Lona - Edição nº 479

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Curitiba, quarta-feira , 6 de maio de 2009

RIO DIÁ do

Curitiba, quarta-feira, 6 de maio de 2009 - Ano XI - Número 479 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Mais de 4 milhões de aposentados ainda trabalham

BRASI

L

jornalismo@up.edu.br Patrícia Schor

Apesar de a aposentadoria ser sinônimo de descanso e tranquilidade, no Brasil o cenário tem sido diferente para muitos que já cumpriram seus anos de trabalho. Leis emperradas sem votação, defasagem do benefício e aumento do custo de vida são alguns dos motivos. De cada dez aposentados, sete ganham até dois salários mínimos. Julio Fascin (foto), de 72 anos, tornou-se catador de papel para complementar o salário de aposentado. “Graças a Deus, conto com a ajuda dos comerciantes daqui do Centro que me fornecem papelão”, diz. Hoje, o piso previdenciário é de R$ 465,00 e o teto do salário-benefício e salário de contribuição é de R$ 3.218,90. Página 3

Violência assusta frequentadores de boates É cada vez maior o número de mortes violentas em boates, devido a agressões de seguranças e até mesmo brigas entre os próprios frequentadores. O uso exagerado de álcool aliado à falta de fiscalização de quais pessoas podem realmente trabalhar como seguranças de boates, é uma combinação explosiva que pode tirar a vida de muitos jovens. Páginas 4 e 5

Quanto mais cedo, melhor O prazo para usar definitivamente as regras do novo acordo ortográfico vai até 2012. Apesar disso, especialistas afirmam que quanto mais cedo se aprender as mudanças, mais fácil será sua assimilação. Para quem pretende fazer logo a lição de casa, hoje é o último dia para se inscrever no curso de atualização que a UP promove no mês de maio.

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Comércio ambulante funciona sem fiscalização Quem nunca se deparou com o excesso de vendedores ambulantes em Curitiba é porque nunca andou em terminais ou no centro da cidade, locais onde há maior acúmulo desse tipo de comércio. Apesar de venderem vários produtos proibidos, muitos comerciantes continuam “trabalhando” por falta de fiscalização.

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Opinião Curitiba

Vergonha nacional Juliano Zimmer

Divulgação

O Brasil continua a se afogar no mar de lamas causado pela corrupção avassaladora. Nada é feito para combater o carnaval da anarquia política brasileira, fica tudo como está, nem a justiça pode com os gatunos do poder. Se trouxermos à memória apenas alguns casos de crimes políticos no governo Lula, não haveria espaço para publicar as matérias desse jornal. O governo de sindicalistas, de bolchevistas que governam e governaram pela amizade e companheirismos do presidente causaram muitos estragos em apenas dois mandatos do Lula. Para começar, vamos falar do caso dos mensalões, onde parlamentares eram comprados para votar a favor do governo. Vários deputados que se diziam moralistas republicanos foram descobertos. Roberto Jefferson foi uma das figuras mais destacadas nesse caso. Deputados federais paranaenses acabaram se envolvendo, houve todo aquele escândalo envolvendo o banqueiro Daniel Dantas como fonte principal de sustentação do mensalão, que investiu 127 milhões administrados por Marcos Valério, e nada foi feito além de Cpis que até hoje estão sendo investigadas pelo STF. Nada foi solucionado, os deputad o s con-

tinuam impunes, rindo da injustiça que impera entre nós. E o caso do dólar na cueca, ocorrido em 2005, que foi encontrado com o assessor do PT, que chegou a 100 mil dólares e 200 mil reais em dinheiro apreendido pela Polícia Federal? Foi mais um escândalo na história política. Mais recentemente, em fevereiro, ainda houve a denúncia do senador Jarbas Vasconcelos, sobre a corrupção do PMDB, desvios de dinheiro e manipulação de licitações no Senado. Na época, Vasconcelos inclusive afirmou que lamentava a conivência do presidente Lula com os crimes. A revista Isto É apresentou uma reportagem sobre os “Fichas Sujas”, uma lista formada por 45 deputados e senadores que respondem por crimes no Supremo Tribunal Federal, que vão desde falsidade ideológica até seqüestro. Alguns deles conseguiram escapar nas largas brechas da lei, outros demoram para serem julgados ou são julgados depois de mortos, mostrando a falta de recursos no poder judiciário. Nessa semana, 63 deputados paranaenses foram denunciados pelo STF por terem depositado salário de servidores em uma única conta bancária. Essas contas eram movimentadas por terceiros e algumas pelos próprios deputados ou parentes deles. A Polícia Federal está investigando os casos e muitos dos deputados acusados são os mesmos que, com terno importado, subiram no palanque jurando honestidade. Infelizmente, a política brasileira está virando um balcão de negócios.

Abrir

os olhos

Stephany Bravos Quem mora no centro da “Cidade Sorriso”, não imagina a verdadeira Curitiba que se esconde nos bairros mais afastados da capital paranaense. Muitas pessoas, sequer já ouviram falar de bairros como Boqueirão, Bairro Novo e muitos outros que ficam “exilados” e se encontram cada dia mais esquecidos. O bairro Sítio Cercado, é um exemplo. Ele é o segundo mais populoso de Curitiba. Possui, segundo dados do IPPUC, 23,6% da população no segmento mais baixo de renda, ou seja, nas classes C, D e E. A cidade que é considerada não só pela atual prefeitura, mas por todos que nela vivem, como de primeiro mundo, não conhece e jamais verá seu outro lado. Além de problemas como violência, super lotamento no transporte coletivo, ausência de áreas de lazer para crianças e jovens, a falta de vagas nas creches é um problema antigo. Cecília Santos, moradora do bairro conhece bem essa história.

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

Quando ficou grávida de sua quarta filha Taylene, hoje com dez anos, ficou aguardando três anos na fila da creche. Hoje, ela enfrenta esse mesmo dilema, agora com a neta de apenas oito meses. Ou seja, passaram-se mais de dez anos e o problema ainda persiste. Cecília diz que sua nora – que também está na fila de espera - precisa trabalhar, mas não tem onde deixar a filha, ainda de colo. Essa história ilustra a real Capital Social em que vivemos, mas não é só. No outro extremo do bairro Sítio Cercado, vive numa casinha humilde, a aposentada Lazara, de 77 anos. Ela faz parte dos 6,6% de idosos que vivem no bairro. Dona Lazara cuida sozinha do

seu marido João de 84 anos, que após sofrer um derrame não sai mais da cama. Ela depende da ajuda da Fundação de Ação Social (FAS), para pegar fraldas geriátricas para seu esposo. Mas segundo dona Lazara “tem vezes que vem e tem vezes que não, daí eu tenho que comprar com o dinheiro da minha aposentadoria”. Quem vê sua risada espontânea, não faz a menor idéia da sua força e vontade de viver. A aposentada ainda diz “vou levando do jeito que dá”. Só mesmo fechando os olhos e se agarrando na fé para esperar que alguma coisa seja feita e quem sabe começamos abrir nossos olhos para a verdadeira cidade que moramos.

Divulgação

Poítica

Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza de Oliveira e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski, Camila Scheffer Franklin e Marisa Rodrigues.

Erramos As fotos do ensaio da edição de ontem são referentes ao campeonato carioca, e não ao campeonato paranaense, como foi publicado.

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP, Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000


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Geral

Patrícia Schor

Aposentadoria não impede permanência no mercado de trabalho Baixos salários, defasagem do benefício e altos gastos com remédios são principais causas para os aposentados continuarem na ativa Gislaine Cristina

Divulgação

Engana-se quem pensa que a vida de todo aposentado é tranquila. Aos 72 anos, Júlio Fascin acorda às 6h para trabalhar e sua jornada diária termina somente após as 19h, depois de percorrer diversas ruas do município de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Ganhando apenas um salário mínimo mensal como beneficiário da Previdência Social, Júlio Fascin encontrou na coleta de materiais recicláveis a oportunidade de ter uma vida mais digna. “Considero-me uma pessoa jovem e com grande força de vontade. Bom que penso assim, já que as obrigações são muitas e nós precisamos continuar na batuta para garantir mais dignidade”, diz. Além disso, sua esposa, aos 63

anos de idade, também não consegue se aposentar. “Ela trabalhou durante toda a sua vida na lavoura e hoje atua como zeladora de uma igreja do município”. Júlio diz que a “vida de aposentado não é fácil”, já que com a chegada da idade surge a necessidade de comprar mais medicamentos, fazer exames periódicos, além de pagar impostos, adquirir alimentos e vestimentas. A coleta de recicláveis acontece principalmente no Calçadão da Rua XV de Novembro, no Centro de Campo Largo. “Graças a Deus, conto com a ajuda dos comerciantes daqui do Centro que me fornecem papelão”, destaca. Porém, o que dificulta a situação é a constante baixa no preço dos materiais recicláveis. Segundo Júlio, o papelão, por exemplo, custa em média R$ 0,10 o quilo.

O senador Paulo Paim (PT-RS) é autor de três projetos de lei que preveem garantia de direitos aos aposentados

Não é apenas Júlio Fascin que vive esta realidade no Brasil. Muitos trabalhadores brasileiros, mesmo após a aposentadoria, precisam manter-se no mercado de trabalho para garantir um salário capaz de suprir suas necessidades básicas. Estudo da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Soliedariedade da Prefeitura de São Paulo aponta que mais de quatro milhões e meio de aposentados estão trabalhando para conseguir propor a si e a sua família uma vida melhor. A renda previdenciária é insuficiente para retirar do mercado quem se aposentou. De cada dez aposentados, sete ganham até dois salários mínimos. Hoje, o piso previdenciário é de R$ 465,00 e o teto do salário-benefício e salário de contribuição é de R$ 3.218,90. Gastos com remédios e alimentação levaram Sebastião Rocha, 71 anos, a retornar ao mercado de trabalho. Aposentado desde 1989, pelo trabalho de eletricista, Rocha trabalhou durante 10 anos em uma loja do Centro do município e, neste ano, iniciou a venda de cocadas. “Nunca deixei de trabalhar, mesmo após me aposentar. Isso porque o dinheiro do benefício não é suficiente para sustentar minha família e dar a ela uma vida digna”, diz. Rocha diz que o valor da aposentadoria está defasado e, desde o ano em que se aposentou, o salário decaiu. “Antes de me aposentar, pagava à previdência o equivalente a 10 salários mínimos. Quando chegou à

Mesmo aos 72 anos, o aposentado Julio Fascin percorre as ruas de Campo Largo coletando materiais recicláveis

aposentadoria, recebia apenas 2 salários”.

Direitos garantidos

Três projetos de Lei, que garantem o direito dos aposentados e que já passaram pelo crivo do Senado Federal, estão, atualmente, “encalhados” e aguardam a votação na Câmara dos Deputados. Em todo o país, entidades e organizações que representam a categoria realizam dezenas de manifestações com o intuito de sensibilizar os deputados para a aprovação dos projetos, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS). O Projeto de Lei número 296/03 prevê o fim do Fator Previdenciário, mecanismo aprovado em 1998 e que tem por objetivo dificultar aposentadorias

“precoces”. Este calcula o valor do benefício levando em conta a idade, a expectativa de vida após a aposentadoria e o tempo de contribuição. Ou seja, quanto mais tempo permanecer no trabalho, menor será o fator redutor. Já o projeto PLC 58/03 dispõe sobre a recomposição das perdas de rendimento sofridas ao longo dos anos por aposentados e pensionistas beneficiários da Previdência Social. A proposta é de que os cidadãos voltem a receber o mesmo número de salários mínimos que tinham na época em que se aposentaram. O Projeto de Lei da Câmara PLC 42/07 assegura aos beneficiários mantidos pela Previdência Social o mesmo reajuste do salário mínimo.

“Nunca deixei de trabalhar, mesmo após me aposentar. Isso porque o dinheiro do benefício não é suficiente para sustentar minha família e dar a ela uma vida digna” SEBASTIÃO ROCHA, 71

ANOS, APOSENTADO


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Violência Casas noturnas

Quando a diversão acaba em tragédia Fiscalização irregular de segurança e profissionais violentos são as principais causas de mortes em boates Paula Just Segunda-feira, estresse no trabalho, terça-feira, trabalhos de faculdade, quarta, trânsito lento, quinta, sexta e, finalmente, o final de semana, os dias da semana em que as pessoas querem mais é relaxar e prepararse para uma nova semana. Mui-

tos preferem alugar um filme, outros reunir os amigos em casa e muitos outros preferem sair para se divertir em boates, que são procuradas por pessoas para conhecer outras e dançar. Porém, muitas vezes isso não acaba acontecendo. Alguns acabam discutindo, brigando e partem para a agres-

Paula Just

são física, colocando em risco a vida de muitos que estão nesses lugares para se divertirem. Para o estudante de Biologia, Sérgio Leoni, ir a casas noturnas já fez parte da rotina de seus finais de semana, mas, agora, pensa duas vezes antes de ir. “Já presenciei muitas brigas feias e já arranjaram uma comigo, em que me machuquei feio. Não sei qual a razão para fazerem isso. Eu vou para a balada para me divertir e não brigar!”, conta ele. Leoni diz que agora prefere ir a bares. “Não há o tumulto que uma boate tem, que é também o motivo de muitas brigas”, diz. Luciano Fontes é proprietário de uma casa noturna há oito anos e diz que já houve muitas brigas que somente a polícia conseguiu apartar. “Tive que chamar a polícia, pois na minha boate os seguranças são proibidos de bater em qualquer cliente, porque, se algum se machucar, nós é que levaremos a culpa”, conta. Fontes diz que apenas uma vez um adolescente apanhou do segurança, pois ele estava ameaçando jogar uma garrafa de cerveja caso ele não o soltasse. “Preferimos que ele se machucasse, antes que ele acertasse a garrafa em alguém”, diz.

O álcool como maior culpado

A dona de casa Joélia Muniz perdeu o seu filho em uma briga. “Não é justo perder um filho”, diz.

A policial militar Michelli Simões diz que os maiores índices de prisão por lesão corporal acontecem nos finais de semana, dias em que as casas noturnas mais recebem clientes. “No

final de semana geralmente somos chamados, sem contar que muitas vezes o proprietário da casa noturna prefere resolver o caso sozinho”, diz. A influência do álcool, para a policial, pode ser a causa principal de tantas brigas nas boates. “As pessoas bebem e, com isso, não medem suas atitudes. Se alguém empurrar outra pessoa sem querer já é motivo para briga”, diz. Ela fala também que várias vezes já foi chamada em boates para prender pessoas que tinham brigado. A policial acredita que aproximadamente 75% dessas pessoas estavam alcoolizadas. “Várias vezes nos enfrentaram, achando que tinham razão”. A psicóloga Vivian Souza concorda. Para ela, a grande incidência de brigas em boates também se deve ao fato da influência do álcool. “As pessoas sob o efeito da bebida ficam mais corajosas e não aceitam se são empurradas ou se algum garoto olhou para a sua namorada”, diz. Vivian fala que outro motivo é quando o local está muito cheio. “Em um lugar lotado, a tendência de a pessoa ficar irritada é muito grande. Então, qualquer atitude de outra pessoa é motivo para agressão física”, fala.

Segurança irregular Uma pesquisa realizada pela Polícia Federal de São Paulo em outubro passado conta que das 61 casas noturnas que foram vistoriadas, apenas uma mantinha uma segurança regular. Vinte e cinco boates mantinham segurança orgânica clandestina, em que contratavam homens sem autorização da Polícia Federal. Outras dez contratavam equipes de segurança que não tinham autorização para exercer tal profissão. Algumas boates não utilizavam crachás com identificação nem uniformes autorizados, além de outras irregularidades, como rádio-comunicadores sem autorização da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações. Cada uma das casas teve multa de 5 mil reais e, em caso de reincidência, o valor da multa dobra. Para a policial Michelli, a segurança irregular das boates faz com que muitas tragédias aconteçam pela falta de instrução aos seguranças. “Já vi muitos casos de pessoas espancadas por seguranças, em que os próprios se diziam satisfeitos por terem feito aquilo. Para eles, a única solução é a violência”, diz. Michelli concorda que a fis-

“Sou totalmente contra violência. Temos que manter a calma e colocar os agressores para fora, esse é o nosso trabalho” MICHAEL RONI, SEGURANÇA DE CASAS NOTURNAS.


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Violência “Antes mesmo de a ambulância chegar, a namorada do meu irmão já sabia que ele estava morto” FRANCIELLI LOPES, IRMÃ DA VÍTIMA

calização deve ser feita frequentemente para que eles saibam que não podem cometer erros. “Se a fiscalização é ruim, não há por que seguir as regras com que eles não concordem”, diz. A quantidade de mortes que ocorrem em casas noturnas é desconhecida. Não há estatísticas que mostrem números de tais ocorrências. Para o superintendente do 1º Distrito Policial de Curitiba, Adolfo Rosevicz, a ausência de registros de casos em casas noturnas ocorre porque muitas vezes as brigas começam dentro do local e vão para fora. “Se houver algum homicídio fora do estabelecimento consequente de brigas em boates, serão registrados apenas como homicídios, e isso normalmente acontece para que os proprietários das casas noturnas não se responsabilizem”, finaliza.

Antiética na segurança O segurança de casas notur-

nas, Michael Roni, já separou diversas brigas na boate em que trabalha, mas diz que nunca utilizou a violência nos agressores. “Vontade dá, mas acho que o melhor é separar na conversa. Muitas vezes não conseguimos, então preferimos chamar a polícia, para que ela resolva o que é melhor”, diz. Roni não discorda que muitas vezes acontecem tragédias por causa do descontrole dos seguranças. “Já vi colegas de trabalho espancarem a pessoa até que ela fique desacordada, para poderem entregar à polícia, mas acho isso antiético”. Para Roni, os seguranças estão ali para amenizar qualquer situação que possa colocar em risco o bemestar dos clientes e por isso acha que agressão física atrai mais agressão. “Sou totalmente contra! Muitos seguranças não entendem que os agressores ficam descontrolados e querem nos bater, mas temos que manter a calma e colocá-los para

fora, esse é o nosso trabalho”, diz. Foi por causa do descontrole de um segurança de uma boate que a estudante Francieli Lopes perdeu o irmão mais velho de 19 anos, Juliano Lopes. A garota conta que o irmão foi com a namorada e mais três amigos a uma boate da cidade de Rio Negrinho, Santa Catarina, onde mora. Na festa, um homem empurrou Juliano sem querer e ele acabou caindo em uma mesa. Dois rapazes que ocupavam a mesa não gostaram nada daquilo e começaram a empurrar Juliano, que tentou se explicar, mas em vão. Os rapazes começaram a bater no garoto e a chutá-lo na barriga. “Os amigos do Ju viram e tentaram apartar, mas um deles levou um soco e acabou desmaiando”, conta Francieli. A namorada de Juliano chamou um segurança, que chegou exatamente na hora que Juliano acertou um soco para se defender em um dos agressores. Foi nesse momento que o segurança deu três socos na barriga e um no nariz de Juliano, fazendo com que ele desmaiasse e acordasse minutos depois. Não satisfeito, o segurança o espancou mais ainda, ignorando as explicações dos amigos. Foi quando Juliano pa-

Violência nas casas noturnas no Paraná Em fevereiro, um rapaz de 26 anos foi assassinado quando saía de uma casa noturna em Foz do Iguaçu. A vítima estava acompanhada do irmão e de amigos, quando um rapaz de outro grupo teria começado a briga, por causa de uma garota. Segundo testemunhas, vários tiros foram disparados e dois deles atingiram o peito de jovem. Quando a polícia chegou ao local, o rapaz já estava morto. O assassino confessou o crime e pode pegar até 20 anos de prisão. Um adolescente de 16 anos morreu baleado na cabeça durante uma briga em uma casa noturna em Curitiba. O crime aconteceu no final de fevereiro, em frente ao estabelecimento. Um amigo da vítima também foi baleado, mas sobreviveu. A briga começou dentro da boate, mas o motivo não foi divulgado. A vítima completaria 16 anos na próxima semana. No início do ano passado, uma advogada e seu namorado estavam discutindo em uma boate de Curitiba, quando cinco seguranças os abordaram e os agrediram gravemente. A advogada teve os ossos de sua mão quebrados e o namorado levou chutes e socos na cabeça. Os acusados disseram que ela estava descontrolada e os agrediu primeiro. Porém, um segurança voltou atrás e disse que ele e seus colegas realmente os agrediram e que foram obrigados a mentir em seus depoimentos. Fonte: Paraná Online

Paula Just

Casas noturnas

Na boate de Luciano Fontes seguranças são proibidos de bater em clientes

rou de reagir que o segurança cessou as agressões. Os amigos foram acudir Juliano, que não respondia nem respirava. “Naquela hora, a namorada dele viu que ele já estava morto”, conta a irmã. Os amigos de Juliano chamaram uma ambulância e a polícia, que constataram que o garoto havia morrido. O segurança, que havia fugido, foi encontrado duas semanas depois e foi preso. A mãe do rapaz, Joélia Muniz diz que mesmo com a prisão do criminoso, não há justiça. “Não existe sensação alguma de justiça, por mais que o assassino esteja preso. Não é justo perder um filho, uma parte de mim por causa de um homem que nem sabia o que estava acontecendo!”, diz.

Para a psicóloga Vivian, o trauma que a família Lopes viveu pode ser realmente permanente. “A morte de um ente querido não ocorreu diante deles, ocorreu quando eles podiam estar dormindo, tomando banho, levando a vida normalmente enquanto um parente morria em outro lugar. A sensação de que isso pode estar acontecendo a toda hora é torturante”, diz. A morte do irmão aconteceu há quatro anos, mas ela diz que até agora sua mãe não dorme direito quando ela vai para alguma boate. “Ela me liga a cada hora para saber se está tudo bem. Eu já vi muitas brigas e, na hora, vou à defesa de quem está apanhando. O nosso trauma é eterno”, diz.

“Já vi alguns colegas de trabalho espancarem a pessoa até que ela fique desacordada, para poderem entregar à polícia, mas acho isso antiético” MICHAEL RONI, SEGURANÇA DE BOATE


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Colunas

Fotos: divulgação

Judiciário

Música

Nick Cave & The Bad Seeds

The Boatman’s Call 1997 Nick Cave é um artista, na pureza da palavra. Toca piano, compõe e canta. Sua voz é peculiar, grave e soturna. Sua interpretação é teatral, incorporando as letras de suas músicas. Exibe sempre um ar misterioso, usa ternos escuros, não costu-

Marcos Paulo

ma aparecer muito na mídia. Cave é um músico extravagante. Ele e sua banda, os Bad Seeds, chegaram a gravar um álbum em que todas as músicas falavam de serial killers, Murder Ballads. The Boatman’s Call é um álbum envolvente. A mistura que a banda faz entre jazz, folk e rock é intrigante, pois soa única, você ouve e sabe que é Nick. Into my arms é a música que abre o álbum. Levada ao piano é um pano de fundo perfeito para Cave despejar seu lirismo. “Eu não acredito em um deus intervencionista. Mas eu sei meu amor, que você acredita”, canta. Lime Tree Arbour é construída no baixo, com o piano fazendo intervenções climáticas e um órgão Hammond simulando um som sacro, de igreja.

“The Boatman calls from the lake. A lone loon dives upon the water. I put my hand over hers. Down in the lime tree arbour.” There is a Kingdown, Idiot Prayer também se destacam num cd cheio de belas canções. As melodias do álbum são desenhadas no piano, com um acompanhamento quase percussivo da bateria e poucas intervenções dos outros instrumentos, criando uma atmosfera intimista perfeita para Cave sobrepor seu vocal. O termo “canção” está meio fora de contexto atualmente em meio a tantos artistas sem conteúdo. Nesse álbum, Nick Cave and the Bad Seeds conseguem juntar riqueza nas melodias, lirismo e agressividade nos vocais, em belas e tocantes canções.

Depeche Mode

Violator 1990 O que hoje é chamado de música eletrônica nos anos 80 era chamado de tecnopop. Mais trabalhado, com guitarras, criatividade e músicos de verdade, não era apenas uma programação no computador feita por qualquer um, eram canções feitas por músicos, o que faz uma diferença gigantesca. O Depeche Mode, banda inglesa formada na cidade de Essex, em 1980, é até hoje o principal grupo desse movimento. Violator, lançado em 1990, é considerado por muitos a obra prima da banda. Não à toa, pois estão ali clássicos como Personal Jesus, Policy of Truth e a fantástica, sensacional, vou parar aqui com os adjetivos para não cansar o leitor, Enjoy the Silence. Se você tem mais de trinta anos, ou costuma ir além do que toca nas rádios atualmente, já deve ter ouvido essa música em algum momento de sua vida.

“Tudo o que eu sempre quis, tudo o que eu sempre precisei, está aqui em meus braços, palavras são totalmente desnecessárias, elas podem só machucar”. Dave Gahan (vocalista) e Martin L. Gore (tecladista e guitarrista) são os mentores do Depeche, criando praticamente to-

das as músicas. Usando a tecnologia a favor da música, dentro de uma estrutura que tenha um acorde menor, um acorde diminuto, enfim, criado por músicos, o Depeche se mantém vivo até hoje, quase 30 anos depois de formada a banda.

Uma briga de

"excelência" excelência Antonio Carlos Senkovski A expressão “Vossa Excelência” ficou conhecida no último mês como a mais nova forma de se xingar alguém formalmente. Isso porque Joaquim Barbosa e Gilmar Mender, pessoas que “merecem” ter o tratamento de Vossa Excelência, tiveram um desentendimento no Supremo Tribunal Federal. O órgão mais alto da justiça brasileira finalmente parecia partir para uma minuciosa lavagem de roupas sujas. Risos irônicos e pedidos de mais respeito foram trocados de maneira áspera pelos dois membros do Supremo. Mas uma semana depois e o que resta do conflito? Ao que parece, somente expressões do tipo "Vossa Excelência me respeite". E parece que nem os capangas do Mato Grosso de Gilmar Mendes estão preocupados por terem sido citados na briga. Parece que eles ficaram até satisfeitos. Isso porque, quando são citados, geralmente eles não precisam trabalhar – pelo menos não até que a poeira abaixe e o povo tenha esquecido de detalhes como “Vossa Excelência me respeite”. Brigas têm que ser postas em pratos limpos. E a justiça dos tempos do coronelismo posta pra fora a pontapés. Mas tudo bem. Agora, já não existem mais capangas nem mágoas de desentendimentos anteriores. Vossas Excelências parecem ter memória curta e já esqueceram de tudo. Memória que é do mesmo tamanho que o pavio dos dois: curtíssima. Só se espera agora que a memória do brasileiro não seja tão pequena para lembrar de exigir que as “excelências” não esqueçam do respeito que merece o povo do Brasil.


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Geral Comércio ambulante

Educação

Faltam fiscais Cerca de 70 profissionais fiscalizam todo o comércio ambulante em Curitiba; número é insuficiente, dizem especialistas Silvia Guedes

Diego Singh/SEED

Sexta feira, seis horas da tarde, terminal do Capão Raso. Terminal lotado. Além do tumulto formado pelas pessoas, os vendedores ambulantes tentam vender os seus produtos: “DVD, DVD... três por dez.”; “ó o perfume, baratinho, baratinho.”; e por aí vai. A fiscalização do comércio ambulante irregular da capital tem sérios problemas. O número de fiscais para atender a cidade é muito reduzido para a extensão da capital e as ações de fiscalização se concentram nas áreas centrais da cidade. Nas fiscalizações, ou batidas, grupos de três a cinco agentes são enviados a terminais e a bairros fazendo as apreensões e notificações. As ações são feitas em escala e em horários alternativos, porém, os vendedores se organizam de forma a conseguir escapar dos fiscais. São várias as artimanhas para escapar da fiscalização. Os chamados pára-quedas, uma lona quadrada com as quatro pontas amarradas estendida no chão, são usados para sair o mais rápido possível quando há fiscalização. E a maioria dos vendedores tem olheiros que avisam quando os fiscais estão chegando. Essas práticas dificultam a apreensão de mercadorias. O

chefe de divisão de fiscalização do comércio ambulante, Élcio Cooper, diz que é impossível saber de tudo o que acontece na cidade inteira e que por esse motivo não há como controlar todas as vendas irregulares. Há um ano, a região central da cidade ganhou um reforço para a fiscalização. Foram instaladas câmeras de monitoramento na Praça Tiradentes e, de acordo com o movimento de vendedores, fiscais são enviados ao local para fazer a apreensão das mercadorias e notificar os ambulantes. Mesmo assim, ainda é muito difícil passar pelo centro sem encontrar os vendedores de DVD, cintos, óculos, panelas e perfumes, enfim, uma infinidade de mercadorias. Existem falhas na fiscalização do comércio ambulante irregular. A quantidade de fiscais para atender o tamanho da cidade, por exemplo. São cerca de 70 profissionais para atender todos os bairros. E ainda há o problema de afastamento dos profissionais por motivos de agressão física nas ações fiscais. “Quem mais sofre são as fiscais mulheres. Quando elas fazem uma apreensão os irregulares às vezes as agridem”, diz Cooper. Élcio Cooper explica ainda que as punições variam de acordo com o tipo de mercadoria. “Para as mercadorias de origem

conhecida e irregular, como artesanato e produtos têxteis, há uma operação de repreensão e, se o vendedor insistir, nós apreendemos o produto. Já as mercadorias consideradas de origem desconhecida são apreendidas“, diz Cooper. Os pontos de vendas mais comuns são terminais de ônibus coletivo e no centro da cidade, onde há um maior número de pessoas circulando. A estudante Luana Regina Antoszczyszyn reclama: “o local que eles vendem é inapropriado e atrapalha quando as pessoas estão com pressa”. Já para o engenheiro civil, Alexandre Lascoski, o problema está em como eles oferecem os produtos. “Eu entendo o lado de eles quererem vender, mas eles ficam insistindo, colocando o produto na sua cara”, diz Alexandre. E essa é uma das maiores reclamações que os fiscais recebem.

Ambulantes Legais Para ser vendedor ambulante cadastrado na Prefeitura, a pessoa deve procurar a Secretaria Municipal do Urbanismo. Alguns alimentos podem ser vendidos, assim como frutas e verduras. Artigos de couro e bijuterias também estão na lista das mercadorias permitidas. Os interessados em vender esses produtos devem encaminhar o formulário de Licença ao Comércio Ambulante (disponível no site www.curitiba.pr.gov.br e nas ruas da cidadania) preenchido, uma foto e documentos pessoais. O vendedor escolhe três ruas onde os produtos poderão ser vendidos. É aberto um processo junto com a Secretaria do Urbanismo e com o deferimento é emitido um crachá, que nada mais é do que a licença para a venda desses produtos. Há lugares onde é proibida essa comercialização, como os próximos a terminais.

Preparando a escrita para 2013 O que fazer para “escrever fluentemente” quando a nova ortografia entrar em vigor Diego Henrique Especialistas recomendam que os interessados em escrever de acordo com a nova ortografia se prepararem desde agora. Ao serem incorporadas pouco a pouco, as mudanças vão se tornando parte do processo de escrita, além de ajudar a garantir que ao término do período de adaptação as novas regras já estejam assimiladas no ato de escrever. Para a pedagoga Vera Isabel, é importante que as pessoas criem o hábito da escrita dentro das novas normas, tendo em vista que as alterações não são tão difíceis de aprender. Em entrevista à revista Liderança, o consultor e palestrante Mário Persona explicou que a administração de tempo é baseada nas escolhas das prioridades de cada pessoa, sendo muito variável de acordo com suas faixas etárias e anseios. Pode-se dizer então que a reforma ortográfica é uma “prioridade nacional”, uma vez que, decorrido o prazo de adaptação que se encerra em 2012, será obrigatória a escrita conforme as novas

normas. Segundo o decreto (n° 6.583/08) que aprovou o Acordo Ortográfico, documentos oficiais, redações de vestibulares e concursos públicos, reedição de livros, entre outros, já deverão ser escritos/impressos corretamente. Uma alternativa para os que pretendem se atualizar é realizar algum dos diversos cursos emergentes sobre as novas normas ortográficas. Acredita-se que, nos próximos anos, a demanda de público para esses cursos seja crescente. Diversas instituições, como a Universidade Positivo (UP), já se adiantaram nesse processo. A partir de 12 de maio, a UP realizará o curso de extensão universitária “Técnicas de redação com ênfase na reforma ortográfica”. O curso pretende aliar a prática da redação ao aprendizado das novas normas. A pedagoga Vera Isabel Julião acredita que as instituições de ensino, de forma geral, devem ser atuantes no ensino da nova ortografia: “É preciso informar e cobrar resultados do aluno adequadamente, atualizar as bibliotecas e formar os professores”.

Serviço: Curso: “Técnicas de redação com ênfase na reforma ortográfica” Carga horária: 20h Datas e horários: 12, 14, 19, 21, 23 de maio; das 19h às 22h30 Investimento: até 05 de maio, duas parcelas de R$ 145; a partir de 6 de maio,

duas parcelas de R$ 180 Corpo docente: Adilson Fabris (jornalista e professor de Língua Portuguesa), Michelle Thomé (jornalista e professora universitária) Informações: www.extensao.up.edu.br Vagas limitadas


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Curitiba, quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ensaio El Calafate

A caminho dos Glaciares Texto e fotos: Rômulo Porthos El Calafate é uma pequena cidade que está situada na Província de Santa Cruz, na Argentina. A estrutura da cidade vem crescendo, fruto do impulso que o turismo trouxe para a região. Um dos atrativos da cidade é um grande lago congelado (as temperaturas são baixas, média anual de 7°C) que os habitantes e turistas usam para praticar patinação. Mas o que leva tantos turistas à região é o Parque Nacional de Los Glaciares, localizado a cerca de 80 quilômetros da cidade. Lá estão os Glaciares Upsala, O'nelli, Spegazzinni, Perito Moreno, entre outros, que são imensos blocos de gelo formados há milhões de anos, e que hoje sofrem um processo de derretimento cada vez maior devido ao aquecimento global.


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