Lona - Edição nº 419

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Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008 | Ano IX | nº 419| jornalismo@up.edu.br| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

Cresce número de alunos de baixa renda no ensino superior De 2004 até 2006, a proporção de alunos com renda de até três salários mínimos no ensino superior aumentou em 49%. O índice resulta da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Para a porcentagem ter aumentado dessa forma, o Progra-

ma Universidade para todos (Prouni) do Governo Federal teve grande importância. Porém, o número de estudantes de baixa renda no ensino superior ainda pode ser superado, já que quase 40% das vagas disponíveis não são preenchidas. O que também ajudou a ele-

Fotografia completa hoje 169 anos

Peça de teatro carrega crítica à abordagem da mídia no Brasil

var o índice foi o fato de o número de vagas na universidade ter quase quadruplicado nos últimos anos. E foram as instituições que mais ampliaram seus quadros de alunos, geralmente com mensalidades mais baixas.

A Companhia de Teatro “Os melhores do Mundo” apresentou na sexta e no sábado o espetáculo “Notícias Populares” no Teatro Positivo. O grupo, com o famoso personagem Joseph Klimber, fez adaptações que contextualizaram Curitiba ao enredo da história do espetáculo.

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Perfil: adolescente que se descobriu fotógrafo

No dia do aniversário da fotografia, o LONA traz uma reportagem especial sobre a história, a evolução e todas as discussões que existem em torno do intenso crescimento do livre acesso à imagem no mundo.

Roberto Pitella/ LONA

Páginas 4 e 5

Escritora Simone de Beauvoir faria cem anos em 2008

Divulgação

O seu primeiro livro, “Memórias de uma moça bem comportada” (foto ao lado), é uma crítica ferrenha aos valores burgueses. A escritora causou muita polêmica na época graças às relações que mantinha com mulheres, geralmente antigas alunas, e também pela sua vida amorosa, que foi estruturada em torno de um trio, e não de um casal.

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Roberto Pitella é psicólogo e um apaixonado pela fotografia - Página 6


Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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O Brasil deve renegociar o Tratado de Itaipu com o novo governo paraguaio?

Sim Hendryo André

O maior equívoco do Paraguai aconteceu em 1973, quando resolveu negociar a honra de toda uma nação. Talvez o motivo tenha sido o tempo, pois ele é, sem dúvida, um divisor de águas. Um século antes, brasileiros, uruguaios e argentinos invadiram as planícies do outro lado da Ponte da Amizade (que obviamente não existia, apesar da relação estreita entre os dois países) por considerar aquela nação perigosa. Quem venceu a Guerra do Paraguai? O imperialismo inglês, que desfrutou de águas calmas e de algumas libras esterlinas do endividado Brasil vitorioso de guerra. E algumas gerações de paraguaios odiaram os brasileiros, que desfrutavam com gosto de anedotas dos vizinhos. Tornouse o Paraguai um “cavalo paraguaio”, daquele que demonstra grande potencial (para o desenvolvimento econômico), mas que sucumbe no imponderável – não foi por conta própria, caríssimo leitor, o que contraria o ditado popular oriundo das terras a leste de Itaipu. E eis que em 2008 o Paraguai retoma coragem e põe em pauta, por meio da posse de Fernando Lugo, o assunto lá da

década de 1970. O país, detentor de 50% da energia gerada por Itaipu, repassa quase toda a sua parcela de direito ao gigante da América do Sul, detentor “real” de 95% do que é produzido. Enquanto isso, os paraguaios estão cada vez mais próximos do escuro, apesar de ser um dos poucos países no planeta com excedente de energia. Isso porque não há infra-estrutura suficiente para distribuir a energia dentro do próprio território. O motivo? A dinastia do Partido Colorado, corrente política voltada à política externa e a interesses particulares, e que comandou o barco paraguaio por seis décadas. Os danos poderiam ser piores, mas felizmente não há mar! O fato é que os paraguaios pagam um valor abaixo do preço de custo na energia retirada de parte da natureza pertencente àquela nação, algo em torno de U$ 100 milhões anuais, quando o preço de mercado garantiria cifras equivalentes a U$ 11 bilhões. Não fosse apenas o bom senso em readmitir um acordo, pois fica clara a pirataria dos Colorados, há a eterna dívida social que o Brasil tem com os vizinhos, pois como o mais legítimo dos “cavalos paraguaios” – há de considerar que a expressão é posterior a Guerra – quis ser império e ficou alguns nós atrás das potências econômicas. É hora de o Brasil tentar negociar a sua honra, mas dessa vez sem equívocos. Do resto, o tempo – velho divisor de águas – cuida.

Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande;; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de PósGraduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Pró-

Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professoresorientadores: Ana Mira, Elza de Oliveira e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski e Karollyna Krambeck

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

Não Marcos Lemos

1500 - ano do Descobrimento do Brasil. Não demorou muito para que as duas potências na exploração marítima, Portugal e Espanha, se unissem para dividir as conquistas. O Tratado de Tordesilhas estabeleceu que as terras da América do Sul ao leste pertenceriam aos portugueses e a oeste aos espanhóis. Somente em 1750 foi respeitado o princípio do uti possidetis, em que a terra deve pertencer a quem de fato a ocupa, e estabelecido um novo acordo, o Tratado de Madri. Dessa forma, os limites naturais, rios, montanhas e cordilheiras passaram a delimitar as nações que se emanciparam e buscavam a auto-suficiência. A construção de usinas hidrelétricas foi uma das alter-

nativas para promover a evolução dos países. Algumas dessas, por estarem nas divisas, foram construídas em parcerias binacionais como o caso de Itaipu e Yacyretá. Por envolverem países com legislações e necessidades diferentes, além de altos investimentos, ficam regulamentadas por acordos muito bem feitos e analisados em que as alterações só podem ser realizadas se ambos os lados estiverem de acordo, ou com o término do contrato. Apesar disso, o atual presidente do Paraguai, Fernando Lugo, utilizou como slogan de campanha eleitoral a renegociação da energia comercializada com o Brasil. Isto, porque los hermanos consomem somente 5% da energia produzida por Itaipu e são obrigados a comercializar o restante com o Brasil, por um “preço justo” estabelecido mundialmente. Atualmente é pago ao Paraguai US$ 45,31 por MWh, valor que gera impactos diferentes de acordo com o câmbio do dólar no bolso da dona-de-casa que paga a conta de luz. Este valor pode ser comparado com

o preço da energia que será comercializada pela usina de Santo Antônio, no rio Madeira, que foi leiloada em dezembro e será vendida a R$ 78,87 o MWh. Vantagem para nós, brasileiros, que apesar de termos um dos maiores potenciais hidrelétricos, torcemos todos os invernos para que chova, a fim de ocultar o risco constante do apagão.Assim, utilizamos 95% da energia produzida por Itaipu, mas pagamos os royalties, o excedente paraguaio e as parcelas do financiamento para a construção da usina que terminam somente em 2023. De fato somos dependentes de Itaipu, uma vez que a usina fornece 20% da energia consumida no país, abastecendo todas as regiões brasileiras. Cabe ao governo paraguaio esperar até o término do Tratado de Itaipu em 2023, ou se satisfazer com o financiamento concedido para o projeto de linhas de transmissão de energia de até Assunção e um possível empréstimo de US$ 200 milhões para a execução da obra.

Raul está vivo! Carlos Guilherme Rabitz

Somos uma nação sem heróis. Somos uma nação sem muita coisa para se comemorar. Mas o brasileiro é criativo, não perde a oportunidade de se divertir, seja com vitórias, derrotas ou perdas. Nesta semana lembramos um dos ícones de uma geração que, além de não perder adeptos, agrega, a cada dia, mais seguidores. No dia 21 de agosto deste ano faz 19 anos da morte de Raul Seixas. Em vez de chorar a perda, legiões de fãs homenageiam o ídolo, com encontros, festas, shows e eventos. É uma semana em que vários tributos acontecem pelo Brasil inteiro. Em Curitiba, além do encontro anual do fã-clube Geração Alternativa, teremos a presença do mais famoso cover do músico, João Elias, ou Raulzito, de Apucarana. Elias teve sua carreira alavancada por uma aparição no Domingão do Faus-

tão, há cerca de um ano. O fãclube e o cover se encontrarão no evento promovido pelo primeiro, em um churrasco que inicia às 10h do próximo sábado e costumeiramente termina na manhã do domingo, sempre ao som de todas as músicas do ídolo. Em um país onde ícones não se formam da noite para o dia, a lembrança é a melhor forma de se homenagear àqueles que têm ou fazem algum sentido para a vida de alguns. Mesmo sendo poucos os seguidores de Raul Seixas, pelo menos em Curitiba, há sempre quem possa criar um motivo para trazê-lo à vida, seja em espírito, músi-

cas, ou até mesmo passando o dia com os amigos para contar e recontar histórias vividas em sintonia com o ídolo.


Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008

Geral

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Estudantes beneficiados pelo programa ganham chances no mercado de trabalho

ProUni ajuda na redução da desigualdade social sobre número de universitários renda tem maior possibilidade de competir em igualdade com pessoas de classes mais altas por uma posição no mercado de Em 2007, a estudante Cátrabalho”. Eliane também restia Boock, na época com 17 salta que os cursos superiores anos, estudava em Santa Izaainda não são prioridade no país. bel do Oeste, cidade no interior “A única educação obrigatória no do Paraná, para passar no vesBrasil é a do ensino fundamentibular e garantir seu lugar em tal, que dificilmente possibilita uma faculdade. Mas ela não uma melhora de renda por si só”. podia pagar pela mensalidade Apesar das melhorias, o ProUde nenhum dos cursos univerni não pode manter todos que presitários particulares que precisam dentro da universidade. tendia fazer. Se não fosse o ProCerca de 39% das bolsas em unigrama Universidade para Toversidades particulares estão ocidos, o ProUni, Catia teria de osas, ou seja, não estão sendo usaesperar até conseguir uma das. Segundo o sociólogo Alexsanvaga em instituição pública, o dro Eugênio Pereira, isso pode ser que poderia deixá-la mais de um resultado de muitas complicações ano fora do ensino superior. econômicas. “Apesar da universiAtualmente, Catia cursa o dade ser gratuita com a bolsa, o primeiro ano do curso de Sisteestudante ainda tem outros cusmas de Informação da Universitos, como a alimentação, o transdade Positivo (UP), onde conseporte, material guiu entrar com didático etc. uma bolsa de es“Apesar de a uniAlém disso, o tudos, conquisaluno muitas tada com uma versidade ser vezes precisa boa nota no Exagratuita com a sustentar me Nacional do mais pessoas Ensino Médio, o bolsa, o estudante além de si Enem. Com o ainda tem outros mesmo, tendo curso, Catia que trabalhar, tem mais chancustos. Ele muitas o que pode difices de conseguir vezes precisa cultar a manuum bom empredo curgo dentro da sustentar mais pes- tenção so.” área em que resoas além de si Ainda asalmente deseja, sim, Pereira “depois de termesmo, tendo que afirma que o minar a facultrabalhar” ProUni, apedade, eu vou tensar de não retar trabalhar ALEXSANDRO EUGÊNIO solver toda a como analista de PEREIRA - SOCIÓLOGO questão educasistemas ou procional do país, gramadora. é uma medida válida. “Ele não ataMas há muitas opções que eu posca a raiz do problema, que seria a so fazer com esse curso”, conta. grande deficiência no sistema de Segundo a professora de soeducação. Mas minimiza os efeiciologia Eliane Basílio de Oliveitos dessa deficiência”. O fato é que ra, da Universidade Positivo, o mesmo sendo uma ação de comaumento de 49% de estudantes pensação, o ProUni pode ajudar a com renda de até três salários mudar a vida de várias pessoas mínimos no ensino superior, que passam por dificuldades. Cáocorrido entre 2004 e 2006, é um tia, que fez parte desta compensaexemplo de redução da desigualção, está um passo mais perto de dade econômica no país: “Com realizar seus desejos dentro do meracesso a um diploma universicado de trabalho. tário, uma pessoa com baixa Leonardo Barroso

A vida é uma caixinha de surpresas Divulgação

Guylherme Custódio

“Já parô pra refreti quantos erro de português nóis fala num dia? Bastantão, né? Se um seqüestrador aficionado pela língua portuguesa estivesse lendo esse texto alguns dos seus reféns já estariam mortos”. Isso parece muito trágico. Parece. Se não fosse uma montagem da Cia de Teatro Os Melhores do Mundo.Eles já estiveram em julho no Teatro Positivo apresentando a montagem “Hermanoteu na Terra de Godah”. Desta vez, na sexta e no sábado, apresentaram a sua mais famosa criação:Joseph Klimber e a sua vida, que é uma caixinha de surpresas. Além de Klimber, foram apresentados ao público curitibano o grupo de rap Repetentes, o militar Brasileiro Deny, o candidato Alfredo Gusmão-trabalho e dedicação e o policial Saraiva. Como em Hermanoteu na Terra de Godah, as “Notícias

Populares” também estiveram repletas de referências à capital do Paraná. Curitiba aparecia sempre que possível em meio às cenas. Uma dessas ocasiões foi logo no início da peça, quando o seqüestrador fazia as suas exigências: “Eu quero toda a imprensa aqui. Quer dizer, toda a imprensa não. O Alborghetti não precisa!”. A polícia da cidade também foi contemplada com uma das piadas: “Se o carro tivé som nóis tá levando. Nóis é pior que polícia de Curitiba”. As construções da capital também tiveram uma ponta: “Isso é a construção mais escrota que eu já vi. Ah é? E o hotel Bristol? Tá, tá, ta, é a segunda construção mais escrota. E a praça do homem nu? Tá, ta, ta, é a terceira construção mais escrota.” Para Sandra Galdolfi, que conheceu o grupo apenas nesta sexta-feira, as referências de Curitiba na peça fazem com que o público se aproxime ainda mais da montagem. Diferente de Sandra, o profes-

sor Éder da Costa já tinha visto a peça e também a outra, e veio à apresentação para trazer um amigo seu. Sobre a aproximação da peça com a cidade Éder tem a mesma opinião que Sandra: “isso é o que abrilhanta mais ainda a peça”. O nome da peça, “Notícias Populares”, é uma crítica aos veículos de comunicação. Em forma de telejornal, a peça mostra como a televisão retrata a realidade, seja um assalto, um debate político ou até mesmo o “exemplo vivo de hoje”. A forma mais clara em que a peça mostra isso é no debate político em que um dos candidatos é claramente favorecido pelo apresentador de TV. O grupo satirizou até o candidato à prefeitura de Curitiba, Lauro Rodrigues, do PT do B. Para Éder, a crítica à televisão é válida: “Isso quebra um pouco o mito da imparcialidade, de que eles são mediadores. É uma sátira que tem seu fundo de verdade”.


Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008

4 Especial

No Dia Mundial da Fotografia, fotógrafos comentam a relação e o acesso das pessoas à imagem

A democratização da memória Simultaneamente aos dois franceses, o escritor e cientista inglês William Henry Fox169 anos. Essa é a idade de Talbot lançou a talbotipia na vida da “photographia” (do gre- Inglaterra, dando início à mulgo, escrever na luz). “Eu não tiplicação da fotografia. “Essa sei. Por que o 19 de agosto é o técnica tinha qualidade mais dia mundial dela?”, questiona moderna comparada ao dao fotógrafo curitibano João Ur- guerreótipo. Talbot dizia que ban. Nesta data, o francês era uma invenção que delineLouis Daguerre apresentou o ava as formas sem a utilizaDaguerreótipo, na Academia de ção do lápis. Porque antes se Ciências em Paris. Este proces- via a figura na câmera escuso fotográfico se utilizava de ra, colocava um papel vegetal uma placa revestida de prata e com o lápis delineava a imacomo material sensível a luz e, gem que aparecia na câmera. depois da exposição, a imagem Com o sistema que ele invenera revelada com vapor de mer- tou, o uso do lápis foi descarcúrio aquecido. Imagem forma- tado”, explica. Logo após o governo franda dentro das três tonalidades possíveis - negra nos locais cês ter anunciado o invento de onde a prata recebe intensa Daguérre, Talbot reclamou a quantidade de luz, cinzenta prioridade de seu invento num onde a intensidade é média e informe à Royal Society, chabranca (ou inalterada) onde mado: “Alguns informes sobre a arte do Desenho Fotogênico, nenhuma luz a atinge. “O Daguerre foi o financia- o processo mediante o qual dor das pesquisas do Joseph pode-se conseguir que os objeNicéphore Niépce. Ele morreu tos naturais reproduzam-se em 1839. O filho do Niépce as- por si só”. Ao contrário da apresumiu as pesquisas e o Da- sentação de Daguerre em 1839, guerre bancava. Levou o títu- a publicação desse informe filo de inventor da fotografia. cou restrita aos colegas cienMas, na verdade, ele foi o tistas da Academia. Anos mais tarde, durante a grande patrocinador”, opina Urban diante da sua antiga e Guerra Fria, o programa espacibem conservada casa na Rua al americano desenvolveu a tecBrigadeiro Franco, onde mora nologia fotográfica digital. As primeiras imacom a irmã, a gens capturajornalista Te“É a prédas sem filme resa Urban. alfabetização da foram registra“A técnica das pela sonda já vinha sendo população que Mariner 4, em estudada há aprendeu a usar a 1965, e gravatempos. Só não 22 imasabiam como imagem. Tem gente ram gens em preto e fixar a imabranco da sugem, e o Niépque não sabe perfície de Marce conseguiu o escrever e sabe te. Mas a prifeito. Contimeira câmera nuou a pesquifotografar” digital popular sa até chegar JOÃO URBAN, foi lançada bem ao daguerreótiFOTÓGRAFO depois, em po. Hoje, isso é 1990. O modejóia, material único. Comprei um daguerreó- lo Dycam I tirava fotos em brantipo na Argentina, mas ficou co e preto com resolução de 320 x com minha ex-mulher. Não tive 240 pixels e podia armazenar até coragem de pedir de volta”, 32 imagens em 1 MB de memóbrinca o fotógrafo, autor de li- ria interna. vros como “Tropeiros”, “Aparecidas” e “Tu i Tam” - ensaio so- A transição bre a imigração polonesa no PaO processo de adaptação dos raná. fotógrafos ao sistema digital le-

João Urban/ LONA

Bárbara Pombo

Avelina e Lídia Marszal, foto de 86 na região do Rio do Banho, Cruz Machado/PR vou algum tempo. Mas não para os fotojornalistas. Na Gazeta do Povo, por exemplo, as câmeras digitais foram implantadas no caderno de verão de 1995. “Não houve resistência de nenhum profissional do jornal. Nossa rotina de trabalho foi modificada, mas para melhor. Além de trazer agilidade ao processo de captura e publicação, distribuição dessa imagem”, afirma o repórter fotográfico Marcelo Elias. Carlos Roberto Zanello de Aguiar, o Macaxeira, fotógrafo da Secretaria de Estado da Cultura desde a década de 70, seguiu o caminho contrário. Trabalha até hoje com o filme fotográfico. “Depois da captura, há a revelação. A partir da folha contato, observo com a lupa o negativo. É até um aprendizado, pois vejo o que errei, o que podia ter feito melhor, que ângulo seria mais interessante. Escolho e edito o material pela lupa, depois mando ampliar. Dois, três dias é o tempo que leva entre fotografar e ter as ampliações prontas”, explica o autor do livro Fandango do Paraná: Olhares, lançado em 2005.

Mas, segundo ele, houve pressão para a digitalização. Na época, teve que persuadir o então diretor da SEEC para permanecer com o filme fotográfico. “Lidamos com acervo histórico, registro momentos que devem ser preservados e expostos daqui a trinta, cinqüenta, noventa anos. E a vida útil de um CD, onde se podem armazenar as imagens, é de apenas dez anos”, aponta Macaxeira. “A visão da fotografia hoje é a mesma do grego Ícaro. É efêmera. Após a queda de Ícaro (Na mitologia grega, ele morreu ao cair no Egeu, quando a cera que segurava suas asas artificiais derreteu), o olhar ficou fragmentado e nômade. Temos hoje a estética do aqui/ agora”.

A democratização Com a diminuição de preços das câmeras digitais, com o avanço da tecnologia que proporcionou tirar fotos pelo celular e pelo computador, aliado à facilidade da transmissão de dados e imagens seja pela internet ou pelas agências de notícia, o ver e o congelar momentos foram democratizados.

“Essa democratização como você chama, esse uso mais ampliado da fotografia já havia começado com o desenvolvimento das câmaras de um toque, mais simplificadas em que não era necessário ter uma cultura, um conhecimento técnico e apurado. A pessoa não precisava aprender a mexer no diafragma, no tempo da câmara, quando pedia mais luz o flash funcionava automaticamente porque tudo era incorporado”, esclarece Urban. Ele conta ainda que o fácil acesso a câmeras começou no Japão, onde sempre se fotografou muito. Em paralelo, os laboratórios e as máquinas de fazer as reproduções se tornaram cada vez mais sofisticadas. “A pessoa entregava o filme na loja e recebia as cópias em questão de horas. Na minha opinião, o filme segurava a massificação da fotografia”. “Com o surgimento da digital, simplesmente substituíram a película pelo sensor e a colocação daquela coisa maravilhosa de poder enxergar a foto logo após a captura. O filme acabava sendo sempre o tropeço, porque tinha que pa-


Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008 gar. Hoje só se paga pelas có- de outro país chapas para fapias, e isso se quiser, senão zer fotos com película. Mas te armazena no computador ou confesso que é uma fantasia”, publica em páginas na inter- revela Urban que deve lançar, net”, aponta Urban. O fotó- ainda este ano, o livro “Mar e grafo húngaro Lazló Moholy- Mata”, parceria com a irmã Nagy já afirmava, em 1936, Tereza, sobre a questão sócioque “no futuro não serão con- ambiental que envolve a região siderados analfabetos apenas da serra, da floresta e do litoaqueles que não souberem ler, ral do Paraná. A manipulação e a falta de mas também quem não enteneducação são der o funcioapontadas namento de “A escolha entre como possíveis uma máquiPB e colorida problemas do na fotográfiacesso a uma ca”. sempre me câmera no bol“Isso é perseguiu e me so e um comuma pré-alfaputador com betização da trouxe dúvidas. conexão. “Não população Para quase todos os há uma preoque aprendeu cupação jurídia usar a imameus trabalhos ca em relação à gem. Tem manipulação gente que tenho uma coleção da imagem. E não sabe esem cores e outra hoje, com o siscrever e sabe tema digital, fotografar”, em preto-eisso é muito fásugere Urbranco.” cil. Mexer nas ban. Este JOÃO URBAN, imagens seria descendente FOTÓGRAFO permissível de poloneses para fotos pujá é conhecido como fotógrafo documenta- blicitárias e propagandas que rista, mas hoje atua ainda você tira o fundo, mas para focom fotografia publicitária. tojornalismo é o fim do mun“Na parte comercial, fotogra- do”, acredita Aguiar. Para ele, fo 100% com digital. Agora es- nunca se fotografou tanto tou utilizando a digital para quanto hoje. Mas o ato de capprojetos pessoais. Não sei se turar momentos se tornou um algum dia voltarei a usar a pe- tanto quanto obsessivo e inlícula. Mas tenho a fantasia de truso. “Em shows, teatros, há pedir para alguém me trazer avisos de que é proibido filmar,

Interpretar ou captar a realidade? Na era da imagem, fica a dúvida se os momentos captados são simplesmente desmembrados e fixados ou passam pelo crivo do olhar de quem fotografa. Para o presidente da ARFOC, a fotografia apreende a realidade. “Ela transmite uma imagem gravada, o momento que não volta mais. Depois eu vou questionar o que ela reflete. A película e a fotografia são eternas, ao contrário do vídeo, em que o processo para armazenagem é maior. A fotografia bem trabalhada nunca se perde”, opina Magno. Já para Urban, que cresceu na casa da Brigadeiro Franco ao lado do tio fotógrafo amador, a história da técnica é igual a qualquer uma. Pode servir puramente como um registro, uma reprodução ou pode ser usada em um retrato que pre-

tenda ser interpretativo, opinativo, de comentário da realidade. Segundo ele, já existe discussão em torno dos fotógrafos que “usam” a realidade para realizar sua expressão pessoal, e daqueles que pretendem ser fiéis interpretes da realidade. “Mas a técnica pode ser usada ainda como vertente artística, hoje é comum que artistas plásticos se tornem fotógrafos-artistas. A fotografia é e foi usada por todos e para tudo. Com o efetivo surgimento e aplicação da digital, o uso do processo fotográfico tradicional se restringe, cada vez mais, a um grupo menor de usuários que continuarão a honrar a película enquanto ela for produzida. Hoje já encontramos inclusive grupos especializados em ensinar a produzir o daguerreótipo e outras técnicas artesanais”, diz.

5 Carlos Roberto de Aguiar/ LONA

Fotografia de 1996 em Paranaguá, trabalho para o livro “Fandango do Paraná: Olhares”

fotografar. É a mesma coisa de dizer: Olha, faça o que quiserem! É um absurdo total e atrapalha. Você não vai mais ao cinema e ao teatro para ver, aprender, curtir. Agora o entretenimento é comer, jogar pipoca, usar o celular e tirar foto. O espetáculo em si fica em segundo plano”. Outro aspecto prejudicial é o da dificuldade de fotógrafos profissionais se estabelecerem no mercado de trabalho. De acordo com Irany Carlos Magno, presidente da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Paraná (ARFOC), a digitalização beneficiou a produção de imagens na imprensa, mas não essencialmente aos profissionais da área. “O repórter qualificado perdeu espaço porque qualquer um (mesmo sem ser fotógrafo) pode fazer o mesmo serviço, já que a digital permite. Assim, o pagamento por trabalhos fotográficos freelas caiu bruscamente. O fotógrafo de qualidade deve estar preparado para o momento decisivo, carece de um olhar apurado. Mas o contratante não quer pagar por esse ‘a mais’”, diz Magno. Ele conta ainda que alguns fotógrafos sem formação aceitam fazer o trabalho por R$200, mas os profissionais não aceitam. “A câmera digital tirou muito o ganho do profissional. O piso continua o mesmo, mas o preço do frila baixou”.

Urban complementa que, antigamente, uma pessoa com uma câmera simples de baixo custo não conseguia resultados tão bons quanto hoje. “Atualmente, existem grandes facilitadores, as máquinas incorporadas a telefones têm processadores que otimizam a imagem”, esclarece. “A ARFOC é uma associação que encaminha fotógrafos para empregos fixos ou temporários. Funciona como agenciador de contatos. Porém, há pouco pedido de indicação hoje em dia, pois todos fazem igual”, afirma Magno, que já foi cinegrafista do Canal 12 e laboratorista.

A comemoração 169 anos de idade, quase uma semana inteira de comemorações. “Não sou chegado em festividades, mas existem alguns fotógrafos que fazem um grande evento de fotografia da coisa mais simples, que é a fotografia da câmera de orifício (câmera de furinho). Enquanto ficamos pensando na digital, nas sofisticações, essas pessoas tomam o caminho inverso da câmera escura para produzir imagens com as de orifício”, descreve Urban, que se entendeu pela primeira vez como fotógrafo na década de 60, após o Golpe Militar, quando fotografava os grupos do Teatro do Estudante Universitário. “Comecei a acompanhar as movimentações da

resistência à ditadura, do movimento estudantil. Certa vez, registrei os agentes da repressão que estavam espionando os estudantes. Quiseram apreender os filmes, foi uma confusão! Dias desses procurei os filmes, mas não encontrei. Acho que escondi tão bem que não acho mais”, relembra. Já Macaxeira acredita que a data mereça uma exposição de suportes antigos, com o carlótipo, andrótipo, daguerreótipo, fotos em preto e branco. “Justamente para as pessoas verem outros tipos de suporte, diferentes do digital que domina hoje”, sugere. A fotografia em PB ainda desperta a curiosidade das pessoas, seja por serem antigas ou por causar o mistério do momento captado. “Prefiro a PB. Parece que ela dá mais volume à foto, tem um segredo, sabe Deus! Ela prende o olhar, e eu fico mais interessado pela imagem. Além disso, PB é luz. Percorre um mapa geográfico, é uma viagem através da luz ou a própria viagem da luz”, conceitua Macaxeira. “A escolha entre PB e colorida sempre me perseguiu e me trouxe dúvidas. Para quase todos os meus trabalhos tenho uma coleção em cores e outra em preto-e-branco. Ás vezes até parecem dois trabalhos diferentes, são leituras distintas e duas maneiras diferentes de contar a mesma história”, defende Urban.


Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008

6 Perfil

Ele só queria mostrar para o filho que tudo é possível

A ditadura, uma máquina fotográfica, um garoto e suas maravilhosas histórias nalista estava presente, alguns jornais procuraram Júnior, como era chamado na infância, para a Estudantes em uma passea- obtenção das imagens. Um pouta reivindicando melhorias nas co apreensiva, a família de desescolas públicas. O dia, o moti- centes de italianos desconfiou. vo, ninguém lembra. Só ficou na “Ninguém sabia se aqueles caras memória o ano: 1975. Sabe-se que chegaram lá em casa eram também que era um grupo for- mesmo repórteres. Vivíamos com mado só por adolescentes com medo, já que a ditadura ainda seus 14, 16 anos. O presidente complicava nossa vida”. Oito anos antes, sentado na Geisel já começara com políticas rumo à democracia, mas os pro- cozinha de sua casa em frente ao cessos eram lentos. O AI-5 só cai- fogão a lenha, Júnior admirava ria em 1978, e a repressão ainda as revistas que seu tio mostrava. era dura. Naquele dia, nenhum Na casa, em Curitiba, moravam repórter achou que a passeata das todos juntos: tio, avô, avó, mãe, “crianças” viraria notícia. Esta- primos. E a maior alegria para o vam enganados. Um bando de po- menino era ver as fotografias liciais montados em seus cava- impressas naquelas revistas e los começa a “descer o cacete”. comer as invenções gastronômiEm meio ao corre-corre, um ga- cas preparadas pelo tio, que iam roto de apenas 16 anos e sua de tatu a cobra. Do tio Duca, apemáquina fotográfica iniciam lido de Ducastel Nicz, ficariam muitas coisas em uma longa históEm meio ao corre- Roberto: o gosto ria. culinária e Roberto Ancorre, um garoto de pela imagens, o fogão tônio Pitella Júapenas 16 anos e a lenha e a pronior é fotógrafo fissão fotógrafo. desde aquele sua máquina Naquela casa, tomomento. Pela fotográfica iniciam das as crianças primeira vez, jornais notou que podeuma longa história vendiam usados para merria ganhar dicearias da redonnheiro com seu hobby: tirar fotografias. Depois deza para ganhar um dinheirido episódio, já que nenhum jor- nho. Os jornais velhos serviam

Fotos: Roberto Pitella

Isadora Hofstaetter

Ensaio Belém – PA

Ensaio na Serra do Mar de embrulho para as mercadorias e, para as crianças eram a possibilidade de comprar algo que queriam. Enquanto seus primos compravam bolas de futebol e doces, Júnior economizou e assim que conseguiu, comprou uma máquina fotográfica. “Eu brincava de fotógrafo. Queria tirar fotos iguais as das revistas de meu tio”.

Fotógrafo, cozinheiro, amante Mercado Municipal, 15 horas. Vestindo camisa xadrez em tons azul, camiseta estampada e calça jeans, Roberto Pitella passa despercebido pela maioria das pessoas que cruzam seu caminho. Porém, volta e meia desperta olhares femininos nada ingênuos. Na lista de compras, sushis e artefatos para o jantar que vai realizar na casa de sua namorada. A culinária é uma das outras paixões. É chef de cozinha e sonha em abrir um bistrô ou qualquer coisa do gênero. Com 49

anos, uma das dúvidas que o deixa preocupado é: “mantenho o sítio em Colombo, abro meu negócio, ou invisto o dinheiro?” E Grace, a namorada, diz logo em seguida: “Só lembre que com o dinheiro investido não temos fogão a lenha!”, sabendo o quanto é importante para ele tomar um café em algum lugar afastado da cidade que faça com que lembre da infância. Por formação, Pitella é psicólogo. “Fiz o curso por fazer, confesso. Só que no último ano da faculdade resolvi que seria realmente um psicólogo. Larguei a fotografia, vendi tudo”. Durante cinco anos, o atual professor da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) clinicou, deixou a barba crescer e como ele mesmo diz, se transformou no estereótipo do psicólogo. “Até que minha segunda mulher ficou grávida”. Saber que seria pai mudou sua vida. Para registrar os momentos que viriam com o herdeiro, novamente comprou uma máquina

fotográfica, mas sem intenções de voltar a fotografar algo que não fosse seu filho. Aos poucos os amigos retomaram os pedidos de favores ligados à fotografia, como fotos para o novo catálogo da loja de móveis, ou então um casamento. “E a fotografia, para mim, é como uma cachaça. Passou um tempo e eu vendi um terreno que tinha comprado com minha mulher em São Francisco do Sul, voei direto para São Paulo e torrei o dinheiro comprando tudo o que precisava para voltar a fotografar de verdade, fotografar para viver”. Quando chegou a Curitiba ouviu que estava louco. Mas para ele, era a melhor coisa que tinha feito: “Queria poder dizer algum dia para o meu filho que ele tem que ir atrás dos sonhos dele, independente do que acham. Foi o que eu fiz”. Hoje, quando questionado sobre o que pretende fazer no futuro, enche o peito e como um bom amante da vida diz: “Não sei, mas quero morrer transando e fotografando”.


Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008

História

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Simone de Beauvoir, que teve uma vida produtiva e polêmica, teria completado 100 anos

Furacão Beauvoir Neste ano, é comemorado o centenário do nascimento da escritora Simone de Beauvoir (1908-1986), eterna companheira de Jean-Paul Sartre (19051980), autora de livros polêmicos que marcaram décadas. Ela nasceu em Paris, em 9 de janeiro de 1908 e morreu na mesma cidade em 14 de abril de 1986. Seu verdadeiro nome era Jeanne Marie Bertrand de Beauvoir. O seu primeiro livro, “Memórias de uma moça bem comportada”, é uma crítica ferrenha aos valores burgueses. Sua reunião com o filósofo Jean-Paul Sartre, em 1929, chocava a sociedade da época, por se tratar de uma relação aberta, em que ambos tinham relações com outros parceiros. Simone de Beauvoir teve relações com mulheres, geralmente suas antigas alunas. Sua vida amorosa foi estruturada ao redor de um trio, e não de um casal. Um trio que compreendia de um lado um “amor necessário”, com Sartre, e o que ela chamava de “amores contingentes”, com mulheres e outros homens. Da sua obra, talvez a mais polêmica seja “O segundo sexo” (1949), análise da vida e do papel da mulher na sociedade, considerado um dos mais profundos estudos sobre o tema. Esse livro é também um marco do feminismo. No livro, Beauvoir defende a idéia de que as características femininas não são dadas pela biologia, mas se desenvolvem por meio de um processo histórico e cultural. “Não nascemos mulheres; tornamo-nos mulheres”, dizia ela, referindo-se ao processo de aprendizagem da mulher na sociedade ocidental que lhe impôs uma série de limitações. Para Beauvoir, era necessário que a mulher reescrevesse sua própria história, buscando uma posição melhor na sociedade dominada pelos homens.

autoras do feminismo no século XX. Ao lado de autoras como a inglesa Virginia Woolf (18821941), ela integra a segunda onda do feminismo, que busca um espaço de atuação das mulheres na sociedade igual ao ocupado pelos homens. No ano de 1971, Simone de Beauvoir assinava o Manifesto das 343, que exigia o direito à contracepção e ao aborto legal e seguro. No documento, Beauvoir e mais 342 mulheres admitiam terem feito aborto ilegal (na verdade, muitas delas, incluindo Simone, estavam mentindo). Em 1975, o aborto era legalizado na França. Graças ao movimento feminista, cuja primeira onda se iniciou ainda no século XVIII, as mulheres conquistaram o direito ao voto, o direito ao divórcio, melhores condições de trabalho e salários mais próximos aos dos homens. Hoje, o movimento não tem tanta visibilidade quanto nos anos 70, principalmente porque sua maior produção se concentra no meio acadêmico. Há críticos que dizem que o feminismo prega o ódio contra os homens, a visualização do homem como ser inferior, minimizando assim um conjunto de idéias e argumentos ao seu estágio mais básico. Algumas críticas culpam o feminismo, devido à “contra-opressão sobre o sexo masculino” pelo aumento no número de suicídios de homens nos Estados Unidos, que tem crescido desde a década de 70. Obviamente, o feminismo não é culpado pelo aumento dessa taxa. A maioria das críticas ao movimento parte de grupos conservadores que não conseguem aceitar o remanejamento dos papéis tradicionais e dos valores de família, pois acreditam que, quando homem e mulher trabalham, não sobra ninguém para cuidar bem das crianças. Os conservadores que pregam a família nuclear estão buscando a volta da sociedade patriarcal.

Polêmicas Por sua obra e comportamento, Simone de Beauvoir é tida como uma das principais

Conquistas A partir do lançamento do livro “O segundo sexo”, que tratava de assuntos considerados

Silvia Henz

polêmicos até hoje, o feminismo foi ganhando força. Nos anos 60, houve um aumento no número de mulheres que ingressavam na universidade, principalmente nos Estados Unidos. Em vários lugares do mundo mulheres protestavam queimando seus sutiãs, ato simbólico da negação do modelo de comportamento imposto pela sociedade. No Brasil, a atriz Leila Diniz desafiou as normas sociais ao praticar amor livre e a independência feminina. O ano de

1975 foi declarado pela ONU o Ano Internacional da Mulher. Depois em 1979, Margaret Thatcher foi a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe de governo do Reino Unido. Em 1980, o feminismo se destaca na televisão brasileira, programas como Malu Mulher e TV Mulher (de Marta Suplicy). A partir daí a figura feminina fica cada vez mais presente no cenário político: Michele Bachelet, na presidência do Chile; Angela Merkel, como chanceler alemã; Cristina Kir-

chner, presidente da Argentina; e Hillary Clinton, que disputou a prévia das eleições nos Estados Unidos. A polêmica vida e obra de Simone de Beauvoir foi importante para construção e desconstrução do que a mulher representa, e do que ela é hoje. Mesmo que polêmica, mesmo que controversa, Simone inspira sentimentos e pensamentos que farão sua obra permanecer viva até, quem sabe um dia, que a história nos surpreenda acabando com antigos e tão atuais tabus.


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Curitiba, terça-feira, 19 de agosto de 2008

Ilha do Mel Texto e Fotos: Daniel Mocellin

Sol, areia e água salgada. Uma combinação que dificilmente desagrada as pessoas. Surfistas, crianças, famílias, vendedores ambulantes e muitas vezes até cachorros contracenam com a paisagem para a formação de um retrato de pura felicidade.

Sorriso no rosto de todo mundo, e quando mal se percebe a praia está lotada. Entrar no mar, ficar embaixo da sombra ou torrando no sol, tanto faz. O que vale mesmo é o espírito de diversão e sossego que está estampado nesse sorriso das pessoas.


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