Lona - Edição nº 470

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RIO DIÁ do

Curitiba, quinta-feira, 16 de abril de 2009 - Ano X - Número 470 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Protestos tomam conta das ruas do centro de Curitiba

Manoela Militão

L BRASI

jornalismo@up.edu.br

Geral

Cidades de SC temem ter mais estragos por enchentes Depois de cinco meses, Itajaí sofre as consequências deixadas pelas chuvas do ano passado.

Páginas 4 e 5 Saúde

Médicos alertam para a hipotensão O último verão trouxe temperaturas mais altas do que a média. Com um clima assim, quem sofre de pressão baixa – hipotensão – tem que tomar uma série de cuidados. E os especialistas alertam: nem sempre o velho sal embaixo da língua é uma boa alternativa.

Página 7 Um dia antes de completar 25 anos da grande manifestação a favor das eleições democráticas na Praça da Sé, em São Paulo, o centro de Curitiba foi tomado por vários protestos. Claro que o número de pessoas não chegou aos 1,3 milhões de pessoas da ocasião, mas, quando se fala em exercício da cidadania, sempre há como encontrar semelhanças. Isso porque mesmo com os ideais de democracia exigidos em 1984 na Praça da Sé, vários grupos ainda são excluídos da sociedade. É o que os estudantes da UFPR de vários cursos reivindicaram ontem, quando pediram o direito de tratamento igual aos homossexuais. Também no centro da capital, os servidores públicos do município declararam greve por tempo indeterminado. Entre as reclamações destes está a melhora nas condições de trabalho e o reajuste salarial. Páginas 3 e 8

Coluna

Uma relação conturbada com o futebol Página 6


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Curitiba, quarta-feira, 15 de abril de 2009

Opinião Educação

Educação e jornalismo à Ford Hendryo André Houve um tempo em que se buscou padronizar e o mundo ficou desorganizado feito capa de jornal. Um bom exemplo de clichê são as manchetes sobre o famigerado vestibular que, além de recorrentes nas páginas dos periódicos brasileiros, eram, são e serão necessárias pela simples idéia de instigarem um bom chamariz a informes publicitários, inclusive na primeira página – e um impresso sem publicidade foge à linha de produção convencional dos veículos. É comum no jornal deixar de entender o todo do processo. Também existiu a época na qual a concorrência tornou-se padrão a ponto de a capa do impresso ficar apelativa feito exame vestibular. Impressa sem contrastes, a foto principal da primeira página passou a não desmentir, por exemplo, que os crimes contra os mais pobres foram, são e serão cruéis – a lama homogênea da festa de aprovação, aliás, é capaz de tapar nos jornais a sujeira de problemas ligados à educação nos níveis básicos. É padrão no jornal esquecer de reprovar a falta de perspectiva da universidade, voltada ao bem-estar do mercado e à competição. É pensamento coeso também que houve, há e haverá um exame de seleção que exclui em sua essência – assim como a aliena-

ção por assuntos repetitivos toma conta dos jornais até mesmo nas legendas menos favorecidas na composição da capa. Tudo isso é tão uniforme quanto a intenção do ministro da Educação, Fernando Hadaad, estereotipada nos mais variados veículos de comunicação do país: dispôs-se, é bem verdade, em tamanhos, fontes e cores distintas, algo que padronizado, refletiria em uma manchete semelhante a “MEC propõe mudança para vestibular em 55 federais”. Quereria o ministro, não fosse a autonomia universitária prevista nos padrões da lei, vincular o processo de seleção ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Uma calcificação, aliás, que inibiria por meio de uma prova única as fragmentações geográficas, detentoras de resquícios das culturas regionais – cobradas nas provas, independente do critério de avaliação – aos quais o jornal ainda não contribuiu com a padronização. Busca-se fugir de provas artesanais, com o objetivo de barateá-las através da redução dos erros, ou melhor, para ser injusto uma só vez por ano, mesmo que se atinja toda a massa. Se acatada tal medida, haverá um tempo no qual serão contidas as despesas com o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), pois a ava-

liação deverá ser compilada ao próprio Enem – ou vestibular, é imprescindível que se adeqüe o manual de redação. Por outro lado, caso haja padronização na seleção, é plausível o benefício à prole dos proprietários de jornais, ou melhor, de uma aristocracia uniforme que visa a eterna busca pela perpetuação das desigualdades (uma medida moldada aos costumes tupiniquins). Em outras palavras, o acesso ficaria ainda mais restrito, pois um aluno (não há nada na proposta, por enquanto, que alije o número de inscrições integrais) poderia se candidatar em até 55 vestibulares simultâneos – medida que incitaria a um movimento oscilatório de universitários no país, o que prejudicaria as regiões cujas escolas básicas são responsáveis por formações mais precárias, já que não se pode estabelecer parâmetros entre os níveis de educação. O fundamental na universidade e no jornal é ga-

rantir espaço. Sem fugir do padrão, o Ministério da Educação visa pôr em prática tal medida ainda em 2009. Tem-se pressa porque a política teve, tem e terá sempre engajamento, assim como o jornalismo: são necessários holofotes e manchetes, respectivamente, no dia seguinte. A interpretação do ministro a um exame com duzentos testes objetivos somados a uma redação, realizado em dois dias, por outro lado, alenta a um quadro que foge ao padrão: jamais se viu um critério de avaliação universitária antes de o aluno tornarse egresso – a isso se convencionou chamar de pressa ou... melhor não fugir do padrão lingüístico. É importante produzir política com pressa, afinal, não costuma falhar: dois anos, uma eleição, infinitos discursos, manchetes e publicidade. Não se pode dizer que não há boa intenção na proposta do MEC, afinal, o ministro defende

que com a unificação a indústria preparatória seria extirpada. Esquece-se apenas que estas organizações, assim como o cabeçalho do jornal, se alinha a determinado local, em sintonizado tempo, e a condições meteorológicas [do mercado]. O padrão é atender à demanda. O acesso à universidade foi, é e será – independente da padronização ou não do processo seletivo – uma chacina social, cujo objetivo padrão consiste em conceder vagas aos mesmos. Caso as universidades se comprometam com a atitude do ministro, não demorará para que tudo volte ao estágio atual. É só acompanhar os impressos... Definitivamente, o mundo é uma capa de jornal na qual Ford é editor, ou quem sabe, personagem político...

Expediente Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski, Camila Scheffer Franklin e Marisa Rodrigues. O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP, Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000


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Curitiba, quarta-feira , 15 de abril de 2009

Sociedade

Anna Luiza Garbelini

Manifestação

Servidores municipais fazem passeata Funcionários públicos de Curitiba reivindicam melhores condições de trabalho Priscila Fernandes

Manifestação

Jovens saem às ruas em combate à intolerância Ato de conscientização contra preconceito pressiona órgãos públicos Anna Luiza Garbelini

Eduardo Scholz Priscila Fernandes Os professores e servidores públicos de Curitiba, que estão em greve, se reuniram ontem (15) pela manhã, na Praça Santos Andrade, para reivindicar melhores condições de trabalho e reajuste salarial. De lá, a passeata seguiu em caminhada até a prefeitura, no bairro Centro Cívico. De acordo com a Dirigente do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac), Silmara de Carvalho, no dia 14 de fevereiro foi elaborada uma pauta de reivindicações em negociação com a prefeitura, que não avançou. Em consequência disso, foi realizada uma assembleia no dia 31 de março, onde a categoria dos Servidores Municipais e Magistério votaram a favor da greve. “Se a atual administração tomou essa via de negociação, nós vamos usar os acessórios

que temos”, explica Silmara. Outra reclamação foi em relação ao vale alimentação. O Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc) e o Sismmac propuseram ao prefeito Beto Richa dez reais de vale alimentação para todos os servidores. “Antes da rodada de negociação, o prefeito apresentou uma proposta de cinco reais de vale alimentação. Os vereadores fizeram uma emenda e aumentaram o valor para R$6,39. Só que tem uma linha de corte, quem ganha mais de 800 reais fica de fora, ou seja, professores e outros servidores não ganharam o benefício da alimentação”, afirma Silmara. Os manifestantes também declararam que a greve não tem data para terminar, e que os servidores públicos aguardam o respaldo do prefeito Beto Richa. As primeiras opções dadas pela administração municipal não foram bem aceitas pelos

manifestantes. “A contraproposta de discutir o aumento em julho para não estourar o orçamento não é justificativa e não explica nada”, afirmou Irene Rodrigues dos Santos, presidente do Sismuc. Segundo Irene, no primeiro ano de gestão do Beto Richa, foi assinado um compromisso para zerar as perdas de 14,6%, do período entre 1999 e 2005, e que esse documento está sendo desrespeitado. Até o fechamento desta edição, a prefeitura não quis se pronunciar sobre o assunto.

Serviço A assessoria de imprensa da prefeitura divulgou uma lista com os as Unidades de saúde que estão com o atendimento reduzido, devido à paralisação, que são as unidades municipais de Saúde do Boa vista (24h), Parque Industrial, Concórdia, Estrela e Santa Quitéria.

Cerca de 300 estudantes saíram ontem (15) em protesto pelas ruas de Curitiba. A manifestação, que foi organizada por alunos de diversos dos cursos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi motivada pelo ataque homofóbico sofrido por um aluno do curso de ciências Sociais da instituição, no último dia 23. Representantes do movimento negro, LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis) e punks também aderiram ao protesto, que teve início às 09h 30, no pátio da reitoria da UFPR. Um dos manifestantes, que preferiu não se identificar, disse que espera que o combate aos neonazistas se torne uma das metas da polícia federal, para impedir que circulem com a liberdade atual e que, além disso, a violência presente na ideologia do grupo seja exposta para a sociedade. Os manifestantes, que não pararam de cantar, também levaram apitos, caixas, instrumentos musicais e cartazes que ilustraram os motivos do protesto. Os estudantes saíram da Reitoria em caminhada para a praça Santos An-

drade, onde se uniram com os professores e servidores municipais em greve. Logo depois, seguiram para a Procuradoria Pública, onde uma comissão com representantes das entidades participantes levaram um ofício de denúncia ao Procurador Chefe João Gualberto. Gualberto, além de apoiar a reinvidicação, prometeu marcar uma reunião com o superintendente da polícia federal. De acordo com uma manifestante, que não quis revelar a identidade, esse ofício além de ter como intenção denunciar os grupos neonazistas, visa criar, dentro de algum tempo, um disque denúncia e uma delegacia especializada em crimes de intolerância Enquanto a comissão tomava conta da questão burocrática, os jovens pregaram os cartazes no edifício, continuaram o apitasso e, de forma pacífica, promoveram um “beijo coletivo”. Os estudantes comunicaram que o segundo ato será realizado no próximo sábado, dia 18 e também enfatizaram a importância de mobilizações contínuas e luta contra todos os tipos de intolerância e intolerantes e, de acordo com eles, grupos como neonazistas são apenas a “ponta do iceberg”.


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Curitiba, quarta-feira, 15 de abril de 2009

Geral Enchente em SC

Itajaí se recupera da

enchente

Cinco meses depois das chuvas, cidade ainda sofre com os estragos Katherine Dalçoquio As águas haviam ultrapassado a encosta do rio, passaram sobre pontes, escorregaram sobre ruas e invadiram sem piedade as casas dos moradores de Santa Catarina no dia 5 de julho de 1983. A água atingiu a marca de 15 metros e 34 centímetros de altura em Blumenau no dia 9 de julho. No ano seguinte, a chuva voltou a castigar os catarinenses. O resultado desses dois anos de enchentes foi a morte de 140 pessoas. Em 1983, 30% da população de Blumenau ficou desabrigada e 42% da população de Itajaí. No total, 198 mil pessoas, per-

deram suas casas na enchente, que durou um mês, do dia cinco de julho até cinco de agosto Mais de 25 anos depois, a história se repetiu. A região norte de Santa Catarina foi castigada com chuvas que deixaram cerca de 30 mil pessoas desabrigadas e mais de 130 mortos. O então prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni, decretou estado de calamidade pública, quando 80% da cidade havia sido coberta de água e mais de 15 mil carros estavam submersos. Edemir de Souza, 60 anos, mora em Itajaí e passou pelas duas enchentes. Ela diz que em 1983 entrou água dentro de sua casa, mas, mesmo assim, ela e

o marido conseguiram abrigar seis famílias no segundo andar da casa. “Era um tumulto, uma confusão, seis dias sem poder sair de casa, fazendo comida para todas aquelas pessoas”, relembra a senhora,. A enchente de novembro do ano passado durou quatro dias. Edemir mora com o marido na mesma casa e os dois ficaram ilhados, mas desta vez a água só entrou na garagem. “Parece que agora a água veio mais lenta, porque, como a cidade cresceu, aumentou o número de casas, de loteamentos e a chuva foi se espalhando”. Em relação ao desespero, ela diz que é o mesmo sentimento, a tristeza é a mesma e é muita gente sem saber o que Fotos: Arquivo Susi Bellini

A capacidade operacional do Porto está reduzida de 46 para dez navios mensais

fazer. “É uma guerra que não tem inimigos, porque não podemos fazer nada”.

Vida normal Cinco meses se passaram. Saiu um prefeito e entrou outro. Acabou a primavera, o verão e chegamos no outono. Mas os estragos da enchente ainda são vistos por Itajaí. As ruas estão sujas, os buracos são evidentes e a qualquer chuva muitas ruas alagam. A empregada doméstica Juliana de Araújo, de 28 anos, perdeu quase tudo na enxurrada. Quando tudo aconteceu, ela foi para a casa de sua patroa junto com seu filho de apenas 11 meses. Para ela foi muito difícil deixar sua casa sabendo que poderia ficar sem nada. “Foi muito triste, só tive tempo de pegar algumas roupas para o meu filho”. Hoje com a ajuda dos amigos, conseguiu comprar algumas coisas que perdeu como cama, guarda-roupa, fogão e sofá. Todas as máquinas de costura foram perdidas, inclusive os vestidos de festa de suas clientes, e a costureira Vera dos Santos ficou sem nada. “No começo fiquei desesperada. Mas com o tempo, as próprias clientes começaram a me ajudar. Agora as coisas estão voltando ao normal”. Vera pensou que podia ficar sem o seu “ganha pão”, mas acredita que o povo foi solidário e um ajudou o outro. A vereadora de Itajaí Susi Bellini (PP), de 45 anos, também sofreu com as chuvas. Ela ficou ilhada e agora junto com outros vereadores ajuda a comunidade que foi mais atingida pela enchente. “Já na época da enchen-

te, muitos vereadores eleitos se envolveram com a população atingida. Fomos atrás de donativos (roupas e alimentos) e até socorremos pessoas com lanchas e barcos. Hoje na área da habitação está sendo feita uma separação de roupas que estão sendo guardadas para serem distribuídas no inverno. E junto com o Governo Estadual, Federal e o Executivo, estamos desenvolvendo ações que minimizem os traumas vividos pela população”, declara. Felizmente a cidade não tem mais registros de pessoas desabrigadas por causa da enchente. Mas, para ajudar a população que ainda sofre com as conseqüências da catástrofe, existem ações que estão sendo desenvolvidas pela Secretaria do Desenvolvimento Social do Município. Segundo a vereadora, por meio de um cadastro com todos os dados das famílias atingidas, muitas já estão recebendo o "Auxilio Reação" no valor de um salário mínimo e outras vão receber ajuda da prefeitura no pagamento do aluguel através da Prefeitura.

Economia atingida Além de todas as consequências que as chuvas causaram com os moradores da cidade, o Porto de Itajaí também foi atingido. O porto da cidade é um dos principais pontos de entrada e saída de mercadorias do país e a sua capacidade operacional está reduzida de 46 para dez navios mensais. Só deverá ser normalizada em alguns meses, quando terminarem as obras de dragagem e reconstrução das áreas destruídas no final do ano passado.


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Curitiba, quarta-feira , 15 de abril de 2009

Geral Entrevista

Enchente em SC

E N T R E V I S T A

“No começo fiquei desesperada, mas com o tempo as próprias clientes começaram a me ajudar” JULIANA DE ARAÚJO, EMPREGADA DOMÉSTICA Para Susi, ainda existe muito a ser feito para que a cidade se normalize. “Ainda temos muito trabalho pela frente, mas a força e a certeza da recuperação estão presentes em todos os momentos. Em breve nosso Porto voltará ao normal e com isto a economia do município vai recuperar seu ritmo. Nossa cidade depende do Porto, dele vem a maior arrecadação. Não

temos medo de desafios, nosso amor por Itajaí é muito grande”. Os prejuízos causados pela destruição do porto são tremendos. A perda na arrecadação do município, que deixa de ser recolhida com a redução da entrada e saída de mercadorias, é de 65%, de acordo com dados da prefeitura. Em razão das perdas, o prefeito Jandir Bellini (PP) teve de bloquear 20% (R$ 120 milhões)

do orçamento do município para 2009, logo após tomar posse. A recuperação vai custar caro, mas o dinheiro está garantido pelo governo federal. A cidade está se reerguendo aos poucos, com moradores que ajudam uns aos outros. Apesar da catástrofe ter acabado, as consequências são visíveis e ainda existem moradores que temem quando chove.

“Era um tumulto, uma confusão, seis dias sem poder sair de casa, fazendo comida para todas aquelas pessoas” EDEMIR DE SOUZA, 60 ANOS

Antônio Ayres dos Santos Júnior foi Diretor Comercial do Porto de Itajaí em 2003 e 2004 e nomeado pela primeira vez superintendente do Porto de Itajaí. Fez parte da comitiva brasileira que participou da Conferência para Segurança dos Portos, na Florida, EUA e no mesmo ano foi membro do Conselho Deliberativo da ABEP (Associação Brasileira das Entidades Portuárias). No começo desse ano retornou ao cargo de Superintendente do Porto. Em entrevista ao LONA ele falou sobre as perdas para o Porto com a enchente, o prejuízo que os funcionários tiveram e sobre o que os empresários que dependem das exportações podem esperar. Quais foram as perdas totais do porto? ANTONIO AYRES : Entre as perdas que contabilizamos com a enchente do Rio Itajaí destacamos o assoreamento do canal de acesso e da bacia de evolução, que atingiu todos os terminais que integram o Complexo Portuário do Rio Itajaí do qual o Porto de Itajaí é a autoridade portuária. Também, a forte correnteza do Rio Itajaí durante a enchente destruiu por completo os berços de atracação 2 e 3, além de ter prejudicado a estrutura física do berço 1. Muitos funcionários do Porto sofreram com as perdas? ANTONIO AYRES: Sim, entre 10 e 15 milhões de reais por mês deixaram de circular na economia regional nesse período. Avulsos, trabalhadores sindicalizados, caminhoneiros, agentes e despachantes, práticos, rebocadores, funcionários de terminais e de áreas de armazenagem tiveram perdas de rendimento e salário. Cerca de mil trabalhadores portuários autônomos deixaram de receber remuneração. Qual foi a primeira solução tomada? ANTONIO AYRES: Itajaí contou com a parceria do governo federal para dar resposta imediata à crise. Através da SEP (Secretaria Especial de Portos), o governo federal promoveu a contratação emergencial do serviço de dragagem do canal de acesso e da bacia de evolução do Rio Itajaí. O que os empresários podem esperar daqui em diante? ANTONIO AYRES : Em janeiro, membros do CAP (Conselho de Administração do Porto de Itajaí), empresários, líderes e demais operadores no Complexo Portuário promoveram reunião no Porto de Itajaí para oferecer vantagens de redução de preços para os armadores que mantiverem fidelidade com os terminais que integram o Complexo Portuário do Rio Itajaí. Empresários de vinte estados brasileiros acreditam na qualidade do serviço prestado por todo o Complexo Portuário que foi guindado, em curto espaço de tempo, ao segundo lugar em movimentação de containeres no Brasil.


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Curitiba, quarta-feira, 15 de abril de 2009

Colunas Jovens

Esporte

Liberdade de vitrine Yohan Brczyszyn Uma geração morre, outra nasce, e o azul do céu vai cedendo lentamente seu lugar, década após década, ao cinza metálico que cobre, qual uma espessa maquiagem, a face da modernidade. As roupas e os televisores multiplicam com intensidade suas cores, mas a essência do mundo se mantém monocromática: o cinza do asfalto embrutecido, do concreto, dos prédios esticados como lápides ao longo das ruas, o cinza faiscante das bolsas de grife, dos novos e arrojados modelos automobilísticos, o cinza da fuligem, que paira sobre a existência daqueles nascidos à sombra de uma fogueira apagada, outrora viva e brilhante, agora transmutada em um acúmulo de detritos carbonizados e fumaça. A fumaça, indubitavelmente, constitui uma geração saída do ventre canceroso da “Mãe Tecnologia”, criados à beira do século XXI e sorvendo seu seio luxuosamente entorpecente. Uma fumaça densa que se propaga sem rumo, frustrada e sem qualquer ideal, apenas obedecendo às ordens mundanas. Neste contexto de avanço tecnológico, os jovens filhos da nova era não se responsabilizam por seus atos. Aliás, por nada. São induzidos a crer que possuem livre arbítrio – comercial, intelectual, social – ao passo em que, simultaneamente, mos-

tram-se castrados por essa mesma idealização deturpada de autosuficiência: sua suposta liberdade está exposta nas vitrines a preços variados e sua autonomia é escrava de padrões rigorosamente definidos. Existe uma “personalidade de massa” a ser seguida, tão intensamente promovida, que encobre com perversa sutileza o vazio deixado pela ausência da individualidade. O jovem, como indivíduo, deixa de ser uma criatura pessoal, original e única para integrar as fileiras da coletividade. Neste panorama, a tecnologia possui sua culpa. A facilidade com que as informações são transmitidas – com especial destaque à World Wibe Web – diminui a procura de conhecimento genuíno, a ânsia pela verdade e, consequentemente, o estímulo à reflexão e ao pensamento. Deixando de lado a generalização de concepções, a extensa maioria dos jovens se entrega ao conforto promovido pela sociedade contemporânea, partilhando do sistema apenas aquilo que ao sistema convém ser partilhado. Os fones de ouvido bloqueiam as vozes roucas que mendigam comida; os vidros enegrecidos lançam a realidade sórdida e moribunda distante do discernimento juvenil. As portas da percepção estão fechadas para essa geração repleta de meios, mas carente de fins. Como disse Descartes, “O alimento da juventude é a ilusão”.

A fumaça, indubitavelmente, constitui uma geração saída do ventre canceroso da “Mãe Tecnologia”, criados à beira do século XXI e sorvendo seu seio luxuosamente entorpecente

Sem bola nem rede Giulia Lacerda Se suas expectativas ao ler uma coluna esportiva são a respeito de futebol, sinto lhe informar que ficará frustrado desta vez. Sobre futebol não me arrisco a falar nem qual o time que ganhou a última partida. Em compensação, sou imensamente atraída por esportes alternativos. Entendo que a paixão nacional detenha a posição de maior destaque na mídia, mas me decepciono com a discriminação às outras modalidades. Não entendo porque os veículos de massa não titulam “Futebol” seus cadernos e programas, afinal esse é o tema mais abordado, quando não é o único. Morando em Curitiba, onde parque é o que não falta, qualquer um percebe a grande diversidade de esportes praticados na capital. Basta uma voltinha pelo Barigüi para encontrar corredores, ciclistas, adeptos do yoga, patinadores, os que jogam frescobol, os que caminham, e por aí vai. O decepcionante é a falta de interesse de jornais locais por esses atletas. A corrida, por exemplo, está em grande ascensão e a divulgação de provas acontece mesmo no boca a boca. Recentemente houve a corrida do dia da mulher e quase nada foi dito a respeito do evento. A mídia, por ser considerada formadora de opinião, deveria utilizar esse poder para incentivar ainda mais as pessoas a ter uma vida saudável por meio da prática esportiva. É inaceitável o atleta precisar adquirir revistas especializadas para obter informações simples sobre a atividade escolhida. Os esportes radicais também têm espaço limitado de divulgação. Um exemplo é o rafting que acontece a pouco mais de 100 km de Curitiba, em Cerro Azul. Pouco sabemos sobre o lugar e o esporte, e não há dúvidas de que é um ótimo passeio para o final de semana. Não há pré-requisitos para fazer a descida do rio, basta juntar um grupo de pessoas e curtir a aventura. A corrida e caminhada na montanha que foi realizada em Morretes à pouco tempo é um outro evento imperdível. Com parada em cachoeira, a trilha é feita para quem gosta do contato com a natureza. O circo também tem se mostrado um excelente esporte. Essa atividade trabalha o desenvolvimento da concentração, postura e disciplina, desmistificando a ideia de que quem trabalha no circo é palhaço. Ainda é bastante tímida a presença de escolas circenses na capital paranaense, mas a procura só tende a aumentar. A prática deste exercício além de deixar o corpo em ótima forma é feita em um ambiente muito agradável e permite ao atleta a variação de equipamentos, como trapézio, tecido acrobático, cama elástica e malabares.


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Curitiba, quarta-feira , 15 de abril de 2009

Saúde Hipotensão

Altas temperaturas fazem pressão arterial diminuir Com a diminuição de líquido no corpo e a dilatação dos vasos sanguíneos, pressão arterial cai nos dias quentes Betina Dias Ferreira Neste verão, os curitibanos sentiram mais calor do que estão acostumados. Por não serem tão comuns, as altas temperaturas causaram estranhamento e várias pessoas sofreram com o clima tão quente. A situação piorou um pouco mais para quem apresenta o quadro de pressão baixa, pois elas sentiram a diferença até na hora de praticar suas atividades cotidianas. A temperaturas mais alta pode ser uma das causas da hipotensão - queda acentuada da pressão arterial. Quando ocorre, a pessoa fica pálida, sua frio, sente tonturas e cansaço, a vista escurece e pode até desmaiar. O motorista de táxi Ângelo Moraes conta que é quase insuportável ficar dentro do carro por horas nas altas temperaturas. “No meu táxi não tenho ar con-

dicionado. Quando chega lá por meio-dia, duas horas, eu não aguento, preciso relaxar e ficar em casa”. A pressão arterial é determinada pelo volume de sangue bombeado pelo coração e pela resistência que ele encontra para circular no organismo. A pressão baixa se torna mais comum no calor, pois as artérias ficam dilatadas e o sangue tem mais espaço para circular. Pessoas que geralmente possuem uma pressão considerada normal, em temperaturas quentes podem sentir fraquezas e enjoôs. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o valor da pressão arterial deve estar entre doze e oito mmHg (milímetros de mercúrio). O primeiro número, chamado de pressão sistólica, é referente a força com que o sangue é bombeado do coração para o resto do corpo.

O segundo, representa a pressão diastólica, relacionada ao índice que o sangue segue para dentro dos órgãos. A pressão baixa acontece quando a pressão das artérias fica abaixo de dez por sete mmHg. O calor faz com que as pessoas suem mais para esfriar o corpo. Entretanto, em algumas situações, a transpiração excessiva não basta e a pessoa sua cada vez mais, chegando à desidratação. “Quando o corpo não tem água suficiente, o volume do sangue é diminuído e a pressão cai”, conta a médica Gislaine Nieto. A hipotensão é mais comum nas mulheres, pois elas possuem uma pressão arterial mais baixa. Idosos e portadores de diabetes sofrem ainda mais com esse problema, pois seu sistema nervoso é mais lento que o normal. Algumas pessoas podem confundir pressão baixa com outros probleJoão Pedro Schonarth

Aumento da tempertarua faz muitos curitibanos experimentaram os sintomas da hipotensão

mas mais sérios, principalmente no calor. Se a pessoa tem queda de pressão com frequência, deve procurar uma orientação médica, pois pode ser sintoma de outras doenças, como deficiência na produção de cortisol, problema na supra-renal e disautonomia vagal (elevação ou redução da freqüência cardíaca). Popularmente é comum ingerir sal para amenizar os sintomas da pressão baixa, porém, a médica Gislaine Nieto diz que isso pode ser até perigoso. “Alguns pacientes confundem a pressão baixa com outras doenças e ingerindo sal podem prejudicar sua saúde”. Alterações hormonais e glicêmicas, estresse, insônia, má alimentação, sedentarismo, insuficiência cardíaca, hemorragias, traumatismos e carência de potássio também podem ser causas da queda súbita de pressão no corpo. “Quando sentir tonturas e fraqueza o melhor que se tem a fazer é ir a um lugar arejado, sentar e colocar a cabeça entre as pernas, ou deitar com as pernas levantadas”, complementa. Luiza Baggio, 19 anos, apresenta quadro de pressão baixa há quatro anos. “Sinto muito mais diferença quando me deito de barriga para cima e espero meu corpo estabilizar.”. Luiza diz no calor é quando mais sofre. “Sinto cansaço, desânimo, formigamento nas mãos. Procuro nem me exercitar quando está muito quente porque sei que já vou sentir mal-estar”. A má circulação geralmente causa a queda de pressão. Essa situação se tornou comum na vida de Patrícia Silva. “Meus pés e mãos sempre estão gelados, então, na hora de dormir eu sempre coloco meias mais grossas, elas ajudam a esquentar e fazer com

que tenha uma boa circulação. Acredito que isso ajude muito para que minha pressão se mantenha estável”. São as pessoas jovens e os que estão acima dos 65 anos que tem maior tendência à queda de pressão e mal-estar causados pelas altas temperaturas. Por isso é preciso que tenham ainda mais cuidados. Evitar lugares abafados e roupas escuras, além de ingerir muito líquido, ajudam a estabilizar a pressão no organismo. “Quando está muito quente, normalmente tenho vontade de dormir, fico cansada e não tenho vontade de fazer nada. Sempre tento evitar lugares muito abafados. É uma sensação horrível”, conta Mari Leni Pie, 48 anos. “Já desmaiei uma vez e faço de tudo para que não aconteça de novo. Como muita azeitona e tomo muita água para prevenir”. A nutricionista Prycila Oms ensina que beterraba aumenta a pressão arterial. “O suco de beterraba é muito indicado para pessoas que sentem a queda da pressão com freqüência, pois nela existe a substância chamada nitrato que auxilia na circulação. Algumas folhas verdes também apresentam a substância. Já o consumo de aveia e óleo de oliva não ajudam os que têm pressão baixa, pois as fibras relaxam as artérias e diminuem mais ainda a pressão dentro delas”. “O melhor conselho às pessoas que têm pressão baixa é ingerir muito líquido, ficar em lugares frescos e com roupas leves, comer frutas e evitar carboidratos, não ficar longos períodos em jejum, fazer atividades aeróbicas e evitar saunas e banhos quentes. Prevenindo-se, é possível evitar os sintomas da hipotensão”, afirma Ribas.


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Curitiba, quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ensaio

Evelise Toporoski

Manifestação

Pelo direito de ser

Anna Luiza Garbelini

Anna Luiza Garbelini No dia 15 de abril, às 9h:30min, teve início o primeiro ato do “Curitiba contra a intolerância”. A manifestação foi discutida em reuniões abertas, mediadas pelos alunos de ciências sociais da UFPR, que tencionavam responder ao ataque neonazista sofrido pelo estudante deste mesmo curso no dia 23 de março. O próximo protesto será no sábado, dia 18 ás 10h:30min.

Ann a Lu iza Gar bel ini

elini Garb Luiza Anna

Manoela Militão


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