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Para entrar no clima dos Jogos Paralímpicos OS JOGOS PARALÍMPICOS FORAM DISPUTADOS PELA PRIMEIRA VEZ EM ROMA, EM 1960, COMO FORMA DE REABILITAR MILITARES FERIDOS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
A SEGUNDA EDIÇÃO FOI REALIZADA EM TÓQUIO, EM 1964, POUCOS DIAS DEPOIS DOS JOGOS OLÍMPICOS. FOI QUANDO PASSOU A SER MAIS USADO O PREFIXO PARA, EM REFERÊNCIA À PARAPLEGIA. EM SEUL, EM 1988, FOI A PRIMEIRA VEZ QUE, OFICIALMENTE, QUE AS OLIMPÍADAS E AS PARALIMPÍADAS ACONTECERAM NA MESMA SEDE.
LONA PAR ALÍ MPI CO
TÓQ UI O 2020
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A PEDIDO DE COMITÊS INTERNACIONAIS, O TERMO PARALÍMPICO PASSOU A SER USADO EM PORTUGUÊS, A PARTIR DE 2011, COMO FORMA DE SE APROXIMAR DA EXPRESSÃO EM INGLÊS “PARALYMPIC”. E O PREFIXO “PARA” PASSOU A SER INTERPRETADO COMO PARALELO AOS JOGOS OLÍMPICOS.
ENQUANTO OS JOGOS OLÍMPICOS SÃO REPRESENTADOS POR CINCO AROS, O SÍMBOLO DAS PARALIMPÍADAS SÃO TRÊS AGITOS, REPRESENTANDO O MOVIMENTO.
A EDIÇÃO ATUAL COMEÇOU EM 24 DE AGOSTO E VAI ATÉ 5 DE SETEMBRO. EM TÓQUIO, AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS NÃO FICARAM SEGREGADAS E PARTICIPARAM, INCLUSIVE, DA ABERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS.
TÓQ UIO 2020
LON A PAR ALÍMPICO
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| OPINIÃO Precisamos nos preparar Por Fernanda Primo
Psicóloga, servidora pública, mãe de uma pessoa com deficiência
Como mãe de uma adolescente cega e profissional que atua na área dos direitos da pessoa com deficiência há alguns anos, por muitas vezes escutei o discurso de “não estar preparado para incluir”. É a escola que nega vaga para uma criança com deficiência pois não está preparada para atendê-la. São atividades de lazer, esporte, cultura, vida comunitária, que não incluem as pessoas com deficiência pois “não estão preparados”. Um discurso que se repete e se reafirma como justificativa para a exclusão. Penso que este é um discurso muito curioso, uma vez que pessoas com deficiência existem há muito mais tempo do que a atividade (educativa/cultural/esportiva) em si, tendo esta sido criada com a total ciência da existência de pessoas com e sem de-
ficiência. Logo, não estar preparado é uma escolha. Uma escolha que se faz todo dia, ciente da complexidade e diversidade humana. É uma escolha pela exclusão. Atualmente, temos disponíveis informações sobre acessibilidade arquitetônica, comunicacional, metodológica de forma gratuita, por meio de buscas simples na internet, facilitando a possibilidade de criação de espaços e ações inclusivas. Além disso, a estratégia mais efetiva para inclusão das pessoas com deficiência se inicia com a quebra de barreiras atitudinais, ou seja, com o rompimento do ciclo de preconceitos, estereótipos e discriminações presentes na sociedade e repro-
duzidas diariamente nas relações interpessoais. Desta forma, me arrisco a dizer que se inicia a construção de uma sociedade inclusiva por uma reforma das relações. E o discurso de “não estar preparado” é uma barreira neste processo. Portanto, este é meu convite para toda a sociedade. Esteja preparado para a diversidade humana. Acolha a diferença. Busque informações que te ajudem a construir possibilidades de inclusão, qualquer que seja o Outro que se apresente para você. Assim, minha filha e os demais 50 milhões de brasileiros com deficiência estarão mais próximos de uma participação plena e efetiva na sociedade.
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(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
dE ONDE VEM O
DINHEIRO DO COMITÊ PARALÍMPICO Brasileiro
FOTO: R E P RO D U Ç ÃO / P I XA B AY
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texto de opinião
A
cada vez que
alguém aposta em uma casa lotérica está ajudando a financiar a prática de esportes paralímpicos no Brasil. O reforço de caixa, que criou uma garantia de fonte de recursos veio com a lei Agnelo/Piva, de 2001. Assim, há duas décadas, 2% da arrecadação das loterias são destinados para o Comitê
Olímpico Brasileiro (COB) e para o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). A partir de 2015, com a aprovação da Lei da Inclusão, o percentual subiu para 2,7%. Isso gera cerca de R$ 120 milhões ao ano para investir em paradesporto, desde a inclusão até os atletas de alto rendimento. Esse dinheiro permitiu a construção de centros de
treinamentos e também a realização de vários eventos para a prática esportiva de pessoas com deficiência. Também assegura os recursos necessários para a delegação competir nas Paralimpíadas. Outra fonte vem de patrocínios, com empresas que destinam parte de suas verbas para apoiar os paratletas.
Conquistas brasileiras metalizadas Saiba quantas medalhas os atletas brasileiros já ganharam no decorrer das edições da competição Por Noemia Sibele
Nos 61 anos de existência das Paralímpiadas, o Brasil já conquistou 301 medalhas, sendo 102 bronzes, 87 ouros e 112 pratas. A primeira medalha aconteceu em em 1976, nas Paralimpíadas de Toronto, no Canadá, na modalidade Lawn Bowls, prática próxima da bocha. Desde o início da competição, o Brasil só não conquistou medalhas nos jogos de 1972 em Heidlberg e 1980 em Arnhem. A edição de 2016, no Rio de Janeiro, reuniu o maior número de atletas brasileiros: 286 no total, entre homens e mulheres. Apesar disso, foi no ano de 2012 que o país conquistou o melhor posicionamento quanto ao número de medalhas: ao todo foram consquistadas 43, o que deixou o país em 7º lugar. A modalidade que mais conquistou medalhas para o Brasil foi o atletismo com 40, em seguida vem a natação com 32, bocha com 6, judô e futebol de 5 ambos com 4, e esgrima em CR com 1. No entanto, o atleta com maior quantidade de medalhas de ouro é o Daniel Dias, da natação, com 14 medalhas conquistadas.
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
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Saiba mais sobre a adaptação das modalidades Conheça cada um dos esportes que fazem parte dos Jogos e suas principais características Por Brenda Niewiorowski
As Paralimpíadas acontecem a cada 4 anos, possibilitando que pessoas com algum tipo de deficiência podem competir mundialmente em 22 categorias diferentes. Os atletas participantes podem ter deficiências físicas (como amputações, dificuldade na locomoção ou cegueira), deficiências mentais, ou podem não ter deficiência e participar como atletas guias e goleiros. Nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 o Brasil teve a maior convocação da história, 286 atletas participaram do evento. Neste ano o número diminuiu, 229 atletas irão compor a delegação brasileira nos Jogos de Tóquio. Desta quantidade, teremos 136 homens e 93 mulheres e, mesmo com a quantidade de atletas inferior ao último ano de participação, esta será a maior delegação brasileira no exterior ao longo de
toda a história do evento. Quase todos os estados terão atletas representantes, com exceção do Amapá, Sergipe, Roraima e Tocantins. Os jogos terão 22 modalidades, mas o Brasil não representará duas. Basquete em cadeira de rodas e rúgbi em cadeira de rodas não terão atletas brasileiros. A modalidade com o maior número de atletas será o atletismo com 80 e natação, com 33 nadadores. Atletismo Os competidores são divididos de acordo com o tipo de deficiência (física, visual e intelectual), com o gênero e com o tipo de prova (pista, campo e rua). Basquete em cadeira de rodas Na quadra, cinco atletas de cada time com deficiência física ou motora disputam em quatro quartos de
10 minutos. Bocha Neste esporte os atletas têm elevado grau de paralisia mental ou deficiências severas. Jogado individualmente, em dupla ou em equipes, o intuito é lançar bolas coloridas o mais próximo possível da bola branca. Canoagem Os atletas participantes têm deficiência físico-motora e são divididos em grupos de acordo com o grau de movimentação dos seus membros inferiores, superiores e do tronco. Existem provas de velocidade de 200m e 500m. Ciclismo Pessoas com deficiência visual, físico-motora e com paralisia cerebral podem participar. As provas são realizadas na estrada ou em pistas.
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Esgrima em cadeira de rodas Destinada a atletas com deficiência locomotora, nele as cadeiras de rodas ficam fixas ao chão e o atleta tem o objetivo de tocar o oponente. Futebol de 5 Os jogos têm dois tempos de 25 minutos, uma bola com guizo dentro para fazer um som (para que os atletas consigam localizá-la) e cinco jogadores por time (quatro vendados e mais o goleiro sem venda). O jogo é destinado para deficientes visuais e cegos. Futebol de 7 Para atletas com paralisia cerebral, este jogo conta com sete jogadores de cada time, dois tempos de 30
(Reprodução/Brenda Niewiorowski)
minutos cada e acontece praticamente da mesma maneira que o futebol convencional. Goalball Para deficientes visuais, o jogo foi criado com uma divisão de 2 tempos de 12
minutos. São seis jogadores, a bola tem um guizo para fazer barulho e o objetivo é acertar a bola no outro lado da quadra. Halterofilismo Homens e mulheres que possuem deficiência nos membros inferiores e/ou com paralisia cerebral. O maior peso levantado é o resultado final. Hipismo Para atletas com deficiência física ou visual, a prova com cavalos é o adestramento paraequestre.
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
Judô A competição acontece em até 5 minutos, para deficientes visuais, no qual o participante deve imobilizar o adversário ou
quatro períodos de oito minutos. Seu objetivo é passar da linha do gol com as duas rodas da cadeira e a bola nas mãos.
Natação Para pessoas com deficiência físico-motora, visual e intelectual, as provas são separadas de acordo com o Tênis de messa grau e o tipo de deficiência. Modalidade para pessoas com deficiência físico-moParabadminton tora jogarem individualGolpeando uma peteca na mente, em dupla ou em quadra com uma raquete, equipe. Para os andantes os atletas participantes têm as regras são iguais às do deficiências físicas. Olímpico, e para os cadeirantes o saque é diferente. Parataekwondo Disputado por dois atletas, Tênis em cadeira de rodas um de colete vermelho e As regras são iguais às do outro de azul em três rou- jogo Olímpico, com excends de dois minutos. Os ção que a bola pode quicar coletes possuem sensores e até duas vezes na quadra. medem a potência de cada chute quando atingem o Tiro com arco oponente. Disputado por amputados, paralisados, paralisados Remo cerebrais, doenças disfunEsta modalidade esportiva cionais e progressivas, lesiotem o objetivo de completar nados da coluna e múltiplas o percurso de 1.000m em deficiências, no tiro com linha reta no menor tempo arco o atleta tem que acerpossível. Ela é praticada tar as flechas o mais próxipor atletas com deficiência mo possível do centro do física e visual. alvo, que fica posicionado a 70m de distância. Rúgbi em cadeira de rodas Jogo que não tem sepaTiro Esportivo ração por gênero. Nele Com carabinas ou pistolas podem jogar pessoas com de ar os atletas atiram em tetraplegia ou deficiências pé, deitados e ajoelhados com sequelas parecidas cerca de 20 a 120 tiros. A com a de um tetra. prova pode ter de 1h a 2h30 Com quatro jogadores de e é destinada para pessoas cada equipe, o esporte tem com deficiência física.
Triatlo Homens e mulheres competem a prova que engloba 750m de natação, 20km de ciclismo e 5km de corrida; e que pode ser praticada por cadeirantes, amputados e cegos. Vôlei sentado Neste esporte seis jogadores com deficiência física ou de locomoção competem em cada equipe. As regras são praticamente iguais ao Jogo Olímpico.
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
forçá-lo a desistir.
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Esgrimando pela medalha
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Eleito o melhor atleta do Brasil por 10 anos consecutivos, Jovane Silva Guissone busca novas vitórias em Tóquio Por Carolina Portes
O primeiro esgrimista de cadeira de rodas a conquistar uma medalha no esporte nas paralimpíadas, segue confiante. Natural de Barros de Cassal (Rio Grande do Sul), Jovane Silva Guissone faz parte da seleção brasileira de esgrima em cadeira de rodas e busca a medalha de ouro em Tóquio. Assalto a mão armada Em 2004, com 21 anos,
Guissone reagiu à um assalto, que resultou em uma lesão na sua coluna que o deixou paraplégico. Logo em 2006, foi em busca de um esporte e então encontrou o basquete em cadeira de rodas e um tempo depois, a esgrima na cadeira de rodas. Carreira Jovane estreou na esgrima em 2008, em um amistoso de capacitação para trei-
nadores que aconteceu na Universidade Positivo, em Curitiba. Um ano depois (2009), começou a ocupar a posição mais alta do pódio na modalidade brasileira. Guissone compete nas provas de florete e espada – dois tipos de armas diferentes – na categoria B - atletas com menor mobilidade no tronco e equilíbrio. O atleta também conta que as únicas princi-
pais coisas que mudam do esporte adaptado ao comum é a cadeira de rodas e a área de toque da arma. Na modalidade adaptada, o toque só é válido da cintura para cima, enquanto na modalidade comum é considerado todo o corpo. Porém, o objetivo continua o mesmo, tocar o outro adversário com a arma. O atleta já conquistou mais de 100 medalhas nacionais e mais de 30 internacionais. Jovane foi eleito o melhor atleta do Brasil por 10 anos consecutivos pelo Comitê Paralímpico Brasileiro. Em 2015, ele liderou o Ranking Mundial de Esgrima Cadeira de Rodas. (FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
Londres 2012 Sua maior conquista foi no dia em que seu filho mais velho completava 1 ano. Naquele dia, Jovane trouxe para casa a primeira medalha da história da esgrima brasileira nos Jogos Paralímpicos (Londres 2012), quando conquistou a medalha de ouro na espada. A medalha foi levada para casa com muito orgulho e carinho e foi dada de presente de aniversário ao filho. Assim, uma vez que ganhou o ouro em Londres, ganhou mais visibilidade, ganhando mais apoiadores e inclusive sendo indicado à Bolsa Atleta, que lhe permitiu um investimento na sua carreira, incluindo a compra do seu próprio material homologado pela FIE (Federação Internacional de Esgrima). Guissone conta que é extremamente grato por todo o apoio que tem, pois, a Esgrima é um esporte de alto custo. Para cada campeonato, Jovane leva em torno de 4 armas que custam em torno de R$1500,00 cada. Além disso, também tem o material de treino, a roupa com detectores específicos e seu treino no geral, que conta com aulas de Esgrima, um técnico, fisioterapia e massoterapia.
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Sua rotina é corrida, além de suas viagens diárias entre Esteio e Porto Alegre para seus treinos, Jovane também está com um calendário apertado, pois além das paralimpíadas, mês que vem (julho) ele também vai para uma competição na Polônia e também é pai de 3 filhos, sendo duas gêmeas recém-nascidas. Hoje, ele ocupa o 3º lugar no Ranking mundial, atrás apenas de Dimitri Coutya (Grã-Bretanha) e Ammar Ali (Iraque) no rank de melhores do mundo na esgrima de cadeira de rodas.
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
Paracanoísta escolheu Curitiba para treinos
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Atleta fala sobre sua trajetória, a mudança na rotina de treinos por causa da pandemia e da expectativa de medalhas Por Giovanna Retcheski e Noemia Sibele
Adriana Azevedo foi apresentada à natação como forma de tratamento, pois teve paralisia infantil e contraiu o vírus da poliomielite, com o passar do tempo foi se apaixonando pela natação, onde foi medalhista de ouro nos 100m nado livre, 100m nado costas, 100m nado peito, chegando a mais de 15 medalhas. Em 2013 residiu no Rio de Janeiro para ser acompanhada pela equipe técnica do Tijuca. No decorrer de sua trajetória pela natação, foi perdendo o rendimento, pois tem sequelas paralisia infantil e síndrome pós pólio, sem querer deixar os esportes aquáticos, aos 38 anos migrou para a canoagem. Hoje com 43 anos, a vice-campeã sulamericana, Adriana Azevedo, embarca em sua primeira participação nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, na modalidade paracanoagem
que vem competindo desde 2017. Garantiu sua ida aos jogos Paralímpicos na Copa de Paracanoagem na Hungria. “A paracanoagem acabou me convidando, um novo estímulo, um esporte aquático, sou apaixonada por esporte na água, e me deu a autonomia que eu gosto de ter", comentou a atleta. Em 2019 mudou-se para Curitiba com a ambição de
(Foto: Bianca A. Martins)
progredir na paracanoagem e assumiu um compromisso junto com seu treinador Cleverson Santos de conseguir uma vaga para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, desde então treina no clube regatas Curitiba, Parque Náutico Iguaçu, junto com a atleta Mari Santilli. A rotina começa bem cedo, oito horas de manhã já está no aquecimento para colocar o caiaque na água às
nove horas e remar até as 11 horas, uma breve pausa para o almoço e descanso, no período da tarde inicia a parte de musculação para o fortalecimento dos membros. Devido a pandemia os treinos foram adaptados, e por conta dos decretos às academia e parques foram fechados, com isso os treinos passaram a ser dentro de casa com alguns equipamentos para não deixar o rendimento cair. “Eu não posso parar, assumi esse compromisso de não parar, onde eu estiver eu vou treinar!”, afirma a atleta. A atleta tem expectativa de ficar entre as 8 melhores, apenas de estar indo aos jogos já considera um grande fato importante de sua
carreira, estar competindo com outras atletas de nível mundial. “Para mim é um feito histórico com todas as dificuldades em níveis mundiais, os Jogos Paralímpicos, serão os jogos da superação, então é muito importante para mim os 43 anos, mãe, avó, esposa, dona de casa e atleta, estar participando desses jogos”. Adriana incentiva a todos com qualquer tipo de deficiência. “Tudo quando a gente começa a gente sente dificuldade, mas é necessário que você comece, pois o esporte é regate, inclusão, ele é vida, além de cuidar do seu corpo que é o seu principal patrimônio, além disso você tem mais resistência e resiliência para superar os obstáculos da vida, melhora sua autoestima e uma gama de benefícios, por isso, venha para o esporte, não fique parado”, finalizou. Para entender Na classificação funcional, os competidores são divididos em grupos de acordo com o grau de movimentação dos membros inferiores, superiores e do tronco. As classes KL são para atletas que competem utilizando o caiaque, enquanto VL é a classe destinada aos que usam a embarcação Va’a.
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
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Uniformes foram aprimorados Roupas inclusivas serão usadas em um dos mais importantes eventos do mundo Por Giovanna Retcheski
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
A primeira coleção de uniformes feita pelo Comitê tomou forma e teve apresentação: Jogos Parapan-Americanos de Lima, em 2019. Você até pode pensar que o CPB deu-se por satisfeito, mas você está enganado, pois foi apenas o começo, logo depois iniciaram pesquisas junto com os atletas, que contribuíram diretamente nas melhorias para a próxima coleção. Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, a mudança dos uniformes veio com tudo, a segunda linha teve o foco na acessibilidade das peças e desempenho esportivo dos atletas, mas é claro sem deixar o design moderno. Assim nasce mais uma linha exclusiva. Alberto Martins, diretor técnico do CPB, diz “ Foi um grande desafio produzir este uniforme(.....) pensar na diversidade de deficiência para dar aquele enxoval a condição necessária para
se sintam bem, cheios de orgulho”.
Confira as novidades: O enxoval contém 120 peças desenvolvidas pela equipe de design do CPB. composição que utiliza de cores lisas e vibrantes, com o verde e o amarelo, em tons mais vivos. Estamparia teve a própria identidade geométrica do CPB, tecidos confortáveis e tecnológicos, malhas leves e resistentes com microfibras que auxiliam na transpiração. Todos os produtos da linha passeio possuem uma etiqueta interna com braille para que pessoas com deficiência visual identifiquem o desempenho técnico, mas as cores, por siglas. também o conceito impor- O zíper como um “puxador tante para nós, o que consi- ergonômico” que possibilideramos mais importante: ta o manuseio confortável, independência e favorece orgulho de estar usando o uniforme do Brasil! Nossos a autonomia de atletas que possuam mãos fracas, artiatletas foram os agentes, culações dolorosas e definossa maior preocupação sempre foi que esses atletas ciência motora. Top sem
cruzamento das alças que torna a vestimenta fluída para deficientes visuais. Calças com zíper lateral para facilitar a passagem da prótese. Legging com pé para garantir segurança de movimento na prática esportiva. A engenharia da construção de modelagem teve como premissa o design universal, ou seja: pessoas com e sem deficiência podem usar. As paratletas gostaram muito das novas mudanças e contam sua experiências; “É uma roupa fácil de vestir, e para quem é cadeirante facilitou muito, é super positivo. Pois é uma moda inclusiva", conta Adriana Azevedo, da paracanoagem, em entrevista. Lorena Silva Spoladore, atleta da modalidade de atletismo T11, também conta a sua experiência: “Foi uma experiência incrível, bateu aquela emoção, a adrenalina de que realmente os Jogos estão chegando. Para mim o diferencial desses uniformes são as etiquetas em braile, porque assim eu tenho mais autonomia na hora de escolher os conjuntos e posso fazer as combinações dos uniformes que eu gosto”. “Eu acredito que não só o Brasil, mas o mundo inteiro precisa ter um espaço
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(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
mais de inclusivo, colocar sim pessoas com deficiência na passarela para modelar, para tirar foto, para experimentar roupas. Neste ensaio todos os atletas paralímpicos estão representados. Tem cego, baixa visão, amputados, tem paralisado cerebral — que não aparenta ter deficiência, mas tem — e tem cadeirante. É muito importante que enxerguem a pessoa independentemente do detalhe que existe no corpo”, sinaliza a lançadora de dardo, Raíssa Machado ao falar sobre a importân-
cia da moda inclusiva em contexto social. A coordenadora do projeto e concurso de moda inclusiva, Gabriela Sanches, traz um olhar sobre a importância da inclusão e a moda — “moda inclusiva é muito importante porque ela traz à tona uma necessidade muito grande, por exemplo, com a lei de cotas as pessoas com deficiência estão cada vez mais inseridas no mercado de trabalho, então com mais poder aquisitivo participando mais plenamente da sociedade, en-
tão é importante ter peças adequadas para todos os momentos dos dias. Moda é para você se expressar e ter autonomia.” Vitória Cuervo estilista de moda inclusiva que criou uma coleção atemporal e sem gênero, pensada para todos os corpos e pessoas com deficiência, palestrou na TEDx Talks, comenta sobre seu trabalho como estilista — “O que mais me emociona com esse trabalho é eu lido com a autoestima elas se sentem bonitas e valorizadas e isso é muito gratificante (...) Meu propósito é fa-
zer roupas para todos(...). Todos nós devemos pensar para isso [moda inclusiva]. Devemos ter empatia, olhar para o outro. O mundo está mudando, as pessoas estão mais conscientes e a moda também está mudando (....) Espero que no futuro não precise usar esse termo “moda inclusiva”, porque seremos todos iguais com as nossas diferenças.” A participação brasileira no Japão vai contar também com o apoio das Havaianas, vale ressaltar que a utilidade das peças podem ir além das atividades esportivas, pois podem ser usadas
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
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para outros fins, como trabalho, escola e ocasiões sociais. Medalhas adaptadas
Os uniformes brasileiros não serão as únicas novidades desse grande evento esportivo. As medalhas agora têm um design diferenciado, para que os atletas cegos e de baixa visão, a parte da frente conta com a escrita “Tóquio 2020” em braile. Cada uma delas tem um pequeno corte circular lateral, sendo uma marca para ouro, duas para a prata e três para o bronze. Outro diferencial é que foram feitas por material reciclável de celulares e pequenos eletrônicos. Criada pela designer Sakiko Matsumoto, as medalhas são inspiradas nos famosos leques japoneses. As medalhas contam com desenhos de pedras, flores, madeira, folhas e água, representando o ambiente natural do Japão. A superfície é criada com pequenas diferenças de espessura e cada elemento natural é retratado com tratamentos variados, dando uma sensação única ao toque para auxiliar os atletas na premiação.
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Como a pandemia afetou os jogos Restrições da Covid-19 alteraram a intensidade e o formato da maioria dos atletas. Entenda como foi a mudança na rotina Por Victoria Gobbo
Atleta da seleção brasileira de rugby em cadeiras de rodas, Daniel Gonçalves, carioca de 36 anos, se apaixonou por esse esporte pela intensidade que tem. Com apenas cinco anos treinando, Daniel já conquistou diversos prêmios, entre eles o de melhor atleta da categoria durante o Torneio Rugby Mania, na República Tcheca. A rotina do paratleta era intensa, assim como o esporte que pratica, o carioca treinava de segunda a sábado cerca de 12h semanais. “E aí veio a pandemia e mudou completamente, eu posso te dizer que durante a pandemia eu fiz um treino, para não ficar sedentário”, diz o paratleta. Além da rotina de treinos ter mudado drasticamente, Daniel também disse que no seu apartamento, não conseguia fazer treinos de alto rendimento, e que tudo isso afetou muito ele. Mesmo atualmente com a maioria dos espaços de
treinos abertos, e a vacinação avançando, Daniel diz que ainda não se sente seguro para voltar a rotina de treinos e até o final do calendário de vacinação não pretende voltar, e prefere seguir treinando em casa, mesmo não conseguindo manter a intensidade dos presenciais e nem usar a cadeira de rugby, por ser muito grande para seu apartamento. Mas ele não é o único. Paratleta desde os 16 anos, premiada como melhor atleta sub 21 do Brasil em 2018, no mesmo ano, 1° lugar no campeonato brasileiro feminino e convocada para seleção brasileira em 2021, Gabriela dos Santos Oliveira, paulista que escolheu o basquete por ser um esporte coletivo e dinâmico, também não se sente segura com a volta dos treinos. Porém por motivos diferentes. “Antes da pandemia, eu treinava 5x na semana em média de 4h por dia. E durante a pandemia conse-
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
gui manter o mesmo ritmo de cinco vezes na semana, porém reduzindo para 2h por dia, e treinando em
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
casa. Ao meu ver, apenas fui prejudicada em relação às competições, pois perdi um ano de competição. Mas consegui manter um bom ritmo de treinos, visto que em Novembro de 2020 meu clube reabriu, e pudemos treinar até março de 2021, quando o governo decretou lockdown novamente, e retornamos apenas em Julho. Eu tenho uma amiga profissional de Educação Física que já me acompanhava antes da pandemia, então quando foi decretado lockdown, começamos a treinar em casa via chamada de vídeo com mais duas amigas. Ela me deu todo o suporte que eu precisava orientando e acompanhando os treinos, e isso fez com que meu rendimento não caísse tanto. Atualmente eu estou treinando no Clube Atlético Ypiranga, pois já retornamos aos treinos, seguindo o protocolo e com todos os cuidados. Não me sinto segura em treinar durante a pandemia por conta do longo trajeto que faço até o clube. Eu saio de casa 6h30 da manhã, então é um horário que o transporte público está cheio. Além de que pego dois ônibus, e faço baldeação em duas
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linhas de metrô, dando no total 2h de trajeto até o clube. Então neste trajeto infelizmente corro o risco.” O atual cenário pandêmico prejudicou os treinos não somente do Daniel e da Gabriela, mas de inúmeros paratletas que competirão nas Paralimpíadas 2021, e esperamos que apesar dos males causados pela Covid-19, as seleções brasileiras de esportes consigam competir em competições por medalhas.
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
Conheça o vôlei sentado e sua importância nas Paralimpíadas
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Saiba quais são as regras desta modalidade e como ela se tornou uma das principais do esporte paralímpico Por Luan Fernandes
O vôlei sentado se destaca por apresentar não apenas um jogo e sim a união de várias pessoas trabalhando juntas em busca de um só objetivo, o ponto. A modalidade foi criada da junção do vôlei convencional com um esporte alemão praticado por pessoas com pouca mobilidade, mas sem rede, chamado sitzbal. A união das duas modalidades fez surgir o vôlei sentado em 1956. Utilizando basicamente as regras do vôlei, o esporte tem um ritmo frenético e é disputado oficialmente desde as Paralimpíadas de Arnhem em 1980, na Holanda. Em Toronto em 1976 apareceu como exibição. No vôlei sentado as regras são: Homens e Mulheres podem competir e praticar o esporte desde que possuam algum tipo de deficiência física ou rela-
cionada à locomoção. São 6 jogadores em cada time, divididos por uma rede de altura diferente e em uma quadra menor do que a do vôlei tradicional. Os sets têm 25 pontos corridos e, o Tie-Break, 15 pontos. Ganha a partida a equipe que vencer três sets. A quadra mede 10m de comprimento por 6m de largura. A altura da rede é de 1,15m no masculino e 1,05m no feminino. É permitido bloqueio de saque, mas os jogadores devem manter o contato com o solo o tempo todo, exceto em deslocamentos. O esporte ganhou força no Brasil juntamente pelas participações dos paratletas brasileiros nas Paralimpíadas sendo a primeira em Pequim 2008, onde apenas a Seleção masculina participou e que terminou a competição em 6o lugar. Em seguida em Londres 2012, o Brasil teve repre-
sentantes nos dois gêneros, com as Seleções (masculina e feminina) ficando em quinto lugar. Entretanto, o melhor resultado brasileiro veio no Rio 2016, com a conquista do bronze pela Seleção feminina. Outro fator importante de comentar sobre a modalidade são as suas classificações de acordo com o grau de impacto nas funções na modalidade ocasionado pela sua deficiência, os atletas são divididos em dois grupos: VS1 e VS2. VS1- Atletas com uma deficiência que tem maior impacto nas funções essenciais do vôlei sentado. Ex: amputados de perna. VS2- atletas com uma deficiência com menor interferência nas funções em quadra. Ex: amputação de parte do pé, amputação bilateral de polegar. Nas Paralimpíadas deste ano em Tóquio as equipes de vôlei sentado acreditam
em uma “dobradinha” de medalhas, já que ambos os times (Masculino e Feminino)tem se preparado bastante para ter suas melhores performances nos Jogos Paralímpicos e assim conquistar medalhas.
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(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
Em quadra, jogando futebol, com os olhos vendados Por Brenda Niewiorowski e Leandro Bernardi
(FOTO: REPRODUÇÃO/PEXELS)
O futebol de 5 é uma modalidade praticada por atletas cegos. Mas para que as pessoas sem deficiência tivessem a sensação do nível de dificuldade que o esporte impõe, a equipe do Lona Especial Paralimpíadas preparou uma experiência imersiva: um vídeo em 360 graus, que você pode conferir no QRcode abaixo. No futebol de 5, falar é uma regra. Para evitar que os jogadores se trombem e se machuquem, quem está indo em direção à bola deve falar “voy”, como forma de alertar os demais. Ouve-se gritos na quadra também vindo de trás do gol. É o chamador, uma pessoa sem deficiência encarregada de dar as orientações para os jogadores. A bola tem um guizo interno, para que os atletas consigam localizá-la. Para evitar que algum praticante tenha alguma vantagem competitiva, todos os atletas de linha são vendados. Apenas os goleiros enxergam. Desde 2004, quando a modalidade foi incluída nos Jogos Paralímpicos, o Brasil ganha a medalha de ouro. E desembarcou em Tóquio em busca do pentacampeonato. As partidas acontecerão de 29 de agosto a 4 de setembro. Os adversários são China, Japão e França. A equipe brasileira é a favorita e vai jogar para manter a hegemonia.
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A Educação Física tem o poder de incluir e despertar novos atletas
“Quando um professor lida com 30 alunos e um cadeirante, por exemplo, e permite que todos brinquem de pega-pega, mas ao aluno PcD ele entrega um jogo de damas, a cena não é de inclusão”, explica o professor com doutorado em Ciências da Motricidade Por Carol Maltaca
Geisa Lucena de 22 anos sempre foi uma aluna dedicada aos estudos. Quando ainda estava no colégio, a jovem tinha grande facilidade de manter as notas boas e absorver os conteúdos passados em sala de aula. Entretanto, devido a falta de políticas públicas e um olhar atento à realidade vivida por mais de 45 milhões de brasileiros que convivem com algum tipo de deficiência no país, como aponta um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, a curitibana não pode vivenciar plenamente a práti-
ca esportiva durante a vida escolar. Uma possível explicação para essa falta começa ainda quando a jovem tinha apenas 11 anos de idade e foi diagnosticada com uma doença rara chamada ‘Osteossarcoma’. A enfermidade que se caracteriza como um câncer maligno, desenvolvido principalmente em ossos longos e que causa dor e inchaço, levou Geisa a várias sessões de quimioterapia para tentar combater a doença que havia acometido seu fêmur. Após um ano lutando sem obter melhoras significativas, a curitibana precisou amputar
sua perna direita. Curada, aos 12 anos Geisa deixou de lutar contra uma doença rara e passou a lidar com um problema comum: a difícil realidade de ser Pessoa com Deficiência (Pcd) em uma sociedade capacitista e inacessível. Falta o básico Para o professor de educação física na-
tural de Campinas, vencedor do prêmio Porfessor Nota 10 em 2019, Luiz Gustavo Bonatto Rufino, incluir crianças e adultos deficientes nas práticas comuns do dia a dia vai muito além de apenas possibilitá-las estar no mesmo espaço de pessoas que não têm deficiências. “Incluir não é só estar junto, incluir não é só integrar.
(Foto: Arquivo Pessoal)
Incluir é muito mais que isso, incluir é fazer se sentir parte”, afirma Rufino. Segundo o professor que é Doutor em Ciências da Motricidade pela UNESP Rio Claro, apesar de hoje em dia grande parte das crianças não serem excluídas do convívio-social de forma direta como antigamente eram, a falta de uma flexibilidade no ensino capaz de reconhecer e se adaptar aos limites de cada aluno, dificulta a experiência e o incentivo, principalmente, da prática esportiva. Isso porque, para incluí-los, é necessário pensar em uma série de questões que envolvem a família, a escola, o governo e a sociedade como um todo.
“Quando um professor lida com 30 alunos e um cadeirante, por exemplo, e permite que todos brinquem de pega-pega, mas ao aluno PCD ele entrega um jogo de damas, a cena não é de inclusão”, diz Ruffino. O primeiro e atual técnico da Seleção Brasileira de Parataekondo, Rodrigo Ferla, explica que foi um desafio assumir a equipe de atletas. Isso porque, além de ser uma modalidade nova tanto para o técnico que é campeão brasileiro no campeonato geral, quanto para os Jogos Paralímpicos, Ferla nunca havia treinado pessoas com deficiência. “Foi um desafio, porque eu não sabia como seria o Parataekwondo. Saí da minha zona de conforto e te falo que foi um desafio, não foi fácil, porque uma coisa é você estudar na teoria, e outra é viver na prática. Mas foi gratificante por ter o reconhecimento”,
Geisa Lucena (Foto: Arquivo Pessoal)
disse o técnico que também é coordenador da Seleção. De acordo com o atleta, que é natural de Londrina, o esporte em si recebe pouco incentivo de políticas públicas voltadas ao fomento da prática. Segundo o técnico, hoje, o Brasil investe muito no esporte de alto rendimento, porém, a base da pirâmide, como a criação de mais centros esportivos, a melhora do
desporto escolar, entre outras portas do esporte, tornam-se esquecidas, principalmente quando se fala sobre o incentivo ao esporte adaptado. “Não há nem rampas de acesso direito, quem dirá adaptação no esporte”. Para Geisa, a educação segue um padrão de ensino porque as limitações de
pedimento”, explica Geisa.
Rodrigo Ferla - Técnico e Coordenador da Seleção brasileira de Parataekwondo(Foto: Arquivo Pessoal)
PCD ainda não ganham suporte nem em direitos básicos, como ter acesso a boas próteses, a rampas de acesso, locais com marcações corretas, entre outras necessidades. “A prótese que você tem, por exemplo, depende do seu estilo de vida, e principalmente da sua renda ou do SUS. A prótese que tenho é
a do SUS, que não atende as minhas necessidades por ser mais simples. Por exemplo, a minha prótese não me permite pedalar, usar um calçado com salto médio, de maneira alguma entrar na água, descer uma rampa muito inclinada. Coisas que gostaria de fazer sem muita dificuldade ou im-
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inseguranças diferentes e que por muitas vezes, pela Quebrando falta de empatia do paradig;mas ensino, preferem se Após notar que afastar da prática ao muitos de seus alu- invés de demonstrar nos se recusavam a o descontentamencolocar shorts para to. “Foi aí que eu a aula de educação fui entender que na física, ou que mui- verdade ali era só tos tinham vergoa ponta do iceberg, nha de tirar o caporque dentro dessa saco, apesar de ser vergonha, dentro de em dias quentes a tudo que aparecida prática de esportes, dentro da sala de Ruffino, que atua aula, tinham coisa com alunos da rede muito mais profunmunicipal tanto de das, como eles se Campinas quanto viam, na identidade, em Paulínia, mucomo eles se enxernicípio localizado gavam, como eles no interior de São se sentiam pertenPaulo, acabou per- centes ali naquele cebendo que, seja espaço da escola, se PCD ou não, cada eles tinham vergopessoa tem medos e nha da cor da pele,
ou se eles se achavam muito magros, outros muito gordos, eu fui percebendo que essas questões eram muito presentes”. Diante da situação, o professor decidiu procurar respostas para o problema e, ao não encontrá-las, o paulistano entendeu que esse aspecto já mostrava muito do que teria que enfrentar pela frente. Começou propondo atividades de autopercepção e ofereceu aos alunos a oportunidade de entenderem e verem quem realmente eles eram, o que eles queriam e o que eles não gostavam. Após um longo pro-
(Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo Ferla)
cesso de mapeamento, o professor notou que entre os alunos despertou o senso de que cada um é diferente em sua forma de ser, o que não signifi-
ca que um possa ser melhor ou pior do que outro, apenas complementares.
(Foto: Arquivo Pessoal)
superproteção dos pais. “Quando falamos da questão de investimento, uma Preconceito disfarça- coisa que precisa do de proteção ser investido é Para o campeão bra- na educação, sileiro de taekwonquando falamos do, se há o desejo de em educação mudarmos a cena não é só a da do esporte brasileiescola, mas a da ro, principalmente, sociedade. Ainda a cena do esporte hoje, em 2021, adaptado, é importemos pais que tante começarmos têm um filho mudando a visão com deficiência das próprias famílias que acreditam também. Isso porque, que o filho não segundo Ferla, o trei- pode fazer nada, nador já se deparou que não tem cacom grandes dificul- pacidade de pradades de treinar seus ticar um esporte, atletas por conta da de se virar sozi-
família também”, explicou o treinador da seleção. nho. Precisamos mostrar Ao propor o mês da inclupara os pais que os filhos são, Ruffino fez com que deles podem fazer qualquer alunos vivenciassem a reacoisa, podem estudar, ter lidade de seus colegas com uma profissão, e também deficiência e enxergassem se dedicar a um esporte. que eles também têm muito [Quando você treina um a ensinar. “As crianças ajuPCD] você não lida só com dam outras crianças com a criança, você lida com a deficiência, são solícitos, (Foto: Arquivo Pessoal)
mas às vezes, essa ajuda é uma ajuda caridosa, às vezes é uma ajuda um pouco preconceituosa ‘ah, professor, eu preciso ajudar ele porque ele não sabe, porque ele não é capaz’, também é importante despertar neles que ‘ele também é capaz’, ‘ele também pode me ajudar’, tanto que uma
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possível mostrá-las o quanto são capazes de fazer o que querem. “Tinha um aluno que não tinha um braço e não se olhava no espelho. Ele só conseguiu se aceitar quando entrou no esporte e enxergou outras pessoas como ele. Por isso eu digo, colocar no esporte ajuda na autoestima, autoconfiança, além de também ter a chance de ser uma profissão no futuro. mas a preparação vai muito da família também, quando a família apoia, ao invés de superproteger, o desenvolvimento é maior e mais fácil”, finalizou Rodrigo Furlan.
cena que me marcou foi um aluno cadeirante dando dicas para o colega de como mexer na cadeira de roda para andar mais facilmente. Ele se sentiu útil mostrando o que ele vivia, sabe?”, recordou o professor. Assim como Ruffino conta que notou em suas aulas de educação física uma maior satisfação entre os alunos quando eles passaram a se conhecer, Rodrigo explica que o esporte é uma da maiores ferramentas para as pessoas com deficiência, porque se bem aplicado, é
(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
OPINIÃO | Como o jornalismo pode colaborar para fortalecer a prática paradesportiva
O
Jornalismo é a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, dados e divulgação de informações, cabendo ao jornalista, coletar, redigir, editar e publicar informações verídicas, objetivas e imparciais sobre eventos atuais. Tal definiçãovale para todas as editorias do jornalismo, inclusive para o esporte, seja ele convencional ou adaptado. A seguir, analiso como o jornalismo pode fortalecer a prática paradesportiva, em meio às Paralimpíadas de Tóquio. O esporte adaptado ganhou destaque mundial em 1944, por meio do neurocirurgião alemão, de origem judaica, Ludwig Guttmann, convidado pelo governo inglês a participar do Centro de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville e impulsionar a reabilitação de veteranos de guerra a partir da prática paradesportiva. Quatro anos depois, em 1948, foi realizado o evento que originou as atuais paralimpíadas. A participação brasileira nas Paralimpíadas, porém, só veio em 1972, nos Jogos de Heidelberg, na Alemanha Ocidental, enquanto que a primeira transmissão televisiva do evento no país só ocorreu em Atenas 2004, quando o Comitê Paralímpico Brasileiro comprou os direitos de transmissão e distribuiu para as emissoras interessadas. Neste contexto, o
Por Bernardo Borges
Jornalista e paratleta de futebol de cadeira de rodas
jornalismo mostrou que os esportes adaptados poderiam ser tão competitivos quanto os esportes convencionais, substituindo a visão de que o paradesporto era voltado apenas para educação, inclusão ou reabilitação, além de trazer uma nova perspectiva de vida para pessoas com deficiência. Tal prática também atraiu investimentos e patrocinadores, seja através do Governo Federal, que, desde 2005, concede bolsa-atleta aos melhores atletas, como também da iniciativa privada que viu no esporte adaptado uma forma de ter responsabilidade social, além de ser incentivada para isso, através de benefícios fiscais, concedidos pelo Governo Federal desde 2006. Desta forma, pode-se notar que o jornalismo mudou a mentalidade dos governos que sucederam o evento, das empresas e da população em geral, reduzindo visões capacitistas e mostrando que pessoas com deficiência podem ser tão eficientes quanto pessoas sem deficiência em diversas áreas. Depois da ascensão da trans-
missão televisiva e da cobertura jornalística dos Jogos Paralímpicos de Londres 2012 e Rio 2016, a expectativa é as Paralimpíadas de Tóquio 2020, marcadas para 24 de agosto, também tragam visibilidade, principalmente após a GloboSat, detentora dos direitos de transmissão, anunciar quatro canais e 150 horas de cobertura em seus canais fechados, além da exibição de esportes, como o Futebol de 5, em seu canal de maior audiência, a TV Globo. Num momento em que não se pode repetir o sucesso de público das duas Paralimpíadas anteriores, o jornalismo será ainda mais crucial para fortalecer a prática paradesportiva, desde a formação de novos atletas e profissionais,divulgação de modalidades e atração de novos patrocinadores e apoiadores.
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Representatividade que inspira Quando reconhecimento, incentivo e persistência movem uma atleta à delegação brasileira paralímpica Por Deisiely Weiber Jennyfer Marques Parinos, que representa o tênis de mesa, compõe a delegação brasileira nos jogos paralímpicos em Tóquio deste ano. Mas sua trajetória que começa bem antes deste grande evento esportivo, só foi possível após uma atleta recém chegada das competições paralímpicas de Pequim, sentir em seu desempenho numa brincadeira do esporte, potencial para as próximas paralimpíadas. Em 2009, quando Jennyfer tinha doze anos, uma vizinha que voltava das paralimpíadas de Pequim, trouxe algumas raquetes para que as crianças do prédio pudessem brincar no tênis de mesa. Foi então nesse momento, que a mesa-tenista paralímpica falou para Jennyfer que ela “levava jeito” no esporte. Mas o primeiro contato com a possibilidade de praticar e representar um esporte não chegou com força total para que o nascimento da futura atleta desse início. Foi preciso que a vizinha observadora de seu potencial, persistisse por várias vezes para que os pais de Jennyfer a levassem para treinar. Após algum tempo, os pais e a própria Jennifer aceitaram o conselho da vizinha e decidiram conhecer os treinos do tênis de mesa. Foi quando Jennyfer acompanhou de perto atletas mesa-tenistas treinando, se preparando para competições, e teve sua primeira experiência com a representatividade que despertou
naquele momento, sua grande vontade em também fazer parte do esporte. No ano em que começou a treinar diariamente, ainda em 2009, todos os campeonatos e copas nacionais que ocorreram já contavam com a participação de Jennyfer. No final do mesmo ano, acontece sua primeira convocação para competição internacional, o Parapan-Americano juvenil em Colômbia. Embora tudo parecesse encaminhado com sua classificação no Brasil, sua reclassificação que a colocaria em uma classe de competição no internacional não foi possível, já que em um primeiro momento, a avaliação de sua elegibilidade como atleta paralímpica não foi aceita, e os classificadores responsáveis pela avaliação
rem entre os Jogos Paralímpicos também podem levar os atletas às paralimpíadas. Tudo dependerá de classificações e performance de rendimento nos esportes.
Tênis de mesa
De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) O tênis de mesa começou a ser praticado por pessoas em cadeira de rodas e compôs os Jogos Paralímpicos de Roma em 1960. A primeira participação de jogadores em pé aconteceu em Toronto 1976, junto com a estreia do Brasil na modalidade. No tênis de mesa, as competições dividem-se entre mesatenistas andantes e cadeirantes, com jogos individuais, em duplas ou ainda por equipes. As partidas consistem em uma melhor de cinco sets, A trajetória sendo cada um deles, disputado As Paralimpíadas contam com até que um dos jogadores atinja 11 uma diversidade de modalidades pontos. competitivas, e, portanto, a trajetó- Nos casos de empate em 10 a 10, ria de um paratleta até a delegação vence quem primeiro abrir dois brasileira pode variar de acordo pontos de vantagem. com o esporte praticado. Nesse esporte, os atletas são diviMas, algumas instituições exercem didos em onze classes distintas. papel fundamental no nascimento Seguindo a lógica de quanto maior de atletas paralímpicos contribuin- o número da classe, menor é o do no futuro de paratletas. Tracomprometimento físicomotor do tam-se das Escolas Paralímpicas atleta. e também dos centros de reabiliPara as paralimpíadas em Tóquio, tação, que desde o início podem o Brasil conta com 18 atletas na oportunizar e transformar vidas delegação representando o país na inclusão de pessoas com defici- nas disputas, entre eles, Jennyfer ência em diferentes esportes. Parinos, que estará na busca Os eventos competitivos que ocor- de mais medalhas pelo esporte.
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(FOTO: REPRODUÇÃO/CPB)
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O mapa-mundi das Paralimpíadas Estados Unidos dominam o quadro de medalhas Por Brenda Niewiorowski
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ão é só nas Olimpíadas que os Estados Unidos costumam sair com a maior quantidade de pódios. Também nas disputas entre os paratletas os norte-americanos têm hegemonia. Antes da atual competição, o país já tinha acumulado 2179 medalhas. E é muito expressivo no número de participantes: 2961. No geral, as posições no quadro de me-
dalhas se assemelham nos Jogos Paralímpicos ao que acontece nos Jogos Olímpicos, com algumas exceções, como a Ucrânia, que é uma potência em esportes praticados por pessoas com deficiência. O mapa também deixa evidente que muitos países acabam tendo pouca participação nos Jogos. O Brasil começou a participar das Paralimpíadas em 1972,
três edições depois do início do evento mundial. Até os Jogos Paralímpicos de 2016 que aconteceram no Rio de Janeiro, o Brasil já teve 1028 atletas e já ganhou 328 medalhas, sendo 87 delas de ouro. As expectativas brasileiras são de conseguir ficar entre os dez primeiros, ao menos repetindo o feito de Londres 2012, com a sétima colocação no quadro geral.
(FOTO: REPRODUÇÃO/EDUCA MAIS BRASIL)
(FOTO: REPRODUÇÃO/PIXABAY)
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ATLETISMO A seleção de Atletismo será representada por 80 paratletas dos respectivos estados: Pará , São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina, Bahia, Acre, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Paraná, Ceará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Goiás, Distrito Federal.
BADMINTON O Badminton conta com apenas um atleta paranaense.
BOCHA A seleção de bocha está composta por 10 paratletas, nascidos em Pernambuco, Paraná, Goiás, São Paulo, Ceará e Minas Gerais.
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CANOAGEM Na canoagem o Brasil será representado por um participante do Rio Grande do Norte, um do Rio de Janeiro, dois do Mato Grosso do Sul, dois do Paraná e um do Piauí.
CICLISMO O ciclismo partipará com cinco paratletas do Rio Graande do Norte (1), São Paulo (2), Goiás (1) e Paraná (1).
ESGRIMA A seleção de Esgrima competirá com três gaúchos e um paranaense.
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FUTEBOL DE 5 No futebol de 5 terá um paratleta paranaense, um do Maranhão, um de Pernambuco, um do Rio Grande do Sul e três da Paraíba.
GOALBALL Ao todo, a seleção de Goalball conta com 12 paratletas, sendo seis da seleção feminina e seis da masculina. Entre eles, o Brasil será represetado por paratletas do Rio de Janeiro (3), Distrito Federal (3), Minas Gerais (1), Pernambuco (1), Paraíba (2), Pará (1) e Rio Grande do Norte (1).
HALTEROFILISMO Os paratletas da seleção estão divididos entre seis estados: Paraíba (1), São Paulo (2), Bahia (1), Rio Grande do Norte (1), Minas Gerais (1) e Rio de Janeiro (1).
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HIPISMO O Hipismo apresenta o segundo menor número de paratletas entre os outros esportes com apenas dois paratletas na seleção. Um em São Paulo e outro no Distrito Federal.
NATAÇÃO A Natação é composta por 33 paratletas na seleção. Sendo de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Ceará, Pará, Goiás, DF e Santa Catarina.
JUDÔ São Paulo apresenta o maior número de patrciantes de Judô na seleção paralímpica com seis atletas. Outros estados como Rio Grande do Norte, Minais Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba e Pará, contam com apenas um paratleta.
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REMO A modalidade contará com oito paratletas no total. Entre eles: três catarinenses, dois paulistas, dois cariocas e um baiano.
TAEKWONDO A equipe de Taekwondo disputará com apenas dois paratletas, sendo um paulista e outro paraibano.
TÊNIS DE MESA Serão 14 participantes nesta modalidade: dois de Santa Catarina, sete de São Paulo, um do Ceará, dois de Goias, um de Minas Gerais e um do Paraná.
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TÊNIS EM CADEIRA DE RODAS Os paratletas da seleção de tênis em cadeiras de rodas estão localizados em três estados diferentes: três são de Minas Gerais, um de São Paulo e um de Santa Catarina.
TIRO COM ARCO O Tiro com Arco conta com a participção de um paratleta do Paraná, dois de São Paulo e três de Goiás.
TIRO ESPORTIVO A modalidade Tiro Esportivo conta com apenas um paulista na seleção.
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TRIATLO Em relação ao Triatlo, o Brasil será representado por um atleta de Minas Gerais, um de São Paulo, um de Santa Catarina e um do Paraná.
VÔLEI SENTADO – MASCULINO A seleção conta com 3 paranaenses, 6 paulistas, 2 cariocas e 1 paratleta de Minas Gerais.
VÔLEI SENTADO - FEMININO 10 paratletas nascidas em Goiás, São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Paraná, Amazonas, Espírito Santo e Maranhão.