Lona - Edição nº 462

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RIO Á I D do

Edição Especial

Grupo de Teatro apresenta Shakespeare em inglês

Foto: Robertson Luz

BRASI

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Curitiba, sexta-feira, 14 de novembro de 2008 | Ano IX | nº 462| jornalismo@up.edu.br| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

O Grupo de T Teatro eatro do curso de Jornalismo da Universidade Positivo (UP) apresenta, no dia 24 de novembro, a peça Shakespeare’ “Shakespeare’ Shakespeare’ss Dreams Dreams”, escrita pela diretora e professora de teatro Marília Ferreira Ferreira. O espetáculo terá trechos de obras como “Hamlet”, “Romeu e Julieta” Julieta”, “Sonhos de uma noite de verão”, “A tempestade” e “Muito barulho por nada”. Durante o ano, os atores do elenco, formado por estudantes dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda paganda, tiveram o preparo da professora da UP e coordenadora do Centro de Línguas Positivo, Patrícia Helena Pallu Pallu, para poderem encenar a peça toda em inglês. Graças a isso, os idealizadores tiveram que utilizar recursos para fazer com que o público entenda o conjunto da obra. Nesta tarefa, a presença de uma narradora e de atores fixos no palco foram algumas das ferramentas utilizadas. Um pouco do resultado disso tudo pode ser visto nas próximas páginas desta edição. E a peça pode ser conferida no dia 24 de novembro bro, quando acontece a estréia do espetáculo espetáculo, no Teatro Positivo Pequeno Auditório tório.


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O Bardo retumbante Sandro Moser

Shakespeare se casou com uma mulher mais velha, assim como Raymond Chandler, que trabalhou com Hitchcock e Billy Wilder, da mesma forma que Kim Novak, que era canhota como Johann Sebastian Bach. Este, diz-se por aí, tomava café em doses industriais, bem como Immanuel Kant, que teria (ora vejam só) morrido virgem, mesma tragédia da vida de Sir Isaac Newton, que por sua vez passou dos 80 anos de idade, um largo outono, como também foi o do dramaturgo Bernard

Shaw que escreveu uma peça sobre a vida de Julio César, assim como também escreveu William Shakespeare. O que eu queria dizer exatamente com estas ligações perigosas me escapou. Então, vamos de novo, desde o começo. Quando o primeiro fólio das peças de Shakespeare foi publicado em 1923, na apresentação um poema de Ben Johnson trazia um verso que ficou famoso: “Ele não era de uma época, mas de todos os tempos”. O que a métrica do poema de Johnson talvez quisesse dizer era que Shakespeare tem dois lados nítidos: um histórico, inegável produto de um grupo de dramaturgos londrinos da era

“Quando o primeiro fólio das peças de Shakespeare foi publicado em 1923, na apresentação um poema de Ben Johnson, trazia um verso que ficou famoso: ‘Ele não era de uma época, mas de todos os tempos’”

Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor de Graduação, Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitora de Extensão: Fani

Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Elza de Oliveira e Marcelo Lima; Editor-chefe: Antonio Carlos Senkovski

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

elisabetana que escrevia peças para o público da época. O outro é o do poeta que ainda dialoga conosco com uma voz vigorosamente contemporânea. Eis, portanto, o grande mistério do Bardo de Henley Street: como alguém pode se comunicar com eras, espaços e culturas tão afastadas das suas próprias? E como a prosa dramática e a poesia de Shakespeare são, para uma quase unanimidade de críticos, encenadores e leitores, o limite máximo da realização humana, em termos estéticos, cognitivos e, até certo ponto, morais e espirituais? Thomas Carlyle, estudioso seminal de suas obras, respondia categórico: “Superioridade de intelecto”. O maior dos poetas confundido no maior pensador da miséria existencial humana. Harold Bloom não foi tão sucinto. Depois de passar a vida analisando e pesquisando os cânones da literatura universal (e 80% deste tempo detido sobre os escritos do Bardo) produziu um ensaio chamado “Shakespeare – a invenção do humano”. A obra, que em boas edições tem mais de 900 páginas, pode ser resumida na pergunta da primeira linha, quando se quer medir a importância que Bloom atribui a William: por que Shakespeare? Quem mais haveria de ser? Para Bloom, Shakespeare inventou o homem ocidental, muito mais do que apenas o tenha representado. Não existiam os Hamlets, Fallstaffs ou MacBeths dentro de cada um dos homens. Eles só se revelaram quando o “deus lírico” os trouxe à luz e à boca de cena – abrindo portas para labirintos na mente dos homens, iluminando paixões e desejos e desmascarando os medos e fantasmas que nos perseguem. William (ou “Gulielmus”, como escreveu o vigário que o batizou) nasceu em meio a

uma terrível epidemia de peste, que devastou um quinto da população londrina, em 23 de abril de 1564. Filho de John — um curtidor e comerciante de couros — e Mary. A peste poupou o pequeno William, que cresceu no decadente cenário da Henley Street, num período de muita privação por conta dos devaneios de seu pai sonhador e aventureiro. John, porém, conseguiu dar a volta por cima e alcançou o topo da carreira política na sua região, momento em que finalmente pôde mandar William ao colégio. Lá devorou todos os livros possíveis e se tornou íntimo da doce retórica do latim. Forjou, aos poucos, a alma do homem que cairia como um obus na Londres da Rainha Elisabeth (1558 a 1603), dos belos teatros exuberantemente pintados e dos palácios magníficos. Era um jovem cheio de energia e com o maior de todos os talentos, numa cidade que seu biógrafo Park Honam dizia ser “letal para aprendizes”. A partir de então, começou a escrever e atuar em tragédias, comédias e peças históricas — além de compor os seus sublimes sonetos, que para muitos adquiriram, em conjunto, “uma circunferência cognitiva maior do que a da Bíblia”. William se casou, teve filhos e se estabeleceu como uma figura londrina. Com o êxito de suas peças (numa época anterior à dos direitos autorais as obras nasciam para ser encenadas e o autor jamais as pensou publicadas ad aeternum ) tornou-se sócio proprie-

tário de teatros e alcançou ainda em vida uma realização que a história se encarregou de estender ao infinito. Teria morrido no mesmo dia 23 de abril atribuído a seu nascimento, já em 1616. A arte de inocular a filosofia mais sábia na fala do homem comum, aquele que naturalmente não a alcançaria, de promover a mistura metafísica do drama e da comédia, da certeza de um mundo irrecuperável, de finamente ironizar os inimigos e a si mesmo, fazem com que as obras de Shakespeare ainda não tenham terminado de dizer o que propunham. E por isso, ainda vivas e atuais, devem ser obrigatoriamente lidas, pois como bem disse Italo Calvino, “quanto mais pensamos conhecer os clássicos por ouvir dizer, notamos que, quando são de fato lidos ser revelam novos, inesperados e impensáveis”. Aqui no Brasil, no que toca à obra de Shakespeare, tivemos muita sorte. Talvez Deus não seja de fato brasileiro, mas Millôr Fernandes é. A ele se impôs a missão de traduzir a maioria das peças do Bardo. Todas se tornaram best-sellers. Nossa sorte reside na capacidade que Millôr tem de mostrar a claro as brincadeiras lingüísticas que se fazia no original inglês. Como, por exemplo, o trocadilho presente numa determinada fala de Hamlet ao responder à mãe, que até então o tratava como um “primo”: -“Perfila-me como primo porque não primo como seu filho”.

“Aqui no Brasil, no que toca à obra de Shakespeare, tivemos muita sorte. Talvez Deus não seja de fato brasileiro, mas Millôr Fernandes o é. A ele se impôs a missão de traduzir a maioria das peças do Bardo”


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Estréia

Alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UP encenam textos em inglês

Grupo apresenta Shakespeare’s Dreams atuais. “Shakespeare trata de questões humanas universais Sandro Michailev e atemporais, como o amor, o ódio, a vingança, o arrependiO Grupo de Teatro do curso mento, a luta pelo poder, a de Jornalismo da Universidade transcendência, a vida e a morPositivo prepara um presente te”. Além disso, Marília diz que para os fãs do maior dramatur- quando fez o levantamento go de todos os tempos: a peça para compor a peça, percebeu “Shakespeare’s Dreams”, que que as pessoas conhecem estréia no próximo dia 24 de Shakespeare, mas raramente novembro de uma forma bem sabem a história inteira ou leoriginal — será encenada em ram suas peças. O maior desafio da diretora inglês. O projeto inovador é coordenado pelas professoras Ma- foi selecionar os trechos para trabalhar na adaprília Gomes tação. Li 12 das Ferreira e Paobras de Shakestrícia Helena “Não se trata de peare para monPallu. um grupo estrantar a peça. A diSão 23 alunos que se re- geiro apresentando ficuldade é que vezam nas in- aqui em sua língua. quando a gente começa não quer terpretações de mais largar”. p e r s o n a g e n s São alunos de uma marcantes das universidade traba- çãoAdacomposimontapeças “Hamgem começou let”, “Romeu e lhando para aprenem março, com Julieta”, “Soderem a atuar em um grupo de nhos de uma alunos, até ennoite de Verão”, um novo idioma” tão sem experi“A tempestade” PATRÍCIA HELENA PALLU ência em atuae “Muito barução. Com exerlho por nada”. Por se tratar de vários frag- cícios de improvisação, a dirementos de peças, cada ator tora já identificava nos primeiros dias de ensaio os aluinterpreta papéis diferentes. É o que acontece com o es- nos que poderiam compor os tudante de Publicidade e Pro- diversos personagens. Para auxiliar o público que paganda Vinícius Biss. Ao todo, o aluno representa três não tem domínio do inglês, a personagens e diz que está gos- peça terá uma narradora, que tando da experiência e que a é inserida nos trechos mais complexos. Além deste recurso, peça lhe ensinou muito. A idéia de escolher peças de Marília criou um grupo de perShakespeare, segundo a dire- sonagens que ficam o tempo tora Marília, surgiu pelo fato todo no palco para ajudar na de seus temas continuarem compreensão do público. “A idéia

Serviço Apresentação no dia 24 de novembro. Horário: 20 horas. Local: Teatro Positivo Pequeno Auditório, na Universidade Positivo (Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 - Campo Comprido). A entrada para a apresentação é gratuita.

Fábio Muniz/LONA

Eli Antonelli

Alunos do Grupo de Teatro preparam-se para apresentar a peça “Shakespeare’s Dreams”

é semelhante a uma ópera, em que o público recebe o roteiro e, apesar de não dominar a língua, sabe exatamente o que ocorre no palco”, explica.

O inglês na peça Marília confessa que não domina a língua inglesa. Mesmo assim, este “detalhe” não foi um problema à produção da peça, pois a diretora conta com o auxílio da coordenadora do Centro de Línguas Positivo e professora de inglês da UP Patrícia Helena Pallu. “Entendo os textos, pois fiz as cenas. Tenho alunos que não falavam nada em inglês. Tenho uma, inclusive, que faz o papel da Catarina. Esta menina foi um exemplo de esforço e dedicação. No início ela sufocava, parecia que ia engasgar, mas, depois de um tempo, mostrou muita garra e dedicação. Com o apoio de Patrícia, já decorou todos os textos e está com uma excelente pronúncia e entonação,” conta Marília. Para Patrícia Pallu, encenar Shakespeare em inglês é um charme especial. Ela lembra que, em Curitiba, já hou-

ve a idéia de interpretar peças integralmente no idioma. “Uma escola de línguas montou uma peça, mas o grupo se dissolveu após uns três anos de apresentações”. A professora afirma que o mais interessante neste espetáculo é o fato de a peça ser produzida e encenada por brasileiros. “Não se trata de um grupo estrangeiro apresentando aqui em sua língua. São alunos de uma universidade trabalhando para aprenderem a atuar em um novo idioma”. Patrícia pretende dar seqüência ao projeto em 2009. “Teremos uma turma nova. A partir da análise do perfil poderemos identificar que tipo de produção faremos”. Outra idéia é levar a apresentação da peça para escolas da região metropolitana de Curitiba. A estudante do 4º ano de Publicidade e Propaganda da UP Ana Silva Vendruscolo interpreta duas personagens na peça. Um ponto superado pela estudante, que começou no teatro neste ano, foi sua relação “conturbada” com o inglês. “Patrícia nos auxiliou muito, não só

no vocabulário, mas na entonação, que no inglês é diferente”. No penúltimo ensaio da peça, Ana mostrava muito entusiasmo e expectativa com relação à estréia. “Estou bastante ansiosa, afinal, é uma língua diferente e não tem como ficar muito à vontade, principalmente na improvisação”.

Função do teatro A possibilidade de vivenciar outras personalidades, na visão da diretora, possibilita que os estudantes se coloquem no lugar do outro. O teatro possibilita que o futuro jornalista busque uma verdade interna nos personagens. “Você passa a ter maior facilidade de entender o mundo de uma forma geral”, explica Marília. A temática trabalhada nas peças do Grupo de Teatro tem a intenção de usar o palco como meio de despertar a sociedade para temas críticos. “A idéia é que as pessoas passem a criticar até a própria postura diante da sociedade, e que comecem a refletir sobre qual o papel que cada um deve tomar em busca de mudanças”.


4 4 Perfil

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Obras do escritor inglês influenciaram várias gerações de escritores, por quê?

Shakespeare: o poeta da humanidade

Desenho: Divulgação

Texto: Rikardo Santana

O ano era 1580. Em Portugal, com a morte do rei D. Henrique I, o país perde a independência para a Espanha. A Sibéria começa a ser conquistada pela Rússia. Juan de Garay descobre a região que hoje é Buenos Aires. Também naquele ano, o inglês sir Francis Drake circunavegou o globo, mas se ele soubesse que em Londres iria acontecer a primeira apresentação teatral de um dos maiores dramaturgos da história, talvez adiasse sua viagem para depois disso. No Globe Theatre, na capital britânica, foi que William Shakespeare apareceu para o mundo, primeiro como ator, mas em pouco tempo seu talento para compor peças seria reconhecido e o transformaria em um dos maiores dramaturgos da história, fazendo suas obras serem importantes mesmo centenas de anos depois de sua morte. Ser ou não ser? Matar ou não matar? Morrer ou não morrer? Viver ou não viver? Amar ou não amar? Estas são dúvidas presentes nas obras de Shakespeare. Alguns destes questionamentos, e tantos outros presentes em suas peças, são os mesmos que fazemos a nós mesmos na esperança de encontrar uma resposta. Tentamos encontrar significados para o que fazemos, motivos, algo que justifique nossas ações e até mesmo nossa existência, e quando erramos, tentamos lavar nossas mãos na esperança de que a água leve nossos erros.

Todos estes questionamentos foram há muito tempo explorados por vários escritores, por filósofos, psicólogos e vários outros estudiosos, mas quando vamos olhar quem é o mais conhecido difusor destas dúvidas do âmago humano vamos nos deparar com um inglês nascido no ano de 1564 na pequena cidade de Stratford-upon-Avon. Ele era o mesmo jovem que se apresentou no Globe Theatre em Londres e que o sir Francis Drake perdeu por estar dando a volta ao mundo. Tão famoso como seu nome foram suas obras. Mesmo quem nunca sequer as leu sabe suas histórias. Shakespeare escreveu tanto comédias, tragédias e dramas históricos como poemas, e com estas obras influenciou gerações de escritores mundo afora, inclusive no Brasil, onde podemos perceber esta influência sobre o maior escritor brasileiro, Machado de Assis. Mas por que as obras de

Grande parte do romance que acontece


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Divulgação

Shakespeare escreveu comédias, tragédias, dramas históricos, poemas, e com estas obras influenciou gerações de escritores mundo afora

Shakespeare são tão importantes? Parte da resposta está no fato de que as obras de Shakespeare mostram um ser humano mais humano do que outras obras do mesmo período ou de épocas anteriores. Não era um herói grego o protagonista da história, mas sim um ser humano passível de erros, que tinha consciência, pensava sobre seus atos, que se arrepende e que principalmente queria algo, tinha sonhos. Estes sonhos não eram sempre alcançados, às vezes, como na vida. O destino é mais cruel e impõe barreiras aos sonhos, como nas obras do dramaturgo inglês.

Tragédias da vida real Romeu e Julieta. A história é simples: um casal de apaixonados quer se casar, mas os pais são de famílias rivais e os impedem. Julieta elabora um plano de fingir-se de morta para fugir com seu amado. Romeu não sabe do plano, vê sua amada “morta” e decide se matar.

Quando Julieta acorda percebe Romeu morto e também se mata. Com certeza você já deve ter ouvido esta história de várias maneiras diferentes, em várias roupagens e cenários, mas foi Shakespeare que a transferiu para a ficção. A grande pergunta a se fazer é a seguinte: Shakespeare seria tão famoso se Romeu e Julieta terminassem felizes para sempre? Se Macbeth não matasse o rei da Escócia? Se Otelo não ficasse cego pelo ciúme e matasse Desdêmona? Se não houvesse algo de podre no reino da Dinamarca? É claro que não seriam mais tragédias, mas será que seriam grandes obras citadas por várias gerações como são? Talvez não. Isso porque estas histórias do dramaturgo só são tão aclamadas justamente por mostrarem todos os sentimentos humanos em suas mais variadas formas possíveis. Esta percepção de que a obra shakespeariana é importante para a compreensão hu-

Divulgação

e acontece na peça “Romeu e Julieta” se passa em um balcão como este

Trecho de um dos livros mais conhecidos do escritor inglês William Shakespeare mana já foi estudada por vários críticos literários, entre eles está Harold Bloom, que escreveu o livro “Shakespeare: a invenção do humano”. Bloom vai além da idéia de que o inglês tenha apenas retratado o humano. Para ele, Shakespeare inventou o que é ser humano. Ele afirma isso ao fazer uma análise de todas as obras e mostrar as representações humanas presentes nelas. Ao não mostra um happy ending, estas obras acabaram ficando eternizadas na memória coletiva da civilização ocidental como uma representação de como nos comportamos, como são nossos medos, nossas virtudes e nosso modo de ser. Quando é mostrado o ciúme doentio de Otelo, Shakespeare não está falando apenas do personagem, mas sim de todos aqueles que já ficaram cegos e se renderam a fofocas ou a provocações. A loucura de Hamlet, a obsessão de Macbeth, o caso de amor de Antônio e Cleóprata, a prova de amor não apresentada por Cordélia em Rei Lear, tudo isso tem uma representação na vida real de alguma forma. Inveja, raiva, ciúme, desejo, sonhos, amor, ódio, tudo isso está presente na obra desse dramaturgo inglês, em grande ou pequena dose. Mas, quando se fala em Shakespeare, há mais coisas entre o céu e as obras do que imagina nossa vã filosofia.

Ler ou não ler? A importância da obra de Shakespeare já está mais do que estudada. Seus textos são altamente difundidos ao redor do globo, e não apenas do teatro Globo. Mas então fica a pergunta: por que ler Shakespeare? Suas histórias são tão difundidas e citadas que fica mais fácil ficar parado e aprender por osmose do que se dispor a emprestar uma obra dele e lê-la. O motivo para ler suas obras é o mesmo que provavelmente o sir Francis Drake teve ao sair numa volta ao mundo: conhecer o mundo por meio de seus olhos e não dos outros. Será que esta importância dada ao dramaturgo inglês será eterna? Shakespeare sempre será citado? Não é possível afirmar. No entanto, sabese que suas obras estarão nas bibliotecas à espera de alguém que as leia e as interprete de uma maneira diferente, ou que se veja representada nela. A forma como o poeta descreveu o ser humano foi uma das mais completas já vistas na literatura, e isso o transformou em um dos maiores escritores

da história, inspirando outros autores, como Goethe e Machado de Assis, além de cineastas como Akira Kurosawa e vários outros que transcreveram as emoções humanas dos palcos para as telas. Shakespeare não vivia em uma época como a nossa, mas as emoções e as nossas características de tomar decisões ou de não tomálas é eterna e independente de geração, e é isso que faz da obra dele importante. Shakespeare, de certa forma, foi um sociólogo antigo. Mostrou como somos, como são nossas emoções, como são nossos sentimentos e, olhando por este ângulo, o conjunto do trabalho do autor forma um espelho não só de uma sociedade, mas de uma espécie. A diferença dele para os sociólogos é que ele não fez análises, não fez estudos e muito menos pesquisas, apenas retratou o que via. Como o próprio Shakespeare dizia: “Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor”, assim como analisar a humanidade é bom, mas conseguir entendê-la sem análise é melhor. Foi o que ele fez.

A forma como o poeta descreveu o ser humano foi uma das mais completas já vistas na literatura e isso o transformou em um dos maiores escritores


6 6 Literatura

Curitiba, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Mesmo com mais de 400 anos, temas das peças de Shakespeare continuam atuais

O Lord do drama inglês Ser ou não ser, eis a questão. A frase extraída da primeira cena, do terceiro ato da tragédia de Hamlet é considerada uma das mais famosas da literatura mundial. Seu autor, William Shakespeare, escreveu 37 peças e mais de 150 sonetos, com impressionantes performances, chegando a usar 29 mil diferentes palavras em seus escritos. Apesar da fama que atravessou os séculos, pouco se sabe da vida particular do dramaturgo considerado o mais importante autor da língua inglesa. Dúvidas sobre sua sexualidade, suas convicções religiosas e, principalmente, sobre a autoria de suas obras, são até hoje fruto de especulações. A única unanimidade em relação às obras que levam a assinatura do autor é a excelência da escrita e a perfeição ao mostrar a complexidade e os conflitos das relações humanas.

Vida Pesquisadores afirmam que William Shakespeare nasceu no dia 23 de abril de 1564, em Stratford-upon-Avon, cidade inglesa situada no condado de Warwickshire. Ele foi o terceiro dos oito filhos do casal Mary e John Shakespeare. Seu pai era fabricante de luvas e bolsas de couro e William levou uma vida confortável até os 12 anos, quando os negócios da família entraram em declínio. A partir desse período, o jovem teve que interromper seus estudos em uma instituição de grande prestígio para ajudar no sustento da família. Sua principal tarefa era ajudar o pai com a matéria-prima dos produtos que fa-

bricavam, tendo que abater bois e carneiros.

Esposa e filhos Apesar de seu afastamento da escola, Shakespeare nunca perdeu seu interesse por clássicos da literatura, como Ovídio e Platão, poemas franceses e novelas italianas, além do aprendizado do latim e do grego, fundamentais para sua carreira de escritor. Em 1582, com apenas 18 anos, Shakespeare se casou com Anne Hathaway. A moça, oito anos mais velha que William, estava grávida, e esse talvez tenha sido o principal motivo do matrimônio precoce. O casal teve três filhos: Susanna, e dois anos mais tarde, os gêmeos Judith e Hamnet, que faleceu aos 11 anos de idade. O começo em Londres A mudança decisiva na vida do dramaturgo ocorreu quando ele partiu de Stratford para Londres. Existem indícios de que o autor foi trabalhar em um matadouro que ficava ao lado do The Globe - teatro reconstruído em 1970, onde até hoje são encenadas suas peças. Em 1592, seu talento já era reconhecido por meio das representações de duas obras: “A comédia dos Erros” e “A Megera Domada”, história matrimonial de Catarina e Petrúquio, que teve boa aceitação do público por se tratar de uma comédia popular. Dois anos depois, Shakespeare se tornou um dos proprietários do teatro The Globe e da companhia teatral “The Lord Chamberlain's Men”, onde além de escrever, também participava com pequenas atuações. A Inglaterra vivia sob o reinado de Elizabeth I, uma rainha entusiasta das artes, principalmente da literatura e do

Pesquisadores afirmam que William Shakespeare nasceu em 23 de abril de 1564, em Stratford-upon-Avon, cidade inglesa situada no condado de Warwickshire

teatro, o que ajudou a popularizar a arte dramática e, conseqüentemente, enriquecer Shakespeare.

As fases As obras shakesperianas costumam ser divididas em três fases. A primeira com comédias de costumes e dramas de estilo renascentista. A segunda fase, considerada o seu auge como dramaturgo, conta com tragédias densas e comédias irônicas. Repletas de personagens cheios de rancor e ambição, como Otelo e Macbeth. A última fase é mais amena, com finais mais conciliatórios e esperançosos. Muitos estudiosos acreditam que as diferenças entre as fases do autor indicavam as mudanças ocorridas em sua vida particular. Shakespeare mantinha um relacionamento distante com sua esposa e filhos, que permaneceram em Stratford durante todo o tempo em que o autor fazia sua fama e fortuna em Londres. Em 1613, ano em que Shakespeare escreveu sua última peça – A Tempestade, o The Globe foi destruído pelo fogo durante uma apresentação de Henrique VIII. O episódio é considerado por muitos biógrafos do dramaturgo como o principal motivo de sua aposentadoria. Shakespeare voltou para sua cidade natal onde faleceu em 1616, no mesmo dia em que completou 52 anos. Em seu testamento deixou quase todos os bens para sua filha mais velha, Susanna. Para a mulher deixou como herança “sua segunda melhor cama”, sutileza que até hoje gera dúvidas sobre a fidelidade de Anne Hathaway. Seu corpo foi sepultado no cemitério da igreja da Santíssima Trindade, em Startfordupon-Avon. Sua obra continua imortal. Lida por pessoas de diferentes culturas, crenças e idiomas. Celebrada pelos quatro cantos do mundo.

http://hoodrivershakespeare.googlepages.com

Marisa Rodrigues


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Extensão

Grupo de Teatro montou 16 peças e agora vai apresentar Shakespeare em inglês

Luiz Fellipe Deon

A frase título desta matéria é do mestre das artes cênicas Charles Chaplin, e se completa, aqui, com a do grande poeta Carlos Drummond de Andrade: “Ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer”. O teatro reproduz a vida, a realidade — idealizada ou não, e mesmo quando ficção. O jornalismo também. O jornalismo reflete, através das notícias, a vida e a realidade das pessoas e, se deixarmos de lado os gatekeepers e as distorções do espelho jornalístico que vetam partes dessas realidades, teremos um bom teatro da vida real em praticamente tempo real, mas sem a ficção e as idealizações. Talvez por essa proximidade entre as realidades, o Grupo de Teatro do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo é a atividade de extensão mais procurada pelos estudantes. Com nove anos de atividades completados em maio deste ano, o Grupo de Teatro conta, desde o início, com a direção da professora Marília Ferreira. Como a visibilidade da iniciativa aumentou bastante de lá para cá, este ano o projeto foi aberto também a estudantes de outros cursos, como Publicidade e Propaganda, Comércio Exterior, Turismo e Direito. A estudante Ana Silvia Vendruscolo, do 4º ano de Publicidade e Propaganda, ingressou e diz que está gostando. “O grupo é unido, as pessoas são parecidas e todo mundo se dá bem. A Marília é fantástica. Como diretora procura tirar o máximo dos alunos de forma bem interessante”. Marília justifica essa filosofia de trabalho: “Não procuramos grandes talentos, vamos transformando o elenco de forma que ele possa sempre encenar alguma coisa, e todo mun-

do tenha chance de participar das montagens”. Hoje o grupo conta a participação de cerca de 40 alunos que se dividem em duas turmas: elenco avançado, que reúne os alunos que participam há mais de um ano e têm ensaios todos os sábados das 14h às 17h20; e o elenco novo, formado pelos que entraram neste ano e ensaiam também aos sábados, das 9h às 12h20. A atividade de extensão é descrita pelo jornalista Danilo Amoroso como interessante, porque “ajuda na desenvoltura, importante para o profissional se comunicar mais, lidar com a improvisação e com o erro”. Ele faz parte do grupo desde 2003, quando ainda era estudante de Jornalismo do então UnicenP, agora Universidade Positivo. Ele já participou de seis peças e pretende continuar, pois, segundo ele, “o teatro ainda pode ser um excelente agente social”. Um dos maiores públicos reunidos até agora pelo Grupo de Teatro foi com a montagem Criança Segura. “Nós temos muitas peças de cunho social. Todas elas tiveram um grande público presente. Até o final do ano, mais de 17 mil crianças da rede municipal de ensino assistirão à Criança Segura”, exemplifica Marília. A peça foi idealizada em 2006 em parceria com a organização não governamental (Ong) Criança Segura, que objetiva a conscientização sobre os riscos e a prevenção de acidentes com os pequenos. “Orgulha-nos muito uma atitude como esta, pois potencializa a difusão do tema, principalmente entre os futuros jornalistas, para que o problema tenha mais espaço e não seja tratado apenas pelo lado da tragédia, mas também pelo lado da prevenção”, afirma a coordenadora de projetos da Ong, Ingrid

Arquivo/LONA

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”

Até o final do ano, mais de 17 mil crianças terão assistido à peça Criança Segura

Stammer. Ela ressalta ainda o exemplo da ação voluntária dos atores e a forma lúdica com que passam a mensagem séria.

Outras Peças A peça É um assassinato, mas não é um crime, de autoria da professora Marília, trata do delicado tema do abuso sexual infantil. A integrante da Central de Notícias dos Direitos da Infância e da Adolescência (Ciranda) Lilian Romão viu a peça no ano passado. Segundo ela, a montagem gera impacto e mostra situações que realmente acontecem. “O teatro é um veículo de extrema sensibilização, e a sociedade precisa saber da gravidade do problema”. A encenação ganhou tamanha visibilidade que a Secretaria Municipal de Educação solicitou ao grupo algumas apresentações para os funcionários da Rede Municipal de Ensino

de Curitiba. “É importante oportunizar a todos os profissionais da educação o contato com a arte, apresentações, atividades culturais, como forma de conhecimento, de cultura”, justifica a coordenadora de capacitação profissional da Secretaria, Evelin Cordeiro da Silva. Outra peça que teve excelente público foi sobre crianças desaparecidas, de 2001 e 2002, que foi vista por mais de 10 mil alunos de escolas municipais de Curitiba. O grande público das peças se deve a uma parceria com a prefeitura. O grupo proporciona o espetáculo e a conscientização, e o município leva os estudantes ao teatro. Para Ingrid, isso é importante, já que “para as crianças é uma experiência única, porque muitas nunca tinham ido ao teatro”. Quanto às outras apresentações, a divulgação é feita através dos veículos da Rede Teia,

do curso de Jornalismo da Universidade Positivo, ou pelos próprios atores. “Em um dos espetáculos nós íamos vestidos com o figurino da peça e passávamos nas cantinas”, conta Marília. Em pouco mais de nove anos de atividades o grupo já apresentou 16 espetáculos diferentes, entre musicais e peças – originais, colagens e adaptações –, como O Bem Amado, de Dias Gomes; A Falecida, de Nelson Rodrigues; Elas por Eles, uma colagem de obras de autores como Tennessee Williams, García Lorca e Nelson Rodrigues; e O Palácio dos Urubus, de Ricardo Meirelles. Esta última era uma comédia, lembra Anaísa Lejambre, que, cursando o 4º ano de Jornalismo, participa do projeto há três anos e meio: “Fui no primeiro sábado e gostei bastante; continuei indo nos próximos. Quando percebi, fazia parte do grupo. E gostei disso, tanto que continuo até hoje”.


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O real teatro de Shakespeare Texto: Luiz Fellipe Deon Fotos: Fábio Muniz

A realidade dos palcos dos bons teatros apresenta a realidade da vida, mesmo que sob forma de ficção. Os atores, até aqueles que às vezes atuam em papéis secundários, são os seres, os agentes dessa realidade. Nas fotos desta página, vemos o ensaio desses atores da realidade, dos atores do Grupo de Teatro do curso de Jornalismo da Universidade Positivo, que interpretarão, em inglês, a obra sempre atual de William Shakespeare.

Curitiba, sexta-feira, 14 de novembro de 2008


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