RIO Á I D do
L BRASI
Curitiba, quarta-feira, 10 de setembro de 2008 | Ano IX | nº 433| jornalismo@up.edu.br| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |
Estudo aponta diminuição de desigualdades no Brasil A partir de agora o Brasil pode contar com o “Retrato das desigualdades de gênero e raça”. Os primeiros números foram divulgados ontem em Brasília e, segundo eles, a desigualdade tem diminuido no país. Em 1996, por exemplo, cerca de 46,7% dos ne-
gros brasileiros eram pobres. Agora, esse índice caiu para 33,2%. Neste caso a queda acompanhou uma melhora na renda de toda a população, como é o caso dos brancos que antes tinham 21,5% de pobres e agora têm 14,5%. Os primeiros resulta-
dos da pesquisa apontam a diminuição da desigualdade, mas em uma primeira análise já se percebe que o negro ainda vive em uma situação de inferioridade na sociedade brasileira.
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Ensaio fotográfico: Desfile de comemoração da Independência
Jornalismo da UP conquista prêmios na Expocom Alunos e professores da Universidade Positivo voltaram a Curitiba depois de participarem da maior exposição de comunicação do Brasil. A Expocom aconteceu em Natal (RN), durante o XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom. Gustavo Krelling e Robertson Luz foram os alunos da UP que trouxeram dois primeiros lugares com seus trabalhos. Gustavo, com releitura fotográfica jornalística de obras de Vincent Van Gogh, e Robertson, com transmissão esportiva na categoria audiovisual.
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Emocional pode causar depressão pós-parto Estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte aponta como principais causas da depressão pós-parto a miséria, a baixa escolaridade, a ausência de uma rede de apoio, as relações descomprometidas com a família e a ausência do envolvimento do pai na gravidez. No desfile de Sete de Setembro deste ano a chuva deu lugar a uma manhã de sol que atraiu mais pessoas - pág. 8
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Aniversário do terror Melanie Zettel
Há sete anos o mundo vivia o choque de assistir aos atentados terroristas contra alvos civis nos Estados Unidos. Na manhã de 11 de setembro de 2001, quatro aviões comerciais foram seqüestrados, dois deles colidiram contra as torres do World Trade Center, em Manhattan, Nova York, um terceiro, o American Airlines Flight 77, foi direcionado pelos seqüestradores para uma colisão contra o Pentágono, no Condado de Arlington, Virgínia. Os atentados causaram a morte de 3234 pessoas e o desaparecimento de 24. As questões que ressurgem em todos os 11 de setembro são as mesmas: o que mudou? O filme Vôo United 93, exibido pela Rede Globo na última segunda-feira, que será exibido amanhã pela Rede Record, é baseado em fatos reais sobre o ataque terrorista. As famílias dos passageiros e tripulação do vôo verdadeiro ajudaram a produzir o filme, e todo o elenco teve que estudar a vida de cada um dos passageiros. Assistir ao filme é, sem dúvidas, emocionante, senão uma prova de coragem e resistência: sensacionalismo
puro com um grande toque de realidade absurda. Segundo dados oficiais, os tripulantes tentaram tomar o comando da aeronave dos terroristas, jogando-a numa área não habitada. Naquela manhã, o mundo parou, acompanhando pela televisão a cena do horror. Tudo parecia cena de filme de destruição estilo King Kong, em que o cenário principal também era a cidade de Nova York, porém um filme real. A grande potência mundial sendo atacada pela rede terrorista Al-Qaeda, pessoas se jogando pelas janelas das torres-gêmeas, gritos desesperados de quem assistia cara a cara o inacreditável. A pergunta que destino às emissoras de TV é de que adianta exibir filmes sobre a data na semana de aniversário da tragédia se ao longo do ano isso tudo cai no esquecimento da massa mundial? O verdadeiro valor disso foi deixado para trás junto com a dor das famílias das vítimas dos atentados. Relembrar os incidentes daquela manhã exatamente na semana de aniversário virou uma espécie de modinha para as mídias não fazerem feio esquecendo de colocar, pelo menos, uma fotinho das torres queimando em chamas nos jornais.
Então... É Natal! Danielly Ortiz
Que o Brasil é um país enorme e tem uma grande mistura de raças e cores, todos sabemos. Sabemos também que cada canto desse país é cheio de coisas e lugares lindos, e cada cultura tem a sua característica, o seu charme. Durante a realização do XXXI Congresso da Sociedade de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, realizado em Natal, Rio Grande do Norte, na semana passada, o mais interessante da jornada foi presenciar a reunião do país inteiro em uma só cidade. Gente do Rio Grande do Sul até Amazonas, que juntos riam dos sotaques, gírias e palavras diferentes. “Arrudiano” pela cidade, notava-se que a beleza não pára somente nas praias e nas dunas, que realmente são de tirar o fôlego. A simpatia e o charme daquele povo simples e dedicado chama a atenção. A calma e paciência mostram-se a todo momento, no jeito de falar, no jeito de fazer as coisas. Questionamo-nos algumas vezes: será que eles são mais devagar ou nós somos rápidos demais? A resposta eu não tenho, mas uma coisa percebi: esse povo sabe viver... e mais que
isso, ensina a viver! Durante o Intercom 2008 foi possível conhecer pessoas e trabalhos muito interessantes, e perceber que não estamos sozinhos na busca pela igualdade e ética em nossa profissão. Existem, sim, sonhadores em cada canto do país, que não ficam parados esperando algo acontecer. Seja em uma monografia, ou em um programa de tele ou rádio, que tenta ajudar as pessoas, todos se unem em busca do que chamamos de sonho. Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte encontraram-se os alunos premiados em todos os Expocoms regionais, e debaixo de um calor às vezes insuportável buscavam o reconhecimento nacional. A Universidade Positivo esteve presente com quatro trabalhos pelo curso de Jornalismo e dois pelo curso de Publicidade e Propaganda. Conquistamos dois primeiros lugares: Robertson Luz, com o trabalho de transmissão esportiva orientado pelo professor Luiz Witiuk, e Gustavo Krelling, com a releitura fotográfica dos quadros de Van Gogh (com a orientação da professora Zaclis Veiga). Robertson dividiu a produção com Thiago Noronha, Evelise Toporoski, Cássio Bida, Alisson Henrique, Gabriel Hamilko,
Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande;; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; PróReitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Pró-Reitor de Pla-
Robertson Luz/LONA
nejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira (colaboração), Elza Aparecida de Oliveira e Marcelo Lima; Editores-chefes: Anny Carolinne Zimermann e Antonio Carlos Senkovski.
O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000
Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.
Rafaela Barros, Renata Penka, Antonio Senkovski. Mas o objetivo que nos levou até Natal foi muito bem cumprido. Divulgamos e convidamos todos para estar aqui em Curitiba, ano que vem. Para quem não sabe, a Universidade Positivo vai sediar o Intercom 2009, em parceria com a Universidade Federal do Paraná e a Universidade Estadual Centro-Oeste do Paraná (Unicentro). Se vale a pena participar deste congresso? Com certeza. A interação que acontece é algo incrível. Estar em contato com pessoas que dividem a mesma paixão que você, seja ela o jornalismo ou a publicidade, é algo que não tem preço. Saber o que acontece em cantos do Brasil que nem sabíamos que existia desperta uma ansiedade por estar no mercado de trabalho e buscar a melhor reportagem e notícia, esteja ela onde estiver. Ano que vem receberemos esses ilustres visitantes e mostraremos que Curitiba tem muito mais que parques e um tempo frio. Como o LONA disse para todos: “Curitiba não tem mar, mas tem bar”. E receber pessoas que são tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais a nós, vai ser uma experiência interessante.
Abertura do Intercom 2008, em Natal
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Educação
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Alunos e professores participam e são premiados no congresso da Intercom, em Natal (RN)
UP marca presença no Intercom A participação de alunos e professores da Universidade Positivo no XXXI Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), que aconteceu na semana passada em Natal, Rio Grande do Norte, foi marcante. Dois primeiros lugares em categorias da Exposição de Pesquisa Experimental na Comunicação foram alcançados por alunos do curso de Jornalismo; o estande da UP na feira da Intercom, organizada no Centro de Convivência da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), foi dos mais animados e visitados; professores da Positivo apresentaram trabalhos em Núcleos de Pesquisa e participaram de outras atividades. No final da assembléia geral da Intercom, na qual tomou posse, o novo presidente da entidade, professor Antonio Holhfeldt, disse que o congresso de 2009 já estava começando e convidou a todos para participarem do evento em Curitiba. Desde o primeiro dia, a disposição dos curitibanos ficou evidente: na solenidade de abertura do Congresso foram distribuídos centenas de exemplares da edição especial do LONA, provocando espanto em professores e estudan-
Dois primeiros lugares em categorias da Exposição de Pesquisa Expocom foram alcançados por alunos do curso de Jornalismo tes de várias locais do Brasil que comentavam o fato de ser o único jornal-laboratório diário do país. A edição, com matérias sobre o Paraná, Curitiba, o Grupo Positivo e os cursos de Jornalismo e Publicidade da Universidade Positivo, foi também o principal produto do estande montado na UFRN. Ali, os congressistas recebiam também informações turísticas do Paraná, um mapa de Curitiba e deixavam contatos para receberem informações sobre o Intercom 2009. Mais de 400 pessoas preencheram o cadastro, entre estudantes, professores e profissionais de praticamente todos os estados. Na solenidade de premiação do Expocom o auditório lotado da Reitoria da UFRN cantou junto os alunos da UP o Funk de Curitiba, composto pela jornalista Estelita Carazzai, formada no ano passado
e que concorria a uma categoria do Expocom com seu trabalho de conclusão de curso, um livro-reportagem sobre jovens da periferia curitibana. “Dançar funk com o professor José Marques de Melo, fundador da Intercom e uma importante referência bibliográfica na nossa área, foi simplesmente a glória”, contou a estudante Danielly Ortiz, que apresentou o Tela Un. Brincadeiras à parte, o coordenador do curso de Publicidade e Propaganda, André Tezza, lembrou a responsabilidade da Universidade Positivo em sediar o maior evento de comunicação da América Latina. “Como instituição jovem estaremos aprendendo muito e somos gratos pela oportunidade de receber os pesquisadores e estudantes de comunicação. Queremos tirar proveito desta juventude, usando toda nossa energia para organizar um grande congresso, planejando em todos os detalhes e buscando a excelência”, disse ele.
Os premiados Robertson Luz recebeu o primeiro lugar na categoria Esportiva, pela transmissão de um jogo no ano passado. Sob orientação do professor Luiz Witiuk, a equipe do trabalho foi composta ainda pe-
Zaclis Veiga
Os alunos Robertson Luz e Gustavo Krelling los estudantes Thiago Noronha, Evelise Toporoski, Cássio Bida, Alisson Henrique, Gabriel Hamilko, Rafaela Barros, Renata Penka, Antonio Senkovski. “Eu fiquei mais tranqüilo pra apresentar o trabalho lá do que aqui no Intercom Sul. E também, só de estar lá já sentia um alívio muito grande, porque de uma fase eu já tinha passado”, comentou Robertson a respeito da experiência de concorrer ao prêmio. Ele se disse impressionado com as dimensões do congresso da Intercom e completou: ”Uma coisa que me marcou muito foi a receptividade das pessoas. Nós chegamos ao consenso de que lá eles sorriem
com o olhar”. Gustavo Krelling venceu com um trabalho de releitura fotográfica de Van Gogh, sob orientação da professora Zaclis Veiga. Ele comemorou o prêmio lembrando que a participação em eventos desse tipo “abrem a cabeça” para novas possibilidades de estudos e trabalhos acadêmicos. Além disso, foi importante participar da divulgação do congresso de 2009: “Recebemos inúmeros elogios pela organização e pela iniciativa de distribuir uma edição especial do LONA já no evento deste ano convidando para o ano que vem. Com toda a certeza a expectativa deles ficou bem grande”.
Desafio da Notícia : Equipe da UP cumpriu sua tarefa, mas precisa do voto pelo celular Juliana Fontes
A equipe da Universidade Positivo (UP) já encarou o “Desafio da Notícia” - programa da Rede Bandeirantes que mobiliza alunos de vários cursos de Jornalismo do Paraná. Na segunda etapa, o tema dado às equipes foi: “Independência ou morte!” As reportagens produzidas visavam questionar se o Brasil tem ou não independência econômica. Competindo nesta rodada com a Universidade Tuiuti do
Paraná (UTP), a equipe da UP abordou o tema partindo da economia paranaense. O foco escolhido foi a crise da louça em Campo Largo. Já a UTP preferiu tratar da variação do dólar e como isso afeta a vida, e principalmente a mesa, dos consumidores. Os futuros jornalistas tiveram uma semana para produzir a matéria.A repórter da equipe da UP Tatiana Zabot diz que a maior dificuldade da competição foi o tempo curto para a tarefa. “Só tivemos um dia e meio para gravar, pois o
resto do tempo foi reservado para a elaboração da pauta e edição”. Apesar da correria, Tatiana fala que a experiência foi importante para aprender a se responsabilizar pelo que é veiculado. Hendryo André (UP), responsável pela pauta, acredita que o programa traz um reconhecimento do público pelo material produzido pelos alunos, pois o número de pessoas que podem ver as matérias pode girar em torno de 4 milhões. Hendryo relata que foi abordado pelo porteiro do con-
domínio onde mora, que disse ter assistido o programa e fez, inclusive, alguns comentários sobre a matéria da equipe. “Eu já deixei algumas vezes jornal na portaria com matérias escritas por mim e nunca recebi uma crítica ou um elogio. Esse alcance que a televisão tem é um fator que gera satisfação”, compara. Na primeira etapa do Programa, a Universidade Federal do Paraná teve 60,81% dos votos e venceu a Facinter, que teve o índice de 39,19%.. O tema proposto foi a mobilidade
urbana. Esta semana as equipes que encaram o desafio são a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e a Unibrasil. Os estudantes deverão produzir reportagens com o tema “O amor está no ar”. Quem não viu as matérias pode acessar: www.blogda cidade.com.br. Para votar na Universidade Positivo mande um SMS para 8423 66 84. O resultado da etapa sairá no sábado durante a exibição do programa, que acontece a partir das 18h40 na Band.
Curitiba, quarta-feira, 10 de setembro de 2008
4 Especial
Mulheres vítimas de transtornos após o parto correm risco até de cometer suicídio
Nove meses depois pode vir a depressão Karla Dudas
“Ele jogava bilhetinhos na minha mesa. Era um chato”, reclama Maria Helena ao lembrar de como conheceu o marido. Os dois estagiários da mesma empresa dividiam uma sala e no começo os “santos não bateram” como Mari mesma define. Em 2008 completam 28 anos de casados. “Logo que compramos nosso apartamento engravidei da nossa primeira filha. Ficamos muito felizes porque foi um momento superplanejado”. Durante os nove meses de espera para a chegada de Carla o apartamento foi todo preparado. As paredes do quartinho foram pintadas, as roupinhas compradas, o dia começava e terminava com pensamentos
voltados para a pequena. Era uma madrugada fria de julho quando tiveram que sair às pressas para o hospital: a bolsa havia estourado. O pai – de primeira viagem – deixou a casa com a camisa abotoada ao contrário e esqueceu da malinha preparada há mais de um mês. O parto foi tranqüilo e Carla nasceu pesando mais de três quilos. Porém, quando foi levada para o quarto, a nova mamãe não estava muito bem. “Estava tão triste e não conseguia explicar o porquê. Eu já amava minha filha, mas me sentia insegura, sozinha e por isso me sentia responsável e uma mãe horrível toda vez que ela chorava”. Pesquisas recentes mostram que até 20% das mulheres podem sofrer de depressão pós-parto, doença que acontece normalmente nos primeiros dias após o nascimento do bebê. Os fatores ligados a condição se encontram diretamente no lado emocional do paciente. Segundo um estudo divulgado em 2005 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mulheres que apresentem um quadro mais grave de depressão após o parto têm mais chances de abandonar as crianças. O estudo apontou ainda que isto pode
acontecer pela soma de múltiplos fatores como: miséria (86,7%), pouca escolaridade (67%), falta de rede de apoio (36,5%), relações familiares da mãe comprometidas (12%) e ausência de envolvimento do pai (91,5%). A.C.S tem hoje 19 anos e aos 15 anos enfrentou a difícil situação de ser mãe adolescente. “Meu baile de debutante foi quando eu estava de oito meses. Era estranho ver meus amigos preocupados com a programação de final de semana e eu tendo que pensar como eu iria – e se conseguiria – conciliar os estudos e ser uma boa mãe”, conta. Para piorar, o namorado terminou tudo e disse apenas que ia pagar pensão. Os pais também receberam com choque a notícia. “Meu pai ficou um tempo sem falar comigo, mas depois acabaram me dando a maior força”. Quando Rodrigo, filho de A. nasceu, a menina não quis nem olhar para ele. “Eu sentia que a minha vida tinha acabado ali e, por mais que seja cruel dizer isso, eu só pensava que a culpa era do Rodrigo”, lembra a mãe, que não aceitou pegar o filho quando foi levado ao quarto pela enfermeira, pela primeira vez. Os médicos acompanharam o caso da adolescente e, com a ajuda da mãe e do pai, A. começou a se acalmar e aceitar o filho. “Quando amamentei pela primeira vez, tinha medo de fazer tudo errado e seria mais uma coisa para me julgarem. Mas tudo aconteceu diferente, quando senti aquela mãozinha, quando ele parou de chorar no meu colo, senti que estava ligada a ele para sempre. Um sentimento que só me mostrou que a partir daquele momento eu podia dizer que eu estava completa”, relata emocionada. Também chamada de transtorno de humor, ou “tristeza pós parto”, o quadro depressivo pode aparecer entre as quatro primeiras semanas após o nascimento do bebê, e além disso pode surgir em diferentes graus de intensidade. O tipo mais leve é o “baby blues”, que atinge de 50 a 80% das mulheres e dura de dez a quinze dias após o nascimento.
Os principais sintomas são: im- que teve um parto normal, onde paciência, irritação, crise de tudo ocorreu bem. A mulher já tristeza, choro sem nenhum era mãe de outros dois meninos motivo aparente e lapsos cur- e foi acompanhada pelo marido. Nos primeiros dias, Janete tos de memória. “Tanto o caso de Maria He- percebeu que a parturiente anlena como de A. parecem per- dava meio triste e se prontifitencer a este tipo. No primeiro cou a acompanhar o caso. Acacaso ajudou o fato da mãe ser baram se tornando amigas, de primeira viagem e no segun- mas com o passar dos meses as do uma gravidez não planeja- amarguras da mãe só aumenda. A pouca idade também pode taram. “Ela reclamava que não ser um dos fatores que agravam conseguia dormir, não tinha este quadro”, explica a atuante apetite, e às vezes passava hona área de Psicologia, Marcela ras num estado de anestesia como se só o seu corpo estivesse Guimarães. Nestes casos, afirma a psi- presente”. Janete aconselhou a amiga cóloga, o apoio familiar é fundamental. “Toda a família deve a procurar ajuda de um especificar próxima incentivando e alista, pois de acordo com a sua apoiando nos momentos mais experiência o quadro poderia ser explicado pela depressão póstristes”, reforça Marcela. Foi com este apoio que a pe- parto. “Mas nada parecia dar dagoga Regina Célia Bara de certo. Ela me falava que não conseguia dizer que Lima, de 50 amava o bebê e anos, superou a “A mulher pode se depressão pós- sentir perdida como chegava a ponto de esquecer de parto. “Eu entrocá-lo e amagravidei aos 29 se tivessem tirado mentá-lo. Seis anos, depois de uma grande parte meses depois do 10 anos de casanascimento do da. Levava uma do seu ser, da sua bebê ela acordou vida muito indeliberdade” num final de sependente, e logo quando engravidei fiquei com mana e se enforcou no banheimedo que não pudesse mais fa- ro”, relata Janete. A história acima é um dos zer as coisas que eu queria. Quando a Lu nasceu (Luciana exemplos que os especialistas tem 20 anos hoje), me sentia definem como a depressão pósmuito orgulhosa de ser mãe, ela parto severa, onde o comportaera perfeita. Porém, me sentia mento da mãe se torna um pefraca, triste de um jeito que rigo para si própria e para a nunca havia me sentido antes. vida do bebê. “A mãe vê a criPara completar a minha angús- ança como um inimigo em potia, não consegui amamentar e tencial e ao mesmo tempo se a Luciana foi direto para a ma- culpa por esses pensamentos”, comenta a psicóloga. madeira”, relembra Regina. Diferentemente do “baby “Meu marido foi muito parceiro e me deu muita força, an- blues,” que atinge a maioria tes da Lu completar um mês eu das mulheres e está mais asjá estava melhor. Sou muito sociado à insegurança, os caagradecida pela filha que eu te- sos mais graves podem surgir nho que é linda, já está quase até seis meses depois do nascise formando e é um geniosinho”, mento da criança e, de acordo com os médicos, é muito difícil derrete-se Regina. prevenir esse tipo de depressão antes do parto. Casos extremos Normalmente, em situações A enfermeira Janete Marquieviz, diz que já perdeu as onde a mulher apresentou sincontas de quantos nascimentos tomas de disfunções psicológiacompanhou e de quantos ca- cas antes ou durante o período sos em que mãe desenvolveu o de gestação a atenção deve ser quadro de depressão. Uma das redobrada. No caso desse tipo mais tristes histórias que a en- de DPP, também conhecida fermeira lembra é de uma mãe como psicose pós-parto, a inci-
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5 Karla Dudas/LONA
Curso ajuda superar medo de ser mãe Anaisa Lejambre
O quadro depressivo pode aparecer entre as quatro primeiras semanas após o parto
“A gente não espera amar tanto uma pessoinha desse tamanho” dência é bem menor. De acordo com a American Psychiatry Association (APA), a doença pode atingir uma ou duas mulheres em um grupo de mil. Para a psicóloga Geani Marina, especializada em casos como este, é nesta fase a mulher sente como se algo estivesse mudado radicalmente. “A mulher pode se sentir perdida Ela, que antes era paparicada, agora passa a dividir todos os seus minutinhos com uma outra pessoa”, explica. Além disso, Geani acrescenta que o medo pode ser um grande fator causador da DPP, pois ser mãe é uma “função” que irá exigir da mulher muita responsabilidade. “Há casos de mulheres que são abandonas pelos companheiros durante ou logo após a gestação. Isto, sem dúvida, pode causar na mulher um sentimento de abandono pois ela terá mais uma barreira para enfrentar sozinha”.
Crianças também sofrem Hiperatividade e problemas de relacionamento. Estes são apenas algumas das coisas que os filhos podem desenvolver com o passar dos meses em que a mãe se encontra deprimida. Enquanto a
mulher enfrenta o período com DPP a relação entre ela e o filho mantém-se distante o que retarda o desenvolvimento social da criança no primeiro ano de vida. Estes primeiros contatos com o mundo exterior são muito necessários para o crescimento da criança. Pesquisas mostram que filhos de mães que sofreram de depressão pós-parto no estado severo podem ter dificuldades em atividades que envolvam lógica, problemas para dormir e tendências para sofrer de depressão. Isto porque nesta fase a mãe é um exemplo de como os adultos se comportam. “No caso de filhas meninas, a mãe além de ser um exemplo de mulher é um exemplo de como é um relacionamento entre mãe e filha”, afirma a psicóloga Geani.
Pais x Depressão Quem acha que o sentimento de insegurança só afeta as mamães de primeira viagem está muito enganado. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, revelou que os pais também podem apresentar sintomas da depressão pósparto. De acordo com a pesquisa, depois de oito semanas do nascimento 3,6 % dos mais de 8.400 pais entrevistados apresentaram quadros de ansiedade, mudanças de humor e “sensação de falta de esperança”. Gabriel Tavares, pai recente, concorda com a pesquisa e diz: “Não é uma falta de esperança é um medo de não acertar. A gente não espera amar tanto uma pessoinha desse tamanho e quer fazer tudo certo sempre.365 dias por ano, 24 horas por dia”.
O que fazer quando se está grávida? E quando o bebê nascer? Será que vou dar os cuidados necessários a ele? Inúmeras dúvidas podem surgir quando está para chegar o primeiro filho. Mães e pais sem experiência não sabem exatamente o que fazer, mesmo que estejam curtindo a gravidez, não podem deixar de lado a insegurança que surge muitas vezes. É necessário tomar cuidado para que nenhum dos dois tenha depressão pós-parto, por causa desta insegurança. Por isto, atualmente, existem cursos para gestantes, para dar apoio ao pai e principalmente à mãe. O contato com outras grávidas, que podem também estar inseguras, facilita para compreender melhor o que está acontecendo. No curso, as mães aprendem a trocar fraldas, dar banho, vestir o bebê, amamentálo, dentre outros cuidados necessários para com a criança. A Associação Médica do Paraná é uma das institutições que oferecem o curso em Curitiba, e para participar é necessário que se faça uma doação de alimentos ou roupas, que serão repassadas para instituições. As grávidas que fazem o curso garantem a importância da Anaisa Lejambre
Problema que tem solução Para enfrentar as dificuldades que a mãe pode ter nos primeiros meses de vida do recém-nascido, os médicos, psicólogos e psiquiatras indicam o acompanhamento. Seja por meio de grupos de apoio, em que as mulheres possam dividir suas angústias, ou por sessões individuais de terapia. Em Curitiba, funciona o Programa Mãe Curitibana, que acompanha as gestantes durante a gravidez e após o parto. Quem quiser mais informações pode acessar o site www.curitiba.pr.gov.br/saude.
Grávida participa de curso
iniciativa: “Qualquer informação nesta época é válida. A primeira gestação está sendo perfeita”, comenta Patrícia Suizane, grávida de 8 meses, de uma menina chamada Gabriela. O Ministério da Saúde constatou que a mortalidade infantil no período de gestação vem aumentando ao longo dos anos, porém, estas mortes podem ser evitadas, muitas vezes. “O curso é considerado como medicina preventiva, por fornecer orientação ao casal, proporcionando os melhores cuidados para o bebê”, afirma Lílian Gusso, psicóloga e coordenadora do curso na associação. Maína Olbertz, grávida de cinco meses, se considera bem informada. “O meu filho foi planejado com meu marido, na primeira tentativa já engravidei, por isso venho lendo muitos livros sobre o assunto e agora estou fazendo o curso. Acredito que tem muitas mulheres que às vezes engravidam e não têm informação, aqui no curso eles vão dar várias dicas para estas gestantes. Suprindo um pouco a necessidade da leitura”, afirma. É normal o casal grávido ter medo, ainda mais quando é a primeira gravidez de ambos. O curso tem como objetivo tentar orientá-los para suprir as dúvidas e informações necessárias. Patrícia comenta sobre o medo de ser mãe. “Nós temos medo exatamente por termos insegurança de não sabermos muita coisa sobre o assunto. Faço o curso para ter contato com outras grávidas que estão tendo esta experiência, mais o auxílio de profissionais”. Laura Barbosa Oliveira Ramos é ginecologista e foi convidada para auxiliar a aula do pré-natal. Ela comenta ainda que o grupo ajuda muito, tanto pelas explicações do que deve ser feito, quanto em relação à troca de experiências com outras mães. “Aqui é uma prévia de tudo o que ela vai passar. É mais fácil fazer este exame de consciência antes do momento para que tudo seja melhor qualificado”.
Curitiba, quarta-feira, 10 de setembro de 2008
6 Geral
Intimidade e saúde devem caminhar juntas para evitar problemas
Dor na relação sexual pode ser doença Rafael Kirchner Taise Verdério
Em uma relação sexual é preciso que dois indivíduos estejam envolvidos. Mas será que eles aproveitam ao máximo os momentos de prazer? Nem sempre a resposta é afirmativa. Muitas vezes isso não acontece pelo fato de que, na hora “H”, podem ocorrer dores. Quando existem esses incômodos, é preciso que as pessoas fiquem atentas. As dores podem ser de ordem psicológica ou em muitos casos é o começo de doenças graves e problemas de saúde. Um dos males a ser diagnosticado é a esterilidade. O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo realizou uma pesquisa sobre sexualidade e constatou que 30% das pacientes de cinco mil ginecologistas reclamam de dores durante a relação sexual ou falta de desejo. As dores na hora do coito são identificadas como dispareunia e, de acordo com a ginecologista Léa Camargo da Silva, esse é um dos sintomas que afetam
As dores podem ser de ordem psicológica ou em muitos casos é o começo de doenças graves as mulheres. “Existem dois tipos: dispareunia de penetração e dispareunia de profundidade”. A personagem, identificada como L. P., revela alguns detalhes: “Eu tenho a dispareunia secundária. Durante quatro anos, não era uma pessoa considerada sexualmente ativa. A partir de uma relação mais constante, sempre com o mesmo parceiro, comecei a sentir dores no ato da penetração. Um momento que deveria ser de prazer e satisfação às vezes torna-se um sofrimento”. Para a sexóloga Iolanda Machado, a dispareunia pode ocorrer tanto em pessoas do sexo masculino como do sexo feminino, sendo mais comum entre as mulheres. “É uma disfunção sexual que pode estar ligada a bactérias ou infecções presentes tanto na vagina como
no pênis”. Léa analisa que para ter um resultado preciso é necessário que sejam realizados exames físicos detalhados para identificar as partes em que ocorrem as dores e fazer a verificação de alterações da anatomia e a presença ou não de lesões vulvares”. Segundo L.P., seu namorado sempre foi muito companheiro e compreensivo. “Quando as dores aumentaram, mesmo com a lubrificação vaginal normal, ele disse: ‘Vamos marcar uma consulta com uma médica ginecologista urgente. Precisamos saber o que acontece realmente’. Marquei uma consulta e constatei uma infecção vaginal. O tratamento está no início mas vai dar tudo certo, tenho certeza”. A dispareunia normalmente tem causas orgânicas. Porém, questões psicológicas têm seu grau de culpa. Diante disso também é relatado o chamado vaginismo, que é a contração involuntária dos músculos situados próximos a vagina, dificultando a penetração do pênis.
O que causa a dispareunia? Fatores orgânicos Infecções genitais; doenças de pele na região genital; doenças sexualmente transmissíveis (DST); infecção ou irritação do clitóris; doenças que atacam o ânus; irritação ou infecção urinária. Nos homens podem ser destacados a fimose, doenças de pele, herpes genital, doenças do testículo e próstata.
Quais são os tipos da doença? Primária: acontece desde a primeira relação sexual. Secundária: quando a dor tem início após um certo tempo. Situacional: não acontece sempre, somente em algumas relações sexuais. Generalizada: em toda relação a mulher sente desconforto.
Fatores psicológicos Problemas em aceitar a sexualidade de forma saudável ou sentimento de culpa; crenças morais e religiosas severas; tabus irracionais sobre o sexo; falta de informação e traumas vividos relacionado ao tema.
Mulher deve ter relação aberta com parceiro, diz especialista Léa Camargo da Silva é especializada em ginecologia e obstetrícia. Em entrevista concedida ao LONA, ela esclarece algumas dúvidas. LONA - As dores ocorrem em função de quais doenças? Léa - Geralmente são bactérias ou fungos. Tem a vaginose, que é causada por uma bactéria chamada gardenerela, a tricomoníase e a gonorréia. É preciso ficar bem atento com este tipo de corrimento, que são corrimentos amarelados, com cheiro forte, com coceira e principalmente com dor para ter relação. Outro problema é o fungo, e nas mulheres isso é comum, às vezes encontramos sem nenhum sintoma. A cândida
guém que consiga esclarecer o que está acontecendo, porque senão você leva isso para a vida inteira. Então são aquelas mulheres que nunca tiveram orgasmos, que não conseguem falar para os parceiros o que está acontecendo, que são submissas, é uma coisa séria e a mulher hoje em dia tem que ter o outro lado, a gente tem que saber o que quer e o que não quer, do jeito que quer.
pode provocar este problema na penetração e dor para ter relação sexual. 15% das minhas clientes reclamam de dores na hora da transa. Isso acontece nos dois sexos. Quais são os métodos para não se ter mais as dores? Não existe simpatia. A gente tem que ver o que está acontecendo e tratar o motivo. O vaginismo é mais complicado, é psicológico, tem terapia e um acompanhamento, porque não existe modificação orgânica, não é fisiológico, é emocional mesmo. Precisa ser tratado em base mesmo, verificar o que aconteceu, se existe um trauma, se aconteceu algo diferente. O que os problemas sexuais podem acarretar na
A ginecologista Léa Camargo vida de uma pessoa? Quando você inicia a vida sexual, você tem uma série de mitos, uma série de expectativas que não correspondem à realidade. Tem que ter muita inteligência de procurar a pessoa certa, de conversar com al-
Qual é a importância das consultas regulares? É a saúde da mulher mesmo. E a importância é do papa-nicolau, do preventivo do câncer, isto vai proporcionar que você não tenha problemas mais tarde, principalmente jovens que querem engravidar, constituir família. Outra
coisa que está muito comum é o HPV, que é o vírus, uma coisa muito grave que precisa ser tratada. O HPV é um vírus capaz de induzir lesões de pele ou mucosa, as quais mostram crescimento limitado e habitualmente regridem espontaneamente. E ele é diagnosticado com o preventivo do câncer. Quem tem mais dificuldade em falar sobre sexo, o homem ou a mulher? O homem. A mulher, principalmente com médica ginecologista, torna o papo bem mais aberto, mais tranqüilo. Eles conversam entre eles, mas procurar um médico para saber da saúde, fazer o exame do pênis, ver se está tudo bem, isso é muito difícil encontrar.
Curitiba, quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Geral
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Mesmo com a diminuição da desigualdade, os negros continuam vivendo em condições inferiores
Brasil diminui desigualdade social Anny Zimermann
“Retrato das desigualdades de gênero e raça”, foi a pesquisa realizada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) e apresentada ontem em Brasília. Os estudos comparam microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnads), divulgados pelo IBGE, entre os anos de 1993 e 2007. A pesquisa mostrou que os índices relacionados às diferenças de raça e gênero no Brasil têm melhorado, mas ainda são salientes. Indicadores como população, saneamento, habitação, escolaridade, pobreza, entre outros foram avaliados. Segundo o site do Ipea, “além de preparar um detalhado e inédito perfil da população brasileira a partir de recortes de gênero e raça/cor, este trabalho já organiza os dados mais recentes para compará-los com a Pnad 2007 que está será lançada nesta semana”. Em 1996, o índice de população branca e pobre era de 21,5% e caiu para 14,5% até 2006. Já os negros apresentaram índice de pobreza de 46,7% em 1996 e em 2006, de 33,2%. O índice de indigência negra é o dobro dos brancos. De acordo
com o Ipea, pobre é quem sobrevive com até ½ do SM per capita por dia, e indigente é quem sobrevive com até ¼ do SM per capita por dia. Os índices de renda, pobreza e escolaridade da população negra melhoraram entre os anos de 1996 e 2006, mas os dados mostram que a população branca ainda vive melhor. A quantidade de brancos que estudavam no ensino médio em 2006 era de 58,4%, e de negros era de 37,4%. Mas a média subiu com relação a 1996, que era de 13,4% para negros e 33,8% para brancos. O rendimento dos homens negros aumentou R$19 em comparação com o rendimento de 1996. Porém, a renda dos homens brancos caiu de R$1.044,20 para R$986,50. Os brancos ganham em torno de um salário mínimo a mais que os negros. A população negra também começa a trabalhar antes e se aposenta depois que os brancos. De acordo com o estudo, a mulher ganha menos que o homem, que recebe em média R$885,56 contra R$577 das mulheres. As negras ganham em média R$ 383,39 por mês. Houve aumento na proporção de famílias chefiadas por mulheres que em 1993 era de 19,7% e em 2006 subiu para 28,8%. Com relação à educação, a população negra está menos presente nas escolas, suas médias de anos de estudo são menores e
as taxas de analfabetismo são maiores que da população branca. As mulheres apresentaram taxa de escolaridade no ensino fundamental e médio superior a taxa dos homens. A cobertura da Previdência é maior para homens idosos brancos e menor para mulheres negras. A grande maioria dos domicílios que recebem benefícios assistenciais, como Bolsa Família e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, é chefiada por negros. Levantamentos da pesquisa apontaram que os negros trabalham mais e nas piores ocupações, entram mais cedo no mercado e saem mais tarde que os brancos. As mulheres que trabalham têm maior taxa de escolaridade do que os homens que trabalham. A porcentagem de mulheres negras ocupadas em trabalho doméstico é quase 10% maior que a porcentagem das mulheres brancas. E esse trabalho é na sua maioria sem carteira assinada. Os domicílios que tem chefes negros se encontram têm menos água encanada, esgoto e coleta de lixo. E os meninos negros são as maiores vítimas do trabalho infantil. Hoje no Brasil, há mecanismos que promovem uma melhoria na participação social de negros. Para a socióloga Eliane Basílio, após 1995, houve uma ampliação do debate sobre as desigualdades raciais. “No
Aluísio de Paula/LONA
As mulheres negras são as que menos ganham governo FHC há um reconhecimento que estamos num país racista e que medidas públicas precisam ser desenvolvidas pelo Estado para promoção da igualdade racial. Hoje temos as cotas na educação. Temos também a Lei 10.639, implementada no governo Lula, que obriga as escolas a ensinarem a história africana no currículo escolar e a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade”, afirma a socióloga. Além disso, o Brasil tem obtido progressos relevantes. “Nos últimos cinco anos, o índice de ingresso de estudantes negros na universidade jamais foi alcançado em todo o século XX”, complementa Eliane.
De acordo com a socióloga, a raiz histórica dessa diferença econômica, social e cultural entre brancos e negros, está na escravidão. “Após a abolição não houve políticas públicas para integrar a pop=ulação negra nos direitos sociais no Brasil. Não houve projetos de integração em nenhuma área social”. Esse quadro pode ser modificado. “É preciso a elaboração de políticas afirmativas em várias áreas sociais, divisão de renda, campanha de combate ao racismo, punição das práticas racistas, maior participação da população negra em espaços de decisões no país, democratização da mídia, entre outras”, comenta Eliane Basílio.
Metade dos moradores do Fazendinha tem escolaridade média Renata de Andrade
Centro, Batel, Água Verde, Portão. Esses são alguns dos bairros mais ricos de Curitiba. A maioria da população se concentra entre as classes A e B, a escolaridade é alta. Não há sérios problemas com saúde, criminalidade. Não há reclamações sobre demora de ônibus, falta de vagas nas creches ou mau atendimento nos hospitais. É quase isso que acontece com um bairro bem próximo a esses. O bairro Fa-
zendinha. Com pouco mais de 30 mil habitantes, o Fazendinha não é um bairro pobre. Mais da metade das famílias, 68%, é de classe média. Uma das maiores porcentagens de Curitiba. Quase metade da população, 48,5%, tem escolaridade média e apenas 16,4% são pessoas com escolaridade baixa. Mas para Daniel Clementino da Costa esses números não significam muita coisa. O aposentado divide os três pequenos cômodos de sua casa com a mulher e dois filhos. Todos de-
pendentes de sua renda, que já não consegue manter desde que surgiu um problema de saúde. O grande problema de Daniel é a catarata no olho direito. “Catarata bem forte”, enfatiza ele. Por causa dela, parou de trabalhar como mecânico na oficina montada nos fundos de sua casa. A preocupação com visão o desanima: “Estou parado. Tem hora que esse olho aqui atrapalha. Posso até levar um tombo”. A maratona para tentar se curar foi longa. Esperou aproximadamente oito meses para con-
seguir a primeira consulta. Só depois de três meses fez os exames. Detectada a catarata, já em grau avançado, era preciso marcar a cirurgia. Depois de mais espera, chegou o mês para marcá-la. Aí surgiu mais um problema: os exames já não valiam mais. “A secretária disse que caducou, tem que fazer de novo”, conta Daniel. Mas para fazer novos exames, antes é preciso uma nova consulta. Para uma nova consulta, mais espera. Desde que parou de consertar carros da vizinhança, Daniel trabalha como vigia. Ami-
gos deixam carros no portão de sua casa para ele cuidar. Antes, ele conta que podia deixar os carros estacionados na rua durante a noite, tranqüilamente, pois os moradores pagavam uma agência de segurança. Mas, depois de uma mensalidade atrasada, Daniel disse ter visto o próprio vigia arrombar seu carro e tentar roubá-lo. Essa é a visão que o morador tem de seu bairro. Uma visão que já não funciona bem. Uma meia visão, que só enxerga um lado do Fazendinha.
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Curitiba, quarta-feira, 10 de setembro de 2008
O sol da Independência Texto e fotos: Rosângela Gerber
O desfile anual de 7 de Setembro, no Centro Cívico de Curitiba, contou com um convidado inusitado. Diferente do que acontece todos os anos, uma manhã ensolarada contribuiu para que mais de 20 mil pessoas comparecessem às comemorações do Dia da Independência. Desfilaram as tropas da Marinha, do Exército, da Aeronáutica, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, grupos da Guarda Municipal e da Polícia Civil. Também participaram a Patrulha Escolar Comunitária, quatro escolas da rede municipal de ensino, 43 da rede pública estadual e escolas que recebem atendimento do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd). No decorrer do desfile era possível ouvir a narração dos acontecimentos importantes do Brasil, como Entradas e Bandeiras, conflitos de fronteira e realizações de líderes brasileiros. A apresentação das tropas do Corpo de Bombeiros teve reconhecimento especial dos presentes, recebendo uma salva de palmas durante todo o percurso. Aguardado e comemorado pelas crianças, o desfile dos canhões do Exército foi o ponto alto das apresentações, que foram encerradas com o desfile da Cavalaria.