RIO DIÁ do
Curitiba, sexta-feira, 22 de maio de 2009 - Ano XI - Número 491 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo
Obras deixam rua mal sinalizada em São José dos Pinhais
BRASI
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jornalismo@up.edu.br
Leilão de arte arrecada fundos para instituição beneficente Camila Scheffer Franklin/LONA
Há dez dias, operários trabalham em obra na esquina da Avenidas Rui Barbosa com a Avenida das Torres. O trabalho no local deixou o trânsito complicado e, na última terça-feira (19), uma ciclista morreu atropelada. Quem passa no local todos dias sente falta de sinalização, já que é difícil atravessar a rua com segurança. O objetivo da obra na Região Metropolitana de Curitiba é justamente melhorar o trânsito, e faz parte do conjunto de melhorias no fluxo de veículos para a Copa do Mundo de 2014. Mas pelo menos até o final do ano, quando a primeira parte da obra deve estar pronta, pedestres e motoristas terão que ter cuidado redobrado ao passar pelo local. Página 3
Diego Henrique/LONA
Alunos do Curso de Jornalismo da UP visitam pontos turísticos de São Paulo
No último dia 15, 40 alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo fizeram visita a dois dos mais importantes museus do Brasil: o Museu da Língua Portuguesa (foto ao lado) e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. O primeiro é o museu mais visitado do país. Desde que abriu, em 2006, foram mais de 800 mil visitas. E além de ir a esses dois lugares, os alunos também conheceram o Mercado Municipal, lugar muito lembrado pelos visitantes por seu movimento e por seus pratos típicos: o pastel de bacalhau e o sanduíche de mortadela.
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Foram 60 obras doadas para serem leiloadas. Os recursos obtidos serão utilizados para construção de uma escola de informática. Em um primeiro momento, projeto pretende fazer a inclusão digital de cerca de 50 pessoas.
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Ex-primeira-dama do Paraná Fani Lerner morre vítima de Câncer em Curitiba Página 3
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Curitiba, sexta-feira, 22 de maio de 2009
Opinião
Foto: divulgação
Não vem que não tem O esqueleto de Wilson Simonal chacoalha no armário; ninguém nunca soube direito a dura que ele mandou dar Sandro Moser Pouco se fala sobre sua infância ou formação. Sabemos que era negro, pobre, nasceu em Minas, cresceu no Rio, foi cabo do exército. A mãe foi empregada doméstica. O filme começa depois que ela (ou, mais provavelmente, Carlos Imperial), na falta de talco, já tinha passado açúcar em Wilson Simonal. No auge, em1970. Segurando elegante o microfone ‘dinâmico’. Ali era Sinatra, era Chico Alves, Benny Moré e Sammy Davies ao mesmo tempo. De gola rolê creme, o sorriso negro hipnotiza a orquestra e o auditório da TV Tupi. Além de Sarah Vaugahn, com quem dividia o palco. “Miss Sarah, repeat with me”. A grande dama da musica americana, tem que dizer um dos seus bordões: “Vou deishar caeeer...” e depois o assiste cantar. Deliciada.Só uma das impressionantes imagens de Simonal. Ninguém sabe o duro que dei, estreia em Curitiba neste fim de semana. Filme que nasce clássico e indispensável. Dirigido por seis mãos, é muito mais que luz na mal contada história da ascensão e derrocada de um ídolo pop. Sabemos agora que Simonal foi o maior cantor brasileiro daquela época - colocando no bolso de seu casaco os contemporâneos Roberto Carlos e João Gilberto. Submetia as platéias a seu comando, (como na incrível cena do maracanãzinho). Sobrava-lhe presença de palco, verve, charme. Muito talento. Era o garoto-propaganda da Shell (a pérola do capitalismo multinacional), garantia de audiência total em qualquer programa que participasse. Sabemos também que era marrento, bon-vivant, colecionava mulheres e carros importados. Vivia a euforia, o momento de glória, era o amigo de Pelé,
adotado pela delegação do Tri, cantava a “alegria, alegria” de viver no Patropi. Sem política, sem champignon, tudo ali na base do “alho e óleo”. Trechos de entrevistas (Chico Anysio, Pelé, Miele, Tony Tornado, Boni) e shows, usados habilmente para narrar o filme, mostram um homem inteligente, chegado ao cinismo e à ironia. Não fazia o papel de vitima, do negro coitado. Pelo contrário. Altivo, quase arrogante. Percebemos o quanto isso tudo incomodava – “aquele negão metido e alienado, de oldsmobile conversível com uma loiraça no pescoço...” Descendo a rua da ladeira – Eis que acontece o episódio chave desta história. Em 1971, Simonal vê manchas vermelhas em sua conta bancária. Quando suspeita de seu contador, manda dois de seus seguranças (no Brasil, ontem e hoje, “cana” de folga é segurança de rico) darem uma “prensa” no sujeito. Na época, a polícia era escolada nisso. O contador é levado ao Dops. Torturado com todos os trâmites, até confessar. Posteriormente liberto, faz boletim de ocorrência e pronto: para todos os efeitos, por conta da ajuda que teve dos gorilas, a sorte de Simonal então mudou, ficou marcado como “alcagüete” da ditadura. O cantor, mal orientado, dá passo em falso. Perde a chance de pedir desculpa. Sai com uma postura “eu sou amigo dos ‘home’, mesmo”. Paga caro. O ponto alto do filme é a inédita entrevista com o ex-contador: “Nunca me perguntaram sobre o episódio. Falavam com todos, mas ninguém nunca veio falar comigo” (ele diz, mais ou menos). Conta sua versão – aquela que dei logo acima. “Eu não tenho dó do que aconteceu com o Simonal não; ele foi ao DOPS, viu a minha tortura e não teve dó de mim”, diz ao final do depoimento. Não há esforço dos diretores
em desculpar Simonal pela bobagem. O depoimento do contador é bastante longo, e não há a menor intenção de desacreditá-lo. De substituir o condenável, pelo talento e simpatia do personagem – embora para o espectador seja difícil. Surge então na tela, a engrenagem da máquina de difamação ideológica se voltando contra alguém. Cansados de combater Nelson Rodrigues, as esquerdas acham o novo inimigo número um. Seu nome se torna sinônimo de dedo-duro — embora, como desafia Chico Anysio, não haja uma só pessoa que possa dizer ter sido “caguetada” (além contador, que levou choques na língua). A imprensa o tratava como agente dos órgãos de segurança, desses que servem para identificar pessoas: “Simonal, ligado ao Dops…” Em uma capa do Pasquim, ele aparece sendo incentivado a dar um tiro na cabeça. Era uma época difícil, de tristes fenômenos: a ditadura grotesca dos gorilas militares e a patrulha ideológica dos “profundos”, que tomou conta da música, das artes. Ou se era homem ou lobi-
somem. As metralhadoras cospem ódios. Além dos amigos do cantor e os depoimentos emocionantes dos filhos, estão Jaguar, Ziraldo e Sérgio Cabral – os editores do Pasquim. No estranho papel de monstros. Anistiados com fortunas pelas prisões que sofreram no período, eles reconhecem que pegaram pesado, que nunca tiveram provas. Mas se dedicaram com todas as forças a derrubá-lo. A carreira de Simonal foi destruída, sua história apagada, eliminada da memória cultural do país. O filme não toma partido. Mas dá voz a pessoas tão diferentes, que acaba se chegando a uma conclusão. Simonal cometeu um crime ao mandar espancar seu contador. Mas não era, de modo algum, informante da ditadura. Em 2000, morreu em razão do agravamento de uma cirrose hepática. Lutando contra o alcoolismo aparecia em programas medíocres de TV. Sem trabalhar. Tentando, em vão, limpar seu nome. Assistiu o início do sucesso dos filhos envergonhado. Nos shows de Simoninha e Max de Castro fi-
cava escondido, “para não atrapalhar os meninos”. Foi condenado por uma conspiração do silêncio de seus colegas, nunca pelo público ou pela justiça. Em 1995, Mario Prata escreveu uma crônica pedindo a sua anistia. Dizia que no Brasil todos foram perdoados – torturadores, ladrões e até Joaquim Silvério dos Reis. Os únicos culpados perpétuos são os negros Barbosa (goleiro da Copa de 50) e Wilson Simonal. Inventamos pecados para os dois. Esquecemos de inventar o perdão.
Expediente Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.
Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski, Camila Scheffer Franklin e Marisa Rodrigues.
O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP, Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000
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Geral Obras
Falecimento
Obras de trincheira em São José causam transtorno
Morre ex-primeiradama do Paraná Fani Lerner
A reforma deve durar um ano e meio e pretende aumentar a capacidade de escoamento dos veículos na região Rodrigo Ferraz/LONA
Rodrigo Ferraz As obras na trincheira da Avenida Rui Barbosa, no cruzamento com a Avenida das Torres, no município de São José dos Pinhais, que tiveram início há dez dias, estão fazendo com que os motoristas tenham a atenção redobrada no trânsito. Cerca de 50 mil carros, que utilizavam o trecho todos os dias, serão obrigados a buscar caminhos alternativos pelos próximos dezoito meses – tempo previsto para a conclusão da obra. No entanto, já no início dos trabalhos, os problemas não se limitaram apenas aos motoristas. Na última terça-feira (19), a ciclista Beatriz Munhoz Rodrigues, 27, morreu atropelada por um caminhão na região. “A sinalização para o pedestre está muito ruim, é impossível atravessar a avenida com segurança próximo das obras, ainda mais na hora do ‘rush’”, diz Jairo Ferreira, que passa todos os dias pelo local. As obras da interseção entre a Avenida Rui Barbosa e Avenida das Torres fazem par-
Governador Roberto Requião e prefeito Beto Richa decretaram luto oficial de três dias Guilherme Sell
te do principal projeto do PIT (Programa de Integração do Transporte). O projeto visa melhorar a capacidade de escoamento de veículos e adequar as vias urbanas que formam os prolongamentos dos corredores de ônibus em direção aos municípios vizinhos a Curitiba, além de facilitar os deslocamentos perimetrais em relação ao pólo metropolitano. A interseção Avenida Rui Barbosa/ Avenida das Torres é a principal obra na área de transporte e logística em Curitiba visando a Copa do Mundo de 2014. O presidente da COMEC (Coordenação da Região Metro-
politana de Curitiba), Alcidino Bittencourt, explicou que o trânsito vai continuar complicado até o final do ano. “No começo do ano que vem, é provável que haja uma melhora no trânsito, pois está prevista a conclusão da primeira parte da obra – a trincheira ligando o centro de São José e o bairro Afonso Pena”. O uso da trincheira vai liberar a circulação de carros na Avenida Rui Barbosa, tanto no sentido Centro/Bairro, quanto Bairro/Centro e irá desafogar o congestionamento de carros nas rotas alternativas de acesso, como a Rua Maringá e a Rua Israel Andrade Pereira.
Faleceu na madrugada de ontem (21), em Curitiba, vítima de câncer, a ex-primeira-dama do Paraná, Fani Lerner, esposa do ex-governador Jaime Lerner. Fani Lerner tinha 63 anos e morreu em seu apartamento no bairro do Cabral, onde passou os últimos dias. Ela lutava contra um câncer desde fevereiro de 1995, quando precisou ser submetida a uma cirurgia de emergência, primeiro etapa de um longo tratamento que a levou a várias internações e outras operações. Mesmo assim, continuava suas atividades diárias, mas no mês passado, o quadro se agravou. Casada com o arquiteto e urbanista Jaime Lerner desde 1964, deixa as filhas Andrea, casada com Sebastiaan Bremer e Ilana, casada com Cláudio Hoffmann, e os netos Ben, Liana, Tobias e Sophie. Como primeira-dama do
município e do estado, Fani atuou no trabalho de assistência social. Foi secretária de estado da Criança, onde desenvolveu diversos programas para crianças carentes e coordenou o Provopar - programa de voluntariado. Em 2003, foi vencedora do Prêmio Kellogg’s para o Desenvolvimento da Criança. O corpo foi velado pela manhã, no Salão Nobre da Prefeitura de Curitiba, cerimônia que contou com a presença de diversas autoridades estaduais, municipais e amigos da família. Fani foi sepultada no final da tarde de ontem no Cemitério Israelita do bairro de Santa Cândida. O governador do Paraná, Roberto Requião, e o prefeito de Curitiba, Beto Richa decretaram luto oficial de três dias. Por conta do luto, o presidente da Assembléia Legislativa, Nelson Justus, determinou a suspensão de todas as cerimônias públicas agendadas para o dia.
Feira Internacional de Artesanato termina no próximo domingo Pablo Arruda Busetti Desde a última sexta-feira (15), está sendo realizada, no Centro de Exposições do Parque Barigui, a 22ª Feira Internacional do Artesanato – Feiarte de Curitiba. Tradicional na cidade, a feira é uma das responsáveis por colocar, cada vez mais, em evidência o artesanato no Brasil, principalmente na região sul. A edição curitibana deste ano, que vai até o próximo domingo (24), conta com a participação de 27 países e 15 estados brasileiros, disponibilizando, pelos 3 mil metros quadrados do
pavilhão, produtos e traços culturais das mais variadas etnias. No âmbito nacional, além da participação de artesãos autônomos e marcas, podem ser conferidos os trabalhos amparados pela Superintendência Artesanal nas Comunidades (Sutaco), um projeto do governo de São Paulo que visa condicionar profissionalmente o artesão paulista. Além dos objetos do Recicla Arte, projeto da Fundação Banco do Brasil que utiliza materiais recicláveis para a produção de artefatos. Também estão expostos artesanatos do projeto Mãos com
Mãos, organizado pela Escola de Educação Especial Nilza Tartuce, confeccionados por alunos de 14 a 18 anos. “A participação deles é muito importante, tanto pelo aspecto pedagógico e terapêutico, quanto pela entrada no mercado de trabalho”, afirma a assistente social da escola, Lígia Posi de Oliveira.
Números De acordo com dados do Fórum do Artesanato Brasileiro do Sebrae, são cerca de 9 milhões de artesãos no país, responsáveis pela movimentação de praticamente 28 bilhões de reais anu-
ais no mercado nacional. Esse valor, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, corresponde a 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Além dos duzentos estandes montados no pavilhão, quem for visitar a Feiarte poderá participar de oficinas gratuitas oferecidas por associações dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Uma excelente oportunidade para quem tem interesse em aprender um pouco sobre o processo de desenvolvimento de alguns artesanatos.
Serviço: Local: Centro de Exposições do Parque Barigui Das 14h às 22h até o sábado, e domingo das 14h às 21h. Ingresso: até 12 anos entrada livre; 12 até 60 anos, oito reais; acima de 60, quatro reais. Site: www.feiartepr.com.br
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Especial Moda
Vida de
colecionador Amantes de bicicletas antigas compartilham a paixão sobre duas rodas Silvia Henz Não é só por carros que o coração dos colecionadores de antiguidades bate mais forte. Colecionar, restaurar ou apenas ter uma bicicleta antiga é hobbie de muita gente. Preservar um objeto histórico, guardar a lembrança de uma determinada época de sua vida, reconstruir parte da história de uma sociedade são alguns dos motivos pelos quais as pessoas colecionam e restauram bicicletas. A bicicleta remete, além de outras épocas, à infância do colecionador. O professor de história Marcelo Afornali teve a paixão por duas rodas despertada ainda menino. “Quem nunca teve uma bicicleta na infância, não é? Mas
eu, com uns 14 ou 15 anos, tinha uma bicicleta importada, da marca Manchester, que não conseguia restaurar e que, desde que comprei, deu vontade de arrumar”. Da vontade, nasceu um ofício. Afornali trabalha restaurando bicicletas desde 1998. Além de professor de história, ele é dono de um site (www.bicicletasantigas.com.br). A decisão de reparar veio quando comprou uma bicicleta antiga de um pedreiro: “Era rara, da década de 40. Na época paguei 240 reais, mas nem eu sabia o que estava comprando. Hoje, reformada, vale nove mil reais”. Colecionar antiguidades nunca foi barato. O próprio restaurador avisa que, para o ofício, são necessárias três
Colecionar, restaurar ou apenas ter uma bicicleta antiga é hobbie de muita gente
coisas: paciência, gosto e dinheiro. Alguns reparos custam mais de três mil reais. Há os que, por falta de dinheiro ou vontade, preferem não restaurar, só compram as bicicletas antigas, mas não as colocam no uso. “O ‘juntador’ tem 200 bicicletas em casa, mas não restaura, não investe nelas. O colecionador é aquele cuja garagem é do tamanho do ego (ele junta as bicicletas, reforma, mas não tira do lugar), já o restaurador, tem umas 30 bicicletas, mas pesquisa e restaura”, classifica Afornali
Colecionadores compulsivos Em alguns casos, a coleção pode virar uma espécie de compulsão, segundo a psicóloga Eloá Andreassa: “Algumas pessoas decidem colecionar por interesse em determinado assunto, coisas que representem algo para elas. Por exemplo, selos, fotografias, carros. Já outras pessoas sofrem de compulsão, colecionam coisas aleatoriamente e não conseguem se desfazer delas, mesmo sem encontrar utilidade”. A psicóloga diz se “sacrificar” para ter o objeto de desejo, mesmo sem nenhuma utilidade aparente, é doença e tem tratamento. Mas paixão não é doença. Para Eloá, polir as bicicletas toda semana, limpar os detalhes e demais cuidados, que aparentam excessos, são normais.
“O ‘juntador’ tem 200 bicicletas em casa, mas não restaura, não investe nelas. O colecionador é aquele cuja garagem é do tamanho do ego (ele junta as bicicletas, reforma, mas não tira do lugar), já o restaurador, tem umas 30 bicicletas, mas pesquisa e restaura” MARCELO AFORNALI, PROFESSOR DE HISTÓRIA Mas, conforme informações do próprio restaurador, a bicicleta antiga não precisa de muita manutenção. O que se deve fazer é mantê-la sempre limpa e lubrificada, para que não pareça, ao invés de uma bicicleta antiga, uma bicicleta velha.
Réplicas Quem não está disposto a desembolsar muito dinheiro em uma restauração, mas quer ter sua bicicleta em ordem, opta pela réplica. Nesse trabalho, não são utilizadas peças originais, mas o resultado é parecido, e o preço mais barato. Muito dos profissionais que trabalham com restauração também fazem réplicas. Afornalli acredita que as réplicas não têm a mesma poesia das originais. “A filosofia é outra, da réplica para a original. A bicicleta antigamente não era um bem de consumo, era feita para durar. Eu tenho algumas bicicletas antiquíssimas que funcionam perfeitamente, enquanto você vê bici-
cletas de 30, 40 anos que estão inutilizadas”. Mas, mesmo não sendo fã, ele tem uma réplica da Penny-Farthing (primeiro modelo de bicicleta, com rodas desproporcionais) e anda com ela, apesar de ser perigoso. A cópia dos modelos é feita por meio de fotografias da época e, geralmente, quem anda com a réplica, procura usar também a roupa que se usava na época.
Customização O mesmo profissional que trabalha com a réplica, nota o crescimento do número de pessoas que quer ter uma bicicleta única. Em Curitiba, já existe esse serviço que se baseia não mais na cópia, mas na exclusividade. É a “bicicleta vermelha", uma customização desenvolvida pelo artista Fernando Rosenbaum. Ela pode ser feita sobre bicicletas antigas, velhas ou novas. “Nós fazemos uma entrevista prévia para conhecer o estilo de pedal do freguês, e seu uso cotidiano, depois apresentamos a possibilidade de
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Especial
transformação do veículo para atender o uso do cliente, inserindo acessórios novos, pintura e fazendo ajustes”. A média de preço dessas bicicletas é de 350 reais, mas, segundo Fernando, isso é negociável. “Já customizamos bicicletas em troca de peças”. Rosenbaum aponta um crescimento no interesse por modelos específicos. “Eles querem modelos como a bicicleta Ceci, rebaixada com “buzinão” e paralamas cobrindo quase toda roda.” Segundo ele, existem também os amantes da roda fixa, bicicletas montadas sobre quadro, com a catraca ligada diretamente com a roda. “Essas são especiais para pista, mas estão dominando as ruas”.
Restauração de Bicicletas Públicas Quando não está fazendo customizações “particulares”, Rosenbaum, junto com um grupo de colaboradores, trabalha na ampliação da frota das bicicletas públicas. Trata-se das “bicicletas brancas”, vindas de doações que são remontadas, pintadas de branco e disponibilizadas para as pessoas. Os envolvidos no
Fotos: divulgação
projeto acreditam que o plano das bicicletas brancas tende a crescer. Velha ou antiga, paixão ou compulsão, réplica ou exclusiva. Não importa, cada um com suas preferências, mas no que todos os colecionadores entrevistados concordam é que bicicleta foi feita para rodar.
“Algumas pessoas decidem colecionar por interesse em determinado assunto, coisas que representem algo para elas. Por exemplo, selos, fotografias, carros. Já outras pessoas sofrem de compulsão, colecionam coisas aleatoriamente e não conseguem se desfazer delas, mesmo sem encontrar utilidade” ELOÁ ANDREASSA, PSICÓLOGA
Serviço Quer doar ou reformar a sua bike? Fernando Rosenbaum 9639-2079 Quer restaurar ou comprar uma bike antiga? Marcelo Afornali 3364-8703
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Coluna Cinema
Chama o garçom
O tempo não pode apagar
Kaes Bar: Clima amigável a um preço
atraente
Tiago Caroleski Fernando de Castro O brasileiro é conhecido por não reconhecer seus heróis. Personalidades estrangeiras ou celebridades instantâneas são mais valorizadas. Muitos nem chegam a ter conhecimento da importância que certas pessoas tiveram em suas épocas. Ao se referir ao cinema nacional não é diferente, alguns inclusive, olham para a cinematografia brasileira com desprezo, ainda mais se as produções forem de algumas décadas atrás. O humor ingênuo dos filmes de antigamente não chamam a atenção da nova geração, que preferem enredos com cenas picantes e suas piadas de duplo sentindo. Um grande nome do nosso cinema, conhecido por muitos, mas admirados por poucos é Amácio Mazzaropi. O primeiro filme de sua carreira foi Saí da Frente, depois deste, vieram 31 filmes. Ele representava muito bem o estilo do morador do interior e a maior parte de suas produções foi ambientada, justamente, no campo, pelo qual tinha grande carinho. Sem dispor de grandes tecnologias ou dinheiro, conseguiu grandes feitos para a época. Duas obras de Mazzaropi: Casinha pequena (1963) e Jeca Tatu (1960) estão entre os cinco filmes de maior bilheteria do nosso cinema. Cerca de oito milhões de pessoas assistiram a cada. Em 1958, Mazzaropi criou a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi), que se encarregava, também, das distribuições em todo o país. Precisando de um lugar para servir de estúdio,
Mazzaropi adquiriu uma fazenda no interior do estado de São Paulo. Suas paixões sempre ficaram evidenciadas na telona: campo, religião e o futebol, em especial o Corinthians. A paixão era tanta, que o 19° filme de sua carreira foi O Corinthiano. Mazzaropi fazia, em média, um filme por ano. Maria Tomba Homem seria o 32°. No entanto, no meio das gravações foi internado, morrendo 26 dias
depois, de câncer, aos 69 anos. O filme jamais chegou a ser concluído. Em vida, foi mal compreendido pela crítica e pelos intelectuais, sendo reconhecido como grande personagem brasileiro somente nos anos 90. Em 1994 foi inaugurado o Museu Mazzaropi, localizado na mesma propriedade dos antigos estúdios, recolhendo a história da carreira de um dos maiores nomes do cinema brasileiros.
Bar bom é aquele que faz você se sentir em casa e, nesse quesito, o Kaes Bar cumpre com excelência. Localizado no Cabral, o bar veio suprir a carência da região em estabelecimentos do gênero e acertou. O Kaes, que abriu em 2007, pertence aos irmãos Kariston e Esdras – o nome do local vem das iniciais dos dois – e desde então, se tornou ponto de encontro oficial de jovens. Tudo por lá remete à sensação de estar em casa, começando pelo fato de o bar ter sido instalado em um sobrado. Na casa do Kaes tem sala de estar, sala de visitas, sala de jogos – onde é possível jogar sinuca por módicos dois reais – e é claro, cozinha. Apesar de não ser a especialidade, o cardápio atende bem os famintos da madrugada. Com as opções de sanduíches, nachos e porções, o cliente nem precisa se dar ao trabalho de procurar um cachorro quente de rua, e pode matar a fome por lá mesmo. Mais ainda, o Kaes possui alguns diferenciais, elementares para a compreensão do sucesso do bar. Um deles é o mágico Roberto Polini que, aos sábados, exibe seus truques pelas mesas e balcões do estabelecimento, arrancando exclamações até mesmo dos mais céticos. Um show à parte. Outro fator que influi consideravelmente é o musical. Apesar de contar com DVDs de excelente qualidade, o Kaes também exibe o repertório que algum cliente que, eventualmente, traga seus vídeos e músicas, uma medida simples e que agrada muito aos frequentadores. O clima de amizade é algo que chama a atenção por lá. Basta um olhar breve para perceber como o local é apinhado de grupos que fazem do Kaes seu reduto de encontro. Até os garçons entram nessa. Desde o rapaz que cuida da porta, até o preparador dos narguiles, todos são amigos. Todo esse sucesso não seria possível sem um quesito fundamental - o preço. Justa e acessível, a quantia cobrada pelos proprietários é o ingrediente principal para familiarizar o consumidor ocasional e transformá-lo em um cliente de todo final de semana. O narguile, por exemplo, que dispõe de enorme popularidade no bar, em outros locais não custa menos de 20 reais. No Kaes, sai por seis, e seu refil quatro. Não bastasse a pechincha que é consumir no Kaes, o preço de entrada é também democrático – livre durante a semana, e nunca mais de 2,50 reais nos finais de semana e feriados.
Serviço: O Kaes fica na Rua Manoel Pedro, número 715. Atende de terça a domingo, das 19h30 até o último cliente. O telefone é 3253-3997. É possível fazer reserva para eventos.
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Cultura
Divulgação
Museu
Cultura
Alunos do curso de Jornalismo visitam museus de São Paulo Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca e Mercado Municipal foram os locais escolhidos para o passeio interdisciplinar Eli Antonelli Sandro Michailev Na última sexta-feira (15), quarenta alunos das disciplinas de Antropologia e Estética e cultura de Massa, do curso de jornalismo da Universidade Positivo, além de outros alunos interessados, estiveram em São Paulo para uma atividade de extensão. A visita na capital paulista contemplou o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca. O objetivo foi proporcionar aos estudantes a interdisciplinaridade, agregando conhecimento cultural.
Museu da Língua Portuguesa No período da manhã, os estudantes fizeram uma visita acompanhada no Museu da Língua Portuguesa. A monitora Marcela Martins destacou que o espaço possui uma concepção diferente, pois permite a interatividade. “Ele nasceu de uma tendência que vem sendo construída desde a década de 80, por museólogos e especialistas ligados à área. Muitas pessoas não frequentam museus, pois têm uma idéia de que o ambiente permite apenas o ‘ver coisas velhas’. O Museu da Língua Portuguesa traz um novo conceito, tem uma cara diferente e permite a participação do público”.
Exposição Temporária Os alunos visitaram a exposição Ano da França no Brasil. As exposições anteriores tiveram foco nos grandes escritores como Guimarães Rosa e Machado de Assis. A próxima exposição está prevista para outubro e homenageará a Manual Bandeira.
Ao fim da visita, um vídeo de 10 minutos mostra a origem e importância da língua na construção da cultura. Ana Tigrinho, do 4º ano de jornalismo, não conhecia São Paulo: “Achei maravilhosa a proposta do Museu da Língua Portuguesa. Por se tratar de um patrimônio imaterial, impalpável, é preciso criatividade para chamar atenção e a criatividade foi muito bem utilizada no museu, aproveitando também as tecnologias. Uma das coisas que mais me deixou feliz foi ouvir Alice Ruiz, que ao lado de Paulo Leminski é minha poeta preferida, declamando o poema do Drummond”. Para o estudante do 3º período de jornalismo, Vinicius Ferreira Alves, o museu faz com que as pessoas se integrem à arte. “O museu me surpreendeu em vários aspectos da estrutura. Eu vi gente de várias idades, não só universitários, bem como idosos e pré-adolescentes, interagindo com o museu, se sentindo verdadeiramente brasileiro, falante da língua portuguesa. Eu acho que
é exatamente isso que o museu quer mostrar: você faz parte da arte, a nossa língua é uma arte.” O Museu da Língua Portuguesa também desenvolve o Programa Educativo de Públicos Especiais, voltado para pessoas com limitações sensoriais, físicas e mentais. A partir do acompanhamento de educadoras, os visitantes especiais podem obter conhecimento do acervo por meio da percepção da arte.
Pinacoteca Outro lugar visitado foi a Pinacoteca, no Jardim da Luz, que conta com um acervo de 6 mil obras de diversos autores, como Tarsila do Amaral, Rodin, Volpi e Portinari. Para Ana Tigrinho, participar de viagens culturais como esta é a possibilidade de agregar mais conhecimento e cultura. “Fechados em salas de aula ou na frente do computador temos acessos a várias culturas, mas é nos museus, nas ruas e bibliotecas que aprendemos a ter conhecimento de mundo e também das raízes que formam o ser humano”.
Leilão de obras de arte beneficia casa de recuperação O evento teve como objetivo arrecadar fundos para construção de uma escola de informática Milena Santos Priscila Fernandes O leilão “Pintores da Gente” aconteceu quarta-feira (21), às 20h no Clube Concórdia, no Centro de Curitiba. O evento tinha como objetivo arrecadar fundos para o projeto Informatizando “Uma Nova Vida”, da Casa de Recuperação Água da Vida (Cravi). A instituição pretende construir uma escola de informática para atender crianças, adolescentes e mulheres da unidade feminina da entidade para promover a inclusão digital com qualidade e eficiência. A Cravi contou com a doação de 64 obras de artistas plásticos paranaenses, como telas, gravuras e esculturas. O acervo disponível no leilão foi composto por obras ligadas aos movimentos artísticos que se desenvolveram em Curitiba desde os anos 60. Um dos destaques da noite, além do leilão das obras, foi a apresentação de um tango, que encantou os participantes do evento. Carlos Luciano Ortiz Granja, um dos organizadores do leilão, conta que ficou muito grato com as doações, já que grande parte dos artistas aos quais ele recorreu ficaram sensibilizados com a causa do projeto. A princípio, a Escola de Informática da Cravi vai atender cerca de 50 pessoas da unidade feminina durante os cursos. Para ministrar as aulas, a instituição conta com a participação de profissionais da área e pretende capacitar residentes para contribuírem com o ensino da informática.
como esse. Autora do quadro “Ilusão”, ela disse que sempre colabora com eventos beneficentes. “Eu acho que é uma troca, porque eu recebi um dom. É uma forma de agradecer a Deus o fato de ter me dado isso”.
A Cravi A Cravi é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1997 para atender pessoas com transtornos decorrentes do abuso de drogas e álcool. A partir de um programa terapêutico, a instituição busca resgatar a cidadania dos residentes, com uma abordagem psicológica, social e espiritual. O diretor administrativo e psicólogo da Cravi, Flavio Lemos, lembra que um dos objetivos do evento também é mobilizar a sociedade para uma causa tão importante, que é a questão do uso de drogas. “Isso leva a sociedade a ter mais consciência sobre essa questão”. A inclusão digital é uma forma de promover a reintegração social e o amadurecimento das pessoas com os transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e drogas. Lemos acredita que, como objetivo da Cravi é de promover a cidade e a reinserção social, permitindo que ela amplie seu horizonte. “A pessoa que tem uma relação com a droga é caracterizada pela exclusão. Entendendo de informática, a pessoa entra mais no mundo da informação, que traz muito mais consciência das possibilidades, dos direitos e de tudo que ela pode vivenciar na vida”.
O leilão
Serviços
A artista plástica Tania Leal afirma que é muito gratificante poder colaborar em um evento
Para saber mais, o telefone da Cravi é: 3356-6100. O site da instituição é www.cravi.org.br.
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Ensaio Museu da Língua Portuguesa
Na ponta da
língua
Diego Henrique Simplesmente o museu mais visitado do Brasil. Foi inaugurado em 20 de março de 2006 e já recebeu mais de 800 mil visitantes até hoje. Juntamente com a restauração da Estação da Luz em São Paulo gastaram mais de R$ 37 milhões para custear as pesquisas prévias, construir e instalar o museu. Uma equipe de criação e pesquisa composta por mais de 30 profissionais (sociólogos, museólogos, especialistas em língua portuguesa e artistas) foi a responsável pela concepção intelectual da obra. A grande ousadia criativa do museu vai além do fato de utilizar recursos tecnológicos de ponta, pois se habilita a promover um patrimônio imaterial; aquilo que está na ponta da língua dos brasileiros: nosso idioma.
O Museu da Língua Portuguesa, localizado na Praça da Luz, em São Paulo, foi inaugurado no dia 20 de março de 2006. Ele abriu suas portas para visitação pública no dia 21 de março do mesmo ano. Além dos espaços expositivos permanentes e temporários, o Museu da Língua Portuguesa desenvolve uma série de ações paralelas importantes para a aproximação da instituição com o seu público: apresentações gratuitas, cursos, palestras e seminários, serviço educativo, visitas diferenciadas e ações com a Rede Pública de Ensino.
Serviço: Endereço: Praça da Luz, s/n, Centro São Paulo – SP Informações: Tel.: (11) 3326-0775 E-mail: museu@museudalinguaportuguesa.org.br A entrada custa R$ 4. Para estudantes e pessoas acima de 60 anos, R$ 2. Horário expandido: Todas as últimas terças-feiras de cada mês o Museu prossegue com sua expansão de horário aberto das 10h às 22h e a bilheteria até às 21h.