do comportamento do homem branco e da resistência do índio na penetração pelo interior brasileiro, em todas as épocas. No início do século XX, quando o café proporcionou outra fisionomia ao extremo oeste do planalto ocidental e os seus espigões foram tomados pelos cafeeiros, os plantadores que chegaram ao Vale do Paranapanema aproveitaram o trabalho de pioneirismo realizado pelos mineiros. Já havia caminhos abertos, os índios quase todos dizimados ou escorraçados e alguns núcleos urbanos serviam de ponto de apoio às plantações. A atividade de criação fornecia alimentação e animais de trabalho. Após essa fase inicial de desbravamento e ocupação pelos povoadores mineiros, que durou toda a Segunda metade do século XIX e princípios do XX, o sudoeste paulista conheceu uma segunda etapa de exploração intimamente ligada à invasão da onda cafeeira, vinda do leste, que ocupou não só o vale do Paranapanema, mas todas as terras virgens do planalto ocidental paulista. A fundação de Presidente Prudente se liga ao povoamento desta expansão cafeeira. Estimulado pelos bons preços dos mercados consumidores internacionais, o café no Brasil foi tomando conta do Rio de Janeiro, do sul de Minas Gerais, espraiando-se pelo Vale do Paraíba

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paulista e pelo território do Espírito Santo. Esgotadas as terras do chamado Norte de São Paulo, o cafeeiro pulou a região da Capital, pela impropriedade do clima, e foi se radicar em Campinas de onde fez trampolim para se açambarcar do Oeste Paulista. Na década de 20, do século XX, estimulados pela política de valorização do produto praticada pelo governo paulista, cresceram mais do que nunca os cafezais, chegando a atingir as fronteiras do Rio Paraná. O Café era a maior riqueza do Brasil e é natural que atraísse para as suas áreas capitais ansiosos para se reproduzirem, imigrantes recém chegados, trabalhadores rurais desejosos de se tornarem proprietários, profissionais liberais ambicionando fortuna e prestígio. A Alta Sorocabana, encravada no planalto ocidental paulista na sua parte sudoeste, não ficou incólume a essas consequências da marcha do café. A região foi ainda mais vulnerável do que as outras pela facilidade de transporte oferecida pelo prolongamento dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana que, diferentemente das outras ferrovias paulistas, precedeu o café, cumprindo um programa estratégico do Governo Federal, do ponto de vista político e militar, no sentido de tornar mais acessível o Oeste aos centros litorâneos. É dentro deste contexto da marcha do café pelos espigões do extremo-oeste de São Paulo, tendo como amparo a Estrada de Ferro sorocabana, que se coloca o aparecimento de Presidente Prudente. A busca de solos virgens para o café, a especulação com terras e a colonização pelo loteamento de grandes glebas resumem as características do povoamento da Alta Sorocabana. Os núcleos urbanos surgiram como pontos de apoio para a exploração econômica da região. Os fundadores 118

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de Presidente Prudente - Coronel Francisco de Paula Goulart e Coronel José Soares Marcondes - ambos fazendeiros de café e negociantes de terra, vieram participar da fortuna que o café propiciava, arrastando com eles milhares de lavradores que vieram cumprir nova etapa na exploração econômica e povoamento do antigo Sertão do Paranapanema. A cidade de Presidente Prudente nasceu da reunião de dois núcleos urbanos criados para ampararem as vendas de terras feitas por Goulart e Marcondes. Era preciso um centro de ligação entre o sertão e o mundo povoado que ficava à retaguarda, um local de abastecimento de gêneros e instrumental para o trabalho, onde se encontrasse escola, farmácia, médico e hospital. Esses elementos seriam atrativos para a fixação de compradores de terra. Eis o fundamento básico para o aparecimento da Vila Goulart e da Vila Marcondes, povoado que o município criado englobou na cidade de Presidente Prudente. As áreas de operações na venda de terras do Coronel Goulart e do Coronel Marcondes foram dois imóveis denominados, o do primeiro, Pirapó-Santo Anastácio, e o do segundo, Montalvão, situados entre os Rios do Peixe e Paranapanema, separados pelo espigão divisor dessas duas correntes de água. Esses latifúndios se originaram das posses dos precursores mineiros João da Silva Oliveira e Francisco de Paula Morais. Em 1917, Coronel Goulart chegou ao local onde se ergueria uma das estações da Estrada de Ferro Sorocabana, que estava com suas linhas em demanda ao Rio Paraná, e mando locar o sítio de um núcleo urbano, tendo ao lado uma fazenda que pretendia abrir para plantar café. Assim nasceu a Vila Goulart. A 14 de setembro de 1917,

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abriu-se a primeira clareira na cobertura florestal que dominava a região, onde hoje se dá a confluência da Avenida Brasil com a Avenida Washington Luiz. Ao mesmo tempo em que abria sua fazenda, Goulart ia vendendo terras de cultura do seu domínio aos que chegavam, participantes da invasão do café. Além de lavradores, apareciam outros mais interessados em comprarem lotes na Vila a fim de explorarem o comércio ou exercerem profissões diversas. Com a inauguração do tráfego normal de trens em 19 de janeiro de 1919, foi chegando mais gente e aumentando o povoamento tanto rural como urbano. Diferentemente de Goulart, Coronel José Soares Marcondes não era proprietário de terras. Possuía, entretanto, uma empresa colonizadora para a venda de terras - Companhia Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio. Obteve opção de venda de vários tratos de terra, dentre eles um na Fazenda Montalvão. Aportando na estação de Presidente Prudente em fins de 1919, Marcondes iniciou a venda de 4.700 alqueires no Montalvão, que foram retalhados em pequenos lotes. Não deixou ao acaso a chegada de interessados. Organizou pequenos lotes. Não deixou ao acaso a chegada de interessados. Organizou racionalmente uma campanha publicitária em todo o Estado e mesmo no exterior, divulgando as excelências do solo e as oportunidades de riqueza. Providenciou com a direção da Sorocabana transporte em vagões especiais. Em pouco tempo, estavam todos os lotes vendidos. Do outro lado da estação em frente à Vila Goulart, traçou a Vila Marcondes, a fim, como no caso da outra, servir de local de abastecimento e serviços. 120

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Com o crescimento dos dois centros urbanos baseados economicamente no café, acabou havendo a fusão. Quando houve a criação do município, a cidade tomou o nome da estação da estrada de ferro. Politicamente, a Vila Goulart e a Vila Marcondes pertenciam aos territórios dos municípios de Campos Novos do Paranapanema e Conceição do Monte Alegre. A duplicidade se explica pela confusão de fronteiras, fazendo com ambas disputassem a hegemonia que era muito significativa na ora da cobrança de impostos. Com o crescimento da população, foram surgindo as necessidades de urbanização, que as duas distantes comunas jamais proveram. Daí a campanha emancipacionista. O município de Presidente Prudente foi criado pela Lei n. º 1.798, de 8 de novembro de 1921, sendo instalado a 27 de agosto de 1923. A mesma lei criou também o Distrito de Paz. O território municipal abrangia terras que iam do Rio do Peixe, ao norte, ao Rio Paranapanema, ao sul. À leste, do Rio Laranja Doce, ao Rio Paraná, a oeste, totalizando uma área de 18.000 Km2, Presidente Prudente está hoje reduzido a 544 Km2. A autonomia judiciária veio para Presidente Prudente pela Lei n. º 1.887 de 8 de dezembro de 1922, desmembrando-se a nova comarca da de Assis. A instalação ocorreu em 13 de março de 1923. Surgida pelo impulso da economia cafeeira, Presidente Prudente nos anos posteriores da sua fundação, recebeu outros estímulos econômicos como o do algodão e o da pecuária nunca deixan

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do de existir as culturas alimentícias como a do feijão e a do milho. Com a chegada permanente de migrantes de todas as partes do Brasil e de imigrantes, com predominância dos japoneses, a cidade foi tendo um crescimento contínuo, transformando-se em centro polarizador da região sudoeste paulista, com reflexos no norte do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul, desfrutando justamente do apelido popular de Capital da Alta Sorocabana.

Desta forma pode-se constatar que a cidade de Presidente Prudente foi formada por “coronéis” que disputavam os poderes administrativo e político do município. Sob essa perspectiva, à época, não poderia ser diferente: a construção da imprensa escrita e seu desenvolvimento, até a década de 40, fez-se no escopo da facciosidade ideológica de grupos políticos e ou de agremiações partidárias.

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ANEXO B - HISTÓRIA DE PRESIDENTE EPITÁCIO Benedito de Godoy Moroni, em sua obra “História de Presidente Epitácio” (2003, p.7-228 passim), nos mostra que a origem da cidade se deveu à necessidade, no início do século XX, da construção de uma estrada de rodagem que ligasse o trecho entre “o sertão desconhecido” e desabitado desta parte do Estado de São Paulo com o sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul). Até então, os mato-grossenses dessa região só podiam alcançar a capital de São Paulo e Rio de Janeiro pelo Paraguai ou Uberaba, obrigados a percorrer mais de duzentas léguas para chegar a ponto de estrada de ferro. As fazendas dos vales dos rios Verde, Pardo, Ivinhema, Amambai, Iguatemi e outras da bacia hidrográfica do rio Paraguai remetiam para São Paulo o seu gado através do Triângulo Mineiro, efetuando viagem longuíssima, que consumia grande parte de seu valor. Em 1906, a última cidade do Estado de São Paulo, antes de Mato Grosso, era Assis. Fazia-se necessária uma estrada que ligasse esses dois estados, mas na época, era um empreendimento que nem mesmo os governos estaduais tinham coragem de enfrentar, principalmente porque a região era considerada sertão, tanto de São Paulo como de Mato Grosso e segundo Francisco Cunha (1980. p. 23), “terço do mapa de São Paulo onde se lia: TERRENOS DESCONHECIDOS HABITADOS PELOS ÍNDIOS”. Como até 1880 a maioria das terras entre as barrancas dos rios do Peixe e Paranapanema continuava inexplorada, conforme se constata em trabalho de Waldery Santos (2000. disquete), o governo de São Paulo, contratou Teodoro Sampaio para percorrer e descrever essa região. Em 1886, este iniciou o levantamento de toda a bacia do Paranapanema até sua foz no rio Paraná. Mesmo assim, a maioria das terras entre as barrancas

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dos rios do Peixe, Paranapanema e Paraná, permanecia inexplorada, e o governo paulista se propôs a explorá-la. Em 1890 o engenheiro José Alves de Lima é incumbido de abrir uma estrada entre o ribeirão São Matheus, região de Campos Novos, até o rio Paraná, para posteriormente chegar-se a Mato Grosso. Entretanto, devido a estrada localizar-se próxima das cabeceiras do rio Feio, desistiu-se do projeto. Nova tentativa se dá em 1892 com a contratação, pelo Serviço Geográfico e Geológico, do engenheiro Olavo Hummel para concluir o itinerário. Em 1893 ele constrói um caminho entre o povoado de São Matheus, no município de Campos Novos do Paranapanema, pelo Vale do rio Santo Anastácio, até as margens do rio Paraná. Esta estrada, feita apenas para fins estratégicos, em pouco tempo é reabsorvida pela mata. Nesse mesmo ano a empreitada é abandonada por Hummel. Com o governador paulista Jorge Tibiriçá, em 1904 a região volta a ter atenção sobre ela. O governador procurou seu primo, o médico Francisco Tibiriçá e ofereceu-lhe a administração do projeto. Este, embora tivesse consultório na capital, aceitou a missão. As bacias dos rios Feio, Peixe, Santo Anastácio, Paraná e Paranapanema, ainda figuravam nos mapas como zona desconhecida e desabitada. Porém com o avanço das frentes pioneiras, as tribos daquela região haviam reduzido suas forças, exceção apenas quanto aos Coroados. Os Caiuás haviam retrocedido, representando um risco menor. Francisco Tibiriçá, que recebera a concessão definitiva para construir a Estrada Boiadeira, obteve na mesma ocasião autorização do governo do Mato Grosso para abertura da estrada naquele território, em prosseguimento programado para o lado paulista, a seguir assumindo a direção da empreitada. O destino da estrada seria a região de Vacaria, no Mato Grosso. Tibiriçá procurou um sócio e encontrou124

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-o na pessoa do Coronel Arthur de Aguiar Diederichsen, rico proprietário de fazendas de criação de gado e de lavouras de café na região de Ribeirão Preto. A união de Francisco Tibiriçá e Arthur de Aguiar Diederichsen resultou na empresa Diederichsen & Tibiriçá, onde o primeiro administraria os serviços da estrada no lado de São Paulo e o segundo no lado do Mato Grosso. No lado mato-grossense as obras foram iniciadas de imediato. Já no lado paulista só mais tarde teve início com os trabalhos de Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker, conhecido como Capitão Francisco Whitaker, que já dirigia os negócios do Coronel Diederichsen em Ribeirão Preto. Whitaker juntou-se aos dois e, em seguida, sugeriu e obteve autorização para contratar um auxiliar, o Coronel Francisco Sanches de Figueiredo. Após o início dado por Arthur de Aguiar Diederichsen, Figueiredo passou a orientar, em março de 1906, a construção da Estrada Boiadeira no lado de São Paulo. Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker, contratado para a empreitada, primeiro veio pelo rio Santo Anastácio até o rio Paraná para escolher o local mais apropriado às instalações de um porto, que seria denominado Porto Tibiriçá. Achando o local, voltou para Ribeirão Preto, de onde era, a fim de reunir o necessário para o início efetivo das obras. Lá, o “Capitão Chicuita” (como era também chamado o Capitão Francisco Whitaker) foi informado que era o novo encarregado da substituição de Francisco Tibiriçá na obra. Com uma flotilha de cinco grandes barcaças e uma lancha de ferro largou o porto Laranja Azeda, em Ibitinga, descendo o Tietê rumo à sua empreitada. Com respeito a fundação de Presidente Epitácio, o próprio Whitaker (1934. p. 3) nos relata como se deu: No dia primeiro de janeiro de 1907, ao meio dia, depois de trinta e um dias de penosa navegação,

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a flotilha estava ancorada no Porto Tibiriçá. Era o termo de nossa viagem. A primeira etapa estava vencida.

Ali e naquele momento, estava sendo plantada a semente da atual Estância Turística de Presidente Epitácio. A Estrada Boiadeira foi concluída, o Porto Tibiriçá, homenagem ao governador de São Paulo, Jorge Tibiriçá, ficou pronto em 1908. Segundo Francisco Cunha, a ingente batalha tinha sido finalmente vencida pelo “último bandeirante” (1980. p. 97). Naquele mesmo ano, a empresa Diederichsen & Tibiriçá (fundada por Francisco Tibiriçá e o Coronel Arthur de Aguiar Diederichsen) passou a chamar-se Companhia de Viação São Paulo - Mato Grosso. Seus negócios se expandiram: compra de gado no Mato Grosso e venda aos criadores do Estado de São Paulo, transporte pela Boiadeira, onde se pagava pedágio pelo seu uso, travessia em balsa pelo rio Paraná, além do uso de pousos e pastos. Porto Tibiriçá ganhou forte impulso. Ao seu redor, nasceu um patrimônio, batizado de Vila Tibiriçá. Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker, o Capitão Francisco Whitaker, nasceu na fazenda Paraíso, em Limeira/SP, em 10 de março de 1864. Em 28 de outubro de 1893 Francisco Guilherme de Aguiar Whitaker é nomeado, para o posto de Capitão do Esquadrão do 64º Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional da Comarca de Ribeirão Preto, através da Carta Patente emitida pelo Palácio da Presidência no Rio de Janeiro, datada de 19 de abril de 1895, sétimo ano da República, assinada pelo então presidente, Prudente José de Morais Barros. Desde então passou a ser conhecido como Capitão Francisco Whitaker. Os ciclos por que passou Presidente Epi126

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tácio variaram. Inicialmente foi local por onde passavam as boiadas vindas do Mato Grosso com destino a São Paulo. Numa Segunda etapa, transforma-se em corredor das madeiras extraídas, para em seguida tornar-se polo de serrarias, sempre com uma navegação vigorosa e marcante. Com o esgotamento das madeiras, seu veio agrícola se fez presente. Houve o plantio de algodão, tomate e, posteriormente, melão, o qual era, inclusive, exportado. Hoje Presidente Epitácio está voltada principalmente ao que é realmente sua vocação: o turismo. Retrocedendo na cronologia dos principais fatos que marcaram Presidente Epitácio temos o dia 1º de maio de 1922, data da inauguração da estação da Estrada de Ferro Sorocabana na cidade. Como ponto estratégico na divisa do Estado, em 1927 é edificado o Quartel do 2º Regimento de Cavalaria da Força Pública do Estado de São Paulo em uma quadra doada por Álvaro Coelho, procurador de Antônio Mendes Campos Júnior. Entretanto, com o advento final da Revolução Constitucionalista, essa unidade em 1932 é transferida para a Capital. Desde a sua fundação, Epitácio não recebeu maior atenção dos municípios sede. Primeiramente quando pertencia ao município de Presidente Prudente, até 12 de janeiro de 1936, e depois, a partir de 13 de janeiro de 1936, quando pela Lei 2571 passou a ser distrito de Presidente Venceslau. Tal descaso não se devia a fatores econômicos, posto que em Epitácio havia grande movimento comercial, mas sim ao fato que não era visto com bons olhos o crescimento de Presidente Epitácio. O descontentamento pela situação de verdadeiro abandono passou para a etapa da indignação, pois não era coisa de momento, mas uma desídia antiga. A insatisfação cresceu ainda mais com a chegada de novas famílias ao distrito, que sentiam a necessidade de mudanças. Daí à luta pela

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autonomia, foi um passo. Após muita luta, no dia 24 de dezembro de 1948, foi criado o município de Presidente Epitácio pela Lei 233 de 24 de dezembro. Às 10 horas do dia 27 de março de 1949 o juiz de Direito, Manoel Eduardo Pereira, dá posse ao prefeito (não havia vice) e aos vereadores do novo município. Inicia-se, a 3 de maio de 1957, a pesquisa de petróleo em Epitácio, cujas prospecções são encerradas, sem êxito, em 20/3/1959, tendo atingido 3.953,5 m de profundidade. Presidente Epitácio transforma-se em Comarca no dia 31 de dezembro de 1958. A melhoria na travessia do rio Paraná em balsas se fazia necessária. Em 1960 iniciou-se a construção da ponte “Maurício Joppert da Silva”, inaugurada em 22 de agosto de 1965. A partir de 19/8/1940 Presidente Epitácio passou a contar com o primeiro agente-correspondente de jornal de grande circulação, Domingos Marinho, o qual representava o Diário de São Paulo. Quanto aos meios de comunicação propriamente dito, têm início em Epitácio com o serviço de alto-falante instalado no Porto Tibiriçá no ano de 1945, sendo que em 1961 foi fundado, por Waldemar Lourenço, o jornal “A Vigilância. Era impresso com matriz a álcool em seus números iniciais. Depois passou a ser mimeografado a tinta e no início de 1964 já era impresso tipograficamente. A instalação da Comarca de Presidente Epitácio se deu em 20 de dezembro de 1963, sendo Renato Estevam Mônaco o primeiro juiz de Direito. Presidente Epitácio, em 20 de julho de 1990, é elevada à condição de Estância Turística. O serviço de radiodifusão se deu na cidade com a inauguração da emissora AM Rádio Vale do Rio Paraná no dia 27 de março de 1994. 128

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ANEXO C – SERVIÇOS DE ALTO-FALANTES DE PRESIDENTE EPITÁCIO Presidente Epitácio contou com sete serviços de alto-falantes em sua história. O primeiro foi criado em Porto Tibiriçá em 1945 e funcionou até 1958. Inicialmente o responsável foi José Pereira dos Santos, a seguir Wilson Cruz e finalmente Aldivino Alvarenga. Além de tocar músicas a pedido, irradiação de jogos e jornalismo, imitava a Rádio Nacional do Rio de janeiro com programas de calouros. Na época de Carnaval, como estava instalado no prédio do Clube/Cinema de Porto Tibiriçá, animava as festas produzindo o som para os folguedos momísticos do Clube. Gregório Gonzales, vulgo “Bambu”, criou em 1949 o segundo serviço de alto-falante, na rua Fortaleza, 3-22. O terceiro, até 1952, foi o de Ari Barroso, que funcionava sob a Fonte Luminosa que existia na praça da Matriz. José Ortiz foi o quarto proprietário de serviço de alto-falante em Epitácio. Continuou funcionando no mesmo lugar, de 1952 até a sua venda em 1954. A partir de 1954, foi a vez do quinto serviço. Este pertenceu a Vera Gomes Talavera, que comprou os direitos de utilização de José Ortiz, constituindo o Serviço de Alto-falante Comercial de Presidente Epitácio. Depois de algum tempo, teve que sair de sob a Fonte Luminosa, para instalar-se à avenida Presidente Vargas, 4-03. Com o tempo, mudou-se para a rua Porto Alegre, 4-40 e finalmente instalou-se à rua Curitiba, 6-51, até o encerramento de suas transmissões em 1962,

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quando foi vendida a José Luiz Tedesco. O sexto serviço de alto-falante foi instalado em 1965 por José Ramos Júnior, “Zé Bolinha”, à rua Antônio Marinho de Carvalho Filho, 1-64, com a denominação “A Voz da Liberdade”, que funcionava como se uma rádio fosse, inclusive com prêmios para os participantes de sua programação. Seu encerramento se deu em 1975. Epitácio contou ainda com seu sétimo serviço de alto-falante: Serviços de Alto Falante Comercial de Presidente Epitácio. O início de seu funcionamento se deu em 1º de maio de 1970, à rua Florianópolis, 2-17 e Pedro Yaraian era seu proprietário. O funcionamento se dava das 10 às 12 horas, das 15 às 17 horas e das 20 às 22 horas. Aos sábados e domingos, apresentava programa musical para animar o “footing” na praça da Matriz (forma de passeio para os moços e as moças se paquerarem), ocasião em que os jovens ofereciam músicas para as garotas. Em 4 de março de 1974 o horário do serviço foi alterado, por decreto municipal 133/015/74 ficando as apresentações do serviço das 9h30 às 11 horas e das 16h30 às 18 horas. Sua sede foi transferida em outubro de 1988 para a rua Curitiba, 3-29, onde funcionou até dezembro de 1994, fazendo propagandas fixas e volantes. Após 1994 sua inscrição permaneceu apenas para propagandas volantes. Sua atuação destacada teve pontos altos como as retransmissões dos jogos da copa do mundo de 1974, 1978 e 1982 feitas com a Rádio Tupi de São Paulo, além de apurações eleitorais retransmitidas com a Rádio Venceslau. Havia, quando necessário, funcionamento em horário extraordinário, como nas notas de falecimento e pedidos de sangue para o Hospital São Luiz e depois a Santa Casa. 130

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Benedito de Godoy Moroni Nasceu na cidade de Tatuí (SP) em 17 de novembro de 1944. Aos 20 anos mudou-se para São Paulo e desde 1991 reside em Presidente Epitácio (SP). É contabilista, professor do ensino fundamental, médio e superior, pedagogo, radialista, jornalista profissional e advogado. Trabalhou nos setores privado e público, onde veio a se aposentar. Foi editor dos jornais Correio do Porto e A Fronteira.

Reinaldo Lázaro Ruas Nascido na cidade de Santos (SP) em 16 de abril de 1965. Aos 24 anos mudou-se para Presidente Prudente (SP), onde reside. É radialista, jornalista profissional e professor do ensino superior. Trabalhou nos setores privado e público. Foi secretário de redação do jornal O Imparcial.



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