Lona - Edição nº 459

Page 1

RIO Á I D do

BRASI

L

Curitiba, sexta-feira, 17 de outubro de 2008 | Ano IX | nº 459| jornalismo@up.edu.br| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

Falta de incentivo faz atletas desistirem de suas carreiras Guylherme Custódio/LONA

O incentivo ao esporte no Brasil sempre cai no velho problema da falta de investimentos. Para fazer valer o conceito de nação da “miscigenação”, os esportistas brasileiros aderiram a novas práticas, ou então adaptaram elementos de culturas antigas. A capoeira, reconhecida como um esporte genuinamente nacional está se disseminando pelo mundo. Mas, se por um lado, práticas como o rugby, por exemplo, criam grande popularidade, categorias mais tradicionais do atletistmo continuam sendo abandonadas por praticantes que não têm a chance nem de começar sua profissionalização.

Páginas 8,9 e 10

Crescimento industrial Crianças aprendem a cuidar do meio ambiente MP defende o cidadão traz danos à natureza Alunos de jornalismo, da disciplina de Antropologia, fazem viagem pela cultura da cidade de Paranaguá - Pág. 8

Na Feira da Alimentação, além de plantarem hortas e assisitirem a um teatro, as crianças simulam compras para que, no futuro, sejam consumidores conscientes.

Entre as funções do Ministério Público estão a defesa dos cidadãos e dos interesses coletivos, sempre zelando pelo aperfeiçoamento da democracia.

Mesmo sem ter como repor recursos naturais, as pessoas aumentam o consumo de energia não renovável. Com isso, cresce a concentração de gases-estufa.

Página 3

Página 4

Página 5


Curitiba,

2

E que chegue o verão! Ana Carolina Silveira

Querendo ou não, na madrugada do dia 18 para o dia 19 de outubro, à meia-noite, cidades do Sul, Sudeste e Centro-Oeste devem adiantar seus relógios em uma hora. O horário de verão está para começar e muita gente percebe logo no primeiro dia as mudanças na rotina. Há quem tenha dificuldade de se adaptar ao novo horário, mas mesmo assim não tem como fechar os olhos para os benefícios que a alteração gera. Essa mudança, que já é tradicional no Brasil há duas décadas, traz vantagens econômicas, como a diminuição do consumo de energia. Segundo informações do Operador Nacional do Sistema (ONS), nesse ano a previsão é que tenha uma redução entre 4% e 5% do consumo de energia nos horários de pico. Além disso, é evidente que as pessoas ficam mais dispostas e podem aproveitar melhor o dia, já que se tem a sensação de que ele é mais longo. Até este ano, o horário de verão não tinha data certa para começar e para terminar, o que deixava os brasileiros um pouco confusos. Mas neste ano o presidente Luiz

Inácio Lula da Silva fixou datas para que ele sempre aconteça na mesmo época. Então, a mudança de horário começará sempre no terceiro domingo de outubro e vai até o terceiro domingo de fevereiro. Assim, como na maioria dos outros países, a população já vai estar sempre preparada para a chegada do novo horário. Quando o horário de verão começa, as pessoas que saem do serviço no final da tarde, podem aproveitar o tempo livre para passear em parques, dar uma volta na praia, descontrair em um barzinho, tipo de programa que normalmente não fazem quando estamos no horário normal, já que o dia não permanece claro por tanto tempo. A segurança também é um fator que muda, ou que pelo menos parece mudar. As ruas ficam movimentadas até mais tarde, já que um grande número de pessoas aproveita para caminhar enquanto ainda está claro e, normalmente, mais quente e mais prazeroso. Sem deixar de pensar que com a chegada do horário de verão, outras coisas boas como praia, calor e férias estão mais próximas. E tudo isso, com a sensação de que o dia ganhou mais uma horinha.

Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande;; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton;

Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Mira (colaboração), Elza Oliveira e Marcelo Lima; Editor -chefe: Antonio Carlos tor-chefe: Senkovski.

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

sexta-feira,

17

de

outubro

de

2008

Indisciplina: de quem é a culpa? Caroline Dobignies

Mudanças expressivas estão acontecendo na sociedade contemporânea. As pessoas não estão tão seguras do seu futuro, quanto menos ao de nossas crianças e adolescentes. Pais e educadores já não sabem como proceder diante dos jovens que desconhecem os limites e o respeito. A convivência já não é mais democrática e, em alguns casos, ou na maioria deles, há a falta de compromisso com tudo e com todos. Mas de quem é a culpa? Dos pais ou dos professores? Atualmente, vive-se um novo paradigma. As famílias terceirizam a educação de seus filhos para a escola que, por sua vez, não pode devolver esta responsabilidade para as famílias. A educação de nossas crianças e jovens deve ser harmonizada entre as duas instituições formadoras, uma vez que todos nós somos responsáveis pela constituição dos sujeitos. Os pais, por sua vez, são quem estruturam a criança. A convivência e o relacionamento com seus filhos deter-

minarão o seu comportamento. Já a escola cumpre o papel de lapidar a educação recebida em casa, complementando a formação. Antes de julgar o comportamento de algumas crianças, é preciso verificar a realidade da instituição, da família, do psicológico e do social. Diante desta situação, ela deve reavaliar seu aspecto pedagógico de modo a contribuir para a detenção da violência. É preciso analisar o histórico familiar dos alunos e articular ações conjuntas com a família envolvida e demais profissionais atuantes na rede local, como pedagogos, orientadores educacionais, professores, diretores, entre outros. As manifestações de indisciplina, muitas vezes, podem ser vistas como uma forma da criança se mostrar para o mundo, mostrar sua existência. Em muitos casos, o pequeno só tem a intenção de ser ouvido por alguém e, acaba sendo uma forma de expressão. O aluno também tem sua responsabilidade no processo. Por isso, é preciso estimular sua autonomia, promover a reflexão e

capacitá-lo para tomar suas próprias decisões. Assim, a criança se torna um jovem responsável pelos seus atos, aproveitando a escola como um passaporte à cidadania. Como cita Paulo Freire, famoso pela pedagogia crítica: “Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social de que tomamos parte”. Para auxiliar neste processo, a escola, os pais, os alunos e a sociedade em geral têm que tomar consciência do papel de formadores desses futuros adultos. É preciso promover práticas que fomentem a democratização na convivência social. Cada criança tem sua especificidade e merece ser tratada diferencialmente. O aluno precisa aprender que seu ritmo é diferente do colega, assim como os pais e educadores também devem respeitar o ritmo das crianças. Quando se promove o respeito com a criança, ela passa a se sentir respeitada. Mostrando esses valores, é possível sim vencer mais uma etapa contra a indisciplina. Todos nós somos responsáveis pelo futuro de nossas crianças.

Quem é o culpado Bruna Caroline Cruz

Os jornais estampam quase todos os dias manchetes denunciando casos de abusos sexuais em todo o Brasil e no mundo. Quem vê de longe deve pensar em como essas notícias são um reflexo da realidade e que isso demonstra o posicionamento da empresa de comunicação. Corretas e defensoras da moral e dos bons costumes, as grandes redes de comunicação estão lotadas de apresentadores que xingam os estupradores e dão ordens de linchamento e de repressão. Engraçado como todo esse comportamento muda de figura depois dos comerciais. Novelas, filmes e miniséries estão repletas de crianças e adolescentes com imagens erotizadas. Não é esse tipo de exibição que vai desenvolver um pedófilo, mas pode revelar o desejo escondido em grande parte da população. Alguns estudos chegam a estimar que ao menos um quarto de todos os adultos do sexo mas-

culino podem apresentar algum excitamento sexual em relação a crianças. A Universidade Estadual de Kent observou que 32,5% de sua amostra para pesquisa (80 homens adultos) exibiram algum tipo de atração e até estímulo pedófilico heterossexual. Imaginem se todos esses homens tivessem a oportunidade de pôr em prática esses pensamentos. Esse um quarto da população ainda deve ser somado com a porcentagem de adultos que um dia foram abusados e podem apresentar um comportamento semelhante ao que foram submetidos. De acordo com psicólogos, o abusador não sente culpa do que está fazendo durante o ato e nem mesmo depois. Esse opressor pode ter tido sua subjetividade anulada, também, numa exploração sexual e procura ter esse mesmo efeito sobre a criança. E quem normalmente se sente culpado em toda essa história é a vítima, não o estuprador. Trocando em miúdos, muitas vezes o abusador não tem condições psicológicas de distinguir se

o que faz é certo ou errado e, muito menos, dos efeitos que isso tem sobre si mesmo e sobre a vítima. O que importa para ele é que quem está no poder e é o tirano da história, é ele. Os jornais e as pessoas que consomem as informações não tentam analisar um pouco o contexto em que estão inseridos. Se existem casos de pedófilos, é porque isso vem acontecendo há muito tempo. Não se pode condenar alguém que teve sua opinião e vontade subjugados quando era ainda uma criança. Também não se pode deixar que isso se repita eternamente. O que pode ser feito é que a mídia seja vista como um dos meios de comunicação e informação, não como o único e neutro. É muito fácil apenas culpar uma pessoa isoldamente e esquecê-la para depois achar outra e agir da mesma forma. Acaba formando um ciclo vicioso onde a sociedade como um todo deve ser responsabilizada por não ter tido autonomia de identificar e corrigir suas próprias falhas.


Curitiba,

sexta-feira,

Geral

17

de

outubro

de

2008

3

As atividades geralmente duram um dia, mas dessa vez vão até domingo

Ação Social promove Feira do Alimento e ensina crianças sobre meio ambiente Amanda Laynes

Elaine de Moraes tem 11 anos e uma certeza, a de como seria a cidade ideal para viver. “Tem que ter muitas árvores, com frutos deliciosos, rios despoluídos, ar puro, menos lixo”. Estas e outras vontades foram tratadas pela professora de biologia, Andrea Angélica Conte, com as crianças que participam de projetos da Ação Social nos bairros Tatuquara e Vila Verde de Curitiba. Após o debate em sala de aula, as crianças construíram maquetes reproduzindo a cidade dos sonhos, e elas estão expostas na Feira do Alimento, que é organizada pela Prefeitura Municipal de Curitiba em comemoração ao Dia Mundial da Alimentação. A data é celebrada anualmente no dia 16 de outubro devido à criação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 1945. Porém, os voluntários da campanha na capital paranaense acreditam que o evento merece mais que um dia, e por isso levam a feira até o próximo domingo. No Brasil são realizadas atividades em todo o país durante o mês. Segundo a coordenadora de projetos da Ação Social, Mara Ferreira, o programa tem diversos objetivos, como “divulgar a segurança alimentar, buscar soluções para o problema da fome no mundo e garantir estratégias que viabilizem alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para todos os cidadãos”. Na feira, além de aprender a plantar hortas e assisitir a um teatro sobre a alimentação saudável, as crianças participam de uma simulação de compras em um mini-armazém da família. São acompanhadas por estagiárias de nutrição, que explicam

quais são os melhores produtos para consumo. “Aprendi que muitos produtos industrializados podem ser substituídos por naturais, que são melhores para a saúde”, disse a estudante Mayara Piques, 12 anos. Na feira, estagiários de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Paraná vendem bolsas recicláveis produzidas por pessoas com transtornos mentais. A renda é toda revertida para o projeto. A população em geral pode também fazer verificação de peso, altura, circunferência abdominal para localização de gorduras, e exames para detecção de diabetes ou hipertensão. No sábado os visitantes poderão fazer exames gratuitos de colesterol e glicose. As atividades vão até domingo, sempre a partir das 8 horas, no pavilhão ao lado do Mercado Municipal, com acesso pela rua da Paz.

Amanda Laynes/LONA

Feira dá lições de meio ambiente e de consumo consciente a crianças e adultos

Linguagem de sinais integra deficientes auditivos Diana Axelrud

Imagine sair na rua e não ouvir o barulho dos carros passando, das pessoas falando. Tudo no mais completo silêncio. Alguém tenta conversar e você não ouve, para entender, precisa ler os lábios da pessoa. Você quer dizer algo, mas quase ninguém lhe entende. Essa situação, que nós ouvintes apenas imaginamos, é realidade para muitos deficientes auditivos. Segundo o censo do IBGE de 2000, existem cerca de cinco milhões de surdos no Brasil. A estrutura do país ainda é precária para atender essas pessoas. Os deficientes auditivos possuem uma forma própria

de comunicação, é a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). A Libras tornou-se oficial em 2002, e em 2005 seu ensino passou a ser obrigatório na formação de professores do ensino médio e superior e também no curso de Fonoaudiologia. A Lei número 10.436, de 2002, assegura a presença de profissionais intérpretes em instituições e espaços formais, além da obrigatoriedade da presença em instituições de ensino. Devido a essa lei, abriu-se no mercado de trabalho uma nova demanda por profissionais tradutores. Pensando nisso, a Universidade Positivo irá oferecer um curso de extensão para a formação de tradutores de Libras. O público-alvo são profissionais que já têm conhecimento prévio da Linguagem de Sinais.

Uma das responsáveis pelo curso, a coordenadora de Recursos Humanos da UP, Rejane Vargas Antunes, comenta que a maioria dos professores que ministrarão as aulas são surdos. A duração do curso é de um ano e seu conteúdo é bastante amplo, como explica Rejane: “O curso trará aos alunos assuntos como a cultura e historicidade dos surdos, musicalidade e dança dos surdos, escrita de sinais,pedagogia do surdo, o ensino de Libras, entre outros.” Há três anos a UP disponibiliza aos alunos deficientes auditivos intérpretes que os acompanham em todas as aulas. Além disso, proporciona anualmente a todos os funcionários da instituição o curso de Libras Germano Weniger Spelling é deficiente auditivo. Para ele, se mais pessoas soubessem

Libras, a integração dos surdos seria mais fácil, pois facilitaria a comunicação e o entendimento. “A escola é o local que mais carece de pessoas que saibam Libras. A educação de crianças surdas seria muito mais simples se houvesse esse conhecimento”, explica. Germano demorou um ano para aprender a Linguagem de Sinais. Graduou-se em um curso universitário, enfrentando a dificuldade de ninguém saber a sua língua. O curso começa no dia primeiro de novembro próximo e dura até sete de novembro de 2009. As aulas ocorrem a cada 15 dias no Bloco Azul da Universidade Positivo. Mais informações: 3317-3092.


Curitiba,

4 Geral

sexta-feira,

17

de

outubro

de

2008

1837 candidatos concorreram a uma das vagas de procurador do Ministério Público do Paraná

Vanessa Dasko

“O Ministério Público é o advogado da sociedade, é ação e iniciativa voltadas para a defesa do cidadão visando a constante construção de um estado democrático”. Esta é a função do órgão na definição de Juliano Baggio Gasparin, que concorre neste ano a uma vaga para promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná e procurador da República do Ministério Público Federal. “Desde a faculdade já pensava em trabalhar no Ministério Público. Dediquei três anos e meio em estágios na área e descobri a minha vocação”. Gasparin tem 30 anos, atua como advogado em Curitiba (PR) e é um dos 1.837 candidatos que concorrem a uma das vagas no MP estadual. Para ele, a instituição é a zeladora dos direitos e o fiscal da lei. “É através das ações penais públicas, promoção dos direitos individuais e difusos, defesa do meio ambiente e de direitos do indivíduo que os futuros e atuais membros do Ministério Público podem defender a sociedade, ou seja, a instituição representa a defesa do cidadão como um todo”, destaca. Acreditando ser o estudo um privilégio, ele passou seis anos

pesquisando e aprendendo complexos conteúdos sobre a instituição e hoje se considera preparado para atuar como Promotor de Justiça em duas áreas que chamam mais a atenção: criminal e tutela coletiva, que corresponde à defesa do direito do consumidor, meio ambiente e do patrimônio público. “Se conseguir atuar como promotor, vou contribuir para a sociedade através do trabalho digno, com responsabilidade e equilíbrio. Estas são as características que o profissional da lei deve ter. Espero também encontrar as condições e estruturas necessárias para desenvolver atividades positivas para a população”, destacou. Um dos livros que mais agrada ao advogado é a Era dos Direitos, de Norberto Bobbio. “Esta é uma obra que deveria ser lida por todos. O autor não trata apenas de direito, mas sim de democracia e humanidade. É a base para quem quer atuar na defesa da sociedade e para quem quer conhecer mais sobre os direitos humanos”. Gasparin acredita que o trabalho do Ministério Público ajuda no desenvolvimento do país, pois é por meio das ações, independência e autonomia que se fiscalizam e tornam efetivas as diversas leis, as quais têm a função de defender o cidadão e pro-

mover a justiça no Brasil. A Constituição Federal, promulgada em 1988, representou um marco na institucionalização do Ministério Público. Ela também é chamada de Constituição cidadã e significou o auge da democracia no país, após anos de governo ditatorial. Nela constam todas as atribuições que competem ao órgão e assegura a sua autonomia funcional e administrativa. A lei é fiscalizada por meio do trabalho do MP, composto pelo Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; e pelos Ministérios Públicos dos Estados. Os artigos 127 e 128 da Constituição tratam das funções desses órgãos, e especificam que o “Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.” Entre as suas propostas de atividade, está o zelo efetivo dos Poderes Públicos e a promoção de inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. De acordo com o advogado

Sociedade em contato com o Ministério Público O Ministério Público do Paraná disponibiliza, desde o início do ano, novo número telefônico ao serviço especial de ouvidoria geral. Pelo número 127 a população pode reclamar, comentar, denunciar e fazer sugestões em relação ao trabalho dos servidores públicos e de promotores e procuradores de Justiça que atuam no Estado. O objetivo é dar voz às manifestações da população, aproximando o MP do cidadão. Para utilizar o serviço é necessário se identificar. Anonimatos só são permitidos no caso de apresentações de provas documentais, porém pode-se solicitar sigilo das denúncias. Além de sugestões, denún-

cias e comentários sobre os servidores públicos, a ouvidoria do MP tem recebido outros tipos de denúncias relacionadas a temas de interesse geral. De acordo com a assessora jurídica e secretária administrativa da ouvidoria-geral do MP, Lucy Bond Cartaxo, nestes casos as denúncias são encaminhadas aos órgãos competentes. “Existem algumas denúncias que o próprio MP investiga e toma as devidas providências, em outros casos, elas são encaminhadas aos órgãos de execução a que competem”, informa. No ano passado, uma denúncia gerou uma grande operação de caça-níqueis em todo o Estado. Segundo o procurador de Justiça e ouvidor-geral do MP,

Wanderley Batista Silva, a maioria das denúncias levam a intervenções da Instituição em fatos sociais ou são pedidos de atenção em determinadas áreas de atuação. “Desde maio de 2007, a busca dos cidadãos pelo serviço do MP tem aumentado acentuadamente. A participação da população é importante. Muitos procuram o Ministério Público para saber para quem denunciar ou sugerir mudanças, nós damos a direção”. As denúncias podem ser feitas pelo número 127, pelo email ouvidoriamp@pr.gov.br ou na sede do Ministério Público do Paraná, localizado na Rua Marechal Hermes, n.º751, Centro Cívico, Curitiba.

Arquivo

MP garante direitos sociais do cidadão

A Constituição de 88 é um marco na institucionalização do MP Jaime Nunes Filho, o inquérito civil público e a ação civil pública são alguns dos instrumentos de trabalho do MP. “Em razão da finalidade legal e da amplitude que podem trazer à preservação de direitos difusos ou coletivos, ganham especial destaque no exercício das atribuições ministeriais, uma vez que compõem expressamente o rol de funções institucionais trazidos no artigo 129 da Constituição Federal”, explica. O inquérito civil tem a finalidade de proporcionar a coleta de provas e de informações necessárias ao ajuizamento da ação. Já a ação civil pública tem o objetivo de denunciar e combater eventuais danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Para o advogado, essas atribuições se coadunam de forma perfeita aos deveres constitucionais do Ministério Público, que atua no intuito de preservar os interesses sociais. Em relação à estrutura e funcionamento do órgão, o promotor de Justiça Ivonei Sfoggia explica que a instituição é somente uma, ramificada em atribuições específicas que competem aos estados, e à união. Essas instituições permanentes e independentes formam o Ministério Público (MP). “Cada estado possui um Ministério Público que é regido por uma Lei Orgânica Nacional e por uma Lei Orgânica regional. A lei

determina quando atua o Ministério Público da União e quando atua o MP de cada Estado. As atividades estão previstas na Constituição Federal, acessível aos cidadãos”. Segundo o promotor, quando há interesse nacional quem atua é o Ministério Público da União. É ele o responsável pela abertura de ações civis públicas em território nacional. Quando a ação compete a uma região, o órgão que atua é o Ministério Público do Estado. “Podemos exemplificar estas diferentes atribuições citando um caso de homicídio em um avião que sobrevoa o país. As investigações competem então ao Ministério Público Federal, pois a aeronave sobrevoa o território nacional. Se algum crime acontecer em determina região, as investigações e propostas de ações são feitas pelo Ministério Público do Estado”, explica Sfoggia. O Ministério Público colabora para um país mais justo e luta por melhores condições de vida e direitos humanos através da sua atuação em diversos setores sociais. Assim, promotores e procuradores de Justiça de todo o Brasil defendem a ordem e fiscalizam a aplicação das leis. Somente no Estado do Paraná atuam 542 membros do Ministério Público, entre eles, promotores e procuradores de Justiça que ingressam com ações e recursos judiciais, respectivamente. São 144 comarcas espalhadas pelo território regional.


Curitiba,

sexta-feira,

Comunidade

17

de

outubro

de

2008

5

Degradação ambiental está relacionada com o desequilíbrio da natureza

Ongs desenvolvem ações pela natureza Arquivo/ LONA

Tássia Zimmermann Tatiana Sbalchiero

O homem é a parte dominante do sistema e suas atitudes muitas vezes representam uma tendência de destruição do ciclo de renovação da natureza. Ele desequilibra o ambiente que vive devido ao grande aumento populacional, a saturação das riquezas naturais, além de suas exigências individuais. Não podendo recriar muitos dos recursos extraídos da natureza, o homem acaba por exigir cada dia mais das fontes naturais, muitas vezes não renováveis. Existem dois tipos de impactos negativos que os seres humanos exercem sobre o meio ambiente: o consumo dos recursos naturais em um ritmo acelerado, não dando tempo para os mesmos se renovarem e a emissão de resíduos em uma quantidade maior do que aquela que poderia se integrar ao método natural de reaproveitamento. Ao processo de perda ou redução das características originais do meio ambiente se dá o nome de degradação ambiental. Existem diversas causas para isso. Entre eles estão, os resíduos radioativos, a ameaça nuclear, as queimadas, a caça e pesca predatórias e a extinção de espécies. Dentro das áreas urbanas as formas mais visíveis de degradação são a poluição de rios que cortam as cidades, o desmatamento e a produção de lixo e gases tóxicos. Cada nova fase do desenvolvimento industrial contribuiu para a degradação do ambiente como o uso de petróleo que, com o aumento do consumo, gerou uma grande quantidade de emissão de gás carbônico e outros gases na atmosfera.

Equilíbrio e desequilíbrio A degradação ambiental sempre está relacionada com questões de equilíbrio e desequilíbrio da natureza, sendo possível existir um desenvolvimento e, ao mesmo tempo, manter um ambiente saudável e equilibrado realizando ações de pre-

Poluição no rio Iguaçu servação e recuperação de ambientes naturais degradados. Segundo o professor Maurício Balensiefer, do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná e participante da Sociedade Brasileira de Recuperação de Áreas Degradadas, “a necessidade de atrair recursos para estimular o desenvolvimento, faz com que muita gente tenha que conviver com o problema da degradação ambiental e diminuí-la no que for possível”. Em Curitiba o projeto “Viva Belém” que conta com mais de 470 parceiros é um dos exemplos dos esforços para a recuperação de áreas degradadas. Ele é realizado desde o ano 2000 quando os moradores das regiões das nascentes do Rio Belém perceberam que elas estavam contaminadas devido à devastação da mata ciliar, e a grandes quantidades de lixo e esgoto que estava sendo despejado no rio. Um destes parceiros é a Associação de Moradores do São Lourenço que realiza, através de programas educativos para a conscientização ambiental, um trabalho contra a degradação do meio ambiente. Uma das atividades é o plantio de mudas

de Araucária em toda a região norte da cidade. Desde o início do projeto já foram plantadas aproximadamente 320 árvores. César Paes Lemes é presidente da entidade e diz que “a grande meta da associação é fazer com que Curitiba seja a cidade com o maior número de Araucárias do Estado, adotando assim medidas preventivas e educativas que evitem a crescente contaminação do solo, da água e do ar”. Curitiba já passa da marca de um milhão de automóveis, para a natureza isso representa mais de uma tonelada de dejetos como fuligem, restos de discos de freio, restos de pneus e combustíveis no solo e nos rios. Para Lemes, os investimentos em preservação e recuperação de áreas degradadas evitam a transmissão de doenças e diminuem as filas nos postos de saúde. Desde 2005 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente divulga um estudo que sugere que a degradação ambiental é também um dos motivos pelos quais está ocorrendo o surgimento de novas doenças infecciosas e o reaparecimento de outras enfermidades há muito tempo considera-

das extintas. São três os fatores que colaboram para isso: as mudanças climáticas que favorecem a proliferação de insetos transmissores, a urbanização de áreas recentemente desmatadas contribuindo para a proliferação de mosquitos e o aumento de migrantes que, forçados pelas secas, enchentes, entre outros motivos, facilitam a circulação de doenças entre diferentes regiões.

Patrulha Ambiental Uma ong que realiza atividades de educação ambiental com crianças de escolas públicas é a Associação Ricardo Gadotti Feldmann (ARIGAF). As crianças participam do projeto Patrulha Ambiental. As patrulhas são grupos compostos por pessoas voluntárias que, com o apoio de escolas, repartições públicas, empresas e indústrias ajudam a preservar o meio ambiente em seu redor e também trechos de rios próximos. Eles promovem ações de monitoramento das regiões detectando qualquer forma de degradação. Matheus Leonam é aluno da Arigaf e é patrulheiro ambiental, para ele o projeto é importante, pois por falta de consci-

ência de alguns o mundo inteiro sai prejudicado. “Se jogamos algum tipo de lixo no rio Iguaçu ele vai até o rio Paraná e enfim chega no mar. Por isso muitas pessoas acabam sofrendo porque algumas não têm consciência”. A coordenadora pedagógica da Associação, Ariana Bordinhão, acredita que a atividade veio para colocar em prática tudo que é aprendido em sala de aula. “Os alunos viam tudo no papel e faziam desenhos, colagens e redações. Mas não vivenciavam esta realidade, muitos até conheciam, mas não conseguiam fazer a ligação com o assunto. Agora eles conseguem participar de forma mais ativa promovendo uma conscientização para a preservação do meio ambiente”. A bióloga e pesquisdora Deniza Costa defende que os riscos atuais do planeta esão exigindo a superação de atitudes históricas de despeiteito ao meio ambiente.“O incentivo ao extrativismo de base sustentável, a fiscalização tanto por parte do governo quanto por parte da população, a criação de áreas de proteção e a manutenção de áreas de florestas são formas de combater a degradação ambiental. Além disso, o controle do desperdício e a redução de poluentes colaboram para a manutenção de um mundo sustentável e com qualidade de vida”. Segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Instituto de Estudos da Religião em 2006, apenas 14% dos brasileiros considera que não existem problemas ambientais no país. Este número era muito maior em 1992, antes de ocorrer a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento mais conhecida como Eco 92, um marco na luta pela preservação ambiental, onde se apresentaram dados de que quase metade da população não enxergava a existência de problemas com o meio ambiente. Uma grande vitória, pois para combater a degradação ambiental primeiro é preciso tomar consciência de sua existência.


Curitiba,

6 Especial

sexta-feira,

17

de

outubro

de

2008

Mães se desdobram para ajudar filhos celíacos; doença já atinge 300 mil

Sociabilizar é preciso Bárbara Pombo Márcio Brüggemann

Confraternização de final de ano. Terça-feira à noite em uma pizzaria de Curitiba. O evento seria rotineiro se não fossem os personagens envolvidos na cena. 55 pessoas, dentre elas, amigos e parentes de celíacos, adultos e crianças alérgicos ao glúten. Neste dia estavam presentes a dona-de-casa Marisli Correa, e seu filho Mateus, nove anos, portador da doença celíaca. “Descobrimos quando ele tinha entre cinco e seis anos”, conta a mãe, acrescentando que, nessa época, ele tinha tantas dores na barriga que chegava a dar murros no próprio corpo. “O Mateus era muito pálido, tinha olheira, dificuldade de aprendizagem, era hiperativo, inquieto e nervoso”, lembra a dona-de-casa. Até que, em uma das crises de diarréia, o menino perdeu os sentidos. Depois de vários exames e diagnósticos errados, a médica descobriu, pela ecografia, que o intestino do Mateus é atrofiado. Esses são alguns sintomas da doença que, volta e meia, é confundida com anemia e síndrome do cólon irritado. Os celíacos são permanentemente intolerantes ao glúten, principal proteína encontrada no trigo, malte, cevada, cen-

teio e aveia. “O celíaco pode ter diarréia crônica ou constipação intestinal, crises de vômito, osteoporose e anorexia caso ingira alimentos como pão, bolo, macarrão, alguns cereais, bolachas, entre outros que contêm glúten”, explica Luciene Belzunces, nutricionista e proprietária de confeitaria Beladri que fabrica confeitos sem glúten. A causa da doença celíaca é genética. Cerca de 10% dos familiares diretos de um celíaco podem ter a doença, por isso é recomendado que se faça a biópsia em caso de parente intolerante ao glúten. Pesquisas da Universidade de Brasília (UNB) indicam que a proporção de celíacos é de um para cada 600 habitantes. Luciene diz ainda que a incidência da doença é maior entre as mulheres – duas mulheres para cada homem. A enfermidade aparece em picos de idade. “É comum surgir aos dois anos, aos dezenove e aos quarenta anos”, informa a nutricionista.

Criar rotina A nutricionista afirma que a pior fase de adaptação à doença é quando ela aparece dos oito aos onze anos. “Quando o diagnóstico vem aos dois anos é mais fácil”. O presidente da Associação dos Celíacos do Paraná (Acelpar) e portador da doença, Francisco Schiocchet

Advertência é obrigatória desde 2003 Em 1992, ainda na época do governo de José Sarney, tornouse obrigatório nas embalagens de produtos alimentícios a advertência do ‘contém glúten’. Porém, confusões quanto a não presença do glúten na composição dos alimentos fomentaram, em 2002, o pedido da Associação dos Celíacos do Brasil (ACELBRA) de regulamentação e obrigatoriedade da notificação ‘não contém glúten’. Em 2003, foi sancionado pelo presidente Lula a lei que obriga a informação da presença da substância durante o processo industrial. Marisli Correa conta que viveu uma situação complicada no início deste processo de informação nas embalagens: “Mateus e meu marido foram a uma vendinha e viram um lançamento de sorvete do tipo ‘Corneto’. Na embalagem, informavam que o produto não continha glúten e o Mateus comeu. Passou mal, porque na casquinha do sorvete há glúten. Dias depois estavam recolhendo os sorvetes da venda e dos mercados”.

Junior, acredita que a criança diagnosticada nos primeiros anos de vida, depois que pára o aleitamento materno e começa a comer papinhas e bolachas, tem mais facilidade em seguir a dieta. “Mas é inevitável que no futuro se pergunte o porquê de não poder comer farinha de trigo”, conclui. O quadro do filho da psicóloga Claudia Pedroni, hoje com 25 anos, apareceu depois de parar a amamentação, mas o caso é questionável. Aos primeiros sintomas como vômitos e emagrecimento rápido, os médicos diagnosticaram que ele tinha a doença celíaca, e o pior, intolerância a lactose (que é a base do leite). “Aos quatro anos, nós repetimos a ecografia e o intestino dele voltou a ter vilosidades (dobras no intestino). Hoje ele é o bezerrinho e natureba da casa”, brinca Claudia. Os médicos, na época, descartaram a possibilidade de Bruno ser celíaco, pois a doença não tem tratamento a não ser eliminar o glúten da dieta. A médica Lorete Kotze explica que um intestino normal apresenta superfície com células absortivas, responsáveis tanto pela nutrição do indivíduo como pelo impedimento a entrada de elementos estranhos no organismo. “No intestino do celíaco, quando há ingestão de glúten, há diminuição desta superfície absortiva, pois ocorre atrofia das vilosidades. Por outro lado, há também quebra da barreira, aumentando a permeabilidade da mucosa aos agentes estranhos”. Com esse mesmo diagnóstico, a rotina familiar teve de ser mudada por Marisli para a melhor adaptação do filho caçula. Na espaçosa casa da família há uma geladeira, batedeira, torradeira só para ele. Para alguns celíacos, uma mínima quantidade de glúten já é suficiente para uma crise. “Eu tenho muito receio de contaminar os alimentos dele com farelo do pão francês, com farinha de trigo. Só as mi-

Fotos: Márcio Brüggemann

Marisli estoca todas as comidas do filho no freezer nhas latinhas de cerveja, feita à base de cevada, que eu guardo na geladeira dele, mas depois de limpar com detergente. Além de mim, só deixo o Thiago, meu filho mais velho, fazer os lanches do Mateus”. Para Luciene, os pais devem cuidar sim da contaminação, mas ficar atentos com o exagero e a neurose. Já para Francisco, disciplina é a melhor maneira de lidar com a intolerância à proteína. A psicóloga Claudia afirma que a melhor forma encarar a doença naturalmente é adaptá-la a rotina da família. “Digo isso sempre aos meus clientes: Para resolver o problema, transforme-o em objetivo. Mas a neurose apareceu

com a suposta doença do Bruno porque eu sou a mãe”, brinca Claudia. Francisco diz que as mães dos celíacos chegam pela primeira vez na Associação muito assustadas. “Elas não têm idéia do que fazer, por isso o trabalho da entidade é, primeiramente, desmistificar a doença e depois conscientizálas e ambientá-las”. Algumas das atividades são fornecer receitas e dar apoio na realização de cursos de culinária sem glúten. Além disso, a Acelpar realiza uma feira de alimentos livres da proteína uma vez por ano e atividades de sociabilização. “A partir do diagnóstico, além de mudar a dieta, o celíaco e

O celíaco pode ter diarréia crônica ou constipação intestinal, crises de vômito, osteoporose e anorexia


Curitiba,

sexta-feira,

as pessoas em volta dele devem ter paciência de explicar a doença e não se isolar. Avisar quando vão a um aniversário, a um casamento que a refeição deles deve ser diferente”, exemplifica o presidente, que há três anos exerce o cargo na Acelpar. A nutricionista concorda: “O papel dos pais é conscientizar o seu meio e não tirar a criança do convívio social. Não pode ter essa história de ‘meu filho não vai à festinha porque não tem o que comer’”. Ela adverte ainda que hábito alimentar da população brasileira leva muito glúten, então a família, e em especial a mãe, tende a compensar essa falta para o paciente, às vezes com certo exagero. “A criança de imediato percebe esse excesso de zelo e passa a não querer comer coisas saudáveis e que elas podem abusar como as frutas”, alerta Luciene. Em festinhas de aniversário é o próprio Mateus quem carrega seu bolo e as outras mães procuram saber que tipo de comida preparar para ele. Marisli não deixa de levá-lo a lugar nenhum. “Ele participa de tudo que tem vontade e até saímos para comer fora. Vamos a lugares em que o Mateus já é conhecido, então não precisamos pedir cuidado na cozinha. Quando vamos a pizzarias, nós levamos a massinha dele sem glúten.” Porém, a mãe Marisli se emociona ao dizer que ainda é difícil aceitar a doença. “Dói explicar toda hora o que é a doença celíaca”. De uma forma ou outra, todos têm solução para ele, diz a mãe. “E quando não são os outros, é

17

de

outubro

de

2008

7

“Ele é consciente e esclarecido da privação que tem, explica a doença às outras pessoas e não tem crises de revolta por não poder comer” MARIANGELA SALOMÃO, PSICÓLOGA

ele mesmo quem resolve”. Para o presidente da Acelpar, esse deve ser o comportamento do portador. “Quem deve se adaptar ao mundo é o celíaco, e não o contrário”. A psicóloga Mariangela Salomão orienta para a necessidade de todas as pessoas que fazem parte de grupos minoritários realizarem um trabalho de auto-aceitação. Nesse aspecto, Marisli considera o filho uma exceção. “Ele é consciente e esclarecido da privação que tem, explica a doença às outras pessoas e não tem crises de revolta por não poder comer”. Marisli nunca o proíbe de comer algo, apenas orienta o filho dizendo se tem ou não glúten. “Ele sabe que se comer o que não deve vai passar mal, e isso ele não deseja”.

Maldade dos colegas Episódios como jogarem farelo de pão e bolacha na lancheira de Mateus já aconteceram algumas vezes, segundo a mãe. Porém, isso terminou na atual escola quando os educadores explicaram e ilustraram a doença do colega. “Teve até um dia em que o Mateus distribuiu um lanche para os colegas, os amiguinhos adoraram!” Marisli elogia o apoio da escola: “No colégio antigo, meu filho se sentia mal, pois

enquanto ele brincava de argila, os colegas usavam massinha de modelar, o que é perigoso para ele. Agora, todos na sua sala usam argila”. Para tornar a doença mais natural na vida do filho, Marisli sempre faz algo que chame a atenção do apetite dele - cachorro quente, x-salada, bolo e banana com nutela. “Houve um período em que o Mateus era chamado de macaco pelos colegas porque levava muitas ba-

Francisco testa as receitas à base de farinha de beterraba nanas. Disse a ele para passar a nutela na banana e não deu outra... nunca mais mexeram

com ele e ainda pediram um pedaço do seu lanche”, diverte-se Marisli.

Filhos também ajudam na dieta livre de glúten Quem também não deseja que sua família passe mal por causa do glúten é a professora Olga Estela Scholze Macanhão, de 41 anos. Quando criança, ela tinha muitas dores de barriga e sofria de anemia. “Há anos que eu fazia tratamento de anemia, minha última médica ficou bem interessada em descobrir o que eu tinha, mas não desconfiou da doença celíaca. Até que ela me mandou ir ao dermatologista”, conta Olga. Há dois anos, ela tem dermartite herpetiforme - doença que causa feridas na pele – geralmente situadas nos joelhos, cotovelo, costas e orelha. Só depois de uma consulta ao gastro, Estela soube que a dermatite é um dos sintomas da doença celíaca. “Toda a minha família fez os exames e para todos deu negativo. Desconfio que

meu avô já falecido era celíaco e de umas tias que até agora não fizeram o exame porque são teimosas”, conta a professora. Como todos os outros portadores, Estela passou pela fase de informar aos familiares e amigos sobre a doença: “No começo, várias pessoas entranham um pouco, ficam meio assustados e não ajudam muito. Hoje, se vou comer, meus filhos sempre me dizem o que tem glúten. Eles procuram não contaminar nada e eu também cuido bastante, pois não acho justo me contaminar, então não cozinho massa com trigo, nem pizza para eles. Se minha família quer, que vão lá e comprem uma pronta e comam tudo”, brinca Estela.

À vontade “Lógico que sim”, é a resposta da professora quando perguntada se sente vontade

de comer um doce. “Quando vou em um aniversário e todos estão comendo um bolo de chocolate, não como, fico na minha, mas sinto vontade”. Ela conta ainda que nesses eventos tem que ter jogo de cintura para mão aceitar quitutes. “Não gosto quando alguém da festa vem e fala: ‘fiz uma coisa pra você!’ porque eu tenho medo da contaminação. Então prefiro não comer mesmo! Mas o chocolate fica na minha cabeça, então no outro dia eu faço algo parecido pra matar a vontade”. Estela diz que a receita para não ser ansiosa quanto à alimentação é não fazer drama com a dieta. “Já procuro no dia-a-dia comer algo mais saudável, frutas, verduras. Até porque tenho o pavor de engordar como qualquer mulher”, diverte-se Estela.

Serviço: culinária especializada Curitiba Beladri Massas e Confeitos

Nutricionista alerta para a ansiedade das crianças celíacas

Produtos sem glúten, sem açúcar e sem lactose. Rua Desembargador Westphalen, 2201. Rebouças. Telefone: (41) 3077-2026.

Restaurante Petit Château

Carnes de caça, peixes, fondues. Endereço: Av. Manoel Ribas, 5039 - Santa Felicidade. Telefone: (41) 3372-1663 / (41) 3372-0003.

Glúten Zero

Misturas para fazer pães, bolos, biscoitos, pizzas... À venda na Beladri, Kalloria Zero e nas Padarias América. Telefone: (41) 3079-9407.


Curitiba,

8 Geral

sexta-feira,

17

de

outubro

de

2008

Atletas sofrem com a falta de investimento dos setores público e privado

O difícil caminho da profissionalização Aline Rakko Cleusa Slaviero Heloisa Garrett

As últimas Olimpíadas na China serviram como demonstração de que aumentar o investimento financeiro significa melhorar os resultados. O exemplo disso foi o quadro de medalhas, no qual Estados Unidos e China ficaram nas primeiras colocações. Nestes países, o esporte é visto como uma profissão e o governo investe para que os jovens tenham um bom desempenho, por meio de bolsas de estudo e gerando oportunidades de treinamento e aperfeiçoamento. O Brasil ficou na vigésima terceira posição, sem grandes resultados. Uma colocação que mostrou às autoridades que o país precisa ter mais investimentos na formação dos atletas ,e principalmente, necessita de políticas de incentivo para que os brasileiros tenham mais oportunidades de se dedicar ao esporte. Muitos atletas sonham em conquistar a profissionalização para poderem viver daquilo que realmente gostam de fazer. Foi assim com o acadêmico em

mecatrônica e ex-triatleta, Eduardo Rodrigues Alves. Ele começou com 12 anos a participar de competições na modalidade de natação em piscinas e mais tarde em travessias em mar aberto. Com 15 anos, ingressou no triatlo, graças ao apoio de uma organização privada. “Eu sempre estive vinculado a um clube onde eu treinava. Meu objetivo no esporte sempre foi tentar a carreira profissional”. Além do incentivo por parte do clube, Eduardo também recebia benefícios através da Lei do Incentivo ao Esporte. Por meio da lei, ganhava uma determinada quantia e todo o semestre ficava responsável por apresentar à Prefeitura de Curitiba a solicitação de uma verba. “Nós tínhamos que apresentar o currículo, competições das quais fomos ganhadores, apresentar as provas das quais iríamos participar para justificar o dinheiro que queríamos receber.” Para ele, a decisão de a Prefeitura apoiar ou não o atleta se baseava no marketing. “Eles classificam dentre os atletas em quem vale mais a pena investir, que equipe que vai fazer melhor propaganda para o órgão público e depois chegam as verbas”, explica. Esses recursos são destina-

dos em primeiro lugar para a inscrição em competições, transporte da cidade até o local da competição e alimentação no local. O restante é investido na compra de equipamentos esportivos. O atleta recebe individualmente o dinheiro e o valor varia de acordo com seu nível, com a modalidade e se a competição é estadual, nacional ou internacional. “Eu recebia cerca de mil e quinhentos reais por semestre. Alguns chegavam a ganhar três mil reais e outros quinhentos reais”, comenta Eduardo. O triatleta relata que é difícil receber apoio de empresas privadas. “Nossa equipe teve uma empresa ou outra que deu um incentivo, em relação a uniformes, mas é bem difícil ter um patrocínio de empresas, mesmo que seja somente de levar pra competição. Só se consegue um incentivo maior para atletas de ponta, e isso dificulta a situação pra gente”, lamenta. O triatlo é um esporte caro e Eduardo só participava de competições porque tinha o apoio da Prefeitura. “Pra mim o apoio por meio da lei era essencial para fazer parte de competições, esse é um incentivo que ajuda atletas amadores, mas se ele quer ter um desem-

Arquivo Eduardo Rodrigues Alves

Eduardo levanta troféu em competição de que participou penho maior para investir mais dinheiro em relação à tecnologia no esporte não é suficiente”, explica. Por falta de patrocínio, o sonho de Eduardo teve de ser interrompido. “Meu objetivo no esporte sempre foi tentar a carreira profissional, mas chegou um ponto faltou verba pra segurar a faculdade e sobreviver do esporte. Não foi viável economicamente e socialmente, acho que falta um pouco de apoio também. Às vezes um cara que não tem tanto talento, mesmo tendo muita garra,

é mal visto. No meu caso, faltou dos dois”, lamenta o atleta.

Lei de incentivo A Lei de Incentivo ao Esporte (11.438) foi sancionada em dezembro de 2006 e permite que patrocínios e doações para a realização de projetos desportivos e paradesportivos sejam descontados do Imposto de Renda devido por pessoas físicas e jurídicas. Dentro da Lei, pessoas físicas podem descontar até 6% do Imposto de Renda devido, e pessoas jurídicas até 1%.

Falta de apoio leva atletas a desistir do esporte As dificuldades de apoio ao esporte no Brasil atingem vários gêneros. O universitário Algaci Tulio Junior, de 20 anos, diz que tentou por algum tempo condições para se profissionalizar mas desistiu. Neste entrevista, o esportista, que hoje gerencia uma Lan house de simuladores de carros de corrida, destaca sua trajetória e o que acha das condições atuais de apoio ao esporte. Lona - Como você começou correr? Algaci - Passei a pensar em competir profissionalmente com 11 anos, quando eu já ganhava todas as corridas do meu pai e dos meus tios, e de quem mais quisesse correr.

Meu primeiro contato com um kart profissional foi com um amigo meu que corria profissionalmente e me deixou dar algumas voltas no carro dele. Por coincidência, o companheiro de box dele estava vendendo um kart, era mais antigo, mas entre um antigo e nenhum, eu já estava maravilhado. Isso foi no final de 2001. Por quanto tempo você praticou automobilismo? Corri durante 6 anos. Até mais ou menos 2004 colecionei mais de cem troféus, alguns títulos, dentre eles tanto de kart quanto de carro. Entre 2005 e 2007, eu fui gradualmente parando. Por que parou de correr?

Parei por falta de apoio, precisava de muito dinheiro para continuar. Foi realmente triste aceitar que a minha idade para correr fora do país já tinha chegado e eu não tinha condições financeiras para isso. Ver pilotos que eu venci na época do kart, hoje correndo na Europa, Estados Unidos, Japão, e eu sem correr. Eles não precisavam de patrocínio, os pais deles ou sua família tinham como bancar 40 mil reais por corrida, às vezes eram 10, 12 corridas por ano. Isso estava totalmente fora do meu alcance. Você tinha patrocínio? Recebia um patrocínio da Rede de Supermercados Condor e da empresa de celular TIM,

mas o valor cobria apenas as despesas para correr campeonatos regionais como o paranaense ou o metropolitano. Se fosse para correr campeonatos maiores, como o brasileiro, eu precisaria de umas 7 ou 8 vezes mais do que o valor que eu ganhava de patrocínio. O apoio financeiro anima o esportista no Brasil? É muito difícil conseguir apoio para o esporte, não há incentivo, pois a mídia promove apenas futebol, e o vôlei que agora é patrocinado pelo Banco do Brasil. A mídia, em relação ao automobilismo no Brasil, só dá atenção para a Stock Car. Para quem assiste Stock Car realmente parece que o automobilismo no Brasil é fantástico

(isso se não levar em consideração que cada corrida custa para o piloto em torno de 100 mil reais, a maioria dos pilotos pagam para correr nessa modalidade). A mídia que tem é muito fraca, é interna, só circula entre os próprios pilotos. Quem você conhece que é piloto de kart profissional? Temos campeões mundiais aqui no Brasil, e o kart é a base de todo o automobilismo mundial, dificilmente alguém é bom piloto sem ter passado pelo kart. Para a empresa patrocinadora o que interessa é ver a sua marca sendo colocada na mídia, vinculada a uma boa imagem. Se nem mídia tem, o que a empresa que patrocina ganha com isso?


Curitiba,

sexta-feira,

Geral

17

de

outubro

de

2008

9

Misto de arte, dança e defesa pessoal, é um esporte brasileiro reconhecido no mundo

Capoeira preserva cultura e disciplina Cleusa Slaviero

Disciplina e ordem são os critérios básicos para participar das aulas do mestre Pica Pau que há 29 anos pratica capoeira e fez desta arte sua profissão e seu hobby. Ele é paulista, e aos 9 anos teve seu primeiro contato com a capoeira. A mãe queria que ele praticasse karatê, foi para uma academia, mas ficava de olho nas aulas de capoeira e ficou fascinado por esse tipo de luta que acima de tudo é uma arte. Aos 15 anos ele foi para o Rio de Janeiro, considerado o centro da capoeira no Brasil. Hoje ele trabalha com turmas de crianças em uma escola particular onde ministra aulas para meninos e meninas de 4 a 12 anos. “Minha vida é a capoeira. Comecei muito cedo e acho que trabalhando com as crianças é possível manter esta arte que faz parte da cultura brasileira e também trabalhar com princípios entre as crianças”, explica. Também trabalha com um projeto social onde a capoeira é usada como instrumento de valorização da vida e para afastar crianças carentes das ruas. “São realidades bem diferentes, mas o importante é trabalhar a disciplina. O maior problema com as crianças mais humildes é a má alimentação que acaba interferindo no preparo físico”, comenta o mestre. Já na entrada do professor na sala de aula dá para sentir o respeito dos alunos por ele. A atividade começa com um aquecimento e com alongamento, em seguida o professor passa para o treino com os movimentos básicos.“A capoeira é um trabalho coletivo. É possível dar aula para uma só pessoa, como também é possível trabalhar com grupos grandes. Não é fácil segurar uma criança de cinco anos em uma aula, mas eles se concentram e aprendem muito não só o movimento mas a história da capoeira”, explica. Além dos movimentos, é a música que dá o ritmo da aula. Para as crianças pequenas o professor não mostra a capoei-

ra como uma luta, mas sim como um jogo, trabalhando de forma lúdica. Já para os alunos maiores ele procura desenvolver a técnica.Uma das preocupações de Pica Pau é também manter a história da capoeira, mostrar a origem desta arte que se deu com os escravos.

Estilos A capoeira tem três estilos que se diferenciam no acompanhamento musical e nos movimentos. O estilo primitivo é aquele que foi criado originalmente pelos escravos, sem regras. Depois o Mestre Pastinha criou a capoeira angolana com ritmo musical lento, e golpes jogados mais próximos do solo. E o Mestre Binda que criou o estilo regional os golpes são mais rápidos e não são usadas acrobacias. Esse é o ritmo de capoeira praticado, que incorporou 52 movimentos de outras lutas. A capoeira se mantêm viva nos dias de hoje e ganhando adeptos nas escolas, academias, clubes esportivos, ruas e praças públicas, e assim vai preservando a cultura e a identidade de origem africana dos negros brasileiros. E o mais importante é que hoje brancos e negros se unem nesta arte. História A maioria dos negros que vinham para o Brasil no período da escravidão era da região de Angola e tinham como característica a forte cultura musical e suas danças. A capoeira surgiu por volta do século XVI e era uma forma dos escravos se distraírem dos maus tratos e tentarem preservar suas origens. Uma dança que guarda a cultura africana e foi usada como instrumento de defesa e luta pela liberdade. O nome capoeira é designado pri-

Cleusa Slaviero/ LONA

Pica pau com alunos de uma escola particular: disciplina é essencial para as aulas meiramente para uma região de campo com pequenos arbustos, e a dança dos negros teve esta denominação porque eles praticavam a capoeira em lugares próximos das senzalas, ao ao livre, como um lazer, daí o nome capoeira. Zumbi, rei negro do Quilombo dos Palmares que foi o maior reduto de fugitivos da escravidão

é considerado o primeiro Mestre da Capoeira. A capoeira era vista até o inicio deste século como uma prática violenta e subversiva, por isso, até o ano de 1930 era proibida no Brasil. E as penalidades eram severas: quando as autoridades viam algum capoeirista dançando

era preso. A capoeira só foi liberada depois que um importante capoeirista, o mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado apresentou a dança para o então presidente Getúlio Vargas que gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional.

Made in Brazil Recentemente Pica Pau retornou de um período em Paris onde deu cursos de capoeira. “Tenho um aluno que dá aulas na França e anualmente vou para a Europa acompanhar o trabalho dele e aproveito para ministrar cursos.Ele também já morou na Europa, passando períodos na França e na Itália dando aulas da arte brasileira. Nos próximos meses dois de seus alunos também têm destino certo para o continente europeu. Um vai para Barcelona e outro para Paris. O capoeirista conta que a capoeira está sendo muito bem aceita na Europa e também em

outros continentes. “É uma arte, um esporte brasileiro que está sendo levado para todo o mundo mostrando a nossa diversidade e a nossa cultura”, explica ele.Apesar da capoeira ter destaque fora do Brasil, aqui dentro do país algumas regiões ainda resistem a esta arte. “Principalmente nas cidades da região Sul há uma certa resistência, as pessoas infelizmente têm um pouco de preconceito pelo fato de a capoeira ter origem com os negros e alguns chegam a ter resistência confundindo esta arte com a macumba em virtude da dança e dos ritmos”, lamenta.


Curitiba,

10 Esporte

sexta-feira,

17

de

outubro

de

2008

Rugby, criado na Inglaterra, começa a se popularizar no país do futebol

Um jogo que ganhou força Caroline Abreu Weber Clarissa Hellena Rocha

Apesar do frio de sete graus, atípico para uma noite de maio em Curitiba, cerca de 30 homens, vestindo apenas shorts e camisetas, correm atrás de uma bola. Surpreendentemente, a bola não é redonda e o jogo não é futebol. O esporte que leva aqueles homens a tamanho empenho é o rugby. O rugby nasceu no século XIX na Inglaterra e foi difundido para o mundo através das colônias britânicas. Depois de um grande período de evolução, houve uma popularização e é, hoje, o segundo esporte coletivo mais praticado no mundo, perdendo apenas para o futebol. Em Curitiba, muitas pessoas já estão vendo o rugby como uma atividade profissional. O Curitiba Rugby Clube, time oficial da cidade, conta com mais de 60 inscritos, sendo que 40 deles participam fielmente dos três treinos semanais, realizados no Campus Avançado da Paraná Esportes, no Tarumã. “Começamos apenas por hobby jogando na Praça Oswaldo Cruz, mas com um grupo grande formado resolvemos fazer competições. O próximo passo é participar da copa do mundo”, diz com orgulho o fundador do time, Mauro Callegari. Maurinho, como é conhecido, fundou o CRC em 1981. Ele conheceu o esporte através de um amigo argentino e os dois resolveram então “apresentar” o Rugby

para a cidade de Curitiba. Os primeiros treinos tiveram início em 1983, no parque Barigüi, e no primeiro semestre do mesmo ano um time já estava formado. O Curitiba Rugby Clube é o único time oficial da cidade. O Clube apóia uma pequena equipe universitária formada recentemente, e vários outros projetos que visam levar o esporte para dentro dos colégios estaduais estão sendo elaborados. Como atividade social, o CRC desenvolveu um programa que tem como objetivo levar o rugby a escolas carentes. A idéia deu certo e, para o plano ser colocado em prática, será preciso contar com a ajuda financeira do governo. Em 2006 foi formada a categoria juvenil do Curitiba Rugby Clube. A equipe conta com um grupo de adolescentes entre quatorze e dezenove anos, do qual Álvaro Henrique Moraes participa há dois anos. O interesse pelo esporte surgiu ao assistir à Copa do Mundo de Rugby de 2003. A primeira equipe da qual Álvaro participou foi São Roque, um pequeno time de São Paulo. Já jogou em três campeonatos com a equipe paranaense e sente orgulho em dizer que no Sul Brasileiro foram campeões invictos. “Apesar de ser o segundo esporte coletivo mais praticado no mundo, precisa de uma melhor divulgação no Brasil e no Paraná”, afirma Álvaro. Leonardo Frota, técnico do time adulto, está feliz com a fase pela qual o rugby está pas-

O “ruck”: formação em que os dois times disputam a bola

Fotos: Clarissa Rocha/ LONA

O “hooker” é o jogador que, em uma lateral, lança a bola para os dois times disputarem sando. “Nos últimos dois anos vem ocorrendo um ‘boom’ no rugby, e as pessoas estão se interessando e passando a conhecer melhor o esporte”, diz ele. É difícil elevar o nível do time, já que os jogadores todos têm outras profissões, e financeiramente não é possível viver do rugby. O time de rugby é composto por dois grupos de jogadores: de linha e de forward (que, em inglês, quer dizer “à frente”, “avançado”). Há, então, dois técnicos no time: um para os jogadores de linha, e outro para os forwards. Leonardo Frota é técnico dos forwards há dois anos e pratica o esporte há 12. Conheceu o rugby em São José dos Campos, a “cidade do rugby” no Brasil, através de seu pai, que era militar e treinava em uma equipe da cidade. Depois de ser convidado algumas vezes pelo time, aos 14 anos começou a praticar como uma brincadeira. Aos 16 anos é que passou a levar o rugby a sério. Aos 18, já estava na Seleção Brasileira de Rugby Juvenil. Hoje, com 28 anos, além de ser técnico do Curitiba Rugby, faz parte da Seleção Brasileira de Rugby.

vez no Brasil em 2003 contriO Brasil e o Rugby Ir para a Copa do Mundo de buiu para que o esporte caísse Rugby ainda é um sonho para no gosto do brasileiro. A ESPN a seleção nacional desse espor- Brasil já transmitiu duas Copas, (a de 2003 e te. “Nós já consede 2007) e os núguimos chegar à meros confirterceira etapa das Na Copa do mam a popularieliminatórias, mas infelizmente Mundo de 2003, zação do rugby país do futenosso time ainda os espectadores no bol. Em 2003, os não está forte o suespectadores ficiente”, conta eram cerca de eram cerca de Leonardo. “Por um milhão; em um milhão; já enquanto, nosso objetivo é chegar 2007, o número em 2007, o número de brasileiao nível das boas saltou para sete ros que acompaseleções da Amérinhou o evento ca do Sul, como milhões saltou para sete Uruguai e Chile, milhões. para depois pensar em enfrentar os grandes, como nossa vizinha, a ArgentiO jogo na”. Os equipamentos utilizados A Argentina é a seleção não têm um custo alto. O que é mais forte da América do Sul, exigido aos jogadores é o uso da estando entre os primeiros do chuteira especial de rugby e, se mundo. Na última Copa do quiserem, uma proteção para os Mundo, realizada em 2007 na dentes e uma touca fina que proFrança, a Argentina teve o me- tege as orelhas. lhor desempenho de sua históA complexidade de todas as ria: ficou em terceiro lugar, per- regras e técnicas é um dos prindendo apenas para a Inglater- cipais fatores pelo qual o rugby ra e para a campeã África do ainda não tem uma grande poSul. pularidade no país. O jogo traA transmissão da Copa do dicional é formado por dois tiMundo de Rugby pela primeira mes, com 15 jogadores.


Curitiba,

sexta-feira,

Saúde

17

de

outubro

de

2008

11

Segundo a ABTB, no Brasil podem existir 15 milhões com distúrbio bipolar

Da tristeza profunda à alegria absoluta Arquivo pessoal Fabíola Amaral

Daniela Piva

Angústia e melancolia. Como dormir assim? Após horas de choro, simplesmente não sabe como vai acordar amanhã. Mas o novo dia surge tranqüilo e feliz. Nem parece que a noite anterior foi desesperadora. Madrugadas intermináveis, fadiga, criatividade excessiva, vontade de não sair da cama. São características comuns para quem tem transtorno bipolar. "Já me disseram que vivo em duas linhas separadas, e que sou excêntrica a ponto de não ver linha nenhuma, porque se eu vejo... Pulo!", diz a publicitária Fabíola Amaral, de 23 anos. O que causa o transtorno bipolar ainda é desconhecido, mas há fatores que influenciam ou antecipam o surgimento, que podem ser biológicos, genéticos e psicossociais. O genético é um dos mais significativos. Os psicossociais, como perdas significativas, uso de drogas, problemas financeiros, familiares, entre outros, podem contribuir para o aparecimento da doença. Aos olhos dos pouco informados, a bipolaridade é repulsiva. Mas há aqueles que associam a enfermidade à genialidade, por haver indícios de que grandes pintores e outros artistas tenham sido bipolares. Fabíola é bipolar, não é um grande gênio, apesar de ser inteligente e talentosa. Escreve e desenha. Já fez teatro, jazz e gostaria de ter feito ballet. Aprecia pintura, mas cinema é sua verdadeira paixão. É bem humorada, na maioria das vezes, e leva sempre uma frase que a mãe lhe diz desde criança: "Filha, é melhor estar sozinha do que mal acompanhada", imita. Em parte, é por este motivo que não tem namorado. Diz que hoje em dia "está complicado". Mas admite que outra questão a atrapalhe. "Tenho problemas no relacionamento amoroso pela falta de abertura de expor a doença e revelar que faço tratamento médico. Para os bipolares, desenvolver relacionamentos duradouros é complicado, pois manter o equilíbrio da vida afetiva não é fácil. O pensamento é rá-

pido, e não é possível controlar o que falam ou sentem. De acordo com a psicóloga Roze Vasconcelos, a relação com os demais também pode apresentar dificuldades. "Quando o paciente encontra-se em tratamento trabalham-se as dificuldades de relacionamentos interpessoais, como por exemplo, a agressividade que é comum". Ainda há muitas dúvidas sobre a doença. Os sintomas podem ser mascarados por traços da personalidade. É comum ouvir que algumas pessoas são "oito ou oitenta", outras são agressivas naturalmente ou simplesmente pessimistas. A maior parte dos indivíduos que chegam ao consultório médico sai com o diagnóstico de depressão, pois é uma das fases da enfermidade. Segundos dados da Organização Mundial de Saúde, a depressão é a doença psiquiátrica mais diagnosticada hoje, e ocupa o quarto lugar entre os principais problemas de saúde do Ocidente. O transtorno bipolar se divide em dois tipos: o I, em que o paciente alterna episódios de mania (estado exaltado de humor) e depressão, e o II, que se caracteriza pela alternância de depressão e fases brandas de euforia, chamadas de hipomania. O relacionamento com a família é afetado. Devido à alteração de humor, o paciente não se relaciona facilmente. Muitas vezes os bipolares não percebem como estão alterados, e freqüentemente culpam outra causa que não a doença mental. A falta de informação faz com que fique mais complicado compreender e aceitar as atitudes. "Tenho

dificuldades no relacionamento com meus pais, pois eles não conhecem a doença, e minha irritabilidade constante impede uma relação de confiança e intimidade. O preconceito ajuda a não aceitar os problemas emocionais", pondera Fabíola. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar, 50% dos portadores apresentam pelo menos um familiar afetado, e seus filhos têm risco aumentado de desenvolver a doença. Os familiares de bipolares precisam lidar com graves problemas de comportamento, como o excesso do consumo de álcool durante os episódios de mania, ou o isolamento extremo durante a depressão. A família funciona como um filtro, e se essas pessoas já não toleram e compreendem, os problemas tendem a aumentar para os portadores. Não se sentirão seguros em nenhum lugar. Aceitar que possui a doença pode ser uma das principais dificuldades. Após esta fase vem a mudança, já que o paceinte passa a ser também um dos responsáveis pelo seu tratamento. Encorajar e apoiar constantemente são necessários mesmo depois que indivíduo aceita o acompanhamento médico, pois pode demorar a encontrar o plano de tratamento adequado para cada pessoa. Para a psicóloga, a família “pode ajudar procurando se interar do tratamento, lendo a respeito, falando com profissionais para melhores informações e compreensão do transtorno", explica. O transtorno bipolar é uma doença cíclica, mas existem tra-

tamentos eficazes. A terapêutica ininterrupta quase sempre é indicada. Para o controle do transtorno ao longo do tempo, a combinação de medicação e tratamento psicossocial é sugerida. Para o psiquiatra Silvandro de Jesus Jorge, medicamentos são essenciais para que o paciente apresente uma melhora significativa. "O uso de carbonato de lítio, que é um estabilizador de humor, diminui o número de episódios do distúrbio e a intensidade", explica. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o transtorno bipolar foi a sexta maior causa de incapacitação de pessoas no mundo, na década de 90. A taxa de mortalidade é alta, e o suicídio é a maior causa entre adolescentes, 25% dos jovens bipolares apresentam comportamento suicida. De acordo com a Associação de Transtorno Bipolar, o tratamento adequado reduz a incapacitação e a mortalidade dos portadores. Fabíola faz tratamento há três anos, já experimentou dois remédios diferentes e quando pára de tomar sente que as alternâncias no humor são mais freqüentes. "É incrível, mudam muitas vezes dentro de um dia. Os efeitos em mim são de uma disposição aumentada e cria a tendência de abusos da disposição física, do álcool e de outras características dessa fase. A fase depressiva dura menos tempo nessas alternâncias", esclarece. Os portadores do transtorno bipolar sofrem preconceito, e parte vem deles mesmos. É difícil admitir ter problemas de saúde mental, pois a própria

expressão é forte. Segundo a psicóloga Roze Vasconcelos, diversas coisas podem ser afetadas. "O indivíduo não consegue se concentrar, sente desânimo, memória ruim, sem iniciativa, pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer na vida, entre outras. Tudo isso faz com que o paciente sinta-se desajustado ou incapaz no seu ambiente de trabalho ou estudo", explica. Fabíola sabe bem o que é isso. Estudou sobre a doença para entender seus sentimentos em relação às coisas e pessoas. "O transtorno bipolar acelera o pensamento. Me distraio fácil, e atrapalha estudo e trabalho. Na fase de mania, algumas vezes pode até ajudar no desempenho intelectual, mas somente nessa fase. Na fase depressiva aumenta a distração, com sensação de cansaço e lentidão, fazendo perder o interesse em qualquer atividade e auto-estima muito baixa", diz. O comportamento sexual também é afetado. O portador torna-se desinibido e até mesmo promíscuo. O senso crítico é esquecido, e muitos são capazes de ter vários parceiros em um curto espaço de tempo.Para o sucesso pessoal do bipolar, é necessário haver harmonia. Bons remédios, psicoterapias e ajuda da família são essenciais. "A boa relação médico/paciente e psicólogo/paciente, é importante para o sucesso da jornada. Esse acompanhamento é de suma importância para esclarecer dúvidas, pedir socorro em crise, discutir fatores estressantes, isso tudo contribui na melhora", adverte a psicóloga.


Curitiba,

12 Educação

sexta-feira,

17

de

outubro

de

2008

Aula de campo de Antropologia mostra na prática conceitos discutidos na teoria

Um olhar sobre a cultura de Paranaguá Luciana Brito

No relógio, os ponteiros já passavam das nove horas da manhã. Tempo frio, com céu cinza, e uma chuva que insistia em cair na Capital. Uma proposta quase que irrecusável era permanecer debaixo das cobertas. Certo? Errado! Pelo menos para a turma de Antropologia do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Com guarda-chuva nas mãos, máquina fotográfica e muita disposição, alguns poucos, porém dispostos, alunos saíram de Curitiba com destino à cidade de Paranaguá, no litoral paranaense, no sábado, 4 de outubro. A viagem durou quase duas horas, que passaram tranqüilas diante da animação da turma que espantava os males (mas não a chuva), relembrando músicas antigas. O repertório variava de músicas sertanejas, românticas, rock, MPB, cada gênero com sua característica, o que não torna um ou outro melhor, mas apenas diferente. Exatamente como a professora Eliane Basilio de Oliveira, organizadora da aula de campo, orienta os alunos quando olham as produções culturais. O objetivo da visita a Paranaguá era observar os monumentos históricos e os aspectos étnicos e culturais, para ter uma melhor reflexão e análise sobre o desenvolvimento histórico e antropológico da cidade, além de estabelecer relação entre os conteúdos teóricos da disciplina de Antropologia e a leitura da realidade. Antes da visita, a cultura do litoral paranaense foi tema de aulas e de debates com os alunos. A primeira parada foi na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, construída em 1578 e reformada várias vezes, o que lhe deu características de vários períodos. A igreja foi a primeira em solo paranaense e a primeira no Brasil a ser dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Por causa de suas sucessi-

vas reformas, perdeu muito de sua característica original. A professora chamou a atenção dos alunos para a fachada, que é a parte mais fiel da construção original. Marco central do crescimento da Vila de Paranaguá, a igreja foi tombada como Patrimônio Histórico do Estado em 1967. Os alunos, observados pelas pessoas no interior da igreja, que rezavam ou simplesmente esperavam a chuva dar trégua, ficaram entusiasmados, tiraram várias fotos e até ajudaram em uma das atividades do dia. Guylherme Custódio, o aluno mais alto da turma, foi convocado por um membro da igreja a dar uma ajudinha especial. Era dia de Nossa Senhora do Rosário, e fogos foram soltos pelos alunos, para avisar a população sobre a grandiosidade do dia. Segunda parada, igreja de São Benedito, construída em 1784 por uma irmandade de escravos tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1962; foi restaurada em 1967. As placas no interior da igreja diziam que ela foi construída em estilo barroco, afirmação questionada pela professora, que não observava características do estilo na construção. A igreja era pequena, simples e sem muitos ornamentos, o que acentuou a observação dos alunos sobre a diferença da igreja dos escravos, comparada à primeira igreja visitada, que fascinava pela riqueza de detalhes. O passeio seguia tranqüilo, mas a chuva não parava, ao contrário dos alunos que resolveram parar para umas comprinhas. A parada foi numa loja de artesanatos feitos pelos moradores da cidade portuária. Lá, várias peças lembravam a região, como os chaveiros de rabecas que evocavam o fandango, máscaras indígenas, colares de conchas e outras peças. Era difícil escolher diante de tanta variedade, levar tudo o que pudesse ser uma boa opção, se não fosse a preocupação com a despesa do almoço que ainda

estava por vir. A caminho do restaurante uma outra parada, desta vez na Praça do “Pelourinho”, erguido em 1646, a mando do governador do estado do Rio de Janeiro, D. Duarte Vasqueanes, para a fundação da Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá. “Pelourinho são colunas de pedra colocadas em lugar público da cidade ou vila onde eram torturados e expostos criminosos, principalmente escravos”. Como aquela altura todos já estavam sendo torturados pela fome, uma parada mais que esperada. O almoço foi num restaurante com muito peixe no cardápio. Forças renovadas e passeio retomado. A sexta e principal parada foi no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR. Naquele sábado não havia guias para acompanhar a visita e explicar um pouco mais sobre o que era visto. Mas as explicações da professora e a boa capacidade de interpretação dos alunos que já tinham estudado sobre a cultura local nas aulas de Antropologia tornou a visita interessante. Na entrada do museu havia a exposição ”NAAKAI – A trama ritual na vida wauja”, da antropóloga, intérprete, compositora e etnomusicóloga Maria Ignes Cruz Mello. A exposição retrata as sociedades indígenas de um modo geral. Aborda a realização dos rituais e festas ligadas à sobrevivência, como alimentação e moradia. De acordo com as pesquisas da exposição, os wauja viveram nas regiões dos nascentes do rio Xingu, há mais de 1.200 anos. Fazem parte desse ritual a música, dança, pintura corporal, distribuição e alimentos e o uso do tabaco. As peças da exposição variavam entre utensílios e curiosas roupas feitas de palha. A exposição permanente do Museu também foi contemplada. A exposição ilustra a cultura dos sambaquis, discutida recentemente em sala de aula. Com essa exposição, foi possível observar na prática, ou o mais próximo possível dela, tudo o que foi discutido na teo-

Eliane Oliveira/ LONA

Os alunos no Museu de Arqueologia Guylherme Custódio/ LONA

Representação feminina feita a partir de pesquisas ria, alcançando então o objetivo da visita. A aluna Lucimeire Martins vai quinzenalmente a cidade de Paranaguá a trabalho e nunca tinha tido a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a cultura local. Ela anotava tudo o que via, com o intuito de passar adiante o conhecimento adquirido. “Eu trabalho com crianças aqui em Paranaguá e pretendo fazer com elas um passeio de reconhecimento cultural. Tenho certeza que muitos não conhecem nem metade do que a sua cidade tem”, diz.

Missão cumprida, é hora de voltar para casa, e como tudo possibilita discussão, o caminho de volta que passou pelo Porto despertou a atenção dos alunos e da professora para a situação de pobreza dos moradores de Paranaguá. Assuntos como desigualdade, pobreza e prostituição, tão comum na zona portuária, fizeram com que a visita abrisse um leque de possibilidades de discussão em sala de aula e para transformar a reflexão em ação. A reflexão e análise sobre o desenvolvimento histórico e antropológico da cidade começam a ganhar cor e forma.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.