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Curitiba, segunda-feira, 5 de outubro de 2009 - Ano XI - Número 533 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo
Fortaleza adota sistema de transporte curitibano Na década de 1970, a prefeitura de Curitiba criou um sistema de transporte que virou referência em todo o país. De lá para cá, muita coisa mudou. Com o crescimento da cidade e o número de carros ultrapassando um milhão, o sistema não consegue mais atender a demanda com qualidade. Apesar disso, ainda serve de inspiração para outras cidades, como é o caso de Fortaleza, que está implantando uma rede semelhante à de Curitiba. Página 3
L BRASI
jornalismo@up.edu.br
Especial ONG promove ação educativa com pichadores A ONG ACGB, que tem como lema a “recuperação e melhoria do meio ambiente urbano”, tem entre seus projetos o “Combate à pichação”, que atua desde 2000 junto com as escolas de Curitiba com o objetivo de minimizar as pichações na cidade.
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Parque ecológico A região de Almirante Tamandaré, a 10 km de Curitiba, conta com o maior parque ecológico do Sul. Com 220 hectares, o Parque Ambiental Aníbal Khury oferece um amplo espaço de lazer para os visitantes. Veja ensaio de Nathalia Cavalcante.
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Educação 1 Cursinho ajuda aluno carente a ingressar na universidade Página 7
Educação 2 Biologia atrai estudante que se interessa por temas atuais Página 6
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Curitiba, segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Opinião Legislação
Futebol
É proibido fumar
Vai dar samba
Vanessa Dasko
Cleverson Antoninho
A placa é antiga, mas a lei que proíbe as pessoas de fumarem em locais públicos é nova. Se por um lado a lei antifumo aprovada na semana passada pelo governador do Estado é positiva para alguns, para outros é sinônimo de falta de liberdade. Mas é necessário, a partir daí, reconhecermos um dos principais valores da sociedade: o respeito. O que não podemos negar é que a fumaça causada pelo cigarro incomoda muita gente que não compartilha do mesmo costume. Há um ditado que diz que a nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro. A lei sancionada na semana passada e que deve ir para publicação no Diário Oficial é mais uma concreta descrição da realidade metafórica sobre o conceito de liberdade. Qual é o limite de cada um sobre o espaço que habita e que também é território compartilhado? Sempre foram dois lados paralelos. “Boa noite, senhor, fumante ou não-fumante?”. A frase ouvida em muitos locais da cidade se constitui primordialmente como uma prática principiante do que hoje virou lei nacional. A forma de emitir a mensagem era apenas mais tolerante, cordial. A separação dos que gostam e dos que não gostam
de cigarro acontecia normalmente e não havia motivos para que pessoas se sentissem reprimidas ou com a liberdade comprometida. Mas nem sempre o que é exposto por precaução se torna efetivamente uma realidade. As casas noturnas, principal encontro de jovens, estavam sendo um grande círculo de fumaça. Modismo ou simplesmente gosto ou preferência, a presença do cigarro é constante em locais públicos. Entretanto, em todo lugar haverá mais do que um lado, mais do que uma filosofia, mais do que um costume ou crença. Vivemos em meio à diversidade. Porém, ainda me pergunto: será que tudo que envolve respeito e a falta dele exige uma lei? Afinal, a palavra é compartilhada por muitos, mas realmente significada e praticada por poucos. Fumar em locais fechados, como bares e restaurantes, é a apropriação de um local para uma característica individual. Quem fuma quer seu direito e quem não fuma também. É uma prática de nosso país a criação de campanhas e leis que visam proibir, coibir, impedir. Muitas delas envolvem simplesmente o respeito, esquecido, engavetado por boa parte da sociedade. E de práxis, as mesmas frases. “Um dia eu largo o cigarro”. “Um dia eu resolvo”. “Um dia ainda o Brasil vai mudar”. Divulgação
1. Proximidade: ser próximo dos torcedores. 2. Educação: mostrar respeito com técnico, diretoria e torcida. 3. Esforço: sacrifício e dedicação. 4. Pontualidade: chegar a tempo de todas as atividades. 5. Saúde: evitar situações de risco. 6. Ordem: "não" às saídas noturnas. 7. Imagem: cuidar da maneira como se veste. 8. Colaboração: com o clube e com a imprensa. Não, isto não está colado na parede de um acampamento de escoteiros ou é a regra de um campus de férias de verão. Isto é a uma “cartilha de conduta a ser seguida” que o presidente do Real Madrid Fiorentino Pérez entregou aos seus jogadores semana passada. É, no exterior eles exigem disciplina. E digamos que realmente a arte imite a vida e que o futebol é arte. Lembram de que exatamente no dia 9 de abril o atacante Adriano que hoje atua no Flamengo e faz parte da seleção brasileira declarou que estava pensando em parar de jogar. Disse que estava com depressão e que não agüentava mais atuar pela Inter de Milão. Lembrando que ele saiu da Itália sem avisar o seu clube e veio para o Rio de Janeiro. Perante a situação de stress do jogador e dito abatimento mental que o
Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.
mesmo aparentava o clube italiano teve a compaixão de não cobrar uma exorbitante multa de rescisão contratual do jogador. Resultado: em menos de duas semanas o stress foi embora, ele assinou contrato com o Flamengo e vualá. Adivinha o grito que a torcida do Flamengo bradava com vigor e orgulho no Maracanã? “O imperador voltou” “ O imperador voltou.” Voltando ao acordo do Real Madrid: O item quatro diz que todos os jogadores devem ser pontuais em relação as atividades do clube. E vale ressaltar que a quebra de qualquer um dos itens está sujeita a cobranças de multas que visam que as regras sejam seguidas. Corta pro Adriano. Este ano já foram três vezes que ele faltou o treino do Flamengo. E de um lado foi o presidente do clube dizendo que ele teve problemas pessoais e do outro o treinador do clube dizendo que ele teve problemas de saúde. Foi controvérsia atrás de contradição. E... sim, ele foi flagrado curtindo a noite carioca nos dias em que faltou aos treinos. Mas não foi bradado o grito de “O imperador faltou” “O impera-
dor faltou”. Pra finalizar. Em um dia ele saiu com a Moranguinho, no outro dia com a Caviar e no outro dia com a Mulher Melão. Não que seja errado fazer isto. Mas o problema é que no dia 17 de agosto deste ano ele recebeu a Medalha de Mérito Padre Ernesto. É uma medalha dada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro para aqueles que mais se destacam na comunidade e também é a mais importante comenda do município. É claro, Moranguinho Caviar e Melão, três dias seguidos com certeza da um destaque na sociedade, faltar a treinos... também. Mas isto seriam destaques positivos? Porque a ideologia em volta de atletas, é que eles sirvam de exemplo como esportistas e como conduta de homens para os jovens e digamos que o Adriano fuja disto, e continua sendo amado pelos brasileiros e tido como um exemplo a ser seguido. Enquanto isto continuamos acreditando que está tudo bem aqui, o exterior tido desenvolvido, nós como subdesenvolvidos. O Real Madrid como clube abusivo, o Adriano na seleção e não tem jeito, não da noutra. Vai dar samba.
Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; PróReitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira e Marcelo Lima; Editoras-chefes: Aline Reis, Camila Scheffer Franklin e Marisa Rodrigues.
O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP, Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000
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Geral Cidade
Fortaleza adota modelo de transporte curitibano Prefeita Luizianne Lins afirma que capital cearense já tem ônibus com tarifa integrada e vai criar canaletas
Texto e fotos: Amanda Mara da Silva O modelo de transporte coletivo de Curitiba foi tema de uma das conferências do 17º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito. O evento foi realizado de 28 de setembro a 2 de outubro no Centro de Exposições Unimed, na Universidade Positivo. Para contar a história da implantação e explicar o projeto, estava presente o arquiteto Carlos Ceneviva, que já foi presidente da URBS — empresa que gerencia o transporte coletivo da cidade — faz parte do grupo do ex-governador Jaime Lerner. Para debater o assunto, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, que além de comentar o projeto curitibano, falou do sistema adotado na capital cearense. Ceneviva fez um histórico da implantação do sistema da década de 1970, em que ônibus expressos passaram a circular por vias exclusivas, as chamadas canaletas. Circulando sem interferência do trânsito, esse sistema popularizou o transporte coletivo e tornou a cidade conhecida pelo sistema inovador. O modelo da década de 1970, que ainda funciona em
Curitiba, é o sistema trinário. O arquiteto fez uma explanação de como funciona esse sistema: uma via exclusiva para o ônibus expresso, duas vias laterais em sentidos contrários de fluxo lento e duas vias paralelas de fluxo rápido. Ceneviva conta que as primeiras linhas de expresso cortavam a cidade de norte a sul, ligando os bairros ao centro. Em 1980, foram implantadas as linhas leste a oeste e boqueirão. Entra também nessa década em vigor a RIT, Rede Integrada de Transporte, que aplicou a tarifa única e a possibilidade de percorrer várias linhas com uma única passagem. “A tarifa única possibilitou aos usuários efetuarem diversos trajetos com o pagamento de uma única tarifa, através da utilização dos terminais de integração ou, mais tarde, das estações tubo”, explicou o arquiteto. Em 1991, a RIT recebe as linhas de ligeirinhos, “destinadas a suprir demandas pontuais, com embarque e desembarque em nível nas Estações Tubo, pagamento antecipado da tarifa e uso de ônibus de-
senhados especialmente para operar como uma espécie de metrô de superfície, sobre rodas” justifica Ceneviva. Ainda nessa década chegam a Curitiba os ônibus bi-articulados, que vão operar nas linhas do expresso. Os ônibus têm capacidade para 270 pessoas, que fazem o pagamento antecipado e embarcam nas estações tubos, no mesmo nível do ônibus para aumentar a praticidade e diminuir o tempo das viagens. Em 1996, o sistema se estende à região metropolitana atendendo municípios vizinhos a Curitiba, hoje são 12 municípios integrados através da RIT. Atualmente, são 1,9 milhões de passageiros transportados por dia no sistema integrado. São 2.530 ônibus, incluindo a região metropolitana. Os municípios atendidos são: São José dos Pinhais, Pinhais, Colombo, Piraquara e Rio Branco do Sul, Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande, Campo Largo, Campo Magro, Araucária, Contenda, Itaperuçu e Bocaiúva do Sul. No total são 351 estaçõestubo, para embarque e desembarque no mesmo nível do ônibus. São setenta e dois quilômetros de vias exclusivas que cortam a cidade em cinco eixos, norte, sul,
leste, oeste, e boqueirão. Os pontos de parada totalizam cinco mil. São vinte e um terminais integrados em Curitiba e mais sete metropolitanos. Ao todo são 469 linhas, 388 são integradas. Incluindo a região metropolitana os ônibus fazem diariamente vinte e três mil viagens. O arquiteto acredita que a solução para o sistema público de transporte não é técnica e sim política. Cabe aos planejadores e urbanistas orientar o poder público, que pode ou não colocá-lo em prática. A prefeita de Fortaleza, Luizianne, elogiou o modelo curitibano de transporte, comentando que a visão vanguardista foi um dos principais elementos para o sucesso do projeto: “Curitiba se antecedeu aos problemas, ela fez o dever de casa direitinho e agora sofre menos que nós”, declara a prefeita que está implantando na capital cearense as canaletas exclusivas para ônibus e já tem em funcionamento o sistema de integração. “Não se tem muito mais o que inventar, mas é preciso muita ousadia para fazer” diz a prefeita que tem o sistema curitibano como inspiração.
Luiziane alerta para a preocupação com o trânsito nas grandes cidades: “Precisamos pensar em um transporte coletivo de qualidade para que as pessoas deixem seus carros em casa.” O número crescente de automóveis nas ruas é a grande questão do congresso, segundo os dados apresentados pela prefeita os carros ocupam setenta e cinco por cento do espaço urbano e nesse ritmo de crescimento em pouco tempo as cidades irão parar. Ceneviva alertou: “Se todo mundo quiser andar de carro, ninguém anda”. Em Curitiba as medidas que serão tomadas para abrandar a situação, que mesmo com um sistema inteligente, não foge do problema, serão linhas expressas diretas, que não farão paradas nas estações tubos, apenas nos terminais, otimizando o tempo. Uma espécie de ligeirinho que só circulará nas canaletas. Um sistema inteligente também dará prioridade nos semáforos aos ônibus que trafegam nas vias exclusivas. Outra preocupação será com o meio ambiente, na substituição dos combustíveis fósseis por energia limpa.
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Especial Educação
Despichando o que foi pichado
Entidade incentiva jovens a limpar a cidade de pichações com programas educativos
Texto e fotos: Sonner M. C. Um dos costumes mais antigos do homem é o de se expressar por meio de signos e símbolos escritos na parede. Muitas vezes considerada uma atitude de “rebeldes sem causa”, pichar, para os “pixadores” (eles “assinam” com “x”) vai muito além de riscar um muro. É como um hobby que envolve disputa, confraternização e superação. Quem anda pela cidade depara-se diariamente com muros rabiscados com letras que para muitas pessoas não significam nada. Signos que poderiam ser chamados de “hieroglifos urbanos” estão desde portas de banheiros até o topo de edifícios. O que diferencia cada grupo
de “pixadores”, além do nome, é a tipografia das letras e o estilo com que elas são escritas spray, tinta, canetas caseiras feitas com tubo de desodorante e feltro, graxa para limpar sapato, vela, pedra e até meia. Vale tudo para rabiscar, atitude que muitas vezes deve-se à falta de conscientização de que o espaço público é patrimônio deles também. E são esses rabiscos que acabam revoltando pessoas como a estudante Larissa Gonzáles, de 18 anos, que pensa que pichação é uma falta de bom senso. “Acho ridículo ficar pichando as paredes. Além de só prejudicar as pessoas, a cidade fica cada vez mais suja”. Eles incomodam também Estela Rohde, integrante da enti-
dade não governamental Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB). “Eles fazem isso para chamar a atenção. É uma atitude comum no adolescente. Só que as pessoas não são obrigadas a conviver com esse desrespeito ao patrimônio público e privado”.
Recuperação A ACGB tem como lema a “recuperação e melhoria do meio ambiente urbano”. Entre seus projetos há o “Combate à pichação”, que atua desde 2000 junto com as escolas de Curitiba com o objetivo de minimizar as pichações na cidade. Para isso, eles dão palestras educativas e organizam grupos para mutirões de repintura das escolas em que os alunos estu-
dam. “Trabalhamos principalmente com crianças de sete a 12 anos, para que elas não cresçam com esse mau costume. Nas palestras, expomos opções para eles. Mostramos uma pichação e depois um desenho em 3D feito na calçada; usamos também a prática de esportes radicais, como o skate, que agrada bastante esses jovens. Incentivamos a pensarem antes de agir, a usarem a inteligência para fazerem alguma coisa boa”, explica Estela. Com seis anos, o projeto prioriza as escolas municipais e já atendeu mais de 47 escolas na cidade, com o apoio de outro projeto da ACGB, o “Zelador de Vizinhança”, que faz a limpeza de cabines telefônicas e “despicha” diariamente 12 km e meio
de muros. A associação conta também com o apoio de empresas como a Cerrobranco, que fornece a tinta em pó para pintura dos muros, e a Fosroc, que fornece um verniz antipichação para ser passado após a pintura. “Após realizar o mutirão, a gente orienta as crianças para que elas cuidem da escola e denunciem quem está pichando. Deixamos um material nas escolas para que eles possam pintar a escola caso vândalos ataquem novamente. Somente o despicho imediato é o antídoto para essa falta de respeito com a nossa cidade”, ensina Estela.
Parceria O Colégio Estadual Cecília Meireles, que oferece ensino
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Especial Educação médio, superior e Educação de Jovens e Adultos (EJA), há alguns anos enfrenta problemas com pichação. A direção entrou em contato com a ACGB para que fosse realizada uma campanha de combate à pichação na escola. Foram dois dias de palestras assistidas por mais de 2000 alunos. “É muito importante trabalharmos com a conscientização da comunidade escolar. A gente já trabalhava com a reciclagem de lixo, e agora estamos adotando o projeto de despoluição visual”, explica o professor de Geografia Emanoel Porto. No último dia da campanha, foi realizado um mutirão para a limpeza dos muros das escolas. As crianças que quiseram ser voluntárias se divertiram bastante. Com brochas e cabos de vassouras, elas pintaram de amarelo e azul 1500 metros de muro da escola. “Pichação é uma coisa ridícula, não vejo motivos para fazer isso”, reclama a estudante da quinta série Miridiana Martins da Silva, de 16 anos, que gostou bastante da iniciativa de trazer os alunos para limparem o colégio. O aluno da sétima série Pedro Henrique dos Santos, de 14 anos, já pichou o colégio e agora está ajudando limpar os muros. “Quando pichei, foi por achar legal ter o meu nome no muro, ver as pessoas falando. Mas agora não vou pichar mais as paredes da escola”, diz Pedro. “As crianças gostam bastante desses mutirões. Além de pintarmos o muro, já fizemos um mutirão para limpar as carteiras e elas gostaram bastante”, comenta o professor de Educação Física Roberto Becker. Os alunos se revezavam na pintura que começou às 7h30min e teve acompanhamento em tempo integral da Guarda Municipal, encerrando-se por volta das 17h. O aluno da quinta série Jéferson Max, de 13 anos, diz que vai tomar conta da escola agora. “Vou passar todo dia para ver se o muro está pichado. Se estiver, vou contar para a diretora. E se eu vir alguém pichando o muro, vou chamar o guarda para prendê-lo”.
O dia em que Sonek e Alvo picharam o Curitibano Situado na rua XV de Novembro próximo a praça Generoso Marques, o antigo prédio do Clube Curitibano, palco de eventos luxuosos no passado, foi revitalizado recentemente depois de uma ação de pichadores que ganhou destaque não só na imprensa, mas também no mundo deles. Parecia mais uma noite comum quando Alvo chegou junto com Sonek em frente ao ex-prédio do Clube Curitibano. Com dois litros de tinta preta, dois litros de tinta azul, uma lata de spray, um cabo vassoura, um rolo de nove centímetros e outro de cinco, começaram a subir por uma barra de ferro que levava até a marquise do segundo andar. “Quebrei a janela e caímos para dentro. Subi as escadas iluminando com um isqueiro até chegar numa parede de concreto. Quando cheguei à parede, olhei para o lado e enxerguei uma escada bem estreita no final do corredor. Fui até ela e arrebentei o telhado para subir ao quarto andar do prédio”, conta Alvo. Os dois continuaram subindo até chegarem ao topo do edifício. Quando alcançaram o telhado, começaram a pichar. Antes de terminarem a letra “V”, a polícia militar parou com a viatura lá embaixo. “Eles ficaram olhando para ver se enxergavam a gente. Ficamos escondidos por algum tempo e adormecemos lá em cima. Quando acordei, eles já tinham ido embora”, diz Sonek. Alvo voltou a escrever e, prestes a terminar sua parte, o rolo de nove centímetros caiu no chão, próximo ao ponto de táxi. Sonek pegou o rolo de cinco centímetros, amarrou com o cadarço do tênis no cabo de vassoura e foi terminar o topo do edifício. Enquanto isso, Alvo desceu um andar e começou a rabiscar
com sua lata de spray a sacada da ex-sede social do Cube Curitibano. “Risquei mais três andares e saí do lugar do mesmo jeito que entrei. Quando cheguei ao chão, novamente, achei o rolo que tinha caído, ainda molhado. Peguei e fiz um tag (assinatura) no vidro do ponto de táxi”, diz Alvo. De repente, a viatura veio em alta velocidade e enquadrou Alvo, que estava com a mão toda suja de tinta. “Eles falaram que era eu que estava pichando o prédio. Me fiz de desentendido. Quando ele perguntou da minha mão, falei que tinha achado o rolinho no chão e tinha mandado o tag só no vidro do ponto de táxi”. “Eles reconheceram as letras A, L, V e pensaram que eu era Coxa e ia escrever alviverde. Falei que nem sabia que estavam pichando o prédio. Disse que era rubronegro, e um dos policias disse que também torcia para o Atlético. Acabei ficando ‘amigo’ dos cana, que me liberaram e mandaram embora para casa”. Sonek terminou o serviço e desceu pelo outro lado da marquise. Quando chegou ao chão, saiu correndo e foi enquadrado pelos policiais a uma quadra do local. Eles o revistaram, perguntaram o que ele estava fazendo, deram uns tapas e liberaram. No dia seguinte, o edifício foi invadido por mais três “pixadores”: Crel, Dhyo e o falecido Gui. Gui foi um dos “pixadores” que mais deixou saudades entre os amigos, chegando até a virar uma grife de pichação: “Gui no coração”. Snob faz lembranças ao companheiro que não está mais neste mundo. “O Gui era um dos caras mais firmeza que já conheci. Foi uma fatalidade que infelizmente era para ter acontecido. A morte dele serviu para abrir o olho de muita gente. Mas a saudade que ele deixou é algo difícil de esquecer “ . (SMC)
A antiga sede do Clube Curitibano antes da reforma
Cinco anos de saudade Sonner M.C. Em 2004, a Tribuna publicou a notícia sobre morte de um garoto que estava pichando um barracão no Tarumã, às margens da BR476, em frente à Sociedade Hípica, e caiu lá de cima. O garoto era conhecido como Gui. Segundo testemunhas, eles estavam “trabalhando” com mais um colega, quando a movimentação acionou o alarme ligado à empresa de segurança Auxiliar de Serviços, às 22h45min de uma quarta-feira. Quando o carro da companhia de vigilância chegou, o vigia começou a dar tiros para cima como forma de alerta. Os dois saíram em fuga pelo telhado de acrílico, que não aguentou o peso de Gui e rompeu-se fazendo com que ele caísse de uma
altura de 18 metros. Gui ainda caminhou cerca de 20 metros no escuro após a queda, mas não resistiu e morreu na frente da porta de entrada do barracão. Quando José Barbosa dos Santos chegou para trabalhar na manhã de quinta feira encontrou Gui estirado no chão. José entrou em contato com a polícia. De acordo com a perita Vilma Benkendorff, da Polícia Científica, o impacto no solo foi a provável causa da morte de Gui, já que ele apresentava hemorragia interna. Segundo José, o barracão já teria sido alvo de pichações três vezes. O único vestígio deixado por eles foram duas bicicletas largadas no pátio e a palavra “Espanto” escrita na fachada do barracão.
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Colunas
Fotos: Divulgação
Profissões
Educação
Biologia oferece área de atuação ampla
Aprendendo a distância
Dayane Wolff A procura por cursos tradicionais, como medicina, direito e engenharias, não está mais tão em alta entre os estudantes de hoje. Há um incentivo para o ingresso em cursos não tão tradicionais como é o caso de Ciências Biológicas. O curso é considerado um dos dez mais importantes da atualidade, porque envolve temas decisivos, como a preservação da vida e as questões ambientais. Prova disso é o aumento do número de inscritos em vestibulares em diversas universidades do Brasil para o curso de Biologia, o que causou uma concorrência mais alta para os vestibulandos. O estudante de Ciências Biológicas da Universidade Positivo Marlon Panizon afirma que, ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o curso oferece um mercado de trabalho amplo e bastante aberto. Cursando o quarto semestre
no turno matutino, Marlon conta que a profissão está sendo cada dia mais procurada, devido a diversos motivos, como o fato de o mercado de trabalho ser extremamente amplo. Devido aos seminários, trabalhos de campo e laboratórios disponibilizados pela universidade, Marlon pode se dedicar mais ao curso e começar a praticar de forma a criar eu próprio projeto, que envolve fungos. Os estudantes que optam por obter formação neste curso podem dedicar-se a temas atuais, como o estudo de célulastronco, pesquisas sobre a Aids, ou no combate ao mosquito da dengue, por exemplo. O profissional pode, ainda, optar pelo mundo acadêmico, ou, ainda, se dedicar ao meio ambiente. Esta área, por sinal, é uma das que mais tem chamado a atenção e atraído alunos, devido aos problemas ambientais sofridos atualmente. A evolução da engenharia genética
também contribui bastante para o crescimento da procura. As regiões do Brasil que têm maior demanda por profissionais que se dedicam à área ambiental são o Norte e o Nordeste. A área de pesquisa de biocombustíveis, que gera muitos empregos, se destaca no Sudeste e no Centro-Oeste. Já as que envolvem Genoma, biologia molecular e bioinformática, que são as áreas que mais crescem para o biólogo, têm melhores ofertas no Sul e no Sudeste. O campo ligado à biologia marinha vem se mostrando promissor. Ultimamente, biólogos marinhos estão tentando mapear criaturas aquáticas com a ajuda de técnicas avançadas, que auxiliam na exploração do fundo do oceano. Conhecendo melhor as depressões aquáticas, acredita-se que se torna mais fácil encontrar novas espécies, que são um potencial de grande interesse nas teorias da evolução.
A engenharia genética é uma das áreas de grande interesse dos biólogos
Fernanda Diniz A partir dos anos 90, com o crescimento da internet e das novas tecnologias, o ensino a distância vem se fortalecendo e ganhando espaço no mercado. Conhecido com EAD, este tipo de curso surgiu no Brasil em 1939 com a abertura do Instituto Monitor, como uma alternativa para as classes populares de educação para o trabalho. Atualmente, segundo o Ministério da Educação, das pessoas matriculadas em cursos a distância, 45% buscam cursos de graduação, o que indica maturidade do sistema, como diz Fábio Sanchez, coordenador de um curso de Administração a distância. O estudante universitário da UTFPR Marcelo Mori já fez vários cursos a distância e diz que o maior motivo que o levou a procurar esse tipo de capacitação foi a falta de tempo, já que trabalha durante o dia e estuda à noite. De acordo com Mori, a maioria dos cursos geralmente disponibiliza o material uma vez por semana, de maneira que o aluno tenha tempo para estudar. “O bom do curso a distância é que você se obriga a estudar, ler com mais atenção e buscar informações extras sobre a matéria”, relata. Mas para ele uma falha nesse sistema de en-
sino ainda é a monitoria: os materiais são geralmente muito bons mas os monitores virtuais demoram a responder se o aluno tiver alguma dúvida. Vamos então traçar alguns prós e contras do sistema de EAD hoje. Alguns dos benefícios são: o custo, que é menor do que um curso presencial, praticidade e flexibilidade, possibilidade de execução de simultâneos cursos, pois é o aluno quem define seu horário de estudo. Para os profissionais que já estão no mercado há algum tempo, a EAD é uma maneira de se manter atualizado sem precisar mudar sua rotina de trabalho. Para as instituições de ensino, os cursos a distância geram crescimento local, evitando a evasão de alunos para os grandes pólos e a democratização do ensino. Alguns pontos negativos do EAD são a dependência da tecnologia, pois sem um computador não é possível, na maioria das vezes, realizá-lo. A dispersão física do aluno, que uma vez que não está numa sala de aula pode se distrair com outras coisas, a limitação nas discussões, a facilidade exagerada de conseguir um diploma em algumas instituições, e por tudo isso o preconceito de algumas empresas com este tipo de ensino.
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Educação
Curso pré-vestibular gratuito é sinônimo de oportunidade Graças ao trabalho voluntário de professores, jovens de baixa renda podem enfrentar o vestibular bem preparados Nathalia Cavalcante Antes de ingressar em um curso superior, alguns jovens optam por fazer um curso prévestibular. Porém, em muitos casos, é necessário desembolsar uma quantia em dinheiro que não podem pagar. Em Curitiba, as mensalidades vão de R$ 130 a R$ 800. Dessa forma, jovens de baixa renda deparam-se com mais um empecilho. Na maioria das vezes deixam de fazer o vestibular por não terem condições de pagar por esses cursos e, além disso, não estarem preparados. Para evitar situações como essas, voluntários criam cursos pré-vestibulares gratuitos, também conhecidos como cursos populares. Além dos cursos comunitários, algumas universidades criam seus cursos pré-vestibulares gratuitos, através de iniciativas dos próprios professores e alunos. Em Curitiba, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) possuem cursos pré-vestibulares. Há dez anos foi criado o curso Em Ação, que é mantido por voluntários da ONG Em Ação, com a UFPR. O curso conta com 35 professores voluntários e ex-alunos do curso colaboram como equipe de apoio aos professores. As aulas são realizadas no Centro Politécnico da UFPR, aos sábados e domingos, das 8h às 19h45. No início do ano são ofertadas 200 vagas, em julho 100 vagas são oferecidas. Cíntia Carine Aleixo, 19 anos, que está no 4º período do curso de Jornalismo da Universidade Positivo, estudou no curso Em Ação. Para ela, a falta de dinheiro para pagar a passagem de ônibus, lanche e trabalhar durante a semana fo-
ram algumas das dificuldades enfrentadas durante o curso pré-vestibular. “Aos sábados estava muito cansada, mas o que dava forças para continuar era o tempo que os professores dispunham ao curso, deixando suas casas para nos dar aulas”, diz. Além dos estudos, são construídos laços de amizades durante o curso. “O espírito de solidariedade, amizade, amor e companheirismo é contagiante, todos nos tornamos uma só família”, reforça Cíntia. A UFPR mantém um termo de apoio ao cursinho pré-vestibular promovido pela Associação Cultural de Negritude e Ação Popular dos Agentes de Pastorais Negros (ACNAP). A coordenadora da ACNAP, Vera Paixão, afirma que o curso é destinado às pessoas de baixa renda, sendo cobrada uma taxa única no valor de R$ 350. “São ofertadas 200 vagas a negros e negras e 20% de estudantes não negros”, diz. “Contamos com professores do ensino público, que recebem apenas ajuda de custos”, reforça a coordenadora. O curso existe há oito anos, as aulas são realizadas no Prédio Histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade, de segunda-feira a sexta-feira, das 19h às 22h30. O curso pré-vestibular Conexão foi idealizado em 2003 por alunos do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR), hoje Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Em seguida, a causa foi abraçada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). São oferecidas 60 vagas. As aulas são realizadas em uma sala da UTFPR, de segunda-feira a sexta-feira, das 13h às 17h30, e aos sábados das 7h30 às 12h. Em 2002 foi criado o Cursinho Solidário, que em
Cíntia Aleixo/ LONA
Revisão de véspera do curso Em Ação 2003 passou a fazer parte da ONG Formação Solidária, que também mantém parceria com o curso Conexão. Hoje conta com cerca de 160 vestibulandos. Através da iniciativa do programa CREA Júnior Paraná, órgão vinculado ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (CREA-PR), nasceu o curso pré-vestibular Creação. O curso tem parceria com o Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), onde as aulas são ministradas. A ênfase é para exatas e quem pretende seguir na área tecnológica. Esses cursos pré-vestibulares gratuitos realizam exames de seleção, além de solicitarem comprovação de renda, para que seja assim justificada a razão do futuro aluno não poder pagar um curso particular. Contam também com o auxílio de voluntários. Os cursos populares não oferecem um grande número de vagas, como a mai-
oria dos cursos privados. Um exemplo é o curso Apogeu, que oferece 816 vagas para o vestibular da UTFPR. Com 20 professores, mantém um índice de aprovação de 80% a 85%. Com a criação de cursos populares, muitas pessoas deixaram de lado a possibilidade de juntar dinheiro para pagar as mensalidades de cursos particulares. Assim, com a viabilidade de comprovar a renda, optaram pela gratuidade. Para o diretor administrativo do curso Apogeu, João Paulo Rodini, todos têm direito à Educação de Ensino Superior. “Não acredito que cursos gratuitos possam prejudicar qualquer dos cursinhos em Curitiba”, diz.
Serviço Curso Em Ação Centro Politécnico da UFPR, bloco de Ciências Exatas – Rua Cel. Francisco H. dos Santos, s/nº Jardim das Américas ONG Em Ação
Rua Voluntários da Pátria, 475 - Edifício Asa www.emacao.org.br - (41) 3023.4702/ 3013-1549 Curso Conexão Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Avenida Sete de Setembro, 3165 Rebouças www.cursoconexao.org.br Cursinho Solidário Formação Solidária – Avenida Presidente Afonso Camargo, 330 www.formacaosolidaria.org.br - (41) 3234-2363 Cursinho ACNAP Prédio Histórico da UFPR – Praça Santos Andrade belezadospalmares@yahoo.com.br - (41)3349-6710 Curso Creação Instituto de Engenharia do Paraná - IEP, na Rua Emiliano Perneta, 174 creacao@creajr-pr.org.br 0800-410067
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Curitiba, segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Ensaio
Panorama natural
Nathalia Cavalcante Para quem deseja descansar e curtir a natureza, uma opção é ir ao Parque Ambiental Aníbal Khury, em Almirante Tamandaré, a 10 km de Curitiba. Lá é possível contemplar um espaço de 220 hectares, com belas paisagens, dois lagos, parquinho para crianças, trilhas ecológicas e churrasqueiras. Além do mirante, onde pode se ver todo o panorama natural, fazer uma parada nos decks também é uma alternativa para relaxar. O maior parque ambiental do Sul do país abriga o Batalhão da Polícia de Cavalaria, o que garante a segurança de seus frequentadores. No parque pode-se caminhar, observar a natureza e o que ela proporciona, aliando lazer à tranquilidade.