O despertar da borboleta

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O despertar da borboleta



Angela Robbs O despertar da borboleta


Copyright © 2011 by Angela Robbs Copyright desta edição © 2010 by Livros Ilimitados LIVROS ILIMITADOS Conselho Editorial: BERNARDO COSTA JOHN LEE MURRAY LEONARDO MODESTO ISBN 978-85-63194-41-1 Projeto gráfico e diagramação: Luíza Costa Revisão: Mariana Silva de Oliveira e Ricardo Monjardim Direitos desta edição reservados à Red Pepper Consultoria Marketing e Assessoria Ltda Rua Joaquim Nabuco, 81 – 101 Copacabana – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22080-030 Tel.: (21) 3717-4666 contato@livrosilimitados.com.br www.livrosilimitados.com.br PARCEIRO

Impresso no Brasil / Printed in Brazil Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.


"Se permita sonhar. Não abra mão de seus sonhos por qualquer motivo ou por qualquer pessoa. Independente da idade que se tenha, nunca é tarde demais para realizá-los." (Angela Robbs)

Para meus filhos Carlos Frederico e João Henrique, e para meu marido Frederico, fonte maior de toda a minha inspiração.



Sumário Prefácio | 9 Agradecimentos | 11 Aeroporto | 15 Amigo inesquecível | 18 A moreninha | 22 Caneco 70 | 26 Ainda existe muito por fazer | 34 Com a proteção das águas | 36 Para meus filhos com amor | 41 Aconchego | 44 Folha em branco | 46 E o tempo passou | 49 Meu lugar | 51 Desencontros | 55 Com os olhos do coração | 62 Fui nocauteada | 64 Insônia | 68 Meu doce companheiro | 72 Missão cumprida | 77 O amor não vivido | 80 O improvável | 82


Soltando as amarras | 86 QuĂ­mica perfeita. | 88

Pegadas | 91 Visita ao Pelourinho | 94 O asilo | 97 Baile da primavera | 102 Sempre vale a pena | 106 O direito de ser feliz | 110 O despertar da borboleta | 114 ImpossĂ­vel agradar aos homens | 117 Natal | 121 Um anjo caiu do cĂŠu | 124 De volta pra casa | 128


Prefácio Conheci Angela nos anos 90. Eu tinha um curso de francês em Teresópolis e ela se matriculou numa turma. Tínhamos um contato de três horas semanais e as alunas formavam um pequeno grupo simpático. Fomos criando aos poucos uma amizade que extrapolava o contexto das aulas. Com o passar dos anos, por motivos diversos, o grupo foi se estinguindo. Duas alunas permaneceram, insistindo no aperfeiçoamento da língua e na conversação. Angela era uma delas. Nessa altura, já podíamos nos considerar grandes amigas. Já conhecíamos bastante da vida pessoal de cada uma e conversávamos em francês sobre as coisas engraçadas e tristes do nosso cotidiano, contávamos histórias que haviam marcado a história de cada uma, pedíamos opinião sobre alguma situação particular, falávamos de nossos projetos futuros. Lembro-me bem que Angela sempre me dizia que gostava de escrever e que já tinha algumas crônicas escritas e guardadas. -"Quem sabe um dia eu consigo publicá-las! Meu sonho é escrever um livro..." De vez em quando trazia um texto para eu ler, como o do nascimento dos filhos. Eu gostava, animava-a, ela ria. Lembro-me bem de algumas histórias que foram tema de nossas aulas de conversação. O encontro com Cristina, a amiga que a levou a realizar um trabalho voluntário num asilo de velhinhos e a alegria e emoção oriundas desse momento de vida. A forma inesperada e engraçada pela qual ela e Frederico, seu marido, se conheceram. A passagem rápida e marcante pela sua vida de um primo muito querido que era como uma alma gêmea para ela. A vida nos separou fisicamente. Viemos morar no Rio, onde a distância de endereços e as atribulações da vida em família não nos permitem nos vermos constantemente. Mas continuamos nos falando


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pela internet que, de certo modo, aproxima as pessoas. Um dia ela me comunicou: – Vão publicar meu livro, finalmente! Fiquei muito feliz por ela. Era um dos seus grandes sonhos há muito tempo acalentado. – Uma amiga me disse que o prefácio do livro dela foi escrito pela sua melhor amiga... Você gostaria de escrever o do meu? Quanta honra! E responsabilidade... Começaram a chegar por e-mail alguns textos. De uma grande sensibilidade, reflexões, reavaliações de conceitos e conclusões. Alguns com um grande humor, fazendo-me sorrir da situação narrada. Histórias de vida de uma mulher como tantas somos, com nossos filhos, maridos, família, inquietudes e emoções. Descobri em Angela uma cronista que nos leva com grande interesse à cronica seguinte, nos faz refletir, encontrar identidade, nos sensibiliza e é também capaz de fazer rir. Carmen Graça Mello


Agradecimentos Um dos maiores responsáveis pelo caminho por mim escolhido foi, indubitavelmente, meu tio Desembargador Martinho Garcez Neto (in memorian). Homem de inteligência e cultura fora do comum e, por possuir o dom da palavra, fez de mim, sempre, uma boa ouvinte. Boa parte de minha infância foi passada em sua casa, brincando com meus primos César e Luís. Algo que sempre me impressionou muito era a quantidade de livros que ele possuía. Lembro que ele gostava de me encontrar sentada no chão, mergulhada em seus livros. Foi ele que despertou meu interesse pela literatura e dizia que um dia eu teria uma biblioteca como a dele. Também foi dele que ganhei o meu primeiro romance, intitulado Clarissa, de Érico Veríssimo. Até hoje possuo o exemplar, com sua dedicatória. Conversávamos muito sobre literatura e, assim, ele pôde perceber meu interesse, inclusive por personagens históricos. Lembro que uma vez falamos sobre a Marquesa de Santos e, alguns dias depois, ele me presenteou com um livro sobre a vida dela. Fui presenteada com outros livros, inclusive jurídicos e escritos por ele. Ampliando meus horizontes através da leitura, comecei a sentir vontade de colocar algumas ideias que me vinham à cabeça no papel. Um dia, muito envergonhada, fui mostrar-lhe um poema que havia escrito e que se chamava “Álbum de retratos”. Ele leu, releu e, depois de algum tempo, me olhou e respondeu à pergunta com a qual eu terminava o texto: “O que foi feito daquela menina? O que é feito de mim agora? O que será feito de mim amanhã?” Meu tio, então, disse: “Você não sabe a resposta? Então eu vou responder. Um dia essa menina será uma grande escritora e eu sentirei um orgulho enorme em dizer que você é minha sobrinha.” Ele me abraçou, como quem deseja que eu jamais pudesse esquecer as suas palavras. Foi assim que me apaixonei pelo caminho da escrita.


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Acredito, também, que a minha sensibilidade esteja no sangue. Meu avô materno, Dr. João Lage Sayão (in memorian), médico e poeta, era um apaixonado pelo amor e pelas pessoas assim como eu. Apesar da pouca convivência que tivemos, as mais belas lembranças que tenho de minha infância estão ligadas a ele. Com ele aprendi como a sensibilidade pode fazer, de nós, pessoas mais humanas e melhores. Para pouquíssimas pessoas mostrei o que costumo escrever. Entre elas, minha grande amiga Eunice Freitas de Souza (in memorian) , que apesar dos 30 anos que nos separavam, foi minha grande professora de vida. Ruth Lacerda (in memorian), tia querida do coração, sempre adorou ler meus escritos, deixando bilhetes de incentivo dizendo que eu não parasse nunca de escrever. Minha mãe, Maria Lúcia Sayão Saroldi (in memorian), também teve grande responsabilidade nessa história, pois através de seu amor e carinho, me tornei uma pessoa capaz de amar o próximo. Agradeço também ao incentivo de minha tia Marly, minha irmã Ana Lúcia, meu filho João Henrique e sua noiva Carolina, meu primo Martinho César e sua esposa Malu Garcez, minha cunhada Flávia Robbs, meus queridos amigos José Nelson e Rosa Vieira, minhas amigas Anna Maria Ortiz Castro Luna, Angela Paes, Carminha Graça Mello (autora do prefácio), Cristina Vianna, Deisy Quintella, Lêda Moura, Lícia Didier, Lúcia Gueiros, Lucy Martins, Marina Gueiros, Martha Lima, Silvana Brunetti e Terezinha Cavalcanti. Agradeço, também, ao meu filho querido, Carlos Frederico Robbs Filho, pela ajuda na revisão de alguns textos e pela paciência que demonstrou todas as vezes em que foi solicitado. Agradeço ao meu marido, Carlos Frederico Guimarães Robbs, pela sua paciência durante minhas ausências. Uma ausência não propriamente física, mas uma ausência do pensamento, pois inspiração não escolhe hora. Esse livro foi escrito de julho a dezembro de 2008 e duas pessoas tiveram grande importância na sua criação. Magaly de Rezende Penna, minha psicoterapeuta, e Ricardo Monjardim, meu revisor. Ela me fez enxergar que eu seria capaz de realizar esse trabalho, e ele, depois de ler alguns de meus textos, mostrou-se meu maior incentivador. Magaly


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forneceu as ferramentas. Ricardo mostrou-me o caminho. Os dois me fizeram descobrir que tudo que eu precisava estava dentro de mim, no meu coração e em minha mente. E que o meu sonho poderia se tornar realidade. Assim, “O despertar da borboleta” nasceu, e junto a ele despertei também para esse mundo maravilhoso, onde podemos “ter” e “ser” tudo através de nossa imaginação. Foi como se eu tivesse nascido de novo, tornando-me uma outra pessoa. Não sei se me tornei uma pessoa melhor, mas certamente uma pessoa mais disposta a lutar pelas coisas em que acredita. Finalmente, agradeço a Editora Livros Ilimitados, que acreditou no meu trabalho, tornando possível o sonho de uma vida inteira. A todas essas pessoas queridas, muito obrigada, do fundo do meu coração. Angela Robbs



Aeroporto ENTREI NO CARRO E LIGUEI O SOM. ADORO DIRIGIR OUVINDO MÚSICA. TODOS os CD’s que estão em meu carro foram feitos por mim, com músicas cuidadosamente escolhidas. Alguns minutos depois, começou a tocar a música que foi tema do filme Aeroporto. Que música linda! A música me transportou para outro tempo, para outra época de minha vida. Um tempo que hoje parece estar muito distante. Eu deveria ter meus 14 anos, e era o aniversário de um rapaz de quem eu gostava muito, e que veio a ser o meu primeiro amor. Engraçado como depois de tantos anos consigo lembrar perfeitamente até da roupa que eu usava naquela noite. Era um vestido de malha verde bandeira que eu usava com sapato fechado de bico arredondado, com um salto pequeno e grosso. Se fosse hoje, ele estaria super na moda. Aliás, moda é uma coisa estranha. Dá mil voltas, e sempre volta ao mesmo lugar. O verde do vestido favorecia os meus longos cabelos negros. Alguém me disse isso naquela noite, mas não lembro quem foi. Lá pelas tantas, fomos ouvir música e dançar na sala de jogos que ficava nos fundos da casa do aniversariante, que também chamavam de “boate”. Naquele tempo também tínhamos músicas bem agitadas, aquelas que costumamos dançar separado. Eu, como adoro dançar, entrei logo na rodinha do grupo que se formou ao som da música. De repente meu primo Luís César nos olhou e perguntou: – Por que vocês não dançam juntos? Como sempre Luís fazia de tudo para nos aproximar. Ele sabia da minha paixão recolhida, e afinal seria tudo de bom ter a prima querida namorando o seu melhor amigo.


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– Não gosto de dançar esse tipo de música. Vou trocar o disco. A sala de jogos tinha um bom tamanho, e lembro que uma das paredes era azul com estrelas salpicadas nela, como se fosse realmente a parede de uma boate. Ele pediu que apagassem quase todas as luzes, e colocou na vitrola exatamente a música tema do filme Aeroporto. É, vocês pensam o quê? Sou do tempo das vitrolas e do Long Play. Tanto que depois desse dia fui a uma loja e comprei esse disco. O disco ficou gasto de tanto ouvir a mesma música. Por sinal, ao filme Aeroporto só assisti muito tempo depois, porque quando passou no cinema eu não tinha idade para entrar. Mas, voltando a cena, ele atravessou a sala, que estava numa penumbra quase total, indo na minha direção. Todos pararam de dançar para assistir. Fiquei tão nervosa que parecia que meu coração ia saltar pela boca. Minhas pernas tremiam, assim como todo o meu corpo. Foi um vexame! Quando a mão dele tocou a minha, pude notar que a calma dele era apenas uma calma aparente. Sua mão estava suando frio. Senti quando seu corpo se aproximou do meu, como também pude sentir sua respiração próxima aos meus cabelos. Acho que naquela noite compreendemos que aquele seria um momento muito especial em nossas vidas. O tipo de momento que jamais conseguimos esquecer, e que, com o passar dos anos, nos traz felicidade apenas em lembrar. Pelo menos para mim, foi um momento muito especial. Também as mulheres costumam ser mais românticas. Homem vê tudo com outros olhos. Com olhos de qualquer coisa, menos com os olhos do romantismo. Aos poucos, meu coração foi se aquietando, e assim pude guardar uma lembrança linda, de um dos momentos mais especiais que vivi na minha adolescência. Na vida encontramos muitos amores, e de cada um guardamos um momento especial. Nunca podemos ou devemos comparar as pessoas. Elas entram em nossas vidas em momentos diferentes, em épocas diferentes. E em


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cada época nós também fomos pessoas diferentes. Porque, graças a Deus, mudamos todos os dias. E se possível, para melhor. Hoje, tenho muito pouco daquela menina que fui aos 14 anos. A vida, as experiências pelas quais passamos, e a idade mesmo, acabam trazendo, de uma forma ou de outra, a maturidade. Cada amor que tivemos na vida teve o seu tempo, seu espaço, seu lugar. Uma pessoa jamais pode substituir outra dentro do nosso coração, dentro do nosso pensamento. Por isso não existe lugar para ciúmes, disputas ou comparações. Cada amor tem o seu tempo e a sua importância. Não se pode, nem se deve, esquecer os momentos bonitos que tivemos na vida. E aquele foi um momento lindo que ficou guardado na memória, porque fez parte daqueles sonhos que temos o direito de sonhar quando ainda não passamos de adolescentes.


O DESPERTAR DA BORBOLETA é capaz de proporcionar uma viagem na vida de um ser humano. Dizendo de outra forma, ele possibilita uma imersão nas várias formas de pensar e vislumbrar diversos acontecimentos pelos quais passamos. Dos eventos mais simples àqueles considerados mais marcantes, a obra não deixa dúvidas das semelhanças existentes entre as pessoas, principalmente no que diz respeito ao cotidiano, como também as diferenças nas formas de encarar a realidade, de viver determinadas emoções, da sensibilidade peculiar a cada um de nós. Por se tratar de um livro de crônicas, não há uma linearidade temporal e dos assuntos tratados, ampliando, sobremaneira, o público que deseja alcançar. Certamente, seus leitores irão se identificar em algumas crônicas, até mesmo em certas passagens, ou em meras palavras. Fica evidente, indubitavelmente, que todo tipo de emoção e de sentimento são válidos, comovem e nos levam a encarar o mundo sob outro viés. Dessa maneira, O DESPERTAR DA BORBOLETA é a concretização das transformações vividas pela autora, ou melhor, a tradução de suas vivências refletidas sobre folhas de papel. FRED ROBBS.


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