Lona - Edição nº 403

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Curitiba, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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Curitiba, segunda-feira, 23 de junho de 2008 | Ano IX | nº 403 | jornalismo@up.edu.br | Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Conferência em Florianópolis debate estratégias para combater homofobia Acabou ontem a conferência sobre o projeto “Mapeamento Rápido de Combate à Homofobia na América Latina e no Caribe Hispanoparlante”. As ações discutidas visaram realizar uma análise ágil que

permita identificar educadores em questões GLBT. Apesar de o combate ao preconceito aos homossexuais ter se intensificado, a discriminação ainda é evidente. Segundo o projeto, educadores preparados para

discorrer sobre o tema são essenciais para que haja diminuição dos mais variados tipos de preconceito.

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Fé movimenta Curitiba nos dias de cerimônia Canais de WebTV trazem programação mais diversificada Tatiana Lisboa Zabot/ LONA

A uniformidade dos programas televisivos brasileiros é o que motiva cada vez mais a criação de canais de TV na Web.

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Doença faz com que pessoas alterem seus hábitos alimentares Por meio da oração, muitas pessoas buscam contato com uma força divina. Alguns pedem ajuda, agradecem ou refle-

Bulimia e anorexia atingem mulheres em maior número

tem. Outros simplesmente procuram oportunidade de conversa e alívio.

Conheça um pouco do dia-adia dos celíacos — pessoas intolerantes aos alimentos com glúten.

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A maior dificuldade no tratamento das doenças é o reconhecimento da enfermidade pelos pacientes.

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Ensaio fotográfico mostra praia pouco conhecida A praia de Barra do Saí é marcada pela sua atmosfera tranqüila. Amanda Ribas/ LONA

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O desconforto do manequim Luísa Barwinski

O shopping à noite, depois que as lojas fecham, não é o melhor lugar para ficar. É quente, quieto e assustador. Parece que os manequins vão saltar das vitrines e promover uma caçada a tudo e todos que ainda permanecem lá. Bancos, plantas e aqueles caras de terno. Não, madames. Eles não estão ali para carregar suas sacolas. Não, grupinhos. Eles não estão ali só para seguir vocês. Já passava das 23 h quando as luzes do cinema acenderam e os créditos subiram. Cansada por dormir quase nada na noite anterior — não só por boemia, mas por uma tentativa de esquecer que aquele era meu vigésimo 12 de junho sem receber presentes — me levantei e fui em direção à saída, pensando apenas em como minhas cobertas pareciam tão mais brancas e aconchegantes na minha memória de várias horas antes. Enquanto esperava que alguém atendesse o telefone que eu fazia tocar, dei algumas voltas, olhei algumas vitrines e vi que lojas de roupas femininas também vendem laptops cor-

de-rosa. Finalmente, alguém atendeu o telefone. Ótimo. Não iriam demorar para chegar e logo eu estaria habitando aquela memória de hoje cedo. Não sou curitibana de nascença, mas incorporei vários hábitos desde que vim morar na capital da terra de Guairacá, principalmente aquele semblante blasé, aquele ar de “não falo com estranhos”. Felizmente, este é um hábito que estou tentando perder — com ressalvas, afinal uma coisa que se aprende desde os cinco anos de idade não se perde em outros dois quando se aproxima dos vinte. Lá estava eu, com os cabelos “do dia todo”, roupa “do dia todo” e expressão “do dia todo”. O Seu Amadeus também. O Seu Amadeus usava sapatos, calças, camisa, gravata, terno e óculos pretos. Bom de conversa o Seu Amadeus. Conseguiu me tirar daquela letargia da lembrança da minha cama e logo estávamos conversando. “Engraçado, tem uma menina que eu sempre vejo no ônibus que se parece muito com você. Mesmo jeito do cabelo, os óculos... Só que ela é bem menor que você”, falou o Seu Amadeus. Mas ele não era baixo. Contou que media “lá por 1,91m... ou é

Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande;; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton;

Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro. Professores-orientadores: Elza Oliveira e Marcelo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski e Karollyna Krambeck.

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

1,92m... Alguma coisa assim!”. Quando falei que era complicado para as pessoas altas acharem roupas que servissem, ele concordou comigo. “Tenho 1,84m, a maioria das calças que tenho não chegam a cobrir meus tornozelos quando sento. A maioria dos meus casacos que servem no ombro não cobrem meus punhos”. O Seu Amadeus falou que com ele acontece a mesma coisa. “Quando a gente tem que fazer a prova de uniforme aqui no shopping, sempre peço o maior número. Já passei do 60”. Ele trabalha no shopping há mais de 12 anos e boa parte deles à noite, quando as madames e os grupinhos de jovens já não estão mais nos corredores e nas praças de alimentação. O público dos seguranças como o Seu Amadeus é outro. Os rapazes da manutenção, as mulheres que vão limpar o chão de mármore marcado por solas de borracha e pontos de salto alto, os últimos espectadores do cinema — como eu e aqueles manequins de olhos estáticos. Negro, alto e bom de papo, o Seu Amadeus sempre fazia um comentário de tudo. “Preciso de um terno grande porque a gente que fica aqui à noite lida com tudo e sempre aca-

ba ajudando o pessoal a carregar as coisas. Se o terno for pequeno, rasga”, ou “A gente que fica de noite aqui usa menos casacos que o pessoal do dia. A gente não tem essa de ar-condicionado” ou então “Como este ano tá correndo... Já chegamos na metade do ano”. Para variar, sempre que alguém fala que o ano está passando rápido, completo com “daqui a pouco vai chegar meu aniversário... Logo ali, em dezembro!”. E é o que realmente acontece. “E pro meu falta pouco agora”, disse o Seu Amadeus, emendando o assunto: “é agora em setembro! Mais um ano do Amadeus...”. Lembrando de uns anos que já passaram, o Seu Amadeus contou que nasceu no “nortão pioneiro” do Paraná, ali pros lados de Londrina, como quem vai para Foz do Iguaçu. Revelei que nasci em Pato Branco. Mas, ao contrário do que eu esperava, não ouvi o comentário da moda “Lá em Pato Branco, daí!”, graças ao programa Toma Lá, Dá Cá das noites de terça-feira da Rede Globo. Deve ser porque, enquanto todas as outras pessoas prestam atenção na televisão, o Seu Amadeus está trabalhando. Os manequins continua-

vam encarando o nada nas mesmas posições de sempre pelas janelas mais conhecidas como “vitrines”. Àquela altura já estava ficando calor dentro do shopping — fato inédito para mim até então. Sempre que estive em um shopping, era dentro do horário comercial e do horário do ar-condicionado. Aí é de se entender por que os manequins olham para fora: vestidos com roupas de inverno, trancados dentro das lojas enquanto a única esperança de refresco depende das mãos do Seu Amadeus que fazem a porta abrir e fechar. Para os manequins, a porta que o Seu Amadeus abre e fecha é a única forma de ventilação. Além do mais, duas coisas que os shoppings não têm são relógios nas paredes e janelas. E cada vez mais é cada um no seu jeito curitibano de ser em que a única abertura que se dá é aquela que se faz necessária e formal. Parece que aquelas conversas de vizinhos encostados nos parapeitos de suas janelas não existem mais. A carona chegou. Despedime do Seu Amadeus, agradeci pela companhia. Entrei no carro e disse “é... shopping não tem janela mesmo...”.

Outros ares Renata de Andrade

O que antes era chique, agora saiu de moda. Grandes festas, bebida farta, trajes pomposos, imensos lustres a iluminar os salões imperiais, repletos de fumaça propagada das bocas da high society, que não se preocupa com os males do tabaco, nem causa incômodo ao próximo, admirador de sua elegância. Esse é um cenário que não se encaixa mais nos dias atuais. Hoje, a proibição do fumo em locais coletivos fechados, sejam eles públicos ou privados, pode dar às pessoas o direito de escolha: fuma quem quer, adoece quem deseja. Se você quer fumar, fume. Mas faça isso fora do alcance de

quem quer preservar a saúde. Ninguém é obrigado a contrair câncer no cérebro, no colo uterino e mama, doenças cardiovasculares e infecções respiratórias por causa da fumaça alheia. A restrição está causando antipatia dos fumantes com a população que não tolera mais ser vítima do tabaco. Paciência. Ouvir desaforos por fumar em locais fechados é bem menos grave do que ter otite crônica por causa da fumaça dos outros e não poder mais ouvir. Não adianta reclamar de preconceito contra os fumantes. Mas se preferir, a fila de desigualdades no Brasil é grande. É só pegar uma senha e aguardar atrás da desigualdade social, preconceito racial, exploração infantil, abuso

sexual... E enquanto aguarda, aproveite para refletir nos males que você e o seu cigarro causam. Além de prejudicar a si mesmo e ao próximo, o cigarro também adoece o meio ambiente. Para cada 300 cigarros produzidos, uma árvore é sacrificada. Então, quem consome um maço por dia, derruba uma árvore em duas semanas. Aproveitando o Dia dos Namorados, começo aqui a campanha “Salve uma árvore”. Ame, namore, troque presentes, mas não fume após o sexo. Se você não se preocupa com a sua vida e a do próximo, pelo menos pense na natureza. E aos que não fumam, deixo aqui meu desejo de longa vida, já aos outros, deixo novos pulmões.


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Geral

Florianópolis foi sede da conferência GLBT encerrada no último domingo

Cepac realiza conferência de combate à homofobia Amanda Laynes

O Centro Paranaense da Cidadania (Cepac), em parceria com a rede internacional para questões GLBT, a Global Alliance for LGBT Education (GALE), está fazendo um mapeamento das ações educativas de combate à homofobia — termo utilizado para identificar a aversão ou discriminação de uma pessoa contra a homossexualidade. A pesquisa está sendo desenvolvida nas escolas, em corporações policiais e na saúde, em todos os países da América Latina e no Caribe. Entre os anos de 2003 e 2005, foi realizado um levantamento em 50 países da América Latina que demonstrou a existência de uma vontade de compartilhar informações e trabalhar sistematicamente na capacitação dos profissionais de educação em questões relativas a GLBT. Esta pesquisa originou a GALE, que visa promover a inclusão plena de pessoas que são prejudicadas por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Devido às diversas realidades de cada região do mundo, foi necessária a parceria da GALE com instituições locais, que no Paraná mantêm contato com a Cepac, por meio do consultor Toni Reis, que também é um dos dirigentes da entidade internacional. Com o projeto “Mapeamento Rápido Combate à Homofobia na América Latina e no Caribe Hispanoparlante”, os órgãos querem realizar uma análise ágil que permita identificar educadores em questões GLBT nos países, com pré-requisito para a realização de dois encontros regionais estratégicos, aos moldes dos já realizados em outras regiões da Europa, Ásia e África. Segundo a diretora execu-

No encontro, os representantes das entidades e os professores selecionados vão discutir qual a melhor maneira de tratar a questão GLBT em sala de aula tiva do Cepac, Christiane Spode, Florianópolis foi sede de uma conferência no último final de semana. No encontro, os representantes das entidades e os professores selecionados discutiram qual a melhor maneira de tratar a questão GLBT em sala de aula. Para a diretora, é necessário a preparação dos professores para a discussão do tema com os estudantes. “Especificamente, quando a homofobia acontece em sala de aula, trabalha-se a sensibilização e capacitação de professores e educadores, para que o paradigma educacional seja mudado e para que tais profissionais consigam orientar seus alunos, sabendo lidar com possíveis questões de preconceito”, declara. Além de educadores, ongs e demais entidades que desenvolvem projetos de combate à homofobia voltados para a área educacional participaram do evento. Os convidados foram selecionados através de suas respostas a um questionário desenvolvido pelo Cepac declarando suas ações voltadas à educação para o combate à discriminação. Para Christiane, ações que eduquem e sensibilizem os profissionais são de suma importância hoje. “A questão GLBT ainda é tratada de ma-

neira não aberta nas escolas, envolvendo muito preconceito e resitência de educadores”, afirma. Ela disse que a conferência impulsionará a realização de mais projetos voltados ao combate da homofobia em sala de aula. O diretor do Cepac, Igo Martini, acredita que no Brasil há avanços significativos como o Programa Federal Brasil Sem Homofobia, que trabalha em vários ministérios e projetos de combate à discriminação. “Já existe uma política de estado que trabalha com o Ministério da Educação, que ajuda os educadores a debater o assunto em classe”. A professora de uma escola de Ensino Médio de Curitiba, Elizabete de Almeida Farias, disse que já trabalhou em sala de aula a cartilha Como Lidar com a Sexualidade na Escola, desenvolvida pelo Cepac. “Quando se trabalha com alunos sobre sexualidade, a polêmica é inevitável, e em muitos casos não há uma preparação adequada para podermos responder. No dia em que trabalhei a cartilha, achei melhor não opinar sobre muitos assuntos devido à falta de preparo”, esclarece. O funcionamento da GALE ocorre de duas maneiras: através de uma plataforma virtual, o www. glbtlgbt-education.info, que permite a comunicação e o intercâmbio entre os integrantes da rede de educadores nos cinco continentes, e também através de reuniões presenciais periódicas. O Cepac foi criado em 1995 com o objetivo de promover a saúde, a educação e os direitos humanos. Procura sensiblizar profissionais da saúde e da educação para questões referentes à Aids e doenças sexualmente transmissíveis, e também sobre o respeito à diversidade sexual.

Robertson Luz/LONA

A Parada GLBT 2007, em Curitiba, reuniu 20 mil pessoas

Breema : uma nova terapia corporal Sandro Graciano da Silva O Breema é uma terapia corporal voltada para promover a saúde, entendida como um estado de harmonia com a vida. Não é algo para combater uma doença e sim para promover a saúde, desenvolvendo a capacidade que o corpo tem de se curar. Pode ser praticado por todas as faixas etárias, os resultados são individuais e variam para cada pessoa. Helio Kotler é instrutor de Breema e explica que, para a prática, são utilizados apenas colchonetes ou tapetes. “Nor-

malmente, na primeira sessão, a pessoa já tem uma percepção do benefício em seu corpo, mas para se ter uma noção bem concreta, são necessárias de cinco a dez sessões”, diz. Breema encara o corpo como uma unidade, na qual existem nove princípios que servem como a base para o caminho. “Os nove princípios são como janelas para um mesmo jardim, de cada princípio se tem uma visão diferente da mesma coisa que é a arte de estar presente”, explicou ele. No último sábado, dia 21, Kotler mostrou a técnica em aulas ministradas em Curitiba.


4 Especial

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Independente da religião, a oração traz benefícios à saúde e ao bem-estar das pessoas

Oração: um bem ao corpo e à mente ce silenciosa. No altar, lado a lado, pessoas ajoelham-se e Tatiana Zabot oram. A demonstração de fé está estampada nos sussurros, nos Quarta-feira em Curitiba. A olhos apertados e nas mãos uniquantidade de carros estaciona- das. Entre os fiéis, está Tereza dos e circulando pelas ruas ao Gonçalves, orando para sua firedor do quarteirão é imensa. lha entrar na universidade e Pelo caminho o que surpreende agradecendo por todas as bênsão as barraquinhas de pipoca, çãos que diz receber a cada dia. A poucos metros dali, trandoces, pastéis, flores e lembranças, uma verdadeira feirinha. qüilamente sentada ao lado do São pessoas de todas as idades, carrinho de pipoca, Neide Mede diferentes classes sociais, loni tricota um trilho de mesa. gostos e profissões, mas com Ela vende pipoca do lado de fora algo em comum que as une: a do Santuário há mais de 10 fé. A cena acontece no Santuá- anos. Curiosamente, apesar do rio de Nossa Senhora do Perpé- convívio com os católicos, Neituo Socorro nos dias de novena. de é evangélica. Com muito A cada ano nada menos que dois humor assume que ficou alguns anos “desmilhões de fiéis virtuada” da reliparticipam des- Para os cristãos, gião, mas que ses encontros. agora voltou a Por meio da a oração é algo freqüentar a igreoração, essas pes- direcionado para ja. Tereza e Neisoas buscam um de oram diariacontato com a for- fora, um contato mente, mas ença divina, seja com Deus, seja quanto Tereza para pedir ajuda, usa orações pronagradecer, refle- para agradecer tas escritas na tir ou simples- ou pedir Bíblia e cultua mente conversar diversos santos, e aliviar-se. Outros crêem que através da ora- Neide não acredita nos santos, ção os mortais entram em con- orando apenas para Deus e de tato com o seu íntimo, vendo as maneira espontânea, convercoisas de outro modo, compre- sando, pois os evangélicos não endendo a si mesmos e se per- acreditam na oração pronta e doando pelas injúrias que come- sim nas palavras que vêm do coração. tem. Mas quinta-feira Neide esToda quarta-feira, acontecem 17 novenas no Santuário quece as diferenças e acompade Nossa Senhora do Perpétuo nha a Missa do Santíssimo reSocorro, mas a das 18 horas é a alizada no Santuário. As duas mais disputada pelos fiéis. São concordam que é uma das missas mais bonitas que já assistimais de duas mil pessoas. Fisicamente, não há lugar ram e que fica difícil conter a para todos. Mas está claro que emoção. Neide conta que apeninguém fica incomodado, to- sar da diferença de religião ela dos se sentem acolhidos. Uns se se sente a vontade, já que duacomodam como podem, pelos rante a missa há uma abertucorredores, nos cantos e até ra para cada um fazer sua prómesmo do lado de fora. Outros pria oração de maneira esponpoucos se apertam nos bancos. tânea, de acordo com o seu jeito O santuário é bem iluminado e e coração. “Choro que nem um tem o teto azul imitando céu bezerro desmamado”, assume a aberto; nas paredes, mosaicos pipoqueira. de espelhos com vidrilhos e ornamentos dourados refletem a Diferentes Religiões divindade do ambiente. Para os cristãos, a oração é Perto do ícone de Nossa Se- algo direcionado para fora, um nhora do Perpétuo Socorro os contato com Deus, seja para devotos esticam suas mãos e, de agradecer ou pedir. Eles procuolhos fechados, fazem sua pre- ram demonstrar bondade de es-

Fotos: Tatiana Lisboa Zabot/ LONA

Liana Suss

Fiéis tentam tocar o Icone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Curitiba pírito a fim de ser merecedores da graça do seu Senhor. Ao contrário destes, os budistas oram para o seu íntimo, a fim de acumular forças interiores para enfrentar a vida. Eles oram para que sozinhos possam encontrar caminhos e solucionar problemas, visando cumprir sua missão na Terra, ao contrário dos cristãos que suplicam a Deus. Diferente de católicos, evangélicos e budistas, os muçulmanos praticam um ritual nos momentos de oração. Eles oram cinco vezes ao dia, sempre voltados para Meca. São recitados trechos do Alcorão em árabe e depois pode-se fazer as súplicas pessoais. Esse ritual, chamado Salat, é considerado um elo direto entre os islâmicos e seu Deus e, apesar de se aconselhar fazer as orações na mesquita em grupo, pode-se fazer as orações obrigatórias em qualquer lugar. A terapeuta e mestra em Metafísica Leonor Pereira dos Santos explica que a oração ocorre quando a fé seduz a razão; quando há uma reflexão profunda do eu-homem com o

eu-Deus, independente da forma como se projete esse Deus. A religião é mediadora do contato com o transcendental, mas o efeito da religiosidade é uma constante universal e pode ser observado em todos que têm um lado espiritual, desde os que praticam uma religião até aqueles que crêem na espiritualidade de maneira desvinculada de crenças específicas. Hoje, é aceita no meio científico a idéia de que a religiosidade influencia o bem-estar e a saúde das pessoas. A ciência, a medicina e a espiritualidade vêm tendo seu relacionamento fortalecido na última década.

Expediente

Oração e Saúde Muitos trabalhos atestam efeitos positivos da oração na cura de doenças. “A oração tem poder curativo, pois o que pedimos e desejamos é comprovadamente eficaz para o nosso cérebro”, diz a metafísica. A mortalidade por câncer é menor em pessoas que oram com freqüência. Problemas causados por hipertensão são até 70% menores em quem cultiva uma certa es-

piritualidade. A incidência de problemas cardíacos também é menor em quem faz orações. Esses estudos foram reunidos pelo psiquiatra Franklin Santana, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Há uma força cósmica que age e interage no subconsciente e no consciente humano que é capaz de fazer mutações extraordinárias nas pessoas”, explica Leonor. A oração libera hormônios que relaxam, melhoram a imunidade e proporcionam bemestar; ela estimula o cérebro assim como a meditação e os pensamentos positivos. “A gente sente uma coisa boa aqui dentro”, diz Tereza Gonçalves com a mão apertada no peito, mostrando que sente na pele o efeito da oração. Neide diz que vendendo pipocas percebe que depois da novena as pessoas ficam mais leves e simpáticas, “até a cara delas é outra”, diz a pipoqueira. Há pouca contestação quanto ao resultado dos estudos, mas alguns médicos criticam as conclusões. Eles acreditam que o que influencia a saúde é o comportamento gerado pela religio-


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Curitiba, segunda-feira, 23 de junho de 2008 sidade, como as relações sociais de solidariedade e apoio, produzindo sentimentos e emoções poderosos. Outros defendem que rezar cria mentalmente uma intenção positiva que possui um efeito curativo. Já os médicos cristãos conservadores, por sua vez, rejeitam os resultados pelo fato de afirmarem que a oração é efetiva independente de religião, o que ameaça sua crença. Outros crêem que a cura é intervenção sobrenatural divina e não efeito da oração da pessoa. A oração é considerada um remédio e praticamente receitada por médicos, mas não pode ser feita como uma obrigação. Segundo Jeff Levin, cientista de destaque em estudos da relação entre a práticas espirituais e a saúde e autor do livro “Deus, fé e saúde”, é essencial haver amor e uma intenção sincera ao orar; por isso há uma certa polêmica quanto às orações prontas que as pessoas decoram e repetem.

Conversando com Deus O padre Pedro Vilson, da Paróquia Senhor Bom Jesus em Campo Largo, enfatiza que apesar da Igreja Católica apresentar diversas maneiras de se orar, cada pessoa deve descobrir aquela com a qual se sente melhor. “Há pessoas que têm dificuldade de conversar e expor seus sentimentos com clareza a Deus, então preferem seguir uma oração pronta”, explica o padre. A distração e a falta de profundidade na oração também são utilizados, pelos padres católicos, como argumento para defender as orações memorizadas. Já os protestantes, como a pipoqueira Neide Meloni, têm uma interpretação diferente dos católicos, lembrando um versículo da Bíblia onde, antes de ensinar o Pai Nosso, Jesus diz: ”Mas, ao orares, não digas as mesmas coisas vez após vez, assim como fazem os das nações, pois imaginam que serão ouvidos por usarem de muitas palavras”. Sendo assim, eles defendem a oração espontânea, até porque, segundo Neide, contém mais sinceridade e emoção. O pastor Oslei Nascimento, da Igreja Presbiteriana de Curitiba, explica que a oração deve ser uma conversa com Deus, é nela que devem ser expressos os sentimentos e as necessidades, e que não há melhor maneira para fazer isso senão utilizando-se das suas próprias palavras, com a emoção do momento.

Devotos acendem velas na esperança de ter suas graças atendidas Segundo Leonor Pereira dos Santos, a oração beneficia não só aquele que pede, como também aquele que recebe. A terapeuta destaca ainda que é comprovada a harmonia entre o ser que ora e aquele que é beneficiado pela oração. Nas missas realizadas no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro são lidas cartas dos fiéis agradecendo por suas preces atendidas. Entre elas, uma testemunha de que a oração pelo outro funciona: um fiel escreveu para agradecer Nossa Senhora porque seu pai estava praticamente no leito de morte e sem perspectiva de melhora quando, depois de muitas orações, ele surpreendeu a todos e a si mesmo melhorando e voltando à vida normal. As pesquisas são comprovadas, mas muitas vezes o que acontece é que as pessoas não acreditam em seus resultados por estarem distantes dessas situações. É por esse motivo que um dos momentos mais marcantes das novenas de quarta-feira no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é a leitura de cartas de agradecimento. Uma das pessoas que recorreu a essas cartas para agradecer e dar seu depoimento para todos os fiéis é Cláudia Aparecida Cordeiro Simão. Com lagrimas nos olhos e com um terço na mão Cláudia conta que tudo começou quando ela sentiu uma

dormência de um lado do rosto e, depois de uma ressonância magnética, descobriu que tinha um tumor na região occipital do cérebro. Nessa época ela estava terminando uma novena de agradecimento pela saúde de seu marido e sua filha e então passou a agradecer pela própria saúde, decidida a entregar o problema nos braços de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que tudo ficaria bem. Com confian-

ça e fé, Cláudia passou por uma cirurgia delicada e, surpreendentemente, 14 dias depois, graças à medicina e suas orações, descobriu que seu tumor era benigno, estava ótima e já pretendia voltar a trabalhar. Não muito longe de onde Claudia entregava sua carta de agradecimento pela graça atendida e orava fielmente, encontrava-se Rafael Cabral Macedo. O estudante de medicina é ag-

nóstico, não concorda com a religião, mas possui seu lado espiritual. Rafael não ora, mas medita para entrar em seu interior, em seu íntimo. Ele critica o pensamento de que a oração tem que ser feita a um ser superior, condenando essa prática como uma escravização religiosa que dá às pessoas a falsa impressão de que estão falando com Deus.Ele argumenta que, se essas pessoas crêem num Deus onipotente e onisciente, não há motivo para orar contando ou pedindo as coisas a esse ser, uma vez que ele tudo sabe. “Fazer de Deus uma mula de problemas é exteriorizar e fugir de seus obstáculos”, critica Rafael. Ele crê que há uma consciência universal, mas que cada pessoa tem poder sobre si mesma, e deve, ao invés de orar, fazer uma viagem introspectiva ao mais profundo do ser para encontrar respostas, já que somos responsáveis pelo que nos acontece, como diz o pensamento existencialista. De joelhos ou em posição de lótus; na igreja, no templo ou em casa, pedindo ou agradecendo; repetindo ou só dizendo; com ou sem religião. Isso só depende da escolha individual, afinal, o ser humano é singular, mas, cada um a seu modo, todos cultivam um ser espiritual dentro de si. Acima de tudo, Rafael, Neide, Tereza e Cláudia têm algo em comum: a intenção. Se a busca do transcendental é verdadeira, não importa como ela é feita.

Oração a pronta entrega Acredita-se tanto na prece pelos outros que muitos grupos e igrejas criaram serviços de oração para as pessoas que buscam ajuda. Por sites de relacionamento como o Orkut, e-mail, telefone, cartas ou mesmo na televisão, as pessoas entram na fila, revelando seu nome e seus problemas, para receberem ajuda das preces alheias. A maioria desses serviços pertence a igrejas cristãs. A Igreja Presbiteriana do Brasil, por exemplo, oferece serviço de oração on-line. Basta preencher os campos no site da instituição com o nome de quem solicita o serviço, o e-mail e, por último, o pedido. Esses emails são direcionados a voluntários também cadastrados pelo site e são chama-

dos de intercessores, que se colocam no lugar da outra pessoa e oram pela causa como ser fosse a sua própria. Já o grupo de jovens católicos Despertai disponibiliza aos fiéis o SOS Oração, um disque-oração, disponível das 22 h às 5 h para responder a pedidos dos que têm problemas com a família, saúde ou outras angústias. No Orkut, uma comunidade evangélica garante oração 24 horas por dia para os que necessitam de ajuda e aconselhamento em tempo real. Os resultados são revelados pelos membros, que postam seus testemunhos na sua página pessoal. Há ainda os grupos que oram pelos enfermos nos hospitais. O Hospital Universitário Evangélico de Curitiba oferece auxílio de oração como

parte de seu Serviço de Capelania. Voluntários rezam pelo paciente com a família e estão disponíveis para orar e aconselhar quando solicitado por telefone. Mas esses serviços nem sempre estão ligados à religião. A Ordem Rosa Cruz, uma fraternidade não religiosa, possui um Conselho de Auxílio Espiritual, um trabalho realizado diariamente às 20 horas no Grande Templo, em Curitiba, com o objetivo de dar auxílio cósmico àqueles que necessitam. Além disso, qualquer membro da Ordem pode compor a comissão silenciosa, entrando mentalmente em sincronia com o conselho a fim de estar a serviço daqueles que a ele recorrem.


6 Internet

Curitiba, segunda-feira, 23 de junho de 2008

Vídeos navegam livremente em um espaço sem lei na rede mundial de computadores

Web permite televisão sem censura de lá por uma questão de tempo. Gravávamos o programa ao vivo e depois que comecei a esUma câmera digital, um tudar não tive mais tempo. Tiprograma de edição e internet, vemos que reduzir o programa isso é tudo que a estudante de e perdemos a interatividade em rádio e TV Nathalia Valentin, tempo real que tínhamos com 22, precisa para colocar o seu o público”, explica Nathalia. O site da GrooveChannel foi programa no ar. “Com o mínimo que tenho faço o máximo o primeiro canal brasileiro de WebTv voltado à música eletrôque posso”, exalta Nathalia. A mesmice de algumas mí- nica. Com uma programação dias convencionais foi o que mo- que possui uma grade de 20 protivou a jovem a criar o seu pró- gramas semanais, o site se prio programa de WebTv. “Es- mantém 24 horas no ar, sendo tou cansada de ver sempre as que das 18 às 23 horas funciomesmas coisas, isso me irrita. na ao vivo. O responsável para manter No programa mostro coisas que estão na rua que as mídi- os programas do site no ar é o as não abordam ou não que- publicitário Allan Novak, 25. “Eu gravo os programas e derem abordar”, reclama ela. Com as teorias que apren- pois faço uma edição para colodeu na faculdade, a apresen- cá-los para reprise”, detalha ele. Dentro de uma sala com tadora se sentiu apta a fazer experimentações no campo da duas webcans, os programas mídia digital. “Gravamos o funcionam muitas vezes com programa na rua mesmo. Um participação ao vivo dos telesamigo meu que faz jornalismo pectadores. “A interatividade fica responsável pelas filma- com os telespectadores é o pongens, enquanto eu fico de apre- to forte da WebTV”, ressalta sentadora e repórter. A gente Allan. Mas o livre arbítrio em se discute as pautas e pensamos como iremos fazer a edição fazer um programa que não para depois vermos o que vai tem censura pode se tornar um para o blog. Recebemos tam- perigo para a sociedade. A falta bém colaboração dos amigos de responsabilidade ao se paspara fazer quadros e a sonoplas- sar a informação ou mostrar um fato que possa prejudicar a tia do programa”. O resultado se intitula imagem alheia é o maior pro“Scratch! nas ruas”. “É um pro- blema que a internet enfrenta. grama voltado à arte urbana Aline Rockembar, 21, já sentiu com enfoque maior na cultura na pele o quanto essa falta de hip hop. Nele abordamos de responsabilidade pode prejuditudo, desde músicos de rua até car os outros. Há dois anos, Aline particios moleques fazendo malabares no semáforo”, explica ela. O pro- pou de um churrasco de faculgrama de dez minutos é hos- dade. No evento, passou um pedado no site “YouTube” e o pouco do limite com a bebida e, como ela link fica em anemesma disxo ao blog próse, fez um prio. “Criamos “No programa “bafão” na um blog para mostro coisas que festa. “Era centralizar as churrasco informações. Lá as outras mídias dos calouros, hospedamos os não mostram” e eu era caprogramas, texNATHALIA VALENTIN, loura. Os vetos, fotos e links ESTUDANTE DE RÁDIO E TV teranos enpara outros sites tupiram a que achamos ingente de beteressantes”. Mas o “Scratch!” nem sem- bida eu fiquei muito louca, os pre ficou hospedado no site do piás filmaram e colocaram na “Youtube”, antes ele fazia par- internet”, relembra ela. O vídeo, hospedado no Youte do canal de música eletrônica “GrooveChannel”. “Saímos Tube, ficou rapidamente famo-

Sonner M.C./ LONA

Sonner M. C.

A televisão pela internet vem crescendo a cada dia so pela faculdade da aluna, o que gerou muitas situações constrangedoras. “A faculdade inteira viu o vídeo e não demorou para que os deboches começassem. Passei muita raiva e humilhação por causa de uma brincadeira de mau gosto”, conta Aline. O fato fez com que a estudante trocasse de faculdade, já que ela não conseguia impedir a divulgação do vídeo na internet. Casos como o de Aline ocorrem direto, mas só ganham espaço na mídia quando o fato envolve celebridades, como o famoso vídeo de Daniela Cicareli na praia. Mesmo tendo apelado para a justiça, a ex-vj da MTV não conseguiu impedir o fluxo das imagens na internet. Quando Bill Gates inventou a internet certamente não imaginava que um dia ela pudesse vir a substituir a televisão. O crescente número de acessos ao Youtube mostra que a Web TV pode vir a ser a televisão das próximas gerações. Na França foi desenvolvido um computador especialmente

para isso, o PeerTV, que permite a recepção on line de várias dezenas de canais do país, e de um grande número de canais internacionais, graças ao seu leitor de vídeo integrado – o Mplayer – que suporta inúmeros formatos de codificação. O responsável pelo desenvolvimento do equipamento estima que ele possa acessar até 300 canais. Entre eles, Fox News e ESPN (EUA), ou Al Jazeera (Qatar).

Punir os responsáveis pelo uso indevido da Web TV, não é uma tarefa simples. Violar a conta dos usuários para conseguir os dados do indivíduo requer uma autorização judicial e isso exige tempo, um processo lento e burocrático. O espaço livre da internet pela difusão da informação começa a se tornar nocivo à sociedade cada vez que o mau uso dela aflige a moral de alguma pessoa.

O Efeito Youtube A chegada do Youtube no Brasil em 19 de junho de 2006 fez com que muitos internautas brasileiros mudassem a sua vida. O site que hospeda uma grande variedade de vídeos tornou-se febre entre aqueles que gostam de navegar na internet. O site chega receber mais de 100 milhões de visitas por dia, mas a liberdade de postar qualquer vídeo é uma faca de dois gumes para a socieda-

de. Ao mesmo tempo em que é possível ver vídeos como o do atentado do 11 de setembro, as imagens podem denegrir a reputação alheia como os casos de Daniela Cicareli, Britney Spears e outros famosos. O site que recebeu o apelido de “vídeos incríveis” foi comprado pela Google em 2006 por US$ 1,65 bilhão e hospeda desde videoclipes e trailers de filme, a filmes caseiros feitos pelos próprios internautas.


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Curitiba, segunda-feira, 23 de junho de 2008

Saúde

A deficiência, que interfere na absorção dos alimentos, exige dieta especial

Jovens lutam contra doença celíaca Diana Axelrud

Há cinco anos, a estudante Stephanie Wasserman, de 16 anos, descobriu que era portadora da doença celíaca. Ela teve que se acostumar com uma dieta totalmente isenta de glúten, a proteína não tolerada pelos que possuem a enfermidade, os celíacos. O glúten está presente no trigo, na cevada, na aveia e no centeio. Alimentos como pizza, pães, bolos, alguns chocolates, entre outros, são proibidos para os celíacos. Stephanie conta que, no início, foi difícil se acostumar à nova dieta: “Foi complicado, pois eu tinha apenas 12 anos. Eu ia às festas de aniversário e sempre tinha pizza, e eu só podia olhar os outros comerem. O que eu mais sentia falta era macarrão e pizza, mas agora já me acostumei”.

Genética A causa da doença celíaca é genética, segundo a nutricionista Rafaella Jugend. “O problema ocorre devido a um achatamento das microvilosidades intestinais. Os principais sintomas são diarréia, fraqueza, problemas de crescimento e peso inadequado”. A doença afeta a absorção e digestão de nutrientes, podendo levar a conseqüências secundárias, como anemia e osteoporose. Os sintomas que levaram Stephanie a descobrir a doença foram sua baixa estatura e peso inadequado. “Eu era muito baixa e magra. Fui ao médico, que pediu exames de sangue. O exame de sangue para doença celíaca deu positivo. Para ter certeza, fiz uma endoscopia, que confirmou o resultado. Imediatamente comecei uma dieta isenta de glúten”. Hoje em dia, Stephanie consome produtos específicos, sem glúten, encontrados em alguns mercados e em lojas especializadas. A família da estudante teve que se adaptar também. “Minha família só vai a restaurantes de massa quando eu não estou junto. Eles tiveram que se privar de algumas coisas”.

Incidência Na Europa, a doença celíaca pode estar presente em uma a cada 300 pessoas. O glúten está presente nos carboidratos, que são a base da pirâmide alimentar, responsáveis por cerca de 60% de nossa alimentação. Por isso é preciso substituí-lo por outros alimentos para que não haja déficit nutricional. “O glúten pode ser substituído por outros comidas, como o milho, a batata, a tapioca, o amaranto, a soja. Desse modo não haverá nenhum prejuízo nutricional”. A doença celíaca, ou enteropatia sensível ao glúten, não tem cura. Por isso, os celíacos necessitam sempre estar cuidando da alimentação. “Tenho que ler embalagens de tudo, em restaurantes tenho que perguntar do que são feitas as coisas, e se possível peço para fazerem minha refeição separada”, diz Stephanie. Lactose Outra doença do intestino, também sem cura, é a intolerância à lactose. Os intolerantes à lactose têm falta, total ou parcial, da enzima lactase, responsável por digerir a lactose, que é o açúcar presente no leite. Os sintomas desse distúrbio são diarréia, flatulência, inchaço abdominal e cólicas. Quando a causa da intolerância à lactose é genética, chama-se de causa primária. Quando for adquirida, por doença celíaca, inflamações ou outras causas, é chamada de causa secundária. Ao contrário do que ocorre com a doença celíaca, a intolerância pode ser controlada com a ingestão de cápsulas da enzima lactase, permitindo ao intolerante ingerir alimentos à base de leite. Esse distúrbio é mais comum do que se pensa. Afeta cerca de 90% dos asiáticos. Também é comuns em judeus, mexicanos, negros e índios. O estudante Leonardo Rosenberg, 14 anos, está muito bem adaptado às cápsulas da enzima lactase. Ingere todos os dias e se alimenta normalmente. Ele descobriu há poucos meses que possuía a intolerância. “Demorei dois meses para des-

cobrir o que eu tinha. Nesse tempo, fiquei passando mal.”. A nutricionista Rafaella afirma que é difícil substituir o leite. “É muito complicado para o nutricionista fechar um cardápio sem o leite, que é a maior fonte de cálcio. Colocamos outros alimentos para tentar suprir essa necessidade. Às vezes, é necessário suplementar a alimentação com cápsulas de cálcio.” Para Stephanie e para Leonardo, o melhor a se fazer quando se descobrir que não se pode ingerir algum tipo de alimento, é aceitar e procurar alimentos que substituam o não permitido.

Stephanie Wasserman/ Arquivo pessoal

Stephanie já está acostuma à dieta isenta de glúten

Distúrbios alimentares atingem mais mulheres e jovens Rhuana da Silveira

Jovens com idade entre 15 e 25 anos são os mais vulneráveis a doenças como anorexia e bulimia. Cerca de 90% são mulheres. Dentre as pessoas que sofrem algum distúrbio alimentar, de 15% a 20% não conseguem se curar. Os distúrbios alimentares não escolhem classe social ou etnia. Mesmo com a divulgação desses dados pelo Ministério da Saúde, todos os dias, jovens fixados em emagrecer aumentam as estatísticas dessas doenças. Achar a causa não é fácil. Há quem culpe a mídia e o mercado da moda. Para a medicina e profissionais da área sociológica, são problemas biológicos, genéticos, psicológicos, socioculturais e de estrutura familiar. Para a fonoaudióloga Maria (nome fictício), que sofreu de bulimia dos 18 aos 24 anos – hoje ela tem 29 anos e está curada -, a culpa da magreza é do perfeccio-

nismo e da insatisfação consigo própria. Chegar à cura é um privilégio para poucas pessoas, isso porque as bulímicas ou anoréxicas custam a assumir que são portadoras da doença. A dentista Manoela Mendonça, amiga de Maria, conta que esta levou cerca de cinco anos para assumir a doença e procurar ajuda de uma equipe multidisciplinar, composta por psiquiatra, psicólogo, nutricionista e endocrinologista. “A bulimia é a ansiedade por comer. A doente come compulsivamente, para logo em seguida vomitar”, explica Margareth Favile, psicóloga que fez parte da equipe de recuperação.

Modelo Manoela conta que Maria, com 1,62 m de altura, chegou a pesar 34 kg, alcançando um índice de massa corporal (IMC) de apenas 12,95. O índice para uma pessoa saudável varia de 18,5 a 24,5. Para efeito de comparação, a modelo Ana Carolina Reston, vítima de anorexia em

2006, cuja morte foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação na época (e a última de que se teve notícia entre os famosos), tinha 1,74 m e pesava 40 kg. Seu IMC era de 13,21.

Riscos Ao saber esses dados e constatar que seu IMC era mais baixo que o da modelo falecida, Maria desabafa: “Só não morri porque não era a minha hora.” Quem assume a doença encara um tratamento lento, que pode incluir doses de anti-depressivos e internação, dependendo do nível da doença. “As recaídas não são raras, e por isso muitas vezes o tratamento leva anos para ser concluído”, explica Margareth. “Não é de hoje que se fala em distúrbios alimentares. Pode não ser novidade para ninguém, mas as doenças continuam aí, atacando cada vez mais jovens. Um alerta tem que ser feito à sociedade: ser magro não dá status, mas ser saudável sim”, diz Maria.


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Curitiba, segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sossego garantido Texto e Fotos: Amanda Ribas

Barra do Saí é uma praia pouco conhecida do litoral paranaense. Localizada entre Guaratuba (PR) e Itapoá (SC), é banhada pelos rios Saí-Mirim e Saí-Guaçu, que divide os dois estados. A tranqüilidade é marca registrada dessa praia, que tam-

bém é local para esportes como a pesca e o surfe. Se durante as férias a Barra não é sinônimo de muito agito, fora de temporada o que se encontra lá são moradores aproveitando o fim do dia para passear de bicicleta, pescar tainhas ou apenas curtir o visual.

Ilha Saí-Guaçu

Expediente

Em frente à praia está a ilha Saí-Guaçu fonte de mariscos para o comércio local. E para quem quer conhecer uma área de mata virgem, rica em fauna e flora típicas da Mata Atlântica, é só atravessar o rio, onde há uma área de preservação ambiental.


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