Coletâneas Ilimitadas Volume 1

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Coletâneas Ilimitadas



Coletâneas Ilimitadas


Copyright desta edição © 2012 by Livros Ilimitados LIVROS ILIMITADOS Conselho Editorial: Bernardo Costa John Lee Murray Direitos desta edição reservados à Livros Ilimitados Editora e Assessoria LTDA. Rua República do Líbano n.º 61, sala 902 – Centro Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20061-030 contato@livrosilimitados.com.br www.livrosilimitados.com.br

Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.


Sumário Prefácio.. ............................................................. 7 A voz do telefone ............................................ 9 Kamila Drieli

A última visita .................................................15 Mariana Axt

Água na água ...................................................31 Cláudia Barbeito

Carta ao meu sofá velho ..............................42 Marina Fagundes Gueiros

Noite de lua cheia . . .........................................47 Diessica Nunes Sales

Pesadilla ............................................................55 Henrique Montserrat Fernandez

Sempre há uma nova chance . . ......................85 Jackie Beloto



Prefácio

D

esde o início de sua atuação no mercado editorial, a Livros Ilimitados tem como proposta fomentar a cultura e a auto-expressão através do

incentivo aos hábitos de ler e de escrever. Essa é uma tarefa árdua, pois não há uma meta tangível a ser alcançada, sempre incorremos na necessidade de conquistar mais espaço, oferecer mais e novas oportunidades aos novos autores, facilitar a publicação, entreter leitores, buscar novos meios de distribuição, ficar antenado às novas tecnologias... A lista é grande... Mas o principal dessa lista é que fazemos tudo isto com grande prazer e satisfação.

E é com essa satisfação que trazemos as Coletâ-

neas Ilimitadas, mais um espaço aberto para os autores,


onde além terem suas obras publicadas com facilidade, podem também ganhar mais exposição e poder de promoção. Não esquecendo que as Coletâneas Ilimitadas são uma nova possibilidade de fonte de receita para quem escreve. Assim sendo, novos autores podem ter nas nossas coletâneas uma chance de publicação e uma ferramenta de alta qualidade para divulgar suas obras.

Enfim, para você, leitor ou leitora, lhe convida-

mos para divertir, se emocionar e divulgar as Coletâneas Ilimitadas. E você que também escreve, participe dos próximos números das Coletâneas Ilimitadas.

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A voz do telefone Kamila Drieli



S

ão sete da noite e o telefone toca. A voz do outro lado me faz sorrir delicadamente, um riso quase contido, simples. A voz diz coisas bonitas, pala-

vras puras e cheias de uma sinceridade sem fim. Eu sorrio novamente, apenas ouço. Ela diz que sou linda, que meus olhos tem um brilho único, que meu corpo é um delírio profundo e que vara noites sem dormir a pensar em mim. Eu digo que são os olhos dele que me veem assim. Ele diz que é o que sou e que gosta muito de mim. Eu digo que me espere, que estou a caminho vou apenas me trocar e correr até ele para enfim deixá-lo viajar nas minhas curvas sinuosas, quase mortais. Ele diz que espera, vai acender velas, abrir seu melhor vinho e pôr Amy pra tocar. 11


Eu sorrio. Ele também. Corro para o quarto, a menina, agora cheia de si, feliz e sorrindo sem parar pra outra menina feliz que aparece no espelho a se trocar. Ela veste seu vestido preto, calça uma sandália básica, pinga uma gota de perfume entre os seios e corre para encontrar o homem que a possuirá. Bate na porta, tímida. Ele abre. Ela entra. Parado na porta do lado de dentro, ele olha nos olhos da menina e a agarra com força e vontade. Beija sua boca como se fosse a primeira, e ela o beija como se fosse a última. Ele a pega no colo e a leva pro quarto, o jantar na mesa pode esperar, a menina mais linda do mundo não pode. Chegando na cama, ambos de joelhos, olhando nos olhos, se beijam novamente, desta vez calmamente e começam a se despir, ele tira cuidadosamente o vestido da moça e sente o cheiro de flor que sai do coração dela. Ela tira também a roupa dele e enxerga o homem mais bonito que já viu. Tudo é perfeito. Não existe medo. 12


A Ăşltima visita Mariana Axt



E

la estava calma, tinha consciência do ingrato destino já traçado. Acompanhada de seu velho, como era de costume ao longo dessas oito décadas vi-

vidas e vencidas. Ela sempre cuidou para que ele se mantivesse intacto, sempre com a camisa para dentro da calça. Ele sempre atento ao seu Flamengo, lúcido até o último fio de cabelo daquela careca bem polida e interessante. Se firmaram numa história bem montada, com um enredo tão formidável quanto se parecia ao olhar de longe. Sempre foram muito bem cuidados, os dois. As gerações mantinham um carinho que parecia infindável. Sempre sorrindo, mesmo não sabendo da onde vinha o flash. Com o tempo foi ficando difícil enxergar o mundo, se enxergar, mas se tocavam, se apoiavam um no outro 17


para superar uma quina, uma perda, um degrau, uma traição, um nódulo. Um não viveria sem o outro e a essa altura da vida já pouco importava se por amor ou por necessidade. Ele reclamava dos sustos que ela vinha lhe dando nos últimos dias, mesmo sem ter real noção da gravidade da situação, seu coração-marido sabia que estavam querendo lhe tirar sua companheira. Mas ela nunca foi como ele, sempre foi mais fraca às dores, talvez por ter sido mais castigada por elas do que ele, aquele bon vivant da Lapa que sempre tomou uma taça de vinho para o bem da saúde e que sempre fez suas cruzadas para aquecer a memória, memória essa que vinha lhe largando a mão no meio da avenida. As dores doíam muito mais nela do que nele, seu músculo cardíaco sempre foi mais intranquilo. Um era o encaixe do outro, embora muito de perto fossem escandalosos os retalhos que tapavam buracos negros e sem retorno previsto. Se amavam quase sem sentido, não mais ouviam ou faziam bem a digestão. O cronômetro já se aproximava do zero absoluto e mesmo assim as mágoas 18


ร gua na รกgua Clรกudia Barbeito



U

m amor muito grande e nós o vivemos como se fosse eterno. O instante ficou atemporal depois que nos conhecemos – desde sempre eu o sinto

por perto, mesmo quando ele não está! Encontramo-nos no Spa de Si, em um dia onde o sol estava tímido para sair de trás das nuvens; ora ele se mostrava, ora ele se escondia, como em uma brincadeira de esconde-esconde. O lugar foi preparado para receber dezoito hóspedes por semana, especialmente para almas que desejam transformar o seu tipo de vida, no cotidiano. Apenas sete dias! Um espaço mágico, entre o mar e a montanha, que abriga pessoas ávidas por reconstrução de suas rotinas. Cada um, ao chegar, escolhe um apelido. O objetivo é deixar do lado de fora a identidade original 33


e criar uma nova, como desejar. Uma espécie de reino da fantasia, onde a história vai sendo escrita por cada pessoa, desde o nome, e, no final da semana, as histórias se encontram em um conto de todos! Rio foi o apelido escolhido por mim. Uma razão: assim que cheguei, a primeira paisagem que chamou a minha atenção foi o riacho que corta o portão de entrada do resto do paraíso! Uma pequena ponte de madeira liga uma ponta a outra e a travessia se transforma em mais um charme daquele contexto. A correnteza convidou-me a segui-la... Mas eu deixei para mais tarde! Era possível prever que aquelas águas levar-me-iam a outras águas – ouvia o barulho da onda quebrando. Não podia estar distante dali! O lugar continha toda a natureza necessária para o nascimento da nova moradora de mim. Tão logo me instalei, fui conhecer o local – antes mesmo do jantar. O barulho dos grilos ia construindo o caminho que eu percorria. Não havia chance de me perder... Estava seguindo as margens do meu rio interno que refletia nas águas do riacho! E... Aqueles limites eram delicadamente colocados na minha frente, enquanto eu 34


pisava firme naquela terra. O riacho terminava (ou começava) em uma praia de areia branquinha e um mar de ondas fortes... A lua cheia iluminava as águas: do riacho e do mar! Havia um brilho intenso e diferente naquela paisagem que invadiu, sem pedir licença, meu corpo inteiro! Percebi naquele exato instante que as mudanças já começavam a acontecer... Logo retornei, pois a fome apertou e eu lembrei que a sala de jantar tinha horário de funcionamento. Caso não chegasse a tempo, eu teria que preparar o meu jantar. Aquela não era a minha proposta no primeiro dia. Cheguei à porta do salão de refeições e o meu olhar encontrou outro olhar. Foi estranho, pois o único lugar vazio (que era meu) estava em frente aos olhos de onde o olhar saia... Sim! A sensação que eu tive foi de que já o conhecia... E ele também... Início da socialização. Tivemos uma dinâmica para nos conhecermos. Cada um recebeu um papel e uma caneta e a missão era escrever uma palavra que descrevesse a pessoa que estava à nossa frente, na mesa de jantar. Sem muito pensar, 35


Carta ao meu sofรก velho Marina Fagundes Gueiros



U

m grande companheiro de cochilos enquanto o mundo se acabava às vezes em choro, às vezes em riso. Nele eu vi o sol nascer, a chuva mais

forte cair, o frio chegar e o vento arrancar folhas da amendoeira. Entre uma tarefa sacrificante e outra corria para suas almofadas tortas com o formato da minha cabeça, apoiava o lanche, derramava uma gota de leite e quase sempre observava um farelo fujão se espremer no cantinho que meu dedo não alcançava. Quanta coisa deixei de ver enquanto caçava um mísero farelo. Nesse berço acolhedor me escondi, me neguei, negligenciei... e até esbocei uma preocupação com o dia seguinte, mas não a sustentei. 43


Deixei de levantar para atender telefonemas, deixei de trocar o canal por preguiça de me movimentar, preguiça de pensar, preguiça de escolher. Por isso escrevo essa carta de adeus a esse móvel velho que não me acolhe mais. Não passa de um monte de pano e espuma, uma fazenda de ácaros, pulgas e cupins, cheio de molas enferrujadas, rasgos, manchas no encostos e pés sem calço. Ainda não sei o que vou colocar no lugar... pode ser que encontre um belo sofá branco de camurça. Sempre quis ter um desses, mas dizem que suja fácil... e daí! Eu compro um produto importado especial para sofás brancos de camurça. Poderia simplesmente deixar o espaço livre, amplo, permitindo o movimento, censurando a inércia e a conformação. Quanta coisa eu esperei... adiei... deixei de mudar por não ter coragem de assumir um novo, com novos prazeres e novas necessidades. Quantas vezes deixei de buscar o que queria por ter uma preguiça de buscar o “como”. Querido sofá, decidi que vou vender o apartamento e morar num barco e não existe barco com sofá. Compre44


Noite de lua cheia Diessica Nunes Sales



A

rya estava sentada em um canto num bar de uma pequena cidade. Tinha um copo de uísque em uma das mãos. Observava atentamente cada um

dos indivíduos daquele local. Levantou o olhar ao perceber a entrada de uma pessoa. Levantou-se e foi em direção à porta, tomou um último gole de uísque e deixou o copo em uma das mesas. – O que quer? – ela perguntou falando baixo demais. – Ora, ora. Que bela recepção – ele respondeu – pensei que seria bem-vindo – ele disse olhando nos olhos dela. – Esperou demais – ela sussurrou – sabendo que sei que estava me caçando. – Arya cruzou os braços. – Verdade – ele riu – estava – a ultima palavra foi 49


dita sem nenhuma emoção. – Arya semicerrou os olhos, olhando para Vitor. – Então, o que quer? – ela perguntou analisando-o. – Por que não caçamos um pouco? – ele olhou nos olhos dela. – O que quer? – ela repetiu a pergunta. – Por que não caçamos um pouco? – ele perguntou novamente. Mantendo seu olhar, Arya descruzou os braços. Lançou seu olhar para a porta, saiu do bar e foi em direção a uma parte afastada da cidade sem ver se ele a seguia. Eles subiram para a mata. De longe, observando um acampamento, sentiu Vitor parar ao seu lado. – Obrigado por aceitar meu convite – ele disse sem nenhuma emoção. – Não me agradeça – ela respondeu – sei que está tramando algo, e quero descobrir o que – ela finalizou a frase olhando para ele. Ele riu e disse: – Sempre desconfiada. 50


Pesadilla Henrique Montserrat Fernandez



P

once de León estava louco. Negligenciava o ouro encontrado e continuava em sua insana busca pela Fonte da Juventude e, ai dele se não a en-

contrasse! Sua morte seria em breve, uma vez que os anos passavam e sua vasta barba não ia ficando mais negra, nem seus músculos mais cheios, muito pelo contrário. Don Alonso de Quesadilla, um de seus principais capitães já estava farto dessas tolices. Não seria nenhuma água mágica que iria torná-lo mais jovem ou atraente. Para isso já estava de posse de algumas toneladas do imenso tesouro encontrado nas terras dos Timucuas. E esse ouro na Espanha, seria suficiente para torná-lo um rico dono de terras e ter todas as mais belas mulheres 57


que desejasse. Já estava com quarenta e oito anos e se não vivesse até os sessenta, pouco lhe importava, desde que vivesse bem e na opulência. Já estava cansado dessa vida de marinheiro que mantinha desde os onze anos de idade. Quesadilla também era de Santervás de Campos na província de Valladolid, como Ponce de León, porém, cinco anos mais novo que o Almirante e era filho de uma família que havia trabalhado para os de León há algumas gerações. Apesar de idolatrar o Almirante desde sua infância, já não via no mesmo aquela chama de liderança que Ponce ostentou por tanto tempo. Quesadilla passou a detestá-lo e a evitar sua presença sempre que possível. O Almirante permitiu que Alonso levasse sua nau, o Pilar, de volta à Espanha. Havia lhe concedido sua parte no ouro e abraçou o amigo com firmeza, apesar da pouca força que lhe restava. Alonso percebeu uma lágrima furtiva escorrendo pelo rosto do Almirante. – Quisera eu que você continuasse ao meu lado Alonso. Quanto ainda teremos de procurar pela sagrada fonte! 58


Sempre hรก uma nova chance Jackie Beloto



E

u não queria fazer esta viagem à noite, eu nunca gostei de dirigir no escuro, ainda mais com chuva, e as curvas da estrada Rio-Santos são tortuosas

demais para uma míope. Mas o silêncio da noite parecia um bálsamo para mergulhar em meus pensamentos, eu não sabia se era a chuva ou minhas lágrimas que embaçavam tanto minhas vistas. As lágrimas corriam, mas não eram de raiva, nem de pena de mim mesma, acho que sentia uma mistura de alívio com o gosto amargo da derrota. Sentia-me fracassada por não conseguir levar mais um relacionamento adiante. Perguntava-me o que havia de errado comigo, eu não podia nem culpar Júlio pelo fim do nosso relacionamento. Como pode ser que duas pessoas que se gostam não conseguem se entender? 87


Júlio e eu parecíamos no início feitos um para o outro, nós e todos nossos amigos e familiares acreditávamos nisso. Parecíamos ter os mesmos gostos para um bom vinho, um filme, uma viagem. Eu nem sei onde que começaram as diferenças, o problema é que eu gosto sim de um bom vinho, mas gosto também de apreciá-lo em minha casa, assim como um filminho no sofá, uma viagem de final de semana para praia ou interior. Já Júlio pertencia ao mundo, era publicitário, gostava de apreciar vinho em Marrakesh, no caso o Méknes, de viagens exóticas ao interior da Índia, safári na África, e assistir todos os filmes possíveis e imagináveis sobre tubarões, chegava ser uma obsessão seu fascínio por tubarões. Já vi homens fascinados por futebol, pescaria, mulheres, bebidas ,jogos, mas Júlio foi o único que conheci atormentado por tubarões. Sim, acho que era atormentado tamanha era sua fixação. Eu fiquei expert em tubarão baleia, branco, negro, azul... Meu Deus, eu pensava – por que estou assistindo mais um documentário de tubarões? Eu detesto isso! E foi no dia que eu decidi que nunca mais iria ver um filminho que fosse 88


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Você tem em mãos o primeiro volume das Coletâneas Ilimitadas. Nas Coletâneas Ilimitadas, a Livros Ilimitados compartilha com você novos talentos da literatura. Escritores que transformaram em arte o hábito de se expressar através das palavras escritas. Folheando as páginas do livro você encontrará contos e crônicas de diferentes gêneros, que lhe farão rir, chorar, refletir, ter medo, enfim, irão emocionar e entreter. Boa leitura, divirta-se.

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