Lona - Edição nº 427

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RIO Á I D do

L BRASI

Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008 | Ano IX | nº 427| jornalismo@up.edu.br| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

Ruas que cortam o Centro Cívico priorizam a circulação de veículos Robertson Luz/LONA

Em muitos cruzamentos os pedestres não encontram sinalização adequada e acabam se arriscando na travessia

O Centro Cívico de Curitiba começou a ser planejado ainda nos anos 40. O projeto foi pensado de forma que pudesse reunir os poderes da política estadual e municipal em um só lugar. Neste sentido, o bairro cumpre seu papel até hoje. Nele estão localizados a Prefeitura Municipal de Curitiba e o Palácio Iguaçu, por exemplo. Porém, o que foi deixado de lado, como acontece em outras cidades planejadas para centralizar órgãos governamentais, como a Capital Federal Brasília, por exemplo, foi a previsão de que no local também trafegariam pedestres. O bairro não tem uma grande população, mas com todas as organizações que possuem suas sedes no centro do poder da capital do Paraná, todos os dias muitas pessoas se arriscam ao atravessar algumas das ruas de movimento mais caótico da cidade.

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Começa a Paraolimpíada Evento discute cinema Perfil de viagem

Filmes em Curitiba

A delegação brasileira de atletas embarcou ontem para a China. Curitiba terá oito representantes nos jogos de Pequim.

Hoje, na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), acontece o Seminário Reflexões sobre Cinema Latino-Americano.

Confira a história de uma aventureira que se lançou em uma viagem que cortou uma parte da América Sul.

Professor de cinema diz que as produções de filmes em Curitiba aumentaram, mas que não evoluíram nas últimas décadas.

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Mulher-objeto jos masculinos. Sempre belas e impecáveis. Como objetos prontos para serem utilizaAo ligar a televisão sem- dos. Mas e os seus sentimenpre se vêem pessoas lindas e tos, onde ficam? De maneira inocente esses perfeitas. Bom, em revistas, jornais, anúncios publicitári- modelos são absorvidos pelas os também é possível encon- crianças. Não é raro encontrá-las. O grande alvo desse trá-las dançando e cantando músicas sem entender o seu culto à beleza é a mulher. A moda agora é a tal da real significado, ou se com“mulher-fruta”; toda semana portando como a artista X. No caso surge alguma das meninas, diferente, de dias bonecas esversos tama- A imagem da mutão sendo tronhos e sabores. cadas por rouHoje, a com- lher sempre está petição é de ligada à sexualida- pas curtas e maquiagem. quem tem mais Etapas imporsilicone, plásti- de, como aquela no decas e botox. O capaz de realizar tantes senvolvimento que vale na socidelas estão edade é a apa- todos os desejos sendo pularência física e masculinos das, graças a seus “grandes” essa erotizaatributos. Já a inteligência, essa está sendo ção da mídia. Já ao desligar a televisão, deixada de lado. Basta ter beleza ou dinheiro para com- a pergunta das “mulheres coprá-la e pronto, a vida está muns” é como competir com as outras tão lindas e perfeiganha. A mídia é uma das gran- tas. Pobres mortais. Pois, apedes responsáveis por esse pensamento, pois é ela que sar de todas as conquistas, o molda estereótipos a serem que ainda conta mais é a apaseguidos. A imagem da mu- rência. Afinal, para que serlher sempre está ligada à se- ve mesmo a inteligência e xualidade, como aquela ca- esse blá blá blá de beleza inpaz de realizar todos os dese- terior, não é mesmo? Marie-Claire Devos

Expediente Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins. Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande;; Pró-Reitora de Extensão: Fani Schiffer Durães; PróReitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Luiz Hamilton Berton; Pró-Reitor de Pla-

nejamento e Avaliação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira (colaboração), Elza Aparecida de Oliveira e Marcelo Lima; Editores-chefes: Anny Carolinne Zimermann e Antonio Carlos Senkovski

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”.

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É correto a Justiça Eleitoral convocar eleitores para trabalhar como mesários nos dias de pleito?

SIM Aline Rakko

Sentado na fila da zona 177, ele atende o celular. “Daê, cara. Vô vê se acaba logo aqui pra gente ir pra muscula junto”. Tradução da palavra muscula: musculação, ou seja, exercícios físicos feitos num local fechado com o objetivo de ... Bom, aí depende de cada um. Depois de esperar uns cinco minutos, muito inquieto, comenta com a pessoa ao lado. “Tem tanta gente que não tem nada pra fazer por que eu tenho que estar aqui?” São dezoito mil mesários em Curitiba trabalhando diretamente nas eleições deste ano. O grupo pode ser classificado em duas categorias. De um lado os voluntários, e do outro os convocados. Em 2006, os voluntários, ou ociosos, segundo o jovem da zona 177, representavam apenas 10% do todo. Por esse motivo, os outros noventa por cento recebem uma carta de intimação em casa. Trocaremos a

palavra intimação por oportunidade. Para contextualizar essa inversão de significados é preciso voltar alguns anos atrás. Durante o ano de 1984 houve uma mobilização popular que representou a indignação que os brasileiros tinham perante as injustiças das eleições indiretas, nas quais não havia possibilidade nenhuma de democracia. Um grupo pequeno e elitizado ficava responsável para definir o rumo de uma nação inteira. Sem contar que a repressão militar ainda estava fresquinha na memória, um fator que impulsionou ainda mais uma revolta na qual se perguntavam: “Por que eu, como cidadão, não posso votar em quem eu quero?” A necessidade evidenciada na pergunta de milhares de pessoas foi felizmente suprida. Votar em quem eu quero. Esse foi um direito que não nos foi cedido, mas conquistado. Não entrando em detalhes na qualidade dos candidatos, nem de ou-

tro leque de injustiças que surgiram a partir disso. O interessante é que, se antes era um privilégio, hoje é uma intimação. Jovens não conseguem entender que disponibilizar de um, ou dois dias dos seus 365 para valorizar a conquista de outros é motivo de alegria. Principalmente, porque a função específica de cada um dos mesários se resume em servir, orientar e auxiliar outras pessoas. Não é partidarismo, não é atividade de cabo eleitoral. Depois de, em média, 10 senhas, o jovem da 177 até que não aparentava mais estar tão indignado e emburrado. Podia escolher, sentado em frente a uma moça, uma data para o seu treinamento, talvez até o cargo que gostaria de exercer: secretário, presidente ou mesário sem contar dos dois dias de folga de que ele poderá usufruir em seu trabalho. Os incansáveis 15 minutos de espera talvez ainda vão valer a pena.

ticipe do maior evento do ano”. Será mesmo que acham que estão conseguindo atingir alguém desta forma? Lá dizia que, em troca, a pessoa poderia ganhar dois dias de folga no trabalho, um auxílio-alimentação que não passa de um kit a pão e água e mais um certificado para a vida toda. E qual chefe não ficaria feliz quando você tirasse quatro folgas caso houvesse segundo turno, principalmente em cargos públicos? O Brasil terá mais de 1,6 milhão de mesários nas eleições de 2008. A maioria sairá de casa às seis horas da manhã para trabalhar durante um domingo inteiro em troca de praticamente nada. Com tantos gastos na época de eleição, sem contar com os “extras”, por que não pagar esses mesários ou então oferecer o cargo para a grande população desempregada do nosso país? O governo alega que isso causaria um rombo nos cofres públicos. Então por que não ajudar essa população que depende de programas públicos para sobreviver? Garanto que

eles não fariam cara feia para trabalhar em troca de uma ajuda de custo, isenção de impostos ou até mesmo uma cesta básica. Essa obrigação de comparecer de fato incomoda muita gente. É só ver no dia das eleições a quantidade de mesários que aparecem com camisetas estampadas com frases de revolta combinando com os narizes vermelhos. Como pessoas livres não deveríamos ser obrigados a trabalhar de graça para o governo. Quem deveria estar lá eram os próprios funcionários públicos que conhecem tanto esse lado burocrático; assim evitaria-se passar uma manhã inteira em um curso para ser um bom mesário. Infelizmente o que incentiva o Brasil é dinheiro – com motivos. A redução à condição paralela a de escravidão não deveria ser lei. Com certeza se pagassem os mesários iriam aparecer muitos voluntários e esse “rombo” aos cofres não seria tão grande quanto os que os políticos fazem.

NÃO Cássia Morghett

Com as eleições chegando, muitos já receberam a temida carta de convocação em casa. E “ai” de nós se não assinarmos a correspondência. A Lei 4.737/65, o Código Eleitoral, diz que os mesários podem ser convocados até 60 dias antes da eleição, sendo obrigados a comparecer no dia e hora instituídos e também devem participar obrigatoriamente do treinamento para a função. A lei fala das punições como pagamento de até um salário mínimo e a perda dos direitos do cidadão caso não compareça. Em troca, a Justiça Eleitoral delega dois dias de folga no trabalho e um auxílio-alimentação. A parte da lei que nos obriga a participar ou senão pagar a multa é de fato cumprida. Mas a outra parte que oferece os dois dias de folga e o tal auxílio nem sempre é verídica. Outro dia vi um cartaz chamando para ser mesário: “Par-


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Favoritos da competição, mesa-tenistas prometem medalhas

Atletas paraolímpicos de Curitiba participam da competição em Pequim Rhuana Ramos Rômulo Porthos

Enquanto os atletas olímpicos voltam ao Brasil, os paraolímpicos vão a Pequim. Curitiba terá oito representantes: Hemerson Leocádio Kovalski, Claudiomiro Segatto, Maria Passos e Luiz Vergílio da Silva (todos do tênis de mesa), Eliseu dos Santos (bocha), as irmãs Terezinha e Sirlene Aparecida Guilhermino (atletismo) e Moisés Batista (natação). A delegação brasileira embarcou ontem rumo à China. Os mesa-tenistas Luiz Vergílio da Silva e Claudiomiro Segatto são fortes candidatos a medalha. O último treino deles foi terça-feira, na Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP). Os atletas treinaram 25 horas por semana por um ano e se dizem preparados. “Eu sou o mais experiente dentre os mesa-tenistas brasileiros, pois

esta será a minha quarta paraolimpíada”, diz Vergílio. Ele começou a treinar na ADFP em 1992. “Foi nesse ano que participei do primeiro Brasileiro. Foi em Recife e fiquei em segundo lugar geral”. Em 2002 e 2003 ele foi eleito o Melhor das Américas. Segatto treina há menos tempo, desde 2001. “Participei dos Jogos Para Panamericanos da Argentina e fui eleito o Melhor das Américas”, diz. O tênis de mesa paraolímpico é composto por dez classes. Cinco compreendem os “cadeirantes”, e outras cinco englobam os “andantes”. Vergílio faz parte da classe três e Segatto da cinco. Os dois estiveram na Europa entre maio e julho deste ano, participando do 6th Polish Open. Vergílio conquistou a medalha de prata no individual e em duplas. Nos Jogos Para Panamericanos de 2007, no Rio de Janeiro, os dois atletas curitibanos conquistaram duas medalhas de ouro cada um.

Rômulo Porthos/LONA

Evento mostra papel de animais no solo Amanda Lara Vanessa Ramos

Atletas se preparam para as paraolimpíadas Para treinar mais freqüentemente, os atletas largaram o trabalho e agora se dedicam apenas ao esporte. A principal dificuldade que eles encontraram ao longo da carreira diz respeito ao patrocínio. “A ajuda que recebemos é suficiente para manter o esporte, comprar equipamentos. Mas não para mantermos nossa vida pessoal”, explica Segatto. O Brasil ainda não conquistou medalha de ouro no tênis de

mesa nem em Olimpíadas e nem em Paraolimpíadas. Os atletas estão confiantes para quebrar este tabu: “A gente tem a força de vontade e a garra brasileira para não deixar a bola cair”. “Ao contrário do que muitos pensam, o termo Paraolimpíada não é usado pra tratar de uma competição de atletas paraplégicos. O ‘para’ diz respeito à ‘paralelo’, ou seja, é uma competição paralela às Olimpíadas.”

Seminário discute cinema latino-americano Letycia dos Santos

Acontece hoje o seminário Reflexões sobre Cinema Latino-Americano do grupo de estudos de Cinema LatinoAmericano Nueztra Ameryka, integrado por alunos do curso da Escola Superior Sulamericana de Cinema e TV do Paraná (CINETVPR) e coordenado pela professora Solange Stecz, mestre em História Social. Das 9h às 12h, haverá uma mesa-redonda com a participação da professora Marília Franco, doutora em Artes pela USP e ex-diretora da Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba; do jornalista e mestre em Comunicação pela

ECA/USP Elson Faxina e dos professores Pedro Plaza Pinto, doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, e Eduardo Baggio, mestre em Comunicação e Linguagens pela UTP. “Criadores de imagens em América Latina - um desafio às religiões”, é um dos temas que serão abordados. Das 14h às 18h, serão exibidos os filmes Salut les Cubains, De Cierta Manera, Cerra Pelado e La Hora de Los Hornos - primera parte: Neocolonialismo y Violencia. A partir das 19h, os alunos que integram o grupo apresentarão suas pesquisas em andamento, que envolvem o cinema de Glauber Rocha, Fernando Birri, Tomás Gutiérrez Alea, Julio García Espinosa, Jorge Sanjinés e Fernando Solanas.

Aluno da CINETV e participante do grupo, Frederico Neto desenvolveu, em trabalho conjunto com o também aluno Erik Tavernaro, a pesquisa Fernando Solanas: Práxis e Revolução no Cinema Latino e afirma que o cineasta, que circulou também por entre a política, o teatro e a música, sempre teve em vista um compromisso com a América Latina, algo que influenciou o seu trabalho e a sua vida artística, que refletiram sua militância. “Na década de 60, vários nomes propuseram, com suas teorias e filmes, um outro modo de se fazer cinema. Dentro desse estranhamento com o ‘cinemão’, esses militantes do cinema latino utilizaram a nossa precariedade como linguagem, tentando fazer um cinema jun-

to ao povo e para o povo. Um cinema com finalidade, que, na conturbada época, se esbarrava com um projeto derevolução latina, mais precisamente Cuba”, diz o estudante. O seminário é um evento de extensão e difusão acadêmica e tem patrocínio da Fundação Araucária de Apoio e Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná. As inscrições são gratuitas, e podem ser feitas no Protocolo da Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Participantes com no mínimo 75% de presença receberão certificado. A FAP está localizada na Rua dos Funcionários, 1357 – Cabral. Mais informações com Solange Stecz, pelo telefone 91150479.

O 15º Colóquio Internacional sobre Zoologia do Solo está sendo realizado na Universidade Positivo. O evento é coordenado pela Embrapa Florestas (Colombo/ PR) e conta com o apoio da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Estadual de Londrina. Ontem, a palestra realizada de manhã tratou da importância dos animais do solo em ecossistemas tropicais, dando ênfase a cupins. O pesquisador Christopher Martius destacou que os estudos sobre o ciclo dos cupins têm grande utilidade, pois é através de pesquisas que se define o entendimento dos efeitos da vida animal no solo. O pesquisador relatou as dificuldades de seu estudo, pois os cupins eram difíceis de contar e controlar. Martius concluiu que os cupins têm grande importância para o solo tropical, pois ajudam a criar um equilíbrio à boa qualidade do solo. Christopher Martius afirma que os resultados da pesquisa são dignos de preocupação devido ao desequilíbrio que existe em várias regiões do país. “Os efeitos que o desequilíbrio causa podem afetar diretamente o solo servindo como indicador negativo em sua fertilidade”. Segundo o pesquisador, o equilíbrio na terra depende substancialmente do equilíbrio do solo e ele alerta: “Se não cuidarmos do solo, os prejudicados seremos nós, a própria população do globo”, completou Martius.


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Pedestres correm perigo ao atravessar ruas movimentadas do bairro

Centro Cívico, mas nem tanto Robertson Luz/ LONA

João Pedro Schonarth Robertson Luz

Civismo significa devoção ao interesse público. Os curitibanos conhecem bem o significado dessa palavra. Nos anos 1940, o bairro Centro Cívico foi projetado para ser o “Centro do Cidadão” e acolher os poderes que resolveriam problemas relacionados a ele. Pensado pelo urbanista francês Alfred Agache, dentro das propostas para o novo Plano Urbano de Curitiba, o bairro abriga desde então edifícios do alto poder administrativo estadual e municipal. Foi inaugurado em 1953, ano em que o Paraná completou o centenário da sua emancipação política. Desde então, muita coisa mudou no Centro Cívico. O cidadão tem seus assuntos resolvidos no bairro, porém, o direito do pedestre de ir e vir fica comprometido nas perigosas avenidas do reduto do poder paranaense. Basta experimentar atravessar a Avenida Cândido de Abreu, uma das principais ligações entre o centro e os bairros da região norte da cidade, para perceber o quanto pouco cívico é o bairro. Apesar de ser pequeno (representa 0,30% do contingente populacional de Curitiba), é no bairro onde se concentram trabalhadores de todos os cantos da cidade e Região Metropolitana. Olhar para as linhas de ônibus que passam por ali é o suficiente para entender a dimensão dessa parcela da população: Colombo/CIC, Inter 2, Boqueirão/Centro Cívico, Barreirinha/São José, Santa Cândida/ Pinheirinho, Fazendinha/Tamandaré, Aeroporto – isso para ficar apenas nos ligeirinhos. Exemplos da dificuldade encontrada pelos pedestres estão no dia-a-dia de quem trabalha por ali. O gari Joaquim Alexandre, de 54 anos, conta que é difícil se locomover pelo bairro. “Tenho sempre que dar uma ‘corridinha’ para conseguir atravessar com minha lixeira. É muito carro”, desabafa. Realmente é. Atualmente calcula-se

O cruzamento entre essas ruas é um dos mais perigosos do bairro Centro Cívico que haja um veículo para cada 1,8 habitante na cidade. Muitos destes veículos transitam pela região. Um levantamento realizado pela Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran), órgão responsável pelo trânsito da capital, mostra que a Avenida Cândido de Abreu está entre os dez piores trechos da cidade entre as 17h e 19h: são 5.307 carros transitando por hora na avenida. Para conseguir conciliar tanta gente e tanto carro, a receita é simples: civilidade. Essa é a opinião de Shenia Nassin, presidente da Associação Paranaense de Vítimas de Trânsito (Apavitran), que lembra: “O Código Brasileiro de Trânsito privilegia o menor veículo para o maior. Começa com o pedestre, vai para o ciclista, para o carro, sucessivamente. Se todos se respeitarem, não há problemas no trânsito”. O artigo 214 do Código deixa claro que a prioridade é sempre do pedestre: “Deixar de dar preferência de passagem ao pedestre e ao veículo não motorizado, que se encontre na faixa a ele destinada; que não haja concluído a travessia mesmo que ocorra sinal verde para o veículo; é infração gravíssi-

ma com penalidade de multa”. Mas quem respeita esse artigo? A comerciante Ana Paula Ribeiro, de 22 anos, trabalha em uma banca da região e diz que em toda travessia o jeito é dar a mesma “corridinha” que dá o gari Joaquim. “Ninguém pára para a gente. Para

atravessar, tem que correr no meio dos carros”, explica. Para a presidente da Apavitran, o pedestre deve sempre procurar uma faixa de segurança para realizar o cruzamento. “Se há uma faixa de pedestre nos próximos 50 metros, as pessoas têm que atravessar por lá, segun-

do o Código de Trânsito. Pode parecer bastante, mas vale tudo para garantir a segurança”, recomenda Shenia Nassin. Seguindo por essa lógica, a equipe de reportagem esteve em um dos cruzamentos apontados pelos pedestres como um dos mais complicados para a travessia. Na esquina entre a Avenida Cândido de Abreu com a Rua Lysimaco Ferreira da Costa, ao lado da Prefeitura e da Vara da Família, é necessário paciência para cruzar a via. Ali concentram-se carros e ônibus, que vêm pela Lysimaco da Região Norte de Curitiba, e de outros que se movimentam da Cândido de Abreu para bairros como Pilarzinho e Abranches. A situação é a seguinte: das quatro direções do cruzamento, apenas três têm faixa de segurança e um sinal de três tempos (nenhum para o pedestre). A equipe seguiu o conselho da presidente da Apavitran. Resultado: para completar a travessia com segurança, foram levados três minutos e cinco segundos, que poderiam resultar em apenas seis segundos, caso houvesse uma faixa de pedestre ao lado da Prefeitura Municipal. Fica explicado o porquê da “corridiReprodução GoogleMaps/ LONA

Em vermelho é o trajeto considerado seguro para a travessia, segundo o Código Brasileiro de Trânsito. Em azul, o utilizado.


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am que ficar mais tempo panha” (veja mapa). Mas essa prática pode ser rados”, pondera. A vendedora Ana Paula senperigosa: segundo o Batalhão de Polícia de Trânsito do Pa- te a ausência de semáforos raná (BPTran), ocorrem 40 para os pedestres nas ruas do acidentes por dia em Curitiba, bairro. “Tem sinais para os em média. De janeiro a julho carros, mas aqueles com os deste ano foram 94 apenas no ‘bonequinhos’ têm poucos”. O coordenador da Unidade Centro Cívico. O BPTran não soube precisar quantos envol- de Operação e Controle de viam pedestres. Dados do Cor- Trânsito do Diretran, Pedro po de Bombeiros do Paraná Darci da Silva Junior, concortambém revelam o perigo nas da com Ana Paula, mas expliruas do bairro. Até junho, fo- ca que há um motivo para não ram oito ocorrências de atro- haver a sinalização para pepelamento no bairro. Em 2007, destres. “Seria inviável proforam 23 atropelamentos e em gramar um semáforo com quatro tempos, pois o dispositivo 2006, 29. O número pode parecer pe- de comunicação entre os sinais queno, mas assusta se anali- foi projetado no ano de 1978. sada a população do bairro, de Mexer em um sinaleiro tiracinco mil habitantes, segundo ria a sincronia de todas as levantamento do Instituto de ruas da região central. Isso tePesquisa e Planejamento Ur- ria um custo muito grande”, esclarece. Uma solução para bano de Curitiba (IPPUC). As campeãs em acidentes o bairro seria a revitalização envolvendo pedestres são a em toda a rede, que segundo o Avenida Cândido de Abreu e a coordenador, teria que ser fiRua Marechal Hermes. Nes- nanciado pelo Banco Interamericano de Desa última, os senvolvimenatropelamenHouve a criação da to (BID). tos espantam Na Lysios moradofaixa de segurança maco Ferreires, que já há ra da Costa, solicitaram houve a criamecanismos aproximadamente ção da faixa para conter o 25 metros da de segurança trânsito no há aproximabairro. Váriesquina. Mas ela é damente 25 os projetos de quase desconhecida metros da eslei já foram quina. Mas propostos na pelos pedestres. ela é quase Câmara Mu“Realmente desconhecida nicipal de pelos pedesCuritiba, enninguém usa”, tres. “Realtre eles um de admite engenheiro mente ninautoria do guém usa”, vereador Zé do Diretran admite PeMaria. Moradro. Em reladores pediram um redutor de velocidade ção às rotatórias do bairro, o entre as ruas Mauá e Augusto engenheiro explica que até há Severo, no Centro Cívico. projetos no IPPUC, porém, po“Tendo poucos escritórios, a dem nascer ultrapassados. “Os rua [Marechal Hermes] é ba- modelos atuais de rótula já sicamente residencial. Com a são saturados na região do alta velocidade dos motoristas, Centro Cívico. Os projetos do aumenta o perigo de acidentes IPPUC só sairão do papel daenvolvendo, principalmente, qui uns seis anos. Até lá, o idosos e crianças”, comenta o trânsito já evoluiu, e tirar as rotatórias pode não ter sido a vereador. Uma das soluções aponta- melhor escolha”, reconhece. Os pedestres vão ter que das por Shenia Nassin é a temporização dos semáforos e cri- esperar um bom tempo até ação de mais faixas de segu- que as mudanças aconteçam. rança. “Se os sinais dessem Enquanto isso, terão que conmais tempo ao pedestre para viver entre carros, motos e que ele atravessasse a rua, es- ônibus. Quem passa pelo Centaria melhor. Mas isso pode- tro Cívico corre a cada dia o ria gerar mais congestiona- risco de ter o seu civismo atromentos, já que os carros teri- pelado.

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Retratos do cotidiano

Texto: João Pedro Schonarth

Fotos: Robertson Luz

Andar pelo bairro Centro Cívico, em Curitiba, requer uma dose extra de paciência. O bairro que abriga os poderes estadual e municipal não consegue dar segurança àqueles que mais precisam: os pedestres. O civismo dos motoristas (e também dos pedestres) é deixado de lado, em uma guerra em que todos se vêem como inimigos. A guerra chamada trânsito.


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Uma viagem contada pelo ponto de vista de uma mochila

Bagagem de peso João Nei

Era madrugada e ela estava sozinha. O vagão deslizava mergulhado na noite sem luar. Cortava o sertão e tinha destino certo. O som das rodas passando pelas emendas dos trilhos ritmava a contagem regressiva até a próxima parada. Não reconhecia as pessoas a sua volta, senão sua amiga que disse ter visto gente viajando no teto. Acreditava que deviam ser seus companheiros de viagem, há horas não os via. Esta viagem prometia. Passaram-se doze horas desde o embarque em Quijarro, na divisa com o Brasil. Segundo diziam, tinha mais sete horas até chegar a Santa Cruz de La Sierra, primeira grande cidade depois da fronteira. Sem experiência em grandes distâncias, começava a sentir um friozinho na barriga. Gostava de acampar nas férias e feriados. Sempre que podia ia para a Ilha do Mel ou para a Serra do Mar — não que estas pequenas aventuras representassem pouca coisa, eram realmente desafios, pois aconteciam tanto no verão quanto no inverno. Enfrentava muito calor, frio e por vezes chuvas torrenciais em pequenas barracas, onde mal cabiam duas pessoas sem bagagem. E essa, definitivamente, não era a realidade: costumava levar muita coisa. Eram panelas, batatas, arroz, roupas, cobertor, fósforo, mertiolate, esparadrapo, lanterna, e por cima de tudo: um livro. A comida era feita ali mesmo, ao ar livre e dependia de lenha seca. Se chovesse muito, não tinha comida quente. O que parecia pré-requisito para a grande viagem, agora estava mais para brincadeira de criança, como garotos que acampam no quintal de casa. Na hora da partida, em Curitiba. Dêla — como gostava de ser chamada — perguntara-se: O que levar quando não se sabe onde vai chegar? Então, pegou duas mudas de roupas, uma jaqueta para dias mais frios, algumas camisetas, meias e cuecas, mertiolato, esparadra-

E

po, linha para costura, agulha, Na cordilheira papel higiênico, uma faca, um Muita coisa mudou desde a mapa, um par de chinelos ha- saída. Havia atravessado dois vaianas, uma capa de chuva, estados, entrado num país que papel, caneta, agenda com tele- conhecia apenas pelos mapas. fones e endereços e — para não O novo idioma começava a perder o hábito — um livro, de apresentar dificuldades na Carlos Castañeda. Leitura ga- compreensão, diferente do sorantida para os infindáveis qui- taque da fronteira. O emblelômetros a percorrer. ma de couro com seu nome Tudo era estranho e não gravado fora substihavia tempo para análises, tuído por apenas tinha que agir conforme as situações se apresentavam. Não tinha volta. Só pensava no seu pavor a mariposas — Não gosto delas, possuem pêlos e soltam o pó retido nas asas. Sugam a energia das lâmpadas, giram e dançam enquanto há luz. Em noites quentes se espatifam contra os faróis dos carros em alta velocidade, como kamikases enlouquecidos em busca de um ponto de fuga na paisagem. São como os meninos do Brejo d a Cruz, d e Chico Buarq u e : Dêl a, av entu se alireira de ca mentam de rteir luz. Ao menos neste inha vagão escuro não há mariposas. Nos de primeira classe, u m a muito bem iluminados, não se foto de Hermeto pode dormir. Mariposas fazem Pascoal tocando violão. Gacolunas debaixo da luz, um in- nhara a aplicação de uma banferno. deirinha do Brasil no bolso exSeus amigos, aqueles do terno, que foi mal costurada teto, foram até a frente do com- com a linha e a agulha que traboio e viram a cena: todas as zia consigo. O pó da estrada janelas fechadas para não en- impregnava nos tecidos, fixatrar mais insetos. Todos os pas- do pela água da chuva e pelo sageiros transpiravam muito calor dos trópicos. Sua cor se em suas roupas compridas, len- alterava a cada dia, cada noiços abanavam o ar como uma te, cada rio e cada vila que pasagonizante despedida e o pavor sava. Ganhava novas marcas gringo estampado nos rostos. em adesivos, rabiscos e arraCertamente era o medo da ma- nhões. lária. Deixou Santa Cruz de La

Sierra e rumou para Cochabamba, após dezoito horas consecutivas de sono pesado em um hotelzinho qualquer, que para os padrões era um dos melhores. Distante das luzes da cidade avistou as silhuetas das colinas que começavam a surgir por detrás da neblina noturna. Era o início da Cordilheira dos Andes. A cena era assustadoramente excitante. Estava na caçamba de uma caminhonete de fabricação brasileira e se protegia da fina João Nei

garoa com uma lona plástica. Agora eram t r ê s , com a adesão de uma gaúcha que viajava solitária. Soltavam risos de excitação e assombro. A nova companheira era pequena e psicologicamente estável — devia ter alguma experiência militar. Tinha como estratégia levar pouca bagagem, o estritamente necessário para o momento, o que lhe faltava ia adquirindo pelo caminho. Dizia que com menos peso poderia movimentar-se melhor. Dêla por sua vez, movia-se pesadamente, pois carregava toda sua história. O que levar quando não se sabe onde vai chegar? Conheceu lugares mágicos como o Machu Picchu, o Lago Titicaca, suas ilhas e vilarejos esquecidos no tempo. Em Cuzco se separou da amiga, que achou que estava na hora de voltar ao ponto de partida. Obstinada por encontrar seu destino insistiu, esperou uma semana

até sair o primeiro ônibus que cortaria as Cordilheiras até Lima. Esta espera aconteceu por conta do Grupo Sendero Luminoso, que fazia ameaças de ações terroristas no trajeto. O caminho foi desviado em quatrocentos quilômetros. Foram três dias de viagem em estradas sem asfalto, com pouquíssimas paradas. Altitudes superando os cinco mil metros, temperaturas abaixo de zero, ar rarefeito e tudo isso sem trocar de ônibus.

12 mil quilômetros Dêla percorreu aproximadamente doze mil quilômetros, por quatro países latinoamericanos. Trouxe na bagagem marcas indeléveis de um mundo muito diferente do anteriormente imaginado. Passou por trechos difíceis e não raro recorreu ao bilhete que outro amigo lhe deu em Curitiba. Este, que trazia guardado em um compartimento secreto de sua alça. Era um texto do livro “O Lobo da Estepe” de Hermann Hesse. Falava mais ou menos assim: se eu tivesse que viver minha vida novamente, e para isso tivesse que escolher entre os momentos bons ou maus, certamente escolheria os maus, porque são estes que trazem autoconhecimento. Isso a confortava e lhe dava força para continuar, principalmente naqueles momentos em que se sentia sozinha em um canto de quarto de hotel ou sacolejando nos bagageiros. O emblema de couro substituído pela foto do músico trazia o sugestivo nome: De Lá Pra Cá. Fabricada em nylon resistente, impermeável e na cor verde. Com várias alças e cintos, reforços em couro e duas lâminas de alumínio na estrutura, para dar maior conforto. Ainda possui a bandeirinha do Brasil presa pelos débeis pontos e sempre está disponível para novos desafios. Foram tantas experiências vividas, que adquiriu um status clássico que vai além dos modismos. Guarda dentro de si mais histórias que o peso que pode carregar.


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Apesar do aumento da produção cinematográfica local, ainda há pouco incentivo

Cinema com técnica e boa vontade Nathalia Cavalcante

Desde 1975 – com a criação da Cinemateca pelo cineasta, pesquisador e escritor Valêncio Xavier –, o cinema curitibano vem crescendo gradativamente. Na década de 1980 o Paraná já contava com jovens cineastas como Fernando Severo, Geraldo Pioli e Eloy Pires Ferreira, que mudaram a forma de fazer cinema em Curitiba. Atualmente, alguns deles passam suas experiências para futuros cineastas que, por sua vez, afirmam que não existem brigas de gerações. O professor de cinema Márcio Veiga-Costa garante que “as produções cinematográficas em Curitiba aumentaram, mas não evoluíram, pois o aluno só tem contato com produções quando estas fazem parte das disciplinas, em determinados cursos”. Ele aponta que no Paraná o grande problema é a falta de incentivo e divulgação, não de tecnologia. Um ponto positivo mencionado é a teledramaturgia paranaense, transmitida pela Rede Paranaense de Comunicação (RPC), no programa Casos e Causos, que atinge grande parte da população do Estado. Isso também ocorreu na Central Nacional de Televisão (CNT) com Pista Dupla, um seriado brasileiro exibido em 1996. “No geral, os realizadores são ecléticos, eles não con-

seguem uma unidade de estilo”, diz o professor. Para o diretor e produtor de teatro e cinema Adriano Esturilho, o poder público não tem muita preocupação com áreas artísticas. Mesmo assim, o investimento depois da criação, em 2005, da Escola Sul Americana de Cinema e TV (CINETVPR) – onde Esturilho cursa o sétimo período de Cinema e Vídeo – foi maior do que nos últimos 20 anos. Ele diz que a instituição “tem uma estrutura muito boa, sofre apenas um pouco para ajustar a grade curricular; mas é normal porque está no início”. O diretor também é sócio da produtora Processo Filmes, que trabalha com teatro há dez anos e aproximadamente um ano com cinema, juntamente com Fábio Allon, Bruno de Oliveira e Carolina Maia. Pela Processo produziu seu primeiro filme, um média-metragem de 36 minutos, intitulado Café do Teatro, realizado com o edital para iniciantes da Fundação Cultural de Curitiba. O média usou uma equipe com mais de cem pessoas e contou com as atuações de Edson Bueno e Lala Schneider. O filme faz uma ponte entre cinema e teatro de forma irônica. Foi rodado em novembro de 2005, dois meses antes do falecimento de Lala Schneider. Outro trabalho foi o livro-DVD Cancha 2, cantiga para perverter juvenis; lançado no Rio de Nathália Cavalcante / LONA

A partir da esquerda: Fábio Allon, Bruno de Oliveira, Wellington Sari e Al y Muritiba

Janeiro, e neste mês em Curitiba. O livro consiste em contos adaptados para curtas-metragens de duração máxima de dez minutos. Entre outros trabalhos da produtora Processo Filmes, os curtas-metragens Nós, de Fábio Allon, de janeiro de 2008 e Os dias cinzas, de Bruno de Oliveira – neste a Alumiar filmes foi co-produtora. O diretor, roteirista e produtor Aly Muritiba, que divulgou em abril de 2008 seu primeiro trabalho, o curta-metragem Convergências, começou a fazer cinema em Curitiba. Está cursando o quinto período de Cinema e Vídeo na CINETVPR e pode usufruir dos equipamentos do curso. Muritiba é sócio da produtora Alumiar filmes, que existe há um ano e meio e tem como sócios: Diko Florentino, Antônio Júnior e André Chesini. Existem três fases na produção de um filme. Em um curta-metragem, por exemplo, acontece a pré-produção (que dura em torno de dois meses), na qual se escolhe o roteiro e ocorrem reuniões para estabelecer os apoios e os equipamentos necessários. Em seguida as filmagens, (que duram em torno de três dias) e por último a pós-produção, a mais demorada, que consiste na edição das imagens e do som e confecção dos créditos, entre outros detalhes. “Um filme nasce três vezes: primeiro no roteiro, depois nas filmagens e por último na edição”, diz. No curta-metragem Com as próprias mãos, ainda não lançado, as etapas duraram ao todo quatro meses, enquanto que em Convergências duraram um ano. Aly Muritiba realizou entrevistas com 30 cineastas conhecidos e desconhecidos para o documentário Cinema Vira-lata – em fase de pós-produção –, que trata do cinema latino-americano. Além disso, conseguiu do Centro Técnico Audiovisual autorização para usar um trecho do filme Limite (1931), de Mário Peixoto. “Nesse meio é necessário ter boas relações e contatos”, afirma. O diretor, produtor e editor

Nathália Cavalcante / LONA

Márcio Veiga-Costa, professor de cinema Diko Florentino, que está no quinto período de Cinema e Vídeo, ganhou seu primeiro edital da Fundação Cultural para a realização do curta-metragem Eu não sei andar de bicicleta, cujas filmagens estão previstas para outubro. Ele conta que na CINETVPR, há liberação de equipamentos para produção independente a partir do quarto período. Afirma ainda que basta ter vontade para produzir, e que não é obrigatório prender-se às disciplinas. “Os alunos buscam o máximo de profissionalismo, pois para fazer um filme é preciso cumprir prazos, ter pontualidade e seriedade”. São realizados testes para a escolha de elenco. Muitas vezes os alunos contam com a atuação de atores profissionais e não há cobrança de cachê. As produções não são em película, mas digitais (Dcine), por ser mais rápido e barato.

Divulgação A divulgação dos filmes é feita através da internet, rádio, flyer e na Cinemateca. Mas Diko Florentino afirma que o

público é sempre o mesmo. Um problema apontado por todos é a escassez de espaço para exibição, pois só existe a Cinemateca. Os filmes são exibidos apenas em um dia nesse local, depois só em festivais. A entrada nos lançamentos é gratuita. “Não temos preocupação de cobrar ingresso, quanto mais pessoas forem, melhor”, completa. Atualmente, o festival de cinema universitário Putz! – que conta com produções de todo o país – é um bom caminho para tornar o trabalho conhecido. Foi o caso de Lavanderia Shermer, de Wellington Sari, produzido pela Alumiar filmes, que ganhou o terceiro lugar na última edição. Já o Díinamo é um cineclube que exibe todas as quartas-feiras filmes locais seguidos de debates; o que ajudou a formar uma comunidade cinematográfica. No site www. alumiar filmes.com.br, estão disponíveis todas as informações a respeito das produções já finalizadas e em andamento. Além disso, um blog e os serviços realizados pelos integrantes da produtora.


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Itupava: um caminho da história do Paraná privatização da linha e então destruída pelos vândalos. A casa também foi habitada pelo famoUm grande diferencial da so pintor paranaense Alfredo Serra do Mar, que liga Curiti- Andersen. Esta possuía ainda ba ao litoral, é o Caminho do uma piscina alimentada pela Itupava, que passou por restau- água corrente, salão de jogos, ração e foi aberto novamente ao uma pequena estufa construípúblico. Bastante conhecido por da com os trilhos e até mesmo mochileiros e andarilhos, a tri- uma roda d’água que utilizava lha que liga Curitiba a Morre- a correnteza do Rio Ipiranga tes tem 22 quilômetros de subi- para fornecer energia à casa. Passa-se tamdas e descibém pelo Santuário das intensas Com um do Cadeado, consque cortam a truído como escriMata Atlân- ecossistema tica, atraves- extremamente rico, tório da Comissão Construtora das sando morferrovias por situros em alti- já foram ar-se numa área tudes de 50 a registradas cerca mais abrangente, 500 metros. onde se teria meCom um de 300 espécies de ecossistema aves e 50 de répteis lhor vista das obras em andaextremamento e da serra. mente rico, na região O atual mirante e já foram registradas cerca de 300 espécies a capela de Nossa Senhora do de aves e 50 de répteis na re- Cadeado foram construídos em gião, fora a grande quantidade 1965 e, situados logo após a parde mamíferos, que — como o te mais exaustiva da trilha, ainmico-leão-de-cara-preta, a quei- da são uma boa parada de desxada, o cateto, o gambá, a ja- canso para o mochileiro. Terminada então a trilha, guatirica, a lontra e até mesmo a onça pintada e o puma — esta desemboca na estrada que pode ser encontrada em situa- sobe à Estação Engenheiro Lange, podendo-se então subir ao ções mais raras. Construído ainda no século conjunto de montanhas do MaXVII, originado de antigas tri- rumbi – oito esplêndidas monlhas indígenas e calçado de pe- tanhas principais, destacandodras irregulares extraídas de ri- se o Monte Olimpo, com seus achos próximos pelos escravos, 1539 metros de altura, que de o caminho foi a principal comu- seu pico pode-se avistar a baía nicação entre a cidade e o lito- de Paranaguá e toda a serra – ral por mais de 250 anos. Sua ou descer a estrada até Porto descoberta é creditada a uma de Cima, onde é possível fazer dupla de caçadores que, em per- a trilha para a cachoeira do Salseguição a uma anta no alto da to dos Macacos – uma hora de serra, acabaram caindo na tri- caminhada e mais de meia hora lha, abatendo-a então somente de árdua subida - qual a aguaquase perto de seu fim, próxi- ceira do Rio dos Macacos despenca de uma altura de 70 memo ao Rio Nhundiaquara. Uma das atrações que fica tros numa densa piscina que ainda no fim da primeira parte fica de frente para as montada trilha é a casa do Ipiranga. nhas do Marumbi. A caminhada até o fim da Construída como residência do chefe da linha ferroviária e uti- trilha dura em média de seis a lizada como casa de lazer dos oito horas, portanto é recomenengenheiros da rede, ela foi dável um bom par de botas conabandonada quando houve a fortáveis e antiderrapantes. São Texto e fotos: Patrick Belem

necessárias também roupas aconchegantes e leves para clima quente e frio, pois a noite serrana, devido à altitude e umidade é bastante gelada. É importante também comida de preferência leve e bastante nutritiva; grãos, barras de cere-

ais e alimentos diluídos em água são uma boa pedida. Assim como um bom chimarrão para noites de frio em torno da fogueira. Para aqueles que desejam se aventurar na trilha, é recomendado pegar bem cedo o ôni-

bus para Quatro Barras no Terminal Guadalupe e seguir até o Terminal de Quatro Barras. Lá pega-se o alimentador Borda do Campo até o ponto final. Na boca da trilha o pessoal do IAP irá anotar seu nome, telefone e destino, para maior segurança.


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