RIO DIÁ do
Curitiba, quinta-feira, 14 de maio de 2009 - Ano XI - Número 485 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo
Violência contra a mulher está em todas as classes sociais Diferente do que algumas pessoas pensam, a violência contra a mulher acontece em todas as classes sociais. Mas parte dos brasileiros ainda têm o costume de atribuir esse tipo de prática a pessoas de classes econômicas mais baixas. Pesquisa realizada pelo Ibope, em fevereiro deste ano, aponta que mais da metade dos brasileiros conhecem alguma mulher que sofre agressão do parceiro. O estudo também revela que cerca de 24% dos entrevistados acha que os homens agridem as mulheres por falta de condições econômicas. Os especialistas, porém, dizem que a questão é mais ampla e alertam para outros fatores que contribuem para a ocorrência dessa situação. A coragem para denunciar o agressor continua como uma das principais ferramentas para diminuir a incidência do problema. Páginas 4 e 5 Juan Lucas Martínez
Profissão de pescador corre o risco de desaparecer Além da remuneração baixa, agora os profissionais que dependem da pesca para sobreviver sofrem com outro problema: a diminuição no número de peixes no mar. Além disso, com mais opções no mercado de trabalho, os pescadores não conseguem passar a função a seus filhos, como acontecia na tradição. E segundo os próprios pescadores, para encarar o trabalho da pesca é preciso gostar muito, antes de tudo. Página 7
L BRASI
jornalismo@up.edu.br
Cultura
Poucas rádios dão prioridade ao jornalismo em Curitiba Livro “O som das Ruas”, do professor de radiojornalismo Luiz Witiuk, faz um apanhado geral sobre a situação das rádios e a maneira como a produção jornalística é tratada em cada uma delas. O lançamento aconteceu anteontem no auditório do bloco vermelho, na Universidade Positivo.
Página 3 Cinema
Vaticano propõe boicote a “Anjos e Demônios” Atitude segue a mesma linha da que foi tomada em 2006, quando foi lançado “O código Da Vinci”. Os dois filmes são inspirados na obra do escritor Dan Brown.
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Coluna
O deputado e seu foro privilegiado Página 6
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Opinião
Fotos: divulgação
Futebol
Futebol
Sistema “mata-mata” Pontos corridos: de coração e emoção O melhor time é campeão Luiz Fernandes Emoção. Esta é a palavrachave da fórmula de campeonato “mata-mata”. Todos sabem que futebol é emoção, pode até não ser o mais justo, com dizem por aí, mas é o mais vibrante, estimulante e empolgante. Esta é a fórmula que deveria ter o Campeonato Brasileiro, que há muito não traz emoção. Vou começar com um exemplo recente. Alguém gostou da fórmula do Campeonato Paranaense de pontos corridos? Já ouvi muitos sussurros que não é o ideal, que deveria voltar ao sistema com dois jogos finais, o famoso “mata-mata”. Assim, acredito da mesma maneira que os pontos corridos prejudicam equipes de menor porte. Vejam os Campeonatos Brasileiros no de sistema pontos corridos. Apenas dois ou três times brigam pelo título. No primeiro ano, Cruzeiro d i s parado. Depois o “pega” foi um pouco melhor, entre Santos e Atlético, e assim por diante. Está comprovado. Não é um campeonato empolgante a todos, não é? Mas que justiça é essa, como dizem os adeptos dos pontos corridos? Para mim, justiça significa que todos os clubes receberam a mesma verba da televisão, que nenhum time tenha preferência por ser a maior torcida, ou ser favorecido por se enquadrar no “eixo do mal”, o Rio-São Paulo. Será mesmo que o campeonato de pontos corridos já não começa injusto? Isso é apenas uma forma de tapar o sol com a peneira. Como diz
um colega: “O importante não é ser honesto, e sim, parecer honesto”. Assim que o complô da CBF age. Lembro-me de finais memoráveis, que me faziam amar, cada vez mais, o futebol. Que saudade das finais cheias de emoção, que paravam a cidade para todos verem as disputas do sistema “mata-mata”. Eram oito equipes na segunda fase, que brigavam para serem campeãs. A emoção era tanta, que o coração faltava saltar pela boca. Só para citar alguns jogos marcantes, quem não se lembra do gol que o jogador Tupãzinho fez na final contra o São Paulo de 1990? Esse jogador entrou de vez para a história corinthiana. E agora, alguém se lembra do último gol do Corinthians na conquista do Brasileiro de 2005? Eu não. E as conquistas paranaenses de 1985 e 2001, do Coritiba e do Atlético, respectivamente? Será q u e na fórmula de pontos corridos eles seriam campeões? Certamente, não.
Sandro Michailev Mais um campeonato brasileiro começa. Serão trinta e oito rodadas de muita emoção, com vinte equipes lutando pelo título. Esta é a oitava edição do Brasileirão no sistema de pontos corridos, solução que veio para colocar ordem e justiça em um campeonato que, algum tempo atrás, nem sempre premiava o melhor time. Era uma festa. Já chegamos a ter 96 equipes disputando o campeonato, que era concorrido por fases regionais, com critérios de qualificação para fases posteriores das mais absurdas, como maior média de público nos jogos. Tivemos também um campeão, pasmem, com saldo negativo, além de outros tantas contradições. Há quem diga que isso é justo e mais emocionante. Porém, tenho certeza absoluta de que o sistema de pontos corridos é o melhor e digo o porquê rebatendo os argumentos mais usados de quem defende o “mata-mata”. 1º “Com os pontos corridos, o
campeonato perde a emoção e fica sem graça. Um time dispara na frente e os jogos não valem mais nada”. Não é bem assim. Quem gosta de futebol sabe que até jogo de suburbana, com equipes que estão no meio da tabela sem pretensão nenhuma no campeonato, tem emoção. Existem times que ainda estão lutando por vagas na Copa Libertadores da América (principal torneio sul-americano, de tiro curto, aí sim é um campeonato para o sistema “matamata”), outras equipes lutam por vagas na Copa Sulamericana (estilo Libertadores) e ainda outras lutam contra o rebaixamento. Portanto, o campeonato fica cheio de alternativas, ganha em emoção e não perde. 2° “Por causa dos pontos corridos, a média de público está diminuindo. Ninguém quer ver jogos que não valem nada”. Outra mentira. Um estudo recente da empresa de gestão esportiva Golden Goal Sports Venture (GGSV) mostra que na edição de 2007 do Brasileirão se ob-
teve a melhor média de público dos últimos vinte anos. 3º “Com a volta do ‘matamata’, times menos preparados têm a chance de ficar com o caneco”. É o jeitinho brasileiro entrando em cena novamente. A sorte e não a competência e a regularidade triunfando. Nos pontos corridos, aquele time que realmente se preparou levanta a taça, não há questionamento. 4º “Se o sistema de pontos corridos fosse tão bom assim, ele seria adotado em competições como a Copa do Mundo, Liga dos Campeões da Europa e Libertadores”. Essas são competições de tiro curto, que envolvem equipes seletas e obtiveram suas classificações em outros campeonatos que, na maioria das vezes, são de pontos corridos. O sistema mais lógico é o de pontos corridos e, especificamente, essas competições fogem desse padrão por conta, principalmente, de calendário.
Expediente Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.
Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski, Camila Scheffer Franklin e Marisa Rodrigues. O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP, Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000
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Cultura Rádio
Cinema
Livro mapeia o radiojornalismo feito em Curitiba O lançamento do livro “O som das ruas” aconteceu anteontem na Universidade Positivo e contou com formato de um programa de rário de auditório; Diego Sarza Maria Carolina Lippi O professor de radiojornalismo da Universidade Positivo, Luiz Witiuk, lançou na última terça-feira (12), no auditório do bloco vermelho, o livro “O Som das Ruas”, que mapeia as rádios com produção jornalística de Curitiba. O evento contou com a presença do coordenador do curso de jornalismo da UP, Alexandre Castro, além do presidente do Instituto Cultural de Jornalismo do Paraná – realizador do projeto - Tomás Barreiros. Em um bate-papo descontraído – em formato de programa de rádio de auditório - comandado pelo professor Elson Faxina e com a participação da ex-aluna do autor, Tatiana Zabot, e dos amigos Ricardo Vi-
“Nunca imaginei que um dia seria capaz de escrever um livro, aproveitei o mestrado para fazer a pesquisa e deu certo” LUIZ WITIUK,
AUTOR DO LIVRO
“O
eira e Tomás Barreiros, Witiuk contou como foi o processo de pesquisa que possibilitou a criação de “O Som das Ruas”. Homem de rádio experiente, Luiz Witiuk tem passagens por várias emissoras curitibanas, dentre eles a Rádio Clube. Ele ficou surpreso com o resultado do trabalho. “Nunca imaginei que um dia seria capaz de escrever um livro, aproveitei o mestrado para fazer a pesquisa e deu certo”, enfatiza. Por outro lado, o professor ficou decepcionado ao constatar o baixo número de rádios
Maria Carolina Lippi
O professor Luiz Witiuk no lançamento de “O Som das Ruas”
SOM DAS RUAS”
que dão prioridade ao conteúdo jornalístico. Segundo ele, dentre todas as rádios da capital paranaense, apenas nove dão vez ao jornalismo, sendo que dessas, apenas quatro têm equipes de produção própria, por isso a vontade maior das emissoras é de “tapar buracos” na programação. “Percebi que há muita preocupação em cobrir espaço, porque há muito espaço e pouca produção”. No livro o autor também fala sobre a importância da interatividade com o público na produção de um programa jornalístico no rádio. “É um sonho que o rádio possa ‘abrir as portas’ para os ouvintes”. E foi com essa visão de participação popular, que o título “O som das ruas” foi criado, com a ajuda do revisor Marcelo Lima, que também é professor da Universidade Positivo. O evento contou com a presença de muitos alunos, a repercussão foi bastante positiva. “O Witiuk é um cara que marcou época no rádio, no livro ele aprofunda uma visão que é fundamental sobre mercado de trabalho”, comenta Sandro Moser, estudante do 5º período de jornalismo da UP.
Vaticano incentiva boicote a filme “Anjos e Demônios” mostra a história de uma sociedade secreta que deseja se vingar de católicos André Rosas Estreia amanhã nos cinemas a continuação de “O Código Da Vinci”, intitulada “Anjos e Demônios”, baseado no romance de Dan Brown. A possibilidade de um boicote ao filme foi proposta pelo Vaticano, hipótese que também foi cogitada no lançamento do primeiro longa, em 2006. O filme mostra os Illuminati, sociedade secreta de intelectuais que pretende se vingar de um massacre orquestrado, século atrás, pelos católicos, ameaçando destruir a Cidade do Vaticano as vésperas do conclave, cerimônia que elege o novo Papa. A polêmica em torno do filme é tanta que nenhum padre procurado pela equipe de reportagem quis se pronunciar sobre a posição da Igreja. Para Marli Tereza Piegel, 59 anos, a Igreja Católica ainda esconde muitos segredos. “Sem dúvida ainda temos muito para descobrir, é uma instituição feita por homens, precisa dizer
algo mais”? Quando questionada se a igreja é afrontada diretamente pelo livro e pelo filme ela não hesita em responder: “Sim. Eles têm medo, imagine alguém chegar e falar tudo aquilo? A publicitária Poliana Barcelos, 31 anos, compartilha da mesma opinião. “Tanto o livro quanto o filme colocam propostas que, se forem reais - pode até haver uma possibilidade de ser - fará com que muitas pessoas ‘fiquem sem chão’”. No primeiro filme da série, novas traduções para obras da Igreja são dadas, como a análise do quadro “A Última Ceia”. Para Poliana o que importa são os valores. “A Igreja é uma instituição que vem sofrendo alterações conforme o tempo. Jesus é importante pelo o que trouxe de ensinamentos para nós, não importa de que forma”. Para o segundo filme da série, a produção solicitou ao Vaticano que pudesse realizar as gravações na cidade, porém, o pedido foi negado. Se o filme irá chamar ou não a atenção, isso as pessoas terão de conferir nos cinemas.
Morre o professor Luiz Hamilton Berton Luiz Hamilton Berton faleceu na tarde da última terça-feira depois de ter feito parte da equipe que organizou os cursos de Pós-Graduação do então Centro Universitário Positivo (Unicenp) desde 2000. Com a transformação do centro universitário em universidade, em 2008, Luiz Hamilton passou a ser o Pró-Reitor de Pós Graduação e Pesquisa da Universidade Positivo. Antes de dar aulas em áreas como Análise financeira, Controladoria e gestão de negócios, entre outras, Berton nasceu em 8 de outubro de 1964, na cidade de Canoinhas, Santa Catarina. Viveu a maior parte da sua vida em Curitiba e teve uma formação que passou por uma graduação em Ciências Econômicas, pelo mestrado na Universidade Católica do Paraná (PUCPR), pelo doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e também por seu título mais recente: pósdoutor pela Universidade de São Paulo (USP) em 2004. Luiz Hamilton Berton tinha 44 anos.
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Especial Violência contra a mulher
O princípio da igualdade Lei Maria da Penha é o primeiro passo para conscientização e garantia dos direitos das mulheres Carolina Grams Dias Gabriela Buratto Gabriela Feitosa Junqueira Está equivocado quem associa violência contra a mulher à pobreza e ignorância. A violência doméstica viola os Direitos Humanos e atinge mulheres de todas as classes sociais, etnias, religiões e níveis de instrução. No Brasil, o movimento das mulheres ganhou força na década de 70, com o intuito de
lutar por questões sociais e de saúde pública. Mas, a defesa dos direitos das mulheres ganhou mais visibilidade três décadas depois, com a implantação da Lei Maria da Penha. Em agosto de 2006, foi sancionada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva a Lei 11.340, conhecida como Maria da Penha, com o objetivo de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. O nome da Lei é uma homenagem a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes: ela sofreu duas tentativas de homicídio provocadas por seu marido, o professor universitário Marco Antônio Herredia. Primeiramente, Marco Antônio lhe deu um tiro, deixando-a paraplégica, e depois tentou eletrocussão e afogamento. Com o intuito de combater a violência, uma rede constituída de ONGs e órgãos públicos está sendo construída para atender e dar suporte as vítimas da violência doméstica. Em Curitiba existem instituições como o Conselho Estadual da Mulher, Pousada de
“Já passaram pelas minhas mãos dois casos de casais homossexuais onde uma das parceiras foi vítima de agressão pela companheira. Achei interessante a coragem delas de denunciar e expor sua orientação sexual” SÂMIA CRISTINA COSER, DELEGADA
Maria, Núcleo de Proteção às Crianças e Adolescentes Vítimas de Crime (NUCRIA), Ideia, Esperança, Delegacia da Mulher, Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, Centro de Referência à Mulher em Situação de Violência, entre outros. Curitiba possui apenas um centro de apoio governamental. O Centro de Referência à Mulher em Situação de Violência (CRMSV) é bancado pelo Governo do Estado. O Centro, coordenado pela assistente social Marciana da Cunha Bastos, é localizado no Pilarzinho. As mulheres geralmente procuram o CRMSV para relatar a agressão sofrida e solicitar apoio psicológico e jurídico. De lá elas são encaminhadas para a Delegacia da Mulher, onde poderão prestar queixa e dar entrada ao processo contra o agressor. A instituição conta com advogados, psicólogos e assistentes sociais. A Delegacia da Mulher não atende apenas casos de violência doméstica, embora esta seja sua meta e prioridade: são realizadas queixas que vão desde simples assaltos até a prática de violência física e sexu-
al. Na região metropolitana de Curitiba é possível encontrar delegacias da mulher em São José dos Pinhais, Araucária e Quatro Barras; Almirante Tamandaré conta com uma subdelegacia. A intensidade do fluxo de pessoas que passam pela delegacia é impressionante. Segundo a delegada Sâmia Cristina Coser, segunda-feira é o dia em que há mais ocorrências, entre 30 e 40, e nos outros dias, por volta de 20. Os casos mais comuns são de ameaça, lesões corporais leves e vias de fato – lesões que não são perceptíveis visualmente. Crimes sexuais são menos frequentes. Muitas pessoas vão pedir solicitação para fazer o exame de conjunção carnal, realizam o exame, mas não voltam pra fazer o boletim de ocorrência. A mulher que se dirige à delegacia pode prestar queixa preenchendo um boletim de ocorrência, se houver lesões corporais é solicitado à vítima uma perícia, que deverá ser feita no IML (Instituto Médio Legal) ou nos hospitais associados: Hospital do Trabalhador em caso de lesões domés-
ticas e, em caso de violência sexual, no Hospital Cajurú ou Hospital de Clínicas. Depois de alguns dias, a vítima é chamada na Delegacia para relatar em detalhes os fatos ocorridos e dar autorização para que ações legais sejam tomadas sobre o caso. Três delegadas são encarregadas de analisar as queixas. Após esta análise, o acusado é indiciado e o relatório feito por uma das delegadas é enviado à promotora de justiça que irá decidir se o caso será ou não arquivado. Os denunciados não precisam necessariamente ser do sexo masculino. “Já passaram pelas minhas mãos dois casos de casais homossexuais onde uma das parceiras foi vítima de agressão pela companheira. Achei interessante a coragem delas de denunciar e expor sua orientação sexual”, diz Sâmia. O juizado, instalado em janeiro de 2007, dá cumprimento à Lei Maria da Penha que estipula que os tribunais de justiça de cada estado deverão criar juizados onde houver demanda. No Paraná, apenas Curitiba possui um juizado
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Especial
Fotos: divulgação
Violência contra a mulher
especializado na violência doméstica, nos demais municípios as varas criminais acumulam essa função. Apesar de ser denominado ‘juizado’, o Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher é uma vara criminal como qualquer outra de Curitiba, o único diferencial está na quantidade de processos: cerca de 10.000 contra a média de 800 nas demais varas. Embora a diferença seja alarmante, todas contam com a mesma quantidade de funcionários. O tempo decorrido para o decreto da sentença do agressor varia. Se o indivíduo já estiver preso, dura cerca de três meses, mas, se estiver solto não há previsão. É necessário ter acesso ao inquérito policial realizado pela Delegacia da Mulher antes do julgamento, mas esta também não está conseguindo dar conta da demanda abundante de denúncias. São inúmeros os casos nos quais a mulher agredida dá entrada no processo contra o agressor e acaba voltando atrás. Alguns processos podem ser arquivados, mas outros não. Quando ocorre uma lesão grave ou uma tentativa de homicídio, por exemplo, não há como a vítima recuar, o processo se torna obrigatório. Em casos de ameaça, a vítima pode desistir até o processo começar. O trabalho do juizado é dificultado também pela falta de esclarecimento de sua real
função. Diversas mulheres chegam até ele solicitando um tratamento para o agressor, muitas vezes drogado e alcoólatra, mas não desejam que estes sejam presos ou processados. “É difícil explicar para essa pessoa que o internamento e/ou tratamento é uma questão de saúde e não uma questão jurídica” afirma a juíza Luciane Bortoleto. Ela ainda completa: “Muitas mulheres não dão conta de seus relacionamentos e apelam para o Estado resolver problemas conjugais. Cabe ao Estado interferir apenas no que diz respeito à violência e isso, muitas vezes, é difícil de fazêlas entender”. As punições variam de acordo com a gravidade do crime cometido. Em casos mais sérios o agressor será preso e, em casos mais leves, prestará serviços à comunidade. Fica proibido pela Lei Maria da Penha o pagamento de multas como forma de isenção de responsabilidade. Outra inovação que a Lei trouxe como forma de sentença, é a obrigatoriedade de tratamento para o indivíduo. A psicóloga do juizado, Ivana Maria de Mello Possiede, afirma que a Prefeitura de Curitiba juntamente ao Governo Federal são profundamente engajados na causa. “A primeira-dama, Fernanda Richa, é extremamente envolvida com a questão da violência doméstica. Ela enfiou os dois pés na causa e trabalha direto com a gente” conta Ivana.
A classificação da violência perante a lei - Física: quando a vítima sofre lesões corporais. - Psicológica: crime de ameaça. - Moral: crimes contra a honra, que ofendem a moral e a dignidade - difamação, calúnia, injúria. - Patrimonial: furtos e roubos. - Sexual: quando a vítima é obrigada a fazer sexo, sem seu consentimento e/ou vontade.
Tanto a violência doméstica, como sua denúncia, não envolvem apenas casais. Outras pessoas da família podem se tornar vítimas ou denunciantes. Veja alguns exemplos: M.A.S.*, 69, tem 10 filhos. O filho mais é sustentado por uma das irmãs, de 48 anos. A moça, que há algum tempo está construindo uma casa no terreno da família, vem sofrendo ameaças e violência tanto física como verbal por parte do irmão, que deseja a interrupção na construção da casa, por medo de perder o direito à herança. Há mais de um ano mãe e filha foram prestar queixa e até agora nenhuma atitude foi tomada. Ainda vítima de agressão e agora ameaçada de morte, a moça, juntamente com M.A.S, voltou à delegacia para pedir a expulsão do irmão de sua casa. J.C.*, 51, está denunciando seu genro, 29, responsável pela internação de sua filha, 28, em uma clínica psiquiátrica. Os dois eram casados havia seis anos e, durante todo esse tempo, a esposa era vítima de violência moral, além de ter sido traída três vezes. O marido não trabalhava e era sustentado pela mulher. Todas as noites ele se trancava no escritório da casa e passava as madrugadas se masturbando na frente de webcams e assistindo a filmes eróticos. Cansadas da falta de respeito, mãe e filha resolveram tirar satisfação com o indivíduo, decisão que acabou resultando em violência física entre os três. A moça não conseguiu suportar a pressão de um casamento desestruturado e acabou tendo de ser internada em uma clínica para tratamento. *Os nomes não foram revelados a pedido das entrevistadas.
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Coluna
Fotos: divulgação
Política
Esporte
Nobres deputados
Espelho,
beneficiados Gabriel Hamilko Uma semana agitada nos corredores da Assembleia Legislativa. Deputados Estaduais não sabem para onde correr, o que fazer ou onde se esconder. A maioria, provavelmente, foi dar uma conferida no site do Detran para ver se suas multas também poderiam ser usadas futuramente. Muito já se discute sobre o acidente envolvendo o deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho e as duas vítimas, que em homenagem, vale repetir o nome: Gilmar Rafael Souza Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, 20 anos. Diversos setores da mídia estão revoltados com a gravidade da tragédia. Deixando um pouco de lado a figura de um deputado presente na ação. Um acidente dessas proporções comove a sociedade. Com a presença do deputado aumenta a expectativa: será que a famosa impunidade e o jeitinho que é dado com os políticos, serão manifestados novamente? Será que a morte trágica em um acidente, não acarretaria em uma seriedade maior nas investigações, deixando a parcialidade de
espelho meu!
Com a presença do deputado aumenta a expectativa: será que a impunidade e o jeitinho que é dado com os políticos, serão manifestados novamente? Giulia Lacerda lado e agindo de forma humana? Não é o que se viu, integralmente, neste começo de investigação. Visitas políticas, esquecimentos de coleta de sangue para verificação de álcool, e o afastamento do deputado da capital paranaense e dos holofotes. A mídia nacional demorou em “descobrir” tudo e, junto com a população, aumentar a pressão para uma investigação justa, até mesmo pelo conformismo do noticiário local, que demorou em mostrar as consequências do acidente e como será a apuração, preferindo mostrar o estado de saúde da excelência, por meio de boletins médicos. O foro privilegiado do deputado não é o único que dificulta uma investigação, mas sim, a vontade de investigar e mostrar o resultado. Após a divulgação das multas e da carteira suspensa de Fernando, as autoridades
O acidente envolvendo o deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, 26 anos, fez duas vítimas fatais
se assustaram com a forte repercussão que isso gerou, recuando na abertura de provas, como imagens do radar e de câmeras de segurança. Além de parecer que existe certo “medo” ou “desânimo” que toma conta dos que deveriam procurar novas provas. A torcida é para que a justiça seja feita e duas mortes não fiquem impunes, por meio de mais um influência oriunda de uma família formada por políticos, em especial, de alguém que costuma andar como se estivesse em sua rua particular e vivendo à custa do dinheiro público. Neste texto, confesso que deixei a emoção e a indignação de um cidadão comum tomar conta. Alguém que não aguenta a política e suas manobras praticadas neste país, mas que nem por isso desiste de se expressar, mesmo que às vezes não tenha meios suficientes para isso.
Até quando as pessoas praticam uma atividade física para manter uma boa saúde? Até elas perceberem melhoras no corpo e assim, substituírem a saúde pela forma física. A partir desse momento, começa uma busca incansável pelo corpo perfeito. É só olhar para a parede das academias para se deparar com pôsteres de atletas “sarados”, que sem dúvida, contam com a ajuda do jogo de luz e sombra, de maquiagens e do milagroso photoshop. Com tudo isso, qualquer um fica impecável. Tudo não passa de uma grande ilusão, que as pessoas procuram alcançar, muitas vezes, sem sucesso. Infelizmente, essas grandes mentiras são vendidas não apenas nas academias, mas também nas revistas, na televisão, nas prateleiras das lojas infantis, nos manequins expostos nas lojas de roupa, nos outdoors e em todo lugar onde a sociedade consiga impor o considerado modelo de beleza. Para quem pratica um exercício físico, no entanto, esses padrões se tornam, na maioria das vezes, excessivamente importantes. O atleta não profissional deixa de pensar na saúde para focar suas energias e tentar atingir tal modelo. Muitas das revistas mais comercializadas no Brasil apresentam em suas capas frases como: “descubra a di-
eta do chá e emagreça 10kilos em um mês”, “faça a rotina de exercícios que preparamos para você ficar magra e durinha”, ou ainda, “10 maneiras rápidas para perder peso”. Para ilustrar essas matérias, pessoas bonitas, com o corpo em forma, felizes, sorrindo, com os cabelos perfeitamente penteados, sem suor e expressão de esforço no rosto. Quanta mentira em apenas algumas páginas. O tom utilizado nessas matérias mostram uma realidade inexistente. Qualquer pessoa que faça uma atividade física sabe que há muitas dificuldades pelo caminho e que, por mais que haja prazer durante a prática, não há como superá-las sem derramar gotas de suor. É engraçado observar como até mesmo as fotos que mostram as séries de alongamentos têm atletas com expressão de serenidade. Não há como praticar qualquer exercício físico sem esforço. As pessoas precisam retomar os valores passados pelo esporte. Se tiver que haver competição, que seja na quadra, na pista de corrida, na piscina, mas não na frente do espelho. O atleta deve se sentir bem com a atividade que escolheu e se empenhar para fazer bem feito. A publicidade ilusória deveria ser substituída, pelo menos nos veículos especializados, em esporte, pelos verdadeiros benefícios do exercício, que parecem estar sendo deixados de lado nessa nossa sociedade prioritariamente capitalista.
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Geral
Juan Lucas Martínez
Pesca
Pescadores têm função ameaçada Diminuição do número de peixes em águas mais rasas é um dos motivos Juan Lucas Martínez Domingo, cinco da manhã. A praia de Penha ainda está deserta. Na rua, perto da areia, somente as luzes de alguns postes estão acesas. Todos ainda dormem. Mas, no meio do mar, não tão longe da costa, é possível ver que isso não é verdade. Vários barcos, a maioria de madeira, com pequenos motores e redes jogadas na água, mudam a paisagem. São os pescadores que, mesmo durante o feriado, não deixam de trabalhar. Um exemplo é Gercino Miguel da Silva, de 54 anos. Há quase 40 anos pescando nas costas de Santa Catarina, ele começou na profissão por meio de seu pai, e até hoje nunca considerou exercer outra atividade. Assim como seus colegas de profissão, ele não tem horário para trabalhar. “Às vezes ficamos um dia inteiro, ou perdemos uma noite, pescando camarão.” Devido ao fato desses profissionais não terem uma agenda fixa, na maioria das vezes eles não têm férias, sendo que somente deixam de pescar quando a lei não permite. O pescador José Soares, de 58 anos, diz que eles trabalham de “Janeiro à Outubro, quando fecha a temporada de pesca”. Os meses de Novembro e Dezembro fazem parte do principal período de reprodução dos peixes e camarões não só na região, mas em todo o país. Com isso, a renda dos pescadores acaba um tanto prejudicada. “Nós temos seguro-desemprego durante os meses em que não trabalhamos”, declara José, “mas a renda de pescador não é muito boa”. Num dia, um barco consegue pescar até 500 quilos de camarão, que, depois de vendidos, podem
chegar até dois mil e quinhentos reais. “Mas temos que descontar todos os gastos com combustível, barco, rede, isca, e nem sempre conseguimos vender tudo o que pescamos”, diz Gercino. Além disso,o pescador Pedro Luis Arvize, de 73 anos, e quase sessenta de profissão, comenta que “o tanto de peixe que pescamos hoje é menor do que antigamente. Hoje, aqui na praia, só pescamos camarão, que é o que tem para pegar por aqui.” Este trabalho não conta com uma procura grande, e com o número de opções que existem hoje, nem os próprios pescadores mantêm a tradição em suas famílias. Pedro Luis, com nove filhos, não tem nenhum interessado em continuar no mesmo ramo. “Eu consegui criar meus filhos com a renda, mas eu acho que hoje não conseguiria. Não tem mais fartura, já não paga tão bem trabalhar aqui.” Mesmo com a falta de peixe, a grande maioria dos pescadores não pensa em fazer outra coisa. “A gente nunca aprendeu a fazer mais nada, e hoje é difícil sair disso, mas não é uma coisa que se faz sem gostar, todo mundo aqui entrou nesse trabalho porque gostava, e ainda gosta de pescar”, completa José. Quando questionados sobre o que fazem no período em que não estão no mar, a maioria respondeu que gosta de passear, ver a família, os filhos e às vezes até pescar com eles. “É trabalho, mas também é divertido. Por isso que a gente aguenta”, declara Gercino. “É o que sabemos fazer, e a sorte é gostar disso. Nos últimos anos, tem cada
vez menos peixe, menos camarão, que é o que mais vende. Mas ainda é divertido.” Sobre o mercado de pesca da praia de Penha, em Itajuba, Santa Catarina, o pescador Pedro é pessimista: “esse tipo de relação que temos (a venda de camarão direto ao consumidor) não deve durar muito. Tem muito menos do animal na água. Tem bastante criadouro por aí, e ninguém mais quer ser pescador. A pesca não vai acabar, todo mundo gosta de peixe, mas quem vai vender vão ser os criadouros, ou o pessoal que pesca em alto-mar”.
Banda participa de comemoração dos 40 anos de Nazareth Rodrigo Araújo Em comemoração aos 40 anos do Nazareth, o ex-guitarrista da banda e produtor, Manny Charlton está produzindo um álbum de covers, do qual a banda curitibana Motorocker vai participar com uma versão de “Telegram”. O mesmo disco contará com nomes como Metallica e Guns N’ Roses e será gravado em meados de setembro. O Motorocker foi formado em 1993, por Marcelus (Vocal), Luciano e Thomas Jefferson (Guitarras), Sílvio (Baixo) e Juan Neto (Bateria). A banda ficou conhecida no sul do país pela fidelidade aos covers do grupo AC/DC. Cansados do estereótipo de banda cover, partiram para composições próprias, resgatando ideias que já estavam prontas desde 1987. O primeiro disco foi “Igreja Universal do Reino do
Rock”, lançado em 2006. Com excelente aceitação pelo público, venderam todas as cópias e obtiveram nove como a menor nota em revistas especializadas. A consagração foi inevitável, tanto é que realizaram o sonho de viver apenas da música. “Muitas pessoas acham que o fato de ser músico é algo paralelo, apenas para se divertir, e o tem como um vagabundo. Elas não entendem que é uma profissão como outra qualquer, em matéria de valor ou posição social”, diz o guitarrista Thomas Jefferson. Eles já abriram shows de bandas consagradas, como Motörhead, Deep Purple, Glenn Hughes, Biohazard, Sepultura e Krisiun. Mas, mesmo com tantas mudanças, o sucesso não modificou o relacionamento do grupo com o público. “Não somos melhores do que ninguém”, diz o vocalista Marcelus. Tanto isso é verdade que a banda não tem um set list (lista
de músicas a serem executadas) definido para os shows. Eles definem geralmente as duas primeiras músicas e a sequência será de acordo com o que o público quiser ouvir. A apresentação do último sábado (9), que teve aproximadamente 3 horas, contou principalmente com músicas próprias e alguns covers intercalados, que foram desde AC/DC até Motörhead, passando por Accept, Black Sabbath e Iron Maiden. “Tocar covers é muito bom, mas tocar originais é melhor. Quando 10, 20 ou 30 pessoas batem palma é ótimo. Quando mil batem [palmas], você precisa se segurar. É a tua música, né?”, diz Marcelus. Com lançamento previsto para este ano, a banda está finalizando a gravação de seu novo álbum, intitulado temporariamente de “Sangue no olho e Rock na veia”.
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Curitiba, quinta-feira, 14 de maio de 2009
Ensaio Jeff Koons
A irreverência de Jeff Koons Gustavo Krelling Residência do Rei Sol (Luís XIV) e posteriormente, Maria Antonieta, o Palácio de Versailles é uma jóia da arquitetura barroca e orgulho da nação francesa. Versailles é um símbolo da erudição, mas esse status foi posto em xeque com a exposição do artista plástico norte-americano, Jeff Koons, que ocupou os jardins e interior do palácio com 17 obras, algumas monumentais. O artista tem um estilo que lembra o kitsch, que significa algo de mau gosto artístico, uma produção considerada inferior. Muitos franceses se revoltaram por uma arte pop estar exposta em um lugar de tanta erudição. Mas o trunfo da exposição está nesse incrível contraste entre o pop e o estilo barroco do palácio. A estranheza causada entre a arquitetura e as obras concede um ritmo visual forte para quem visita o palácio.
Considerado um dos maiores do mundo, o Palácio de Versalhes possui 2.000 janelas, 700 quartos, 1.250 lareiras e 700 hectares de parque. É um dos pontos turísticos mais visitados de França.