RIO Á I D do Curitiba, quinta-feira, 3 de julho de 2008 | Ano IX | nº 411 | jornalismo@up.edu.br | Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo
L BRASI
Lula anuncia Plano Safra 2008/2009 e acalma manifestantes dos Correios Luciano Sarote/LONA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve ontem em Curitiba para anunciar o novo plano agropecuário da safra 2008/2009. A previsão é de que sejam liberados R$ 78 bilhões aos agricultores. Além dos financiamentos convencionais, serão oferecidos empréstimos para a aquisição de tratores e implementos agrícolas. Na saída da Univeridade Positivo, o presidente Lula teve que “acalmar” os ânimos dos manifestantes do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná (Sintcom), em greve há três dias. Lula se aproximou das pessoas que estavam do lado de fora do Expo Unimed Curitiba, prometeu que ouvirá os responsáveis dos Correios e que está aberto a negociações.
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Dúvida atrai pessoas Conheça os benefícios Estatuto da Igualdade Iniciação científica para cursos técnicos da permacultura Racial entra em debate leva jovens à pesquisa A Secretaria de Educação informa que o número de alunos que fazem cursos profissionalizantes aumentou cinco vezes de 2003 até o ano passado.
Na permacultura, além do ensino sobre a natureza, os alunos têm de dominar técnicas necessárias para saber conviver bem entre si.
Atrasado pelo menos 50 anos com relação às conquistas sociais dos negros nos Estados Unidos, o Brasil discute Estatuto da Igualdade Racial.
No Brasil, a iniciação científica recebe o auxílio de órgãos públicos como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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Curitiba, quinta-feira, 3 de julho de 2008
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Ações impunes Caroline Abreu Weber O desrespeito pelos direitos é gritante em nosso país. Todos os dias vemos nos noticiários ações da Justiça que nos deixam sem entender os verdadeiros motivos pelo qual elas são tomadas. Só no Rio de Janeiro, 35 mil crimes ficaram sem solução nos últimos oito anos, por ineficiência do sistema de investigação da Polícia Civil. O Brasil está ficando um país onde o crime compensa e a impunidade corre solta. Adiantaria, então, uma redução da idade penal? Temos demonstrações claras de que isso não diminuiria a violência. Vimos no caso de João Hélio, que foi morto após um assalto no subúrbio do Rio. Assaltantes mandaram que a mãe e seus dois filhos saíssem do carro, mas João Hélio acabou ficando preso ao sinto de segurança no banco de trás, pelo lado de fora do veículo. Um dos assaltantes bateu a porta e arrancou o carro, arrastando o menino por sete quilômetros. Dos cinco envolvidos, quatro têm idade adulta, e isso não os impediu de cometerem o crime. Temos que exigir um Estado mais participativo. Exigir que a polícia se faça presente nos lugares, não apenas subir no morro para enfrentar o pe-
rigo, e sim já estar a postos lá dentro. Há uma deficiência muito grande no combate à violência. Surgem milícias privadas, que substituem o Estado e acabam julgando por si só o que é certo e errado, punindo muitas vezes com a morte. Crimes que deveriam ser punidos com severidade acabam sendo encerrados com seus autores em liberdade. Como no caso da senhora maltratada pela enfermeira e que resultou na punição de apenas horas em serviços comunitários. Ou então, no caso de Bruno Strobel, filho do jornalista esportivo Vinicius Coelho. O estudante foi morto com dois tiros na cabeça, por três vigias da Centronic (empresa de vigilância de Curitiba). Os desembargadores da primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná concederam habeas corpus aos presos acusados do assassinato. São casos que acabam ficando por isso mesmo, no esquecimento e sem justiça, o que é lamentável. Fazer justiça com as próprias mãos passa a ser uma solução, pois as pessoas estão cada vez mais descrentes de que a punição de forma legal não existe no Brasil. A legislação penal é obsoleta, não consegue atingir os objetivos para os quais foi criada. E não há vontade política para mudar essa situação.
Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande;; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton;
Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Elza Aparecida e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski e Karollyna Krambeck
O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000
Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.
Freezer ou geladeira ? Dalton Paraizo Benik
O futebol está para os brasileiros assim como o presidente da República está para o Brasil. Obviamente que uma associação assim remete ao extremo da paixão e calor humano. O responsável por “conduzir” toda essa linha tênue entre amor e ódio veste preto, ou pelo menos vestia, e tem a autoridade do jogo. Além disso, como o goleiro, também não pode falhar. Uma falha pode ser crucial e mudar o resultado da partida, torneio, campeonato. É claro que existem falhas, afinal o árbitro é humano, e sendo assim, erra. O problema é que alguns andam definitivamente errando muito mais do que acertando. Os times paranaenses, principalmente Paraná Clube e Coritiba, têm broncas de sobra para os “homens da lei” do futebol. A primeira, e certamente mais grave de todas, vem lá do dia 23 de abril. Nesta partida foram registrados erros ab-
surdos que dariam a famosa “geladeira” a um árbitro menos renomado, o que não ocorreu nesse caso. O bola da vez, ou melhor, árbitro da vez, era Vágner Tardelli. Infelizmente para alguns (tricolores) e felizmente para outros (colorados) o “seu Tarda” não estava nos seus melhores dias e isso custou caro para o tricolor: custou a Copa do Brasil. Depois vem o jogo entre Coritiba e São Paulo no Morumbi. Quem apitava? Vágner Tardelli novamente na parada. Nesse jogo o Coxa foi prejudicado, e muito. Três pênaltis não marcados, sendo que em um deles houve uma infração dupla. O zagueiro do São Paulo Alex Silva puxou a camisa e deu um carrinho por trás dentro da área no lateral Rubens Cardoso. Acho que o Tarda ficou meio sem jeito de apitar a penalidade se não teria que marcar duas cobranças. Se você tem boa memória, certamente vai se lembrar que o juiz Ricardo Marques Ribeiro, que apitou Coritiba x Palmeiras, na primeira
rodada foi afastado por bem menos. Na outra semana, mais uma vez a arbitragem duvidosa aparece como destaque de um jogo envolvendo o alviverde. Dessa vez foi no Coxa x Cruzeiro. Gol no primeiro tempo mal anulado e pênalti claro dentro da área que o juizão marcou fora. Resultado final Coxa x Raposa empataram em 1x1 no Alto da Glória. Atuação pífia de Carlos Eugênio Simom. Quem disse que árbitro Fifa, com tantas finais de campeonatos e Copa do Mundo no currículo, é a garantia de uma boa arbitragem? Nesse mesmo horário, no Palestra Itália, Atlético e Palmeiras empatavam em 0 x 0 quando Wallyson finaliza e marca, ou marcava afinal o gol havia sido mal anulado. Após tantos erros resta-me perguntar a você, torcedor independente de ser tricolor, alviverde ou rubro-negro: quando os “árbitros” acima serão punidos e pegarão a tal geladeira? Nesse caso poderia ser um freezer, e dos mais fortes.
O que sobra para os pequenos? Amanda de Lara O significado da palavra pessoa se resume a criatura humana; homem, enquanto ser moral. Quando pensamos em pessoas devemos considerar homem, mulher e também as crianças. Onde se encaixam as crianças em tal definição? Se as pessoas já não são consideradas adequadamente como seres humanos, imagine que espaço que cabe a elas, ou ainda, o que sobra para as crianças? Um dos grandes problemas que assolam as sociedades no mundo todo é a violência contra a criança. Essa é uma realidade dolorosa, responsável por altas taxas de mortalidade. E exige uma resposta séria e urgente da sociedade. A violência pode ser interpretada contra uma pessoa de várias formas e ocorre em todas as classes sociais, em todas as etnias, em todos os credos religiosos e políticos. A violência ou abuso
na infância tem estado diante de todos e são sempre fatos que chocam e evidenciam a falta de proteção às crianças. A Organização Mundial da Saúde estima em 40 milhões o número de crianças menores de 15 anos que são vítimas de violência anualmente, no mundo. E define a violência contra a criança como sendo: os maustratos sob todas as formas, física e/ou afetiva, abuso sexual, abandono ou negligência, exploração comercial ou outra que possam causar prejuízo real ou potencial à saúde, sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade no contexto de uma relação de responsabilidade, confiança ou de poder. Outros dados da OMS revelam que uma a cada dez mil crianças morre a cada ano em decorrência de violência física, valores esses que, provavelmente, são na realidade ainda maiores devido à acultação comum de tal tipo de óbito na maioria das sociedades. De acordo com o Sistema de
Informação para a Infância e a Adolescência (Sipia), somente no ano passado foram registrados 7.104 casos de violência a meninos e meninas em todo o Paraná. Em 2006, foram registrados em Curitiba 3.390 casos de violência contra o menor, tendo 90 % dos casos origem doméstica, a maioria considerados graves, e praticados contra crianças de 5 a 9 anos. No primeiro trimestre de 2007 foram registrados 427 casos, 260 deles considerados graves, sendo 80 % de origem doméstica. A faixa mais atingida pela violência é a mesma do ano anterior. Quando pensamos nos direitos dos seres humanos nos deparamos com uma realidade de crianças que, muitas vezes, não são assistidas e muito menos têm os seus direitos garantidos. Infelizmente, os lugares que sobram para as crianças são nas enormes listas de estatísticas que englobam das mais simples até as mais terríveis barbáries contra as crianças.
Curitiba, quinta-feira, 3 de julho de 2008
Política
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“Não está escrito na Bíblia que o pequeno tem que ser pobre”, diz presidente
Plano para agricultura e manifestação marcam visita de Lula a Curitiba Antonio Carlos Senkovski
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem, em Curitiba, o Plano Safra 2008/2009. Esta foi a primeira vez, desde o início do seu governo, que o lançamento das medidas do plano foi feito fora da Capital Federal. O evento, e seus desdobramentos, pode ser resumido, em grande parte, como um processo de fertilização. Para quem planta, como é comprovado por vários órgãos que avaliam o índice de inflação, os gastos maiores ficam por conta dos produtos para deixar a terra fértil. O fertilizante, neste caso, não foi só o que se usa nas lavouras, mas o adubo que representou a visita do presidente a Curitiba. Colocou-se em questão o fato de o novo Plano Safra representar uma mudança no pensamento agrícola do país. Lula disse que está convencido de que haverá uma revolução no conceito da agricultura brasileira. Esse foi um dos primeiros lugares em que Lula jogou seus punhados de adubo no discurso. Enquanto o presidente emocionava os espectadores do discurso com palavras, outro grupo – do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná manifestou sua indignação a respeito do não cumprimento do acordo assinado por Lula, que previa um adicional de 30% aos carteiros, discutido desde novembro do ano passado. “Lula, que é isso, assuma o compromisso”, “Acordo assinado não tem valor nesse país?”, foram algumas das palavras de ordem direcionadas ao presidente, que, naquele momento, ainda reservava muitas surpresas com suas famosas quebras de protocolo. Dentro do Expo Unimed Curitiba, onde aconteceu o lançamento do Plano Safra 2008/ 2009, o ministro da Agricultu-
ra, Reinhold Stephanes admitiu que “o cobertor do Brasil é curto”, e que fica difícil discutir o orçamento nessas condições. Sobre isso, Lula disse que todos estão no mesmo barco e que tem gente em todos os compartimentos. Independente de quem esteja no convés, na popa, ou na casa de máquinas, se o barco afundar, todos morrerão afogados. Com isso, o presidente ilustrou como foi possível chegar a um acordo entre os Ministérios da Fazenda e da Agricultura sem que houvesse grandes divergências. Um lugar onde o presidente também deixou mais um pouco da terra fértil, que vem adubando desde o início de seu mandato, foi na conquista de sua popularidade. Os aplausos interromperam o presidente quando ele revelou o fato de que existem muito mais brasileiros comendo. Segundo ele, a imprensa trata qualquer aumento nos preços como crise e que o papel do governo é ver nessas “crises” as oportunidades. Lula ressaltou também que é necessário dar um basta na impressão de que a agricultura de pequenas propriedades é cultura de subsistência. “Tem que plantar o que dá para plantar, para comer e para vender. Não está escrito na Bíblia que o pequeno tem que ser pobre”. O presidente disse que, para melhorar o mercado da agricultura brasileira não é necessário conter o consumo, mas sim aumentar a produtividade. Sobre isso existe ainda um acordo que será firmado até o final de julho entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos. “Nós queremos que os produtos agrícolas dos subdesenvolvidos ganhem espaço nos países mais ricos. Para isso, eles querem que haja maior flexibilização na indústria. Nós estamos dispostos a flexibilizar, desde que não seja para truncar nosso país”. Depois do discurso de Lula, Valter Bianchini, secretário da
Luciano Sarote/LONA
Para muitas pessoas que vieram para ver o presidente, esta foi a única visão que restou agricultura do Paraná, anunciou que a partir do mês que vem o Paraná terá ICMS zerono leite das cooperativas.
Greve Entretanto, o lançamento não seria completo se não houvesse um movimento sindical, com os mesmos princípios que introduziram Lula na política, se manifestando sobre algo. Quem fez o papel de militante ontem foi o Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná (Sintcom). Sebastião Cruz, diretor do sindicato, em certo momento parecia convicto de que a conversa tão desejada com o presidente não iria acontecer. Antes do início da cerimônia de lançamento do plano, os assessores vieram aos manifestantes a fim de dissipar a concentração. O diretor ressaltou, porém, que essa não é uma decisão fácil de ser tomada de uma hora para outra. “O sindicato não existe somente para reivindicar aumento de salários. É uma organização dos trabalhadores. Tentamos não pensar somente nas nossas melhorias, mas também tentamos melhorar a consciência do país”.
Como militante do Partido dos Trabalhadores, Sebastião Cruz disse que participou da construção do PT, e que a construção do partido foi muito bonita. “Sem dúvida, desde que acompanho a política brasileira, do Sarney para cá, Lula é o melhor presidente. Mas sempre tem o que melhorar, e é esse o papel dos movimentos sociais”, afirmou ele. Parecia mesmo que para a luta dos carteiros não tinha sobrado mais fertilizante na bolsa do presidente. Mas foi então que, ao som de apitos, buzinas e pedidos de reconhecimento, Lula partiu em direção dos manifestantes. A conversa foi curta, mas o suficiente para alimentar a esperança daquelas pessoas. O tom da manifestação mudou, e silêncio foi o que os trabalhadores fizeram enquanto o integrante do Sintcom, Nelson Rodrigues dos Santos, conversava com o presidente. Para Rodrigues, a conversa superou a expectativa, já que eles não esperavam que o presidente desse atenção direta à manifestação. Apesar do breve diálogo, a greve continua. Lula prometeu que irá receber os representan-
tes dos trabalhadores dos Correios em Brasília para mais negociações, mas como o diretor do Sintcom havia dito, “vamos ficar em greve até que se cumpra o acordo. Não interessa quantos dias”.
Prejudicados Ao contrário do que se pensa, não são só os clientes dos Correios que sofrerão com a greve. Os carteiros, quando voltarem ao trabalho, também terão atividades em dobro. Didério Lemos trabalha há 28 anos como carteiro. Segundo ele, na última greve teve que, junto com seus colegas, trabalhar além do horário para cumprir as entregas. O carteiro, entretanto, diz que o esforço vale a pena. Lemos contou que tem um casal de filhos. “Quando conquistarmos o adicional de 30%, vou poder dar um estudo melhor para eles”. Depois que Lula saiu, através óculos do carteiro finalmente foi apagada a imagem distorcida da frustração e podia ser visto o reflexo da luta e a esperança que surgia depois que o presidente fertilizou os corações dos manifestantes por meio da promessa das negociações.
Curitiba, quinta-feira, 3 de julho de 2008
4 Educação
Instituições públicas oferecem bolsas para alunos desenvolverem projetos
Estudantes se aproximam da pesquisa com programas de iniciação científica Letycia L. dos Santos Marisa Rodrigues
vimento (Lactec), órgão vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Instituições como estas costumam oferecer bolsas de estudo aos alunos que participam de projetos de iniciação científica com o intuito de fomentar a continuidade da pesquisa.
A iniciação científica é um processo de pesquisa desenvolvido por alunos de graduação com o acompanhamento de um professor orientador e sua principal função é permitir que o universitário vivencie experiên- Boas experiências cias semelhantes às de um pesOtávio Fuganti, estudante quisador. de Química na UFPR, recebe Geralmente, a iniciação é o uma bolsa de R$300 mensais. primeiro contato dos estudan- Ele faz sua iniciação científica tes com temas que necessitam no Lactec há um ano e garante de estudo mais aprofundado e é que, sem o auxílio financeiro, também um dos requisitos obri- sua permanência na pesquisa gatórios para que uma institui- seria prejudicada. Ainda assim, ção de ensino superior consiga acredita que participar da inio título de universidade, assim ciação científica mesmo sem incomo os projetos de extensão. centivo financeiro pode ser graMas o desenvolvimento da tificante. “Além de poder coloiniciação científica dentro das car em prática tudo o que aprenuniversidades não acontece ape- do em sala de aula, eu tenho a nas pela obripossibilidade gatoriedade. de adquirir “Estou adquirindo Os benefícios conhecimenque esse tipo tos que jamais conhecimentos que de investiteria se ficasjamais teria se mento traz se apenas sennormalmente tado na carteificasse apenas transpõem o ra da universentado na carteira sidade”, afirambiente acadêmico: atrama Fuganti. da universidade” vés da pesquiFoi tamOTÁVIO FUNGATI, sa científica, bém a possibiESTUDANTE DE QUÍMICA surgem o lidade de assiaprimoramilar coisas mento de antigos conhecimen- novas que fez com que Julio Cétos e a descoberta de novos con- sar da Rocha, colega de turma ceitos, elementos fundamentais de Otávio, participasse da pespara ajudar a desenvolver e quisa no Laboratório de Bioinortransformar a sociedade. gânica da UFPR desde o priA ação de iniciar um aluno meiro ano. na atividade de pesquisa pode O estudante, já graduado representar não apenas um au- em Farmácia, foi convidado mento no desempenho do apren- pelo seu atual professor oriendizado, mas também um cres- tador, Fábio Souza Nunes, por cimento da atividade intelectu- se mostrar um aluno interesal do país. sado em adquirir conhecimenNo Brasil, a iniciação cien- tos além dos apresentados em tífica recebe o auxílio de órgãos sala. Rocha não ganha nenhum públicos como o Conselho Naci- tipo de remuneração, mas acreonal de Desenvolvimento Cien- dita que a experiência adquiritífico e Tecnológico (CNPq), uma da em uma iniciação científica agência do Ministério da Ciên- abrirá muitas portas na profiscia e Tecnologia e do Instituto são. Seu projeto constitui uma de Tecnologia para o Desenvol- pesquisa básica, não sendo apli-
Marisa Rodrigues/ LONA
Marielle Rieping se sente mais segura depois da iniciação cação tecnológica. Segundo ele, algumas pessoas só querem o diploma de graduação e, por isso, não se motivam para fazer iniciação científica nem participar de outros projetos ou especializações. Rocha afirma que alguns querem o diploma de doutor por si só, e não pelo conhecimento. Um colega dele fez iniciação durante todos os anos da graduação, conseguiu fazer doutorado na França e obter dois diplomas – um brasileiro e outro francês. De acordo com Rocha, existem muitos problemas internos também. “Há duas equipes que trabalham no mesmo laboratório, mas que não se falam porque os respectivos orientadores não se dão.” Os dois estudantes desejam dar continuidade aos estudos em outro país e também concordam que a iniciação cientí-
fica foi fundamental para despertar essa vontade. As semelhanças entre eles apenas terminam quando o assunto é permanecer ou não fora do Brasil. Fuganti conta que, se tiver a oportunidade de conseguir uma bolsa para estudar na Europa, dificilmente continuaria seu trabalho de pesquisa no país. Porém, Rocha discorda. Ele acredita que o maior problema enfrentado pelos pesquisadores brasileiros é a aceitação fora do país e pensa em voltar ao Brasil para transmitir o que aprendeu no exterior lecionando em uma universidade pública. “Não acho que há tanta evasão”, diz.
Colhendo os frutos Outra estudante bastante satisfeita com os resultados da sua iniciação científica é Marielle Rieping. A aluna de Administração já apresentou dois ar-
tigos em eventos de iniciação científica e está elaborando o terceiro. Marielle conta que, com a experiência adquirida na iniciação científica e o incentivo dos professores, se sentiu segura para inscrever um de seus projetos no prêmio Top Universitário, realizado anualmente pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil – Seção Paraná (ADVB-PR). O resultado não poderia ter sido melhor: o projeto da estudante ganhou o primeiro lugar. Para Marielle a premiação foi importante, mas esse não deve ser o principal objetivo de um aluno da iniciação científica. “Devemos fazer tudo na vida sem esperar um grande resultado, um grande prêmio, ou um aumento na remuneração salarial. No final, o que fica é o aprendizado, esse a gente nunca perde”, revela a estudante.
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Iniciação científica na Universidade Positivo Letycia L. dos Santos Marisa Rodrigues
A partir deste ano, com a transformação do Centro Universitário Positivo em Universidade Positivo (UP), a Câmara de Iniciação Científica da instituição, cuja coordenação era antes centralizada em um único responsável, pretende padronizar procedimentos, elaborar estatísticas e, de modo geral, desenvolver um trabalho mais gerencial. A Câmara reunia-se duas vezes ao ano. Agora, reúne-se quinzenalmente e é constituída por seis pessoas: um representante de cada núcleo, um representante do programa da pósgraduação, um da Escola de Negócios e uma pessoa responsável pelo Comitê de Ética. Segundo o coordenador da Câmara, Júlio Gomes, na área biológica há mais projetos, pois na de exatas é mais difícil fazer
com que o aluno se dedique a uma iniciação devido à falta de bolsas e ao incentivo do curso e do mercado de trabalho para que faça estágio, considerado mais importante por representar uma aplicação prática da teoria aprendida na universidade. Na área biológica, a baixa concorrência também representa um fator de estímulo ao corpo discente. Para Gomes, os resultados dos projetos nas áreas biológica e de exatas são mais palpáveis do que os obtidos no de humanas, o que justifica a tendência de algumas universidades em investir mais nestas áreas. Na área de humanas da UP, por exemplo, há apenas um projeto de iniciação científica sendo desenvolvido. O coordenador afirma que existe falta de informação sobre a iniciação científica. De acordo com ele, a solução talvez seja um interesse por parte dos alunos associado a um esforço de
divulgação e estimulação feito pelos docentes. Gomes aponta vantagens dos alunos que participam da iniciação científica em relação aos que não a fazem, como estar mais bem preparado no Trabalho de Conclusão de Curso. Eles economizam tempo na sua realização por terem experiência com as etapas, especialmente a metodologia e a fundamentação teórica, o aumento da auto-estima e confiança, expandem o conhecimento, participam de congressos, e tornam-se profissionais diferenciados. A integração entre professor e aluno é também, segundo ele, um ponto positivo da iniciação científica. Entretanto, o coordenador diz que é necessário aprimorar e desenvolver certas características indispensáveis: a responsabilidade e o compromisso com o projeto, a disciplina, para que se atinja o objetivo almejado, a coragem de
Iniciação científica prepara aluno para o TCC assumir algo durante meses, o desejo de aperfeiçoar a oratória, bem como a comunicação, a curiosidade científica, que possibilita a criação de hipóteses, a procura para achar
uma resolução satisfatória, e a vontade. “Todos os alunos têm capacidade para realizar uma iniciação científica. A iniciação não tem por função a genialidade”.
Propostas de mudanças no ensino básico incluem música no currículo Eli Antonelli
A possibilidade de mudanças no Ensino Básico entusiasma pais e educadores. Uma das medidas é a possível volta do ensino de música na educação básica em instituições públicas e particulares. O projeto de lei foi aprovado no Senado Federal e encontra-se em votação na Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, em Brasília. O projeto destaca que a música contribui para o desenvolvimento social, pois com ela o ser humano amplia a capacidade de ouvir e compreender o outro. A música desperta a cognição, o processo psicomotor, emocional e afetivo, importantes para formação dos jovens.
Há uma crítica constante no ções realizadas com alunos de projeto de que os concursos pú- 4º série desde 2005, quando da blicos para professores buscam implantação do Prova Brasil. profissionais com conhecimen- As falhas na base da educação to em “educação artística”, mes- refletem em adultos despreparados para mo diante da cursar uma formação de “O essencial é faculdade e, profissionais ligados a outras colocar professores em muitos casos, reflete áreas da arte: bem preparados também a falteatro, música ta de valores e dança. Com a para ensinar as humanos. criação da lei, crianças a ouvir O retorno após as aprodo estudo da vações na Comúsica, isto é música, num missão de fundamental.” primeiro moConstituição HUMBERTO GESSINGER, mento, desde Justiça e MÚSICO perta certa inCidadania, as credulidade escolas terão três anos para se adaptarem. em pessoas que acreditam que Os professores contratados de- existem outros métodos e sisverão ter formação em música. temas mais urgentes a serem A necessidade imediata de incentivados. Porém, os que ações que imprimam mudan- defendem a proposta argumenças no ensino básico ficou evi- tam que aprender música vai dente no resultado das avalia- despertar nos estudantes o in-
teresse pelo conhecimento e agregar a criatividade. Para o analista fiscal de tributos Marcos Yasuo Morisaki, pai de Rafael Faverki Morisaki, de 7 anos, a mudança é bem vinda considerando que o objetivo é desenvolver a inteligência emocional através da musicalidade “Atualmente, as escolas brasileiras apenas preocupamse com o desenvolvimento cognitivo e não com o emocional, artístico.A música oferece a reflexão, a harmonia, a sociabilidade, portanto,a lei deve ser aprovada.” Para o músico Humberto Gessinger, a música, como a matemática, tem um valor muito importante no desenvolvimento para que o cérebro cresca estruturado. Segundo o músico, este processo se dá principalmente no estudo de música clássica que trabalha muito a metrica, contribuindo
para estimular o pensamento “O essencial é colocar professores bem preparados para ensinar as crianças a ouvir música, isto é fundamental.”
Educação musical Historicamente, o estudo da música data da vinda dos jesuítas para o Brasil. Com a chegada de D. João VI, em 1808, foi estabelecido que o ensino de música não deveria ser limitado à igreja, foi então, construído o Teatro S. João com este fim. A professora Rita de Cássia F. Amato destaca no artigo “Breve Histórico do estudo da música no Brasil”, que a maior contribuição posterior a D. João VI foi realizada pelo compositor do Hino Nacional, Francisco Manoel da Silva, que criou o conservatório de Música do Rio de Janeiro em 1841.
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6 Educação
Estatísticas sobre a educação profissionalizante e superior chamam atenção do governo
Cresce a procura por cursos técnicos profissionalizantes pansão porque é política do governo do Estado o crescimento Gabriela Ramos da educação profissional no Paraná”, explica. O que fazer agora? Essa é Nos últimos anos, o interesa indagação de grande parte se da população paranaense dos jovens que concluem o en- por um curso técnico vem ausino médio. Apesar da pouca mentando consideravelmente. idade e experiência, o jovem De acordo com dados divulgatem de definir uma das esco- dos pela Secretaria de Educalhas mais importantes da sua ção, o número de alunos que vida: a profissão.Opções exis- fazem cursos profissionalizantem muitas. tes aumentou cinco vezes de O ensino profissionalizan- 2003 até o ano passado.O núte se adaptou de várias formas mero de pessoas que ingressapara receber a parcela da po- ram em cursos técnico ultrapulação interessada em se es- passou 70 mil em 2007. pecializar em alguma área. No início deste ano, o presiUma das opções mais procu- dente Luiz Inácio Lula da Silradas são os cursos técnicos. va, fez um pronunciamento esA professora Maria Lina timulando a abertura de novos Hawthorne, responsável pelos cursos técnicos, incentivando cursos técnicos da Secretaria assim a profissionalização e da Educação – órgão estadual capacitação de mais pessoas que fiscaliza esta modalidade para o mercado de trabalho. de ensino – explica que a prin- "O Brasil só entrará no mapa cipal finalidade da formação dos países desenvolvidos se fitécnica é preparar o aluno zermos um forte investimento para a profissão. “Numa dis- na educação, na ciência e na puta de cargo, quem tem um tecnologia", disse o presidente. curso técnico leva vantagem O curso técnico é responsásobre quem não tem. Os cur- vel por uma grande fatia dos sos de forma geral são bem re- jovens profissionais que enconhecidos, bem aceitos no tram no mercado de trabalho. mercado”. E completa: “O téc- O professor João Carlos nico responde melhor aos re- Behrens, diretor dos cursos técquisitos específicos da área de nicos do Centro de Educação atuação escoProfissional da lhida.” Pontifícia Uni“Não é muito Os cursos versidade Catótécnicos das lica do Paraná, comum você ver escolas públicomenta o porcas são autorialguém com quê do sucesso zados pela Sedos cursos técni22 anos com um cretaria de Escos. “O Brasil tado da Educaprecisa de mãocurrículo assim” ção (SEED). As de-obra especiDIRCEU VIEIRA propostas dos alizada e o ensiTÉCNICO EM INFORMÁICA cursos são enno profissionalicaminhadas zante veio copara o Conselho Estadual de brir essa lacuna. Na indústria, Educação que emite um pare- no comércio e na área de servicer que volta para a SEED, ços o ensino técnico veio suprir para que ela possa emitir a Re- essas necessidades do mercado, solução Secretarial, que é o que pede força prática.” amparo legal para o funcionaPara ele, o mercado precimento dos cursos. “Os cursos sa de profissionais graduados, na rede Estadual estão em ex- mas necessita em maior quan-
Gabriela Ramos/ LONA
Anne Lise Ale
Dirceu Vieira fez cursos técnicos e o interesse acabou o levando para a graduação. tidade dos profissionais técnicos. “Na indústria, por exemplo, para cada engenheiro, é preciso de 50 técnicos. Para cada enfermeiro, é preciso 30 técnicos em enfermagem”. Behrens cita alguns fatores que atraem os alunos para os cursos. “Em primeiro lugar, a própria formação profissional, a qualificação. Num segundo momento, é a chance de trabalho, já que o mercado para quem tem um curso técnico é cada vez maior. Em terceiro, o dinheiro que ele pode ganhar com essa profissão” Um técnico na área científica / tecnológica ganha entre R$1.500 a R$2.000. Um técnico de enfermagem ganha aproximadamente R$650. “O fato da pessoa ter um retorno mais rápido do seu investimento, é provavelmente um dos atrativos para o curso técnico, que vai de um a dois anos e tem o custo acessível”, completa o professor Behrens. Dirceu Vieira, 22, é um des-
ses casos. Ele concluiu o curso técnico de informática em 2003 e depois resolveu fazer Tecnologia em Sistemas de Informação, no Centro Federal de Educação Tecnológica, Cefet, em Ponta Grossa. “Gostei da área e resolvi fazer a graduação”, conta Dirceu, acrescentando que a opção foi acertada. Em 2006 ele concluiu a graduação, e agora ingressa numa pós-graduação em Banco de Dados na Universidade Positivo. “Me julgo bem sucedido na minha profissão”. Dirceu começou com um curso técnico porque queria estudar, depois fez graduação e já trabalha há três anos na área. “Tenho estabilidade e agora começo minha pós. Não é muito comum você ver alguém com 22 anos com um currículo assim”. Os cursos técnicos podem ser um bom começo e definir a carreira de muita gente. Mas nem sempre é assim. Para Ro-
drigo Barros, de 22 anos, a história foi diferente: “Fiz o curso, mas infelizmente não segui na profissão. Trabalhei três anos na área e não deu certo”. Ele fez curso técnico florestal em Irati, no interior do Paraná, e agora estuda Administração na Faculdade Camões. “Aconselho a fazer e indico o curso técnico para muita gente, acho muito bom você ter uma profissão. Só que algumas vezes não dá certo. Agora tenho outros planos, vou fazer administração e tentar a área de RH ou marketing”, disse Barros. Segundo a diretoria da Escola Técnica da Puc/PR, os alunos dos cursos técnicos têm entre 17 e 27 anos, são de classe média, buscam uma formação profissional e estão prestes a concluir o ensino médio. Para se fazer um curso técnico a única exigência é ter concluído ou estar concluindo o ensino médio.
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Artigo
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O Brasil está atrasado em 50 em relação às conquistas sociais do povo negro nos EUA
Onde estão os negros? vam no mesmo lugar onde sempre estiveram no Brasil. Fora do esquema, embaixo do tapete, na terceira margem do Certos homens possuem o Rio, no Quilombo. Otto Lara dom especial de tornar incomResende conta que o francês preensíveis as coisas mais disse-lhe na ocasião, com simples deste mundo, como alguma surpresa: “Até nos bem observou Breton. Às Estados Unidos os negros vezes, pelo binômio rodrigueaparticipam mais”. Taí, o que no da “má-fé cínica” aliada a eu falei. O gênio acaciano. “obtusidade córnea”. Muitas Talvez Sartre fosse mais vezes por dificuldade de um daqueles que esperavam expressão. Às vezes as duas (ou querem por que querem) coisas mesmo tempo. Isto me forçosamente, faz pensar em encontrar aqui Jean-Paul Na sociedade a proverbial Sartre. Homem democracia contraditório. brasileira, salvo racial. Seria Tão brilhante e umas duas ou três realmente tão acaciano. ótimo se o Sartre esteve exceções, a real fosse no Brasil , em presença do negro Brasil esse paraíso 1960. Ao lado de sua Simone. e a sua mistura com mestiço que os “não-racialisGuiados por outras etnias da tas” (para usar Jorge Amado, a expressão do correram o país. população só se momento) Todas as noites verifica nos apregoam. lhe arrumavam Nunca foi. um púlpito, um andares de baixo, Não é. E ainda palco e uma entre aqueles vai muito platéia. Confelonge o dia. A rencista nato, o estratos que não comparação homem falava têm acesso à com os EUA é de tudo e de ilustrativa. todos – revolumobilidade social O Brasil ções, amor, está atrasado metafísica e os em pelo menos cinqüenta anos cambaus (até teria dado com relação às conquistas palpites para a recém-criada sociais do povo negro nos Loteria Esportiva). Estados Unidos. E o pior é que Não lhe faltava audiência, aqui nós, herdeiros da mesma sempre pronta para o aplauso barbárie e do descaso que de pé a cada pigarro mais vitimou a sociedade norteeloqüente. Numa noite que americana , viemos sendo, há entrou para nossa história – foi mais de 120 anos, forçados a transformada numa piada fatal acreditar que neste país - ele fez a célebre pergunta: “alegremente mestiço e “Où sont les nègres ?” desracializado” nunca houve Ao perceber que a claque segregação, perseguição, nem que o perseguia e adulava era a KKK, que “raça não existe” de bem nascidos aspirantes a ... Diz-se, cinicamente que intelectuais da juventude nossa inferioridade deve-se dourada de Ipanema. Não apenas a problemas econômiexistia um único e escasso cos e pode ser zerada com boas negro entre os existencialistas escolas e boas merendas para brasileiros. Dizem que dois todos e não sei mais o que... representantes da esquerda Na sociedade brasileira, cervejista cochicharam, com salvo umas duas ou três abjeto cinismo: “Devem estar exceções, a real presença do por aí assaltando algum negro e a sua mistura com chauffeur...” outras etnias da população só O que o nosso Jean Paul se verifica nos andares de não sabia, nem sequer presbaixo, entre aqueles estratos sentia, é que os negros esta-
Arquivo/ LONA
Sandro Moser
que não têm acesso à mobilidade social. A condição é, portanto, quase sempre, um fator de perpetuação da exclusão. Certamente por isso é que o conservadorismo e o racismo atuais a defendem. Principalmente agora com o poderoso exemplo do impertinente candidato democrata norteamericano Barack Obama, que defende em campanha uma democracia racial nos EUA. Os homens nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma campanha política ou para tentar seduzir uma mulher. No momento nosso Congresso Nacional prepara a votação do Estatuto da Igualdade Racial. Um grupo de intelectuais estouvados e artistas obtusos (e sempre os há) reage, contrários à apro-
vação do texto. Falam de uma “grave ameaça” na divisão da sociedade brasileira em “negros” e “brancos”. Que não se pode oficializar esta secessão, como se essa divisão, em termos de poder, oportunidade e capital, já não fosse a grande característica da nossa sociedade. E os “desracializadores” apontam Obama para nós como se fosse o dedo fura-bolo. Como se dissessem: “Olhem só? Ele não exibe a cor da pele como uma arma ou um escudo!”. E aí, vem o jornalista Ivan Martins, da revista Época (Editoras Globo), pergunta, em recente reportagem: “Quanto tempo, porém, será necessário para que se produza um líder como Obama no Brasil?” Ora, não queimemos
etapas, meu caro jornalista. Chegaremos lá. Mas antes precisamos passar pelo deputado da novela das oito. Se Sartre baixasse de novo no nosso terreiro, talvez não fizesse a patética indagação. Veria sim alguns negros entre seus apóstolos. Defensor que sou de todo tipo de ação compensatória ou afirmativa que vise, mesmo experimentalmente, à erradicação ou pelo menos a uma melhor compreensão do racismo brasileiro, sei que a platéia de acadêmicos hoje comportaria um número – pequeno – de negros e mestiços. Graças a exatamente este tipo ação afirmativa que o novo-racismo, silenciosamente, tenta combater. Só não percebe mesmo quem tem “má-fé cínica” ou “obtusidade córnea”.
Curitiba, quinta-feira, 3 de julho de 2008
8 Durante o ano todo, o Grupo de Estudos de Agricultura Ecológica (GEAE) fará projetos voltados a estudos sobre a permacultura e assuntos relacionados. A idéia principal é desenvolver uma proposta de formação complementar aos universitários e comunidade em geral, tendo como objetivo formar profissionais, agentes de desenvolvimento, guiado pelos princípios da a groecologia. Para mais informações: (41) 3252-3689
Aprendendo a Permacultura Além do ensino sobre a n a t u r e z a , ooss a l u n o s t êm d e s a b e r c o n v i v e r bem entre si. Dessa forma, os organizadores decidiram separar um grupo a cada dia. Grupos que são chamados de “famílias”, tendo que cuidar da organização do curso, da alimentação, da limpeza, e no final, recebendo notas avaliando se foram ou não uma família bem unida. Márcio Brüggemann Patrick Belem