Lona - Edição nº 451

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Curitiba, segunda-feira, 6 de outubro de 2008 | Ano IX | nº 451| jornalismo@up.edu.br| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

Beto Richa confirma pesquisas e vence eleições no primeiro turno Felipe Waltrick/LONA

Curitiba foi a primeira capital a terminar a apuração dos votos nas eleições de ontem. Depois de uma campanha pouco debatida, Beto Richa (PSDB) confirmou o que as pesquisas vinham mostrando e obteve 77% dos votos. A candidata do PT Gleisi Hoffmann conquistou o voto de 18% dos eleitores. Diferente do que aconteceu na eleição para prefeito, houve uma renovação de quase 50% na Câmara Municipal. Nesta edição especial do Lona, você vai encontrar o perfil dos candidatos a prefeito que disputaram as eleições ontem, uma discussão sobre o comportamento da mídia curitibana durante a campanha, além do ensaio fotográfico que mostrou a capital durante a votação.

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Eleitores desconhecem funções dos políticos Beto Richa deve liderar a prefeitura por mais 15 meses, já que pretende concorrer ao governo do Paraná em 2010

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Sossego Enfim, chegamos ao final da disputa eleitoral em Curitiba. Podemos dizer que o saldo da campanha, extremamente pacata para uma eleição municipal, foi positivo. Houve eleições em que a movimentação foi mais intensa; nos últimos dois pleitos tivemos segundo turno. Em 2000, a disputa foi entre o então prefeito, Cassio Taniguchi, e o candidato do PT Ângelo Vanhoni. Deu Cassio. Quatro anos depois, Vanhoni voltou a disputar um segundo turno, desta vez com Beto Richa, que tentava na época o primeiro mandato. Beto venceu o segundo turno e assumiu a prefeitura em 2004. Nesta eleição, desde o início as pesquisas apontavam vitória do atual prefeito na corrida pela reeleição e com índices bastante altos. Beto Richa sempre liderou as pesquisas de opinião com mais de 70% das intenções de voto. O principal motivo, segundo os críticos especializados, foi a falta de novas propostas e candidatos que pudessem bater de frente com o postulante à reeleição. Nem mes-

mo Gleisi Hoffmann, candidata que, dois anos atrás, quase tirou Álvaro Dias do Senado Federal, conseguiu conter a arrancada avassaladora de Beto Richa. Com os debates, a falta de maturidade dos candidatos foi evidenciada. Especialmente na figura de Lauro Rodrigues, do PRTB. No primeiro debate da Rede Bandeirantes, o candidato se atrapalhou todo e virou um grande sucesso na Internet. Enquanto isso, os outros candidatos se limitavam a atacar o atual prefeito e desesperadamente brigavam para ver quem faria a primeira pergunta a Beto Richa. O intuito era de aumentar a rejeição de votos do tucano, mas o efeito foi o contrário. A rejeição dos adversários só cresceu, enquanto Beto disparava rumo à vitória certa. O clima de tranqüilidade também invadiu as seções eleitorais. Até o começo da tarde de domingo em Curitiba só sete pessoas foram presas fazendo boca de urna na capital e praticamente não houve filas nas seções eleitorais. Retrato visível de uma eleição pacata que não vai deixar saudades na capital paranaense.

Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande;; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de PósGraduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Pró-

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O voto aos 16 anos é correto? Luísa Barwinski

Cássio Bida de Araújo

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Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professoresorientadores: Ana Paula Mira (colaboração), Elza Aparecida de Oliveira e Marcelo -chefe: Antonio Lima; Editor Editor-chefe: Carlos Senkovski.

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

Não

“Tenho dez e s s e i s anos!”, diz o adolescente animado. “Agora você já pode votar”, diz a mãe, o pai e o governo. “Mas não pode dirigir!” Qual é o processo milagroso que transforma um adolescente em adulto em dois anos? Por que nesses dois anos deixamos de ser crianças e passamos a ter voto obrigatório? Os meninos enfrentam algum tipo de ritual que os transforma em “cabras-macho” do exército? Se já nos permitem ter este poder de votar com os poucos dezesseis ou dezessete anos, por que não podemos dirigir, consumir bebida alcoólica? A mera proibição da lei não impede menores de beber. Existem diversos métodos para burlá-la. Mas conseguir uma carteira de motorista aos 16 anos no Brasil é impossível. Nos Es-

Leônidas Vinício

Sim

— Parabéns, minha amiga! Completou 16 anos, hoje hein! — Pois é. Agora já posso votar! —É incrível em apenas dois anos um processo evolutivo milagroso te trará a maturidade. O “milagre” é o mesmo que faz que você aprenda andar, falar e a comer. E foi nos estudos desse processo que se definiu que o fim da adolescência é aos dezoito anos, como está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Esse diálogo ilustra a alegria de se completar 16 anos e conquistar direito a um ato de cidadania, o do voto. A constituição de 1988 definiu que os brasileiros desta faixa etária podem votar, não sendo obrigatório o ato. Os conservadores não aceitavam a idéia, achavam que os jovens seriam manipulados. Mais tarde, quando o presidente Fernando Collor de Mello foi acusado de corrupção, esses mesmos jovens eleitores foram às ruas de “caras pintadas” e destituíram-no do poder. Os conservadores podem ain-

tados Unidos, a idade para começar a dirigir são os famigerados 16 anos. Dirigir, votar e beber são coisas distintas, mas exigem maturidade de quem as pratica. Por exemplo: beber e dirigir não dá; beber e votar também não. A Lei Seca está presente nos dois momentos. No Brasil podemos votar aos 16, temos o poder de escolha para definir quem vai tomar decisões por nós no governo. Um dos bandidos que arrastaram o menino João Hélio no ano passado tinha 16 anos. Aí entramos naquela infindável discussão sobre maioridade penal. Desconheço os mecanismos legislativos que estipulam esse regulamento, mas, ao meu ver, não é uma questão de determinar uma idade para transformar meninos em lobos. Cada crime deveria ter sua própria pena, indiferente da idade de quem o comete. Alguém de 16 anos é capaz de saber o que está fazendo, não desconhece que carros atropelam e arrastam, que armas atiram

e matam, que a bebida alcoólica embebeda e faz perder a coordenação motora, quem sabe até os sentidos. O problema em questão não é punir, e sim educar. Se o adolescente é bem educado e conhece até onde pode ir, não há problemas em dirigir ou beber. Mas votar aos 16 é muito cedo. Que vivência um adolescente com essa idade tem? Quantos presidentes ele já viu passar? A atual juventude brasileira mal acompanha o noticiário, quem dirá os rumos da política nacional! Entregar o futuro do país nas mãos de quem não conhece é complicado. Por isso, muitos maus governantes estão no poder. Como diria o candidato à presidência em 2006 Cristovam Buarque: educar é preciso. Só com a educação podemos ensinar que beber e dirigir é errado, que política de esquerda é diferente de política de direita, que Beto Richa não é Gleisi. Todos nós precisamos de informação sobre política e só depende de nós corrermos atrás dela.

da alegar que os jovens não têm experiência de vida. Com qual idade os filhos desses mesmos conservadores entram na faculdade? Será que escolher o curso superior antes dos 18 também não é muito cedo? E quando se fala em ter obrigações, tem sempre alguém da frente reacionária para pedir a redução da maioridade penal, como se esta fosse a solução de todos os problemas da sociedade. Para esse tipo de ação ajudar em algo, dois pontos básicos precisam ser mudados. Primeiro, as cadeias precisam realmente preparar as pessoas para voltarem ao convívio social e não rescindirem na infração — cursos profissionalizantes seriam uma opção. Mas é claro que seria preconceito acreditar que lá só tem pessoas que não estudaram. Segundo, a cultura do país: quem emprega um ex-presidiário? Quem errou não tem a chance de se redimir, a sociedade faz o que sabe melhor: exclui! Eis que surge uma nova corrente de pensamento, me parece um tanto quanto nazista – separar a raça pura, que nunca cometeu crime, desde o ventre materno. A ideologia é: “Cada crime deveria ter sua própria pena, indiferente da idade de

quem o comete”. Vamos exemplificar a idéia: No dia 10 de setembro de 2008, uma criança de sete anos – vou chamá-lo de J.V.matou o irmão de apenas cinco, com uma arma de fabricação caseira em Marechal Thaumaturgo, Pernambuco. Por ter tido a intenção de matar ou ter assumido o risco, o crime seria doloso. E ainda qualificado porque o homicídio foi cometido por motivo fútil. A pena para esse crime é de reclusão de 12 a 30 anos. Se J.V. for condenado a 30 anos, teoricamente sairá da cadeia com 37 anos de idade. O que se pode esperar do cidadão J.V.? O engraçado que a mesma “corrente” defende que o futuro é a educação. J.V. seria educado na cadeia? Mas é claro que J.V. vai ser um cidadão exemplar, saberá até votar. Afinal já viu – lá da prisão - vários presidentes no poder. Além disso, só depende dele correr atrás desse tipo de informação, pois ele vive num país sem exclusão, onde o povo tem tempo e cultura de sobra para ler e estudar, onde o salário mínimo é uma maravilha. Por isso, ele já sabe o que é direita e o que é esquerda – mesmo que os próprios políticos não saibam. Sabe que nascer na Vila Lindóia é diferente de nascer em Londrina.


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Tucano obteve maior aprovação entre candidatos a prefeito de todas as capitais do país

Beto Richa é o “novo” prefeito Antonio Senkovski Hendryo André

As pesquisas de intenção de votos estavam corretas: o candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB), venceu com folga a eleição neste domingo. Do total de 1,2 milhão de eleitores que deveriam votar, pouco mais de 1 milhão compareceram às urnas. Deles, 77,27% creditaram ao tucano o direito de comandar o maior orçamento do Paraná – para 2009, a previsão de gastos é de R$ 3,7 bilhões. A segunda colocação ficou com a petista Gleisi Hoffmann, com 18,17%, seguida pelo peemedebista Reitor Moreira, que atingiu a marca de 2% dos votos. Os demais candidatos não atingiram a marca de 1%. O número de abstenções, votos nulos e em branco, somaram 245

mil. No início da noite, Gleisi cumprimentou o prefeito eleito pela vitória e não escondeu uma certa decepção pelo desempenho do Partido dos Trabalhadores, inclusive na votação para a Câmara Municipal. “Acho que Curitiba pode se arrepender desta falta de debate sobre os projetos da cidade”, disse ela, citando a forte possibilidade, admitida por todos os analistas políticos, de Beto Richa deixar a Prefeitura para candidatar-se ao governo do Paraná em 2010. Para o mestre em Engenharia da Produção e professor de História Geraldo Silva, o índice de votos que Richa obteve não deveria condizer com a realidade. Silva acredita que os adversários tiveram influência direta no índice de aprovação do candidato à reeleição: “Ele [Beto Richa] trabalha em uma perspectiva que o curitibano sem-

pre gostou. Já os adversários, como o Maurício Furtado, por exemplo, fazem um discurso mais filosófico e, portanto, deveriam tentar conseguir vagas inicialmente no Poder Legislativo. Os adversários preferiram não enfrentar o atual prefeito para não serem rotulados como vilões”. Geraldo Silva ainda explica que o maior problema do período eleitoral foi o fato de nenhuma das correntes partidárias fazerem frente ao atual prefeito. “O Beto Richa conseguiu aumentar sua popularidade durante o período eleitoral, o que é um absurdo. O problema foi que os candidatos da oposição não tiveram uma uniformidade de discurso – isso é justificável já que os diferentes partidos têm ideologias distintas. Não se pensou em fazer uma aliança entre o PT e o PMDB, por exemplo, o que poderia au-

mentar o tempo no rádio e na televisão e promover maior paridade entre os candidatos”, acredita. Para Geraldo Silva, a campanha eleitoral na Capital esteve muito aquém das expectativas. O triunfo de Richa, segundo ele, foi o fato de que o eleitor curitibano está acostumado com a idéia da ausência de problemas na cidade. De acordo com o professor, até mesmo os moradores das regiões mais pobres sentem certo orgulho de que a cidade seja bonita em algumas regiões, esquecendo-se de que a gestão municipal – seja ela qual for – deve buscar igualdade de condições em toda a cidade. “O curitibano tem uma mania de se considerar classe média. Até um discurso reformista já assusta, quanto mais um de esquerda. Existe curitibano que ainda tem medo de comunista”,

ironiza.

Câmara Municipal Ao contrário da eleição para prefeito, houve uma grande renovação na Câmara Municipal. A Casa conta agora com 18 novos vereadores e 20 reeleitos. Beto Richa deve ter apoio na Câmara Municipal durante o próximo mandato. A legenda do tucano conquistou 13 das 38 vagas na Câmara Municipal de Curitiba. A coligação “Curitiba – o Trabalho Continua”, formada ainda por PP, PSL, PDT, DEM, PSB, PR, PSDC, PRP e PTN, conquistou mais cadeiras, o que faz com que Beto Richa tenha quase 70% da nova composição do Legislativo alinhado com suas propostas. O PMDB conquistou duas cadeiras, uma a menos que o PT. Confira a relação dos candidatos eleitos na página 7.

Perfil do eleitor Elaine Baggio, 18 anos Na espreita da garoa na capital paranaense, a moça de olhos claros deve ter visto que à frente do colégio onde fica sua seção de votação uma enorme quantidade de panfletos infestava o chão. Com o jeito observador de quem nunca tinha ido à urna, a eleitora Elaine Baggio, de 18 anos, é principiante, já que no pleito passado achou melhor deixar de lado as eleições pelo fato de sua participação não ser obrigatória. Este ano, no meio da sujeira das propagandas, o primeiro contato com a urna foi inevitável: “Só vim porque é obrigatório. Não gosto de política, acho que é muita sujeira”. O que não fica claro é de qual sujeira Elaine fala. Quando questionada sobre a função de um vereador, a resposta vem com o mesmo ar de indiferença com que as pessoas passam pelos papéis jogados por todo o lado: “Não sei dizer o que ele faz, até porque eu odeio política e não me interesso por essas questões”.

A eleitora Elaine Baggio Elaine não acredita nas propostas dos vereadores. Mesmo sendo secreto, ela faz questão de dizer que, para vereador, votou em branco. “Assisti mais ou menos umas três vezes o horário político, mas até dei risada do jeito que eles se apresentaram. Acho que nenhum dos candidatos merece meu voto”.

João de Oliveira Vermelho, 89 anos Os 90 anos que o eleitor João de Oliveira Vermelho completa no próximo dia 11 de novembro mostram um perfil de cidadão diferente de muitos dos eleitores que foram pela primeira vez às urnas. A experiência dos anos lhe conferiu a sobriedade de uma

consciência polítiJulia Ruggi ca que poucos têm para falar sobre a união do voto à cidadania. “Nós devemos pensar sobre as formas de mudar o rumo da política brasileira. Eu não entendo como um país tão rico pode ter tanta gente passando fome.” Mesmo sendo dispensado de ir à seção eleitoral, ele fez questão de participar das eleiO eleitor João de Oliveira ções. Apesar disso, a voz cansada admite que a espe- forço para comparecer à vorança cidadã sobre uma possí- tação de ontem, diz que é funvel transfiguração política tam- damental haver harmonia enbém já está quase exausta. Po- tre as idéias dos candidatos e rém, sempre resta uma pers- dos eleitores. pectiva de mudança. “Eu que“O que me levou a escolher ria muito que acontecesse uma meus candidatos, primeiro, transformação na política, mas foram as idéias do meu partipara isso ainda falta muito. do, com as quais eu me iden”Até que não se chegue lá, o tifico.” (Antonio Carlos Senkoeleitor, que fez um grande es- vski)


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Filho de político famoso, Beto Richa começou sua carreira aos 29 anos

Beto Richa segue os passos do pai Regina Biscaia

No dia 29 de julho de 1965, nascia em Londrina Carlos Alberto Richa, segundo filho do casal Arlete Vilela Richa e José Richa, na época deputado federal. Mais tarde, José Richa seria prefeito de Londrina, governador do Estado do Paraná, senador da República e um dos fundadores do PSDB. Beto Richa queria ser engenheiro, mas surpreendeu a todos quando decidiu seguir os passos de seu pai, embora não tenha deixado seu sonho para trás e se formado engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Parte de sua infância foi entre Londrina e Brasília, já que seu pai exercia mandato de deputado federal. Richa cursou o ensino fundamental em Londrina. Aos sete anos, seu pai fora eleito prefeito de sua cidade natal. Sempre foi bom aluno, tirava boas notas. Certa vez Beto Richa teve

que fazer um trabalho cujo tema eram as obras da prefeitura. Então, foi pedir ajuda a seu pai, e este disse que não iria ajudá-lo, que o menino iria conseguir realizar o trabalho sozinho, já que havia acompanhado o pai às inaugurações. O menino tirou dez.Quando José Richa foi eleito governador do Paraná, em 1982, sua família mudou-se para Curitiba, onde Beto cursou a faculdade. No verão de 84/85, em Guaratuba, conheceu sua futura esposa, Fernanda Bernardi Vieira. Casaram-se meses depois, em 27 de junho de 1985, e da relação nasceram três filhos: Marcello, 22 anos; André, 18; e Rodrigo, 13. Quando eleito deputado estadual, aos 29 anos, elaborou projetos e leis visando a população de baixa renda. Algumas dessas leis ficaram famosas como a Lei Beto Richa, que estabelecia que o governo do Paraná pagasse uma indenização aos ex-presos que sofreram repressão na época da ditadura

militar. Em outubro de 2004, com 494.440 mil votos, Beto Richa foi eleito prefeito da cidade. Em seu primeiro mandato, sua administração foi focada na educação e na saúde e na qualidade de vida. Foram realizadas em torno de quatro mil obras. Um de seus projetos foi a melhoria em alguns pontos de maior trânsito na cidade, com a implantação de binários e a inutilização da área de estacionamento em algumas vias. Ele criou a Secretaria Antidrogas e implantou mais 28 câmeras de segurança na cidade. Criou a passagem domingueira, a R$ 1. O novo plano de governo tem como título: 4 Anos 5 Metas, Gente em primeiro lugar: Morar, Aprender, Trabalhar, Cuidar e Viver em Curitiba. Para os próximos 4 anos, o Plano de governo de Beto Richa tem como a primeira meta dar a Curitiba uma melhor qualidade de vida para seus habitantes. As pessoas terem fácil acesso a moradia, com uma infra-estrutura man-

Arquivo/ LONA

O prefeito Beto Richa tida pelo preservamento ambiental. Uma outra meta está voltada para a educação que tem como ponto forte visar as áreas de educação e a promoção voltada ao conhecimento. O plano de Beto para o próximo mandato visa criar ambientes favoráveis de trabalhos,

com um aumento da renda per capita, ampliando a qualidade de vida sustentável do curitibano. Além de dar continuidade para a Linha Verde, para a segurança, saúde. Outro ponto de seu plano visa a área cultural, esporte e comunidade da cidade.

Gleisi começou militância em grêmio estudantil Amanda Lara Vanessa Ramos

Única mulher candidata à Prefeitura de Curitiba, Gleisi Helena Hoffmann nasceu em Curitiba, em 6 de setembro de 1965. Passou sua infância e adolescência na Vila Lindóia. É filha de Getúlia Adga e Júlio Hoffmann. Ela começou a sua militância política no grêmio estudantil do colégio em que estudava. Com a primeira experiência à frente do poder e tendo como missão organizar o grêmio, Gleisi adquiriu experiência no decorrer de sua vida e alcançou um currículo de peso. Depois de passar pela presidência da União Metropolitana de Estudantes e exercer um cargo de assessora parlamentar na Câmara Municipal de Curitiba, filiou-se ao Partido dos

Trabalhadores, e sua caminhada política foi intensificada. Ainda no Paraná, assumiu a Secretaria Estadual das Mulheres do PT, enquanto completava sua formação acadêmica, que inclui graduação em Direito e pós-graduação em Administração Pública. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu a primeira eleição, em 2002, convidou Gleisi para compor a equipe de transição do governo, atuando no setor de orçamento, devido ao seu conhecimento na área. A candidata trabalhou também na Secretaria Extraordinária de Reestruturação Administrativa do Mato Grosso do Sul, onde fez ampla reforma, com redução do número de cargos com comissão. Em sua passagem pelo estado organizou ainda o sistema de previdência dos servidores estaduais.

Outra experiência marcante de Gleisi foi a Diretoria Executiva Financeira da Itaipu, a maior usina hidrelétrica do mundo e uma das maiores empresas brasileiras. Primeira mulher a ocupar um cargo de direção em 30 anos, implantou o sistema de gestão integrada e promoveu uma reestruturação gerencial. Assumiu também o gerenciamento da responsabilidade social da Itaipu e ampliou os investimentos da empresa na comunidade. Refez o planejamento estratégico do hospital da usina, estendendo o atendimento para a comunidade; criou a rede de combate à prostituição e exploração sexual de crianças e adolescentes; implantou a casaabrigo para a mulher vítima de violência, mantida até os dias de hoje pela binacional e criou um espaço para implantar a política de igualdade de gênero

na empresa. Em 2006, Gleisi foi lançada como candidata ao Senado, pelo PT. A votação da petista surpreendeu, alcançando 45% dos votos dos paranaenses e quase

inviabilizando a eleição do senador Álvaro Dias. Nascida em Curitiba há 42 anos, Gleisi é casada com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e tem dois filhos. Márcio Mendes/ LONA

A candidata Gleisi Helena Hoffmann


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Veja perfil dos candidatos à Prefeitura de Curitiba com menor número de votos Carlos Moreira Junior

Fábio Camargo

Estreante na carreira política, Carlos Moreira Junior, o Reitor Moreira, concorreu pela primeira vez para prefeito da capital pelo PMDB. Moreira vem de uma família tradicional de oftalmologistas, especialidade para a qual também é formado, e deixou de ser reitor da Universidade Federal do Paraná – cargo que poderia exercer até 2010 – para concorrer nestas eleições. Como principal proposta, Moreira pretendia fortalecer as relações com o governo Estadual.

O candidato Fábio Camargo já passou por duas casas até pensar em concorrer à Prefeitura da Cidade. Camargo foi eleito pela primeira vez vereador da Capital, pelo PSC, em 2000. No ano de 2006, conquistou uma vaga na Assembléia Legislativa do Paraná pelo PFL (atual DEM), partido que deixou meses depois de ser eleito, para assumir pelo PTB, legenda pela qual concorreu à prefeitura. Camargo tem um escritório de advocacia na capital e é um dos sócios da casa de shows Master Hall, no Portão. A proposta chave para o candidato era dar mais atenções aos bairros da periferia da cidade.

Maurício Fur tado O candidato pelo Partido Verde em Curitiba, Maurício Furtado, é o mais velho entre os 8 que disputam a prefeitura na capital. Com 59 anos, é funcionário do Banco Central desde 1973. Nascido em Joinvile (SC), formou-se em Ciências Contábeis pela FESP e faz parte do Conselho Nacional de Servidores do Banco Central. Entre suas principais propostas estava a revitalização do rio Belém, criando o maior parque urbano do país.

Lauro Rodrigues Filho do ex-vereador e exdeputado estadual Horácio Rodrigues, Lauro Rodrigues já tem a política no sangue. Começou sua carreira na política cedo, em 1988. Com apenas 20 anos, Lauro fundou a ala jovem do Partido Liberal (antigo PL) e em 1995 assumiu a presidência regional do partido. Em 2000, deixou a legenda para se filiar ao PT do B, partido pelo qual concorre à prefeitura da capital. A principal proposta do candidato era o cartão verde, que seria a unificação de todos os serviços que a prefeitura de Curitiba oferece a população, reunidas em um único cartão.

Ricardo Gomyde O candidato pelo PCdoB começou na Política cedo. Em 1992, aos 21 anos Ricardo Gomyde foi eleito diretor da UNE e participou do movimento dos “cara-pintadas”. Dois anos depois foi eleito deputado federal. Já foi presidente do Paraná Esporte e não terminou nenhum dos quatro cursos superiores que iniciou. O incentivo ao esporte era o foco de sua campanha, contando com a participação de personalidades como Daiane dos Santos, durante a veiculação da propaganda eleitoral.

Bruno Meirinho Bruno Meirinho foi o candidato mais jovem a concorrer à prefeitura. Com 26 anos, formou-se em Direito no ano passado e trabalha em uma cooperativa de planejamento urbano. Meirinho começou na militância política, com o DCE da UFPR. Com o slogan de “Uma Curitiba sem catracas”, tem a exclusão social como tema constante em seus discursos (Karollyna Krambeck).

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ARTIGO

Uma cobertura para a eleição em Curitiba Hendryo André

Havia um tempo em que bandeiras tremulavam com mais fervor, enquanto jingles, decorados tom a tom pela multidão, eram entoados pelos fanáticos que caminhavam, cantavam e seguiam um sem-número de canções. Existia um grupo de vermelhos, cuja característica principal era a de entrar em contra-senso com a frieza azul da direita reacionária, e com a omissão amarela dos alinhados ao centro. Eles, os rubros, talvez nem acreditassem que um dia poderiam chegar ao poder, mas exerciam papel fundamental à democracia. As cores eram todas atenuadas pela chuva branca que enxurrava as ruas daquele tempo: era papel que se espalhava como pluma de chumbo da cobertura do prédio. Havia ainda bandeiras que tentavam em vão cobrir a janela do vizinho do apartamento abaixo, mas logo vinha um vento e mostrava a sujeira. E lá de cima, da cobertura, era possível perceber como as ruas da cidade eram sujas, e o quanto a atmosfera se alterava quando adversários políticos debatiam. Eram adesivos nas pastas e mochilas de estudantes e trabalhadores de todas as idades que se tornavam voluntários e agitavam as flâmulas que estampavam os nomes dos candidatos. Naquela época, todos eram crianças – não pode existir outra explicação: brigava-se por birra, choravase por “pouco”, cantava-se afinado e quase todos conheciam os pormenores – muita coisa se via por meio da cobertura. Problemas existiam naqueles tempos em que havia cobertura políti-

Grande ironia foi o que se chamou em Curitiba de eleição municipal, na qual o vencedor era conhecido por todos, inclusive pelos concorrentes, desde antes da candidatura – não necessariamente por ter sido eleito o “melhor prefeito do Brasil”, mas sim por não ter adversários

ca, afinal, não há eras perfeitas: algumas mulheres acreditavam que candidato bom era homem bonito, meia dúzia de idosos guardava na urna o nome do candidato que lhe fizesse cobertura da boca vazia com uma dentadura e, muitos dos homens, votavam em troca de favores políticos – se pelo menos só isso tivesse acabado... Hoje a cidade está arrasada (não apenas no sentido de baixa). Não há mais coberturas, e das poucas casas mais altas que restam somente se pode observar as ruas por mera convenção. Ninguém mais sai da cobertura convencional para enfiar os pés na lama apenas pelo prazer de limpá-los depois. Não se almeja conhecer o perfil do candidato e do eleitor. Foi por isso que a campanha eleitoral virou “flor esmigalhada na sola dos sapatos”: sem tesão, sem ebulição e sem porvir. Nas avenidas da Curitiba européia já não passam o samba popular dos jingles e as bandeiras, cujo motivo maior

para o desaparecimento não foi nem a reforma eleitoral de 2006, são erguidas a punhos armados pela gana ao capital (a eleição é um ótimo período para ganhar dinheiro, principalmente porque muitos dos candidatos preenchem vários espaços nas colunas dos jornais). Pobre vento que envelheceu e tornou-se brisa inconstante, tão leviana que mal tem poder para refrescar a si mesmo. Grande ironia foi o que se chamou em Curitiba de eleição municipal, na qual o vencedor era conhecido por todos, inclusive pelos concorrentes, desde antes da candidatura – não necessariamente por ter sido eleito o “melhor prefeito do Brasil”, mas sim por não ter adversários. A imprensa, detentora dos olhos e ouvidos do povo, fez-se de cega e surda e influenciou para o fracasso dos debates políticos. Mais que isso: não acompanhou o cotidiano dos candidatos à Prefeitura – salvo raras exceções – e pouco fez para extirpar, por exemplo, com os 61 candidatos a vereador que só puderam concorrer por brechas jurídicas. Depois de tamanho descaso com o futuro da Curitiba das avenidas largas e sem congestionamentos, sem a “matilha de crianças sujas nas ruas”, sem miserabilidade e, por fim, sem história, o que resta é a imprensa perceber que pratica autofagia, pelo menos enquanto for atrelada a determinadas correntes políticas. Jogar-se na cobertura (e não “da” cobertura) pode fazer com que nasçam novamente os debates políticos. Aí sim, o maior problema a ser resolvido será a troca de votos por dentaduras.


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Apesar das limitações do cargo, candidatos fizeram promessas contrárias à lei

O prefeito faz, o vereador fiscaliza Leônidas Vinício Michel Prado

Em toda campanha eleitoral, seja para o executivo ou para o legislativo, sempre há candidatos que se destacam. Não pela pertinência de suas propostas ou empenho por buscar soluções aos problemas do município, do estado e do país, mas pelas idéias insólitas que, para muitos, são garantia de votos extra. A corrida eleitoral deste ano em Curitiba ofereceu pérolas das mais variadas, sobretudo vindas de quem almeja uma vaga na Câmara Municipal. Elas variam desde a caridade, como o candidato a vereador pelo PSDB Acyr José, que, afirmou, caso eleito doaria 10% do salário ao Hospital Erasto Gaertner, até propostas inconstitucionais, como as da candidata Ligia Maria, do DEM, que declarou que pretendia fazer com que metade do IPTU pago pelos moradores de Curitiba fosse investida no bairro do contribuinte. É provável que muitos candidatos desconheçam as limitações que o cargo de vereador possui. Aliás, desconhecimento compartilhado por grande parte dos eleitores. Em pesquisa realizada no mês de junho pelo Paraná Pes-

quisas, fica evidente a desinformação dos cidadãos no que se refere ao funcionamento das instituições políticas. Dos 600 entrevistados, 62% não lembraram em qual candidato votaram nas últimas eleições e 72% não souberam falar o nome nenhum vereador em exercício na capital.

Legislação Esse desinteresse pela política reflete-se também na escolha dos candidatos durante as eleições. Para o coordenador do curso de Direito da Universidade Positivo, Marcos Alves, cabe ao eleitor verificar as propostas dos vereadores e também analisar se elas se enquadram no legislativo municipal. “O que acontece é que o vereador propõe o que não pode cumprir. Há, por exemplo, um candidato a vereador prometendo mais segurança pública e policiamento. Mas pela Constituição Federal, segurança é assunto do Estado, e a Polícia Militar está sujeita ao governo estadual e não ao município, o que deixa claro o despreparo do candidato ao cargo”, afirma. Para Alves, as funções do prefeito também não são conhecidas pela maioria dos eleitores, embora os candidatos sejam mais comedidos e coerentes em suas propostas, já que é um cargo de maior visibilidade. Prefeitos e vereadores são os

Arquivo/ LONA

Compete aos Municípios:

O Palácio 29 de Março, em Curitiba políticos mais próximos da população. O prefeito é a principal autoridade política do município, ele é responsável por fazer com que o atendimento em saúde e educação básica chegue a todos, sobretudo aos mais carentes. A limpeza da cidade — ruas, parques, praças — também é dever do prefeito.

Município A administração da cidade é feita com recursos do Orçamento Municipal. Esse orçamento vem de impostos como o IPTU (Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana), o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), ISS (Imposto Sobre Serviços), além de outros recursos dos go-

Chuva atrapalha último dia de campanha Suziê Oliveira

A chuva forte que se prolongou por todo sábado em Curitiba atrapalhou os compromissos de campanha dos candidatos que queriam aproveitar as últimas horas para buscar votos. Em um dos tradicionais pontos de cabos eleitorais, a Boca Maldita, poucas barracas estavam montadas, e os que se arriscavam em distribuir santinhos estavam escondidos da chuva, embaixo

das marquises. Beto Richa (PSDB) tinha programado uma carreata no bairro do Sítio Cercado, mas desistiu devido ao mau tempo. Já Fábio Camargo, do PTB, também cancelou as caminhadas que faria pelos bairros e na Boca Maldita. Outra que mudou os planos devido ao tempo foi a candidata Gleisi Hoffmann, do PT. Ela iria fazer uma caminhada no bairro Caiuá, mas resolveu buscar votos no Shopping Curitiba, no bairro do Batel, conver-

O que diz a Constituição

sando com lojistas e clientes que passeavam pelo local. Ricardo Gomyde (PC do B) também teve que deixar de lado a caminhada marcada para a manhã de sábado, no bairro Sítio Cercado. O candidato apenas manteve as carreatas para o período da tarde. Os outros quatro candidatos - Carlos Moreira (PMDB), Bruno Meirinho (PSOL), Lauro Rodrigues (Pt do B) e Maurício Furtado (PV) ficaram em eventos menores organizados pela militância.

vernos estadual e federal. A aprovação do Orçamento Municipal e também a fiscalização das ações do prefeito é responsabilidade dos vereadores, na Câmara Municipal. Como representantes do legislativo, eles ainda propõe leis que podem ser aplicadas no município, ou analisam e votam projetos de lei elaborados pelo próprio prefeito. Além do prefeito e dos vereadores, o município conta os funcionários, que são escolhidos por concurso público, além dos responsáveis pelas secretarias do município. Assim como nos ministérios no âmbito federal, os secretários são, na maioria das vezes, nomeados pelo partido por fazerem parte da coligação que ajudou a eleger o prefeito. Se a regra persistir, o prefeito eleito, Beto Richa, terá um problema para resolver, já que fazem parte da sua coligação nada menos que 11 legendas: PSDB, PSB, PDT, PP, PPS, DEM, PR, PSDC, PRP, PTN, PSL. Quando o prefeito estiver ausente, quem assume é o vice, que passa a ter as mesmas responsabilidades e privilégios do prefeito. Quando se pede licença para disputar outro cargo político, quem termina o mandato é o vice-prefeito. Se, por algum motivo, nem o prefeito nem o vice puderem concluir o mandato, que assume a prefeitura é o presidente da Câmara Municipal.

I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local,incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da união e do estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do ouso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. (Constituição Federal TÍTULO III, Capítulo IV Art. 30)


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Relação de candidato por vaga foi de 20,9, equivalente a cursos mais concorridos da UFPR

Candidato enfrenta “vestibular” nas urnas Augusto Klein Marcos Lemos Sandro Graciano

As 38 cadeiras da Câmara Municipal de Curitiba foram disputadas na eleição de ontem por 796 candidatos a vereadores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A média foi de 20,9 candidatos para cada vaga. Esse índice, se comparado com o último vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), equivaleria a um curso na quarta posição da disputa, perdendo somente para Medicina, Publicidade e Propaganda, e Direito. Os dados revelaram que a maioria dos candidatos é casada (60,30%) e do sexo masculino. São três homens para cada mulher que disputaram uma cadeira na Câmara Municipal. Na última eleição para vereador, em 2004, 666 candidatos se inscreveram. Já neste ano, foram 130 candidatos a mais, um aumento de 19,5% na procura por vagas. Em 2004, eram 447 homens (78,97%) e 119 mulheres (21,03%). A diferença entre a candidata mais idosa e a mais jovem é de 62 anos. A candidata mais nova foi Natasha Berlim (PT), que completou 18 anos no dia 15 de setembro. Já a candidata mais velha foi Dona Lourdes (PSB), que está com 80 anos. As atividades dos candidatos eram bem diversificadas, representado 104 profissões, com destaque para os empresários e comerciantes, que possuem 68 concorrentes cada uma. Na categoria “outros ofícios” encaixaram-se 154 candidatos. E 28 declararam que a ocupação era de vereador. Já algumas profissões têm apenas um representante, como é o caso de artista de rua, biólogo, cientista político, feirante, garçom, gari, modelo, motoboy, produtor agropecuário, psicólogo, sacerdote, técnico de obras civis. A Câmara Municipal de Curitiba tem hoje o menor subsídio entre as capitais da região

Sul. Cada um dos 38 vereadores da cidade recebe por mês R$ 7.155,00. No entanto, para a próxima legislatura, os vereadores eleitos ontem terão um reajuste de 29%. Em junho, os atuais parlamentares da Câmara Municipal de Curitiba subiram o subsídio para R$ 9.280. De acordo com a Constituição Federal, o subsídio dos vereadores deve ser fixado pelas respectivas câmaras municipais em cada legislatura para a subseqüente, observando os limites máximos de remuneração, de acordo com o número de habitantes do município. Os vereadores são representantes políticos que atuam nos municípios. Têm a função de elaborar leis, fiscalizar e julgar as contas do poder Executivo, e legislar sobre assuntos de interesse local. Ou seja, eles são os primeiros representantes do povo, a ponte entre a população e o Executivo.São eles que defendem os interesses da população, propõem e discutem leis e projetos que são aprovados pela Câmara e sancionados pelo prefeito.

Conta para se eleger O número de votos necessários para se eleger a vereador é um pouco diferente do prefeito. No caso das cidades com mais de 200 mil habitantes, o prefeito é eleito por votação majoritária, em que vence quem obtiver a maioria dos votos. Caso nenhum candidato obtenha mais da metade dos votos válidos, é realizado um segundo turno entre os dois primeiros. Já para vereadores é utilizada a eleição proporcional, em que nem sempre o candidato mais votado é eleito. É necessário que o partido ou coligação receba da população um mínimo de votos, o quociente eleitoral, que é a divisão de todos os votos válidos (sem brancos e nulos) dividido pelo número de vagas na Câmara. Para chegar à quantidade de cadeiras que cada legenda ou coligação terá, ou seja, o quociente partidário, é dividido o número de votos obtido pelo par-

tido ou coligação pelo quociente eleitoral. Quanto mais votos a legenda ou coligação conseguir, maior será o número de cargos destinados a ela. Os cargos devem ser preenchidos pelos candidatos mais votados do partido ou coligação. Isso explica por que em 2004, Luiz Ernesto (PSDB) não foi eleito com 7.609 votos e Aladim (PV) com 4.143 votos conseguiu uma cadeira na Câmara. Assim, um candidato A, mesmo sendo mais votado que um candidato B, poderá não alcançar nenhuma vaga se o seu partido não alcançar o quociente eleitoral. O candidato B, por sua vez, pode chegar ao cargo mesmo com votação baixa ou inexpressiva caso seu partido ou coligação atinja o quociente eleitoral.

Apelidos Para chamar a atenção dos eleitores e, quem sabe, garantir votos que possam decidir a eleição, muitos candidatos adotam “nomes de urna” que os identificam com as profissões ou outras características. Essa foi a tática adotada por “Luiz Carlos da Segurança”, “Will do movimento Hip Hop”, “Professora Mônica”, que disputaram a eleição de ontem. Já outros esperavam ser lembrados pelo que fazem como, “Pastor Gilson de Souza”, “Diva Maria: a Diarista”, “Repórter Garotão”, “Kamila Cantora”.Mas a inspiração não pára por aí. É possível ver a influência da televisão, com “Mister Bim”; as promessas de crescimento com “Jairo – JK” e “Jaciara Mais Saúde”; e os animais como o “Grillo”. A criatividade também aparece com “1000tinho Contador” e o “Gaúcho Trovador”. Seria possível realizar um banquete com os nomes dos candidatos que os eleitores curitibanos tinham à escolha ontem: “Zé da Coxinha”, “Lucia, a Tia do Doce”, “João do Suco”, “Cristiano do Hot dog”, “Lentilha”. E a esperança do “Papai Noel Paulo Duarte” e “Papai Noel Lourenço” é de que estes também ganhem presentes e nada melhor que uma cadeira na Câmara Municipal de Curitiba.

Confira os vereadores eleitos Candidato

Votos

Roberto Aciolli - PV Pastor Valdemir- PRB Serginho Do Posto -PSDB Mara Lima -PSDB Felipe Braga Cortes - PSDB Professor Galdino - PV Derosso - PSDB Jairo Marcelino - PDT Beto Moraes - PSDB Tito Zeglin - PDT Francisco Garcez - PSDB Aldemir Manfron - PP Sabino Picolo - DEM Dona Lourdes - PSB Paulo Frote - PSDB Celso Torquato - PSDB Zé Maria - PPS Roberto Hinça - PDT Tico Kuzma - PSB Jair Cezar - PSDB Mario Celso - PSB João Do Suco - PSDB Denilson Pires - DEM Aladim - PV Julieta Reis - DEM Emerson Prado - PSDB Omar Sabbag Filho - PSDB Odilon Volkmann - PSDB Renata Bueno - PPS Juliano Borghetti - PP Pedro Paulo - PT Algaci Tulio - PMDB Julião Da Caveira - PSC Stica - PT Caíque Ferrante - PRP Professora Josete - PT Noemia Rocha - PMDB Dirceu Moreira - PSL

17.377 14.186 12.661 12.627 11.817 11.736 11.189 10.683 10.382 10.373 10.220 10.180 9.846 9.302 9.208 9.115 7.985 7.492 7.298 6.768 6.678 6.640 6.439 6.315 5.896 5.774 5.498 5.387 4.984 4.801 4.152 4.084 4.041 4.016 3.888 3.884 3.810 2.593 Hendryo André/ LONA

Rua próxima a local de votação na manhã de ontem


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A eleição nas ruas Robertson Luz

Hendryo André O papel não vai mais para a urna já faz um tempão. As urnas eletrônicas substituíram com eficácia – apenas 16 tiveram problemas e foram substituídas – as cumbucas que guardavam nos votos a autenticidade de cada eleitor. Sabia-se, por exemplo, que o eleitor estava indeciso somente pela pressão com que assinalava o “X”. Hoje, os papéis se restringiram às ruas, na sujeira crônica que marca o dia da eleição em qualquer cidade do Brasil. A movimentação durante um dia de pleito é constante. É carro com nome de partido que passa, repassa e que, caso pudesse, transpassava colégios eleitorais na busca incessante pelo sufrágio. E tem também gente que faz boca-de-urna – e sempre há aqueles que são presos: só em Curitiba, foram mais de 150 pessoas. E foi assim que 1,2 milhão de pessoas saíram de casa para votar.

Robertson Luz Regina Biscaia

Regina Biscaia


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