RIO DIÁ do
Curitiba, quartafeira, 3 de junho de 2009 - Ano XI - Número 499 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo
Greve interrompe serviços do INSS em cinco estados
BRASI
L
jornalismo@up.edu.br Ailime Kamaia/LONA
Além dos servidores do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) do Paraná, os funcionários de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e do Rio Grande do Sul também aderiram à greve. Os trabalhadores do instituto reclamam principalmente do aumento da carga horária, anunciada no início da semana. Desde segunda, quem trabalha no INSS cumpre carga horária de oito horas - duas horas a mais do que antes. Amanhã, representantes dos sindicatos desses estados se reunirão com integrantes do Ministério da Previdência Social e vão discutir a possibilidade de atender a essa reivindicação, além de outros pontos exigidos pelos funcionários. Página 3
Ensaio mostra o Museu Oscar Niemeyer - Página 8
Copa do Brasil
Design
Imprensa
Coxa precisa ganhar por dois gols de diferença para ir à final
Exposição estimula criatividade de estudantes de Design
José Arbex diz que pontos do jornalismo devem ser revistos
Será o segundo jogo da semifinal da Copa do Brasil. No primeiro o Coritiba perdeu para o Internacional em Porto Alegre por 3 X 1. Agora o time paranaense precisa de uma vitória por no mínimo dois gols de diferença. O Colorado fez a melhor campanha entre os times que participam do campeonato brasileiro – não perdeu nenhuma partida nos quatro jogos que disputou. Mesmo assim, os torcedores do Coritiba estão confiantes. Campanha lançada no site do clube incentiva os torcedores, e parece ter dado certo. Os trinta mil ingressos postos à venda para o jogo de amanhã já estão esgotados.
Estandes mostraram produtos idealizados por alunos do Curso de Design da Universidade Positivo. Os organizadores ressaltam a importância da feira pelo fato de promover um ambiente que coloca em questão o desenvolvimento do espírito empreendedor nos alunos.
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Durante o I Congresso Brasileiro de Jornalismo Cultural, o editor da revista Caros Amigos, José Arbex Junior, defendeu a democratização da mídia, mas alertou que para isso é preciso mudar o conceito que se tem sobre alguns aspectos na imprensa. Segundo Arbex, é preciso acabar com a ideia que se tem de que sua análise parte de dentro para fora. Segundo ele, esta situação é semelhante à questão da terra no Brasil: “Enquanto não se acabar com o latifúndio não haverá solução para este problema”.
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Opinião
Fotos: divulgação
Crônica
Futebol
Homens, fogueiras, violões e outros olhares
Em busca de
Antonio Carlos Senkovski
Eduardo Scholz
Tinos de aço presos por um laço colorido na base, esticado, longo, sonoro, preso. Um feixe de tramoias improvisado transpassa o cavalete e forma um caminho à saída do som. Em um instante rápido como olhares, ondas sonoras contaminam cérebros até então mergulhados na surdez da cegueira. Sustento sonoro. O aço friccionado no traço exato pelo dedo torna a harmonia completa. As palhetas coloridas apertadas entre indicadores e polegares (os pincéis de quem toca) formam aquarelas, retocadas pelas raspas do balançar do pedaço de plástico na caixa acústica do instrumento. No balançar do braço, eventuais enroscadas são dadas na borda circular. Saem daí pedaços de esmalte. O cheiro é de madeira, como se tivesse sido recém-polida. Por essas raspas, é possível perceber que se trata de um violão feito de canjerana - utilizada à tarefa de fazer o instrumento por falta de madeira mais sólida, sem dúvida. Mas a alegria dura sempre pouco. Esses curvados, festivos e sonoros objetos não são bons em conciliações no mundo das profissões. Estudos e trabalho formam uma boa dupla. Mas se por acaso alguém tiver a brilhante ideia de se meter a fazer algo de cunho “ocioso”, deve-se atirar essas correntes malignas e ampliadoras da distância do caminho da verdade para longe. De preferência de forma definitiva. Instrumentos ao fogo, boa forma. Se isso acontecesse, antes de incendiado o violão, soaria um tilintar de cordas titubeantes antes de se inflamar por inteiro. O aço seria efusivo em sua resposta ao ca-
lor e estouraria uma a uma rebelde como uma reação a um crime. “Malditas”, falaria o executor da tarefa enquanto possivelmente pressionaria um olho furado pela corda. Uma lamúria irradiante sairia do fogo berrante. Mas, no caso do violão, o som seria... ameno. E não só pelo tipo de madeira utilizado na construção deste especificamente (canjerana - cabe esclarecer que esta madeira simplesmente não inflama). O respiro do fogo, por baixo do aglomerado de tijolos empilhados um a um e apoiados em rocha sólida, traria o mesmo som dos vendavais circulares à procura de ar. Som assustador e abusado, mas não mais do que isso. Abusado pela conotação fantasmagórica, mas calmante àqueles que são culpados pelo violeiro extirpar seu grande mal do fracasso na fogueira. Mais um para o mundo da verdade, mais uma viola queimada. Chega de sonhos, verdades são melhores, maiores e inquestionáveis – não se perde tempo. Por isso a rixa com o som: inato, impreciso, imperfeito, dono de mistérios. O vulto do vibrar da corda tem uma reação a cada batida, nunca mais será igual. Pode até soar estranho, mas instrumentos definitivamente são mais humanos do que os próprios homens. A prova está no fogo. Violões não têm vergonha de se sentirem imprecisos, deixam as cordas se comportarem como “querem”. No fogo ele se rebela contra quem os coloca no fogo, não se deixa queimar a não ser por sua casca de esmalte, arrebenta as cordas nos tentáculos do lume avassalador e tenta furar olhos do executor do crime. E os homens? Estes fazem filas à morte e denominam-se humanos por isso.
um sonho
O Coritiba entra em campo hoje à noite, no Estádio Major Antônio Couto Pereira, para encarar a equipe do Internacional, de Porto Alegre. Jogo este que vale a classificação para a final da Copa do Brasil 2009. Para alcançar a classificação, o Verdão vai enfrentar várias adversidades. Uma delas é o resultado do primeiro jogo das semifinais em Porto Alegre, onde a
equipe gaúcha venceu os paranaenses por 3 a 1. Para reverter o resultado, o Coritiba precisa de uma vitória por 2 a 0 (aí o Coritiba se classifica pelo gol marcado no Beira-Rio, que dá vantagem à equipe que fez mais gols na casa do adversário), ou vencer por três gols de diferença. De fato, os torcedores sabem das dificuldades e das limitações do elenco coxa-branca. Sabem, também, da superioridade técnica da equipe do Internaci-
onal, principalmente tratandose de jogadores como Taison e D’Alessandro. Mas pergunte para qualquer torcedor do Coritiba se ele acredita na classificação. Sim, todos acreditam. A confiança está em alta, vai ser na raça, no grito e no frio previsto na hora do jogo, que os mais de 30 mil torcedores e os 11 jogadores, da instituição centenária Coritiba Foot Ball Club, vão suar a camisa e honrar toda sua história.
Expediente Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.
Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski, Camila Scheffer Franklin e Marisa Rodrigues.
O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP, Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000
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Geral INSS
Copa do Brasil
Servidores paranaenses preparam greve Insatisfeitos com salários e carga horária de trabalho, funcionários do INSS prometem parar nos próximos dias Aline Reis Quem precisar do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) nos próximos dias pode ficar sem serviço. Isso porque os mais de 2,5 mil servidores paranaenses continuam insatisfeitos com a remuneração e também com a carga horária de trabalho. O protesto se deveu ao aumento de seis para oito horas de trabalho dos servidores, que cumprem essas jornada desde a última segunda-feira. O comando da greve foi decidido pelos trabalhadores em assembleia realizada no último sábado. A presidente do Sindicato
dos Servidores Públicos Federais em Saúde, Trabalho, Previdência Social e Ação Social do Paraná, Jaqueline Mendes Gusmão afirmou em entrevista que o sindicato tem propostas diferentes do que foi imposto pelo governo. Em suma, o que o sindicato sugere é que o INSS atenda durante 12 horas, sendo que os funcionários sejam divididos em dois turnos de seis horas. Além do Estado do Paraná, os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul também sofrerão com a suspensão dos serviços do INSS. Amanhã, representantes dos
sindicatos desses Estados irão se reunir com representantes do Ministério da Previdência Social a fim de discutir as reivindicações. Entre elas a gratificação dos servidores, que sofreu alteração, após a aprovação de uma resolução, na última semana. Já no fim de semana, servidores de todo o país irão discutir o plano de greve em Brasília, entretanto, a assessoria de comunicação do Ministério da Previdência Social, divulgou que não foi comunicada a respeito da provável paralisação. Se de fato houver paralisação, ela ocorrerá provavelmente na segunda parte deste mês.
Campanha “Eu acredito” mobiliza torcida alviverde
Danilo Georgete Hoje no estádio Couto Pereira será realizada a segunda partida da “semifinal do centenário”, alusão aos dois clubes que comemoram cem anos em 2009. Coritiba e Internacional disputam uma vaga na final da Copa do Brasil. O time gaúcho leva vantagem, e o Coxa precisa ganhar por dois ou mais gols de diferença para se classificar, qualquer outro resultado classifica o Inter. Se o placar for 3 x 1, a partida será decidida nos pênaltis. Quem passar vai enfrentar o vencedor do jogo Corinthians e Vasco, o primeiro jogo no Maracanã foi 1x1, e hoje no Pacaembu, os paulistas se classificam se empatarem em 0 x 0. O Corinthians conta com a volta do Ronal-
do, e o Vasco com o retorno do meia Carlos Alberto. A torcida corintiana promete fazer uma grande festa e apoiar o time rumo à final. A torcida coxa-branca, provando estar ao lado do time, esgotou os 30 mil ingressos colocados à venda e promete fazer uma festa inesquecível no Alto da Glória, acreditando na virada do time, na difícil missão contra o colorado gaúcho. O Coxa lançou no site uma campanha com a frase “Eu acredito”. Sete jogadores do clube alviverde estrelam a campanha. O objetivo é mobilizar a torcida, o Coritiba quer entrar em campo contra o Inter com o décimo segundo jogador e por isso, o apoio dos torcedores vai ser indispensável.
Curso de Design promove exposição na UP Aline Reis O curso de Design da Universidade Positivo promoveu ontem, durante todo o dia, o 2º Bazar de Design. Foram convidados para participar da exposição os cursos de Arquitetura, Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Ao todo 14 estandes estavam montados no térreo do bloco azul. Todos os expositores traziam peças fabricadas por eles próprios, algumas feitas exclusivamente para o bazar, como explica o estudante do 4º ano Vinicius Lopes, 21 anos. “Apesar de não ter ascendência ja-
ponesa eu sempre gostei da cultura oriental. Então, aprendi a escrita, e comecei a fazer as peças. Tenho algumas espadas aqui, e uma delas foi produzida exclusivamente para o bazar”. Outra questão relevante é a importância que a feira tem. “A ideia da feira surgiu para mostrar para os alunos que desde o início do curso eles podem ser empreendedores, o curso de Design permite que o aluno crie, bem como os alunos de projeto. O objetivo é estimular o aluno para o empreendedorismo, o aluno pode desenvolver seus traba-
lhos e apresentar ao público”, esclarece o coordenador do curso de Design Antonio Razera Neto. Vários produtos foram expostos, desde de chaveiros e roupas até acessórios femininos. Essa diversidade se deu graças à diferenciação de escolhas dos expositores, que adotaram disciplinas diferentes para seus trabalhos. “O aluno que trabalha com fotografia por exemplo, pôde fazer uma experimentação dessa disciplina, o aluno de ilustração, ou de projeto, cada um desenvolvendo projetos na sua área”, menciona Neto.
Além dos alunos de Design, alunos de Arquitetura, Publicidade e Jornalismo foram convidados a participar do bazar
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Especial Surfe
Na onda com
as mulheres 80% das pessoas que procuram escola de surfe são meninas; esporte ajuda melhorar hábitos alimentares e diminuir estresse
Rhuana Ramos Em 1915, na cidade de Nova York, nascia Margot Rittscher. Quando adolescente, veio morar no Brasil, em Santos, junto com o único irmão, Tommy, e os pais. A família veio trabalhar na exportação de café, assim como tantos outros estrangeiros. Mas uma coisa os jovens irmãos Rittscher tinham de incomum: na década de 1930, surpreenderam os santistas com uma prancha de madeira de aproximadamente 40 kg e 3 metros de altura. Tommy e Margot foram os primeiros surfistas no Brasil. Mesmo com os dois irmãos
sendo os precursores do esporte no país, a procura maior sempre foi do sexo masculino. Um dos motivos é que para a mulher era mais difícil carregar a prancha até a praia, por causa de seu peso. Mais de 70 anos se passaram e muita coisa mudou no surfe. As pranchas não são mais feitas de madeira, e sim de fibra de vidro, e chegam a pesar apenas 4 quilos. Mesmo com as transformações, hoje ainda vemos mais homens do que mulheres surfistas.
Aumento da procura Nas escolas de surfe, porém, as estatísticas provam que as meninas estão se inte-
Os alunos aprendem antes na areia o que deve ser feito no mar
ressando cada vez mais pelo esporte. “Cerca de 80% dos nossos alunos são meninas”, conta a professora de surfe Emi Bioco. A presidente da Associação Brasileira de Surfe Feminino e também dona de uma escola de surfe, Diolanda Vaz, diz que o perfil das mulheres que procuram este esporte está mudando. “São crianças de 4 a 10 anos, adolescentes, mulheres independentes financeiramente, de profissões variadas, mães surfando com as filhas e mulheres da melhor idade”. O público feminino que procura as aulas geralmente possui algum familiar ou namorado surfista. Foi assim que a estudante Thayse Chaves,19, se interessou pelo esporte. “Meus dois irmãos sempre surfaram e eu sempre fiquei com vontade”. Outra razão para o crescimento da procura pelo surfe por parte das meninas é que este esporte se tornou, também, um estilo de vida. Além de aprenderem a ficar em pé na prancha, elas passam a cuidar mais do corpo e, muitas vezes, mudam a alimentação. “A refeição acaba sendo mais leve, porque senão ficaria impossível entrar no mar depois de ingerir alimentos pesados”, diz Thayse. Além disso, ela conta que os hábitos melhoram, pois em dia de surfe é
“Os homens até gostam, porque nós, mulheres, deixamos o mar mais bonito e colorido” DIOLANDA VAZ, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SURFE FEMININO preciso acordar bem cedo para alongar, pegar um horário de sol mais fraco e garantir boas ondas. Diolanda lembra de casos de mães que levam as filhas para que elas façam amizades, porque são tímidas. “Até problemas como a depressão esse esporte cura”, conta a presidente.
Aprendendo na escola Já faz um ano que Thayse se inscreveu numa escola de surfe, em Barra da Lagoa, em Santa Catarina. Ela conta que com este esporte aprendeu a admirar mais a natureza e a ter paciência. “Às vezes, é preciso esperar horas até vir uma onda boa”. Além disso, a presidente da Associação Brasileira de Surfe Feminino faz uma lista de benefícios que o surfe proporciona: “Fortalece a musculatura, melhora a função cardiorrespiratória, desenvolve o equilíbrio físico e a coordenação motora, queima calorias e é altamente antiestresse”. O método utilizado nas escolas de surfe para o aprendizado do esporte começa na areia. “Algumas meninas chegam e acham que já vão entrar no mar e ficar em pé na pran-
cha logo no primeiro dia. Mas não é assim”, explica Emi. Primeiro as meninas aprendem a se alongarem, fazem um aquecimento com corrida na praia e simulam na areia o que devem fazer dentro do mar. Esta é a parte mais importante, pois só depois que os movimentos estiverem perfeitos é que as meninas podem entrar no mar. Dentro da água cada menina é acompanhada por um professor, e as tentativas de subir na prancha começam nas ondas mais fracas. “A cada dia de aula evoluímos e, aos poucos, vamos aprendendo a remar sozinhos, a aproveitar melhor a duração da onda, a não engolir muita água e a escolher a melhor onda para entrar”, conta Thayse. É importante não esquecer o cuidado com a pele. “Antes de sair de casa tem que passar o protetor solar e quando chegar para surfar passar novamente no corpo todo. Isso é regra básica”, alerta Diolanda. Contudo, ela recomenda que as meninas se hidratem com água de coco ou suco de açaí, e reponham a energia que gastaram surfando com carboidratos no almoço.
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Fotos: Arquivo Pessoal Thayse Chaves
A ajuda deles Além da ajuda da escola de surfe, as meninas ainda recebem o auxílio dos surfistas homens. “Eles auxiliam nas partes chatas, como ondas na cara (passar a arrebentação) e peso da prancha”, diz Thayse. Para ela, portanto, não há preconceito. Já o surfista e professor de educação física Lucas Scorsin acha que a mídia pouco incentiva o esporte para as mulheres e que há discriminação, mas não por parte dos surfistas. “Para a mulher mostrar que é boa e que tem condição de virar surfista profissional, é muito mais difícil”. A presidente da Associação Brasileira de Surfe concorda, e ainda brinca: “Os homens até gostam, porque nós, mulheres, deixamos o mar mais bonito e colorido”. A diferença entre o surfe feminino e masculino não fica apenas na força física (como os homens são mais fortes, eles conseguem fazer manobras mais radicais e difíceis). A comparação entre as premiações dos campeonatos prova que as mulheres ainda são pouco valorizadas. A presidente da Associação Brasileira de Surfe Feminino conta que em termos profissionais, quando a premiação é feita em dinheiro, a diferença é grande. “No amador, enquanto os meninos ganham pranchas ou kits recheados de roupas, as
“Os poucos segundos em pé na prancha compensam todos os tombos e a espera”, diz Thayse Chaves
meninas ganham um kit básico com uma camiseta, adesivos e chaveirinho”, explica Diolanda.
Números no Campeonato O WCT (World Championship Tour) é campeonato internacional de maior importância para o esporte. O masculino, de 2009, conta com vinte e oito profissionais, sendo três deles brasileiros. Já o mesmo campeonato feminino, conta com 17 surfistas, com, também, três brasileiras: Bruna Schmitz, Silvana Lima e Jacqueline Silva. Para estas meninas o surfe deixou de ser apenas um lazer e virou profissão. Independente de serem profissionais, amadoras, ou apenas aprendizes, em uma coisa as meninas surfistas concordam: conseguir pegar
uma onda é um momento mágico. “Quando isto acontece, parece que o mundo todo para, e aqueles poucos segundos compensam todos os tombos e a espera”, diz Thayse.
“Aqueles poucos segundos [sob a onda] compensam todos os tombos e a espera” THAYSE CHAVES, SURFISTA AMADORA
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Geral
Fotos: divulgação
Música
Cultura
Álbuns clássicos Artista – Dire Straits Álbum – Brothers In Arms Ano de lançamento - 1985 Brothers in Arms, lançado em 1985, fez do Dire Straits uma megabanda, tocando em estádios pelo mundo para 80.000 pessoas, em festivais como o Live Aid e o Mandela Day. Mark Knopfler é um músico único. Não bastasse seu talento, o cara toca guitarra sem palheta, usando os dedos como se tocasse um violão clássico. Para quem não é muito habituado a instrumentos, violões clássicos possuem cordas de nylon, mais suaves e macias. Uma guitarra usa cordas de aço, tem uma tensão muito maior, mais pesada, então tocar usando somente os dedos é como jogar futebol des-
Artista – The Mission Álbum – Gods Own Medicine - Lançamento - 1986 Wayne Hussey era uma figuraça. Cabelos compridos, batom vermelho nos lábios, maquiagem deixando seu rosto inglês ainda mais claro, óculos escuros, pulseiras, colares, adereços e seu inconfundível chapéu, faziam dele um ícone “dark”. O som do Mission é cheio de atmosferas sombrias, muito delay e chorus nas guitarras, violões de 12 cordas, teclados e a voz cavernosa de Hussey falando de escuridão, terras distantes, cristais e afins. Gods Own Medicine foi lançado em 1986 e, mesmo sendo seu CD de estreia, trazia a banda no seu ápice criativo. Ao lado do terceiro álbum, Children de 1988, é o melhor trabalho do Mission. Shows sempre lotados, turnês mundiais que passaram até pelo Brasil elevaram os ingleses ao status de grande banda nos anos 80-90. Hussey dizia ter um repertó-
calço. O maior sucesso do disco foi Money For Nothing, com a participação de Sting. A música critica a MTV da época. Knopfler canta “Olhe só esses otários, é assim que se faz. Tocar guitarra na MTV. Isso não é trabalhar, é assim que se faz. Dinheiro por nada e garotas à vontade. I want my MTV...”. Ironicamente a música, com um dos primeiros clips a fazerem sucesso no mundo, tornou a própria MTV mais conhecida. O vídeo foi feito com uma animação gráfica inovadora para a época. Imaginem o que ele deve pensar da MTV atual, mergulhada em programas fúteis e descartáveis com música de 5º qualidade. Sete das nove músicas do disco foram exaustivamente executadas nas rádios da
rio limitado de palavras nas suas letras, kisses, heaven, love, prayer, dance, dream estão presentes em quase todas elas, como se flutuassem permanentemente no seu imaginário. O álbum tem vários clássicos. Wasteland com sua guitarra hipnótica fazendo um solo contínuo atrás da base e seu refrão marcante “Over this land, all over this wasteland...”, Garden Of Delight com seu arranjo sinfônico de cordas e piano, Stay With Me, um clip que fez muito sucesso na época, Sacrilege e a enigmática Severina. O ex líder do Mission esteve em Curitiba, no ano passado, fazendo um show acústico no bar Jokers. Wayne na voz e violões, seis e doze cordas, acompanhado somente de um violoncelista.
Os sonhos nos contos fantásticos Eli Antonelli
época. So Far Away, Walk of Life, Your Latest Trick com seu solo de sax belíssimo, Why Worry, Ride Across the River e a linda Brothers in Arms com sua guitarra calma e bem colocada dentro de uma base de teclados, fizeram deste o melhor trabalho do Dire Straits. Infelizmente, a banda nunca conseguiu igualar esse momento mágico. Seria pedir demais...
Na última turnê da banda pelo Brasil, no ano 2000, Hussey conheceu uma brasileira, se apaixonou, se casou e foi morar em Piracicaba, interior se São Paulo. Dark, ou gótico para os mais “moderninhos”... A Coluna Álbuns Clássicos é escrita pelo aluno do 3º período do curso de jornalismo da UP Marcos Paulo. Os álbuns podem ser encontrados na íntegra no seu blog: http:// www.albunsclassicos. blogspot.com/
A literatura penetra no indivíduo e expõe sua interioridade a partir de histórias denominadas fantásticas. Mostra uma distorção do ser e de seu ambiente que prende o leitor dentro da história e de si mesmo. O leitor busca soluções e caminhos dos personagens que não encontra, pois todos se modificam a partir do andamento da narrativa. Na literatura fantástica há esta licença: os personagens não precisam seguir um roteiro pré-definido. Criar vida e magia em suas ações tirando o leitor do seu estado estático de simples espectador é a regra geral. Não é possível ler um conto fantástico com o olhar estagnado. As histórias fantásticas remontam séculos, falando sobre mitos e narrativas extraordinárias, mas os contos fantásticos se firmam como estilo literário, conquistando de vez o seu espaço no século XIX. Atualmente, no mundo moderno a crença nos elementos sobrenaturais concorre com a necessidade do pensar racional, nas coisas mais reais. Mas, se o leitor se deixar levar pela beleza desses textos, irá de encontro a um exercício de imaginação. O escritor italiano Italo Calvino, em “Contos Fantásticos do século XIX” (Companhia das Letras), explica que o conto fantástico tem como tema a relação entre a realidade do mundo que habitamos e conhecemos por meio da percepção e a realidade do mundo do pensamento que mora em nós e nos comanda. O conto fantástico tem origem no romantismo alemão. Nasceu com a intenção de representar a realidade do mundo interior e subjetivo da mente. A obra tem 26 contos escolhidos por Calvino e é dividida em contos visionários e contos do cotidiano. São nomes como E. T. A. Hoffmann, no conto “O Homem de Areia”, onde os personagens estão ambientados na tranquila vida burguesa e se transfiguram em aparições grotescas e diabólicas como em sonhos ruins. Hoffmann influencia vários autores da época, entre eles, alguns nomes importantes que estão na coletânea de Calvino, como Honoré de Balzac e o russo Nikolai Gógol. Todos colocando em primeiro plano uma sugestão visual, segundo Calvino. O objetivo é perceber, por trás da aparência cotidiana, um outro mundo encantado ou infernal. Para Calvino é como se o conto fantástico pretendesse “dar a ver” concretizando-se numa sequência de imagens e confiando sua força na comunicação ao poder de suscitar figuras. O que conta não é tanto a maestria na manipulação da palavra ou na busca pelos lampejos de um pensamento abstrato, mas a evidência de uma cena complexa e insólita. Ainda segundo o autor, o elemento “espetaculoso” é essencial à narração fantástica, por isso é natural que o cinema se tenha apropriado dela. Uma dica para os que queiram começar a aventura nos textos de literatura fantástica é começar por “O elixir da longa vida”, escrito em 1830, pelo escritor francês Honoré de Balzac. Especialista em retratar a vida burguesa de sua época, Balzac sempre colocou pitadas de transfiguração fantástica em suas obras, nesse conto, ele mostra a realidade dos herdeiros que contavam o tempo para a morte de seus genitores, para se apossar do dinheiro e dar continuidade a boa vida. É a história de um velho que busca um unguento oriental para ressuscitar os mortos. São vários itens neste conto para serem analisados, mas, o que se destaca, é o efeito de um olho que se mantêm vivo em um corpo morto e sua influência na narrativa.
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Evento Divulgação
Imprensa
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A sociedade tem que ter meios de se defender da grande
imprensa
”
José Arbex Júnior diz que a democratização da mídia continua em voga, mas para isso, alguns pontos do jornalismo devem ser revistos “Ainda existem diversas formas de censura. Censura econômica, censura de agenda do que será publicado, censura ideológica. Se você não aceita o discurso, você acaba sendo bombardeado” JOSÉ ARBEX JÚNIOR, EDITOR DA REVISTA CAROS AMIGOS
Luiz Felipe Marques Quase tão antiga quanto estagnada, a questão da democratização de mídia voltou a ser levantada em debate promovido durante o I Congresso Brasileiro de Jornalismo Cultural, realizado em São Paulo. Por mais que na prática as novidades sejam poucas, no evento os debates foram afiados, principalmente por conta de José Arbex Júnior, editor da revista Caros Amigos e um dos participantes do segundo dia
dos debates. Uma das vozes mais fortes e dissonantes do jornalismo brasileiro, símbolo da esquerda política nos meios e estudos em comunicação, Arbex tem opiniões firmes e as expressa de forma direta. Para ele, um dos motivos de não haver evolução quanto à democratização da mídia é referente aos constantes equívocos presentes nestes debates. “As pessoas tentam ver a questão de dentro da mídia para fora. Dessa maneira nunca será possível alcançar uma plena
democratização”, critica. Como exemplo, fala de um dos temas sempre presente em suas críticas: “É como a questão da terra no Brasil; não existe forma de democratizar o latifúndio. Ou se acaba com ele, ou vai continuar dessa forma”, pontua, em claro paralelo com o poder dos monopólios midiáticos. Algumas práticas impetradas no trabalho de Comunicação, principalmente no Jornalismo, no entanto, fazem com que o cenário ainda esteja longe de mudar. Segundo Arbex, pesadas formas de censura continuam vivas em reportagens, redações e empresas jornalísticas. “Ainda existem diversas formas de censura. Censura econômica, censura de agenda do que será publicado, censura ideológica. Se você não aceita o discurso, você acaba sendo bombardeado”, diz com a experiência de trabalho em meios que destoam do conven-
cional da grande mídia, como o jornal Brasil de Fato e na Caros Amigos. Contudo, o poder desse bombardeamento é grande. Para se ter uma ideia, enquanto a tiragem da Caros Amigos não passa dos 100 mil exemplares, a circulação da Veja já atinge 1,2 milhão de revistas.
Obrigatoriedade do diploma Mais uma vez com visão à parte do que é frequentemente visto, Arbex se diz contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. O argumento é simples: para escrever, não é necessário um diploma. “Sou contra a obrigatoriedade do diploma; penso que seja uma forma obsoleta. Para escrever, você não precisa disso”. No entanto, ele faz ressalvas a alguns locais em que a graduação em cursos específicos se
faria necessária, como no Ceará e na Bahia. Segundo Arbex, seriam estados em que não se contrata quem sabe escrever, mas “o tio, o sobrinho, o capanga, o jagunço”. “Aí, então, o diploma faz algum sentido, mas, em geral, não acredito que a pessoa precisa do diploma para escrever”. Assim como as discussões acerca do diploma ser obrigatório ou não, a revogação da Lei de Imprensa também foi colocada em pauta, mesmo já tendo sido aprovada no final de abril, pelo Superior Tribunal Federal. Para Arbex, a legislação, instaurada em 1967, no regime militar, tinha de ser revogada, porém, as formas de a opinião pública se defender dos grandes jornais devem continuar a existir “sempre que for ferida em sua honra e interesses individuais”. “A sociedade deve ter meios de se defender da grande imprensa”, pontua.
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Ensaio Cultura
O olho da cultura
Texto e fotos: Ailime Kamaia As sedes de várias secretarias do Estado deixaram de ocupar o salão principal do Edifício Presidente Humberto Castelo Branco, que passava por reformas, e ganhou um anexo, em 2002. Assim começava a história de um novo museu em Curitiba, o Museu Oscar Niemeyer. Também chamado de Museu do Olho ou, simplesmente, MON. O espaço foi projetado pelo renomado arquiteto que dá nome ao local. Inaugurado 23 anos antes de abrigar obras de diversos artistas brasileiros, como Tarsila do Amaral, Alfredo Andersen, Candido Portinari e Guido Viaro e mostras internacionais, o espaço conta com constante revitalização. Já está em andamento a reforma do local que vai abrigar o Laboratório de Conservação e Restauro, além das constantes aquisições que aumentam o acervo do museu. Para abrigar exposições, são reservados 16.644,00 mil metros quadrados, de um total de 26.230,90 mil de área construída.